Você está na página 1de 10

Sistema Tributário Nacional

1. Estudo do tributo

1.1. Definição de tributo:

Tributo é prestação (art. 3º, CTN):

1. Pecuniária
2. Compulsória
3. Diversa de multa
4. Instituída por meio de lei
5. Cobrada por lançamento

1.2. Teorias:

Há várias teorias que tentam explicar quantas são as espécies de tributos. Note as
principais:

1) Teoria dualista (bipartida/clássica): tal teoria foi defendida por Geraldo


Ataliba e, apenas para fins didáticos, divide os tributos em 2 espécies:

 Tributo não vinculado (impostos)


 Tributo vinculado (taxas)

2) Teoria tripartida ou tricotômica: sob a influência do código tributário


alemão, tal teoria penetrou na CF/46, irradiando-se para o CTN/66 e para a
CF/88 (Art.145, CF e art. 5º, CTN).

 Impostos
 Taxas
 Contribuições de melhoria

3) Teoria pentapartida ou pentapartite: trata-se de visão adotada pelo STF:

 Impostos
 Taxas
 Contribuições de melhoria
 Empréstimos compulsórios
 Contribuições

1.3. Natureza jurídica:

Art. 4º, CTN – definida pelo Fato Gerador.

Considera irrelevantes as denominações em lei e a destinação do produto das


arrecadações.
Há, porém, questionamentos doutrinários no que tange ao art. 145, §2º, CF, o qual leva
em consideração também a base de cálculo.

Além disso, é fácil perceber que aos empréstimos compulsórios e às contribuições


especiais não se aplica o art. 4º do CTN, uma vez que são tributos não definidos pelo
Fato Gerador, mas pela finalidade para a qual eles tenham sido instituídos (tributos
finalísticos).

E, sendo assim, a destinação do produto da arrecadação é para eles relevante. O que


suscita a compreensão de que parte desse artigo foi revogada pela CF, no que tange aos
referidos tributos.

2. Espécies de Tributos

2.1. Impostos:

Art. 16, CTN e 145, I, CF.

O imposto é tributo não vinculado a uma atividade estatal.


Nessa medida, atrela-se à ação do particular (Tributo Unilateral).

Paga-se o imposto para o custeio difuso do serviço público geral (universal), ex.:
segurança pública; limpeza pública; recapeamento asfáltico.

Art. 167, IV, CF: Princípio da não afetação dos impostos a órgão/fundo de despesa.
O montante do imposto não pode se vincular a uma despesa certa.
Ex.: aumento de 17 para 18% – ICMS – 1% utilizável na construção de moradias
populares – inconstitucional.

Instituído em regra por Lei Ordinária, porém, Lei Complementar criará: Imposto
sobre grandes fortunas e Impostos residuais.

Art. 146, III, “a”, CF – lei complementar estabelecerá normas gerais no campo dos
impostos, relativamente ao Fato Gerador, Base de Cálculo e Sujeito Passivo.

Art. 24, §§ 2º e 3º, CF: Competência suplementar dos Estados – Estado detém
competência suplementar para legislar sobre normas gerais. Com isso, na ausência da
LC, o Estado desempenhará a competência legislativa plena (vide IPVA).

OBS: Impostos não federais cujas normas gerais são definidas por LC federal →
ICMS (LC 87/96); ISS (LC116/03).

Impostos na CF/88:

Os impostos são distribuídos no texto constitucional em campos privativos de


competência tributária.

Positividade das competências impositivas – talvez fosse melhor o legislador ter


trabalhado com a noção de “exclusividade” da competência, levando-se em conta que
ela (competência tributária) é o poder político e indelegável de instituição do tributo.
Lista de impostos na CF:

1. Art. 153, CF – Impostos federais (competência privativa da União): II, IE, IR,
IPI, IOF, ITR, IGF.
2. Art. 155, CF – Impostos Estaduais (competência privativa dos Estados e DF):
ITCMD, ICMS, IPVA.
3. Art. 156, CF – Impostos municipais (competência privativa dos municípios e
DF): IPTU, ITBI, ISS.

Competência tributária cumulativa (ou múltipla) – é o poder do DF de criar


cumulativamente os impostos Estaduais e Municipais.

DF – Impostos Estaduais (art. 155, caput, CF) e Municipais (art. 147, parte final, CF).

Atenção! Não perca de vista que tal instituto (competência cumulativa) atrela-se
também à tributação no território (art. 147, parte inicial, CF). Competem à União, nos
territórios, os impostos federais, estaduais e municipais, desde que, com relação a estes
últimos, os territórios NÃO sejam divididos em municípios (se o forem, a competência
será do município).

2.2. Taxas:

Art. 145, II, CF e Art. 77 a 79, CTN.

A taxa é um tributo vinculado à atividade do Estado. O Estado age e o contribuinte


paga a taxa.

Tributo bilateral/contraprestacional/sinalagmático.

Competência tributária comum (FG – Comum). Tributo Federal, Estadual ou


Municipal.

Ação Estatal: se União: taxa federal; se Município: taxa municipal; se Estado/DF: taxa
estadual ou distrital.

Lei Ordinária que cria.

2 tipos de taxas no Brasil:

FG1 – SERVIÇO PÚBLICO: taxa de serviço ou de utilização;


FG2 – PODER DE POLÍCIA: taxa de polícia ou de fiscalização.

1) Taxa de polícia (art. 78, CTN): “poder de polícia”.

Trata-se de um policiamento administrativo ou ação Estatal de fiscalização que


limita o exercício de direitos e liberdades individuais em prol da coletividade.

Ex.: taxa de alvará – taxa de localização, taxa de funcionamento; taxa de


publicidade; taxa de fiscalização ambiental, títulos, valor mobiliário.
OBS: depois de uma longa discussão, em que o STF mudou o posicionamento,
tem prevalecido nesta Corte, o entendimento de que a cobrança da taxa de
polícia prescinde da efetiva comprovação da atividade fiscalizadora, bastando a
notoriedade do aparato fiscalizador.

2) Taxa de serviço (art.79, CTN e 145, II, CF):

Utilização efetiva ou potencial


Serviço público específico e divisível
Prestados ou postos a sua disposição

Serviços públicos:

Art. 79, I, CTN – Utilização pelos usuários:

Efetiva – Taxa de serviço fruído;


Potencial – Taxa de serviço fruível (não utiliza, mas paga, por ser de utilização
compulsória).

Art. 79, II, CTN – Específico: É aquele prestado em unidades autônomas de


utilização, identificando-se o sujeito passivo (singular; “ut singuli”).

Art. 79, III, CTN – Divisível: É aquele passível de quantificação do serviço


(quantificável). Exemplos: luz, água, gás, esgoto etc.

OBS: a doutrina e o STF oscilam na associação de tais serviços ao contexto de


taxas, sendo bastante comum a utilização das tarifas (pseudo-tributação).

Atenção! O serviço público geral (universal, “ut universi”), prestado


indistintamente a todos, não pode ensejar taxa, sendo custeado geralmente por
impostos.

Note alguns exemplos: segurança pública (taxa de segurança pública é


considerada inconstitucional – ADIN); Limpeza pública (varrição, capinação e
limpeza de bueiro) – é inconstitucional a famosa “taxa de limpeza de logradouro
público” ≠ taxa de coleta de lixo (especificidade – constitucional STJ);

Taxa de iluminação pública – inconstitucional (Súmula 670, STF).


Atenção! EC 39/02 – art. 149-A: contribuição para o serviço de iluminação
pública (OCIP ou COSIP) – Tributo municipal; competência de municípios e
DF; lei ordinária criou; 3 princípios a que deve obedecer: legalidade,
anterioridade, irretroatividade.

Art. 145, §2º, CF: A base de cálculo da taxa é o custo da ação estatal. Já a base
de cálculo do imposto é o valor do bem. Por isso, é inconstitucional a taxa que
tenha base de cálculo de imposto. Art. 77, único, CTN.

2.3. Contribuição de melhoria:


Art. 81 e 82, CTN e Art. 145, III, CF.

A contribuição de melhoria é um tributo vinculado à atividade Estatal.

Semelhanças com as taxas:

Tributo bilateral/contraprestacional/sinalagmático
Competência Tributária Comum (Tributo Federal, Estadual ou Municipal)
Lei Ordinária cria.

Art. 177, I, CTN – A isenção, como regra, é para impostos. Assim, a isenção não se
estende às taxas e às contribuições de melhoria, ressalvado o caso da lei que disponha
de modo contrário.

Informações particulares do tributo:

Fato Gerador: valorização imobiliária decorrente de uma obra pública.

Base de cálculo: quantum de valorização experimentada pelo imóvel.

É importante ressaltar que, no Brasil, prevaleceu um modelo de cobrança considerado


“misto” ou “heterogêneo” ou “mitigado”.

Trata-se de um sistema de cobrança baseado em 2 limites:

1. Limite individual – leva-se em conta a valorização individualmente detectada

2. Limite total ou global – respeito ao teto de valor gasto com a obra.

OBS: O STF e o STJ ratificam o sistema de duplo limite.

Art. 9º, DL 195/67 – Deve haver previsão legal da área de influência, sobre a qual
irradiarão os efeitos de valorização da obra. O tributo será pago após a obra estar finda
(acabada).

Importante! Nas obras públicas de asfaltamento, o tributo adequado é contribuição de


melhoria. De fato, são famosas as inconstitucionais “taxas de asfaltamento” (de
pavimentação asfáltica), em virtude de ausência de especificidade e divisibilidade.

OBS: a mera obra de recapeamento asfáltico não poderá ensejar o tributo de


contribuição de melhoria.

O processo de cobrança do tributo:

Art. 82, CTN – Inicialmente, haverá a publicação da lei instituidora do tributo, logo
após, deverão ser previamente publicados em edital alguns elementos
indispensáveis:

 Memorial descritivo do projeto;


 Orçamento do custo da obra;
 Determinação de parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição;
 Delimitação da zona beneficiada;
 Determinação do fator de absorção do benefício da valorização para toda a zona
ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas.

Memorize que será aberto um prazo não inferior a 30 dias para a impugnação
administrativa dos elementos acima, sem prejuízo da regulamentação desse processo
administrativo de julgamento.

Observe que tal tributo é bastante transparente, democrático e participativo.

2.4. Empréstimos compulsórios:

Art. 148, CF.

Trata-se de tributo incomum nos dias atuais, tendo ocorrido em dois momentos na
década de 80:

 1983: ECOM em razão de calamidade pública no Sul do Brasil – “empréstimo


calamidade” (adicional de IR) – DL 2047/83.

 1986: ECOM mais famoso do Brasil – consumo de combustíveis e aquisição de


veículos (adicional de ICM) – DL 2088/86.

Note que, historicamente, o ECOM veio com FG de imposto, o que nos leva a concluir
que isso poderá ocorrer novamente.

Tributo Federal – competência da União

Restituitividade (tributo nasce com cláusula de restituição).

OBS: Para o STF, a restituição deve ser em dinheiro (com juros e correções).

Lei complementar cria – não cabe MP! (Art. 62, §1º, III, CF).

Art. 148, I e II, CF – contempla pressupostos fáticos do tributo (situações


deflagrantes).

OBS: Não se trata de FG!

3 Situações deflagrantes:

1) Inciso I: Despesas Extraordinárias:

 Calamidade Pública;
 Guerra Externa

2) Inciso II: Investimento Público: De caráter urgente e relevante interesse


nacional
Princípio da anterioridade:

Art. 148, I, CF – Exceção à anterioridade tributária (anual e nonagesimal – art. 150,


§1º): Execução Imediata!

Art. 148, II, CF – Não é exceção! É regra. Obedece à anterioridade anual e


nonagesimal.

Aplicação vinculada de recursos:

Art. 148, § Único, CF – aplicação será vinculada à despesa que fundamentou a sua
instituição (entra na CF). Proibido o desvio de finalidade (tredestinação).

O ECOM será afetado à despesa que o fundamentou.

Importante! O art. 15, III, CTN hospeda um ECOM que não foi recepcionado pela CF:
“empréstimo compulsório criado em face de conjuntura econômica que exija a absorção
temporária de poder aquisitivo da moeda” (o ECOM mais famoso do Brasil foi criado
em 86 com base nesse inciso).

2.5. Contribuições especiais:

A contribuição é tributo finalístico, não se lhe aplicando o art. 4º do CTN, à


semelhança do ECOM.

As contribuições são assim chamadas por alguns; outros referem-se a elas com
contribuições especiais; há, ainda, os que as denominam de contribuições parafiscais
(minoritária).

Art. 7º, CTN: Parafiscalidade (entes “paralelos”) – É a atribuição das atividades de


arrecadação e fiscalização ao chamado ente parafiscal (parafisco) por outro ente que
detém o poder político de instituição do tributo. Tal fenômeno é comum em certas
contribuições.

União (Cria) Contribuição Profissional “Anuidade” – competência tributária


(indelegável); Ente parafiscal (arrecada e fiscaliza) – capacidade tributária (delegável)

As contribuições previstas no art. 149, caput, CF são tributos Federais.

Entretanto, há contribuições não Federais:

 Art. 149, §1º, CF – Contribuição social previdenciária – servidor público não


federal (contribuições Estaduais e Municipais);

 Art. 149-A, CF – COSIP: tributo municipal (contribuição dos municípios e DF).

Em regra, a instituição das contribuições dependerão de lei ordinária. Todavia, o art.


195, §4º, CF indica um tipo de contribuição que depende de lei complementar:
contribuição social previdenciária residual.
Análise do “CAPUT” do 149:

1. Contribuições profissionais ou coorporativas


2. Contribuições interventivas
3. Contribuições sociais

 Contribuições profissionais ou coorporativas:

Todas elas são federais, de competência da União. Duas contribuições


profissionais se destacam na doutrina e jurisprudência:

a) Contribuições anuidades: trata-se da anuidade paga por certos


profissionais aos conselhos de fiscalização (CREA; CRM; CRC; CRO
etc.), verdadeiros entes parafiscais.

b) Contribuição sindical: detalhamento nos art. 578 a 580 da CLT,


corresponde à remuneração de um dia de trabalho do empregado
celetista.

OBS: Tal tributo não se confunde com a contribuição confederativa,


desprovida da feição tributária, na medida em que é produto de
assembleia geral, não sendo indistintamente compulsória. Art. 8º, IV,
CF: confederativo ≠ contribuição prevista em lei (sindical – tributária).

 Contribuições interventivas:

As CIDEs servem para fomentar determinadas atividades econômicas,


destinatárias da intervenção que se dá por meio desse tributo.

Exemplos de áreas de intervenção: 1) Marinha mercante (CIDE-AFRMM:


adicional de frete para a renovação da marinha mercante); 2) Atividade portuária
(CIDE-ATP: adicional de tarifa portuária); 3) Transferência de tecnologia
(CIDE-ROYALTIES); 4) Atividade de combustíveis (CIDE-COMBUSTÍVEL);
etc.

CIDE-COMBUSTÍVEL: (EC 33/2001; art. 149, §2º, CF; l. 10336/2001)

Tal tributo, sendo extrafiscal, foi concebido para incentivar projetos


ambientais e programa de infraestrutura de transportes.

Sobre combustíveis devem incidir 3 impostos: ICMS; II; IE

Após a EC 33/2001, passamos a ter 4 tributos incidindo sobre combustíveis:


CIDE-COMB; II; IE; ICMS.

O STF “turbinou” a lista acima, permitindo também a incidência de PIS e


COFINS (Súmula 659 STF).

 Contribuições Sociais:
Nem todas são federais (§1º, art. 149).

O STF formatou a seguinte classificação:

a) Contribuições Sociais Gerais:

Trata-se de um tipo de contribuição social, de competência da União,


atrelando-se a campos sociais diversos daqueles afetos à seguridade
social (saúde, previdência e assistência).

Elas não são regidas pelo princípio da anterioridade mitigada.

O art. 195, §6 só vale para as contribuições social-previdenciárias e


contribuição social previdenciária residual.

Exemplos importantes: salário-educação (art. 212, §5º, CF): trata-se de


tributo que visa custear o ensino fundamental público no Brasil. O STF,
em inúmeras vezes, tem considerado o tributo como inequívoca
contribuição social geral.

OBS: As contribuições do sistema S (art. 240, CF), referindo-se aos


serviços sociais autônomos, são chamadas de contribuições de
terceiros, e já foram etiquetadas pelos STF/STJ como contribuição
social geral. Todavia, as mesmas cortes já associaram o tributo à
categoria de contribuições profissionais.

b) Contribuições social-previdenciárias:

Estão previstas no art. 195, I ao IV, CF. Tais incisos indicam as fontes
nominadas de custeio da seguridade social.

Art. 195, CF:


I- Empregador/Empresa – PIS/COFINS/CSLL;
II- Empregado – contribuição previdenciária empregado;
III- Receita de concursos de prognósticos (loteria);
IV- Importador – PIS-import. e COFINS-import. (EC 42/2003 – MP
164/2004).

Todas indicam contribuições que dependem de lei ordinária.

OBS: lembre-se de que a contribuição social previdenciária residual


(rotulada de “outras” pelo STF), depende de lei complementar. Assim,
memorize:

Art. 195, I a IV, CF – contribuições sociais previdenciárias: LO – MP


aqui sim!

Art. 195, §4º, CF – contribuições sociais previdenciárias residuais: LC –


MP aqui não!
c) Outras contribuições social-previdenciárias.

Você também pode gostar