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Edilson Rodolfo Popinsky

Abordagens em Ergonomia, Abordagens de Análise de Trabalho e Métodos de Análise da


Tarefa e de Actividade

Licenciatura em Psicologia Social e das Organizações

3º Ano

Trabalho de pesquisa de carácter avaliativo,


realizado no âmbito da cadeira de Prática
Psicologia do Trabalho, a ser entregue na
Faculdade de Ciências de Educação e
Psicologia. Leccionada pelo Prof. Doutor
Mussa Abacar.

UniRovuma

Nampula

2021
Índice
1. Iintrodução ............................................................................................................................... 3
2. Contextualização teórica.......................................................................................................... 4
2.1. Abordagens em ergonomia............................................................................................... 5
2.1.1. Abordagem quanto à abrangência ............................................................................. 5
2.1.2. Abordagem quanto à contribuição ............................................................................ 6
2.1.3. Abordagem quanto a área interdisciplinar (relação com o psicólogo) ..................... 8
2.2. Abordagens de análise do trabalho................................................................................. 10
2.2.1. Abordagem orientada ao trabalho vs abordagem orientada na pessoa ................... 12
2.3. Métodos de análise de tarefa e da actividade ................................................................. 14
2.3.1. Instrução do pedido e o pré-diagnóstico ................................................................. 16
2.3.2. A observação ........................................................................................................... 17
2.3.3. Recolha de dados .................................................................................................... 19
2.3.4. Análise documental ................................................................................................. 21
2.3.5. As verbalizações ..................................................................................................... 21
2.3.6. As simulações e experimentação ............................................................................ 22
2.3.7. O tratamento dos dados e o diagnóstico ................................................................. 23
3. Conclusão .............................................................................................................................. 24
4. Referências bibliográficas ..................................................................................................... 25
1. Iintrodução
O trabalho é considerado como uma prática, actividade ou tarefa formal ou informal que
desempenha um papel fundamento na construção da identidade humana de um certo indivíduo.
Como já é por nós compreendido, os colaboradores de uma determinada empresa ou instituição
dedicam a maior parte do seu dia ao trabalho. Sendo, portanto, que esse ambiente, tem total
influência sobre a sua qualidade de vida e do seu convívio social.

Alguns autores têm afirmado que com as rápidas e contínuas mudanças sociais,
económicas e políticas que ocorrem na contemporaneidade, de modo especial no mundo do
trabalho, têm gerado novos desafios de análise e intervenção. A ergonomia enquanto ciência tem
se destacado sobre o valor de melhoria de adaptações de trabalho, de maneira a que os
colaboradores das empresas ou organiza coes efectuem ou desenvolvam suas actividades de
maneira segura e eficiente.

Esta ciência propõe-se ao estudo da relação do ser humano com outros elementos do
ambiente de trabalho e a profissão. Constitui-se como ciência que procura aplicar teorias,
princípios, dados e métodos para a optimização do bem-estar do ser humano e para a melhoria do
desenvolvimento de todo o sistema de trabalho, possibilitando a eficiência de trabalho, o
conforto e a segurança, tendo, como foco, o desempenho do ser humano no trabalho, o ambiente
de trabalho, o interagir com as máquinas e, em geral, o negociar com o ambiente de trabalho.

Uma abordagem de análise ao trabalho é uma abordagem mais global sobre as


actividades dos colaboradores, tendo em conta outros determinantes do trabalho que, na maioria
das vezes, estão relacionadas com as restrições económicas da empresa, as características da
forca de trabalho, organização da produção e processos técnicos, qualidade de tempo, entre
outros. Propõe-se a entender a actividade dos colaboradores como uma resposta pessoal a uma
serie de determinantes, algumas relacionadas à empresa e outras relacionadas ao operador ou
colaborador.

Este trabalho tem como objectivos, identificar e explicar sobre as abordagens


ergonómicas, tendo em vista a sua metodologia de análise de trabalho.
2. Contextualização teórica
Da junção das palavras gregas “ergon” (que no português significa trabalho) e “nomos”
(que significa leis, normas ou preceitos) surge a ergonomia, ou ainda, os factores humanos. Esta
ciência, em geral, estuda as características físicas, fisiológicas e psicossociais dos trabalhadores e
do ambiente de trabalho. Ciência, cujo objectivo primordial é a adaptação do ambiente de
trabalho com as características dos profissionais.

Em processo histórico, a o nome ergonomia surge por intermédio do médico italiano


Bernardino Ramazzini (1633-1714) com a publicação da sua obra “De Morbis Artificum”, que
traduzido ao português significaria “Doenças Ocupacionais”. Em sua obra, Ramazzini propôs-se
a escrever sobre doenças e lesões relacionadas ao trabalho.

Entretanto, vendo-se discriminado pelos seus colegas por visitar locais de trabalho e seus
pacientes a fim de identificar as causas de seus problemas, Ramazzini chegou a conclusão de
que, “com as condições em que as tarefas são desempenhadas tendo em conta o tempo de
execução, o trabalhador que permanece na mesma posição pode criar problemas como
desconforto e fadiga, ou seja, esforços repetitivos e postura inadequada causam lesões e, para
evita-las, é necessário analisar a adequação do trabalho ao ser humano.”. Portanto, essa análise
torna-se o cerne da criação da ergonomia.

De acordo com Marcelin & Ferreira (1982), a ergonomia parte de diversos


conhecimentos de variadas ciências, principalmente da fisiologia e da psicologia do trabalho.
Actualmente, a ergonomia é mais abrangente e conta com inúmeras áreas de conhecimento,
sendo aplicada não somente no ambiente de trabalho, mas também, em qualquer produto que o
homem possa utilizar (à exemplos, destacamos os brinquedos que devem se adequar às crianças,
o tamanho das roupas, e até em obras de construção civil).

A ergonomia, de acordo com o Portal Educação (2020), estuda também a macro


ergonomia, que surgiu a partir dos estudos de Hendrick (1994 apud Souza, 1994), onde o autor
expõe que a ergonomia já tenha passado por duas gerações, a antropométrica e outras
características físicas do ser humano; a cognição no trabalho com o surgimento de novas
tecnologias; e encontra-se na terceira, que vem por meio do aumento progressivo da automação
de sistemas em fábricas e escritórios (organização global), ou seja, a macro-ergonomia.
Guillevic (1991 apud Souza, 1994, p. 53) propõe que o objectivo central da análise do
trabalho é propiciar um melhor conhecimento a respeito do trabalho, tornando visível a distância
entre trabalho formal e trabalho real.

Analise de trabalho refere-se a uma abordagem mais global, onde a analise de actividades
ocorre, em relação a uma análise de determinantes do trabalho em termos de restrições
económicas da empresa, as características da força de trabalho, a organização da produção e
processos técnicos, assim como, restrições de qualidade e de tempo em relação a actividade.

2.1. Abordagens em ergonomia


A ergonomia, como ciência interdisciplinar, surge há quando das discussões de diversos
especialistas sobre a relação do ser humano com os seus meios de trabalho. Desde a discussão, o
conceito de ergonomia passou por diversas adaptações e pela segmentação em quatro diferentes
tipos de ergonomia, pautando sempre sobre as condições de conforto, segurança, saúde e bem-
estar, com o objectivo de garanti-los no ambiente de trabalho e ora deles.

O factor humano de uma organização é fundamental para as decisões e adequações de


maneira a garantir a integridade física e mental dos colaboradores no ambiente de trabalho,
independentemente das suas funções, porte da organizarão ou área de actuação.

De acordo com Meshkati (1993 apud Wojcikiewicz, 2018), a macro ergonomia consiste
na análise das interfaces “tecnologia, organização e ser humano, e das interacções cultura,
gerência e tecnologia”, ou ainda “o estudo dos factores humanos num nível macro ou num
sistema de pessoas e tecnologias mais abrangentes, que estão relacionadas às interacções entre
sistemas e subsistemas tecnológicos, organizacionais, gerência, pessoais e culturais”.

Entre as abordagens ergonómicas do trabalho, Santos (2010) aponta a abordagem de


análise ergonómica do trabalho, promovendo o tratamento da interface máquina, ser humano e
organização. Contudo, para este autor, a ergonomia pode ser classificada por três abordagens, a
destacar:

2.1.1. Abordagem quanto à abrangência


 Ergonomia de posto de trabalho: abordagem micro-ergonómica;
 Ergonomia de sistemas de produção: abordagem macro-ergonómica.
De acordo com Hendrick; Souza; Quelhas (1991; 2002 apud Wojcikiewicz, 2018), a
macro-ergonomia é vista como um estágio mais recente da ergonomia, que consiste no estudo da
tecnologia, numa interface entre o homem, máquina, a organização e o ambiente de trabalho,
trazendo novas visões sobre o estudo do trabalho nesta relação ou, ainda, surge como
desenvolvimento na interacção homem/máquina/ambiente/organização. Na visão de Hendrick
(2002 apud Wojcikiewicz, 2018) a macro-ergonomia é

Uma abordagem top-down baseada em sistemas sócio-técnicos para o


projecto das organizações, sistemas de trabalho, cargos, e interfaces
homem-máquina, usuário-sistema e homem-ambiente. Neste sentido, o
termo top-down significa que se inicia a abordagem analisando-se as
variáveis do projecto global, para então transportá-las ao nível micro-
ergonómico.

Ou seja, a macro-ergonomia projecta sistemas de trabalho compatíveis com sistemas


sócio-técnicos, tais como, a comunicação, gerência de recursos humanos (ou de equipa), design
de trabalho, design de horário de trabalho, trabalho em equipa, design participativo, ergonomia
participativa, trabalho cooperativo, assim como, novos paradigmas de trabalho, organizações
virtuais, teletrabalho e gerência de qualidade.

2.1.2. Abordagem quanto à contribuição

Concepção
Essa intervenção é feita directamente no projecto do ambiente, com o intuito de promover
uma melhor organização do trabalho e dos sistemas de produção. Cuida, ainda, do uso correcto
dos equipamentos e da manutenção da postura correcta pelos funcionários.

Orselli (2008 apud Wojcikiewicz, 2018) aponta que a ergonomia de concepção interfere,
amplamente, no projecto, da concepção do posto de trabalho, tais como: dimensões, iluminação,
ruído, temperatura, etc. Para este autor, a ergonomia de concepção tem eficácia limitada, pois
corrigir sempre custa mais dinheiro.

Correcção
Actua de maneira parcial e restrita, modificando pontualmente elementos como a
iluminação, os ruídos, a temperatura, as dimensões e posicionamento do mobiliário, etc. Ou seja,
a ergonomia de correcção envolve e estuda as actividades, ambientes físicos, a iluminação, ruído,
temperatura, o posto de trabalho, as dimensões, formas, concepção, e etc., com o objectivo de
modificar os elementos parciais do posto de trabalho (Orselli, 2008 apud Wojcikiewicz, 2018).

De acordo com o Portal Ergotec (2019), a ergonomia de correcção trata-se de um tipo de


ergonomia física, onde as adaptações realizadas no ambiente de trabalho envolvem acções
reparativas para a adaptação do mobiliário, climatização, iluminação e redução de ruídos que
possam expor funcionários a riscos. Portanto, a ergonomia de correlação serve de ferramenta
para adequar o ambiente de trabalho, com o objectivo de reduzir riscos ergonómicos (exposições
desconfortáveis, que podem levar a doenças, síndromes e distúrbios); prevenção de doenças
ocupacionais (decorrentes da má postura ou esforço físico excessivo e as lesões por esforço
repetitivo – LER); e, consequentemente, a melhoria da qualidade de vida no ambiente de
trabalho dos colaboradores.

Conscientização
Trata da educação sobre a ergonomia para o funcionário, por meio de palestras e
treinamentos, com foco na correcção de hábitos posturais ou do uso de equipamentos.

De acordo com Orselli (2008 apud Wojcikiewicz, 2018), a ergonomia de conscientização


ensina ao colaborador ou associado a usufruir dos benefícios de seu posto de trabalho, boa
postura, uso adequado de mobiliários e equipamentos. Implantação de pausas e a ginástica
laboral (antes, entre e depois da actividade).

Participação
O factor humano dentro da organização é um termo fundamental para as decisões e
adequações com o objectivo de garantir uma integridade física e mental saudável dos
colaboradores. Wojcikiewicz (2018), afirma que na implementação da identificação e avaliação
das necessidades organizacionais e o projecto organizacional são adoptadas vários métodos, a
destacar, a abordagem da ergonomia participativa.

A ergonomia participativa, enquanto uma das acções da ergonomia, pauta pela


participação dos colaboradores na identificação de problemas e proposição de melhorias no seu
posto de trabalho, com o objectivo de reduzir riscos ergonómicos, acidentes no trabalho,
absenteísmo, entre outros. Sustentando a visão, o Portal Ergotec (2019), aponta, ainda, que as
adaptações tenham efeito positivo, é necessário contar com a opinião, fiscalização e manutenção
de todos os colaboradores. Desta forma, a ergonomia participativa surge para que os próprios
colaboradores intervenham nas decisões para melhorar as condições do ambiente de trabalho. Ou
seja, a participação dos colaboradores nos processos organizacionais é de extrema importância
para a incorporação de mudanças necessárias, bem como para a melhoria nas condições dentro
dos sistemas.

Neste sentido, um ambiente de trabalho mais seguro significa menor risco e melhores
condições de trabalho e, para que isto se torne possível, é necessário que haja envolvimento dos
colaboradores, pois estes viabilizam a concepção, planeiam e implementam as adequações
necessárias ao ambiente. Portanto, a ergonomia participativa suscita um carácter motivacional
nos colaboradores, pois uma vez que os colaboradores actuam em conjunto, possuem maiores
chances de sucesso nas suas proposições e, como consequência, maior empenho em garantir a
ergonomia na organização.

Sucintamente, a ergonomia participativa é o envolvimento dos colaboradores no


desenvolvimento e implementação da tecnologia (Imada, 1991 apud Wojcikiewicz, 2018), ou
ainda, uma das formas de garantir a prevenção de riscos e acidentes ergonómicos no ambiente
laboral, pois são os próprios colaboradores a identificar problemas e que propõem melhorias
eficazes, ou seja, mudança.

Entretanto, Hendrick & Kleiner (2006 apud Wojcikiewicz, 2018) identificam como
factores que influenciam no projecto da ergonomia participativa como sendo o tamanho e cultura
organizacional, natureza dos problemas de ergonomia, estrutura do tempo disponível, os recursos
disponíveis e o nível de treino ou educação.

2.1.3. Abordagem quanto a área interdisciplinar (relação com o psicólogo)


Como sabemos, uma organização é um conjunto de subsistemas que se inter-relacionam e
inter-influenciam com o objectivo de alcançar um objectivo comum. Desta forma, o trabalhador
não se vê apenas pelas suas capacidades produtivas, mas também como um ser que se inter-
relaciona com o ambiente de trabalho como um todo envolvendo também a relação entre a
equipa organizacional.
Com vista neste ponto, aspectos e condições relacionadas a ergonomia devem,
principalmente, ser sustentadas com o apoio de profissionais especializados (tais como
psicólogos, gestores de recursos humanos, médicos, ou ainda, engenheiros). Destacamos, a
seguir, um conjunto de áreas interdisciplinares na abordagem ergonómica:

 Engenharia

É o projecto e a produção ergonomicamente correctos, garantindo a segurança, a saúde e


a eficácia do ser humano no trabalho.

 Design

É a aplicação de normas e especificidades ergonómicas no projecto e design de produtos.

 Psicologia

Relacionado ao trabalho do psicólogo, a psicologia surge como uma das abordagens


interdisciplinares, no que tange, ao processo de recrutamento, treinamento e motivação do
pessoal. Geralmente, vê-se, de forma simplicista, ligado apenas ao processo de recrutamentos,
selecção, treinamento e avaliação de novos colaboradores de uma organização. O psicólogo deve
orientar e propiciar um ambiente de trabalho que promova o bem-estar dos funcionários, a fim de
aprimorar o desempenho da organização.

Como aponta Schein (1982), este profissional exerce a funcao de avaliar a organizacao,
seu ambiente e suas equipas de colaboradores, de maneira a identificar possiveis problemas e
falhas, e sugere solucoes para elas.

Baseando-se numa abordagem ergonómica do trabalho, a psicologia fundamenta o


trabalho do psicólogo tendo em vista o processo de recrutamento (técnicas atrair candidatos
potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos dentro da organização), selecção (tarefa
na qual o psicólogo identifica quais candidatos são qualificados para ocupar o cargo, atendendo
as necessidades da organização, escolhe a pessoa certa para o lugar certo) e motivação pessoal ou
programas de desenvolvimento (envolve o aprendizado e desenvolvimento de novas habilidades,
obtenção de novos conhecimentos e modificar atitudes e comportamentos).
 Medicina e enfermagem do trabalho
É a prevenção de acidentes e de doenças do trabalho.

Administração
Gestão de recursos humanos, projectos e mudanças organizacionais.

2.2. Abordagens de análise do trabalho


Actualmente a ergonomia é fundamental na adequação de um ambiente ocupacional, pois
aplica teoria, princípios e métodos para projectar um ambiente de trabalho adequado e que
optimize, assim como, proporcione o bem-estar humano e melhorar o desempenho e qualidade
de um sistema (Shida & Bento, 2012). A ergonomia é, também, uma forma de transformar o
trabalho. Transformação que deve ser realizada de forma a contribuir para:

 Concepção de situação de trabalho que não alterem a saúde dos operadores, e nas quais
estes possam exercer sal competências, ao mesmo tempo num plano individual e
colectivo, e encontrar possibilidades de valorização de suas capacidades; e,
 Alcançar os objectivos económicos determinados pela empresa, em função dos
investimentos realizados Guérin (2001 apud Shida & Bento, 2012).

Em fase de conclusão, é por meio da análise ergonómica do trabalho que se pode


entender toda a ergonomia de um sistema (Shida & Bento, 2012). Pela análise pode-se avaliar
aspectos relacionados a duração da jornada de trabalho, a função, o ciclo de tarefa, o número de
movimentos executados, as pausas, a postura inadequada, o esforço muscular, o ritmo de
execução da tarefa, assim como os equipamentos e ferramentas utilizados na tarefa, e as
condições ambientais, como conforto térmico, acústico e iluminação, melhorando assim, as
situações de trabalho (Shida & Bento, 2012; Alves, 1995 apud Shida & Bento, 2012).

A análise ergonómica do trabalho é o estudo detalhado da demanda, tarefa e actividade


nos postos de trabalho para identificar inadequações e factores de risco existentes dentro de uma
determinada empresa ou organização.

Souza (1994, p. 53) afirma que a análise de trabalho refere-se a uma abordagem
ergonómica mais global sobre o trabalho, onde é possível entender a actividade dos
colaboradores (tais como, a postura, esforços, busca de informação, tomada de decisão, ou ainda,
comunicação) como uma resposta pessoal a uma série de determinantes relacionadas à empresa
(o projecto de estacão de trabalho, organização do trabalho formal, restrições de tempo, entre
outros), e outras relacionadas ao operador ou colaborador (idade, características antropométricas,
experiencia, entre outras).

Segundo Shida & Bento (2012), a análise ergonómica do trabalho surge da escola franco-
belga de ergonomia e que, desde os seus primórdios, tem possibilitado compreensão e a
transformação de inúmeras situações de trabalho.

De acordo com Garrigou et al., (1993 apud Souza, 1994), no processo de condução da
análise de trabalho, o ergonomista usualmente revelará determinantes desconhecidos da
actividade dos colaboradores, a destacar:

A variabilidade industrial, que pode ser maior do que geralmente


conhecida, eventos inesperados que ocorrem, entre outros. Ao mesmo
tempo, ele poderá revelar estratégias originais para antecipar e lidar com
estes incidentes, conhecimento tácito, e competências que podem ser
colocadas em jogo para geri-los, assim como, fluxos de comunicação
inesperados podem ser desenvolvidos.

Outros autores citados pelo mesmo autor afirmam, ainda, que através da análise do
trabalho, o ergonomista “torna-se familiarizado com a situação técnica, económica e social da
companhia e, em particular, com o sistema de produção a ser estudado. Todo o comportamento é
verificado, seja ele um comportamento referente a acção (controlo do sistema), observação ou
comunicação”; com base do estudo, tanto dos aspectos micro e macro sistémicos da organização
e da conjugação destes na situação do trabalho, o ergonomista encontra condições de influenciar
projectistas e gerentes a respeito das decisões que serão tomadas para definir o trabalho na
organização.

O papel deste profissional diz respeito muitas vezes à declaração do problema (“setting
problem”) mais do que solucionar o problema (“solving problem”). A consciência a respeito dos
problemas de trabalho, levam o ergonomista a “declarar um problema”, que advém da análise
ergonómica do trabalho, “um método desenvolvido para analisar o funcionamento real das
situações de trabalho” (Wisner; Tersac, 1992; 1991 apud Souza, 1994).

Relevantemente, a análise de trabalho vai conduzir à ênfase sobre a diferença entre a


performance alcançada no local de trabalho e o custo desta performance para o trabalhador, em
termos de fadiga, problemas de saúde ou processos mentais. Tal como afirma Ida (2005), o
principal objectivo dessa ferramenta é aplicar os conhecimentos da ergonomia a fim de analisar,
diagnosticar e corrigir determinada situação de trabalho e, sendo denominada de ergonomia
correctiva ou ergonomia de correcção.

2.2.1. Abordagem orientada ao trabalho vs abordagem orientada na pessoa


De acordo com Guérin et al. (2006) as situações de trabalho constituem frequentemente
sistemas complexos. Toda descrição global pressupõe um ou vários pontos de vista que são
necessariamente redutores, que dão ênfase a certos aspectos em detrimento de outros.

Para os autores a abordagem orientada ao trabalho concentra-se na exposição de


descrições centradas na estrutura dos processos técnicos, descrições centradas nas ferramentas e
nos meios de informação, discrições centradas nas relações entre as variáveis de um dispositivo,
descrições centradas nos procedimentos, descrições centradas na dependência e limites temporais
das acções e eventos, assim como, das descrições centradas no arranjo físico do dispositivo
técnico.

2.2.1.1. Descrições centradas na estrutura dos processos técnicos


As descrições centradas na estrutura dos processos técnicos dão ênfase aos fluxos e às
etapas de transformação do produto fabricado ou da informação tratada. Permitem dar evidencias
sobre a estrutura do processo, da localização dos postos de trabalho em relação ao processo e
entre si. Servem de base para constatação ou primeiras hipóteses ligadas às dependências entre
montante e jusante, coordenações requeridas entre os postos em paralelo, em caso de existência
de postos de trabalhos não condicionáveis aos colaboradores.

2.2.1.2. Descrições centradas nas ferramentas e nos meios de informação


A descrição centrada nas ferramentas e nos meios de informação diz respeito ao exame
colocado à disposição dos colaboradores para obter informações e agir sobre o processo, que
permitirão melhorar certas investigações, tais como, permitir saber sobre como é o processo de
trabalho dos colaboradores, ou seja, se o trabalho é imediato ou é frequente; saber se o operador
tem um retorno quando realiza seu trabalho e a que condições de trabalho este é exposto; ou
ainda, perceber se as condições e os dispositivos de trabalho podem atrapalhar a execução do
trabalho (se o ambiente de trabalho apresenta condições de acessibilidade, maneabilidade,
legibilidade, visibilidade e, etc.).

2.2.1.3. Descrições centradas nas relações entre as variáveis de um dispositivo


Quando são apresentadas explicações pelos operadores ou pelos seus superiores,
diferentes variáveis relativas ao ajuste e ao estado do dispositivo técnico, aos critérios da
qualidade, e etc., podem ser relacionados entre si. Com isto pretende-se saber o que faz com que
estas variáveis aconteçam e quais as suas consequências.

Geralmente essas relações podem ser descritas de diferentes maneiras, isto é, apresentar
num gráfico correlativo de influências, onde se apresentam variáveis que agem sobre as outras,
permitindo a melhor demonstração dos efeitos de uma combinação de variáveis sobre uma
determinada variável.

2.2.1.4. Descrições centradas nos procedimentos


Um processo nem sempre corresponde às operações a serem realizadas pelos operadores.
Os procedimentos podem ser objecto de documentação escrita que, num primeiro momento,
podem ajudar na identificação de certas exigências do trabalho.

Correspondente aos procedimentos de planificação de produção, determinação dos


tempos alocados, lembretes, prescrições imperativas em caso de incidentes, formação e, etc.,
esses procedimentos permitem ao ergonomista, que evidenciar diferenças entre o trabalho
previsto e o trabalho real, as consequências da variabilidade sobre as operações a efectuar, a
importância de pequenas decisões, os casos em que o operador, por falta de informação, não
consegue decidir.

2.2.1.5. Descrições centradas na dependência e limites temporais das acções e eventos


A actividade dos operadores pode ter uma dimensão temporal rigidamente estruturada
pela natureza do processo (tempo da realização do trabalho), pelo andamento do trabalho de
outros operadores, ou ainda, por eventos externos à empresa. Uma descrição sistemática dos
eventos que condicionam o desencadeamento das tarefas e dos limites temporais para a sua
realização pode ser útil para identificar as fases críticas onde a margem de liberdade é a mais
reduzido para os operadores.
2.2.1.6. Descrições centradas no arranjo físico do dispositivo técnico
De acordo com essa descrição, descrever o espaço ou ambiente de trabalho não deve
apenas se basear com as plantas da estrutura organizacional da empresa. Contudo, é necessário
que se faça uma investigação sobre as instalações, de maneira a verificar se o ambiente dispõe de
boas condições de armazenamento, acesso fácil, visibilidade, ou ainda, se permitem a existência
de boa comunicação entre os colaboradores (deslocamentos, alterações do volume da voz e, etc.).

2.3. Métodos de análise de tarefa e da actividade


A análise de tarefa é uma das etapas que complementam a análise ergonómica do
trabalho, com vista a agregar informações inerentes à realização das actividades laborais
desenvolvidas pelos colaboradores. Considerada como uma etapa comportamental que visa a
decomposição das tarefas e actividades a desempenhar, em unidades comportamentais mais
simples, com o intuito de serem ensinados de forma sistemática e individualizada.

De acordo com Oliveira do Portal do Laboratório de Usabilidade e Factores Humanos da


Universidade Federal de Itajubá, a análise de tarefa é, basicamente, uma ferramenta de análise de
dados realizada por especialistas com o objectivo de entender as etapas do processo de interacção
do usuário com o sistema. Consiste em decompor as tarefas em subtarefas, de forma que torne
possível entender a sequencia, hierarquia, condições e critérios de desempenho a serem
executadas.

Ida (2005 apud Strabeli & Neves, 2015) afirma que a análise de tarefa constitui-se como
uma das etapas do processo metodológico da análise ergonómica do trabalho, que se propõe a
identificar procedimentos executados pelos colaboradores, que devem estar documentados por
escrito. Nesta análise objectiva descobrir as discrepâncias entre o que é prescrito de maneira
formalizada e o que é realmente executado. Tal como aponta Souza (1994),

A análise da tarefa visa cumprir um dos objectivos da análise


ergonómica do trabalho: colher o máximo de informações sobre o
trabalho prescrito ou trabalho formal. o ergonomista deve
recuperar o conjunto de informações e documentos que lhe
permitirão identificar o conjunto de regras que definem os aspectos
formais do trabalho. Procura-se identificar tudo aquilo que deve ser
realizado pelo trabalhador e em que condições ele realiza o seu
trabalho (Souza, 1994, p. 56).
Santos (1993), citado pelo mesmo autor, identifica três passos para realizar este
objectivo, a destacar: (i) delimitar o sistema a ser analisado; (ii) delimitado o sistema, proceder a
uma descrição de todos os elementos que compõem este sistema – identificação das exigências
do trabalho; (iii) proceder a uma avaliação destas exigências.

Por sua vez, uma actividade é a mobilização do colaborador para realizar suas tarefas. A
compreensão das características principais da actividade de trabalho permite ao ergonomista
elucidar os efeitos do trabalho sobre a saúde e as características da performance do trabalhador
que são resultados do trabalho.

De acordo com Trombly (1989 apud Strabeli & Neves, 2015), a análise de actividade é o
processo através do qual se pode determinar os componentes de uma actividade, as habilidades,
experiências e capacidades necessárias para a sua realização e os aspectos que podem ser
melhorados se a pessoa desempenhá-la de modo satisfatório. É uma ferramenta, onde são
caracterizados os comportamentos dos colaboradores ao realizar determinadas tarefas. A análise
da actividade incide sobre um trabalho efectivamente realizado, num dado momento (portanto,
em condições especificas) Guérin et al. (2006).

Garrigou et al. (1993 cit Souza, 1994) afirma que a análise da actividade é uma
“metodologia que busca o entendimento do comportamento do operador, das estratégias de
operação, processos de pensamento e a interacção entre operadores em uma dada situação.
Implica em longas observações no local de trabalho, associadas com entrevistas dos
trabalhadores, a fim de entender o que explica suas estratégias de operação.

Entretanto, para dirigir uma análise de tarefa e actividade, o procedimento consiste em


um método aberto no qual as ferramentas usuais de recolha de dados podem variar, pois a sua
escolha é feita em função da natureza dos problemas colocados no momento da demanda. De
acordo com os dados provenientes da análise da demanda e do primeiro conhecimento do
funcionamento da empresa constituem um conjunto de informações bastante diversas que vão
guiar o ergonomista na recolha de suas investigações e das situações particulares que irá analisar.

Guérin et al. (2006) afirmam que “para além das escolhas das situações a estudar, o
ergonomista deve reorganizar as informações que vier a receber, pois lhe serão úteis”. Portanto,
ele deve:
 Garantir um domínio suficiente sobre os dados técnicos referentes à situação de trabalho;
 Servir de base para a construção de hipóteses, para a elaboração do pré-diagnostico;
 Constituir ferramentas de referência úteis para a descrição e a interpretação dos dados
que serão produzidos pela análise da actividade;
 Prover-se de apoio para a demonstração e a comunicação com os diferentes
interlocutores.

2.3.1. Instrução do pedido e o pré-diagnóstico


Tal como exposto no parágrafo anterior, Guérin et al. (2006) suscitam a importância de
tomar uma atitude de escuta por parte do ergonomista em relação aos seus interlocutores como
uma das principais etapas do processo de análise da situação de trabalho. “É uma atitude
exploratória em relação aos dados e aos factos com os quais o profissional vê-se confrontado.”

Na perspectiva do autor, a formalização dessas informações e sua contribuição para um


esquema explicativo dos problemas levantados pressupõe, em compensação, uma abordagem
mais orientada e o emprego de meios de investigação mais específicos. Salienta, ainda, que,

A complexidade e a variabilidade de situações de trabalho, raramente


levam ao enunciado de uma relação causa e efeito simples entre uma
condição do exercício da actividade e uma dificuldade particular. O
ergonomista vê-se influenciado a formular várias hipóteses relacionadas
entre si, cujo grau de detalhes pode ser mais ou menos elevado. Esse
conjunto constitui um pré-diagnóstico – o enunciado provisório de
relações entre certas condições de execução do trabalho, características
da actividade e resultados da actividade (Guérin et al., 2006, p. 142).

O pré-diagnóstico apresenta uma explicação dos problemas levantados, aponta os


elementos que deverão ser levados em conta nas transformações e justifica as investigações que
vão ser realizadas. É elaborado a partir das constatações que foram possíveis de fazer ao longo
da investigação do funcionamento da empresa, das observações da actividade e dos
conhecimentos do ergonomista a respeito do homem no trabalho.

De acordo com os autores em destaque, não se deve considerar o pré-diagnóstico, nem


mesmo o diagnóstico como um modelo explicativo levando em conta todos os determinantes do
trabalho e os componentes da actividade, porém, deve-se considerar o pré-diagnóstico como algo
destinado a ser demonstrado e que suscita persuasão, ou seja, os fenómenos dos quais ela dá
conta devem ser descritos e explicados. Com o objectivo de transformar, ele deve incidir sobre as
características da situação do trabalho nas quais é possível intervir, entretanto, essa função de
transformação nem sempre é fácil de se concretizar devido a dificuldade de revelação de graus
de liberdade de disponibilidade dos interlocutores técnicos ou financeiros da empresa, e a busca
de soluções inovadoras só são conseguidas a partir de uma explicação convincente do problema
levantado.

O autor enuncia ainda, que a formulação do pré-diagnóstico pode ser:

 Muito explícita;
 Menos formalizada, entretanto, mais importante, para justificar junto aos operadores a
implantação de técnicas específicas.

O momento de sua formulação depende muito das condições da acção ergonómica. Só


pode assumir uma forma operacional quando a empresa tiver um conhecimento elaborado sobre
o problema e das actividades desenvolvidas. “O carácter operacional deve levar à organização
sequenciada da análise, à compreensão da actividade do trabalho e à recolha de informações
úteis às transformações. Deve permitir, também, que se evitem duas dificuldades que ameaçam
toda a análise do trabalho: a análise da actividade por si, sem relação com a problemática, e o uso
de técnicas que não se adaptam à situação” (Guérin et al., 2006).

2.3.2. A observação
Observar é aplicar os sentidos para obter uma determinada informação sobre algum
aspecto da realidade. É mediante o acto intelectual de se observar o fenómeno estudado, que se
concebe uma noção real do ser ou ambiente natural como fonte directa dos dados, tornando-se
assim, uma técnica científica de recolha de dados a partir do momento em que passa pela
sistematização, planeamento e controlo da subjectividade.

De acordo com Quivy & Campenhoudt (2003), a observação adequa-se mais a uma
análise de comportamentos espontâneos e a percepção do não verbal e daquilo que se revela
como códigos de comportamentos. Tal como afirmam (Guérin et al., 2006),

A observação corresponde a um primeiro nível de redução mais ou


menos conscientemente dominado pelo observador, cuja descrição de
comportamentos se situa entre dois pólos extremos: o primeiro
corresponde a uma descrição mais elementar (em termos dos gestos, da
posição dos segmentos corporais, e etc.), o segundo corresponde a uma
descrição mais sistemática em relação ao conteúdo do trabalho executado
(em termos de acção finalizada ou de tomada de informação) e, para
apreender o que não é directa ou simplesmente observável, são criadas
técnicas particulares que podem ser utilizadas, tais como gravações em
vídeo ou áudio e, em casos de precisar compreender os porquês de um
operador trabalhar de uma certa maneira, o uso da entrevista.

Segundo os mesmos, uma apreensão da actividade de trabalho que ultrapasse as


representações parciais dos diferentes actores na empresa implica a informação no momento do
exercício efectivo dessa actividade. Essa recolha exige a presença do ergonomista no local e
durante a realização do trabalho, ou seja, o ergonomista emprega suas funções fisiológicas e
psicológicas como actividade de observação de manifestação de comportamentos visíveis, tais
como os gestos, posturas, acções sobre o dispositivo de trabalho, comunicações, e etc. (Guérin et
al., 2006, p. 143, 144 e 145).

Neste sentido, na óptica dos autores, a observação corresponde a uma abordagem mais
imediata da actividade, que pode ser realizada de maneira muito aberta (“observações livres”,
que ocorre, principalmente por ocasião das primeiras visitas ao posto de trabalho), ou tendo
como foco a recolha de certas categorias de informações com objectivos precisos (observações
sistemáticas). Desta forma, quase sempre a observação é o ponto de partida, que permite ao
observador, tomar conhecimento dos elementos de uma dada situação e, que, voluntariamente ou
não, a observação é sempre focalizada, pois se apoia essencialmente em tomadas de informações
visuais (Guérin et al., 2006, p. 144).

Os autores salientam, também, a importância de se diferenciar a noção de observação e a


de registo de observação, ou seja, os registos servem para conservar traços da observação
(correspondem a uma recolha de eventos entre aqueles que o observador percebe; surge da
possibilidade de o observador circunscrever e nomear esse evento, gerando as hipóteses que o
orientam). Já a observação, não tão inocente quanto parece, é o processo que leva ao
estabelecimento desses registos.

Depois de realizar a observação, o ergonomista deve elaborar uma hipótese como


explicação da tentativa do fenómeno observado. Posteriormente, na etapa seguinte, é realizada
uma predição (como consequência lógica da observação), a qual costuma ser experimentada a
partir dessas ideias. Por fim, o ergonomista reúne condições de maneira a chegar a uma
conclusão e, por conseguinte, para contribuir na melhoria do ambiente de trabalho.
2.3.3. Recolha de dados
Após a observação, deve-se obter os dados que servirão de base para a análise. Esses
dados podem ser obtidos por meio de análise de produtos similares que já estão no mercado,
observação e investigação contextual, grupos focais, entrevistas, entre outros.

Segundo Guérin et al. (2006), as técnicas de registo é condicionada pelas restrições


próprias às situações observadas do trabalho. Ou seja, a presença directa do observador nas
proximidades do ou dos operadores pode ser indelicada devido a falta de espaço, a mobilidade
dos operadores ou pelo incomodo que pode gerar durante a execução do trabalho. Também,
pode-se dar o caso das propriedades observáveis a levar em consideração, devido a frequência e
a possibilidade de discriminação do que se observa condicionam o número de observações
diferentes a registar e a precisão dos registos. a pratica de registo também pode ser condicionada
pelas hipóteses que guiam as observações e, por conseguinte, pelo tipo de exploração que o
ergonomista pretende realizar a partir desse registo.

De acordo com o mesmo autor, as técnicas de registo também podem ser distinguidas
levando em conta a três dimensões que diferenciam as modalidades de registos, relativas à
consideração ou não da continuidade temporal do que se observa; ao suporte dos registos; e à
utilização de meios de gravação permitindo um registo diferido.

A recolha de dados pode ser realizada mediante a observação instantânea assim como
contínuas, onde o ergonomista pode realizar a recolha devido ao interesse ou aos limites das
observações instantâneas. Desta forma, os registos podem ser efectuados seguindo um intervalo
de tempo regular das observações, ou em momentos significativos, um estado instantâneo da
situação. Ou seja, esse tipo de registo, particularmente acontece quando se quer registar
características comuns a um conjunto de operadores num determinado sector. Daí, que se
efectuam observações instantâneas sobre os operadores, um de cada vez.

a recolha de dados pode ser feita mediante registos manuais ou registos com aparelhos.
Os registos manuais fazem menção aos registos papel/lápis, no qual o observador ou ergonomista
faz o registo mediante a observação de uma situação de trabalho ainda prematura (observação
prévia). Devido a refutação de uso de aparelhos electrónicos nos processos de registos ao
ambiente, o ergonomista passa a anotar eventos importantes não previstos, tais como incidentes,
permite, também, a configuração de um esquema espacial (Guérin et al., 2006).

Entretanto, na visão dos mesmos autores, as observações papel/lápis só são possíveis se a


frequências do que se observa é pouco elevada; o tempo acumulado em identificar a acção,
verificar o tempo e fazer o registo escrito não pode ser comprimido abaixo de um certo limiar.
Desta forma, podem-se distinguir duas modalidades extremas de registos manuais, a destacar:

 A primeira exige o mínimo de preparação do material prévio, ou seja, o


modo de registo “código e data”, onde o observador anota códigos que
correspondem aos eventos e sua data de ocorrência (o momento: hora e
minuto). Os dados recolhidos serão apresentados na forma de uma lista
cronológica de eventos;
 A segunda consiste em preparar planilhas de registo, permitindo que os
registos das observações sejam mais rápidas, sem a necessidade de
escrever os códigos e as datas (Guérin et al., 2006, p. 158).

A recolha de dados também pode ser efectuada por registadores de eventos. Devido a
falta de diferença entre os sistemas de auxílio ao registo de observações, surge a necessidade de
diversificar os materiais disponíveis ou adaptáveis para cumprir esse papel. Essas ferramentas
são chamadas de registadores de eventos específicos, ou seja, microcomputadores de bolso com
relógio interno, que dispõe ao ergonomista uma forma rápida de registar os dados. Este
instrumento consiste numa recolha de eventos observáveis que estejam definidos no aparelho em
forma de códigos alfanuméricos ou de barras, cujo observador deve estar munido de saberes de
forma a manuseá-lo (Guérin et al., 2006). Existem, também, os sistemas “assistentes pessoais”,
providos de conhecimento de escrita ou de formas, cuja função é elaborar formulários ou
planilhas de entrada de dados adaptados às situações observadas.

Geralmente a recolha de dados também é realizada mediante a utilização de aparelhos


electrónicos de gravação de áudio ou de vídeo. Esse recurso apresenta certas vantagens em
relação ao registo directo feito em tempo real, permitindo:

 Graças à utilização da câmara lenta e de pausa, registos observáveis cuja frequência é


elevada ou de discriminação difícil;
 Registar vários aspectos observáveis simultaneamente ou, ainda, dados impossíveis de
anotar em tempo real, isto, claro, por meio da inserção de uma base de tempo nas
imagens gravadas;
2.3.4. Análise documental
A partir da recolha de dados obtidos pelas observações e entrevistas, assim como, por
meio de aparelhos electrónicos de gravação áudio/visual, o ergonomista teve acesso às
documentações que subsidiaram a decisão de construir o diagnóstico.

De acordo com Campos (2011), a análise documental é a tarefa que se propõe a


identificar apenas os aspectos referentes ao trabalho prescrito e não ao trabalho efectivamente
realizado (actividade). Embora o trabalho real seja o que interessa estudar, a analise documental
permiti-nos identificar os factores de risco, passo fundamental para compreender o modo
concreto de como o trabalho é realizado (Uva, 2010 apud Campos, 2011, p. 36).

2.3.5. As verbalizações
De acordo com Guérin et al. (2006, p. 165), no que diz respeito aos três objectos da
análise do trabalho (a actividade, as condições nas quais o trabalho é realizado, e suas
consequências), a verbalização do operador é essencial, devido as seguintes razões:

 A actividade não pode ser reduzida ao que é manifesto e, portanto, observável. os


raciocínios, o tratamento das informações, o planeamento das acções só podem ser
realmente apreendidas por meio das explicações dos operadores;
 As observações e medidas são sempre limitadas em sua duração. Assim, o operador pode
ajudar a ressituar essas observações num quadro temporal mais geral;
 Nem todas as consequências do trabalho são aparentes. a fadiga, eventuais distúrbios
sofridos não têm tradução manifesta; o operador pode expressa-las e relaciona-las com
características da actividade.

O autor salienta que as verbalizações do operador nem sempre são óbvias, isto é, o
operador tende a descrever seu trabalho e suas consequências em função do que ele pensa ser os
interesses e objectivos do seu interlocutor, nesse caso, o ergonomista. Por outro lado, o
ergonomista mesmo após explicações preliminares, pode suscitar má compreensão ao operador,
daí que, a maneira e o objecto de questionamento vão contribuir progressivamente para o seu
esclarecimento. As operações de rotinas e estratégias podem ser resultado de aprendizagens
antigas, de uma longa experiencia. Todavia, o operador nem sempre menciona,
espontaneamente, a sua importância, os seus motivos e os conhecimentos que lhe são
subjacentes. Certas dimensões de actividade não se prestam facilmente a uma expressão verbal,
daí a necessidade de o ergonomista observar e apreciar a qualidade de um produto por sensações
tácteis, entre outras.

Recorrer às verbalizações são necessárias para a execução das etapas da ergonomia, tanto
na progressão do conhecimento da situação do trabalho, assim como na compreensão da
actividade que são condicionadas pela troca de informações entre o operador e o ergonomista,
bem como, também, das informações específicas de que este necessita.

As verbalizações culminam com os primeiros contactos entre o operador e o ergonomista


e seu objectivo é o de compreender as características da actividade sob as quais o operador
realiza, assim como as consequências mais evidentes para a saúde e para a produção. Nesta fase,
o ergonomista descobre o funcionamento do sistema técnico tal como é apresentado pelo
operador e, se familiariza com o vocabulário profissional utilizado, o que contribuirá para a
elaboração das primeiras hipóteses e para a escolha dos momentos e dos métodos de observação
que virão a seguir. Sistematicamente, as verbalizações permitem compreender melhor o
desenvolvimento da actividade observada.

2.3.6. As simulações e experimentação


Ao nos depararmos com o termo simulação, logo nos vem em mente a representação de
algo que imita o real, ou, tal como afirma Accioly (2006 apud Silverio, 2011, p. 36), que
produz efeito de real. Com o passar do tempo, o conceito de simulação ganhou diversas
novas perspectivas e o seu uso foi ampliado para as mais diversas áreas de conhecimento,
tais como medicina, ciências sociais, engenharia, meteorologia, economia, entre outras.

Vários autores utilizaram a simulação como uma comparação entre o ambiente de


trabalho simulado (imitação) e o ambiente de trabalho real, com o objectivo de
desenvolver treinamento de operadores ou avaliação do comportamento humano. Silverio
(2011) define simulação como uma ferramenta disponível para a integração de ergonomistas e
projectistas no contexto do projecto. Uma abordagem por simulação tem por objectivo, produzir
um prognóstico sobre as possíveis dificuldades que os operadores venham a enfrentar na
actividade futura. Essas dificuldades afectarão tanto a eficácia do funcionamento das instalações,
como a saúde dos operários.
A simulação é uma técnica que consiste em realizar um modelo da situação e nele levar a
cabo experiência; é o processo de construção de um modelo representativo de um sistema real
(Naylor, 1971; Costa, 2004 apud Silverio, 2011).

Na ergonomia, a simulação está relacionada às situações de trabalho, inclusive na


concepção de postos de trabalho; é um método integrado em uma condução de projecto, que
consiste em animar a situação de trabalho no projecto de modo a contribuir para a elaboração de
especificações funcionais, as quais permitirão a concepção de situações de trabalho compatíveis
com o funcionamento do homem no trabalho, suas expectativas e necessidades (Maline, 1994
apud Silverio, 2011, p. 37).

2.3.7. O tratamento dos dados e o diagnóstico


No momento da interpretação dos resultados, as trocas com os operadores vão contribuir
para a elaboração do diagnóstico final. O diagnóstico de uma situação de trabalho é um produto
essencial da análise efectuada pelo ergonomista, que foi orientado pelos factores identificados
durante a análise da demanda e do funcionamento da empresa; sintetiza os resultados das
observações, das medidas e das explicações fornecidas pelos operadores, e aponta os factores a
serem considerados para permitir uma transformação da situação de trabalho (Guérin et al.,
2006). Diferente do diagnóstico médico, o diagnóstico ergonómico não consiste em relacionar o
problema particular a uma classe de problemas conhecidos, todavia, é uma criação original que
tenta dar conta da integração na actividade dos operadores dos constrangimentos da situação
particular.

Na visão dos autores, o diagnóstico propõe uma formulação das relações entre condições
de exercícios da actividade, actividade realizada e resultados da actividade, que deve considerar,
melhor que as representações anteriores, as dificuldades encontradas naquela situação, e que
foram o objecto da demanda da acção ergonómica. Após a formulação, o diagnóstico será
divulgado na empresa de maneira a se confrontar com as outras decisões do trabalho que
existiam antes de sua acção, sem, no entanto, apontar questões resolutivas apenas do
ergonomista, e sim outros pontos de vista como forma de enriquecer as diferentes descrições do
que ocorre nas situações de trabalho, de modo a elaborar soluções para os problemas
encontrados.
3. Conclusão
Uma organização é uma entidade social, onde duas ou mais pessoas, conscientemente
coordenada, com limites relativamente identificáveis, que funciona sobre uma base relativamente
contínua, para alcançar um objectivo comum ou uma série deles.

A ergonomia parte de diversos conhecimentos de variadas ciências, principalmente da


fisiologia e da psicologia do trabalho. Enquanto ciência interdisciplinar, a ergonomia surge em
meio a discussões de diversos especialistas sobre a relação do ser humano com os seus meios de
trabalho. Desde então, o conceito de ergonomia passou por diversas adaptações e pela
segmentação em quatro diferentes tipos de ergonomia, pautando sempre sobre as condições de
conforto, segurança, saúde e bem-estar, com o objectivo de garanti-los no ambiente de trabalho e
ora deles.

Entre as abordagens ergonómicas do trabalho apontam-se a abordagem de análise


ergonómica do trabalho, ou seja, a macro-ergonomia, com o objectivo de promover o tratamento
da interface máquina, ser humano e organização, tendo em vista o conforto, segurança e
eficiência da qualidade de vida do trabalhador e do ambiente de trabalho.

A ergonomia pode ser classificada de três formas distintas, a destacar a ergonomia quanto
à abrangência, quanto à contribuição e quanto à área interdisciplinar.

Geralmente, a abordagem metodológica proposta pela ergonomia, a análise ergonómica


do trabalho, propõe-se a compreender o trabalho em relação a um emaranhado de variáveis que
precisam ser apreendidas em um determinado contexto. Mostrando-se como um desafio, a
análise de tarefa e de actividade enquanto métodos da análise ergonómica do trabalho, fornecem
elementos significativos que permitem a melhoria do conteúdo das tarefas e da organização do
trabalho.

É um conjunto de métodos, etapas, ou ainda acções que mantém uma coerência interna,
principalmente quanto à possibilidade de se questionar os resultados obtidos durante a colecta de
dados, validando-os ao longo do processo e aproximando-os mais da realidade pesquisada.
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