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A CULPA É DO ORKUT!

No começo, uma mania. Um ano depois, uma dor de cabeça. É a vida real pelas páginas do Orkut
Por Ana Carolina Moura

Um ano se passou desde a febre orkutiana que se espalhou pelos brasileiros.


Parece que tudo começou com um propósito: auxiliar relacionamentos. Deu certo.
Casais formados, amizades conquistadas, amigos reencontrados. Mas, felicidade
para uns, inferno para outros. Amigos brigados, namoros destruídos, teia de
fofocas, relacionamentos conturbados, neuróticos hospitalizados, roupas rasgadas,
pratos quebrados e corações partidos. Dá dor de cabeça só de pensar! Por isso, o
orkuticídio virou uma prática comum na rede: cada vez mais pessoas desistem do
cadastro e procuram retomar a vida que levavam antes desse vício.
Tudo começou com o turco Orkut Buyukkokten, de 30 anos, analista de
sistemas no Google. Na verdade, a história todos já sabem. O fato é que o Orkut
se tornou um rastreador de intimidade, onde pessoas bancam os detetives online e
acabam causando muita infelicidade.

Para a estudante de Relações Públicas, Lilianne Nys (foto), de 19


anos, o Orkut é um causador de danos, que só serve para as
pessoas bisbilhotarem a vida alheia. "Meu ´ex-morto-namorado´
vigia tudo que eu faço, sabe aonde eu vou nos fins de semana e
acaba me seguindo", conta a garota que já até pensou em deletar
de vez sua página na rede, mas desistiu porque gosta de trocar
"scraps" (recados) com os amigos que não pode ver todos os dias.
"Tudo começa quando você se pega lendo os scraps do seu amigo,
quando você vê, já está lendo os scraps dos amigos dos seus amigos, e começa a
descobrir coisas que até Deus duvida! Pulando de orkut, lendo os scraps, vendo os
álbuns e descobrindo realmente quem são as pessoas, fazendo com que você apure
cada vez mais seu faro de detetive".

A descrição da comunidade "Eu Vasculho o Orkut Alheio",


fundada pelo publicitário Fabrício Verçosa (foto), é bem sugestiva.
Fabrício acredita que "quem está na chuva é pra se molhar", então
não adianta reclamar da vida exposta. O publicitário conta que o Orkut
ajuda mesmo a descobrir como as pessoas são de verdade. "Já
descobri que fui passado para trás, como quando meus amigos saem e
não me chamam, por exemplo", diz o moderador de mais de 60 mil
associados da comunidade.
"Tomei um pé na bunda"
O radialista Erik Reis, de 23 anos, a "vítima", saiu perdendo
desde que entrou no Orkut. A ex-namorada, que sempre foi
encanada e ciumenta, terminou o relacionamento de seis anos e meio
por causa de um comentário de Erik que rolou em uma comunidade e
de scraps que ele recebia constantemente de amigas. "Pra mim, o
Orkut veio como um vilão, as pessoas expõem opiniões que não são
reais e eu nunca tive culpa do que escreviam para mim", conta o
rapaz. "Por causa dessa porcaria de Internet eu tive de mudar todos os meus
planos que eu tinha feito com ela, que não foi madura o bastante para discernir
brincadeiras do que eu realmente sentia".
Hoje, Erik toma muito mais cuidado com o que escreve na rede. "Agora eu só
uso o Orkut a título de curiosidade, encontrar pessoas que eu não vejo há muito
tempo e não para fazer novas amizades", explica. Naqueles meses de sofrimento
todo pelo término do namoro, Erik não esconde que vasculhou sim os scraps da ex.
"Descobri pelo Orkut que ela conheceu o atual namorado no dia em que terminou
comigo". Mas, o radialista garante que bloqueou a ex e que quer distância da vida
da fulana.
Vida real ameaçada
"Descobriram a minha vida toda pelo Orkut", afirma a
estudante de engenharia Deborah Kihara, de 20 anos. Alguns
meses atrás, Deborah descobriu que pessoas "sem nada para
fazer" são capazes de muita coisa. Sem nenhum motivo aparente,
a estudante recebeu um telegrama ameaçador em sua casa.
"Estava escrito que iriam falar mal de mim e mostrar fotos
comprometedoras para meus pais", conta Deborah, que mais tarde
descobriu como a pessoa conseguiu as informações pessoais. "A
pessoa adicionou meus amigos íntimos e conseguiu enganá-los para descobrir meu
endereço, nome dos meus familiares e outras coisas". Depois disso, Deborah
resolveu tirar da sua página algumas informações que poderiam ajudar na
investigação dos curiosos, como bairro em que mora e lugares que freqüenta.

Final Feliz
O happy ending dos filmes Hollywoodianos aconteceu para
Isadora Kieling (foto), de 21 anos, e Fabrício Machado (foto), de
24 anos. A comunidade "AMA - Amamos Mulheres Altas",
atualmente com 54.187 membros, foi o pano de fundo para a
romântica história desse casal. O processo do virtual para o real
é aquele que todo mundo conhece. Uma das partes se interessa
pela outra, adiciona o alvo, eles trocam scraps (recados), depois
mensagens por Messenger, se falam por telefone e marcam um encontro.
Com Isadora não foi diferente. "No começo eu fiquei desconfiada, já tinha
ouvido histórias não muito bem sucedidas com namoro pela Internet", conta.
"Depois eu percebi que ele era tudo aquilo que demonstrava ser online e
começamos a namorar uma semana depois", diz a sortuda que é, com certeza,
uma exceção que deu certo por meio do Orkut.
Os namorados também "brincam" de detetive, como outros internautas que
navegam na rede. "No começo eu entrava direto nos scraps dele e ele nos meus,
mas nunca brigamos por isso", afirma. "E eu continuo vasculhando", diz Isadora
que dá a dica para as mais ciumentas. "Não adianta ficar procurando pêlo em ovo,
às vezes o recado da fulana não significa nada para o namorado".
Cuidado, ela pode estar vigiando você!
Juliana* é uma rata do Orkut. Adora atrapalhar relacionamento
dos amigos, manda recados comprometedores de propósito e
ama uma fofoca virtual. Sabe tudo da vida de todo mundo, não
adianta esconder nada que ela descobre! "A vida das pessoas me
instiga por um instinto que eu não sei revelar", afirma a
estudante de 19 anos.
Mas, como o feitiço sempre vira contra o feiticeiro, Juliana já
sofreu a comum "crise de ciúmes" por causa de recadinhos que o
namorado recebeu. "Uma vez vi um scrap em espanhol de uma sirigaita para o meu
namorado, fiquei louca na hora, liguei pra minha melhor amiga e ela chamou outra
amiga para traduzir. E, no final, não fiquei nada feliz com a tradução, foi uma
confusão só!", fala a garota que ri da situação.

DICAS MALVADAS DE UMA RASTREADORA NO ORKUT PARA SE DIVERTIR:


Por Juliana*
 Escolha um alvo do qual não se arrependerá: um ex-ficante, ex-amigo,
garota que odiava no colégio ou uma antiga paquera.
 Feito isso, comece a vasculhar o "about" da pessoa. Inspecione os
possíveis erros de português, veja se há mentiras ou se a pessoa está bancando a
intelectual.
 Pule para o álbum de fotos. Tire um sarro se aquela menina que você
detestava engordou ou se o príncipe que te deu um fora virou um sapo! (Se
nenhuma das opções servir, confira se houve ajudinha de um editor de imagens!)
 Visite os scraps, descubra quem é o rolo da pessoa e sinta-se envaidecida
se você está mais bonita que a fulana ou que a atual do paquera.
 Passe pelos fãs e compare com o número de amigos dele. Veja se a
popularidade continua ou se agora ela existe!
 Dê uma olhada nas comunidades e descubra os lugares que a pessoa
freqüenta e suas preferências. Desconfie das comunidades eruditas ou daquelas que
expõem intimidades.
 Por último, denuncie propagandas enganosas. Todo mundo merece saber
que aquele cara super descolado ou aquela garota gatíssima só existem no mundo
virtual!

* O nome foi alterado para preservar a identidade do entrevistado

O Orkut também te dá dor de cabeça? Você tem inusitadas histórias das quais precisa
desabafar? Entre na comunidade do Guia da Semana e não esconda nada!

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