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Curso de Extensão: O Espaço Agrário no Mundo e no Brasil

Unidade IV: Segurança alimentar e formas alternativas de produção e


organização rural

O modelo implantado pela modernização agropecuária aumentou a


produção e a produtividade. Porém trouxe como resultado do uso abusivo dos
recursos naturais e dos produtos químicos a agressão ambiental e
comprometeu a sustentabilidade. Para reverter esse caso e diminuir o
problema da fome, foi instituído o termo segurança alimentar. De forma
resumida, significa o uso de tecnologias menos agressivas para a saúde e o
meio ambiente.

Esse termo surgiu em 1974, na Conferência Mundial da Alimentação,


promovida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), para servir como orientador de políticas públicas. Em 1996,
o termo passou a compor outras definições, como a de assegurar o alimento
para todos, com quantidade e qualidade, garantindo uma vida saudável e ativa
(CAPORAL; COSTABEBER, 2003).

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura


(FAO) foi criada no ano de 1945 e funciona como um fórum neutro, onde os
países se reúnem para negociar acordos, debater políticas e criar estratégias
que visem à erradicação da fome e a segurança alimentar. Possui 191 países
membros e mais a Comunidade Europeia.

Figura 1: Logo da FAO - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:FAO_logo.svg


No Brasil, há o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(Consea) e os respectivos conselhos estaduais. Segundo o Consea, a
segurança alimentar, como estratégia ou conjunto de ações, deve ser
intersetorial e participativa, além de garantir a todos o direito ao acesso regular
e permanente aos alimentos de qualidade e em quantidades essenciais. E
mais: que sejam promovidas práticas alimentares saudáveis, visando o respeito
à diversidade cultural e ambiental.

Fica para se questionar: até que ponto a segurança alimentar pode


atingir o problema da fome? Essa nova meta da FAO veio responder
principalmente os problemas que a Revolução Verde trouxe aos alimentos,
como o aumento significativo da fome no mundo, o crescimento do êxodo rural
e da pobreza. Assim, muitos apontam que a segurança alimentar seria uma
frente contra os alimentos com resíduos de agrotóxicos “criados” pela
Revolução Verde.

De acordo com Caporal e Costabeber (2003), para chegar à segurança


alimentar são necessárias políticas públicas objetivando: mais recursos para
beneficiar a produção de alimentos básicos compatíveis com a diversidade
cultural de cada região, transformação da agricultura convencional em
agricultura sustentável.

Contudo, a preocupação com os danos ambientais e a fome fez surgir


no espaço rural novas formas alternativas de produção e organização
agropecuária. Dentre essas formas, está a Agroecologia, uma forma de
conhecimento multidisciplinar que se baseia na agricultura ecológica e
sustentável. Caporal e Costabeber (2003) apontam os critérios para esse tipo
de agricultura sustentável: pouca dependência comercial, uso de recursos
renováveis, gerador de impactos positivos ou menos destrutivos ao ambiente,
preocupação com a capacidade e o limite de cada local, manutenção da
capacidade produtiva em longo prazo, preservação cultural e biológica, uso do
conhecimento local e produção para o mercado interno e externo.

É também possível, a partir da orientação agroecológica, enquadrar o


conhecimento biotecnológico para controlar doenças e pragas. Como exemplo,
o estudo da fisiologia dos insetos é capaz de criar herbicidas específicos para
determinada praga sem prejudicar outros insetos importantes para a cultura ou
até mesmo criar sementes resistentes a determinadas pragas.

No caso das aplicações da biotecnologia para o melhoramento e


esterilização de sementes, prática incentivada durante a Revolução Verde, há
também um importante debate sobre as consequências da transgenia de
diversos produtos agropecuários, cujos resultados não são ainda muito
conhecidos.
SAIBA MAIS – Transgênicos

Os transgênicos, ou organismos geneticamente modificados, surgiram


graças ao estudo do código genético feito pela Engenharia Genética no final da
década de 1970. Esta forma de produção é baseada no cruzamento de um ser
vivo com genes de animal ou vegetal. Os impactos desse cruzamento ainda
vêm sendo estudados, mas já se atribuem alguns problemas de saúde ao uso
de alimentos transgênicos.

Figura 2: Símbolo informativo de alimento com transgênicos. Disponível em:


http://www.idec.org.br/ckfinder/userfiles/files/Cartilha%20Transgenico.pdf

No Brasil, o milho e a soja transgênica são liberados para


comercialização, mas precisam de indicação no rótulo. Há também defensores
desse tipo de produção. Eles destacam o fato de que o uso aumenta a
produtividade e reduz o uso de agrotóxicos. Já os opositores acreditam que,
além de danos à saúde, os transgênicos causam danos ambientais.

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