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A PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS NAS POLÍTICAS DE

SANEAMENTO BÁSICO DA ZONA-A, BENGUELA

THE PARTICIPATION OF CITIZENS IN THE BASIC


SANITATION POLICIES OF ZONE-A, BENGUELA

AGOSTINHO MIGUEL HOSSI MATEUS

BENGUELA, 2022
ÍNDICE GERAL

RESUMO ................................................................................................................................. III

ABSTRACT ............................................................................................................................. III

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 9

CAPITULO – I:PARTICIPAÇÃO DO CIDADÃO NA GESTÃO DA RES PÚBLICA À


LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO ...................................................... 11

1.2-Direito do ambiente no plano constitucional....................................................... 14

1.3-Participação à Luz da Legislação Ambiental ...................................................... 18

1.4-A Participação e as Iniciativas dos Órgãos Locais .................................................. 21

1.6- Papel da Administração Local do Estado............................................................... 22

CAPITULO-II .......................................................................................................................... 26

ÂMBITO DA PARTICIPAÇÃO DO CIDADÃO NA GESTÃO DA RES PÚBLICA .............. 26

2.1- Origem do Fenómeno Participação........................................................................ 26

2.4- A Colaboração Como Parte Efectiva na Gestão dos Serviços Administrativos....... 32

2.5- Políticas de Participação na Perspectiva de Outros Ordenamentos Jurídicos………33

2.5.1 Políticas de Participação no Brasil ................................................................................... 34

2.5.4 Em Portugal .............................................................................................................. 35

2.5.5 Em Cabo-Verde ........................................................................................................ 36

CAPITULO – III: EIXOS ESTRUTURANTES DA PARTICIPAÇÃO DO CIDADÃO NA


MATERILIZAÇÃO DA PROTECÇÃO AMBIENTAL ........................................................... 37

3.2- Princípio da Participação Ambiental ..................................................................... 39

3.3- Princípio da Prevenção .............................................................................………..41

3.5- Princípio da Cooperação Internacional .................................................................. 46

3.6– O estado do saneamento básico da Zona A – Benguela


.................................................................................................................................... 47

RECOMENDAÇÕES ............................................................................................................... 52

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 53

II
RESUMO

O presente trabalho tem como intento debruçar-se sobre a participação do cidadão nas políticas
do saneamento básico. Temática que em nossa perspectiva tem sido pouco debatida. Na
actualidade, a partilha de responsabilidade entre o Estado e o cidadão no que diz respeito a
gestão da coisa pública tem sido programa de muitos Estados. Angola, como um verdadeiro
Estado Democrático e de Direito não pode estar de fora desta dinâmica. Assim, a Carta Magna
angolana consagra no seu artigo 39º “Todos têm o direito de viver num ambiente sadio e não
poluído, bem como o dever de o defender e preservar”. Depreende-se, do referido artigo, por um
lado, o dever do Estado em preservar o meio ambiente e todas as questões a ele inerente, e, por
outro lado, a capital importância de que se reveste a participação do cidadão, levando-o a
compreender que a questão da participação do cidadão nas políticas públicas é também um dever
que obriga a colaboração de todos, pois, são estes os maiores beneficiários das políticas criadas.
Tem-se verificado cada vez mais o aumento significativo do lixo ao redor dos Bairro da zona A e
com ele o problema da sua recolha. Tal situação tem suscitado enorme preocupação por parte do
executivo, mas que este, de forma isolada, não tem conseguido resultados satisfatórios para
contrapor esta realidade. Para que a resolução de tais situações tenham efeito é necessário que o
cidadão participe de forma activa nas políticas administrativas do país, pois, para obter êxitos nas
políticas públicas requer a envolvência de todos os cidadãos nela implicados, intensificando a
cooperação, educação ambiental e, fundamentalmente, intensificar a informação.

Palavras-chave: Administração Pública, Participação do Cidadão, Educação Ambiental,


Informação.

ABSTRACT

The present work has as an attempt to focus on the participation of the citizen in the policies of
basic sanitation. Thematic that in our perspective has been little debated considering the direct
incidence that has for our life. At present, the sharing of responsibility between the state and the
citizen in the shared management of the public thing has been program of many States. Angola
as a true democratic state of law cannot be to whom this dynamic. Thus, in its article 39, the
Angolan Constitution states that "everyone has the right to live in a healthy and unpolluted
environment, as well as the duty to defend and preserve it." It appears from the article on the one
hand, the duty of the State to preserve the environment and all the issues inherent therein, and on

III
the other hand the capital importance of citizen participation, leading him to understand that the
question of citizen participation in public policies is also a duty that needs the collaboration of
all, since these are the main beneficiaries of the policies created. There has been increasing
evidence of a significant increase in garbage around the district and with it the problem of
collection. This situation has aroused great concern on the part of the executive, but that this
alone has not achieved satisfactory results to counter this reality. For the resolution of such
situations to take effect it is necessary that the citizen participates actively in the administrative
policies of the country, because the contour to achieve successes in the execution of this, it is
necessary that the citizen participates actively, because the outline essential for success in public
policy requires the involvement of all citizens involved in it by intensifying cooperation,
environmental education and, in particular, enhancing information.

Keywords:Public Administration, Citizen Participation, Environmental Education, Information.

IV
INTRODUÇÃO

Nos últimos anos temos vindo a verificar situações que resultam de acções humanas a colocarem em
perigo a convivência sadia entre o homem e o meio ambiente. Sãos casos relacionados com a falta de
saneamento básico, fundamentalmente, a questão das águas residuais que carecem de destino
apropriado, o lixo que é destinado para qualquer lugar, a questão do aterro sanitário, enfim uma série
de situações protagonizadas pelo homem que perigam não apenas o meio ambiente, mas em última
análise o próprio homem.

Estas acções humanas têm sido causadas pelo aumento das necessidades de consumo de bens
industrializados e os avanços tecnológicos que já desde o séc. XX causaram grandes transtornos.

Com o surgimento da revolução industrial aumentou significativamente o nível de poluição ao meio


ambiente. Com efeito, o homem fazendo o uso dos seus conhecimentos científicos, criou
instrumentos jurídicos que têm sido utilizados para contrapor tal realidade criando condições para
existência de salubridade ambiental.

Após a independência, em Angola foi criado um número significativo de legislações que regulam
internamente, questões relativas ao ambiente. A quantidade de leis existentes sobre esta matéria nos
nossos dias, dava-nos garantias de termos um conhecimento mais aprofundado sobre a matéria e
consequentemente, menos problemas teríamos ou menos lesão provocaríamos ao meio ambiente.

Apesar de terem sido criados tais instrumentos jurídicos, em quase todo o território nacional
continuamos a nos deparar com elevadíssimos aglomerados de lixos,deficiente sistema de
saneamento, aterros sanitários descontrolados, e ainda águas residuais com cheiros nauseabundos em
muitas artérias do nosso país. A situação económica e financeira que o país atravessa veio piorar esta
realidade, a partir do momento em que começaram a faltar recursos financeiros para continuar a
contratar os operadores de lixo.

No final do séc.XX, isto por volta da década de 90, com a reforma administrativa angolana surgiram
uma série de diplomas jurídicos, começando pela Lei de Bases do Ambiente, Lei 5/98, de 19 de
Junho; o Decreto-Lei 194/11, de 19 de Agosto, Lei sobre a gestão dos resíduos, só para citar alguns,
objectivando garantir melhorias na protecção ao meio ambiente.

A Administração Pública, através dos seus órgãos, tem levado a cabo uma série de políticas que
visam solucionar estas questões, mas que elas se rebatem com a falta de envolvência do cidadão
beneficiário.

9
Como sabemos à Administração Pública cabe o dever de prosseguir o interesse da colectividade,
satisfazendo as necessidades das mesmas. Porém, este desígnio não se consegue atingir se o
interessado não der a sua colaboração. Por mais vontade ou meios técnicos que ela possa obter, se o
cidadão não fizer a sua parte, ela não conseguirá responder a todas situações, pois, para atingir tal
desiderato afigura-se necessário um verdadeiro sistema de gestão partilhada das responsabilidades.

Com a pesquisa pretende-se contribuir para um modelo de administração pública em que as políticas
de participação nas suas actividades sejam inclusivas e actuantes, porquanto se necessita de um
modelo de gestão que priorize condições de salubridade ambiental, tendo em conta a qualidade de
vida de cada indivíduo na sociedade, não apenas escrito em diplomas legais, mas que sejam
actuantes, pois é a actuação que determinará o bom funcionamento e posterior efeito na vida dos
cidadãos.

10
CAPITULO – I:PARTICIPAÇÃO DO CIDADÃO NA GESTÃO DA
“RES PÚBLICA” À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO
ANGOLANO

1.1-Participação como Direito e Dever Constitucional


Para melhor compreensão do tema que nos propomos tratar é imperioso falar da participação como
direito e dever que vem consagrado na nossa Constituição, é neste contexto que a Carta Magna
consagra, como tarefa fundamental do Estado, garantir, assegurar e incentivar a participação dos
cidadãos e da sociedade civil na resolução dos problemas nacionais. Porém, o direito a participação
não deve, nos dias de hoje, andar de forma isolada, deixando toda a responsabilidade a cargo da
entidade pública, pois, para resolução dos problemas ligados à administração pública é indispensável
o papel do particular, visto que é este o maior beneficiário das políticas tomadas.

CASALTA NABAIS, citado por RUSCHER, afirma que, “os deveres devem ser vistos como uma
categoria jurídica autónoma. Primeiro, porque não devem ser entendidos como meros correctivos dos
direitos fundamentais, ou como sendo apenas liberdade limitada à responsabilidade. Segundo, porque
não se pode aceitar teorias que dissolvem o conteúdo dos direitos fundamentais nos deveres
fundamentais como os Estados absolutos em que vigora um total primado dos deveres, ou nos
Estados Democráticos onde apenas fundamentam-se deveres como direito e dever de voto”.1

Por outro lado ainda, não se pode confundir dever jurídico com a soma dos princípios éticos, apesar
de o nosso tema estar parcialmente voltado para este âmbito. “Portanto, os deveres fundamentais
devem ser considerados como uma categoria constitucional própria, entendida não em um Estado de
direito aonde a pessoa humana é sobreposta à comunidade, mas em um Estado de Direito que
expressa os valores comunitários diferentes e contrapostos aos valores e interesses individuais
consubstanciados nos direitos fundamentais”. 2

Os deveres presentes podem ser classificados quanto aos titulares e quanto ao seu conteúdo. Para a
nossa pesquisa nos cingiremos apenas nos “deveres quanto aos seus titulares, que tem essencialmente
três situações”3.

1
Cfr Casalta NABAIS, por uma liberdade com responsabilidade estudos sobre direitos e deveres fundamentais. limitada,
Coimbra, 2007, p. 165 e ss, apud Caroline vieira RUSCHEL, Parceria ambiental: o dever fundamental de protecção
ambiental como pressuposto para concretização do Estado de direito ambiental (dissertação, 2007 –pp. 188)
universidade federal de santa Catarina. Florianópolis, p. 78.
2
Cfr Caroline Vieira RUSCHEL, Op. Cit,p. 76.
3
Cfr Idem, op. Cit., pp. 87-89

11
Em primeiro lugar, identificamos “os deveres fundamentais cujo titular é a comunidade, pois esses
deveres são conhecidos como deveres clássicos: sendo estes o dever de votar como dever cívico
político, o dever de cumprir os serviços militares, o dever de registo eleitoral e o dever de
colaboração com a administração local”. 4

Além dos deveres supra referidos existem os chamados deveres modernos que são fundamentalmente
fruto do Estado Social de Direitos, como são por exemplo: “o dever de trabalhar, de preservar a
saúde e o dever de preservar o meio ambiente, estes que são próprios da organização da
sobrevivência da sociedade e não necessariamente do Estado”.5

Ainda neste âmbito temos a terceira categoria que é a categoria das pessoas que têm o “dever de
cumprir, enquanto destinatários de direitos fundamentais, como o dever dos pais manter seus filhos
dando amor, educação e alimento”.6

O que muitas vezes ressalta a vista em relação a temática levantada, tem sido o facto de maior parte
da comunidade entender que a execução das políticas de saneamento básico é apenas e só, da total
responsabilidade da entidade estadual, facto é que este pensamento deve, nos dias de hoje, ser
substituído pela dualidade de responsabilização. Porém, o que se pretende não é atribuir total
responsabilidade pura e unicamente ao cidadão ou apenas ao Estado como ente criador das normas,
queremos tão-somente invocar a responsabilidade partilhada.

Pois, como afirma DIEGO PEREIRA, “a preservação do meio ambiente é questão de vida ou morte,
na medida em que os riscos de um colapso ambiental são perceptíveis aos nossos olhos, a extinção da
espécie animal, as constantes mudanças climáticas, desertificação, constantes contaminação do solo,
estas são manifestações que vêm nos mostrando o quanto é perigoso não tomarmos as devidas
precauções com o meio ambiente”7.

É crucial salientar que a mudança de comportamentos tem sido um grande problema a ser enfrentado
para não deixar que os danos ambientais cresçam e causem ainda mais impactos a comunidade,
diante do olhar sombrio do cidadão em conquistar e gozar apenas direitos que cabem ao Estado
garantir.

4
Ibidem.
5
Ibidem.
6
Ibidem
7
Cfr Diego Emanuel S. PEREIRA, O dever de participação em matéria ambiental na legislação brasileira, REVISTA
ELECTRÓNICA DE DIREITO E POLÍTICA, programa de pós-graduação stritctu sensu em ciência jurídica, vol. 10, ed.
Especial 2015, pp.70, disponível em: «www.univali.br/direitoepolítica – ISSN – 7791.» Consultado aos 15 de Fevereiro
de 2018.

12
Assim, lê-se no corpo do artigo 88º “todos têm o dever de contribuir para as despesas públicas e da
sociedade em função da sua capacidade económica, através de taxa, com base num sistema
financeiro justo e nos termos da lei”. Depreende-se, do corpo do artigo, a necessidade de
efectivamente o particular tomar parte sobre tudo quanto respeite as suas responsabilidades diante do
Estado. Esta obrigatoriedade surge da necessidade de um sistema de gestão que tem vindo a ser
implementado sobretudo a título experimental pelo governo de Luanda num sistema de cobranças de
taxas para o manuseamento dos resíduos de modos a encontrar um ponto de equilíbrio na gestão da
coisa pública.8

O princípio da participação encontra-se ainda consagrado no art. 8º da Lei do procedimento


administrativo, Lei 16-A/95, de 15 de Dezembro, o qual estabelece: aos órgãos da administração
pública cabe assegurar a participação dos particulares. Portanto, vemos aqui uma clara
responsabilização da administração pública no asseguramento da participação do cidadão nas
actividades que tenham por objecto a defesa dos seus interesses na formação de decisões que lhes
digam respeito. Ainda neste diapasão cumpre salientar que esta necessidade de assegurar a
participação do particular configura um sistema democrático, próprio de um Estado moderno aonde o
particular também ganha um amplo poder para determinação da boa administração da coisa pública.

É assim que, FRANCISCO DE SOUSA afirma que o “princípio da participação do particular na


gestão administrativa constitui um direito cujo exercício deve ser assegurado pela administração
pública, outrossim, deve-se olhar para ela também como um dever, pois, para uma boa administração
da coisa pública é fundamental a participação dos cidadãos.” 9 Estes dois princípios têm entre si uma
íntima ligação, completando-se mutuamente, sendo que um e outro caracterizam um novo modelo de
administração que procura o diálogo com o particular: ouvindo-o, infirmando-o, consultando-o e,
naturalmente, também esperando a sua colaboração, na evidência de que a administração do Estado
Democrático e de Direito é cada vez mais dialogante, participativa e consensual.

Refere CASALTA NABAIS, que “todos os direitos têm custos, porque não são dádiva divina nem
fruto da natureza, porque não são auto realizáveis nem podem ser realisticamente protegidos num
Estado falido ou incapacitado, porém, implicam a cooperação social e responsabilidade individual e
10
colectiva”. Daí que a melhor maneira para abordar os direitos fundamentais seja vê-los como
liberdades privadas com custos públicos.

8
Constituição,artigo88º.
9
Cfr António Francisco de SOUSA,direito administrativo angolano, 3ª ed., vida económica, Porto, 2014, pág. 46.
10
Cfr José Casalta NABAIS, por uma liberdade com responsabilidade: estudos sobre direitos e deveres fundamentais,
Limitada, Coimbra, 2007pp. 165 e ss.

13
Na verdade, queremos realçar que todos os direitos têm custos comunitários, ou seja, custos
financeiros públicos. Daí a necessidade de se olhar para a gestão da coisa pública de modos a levar a
realidade da racionalização dos bens já existentes e aqueles que serão usufruídos pelas futuras
gerações.

com a investigação por nos levada a cabo permitiu-nos ter uma visão geral custos que o Estado
disponibiliza na aquisição de equipamentos para o manuseamento do lixo, tratamento da água, num
contexto geral, do próprio saneamento em si, portanto, é uma vasta gama de serviços que a entidade
pública dispõe para assegurar a boa qualidade de vida aos seus cidadãos que, em boa verdade, é
impossível por si só o mesmo poder resolve-los sem a colaboração dos particulares.

Saliente-se que a dificuldade de se entender o dever de participar em políticas ambientais surge,


principalmente, porque o ser humano, entende como referido supra que apenas “o Estado está
responsabilizado em realizar as tarefas públicas e isso persiste até a actualidade”.11 Basta olhar para
os discursos populacionais quando a questão a ser tratada é saneamento básico ou quaisquer umas
das políticas de protecção ambiental. Mas, esquecem-se que grande parte dos problemas ecológicos
que se vivencia, é fruto das suas acções descontroladas da poluição do meio.

1.2-Direito do ambiente no plano constitucional

A preocupação com o meio ambiente remonta desde a antiguidade, apesar de naquela época não ter
havido meios capazes de efectivar o controlo para a protecção ambiental, no entanto já era notório a
tendência da conservação do ambiente.

Portanto, é com o modelo produção surgido com a revolução industrial, baseado no uso intensivo de
energia fóssil associada à grande exploração dos recursos naturais e o uso do ar, água e solo como
depósito de dejectos, que apontamo-las como a causa principal da degradação actual do meio
ambiente. “Ademais, os primeiros grandes impactos de degradação ambiental tiveram início na
década de 50.”12

Todavia, a evolução legislativa constitucional e ordinária representa o resultado da progressiva


assimilação de um desígnio mundial para o qual os Estados foram convocados em Estocolmo, em

11
Cfr Caroline V. RUSCHEL, op cit.,p.109 e 110.
12
Cfr Celso MACATTO. Educação ambiental princípios e conceitos, sigma editora, 2002, p. 24.Já em 1952, o
Smog,poluição atmosférica de origem industrial, provocou muitas mortes em Londres. A cidade de New York conheceu o
mesmo problema no período de 1952 a 1960. Em 1953 a cidade japonesa de Minamata enfrentou também o problema da
poluição industrial por mercúrio e milhares de pessoas foram intoxicadas. Alguns anos depois, a poluição por mercúrio
aparece novamente em Nigata, no Japão .

14
1972. A conferência de Estocolmo consagrou então a primeira Bíblia de princípios de direito
ambiental. Afirmara-se na época, como o despertar para a era ecológica, e esta conferência atinge o
Estado angolano apenas após uma década de descobertas inquietantes de estudos reveladores de
acidentes com consequências altamente lesivas ao ambiente. Em fim, após a constatação da finitude
dos bens ambientais e da necessidade de adaptar uma nova postura de gestão racional dos recursos
naturais. 13

Assim, a “Constituição angolana de 1975 não dedicava qualquer disposição legal voltada à protecção
do meio ambiente, vincada a protecção do meio ambiente, a independência angolana face às
potências colonizadoras, levou o legislador constituinte a realçar apenas a vertente económica e
utilitária de recursos existentes na sua dimensão de recursos naturais, cujo aproveitamento incumbia
o Estado de gerir de forma planificada e de forma harmoniosa, de modo a criar riqueza de todo o
povo angolano, como versa o artigo 8º do mesmo Diploma.”14

Inicia-se uma profunda reflexão em torno da qualidade de vida e crescimento económico que
contribuíra significativamente para a proliferação da degradação do meio a partir de 1982, a qual se
seguiram nos anos 1990, “várias outras entidades de cariz associativo e tendo já na época divulgado
a problemática ambiental como móbil, a juventude ecológica de Angola, jornalistas para o ambiente
e o clube de amigos da floresta da ilha de Luanda. Em 2002, emerge então o fórum das ONGs
ambientais (rede Maiombe)”.15

Foi pensando em torno desses problemas que, com a revisão/transição constitucional de 1992, é
acolhida a protecção do ambiente. O legislador consagrou, sob epígrafe no título segundo, como
direitos e deveres fundamentais, donde o artigo 24º dispõe:“todos têm o direito de viver num
ambiente sadio e não poluído;o Estado adopta as medidas necessárias à protecção do meio
ambiente, das espécies da fauna e flora em todo o território nacional e a manutenção do equilíbrio
ecológico”. É possível analisar o referido artigo sob duas vertentes, afirma-se direito a um ambiente
sadio a todos cidadãos, por outro lado entrega-se a tarefa de protecção do meio ambiente e a gestão
do equilíbrio ecológico ao Estado; e ainda determina-se a reparação de comportamentos que, directa
ou indirectamente, causem danos ao meio ambiente como refere o nº 3 do mesmo artigo.

Esta Constituição de 1992 marca profundamente o despertar do novo posicionamento do Estado


angolano face à realidade ambiental.

13
Carla Armando GOMES, Odesafio do ambienteemAngola, s. n., s. d., Cabinda 2012, p. 7.
14
Carla Armando GOMES, O desafio do ambiente em angola, cit., pp. 3,4.
15
Carla A. GOMES, Ibidem.

15
A contínua pretensão do Estado angolano em proteger o meio ambiente fez com que em 2010, a
Constituição angolana fizesse alusão ao legislador constituinte no texto da Lei fundamental. Apesar
da mesma ter valor meramente declarativo, tornou-se cristalino a partir de 2010 ser a protecção do
meio ambiente e dos recursos naturais, uma tarefa fundamental nos termos do artigo 21º al. m). É
importante sublinhar ainda que esta tarefa que ao Estado cumpre realizar encontra-se nos termos do
artigo 219º repartida entre a entidade entidade central e a local. Não podemos olvidar o artigo 39º da
Constituição da República que dispõe que: “todos têm o direito de viver num ambiente sadio e não
poluído, bem como o dever de o defender e preservar”. Ora, do preceito legal enunciado depreende-
se claramente que o direito de viver num ambiente sadio e não poluído é um direito objectivo que ao
Estado cumpre assegurar para assim poder garantir a boa qualidade de vida aos seus cidadãos.

Apesar disso, a interpretação dessa norma não se esgota no referido supra, na medida em que
também vem trazer como grande novidade a questão de o particular ter parte na preservação do
meio, estabelecendo, deste modo, o seu dever em participar nas políticas de preservação do meio
ambiente sendo que, deste dever depende a boa qualidade de vida dos próprios cidadãos.

O legislador constituinte tende a responsabilizar o particular pelas acções ou comportamentos que


em grande escala têm contribuído para a existência de inúmeros problemas ambientais. Mas é
necessário salientar que para haver gestão comparticipada da coisa pública, é imperioso,
primeiramente, apelar a consciência geral que o mundo passa por uma crise ambiental, e a mesma
tende a agravar-se a cada dia que passa. Refira-se que a demora na resolução dos problemas ligados
ao meio ambiente pode provocar o extermínio da espécie humana. Por isso, é crucial tomar medidas
que possam inibir ou que ao menos diminuam o excesso da degradação.

É assim que o nº 2 do mesmo artigo enuncia as medidas a serem tomadas para a protecção da fauna e
da flora em todo o território nacional, a manutenção do equilíbrio e de todos os recursos naturais para
assegurar o desenvolvimento, respeitando os padrões exigidos pela comunidade internacional.

“MIRALÉ,citado por DIEGO, indica que a mudança de conceitos e comportamentos é o grande


problema a ser enfrentado, ainda mais quando deve ser feita em curto espaço de tempo, pois, não
mais se pode esperar e deixar que os danos ambientais cresçam e causem ainda mais impactos”.16

A respeito da postura activa aponta-se que o fenómeno participativo seja um dos principais
elementos das políticas administrativas actuais em que a interacção e cooperação entre a entidade

16
Edis MIRALE, Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco,São Paulo, revista dos tribunais, 2013, p. 143. Apud
Diego Serafim PEREIRA, o deverdeparticipação na protecção em matéria ambiental na legislação brasileira, revista
electrónica direito e política, programa de pós graduação stritosensu em ciência jurídica da univali, Itajaí, vol. 10, nº 1 ed,
especial 2015, p. 74-75. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica-ISSN 1980-7791.

16
estadual e os particulares ganham um grande impacto na resolução de problemas ambientais. E
importante também é realçar que a comunidade tem um papel de liderança muito importante na
elaboração de políticas públicas em matéria ambiental. Isto ocorre, justamente, pela dimensão da
necessidade em se materializar a questão da gestão partilhada que por sua vez implica a participação
do cidadão nas decisões que possam gerar um impacto ambiental significativo à sociedade. Estes
problemas que norteiam a sociedade de risco acabam ou acabariam por estimular o comportamento
positivo da população no sentido de conscientizá-los sobre os riscos ambientais. Nesse contexto, a
busca da resolução deste problema por parte da sociedade os influenciaria a primar pela educação,
sensibilização e responsabilidade ambiental.

Assim, como referido supra, o texto constitucionalnão apenas reconhece a tutela dos direitos
fundamentais, mas também reconhece o dever que aos particulares diz respeito. Nesse sentido,o
legislador pretende afastar a ideia que subjaz à população dedever unilateral estadual, criando uma
série de fórmulas que permitam a participação em matéria ambiental e a consequente
responsabilização por actos lesivos ao meio ambiente.

Os actos lesivos ao meio ambiente vêm implicitamente consagrados na Constituição da República,


no artigo 74º em que dispõe o seguinte:

“Qualquer cidadão, individualmente ou através de associações de interesses específicos, tem direito


a acção judicial, nos termos e estabelecidos por lei, que vise anular actos lesivos a saúde publica, ao
património publico, histórico e cultural, ao meio ambiente e a qualidade de vida, a defesa do
consumidor, a legalidade dos actos administrativos e demais interesses colectivos”.

Bem se vê uma nítida preocupação em sancionar o incumprimento das normas relacionadas com a
questão ambiental, na medida em que só assim será possível acautelar os níveis de degradação
ambiental que se tem verificado nos nossos dias, ou seja, é evidente identificar a legitimidade a que
se atribui ao particular para um eventual procedimento judicial alargado à comunidade em geral ou
em particular para o controlo e defesa de tais interesses. Ademais, a resolução deste grande
problema, pressupõe o esforço de todos sem excepção para a preservação do meio ambiente. Esse
trabalho inclui, independentemente da classe social, escolaridade e/ou região habitada, bem como
pessoas jurídicas de direito publico ou privado, com fins ou não lucrativos. O que se pretende é
buscar no seio populacional racionalização e consciencialização dos riscos trazidos pela falta de
cuidados com o meio ambiente.

17
Assim, JOSÉ RUBENS apela à “consciencialização global da crise ambiental aliada a um plano de
17
cidadania moderna e participativa” . Pois, na perspectiva do autor só com a responsabilização
solidária tenderemos a resolver os mais graves problemas ligados ao sistema ambiental.

1.3-Participação à Luz da Legislação A mbiental

A necessidade de se legislar matérias relativas ao direito do ambiente parte do princípio de que para
se alcançar um elevado nível de qualidade de vida e desenvolvimento sustentável é fundamental o
mínimo de salubridade ambiental e não poluído.

As transformações ocorridas no século XX impulsionaram grandes avanços promovidos pelo


desenvolvimento industrial aonde então verificou-se o aumento de consumo de bens existentes na
natureza, o que originou inúmeras consequências.

De lembrar que desde os primórdios o homem procurou dominar a natureza. Porém, os males dessa
ansiedade sempre foram visíveis aos nossos olhos, desde a destruição da camada de ozono que
provoca por sua vez o aquecimento global, a poluição marinha, fruto do aparecimento da revolução
industrial, a destruição de florestas que contribuem para a extinção da espécie animal e, consequente
desertificação, a contaminação do solo, entre outras situações que não vamos aqui aflorar.

1.3.1-Evolução da legislação ambiental

Para dar resposta aos anseios da preservação do ambiente, o Legislador Ordinário criou uma série de
legislações que visam dar resposta à situação ambiental que se tem verificado nas últimas décadas.

Deste modo, a Lei 5/98, de 15 de Junho, que instituiu a Lei de Bases do ambiente, dispõe os
Princípios básicos de protecção e preservação ambiental, para que se promova a qualidade de vida e
o uso racional dos recursos disponíveis. A obrigação de participação do particular na defesa do
ambiente vem estatuída no artigo nº 3 do Diploma em referência.O artigo 8º determina como
Princípio específico da poluição do meio ambiente o Principio da participação. Nos termos deste
artigo “todos têm o direito e a obrigação de participar na gestão do meio ambiente”18. É importante
lembrar que não se ‘pretende descurar a responsabilidade do Estado em assegurar a qualidade dos
serviços a que a ele dizem respeito, mas olhar para o sentido da norma e levar o cidadão a

17
Cfr José Rubens LEITE, Dano ambiental: o individual ao colectivo extra patrimonial, Revista dos Tribunais, 2000. Pp.
33.
18
Lei 5/98, de 19 de Junho, artigo 8.º

18
compreender que para melhorar os serviços básicos necessários deverá, o cidadão, participar das
medidas de protecção ambiental, pois, como é sabido, a poluição do meio é em grande escala fruto
das acções do próprio homem.

O Decreto 190/12, de 24 de Agosto, instituiu a Lei sobre a gestão dos resíduos, que atribui esta
matéria ao Ministério do Ambiente, ao qual incumbe a responsabilidade de criar, garantir e cadastrar
as entidades públicas e privadas que manuseiam o meio ambiente, como dispõe as alíneas a, b, c, e d)
do artigo 6º do Diploma em análise. Ainda neste Diploma encontramos no mesmo artigo algumas
definições relacionadas com o Regulamento Ambiental que consiste“na utilização de resíduos ou
outros componentes, por meio de processo de refinação, recuperação, regeneração, reciclagem,
reutilização ou qualquer outra acção prevista na lista constante do anexo 6º ou identificadas em
despacho do Ministério do Ambiente, tendente a obtenção de matérias-primas secundárias, com
objectivos de reintrodução dos resíduos nos circuitos de produção, desde que não ponha em perigo
a saúde humana”.19

Ainda dentro da legislação ordinária encontramos a Lei nº6-A/04, de 8 de Outubro, Lei dos recursos
aquáticos, que visa garantir a conservação e utilização sustentável dos recursos biológicos aquáticos
existentes nas águas do Estado angolano, como versa o artigo 2º. Portanto, nos termos do nº 3 do
artigo 6º transmite a preocupação do legislador enunciar como um dos Princípios Fundamentais a
observar a participação dosinteressados, visando ao bom aproveitamento e a boa exploração do
património nacional comum. Por outro lado, o nº 2 do artigo 68º determina a obrigação de todos a
não praticar actos que previsivelmente causem impactos negativos aos recursos biológicos, em
particular, e, em geral, ao meio ambiente.

Saliente-se que em tudo quanto sejamos titulares de direito não podemos descurar da
possibilidade do cumprimento de seus deveres. Dai a intenção do legislador em destacar a obrigação
do cidadão quando da sua acção resulte danos lesivos ao meio ambiente.

Assim o Decreto-Lei nº 194/11, de 7 Julho, institui a responsabilidade por danos ambientais, com
objectivo de responsabilizar o particular, empresas públicas e privadas pelos danos que causem ao
meio ambiente, sendo dolosa ou apenas por mera culpa, devendo reparar os prejuízos causados e/ou
indemnizar o Estado e os particulares pelas perdas e assim permitir a sua possível recuperação, como
refere o nº 1 do artigo 5º do Diploma em referência.

19
Cfr Decreto-Lei 190/12, de 24 de Agosto, artigo 6.º

19
Impossível será falar de todos os direitos e obrigações no domínio ambiental sem, no entanto,nos
focarmos nos instrumentos de protecção ambiental. Assim, a LBA apresenta alguns instrumentos que
a seguir passaremos a mencionar:

Na área formativa, o direito à educação, o ambiente e a sua dimensão de bem comum, impõe uma
total revisão de comportamentos e alteração de mentalidade. Na verdade tem sido afirmado do ponto
de vista sociológico que a educação ambiental seja um pressuposto essencial de uma eficaz política
ambiental. Numa realidade sociocultural,como a nossa, a sensibilização de pessoas para a relevância
da questão relacionada ao ambiente é fundamental, em razão da pobreza que leva a utilizar na maior
parte das vezes, de forma irracional, os recursos naturais, contribuindo para a perda de hábitos de
respeito pelas realidades colectivas20.

Já na área preventiva, estão vincadas na legislação ambiental que todas as acções ou actuações que
possam causar impactos negativos ao meio ambiente deverão ser acauteladas e autorizadas de forma
prévia de modos a reduzir os eventuais riscos. Sendo que a administração pública deverá incluir no
seu procedimento estratégias de avaliação de riscos, sempre que se mostre que da actividade a ser
exercida represente risco para o meio ambiente, até porque é de conhecimento de todos nós que o
risco para o ambiente nunca é zero e a administração, de acordo com as conclusões apurada na
avaliação de impacto deverá criar medidas para viabilização do projecto.

Temos finalmente uma terceira categoria que respeita a responsabilidade por danos ambientais que,
desde logo, está disposta no artigo 39º da Constituição da República que explicitamente diz punir
todos os actos que ponham em perigo ou lesem a preservação do meio ambiente ao nível mais grave.
Essa criminalização deixa a ideia de que não se trata de uma simples responsabilidade civil nem de
uma simples transgressão administrativas pois ambas podem ser regidas pelos seus próprios fóruns,
porém transmite-se assim a ideia de que é imperioso tomar precauções de modos a evitar uma
possível sanção criminal pelos riscos que provoquem prejuízos ao meio ambiente.

Por outro lado, encontramos na Lei de Bases normas que responsabilizam civilmente, como versam
os artigos 23º, 27º e 28, outros que punem como contravenção e penalmente o artigo 29º. Portanto,
enquanto existem Diplomas que limitam-se à punição contravencional, outros assentam a sua
eficácia coerciva em ambas as vias.

Sagra-se ainda fundamental referir-se as formas como a administração pública desdobra-se para levar
o cidadão a participar nas políticas ambientais. Assim, importa-nos frisar que os modelos de
participação são os mais elementares modelos de consolidação da democracia moderna. Assinala-se

20
Carla Armando GOMES, op. Cit., p. 20.

20
como elemento fulcral a educação ambiental, que facilita a implementação de programa nacional de
gestão do ambiente através do aumento progressivo de conhecimentos da população sobre os
fenómenos ecológicos. Essas campanhas de educação deverão ser feitas de maneira a atingir todas as
camadas da sociedade, sendo de considerar a organização de projectos especiais, no que diz respeito
às forças armadas e responsáveis do aparelho do Estado, como um modelo inclusivo de participação,
figurando,deste modo, como o número um nas medidas acima mencionadas. Seguem-se as consultas
públicas que se inicia com uma previa divulgação do estudo que se pretende e do qual constem os
elementos importantes a serem tratados no respectivo Projecto; aliada à consulta pública está a
auditoria pública, que deverão ser exigidas nos processos de avaliação de impacte ambiental com a
finalidade de determinar os níveis efectivos de poluição ou degradação do meio ambiente, e
determinar as medidas a serem tomadas na protecção da espécie humana, dos danos que
eventualmente possam surgir, elevando as medidas destinadas a evitar a poluição para a água, o solo,
a produção de resíduos e a poluição sonora.

Assim, para além de uma atitude generalizada de sensibilização ambiental por parte do público e do
reforço do papel dos princípios da responsabilidade partilhada, importa consolidar o enquadramento
jurídico aos mecanismos de participação na sociedade civil, na formulação de políticas de ambiente e
nos processos de decisão inerentes a gestão do ambiente. Este desígnio constitui, também, uma linha
de orientação estratégica da política do ambiente. Sublinhe-se, portanto, a importância que reveste
um sistema de informação ambiental suficientemente abrangente e credível, uma vez que a solidez
técnica e científica das medidas preconizadas pelo Estado é também essencial para tornar profícuo o
diálogo e a participação dos vários agentes sociais. Com efeito, quanto maior for o consenso sobre os
factos, mais rigorosa será a capacidade de prever as consequências e, portanto, mais debates se
poderão centrar no que realmente interessa relativamente aos problemas ambientais.

1.4-A Participação e as Iniciativas dos Órgãos Locais

A actividade administrativa contemporânea do Estado Democrático de direito pode ser caracterizada


a partir de um regime que se pretende entender por democracia administrativa que se submete
progressivamente ao controle que se faz pela fiscalização eparticipação decisória os actos da
autoridade administrativa, e diminui acentuadamente os espaços de reserva de fiscalização do poder.
21

21
CfrPatryck de Araújo AYLA, participação pública e informação dos riscos de alimentos geneticamente modificados:
um caminho de défices e excessos no direito ambiental brasileiro, ano 1º. nº 1, Outubro a Dezembro, 2008, pp. 253, 254.

21
Neste âmbito, os órgãos da administração local do Estado asseguram e garantem, no respectivo
território a realização de tarefas e programas económicos, sociais e culturais de interesse local e
nacional, com observância da Constituição, das deliberações da Assembleia Nacional e do Governo
Central. É, portanto, exercida por órgãos desconcentrados da Administração Central e visa, a nível
local, assegurar os interesses específicos da Administração do Estado, participar, promover e orientar
o desenvolvimento social e garantir a prestação de Serviços Políticos as populações.

Nesse contexto, Angola depara-se ainda com situações de carência num nível acentuado em infra
estruturas ambientais básicas, que são inaceitáveis para o alcance de salubridade ambiental e
qualidade de vida que se pretende para angolanos, e são incompatíveis com os padrões de uma
Nação que pretende alcançar o desenvolvimento. De referir que o abastecimento de água às
populações, o tratamento e destino final das águas residuais e resíduos domésticos, o elevado
aglomerado de resíduos, são os exemplos mais frequentes destas carências. Assim, é particularmente
importante referir-se sobre a participação do cidadão no poder local que surge como uma das
características da democracia e a sua importante colaboração na gestão do poder.

1.6- Papel da Administração Local do Estado

Para melhor compreensão da questão participativos versos iniciativas dos órgãos locais
procuramos destrinçar em princípio a própria administração local do Estado.

FREITAS DO AMARAL apresenta três ordens de elementos em que assenta basicamente a


Administração Local do Estado: “a Divisão do Território, os Órgãos Locais do Estado e os Serviços
Locais do Estado” 22. Para a nossa pesquisa nos cingiremos aosÓrgãos Locais do Estado, que na
visão do autor são dos centros de decisão dispersos pelo Território Nacional, mas habilitados por Lei
a resolver assuntos administrativos em nome do Estado, nomeadamente face a outras entidades
públicas e aos particulares em geral.

No que toca a realidade angolana, a organização e funcionamento da Administração Local do Estado


rege-se pelos Princípios da desconcentração administrativa, da constitucionalidade, da legalidade, da
diferenciação, da transparência dos recursos, da transitoriedade, da participação, da colegialidade, da
probidade pública administrativa, da simplificação administrativa e da aproximação dos serviços
públicos às populações. Concomitantemente, a constituição no artigo 201º estatui que “A
Administração Local do Estado é exercida por Órgãos desconcentrados da Administração Central e

22
Cfr Diogo Freitas DO AMARAL, Curso de direito administrativo, 3ª d., 8ª reimp., Almedina, 2014.

22
visa assegurar, a nível local, a realização das atribuições dos interesses específicos da
Administração do Estado na respectiva circunscrição administrativa, sem prejuízo da autonomia do
poder Local”.

No que diz respeito a Administração Pública pouco ou nada se pode aferir no que concerne ao
asseguramento da participação ao nível do bairro em estudo, pois, o deficiente quadro de lixo
continua sendo um dos grandes problemas, e a cada dia que passa parece piorar ainda mais a
situação, o inexistente sistema de drenagem que é substituído por vala, vulgo coringe, que,
normalmente permite o escoamento da água para o mar, vem sendo coberto pelo elevado amontoado
de lixo ali existente. Uma outra situação ainda pior são as águas paradas resultantes daschuvas, pois,
que quando chove a população residente junto a vala do coringe quase que não consegue dormir.
Portanto, é todo um conjunto de situações que tem contribuído significativamente para a existência
de muitas doenças como a sarna, o aumento do número de casos de malária, a tuberculose, as
doenças diarreicas e muitas outras doenças.

Por outro lado, não podemos deixar de mencionar o esforço que os organismos da Administração
Local têm feito de maneiras a minimizar os problemas ambientais, do ponto de vista geral e,
particularmente, o problema do saneamento ao nível provincial. Porém, o que de concreto tem
acontecido nos últimos tempos é que a acção da Administração Local se tem limitado apenas em
algumas artérias ou localidades, deixando outras abandonadas à sua própria sorte, estandodeste
modo, sujeitas a inúmeras consequências que possam advir do elevado aglomerado de lixo, basta
olhar para a realidade circundante.

Vimos, nos anos anteriores, algumas associações religiosas a moverem-se em prol de algumas
campanhas de recolha de lixo para minimizar o problema do bairro em estudo, mas esse acto não se
revela suficiente porque quando se acha que o problema está minimamente resolvido lá vemos
cidadãos repetindo o mesmo acto de despejo e passadas algumas horas a situação volta ao estado
anterior.

Assim, partindo do pressuposto de que os órgãos locais do Estado devem, nos termos gerais,
promover a participação aberta da população de modo a garantir a boa administração da coisa
pública nos termos regulados na lei ordinária, importa-nos referir que a participação do cidadão
constitui uma vertente importante de prática democrática. Ela constitui uma grande via para a
obtenção de informações, e mais do que meramente informativa, capacitam o cidadão para uma
participação de resultados que poderá desdobrar-se quer a nível da legitimação dos actos
compartilhados, quer através de negociação própria da democracia moderna.

23
Sendo o Princípio da Participação uma garantia constitucional e o mecanismo que assegura a
actividade, o instrumento dessa participação e a sua previsão de responsabilidade nas políticas
ambientais, a sua efectividade transforma-se num elemento fundamental para que se tenha
salubridade ambiental

Pelo exposto,é visível a importância da administração local no asseguramento da participação


efectiva nas acções por si preconizadas, uma vez que é sua responsabilidade fomentar as iniciativas
que influenciem o cidadão a participar nas políticas administrativas para uma melhor gestão da coisa
pública e assim poder garantir o desenvolvimento sustentável. Até porque, vem estatuído no artigo
32º da LBA com vista a garantir a necessária participação das comunidades locais e a utilizar
adequadamente os seus conhecimentos e capacidades humanas, o governo deve promover a criação
de um corpo de agentes de fiscalização comunitárias

Tal é assim que FERNANDO CONDESSO faz referência do papel da administração infra-estadual
no âmbito do ambiente, pela sua proximidade aos problemas, através de processos legislativos e
regulamentos, em nome do princípio da subsidiariedade, sendo de destacar alguns domínios em que
as medidas a processar passam pela acção principal da administração. Nisto importa-nos referir a
gestão de resíduos e as políticas de transportes a integrar as políticas do planeamento.23

A Administração Municipal, no âmbito das suas competências, deverá garantir no domínio do


saneamento e do equipamento rural e urbano, a recolha e tratamento de lixo, bem como o
embelezamento dos núcleos populacionais; assegurar a gestão de limpeza e manutenção de praias;
assegurar o estabelecimento do sistema de drenagem pluvial; fomentar a criação, conservação,
ampliação, manutenção, e cultura de parques jardins, zonas verdes, de recreios e a defesa do
património arquitectónico, como refere o artigo 45º nº 6 da lei da Administracao Local do Estado.
Ora, na verdade são inúmeras as tarefas que competem à Administração Local. No entanto, para a
realização dessastarefas há necessidade de aplicação de um sistema participativo que inclua o
particular na realização das mesmas, porém, ao fazermos tal afirmação não descuramos o facto de
que o cidadão é o maior detentor dos direitos legalmente consagrados. Queremos tão só afirmar que
ele também toma parte das tarefes estaduais, fundamentalmente no que diz respeito a protecção do
meio ambiente.

A gestão comparticipada neste trabalho configura um conceito de união entre o poder público e a
colectividade. Poderia simplesmente pensar-se também no motivo pelo qual haveria comparticipação
já que é a Administração Pública quem está encarregue dentro dos princípios que a regem,a

23
Cfr Fernando dos Reis CONDESSO, direito do ambiente, ed. Almedina, Junho, 2001, Coimbra, pp. 320.

24
supremacia do interesse público, e por esta razão, estaria protegendo os interesses da comunidade por
meio da preservação ambiental. Na verdade, o problema encontra-se principalmente, no facto de os
cidadãos não estarem cientes do seu verdadeiro papel na protecção do meio ambiente. Primeiramente
porque, não havia articulação entre os cidadãos e a Administração Pública, o cidadão queria ser livre
e para isso não era admitido nenhuma intervenção estatal, já com os direitos sociais, o Estado passou
a ser protector de toda a colectividade, garantindo-lhes direitos e bem-estar. A comunidade não tinha
qualquer dever. Porém, o conhecimento de que não só o Estado, mas também a colectividade possui
deveres, dá-se mediante um processo lento de consciencialização sobre a necessidade da evolução de
políticaspúblicas enquadrando nesse contexto o dever dos particulares mediante iniciativas locais do
Estado.

Enfim, a responsabilidade dos Órgãos da Administração Local do Estado não deverá cingir-se
apenas na criação de políticas ou medidas legais criadas por estes Órgãos, mas estas deverão conter
um carácter incentivador de modo a levar o cidadão ao cumprimento das medidas adoptadas pelos
Órgãos Locais, e por outro lado, responsabiliza-los sobreacções que possam pôr em causa a saúde e
que, por sua vez, causem graves prejuízos à Administração Pública.

25
CAPITULO – II: ÂMBITO DA PARTICIPAÇÃO DO CIDADÃO NA GESTÃO
DA RES PÚBLICA

2.1- Origem do Fenómeno Participação

Participação “é um fenómeno histórico intimamente ligado à democracia, da qual,é parte com longa
história, seja na forma de ser imaginada ou na prática concreta dos homens”. 24

As formas caracterizadas de socialização e participação na constituição da sociedade tiveram origem


em Platão como fundamento da sua teoria do Estado, e desenvolve-se com Aristóteles que a entende
como algo inerente a vida humana. Em PLATÃO observa-se a ideia refutada na concepção mítica na
qual a polis (cidade) era entendida como uma criação divina, e da tese que os homens viviam
primitivamente dispersos25, e a sua “congregação resulta da necessidade de enfrentarem unidos a
natureza. Já ARISTÓTELES, demonstra a essência política do homem e o seu impulso natural para
associar-se com outros homens e construir a sociedade como uma comunidade política”.26

A participação democrática encontra ainda inúmeras contradições no pensamento filosófico grego.


Deste modo, os que se debateram com a questão opinaram-se de modo fragmentário e ambíguo ou
claramente oposicionista, por variadíssimas razões. Nesta vertente,VIDAL-NAQUET citado por
JUCILEY FREIRE realça que, “excluídas poucas excepções como Demócrito e Protágoras,
procurariam em vão um filósofo que tenha reflectido sobre a democracia, pois ela não inspirou nem
o tratado da filosofia, nem o tratado político que esclarecesse os seus princípios e exaltasse as suas
qualidades”27.

Paradoxalmente, Platão, o maior opositor da democracia, apresenta uma fundamentação para a forma
do diálogo de SOCRESTES com PROTÁGORAS, na qual este último, um sofista recorrendo ao
mito, defende a participação dos artesãos na vida política através de argumentos de que todos os
homens receberam de Zeus a tekhnepolitique(arte política), que lhes permite debater com os demais

24
Cfr FlávioGOULART, poder deliberativo, paridade, autonomia: dilemas da participação social em saúde no Brasil`»
disponovelem:www.participanet.ENSP ministério da saúde. consultado aos 7 de Junho de 2018.
25
Cfr Max HORKHEIMER e theodor W. ADORNO, temas básicos da sociologia. Tradução Alvaro Cabral. São Paulo,
cultrix, 1973. ApudJuciley Silva Envangelista FREIRE, participação e educação: concepções presentes nos estudos de
revista de educação e sociedade (1978-2010). Programa de pós graduação em educação, 2011, pp. 30,31.
26
Cfr ARISTOTELES Tradução introduzida e notas de mariogamakury, 3ª ed., Brasília, edit. UNB, 1997. ApudJuciley
Silva Evangelista FREIRE, cit., pp. 31 e 32.
27
cfr Pierre VIDAL-NAQUETE, os gregos os historiadores e a democracia: o grande desvio, trad. Jonatas Baptista
Neto. São Paulo companhia de letras, 2002. ApudJuciley Silva Evangelista Freire, participação e educação: concepções
presentes nos estudos da revista de educação e sociedade, cit p,35 ss.

26
sobre qualquer questão política.28 Portanto, para a corrente democrática, todos os cidadãos livres são
iguais para participar na vida pública.Trata-se de atribuir igualdade entre todos, a participação na
aeche (cidade), o acesso as magistraturas, fazer desaparecer todas as diferenças que possam existir
entre as diversas partes da cidade unificando-as por formas a não existir nada que os possa distinguir
no plano político uns dos outros.Já Aristóteles, na análise das diversas formas de constituições
existentes no seu contexto histórico, faz uma reflexão com base no critério das potencialidades e as
limitações a que está sujeita cada forma de governo. Para Aristóteles, a “forma constitucional é a
melhor forma de governo, porquanto associa a excelência moral do homem com as virtudes do bom
cidadão”29. Porem, dentre as formas de governo criadas no mundo antigo a democracia foi aque
afirmou-se ao longo da história como a forma mais participativa, a que teria possibilitado instaurar
uma organização social que se consubstanciava na “liberdade e participação igual de todos os
cidadãos no poder de decisões sobre os elementos colectivos”30.

Em vertentes mais modernas do pensamento, o conceito participação passa por momentos de


aprofundamentos no séc. XVII, quando na Inglaterra autores como JOHN LOOK e ROUSSEAU
debateram posições relativamente antagónicas: “o primeiro pela apresentação como verdadeiro
mecanismo de exercício democrático; o segundo, utilizando o termo república, pautou pelo exercício
directo dos próprios cidadãos, nestes termos este autor é considerado o pai da participação social
moderna, dentro da sua doutrina do contrato social, na qual o autor defende a vontade geral como
entidade capaz de elaborar leis mediante uso do consenso decorrente da participação igualitária de
todos os membros da sociedade”31.

Por outro lado, tem-se presente na tradição liberal e socialista do séc. XIX ideia relativa a várias
formas de democracia e de participação política. “Na primeira vertente as palavras-chaves são:
liberdade de associação, direitos individuais, poder de voto e representação. O liberalismo não foi
capaz de mais do que transformações quantitativas na expansão da democracia, não houve portanto
uma reviravolta mas apenas uma correcção. Já na segunda vertente contribuiu-se de forma diferente,
na medida em que o apelo diz respeito a democracia a partir de baixo, também exercida de forma
directa, abrangendo decisões tanto políticas como económicas, envolvendo não só a sociedade
política como também a sociedade civil”.32

28
Idem, p. 35.
29
CfrJuciley Silva Envagelista FREIRE, participação e educação: concepções presentes nos estudos da revista de
educação e sociedade, cit., p. 35.
30
CfrJuciley Silva Envagelista FREIRE, participação e educação: concepções presentes nos estudos da revista de
educação e sociedade, pp. 37-38 e a bibliografia aí citada.
31
Cfr Norberto BOBIO dicionário de política, ed. LGE/UnB., Brasília, 2004. ApudFlávioGOULART, poder deliberativo,
paridade, autonomia…cit., pp. 2-4.
32
Ibidem.

27
Afirmara-se na época, que a noção de participação estaria assim associada a uma necessária
consubstanciação da democracia, tendo em conta a sua expressão altamente polissémica que por essa
razão se acomoda a diversas interpretações, o que sem duvidas suscita alguma divergência ao
compreende-la. Partindo por exemplo de situações em que “a participação do cidadão não passa de
simples expectador até a uma situação de protagonismo de destaquenas decisõespolíticas, sendo esta
ultima, a que se dedica maioratenção, ao ser considerada como o sentido mais amplo e qualificado de
participação”.33

Assim, a busca por uma maior democratização na área administrativa suscitou bastante atenção
notavelmente noséc. XX, aonde se discute o paradoxo de se viver num Estado democrático, mas
cujos cidadãos ainda permaneciam no estado de súbditos diante da administração. Porém, aludiu-se
para o alcance não só de uma democracia de investidura, preocupada unicamente com o modo de
designação de poder, mas de uma democracia de funcionamento para uma real efectivação das ideias
democráticos nos exercícios do poder.

Diante do exposto, a noção de participação tomará como referencia um processo de maior


aproximação entre o cidadão e a administração, num aumento de interacção entre os agentes públicos
e os cidadãos, como tendência que traz o desdobramento nos mais variados sentidos. Como forma de
se relacionar, os cidadãos deixam de serem vistos como entes passivos, inertes diante das decisões
administrativas e passam não só a esperar pela participação destes, mas também, efectivamente
estimular a sua colaboração com a actividade estatal. Esta abordagem da relação cidadão-
administração traz consequências diversas de noções clássicas de direito administrativo, como é o
caso do aferimento do interesse público, onde antes implicitamente pensava-se em termos mais
próximos a um verdadeiro monopólio estatal na sua definição. “Hoje ressalta-se uma construção
colectiva de interesse público no caso concreto, o que se dá por meio da participação do cidadão na
actuação administrativa, sempre levando em consideração a pluralidade de interesses a que se
submetem as decisões a serem tomadas”. 34 Nesse sentido, encontram-se construções actuais, capazes
de reconhecer que, embora a administração possua um papel de destaque na busca pelo interesse
púbico, tanto na formulação como na sua realização, não poderiam ser vistas como um monopólio
estatal.

Portanto, a participação como etapa de um verdadeiro reajuste nas relações entre cidadão e Estado,
os seus reflexos tendem a ser abrangidos por vários campos da actuação do Estado, mais
concretamente o fenómeno da participação na actuação administrativa, existem algumas doutrinas

33
Ibidem.
34
Ibidem.

28
que se debruçam sobre ela, como é o caso da MARIA ZANELLA DI PIETRO, que referencia a
participação na gestão do controle da administração pública constituindo um dado fulcral que
distingue o Estado de direito democrático do Estado de direito social, ou seja,aquele que corresponde
as aspirações do individuo de participar quer pela via administrativa quer pela via judicial na defesa
da imensa gama de interesses públicos que o Estado por si só não pode proteger.35

Apesar de diversas acepções trazidas sobre o fenómeno participativo, é fundamental que se entenda
que o desenvolvimento da questão em análise, consubstancia-se na possibilidade de o cidadão fazer
parte da decisão administrativa.

2.2- Responsabilidade de Condução das Políticas Administrativas

Feita a abordagem sobre a origem do fenómeno participação, importa agora debruçar acerca da
responsabilidade de condução das políticas administrativas.

Começaremos por apresentar o conceito de governo, que na visão de Marcelo Caetano é um órgão
que exerce simultaneamente as funções politicas legislativas e administrativas36. Mas, tudo depende
do regime político vigente em determinado território. Se se tratar de um Estado em que vigora o
regime de ditadura, a orientação política fundamental deriva do ditador, individuo que em si
concentra toda a totalidade do poder, ou partido único, organização que monopoliza a orientação
política do país ou seja aqui encontramos um governo exclusivamente administrativo. No caso de um
Estado em que vigora o regime democrático, o governo é um órgão predominantemente político e
secundariamente administrativo.37

Tomando como base o caso de Estados aonde vigora o regime democrático como é o nosso, o
governo é um órgão predominantemente político ou administrativo. No entanto, sobre o modelo
presidencialista, de salientar que esteé o modelo em que a função política pertence essencialmente ao
presidente da república, e o governo tem uma função predominantemente administrativa, neste
modelo os ministros são meros executores da política presidencial, cabendo-lhes gerir os serviços
administrativos colocados na sua dependência.38

Neste contexto a lei dá-nos exaustivas orientações sobre a competência de condução das políticas
administrativas. É assim que nos termos do artigo 120º da Constituição da República na sua alínea b)
aduz-se que,é da competência do presidente da república dirigir a política geral de governação do
35
Ibidem
36
Cfr Marcelo CAETANO, manual de direito administrativo, 10ª ed. Ver e actual., Almedina, Coimbra, 2005, p. 255.
37
Cfr Diogo Freitas do Amaral, curso de direito administrativo, 3ª ed., 8ª reimp., edit. Almedina, 2014, pp. 243 e ss.
38
Ibidem.

29
país e da administração pública. Depreende-se do referido artigo que o titular do poder executivo
figura como órgão superior da administração pública angolana e será da sua competência ditar as
orientações em tudo quanto respeite as políticas administrativas.

No âmbito da função administrativa, o governo surge-nos antes como órgão do Estado-


administração, em que figura como órgão supremo da hierarquia da administração do Estado e,
exercendo poderes tutelares sobre os institutos públicos, as autarquias locais, as associações públicas,
e ainda as pessoas colectivas publicas de direito privado e regime administrativo, pode dizer-se que
rege toda a vida administrativa do país.39

Ao governo compete a direcção da administração pública que é o seu braço de trabalho através da
qual se cumprem as instruções e indicações especiais do programa do governo, sendo aquela
composta pelo conjunto de funcionários ou agentes com competências específicasem diversas áreas
de actuação, servindo o Estado e o interesse público, através da realização das tarefas que lhes são
distribuídas.

Dentro da administração central, aorganização e funcionamento das políticas administrativas vem


ainda consagrado no nº 2 do artigo 2º da lei da organização e funcionamento dos órgãos auxiliares do
presidente da república, decreto legislativo presidencial nº 5/12 de 15 de Outubro, dispondo o
seguinte: o presidente da república é a mais alta autoridade politica da nação e da administração
publica, representando a nação a nível interno e internacional, garantindo a unidade do Estado, a
independência do país, a integridade nacional, assegura o cumprimento da constituição e das leis,
promove e garante o regular funcionamento dos órgãos da administração directa do Estado.
Competindo ao governo a criação de políticas que visam garantir a prossecução das políticas
administrativas no que diz respeito a satisfação do interesse público em geral e em particular as
políticas ambientais, o saneamento básico, o tratamento da água, a recolha e aterro sanitário entre
outras políticas não menos importantes.

No que se refere a administração local, esta responsabilidade estáatribuída nos termos do artigo 12º
da lei nº 17/10 de 29 de julho, aos órgãos de administração local, exercendo de forma desconcentrada
as tarefas da administração central do Estado. Assim está incumbida ao governo no domínio do
ambiente:

a) Promover medidas tendentes a defesa e a preservação do ambiente;


b) Promover acções, campanhas e programas de criação de espaços verdes;

39
Ibidem

30
c) Prover e apoiar as medidas de protecção dos recursos hídricos, de
conservação do solo, da água, e dos atractivos naturais para fins turísticos, tendo em conta o
desenvolvimento sustentável do turismo.
d) Promover o saneamento e o ambiente, bem como a construção de
equipamento rural e urbano;
e) Promover campanhas de educação ambiental.

No domínio do poder local, cabe a administração municipal promover e orientar o desenvolvimento


económico e social e assegurar a prestação de serviços públicos na área geográfica de jurisdição, que
por sua vez será conduzida pelo administrador municipal, e no domínio das politicas publicas terá a
suma responsabilidade de auscultar e coordenar com as autoridades tradicionais, a realização das
acções administrativas junto das populações não esquecendo portanto da responsabilidade de
realizações que impeçam a deterioração da fauna e da flora que contribuem para a preservação do
meio ambiente.

2.3- Envolvência dos Cidadãos nas Políticas Administrativas

A envolvência dos cidadãos nas políticas administrativas, pressupõe a participação activa da


população directamente interessada, no entanto, deve-se abordar a relação Estado/particular e dai
poder perceber como devem os cidadãos envolverem-se nas políticas de gestão administrativa, pois
que é o cidadão usuário as implementações governamentais e deve desta forma, actuar ou participar
constantemente na sua consolidação. A envolvência urbana, implica participação e esta por sua vez
exige dos cidadãos informação, educação e capacitação para que o mecanismo da envolvência se
efective.

Não obstante, a necessidade de se analisar a envolvência do cidadão no que diz respeito a


participação dos mesmos na administração pública, pode estar estritamente ligada a três sectores.
Sendo eles: a apatia política, abolia política e acracia política, como refere Diogo Moreira Neto
citado por Paulo Modesto.

 No que diz respeito a apatiapolítica, a falta de estímulo para a envolvência do cidadão


relaciona-se directamente com a falta de informação sobre os direitos e deveres, incomunicabilidade
directa nitidamente ágeis do cidadão face ao aparelho administrativo do Estado, falta de resposta às

31
solicitações feitas pelos particulares, a falta de cultura participativa e a excessiva demora na resposta
das solicitações criticas;
 Quanto a aboliapolítica, o não querer participar está relacionado por sua vez com o cepticismo
quanto a manifestação do cidadão efectivamente ser levada em consideração pela administração,
assim como pela falta de reconhecimento e estima colectiva para actividade de participação do
cidadão;
 E por último a acraciapolítica, que tem que ver com o baixo nível de escolarização dos
requerentes, o formalismo administrativo e a ausência de práticas de conversão das solicitações orais
em solicitações formalizadas, a falta de esclarecimento dos direitos e deveres das partes nos
processos administrativos, a complexidade e prolixidade excessiva nas normas administrativas, além
dos graves problemas de ordem política e económica própria dos países subdesenvolvidos.40

Na relação entre Estado e o particular, o executivo deve criar mecanismos no âmbito legislativo que
possam impulsionar a envolvência da sociedade nas políticastraçadas. Porém,nãose pode deixar de
realçar que o período de conflito armado influenciou significativamente no que diz respeito a
consciência dos próprios cidadãos. Mas, apesar de todos elementos impeditivos da envolvência dos
cidadãos, dentro do executivo angolano foram criadas varias leis que visam incentivar a população a
envolver-se na gestão de tarefas que lhes digam respeito.

Nesse contesto, os dispositivos como a iniciativa popular, bem como intensificação massiva das
políticas públicas através das delegações municipais em matérias ligadas ao saneamento básico, são
medidas a seremtomadas no sentido de impulsiona-los a partilhar na gestão administrativa.

2.4- A Colaboração Como Parte Efectiva na Gestão dos Serviços Administrativos

É fundamental referir que para uma boa gestão dos serviços públicos a colaboração figura como um
elemento fundamental. Este integra a categoria dos princípios constitucionais sobre a organização
administrativa. Assim sendo, a administração públicadeverá estar em estreita colaboração com os
particulares, prestando-lhes em especial as informações e esclarecimento que necessitem, recebendo
as suas sugestões e informações, apoiando-os e estimulando as suas iniciativas.

A colaboração traduzirá o estrito relacionamento e a eventual troca de diálogo entre a administração


com os seus administrados.

40
Cfr Paulo MODESTO, participação popular na administração pública. Mecanismos de operacionalização, disponível
em:http://www.sadireito.com.br» consultado aos 2 de Abril de 2018.

32
Assim nos termos da lei 16-A/95 de 15 de Dezembro, os órgãos da administraçãopública devem agir
em estreita colaboração com os particulares para garantir a sua actuação no desempenho da função
administrativa. Portanto, para garantir a participação do cidadão a administração deve
nomeadamente:

a) Prestar as informações e o esclarecimento de que carecem;


b) Apoiar e estimular as iniciativas dos particulares e receber as suas informações e sugestões. A
Administração Pública responde pelas informações prestadas por escrito aos particulares ainda que
não obrigatória.

Esteé um princípio recente da actividade administrativa que constitui um dever jurídico para
administração cuja violação colocará o particular afectado no direito a impugnação contenciosa da
acção ou omissão da administração e a eventual reparação de danos nos termos do artigo 7º do
decreto-lei16-A/95 de 15 de Dezembro lei do procedimento administrativo.

Entre os deveres de cooperação,a lei refere expressamente o dever de prestar informação sobre o
andamento dos procedimentos em que estejam directamente interessados, bem como, o de conhecer
as resoluções definitivas que sobre eles foram tomadas, nos termos do nº 2 do artigo 200º da
Constituição da República. Este dever poderá existir quando o particular solicitar a informação mas
não apenas, neste caso, sempre que no decurso de um procedimento a administração adopte um
comportamento susceptível de afectar a esfera jurídica do particular devera dela dar a conhecer na
forma mais adequada possível.

Encontramos por outro lado o dever de esclarecimento dos particulares que abrange o dever de
notificação e o dever de fundamentação dos actos administrativos que afectem as posições jurídicas
subjectivas dos particulares.

O direito à informação está garantido para todo tempo que durar o procedimento administrativo a
violação por parte da administração do dever de informar pode ser fonte de responsabilidade civil
pelos danos eventualmente causados.

2.5- Políticas de Participação na Perspectiva de Outros Ordenamentos Jurídicos

Compreender como se processam as políticas participativas nos ordenamentos jurídicos é um marco


importante para o aprimoramento das políticas públicas vigentes no nosso ordenamento jurídico.

O presente item vai determinar o modo pelo qual a participação é visto nos diferentes ordenamentos
jurídicos. Levando-se a uma micro comparação ou uma comparação institucional.

33
2.5.1 Políticas de Participação no Brasil

Na constituição federal de 1988 existem várias previsões de participação do cidadão na gestão da


administração pública. “Começando por referir o artigo 5º, no inciso XIV que assegura a todos o
direito ao acesso a informação, não esquecendo do inciso LXXIII que garante o controlo da conduta
dos agentes públicos pelos cidadãos através da acção popular, e para completar, no seu parágrafo 2º
afirma que além destas garantias não se exclui nenhuma outra decorrente dos princípios pela carta ou
tratados internacionais em que o país seja parte, abrindo deste modo uma ilimitada oportunidade de
participação na administração pública”.41

FERNANDO LOOK aponta “a audiência pública como uma modalidade participativa que possibilita
ao cidadão a obtenção de informações e conhecimento das acções da administração pública, bem
como, a possibilidade de avaliar a conveniência, a oportunidade e a intensidade de suas acções na
medida que estará administrando de forma compartilhada. Afirma-se como sendo uma forma de
efectivação do estado democrático de direito, pois nesta modalidade o cidadão ao interagir com a
administração estará exercitando o poder que a ele é inerente”.42

Afirma ainda o autor que a “audiência pública, como instrumento de participação constitui-se em
importante vertente de práticademocrática, tomada em sua plena concepçãodoutrinária que
possibilita o acesso ao exercício do poder”.43 Constitui assim um grande meio de obtenção de
informações, que capacitam o cidadão para uma participação de resultados, seja através da
legitimação dos actos compartilhados com a administração pública, seja através de constante
negociação democrática.

Ainda neste ordenamento jurídico, fala-se da colaboração do cidadão no processo de gestão e


avaliação das políticas públicas, que se tem obtido resultados muito positivos. Em algumas cidades a
plataforma de participação, engloba todas as actividades que contam com o envolvimento da
sociedade. “Aqui o cidadão pode participar de consultas públicas para criação de novas legislações,
conferências temáticas que debatem políticaspúblicas e até mesmo aprimorar a criação de
movimentos sociais com a participação dos conselhos sectoriais. Só para citar alguns mecanismos
aque se tem levado a cabo, aproveitando a era tecnológica usam-se portais de transparência
fomentando a discussão e a participação popular, nele é possível encontrar todas as informações

41
Cfr Fernando Nascimento LOOK, revista electrónica de contabilidade, vol. 1, 2004, pp 124 e ss.
42
Ibidem
43
Ibidem

34
relevantes dos entes públicos, o que significativamente reduz a burocracia e permite que o cidadão
conheça a gestão a fundo”.44

2.5.4 Em Portugal

Em Portugal os direitos/deveres do cidadão face a administração pública, vêm consagrados no


código de procedimento administrativo de 1991, alterado em 1996, o código que consigna
essencialmente os princípios gerais da administração de um moderno Estado de direito e as relações
destas com os administrados.

A participação dos cidadãos na gestão da administração pública vem consagrado no artigo 267º nº 1
na sua dimensão de participação dos particulares na formação de decisões ou deliberações que lhes
dizem respeito, este foi objecto de explicitação e de concretização legal estabelecido no artigo 8º do
código de procedimento administrativo daquele respectivo território. A participação dos particulares
na gestão da administração é uma modalidade impressiva da aplicação da função administrativa dos
mecanismos de democracia participativa típico do Estado social constituindo a sua consagração legal
uma evolução apreciável do regime administrativo português marcada por uma herança da
administração executiva.

FREITAS DO AMARAL refere que, “os cidadãos não devem intervir na vida administrativa apenas
através das eleições dos respectivos órgãos para posteriormente ficar alheios a todo o funcionamento
do aparelho e só podendo pronunciar-se de novo quando voltar haver eleições dos dirigentes, pelo
contrário devem poder participar no quotidiano da administraçãopública e, nomeadamente, devem
poder participar na tomada de decisões administrativas”45. Não se coloca aqui qualquer suposição
que a constituição tenha pretendido impor em exclusivo formas de democracia directa, com
eliminação da democracia representativa: o que se pretendeé que deve haver esquemas estruturais e
funcionais de participação dos cidadãos no funcionamento da administração pública. Nesta visão o
autor apresenta dois elementos, nomeadamente:

a) O primeiro tem que ver com o elemento estrutural: em que a administração pública deve ser
organizada de tal forma que nela existam órgãos em que os particulares participem, para poderem ser
consultados acerca das orientações a seguir ou mesmo a tomar parte nas decisões a serem
implementadas;

44
Cfr GESTÃO PUBLICA: a importância da participação popular no processo de gestão pública, 2018 www.e—
gestãopublica.com.br
45
Cfr Diogo Freitas DO AMARAL, idem, p. 908 e 909.

35
b) O segundo tem que ver com o elemento funcional em que determina a participação e a
necessidade de colaboração da administração pública com os particulares, sem se esquecer da
garantia dos vários direitos de participação dos particulares na actividade administrativa.

No tocante a participação não ligada ao procedimento administrativo encontra-se plasmado de forma


específica no ordenamento jurídico em referência com são os direitos económicos, sociais e culturais
e é objecto de consagração legal pontual nos termos do art. 115º do código de procedimento
administrativo conferindo um direito dos particulares a apresentação de petições que visam a
elaboração, modificação ou revogação de regulamentos) mas não genericamente enquadrada na lei.

2.5.5 Em Cabo-Verde

A constituição cabo-verdiana de 1992, revista em 2010, consagra no seu artigo 54º a participação do
cidadão na vida pública, e dispõe no seu 204º no âmbito da competência administrativa, a
responsabilidade de condução de políticas administrativas a quem atribui a responsabilidade ao
governo. Desta feita, preconiza um modelo de descentralização que não se limita a esfera da
administração pública, pois os órgãos das autarquias podem delegar poder nas organizações
comunitárias tarefas administrativas. Assim para este ordenamento jurídico o âmbito de intervenção
dos particulares na vida pública define conceitos e estabelece princípios e mecanismos para a
concretização da democracia imposta pela constituição.

Neste território regista-se um grande défice de participação porque o desenvolvimento institucional


dos municípios, bairros e povoados, comunidades locais – é irrelevante, tanto no que diz respeito ao
potencial que a organização encerra, como no que respeita a exigência de implementação de um
modelo democrático de gestão municipal. Entretanto, o nível de apropriação social dos principais
instrumentos de participação das populações na vida públicaé reduzida o que reclama de
implementação de acções sistemáticas de informação, educação e de capacitação das populações
para o realeprogressivo exercício social, com vista a constructo social que se realiza numa
perspectiva de longo prazo.46

46
Cfr José SEMEDO,etalli, estudo diagnóstico sobre o processo de descentralização em cabo-verde, 2013. pp. 176 e177.

36
CAPITULO – III: EIXOS ESTRUTURANTES DA PARTICIPAÇÃO DO
CIDADÃO NA MATERILIZAÇÃO DA PROTECÇÃO AMBIENTAL

3.1- Princípio da Formação e Educação Ambiental

Oambiente no seu vasto entendimento de bem colectivo determina uma total mudança de
comportamento e alteração de mentalidades. Pois numa realidade cultural como a angolana a
sensibilização das pessoas para a relevância ambiental é fundamental em razão da pobreza que leva a
utilizar irracionalmente os recursos naturais.

O actual estado de crise ambiental em que nos encontramos, clama neste mundo contemporâneo por
uma reinvenção política, uma relação interdependente entre as estruturas estatais e a colectividade.
Estas obrigações humanas clamam por um fomento de iniciativa, quer na perspectiva de representar
uma múltipla sociedade civil, quer ainda nas obrigações de reinscrever a utopia na essência da
política do ambiente. Objectiva-se compreender o percurso de uma educação ambiental não apenas
como mero instrumento de resolução de problemas, para uma educação ambiental mais abrangente,
integrada na estrutura da sociedade e focalizada na forma como se relacionam entre si. Isto por sua
vez, tem suscitado muitos conceitos divergentes, se não mesmo erróneos em torno da educação
ambiental, por essa razão Fernando Alves e Sandra Caeiro traz um esclarecimento relativo à matéria.
Para FERNANDO ALVES e SANDRA CAEIRO defendem que “não devemos olhar para educação
ambiental apenas como o ensino de questões ambientais a ser tratado pelas instituições de ensino”47.
Este autores, afirmam que o ensino de temáticas ambientais é realmente tratado em disciplinas como
biologia, a climatologia, as ciências da terra e da vida, ciências do ambiente entre outras. Neste
contesto, é preciso compreender que as pessoas envolvidas na educação ambiental não precisam de
competir com pessoas titulares das cadeiras ligadas ao ambiente tão-somente precisam da sua
colaboração, pois podem ser óptimos colaboradores para eles.

Porquanto, a formação e educação ambiental são componentes necessárias e transversais estratégicas


nas políticas ambientais. Pois “permitirá pelos seus conceitos básicos uma nova interacção criadora
que possa redefinir o tipo de pessoa que a sociedade precisa formar e os cenários futuros que
almejamos construir para a humanidade em função do desenvolvimento de uma nova racionalidade
ambiental, assim, torna-se necessário a formação de indivíduos para responder aos anseios e desafios
colocados pelo tipo de projecto de desenvolvimento apartir de um novo espírito em harmonia com a

47
Fernando Loureiro ALVES e Sandra CAEIRO, Educação ambiental, Universidade aberta, 1998, pp.80 e ss.

37
sociedade e a natureza, e que, ao mesmo tempo, sejam capazes de superar o pensamento meramente
instrumental e inquietantes que têm servido de preocupação nos nossos dias.”48

É importante referir que o processo de educação ambiental desempenha um papel fulcral para
propiciar a participação de todos os sectores na tomada de decisão ambiental, local, nacional e
regionalmente. Os novos enfoques têm vindo a considerar a enorme complexidade dos problemas
ambientais,sem deixar de olhar para as outras áreas do saber que podem influenciar esta participação.

No ordenamento jurídico angolano a educação ambiental vem consagrado na lei de bases do


ambiente, lei 5/98, de 19 de Junho, no seu art. 20º que dispõe o seguinte:

1. A educação ambiental é a medida de protecção ambiental que deve acelerar e facilitar a


implementação do programa nacional de gestão do ambiente, através do aumento progressivo de
conhecimentos da população sobre os fenómenos ecológicos, sociais e económicos que reguem a
sociedade humana;
2. A educação ambiental deve ser organizada de forma permanente e em campanhas sucessivas
dirigidas principalmente em duas vertentes:
a) Através do sistema formal de ensino;
b) Através do sistema de comunicação social.
3. As campanhas de educação ambiental devem atingir todas as camadas da população sendo de
considerar a organização de projectos especiais, nomeadamente para as forcas armadas, dirigentes
e responsáveis do aparelho do Estado.

Em Angola um avanço na consolidação da educação ambiental é dado em 2001, com a proposta do


Ministério das Pescas e Ambiente, através da comissão multissectorial para o ambiente, que elaborou
o programa de educação e conscientizaçãoambiental (PECA), com definições para os princípios,
finalidades, objectivos e a implementação do programa na educação ambiental formal e não formal. 49

Não obstante, não estar consagrada na nossa legislação ambiental, a formação é um elemento que
anda intimamente ligado com a educação ambiental. Assim, para que haja uma melhor gestão da
coisa pública onde o ambiente não está de fora, é crucial capacitar a sociedade civil em aspectos de

48
Cfr Sílvia Aparecida Martins DOS SANTOS, reflexões sobre panoramas ambiental na formação de professores,
panorama da educação noção fundamental. Brasília, disponível em: hhcamila Amaral santos, inserção da educação
ambiental no ambiente escolar, Centro universitário metodista Isabela Hendrix Belo horizonte-MG 2010, pag. 22.Tendo
em conta essa preocupação, em outros ordenamentos jurídicos como é o caso de alguns países da América latina por
exemplo, foram desenvolvidos em vários níveis: formalmente da educação básica após graduação, e informalmente,
através de programas e actividades desenvolvidas pelos governos, ONGs, sector privado, académico, científico e pelos
organismos internacionais e multe-laterais, em forma conjunta ou individual, através da conformação de redes ou espaços
colaborativos.
49
Marcos SORRETINO, etali., fortalecimento da educação ambiental em angola, Luanda, 2006, p. 39.

38
fundo, no entendimento dos ecossistemas no qual ele habita eno domínio das ferramentas e
instancias que permitam sua participação nas políticas criadas pelos organismos que compõem o
aparelho do Estado. Neste domínio as ONGs possuem um papel fundamental, no que toca a
canalização de informações às comunidades até as entidades governamentais e vice-versa, facilitando
a tomada de decisão com a informação qualificada e acessível. “Também é importante que ao nível
local se criem agendas de desenvolvimento para assim poder gerar ou influenciar a elaboração,
implementação e avaliação do cumprimento das políticas ambientais.”50

No âmbito de desenvolvimento de integração da educação ambiental, criou-se o programa nacional


de educação ambiental de angola-proNEA, cujo carácter prioritário e permanente deve ser
reconhecido por todos os governos, e tem como eixo orientador a perspectiva da sustentabilidade
ambiental na construção de uma sociedade de todos. As acções deste programa destinam-se a
assegurar no âmbito educativo, a interacção e a integração equilibradas das múltiplas dimensões da
sustentabilidade ambiental.

Este programa propõe um constante exercício da transversalidade para internalizar por meio de
espaços de interlocução bilateral e múltipla a educação ambiental no conjunto do executivo, e nas
entidades privadas, em fim na sociedade como um todo e estimula o diálogo interdisciplinar entre as
políticas sectoriais e a participação qualificada nas decisões sobre investimento, monitoramento e
avaliação do impacto das medidas criadas.

3.2- Princípio da Participação Ambiental

Oprincípio da participação traduz uma das mais importantes conquistas do Estados modernos no
âmbito da actividade pública administrativa e a correlativa relação com os seus administrados. Tendo
em conta o facto de os cidadãos terem de participar de diversos modos no exercício da actividade
administrativa51.

SegundoMeduar a participação é caracterizada pela existência de instrumentos que permitem o


cidadão intervir ou fiscalizar a actividade estatal, seguidamente na actividade desenvolvida pela
administração pública. Estes instrumentos são caracterizados por permitir a participação da
populaçãointeressada em uma parcela de responsabilidade nas tomadas de decisões do Estado e
permitir sua influência nas políticas públicas que venham atender os anseios da comunidade.

50
Cfr PNUMA, GEO América Latina e Caribe: perspectivas do meio ambiente 2003. P. 220-221 (tradução não oficial do
Capitulo “formação e educação ambiental”
51
Cfr Carlos FEIJÓ e Cremildo PACA, introdução a organização administrativa, 1ª ed., vol. 1, Outubro, 2005, pp. 88-89.

39
Verifica-se que ao longo dos últimos trinta anos tem-se assistido a um reconhecimento progressivo
do princípio da participação como pilar fundamental para o sucesso das políticas ambientais.No
entanto, desde a declaração de Estocolmo realizada em 1972, podia desde o início ler-se no seu
preâmbulo que, a prossecução dos objectivos de preservação do ambiente implica que todos os
cidadãos e colectividades, empresas e instituições, a qualquer nível, assumam suas responsabilidades
e compartilhem equitativamente, os esforços comuns. Este princípio portanto seria consignado de
uma forma mais explícita na declaração do Rio sobre o ambiente e desenvolvimento, que encerra a
mais universal das definições52. E nesta perspectiva, defende-se a necessidade de os órgãos e agentes
administrativos eosdiversos grupos sociais poderem intervir com um papel activo na tomada de
decisões relevantes para o ambiente

A noção de participação na vida pública deve actualmente incluir uma maior enfâse entre cidadão e
sociedade através de abordagem de temáticas ligadas a democracia participativa, a relevância da
salubridade ambiental a essência de melhor acondicionamento de resíduos etc.,esta articulação de
participação educativa vem no sentido de evidenciar uma política participativa fundamentalmente
actuante e com maior impacto para a administração partilhada.Pois, entende-se que as questões
ambientais são melhor tratadas com a participação ao nível apropriado de todos os cidadãos
implicados.

A nível nacional todos os indivíduos devem ter acesso a informação relativa ao ambiente, detidas
pelas autoridades, incluindo informações sobre materiais e actividades perigosas nas suas
comunidades, como a oportunidade de participar nos processos de tomadas de decisões. Apela-se aos
Estados que devam facilitar e incentivar a consciencialização e a participação do público, colocando
a disponibilidade de forma ampliada a informação.53

Não obstante, deve-se garantir um acesso objectivo e efectivo aos processos judiciais
administrativos, incluindo os de recuperação e remediação.

Ademais, ao nível do direito do ambiente defende-se a necessidade de os órgãos e agentes


administrativos e dos diversos grupos sociais existentes na comunidade, intervirem não apenas de
forma consultiva, mas também com um papel activo e mais actuante nas tomadas de decisões
relevantes para o meio ambiente. Porém, se tem referido que se é necessário garantir que os
causadores sejam responsabilizados, é de igual modo imperioso que os cidadãos sensivelmente
considerados ou organizados em grupos ou associações possam dar o seu contributo no controlo e

52
Cfr Nuno VIDEIRA, Inês ALVES e Rui SUBTIL, instrumento de apoio à gestão do ambiente, 1º vol. universidade
aberta, 2005.
53
Ibidem

40
execução da política do meio ambiente (cfr artigo 4º al. b) da lei nº 5/98 de 19 de Junho lei de bases
do ambiente).

O princípio da participação está intimamente ligado com um outro principio que nos últimos tempos
vem sendo fortemente divulgado, no sentido de evidenciar cada vez mais o papel do cidadão: o
direito àinformação que vem estatuídono artigo 6º al f) do regulamento sobre a gestão dos resíduos
que se fere a obrigatoriedade de acesso à informação. Depreende-se desse modo que a participação
ambiental somente se completa com a informação e educação ambiental e no entanto, elas não
poderão ser prestadas de qualquer maneira ou a belo prazer de quem as transmite. Elas devem ser
adequadas e respeitar algumas qualidades e características básicas, como de serem verazes e
contínuos, tempestivos e completos, pois só quando o cidadão está devidamente informado é que
pode ter a oportunidade de exercer convenientemente o seu direito e dever de participação.

A este princípio está ainda subjacente o pressuposto de que a participação plena dos agentes
interessados nas decisões ambientais contribui para regras credíveis e devidamente aceites. Deste
modo, a responsabilidade destes agentes poderão ser identificadas e atribuídas de uma forma
apropriada. E para a prossecução dos objectivos de acesso a informação, participação pública e
acesso à justiça deverão então ser estabelecidas pelas instâncias de decisão política os mecanismos
que permitam uma intervenção efectiva dos cidadãos e das associações representativas. 54

Portanto, não podemos deixar de frisar que é a educação que permite compreender a importância da
informação sobre questões ligadas ao ambiente e este por sua vez vai permitir uma participação
activa e plena nos procedimentos de tomadas de decisões intimamente ligadas ao ambiente e uma
eventual sindicância das decisões jurisdicionais aplicadas.

3.3- Princípio da Prevenção

A obrigação de prevenir o dano ambiental, quando pode ser detectado antecipadamente, é


fundamental, uma vez que os danos ambientais, na maior parte das vezes, são irreversíveis e
irreparáveis.

Dado o seu entendimento como princípio basilardo direito do ambiente, significa que a prioridade
deve ser dada as medidas que evitem o surgimento de atentados ao meio ambiente, de modo a reduzir
ou eliminar as causas de acções susceptíveis de alterar a sua qualidade.Importa referir e assim vem
consagrado na al. c) do artigo 4º “que todas as acções ou actuações com efeito imediato ou a longo

54
Nuno Alves, Inês ALVES e Rui SUBTIL, instrumentos de apoio à gestão do ambiente, Op. Cit.

41
prazo no ambiente, devem ser consideradas de forma antecipada, por forma a serem eliminados ou
minimizados os eventuais efeitos nocivos”. Extrai-se do referido enunciado que devemos agir com
cautela no manejo de bens ambientais, advindo desta, a importância do estudo prévio de impacto
ambiental e do relatório de impacto ambiental, a autorização ou licenciamento ambiental cuja
finalidade é a de verificar se determinado empreendimento pode ou não causar degradação, e
estabelecer as condições de implementação de condições apropriadas a sua edificação.

É neste sentido que Ramon MartinMateo citado por EdisMiralé afirma a ideia de que os objectivos
do direito ambiental são essencialmente preventivos, e a sua actuação esta voltado para o momento
anterior a consumação do dano, ou seja, diante de pouca valia da simples reparação, sempre incerta,
e em algumas vezes excessivamente onerosa, a prevenção é a melhor se não mesmo a única
solução.55

Este princípioé especialmente importante na protecção do meio ambiente pois é uma regra de
stritosenso, aquela que determina que, ao invés de contabilizar os danos e tentar repara-los, se tente
fundamentalmente evitar a ocorrência dos mesmos antes de terem acontecido, por razões que na
perspectiva de Maria Alexandra Aragão são bastante evidentes56. Nesse sentido afirma a autora:

 Mais vale prevenir, porque em muitos casos depois da poluição e o dano


ocorrer, é impossível a restituição natural ou situação anterior, significando isto dizer que dai
torna-se impossível remover a poluição;
 Mais vale prevenir porque nalgumas vezes mesmo sendo possível a
reconstituição do estado anterior ao dano, esta torna-se de tal modo onerosa, que não é razoável
exigir um tal esforço ao poluidor;
 Por ultimo mais vale prevenir porque é economicamente muito mais
dispendioso remediar que prevenir. Com efeito, o custo das medidas necessárias a evitar a
ocorrência da poluição é geralmente muito mais reduzido economicamente ao custo das medidas de
despoluição após a ocorrência do dano.

Ainda no pensamento da autora destaca-se que o princípio da prevenção implica a adopção de


medidas preventivasda ocorrência do dano concreto, com objectivo de evitar a verificação desses
danos oupelo menos minimiza-los significativamente relativamente aos seus efeitos. De outro modo,
estas medidas poderiam ser adoptadas tanto por entidades públicas como pelos próprios particulares,
respeitando sempre o princípio do poluidor pagador vigente na legislação respeitante ao ambiente,

55
Ramon Martin MATEO, apud Edis MIRALÉ, princípios fundamentais do direito do ambiente, disponível em revista
justitia-vols. 181/184-Janeiro a Dezembro, 1998.
56
Cfr Maria Alexandra de sousa ARAGÃO, direito comunitário do ambiente, Almedina, p. 16.

42
portanto elas deveram ser primordialmente privadas e mesmo quando as medidas residuais sejam
mais públicas poderão merecer o custeamento dos poluidores. 57

3.4-Princípio do Poluidor Pagador

Entende-se o princípio do poluidor pagador como princípio que abarca em si um instrumento


económico e também ambiental, exigindo do poluidor uma vez identificada a poluição, suportar os
custos das medidas de prevenção, eliminação ou pelo menos a neutralização dos danos ambientais. A
objectivação deste princípio pelo direito, ocorre ao dispor ele de normas do que se pode e que não se
pode fazer, bem como regras flexíveis, tratando de compensações, e dispondo inclusive de taxas a
serem pagas para utilização de um determinado recurso natural.

Este princípio traduz a fórmula de que quem provocar dano/poluição ao meio ambiente deve suportar
os respectivos custos económicos, com a probabilidade de alteração de comportamento, evitando
deste modo a emissão de determinadas quantidades poluentes paraatmosfera como consta do
regulamento sobre a responsabilidade por danos ambientais, elencado na al. b) do artigo 2º.

Gomes Canotilho apresenta a ideia de que oprincípio do poluidor pagador não é o mesmo que
responsabilidade civil por danos ambientais, assim é fundamentalmente errado pensar que o PPP tem
uma natureza curativa e não preventiva uma avocação para intervir a posterior e não a prior. Assim,
apesar de PPP poder recordar o princípio jurídico segundo o qual quem causa danos é responsável
devendo suportar a sua recuperação, entende o autor em colaboração com maior parte da doutrina do
qual partilhamos o pensamento que o PPP não se reconduz a um mero princípio de responsabilidade
civil mas isso não significa que se negue que no direito do ambiente vigore o princípio da
responsabilidade civil objectiva ou subjectiva por danos causados. O autor entende é que a
identificação do PPP com o princípio da responsabilidade civil não corresponde ao sentido com que
historicamente surgiu há cerca de duas décadas, formulado primeiro pela OCDE e recebido pouco
mais tarde pela União Europeia. 58

Deste modo, a prossecução dos fins de melhoria do ambiente e qualidade de vida, com a justiça
social e ao menor custo económico, será indubitavelmente mais eficaz se cada um dos princípios se
especializar na realização dos seus fins para os quais está naturalmente mais vocacionado.59

57
Ibidem
58
Cfr Jose Joaquim Gomes CANOTILHO, introduçãoao direito do ambiente, universidade abert, 1998, pp. 70 e ss.
59
Cfr Ibidem.

43
 Oprincípio da responsabilidade civil para a reparaçãode danos causados às
vítimas.
 OPPP para a precaução e redistribuição dos custos.

Por outro lado, o princípio do poluidor pagador é o princípio que, com maior eficácia ecológica,
economia e qualidade social consegue realizar o objectivo de protecção ambiental.

Os fins que o PPP permite realizar são a precaução dos danos ambientais e a justiça na redistribuição
dos custos nas medidas públicas de luta contra a degradação ambiental.

Por força deste princípio, aos poluidores não poderão serdadas medidas diferentes que não deixar de
poluir ou então a medida de que o cidadão ou a empresa poluente tenha de suportar um custo
económico em favor do Estado, que por sua vez, deverá afectar verbas assim obtidas,
prioritariamente as acções de protecção do ambiente, nesta medida os poluidores terão de fazer os
seus cálculos de modo a escolher a melhor opção economicamente mais vantajosa e tomar medidas
necessárias a evitar a poluição ou manter a produção no mesmo nível e condições, consequentemente
suportar outros custos que o mesmo acarreta.60

Por seu turno o poluidor deve suportar os custos do desenvolvimento das medidas de controlo
prevenção e combate a poluição ou de outras fontes potencialmente poluidoras com o intuito de
garantir que o ambiente esteja num nível saudável e exigido pelos padrões internacionais

OPPPnão autoriza a poluição nem ignora a imprescindibilidade de uma política do ambiente voltado
para prevenção/precaução, antes pelo contrário este principio busca a vertente de que os custos
decorrentes das actividades que visam proteger o meio ambiente sejam delegados aos agentesque
deram origem a necessidade de tais custos, ou seja, as pessoas que possuem actividades
potencialmente lesivas ao ambiente. Pois oPPPdesempenha uma função que na linguagem
económica designa-se por internalização das externalidades ambientais negativas.E as actividades
geradas de externalidades negativas são aquelas que impõem custos a terceiros independentemente
da vontade de quem desenvolveessas actividades.61

Nessa linha de pensamento ensina José Eduardo de Figueiredo dias citado porPaulo Roberto, que a
poluição que determinada empresa provoca deixa de ser tratada como uma externalidade e para
passar a ser internalizada nos próprios custos de produção, querer isto dizer, a empresa que emite os

60
Cfr Ibidem.
61
Cfr Ibidem.

44
seus efeitos poluentes ao meio ambiente deverá arcar com os custos que advêm da poluição emitida e
não deixar a cargo da entidade estatal62.

Na visão de Paulo Roberto é necessário a determinação de medidas de capacidade de suporte dos


ecossistemas. Por essa razão é mister reconhecer que o ser humano é um subsistema dentro do
sistema ecológico geral63.

Portanto, tendo em conta a visão da economia ambiental, o jurista é chamado a construir novos
conceitos de responsabilidade que possam transcender os conceitos clássicos, pois o princípio
representa a pedra angular da imputação dos danose da internalização dos custos relativos a poluição.
Nessa vertente zsogon citado por Paulo sublinha:

As pessoas naturais ou jurídicas, regidas pelo direito publico ou privado, devem pagar os custos das
medidas que sejam necessárias para eliminar a contaminação ambiental ou para reduzi-las até aos
limites estabelecidos ou adoptar medidas equivalentes para assegurar a qualidade, quando padrões
não foram estabelecidos, ou adoptar medidas equivalentes determinadas pelas autoridades
públicas.64

Dessa forma pode-se dizer que o princípio do poluidor pagador não é apenas um princípio regente às
empresas, ou seja, não são apenas as empresas que estão obrigadasa reparar os danos ambientais,
mas também existe uma ampla responsabilidade de todos os cidadãos enquanto utilizadores dos
recursos existentes na natureza nas suas práticas de actividades potencial ou efectivamente
poluidoras. De igual modo traz a obrigação de adoptar as medidas recomendadas e normas públicas,
assim como de reparação dos danos independentemente da culpa. Não deixando de lado o grande
desafio que tem tido em quantificar o dano ambiental e fazer com que o conteúdo normativo descrito
em matéria ambientaltenha um efeito jurídico-pedagógico capaz de prevenir ao invés de
simplesmente buscar a reparação pecuniária em muitos casos impossível de compensar o prejuízo
provocado.

62
Cfr José Eduardo Figueiredo Dias, tutela ambiental e contencioso administrativo (da legitimidade processual e suas
consequências), Coimbra, 1997, apud Paulo roberto pereira de SOUZA, idem, p. 300
63
Ibidem
64
Sílvia Jaquenod de ZSOGON, El Derecho administrativo y sus princípios rectores, Madrid, Diykison, 1991, pp. 310-
311. Apud, Paulo Roberto Pereira SOUSA, idem p. 301.

45
3.5- Princípio da Cooperação Internacional

Tendo em conta o nível da sua abrangência, este é um princípio que perpassa toda a ordem jurídica,
inclusive a ambiental, objectiva informar uma actuação conjunta entre a comunidade e o cidadão na
escolha de prioridades e processos decisórios ou seja, é o princípio base para a auxiliar a informação
e participação nos processos de decisão de políticas ambientais.

Plasmadonaal. f) doart. 4º, determina a procura de soluções concertadas com outros países, com
organizações regionais, sub-regionais e internacionais, quanto a problemas ambientais e a gestão
de recursos naturais.Deste modo no domínio ambiental nota-se que este princípio assume um papel
preponderante tendo em vista os efeitos da degradação ambiental maior, tendo em conta que os
efeitos da degradação são sentidos por todos sem qualquer excepção, o seu carácter transfronteiriço
necessita e obriga o engajamento de todas as nações.

Derani citado por Paula Galbiate considera o princípio da cooperação também um direito
fundamental para o meio ambiente, embora não sendo exclusivo, este serve como norte especial e
constitui parte da estrutura do estado social orientando políticas relativa ao objectivo. Ainda nesta
linha de pensamento Deraniesclarece que o principio da cooperação é uma expressão do principio
genérico do acordo que perpassa toda a ordem jurídica incluindo a ambiental, informando a actuação
conjunta da sociedade e do Estado na escolha de prioridades e processo decisório,nestes termos
podia dizer-se que o principio da cooperação é a base para a ampliação da informação e participação
nos processos de decisões das politicas ambientais, não obstante suporta ainda as normas que abrem
espaço a cooperação entre os Estados e municípios como também para cooperação no âmbito
internacional onde é crucial um trabalho conjunto que supere fronteiras 65.

Torna-se ainda importante referir que a declaração de Estocolmo do referido supra teve um papel
importante na proclamação e difusão da questão ambiental,pois apresentava na sua carta vários
dispositivos que ressaltam a relevância da cooperação entre os mais variados agentes poluidores,
porquanto, elenca no seu item nº 7 da proclamação e o principio 24º que:

7 - A consecução deste objectivo ambiental requererá a aceitação de responsabilidade por parte de


cidadãos e comunidades, de empresas e instituições, em equitativa partilha de esforços comuns.
Indivíduos e organizações, somando seus valores e seus actos, darão forma ao ambiente do mundo
futuro. Aos governos locais e nacionais caberá o ónus maior pelas políticas e acções ambientais da
mais ampla envergadura dentro de suas respectivas jurisdições. Também a cooperação

65
Cfr Cristiane DERANI, Direito ambientaleconómico. São Paulo maxlimonad, 1997, p. 141-147 apud Paula Silveira
GALBIATTI

46
internacional se torna necessária para obter os recursos que ajudarão os países em desenvolvimento
no desempenho de suas atribuições. Um número crescente de problemas, devido a sua amplitude
regional ou global ou ainda por afectarem campos internacionais comuns, exigirá ampla
cooperação de nações e organizações internacionais visando ao interesse comum. A Conferência
concita Governos e povos a se empenharem num esforço comum para preservar e melhorar o meio
ambiente, em benefício de todos os povos e das gerações futuras. Princípio 24. Todos os países,
grandes e pequenos, devem ocupar-se com espírito e cooperação e em pé de igualdade das questões
internacionais relativas à protecção e melhoramento do meio ambiente. É indispensável cooperar
para controlar, evitar, reduzir e eliminar eficazmente os efeitos prejudiciais que as actividades que
se realizem em qualquer esfera, possam ter para o meio ambiente, mediante acordos multilaterais ou
bilaterais, ou por outros meios apropriados, respeitados a soberania e os interesses de todos os
estados.66

Ressalta-se mais uma vez a necessidade de olhar para as questões ambientais não apenas como uma
responsabilidade do Estado ou da administração publica ou ainda se quisermos nos referir de forma
mais detalhada como responsabilidade incumbidaao ministério do ambiente, assim,é necessário
lembrar que a questão da responsabilização do cidadão vem destacada há muitas décadas. Há ainda
que referir que o princípio 24º desta mesma declaração que destaca uma política geral de
responsabilização internacional de cooperação para preservação do ambiente, onde apela-se aos
Estados um espírito de solidariedade e inter-relação para se encontrarem soluções em relação a crise
ambiental que se tem destacado nos últimos tempos.

Obriga o mesmo,um espírito de cidadania participativa e co-gestão dos diversos estados na


preservação ambiental exigindo deles, portanto, uma forma intercomunitária que visa a uma gestão
do património ambiental comum.

3.6 – O estado do saneamento básico da Zona A – Benguela

Feita a genérica abordagem sobre os problemas ambientais, é chegado o momento da apresentação


do actual estado em que se encontra o saneamento básico na Zona A, em Benguela.

De realçar que o débil saneamento básico é um problema que se verifica um pouco por pouco por
todo país. Benguela não é a única a vivenciar problemas desta natureza, talvez seja altura de o
executivo reestruturar o seu programa ou talvez dar melhor aplicabilidade aos programas já
existentes.
66
Declaração de Estocolmo

47
Todos temos a tendência de reprimir apresentando o argumento de que tudo esta mal, ou seja, que o
executivo nada tem feito para ver o sistema do saneamento básico resolvido na nossa sociedade,
porém o que não se sabe e sabem refutam-se de o fazer, é saber se o cidadão também está obrigado a
participar nas políticas administrativas para assim poder contribuir na resolução dos problemas que
afectam a nossa sociedade.

Uma das situações com a qual nos temos deparado é o problema da recolha de resíduos que não tem
dado bons resultados, em primeiro lugar pela falta de contentores apropriados para deposição, que
tem resultado na deposição do lixo para qualquer lugar, sem o mínimo de condições para a deposição
do mesmo, por outro lado, há mais de um ano que não se remove os resíduos daquele lugar tendo
mesmo chegado a atingir uma situação muito desagradável, o que torna mais preocupante é que uma
das situações encontra-se junto ao hospital municipal de Benguela, a vala de escoamento das águas
pluviais (vulgo vala do coringe) que nasce do bairro 71 passando pelo bairro Docota, Canequetela,
Cambanda até ao centro da Cidade, e naturalmente isso pode ter repercussões negativa a saúde de
quem já se encontra naquela unidade sanitária de modos a não permitir a sua melhoria em tempo útil
ou chegando mesmo a contrair outras doenças.

Na verdade, no âmbito da presente pesquisa foi possível identificar que existe um programa criado
para cobrança de um valor taxado em duzentos kwanzas por morador, de iniciativa dos
coordenadores e dos sobas junto de alguns bairro da Zona- A, valor este que tem como finalidade
angariação de fundos para remoção dos resíduos, mas se têm deparado com resistência por parte de
alguns moradores em não querer comparticipar chegando mesmo a depositar o lixo na calada da
noite para que não cumpram com suas obrigações de cidadania. O que no nosso entendimento devia
ser evitado se se pautasse por um programa mais eficiente e eficaz de recolha de resíduos.

Esta situação está intimamente ligada a um outro problema, o da envolvência dos cidadãos nas
políticas públicas, pois como tivemos a oportunidade de referir supra, a envolvência constitui
elemento fundamental para concretização dos programas estabelecidos pela administração pública.
Na verdade queremos aqui realçar que se tem verificado uma fraca envolvência dos cidadãos nos
programas que impulsionam a melhoria ambiental, porquanto é sabido por todos e assim também
afirma MIRALÉ que é impossível conceber a exequibilidade das políticas ambientais sem a
participação dos cidadãos.

Há ainda que ressaltar a questão da colaboração como outro elemento fundamental para que se
efective a partilha da gestão da coisa pública. Verifica-se porém, que os cidadãos não têm colaborado
com os órgãos da administração pública no sentido de eliminar a distância existente entre elas.

48
Um outro elemento que pensamos quese deveria ter em conta com maior rigor é o acesso à
informação, vemos ainda que a administração pública oferece um sistema de informação deficiente e
que não se mostra capaz de impulsionar o cidadão a participar em questões referentes as políticas
públicas. É preciso que haja maior divulgação de matérias concernentes a participação activa dos
cidadãos, assim como as consequências que a sua exclusão pode contribuir de forma negativa para o
sistema sanitário ambiental.

Outro elemento não menos importante prende-se com a falta de seriedade das figuras que dirigem o
aparelho do Estado, falta de interesse, o que leva nalgumas vezes afrustração dos moradores que é
justificado pelo facto de os poucos cidadãos que participam serem influenciado pelo comportamento
dos demais que não participam acabando mesmo por descredibilizar a entidade administrativa. Não
obstante, existe um outro elemento ligado à falta de continuidade dos programas dos problemas
identificados no que diz respeito as empresas encarregadas pela varrição e recolha dos resíduos na
nossa Zona em particular e no município em geral. É preciso saber que o funcionamento de
determinada empresa não se deve extinguir pela extinção do cargo da figura encarregue da
administração, é preciso que se criem programas de recolhas sérios que possam atender às exigências
do milénio, visto que os efeitos do problema ambiental não se esgotam no presente, é um problema a
longo prazo que apenas se resolve se haver uma verdadeira imparcialidade na gestão dos resíduos em
particular e de um ponto de vista geral ao ambiente.

Um outro problema tem que ver com deficiência da vala do coringe que carece de uma
requalificação para suportar e permitir o escoamento de maior quantidade de água na época chuvosa,
na medida em que ajude a não permitir que as residências dos habitantes estejam inundadas nos dias
em que chove como se tem verificado.

Portanto, é por todos sabido o papel fundamental que a Administração Pública exerce para que haja
um sistema sanitário sadio. Com efeito, impõe-se a administração que no uso da liberdade de
conformação das soluções a adoptar tenha em consideração o papel que ela exerce para a resolução
dos constantes problemas sanitários.

Na verdade a lei estabelece as obrigações que a administração tem de usar os mecanismos que
permitam a participação dos cidadãos nas políticas públicas ambientais, assim, é imperioso que se
accione os mecanismos estabelecidos tanto na lei de bases do ambiente como o estabelecido no
decreto-lei16-A/95 de 15 de Dezembro (lei do procedimento administrativo), e a lei 15/16 de 12 de
Setembro (lei da administração local do Estado)para que com maior eficiência se possa
responsabilizar o cidadão a participar na gestão da coisa pública. Mas é necessário um cumprimento

49
escrupuloso do preceituado nas leis e regulamentos de modos a permitir uma participação mais
aberta e mais actuante para juntos contribuirmos para uma melhor salubridade ambiental e sanitária.

Um outro problema da execução dos programas tem haver também com as estruturas urbanísticas, a
construção desordenada do bairro, a falta de continuidades dos planos urbanísticos, falta de sargetas
para o escoamento das águas residuais para as valas de drenagens, a deficiente fiscalização no
momento da construção das obras que têm constituído também como elementos fundamentais para a
problemática do saneamento básico, pois a urbanização pressupõe que haja um plano continuado
tanto do ponto de vista da elaboração dos planos como no momento da sua execução. É imperioso
que tanto a administração como os particulares cumpram cautelosamente com o estabelecido nas
regras urbanísticas do contrário nãoserá possível conseguirmos ter o tão desejado sistema de
saneamento pretendido, se continuarmos presos no mesmo sistema que até ao presente não oferece
verdadeiras soluções.

Contudo, o artigo 39º ao se referir a participação de todo o cidadão do meio ambientefá-lo na


perspectiva de um direito e dever de todos para preservação do meio ambiente. No entanto, é
necessário entender que mais do que um direito o cidadão tem o dever de preservar o meio ambiente
pois este constitui um marco importante para sustentabilidade das futuras gerações. Portanto faz
necessário compreender que a participação não é um fenómeno que se concretiza em si mesma,
impõe-se assim a lei ordinária atribuir os critérios para definir a implementação em massa do seu
conteúdo. Ora, se é verdade que o programa estabelecido pelo governo no domínio do saneamento
não tem dado bons resultados, é necessário criarmodelos de gestão que com a colaboração do
particular possam ajudar a colmatar as dificuldades de planeamento para remoção dos resíduos.

Em pleno século XXI ainda continuamos a ter uma sociedade que reage ao invés de agir
principalmente em questões que colidem com os seus interesses particulares e os efeitos delas
decorrentes apresentam um elevado nível de interferência no que diz respeito a informação. Mais de
vinte anos volvidos sobre os primeiros passos na construção de políticas ambientais, seria expectável
que a população tivesse evoluído ao mesmo ritmo que a administração, passando a ser mais
responsável contribuindo parauma verdadeira democracia participativa.

É imperioso ainda colmatar os problemas que envolvem as audiências públicas em relação


administração-comunidade, porquanto muito poucas vezes fala-se da audiência pública para as
comunidades relativamente aos assuntos que a elas dizem respeito, se é legal que cidadão deve
participar então que este mesmo cidadão dentro do direito/dever que lhe é conferido possa exigir e
participar activamente.

50
Conclusões
As novas tendências apontam para uma gestão mais participativa, pois, o Estado como ente regulador
das políticas públicas administrativas não consegue por si só dar resposta a todas as preocupações
impostas pela sociedade.

A importância que deve ser dada ao meio ambiente deverá ter em conta não apenas a geração
presente, mas também as gerações vindouras. Essa preocupação cresce a medida que o tempo passa,
e, certamente o homem já se deu conta que a fragilidade a que o ambiente está sujeito poderá
inevitavelmente atingir as futuras gerações.

A falta de dinamismo no processo de parceria entre Estado-cidadão nos sectores encarregados de


tarefas respeitantes ao meio ambiente contribuem significativamente para a realidade hoje existente.
Assim é necessário que cada cidadão participe activamente nas políticas públicas de forma mais
interventiva, não apenas esperando pelas acções protagonizadas pelo executivo, mas por ele mesmo,
por formas a combater a realidade actual.

É fundamental lembrar que a prevenção é um dos elementos mais importantes em matéria ambiental,
mas para que se tome conhecimento dessa medida é necessário que os cidadãos estejam devidamente
consciencializados sobre os riscos a que estão sujeitos se se pautar pela prevenção participativa.

Encontramo-nos actualmente numa situação de risco, que necessita de actuação urgente por parte de
todos os cidadãos implicados. Pois o ambiente mais do que um direito é também um dever que deve
ser considerado por todos, considerando que a vida humana é o bem mais precioso, existe toda uma
necessidade de se por proteger. É clara a Constituição angolana ao consagrar no seu art. 39º, nº 1,
segunda parte, “o dever de todos preservarem o meio ambiente”.

A situação alarmante respeitante ao saneamento básico carece de uma intervenção urgente de toda a
comunidade implicada neste processo, pois, se é verdade que nos encontramos numa situação
gritante de limpeza urbana, implica dizer que os nossos interesses também encontram-se em conflito
principalmente no que ao ambiente diz respeito.

51
RECOMENDAÇÕES

Depois de ter percorrido este trabalho, detectando os problemas e buscando as soluções,


apresentaremos algumas propostas que no nosso entender, são extremamente pontuais para colmatar
a questão do saneamento básico no nosso país, com maior incidência na Zona em estudo

Assim, recomendamos:

1. Que se crie um sério sistema contributivo de taxa por formas a minimizar as despesas que o
Estadodespende para este sector.
2. Que se olhe para necessidade de intensificação do programa de educação ambiental extra
curricular para elevar a consciencialização da responsabilidade do cidadão para as políticas
estaduais.
3. Que se realizem mais fóruns de auscultação nível municipal, zonal e até mesmo a nível dos
bairros declarando neles a necessidade urgente de protecção do meio ambiente que passa
naturalmente pela limpeza urbana e saneamento básico.
4. Que se criem dispositivos electrónicos sobre o meio ambiente que permitam a apresentação
pontual de informações aos seus interesses.

52
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consultado aos 5 de Maio de 2018.

56
ANEXO

Anexo 1: esta imagem ilustra a falta de drenagem no bairro 71 –


a vala separa os dois bairros (71 e Lixeira)

Anexo 2: esta imagem mostra um volume elevado de lixo na vala,


que impede o escoamento da água no bairro 71.
57
Anexo 3: esta imagem mostra aproximidade entre a loja de venda
de bens alimentares e a vala que contém um montante de lixo.

Anexo 4: esta imagem ilustra a proximidade entre: o lixo, vala e a 58


praça de venda de bens alimentares.

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