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Ah, as férias deste ano prometiam!

Nunca esteve tão quente em Farentuna, e dividir a falação dos professores


com o barulhos dos grilos na última aula vinha sendo um suplício! A vantagem era poder ir sem camisa no
caminho pra casa (obviamente sempre mentindo pra mãe que “perdemos” o ônibus).

Só tinha uma coisa que chamava mais a atenção que o calor e os grilos: a narcolepsia do Viggo. Nas duas
últimas semanas, ele foi de “o maior visitante” do gabinete do diretor Emil a “ignorado com sucesso” pelos
professores, passando por um estágio na sala da psicóloga Gretchen, o que aparentemente não mudou muita
coisa.

Até onde sabíamos, já haviam mandado vários bilhetes para que seu pai viesse à escola para prestar
esclarecimentos, mas se tem algo que o pai de Viggo não é conhecido é pela presença em locais públicos.

Cientista renomado do Loop, ele é apelidado pelos moradores de Oingo Boingo, por ser ruivo e ser
conhecido por desenvolver “ciência maluca”, seja lá o que isto realmente signifique.

Assim, esquecido pelo pai e pelos professores, Viggo terminava o ano letivo lustrando a carteira com sua
baba.

Bom, sabe o que dizem sobre a curiosidade do gato? Pois é, posso dizer que o verão de 86 foi tudo menos
tranquilo, graças à curiosidade de Greta. Munida de um espírito enxerido (altruísta para ela), sugeriu que
oferecêssemos ajuda a Viggo, pois segundo ela, ele estaria provavelmente em “grande sofrimento”.

Apesar de todo sex-appeal que essa magrela loira acha que tem, Viggo nos ignorou com sucesso, o que
deixou Greta ainda mais obcecada. E assim, com grande poder de persuasão e ameaças de exposição pública,
nos convenceu a seguir Viggo depois da aula.

O trajeto até a casa de Viggo foi estranho. Ainda que o céu estivesse em um lindo laranja e com um ar fresco
de começo de noite, pairava um clima estranho nomear. Seja pelo passo apressado de Viggo ou pela
curiosidade incessante pelas razões dele se encontrar desta forma, o grupo seguiu todo o trajeto calado. Sim,
além de mim e da Greta, estava conosco Björn, por ser rápido, ter um kit de espião que vivia em sua mochila
e bem, porque no final das contas ouviu nossa conversa e grudou feito sarna.

A casa de Viggo era um sobrado às margens do lago Långtarmen, a alguns metros dos pedalinhos, que
acabaram de passar por uma grande reforma (uma demão de tinta) em virtude da temporada de verão. A casa
toda estava às escuras com exceção do porão, que emanava uma luz bruxuleante e ritmada, como que se
quisesse nos hipnotizar. E honestamente, pelo jeito sinistro que a casa estava, preferimos aguardar mais um
pouco do lado de fora. E que espera...

Depois do que pareceu uma eternidade, finalmente Viggo saiu da casa com uma mochila de camping
insanamente cheia, que o deixou com o aspecto de uma tartaruga em fim de carreira. Curiosamente, ele se
dirigiu aos pedalinhos e não para o bosque que costumávamos acampar. Chegando lá, pulou de forma
desajeitada o portão do brinquedo e foi rapidamente para um dos pedalinhos, lançando-se na escuridão do
lago. E depois de uma eternidade se entreolhando de forma atônita, decidimos todos seguir o mesmo rumo.

Se não estivesse com tanto medo da escuridão, certamente teria esmurrado Greta pela estupidez da
empreitada. Só não acabamos perdidos no meio do lago porque a luz da lanterna de Viggo foi nosso guia em
todo o trajeto, que se encerrou na ilha de Munsö. Terminar a jornada pelo lago foi um alívio, ainda que
teríamos que passar por aquele tormento para voltar. Por fim, voltamos nossa atenção para nossa
perseguição. Viggo seguiu por alguns metros em um bosque até chegar noque parecia uma estrada de terra
abandonada, montou em uma bicicleta que estava caída por lá e saiu em disparada. Parecia que nossa
empreitada finalmente chegaria ao fim.

Greta mais do que rapidamente correu para tentar alcançar nossa vítima, até que tropeçou violentamente em
algo metálico. Em meio a palavrões, ela se levantou erguendo junto a si outra bicicleta, com um sorriso de
satisfação envolto por lama e folhas.

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