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24/09/2018 Entre tiros e afagos – SAPIENTIAM AUTEM NON VINCIT MALITIA

Entre tiros e afagos

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 03 de outubro de 2007

O que escrevi aqui dias atrás sobre a incompatibilidade entre as pretensões da


esquerda e as tradições constitutivas das Forças Armadas teve logo em
seguida a mais significativa das confirmações quando fiquei sabendo que os
três clubes que congregam a oficialidade nacional – o Clube Militar, o Clube
Naval e o Clube da Aeronáutica – estão movendo, juntos, uma ação judicial
contra a promoção post mortem do terrorista Carlos Lamarca ao posto de
coronel de um Exército que ele traiu.

A petição, redigida pelo advogado carioca Nina Ribeiro, não foi noticiada pela
grande mídia, empenhada em fazer parecer que toda a encrenca entre o
governo e os militares é apenas uma rusga passageira entre um ministro
fanfarrão e alguns oficiais magoados.

O sr. Nelson Jobim é de fato presunçoso e mandão ao ponto de tornar-se


insuportável, mas sua conduta grotesca não faz senão trazer à mostra um
conflito bem mais profundo, estrutural e, a longo prazo, sem solução.

As Forças Armadas estão bem conscientes de que não servem ao governo,


muito menos a governantes, mas ao Estado brasileiro. Toda a estratégia
petista, ao contrário, consiste em submeter o Estado não só ao governo, mas
ao partido governante e, através deste, ao esquema revolucionário continental
protagonizado pelo Foro de São Paulo, com todas as entidades estrangeiras
que o compõem e que, através dele, se sentem autorizadas a interferir nos
assuntos nacionais com a mesma naturalidade amoral, quase candura
sociopática, com que o sr. Luís Inácio confessa ter usado o governo brasileiro
como instrumento para dar uma ajudinha ao sr. Hugo Chávez no plebiscito
venezuelano.

O que há aí não é uma querela de ocasião, mas uma contradição antagônica


que só pode ser resolvida mediante a eliminação de um dos termos: ou o PT
desiste de suas alianças com o movimento comunista latino-americano e
consente em tornar-se um partido burguesmente inofensivo, submisso à
ordem capitalista democrática que ele jurou substituir por um paraíso
socialista, ou as Forças Armadas desistem de ser o que são e aceitam servir
sob as ordens do Foro de São Paulo, juntando-se às tropas de Hugo Chávez e
de Fidel Castro na “guerra anti-imperialista do povo inteiro” contra os EUA.

As duas hipóteses são desastrosas: a primeira jogaria contra o PT a totalidade

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24/09/2018 Entre tiros e afagos – SAPIENTIAM AUTEM NON VINCIT MALITIA

da esquerda revolucionária continental, sujeitando os líderes petistas à ameaça


dos seqüestros, atentados e demais truculências que eles acham lindas
quando praticadas contra os outros. A segunda transformaria as nossas Forças
Armadas não só em servidoras de seus inimigos mas em cúmplices de uma
aventura revolucionária que só pode resultar na total destruição da nossa
soberania, se não das bases materiais da existência nacional.

Consciente dessas tremendas dificuldades, a liderança esquerdista tem


procurado ganhar tempo, adiando o confronto enquanto busca
persistentemente levar para dentro dos quartéis a “revolução cultural”
incumbida de transmutar as Forças Armadas no seu oposto, pelos meios
ardilosos, lentos, delicados e anestésicos criados pelo gênio maligno de
Antônio Gramsci. Sabemos que um dos cérebros mais ativos por trás dessa
operação é o sr. João Carlos Kfouri Quartim de Moraes, sendo este o motivo
pelo qual eu ter pisado no calo dessa figura apagada e discreta suscitou uma
reação tão histérica da parte da intelligentzia esquerdista.

O antagonismo entre o futuro da revolução continental e o passado histórico


das Forças Armadas é simbolizado de maneira eloqüente pelo contraste entre
duas cenas que se repetem de tempos em tempos: de um lado, nossos
soldados das tropas de fronteira trocando tiros com os guerrilheiros das Farc
na Amazônia, de outro o presidente da República, em Brasília, afagando as
cabeças dos líderes da organização. O sr. Luís Inácio é um mestre na arte de
empurrar com a barriga, mas há contradições objetivas cujo peso resiste até
mesmo à respeitável protuberância ventral de S. Excia.

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