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Climatologia

Material Teórico
Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins

Revisão Textual:
Prof. Esp. Márcia Ota
Escalas do clima, classificações climáticas
e clima urbano

• Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano


• Fatores de controle climático
• Sistemas produtores de tempo: massas de ar e frentes
• Classificação global dos climas

·· A Unidade tem por objetivo tratar sobre a influência dos fatores de controle nos
climas, abordar as diversas escalas dos climas e analisar o clima urbano e os seus
principais fenômenos típicos.

Nesta unidade, em que trataremos sobre as escalas do clima, classificações climáticas e


clima urbano, você terá acesso a diversos recursos.
Veja o mapa mental que sintetiza a estrutura do assunto tratado neste módulo.
Fique atento aos prazos das atividades que serão colocadas no ar.
Recorra, sempre que possível, às videoaulas e ao PowerPoint narrado para tirar eventuais
dúvidas sobre o conteúdo textual.
Participe do fórum de discussão proposto para o tema.
No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar.
Além disso, procure pesquisar, o máximo que puder, sobre o tema “Escalas do clima,
classificações climáticas e clima urbano”. Há inúmeros conteúdos na internet que são bastante
úteis para o seu estudo e para a sua formação profissional.
Bom estudo!

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Contextualização

Mapa dos Climas do Mundo de Köppen e Geiger

Fonte: University of Melbourne/Wikimedia Commons

O “Mapa dos Climas do Mundo de Köppen e Geiger” apresenta em sua legenda a


classificação Köppen-Geiger dos climas do mundo. Trata-se de um código que combina três
letras. As primeiras letras (“A”, “B”, “C”, “D”, “E”) são as zonas climáticas. Segundo esta
divisão, temos:

Código Tipo Descrição


Climas megatérmicos
Temperatura média do mês mais frio do ano > 18ºC
A Clima tropical Estação invernosa ausente
Forte precipitação anual (superior à evapotrasnpiração
potencial anual)
Climas secos (precipitação anual inferior a 500mm)
B Clima árido Evapotranspiração potencial anual superior à precipitação anual
Não existem cursos de água permanentes
Climas mesotérmicos
Clima temperado Temperatura média do ar dos 3 meses mais frios compreendidas
C ou clima temperado entre -3°C e 18°C
quente Temperatura média do mês mais quente > 10°C
Estações de Verão e inverno bem definidas

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Climas microtérmicos
Clima continental ou Temperatura média do ar no mês mais frios < -3°C
D
Clima temperado frio Temperatura média do ar no mês mais quente > 10ºC
Estações de Verão e Inverno bem definidas
Climas polares e de alta montanha
E Clima glacial Temperatura média do ar no mês mais quente < 10°C
Estação do Verão pouco definida ou inexistente

A segunda letra representa a condição de umidade e precipitação dos climas e deve ser
uma letra minúscula, podendo ser complementada por uma apóstrofe em caso de climas com
duplas estações chuvosas. Esta subclassificação é adotada nos climas zonais dos tipos “A”,
“C” ou “D”. Para os climas zonais “B” ou “E” adota-se uma segunda letra maiúscula (“B”) que
representa a precipitação total anual. Assim, temos

Aplica-se
Código Descrição
ao grupo
Clima das estepes
S B
Precipitação anual total média Compreendida entre 380 e 760 mm
Clima desértico
W B
Precipitação anual total média < 250 mm
Clima húmido
F Ocorrência de precipitação em todos os meses do ano A-C-D
Inexistência de estação seca definida
W Chuvas de verão A-C-D
S Chuvas de inverno A-C-D
W’ Chuvas de Verão-outono A-C-D
S’ Chuvas de Inverno-outono A-C-D
Clima de monção:
M Precipitação total anual média > 1500mm A
Precipitação do mês mais seco < 60mm
T Temperatura média do ar mais quente compreendida entre 0 e 10ºC E
F Temperatura média do mês mais quente < 0ºC E
Precipitação abundante
M E
Inverno pouco rigoroso

A terceira letra da codificação representa a situação térmica dos climas.


Podendo ser a temperatura média mensal dos meses mais quentes (para os climas zonais
“C” ou “D”) ou a temperatura média anual (no clima zonal “B”). Assim, temos

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Aplica-se
Código Descrição
ao grupo
a: Verão
Temperatura média do ar no mês mais quente ≥ 22ºC C-D
quente
b: Verão Temperatura média do ar no mês mais quente < 22ºC
C-D
temperado Temperaturas médias do ar no 4 meses mais quentes > 10ºC

Temperaturas média do ar no mês mais quente < 22ºC


c: Verão
curto e Temperaturas médias do ar > 10ºC durante menos de 4 meses C-D
fresco Temperatura média do ar no mês mais frio > -38ºC
d: Inverno
Temperatura média do ar no mês mais frio < -38ºC D
muito frio
Temperatura média anual do ar > 18ºC
h: seco e
Deserto ou semi-deserto quente (temperatura anual do ar igual ou B
quente
superior a 18ºC)
Temperatura media anual do ar < 18ºC
k: seco e
Deserto ou semi-deserto frio (temperatura anual média do ar inferior a B
frio
18ºC)

É importante ressaltar que há inúmeras classificações climáticas para os climas brasileiros, as


propostas de Edmon Nimer, Lysia Bernardes, Arthur Strahler, além da própria classifcação de
Köppen-Geiger. A completa explicação para o método de classificação pode ser consultado
em Peel, Finlayson e McMahon (2007)1

1
Disponível em http://www.hydrol-earth-syst-sci.net/11/1633/2007/hess-11-1633-2007.pdf. Acessado em
10/04/2015

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Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano
Um dos aspectos mais marcantes da Climatologia moderna é a delimitação das unidades
climáticas. Graças a Max Sorre, a climatologia adquiriu um perfil mais dinâmico e além de
enxergar os climas do ponto de vista escalar, a Climatologia dinâmica atribui ao tempo e aos fatores
de controle os status de ferramentas essenciais de compreensão dos ritmos que caracterizam
a singularidade dos climas, superando as limitações da Climatologia tradicional, considerada
estática demais por conceber o clima como um estado médio das condições atmosféricas.
Nesta unidade, discutiremos as escalas de abrangência dos climas, a diversidade de tipos e
a particularidade dos climas urbanos, suas causas naturais e socioeconômicas. Analisaremos
alguns dos fenômenos climáticos urbanos mais importantes do ponto de vista das suas gêneses
e as consequências que produzem para a população residente.

Fatores de controle climático

Chamamos de fatores de controle climático os elementos que compõem as paisagens dos


lugares e contribuem de forma direta ou indireta com o ritmo apresentado pelos climas.

Dentre os aspectos que podemos evidenciar como controladores


de climas estão as variações encontradas, segundo localização em
Latitudes
relação à superfície terrestre, tomando-se por base as distâncias desde
o Equador até os polos.
Excetuando-se todas as outras variáveis, se tomarmos uma linha reta desde o Equador até os
polos Norte ou Sul, notaremos uma redução geral nas médias térmicas, além de uma redução
nas taxas de evapotranspiração. A primeira é devida à variação na radiância, isto é, conforme
aumenta a curvatura da superfície terrestre, as médias térmicas diminuem. A segunda se deve
à diminuição das superfícies líquidas, redução nos limites de saturação do ar e diminuição dos
organismos vivos fotossintetizantes que libera vapor por transpiração.
A Figura 1 apresenta as variações latitudinais de temperatura e evaporação encontradas na
superfície terrestre.

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Figura 1. Taxas de precipitação e evaporação para a superfície terrestre

Fonte: Ayoade (1983)

Podemos notar, na Figura 1, que nas baixas latitudes as taxas de precipitação em mm/ano
são muitos superiores que as de evaporação, embora estas apresentem valores consideráveis.
Isso se deve às altíssimas médias térmicas que caracterizam essas porções da superfície terrestre.
Há uma inversão nos valores nas faixas de média latitude onde os valores de evaporação
superam os de precipitação tendo em vista tratarem-se de regiões de alta pressão e de ar
descendentes seco.
Ainda com base na Figura 1, nas zonas de altas latitudes, as taxas de evaporação caem
drasticamente enquanto que a precipitação se mantém elevada ou aumenta em comparação
com aquelas. A explicação para esse fenômeno está no fato de que a umidade, que é condensada
ou solidificada resultando em chuva ou em neve, vem das latitudes médias, empurrada pelo ar
seco e denso.

No caso da altitude, consideramos que o aspecto de controle deste


Altitudes fator está no fato de que, desde o nível do mar até o limite superior
da troposfera, as médias térmicas diminuem cerca de 6,5 °C por km.
O dado anterior está associado à rarefação da matéria existente na atmosfera que decresce
em volume com o aumento da altitude e por esse motivo diminuem os elementos absorvedores
de radiação solar.
Assim, a cerca de 5,5 km de altitude a densidade do ar é a metade da encontrada ao nível do
mar. A 16 km de altitude, a densidade cai para apenas 10% e a cerca de 30 km, a densidade
do ar sofre uma rarefação para apenas 1% do que representa ao nível do mar, o que implica
diretamente na redução progressiva das médias térmicas.
Tal diferenciação já havia sido observada por Humboldt na “Geographie der Pflanzen”
(Geografia das Plantas), publicada em 1807, que estabeleceu a variação das formações
vegetais desde o nível do mar até as altitudes elevadas em diversos continentes. Humboldt e
depois o próprio Köppen deduziram que as variações das formações vegetais reproduziriam
as condições climáticas a cada faixa de altitude.

Geographie der Pflanzen: http://goo.gl/U2Z9tw. Acessado em: 05/04/15

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O relevo é um excepcional agente controlador do clima. Tanto as
grandes planícies, de relevo suavizado e de altitudes modestas,
podem ser indicativas de grandes climas regionais, quanto às cadeias
Relevo
montanhosas e serras alongadas ortogonalmente à direção dos ventos
podem influenciar diretamente a distribuição das chuvas. É o caso das
chuvas orográficas e das diferenças do ar a barlavento e a sotavento.

As chuvas orográficas são bastante comuns na faixa costeira leste do Brasil. Como o ar
é forçado a subir desde o nível do mar até o topo da Serra do Mar que varia entre 1.000 a
2.000 m de altitude, ocorre o resfriamento adiabático e, consequentemente, quedas sucessivas
no ponto de orvalho. Esse processo promove a condensação e subsequente precipitação da
umidade existente na chamada face de sotavento, isto é, a que está voltada para a origem do
ar em movimento ou da brisa marinha.
Quando o ar em movimento ascendente termina a escalada pela encosta, as taxas de umidade
já são bem mais baixas e a condensação e a precipitação bem mais modestas. Temos aí o que
chamamos de “sombra de chuva” na face de barlavento ou aquela que está voltada para a
direção do destino do ar em movimento. O esquema da Figura 2 apresenta este processo.
Figura 2. Esquema explicativo para a chuva orográfica

Compilado por Carlos Eduardo Martins

O tipo de cobertura vegetal também pode ser considerado um


Vegetação importante fator de controle climático devido ao fato de que os
constituintes dos biomas interagem diretamente com os climas.
A interação entre plantas e elementos atmosféricos ocorre ao nível da absorção da radiação
solar, à produção de umidade por transpiração e produção de O2 durante o processo de
fotossíntese, sendo os biomas, direta ou indiretamente e fisiológica ou anatomicamente
associados aos climas como é o caso da tundra, da savana e da floresta tropical úmida, isto é,
massas relativamente homogêneas de vegetais e de animais, em equilíbrio entre elas, e com
o clima (BERTRAND, 1972).

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Outro fator de grande importância no controle dos climas, a


maritimidade tem a ver com a influência exercida pelas correntes
marinhas que banham as faixas costeiras dos continentes. As elevadas
taxas de umidade produzidas pela passagem de correntes marítimas
Maritimidade quentes pelo litoral são responsáveis pela amenização dos climas, isto
é, nessas áreas, nem o verão e nem o inverno serão tão rigorosos.
Por outro lado, as correntes frias são inibidoras de chuvas e podem
influenciar a formação de áreas áridas e semiáridas costeiras. A Figura 3
representa o provável trajeto e a identificação das correntes marítimas.

Figura 3. Correntes marítimas regionais

Compilação: Carlos Eduardo Martins

Trata-se de um aspecto diametralmente oposto ao caso anterior, pois


devido à falta de umidade proveniente do mar, dada a distância que certas
Continentalidade regiões interioranas guardam em relação a este, a continentalidade
acentua (aumenta) as amplitudes térmicas, tanto entre os dias e as
noites quanto entre as estações quentes e frias do ano.

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Sistemas produtores de tempo: massas de ar e frentes

Denominamos sistemas produtores de tempo os fenômenos de circulação atmosférica


responsáveis pelas chamadas perturbações atmosféricas, tais como: ciclones, anticiclones de
latitudes médias, além dos ciclones tropicais e as monções.

Ciclones
Damos o nome de ciclones às perturbações responsáveis pela ocorrência de situações de
baixa pressão (ar quente ascendente) envolvidas por áreas de pressão mais elevada. Os ciclones
podem ser caracterizados por sua mobilidade na superfície terrestre. No hemisfério Norte, os
ciclones movem-se girando no sentido anti-horário e no hemisfério Sul no sentido horário.
O comportamento da atmosfera sob a influência de um ciclone é de bastante instabilidade e
tempestuosidade. Segundo a região de ocorrência na superfície terrestre, os ciclones podem
ser subdivididos em dois grupos: ciclones tropicais e ciclones extratropicais.

Os ciclones tropicais são os que ocorrem entre os trópicos de Câncer


e Capricórnio. Esses ciclones cumprem uma trajetória Leste-Oeste.
Ciclones Regionalmente, são identificados como furacões no Atlântico central
tropicais e como tufões no Pacífico ocidental e norte do Índico. Os ciclones
tropicais são formados por diversas bandas nebulosas compostas por
nuvens convectivas.
Os ciclones extratropicais, como o próprio nome diz, são os
fenômenos atmosféricos que ocorrem entre os trópicos e os polos.
Têm suas trajetórias definidas de Oeste para Leste acompanhando
o movimento da revolução da Terra. Caracterizam-se por uma única
Ciclones
faixa de nebulosidade em espiral ao redor de um centro de baixa
extratropicais
pressão. No caso dos ciclones extratropicais polares, há diversas faixas
de nebulosidade com nuvens de cristais de gelo. Em sua maioria, são
também chamados de depressões, podendo ser de origem frontal,
sendo, nesses casos, chamados de “frentes frias”.

A Figura 4 apresenta um experimento do Centro Nacional de Furações do NOAA/NASA-


EUA, com o rastro de todos os ciclones tropicais que ocorreram desde 1985 até 2005.

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Figura 4. Rastreamento dos ciclones tropicais (1985-2005)

Fonte: Wikimedia Commons

Note, na imagem da Figura 4, que é possível identificar o ciclone extratropical que atingiu
o litoral do Estado de Santa Catarina.

Os anticiclones são fenômenos típicos de situações de alta pressão


central em relação às baixas pressões circundantes. Nesses casos, a
movimentação ocorre no sentido horário no hemisfério Norte e anti-
Anticiclones
horário no hemisfério Sul. Ao contrário do que ocorre quando temos
um ciclone, os anticiclones são responsáveis por estados de tempo
estáveis e calmos.
As massas de ar ou frentes são as áreas limites ou contato entre as
massas de ar com características térmicas e de umidades distintas.
Do ponto de vista conceitual, a massa de ar pode ser definida como
“corpo de ar horizontal e homogêneo deslocando-se como uma
Massas de ar entidade reconhecível e tendo tanto origem tropical quanto polar”
(AYOADE, 1983, p. 99). A zona limite ou de contato entre as massas
de ar produz a chamada frontogênese, isto é, a ação de uma massa
de ar sobre a outra em relação às propriedades térmicas e de umidade
de ambas.

Quando são geradas, as massas de ar adquirem as características térmicas e hídricas das


grandes extensões do globo com certa homogeneidade superficial, tais como: as zonas polares,
os oceanos, as grandes extensões aplainadas desérticas ou florestadas.
Ao se deslocar para fora das suas áreas de origem, as massas de ar sofrem modificações,
perdendo as suas características originais e interagindo com as massas de ar dos locais por
onde passam. Caso as massas de ar sejam mais quentes que a superfície por onde passam,
elas tendem a se estabilizar. Já no caso de a superfície por onde passa a massa de ar ser mais
quente, ocorre a instabilidade atmosférica.

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Além dos aspectos já mencionados, as massas de ar podem sofrer modificação térmica e
hídrica por aquecimento ou resfriamento adiabático. Isto se deve à existência das irregularidades
de relevo que “forçam” o ar a subir ou descer, implicando nas alternâncias do tipo sotavento
e barlavento. A Figura 5 apresenta de forma esquemática a disposição das principais massas
de ar da superfície terrestre.
Figura 5. Principais massas de ar

Fonte: Ayoade (1983, p. 102)

As massas de ar podem ser classificadas segundo diversos critérios. Do ponto de vista da área
de origem, podemos identificar três tipos: equatorial (E); tropical (T) e polar (P). Com relação às
suas propriedades térmicas, as massas são divididas em: quentes (tropical e equatorial) e frias
(polar). Já quanto à umidade podemos distinguir dois tipos: continentais (secas) e marítimas ou
oceânicas (úmidas). Vale destacar que a massa Equatorial que tem origem sobre a Amazônia é
úmida devido às elevadíssimas taxas de evapotranspiração.

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Frentes
A frentes podem ser entendidas como as áreas de transição entre massas de ar com
características distintas. As frentes podem ser classificadas da seguinte forma:

É a área de contato gerada pelo avanço lento da massa de ar quente


Frentes quentes em relação à massa de ar frio. No hemisfério Sul, vão no sentido NO
para SE e no hemisfério Norte vão de SO para NE.
É a zona de contato promovida pelo avanço rápido da massa de ar
frio em relação à massa de ar quente. No hemisfério Sul, as frentes
frias se deslocam no sentido SO para NE, no hemisfério Norte de NO
Frentes frias para SE. O choque resulta em instabilidade momentânea no tempo,
representada pelas chuvas e pela queda na temperatura na área onde
predominava o ar quente e úmido. Na Figura 6, vemos uma situação
hipotética típica de uma frente fria.
Figura 6. Na faixa que compreende a frente fria, ou seja, no contato entre as duas massas
de ar, ocorre chuva e queda nas médias térmicas.
temperatura mínima:
Ventos altos 20o C
cirrostratus Quarta-feira
temperatura máxima:
probabilidade de chuva:
32o C
80%
cirrus volume estimado: 10 mm
cumulonimbus
temperatura mínima: 20o C
Altocumulus Quinta-feira
temperatura máxima: 25o C
probabilidade de chuva: 80%
volume estimado: 15 mm

cumulus cumulus temperatura mínima: 18o C


temperatura máxima: 24o C
humilis Sexta-feira
probabilidade de chuva: 60%
Ar quente volume estimado: 05 mm
Ar frio temperatura mínima: 17o C
temperatura máxima: 26o C
Sábado
probabilidade de chuva: 20%
volume estimado: 02 mm

É caracterizada pelo equilíbrio das pressões entre a massa de ar


Frentes que empurra e a que já estava no local do encontro. Isso diminui a
estacionárias velocidade do deslocamento tornando este contato mais duradouro e
até o estacionamento da condição de tempo gerada pela frontólise.
São devidas ao contato brusco entre frentes frias e quentes, o que
Frentes oclusas provoca a ascensão rápida do ar quente, gerando ciclones do tipo
extratropicais.

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A representação gráfica das frentes foi internacionalmente convencionada e é apresentada
na Figura 7.

Figura 7. Simbologia das frentes A intensidade do movimento do ar é muito


variável e diferenciar os ventos fortes dos
furacões é uma questão bastante específica
da localização na qual a medição foi feita.
As perturbações atmosféricas têm começo, meio e
fim, por esse motivo a medição do auge do fenômeno
é que define a sua escala.
A primeira forma de classificação da intensidade
dos ventos foi desenvolvida em 1806 pelo contra-
almirante britânico Francis Beaufort, tendo posto
em prática em 1831 a bordo do HMS Beagle, na
Fonte: opc.ncep.noaa.gov expedição que transportou Charles Darwin pelo
mundo. O Quadro 1 apresenta a escala de Beaufort
da forma como é utilizada atualmente:

Quadro 1. Escala de Beaufort

Fonte: http://www.cpa.unicamp.br/artigos-especiais/vendavais.html, Acessado em 03/04/2015

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Classificação global dos climas

Uma das tarefas mais importantes da Climatologia é a definição das escalas climáticas,
além dos componentes e fatores a elas associados. Grosso modo, os climas poderiam ser
subdivididos infinitamente, mas para efeito de análise, compomos as escalas dos climas em
zonal, regional, local, topoclima e microclima. Vejamos resumidamente cada uma das escalas:

Clima de escala zonal


São os climas regidos por elementos de grande magnitude como: a circulação superior, a
latitude, as cadeias montanhosas, a distância ou a proximidade do oceano e o movimento da
Terra. Nesta escala, podem aparecer estruturas azonais, isto é, aquelas em que um elemento
(uma elevação isolada, um lago ou um mar interior) “quebra” a regularidade marcada pela
magnitude dos elementos anteriormente tratados.
As variações climáticas nesta escala ocorrem a grandes escalas temporais, sendo necessária
a realização de coleta de dados atmosféricos ao longo de décadas. Espera-se que as normais
climatológicas de 30 anos possam revelar alguma alteração nestas escalas climáticas. A escala
zonal mais empregada na Climatologia foi desenvolvida por Wladimir Köppen, posteriormente
adaptado por Rudolf Geiger. Tal classificação pode ser observada na representação cartográfica
de 1954, apresentada no item “Contextualização” desta unidade.
Um exemplo dos mais relevantes na escala zonal é o clima de monções. A palavra monção
tem origem no vocábulo árabe “malsim” remetendo à ideia de estações de seca e de chuva.
As monções designam a sazonalidade dos ventos em toda a porção costeira Sul, Sudeste e
Oeste da Ásia. A Figura 8 apresenta esquematicamente o funcionamento das monções asiáticas.
Figura 8. Estrutura de funcionamento do clima de monções de verão (esq.) e de inverno (dir.)

Fonte: Compilação: Carlos Eduardo Martins

No verão, prevalecem as monções de verão com a ocorrência de elevados índices


de precipitação em toda a região. Toda esta chuva é responsável por um longo período de
estragos produzidos pelas inundações dos grandes rios que cortam a região. Isso se deve ao
fato de que no verão as zonas de altas pressões no Oceano Índico deslocam-se na direção
Norte, provocando a ascensão das massas de ar quentes e úmidas existentes em toda a fachada
Sul, Sudeste e Oeste asiático, gerando as chuvas.

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No inverno, devido às formações de zonas de alta pressão sobre o continente asiático, o ar
descendente frio “empurra” toda a umidade devida às baixas pressões sobre Oceano Índico
para a superfície deste, dificultando a precipitações ou provocando a estiagem das chuvas
no continente. E é justamente a sazonalidade do clima de monções que regula as atividades
produtivas e as culturas em todas as regiões anteriormente mencionadas.
As imagens da Figura 8 podem ser exemplos da ação dos fatores de maritimidade, quando
os ventos monçônicos de alta pressão oriundos no Oceano Índico produzem chuva na faixa
costeira do continente asiático. Por outro lado, as monções de inverno originadas sobre
o continente funcionam como inibidores de chuva exemplificando o efeito de controle da
continentalidade sobre o clima de monções.

Clima de escala regional


São as unidades menores dos climas de escala zonal, regulados por fatores mais restritos às
paisagens regionais dos continentes e dos oceanos.
Para estas escalas climáticas torna-se capital, além das análises das normais ou médias de
30 anos, o estudo das variáveis de cinco em cinco ou 10 em 10 anos, mês a mês ou, ainda,
estação por estação. Desta forma, acredita-se que seja possível anotar singularidades dentro
das séries provenientes do critério escolhido.
De acordo com a classificação de Köppen-Geiger representada no Mapa dos Climas do
Mundo de Köppen e Geiger, temos os seguintes tipos climáticos para a superfície terrestre, os
quais delimitam as escalas zonais e regionais:

A - Clima tropical: climas megatérmicos das regiões tropicais e subtropicais, apresentando


as seguintes variações regionais:

Af: clima tropical úmido ou clima equatorial;


Am: clima de monção;
Aw: clima tropical com estação seca de inverno;
As: clima tropical com estação seca de verão.

B - Clima árido: climas das regiões áridas e dos desertos das regiões subtropicais e de
média latitude, apresentando as seguintes variações regionais:

BS: clima das estepes;


BSh: clima das estepes quentes de baixa latitude e altitude;
BSk: clima das estepes frias de média latitude e grande altitude;
BW: clima desértico;
BWh: clima das regiões desérticas quentes de baixa latitude e altitude;
BWk: clima das regiões desérticas frias das latitudes médias ou de grande altitude.

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

C - Clima temperado: climas das regiões oceânicas e marítimas e das regiões costeiras
ocidentais dos continentes, apresentando as seguintes variações regionais:

Cf: clima oceânico sem estação seca;


Cfa: clima temperado úmido com verão quente;
Cfb: clima temperado úmido com verão temperado;
Cfc: clima temperado úmido com verão curto e fresco;
Cw: clima temperado úmido com inverno seco;
Cwa: clima temperado úmido com inverno seco e Verão quente;
Cwb: clima temperado úmido com inverno seco e Verão temperado;
Cwc: clima temperado úmido com inverno seco e Verão curto e fresco;
Cs: clima temperado úmido com verão seco (clima mediterrânico);
Csa: clima temperado úmido com verão seco e quente;
Csb: clima temperado úmido com verão seco e temperado;
Csc: clima temperado úmido com verão seco, curto e fresco.

D - Clima continental ou climas temperados frios: clima das grandes regiões


continentais de média e alta latitude), apresentando as seguintes variações regionais:

Df: clima temperado frio sem estação seca;


Dfa: clima temperado frio sem estação seca e com verão quente;
Dfb: clima temperado frio sem estação seca e com verão temperado;
Dfc: clima temperado frio sem estação seca e com verão curto e fresco;
Dfd: clima temperado frio sem estação seca e com Inverno muito frio;
Dw: clima temperado frio com Inverno seco;
Dwa: clima temperado frio com Inverno seco e com verão quente;
Dwb: clima temperado frio com Inverno seco e com verão temperado;
Dwc: clima temperado frio com Inverno seco e com verão curto e fresco;
Dwd: clima temperado frio com Inverno seco e muito frio.

E - Clima glacial: clima das regiões circumpolares e das altas montanhas, apresentando
as seguintes variações regionais:

ET: clima de tundra;


EF: clima das calotas polares;
EM: clima das altas montanhas.

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Como exemplo da regionalidade dos climas, podemos analisar, na imagem do item
“Contextualização”, as variações climáticas existentes no Brasil.
Na divisão dos climas brasileiros, pode-se distinguir variações regionais em função de dois
aspectos fundamentais: as taxas de precipitação e de temperatura. Rapidamente, é possível
observar a grande área vermelha que destaca o clima tropical semiárido mediano a muito
forte envolto pelo semiárido moderado (amarelo), na porção Nordeste do território brasileiro,
culturalmente identificada como “Sertão”, onde a Caatinga é a paisagem natural predominante.
O clima temperado ou subtropical encontra-se bem delimitado ao Sul, ocupando os estados do
RS, SC PR e as maiores altitudes ao Sul do estado de SP.
As outras porções do território brasileiro são caracterizadas pelos climas quentes e úmidos,
equatorial e tropical, sendo esse último marcado por estiagens prolongadas no inverno.
Entre as causas mais relevantes destas particularidades climáticas estão as massas de ar que
atuam no território brasileiro (Figura 9).
Caatinga: Bioma brasileiro formado por plantas xerófitas, como: o mandacaru, o xique-xique,
a coroa de frade, todos da família das cactáceas, com elevado nível de resistência às secas
prolongadas ou às chuvas escassas.

Figura 9. Massas de ar atuantes no Brasil

Compilação: Carlos Eduardo Martins

São cinco as massas de ar que influenciam a distribuição e compartimentação dos climas


no Brasil:
Massa Equatorial Continental (mEc) – quente e úmida;
Massa Equatorial Atlântica (mEa) – quente e úmida;
Massa Tropical Continental (mTc) – quente e seca;
Massa Tropical Atlântica (mTa) quente e úmida; e
Massa Polar Atlântica (mPa) – fria e seca.

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Das massas de ar que influenciam os climas no Brasil, a mPa é a que produz os efeitos
mais relevantes dada a sua capacidade de produzir instabilidade por onde passa. Por ser fria,
promove a queda das médias térmicas e a convecção do ar quente e úmido, provocando a
condensação da água e as chuvas frontais por onde passa.
A ação da mPa é mais significativa entre junho e setembro, no inverno, quando pode
chegar ao Norte, produzindo queda nas médias térmicas, originando o fenômeno denominado
regionalmente como “friagem”. No Nordeste, a mPa é responsável, no mesmo período, pelas
chuvas intensas na porção costeira da região. A Figura 10 apresenta o pluviograma da Normal
Climatológica 1961-1990 da cidade de João Pessoa, capital da Paraíba.

Figura 10. Pluviograma de João Pessoa - PB

Fonte: inmet.gov.br

Clima de escala local


Esta é a escala na qual as atividades humanas podem ser perceptíveis no ritmo dos climas.
Para esses casos, deve-se adotar uma estratégia de análise que inclua uma análise diária do
clima, além, é claro, de buscar interações interdisciplinares com a arquitetura, a economia, a
demografia, a geologia, a geomorfologia, entre outras.
Assim como ocorre na escala zonal, com os climas azonais, entre a escala regional e a local
podem ocorrer os chamados climas intrarregionais com características de subsistemas atmosféricos,
existem clima intrarregionais, os quais compõem-se de certos subsistemas atmosféricos.

Topoclima
Como o próprio nome indica, é um tipo de clima definido pelas particularidades do terreno
(declividade, forma e posição em relação ao Sol). Deve-se considerar que cada uma destas
variáveis pode gerar alternâncias atmosféricas em relação às áreas adjacentes de forma isolada
ou inter-relacionada com aqueles.

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Microclima
Esta é a escala climática mais próxima possível do solo, isto é, originalmente, definido por
Rudolf Geiger (1950), a mais ou menos dois metros de altura. Mais recentemente, assumiu-se que
a proposta original era muito abstrata e pouco concreta e a fim de tornar o microclima verificável,
admite-se uma variação de 0,30 a 40 m de altura para a determinação dos microclimas.

Clima urbano
A definição reconhecidamente pioneira de clima urbano é a encontrada no artigo “The
Climate of Towns” (O clima das Cidades) de H. E. Landsberg, em 1956, traduzido e publicado
na Revista do Departamento de Geografia - FFLCH/USP, em 2006. Nesse artigo, Landsberg
defende que a transformação do espaço natural em espaço edificado e adensado leva a
modificações no clima em relação ao entorno não ou menos modificado. Para Landsberg, as
causas para o reconhecimento do clima urbano são três:

“A primeira é a alteração na superfície. No caso extremo, uma floresta densa


terá sido substituída por um complexo de substâncias rochosas, como pedra,
tijolo e concreto; naturalmente, locais úmidos, como charcos e pântanos, terão
sido drenados e a rugosidade aerodinâmica terá sido aumentada por obstáculos
de variados tamanhos. A segunda causa de mudança climática é a produção de
calor pela própria cidade - indo desde aquele proveniente do metabolismo da
massa de seres humanos e animais ao calor liberado por fornos nas residências
e indústrias - ampliada nos anos recentes por milhões de motores de combustão
interna em função do grande aumento de veículos motorizados. A terceira maior
influência da cidade sobre o clima, frequentemente chegando muito longe das
áreas densamente povoadas, é a alteração da composição da atmosfera.”

(LANDSBERG, 2006, p. 97)


Havendo para Landsberg uma causa vinculada ao processo de industrialização, o mesmo
entende que as consequências produzidas pelo clima urbano para a vida das pessoas é
essencialmente nociva. Em particular, o autor credita este adjetivo ao fato de que o ar “poluído”
(smog) da cidade causa “doenças cardiopulmonares” que podem levar as pessoas à morte.

O termo “smog” é a junção das palavras de língua inglesa “smoke” (fumaça) e “fog” (nevoa).

Landsberg discute diversos dados de levantamentos feitos sobre excedentes de partículas


denominadas de “núcleos de condensação” no ar, como a poeira, a fuligem, os gases, além
da elevada presença de micro-organismos em diversas cidades. Daí comparou esses dados aos
que foram encontrados em outras paisagens não urbanas.
Além da poluição, Landsberg elenca outro fator de grande relevância na definição do clima
urbano que é a queda nas taxas de radiação solar emitida. Tal queda seria provocada pela
capacidade de absorver, refletir e difundir a radiação por parte da “nevoa seca” que cobre as
cidades, o que dificultaria a chegada desta radiação à superfície. A percepção dessas mudanças
pode ser exemplificada pela diminuição do “azul do céu”, que nas cidades fica mais pálido
e pela diminuição da iluminação dos ambientes sombreados, o que implica diretamente na
diminuição da visibilidade devida ao aumento do smog.

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Nos casos em que o fluxo de ar superior e rápido é desviado para a superfície das ruas
sendo desviado por edifícios altos, chamam-se esses fenômenos de “canyons urbanos”.
Por outro lado, as edificações podem servir como obstáculos, desvios e produtores de sombra
para as edificações térreas vizinhas. Além disso, toda a superfície impermeável de concreto
influencia diretamente no albedo da cidade produzindo convecção do ar quente.
Um elemento que pode amenizar significativamente os rigores térmicos e de fluxo de ar
gerados no ambiente urbano, são os jardins, as praças e os parques públicos. A vegetação
arbórea e arbustiva tem relevante papel na absorção de radiação e de CO2, além de redução
da velocidade da circulação do ar e na interceptação de chuva. Sua distribuição planejada e
abrangente pela superfície da cidade proporciona amenização da sensação térmica e, portanto,
maior conforto aos habitantes da cidade.
A Figura 11 representa o imageamento multiespectral da Região Metropolitana de São
Paulo – RMSP e parte da baixada santista, no Estado de São Paulo. Trata-se de um produto de
sensoriamento remoto no qual as cores são implantadas artificialmente não correspondendo
ao que o satélite registrou em termos de infravermelho ou de calor emitido pela superfície,
mas adequada à melhor observação ao olho humano.
Figura 11. Imageamento de satélite da RMSP

Fonte: geografia.fflch.usp.br

Muito embora as cores da imagem da Figura 11 sejam falsas, é possível notar que o
infravermelho do adensamento urbano contrasta ao observado no entorno recoberto por
vegetação. É possível ainda observar pequenas “manchas” verdes em meio ao roxo acinzentado
das edificações e superfície impermeável. Trata-se das áreas verdes urbanas, como praças,
parques e outras superfícies não construídas. O contraste apresentado pelo adensamento em
relação ao seu entorno, acaba correspondendo ao clima urbano.

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O exemplo das unidades climáticas urbanas de São Paulo
Um estudo feito para a confecção do “Atlas Ambiental do Município de São Paulo” resultou na
determinação da criação de unidades climáticas existentes na escala local. A título de comparação,
a Figura 12 apresenta a representação cartográfica das unidades naturais e urbanas.

Vídeo: Para uma análise precisa das legendas, consulte http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br/.

Figura 12. Unidades climáticas naturais (dir.) e urbanas (esq.) da cidade de São Paulo

Fonte: atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br

A representação das unidades naturais do clima da cidade de São Paulo teve como parâmetros
o fato de o ambiente ser composto de uma superfície de terras altas (entre 720 a 850 m),
denominada de Planalto Atlântico. A topografia apresenta feições geomorfológicas variadas
como planícies aluviais, colinas, morrotes, morros, serras e maciços diversamente orientados.
No caso das unidades climáticas urbanas, a diferenciação dependeu dos fatores de
controles climáticos urbanos, como: uso do solo, fluxo de veículos, densidade populacional,
densidade das edificações, orientação e altura das edificações, áreas verdes, represas,
parques e emissão de poluentes. Esses fatores foram correlacionados a atributos do tipo:
temperatura da superfície, temperatura do ar, umidade, liberação de calor, radiação solar,
qualidade do ar, pluviosidade e ventilação.

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Conceitos associados:
Camada Limite Urbana ou Camada Limite da Influência Urbana: é a parte da
atmosfera em que as características meteorológicas e climáticas são modificadas pela existência
de uma cidade. Vai dos topos dos edifícios à superfície do solo urbano. Pode atingir uma altura
de um a dois km durante o dia e 100 a 300 m à noite. A maior espessura diurna diz respeito
aos processos convectivos gerados pela radiação solar, ausente durante a noite.
Dossel Urbano ou Camada Intraurbana: é camada de ar que se situa entre os edifícios
da cidade o que caracteriza uma heterogeneidade de microclimas devidos às especificidades
arquitetônicas e dos materiais de construção empregados, pois estes acabam influenciando as
taxas de reflexão, absorção e difusão da radiação solar e emissão de radiação infravermelha.
Canyon urbano: é o corredor de edificações altas concentradas e separados por ruas,
responsável pela condução do ar próximo da superfície, já que acaba influenciando na maior
ou menor absorção, reflexão e/ou difusão da radiação solar.

Ilha de calor
O conceito de ilha de calor resulta das anomalias devidas ao adensamento urbano e ao uso
mais intensivo de componentes de elevado albedo. A Figura 13 representa esquematicamente
o fenômeno da ilha de calor.
Figura 13. Ilha de Calor Urbana

Fonte: BIAS, E. S.; BAPTISTA, G. M. M.; LOMBARDO (2003, p. 1742)

Admite-se que o fenômeno “ilha de calor” intensifique-se da periferia para os centros


urbanos, pois nestes, ocorrem os principais fatores de controle para o aquecimento atmosférico.
Em alguns casos, a amplitude térmica entre o centro e a periferia pode chegar a 10 °C.
Para Lombardo (1985), a observação do fenômeno é mais adequada em condições de céu
claro, calmaria, em ambiente de topografia suavizada com atmosfera poluída, isto é, falta
de condições de dispersão aérea. Portanto, há que se considerar que a “ilha de calor” é um
fenômeno modelar.

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Inversão térmica
A inversão térmica é um fenômeno típico de centros urbanos em situações igualmente à “ilha
de calor”, de ar poluído, céu claro e calmaria, ou seja, falta de condições de dispersão aérea.
Portanto, são condições encontradas em cidades e em condições atmosféricas específicas.
O fenômeno deve-se à camada de smog da cidade conservar o ar da baixa atmosfera mais frio
que o ar que se encontra acima daquela camada.
Nas situações de inversão térmica, a radiação solar aquece mais facilmente o ar sobre a
camada de poluentes tendo dificuldade de aquecer o ar próximo à superfície. Disso resulta
que, ao contrário do que deveria ocorrer, o ar das camadas mais elevadas fica mais quente que
o ar próximo à superfície e vice-versa. A Figura 14 apresenta a condição em que a inversão
térmica pode ser verificada na área urbana de São Paulo durante alguns dias de inverno nos
quais as condições supracitadas podem ser observadas.
Figura 14. Centro urbano de São Paulo

Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

Como pudemos observar, as escalas climáticas apresentam especificidades bastante


elementares e, no caso do clima local, especialmente o urbano, é possível entender como as
atividades humanas são fatores de controle relevantes para estas escalas do clima. Em escalas
superiores do clima, as atividades humanas perdem relevância para os fenômenos naturais.

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Material Complementar

Sites:
• Página da Organização Meteorológica Mundial
https://www.wmo.int/pages/index_en.html
• Página do INMet
http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/mapaEstacoes
• Página do CPTec
http://www.cptec.inpe.br/
• Página com o histórico da classificação Köppen do clima
http://koeppen-geiger.vu-wien.ac.at/koeppen.htm
• Radar meteorológico do IPMet
http://www.ipmet.unesp.br/index2.php?menu_esq1&abre=ipmet_html/radar/ppi.php

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Referências

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AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. 4ª edição. Bertrand Brasil,
Rio de Janeiro, 1983.
BERTRAND, G. Paysage et geographie physique globale. Esquisse méthodologique.
Revue Geógraphique des Pyrénées et du Sud-Ouest, Toulouse, v. 39 n. 3, p. 249-272, 1968.
Publicado no Brasil no Caderno de Ciências da Terra. Tradução de Olga Cruz. Instituto de
Geografia da Universidade de São Paulo, n. 13, 1972.
BIAS, E. S.; BAPTISTA, G. M. M.; LOMBARDO, M. A. Análise do fenômeno de ilhas
de calor urbanas, por meio da combinação de dados LANDSAT e IKONOS. Anais
XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 05 - 10 abril 2003, INPE, p. 1741 – 1748.
CONTI, J.B. Clima e meio ambiente. Atual Editora, São Paulo, 1998.
CONTI, J.B. e FURLAN, S.A. Geoecologia, o clima, os solos e a biota. In: Geografia do
Brasil (ROSS, J.L.S., org.). São Paulo, EDUSP, p.68-110, 1998.
LOMBARDO, M. A. A ilha de calor nas metrópoles: o exemplo de São Paulo. São Paulo:
Hucitec, 1985.
LOMBARDO, M.A. Mudanças climáticas recentes e ação antrópica. Revista do
Departamento de Geografia, São Paulo, n.8, p.29-34, 1994.
MARTIN VIDE, J. – Fundamentos de climatologia analítica. Editorial Sintesis, Madrid, 1991.
MARTIN VIDE, J. – Mapas del tiempo: fundamentos, interpretación e imágines de satélite.
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MONTEIRO, C. A. F. (1975) Teoria e Clima Urbano. Tese apresentada ao concurso de
livre docência. São Paulo: USP/FFLCH/DG.
MORAN, J. M. e MORGAN, M.D. Meteorology. The atmosphere and the science of weather.
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STRAHLER, A. N. Geografia Física. Barcelona, Omega, 1975.
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VAREJÃO-SILVA, M.A. Meteorologia e Climatologia. INMET, Gráfica e Editora Stilo, 2000.
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climático – desenvolvimento, progresso e perspectivas. Boletim Climatológico, Unesp, FCT/
Presidente Prudente, ano 1, n. 2, p. 11-20, nov. 1996.

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Unidade: Escalas do clima, classificações climáticas e clima urbano

Anotações

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