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Psicologia e suas

áreas de estudo
Silva, Vitor Lima da
SST Psicologia e suas áreas de estudo / Vitor Lima da Silva
Ano: 2020
nº de p.: 10

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Psicologia e suas áreas de
estudo

Apresentação
Quando se fala em psicologia, o que lhe vem à mente? Psicoterapia clínica?
Recrutamento e seleção em empresas? Psicólogo na escola? São inúmeras as
relações e papeis que a psicologia assumiu e assume em nosso caminho histórico
e em nossa sociedade. Mas o que diferencia a psicologia de outras ciências e
campos de saber? Ou ainda, o que a caracteriza como tal?

Os processos psicológicos já foram foco de atenção de estudiosos em diferentes


épocas da humanidade; porém, foi no final do século XIX que houve a combinação
das condições favoráveis que possibilitaram o estudo científico do tema.

Agora, vamos estudar as diferentes correntes filosóficas que influenciaram o


surgimento da psicologia científica e, ao final, estaremos aptos a compreender
o contexto que possibilitou o desenvolvimento da psicologia moderna. Serão
apresentadas as correntes de pensamento que construíram a psicologia enquanto
região do saber e também as principais expressões e ideias que ajudaram e que
continuam vivas nos circuitos especializados desta ramificação científica.

O que significa psicologia?


Você já parou para pensar sobre o que é psicologia? A resposta para esta pergunta
não pode ser reduzida a uma única definição: a psicologia, como a entendemos
hoje em dia, compreende ampla possibilidade de significados. Isso quer dizer que o
termo em questão já incorporou diferentes sentidos no decorrer da história.

A palavra psicologia tem suas raízes em duas terminologias gregas: psique - que
significa alma, espírito ou mente; e logos – que remete à racionalização, capacidade
de elaborar racionalmente algum tema específico, ou seja, ao uso da razão.

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Atenção
Para os gregos, estes significados nada tinham a ver com o sentido
que damos à alma ou ao espírito em nossos dias de acordo com
algumas doutrinas religiosas, referem-se às forças que faziam o
sujeito se movimentar, ou seja, que dão vida à pessoa.

As duas palavras gregas que originam o termo psicologia foram emparelhadas no


século XVI para definir um tópico de estudo específico. Neste período, psique era
utilizado para designar alma, espírito ou mente, em contraposição ao conceito de
corpo. Entretanto, foi somente no século XVIII que o termo Psicologia começou a
ser mais conhecido entre os estudiosos, passando a significar o estudo da mente
(WEITEN, 2002).

Além de ter assumido diferentes significados no decorrer da história, esse termo


extrapolou o campo de estudos, e hoje circula na sociedade em diferentes espaços
e contextos. Podemos ouvir falar desde a psicologia que trata diferentes distúrbios
e sofrimentos psíquicos, até situações corriqueiras do dia a dia, quando uma
pessoa fala, por exemplo, que o político utiliza “sicologia” para convencer seu
eleitorado. Nesse sentido, é importante diferenciar a “psicologia de senso comum”
da psicologia científica.

Psicologia do senso comum


O senso comum é um conjunto de saberes aprendidos pela experiência,
acumulados pelas gerações, por uma dada cultura, e transmitidos por entre aqueles
que compartilham o mesmo meio sem questionamentos ou comprovação. O
conhecimento proveniente do senso comum segue os passos de uma metodologia
específica ao conjunto de acontecimentos. Muitas vezes, o senso comum apropria-
se de conhecimentos científicos e os generaliza; mesmo que a própria ciência
compreenda os limites das generalizações. Além disso, o senso comum cristaliza
os conhecimentos: por não questioná-los, desconsidera avanços e revisões. Os
ditados populares são exemplos recorrentes de abordagens de senso comum:
embora possam estar corretos em muitas instâncias, perceba que usualmente
existem dois ditados opostos que podem ser aplicados, ou seja, duas hipóteses

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contraditórias que são utilizadas de acordo com a necessidade e, assim, sempre
uma delas estará correta.

Senso comum

Fonte: Plataforma Deduca (2020)

Perceba que o ditado traz para a psicologia do senso comum uma abordagem da
psicologia em âmbito científico: embora a formação infantil seja fator determinante,
não é exclusivo, nem abrange todos os aspectos do ser humano e ignora a
capacidade de mudança e transformação, desenvolvidos pela psicologia enquanto
ciência. Falta, portanto, contextualizar, comprovar e fazer os recortes necessários a
uma abordagem científica. A tarefa de não se cair na armadilha da psicologia como
senso comum é difícil e exige uma constante análise crítica, pois como os campos
de aplicação dessa ciência são vastos, profissionais de outras áreas tendem a
identificar pontos de encontro entre aquilo que praticam e a própria psicologia. Isto
a torna tão popular – um treinador de futebol, ao trabalhar com o ser humano e seu
comportamento, atuará no campo da psicologia, assim como um professor, um
administrador ou um vendedor, para citar só alguns exemplos. Isso, no entanto, não
descaracteriza a psicologia como uma ciência cujas fronteiras são bem definidas.

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Reflita
Como a psicologia afeta o seu dia a dia? Você já utilizou expressões
como “Freud explica”, “trauma”, “neurótico”? Investigue o
significado científico desses termos, sua compreensão demanda
uma imersão no pensamento dos principais autores desta
ramificação científica.

Psicologia científica
A ciência, como campo de saber, possui critérios próprios que a caracterizam e a
definem. Esses critérios podem ter uma variação de exigibilidade entre diferentes
autores; porém, de uma maneira geral, a produção científica é marcada pela
definição de um objeto e deve ter linguagem rigorosa e objetiva, além de métodos e
técnicas específicos.

Nesse sentido, a produção científica é um processo histórico que resultou no


desenvolvimento de diferentes conhecimentos. Tais conhecimentos são, em sua
maioria, obtidos de modo sistemático e objetivo. A ciência é, assim, pautada em
métodos, objetivos, validações, refutações, experimentações, observações etc.
Essas e demais características tornam a ciência e seus conhecimentos únicos
– um dos pontos que a diferencia do senso comum ou da religião. A psicologia
científica, portanto, segue um método rigoroso e, muitas vezes, irá confrontar o
senso comum, especialmente nos aspectos que se referem à inclusão de crianças
com déficit cognitivos no espaço escolar, ou quanto às estratégias de aceitação
das diferenças socioculturais e linguísticas relacionadas com diferentes etnias ou
classes sociais, por exemplo.

A psicologia científica, assim como outras ciências, apresenta diferentes


correntes que constroem um arcabouço teórico para explicar os problemas que se
propõem analisar. Entre estas correntes, destacam-se a psicologia behaviorista
(comportamental), sociocultural, psicanalítica, cognitiva e fenomenológica.

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Curiosidade
Para conhecer mais sobre a psicologia científica, leia o interessante
artigo de Amancio da Costa Pinto, da universidade do Porto: “O
que a Psicologia Científica tem que a psicologia popular e o senso
comum não tem?”. Clique aqui. <http://www.fpce.up.pt/docentes/
acpinto/artigos/13_o_que_a_psico_tem.pdf>

Conhecimento e História
Os conceitos da psicologia, tão fundamentais no processo de ensino-aprendizado,
foram sendo elaborados historicamente, com o confronto entre várias escolas de
pensadores. A psicologia é fruto do tempo, da história e do meio onde se insere – e
você perceberá que as diferentes abordagens para entender o ser humano, como ele
constrói sua personalidade, suas relações com o outro e a apropriação de saberes e
conhecimentos irá ter forte impacto na didática adotada nas instituições de ensino.
Veremos como tudo isso começou!

O interesse pelo estudo e avanço do conhecimento sobre o ser humano data de


muitos séculos, existindo registros desde os pensadores da Grécia antiga.

Sócrates (469 a 399 a.c.)

Fonte: Wikimedia Commons (2020).

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Sócrates defendia o autoconhecimento como único meio para se atingir a verdade.
Ele propunha a máxima: “conhece-te a ti mesmo”.

Naquele período, não existia distinção entre as disciplinas do saber, como as


classificações que conhecemos hoje. Os filósofos debruçavam-se sobre diferentes
temas, desde matemática e astrologia até os fenômenos sociais e políticos. Além
destes, os assuntos relativos ao comportamento e às paixões humanas também
faziam parte do interesse dos pensadores desde a Antiguidade. Os filósofos gregos
já observavam o comportamento humano e tentavam explicar as manifestações
da alma. Utilizavam a razão como meio para tentar explicar os fenômenos que os
rodeavam.

Pensamento cartesiano
Antes exaltada pelos filósofos gregos, a razão foi retomada com o movimento da
Renascença, por volta do século XV. Este período encerrou o ciclo da Idade Média,
em que imperou o dogma teológico e religioso, e possibilitou a revalorização da
razão e do ser humano. Nos séculos XVI e XVII, René Descartes (1596-1659)
tornou-se referência para o pensamento moderno.

O método cartesiano é composto de quatro etapas básicas. O estudioso deve:

a. verificar: confirmar se existem evidências reais e indubitáveis sobre o que


está estudando;
b. analisar: fragmentar o todo em partes, a fim de estudá-las separadamente;
c. sintetizar: reorganizar as partes estudadas em um todo verdadeiro;
d. fazer enumerações e revisões: rever todos os resultados encontrados.

Na sua obra “Discurso do Método”, Descartes define a razão como meio para se
atingir a verdade. Separa mente (espírito/alma) do corpo e cria todo um roteiro de
investigação pela razão que é a base para o desenvolvimento do método científico.
O dualismo mente/corpo defendido por Descartes contribuiu para o avanço da
anatomia e da fisiologia, fundamentais para o desenvolvimento da psicologia.

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Fechamento
Nesta unidade, você aprendeu que o termo Psicologia é a união de psique (alma ou
mente) com logos (que significa razão), e pode ser usado com cunho “científico”
ou de “senso comum”. Vimos como conhecimento e história estão relacionados à
psicologia, onde esta é fruto do seu tempo.

Retomamos o contexto no qual a psicologia se desenvolveu, vimos que René


Descartes apresentou o racionalismo e o método cartesiano e suas quatro etapas:
verificar, analisar, sintetizar e fazer enumerações e revisões. Dessa forma, através
da razão é que se conseguirá chegar à verdade.

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Referências
WEITEN, W. Introdução à psicologia: temas e variações. 4a. ed. São Paulo Pioneira
Thomson Learning, 2002.

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