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RESUMO
Objetivo: O presente artigo possui como objetivo geral analisar a importância do uso das cores e da luz aplicadas à
arquitetura infantil por meio dos estudos da neuroarquitetura, uma vez que esses fatores podem interferir nas sensações
e comportamentos da criança. Tem como objetivos específicos: verificar as principais propriedades das cores e da luz,
analisar espaços direcionados ao público infantil, apresentar possíveis impactos das cores e da luz no cérebro de crianças
sem alterações nas percepções visuais, além de identificar a importância que o uso correto desses fatores proporciona.
Método: A pesquisa é definida como explicativa e de natureza qualitativa, baseando-se na descrição, pesquisa
bibliográfica e estudos de caso, além de visitas exploratórias e trocas de informações com profissionais.
Resultado: Em relação aos fatores analisados, identificou-se as principais partes do cérebro responsáveis pelas
emoções. Através dos estudos de caso foi analisado que as cores e a luz presentes no ambiente físico impactam
diretamente as áreas emocionais, que são responsáveis por transmitir respostas comportamentais à criança.
Conclusões: Portanto, o entendimento sobre a neuroarquitetura é de grande relevância, dado que o estudo sobre como
o cérebro é atingido a partir do uso das cores e da luz é importante para criação de espaços que forneçam estímulos
necessários para desenvolver a cognição, memória e aprendizado da criança.
ABSTRACT
Objective: This article aims to analyze the importance of using colors and light applied to children's architecture through
neuroarchitecture studies, since these factors can interfere with children's feelings and behavior. Its specific objectives are:
to verify the main properties of colors and light, analyze spaces aimed at children, present possible impacts of colors and
light on the brain of children without changes in visual perceptions, in addition to identifying the importance of the correct
use of these factors provides.
Methods: The present research is defined as explanatory and qualitative in nature, based on description, bibliographical
research and case studies, as well as visits and exchange of information with professionals.
Results: Regarding the analyzed factors, the main parts of the brain responsible for emotions were identified. Through
case studies, it was analyzed that the colors and light present in the physical environment directly impact the emotional
areas, which are responsible for transmitting behavioral responses to the child.
Conclusions: Therefore, the understanding of neuroarchitecture is of great relevance, given that the study of how the
brain is reached through the use of colors and light is important to create spaces that provide the necessary stimuli to
develop cognition, memory and learning of the kid.
Conforme a Lei nº 13.257 (BRASIL, 2016) o período conhecido como primeira infância é
correspondente aos seis primeiros anos de vida da criança. De acordo com Montessori (1949),
psicólogos chegaram à conclusão de que nesse período é observada a fase mais imprescindível para
o desenvolvimento do indivíduo. Em consonância com Migliani (2021), em crianças cujos ambientes
em que cresceram forneciam estímulos positivos aos seus cérebros, é possível observar que aspectos
como facilidade no aprendizado e concentração são significamente maiores.
Diante desse contexto, este trabalho tem como objetivo geral analisar a importância da
utilização das cores e da luz aplicadas à arquitetura infantil por meio de estudos da neuroarquitetura,
uma vez que esses fatores podem interferir nas sensações e comportamentos da criança. A pesquisa
possui como objetivos específicos: verificar as principais propriedades das cores e da luz, analisar
espaços direcionados ao público infantil, apresentar possíveis impactos das cores e da luz no cérebro
de crianças sem alterações nas percepções visuais, além de identificar a importância que o uso correto
desses fatores proporciona.
Como ponto de partida, para a aplicação das pesquisas desenvolvidas ao longo do artigo, serão
realizados estudos de caso de ambientes direcionados ao público infantil, sendo eles: hall de entrada
infantil e biblioteca da escola São Domingos e biblioteca da escola Umbrella. Isto posto, esse estudo
englobará a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso, além de trocas de conhecimento com
profissionais da área de arquitetura, neuroarquitetura e psicologia.
Os fatores analisados nesse artigo serão referentes ao sentido da visão que é definida como
“assimilação e percepção visual de tudo que está presente no mundo exterior, concebida a partir da
utilização dos olhos e do cérebro” (DICIO, 2009, n.p.). A visão é considerada o recurso mais utilizado
deliberadamente para compreender o ambiente, podendo influenciar também nas informações
concebidas pelos outros sentidos (VILLAROUCO et al., 2021). Diante da relevância dos primeiros
anos de vida do indivíduo, da importância dos estudos sobre a neuroarquitetura e da influência do
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O estudo em relação aos impactos dos ambientes sobre as pessoas é um conhecimento obtido
há muito tempo, porém, a neuroarquitetura surge para ampliar essa área, explicando porque reações
e sensações ocorrem, preocupando-se com o bem-estar vivenciado pelo indivíduo nos ambientes
construídos (VILLAROUCO et al., 2021). Sendo assim, o entendimento sobre o cérebro e suas
principais áreas facilita a compreensão sobre a interação humana com o espaço físico, objetivando a
criação de projetos cada vez mais confortáveis ao usuário (VILLAROUCO et al., 2021).
Diante dos estudos da arquitetura e da importância do cérebro, existem alguns fatores a serem
considerados na hora de projetar os ambientes, sendo eles: iluminação, ventilação, uso das cores,
texturas, conforto acústico, entre outros. Esses fatores estão diretamente ligados com os cinco
sentidos do corpo humano, principalmente à visão, audição e tato.
A psicologia das cores, segundo Menezes (2020), é responsável por estudar como o cérebro
visualiza as cores e as converte em sensações. Diante disso, torna-se indispensável para o arquiteto
entender as cores e o uso dela nos ambientes, visto que impactam diretamente o ser humano. Os
significados e as emoções transmitidas pelo uso das cores podem ser relativos de indivíduo para
indivíduo. De acordo com Rambauske (s.d.) a criança possui algumas emoções mais evidentes, dentre
elas estão presentes a alegria e a tristeza. Neste sentido, as cores são capacitadas de interferir em
questões psicológicas e fisiológicas do ser humano, criando tanto sensações positivas como a alegria,
quanto negativas como a tristeza, sendo assim, produzem respostas sensoriais de suma relevância,
atuando nas emoções (FARINA; PERES; BASTOS, 2006).
As cores aplicadas aos espaços podem causar diversas sensações e reações, por isso devem
ser consideradas um fator de grande importância no projeto de um ambiente (POCZTARUK, 2020).
Existem elementos a serem analisados a partir das cores, sendo um deles a temperatura, formando o
que se conhece como cores quentes e frias, como apresentado na Figura 1. Além disso, o contraste e
a aplicação no ambiente podem modificar as sensações propiciadas (POCZTARUCK, 2020).
O ambiente abastece constantemente o cérebro com estímulos que são absorvidos, gerando
sensações, emoções, percepções e consciência, como resposta podendo gerar uma alteração
comportamental (VILLAROUCO et al., 2021). A arquitetura direcionada para o público adulto e o
público infantil deve ser diferenciada, visto que as percepções são diferentes (PAIVA, 2020). A partir
disso, para o desenvolvimento da criança são indispensáveis o recebimento de estímulos adequados,
que por vezes podem vir do ambiente construído (PRIMEIRA INFÂNCIA EM PAUTA, s.d.). Os
ambientes projetados para alcançar o público infantil, devem contribuir para o desenvolvimento
intelectual e psicológico do indivíduo.
Com isso, uma das estratégias que podem ser adotadas para melhor aproveitamento da
iluminação natural é o uso das cores. As cores identificadas como claras são responsáveis por refletir
melhor a luz para dentro do ambiente, resultando na maior transmissão e aproveitamento da luz
(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
Assim, o estudo da luz é de suma importância na projeção dos ambientes visto que impacta
diretamente no desempenho do indivíduo, podendo causar, se aplicada de forma precipitada, “fadiga
visual, dor de cabeça e irritabilidade, além de provocar erros e acidentes” (EUROPEAN
COMMISSION DIRECTORATE, 1994 apud LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014, p. 57). O
conforto lumínico não está relacionado com permitir a maior quantidade de luz no ambiente, mas sim
uma iluminação adequada, garantindo melhor aproveitamento da mesma (MOREIRA, 2021).
O telencéfalo representa a parte mais volumosa, dividido em uma massa central denominada
substância branca e o córtex, conhecido como substância cinzenta, compondo a camada externa do
cérebro (VILLAROUCO et al., 2021), como representado na Figura 3a. O córtex cerebral é considerado
a parte mais importante do telencéfalo, pelo seu volume, pela diversidade e complexidade dos
processamentos que realiza (LENT, 2008). O córtex possui grande quantidade de neurônios, sendo o
neurônio um tipo celular responsável por receber e transmitir sinais elétricos (VILLAROUCO et al.,
2021). Conforme Villarouco et al (2021, p. 44) “podemos considerar que o córtex pré-frontal integra
todas as informações sensoriais e experiências emocionais, de forma a produzir percepções
conscientes”.
(a) (b)
De maneira geral, as principais áreas encefálicas responsáveis pelas emoções são regidas pela
área pré-frontal, mais precisamente o córtex pré-frontal e o denominado sistema límbico
(VILLAROUCO et al., 2021). O sistema límbico é formado por estruturas do encéfalo, e é
responsável pelo comportamento e emoções, em destaque são: o hipocampo, a amigdala e o
hipotálamo, como representado na Figura 4. As emoções exercem uma grande importância no
controle do desenvolvimento cognitivo, relacionados a atenção, percepção, memória e autocontrole
(VILLAROUCO et al. 2021).
Figura 5. Sistema da visão, dos olhos até o córtex visual (VILLAROUCO et al., 2021).
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa é definida como explicativa por ter como objetivo analisar os impactos causados
pelo uso das cores e da luz dos ambientes projetados ao público infantil a partir dos estudos iniciais
constatando a importância do ambiente para a criança. O método de abordagem do artigo visa a
pesquisa bibliográfica e possui natureza qualitativa, baseando-se na descrição para análise do
problema abordado.
Para a fundamentação desse artigo, foram analisados livros, textos acadêmicos, páginas da
internet, artigos científicos, abrangendo áreas como: arquitetura, psicologia e medicina, além de
englobar a dialética com profissionais das áreas. Isto posto, este trabalho, aborda os fatores
relacionados ao sentido da visão, evidenciando os estímulos que são causados ao cérebro pelo uso
das cores e da luz no ambiente projetado para o público infantil, direcionado a primeira infância.
Assim, com a finalidade de atingir o objetivo geral, foi escolhido a utilização de estudos de
caso, que é definido, segundo Yin (2001), como uma investigação prática e experimental que é
responsável por investigar o problema dentro do seu contexto real. Foram realizados estudos de caso
de ambientes direcionados ao público infantil, sendo eles: hall de entrada infantil e biblioteca da
escola São Domingos e biblioteca da escola Umbrella, a fim de compreender a importância dos
estudos da neuroarquitetura, visando escolhas mais assertivas quanto as cores a luz nos ambientes.
Ainda como método, foram feitas visitas exploratórias.
O hall de entrada infantil da escola São Domingos, é composto pelas cores: azul e amarelo em
tons suaves. O azul é caracterizado como uma cor fria, em grande parte, esse tipo de cor proporciona
tranquilidade e calma, além de estar relacionada a produtividade (DABUS, 2014). Esta é responsável
por “atingir o córtex pré-frontal na parte responsável pelo raciocínio lógico e pela competência
comunicativa” (CRÍZEL, 2020, n.p.). O córtex pré-frontal está localizado no lobo frontal, conforme
Figura 6, e é responsável, dentre diversas funções, por sintetizar as informações emocionais e
sensoriais, resultando em determinados comportamentos e percepções do indivíduo (VILLAROUCO
et al., 2021). Essas emoções, são administradas pelo córtex pré-frontal e pelo que se conhece como
sistema límbico (VILLAROUCO et al., 2021).
Figura 6. Lobo frontal onde está localizado o córtex pré-frontal (A MENTE É MARAVILHOSA, 2020).
(a) (b)
Figura 7. a. Aplicação das cores em formas geométricas; b. Cor azul e amarelo em tons suaves.
(ARCHDAILY, 2018).
O hall de entrada infantil conta com iluminação natural, além de perfis de led e luminárias
embutidas no teto (Figura 8a). Foi analisado que o ambiente é utilizado com maior frequência durante
o dia, a iluminação foi disposta de forma bem distribuída e entendida como uma iluminação geral,
dando preferência para a luz natural (Figura 8b). Com os estudos da neuroarquitetura, entender quais
atividades serão exercidas no ambiente é de suma importância para a criação ideal do espaço. No caso
do hall de entrada, por ser um local de curta permanência e de primeiro contato do indivíduo com a
escola no geral, cores que estimulem a criança a se sentir acolhida, calma e empolgada são ideais para
composição, além de manter a iluminação natural na maior parte do tempo.
(a) (b)
Figura 8. a. Detalhe iluminação artificial; b. Iluminação natural. (ARCHDAILY, 2018).
(a) (b)
Figura 9. a. Composição de cores no mobiliário; b. Iluminação artificial (ARCHDAILY, 2018).
A preferência por ambientes com iluminação natural surge a partir do conhecimento sobre o
ciclo ou ritmo circadiano (Figura 10), que é alterado conforme o dia e a noite e influenciados por
fatores como a luz, temperatura, entre outros (VILLAROUCO et al., 2021). De acordo com Paiva
(2018), a iluminação natural é de grande importância para sincronização do ritmo, sendo relevante
para a organização temporal do dia e noite. O ciclo circadiano é responsável por controlar os ritmos
fisiológicos, psicológicos, e como impacto principal da desregulação deste ciclo é a insônia (PAIVA,
2018).
O sistema límbico e o hipotálamo são áreas do cérebro em que o ciclo circadiano percorre,
sendo essas partes importantes para a alteração do nosso humor e sensações (PAIVA, 2018). A
iluminação artificial é suficiente para enxergar o ambiente, entretanto, se utilizada de forma
inadequada, é capaz de trazer prejuízos para a saúde do usuário, alterando o ciclo circadiano e
contribuindo para alteração dos ritmos neuroendócrinos (VILLAROUCO et al., 2021).
Isto posto, vale ressaltar que a infância é um estágio da vida de suma importância para o ser
humano desenvolvido, ou seja, diversos fatores e alterações acontecidos na infância são
determinantes para o desenvolvimento biológico, mental e social, sendo assim, as cores e a luz são
capazes de contribuir para a formação do indivíduo, visto que impactam o cérebro e fornecem
respostas emocionais a criança. A primeira infância é o período em que grandes ligações cerebrais
são estabelecidas, por isso a necessidade de receber estímulos, afetando o desenvolvimento e o
aprendizado da criança (PRIMEIRA INFÂNCIA EM PAUTA, s.d.).
Foi observado que não há cor correta ou incorreta para o ambiente, e sim que é necessário
entender os efeitos que são provocados no cérebro a partir da percepção visual desses fatores, com
intuito de projetar ambientes cada vez mais agradáveis e confortáveis para o indivíduo. Dessa forma,
ao projetar um ambiente e o que se espera que ele transmita ao usuário, a escolha de cores torna-se
mais assertiva com o conhecimento sobre como determinada cor atingirá o cérebro.
Com o conhecimento sobre o ciclo circadiano, observa-se que a desregulação dele impacta
áreas que afetam diretamente no humor e no sono da criança, o qual é importante para seu
desenvolvimento, tanto intelectual como cognitivo. Com isso, torna-se indispensável os estudos da
luz para os projetos. Além disso, como enfatizado ao longo do artigo, a luz natural é a mais benéfica
para as regularizações naturais do corpo humano. Quando houver necessidade da utilização de
iluminação artificial, deve ser estudada com maior preocupação para que não cause prejuízos à saúde
da criança.
Os impactos gerados com o uso correto desses fatores contribuem diretamente para o
desenvolvimento da criança, uma vez que nessa fase é necessário que haja determinados estímulos
cerebrais nas áreas encefálicas responsáveis pelas emoções, que fazem comunicação direta com a
cognição, memória, atenção e aprendizado da criança, provocando uma resposta comportamental.
Em suma, o conhecimento sobre o cérebro é importante para criação de projetos que ofereçam
conforto e qualidade de vida para os usuários e a aplicação da neuroarquitetura permite entender os
efeitos que o ambiente tem no desenvolvimento da criança. Assim, tendo em vista que a neurociência
aplicada a arquitetura é um campo de estudo relativamente novo, este artigo buscou instigar o
interesse sobre o entendimento do tema a fim de abrir fronteiras para novos conhecimentos,
considerando que outras pesquisas podem ser desenvolvidas a partir das informações aqui
explicitadas. Adicionalmente, sugere-se a aplicação de técnicas experimentais usadas nos estudos da
neurociência nos ambientes.
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NOTAS
AGRADECIMENTOS
Minha gratidão será infinita a Deus, por ter me fornecido sabedoria e saúde. Aos meus pais pela
compreensão e apoio. Aos mestres pela partilha de conhecimento.
CONTRIBUIÇÃO E AUTORIA
Não se aplica.
FINANCIAMENTO
Não se aplica.
CURSO
Arquitetura e Urbanismo
COORDENADOR DO CURSO
Aline Sauer
DATA DE ENTREGA
19/11/2021