Você está na página 1de 4

www.tanalousa.com.br / Prof.

Vinícius Reccanello de Almeida

EDUCAÇÃO ESCOLAR – POLÍTICAS, ESTRUTURA E


ORGANIZAÇÃO
(Libâneo, Oliveira e Toschi)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Páginas: 232 a 259

A CONSTRUÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA: AVANÇOS E IMPASSES


No Brasil, as primeiras escolas foram criadas em 1549. Os colégios jesuíticos eram missionários e
pretendiam formar sacerdotes, catequizar os índios e formar a elite jovem para prosseguir os estudos
superiores na Europa.
A educação pública estatal iniciou-se no Brasil no final do século XIX e nas primeiras décadas do
século XX, quando principiou o processo de industrialização no país.
As diretrizes do processo de escolarização centravam-se no atendimento às indústrias, que re-
queriam trabalhadores instrumentalizados na leitura, na escrita e nos cálculos. Hoje, a necessidade
mercadológica da formação escolar faz-se sentir, em pleno vigor, com o processo de informatização do
mundo do trabalho.
A escola é uma organização socialmente construída. Numa perspectiva crítica, a escola é vista
como uma organização política, ideológica e cultural em que indivíduos e grupos de diferentes interes-
ses, preferências, crenças, valores e percepções da realidade mobilizam poderes e elaboram processos
de negociação, pactos e enfrentamentos.

AS MODALIDADES DA EDUCAÇÃO
Aqui Libâneo diferencia a educação informal da educação forma.

 A educação informal, também chamada de não intencional, refere-se às influências do meio


humano, social, ecológico, físico e cultural às quais o homem está exposto.
 A educação não formal é intencional, ocorre fora da escola, porém é pouco estruturada e
sistematizada.
 A educação formal é também intencional e ocorre ou não em instâncias de educação esco-
lar, apresentando objetivos educativos explicitados. É claramente sistemática e organizada.

Uma modalidade não é mais importante do que a outra, uma vez que se interpenetram. Todas
ocorrem na vida dos indivíduos e, precisamente pela importância das práticas educativas informais, há
a necessidade da educação intencional, sobretudo a formal, escolarizada, a fim de alcançar objetivos
preestabelecidos.

A EDUCAÇÃO ESCOLAR
A escola, em sua forma atual, surgiu com o nascimento da sociedade industrial e com a consti-
tuição do Estado nacional, para suplantar a educação que ocorria na família e na Igreja. Ganhou corpo
com base na crença do progresso, sendo beneficiária da educação dos homens e da ampliação da cul-
tura.
A consolidação do capitalismo reforçou a convicção de que a educação podia ser mecanismo de
controle social. Ela foi recomendada pelos teóricos da economia política liberal do século XVIII como
forma de tornar o povo ordeiro, obediente aos superiores.

1
www.tanalousa.com.br / Prof. Vinícius Reccanello de Almeida

DIFERENTES CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO ESCOLAR


As concepções de educação escolar referem-se a determinados modos de compreender as mo-
dalidades de educação, as funções sociais e pedagógicas da escola, os objetivos educativos, as dimen-
sões da educação, os objetivos da aprendizagem, o currículo, os conteúdos e a metodologia.
Vamos seguir a classificação de Dermeval Saviani (5 tendências):

TENDÊNCIA HUMANISTA TRADICIONAL


 Abrange a pedagogia católica e outras correntes formadas entre os séculos XVI e XIX, com
destaque para as correntes formuladas por Comenius e Herbart.
 Pedagogia centrada no conhecimento, na formação intelectual, na autoridade do professor.

TENDÊNCIA HUMANISTA MODERNA


 Abrange várias correntes originadas na filosofia com base nas visões de homem voltadas
para a existência humana, a vida e a atividade, resultando numa pedagogia centrada na cri-
ança.
 Surge na segunda metade do século XIX, na Europa, e depois nos Estados Unidos, com John
Dewey.
 No Brasil, Dewey influencia o movimento da Escola Nova, que atinge seu apogeu na década
de 1960, quando se difundem também as ideias de Jean Piaget.

TENDÊNCIA TECNICISTA
 Foi introduzida por volta de 1968 na política educacional do regime militar, baseada em
princípios positivistas como racionalidade, eficiência e produtividade;
 Ênfase na formação técnica e profissionalizante;
 Duas leis são representativas dessa tendências: Lei nº 5.540/1970 e a Lei nº 5.692/71.

TENDÊNCIA CRÍTICO-REPRODUTIVISTA
 Identificada em boa parte como posição crítica ao tecnicismo;
 Propicia uma análise crítica da educação na sociedade capitalista;
 Apresentou-se em três teorias: a) teoria do sistema de ensino como violência simbólica,
formulada por Bourdieu e Passeron; b) teoria da escola como aparelho ideológico do Esta-
do, de Louis Althusser; c) teoria da escola dualista, formulada por Baudelot e Establet.

 Saviani reconhece o mérito dessas teorias em destacar a relação entre educação e o proces-
so de dominação na sociedade de classes, mas considera-as “reprodutivistas”, no sentido de
terem restringido a educação ao papel de replicadora das relações sociais capitalistas de
produção, desconsiderando sua capacidade de, contraditoriamente, contribuir para a trans-
formação da realidade.

TENDÊNCIA DIALÉTICA
 Surge como uma concepção que supera as demais;
 Destaca as possibilidades transformadoras da educação em meio às contradições da socie-
dade capitalista;
 Ressalta-se a necessidade de a classe trabalhadora apropriar-se, por meio da educação e da
escola, do saber sistematizado, potencializando sua capacidade de organização, reivindica-
ção e pressão;
 Decorrem dessa tendência a pedagogia histórico-crítica e a pedagogia crítico-social dos
conteúdos.

2
www.tanalousa.com.br / Prof. Vinícius Reccanello de Almeida

No âmbito da prática escolar, as escolar continuam direcionadas para quatro tipos de pedago-
gia: a tradicional, a tecnicista, a nova ou ativa e a sociocrítica.

A pedagogia da Escola Nova, hoje representada principalmente por escolas e professores que
adotam uma visão construtivista, é preferida por pais preocupados com a formação humana de seus
filhos. Nela não sei exclui a transmissão de conhecimentos, mas se considera mais importante a orga-
nização do ambiente de aprendizagem para que o aluno possa desenvolver sua própria atividade de
aprender. Essas escolas inspiram-se em Piaget e Vygotsky.
Já a pedagogia sociocrítica propõe associar ao ensino-aprendizagem a responsabilidade da esco-
la perante as desigualdades econômicas e sociais, ajudando os alunos em sua preparação intelectual e
em sua inserção crítica e participativa na sociedade. Atualmente, essa pedagogia incorpora as preocu-
pações com o meio ambiente, com os problemas da vida urbana, as questões socioculturais e as dife-
renças entre as pessoas.
Para Gimeno Sacristán, é necessária uma escola para a justiça social. Esta poderia então ser pen-
sada como aquela que provê uma escolarização igual para sujeitos diferentes, por meio de um currícu-
lo comum. Para tanto, faria jus a seu sentido democrático, proporcionando aos alunos:

 Ajuda no desenvolvimento de suas competências cognitivas, isto é, no aprender a pensar


por meio dos conteúdos para desenvolver poderes de reflexão, análise e situação;
 Oportunidades de preparação para sua inserção na vida profissional, com uma postura críti-
ca;
 Ajuda no desenvolvimento de capacidades de reflexão sobre sua própria subjetividade e sua
identidade cultural;
 Oportunidades de aprender a fazer escolhas morais com discernimento, isto é, aprender a
pensar e a atuar eticamente de modo a formar um código de ética consistente com valores
humanistas e democráticos;
 Meios de compreender e apreciar experiências estéticas e participar em atividades criativas.

A CONSTRUÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA: FINALIDADES SOCIAIS E POLÍTICAS E


ORGANIZAÇÃO CURRICULAR E PEDAGÓGICA
Ao longo da história de constituição dos sistemas de ensino em determinada sociedade, a edu-
cação foi sendo pensada como um projeto social que respondesse às demandas ou necessidades esta-
belecidas pelos grupos sociais ali hegemônicos. No caso das sociedades de orientação capitalista-
liberal, são encontradas várias finalidades para a educação escolar, entre as quais:

a) Garantir a unidade nacional e legitimar o sistema;


b) Contribuir para a coesão e o controle social;
c) Reproduzir a sociedade e manter a divisão social;
d) Promover a democracia da representação;
e) Contribuir para a mobilidade e a ascensão social;
f) Apoiar o processo de acumulação do capital;
g) Habilitar técnica, social e ideologicamente os diversos grupos de trabalhadores para servir
ao mundo do trabalho;
h) Compor força de trabalho, preparando, qualificando, formando e desenvolvendo competên-
cias para o trabalho;
i) Proporcionar uma força de trabalho capacitada e flexível para o crescimento econômico.

3
www.tanalousa.com.br / Prof. Vinícius Reccanello de Almeida

Por outro lado, os educadores interessados em um projeto educacional voltado para os anseios da
maioria da sociedade buscam outros propósitos para a educação, tais como:

a) Transformar a sociedade, de modo a eliminar as divisões sociais estabelecidas;


b) Desbarbarizar a humanidade no que concerne a preconceitos, a formas de opressão, ao geno-
cídio, à violência, à tortura, à degradação ambiental, etc.;
c) Conscientizar os indivíduos, tendo em vista a formação de sujeitos críticos, autônomos e
emancipados;
d) Desenvolver uma educação integral, que favoreça o pleno desenvolvimento das potencialida-
des humanas;
e) Apropriar-se do saber social, que permita uma socialização ampla da cultura e a apreensão dos
conhecimentos e saberes historicamente produzidos;
f) Formar para o exercício pleno da cidadania.

A inclusão social aponta para a necessidade de constituição de um estado social democrático


que atua por meio de políticas públicas, sociais e educacionais favorecedoras dos processos de eman-
cipação desejados. Os sistemas de ensino, as escolas, os gestores, os professores, os alunos e a comu-
nidade escolar em geral são fundamentais nesse processo e, portanto, precisam ser envolvidos no
estabelecimento de programas, projetos e ações que afetam a produção do trabalho escolar, uma vez
que devem ser concebidos como agentes transformadores da realidade em que atuam.
Para efetivação da qualidade social da educação escolar, não bastam ações voltadas para custos
e insumos – que, sem dúvidas, são indispensáveis.

Você também pode gostar