Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO

SUL – UNIJUÍ

CURSO DE DIREITO

A DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO

ARLETE ELGERT

DIREITO DO CONSUMIDOR

Marcelo da Pieve

Santa Rosa, RS
2005
A DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO

Assim é que, a fim de ser respeitada a lógica principiológica, do Código de


Proteção e Defesa do Consumidor, não haveria de ter lugar o instituto da
intervenção de terceiros, aos moldes do Código de Processo Civil, sob pena de se
não se poder cumprir o compromisso com o atendimento das necessidades do
consumidor, além da efetividade da proteção jurídica a esse sistema de Direitos.

Demonstra-se, mais uma vez, a lógica legislativa do subssistema, a partir de


sua interpretação harmônica e sistêmica, podendo-se notar que, se tratamos em
regra do responsabilidade civil de natureza jurídica objetiva, uma importante
finalidade almejada com a nomeação, por exemplo, ver-se-ia prejudicada, na medida
em que o réu busca, com a nomeação, atribuir ao terceiro nomeado o que lhe
tocaria na relação jurídica.

Em nosso subssistema de proteção aos Direitos do Consumidor, esta


hipótese não teria lugar, já que caberá àquele que in casu não pôde ser o nomeante,
arcar com o ônus da relação jurídica de consumo tutelada na espécie, valendo-se,
se for o caso, das ações de regresso posteriores.

Trata-se do risco da atividade econômica, que faz o fornecedor de produtos e


serviços, responsável pelos danos decorrentes da relação de consumo,
independentemente da conduta do sujeito, vale dizer, é irrelevante se o sujeito
cooperou ou não com culpa, encontrando-se o cerne da responsabilidade
meramente no núcleo, objeto da relação jurídica.
Certamente, temos um fator técnico-jurídico a impedir a procura de outros
responsáveis dentro do mesmo processo, ou ainda, de promover a 'movimentação'
do polo passivo da relação juridica, ou mesmo, a formação de uma segunda ação
proposta pelo réu, a partir daquela primeira ação que contra si tivesse recaído, em
virtude de haver agido ou não com culpa, o primeiro demandado.

Não interessa ao sistema da responsabilidade civil do Código de Defesa do


Consumidor, a conduta do sujeito da relação jurídica, de que pudesse decorrer a
lesão ou ameaça a Direito do consumidor.

Ademais, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor tem como meta-


objetivo o atendimento das necessidades do consumidor, na busca da efetividade da
tutela dos Direitos tutelados, como foi inserido na Política Nacional das Relações de
Consumo.

Certamente, esses princípios, que traçam os objetivos da Lei, seriam violados


ao procurar-se aplicar as regras do processo civil tradicional, elaborado a partir das
relações jurídicas de caráter individual, contrario sensu do Código do Consumidor,
que institui verdadeiras regras do processo civil coletivo.

Procuraram os juristas, autores do ante-projeto de lei que se consolidou no


Código de Defesa do Consumidor, a viabilidade do processo civil coletivo, sendo por
isso necessária a revisão das regras do processo individual, sob pena de tratarmos
de um arcabuço de normas que cairiam na inocuidade ab initio.

Esse não é o tratamento a ser dado ao Código do Consumuidor, tampouco às


ações coletivas lato sensu que mereçam sua aplicação, em vista dos reclamos
sociais atuais, das sociedades de massa e dos contratos que celebram, das ofertas
que lhes são postas, da performance tecnológica e demográfica que assola o Brasil
e o mundo em nossos dias.

O Código de Defesa do Consumidor, composto por normas de ordem pública,


como já explicitado em seu artigo 1.º, adota como regra o que no Código Civil é
exceção: a responsabilidade objetiva, dispensando, assim, a comprovação da culpa
para atribuir ao fornecedor a responsabilidade pelo dano, bastando a presença da
ação ou omissão, o dano e o nexo causal entre ambos.

Na responsabilidade objetiva, como não se perquire a respeito da culpa do


agente, bastando a causalidade entre o dano e o fato causador, substitui-se a idéia
de culpa pela de risco-proveito.

A adoção do instituto da responsabilidade objetiva no ordenamento jurídico


brasileiro teve seu marco inicial nos primórdios do século XX, com a influência de
legislações de países europeus e dos Estados Unidos. Embora tenha sido
prestigiado em alguns dispositivos legais mais antigos, como no tocante à
responsabilidade do Estado em relação aos atos praticados por seus servidores
públicos, foi no novel Código de Defesa do Consumidor que a
responsabilidade objetiva ganhou o respaldo merecido, sendo eleita como regra
para disciplinar as relações jurídicas formadas sob a égide do direito do consumidor.

A escolha pela responsabilidade objetiva ganhou explicações diversas, sendo


a mais convincente a da vulnerabilidade inegável do consumidor frente ao poderio
de grandes empresários, fornecedores e produtores e, por isso, foi prestigiada como
regra pelo CDC.

Necessário esclarecer que a responsabilidade objetiva não constitui espécie


diversa da responsabilidade subjetiva, mas sim, de maneiras diferentes de se
enfocar a obrigação de reparar o dano. Assim, denomina-se subjetiva a
responsabilidade que se inspira na idéia de culpa e; objetiva, quando esteada na
teoria do risco. Ou seja, contemplando-se a objetividade da responsabilidade,
suficiente se faz a comprovação do nexo de causalidade entre ação e dano,
enquanto que, na subjetiva, necessário se faz, além disso, a demonstração
inequívoca da culpa ou dolo do agente.

Adotando o Código de Defesa do Consumidor a responsabilidade objetiva,


toda indenização derivada de relação de consumo, via de regra, sujeita-se a tal
regime, salvo quando o Código expressamente disponha em contrário. Como
exceção, cita-se o artigo 14, § 4º, que trata da responsabilidade dos profissionais
liberais, em suas atuações não ligadas a "obrigação de resultado", condição esta
que, se verificada, os remete à responsabilidade objetiva.

O Código de Defesa do Consumidor prevê duas espécies de


responsabilidade: a) pelo fato do produto ou serviço, regrada nos artigos 12 a 17; e,
b) pelo vício do produto ou do serviço, com previsão nos artigos 18 a 25.

A responsabilidade pelo fato do produto ou serviço dá-se diante de situações


que põem em risco a saúde ou segurança do consumidor. Em contrapartida, ao
referir-se à responsabilidade por vício do produto ou serviço, o legislador atentou
para a adequação qualitativa e quantitativa dessa, de acordo com as informações
prestadas pelo fornecedor/comerciante.

Porém, em ambos os casos, deve-se considerar com realce o núcleo comum:


independentemente da existência de culpa.

Na responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, o defeito ultrapassa o


limite valorativo do produto ou serviço, pois, volta-se para bens mais valiosos, que
são a saúde e segurança do consumidor. Já na responsabilidade pelos vícios do
produto ou serviço, a responsabilidade restringe-se ao vício quanto à quantidade ou
qualidade dos mesmos, situação que os torna impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam ou lhes diminua o valor, ou, ainda, que tenha
disparidade com as informações constantes.

Na responsabilidade pelo fato do produto e do serviço o CDC adotou a


responsabilidade objetiva mitigada, cabendo ao consumidor mostrar a
verossimilhança do dano, o prejuízo e o nexo de causalidade entre eles. Ao
fornecedor cabe desconstituir o risco e o nexo causal. Na responsabilidade pelo
vício do produto e do serviço, o legislador optou pela responsabilidade subjetiva com
presunção de culpa. Porém, o consumidor poderá ser beneficiado com a inversão do
ônus da prova, previsto no artigo 6º, inciso VIII do CDC.
Nesse caso, o fornecedor terá o mesmo ônus previsto na responsabilidade
objetiva.

Quanto a prestação de indenização e reparação do dano, na responsabilidade


pelo fato do produto e do serviço o comerciante responde subsidiariamente, sendo
obrigados principais o fabricante, o produtor, o construtor e o
importador. O comerciante somente será acionado se restar configurada uma das
hipóteses do artigo 13 do CDC, ou seja, quando o fabricante, o construtor, o
produtor ou importador não puderem ser identificados ou o produto não fornecer
informações claras quanto a estes ou, ainda, quando o comerciante não conservar
adequadamente os produtos perecíveis.

No capítulo que trata da defesa do consumidor em juízo, encontramos o artigo


81, o qual traz opções para que o consumidor exerça a faculdade de acionar o
fornecedor, sempre que configuradas as hipóteses e pressupostos
descritos. Ou seja, a defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das
vítimas poderá ser exercido em juízo individualmente ou a título coletivo. Será
coletivo quando for interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo.

O artigo 101 do mesmo instrumento legal, em convergência com a proteção


conferida ao consumidor, traz normas a serem observadas no momento da
propositura da ação, senão, vejamos: "Na ação de responsabilidade civil do
fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II
deste Título, serão observadas as seguintes normas: I - a ação pode ser proposta no
domicílio do autor; II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade
poderá chamar ao processo o segurador, vedada a integração do contraditório pelo
Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente
o pedido condenará o réu nos termos do artigo 80 do Código de Processo Civil. Se o
réu houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar a existência de
seguro de responsabilidade facultando-se, em caso afirmativo, o ajuizamento de
ação de indenização diretamente contra a segurador, vedada a denunciação da lide
ao Instituto de Resseguro do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório com
este".
REFERÊNCIAS

BITTAR, Carlos Alberto. Direitos do Consumidor. Rio de Janeiro: Forense


Universitária. 2003.

MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Manual do Consumidor em Juízo. São Paulo:


Saraiva, 2001.

Você também pode gostar