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O tema "drogas" e a novela da TV  

Há alguns meses, no aeroporto de Congonhas, às sete horas da manhã, entrei na fila da


ponte aérea para o Rio de Janeiro. A fila estava imensa. Desatento e com sono,
perguntei à moça que estava atrás de onde a conhecia, já que seu rosto era muito
familiar. Ela deu uma grande gargalhada, chamando a atenção de todos na fila, e disse
em voz alta: - Você vê novela, hein!?

A moça em questão era a atriz Alessandra Lessa, a Deusa da novela "O Clone" da Rede
Globo. Vexame à parte, desde então me dei conta da força da TV na formação da
consciência popular, e perdi o preconceito com as novelas.

Em um tempo de "reality shows", de exposição banal da intimidade sob o controle,


remoto mas total, de milhões de telespectadores convertidos ao esquema fascista
narrado por George Orwell, a novela "O Clone" se destaca pelos temas que vem
abordando.

Explorando o conflito entre a ciência e a ética, entre a ciência e a religião, a novela é


corajosa ao abordar o atualíssimo e polêmico tema da clonagem humana.

Nas últimas semanas a novela escrita pela experiente Glória Perez e dirigida por Jaime
Monjardim, de "Pantanal", colocou em pauta um tema literalmente de vital importância
para a nossa juventude: a dependência das drogas.

O personagem Lobato (Osmar Prado) é um homem com mais de cinqüenta anos,


dependente de drogas desde a juventude, e frustrado pessoal e profissionalmente. Em
diálogos com seu psicanalista ou com jovens em seu ambiente de trabalho, Lobato faz
longas falas (o que não é muito comum na TV), muito bem escritas, alertando as novas
gerações com base na própria experiência.

Comparando as drogas com uma "paixão", diz que o dependente é um apaixonado que
não pode controlar seu sentimento, mas pensa que pode. É um fraco que se sente forte, e
quando quer se libertar das drogas já não consegue mais. A partir daí o que começou
como romance se torna uma tragédia na qual sofre o dependente e sofrem seus parentes
e amigos.

Lobato é um personagem interessante. Militou no movimento estudantil na década de


60, foi segundo ele próprio "materialista dialético" e participou do Centro Popular de
Cultura, o CPC da UNE, onde conheceu e ficou amigo de Oduvaldo Viana Filho, o
Vianinha. Em uma de suas falas contra as drogas, Lobato se pergunta o por quê de ter
desperdiçado a chance que teve de continuar na luta política, já que foi privilegiado por
ter convivido com o exemplo e a liderança de Vianinha.

Ou seja, enquanto os neoliberais lucram com o narcotráfico e combatem a militância


política socialista, o personagem Lobato, diz com todas as letras e na poderosa novela
das oito da Globo, que teria sido feliz se abandonasse o álcool, a maconha e a cocaína e
se tivesse continuado a seguir "o exemplo de Vianinha".
Virado na consciência, já cinquentão, Lobato recomenda aos jovens uma outra "paixão",
a luta do povo brasileiro por liberdade, democracia e indenpendência nacional.

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