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Editorial
Perspectivas futuras da genética psiquiátrica

O campo da genética psiquiátrica apresenta uma série de de- endocrinológicos. Por intermédio deles tentaram-se desafios
safios particulares, uma vez que as mesmas doenças mentais se do funcionamento específico para os diferentes sistemas de
apresentam como quadros clínicos (fenótipos) complexos, para neurotransmissão. Dessa maneira, espera-se ter uma maior in-
os quais existem, por um lado, várias explicações etiológicas. A formação sobre um ponto mais preciso onde se poderia encon-
partir da perspectiva genética, temos, em primeiro lugar, o trar a alteração genética particular das cascatas metabólicas da
fenótipo explicado por completo na etiologia de índole genética neurotransmissão do SNC;
(genótipo), e, em segundo lugar, a etiologia que responde a 4. Relacionado ao item anterior, há um interesse crescente em
outros fatores não genéticos (fenocópias). Além disso, encon- conhecer de que maneira as variações polimórficas moleculares
tramos, dentro dos tipos genéticos, a chamada heterogeneidade dos pontos de ação para os diferentes psicofármacos podem
genética, em que vamos encontrar diferentes genes que cau- ter um impacto nos mecanismos de farmacocinética e
sam a mesma patologia. farmacodinâmica. Isso equivale a determinar ou prognosticar a
Nesse sentido, um dos grandes desafios desse campo é ten- resposta terapêutica e os efeitos colaterais;
tar aprimorar a busca de novas definições dos fenótipos psi- 5. Duas áreas de pesquisa básica, que mais recentemente
quiátricos que nos permitam identificar com maior precisão a ganharam importância: o estudo dos mecanismos moleculares
localização de seus genes. imunológicos e a pesquisa dos processos de expressão dos
Com esse objetivo, procurou-se diferenciar, seja clinicamente genes durante o neurodesenvolvimento.
ou por meio de marcadores biológicos particulares, as varieda- Finalmente, o uso de procedimentos rigorosos da genética
des genéticas das fenocópias, assim como encontrar as condi- molecular – como a triagem para todo o genoma por meio de
ções que permitem distinguir as próprias formas genéticas e a marcadores distribuídos cada vez mais intensamente – e mode-
relação existente entre o fenótipo clínico e o genótipo específico. los animais de inativação para certos genes (knockouts) que
Quanto à perspectiva clínica, alguns dos métodos propostos pudessem ser relevantes ou, como também têm sido chamados,
consistem em caracterizar as patologias mentais de acordo com “genes candidatos”, continuamente dão novas informações dos
características como: instalação da doença, antecedentes here- possíveis loci envolvidos em patologias psiquiátricas. Tais
ditários, severidade, evolução clínica, preponderância de sin- metodologias moleculares relacionadas aos avanços na meto-
tomas característicos (por exemplo, sintomas positivos e nega- dologia epidemiológica e estatística, aplicadas ao estudo dos
tivos nas psicoses), co-morbidade, gênero e resposta ao trata- efeitos genéticos nas patologias mentais, se apóiam nos estu-
mento. dos tradicionais de associação de genes (linkage), análise de
Por outro lado, quanto aos marcadores biológicos propos- segregação e o estudo do fenômeno de antecipação genética.
tos, tem-se tentado definir os fenótipos clínicos, de acordo com O estudo de genes associados à doença mental, seja por meio
as áreas de pesquisa que permitiram um melhor conhecimento de trios ou do risco relativo por haplótipo (HRR), representam
da etiopatogenia das doenças mentais. Como exemplos, temos também uma área que dá lugar a constante informação, embora
os seguintes: exista certa controvérsia quanto aos seus resultados.
1. Imagens cerebrais particulares, tanto do tipo estrutural Como podemos apreciar, o grande número de métodos de
(CAT, RMN) como dinâmicas (PET, SPECT, RMN-funcional); pesquisa que estão sendo empregados faz da genética psiquiá-
2. A execução e avaliação do funcionamento neuropsicológi- trica uma das áreas da ciência médica mais diversificada e com
co e variáveis eletrofisiológicas, como potenciais evocados e grandes possibilidades de dar uma nova perspectiva ao enten-
EEG (hoje muito importantes em pesquisa de patologia mental dimento da doença mental.
e de processos cognitivos normais);
3. O estudo de marcadores biológicos mais tradicionais, como Humberto Nicolini
têm sido os bioquímicos, psicofarmacológicos e Instituto Mexicano de Psiquiatría

Correspondência: Calz. México - Xochimilco 101 14080, D.F. México Email: nicolins@imp.edu.mx

Genética - vol. 21 - outubro 1999

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