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POLÍCIA JUDICIÁRIA

SEBENTA
- Investigação de Incêndios -

Compilação e redação:

Filipe Ferreira, Inspetor Chefe

SET.2013
SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

CONSIDERAÇÕES DO AUTOR

Nos últimos anos a dinâmica da investigação criminal dos incêndios na PJ não


sofreu muitas alterações em termos de referência de bibliografia interna.
De facto, na formação existente até agora na EPJ, adotou-se uma compilação de
textos de apoio, organizada pelo então responsável pela formação nesta área,
António Carvalho (CIC aposentado).
Tal documento data de 2005, mas já vinha sendo adotado, pelo menos, desde
1996.
Desde então assistia-se a uma lacuna, mormente quanto à existência de uma
bibliografia (ou conjunto de bibliografias), sistemática, atual, com uma vertente
técnica, mas ao mesmo tempo (e mais importante), com uma vertente prática,
que servisse, em primeiro lugar, o interesse da formação e consequentemente
funcionasse como apoio para os investigadores que atuam no terreno,
investigando os crimes de incêndio.
***
Para além do resultante das inúmeras referências bibliográficas consultadas e
das pesquisas feitas, o presente trabalho teve a prestável colaboração dos
Inspetores Chefes, Pedro Silva e Helena Gravato.
***
A todos os que dele tirarem proveito… bem hajam e… bom trabalho.

O autor,

/Filipe Ferreira, Inspetor Chefe/

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 2


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

RESUMO

A presente SEBENTA comporta uma sistematização de conceitos teóricos,


materializando-se na prática através de um conjunto sistemático de
orientações e metodologias.
Constitui destarte não só uma referência para a formação inicial na PJ, mas
essencialmente uma ferramenta de trabalho para quem trabalha, ou espera
vir a trabalhar, na área da investigação dos incêndios.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 3


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

ÍNDICE GERAL
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES.................................................................... 9
ÍNDICE DE QUADROS/TABELAS......................................................... 13
PRINCIPAIS ACRÓNIMOS .................................................................. 14
I. INTRODUÇÃO ........................................................................... 15
1. APONTAMENTO HISTÓRICO................................................................................................................. 16

II. FENOMENOLOGIA DA COMBUSTÃO ......................................... 17


2. MATÉRIA ..................................................................................................................................................... 18
2.1. ESTADOS FÍSICOS ............................................................................................................................................ 19
2.2. REACÇÕES QUÍMICAS ..................................................................................................................................... 19

3. TRIÂNGULO / TETRAEDRO DO FOGO ................................................................................................ 21


3.1. COMBURENTE ................................................................................................................................................ 23
3.2. CALOR / ENERGIA DE ATIVAÇÃO .................................................................................................................... 23
3.2.1. FONTES DE IGNIÇÃO ....................................................................................................................................... 24
3.2.2. CALOR ESPECÍFICO (c) .................................................................................................................................... 25
3.2.3. CALOR LATENTE DE VAPORIZAÇÃO ................................................................................................................ 26
3.2.4. PODER CALORÍFICO ........................................................................................................................................ 27
3.2.5. CARGA DE INCÊNDIO ...................................................................................................................................... 27
3.3. COMBUSTÍVEIS ............................................................................................................................................... 27
3.3.1. CONDUTIVIDADE TÉRMICA ............................................................................................................................ 28
3.3.2. ESTADO DE DIVISÃO ....................................................................................................................................... 29
3.3.3. DENSIDADE ..................................................................................................................................................... 29
3.3.4. MISCIBILIDADE ............................................................................................................................................... 30
3.3.5. TEMPERATURAS CARACTERÍSTICAS ............................................................................................................... 30
3.3.6. TENDÊNCIA PARA LIBERTAR VAPORES (LÍQUIDOS) ........................................................................................ 32
3.4. LIMITES DE INFLAMABILIDADE DE UM GÁS ................................................................................................... 33
3.5. COMBUSTÃO .................................................................................................................................................. 34
3.5.1. VELOCIDADES DE COMBUSTÃO ..................................................................................................................... 35
3.5.2. B.L.E.V.E. (Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion) ................................................................................... 38
3.5.3. FLASHOVER (OU COMBUSTÃO GENERALIZADA) ............................................................................................ 39
3.5.4. BACKDRAF (OU EXPLOSÃO DE FUMOS) ......................................................................................................... 40
3.5.5. PRODUTOS RESULTANTES .............................................................................................................................. 41

4. DINÂMICA DA PROPAGAÇÃO .............................................................................................................. 44


4.1. FORMAS DE PROPAGAÇÃO ............................................................................................................................ 47

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5. CLASSES DE FOGO .................................................................................................................................... 50


6. ATMOSFERAS PERIGOSAS ..................................................................................................................... 52
6.1. SISTEMAS DE DETEÇÃO/MEDIDA DE GASES ................................................................................................... 54

7. MÉTODOS DE EXTINÇÃO ....................................................................................................................... 55


8. AGENTES EXTINTORES ............................................................................................................................ 56
9. ELETRICIDADE ............................................................................................................................................ 58
9.1. SISTEMAS (HIDRÁULICO VS. ELÉTRICO) .......................................................................................................... 59
9.2. CIRCUITO ELÉTRICO ........................................................................................................................................ 59
9.3. CONDUTORES ELÉTRICOS ............................................................................................................................... 60
9.4. GRANDEZAS ELÉTRICAS .................................................................................................................................. 61
9.5. LEI DE OHM (Ω) .............................................................................................................................................. 63
9.6. LEI DE JOULE ................................................................................................................................................... 63
9.6.1. SOBREAQUECIMENTO ELÉTRICO .................................................................................................................... 64
9.6.2. SOBREINTENSIDADE ELÉTRICA ....................................................................................................................... 65
9.7. ELETRICIDADE ESTÁTICA................................................................................................................................. 66
9.8. SISTEMAS DE PROTEÇÃO ................................................................................................................................ 66
9.9. EFEITOS BIOFISIOLÓGICOS DA CORRENTE ELÉTRICA (NO CORPO HUMANO) ................................................ 67
9.9.1. PRINCIPAIS ACIDENTES DE ORIGEM ELÉTRICA ............................................................................................... 68

III. TIPOLOGIA DE INCÊNDIOS (Caracterização genérica) ................. 70


10. TIPOS DE INCÊNDIOS – CARACTERIZAÇÃO GENÉRICA ................................................................. 71
10.1. INCÊNDIOS FLORESTAIS (IF) ........................................................................................................................... 71
10.2. FATORES DE PROPAGAÇÃO ............................................................................................................................ 72
10.3. COMBUSTÍVEIS ............................................................................................................................................... 72
10.3.1. CLASSIFICAÇÃO ...................................................................................................................................... 73
10.3.2. PROPRIEDADES ...................................................................................................................................... 75
10.3.3. PROPRIEDADES DO LEITO COMBUSTÍVEL .............................................................................................. 77
10.4. CLIMA E METEOROLOGIA ............................................................................................................................... 80
10.4.1. FATORES CONDICIONANTES/DETERMINANTES .................................................................................... 81
10.5. RISCO METEOROLÓGICO DE INCÊNDIO ......................................................................................................... 86
10.6. RELEVO ........................................................................................................................................................... 87
10.6.1. DECLIVE .................................................................................................................................................. 88
10.6.2. ALTITUDE ............................................................................................................................................... 89
10.6.3. EXPOSIÇÃO SOLAR ................................................................................................................................. 89
10.7. COMPORTAMENTO DINÂMICO DE UM IF ...................................................................................................... 90
10.7.1. VELOCIDADE DE PROGRESSÃO DE UM IF .............................................................................................. 90
10.7.2. INTENSIDADE DA FRENTE E DIMENSÕES DA CHAMA ............................................................................ 91

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10.7.3. ANÁLISE CPS (CAMPBELL PREDICTION SYSTEM) .................................................................................... 93

11. INCÊNDIOS EM ESTRUTURAS EDIFICADAS (Urbanos/Industriais) ........................................... 95


12. INCÊNDIOS EM VEÍCULOS AUTOMÓVEIS......................................................................................... 96

IV. INCÊNDIOS (INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS) ................................ 97


13. INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS................................................................................................................ 98
13.1. PORQUÊ INVESTIGAR AS CAUSAS? ................................................................................................................. 98

14. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL (IC) - GENERALIDADES .................................................................99


14.1. CENÁRIO DE INCÊNDIO vs. CENÁRIO DE CRIME ........................................................................................... 100
14.2. O CRIME DE INCÊNDIO (enquadramento penal) .......................................................................................... 100

15. A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL - incêndios ........................................................................................ 102


15.1. COMPETÊNCIA LEGAL ................................................................................................................................... 104
15.2. FASES DA INVESTIGAÇÃO DE INCÊNDIOS ..................................................................................................... 106
15.2.1. COMUNICAÇÃO DA OCORRÊNCIA ....................................................................................................... 106
15.2.2. TRIAGEM PELO PIQUETE ...................................................................................................................... 106
15.2.3. NO LOCAL (TEATRO DE OPERAÇÕES - TO) ........................................................................................... 107
15.2.4. INSPEÇÃO JUDICIÁRIA (cenário de incêndio)....................................................................................... 108
15.2.5. MATERIAL DE CAMPO – Kit do Investigador ........................................................................................ 109
15.2.6. DILIGÊNCIAS INICIAIS NO TEATRO DE OPERAÇÕES (TO) ..................................................................... 111
15.2.7. RECOLHA DE DADOS/INFORMAÇÕES .................................................................................................. 111
15.2.8. RECOLHA DE PROVA TESTEMUNHAL ................................................................................................... 112
15.2.9. PRIMEIROS INTERVENIENTES INSTITUCIONAIS ................................................................................... 113
15.3. DETERMINAÇÃO DO PONTO DE INÍCIO (PI) ................................................................................................. 115
15.4. PROVA MATERIAL - VESTÍGIOS ..................................................................................................................... 116
15.4.1. TRATAMENTO DOS VESTÍGIOS NO PI .................................................................................................. 117
15.5. REGISTOS ...................................................................................................................................................... 118
15.6. HIPÓTESES QUANTO À ORIGEM E DESENVOLVIMENTO .............................................................................. 119
15.7. TESTE DAS HIPÓTESES FORMULADAS .......................................................................................................... 119
15.8. VALIDAÇÃO DA HIPÓTESE MAIS PROVÁVEL ................................................................................................. 119
15.9. MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA (sistematização) ..................................................................................... 120

V. A POLÍCIA JUDICIÁRIA............................................................. 121


16. ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL ............................................................................................... 122
16.1. NO PLANO NACIONAL DE EMERGÊNCIA E PROTEÇÃO CIVIL (PNEPC) .......................................................... 122
16.2. NA AUTORIDADE NACIONAL DE PROTEÇÃO CIVIL (ANPC) ........................................................................... 122
16.3. O PNPICIF e o GPAA ...................................................................................................................................... 123

17. ENFSI (European Network of Forensic Sciences Institutes) ...................................................... 124

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VI. INDICADORES / PADRÕES DE QUEIMA .................................... 126


18. INCÊNDIOS FLORESTAIS (IFs).............................................................................................................. 128
18.1. O PONTO DE INÍCIO (PI)................................................................................................................................ 128
18.2. INDICADORES (padrões de queima) ............................................................................................................. 129
18.3. PROCEDIMENTOS NO PONTO DE INÍCIO (PI) - FLORESTAIS ......................................................................... 137
18.4. CAUSAS dos iNCÊNDIOS FLORESTAIS ........................................................................................................... 138
18.4.1. ELIMINAÇÃO dE CAUSAS ..................................................................................................................... 138
18.4.2. CODIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS CATEGORIAS DE CAUSAS ................................................................... 139
18.5. PERFIL DO INCENDIÁRIO FLORESTAL PORTUGUÊS ....................................................................................... 140

19. INCÊNDIOS EM ESTRUTURAS EDIFICADAS .................................................................................... 142


19.1. PROCEDIMENTOS NO LOCAL ........................................................................................................................ 142
19.2. INDICADORES E PADRÕES DE QUEIMA ........................................................................................................ 143
19.3. DETERMINAÇÃO DO PI ................................................................................................................................. 153
19.4. PRINCIPAIS CAUSAS ...................................................................................................................................... 156
19.4.1. CAUSAS ELÉTRICAS .............................................................................................................................. 157
19.4.2. OUTRAS CAUSAS .................................................................................................................................. 158
19.4.3. INCENDIARISMO .................................................................................................................................. 160

20. INCÊNDIOS EM VEÍCULOS AUTOMÓVEIS....................................................................................... 162


20.1. GENERALIDADES ........................................................................................................................................... 162
20.2. AFERIR O PI - INDICADORES E PROCEDIMENTOS ......................................................................................... 163
20.3. PRINCIPAIS CAUSAS ...................................................................................................................................... 168
20.3.1. ACIDENTAIS.......................................................................................................................................... 168
20.3.2. INTENCIONAIS  INCENDIARISMO ..................................................................................................... 169

VII. CONCLUSÃO ........................................................................... 171


VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................... 172
IX. ANEXOS ................................................................................. 175
ANEXO I ......................................................................................... 176
ANEXO II ........................................................................................ 179
ANEXO III ....................................................................................... 181
ANEXO IV ....................................................................................... 183
ANEXO V ........................................................................................ 186
ANEXO VI ....................................................................................... 191

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ANEXO VII ...................................................................................... 194


ANEXO VIII ..................................................................................... 196
ANEXO IX ....................................................................................... 200

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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
FIG. 1: OS PRIMEIROS FOGOS ............................................................................................................................................. 16
FIG. 2: TABELA PERIÓDICA ................................................................................................................................................. 18
FIG. 3: CONSTITUIÇÃO DE UM ÁTOMO .................................................................................................................................. 18
FIG. 4: PROCESSOS DE MUDANÇAS DE ESTADOS DA MATÉRIA .................................................................................................... 19
FIG. 5: REAÇÕES QUÍMICAS (DIAGRAMA CONCEPTUAL) ............................................................................................................ 20
FIG. 6: REAÇÃO QUÍMICA - OXIDAÇÃO DA GLICERINA............................................................................................................... 21
FIG. 7: TRIÂNGULO DO FOGO ............................................................................................................................................. 22
FIG. 8: TETRAEDRO DO FOGO ............................................................................................................................................. 22
FIG. 9: GASES QUE COMPÕEM A ATMOSFERA......................................................................................................................... 23
FIG. 10: GRÁFICO - ENERGIA DE ATIVAÇÃO............................................................................................................................ 23
FIG. 11: GRÁFICO - CALOR LATENTE DE VAPORIZAÇÃO ............................................................................................................ 26
FIG. 12: ESTADOS FÍSICOS DA MATÉRIA................................................................................................................................. 28
FIG. 13: EQUIVALÊNCIAS DE ESCALAS DE TEMPERATURAS ......................................................................................................... 30
FIG. 14: CALOR (ENERGIA TÉRMICA DE UM CORPO) ............................................................................................................... 31
FIG. 15: CAMPO DE INFLAMABILIDADE ................................................................................................................................. 34
FIG. 16: DIAGRAMA - COMBUSTÃO ..................................................................................................................................... 35
FIG. 17: DIAGRAMA - VELOCIDADES DE COMBUSTÃO .............................................................................................................. 36
FIG. 18: TIPOS DE COMBUSTÕES ......................................................................................................................................... 38
FIG. 19: BLEVE ............................................................................................................................................................... 39
FIG. 20: GRÁFICO PRESSÃO-TEMPERATURA (BLEVE) .............................................................................................................. 39
FIG. 21: FASES DE UM FLASHOVER ................................................................................................................................... 40
FIG. 22: FASES DE UM BACKDRAF ..................................................................................................................................... 40
FIG. 23: PRODUTOS RESULTANTES DA COMBUSTÃO ................................................................................................................ 41
FIG. 24: DIAGRAMA DAS FASES DESENVOLVIMENTO DE UM INCÊNDIO ........................................................................................ 45
FIG. 25: FASE INICIAL DE UM INCÊNDIO URBANO .................................................................................................................... 45
FIG. 26: FASE DE COMBUSTÃO CONTÍNUA DE UM INCÊNDIO URBANO ......................................................................................... 46
FIG. 27: FORMAS TÍPICAS DE TRANSMISSÃO DE CALOR ............................................................................................................. 47
FIG. 28: TRIÂNGULO DO FOGO ........................................................................................................................................... 47
FIG. 29: CONDUÇÃO ......................................................................................................................................................... 48
FIG. 30: ONDA DE RADIAÇÃO ............................................................................................................................................. 48
FIG. 31: ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO ................................................................................................................................ 48
FIG. 32: RADIAÇÃO .......................................................................................................................................................... 48
FIG. 33: CONVECÇÃO (URBANOS) ....................................................................................................................................... 49
FIG. 34: CONVECÇÃO (VELA).............................................................................................................................................. 49
FIG. 35: CONVECÇÃO (FLORESTAIS) ..................................................................................................................................... 49
FIG. 36: PROJEÇÃO DE MATÉRIA INCANDESCENTE (FLORESTAIS) ................................................................................................. 49
FIG. 37: EXTINTORES DE ÁGUA............................................................................................................................................ 57
FIG. 38: EXTINTORES DE ESPUMA ........................................................................................................................................ 57
FIG. 39: EXTINTORES DE CO2 ............................................................................................................................................. 57
FIG. 40: EXTINTORES DE PÓ QUÍMICO................................................................................................................................... 57
FIG. 41: EFEITOS DA CORRENTE ELÉTRICA (CALORÍFICO E LUMINOSO; QUÍMICO, LUMINOSO E MAGNÉTICO) ........................................ 58
FIG. 42: SISTEMA HIDRÁULICO VS. SISTEMA ELÉTRICO............................................................................................................. 59
FIG. 43: CIRCUITOS ELÉTRICOS ............................................................................................................................................ 60
FIG. 44: INTENSIDADE DA CORRENTE ELÉTRICA ....................................................................................................................... 61
FIG. 45: TENSÃO DA CORRENTE ELÉTRICA .............................................................................................................................. 61
FIG. 46: RESISTÊNCIA DA CORRENTE ELÉTRICA ........................................................................................................................ 62

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FIG. 47: POTÊNCIA DA CORRENTE ELÉTRICA ........................................................................................................................... 62


FIG. 48: FUSÍVEIS E DISJUNTORES ........................................................................................................................................ 67
FIG. 49: TRIÂNGULO – FATORES CONDICIONANTES DA DINÂMICA DE UM INCÊNDIO FLORESTAL........................................................ 72
FIG. 50: TRIÂNGULO DO FOGO - IMPORTÂNCIA DO TIPO DE COMBUSTÍVEIS ................................................................................. 72
FIG. 51: INCÊNDIOS SUBTERRÂNEOS E DO SOLO ...................................................................................................................... 74
FIG. 52: INCÊNDIOS SUPERFICIAIS ........................................................................................................................................ 74
FIG. 53: INCÊNDIOS AÉREOS (COPAS) ................................................................................................................................... 74
FIG. 54: DIMENSÃO DOS COMBUSTÍVEIS VEGETAIS ................................................................................................................. 75
FIG. 55: COMBUSTÍVEL VEGETAL MAIS E MENOS COMPACTADO ................................................................................................. 79
FIG. 56: CONTINUIDADE HORIZONTAL .................................................................................................................................. 79
FIG. 57: CONTINUIDADE VERTICAL ....................................................................................................................................... 80
FIG. 58: TRIÂNGULO DO FOGO - IMPORTÂNCIA DO CLIMA E METEOROLOGIA ................................................................................ 80
FIG. 59: INVERSÃO DA HUMIDADE DOS COMBUSTÍVEIS (DIA E NOITE).......................................................................................... 82
FIG. 60: BRISA DIURNA E NOTURNA ..................................................................................................................................... 83
FIG. 61: BRISA DO MAR E TERRESTRE ................................................................................................................................... 83
FIG. 62: CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA ......................................................................................................................... 84
FIG. 63: EFEITO ERUPTIVO (CHAMINÉ) NUM IF ...................................................................................................................... 84
FIG. 64: INFLUÊNCIA DA DENSIDADE DA VEGETAÇÃO NA VELOCIDADE DO VENTO ........................................................................... 85
FIG. 65: INFLUÊNCIA DO VENTO NUM IF ............................................................................................................................... 85
FIG. 66: REGRA DOS 30 .................................................................................................................................................... 86
FIG. 67: ÍNDICES DE RISCO FLORESTAL (CFR. O SISTEMA FWI - FIRE WEATHER INDEX) ................................................................... 87
FIG. 68: MEDIÇÃO DO ÍNDICE DE IGNIÇÃO (BURNING INDEX) ................................................................................................... 87
FIG. 69: TRIÂNGULO DO FOGO - IMPORTÂNCIA DO RELEVO....................................................................................................... 87
FIG. 70: ELEMENTOS OROGRÁFICOS PRINCIPAIS...................................................................................................................... 88
FIG. 71: GEOMETRIA DE UM DECLIVE ................................................................................................................................... 88
FIG. 72: PROGRESSÃO DE UM IF NUM DECLIVE (INFLUÊNCIA DO VENTO) ..................................................................................... 89
FIG. 73: PROGRESSÃO DE UM IF COM SEM E COM DECLIVE RESPETIVAMENTE ............................................................................... 89
FIG. 74: INFLUÊNCIA DO VENTO E DO DECLIVE NOS IFS............................................................................................................. 90
FIG. 75: TRIÂNGULO DOS FATORES CONDICIONANTES DE UM IF................................................................................................. 92
FIG. 76: ESQUEMA GERAL DAS DIFERENTES PARTES DA PROGRESSÃO DE UM IF ............................................................................. 93
FIG. 77: DIAGRAMA DAS FASES TÍPICAS DE UM INCÊNDIO FLORESTAL .......................................................................................... 95
FIG. 78: DIAGRAMA - INCÊNDIOS (ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO)......................................................................................... 102
FIG. 79: DIAGRAMA - OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ................................................................................................ 103
FIG. 80: DIAGRAMA – MEFCI .......................................................................................................................................... 103
FIG. 81: DIAGRAMA - CADEIA DE INTERVENÇÕES E COMPETÊNCIAS DOS OPCS ........................................................................... 105
FIG. 82: ORGANOGRAMA - SISTEMATIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL .............................................................................. 105
FIG. 83: DIAGRAMA - CLASSIFICAÇÃO E NATUREZA DOS VESTÍGIOS ........................................................................................... 117
FIG. 84: DIAGRAMA - SISTEMATIZAÇÃO DA PROVA INDICIÁRIA ................................................................................................ 120
FIG. 85: CONFIGURAÇÃO CIRCULAR DE UM INCÊNDIO NASCENTE FIG. 86: DESTRUIÇÃO ALTA COM COMBUSTÍVEL LÍQUIDO
ACELERANTE ......................................................................................................................................................... 129
FIG. 87: INDICADOR - CAULES DAS GRAMÍNEAS .................................................................................................................... 130
FIG. 88: INDICADOR – GRAMÍNEAS PROTEGIDAS .................................................................................................................. 130
FIG. 89: INDICADOR - TRONCO PROTEGIDO ......................................................................................................................... 130
FIG. 90: INDICADOR - COMBUSTÍVEIS ESCAVADOS ................................................................................................................ 131
FIG. 91: INDICADOR - CORTE EM BISEL NAS GRAMÍNEAS......................................................................................................... 131
FIG. 92: INDICADOR - "PELE DE CROCODILO" ....................................................................................................................... 132
FIG. 93: INDICADOR - CONGELAÇÃO DE RAMOS (FASE INICIAL JUNTO DO PI) FIG. 94: INDICADOR - CONGELAÇÃO DE RAMOS
(AFASTADO DO PI – EM PROGRESSÃO) ....................................................................................................................... 132

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FIG. 95: MANCHAS NAS PEDRAS ....................................................................................................................................... 133


FIG. 96: MANCHAS DE FULIGEM EM CERCAS DE ARAME ......................................................................................................... 133
FIG. 97: PADRÃO DE CARBONIZAÇÃO (FOGO ATRAVÉS DE ÁRVORES E MATO) .............................................................................. 133
FIG. 98: : PADRÃO DE CARBONIZAÇÃO (DESTRUIÇÃO DAS COPAS DAS ÁRVORES) ......................................................................... 134
FIG. 99: CARBONIZAÇÃO DOS TRONCOS DAS ÁRVORES EM REDOR DO PI.................................................................................... 134
FIG. 100: ASPETO DE UMA ÁRVORE AO SER ATINGIDA PELAS CHAMAS (PROGRESSÃO A FAVOR DO VENTO) ....................................... 134
FIG. 101: ASPETO DE UMA ÁRVORE AO SER ATINGIDA PELAS CHAMAS (PROGRESSÃO CONTRA O VENTO).......................................... 135
FIG. 102: PADRÃO DE QUEIMA NAS ÁRVORES (PROGRESSÃO EM DECLIVE) ................................................................................. 135
FIG. 103: PADRÃO DE QUEIMA NAS ÁRVORES (FOGO ENCOSTA ABAIXO CONTRA VENTO) .............................................................. 135
FIG. 104: ASPETO DAS MARCAS DE CARBONIZAÇÃO NAS ÁRVORES EM DECLIVE ........................................................................... 136
FIG. 105; ASPETO GERAL DE FOGO EM ENCOSTA (COLORAÇÃO) ............................................................................................... 136
FIG. 106: IDENTIFICAÇÃO E BALIZAMENTO DO PI (EM IF) ....................................................................................................... 137
FIG. 107: PI - BUSCA MINUCIOSA COM LUPA ....................................................................................................................... 137
FIG. 108: GRELHA DE BUSCA NO PI ................................................................................................................................... 137
FIG. 109: EXEMPLOS DE MATERIAIS/DISPOSITIVOS ENCONTRADOS NO PI .................................................................................. 138
FIG. 110: CHAMA DIRETA ................................................................................................................................................ 138
FIG. 111: TONALIDADE DO TIPO "ARCO ÍRIS" (ÁGUA SOBRE LÍQUIDO ACELERANTE)...................................................................... 142
FIG. 112: PROPAGAÇÃO E GRAU DE DESTRUIÇÃO NO TETO ..................................................................................................... 144
FIG. 113: GRAU DE CARBONIZAÇÃO EM PORTAS (CONSOANTE DISTÂNCIA DO PI) ........................................................................ 144
FIG. 114: PADRÃO DE QUEIMA EM OMBREIRAS DAS PORTAS (CORREDOR) ................................................................................. 144
FIG. 115: CARBONIZAÇÃO NO TETO ................................................................................................................................... 145
FIG. 116: PADRÃO DE QUEBRA EM ESPELHOS ...................................................................................................................... 145
FIG. 117: PADRÃO – LINHA DE DEMARCAÇÃO ..................................................................................................................... 146
FIG. 118: PADRÃO - "PELE DE CROCODILO" ........................................................................................................................ 146
FIG. 119: QUEDA DE REBOCO NAS PAREDES QUEIMADAS ....................................................................................................... 146
FIG. 120: PADRÃO CIRCULAR DE DERRAME DE LÍQUIDO COMBUSTÍVEL NO CHÃO ......................................................................... 147
FIG. 121: PADRÃO DE QUEIMA AO NÍVEL DOS RODAPÉS ......................................................................................................... 147
FIG. 122: EFEITOS "SOMBRA" NO LOCAL ONDE ESTAVA MOBILIÁRIO......................................................................................... 147
FIG. 123: CONE TRUNCADO ............................................................................................................................................. 148
FIG. 124: PADRÃO - CONE INVERTIDO................................................................................................................................ 148
FIG. 125: PADRÃO EM "V" .............................................................................................................................................. 149
FIG. 126: PADRÃO EM "U" .............................................................................................................................................. 149
FIG. 127: PADRÃO SETA .................................................................................................................................................. 150
FIG. 128: PADRÃO CIRCULAR............................................................................................................................................ 150
FIG. 129: QUEIMA NA PARTE SUPERIOR DE UMA PORTA - ANTES DO FLASHOVER ......................................................................... 151
FIG. 130: QUEIMA DA PORTA - APÓS FLASHOVER FIG. 131: QUEIMA DA PORTA POR QUEDA DE MATERIAL EM
BRASAS ................................................................................................................................................................ 151
FIG. 132: SEQUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DE UM INCÊNDIO NUM SOFÁ ............................................................................... 151
FIG. 133: SEQUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DE UM INCÊNDIO NUMA CAMA ............................................................................ 151
FIG. 134: FASES DE UM INCÊNDIO ..................................................................................................................................... 152
FIG. 135: POÇAS DE LÍQUIDO INFLAMÁVEL NO CHÃO ............................................................................................................. 154
FIG. 136: INCLINAÇÃO DE UMA LÂMPADA AQUECIDA ............................................................................................................ 154
FIG. 137: PONTOS QUENTES DAS LÂMPADAS ....................................................................................................................... 155
FIG. 138: PROTEÇÃO DAS LÂMPADAS CONTRA INCÊNDIOS ...................................................................................................... 155
FIG. 139: VISÃO GERAL DO EXTERIOR PARA AFERIR ZONA DE MAIOR DANO (CHAMA DIRETA NO BANCO) .......................................... 163
FIG. 140: VIATURA INCENDIADA POR DERRAME DE LÍQUIDO COMBUSTÍVEL NA CARROÇARIA (VEÍCULO ROUBADO) ............................. 164
FIG. 141: VIATURA INCENDIADA ATRAVÉS DE MATERIAL EMBEBIDO EM COMBUSTÍVEL COLOCADO JUNTO DA RODA TRASEIRA .............. 164
FIG. 142: TENTATIVA DE INCÊNDIO POR COLOCAÇÃO DE ALGO A ARDER EM CIMA DE PNEU ........................................................... 164

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 11


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

FIG. 143: MOTOR (MARCA “TATUADA” E MANGUEIRA DANIFICADA) ........................................................................................ 165


FIG. 144: MOTOR (MANGUEIRA DESLIGADA)....................................................................................................................... 165
FIG. 145: MOTOR (REGIÃO MAIS DANIFICADA) .................................................................................................................... 165
FIG. 146: POR CHAMA DIRETA NO BANCO TRASEIRO. ENCONTRADA CHAVE DE RODAS NO EXTERIOR (PARA PARTIR O VIDRO) ............... 166
FIG. 147: CHAMA DIRETA NO HABITÁCULO - ENCONTRADO ISQUEIRO NO EXTERIOR ..................................................................... 166
FIG. 148: RESULTADO DO LANÇAMENTO DE COCKTAIL MOLOTOV PARA UM STAND DE CARROS ..................................................... 166
FIG. 149: LATA DE LÍQUIDO COMBUSTÍVEL ACELERANTE ENCONTRADA NO HABITÁCULO ............................................................... 167
FIG. 150: CURTO-CIRCUITO NA CABLAGEM DO SISTEMA DE ABERTURA ELÉTRICA DO TETO ............................................................. 167
FIG. 151: CURTO-CIRCUITO DEVIDO AO SOBREAQUECIMENTO DE UM GERADOR ......................................................................... 167
FIG. 152: CURTO-CIRCUITO A PARTIR DE COMPONENTE ELÉTRICO NO INTERIOR DO MOTOR .......................................................... 168
FIG. 153: MOTOR (BATERIA DERRETIDA) ............................................................................................................................ 168

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 12


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ÍNDICE DE QUADROS/TABELAS
QUADRO 1: FONTES DE IGNIÇÃO ......................................................................................................................................... 25
QUADRO 2: CALOR ESPECÍFICO DE ALGUNS MATERIAIS ............................................................................................................ 26
QUADRO 3: PODER CALORÍFICO DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS ..................................................................................................... 27
QUADRO 4: TIPOS DE TEMPERATURAS .................................................................................................................................. 32
QUADRO 5: TEMPERATURAS CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS MATERIAIS ........................................................................................ 32
QUADRO 6: CATEGORIAS DE INFLAMAÇÃO DOS LÍQUIDOS COMBUSTÍVEIS .................................................................................... 33
QUADRO 7: CAMPO DE INFLAMABILIDADE DE ALGUNS COMBUSTÍVEIS ........................................................................................ 34
QUADRO 8: PRODUTOS RESULTANTES DA COMBUSTÃO ............................................................................................................ 44
QUADRO 9: CLASSES DE FOGO (TIPO DE MATERIAIS) ................................................................................................................ 50
QUADRO 10: CLASSES DE FOGO (CARACTERÍSTICAS) ................................................................................................................ 51
QUADRO 11: TIPO DE ATMOSFERAS ..................................................................................................................................... 53
QUADRO 12: CLASSES DE MATÉRIAS PERIGOSAS (NÚMEROS DE PERIGO) ..................................................................................... 54
QUADRO 13: DISPOSITIVOS DE DETEÇÃO/MEDIDA DE ATMOSFERAS PERIGOSAS ............................................................................ 54
QUADRO 14: CONSEQUÊNCIAS PARA A VIDA DA FALTA DE OXIGÉNIO ......................................................................................... 55
QUADRO 15: MÉTODOS DE EXTINÇÃO DE INCÊNDIOS .............................................................................................................. 56
QUADRO 16: CLASSES DE FOGO (AGENTES EXTINTORES) .......................................................................................................... 56
QUADRO 17: DIFERENCIAL ENTRE SISTEMA HIDRÁULICO E ELÉTRICO ........................................................................................... 59
QUADRO 18: TIPOS DE CONDUTORES ELÉTRICOS .................................................................................................................... 60
QUADRO 19: FENÓMENOS DE SOBREINTENSIDADE ELÉTRICA ..................................................................................................... 65
QUADRO 20: SENSAÇÕES FISIOLÓGICAS (CORRENTE DE 50HZ), ENTRANDO PELA MÃO (AMOSTRAGEM DE 500 PESSOAS) ..................... 68
QUADRO 21: ACIDENTES ELÉTRICOS MAIS COMUNS ................................................................................................................ 69
QUADRO 22: DEFINIÇÕES DE COMBUSTÍVEIS VEGETAIS (IFN).................................................................................................... 72
QUADRO 23: CLASSES DE TEMPO DE RETARDAÇÃO................................................................................................................. 76
QUADRO 24: HUMIDADE (%) DE COMBUSTÍVEL MORTO FINO ................................................................................................... 77
QUADRO 25: CARGA DE COMBUSTÍVEIS VEGETAIS................................................................................................................... 78
QUADRO 26: CARGA DE COMBUSTÍVEIS VEGETAIS FINOS .......................................................................................................... 78
QUADRO 27: INFLUÊNCIAS DAS PROPRIEDADES NA DINÂMICA DO INCÊNDIO................................................................................. 80
QUADRO 28: INTENSIDADE DO VENTO E EFEITOS OBSERVÁVEIS.................................................................................................. 85
QUADRO 29: CLASSES FWI (DESCRIÇÃO DO ÍNDICE METEOROLÓGICO DO RISCO DE INCÊNDIO) ........................................................ 86
QUADRO 30: CLASSIFICAÇÃO EM FUNÇÃO DA VELOCIDADE DE PROGRESSÃO DE UM IF ................................................................... 91
QUADRO 31: CONFIGURAÇÕES TÍPICAS DE IFS (CONSOANTE O VENTO) ....................................................................................... 93
QUADRO 32: RESUMO DA MOLDURA PENAL (INCÊNDIO) ........................................................................................................ 105
QUADRO 33: CHEIROS ESTRANHOS EM INCÊNDIOS EM ESTRUTURAS EDIFICADAS ......................................................................... 143
QUADRO 34: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DE LÂMPADAS ....................................................................................................... 155
QUADRO 35: CORES PRODUZIDAS PELA AÇÃO DAS CHAMAS .................................................................................................... 156
QUADRO 36: SUBSTÂNCIAS ATIVAS NA IGNIÇÃO ESPONTÂNEA ................................................................................................. 159
QUADRO 37: SISTEMA DE COMBUSTÍVEL AUTO (TEMPERATURAS DOS FLUÍDOS) .......................................................................... 169

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PRINCIPAIS ACRÓNIMOS

B.L.E.V.E. Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion - explosão de vapores em expansão


provenientes da ebulição de um líquido sob pressão
COS Comandante de Operações de Socorro
ANPC Autoridade Nacional de Proteção Civil
CDOS Comando Distrital de Operações de Socorro
OPC Órgão de Polícia Criminal
PCO Posto de Comando Operacional (dos bombeiros)
IF Incêndio Florestal
IFN Inventário Florestal Nacional
ICNF Instituto de Conservação da Natureza e Florestas
CFM Combustíveis Fino Mortos
CFV Combustíveis Finos Vivos
CM Combustíveis Mortos
THC Teor de Humidade dos Combustíveis
SNB Serviço Nacional de Bombeiros
SNBPC Serviço Nacional de Bombeiros e Proteção Civil
MEFCI Método das Evidências Físicas das Causas de Incêndios
TO Teatro de Operações
DIOPS Dispositivo Integrado de Operações de Proteção e Socorro
PNPICIF Plano Nacional de Prevenção e Investigação do Crime de Incêndio Florestal
GPAA Grupo Permanente de Acompanhamento e Apoio
ENFSI European Network of Forensic Sciences Institutes
PNEPC Plano Nacional de Emergência e Proteção Civil

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I. INTRODUÇÃO

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1. APONTAMENTO HISTÓRICO

“O fogo foi talvez a maior descoberta de toda a humanidade. A criatura que pela primeira vez
recolheu o fogo e depois aquela que, muito
mais tarde, o acendeu e conseguiu manter,
pertence à espécie Homo Erectus (já na era
Quaternária). Há cerca de 1,5 milhões de anos,
mergulhou um ramo na lava em fusão de um
vulcão, ou recuperou uma brasa após um
incêndio de causa natural (raio) e tentou de
alguma forma manter acesa a chama. O fogo é
então a luz que ilumina e o calor que alimenta.
É em torno desta realidade que o homem se
desenvolveu e assim moldou a sociedade.” 1
Fig. 1: Os primeiros fogos

Na verdade, um dos fenómenos mais utilizados pelo homem desde os tempos mais remotos para seu
trabalho, alimentação e conforto, é o fogo. Com a descoberta da forma de o produzir, ficou mais
evidente aquilo que distingue os humanos dos outros seres vivos – a inteligência.
O homem aprendeu a utilizar a força do fogo em seu proveito, extraindo a energia dos materiais da
natureza ou moldando a natureza em seu benefício. Serviu como forma de proteção, afastando os
predadores. Mais tarde, começou a ser rentabilizado na caça, quer para assustar as presas e assim
encurralá-las, quer para as confecionar, tonando-as mais saborosas ao mesmo tempo que eliminava
muitas bactérias existentes na carne. Nos climas mais gélidos, o fogo protegeu e aqueceu os seres
humanos.
Depois da primeira reação ao fogo – de fuga, receio -, o homem obteve o seu domínio. Até lá teve
necessidade de se proteger e desenvolver técnicas para fazer face ao poder destrutivo do fogo.
Já os Egípcios, Gregos e Hebreus preocupavam-se em manter nas suas cidades vigiadas por patrulhas,
para detetar e combater os incêndios, principalmente durante a noite. Os Romanos tinham já legisladas
2
medidas preventivas contra incêndios .
Em última instância, quando o homem na sua ânsia de querer dominar a natureza perde o controlo do
fogo, quer no tempo, quer no espaço, propicia um processo com consequências mais ou menos
gravosas  Incêndio.

Para se compreender toda a dinâmica inerente a um incêndio, importa quanto antes, que todos os
intervenientes e, essencialmente o investigador, tenham grandes conhecimentos sobre o comportamento
do fogo.
Importa ter em conta toda uma teoria dos vestígios (sua identificação e interpretação) e um estudo do
ponto de início, a fim de determinar qual a sua causa e, em última instância, qual(ais) o(s) seu(s)
autor(es).

1
In, Círculo de Leitores. “Memória do mundo – das origens ao ano 2000”. Ed. LAROUSE. Lisboa, 2000
2
Principalmente depois dos grandes incêndios ocorridos no ano 64 d.C

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 16


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II. FENOMENOLOGIA DA COMBUSTÃO

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 17


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2. MATÉRIA

Todo o universo que conhecemos é constituído por matéria.


A matéria não é contínua.
Na presente dinâmica de combustão, este conceito baseia-se na constituição física e química da matéria
que, independentemente da sua natureza, é constituída por partículas muito pequenas  ÁTOMOS (as
suas dimensões são da ordem de 0,000.000.000.1cm).

Fig. 2: Tabela Periódica

A cada espécie de átomo existente na natureza foi atribuído um nome ou símbolo químico utilizando, a
maior parte das vezes, uma ou várias letras das iniciais do nome, derivado do latim.
Um átomo é constituído, basicamente, por um núcleo composto por dois tipos de partículas – os protões
(cargas positivas) e os neutrões – em torno do qual se movimentam os eletrões (cargas negativas). Os
neutrões (cargas neutras), tem a função de, no núcleo, impedirem os protões de se repelirem
mutuamente destruindo a estrutura estabelecida.

Fig. 3: Constituição de um átomo

Os átomos podem porém estar mais unidos ou mais afastados, de acordo com as condições de
temperatura e de pressão a que a matéria está sujeita.
Alterando essas condições, podemos efetuar mudanças no estado físico da matéria.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 18


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2.1. ESTADOS FÍSICOS

3
Os estados físicos têm a ver com a velocidade do movimento das partículas (eletrões), de uma
determinada substância.
Todas as substâncias podem alterar o estado físico em que estão, alterando alguns fatores que as
influenciam, como a temperatura e a pressão.

Fig. 4: Processos de mudanças de estados da matéria

2.2. REACÇÕES QUÍMICAS

Fenómeno que consiste numa transformação da matéria, em que ocorrem mudanças qualitativas na
composição química, onde uma ou mais substâncias (reagentes) se decompõem e/ou associam
reagindo entre si, dando origem a outras (produtos de reação).
Para que ocorra uma reação química é necessário que se verifiquem determinadas condições, tais como
uma determinada proporção entre os reagentes e as adequadas condições ambientais.

3
Matéria abordada de forma mais completa mais adiante

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 19


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A composição química de uma substância é a definição qualitativa e quantitativa dos elementos químicos
presentes naquela.
Qualitativa porque descreve os elementos que estão presentes e quantitativa porque descreve o quanto
de cada elemento está presente.
Uma reação química é, igualmente, caracterizada por um balanço energético entre os produtos em
presença (reagentes e produtos da reação) e o ambiente exterior.

REAÇÕES
QUÍMICAS

Representam-se por
Quanto à
velocidade podem
ser
EQUAÇÕES
QUÍMICAS

Em termos Envolvem
energéticos, podem
ser

REAGENTES PRODUTOS RÁPIDAS LENTAS

Obedecem
à
Alguns exemplos

REAÇÕES REAÇÕES LEI DE


ENDOTÉRMICAS EXOTÉRMICAS LAVOISIER

Indicam:
Os elementos Combustão do Enegrecimento da
N.º moléculas butano. Fogo-de- prata. Ferrugem
Existe
Absorção de Libertação de N.º átomos artifício
energia energia Estados físicos

Conservação
Diminuição Aumento da da massa
da temperatura
temperatura

Fig. 5: Reações químicas (diagrama conceptual)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 20


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Fig. 6: Reação química - Oxidação da glicerina

3. TRIÂNGULO / TETRAEDRO DO FOGO

Considerando que um incêndio é pois uma “combustão química não controlada no espaço e no
tempo”, seja, um fogo não circunscrito, para evitar que ocorra e se propague é necessário conhecer os
seus fundamentos e alguns conceitos a ele ligados.
Na leitura dos indicadores no terreno, há que determinar de imediato qual(ais) o(s) tipo(s) de
combustível(eis) presente(s) e qual o tipo de material que concorreu para a inflamação do incêndio. Ou
seja, qual o elemento suscetível de arder, de alimentar a combustão, como móveis, tecidos ou papéis e
muitas vezes líquidos acelerantes como gasolina, podendo assim apresentar-se nos estados: gasoso,
líquido ou sólido.
Quanto ao comburente, importa averiguar se está presente (antes e depois do incêndio). Se existe algum
gás que alimente a combustão. Geralmente existe sob a forma de oxigénio presente no ar ambiente
(cerca de 21%), que é consumido pela combustão e que se pode alimentar pela abertura de portas e
janelas, por exemplo.

4
“O oxigénio por si só não arde, mas ajuda a alimentar ou manter a combustão” .

A concentração mínima no ar necessária para que um incêndio se inicie é de 16%.


Completando a trilogia do fogo, haverá que determinar se existiu alguma fonte de ignição ou energia de
ativação.

Está assim completo o chamado TRIÂNGULO DO FOGO:

4
Apontamentos fornecidos em sede de aula pelo docente da Unidade Curricular “Prevenção e Controlo de Incêndios”, do 3º ano,
1º semestre da licenciatura em Proteção Civil da ESTG/IPL - Leiria

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 21


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Fig. 7: Triângulo do Fogo

O triângulo do fogo, per si, com a atuação em conjunto dos seus três fatores, pode não ser suficiente
para manter uma combustão.
Para garantir a manutenção da combustão, é necessário introduzir um quarto elemento – a reação em
cadeia.
De facto, no decurso da reação química formam-se os chamados «radicais livres», resultantes da
decomposição das moléculas nos átomos que lhes deram origem.
Estes radicais livres, gerados a partir das moléculas que participam na reação de combustão, contêm
energia elevada e reagem rapidamente com outras moléculas, formando mais radicais livres (existem ao
nível das zonas intermediárias das chamas, pe.) expandindo, deste modo, a combustão no tempo e no
espaço.
Pe.
Na combustão do hidrogénio as moléculas deste, por ação do calor dividem-se, originando radicais livres de
hidrogénio (H°) que, por sua vez, se combinam com uma molécula de oxigénio, originando outro radical
livre (OH°), propagando-se desta forma a reação.

Podemos então dizer que se formou o TETRAEDRO DO FOGO (tetra = quatro + edro = face)

Fig. 8: Tetraedro do Fogo

Radicais livres são espécies que apresentam eletrões de valência desemparelhados e, portanto,
são altamente reativos, podendo inclusive reagir entre si (Wikipédia, 2013)

Numa perspetiva de combate ao fogo, enquanto existir combustível e


comburente suficientes e se mantiver a fonte de energia, a reação em
cadeia persiste

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 22


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3.1. COMBURENTE

É o gás que alimenta a combustão. É o elemento ativador do fogo, que se combina com os vapores
inflamáveis dos combustíveis, dando vida às chamas e possibilitando a expansão do fogo.
Também conhecido como oxigénio – O2 (o ar ambiente contém 21% de oxigénio).

Como referido, o oxigénio sozinho não arde, mas ajuda a manter a combustão.
Pe:
Efetivamente o teor mínimo de oxigénio para alimentar uma
combustão de líquidos ou sólidos é de 16 %.
No entanto, há outros combustíveis para os quais a combustão se
extingue apenas para concentrações de oxigénio inferiores a 10%.
Os combustíveis sólidos podem continuar a combustão, sem
emissão de chama, numa atmosfera com apenas 6% de oxigénio
e há substâncias que libertam oxigénio ao arder, tais como a
celulose e compostos dela derivados, a pólvora, os nitratos, os
cromatos e os materiais pirotécnicos, entre outros.
Verifica-se, assim, que a percentagem de oxigénio mínima para
que se mantenha a combustão depende do combustível em
questão

Fig. 9: Gases que compõem a atmosfera

Em atmosferas pobres de oxigénio a combinação de elementos químicos pode causar libertação de


oxigénio, a que damos o nome de  AGENTES DE OXIDAÇÃO
Podemos então afirmar que o oxigénio é o oxidante mais frequente.
A par do oxigénio, existem outros gases que podem comportar-se como comburentes (para
determinados combustíveis).
Pe.
Hidrogénio arde no seio do Cloro, os metais leves (Lítio, Sódio, Potássio, Magnésio, etc.), ardem no seio do
vapor de água e o Cobre arde no seio de vapor de enxofre. O Magnésio e o Titânio, em particular, e se
finamente divididos, podem arder ainda em atmosfera de gases normalmente inertes, como o Dióxido de
Carbono e o Azoto.

3.2. CALOR / ENERGIA DE ATIVAÇÃO

É a energia mínima necessária para iniciar uma reação


química (reação em cadeia), numa estrutura molecular.
As moléculas de primeira geração são suficientemente
energéticas para provocar a reação das de segunda geração e
assim sucessivamente.
É assim a energia mínima necessária para
aumentar a temperatura do combustível ao ponto
deste começar a desprender vapores suficientes
para que se inicie a ignição.

Fig. 10: Gráfico - Energia de ativação

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 23


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CATALISADORES
Um catalisador é uma substância que afeta a velocidade duma reação, mas emerge do
processo inalterada. Normalmente muda a velocidade de reação, promovendo um caminho
(mecanismo) molecular diferente para a reação.
No caso dos incêndios, é mais correto falar de catalisadores positivos e catalisadores negativos
que também se podem chamar de inibidores ou estabilizadores, pois limitam ou dificultam o
processo de uma reação química.
Estes últimos são muito importantes porque estão na base de atuação de alguns agentes
5
extintores .

A existência dentro de certas proporções de uma quantidade de matéria combustível na presença de um


comburente é uma condição necessária, propiciando a reação da combustão através do fornecimento de
energia (fontes de ignição).

Numa perspetiva mais prática, urge então saber ou averiguar se existiu algum mecanismo, dispositivo ou
outra forma de fornecimento de energia ou calor ao material combustível, de forma a emanar vapores
suficientes para que se inicie a ignição.

3.2.1. FONTES DE IGNIÇÃO

É a energia de ativação que se torna necessário determinar e que pode ter várias origens.
As fontes mais comuns são:
Origem Térmica:
o Meios de ignição (pe. fósforos, pontas de cigarros)
o Instalações geradoras de calor (pe. fornos, caldeiras)
o Radiação solar (pe. libertação de vapores combustíveis pela exposição intensa ao sol da
madeira)
o Superfícies quentes (pe. placa de fogão elétrico)
Origem Mecânica:
o Fricção  Faíscas provocadas por ferramentas ou atrito (pe. contacto entre 2 peças
metálicas em movimento)
Origem Química:
o Resistência (pe. limalha de ferro+óleo)
Origem elétrica:
o Resistência (pe. aquecedor elétrico)
o Arco Voltaico (pe. cabo de alta tensão em contacto com o solo)
o Faísca (pe. rebentamento de uma lâmpada acesa)
o Estática (pe. descarga entre um extintor e a terra após esvaziamento rápido do mesmo)
o Relâmpago

5
Como abordado mais adiante

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 24


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Quadro 1: Fontes de ignição

3.2.2. CALOR ESPECÍFICO (c)

Quando um material é aquecido, a sua Temperatura (Q) eleva-se e transmite-se  CALOR


Um “c” elevado para determinada substância, significa que tal substância tem mais capacidade de
armazenar energia do que outra com “c” mais baixo.
C – capacidade térmica: É a quantidade de calor (Q) recebida ou cedida por um
corpo para que sua temperatura (T) se altere de 1oC

m – massa

É pois a quantidade de calor que um grama de uma substância recebe ou cede para que
o
sua temperatura se altere de 1 C.

É assim uma grandeza física constante que define a variação térmica de determinada substância ao
6
receber determinada quantidade de calor (no SI  J/KgK ou cal/gºC).
Temos então:

Onde

Representa a EQUAÇÃO FUNDAMENTAL DA


CALORIMETRIA

6
Sistema Internacional de medição

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 25


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Quadro 2: Calor Específico de alguns materiais

3.2.3. CALOR LATENTE DE VAPORIZAÇÃO

Quando uma certa quantidade de água no estado líquido é aquecida gradualmente (à pressão
atmosférica normal), podemos observar o seguinte:
1º. Temperatura (T) sobe quase proporcional ao calor fornecido até atingir 100ºC
2º. Continuando a fornecer calor
3º. A T manter-se-á constante
4º. Energia recebida vai ser utilizada para passar moléculas da fase líquida à gasosa (vapor)
5º. Só quando todas as moléculas (água) estiverem no estado gasoso, a T poderá voltar a subir

Podemos afirmar assim que é o Calor que é necessário fornecer a uma unidade de massa para a
fazer passar totalmente a vapor saturado (fazer mudar de estado físico).
Pe.:
Energia necessária para vaporizar 1Kg água=5x a necessária para levar esse Kg dos 0ºC aos 100ºC

Fig. 11: Gráfico - Calor Latente de Vaporização

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 26


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3.2.4. PODER CALORÍFICO

É a quantidade de calor libertada na


3
combustão completa por Kg (ou m para
gases) de um combustível (KJ/Kg).

Pe.:
Na oxidação do Hidrogénio (H), com
consequente libertação de  Água (H20).
O Calor libertado é maior se essa H20 não
estiver no estado líquido mas sim no gasoso.

Quadro 3: Poder Calorífico de algumas substâncias

3.2.5. CARGA DE INCÊNDIO

Calor que é suscetível de ser libertado na combustão completa da totalidade dos materiais
combustíveis contidos num espaço, incluindo o revestimento das paredes, divisórias, soalho e
tetos.

Conhecendo os poderes caloríficos dos diversos materiais, um rápido inventário das respetivas
quantidades (em quilogramas) permite calcular a carga de incêndio, em quilojoules (KJ).

3.3. COMBUSTÍVEIS

Basicamente é combustível, todo material que queima.


Os combustíveis existem nos três estados da matéria, pelo que as suas propriedades físico-químicas
são também muito diferentes.
São sólidos, líquidos e gasosos, sendo que os sólidos e os líquidos transformam-se primeiramente em
gás por ação do calor e depois inflamam-se (têm de sofrer antes transformações para que libertem
vapores).

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 27


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ESTADOS CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


FÍSICOS
SÓLIDOS As partículas que os formam estão muito próximas umas Carvão, Madeira, Papel, Peles, Plásticos, Fibras
das outras (estão muito ligadas): Sintéticas (nylon), Fibras Naturais (seda), etc.
- Têm forma fixa;
- Não são, em geral, compressíveis (há tão pouco
espaço entre os seus constituintes que é muito difícil
aproximá-los mais uns dos outros)

LÍQUIDOS As moléculas já estão mais afastadas umas das outras e, Gasolina, Gasóleo, Tintas, Verniz, Lacas, Solventes
se bem que muitos deles se evaporem, podem-se contê- orgânicos como: éter, acetona, clorofórmio, álcool,
los em recipientes abertos durante algum tempo ou tetracloreto de carbono, etc.
transvasá-los mantendo o volume constante:
- Não têm forma;
- Já são compressíveis, pois há mais espaço entre os
seus constituintes, o que possibilita que as moléculas
se aproximem umas das outras (ainda que com
alguma dificuldade).

GASOSOS Tal como o ar, não têm forma. Seja, as partículas estão Gás Butano, Gás Propano, Hidrogénio, Acetileno,
pouco ligadas umas às outras, ocupando todo o volume Monóxido de carbono, etc.
disponível.
Pode-se, por isso, comprimi-los facilmente (daí o uso com
frequência do ar comprimido):
- Não têm forma;
- São facilmente compressíveis (há tanto espaço entre
os seus constituintes que pode obrigar-se as
moléculas a aproximarem-se umas das outras)

Fig. 12: Estados físicos da matéria

Algumas características podem ser sistematizadas e devem ser tidas em conta:


• Condutividade térmica;
• Estado de divisão;
• Densidade;
• Miscibilidade (líquidos);
• Temperaturas características;
• Tendência para libertar vapores (líquidos).

3.3.1. CONDUTIVIDADE TÉRMICA

Esta característica está diretamente relacionada com a capacidade de uma substância conduzir calor.

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Assim, as substâncias pouco condutoras (quentes ao tato) ardem rapidamente pois permitem a
concentração de calor nas zonas de aquecimento.
Pe.
A madeira arde muito mais facilmente que o ferro. Este facto deve-se à acumulação de calor numa pequena
zona no caso de materiais pouco condutores. A temperatura nesse local eleva-se de tal forma que se libertam
vapores combustíveis, os quais, na presença de mais calor (energia de ativação), podem inflamar-se. Outros: lã,
cortiça, plásticos, etc.
No caso dos bons condutores (frios ao tato), aquecem de forma uniforme e, por isso, ardem com
dificuldade. O calor distribui-se por toda a massa fazendo com que a temperatura se eleve lentamente.
Pe.
Metais, mármore, granito, etc.

3.3.2. ESTADO DE DIVISÃO

Esta característica influencia a capacidade que um corpo tem de arder.


Pe.
O petróleo, que à temperatura ambiente não é inflamável, isto é, chegando a chama de um fósforo à superfície
deste líquido não se verifica a combustão. No entanto, se for disperso mecanicamente (em spray), em direção a
uma fonte de calor, observa-se a sua inflamação imediata

3.3.3. DENSIDADE

A densidade do combustível antes da vaporização (tratando-se de um sólido ou de um líquido) ou a


densidade do próprio vapor é outra característica a ter em conta.
Pode ser definida pelo quociente entre a massa de uma determinada quantidade de substância e o
volume que ela ocupa.

No caso de líquidos a unidade do SI é o g/ml.


Pe.
A água no estado líquido a 25 °C, tem uma densidade aproximada de 1 g/ml e, por isso, sabe-se que 1g de água
ocupa 1 ml ou, o que é o mesmo, que 1kg de água ocupa o volume de 1l.
Ao afirmar-se que a gasolina é menos densa que a água, significa que 1kg de gasolina ocupa um volume maior
do que 1l.
Por outro lado, a gasolina não é miscível com a água e flutua à sua superfície (fator a ter em conta na análise
dos vestígios encontrados num local de incêndio e que pressupôs o uso de combustível líquido acelerante 
Ação dolosa).

Também a densidade dos vapores combustíveis em relação ao ar origina situações diferentes.


Pe.
Considerando, ainda a gasolina (cujo vapor é mais denso que o ar e, por isso, se propaga facilmente junto ao
solo). Uma vez que não se dissipa na atmosfera é também um veículo para levar a combustão a outros pontos.
Já o gás natural é menos denso que o ar e, por isso, em ambiente aberto dissipa-se facilmente para a atmosfera.

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3.3.4. MISCIBILIDADE

Importante pois, uma vez que da mistura de dois combustíveis, sendo um muito inflamável
(gasolina) e outro apenas inflamável (petróleo), resulta um líquido que pode passar a libertar
quantidades importantes de vapor a baixas temperaturas aumentando, deste modo, o risco de
incêndio.

3.3.5. TEMPERATURAS CARACTERÍSTICAS

A temperatura mede a energia cinética média das moléculas de um corpo.


De um modo geral, os corpos aumentam de volume com o aumento de temperatura.
A escala de temperatura mais utilizada é a escala Celsius - ºC.
O valor 0 (zero) corresponde à temperatura do gelo em equilíbrio com água líquida (à pressão
atmosférica).
O valor 100 (cem) é a temperatura da água líquida em equilíbrio com o seu vapor (a mesma
pressão).
Num contexto de TERMODINÂMICA usa-se a escala Kelvin (escala Kelvin – K):
T[K] = t[ºC]+ 273,15

Fig. 13: Equivalências de escalas de temperaturas

Ao contrário do que é comum dizer-se:

TEMPERATURA ≠ CALOR

TEMPERATURA está associada ao estado de agitação (vibração) das moléculas.


Isto é, trata-se da energia cinética associada ao movimento das partículas o que induz à
sensação de “calor” ou “frio”
Com a temperatura pode-se classificar numericamente o “quente” e o “frio” (através da escala de
temperatura padronizada como acima mencionado).
As partículas de um objeto com temperatura alta têm maior agitação do que as partículas de
outro objeto com temperatura mais baixa.

CALOR (ou energia térmica), é a quantidade total de energia envolvida nessa agitação molecular.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 30


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Trata-se pois da Energia térmica em trânsito entre dois corpos (transferência de energia
térmica).
Pe:
Algo que torna as coisas mais quentes, derrete o gelo ou ferve a água.
O calor vem do Sol à Terra, sob forma de energia radiante, porque o Sol apresenta-se em média a
6.000°C e a Terra a 30°C.

Tal como referido no presente trabalho, todos os corpos tendem a atingir o equilíbrio. Daí que o
CALOR tome o sentido da extremidade mais quente  Extremidade mais fria.

Fig. 14: CALOR (energia térmica de um corpo)

Em TERMODINÂMICA, tal conceito constitui a chamada LEI ZERO DA TERMODINÂMICA


“Corpos com diferentes temperaturas procuram o equilíbrio térmico”

Para uma melhor compreensão, atente-se ao seguinte exemplo:


Duas piscinas:
Volume de água = calor;
Nível da água = temperatura.
Duas piscinas da mesma profundidade e de tamanhos diferentes, podem ter o mesmo nível de
água. Porém, obrigatoriamente, terão volumes diferentes de água.
Podemos concluir que dois objetos com a mesma temperatura podem possuir quantidades diferentes
de calor.

RESUMINDO
Um corpo recebe energia/calor para ficar mais “quente” (com maior temperatura).
Ao perder energia/calor, fica mais “frio” (com temperatura menor).

As temperaturas características de um combustível encontram-se pois diretamente ligadas a uma fonte


de calor, que pode aumentar a temperatura do combustível desde um valor mais baixo até um mais
elevado, com a seguinte classificação:

• TEMPERATURA / PONTO DE INFLAMAÇÃO


• TEMPERATURA / PONTO DE COMBUSTÃO
• TEMPERATURA DE IGNIÇÃO

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TIPO DE CARACTERÍSTICAS
TEMPERATURA / PONTO
INFLAMAÇÃO Temperatura mínima à qual uma substância é capaz de emitir vapores combustíveis em quantidade
suficiente para formar com o comburente uma mistura que, por ação de uma fonte de energia, se
(Ponto de Fulgor pode inflamar, extinguindo-se a combustão após a retirada dessa fonte.
ou A substância, propriamente dita (sólida ou líquida), não entra em combustão, mas apenas
Flash Point) os seus vapores e enquanto se mantiver a presença da fonte de energia que provocou a
ignição.
O ato de retirar a fonte de energia provocará a extinção porque, a essa temperatura, a
substância não emite vapores em quantidade suficiente para manter a combustão.
COMBUSTÃO Temperatura mínima à qual uma substância emite vapores combustíveis em quantidade suficiente
que, em contacto com o comburente, se inflamam por ação de uma fonte de energia exterior e ardem
(Fire Point) continuamente, mesmo que a fonte de ignição seja retirada.
IGNIÇÃO Temperatura mínima à qual os vapores libertados por uma substância (sólida ou líquida) ou um gás
combustível entram espontaneamente em combustão (autoinflamam-se) mesmo sem a presença de
(Ignition Point) uma fonte da energia exterior.
A partir desta temperatura não é necessária a presença duma chama ou qualquer outra
fonte de energia de ativação para que se desencadeie a combustão  ºC DE
COMBUSTÃO.

Quadro 4: Tipos de temperaturas

Quadro 5: Temperaturas características de alguns materiais

3.3.6. TENDÊNCIA PARA LIBERTAR VAPORES (LÍQUIDOS)

A tendência que um combustível líquido tem para libertar vapores combustíveis é outro dos fatores
importantes.
Com base neste critério, existem diferentes classificações consoante o país considerado.
A norma portuguesa NP-1936 (1983) classifica os combustíveis líquidos quanto ao risco de incêndio, em
três categorias:

1º. Líquidos combustíveis MUITO INFLAMÁVEIS


Ponto de inflamação =< a 25ºC, libertando vapores à temperatura ambiente.
2º. Líquidos combustíveis INFLAMÁVEIS
55ºC <ponto de inflamação > 25ºC.
Os líquidos libertam gases ou vapores em locais não protegidos (confinados)
3º. Líquidos combustíveis NÃO INFLAMÁVEIS

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Ponto de inflamação => a 55ºC, necessitando o líquido combustível de ser sujeito a uma
fonte de calor para libertar vapores inflamáveis.

Quadro 6: Categorias de inflamação dos líquidos combustíveis

3.4. LIMITES DE INFLAMABILIDADE DE UM GÁS

A percentagem de vapores emanados (ou produzidos) pelos combustíveis, é outro dos fatores a
considerar.
Isto, porque a mistura do combustível com o comburente não pode conter demasiado combustível
(mistura rica), nem uma quantidade insuficiente (mistura pobre).
Um gás ou vapor combustível só arde no ar se a proporção combustível/ar se encontrar entre
determinados limites.
Surge desta feita o conceito de LIMITES DE INFLAMABILIDADE.
São os limites (expressos em % de volume do gás combustível na mistura ar/gás
combustível), entre os quais se situam as concentrações de combustível/ar que tornam
7
possível a combustão .

LII – Limite Inferior de Inflamabilidade – corresponde à percentagem mínima de combustível


gasoso que, misturado com o ar, permite a combustão, não sendo a mesma possível abaixo
deste limite  Mistura pobre.

LSI – Limite Superior de Inflamabilidade – c o rresp ond e à p erc enta g e m m á xim a d e


c om b ustível g a soso q ue, m istura d o c o m o a r, p erm ite a c om b ustã o, nã o send o a
m esm a p o ssível a c im a d este lim ite  m istura ric a .

7
De acordo com a norma portuguesa NP-3874-1 (1995)

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Fig. 15: Campo de Inflamabilidade

Quanto mais volátil for o líquido  Mais rápida é a formação de uma atmosfera perigosa (Temperatura
de Inflamação é baixa).
Quanto maior relação área/volume da mistura  Mais rápida é atingida a ignição (Ignição = área /
volume)
Quanto maior for o espaçamento entre os limites inferior e superior de Inflamabilidade (Campo de
Inflamabilidade), maior é a probabilidade de existir uma mistura combustível/ar em condições de entrar
em combustão.

Quadro 7: Campo de Inflamabilidade de alguns combustíveis

3.5. COMBUSTÃO

Analisando o que anterior foi abordado quanto a esta matéria, considera-se pois que é:
A queima de uma substância com produção de energia em forma de calor ou calor e luz.
Trata-se pois de uma reação química exotérmica entre uma substância (o combustível) e
um gás (o comburente), usualmente oxigénio, para liberar calor.

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Numa combustão completa, todos os elementos do combustível combinam-se com o oxigénio, não
restando nos produtos da combustão nenhum combustível, além de energia (com chama de cor azul).
Na combustão incompleta a quantidade de oxigénio que entra na combustão é menor (não há o
incremento de oxigênio adequado para que ela ocorra de forma completa), aparecendo nos produtos da
combustão outros combustíveis (pe. CO, H2, CO2).

Fig. 16: Diagrama - Combustão

3.5.1. VELOCIDADES DE COMBUSTÃO

A velocidade a que decorre uma combustão depende de vários fatores.


Em particular, será tanto mais rápida quanto:
• Maior for o grau de divisão do combustível;
• Mais inflamável for a natureza do combustível;
• Maior for a quantidade de combustível exposto ao comburente;
• Maior for o grau de renovação ou alimentação do comburente.
Quanto à sua velocidade, os combustíveis podem assim classificar-se:

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LENTA

EXPLOSÃO
ou VIVA
DETONAÇÃO

DEFLAGRAÇÃO

Fig. 17: Diagrama - Velocidades de Combustão

DESIGNAÇÃO CARACTERÍSTICAS
ESPONTÂNEA Uma substância com temperatura de ignição relativamente baixa, começa a liberar calor. Tal processo
pode ocorrer, pe. por oxidação ou fermentação.
O calor interno gerado na substância (através de reações ou fragmentações dos seus micro-organismos)
não consegue escapar e a temperatura aumenta.
Se ultrapassar o seu ponto de ignição e, se estiver presente um oxidante suficientemente forte, como
o oxigênio, ocorre a combustão:

Combustível

Microorganismos

Reações ou fragmentações

Reações exotérmicas internas fortes

Aumento da temperatura

Mistura com o comburente

AUTO INFLAMAÇÃO

LENTA Fogo que não necessita de energia de ativação ou interveniência humana (fonte inflamável externa)
para se iniciar a combustão.
A libertação de energia de reação manifesta-se apenas sob a forma de calor, não existe emissão de
luz e a temperatura não ultrapassa os 500ºC.
Uma substância com temperatura de ignição relativamente baixa, começa a liberar calor. Tal processo
pode ocorrer, pe. por oxidação ou fermentação.
O calor interno gerado na substância (através de reações ou fragmentações dos seus micro-organismos)
não consegue escapar e a temperatura aumenta.
Se ultrapassar o seu ponto de ignição e, se estiver presente um oxidante suficientemente forte, como
o oxigênio, ocorre a combustão.
É também comum designar-se por combustão espontânea, (não há dissipação da energia, apenas
acumulação).

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A sua deteção é difícil, dadas as fracas manifestações.


Pe.:
• Algodão, sisal, estrumeira, grãos de pistachos

• A respiração celular
• A oxidação de um metal (ferro, cobre, zinco, etc.) em contacto com o ar húmido e formação
de ferrugem.

VIVA Produz queima. Provoca calor. Emite luz e Chama (devido à mistura dos gases inflamados com o ar)
 FOGO.
No caso dos sólidos, podem distinguir-se dois aspetos:
1. Quando a combustão ocorre à superfície  Incandescência (combustão viva no sólidos) a
partir da sua ignição;
2. Formação de brasas (estas surgem quando o combustível já não liberta gases suficientes
para provocar chama).
Os sólidos decompõem-se pela influência do calor, numa mistura de gases e numa parte residual,
sólida, chamada carvão.

Os gases ardem em forma de chama, o carvão em forma de incandescência.


Pe:
As brasas da madeira não são mais do que carvão de madeira, ardendo com incandescência.
As chamas são devidas à combustão viva dos produtos voláteis, que se evolam no seio
da própria madeira.
Os líquidos não ardem, destilam e são os seus vapores que ardem sob a forma de chama.
Durante a combustão parte dos líquidos fica a uma temperatura relativamente baixa, sempre inferior ao
ponto de destilação.
DEFLAGRAÇÃO São combustões muito vivas em que o processo de reação se dá com grande velocidade (mas inferior
a 300m/s - subsónica). Produzem chama e calor.
A energia desenvolvida pela combustão tem que manifestar-se
instantaneamente, não podendo fazer, como normalmente
sucede, em qualquer dos outros tipos de combustão.
Essa energia manifesta-se por uma brusca dilatação que vai
exercer pressões consideráveis sobre os objetos confinantes. A
mistura tem limite superior e inferior de inflamabilidade, que
definem seu campo de explosibilidade.
Pe:
Arma de fogo (a pólvora provoca uma combustão no
interior do revólver  Reação química  Calor que se
desloca a uma velocidade próxima à do som ao ponto de detonar o cartucho.
EXPLOSÃO / São combustões muito vivas (cujo processo de reação se manifesta a velocidade superior a 300m/s -
DETONAÇÃO supersónica), atingindo toda a massa combustível e produzindo um ruído  Detonação.
Neste caso, a mistura tem de ocupar todo o espaço onde está contida e, no momento da explosão,
provoca uma repentina elevação de temperatura ou de pressão ou de ambas, simultaneamente, sobre

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todo o espaço confinante, libertando enorme energia e produção de gases  Ondas de Choque.

Existem ainda as poeiras combustíveis (combustíveis sólidos pulverizados no ar), que, nas mesmas
circunstâncias dos gases, podem dar origem a explosão.
Consideradas ainda aquelas resultantes da decomposição, que ocorre de certos produtos ou misturas,
designados explosivos.
Pe.
A nitroglicerina, as misturas de certos oxidantes e combustíveis e as misturas explosivas
sólidas como a pólvora negra.

Fig. 18: Tipos de combustões

Sistematizando:
- Deflagração de nevoeiros combustíveis:
Ignição de pequenas partículas de combustíveis líquidos misturados com o ar
- Deflagração de nuvens combustíveis:
Ignição de quantidades apreciáveis de gases/vapores combustíveis (nuvens)
provenientes de uma fuga/derrame, misturados com o ar em espaço livre.
- Detonação de gases combustíveis:
Ignição da mistura gás/vapor com ar que ocupa totalidade espaço confinado.
- Detonação de poeiras combustíveis:
Detonação de combustíveis sólidos pulverizados com o ar.
- Explosões resultantes de decomposição:
Reações violentas de decomposição de certos produtos ou de certas misturas 
Explosivos

3.5.2. B.L.E.V.E. (BOILING LIQUID EXPANDING VAPOR EXPLOSION)

B.L.E.V.E. é o acrónimo para a expressão inglesa Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion o que em
português significa  Explosão de vapores em expansão provenientes da ebulição de um líquido
sob pressão.
Habitualmente é um termo utilizado pelos bombeiros para se referirem a um tipo de explosão que pode
ocorrer quando um recipiente contendo um líquido pressurizado rompe-se durante um incêndio.

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Fig. 19: BLEVE

Se a pressão no interior de um depósito que contém um líquido combustível ou um gás liquefeito,


aumentar acima da resistência física do mesmo, este entra em disrupção física.
O líquido nele contido vaporiza-se rapidamente, uma vez que atinge o ponto de ebulição atmosférico. O
contacto dos vapores com uma fonte de ignição promove a ocorrência da explosão. A ignição dessa
nuvem gera a "bola de fogo", que pode causar danos materiais e queimaduras a centenas de metros de
distância, dependendo da quantidade de gás liquefeito envolvida.
Existem várias causas para estas explosões: o sobreaquecimento dos depósitos, uma agregação
8
mecânica e deficiências estruturais dos depósitos .

Fig. 20: Gráfico pressão-temperatura (BLEVE)

3.5.3. FLASHOVER (OU COMBUSTÃO GENERALIZADA)

9
Um FLASHOVER , ocorre quando se atingem temperaturas muito elevadas num compartimento
(geralmente entre os 500ºC e 600ºC), os gases emanados podem autoinflamar-se acelerando o
processo de entrada simultânea em combustão da totalidade dos corpos.
Todo o material combustível arde.

8
Existe um método de cálculo que foi apresentado originalmente na publicação da Organização Internacional do
Trabalho – OIT intitulada "Major Hazard Control, A Practical Manual" – International Labour Office, Geneva,
1987
9
Ou combustão generalizada. O termo foi criado pelo cientista britânico P.H. Thomas, nos anos 60

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 39


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Fig. 21: Fases de um FLASHOVER

3.5.4. BACKDRAF (OU EXPLOSÃO DE FUMOS)

Face à acumulação do CO2 na parte mais elevada, quando houver um fornecimento brusco de O 2, ao
nível ou abaixo do fogo, aquele gás aquecido, pode reagir com aquele repentinamente.

Fig. 22: Fases de um BACKDRAF

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3.5.5. PRODUTOS RESULTANTES

Resulta de tudo o até agora abordado no presente trabalho


que a combustão é materializada em produtos dela
resultantes.

Fig. 23: Produtos resultantes da combustão

PRODUTO CARACTERÍSTICAS
CHAMAS São a manifestação mais visível (fenómeno luminoso) da combustão.
É uma zona de gases incandescente, visível, que se desenvolve em torno da superfície do material em combustão.
As chamas não são mais que a combustão de gás.
CORES
A combustão completa de matérias orgânicas, produz chamas praticamente incolores ,e na maioria dos
casos, as cores que apresentam são devidas à combustão de partículas sólidas, geralmente de carbono.
As chamas provenientes da combustão de alguns compostos apresentam cores diferentes.
Pe.
Os sais de sódio produzem chamas de cor amarela; os de cálcio produzem chamas de cor
vermelha; os de cobre produzem chamas de cor verde; os de potássio produzem chamas de
cor violeta, etc.
A cor da chama depende também da composição química do combustível e da quantidade de oxigénio
presente.
Se a proporção de oxigénio é elevada, as chamas apresentam cor amarelo luminoso e são oxidantes.
Se a proporção de oxigénio é baixa, as chamas apresentam cor azul, são redutoras e mais enérgicas.

DINÂMICA DA COMBUSTÃO DE UMA VELA


1º. Acende-se o pavio  Começa então uma reação de combustão.
2º. O pavio e a parafina (combustíveis), queimam na presença de O2 (comburente).
3º. O produto da reação são H2O e CO2, mais energia sob a forma de calor.
4º. Os gases que se formam com a reação (mais quentes e menos densos), tendem a subir, criando uma
corrente de ar para o alto ao redor da chama.
5º. O ar que vem de baixo está cheio de O2, enquanto na parte de cima da chama ele está saturado do CO2
que acabou de se formar na combustão

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 41


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COR vs. TEMPERATURA


CASTANHO: 520ºC - 650ºC
VERMELHO: 650ºC - 1050ºC
AMARELO: 1050ºC - 1250ºC
BRANCO/AZULADO: > 1250ºC

CALOR10 Tal como referido já no presente trabalho, representa a energia libertada pela combustão, sendo o principal
responsável pela propagação do fogo dado que aquece todo o ambiente, aquecendo ao mesmo tempo os produtos
combustíveis presentes, elevando as suas temperaturas às temperaturas de inflamação  É assim o principal
responsável pela propagação de um incêndio.
Calor (troca de calor, transferência de calor) consiste na energia transferida entre dois corpos em virtude de uma
diferença de temperatura. É apenas energia em trânsito, uma vez que esta energia entra num corpo e vai
simplesmente aumentar a energia interna deste.
Em termos de impacto no ser humano, atente-se o seguinte:

• DANOS IRREVERSÍVEIS NA PELE E MORTE RÁPIDA


• QUEIMADURAS DE 3º GRAU
180ºC
• MÁXIMA TEMPERATURA DE AR RESPIRADO QUE PERMITE SOBREVIVER
• EXPOSIÇÃO MÁXIMA 3 MINUTOS
140ºC • QUEIMADURAS DE 3º GRAU

• TEMPERATURA INTOLERÁVEL A PARTIR DE 15 MINUTOS


• QUEIMADURAS DE 2º GRAU
120ºC

• TEMPERATURA INTOLERÁVEL A PARTIR DE 25 MINUTOS


• QUEIMADURAS DE 2º GRAU
100ºC

• TEMPERATURA TOLERADA DURANTE DURANTE 60 MINUTOS,


NECESSITANDO A HUMIDADE DE NÃO SOFRER ALTERAÇÕES
60ºc

10
Não confundir com o conceito de TEMPERATURA - que é uma grandeza física que permite a quantificação do
grau de aquecimento dos corpos  Mede a energia cinética média das moléculas de um corpo

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 42


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No estudo deste fenomenologia do fogo, é assim muito importante saber como atua o calor e como se transmite.
Matéria esta que será abordada nos títulos seguintes deste trabalho.
FUMO São diversos os fatores que influenciam a sua formação:
Temperatura do meio ambiente
Radiação incidente no material
Quantidade de comburente
Composição química do combustível
Forma do combustível
Existência e tipo dos combustíveis vizinhos
Distribuição do combustível
Duração do incêndio
O fumo deve-se à combustão incompleta dos materiais (pequenas partículas sólidas, parcialmente queimadas,
por vapores condensados em suspensão no ar e gases de combustão).
A cor, tamanho e quantidade de partículas determinam a densidade do fumo. Também o vapor de água condensado
torna o fumo mais denso.

CORES
BRANCA
o Indica-nos que o combustível arde livremente, com muito O2 (comburente)
NEGRO OU CINZENTO ESCURO
o Indica-nos que estamos perante um incêndio com elevada temperatura e falta de O2
(comburente)
AMARELA, ROXA OU VIOLETA
o Indicam-nos geralmente que estamos em presença de gases tóxicos
Em termos de impacto no ser humano:
Geralmente provoca irritação nas mucosas, nomeadamente nos olhos e vias respiratórias (o que
contribui para aumentar o pânico)
Quando a proporção de fumo, ar quente e gases de combustão é elevada, sendo portanto baixa a
proporção de oxigénio, ocorre asfixia, que pode levar à inconsciência e até mesmo à morte.
Diminui visibilidade no combate às chamas.
GASES São os gases que permanecem no ambiente, quando se reduz ao normal a temperatura dos produtos de
combustão.

São gases mais comuns numa combustão (incêndios urbanos/industriais):


Monóxido de Carbono (CO) e Dióxido de Carbono (CO2), resultantes da matéria orgânica;
Ácido Cianídrico (HCN), proveniente de fibras acrílicas como as carpetes, poliuretanos ou nylon, que
também liberta amoníaco;
Ácido Clorídrico (HCl) e Fosgénio (COCl2), resultantes da queima de materiais que possam conter cloreto
de polivinilo (PVC), como certo tipo de pavimento, papel de parede em vinilo e tubagens de instalação de
cabos.
Os tipos de gases que se formam dependem da composição química do combustível, quantidade de oxigénio
disponível e temperatura atingida.
Em termos de impacto no ser humano:
Os gases que se libertam da combustão serão tanto mais perigosos quanto mais elementos entrarem na
composição do combustível.
A toxicidade dos gases de combustão depende da sua composição, concentração, duração de
exposição e da saúde das pessoas.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 43


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Alguns destes gases, como por exemplo o ácido clorídrico, são corrosivos pelo que não afetam apenas
as pessoas, mas produzem também danos materiais.
MONÓXIDO DE CARBONO - CO
Não é o gás mais tóxico produzido por uma combustão, mas é o mais abundante (juntamente com Vapor
de Água)
Resulta da combustão incompleta do combustível e da transformação do carbono em monóxido
Em percentagens elevadas de mistura com o oxigénio é explosivo
A toxicidade deve-se ao facto da sua afinidade com a hemoglobina do sangue, ou seja, não permite o
transporte de oxigénio
É produzido por todos os materiais orgânicos

DIÓXIDO DE CARBONO - CO2


Qualquer combustão produz este gás em grandes quantidades
É produzido por todos os combustíveis orgânicos
Em concentrações moderadas não é tóxico
À medida que aumentam as concentrações, aumenta o ritmo e a intensidade da respiração (por cada
aumento de 2%  50%)

Quadro 8: Produtos resultantes da combustão

4. DINÂMICA DA PROPAGAÇÃO

“Uma boa compreensão das fases de um incêndio, pode ajudar o investigador a entender o que
11
realmente aconteceu”

Pese embora cada incêndio seja específico e por isso diferente, existe um padrão de comportamento
idêntico entre ambientes com características estruturais de construção e cargas térmicas semelhantes.
É pois a análise e compreensão das principais fases típicas do desenvolvimento de um incêndio que
ajudarão o investigador a entender o mesmo.

No âmbito do presente trabalho, importa desde logo reter que as diferentes tipologias de incêndios
abordadas: Florestais, estruturas edificadas e em veículos automóveis, apresentam diferentes
dinâmicas de propagação.

“O desenvolvimento de um incêndio apresenta-se como um fenómeno bastante aleatório, que


12
depende essencialmente dos seguintes fatores”

11
(LILLEY, 1997)
12
(Sobral - 2006)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 44


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Tipo de combustível;
Disposição do combustível;
Quantidade de ar /vento.

Genericamente um incêndio desenvolve-se em quatro fases, tendo como fatores o Tempo vs.
Temperatura:

Fig. 24: Diagrama das fases desenvolvimento de um incêndio

FASE INICAL - eclosão


Depende da qualidade e quantidade de combustível presente e ainda da disponibilidade de
abastecimento de ar/vento.
Um incêndio inicia-se em determinado Ponto de Início (doravante designado PI) e daí propaga-
se para fora, consoante a existência de diversos fatores (humidade, carga térmica dos
combustíveis, vento, etc., este último no caso dos incêndios florestais). Desenvolver-se-á então
na chamada zona de início.
Normalmente, se tais fatores não forem significativos, assume uma configuração radial
(principalmente o vento no caso de um incêndio florestal, p.e.). Nesta fase inicial de um incêndio
florestal, o fogo não atinge normalmente grandes proporções, progredindo lentamente e
deixando mais materiais por queimar no local.
Já as marcas de queima no PI, num incêndio urbano, são geralmente mais profundas (pois é
onde existe carbonização mais intensa), mas não atingem grandes proporções, exceto se o fogo
se propagar para um material mais combustível nas imediações.
Em locais fechados (pe. habitações), a altura dos tetos tem grande influência sobre o
desenvolvimento do incêndio, uma vez que aqueles mais baixos provocam uma propagação
mais rápida das chamas.

Fig. 25: Fase inicial de um incêndio urbano

Nesta fase é relativamente fácil identificar o PI (e assim as causas), é ali visível um padrão de
13
queima em “V” e a maioria dos vestígios ainda estão intactos.

13
Como referido mais adiante

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 45


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PROPAGAÇÃO
Fase em que a combustão se ativa rapidamente, transmitindo-se ao material combustível
vizinho.
É tanto mais intensa quanto maior a quantidade de combustíveis que concorrem para a queima.
É a fase de maior produção de chamas.
Em espaços fechados as paredes apresentam fuligem por ação das chamas, o padrão em “V” é
mais evidente em materiais combustíveis (v.g. madeiramento), decorrente das altas
temperaturas atingidas pelas incandescências (brasas) que podem atingir 1000ºC. A
carbonização é maior no PI, se comparado com a zona envolvente.
Por efeito do calor, a energia libertada é suficiente para provocar a combustão de todos os
materiais duma forma contínua e o calor libertado é mais ou menos igual à energia dissipada.
Nesta fase, pelos efeitos generalizados que produzem, salientam-se os fenómenos conhecidos
por “FLASHOVER” (já abordado). De facto, se a energia dissipada for menor ou for mais lenta
que aquela produzida, a temperatura global do espaço aumenta até um valor máximo onde todos
14
os materiais combustíveis presentes atingem a sua temperatura de combustão .

COMBUSTÃO CONTÍNUA
Principalmente nos incêndios em estruturas edificadas (urbanos e industriais, pe.), nesta fase a
temperatura no compartimento mantêm-se praticamente constante e no seu ponto máximo.
Ainda existe grande quantidade de combustível, sendo que o fogo é “controlado” pela quantidade
de comburente (ar/oxigénio).

Fig. 26: Fase de combustão contínua de um incêndio urbano

FASE FINAL
Nesta fase o combustível torna-se mais escasso, pelo que a queima em chamas é menor e a
presença de incandescência (brasas) é maior.
Nos incêndios em estruturas edificadas, como características (em termos de interesse
investigatório), existe fuligem nas paredes abaixo de 30cm, o padrão em “V” e os restantes
vestígios da queima podem estar ocultos pela deposição de material entretanto carbonizado.
Sendo uma fase onde as temperaturas não são tão intensas, a queima é normalmente mais
longa e por consequência, menos evidências estarão disponíveis.

14
Temperatura mínima à qual uma substância emite vapores em quantidade suficiente para que, em contacto com um
comburente, se possa inflamar por ação de calor exterior, ardendo continuamente.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 46


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4.1. FORMAS DE PROPAGAÇÃO

Fig. 27: Formas típicas de transmissão de calor

A transmissão de calor é um fator importante nos incêndios. Influencia a ignição, crescimento,


expansão, decadência e extinção do mesmo.
É esta transferência de calor que deixa marcas/indicadores nos locais, evidências físicas que
possibilitam o investigador analisar e eventualmente chegar às causas dos incêndios.
Relembrando o Triangulo do Fogo:

Fig. 28: Triângulo do Fogo

Podemos então considerar a propagação de um incêndio, como sendo o acrescentar um lado do


triângulo aos dois já existentes:
Acrescentar combustível a oxigénio + energia
Acrescentar oxigénio a combustível + energia
Acrescentar energia a oxigénio + combustível

Falamos em CALOR e não TEMPERATURA, pois são conceitos diferentes:


A TEMPERATURA é uma medida que exprime o grau de atividade molecular de um material em
relação a um ponto de referência, tal como o ponto de congelação da água.
O CALOR é a energia que é necessária para manter ou mudar a temperatura de um objeto.
Quando a energia de calor é transferido para um objeto, a temperatura aumenta. Quando o calor
é transferido para longe, a temperatura diminui.
O CALOR é sempre transferido de materiais com altas temperaturas, para materiais com baixas
temperaturas

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 47


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CONDUÇÃO
A energia, através de um corpo bom condutor de calor, é transferida para outro. Esta
transferência é mais notória, quanto mais condutor for o corpo (pe. metais).

Fig. 29: Condução

RADIAÇÃO

Fig. 30: Onda de radiação

Fig. 31: Espectro eletromagnético

A energia é transferida de forma omnidirecional através do


ar, suportada por ondas magnéticas no limite do
infravermelho.
Esta maneira do calor se propagar, justifica o porquê do sol
nos aquecer ou o funcionamento dos micro-ondas.
No primeiro caso, entre o sol e a terra existe um enorme
vazio e no segundo caso, não se vê nada em brasa,
contudo os alimentos são aquecidos.
Fig. 32: Radiação

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 48


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A título de curiosidade refira-se a “Lei de Stefan-Boltzmann” (mais conhecida como Lei de Stefan), em
que energia total radiada por unidade de área superficial de um corpo negro na unidade de tempo (radiação do corpo
negro), (ou a densidade de fluxo energético (fluxo radiante) ou potencia emissora), j* é diretamente proporcional à quarta
potência da sua temperatura termodinâmica T:

em que a octante de Stefan-Boltzmann é

Ou simplesmente:

CONVECÇÃO

A energia é transferida pela movimentação do ar e dos líquidos aquecidos pela combustão.


A diferença de densidade dos gases quentes e frios provoca correntes de ar ascendentes.

Fig. 33: Convecção (Urbanos) Fig. 34: Convecção (Vela) Fig. 35: Convecção (Florestais)

PROJEÇÃO (florestais)

A sua energia transmite-se através de partículas inflamadas, que se desprendem do corpo em


combustão e são projetadas à distância, atingindo outros corpos.

Fig. 36: Projeção de matéria incandescente (florestais)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 49


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5. CLASSES DE FOGO

A grande diversidade de combustíveis (mormente o seu estado físico e a forma diferente como reagem
perante um determinado agente extintor), levou à divisão dos fogos em classes para que a sua extinção
possa ser feita da forma mais eficaz.
15
Os combustíveis são assim classificados :

 À natureza do seu combustível:

Quadro 9: Classes de fogo (tipo de materiais)

 Quanto ao modo como se manifestam:


 Segundo o foco em que se produzem;
 Segundo o seu tamanho;
 Segundo o local onde se desenrolam
- Segundo o FOCO podem ser:
 Planos
 Verticais
 Alimentados (neste caso, um fogo vertical ou horizontal é alimentado por um
combustível procedente de depósitos que não estão em contacto direto com o
incêndio).
- Segundo o seu TAMANHO podem ser:
2
 Pequenos (área da superfície ativa das chamas menor que 4 m )
2 2
 Médios (área entre 4 e 10 m )
2 2 2
 Grandes (área entre 10 e 100 m )
2 2
 Envergadura (área maior que 100 m )
- Segundo o seu LOCAL podem ser:
 Interiores
 Exteriores

15
Cfr. a NP EN2 (1993)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 50


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CLASSE CARACTERÍSTICAS
A São fogos de materiais sólidos, em geral de natureza orgânica, em que a combustão se faz, normalmente, com
Fogos de matéria seca formação de brasas.
Pe.
A madeira, o carvão, o papel, os tecidos, os plásticos comuns e a palha
REAÇÃO QUÍMICA  PIRÓLISE
Do Grego pyr, pyrós = fogo + lýsis = dissolução.
“Transformação química que ocorre pela ação de altas temperaturas, porquanto ocorre
uma rutura da estrutura molecular original de um
determinado composto num ambiente com pouco ou nenhum oxigénio.”
(in, Wikipédia – 2013)
Qualquer processo de decomposição térmica ou de alteração da composição de um composto ou
mistura (geralmente orgânica), pela ação de calor, nas condições acima descritas, como por exemplo
a carbonização.
Numa reação de oxidação, a combustão de materiais sólidos (em particular materiais orgânicos) é
precedida de um processo de decomposição da matéria em moléculas suficientemente simples para
poderem reagir com o comburente mais comum, o oxigénio PIRÓLISE, formando-se gases
combustíveis ou de líquidos que produzem vapores inflamáveis.
Tais reações são as principais responsáveis pelos processos de gaseificação em
combustíveis sólidos, com produção de voláteis.
B Fogos de líquidos ou sólidos liquidificáveis.
Fogos gordos Pe.
As gasolinas, o álcool, os petróleos, o alcatrão, a cera, a parafina
Não existe propriamente combustão de um líquido. Tem a ver com a sua volatilidade (facilidade com que os
líquidos libertam vapores).
Quanto mais volátil for o líquido, maior a possibilidade de haver fogo ou mesmo explosão. O vapor
libertado pelo líquido é tal que a mistura com o ar deve estar dentro do limite de inflamabilidade
(recorde-se o já abordado quanto ao Campo de Inflamabilidade).
C Para ocorrer a combustão basta que o combustível gasoso se encontre misturado com quantidades apropriadas
Fogos de gases de ar e a mistura seja sujeita a um estímulo energético suficiente, dando inicio à combustão com a formação de
chama16.
Pe.
Metano, propano, butano, gás natural, acetileno e hidrogénio

D Envolvem metais tais como


Fogos de metais Pe.
Metais leves (lítio, sódio, potássio, magnésio, alumínio), certas ligas, o titânio, etc.
Queima produzindo altas temperaturas.
Os metais existem na natureza sob a forma de óxidos (estado mais estável  Em condições favoráveis 
Tendem a reagir sempre com o O2). Daí que, para a sua extinção é proibido o uso de água.
O metal, dada a sua afinidade com o O2, decompõe a H2O, utilizando tal O2 para continuar a arder, deixando livre
o H  Constitui um fator agravante em relação ao fogo inicial. A maioria dos metais reage lentamente com O2
(exceção Na, K).
Um menor tamanho do metal  Maior aumento de ºC (vice-versa)
Um metal só poderá eventualmente entrar em combustão se for finamente pulverizado (vd. pe. a combustão de
poeiras).

Quadro 10: Classes de fogo (características)

16
Os aparelhos para determinar a presença de vapores na atmosfera têm o nome de explosímetros.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 51


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6. ATMOSFERAS PERIGOSAS

O ar que respiramos diariamente (atmosfera) é constituído basicamente por Azoto (78%); Oxigénio
(21%); Árgon (0.9%); Dióxido de Carbono (0.03%) e Vapor de água (teor variável).
Todo o incremento acima de tais valores pode potenciar aquilo a que se chama de Atmosfera perigosa:
“Mistura com o ar (nas condições atmosféricas), de substâncias inflamáveis (materiais
perigosos), sob forma de gás, vapores de líquidos, líquidos vaporizados, fumos ou
poeiras, que, em determinadas concentrações, apresentam riscos para a vida /saúde dos
trabalhadores expostos”

A sua formação pode estar associada:


A acidentes no processo, na armazenagem ou no transporte  Derrames ou emissões de
substâncias tóxicas perigosas utilizadas nos processos industriais;
Ao manuseamento incorreto de substâncias perigosas  Não respeitando as regras de
segurança;
No tipo de processo em que são envolvidos os produtos químicos;
Na inexistência de ventilação/extração adequada dos compartimentos fechados onde tais
substâncias são armazenadas;
Na armazenagem deficiente  Sem respeitar regras de segurança;
A incêndios que envolvam produtos plásticos, de origem orgânica, pe.

Em termos de formação, podem classificar-se em:

TIPO CARACTERÍSTICAS CONSEQUÊNCIAS


Atmosferas explosivas Conforme o DL 236/2003, de 30.Set, uma atmosfera explosiva (também
chamada de ATEX), é “uma mistura com o ar, em condições
atmosféricas, de substâncias inflamáveis sob a forma de gases,
vapores, névoas ou poeiras, na qual, após ignição, a combustão se
propague a toda a mistura não queimada”.
Podem existir quando, num espaço confinado 17 , a concentração de
gases/vapores for igual ou superior a 10% do LII (Limite Inferior de
Inflamabilidade).
- Redução do Oxigénio no
Atmosferas com teor de A concentração de Oxigénio nem determinadas atmosferas pode ocorrer sangue  Cérebro
oxigénio por diversos motivos. - Alterações irreversíveis no
< 16% O uso de Azoto, Anidrido Carbónico e Vapor de Água na inertização 18 de sistema nervoso central
atmosferas, leva à diminuição da percentagem de Oxigénio. (em concentrações de
Oxigénio <10%)
Em compartimentos de ferro e aço, pela oxidação do ferro, existe consumo
de oxigénio, levando à formação de ferrugem.
Aquando da existência, pe. de tintas frescas, no período de secagem que
se segue, aquelas consomem o Oxigénio, fazendo assim baixar a sua
concentração.
Também, muito frequentemente, em poço algo profundos, minas e galerias

17
Espaço limitado por barreiras em todos os seus lados, não possuindo ventilação e/ou iluminação naturais.
18
É a operação realizada com a finalidade de transformar uma atmosfera em não inflamável, não explosiva, não
reativa, através da diluição da atmosfera original, com um gás considerado como inerte ou não reativo.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 52


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subterrâneas, o Oxigénio é facilmente reduzido.


- Alterações irreversíveis no
Atmosferas com teor de Acima de 22% de Oxigênio, a atmosfera é considerada enriquecida, sistema nervoso central
oxigénio podendo gerar fogo/explosão na presença de fagulhas. - Problemas a nível
> 22% pulmonar  Edema agudo
 MORTE
- Inalação de Oxigénio a
pressão elevada 
Inflamações e hemorragias
pulmonares
Atmosferas tóxicas A toxicidade é a capacidade relativa de uma substância causar danos nos
tecidos biológicos. A sua toxicidade pode causar danos graves, agudos ou
crónicos, quer por inalação ou por via cutânea.
Como tais substâncias são prejudiciais mesmo em concentrações muito
pequenas, são expressas em “partes por milhão” (ppm).
1ppm = 1/ 1.000.000
1% = 10.000ppm
1ppm = 0,0001%
O conceito de DOSE, refere-se à quantidade mínima de uma determinada
substância que pode causar dano.
Aqui o fator exposição (T de tempo) à substância é importante, tendo em
conta a seguinte relação matemática com a concentração da substância
tóxica (C):
D=TxC
A libertação de gases tóxicos não é só aquando de incêndios (como já
vimos anteriormente).
Também ao nível industrial, na produção, armazenamento e transporte, se
ocorrerem derrames ou fugas, são emitidos gases que podem ser tóxicos.
Num espaço confinado onde funcionem motores de combustão, a
concentração dos gases acumulados é seguramente elevada e, fatal (pe.
parques de estacionamento mal ventilados).

Quadro 11: Tipo de atmosferas

A regulamentação do transporte de matérias perigosas, por via terrestre, fluvial, marítima ou aérea, é
um assunto muito amplo que não será abordado no âmbito do presente trabalho.
Deixam-se aqui somente algumas indicações sobre a regulamentação adequada, visando a proteção
das pessoas e meio ambiente.
ADR – Acordo Europeu relativo ao Transporte Internacional de Mercadorias Perigosas por
Estrada;
RID – Regulamento relativo ao Transporte Internacional Ferroviário de Mercadorias Perigosas;
RPE – Regulamento nacional do Transporte de Mercadorias Perigosas por Estrada;
Normas emanadas pelas seguintes organizações internacionais:
o OMI – Organização Marítima Internacional;
o IATA – Internacional Air Transport Association (Associação Internacional de Transporte
Aéreo)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 53


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Quadro 12: Classes de matérias perigosas (números de perigo)

6.1. SISTEMAS DE DETEÇÃO/MEDIDA DE GASES

Existem inúmeros aparelhos/sistemas para deteção/medida de atmosferas perigosas. Podem ser


agrupados em três categorias:

CATEGORIA CARACTERÍSTICAS FOTO


Analisadores de Oxigénio São usados geralmente:
- Controle de combustão;
- Produção de aço;
- Processos de oxidação em geral;
- Manutenção de atmosferas inertes, para evitar deterioração de
produtos ou perigos de combustões indevidas;
- Medição do teor de oxigênio dissolvidos em agua;
- Uso hospitalar
Explosímetros Possuem alarme sonoro e luminoso que é acionado quando existem
concentrações de gases/vapores iguais ou superiores a 10% do LII
(Limite Inferior de Inflamabilidade).

Analisadores de gases Podem incorporar diversas funcionalidades:


tóxicos - Analisador de combustão:
- Medidas de pressão diferencial:
- Temperatura diferencial
- Medidor de CO
- Detetor de fugas

Quadro 13: Dispositivos de deteção/medida de atmosferas perigosas

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Efeitos da percentagem de Oxigénio sobre a vida:

% DE OXIGÉNIO EFEITO SOBRE A VIDA


Nenhum. Ar normal
21
Oxigénio suficiente para a respiração
18 – 21
Baixo rendimento  não existe colapso
16 - 18
Perigoso  raramente fatal
10 – 16
Morte lenta  recuperação com tratamento
6 – 10 apropriado
Morte rápida  6 a 8 minutos
0–6
Morte imediata
0

Quadro 14: Consequências para a vida da falta de Oxigénio

7. MÉTODOS DE EXTINÇÃO

“Pouco fogo… pouca água. Muito fogo… muita água”

Tal como já referido no presente trabalho e, relembrando o Tetraedro do Fogo, atuando sobre qualquer
um das suas quatro vertentes (comburente, combustível, calor/energia de ativação e reação em cadeia),
potencia-se a sua propagação ou a sua extinção.
Quanto assim à extinção, corresponde sempre à eliminação (ou redução) de, pelo menos, um dos tais
elementos do tetraedro do fogo.
Contudo, na extinção de um incêndio, muitas vezes tenta eliminar-se mais de que um dos elementos do
tetraedro com o objetivo de extinguir a combustão o mais rapidamente possível (com uma combinação
de vários métodos).
São basicamente quatro os métodos de extinção de um incêndio:
1. Carência ou dispersão do combustível
2. Limitação do comburente
3. Arrefecimento ou redução da temperatura
4. Inibição ou rutura da reação em cadeia

MÉTODO CARACTERÍSTICAS
Carência ou É provavelmente o método mais eficaz. Consiste em:
dispersão do
combustível • Retirar o combustível do alcance do fogo (pe. por dispersão)
• Retirar o fogo do alcance do combustível
Combustíveis sólidos  diminuir a sua quantidade  redução da dimensão do incêndio
Incêndios florestais  técnica do contrafogo (trabalho sapador)
Combustíveis líquidos ou gasosos  a sua aplicação depende das condições do incêndio.
Limitação do Método que impede o acesso do comburente à superfície do combustível.
comburente
• Asfixia – resulta do seu consumo na combustão em condições que não garantem a renovação de ar.
Não há, portanto, qualquer ação exterior.
• Abafamento –resulta de uma ação, exterior à própria combustão, que impede a renovação de ar (pe.
com espumíferos, abafar com tampa, lançar areia/terra, CO2  à saída do extintor a temperatura

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 55


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atinge os 78ºC).
A limitação de comburente pode conseguir-se diminuindo a concentração de oxigénio, para valores próximos de
14%, na maior parte dos casos e de 6%, se existirem brasas.

Arrefecimento ou É o mais utilizado no combate aos incêndios (também o mais económico).


redução da
temperatura Eliminar a energia provocando-se uma diminuição da temperatura do combustível (abaixo da sua temperatura de
inflamação) e, consequentemente, extinguindo o incêndio (pe. com água).
No caso das brasas, a água (com calor latente de vaporização elevado – 2260KJ/Kg), ao vaporizar-se, retira ao
fogo uma quantidade apreciável de energia  o que provoca uma diminuição gradual da temperatura (também é
um processo de asfixia por abafamento).
Inibição ou rutura Impede a transmissão de energia (calor) de umas partículas do combustível para outras limitando, a formação de
da reação em radicais livres e/ou consumindo-os à medida que se formam.
cadeia Pe.
O pó químico extintor que se decompõe em radicais livres e que, ao combinarem-se com os
produzidos do processo de combustão, os elimina e inibe a reação em cadeia.
É importante completar este método eliminando sempre um dos lados do tetraedro do fogo  existe o risco do
seu reacendimento (reignição).

Quadro 15: Métodos de extinção de incêndios

Quadro 16: Classes de fogo (agentes extintores)

8. AGENTES EXTINTORES

Como existe uma panóplia muito grande de combustíveis e formas de extinguir as suas respetivas
combustões, existem da mesma forma inúmeros agentes extintores.
São por isso o meio mais adequado para atacar um incêndio na sua fase inicial. A sua correta utilização
permite atacar as chamas incipientes e controlar ou conter o seu desenvolvimento  equipamento de
primeira intervenção.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 56


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Atuam maioritariamente por um dos métodos acima referidos mas, muito frequentemente, atuam de
forma acumulada, na eliminação de mais de um componente do tetraedro do fogo.
Muito haveria para referir nesta matéria. Porém, no contexto do presente trabalho, deixam-se aqui
somente alguns exemplos de aparelhos extintores.
Estes são classificados de acordo com o produto ou agente extintor utilizado (contido neles) e que deve
ser adequado a cada tipo de fogo (tendo em conta as classes já abordadas e suas características):
• Extintores de Água (extinguem por arrefecimento e/ou asfixia. Não podem ser utilizados em
equipamentos elétricos sob tensão)

Fig. 37: Extintores de água

• Extintores de Espuma (extinguem por abafamento e arrefecimento. Não podem ser utilizados
na presença de corrente elétrica de baixa tensão).

Fig. 38: Extintores de espuma

• Extintores de Dióxido de Carbono (extinguem por asfixia e arrefecimento)

Fig. 39: Extintores de CO2

• Extintores de Pó Químico (extinguem por inibição).


Não devem ser utilizados em mecanismos sensíveis ao pó e em instalações eletrónicas)

Fig. 40: Extintores de pó químico

Para além extintores mais utilizados, importa referir outros:

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 57


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• A água e os seus aditivos (substâncias sólidas ou líquidas em concentrações inferiores a 6%,


que se adicionam de modo a obter-se uma maior eficácia extintora);
o A água é o agente extintor por excelência uma vez que, em geral, é abundante, de baixo
custo e é passível de ser utilizada de diversas formas
• Espumas + água:
o São bolhas constituídas por uma atmosfera gasosa (ar), que se encontra confinada
numa parede formada de uma película fina do agente emulsão
• Gases inertes (Azoto e Dióxido de Carbono):
• Pós químicos
• A terra
o Utilizado no combate de pequenos focos de incêndio, especialmente em áreas rurais ou
florestais
• A areia.
o Tem uma aplicação genérica, apenas condicionada pela sua disponibilidade no local do
incêndio

9. ELETRICIDADE

A corrente elétrica também constitui uma forma de transmissão de CALOR.


É o chamado efeito térmico da corrente. Seja a transformação de energia elétrica em energia
19
Térmica/Calorífica (efeito de Joule ).
Os condutores de corrente elétrica são geralmente fios em metal.
Quando sujeitos a um grande sobreaquecimento, inflamam o material condutor que os isola do exterior,
transmitindo assim o calor produzido (pe. em enumeras ligações a determinada tomada ou as deficientes
instalações elétricas).

Fig. 41: Efeitos da corrente elétrica (calorífico e luminoso; químico, luminoso e magnético)

Poder-se-á dizer que, com algumas exceções, os incêndios de origem elétrica ocorrem devido à falta de
cuidado sensato na manutenção ou utilização de instalações e aparelhos elétricos.
Podem ser iniciados por:
Sobreaquecimento dos condutores;
Sobreaquecimento das tomadas;
Formação do arco voltaico;
Descarga eletrostática.

19
Como mais adiante abordado

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 58


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9.1. SISTEMAS (HIDRÁULICO VS. ELÉTRICO)

O sistema elétrico pode ser comparado com o sistema hidráulico, porquanto possuem componentes com
as mesmas funções e em comum têm como objetivo a transferências de energias.

Sistema hidráulico Sistema elétrico


Diferença de nível dos reservatórios Diferença de potencial ou tensão (V)
Corrente de água no tubo Corrente elétrica (I)
Diâmetro do tubo Secção do condutor (R)

Quadro 17: Diferencial entre sistema hidráulico e elétrico

Fig. 42: Sistema hidráulico VS. Sistema elétrico

Todos os sistemas tendem para o equilíbrio.


No sistema elétrico, ao invés da matéria em movimento ser água, são cargas negativas – eletrões -.
A corrente elétrica é pois todo o movimento ordenado de partículas eletrizadas. Para que esses
movimentos ocorram é necessário haver tais partículas − iões ou eletrões − livres no interior dos corpos.

9.2. CIRCUITO ELÉTRICO

Um circuito elétrico consiste num conjunto de componentes elétricos ou eletrónicos, através dos quais
passa corrente elétrica:
Todos os circuitos elétricos possuem:
Um gerador que funcione como fonte de energia;
Um ou mais recetores que transferem e transformam a energia elétrica;
Fios condutores, que são o elo de ligação entre os vários componentes do circuito e um ou
mais interruptores.

Existem basicamente dois tipos de circuito:


O circuito em série:
o A corrente percorre os componentes de forma sequencial;
Circuito em paralelo:
o A corrente subdivide-se em dois ou mais ramos.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 59


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Fig. 43: Circuitos elétricos

9.3. CONDUTORES ELÉTRICOS

Como já se percebeu, a eletricidade necessita de um suporte para ser transferida.


Na verdade, tal suporte é necessário para que os eletrões circulem.
A maioria dos metais têm eletrões que podem separar-se de seus átomos e mover-se - eletrões livres -.
Ajudam a eletricidade a fluir por esses materiais - condutores elétricos -, uma vez que conduzem
eletricidade. Os eletrões em movimento transmitem energia elétrica de um ponto a outro.
Por condutores elétricos entende-se assim ser todo o material suscetível de ser atravessado por uma
corrente elétrica.

TIPO DE CONDUTOR CARACTERÍSTICAS FOTO


CONDUTOR NU Em cobre ou alumínio, não possuem isolamento elétrico contínuo

CONDUTOR ISOLADO Metal revestido por um, ou mais, revestimento que assegura isolamento elétrico

CABO ISOLADO Condutor isolado ou conjunto de condutores isolados devidamente agrupados

Quadro 18: Tipos de condutores elétricos

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 60


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9.4. GRANDEZAS ELÉTRICAS

Fig. 44: Intensidade da corrente elétrica

Fig. 45: Tensão da corrente elétrica

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 61


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Fig. 46: Resistência da corrente elétrica

Esta RESISTÊNCIA ELÉTRICA (R) depende da:


• Natureza do material (condutor)
• Sua secção
• Seu comprimento

Fig. 47: Potência da corrente elétrica

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 62


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9.5. LEI DE OHM (Ω)

Indica que a diferença de potencial (V) entre dois pontos de um condutor, é proporcional à
corrente elétrica (I) que o percorre e à resistência do condutor (R):

Para certos condutores metálicos, homogéneos e filiformes, a uma dada temperatura, é constante a
razão/resistência (R) entre a diferença de potencial (V) e a intensidade da corrente (I).

Em termos matemáticos, a intensidade da corrente é inversamente proporcional à resistência do


condutor elétrico.
Seja, aumentando a intensidade, diminui-se a capacidade de resistência desse condutor e vice-
versa.
Daí que os condutores aquecem quanto maior for a intensidade da corrente elétrica que os percorre
(vd. Lei de Joule abordada de seguida).
Por isso é necessário manter a temperatura constante, para que a Lei de Ohm se verifique  com
utilização dos chamados condutores óhmicos ou lineares.

9.6. LEI DE JOULE

20
Também conhecida como efeito de Joule .
Genericamente
“Quando uma corrente elétrica atravessa um material condutor, há produção de calor.
Essa produção de calor é devida ao trabalho realizado para transportar as cargas através
do material em determinado tempo”
(in Wikipédia)

É o EFEITO TÉRMICO da corrente elétrica.


Matematicamente, a energia calorífica (calor) desenvolvida num condutor (Q-caloria), é diretamente
proporcional à resistência do mesmo (R-ohm), ao quadrado da corrente elétrica que o percorre (I-
ampére) e ao tempo (t-segundos) durante o qual passa para a corrente:

20
James Prescott Joule (1918-1889), foi um físico britânico que estudou a natureza do calor e descobriu relações
com o trabalho mecânico

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 63


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APLICAÇÕES DA LEI DE JOULE


• Aquecimento
O calor desenvolvido por efeito de Joule tem inúmeras aplicações possibilitadas por aparelhos:
- Aquecimento de edifícios por meio de irradiadores e convetores
- Aparelhos eletrodomésticos (fogão, ferro de engomar, cafeteira elétrica, grelhador,
etc.).
- Estufas de secagem de aparelhos e fornos com diversos fins
- Soldadura elétrica
• Iluminação por incandescência
As lâmpadas de incandescência atuais têm um filamento de tungsténio que percorrido pela
corrente elétrica pode atingir temperaturas da ordem dos 2000ºC. A essa temperatura o
filamento emite luz
• Realização de proteções contra sobreintensidades nos circuitos
Diz-se que há uma sobreintensidade num circuito quando a intensidade da corrente ultrapassa o
máximo valor permanentemente admissível neste.
A proteção dos circuitos e aparelhos contra as sobreintensidades é feita por aparelhos que
provocam a interrupção do circuito quando se dá a anomalia.

INCONVENIENTES DA LEI DE JOULE


• Aquecimentos indesejáveis
- Em motores e geradores elétricos  Existe uma perda de energia (E)
• Percas nas linhas elétricas
- A corrente, ao percorrer os condutores elétricos dissipa E
• Limitação de intensidade de corrente nos condutores
- Libertação de E no condutor  Leva a aumento da ºC  O condutor cede energia a
corpos vizinhos e, se os isolamentos desse condutor elétrico for deficiente  INCÊNDIO
• Perigo de incêndio em curto-circuitos
• Aquecimentos excessivos nos maus contactos
- Maus contactos nas ligações  leva a uma resistência anormal no circuito, ou seja, uma
resistência de contacto.
• Quanto pior for o contacto, mais elevada é a resistência de contacto  o que
leva a um desenvolvimento de energia calorífica anormal por efeito de Joule.
Assim as ligações aquecem exageradamente, podendo destruir-se.

9.6.1. SOBREAQUECIMENTO ELÉTRICO

Trata-se essencialmente de uma libertação de calor.


2
Relembrando o efeito de Joule (Q = R I t), os sobreaquecimentos em instalações elétricas devem-se
sobretudo às intensidades abruptas a que estão sujeitas e que fornecem energia de ativação ao meio
ambiente que as rodeiam.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 64


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9.6.2. SOBREINTENSIDADE ELÉTRICA

Abordam-se neste trabalho somente os fenómenos mais comuns – sobrecargas e curto-circuitos:

FENÓMENO CARACTERÍSTICAS
SOBRECARGA Tanto as instalações como os equipamentos elétricos, são projetados e dimensionados para funcionarem
sem se danificarem durante a sua vida média, com um valor de corrente máxima – Corrente nominal.
Quando, por alguma razão, funcionam com valores de corrente acima da nominal  SOBRECARGA.
SOBRECARGA  Conduz ao envelhecimento prematuro das instalações/equipamentos  Período de
vida menor.
Podem assumir vários graus de consequências:
• O acréscimo do valor da corrente é pequeno em relação ao valor nominal (pequena
sobrecarga)
• Aumento lento da ºC dos condutores e seus isolamentos, podendo ou não serem
danificados permanentemente
• O perigo imediato é normalmente mínimo
• O acréscimo do valor da corrente é grande mas efetuado gradualmente (sobrecarga
propriamente dita)
• Aumento da ºC mais rápido  Fusão dos isolamentos ou deterioração permanente
(se durante muito tempo  Autocombustão de materiais inflamáveis contíguos)
CURTO-CIRCUITO Quando dois condutores de potenciais diferentes (o condutor de fase e o condutor neutro) tocam-se
diretamente ou são ligados por uma fraca resistência  Assiste-se à passagem de corrente elevada
Relacionado com a resistência (R) e intensidade (I) da corrente.

A intensidade da corrente elétrica aumenta bruscamente para valores elevadíssimos (da ordem das
centenas ou milhares de ampéres).
Esquematicamente:

Traço de fusão (“bolha”, “lágrima”)

Quadro 19: Fenómenos de sobreintensidade elétrica

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 65


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São exemplos, demasiados aparelhos ligados simultaneamente num mesmo circuito podem
originar uma sobrecarga que é uma sobreintensidade em que a corrente de serviço no circuito é
superior ou ligeiramente superior à intensidade máxima permitida nos condutores (IB>Iz).
Se, por exemplo, dois pontos do circuito com potenciais elétricos diferentes entram em contacto
direto entre si estamos na presença de um curto – circuito que é uma sobreintensidade em que a
corrente de serviço no circuito é muito superior à intensidade máxima permitida nos condutores

9.7. ELETRICIDADE ESTÁTICA

Todos os corpos possuem a propriedade de se eletrizarem (pe. por ATRITO).


A eletricidade estática trata-se assim de um fenómeno de acumulação de cargas elétricas num corpo,
seja ele condutor, semicondutor ou isolante.
Essa eletricidade deve-se ao fato dos átomos dos corpos apresentarem desequilíbrio de carga (quando
separados).
“Resulta assim do contacto de duas substâncias (más condutoras) diferentes, seguido da
sua separação e isolamento elétrico por meio de uma substância não condutora que é, na
maior parte das vezes, o ar”
(in, “Manual de eletricidade” – ENB, 2003)
Como o isolamento elétrico nunca é perfeito, a quantidade de cargas acumuladas (num dado tempo),
depende de:
Velocidade de produção de tais cargas;
Velocidade das mesmas.

Quando a produção de cargas for superior à sua dissipação, haverá acumulação das mesmas e poderá
ocorrer o fenómeno da produção de FAÍSCA (que descarregará as cargas elétricas).
Tais faíscas são fonte de calor  Fontes de ignição.
A FAÍSCA pode ser ainda produzida:
- Pelo Normal ou Anormal funcionamento de máquinas rotativas, aparelhos de manobra de corte
e proteção quando acionados em carga, carros elétricos, etc.;
- Por descargas eletrostáticas (correias de transmissão, tapetes rolantes, armazenamento de
hidrocarbonetos, etc.);
- Agitação de líquidos combustíveis;

9.8. SISTEMAS DE PROTEÇÃO

Os aparelhos elétricos numa baixa tensão (em Portugal de 220 a 230v), classificam-se, de acordo com a
sua função, em:
Ligação
Corte
Comando
Proteção

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 66


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Os aparelhos de proteção contra curto-circuito, deverão atuar o mais rapidamente possível (antes do
tempo necessário para fundir ou carbonizar os condutores.

Fig. 48: Fusíveis e Disjuntores

A utilização de FUSÍVEIS, é o método mais simples para proteger um circuito elétrico contra
sobreintensidades. Consiste em colocar um fusível no início do circuito.
Geralmente são uns filamentos ou lâminas de um metal ou liga metálica de baixo ponto de fusão, o
qual, aquando de um aumento de intensidade da corrente (efeito Joule), acima de um determinado
valor (valor nominal para aquele circuito), funde-se, interrompendo por isso o fluxo de corrente
elétrica.

Os DISJUNTORES são mais completos. Consistem num dispositivo eletromecânico, que funciona como
um interruptor automático.
Basicamente a sua função é a de detetar picos de corrente que ultrapassem o adequado para o
circuito (a corrente nominal), interrompendo-a imediatamente antes que os seus efeitos térmicos e
mecânicos possam causar danos à instalação elétrica a proteger.
A grande vantagem em relação aos fusíveis, é o facto de serem reutilizáveis, podendo ser
rearmados após terem sido acionados e desligarem a corrente elétrica. Também servem de
dispositivos de manobra, controlo e monitorização.

9.9. EFEITOS BIOFISIOLÓGICOS DA CORRENTE ELÉTRICA (NO CORPO HUMANO)

O que está em causa não é a tensão aplicada, mas sim a intensidade da corrente que atravessa o
corpo (humano e dos animais). As consequências dependem da parte do corpo atravessada, do estado
fisiológico do corpo (envelhecido, enfraquecido, etc.) e essencialmente:
Da intensidade da corrente;
Da duração do efeito;
Do percurso e variação brusca da corrente.

Existem duas formas principais de “sentir” a corrente elétrica:


1. A perceção:
Somente se sente um ligeiro formigueiro, à passagem da corrente elétrica;
2. O limite do largar:
Valor máximo da corrente que uma pessoa consegue suportar até largar o condutor ativo. Com o
aumento da intensidade  contrações musculares  impedem controlo das reações. O valor
aceite para este limiar é de 10mA (miliamperes).

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 67


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Quadro 20: Sensações fisiológicas (corrente de 50Hz), entrando pela mão (amostragem de 500 pessoas)

9.9.1. PRINCIPAIS ACIDENTES DE ORIGEM ELÉTRICA

Sem dúvida que as principais consequências visíveis da passagem da corrente elétrica no corpo
humano, são os ferimentos e, in extremis, a morte.
Os acidentes mais frequentes são originados pelo contacto direto ou indireto com um circuito elétrico.

TIPO DE ACIDENTE CARACTERÍSTICA


CHOQUE ELÉTRICO É devido ao contacto direto do corpo humano com um
condutor ou uma superfície com defeito de isolamento.
As ligações à terra são importantes mecanismos de
proteção.

CEGUEIRA E No caso de estarmos muito próximo de um curto-circuito, podem ocorrer situações de cegueira
QUEIMADURAS momentânea ou mesmo definitiva. Deve-se à energia libertada durante o chamado arco voltaico, que
provoca ainda queimaduras extensas e profundas.
Um arco voltaico21, geralmente resulta de um curto-circuito.
CONTRAÇÕES Quando a corrente elétrica passa num músculo, este é sujeito a sucessivos choques que ocorrem em
MUSCULARES intervalos de tempo bastante curtos. Conforme o tipo de músculo e o trajeto da corrente:
- Músculos do antebraço: incapacidade de se desprender do ponto de contacto com o condutor.
Se a corrente não for interrompida, os choques alastram-se a outros músculos, podendo ocorrer
asfixia, se forem atingidos músculos que controlam o sistema respiratório (pe. peitorais e do
diafragma);
- Músculos extensores, a vítima pode ser projetada, em resultado de uma contração violenta e
brusca. Em músculos dorsais, pode originar quedas;
- Pode ainda ocorrer fibrilação ventricular se o trajeto da corrente passar pelo coração.
INCÊNDIO Tal como anteriormente abordado, é resultado de uma sobreintensidade da corrente elétrica. De facto, a

21
Basicamente consiste numa faísca. Resulta de um fluxo intenso de corrente elétrica (através de um meio
normalmente isolante como o ar), que se forma entre dois elétrodos energizados com alta voltagem, colocados
próximos um do outro. Gera altíssimas temperaturas.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 68


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energia libertada sob a forma de calor, pela passagem da corrente elétrica, pode potenciar a ignição dos
materiais que estiverem em contacto com os condutores.
Nos circuitos elétricos, os incêndios têm assim como principais causas:
• Sobrecargas
• Curto Circuitos
• Defeitos de isolamento
• Maus-contactos

Quadro 21: Acidentes elétricos mais comuns

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 69


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III. TIPOLOGIA DE INCÊNDIOS ( CARACTERIZAÇÃO GENÉRICA)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 70


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10. TIPOS DE INCÊNDIOS – CARACTERIZAÇÃO GENÉRICA

Os incêndios não são todos do mesmo tipo. Essencialmente dependem e são assim tipificados de
acordo com o material que entra em combustão (sua natureza) ou o local onde ocorrem.
No presente trabalho optou-se por abordar genericamente somente três tipos de incêndios mais comuns
e significativos em Portugal, com a consciência porém que todos os restantes são derivações específicas
daqueles (e.g. em navios, aeronaves, comboios, estabelecimentos comerciais, estabelecimentos de
hotelaria/restauração).

Dar-se-á mais ênfase aos INCENDIOS FLORESTAIS, por serem os que causam mais impacto social e
económico (e não propriamente mais vítimas mortais).
Os bens produzidos pela via da atividade florestal, sustentam uma importante e integrada cadeia
industrial, baseada em recursos naturais, suportando por si, um forte sector de exportação.
Por conseguinte, a floresta e a atividade florestal em Portugal são uma importante área da nossa
economia, sendo assim compreensível que acarrete prejuízos de grande monta.
Por fim são aqueles que produzem um maior impacto social e implicam um maior investimento a todos
os níveis (material, humano, político, etc.)

10.1. INCÊNDIOS FLORESTAIS (IF)

“Um incêndio florestal é a combustão, sem controlo no espaço e no tempo, dos materiais
22
combustíveis existentes nas áreas florestais”
“Um incêndio florestal é na sua essência o reflexo do comportamento do fogo. O
desenvolvimento de um incêndio, os efeitos no solo e na vegetação por ele provocados, e a
23
dificuldade de controlo por ele demonstrada, dependem do comportamento do fogo”
“Por definição o comportamento do fogo é a forma como o combustível se inflama, como as
chamas se desenvolvem, como o fogo se propaga e exibe outras características, determinada
24
pela interação entre os combustíveis, as variáveis meteorológicas e a topografia”

25
Segundo o Inventário Florestal Nacional (adiante designado por IFN) :

TIPO DE MATERIAL VEGETAL CARACTERÍSTICAS


COMBUSTÍVEL
FLORESTA “Extensão de terreno com área ≥ 5000m2 e largura ≥ 20m, com um grau de coberto (definido pela
razão entre a área da projeção horizontal das copas e a área total da parcela) ≥ 10%, onde se
verifica a presença de arvoredo florestal que pelas suas características ou forma de exploração
tenha atingido, ou venha a atingir, porte arbóreo (altura superior a 5 m), independentemente da
fase em que se encontre no momento da observação, incluindo os tipos de uso florestal indicados
a seguir”.

22
in CASTRO, Carlos F. et outros. “Combate a incêndios florestais, vol. XIII: Manual de Formação Inicial do Bombeiro”. 2ª
Ed. Sintra: ENB, 2003, pág. 9
23
(Viegas e Cruz 2001)
24
(Merril e Alexander, 1987)
25
PORTUGAL, Autoridade Florestal Nacional. “Instruções para o trabalho de campo do Inventário Florestal Nacional”.
Lisboa: Direção de Unidade de Gestão Florestal, Janeiro.2009

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 71


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MATO “Extensão de terreno com área ≥ 5000m2 e largura ≥ 20 m, com cobertura de espécies lenhosas
de porte arbustivo, ou de herbáceas de origem natural, onde não se verifique intervenção agrícola
ou silvícola, que podem resultar de um pousio agrícola, constituir uma pastagem espontânea ou
terreno pura e simplesmente em regeneração natural”.
ARVOREDO "Conjunto florestal arbóreo da mesma espécie, sem condução silvícola, nem área específica”

SEARA “Espaço delimitado de produção cerealífera em que a sua espiga se encontre no local, implantada
na terra ou depois de ceifada, ainda depositada na terra.”

Quadro 22: Definições de combustíveis vegetais (IFN)

Qualquer incêndio que ocorra fora destes locais específicos será juridicamente tipificado como um crime
de dano através do fogo (cfr. advém do Código Penal Português), como abordado mais adiante no
presente trabalho.

10.2. FATORES DE PROPAGAÇÃO

Na dinâmica de um incêndio florestal são essencialmente três os fatores determinantes, quer para a sua
propagação, quer para a sua extinção:

Fig. 49: Triângulo – Fatores condicionantes da dinâmica de um incêndio florestal

10.3. COMBUSTÍVEIS

Fig. 50: Triângulo do fogo - Importância do tipo de combustíveis

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 72


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“Todo o material vegetal morto ou vivo, que existe nas zonas rurais… com potencial para dar
26
início e propagar um fogo”
“Qualquer material orgânico, tanto vivo como morto, no solo, sobre o solo ou aéreo, passivo de
27
ignição e queima”

Toda o material vegetal, vivo ou morto, é composto por partículas de diferentes formas e dimensões –
CELULOSE, com diferentes propriedades químicas, físicas e térmicas que podem afetar a propagação
de um IF
Um dos organitos que compõem as células são os cloroplastos (verdadeiras “fábricas de madeira”):
• Dividem as moléculas de água absorvida pelas raízes, guardando H e libertando O 2;
• Absorvem o CO2 da atmosfera, ligando H – C  CELULOSE
• Através da luz solar  Quebram ligações H2O e CO2  Recombinam novas ligações 
FOTOSSÍNTESE

10.3.1. CLASSIFICAÇÃO

Por ESTADO VEGETATIVO:


- Vivos (pelo menos com 80% de água);
- Mortos (em média com 19% de água);
Classificação importante, porquanto os vivos possuem maior humidade que os mortos e por isso
 São autênticos retardantes do IF (e vice-versa);

Por ESTRATOS (ou horizontes):


- HERBÁCEO - Combustíveis do solo
- Incluem aqueles localizados no subsolo abaixo da manta-morta ou no solo mineral:
 Raízes velhas ou apodrecidas, troncos ou ramagens enterradas, húmus; matéria
orgânica em decomposição (folhas, agulhas, raminhos, musgos, etc.);
- ARBUSTIVO - Combustíveis superficiais (vivos ou mortos);
- Folhas ou agulhas mortas, ramos mortos no chão, pinhas, cascas;
- Troncos caídos ou resíduos de exploração (podem existir elevadas cargas disponíveis para
combustão);
- Herbáceas de grande variedade e humidade (a disponibilidade para a combustão aumenta
com o decorrer da época estival);
- Arbustos ou pequenas árvores com altura < 2m;
- ARBÓREO - Combustíveis aéreos:
- Árvores mortas ainda em pé;
- Copas (ramagens);
- Arbustos elevados;

26
Engº. Luís Mário Ribeiro in “Incêndios Florestais”, Domingos Xavier Viegas, 2011
27
(MELO, 2005)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 73


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Esta classificação por ESTRATOS é a que está mais relacionada com o tipo de propagação
dos IF.

Assim num andar:


 HERBÁCEO  Incêndios do solo;
No subsolo, podem incendiar-se e arder sem chama durante longos períodos de tempo (dias
28
ou semana ), conhecidos por incêndios subterrâneos (produção
de muito fumo persistente e podem potenciar reacendimentos
nos combustíveis de superfície).
Uma vez que possuem combustíveis abundantes (herbáceas),
quer vivos ou mortos, com a ajuda do vento, influenciam
bastante na propagação dos IF.

Fig. 51: Incêndios subterrâneos e do solo

 ARBUSTIVO – Incêndios superficiais;


A vegetação arbustiva (se a zona não estiver limpa e tratada) é intensa. Então se estiver
morta, influencia de igual modo a propagação, mas essencialmente o exponencial
29
desenvolvimento dos IF (aumentam em intensidade,
perímetro e área).
A disponibilidade dos combustíveis existentes neste
estrato para a combustão, varia com as suas
propriedades, mormente, o teor de humidade, o
tamanho, a continuidade de combustível, a compactação
e o tipo do próprio combustível.
Fig. 52: Incêndios superficiais

 ARBÓREO – Incêndios aéreos (ou de copas);


Constituídos por copas das árvores e de arbustos elevados.
30
Geralmente são consumidas as folhas e os ramos finos .
A combustão dos ramos vivos depende da intensidade do fogo
e da espécie. A propagação das copas depende da: a) altura
base do solo à copa; b) densidade da copa; c) humidade do
combustível da copa

Fig. 53: Incêndios aéreos (copas)

Por CLASSES DE DIMENSÃO


Dimensão ou tamanho, é importante na quantidade de humidade de cada planta (maior ou
menor retenção de H2O).

o FINOS ou Ligeiros ( < 06mm)


- Agulhas, folhas, ervas, manta morta em decomposição
o MIÚDOS ou REGULARES ( 06 a 25mm)
- Ramos finos e caules de arbustos

28
(Debano et al., 1998)
29
(Chandler et al., 1983, Allgower, et al., 2004)
30
(Stocks, 1989; Albini e Stocks, 1986)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 74


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o MÉDIOS ( 25 a 75mm)
- Ramos
o GROSSOS ou Pesados ( >
75mm)
- Ramos grossos e troncos

Fig. 54: Dimensão dos combustíveis vegetais

Os combustíveis finos mortos (CFMs) são porosos e higroscópicos (perdem e ganham humidade
em função das condições meteorológicas).
Em regra, na primavera e no outono, o volume de CFMs vai aumentando, enquanto os
combustíveis finos vivos (CFVs) vão secando.
Quando em combustão e quando o seu teor de humidade se situa abaixo de 11% (apertados na
mão, estalam), há propagação natural das chamas (mantendo a fonte de calor).

10.3.2. PROPRIEDADES

São todo um conjunto de parâmetros que são utilizados para descrever fisicamente a vegetação
enquanto elementos ou partículas combustíveis.

FORMA ou GEOMETRIA
2 3 2 3
Tem a ver com a relação entre a superfície exterior e o respetivo volume (em cm /cm ou m /m )
 disponibilidade de uma partícula para a combustão.
Esta relação é importante porque interfere na alteração da temperatura e humidade dos
31
combustíveis mortos, no seu tempo de resposta a alterações exteriores . Quanto mais finas e
32
espalmadas forem as partículas, maior a sua relação superficial/volume .
Assim nos IFs os combustíveis finos ardem mais facilmente do que os combustíveis grossos
porque têm maior superfície em contacto com o ar, sendo mais fácil o seu pré-aquecimento e a
propagação da combustão.
Pe:
Para queimar um livro existem duas formas: acende-se o livro inteiro ou rasgam-se as folhas, separando-as
primeiro e incendiando-as de seguida  O tamanho e o peso são os mesmos, mas multiplicou-se a área
superficial exposta ao fogo pelo número de páginas  O livro separado em folhas arde mais facilmente.
O material lenhoso reduzido a pequenos pedaços, arde mais rapidamente do que em grandes pedaços, como
troncos, com o mesmo volume.

DIMENSÃO
Foi já referida anteriormente a importância do tamanho das partículas no processo de
combustão.

31
(Chandler et al., 1983)
32
(Pyne et al., 1996)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 75


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Esta propriedade, principalmente dos combustíveis mortos (CMs), está associada ao Tempo de
33
Retardação (TL ).
Os CMs trocam humidade com o ambiente consoante o teor desta seja maior ou menor nos dois,
até atingirem um estado de equilíbrio em que deixe de haver trocas (humidade de equilíbrio).
O Tempo de Retardação é assim o tempo que uma partícula demora até atingir novamente a
humidade de equilíbrio.

Tempo de Retardação (TL) Tempos de resposta Classe de tamanho ou diâmetro (em


(em horas) (em horas) mm)
1 0-2 <6
10 2-20 Entre 6-25
100 20-200 Entre 25-75
1000 >200 >75

Quadro 23: Classes de Tempo de Retardação

COMPOSIÇÃO QUÍMICA
As plantas estão cobertas de substâncias voláteis como ceras, resinas e óleos, que servem de
proteção para o excesso de sol, secura e frio, o que potencia a sua inflamabilidade.
Essa composição química pode afetar a intensidade do fogo e a sua propagação  Influenciar o
comportamento do IF.
Divide-se geralmente em três fases:
1. Pré-ignição (energia absorvida pelos combustíveis, dá-se a vaporização de água e
outros gases que alimentam as chamas na fase seguinte);
2. Combustão com chama (é mais eficiente sendo libertada energia, produzindo CO2 e
H2O);
3. Combustão sem chama (é a fase menos eficiente, com mais fumo e menos O 2 para a
combustão (combustíveis mais grossos, mais compactados e mais húmidos, etc.).

INFLAMABILIDADE
É uma propriedade constante em partículas de combustíveis semelhantes de uma espécie.
É o tempo que demora uma determinada amostra de combustível a incendiar-se, quando
submetida a um dado fluxo de calor  Influencia o risco de eclosão e a rapidez de progressão.
É fortemente afetada por outras características dos combustíveis:
- Humidade;
- Composição química;
- Relação superfície/volume.

DENSIDADE
Exprime o peso de uma partícula por unidade de volume (peso/volume).
34
Parâmetro que afeta a facilidade de ignição e velocidade de propagação do fogo florestal .
Influencia a sua capacidade calorífica (poder calorífico).
3
Quantidade de calor libertada na combustão completa por Kg (ou m para gases)
de combustível (KJ/Kg).

33
TL – Time Lag
34
(Countryman, 1982)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 76


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Os combustíveis com baixa densidade (troncos e cepos apodrecidos, pe.), têm uma capacidade
calorífica mais baixa e podem por isso sofrer ignição num espaço de tempo mais curto para uma
35
dada quantidade de calor fornecida… . Seja, não necessitam de muito calor para atingir o ponto
de ignição.
MAIOR DENSIDADE  MENOR VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO

TEOR DE HUMIDADE (THC)


Quantidade de água existente num determinado combustível, em % do seu peso seco.
É uma das propriedades mais importantes e com maior influência no comportamento do fogo.
As folhas vivas das árvores contêm entre 80 a 250% de humidade, com o seu máximo na Primavera.
A variação do THC é muito maior nos organismos mortos do que nos vivos, uma vez que estes
regulam a quantidade de humidade de que necessitam.
O THC influencia a possibilidade dos IFs começarem (n.º de ignições) e de se propagarem
(dimensão da área ardida).

Quanto maior for o THC contido nos combustíveis, mais difícil será a ignição e o desenvolvimento do
incêndio.

Quadro 24: Humidade (%) de combustível morto fino

10.3.3. PROPRIEDADES DO LEITO COMBUSTÍVEL

Caracterizam os combustíveis enquanto grupo/conjunto. Conjunto de elementos combustíveis.

CARGA DE COMBUSTÍVEIS
Quantidade de combustível existente numa dada área: inclui a folhada, pinhas, ramos e troncos
mortos, as herbáceas e os arbustos.

35
(Fernandes, 1997)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 77


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

2
Peso do material vegetal combustível numa determinada área (Kg/m ou T/Ha).

Quadro 25: Carga de combustíveis vegetais

Quadro 26: Carga de combustíveis vegetais finos

• FITOMASSA: matéria acima do solo


• COMBUSTÍVEL POTENCIAL (CP): todo o combustível que poderia ser consumido no IF
mais intenso
• COMBUSTÍVEL DISPONÍVEL (CD): combustível que é expetável que arda num IF
numa determinada área e com condições meteorológicas específicas
CD < CP
Não se consome todo o combustível durante a combustão. A disponibilidade depende da: hora,
época do ano, estrato, condições atmosféricas, vegetação, intensidade do fogo.

ALTURA DO LEITO
Também denominada profundidade, é uma estimativa da dimensão vertical da zona de
36
combustão e é necessária para descrever a compactação do leito para efeitos de modelação
do comportamento do fogo.
É de fácil e rápida medição e é usado para estimar a carga de combustível.

COMPACTAÇÃO e POROSIDADE
Refletem a mesma propriedade  Espaço existente entre as partículas de combustível.
Quanto mais compactado for o combustível  Menor a sua porosidade.
Propriedade determinante na velocidade e intensidade de propagação.
Uma maior compactação tem como consequência:
- Menor oxigénio disponível;
- Menor comprimento da chama;
- Menor velocidade de propagação;
- Menor intensidade de chama.

36
(Cruz e Viegas, 1995)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 78


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Fig. 55: Combustível vegetal mais e menos compactado

CONTINUIDADE
Expressa o grau ou extensão da distribuição contínua das partículas de combustível florestal que
afeta a capacidade de um incêndio florestal em manter a combustão e alastrar.
Não significa que exista contacto entre combustíveis, mas na zona de combustão (recordam-se
as diferentes formas de transmissão de calor: radiação, condução, convecção).
Tem a ver assim com o arranjo espacial das diferentes formações de combustíveis:

- HORIZONTAL:
É um fator crítico na propagação de fogos de superfície. Tem-se em conta na medição
2
da área ardida (por m ).
Não existe interrupção de combustível ao nível do solo  Existem condições para as
chamas se propagarem de uns combustíveis para outros.
Nas copas das árvores, uma menor continuidade  Sustentação do avanço de fogo de
copas.
Descontinuidade grande nos combustíveis de superfície (>100m)  Fogo de copas baixa
novamente à superfície.

Fig. 56: Continuidade horizontal

- VERTICAL:
É um fator crítico na transição de fogos de superfície para as copas.
Se os vários estratos estão ligados do solo até às copas das árvores  Propagação do
fogo em altura.
Ao contrário, pe., se um pinhal estiver limpo de mato, desramado e desbastado, não há
continuidade vertical dos combustíveis, logo as chamas terão mais dificuldade em se
propagar verticalmente.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 79


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Fig. 57: Continuidade vertical

COMBUSTIBILIDADE
Facilidade relativa de suportar e propagar um fogo com chama.
Facilidade de propagação de uma frente de chamas num leito horizontal, sem vento.
Depende de todos os anteriores parâmetros abordados.

Inflamabilidade Combustibilidade
Facilidade das partículas entrarem em Facilidade das partículas se propagarem às partículas
ignição vizinhas

Quadro 27: Influências das propriedades na dinâmica do incêndio

10.4. CLIMA E METEOROLOGIA

Fig. 58: Triângulo do fogo - Importância do clima e meteorologia

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 80


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Antes porém, importa diferenciar os conceitos de clima e Meteorologia, já que muitas vezes se
confundem.
Por Clima, entendem-se as condições atmosféricas médias de uma região, num dado período
de anos relativamente longo (tipicamente de 30 anos).
Por Meteorologia, entendem-se as condições atmosféricas que variam de um dia para o outro
ou de hora a hora, numa dada região.

10.4.1. FATORES CONDICIONANTES/DETERMINANTES

São um conjunto de fatores meteorológicos que condicionam a ocorrência de IFs e estão


associados quer ao crescimento da vegetação, quer ao processo de perda de humidade que a irá tornar
mais suscetível para a ignição de novos focos:

PRECIPITAÇÃO
Neste âmbito podemos considerar a precipitação como sendo a chuva. – Queda de água da
atmosfera para o solo.
Neste contexto de incêndios florestais em Portugal, consideraremos apenas aquela que cai sob
a forma líquida (e não granizo, neve, nevoeiro, neblinas, etc.).
A precipitação é um fator condicionante nos IFs, atuando de duas formas distintas:
- De INVERNO e da PRIMAVERA:
A precipitação nestas épocas favorece a germinação e o crescimento de novas
plantas herbáceas e arbustivas, que poderão constituir combustível vegetal fino,
suporte para a ignição e propagação dos IFs no Verão  Quanto mais chover
nestas alturas  Maior a probabilidade de ocorrência de incêndios com elevada
área ardida.
Por outro lado, se a precipitação for excessiva, o seu efeito será atenuado pela
quantidade de água retida (e consequente maior humidade dos combustíveis),
mesmo durante o Verão o que diminui o risco de IFs.
- De VERÃO:
Nesta época do ano, a precipitação que ocorre pode ter um efeito imediato na
dinâmica dos IFs. Considera-se que, num dado local, se exceder os 2mm, é uma
precipitação efetiva. Caso contrário o seu efeito é mesmo desprezável.
No Verão, uma quantidade de chuva mesmo que não seja muito elevada, produz
um aumento da humidade da vegetação fina (especialmente a manta morta),
dificultando assim o fogo. A contrapartida é que, subsistindo as altas
temperaturas, os efeitos deste aumento da humidade dos combustíveis é
efémero, pelo que, um ou dois dias após ter chovido a vegetação tenha
novamente condições (em termos de teor de humidade) para propiciar a
propagação do fogo.

TEMPERATURA DO AR
Relembrando…
“A temperatura é uma grandeza física, característica de um dado corpo (sólido,
líquido ou gasoso), que é superior ou inferior consoante esse corpo absorveu mais
ou menos energia”.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 81


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A temperatura do ar está também relacionada com a sua humidade relativa:


- O aumento de temperatura provoca um aumento significativo na temperatura dos
combustíveis mortos, enquanto os vivos têm mecanismos de regulação  Aumenta a
probabilidade de ignição e, assim, aumenta a probabilidade de focos secundários;
- O aumento da temperatura  Provoca a libertação de substâncias voláteis da
vegetação, aumentando a sua inflamabilidade;
- As diferenças de temperatura entre superfícies próximas  geram movimentos de ar
(corrente de convecção), que afetam a intensidade, velocidade e direção de propagação,
altura da chama e outros parâmetros de comportamento.

HUMIDADE RELATIVA DO AR
A humidade dos combustíveis mortos (ramos secos, árvores e arbustos mortos), está
diretamente relacionada com a humidade do ar (quantidade de vapor de água).
Quanto maior a humidade do material vegetal  Menor a facilidade que este tem de
entrar em combustão.
Se o ar é seco, a combustão é mais rápida, porque absorve o vapor de água libertado
pelo combustível.
Quanto mais alta for a temperatura, maior a quantidade de vapor de água que se pode
manter no ar sem passar ao estado líquido (condensar).
Ao contrário, quanto mais frio estiver o ar, menos capacidade terá em manter o vapor de
água sem este se condensar.
Durante o dia o ar seco retira a humidade da vegetação, pois está a uma temperatura mais
elevada e tem maior capacidade de absorver vapor de água.
Durante a noite, o ar, mais frio, tem maior teor de vapor de água e são os combustíveis florestais
que absorvem humidade do ar.

Fig. 59: Inversão da humidade dos combustíveis (dia e noite)

Existem ainda um conjunto de fatores meteorológicos que têm uma influência direta sobre as
condições de propagação dos incêndios.
Nomeadamente fatores relacionados com o:

VENTO
O vento é ar em movimento impulsionado por variações de pressões térmicas.
O ar em movimento é um fator decisivo na propagação dos IFs  Se tiver direção favorável ao
incêndio  Aumenta a sua velocidade e intensidade  Favorece também a ocorrência de focos
secundários.
A mudança de intensidade e direção do vento são assim fatores muito determinantes.
O vento é o responsável pela oxigenação da combustão  Intensifica a queima.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 82


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O vento é também o responsável pelo arrastamento de fagulhas que poderão provocar focos
de incêndio a distâncias consideráveis e ainda pela inclinação das chamas sobre outros
combustíveis.
Seja, o vento aumenta a velocidade de propagação porque fornece oxigênio para a combustão,
transporta o ar aquecido, resseca os combustíveis e dispersa partículas em ignição.
Quanto ao vento importa ainda distinguir três tipos cuja conjugação determina o sentido e a
intensidade da propagação dos IFs:
LOCAIS (conhecidos por brisas):
37
Pode ser descrito pelas cartas emitidas pelo IPMA . Em zonas de montanha a
sua ação sobre o incêndio varia devido à diferente orientação das encostas, nas
zonas de inflexão das vertentes podem existir mudanças de comportamento do
fogo devido à alteração da exposição ao vento.
Existem dois mecanismos principais:
Um deles está associado às brisas do vale (diurna) e de montanha
(noturna);

Fig. 60: Brisa diurna e noturna

O outro está relacionado com as brisas marítima (diurna – início da


tarde) e terrestre (noturna – início da noite):

Fig. 61: Brisa do mar e terrestre

PLANETÁRIOS (associados à circulação atmosférica geral):


Apresentam um rumo bem definido, aproximadamente constante e são de
intensidade moderada a forte.
As modificações mais importantes no seu rumo e velocidade devem-se à
disposição do relevo.

37
Instituto Português do Mar e da Atmosfera

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 83


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Fig. 62: Circulação geral da atmosfera

Existem também MOVIMENTOS DE AR CAUSADOS PELO CALOR PRODUZIDO


PELO INCÊNDIO:
Gera diferenças de pressão e consequentemente movimento de ar a várias
escalas (correntes de convecção).
Estes movimentos, em certas condições, como declives elevados e desfiladeiros,
podem ter uma grande influência sobre o incêndio favorecendo o comportamento
extremo (efeito eruptivo).

Fig. 63: Efeito eruptivo (chaminé) num IF

VELOCIDADE DO VENTO
Da camada da atmosfera terrestre (que se situa entre os 40 e os 60km de altitude), nesta
dinâmica dos IFs, interessa a camada mais próxima da terra, seja, entre os 600 e 1000m.
Nesta camada, a velocidade do vento varia em altura (distância ao solo), crescendo desde um
valor nulo à superfície, até um máximo no topo dessa camada (daí a importância da altitude a
38
que medimos a velocidade do vento ). Para se medirem os valores médios da velocidade,
geralmente tomam-se períodos de 10 em 10 minutos, ou mesmo de hora a hora, num dado local.
A sua velocidade (assim como a direção), varia de um ponto para o outro, tendo como
condicionantes a topografia, a vegetação, etc.
Quanto à vegetação, nomeadamente a densidade do povoamento e altura, se for intensa, limita
a passagem do vento e consequentemente a sua velocidade.

38
Com aparelhos denominados Anemómetros de Copo, sensores de filme quente ou de ultrassons, geralmente em
estações meteorológicas, à altura de 10 em 10m.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 84


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Fig. 64: Influência da densidade da vegetação na velocidade do vento

DIREÇÃO DO VENTO
Em Portugal continental o vento dominante é do quadrante Noroeste (mais sentido nas regiões
do litoral).
O vento Sudoeste costuma estar associado a precipitação, enquanto os ventos de Leste,
costumam verificar-se em verões quentes e secos.
Por todos os fatores até agora referidos, o vento é na generalidade inconstante, devendo-se ter
sempre em conta a sua medição (velocidade e rumo).

Fig. 65: Influência do vento num IF

INTENSIDADE VELOCIDADE OBSERVAÇÃO DOS OBJETOS


(Km/h)
MUITO FRACO Até 5 O fumo sobe quase na vertical e os pequenos ramos das árvores
agitam-se. As ervas vergam com o vento
FRACO De 6 a 11 O vento sente-se na cara. Os papéis no solo movem-se. Uma pequena
bandeira içada “flutua”.
BRISA FRACA De 12 a 19 O vento estende uma pequena bandeira içada. No alto do arvoredo
denso os ramos agitam-se.
BRISA DE MODERADA A FORTE De 20 a 40 O pó levanta-se na estrada. Todas as árvores em povoamentos densos
são agitadas. É incomodativo caminhar contra o vento.
VENTO DE FORTE A MUITO FORTE Mais de 40 Partem-se pequenos ramos das árvores. Difícil caminhar contra o
vento. À medida que aumenta a velocidade, os estragos nas árvores
são mais evidentes.

Quadro 28: Intensidade do vento e efeitos observáveis

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 85


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10.5. RISCO METEOROLÓGICO DE INCÊNDIO

Em termos de risco de incêndio florestal, durante muito tempo considerou-se a conhecida regra dos 30:

Fig. 66: Regra dos 30

Portugal adotou o sistema FWI (Fire Weather Index), do CFFDRS (Canadian Forest Fire Danger Rating),
desenvolvido em 1968, calibrado consoante a região.
Através deste índice, é possível estimar o risco de incêndio florestal a partir do estado dos diferentes
componentes de combustíveis vegetais, com base em observações meteorológicas e, por conseguinte,
emitir os adequados alertas para a população e meios de proteção, socorro e combate.

CLASSES FWI DESCRIÇÃO DO ÍNDICE METEOROLÓGICO DO RISCO DE INCÊNDIO


BAIXO
Fogo de superfície, controlado com material sapador em toda a extensão do seu
perímetro. Intensidade reduzida (<500KW/m).
MODERADO
Fogo vigoroso de superfície. Os meios terrestres são efetivos em toda a extensão
do perímetro do incêndio. Intensidade entre 500 a 2000KW/m. Comprimento da
chama entre 1,4 e 2,6m de altura.
ALTO
Fogo de superfície de elevada intensidade (entre 2000 a 4000KW/m), com
períodos de fogo de copas. O sucesso de ataque à cabeça do fogo exigirá
provavelmente meios aéreos. Comprimento da chama entre 2,5 e 3,5m de altura.
Possibilidade de ocorrência de projeções.
MUITO ALTO
Fogo passivo de copas. O ataque à cabeça do fogo é possível apenas com meios
aéreos pesados, mas o seu sucesso não é garantido. Considerações de
segurança e efetividade aconselham que os esforços de controlo com meios
terrestres incidam apenas nos flancos e retaguarda do fogo. Comprimento de
chama entre 3,5 e 10m de altura. Intensidade entre 4000 e 10.000KW/m.
Combate direto ineficaz.
MÁXIMO
São expetáveis fogos de copas ativos. A velocidade de propagação, o potencial
de foco secundários e a probabilidade do fogo transpor obstáculos são extremos.
O ataque à cabeça do fogo não é possível. A ação dos meios terrestres devem
limitar-se à retaguarda e flancos do fogo. O ataque indireto usando o fogo pode
ser efetivo. Intensidade das chamas superior a 10.000KW/m.

Quadro 29: Classes FWI (descrição do índice meteorológico do risco de incêndio)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 86


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Fig. 67: Índices de risco florestal (cfr. o sistema FWI - Fire Weather Index)

Outra forma de calcular o chamado INDICE DE IGNIÇÃO (Burning index) é usando a seguinte tabela:

Fig. 68: Medição do Índice de Ignição (Burning Index)

10.6. RELEVO

Fig. 69: Triângulo do fogo - Importância do relevo

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 87


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O relevo tem, por si só, influência na progressão dos incêndios florestais.


Por outro lado, tal como já referido, como afeta o vento (criando os chamados ventos topográficos), a
temperatura e a humidade relativa do ar também condiciona, desse modo, a propagação dos incêndios
florestais.

Fig. 70: Elementos orográficos principais

10.6.1. DECLIVE

A maior ou menor inclinação de uma encosta tem influência determinante na propagação dos
incêndios, visto que quanto mais inclinada for (maior declive) maior é o efeito das colunas de convecção
que aquecem a vegetação acima do incêndio, aumentando a velocidade de propagação no sentido
ascendente.
Quanto maior for o declive, maior a velocidade de propagação do incêndio.
Declives maiores de 30º e desfiladeiros, estão associados a aumentos de velocidade e
intensidade desde a base até ao cume, sendo mesmo possível a ocorrência de erupções. É
também de esperar que nestas condições ocorram focos secundários à frente da cabeça.
A este propósito relembre-se o conhecido fenómeno de “chaminés” já mencionado.
Nesta orografia (linhas de água), a vegetação é mais densa e, geralmente, o efeito de
progressão ascendente do incêndio é reforçado, contribuindo para tal os combustíveis existentes
nas encostas adjacentes.

Fig. 71: Geometria de um declive

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 88


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Fig. 72: Progressão de um IF num declive (influência do vento)

Fig. 73: Progressão de um IF com sem e com declive respetivamente

10.6.2. ALTITUDE

A altitude influencia, entre outros aspetos, a distribuição e quantidade da vegetação.


Pe:
Em Portugal, dificilmente se encontra pinheiro bravo acima dos 1000 metros de altitude, porque sem chuva durante
muitos dias a água existente no solo começa a rarear, inicialmente, nos cumes e depois, progressivamente, até aos
vales.

- No terço inferior, em regra, as temperaturas são mais altas e há mais vegetação;


- No terço médio já existe menos vegetação e, durante a noite, formam-se cinturões térmicos (ar
mais quente a meio da encosta);
- No terço superior as temperaturas são mais baixas, ocorrem variações bruscas de vento e existe
39
ainda menos vegetação

10.6.3. EXPOSIÇÃO SOLAR

Afeta a temperatura e a humidade.

39
A temperatura baixa 6,5°C por cada mil metros  gradiente térmico

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 89


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

- Às 12h  Registam-se maiores valores de temperatura numa vertente virada ao Sul do que
numa outra virada ao Norte, que está mais fria.
- As vertentes expostas a Sul (no hemisfério Norte) são vertentes soalheiras – temperatura
elevada;
- Vertentes expostas a Norte (no hemisfério Norte) são vertentes umbrias – temperaturas baixas.

10.7. COMPORTAMENTO DINÂMICO DE UM IF

Já se percebeu que o vento e o declive têm um papel fundamental no comportamento do fogo.


O seu efeito é similar mas não equivalente. Em ambos os casos existe uma aproximação da chama aos
combustíveis na frente, possibilitando uma
maior radiação e um mais rápido pré-
aquecimento. Por outro lado, induzem a
convecção, que aumenta a velocidade de
propagação.
Outro aspeto importante da convecção é
que possibilita elevação de partículas, que
provocam focos secundários perto da
frente e aumentam também a velocidade
de propagação.
O declive e o vento funcionam assim como
duas forças que “empurram” o incêndio.

Fig. 74: Influência do vento e do declive nos IFs

Tal como referido inicialmente (recorde-se o triângulo dos fatores de propagação dos IFs), para além do
vento e do declive, o comportamento do fogo é ainda condicionado pelos combustíveis (vegetação).

Num IF existem então variáveis básicas que caracterizam o comportamento do fogo:


Velocidade de propagação;
Intensidade da frente e dimensões da chama;
Energia libertada (calor) por unidade área;

10.7.1. VELOCIDADE DE PROGRESSÃO DE UM IF

É um termo usado para descrever a taxa de aumento de um IF, tanto em termos de área como
linearmente.
Seja, para a modulação do comportamento do fogo, a taxa de propagação linear (ou velocidade de
progressão) é um dos parâmetros mais importantes (medido em m/s, m/min ou Km/h).
Na verdade, em termos práticos, a velocidade de propagação do fogo pode ser aferida diretamente em
qualquer incêndio. Basta ter um cronômetro e marcar no terreno distâncias pré-estabelecidas.
Cronometrando-se o tempo que o fogo leva para percorrer essas distâncias, estima-se facilmente a
velocidade de propagação em qualquer unidade desejada. Apesar de ser um dos parâmetros mais fáceis

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 90


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

de se medir num incêndio, a velocidade de propagação é muito importante na previsão do


comportamento do fogo.

Embora seja muito variável de incêndio para incêndio, por depender de muitos fatores, resultados de
velocidade de propagação do fogo, existem publicadas algumas fórmulas matemáticas que espelham a
40
taxa de propagação :

VELOCIDADE DE CLASSIFICAÇÃO DO IF
PROGRESSÃO (m/h)
<= 100 ESTÁTICO
<= 500 LENTO
> 500 RÁPIDO
>= 1000 MUITO RÁPIDO
> 1500 CATASTRÓFICO

Quadro 30: Classificação em função da velocidade de progressão de um IF

10.7.2. INTENSIDADE DA FRENTE E DIMENSÕES DA CHAMA

É o indicador mais importante do comportamento do fogo.


Resulta da multiplicação da velocidade de propagação, pela carga combustível que está disponível para
arder e pelo calor (ou energia) libertado por unidade de peso de combustível.
“Define-se como sendo a taxa de energia ou calor liberada por unidade de tempo e por
41
unidade de comprimento da frente de fogo” .
42
A equação de Byram é pois uma proporção direta entre vários fatores :

40
Retirado site: http://gef152.blogspot.pt/2011/11/aula-6-comportamento-do-fogo.html (acedido a 2013-08-14)
41
(Byram, 1959)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 91


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A intensidade de um IF está ainda diretamente relacionada com o comprimento das chamas


produzidas43:

Em suma, o comportamento dinâmico de um IF depende de fatores que podem ser esquematizados da


seguinte forma:

COMBUSTÍVEIS TOPOGRAFIA (declive)


EXPOSIÇÃO TEMPERATURA

VENTO
TEMPO
Fig. 75: Triângulo dos fatores condicionantes de um IF

Pouco ou nenhum vento ou Vento variável ou topografia


declive. irregular. Distribuição heterogénea
dos combustíveis.

Vento ou declive suave. Propagação mais rápida com o vento


Distribuição uniforme dos ligeiramente variável. Declive mais
combustíveis. acentuado.

Duas encostas separadas por Forte declive em que o material


linha de água e vento variável. incandescente rola pela encosta.
Vento mais forte.

42
Retirado site: http://gef152.blogspot.pt/2011/11/aula-6-comportamento-do-fogo.html (acedido a 2013-08-14)
43
Retirado site: http://gef152.blogspot.pt/2011/11/aula-6-comportamento-do-fogo.html (acedido a 2013-08-14)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 92


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Fogo “empurrado” por vento Vento forte. Distribuição heterogénea


forte e declive suave. dos combustíveis. Declive forte e
aparecimento de fogos secundários
(projeções).

Quadro 31: Configurações típicas de IFs (consoante o vento)

Fig. 76: Esquema geral das diferentes partes da progressão de um IF

10.7.3. ANÁLISE CPS (CAMPBELL PREDICTION SYSTEM)

44
Este sistema de previsão de IFs baseia-se na:
– Informação sobre alinhamento de fatores:
o Saber que informação se necessita em cada situação?
– Boa comunicação da informação:
o Explicar a situação e as táticas a empregar antes de atacar;
o Explicar a intuição é difícil;
o Usar uma linguagem lógica;
– Linguagem correta para descrever a comunicação da informação:
o Aprender a expressar os elementos constituintes do incêndio;
o Explicar razão pela qual as táticas irão funcionar;
– Previsão de alteração do comportamento do incêndio – “Pensar antes de agir”;
Ao chegar a um incêndio florestal deve-se fazer uma previsão do seu
comportamento antes de atuar:
o A situação atual mantêm-se estável (pe. intensidade)?
o O incêndio está a alterar a sua posição topográfica (pe. vale, cume)?
o A meteorologia mantêm-se estável (pe. ventos)?
o O incêndio está a alterar o seu comportamento? Para melhor ou pior?
o Que forças atuam sobre o fogo para provocar estas variações?
– Tática selecionada para “ganhar”.
Os principais fatores que afetam a dinâmica e por conseguinte, a propagação de um incêndio são
destarte:

44
Vd. site: http://www.dougsfire.com/ (acedido a 2013-08-13)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 93


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Em termos de lógica de campo, podemos ter os seguintes alinhamentos de fatores:

Em suma, interessa saber como vai evoluir o IF e qual vai ser o “seu motor”:

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 94


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Fig. 77: Diagrama das fases típicas de um incêndio florestal

11. INCÊNDIOS EM ESTRUTURAS EDIFICADAS (Urbanos/Industriais)

“Um incêndio urbano é a combustão, sem controlo no espaço e no tempo, dos materiais
combustíveis existentes em edifícios, incluindo os constituintes dos elementos de construção e
revestimento. O mesmo tipo de acidente numa instalação industrial, designa-se por incêndio
45
industrial”

Os incêndios urbanos/industriais são em regra mais fatais que os restantes, mormente os florestais.

"Todos os dias há incêndios em habitações, indústrias e transportes. Mas o fenómeno é pouco


46
visível"

De facto, é nos meios urbanos que se concentra o maior número de pessoas, quer para viver, quer
mesmo para trabalhar. É no interior das edificações em geral que se encontram equipamentos sensíveis
como o gás e a eletricidade, que deverão estar limpos e mantidos em segurança.
É ainda no interior das habitações que se verificam as principais causas dos incêndios urbanos –
utilização de velas, cigarros, aquecedores, sobrecargas elétricas, etc. -, causas essencialmente
humanas, ora por descuido, ignorância ou mesmo por falta de alternativas em usar equipamentos mais
seguros.
45
in CASTRO, Carlos F. et outros. “Combate a incêndios urbanos e industriais, vol. X: Manual de Formação Inicial do
Bombeiro”. 2ª Ed. Sintra: ENB, 2005, pág. 9
46
(Gomes, A., 2005)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 95


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Por outro lado, também têm influência as características das infraestruturas, no que diz respeito à
engenharia de construção (com materiais menos resistentes ao fogo) e segurança contra incêndios (com
a inexistência ou deficientes sistemas de incêndios e planos/procedimentos de evacuação).
É bastante comum a existência de habitações velhas e degradadas, principalmente nos grandes centros
históricos/urbanos, onde muitas vezes por razões economicistas, não são feitos investimentos na
remodelação ou reconstrução adequada para fazer face à ocorrência de incêndios ou simplesmente por
mera falta de sensibilização ou formação cívica.
A particularidade dos incêndios industriais tem a ver com a quantidade e natureza dos produtos
existentes no seu interior, designadamente as suas características físicas/químicas (toxicidade, reação
com a água, inflamabilidade, etc.)
Uma das principais preocupações no combate a incêndios é a sua deteção atempada quando este ainda
se encontra no início, permitindo que o seu combate seja mais eficaz, numa fase em que meios como os
extintores ainda são eficazes.
Além disso os sistemas de alarme, ao serem acionados permitem alertar e evacuar as pessoas do
edifício evitando danos pessoais.
Em termos legislativos, importa ter em conta o diploma que congregou todo um conjunto de legislação
dispersa e que regula tudo o que diz respeito às características das construções, seus fins e usos, bem
como equipamento de deteção e prevenção de incêndios em edifícios  DL 220/2008, de 12.Nov
(“Regime Jurídico da Segurança Contra Incêndios em Edifícios”).

12. INCÊNDIOS EM VEÍCULOS AUTOMÓVEIS

No presente trabalho focam-se em especial os incêndios ocorridos em veículos automóveis terrestres a


motor (ligeiros de passageiros e de mercadorias).
Em termos de metodologia de abordagem, numa perspetiva de investigação das causas, a
particularidade reside no facto de se tratar de espaços mais reduzidos e confinados, com características
muito particulares.
Um dos compartimentos – o motor -, produz corrente elétrica e possui combustível.
Por outro lado, os demais órgãos e espaços possuem também corrente elétrica, a sua estrutura metálica
é boa condutora e os seus interiores e revestimentos (estofos, tablier, tapetes, forras, etc.) são de fácil
combustão. O facto de existir uma grande superfície envidraçada facilmente destrutível, contribui para
uma sobre oxigenação do espaço, potenciando um aumento da intensidade e rapidez da propagação.
Estes fatores dimensionais das viaturas (relativamente a edifícios e até a áreas abertas), potenciam
assim todos os fenómenos de propagação do fogo atrás referidos.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 96


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IV. INCÊNDIOS (INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 97


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13. INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS

APONTAMENTO HISTÓRICO
Desde os tempos romanos, as autoridades civis têm reconhecido a ameaça que
o fogo representa, não só para o bem-estar dos indivíduos, mas também, e
talvez mais importante, para o bem-estar e segurança da comunidade
como um todo.
Recorde-se que Roma, na noite de 18 para 19 de Julho de 64 d.C. (Depois de Cristo) começou a
arder, tendo os primeiros focos de incêndio ocorrido nuns armazéns perto do Grande Circo. Já
na altura a investigação das causas e, mais importante, a identificação do(s) autor(es),
marcaram um marco importante nesta vertente forense. O povo, apercebendo-se da rapidez e
dimensão fora do comum da progressão do incêndio, aprontou-se a indiciar o próprio imperador
Nero da sua autoria. Nunca foi possível prová-lo. Ao invés, foram indiciados e condenados como
autores, cerca de duzentos cristãos, os quais foram transformados em tochas humanas, que
47
serviram para iluminar as festas oferecidas por Nero ao seu povo .

O investigador de incêndio deve ter um entendimento básico dos princípios de combustão e


ser capaz de usá-los para ajudar na interpretação das evidências na cena do fogo e no
desenvolvimento de conclusões sobre a origem e as causas do incêndio.

13.1. PORQUÊ INVESTIGAR AS CAUSAS?

“Onde houve fogo, sempre sobram cinzas.”


(provérbio popular)

No contexto do presente trabalho, ousa-se completar:

“Onde houve fogo, sempre sobram cinzas …e vestígios.”


(citação completada pelo autor)

Uma das principais razões para se determinar a causa de um incêndio, é para se poderem colher
informações/estatísticas, promover ações, recomendar normas de conduta e ainda efetuar
alterações legislativas e/ou técnicas no domínio da proteção contra incêndios, evitando-se assim que
situações semelhantes ocorram ou, se ocorreram, existam os mecanismos de deteção, prevenção e
socorro mais adequados – vertente PREVENTIVA.
Por meio da investigação das causas, é possível saber se um determinado produto ou material possui
qualquer defeito de fabrico capaz de originar um incêndio ou que uma determinada prática também
concorra para este tipo de fatalidade.
Por outro lado, a investigação de um incêndio visa determinar se foi de origem criminosa ou não.
Tem como objetivo iniciar um processo-crime, através dos elementos de prova recolhidos – vertente
JUDICIAL

47
Retirado de: Círculo de Leitores. “Memória do mundo – das origens ao ano 2000”. Ed. LAROUSE. Lisboa, 2000, pág. 130-
131

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 98


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

14. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL (IC) - GENERALIDADES

No âmbito do presente trabalho, o paradigma da IC está sempre subjacente.

Relembre-se pois o próprio conceito de IC (advindo do art.º 1, da Lei 49/2008, de 27.Ago – LOIC (Lei de
Organização da Investigação Criminal):
“…conjunto de diligências que, nos termos da lei processual penal, se destinam a averiguar a
existência de um crime, determinar os seus agentes e a sua responsabilidade e descobrir e
recolher as provas, no âmbito do processo”.

Concomitantemente, advém do art.º 262º/1, do Código de Processo Penal:


“…conjunto de diligências que visam investigar a existência de um crime, determinar os seus
agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas, em ordem à decisão
sobre a acusação”.

A PJ é o Órgão de Polícia Criminal “por excelência” para a IC:


“…tem por missão coadjuvar as autoridades judiciárias na investigação, desenvolver e
promover as ações de prevenção, deteção e investigação da sua competência ou que lhe
48
sejam cometidas pelas autoridades judiciárias competentes” .
“As competências da PJ respeitantes à investigação criminal são as definidas na Lei de
Organização de Investigação Criminal”49.

A IC tem assim como objetivo:


Averiguar a existência de um crime;
Descobrir os seus agentes e a sua responsabilidade;
Descobrir e recolher as provas. Seja, estabelecer um nexo ATO  AUTOR
A IC assenta:
No Método;
Na Informação;
Na Cooperação;
A IC centra-se:
Na Observação;
Na Análise;
Na Interpretação;

Enfim, a abordagem à Investigação Criminal em si é muito ampla e, para além de já sobejamente


debatida e estudada, no âmbito do presente trabalho – INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS DOS
INCÊNDIOS –, destinando-se o mesmo a Investigadores da PJ, é já um saber adquirido.
Por isso, não se perdeu muito tempo nesta matéria.
Este trabalho cinge-se pois à vertente dos incêndios.

48
vd. art.º 2º/1, da Lei 37/2008, de 06.Ago – Lei Orgânica da PJ
49
vd. art.º 5º/1, da Lei 37/2008, de 06.Ago – Lei Orgânica da PJ

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 99


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

14.1. CENÁRIO DE INCÊNDIO vs. CENÁRIO DE CRIME

No contexto de incêndio, entende-se que cenário de incêndio é a zona ou local em concreto onde
ocorre ou ocorreu um incêndio.
É algo materializado numa panóplia de evidências, padrões, indicadores (quer materiais, quer
imateriais).
Assim, sempre que se verifica um incêndio, temos, a priori, um cenário genérico onde ainda não existem
elementos suficientes para o “catalogar” como um cenário de crime.

Por sua vez, por cenário do crime, entende-se ser um(ns) espaço(s) delimitado(s),direta ou
50
indiretamente relacionado(s) com um crime, que é(são) objeto de uma Inspeção Judiciária .

Nesta dicotomia cenário de incêndio  cenário do crime, está assim subjacente uma recolha,
tratamento, análise e correlação de informação, consubstanciada numa Inspeção Judiciária.
Destarte, um incêndio, antes de se apurar todo o seu circunstancialismo factual e por inerência, as suas
causas, não é necessariamente de origem criminosa.
Contudo, é de primordial importância que o mesmo local seja considerado e tratado como se de um
cenário de crime se tratasse, porquanto isso implica desde logo, que lhe seja dada uma atenção e
importância, salvaguardando todos os aspetos inerentes e/ou associados à prova.
Muito se tem falado nos chamados crimes de cenário.

Face ao supra referido, não nos restam dúvidas que o incêndio deve ser tratado, à priori, como sendo
um CENÁRIO DE CRIME (à semelhança de crimes de homicídio, roubos, etc., onde se exigem
metodologias e conhecimentos especiais de recolha de prova indiciária).

CRIMES DE CENÁRIO
Nos crimes de cenário a investigação sustenta-se numa boa Inspeção Judiciária (IJ),
considerando que neste tipo de crime ficaram no local, com maior ou menor evidencia, marcas,
sinais ou objetos que vão permitir, através de exames e perícias, constituir prova e orientar a
investigação.
O princípio mais elementar relativamente aos crimes de cenário foi apresentado por Edmond
Locard (1877), fundador e diretor do Instituto de Criminalística, da Universidade de Lyon, França,
Locard defendia que
“…todo o criminoso deixa algo no local do crime e leva algo consigo…É praticamente
impossível para um indivíduo cometer um ato criminoso, sem deixar algum vestígio e
evidência de seu ato”.

14.2. O CRIME DE INCÊNDIO (enquadramento penal)

O crime genérico de INCÊNDIO é tipificado no nosso ordenamento jurídico-penal (vd. art.º 272º do CP):

50
Como referido no presente trabalho.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 100


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

“1 - Quem:
a) Provocar incêndio de relevo, nomeadamente pondo fogo a edifício, construção, ou meio de transporte; (Redação dada pela Lei n.º
59/2007, de 04SET)
b) Provocar explosão por qualquer forma, nomeadamente mediante utilização de explosivos;
c) Libertar gases tóxicos ou asfixiantes;
d) Emitir radiações ou libertar substâncias radioativas;
e) Provocar inundação, desprendimento de avalanche, massa de terra ou de pedras; ou
f) Provocar desmoronamento ou desabamento de construção;
e criar deste modo perigo51 para a vida ou para a integridade física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado52 , é
punido com pena de prisão de 3 a 10 anos.

2 - Se o perigo referido no número anterior for criado por negligência, o agente é punido com pena de prisão de um a oito anos.

3 - Se a conduta referida no n.º 1 for praticada por negligência, o agente é punido com pena de prisão até cinco anos.”

Já o crime de incêndio florestal, (cfr. advém do art.º 274º do mesmo diploma):

“1 - Quem provocar incêndio em terreno ocupado com floresta, incluindo matas, ou pastagem, mato, formações vegetais espontâneas ou
em terreno agrícola, próprias ou alheias, é punido com pena de prisão de um a oito anos ( Redação dada pela Lei n.º 56/2011, de 15NOV);

2 - Se, através da conduta referida no número anterior, o agente:


a) Criar perigo para a vida53 ou para a integridade física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado;
b) Deixar a vítima em situação económica difícil; ou
c) Atuar com intenção de obter benefício económico;
É punido com pena de prisão de três a doze anos;
3 - Se o perigo previsto na alínea a) do n.º 2 for criado por negligência, o agente é punido com pena de prisão de dois a dez anos;
4 - Se a conduta prevista no n.º 1 for praticada por negligência, o agente é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de
multa;
5 - Se a conduta prevista no número anterior for praticada por negligência grosseira ou criar perigo para a vida ou para a integridade
física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado, o agente é punido com pena de prisão até cinco anos;
6 - Quem impedir o combate aos incêndios referidos nos números anteriores é punido com pena de prisão de um a oito anos;
7 - Quem dificultar a extinção dos incêndios referidos nos números anteriores, designadamente destruindo ou tornando inutilizável o
material destinado a combatê-los, é punido com pena de prisão de um a cinco anos;
8 - Não é abrangida pelo disposto nos n.º 1 a 5 a realização de trabalhos e outras operações que, segundo os conhecimentos e a
experiência da técnica florestal, se mostrarem indicados e forem levados a cabo, de acordo com as regras aplicáveis, por pessoa
qualificada ou devidamente autorizada, para combater incêndios, prevenir, debelar ou minorar a deterioração do património florestal ou
garantir a sua defesa ou conservação;
9 - Quando qualquer dos crimes previstos nos números anteriores for cometido por inimputável, é aplicável a medida de segurança
prevista no artigo 91.º, sob a forma de internamento intermitente e coincidente com os meses de maior risco de ocorrência de fogos.”

Outras normas legislativas:


O DL n.º 124/2006, de 28.Jun, com a redação introduzida pelo DL nº 17/2009:

51
Consiste na possibilidade de propagação devido ao calor transmitido a partir do incêndio ou pela continuidade dos
combustíveis
52
Acima dos 5.100 € (50 UCs x 102€, em 2012)
53
Este perigo terá de ser concreto e consiste na possibilidade de propagação devido ao calor transmitido a partir do
incêndio ou à continuidade dos combustíveis

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 101


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

o Estabelece as medidas e ações estruturais e operacionais relativas à prevenção e


proteção das florestas contra incêndios, a desenvolver no âmbito do Sistema Nacional
de Defesa da Floresta contra Incêndios;
o Disciplina o uso do fogo nas suas diversas vertentes;
o Determina as entidades competentes para a fiscalização.

Decreto-Lei n.º 310/2002, de 18.Dez:


o Atribui-se às câmaras municipais competência em matéria de licenciamento de
atividades diversas até agora cometidas aos governos civis – pe. no respeitante a
fogueiras e queimadas.

CRIME PÚBLICO INCÊNDIO


(Elaboração de Auto de Notícia (art.º 272º do CP)
pelo OPC)

CRIME PÚBLICO INCÊNDIO FLORESTAL


(Elaboração de Auto de Notícia (art.º 274º do CP)
pelo OPC)
OCORRÊNCIA (Elaboração de Auto de Notícia
(sempre que se verifique uma pelo OPC)
ignição)
CRIME SEMI-PÚBLICO DANO
(Depende de queixa) (art.º 212º do CP)

(Elaboração de Auto de Notícia


pelo OPC)
CRIME SEMI-PÚBLICO CONTRA-ORDENAÇÃO
(Depende de queixa) (Lei 17/2009 – regula o uso do fogo
florestal)

Fig. 78: Diagrama - Incêndios (enquadramento legislativo) (Elaboração de Auto de Notícia


pelo OPC)

15. A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL - INCÊNDIOS

“A investigação criminal de um incêndio segue uma cadeia cronológica de eventos, estabelecido


54
pelas testemunhas, pelo cenário em si e pelos exames laboratoriais”

A investigação criminal do crime de incêndio (tal como quanto a outros crimes), tem por objetivo, numa
primeira fase, a procura de elementos de prova que preencham os elementos do tipo e, numa segunda
fase, conduzam à identificação dos seus autores.

54
In SEITO, Alexandre e outros. “A segurança contra incêndio no Brasil”. S. Paulo: projeto Editora, 2008. ISBN 978-85-
61295-00-4

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 102


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Fig. 79: Diagrama - Objetivos da investigação criminal

Existem diferentes abordagens ou metodologias de investigação criminal no que concerne aos incêndios.
Todas porém possuem o mesmo objetivo  Descoberta das suas causas e identificação do(s) seu(s)
autor(es).

Apresenta-se de seguida uma forma genérica para esta abordagem, conhecida como Método de
Evidências Físicas das Causas do Incêndios (MEFCI)

Fig. 80: Diagrama – MEFCI

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 103


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

15.1. COMPETÊNCIA LEGAL

55
Ao contrário do que acontece em alguns países , Portugal não tem uma entidade integrada nos Corpos
de Bombeiros que investigue as causas dos incêndios.
56
Integrada no extinto SNB , existiu a então denominada “DATIA - Divisão de Apoio Técnico e
Investigação de Acidentes”. Surgiu com a necessidade de investigar as causas de acidentes com
pessoal e equipamentos de Corpos De Bombeiros e também de incidentes fora da estrutura de
bombeiros, sob o Comando da então Inspeção Superior de Bombeiros, que por determinação do
DL 209/96, de 15.Nov no seu art.º 24º/1/al. d), competia “Investigar as circunstâncias em que
ocorreram os incidentes”, e no seu n.º 3, “A Inspeção Superior de Bombeiros integra, sob a
coordenação do inspetor superior de bombeiros, um centro de coordenação operacional nacional
e uma divisão de apoio técnico e de investigação de acidentes…”.

Durante cerca de sete anos foram mais de 300 as investigações nas quais esta equipa
desenvolveu o seu trabalho, em território nacional.

Porém a legislação que extingue o Serviço Nacional de Bombeiros e cria o Serviço Nacional de
Bombeiros e Proteção Civil, não previu a sua existência.

“…A investigação de causas de incêndios… de acidentes com pessoal e equipamentos


dos Corpos de Bombeiros, tinha a grande vantagem de ser feita por pessoal conhecedor
da realidade objetiva dos Corpos de Bombeiros, o que fazia com que estes não sentissem
que havia “inspetores estranhos”. Por outro lado sentiam que estávamos a verificar o que
se tinha passado para podermos aprender e propor medidas que evitassem a repetição do
acidente.” 57

Desta feita, não tendo os Corpos de Bombeiros valências e este nível, cabe aos OPCs investigarem as
causas dos incêndios.

POLÍCIA JUDICIÁRIA
Advém da LOIC, do seu art.º 7º, n.º 3, al. f) que:
“3 - É ainda da competência reservada da Polícia Judiciária a investigação dos seguintes crimes, sem prejuízo do disposto no
artigo seguinte:
f) Incêndio (…), desde que, em qualquer caso, o facto seja imputável a titulo de dolo;”

55
Vg. os EUA onde, fazendo parte das estruturas dos bombeiros, existem equipas dedicadas à investigação de fogo
posto (Arson Investigation Team).
56
Serviço Nacional de Bombeiros (precursor do SNBPC - Serviço Nacional de Bombeiros e proteção Civil – que,
no fim de extinto em 2006, deu origem à atual ANPC)
57
Oficial de permanência às Operações do Comando Nacional de Operações de Socorro da ANPC e Comandante do
CB de Campo de Ourique.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 104


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Quadro 32: Resumo da moldura penal (incêndio)

Fig. 81: Diagrama - Cadeia de intervenções e competências dos OPCs

Fig. 82: Organograma - Sistematização da Investigação Criminal

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 105


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

15.2. FASES DA INVESTIGAÇÃO DE INCÊNDIOS

15.2.1. COMUNICAÇÃO DA OCORRÊNCIA

Como já amplamente referido no presente trabalho, raramente a PJ é a primeira entidade institucional a


ser contactada e assim a ser informada da ocorrência de qualquer ativação (seja, fogo).
Geralmente cabe ao Piquete nos vários departamentos da PJ receberem a primeira comunicação.
58
A mesma pode ser feita pelos OPCs da área, pelos representantes da ANPC na área (sejam os
59 60
CDOS ou os próprios CBs ) ou, por raramente, através dos cidadãos.

15.2.2. TRIAGEM PELO PIQUETE

A triagem é porventura a primeira diligência importante e mesmo imprescindível a realizar.


É necessário uma uniformização e sistematização no que diz respeito à recolha dos dados
preliminares que, muitas vezes, não correspondem àquilo que se verifica no terreno, por falta de
informação essencial por parte dos comunicantes, ou por informação deturpada.
De facto, é comum os OPCs (GNR e PSP) comunicarem ativações (fogos) que, maioritariamente nem
são da competência da PJ. Basta o simples facto das causas aparentes não serem conhecidas, para que
se “delegue” na PJ a investigação.
Há que ter cuidado e assim triar bem tais situações pelo que, ainda aquando da comunicação e, em
contacto com o interlocutor, deverá ser efetuada uma triagem de toda a informação e
circunstancialismo factual, por forma a aferir da competência ou não da PJ.
Deverá ser levado em conta assim (tal como já mencionado nos títulos anteriores), os pressupostos
penais que tipificam o crime de incêndio e ainda a legitimidade ou não da PJ para intervir, cfr.
61
consignado na LOIC :
Tratar-se efetivamente de um crime de incêndio (cfr. advém dos art.ºs 272º - genérico e 274º -
florestal, do CP);
Desde que, em qualquer caso, o facto seja imputável a titulo de dolo (basta existir suspeita de
atuação dolosa  Pe. que sejam encontrados artefactos ou material incendiário ou exista a
referência a indivíduos no local ou a sair do local).

O ideal será adotar uma lista de verificação (vulgo check list), dado que nem sempre existem elementos
de piquete afetos às seções/brigadas e por isso não familiarizados com a dinâmica dos incêndios e,
mormente, com os dados necessários para uma intervenção desta PJ.
Com a tal check list, dificilmente o elemento de piquete se esquecerá de algum item essencial para a
passagem ou não da ocorrência ao Serviço de Prevenção aos Incêndios (SPI).

Sugere-se a adoção ou adaptação do modelo constante no ANEXO I

58
Autoridade Nacional de Proteção Civil
59
Comandos Distritais de Operações de Socorro
60
Corpos de Bombeiros
61
Lei de Organização da Investigação Criminal

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 106


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Onde, entre outras informações constam:

COMUNICAÇÃO
Tipo de ocorrência Florestal Urbano/Industrial Transporte
GDH da comunicação Fax Telef Mail
Entidade comunicante
Nome e contacto do elemento
comunicante
CARACTERÍSTICAS DO INCÊNDIO
Tipo de local
Id. do veículo (mat. e ano fabrico)
Valor do veículo
Morada completa
GDH do seu início
Área/material ardido
Perigo de propagação ou para a vida Não
de terceiros? Sim de que tipo
Extinto Sim às
Não Obs.:
Provável causa
O local foi preservado Não Sim
Entidades intervenientes GNR de
Bombeiros de
Outra(s)
VÍTIMA(S)/LESADO(S) Não Sim
Identificação(ões)
SUSPEITO(S)/ARGUIDO(S) Não Sim
Identificação(ões)
OBSERVAÇÕES

Com a informação recolhida da entidade comunicante, pesquisar de seguida:


Eventuais ocorrências anteriores na zona com:
o Idêntico MO;
o Suspeitos identificados;
o Antecedentes/referências policiais quer na PJ, quer nos OPCs.
Fontes livres de informação, meios de comunicação, programas de cartografia digital (v.g.
Google Earth), para documentar e/ou confirmar localização.

15.2.3. NO LOCAL (TEATRO DE OPERAÇÕES - TO)

Ainda antes da chegada ao local, importa acertar procedimentos e nomeadamente um ponto de encontro
com o(s) elemento(s) que comunicou(ram) a ocorrência, ou outra pessoa por ele(s) indicada.
Será um primeiro contacto no local.
Em termos de timming de atuação, já foi referida a intervenção secundária da PJ no TO.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 107


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

15.2.4. INSPEÇÃO JUDICIÁRIA (cenário de incêndio)

Tratando o presente trabalho da investigação das causas de incêndios, a Inspeção Judiciária


consequente, pese embora tendo em consideração as considerações gerais da mesma, será direcionada
para o local em si e não para a vítima (como é o caso de crimes contra pessoas).
À semelhança do crime de roubo, é o local que interessa analisar e estudar.
Aplica-se de igual forma a teoria generalizada por Edmond Locard de que:
“todo o criminoso deixa algo no local do crime e leva algo consigo…É praticamente impossível
para um indivíduo cometer um ato criminoso, sem deixar algum vestígio e evidência de seu ato”.

Por Inspeção Judiciária entende-se ser:


“Um conjunto de procedimentos e metodologias que visam interpretar e avaliar o local do
crime, recolher informação, pesquisar, localizar, registar, recolher, acondicionar,
armazenar e transportar todos os meios de prova, sinais e vestígios nele existentes que,
direta ou indiretamente, possam contribuir para a reconstituição da ação criminosa, para o
estabelecimento de nexo probatório entre esta e o seu autor e para a formulação de
hipóteses de trabalho futuro. Em termos técnicos e táticos, constitui uma fase da
investigação criminal que se inicia com o recebimento da notícia ou participação do crime
e termina com a apresentação do relatório final da inspeção judiciária”62

Tal definição acolhe provimento legal do art.º 171º do CPP:


“1 - Por meio de exames das pessoas, dos lugares e das coisas, inspecionam-se os vestígios que possa ter deixado o crime e todos
os indícios relativos ao modo como e ao lugar onde foi praticado, às pessoas que o cometeram ou sobre as quais foi cometido.
2 - Logo que houver notícia da prática de crime, providencia-se para evitar, quando possível, que os seus vestígios se apaguem ou
alterem antes de serem examinados, proibindo-se, se necessário, a entrada ou o trânsito de pessoas estranhas no local do crime ou
quaisquer outros atos que possam prejudicar a descoberta da verdade ( conjugar com o art.º 249.º, n.º 1 e n.º 2 al. a) do CPP –
Preservação do local do crime)
3 - Se os vestígios deixados pelo crime se encontrarem alterados ou tiverem desaparecido, descreve-se o estado em que se encontram
as pessoas, os lugares e as coisas em que possam ter existido, procurando-se, quanto possível, reconstituí-los e descrevendo-se o
modo, o tempo e as causas da alteração ou do desaparecimento.
4 - Enquanto não estiver presente no local a autoridade judiciária ou o órgão de polícia criminal competentes, cabe a qualquer agente da
autoridade tomar provisoriamente as providências referidas no n.º 2, se de outro modo houver perigo iminente para obtenção da
prova.“

Deduz-se pois que a Inspeção Judiciária, insere-se nas Medidas Cautelares e de Polícia, precisamente
para acautelar tudo o que existe no cenário do crime – cfr. advém do art.º 249º, do CPP – “Providências
cautelares quanto aos meios de prova”:
“1 - Compete aos órgãos de polícia criminal, mesmo antes de receberem ordem da autoridade judiciária competente para
procederem a investigações, praticar os atos cautelares necessários e urgentes para assegurar os meios de prova. (vd. art.º 55 n.º 2,
171, 178, 250, 251, e ,n.º 3 do art.º 2 da LOIC);
2 - Compete-lhes, nomeadamente, nos termos do número anterior:
a) Proceder a exames dos vestígios do crime, em especial às diligências previstas no artigo 171.º, n.º 2, e no artigo 173.º,
assegurando a manutenção do estado das coisas e dos lugares (vd. exame - art.º 171º, perícia – art.º 151º)
b) Colher informações das pessoas que facilitem a descoberta dos agentes do crime e a sua reconstituição;
62
In, POLÍCIA JUDICIÁRIA. “Inspeção Judiciária – Manual de procedimentos””. 1ª Ed. Lisboa: Diretoria
Nacional, 2009. Pág. 17. ISBN 978-989-96126-0-0

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 108


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

c) Proceder a apreensões no decurso de revistas ou buscas ou em caso de urgência ou perigo na demora, bem como
adotar as medidas cautelares necessárias à conservação ou manutenção dos objetos apreendidos.
3 - Mesmo após a intervenção da autoridade judiciária, cabe aos órgãos de polícia criminal assegurar novos meios de prova de que
tiverem conhecimento, sem prejuízo de deverem dar deles notícia imediata àquela autoridade (vd. art.º 178.º, n.º 4)”

Importante conciliar com o disposto no art.º 272º da Constituição da República Portuguesa:


“1. A polícia tem por funções defender a legalidade democrática e garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos;
2. As medidas de polícia são as previstas na lei, não devendo ser utilizadas para além do estritamente necessário;
3. A prevenção dos crimes, incluindo a dos crimes contra a segurança do Estado, só pode fazer-se com observância das regras gerais
sobre polícia e com respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;
4. A lei fixa o regime das forças de segurança, sendo a organização de cada uma delas única para todo o território nacional.

EQUIPA DE INSPEÇÃO JUDICIÁRIA


Na investigação de incêndios, a equipa que procede à Inspeção Judiciária, é constituída idealmente
por, pelo menos:
• Um elemento da Investigação Criminal ;
• Um elemento da Polícia Técnica – Sector do Local do Crime;
• Um elemento da Polícia Cientifica – perita LPC (caso necessário);

A gestão da Inspeção Judiciária é feita sempre pelo elemento da Investigação Criminal.

15.2.5. MATERIAL DE CAMPO – KIT DO INVESTIGADOR

Preferencialmente cada equipa de investigadores de incêndios (no caso da PJ, as equipas que têm
funções de prevenção), deverá estar apetrechada com um conjunto de material e equipamento essencial
para a observação, recolha de vestígios e sua análise, bem como para fixação do cenário.
63
Enumeram-se de seguida alguns itens recomendados pelo autor :
- Equipamento/material geral:
o 01 (uma) Viatura do tipo todo-o-terreno, com caixa de boa capacidade de carga e
guincho frontal;
o 01 (um) Gerador de corrente elétrica de 220v;
o 01 (uma) lâmpada no mínimo de 300w de potência, com respetivo tripé (para ligar ao
gerador elétrico;
o 01 (uma) extensão de fio condutor elétrico (com pelo menos 10m);
o 01 (um) macaco hidráulico;
o Cavaletes;
o Fita plástica balizadora – preferencialmente com a identificação da PJ;
o 01 (uma) caixa de alumínio de dimensões 590x390x350mm;
o 01 (uma) pá de pedreiro;
o 01 (uma) picareta com cabo pequena;
o 01 (um) pequeno machado;

63
Tendo em conta a experiência na área e o contacto atual com a presente realidade, mas também segundo os
padrões americanos constantes na bibliografia: “U.S. Department of Justice, “Fire and Arson Scene
Evidence: a Guide for Public Safety Personnel”, June 2000”

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 109


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

o 01 (um) martelo de bola;


o 20 (vinte) bandeirolas triangulares, também conhecidas como
“sinalizadores/indicadores” (que devem ser colocadas indicando o sentido tomado pelas
chamas);
o 01 (um) bloco de notas;
o Lápis e canetas (marcadores e permanentes);
o Papel absorvente;
o Algodão;
o 01 (uma) pipeta média;
o 01 (uma) pipeta grande;
o 01 (um) magnete;
o 02 (duas) pinças metálicas;
o 01 (um) compasso metálico;
o 01 (um) transferidor circular;
o 01 (uma) lupa de mão;
o 02 (dois) pincéis;
o 02 (dois) frascos de vidro médios com tampa (250ml);
o 02 (dois) frascos de vidro grandes com tampa (750ml);
o 02 (duas) caixas de cartão médias;
o 02 (duas) caixas de cartão grandes;
o 02 (dois) sacos de nylon (250x500mm);
o 02 (dois) sacos de nylon (300x600mm);
o 01 (uma) lanterna Maglight;
o Carta militar da zona (1:25000);
o 01 (uma) máquina fotográfica digital;
o 01 (um) computador portátil com software de mapeamento e SIG (Sistema de
Informação Geográfica), como pe. “GoogleEarth”, “BingMaps”;
o 01 (um) aparelho GPS Garmin portátil;
- Equipamentos de medição:
o 01 (uma) estação meteorológica portátil, com funcionalidades de:
 Bússola (com possibilidade de marcação de azimutes);
 Termómetro digital com sensor ultra rápido;
 Anemómetro de turbina, de pás ou copo (com capacidade para aferir a direção
do vento);
 Higrógrafo (medição da humidade relativa do ar em %);
 Barómetro (medição da pressão atmosférica);
o 01 (uma) fita-métrica (5m);
o 01 (uma) fita métrica de rolo (25m);
o 01 (um) medidor de distâncias por ultrassons com laser;
- Equipamentos de corte:
o 01 (um) alicate de corte lateral;
o 01 (um) alicate de corte universal;
o 01 (uma) faca ou X-ato;
o 01 (uma) tesoura multiuso (de corte borracha/placa/fibras);
o 01 (um) serrote de madeira;
o 01 (uma) serra de corte de ferro;
- Equipamento de proteção individual (EPI):
o Capacete do tipo “F3 BK”, ou “R7 HV”, com viseira e proteção do pescoço;
o Máscara com filtro do tipo “SARI”;
o Botas com biqueira e calcanhar reforçado em aço do tipo “FÉNIX”;
o Fato de macaco do tipo de resgate;
o Luvas resistentes;

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 110


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

15.2.6. DILIGÊNCIAS INICIAIS NO TEATRO DE OPERAÇÕES (TO)

Podem ocorrer várias situações aquando da intervenção da PJ, tendo sempre presente a tipicidade de
incêndios estudados no presente trabalho: florestais, estruturas edificadas e veículos automóveis:

1. Chegada ainda na FASE DE COMBATE do incêndio  Existe toda uma panóplia de


intervenientes no local:
a. A PJ deverá contactar o(s) elemento(s) institucionais responsáveis ali presentes, quer
64 65
afetos ao combate (COS que esteja no TO – procurar no PCO ), quer do OPC da
zona;
b. A atuação deverá começar somente quando as ações de combate tiveram finalizado, por
forma a garantir a segurança e eficácia no terreno;
c. Se as ações para debelar o incêndio florestal forem já numa frente de incêndio afastada
66
da eventual zona de início (incêndio já a propagar há mais de, pelo menos, 15 minutos )
 A PJ incidirá a sua atuação na retaguarda;

2. Chegada já na FASE DE RESCALDO do incêndio  Importará sensibilizar os elementos de


combate para a preservação da zona de início e da importância da mesma para a eventual
investigação criminal subsequente  A PJ incidirá a sua atuação na retaguarda ou nos
compartimentos já seguros;

3. Chegada com o INCÊNDIO EXTINTO:


a. Se estiverem presentes elementos afetos ao combate ou mesmo a qualquer OPC  PJ
deverá sintoniza-se com eles para a determinação do PI;
b. Se na zona da retaguarda, provável área de início do incêndio, não estiver ninguém 
PJ deverá analisar todos os indicadores de direção e propagação do fogo  Determinar
PI.

15.2.7. RECOLHA DE DADOS/INFORMAÇÕES

No local convém confirmar e/ou completar os dados recolhidos na triagem feita pelo piquete.
No caso dos incêndios florestais, se ali estiverem elementos de um OPC, terão já alguns desses dados
sistematizados naquilo que chamam de ficha de campo.
Nos restantes incêndios e na generalidade, deverá ser obtido o Auto de Notícia/Ocorrência elaborado
(ou a elaborar) pelo OPC.
Importa então complementar tais dados, aferindo, pe.:
Localização exata da ocorrência (toponímia e/ou n.º de polícia);
Tipo de local (em termos de orografia, tipo de combustíveis, tipo de construção/viatura);
Identificação dos principais intervenientes institucionais;
Identificação de eventuais testemunhas;
Condições atmosféricas existentes na zona de provável início:

64
Comandante das Operações de Socorro (bombeiro ou elemento da ANPC)
65
Posto de Comando Operacional (das operações de combate)
66
Tempo de referência para que o primeiro meio de ataque inicial de combate (bombeiros ou meio aéreo) chegue ao
local

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 111


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o Temperatura, Vento (velocidade e direção), Humidade Relativa do Ar (%);

A título de exemplo, poderá ser observada a FICHA DE CAMPO constante no ANEXO II.

15.2.8. RECOLHA DE PROVA TESTEMUNHAL

Como mencionado, a abordagem de testemunhas e/ou outras pessoas que possam ter informação
pertinente é uma das principais diligências no TO.
Tais pessoas devem ser confrontadas de uma forma firme, profissional, educada, até amigável mas
persistente e objetiva.
Independentemente do grau de cooperação das testemunhas, deve ter-se em conta que:
Não se devem ter por garantidas quaisquer conclusões ou mesmo deduções;
Não se deve procurar factos para elaborar uma teoria  Manter um espírito aberto;
Não formular juízos de valor ou conclusões definitivas até se ter examinado e validado
cuidadosamente TODAS as informações obtidas.

Por outro lado, o timming da sua abordagem também é importante.


Deverão ser abordadas, se possível, ainda no local (antes de terem tido tempo de refletir sobre
as implicações das suas declarações), recolhendo dados de forma informal mas consistentes e
só mais tarde, se o testemunho for pertinente para a investigação, deverá ser formalizado (em
Auto).

São interessantes algumas particularidades no contacto com as pessoas:


Na generalidade têm uma certa relutância em admitir a responsabilidade por acidentes, descuido
ou ineficácia, etc.;
As pessoas receiam também das repercussões legais das suas ações;
Os empregados que trabalham por conta de outrem têm receio de ser despedidos;
Os lesados podem ter receio que a companhia de seguros lhes negue a reclamação, quando se
tem conhecimento de todos os factos;
As testemunhas podem estar em estado de choque e confusão geral e podem não desejar falar
no assunto até uma data ou hora posterior;
Algumas classes sociais têm tendência para olhar para as pessoas de uniforme com alguma
desconfiança. Provavelmente falarão melhor e com muito mais facilidade a pessoas que não
estejam uniformizadas e até mesmo melhor com a imprensa em geral;
As pessoas agressivas, relutantes na cooperação com as entidades e até com comportamentos
que possam levantar algumas suspeitas, devem ser de imediato identificadas e abordadas em
conformidade;
São determinantes as versões das diferentes testemunhas quanto ao circunstancialismo do incêndio.
A título de exemplo enumeram-se algumas questões consideradas pertinentes, se bem que, consoante o
cenário observado, poderão ser colocadas outras mais objetivas:
Junto das primeiras pessoas que chegaram ao local:
o Onde é que o incêndio foi visto pela primeira vez?
o Em que local estava a testemunha na altura?

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 112


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o Qual era a dimensão do incêndio na altura?


o A que horas é que a testemunha viu o incêndio?
o A testemunha viu chamas ou fumo?
o Havia alguma janela partida ou descolorida?
o A testemunha viu ou cheirou algo fora do normal?
O que é que aconteceu antes da chegada dos primeiros intervenientes institucionais:
o Ocorreu algum desabamento do edifício?
o O incêndio propagou-se nalguma direção em especial?
o Houve alguma explosão?
o Foi visto alguém a sair do edifício?
o As portas e as janelas estavam fechadas?
o Foi feita alguma tentativa para combater o incêndio?
o Qual o recheio numa habitação e onde estava localizado?
o Foram retirados previamente alguns artigos ou bens, que não tenham valor real mas
talvez sentimental, antes de o incêndio ter começado?
o Em estruturas agrícolas, o gado ou outros animais foram soltos antes do início do
incêndio?
o Aquando do debelar do fogo foram retirados alguns materiais da área para outro sítio
longe do incêndio?
o Identificar as ações da última pessoa no local e de quem se tratava;
o Se existe algum registo de falhas anteriores;
o Se os procedimentos efetuados são os normalmente realizados;
o Existia algum risco elevado em particular?
o Como é que era feita a gestão interna? Questões laborais, atuais ou anteriores 
existiam conflitos?
o A manutenção das máquinas era feita de forma adequada?
o Já existia algum antecedente de incêndio?
o O equipamento estava desligado?
o Na altura do incêndio estavam a decorrer alguns trabalhos de reparação ou outro tipo de
manutenção? Pe. pintura, ou trabalhos nas canalizações.

15.2.9. PRIMEIROS INTERVENIENTES INSTITUCIONAIS

Por primeiros intervenientes institucionais entende-se tratarem-se de:


“Todos os organismos, força ou entidade que, não tendo a incumbência da investigação
criminal, atuam de forma legitimada e concertada, possuindo por isso uma dupla
responsabilidade, face ao comum cidadão (pe. serviços de emergência, proteção e
67
socorro).”

“O resultado final depende muito dos primeiros passos que forem dados pelo primeiro
elemento que chega ao local do crime”
“O êxito depende da perspicácia do polícia que realiza as primeiras diligências no local
do crime – a atenção prestada e as precauções tomadas são determinantes ”
“Será enorme a responsabilidade que o primeiro polícia que chega ao local de um crime
levará sobre os seus ombros, para garantir que se cumpram efetivamente todos os
procedimentos relacionados com proteção do local” 68

67
Conceito sistematizado pelo autor do presente trabalho
68
(Zajaczkowski, 1998).

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 113


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Na realidade ora abordada dos incêndios, raramente (para não dizer nunca) a PJ é a primeira entidade a
chegar ao local. A sua chegada é sempre a posteriori, porquanto a maioria das ativações, cuja
investigação é da sua competência (ou ainda não, por não estarem apurados factos circunstanciais
concretos), é comunicada à PJ por terceiros.
Até lá uma panóplia de entidades (institucionais ou não), pode aceder ao cenário.
A atuação daqueles é pois suscetível de influenciar, transformar e por isso colocar em risco a integridade
dos vestígios ali existentes, condicionando a investigação criminal.
Nos últimos anos têm-se vindo a intensificar ações pedagógicas e de sensibilização para uma
melhor otimização do papel dos bombeiros na preservação da prova inicial, através do
cumprimento de um conjunto de procedimentos, regras e de boas práticas, num contexto de
atuação concertada em prol da investigação criminal.

Idealmente tal tarefa incumbiria aos primeiros intervenientes institucionais – bombeiros -.


Porém, tendo em conta o já mencionado no presente trabalho, não possuindo aqueles investigadores,
nem sendo essa a sua missão (reservada às autoridades policiais), dificilmente alguém com essas
competências acompanhará as equipas de primeira intervenção no local.

Os testemunhos dos elementos institucionais são destarte muito importantes para a definição de uma
primeira linha condutora da investigação criminal.

BOMBEIROS
Com a perceção de todo um cenário inicial, poderão ser considerados testemunhos técnicos
sobre a causalidade dos factos e eventualmente judiciais:
“Enquanto se aproximam de um local do incêndio, os elementos das equipas de
primeira intervenção - bombeiros -, devem mentalmente anotar as condições do
incêndio e atividades em redor e, assim que possível, documentá-las em suporte
permanente (pe. anotações escritas, gravações áudio/vídeo, etc.)… As
observações das equipas de primeira intervenção, constituem assim informação
pertinente para a investigação. À medida que esta se desenvolve, tais informações
podem constituir um ponto de partida para a preservação e recolha de prova
69
forense”
Devem possuir preferencialmente informações sobre:
- O local (coordenadas geográficas), GDH (Grupo Data e Hora);
- Condições meteorológicas (humidade, temperatura e, principalmente a intensidade e
direção do vento);
- A existência de vítimas e eventuais testemunhas (bem como os seus comportamentos);
- A referência a veículos que abandonem o local, transeuntes ou atividades em redor;
- Características das chamas e fumo (e.g. volume, cor, altura, sua localização e sua
direção e intensidade);
- Tipo de uso, características e estrutura do local;
- As condições e o estado dos sistemas de deteção e alarme de incêndios;
Quanto à preservação do local:
“Os vestígios num cenário de incêndio assumem diferentes formas e estados,
alguns dos quais efémeros (…) Os elementos das equipas de primeira intervenção
devem perceber pois que as ações de salvamento e de supressão do incêndio

69
Tradução de: U.S. D EPARTMENT OF J USTICE , “F IRE AND A RSON S CENE E VIDENCE : A G UIDE FOR P UBLIC
S AFETY P ERSONNEL ”, J UNE 2000, PÁG . 13

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 114


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

podem afetar de forma adversa as diferentes formas e estados dos vestígios no


local e assim providenciar a sua preservação (…)” 70
Após a avaliação das condições de segurança e o estabelecimento dos meios de ação, em
simultâneo com o ataque ao incêndio (circunscrição, domínio e extinção), prevalecendo sempre
71
o mesmo princípio relativamente à missão do COS , os bombeiros deverão colaborar na
identificação e preservação da área do início.
Identificada a área de início, importa pois delimitá-la e sinalizá-la convenientemente.
Esta área ficará assim salvaguardada até ao final do debelar do incêndio, podendo então ser
posteriormente analisada.
De igual modo deverão colaborar na deteção de eventuais vestígios, e sua consequente
preservação.

Na verdade, os bombeiros, por aquilo que observaram e o facto de terem uma responsabilidade
acrescida para além do comum cidadão, são determinantes para a investigação e
consequentemente para uma eventual acusação judicial.
Porém, constata-se que raramente os bombeiros são chamados “à barra do tribunal” para ali
testemunharem sobre aquilo que poderão ter visto e/ou recolhido aquando do incêndio.
Ou porque a investigação não tem tido essa sensibilidade (ou necessidade), ou mesmo e, quiçá
o motivo mais provável, não existe uma sensibilização e até preparação técnica do combatente
(entenda-se – bombeiro) para testemunhar judicialmente (salvo as situações em que o seu
testemunho, tal como qualquer outro, é ocular e/ou determinante para a prova).
O que costuma constar na investigação quanto à intervenção dos bombeiros é geralmente um
72
relatório circunstancial interno a cada CB , onde é referido, entre outras informações de caráter
operacional de combate ao incêndio, uma leve alusão às eventuais causas  Por norma quando
não são óbvias, consta de tal item CAUSA DESCONHECIDA;

OS ELEMENTOS DO OPC
Os elementos do OPC na zona, para além de deverem ter já recolhidos dados preliminares sobre o
circunstancialismo e identificação das testemunhas (em coordenação com os elementos de socorro
e combate ao fogo), poderão esclarecer sobre eventuais precedentes do género na sua área de
atuação e até indicação de indivíduos suspeitos ou já referenciados policialmente;

15.3. DETERMINAÇÃO DO PONTO DE INÍCIO (PI)

A determinação geográfica do PI reveste-se de primordial importância para a averiguação das causas de


um incêndio.
73
“Se não se conseguir determinar o PI… tão pouco se conseguirão apurar as causas”

Para tal ter-se-ão que ter em conta fatores como:


Os testemunhos dos primeiros intervenientes a chegar ao local, bem como de eventuais
outras pessoas que ali encontrem ou tivessem estado;

70
Tradução de: U.S. D EPARTMENT OF J USTICE , “F IRE AND A RSON S CENE E VIDENCE : A G UIDE FOR P UBLIC
S AFETY P ERSONNEL ”, J UNE 2000, PÁG . 16
71
Comandante das Operações de Socorro (responsável pelo combate)
72
Corpo de Bombeiros
73
(NFPA, 1995)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 115


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

A análise e interpretação de todos os fenómenos químicos e físicos inerentes ao fenómeno da


combustão e propagação, visando estabelecer as condições em que teve lugar a ignição;
Existência de dispositivos/artefactos incendiários;
De facto, muitas vezes um só vestígio e/ou um só testemunho pode ser essencial para a investigação
das causas mas, regra geral, um só elemento não é suficiente. Torna-se necessário correlacionar
sistematicamente vários aspetos.

Mais adiante no presente trabalho, enumerar-se-ão alguns procedimentos (com a enumeração dos
diferentes indicadores e padrões de queima) para a cabal localização do PI, para cada tipologia de
incêndios: florestais, estruturas edificadas e em veículos automóveis.

15.4. PROVA MATERIAL - VESTÍGIOS

Com o presente trabalho não se pretende fazer uma abordagem exaustiva da Teoria dos Vestígios.
Tal abordagem deverá fazer parte integrante do saber e experiência do investigador de incêndios da PJ,
quer na sua formação inicial, quer na formação contínua e até específica, para quem já trabalha na área
dos crimes ditos de cenário.
Afloram-se semente conceitos gerais para um encadeamento da matéria que se segue.

TEORIA DOS VESTÍGIOS


Os vestígios são considerados geralmente como prova indiciária, porquanto levam a conclusões
mediante determinados procedimentos.
São assim:
“Modificações físicas ou psíquicas/comportamentais relacionadas com uma conduta
humana de ação ou omissão”.

Os vestígios informam assim:


Como decorreu o sinistro/facto;
Quais as motivações;
Quais as causas do sinistro/facto;
Fornecem elementos do(s) seu(s) eventual(ais) autor(es);
Permitem a reconstituição (mental e física) do facto em si;

Podem classificar-se basicamente:


Quanto ao local onde podem ser encontrados:
o No Ponto de Início (PI);
o Nos acessos;
o Nas vítimas;
o Nos eventuais autores;
o Nos instrumentos ou materiais usados ;
Quanto à natureza:
o Biológicos;
o Não biológicos.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 116


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

CLASSIFICAÇÃO E NATUREZA

orgânicos
moldados
físicos/materiais inorgânicos visíveis
positivos
morfológicos invisíveis impressos
psíquicos/comporta negativos
mentais
latentes

macroscópicos
VESTÍGIOS
microscópicos

verdadeiros
simulados
falsos
pseudo-
vestígios

Fig. 83: Diagrama - Classificação e natureza dos vestígios

15.4.1. TRATAMENTO DOS VESTÍGIOS NO PI

Os vestígios eventualmente encontrados no PI, constituem prova em sede judicial e podem conduzir à
cabal identificação do(s) autor(es) do incêndio em questão e vinculação dos mesmos ao facto criminoso.
É vital assim assegurar a fiabilidade dessa mesma prova, quer através de um tratamento sistemático e
rigoroso no local, quer consequentemente num regime de transmissão dessa mesma prova pelos
74
diversos intervenientes – chain custody .

O tratamento dos vestígios desenvolve-se num conjunto sistematizado de ações desenvolvidas num
ciclo unidirecional, que tem como objetivo analisar e tratar todos os vestígios com carácter probatório
encontrados no local do incêndio, garantindo a idoneidade dos mesmos, e agilizar os trabalhos periciais.
O tratamento dos vestígios tem assim a ver com a forma como são trabalhados e analisados.
Contudo, nem todos os vestígios são relevantes para uma investigação, pelo que deverão ser
criteriosamente selecionados aqueles que poderão contribuir para uma cabal identificação das causas,
perceção do circunstancialismo geral e, eventualmente, conduzir à identificação do(s) autor(es).
Tal processo, na PJ, desenvolve-se em fases teoricamente distintas, embora inseridas num continuum
de atividade, funcionalmente inseparáveis:
1ª FASE:
o Pesquisa e localização;
o Identificação, isolamento e preservação do local;
o Realização de fotos e croquis gerais;
o Balizamento (proteção) e numeração individualizada dos vestígios no PI;
o Necessário o seu balizamento sistemático, de forma a serem facilmente identificáveis
por todos os intervenientes no local, de forma a preservá-los.

74
Cadeia de Custódia: “Constitui um protocolo contínuo que assegura a memória cronológica de todas as fases do
processo, a sua permanente reconstituição e demonstração, sendo por isso fundamental para garantir do vestígio
e valor probatório que o mesmo contém” (In, POLÍCIA JUDICIÁRIA. “Inspeção Judiciária – Manual de
procedimentos”. 1ª Ed. Lisboa: Diretoria Nacional, 2009. Pág. 163. ISBN 978-989-96126-0-0;

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 117


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

75
o Realização de fotos de pormenor (com testemunho métrico ):
o Depois de terem sido feitas fotos gerais, importa realizar fotos de pormenor, se possível
à escala e de diferentes ângulos e aproximações, enquadrando-os com outros
eventualmente existentes no local;
o Recolha, preservação e acondicionamento adequado;
o Importa proteger determinados vestígios particularmente vulneráveis (quer por ação dos
bombeiros aquando da extinção do incêndio, quer por condições climáticas e até do
próprio incêndio) e dar prioridade na sua recolha.
2ª FASE:
o Transporte;
o Elaboração de croquis (de pormenor);
76
o Elaboração de relatório da Perícia Técnica (Setor do Local do Crime ) com
correlação/análise dos vestígios
3ª FASE:
o Pedido de exame laboratorial – ao LPC;
o Exame Laboratorial – pelo LPC;
o Elaboração do relatório da Perícia Científica – pelo LPC.

Todas as fases têm como objetivo final a “visualização” do cenário possível, o seu desenvolvimento, a
interpretação das circunstâncias factuais (dinâmica e propagação do fogo), a validação da hipótese mais
provável para as causas e, eventualmente, a identificação do(s) autor(es), no caso de intenção
criminosa.

15.5. REGISTOS

Em sede de local, são três as formas de “fixar” um determinado cenário (que pode ou não ser de crime):
I. Registo vídeo ou fotográfico (“Uma imagem vale mais que mil palavras”):
Sugere-se a adoção ou adaptação do modelo de Reportagem Fotográfica constante no
ANEXO III;
II. Esboços ou croquis (para ter uma perceção espacial em termos de pormenor e gerais);
Sugere-se a adoção ou adaptação do modelo de croquis constante no ANEXO IV
III. Peças escritas:
- Relatório Técnico do Exame ao Local de Crime  Elaborado pela Equipa de Polícia
Técnica (Setor de Local do Crime afeto ao LPC).
- Relatório da Inspeção Judiciária  Elaborado pela Equipa de Investigação Criminal:
o Deverá conter principalmente informações complementares e pormenorizadas sobre
os itens que foram apurados aquando da triagem inicial:
Sugere-se a adoção ou adaptação do modelo de relatório de Inspeção Judiciária
constante no ANEXO V

75
Objetos com escala conhecida ou mesmo pequenas réguas ou folhas escaladas metricamente, que servem para
“testemunhar” a dimensão do vestígio
76
Em termos orgânicos, na DLVT, este Setor está inserido na Área Criminalística do LPC. Nos restantes
departamentos da PJ, compete aos elementos (Especialistas Adjuntos) afetos aos GPCs (Gabinetes de Perícia
Científica)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 118


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15.6. HIPÓTESES QUANTO À ORIGEM E DESENVOLVIMENTO

Depois da análise dos dados obtidos, a correlação entre a prova material e testemunhal, devem-se
relacionar, uma a uma, todas as hipóteses possíveis quanto à causa.

Em princípio, na investigação onde não foi possível estabelecer qual foi a causa e o comportamento do
fogo, nenhuma hipótese pode ser descartada.

Todas as possibilidades devem ser consideradas, a fim de que não restem dúvidas, no final da Inspeção
Judiciária, de como foi originado o incêndio.

É importante lembrar que um mesmo comportamento desenvolvido pelo calor e pelas chamas num
incêndio, pode ser consonante com diversas possibilidades quanto à causa.

15.7. TESTE DAS HIPÓTESES FORMULADAS

Por método dedutivo e levando-se em consideração experiências anteriores, as hipóteses devem ser
testadas uma a uma, comparando o comportamento do incêndio com os vestígios existentes.

Visa-se assim excluir todas as outras possibilidades de causa que não possuem sustentação naqueles
vestígios (quer materiais, quer testemunhais).

É uma fase da investigação que exige tempo e esforço e pode exigir uma recolha de dados adicional,
novas informações das testemunhas e o desenvolvimento ou a reformulação das hipóteses até então
tidas em conta.

15.8. VALIDAÇÃO DA HIPÓTESE MAIS PROVÁVEL

É uma fase conclusiva que visa validar a hipótese mais provável, baseada numa confrontação
harmônica, numa correlação, entre todos os indícios probatórios recolhidos (os vestígios materiais e as
informações das testemunhas).

Quando uma hipótese consistente é confrontada harmonicamente com as evidências e,


consequentemente, pode-se tomar como hipótese mais provável (final), o relatório da Inspeção Judiciária
deve indicar por isso a causa do incêndio.

Se isso não for possível, a causa deve ser considerada indeterminada ou desconhecida.

Caberá a uma eventual investigação subsequente demonstrar todo o circunstancialismo e, se for


possível, indicar a causa do incêndio.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 119


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15.9. MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA (SISTEMATIZAÇÃO)

Fig. 84: Diagrama - Sistematização da prova indiciária

1ª FASE:
- INSPEÇÃO JUDICIÁRIA
- EXAME PERICIAL
- APREENSÕES
- RECOLHA DA PROVA PESSOAL / INQUIRIÇÕES:
o TESTEMUNHAS NO LOCAL DE INCÊNDIO
o INTERVENIENTES NO COMBATE
o OFENDIDOS
2ª FASE:
- RECOLHA DE IMAGENS
- FATURAÇÃO DETALHADA DOS SUSPEITOS:
o IDENTIFICAÇÃO DE CÉLULAS ATIVADAS
- ARGUIDOS:
o INTERROGATÓRIOS
- RECONHECIMENTOS – pessoas e objetos
- RECONSTITUIÇÃO DO FACTO
- PERÍCIAS (LPC, DE PERSONALIDADE…)
3ª FASE:
- ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO FINAL DA INVESTIGAÇÃO

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 120


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V. A POLÍCIA JUDICIÁRIA

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 121


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16. ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL

16.1. NO PLANO NACIONAL DE EMERGÊNCIA E PROTEÇÃO CIVIL (PNEPC)

No PNEPC a PJ tem um papel bem definido no que diz respeito a:


Apoiar nas ações de combate à criminalidade;
Proceder à identificação das vítimas através do Departamento Central de Polícia Técnica
(DCPT) e do Laboratório de Polícia Científica (LPC);
Acionar a Unidade de Cooperação Internacional (UCI) para obtenção de dados para a
identificação de vítimas de nacionalidade estrangeira.

16.2. NA AUTORIDADE NACIONAL DE PROTEÇÃO CIVIL (ANPC)

Não sendo a PJ um Agente de Proteção Civil, tem para com a ANPC um especial dever de
cooperação nas seguintes matérias:
Investigar os crimes cuja investigação lhe seja cometida pela autoridade judiciária competente
para a direção do processo em causa;
Investigar os crimes dolosos ou agravados pelo resultado, quando for elemento do tipo a morte
de uma pessoa;
Investigar os crimes de captura ou atentado à segurança de transporte por ar, água, caminho-
de-ferro ou de transporte rodoviário a que corresponda, em abstrato, pena igual ou superior a 8
anos de prisão;
Investigar ações contra a segurança do Estado;
Investigar situações de incêndio, explosão, libertação de gases tóxicos ou asfixiantes ou
substâncias radioativas, desde que, em qualquer caso, o facto seja imputável a título de dolo;
Investigar crimes executados com bombas, granadas, matérias ou engenhos explosivos, armas
de fogo e objetos armadilhados, armas nucleares, químicas ou radioativas;
Assegurar o levantamento, tratamento, encaminhamento e análise de evidências físicas
existentes no local do acidente;
Garantir a recolha de dados post-mortem para a rápida identificação dos cadáveres, em
articulação com o INMLCFCF;
Assegurar os recursos humanos e tecnológicos no tratamento, pesquisa automatizada,
comparação e identificação dos dados biométricos;
Assumir o cruzamento dos dados post-mortem e dos dados ante-mortem e, quando se trate de
cidadãos nacionais, a confirmação das respetivas identidades, em articulação com o Instituto de
Registos e Notariado (IRN);
Assegurar a partilha de dados ante-mortem e de dados post-mortem com as autoridades
competentes;
Garantir a realização de exames e perícias na obtenção dos dados ante-mortem das vítimas;
Realizar outros exames e perícias no âmbito da balística, biologia, documentos, escrita manual,
física, lofoscopia, química e toxicologia que sejam determinados pelas autoridades competentes.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 122


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

77
Em termos de articulação com a ANPC (cfr. DIOPS ):
A intervenção da PJ ocorrerá quando a gravidade da situação assim o exija, mas sempre
enquadrada pela legislação específica;
78
Disponibiliza informação permanente de apoio à decisão ao CNOS , através do seu Oficial de
Ligação colocado em regime de permanência nesta estrutura;
79 80
Participa nos briefings do CCON , CNOS e CCOD , através dos respetivos Oficiais de Ligação
de acordo com nomeação prévia da respetiva estrutura;
Disponibiliza um representante/oficial de ligação para integrar o CCON e os CCOD.

Já em termos mais práticos, em situações de acidente grave ou catástrofes, a PJ tem como missão:

Determinação das causas dos INCÊNDIOS, com apoio da componente técnica/forense (do
LPC);
o Recolher informações preliminares de eventuais suspeitos em regiões vulneráveis e
ainda no TO aquando da ocorrência de incêndios;
o INVESTIGAÇÃO CAUSAS  Vincular eventuais autores, através da prova forense;
o Elaborar estudos estatísticos e definir sectores socioeconómicos com maiores
vulnerabilidades;
o Definir o perfil padrão, sociopsicológico do incendiário português;

Colaborar no âmbito da MORTUÁRIA (identificação de vítimas mortais em estreita colaboração


com o INMLCF);
o Integrada nas ERAV-m (Equipas Responsáveis por Avaliação de Vítimas mortais);
o A gestão do Necrotério improvisado é do INMLCF;
o Como referido a recolha e gestão dos dados ante-mortem compete à PJ.

16.3. O PNPICIF e o GPAA

A atuação interna concertada da PJ, no que diz respeito aos IFs, surge em 2003 (Jul a Set), depois de
uma vaga de grandes incêndios florestais e da generalização de uma onda de pânico e insegurança nas
populações.
A PJ sentiu necessidade de dar resposta célere e eficaz, mormente no que dizia respeito a investigações
cabais e consequente identificação de suspeitos, padronizando procedimentos de uma forma estratégica
e articulada em todo o território nacional.
Em Janeiro.2005, o então DN aprovou o PNPICIF (Plano Nacional de Prevenção e Investigação do
Crime de Incêndio Florestal). Trata-se da “Trave-mestra da atuação da PJ”.

77
Diretiva Operacional Nacional N. 1 - Dispositivo Integrado de Operações de Proteção e Socorro - JAN.2010 (in,
http://www.prociv.pt/cnos/directivas/ANPC_DON-1_DIOPS.pdf)
78
Comando Nacional de Operações de Socorro
79
Centro de Coordenação Operacional Nacional
80
Centro de Coordenação Operacional Distrital

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 123


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Comporta a sistematização de um conjunto de procedimentos que cada departamento da PJ


deve adotar anualmente.
Configura uma vertente preventiva, materializando-se em ações que reduzam a sensação
insegurança das populações e ao mesmo tempo reduzem as condições para prática do crime de
incêndio florestal.
É um mecanismo de cooperação interinstitucional, comportando pois procedimentos
normalizados e coordenados de atuação.
Sistematizando, tem como objetivos:
Unifo rm iza r méto d o s interventivo s p o r p a rte d a Po líc ia Jud ic iá ria ;
Pa d ro niza r o s c ritérios p a ra a a b ertura d e inq uérito s e fo rm a d e inic ia r e
d esenvolver a s investig a ç õ es;
Aum enta r a efic á c ia no c o ntrolo d o territó rio na c iona l, a tra vés d e uma
p o siç ã o p ró -a tiva na p revenç ã o c rim ina l;
Cria r um c onhec im ento a p ro fund a d o d a ma lha territo ria l c ond uc ente a
eleva r o s níveis d e p ro d utivid a d e no â m b ito d a investig a ç ã o c rimina l;
Recolher informação sobre os eventuais interesses económicos, do ponto de vista
criminal, subjacentes à “atividade do fogo”;
Recolher elementos no terreno que permitam uma atualização dinâmica do “Perfil Sócio
Psicológico do Incendiário Português”.

Para coordenar e orientar o PNPICIF, foi criado o GPAA (Grupo Permanente de Acompanhamento e
Apoio).
Reúne quando necessário, geralmente no início das fases mais criticas dos IFs e/ou quando a situação
se justificar.
Engloba os responsáveis (ou seus representantes) dos departamentos da PJ, preferencialmente da área
da investigação dos IFs e é atualmente presidido pelo Diretor da Diretoria do Centro da PJ (Coimbra),
pese embora esteja sob a dependência direta do DN.
Tem como funções:
Promover formação especializada, sempre que tal se revelar necessário;
Cooperar na atividade técnico/operacional dos Departamentos;
Centralizar toda a informação recolhida, promovendo, em tempo útil, a sua difusão;
Representar a Polícia Judiciária junto das entidades externas envolvidas e com elas estabelecer
os contactos necessários, com vista à otimização operacional;
Promover reuniões, a todo o tempo e quando necessário, face ao resultado das ações
desenvolvidas, com os responsáveis operacionais e propor superiormente a emanação de
instruções no sentido de melhorar métodos de intervenção;
Propor superiormente a criação e implementação de mecanismos internos suscetíveis de serem
ativados em situações de gravidade excecional.

17. ENFSI (European Network of Forensic Sciences Institutes)

Trata-se de um instrumento que faz parte de um programa global de formação destinado a todas as
pessoas envolvidas na investigação de incêndios na Europa, incluindo peritos forenses e investigadores
criminais.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 124


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Materializa-se num guia prático que harmoniza conhecimentos atuais e material disponível, surgindo na
sequência de um vasto estudo das boas práticas utilizadas pelos laboratórios forenses da Europa.
Tal guia resulta de uma colaboração única e não teria sido possível consegui-lo sem a sólida e eficiente
participação dos laboratórios do ENFSI (em português “Rede Europeia de Institutos de Ciências
Forenses”) e membros convidados de alguns países.
O guia destina-se não só aos primeiros intervenientes em locais de incêndio e de explosão, bem também
às pessoas envolvidas na investigação criminal subsequente, tendo por objetivo melhorar a sua eficácia
e perspicácia, bem como melhorar a qualidade da investigação criminal, em sede de cena do crime.
De forma sistemática, o guia indica quais os passos chave que o primeiro interveniente tem de dar para
que os exames subsequentes podem ser levadas a cabo de forma eficaz. Sintetiza os conhecimentos
básicos necessários para o desempenho do papel de primeiro interveniente, bem como das informações
necessárias para facilitar o trabalho dos especialistas e peritos forenses que intervêm numa fase
posterior do processo.

A tradução portuguesa do guia referido encontra-se no ANEXO VI ao presente trabalho.

***
Nos EUA, existem variados instrumentos de trabalho nesta área e demais forças/instituições de combate
e investigação de incêndios.

Existe como ferramenta de trabalho o manual “Fire and Arson Scene Evidence” que pode ser lido
(versão original) no ANEXO VII ao presente trabalho.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 125


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

VI. INDICADORES / PADRÕES DE QUEIMA

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 126


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

No presente trabalho já foram abordadas as características inerentes aos diversos tipos de incêndios
(com especial ênfase para os incêndios florestais), mormente em termos de tipicidade de combustíveis,
condicionantes e particularidades da propagação do fogo.
Importa agora e, acima de tudo, complementar tais conceitos orientando-os para aquilo que é o objetivo
da investigação criminal:
Apurar as causas e, em caso de enquadramento criminal, determinar eventuais autores e levá-
los a julgamento.
É uma área de alguma especificidade e para tal, o investigador que trabalhe com esta dinâmica dos
incêndios, terá de possuir um conjunto de técnicas, saberes e meios, capazes de o ajudarem nessa
tarefa.
Nos títulos seguintes, far-se-á referência assim às diversas evidências físicas, particularidades e
características – INDICADORES E/OU PADRÕES DE QUEIMA -, que consequentemente possibilitem a
determinação da Área de Início (AI), do Ponto de Início (PI), Meio(s) de Ignição e sentido/tipo de
propagação do fogo.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 127


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

18. INCÊNDIOS FLORESTAIS (IFs)

18.1. O PONTO DE INÍCIO (PI)

Já foi amplamente dado enfoque à importância da determinação do PI.


Aliás, sem que o mesmo seja determinado, dificilmente se conseguirá avançar na investigação,
designadamente para a descoberta das causas, do(s) meios(s) de ignição, etc..
81
“Se não se conseguir determinar o PI… tão pouco se conseguirão apurar as causas”
A determinação do ponto de origem permite-nos saber:
O Ponto de Ignição;
A Altura da Ignição;
A Fonte de Ignição.

Como já mencionado anteriormente, a particularidade dos IFs prende-se com a natureza do


combustível que arde (combustível essencialmente vegetal) e a sua localização (em termos de
orografia e condições atmosféricas locais).
Se o foco de incêndio for detetado no início, pode-se identificar mais rapidamente a área de início e
consequentemente o seu PI.
Se por qualquer razão o incêndio já tem grandes proporções, existem assim vários hectares de área
ardida a considerar e a analisar.

Importa então saber e interpretar o comportamento do fogo desde o PI, tendo em conta que:
Todos os fogos têm uma origem diminuta;
O fogo progride sempre para fora do local onde se inicia;
A sua progressão é geralmente em forma circular, oval ou concêntrica (se as condições de
propagação forem constantes, designadamente o vento e o declive);
Não existe homogeneidade dos danos;
No PI geralmente o grau de destruição não é muito grande (dependendo obviamente dos
combustíveis aí existentes as chamas são ainda pouco intensas);
As chamas, nos materiais combustíveis, produzem um sulco em forma de “V”. Quanto mais
voláteis forem os materiais inflamáveis, menor é o ângulo (α) e maior é a chama:

T - Temperatura da chama
T - Temperatura da chama
α
(T) – Calor
(t) - Calor

No PI existem marcas de carbonização a um nível mais baixo, pois é aí que o incêndio se


desenvolve;

81
(NFPA, 1995)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 128


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Carbonização
alta
Combustível líquido
acelerante (volátil)

Fig. 85: Configuração circular de um incêndio nascente Fig. 86: Destruição alta com combustível líquido acelerante

Por outro lado, junto do PI o fogo não atinge grandes proporções, progredindo devagar e
deixando marcas no solo - INDICADORES;
O seu avanço mais ou menos rápido é influenciado pelos fatores já mencionados (condições
meteorológicas, declive do terreno e qualidade/quantidade de combustível);
A direção de propagação do fogo é dada sempre por vários indicadores, pelo que só um
poderá não ser relevante ou fundamental  A direção e todos os indicadores deverão ser
confirmados e identificar o círculo ou elipse da forma inicial.

18.2. INDICADORES (padrões de queima)

Na leitura e análise dos indicadores (ou marcas) da direção do fogo no terreno, tem-se em conta dois
pressupostos:
1. No terreno, começando na área ardida numa zona próxima da área de início já validada (ou
por testemunhos ou por evidências óbvias no terreno), à medida que nos aproximamos do
PI, o indicador/vestígio/marca torna-se mais pequeno;
2. Concomitantemente deve seguir-se o sentido – da área inicial e assim do PI -, que possuir
menos indicadores (já que a quantidade dos mesmos aumenta no sentido inverso – do
início para a frente);
3. No caminho devem-se selecionar vários pontos de observação dos indicadores,
determinar a direção do fogo em cada um deles e voltar atrás se necessário, até que todos
os pontos coincidam e os indicadores estejam orientados para a área inicial (devem-se
usar as bandeirolas indicadoras/apontadores constantes do material de campo).
Com um bom uso e correta leitura de todos esses indicadores, o investigador reduz vários hectares de
terreno a analisar.
Relembre-se que as causas do incêndio estão na retaguarda do mesmo e não na frente.

INDICADORES FÍSICOS MAIS RELEVANTES DE SENTIDO E PROPAGAÇÃO DAS CHAMAS

A maioria dos indicadores que a seguir se mencionam, são visíveis em combustíveis volumosos e
pequenos:

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 129


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

 Grau de dano:
Permite-nos determinar quais os danos sofridos pelos materiais, em consequência da
combustão. Indicam-nos desse modo o tempo que estiveram não só sujeitos à ação do calor,
como propriamente em combustão, o que nos permite determinar a velocidade de propagação
naquele ponto em concreto;

 Caules de gramíneas:
Quando o fogo se aproxima de um caule de uma gramínea, este aquece e carboniza primeiro de
um lado, que fica reduzido e enfraquecido. O efeito é muito semelhante ao corte inferior de uma
árvore, podendo eventualmente o caule da erva inclinar-se para a fonte de calor. À medida que o
fogo se desloca para um povoamento de vegetação, os caules indicarão assim a direção do
fogo. Há que ter em conta contudo que, como em todos os indicadores, ter-se-á que obter a
direção correta a partir da leitura de diferentes origens, pois tanto o vento como a hora podem
afetar a direção em que os caules se inclinam;

FOGO

Fig. 87: Indicador - Caules das gramíneas

 Combustíveis vegetais protegidos:


O fogo com queima lenta só irá queimar o lado da vegetação virada para o lado de aproximação
do fogo. Muitas vezes os combustíveis protegidos não apresentam quaisquer sinais de
combustão.
Por esse motivo, quando observada longe da eclosão, uma área mais extensa que tenha ardido
lentamente, poderá parecer mais clara, devido às cinzas e a uma combustão mais completa e
mais escura, quando observada perto do ponto de eclosão;

FOGO

Fig. 88: Indicador – Gramíneas protegidas

A parte da planta ou madeira atingida pelo fogo apresentará uma queima mais completa na
direção da aproximação do fogo, resultando
numa mancha cinza esbranquiçada e
carbonizada, enquanto o outro lado estará
protegido e, consequentemente, mostrará
menos sinais de queimado.
Qualquer objeto sobreposto ao combustível
e protegendo-o contra o fogo, apresentará
um tipo específico de queima, que indicará
em que direção o fogo queimou.
Fig. 89: Indicador - Tronco protegido

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 130


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Além da carbonização (cinza esbranquiçada) e manchas queimadas no ramo ilustrado na figura


ao lado, a área protegida será bem visível. Existirá uma linha clara de queima na frente, indicada
pelo ponto “A” e uma linha irregular, indicada pelo ponto “B”, do outro lado.
Por outro lado a parte que foi mais queimada (e que indica assim o sentido da propagação),
apresenta uma maior profundidade de carbonização.
Isto indica que o sentido de propagação do fogo foi de “A” para “B”.

 Escavados:
Observa-se normalmente na parte de um tronco, arbusto ou erva virada contra o vento (direção
da propagação). Fica mais carbonizado daquele lado, enquanto do outro, mantém-se mais
intacto.
Esse é o lado mais exposto ao vento mais forte e, portanto, espera-se que queime
profundamente, enquanto o outro lado permanece mais frio e protegido pelos restos do lado
queimado.

FOGO

Fig. 90: Indicador - Combustíveis escavados

Nas ervas (gramíneas) esse efeito é bastante notório, observando-se um corte em diagonal
(“corte em bisel”), estando a inclinação do mesmo orientada no sentido do fogo.
Ao passar com as costas da mão, sente-se uma espécie de aveludado. Ao contrário, quando
feito no sentido contrário à sensação, será de algo áspero. Dever-se-á passar as costas das
mãos em todas as direções até localizar aquelas em que a sensação é mais aveludada.
A cor no topo do caule da gramínea é branca/acinzentada, enquanto logo mais abaixo é mais
escura.

FOGO

Fig. 91: Indicador - Corte em bisel nas gramíneas

Este é um indicador bastante fiável e deve ser observado e analisado à medida que o
investigador se aproxima da área inicial.

 Aparência escamada - “pele de crocodilo”:


Normalmente encontrada nos postes, cercas, tábuas, estruturas, marcos, etc. Pode ser larga ou
pequena, brilhante ou escura. Escamas grandes e brilhantes  Fogo quente e rápido. Escamas
escuras  Fogo lento e não muito quente.
A maior profundidade de carbonização indica o lado da proveniência do fogo;

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 131


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

FOGO

Destruição
FOGO intensa e rápida
Carbonização
 superfície
lenta e intensa
quase lisa

Destruição mais
lenta e profunda

Fig. 92: Indicador - "Pele de crocodilo"

 Lascamento:
Observado nas cascas dos combustíveis florestais, do lado mais exposto ao calor, em
consequência da desagregação do material (desidratação);

 “Congelação de ramos”:
Quando pequenos ramos finos aquecem, têm tendência a ficar mais macios (flexibilidade nula),
impedindo-os de voltarem à posição original. Costumam ficar virados para a mesma direção, à
medida que vão arrefecendo após o fogo (por perda de humidade)  Voltados para o sentido da
propagação;

Lado protegido

Lado exposto

Lado exposto

Lado protegido

Junto do PI - Calor transmitido essencialmente por radiação Afastado do PI - Calor transmitido essencialmente por
convecção

Fig. 93: Indicador - Congelação de ramos (fase inicial junto do PI) Fig. 94: Indicador - Congelação de ramos (afastado do PI
– em progressão)

 Manchas:
As rochas e outros materiais não combustíveis expostos ao fogo ficam manchados devido à
vaporização de substâncias combustíveis e partículas minúsculas transportadas pelo fogo (que
após colidirem com os objetos arrefecem e fixam-se)  Do lado mais exposto  Indicam o
sentido de propagação.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 132


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Podem surgir em latas de refrigerantes abandonadas na floresta, pedaços de metal, torrões e


vegetação por queimar.

Fig. 95: Manchas nas pedras

 Fixação de fuligem:
Ficará depositada no lado das cercas virado para a eclosão do fogo e pode ser observada
passando a mão pelo arame. Em objetos maiores, basta passar a mão. Em muitos casos,
encontram-se indicadores mais positivos como combustível protegido ou manchado. Ao procurar
fuligem numa cerca de arame, verificam-se os arames mais abaixo, pois apresentam mais
provas de fuligem do que os localizados mais acima.

FOGO

Fig. 96: Manchas de fuligem em cercas de arame

 Padrão de queima em árvores:


A figura seguinte ilustra o modelo de carbonização criado pelo fogo quando este progride através
de árvores e mato. Quanto menos ventos, mais vertical é o padrão de queima, enquanto que,
com ventos fortes pode ser quase paralelo ao solo.

Fig. 97: Padrão de carbonização (fogo através de árvores e mato)

A figura abaixo ilustra o efeito típico sobre as copas das árvores ou matos, de um fogo que
eclode do ponto B (PI) e avança lentamente desenvolvendo calor e velocidade. No PI e à medida
que o combustível vai ardendo mas as copas das árvores estão mais ou menos intactas, o fogo

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 133


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

ainda desenvolve pouco calor. Afastado do PI, o fogo aqueceu o combustível e com ele arderam
as copas. À medida que o fogo progride, as copas ardem todas.

Fig. 98: : Padrão de carbonização (destruição das copas das árvores)


FOGO JÁ COM
CORRENTES
DE
FOGO LENTO CONVECÇÃO

FOGO LENTO

Fig. 99: Carbonização dos troncos das árvores em redor do PI

OBS: Quando as marcas de destruição são concêntricas  o fogo inicial foi no meio

Ar quente (correntes de
convecção)
VENTO Menor grau destruição
Maior altura das chamas

FOGO

Maior grau
destruição
Menor altura
das chamas

Fig. 100: Aspeto de uma árvore ao ser atingida pelas chamas (progressão a favor do vento)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 134


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VENTO (A)

FOGO

Fig. 101: Aspeto de uma árvore ao ser atingida pelas chamas (progressão contra o vento)

OBS: Quando existe vento, o grau de carbonização do lado oposto do sentido do fogo é menor, pois o
vento evita uma maior “abraço” em redor do tronco (A).

EM DECLIVES:
Em progressão montanha acima - O padrão de carbonização terá um
ângulo de inclinação maior do que a inclinação do solo (ficará visível muitos
anos após o fogo). É provocado por um vácuo na parte posterior da árvore
que impele as chamas e remoínho para aquele lado, sendo estas (as VENTO
chamas) ”içadas” para cima por ação da corrente de convecção criada.
FOGO

Fig. 102: Padrão de queima nas árvores (progressão em declive)

Em progressão montanha abaixo – Este fogo de recuo ou contra o vento,


irá criar padrão de carbonização ilustrado na figura ao lado, ficando
nivelado ou paralelo ao solo. A acumulação de detritos pode provocar
carbonização da parte superior lateral da árvore acima da sua FOGO
implantação, mas terá pouco efeito no padrão de carbonização em volta
do resto do tronco. VENTO

Fig. 103: Padrão de queima nas árvores (fogo encosta abaixo contra vento)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 135


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Fig. 104: Aspeto das marcas de carbonização nas árvores em declive

 Cor das cinzas:


Coloração resultante da combustão. Quanto mais completa a combustão, mais claros serão os
resíduos da mesma  Quando completa fica de cor BRANCA.

EM ENCOSTAS (DECLIVES):
Geralmente ao analisar uma encosta queimada, consegue-se perceber se o fogo desceu ou
subiu.
De facto, a coloração da vegetação ardida dá-nos esse indicador:
CINZA  Menor velocidade  Maior grau de carbonização  DESCEU;
PRETA  Maior velocidade  Menor grau de carbonização  SUBIU

Fig. 105; Aspeto geral de fogo em encosta (coloração)

REGRA DOS 30:


Em termos de risco de incêndio, trata-se de uma regra algo empírica que tem em conta os três
principais fatores de propagação de um IF: VENTO, HUMIDADE e TEMPERATURA:
VENTO > 30km/h
HUMIDADE < 30% INCÊNDIO
TEMPERATURA > 30ºC

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 136


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18.3. PROCEDIMENTOS NO PONTO DE INÍCIO (PI) - FLORESTAIS

Depois de analisados todos os indicadores, indícios e recolhidas todas as informações que conduziram à
identificação do PI, há que trabalhar nele.
Se o mesmo não estiver identificado, balizado e preservado por qualquer outra entidade que antecedeu
a chegada da PJ, deverá ser esta a proceder de tal forma.

Fig. 106: Identificação e balizamento do PI (em IF)

Aqui o trabalho é quase “à lupa” e deverá ser efetuado com método e rigor.
O investigador deve usar ferramentas e/ou equipamentos adequados para uma busca minuciosa, tais
como pe. ancinho, lupa, pequena pá, pinças, magneto, etc.

Fig. 107: PI - Busca minuciosa com lupa

Deve ainda, se necessário esquadrinhar a zona do PI, utilizando para tal linhas marcadoras e
identificação de quadrículas.

Fig. 108: Grelha de busca no PI

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 137


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

O material/artefacto ou dispositivo incendiário encontrado no PI pode ser diverso:

Fig. 109: Exemplos de materiais/dispositivos encontrados no PI

Depois de localizados, balizados, fixados (através de fotografia) e interpretados num contexto espacial,
devem ser recolhidos de forma sistemática, metódica e técnica, tendo em conta o já referido quanto ao
tratamento de vestígios.

Contudo, senão a maioria das vezes, não se encontram vestígios


de qualquer mecanismo incendiário, porquanto o autor usa a
chamada técnica do uso direto do fogo.

Fig. 110: Chama direta

18.4. CAUSAS DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS

18.4.1. ELIMINAÇÃO DE CAUSAS

No PI as causas podem ser aparentes. Mesmo que não sejam evidentes, o investigador pode, a priori,
eliminar um conjunto de causa que não provocou o fogo.
Basicamente se as condições meteorológicas naquela hora e naquele local não foram propícias à
ocorrência de relâmpagos (raios), esta causa pode ser logo eliminada; se não existem vias férreas,
trabalhos mecânicos ou utilização de equipamento na zona, pode ser descartada a hipótese do fogo ter
sido provocado por qualquer faísca.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 138


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Pela mesma ordem de ideias, facilmente se pode considerar a possibilidade de fogo posto se o fogo
eclodiu de noite, numa zona inacessível e, tiverem ocorrido vários focos.

INDICADORES/VESTÍGIOS DOLOSOS MAIS RELEVANTES


Para além dos indicadores físicos que resultam da generalidade da combustão dos materiais que
vão sendo queimados ao longo do incêndio, para a investigação criminal, são importantes ainda
outros indícios/vestígios que indiciem a origem dolosa do IF.

Assim, há que ter em conta:


Se existiam barricadas, árvores derrubadas, cabos ou caixotes do lixo que obstruíssem a
chegada dos bombeiros;
A ocorrência de vários incêndios separados quase em simultâneo, sem causas aparentes,
naturais ou normais;
Não há a possibilidade de combustão espontânea, o risco de incêndio é baixo e não há
causa aparente;
O IF ocorreu num local improvável;
Comportamento estranho dos materiais a arder, estando o IF especialmente intenso
(principalmente nas fases iniciais)  Existem cheiros estranhos ou característicos como, por
exemplo, a gasolina, parafina, borracha ou óleo – liquido combustível acelerante;
São encontradas substâncias, materiais, dispositivos que normalmente não seriam
utilizados no local e que poderiam causar ou acelerar a combustão como, pe., velas;
O mesmo indivíduo é visto em mais do que um IF, especialmente se apresentar um
comportamento estranho ou der o alarme em diferentes ocasiões;
A ocorrência de vários IFs no mesmo local num período de tempo relativamente curto ou caso
tenham existido incêndios anteriores da mesma natureza na mesma região.

Perante tais indícios, o investigador deve procurar:


Dispositivos/artefactos incendiários;
Químicos, pe., fósforo, sódio de metal, permanganato de potássio, glicerina entre outros;
Líquidos inflamáveis, pe., gasolina, parafina, solvente, álcool, diluentes, acetona, éter entre
outros;
Garrafas ou outros recipientes utilizados para conter líquidos inflamáveis;
Contracetivos, balões de brincar, botijas de água quente e outros artigos de borracha
semelhantes utilizados para conter líquidos inflamáveis ou fósforo e água;

18.4.2. CODIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS CATEGORIAS DE CAUSAS

Em jeito de sistematização, já se abordaram os aspetos mais importantes a ter em conta e a adotar em


IFs, no respeitante à localização e identificação do PI.
Obviamente e, como já referido no presente trabalho, “se não se conseguir determinar o PI, tão
pouco se conseguem determinar as causas do IF”.
A forma de ignição pode assim ser ou não evidente naquele local.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 139


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

De facto, se for de origem negligente ou acidental, pode ser facilmente identificada mas, se for
intencional ou de origem criminosa, tal origem pode ter sido apagada ou pelo próprio autor, pelo próprio
IF ou mesmo na sequência do combate ao fogo.
Em qualquer dos casos, o investigador deve ser para além do mais perseverante até ficar convencido ou
esclarecido da destruição ou remoção dos vestígios no PI, atuando em conformidade com as orientações
mencionadas no §PROCEDIMENTOS NO PI (atrás abordados).

A ex-DGRF (Direção Geral de Recursos Florestais) agora denominada ICNF (Instituto da Conservação
da Natureza e das Florestas), adotam uma codificação para as causas dos IFs tal como a seguir se
enuncia (vd. ANEXO VIII):

3. ESTRUTURAIS
1. USO DO FOGO
31. Conflitos de caça
11. Queima de lixo
32. Danos provocados pela vida selvagem
12. Queimadas
33. Alterações no uso do solo
13. Lançamento de foguetes
34. Pressão para venda de material lenhoso
14. Fogueiras
35. Limitação ao uso e gestão do solo
15. Fumar
36. Contradições no uso e fruição dos baldios
16. Apicultura
37. Instabilidade laboral nas catividades de deteção, proteção e
17. Chaminés
combate aos incêndios florestais
2. ACIDENTAIS
4. INCENDIARISMO
21. Transportes e comunicações
41. Manobras de diversão
22. Maquinaria e equipamento
42. Brincadeiras de crianças
23. Explosivos
43. Irresponsabilidade de menores
24. Soldaduras
44. Conflitos entre vizinhos
25. Disparos de caçadores
45. Vinganças
26. Exercícios militares
46. Piromania
27. Outras
47. Vandalismo
48. Outras
5. NATURAIS
55. Raio
56. Outras
6. NÃO DETERMINADAS

18.5. PERFIL DO INCENDIÁRIO FLORESTAL PORTUGUÊS

A PJ, em 2003, através da EPJ (então denominada ISPJCC), com a colaboração da Universidade do
Minho, elaborou um estudo sobre a “Caracterização Sociopsicológica do Incendiário Português".
Teve como base uma amostra de 74 incendiários condenados, chegando à conclusão de que não existe
um conjunto de características particulares que permita definir um perfil e apurar as motivações deste
tipo de crime.
Na altura, de acordo com o mesmo estudo, os incendiários florestais tinham, na maior parte dos casos,
um baixo nível de escolaridade (até ao 6º ano) e eram trabalhadores não qualificados da construção civil
ou da agricultura, apresentando, por isso, muitas semelhanças com a maioria da população das zonas
rurais.

O perfil padrão do incendiário está assim definido pelas seguintes características:


Masculino;
Solteiro;
Analfabeto (ou com 1º ciclo) ;

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 140


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Sem condenações criminais ou antecedentes policiais;


Operário não especializado;
Reformado / desempregado;
Atua entre as 12h e as 16h (ou pelas 20h);
Usa chama direta para ignição (fósforos, isqueiro, velas, queimadas);
Abandona local após;
Reside mesma localidade;
Área ardida é florestal e/ou inculto;

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19. INCÊNDIOS EM ESTRUTURAS EDIFICADAS

A tipificação deste tipo de incêndios foi já abordada no §DINÂMICA DA PROPAGAÇÃO.


À semelhança dos IFs, iremos nesta secção do presente trabalho abordar alguns considerandos
relativos aos padrões de queima possível de encontrar em cenários de estruturas edificadas.

19.1. PROCEDIMENTOS NO LOCAL

No local o investigador deverá obter algumas informações pertinentes, mormente junto dos bombeiros,
quando estes procediam ao combate do incêndio:

Dispositivos de deteção e alarme sabotados


O sistema estava em boas condições e ativo? As válvulas dos extintores estavam abertas antes
do fogo?
Obstáculos ao combate ao incêndio
A mobília foi retirada do seu lugar, dificultando o progresso do debelar do incêndio?
Condições artificiais para dificultar o combate ao incêndio
Por vezes os incendiários podem colocar calços nas portas para estas se manterem abertas;
arrancarem o estuque para a madeira (de mais facilmente combustão) ficar à vista; furarem os
tetos para facilitar as correntes de ar quente para outros compartimentos.
A ausência de recheio, objetos pessoais ou animais de estimação nas habitações, ausência de
mercadorias, acessórios, matéria-prima, maquinaria, vitrinas de exposição, registos, etc., pode
indiciar qualquer tipo de burla (aos seguros, pe.).
Reação do fogo à água
Um jato de água direcionado num local onde foram derramados líquidos combustíveis, fará com
que a água se mantenha a flutuar à superfície, reacendendo e continuando a arder, alastrando o
fogo. Ficará ainda uma tonalidade do tipo “arco íris”:

Fig. 111: Tonalidade do tipo "arco-íris" (água sobre líquido acelerante)

Cheiros não habituais

Os bombeiros costumam reconhecer determinados cheiros estranhos.

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PRODUTO CHEIRO
Nitro celulose Acre, semelhante a cânfora
Fósforo Cabeças de fósforo humedecidas
Dissulfito (ou Bissulfito) de carvão Couve podre
Pólvora Foguetes queimados
Velas de enxofre Cheiro sufocante
Amónia Acre
Inseticidas em spray Doce ou perfumado
Ácido de gás cianídrico Caroço de pêssego

Quadro 33: Cheiros estranhos em incêndios em estruturas edificadas

19.2. INDICADORES E PADRÕES DE QUEIMA

Existem dois tipos básicos de produção de padrões de queima:


Por intensidade, que são produzidos pela resposta dos materiais à exposição a diferentes
intensidades de calor – os padrões gerados pela coluna de gases aquecidos e após o “flashover”
(ou combustão generalizada de todos os combustíveis existentes num espaço fechado);
Por movimentação, que são produzidos pelo crescimento e subsequente movimentação do
fogo e dos produtos da combustão para longe da área do foco – os padrões gerados pela
ventilação e pela camada de gases aquecidos e fumo.

Os danos provocados pelas chamas, radiação, gases aquecidos e fumo, produzem padrões que são
usados para identificar a área ou PI do fogo  O foco do incêndio.

Em termos de genéricos:
A área mais ardida e com mais fissuras da madeira, independentemente da direção dos anéis,
indica a direção do percurso ou lado envolvido;
O incêndio tem uma tendência natural para se propagar pelas aberturas, portas e janelas,
etc.;
As áreas ardidas e empoladas de pequena dimensão nas superfícies verticais da mobília
indicam a irradiação de calor e a possível direção da propagação do incêndio;
É possível uma propagação lateral considerável quando se dá uma acumulação de gases
quentes como, pe., ao longo dos tetos antes da tendência ascendente continuar;
A propagação através de portas e aberturas apresenta-se normalmente a níveis elevados,
num movimento "enrolado" das chamas;
É possível que se verifiquem áreas ardidas no sentido cima para baixo, especialmente se foi
utilizado um líquido acelerador. Os vapores e o líquido penetram e filtram-se por entre as
fendas, fazendo com que os materiais que estão a arder longe formem cavidades por baixo do
ponto de origem.

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Grande
destruição

Muita fuligem Menor


destruição
Pouca fuligem

Destruição

Fig. 112: Propagação e grau de destruição no teto

Fig. 113: Grau de carbonização em portas (consoante distância do PI)

Fig. 114: Padrão de queima em ombreiras das portas (corredor)

Os padrões são os efeitos físicos visíveis ou mensuráveis após um incêndio, como: carbonização,
oxidação e consumo de combustíveis; deposição de fumaça e fuligem; distorção, derretimento e
mudança de cor e de características do material; e, finalmente, colapso da estrutura.
Estragos no teto;
Os estragos uniformes no teto normalmente indiciam fogo lento e sem chama, enquanto
grandes estragos/destruição num determinado ponto do mesmo, indiciam um começo
intenso e rápida propagação do incêndio, por baixo desse ponto;

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Fig. 115: Carbonização no teto

Nos vidros;
Perante uma acumulação rápida de calor (ou seja entre 1 a 5 minutos), o vidro poderá
apresentar fendas e marcas grandes, formando normalmente em paralelo linhas em relação ao
caixilho da janela;
Perante uma acumulação lenta de calor intenso, o vidro poderá ficar rachado com fendas
irregulares e com uma ligeira película de fumo (fuligem). Perante uma acumulação de calor muito
lenta e com bastante fumo, irão existir muitas manchas sem que o vidro fique rachado.
Se as janelas estiverem partidas ANTES do incêndio ter começado, os cantos estarão revestidos
com resíduos de fumo. Por sua vez se os vidros foram partidos DURANTE as operações de
combate ao incêndio, os cantos que permaneceram no caixilho estarão apenas ligeiramente
revestidos com resíduos de fumo. Se o vidro foi partido APÓS o incêndio ter sido extinto todos os
cantos deverão estar limpos;
Quando se efetua a remoção dos escombros, devem procurar-se fragmentos de vidros que
tenham protegido a cobertura do chão e não estão afetados pelo fumo. Estes podem ter estado
in situ antes do incêndio ter começado.
Já quanto a espelhos, pe., podem-se observar os seguintes padrões:

Fig. 116: Padrão de quebra em espelhos

Na madeira:
o Linha de demarcação;
Ao examinar o corte transversal de um barrote de madeira encontrado perto do PI  Se
uma linha bem distinta entre as zonas queimadas e não queimadas, indiciará um fogo
rápido e intenso, uma linha irregular com carbonização gradual e um aspeto de
combustão completa, indiciam geralmente um fogo lento e prolongado.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 145


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Fig. 117: Padrão – Linha de demarcação

o “Pele de crocodilo”;
Já bastante referido como padrão e queima nos outros tipos de incêndios abordados no
presente trabalho, tem sido um indicador apontado por muitos investigadores, como
aquele que indica melhor a velocidade de propagação de um incêndio.
A sua atenta observação serve para distinguir entre os incêndios rápidos em que foram
utilizados agentes aceleradores e os incêndios sem agentes aceleradores, precisamente
através do aspeto da área queimada.
Escamas grandes e brilhantes  Fogo quente e rápido. Escamas escuras  Fogo lento
e não muito quente.

Fig. 118: Padrão - "Pele de crocodilo"

Quebra de reboco (paredes);


As paredes de betão, cimento ou tijolo podem quebrar quando expostas a uma fonte de calor
intensa. O reboco pode lascar das paredes de tijolo devido à diferença na relação de expansão
do reboco e da alvenaria quando aquecidos.
Perante uma acumulação rápida de calor, o reboco irá lascar e cair da parede. Perante uma
acumulação lenta de calor, o reboco permanecerá in situ.
O reboco do teto normalmente não lasca, mas vai ficando progressivamente destruído.

Fig. 119: Queda de reboco nas paredes queimadas

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Soalhos;
As alcatifas colocadas no chão, não são material combustível. Têm é na sua composição,
materiais sintéticos e colas. O local onde foi deitado líquido combustível acelerante, é
geralmente de forma circular.

Fig. 120: Padrão circular de derrame de líquido combustível no chão

Importa por isso raspar o chão para verificar se está sujo ou queimado. Observar ainda se, “no
percurso” até ao PI existem no chão pingos de líquido combustível acelerante, em forma circular.
Também, ao nível dos rodapés, importa fazer uma observação cuidada.

Fig. 121: Padrão de queima ao nível dos rodapés

Mobiliário;
Depois da passagem das chamas em zonas onde se encontravam móveis ou outros
equipamentos, ao retirá-los do local, fica registada uma espécie de “fantasma” com a
configuração do mesmo.

Fig. 122: Efeitos "sombra" no local onde estava mobiliário

Um dos mais frequentes indicadores é o chamado cone truncado.


Grande parte dos padrões de queima produzidos diretamente pela coluna de gases aquecidos
apresenta-se num formato de cone truncado.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 147


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Esse padrão é formado quando a forma tridimensional (cone) da coluna de gases aquecidos (convecção)
é interrompida por um plano, como: parede, teto e parte inferior
de mesas e de prateleiras.
Seja, é observável um significativo grau de destruição na vertical
de um qualquer foco de incêndio (e PI)  Compatível com o
padrão circular (a seguir mencionado).

Fig. 123: Cone truncado

É assim a tal coluna de gases aquecidos que, subindo (por convecção), produz padrões típicos de
queima:

Padrão de cone invertido:


Visível em superfícies verticais quando a chama não é alta o suficiente para que a coluna de
gases aquecidos atinja uma barreira horizontal (geralmente quando a taxa de dissipação de calor
é baixa).

Fig. 124: Padrão - Cone invertido

Padrão de ampulheta:
Observável em superfícies verticais quando a chama não é alta o suficiente para que a coluna de
gases aquecidos atinja uma barreira horizontal, porém sobe mais do que quando há a formação
do padrão de cone invertido;

Padrão em “V”:
Observável em superfícies verticais quando a coluna de gases aquecidos atinge uma barreira
horizontal, e a fonte de calor está próxima da superfície vertical:

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 148


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Fig. 125: Padrão em "V"

Padrão em “U”;
Em sup erfíc ies vertic a is q ua nd o a c oluna d e g a se s a q uec id o s a ting e um a b a rreira
horizonta l, e a fonte d e c a lor está m a is a fa sta d a d a sup erfíc ie vertic a l d o q ue q ua nd o
há a form a ç ã o d o p a d rã o “ V”:

Fig. 126: Padrão em "U"

Padrão seta:
Aparece em séries de elementos combustíveis como estacas de madeira, que estarão mais
consumidas quanto mais perto da fonte de calor:

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 149


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Fig. 127: Padrão seta

Padrão circular;
Aparece na parte inferior de superfícies horizontais, acima da fonte de calor:

Fig. 128: Padrão circular

Já foi abordado o conceito de “flashover”.


Este fenómeno produz padrões de queima particulares nos materiais.
Quanto maior for a velocidade dos gases aquecidos, mais calor é transferido por convecção. Assim,
uma boa ventilação em ambientes fechados possibilita que haja uma alta taxa de dissipação de calor, o
que provoca danos severos. Os padrões gerados pela ventilação são importantes na definição do
caminho do fogo e de sua origem, mas deve-se estar atento ao facto de que a ventilação pode produzir
danos severos numa determinada área, sem que ela seja a área do incêndio em si.

Atente-se ainda que, quando uma corrente de ar atua sobre um material em brasa, a sua temperatura
pode aumentar o suficiente para produzir buracos nos pisos e até derreter metais.
Mas é importante saber interpretar esses
padrões para não confundi-los com os gerados
pelo uso de substâncias inflamáveis. A
existência e a forma de um buraco no piso, em
uma análise isolada, não são suficientes para
definir o que gerou aquele padrão.
Também é importante não confundir outros tipos
de padrão de queima com o padrão gerado pela
ventilação.
Nos estágios iniciais do incêndio, os gases
aquecidos podem escapar de um ambiente
fechado pela parte superior d a p orta ,
q ueim a nd o -a .

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 150


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Fig. 129: Queima na parte superior de uma porta - antes do flashover

Após o “flashover”, quando a queima se estende por todo o ambiente, os gases aquecidos podem
escapar também pela parte inferior da porta, queimando-a também. Esses padrões de queima são
gerados pela ventilação.
Porém, a queima na parte inferior da porta pode ser produzida também quando um material em brasa cai
junto a ela, o que não é um padrão gerado pela ventilação.
Ainda após o “flashover”, os danos incluem a carbonização da parte inferior dos móveis, queima de
tapetes e de carpetes por debaixo dos móveis, queima uniforme em redor das pernas de mesas, queima
da parte inferior de portas e suas soleiras, queima do revestimento dos cantos do piso e buracos no piso
e na carpete. Existe ainda a possibilidade de áreas protegidas serem poupadas.

Fig. 130: Queima da porta - após flashover Fig. 131: Queima da porta por queda de material em brasas

A propagação de um incêndio em estrutura edificada, está condicionada assim basicamente ao


material combustível que se encontra no interior e à ventilação daquele espaço (carga de
combustível), podendo desencadear-se por fases, todas com características diferentes, mas com
resultados, em termos de padrão de queima, como atrás referidos.

Fig. 132: Sequência do desenvolvimento de um incêndio num sofá

Fig. 133: Sequência do desenvolvimento de um incêndio numa cama

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 151


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A propagação do incêndio pode ser detetada de várias maneiras:


Os barrotes podem estar queimados apenas de um dos lados, indicando, assim, a
direção da propagação do incêndio;
Os barrotes podem estar queimados de todos os lados  Verificar qual a área que ardeu
com maior intensidade e com maior número de fissuras;
As extremidades queimadas dos orifícios no batente das tábuas do solo, talvez chanfradas
na direção do "Padrão seta" de propagação, indicando a origem do incêndio tanto por cima
ou por baixo da superfície do solo.

No presente trabalho já se abordou o ciclo de desenvolvimento de um incêndio.


82
De acordo com Lilley , uma boa compreensão das fases de tal ciclo pode ajudar a elucidar toda a sua
dinâmica de queima e propagação.
Recordando tais fases, complementando-as com alguns aspetos que o investigador deve ter em conta,
temos então:

Fig. 134: Fases de um incêndio

FASE INICIAL
É a fase incipiente do incêndio, com temperatura no teto de aproximadamente 40ºC. Após as
chamas aparecerem o incêndio cresce rapidamente.
O que o investigador deve observar:
É fácil verificar o padrão de queima em “V” no foco inicial;
É fácil encontrar o foco inicial e, consequentemente, a causa;
A maioria dos vestígios ainda está intacta;

FASES CRESCENTE E TOTALMENTE DESENVOLVIDA


Nestas fases, o incêndio torna-se mais intenso na medida em que mais materiais participam da
queima. Estas são as fases de maior produção de chamas, onde a temperatura no teto está
acima de 700ºC.
O investigador deves estar atento a:
Marcas de fuligem por chama nas paredes;

82
(LILLEY, 1997)

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Padrão de queima em “V” mais evidente em materiais combustíveis, como paredes de


madeira;
A carbonização é maior na zona de origem se comparada com outros ambientes
adjacentes;
O exame dos objetos no ambiente sinistrado ajuda a identificar mais facilmente a zona
de origem do fogo;
Derretimento de metais leves, como alumínio.

FASE FINAL
Nesta fase o combustível torna-se mais escasso, a queima em chamas é menor e a presença de
incandescência é maior.
Devem-se ter em conta:
Marcas de fuligem nas paredes que podem estar tão baixas quanto 30cm;
O padrão em “V” e os padrões de queima podem estar ocultos em decorrência da
carbonização;
Quanto mais longa for a queima, menos evidências estarão disponíveis.

19.3. DETERMINAÇÃO DO PI

Tal como amplamente abordado, a determinação do PI é de extrema importância, senão fundamental.

O investigador deve agir da seguinte forma:


Determinar se o incêndio teve origem no exterior do edifício
Procurar áreas com fuligem ou ardidas no telhado, portas e janelas. Verificar qualquer abertura
que possa ter permitido que as correntes de ar influenciassem a propagação do incêndio. Se o
gás tiver sido a causa evidente, examinar a válvula exterior do recipiente (botija), para aferir se
estava aberta ou fechada antes do incêndio. Há algum vestígio de fósforos utilizados, papel
queimado, etc., à volta do perímetro do local?
Examinar completamente o interior do edifício para localizar a área/divisão com maior
dano/destruição
Aqui podem desde logo ocorrer duas situações:
o A cobertura/teto está intacta  Procurar a área mais danificada no teto (resultante da
transmissão de calor por convecção – sentido ascendente da progressão).
Muitas vezes, o ponto de origem pode ser diretamente encontrado por debaixo da parte
do teto mais fortemente danificada. O teto estava intacto antes do incêndio ter
começado.
Na perpendicular dessa zona, interpretar marcas e identificar materiais carbonizados ao
mais baixo nível.
Averiguar se existe combustível líquido acelerante (pelo cheiro ou mesmo visivelmente),
nomeadamente por debaixo de soalhos, juntas, etc.;
o Existiu colapso da cobertura  Procurar nas paredes laterais qual a que apresenta
maior destruição e onde existam os padrões já referidos (em “V”, pe.);
Começar nas áreas menos danificadas, trabalhando constantemente em direção às áreas mais
danificadas. A área mais consumida pelo incêndio e com menos espaço ardido será
normalmente encontrada na origem do incêndio mas, atenção, que existem exceções. Outros
fatores podem ter contribuído para evitar que a área de origem do incêndio ardesse tanto tempo
ou tão intensamente como pode ter acontecido nas outras áreas. Atenção que os líquidos

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 153


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inflamáveis e materiais combustíveis deixam uma carbonização muito profunda e, assim, pode
não ser o ponto de origem;
Reparar em qualquer espaço ardido de forma desigual ou numa área localizada bastante
consumida pelo incêndio
Verificar se existem locais que tivessem ardido de forma “invulgar” como um espaço de chão
aberto longe de qualquer fonte provável de “ignição acidental”. As áreas ardidas na parte inferior
das portas ou quaisquer superfícies inferiores horizontais podem indicar a existência de uma
poça de líquido inflamável;

Fig. 135: Poças de líquido inflamável no chão

Procurar a área consumida pelo incêndio mais baixa dentro da área de origem
Pode ser útil procurar por baixo da mobília e prateleiras se existe uma carbonização intensa.
Tem em conta que o incêndio pode ter deixado cair combustíveis a arder para um local mais
baixo do que a área de origem;
Procurar a direção do fluxo de calor
Depois de localizar a área ardida com maior intensidade e de menor dimensão, procure outros
indicadores de calor.
Por exemplo, as lâmpadas que apresentam uma saliência num dos lados, irão indicar a
direção da fonte de calor (a saliência é formada quando a lâmpada é exposta à fonte de
calor durante pelo menos 10 minutos a uma temperatura de aproximadamente 480ºC).
Os gases no interior da lâmpada expandem-se quando aquecidos  O vidro aquecido
“inclina-se” para a fonte de calor (indicando assim a origem). Poderá partir-se se o
volume dos gases aumentar o suficiente.

Fig. 136: Inclinação de uma lâmpada aquecida

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Quadro 34: Algumas características de lâmpadas

O diagrama que se apresenta de seguida, mostra os


vários pontos quentes de uma lâmpada montada em
posições diferentes.

Quando uma lâmpada está montada na posição


vertical, a ponta da lâmpada pode atingir
temperaturas superiores a 230ºC. A ponta da
mesma lâmpada montada na horizontal atingiria
provavelmente apenas 90ºC.

É importante considerar os pontos quentes das


lâmpadas como um potencial risco de incêndio
quando utilizadas à volta de materiais combustíveis.

Fig. 137: Pontos quentes das lâmpadas

Por sua vez, as lâmpadas que têm uma proteção à sua volta, irão limitar esta potencial
fonte de incêndio conforme indicado no seguinte diagrama:

Fig. 138: Proteção das lâmpadas contra incêndios

Outros indicadores são as cores do calor encontradas em crómio e outros materiais brilhantes
submetidos ao fogo (verifique as superfícies dos fornos, torradeiras, máquinas e outros
dispositivos). A evolução do incêndio pode ser seguida comparando as temperaturas indicadas
pelas cores nos vários metais brilhantes em diferentes locais dentro da área de origem. As cores
mais claras causadas por temperaturas mais elevadas podem não estar presentes depois do
arrefecimento mas estarão indicadas por círculos de cores mais escuras ainda visíveis no metal.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 155


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CORES produzidas pela ação do calor TEMPERATURAS (ºC)


Amarelo 230
Castanho a púrpura 290
Azul 320
Vermelho pálido 480
Cereja escuro 590
Cereja 760
Salmão 870
Amarelo limão 980
Branco 1200
Branco brilhante 1320

Quadro 35: Cores produzidas pela ação das chamas

Verificar se nos objetos na área, existe algum sinal que indique a distância do local de
origem
Os vidros das janelas nas proximidades da fonte de maior calor irão apresentar apenas vestígios
de fuligem ou restos de fumo, enquanto os vidros mais afastados do ponto de origem do incêndio
irão geralmente apresentar concentrações de restos de fumo.
Procurar provas de incêndios múltiplos
As fontes de ignição são independentes umas das outras? Quando uma divisão atinge
temperaturas muito elevadas de aproximadamente 370ºC ou superiores, poderá ocorrer
inflamação generalizada fazendo com que a divisão inteira aparente incendiar-se de repente 
Flashover.
Durante a investigação, a inflamação de materiais altamente combustíveis pode levar o
investigador a suspeitar que existiram dois ou mais incêndios em separado.
Outra causa de incêndios múltiplos pode ser de origem elétrica. Antes de atribuir a causa dos
incêndios múltiplos a agentes acelerantes, certifique-se de que a causa elétrica foi excluída.
Resíduos de combustão das cinzas
Distinguir o negro de fuligem e o negro de carbonização.

19.4. PRINCIPAIS CAUSAS

Grande parte dos incêndios ocorridos em habitações, são normalmente provocados por falta de
cuidado.
As causas mais vulgares são: o cozinhar, o fumar, o aquecimento, as velas, os candeeiros a gás e a
petróleo, a instalação elétrica, os aparelhos elétricos, algumas atuações de crianças e idosos e a falta de
cuidado com as lareiras.
1. O cozinhar;
2. Fumar;
3. Aquecimento;
4. Velas;
5. Candeeiros a gás e a petróleo;
6. Algumas atuações de crianças e idosos;
7. Falta de cuidado com as lareiras;
8. Causas elétricas (Instalação elétrica e aparelhos elétricos).

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 156


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A maior parte das vítimas dos incêndios não morre das queimaduras, mas da asfixia devida aos gases
tóxicos e fumos respirados. Frequentemente as vítimas nem chegam a ver as chamas.

19.4.1. CAUSAS ELÉTRICAS

Já foi abordado no presente trabalho o conceito de eletricidade e todo o sistema elétrico.


Importa, neste contexto de causas de incêndios em estruturas edificadas, alertar para alguns aspetos
a ter em conta na investigação.
Apenas com algumas exceções, os incêndios de origem elétrica ocorrem devido à falta de cuidado
sensato na manutenção ou utilização de instalações e aparelhos elétricos.
Um incêndio de origem elétrica pode ser iniciado por qualquer uma das situações resumidas a seguir:
Sobreaquecimento dos condutores;
Sobreaquecimento das tomadas;
Formação de arco voltaico;
Descarga eletrostática.

Assim, de forma sistemática, o investigador deve agir da seguinte forma:


Começar por verificar o sistema elétrico nos quadros (desde a baixada, chegada ao quadro e
aos terminais de utilização, etc.);
Observar a dimensão e o estado dos dispositivos de proteção de sobrecarga (ou seja,
fusíveis, interruptores, disjuntores, etc.);
Em seguida isolar os protetores queimados, danificados, desviados ou que tenham disparado
como prova e registar quais os circuitos que passavam por estes protetores;
Verificar se os protetores intactos têm uma instalação adequada ou se existem sinais de que
foram mexidos;
Avaliar a instalação elétrica para se certificar se está dimensionada para suportar de forma
segura a carga elétrica a ela atribuída;
Seguir a instalação elétrica desde quando até à área que se suspeita ser o PI, se for
necessário providenciar pelas plantas da instalação elétrica;
Observar o estado físico dos circuitos - procurar riscos de, pe., ligações fora das caixas,
ligações desadaptadas, interruptores gastos, ligações soltas e caixas de derivação destapadas;
Verificar todas as caixas de fusíveis e interruptores suplementares;
Estabelecer, caso seja possível, se os dispositivos e outros equipamentos elétricos estavam
ligados aos circuitos nominais apropriados;
Prestar especial atenção a quaisquer falhas na instalação elétrica;
Avaliar as extremidades aguçadas, salpicadas, com “gotas” e irregulares, na instalação elétrica,
que possam ter sido causadas por sobrecarga, curto-circuitos ou por danos devido a incêndio
externo. Verificar se existe algum dispositivo ou circuito na área de origem.

Muitas vezes a análise dos condutores quebrados pode indicar como é que o incêndio começou.
Há que ter em conta que os curto-circuitos podem provocar incêndios e que os incêndios podem
provocar curto-circuitos.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 157


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Os fios quebrados resultam normalmente de um curto-circuito ou de um fio que foi apanhado numa
parte excecionalmente quente do incêndio. As sobrecargas simples raramente fazem com que o fio
quebre. As pontas dos fios quebrados normalmente “contam a história” de como o fio de quebrou:
Se o fio foi apanhado de forma inocente num local quente, as pontas do fio serão geralmente
lisas e aguçadas;
O fio de cobre, pe., derrete a uma temperatura de quase 1100°C e o alumínio derrete a
uma temperatura de cerca de 650°C. Depois do metal ter amolecido cede devido ao seu
próprio peso. A quebra resultante é semelhante ao barro ou caramelo quando é puxado.
O fio está esticado e vai-se estreitando progressivamente até finalmente se separar;
Por sua vez, a quebra direta por curto-circuito tem dois efeitos:
1. Através de salpicos, em que o metal salpica e deixa depósitos no fio, porque o campo
magnético produzido pela sobretensão da corrente arranca pequenos pedaços de metal
do fio. Quando o campo pára, alguns dos pedaços voltam para trás. Este mesmo
fenómeno ocorre quando um fusível cede a um curto-circuito;
2. O segundo efeito num fio encurtado é a formação de uma “gota” na ponta. À medida que
o fio vai derretendo no calor de um curto-circuito, a tensão superficial na poça líquida do
metal forma-a numa “gota” ou “lágrima”. O processo é semelhante à formação de uma
gota na ponta de uma estalactite a derreter;
Por fim, as extremidades de alguns fios quebrados não são aguçadas, salpicadas nem com
contas, estão apenas irregulares;
Estes fios ficaram provavelmente frágeis no calor do incêndio e quebraram sob alguma
força mecânica aplicada na altura. Esta força pode ter sido provocada por um choque ou
um empurrão que tenha ocorrido durante o combate ao incêndio ou por um colapso da
estrutura;
Se estava a passar corrente nos fios na altura que se quebraram, algumas das
extremidades poderão estar esburacadas devido à formação de arco;
Os dois padrões mais importantes de destruição do isolamento de fios condutores são
denominados por:
 "Isolamento em camisa" - indica que o fio foi aquecido a partir de dentro. A
parte interior do isolamento (ou seja, a parte mais perto do fio), aquece mais
rapidamente do que as coberturas exteriores. O isolamento atrai as partes soltas
do fio e estende-se a partir delas. Muitos peritos são da opinião de que o
isolamento em camisa é um indicador fiável da ocorrência de uma sobrecarga
no fio;
 "Isolamento aderente” - a fonte de calor foi exterior. O isolamento é destruído
de forma uniforme pelo calor à volta do exterior do fio. As ligações queimadas
colam ao metal que está por baixo;
Estas indicações incluem o estado do fusível e dos elementos interruptores e a utilização
de dispositivos de alta energia na altura do incêndio;
Sempre que existam dúvidas quando ao sistema elétrico em causa, deve-se recorrer a
profissionais do ramo, preferencialmente quem elaborou o referido circuito ou sistema.

19.4.2. OUTRAS CAUSAS

SINAIS DE EXPLOSÃO
As fugas de gás provocam explosões. Importa por isso:
Verificar os dispositivos e válvulas de gás para ver se estes estão abertos ou fechados;

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 158


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Procurar abraçadeiras de tubos soltas e tubagens serradas ou cortadas ao meio;


Verificar também se existem alguns dispositivos de gás em sítios pouco comuns.
Nos casos em que gases mais leves do que o ar foram a causa de uma explosão, as paredes
estarão bastante queimadas ou rebentadas no topo.
Nos casos em que o gás era mais pesado do que o ar, as paredes podem ter-se partido
completamente devido ao rebentamento da base.

CANALIZAÇÕES DE AQUECIMENTO CENTRAL


83
Quando se aplica calor a materiais derivados da madeira, poderá ocorrer uma ação de pirólise
que absorve o oxigénio e provoca o sobreaquecimento  Concomitantemente, a madeira neste
estado irá incendiar-se a uma temperatura mais baixa do que o normal.

IGNIÇÃO ESPONTÂNEA

Para se considerar a ignição espontânea como a causa, há que ter em conta que todas as
provas suportam a sua teoria.

Algumas das causas que foram registadas como ignição espontânea, após uma investigação
subsequente aprofundada, provou-se não se enquadrarem nesta categoria.

Quando se considera que a causa é a ignição espontânea, importa por isso ter em conta que:

Alguns materiais orgânicos e certos metais estão sujeitos à ignição espontânea nas
circunstâncias certas;
As caraterísticas da ignição espontânea são uma carbonização interna acentuada no
ponto de ignição, com uma certa distância de material bastante denso queimado;
O fator temporal para a ignição espontânea ocorrer, pode variar entre várias horas a
meses;
Os combustíveis sólidos como, pe., a madeira, o papel e trapos, podem ser encontrados
na maioria dos edifícios;
Há que verificar as camadas dos destroços uma a uma para determinar a sequência na
qual os materiais arderam.

Quadro 36: Substâncias ativas na ignição espontânea

PSEUDO (falsas) ORIGENS DE INCÊNDIO

83
Transformação química que ocorre pela ação de altas temperaturas, porquanto ocorre uma rutura da estrutura
molecular original de um determinado composto num ambiente com pouco ou nenhum oxigénio

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 159


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

As zonas de maior grau de destruição não significam necessariamente que o incêndio tenha de
facto começado nelas. Tais indicadores podem dever-se a uma forma de propagação preferencial
como são os seguintes casos:

Condução por elementos de metal como, pe., traves de aço laminado, divisórias de aço, etc.;
Convecção por eixos, tubagens, etc.;
Radiação a partir de chamas longas;
Elementos altamente inflamáveis (ou seja, luzes de teto, tetos de Plaschem, divisórias de
melamina, etc.);
Efeitos elétricos secundários (ou seja, difusores de luz de plástico);
Cargas de incêndio elevadas - mesmo em peças individuais de mobília;
Grande ventilação pelas portas, veios, janelas, etc.;
Áreas que escaparam no início do combate ao incêndio;
Projeção de fagulhas;
Propagação do incêndio pelo pó;
Deslocação de objetos a arder (ou seja, latas aerossóis num incêndio ou objetos a arder
atingidos por um jacto de água, pe.);
Tubagens de gás ou contadores de gás;
Deslocação de pirólises não ardidas que se podem acender noutro lado.

19.4.3. INCENDIARISMO

Pode suspeitar-se de mão criminosa quando:


Se observa que vários incêndios separados ocorreram quase em simultâneo, sem
causas aparentes, naturais ou normais;
Não há a possibilidade de combustão espontânea, o risco de incêndio é baixo e não há
causa aparente;
O incêndio ocorreu num local improvável;
Se verifica um comportamento estranho dos materiais a arder, o incêndio está
especialmente intenso (principalmente nas fases iniciais);
Existem cheiros estranhos ou característicos como, pe., a gasolina, parafina, borracha ou
óleo;
São encontradas substâncias, materiais, dispositivos que normalmente não seriam
utilizados no local e que poderiam causar ou acelerar a combustão como, por exemplo,
velas;
Existem circunstâncias estranhas como, pe., os sistemas de sprinklers desligados, portas
à prova de fogo abertas e atadas, portas de acesso ao edifício barradas por dentro para
atrasar a entrada, etc.;
A mesma pessoa é vista em mais do que um incêndio, especialmente se apresentar um
comportamento estranho ou der o alarme em diferentes ocasiões;
Ocorrem vários incêndios no mesmo local num período de tempo relativamente curto ou
caso tenham existido incêndios anteriores da mesma natureza na mesma região;
Ocorre um incêndio em stocks de pouco valor ou de fraca qualidade, especialmente se o
proprietário sugerir que parte os bens ardidos eram de uma qualidade superior (considerar
pe.  Burla aos seguros);

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 160


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Ocorre um incêndio de pequena dimensão sem causa aparente que destruiu registos,
livros de contas e de faturas e cartões de seguros, etc. (considerar pe.  Burla aos
seguros);
Ocorre um incêndio em que o dono da propriedade pode ter retirado algum ou alguns
artigos, que não tenham valor real mas talvez sentimental, antes de o incêndio ter
começado (considerar pe.  Burla aos seguros);
Incêndio, especialmente em edifícios de explorações agrícolas, em que o gado ou outros
animais foram soltos antes do início do incêndio (considerar pe.  Burla aos seguros);

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 161


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

20. INCÊNDIOS EM VEÍCULOS AUTOMÓVEIS

Seguindo a mesma metodologia até agora adotada no presente trabalho, relativamente aos veículos
terrestres – mormente veículos automóveis e motociclos – (por serem as situações mais frequentes),
importa destacar que, em termos de cenário de crime, são espaços mais confinados e menores.
Poder-se-á pensar, a priori, que um incêndio num veículo automóvel que se desenvolva muito
rapidamente, indicia ato criminoso. Porém, não será bem assim. Os automóveis modernos possuem
cada vez mais tipos e quantidades de materiais altamente inflamáveis, capazes de provocar uma tal
dimensão de danos, pelo que não será necessário alimentar o incêndio com qualquer líquido acelerante
como a gasolina. De facto, um dos compartimentos, o motor, produz corrente elétrica e possui
simultaneamente combustível (e óleos sob pressão).
Outras partes possuem também corrente elétrica e são de fácil combustão, pois toda a estrutura metálica
é boa condutora de calor e os seus interiores e revestimentos são também facilmente combustíveis. O
facto ainda de existir uma grande superfície envidraçada (automóveis) facilmente destrutível, contribui
para uma sobre oxigenação do espaço e consequente aumento da intensidade e rapidez da propagação.
A análise dos padrões de fogo ou o grau de destruição deve ser feita com muita cautela.
As interpretações ou conclusões advindas devem ser sempre correlacionadas com a eventual prova
testemunhal existente, análises laboratoriais e registos de manutenção da viatura (onde constem o tipo,
data e/ou eventuais falhas mecânica ou elétricas detetadas).
Deve-se estar ainda minimamente familiarizado com a realidade automóvel (estrutura, mecânica e
funcionamento).
Com um determinado tipo de combustível e uma fonte de ignição, o tamanho relativamente pequeno de
um veículo pode originar uma mais rápida propagação das chamas do que, por exemplo, numa
habitação.
A intensidade do fogo tende a destruir eventuais vestígios indiciadores das causas (como sempre, o fogo
como principal inimigo da investigação).

20.1. GENERALIDADES

O calor sobe naturalmente e o fluxo de líquidos inflamáveis desce para as áreas mais baixas;
Ter em conta que é mais fácil o fogo começar acidentalmente numa área do motor quente do
que num motor frio. Também as chamas vão queimar e expandir-se mais rapidamente num
compartimento do motor quente;
Os danos são geralmente grandes, rápidos e abrangentes. Normalmente, no prazo de 15
minutos, ocorre grande destruição e, em muitos casos, as provas que indicam a origem do
84
incêndio são destruídas .
Uma falha do sistema de combustível  Início de chama rápida;
Os incêndios de causa elétrica geralmente desenvolvem-se a partir de um estado latente
lento;
Sistema de combustível:
o Grande grau de destruição na zona de origem;
o Na zona da falha ou derrame, as superfícies são limpas e bem descoloridas;

84
Mais uma vez o fogo como maior inimigo da investigação criminal

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 162


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o O início do incêndio é muitas vezes descrito como de imediato (muito rápido) e de


explosão, geralmente durante o arranque;
Sistema de lubrificação:
o Inclui sistemas de lubrificação do motor, transmissão e direção hidráulica;
o Derrames no motor dianteiro e traseiro, selos, tampas de válvulas, filtro de óleo, cárter
de óleo, coletor de admissão, etc.; tubagens, conexões de aperto, reservatório de fluido,
vedação da transmissão traseira, tubo de ventilação e tubo de entrada de óleo;
o Relatos de fumo branco antes da descoberta de chama;
o O fogo inicia-se com a viatura imobilizada ou passados uns 10 minutos depois de
estacionada;
Sistema elétrico:
85
o A maioria das falhas/anomalias verifica-se ao nível dos fusíveis, relés , comutadores,
bateria;
 Aquecimento da resistência elétrica durante o fluxo de corrente, através de uma
ligação fraca ou de um fio danificado/deteriorado;

20.2. AFERIR O PI - INDICADORES E PROCEDIMENTOS

No caso dos veículos automóveis, o queimado ou danos padrões existentes nos painéis da carroçaria,
no compartimento do motor, nos pneus e no interior do veículo são muitas vezes utilizados para
localizar o PI e consequentemente para a determinação de causa do incêndio.
Determinar a origem (PI) e a causa de um incêndio num veículo implica, entre outros aspetos, que o
investigador tenha em consideração o seguinte:
Recolher informações quanto a eventuais anteriores ocorrências que, de alguma forma,
possam ter proporcionado as condições de ignição do incêndio (conflitos, problemas financeiros,
vinganças, ameaças, etc.);
Saber o historial e uso do veículo envolvido;
Conhecer a mecânica e materiais estruturantes do veículo;
Apurar recentes intervenções mecânicas e/ou elétricas (peças reparadas e/ou substituídas,
pe.);
Indicam-se de seguida alguns indicadores e procedimentos que visam localizar em que parte do
veículo começou o fogo – o PI:
Aferir qual a zona de maior carbonização (à frente ou atrás);

©José Vaz, EA

Fig. 139: Visão geral do exterior para aferir zona de maior dano (chama direta no banco)

85
Dispositivo eletromecânico que serve para ligar e desligar sistemas elétricos. Permite fazer a “ponte” entre
circuitos diferentes

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 163


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Aferir qual a zona mais baixa de carbonização (nas portas, piso, etc.);
Se toda a carroçaria estiver queimada de forma uniforme, ponderar possibilidade de ter sido
regada com líquido combustível acelerante no tejadilho (o qual escorreu depois, penetrando
no interior através de frisos e aberturas do veículo);

©José Vaz, EA

Fig. 140: Viatura incendiada por derrame de líquido combustível na carroçaria (veículo roubado)

Observar se junto das rodas (em cima/debaixo do pneu) ou compartimentos das mesmas
existem vestígios de líquidos acelerantes ou qualquer material neles embebidos (papéis
enrolados, trapos, desperdícios, etc.);

©José Vaz, EA

Fig. 141: Viatura incendiada através de material embebido em combustível colocado junto da roda traseira

©José Vaz, EA

Fig. 142: Tentativa de incêndio por colocação de algo a arder em cima de pneu

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 164


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

Averiguar se a entrada para fornecimento de combustível está intacta (com tampa) ou se ali
existe algum tipo de material inflamável (mecha de pano, p.e.);
Verificar, no interior das portas, a altura de maior dano;
No exterior da carroçaria, aferi qual a zona de maior destempera  A tinta está
completamente consumida e observa-se o metal (depois de algum tempo ao ar livre, esta zona
fica mais rapidamente ferrugenta, pois ardeu a pintura e produtos protetores do metal);
Ao nível do motor:
o Mangueiras queimadas? Existem marcas em cone invertido “tatuadas” nos
componentes?

Marcas “tatuadas” Mangueira danificada


Fig. 143: Motor (marca “tatuada” e mangueira danificada)

o Existem mangueiras rasgadas, danificadas, cortadas ou desligadas?

Fig. 144: Motor (mangueira desligada)

o Qual a região mais danificada  PI;

Fig. 145: Motor (região mais danificada)

o Ao nível do “capot”, se estiver queimado somente no exterior  Incendiarismo; se


estiver no interior  Acidente;

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 165


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

No exterior:
o Observar se existem pegadas (pode indiciar a presença de alguém junto do veículo);
o Se existem vidros partidos sem fuligem (pode indiciar uma quebra antes do incêndio);
o Deteção do outro material ou objetos indicadores de intervenção humana dolosa;

Fig. 146: Por chama direta no banco traseiro. Encontrada chave de rodas no exterior (para partir o vidro)

o Procurar eventuais dispositivos/engenhos incendiários ou outro meio de ignição;

©José Vaz, EA

Fig. 147: Chama direta no habitáculo - encontrado isqueiro no exterior

©José Vaz, EA

Fig. 148: Resultado do lançamento de Cocktail Molotov para um stand de carros

No interior do habitáculo:
o Observar se o fogo partiu do interior (analisando bancos, frisos, grelhas e orifícios
próprios do veículo ou a quebra/projeção de vidros para fora);
o Observar o tejadilho e aferir qual a zona de maior abaulamento  Geralmente na
vertical do PI e onde se verificou uma maior temperatura;

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 166


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

o Verificar se existem recipientes estranhos ao veículo  Derrame de líquido combustível


acelerante);
o Aferir a existência de vidros quebrados e não fundidos (observar também no lado de
fora do veículo);
o Procurar eventuais dispositivos/engenhos incendiários ou outro meio de ignição;

©José Vaz, EA

Fig. 149: Lata de líquido combustível acelerante encontrada no habitáculo

Ao nível do sistema elétrico:


o Averiguar se a zona mais carbonizada coincide com material ou sistemas elétricos
(bateria, caixa de fusíveis, comutadores, disjuntores, etc.)  Curto-circuito;
o Inspecionar todos os circuitos e cablagens à procura de fios fundidos ou com pontas em
“gota” ou lágrima”;

©José Vaz, EA

Fig. 150: Curto-circuito na cablagem do sistema de abertura elétrica do teto

©José Vaz, EA

Fig. 151: Curto-circuito devido ao sobreaquecimento de um gerador

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 167


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

©José Vaz, EA

Fig. 152: Curto-circuito a partir de componente elétrico no interior do motor

o Observar a bateria (se estiver derretida  Sobreaquecimento);

©José Vaz, EA

Fig. 153: Motor (bateria derretida)

Observar se faltam componentes habituais ou foram trocados por outros de menor valor
(auto-rádio, estofos, jantes, pneus, etc.)  Pode indiciar burla às seguradoras;

Existem estudos que apontam para que “Incêndios acidentais tendem a iniciar-se e a desenvolver-se
lentamente, enquanto incêndios criminosos estão associados a um rápido início de incêndio e
propagação”.

20.3. PRINCIPAIS CAUSAS

20.3.1. ACIDENTAIS

No SISTEMA ELÉTRICO (curto-circuitos, sobreaquecimentos, má manutenção, etc.):


o Pode ocorrer em qualquer sistema de condutores, desde que junto ou em contacto com
ele esteja material combustível;
o Ao nível da bateria, os grampos de aperto podem estar desapertados;
o Sobreaquecimento do sistema elétrico do ar condicionado;
o Na colocação de relés. Nomeadamente para o veículo clássico receber faróis de
halogéneo adotam-se relés que dissipam a potência gerada. Se estes estiverem
danificados, não forem adequados ou estiverem mal colocados, pode originar
sobreaquecimento do circuito elétrico;

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 168


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

No SISTEMA DE COMBUSTÍVEL:
o O tanque do depósito pode não explodir durante o incêndio, mas pode originar o efeito
“maçarico”, resultante da emanação de gases no seu interior com consequente
alimentação da chama;
o Os incêndios desta causa são decorrentes de algum derrame de combustível por algum
componente integrante deste sistema (pe., mangueira de entrada, mangueira de retorno,
bomba, etc.). Precisa contudo de uma fonte de ignição ou energia ativa (pe. uma faísca
resultante de atrito ou de uma qualquer causa elétrica);
o O sistema de injeção eletrônica dos veículos modernos é suscetível de provocar
incêndios, dado possuírem tanto o combustível, como uma fonte de ignição muito
próxima;

FLUÍDO FLASH POINT86 (ºC) PONTO DE IGNIÇÃO87


(ºC)
Gasolina - 43 257
Diesel 52 260
Fluído hidráulico – DOT 3 190 320
Fluído hidráulico – DOT 5 260 410
Óleo lubrificante 150 – 230 260 - 370

Quadro 37: Sistema de combustível auto (temperaturas dos fluídos)

Cigarros/beatas caídas no habitáculo  Descuido


Incêndio na estrutura onde está parqueado.

20.3.2. INTENCIONAIS  INCENDIARISMO

Nos veículos automóveis existem locais mais adequados do que outros para uma ignição dolosa:
Tampa do depósito de gasolina (onde, pe., é colocada uma mecha a arder);
Em cima ou por debaixo dos pneus (onde é colocado qualquer material embebido em
líquido combustível). Existe maior destruição, se o fogo for colocado por debaixo do pneu;
No interior (por chama direta  Pressupõe quebra de vidros)

Em termos de MOTIVAÇÕES,
FRAUDES ÀS SEGURADORAS
Simulando um furto/roubo ou mesmo acidente com o intuito de receber a respetiva
indemnização.
Face ao cenário de denúncia fraudulenta do furto/roubo, é frequente, nos destroços,
encontrarem-se as chaves e outros itens que indicam que o veículo não foi furtado/roubado.

86
Ou temperatura de INFLAMAÇÃO: Temperatura mínima à qual uma substância é capaz de emitir vapores
combustíveis em quantidade suficiente para formar com o comburente uma mistura que, por ação de uma fonte de
energia, se pode inflamar, extinguindo-se a combustão após a retirada dessa fonte
87
Temperatura mínima à qual os vapores libertados por uma substância (sólida ou líquida) ou um gás combustível
entram espontaneamente em combustão (autoinflamam-se) mesmo sem a presença de uma fonte da energia exterior

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 169


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

AMEAÇAS / VINGANÇAS
O incêndio de veículos é muitas vezes uma forma de intimidação ou ameaça face a
desentendimentos familiares e/ou passionais, interesses comerciais, etc..
Geralmente os autores estão muito longe de serem profissionais ou de perceberem a dinâmica e
o contexto de construção do automóvel. Por isso, os incêndios são provocados de forma arcaica
e com recurso a materiais facilmente ao alcance de todos.
A título de exemplo e, precisamente porque os meios de ignição estão ao alcance de
todos (os líquidos combustíveis acelerantes, a entrada no habitáculo para iniciar o fogo
com chama direta ou mesmo por quebra dos vidros, etc.), o incêndio em veículo é uma
das formas mais “cobardes” e “sub-reptícias” de lesar alguém.
Outra curiosidade em termos de investigação, é de que muitas vezes os autores residem
próximos do veículo e consequentemente do lesado.
É frequente ainda existirem ameaças ou atitudes intimidatórias prévias ou mesmo, a
posteriori, alguém a reivindicar a autoria.

OCULTAÇÃO DE OUTRO(S) CRIME(S)


Incêndios para encobrir um crime ou destruir provas, nem sempre são óbvios, uma vez que,
geralmente, lida-se com profissionais do crime que sabem efetivamente roubar veículos.
A realidade do Carjacking é bem patente não só em Portugal. A violência usada é extrema e as
viaturas são utilizadas para a consumação de crimes e depois abandonadas.
O ato de incendiar tem como objetivo eliminar impressões digitais ou qualquer outra evidência
que possa ter sido deixado para trás pelos criminosos e que conduza a uma cabal identificação
dos mesmos.
Habitualmente o veículo é levado para um local ermo com o propósito de não serem detetados e
possibilitar uma queima completa da viatura.

VANDALISMO
Outros incêndios não têm necessariamente uma finalidade concreta. Simplesmente são por puro
vandalismo ou prazer de destruição ou de observação da dinâmica do fogo ou meios de
combate.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 170


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

VII. CONCLUSÃO

Com o presente trabalho, tal como mencionado inicialmente,


pretendeu-se facultar um conjunto de conceitos, procedimentos
sistemáticos e otimizados, de uma forma bastante prática e
intuitiva, aos investigadores que trabalham na vertente da
determinação das causas dos incêndios.

Sobre as tipologias abordadas – incêndios florestais, em


estruturas edificadas e veículos automóveis -, muito mais haveria
a dizer, por se tratar de vertentes amplas e muito heterogéneas.

A compilação, adaptação e redação de textos, são da


responsabilidade do autor, bem como a sugestão de algum
expediente a elaborar.

Quanto a este último item (expediente), são sugestões ou


orientações de trabalho que, obviamente (e assim espera o autor),
possam ser adaptadas e/ou tidas em consideração nas mais
variadas situações e que sirvam como guidelines ou checklists.

Tomou a liberdade de estruturar as peças de expediente em


termos não só de conteúdo mas também de forma. Um conteúdo
abrangente, com as informações essenciais e uma forma intuitiva,
prática e uniforme, por forma a ser ao mesmo tempo “agradável à
vista” e espelhe de certa forma uma qualidade e saber fazer por
parte da Polícia Judiciária.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 171


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 172


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

OBRAS DE REFERÊNCIA
BRAGA, George Cajaty Barbosa. “Investigação de incêndio”. Capítulo XXII do livro "A
segurança contra incêndio no Brasil". São Paulo: Projeto Editora, 2008. ISBN:
978-85-61295-00-4;
BRAZ, José. “INVESTIGAÇÃO CRIMINAL – A organização, o método e a prova. Os desafios
da nova criminalidade”. Editora Almedina. Coimbra (2009). ISBN 978-972-40-3979-4;
CARVALHO, Josefa B. e LOPES, José P. “Classificação de incêndios florestais. Manual do
utilizador”. Lisboa: DGF, 2001;
CASTRO, Carlos F. e outros. “Combate a incêndios florestais, vol. XIII: Manual de Formação
Inicial do Bombeiro”. 2ª Ed. Sintra: ENB, 2003;
CASTRO, Carlos F. e outros. “Combate a incêndios urbanos e industriais, vol. X: Manual de
Formação Inicial do Bombeiro”. 2ª Ed. Sintra: ENB, 2005;
CÍRCULO DE LEITORES. “Memória do mundo – das origens ao ano 2000”. Ed. LAROUSE.
Lisboa, 2000;
ESTANISLAU, J. “Prevenção e proteção contra incêndio – Manual do formando”.
PERFIL, DELTA CONSULTORES E ISPA. Maio-2007;
FERNANDES P, Botelho H, LOUREIRO C. “Manual de formação para a técnica do
fogo controlado”. Vila Real: UTAD. 2002;
GONÇALVES, A J B; Lourenço, L e SILVA, João Dias. “ Manifestação do risco de
incêndio florestal – causas e investigação criminal”. Artigo da revista
“RISCOS – Associação portuguesa de riscos, prevenção e segurança”. Pág 81 a
87. Lisboa. 2006;
GUERRA, António M. et COELHO, José A. et LEITÃO, Ruben E. “Fenomenologia da
combustão e agentes extintores, vol. VII: Manual de Formação Inicial do
Bombeiro”. 2ª Ed. Sintra: ENB, 2006;
HIGGINS, Mike. “Vehicle Fires a Practical Approach”. K-CHEM Laboratories. EUA –
Massachusetts (www.k-chem.net) ;
HOPKINS, Ronald L e outros. “Fire Pattern Persistence and Predictability on Interior
Finish and Construction Materials During Pre and Post Flashover
Compartment Fires”. EUA. 2006;
MARTINS, Samuel M R. “Incêndios florestais – comportamento, segurança e
extinção”. Faculdade de Ciências e Tecnologia - Departamento de Engenharia
Mecânica. Mestrado Interdisciplinar em Dinâmicas Sociais, Riscos Naturais e
Tecnológicos. Coimbra. 2010;
th
NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION. “Fire Protection Handbook”. 17
Edition. Quincy, Massachusetts: National Fire. Protection Association, 1992;
NOON, Randall K. “A Pocket Guide to Arson and Fire Investigation”. Factory Mutual
Engineering Corp., 3rd ed., 1992. ISBN 0-8493-0911-5;
NUNES, Larissa T S Marins. “Padrões de Queima em Edificações”. Perita Criminal do
Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal. Brasília – DF.
2006;
NUNES, Larissa T S Marins. “Introdução à ciência do fogo”. Perita Criminal do
Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal. Brasília – DF.
2006;
PEREIRA, Maj. Albino L P. “Perícia em fogo em veículo”. Corpo de bombeiros militar
do estado de Rio de Janeiro;
PEREIRA, Maj. ALBINO L P. “Perícia em incêndios florestais”. Corpo de bombeiros
militar do estado de Rio de Janeiro;

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 173


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

POLÍCIA JUDICIÁRIA. “Inspeção Judiciária – Manual de procedimentos””. 1ª Ed. Lisboa:


Diretoria Nacional, 2009. ISBN 978-989-96126-0-0;
POLÍCIA JUDICIÁRIA. “Manual para determinação das causas dos incêndios florestais”.
Grupo Nacional Coordenador dos Fogos Selvagens (NWCG). Lisboa: INPCC, Ago.1989;
SANTOS, Cristiano C. et NEVES, Heliodoro S. “Matérias Perigosas, vol. IX: Manual de
Formação Inicial do Bombeiro”. 1ª Ed. Sintra: ENB, 2005;
U.S. Department of Justice, “Fire and Arson Scene Evidence: a Guide for Public
Safety Personnel”, June 2000;
UNITED STATES FIRE ADMINISTRATION - FEMA. ”Basic tools and resources for fire
investigators: A handbook”. Sept-1992;

DOCUMENTOS ELECTRÓNICOS

NFPA (1995). “Guide for Fire and Explosion Investigations”. Trad. ALARCÓN, Alfonso. Ed:
MAPFRE (921-1995). ISBN 84-7100-915-3 (acessível no site:
http://www.nfpa.org/aboutthecodes/AboutTheCodes.asp?DocNum=921);
PORTUGAL, Autoridade Florestal Nacional. “Instruções para o trabalho de campo do
Inventário Florestal Nacional”. Lisboa: Direção de Unidade de Gestão Florestal,
Janeiro.2009 (acessível no site: http://www.afn.min-
agricultura.pt/portal/ifn/resource/ficheiros/ifn/MCAMPO_IFN_Final.pdf);
VIEITO, Rui M. T. et GUIMARÃES, Sérgio A. N.. “Manual de atuação em situações de
incêndio e geradoras de pânico”. Arcos de Valdevez - Maio.2004 (consultado a
2010.04.18 no site: http://www.epralima.com/inforadapt2europe/manuais/manual3.pdf);

LEGISLAÇÃO
Decreto-Lei n.º 22/2006, de 02 de Fevereiro. Diário da República I Série-A. N.º 24
(2006.02.02), pág. 786 – Criação do SEPNA e GIPS na GNR;
Decreto-Lei n.º 241/2007, de 21 de Junho. Diário da República I Série-A. N.º 118 (2007.06.21),
pág. 3925 – Regime Jurídico dos Bombeiros;

WEBGRAFIA
Site: http://www.interfire.org/ (acedido em 2013-07-23)
Site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_f%C3%ADsicos_da_mat%C3%A9ria (acedido em
2013-07-23)
Site: http://www.icnf.pt/portal/florestas (acedido em 2013-09-09)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 174


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

IX. ANEXOS

I. INFORMAÇÃO DE SERVIÇO inicial (checklist do piquete)

II. FICHA DE CAMPO para incêndios

III. REPORTAGEM FOTOGRÁFICA

IV. CROQUIS

V. RELATÓRIO DA INSPEÇÃO JUDICIÁRIA

VI. GUIA ENFSI

VII. MANUAL “Fire and Arson Scene Evidence” (EUA)

VIII. LISTA DE CODIFICAÇÃO de causas dos incêndios florestais


(ICNF)

IX. QUADROS INDICATIVOS DE ALGUNS VALORES DOS


COMBUSTÍVEIS

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 175


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

ANEXO I
- INFORMAÇÃO DE SERVIÇO inicial (checklist do piquete) -

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 176


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

INFORMAÇÃO DE SERVIÇO
Para: Exmo. Senhor Coordenador de Piquete,

C/c:

De: , (n.º )

Assunto: Comunicação de CRIME DE INCÊNDIO (cfr. p.p. art.º 272º ou 274º do CP)

Cumpre-me levar ao conhecimento de V. Exa. os seguintes factos Despacho


comunicados a este piquete:

COMUNICAÇÃO
Tipo de ocorrência Florestal Urbano/Industrial Transporte
GDH da comunicação Fax Telef Mail
Entidade comunicante
Nome e contacto do
elemento comunicante
CARACTERÍSTICAS DO INCÊNDIO
Tipo de local
Id. do veículo (mat. e ano
fabrico)
Valor do veículo
Morada completa
GDH do seu início
Área/material ardido
Perigo de propagação ou Não
para a vida de terceiros?
Sim de que tipo
Extinto Sim às
Não Obs:
Provável causa
O local foi preservado Não Sim
Entidades intervenientes GNR de
Bombeiros de
Outra(s)
VÍTIMA(S)/LESADO(S) Não Sim
Identificação(ões)
SUSPEITO(S)/ARGUIDO(S) Não Sim
Identificação(ões)

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 177


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

OBS

Foi solicitado à entidade comunicante para proceder à adequada preservação do espaço e


remeter a este DIC cópia do expediente elaborado pela via mais expedita.
Providenciada a deslocação desta PJ ao local:
Sim , por efetivos do: piquete SPI
Não , porquanto (indicar o motivo).
***
Atendendo ao referido pelo ora interlocutor, o crime em apreço é da competência reservada
desta PJ (cfr. art.º 7º, n.º 3, al. f) da LOIC), pelo que foi/não foi atribuído o NUIPC

***
É tudo quanto me cumpre informar V. Exa. para os efeitos tidos por convenientes.

O Inspetor de Piquete,

/escrever o nome completo/

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 178


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ANEXO II
- FICHA DE CAMPO para incêndios -

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ANEXO III
- REPORTAGEM FOTOGRÁFICA -

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 181


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DIC REPORTAGEM FOTOGRÁFICA Realizada em:


LEIRIA Autor

NUIPC Compilada em:


Inspetor: OCORRÊNCIA: Autor
LOCAL:
GDH da ocorrência:

Foto 1: #####################################

Foto 2: #####################################

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 182


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ANEXO IV
- CROQUIS -

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 183


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DIC CROQUIS Realizada em:


LEIRIA Autor

NUIPC Compilada em:


Inspetor: OCORRÊNCIA: Autor
LOCAL:
GDH da ocorrência:

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 184


SEBENTA – Investigação de Incêndios 2013

DIC CROQUIS Realizada em:


LEIRIA Autor

NUIPC Compilada em:


Inspetor: OCORRÊNCIA: Autor
LOCAL:
GDH da ocorrência:

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ANEXO V
- RELATÓRIO DA INSPEÇÃO JUDICIÁRIA -

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RELATÓRIO

DA

INSPEÇÃO JUDICIÁRIA

NAI/NUIPC 9999/13.4JALRA

OCORRÊNCIA INCÊNDIO FLORESTAL

DATA/HORA 22.10H00.MAI.2013

LOCAL DOS FACTOS Serra de Srª do Monte, Cortes, LEIRIA


Filipe Ferreira, IC
Constituição da equipa João Francisco, Inspetor
Bruno Faria, Especialista Adjunto

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 187


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COMUNICAÇÃO

GDH (Grupo Data Hora) da comunicação:

Entidade comunicante:

INSPEÇÃO JUDICIÁRIA
Constituição da equipa:

Hora da saída do departamento:

Hora de chegada ao local:

Hora do início da Inspeção:

PRIMEIROS ELEMENTOS INSTITUCIONAIS


Entidades de combate ao incêndio:

Identificação do OPC no local:

Dados, informações, referências policiais preliminares:

CARACTERIZAÇÃO DO INCÊNDIO
Tipo de incêndio (com referência ao enquadramento penal):

GDH do seu início:

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 188


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GDH da sua extinção:

Toponímia do local / n.º de polícia / identificação do meio de transporte:

Coordenadas GPS:

Caraterização do local (em termos de características físicas, orografia, combustíveis existentes, tipo de
transporte, etc.):

Tipo de prejuízos / bens ou materiais destruídos:

Área ardida:

Valor dos prejuízos / bens destruídos:

TIPIFICAÇÃO PENAL
Fundamentação do eventual perigo para a vida ou para a integridade física de outrem ou bens
patrimoniais alheios:

DILIGÊNCIAS IMEDIATAS (Medidas Cautelares e de Polícia)

PROVA TESTEMUNHAL
TESTEMUNHAS - Identificação e dados informais:
1.

VÍTIMAS / LESADOS - Identificação e dados informais:

1.

SUSPEITOS / ARGUIDOS - Identificação e dados informais:

1.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 189


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PROVA MATERIAL
Correlação entre os vestígios recolhidos e indícios apurados com o(s) meio(s) de ignição:

HIPÓTESE MAIS PROVÁVEL PARA A(S) CAUSA(S)


Localização do ponto de início:

Meio(s)/forma(s) de ignição:

Sentido e dinâmica da propagação do fogo:

CONCLUSÕES PRELIMINARES DA INSPEÇÃO


Mencionando as eventuais suspeitas fundadas contra suspeito(s) em termos de:
MEIOS:
OPORTUNIDADE:
MÓBIL:
FORMA DE ATUAÇÃO:

ANEXOS
- Croquis do local;
- Reportagem Fotográfica;
- Expediente elaborado pelo OPC competente;
- Relatório dos bombeiros;
- Etc.

Leiria, ,

O Chefe da Equipa de Inspeção Judiciária,

/nome completo, categoria)

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ANEXO VI
- GUIA ENFSI -

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http://www.enfsi.eu/

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ANEXO VII
- MANUAL “Fire and Arson Scene Evidence” (EUA) -

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ANEXO VIII
- LISTA DE CODIFICAÇÃO de causas dos incêndios florestais (ICNF) -

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©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 198


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©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 199


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ANEXO IX
- QUADROS INDICATIVOS DE ALGUNS VALORES DOS COMBUSTÍVEIS -

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 200


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INDICAÇÕES SOBRE TEMPERATURAS DOS METAIS

LÍQUIDOS E RESPETIVOS PONTOS DE FUSÃO E TEMPERATURAS DE AUTO-


IGNIÇÃO

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 201


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GASES E DAS RESPETIVAS TEMPERATURAS DE

AUTO-IGNIÇÃO

MATERIAIS DE AUTO-AQUECIMENTO

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 202


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COMPORTAMENTO DO VIDRO A TEMPERATURAS ELEVADAS

Raramente o vidro é encontrado em poças líquidas amorfas em locais de incêndio, uma vez que, à
medida que se torna menos viscoso, desce para uma posição mais baixa e normalmente mais fria.

Amostras de gases que foram aquecidas num forno durante períodos de 30 minutos.

INDICAÇÕES DAS TEMPERATURAS A PARTIR DOS

PLÁSTICOS
Os plásticos podem fornecer indicações úteis sobre as temperaturas atingidas nas partes do edifício que
não estavam diretamente envolvidas no incêndio.
À semelhança do vidro, os plásticos não têm pontos de fusão claramente definidos, mas amolecem
dentro de uma gama de temperatura.

©Filipe Ferreira, Inspetor Chefe Página 203

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