Você está na página 1de 11

NOTA TÉCNICA Nº 001/2022 – DAPS/DVS – SES

TEMA: ORIENTAÇÕES BÁSICAS PARA O MANEJO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DA


SÍNDROME GRIPAL E SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE DIANTE O
AUMENTO DA CIRCULAÇÃO DO VÍRUS INFLUENZA A H3N2 FORA DA
SAZONALIDADE.

05 de janeiro de 2022
Aracaju/SE
1. INTRODUÇÃO

A influenza é uma infecção viral aguda que afeta o sistema respiratório,


apresentando elevada transmissibilidade e distribuição global com tendência a se
disseminar em epidemias sazonais, no primeiro semestre de cada ano, podendo também
causar pandemias. Como tem ocorrido em outros estados, Sergipe tem apresentado a
circulação do vírus Influenza A H3N2 já no mês de dezembro.

Em dezembro de 2021, segunda quinzena, foi verificado o aumento dos casos de


Síndrome Gripal (SG) com exames negativos para SARS-CoV-2e com positivação de
forma amostral para o vírus Influenza A H3N2 e outros Influenza A não subtipados.
Além dos casos considerados leves, começaram a ser notificados casos mais graves de
Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), inclusive com evolução para o óbito.
Assim, recomenda-se que os municípios elaborem plano de ação local para
enfrentamento ao surto de Influenza e pandemia da COVID-19.

Destaca-se ainda que estados e municípios permanecem em condição de


enfrentamento a pandemia de COVID-19 e, com isso, as autoridades sanitárias locais
devem orientar a população a procurar os serviços de saúde mediante apresentação de
sintomas, conforme o protocolo para COVID-19 ainda vigente.

Desta maneira, a nota técnica tem o objetivo de padronizar as medidas básicas


para a condução dos casos de SG e SRAG na Atenção Primária no estado de Sergipe.

2. ACOLHIMENTO NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE

A Atenção Primária à Saúde (APS) tem o papel central de ser porta de entrada
preferencial dos usuários no Sistema Único de Saúde de Saúde (SUS). Sendo assim,
considerando que o estado de Sergipe, atualmente, dispõe de 439 Unidades Básicas de
Saúde (UBS’s) ativas, distribuídas entre os 75 municípios, com 696 Equipes de Saúde
da Família (eSF) implantadas, e que o acolhimento às condições agudas compõe o
escopo de atribuições inerentes às eSF’s, é essencial que seja garantido o acolhimento, a
classificação de risco e a identificação de intervenções de cuidado necessárias aos
usuários com síndromes gripais em tempo oportuno em todas as unidades da Atenção
Primária, de acordo com as orientações estabelecidas nos protocolos e notas técnicas
vigentes, bem como os encaminhamentos necessários a outros pontos da Rede de
Atenção à Saúde, conforme necessidade.

3. MANEJO CLÍNICO

3.1 DIAGNÓSTICO
3.1.1 DIAGNÓSTICO CLÍNICO

O adequado manejo e a otimização dos recursos disponíveis pelos profissionais


nos serviços de saúde são práticas fundamentais ao enfrentamento do surto de Influenza
e pandemia de COVID-19. As equipes de saúde devem classificar a gravidade dos casos
de acordo com os conceitos padronizados pelo Ministério da Saúde, para que ocorra a
identificação dos usuários com perfil de atendimento na Atenção Primária ou
atendimento hospitalar, conforme Quadro 1, apresentado.

Quadro 1 - Compatrativo sintomatologia entre Síndorme Gripal (SG) e Síndrome


Respiratória Aguda Grave (SRAG).
SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA
SÍNDROME GRIPAL
GRAVE
A partir de 2 anos de idade Qualquer idade
Febre de início súbito (mesmo que Com síndrome gripal;
referida); E que apresente:
Tosse ou dor de garganta; Dispneia ou sinais de gravidade* ou
E pelo menos um dos seguintes sintomas: indivíduo com quadro de insuficiência
• Cefaleia; respiratória aguda, durante período de alta
• Mialgia ou artralgia, na ausência transmissibilidade.
de outro diagnóstico específico.

Menos de 2 anos de idade Em crianças


Febre de início súbito (mesmo que Além dos itens anteriores, observar:
referida); • Batimentos de asa de nariz;
E sintomas respiratórios: • Cianose;
• Tosse; • Tiragem intercostal;
• Coriza • Desidratação;
• Obstrução nasal, na ausência de • Inapetência.
outro diagnóstico específico.
*Sinais de gravidade

• Saturação de SpO2 <95% em ar ambiente.


• Sinais de desconforto respiratório ou aumento da frequência respiratória avaliada
de acordo com a idade.
• Piora nas condições clínicas de doença de base.
• Hipotensão em relação à pressão arterial habitual do paciente.

OBSERVAÇÃO: É válido frisar que o período de transmissão é de 1 dia antes do


aparecimento dos sintomas até 5 a 7 dias após adoecer. Assim como, o tempo médio da
exposição e infecção pelos indivíduos pela gripe até o início dos sintomas é de 2 dias,
mas pode variar entre 1 e 4 dias.

3.1.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL


Apesar de estarmos em um momento de aumento de casos de Influenza A
H3N2, estamos em plena pandemia de COVID-19 e por isso é necessário que seja
intensificada a coleta de exames para o diagnóstico da COVID-19 (RT-PCR ou teste
antigênico para SARS-CoV-2) para TODOS os pacientes com síndrome gripal.

Nos casos de SRAG, somente as amostras negativas para COVID-19 serão


testadas para Influenza.

A secreção da nasofaringe é a amostra clínica preferencial para RT-PCR


(Reverse Transcription Polymerase Chain Reaction) e o período para coleta é
preferencialmente entre o 1o e o 8o dia após o início dos primeiros sintomas. O Teste
Rápido de Antígeno para COVID-19 entre o 1o e o 7o dia após o início dos primeiros
sintomas.

3.1.3 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL


As características clínicas não são específicas e podem ser similares àquelas
causadas por outros vírus respiratórios, que também ocorrem sob a forma de surtos e,
eventualmente, circulam ao mesmo tempo, tais como coronavírus, rinovírus,
parainfluenza, vírus sincicial respiratório, adenovírus, entre outros, o que torna difícil o
diagnóstico diferencial apenas pelo exame clínico
3.2 CONDUTAS
O quadro 2, abaixo, sugere as condutas comparativas entre a SG e a SRAG.
Quadro 2 - comparativo de manejo para Síndrome Gripal (SG) e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
SÍNDROME GRIPAL (SG)
SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE
Paciente sem fatores de risco ou sem Paciente com fatores de risco ou com sinais de
(SRAG)
sinais de piora do estado clínico piora do estado clínico
Acionar a central de regulação de urgências para avaliar
Encaminhar para coleta de exame (teste Encaminhar para coleta de exame (teste antigênico a necessidade de internação conforme nota técnica
antigênico ou RT-PCR) para Covid-19 ou RT-PCR) para Covid-19 conjunta – DAEU/DVS – SES 29 de dezembro de
2021.
Aferir dos sinais vitais (pressão arterial, frequência
Prescrever e ofertar medicamentos para Prescrever e ofertar medicamentos para alívio de
cardíaca, frequência respiratória e temperatura axilar),
alívio de sintomas; sintomas;
exame cardiorrespiratório e oximetria de pulso.
Iniciar terapêutica imediata de suporte, até a chegada da
regulação, se possível:
Avaliar antibioticoterapia (na suspeita de infecção
Orientar o aumento da ingesta hídrica; Orientar o aumento da ingesta hídrica; bacteriana).
Medicamentos sintomáticos;
Oxigenoterapia sob monitoramento;
Hidratação venosa;
Orientar para tratamento domiciliar; Orientar para tratamento domiciliar; Manter monitoramento clínico.
Orientar para retorno a uma unidade de
Orientar para retorno a uma unidade de atenção
atenção primária ou referência municipal
primária ou referência municipal para atendimento
para atendimento de síndrome gripal em 48 Preencher ficha de notificação compulsória (até 24
de síndrome gripal em 48 horas e se houver sinais
horas e se houver sinais de piora do estado horas). (SIVEP GRIPE)
de piora do estado clínico ou com o aparecimento
clínico ou com o aparecimento de sinais de
de sinais de gravidade
gravidade
Preencher ficha de notificação compulsória Orientar tratamento com o antiviral fosfato de
(até 24 horas). (eSUS NOTIFICA) oseltamivir Tamiflu®
Preencher ficha de notificação compulsória (até 24
horas). (eSUS NOTIFICA)
Quadro 3 - Fatores de risco para complicação em casos de Influenza.
Fatores de risco para complicação em casos de Influenza

Grávidas em qualquer idade gestacional, puérperas até duas semanas após o parto
(incluindo as que tiveram aborto ou perda fetal).

Adultos ≥ 60 anos.

Crianças < 5 anos (sendo que o maior risco de hospitalização é em menores de 2 anos,
especialmente as menores de 6 meses com maior taxa de mortalidade).

População indígena aldeada ou com dificuldade de acesso.

Indivíduos menores de 19 anos de idade em uso prolongado de ácido acetilsalicílico


(risco de síndrome de Reye).

Indivíduos que apresentem:

• Pneumopatias (incluindo asma).


• Pacientes com tuberculose de todas as formas (há evidências de maior
complicação e possibilidade de reativação).
• Cardiovasculopatias (excluindo hipertensão arterial sistêmica).
• Nefropatias.
• Hepatopatias.
• Doenças hematológicas (incluindo anemia falciforme).
• Distúrbios metabólicos (incluindo diabetes mellitus).
• Transtornos neurológicos e do desenvolvimento que podem comprometer a
função respiratória ou aumentar o risco de aspiração (disfunção cognitiva, lesão
medular, epilepsia, paralisia cerebral, síndrome de Down, acidente vascular
encefálico – AVE ou doenças neuromusculares).
• Imunossupressão associada a medicamentos (corticoide ≥ 20 mg/dia por mais de
duas semanas, quimioterápicos, inibidores de TNF-alfa) neoplasias, HIV/aids ou
outros.
• Obesidade (especialmente aqueles com índice de massa corporal – IMC ≥ 40 em
adultos).
Figura 1 - Fluxograma de avaliação clínica de usuários com Síndrome Gripal.

Fonte: elaboração própria, 2022.

OBSERVAÇÃO: em todas as situações deve ser realizada notificação, em até 24 horas.

3.3 TRATAMENTO

O tratamento da Síndrome Gripal está baseado na utilização de medicamentos


sintomáticos e hidratação para a maioria dos casos.
A prescrição do fosfato de oseltamivir deve ser considerada baseada em
julgamento clínico dos fatores de risco e comorbidades, preferencialmente nas
primeiras 48 horas após o início da doença, associado a medicamentos sintomáticos e
da hidratação. Em pacientes com condições e fatores de risco para complicações e com
SRAG, o antiviral ainda apresenta benefícios, mesmo se iniciado até cinco dias do
início dos sintomas.
O medicamento está indicado para todos os casos de SRAG e para situações
específicas em casos de síndrome gripal de acordo com o Protocolo de Tratamento da
Influenza 2017
(https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_tratamento_influenza_2017.pdf)
(Quadro 4).
Quadro 4 - Tratamento, posologia e administração do oseltamivir.
DROGA FAIXA ETÁRIA POSOLOGIA
Adulto 75mg, 12/12h,5dias
≤ 15kg 30mg, 12/12h,5dias
Fosfato de Criança maior de 1 ano > 15 kga 23 kg 45mg, 12/12h,5dias
Oseltamivir de idade > 23 kga 40 kg 60mg, 12/12h,5dias
>40kg 75mg, 12/12h,5dias
Criança menor de1ano 0 a 8meses 3mg/kg,12/12h,5dias
de idade 9 a 11meses 3,5mg/kg, 12/12h, 5dias
Fonte: GSK/Roche e CDC adaptado (2011; [2017]).

OBSERVAÇÃO 1: Em pacientes adultos com SRAG na indisponibilidade da


apresentação de 75 mg, e disponibilidade apenas da apresentação de 45 mg, orienta-se a
utilização de 2 comprimidos de 12/12 horas por 5 dias, desde que não haja insuficiência
renal.

OBSERVAÇÃO 2: Em pacientes com insuficiência renal a dose deve ser ajustada


conforme clearance de creatinina.

3.4 NOTIFICAÇÃO
Os casos devem ser notificados conforme sua classificação:

Síndrome Gripal: devem ser notificados dentro do prazo de 24 horas a partir da


suspeita inicial do caso por meio do Sistema e-SUS Notifica
(https://notifica.saude.gov.br/login).

Síndrome Respiratória Aguda Grave, ou que evoluíram para óbito: devem ser
notificados dentro do prazo de 24 horas no Sistema de Informação da Vigilância
Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) (https://sivepgripe.saude.gov.br/sivepgripe).

Em casos de óbitos, além da notificação no SIVEP-Gripe, deve ser relatado para


o e-mail notifica@saude.se.gov.br ou pelo telefone 0800-282 282 2.
3.5 VACINAÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como grupos de elevada


prioridade para a vacinação os profissionais da área da saúde e os idosos. A seguir, sem
ordem de prioridade, as crianças de 6 meses a 5 anos, gestantes e portadores de
determinadas doenças crônicas.

Ao considerar as confirmações recentes de casos de Influenza A H3N2 no estado,


recomenda-se a intensificação vacinal nos municípios que dispõem de estoque, com
oferta da vacina influenza para toda a população a partir dos 06 meses de idade,
priorizando os grupos citados no item anterior.

A vacina da Influenza poderá ser aplicada concomitantemente com a vacina da


COVID-19 e demais vacinas, não mais sendo exigido o intervalo mínimo entre as
vacinas. Não é indicada a vacinação em indivíduos sintomáticos, em fase aguda. A fim
de estimular posteriormente a vacinação, é indicada a vigilância desse paciente.

Ao atender indivíduos com SG ou SRAG, deve-se sempre anotar no prontuário a


informação sobre vacinação para COVID-19 (primeira, segunda e terceira dose e tipo de
imunizante) e para influenza (dose anual).

4. BIOSSEGURANÇA

As precauções padrão devem ser implementadas nas UBS’s. A porta de


entrada/recepção inicial deve estar plenamente organizada para realizar a escuta inicial
breve, compreensão do objetivo do usuário e direcionamento rápido para o atendimento
demandado. Planejar o acesso às unidades de saúde para diminuição do fluxo de
pessoas em circulação, tempo de contato entre pacientes e a disseminação do vírus. Para
isto, recomenda-se utilizar das seguintes estratégias:

Dessa maneira, mediante a necessidade de organização da APS enquanto porta


de entrada preferencial do SUS, seguem as seguintes estratégias a serem adotadas
considerando a realidade local:
a) Garantir a utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) para todo
profissional que mantenha contato com pacientes que apresentem síndrome
gripal, a fim de prestar assistência com segurança;
b) Planejar o acesso às unidades de saúde para redução do fluxo de pessoas em
circulação, tempo de contato entre pacientes e a disseminação dos vírus
circulantes;
c) Sinalizar os fluxos estabelecidos nas unidades de saúde a fim de facilitar a
movimentação dos usuários na unidade;
d) Verificar a viabilidade de fluxos distintos, para realização de exames
complementares, administração de medicamentos ou inalação;
e) Organizar e capacitar a recepção inicial para realizar escuta inicial qualificada e
promover o direcionamento adequado na unidade de saúde, seguindo fluxos
previamente definidos;
f) Organizar a fila por demandas diárias e assegurar distanciamento entre os
usuários nas unidades de saúde;
g) Realizar triagem em espaços ventilados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista a necessidade de enfrentar o atual surto de Influenza e a


permanência da pandemia de COVID-19, reforça-se a necessidade de planejamento das
secretarias municipais de saúde com a elaboração de plano de ação específico
destacando o monitoramento da situação epidemiológica local, bem como as ações não
farmacológicas de prevenção de contágio.

O momento exige grande organização e articulação entre todos os atores do


Sistema Único de Saúde.

Acompanhe as publicações da SES relacionadas a influenza em:

https://www.saude.se.gov.br/influenza-em-sergipe/

Você também pode gostar