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O Sal da Terra e a Luz do mundo – Mt 5.

13-16

Introdução:

O cristianismo não é teórico. Toda doutrina cristã tem uma implicação prática para
a vida do crente.
O caráter cristão não é apenas teórico.
Depois de descrever o caráter do crente, Jesus passa agora a mostrar as
conseqüências deste caráter.
Basicamente Jesus nos ensina que uma vez que o cristão possui o caráter descrito
nas bem aventuranças, ele produz alguns efeitos práticos.
Ele faz isso lançando mão de duas metáforas (figuras de comparação) muito
conhecidas de todos desde antes de seu tempo. Os discípulos de Jesus conheciam bem
o sal e a luz. Estavam familiarizados com estes elementos domésticos.
O sal e a luz são elementos muito comuns em nosso dia-a-dia. Estamos tão
familiarizados com sua presença que somente podemos perceber sua importância
quando: estamos doentes e proibidos de comer sal; Quando a energia acaba e ficamos
sem luz no meio da noite.
Assim, as características destes elementos os tornam indispensáveis à nossa vida.
Por isso a metáfora de Jesus é tão simples e ao mesmo tempo tão profunda.
Ela mostra que o cristão é alguém muito simples em sua essência, mas de grande
poder em sua influência. Isso por causa de sua constituição essencial.
Contudo o efeito desta influencia só pode ser sentido se o cristão estiver em
contato com o mundo. E especialmente se ele mantiver essas características essenciais.
Isso torna indispensável a existência de uma relação entre o cristão e o mundo a sua
volta.
Assim, a idéia fundamental do texto é:

Há uma relação do crente / da igreja com o mundo

A igreja é o sal da terra e a luz do mundo.

Com isso Jesus ensina que há um poder de influência grandioso na igreja


decorrente de seu caráter. E há uma necessidade do mundo em relação a igreja
decorrente de sua condição. Esse poder dado à igreja constitui também sua missão.

O que vamos trabalhar nestes estudos é: 1. Os aspectos desta relação; 2. Os


efeitos desta relação; 3. As condições para que os efeitos sejam os efeitos desejados por
Deus; 4. As conseqüências do não atendimento destas condições para a igreja.
I. Os aspectos da relação da igreja com o mundo

As figuras do Sal e da Luz denotam os aspectos desta relação. Como se dá


relação dos crentes com o mundo:

1. É uma relação de contato – O sal da terra/A luz do mundo

Sal fora do saleiro – O sal não tem função se não for lançado sobre os alimentos.

Cidade na montanha / Luz no velador –


Jo 1.5 – O embate entre as trevas e a luz. Onde a luz chega empurra as trevas.

Ek Klésia – Chamados para fora.


Apostólica – Igreja enviada

Mt 10.16 – Ovelhas para o meio de lobos.


Jo 20.21 – Enviados para relacionar-se.

2. É uma relação não-amigável

O crente está no mundo. Ele não é do mundo, mas está no mundo. –


Jo 17.13-19
Ou seja, essa relação não é tão íntima que igreja dependa do mundo, mas ao
contrário, estão separados pela diferença de caráter expresso nas bem-aventuranças.

A igreja e o mundo são opostos. As figuras usadas por Jesus demonstram isso.
A igreja é o sal. Um elemento quimicamente estável e preservado por suas
características essenciais.
O mundo é um elemento perecível. Está em processo de decomposição e não
pode, por si só, impedir isso.
A igreja é a luz.
O mundo está em trevas.

Paráfrase feita por Caio Fábio

"Vocês vão viver em meio a diferenças, a coisas que lhes são estranhas. Vou jogá-
los dentro de algo que é radicalmente o oposto de vocês. Vocês não estão no mundo para
procurar uniformidade para as suas próprias vidas. Ao contrário, vocês vão viver num
ambiente essencialmente avesso a vocês, para que possam alterá-lo 1."

A relação do crente com o mundo não é uma relação amigável.


Ao contrário.
Jo 15.18 o mundo nos odeia.
Também não devemos amar o mundo.

1
Caio Fábio; Sal fora do saleiro; versão e-book. P. 5.
1Jo 2.15,16
Nem devemos nos conformar com este mundo
Rm 12.1,2
1Pe 2.11,12.

Conclusão:

Um dos grandes dilemas do mundo evangélico de nossos dias é em até que ponto
devemos nos envolver com a cultura.
Neste texto Jesus nos mostra que não podemos escapar de relação com o mundo
e com a cultura ao nosso redor.
Estamos no mundo.
Fomos salpicados nele. Contudo esta relação não pode ser uma relação amigável
de compartilhamento ou de simbiose (vida em conjunto, compartilhamento).
Definitivamente o crente não compartilha da vida do mundo porque não possui o
caráter do mundo.
Então o mundo precisa da igreja, e a igreja tem que estar no mundo sem, contudo,
ser do mundo.
Contudo esta relação é capaz de produz efeitos ou resultados.
No próximo estudo veremos quais são os efeitos desta relação.
II. Os efeitos produzidos na relação da Igreja com o mundo

Os efeitos causados pela igreja em contato com o mundo são decorrentes também
de sua natureza.
Os elementos usados por Jesus nestas metáforas são elementos que representam
a constituição essencial da igreja.
Assim os efeitos produzidos são semelhantes aos efeitos produzidos pelo sal e
pela luz sobre aquilo com o qual entram em contato.

1. Preservação
Presente na figura do sal.
Uma das qualidades do sal é que ele preserva os alimentos do processo de
degradação.
O sal não empresta suas qualidades ao alimento e o torna mais vívido, ao
contrário, o sal age como um anti-séptico impedindo a putrefação dos alimentos sobre os
quais é lançado.

Gn 18. 22-33 – As cidades de Sodoma e Gomorra estavam sendo preservadas por


Deus por causa de Ló e sua família. Como o pecado se agravou muito, Deus preservou o
fiel, e destruiu a cidade. Portanto, no texto está implícito que Deus preserva o mundo por
causa dos seus escolhidos. Quando o tempo de Deus se cumprir ele separará os seus
escolhidos do meio do joio e queimará este em fogo inextinguível.

R.V.G. Tasker: “Os discípulos são chamados a ser um purificador moral em um


mundo onde os padrões morais são baixos, instáveis, ou mesmo inexistentes”.

Como a Igreja exerce essa função e produz este efeito?

A. Coletivamente:
A igreja age como sal de forma coletiva quando expõe publicamente sua posição
como consciência do estado. Temos visto isso nos últimos dias principalmente por causa
da PL 112/06 que está tramitando no Congresso Nacional.
Esse posicionamento coletivo da Igreja é muito positivo.
Mostra que a Igreja não está apenas preocupada consigo mesma ou apenas com
as questões religiosas, mas também com o bem estar da sociedade como todo, crente e
incrédula.
Esse deve ser o papel da Igreja no mundo ela está inserida.
Não ser dona do estado, mas de não ser capacho.
Deve ser consciência deste e levantar, quando preciso a bandeira da verdade
bíblica com o fim de coibir o avanço da iniqüidade.

Contudo a uma questão a se avaliar: Será que a Igreja precisaria se manifestar


tanto coletivamente, se estivesse atuando de forma coerente com sua natureza de forma
individual?
Por isso, mais importante que a ação coletiva da Igreja, é a ação individual de cada
crente ou família cristã.
B. Individualmente:

Cristo dirige-se em seu sermão aos seus discípulos. Aquele era o colégio
apostólico, o primórdio da igreja neo-testamentária.
Contudo Cristo fala de um caráter individual na introdução do seu sermão. Cada
cristão individualmente deve viver como um agente de preservação da deterioração do
mundo.
De que forma?
Ele faz isso vivendo o caráter descrito por Cristo nas bem-aventuranças.

“A diferença é ética, a qual se relaciona com as demais dimensões da vida,


começando com as de natureza mais privada e indo para aquelas mais públicas”. Caio
Fábio
Ou seja começa no meu coração e depois para minha família (circulo mais
próximo) e depois para os demais círculos da vida pública.

Ex: Rodinha de piadas impuras. O crente chega e... elas acabam. Mas será que
hoje elas têm acabado mesmo?
Se não fazemos diferença nos círculos íntimos, como queremos fazer diferença a
nível nacional?

Se nós, os crentes, vivêssemos mais o real caráter de Cristo descrito nas bem-
aventuranças desde nossa individualidade mais intima, não haveria necessidade de
passeata contra a PL 122/06.

E mesmo que houvesse, com certeza teríamos muito mais apoio daqueles que
nem crentes são. Pois a sociedade como um todo estaria mais impregnada com a
cosmovisão cristã.

2. Melhoria na qualidade de vida

Outra função do sal é dar sabor, tornar mais agradável ao paladar os alimentos.
Mas é interessante que o sal não realça o sabor dos alimentos. Ele confere sabor.
Um arroz sem sal não tem gosto de nada. Macarrão sem sal é quase intragável. Não tem
gosto próprio.
Assim a igreja em contato com o mundo não o torna mais agradável, palatável,
mas lhe confere sabor, qualidade de vida.
É claro que isso não se refere a Deus. Nem a igreja, nem nada, podem fazer com
que Deus goste mais, ou se sinta melhor, ou se agrade mais do mundo, porque o mundo
jaz no maligno e está sob Sua ira.
A igreja torna o mundo mais habitável a si mesma e a toda humanidade. Ou seja,
ele o torna mais agradável para a existência humana.
1Tm 2.1,2; Rm 13.1-7;
“Não podemos tornar a sociedade perfeita, mas podemos melhorá-la. A historia
está cheia de exemplos de melhora social por meio da influencia cristã 2”.

Exemplos:
Abraham Kuyper – “Conosco, o que importa não é a influência que temos agora,
mas a que teremos daqui a cinqüenta anos... Quantos da próxima geração serão
seguidores dos nossos princípios? (...) Lutar contra um mal social isolado ou resgatar os
indivíduos, embora excelente, é muito diferente de agarrar o problema sócio-econômico
em si com o sagrado entusiasmo da fé”.

Willian Wilberforce -  "Tão enorme, tão terrível, tão irremediável aparentou a


maldade desse comércio que minha mente ficou inteiramente decidida em favor da
abolição", disse ele à Casa dos Comuns. "Sejam quais forem as conseqüências, deste
momento em diante estou resolvido que não descansarei até efetuar sua abolição."

Falta tempo pra falar de tantos cristãos que cumpriram com zelo este papel.

A igreja precisa entender que o seu papel social é um mandato de Deus:


Gn 1.28. O mandato cultural de Deus neste texto inclui o cuidado da Terra e o zelo
para que a vida no ambiente da criação de Deus fosse preservada.
Ex 20.12-17. Envolve a preservação das relações vitais entre os homens. Este é
um forte apelo ético-social.

2
Stott, A Biblia toda o ano todo. p. 193
3. Iluminação / Esclarecimento / Revelação

Refere-se à figura da luz.


“Vós (e somente vós), sois a luz do mundo”.
Reparem que Jesus afirma que os crentes são a luz do mundo. Se o mundo
precisa de luz é porque está em trevas.
Estando em trevas o mundo está:

1. Insensível à revelação de Deus: Rm 1.18-21 / 1 Co 2.14


O homem natural está impossibilitado de compreender as coisas de Deus. Ele está
diante delas, mas está impossibilitado de discerni-las. Ele está morto. Insensível à
revelação de Deus. A natureza reflete o caráter de Deus de forma suficiente para
que todo homem reconheça a existência de Deus e sua grandeza. Ainda que por
meio dela, não possa ser salvo, todavia pode glorificar a Deus por meio do
conhecimento que ela transmite. Assim, o mundo em trevas está diante da
revelação de Deus e não pode discerni-la porque seu coração está obscurecido.

2. Insensíveis ao seu estado de decomposição pelo pecado: Rm 1.28-32


O homem natural, segundo Paulo, está tão cauterizado e afogado em sua
escuridão que não quer sair de lá.
Ele está alheio à conseqüências de sua vida em pecado.
Está satisfeito com isso, aprova e incentiva essa vida.

A igreja em contato com o mundo produz:

1. Manifestação do caráter de Deus: Mt 5.16


Jesus nos ensina que a luz emitida pelos crentes são as suas boas obras. Essas boas
obras levam o mundo em trevas a enxergar Deus nos crentes.
Isso por uma razão simples – os crentes refletem o caráter de Cristo expresso nas
bem-aventuranças
As boas obras foram estabelecidas por Deus – Ef 2.10.
As boas obras produzidas pelo caráter de Cristo no crente são as boas obras de Deus
e se referem primariamente à lei de Deus que Jesus vai pormenorizar mais a frente.
O mundo não exalta a igreja, mas a Deus.
O manifestação dos atributos de Deus no caráter dos crentes descrito nas bem-
aventuranças, levam o mundo a tomar conhecimento de Deus e glorificá-lo como
Deus que ele é.
Assim, o crente no exercício do seu caráter cristão, realiza as obras de Deus e
manifesta o caráter de Deus, levando iluminação, conhecimento de Deus a um mundo
em escuridão.
2. Manifestação da presença de Deus: Mt 18.20
Onde a Igreja está presente, está presente o Senhor da Igreja.
Os crentes como igrejas individuais, templo do Espírito Santo – 1 Co 6.19.
Onde o cristão verdadeiro chega, Deus chega com ele por causa da habitação do
Espírito.

3. Manifestação do estado de morte do mundo: 2 Co 2.15,16.


Paulo afirma que para com Deus emitimos um aroma agradável.
Mas para com o mundo o cheiro é de morte.
Isso porque as nossas boas obras apontam para as obra infrutíferas das trevas.
A luz não apenas aponta o caminho, mas revela o que está oculto.
As obras do crente, expõe as obras do mundo e o tornam ainda mais culpado.
O crente no exercício de sua vida própria se torna um denunciante da vida imunda do
mundo.
Nossa santidade traz a lume a pecaminosidade do mundo.

Conclusão:

Assim o cristão em contato com o mundo produz:


A. Preservação: impedindo que a maldade do mundo se propague e este mundo
seja consumido por sua própria concupiscência.
B. Melhoria na qualidade de vida: a presença da igreja e a vivencia do caráter
cristão produz bem estar no mundo. Os crentes no exercício de seu cristianismo
buscam moldar o mundo a Deus fazendo dele um lugar melhor para o
desenvolvimento da vida humana – Reforma.
C. Iluminação: a igreja em contato com o mundo age como agente revelador
mostrando ao mundo o caráter de Deus através da prática das boas obras que
Deus mesmo estabeleceu na sua lei e expressas de forma prática no caráter
dos bem-aventurados.

Contudo estes efeitos apontados por Cristo como naturais aos crentes quando em
contato com o mundo, precisam de algumas condições para serem produzidos.
É sobre isso que trataremos nos próximo estudo.

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