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DA PALHA AO OURO, ALVORADA


MEU TESOURO
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PREFEITO MUNICIPAL DE MANAUS


Amazonino Mendes

VICE-PREFEITO MUNICIPAL DE MANAUS


Carlos Souza

DIRETORA-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA E ARTES


Lívia Mendes

VICE-DIRETOR-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA E ARTES


Renato Seyssel

DIRETOR DE LOGÍSTICA E FINANÇAS DA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA E ARTES


Carlos Augusto Pereira da Silva

PRESIDENTE DO CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA CULTURAL


Thiago de Mello

SECRETÁRIO-EXECUTIVO
Jaime Pereira

Av. André Araújo, n.º 2767 Avenida André Araújo, 2767 – Aleixo
Aleixo CEP: 69060-000 – Manaus-AM
CEP: 69060-000 – Manaus-AM Telefone: 92-3215-3474/3470
Tel.: 92-3631-8560 Site: www.manaus.am.gov.br
E-mail: concultura@pmm.am.gov.br E-mail: gabdiretoria.manauscult@pmm.am.gov.br
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Janciney Araújo de Oliveira

DA PALHA AO OURO, ALVORADA


MEU TESOURO
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Copyright © 2010 Janciney Araújo de Oliveira

COORDENAÇÃO EDITORIAL
Carlos Augusto Pereira da Silva
PROJETO GRÁFICO
Marcos Sena
(marcos_tito_sena@ig.com.br)

CAPA
Marcicley Reggo
(Kintaw Design)

REVISÃO
Amanda Moraes
Márcio Pinheiro dos Santos
FICHA CATALOGRÁFICA
Ycaro Verçosa dos Santos – CRB-11 287

O48d Oliveira, Janciney Araújo de.

Da palha ao ouro, Alvorada meu tesouro. / Janciney


Araújo de Oliveira. Manaus: Edições Muiraquitã, 2010.

56 p.
Série: Coleção Prêmios dos Bairros.

ISBN 978-85-99122-27-3

1. Bairros de Manaus 2. Comunidades urbanas I. Título


II. Série

CDD 307.38113
22. ed.
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A Deus que me proporcionou a vida, a meus pais


que me ensinaram o quanto é importante a
família, a Dete, Jéssika, Thamyres e Thiago minha
família, a meus amigos que não estão mais neste
plano, os quais eu nunca esqueço, aos deste plano,
a minha professora do primário Maria José que
me deu essa missão a muito tempo atrás, a todas
as pessoas que perderam o seu tempo me
contando as incríveis histórias do bairro, as
pessoas que foram mencionadas neste trabalho
mais não tive oportunidade de conhecer pessoal-
mente ou de conversar, ao professor San Félix que
revisou este trabalho, ao Dr. Cezar, que conheci
pessoalmente e gentilmente me contou estas e
outras histórias de sua vida, tão interessantes e
impressionantes que nestas humildes laudas não
seriam o suficiente pra contar, e por fim ao bairro
do Alvorada, onde cresci, formei família e amigos,
vivi e vivo os melhores dias de minha vida.
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SUMÁRIO

Apresentação 9

DA PALHA AO OURO, ALVORADA MEU


TESOURO
Localização e população 11
O início da ocupação 11
A origem do nome 17
Bairro da Promessa 18
Bairro Cidade Satélite 18
Bairro Cidade das Palhas 19
Bairro do Alvorada por J. Aquino (Carrapeta) 19
Bairro da Alvorada por Dr. Cezar (Índio) 20
O Teixeirão 21
Bairro do Alvorada: os personagens e
suas histórias 23
A comunidade Evangélica do Alvorada 40
O aniversário do bairro da Alvorada 40
O Folclore e o Carnaval 42
As Escolas do Alvorada 45
O desenvolvimento do bairro 48
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Apresentação

MINHAS PRIMEIRAS PALAVRAS manifestam a alegria


que nos invade por apoiar cada vez mais as iniciativas de
produção literária, por meio dos Prêmios Mário Ypiran-
ga Monteiro, criados com a finalidade de estimular os
artesãos da pesquisa e da palavra, assim como estreitar o
relacionamento dos habitantes com seus marcos refe-
renciais - os bairros.
Com efeito, estaremos movimentando a curiosidade
em torno de uma coleção histórica de nossa cidade, pro-
porcionando o aparecimento de novos autores na área
literária e, em consequência, seguindo com o programa
de formação de novos leitores.
Acredito ser essa política a principal ferramenta de
qualquer gestor público, de combate ao analfabetismo, à
exclusão social e de incentivo à melhoria da qualidade da
formação em todos os níveis, sem perder de vista a pos-
sibilidade de geração de emprego e renda no mercado
editorial e gráfico de Manaus, assim como na rede de
livrarias da cidade e na comunidade de escritores de lite-
ratura geral e de livros didáticos para todas as idades e
para todas as áreas.

Amazonino Mendes
Prefeito de Manaus

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Localização e população
O BAIRRO DA ALVORADA ESTÁ LOCALIZADO na Zona
Centro-Oeste de Manaus, destacando-se por ser um dos
bairros mais populoso da cidade de Manaus.
Segundo o Decreto Municipal n.º 924, de 1995, que
instituiu a divisão geográfica da cidade, determina
também fazerem parte desta zona os Conjuntos Dom
Pedro I, Planalto (Conjuntos Campos Elíseos e Ajuri-
caba) e os bairros da Paz e da Redenção.
A sua população chega a quase noventa mil habitan-
tes. Além disso, o Alvorada é um dos bairros mais
tradicionais e antigo da capital, e conta também com
uma enorme diversidade de lojas, o que o torna um
bairro residencial e comercial.

O início da ocupação

O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO BAIRRO aconteceu


de forma pacífica e ordenada no final dos anos sessenta.
Nesta década, o Estado do Amazonas passava por um
aumento considerável de sua população, motivado pelo
êxodo rural, sobretudo pelas promessas de desenvol-
vimento e prosperidade quando da implantação da
Zona Franca de Manaus. Aliados ao crescimento,
presenciavam-se inúmeros canteiros de obras que se
abriam em todos os bairros da cidade e que, de certo
modo, alimentavam os sonhos dos manauaras e,
principalmente, dos interioranos, que se transferiram
com suas famílias para a capital em busca de trabalho e
de melhores condições de vida. Essas famílias, na sua
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grande maioria, quando chegavam a Manaus, iam morar


de aluguel ou em casa de parentes, vivendo geralmente
em aglomerados, sem o mínimo de conforto e passando
as mais diversas necessidades.
A construção do Estádio Vivaldo Lima, usando
uma grande quantidade de mão-de-obra da capital, do
interior e de outros Estados do País, contribuiu direta-
mente para fundação do bairro. Coincidentemente, o
Estádio de Futebol foi construído no local que seria a
entrada de acesso para o bairro. Ao seu lado já havia
sido construído o Conj. da Cohabam de Flores, que, na
época, já tinham muitos moradores. As obras do
Vivaldão já estavam na fase final de conclusão, porém,
como em Manaus não havia técnicos especialistas em
gramados, o secretário da Produção Rural, na época,
Dr. Hugo Bezerra Brandt, viajou a Brasília em busca de
mão-de-obra especializada. Naquele ano, o governador
do Estado era o Dr. Danilo Duarte de Mattos Areosa
(que governou o Estado no período de 1967 a 1971).
Dentre os técnicos contratado pelo Dr. Hugo Bezerra
Brandt, estava um engenheiro agrônomo chamado
Cezar Najar Fernandes, índio peruano, descendente do
império Inca, nascido na cidade de Juliaca próximo ao
lago Titicaua Puno, no Peru. O Dr. Cezar, como era
chamado, trabalhou em Brasília desde início de suas
obras e foi um dos primeiros a ser contratado pelo
secretário para trabalhar em Manaus. Chegou no início
de 1968 se tornando o responsável pelo gramado do
estádio. Naquele período Manaus não dispunha do tipo
de gramado que service para o estádio, resolveram
então plantar a grama especial num terreno no bairro
do Aleixo.
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O Dr. Cezar conta que logo se adaptou à cidade, em


pouco tempo já conhecia vários bairros da cidade, mas o
lugar que mais lhe trás recordações é o bairro do Edu-
candos. A secretaria mantinha um depósito no bairro de
Educandos, onde constantemente tinha que ir em busca de
material. Sempre aproveitava minhas idas ao bairro para apreciar
da praia, o maravilhoso rio Negro. Numa dessas caminhadas pelo
Educandos conheci uma jovem e passamos a namorar. Ela morava
em uma casa no bairro flutuante, na orla do rio. Todas as vezes
que ia deixar a namorada em casa tinha que pegar a catraia e
atravessava o igarapé de Educandos até chegar à sua casa. Isto me
deixava incomodado, como pode uma cidade com tanta terra ter
ainda pessoas morando em flutuantes? O Dr. Cezar se
questionava constantemente.
Gozando de uma boa relação com o secretário Dr.
Hugo Bezerra Brandt, chegou a pedir que ele o ajudasse
a fazer um bairro nas terras próximo ao Vivaldão, para
abrigar aquela gente, o secretário lhe foi enfático,
dizendo-lhe que não podia fazer nada. Inconformado
com aquela situação, falou com vários companheiros de
trabalho do seu plano de fazer um bairro naquelas terras,
e pediu a ajuda de todos, pois sabia que muitos não
tinham casa própria e que poderiam ficar morando, no
bairro criado por eles.
Após concordarem em ajudá-lo, definiu que
trabalhariam na área aos sábados, para não atrapalhar o
andamento dos serviços no Vivaldão. O trabalho deles
nas terras consistia em abrir caminhos nas matas para
fazer a topografia, o arruamento e organizar a divisão
dos lotes que teriam o tamanho padrão de 8 m x 20 m.
O trabalho estava fluindo bem, todos os sábados e
domingos o Dr. Cezar e seus companheiros trabalhavam
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na área, porém, o chefe da obra do Estádio, pressionado


pelo diretor da construtora, proibiu seus subordinados a
continuar a fazer aquele serviço e, se a determinação não
fosse atendida, todos corriam riscos de serem demitidos.
Diante da situação, o temperamento indígena falou mais
alto e o Dr. Cezar pediu sua demissão da obra do Está-
dio e seu retorno para a Secretaria de Produção Rural,
mudança que lhe causou perda de várias gratificações
financeiras. Para o Dr. Cezar não importava a conse-
qüência da mudança; na verdade, importava o seu
trabalho, sua missão, seu ideal e nada lhe faria desistir de
concluir o que havia começado.
Agora com maior disponibilidade de horário,
passou a ser procurado por multidões de pessoas em
busca de um lote de terra. Todas as manhãs, o índio
mandava formar três filas, para a doação dos lotes.
Visando a organização, o D. Cezar solicitava a formação
de filas, havia uma só para idosos, outra para pessoas
mais jovens e uma terceira para mulheres grávidas. Ele
fazia uma relação e entregava uma senha com um
número. Conforme os lotes eram medidos ele passava
para a pessoa, dando-lhe até trinta dias para a construção
do barraco. Muitos dos que recebiam seus lotes
reclamavam do tempo exíguo e como resposta o Dr.
Cezar apenas dizia: Quem realmente precisa basta fazer um
rabo de jacu e ficar dentro, na sua linguagem, rabo de jacu
era simplesmente fincar três estacas na terra em forma
de cruz e cobrir com palhas.
Os primeiros a ganharem seus lotes foram os
moradores que viviam em flutuantes no igarapé de
Educandos e também os moradores do bairro da
Compensa. Como a notícia se espalhou rapidamente,
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apareceram pessoas de vários lugares da cidade. Vinham


pessoas de todas as partes, muitos chegavam com cartão
e bilhetes de deputados e vereadores em busca de um
pedaço de terra. Todos eram atendidos, desde que
ficassem nas filas organizadas por ele. O Dr. Cezar,
usando de linguagem figurada, comparava o bairro
como uma grande melancia, doce e saborosa e que todo
mundo gostaria de ter um pedaço. As primeiras ruas de
acesso ao bairro foram abertas por um trator pago pelo
Dr. Hugo Brandt, a pedido do Dr. Cezar.
Quando a Prefeitura de Manaus na época, sob o
comando do advogado Paulo Pinto Nery, percebeu que
o bairro era uma realidade, passou então a oferecer um
tímido apoio às famílias através de suas secretarias.
As terras não eram totalmente do Estado, grande
partes que compreendiam da rua Zero até às proximi-
dades das margens do igarapé da Sapolândia (Riachinho)
pertenciam à família Cabral; da rua Dez até à avenida
Desembargador João Machado (antiga estrada dos
Franceses) pertencia à família Bulbol, não se sabe ao
certo se Estado fez a devida desapropriação desta área,
e nem se seus proprietários receberam alguma indeni-
zação. O certo é que estas famílias são lembradas pelos
moradores do bairro. Na entrada do bairro uma das
primeiras ruas é a Cabral Rolim e o principal Posto de
Saúde leva o nome de Mansour Bulbol.
Cada lote que o índio entregava, fazia uma família
feliz, e estas famílias se sentiam agradecidas pelo resto de
suas vidas.
O índio era respeitado e benquisto por todos.
Muitas histórias se contam até hoje no bairro sobre ele.
Segundo relatos de moradores antigos ele era muito
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namorador, que em cada rua tinha uma namorada.


Alguns lembraram de boatos da época, em que várias
mães ofereciam suas filhas para ele em troca de um lote
de terra, outros dizem que a mulherada se sentiam
atraídas, pelo fato dele ser um homem extremamente
forte, cabelos longos, jeitão sisudo, além de um olhar
extremamente penetrante.
Na verdade quem teve a sorte de ganhar um lote de
suas mãos, diz que durante todo o tempo em que
distribuiu terra no bairro, nunca pediu nenhum tostão
em troca ou condicionou a doação a qualquer tipo de
beneficio. O certo é que sua figura será sempre lembra-
do por muito tempo, como o Índio que povoou o bairro
do Alvorada.
O povo beneficiado, humilde e sem recursos, usava
todo tipo de material para construir suas casas, de forma
rudimentar fincavam as estacas, faziam as paredes com
papelões e plásticos e cobriam com palhas de palmeiras.
Desta forma, o bairro foi naturalmente crescendo e
aqueles que foram beneficiados com um lote de terra,
passavam a ajudar o Dr. Cezar a assentar novas famílias.
Foram os próprios moradores que delimitaram as
divisões do bairro em Alvorada I, II e III.
Eram grandes as dificuldades de seus moradores,
porque além da distância para o centro da cidade, o
bairro não possuía nenhuma infra-estrutura. A falta de
luz, água e saneamento básico representavam grande
problema para seus moradores. A água era suprida por
um córrego existente nos limites do próprio bairro
com o conjunto Dom Pedro I, e que, poucos anos
depois, seria conhecido como igarapé da Sapolândia.
Devido à escassez de água, as famílias cavavam cacim-
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bas (tipos de cisternas rudimentares) nos seus quintais,


de onde se tiravam água para beber, fazer comida entre
outras coisas.
O início das atividades religiosas começou em 19
de setembro de 1969, porém, a primeira missa acon-
teceu no dia 24 de maio de 1970, pelo padre inspetor
Daniel Bissoli.
As irmãs do Colégio Santa Teresinha e os padres
Salesianos passaram a fazer o trabalho de evangelização
no bairro. Por ser uma área muito bonita e em começo
de povoamento era comum se ouvir histórias de situa-
ções inexplicáveis. Uma dessas histórias, segundo
registros da paróquia, ocorrera numa tarde de domingo,
quando o padre inspetor ao iniciar a celebração de uma
missa ao ar livre, percebeu de súbito o tempo se fechar
e em seguida começou a chuviscar, um pingo d’água caiu
em seu cálice que deveria ser usado para por o vinho.
Então aquela gota d’água, passou a se tornar o símbolo
da presença de Cristo na vida das famílias que iniciavam
o novo bairro.
Para se chegar ao centro da cidade, os moradores
tinham que andar até ao Estádio Vivaldo Lima, o lugar
mais próximo com parada de ônibus, e ali apanhar o
coletivo. O centro da cidade era muito longe, mas para
comprar qualquer tipo de coisa era necessário ir lá, pois
nem próximo do bairro haviam lojas.

A origem do nome

O BAIRRO RECEBEU VÁRIOS NOMES ATÉ chegar ao


atual, três deles chamam a atenção pela curiosidade e
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pelo folclore, que lhes cercam. Neles, os personagens


mais lembrados são: o Dr. Cezar, o Índio Peruano; O
Carrapeta (um radialista muito famoso na época); e a
Igreja Católica. Todos são lembrados quando se buscam
a origem do nome do bairro.

Bairro da Promessa

OS DIRIGENTES DA PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA


Auxiliadora contam que o governador do Estado, na
época, Dr. Danilo Duarte de Mattos Areosa havia feito
uma promessa aos moradores dos bairros flutuantes que
viviam na orla do rio Negro de que iria dar terrenos a
todos para saírem das beiradas do rio, segundo relatos de
alguns os terrenos escolhidos seriam as terras próximas
ao Estádio Vivaldo Lima. Nascendo assim o bairro da
Promessa, pois a promessa havia sido cumprida.

Bairro Cidade Satélite

O DR. CEZAR TRABALHOU NA CONSTRUÇÃO da Cida-


de de Brasília e se deslumbrou com a maravilhosa forma
arquitetônica de Oscar Niemayer. Impressionado com
toda aquela beleza, com suas formas avançadas e moder-
nas. Decidiu então, dar o nome ao bairro de Cidade
Satélites. Falou então a todos que divulgassem o nome
do novo bairro. O povo, porém, humilde, vindo na sua
maioria do interior, não se acostumou com o nome
considerado estranho e de difícil pronúncia e em pouco
tempo o nome caiu em desuso.
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Bairro Cidade das Palhas


EMBORA MORANDO NUM LUGAR SEM a mínima infra-
estrutura, o povo era feliz, divertiam-se com suas
próprias situações. Brincavam uns com os outros pelo
fato de suas casas serem cobertas de palhas, uma vez
que, o Dr. Cezar avisa que fossem construídos os
barracos no prazo máximo de 30 dias, tempo suficiente
para a construção de barraquinhos feitos com três
estacas fincados na terra em forma de cruz e cobertos
com palhas. Por esse motivo muitos se referiam ao
bairro como Cidade das Palhas, pois dificilmente havia
casas com coberturas diferentes, e em alguns casos, a
casa toda era feita de palha. Nome que passou muito
tempo na boca do povo e que talvez tenha sido o mais
marcante, pois, até hoje os antigos moradores que ainda
vivem no bairro se lembram com saudades da época da
Cidade das Palhas. As noites eram mais demoradas e a lua era
mais bonita. A luz à lamparina, as ruas sem asfalto, embora sem
conforto, o bairro tinha um aroma gostoso, mais romântico, dizia
o Panavueiro, apelido do Sr. Raimundo Medeiros, um
dos primeiros moradores do bairro, sempre alegre
adorava o bairro.

Bairro do Alvorada por J. Aquino


(Carrapeta)
NAQUELA ÉPOCA, EM MANAUS, A DIVERSÃO princi-
pal era o rádio. A Rádio Difusora do Amazonas, Rádio
Baré e Rádio Rio Mar eram muito ouvidas na capital
amazonense, conseqüentemente os seus locutores se
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tornavam famosos, principalmente os que apresentavam


programas nas primeiras horas da manhã. Entre os
locutores da época havia um que se destacava pelo seu
jeito irreverente e alegre de se comunicar, seu nome J.
Aquino, popularmente conhecido como Carrapeta.
Segundo alguns moradores ele sempre que começava
seu programa mandava um bom-dia a todos, usando
uma linguagem poética quando se dirigia aos bairros de
Manaus. Para o bairro do Alvorada, começava dizendo é
o lugar onde o sol nasce bem mais bonito, o mais lindo alvorecer, o
mais lindo Alvorada, daí espontaneamente o povo passou
a chamar o bairro de Alvorada.
Há os que divergem desta versão e afirmam que o
bairro já era chamado de Alvorada quando o Carrapeta
fazia suas brincadeiras na rádio, portanto, não poderia
ter sido ele o verdadeiro autor do nome; outros, porém,
afirmam ter sido ele o primeiro a usar o nome de Alvo-
rada num meio de comunicação. O certo é que essa
história passou a fazer parte do folclore do bairro.

Bairro da Alvorada por


Dr. Cezar (Índio)
CONVIDADO A VOLTAR A BRASÍLIA, a fim de receber
condecoração pela participação da construção da capital
do país, o Dr. Cezar mais uma vez ficou maravilhado com
o que presenciou, Brasília estava finalmente pronta. A
homenagem a ele e a todos que ajudaram a construir a
capital do País foi realizada no Palácio da Alvorada, nome
que de imediato lhe fez lembrar do seu bairro, a Cidade
das Palhas, e que, certamente, não lhe sairia mais do
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pensamento. Talvez ainda frustrado, pelo fato do primeiro


nome que deu ao bairro não ter vingado, resolveu tentar
de novo, e, ao retornar a Manaus, tratou de imediato a
avisar seus vizinhos e amigos moradores do bairro, que a
partir daquele momento, o bairro passaria a se chamar
Alvorada, fazendo assim uma alusão ao Palácio da
Alvorada em Brasília. Aos poucos, o nome foi ganhando
espaço no meio da comunidade e se tornou popular.
Finalmente o bairro recebeu seu nome definitivo.
Este nome tem tudo haver com a origem do Dr.
Cezar, índio peruano, que desde criança, acostumado a
conviver com a natureza e as coisas simples do mundo,
agradecia sempre aos deuses o amanhecer de um novo dia.
Alvorada o crepúsculo matutino, o princípio, o
começo de tudo, o alvorecer de um novo dia, um
novo amanhecer.

O Teixeirão

APESAR DA POPULAÇÃO DA ALVORADA em 1970


chegar a 3.082 habitantes, segundo dados do IBGE da
época, somente na administração do prefeito de Manaus,
Jorge Teixeira de Oliveira é que se iniciou o trabalho de
asfaltamento das primeiras ruas do bairro.
Teixeirão foi nomeado prefeito de Manaus em 15
de abril de 1975, pelo governador do Estado, Henock da
Silva Reis, e recebeu a Prefeitura das mãos do presidente
da Câmara Municipal e prefeito interino, Ruy Adriano de
Araújo Jorge. Ele percebeu que Manaus vivia um perío-
do de crescimento econômico, geográfico e populacio-
nal devido a Zona Franca de Manaus. A cidade precisava
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se adequar a essa nova realidade. Visionário e empreen-


dedor o prefeito Jorge Teixeira deu continuidade aos
projetos já existentes e passou a desenvolver vários
outros, entre eles o de reestruturação do município,
criou o Plano de Desenvolvimento Local Integrado
(PDLI), que foi transformado em lei e posto em prática
rapidamente, a partir daí começou o trabalho de
desenvolvimento da Cidade de Manaus.
As ações do prefeito Jorge Teixeira no bairro do
Alvorada foram asfaltar sua principais ruas, ou seja, rua
Lóris Cordovil, avenida B, rua Oito, avenida F, avenida J,
rua Cinco e Rua 11.
Tornou-se o prefeito que mais visitou o bairro do
Alvorada. Sua presença era constante, andava pelas ruas
visitando as obras, não só no início da manhã como tam-
bém no final de tarde. Energia elétrica, água encanada,
linhas de ônibus entre outros benefícios foram
implantados durante sua administração.
O coronel Jorge Teixeira era formado pela
Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), tinha
mestrado em Educação Física pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Foi o criador do Centro de Instrução
de Guerra na Selva e seu primeiro comandante. Foi
também o primeiro comandante do Colégio Militar de
Manaus (CMM).
Seu nome é muito lembrado por moradores do
Alvorada, eles creditam o desenvolvimento rápido do
bairro ao trabalho e a dedicação que o Teixeirão deu ao
bairro, ...ele era uma pessoa muito boa, quando prometia que ia
fazer uma coisa no bairro fazia mesmo, várias vezes esteve aqui
conosco, lembrou D. Celestina Aguiar uma das primeiras
moradoras do bairro.
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Bairro do Alvorada: os
personagens e suas histórias

O QUASE DONO DO BAIRRO DO ALVORADA

No início de 1969, o governador fez um convite, ao


senhor Clomácio Félix de Souza, grande amigo seu, para
que conhecesse na época, a maior obra construída
durante o seu governo. Acompanhado de seu filho.

Saímos de Educandos eu e meu pai, no seu Aero-Willis,


verde claro, ano 1968, enfrentamos um percurso de mais de
uma hora até chegarmos ao local de construção do estádio. Eu
me recordo muito bem, na época, aquela obra imensa não
saiu do meu pensamento. Fomos eu e meu pai ao encontro do
Governador, que estava bem vestido de paletó escuro e óculos
de grau. O meu pai era um homem muito influente, nos anos
60. Meu pai foi o primeiro proprietário de transporte coletivo
de Manaus. O itinerário que o ônibus fazia era feito do
Bairro do Educandos ao Bairro da Cachoeirinha e vice-
versa. Ele ficou conhecido no meio empresarial e se tornou,
inclusive, amigo do governador. Ao chegarmos ao Vivaldão,
ainda em obras, o Governador nos convidou a subirmos os
degraus das arquibancadas e alcançamos o último nível de
construção. Ele então apontou para uma área de mata
fechada, por traz do Vivaldão e disse ao meu pai: – Clomá-
cio, eu pretendo doar toda essa área aqui por traz do estádio
e gostaria que você ficasse com essa parte aqui, e apontou
para a área que corresponde ao que é hoje ao Bairro do
Alvorada. Meu pai esboçou um sorriso fechado, como quem
tomado de surpresa, e disse; – Danilo, o que é que vou fazer
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com um monte de mata! Embora jovem demais, entendi a


reação de meu pai, na verdade, ele não tinha esse espírito
empreendedor. Na época, era um homem preocupado como
sua atividade junto à Brasiljuta, empresa voltada para
compra, industrialização e transformação da fibra de juta em
sacarias, no nosso Estado, e nem de longe imaginava que
alguns anos depois aquela mata se transformaria em um dos
bairros mais promissores de Manaus. Este relato foi feito
pelo filho do Sr. Clomácio, Sansão Félix, na época
com 13 anos de idade. Apesar de não ter aceitado na
época toda a terra que lhe foi oferecida, o Sr.
Clomácio chegou a ser dono de um lote na rua 8,
onde construiu uma casa e morou por muito tempo
com sua família. O seu Clomácio já há algum tempo
mora no município do Iranduba, mas o seu filho
Sansão continua morando na mesma casa.

A FAMA DE BAIRRO MAIS VIOLENTO DA CIDADE

Pelo fato de ser um bairro novo, considerado o mais


longe da cidade e de difícil acesso nos anos 70, o bairro
do Alvorada tornou-se palco de muita violência, era
comum os bandidos fazerem do lugar esconderijo, era
tido como linha vermelha de Manaus. Todos os dias os
jornais publicavam matérias que colocavam o bairro
como local de assassinatos, latrocínios, estrupos, tráfico
de drogas, assaltos, tiroteios, e etc.
Na cidade se ouvia brincadeiras do tipo: no Alvorada
matam dois e deixam três amarrados pro outro dia ou quando
amanhece o dia no Alvorada, o sangue pinga nas sarjetas das ruas.
É óbvio que havia muito exagero nisso tudo. Muitas crô-
nicas policiais foram feitas sobre essa “violência” por jor-
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nalistas simplesmente para explorar a situação de insegu-


rança vivida na cidade, pois a segurança pública naquela
época era tão ruim quanto hoje, em todos os sentidos.
Até o final dos anos 80, funcionavam no bairro
vários prostíbulos e boates (as chamadas sedes dançan-
tes), que eram freqüentadas não só por pessoas do
bairro, mas também de outras partes da cidade. Na rua
Oito da Alvorada I funcionou o Clube do Flamengo
(boate), passou pouco tempo em atividade se tornou
depois um cinema e hoje em dia uma igreja evangélica;
porém, o destaque era o Clube Cruzeiro na Rua Nove,
com modernos jogos de luzes e som de alta potência
(para época) era o point dos jovens naqueles anos. O
Clube abria na sexta-feira à noite com o bolerão; no
sábado, discoteca; e domingo, a badalada manhã de sol
com encerramento à noite com o tradicional baile
dançante. A programação de final de semana era muito
disputada, vinham pessoas de todos os lugares e quase
sempre ocorria uma confusão ao final de cada noitada.
O clube fechou suas portas depois que uma tragédia
ocorreu com a família do proprietário: o filho mais velho
foi preso ao cometer um crime bárbaro que chocou toda
a sociedade amazonense e foi morto ao tentar fugir da
polícia. O prédio foi vendido e a família se mudou do
bairro. No local funcionou ainda, uma igreja evangélica
e um armazém.
No Alvorada II, havia o América Futebol Clube,
com programação semelhante à do Cruzeiro, era o local
preferido pelos jovens daquela parte do bairro. Foi
fechado ainda no meio da década de 80.
O Bar do Goiano é o único remanescente daquele
período embrionário do bairro, localizado na rua Nove,
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mantinha um estilo diferenciado de trabalhar, não era


prostíbulo, vendia somente bebidas alcoólicas, ainda hoje
é muito freqüentado pela comunidade cearense que reside
no Alvorada. Neste bar foi fundado a ABC – Academia
Brasileira da Cachaça – um tipo de confraria dos clientes,
que se encontram ao final de todos os dias para tomarem
cerveja antes de irem pra casa após o trabalho.
A rua Nove era conhecida como a rua dos
inferninhos, além do Cruzeiro havia também o Bar
Caverna, sua porta de entrada era feita em forma de uma
caverna e dentro haviam luzes negras e vermelhas. Neste
bar, por muito tempo, trabalhou um garçom, que mais
tarde se tornaria um dos bandidos mais procurados da
cidade o perigoso “Sapeca”. Tinha também Bar Marabá
que funcionava dia e noite, as mesas estavam sempre
com clientes bebendo acompanhados de prostitutas,
bem próximo funcionava o Bar do Piauí, seu proprie-
tário um piauiense, que mais parecia um gigante, foi
assassinado dentro de seu bar. Os familiares venderam a
propriedade e retornaram para o Estado de origem.
Os bandidos mais famosos da época transitavam
livremente nas ruas do bairro ou bebiam nos bares que
ficavam abertos a noite toda, Nego Angola, Cabeção,
Abílio, entre outros.

ALBERTINO: O SAPATEIRO CONQUISTADOR

Logo no início do ano de 1969, então com 27 anos,


Albertino Monteiro Ramos morava no Areal da Com-
pensa, uma área segundo ele de propriedade do exército,
nessa época ele trabalhava na fábrica de compensados
Compensa. Albertino conta que sua casa era muito
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modesta e fazia somente três meses que ele morava lá


com sua pequena família quando foram avisados que
seriam transferidos para uma área que estava sendo
loteada. Foi entregue a todas as famílias um cartão que
dava direito a um lote, e tinham um prazo para desmon-
tar suas casas, após eu desmontar a minha casa com cuidado,
pois as tábuas serviriam para construir a outra, informei ao
pessoal do exército que ficavam no local, que já estava pronto para
mudar, no dia seguinte colocamos todas as nossas coisas numa
caçamba, que não eram muito, subimos pra carroceria e fomos
levados até a área pegando vento na cara eu e minha mulher.
Albertino conta que ao chegarem, o seu lote já estava
certo, construiu sua casa e muito alegre fez logo amigos,
só achava difícil ter que caminhar todos dias até o
estádio Vivaldo Lima para pegar o ônibus para trabalhar,
o que o fez logo deixar o emprego, era muito difícil a vida
no Alvorada nos primeiros anos, não tinha nada, nem água, nem
luz e nem transporte, mas depois o tempo foi passando e tudo foi
chegando no bairro.
Albertino aprendeu a profissão de sapateiro e mon-
tou uma oficina de consertos de sapatos numa pequena
feira que se formaram no lugar onde é hoje o Ginásio
Paulo VI, seus amigos como o barbeiro Lourival, em
tom de brincadeira, fizeram uma placa e colocaram em
frente da sua oficina, “O Rei do Conserto”. Albertino
era muito vaidoso, namorador, conta que chegou a ter
de uma só vez quatorze namoradas. Todo o final de
semana saía para os bordéis do bairro, sempre bem
vestido, perfumado, se sentia um verdadeiro Don Juan.
Mas, ele era casado e uma vez ou outra a sua esposa,
dona Raimunda o flagrava com uma quenga, aí o pau
comia, comentava ele. O Albertino foi o primeiro
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sapateiro do bairro e diz que ganhou muito dinheiro


com conserto de sapato. Certa vez ganhou a
concorrência para consertar os coturnos dos vigilantes
da Empresa de Segurança SPP, foram mais trezentas
unidades, aí ele teve que contratar garotos que estavam
sem fazer nada para lhe ajudar. Isso fez com que ele
tivesse que ensinar outras pessoas a profissão, e
ensinava com todo prazer. Quase sempre quando iam
atrás do Albertino ele tinha saído para namorar,
deixando sua oficina entregue para algum garoto
aprendiz. Ele fez escola, se gaba que quase todos os
sapateiros do bairro quem ensinou foi ele, mais de vinte.
Apesar de ser uma pessoa muito boa, ele tinha um
defeito que o fez esquecer os princípios da família, ele
bebia muito, e isso causava um mal-estar muito grande
em sua família, por várias vezes ficou doente, mas
quando melhorava voltava a beber novamente.
Dona Raimunda sua esposa, faleceu vítima de
problemas cardíacos, lhe deixando viúvo e amargurado.
Até hoje Albertino é sapateiro no bairro, continua
vaidoso e namorador, mas com o mesmo estilo de vida,
ele diz que veio para o mundo para consertar sapatos,
brincar e namorar muito.

RAIMUNDONA: MULHER-MACHO

Nos bares da rua Nove freqüentava uma mulher


chamada Raimundona, segundo relatos de quem a
conheceu, ela era uma mulher bonita, alta, no entanto
extremamente forte e valente. Não era de levar desaforo
para casa, nem de mulher e muito menos de homem,
tanto que chegou a dar porrada (bater) em vários que
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tentavam lhe enganar, sempre havia uma briga com ela


no final de semana. Pelo que se sabe Raimundona
ganhava a vida fazendo programas nunca casou e nunca
teve filhos. Vivia com sua mãe e uma irmã em uma casa
na rua quatro. O homem que conhecia a Raimundona
nunca negava uma cerveja para ela senão era porrada na
certa, se fosse mulher, nem pensar em se meter com ela,
por muito tempo ela era o terror da área, todos a te-
miam. Por este motivo e pela a atividade que desempe-
nhava lhe fez ter muitos inimigos.
Há duas versões para sua morte, a primeira era que,
um maranhense chamado Zezão depois de passar várias
horas bebendo e fazendo programa com ela se
desentenderam, segundo uma suposta testemunha, eles
estavam no bar Toca do Titio, na rua sete esquina com
avenida “B” no final da tarde de um domingo, ela
quebrou uma garrafa e avançou para cima do Zezão lhe
ferindo na barriga, ele por sua vez puxou um punhal da
cintura e lhe golpeou várias vezes, os dois ficaram
agarrados por alguns minutos ela golpeando com o
gargalo da garrafa e ele com o punhal, ela só parou
quando caiu morta no chão, então ele fugiu a pé ferido
sem nunca ter sido preso.
Uma outra versão, é a de que Raimundona foi
morta próxima a sua casa em uma briga com outra
mulher de tamanho bem menor que ela, após ser ferida
mortalmente com um pequeno canivete.
Quem a conheceu lembra que apesar do jeito sisuda
e áspero no trato com os outros, tinha um coração
bondoso, com seu trabalho ajudava a sustentar sua mãe,
era religiosa, pois antes de cair na farra ia pra missa
todos os sábados.
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O GALEGO: O REI DAS BICICLETAS

Francisco Nunes, acreano, mestre-de-obras, chegou


a Manaus no ano de 1972 em busca de trabalho na área
de construção civil. Conhecido desde jovem como
Galego, comprou uma casa na rua 12, esquina com
avenida “J”, no Alvorada II. Trabalhou como mestre-de-
obras até o final de 1972, quando percebeu que no
bairro o transporte coletivo era precário, adquiriu
algumas bicicletas e começou a alugá-las. Embora as
ruas do bairro não oferecessem boas condições e as
bicicletas quebrarem constantemente, seu negócio foi
crescendo. Decidiu então transferir-se para o bairro do
Alvorada I, onde o movimento era maior. Vendeu sua
casa, investiu na compra de bicicletas e passou a morar
alugado na rua Nove do bairro, onde montou sua oficina
e depois lojas de bicicletas.
Simples e humilde preocupava-se em ajudar os
outros. Incentivou dois grandes amigos a entrarem no
ramo de bicicletas, apresentando-os aos seus
revendedores. Alguns anos depois, esses amigos iriam se
transformar em dois dos mais fortes empresários do
ramo de bicicletas em Manaus e representantes das
principais fábricas do país.
Em sua oficina além de consertar, também alugava
bicicletas. Chegou a possuir até 150 bicicletas que não
paravam no pátio de sua loja. Nos fins de semanas,
formavam-se imensas filas, todos interessados em alugar
uma de suas bicicletas. Mas, a coisa não era tão fácil
assim, diversas vezes o Galego era visto montado em
uma de suas bicicletas procurando as que não haviam
sido devolvidas. A molecada alugava por uma hora,
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porém passava o dia todo, e para recuperá-la bastava ir à


Ponta Negra, ou esperá-los ao final do dia. Eles chega-
vam, jogavam as bicicletas no pátio da oficina e corria a
toda velocidade, no entanto, quando o Galego pegava
um deles, mandava raspar seus cabelos. Essa era a senha
dos que se divertiam e não pagavam o aluguel da bici-
cleta, no entanto, após uma ou duas semanas, a garotada
voltava à oficina para novamente alugar, o Galego
sempre esquecia a cara deles.
Os maiores problemas não era com as locações
mais sim com os roubos de suas bicicletas. Fernando,
seu filho, narra um desses acontecimentos: uma vez um
jovem alugou uma bicicleta e não devolveu, o Galego teve a
informação de que a bicicleta estava na casa do indivíduo,
chegando lá, mostrou para a mãe do rapaz a nota fiscal e a
marca que era feita em todas as suas bicicletas, a Letra “V”.
A mãe do jovem não quis conversa, pegou um terçado e saiu
correndo atrás do galego. Diante da reação da velha o Galego
desistiu de rever sua bicicleta. Era impressionante a capacidade
de trabalho dele, embora tomando prejuízo, a cada semana
adquiria 15 novas bicicletas. A oficina era muito requisi-
tada, possuía a fama de ter os melhores mecânicos do
bairro, o Babá, o Galeria, o Dois Andar, o Evandro e
o mais famoso deles o Antônio Sujeira, que fazia
transformações radicais nas bicicletas. O Galego
ganhava muito dinheiro, segundo seu filho. Mas tinha
um defeito muito grande, que fazia com que ele
perdesse muito dinheiro também, era alcoólatra, e não
conseguia se controlar. Convém destacar um episódio
interessante ocorrido durante a compra da sua casa.
Na hora do pagamento do aluguel mensal da casa, sua
mulher, Dona Olga, pessoa extremamente tempera-
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mental, fez uma proposta de compra da casa para a


proprietária, o Galego olhou pra ela e exclamou mulher
você tá ficando doida, num tá vendo que eu não tenho dinheiro
pra comprar esta casa, Dona Olga então retrucou, di-
zendo que ela tinha o dinheiro. Perguntou o valor
novamente para a dona da casa e, após a resposta, foi
para o quintal e diante dos olhares espantados de
todos os presentes, cavou um buraco no meio do
terreno, tirou uma lata de leite ninho e, de dentro da
lata havia uma quantidade de dinheiro suficiente para
comprar a casa com sobras. Após o fechamento do
negócio, Dona Olga revelou como guardara todo
aquele dinheiro, quando o Galego saía para beber, tirava
parte do faturamento do bolso da bermuda dele, guardava
dentro da lata de leite e enterrava no quintal pra ele não
descobrir, foi assim que juntei todo esse dinheiro.
A dificuldade de transporte para quem trabalhava
fora do bairro era tanta, que a alternativa encontrada por
muitos trabalhadores chegarem cedo ao local de traba-
lho, era alugar bicicleta do Galego.
Anos se passaram e seus negócios prosperaram.
Decidiram construiu uma loja para manutenção e vendas
de peças para bicicletas.
Atualmente separados, dona Olga assumiu os
negócios no bairro e o Galego mudou-se para outro
lugar, onde continua trabalhando com bicicletas. O seu
filho Fernando, proprietário da Loja Super Caloi, única
do gênero no bairro hoje em dia, relembra com muita
saudades, daqueles tempos em que o bairro do Alvorada
era o palco da história de sua família. E fala com carinho
da vida e da época daquele que um dia foi chamado, o
Rei das Bicicletas.
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A HISTÓRIA DO LEÃO

Na década de 70, eram freqüentes, todos os anos, a


instalação de circos no bairro. Palhaços, trapezistas e
animais ferozes representavam as grandes atrações
circenses para todas crianças do bairro. Os circos
montavam suas lonas no campo de futebol entre as ruas
Quatro e Cinco, avenida “H”, na divisa da Alvorada I e
II. Além de opção de diversão era também, para alguns
moradores, uma fonte de lucro. Os proprietários do cir-
co pagavam um bom dinheiro por rato, gatos e cachor-
ros para alimentar os leões e outros animais ferozes, esta
oferta aguçava os instintos de muitos moradores. Pois
era um período em podia se perceber a diminuição dos
números de roedores, caninos e felinos, quase não se
viam esses animais na rua, crianças e adultos viravam
verdadeiros caçadores, e, entre os moradores, viam-se
intensas disputas pelas capturas desses animais. Muitas
famílias ficaram sem seus animais domésticos, que eram
roubados à noite e vendidos ao circo.
João Hildo Quirino era uma criança alegre, morava
com sua família na rua Quatro da Alvorada I, e, como
seus amigos, também era um desses caçadores de
animais domésticos. Brincalhão, juntava-se aos colegas
para assistir todas as noites os espetáculos circenses, o
ingresso era comprado com o próprio dinheiro da venda
feita. No circo havia elefantes, chimpanzés leões e leoas
ferozes, a meninada não se contentava em apenas olhar
os animais, jogavam restos de alimentos nas jaulas e
cutucavam os bichos com varas. Num dos espetáculos,
João Hildo chegou mais cedo e foi para frente das jaulas
dos felinos, comprou um saco de pipoca e começou a
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jogar aos animais. Aproximou-se da jaula para alimentar


uma leoa na boca e, num momento de descuido, foi
surpreendido por um bote rápido do animal que lhe
abocanhou o braço. Com a gritaria do povo, o domador
correu até a jaula e retirou o braço do garoto da boca da
fera que por sorte não teve seu braço arrancado do
corpo, tamanha a força da investida do animal. Durante
várias semanas, João Hildo ficou hospitalizado em
estado grave. Ele foi submetido a várias cirurgias na
tentativa de recuperar o membro lacerado pelos dentes
do felino. Graças a deus e a muita sorte ele não perdeu
o braço, porém ficou com seqüelas grave, hoje já adulto,
anda sempre com o braço coberto pela camisa. Após o
ocorrido perdeu um pouco aquela alegria de antes, mas,
feliz e agradecido a Deus por não ter morrido naquele
dia. Seus amigos desde então passaram a lhe chamar
pelo apelido de Leãozinho, o menino que quase foi
comido pela leoa do circo do Alvorada.

OS JOVENS DA ALVORADA

No início da fundação do bairro, a violência e o


trafico de drogas era uma constante. Como medida de
prevenção, a Igreja Católica passou a desenvolver uma
série de atividades voltadas para as crianças e jovens da
comunidade. Atividades fundamentais para o crescimen-
to, não só espiritual, mas também intelectual e moral de
muitas pessoas do bairro. Segundo relatos de Ezequiel
Filho, componente de grupo de jovens da é poça, certa
vez, dirigentes da Igreja Católica liderados pelo padre
Oscar e a irmã Raimundinha convidaram vários jovens
para uma reunião onde iriam tratar de assuntos referen-
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tes à criação de um grupo de evangelização voltado


exclusivamente para a juventude da Alvorada. Dessa
reunião saiu o nome para a criação do grupo: Juventude
Unida em Cristo, o Jucris. Foi criada uma comissão onde
faziam parte os jovens Nicolau, Flávio, Ivanilde, Maria
José, Donato, Marilene entre outros. Essa comissão
criou departamentos, divididos em: Equipe Social,
Equipe Globo e Equipe Recreativa, onde cada equipe
tinha um coordenador. Às reuniões do Jucris, aconte-
ciam todos os sábados nos fundos da igreja.
O Jucris realizava um trabalho evangelístico e
missionário dos mais relevantes dentro da comunidade. Há
relatos de jovens drogados, que foram recuperados através
do trabalho dos membros do Jucris, que eram jovens
também. O Jucris criou grupos voltados exclusivamente
para os adolescentes do bairro que forma; o Amigos do
Domingos Sávio (ADS) e a Laurinha, o primeiro era for-
mado por meninos e o segundo por meninas.
Tanto padres quanto freiras incentivavam esses mo-
vimentos na época. As missas no sábado, e principal-
mente no domingo, eram bastante disputadas, já que
após as celebrações havia atividades culturais e esporti-
vas para todos.
Havia separação por faixa etária nos grupos, os
mais velhos pertenciam ao Jucris e os adolescentes ao
ADS e a Laurinha, cada um com atividades distintas, só
podiam participar desses grupos quem tivesse se
preparando para a primeira comunhão e a crisma. Os
mais novos do ADS sonhavam em um dia participar do
Jucris, cujas atividades eram mais voltadas para uma
faixa etária maior. Na semana santa o Jucris encenava a
Paixão de Cristo, com a participação de todos os grupos
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de jovens da igreja, Ezequiel lembra, que era um período


em que a igreja católica do bairro teve mais adeptos e
que fazer parte, desta parte da história do desenvolvi-
mento do bairro chega a lhe emocionar.
Os componentes do Jucris eram tão ousados e
criativos, que chegaram montara uma banda musical
chamada Curto Circuito, que fez muito sucesso durante
algum tempo no bairro do Alvorada. Vários jovens
acompanhavam a banda em todos os shows pela cidade.
Faziam parte da Banda Curto Circuito: Mário Jorge,
Flávio, Bibi e seu irmão Tila, Maria José e Haroldo,
todos faziam parte ativamente do Jucris. A banda
ganhou vários prêmios pela cidade engrandecendo e
levando o nome do bairro a outros lugares, pois não só
os participantes do Jucris e da Banda, mas também toda
a comunidade sentiam orgulho daqueles meninos.
As quermesses e as festas juninas da igreja sempre
tinham a participação da Banda e de toda a comunidade
alvoradense. Com o apoio de todos os movimentos da
igreja e a participação da comunidade em geral, em
diversas promoções, as freiras construíram o Ginásio
Papa Paulo VI, na avenida “B” da Alvorada I. Onde até
hoje atende a comunidade.
O Jucris e a Banda Curto Circuito foram desfeitos,
ninguém sabe ao certo por quê? O certo é que eles cumpri-
ram seu papel no bairro. Todavia, constatou-se, após a
dissolução destes movimentos uma perda por parte da
Igreja Católica de muitos fiéis, principalmente da juventude.
Em contrapartida, quem participou direta ou
indiretamente desses movimentos, aprendeu o sentido
da convivência em comunidade, tanto que, esses jovens
deixaram de atuar no seio da igreja e passaram a atuar
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como cidadãos, em movimentos isolados, no próprio


bairro, sempre buscando o melhor para o bairro.
O governo também teve sua participação no desen-
volvimento profissional, intelectual e cultural dos jovens do
bairro. Na década de 70 passou a funcionar uma unidade da
Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) no
Alvorada I, entre a rua Vivaldo Lima e avenida “A”. Esta
unidade oferecia o serviço de internato para menor
infrator, semi-internato e cursos diversos para jovens de
todas as idades da comunidade com algum tipo de perigo
social ou não. Estes jovens eram divididos em faixas etárias
e dependendo da idade eram colocados em grupos
classificados como, G-1, G-2, G-3 e G-4, eram realizadas
atividades culturais, esportivas e profissionalizantes.
Muitos moradores reconhecem que o funciona-
mento daquela unidade da Febem no bairro, também
colaborou bastante para o enriquecimento do caráter de
muitos jovens. Quem participou dos cursos e das
atividades oferecidas lá e conseguiu extrair as coisas boas
que foram ensinadas, com certeza puderam por em
prática no dia-a-dia em suas vidas e os ajudou a afastá-
los da marginalidade. Afinal de contas, tinham exemplos
todos os dias nos menores infratores que ficavam no
regime de internato, tristes, às vezes, sem famílias para
lhes acalentar, e o que é pior sem perspectivas de futuro.
Segundo algumas pessoas que estudaram naquela
Febem, muitos foram os jovens que se transformaram em
pais de famílias responsáveis, e que ensinam até hoje para
seus filhos o que aprenderam ali. Mas, também reconhe-
cem que outros enveredaram para o caminho da margi-
nalidade e não conseguiram se recuperar. Desses não
conseguem se lembrar de nenhum que ainda esteja vivo.
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A Febem acabou, e deu lugar a Iebem, mas a


unidade do Alvorada, já praticamente abandonada, e
sem manutenção nenhuma por parte do governo, teve
seu espaço físico passado para o Sesi, que a mantém até
os dias de hoje, ainda com a mesma estrutura.
No início dos anos 80 a Prefeitura de Manaus cons-
truiu no Alvorada II o Centro Social Urbano Cândido
Honório. A movimentação de jovens e adultos, dos três
Alvoradas, era intensa no local, o CSU oferecia cursos de
corte e costura, doces, salgados, curso de datilografia,
atividades culturais, cursos de música, teatro além de
práticas esportivas diversificadas como futebol de cam-
po, voleibol, basquetebol e futebol de salão. A diversifi-
cação de atividades eram tantas que atraíam os jovens de
todos os cantos do bairro e adjacências.
Foi um período rico em atividades culturais e espor-
tivos no bairro. Até hoje alguns recordam com saudades
aquele período de enriquecimento cultural e social.
Após algum tempo, os próprios jovens passaram a
organizar os eventos culturais e competições esportivas.
Chegaram inclusive a formar a seleção de basquetebol
do Alvorada, a fim de participarem de uma competição
da Prefeitura, a primeira e única do bairro, treinaram
durante um mês para a competição, segundo um mora-
dor que foi assistir ao jogo de estréia da seleção, houve
um verdadeiro massacre em quadra. Os jovens jogadores
tiveram o infortúnio de pegar o melhor time de basque-
tebol de Manaus na época, era um misto de alunos do
Colégio Militar e Colégio D. Bosco, só conseguiram
realizar seis pontos, ou seja, três cestas contra 156 do
outro time. Na verdade eles sabiam que isto ia acontecer,
só queriam mesmo participar e ver o nome do bairro do
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Alvorada, ser falado junto dos outros bairros da cidade,


como um lugar onde também havia desportistas.
Nesse período no CSU, participavam muitos jovens
criativos, que sempre buscavam organizar eventos que
movimentassem a comunidade, inovando e buscando
formas de incentivar outros jovens a participarem
também das atividades desenvolvidas ali.
Um grupo de jovens do bairro, liderados por Ney
Araújo e Ezequiel Filho, criaram o Movimento Cultural
“Alvorada”, entidade que serviria para realizar eventos
culturais, além de realizar cursos de música, poesia e
teatro. Tudo com a finalidade de promover o nome do
bairro por toda Manaus.
Na metade dos anos 80, com o apoio da direção do
Centro Social Urbano da Alvorada I, realizou-se a I
Amosmup (I Amostra de Música Popular da Alvorada),
evento que consistia na apresentação de cantores, músi-
cos e compositores, não só da Alvorada, mas também de
outros bairros, que participaram com músicas inéditas e
disputavam entre si, a premiação em dinheiro e troféus.
Os dois jovens não se intimidavam com as dificul-
dades, buscavam patrocínios no comercio do bairro, em
empresas privadas, Governo e Prefeitura . A Amosmup
foi realizada durante três anos consecutivos, os shows
aconteciam na quadra do centro social e a entrada era
grátis. O evento chegou a ganhar destaque na imprensa
local pelo seu formato simples, porém, organizado e
participativo, o público vinha de vários bairros de
Manaus. Alguns jovens que participaram da amostra,
encararam a música com seriedade e se tornaram
profissionais. Muitos tocam em bares, restaurantes e
fazem shows nas noites de Manaus.
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A comunidade Evangélica do
Alvorada

DO MEIO DA DÉCADA DE 80 EM DIANTE, houve um


visível crescimento da comunidade evangélica no bairro,
com igrejas das mais variadas denominações. Tendo uma
predominância da Assembléia de Deus.
Evangélicos das mais variadas denominações,
creditam esse crescimento ao fato do bairro ter sido
fundado com pessoas muito humildes e os trabalhos de
evangelização das pessoas é muito forte, com apoio dire-
to as famílias necessitada, tanto espiritual como material.
Outra tese levantada para esse crescimento é o fato do
bairro por muito tempo ter sido antro de marginalidade,
o que ocasiona um campo amplo de trabalho, pois o
arrependimento dos atos errados leva a pessoa a procu-
rar apoio nas igrejas evangélicas.
O importante é que essas igrejas vieram pra ajudar
a mudar a fama de bairro violento que o Alvorada tinha,
além de dar oportunidade a muitas pessoas de se redimi-
rem e colaborarem para o melhoramento espiritual de
nossos jovens. Destacam-se nesse meio o pastor Raul
que foi um dos primeiros moradores do bairro, as igrejas
Assembléia de Deus, a Batista Monte Horebe, a Adven-
tista entre outras.

O aniversário do bairro da Alvorada

CONVIDADO PELO EZEQUIEL FILHO a participar da


Festa de Aniversário da Praça 14 de Janeiro, Ney Araújo
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se maravilhou com a festa de aniversário do bairro.


Observaram, atentamente, o momento dos Parabéns pra
Você, em que os presentes cantavam em coro. Após o
término da festa, já tinham, em mente, a vontade de
organizar no bairro do Alvorada a festa de seu
aniversário. Pesquisaram e chegaram ao consenso da
data para de fundação do bairro, o dia seria 2 de junho,
mês festivo e alegre, como é o bairro do Alvorada.
Desde 1989, o aniversário do bairro é comemorado
todos os anos no dia 2 de junho.
O próximo passo seria realizar uma festa de
aniversário. O que não demorou muito para acontecer. A
primeira festa de aniversário da Alvorada aconteceu na
quadra do Centro Social Urbano da Alvorada II, com
muitos fogos de artifícios e shows musicais. Todos os
meios de comunicação, da época, divulgaram o evento.
No segundo ano de aniversário, se incorporaram a
coordenação toda a equipe da UVA, uma organização de
jovens que buscavam apoiar eventos no bairro, como
Etenildo Gonçalves, † Mário Julho, † Waldeney Aguiar,
Carlos Cassandra, Gerson, Jorge, Roberto Bahia,
Marcelo Kerekechê entre outros.
Ney Araújo e Ezequiel Filho solicitaram do Corpo
de Bombeiros de Manaus a lavagem de toda a extensão
da avenida “B” do Alvorada I, o que lhes proporcionou
serem chamados de doidos varridos, por parte do
comandante do Corpo de Bombeiros da época, mas,
com a participação dos moradores, fizeram a lavagem e
uma limpeza geral na avenida. No dia seguinte, pela
manhã, montaram um grande palco com dois cami-
nhões, realizando uma grande programação esportiva e
cultural com concursos de beleza e passeio ao zoológico
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do CIGS para as crianças, a partir daquele momento, a


festa foi crescendo a cada ano.
Nos anos seguintes foram se juntando outras pessoas
para apoiar a festa. Na época, presidente da Associação
Distrital do Comércio do Alvorada (ADCAL), o Sr. José
Maria Almeida, acreditou no evento e passou a fazer parte
da coordenação, o que acontece até os dias de hoje. O João-
zinho passou a coordenar o evento no Alvorada II, isso por
ser comerciante e morador antigo desta parte do bairro.
Com uma equipe maior o evento também passou a
ser maior. Passaram a realizar um passeio ciclístico como
abertura do evento e uma corrida pedestre, com várias
faixas de premiações. À meia-noite, como parte da
comemoração, todos os presentes cantam o Parabéns a
Você, tendo como ingrediente um bolo tamanho gigante.
A festa deveria durar três dias. O encerramento no
domingo, ocorre até hoje na avenida “J”, Alvorada II,
uma das mais importantes vias pública do bairro.
Efetivaram o Concurso Garota Alvorada, que todos
os anos é coordenado pelo Etenildo Gonçalves, sempre
com muita responsabilidade e seriedade.
A comissão organizadora da festa de aniversário do
bairro decidiu realizar a festa, tradicionalmente, todos os
anos, no dia 2 de junho. O primeiro dia de festa é realizado
na Alvorada III, o segundo dia na Alvorada I e o encerra-
mento ocorre sempre na avenida “J” da Alvorada II.

O Folclore e o Carnaval

O PRIMEIRO FESTIVAL FOLCLÓRICO REALIZADO no


bairro ocorreu em junho de 1984 e foi organizado na
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Janciney Araújo de Oliveira
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quadra do Iebem, na rua Vivaldo Lima. Seus idealizadores


foram: Ney Araújo, Ezequiel Filho e Paulo Roberto que,
com apoio de outros amigos, fizeram por três dias o
Festival Folclórico do Alvorada, que contou com a pre-
sença de danças vindas de outros bairros da cidade.
O evento tinha o apoio da Secretaria de Educação
do Município. E foi organizado por mais dois anos con-
secutivos, só sendo paralisado, pelo fato das estruturas
físicas da unidade do Iebem no bairro, ser passado para
o Sesi pelo governo.
No ano seguinte, sem local adequado para a realiza-
ção do evento, decidiram realizar o festival, na rua em
que mora o Paulo Roberto, por ser plana e mais central.
Assim sendo, todos os anos o Festival Folclórico do
Alvorada, passou a ser realizado na rua Dez da
Alvorada I.
Paulo Roberto recebeu por muitos anos a ajuda de
Ney Araújo e Ezequiel Filho na realização do Festival
Folclórico do bairro, porém, nos últimos anos apenas o
Paulo Roberto coordena a realização desse festival.
O trabalho cultural desenvolvimento pelo trio
serviu de incentivos para muitos jovens do bairro, que,
com muita criatividade, foram formando novos grupos
folclóricos, cada um representando a sua própria rua.
Merecem destaque as seguintes quadrilhas, da
Alvorada I: Quadrilha Minha Deusa na Roça, Beija-Flor
na Roça, Caipira na Roça, Rosa de Anil e Vitória-Régia;
Alvorada II: Dança Portuguesa, a mais antiga do bairro;
e Alvorada III: Ninja na Roça e outras danças de rua.
O movimento carnavalesco na Alvorada teve início
no ano de 1983. Os desfiles das escolas de samba
ocorriam na avenida Djalma Batista.
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Um amante do Carnaval amazonense conhecido


por Alfaia, morador da Praça 14 de Janeiro e dono do
bloco Havaí, vinha com freqüência visitar sua mãe,
moradora antiga do bairro. Devido a esse laço, Alfaia fez
muitos amigos na comunidade, passando a realizar os
ensaios do bloco na rua Três da Alvorada I. Muitos mo-
radores participavam dos ensaios e do desfile do bloco,
entre eles Ney Araújo, Ezequiel Filho e Paulo Roberto,
que ajudavam Alfaia a coordenar os desfiles do bloco.
No primeiro ano, o desfile foi contagiante e alegre.
Todos ficaram encantados com a magia do Carnaval.
No entanto, os participantes do bloco que moravam
no Alvorada, sentiam a necessidade de ter uma agremia-
ção carnavalesca nata do bairro, pois o bloco Havaí tinha
sua fundação na Praça 14 de Janeiro. Inconformados
com a situação, Ney Araújo, Ezequiel Filho e Paulo
Roberto decidiram formar um bloco, passaram a reunir
vários amigos, amantes de Carnaval que também partici-
pavam de um grupo folclórico na rua Francisco Orella-
na, como o Caco, Mário Jorge, Walace, Rubinho, Mário
Julho, entre outros, escolheram o nome de bloco Novo
Amanhecer. Para presidente do bloco foi escolhido Pau-
lo Roberto e Ezequiel, vice-presidente. Todos trabalha-
ram para pôr o bloco na avenida.
No primeiro ano, sem nenhum apoio do Governo e
da Prefeitura, todas as alegorias e adereços eram feitos
pelos próprios brincantes, com material doado ou
comprado com dinheiro das rodas de samba, que eram
realizadas todos os finais de semana, no canto da avenida
B com a rua Sete da Alvorada I. O bloco desceu a avenida
por mais três anos e, devido às grandes dificuldades
financeiras, decidiu encerrar suas atividades carnavalescas.
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Contudo, essa iniciativa deixou plantada no coração


de muitos moradores a semente da folia de Momo.
Alguns anos depois, membros de um time de futebol do
bairro, chamado União Força Jovem, resolveram organi-
zar uma banda de Carnaval de rua e escolheu como lugar
de encontro o lanche do Jacaré, cognome do Joacy. A
Banda passou a se chamar Banda do Jacaré e levava
multidões para as ruas do bairro. A participação maciça
do povo levou os dirigentes liderados por Paulo Rober-
to, Jacaré, Bizantino, Heroldo Linhares, David Queiroz,
Paulão, Martinho, Rock Lane entre outros a fundarem a
Escola de Samba do Alvorada. Dispostos a enfrentar
todas as dificuldades, os organizadores foram em busca
de apoio financeiro e político para tornar realidade os
sonhos de muitos anos atrás. No dia 15 de maio de 1995,
foi fundada a Escola de Samba Unidos do Alvorada, que
representa a maior instituição cultural do bairro e que,
todos os anos leva milhares de moradores da comunida-
de para o sambódromo.
Na década de 80 os adeptos do Candomblé e da
Umbanda, que eram facilmente encontrados no bairro,
quase que desaparecem totalmente. Movimentos estes,
que em noites de seções, aglomeravam centenas de pes-
soas, principalmente em dias de festa de santos.
Não se tem notícias do que aconteceu ao certo, para
o desaparecimento dessas práticas religiosas no bairro.

As Escolas do Alvorada

SEGUNDO RELATOS DE ANTIGOS MORADORES e do


próprio Dr. Cezar, a primeira escola do bairro foi cons-
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truída no inicio de 1970; localizada na rua Um, foi


construída por iniciativa da jovem chamada Gilda Alfaia,
que percebendo o grande número de crianças que
perambulavam pelas ruas, sem terem uma escola para
estudar. Resolveu então, com o apoio de outros mora-
dores, construir uma escola para alfabetizar as crianças
do bairro. Por algum tempo ela mesma lecionava e
ajudava as crianças. Gilda mudou-se do bairro e as
atividades escolares foram encerradas. Ela tornou-se a
pioneira na área de educação no nosso bairro.
Atualmente há em funcionamento seis escolas esta-
duais, seis escolas municipais e duas escolas particulares,
além de centro educacional das igrejas católicas e
evangélicas, divididas nas três Alvoradas que são: A
Escola Estadual Humberto de Campos, localizada na
rua Vivaldo Lima e Alda Barata, na Cohabam de Flores,
foram as primeiras escolas da Alvorada I. Em seguida as
escolas municipais Elinea Folhadela, que funciona na
feira coberta e Maria Rufina de Almeida na avenida
Desembargador João Machado. O bairro também é
atendido pelo Centro Educacional Eduardo Ribeiro, do
Conselho Nacional de Escolas da Comunidade, um
projeto que tem escolas em quase todo País, e que
funciona na rua Lóris Cordovil. As irmãs Salesianas
comandadas pela irmã Elizabeth, construíram na rua
Sete da Alvorada I, a Escola Santa Maria Mazzarelo, que
atende da 1.ª a 4.ª serie. No início de suas atividades, a
escola tinha convênio com o Governo Estadual. O
convênio foi encerrado e não mais renovado. Para não
fechar as portas, as freiras passaram a cobrar mensali-
dades, passando a ser particular. Mazzarelo, como é
conhecido, foi importante para o desenvolvimento do
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bairro. Todas as manhãs, antes de entrarem em sala de


aula, as crianças formavam filas e cantavam o Hino
Nacional Brasileiro, era a prática cívica ensinada pelas
freiras da escola. A educação oferecida era rígida, porém,
eficiente, o que contribuiu bastante para o crescimento
intelectual de muitas crianças da comunidade.
As escolas estaduais Manuel Severiano Nunes e
Waldir Garcia funcionam respectivamente na avenida
“J” e avenida “L”, da Alvorada II. A Escola Estadual
Francelina Dantas também funciona na avenida “L” da
Alvorada II. As escolas municipais Cândido Honório e
Domingos Sávio ficam na rua Cinco Alvorada II.
O Pró-Menor D. Bosco, no Alvorada II, projeto da
Inspetoria Salesiana dos mais importantes para a
educação normal e profissionalizante dos jovens do
bairro, instalou-se em 1979. Naquela época, a Capelania
da Alvorada II foi assumida por um padre possuidor de
uma vasta experiência no trabalho com menores
carentes. Percebendo a situação em que se encontrava a
grande maioria dos menores do bairro, procurou apoio
Salesianos para empreender um projeto educacional
voltado para as suas necessidades, como resposta obteve
da Inspetoria Salesiana, a construção do Pró-Menor
Dom Bosco.
Em 1983, uma pequena comunidade passou a
residir nas dependências do Pró-Menor. Nesse mesmo
ano, por ocasião dos festejos centenários da chegada dos
salesianos ao Brasil (1883-1983), a Inspetoria apresentou
a Obra como um gesto significativo dentro das cele-
brações centenárias.
No Alvorada II, funcionou o Centro Educacional
Benjamin Sodré, do CNESC, mas, por motivos alheios,
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a organização fechou o centro e deixou uma lacuna


enorme para os estudantes do bairro, que conta apenas
com a Escola Municipal Firme na Fé, funcionando em
condições precárias num prédio alugado. Pelo que
comentam alguns moradores o prédio onde funcionava
o Benjamim Sodré encontra-se em negociação com a
Prefeitura e Manaus em se concretizando o negócio a
Escola Firme na Fé passaria a funcionar ali.
A Fundação Bradesco, localizada na rua Cinco da
Alvorada II, veio contribuir para a educação dos jovens
do bairro. Com uma educação de alto nível nos moldes
dos grandes centros, leva um atendimento voltado não
só para o ensino convencional mais também ensinado a
prática da cidadania e a responsabilidade social. O que
leva verdadeiras multidões de pais e mães em busca de
vagas para seus filhos.

O desenvolvimento do bairro

NO INÍCIO DOS ANOS 80, a Prefeitura de Manaus


passa a priorizar o bairro. Porém, só a partir de 1983,
com nomeação do prefeito Amazonino Mendes é que
todas as ruas do bairro são asfaltadas efetivamente.
Ainda neste mesmo período, com uma grande festa
regada a chope e show musical, é inaugurada a agência
do Banco do Estado do Amazonas (BEA) na Alvorada
I. Esta inauguração confirmava o pleno desenvolvimen-
to que o bairro vivia naquela época.
A rua Oito passa a ser a rua do comércio da
Alvorada I, abrigando não só o BEA, mas também
grandes lojas como: TV Lar, Souza Arnold, e ainda uma
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variedades de pequenas lojas de confecções e calçados.


A Empresa de Correios e Telégrafos passa a operar no
bairro. Na Alvorada I é inaugurada a loja Credilar com
vários departamentos.
Na Alvorada II, a rua comercial passa a ser a
avenida “J”, sendo uma via de acesso a conjuntos
residenciais, passa a ter um fluxo intenso de transeuntes
e veículos. Várias lojas se instalaram no bairro, como as
Casas do Óleo, lojas de ferragens entre outras. Pelo seu
intenso movimento, o bairro tornou-se um grande
centro de compra e venda.
O desenvolvimento passa a empurrar os maus
elementos para bairros mais afastados, diminuindo
consideravelmente a criminalidade, os imóveis que
antes funcionavam como prostíbulos viram lojas, os
bandidos que antes transitavam livremente nas ruas,
passam a não mais existir, dando lugar a ruas calmas
e tranqüilas.
A pedido de jovens organizados e a associação do
bairro, o então governador do Estado Gilberto Mestri-
nho inaugura a Maternidade Balbina Mestrinho, que
minimizou o sofrimento de centenas de parturientes do
Alvorada e bairros adjacentes.
Nos anos que se seguem novas lojas são abertas no
bairro, o empresariado local passa a investir mais nos
seus negócios. Tanto que chama a atenção dos bancos.
O Banco do Brasil abre uma agência na estrada dos
Franceses, o Bradesco incorporou a antiga agencia do
BEA da rua Oito e junto com a loja da rua Lóris
Cordovil passou ao número de duas agências no bairro,
na avenida “J” são inauguradas lojas como Du Lar,
Super Modelo, Utilar, Drogarias e Óticas.
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O Sesc construiu um balneário para atender seus


comerciários e a comunidade em geral. O que contribuiu
para o lazer dos moradores do Alvorada.
Hoje em dia o bairro é um dos mais importantes
contribuintes da Prefeitura de Manaus, com um
comercio cada vez mais promissor, oxigenado pela
entrada de grandes lojas de eletrodomésticos e
confecções.
Com a inauguração recente de uma agência da
Caixa Econômica Federal e do Banco Itaú, o bairro
chega ao número de cinco agências bancárias. Além de
duas agências dos Correios, um Serviço de Pronto-
Atendimento (SPA), um PAC, dois postos médico, um
Caic, um Ginásio com capacidade para dez mil pessoas
bem na entrada do bairro, entre uma infinidade de lojas,
supermercados e duas maternidades. Tudo isso é motivo
para os moradores repetirem constantemente que só sai
do bairro do Alvorada pra comprar alguma coisa se quiser, aqui
tudo que se quer tem!.
Os comerciantes tem tido nos últimos anos apoio
de entidades como Sebrae e a Prefeitura, através de
cursos para o empresariado local e seus funcionários, a
fim de aperfeiçoarem o atendimento ao público interno
e externo e assim buscar técnicas para continuar o
desenvolvimento do bairro como um todo. Consta um
projeto na Prefeitura que consiste transformar as ruas
do bairro em um Shopping a Céu aberto, com toda
uma estrutura especial voltada para atender a clientela
local e adjacente.
Para privilegiar e valorizar ainda mais o Alvorada,
na entrada do bairro se avista um dos cartões-postais da
cidade, o Centro de Convenções conhecido como Sam-
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bódromo de Manaus, que é palco do desfiles das escolas


de samba no Carnaval, shows musicais, conferências, e
eventos de porte. Tem capacidade total para cem mil
pessoas nos seis módulos com capacidade para cinco
mil pessoas cada um; dois mini-módulos com
capacidade de 3.000 cada um; uma “ferradura” com
capacidade para 18.000 pessoas. Camarotes especiais
para 2.000 lugares e mais de 50 mil lugares na parte da
geral. Tem também a Vila Olímpica, que foi Idealizada
no Governo do Dr. Danilo Duarte de Mattos Areosa,
mas, teve a sua construção iniciada no Governo de
Enoch da Silva Reis em 1976. Em 1978 as suas obras
sofreram uma paralisação por dez anos, sendo
reiniciada no Governo do Dr. Amazonino Mendes e
inaugurada oficialmente no dia 25 de março de 1990. A
Fundação tem contribuído de maneira decisiva para o
desenvolvimento do esporte amador amazonense,
através de programas de iniciação esportiva e de
rendimento, além de proporcionar atividades esportivas
comunitárias, onde centenas de moradores do Alvorada
participam ativamente.
Com a confirmação da Copa do Mundo de 2014,
acontecer no Brasil há possibilidades de haver jogos
em Manaus, se isso acontecer existem projetos de
serem construídos, próximos do Alvorada, novos
complexos esportivos, ampliação do Estádio Vivaldo
Lima, restaurantes e inclusive um hotel cinco estrelas,
ocasionando uma valorização ainda maior nos
imóveis do bairro e um crescimento na demanda do
comércio.
Os mais otimistas acreditam que da avenida
Constantino Nery até a avenida “J” do Alvorada II, tudo
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vai se transformar num imenso centro esportivo, de


compras e lazer.
A memória de um povo é indiscutivelmente, o
maior instrumento de preservação de seu acervo
cultural, histórico e social, além de outros que permitem
o acúmulo de conhecimento que sem dúvida é
transmitido de geração em geração e que forma a base
de sustentação do seu futuro para a conquista de
melhores dias.
Quem mora no bairro e conquistou seu pedaço de
chão desde o início, desde a Cidade das Palhas, sabe
perfeitamente que tem que cuidar desse pedaço de chão,
pois, foram muitas as conquistas desde sua fundação. E
essas pessoas devem reverenciar todos os dias a força e
a obstinação de pessoas como o Dr. Cezar, o coronel
Jorge Teixeira, figuras que foram muito importantes para
a efetivação do bairro, além de outros que participaram
deste desbravamento como anônimos bandeirantes,
trabalhando duramente para o bem-estar de famílias
inteiras que eles, quase sempre nem conheciam, é assim
que se fez o bairro do Alvorada, foi assim que se fez o
Estado o País, o mundo, com muita luta, muita paixão e
muita solidariedade.
Sendo o bairro a consagração de indivíduos
formadores da base do município, onde surgem às
expressões e manifestações dos anseios que norteiam
as ações governamentais de interesses do bem-estar
social e onde a vida se desenrola com a participação
ativa do povo, na conquista de seus objetivos em prol
da comunidade, firme se faz manter a vontade de
melhorar cada vez mais, sempre buscando novos
horizontes.
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Pessoas anônimas que procuram, através de seus


próprios esforços, perpetuarem os fatos que contri-
buíram para a formação desses núcleos, em benefícios
da própria história de uma nação. E todo dia a história é
feita, por que todo dia o sol nasce, e é no alvorecer de
um novo dia, no Alvorada que tudo recomeça que a
história recomeça.

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PRÊMIO LITERÁRIO MÁRIO YPIRANGA


MONTEIRO 2007

Aguinaldo Nascimento Figueiredo Hamilton de Oliveira Leão


Bairro de Santa Luzia Bairro da Colônia Oliveira Machado

Alvanice Lopes da Silva Janciney Araújo de Oliveira


Bairro de Puraquequara Bairro da Alvorada

Carla Deniza Negreiro Cardoso João Ferreira de Santana Neto


Bairro de Cachoeirinha Bairro do Japiim

Carlos Tiago dos Santos Motta Ramos


Bairro de Petrópolis Bairro da Betânia

Cláudia Fernandes Brito de Moraes Roberto Bessa


Bairro de Novo Israel Bairro de Aparecida

Cláudio Amazonas Valderes Vieira de Souza


Bairro de Educandos Bairro de Santo Antônio

Daniel de Oliveira Virginia Allan


Bairro de Presidente Vargas Bairro de São Geraldo

Edvaldo Manoel dos Santos Walney Freitas de Figueiredo


Bairro do Coroado Bairro da Compensa

Ellza Souza
Bairro de São Raimundo
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Esta obra integra as Edições Muiraquitã do Conselho Municipal

de Cultura e foi vencedora do Prêmio Literário Mário Ypiranga

Monteiro, em Garamond 11/16 e impressa em agosto de 2010,

pela Grafisa.

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