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Autoria
Luiz Pereira Pinheiro Junior - luizpinheirojunior@gmail.com
Mestr e Dout em Admin de Empresas /FGV/EAESP - Fundação Getulio Vargas/Esc de Admin de Empresas de São Paulo
Resumo
A computação em nuvem tem adentrado os contextos das organizações públicas e privadas.
Sendo assim, este artigo tem como objetivo construir uma revisão sistemática da literatura
sobre computação em nuvem no governo (CloudGov) e mapear esse campo de pesquisa. Foi
construída uma revisão sistemática da literatura buscando artigos nas bases de dados Web Of
Science, Scopus, Google Scholar e AiSeL sobre o tema com o intuito de mapear o estado da
arte desse fenômeno no contexto internacional. Justifica-se a realização dessa pesquisa no
intuito de mapear um fenômeno raro ou emergencial para auxiliar futuros pesquisadores que
atuarão com estudos em CloudGov. Na análise dos dados foi possível evidenciar que as
pesquisas globais sobre esse tema possuem uma certa concentração de pesquisadores na
Austrália e na Arábia Saudita com a grande maioria dos estudos empíricos realizados nessas
regiões. Quanto ao mapeamento do tema, foi possível evidenciar que os estudos de
CloudGov se concentram em: Arquiteturas, Modelos e Frameworks; Benefícios; Desafios de
Uso; Fatores de Adoção; Nuvem nos Contextos; Riscos e Serviços Públicos. Por fim,
sugerem-se estudos futuros que explorem outros temas de CloudGov que visam analisar o
contexto organizacional, deixando de analisar apenas a tecnologia em si.
XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019
São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro
Resumo
1 Introdução
Esta pesquisa está relacionada ao uso de computação em nuvem (cloud computing) pelo
governo (CloudGov). O uso de tecnologia nas organizações públicas e privadas levaram à
adoção de tecnologias que buscam agilizar e automatizar os processos, reduzir custos e
aumentar o desempenho.
Um exemplo disso é a computação em nuvem que permite uma vantagem acessando
serviços em escala e de forma remota. Para o Gartner todas as organizações estarão num futuro
próximo hospedadas na nuvem, visto que é um esforço de alinhamento estratégico das
organizações num contexto de evolução tecnológica acompanhado de uma transformação
digital (Valor 2018).
O tema CloudGov trouxe inquietações a pesquisadores de vários contextos em todo o
mundo. Na literatura é possível observar estudos investigando fatores que impactam na adoção
de nuvem no governo como na China (Li, Zhang, Wang & Feng, 2013), na Noruega (El-Gazzar
2014b), na Austrália (Ali, Soar, Mcclymont, Yong, & Biswas, 2015) e até em países em
desenvolvimento, como em Oman (Al-Kharusi & Al-Badi 2016) e no Yemen (Mohammed,
Alzahrani, Alfarraj, & Ibrahim, 2018).
No contexto de computação em nuvem nos governos (CloudGov) é possível verificar
iniciativas em aproximadamente uma década. O autor (Wyld 2010) publicou um texto relevante
neste tema descrevendo sobre o futuro da nuvem nos governos. Neste texto o autor menciona
iniciativas dos Estados Unidos nos órgãos como: General Services Administration (GSA),
National Aeronautics and Space Administration (NASA) e White House. Na Europa foi
mencionado o caso do Reino Unido por meio do projeto Digital Britain e de outras iniciativas
na Suécia, França, Espanha e Dinamarca por meio do Projeto Nuvem da União Européia (UE).
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Para aprofundar nesta literatura e avançar nessa discussão, foi construída no tópico a
seguir uma revisão sistemática da literatura, utilizando técnicas de catalogagem, análise de
conteúdo e clusters do tema. A revisão sistemática, visa compreender todos os temas e sugestões
futuras a serem investigadas em CloudGov.
Para se obter uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL) sobre o tema Computação
em Nuvem no Governo (CloudGov), foi realizada uma busca bibliométrica de artigos
publicados em revistas e congressos nacionais e internacionais. Para isso, optou-se pela
utilização das bases de dados: Web of Science, SCOPUS e Google Scholar justificados por
concentrar uma parte relevante da literatura global, via indexação de Journals. Além disso, as
bases Web of Science e SCOPUS são utilizadas para a mensuração do fator de impacto, o que
as torna criteriosas e relevantes para uma revisão da literatura.
As palavras-chave utilizadas nessa busca foram: “cloud”, “cloud computing”, “gov*”,
“public sector” alternando entre elas e juntando-as também, conforme explicado na Tabela 1.
A palavra-chave “gov*” utiliza o símbolo * pois ela touxe textos relacionados a “gov”,
“government”, “eGov”, “eGovernment” sendo uma estratégia de busca refinada utilizada em
bases de dados. A justificativa dessas palavras-chave é composta primeiramente por compor o
tema e também por ser as palavras-chave mais frequentes nos textos identificados que tratam
de nuvem e governo.
"cloud" and
1540 -
"gov*" 5
"cloud" and
324 -
"public sector" 53
"cloud
computing" and 36 - 36
"gov*"
18/02/
AISeL "cloud" and 10
2019 35 - 35
"gov*"
"cloud" and
8 - 8
"public sector"
Merge:
Total Merge: 695 Merge: 251 95 72
4861
Tabela 1 – Levantamento de Publicações sobre CN no Contexto Brasileiro
Fonte: Dados da Pesquisa (2019)
Além disso optou-se pela utilização da base de dados AISeL por se tratar de um tema
relevante na área de Sistemas de Informação e com uma possível discussão nessa comunidade.
Com isso, a utilização de uma base de dados da Association Information Systems (AIS) veio
com o intuito de contribuir nesta revisão da literatura, sendo que foram identificados 10 papers
nesta base, conforme a Tabela 1.
O corte temporal utilizado nesta pesquisa foram todos os textos publicados do ano 0 até
fevereiro de 2019 sendo que as datas das últimas buscas constam na Tabela 1. Na realização
dessa pesquisa, utilizou se de uma estratégia de filtragem, onde primeiramente apareceram uma
grande quantidade de textos de outras áreas do conhecimento, mas não necessariamente
estavam relacionadas ao tema CloudGov.
Os filtros foram aplicados em etapas, como o 1º foi por utilizar apenas textos das áreas
de Business, Management (ADM), Ciências Sociais Aplicadas, Administração Pública e
Sistemas de Informação. Na sequência o 2º filtro foi utilizar apenas textos que continham as
palavras chaves nos seus tópicos, título, resumo e palavras-chave sendo possível observar
aproximadamente 251 textos. A técnica de merge descrita na Tabela 1 significa que o mesmo
texto pode estar em uma ou três bases de dados, utilizando-se então do maior valor como
referência como uma fusão ou integração.
Conforme a Tabela 1 o 3º filtro foi a realização da leitura dos textos e verificado uma
possível associação dos mesmos com tema CloudGov. Após associados aplicou-se o 4º filtro
onde foram catalogados em uma base de dados 72 papers sobre o tema nuvem no governo em
um contexto global, sendo então a essência das publicações no tema. Os textos foram pontuados
em 30 critérios relevantes para investigação, conforme o Quadro 1.
Preocupações e
Tipo de Análise de
Base de Dados Autores Natureza do Estudo “Gaps” não
Dados
respondidos
Tipo de Técnica
Título Instituições Método utilizado de Análise dos Conclusões
Dados
Estratégia de Pesquisa Limitações dos
Tipo de Publicação Palavras-chave País Investigado
Utilizada Estudos
Nome da Revista ou Amostra/Entrevistados
Tema Casos Citados Sugestões Futuras
Congresso Investigados
Unidade de Referências
Ano Sub-Tema Tipo de Coleta de Dados
Análise Seminais
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A análise dos dados está dividida em duas etapas. Primeiramente uma discussão mais
descritiva sobre os achados e posteriormente uma análise qualitativa dos temas da literatura e
sugestões de estudos futuros.
É possível verificar na Figura 1 uma linha temporal das publicações sobre computação
em nuvem no governo com poucos textos (72), sendo um tema embrionário visto ser um fato
emergente de aproximadamente 10 anos da utilização em massa de tecnologias de nuvem em
esferas governamentais.
O primeiro estudo de Wyld (2009) destaca-se pela parceria entre o governo norte-
americano com a empresa IBM onde desenvolvem-se pesquisas de como implementar a
computação em nuvem no contexto governamental. Nesta mesma época Vivek Kundra que era
CIO (Chief Information Officer) do governo dos Estados Unidos (EUA) desenvolve uma
estratégia de computação em nuvem no nível federal americano com foco em redução de custos,
ganho em performance e escalabilidade (Kundra, 2011).
Locais de
Nome do Journal ou Congresso Papers Papers
Publicação
Jurnal Teknologi 2
O periódico com maior destaque neste tema também faz parte da comunidade de
tecnologia e governo, como consta no Journal – Government Information Quarterly – 05
papers que abordam especificamente a computação em nuvem no governo, considerando
fatores de adoção, uso, riscos e benefícios que a CloudGov propicia na esfera governamental.
Com relação a Congressos e Journals é possível evidenciar na Tabela 3 que ainda grande
parte dos artigos são publicados em congressos, até pelo fato do tema ser emergente no contexto
governamental e existir ainda uma discussão sobre conceitos, uso bem como a adoção por parte
dos governos.
As pesquisas em CloudGov utilizaram como unidade de análise vários países, sendo
investigados de modo empírico por meio de Estudos de Caso e Surveys conforme é destacado
na Figura 2. A proporção de adensamento da cor sobre o país destaca a quantidade de pesquisas
investigadas naquele contexto, como na Austrália foram desenvolvidas 07 pesquisas em esferas
municipais (local), estaduais (subnational) e federal (national).
Outro país que foi investigado com várias pesquisas empíricas foi a Arábia Saudita onde
constam em 06 artigos. Neste país foi possível verificar uma ênfase foi na construção de
modelos de adoção e a utilização da CloudGov por parte da esfera federal (national). Já no
contexto latino americano o Brasil aparece nesta revisão da literatura internacional com 02
pesquisas, sendo uma publicada no Journal of Information Systems and Technology
Management – JISTEM analisando a CloudGov na esfera municipal nos municípios de Curitiba
e Porto Alegre (Dornelas, Souza & Amorim, 2017)
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Outra pesquisa brasileira aparece nesta revisão da literatura com Pinheiro Junior e
Cunha (2017) analisando a CloudGov em nível federal por meio de um estudo de caso na
Secretaria de Tecnologia da Informação – STI, com a classificação dos benefícios e riscos na
contratação de nuvem no contexto federal (national). A Colômbia foi investigada Ruiz e Ávila
(2017) buscando validar critérios que levariam a adoção de serviços em nuvem no governo
federal (national), validando um framework de adoção.
Por fim, conforme a Figura 2 é possível verificar vários contextos não investigados
ainda como países-latino americanos, continente africano, Canadá e grande parte da Ásia sendo
possíveis candidatos a serem investigados e possíveis comparações entre contextos, tecnologias
e adoção de CloudGov.
Quanto as abordagens metodológicas utilizadas nas pesquisas de CloudGov os dados
encontrados relatam grande parte das pesquisas a nível qualitativo (65%) por meio de estudos
de caso (25%) com baixo poder de explicação. Isso pode estar relacionado pelo fato do contexto
ser recente nas implementações governamentais bem como o fenômeno ainda estar em caráter
exploratório. Por outro lado, pesquisas quantitativas (17%) começam a aparecer no tema de
CloudGov com a realização de Surveys (22%) com gestores, CIO’s, e colaboradores que atuam
diretamente neste contexto de nuvem governamental.
Foi possível evidenciar também nesta etapa descritiva da revisão da literatura 24% dos
papers com o desenvolvimento de modelos conceituais de adoção e uso de CloudGov nos
governos, porém esse tipo de metodologia pode ser criticado pois não basta apenas o
desenvolvimento de modelo de CloudGov sem a sua efetiva validação empírica.
Mesmo analisando de forma descritiva os artigos representam 70% de pesquisas
qualitativas com ênfase em “estudos de caso” e questionários com limitações metodológicas.
Buscam-se critérios adicionais nessa revisão da literatura extraindo tópicos relevantes a serem
citados com uma análise de conteúdo dos artigos lidos na íntegra.
Outro item relevante nessa revisão sistemática, foi a quantidade de vezes que referências
sempre eram citadas no texto, denominando autores seminais no tema CloudGov conforme é
apresentado na Tabela 4.
Como a literatura pode ser dividida por textos acadêmicos publicados em revistas com
fator de impacto, é possível evidenciar na Tabela 4 que os trabalhos acadêmicos foram citados
em aproximadamente 25% dos textos. Por outro lado, pesquisas com referências de mercado,
como de Mell & Grance (2009) e a definição do NIST (2011) aparecem por volta de 43% e
57% dos textos, sendo citados frequentemente.
Por fim, na análise descritiva outro fato relevante é evidenciado na Tabela 4 onde grande
parte das pesquisas empíricas (65%) são realizadas no nível federal do estado (national),
deixando oportunidades futuras para explorar outros níveis (local/municipal) ou até múltiplos,
passíveis de comparação.
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papers sobre os fatores de adoção de ClouGov e o segundo cluster laranja classifica quais
benefícios foram obtidos por meio destas implementações.
Conforme a Figura 5 os fatores que levam os governos adotarem nuvem podem ser
organizacionais, institucionais, contextuais (Albugmi et al. 2016; Ali et al. 2016a; Mohammed
et al. 2016) de comportamento, técnico e até de mudanças pois a tecnologia vem para instituir
um novo formato de serviços governamentais e compreender essas mudanças foram explicadas
por meio dos fatores de adoção de CloudGov.
Em relação ao uso de CloudGov existem desafios a serem superados. Um dos desafios,
conforme detectado na Figura 5 são as mudanças na legislação pois os fornecedores de
CloudGov não estão prontos para as especificidades de cada nação. Outro desafio mencionado
na literatura é o alinhamento estratégico da tecnologia cloud com as necessidades específicas
de cada governo (Hashemi et al. 2013; El-Gazzar 2014b; Ali et al. 2016b).
Os benefícios recebidos da CloudGov geralmente estão ligados com os aspectos de
eficiência e redução de custos (Janssen & Joha 2011; Liang 2012; Mohammed & Ibrahim 2014)
além das possibilidades de escalabilidade conforme a demanda dos governos. Conforme os
temas da Figura 5 essa flexibilidade da nuvem, é considerada como um benefício quando
comparada a ambientes tradicionais.
Quanto a migração de serviços públicos para a nuvem conforme a Figura 5, os autores
mencionam a implantação de servidores virtuais e a transformação de aplicações em serviços.
Essas aplicações podem ser sistemas de gestão dos governos ou sistemas fiscais de
recolhimento de tributos. Ao hospedar esses sistemas na nuvem (Shin, 2013; Mvelase et al.
2014; Sallehudin et al. 2015; Ruiz & Avila 2017) eles podem ser acessíveis e escaláveis a
qualquer momento propiciando efetividade aos serviços.
No tema de CloudGov existe uma preocupação com a segurança das informações e
cuidados com a integridadade dos dados (Paquettte et al. 2010; Hana 2014; Alassafi et al. 2016).
Porém, esse fato pode levar aos riscos tangíveis que podem ser controlados e riscos intangíveis,
que fogem do controle dos gestores da aplicação. A literatura, mesmo mapeada como um tema
de segurança menciona isso como uma alternativa futura a ser investigada em profundidade.
Por fim, os temas na literatura começam a dispersar para diversos contextos, como nas
cidades (Clohessy et al. 2014) que propõe um roadmap de utilização de CloudGov no contexto
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de cidades inteligentes ou com Zissis & Lekkas (2011) que fala sore o uso de voto eletrônico
por meio da transferência das informações num ambiente cloud. Ainda em contexto diversos,
na área de educação os autores Shafique et al. (2017) apresentam um framework com fatores
determinantes para a migração do ambiente tradicional no ensino, para cloud.
5 Considerações Finais
Este artigo teve como objetivo construir uma revisão sistemática da literatura sobre
computação em nuvem no governo (CloudGov) e mapear esse campo de pesquisa. Para isso,
foi realizada uma revisão sistemática da literatura investigando as principais bases de dados que
concentram publicações acerca do tema.
Além da análise descritiva dos dados foi possível mapear a literatura global que as
pesquisas sobre CloudGov estão classificadas em:
Fatores que levam os governos adotarem nuvem (Albugmi, Walters & Wills
2016; Ali et al. 2016; Mohammed, Ibrahim, and Ithnin 2016);
Desafios de uso (Hashemi, Monfaredi & Masdari 2013; El-Gazzar 2014b; Ali,
Soar & Yong 2016);
Os benefícios recebidos (Janssen & Joha 2011; Liang 2012; Mohammed and
Ibrahim 2015);
Construção de arquiteturas, modelos e frameworks (Gill et al. 2014; Ahn et
al. 2015; Mreea et al., 2016);
Migração de serviços públicos para a nuvem (Shin, 2013; Mvelase, 2014;
Sallehudin et al. 2015; Ruiz & Avila 2017);
Riscos identificados (Paquettte et al. 2010; Hana 2014; Alassafi et al. 2016);
Nuvem em outros contextos como: nas cidades, na educação ou no voto
eletrônico (Zissis & Lekkas, 2011; Clohessy et al. 2014; Shafique et al. 2017).
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