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UMA NOITE NO PROSTÍBULO.

Um homem em celibato involuntário pode tomar medidas drásticas. No


mundo machista talvez não seja tão drástico assim, afinal havia todo um
aparato que sustentava aquele antro. O leitor já deve ter se situado
espacialmente, estamos falando de uma zona, um prostíbulo, um puteiro, um
antro, espaço social que oferece serviços sexuais e eróticos, boate com
dançarinas, e tantos outros nomes que possamos dar.

De há muito que Carlos não pisava lá, aquilo feria seu orgulho enquanto
homem, e até alguns meses atrás, infligia o código de ética do ‘relacionamento
sério’. Mas agora estava livre, tão livre a ponto de buscar amparo nos serviços
da profissão mais antiga do mundo. Ao passar pelos seguranças na soleira,
Carlos rezou para não esbarrar com o chefe, o ex-sogro, ou algum colega de
escola. Felizmente não sofreu tal infortúnio, mas assustou-se ao ver o lugar
praticamente vazio. Alguns feixes de neon verde e azul piscavam pelo recinto,
recheado de bancos estofados e mesas vazias. Um cheiro pútrido circulava
pelo ar seco, como um demônio que vagueia pelo inferno contaminando cada
partícula. Um pensamento do tipo ‘’Onde vim parar?’’ assaltou sua consciência,
mas tomou o impulso de ir ao encontro do sofá, no outro extremo. Seu transe
hipnótico foi interrompido por Dalila, a garota de programa que cumpria seu
turno.

- Se me pagar alguma dose prometo ser uma companhia excitante. –


Murmurou a garota, gesticulando uma sedução infalível.

- O que você quer beber? – Perguntou Carlos, tentando transparecer


confiança.

- Que tal uma catuaba?

- Você que manda!

Nem um minuto se passou até a bebida chegar. Dalila sentou ao lado de


Carlos e, erguendo o vestido vermelho rubro, pôs sua coxa entre as pernas do
cliente. Não tendo sucesso em disfarçar seu constrangimento, Carlos
enrubesceu e tentou puxar um papo qualquer.
- Como é o seu nome?

- Dalila, e o seu?

- Prazer, Carlos.

- Prazer, aliás, espero que possa te dar muito prazer hoje à noite.

- Que tal irmos pro quarto então?

- São duzentos reais, mais o cinquenta do quarto.

- Tudo bem, está aqui. – Falou Carlos, Jogando três garoupas em cima
da mesa.

- Agora sim. – Respondeu Dalila, levando o cliente até o quarto, como


uma viúva-negra que atraí o macho para a cópula.

Adentraram a um corredor demasiado estreito. Um quadro de Marylin


Monroe ao fundo dava um ar de boteco americano, a pintura da parede já
descascava, assim como a porta em que permitia acesso ao quarto escolhido.
Carlos sentiu uma náusea profunda aos ver os lençóis amarelados. O cheiro de
sexo estava em toda parte, as garrafas de cerveja atiradas no chão de madeira
podre, e os cinzeiros transbordavam tocos de cigarros do Paraguai. Não é
preciso descrever o estado deprimente das cortinas, mas aposto que ninguém
ousaria dizer que elas já foram brancas um dia.

Dalila tirou a saia de seda preta, descalçou os saltos e avidamente pôs a


mão no órgão sexual de Carlos. Ele tomou um susto, já que estava de costas,
e no impulso protegeu seu sexo.

- Vejo que ele não entrou no clima da festa. – Brincou Dalila, logo
mordendo os lábios.

- Ele demora pra descontrair. – Respondeu Carlos, numa posição


desconfortável.

- Deixá-lo confortável faz parte do serviço.


- Espere. – Pontuou Carlos. – Vamos sentar e conversar um pouco,
antes de...

- O tempo é seu.

Dalila encostou-se à cama e puxou um cigarro, fez uma mímica pra ver
ser o cliente se importava. Carlos respondeu com outro gesto, pedindo um
cigarro. A linguagem dos boêmios é tão desenvolvida que as palavras, muitas
vezes, tornam-se desnecessárias. O quarto logo foi contaminado de fumaça, e
a prosa não se deixava apagar.

- Se você não fosse uma mulher da noite, o que seria?

- Ah... Acho que seria hippie.

- Por que hippie?

- Eu nasci pra desafiar essa cultura careta e tradicional. Estou à frente


do meu tempo, simplesmente não consigo aceitar que a mulher deve crescer,
casar, trabalhar, criar os filhos e entrar na menopausa.

- Você tem uma língua e tanto.

- Não viu nada.

Dalila abriu o zíper da calça de Carlos e caiu de boca. Ela não fazia
boquete sem camisinha em serviço, mas o clima estava mais íntimo que um
mero programa. Ela o chupou intensamente, avidamente, incessantemente. Até
que Carlos, de tanto gemer, não conseguiu adiar o orgasmo. Uma dezena de
segundos foi transformada em eternidade. Ela engoliu todo esperma e
continuou chupando o cliente, como nunca havia feito. Em seguida, Dalila
deitou ao lado do cliente, que se encontrava em estado nirvânico pós-orgasmo.

- Nunca senti algo parecido. – Confessou Carlos, extasiado.

- Posso te pedir algo? Por que tu foste carinhoso comigo e ficou


conversando um bocado antes de...?
- Eu não consigo apenas transar com alguém desconhecido. E também
não acho certo tratar uma mulher como uma máquina de sexo. Somos
humanos, sublime ao prazer há sentimento. Mesmo pagando, tento esquecer
que existe essa formalidade. Sexo não é mera prestação de serviço.

- Que lindo. Me senti mal de ter cobrado, posso pagar um jantar pra
retribuir, se aceitar sair com uma prostituta.

- É o seu trabalho. Mas vem cá, qual é o seu nome verdadeiro?

- Anna.

- Anna, vista suas roupas. Vou te levar pra jantar.

- Tá. Mas eu pago.

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