Você está na página 1de 122

[Digite aqui]

i
Autores

Roberto Aguilar Machado Santos Silva


Suzana Portuguez Viñas
Santo Ângelo, RS
2021
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos com:

e-mail: Suzana-vinas@yahoo.com.br
robertoaguilarmss@gmail.com

Supervisão editorial: Suzana Portuguez Viñas


Projeto gráfico: Roberto Aguilar Machado Santos Silva
Editoração: Suzana Portuguez Viñas

Capa:. Roberto Aguilar Machado Santos Silva

1ª edição

2
Autores

Roberto Aguilar Machado Santos Silva


Membro da Academia De Ciências de Nova York (EUA)
Neurobiologista, Médico Veterinário, escritor
poeta, historiador
Doutor em Medicina Veterinária
robertoaguilarmss@gmail.com

Suzana Portuguez Viñas


Pedagoga, psicopedagoga, escritora,
editora, agente literária
suzana_vinas@yahoo.com.br

3
Dedicatória
ara todas as mães, pais, terapeutas de crianças autistas.

P Roberto Aguilar Machado Santos Silva


Suzana Portuguez Viñas

4
Os fenômenos humanos são
biológicos em suas raízes, sociais
em seus fins e mentais em seus
meios.
Jean Piaget

5
Apresentação

O
autismo é interpretado em termos piagetianos com
referência particular à questão de se o desenvolvimento
cognitivo atípico. Resultados de pesquisas relevantes
que aplicam a teoria de Piaget ao retardo mental, psicose e
autismo são revistos. As aparentes exceções à hipótese
apresentada em indivíduos autistas são explicadas pela teoria de
dois fatores de Piaget de funções figurativas versus funções
operativas. Muitos indivíduos autistas mostram uma paralisação
nas funções operativas no nível sensório-motor, enquanto
continuam a progredir nas funções figurativas. A parada precoce
interfere no desenvolvimento subsequente de habilidades
conceituais, simbólicas e sociais de nível superior. Perguntas para
pesquisa são oferecidas.
Roberto Aguilar Machado Santos Silva
Suzana Portuguez Viñas
Santo Ângelo, RS
2021

6
Sumário

Introdução.....................................................................................8
Capítulo 1 - Quais são os critérios de diagnóstico do DSM-5
para autismo?...............................................................9
Capítulo 2 - Como o autismo se tornou autismo?...................16
Capítulo 3 - Uma breve introdução: teoria do
desenvolvimento cognitivo de Piaget......................76
Capítulo 4 - Crianças com autismo: uma perspectiva
piagetiana.....................................................................80
Epílogo.........................................................................................89
Bibliografia consultada..............................................................95

7
Introdução

J
ean Piaget, talvez mais do que qualquer outro teórico,
forneceu conceitos e princípios que orientam a
compreensão da mudança cognitiva do desenvolvimento
(Genovese, 2003). Essas mudanças ocorrem em uma sequência
particular e em idades previsíveis que foram documentadas em
várias culturas; alguns desses marcos cognitivos parecem até
mesmo legais em espécies de primatas não humanos (Brainerd,
1978). Comparar os sintomas cognitivos do autismo com as
noções de Piaget de mudança cognitiva colocaria a
sintomatologia em um contexto de desenvolvimento e pode ser
esclarecedor quanto às possíveis implicações terapêuticas. A
pesquisa e a teorização anteriores neste domínio limitaram-se
basicamente às funções sensório-motoras piagetianas (Sigman e
Ungerer, 1981) e à categorização (Ungerer e Sigman, 1987).
Digno de nota, entretanto, há mais de vinte anos Morgan (1986)
sugeriu uma ligação entre uma sequência piagetiana de
desenvolvimento cognitivo e autismo com funções perceptivas
seguindo um padrão normal e inteligência operativa (racional,
conceitual) seguindo um padrão mais atípico. Posteriormente,
houve apenas interesse esporádico em uma possível conexão
entre a teoria piagetiana e os transtornos do espectro do autismo.

8
Capítulo 1
Quais são os critérios de
diagnóstico do DSM-5 para
autismo?

E
m 2013, a American Psychiatric Association lançou a
quinta edição de seu Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-5).
O DSM-5 é agora a referência padrão que os profissionais de
saúde usam para diagnosticar condições mentais e
comportamentais, incluindo autismo.
Você pode ler o texto completo dos novos critérios de diagnóstico
da American Psychiatric Association, para transtorno do espectro
do autismo e o diagnóstico relacionado de transtorno da
comunicação social abaixo.

Critérios de diagnóstico de
autismo DSM-5
A. Déficits persistentes na comunicação social e interação
social em vários contextos, conforme manifestado pelo
seguinte, atualmente ou pela história (os exemplos são
ilustrativos, não exaustivos, consulte o texto):

9
1. Déficits de reciprocidade socioemocional, variando, por
exemplo, de abordagem social anormal e falha na conversa
normal de vai e vem; ao reduzido compartilhamento de interesses,
emoções ou afeto; ao fracasso em iniciar ou responder às
interações sociais.
2. Déficits em comportamentos comunicativos não verbais usados
para interação social, variando, por exemplo, de comunicação
verbal e não verbal mal integrada; a anormalidades no contato
visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso de
gestos; a uma total falta de expressões faciais e comunicação não
verbal.
3. Déficits no desenvolvimento, manutenção e compreensão de
relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldades para
ajustar o comportamento para se adequar a vários contextos
sociais; às dificuldades em compartilhar brincadeiras imaginativas
ou em fazer amigos; à ausência de interesse nos pares.
Especifique a gravidade atual: a gravidade é baseada em
deficiências de comunicação social e padrões repetitivos restritos
de comportamento.

B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento,


interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo
menos dois dos seguintes, atualmente ou pela história:
1. Movimentos motores estereotipados ou repetitivos, uso de
objetos ou fala (por exemplo, estereotipias motoras simples,
brinquedos alinhados ou lançando objetos, ecolalia, frases
idiossincráticas).

10
2. Insistência na mesmice, adesão inflexível às rotinas ou padrões
ritualizados ou comportamento verbal não-verbal (por exemplo,
angústia extrema em pequenas mudanças, dificuldades com
transições, padrões de pensamento rígidos, rituais de saudação,
necessidade de seguir o mesmo caminho ou comer comida todos
os dias).
3. Interesses altamente restritos e fixos que são anormais em
intensidade ou foco (por exemplo, forte apego ou preocupação
com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos
ou perseverativos).
4. Hiper ou hiporreatividade à entrada sensorial ou interesses
incomuns em aspectos sensoriais do ambiente (por exemplo,
indiferença aparente à dor / temperatura, resposta adversa a sons
ou texturas específicos, cheiro ou toque excessivo de objetos,
fascinação visual por luzes ou movimento) .
Especifique a gravidade atual: a gravidade é baseada em
deficiências de comunicação social e padrões de comportamento
repetitivos e restritos.

C. Os sintomas devem estar presentes no início do período


de desenvolvimento (mas podem não se manifestar
completamente até que as demandas sociais excedam as
capacidades limitadas ou podem ser mascarados por
estratégias aprendidas mais tarde na vida).

11
D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no
funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas
importantes do funcionamento atual.

E. Esses distúrbios não são melhor explicados por


deficiência intelectual (transtorno de desenvolvimento
intelectual) ou atraso global de desenvolvimento. A
deficiência intelectual e o transtorno do espectro do autismo
freqüentemente co-ocorrem; para fazer diagnósticos
comórbidos de transtorno do espectro do autismo e
deficiência intelectual, a comunicação social deve estar
abaixo do esperado para o nível de desenvolvimento geral.
Nota: Indivíduos com um diagnóstico DSM-IV bem estabelecido
de transtorno autista, transtorno de Asperger ou transtorno
invasivo do desenvolvimento não especificado de outra forma
devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro do
autismo. Os indivíduos que apresentam déficits marcantes na
comunicação social, mas cujos sintomas não atendem aos
critérios para transtorno do espectro do autismo, devem ser
avaliados para transtorno de comunicação social (pragmático).

Especifique se:

• Com ou sem acompanhante deficiência intelectual


• Com ou sem acompanhante deficiência de linguagem
o (Nota de codificação: Use código adicional para identificar a
condição médica ou genética associada.)

12
• Associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental
ou comportamental
o (Nota de codificação: use código (s) adicional (is) para identificar
o transtorno (s) de desenvolvimento neurológico, mental ou
comportamental associado.)
• Com catatonia
• Associado a uma condição médica ou genética conhecida ou
fator ambiental

Tabela: Níveis de gravidade para transtorno do espectro do autismo


Nível de severidade Comunicação social Comportamentos
restritos e repetitivos
Nível 3 Graves déficits nas habilidades de Inflexibility of behavior, extreme difficulty
"Requer um suporte muito substancial" comunicação social verbal e não verbal coping with change, or other
causam graves prejuízos no restricted/repetitive behaviors markedly
funcionamento, iniciação muito limitada interfere with functioning in all spheres.
de interações sociais e resposta mínima Great distress/difficulty changing focus
às aberturas sociais de outros. Por or action.
exemplo, uma pessoa com poucas
palavras de fala inteligível que
raramente inicia uma interação e,
quando o faz, faz abordagens incomuns
apenas para atender às necessidades e
responde apenas a abordagens sociais
muito diretas.
Nível 2 Déficits marcados nas habilidades de A inflexibilidade de comportamento, a
“Requer suporte substancial” comunicação social verbal e não verbal; dificuldade de lidar com a mudança ou
deficiências sociais aparentes mesmo outros comportamentos restritos /
com apoios no local; iniciação limitada repetitivos aparecem com frequência
de interações sociais; e respostas suficiente para serem óbvios para o
reduzidas ou anormais às aberturas observador casual e interferem no
sociais de outros. Por exemplo, uma funcionamento em uma variedade de
pessoa que fala frases simples, cuja contextos. Angústia e / ou dificuldade em
interação é limitada a interesses mudar o foco ou ação.
especiais estreitos, e como tem
comunicação não verbal marcadamente
estranha.
Nível 1 Sem suportes, os déficits na A inflexibilidade de comportamento
“Requer suporte” comunicação social causam prejuízos causa interferência significativa no
perceptíveis. Dificuldade em iniciar funcionamento em um ou mais
interações sociais e exemplos claros de contextos. Dificuldade em alternar entre
resposta atípica ou malsucedida a atividades. Problemas de organização e
aberturas sociais de outras pessoas. planejamento dificultam..
Pode parecer ter diminuído o interesse
nas interações sociais. Por exemplo,
uma pessoa que é capaz de falar frases
completas e se comunicar, mas cuja
conversa de vaivém com outras pessoas
falha e cujas tentativas de fazer amigos
são estranhas e normalmente
malsucedidas.

13
Transtorno de comunicação
social (pragmática)
Critério de diagnóstico
A. Dificuldades persistentes no uso social da comunicação
verbal e não verbal, manifestada por todos os seguintes:
1. Déficits no uso da comunicação para fins sociais, como
saudação e compartilhamento de informações, de maneira
adequada ao contexto social.
2. Comprometimento da capacidade de mudar a comunicação
para corresponder ao contexto ou às necessidades do ouvinte,
como falar de forma diferente em uma sala de aula e no
parquinho, falar de forma diferente com uma criança e com um
adulto e evitar o uso de linguagem excessivamente formal.
3. Dificuldades em seguir as regras de conversação e narração de
histórias, como alternar na conversa, reformular a frase quando
mal compreendido e saber como usar sinais verbais e não verbais
para regular a interação.
4. Dificuldades para entender o que não está explicitamente
declarado (por exemplo, fazer inferências) e significados não
literais ou ambíguos da linguagem (por exemplo, expressões
idiomáticas, humor, metáforas, significados múltiplos que
dependem do contexto para interpretação).

14
B. Os déficits resultam em limitações funcionais na
comunicação eficaz, participação social, relações sociais,
desempenho acadêmico ou desempenho ocupacional,
individualmente ou em combinação.

C. O início dos sintomas ocorre no início do período de


desenvolvimento (mas os déficits podem não se manifestar
totalmente até que as demandas de comunicação social
excedam as capacidades limitadas).

D. Os sintomas não são atribuíveis a outra condição médica


ou neurológica ou a baixas habilidades nos domínios ou
estrutura de palavras e gramática, e não são melhor
explicados por transtorno do espectro do autismo,
deficiência intelectual (transtorno de desenvolvimento
intelectual), atraso global de desenvolvimento ou outro
distúrbio mental.

Para maiores informações


https://www.autismspeaks.org/dsm-5-and-autism-frequently-
asked-questions

15
Capítulo 2
Como o autismo se tornou
autismo?
e acordo com Bonnie Evans (2013), do King’s College

D London (Reino Unido), o conceito de autismo foi


cunhado em 1911 pelo psiquiatra alemão Eugen Bleuler
para descrever um sintoma dos casos mais graves de
esquizofrenia, um conceito que ele também criou. Segundo
Bleuler, o pensamento autista era caracterizado por desejos
infantis de evitar realidades insatisfatórias e substituí-las por
fantasias e alucinações. "Autismo" definia a "vida interior"
simbólica do sujeito e não era facilmente acessível aos
observadores (Bleuler, 1950 [1911]).

Paul Eugen Bleuler (Zollikon, 30 de abril de 1857 – Zollikon, 15


de julho de 1939) foi um psiquiatra suíço notável pelas suas
contribuições para o entendimento da esquizofrenia, esquizoide
e autismo. Bleuler nasceu em Zollikon, uma pequena cidade
perto de Zurique, na Suíça. Estudou medicina em Zurique e
mais tarde em Paris, Londres e Munique. Retornou a Zurique
para assumir um cargo no Burghölzli, um hospital universitário.
Em 1886 foi nomeado diretor da clínica psiquiátrica de
Rheinau, um hospital localizado em um monastério numa ilha
do Reno. Rheinau era famosa pelo seu atraso e Bleuler
melhorou condições para os pacientes que viviam ali. Retornou
para Burghölzli em 1898 para ser diretor e empregou Carl Jung
como interno.

Psicólogos, psicanalistas e psiquiatras na Grã-Bretanha usaram a


palavra autismo com esse significado ao longo da década de
16
1920 e até a década de 1950 (por exemplo, Piaget, 1923). No
entanto, na década de 1960, muitos psicólogos infantis britânicos
desafiaram as contenções sobre o pensamento infantil assumidas
por Bleuler e criaram novos métodos para validar a psicologia
infantil como uma ciência, em particular estudos epidemiológicos.
‘Autismo’ foi então completamente reformulado como uma nova
categoria descritiva para atender às necessidades deste novo
modelo de desenvolvimento infantil.
De meados da década de 1960 em diante, os psicólogos infantis
usaram a palavra "autismo" para descrever o exato oposto do que
significava até aquele momento. Enquanto "autismo" na década
de 1950 se referia a alucinações e fantasias excessivas em
bebês, "autismo" na década de 1970 se referia a uma completa
falta de uma vida simbólica inconsciente. Por exemplo, Michael
Rutter, um importante pesquisador psiquiátrico infantil do Hospital
Maudsley do Reino Unido que conduziu o primeiro estudo
genético do autismo, afirmou em 1972 que "a criança autista tem
uma deficiência de fantasia em vez de um excesso" (Rutter, 1972
) O significado da palavra autismo foi então radicalmente
reformulado a partir de uma descrição de alguém que fantasiava
excessivamente para alguém que não fantasiava nada.

Sir Michael Llewellyn Rutter (nascido em 15 de agosto de


1933) é a primeira pessoa a ser nomeado professor de
psiquiatria infantil no Reino Unido. Ele foi descrito como o "pai
da psicologia infantil". Atualmente ele é professor de
psicopatologia do desenvolvimento no Institute of Psychiatry,
King's College London e psiquiatra consultor no Maudsley
Hospital, cargo que ocupa desde 1966. Uma pesquisa Review
of General Psychology, publicada em 2002, classificou Rutter
como o 68º mais citado psicólogo do século XX.

17
Este capítulo traça essa transformação radical do conceito de
autismo, explorando as razões por trás da mudança e o impacto
que ela teve nas ciências psicológicas relacionadas a bebês e
crianças. Argumenta que a mudança no significado do autismo foi
parte de uma mudança mais geral no raciocínio psiquiátrico anglo-
americano, que buscou compreender os problemas psicológicos
por meio de estudos epidemiológicos, em vez de casos
individuais. A introdução de modelos classificatórios psiquiátricos
já foi explorada em relação ao Manual Diagnóstico e Estatístico
(DSM), em particular a introdução do DSM-III em 1980. No
entanto, poucas pessoas exploraram isso em relação à psicologia
infantil e psiquiatria. Este capítulo examina a maneira como os
métodos epidemiológicos mudaram e transformaram conceitos
centrais nesses campos, em particular o conceito de autismo.
Argumenta que as práticas diagnósticas exigidas da
epidemiologia psiquiátrica na década de 1960 continuam a
influenciar as teorias e descrições contemporâneas do autismo na
Grã-Bretanha. Tem havido um aumento fenomenal nos
diagnósticos de autismo desde 1960, o que atraiu a atenção de
muitos pesquisadores, desde psiquiatras e cientistas sociais a
analistas literários (por exemplo, Murray, 2008; Nadesan, 2005;
Silverman, 2011). O primeiro estudo epidemiológico do autismo
de Victor Lotter (1966) postulou uma taxa de 4,5 por 10.000
crianças, mas um artigo da Lancet de 2006 afirmou uma taxa de
116,1 por 10.000 crianças no Reino Unido e este número continua
a aumentar (Baird et al., 2006; Baron -Cohen et al., 2009).

18
Gil Eyal et al. (2010) argumentaram que, nos EUA e em muitos
outros países ocidentais, os diagnósticos de autismo aumentaram
depois que as instituições para 'deficientes mentais' foram
fechadas na década de 1960 e as crianças foram integradas em
novos ambientes educacionais e sociais (Eyal et al., 2010).
Mudanças nos métodos de diagnóstico dos anos 1960 aos anos
1980 significaram que o autismo passou a ser associado a
"retardo mental profundo e outros distúrbios físicos ou de
desenvolvimento", aumentando assim o número de crianças
consideradas como apresentando traços autistas (Wing e Potter,
2002).
Isso explica por que as taxas de diagnóstico de autismo não
aumentaram tanto na França, onde não houve grande liberação
de crianças 'retardadas' do confinamento na década de 1960 e
onde crianças com problemas de desenvolvimento continuam
recebendo cuidados residenciais institucionais até os dias de hoje
(Eyal et al., 2010). Outra razão pela qual os diagnósticos de
autismo aumentaram na Grã-Bretanha e em outros lugares é
porque o fechamento de instituições para crianças com "retardo
mental" levou os pais a fazerem campanha para um melhor
diagnóstico e reconhecimento dos problemas de seus filhos.
Grupos de pressão como a Sociedade para Crianças Autistas do
Reino Unido (fundada em Londres, 1962) trabalharam
arduamente para garantir que novos métodos de tratamento
fossem desenvolvidos para permitir que seus filhos se ajustassem
aos novos papéis sociais que estavam sendo forçados a adotar.
Isso levou a um crescimento de novos métodos de tratamento

19
comportamental, bem como a uma reação massiva contra os
estilos psicanalíticos de raciocínio.
O recente livro de Chloe Silverman, Understanding Autism,
explorou essa história nos Estados Unidos, detalhando o trabalho
de Bruno Bettelheim e outros que trabalhavam na Universidade
de Chicago, bem como os pais que os desafiaram, como Bernard
Rimland e Rosalind Oppenheim. O trabalho de Silverman mostra
como os pais têm, desde então, defendido ativamente novas
terapias e financiado novas pesquisas sobre a doença, incluindo
estudos genéticos e ambientais (Silverman, 2011). O fechamento
de instituições para "deficientes mentais" e o crescimento de
grupos de defesa dos pais ajudam a explicar o aumento dos
casos de autismo desde a década de 1960. No entanto, é
importante posicionar essas mudanças em relação a mudanças
mais amplas nas disciplinas de psiquiatria infantil, psicologia e
psicanálise. Os estudos epidemiológicos em psiquiatria infantil
experimentaram um período de expansão na Grã-Bretanha dos
anos 1960, na esteira da Lei de Saúde Mental de 1959. O autismo
sempre foi central para o estudo da psicopatologia infantil na Grã-
Bretanha, e a introdução de estudos epidemiológicos forneceu ao
conceito uma nova estrutura na qual, desde então, floresceu.
"Autismo" se apropriou de novos significados e isso significa que
passou a ser mais facilmente diagnosticado em crianças que
anteriormente não teriam sido consideradas como apresentando
essa anormalidade de pensamento particular.

20
Psicologia infantil e psiquiatria na
Grã-Bretanha e a introdução do
autismo antes de 1959
Como Gillian Sutherland, Deborah Thom, Nikolas Rose e outros
documentaram, as décadas de 1920 e 1930 na Grã-Bretanha
testemunharam uma vasta expansão dos serviços
governamentais e de caridade para atender aos problemas
psicológicos das crianças (Rose, 1985; Sutherland e Sharp, 1984;
Thom, 1992). Em 1913, a Lei de Deficiência Mental foi aprovada
na Inglaterra e no País de Gales, que garantiu cuidados
institucionais para todas as crianças identificadas como
"deficientes mentais". No mesmo ano, Cyril Burt foi nomeado o
primeiro psicólogo oficial do governo no Reino Unido com a tarefa
de avaliar os níveis de distúrbios psicológicos na população
infantil. Ele trabalhou com centros de bem-estar infantil, oficiais de
inspeção médica escolar e escolas reformatórios e industriais
para fazer isso (Evans et al., 2008).
No final da década de 1920, o Commonwealth Fund, um órgão
filantrópico americano, começou a fornecer fundos com o objetivo
de melhorar os serviços de orientação infantil na Grã-Bretanha
(Thom, 1992). As clínicas de orientação para a primeira infância
foram utilizadas para direcionar as práticas de educação infantil e
orientar o comportamento das crianças problemáticas (Jones,
1999). A expansão dos serviços psicológicos ofereceu
oportunidades crescentes para que os profissionais de psicologia

21
infantil observassem e avaliassem bebês e crianças. Foi neste
contexto que os termos "autista", "esquizofrênico" e "psicótico"
foram introduzidos na linguagem dos profissionais de psicologia
infantil, a fim de descrever seus sujeitos infantis. Estas foram
associadas a um discurso crescente relacionado ao
desenvolvimento da subjetividade de bebês e crianças. O início
do século 20 testemunhou especulações crescentes sobre a
natureza dos processos de pensamento infantis e inconscientes e
seu papel em causar doenças mentais. Bleuler, Sigmund Freud,
Carl Jung e Pierre Janet foram todos pensadores importantes
neste período, que procuraram desenterrar as forças subjacentes
à doença psicológica nos pensamentos, experiências e traumas
da infância (Ellenberger, 1970).
Muito desse trabalho foi realizado prontamente por uma nova
geração de profissionais de psicologia infantil na Grã-Bretanha,
como Susan Isaacs (1943), Melanie Klein (1929,1930) e Mildred
Creak (1961,1964). Quando Bleuler cunhou o termo "autismo" em
1911, ele atribuiu suas raízes etimológicas a Freud e, em última
instância, a Havelock Ellis, por meio do termo "autoerotismo"
(McGuire, 1974). Freud havia usado essa palavra em 1905 para
descrever o pensamento alucinatório em conjunto com a
autoalimentação em um estágio de pensamento que precedeu o
envolvimento do bebê com a realidade externa (Freud, 2001
[1905]). Bleuler ([1911]. 1950) também argumentou que o
conceito de autismo foi um refinamento da perte de la fonction du
re´el de Janet. Em 1903, Janet e Raymond (1903) explicaram a
função da realidade como uma síntese de todas as funções

22
psicológicas, desde funções automáticas no nível do sistema
nervoso até pensamentos e ações complexas. Se o sistema
nervoso estivesse fraco, a tensão psicológica cairia e o indivíduo
perderia a capacidade de sintetizar essas funções complexas e
também perderia o senso de realidade (Janet e Raymond, 1903).
Ele ou ela então voltaria a uma forma de pensamento que
precedeu a capacidade do indivíduo de conceituar o sentido do
self.
Embora a descrição de Bleuler da esquizofrenia cobrisse mais do
que apenas autismo - em particular, distúrbios de atenção,
vontade e intelecto - o conceito foi crucial para sua descrição da
falta de contato do esquizofrênico com a realidade. De acordo
com Bleuler, quando os esquizofrênicos tentavam conduzir
operações lógicas no pensamento, eles eram incapazes de
recorrer a todas as associações apropriadas na mente, levando
assim a um senso de realidade insatisfatório. Eles, portanto,
substituíram essa realidade insatisfatória por fantasias que
satisfaziam mais prontamente suas necessidades afetivas. Ao
bloquear os estímulos perceptivo-sensoriais do mundo exterior, o
pensamento autista passou a obedecer às suas próprias leis
especiais, que não eram mais regidas pelas regras da lógica
(Bleuler, 1950 [1911]). Foi o pensamento que ocorreu "em
símbolos, em analogias, em conceitos fragmentários, em
conexões acidentais", e foi a fonte tanto de ilusão quanto de
"ofensas grosseiras contra a lógica e a propriedade". Embora o
autismo fosse patológico dentro da esquizofrenia, Bleuler sempre
o considerou meramente "um exagero de um fenômeno

23
fisiológico" que estava presente em todos os humanos e que se
manifestava em fantasias e desejos normais. Bleuler (1950
[1911]) argumentou que o senso de realidade se perdia nos
esquizofrênicos apenas em relação a questões que ameaçavam
contradizer seus complexos, um conceito que foi originalmente
desenvolvido por Jung, que alegou ser análogo ao que Janet
chamou de ide ´e fixe subconsciente (Ellenberger, 1970;
Moskowitz, 2005). Mais tarde, Freud expandiu a maneira pela
qual o pensamento auto-erótico e, o que ele chamou de
narcisismo primário, foram transformados por meio do início do
complexo de Édipo.
O interesse de Bleuler, Freud e Janet nos sintomas de autismo e
autoerotismo em adultos foi compartilhado por muitos outros
alienistas franceses que se referiram a aspectos do autismo como
'autofilia, egocentrismo, ego-hipertrofia e aumento do senso de la
personnalite' (Bleuler , 1950 [1911]). Alguns escritores franceses,
como Henri Claude do Hoˆpital Sainte-Anne em Paris, criticaram a
associação direta de Bleuler entre o pensamento autista e a perda
do senso de realidade (Claude et al., 1924). No entanto,
pesquisadores britânicos como Creak, Klein e Isaacs seguiram
Freud e Bleuler ao vincular o pensamento autista e auto-erótico
ao pensamento alucinatório. Eles também se basearam
substancialmente no trabalho de Jean Piaget ao fazer essas
afirmações.

24
Em 1922, Piaget apresentou um artigo na Conferência Internacional de Psicanálise de
Berlim, intitulado 'La pensée symbolique et la pensée de l'enfant', onde expôs suas
teorias sobre a maneira como as crianças desenvolviam uma relação com a realidade
por meio de suas interações cotidianas com pessoas e objetos (Chapman, 1988). Com
base em Bleuler e Freud, ele afirmou que os estágios pré-verbais do pensamento das
crianças podem ser descritos como "autistas" ou "simbólicos". Durante esta fase do
pensamento, as crianças não podiam seguir regras lógicas e não pensavam
conceitualmente e havia uma predominância de imagens visuais em suas mentes
(Piaget, 1923). Esses processos de pensamento diminuíram à medida que o bebê se
tornou mais consciente dos objetos concretos e da realidade que o cercava. Piaget
traçou analogias diretas entre o pensamento infantil e o simbolismo inconsciente,
conforme descrito na teoria psicanalítica (Vidal, 1994). Ele afirmou que o pensamento
"autista" e "simbólico" eram ambos caracterizados por três características distintas, a
saber, "ausência de suíte lógica, predominância de l'image sur le conceito, et
inconscience des connexions qui relient les images entre elles sucessivos" [an ausência
de lógica, uma predominância de imagens visuais sobre o pensamento conceitual, e
nenhuma consciência das conexões que podem ser feitas entre as percepções visuais]
(Piaget, 1923). Piaget também vincula o conceito de autismo diretamente às
progressivas da criança de se envolver com a realidade (Vidal, 1994). Ele desenvolver
testes psicológicos que medem a percepção e a autoconsciência das crianças. Em sua
publicação de 1929, The Child’s Perception of the World, ele relatou os resultados dos
testes em que questionou as crianças sobre suas crenças sobre o mundo físico e
argumentou que seu pensamento se desvenda da imaginação mágica primitiva ao
raciocínio lógico. Chamando a atenção para o trabalho de Freud sobre economia
mental, ele argumentou que, quando os adultos pensavam simbolicamente, eles
"condensavam" conceitos e "deslocavam" uma imagem ou conceito para outro porque
experimentaram uma reversão para o pensamento autista primário, no qual nenhuma
distinção foi feita entre os vários estímulos externos que bombardeavam o bebê em sua
vida diária (Piaget, 1923).

Na Grã-Bretanha, os profissionais de psicologia infantil


introduziram essas teorias nas décadas de 1920 e 1930. O
trabalho de Freud já havia desenvolvido um outlet na British
PsychoAnalytical Society, fundada por Ernest Jones em Londres
em 1913. Melanie Klein, uma e´migre´e vienense e analista infantil
que ingressou na sociedade em 1926, foi extremamente influente
no tratamento psicológico de crianças na Grã-Bretanha (Steiner,
1991). Em 1929, Klein publicou um artigo sobre a personificação
nas brincadeiras de crianças em que argumentava que, se a
realização do desejo instintivo dominasse o reconhecimento da

25
realidade pela criança, então a criança poderia ser descrita como
experimentando um tipo de "psicose" (Klein, 1929), um termo que
Freud usara em 1894 para descrever 'confusão alucinatória'
(Freud, 2001 [1894]). Em 1930, ela argumentou que a
esquizofrenia e a psicose deveriam ser diagnosticadas com mais
frequência em crianças, pois isso ajudaria os psicólogos infantis a
compreender o pensamento infantil e suas patologias extremas
(Klein, 1930).
Susan Isaacs apoiou as ideias de Klein sobre a importância de
descrever alucinações e fantasias dentro do pensamento infantil e
também adotou as teorias de Piaget sobre o desenvolvimento
infantil. Isaacs também foi uma figura influente na psicologia
infantil na Grã-Bretanha, tendo supervisionado os alunos de
psicologia avançada de Burt na University College London e
lecionando amplamente sobre psicologia e psicanálise antes de
ser nomeado chefe do Departamento de Desenvolvimento Infantil
do Instituto de Educação da Universidade de Londres em 1933 .

Susan Sutherland Isaacs, (nascida Fairhurst; 24 de maio de


1885 - 12 de outubro de 1948; também conhecida como Ursula
Wise) foi uma psicóloga educacional e psicanalista nascida em
Lancashire. Publicou estudos sobre o desenvolvimento
intelectual e social de crianças e promoveu o movimento de
creches. Para Isaacs, a melhor maneira de as crianças
aprenderem era desenvolvendo sua independência. Ela
acreditava que a maneira mais eficaz de conseguir isso era
brincando e que o papel dos adultos e dos primeiros
educadores era orientar as brincadeiras das crianças.

De acordo com Bonnie Evans (2013), do King’s College London,


Reino Unido, ela atuou no conselho editorial do British Journal of

26
Educational Psychology e do British Journal of Medical
Psychology (Sayers, 2001). Além disso, ela teve grande influência
na orientação das políticas governamentais sobre cuidados
infantis e educação; por exemplo, dando depoimento ao Comitê
Hadow de Escolas Infantis e Infantis em 1933 e, mais tarde, ao
Comitê de Cuidado de Crianças em 1945 (Wooldridge, 1994).
Mildred Creak foi outro importante profissional britânico de
psicologia infantil que procurou desenvolver ideias sobre
psicopatologia grave e alucinação na infância. Ela se formou em
medicina no University College Hospital, em Londres, e foi
nomeada chefe da psiquiatria infantil no Maudsley Hospital em
1931.

Eleanor Mildred Creak (1 de agosto de 1898 - 25 de agosto


de 1993) foi uma psiquiatra infantil inglesa conhecida por seu
trabalho com autismo e transtornos mentais orgânicos. Ela
começou sua carreira no Hospital Maudsley e mais tarde
chefiou o departamento psiquiátrico do Hospital Great Ormond
Street.

Escrevendo em 1937, ela argumentou que embora 'os processos


normais de pensamento, em uma idade precoce, recapitulem
aquelas formas primitivas e arcaicas tão freqüentemente vistas
em esquizofrênicos', a esquizofrenia infantil deveria ser
conceituada como uma 'reação' que perturbava o
desenvolvimento normal do pensamento infantil levando a
problemas na formação do intelecto e coordenação motora. Ela
afirmou que em crianças esquizofrênicas, pode-se observar uma
"tendência à fragmentação e interrupção nos processos de

27
pensamento", bem como "pensamento desereístico" (“dereistic
thinking”), que Bleuler usou como sinônimo de pensamento
autista.

O pensamento desereísta ou desereístico é um termo


descritivo antigo usado para se referir a pensar que não está
de acordo com os fatos da realidade e da experiência e que
segue um raciocínio idiossincrático e ilógico.

Seu estudo de 1937 foi o primeiro a apresentar longas descrições


de crianças pré-púberes que desenvolveram o que ela entendeu
como uma "reação esquizofrênica". Junto com Klein e Isaacs, ela
abriu o caminho para discussões mais detalhadas sobre a
maneira como a psicopatologia severa deve ser conceituada em
bebês e crianças.
A Segunda Guerra Mundial aumentou as oportunidades para
psicólogos infantis de estudar os problemas psicológicos de
bebês e crianças. Na Grã-Bretanha, mais de 1 milhão de crianças
desacompanhadas foram evacuadas das cidades e muitos
psicólogos e psicanalistas de destaque, incluindo Klein, Isaacs e
John Bowlby, estabeleceram a pesquisa de evacuação de
Cambridge para estudar os efeitos de tais mudanças ambientais
importantes (B. Harris, 1995; Rose, 1999). Ao mesmo tempo,
Anna Freud estabeleceu creches em tempo de guerra em Londres
para crianças que não podiam ser evacuadas (Burlingham e
Freud, 1943). Klein, Isaacs, Bowlby e Anna Freud empregaram
teorias de processos inconscientes para explicar o pensamento
patológico nos bebês que observaram. Era amplamente
considerado que a "privação materna" poderia ajudar a explicar

28
por que algumas crianças desenvolveram padrões de
pensamento patológicos e outras não. No início da década de
1940, nos Estados Unidos, Lauretta Bender do Bellevue Hospital,
de Nova York, e William Goldfarb do Ittleson Center for Child
Research, de Nova York, conduziram estudos sobre privação
materna que ecoaram os estudos sobre crianças evacuadas no
Reino Unido.
Todos esses estudos tiraram conclusões semelhantes. Como
disse Bowlby, "com regularidade monótona, cada um aponta a
incapacidade da criança de formar relacionamentos como sendo a
característica central a partir da qual todas as outras perturbações
surgiram" (Bowlby, 1951). Foi dito que isso afetava a capacidade
da criança de conceituar, bem como sua inteligência e capacidade
de relacionamento. Bowlby e Bender, em particular, pensaram
que esses distúrbios afetavam os processos mentais
inconscientes dessas crianças, fazendo com que se retirassem do
mundo exterior.
De acordo com Bonnie Evans (2013), no início dos anos 1940,
surgiram grandes divergências sobre como, exatamente, os
primeiros relacionamentos do bebê afetaram seus processos de
pensamento para causar psicopatologia. Klein e seus apoiadores
alegaram que haviam encontrado evidências de respostas
subjetivas aos instintos em bebês que pressupunham a existência
de mecanismos mentais complexos que podiam controlar,
redirecionar e reprimir impulsos instintuais inconscientes desde os
primeiros momentos de vida. No início de 1943, Susan Isaacs
descreveu em detalhes sua tese de que as crianças

29
experimentavam "fantasias" em relação às suas primeiras
experiências que as levaram a reprimir ou desviar as forças e
impulsos internos que poderiam manifestar problemas na vida
adulta. Isaacs afirmava que, a partir do momento em que um bebê
experimentava uma necessidade instintiva, ele também tinha a
capacidade de fantasiar sobre essa necessidade e imaginar a
direção que ela poderia tomar. Como disse Isaacs, "a fantasia é o
corolário mental, o representante psíquico do instinto". Isaacs
argumentou que "cada impulso, cada sentimento, cada modo de
defesa é expresso e experimentado em tal fantasia específica,
que lhe dá vida mental e mostra sua direção e propósito
específicos" (Isaacs, 1991 [1943]).
As fantasias podem estar associadas a instintos ou impulsos
libidinais, bem como a instintos e impulsos destrutivos. Usando
uma linguagem evocativa, Isaacs afirmou que se a criança
estivesse sentindo 'desejos por sua mãe', ele os experimentaria
como 'Eu quero chupar o mamilo, acariciar seu rosto, comê-la,
mantê-la dentro de mim, morder o seio, para despedaçá-la, afogá-
la e queimá-la, para expulsá-la de mim '(Isaacs, 1991 [1943]). Os
bebês também eram considerados capazes de alterar e proibir
seus desejos inconscientes (Heimann, 1991 [1943]). Nesse
modelo, foi possível compreender como os bebês podiam
empregar as alucinações de forma patológica, o que os impedia
de desenvolver uma relação satisfatória com a realidade. Em
outras palavras, de acordo com Klein e Isaacs, bebês nunca
foram totalmente "autoeróticos" ou "autistas" e, portanto, algumas
formas de alucinação, mesmo em bebês, podem afetar seus

30
relacionamentos com outras pessoas. A psicopatologia poderia,
assim, ser criada, por meio dos relacionamentos, em bebês desde
os primeiros momentos de vida. Os críticos dos analistas
kleinianos argumentaram que eles estavam atribuindo processos
psíquicos avançados aos bebês sem fornecer evidências e
explicações completas para essas afirmações.
Anna Freud argumentou que após o nascimento de um bebê,
houve um período de aproximadamente 6 meses em que a
criança era inerentemente "narcisista e autoerótica". Durante esta
fase, o objetivo de um instinto era fundamental, mas o objeto
desse instinto foi "apenas vagamente levado em consideração".
Neste estado, "a satisfação conta para tudo e os objetos não
contam para nada". A criança não tinha consciência dos efeitos
de suas ações sobre os outros, não tinha sentimento de culpa ou
ansiedade por suas ações e nenhuma sensação de perda (Freud
em King e Steiner, 1991). A posição de Anna Freud era que
fatores e relações ambientais podem afetar uma criança para
causar psicopatologia e reversão apenas a partir dos 6 meses de
idade. Embora o conceito preciso de "autismo" raramente seja
mencionado nessas discussões, os conceitos descritivos de
"autoerotismo" e "narcisismo primário", um termo que foi
desenvolvido por Sigmund Freud como uma resposta ao conceito
de autismo de Bleuler, foram discutidos com frequência. Essas
discussões sobre se, e com que idade, alguém poderia atribuir
desejos e pensamentos aos bebês nunca foram concluídas. No
entanto, eles continuaram a existir como problemas conceituais
importantes na psicologia infantil, porque diziam respeito às

31
origens do pensamento relacional. Cyril Burt e outros psicólogos
educacionais na década de 1940 também debateram como
atribuir a atividade mental e pensamentos aos bebês, entrando
em choque dramaticamente com behavioristas como JB Watson,
que argumentou que não era a vocação dos psicólogos descrever
os pensamentos que eles imaginavam que os bebês tivessem
(Watson, 1925; Burt, 1941).
Enquanto essas controvérsias ainda grassavam na Grã-Bretanha,
Leo Kanner, do Johns Hopkins University Hospital, em Baltimore,
afirmou que havia identificado um distúrbio psicológico único em
crianças caracterizado por "autismo extremo, obsessão,
estereotipia e ecolalia".

Leo Kanner (Klekotow, 13 de junho de 1894 - 4 de abril de


1981) foi um psiquiatra austríaco radicado nos Estados Unidos.
Leo Kanner entrou para a universidade em 1913. Após um
período servindo no Exército Austríaco, durante a I Guerra
Mundial, reassumiu os estudos, obtendo seu diploma de
Medicina em 1921. Trabalhava na Charité (Escola de Medicina
e Hospital da Universidade de Humboldt) quando um médico
norte-americano que cursava a pós-graduação em Berlim o
convenceu a se mudar para os Estados Unidos. Em 1924,
Kanner assumiu uma vaga de médico assitente no State
Hospital em Yakton, Dakota do Sul. Especializou por seu
próprio esforço em psiquiatria pediátrica, tendo estudado por
seus próprios meios. Em 1930, pouco depois de ter se mudado
para a Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, foi
selecionado pelos diretores de psiquiatria e de pediatria da
instituição para desenvolver o primeiro serviço de psiquiatria
infantil em um hospital pediátrico. Kanner se tornou professor
associado de psiquiatria da Johns Hopkins Hospital em 1953
mas apenas em 1957 foi elevado a professor de psiquiatria
infantil. Leo Kanner permaneceu como diretor de Psiquiatria
Infantil na Johns Hopkins até se aposentar, em 1959, mas
continuou em atividade até sua morte, aos 87 anos. Em 1943
publicou a obra que associou seu nome ao autismo: "Autistic
disturbances of affective contact", na revista Nervous Children,
número 2, páginas 217-250. Nela, descreveu os casos de onze
crianças que tinham em comum "um isolamento extremo desde
o início da vida e um desejo obsessivo pela preservação da
mesmice", denominando-as de "autistas". Leo Kanner cunhou,

32
em 1949, o termo mãe-geladeira referindo-se às mães de
crianças autistas.

Ele se referiu a isso como "distúrbios autistas inatos de contato


afetivo", alegando que os sintomas colocaram "o quadro total em
relação com alguns dos fenômenos esquizofrênicos básicos". Ao
contrário de Klein e Isaacs, Kanner era reservado na atribuição de
processos de pensamento inconscientes e uma vida simbólica
aos bebês. Em vez disso, ele descreveu uma lista de casos nos
quais havia observado sintomatologia semelhante. Os filhos de
Kanner foram descritos como tendo uma "boa relação com os
objetos", em particular aqueles "que não mudam sua aparência e
posição, que mantêm sua mesmice e nunca ameaçam interferir
na solidão da criança". Por outro lado, a relação das crianças com
as pessoas era "totalmente diferente" e Kanner descreveu casos
em que as crianças mal percebiam quando outras pessoas
entravam em uma sala. Ele também observou que essas crianças
tendiam a usar a linguagem de uma maneira muito literal e que
não se relacionavam fisicamente com outras pessoas (Kanner,
1943).

Distúrbios autísticos de contato afetivo ("Autistic Disturbances of Affective


Contact", 1943)
Publicado na revista Nervous Child, "Autistic Disturbances of Affective Contact" foi um
dos artigos mais citados sobre autismo no século XX. Em seu artigo de referência,
Kanner usou o termo "autismo", que Eugen Bleuler anteriormente atribuiu aos sintomas
introspectivos internos típicos em pacientes adultos com esquizofrenia, e rotulou as
onze crianças em seu estudo como tendo "autismo infantil". No entanto, em vez de
relacionar suas observações às qualidades e sintomas vistos em adultos
esquizofrênicos, Kanner classificou sua descrição de "autismo" como independente do
transtorno psicótico, explicando como o autismo não era um precursor da esquizofrenia,
e que os sintomas do primeiro parecia evidente e presente ao nascimento. Um trabalho
significativo, este artigo sobre a "Síndrome de Kanner" formou a base para pesquisas
posteriores conduzidas por Kanner e outros sobre o que mais tarde ficou conhecido
como autismo infantil.

33
A partir de 1938, Kanner começou a estudar um grupo de onze crianças (oito meninos e
três meninas) que vinham vê-lo em sua clínica no Hospital Johns Hopkins. Para cada
um dos casos, Kanner fornece um relato detalhado dos sintomas, saúde, resultados de
testes diagnósticos, histórico familiar e futuro desenvolvimento e progressão das
crianças. Somando-se às suas próprias observações, Kanner contextualizou ainda mais
a vida de seus pacientes, incluindo entradas tipicamente epistolar de membros da
família e outros indivíduos com quem as crianças interagiam. Geralmente, todas as
crianças compartilhavam certos sintomas e vinham de origens socioeconômicas e
culturais semelhantes (todas, exceto duas das famílias, eram de ascendência anglo-
saxônica). A seguir estão resumos de cada um dos onze casos:
1. Donald T .: Nascido em 8 de setembro de 1933, Donald Triplett foi visto pela primeira
vez em outubro de 1938, quando tinha cinco anos. Ao nascer, Donald era saudável,
tendo como única complicação a alimentação, o que, segundo um relato de seu pai,
"sempre foi um problema para ele. Ele nunca mostrou um apetite normal". Desde muito
cedo, Donald demonstrou "uma memória incomum para rosto e nomes" e "conseguia
cantarolar e cantar muitas músicas com precisão", sendo capaz de memorizar frases
que rimavam ou eram de natureza semelhante. Os pais de Donald observaram que "ele
ficava mais feliz quando ficava sozinho", não prestando muita atenção a ninguém na
sala nem reagindo à ausência ou retorno de sua mãe ou pai. O que o divertia era girar
objetos em volta, como panelas e blocos giratórios, mas ele tinha medo de "veículos
automotores", como triciclos e balanços. Donald entrou em erupção em ataques de
raiva destrutivos e terríveis quando foi perturbado. Em seu primeiro encontro com
Kanner, Donald foi observado balançando a cabeça de um lado para o outro, repetindo
a mesma melodia de três notas, girando tudo o que podia em suas mãos e organizando
objetos por cor, para sua própria alegria. A maioria de suas ações eram repetitivas,
"realizadas exatamente da mesma maneira que foram realizadas originalmente".
Freqüentemente, ele pronunciava palavras ou frases aleatórias, e isso formava grande
parte de sua produção verbal e fala. Outro problema que Donald tinha com a linguagem
era sua compreensão do significado das palavras. As palavras tinham um "significado
literal e inflexível" para Donald, e ele era incapaz de reconhecer e aplicar a denotação
de uma palavra a outro contexto; cada palavra tinha uma definição e associação
definidas e designadas em sua mente. Na maior parte, as conversas com Donald
consistiam em uma enxurrada de perguntas. Por fim, Kanner observou que o
relacionamento que Donald tinha com os outros era da natureza de quando ele
precisava ou queria saber de algo.
2. Frederick W .: Filho único de dois graduados universitários, Frederick nasceu em 23
de maio de 1936 em posição culatra e foi encaminhado para ver Kanner em 1942 aos
seis anos de idade. Descrito como "autossuficiente", Frederico era capaz de se divertir
com alegria e era facilmente absorvido por objetos, demonstrando "boa atenção e
perseverança" ao brincar com brinquedos. Por sua vez, ele prestava pouca atenção às
outras pessoas, vendo-as como "intrusos indesejáveis", ignorando-as tanto quanto
possível para manter sua atenção em seus brinquedos. Além disso, Frederick temia
objetos mecânicos, como aspiradores de pó e batedores de ovos, até mesmo fugir ao
ver ou ouvir as coisas. Semelhante a Donald, Frederick gostava de um estilo de vida
organizado, no qual tudo deveria ser colocado e organizado da mesma maneira e
padrão. Frederick tinha interações verbais limitadas, ejaculando sons ininteligíveis e
respondendo a comandos "no estilo ecolalia", mas era capaz de cantar de vinte a trinta
canções, incluindo uma canção de ninar francesa. Devido à falta de cooperação durante
os testes de diagnóstico da escala de desempenho de Grace Arthur, os resultados de
Frederick foram difíceis de avaliar. Ele teve o melhor desempenho na placa de
formulário Seguin, que consistia em inserir objetos de formas variadas de volta em seus
respectivos orifícios de forma em uma placa, com um melhor tempo de 58 segundos. No
teste de égua e potro, parecia que ele colocava as peças nos locais apropriados com
base em sua configuração, pois não importava para ele se as peças estavam com o
34
lado certo para cima ou não. Durante os testes do formulário, ele estava muito
concentrado e determinado, trabalhando neles de maneira interessada, mas entre os
testes, ele vagava pela sala examinando vários objetos, sem prestar atenção nas
pessoas presentes.
3. Richard M .: Originalmente, Richard foi encaminhado ao Hospital Johns Hopkins aos
três anos de idade por suspeita de que era surdo porque não falava e não respondia às
perguntas. Nascido em 17 de novembro de 1937, Richard era relativamente saudável e
se desenvolveu de maneira normal, mas sua mãe observou que, ao comparar Richard
com seu filho mais novo, o filho mais velho falhou em mostrar qualquer "sinal
fisionômico ou postural de preparação" ao ser pego . Foi observado pela primeira vez na
clínica que Richard parecia bastante inteligente, "brincando com os brinquedos em sua
cama e sendo adequadamente curioso sobre os instrumentos usados no exame". Como
os outros pacientes, ele foi descrito como autossuficiente. Richard estava
profundamente concentrado em brincadeiras ativas com brinquedos e não se importava
com as pessoas na sala. Ocasionalmente, ele olhava para as paredes, sorria e dizia
"Ee! Ee! Ee!" sons. Observou-se que Richard "teve um bom desempenho com a placa
não girada, mas não com a placa girada". Nas duas vezes subsequentes em que foi
visto por Kanner, Richard prestou pouca atenção àqueles em sua presença, começou a
se preocupar quando algo estava desagradável com ele ou quando ele queria algo, e
consistentemente acendeu e apagou as luzes dos quartos assim que ele entrou isto. Por
fim, sua mãe o mandou para um lar adotivo para uma mulher que era conhecida por ter
um "talento notável para lidar com crianças difíceis" e, durante sua estada, ela o ouviu
dizer suas primeiras palavras inteligíveis, "Boa noite".
4. Paul G .: Visto como debilitado como resultado de sua "fala incoerente, incapacidade
de se conformar e reação com explosões de raiva a qualquer interferência", Paul foi
encaminhado para ver Kanner quando ele tinha cinco anos de idade. Paul foi notado por
ter boa destreza manual ao executar tarefas. Raramente, ele respondia quando falado,
mesmo quando diretamente dirigido, embora um enérgico "Não!" fez com que ele
interrompesse o que estava fazendo no momento. Havia uma diferença distinta na
maneira como ele interagia com pessoas e objetos; ao entrar em uma sala, Paulo ia
diretamente atrás dos objetos, usando-os corretamente e tratando-os com atenção
especial, ao passo que desconsiderava as pessoas, comportando-se como se elas não
estivessem ali. Em termos de fala, Paulo normalmente pronunciava palavras ou frases
que estavam diretamente relacionadas com o que ele estava fazendo no momento, mas
às vezes ele ejaculava declarações aleatórias não relacionadas à situação imediata.
Paulo enunciava claramente, tinha um bom vocabulário e tinha uma compreensão
satisfatória da construção e sintaxe da frase, com a exceção significativa do fato de não
usar o pronome da primeira pessoa nem seu próprio nome ao se dirigir a si mesmo.
Sempre que fazia afirmações relativas a si mesmo, referia-se a si mesmo na segunda
pessoa como reiterações literais de afirmações ditas a ele no passado. Embora nenhum
teste formal tenha sido realizado, Kanner concluiu que Paul claramente não era débil,
dada sua inteligência.
5. Barbara K .: Nascida normalmente em 30 de outubro de 1933, Barbara veio para a
clínica com oito anos de idade. A expressão verbal era limitada, pois ela tinha
dificuldades com dicção e sintaxe, mas tinha a capacidade fenomenal de soletrar, ler e
escrever. Comum com as outras crianças, ela era repetitiva e obsessiva quanto à ordem
e colocação de objetos e frases. Bárbara era muito tímida e tinha medo de coisas que
mudassem, como o vento e animais grandes. Quando solicitada, ela apertava as mãos
e cumprimentava outras pessoas com fraqueza, demonstrando falta de contato afetivo.
Durante a bateria de testes, ela não estava absorta porque parecia que o "conceito de
teste, ou compartilhar uma experiência ou situação, parecia estranho para ela". No teste
de Binet, ela leu de forma excelente, terminando a história do incêndio de Binet de dez
anos em 33 segundos sem erros, mas quando solicitada a relembrar qualquer coisa da
história que leu, Bárbara não conseguiu reproduzir nada de sua memória. Depois de
35
repetidas perguntas ou comandos, ela obedeceu quase imediatamente. Bárbara
frequentemente se referia a "transportes motorizados" e "nas costas" e era fascinada
por apêndices, como pêndulos e chaminés.
6. Virginia S .: A partir de um relato de outra psicóloga, Virginia foi registrada como
sendo distinta das outras crianças na escola de treinamento que ela frequentou porque
ela era limpa e arrumada, não interagia e brincava com os outros alunos e não era
surda, mas não falou. Em vez disso, ela passava muito tempo se divertindo em sua
própria empresa, montando quebra-cabeças de imagens. Notavelmente, seu irmão mais
velho comentou sobre a natureza fria de sua vida familiar, descrevendo que ele e
Virginia viviam em "uma atmosfera gelada" com dois estranhos inacessíveis para os
pais, pois ambos não contribuíam muito para criar os filhos. Quando vista em outubro de
1942, Virginia ficou "apática, olhando para o espaço" e às vezes respondia às perguntas
murmurando "Mamãe, baby". Parecendo egocêntrica, Virginia não interagiu com as
outras crianças agrupadas ao redor do piano, aparentemente sem notar o que estava
acontecendo. Kanner mencionou que ela tinha "uma fisionomia inteligente", mas seus
olhos não tinham expressão.
7. Herbert B .: Provavelmente surdo e com deficiência intelectual devido à sua
incapacidade de interagir com outras pessoas, Herbert nasceu em 16 de novembro de
1937. Herbert ficou terrivelmente assustado com muitos objetos e dispositivos
mecânicos, como água corrente e queimadores de gás , e ficava chateado quando
alguma alteração era feita em sua rotina ou padrões habituais. Em sua primeira visita,
ele foi observado como muito inteligente e com boa coordenação motora.
Completamente absorvido em tudo o que fazia, Herbert conseguia se distrair com
grande dificuldade de suas tarefas escolhidas por si mesmo e, quando interferia, ficava
irritado por empurrar intrusos ou gritar. Em visitas posteriores, ele continuou a não se
comunicar verbalmente e entrou na sala sem prestar atenção às pessoas presentes.
Nunca visto sorrindo, Herbert ocasionalmente produzia sons ininteligíveis de uma
"maneira monótona de cantoria cantada".
8. Alfred L .: Notado por sua mãe por desenvolver um interesse especializado que
consumiria seu dia inteiro e por preferir ser um "lobo solitário", Alfred nasceu em maio
de 1932 e foi levado para ver Kanner aos três anos e meio de idade. Entrando no
escritório, ele não prestou atenção ao examinador, ao invés disso foi imediatamente
para os brinquedos da sala e se deixou levar por brincar com o trem de brinquedo. Um
teste de Binet foi tentado em Alfred, e foi inicialmente difícil, mas ele finalmente
concordou de uma maneira que Kanner avaliou como indicativa de Alfred querer
continuar com a intrusão; ele alcançou um I.Q. de 140. Mais tarde, ele começou a
brincar com crianças mais novas do que ele, mas continuou totalmente imerso em suas
brincadeiras e com medo de sons mecânicos. Em termos de fala, ele era muito
específico com sua definição de termos e muitas vezes se confundia com o significado
das palavras.
9. Charles N .: Charles foi levado à clínica em 2 de fevereiro de 1943 aos quatro anos e
meio de idade. Ao entrar na sala de exames, não prestou atenção às pessoas
presentes. No tabuleiro de forma Seguin, ele se interessou pelo nome de cada uma das
peças antes de colocá-las nos buracos apropriados. Em um padrão repetitivo, ele girou
as formas e reagiu com entusiasmo quando elas giraram. Em termos de linguagem, ele
não a usava para se comunicar com outras pessoas, mas tinha uma boa memória para
os nomes de vários objetos.
10. John F .: Nascido em 19 de setembro de 1937, John tinha dificuldade para se
alimentar e parecia ter um desenvolvimento lento. No escritório, ele vagou pela sala sem
rumo, mas não colocou dois objetos em relação um com o outro. Ao interagir com
objetos, ele era destrutivo com eles, jogando-os no chão. Ao contrário da maioria das
outras crianças observadas, John tinha um bom domínio da linguagem, sendo capaz de
formar frases elaboradas e gramaticalmente, com a exceção de usar o segundo
pronome quando se referia a si mesmo e ser incapaz de fazer comparações entre duas
36
coisas. Marcadamente obsessivo, ele tinha uma rotina diária rígida e uma excelente
memória mecânica, capaz de recitar inúmeras canções, rimas e orações. Além disso, à
semelhança das outras crianças, as palavras tinham significados rígidos e designados,
como no caso em que perguntou ao pai sobre uma fotografia de grupo na parede do
escritório. Sempre que via algo quebrado ou incompleto, John ficava extremamente
chateado. Em dezembro de 1942 e janeiro de 1943, John teve duas séries de
convulsões do lado direito, com "desvio conjugado dos olhos para a direita e paresia
transitória do braço direito". O eletroencefalograma indicou que havia distúrbios focais
na parte esquerda do lobo occipital, mas havia dificuldade para ler os resultados por
causa da falta de cooperação de John.
11. Elaine C .: Elaine foi trazida pelos pais por causa de seu "desenvolvimento
incomum": ela tinha dificuldade de brincar com outras crianças, parecendo estar em um
mundo próprio. Ela estava profundamente absorvida por todos os tipos de animais e
muitas vezes os imitava fazendo barulho e andando de quatro. Elaine começou a falar
por volta dos cinco anos, mas se comunicava por meio de frases simples que eram
"frases mecânicas" normalmente não relacionadas ao que estava acontecendo na
época. Além disso, ela tinha dificuldade em usar pronomes adequadamente, bem como
negativos, mas era capaz de reconhecer o significado dos últimos quando outros os
usavam. Como muitos dos outros pacientes, ela tinha medo de objetos em movimento e
sons mecânicos, como o de um aspirador de pó. Em resposta às perguntas, ela
produziria uma "reprodução do tipo ecolalia" do que foi perguntado.
Após traçar o perfil de cada um dos pacientes, nas partes "Discussão" e "Comentário"
do artigo, Kanner afirmou que as características comuns observadas nas crianças
formavam uma "síndrome única" que pode ter sido mais frequente do que o relatado na
época dado o pequeno tamanho da amostra no estudo.
Kanner indicou que a questão fundamental desse transtorno é a incapacidade das
crianças de se relacionar com pessoas e objetos de uma forma normal desde o
nascimento. Distinguindo os sintomas dos dois transtornos, Kanner explicou que uma
pessoa com esquizofrenia sai de seu mundo e se afasta de relacionamentos já
existentes, ao passo que as crianças que ele descreveu nunca estabeleceram tais
relacionamentos, experimentando uma solidão extrema desde muito cedo. A noção da
natureza inata do que Kanner chamou de "solidão extrema" ficou evidente por relatos
recorrentes sobre o fracasso das crianças em "assumir a qualquer momento uma
postura antecipatória" e ajustar seus corpos ao serem pegos pelos pais. As preferências
que as crianças tinham pela solidão se manifestaram em total desconsideração e
ignorância de quaisquer saídas externas que possam interferir com elas, como contato
físico direto, som ou movimento. Sobre o desinteresse das crianças pelas pessoas,
Kanner afirmou que 'seria melhor acabar logo com essas interferências, para poder
voltar mais cedo à tão desejada solidão ”.
Kanner observou ainda a centralidade dos distúrbios da fala neste distúrbio, observando
que muitas das crianças estavam atrasadas em sua fala, e que aqueles que eram
verbais frequentemente usavam a fala de maneiras peculiares (por exemplo, repetição
ecolálica de frases e / ou uso inflexível da linguagem como visto na repetição exata de
pronomes). Além disso, Kanner observou que o comportamento das crianças era
governado por um desejo ansioso e obsessivo de mesmice, e que isso resultava em
suas repetições de ações, como suas declarações verbais, bem como em atividade
espontânea limitada. Um atributo cognitivo relacionado observado por Kanner foi que
muitas das crianças tinham uma excelente memória mecânica, o que levou seus pais a
"enchê-las" com versos, listas de nomes de animais e botânicos, canções favoritas e
fatos aleatórios. Kanner indicou que quatro das crianças foram consideradas surdas ou
com deficiência auditiva no início. Ele também relatou dificuldades iniciais com a
alimentação e sugeriu que comer pode ter representado a primeira intromissão na
extrema solidão das crianças. Ele observou que as crianças não tinham problemas de
saúde específicos e que seus resultados de EEG eram normais. Ele, no entanto,
37
observou que algumas das 11 crianças tinham cabeças relativamente grandes e
algumas eram um tanto desajeitadas no andar. Recontando suas observações sobre as
famílias das crianças, Kanner notou o alto nível de inteligência caracterizando pais e
parentes, ao mesmo tempo em que afirmava que havia poucos pais calorosos entre as
famílias que observou. Ele sugeriu que a paternidade pode contribuir para o
desenvolvimento do autismo, mas também equilibrou essa sugestão com a observação
de que a solidão dessas crianças estava presente muito cedo, tornando improvável que
todo o quadro do transtorno fosse resultado da paternidade.

O interesse de Kanner por crianças que tinham dificuldade de se


relacionar com outras pessoas ecoou o interesse geral de todos
os psiquiatras infantis do período. No entanto, seu artigo foi
significativo porque apresentou uma nova maneira de descrever o
pensamento infantil. Em vez de atribuir processos de pensamento
inconscientes complexos às crianças que observou, ele
simplesmente descreveu o comportamento de um grupo de
crianças com sintomas semelhantes. Ele usou a palavra "autista"
para transmitir o fato de que as crianças pareciam não estar
envolvidas com seu ambiente externo. No entanto, este modo
descritivo em psiquiatria infantil não era padrão neste momento e
muitos outros profissionais de psicologia infantil na Grã-Bretanha
e nos EUA continuaram a empregar os conceitos de autismo em
conjunto com autoerotismo, narcisismo primário e pensamento
simbólico para compreender a psicopatologia infantil e problemas
com desenvolver relacionamentos.

Conceitualizações pós-guerra de
autismo e psicopatologia infantil
Depois da guerra, as controvérsias sobre como descrever o
pensamento infantil continuaram. Os diagnósticos de
38
esquizofrenia, psicose e autismo em crianças eram amplamente
intercambiáveis durante as décadas de 1940 e 1950. Nos Estados
Unidos, Bender e outros empregaram um modelo kleiniano para
compreender a psicopatologia infantil e infantil e focalizaram a
esquizofrenia como o problema psicopatológico central da
infância. Bender foi uma figura importante no desenvolvimento de
testes de percepção para crianças. Em 1947, ela publicou um
estudo sobre "cem esquizofrênicos" que frequentaram o
Departamento de Crianças em Bellevue durante o período de
1937 a 1947.
Ela definiu a esquizofrenia infantil como:

... patologia no comportamento em todos os níveis e em todas


as áreas de integração ou padronização dentro do
funcionamento do sistema nervoso central, seja vegetativo,
motor, perceptivo, intelectual, emocional ou social (Bender,
1947).

Ela afirmou que a esquizofrenia infantil atingiu "o substrato do


funcionamento integrativo ou comportamento biologicamente
padronizado", uma definição que tinha ressonâncias com a perte
de la fonction du re'el de Janet. Bender acreditava que as
crianças esquizofrênicas se fixavam no estágio da infância
caracterizado por "objetos internalizados" (Bender, 1947). Ela
também afirmou que eles eram particularmente motivados pela
agressão infantil. Isso causou "condensação ou sobreposição de
muitos níveis de pensamento e problemas psicológicos".
Enquanto nas crianças normais o simbolismo se tornava abstrato
e aparecia apenas em sonhos, fantasias e contos de fadas, o
pensamento simbólico das crianças esquizofrênicas permanecia
39
concreto e estruturava todo o seu distúrbio de pensamento. Ela se
baseou em Embryology of Behavior, de Arnold Gessell (em 1945),
para argumentar que as crianças psicóticas retinham funções
motoras embriológicas primitivas que impediam a integração das
funções mentais e o estabelecimento de um ego e uma relação
com a realidade. Crianças psicóticas mantiveram "controle
homeostático primitivo e padrões primitivos de sono e vigília com
estados de consciência em declínio" (Bender, 1953).

Dr. Arnold Lucius Gesell (21 de junho de 1880 - 29 de maio


de 1961) foi um psicólogo clínico americano, pediatra e
professor da Universidade de Yale conhecido por suas
pesquisas e contribuições para o campo do desenvolvimento
infantil. Como psicólogo, Gesell escreveu e falou sobre a
importância da natureza e da criação no desenvolvimento
infantil. Ele alertou outros para não serem rápidos em atribuir
as deficiências mentais a causas específicas. Ele acreditava
que muitos aspectos do comportamento humano, como
destreza e temperamento, eram hereditários. Ele explicou que
os filhos se adaptavam aos pais e também uns aos outros. Ele
defendeu um sistema nacional de creches nos Estados Unidos.
Os livros populares de Gesell espalham suas ideias além da
academia. Sua mensagem central, exortando os pais a "nutrir a
confiança da criança na vida", ressoou com os defensores da
criança muito antes de o Dr. Benjamin Spock se tornar o
conselheiro parental mais proeminente da América. Em A
Criança de Cinco a Dez (“The Child from Five to Tem”), Gesell
escreveu: Não é mais banal dizer que as crianças são a única
esperança remanescente da humanidade. . . Se pudéssemos
capturar sua honestidade e sinceridade transparentes! Eles
ainda têm muito a nos ensinar, se observarmos de perto. As
ideias de Gesell ficaram conhecidas como Teoria Maturacional
do desenvolvimento infantil de Gesell. Com base em sua teoria,
ele publicou uma série de resumos de sequências de
desenvolvimento infantil, chamados de Gesell Developmental
Schedules.
O Instituto Gesell de Desenvolvimento Humano, que leva seu
nome, foi fundado por seus colegas da Clínica de
Desenvolvimento Infantil, Frances Ilg e Louise Bates Ames em
1950, depois que Gesell se aposentou da universidade em
1948. Em 2012, o instituto foi rebatizado de Gesell Instituto de
Desenvolvimento Infantil.

40
No Reino Unido, Elwyn James Anthony e Kenneth Cameron, do
Maudsley Hospital, empregaram teorias semelhantes do
inconsciente infantil para compreender a esquizofrenia infantil e o
autismo. Em 1953, eles abriram uma "clínica psicótica" que
recebeu encaminhamentos dos casos mais graves de distúrbios
psicológicos em crianças de toda a Grã-Bretanha. Anthony, que
havia treinado com Aubrey Lewis e Jean Piaget (Hersov, 1986;
Institute of Psychiatry, 1951), argumentou que as observações
dessas crianças poderiam ser usadas para formular uma teoria
geral do pensamento infantil e da psicologia. Em 1958, o
European Journal of Child and Adolescent Psychiatry publicou
"Uma Abordagem Aetiológica para o Diagnóstico da Psicose na
Infância" de Anthony, que foi muito bem recebido (J. K. Wing,
1966; M. Rutter, 1966).
Anthony argumentou que a idade em que uma criança desenvolve
autismo ou psicose afeta a forma que o distúrbio assume. Ele
acreditava, como Anna Freud, que "toda criança começa sua vida
psicológica em um estado autista". Usando um conceito
emprestado de Além do Princípio do Prazer (“Beyond the
Pleasure Principle”), de Sigmund Freud, Anthony empregou uma
"hipótese de barreira" para explicar o desenvolvimento de
diferentes tipos de autismo em crianças. Ele argumentou que
durante o desenvolvimento normal, a barreira constitucional que
protege o bebê é complementada por uma barreira materna, que
eventualmente dá lugar a uma "barreira do ego autônomo". Essa
barreira permite que a criança se concentre e não se distraia com
cada estímulo que passa. Ele argumentou que, em casos de

41
autismo primário, os bebês desenvolveram uma barreira que era
"anormalmente espessa" e que o bebê passou a bloquear todas
as sensações a ponto de "ele não conseguir emergir de seu
narcisismo primário". Em casos de autismo secundário, a barreira
constitucional é "anormalmente fina", permitindo que uma
quantidade excessiva de estimulação afete o ego da criança
psicótica.
Nessa situação, o bebê desenvolve sua própria barreira psicótica
secundária que bloqueia todos os estímulos (Anthony, 1958a e
não-eu e distúrbios na percepção de si mesmo '. Anthony
emprestou o termo' a-dualismo 'de Piaget para definir este último
problema. Ele empregou testes piagetianos padrão para confirmar
suas teorias. O objetivo de Anthony era (re) integrar a teoria
psicanalítica no esquema piagetiano de desenvolvimento
subjetivo a fim de permitir a descrição detalhada do pensamento
infantil normal e anormal. alegou que os estágios iniciais da vida
de uma criança eram caracterizados por narcisismo primário ou
egocentrismo onde "o eu e o ambiente são um e não há objetos
externos permanentes" (Anthony, 1957).
O surgimento da autoconsciência ocorreu depois que a criança,
como organismo, deixou de funcionar por meio de pura ação
reflexa e passou a usar a "ação inventiva" para agarrar e dirigir
objetos no espaço. Essa habilidade intelectual emergente foi
acompanhada por uma nova habilidade emocional de se
relacionar com objetos. Conforme ele descreveu, a criança só foi
capaz de prosseguir para um relacionamento emocional completo
com os objetos depois de tê-los tornado permanentes e

42
substanciais. O "ego psicótico" falhou em estabelecer uma
distinção entre fantasia interna e realidade externa, resultando em
um estado de espírito "assimbólico" ou autista (Anthony, 1958a).
Anthony afirmou que as causas da psicose infantil consistiam em
"determinantes constitucionais, orgânicos, genéticos e
psicogênicos e possivelmente algum fator ainda desconhecido"
(Anthony, 1958b). Ele recomendou fortemente contra qualquer
visão "monocausal" da condição, especialmente aquela que
colocava ênfase excessiva nos pais "esquizofregênicos" ou
"psicotogênicos".) Ele argumentou que em todos os casos de
psicose infantil e autismo, havia "componentes de três condições
básicas de mau funcionamento": uma incapacidade de formar um
senso de identidade coerente e estável; uma incapacidade de
'catectar' experiências internas com precisão; e 'uma confusão de
self e não-self e distúrbios na percepção de si mesmo'. Anthony
emprestou o termo 'a-dualismo' de Piaget para definir este último
problema. Ele empregou testes padrão de Piaget para confirmar
suas teorias. O objetivo de Anthony era (re) integrar a teoria
psicanalítica no esquema piagetiano de desenvolvimento
subjetivo, a fim de permitir a descrição detalhada do pensamento
infantil normal e anormal. Ele afirmou que os estágios iniciais da
vida de uma criança eram caracterizados por narcisismo primário
ou egocentrismo onde "o eu e o meio ambiente são um e não há
objetos externos permanentes" (Anthony, 1957).
O surgimento da autoconsciência ocorreu depois que a criança,
como organismo, deixou de funcionar por meio de pura ação
reflexa e passou a usar a "ação inventiva" para agarrar e dirigir

43
objetos no espaço. Essa habilidade intelectual emergente foi
acompanhada por uma nova habilidade emocional de se
relacionar com objetos. Como ele descreveu, "a criança só foi
capaz de prosseguir para um relacionamento emocional completo
com os objetos depois de torná-los permanentes e substanciais".
O "ego psicótico" falhou em estabelecer uma distinção entre
fantasia interna e realidade externa, resultando em um estado de
espírito "assimbólico" ou autista (Anthony, 1958a). Anthony
afirmou que as causas da psicose infantil consistiam em
"determinantes constitucionais, orgânicos, genéticos e
psicogênicos e possivelmente algum fator ainda desconhecido"
(Anthony, 1958b). Ele recomendou fortemente contra qualquer
visão "monocausal" da condição, especialmente aquela que
colocava ênfase excessiva nos pais "esquizofregênicos" ou
"psicotogênicos".
O problema básico que Anthony, Klein, Isaacs e Creak
procuraram resolver desde o final dos anos 1920 até o final dos
anos 1950 era o desenvolvimento da relação do bebê com a
realidade.
Todos esses teóricos baseados no Reino Unido presumiram que
o pensamento alucinatório precedeu o estabelecimento de
relações com outros objetos ou indivíduos. Além disso, todos eles
estabeleceram suas teorias através do estudo de crianças
individuais que eles próprios observaram e / ou trataram. Sua
compreensão do autismo foi estruturada por um acordo disciplinar
mais amplo de que a psicologia do desenvolvimento era uma
ciência que rastreou o surgimento da subjetividade. Se eles

44
empregassem metodologias estatísticas básicas, seriam usadas
como um complemento a essas teorias. O restante deste artigo
explica como os estudos epidemiológicos foram empregados a
partir do final da década de 1950 para derrubar radicalmente esse
modelo de desenvolvimento infantil e o conceito de autismo que o
sustentava.

A Lei de Saúde Mental de 1959,


epidemiologia e radicalismo
transformação do conceito de
autismo
De acordo com Bonnie Evans (2013) do King’s College London
(Reino Unido), a década de 1960 testemunhou grandes
transformações no atendimento aos doentes mentais na Grã-
Bretanha. Em 1959, o governo britânico aprovou a Lei de Saúde
Mental que desacreditou a maioria dos poderes legais que antes
obrigavam os deficientes mentais e insanos a receber tratamento
institucional. Ele aboliu o Conselho de Controle que anteriormente
administrava esse processo, tornando as autoridades locais
responsáveis pelo atendimento institucional e comunitário. A Lei
de 1959 levou a grandes problemas administrativos resultantes do
fechamento em grande escala de instituições para indivíduos com
anomalias mentais. Isso levou ao desenvolvimento de novos
métodos sociocientíficos, pois se tornou fundamental demarcar os
problemas mentais e as necessidades de crianças e adultos que
45
antes eram confinados, mas agora estavam sendo integrados à
população majoritária. Um dos campos mais significativos a se
desenvolver após o fechamento de instituições foi a técnica de
epidemiologia psiquiátrica. Em 1958, a ‘Unidade de Pesquisa em
Psiquiatria Social’ foi inaugurada no Hospital Maudsley em
antecipação à Lei de Saúde Mental. A unidade foi financiada pelo
Conselho de Pesquisa Médica (MRC) e se tornou um centro líder
mundial em pesquisas epidemiológicas e estatísticas em saúde
mental, em particular relacionadas à esquizofrenia e autismo. A
experimentação psicológica que emergia da unidade neste
período foi muito influenciada pelo trabalho de Hans Eysenck, que
então chefiava o departamento de psicologia. Eysenck e colegas
influentes como Jack Tizard, Beate Hermelin e Neil O’Connor
conduziram análises estatísticas que se concentraram
inteiramente em medidas comportamentais.
Eysenck afirmou que a pesquisa clínica deve ser experimental e
"científica", o que significa que deve ser baseada na observação
direta e não em qualquer tipo de autoanálise (Derksen, 2001). Ele
argumentou que os conceitos analíticos freudianos relativos ao
inconsciente eram impressões especulativas e desafiou a
eficiência da psicoterapia psicanalítica como uma técnica curativa
(Eysenck, 1990).
Muitos pesquisadores perceberam que o autismo e a
esquizofrenia infantil eram conceitos importantes dentro da teoria
do desenvolvimento psicológico das crianças, que ofereciam
muito potencial para o desenvolvimento de metodologias
estatísticas. Em 1961, Mildred Creak criou um grupo de trabalho

46
para identificar as principais características da esquizofrenia
infantil e estabelecer uma base sólida para pesquisas em
psicopatologia infantil (Creak, 1964; Lotter, 1966). O grupo de
trabalho do Creak consistia em 13 membros, incluindo Kenneth
Cameron; Sylvia Ini, do Great Ormond Street Hospital; Dr. Guy
Mitchell da Clínica Tavistock; Dr. Ronald MacKeith do Guy’s
Hospital; e Frank Orford, um psicólogo clínico que já havia
trabalhado no Fountain Hospital para crianças com deficiência
mental. O comitê argumentou que havia 9 características-chave
da "síndrome esquizofrênica na infância", que eram:
1. Comprometimento grosseiro e contínuo das relações
emocionais com as pessoas.
2. aparente inconsciência de sua própria identidade pessoal.
3. preocupação patológica com objetos particulares.
4. resistência sustentada às mudanças no ambiente.
5. experiência perceptiva anormal.
6. ansiedade aguda, excessiva e aparentemente ilógica.
7. a fala pode ter sido perdida ou nunca adquirida.
8. distorção nos padrões de motilidade.
9. um histórico de retardo sério no qual ilhotas de função ou
habilidade intelectual normal, quase normal ou excepcional
(Creak, 1961).

Creak argumentou que, se todos os psiquiatras pudessem


concordar com as mesmas "características diagnósticas", isso
"abriria o caminho para um entendimento comum e
reconhecimento da composição fenomenológica da síndrome"

47
para permitir estudos de base populacional. Em 1963, Hermelin e
O’Connor da Unidade MRC usaram os 9 pontos de Creak para
reunir um grupo de sujeitos de pesquisa nos quais eles pudessem
testar a "dominância sensorial". O fechamento de instituições para
deficientes mentais gerou um grande suprimento de crianças
"subnormais" que foram usadas como controles nessas situações
experimentais. Enquanto os testes de inteligência já estavam
estabelecidos como instrumentos psicométricos, as medidas de
psicopatologia em crianças eram novas. Hermelin e O’Connor
trabalharam com a equipe do Botley’s Park Hospital para
deficientes mentais em Chertsey e no St Lawrence’s Hospital na
Cornualha para selecionar crianças "autistas" com base na lista
de Creak e crianças "subnormais" identificadas por meio de testes
de inteligência. Ambos os grupos foram pareados para níveis de
QI (média de 40), de modo que a única diferença entre eles era
que o grupo considerado "autista" estava "gravemente
perturbado".
As crianças foram recompensadas se derem respostas corretas à
estimulação tátil, auditiva e visual. Descobriu-se que as crianças
"autistas" tinham mais probabilidade de responder à estimulação
tátil e visual do que à estimulação auditiva, embora pudessem ser
ensinadas a responder ao som se fossem recompensadas
(Hermelin e O’Connor, 1963). Hermelin e O ’Connor tentaram
desenvolver as teorias de Anthony sobre a dominância sensorial
em crianças autistas, mas o fizeram usando testes
comportamentais e métodos estatísticos como modelo teórico, em
vez de psicologia interna. Eles sugeriram que o processo de

48
desenvolvimento em todas as crianças era impulsionado por uma
"estrutura hierárquica dos sistemas sensoriais". No início, um
bebê respondeu a "sensações interoceptivas e viscerais" e estas
foram mais tarde substituídas por um domínio de sensações táteis
e cinestésicas. Finalmente, os sistemas sensoriais auditivo e
visual tornaram-se dominantes. Esses desenvolvimentos foram
acompanhados pela "integração de diferentes informações
sensoriais", a fim de que "estímulos para um sentido possam ser
prontamente reconhecidos e interpretados em outro".
Argumentou-se que crianças "psicóticas" ou "autistas" achavam
mais difícil inibir respostas anteriores e mais primitivas do que os
controles. Eles desenvolveram uma preferência espontânea por
estímulos táteis e visuais e acharam difícil renunciar a essa
preferência quando apresentados com estimulação auditiva. Isso
os distinguia de seus controles subnormais que não tinham
nenhuma preferência, embora ainda achassem difícil de aprender
(Hermelin e O’Connor, 1967). Esses testes pareceram fornecer
uma prova psicológica de que as crianças "autistas"
permaneceram presas nos primeiros estágios de desenvolvimento
de uma forma única e não relacionada à inteligência.
Em 1965, Sir Michael Rutter foi nomeado Professor Catedrático
de Psiquiatria Infantil do Instituto de Psiquiatria, assumindo o
cargo deixado vago por Anthony em 1958 (Instituto de Psiquiatria,
em 1965). Rutter formou-se em medicina em Birmingham e se
especializou em psiquiatria no Maudsley com Aubrey Lewis e
Eysenck. Em 1961, ele estudou com o psicólogo comparativo
Herb Birch e o epidemiologista psiquiátrico Ben Pasamanick.

49
Junto com Pasamanick, Rutter estava interessado em usar
métodos epidemiológicos para determinar a causa ao invés de
simplesmente medir as taxas de prevalência (Rutter, 2001).

Em 1965, ele publicou um manifesto defendendo a classificação


de todos os transtornos psiquiátricos infantis, afirmando que "até
que um transtorno possa ser identificado e caracterizado, ele não
pode ser estudado de forma adequada". Posteriormente, ele
trabalhou em estreita colaboração com a Organização Mundial da
Saúde no desenvolvimento de um sistema multiaxial de
diagnósticos psiquiátricos (Shaffer, 2001). Em linha com esses
esforços, Rutter iniciou um estudo sobre o autismo infantil em
uma coorte de crianças em Aberdeen e incentivou mais estudos
populacionais dessa condição, a fim de auxiliar o campo geral da
psiquiatria infantil. Ao mesmo tempo, Rutter e Tizard embarcaram
em um grande estudo das taxas completas de transtorno
psiquiátrico em todas as crianças residentes na Ilha de Wight
(Rutter et al., 1970). De acordo com Rutter, estudos
epidemiológicos poderiam reunir sujeitos de pesquisa

50
semelhantes que poderiam ajudar a determinar as causas do
autismo e de outros transtornos, erradicando assim a necessidade
de psicanálise e psicologia infantil especulativas.
Foram O’Connor, J. K. Wing e Victor Lotter da Unidade MRC que
projetaram a primeira pesquisa em massa de uma coorte de
população inteira a fim de gerar um valor percentual para a taxa
de autismo na população geral da Grã-Bretanha. Lotter, o autor
principal, baseou-se nos critérios do grupo de trabalho Creak para
seu estudo epidemiológico, mas argumentou que os 9 pontos
precisavam ser adaptados porque não se limitavam às
observações do comportamento das crianças, mas incluíam
opiniões subjetivas sobre os sentimentos das crianças. Creak
afirmou que era "impossível" usar critérios puramente
comportamentais "se quiséssemos transmitir o que todos
sentimos ser o cerne da questão - ou seja, a presença de uma
capacidade prejudicada para as relações humanas" (Creak,
1961). No entanto, Lotter, seguindo Rutter, considerou que
critérios claros puramente comportamentais eram fundamentais
para o desenvolvimento daquela pesquisa epidemiológica sobre o
autismo, apesar do fato do estado psicológico que estava sendo
descrito dizer respeito à capacidade de se relacionar com outras
pessoas. Lotter, portanto, descartou a categoria "aparente
desconhecimento de sua própria identidade pessoal" e a incluiu
em outras medidas comportamentais. Ele também substituiu a
presença de "ilhotas de habilidade" por resultados de testes
objetivos. Ele então desenvolveu uma lista de afirmações que
foram usadas para identificar crianças com condições autistas.

51
Este formulário foi emitido para professores de 76.388 crianças
com idades entre 8 e 10 anos que frequentam escolas na área de
Middlesex.
As crianças identificadas pelos professores foram avaliadas
posteriormente para confirmar seu autismo. Lotter afirmou que
havia desenvolvido "descrições comportamentais adequadas"
para a condição de autismo. Essas descrições encapsulariam o
sintoma de autismo, que ele entendia como um parâmetro
comportamental e não uma entidade patológica. Como ele disse:

... o adjetivo "autista" foi usado neste estudo como um rótulo


descritivo conveniente. É importante notar que o termo não se
destina a referir-se apenas à síndrome de "autismo infantil" de
Kanner, e no que se segue é usado sem qualificação para se
referir a todas as crianças que atenderam aos critérios
comportamentais usados para selecionar casos. As referências
ao "comportamento autista" devem ser interpretadas de forma
semelhante (Lotter, 1966).

Em outras palavras, o estudo de Lotter foi uma quantificação da


descrição de "autista" em uma população total. Ele relatou que a
taxa de prevalência era de 4,5 por 10.000 da população (Lotter,
1966). A exigência de "critérios comportamentais precisos" que os
estudos epidemiológicos exigiam encorajou novas perspectivas e
descrições do autismo. Como esse conceito tinha sido tão central
para a psicologia geral do desenvolvimento, sua reforma no
campo da epidemiologia psiquiátrica levou novos pesquisadores a
reconceituar as questões centrais dessa ciência. No entanto,
Lotter e colegas reformularam o tópico das habilidades em
desenvolvimento de uma criança de se relacionar com os outros
como uma função puramente de seu comportamento. Este

52
modelo difere amplamente daqueles baseados em descrições
teóricas de relacionamentos imaginários de uma criança com
outras pessoas, como na obra de Klein, Isaacs e Anthony. Em vez
de medir o desenvolvimento infantil e suas anomalias por meio de
modelos teóricos das tentativas sucessivas de uma criança
individual de se envolver com a realidade por meio de seus
relacionamentos com pessoas e objetos, esses estudos mediram
o desenvolvimento infantil e suas anomalias como variáveis
comportamentais dentro de uma população total que representava
a norma . Ao mesmo tempo, o estudo da resposta de um
indivíduo aos estímulos foi substituído pela análise estatística da
resposta de uma população aos estímulos. O estudo das relações
humanas não foi excluído desse modelo porque as relações
humanas ainda podiam ser observadas como fenômenos. No
entanto, questões sobre como, por que ou quando os
relacionamentos se tornaram patológicos, particularmente aquelas
relativas à capacidade da criança de imaginar, alucinar ou
fantasiar sobre os outros, estavam ausentes neste novo modelo
teórico.

O desaparecimento das
alucinações
De acordo com Bonnie Evans (2013), a integração de crianças
com deficiência intelectual nas escolas após a Lei de Saúde
Mental de 1959 levou à contratação de um número cada vez

53
maior de psicólogos educacionais. Em 1967, havia 375 psicólogos
educacionais em tempo integral empregados pelas autoridades
locais, mas em 1972, esse número subiu para 638 (B. Harris,
1995; Wooldridge, 1994). Em 1979, esse número havia subido
para 935 e em 1983 havia aumentado para mais de 1.000
(Hansard, 1983). Esse novo grupo profissional passou a contar
cada vez mais com medidas psiquiátricas para distúrbios
psicológicos infantis. Além disso, o início da década de 1970 no
Reino Unido viu um grande impulso para aumentar o número de
fonoaudiólogos contratados pelas autoridades de saúde após a
publicação do Relatório do Comitê de Investigação em Serviços
de Terapia da Fala (o Relatório Quirk), que relatou que bem mais
de 300.000 pessoas em o Reino Unido precisava de serviços de
terapia da fala e 270.000 desses indivíduos eram crianças
(Lindsay, 1984).
Novamente, esses foram os tremores do fechamento de
instituições para deficientes e da necessidade de integrar crianças
que antes estavam isoladas. A Society for Autistic Children
começou a criar suas próprias escolas no início dos anos 1960,
que eram exclusivamente para crianças autistas, e também fez
campanha junto ao Ministério da Educação para considerar todas
as crianças autistas como ‘educáveis’. A necessidade de integrar
todas as crianças em uma mesma estrutura educacional também
encorajou sua integração em uma estrutura teórica unificada
sobre o desenvolvimento de seu pensamento.
Muitos projetos de estudos estatísticos das décadas de 1960 e
1970 foram elaborados para analisar e avaliar a esquizofrenia

54
infantil e suas causas, todas as quais excluíam a possibilidade de
pensamentos alucinatórios em bebês. Por exemplo, em 1971,
Israel Kolvin, da Unidade de Psiquiatria Infantil de Nuffield em
Newcastle, procurou testar a hipótese de Anthony de que os
transtornos psicóticos na infância dependem da idade em que o
processo começa. Para fazer isso, ele separou os psicóticos
infantis em grupos relacionados à idade de início e, em seguida,
dividiu a "fenomenologia" da doença de acordo com esses
diferentes grupos. O que foi significativo no planejamento deste
exercício foi a implementação de "critérios rigorosos" para garantir
que as crianças pudessem ser comparadas umas com as outras
igualmente. Como acontece com outros modelos científicos
sociais, a qualidade rigorosa dos dados dependia de sua
capacidade de ser examinados e replicados por vários
pesquisadores. Kolvin argumentou que os pesquisadores nunca
deveriam atribuir fantasias a crianças que não tinham palavras
para descrevê-las. Ele explicou sua abordagem da seguinte
maneira:

Ambos os grupos de psicóticos foram examinados quanto a


fenômenos alucinatórios ... Olhar em volta distraidamente ou
parecer que ouviam vozes era insuficiente. Além disso, em
algum momento a criança deve ter feito um relato de
fenômenos alucinatórios (Kolvin, 1971).

Esses critérios eram excepcionalmente rigorosos, na medida em


que foram concebidos de forma restrita, quando se tratava de
crianças que não falavam ou tinham habilidades de linguagem
muito limitadas. No entanto, eles foram considerados essenciais
para a progressão dos métodos estatísticos em psiquiatria infantil.
55
Não surpreendentemente, Kolvin descobriu que as crianças com
'psicose de início tardio' eram 'comumente alucinadas', enquanto
aquelas com psicose de início precoce, nos primeiros 3 anos de
vida, eram mais propensas a sofrer de 'atraso grave na fala e
muitas anomalias da fala', como bem como 'movimentos
estereotipados' e 'relacionamentos ruins' em vez de alucinações
(Kolvin, 1971). O estudo de Kolvin excluiu a possibilidade de que
o autismo em bebês e crianças pequenas fosse acompanhado por
pensamentos alucinatórios de qualquer forma. Sua descrição do
autismo foi o oposto direto daquela que foi apresentada por
Bleuler e que foi apoiada por Creak, Klein e Anthony do final dos
anos 1920 aos 1960. No entanto, é este modelo de "psicose de
início precoce" que mais tarde se tornou dominante nas
descrições do conceito de "autismo", o que é irônico porque
"autismo" foi originalmente usado precisamente para descrever o
pensamento infantil normal. O trabalho de Kolvin foi
extremamente influente e todos os pesquisadores que seguiram o
desenho de seu estudo chegaram a conclusões semelhantes
(Rapoport et al., 2009).
Esses pesquisadores têm se concentrado cada vez mais no
estudo da linguagem e cada vez mais considerado o autismo
como um "distúrbio da comunicação" em vez de um "distúrbio
psicótico". Em 1967, Rutter e outros conduziram um estudo de
acompanhamento de 63 crianças que haviam sido diagnosticadas
com psicose de início precoce e argumentaram que embora
algumas das crianças se comportassem de maneira estranha, o
que deu origem à suspeita de que estavam tendo experiências

56
alucinatórias ... em nenhuma havia evidências convincentes de
alucinações, e nenhuma criança com fala descreveu sensações
ou acontecimentos alucinatórios ”(Rutter et al., 1967). Uma
citação de Rutter em 1972 resume os problemas com o uso do
termo autismo que se seguiu à introdução de métodos estatísticos
e epidemiológicos: "autismo significa um retraimento na fantasia,
mas não é isso que acontece na síndrome do autismo" (Rutter,
1972).
Claro, o que constitui "evidência convincente" da existência de
alucinações em crianças difere amplamente entre os praticantes.
Enquanto psicólogos influenciados psicanaliticamente inferiram
alucinação das ações das crianças, Rutter e os pesquisadores de
Maudsley pensaram que esse tipo de inferência deveria ser
eliminado de todas as investigações. Não porque fossem avessos
à ideia de alucinações em bebês e crianças, mas porque tais
alegações teriam prejudicado a precisão dos estudos
epidemiológicos. Em geral, os pesquisadores seguiriam Kolvin e
Rutter ao afirmar que, a menos que uma criança descrevesse
pensamentos alucinatórios usando a fala, não se poderia presumir
que ela ou ele experimentasse alucinações. Embora essa
afirmação não eliminasse o conceito de alucinação na psiquiatria
adulta, porque as descrições linguísticas da alucinação ainda
contavam como uma forma de comportamento, ela transformou
completamente a psiquiatria infantil.

57
Autismo como distúrbio de
comunicação
À medida que o autismo se distanciava cada vez mais das
alucinações e da fantasia, os pesquisadores psiquiátricos
procuraram novas maneiras de identificar o problema em casos
clínicos individuais. Talvez sem surpresa, esses pesquisadores se
voltaram para o estudo da linguagem para identificar o "déficit
cognitivo" central do autismo. Isso refletiu o crescimento do
movimento "cognitivo" em psicologia (Nadesan, 2005). Em 1968,
Rutter argumentou que os 9 pontos de Creak para o autismo
poderiam ser substituídos por 3 características principais, a saber
'anormalidades profundas do desenvolvimento da linguagem, uma
variedade de fenômenos ritualísticos e compulsivos ... [e] uma
variedade particular de perturbação nas relações interpessoais' .
Rutter e estudiosos conduziram estudos sobre a linguagem usada
por crianças autistas no final dos anos 1960 e 1970, que
desenvolveram a visão de Hermelin e O’Connor de que os déficits
sensoriais na infância levaram ao desenvolvimento de
características incomuns de linguagem em crianças autistas
(Martin, 1971).

Anormalidades da linguagem
Essas anormalidades ou diferenças de linguagem passaram a ser
uma característica definidora do novo conceito de "autismo" em

58
sua nova metamorfose psicológica, que se seguiu à sua radical
redução a medidas comportamentais na década de 1960. O
objetivo principal desses estudos foi comparar a linguagem de
crianças autistas com a de crianças que tinham outros problemas,
como afasia executiva ou receptiva e cegueira parcial ou surdez.
Embora esses pesquisadores não soubessem a forma exata do
distúrbio sensorial central que causava o autismo, todos estavam
unidos na visão de que a condição não era causada por reações
emocionais ou alucinações, mas sim caracterizada por um déficit
em certos aspectos do pensamento linguístico. Essas mudanças
foram contemporâneas de um interesse mais amplo nos
problemas de "comunicação" das crianças, em oposição a seus
problemas emocionais (por exemplo, Franklin, 1965).
Em 1975, Rutter et al., Publicaram a primeira parte de um
importante ‘Estudo Comparativo de Autismo Infantil e Desordem
de Linguagem Receptiva de Desenvolvimento Específico’ no
British Journal of Psychiatry. Os estudos de Rutter, Bartak e Cox
descobriram que, embora houvesse semelhanças entre esses
grupos, as comparações mostraram que as crianças autistas
demonstraram formas "desviantes" particulares de linguagem,
como ecolalia, reversão de pronomes, expressões estereotipadas
e linguagem metafórica. No caso de crianças que só tinham
distúrbios de linguagem, essa fala "desviante" não era prevalente,
mas esse grupo tinha muito mais probabilidade de ter defeitos de
articulação. O "desvio" da linguagem e o uso prejudicado da
linguagem falada e dos gestos observados em crianças autistas
eram diferentes dos problemas observados em outras crianças

59
com distúrbios de linguagem (Rutter et al., 1975; Bartak et al.,
1977).
Em 1970, o Jornal de Autismo e Esquizofrenia da Infância foi
estabelecido sob a direção de Leo Kanner, com Rutter como
editor associado representando a Grã-Bretanha. O jornal afirmava
não ter viés teórico, mas simplesmente a aspiração de "promover
observações e fatos comprovados cientificamente de todas as
fontes que possam ampliar nosso horizonte" (Kanner, 1971). Os
editores afirmam que a revista se dedica a todas as psicoses e
graves transtornos de comportamento na infância. Em 1979, o
Jornal do Autismo e Esquizofrenia da Infância foi rebatizado de
Jornal do Autismo e Transtornos do Desenvolvimento.
Escrevendo no editorial daquele ano, Rutter, que havia sido
promovido a editor europeu, junto com Eric Schopler, que
substituiu Kanner como editor-chefe em 1974, explicou a
transição da seguinte forma:

O título e o escopo do jornal foram ampliados para incluir uma


gama mais ampla de transtornos do desenvolvimento
relacionados ao autismo. Esse alargamento cuidadosamente
circunscrito também visa esclarecer os fatores de
desenvolvimento que moldam o quadro dos sintomas autistas
(Schopler et al., 1979).

Estava claro que Rutter e Schopler tinham ambições de construir


um novo estilo de pensamento sobre os desvios no
desenvolvimento infantil e que eles viam as categorias de
"autismo" como centrais para esta revolução conceitual. Ao
mesmo tempo, eles excluíram rigorosamente os conceitos de

60
"psicose" e "esquizofrenia" da psicologia infantil. Este foi um
momento importante para a psicologia infantil porque o autismo
era um conceito central. Uma vez que esse conceito foi
apropriado e definido como um problema de desenvolvimento
associado à linguagem, o conceito de alucinação, que tinha sido
um conceito-chave em toda psicopatologia descritiva desde o
século 19, foi eliminado da psicopatologia do desenvolvimento.
À medida que o autismo foi associado a transtornos de
desenvolvimento, a alucinação foi cada vez mais erradicada do
conceito. Essas mudanças foram refletidas na publicação da 3ª
edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (1980). A categoria de "esquizofrenia infantil" foi
completamente eliminada do DSM-III (Volkmar, 2005). Em vez
disso, o DSM-III introduziu a categoria de "transtornos invasivos
do desenvolvimento", um diagnóstico que incluía quatro
subcategorias, a saber, "autismo infantil", "transtorno invasivo do
desenvolvimento de início na infância", "autismo residual" e uma
forma atípica (Harris, 1998).

61
Ao mesmo tempo, o conceito mais antigo de autismo, que
anteriormente tinha desempenhado um papel importante nos
critérios de diagnóstico para esquizofrenia adulta no DSM-II, foi
completamente removido dos critérios diagnósticos para
esquizofrenia em adultos e Robert Spitzer argumentou que isso
se devia a sua falta de confiabilidade como um sintoma
observável (Klerman et al., 1984). Em outras palavras, o autismo
foi removido como um conceito-chave no diagnóstico da
esquizofrenia adulta e implementado como uma categoria dentro
dos transtornos invasivos do desenvolvimento da infância. O
DSM-III incluiu um modelo multiaxial de diagnóstico que o
presidente da força-tarefa do DSM, Robert Spitzer, afirmou ser
para evitar a impressão de que era uma bíblia diagnóstica e
promover seu uso como um manual estatístico (Spitzer, 2001).
Rutter foi fundamental para a implementação do sistema
multiaxial.
Em 1975, Rutter, David Shaffer e Michael Shepherd publicaram
um relatório para a Organização Mundial da Saúde que apoiava o
desenvolvimento de um sistema multiaxial de diagnóstico. O
primeiro modelo continha 3 eixos, sendo o primeiro a ‘síndrome
psiquiátrica clínica’, o segundo o ‘nível intelectual’ e o terceiro
listando ‘fatores etiológicos associados’. Este modelo multiaxial foi
um desenvolvimento do trabalho de Rutter da década de 1960.
Sua associação com a Organização Mundial da Saúde ampliou
seu perfil e seu modelo multiaxial foi se tornando conhecido no
campo da psiquiatria. Depois de 1980, o modelo DSM de

62
diagnóstico de transtorno psiquiátrico infantil tornou-se bem
estabelecido no Reino Unido.

Autismo como um distúrbio


neurocognitivo / de
desenvolvimento
Em 1979, Lorna Wing e Judith Gould da Unidade MRC
conduziram um estudo de prevalência do que eles denominaram
"Prejuízo Grave de Interação Social e Anormalidades Associadas"
em crianças. Eles usaram o Camberwell Register, um sofisticado
mecanismo de coleta de dados que havia sido estabelecido em
1964 pela Social Psychiatry Research Unit, para identificar
sujeitos (Wing e Hailey, 1972). Na época, Wing estava se
estabelecendo como uma figura importante na pesquisa do
autismo e seu trabalho mais tarde teve grande influência nacional
e internacional. Wing e Gould argumentaram que o "padrão de
deficiências e problemas de comportamento" que eles descreviam
havia sido "diversamente (e infelizmente) denominado psicose
infantil, autismo infantil ou esquizofrenia infantil" e argumentaram
que todas essas condições precisavam ser reconceitualizadas
como problemas de comprometimento social (Wing e Gould,
1979).
Os critérios de seleção foram extraídos das 3 principais
características do autismo de Rutter e foram definidos como:
'ausência ou comprometimento da interação social', 'ausência ou

63
comprometimento do desenvolvimento da linguagem verbal ou
não verbal' ou 'atividades repetitivas e estereotipadas de qualquer
tipo'. Um total de 132 crianças foi selecionado (Wing, Yeates et
al., 1976; Wing e Gould, 1979). Avaliações adicionais foram
fornecidas usando o cronograma de entrevista estruturada de
Children's Handicaps, Behavior and Skills (HBS), que foi um
sistema de medição desenvolvido por Wing e Gould para
amalgamar crianças 'psicóticas' e 'retardadas', enquanto ao
mesmo tempo permite que as distinções sejam feitas de acordo
com suas habilidades sociais. Os autores argumentaram que este
cronograma foi útil para distinguir entre autismo e "distúrbios de
fala expressivos e receptivos ao desenvolvimento" (Wing e Gould,
1978).
Reintegrando o estudo do 'retardo' com o estudo do autismo e,
em seguida, desenhando novas divisões conceituais entre esses
dois problemas, Wing e Gould tentaram criar uma nova estrutura
abrangente para o estudo dos problemas de pensamento em
crianças. Um outro gráfico subdividiu o grupo de 'deficientes
sociais' de acordo com a gravidade de sua deficiência. Crianças
'indiferentes' nunca interagiam com outras, crianças 'passivas'
permitiam que as crianças interagissem com elas, mas mostraram
pouca resposta e crianças 'estranhas' demonstraram formas
bizarras de interações sociais, incluindo 'preocupações repetitivas
e idiossincráticas' nas quais não tinham interesse nos sentimentos
da outra pessoa envolvida. Essas distinções foram então
correlacionadas com condições orgânicas associadas, incluindo

64
Síndrome de Down, surdez e deficiências visuais (Wing e Gould,
1979).
Wing e Gould argumentaram que seu "sistema baseado na
gravidade da deficiência social deu associações mais
estatisticamente significativas com variáveis comportamentais,
psicológicas e médicas" do que os sistemas anteriores de
categorização e questionaram a utilidade da definição de Kanner
de autismo infantil (Wing e Gould , 1979). Eles levantaram a
hipótese de que "certas áreas ou funções do cérebro são
responsáveis pelo desenvolvimento da interação social e
atividades imaginativas simbólicas" e que essas áreas foram
afetadas nas crianças que eles descreveram. Algumas patologias
orgânicas, como a Síndrome de Down, deixaram essas funções
intactas, mas destruíram outras. Eles argumentaram que as
medidas de "deficiência social" eram a melhor maneira de
conceituar os problemas mentais das crianças, porque estavam
mais intimamente relacionados à etiologia grosseira conhecida.
Wing e Gould recomendaram que estudos futuros sobre os
problemas mentais das crianças baseassem suas divisões na
deficiência social medida pela HBS. ‘Prejuízos de interação social
recíproca’ foram relatados como ocorrendo em 21,2 de cada
10.000 crianças na área estudada, das quais 4,9 apresentavam
história de autismo típico.
A tentativa de Wing e Gould de colocar crianças "autistas" em um
continuum com outras crianças mentalmente anormais foi
semelhante às tentativas de Anthony de colocar crianças
"gravemente psicóticas" em um continuum com outras crianças

65
parcialmente "psicóticas" e eles sinalizaram essa conexão (L.
Wing e Gould, 1979). No entanto, enquanto os 3 critérios de
Anthony foram baseados nos estilos psicanalítico e piagetiano de
raciocínio, Wing e Gould descreveram o problema puramente em
termos comportamentais, criando sua própria tríade de sintomas
observáveis. Ao fazer isso, ajudaram a transformar o problema da
psicose infantil e do desenvolvimento do ego em um problema de
comportamento e administração social. Como o trabalho de Rutter
já distanciou o conceito de autismo da alucinação e da
psicopatologia adulta severa, Wing então tomou a liberdade de
redefinir todas as formas de psicopatologia na infância como
formas de "deficiência social".
Em 1981, Wing publicou um artigo sobre 'Síndrome de Asperger:
uma conta clínica', no qual ela estendeu seu argumento de que o
autismo deveria ser incluído dentro de um 'grupo mais amplo de
condições que têm, em comum, comprometimento do
desenvolvimento da interação social, comunicação e imaginação
”(Wing, 1981; Nadesan, 2005). Ela cunhou o termo "síndrome de
Asperger" após reivindicar um artigo de 1944 sobre autismo de
Hans Asperger. Embora a Síndrome de Asperger não tenha sido
incluída no DSM até sua 4ª edição em 1994, o trabalho de Wing
em expandir a categoria de autismo e ligá-lo a outros transtornos
do desenvolvimento foi altamente influente e encorajou um
número crescente de estudos que colocaram o autismo como o
problema central através do qual compreender outras formas de
desenvolvimento patológico ou anormal do pensamento em bebês
e crianças. Esses estudos cada vez mais consideram o autismo

66
como um problema de interação "social", ao invés de um
problema de relacionamento emocional com outras pessoas. O
"autismo" empregado nesses estudos não era o "autismo" da
esquizofrenia, mas também não era o "distúrbio autístico do
contato afetivo" de Kanner. Em vez disso, era o autismo de
"déficits cognitivos". O significado do autismo foi transformado e
um número crescente de crianças agora pode ser definido por
esses novos critérios classificatórios.

Psicologia cognitiva: falta de


uma "teoria da mente" e busca
para "quase autismo"
“Quase-autismo” foi definido como "um padrão que mostrou
características autistas (particularmente, interesses circunscritos
intensos), mas que diferia do autismo 'comum' em maior interesse
social e flexibilidade." Apesar dessas forças sociais relativas em
comparação com TEA típico, esses adotados mostraram
dificuldades de consciência social e reciprocidade, empatia,
limites interpessoais e comunicação
Quando Simon Baron-Cohen, Alan Leslie e Uta Frith
argumentaram que as crianças autistas careciam de uma "teoria
da mente" em 1985, eles se basearam na concepção de autismo
pós-1960, descrevendo-o como "uma desordem profunda na
compreensão e no enfrentamento do social ambiente ', em que o
principal sintoma é' prejuízo na comunicação verbal e não verbal

67
'(Baron-Cohen et al., 1985). Frith havia conduzido seu doutorado
no Instituto de Psiquiatria enquanto Rutter e Wing estavam lá e
ela foi muito influenciada por sua abordagem. Ela havia estudado
para seu doutorado com O’Connor e Hermelin em detecção de
padrões em crianças autistas (Bishop, 2006).
Frith argumentou que as crianças autistas exibiam um "déficit de
processamento de entrada", que ela mais tarde descreveu como
"coerência central fraca" (Frith, 1970, 2003). Frith, Cohen e Leslie
pegaram o termo "teoria da mente" do trabalho de D. Premack e
G. Woodruff, que o empregou para descrever o estudo dos
chimpanzés. Eles a usaram para descrever a capacidade de
atribuir estados mentais autônomos ao self e aos outros, a fim de
prever e explicar as ações que se seguem. Leslie estava
conduzindo um trabalho sobre as habilidades de crianças normais
de 2 anos para entender as brincadeiras de faz de conta e
argumentou que as crianças autistas apresentavam déficits em
sua capacidade de imaginação. Baron-Cohen, Leslie e Frith,
então, propuseram a hipótese de que as crianças autistas
sofreram uma deficiência no mecanismo cognitivo necessário
para ‘mentalizar’ ou representar estados mentais. Tarefas de
'falsa crença', nas quais os sujeitos eram testados para ver se
podiam prever os pensamentos dos outros, foram empregadas
para testar esta teoria. Em muitos ensaios, esses testes foram
usados para comparar crianças autistas com crianças controle
que tinham baixa capacidade de linguagem ou baixos níveis de QI
(Leslie e Frith, 1988; Perner et al., 1989). Esses projetos de
estudo eram muito semelhantes aos usados por Hermelin e

68
O’Connor, que usaram crianças "retardadas" ou "mentalmente
deficientes" como controles. A descrição do autismo como um
déficit de "teoria da mente" não exclui sujeitos que podem ter bom
vocabulário, sintaxe, fonologia e linguagem mecânica. Seu único
fracasso está relacionado à capacidade de pensar nos estados
mentais dos outros.
Baron-Cohen, Frith e Leslie se basearam nos testes de
"egocentrismo" de Piaget em sua proposição de que as crianças
autistas careciam de uma "teoria da mente"; no entanto, eles não
entraram em detalhes sobre as maneiras pelas quais os bebês
podem perceber a mente e o corpo de outras pessoas. Eles
encontraram, portanto, uma maneira de descrever o
relacionamento de um indivíduo com outras mentes que
contornou completamente os processos de pensamento que
podem ter mediado esse relacionamento. Este modelo foi
prontamente adotado por muitos pesquisadores britânicos porque
representava exatamente o que era exigido naquele momento
histórico - um relato do desenvolvimento do pensamento em
bebês que dizia respeito à sua capacidade de se relacionar com
os outros, mas que não especulava sobre o pensamento.
processos, alucinatórios ou não, que podem ter estruturado essas
relações. Esse modelo foi imposto aos pesquisadores por meio da
difusão de metodologias epidemiológicas e estatísticas. Embora
novos modelos tenham sido desenvolvidos na Grã-Bretanha para
conceituar os problemas mentais de crianças autistas como
déficits de "teoria da mente" e "coerência central fraca", várias

69
questões prementes sobre o possível impacto de relacionamentos
iniciais sobre essas funções não desapareceram.
O fato de que os pesquisadores do autismo ainda estão tentando
abordar algumas das questões centrais levantadas nas
discussões dos anos 1940 sobre o autismo e as relações
humanas é mais evidente nos estudos de Rutter et al. Sobre
órfãos romenos que foram gravemente privados durante os
primeiros estágios de sua desenvolvimento. Em 1999, Rutter e
colegas do Instituto de Psiquiatria publicaram um artigo sobre a
apresentação do que denominaram "quase-autismo" em algumas
dessas crianças (Rutter et al., 1999). Em 2007, Rutter baseou-se
em uma amostra maior para argumentar que cerca de 1 em cada
10 dessas crianças gravemente carentes apresentava "quase-
autismo", que era muito semelhante ao "autismo comum", embora
fosse diferente na medida em que as crianças apresentavam
níveis sociais mais incomuns abordagens e espontaneidade
incomum em sua comunicação.
Essas crianças também mostraram alguma melhora entre as
idades de 4 e 6 anos. Todas as crianças com 'quase-autismo'
apresentaram déficits de 'teoria da mente', uma descoberta que
confirma a universalidade desse conceito para cobrir dificuldades
relacionais e sociais gerais (Rutter et al., 2007). Além disso, os
órfãos romenos adotados após 6 meses provavelmente
apresentariam déficits de "teoria da mente", mesmo que não
apresentassem quase-autismo totalmente desenvolvido (Colvert,
Rutter et al., 2008). Curiosamente, Rutter e colegas
argumentaram que bebês gravemente privados durante os

70
primeiros 6 meses de vida não desenvolvem "quase autismo",
enquanto aqueles que foram privados por períodos mais longos
têm uma tendência a fazê-lo. Esta descoberta revisita
perfeitamente as polêmicas discussões entre Melanie Klein e
Anna Freud sobre a natureza do pensamento durante os
primeiros 6 meses de vida e se os bebês durante esta fase foram
dominados pelo "narcisismo primário", como Anna Freud
argumentou. Claro, Rutter não discute essas questões em relação
à fantasia e à alucinação.
No entanto, ele aceita que as circunstâncias ambientais podem
afetar o desenvolvimento de "quase autismo", uma descoberta
que é menos controversa quando expressa em uma nova
linguagem. A influência das relações humanas no pensamento
sempre será um assunto de interesse para psicólogos infantis,
mas em que essas questões são discutidas atualmente foi
moldada fundamentalmente pela transformação radical do
conceito de autismo em meados do século XX. Metodologias
estatísticas e estudos epidemiológicos inauguraram uma maneira
inteiramente nova de pensar sobre as relações humanas que se
tornaram cada vez mais dominantes. Este modelo de descrição
de anormalidades mentais infantis cresceu junto com os
aumentos nas taxas de autismo desde a década de 1990. Existem
alguns pesquisadores que desafiaram essa mudança geral no
significado do autismo, embora tenham sido raros, e estão se
tornando cada vez mais. Por exemplo, Peter Hobson, um
psicanalista e psiquiatra baseado na Tavistock Clinic e na
University College London, argumentou que os déficits da 'teoria

71
da mente' são fenômenos meramente secundários ao problema
primário que é a incapacidade do bebê de se envolver
emocionalmente com os outros (Hobson , 1993, 2002).
Mais sobre o texto originalÉ necessário fornecer o texto original
para ver mais informações sobre a tradução
No entanto, mesmo a descrição complexa de Hobson do
desenvolvimento psicológico em crianças autistas raramente
emprega a linguagem da alucinação e fantasia em relação à
esquizofrenia. Recentemente, nos EUA, Judith Rapoport e
colegas do National Institutes of Health começaram a 'revisitar' a
ligação anteriormente traçada entre o autismo e a esquizofrenia
infantil, argumentando que o autismo e outros transtornos do
desenvolvimento podem ser um fator de risco para a
esquizofrenia (Rapoport et al., 2009). Se a esquizofrenia e o
autismo estiverem ligados no futuro por meio de estudos
genéticos, pode haver outra mudança na descrição do
pensamento infantil. Se isso mudaria os métodos descritivos que
agora se tornaram enraizados em torno do autismo após a
epidemiologia psiquiátrica, e se isso poderia implicar novamente
em alucinações em bebês e crianças, ainda está para ser visto.
Este capítulo enfocou as origens e os fundamentos do autismo
como conceito na Grã-Bretanha. Até a década de 1950, os
conceitos de esquizofrenia infantil e autismo foram usados para
reformular questões centrais no desenvolvimento infantil com
base na ideia de alucinação infantil. No entanto, na década de
1960, a expansão do método epidemiológico em psiquiatria
infantil e psicologia do desenvolvimento levou a novas medidas

72
padronizadas de função sensório-motora e habilidade de
linguagem. As ‘estereotipias’ comportamentais e linguísticas de
uma criança podem ser correlacionadas com ‘estereotipias’
semelhantes em outras crianças por meio de estudos de coorte.
Esses estudos deram origem a novos fatos científicos sobre a
psicologia infantil. Os 24 itens comportamentais de Lotter para o
autismo foram desenvolvidos para permitir estudos reproduzíveis
que não seriam afetados pelos julgamentos subjetivos de
pesquisadores individuais. Foi em resposta a essas mudanças
que pesquisadores estatísticos como Lotter e Rutter
transformaram o significado do autismo de "um retraimento em
fantasia", como na descrição piagetiana do conceito, para uma
incapacidade de fantasiar que poderia ser calculada através de
uma soma de medidas cognitivas. A afirmação de que a inferência
estatística deve ser usada como a base do conhecimento
científico não é, obviamente, uma invenção dos pesquisadores do
autismo na década de 1960. Tal afirmação pode ser rastreada até
o trabalho de Karl Pearson, Francis Galton e Cyril Burt, e Ronald
Fisher e Austin Bradford-Hill desenvolveram o método estatístico
na pesquisa médica científica. No entanto, os pesquisadores do
autismo usaram estudos epidemiológicos para responder a
questões mais amplas sobre o desenvolvimento de todo
pensamento infantil. O autismo sempre se referiu à patologia mais
grave no pensamento infantil e as mudanças em seu significado
refletem mudanças históricas mais amplas no que é considerado
anormal no pensamento e no comportamento de todos os bebês e
crianças. Essas anormalidades centrais são agora enquadradas

73
por uma nova linguagem relativa às habilidades e déficits
cognitivos que não foram considerados relevantes quando o
autismo estava relacionado puramente à psicopatologia, em vez
de também às dificuldades de aprendizagem.
O fato de que os pesquisadores ainda mantêm o autismo como
um termo-chave se reflete nos estudos de Rutter de crianças
gravemente carentes, que empregam o conceito de "quase
autismo" para explicar o possível resultado da privação social em
todos os bebês. O desenvolvimento mais significativo após a
introdução de métodos estatísticos e epidemiológicos na
psiquiatria infantil foi a expansão das categorias comportamentais,
comunicativas e cognitivas e o virtual desaparecimento dos
conceitos de alucinação e fantasia infantil. O autismo foi, portanto,
desassociado do conceito-chave da psicopatologia descritiva -
alucinação. Talvez estes sejam tempos simplesmente mais
iluminados, nos quais os pesquisadores não mais especulam
loucamente sobre os pensamentos dos bebês, mas em vez disso
coletam evidências estatísticas. Isso não tem nada a ver com a
questão de saber se os psicólogos culpam os pais pela
psicopatologia infantil, mas sim se os psicólogos tomam ou não a
liberdade de entrar na vida mental interna dos bebês. A
disseminação da epidemiologia e das metodologias estatísticas
em psiquiatria infantil tem consequências muito mais amplas do
que o estudo apenas do autismo. Eles entraram em todas as
descrições e estudos de bebês e crianças que apresentam
atipicidade mental. ‘Autismo’ é um conceito definidor e mudanças

74
em seu significado alteraram percepções mais amplas de como
bebês e crianças pensam.

75
Capítulo 3
Uma breve introdução:
teoria do desenvolvimento
cognitivo de Piaget

A
teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget é uma
teoria abrangente sobre a natureza e o desenvolvimento
da inteligência humana. Foi desenvolvido pela primeira
vez por um psicólogo de desenvolvimento suíço, Jean Piaget.
Piaget acreditava que a infância desempenha um papel vital e
ativo para o crescimento da inteligência e a criança aprende
fazendo e explorando ativamente. A teoria do desenvolvimento
intelectual se concentra na intuição, na crença, na lembrança e na
percepção. É conhecida principalmente como teoria do estágio de
desenvolvimento, mas, na verdade, trata da natureza do próprio
conhecimento e de como o ser humano passa gradualmente a
adquiri-lo, construí-lo e usá-lo. Crianças autistas são
completamente capazes de aprender com seus colegas. Com
crianças autistas de baixo funcionamento, observar o que as
outras crianças estão fazendo é como elas obtêm novas
informações e conhecimentos. Por exemplo, se Jake, uma criança
com autismo, observou Annie, uma criança comum, construir uma
torre com blocos e depois derrubá-la, ele copiará suas ações se a
atividade que ela está fazendo o atrai.

76
O segundo estágio de Piaget, o estágio pré-operacional, começa
quando a criança começa a aprender a falar aos dois anos e dura
até os sete anos. Durante o estágio pré-operacional de
desenvolvimento cognitivo, Piaget observou que as crianças ainda
não entendem a lógica concreta e não podem manipular
mentalmente as informações. O aumento das crianças em brincar
e fingir ocorre nesta fase. No entanto, a criança ainda tem
problemas para ver as coisas de diferentes pontos de vista. As
brincadeiras infantis são categorizadas principalmente por
brincadeiras simbólicas e manipulação de símbolos. Essa
brincadeira é demonstrada pela ideia de as damas serem lanches,
os pedaços de papel serem pratos e uma caixa ser uma mesa.
Suas observações de símbolos exemplificam a ideia de jogo com
a ausência dos objetos reais envolvidos. Uma criança autista será
capaz de atingir este estágio em que aprenderá a falar, mas não
entende a lógica concreta e não pode manipular a informação
mentalmente. Eles podem brincar, mas não o farão da mesma
forma que uma criança normal. Uma criança autista não brinca
com brinquedos de forma adequada (como eles devem ser
usados) e não pode se envolver em brincadeiras de mentira sem
ser ensinada a fazê-lo. Observando sequências de brincadeiras,
Piaget foi capaz de demonstrar que, no final do segundo ano ,
ocorre um tipo qualitativamente novo de funcionamento
psicológico, conhecido como Estágio Pré-operacional.
A criança é capaz de formar conceitos estáveis, bem como
crenças mágicas. A criança, entretanto, ainda não é capaz de
realizar operações, que são tarefas que a criança pode fazer

77
mentalmente, ao invés de fisicamente. Pensar nesta fase ainda é
egocêntrico, o que significa que a criança tem dificuldade em ver
o ponto de vista dos outros. O estágio pré-operacional é dividido
em dois subestágios: o subestágio de função simbólica e o
subestágio de pensamento intuitivo. O subestágio de função
simbólica é quando as crianças são capazes de compreender,
representar, lembrar e imaginar objetos em sua mente sem ter o
objeto na frente delas. Crianças autistas podem chegar a esse
estágio e são incentivadas a exercitá-lo constantemente. Um dos
objetivos mais importantes no ensino de crianças com autismo é
fazê-las mandar (exigir) coisas que não estão em sua linha de
visão. Isso é exercitar sua retenção, memória e conhecimento de
seu ambiente. O subestágio de pensamento intuitivo é quando as
crianças tendem a propor as perguntas "por quê?" e "como é?" É
nesta fase que a criança deseja o conhecimento de tudo saber.
Este estágio também pode ser alcançado por crianças autistas,
mas não sem treinamento. Para que tenham curiosidade de
perguntar por quê, eles precisam estar motivados para fazê-lo.
O estágio operacional concreto é o terceiro estágio da teoria do
desenvolvimento cognitivo de Piaget. Essa fase, que segue uma
fase pré-operacional, ocorre entre as idades de 7 e 11 anos, e é
caracterizada pelo uso adequado da lógica. Durante esta fase, os
processos de pensamento da criança tornam-se mais maduros e
"semelhante aos adultos". Eles resolvem problemas de uma
maneira mais lógica. O pensamento abstrato e hipotético ainda
não se ocorre, as crianças só podem resolver problemas que se
aplicam a eventos ou objetos concretos. Nesta fase, as crianças

78
passam por uma transição onde a criança aprende as regras
como a conservação. Piaget determinou que as crianças são
capazes de incorporar o raciocínio indutivo. O raciocínio indutivo
envolve tirar inferências a partir de análise para fazer uma
generalização. Em contraste, as crianças lutam com o raciocínio
dedutivo, que envolve o uso de um princípio generalizado para
tentar prever o resultado de um evento. Uma criança autista será
capaz de atingir esse estágio até certo ponto se ela for ensinada e
devidamente reforçada para alcançá-lo.

79
Capítulo 4
Crianças com autismo: uma
perspectiva piagetiana

D
e acordo com Antonio Iannaccone, Giulia Savarese e
Federico Manzi (2018), do Institut de Psychologie et
Éducation, Université de Neuchâtel, (Suíça),
Departimento di Medicina e Chirurgia, Università di Salerno (Itália)
e Unità di Ricerca sulla Teoria della Mente , Dipartimento di
Psicologia, Università Cattolica del Sacro Cuore, Milão, (Itália),
este estudo se concentrou na manipulação de objetos por
crianças com suspeita de transtorno do espectro do autismo. O
objetivo foi demonstrar como os objetos podem ser vistos como
agentes ativos de troca interpessoal nas interações face a face.
Com base em uma ampla perspectiva piagetiana e em trabalhos
recentes no campo da sociomaterialidade, as principais
observações incluíram o seguinte: (1) brincadeiras sensório-
motoras e realistas foram observadas em todas as três crianças;
(2) havia algumas indicações intrigantes de que os objetos
servem como mediadores concretos no espaço intersubjetivo
entre adulto e criança; (3) alguns dos padrões de atenção das
crianças eram visivelmente mediados pelo objeto. De acordo com
Piaget (1928, 1952, 1954), crianças com autismo alcançam
habilidades de conceituação de objetos no quinto estágio do
desenvolvimento sensório-motor.

80
Como vários estudos aconselham cautela ao usar o conceito de
estágio para descrever o desenvolvimento psicológico típico e
atípico, parece útil caracterizar esses processos psicológicos em
termos de atividades específicas que a criança pode planejar e
implementar ao atuar em seu ambiente físico e social. Por
exemplo, como um índice preditivo, o número e o tipo de
diferentes ações produzidas por crianças com autismo durante
uma atividade recreativa podem nem sempre seguir os mesmos
estágios do desenvolvimento típico, e isso também pode estar
correlacionado com a gravidade do funcionamento autista
(McDuffie et al., 2015). Na verdade, embora as dificuldades de
imitação possam refletir um possível atraso no desenvolvimento
psicológico, nem todos os pré-escolares com autismo têm
problemas com imitação ou jogo simbólico (Vanvuchelen et al.,
2011). Dentro da ampla linha de pesquisa que levanta questões
sobre a canonicidade do objeto, identificamos alguns elementos
interessantes relacionados à função sócio-material da mediação
durante a comunicação.
Sabe-se que as funções canônicas dos objetos são introduzidas
por outras pessoas presentes no mundo infantil (Leontiev, 1981;
Costall, 1997; Rodríguez e Moro, 2008; Barthélémy-Musso et al.,
2013). De fato, Sinha (2009) sugere que as funções canônicas do
objeto são adquiridas como um fenômeno normativo durante as
interações sociais, embora a compreensão cognitiva desse status
seja um pré-requisito. Além disso, Sinha (2015) aponta que “a
materialidade do significado e significância da materialidade é
central para abordagens em ciências cognitivas enfatizando a

81
importância dos objetos na incorporação cognitiva estendida.” Em
particular, há evidências de que as funções canônicas são
adquiridas durante as interações criança-adulto (Rodríguez e
Moro, 1998; Sinha e Rodríguez, 2008; Moro, 2011, 2014). Vários
estudos relataram como, sob certas condições (por exemplo,
relações interpessoais prejudicadas ou foco de atenção), os
objetos se tornam mediadores da interação social (Williams et al.,
1999; Dimitrova, 2014; Moro, 2014). Cárdenas et al. (2014)
destacaram a importância da natureza recíproca dessas
interações, mostrando como elas emergem de contextos
comunicativos e triádicos (adulto-criança-objeto). O papel crucial
do adulto na aquisição do uso do objeto é observável desde a
primeira infância (Moreno-Núñez et al., 2017). Além disso, durante
a interação criança-objeto-adulto, a atenção visual da criança é
mais focada ao interagir com um cuidador experiente do que com
um adulto desconhecido (Miller et al., 2009; Miller e Gros-Louis,
2013). Miller e Gros-Louis (2017) também mostraram que a
atenção da criança é influenciada pelo estilo social do parceiro.
Tomasello et al. (1993) e Tomasello (2016) destacaram diferentes
tipos de aprendizagem, como imitativa, instruída e colaborativa.
Por exemplo, a imitação é importante para a aprendizagem que
envolve outros e objetos, pois facilita a compreensão das
expectativas normativas de um determinado grupo cultural
(Tomasello, 2016). Sinha (2009) sugeriu que as crianças
apreendem funções canônicas principalmente por meios
cognitivos, acessando assim a identidade normativa do grupo
cultural. Bruckner e Yoder (2007) relataram que, mesmo entre

82
crianças com autismo, o uso de objetos pode estar vinculado a
funções emergentes no estágio pré-operacional, como imitação e
atenção ao outro.
A maior parte das pesquisas existentes sugere que a imitação é
prejudicada em crianças com autismo (Charman e Baron-Cohen,
1994; Rogers, 1999; Rogers et al., 2003; Williams et al., 2004). De
fato, Smith e Bryson (2007) observaram que crianças com
autismo apresentam dificuldade em imitar qualquer uso não
convencional de objetos, mas são capazes de imitar o uso de
objetos canônicos. Ao imitar esse uso canônico, as crianças com
autismo acessam parte da herança cultural do grupo. Com
relação às atividades lúdicas manipulativas, Kanner (1943) foi um
dos primeiros a notar que, apesar das diferenças e limitações, as
crianças com autismo exibem uma série de funções relacionadas
ao uso de objetos canônicos e não canônicos.
Trevarthen e Hubley (1978) descreveram a dinâmica que informa
a triangulação sujeito-sujeito-objeto (a teoria da “sintonia
intersubjetiva secundária”). As crianças típicas alternam o olhar
entre o objeto que está sendo visto e a outra pessoa, gerando
atenção conjunta. No entanto, no desenvolvimento atípico, e
especialmente para aqueles no espectro autista, uma
anormalidade tem sido observada no desenvolvimento de
comportamentos relacionados à atenção conjunta.
Palacios e Rodríguez (2015) mostraram que em crianças típicas
de 9 a 15 meses, o uso simbólico de um objeto se desenvolve em
um contexto triádico. Ungerer e Sigman (1981) avaliaram o uso de
objetos do cotidiano em um grupo de crianças com autismo com

83
idade variando de 39 a 74 meses em uma sessão de brincadeira
estruturada e livre e descobriram que a maioria era incapaz de
usar um objeto de acordo com sua função designada. Williams et
al. (2005) entrevistou pais de 10 crianças com autismo (MA = 62,2
meses; DP = 19,9) que relataram problemas relacionados ao uso
de um objeto, como interesse por algum aspecto incomum do
objeto, uma forma incomum de usar o objeto , ou dificuldade em
generalizar o uso do objeto.

Custance et al. (2014) sugeriram que déficits imitativos em


crianças com autismo podem ser reduzidos por meio de
atividades relacionadas ao objeto, especialmente se não houver
limite de tempo para o uso do objeto. Atividades relacionadas a
objetos promovem atenção conjunta, imitação motora e
comunicação intencional com um parceiro social (Bruckner e
Yoder, 2007), e há evidências de que intervenções focadas em
brincadeiras envolvendo diferentes objetos podem promover
comportamentos sociais e imitativos (Brown e Murray, 2001;
Stahmer et al., 2003; Lee et al., 2019). Swettenham et al. (1998)
observaram três tipos de comportamento atencional: (1) entre um
objeto e outro objeto, (2) entre um objeto e uma pessoa e (3)
entre uma pessoa e outra. Crianças com autismo mostraram
relativamente mais atenção às interações entre um objeto e outro
objeto. Em nossos estudos recentes, observamos o importante
papel do objeto na ativação da atenção na criança com autismo, e
descrevemos o fenômeno como “atenção mediada pelo objeto”,

84
que pode ser um precursor da atenção conjunta (Iannaccone et al.
, 2016; Manzi e Savarese, 2017; Savarese et al., 2017).
Em um estudo de Antonio Iannaccone, Giulia Savarese e
Federico Manzi (2018), sobre o uso de objetos em crianças com
autismo a partir de uma perspectiva piagetiana, as interações com
os bloqueios ajudaram a observar comportamentos relacionados
aos atributos físicos dos bloqueios e à competência da criança
para estabelecer relações com eles. Essa manipulação lúdica de
objetos provavelmente ajuda no planejamento e na ação
coordenada, estimulando e fortalecendo a capacidade da criança
de interagir com o mundo exterior. Ao mesmo tempo, essas
atividades permitem que as crianças imaginem novos cenários de
construção (Harris, 2000). Na presença de potenciais parceiros ou
competidores (crianças ou adultos), a gestão das atividades
lúdicas pela criança e a implementação de estratégias de
comunicação também podem ser observadas. Por exemplo, o de
18 meses tocou e manipulou todos os sete blocos, o de 21 meses
tocou e manipulou seis blocos e o de 24 meses tocou e empilhou
mecanicamente todos os sete blocos.
Com base em suas observações independentes, os dois
pesquisadores concordaram que o uso simbólico de objetos pelas
três crianças poderia ser atribuído ao primeiro nível de jogo
simbólico proposto por McCune-Nicolich (1981), com base na
sequência de Piaget (1972), porque as crianças brincavam
usando esquemas sensório-motores. Além disso, ao contrário do
jovem de 24 meses, o de 18 e 20 meses jogou um jogo realista.

85
Fingir e brincar simbólico não foram observados em nenhum dos
comportamentos das três crianças.
De acordo com Antonio Iannaccone, Giulia Savarese e Federico
Manzi (2018), Consistente com uma perspectiva teórica que
enfatiza o papel das dimensões sociais e materiais no
desenvolvimento e atividades psicológicas (Iannaccone, 2015),
nossa análise destaca duas implicações importantes em nossas
observações da manipulação de objetos . Em primeiro lugar, de
acordo com a perspectiva piagetiana, as observações destacaram
a manipulação do objeto e o planejamento da ação, identificando
a presença de reações circulares secundárias e terciárias (Piaget,
1972). Em relação ao jogo, invocando o modelo de McCune-
Nicolich (1981), todas as crianças exibiram uma brincadeira
sensório-motora, na qual o objeto foi manipulado e compreendido
em termos de suas características materiais.
A segunda implicação se refere a como, em algumas sequências
de ação, as características materiais e sociais dos objetos
contribuíram para moldar as interações do parceiro entre criança
e adulto. Isso se alinha com vários estudos empíricos dos usos
sociais de objetos (convencionais, canônicos e simbólicos) (John-
Steiner e Mahn, 1996; Moro, 2011). Em tais situações
interpessoais, as atividades dos participantes (crianças e adultos)
são claramente afetadas pelas condições físicas e sociais do
ambiente. Em particular, durante as interações criança-pais
(Moro, 2014), as interações triádicas criança-objeto-adulto (Moro,
2011) parecem criar cenários sociomateriais relevantes que
enquadram as atividades comunicacionais. Em nossas

86
observações, duas das três crianças exibiram de fato um tipo de
modo de gerenciamento de objetos que parecia substituir o
contato visual com o adulto. Em algumas sequências de ações, a
criança e o adulto conseguiram coordenar o planejamento da
ação por meio da manipulação de objetos, da atividade
exploratória infantil e do andaime adulto. Por exemplo, a criança
observou e tocou os objetos para estimular atividades lúdicas; o
adulto tocava o objeto com a mão, e essa ação freqüentemente
se tornava uma fonte de interesse para a criança. A criança
buscou a atenção do adulto através do contato visual, e a criança
começou a manipular o objeto. Em atividades desse tipo, parece
evidente que os objetos podem servir como mediadores nas
interações comunicativas com o adulto. Além de levar em conta a
função social dos objetos, as crianças observadas já
consideravam as características sociomateriais da situação lúdica,
pois adultos e crianças engajados na gestão de uma espécie de
“espaço sociomaterial” proposto por Rodríguez et al. (2015).
Na verdade, desde o primeiro ano de vida, os adultos produzem
um espaço compartilhado com objetos que servem como
ferramentas eficazes de comunicação com as crianças. Nossas
descobertas em relação ao objeto como ferramenta para a
interação adulto-criança se alinham com Moreno-Núñez et al.
(2017), confirmando que os primeiros entendimentos
compartilhados entre adulto e criança se dão em torno do objeto e
seus usos. Finalmente, ao considerar esses primeiros resultados,
podemos imaginar desafios relevantes para uma nova psicologia
do desenvolvimento baseada em pesquisas futuras relacionadas.

87
Nossas observações dessas interações não se concentram na
atenção conjunta direta, mas identificam um tipo de processo
psicológico que chamamos de "atividade mediada pelo objeto". Ao
contrário de Tomasello (1995), consideramos o próprio objeto
como mediador, não apenas da atenção mútua entre adulto e
criança, mas da dinâmica troca relacional entre parceiros.
Em conclusão, o estudo de Antonio Iannaccone, Giulia Savarese
e Federico Manzi (2018) relatou os resultados preliminares de
uma análise mais ampla. Ao considerar esses primeiros
resultados, podemos imaginar desafios relevantes para a
psicologia do desenvolvimento de crianças com autismo.
Consistente com os resultados de estudos com crianças com
desenvolvimento típico, nosso estudo com crianças com autismo
mostra que as características sócio-materiais dos objetos
representam fatores que medeiam a construção das interações
criança-adulto. A partir da primeira intervenção de um adulto, um
objeto passa a ser mediador e promotor de atividades
interpessoais e espaciais.

88
Epílogo

D
e 1919 a 1921, Piaget estudou em Paris. Quando ele
chegou lá, seus interesses intelectuais incluíam biologia,
psicanálise, lógica e filosofia da ciência, mas ele não
havia feito pesquisa empírica com crianças. A oportunidade de
trabalhar no antigo laboratório de Binet deu uma direção ao seu
pensamento e pesquisa que durou uma vida. A base intelectual
para os primeiros escritos de Piaget sobre o desenvolvimento
infantil é descrita. Em particular, o interesse cauteloso de Piaget
no pensamento "autista" é comparado com sua pesquisa sobre a
emergência do pensamento lógico.
Segundo o blog Autismo e Realidade (2020), A visão do autismo
como um espectro é razoavelmente recente. Foi apenas em 2013
que o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (a
referência mundial para médicos, psicólogos e pesquisadores),
em sua quinta edição, o DSM-5, definiu o conceito do Transtorno
do Espectro Autista (TEA). Para uma pessoa ser diagnosticada
com autismo, ela então precisa apresentar dois sintomas:
deficiências sociais e de comunicação e comportamentos
repetitivos e estereotipados. Desta forma, distúrbios que antes
eram vistos como independentes – Autismo Infantil Precoce,
Autismo Infantil, Autismo de Alto Funcionamento, Autismo Atípico,
Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação,
Transtorno Desintegrativo da Infância e Síndrome de Asperger –

89
passaram a ser analisadas como um transtorno único com
diferentes níveis de gravidade. Esta foi apenas a mais recente
alteração na história de um transtorno que é estudado há pouco
mais de 100 anos. O termo autismo apareceu pela primeira vez
em 1908, criado pelo psiquiatra Eugen Bleuler, para descrever um
paciente, na época diagnosticado como esquizofrênico, que vivia
imerso em seu próprio mundo. A análise de Bleuler não chamou
muita atenção na época, e passaram quase 30 anos até o termo
ser revisitado. Em 1938, o psiquiatra austríaco radicado nos
Estados Unidos Leo Kanner recebeu em seu consultório o que
ficou conhecido como “caso 1” de autismo. Com 5 anos, Donald
Triaplett foi descrito como tendo um comportamento “fora dos
padrões” para as crianças da mesma idade. Kanner se interessou
pelo caso e logo conseguiu reunir outras dez crianças com a
mesma condição.
O que chamou a atenção de Kanner no comportamento das
crianças foi um desinteresse extremo já no início da vida: elas não
respondiam a estímulos externos e desenvolviam quase nenhuma
interação social, vivendo num universo próprio ao mesmo tempo
que mantinham uma relação inteligente com objetos e
apresentavam uma memória acima do comum.
Em 1943, o psiquiatra publicou o estudo Distúrbios Autísticos do
Contato Afetivo, batizando a condição das 11 crianças como
“Transtorno Autístico do Contato Afetivo”. Na visão de Kanner, o
quadro delas estava associado à esquizofrenia infantil e era
caracterizado por obsessividade pela rotina, dificuldade na
interação social, estereotipias e ecolalia.

90
Pouco depois, o nome do distúrbio foi atualizado para “autismo
infantil precoce”, enfatizando que os sinais eram visíveis já nos
primeiros dois anos de vida. Com este trabalho, Kanner se tornou
a principal referência no segmento e passou a ser chamado de “o
pai do autismo”.
Enquanto Kanner estudou casos que hoje seriam qualificados de
autismo severo, Hans Asperger dedicou o seu trabalho ao outro
lado do espectro autista. Psiquiatra atuando em Viena, Asperger
foi o primeiro a apontar a prevalência maior do autismo em
meninos, que apresentavam falta de empatia, interesses restritos
e uma forma peculiar de conversar, usando palavras incomuns
para a idade. Ele costumava chamar seus pacientes de
“pequenos professores”, por causa da habilidade de falar sobre
um tema de forma muito detalhada.
Ao contrário dos casos estudados por Kanner, as crianças
atendidas por Asperger não apresentavam atrasos do
desenvolvimento da linguagem ou retardo mental, e seus
sintomas não eram aparentes até os três anos de idade. Apesar
do papel pioneiro, o artigo A psicopatia autista na infância de
Asperger não recebeu a devida atenção à época. O estudo foi
publicado em alemão durante a Segunda Guerra Mundial, e
apenas na década de 1980 o seu trabalho seria reconhecido.
Os anos 1950 e 1960 foram de muita confusão sobre as causas
do autismo. Muitas pesquisas analisaram o transtorno apenas do
ponto de vista social, ignorando o papel dos fatores genéticos.
Leo Kanner voltou a chamar atenção ao cunhar a hipótese da
“mãe geladeira”, que atribuía a origem do autismo a mães

91
emocionalmente distantes de seus filhos. A tese foi popularizada
pelo psicanalista Bruno Bettelheim que, no livro A Fortaleza Vazia,
comparou os pais de crianças autistas aos guardas nazistas de
campos de concentração.
A principal crítica da comunidade médica à teoria da “mãe
geladeira” era o fato de que muitas mães de crianças autistas
também tinham filhos e filhas não autistas. Leo Kanner
posteriormente se disse mal compreendido e tentou se retratar no
seu livro Em Defesa das Mães. De todo modo, o avanço das
pesquisas sobre autismo mostrou que a teoria era totalmente
infundada ao reunir evidências significativas de que o autismo é
um transtorno neurológico encontrado em todos grupos
socioeconômicos e étnico-raciais investigados.
O próximo marco no autismo aconteceu em 1978, quando o
psiquiatra inglês Michael Rutter propôs uma nova definição do
distúrbio, como um transtorno mental único, independente da
esquizofrenia. Baseado em quatro critérios, o autismo seria
caracterizado por atrasos e desvios sociais (não só decorrentes
da deficiência intelectual), problemas de comunicação (também
não apenas ligados à deficiência intelectual), comportamentos
incomuns como movimentos estereotipados e maneirismos, com
todos os sintomas presentes antes dos 30 meses de idade.
Uma das figuras centrais na consolidação do campo da psiquiatria
infantil, Rutter se destacou ao realizar pesquisas sobre autismo
tanto de viés biológico, com análises de DNA e de exames de
imagem, quanto do social, com a avaliação da influências das
famílias e das escolas no desenvolvimento infantil.

92
O olhar de Rutter influenciou significativamente na elaboração da
terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM III), em 1980. Pela primeira vez, o
autismo foi definido como uma condição única, fora do conceito
da esquizofrenia. O distúrbio passou para uma nova classe,
denominada Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TIDs),
que afetam múltiplas áreas de funcionamento do cérebro.
Em paralelo a Rutter, a psiquiatra Lorna Wing também estava
desenvolvendo pesquisas que iam mudar a visão do mundo sobre
o autismo. Mãe de uma menina autista diagnosticada na década
de 1950, Wing trocou a sua especialização na faculdade de
medicina para psiquiatria infantil devido à falta de informações
existentes sobre o distúrbio.
Seu ativismo ganhou novas proporções ao criar a National Autistic
Society, em 1962, para defender uma melhor compreensão e
serviços para indivíduos no espectro e suas famílias no Reino
Unido. Em 1981, Wing publica um artigo revisitando o trabalho de
Hans Asperger e batiza a síndrome em seu nome.
Ao mesmo tempo, ela começa a trabalhar o conceito do autismo
como um espectro, que afeta pessoas em diferentes níveis. A
médica também vai estabelecer uma nova base para o
diagnóstico a partir de seis pontos básicos: verbalização correta,
mas estereotipada; comunicação não-verbal inadequada;
ausência de manifestações convencionais de empatia; repetição e
dificuldade de mudanças; deficiências de coordenação motora; e
boa memória mecânica e limitados interesses.

93
Hoje, as visões de Lorna Wing e Michael Rutter estão no centro
do entendimento oficial sobre o TEA. Mas não se pode
desmerecer o trabalho dos pioneiros deste campo. As primeiras
pesquisas, e mesmo as teorias falhas, ajudaram a pavimentar o
caminho das descobertas que atualmente trazem melhor
qualidade de vida para as pessoas autistas e suas famílias.
O autismo é interpretado em termos piagetianos, com referência
particular à questão de se o desenvolvimento cognitivo atípico
representa uma exceção à hipótese de sequência semelhante.

94
Bibliografia consultada

A
ANTHONY, E. J. The system makers: Piaget and Freud. British
Journal of Medical Psychology, v. 30, p. 255-269, 1957.

ANTHONY, E. J. An experimental approach to the


psychopathology of childhood: autism. British Journal of Medical
Psychology, v. 31, p. 211–227, 1958a

ANTHONY, E. J. An aetiological approach to the diagnosis of


psychosis in childhood. Acta Paedopsychiatrica, v. 25, p. 89–96,
1958b

AUTISMO E REALIDADE. Quatro médicos que mudaram a visão


do mundo sobre autismo. Disponível em: <
https://autismoerealidade.org.br/blog/?utm
_source=site&utm_medium=exit_intent&utm_campaign=test_ab_e
xit_blog > Acesso em: 31 dez. 2020.

95
B
BAIRD, G.; SIMONOFF, E.; PICKLES, A.; CHANDLER, S.;
LOUCAS, T.; MELDRUM, D.; CHARMAN, T. Prevalence of
disorders of the autism spectrum in a population cohort of children
in South Thames. Lancet, v. 368, p. 210-215, 2006.

BARON-COHEN, S.; LESLIE, A. M.; FRITH, U. Does the autistic


child have a ‘‘Theory of Mind’’?’ Cognition, v. 21, p. 37-46, 1985.

BARTAK, L.; RUTTER, M.; COX, A. A comparative study of


infantile autism and specific developmental receptive language
disorders III. Discriminant function analysis. Journal of Autism
and Developmental Disorders, v. 7, p. 383-396, 1977.

BARTHÉLÉMY-MUSSO, A.; TARTAS, V.; GUIDETTI, M. Prendre


les objets et leurs usages au sérieux: approche développementale
de la co-construction de conventions sémiotiques entre enfants.
Psychologie française, v. 58, p. 67-88, 2013.

BENDER, L. Clinical study of one hundred schizophrenic children.


American Journal of Orthopsychiatry, v. 17, p. 40-56, 1947.

96
BENDER, L. ‘Childhood schizophrenia. The Psychiatric
Quarterly, p. 27: 663-681, 1953.

BISHOP, D. ‘Forty Years On: Uta Frith’s contribution to research


on autism and dyslexia, 1966–2006’, The Quarterly Journal of
Experimental Psychology, v. 61: 16-26, 2006.

BLEULER, E. (1911) Dementia Praecox or the Group of


Schizophrenias. New York: International Universities. 1950.

BOWLBY, J. Maternal care and mental health: a report


prepared on behalf of the World Health Organization as a
contribution to the United Nations Programme for the Welfare
of Homeless Children. Geneva: World Health Organisation.
1951.

BRAINERD, C. J. Piaget's theory of intelligence.


EnglewoodCliffs, NJ: Prentice Hall. 1978.

BROWN, J.; MURRAY, D. Strategies for enhancing play skills for


chil dren with autism spectrum disorder. Educ. Train. Ment.
Retard. Dev. Disabil., v. 36, p. 312-317, 2001.

BRUCKNER, C. T.; YODER, P. Restricted object use in young


children with autism: definition and construct validity. Autism, v.
11, p. 161-171, 2007.

97
BURLINGHAM, D.; FREUD, A. Infants without families: the
case for and against residential nurseries. London: Allen &
Unwin. 1943.

BURT, C. Is the Doctrine of Instincts Dead? A Symposium: 1 –


The case for human instincts. British Journal of Educational
Psychology v. 11, p. 155-172, 1941.

C
CÁRDENAS, K.; RODRÍGUEZ, C.; PALACIOS, P. First symbols in
a girl with Down syndrome: a longitudinal study from 12 to 18
months. Infant Behav. Dev., v. 37, p. 416-427, 2014.

CHAPMAN, M. Constructive Evolution. Cambridge: Cambridge


University Press. 1988.

CHARMAN, T.; BARON-COHEN, S. Another look at imitation in


autism. Dev. Psychopathol., v. 6, p. 403-413, 1994.

CLAUDE, H.; BOREL, A.; ROBIN, G. Démence précoce,


schizomanie et schizophrénie. L’Encéphale, v. 19, p. 147–148,
1924.

98
COLVERT, E.; RUTTER, M.; KREPPNER, J.; BECKETT, C.; CASTLE, J.;
GROOTHUES, C.; HAWKINS, A.; STEVENS, S.; SONUGA-BARKE, E. J. S.
Do Theory of Mind and executive function deficits underlie the
adverse outcomes associated with profound early deprivation?:
Findings from the english and romanian adoptees study. Journal
of Abnormal Child Psychology, v. 36, p. 1057–1068, 2008.

COSTALL, A. P. The meaning of things. Soc. Anal., v. 41, 76-86,


1997.

CREAK, M. Schizophrenic syndrome in childhood. British


Medical Journal, v. 2, p. 889–890, 1961.

CREAK, M. E. A. Schizophrenic syndrome in childhood: further


progress report of a working party (April 1961). Developmental
Medicine and Child Neurology, v. 6, p. 530-535. 1964

CUSTANCE, D. M.; MAYER, J. L.; KUMAR, E.; HILL, E.;


HEATON, P. F. Do children with autism re-enact object
movements rather than imitate demonstrator actions? Autism
Res., v. 7, p. 28-39, 2014.

D
99
DERKSEN, M. Science in the clinic: clinical psychology at the
Maudsley. In: G. D. Bunn, A. D. Lovie and G. D. Richards. Eds.
Psychology in Britain: historical essays and personal
reflections. Leicester: BPS Books [British Psychological Society],
2001. pp. 267–89.

DIMITROVA, N. L’usage de l’objet, un lieu privilégié d’émergence


de la communication intentionnelle chez l’infant. In: C. Moro and
N. Muller Mirza. Eds. Sémiotique, culture et développement
psychologique. Lille, FR: Presses Universitaires du Septentrion.
2014. p. 79-98.

E
ELLENBERGER, H. F. The Discovery of the unconscious.
London: Allen Lane, Penguin. 1970.

EVANS, B.; RAHMAN, S.; JONES, E. Managing the


‘‘unmanageable’’: interwar child psychiatry at the Maudsley
Hospital, London. History of Psychiatry, v. 19: p. 454-475, 2008.

EVANS, B. How autism became autism: the radical transformation


of a central concept of child development in Britain. History of the
Human Sciences, v. 26, n. 3, p. 3-31, 2013.

100
EYAL, G.; HART, B.; ONCULER, E.; OREN, N.; ROSSI, N. The
autism matrix. Cambridge: Polity. 2010.

EYSENCK, H. J. Rebel with a cause: the autobiography of H.


J. Eysenck. London: W. H. Allen. 1990.

F
FRANKLIN, A. W. Children with communication problems.
Proceedings of a Conference Called by the Invalid Children’s
Aid Association. London: Pitman. 1965.

FREUD, S. (1894) The Standard Edition of the Complete


Psychological Works of Sigmund Freud, vol. 3, trans. J. Strachey.
London: Vintage. 2001.

FREUD, S. (1905) Three Essays on the Theory of Sexuality. In:


The standard editionof the complete psychological works of
Sigmund Freud, vol. 7, trans. J. Strachey. London: Vintage. 2001

FRITH, U. Studies in pattern detection in normal and autistic


children. I. Immediate recall of auditory sequences. Journal of
Abnormal Psychology, v. 76, p. 413-420, 1970.

101
FRITH, U. Autism: explaining the enigma. New York: Blackwell.
2003.

G
GENOVESE, J. E. C. Piaget, pedagogy, and evolutionary
psychology. Evolutionary Psychology, v. 1, p. 127-137, 2003.

H
HARRIS, B. The health of the schoolchild. Buckingham, Bucks:
Open University Press. 1995.

HARRIS, J. C. Developmental neuropsychiatry. Oxford: Oxford


University Press. 1998.

HARRIS, P. L. The Work of imagination. New York, NY: Wiley-


Blackwell. 2000

102
HEIMANN, P. (1943) Some Aspects of the Role of Introjection and
Projection in Early Development – 1943. In: P. King and R.
Steiner. Eds. The Freud–Klein controversies,1941-1945.
London: Tavistock/Routledge, 1991. pp. 501–30.

HERMELIN, B.; O’CONNOR, N. The response and self-generated


behaviour of severely disturbed children and severely subnormal
controls. British Journal of Social and Clinical Psychology, v.
2, p. 37-43, 1963.

HERMELIN, B.; O’CONNOR, N. Remembering of words by


psychotic and subnormal children. British Journal of
Psychology, v. 58, p. 213-18. 1967

HOBSON, R. P. Autism and the development of mind. Hove,


Sx: Lawrence Erlbaum. 1993.

HOBSON, R. P. The cradle of thought. London: Macmillan.


2002.

103
ISAACS, S. (1943) The nature and function of phantasy. In: P.
King and R. Steiner Eds. The Freud–Klein controversies, 1941–
1945. London: Tavistock/Routledge. 1991. pp. 264–321.

IANNACCONE, A.; SAVARESE, G.; MANZI, F. The use of objects


for autistic children: a study in Piagetian perspective and the use
of construction blocks. In: Poster Presented at XXIX Congresso
Nazionale AIP Sezione di Psicologia dello Sviluppo e
dell’Educazione (Vicenza). 2016.

IANNACCONE, A.; SAVARESE, G.; MANZI, F. Object use in


children with autism: building with blocks from a piagetian
perspective. Frontiers in Education, February, v. 3, article 12, p, 1-
12, 2018.

J
JANET, P. M. F.; RAYMOND, F. Les obsessions et la
psychasthenie. Paris: Alcan. 1903.

JOHN-STEINER, V.; MAHN, H. Sociocultural approaches to


learning and development: a Vygotskian framework. Educ.
Psychol., v. 31, p. 191-206,1996.

104
JONES, K. W. Taming the troublesome child. London: Harvard
University Press. 1999

K
KANNER, L. Autistic disturbances of affective contact. Nervous
Child, v. 2, p. 217-250, 1943.

KANNER, L. Childhood psychosis: a historical overview. Journal


of Autism and Childhood Schizophrenia, v. 1, p. 14–19, 1971.

KING, P.; STEINER, R. E. Eds. The Freud–Klein controversies


1941-1945. London: Tavistock/Routledge. 1991.

KLEIN, M. Personification in the Play of Children. International


Journal of Psychoanalysis, v. 10, p. 193-204, 1929.

KLEIN, M. The importance of symbol formation in the development


of the ego. International Journal of Psychoanalysis, v. 11, p.
24-39, 1930.

KLERMAN, G.; VAILLANT, G.; SPITZER, R.; MICHELS, R. A


debate on DSM-III. American Journal of Psychiatry, v.141, p.
539-554, 1984.

105
KOLVIN, I. Psychoses in childhood – a comparative study. In: M.
Rutter. Ed. Infantile autism: concepts, characteristics and
treatment. London: Churchill Livingstone. 1971.

L
LEE, G. T.; FENG, H.; XU, S.; JIN, S. J. Increasing “object-
substitution” symbolic play in young children with autism spectrum
disorders. Behav Modif., v. 43, n. 1, p. 82-114, 2019.

LESLIE, A. M.; FRITH, U. Autistic children’s understanding of


seeing, knowing and believing. British Journal of
Developmental Psychology, v. 6, p. 315-324, 1988.

LEONTIEV, A. N. Problems of the development of mind.


Moscow: Progress Publishers. 1981.

LINDSAY, G. Screening for children with special needs:


multidisciplinary approaches. London: Croom Helm. 1984.

LOTTER, V. Epidemiology of autistic conditions in young children.


Social Psychiatry, 1, p. 124–37, 1966.

106
M
MANZI, F.; SAVARESE, G. Interaction with/through object and
social functions in ASD children. In: Inequalities: what
contributions of the” educations for ... ”? Abstract Book of the
International Congress: EducA. Hammamet, Tunisia, 73. 2017

MARTIN, J. A. M. Sensory disorder in the autistic child and its


implications for treatment. In: M. Rutter. Ed. Infantile autism:
concepts, characteristics and treatment. London: Churchill
Livingstone. 1971. pp. 286–96.

MCCUNE-NICOLICH, L. Toward symbolic functioning: structure of


early pretend games and potential parallels with language. Child
Dev., v. 52, p. 785-797, 1981.

MCDUFFIE, A.; OAKES, A.; MACHALICEK, W.; THURMAN, A.;


SUMMERS, S. STEWART, A.; ABBEDUTO, L. Play with objects in
young males with fragile X syndrome: a pre-liminary study. J.
Commun. Disord., v. 53, p. 17-29, 2015.

MCGUIRE, W. (Ed). The Freud–Jung letters: the


correspondence between Sigmund Freud and C. G. Jung.
London: Hogarth Press. 1974.

107
MILLER, J. L.; ABLES, E. M.; KING, A. P.; WEST, M. J. Different
patterns of contingent stimulation differentially affect attention
span in prelinguistic infants. Infant Behav. Dev., v. 32, p. 254-
261, 2009.

MILLER, J. L.; GROS-LOUIS, J. Socially guided attention


influences infants’ communicative behavior. Infant Behav. Dev.,
v. 36, p. 627-634, 2013.

MILLER, J. L.; GROS-LOUIS, J. The effect of social


responsiveness on infants’ object-directed imitation. Infancy, v.
22, p. 344-361, 2017.

MORENO-NÚÑEZ, A.; RODRÍGUEZ, C.; DEL OLMO, M. J.


Rhythmic ostensive gestures: how adults facilitate infants’
entrance into early triadic interactions. Infant Behav. Dev., v. 49,
p. 168-181, 2017.

MORGAN, S. Autism and Piaget's theory: Are the two compatible?


Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 16, p. 441-
457, 1986.

MORO, C. Material culture, semiotics and early childhood


development. In: M. Kontopodis, C. Wulf, and B. Fichtner. Eds.
Children, development and education: cultural, historical,

108
anthropological perspectives. London, New York: Springer
Verlag. 2011. pp. 57-70.

MORO, C. Le rôle de l’objet dans la construction de l’attention con


jointe et dans l’accès aux intentions d’autrui. In: Eds C. Moro and
N. Muller Mirza. Sémiotique, culture et développement
psychologique. Lille, FR: Presses Universitaires du Septentrion.
2014. pp. 55-77.

MOSKOWITZ, A. (2005) Pierre Janet’s influence on Bleuler’s


concept of schizophrenia. Janetian studies 2. Disponível em: <
http://pierre-janet.com/JSarticles/2005/am05.doc > Acesso em 30
dez. 2020,

MURRAY, S. Representing autism. Liverpool: Liverpool


University Press. 2008.

N
NADESAN, M. H. Constructing autism. London: Routledge.
2005

109
P
PALACIOS, P.; RODRÍGUEZ, C. The development of symbolic
uses of objects in infants in a triadic context: a pragmatic and
semiotic perspective. Infant Child Dev., v. 24, p. 23-43, 2015.

PERNER, J.; FRITH, U.; LESLIE, A. M.; LEEKAM, S. ‘Explorations


of the autistic child’s Theory of Mind: knowledge, belief and
communication. Child Development, v. 60, p. 689-700, 1989.

PIAGET, J. La pense´e symbolique et la pense´e de l’enfant


Archives de psychologie, v.18, p. 273–304, 1923.

PIAGET, J. The Child’s Conception of the World. London, UK:


Routledge and Kegan Paul. 1928.

PIAGET, J. The child’s conception of the world. London: Kegan


Paul. 1929.

PIAGET, J. The origins of intelligence in children. New York,


NY: Norton. 1952.

PIAGET, J. The construction of reality in the child. New York,


NY: Basic Books. 1954.

110
PIAGET, J. Play, dreams and imitation in childhood. New York,
NY: Norton. 1962.

PIAGET, J. The psychology of the child. New York, NY: Basic


Books. 1972.

R
RAPOPORT, J.; CHAVEZ, A.; GREENSTEIN, D.; ADDINGTON,
A.; GOGTAY, N. Autism Spectrum Disorders and childhood-onset
schizophrenia: clinical and biological contributions to a relation
revisited. Journal of the American Academy of Child &
Adolescent Psychiatry, v. 48, p. 10-18, 2009.

RODRÍGUEZ, C.; MORO, C. El uso convencional también hace


permanentes a los objetos. Infancia y Aprendizaje, v. 21, p. 67-
83, 1998.

RODRÍGUEZ, C.; MORO, C. Chapter 5. Coming to agreement:


object use by infants and adults. In: J. Zlatev, T. P. Racine, C.
Sinha, and E. Itkonen. Eds. The shared mind: perspectives on
intersubjectivity. 2008. pp. 89–114.

111
RODRÍGUEZ, C.; MORENO-NÚÑEZ, A.; BASILIO, M.; SOSA, N.
Ostensive gestures come first: their role in the beginning of shared
reference. Cogn. Dev., v. 36, p. 142-149. 2015.

ROGERS, S. An examination of the imitation deficit in autism. In:


J. Nadel and G. Butterworth. Eds. Imitation in Infancy.
Cambridge: Cambridge University Press. 1999. 254–279.

ROGERS, S. J.; HEPBURN, S.; STACKHOUSE, T.; WEHNER, E.


(). Imitation performance in toddlers with autism and those with
other developmental disorders. J. Child Psychol. Psychiatry, v.
44, p. 763-781, 2003.

ROSE, N. S. The psychological complex. London: Routledge.


1985.

ROSE, N. S. Governing the soul. London: Free Association


Press. 1999.

RUTTER, M. Classification and categorisation in child psychiatry.


Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 6, p. 71-83,
1965.

RUTTER, M. Behavioural and cognitive characteristics. In J. K.


Wing. Ed. Early childhood autism: clinical, educational and
social aspects. London: Pergamon Press. 1966.

112
RUTTER, M.; LOCKYER, L.; GREENFELD, D. A Five to Fifteen
Year Follow-up Study of Infantile Psychosis. British Journal of
Psychiatry, v. 113, p. 1183-1199, 1967.

RUTTER, M. Concepts of Autism. Journal of Child Psychology


and Psychiatry, v. 9, p. 1–25, 1968.

RUTTER, M.; TIZARD, J.; WHITMORE, K. Education, health and


behaviour. Harlow, Essex: Longman. 1970.

RUTTER, M. Childhood schizophrenia reconsidered. Journal of


Autism and Developmental Disorders, v. 2, p. 315–37, 1972.

RUTTER, M., BARTAK, L. AND COX, A. A comparative study of


infantile autism and specific developmental receptive language
disorder: I. The children. The British Journal of Psychiatry, v.
126, p. 127-145, 1975.

RUTTER, M.; ANDERSEN-WOOD, L.; BECKETT, C.; BREDENKAMP, D.;


CASTLE, J.; GROOTHUES, C.; KREPPNER, J.; KEAVENEY, L.; LORD, C.;

O'CONNOR, T. G. Quasi-Autistic patterns following severe early


global privation. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v.
40, p. 537-549, 1999.

RUTTER, M. The Emergence of developmental psychopathology.


In: G. D. Bunn, A. D. Lovie and G. D. Richards. Eds. Psychology

113
in Britain. Leicester: BPS Books [British Psychological Society],
2001. pp. 422–32.

S
SAVARESE, G.; MANZI, F.; IANNACCONE, A. Social functions in
ASD children and interaction with/through object: a brief report.
Psychology, v. 8, p. 1129-1133, 2017.

SAYERS, J. British psychology and psychoanalysis: the case of


Susan Isaacs. In: G. D. Bunn, A. D. Lovie and G. D. Richards.
Eds. Psychology in Britain: historical essays and personal
reflections. Leicester: BPS Books. 2001. pp. 205–222.

SCHOPLER, E.; RUTTER, M.; CHESS, S. Editorial: change of


journal scope and title. Journal of Autism and Developmental
Disorders, v. 9, p. 1-10, 1979.

SHAFFER, D. Classification and categorisation revisited. In: M.


Rutter, J. Green and W. Yule. Eds. Research and Innovation on
the road to modern child psychiatry, vol. 1, Festschrift for
Professor Sir Michael Rutter. London: Gaskell and Association
for Child Psychology and Psychiatry. 2001. pp. 104-114.

114
SIGMAN, M.; UNGERER, J. Sensorimotor skills in autistic
children. Journal Abnormal Child Psychology, v. 9, p. 149-165,
1981.

SILVERMAN, C. Understanding autism. Princeton, NJ: Princeton


University Press. 2011.

SINHA, C. Objects in a storied world: materiality, normativity,


narrativity. J. Conscious Stud, v. 16, p. 167-190, 2009.

SINHA, C. Language and other artifacts: socio-cultural dynamics


of niche construction. Front. Psychol. v. 6, p. 1601. 2015

SINHA, C.; Rodríguez, C. Language and the signifying object:


from convention to imagination. In: J. Zlatev, T. Racine, C. Sinha,
and E. Itkonen. Eds. The shared mind: perspectives on
intersubjectivity. Amsterdam, Netherlands: John Benjamins.
2008. pp. 357-378.

SMITH, I. M.; BRYSON, S. E. Gesture imitation in autism: II.


Symbolic gestures and pantomimed object use. Cogn.
Neuropsychol., v. 24, p. 679-700, 2007.

SPITZER, R. L. Values and assumptions in the development of


DSM-III and DSM-III-R: an insider’s perspective and a belated
response to sadler, hulgus, and agich’s ‘‘on values in recent

115
american psychiatric classification’’’. The Journal of Nervous and
Mental Disease, v. 189, p. 351-359, 2001.

STAHMER, A. C.; INGERSOLL, B.; CARTER, C. Behavioral


approaches to promoting play. Autism, v. 7, p. 401-413, 2003.

STEINER, G. Background to the scientific controversies. In: P.


King and R. Steiner. Eds. The Freud–Klein controversies, 1941–
45. London: Tavistock/Routledge. 1991. pp. 227–263.

SWETTENHAM, J.; BARON-COHEN, S.; CHARMAN, T.; COX, A.;


BAIRD, G.; DREW, A.; REES, L.; WHEELWRIGHT, S. The
frequency and distribution of spontaneous attention shifts between
social and non social stimuli in autistic, typically developing, and
non autistic developmentally delayed infants. J. Child Psychol.
Psychiatry, v. 39, p. 747-753, 1998.

T
THOM, D. Wishes, anxieties, play, and gestures. In: R. Cooter.
Ed.) In the name of the child. London: Routledge. 1992. pp. 200–
19.

116
TOMASELLO, M. Joint attention as social cognition. In: C. Moore
and P. J. Dunham. Eds. Joint attention: Its origins and role in
development. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates Inc.
1995. pp.103-130.

TOMASELLO, M. Cultural learning redux. Child Dev., v. 87, p.


643-653, 2016.

THURBER, S.; SHEEHAN, W.; VALTINSON, G. Autism spectrum


conditions from a piagetian perspective: a case study.
Psychology Journal, v. 4, n. 1, p. 28-39, 2007.

TREVARTHEN, C.; HUBLEY, P. Secondary intersubjectivity:


confidence, confiding, and acts of meaning in the first year. In J.
Lock. Ed. Action, gesture, and symbol. London: Academic
Press. 1978. pp. 183-229.

U
UNGERER, J. A.; SIGMAN, M. Symbolic play and language
comprehension in autistic children. J. Am. Acad. Child
Psychiatry, v. 20, p. 318-337, 1981.

117
UNGERER, J. A.; SIGMAN, M. Categorization skills and receptive
language development in autistic children. Journal of Autistc and
Developmental Disorder, v. 17, p. 3-16, 1987.

V
VANVUCHELEN, M.; ROEYERS, H.; DE WEERDT, W. Do
imitation problems reflect a core characteristic in autism?
Evidence from a literature review. Res. Autism Spectr. Disord.,
v. 5, p. 89-95, 2011

VIDAL, F. Piaget before Piaget. Cambridge, MA and London:


Harvard University Press. 1994.

VOLKMAR, F. R. Handbook of autism and pervasive


developmental disorders. Hoboken, NJ and Chichester, Sx:
John Wiley & Sons. 2005.

W
118
WATSON, J. B. Behaviourism. New York: People’s Institute.
1925.

WILLIAMS, E.; COSTALL, A.; REDDY, V. Children with autism


experience problems with both objects and people. J. Autism
Dev. Disord., v. 29, p. 367-378, 1999.

WILLIAMS, J. H. G.; WHITEN, A.; SINGH, T. A systematic review


of action imitation in autistic spectrum disorder. J. Autism Dev.
Disord., 34, 285–299, 2004.

WILLIAMS, E.; KENDELL-SCOTT, L.; COSTALL, A. Parents’


experiences of introducing everyday object use to their children
with autism. Autism, v. 9, p. 495-514, 2005.

WING, J. K. Diagnosis, epidemiology, aetiology. In: J. K. Wing Ed.


Early childhood autism: clinical, educational and social
aspects. London: Pergamon Press. 1966. pp. 3–50.

WING, J. K.; HAILEY, A. M. Evaluating a community


psychiatric service: the Camberwell register, 1964–71.
London: Oxford University Press for the Nuffield Provincial
Hospitals Trust. 1972.

WING, L.; YEATES, S. R.; BRIERLEY, L. M.; GOULD, J. The


prevalence of early childhood autism: comparison of administrative

119
and epidemiological studies. Psychological Medicine, v. 6: 89-
100, 1976.

WING, L.; GOULD, J. Systematic recording of behaviours and


skills of retarded and psychotic children. Journal of Autism and
Childhood Schizophrenia, v. 8, p. 79-97, 1978.

WING, L.; GOULD, J. Severe impairments of social interaction and


associated abnormalities in children: epidemiology and
classification. Journal of Autism and Developmental Disorders,
v. 9, p. 11-29, 1979.

WING, L. Asperger’s Syndrome: a clinical account. Psychological


Medicine, v. 11, p. 115-29, 1981.

WING, L.; POTTER, D. The epidemiology of Autistic Spectrum


Disorders. Mental Retardation and Developmental Disabilities
Research, v. 8, p. 151-161, 2002.

WOOLDRIDGE, A. Measuring the mind: education and


psychology in england, c.1860–c.1990. Cambridge: Cambridge
University Press. 1994.

120
121

Você também pode gostar