Você está na página 1de 32

Polos Olímpicos de Treinamento

Curso de Álgebra - Nível 2 Aula 3


Prof. Marcelo Mendes

Sequências

Uma sequência nada mais é do que um conjunto de números ordenados. Assim, pode-
mos estabelecer um primeiro termo (a1 ), um segundo termo (a2 ), ... e o termo geral de
uma sequência é escrito na forma an . Os problemas costumam informar qual é o valor de
alguns termos e uma lei de formação para os demais termos. Se necessário, faremos uso de
termos, que na sequência, são anteriores aos termos dados ou posteriores (que será mais
raro).

Algumas vezes, essa lei de formação será implı́cita, ou seja, não poderemos calcular os
termos diretamente a partir da posição que eles ocupam na sequência. Por exemplo, se
cada termo é a soma dos dois termos imediatamente anteriores e os primeiro e segundo
termos são iguais a 1. Possivelmente, precisaremos de uma lei explı́cita, que calcula um
termo da sequência apenas a partir da posição que ele ocupa.

No parágrafo anterior, a sequência em questão é a famosa Sequência de Fibonacci. Na


próxima aula, vamos aprender como encontrar seu termo geral.

1 Sequências simples
Problema 1. Mostre que a sequência definida por an = n2 + n + 2 para n ≥ 1, então na
sequência a1 , a2 , a3 , ... contém an quadrado perfeito, mas apenas em quantidade finita.

Solução. Inicialmente, veja que a1 = 4, que é quadrado perfeito. Mas para n > 1, ocorre

n2 < n2 + n + 2 < n2 + 2n + 1,
ou seja, an está situado entre 2 quadrados perfeitos consecutivos e, portanto, não pode ser
um quadrado.

Problema 2. Uma sequência {an } é definida por a1 = 2 e, para n ≥ 2, an é o maior divisor


primo de a1 · a2 · ... · an−1 + 1. Mostre que an nunca é igual a 5.
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 3 - Prof. Marcelo Mendes

Solução. O máximo divisor primo de a1 +1 = 3 é a2 = 3. Logo, se n > 2, a1 ·a2 ·...·an−1 +1


não possui fatores 2 nem 3, ou seja, se an = 5, então a1 · a2 · ... · an−1 + 1 = 5k ou
a1 · a2 · ... · an−1 = 5k − 1, que é múltiplo de 4, uma contradição pois o único fator par do
membro esquerdo dessa última equação é a1 = 2.

Problema 3. (OBM) Considere a sequência oscilante:

1, 2, 3, 4, 5, 4, 3, 2, 1, 2, 3, 4, 5, 4, 3, 2, 1, 2, 3, 4, ...

Determine o 2003o termo desta sequência.

Solução. Uma parte da sequência, com 8 algarismos, se repete: 1, 2, 3, 4, 5, 4, 3, 2. Di-


vidindo 2003 por 8, obtemos 3 como resto, e deste modo, o 2003o termo corresponde ao
terceiro elemento da parte da sequência que se repete, isto é, 3.

Problema 4. (OBM-Adaptado) A sequência de algarismos 1, 2, 3, 4, 0, 9, 6, 9, 4, 8, 7, ... é


construı́da da seguinte maneira: cada elemento, a partir do quinto, é igual ao último
algarismo da soma dos quatro anteriores. Os algarismos 2, 0, 0, 4, juntos e nesta ordem,
aparecem na sequência?

Problema 5. Calcule a soma 1 − 2 + 3 − 4 + . . . − 98 + 99 − 100.

2 Somas Telescópicas
Vamos entender o que é uma soma telescópica através do nosso primeiro exemplo.

2F (n) + 1
Problema 6. (EUA) Se F (n + 1) = para n = 1, 2, ..., e F (1) = 2, então deter-
2
mine o valor de F (101).

Solução. Podemos reescrever a equação que define os termos dessa sequência recursiva-
mente (isto é, em função de termos anteriores) da seguinte forma:
1
F (n + 1) − F (n) = .
2
Assim, podemos escrever essas equações variando n de 100 a 1:
1
F (101) − F (100) =
2
1
F (100) − F (99) =
2
:
1
F (3) − F (2) =
2

2
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 3 - Prof. Marcelo Mendes

1
F (2) − F (1) =
2
Somando telescopicamente todas essas equações, obtemos F (101) − F (1) = 50, ou seja,
F (101) = 52 pois F (1) = 2.

Sequências como essa que acabamos de ver em que a diferença entre os valores dos
termos consecutivos é constante são chamadas de Progressão Aritmética (P.A.).
Acho que deu pra entender o que é uma soma telescópica: são somas em que os termos
intermediários são cancelados e, no final, só restam o primeiro e o último.

Pode até mesmo ser interessante escrever coisas do tipo

1 − n = (1 − 2) + (2 − 3) + ... + [(n − 1) − n] .
Vejamos agora mais um exemplo.

Problema 7. Encontre o valor da soma


1 1 1 1
S= + + + ... + .
1×2 2×3 3×4 999 × 1000
Solução. Essa é uma aplicação clássica para somas telescópicas. Observe que os denomi-
1
nadores são produtos de números consecutivos. Com o auxı́lio da identidade =
k × (k + 1)
1 1
− , concluı́mos que
k k+1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 999
S= − + − + − + ... + − ⇒S =1− = .
1 2 2 3 3 4 999 1000 1000 1000
1 1 1 1
Problema 8. (EUA) Encontre a soma + + + ... + .
1×3 3×5 5×7 255 × 257

1 1 1 1
Problema 9. (OBM) Encontre a soma + + + ... + .
1 × 4 4 × 7 7 × 10 2998 × 3001

Problema 10. (Hungria) Prove que para todos os inteiros positivos n,


1 1 1 1 1 1
+ + ... + = + + ... + .
1·2 3·4 (2n − 1) · 2n n+1 n+2 2n

Solução. Veja
1 1 1 1 1 1 1 1
+ + ... + = 1 − + − + ... + −
1·2 3·4 (2n − 1) · 2n 2 3 4 2n − 1 2n
! "
1 1 1 1 1 1 1 1
= 1 + + + + ... + + −2 + + ... +
2 3 4 2n − 1 2n 2 4 2n

3
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 3 - Prof. Marcelo Mendes

! "
1 1 1 1 1 1 1
=1+ + + + ... + + − 1 + + ... +
2 3 4 2n − 1 2n 2 n
1 1 1
= + + ... + .
n+1 n+2 2n
Observe que, apesar de muito semelhante aos problemas anteriores, este não utiliza
soma telescópica.

Problema 11. O pagamento de um certo pintor aumenta de acordo com o dias em que
ele trabalha. No primeiro dia ele recebeu 1 real. no segundo dia ele recebeu o que ti-
nha ganho no primeiro dia mais 2 reais. No terceiro dia ele recebeu o que tinha recebido
no segundo dia mais 3 reais. Desse modo, quanto o marceneiro irá receber no centésimo dia?

Solução. Seja Ln o valor pago no n-ésimo dia. O problema no diz que Ln+1 = Ln + (n + 1).
Vamos escrever várias equações seguidas:
Ln+1 = Ln + (n + 1)
Ln = Ln−1 + n
Ln−1 = Ln−2 + (n − 1)
...
L2 = L1 + 2

Somando tudo, obtemos um cancelamento de vários termos (soma telescópica), so-


brando:
(n + 1)(n + 2)
Ln+1 = (n + 1) + n + (n − 1) + . . . + 2 + 1 = .
2
1 1 1
Problema 12. Prove que S = √ √ +√ √ +. . .+ √ √ é um número inteiro.
1+ 2 2+ 3 99 + 100
Solução. A dica é racionalização dos denominadores:
√ √ #√
1 1 1− 2 √ $
√ √ =√ √ ·√ √ =− 1− 2 .
1+ 2 1+ 2 1− 2
Repetindo o procedimento para as demais parcelas, chegamos a:
√ √ √ √ √ √ √ √
−S = 1 − 2 + 2 − 3 + ... + 99 − 100 = 1 − 100 = −99
⇔ S = 99,
que é um número inteiro.

Problema 13. Determine o valor da expressão


1√
! "√ + √ 1 √ + √ 1 √ +...+ √ 1√
2002 2002 2002 2002 1+ 2 2+ 3 3+ 4 99+ 100
E= + + + ... + .
2·6 6 · 10 10 · 14 1998 · 2002

4
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 3 - Prof. Marcelo Mendes

Problema 14. (EUA) A Sequência de Fibonacci 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, ... começa com dois
1s e cada termo seguinte é a soma de seus dois antecessores. Qual dos dez dı́gitos (do sis-
tema de numeração decimal) é o último a aparecer na posição das unidades na seqüência
de Fibonacci?

Problema 15. (OBM) Determine o máximo divisor comum de todos os termos da sequência
cujos termos são definidos por an = n3 − n.

Problema 16. (EUA) Considere uma sequência un definida por u1 = 5 e a relação

un+1 − un = 3 + 4(n − 1), n = 1, 2, 3, ...

Se un é expresso como um polinômio em n, determine a soma algébrica de seus coeficientes.

Solução. Podemos escrever

un − un−1 = 3 + 4(n − 2)
un−1 − un−2 = 3 + 4(n − 3)
:
u2 − u1 = 3 + 4 · 1
Somando todas essas equações, obtemos

un − u1 = 3(n − 1) + 4 (1 + 2 + ... + (n − 2)) = 3(n − 1) + 2(n − 1)(n − 2)

⇒ un = 2n2 − 3n + 6,
cuja soma dos coeficientes é 5.

Problema 17. (Estônia) Prove a desigualdade

22 + 1 32 + 1 20102 + 1 1
2010 < 2
+ 2
+ ... + 2
< 2010 .
2 −1 3 −1 2010 − 1 2

n
% 1
Problema 18. Calcule a soma √ √ .
k=1
(k + 1) k + k k + 1

5
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 3 - Prof. Marcelo Mendes

an
Problema 19. Considere a seqüência definida por a1 = 1 e an+1 = 1+n·an . Calcule a2012 .

Solução. Começaremos com um artifı́cio algébrico bastante útil que é observar que, na
fórmula de an+1 , a fração do membro direito pode ser melhor desenvolvida se for invertida,
porque poderemos desmembrar o resultado. De fato, temos
1 1 + n · an 1
= = +n
an+1 an an
1 1
⇔ − = n.
an+1 an
Assim, obtemos uma chamada equação de diferença. Variando o valor de n de forma
decrescente de 2010 a 1, chegaremos a
1 1
a2011 − a2010 = 2010
1 1
a2011 − a2010 = 2009
.. ..
. = .
1 1
a3 − a2 = 2
1 1
a2 − a1 = 1

Somando essas 2010 equações membro a membro, obtemos


1 1 2010 · 2011
− = 1 + 2 + ... + 2009 + 2010 = = 2021055
a2011 a1 2

1
⇔ = 2021056.
a2011
1
Portanto, a2011 = 2021056 .

6
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 3 - Prof. Marcelo Mendes

3 Produtos Telescópicos
A ideia é semelhante a das somas telescópicas, mas o cancelamento ocorre pelo produto
e não por soma.

Problema 20. No ano 1 Papai Noel viajou sozinho para entregar seus presentes na noite
de Natal. No ano seguinte, ele percebeu que precisava de um ajundante e contratou um
Matesito (tı́pico habitante do Pólo Norte). A cada ano, ele sempre precisava dobrar a quan-
tidade de Matesitos e contratava mais Matesitos para guiar as renas. Quantos Matesitos
Papai Noel vai precisar contratar no ano de 2012?

Solução. Seja Ln o número de Matesitos em cada ano. O problema no diz que Ln+1 =
2Ln + 1. Somando 1 aos dois lados obtemos Ln+1 + 1 = 2(Ln + 1). Vamos escrever várias
equações seguidas:

Ln+1 + 1 = 2(Ln + 1)
Ln + 1 = 2(Ln−1 + 1)
Ln−1 + 1 = 2(Ln−2 + 1)
...
L2 + 1 = 2(L1 + 1)

Multiplicando tudo, obtemos um cancelamento de vários termos (produto telescópico),


sobrando:
2 . . . × 2) = 2n+1 ⇒ Ln+1 = 2n+1 − 1.
Ln+1 + 1 = &2 × 2 ×'(
n+1vezes

Em particular, L2012 = 22012 − 1.

Problema 21. Uma sequência é definida por a1 = 2 e an = 3an−1 + 1. Determine a soma


a1 + a2 + . . . + an .

Problema 22. Considere 2


* a sequência recorrente definida por a1 = 14 e an+1 = an − 2.
2
Prove que o número 3 (an − 4) é divisı́vel por 4, ∀n ∈ Z, n ≥ 1.
+ , -
Solução. Primeiro, veja que 3 a21 − 4 = 24. Observe que

an+1 − 2 = a2n − 4 = (an + 2)(an − 2).

Reduzindo os ı́ndices, obtemos também

an − 2 = (an−1 + 2)(an−1 − 2)
:
a3 − 2 = (a2 + 2)(a2 − 2)
a2 − 2 = (a1 + 2)(a1 − 2)

7
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 3 - Prof. Marcelo Mendes

Multiplicando todas essas equações telescopicamente, obtemos

an+1 − 2 = (an + 2)(an−1 + 2)...(a1 + 2)(a1 − 2)


⇔ a2n − 4 = a2n−1 · a2n−2 · ... · 16 · 12
, -
⇔ 3 a2n − 4 = a2n−1 · a2n−2 · ... · 16 · 36.
*
⇔ 3 (a2n − 4) = an−1 · an−2 · ... · 4 · 6,
que é múltiplo de 4.

Problema 23. Sejam r1 = 3 e rn = rn−1 2 − 2, ∀n ≥ 2. Se sn = rn − 2 para n ≥ 1, prove que


sj tem, no mı́nimo, 2 · 3j−2 divisores positivos, j ≥ 2.

Problema 24. (EUA) Defina uma sequência de números reais a1 , a2 , a3 , ... por a1 = 1 e
a3n+1 = 99a3n , ∀n ≥ 1. Determine o valor de a100 .

, 4 -, -, -, -, -
10 + 324 224 + 324 344 + 324 464 + 324 584 + 324
Problema 25. Calcule o valor de .
(44 + 324) (164 + 324) (284 + 324) (404 + 324) (524 + 324)
8 12 16 4n + 4 2008
Problema 26. Qual é o valor do produto · · · ... · · ... · ?
4 8 12 4n 2004

8
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 3 - Prof. Marcelo Mendes

Dicas

5. Agrupe os números aos pares.


. /
1 1 1 1
8. Use = − .
k · (k + 2) 2 k k+2
9. Pense numa ideia semelhante à sugestão do problema 8.

13. Use mais uma vez uma ideia parecida com a do problema 8 e veja o problema 12.

14. Calcule os primeiros termos até chegar à resposta.


n2 + 1 1 1
17. Use =1+ − .
(n − 1)(n + 1) n−1 n+1
√ √
18. Fatore o denominador pondo k k + 1 em evidência.
√ Depois,
√ racionalize o denomi-
nador multiplicando numerador e denominador por k + 1 − k e surgirá uma soma
telescópica.

21. Subtraindo as equações an = 3an−1 + 1 e an−1 = 3an−2 + 1, obtemos an − an−1 =


3 (an−1 − an−2 ). Depois, multiplique várias dessas equações seguidas (produto te-
lescópico).

23. Veja problema 21.

24. Multiplique várias dessas equações seguidas (produto telescópico).


, -2 , -, -
25. Use a4 +182 = a4 +2a2 ·18+182 −36a2 = a2 + 18 −(6a)2 = a2 + 6a + 18 a2 − 6a + 18 .

9
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 3 - Prof. Marcelo Mendes

Respostas

4. Não

5. −50
128
8. 257
1000
9. 3001

13. 2002 99

14. 6

15. 6

n+1−1
18. √
n+1

5·3n −2n−5
21. 4

24. 9933

25. 373

26. 502

10
Álgebra 03 - Sequências

Problema 1. Sabendo que a2 , b2 , c2 formam uma progressão aritmética, nessa ordem. Prove
1 1 1
que , , também formam uma progressão aritmética na ordem dada.
b+c c+a a+b
x+z
Solução. Os números (x, y, z) formam uma P.A. se, e só se, y = . Sendo assim, temos
2
que 2b2 = a2 + c2 . Utilizando isso, devemos mostrar que
✓ ◆
1 1 1
2· = + .
c+a b+c a+b

Lembrando que b + c, c + a, a + b são não nulos. Temos que


2 1 1 2 a + 2b + c
= + () =
c+a b+c a+b c+a (a + b)(b + c)
() 2(a + b)(b + c) = (a + 2b + c)(a + c)
() 2b2 = a2 + c2 .

Isto é,
1 1 1
, ,
b+c c+a a+b
formam uma P.A. se, e somente se,
a2 , b2 , c 2
também formam. Isso conclui a demonstração.

Problema 2. Prove que, se a, b, c são respectivamente o p-ésimo, q-ésimo e r-ésimo termos de


uma progressão aritmética, então

(q r)a + (r p)b + (p q)c = 0.

Solução. Se an é o n-ésimo termo e am é o m-ésimo termo da progressão aritmética, então


nós temos
an = a1 + d(n 1)
am = a1 = d(m 1),
onde d é a razão da progressão. Daı́,

an am = (n m)d.

Por hipótese, nós temos as seguintes igualdades

b c = (q r)d,
c a = (r p)d,
a b = (p q)d.
Multiplocando a primeira equação por a, a segunda por b, e a terceira por c, nós temos

d[(q r)a + (r p)b + (p q)c] = a(b c) + b(c a) + c(a b) = 0,

onde
(q r)a + (r p)b + (p q)c = 0.

Problema 3. Uma sequência de termos positivos A1 , A2 , . . . , An , . . . satisfaz a relação recur-


3(1 + An )
siva An+1 = . Para que valores de A1 a sequência é monótona decrescente (isto é,
3 + An
A1 A2 . . . An . . .)?

Solução. Devemos ter An An+1 para todo n natural.

3(1 + An )
An () (3 + An )An 3 + 3An
3 + An
() A2n 3.
p p
Logo, devemos ter An 3 para todo n. De forma que A1 3 é condição necessária para
que a sequência seja monôtona
p decrescente. Vamos verificar se isso é condição suficiente.
Devemos garantir que An 3 para todo n. Ou seja,
p 3(1 + An ) p
An+1 3 () 3
3 + An
p p
() 3 + 3An 3 3 + An 3
p
3( 3 1)
() An p
3 3
p p
3( 3 1) 3 + 3
() An p · p
3 3 3+ 3
p
() An 3.
p p p
Ou seja, A1 3 garante An 3 para todo n. De forma que A1 3 é condição sufici-
ente para que a sequência satisfaça
p as condições enunciadas. Isto é, a sequência é monôtona
decrescente se, e só se, A1 3.

2
✓ ◆
1 2 3 99
Problema 4. Seja x = 101! · + + + ... + . Encontre 101! x.
2! 3! 4! 100!
Solução. Escrevamos x = 101! · A.

n (n + 1) 1 1 1
Note que = = . Então,
(n + 1)! (n + 1)! n! (n + 1)!
✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
A= + + +. . .+ + =1 .
1! 2! 2! 3! 3! 4! 98! 99! 99! 100! 100!

Dessa forma, agora nós temos


✓ ◆
1 101!
101! x = 101! 101! · 1 = = 101.
100! 100!

Problema 5. Considere uma sequência definida recursivamente por xn = xn 1 + 2n e x0 = 0.


Encontre uma expressão não recursiva para o termo geral xn .

Solução. Observe que

xn = xn x0 = (xn xn 1) + (xn 1 + xn 2) + . . . + (x2 x1 ) + (x1 x0 ).

Sabemos que para todo k inteiro positivo xk+1 xk = 2(k + 1). Logo,

xn = 2n + 2(n 1) + 2(n 2) + . . . + 2 · 2 + 2 · 1.
= 2 · (1 + 2 + 3 + . . . + n)
n(n + 1)
= 2·
2
= n(n + 1).

Problema 6. Prove a identidade


✓ ◆
1 1 1 1 1 1
+ + ... + = .
1·2·3 2·3·4 n(n + 1)(n + 2) 2 2 (n + 1)(n + 2)

Solução. Fazendo
1 A B
= +
n(n + 1)(n + 2) n(n + 1) (n + 1)(n + 2)

temos n(A + B) + 2A = 1. Portanto, A + B = 0 e A = 1/2. De forma que



1 1 1 1
= .
n(n + 1)(n + 2) 2 n(n + 1) (n + 1)(n + 2)

3
Daı́, se
1 1 1
S= + + ... +
1·2·3 2·3·4 n(n + 1)(n + 2)
então
✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆
1 1 1 1 1 1 1
S= + + ... + .
2 1·2 2·3 2·3 3·4 n(n + 1) (n + 1)(n + 2)

Eliminando os termos do meio encontramos



1 1 1
S= .
2 2 (n + 1)(n + 2)

Problema 7. Calcule
1 1 1
A= p +p p + ... + p p .
1+ 2 2+ 3 n+ n+1
p p p p 1 p p
Solução. ( k + 1 k)( k + 1 + k) = 1. Logo, p p = k+1 k.
k+ k+1
Temos então que
p p p p p p p p p
A=( 2 1) + ( 3 2) + . . . + ( n n 1) + ( n + 1 n) = n+1 1.
Polos Olímpicos de Treinamento
Curso de Álgebra - Nível 2 Aula 4
Prof. Marcelo Mendes

Recorrências - Parte I

Na aula anterior, vimos alguns exemplos de sequências. Em alguns deles, os termos são
dados em função de termos anteriores, ou seja, eles recorrem a valores de termos anteriores.
Por isso, essas sequências são chamadas de recorrências.

Talvez os exemplos mais clássicos de sequências recorrentes sejam as progressões aritmética


e geométrica, que veremos neste texto.

1 Progressões Aritméticas
O problema 6 da aula anterior é um exemplo de P.A. Por definição, uma P.A. é uma
sequência em que a diferença entre os termos consecutivos é constante. Daı́, se (a, b, c) é
uma P.A., então b − a = c − b, ou então, 2b = a + c, isto é, b = a+c
2 , ou seja, cada termo de
uma P.A. é a média aritmética dos termos adjacentes. Essa propriedade, portanto, justifica
o nome desse tipo de sequência.

Sendo d o valor da diferença constante (tradicionalmente chamada de razão), temos a


seguinte lei de formação para os termos de uma P.A. {an }

an = an−1 + d.
Mas veja que essa é uma fórmula implı́cita, recorrente, que necessita de valores anteriores
para se achar o valor de um determinado termo. Somando telescopicamente várias dessas
equações

an = an−1 + d
an−1 = an−2 + d
:
a3 = a2 + d
a2 = a1 + d
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 4 - Prof. Marcelo Mendes

chegamos a
an = a1 + (n − 1)d,
que é a fórmula clássica para o termo geral de uma P.A. Todavia, pode ser mais interessante
em determinados problemas a fórmula

an = am + (n − m)d ⇔ an − am = (n − m)d,
que, ao invés de depender do valor do termo a1 , calcula an a partir de qualquer outro termo
am , podendo este, inclusive, ser posterior.

Essa fórmula nos permite concluir que a1 + an = a2 + an−1 = a3 + an−2 = .... Daı́,
somando as duas equações a seguir

S = a1 + a2 + ... + an−1 + an
S = an + an−1 + ... + a2 + a1
chegamos a

(a1 + an ) n
S= .
2
Problema 1. (EUA) Os quatro primeiros termos de uma P.A. são a, x, b, 2x. Determine o
a
valor da razão .
b
a+b 2b a 1
Solução. Temos 2x = a + b e 2b = x + 2x. Assim, = e, portanto, = .
2 3 b 3

Problema 2. (IME) Determine a relação que deve existir entre os números m, n, p, q para
que se verifique a seguinte igualdade entre os termos de uma mesma progressão aritmética
não-constante:
am + an = ap + aq .

Problema 3. Encontre o valor de a2 + a4 + a6 + ... + a98 se a1 , a2 , a3 , ... é uma P.A. de razão


1 e a1 + a2 + a3 + ... + a98 = 137.

Solução. Podemos escrever a1 +a2 +...+a97 +a98 = 137 como (a2 − 1)+a2 +...+(a98 − 1)+
a98 = 137. Daı́, 2 (a2 + a4 + a6 + ... + a98 ) − 49 = 137 e, portanto, a2 + a4 + a6 + ... + a98 =
137 + 49
= 93.
2

Problema 4. (EUA) Seja a1 , a2 , ..., ak uma progressão aritmética finita com a4 + a7 + a10 =
17 e a4 + a5 + a6 + ... + a12 + a13 + a14 = 77. Se ak = 13, determine o valor de k.

Problema 5. Calcule a soma dos 1000 primeiros múltiplos positivos de 7.

2
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 4 - Prof. Marcelo Mendes

Problema 6. Um jardineiro tem que regar 60 roseiras plantadas ao longo de uma vereda
retilı́nea e distando 1m uma da outra. Ele enche seu regador, a 15m da primeira roseira, e,
a cada viagem, rega 3 roseiras. Começando e terminando na fonte, qual é o percurso total
que ele terá que caminhar até regar todas as roseiras?

Problema 7. Observe a disposição, abaixo, da seqüência dos números naturais ı́mpares.

1a linha 1
2a linha 3, 5
3a linha 7, 9, 11
4a linha 13, 15, 17, 19
5a linha 21, 23, 25, 27, 29
: : :

Determine o quarto termo da vigésima linha.

Problema 8. (Espanha) Encontre uma P.A. tal que a soma de seus n primeiros termos seja
igual a n2 para qualquer valor de n.

Solução. Veja que


Sn = a1 + a2 + ... + an = n2 .
Com n = 1, obtemos S1 = a1 = 1 e, com n = 2, S2 = a1 + a2 = 4. Logo, a2 = 3. Assim,
a razão da P.A. é a2 − a1 = 3 − 1 = 2. Portanto, a P.A. procurada é 1, 3, 5, 7, ...

Problema 9. (IME) O quadrado de qualquer número par 2n pode ser expresso como a soma
de n termos, em progressão aritmética. Determine o primeiro termo e a razão da progressão.

Problema 10. (ITA) Provar que se uma P.A. é tal que a soma dos seus n primeiros termos
é igual a n + 1 vezes a metade do n-ésimo termo, então r = a1 .

Solução. Pelo enunciado, temos

an (a1 + an ) n an
Sn = (n + 1) ⇔ = (n + 1) ⇔ a 1 · n = an
2 2 2

⇔ a1 · n = a1 + (n − 1)r ⇔ a1 (n − 1) = (n − 1)r, ∀n.


Portanto, a1 = r.
Sm m2
Problema 11. Numa P.A., tem-se = 2 , sendo Sm e Sn as somas dos m primeiros
Sn n
termos e dos primeiros n termos, respectivamente, com m ̸= n. Prove que a razão da P.A.
é o dobro do primeiro termo.

3
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 4 - Prof. Marcelo Mendes

Problema 12. Se numa P.A. a soma dos m primeiros termos é igual à soma dos n primeiros
termos, m ̸= n, mostre que a soma dos m + n primeiros termos é igual a zero.

√ √ √
Problema 13. (OCM) Mostre que 2, 3, 5 não podem ser termos de uma mesma pro-
gressão aritmética.

Problema 14. Cada uma das progressões aritméticas a seguir tem 80 termos: (an ) =
(9, 13, ...) e (bn ) = (10, 13, ...). Quantos números são, ao mesmo tempo, termos das duas
progressões?

Problema 15. Numa P.A., temos ap = q e aq = p, com p ̸= q. Determine a1 e ap+q .

Problema 16. (EUA) Se a soma dos 10 primeiros termos e a soma dos 100 primeiros ter-
mos de uma progressão aritmética são 100 e 10, respectivamente, determine a soma dos
110 primeiros termos.

Solução. Vamos escrever os dados do problema da seguinte forma

(a1 + ... + a10 ) + (a11 + ... + a20 ) + ... + (a91 + ... + a100 ) = 10
(a1 + ... + a10 ) + (a1 + ... + a10 ) + ... + (a1 + ... + a10 ) = 100 · 10
Subtraindo termo a termo, obtemos

0 · 10 + 10r · 10 + ... + 90r · 10 = −900

1
⇒ 100r(1 + ... + 9) = −900 ⇒ r = − .
5
Portanto

a1 + ... + a110 = (a1 + ... + a100 ) + (a101 + ... + a110 )

= 10 + [(a1 + 100r) + ... + (a10 + 100r)]

= 10 + (a1 + ... + a10 ) + 1000r = 10 + 100 − 200 = −90.

Problema 17. (EUA) Em uma P.A., a soma dos 50 primeiros termos é 200 e a soma dos
50 próximos é 2700. Determine a razão e o primeiro termo dessa seqüência.

4
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 4 - Prof. Marcelo Mendes

Problema 18. (EUA) A soma dos n primeiros termos de uma P.A. é 153 e a razão é 2. Se
o primeiro termo é um inteiro e n > 1, determine o número de valores possı́veis de n.

(a1 + an ) n
Solução. Como = 153, temos [a1 + (n − 1)] n = 153. Como a1 + (n − 1) e n
2
são inteiros positivos, eles são divisores positivos de 153. Mas 153 = 32 × 17 e, portanto,
153 possui 6 divisores positivos, sendo 5 deles maiores que 1.

Problema 19. (EUA) A soma dos n primeiros termos de uma P.A. é x e a soma dos n
seguintes é y. Calcular a razão.

Problema 20. A sequência 1, 2, 1, 2, 2, 1, 2, 2, 2, 1, 2, 2, 2, 2, 1, 2, ... consiste de 1s separados


por blocos de 2s, com n 2s no n-ésimo bloco. Determine a soma dos 1234 primeiros termos
dessa seqüência.

2006
Problema 21. Mostre que 20082007 é um termo da P.A. infinita (6, 13, 20, 27, ...).

Problema 22. (EUA) Os três primeiros termos de uma progressão aritmética são 2x −
3, 5x − 11 e 3x + 1, respectivamente. O n-ésimo termo da sequência é 2009. Quel é o valor
de n?

Problema 23. (EUA) Os quatro primeiros termos de uma progressão aritmética são p, 9, 3p−
q e 3p + q. Qual é o 2010o termo dessa sequência?

2 Progressão Geométrica
Semelhante ao que escrevemos para P.A., por definição, uma P.G. é uma sequência em
que cada novo termo, a partir do segundo, é o produto do termo anterior por uma cons-
tante. Daı́, se (a, b, c) é uma P.G., então b2 = ac.

Sendo q o valor da razão constante, temos a seguinte lei de formação para os termos de
uma P.G. {an }

an = an−1 · q.
Mas veja que essa também é uma fórmula implı́cita, recorrente, que necessita de valores
anteriores para se achar o valor de um determinado termo. Multiplicando telescopicamente
várias dessas equações

5
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 4 - Prof. Marcelo Mendes

an = an−1 · q
an−1 = an−2 · q
:
a3 = a2 · q
a2 = a1 · q
chegamos a
an = a1 · q n−1 ,
que é a fórmula clássica para o termo geral de uma P.G.

A fórmula da soma dos n primeiros termos é

qn − 1
S n = a1 · ,
q−1
se q ̸= 1 e Sn = a1 · n, se q = 1, e a fórmula do produto dos n primeiros termos pode ser
apresentada de 2 maneiras
n(n−1)
Pn = an1 · q 2

ou

Pn2 = (a1 · an )n .

Problema 24. (EUA) Suponha que x, y, z estejam em P.G. de razão r e x ̸= y. Se x, 2y, 3z


estão em P.A., determine o valor de r.

Solução. Temos y = x · r e z = x · r 2 pela P.G. Pela P.A., segue que 4y = x + 3z. Logo,
4xq = x + 3xq 2 . Se x = 0, então y = 0 = x, o que não pode ocorrer. Daı́, 3q 2 − 4q + 1 = 0,
cujas soluções são q = 1 e q = 13 . Como q = 1 implica x = y, concluı́mos que q = 31 .

Problema 25. Se (a, b, c) formam, nesta ordem, uma P.A. e uma P.G. simultaneamente,
mostre que a = b = c.
! "2
a+c a+c
Solução. Por ser P.A., temos b = (*) e, por ser P.G., b2 = ac. Logo, = ac,
2 2
ou seja, (a − c)2 = 0. Assim, a = c e, por (*), a = b = c.

Problema 26. (OCM) Determine a soma dos n primeiros termos da sequência:


% &
1, (1 + 2), 1 + 2 + 22 , 1 + 2 + 22 + 23 , ..., 1 + 2 + 22 + 23 + ... + 2k−1 .
# $ # $

6
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 4 - Prof. Marcelo Mendes

Problema 27. 6. Mostre que não existe P.G. de três termos distintos tal que, ao somarmos
um mesmo número real não-nulo a todos os seus termos, a nova sequência seja também
uma P.G.

Problema 28. (EUA) Numa P.G. de 2n termos, a soma dos termos de ordem par é P e a
soma dos termos de ordem ı́mpar é I. Calcule o 1o termo e a razão.

Solução. De a2 + ... + a2n =#P ,$ segue que q · (a1 + ... + a2n−1 ) = P ou q · I = P . Logo,
n
P q2 − 1 q 2n+1 − q (P − I)I 2n
q = . Além disso, P = a2 · = a1 · . Logo, a1 = 2n .
I q−1 q−1 P − I 2n

Problema 29. Prove que, quando os lados de um triângulo estão em P.G., o mesmo ocorre
para as alturas.

a a2 + b2
Problema 30. Sejam a, b, c números reais não-nulos, com a ̸= c, tais que = 2 .
c c + b2
Prove que a, b e c formam uma P.G.

Problema 31. (EUA) O 5o e o 8o termos de uma progressão geométrica de números reais


são 7! e 8!, respectivamente. Qual é o 1o termo?

2 Recorrências Lineares de Ordem 2 - Parte I


Por fim, vamos estudar apenas as recorrências em que a equação caracterı́stica possui
raiz real dupla. Mas o que é uma equação caracterı́stica? Vejamos.

Considere a recorrência linear de ordem 2 (isto é, só depende dos 2 termos imediata-
mente anteriores)

an = pan−1 + qan−2 .
A equação caracterı́stica dessa recorrência é a equação quadrática formada repetindo
os mesmos coeficientes da recorrência, ou seja,

x2 = px + q ⇔ x2 − px − q = 0.
Mas como surge essa equação? A resposta será dada no texto da aula seguinte. Por
enquanto, acredite.

Como exemplo, considere uma recorrência definida por a1 = 1, a2 = 3 e, para n ≥ 3,


an = 2an−1 − an−2 . A equação caracterı́stica associada é x2 − 2x + 1 = 0, que possui duas
raı́zes iguais a 1. Entrementes, uma olhadinha mais cuidadosa mostra que a recorrência
em questão é de uma P.A. pois

7
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 4 - Prof. Marcelo Mendes

an = 2an−1 − an−2 ⇔ an − an−1 = an−1 − an−2 .


Portanto, acabamos de ver que uma P.A. está associada a uma equação caracterı́stica
com raiz dupla 1.

Agora, vejamos outro exemplo, uma recorrência em que a1 = 6, a2 = 27 e, para n ≥ 3,


an = 6an−1 − 9an−2 (*). A equação caracterı́stica associada é x2 − 6x + 9 = 0, cujas
raı́zes são iguais a 3. A saı́da agora é criar uma nova sequência {bn } dada por an = 3n bn .
Substituindo em (*), chegamos a bn = 2bn−1 − bn−2 , o que mostra que {bn } é uma P.A.!
Assim, sendo bn = A + Bn (o termo geral de uma P.A. é uma função polinomial do 1o grau
em função de n ou uma função constante no caso em que a P.A. é constante), obtemos

an = 3n (A + Bn).
Para acharmos A e B, fazemos n assumir os valores 1 e 2:
'
6 = a1 = 3(A + B)
27 = a2 = 9(A + 2B)
cujas soluções são A = B = 1 e, portanto,

an = 3n (n + 1).

Problema 32. Resolva a recorrência a1 = 4, a2 = 20 e, para n ≥ 3, an = 4an−1 − 4an−2 .

Problema 33. Resolva a recorrência a1 = 8, a2 = 96 e, para n ≥ 3, an = 8an−1 − 16an−2 .

Problema 34. Considere a sequência (an ) dada por a1 = 1, a2 = 3 e an = 10an−1 − 25an−2 ,


para n > 2. Determine o valor de k, dado por an = kn bn tal que a sequência (bn ) seja uma
P.A.

Problema 35. (IME) Considere a sequência {vn }, n = 0, 1, 2, ... definida a partir de seus
dois primeiros termos v0 e v1 e pela fórmula geral vn = 6vn−1 −9vn−2 , para n ≥ 2. Define-se
uma nova sequência {un }, n = 0, 1, 2, ... pela fórmula vn = 3n un .
a) Calcule un − un−1 em função de u0 e u1 .
b) Calcule un e vn em função de n, v1 e v0 .
1
c) Identifique a natureza das sequências {vn } e {un } quando v1 = 1 e v0 = .
3

8
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 4 - Prof. Marcelo Mendes

Dicas

2. Use ai − aj = (i − j)r, sendo r a razão.

9. Veja o problema 8.
√ √ √
13. Suponha, sem perda de generalidade que 2, 3, 5 sejam o primeiro, o m-ésimo e
o n-ésimo termos, respectivamente. Use a fórmula do termo geral √ em √am e an , isole a
razão
√ em cada uma e iguale essas expressões. Depois, utilize que 2, 3 e, em geral,
k, em que k é um número natural não quadrado perfeito, são números irracionais.

14. O primeiro termo em comum é 13 e a razão dos termos em comum é mmc(4, 3) = 12,
já que 3 e 4 são as razões iniciais.

15. Use ai − aj = (i − j)r, sendo r a razão.

17. Veja a solução do problema 16 ou use a fórmula da soma (que dará mais trabalho).

19. Veja a sugestão do problema 17.

21. Os termos da P.A. em questão são da forma 7k + 6 ou 7k − 1. Assim, basta achar o


2006
resto de 20082007 na divisão por 7.

26. Calcule cada uma das somas parciais separadas por vı́rgulas no enunciado e, em
seguida, calcule a soma dos resultados. Nas duas etapas, use a fórmula da soma da
P.G.
bh
29. Use que a área de um triângulo é .
2

9
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 4 - Prof. Marcelo Mendes

Respostas

2. m + n = p + q

4. 18

5. 3503500

6. 1820

7. 387

9. a1 = 4 e r = 8

14. 20

15. a1 = q + p − 1, ap+q = 0

17. r = 1 e a1 = −20, 5
y−x
19.
n2
20. 2419

22. 502

23. 8041

26. 2n+1 − n − 2

31. 315

32. 2n (3n − 1)

33. 4n (4n − 2)

34. 5

35. a) u1 − u0 ; b) un = nv3 1 + (1 − n)v0 e vn = 3n−1 nv1 + 3n (1 − n)v0 ; c) un = 13 , sequência


constante e vn = 3n−1 , progressão geométrica

10
Polos Olímpicos de Treinamento
Curso de Álgebra - Nível 2 Aula 5
Prof. Marcelo Mendes

Recorrências - Parte II

Na aula 3, falamos de uma sequência famosa, a Sequência de Fibonacci, cuja definição é


a seguinte: F1 = F2 = 1 e, para n ≥ 3, Fn = Fn−1 + Fn−2 . Essa fórmula é uma recorrência
linear de ordem 2. Um de nossos objetivos neste 5o texto é mostrar que a fórmula explı́cita
para seus termos é
! √ "n ! √ "n
1 1+ 5 1 1− 5
Fn = √ −√ .
5 2 5 2

Surpreendente, não é mesmo? Imaginar que, substituindo n por 1, 2, 3, √ 4, 5, 6, ... na


fórmula acima, acharemos exatamente os termos 1, 1, 2, 3, 5, 8, ..., e nenhum 5 sobra, é
realmente muito belo.

Em geral, nesta aula, trataremos equações de recorrência lineares que dependem so-
mente dos dois termos anteriores. Inicialmente, vamos estudar o caso em que as raı́zes da
equação caracterı́stica (que definiremos no texto) são distintas.

1 Um Exemplo para Organizar as Ideias


Vamos resolver a recorrência a1 = 1, a2 = 3 e, para n ≥ 3,

an = 3an−1 − 2an−2 .
Podemos escrever an − an−1 = 2 (an−1 − an−2 ) e, em seguida, multiplicar telescopica-
mente várias delas

an − an−1 = 2 (an−1 − an−2 )


an−1 − an−2 = 2 (an−2 − an−3 )
:
a3 − a2 = 2 (a2 − a1 )
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 5 - Prof. Marcelo Mendes

obtendo an − an−1 = 2n−2 (a2 − a1 ) = 2n−1 .

Agora, somamos telescopicamente várias dessa última equação

an − an−1 = 2n−1
an−1 − an−2 = 2n−2
:
a2 − a1 = 2
e chegamos a an − a1 = 2 + ... + 2n−2 + 2n−1 , ou seja, an = 2n − 1.

Observe que, na primeira passagem, para transformar an = 3an−1 − 2an−2 em an −


an−1 = 2 (an−1 − an−2 ), ’pedimos emprestado’ an−1 para o membro esquerdo. Essa operação
gerou proporção entre os coeficientes dos termos dos dois membros (antes e depois da igual-
dade), permitiu colocar o fator de proporção 2 em evidência e a diferença que surgiu entre
parênteses no membro direito ficou com o mesmo padrão da diferença no membro esquerdo,
mas com ı́ndices reduzidos. Essa será nossa ideia para encontrar o termo geral da

2 Sequência de Fibonacci
Como já definimos anteriormente, seus termos são dados por F1 = F2 = 1 e, para
n ≥ 3, Fn = Fn−1 + Fn−2 . Na verdade, os cálculos ficam mais interessantes escrevendo
Fn+1 = Fn +Fn−1 . Seria difı́cil ’pedir emprestado’ uma quantidade inteira desta vez pois há
somente Fn no membro direito. Assim, vamos chamar de λ a quantidade que será passada
para o membro esquerdo, ou seja,

Fn+1 − λFn = (1 − λ)Fn + Fn−1 .


Para repetirmos a ideia bem sucedida do primeiro exemplo, o valor de λ deve cumprir
a relação de proporção

1 1−λ
= ,
−λ 1
ou seja,

λ2 − λ − 1 = 0,
a qual chamaremos de equação caracterı́stica da sequência de Fibonacci. Observe desde
já que os coeficientes dessa equação são os mesmos da recorrência que define a sequência.
Sendo λ1 e λ2 as raı́zes, aqui será mais relevante saber que λ1 + λ2 = 1 e λ1 · λ2 = −1 (mas
veja que ambas são reais e distintas) do que escrever seus valores pela fórmula de Baskara.

Agora, substituindo λ por λ1 , obtemos

Fn+1 − λ1 Fn = (1 − λ1 )Fn + Fn−1 ,

2
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 5 - Prof. Marcelo Mendes

ou seja,
Fn+1 − λ1 Fn = λ2 (Fn − λ1 Fn−1 ) .
Assim, deixamos a equação pronta para escrevê-la várias vezes e fazer o produto te-
lescópico

Fn+1 − λ1 Fn = λ2 (Fn − λ1 Fn−1 )


Fn − λ1 Fn−1 = λ2 (Fn−1 − λ1 Fn−2 )
:
F3 − λ1 F2 = λ2 (F2 − λ1 F1 ) ,
cujo resultado será

Fn+1 − λ1 Fn = λ2n−1 (F2 − λ1 F1 ) = λn−1


2 (1 − λ1 ) = λn2 .
Analogamente, substituindo λ por λ2 , temos

Fn+1 − λ2 Fn = λn1 .
A diferença entre esses 2 últimos resultados gera

(λ1 − λ2 ) Fn = λn1 − λn2


e, portanto,

λn1 − λn2
Fn =
λ1 − λ2
lembrando que λ1 ̸= λ2 . Substituindo os valores de λ1 e λ2 , chegamos ao resultado desejado
! √ "n ! √ "n
1 1+ 5 1 1− 5
Fn = √ −√ .
5 2 5 2

Mas há um pequeno problema. Esse método é bastante trabalhoso. A boa notı́cia é que
podemos deixá-lo como uma quase demonstração e realizar, na prática, os seguintes passos:

1o passo: Escreva a equação caracterı́stica.

Basta copiar os mesmos coeficientes da equação de recorrência. Em seguida, calcule as


raı́zes dessa equação.

2o passo: Escreva o termo geral da recorrência.

O termo geral é dado por Fn = Aλn1 + Bλn1 (essa fórmula pode ser encontrada refazendo
os cálculos para a recorrência mais geralmente, ou seja, com a equação xn = axn−1 +bxn−2 ).

3
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 5 - Prof. Marcelo Mendes

As constantes A e B são dadas pelos valores dos termos iniciais. É interessante, para re-
duzir as contas, calcular o termo de ordem ’0’, que, no caso da sequência de Fibonacci, é
F0 = 0.

Vejamos como seria, então, a resolução na prática para encontrar o termo geral da
sequência de Fibonacci.

Passo 1. Equação caracterı́stica.


√ √
1+ 5 1− 5
De Fn −Fn−1 −Fn−2 = 0, obtemos λ2 −λ−1 = 0, cujas raı́zes são λ1 = 2 e λ2 = 2 .

Passo 2. Termos geral.

Fn = Aλn1 + Bλn1 . Com os valores 0 e 1 para n, obtemos

0=A+B
1 = Aλ1 + Bλ2
cuja solução é A = −B = √1 .
5

Portanto, ! √ "n ! √ "n


1 1+ 5 1 1− 5
Fn = √ −√ .
5 2 5 2

Problema 1. Um garoto tem n reais. Todo dia, ele realiza exatamente uma das seguintes
compras: um bolo que custa R$ 1, 00, um sorvete que custa R$ 2, 00 ou um pastel que
também custa R$ 2, 00. De quantas maneiras o menino pode gastar seu dinheiro?

Solução. Seja an o número de maneiras de ele gastar os n reais.

Assim, para gastar os últimos reais, ou ele gasta n − 1 reais primeiramente e compra
um bolo no final, ou ele gasta n − 2 reais inicialmente e, em seguida, compra um sorvete
ou um pastel. Portanto, podemos escrever

an = an−1 + 2an−2 ,
com a1 = 1 (só dá pra comprar 1 bolo) e a2 = 3 (comprando 2 bolos ou 1 sorvete ou 1
pastel).

Agora, vamos resolver.

i) Equação caracterı́stica: λ2 − λ − 2 = 0, cujas raı́zes são 2 e −1.

4
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 5 - Prof. Marcelo Mendes

ii) Termos geral: an = A · 2n + B · (−1)n . Podemos calcular a0 , que não faz sentido para
o gasto do dinheiro, mas existe na sequência associada: a2 = a1 + 2a0 ⇒ a0 = 1. Agora,
para n = 0 e n = 1

A+B =1
2A − B = 1,
2
cuja solução é A = 3 e B = 13 . Assim

2n+1 + (−1)n
an = .
3
Problema 2. Determine o termo geral da sequência definida pela recorrência a1 = 1, a2 = 4
e an = 4an−1 − 3an−1 para n ≥ 3.

Problema 3. Determine o termo


√ geral da sequência definida recorrentemente por a0 = 0,
a1 = 3 e, para n ≥ 3, an = 5an−1 + an−1 .

Problema 4. Considere um retângulo 1 × n, que deve ser preenchido por dois tipos de
retângulos menores 1 × 1 e 1 × 2. De quantas maneiras se pode fazer isso?

Problema 5. (OPM) Uma escada tem n degraus. Para subi-la, em cada passo, pode-se
subir um ou dois degraus de cada vez. De quantos modos diferentes pode-se subir a escada?

Problema 6. Uma sequência de números ak é definida por a0 = 0 e ak+1 = 3ak + 1, k ≥ 0.


Prove que a155 é divisı́vel por 11.

Solução. Inicialmente, veja que essa recorrência não depende dos dois termos anteriores.
A parcela 1 no membro da direita, na verdade, não é bem-vinda. Assim, de

ak+1 = 3ak + 1
ak = 3ak−1 + 1
3n − 1
obtemos ak+1 − 4ak + 3ak−1 = 0. O termo geral dessa recorrência é an = (a de-
2
monstração deixamos para o leitor).

3155 − 1
Logo, a155 = . Para finalizar, deixo como sugestão que 35 − 1 = 242 = 11 × 22.
2

21 3
Problema 7. Seja {an } uma sequência tal que a1 = e 2an − 3an−1 = n+1 , n ≥ 2.
16 2
Encontre o valor de a2 e a lei de recorrência de cada termo em função dos dois termos
imediatamente anteriores.

5
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 5 - Prof. Marcelo Mendes

3 Recorrências e Equações do 2o Grau


Como exemplo para organizar as ideias, vamos supor que α seja uma raiz da equação
x2 + x − 1 = 0. Assim

α2 = −α + 1.
Daı́,

α3 = −α2 + α = 2α − 1
α4 = 2α2 − α = −3α + 2
α5 = −3α2 + 2α = 5α − 3.
Será que existe um padrão entre os coeficientes que aparecem no lado direito de cada
potência de α? Sim, existe! Na próxima aula, que será sobre indução finita, estaremos
aptos a provar que

αn = (−1)n−1 Fn α + (−1)n Fn−1 ,


sendo {Fn } a sequência de Fibonacci.

Problema 8. Se α e β são as raı́zes da equação ax2 + bx + c = 0 e Sn = αn + β n , n ∈ N,


então mostre que aSn+1 + bSn + cSn−1 = 0.

Solução. Como α e β são as raı́zes de ax2 + bx + c = 0, então

aα2 + bα + c = 0
aβ 2 + bβ + c = 0.
Daı́, multiplicando por αn−1 e β n−1 , respectivamente, temos

aαn+1 + bαn + cαn−1 = 0


aβ n+1 + bβ n + cβ n−1 = 0.
Somando, obtemos

a αn+1 + β n+1 + b (αn + β n ) + c αn−1 + β n−1 = 0


# $ # $

ou seja,

aSn+1 + bSn + cSn−1 = 0.

Problema 9. Seja α a maior raiz de x2 + x − 1 = 0. Determine o valor de α5 − 5α.

6
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 5 - Prof. Marcelo Mendes

αn − β n
Problema 10. Sejam α e β as raı́zes de x2 + x − 1 = 0. Sendo an = , n = 1, 2, 3, ....
α−β
Determine os dois primeiros termos a1 e a2 dessa sequência e a lei de recorrência de cada
termo em função dos dois termos imediatamente anteriores.

7
POT 2012 - Álgebra - Nı́vel 2 - Aula 5 - Prof. Marcelo Mendes

Dicas

2. Use a equação caracterı́stica e encontre o termo geral seguindo o exemplo e a questão


1.

3. Use a equação caracterı́stica e encontre o termo geral seguindo o exemplo e a questão


1.

4. Para finalizar, ou ele completa com um quadradinho 1 × 1 o retângulo 1 × (n − 1),


que pode ser preenchido de an−1 maneiras, ou ele completa com um retângulo 1 × 2
o retângulo 1 × (n − 2), que pode ser preenchido de an−2 maneiras.

5. Para finalizar, ou ele sobe um degrau a partir do degrau n − 1, que pode ser alcançado
de an−1 maneiras, ou ele sobe dois degraus a partir do degrau n − 2, que pode ser
alcançado de an−2 maneiras.
3
7. Multiplique a equação de recorrência por 2 e subtraia de 2an−1 − 3an−2 = n , que é
2
a equação dada substituindo n por n − 1.

10. Se a equação caracterı́stica é x2 + x − 1 = 0, então a equação de recorrência é


an = −an−1 + an−2 .

Respostas

3n − 1
2. an =
2
!√ "n ! √ "n
5+3 5−3
3. an = −
2 2

4. Sendo an o número de maneiras, a1 = 1, a2 = 2, an = an−1 + an−2

5. Sendo an o número de maneiras, a1 = 1, a2 = 2, an = an−1 + an−2


69
7. a2 = 32 e 4an − 8an−1 + 3an−2

9. −3

10. a1 = 1 e a2 = −1; an = −an−1 + an−2

Você também pode gostar