Você está na página 1de 8
A Presenca dos Pais na Orientacao Profissional Bliene Rodrigues de Lima ‘ia Gusmio Ramos Nossa experiéncia tem apontado a importincia significativa da insergiio dos pais, no proceso de Orientagdo Profissional dos jovens menores de idade. A presenca deles é fundamental porque, no contexto desse programa de orientagio, entendem que podem e devem falar o que desejam para o filho, como também escut derando suas incertezas, inseguraneas, indagagdes e diferengas de posigdo. Além dis so, ampliam a visio sobre os fatores que interferem nessa escolha, adquirindo a noco exata de sua complexidade e das conseqiiéncias negativas das escolhas equivocadas. Essa compreensio muda a qualidade da participacao dos pais, favorecendo 0 dislogo ea disponibilidade para compartilhar das reflexdes, mesmo que as escolhas sigam em diregio contréria ao seu desejo. E evidente que esse resultado também ¢ fruto das intervengdes do coordenador que, atuando como terceiro, facilita a discrimina necesséria entre o que o jovem deseja fazer e as sugestdes ou pressdes que esto atreladas as expectativas de quem est emocionalmente envolvido. Vale ressaltar que consideramos que © desejo e as expectativas dos pais so estruturantes ¢ determinantes para o lugar que o filho ocupa na familia. Mas, apesar dessa caracteristica, os conflitos so inevitaveis, em especial quando o jovem nao se identifica com o projeto da familia Tlustraremos, com um caso, a discussio sobre a presenga dos pais no processo de Orientacdo Profissional, visando explicitar nossa concepgdo te6rica e a aplicagio pré- tica. Nosso trabalho & desenvolvido em seis encontros, que podem ser realizados em grupo ou individualmente. A entrada dos pais ocorre apenas quando o atendimento & destinado aos menores de idade e em trés encontros: + naentrevista de selecio; + no primeiro encontro; + no tiltimo encontro, Nesse texto seri dado realce a esses trés encontros, por se constituir no recorte necessério ao desenvolvimento do tema proposto, embora, na integra, © programa contemple encontros destinados, também, is informagdes (sobre as profissGes, mer- cado de trabalho, perfil do profissional, hoje e no futuro) e as discussdes sobre entre- vistas realizadas com profissionais. 92_Levenfus, Soares & Cols ‘TREVISTA DE SELECAO Felipe! chega com sua mie para uma entrevista, desejando fazer Orientagio Profissional. Precisa fazer vestibular e tem dtividas se opta pelo curso de telecomuni- cages ou medicina, Indagado sobre o interesse por esses cursos, refere que ambos (0 interessantes e, certamente, podem garantir sua insergao no mercado. O pai pos- sui uma empresa na drea de telecomunicacao ¢ um tio possui uma clinica na area de satide; inclusive, esse tio pretende torné-lo seu herdeiro, Diante do exposto, a mie entende que Felipe precisa de ajuda, mas prefere nao influencif-lo. Na sua opinio, deve fazer 0 que gosta. Os pais de Felipe sto separados, situagio que reduziu o pa- dro financeiro da familia. Possivelmente, essa é uma das raz6es para priorizar pro- fissdes consideradas promissoras. ‘Apis colher esses dados, 0 orientador apresentou a proposta do trabalho, es mulando a discussio sobre os seguintes aspectos: + acstrutura ¢ 0 desenvolvimento do programa ~ 0 niimero ¢ a duragio de encontros, metodologia, modalidades de participagao (individual, em dupla ‘ou em grupo), prego ¢ resultado esperados; + acomplexidade da escolha da profisstio que exige reflexdo ¢ andlise dos fatores determinantes (psicolégicos, econdmicos, sociais ¢ politicos), para que seja possfvel fazer a integragao entre o perfil pessoal, as caracteristicas da profissio e as condigdes do mercado; + aimportincia da andlise e da elaboracdo dos contetidos relacionados 4 ver- tente informativa do programa articulada & historia pessoal; + os efeitos de uma escolha bem elaborada para ampliar a visio de mercado € para montar as estratégias adequadas a uma rota promissora. Ambas fortale- cem a disposigao para suportar as barreiras inevitéveis dessa trajet6ria. A entrevista com Felipe junto & sua me demonstrou que a demanda para fazer Orientago Profissional existia de ambos os lados. Ele reconhecia a necessidade de sjuda e evidenciava o desejo de encontrar a solucdo. A mie, apesar de imaginar que no podia fazer nada, nem interferir, legitimava a escolha por nosso servigo. E impor- tante salientar que niio realizamos o atendimento quando a demanda é apenas dos pais, porque consideramos que, se niio houver, do lado do jovem, uma quota de inves timento significativa, ele no terd disponibilidade para participar ativamente desse proceso. Constatamos que esse cuidado preventivo produz efeitos evidenciados no {indice insignificante de evasio dos nossos clientes. PRIMEIRO ENCONTRO Nesse encontro, realizamos uma tarefa conjunta, com pai fornece dados sobre a histéria da familia no que se refere as escolhas e 3 trajet6ria dos profissionais, dos valores, das expectativas e dos projetos que se enderegam ao jo- Vern, 05 qui selados com a experiéncia de geragdes. Essa tarefa traz tona "Nome feticio. 20s pais sio introduzidos no programa, independents da situagio do casal. No edso dos pais separados que evitam contato, 0 atendimento aos dois € preservado, porém, em momentos distntos. s fi Orientaglo Vocaconal Ocupaional 93 situagdes que nfo devem ser negligenciadas. Para alguns pais, facilita o entendimento de que a escolha profissional faz. parte de um proceso histérico da familia e, por essa razio, 6 inevitével um revestimento emocional que, naturalmente, os impede de assu- mir posigdes neutras. Para outros, a percepgio da interferéncia desse componente afetivo gera um temor que os impulsiona a adotar como safda a “convicgio” de que niio devem dizer o que pensam para ndo influenciar. Acontecem, também, situagdes nas quais os pais, de modo claro ou implicito, apresentam ao filho determinadas profissdes, com o cardter de “mandato a ser cum- prido”, em nome de um futuro promissor. Todos os dados obtidos nesse encontro se constituem em subsidios para 0 coordenador realizar intervengdes durante todo 0 processo, especialmente durante 0 tiltimo encontro, quando essas situagdes sio reto- madas. No primeiro encontro, com freqiiéncia, os filhos escutam, pela primeira vez, 0 depoimento dos pais sobre a hist6ria profissional dos avés, sobre o modo como fize ram suas escolhas ¢ 0 sentimento que guardam dessa experiéncia: pressio, abandono, falta de alternativas por necessidade de trabalhar, etc. Esses relatos produzem efeitos importantes: + permitem a abertura do dislogo sobre a dimensiio histériea da escolha pro- fissional que se interpde, muitas vezes de modo inconsciente, durante todo o proceso; + facilitam a compres longo de geragdes; bilidade aos pais sobre as inquietagdes que a escolha do filho des- pertam, porque estao ligadas & revivéncia de sua propria escolha profissional, agora marcada por uma trajetGria de sucesso, fracasso, arrependimento, etc.; + legitimam a posigdo dos pais, hoje, caracterizada pelo temor de falar 0 que pensam para nao influenciar, como se fossem porta-vozes de mensagens prejudiciais, nsiio sobre os projetos profissionais que se deslocam a0 + oferecemv No contato com os pais, consideramos que 0 orientador profissional deve dar aten- gio especial & forga do desejo e & posicao dos pais na contemporaneidade. Quanto & forga do desejo, na perspectiva do nosso trabalho, que é a da psicandlise, pode ser evidenciada no discurso dos pais, discurso esse que determina a posigao que cada filho assume na familia, Revestida de expectativas e projetos de natureza diversa, a marca do desejo esta impressa no modo como o filho é visto, como cada filho é reconhecido: como alguém que corresponderd as mais altas expectativas, as expectativas medianas, ‘ou de quem nao se espera muito. No Ambito do proceso de Orientagaio Profissional, trabalhamos com a hip6tese de que o projeto profissional também esté atrelado ao dese: jo que circula, inclusive, por geragdes, cuja forga se evidencia no sentimento que os jovens nutrem a0 seu respeito: de crédito ou descrédito na prdpria capacidade para fazer escolhas ¢ conquistas. Portanto, é preciso investigar a imagem e os projetos que os pais construfram para os fillhos. Por essa via, pode-se chegar 3s referencias identificat6rias e 05 tragos de identificagdo do jovem com pessoas significativas. Observamos que os maiores impasses que ocorrem nesse processo esto direta~ mente vinculados & idemtificagao, via privilegiada do processo de reconhecimento do sujeito. Esses impasses para o jovem se expressam nas seguintes dificuldades: + confrontar-se com a representa um excesso de exigéncias ou Jo do seu lugar na familia, seja por constatar or deserédito em sua capacidade; 94 Levengus, Soares & Cols. + admitir que possui tragos da familia, pois 0 desejo do jovem é ser fruto de sobr ‘gerago espontinea, ou seja, 6 dificil nessa fase admitir as semelhangas com no pais, pessoas significativas e adultos, de modo geral. A urgéncia é provar que é diferente de todos; + fazer escolhas diferentes daquelas que so valorizadas na familia mobiliza fantasias ligadas ao temor de ser abandonado, causar decepsio, fracassar das. “por no obedecer aos pais”, perder o apoio, ficar s6 para enfrentar o merca~ quai do de trabalho e as conseqiiéncias da escolha solitéria; * fazer escolhas que correspondem ao desejo da familia, paradoxalmente, em eco alguns casos, suscita temores relacionados as competicdes familiares, que! em. Para exemplificar as questdes destacadas até ento, os dados sobre a histéria da mod familia de Felipe serio apresentados em sintese: seu inde RAIZES DA FAMIILIA mos Lado paterno Lado materno cia A ei civil ‘v0: contado Ao Av6: dona de casa ‘A: proessoa de teclado cot Pai: engenheiro de telecomunicagdes Mie: projetsta de produto Expectativas: medicina ou outra profissio que} Expectativas zero que gosta, exp tenha boa aceitagio no mercado nad: Profissio que o pai gostaria de ter feito: Profissio que a av6 gostaria de tr feito: sust medicina redicina = Pessoas importantes: tos engenheitos e médicos. tatty def tos¢ ; = que, Conforme demonstram os dados acima, medicina ¢ telecomunicagdes, profis- on ses que interessam a Felipe, exercem influéncia de natureza subjetiva, além das a possibilidades de acesso ao mercado de trabalho, alegadas na entrevista de selecio. A ao saber, engenharia de telecomunicagdes ¢ o campo profissional do seu pai, enquanto a medicina, também esti relacionada a ele, enquanto desejo ndo-realizado. Do lado da dav familia materna, medicina foi a profissio que a av6 desejava fazer, além de sera dea see de atuagdo de um tio considerado uma pessoa muito significativa, lan No que se refere & posiciio dos pais na contemporaneidade, a afirmagio que a aia mie de Felipe faz sobre no poder influencié-lo evidencia o desconforto da maioria the dos pais que nos procuram. Constrangidos, assumem posigées caracterizadas por eas ambigtlidade, omissio e culpa. Essas razes esto na origem da tendéncia a evitar dizer o que pensam, sobretudo acerca dos projetos e das expectativas que tém para os oe filhos. E comum escutarmos pais totalmente dominados pela iluso de que, omitindo — que pensam, ajudam os filhos, porque os deixam livres para fazerem melhores esco- ae Ihas. Fiéis reprodutores do discurso contemporineo, atuam como se fosse possfvel es neutralizar a hist6ria da familia e 0 proprio desejo. Out Esse discurso impregnado de valores e ideais que privilegiam 0 culto ao indivi- refe dualismo, a liberdade e & independéncia produz. um tipo de solidiio que exacerba as at inquietagdes do jovem. Orfao de referéncia, pois seus pais sio silenciosos e, quando pro! expressam seu desejo, é 0 de ndo influenciar o seu destino. Acometidos do temor de ete assumir o lugar de referéncia e de exercer essa fungio, 0s pais, quando indagados ae Orientagio Vocaconal Ocupacional 95 sobre as expectativas e projetos que construit niio sio facilitadoras. Alguns garantem que, livres de sua interferéncia, os filhos fario escolhas melho- res. Outros nio conseguem assumir nenhuma posigo. Ambas as situagdes produzem impasses. No primeiro caso, apesar de silenciosas, as expectativas sio bastante eleva- das. O jovem, diante dessa situacdo, tem dificuldades para explicitar 0 que pensa e, quando o consegue, é desautorizado, No segundo caso, os pais deixam seu lugar vazio. Culpados, esses pais silenciosos tentam preencher seu lugar com bens materiais, © com a auséncia de limites. Diante da paternidade idealizada e por realizar, esperam que o filho seja perfeito, caminhe sozinho e os supere em virtudes e éxitos. Na medida em que ndo falam, atuam, induzindo-o a reparar suas prOprias escolhas. A familia modema tem produzido filhos solitérios e inseguros, aos quais prope que encontrem seu lugar e sejam felizes. O cere desse discurso é a libertagio da historia individual, independente das origens sociais e culturais dos pais. Considerando esse contexto € a importancia que atribuimos aos pais, convoca. mos sua participagio, estimulando-os a falar e a ocupar seu lugar de refer identificatéria. Esse modo de legitimé-los tem facilitado a compreensao da importan- cia de exercerem sua fungao, que é incompativel com a ilustio de que no devem falar Ao contrério do que imaginam, autorizar-se a dizer o que pensam, desbloqueia a comunicago e ajuda o jovem a situar-se diante do que desejam para ele. Quando os pais nao dizem o que pensam, o desejo silencioso exerce uma forga tio expressiva que 0 jovem, mesmo jé tendo constatado que nao se identifica com determi- nadas profissGes, niio “descola” delas, permanecendo as voltas com questées que no se sustentam. Para esclarecer melhor essa situagio, citaremos falas emblemiticas: “Eu pensei que nfo dizendo nada ajudaria meu filho. Nunca me ocorreu que minhas expec- tativas sobre ele tivessem uma funcdo importante”; “Eu nunca pensei que meu desejo de fazer direito, sem eu nunca ter falado, fosse aparecer no meu filho!”. Esses fragmen- tos do discurso de duas mies evidenciam a surpresa de ambas gerada pela percepgdo de que, apesar de os filhos niio terem identificagdo com as profissGes que elas desejam, foram testemunhas da dificuldade que eles enfrentavam para descarté-las ¢ assumir outra escolha. Nos dois casos, inclusive, as escolhas foram realizadas em éreas total- mente diferentes daquelas as quais os jovens se “apegavam”. Outro exemplo é esse fragmento do discurso de uma adolescente: “Eu estava na diivida entre jornalismo ¢ publicidade e insistia em saber a opiniéio de minha mie. Ela se recusava a dar opinides para ndo me influenciar. Depois de muita insisténcia, es- clareceu que no gostava das minhas opcdes, porque, como a dela, nio me daria retomno financeiro. Por esse motivo, torcia para eu fazer o curso de informética. Quando 4 ouvi o que ela pensava, ela, mesmo sem concordar comigo, ajudou-me a escolher publicidad”, Tomar contato com esses dados da hist6ria pessoal niio neutraliza as inquieta- ges € 0 sentimento de solidio do jovem diante do que se espera dele. E. preciso considerar que assumir uma escolha representa confrontar-se com duas dimensdes significativas da solidio, particularmente legitimas. Uma, que se expressa no senti- mento de estar em risco, de errar, de desobedecer, de ser penalizado, de se dar mal.. Outra, mais inconsciente, que se refere & angiistia frente a demanda das figuras de referencia (os prdprios pais ou pessoas significativas), conforme jé foi dito, Apesar do trabalho de Orientagao Profissional ndo ter a pretensiio de aprofundar essa tiltima problematica, ao fazer a retrospectiva hist6rica, caracterizar o perfil e integrar essas informagdes As caracteristicas das profissdes de interesse, o jovem consegue situar-se diante de sua escolha, A falta de recursos que havia antes para lidar com as convoe im para os filhos, adotam posigdes que 96 _Levenfus, Soares & Cols. «Ges explicitas ou silenciosas dé lugar a construgio de referéncias que o capacitam a assumir uma posigo diante do seu desejo. Retomando 6 caso de Felipe, conforme jé foi dito, 0 jovem chegou afirmando seu interesse por medicina e telecomunicagdes. Na seqtiéncia do programa, no segun- doencontro, é realizada uma tarefa que tem a finalidade de caracterizar o perfil pessoal, cujo objetivo € propiciar a aquisigio de referéncias sobre os tragos marcantes, os interesses, as habilidades, as capacidades, os limites, as potencialidades ¢ as dificul- dades, para que possa articular esses dados as profissbes investigadas ¢ identificar aquela com a qual se tenha mais afinidade. Para uma breve apresentagio, faremos a sintese dessa tarefa. Caracter(stieas marcantes: capacidade para negociar, articular, cometcializar,criar estratégias; ddesenvolver habilidade numérica, facilidade para lidar com pessoas, mediar confit, solucionar problemas, em especial aqueles que podem ser resolvides a partir das cincias exatas;inteligéncia ‘eral, dinamismo, atengio a detalhes. Interesses: atividades voltadas para planejamento ¢ resultados financeiros, que exijam execugio ‘com regularidade, controle e sequiéncia légica. Nao se inteessa por trabalho Tigado aos equipamen- . tos eletrOnicos, ler, estudar, especialmente biologia ULTIMC Principais dificuldades:inibigdo de suas potencialidades, desinvestimento generalizado em rela- ‘0 as atividades que desenvolve, medo de desagradar, endéncia a desistir do que pretende quando se confronta com desafios, inseguranga, O passo seguinte & o exercicio de articulagio entre os dados sobre o perfil pesso- al e as discusses sobre as profissGes investigadas que so ordenados na tarefa deno- minada Matriz de Integracdo que se segue. ‘TELECOMUNICAGOES AMinidades nteresse pela resolugo de problemas da frea de exaas, raciocinio répido. Outro fator destacado foo da possbilidade de ganhar dinheiro, na medida em que essa € uma dre promissora Dificuldades: falta de interesse par lidar com equipamentoseletrnicos. MEDICINA ‘Ainidades: condiglo para lidar com a morte ¢ com a dor, controle emocional Dificuldades: pouca disponibilidade para estudar,além de ndo gostar de biologia, nem de trabalhar ‘em horiios pouco convencionais. FISIOTERAPIA Afinidades: coordenagio motora, interesse pelo corpo humano. Dificuldades: pouea paciéncia e calma. ADMINISTRACAO ‘Afinidades: capacidade para negociar, articular, mediar conflitos e criar estratézias, habilidade ‘numérica, faclidade para lidar com gente, sociabilidade, disponibilidade para encontrar solugSes, para os problemas, gostar de atividades voltadas para planejamento e resultados financeiros; facili- ‘dade para ganhar dinheito;interesse por atividades que sto executadas com regularidade, controle fe sequéncia I6gica, Dificuldades: nio-identificadas. Orientagio Vocaconal Ocupacional_ 97 Observa-se que o curso mais sintonizado com o perfil de Felipe é administragio, sequer vislumbrado por ele no infcio do programa. A realizagao dessa tarefa, com a assessoria do coordenador, permite a troca, a ordenagao e a discriminagiio dos dados. Nesse caso, além de niio existirafinidade com medicina e com telecomunicagdes, as, dificuldades identificadas demonstram a sua dissonancia com as exigéncias das pro- fissbes, a saber: a falta de interesse para lidar com equipamentos eletrénicos, no caso da escolha por telecomunicagdes e pouca disponibilidade para ler, estudar, principal- mente biologia, na opcio por medicina. Nessa investigacao, valorizamos a anélise das dificuldades para distingui-las das impossibilidades, na medida em que as primei ras possam ser contornadas e as segundas representem os inevitéveis limites que to- das as pessoas podem ter. Além disso, é possfvel identiicar, também, dificuldades de ordem psicolégica e fazer indicagdo de tratamento, quando necessério. Em alguns casos, problemas emocionais nio-identificados pelos pais geram tensio e interpreta- oes distorcidas sobre o jovem, tais como irresponsabilidade, preguiga, birra, etc. A indicagao de tratamento confere um outro sentido aos sintomas, facilitando a mudan ga de conduta dos pais, Nesse encontro, os pais ¢ os jovens recebem um documento que demonstra a evolugio do proceso. Eles trocam idéias, explicitam suas posigdes, em especial verbalizam aprovagdes ou temores sobre a escolha do filho. A estrutura do documen- to comporta os seguintes itens: opgGes iniciais, profissdes investigadas, priorizadas e profissao escolhida; sintese da matriz hist6rica; caracterizagZo do perfil pessoal; integracio do perfil pessoal as caracterfsticas das profissdes investigadas; consideragdes da coordenagio; € recomendagdes. O item Consideragdes € wtlizado pela coordenagao para registrar seu posiciona- mento sobre a escolha realizada, agora, de modo mais direto. Isso nao significa qui durante 0 processo, o jovem fique a deriva de suas diividas e inquietagdes. Ao contré- rio, o coordenador acompanha as tarefas ¢ as elaboragdes, estimulando a discrimina- do dos dados e norteando as articulagdes entre os contetidos que so propostos € aqueles que emergem a partir das discusses. A metodologia adotada, inclusive, ofe- rece, a cada encontro, um documento-sintese sobre os temas tratados no encontro anterior, organizado com o propésito de atualizar as elaboragées ¢ integré-las aos novos contetidos. Essa prética reaviva as elaboragdes em curso e ajuda a aprofundé- Jas. Uma das evidéncias de que esse objetivo é conquistado diz respeito a qualidade da argumentagio do jovem, quando questionado pelos pais sobre sua definigdo pro- fissional. Adotando essa metodologia, 0 coordenador nfo se autoriza a intervir de modo pessoal. A entrega e a anillise da sintese da evolugo do processo, no final do programa, tem produzido efeitos facilitadores. Para os pais, em particular, os dados sobre 0 perfil pessoal articulados a profissio escolhida, propiciam, de partida, o reconheci- mento das caracteristicas do filho e o sentimento de respeito as suas produgdes ¢ elaboragdes, mesmo quando a escolha profissional os contraria. O que antes era con- 98 _Levenfus, Soares & Cols. siderado uma afronta, como é 0 caso das escolhas diferentes das expectativas da fami lia, passa a ter legitimidade. ‘evidente que essa legitimidade atribuida a escolha profissional, nesse momen- to, niio ocorre sempre com tranquilidade, tampouco de modo espontiineo. Os pais de Felipe, por exemplo, apesar de reconhecerem as caracteristicas pessoais identificadas sua sintonia coma escolha por administracZo, levantaram a hipétese de essa op¢o ser uma saida para evitar a concorréncia dos cursos de medicina e telecomunicagdes, 08 quais, conforme jé foi referido, correspondiam as suas expectativas. Na maioria dos casos, esse é um dos maiores desafios do programa, momento que exige do coor- denador habilidade e competéncia para fazer as interven¢Ges adequadas a esse traba- Iho. Dizendo de outro modo, é preciso ter 0 cuidado para sustentar 0 enquadramento do processo de Orientacdo Profissional, sem cair na tentago, nem na armadilha, de fazer intervengdes que mobilizam conffitos ¢ angdstias que s6 poderiam ser trabalha- dos no tempo e no espago de um tratamento psicolégico. impasse que os pais de Felipe criaram foi mediado pela coordenagio, precisa- mente a partir da indagagio sobre a hipétese que foi levantada. Ressaltando as supo- sigdes e os dados registrados no documento que Ihes foi entregue, foram convidados a refletir sobre a possibilidade de estarem com dificuldade para aceitar uma escolha que contrariava as suas expectativas. Esse tipo de questo, no nosso entendimento, evita o deslize para interpretagdes sobre problemas psicol6gicos que extrapolam a finalidade desse trabalho; confronta os pais com 0 seu desejo € com 0 desejo do filho, colocando 0 foco na escolha profissional. Do lado dos pais, favorece a vistio de que, a0 pensar diferente, o filho, necessariamente, ndio os estaria afrontando. Do lado do jovem, a percepgio sobre seu direito de pensar e de fazer escolhas diferentes desvincula- se da fantasia de que sera punido, fracassard pela desobediéncia ou perderd a alianga © 0 apoio dos pais. Os processos que conduzimos tém gerado escolhas adequadas que se revelam na avaliagdo que € feita no final do processo, cuja ratificagdo ocorre na avaliago que é realizada dois ou trés anos apés, com os jovens e com os pais, conforme ilustram os depoimentos a segui “Voce ni sabe o bem que o Programa fez 3 minha filha. Ela se posicionou completa- mente diferente a partir de entio. Seu investimento na formacio académica ficou mais incisivo: tem participado de pesquisas, feito estigios logo no infcio do curso, tem pro- ccurado se articular com professores considerados sérios, etc. se Programa ajudou bastante. O modo de ordenar 0s dados, de fazer a articulago de nosso perfil As profissdes vai permitindo a nés discriminar 0 que se quer e 0 que ndo se quer. Ajuda, inclusive, a lidar com algumas dificuldades que teremos de enfrentar na nossa trajet6ria profissional.” ““Fiquei impressionada com a determinagio de meu filho. Nao passou no curso escolhi- do no primeiro vestibular, Passou em outro curso, em uma segunda faculdade, mas ele rio quis ingressar. Prefere ficar estudando para tentar novamente”.

Você também pode gostar