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Salem
Sunshine
Jewell Designs

Dezembro 2023
Snow White
Eve Dangerfield
A Snow White Novel

Livro Um

Eve Dangerfield
Há muito tempo fui prometida a um homem poderoso.

Conheço meu dever. Mas no dia do meu casamento, fui roubada por
quatro homens. Homens que detestam o meu noivo. Eles vão me usar
para cumprir sua vingança.

Um deles só quer o meu corpo.


Um deles me quer como esposa.
Outro oferece liberdade... a um preço.
E o último me quer morta.

Fui criada para ser uma boa esposa da sociedade. Agora estou
enfrentando uma batalha de inteligência e desejo de tirar o fôlego.
Minha única esperança é deixar de lado a minha inocência. Ou aprender
a usá-la como arma.

Nota da autora: Velvet Cruelty é um romance escaldante entre uma mulher e


quatro homens lindamente perigosos, no qual ela não tem de escolher.
Para minha Zias.

Sangue é sangue.
Adriano Rossi

Uma garota que mal tem idade para ser chamada de mulher está sentada
em um banco sessenta metros abaixo de mim. Ela está rindo, uma caixa fofa de
cupcakes nos joelhos. Eu ajusto a lente da minha mira e seu rosto entra em foco.
Olhos verdes, pele pálida e uma boca larga e macia com lábios vermelhos como
sangue 'uma cor que eu já vi mais do que a maioria.' Ela pega um cupcake e o
segura longe de si mesma, como se tivesse medo de prová-lo. Conhecendo sua
madrasta, ela provavelmente está.

Parker diz alguma coisa e ela ri, seu longo cabelo preto de ébano
refletindo a luz. As pessoas olham enquanto passam, com a boca aberta. A garota
sempre foi bonita, mas desde que ela fez dezoito anos, ninguém consegue tirar os
olhos dela. Movo minha mira meia polegada para a esquerda e encontro Parker.
Barbeado com um toque de gordurinha ao redor das bochechas e queixo. Ele
parece ter menos de trinta e oito anos. E soft1. O tipo de cara que você avaliaria se
quisesse pular em alguém em uma estação de trem.

Meu dedo roça o gatilho do rifle. Um aperto, o murmúrio de uma bala, e


ele se foi. Mas uma morte rápida é melhor do que Zachery Parker merece.

Ele também não consegue tirar os olhos da garota. De quarenta andares


de distância posso dizer que ele quer agarrar seu cabelo e puxar sua boca em seu
pau. Ele não vai, no entanto. A dois bancos de distância, sem se preocupar em
parecer nada além de músculos, estão seus guarda-costas. Kurt Cooper e Theodore
Murphy. Seus Rugers2 estão à vista de seus lados enquanto eles conversam e
observam garotas correndo. Eu poderia estar matando John F. Kennedy atrás deles,
e eles não perceberiam. Eles estão lá para impedir Parker de pegar tetas da
adolescentes e isso é tudo.

Verei Cooper e Murphy em breve. Mostrar-lhes exatamente o quão ruim


eles são em seus trabalhos.

A garota para de rir e leva o cupcake rosa aos lábios. Sua pequena língua
acaricia o glacê e Parker quase enlouquece em seu jeans.

Ela não está provocando ele. Ela é apenas ingênua pra caralho. Uma
garotinha com olhos de corça. Nunca esteve em um encontro. Nunca dormiu com
um amigo. Sua mãe a veste com camisas que vovós puritanas não usariam nem
mortas. Sempre que alguém fala com ela, aqueles grandes olhos verdes ficam
vidrados. Bobby diz que ela está fingindo ser ingênua, Doc e eu acha que ela é o
verdadeiro negócio. Se ela tivesse um sobrenome diferente, ela teria sido reprovada

1 Refere-se a estética soft boy, homens que usam alguns acessórios, roupas, cabelo e maquiagem
associados à feminilidade.
2 É uma companhia fabricante de armas de fogo fundada em 1949 em Southport, Connecticut. Produz
primariamente fuzis, caçadeiras, pistolas semi-automáticas e revólveres, para além de uma vasta gama de
acessórios.
no ensino médio. Mas quando você sabe que vai se casar antes de poder comprar
cerveja, por que se preocupar em aprender?

Parker se move para limpar o glacê rosa do nariz e a garota olha para
seus guarda-costas. Eles chamam a atenção e as mãos de Parker caem para os
lados. Ele está sorrindo, mas é falso. Irritado. Ele não gosta que lhe digam o que
fazer, mas regras são regras, e ninguém toca em January Whitehall. Ele tem sorte
de se sentar ao lado dela. Quando a garota se formou na Trinity Grammar, ela
recebeu seu diploma nos bastidores. Ela dança na New York Ballet Academy
desde os nove anos, mas ninguém nunca a viu se apresentar. Um garoto uma vez
tentou filmá-la andando a cavalo em Kensington Stables e Murphy o acertou com
tanta força que ele teve uma concussão.

Parker gastou milhões ganhando a lealdade da madrasta e aquela vadia


fez com que ninguém se esbarrasse no lado da garota. Ela é pura como a neve e em
quatro semanas ela dirá 'sim' e pertencerá a Parker para sempre.

Ou assim ele pensa.

A equipe de segurança de Parker é quase invisível. Dois caras no


arranha-céu do outro lado da rua. Mais dois em um Buick parado no meio-fio. Um
franco-atirador no topo da Igreja Episcopal de St. George. Se eu atirasse em Parker
esta manhã, teria que executar cinco homens em menos de um minuto para fugir.
Não impossível, mas confuso. Eu mudo minha posição, aliviando a dor na minha
coluna enquanto a garota termina seu cupcake. Ela suga as sobras de glacê da
ponta dos dedos e uma pulsação corre pelo meu pau. Há um corpo implorando por
corrupção sob essas roupas feias. Seria divertido arrancá-la delas. Ela se cobriria
com as mãos, mas isso só tornaria mais sexy, seus seios balançando enquanto as
lágrimas escorriam pelo seu rosto. Eu a alimentaria com Orchard, para que ela
ficasse molhada e se contorcendo, seja o que for que sua mente certinha dissesse a
ela. Eu a prenderia no chão, empurraria suas coxas largas com meus joelhos e
pressionaria em sua boceta. Eu assistiria seu sangue virgem se espalhar para cima e
para baixo no meu eixo enquanto eu a fodia. Ela lutaria comigo o caminho todo,
seus pequenos punhos batendo contra minhas costas enquanto eu a abria.

A princesa perfeita de Whitehall, arruinada por um canalha sujo como


eu.

Mas esse não é o plano. O que quer que Morelli decida fazer com a
garota, ela realmente não importa. Parker importa. Fazê-lo se arrepender do dia em
que seu pai se enfiou na prostituta de sua mãe é importante.

Há uma chance de eu foder com January Whitehall, mas é mais provável


que eu a mate. Matá-la, cortar seu coração e dar para Parker. E não será pessoal.
Como Parker nos ensinou há muito tempo, às vezes você está no lugar errado na
hora errada.
January Whitehall

É o dia do meu casamento.

Eu pensei isso uma centena de vezes desde que acordei, mas ainda não
parece real. Talvez nunca será. Talvez eu flutue da catedral para a recepção da
minha nova vida de casada sem ter que fazer nada.

O pincel de Anita desliza levemente sobre meus olhos fechados. — Ok,


January. Abra.

Eu me olho no espelho especial do camarim e vejo que minhas pálpebras


agora estão rosa-pêssego. — Que cor linda!

— Bem, você é uma noiva linda.

Anita está tentando parecer feliz, mas a pele entre suas sobrancelhas está
apertada. Ela faz a maquiagem da minha madrasta há anos. Tenho certeza que é
estranho que a primeira vez que ela está fazendo a minha, é para o meu casamento.
Eu gostaria de poder falar abertamente. Se eu pudesse, diria a Anita que o que está
acontecendo não é tão estranho, que casamentos arranjados ainda são comuns em
outros lugares. Mas não tenho permissão para falar abertamente. Meu casamento é
um negócio de família e Anita não é da família.

Observo enquanto ela guarda o pincel para os olhos e seleciona um pote


de pó cintilante entre as dúzias que revestem sua bolsa de couro plana. —
Iluminador, — ela explica. — Vamos fazer essas maçãs do rosto brilharem.

Minha irmã, Margot, sacode sua taça vazia para mim. — JJ, tome um
pouco de champanhe…

Ela está bebendo desde que chegamos na suíte para arrumar o cabelo.
Isso foi há cinco horas. Pego a taça dela e coloco na minha mesa lateral. — Talvez
você devesse tomar uma Coca-Cola?

— Talvez você devesse tomar uma bebida?

— Tenho apenas dezoito anos.

— Sim, e você vai se casar. Você pode tomar a porra de uma taça de
champanhe.

Olho em volta, rezando para que ninguém a tenha ouvido xingar. —


Margot, por favor, relaxe?

Ela mostra a língua para mim, mas não diz mais nada. Margot é mais
corajosa do que eu — e embriagada, — mas também conhece os negócios da
família.

Ela boceja, esticando os braços sobre a cabeça, e sua pulseira de platina


cai em seu pulso. Ela me pega olhando. — Assim que o casamento acabar, vou
vendê-la.
Anita se move na minha frente, bloqueando a visão de Margot, e estou
feliz por não ter que responder. As pulseiras são um presente do Sr. Parker para
minhas damas de honra. Ao redor da suíte do hotel, pulseiras idênticas estão
brilhando nos pulsos de minhas primas Sadie e Penelope e minhas amigas de
escola Giuseppina, Darcy e Quinn. Todas elas estão se maquiando, bebendo
champanhe e se divertindo muito melhor do que Margot.

Quando Anita termina de realçar minhas bochechas, ela se move de volta


para minhas pálpebras e aplica delineador preto e cílios postiços. — Você se senta
como uma estátua, January.

Eu olho para minhas mãos. — Obrigada. Provavelmente é por causa do


balé.

— Metade das garotas com quem trabalho se contorcem mais do que


você. Você deveria ser uma modelo.

Eu sorrio. Tenho certeza de que Anita está apenas sendo legal, mas a
ideia de eu ser modelo é mais louca do que eu ir à lua. Fico impressionada quando
duas pessoas falam comigo ao mesmo tempo. Não consigo me imaginar descendo
uma passarela com centenas de câmeras piscando na minha cara.

Kurt, meu guarda-costas, solta uma risada que faz todos na sala pularem.
— …Eu disse: 'Vá se foder, Hardaker!'

Theodore, meu outro guarda-costas, dá um tapa em sua coxa. — Idiota


de merda. Você deveria ter feito isso de novo.

Os dois estão escondidos no canto da suíte, uma garrafa de Glenfiddich


na mesa de centro transparente na frente deles. Tenho certeza de que mamãe não
gostaria que eles bebessem no trabalho, mas em algumas horas, eles não serão mais
meus guarda-costas.
Margot inclina a cabeça para mim. — Pelo menos depois de hoje, você
não terá que lidar com essas risadinhas.

— Shhh! — Eu digo, suprimindo um sorriso. Kurt e Theodore são legais,


mas também são barulhentos e meio rudes. Vai ser bom não se preocupar mais
com o que eles estão dizendo para as meninas no balé. Um relógio na parede soa,
anunciando o meio-dia. Falta menos de uma hora para a cerimônia. Meus nervos
chiam como bife em tiras.

— Nervosa? — Margot pergunta.

— Um pouco. Mas aposto que o Sr… quero dizer, Zachery também está
nervoso.

Margot faz uma careta. — Primeiro de tudo, quem se importa? Em


segundo lugar, você ainda o chama de 'Sr. Parker?'

— Às vezes! Ele é intimidador, eu acho.

— Besteira. É porque sua babá o chama de 'Sr. Parker.'

Minha temperatura corporal sobe um pouco. — Margot, pela


milionésima vez, Zia Teresa não é minha babá.

— Não, ela é a governanta da mãe.

Olho por cima do ombro. Mencionar a mãe sempre me faz sentir que ela
vai aparecer e gritar com alguém. Provavelmente comigo. Mas o quarto está tão
amigável e livre de mães como sempre. — Zia Teresa é minha amiga, — digo a
Margot. — E ela é sua também. Você se lembra de como ela ajudou quando você
vomitou na sala de chintz da mamãe?

Margot estala os dedos para sua maquiadora, Helen. — Oi? Sim, você
pode me trazer mais champanhe?
Helen franze os lábios, mas ela abaixa seu curvex e sai. Eu estremeço.
Não é típico de Margot ser rude, mas ela está com medo, e não tenho ideia de
como ajudá-la. Se Zia estivesse aqui, ela saberia como acalmar Margot. Ela sabe
fazer tudo. Eu queria que ela fosse ao casamento, mas minha mãe recusou. — O
que as pessoas pensariam, tendo um servo em uma celebração formal?

Mas Zia-Tia-Teresa não é apenas uma serva. Ela era a governanta do


meu pai quando ele era jovem e quando minha mãe verdadeira morreu ao me dar à
luz, Zia Teresa me deu mamadeira, leu histórias para mim e cantou para mim em
italiano. Ela é pequena, com menos de um metro e meio de altura, com um lindo
rosto de maçã enrugada e a língua mais afiada e engraçada do mundo. Ela cheira a
Be Delicious DNKY e Pond cream3 e Newport menthols4, embora eu sempre lhe
peça para parar de fumar. Para ela não estar aqui hoje… É simplesmente errado.

Anita dá um tapinha no meu ombro. — Ok, menina, quase pronto. Só


precisamos de spray fixador.

Eu fecho meus olhos e Anita me atinge com tanta névoa molhada, estou
surpresa por não estar pingando. Imagino ser selada em um casulo, uma barreira de
plástico transparente para que, quando o Sr. Parker me beijar no altar, ele não
esteja realmente me beijando. Mas quando abro os olhos, não estou em um casulo.
Eu sou apenas eu, mas brilhante.

Ao meu lado, Margot bebe sua taça de champanhe fresca, seu rosto
brilhando com o mesmo spray fixador. Ela parece feroz e linda. Estendo a mão e
toco seu braço. — Você está linda, M. Estou tão feliz por você estar aqui.

3 Creme hidratante facial.


4 Marca americana de cigarros mentolados.
Margot suspira. — Gostaria que papai estivesse aqui. Se estivesse, isso
não estaria acontecendo.

Luto para manter o sorriso no rosto. — Eu gostaria que papai estivesse


aqui também, mas estou feliz por me casar com o Sr. Parker.

— Você não tem nenhuma porra de ideia. Isso não é justo.

Eu volto meu olhar para o meu espelho. — Margot, quando Zia Teresa
tinha quatorze anos, seu pai a tirou da escola e a mandou trabalhar para nossa avó.
Ele ficou com três quartos do salário dela até que ela se casou e então o marido
dela pegou todo o seu salário.

— Então?

Eu me endireito na minha cadeira de maquiagem. — Então, me desculpe


hoje é difícil para você, mas eu tenho que me casar.

— Deus, January… tanto faz. — Margot se atrapalha com sua bolsa e


pega seu vape verde neon. Mamãe ficaria louca se soubesse que Margot vapeou,
mas se há algo arriscado que ela não tenha banido especificamente, Margot quer
fazê-lo. Enquanto ela sopra uma nuvem de fumaça parecida com um dragão,
Fabrizia da Abbagliante Bridal desliza pela porta em um traje prateado. — Boa
tarde, senhoras! Prepare-se para se surpreender!

Uma equipe de assistentes carrega vestidos, cada uma cuidadosamente


selado em protetores opacos.

Giuseppina grita. — Oh meu Deus, está na hora! January vai se casar!

São necessários cinco assistentes para trazer meu vestido de casamento.


Uma em cada canto e uma extra no final. Não faço ideia de quanto custa o vestido,
mas pelas expressões aterrorizadas das assistentes, muito.
— Levante, January, — chama Fabrizia. — Para o vestuário.

Ela me conduz para trás de uma pequena cortina onde eu tiro meu
roupão de cetim. Sr. Parker escolheu minha lingerie de casamento e dois dias atrás,
fui levada a um salão onde todos os pêlos abaixo do meu pescoço foram depilados.
Ainda estou me acostumando com a nudez, mas faz com que a lingerie, um
espartilho branco curto e calcinha minúscula, pareçam mais bonitos. Eu tento
imaginar o Sr. Parker me vendo seminua assim e meu estômago revira.

Uma das assistentes de Fabrizia tira um par de scarpins de uma caixa de


sapatos e os entrega para mim. Eu deslizo o couro envernizado em meus pés e fico
quatro centímetros mais alta. Originalmente, Fabrizia me queria de salto alto, mas
a mamãe pirou. — Você quer que minha filha fique acima do noivo?

Meu vestido está pendurado em uma moldura de madeira ao meu lado, e


as assistentes ficam ao redor dele sussurrando nervosamente como se ele pudesse
ganhar vida e fugir. Fabrizia abre o zíper da capa opaca e vejo um pedaço de renda
branca e pérolas. Meu estômago se contrai. — É lindo.

— Hum. — Fabrizia me encara no espelho. — Então, a princesa ainda


está se casando com o goblin?

Ao contrário de todos os outros, Fabrizia não esconde sua desaprovação


ao Sr. Parker. Provavelmente porque ela é ainda mais assustadora do que minha
mãe.

— Estou muito animada para me casar.

Fabrizia faz um barulho de 'pffeew.' — Obediente, Bella, mas você


precisará ter um desempenho melhor na cama esta noite.

Minhas bochechas queimam sob toda a maquiagem de Anita. Eu sei que


há uma chance de eu não ser virgem amanhã, mas eu nunca fui beijada antes.
Certamente o Sr. Parker não vai levar as coisas tão longe. Talvez possamos ir para
a suíte nupcial no Ritz Carlton e apenas conversar e dar as mãos?

Meu vestido de noiva é legal contra a minha pele. Já fiz muitos ajustes,
mas hoje é diferente. Mais pesado. Fabrizia sobe o zíper, mas seu progresso para
no meio das minhas costas.

— Oh meu Deus, o que há de errado?

— Nada. — Fabrizia chama uma assistente e as duas delicadamente, mas


com firmeza, empurram o zíper em direção ao gancho e ao centro.

— Eu sinto muito. Mamãe se certificou… quer dizer, eu não como há


dois dias.

Fabrizia estala a língua — Não é o seu peso, garota boba. Você cresceu
desde a última prova.

— Cresceu?

— Seu il petto. — Seio.

Olho no espelho de moldura dourada e vejo que Fabrizia está certa. O


decote incha sobre as taças de renda transparente do meu vestido. — Temos tempo
para uma alteração?

Com um pequeno grunhido, Fabrizia consegue fechar o zíper. Ela estala


o gancho com seus dedos eficientes e dá um passo para trás, enxugando as mãos no
terno. — Seu noivo não terá reclamações. O que você acha?

Eu mordo meu lábio inferior. Eu nunca mostrei minhas clavículas, muito


menos meus seios, e a renda marfim me faz parecer ainda mais pálida do que o
normal. Eu normalmente uso meu cabelo preso para eventos especiais, mas o Sr.
Parker queria que ele caísse em cachos soltos. Eu não pareço feia, mas não acho
que pareço muito nupcial. Pelo menos não do jeito que imaginei que faria no meu
casamento.

— É um lindo vestido, — digo a Fabrizia. — Espero que eu consiga


fazer com que pareça bom.

Ela faz o som 'pffeew' novamente. — Eu não deveria estar pedindo sua
opinião, deveria? Nada sobre este casamento é para você.

Antes que eu possa responder, Fabrizia se afasta, gritando para suas


assistentes em italiano. Uma delas apresenta o véu que o Sr. Parker escolheu.
Minha cabeleireira Monika ajeita o círculo de diamantes em volta da minha cabeça
e a renda veneziana cai quase nos meus pés.

Eu me estudo no espelho, reorganizando meu rosto em um sorriso


tímido. É assim que eu vou ficar enquanto ando pelo corredor. Eu faço a transição
para um feixe cheio de dentes. É assim que ficarei quando o Arcebispo nos
anunciar Sr. e Sra. Parker. Eu toco uma mão na minha bochecha. Este é o espanto
feliz que manterei durante nossa primeira dança, tonta com o conto de fadas que
isso se tornou.

— January, — Sadie chama. — Podemos vir ver o vestido?

— Claro, — eu digo, deixando meu rosto relaxar.

Quando todos já admiraram o vestido, faltam apenas vinte minutos para


os carros do casamento chegarem. A equipe traz taças de champanhe e suco de
laranja e Kurt e Theodore se servem de um último uísque.

— Saúde, — diz Penelope, e nós brindamos com as taças. Tomo um


pequeno gole do meu coquetel e coloco de lado. Margot bebe o dela e estende a
mão desajeitadamente para o meu. Enquanto Margot bebe num só gole, há um
tapinha forte no meu ombro. É Fabrizia. — Venha comigo, — diz ela.
Eu a sigo até um canto da suíte esperando que mamãe não tenha ligado
com algum pedido insano de última hora. Mas Fabrizia aponta para uma pequena
pessoa entrando pela porta. Minha boca se abre. — Zia!

Eu corro em direção a ela, mas Fabrizia agarra meu pulso. — Não


estrague seu vestido.

Eu paro e fico ali acenando para Zia Teresa como uma idiota. Ela parece
menor do que o normal e meio retraída. Apenas seus olhos castanhos são os
mesmos, brilhantes como os de um pardal. Ela me olha de cima a baixo com o
mesmo olhar avaliador que costumava me dar antes da escola. — Você está
magnífica, Bella, mas o que é…?

Ela gesticula para meus seios.

Eu levanto a mão para o meu peito mal coberto. — Não foi ideia minha,
Zia! O Sr. Parker escolheu o vestido.

— Ele poderia ter escolhido um pouco maior.

Eu sorrio, embora meu coração esteja rasgando. Eu quero abraçá-la


tanto, que dói. Quando eu tinha nove anos, eu já era mais alta que Zia e comecei a
pegá-la e esmagá-la no meu peito. Ela finge achar chato, mas eu sei que ela adora.
Se não fosse por este estúpido vestido de noiva, eu poderia fazer de novo.

— Eu não posso acreditar que você veio me ver! — Eu digo.

— Claro que eu vim. Nada poderia me afastar. — Zia olha para Fabrizia
e me pergunto se ela está prestes a criticá-la por exibir meu decote, mas seus olhos
se encontram em alguma compreensão mútua.

— Vou te dar um momento, — diz Fabrizia e caminha de volta para


todos os outros.
Zia pega minha mão. — Não posso ficar muito tempo. Se sua madrasta
soubesse que estou aqui…

— Eu sei.

Ela vira a cabeça e tosse. Uma tosse longa e úmida que eu podia
reconhecer em meu sono. — Zia, por favor, pare de fumar.

— Bah, qual é o ponto? — Ela olha ao redor, em seguida, fica na ponta


dos pés e beija minha bochecha. — Você está bonita.

Eu tento sorrir, mas meu rosto não se move. — Gostaria que você
pudesse vir ao casamento.

— O que dizemos sobre desejos?

— Eles são para tolos.

— Isso mesmo. — Zia empurra seus pequenos ombros para trás. —


Cabeça erguida.

Eu levanto minha coluna, imitando-a.

— Melhor. Agora sorria.

Eu tento novamente, mas faz os cantos dos meus olhos arderem. Zia
Teresa tem o coração de um soldado e hoje, mais do que todos os dias, não quero
decepcioná-la, mas a ideia do que acontecerá quando eu for a esposa do Sr. Parker
é aterrorizante. — Zia…

Sua mão aperta a minha. — Este não é o lugar.

— Eu sei, eu só queria poder fazer brodo5 com você.

Zia olha para mim e para meu horror, seus olhos castanhos brilham.

5 Tipo de caldo.
Zia Teresa odeia fraqueza. Ela acha a arte pretensiosa, a música
sentimental e zomba das comédias românticas. Passamos milhares de horas juntas
e nunca a vi chorar. — Zia…

Ela levanta as pontas dos dedos, esmagando as lágrimas. — Diga-me a


receita do brodo.

— Mas…

— A receita, Bella. Agora.

Eu engulo. — Cozinhe três ossobucos e dois peitos de frango em água


com sal. Retire a gordura e adicione o alho, a cebola, o aipo, a cenoura, as batatas e
os tomates Roma. Cozinhe por uma hora, coe o caldo e sirva com pastina. Quando
todos terminarem o macarrão, você servirá a carne.

Ela me dá um aceno curto. — Você pode usar carne moída se não


encontrar ossobuco, mas o tutano é melhor para resfriados.

— Sim, Zia.

— E compre parmesão fresco. Nada daquele queijo de supermercato


nojento.

— Claro, Zia.

— Você deveria fazer brodo em sua nova casa, assim como eu te


mostrei.

— Eu vou.

Olhamos uma para a outra e quero dizer que a amo, que ela é minha mãe
e que me ensinou tudo o que sei. Mas nós duas já sabemos disso e um presente
melhor para Zia seria permanecer forte. Eu levanto meu queixo. — Vejo você em
breve.
— É claro. — Zia enfia a mão no bolso de seu pesado casaco marrom e
tira uma moeda de ouro. — Isto é para você.

Pego a moeda e vejo um homenzinho gravado na lateral. Há uma bolinha


no topo, um lugar para um colar passar. — É um medalhão?

— Sì. Um São Cristóvão. Proteção para sempre que você viajar de casa.
Dei um a todas as minhas meninas quando foram a Foggia pela primeira vez.
Deveria estar em uma corrente, mas… — Zia dá de ombros.

Mas então minha mãe veria.

Enfio o medalhão em meu corpete. Terei que encontrar um lugar seguro


para escondê-lo mais tarde, mas por enquanto preciso dele comigo. Eu pego a mão
de Zia novamente. — Sinto muito que você não pode vir hoje.

Zia balança a cabeça. — Não se culpe pelo que os outros fazem. Apenas
se concentre em sua própria sobrevivência.

Minha própria sobrevivência? Isso parece um pouco melodramático,


mesmo para Zia Teresa. — O que você…

Outro toque no ombro. A boca de Fabrizia é uma linha fina. — Srta.


Whitehall, precisamos ir.

— Ok.

Eu me viro para abraçar Zia Teresa, mas ela já está saindo pela porta, a
mão tateando na bolsa atrás do cigarro mentolado. Eu a observo sair, o peso
tomando conta de mim.

— Está pronta? — Pergunta Fabrizia.

— É claro. — Eu jogo meus ombros para trás. Serei uma noiva


impecável. Eu farei o Sr. Parker feliz, e ele me dará permissão para trazer Zia
Teresa da casa da minha madrasta para a minha. Então eu vou pagar Zia para beber
espresso e assistir E! notícias de entretenimento e me dizer que meu cabelo está
ficando muito comprido. Toco o medalhão encostado no meu seio direito. Não sei
do que estou com medo, mas espero que Zia esteja certa e que o São Cristóvão me
proteja de qualquer maneira.
January Whitehall

St. Michael se eleva acima de mim, erguendo-se no céu azul claro. Eu


me sinto como uma formiga tremendo diante de Deus. O ar está gelado e as
árvores de bordo ao longo da rua estão nuas. Margot e minhas outras damas de
honra saem dos Cadillacs atrás de mim, tremendo e se aconchegando umas nas
outras.

Penélope geme. — Quem se casa no inverno?

Alguém que faz dezoito anos no final do outono, penso e mordo o lábio
inferior. Estou prestes a me casar com o Sr. Parker. Sr. Parker com suas camisas de
seda e pés de galinha. Dentro da catedral, quatrocentos convidados estão esperando
que eu diga 'sim.' Margot se move em minha direção, virando seu buquê para que
pétalas brancas salpiquem seus pés. — Ainda dá tempo de correr, JJ.

Eu me imagino correndo pela rua, meu vestido de valor inestimável


rodopiando em sarjetas imundas, o couro da sola dos meus sapatos esfregando na
calçada.
A parte de trás do meu pescoço se arrepia e eu me viro.

— O quê? — Margot pergunta.

Eu quero dizer 'eu sinto que alguém está me observando', mas isso é
estúpido. As pessoas estão me observando. Ao nosso redor, os nova-iorquinos
estão apontando para mim, a noiva no dia do casamento, como se eu pertencesse a
todos eles.

— Você ouviu o que eu disse? — murmura Margot. — Você ainda pode


sair daqui.

— Para onde eu iria? A estação de trem? Starbucks?

— Qualquer lugar. Apenas corra.

Eu sei que Margot fala sério, que ela até tentaria me ajudar, mas não
importa. Levaria cinco minutos para Kurt e Theodore me encontrarem, e depois?
Eu toco meu corpete, sentindo o São Cristóvão. — Margot, mal posso esperar para
me casar.

Ela revira os olhos e eu cutuco sua bochecha do jeito que Zia Teresa
fazia sempre que eu a questionava. Margot me dá um tapa, mas ela está sorrindo.
— Seus mamilos estão aparecendo através do seu vestido.

— É a renda! Está me irritando!

— É melhor você torcer para que o Billionaire Boy não tenha queixas ou
a mamãe vai te matar.

Carolyn, a organizadora de casamentos, desce correndo as escadas da


catedral para nos encontrar. — Olá, meninas! Entre na ordem que ensaiamos, por
favor!
Conheço os sinais de alguém sendo intimidado pela minha madrasta e
Carolyn tem todos eles. Sua voz está alta, sua maquiagem perfeita dos olhos está
borrada nos cantos, e ela está suando muito. Minhas damas de honra e eu nos
organizamos em fila e subimos os degraus da catedral. Já posso ouvir o murmúrio
respeitoso dos convidados lá dentro, políticos, sócios do Sr. Parker e toda a família
Whitehall.

Um quarteto de cordas começa a tocar uma música leve e esperançosa.

— Ok, meninas, — Carolyn diz. — Hora de ir. Giuseppina, você é a


primeira.

Há 'ohhs' e 'ahhs' da multidão enquanto Pina desaparece na catedral. O


mal-estar cresce dentro de mim quando Darcy e Quinn vão em seguida. O corredor
na St. Michael é muito longo. São cinco minutos completos e uma nova música
antes de Sadie e Penelope beijarem minhas bochechas e partirem. Elas são
Whitehall e a visão delas faz a multidão murmurar ainda mais alto. Eles sabem que
o evento principal está se aproximando. Eu.

Arrepios sobem em meus braços. Eu nunca fui o evento principal. Sou a


caçula da minha família, a menos importante e a pior na escola. A aberração com
guarda-costas que até o ano passado não sabia o que era passaporte.

Margot beija minha bochecha corretamente, lábios na pele. — Vejo você


em breve.

Parece mentira. Eu aperto sua mão enquanto ela entra na igreja.

— Oh meu Deus, ela está se movendo rápido demais para a música, —


Carolyn geme. — Oh Deus, sua irmã está se movendo muito rápido!
Sim, minha mãe definitivamente disse a Carolyn que ela estaria
planejando bailes de debutante em Idaho se ela estragasse tudo. Eu sorrio
tranquilizador para ela. — Tudo vai ficar bem.

— Shh!

Atrás de nós, Kurt e Theodore estão encostados em um Cadillac nupcial


e bebendo de uma garrafa. Quando eu entrar na catedral, será o mais longe que me
movi em público sem eles em quase dez anos. Meu estômago se revira. Eu gostaria
de não estar sozinha. Meu irmão Harris queria me levar até o altar, mas minha mãe
disse que não. Não tenho certeza por quê. Talvez fosse meu pai ou ninguém para o
Sr. Parker.

— January? — Carolyn puxa meu braço. — Você está tremendo. Você


está bem?

Penso em Zia Teresa, no medalhão de São Cristóvão contra meu peito.


Proteção para sempre que você viajar de casa. — Estou bem. Eu estou
maravilhosa.

A música muda para uma música lenta e melodiosa. Eu não ouvi isso
antes, mas parece familiar. Inevitável. Como se no fundo da minha mente, sempre
estivesse tocando. A música que eu vou andar pelo corredor em direção ao Sr.
Parker.

Carolyn parece que está prestes a desmaiar. — Ok, January. Agora!

Eu me movo automaticamente, lentamente no ritmo da música. Estou


ciente de todo o meu corpo. Meus pés em meus scarpins, a renda se movendo em
minhas coxas, o ar roçando meus ombros nus, o círculo de metal quente em meu
peito.
A multidão se vira para mim, um monstro de mil cabeças. Eu mantenho
meu olhar desfocado e ando para frente, um passo de cada vez. O corredor é tão
longo que o Sr. Parker e seus padrinhos são apenas borrões de smoking. Eu não
conheci nenhum de seus amigos antes. Talvez nos tornemos amigos também e eu
entretenho eles e suas esposas em jantares. Eu poderia fazer arancini e alcachofras
recheadas.

Passo pelo senador Billingham, pela princesa Clara da Suécia, pelo velho
amigo de meu pai, Joshua Price, o terceiro, e pelo tio Benedict, o patriarca da
família Whitehall. Ele me dá um pequeno sorriso e o alívio me inunda. Aconteça o
que acontecer, estou deixando minha família orgulhosa.

Minha madrasta está no banco da frente, impecável em seu traje lavanda


Chanel. Seus olhos varrem-me por imperfeições, estreitando quando caem no meu
decote.

Desculpe, mãe. Não é minha escolha.

Seu olhar vai do meu peito para o Sr. Parker e eu sei o que ela está
tentando dizer. Olhe para o seu marido. Faça o seu dever.

Eu obedeço e encontro os olhos do Sr. Parker. Seu rosto redondo brilha


de suor e ele está sorrindo tanto que suas bochechas são iguais às maçãs vermelhas.
A música cresce ao meu redor e eu sorrio como se tivesse praticado no espelho,
mas por dentro meu estômago revira.

Sr. Parker aparece, lambendo seus lábios, e meu calcanhar esquerdo gira
debaixo de mim. Eu tropeço para o lado e suspiros ecoam pela catedral.

— January! — Sr. Parker faz um movimento nervoso para a frente, mas


meu olhar é capturado por um flash de ouro. Atrás do altar, um padre loiro sorri
para mim. Eu conheço aquele homem. Eu o conheci uma vez durante o
aconselhamento pré-casamento. O arcebispo Bancroft disse que era o padre
Monastero e disse que estava lá para fazer anotações. Mas por que ele está aqui
agora? E onde está o arcebispo Bancroft?

Amaldiçoando-me, eu me endireito e continuo meu caminho pelo


corredor. Um murmúrio de alívio ecoa pela igreja e o Sr. Parker volta ao lugar.

Olho para o padre, esperando tê-lo imaginado nervoso pelo casamento.


Mas lá está ele. Ele não parece um padre; ele se parece com a paixão eterna de Zia
Teresa, Elvis. Ele tem as mesmas maçãs do rosto afiadas, boca zombeteira e olhos
azuis brilhantes. Se seu cabelo dourado fosse preto, ele seria igualzinho. Dou uma
espiada nas minhas damas de honra. Elas estão olhando para o padre também, mas
nenhuma delas parece preocupada. As bochechas de Margot estão rosadas, e
Penelope está passando um dedo pelos lábios.

Chego à base do altar de mármore, meu sorriso nupcial colado em meu


rosto. Alguém — Sadie? — pega meu buquê e o Sr. Parker dá um passo em minha
direção, seus olhos pálidos franzidos na pele. — January. Finalmente.

Ele estende a mão e eu gostaria de correr. Para a estação de trem. Para


Starbucks. Para qualquer lugar. Penso na medalha de São Cristóvão e rezo para que
alguém me ajude.

Um rugido estrondoso rasga o ar, e eu cambaleio para trás, meus ouvidos


zumbindo. As paredes estão tremendo e o tapete se move sob meus pés. Eu fiz
isso. Fiz um pedido a São Cristóvão e agora ele está derrubando a catedral.

Ao meu redor, as pessoas estão gritando, empurrando, correndo,


derrubando bancos e colidindo umas com as outras. Mamãe. Giuseppina.
Estranhos. Os chapéus caem, as bocas congelam em grandes O's. O Sr. Parker está
enrolado na frente do altar, os braços do smoking sobre o rosto. Eu me viro
procurando por sua equipe de segurança. Para Theodore e Kurt. Para qualquer um.
Uma palma áspera se fecha sobre minha boca, outra em volta da minha cintura. —
Você vem comigo.

Um homem está me tocando. Um homem está tocando minha boca. Eu


tento gritar, mas o som é engolido por sua palma.

— Cala a porra da boca, — ele sibila no meu ouvido.

O braço que me segura tem mangas brancas e douradas. É o padre


Monastero. Meu estômago dá um nó. Os sacerdotes podem amaldiçoar? Ele me
arrasta para trás, passando pelo altar e em direção ao tabernáculo. Seus braços são
duros com músculos, e sua colônia é inebriante, quase embriagada. Meu sangue se
transforma em gelo. Um padre pode xingar em caso de emergência, mas ele nunca,
jamais, cheiraria assim.

Eu puxo a manga forrada de ouro. Enrolada em seu pulso está uma


tatuagem de cobra, suas presas pingando sangue negro. — Você não é padre.

Ele ri no meu ouvido. — Bom trabalho, idiota.

Eu luto enquanto sou arrastada por uma pequena porta na parte de trás da
catedral, chutando suas canelas e jogando minha cabeça, tentando bater em seu
nariz.

— Cadela! — Ele me levanta do chão tão facilmente como se eu fosse


uma boneca e me carrega para dentro do quarto. A porta se fecha e ele me deixa
cair como eu costumava deixar cair minha mochila. Bato no tapete ofegante. A sala
é pequena, as paredes cobertas de estantes e vestes de padre. Os olhos azuis do
padre Monastero brilham para mim. — Não se mova.

Uma segunda explosão ressoa na catedral. O chão treme e livros pesados


caem das paredes. Devem ser terroristas. Homens que querem matar o senador ou a
princesa ou o tio Bento. Quantas bombas eles têm? Vamos todos morrer? Penso
em Zia Teresa e em seu rosto pequeno e lindo. Graças a Deus ela não está aqui,
graças…

A dor explode na minha cabeça quando sou puxada para cima. Padre
Monastero sorri para mim, sua mão apertada no meu cabelo. — Oi.

— O-Oi, — eu digo automaticamente.

Ele sacode a cabeça para o fundo da sala. — Dois minutos e vamos


passar por lá.

— Pela… parede?

— Foda-se, você é ainda mais boba do que parece. A porta.

Eu pisco e vejo o contorno de uma segunda porta embutida na pedra.


Uma passagem secreta. Minha boca fica escorregadia de medo. O padre me sacode
pelos cabelos. — Ei. Foco. Se você desmaiar, vou ter que dar um tapa em você.

Deixo escapar um soluço seco. — Quem é você?

— Apenas um cara.

— O que você quer?

— Não se preocupe com isso. Não estou preocupado com isso. — Seu
olhar percorre meu corpo, o sorriso de um tubarão curvando sua boca. — Bonito
vestido.

— Eu… eu não escolhi.

— Eu sei que você não escolheu, imbecil. É o que ele queria. Uma
virgem imaculada deslizando em direção a ele com os seios de fora.
Meu couro cabeludo está pegando fogo. Eu tento arrancar seus dedos do
meu cabelo, mas eles são como tiras de ferro. — Com licença?

O não-padre joga a cabeça para trás, gargalhando para o teto. — Deixe-


me adivinhar, como ouso falar com a preciosa January Whitehall dessa maneira?

Eu não digo nada, mas ele deve ler a resposta em meus olhos porque seu
punho aperta meu cabelo. — Bem-vinda ao mundo real.

Ele traça um dedo ao longo da minha clavícula, e minha pele parece que
está derretendo. Desde que fiquei noiva do Sr. Parker, nenhum homem me tocou.
Até meus irmãos pararam de beijar minhas bochechas. Era como se eu tivesse uma
barreira ao meu redor. Como se os homens não pudessem me tocar, mesmo que
quisessem. Mas o dedo desse falso padre está descendo pelo meu decote.

— Isso é bom?

— N-Não.

Ele sorri, e sua beleza brilha para mim como uma faca. — Você acha que
eu sou sexy, hein?

A vergonha aquece minhas entranhas. Eu desvio o olhar, tentando


encontrar sentido neste pesadelo rodopiante.

— Ei. — Ele bate forte na minha bochecha. — Não tenha vergonha. Vai
ser mais divertido se você gostar.

A porta que leva de volta à catedral se abre. É o Sr. Parker. Seu cabelo
está em pé, seu rosto rosa brilhante.

— Oh meu Deus, me ajude! — Eu grito.

Sr. Parker não está ouvindo. Ele está olhando para o padre. — Pare de
tocá-la!
A mão livre do padre desliza pelas minhas costas até o meu traseiro. —
Desculpe, Zach. Não posso.

Sr. Parker fica branco. — Quem…?

— Não me reconhece, não é? Não te culpo, faz muito tempo. Aqui está
um pequeno lembrete. Alessia Valente.

O Sr. Parker murcha como imagens aceleradas de uma planta morrendo.


— Você.

— Eu não, — diz o padre. — Nós.

Uma janela se abre na minha cabeça. Isso não é um acidente. O falso


padre não me arrastou aqui para me ajudar, ou mesmo me machucar. As explosões,
o que quer que esteja acontecendo na catedral… é por causa do Sr. Parker. Eu não
sou o evento principal, nem mesmo no dia do meu casamento.

— Apenas deixe ela ir, — o Sr. Parker grita. — Dê-me January e eu


vou…

A porta se abre novamente e um homem gigante passa por baixo do


batente. Seu rosto está escondido sob uma balaclava preta e antes que eu possa
gritar um aviso, ele envolve um braço em volta do pescoço do Sr. Parker e o força
a ficar de joelhos.

— Me solte, — Sr. Parker borbulha, suas mãos batendo freneticamente


nas do gigante.

O padre ri. — Ei, Zach. Veja isto.

Ele me vira para encará-lo e sua boca bate na minha. Ele me beija
profundamente, o cheiro forte dele me envolvendo como uma rosa espinhosa. Seus
lábios assumem uma qualidade suave e persuasiva e minha própria parte em estado
de choque. No segundo em que o fazem, sua língua está na minha boca. Eu tento
me afastar, mas sua mão ainda está apertada no meu cabelo, me prendendo. O calor
percorre meu corpo e tudo o que posso pensar é que este é meu primeiro beijo. Não
o Sr. Parker na frente do altar. Um não-padre maluco na sala dos fundos de uma
catedral.

Eu não quero beijá-lo de volta, mas já estou fazendo isso, pressionando


meus lábios nos dele, tocando sua língua com a minha. Algo em mim sabe o que
fazer. Mais do que sabe. Quer.

Um grito alto e terrível rasga o ar e o padre ri em minha boca. Ele se


afasta e o desejo que sinto de continuar beijando-o é cem vezes pior do que suas
mãos em mim. Ele olha como se soubesse exatamente o que estou pensando. —
Você manteve essa boceta no gelo por muito tempo, Zach. Um beijinho e ela
derrete.

O homem enorme ainda tem o Sr. Parker em um estrangulamento. Meu


noivo se contorce e se retorce, lágrimas escorrendo por suas bochechas vermelhas
escuras. — January! January!

Meu coração bate contra minhas costelas. — Por favor, deixe-o ir?

O padre me ignora, me girando para que seus quadris pressionem meu


traseiro.

Há outra explosão. Um livro grosso salta no meu pé, mas eu mal o sinto.
A mão do padre está deslizando pelo meu estômago, subindo para cobrir meu seio
esquerdo.

— Vamos ver o que temos aqui, — ele murmura.

— Nnnggijos, — Sr. Parker geme.


— Sim, — diz o padre, acariciando meu peito. Minhas pernas ficam
fracas. Eu quero que isso seja ruim, mas parece errado. Como dizer o alfabeto de
trás para frente. Tudo dentro de mim está quente e cheio de medo, mas eu sei que
não é minha culpa. Eu não quero fazer isso. Ele está me obrigando.

O padre aninha o rosto no meu pescoço. — Eu e os meninos vamos nos


divertir com ela, Parker. Mas não fique com ciúmes, você vai assistir.

O Sr. Parker faz um barulho alto, choramingando como um inseto


moribundo.

Os dedos do padre brincam com meu mamilo através do meu vestido. —


Nós vamos arrombá-la, Parker. Foder de todas as maneiras que uma garota pode
ser fodida.

O homem de balaclava dá uma risada retumbante e eu paro de respirar.


Pensando. Eu tento desaparecer dentro de mim.

— Você acha que sabe o que vai acontecer, Zach, — o falso padre diz no
meu ouvido. — Você está errado. Você não tem imaginação. As coisas que nós
quatro sonhamos em fazer com sua pequena virgem… você vai estourar seus
miolos só para acabar com isso.

Dois estrondos altos atrás de nós. Alguém batendo na porta escondida. O


falso padre solta meu peito. — Hora de partir.

O homem de balaclava levanta o punho e o bate na nuca do Sr. Parker


como um martelo. Ele cai no chão.

Eu grito, mas minha garganta está muito seca para barulho. Os olhos do
Sr. Parker ainda estão abertos, mas ele não está olhando para nada. Ele é como um
peixe em um mercado.
— Que porra você está fazendo? — Padre Monastero estala.

Eu pulo, mas ele não está falando comigo. O homem de balaclava está
abrindo sua braguilha.

Eu grito e consigo um segundo de som antes do padre agarrar minha


mandíbula e forçá-la a fechar. — Depressa, caralho.

Observo enquanto o homem de balaclava faz xixi em todo o Sr. Parker, o


riacho escorrendo pelo rosto e encharcando seu smoking de casamento. Eu quero
gritar de novo, mas meu corpo está flutuando como sementes de dente-de-leão. O
jato de urina termina e eu fico olhando para o pau de um estranho.

Eu só vi um pau. Paul DeLuca tirou o dele durante a aula de ciências


como uma brincadeira. Mas esse pau não é nada parecido com aquela coisa rosa
curta. É longo e carnudo e coberto de tatuagens. O homem de balaclava tem
tatuagens no pau. Ele sacode seu pau, liberando gotículas no rosto inconsciente do
Sr. Parker. O grito que não viria antes faz outra tentativa contra a mão do padre.

— Cala a boca, — ele sibila, pressionando mais forte contra a minha


boca.

Quero que Zia Teresa jogue um pano de prato para esses homens
nojentos. Quero que Margot xingue eles. Eu até pegava minha madrasta, com o
rosto tenso, gritando comigo tanto quanto qualquer outra pessoa. Eu quero
Theodore e Kurt. A polícia, o exército e o FBI. Eu quero que isso pare.

O homem de balaclava olha do Sr. Parker para mim. Seus olhos são
verdes elétricos, tão brilhantes que parecem falsos. E o jeito que ele olha para mim.
Ele me odeia. Não… isso é muito pessoal. Ele não me dá nada. Ele poderia me
matar, esmagar minha garganta debaixo de seu pé e seria como golpear um inseto.
Meus joelhos se dobram.
— Merda, — o padre rosna, me puxando para cima. — Ela vai desmaiar.
Você terminou?

— Sim, — murmura o homem de balaclava.

O falso padre me carrega pela porta secreta e entra no pátio da catedral.


Está vazio, embora o ar esteja cheio de sirenes e gritos.

— Margot, — eu murmuro. — Os meus irmãos. Meus primos. Estão


todos bem?

O padre me ignora. — Onde está a van?

— Estará aqui. — É um terceiro homem, mais baixo que os outros, mas


com músculos que estão quase estourando em sua apertada gola alta preta. Há uma
lacuna entre ela e sua balaclava, e posso ver um tufo de cabelo castanho escuro. Eu
gostaria de não poder. Não quero ser capaz de identificar nenhum desses homens.

Uma van branca vira a esquina, atravessando o concreto liso do pátio da


igreja. Eu quero lutar, mas minhas pernas são macarrão. Eu tento jogar minha
cabeça contra o padre Monastero, mas ele apenas ri. — Cuidado com o véu. Quero
que você o use quando chegarmos em casa.

Casa. A palavra envia um raio irregular de medo através de mim. Onde


homens assim vivem?

A van para bruscamente e eu fico de pé. — Hora de entrar, Tesorina.

Tesorina. Essa é uma palavra italiana.

— O quê? — O padre levanta uma sobrancelha loira. — Você quer outro


beijo?

— Nós não temos tempo, — resmunga o homem de balaclava.


Ele me pega enquanto a traseira da van se abre e me joga para dentro. Eu
caio em uma pilha do que parece ser toalhas. — Socorro, — eu sussurro para
ninguém.

A van afunda quando o homem de balaclava entra, acomodando-se em


um assento embutido na parede. Ele olha para mim. — Stronza piagniucolosa. —
Cadela chorona.

O medo brilha através de mim como neblina e eu coloco meus joelhos no


meu peito tentando me dobrar em nada. A van abaixa quando o padre e o terceiro
homem entram.

— Quem estamos esperando? — o padre pergunta. — Morelli?

— Sim. — O terceiro homem bate no painel atrás da minha cabeça. —


Prepare-se para dirigir.

Ele olha para mim e rapidamente desvia o olhar, mas não antes de eu ver
que seus olhos são castanhos escuros. Um choque passa por mim. Eu o conheço?

O padre Monastero dá um tapa no braço do terceiro homem. — O que há


de errado, Basher? Você não quer olhar para a doce virgem?

— Não use meu nome.

— Ah, mas você não é realmente Basher, é? Além disso... — O olhar do


padre Monastero encontra o meu. — …January Whitehall vai saber todos os
nossos nomes em breve. E um monte de outras coisas.

O terror envolve seus dedos gelados em volta da minha garganta. Eu vou


morrer hoje. No dia em que eu deveria me casar. Há uma batida forte na parte de
trás da van e a porta se abre novamente. Um quarto homem está de pé iluminado
pelo sol da tarde. Sua balaclava é puxada em cima de sua cabeça e até meu cérebro
em pânico reconhece que ele é lindo. Bronzeado com cabelos castanhos espessos e
um rosto anguloso perfeito. O tipo de bonito que faz sua língua ficar dormente.

— Maldito show de merda, — diz ele com uma voz com sotaque. — Dê-
me uma mão com ele.

A van afunda mais um centímetro enquanto um corpo é puxado ao lado


do meu.

— Quem é aquele? — Padre Monastero pergunta, mas eu já sei. O rosto


de Kurt está virado para mim, sangue escuro correndo da testa até a orelha. Eu
coloco minhas mãos na minha boca.

— Vá, — diz o homem bonito, entrando e fechando a porta.

Basher bate na traseira da van três vezes. Nós nos empurramos para
frente e eu agarro o chão, tentando não escorregar em Kurt. Eu não posso dizer se
ele está vivo.

O homem bonito faz um gesto de fala com o polegar e dois dedos. —


Doc? A garota.

— Certo. — Padre Monastero puxa um saco branco da parede.

— Doc? — Eu digo. — Como 'médico'?

O homem bonito sorri para mim. — Você não achou que ele era um
padre de verdade, achou?

Mesmo em todo o caos, meu estômago se revira de excitação. Acho que


nunca vi alguém tão bonito antes. — Eu… quem é você?

O homem bonito ri. — Uma pergunta para outra hora, Bella.

Ele também é italiano. Ele soa exatamente como Zia.


Padre Monastero agarra meu queixo, virando-o para expor a lateral do
meu pescoço. Há uma agulha enorme em sua mão. — Não se preocupe, — diz ele.
— Isso só vai doer um pouco.

Eu grito e mãos descem de todos os lugares, prendendo meus braços,


minhas pernas, meu estômago. Padre Monastero paira acima de mim, sorrindo seu
sorriso sarcástico de Elvis. — Bons sonhos, Tesorina.
Doc Valente

January está enrolada no tapete vermelho-escuro de Morelli, ainda


inconsciente por causa da injeção para dormir. Eu me inclino contra o corrimão da
escada principal, esperando que ela acorde. Ouvi dizer que todas as noivas são
lindas no dia do casamento, mas ela é uma coisinha bonita. Ela me lembra um
potro, todo pernas e cílios e crina longa e escura. E esses peitos… Mama Whitehall
fez um bom trabalho escondendo-os. Meus olhos quase caíram da minha cabeça
quando a pirralha caminhou pelo corredor em minha direção.

Um gemido sai de seus lábios vermelhos. Mesmo se contorcendo no


tapete, ela parece pura demais para existir. Como se ela tivesse sido beijada por
anjos. Faz um homem querer violá-la. Ou pelo menos me faz querer fazer isso.

Do outro lado da sala, seu guarda-costas inútil ainda está desmaiado. Ele
não recebeu uma injeção para dormir; Adriano acabou de chutá-lo na cabeça. Eu
teria cortado sua garganta e o empurrado para fora da van, mas Morelli o quer vivo
por enquanto.
— Mmmmff. — A pirralha se vira, seus dedos se contraindo como
garras de gatinho. Seus olhos se abrem. Eles são verdes. Não verde psicopata como
Adriano. Verde pálido com um anel escuro. Do tipo que faz você pensar em
colinas irlandesas e jardins secretos. Eu me empurro para fora do corrimão. — Boa
noite, Tits.6

January me olha de soslaio. — Padre Monastero?

Eu sorrio. Quando chegamos em casa, coloquei uma calça jeans preta e


uma camiseta. Eu teria mantido as vestes de padre, mas Morelli me disse para
parar de me exibir. — Não é um padre de verdade, imbecil.

Seu lábio inferior treme e eu observo os eventos de hoje se repetirem em


seu cérebro. Ela toca o lado de seu pescoço. — Você me drogou.

— Eu fiz. — A agulha a perfurou tão facilmente. Eu nunca vou superar o


quão simples os humanos são para penetrar. Com que rapidez você pode
transformar os vivos em mortos.

January se senta, seu vestido de noiva espalhado ao redor dela como uma
poça branca. Seus olhos percorrem o saguão de entrada, demorando-se nas pinturas
a óleo e no fogo crepitando no canto. — Onde estou?

Eu bocejo incisivamente. Os sequestrados são tão chatos. 'Por que estou


aqui?' 'Por favor, deixe-me ir?' 'Eu tenho uma família…' As coisas não vão ficar
divertidas de novo até que os outros estejam de volta no andar de baixo.

— Sr… — Ela pisca para mim. — Eu não sei o seu nome?

— Pode me chamar de Doc.

— Doc, você pode, por favor, me deixar ir?

6 Tetas.
Com um suspiro, puxo minha faca borboleta do bolso e tiro a lâmina. —
O que foi isso?

Ela se cala.

Eu escolho a unha do meu polegar com o ponto. Há um pouco de sangue


sob a unha. Não de hoje. Provavelmente de quando Adriano e eu trabalhamos com
Nicci Fattore. Eu gostaria de cortar Parker, cortar sua pálpebra ou pegar um dedo.
Mas eu lambi sua noiva virgem e Adri mijou na cara dele. Temos muito tempo
para fazer o cara feio pagar.

Eu posso sentir a pirralha me observando. Conto os segundos até que ela


faça outra pergunta estúpida. Um, dois, três…

— O que você vai fazer comigo? — Sua voz é clara, mas há uma
pequena oscilação nas bordas. Ela está a um minuto das lágrimas, no máximo. —
Você pode, por favor, me dizer onde estou?

— Pare de falar.

— Por favor, apenas… Por que isso está acontecendo?

— Tesorina, eu não sei por que você acha que eu carrego uma faca, mas
continue falando e eu vou sangrar você por todo o tapete.

Sua boca se fecha e ela começa a choramingar em suas mãos como um


coelho. Eu gosto quando as garotas choram, mas ela não está fazendo isso direito.
Ela está fungando como uma criança de cinco anos que perdeu seu ursinho de
pelúcia.

Eu gemo para o teto moldado. — Porra, você pode parar de


choramingar?
Ela olha para mim. Ela está ainda mais pálida agora 'e ela não tinha
muita cor a perder.' Ela parece meio morta. Mas então talvez ela esteja totalmente
morta até o final da noite. Essa é a decisão de Morelli.

— Quantas pessoas morreram?

Eu franzo a testa. — Que porra você quer dizer?

— As explosões. Quantas pessoas morreram? Você sabe?

Eu abaixo minha faca. Eu poderia dizer a ela que toda a sua família está
morta, mas olhando para sua pele cinzenta, a notícia pode matá-la, e então eu
estaria na merda. — Ninguém morreu, Tits.

— Mas… as explosões?

— C4 nos esgotos. Então, acho que alguns encanamentos de Nova York


morreram. Você vai chorar por isso?

January olha para a meia distância. — Todo mundo está seguro?

— Sim. Você é a única pessoa que foi fodida neste arranjo.

— Oh.

Espero que ela comece a chorar, mas ela apenas pisca rapidamente. —
Então, você é realmente um médico?

Eu a encaro. Para uma garota com adesivos de unicórnio na parte de trás


do telefone, eu não esperava tanto bate-papo. — Isso importa se eu sou realmente
um médico?

— Eu… Não. Eu só não sei como te chamar.

Eu agarro a frente do meu jeans. — Você pode usar o padre Monastero,


se quiser. Isso me deixou duro.
Ela se encolhe. — Eu não…

Eu rio. — Ou você pode continuar bancando a inocente, lurida


sgualdrina. Isso me deixa duro também.

— Eu não sou uma puta. — Seus olhos se arregalam e ela leva a mão à
boca.

Por um segundo, eu não entendo, então clica. — Você fala italiano?

Ela balança a cabeça.

— Você fala italiano, — repito mais para mim mesmo. — Capisci cosa
ti sto dicendo, vero?

Ela continua balançando a cabeça, mas posso ver a compreensão em seus


olhos. Eu xingo baixinho. Como podemos ter perdido isso? Ela é anglófona. Sua
família inteira é Anglo. Analisando mentalmente nossos planos, ela falando
italiano não muda nada, mas como perdemos isso? — Quem te ensinou italiano?

Ela se joga para trás no tapete. — Ninguém.

Eu aponto a lâmina para ela. — Quem. Ensinou você. Como falar.


Italiano?

— Minha Zia.

— Sua Zia?

— Ela não é realmente minha tia. Ela é minha governanta. Minha babá.
Ela viveu comigo toda a minha vida. Eu a chamo de Zia Teresa.

Havia uma velha na casa, mas nenhum de nós pensou duas vezes nela.
— Cabelo tingido? Fuma cigarros?

January pisca rapidamente. — Sim. Como…


— Esta velhinha ensinou você a dizer 'puta imunda?'

— Não. Nossos jardineiros… eram sicilianos. Eu costumava ouvi-los às


vezes.

— Sim, isso faz sentido. Os sicilianos são porcos.

Um pequeno sorriso vinca sua boca.

— O quê? — Eu pergunto.

— Por que todos os outros italianos odeiam os sicilianos?

Ela está tentando ser engraçada. Doce. Eu caio em meus calcanhares ao


lado dela e coloco a faca sobre meus dedos. Seus olhos ficam vidrados. Melhor. Eu
balanço minha cabeça para as janelas escurecidas. — Está escuro agora, Tits. Se
você tivesse ficado em seu casamento, você estaria casada. Comendo caranguejo
enquanto Zachery Parker apalpa suas coxas por baixo da mesa.

Ela engole, seus olhos fixos na lâmina. — Eu… eu acho.

— Eu sei. E em mais algumas horas, você estaria a caminho do Ritz-


Carlton para chupar o pau do seu marido feio. Acha que Parker te foderia como um
cachorro na primeira vez? Dobrá-la e pegá-la por trás?

Seu olhar desliza para longe, parando na parede atrás de mim.

— Não, ele gostaria de ver esses peitos perfeitos. Mas então ele duraria
apenas trinta segundos.

Eu quase posso vê-la pensando 'não deixe que ele te aborreça.' Eu rio.
Eu poderia despedaçá-la e vê-la se recompor novamente a noite toda. — Você está
com sorte, Tits. Todos nós quatro somos mais bonitos do que Parker e todos
sabemos como fazer isso durar horas.
Seus lábios vermelho-rubi tremem. Lembro-me de pressionar minha
boca contra eles na catedral. Eu estava principalmente focado em Parker, mas foi
um beijo doce. Açucarado. Ela não queria gostar disso, mas não podia evitar.
Aposto que ela é o tipo de garota que encharca a calcinha enquanto você dar uns
amassos. — Quando eu enfiei minha língua na sua garganta na catedral, esse foi
seu primeiro beijo?

Ela pisca os olhos de corça para mim. — Eu… o quê?

— Foi seu primeiro beijo? Ou você praticou com as meninas da escola?

Sua boca se contorce e eu sei que ela quer me dizer que sou nojento.
Meu pau engrossa no meu jeans. Eu levanto a faca, examinando a ponta
novamente. — Tesorina, se você não me contar sobre seu primeiro beijo, eu te dou
outro. E desta vez eu vou morder.

Ela estremece. — Foi meu primeiro beijo.

— Fico feliz em ouvir isso. Eu sei que Tweedledee e Tweedledum7 não


deixaram nada com um pau a três metros de você, mas sempre há uma chance de
alguém escorregar por baixo das cordas.

A vermelhidão corre em suas bochechas pálidas. Eu quero fazê-la chorar


e depois comer sua boceta. Ouvir seu soluço enquanto ela goza em meu rosto…

— Sr. Parker nunca me beijou, — ela sussurra. — Ele era um cavalheiro.

— Ele era um esquisito jogando jogos fodidos com seu pau.

Seu rosto registra apenas confusão. Malditas virgens. — Ele estava se


preparando. Esperando você crescer. Fantasiando sobre sua boceta como se fosse
uma maçã amadurecendo o suficiente para comer. Ele é uma aberração.

7 Personagens gêmeos de Alice no País das Maravilhas.


Ela balança a cabeça, cachos escuros chicoteando ao redor de seus
ombros. — Você é um psicopata.

Eu rolo minha língua pelo interior da minha bochecha e sorrio. — Sim,


mas eu nunca iria passar dez anos esperando que uma garota fosse legalizada.
Agora que você tem dezoito anos, não pretendo esperar até o final desta noite.

— Por favor, me deixe em paz, — ela sussurra, lindas lágrimas se


acumulando em seus olhos.

Eu olho para as escadas. Onde diabos estão os outros? Eu estava


planejando salvar essa bomba até que meus irmãos estivessem por perto, mas eles
estão demorando pra caralho. Por anos eu vi essa pirralha flutuar com a cabeça nas
nuvens. Brincos de pérolas; verões em Paris; festas com nove bolos de aniversário
diferentes. Ela é uma cadela mimada. Já chorando quando nada aconteceu ainda.
Ela não foi cortada ou baleada ou acertada nos três buracos.

Eu fico de pé. — Pergunta rápida. Você acha que a primeira vez que a vi
foi quando você se encontrou com o arcebispo para aconselhamento matrimonial?

Sua mão salta para a garganta. — O que você…?

— Se eu pude forçar meu caminho para ser o padre na porra do seu


casamento, para quem você acha que está confessando seus pecados chatos e
mesquinhos?

O horror se estende por seu rosto. — Não, você não pode…

— Não posso? — Eu bato no meu peito. — Eu não sei. Você tem


alguma coisa estranha sobre comer tiramisu secretamente que você sente a
necessidade de contar aos padres?
Ela se joga no tapete e retoma sua fungada silenciosa. Meu prazer é um
pouco privado ao perceber que eu deveria ter somado dois e dois sobre a
governanta italiana. Esta cadela tinha muito acesso ao tiramisu.

— Doc?

Basher salta escada abaixo, abotoando a manga de sua camisa azul-


marinho. Ele cheira a Tom Ford e seu cabelo escuro está bagunçado com gel. Eu
sei exatamente o que ele está fazendo. — Vestindo-se para a pirralha?

Basher olha incisivamente para meus pés descalços. — Você sabe que
não tem dezessete anos, certo?

— Você sabe que não é o baixista de uma banda de casamento do meio-


oeste, certo?

Basher revira os olhos. — Pelo menos você não está com a roupa de
padre.

Ele não sabe que a January está acordada, caso contrário ele estaria
olhando para ela como sempre. Eu sorrio para ele. — O que você acha da garota de
perto? Bem magricela, hein?

— Você ficou cego? Ela está deslumbrante.

Eu quero muito me virar e ver a reação de January, mas mantenho meus


olhos em Basher. — Você pegou a lona?

Ele pega o maço de plástico transparente debaixo do braço. — Onde


Adriano quer dessa vez? Porque da última vez…

— Bobby?

A lona cai no chão. Dando meia-volta, é difícil ver quem parece mais
horrorizado, ele ou ela.
— Você está… acordada, — Basher diz com uma voz estrangulada.

— Sim. O que você está fazendo aqui?

Basher não responde, apenas a encara como se sua boceta tivesse


inventado a fusão a frio.

Eu bato palmas. — Estamos perdendo força aqui. Tits, seu precioso


professor de álgebra não deveria estar lhe ensinando matemática mais do que eu
deveria estar aceitando sua confissão. Basher, ela esteve acordada o tempo todo, é
uma merda ser você.

January parece que vai desmaiar. Certamente, ela não pode estar longe
disso. Quantos tapetes alguém pode tirar debaixo deles em um dia?

— Bobby… — ela sussurra.

— Foi ideia dele te ensinar, — eu digo, porque eu sou um idiota.

Basher me empurra, mas ele não pode negar. Foi ideia dele.
Precisávamos de alguém na escola dela, e ele tinha mestrado em ciência da
computação, então comprou algumas calças e se registrou no Conselho de
Educação de Nova York. Nós rimos disso na época. Então ele realmente começou
a ensinar equações quadráticas à Srta. Priss8 e tudo ficou muito menos engraçado.

Bobby pressiona a mão no coração como se fosse Romeu ou algo assim.


— January, estou falando sério. Eu sinto muito.

Dou uma cotovelada em seu lado. — Ei Basher, lembra o que ela disse
sobre você no confessionário?

January leva as mãos à boca. Ela já aprendeu que é inútil tentar me


impedir. Ela se prepara para o impacto em vez disso. Talvez ela não seja tão

8 Princesa.
estúpida, afinal. — Você deveria ter ouvido ela falar sobre você, Bash. 'Ele é tão
legal, eu ando pela biblioteca perguntando a ele sobre eixos9 e essas merdas só para
ver se ele fala comigo.'

O rosto de Basher está escarlate e ele está olhando para qualquer lugar,
menos para January.

— Eu queria saber se ela estava esfregando sua boceta virgem pensando


em você. Mas eles não deixam você fazer perguntas quando você é o padre.

Lágrimas escorrem pelas bochechas de January e em seus seios. Eu


poderia esfregar meu pau através dessas lágrimas. Fazê-la prová-los.

— Há quanto tempo você está me observando? — ela sussurra.

— Anos, — eu digo. — Como você acha que eu sei como é a sua Zia
Teresa?

Passos pesados descem as escadas atrás de mim. Adriano em uma


Henley verde, calça de lona pesada e botas. Parecendo, como sempre, que compra
exclusivamente na loja de artigos militares. Eu levanto a mão. — Boa noite, irmão.

Ele me ignora, olhando para Basher. — Lona?

— Aqui. — Basher dobra e recolhe a folha de plástico.

Há um som estrangulado de January, mas Adriano não parece notar. —


Onde está Eli?

— Ainda a caminho, — eu digo. — Está pronto?

Ele não responde. Adriano nunca foi de falar. Na escola, ele era a
escolha de todos como 'mais provável de raspar a cabeça, escalar uma torre de
celular e começar a atirar em estranhos.'

9 Refere ao eixo x e eixo y do sistema de coordenadas cartesiano.


January está olhando para ele como se ele fosse Frankenstein voltando à
vida. O que não está longe da verdade. Adri não é feio, mas foi cortado na Bolívia.
Agora há uma cicatriz prateada de seu olho direito até sua bochecha. Não faz
nenhum favor à sua vibe de 'serial killer.' Mas mesmo antes da cicatriz, ele
assustava as garotas. Eu costumava ter que dar a elas um grama de maconha antes
que eles concordassem em foder nós dois.

Adriano aponta para o guarda-costas empilhado no canto como lenha. —


Acordado?

— Não, — eu digo. — A garota está, no entanto.

Só então Adri se volta para a figura caída de January Whitehall.

Ela o encara como se fosse vomitar. — Você é o zelador do meu estúdio


de dança.

Os lábios de Adriano se curvam, revelando seu incisivo dourado. — É


isso mesmo?

Eu rio. — January confessou sobre você também, Adri. Ela se sentiu mal
por sua cara fodida. Ela estava com muito medo de dizer olá. Provavelmente são as
tatuagens.

Adriano olha para suas mãos, cobertas de lembranças de ódio e


vingança. — Você sente pena de mim, garota?

— Não! — ela guincha, mas há uma suavidade inconfundível em sua


voz. Pena é algo que podemos sentir como sangue. Nós a exploramos em outros;
nós o escondemos em nós mesmos.

Adriano dá um passo em direção a ela. — Você falou sobre minhas


cicatrizes?
— N-Não.

Eu rio. Essa é a coisa sobre Adriano. Não importa quem você seja, ele é
assustador pra caralho, o que significa que você sempre pode contar com ele para
animar as coisas. Seria algo para vê-lo fodê-la. Isso basta para mim às vezes,
assistindo feio e bonito serem esmagados juntos. E Deus, como January preciosa
choraria sendo fodida por Adriano Rossi.

— Adriano, — Basher avisa. — Estamos esperando por Eli, lembra?

— Eli está demorando o suficiente.

— Eu demorei?

Eu suspiro. Diga o que quiser sobre Morelli, o idiota sabe fazer uma
entrada. Ele olha para nós do alto da escada em sua camisa branca apertada e terno
de três peças carvão. Seu olhar encontra January. — Srta. Whitehall, você está
acordada.

January ainda parece aterrorizada, mas seus olhos estão febrilmente


brilhantes quando ela observa a cara estúpida de Morelli. Ele sorri para ela, e ela
parece que vai desmaiar. Eu reviro os olhos. Morelli tem esse efeito nas mulheres.
Ele é bonito como uma foto e os anos extras em Nápoles deram a ele um sotaque
que faz com que a própria boceta americana cresça. Eu tenho que mantê-lo longe
dos clubes em noites movimentadas ou as garotas se distraem, e o resultado final
cai muito.

Morelli desce as escadas devagar o suficiente para me irritar, ajustando


as mangas para que suas abotoaduras de platina brilhem como código morse à luz
do fogo. January não consegue tirar os olhos dele, que é exatamente o que Eli quer.
Ele chega ao patamar e dá a ela um de seus sorrisos de 'venha chupar meu pau.' —
Srta. Whitehall, meu nome é Elliot Velluto Morelli. É um prazer tê-la em minha
casa.

Seu lábio se contrai. Aposto que alguma polidez inata está tentando fazê-
la dizer 'obrigada por me sequestrar no meu casamento.'

Morelli a encara friamente. — Estou falando com você.

— O-Olá, Sr. Morelli.

— Melhor. Você obviamente já conheceu meus associados. — Ele acena


com a mão para Adri. — Este é Adriano Rossi.

Novamente, silêncio, mas agora a garota está visivelmente tremendo.


Morelli estala os dedos. — Cumprimente Adriano, Srta. Whitehall.

— Olá, Adriano.

— Boa menina. — Morelli se vira para mim. — Este é Domenico


Valente…

— Doc, — eu grito. — Você não é a porra da minha mãe.

— Domenico Valente que chamamos de Doc, — Morelli termina


irritado. — Ele fez o papel de seu padre hoje.

Os olhos verdes de January se enchem de lágrimas, provavelmente


lembrando de suas confissões patéticas 'ficar acordada até tarde nas noites de
escola, ter ciúmes de seus amigos por irem ao cinema.' Eu aceno para ela. Ela não
diz nada.

Morelli suspira. — Srta. Whitehall, me disseram que você foi educada.


Eu preciso te ensinar boas maneiras?

Ela olha para Basher em um pedido sem palavras por ajuda.


— Não olhe para ele, — diz Morelli em uma voz sedosa. — Olhe para
Domenico e o cumprimente.

January aborda meu queixo. — Olá, Domenico.

Eu sorrio. — Eu mudei de ideia. Ela pode me chamar assim o dia todo.

Morelli coloca a mão no ombro de Basher. — E este é…

— Bobby, — Basher interrompe. — Apenas Bobby.

Morelli faz uma pausa. Normalmente, quando as pessoas o interrompem,


ele faz Adri quebrar os dedos, mas ele ama Basher, o trata como um irmãozinho.
Ele lhe dá um pequeno aceno de cabeça. — Tudo bem. Srta. Whitehall, este é
Bobby. Às vezes o chamamos de Basher.

January enfia uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Boa noite, Bobby.

Basher fica vermelho brilhante. Ele acha que um nome americanizado


faz dele o tipo dela. Ele está iludido. Ela não tem um tipo. Ela é uma garotinha
bonita que não sabe diferenciar o cu das calças. A ironia é que o único com nome
anglo é Morelli. Seu pai o chamava de 'Elliot' em homenagem a um parceiro de
negócios. Dizem que, quando a epidural passou e a mãe de Morelli viu a certidão
de nascimento, ela foi para os olhos dele.

Uma corrente está passando entre January e Basher. Ela ainda está
gritando com ele para resgatá-la. Faz sentido. Ela passou a maior parte do tempo
com ele e agora que estamos todos juntos, ela confia mais nele. Já está na hora de
alguém dar uma cagada nisso.

Eu assobio. — Ei, Whitehall. Você sabia que chamamos Bobby de


'Basher' porque seu nome verdadeiro é Roberto Bassilotta?

As sobrancelhas de January se juntam.


— Além disso, seus pais criavam porcos em Ohio e seu Nonno lutou por
Mussolini.

Adriano solta uma gargalhada. Basher parece que eu pisei no


cachorrinho dele. Eu lhe dou uma piscadela. — Desculpe, Bash, mas você precisa
ter mais orgulho de sua herança.

— Puttaniere psicotico, — murmura Morelli. Prostituta psicótica. Ele


acena com o dedo para January, que está de joelhos. — Você. Volte para o chão.

Ela obedece, abaixando-se em sua bunda. — Sr. Morelli, posso


perguntar por que estou aqui?

— Você está me questionando?

Ele diz isso como se fosse uma linha descartável, mas a corrente oculta a
atinge. — Não. De jeito nenhum, eu só…

Ele caminha em direção a ela, estudando seu rosto, seu corpo. Ele é
exigente, Morelli. Seu gosto por boceta é mais caro que seu gosto por roupas. E ao
contrário de nós três, esta é a primeira vez que ele vê January de perto. A menos
que você conte ela deslizando pela van inconsciente.

Ele pega o queixo dela e vira o rosto dela para um lado e para o outro. —
Por que você tem guarda-costas, Bella?

January parece atordoada por sua atenção e seu toque. — Para… me


manter segura?

— Não. Deite-se no meu tapete.

Os olhos de January vasculham a sala em busca de uma fuga que não


virá. Finalmente eles pousam em Bobby. Ele sacode como se um choque elétrico
tivesse passado por ele, mas ele não se move. Ele não é estúpido. Mesmo em seu
pequeno coração esmagado, ele sabe que January pode sair desta noite como um
cadáver. Seria vingança para ele tanto quanto para qualquer um de nós, mas ele
parece miserável mesmo assim.

O olhar de January volta para Eli. — Sr. Morelli…

— Existe uma razão pela qual você não está fazendo o que lhe é dito?

Ela recua e tenho certeza de que vai quebrar 'gritar ou pular de pé e


tentar correr.' Mas então ela se deita como um anjo de neve no tapete. Vou até a
mesa lateral e puxo uma cadeira, pronto para o show. Adriano se coloca perto do
fogo e Basher fica perto de Morelli, como se ainda pudesse impedir o que está para
acontecer.

Morelli estuda a garota diante dele. — Já que você está determinado a


ser útil, Bobby, puxe a bainha da Srta. Whitehall até as coxas.

A boca de Basher se torce. Eu posso praticamente provar seu dilema. Ele


quer proteger January. Ele quer obedecer seu chefe. Ele quer ver o corpo de
January. Ele hesita, antes de se ajoelhar ao lado dela, virando o rosto enquanto
puxa a renda do vestido dela. Eu me inclino para frente quando as longas pernas de
January ficam expostas.

Ela solta um gemido suave. O som me aquece como uísque. Por anos eu
administrei clubes de strip e palácios de bocetas, lidei com milhares de mulheres
lindas, mas nenhuma teve a inocência palpável desta.

Eu quero arruiná-la.

— Afaste-se, — diz Morelli.


Basher recua, seu rosto sombreado. Ele está com raiva, mas eu tenho
certeza que ele está duro atrás de suas calças também. Como ele poderia não estar
depois de finalmente colocar as mãos na garota que ele está procurando por anos?

Morelli pisa entre as pernas de January. — Você vai se comportar mal?

Ela balança a cabeça, fazendo com que seus longos cabelos se espalhem
contra o tapete.

— Bom. — Ele empurra suas pernas mais largas com a ponta de seu
sapato. — Abra.

January fecha os olhos com força, mas ela obedece, abrindo as coxas.

— Boa menina. — Ele pressiona o wingtip10 em sua boceta e ela solta


um gemido involuntário.

Eu sorrio, me mexendo na cadeira enquanto ajusto meu pau inchado. Eu


gostaria de não ter usado jeans.

— Isso… — Morelli diz, acariciando seu sapato contra ela. — É por isso
que você tinha guarda-costas.

Ela aperta os olhos com mais força, suas bochechas ficam vermelhas. Do
outro lado da sala, Adriano resmunga. Eu sei exatamente como ele se sente. Seria
uma coisa se ela estivesse com medo, mas ela está com medo e excitada. Todos
nós podemos ver.

Morelli esfrega lentamente o sapato contra sua boceta. — Eu vou te dizer


por que você veio até nós, Bella. Você foi prometida a um homem com quem meus
irmãos e eu temos um conflito não resolvido.

10 Sapatos masculinos com furinhos e cuja costura forma um ”W” na ponta.


Os olhos de January se abrem e eu posso vê-la se esforçando para se
concentrar em algo que não é sua boceta virgem sendo esfregada. Eu rio. — Isso é
bom, Tesorina? Você está se molhando?

Sua cabeça rola pelo tapete. — Me deixe em paz!

Basher solta uma risada chocada e Morelli sorri. — Não gosta de você,
gosta, Doc?

Eu franzo o cenho. — Ela gostava muito de mim quando eu era seu


padre.

January se esquiva de Morelli. — Sr. Parker não é um homem mau.

O sorriso de Morelli desaparece. Ele pressiona o sapato um pouco mais


forte contra ela. — No que você está baseando isso?

Seu lábio treme. — Ele conhecia meu pai.

— Ah, seu querido papai. Sem querer ser insensível, mas seu pai morreu
quando você tinha oito anos. Sua madrasta planejou seu noivado com Zachery
Parker contra a vontade dele.

Adriano cospe no fogo.

— Minha mãe não faria isso.

Eu bufo. Sua madrasta é uma cadela fria. Se ela quisesse fumar, teria
vendido a boceta de January por meio maço de cigarros. Garotas como January
nunca podem ver isso, no entanto. Elas acreditam em famílias felizes e amor
eterno, não importa quantas evidências existam em contrário.

— Sr. Parker e mamãe arranjaram um casamento para o benefício de


ambas as nossas famílias, mas isso não faz dele uma pessoa ruim.
Morelli sorri, passando a ponta da asa um pouco mais rápido entre as
pernas dela. — Eu aprecio sua lealdade, Srta. Whitehall, mas não me fale sobre
Zachery Parker. Nós quatro o conhecemos há muito mais tempo do que você.

Os olhos de January estão vidrados. Parece que ela está prestes a gozar
no sapato dele.

— Isso não é bom, Bella?

Ela balança a cabeça como se pudesse desejar que tudo isso acabasse.
Imagino sua boceta inchada, formigando. Excitação misturada com pânico e medo.
Do outro lado da sala, ouço Bobby engolir em seco.

— Eu lhe fiz uma pergunta, Srta. Whitehall. Isso não é bom?

Seu olhar se move de Morelli, para Basher, para Adri, para mim. Eu
daria muito dinheiro para saber o que ela está pensando e exatamente o quão
formigante esses pensamentos a estão deixando.

— Sua mentirosa. — Morelli tira o sapato do meio das pernas dela. —


Aqui estão os fatos. Você foi tomada como um ato de guerra. Você agora é
propriedade da Velvet House. Minha e meus parceiros de negócios.

January encara Morelli sem ver. — Você… você vai me matar?

Adri dá uma risada baixa. Morelli sorri. — Você não tem direitos aqui.
Você não é uma convidada, você é nossa prisioneira. Se você fizer o que lhe
mandam e agir como uma mulher deve fazer, nenhum mal lhe acontecerá. Se você
não se comportar, Srta. Whitehall, então sim, vamos matá-la.

Lágrimas brotaram de seus olhos como uma represa quebrada. Nós a


vemos chorar. Basher parece querer abraçá-la. Adri está enojado – ele não suporta
as lágrimas das mulheres 'mas Morelli parece entediado.' — Pare de chorar.
January soluça ainda mais forte, seus pequenos ombros tremendo.

Morelli se ajoelha ao lado dela, segurando sua bochecha com uma mão
gentil. Ela olha para cima e a esperança brilha em seus olhos. O homem bonito está
sendo legal com ela. Morelli passa o polegar sobre o lábio superior. — Minha
garotinha assustada…

A boca de January treme tão docemente que eu gostaria de fumar um


cigarro.

Morelli olha para o rosto hipnotizado dela e então lhe dá um tapa. O som
estala ao redor da sala como um fogo de artifício.

— Você não vai nos manipular, — diz ele calmamente. — Você não vai
nos controlar com lágrimas. Você vai fazer o que é dito, ou você vai sofrer.
Entendido?

January leva a mão trêmula ao rosto. — Sim, Sr. Morelli.

— Boa menina, — diz ele, e um sorriso curva o canto de sua boca.

Ele gosta dela. Maldito inferno. Eu quero Weepy Big Tits11 para mim. Já
tenho Basher farejando, não preciso de Morelli entrando na disputa também.

— As pessoas vão me procurar, — sussurra January. — A polícia. Sr.


Parker…

Morelli vira as costas para ela e aponta para Adriano. — Acorde o


guarda-costas.

Adri o puxa pelo colarinho da camisa e lhe dá um tapa no rosto. Cooper


grita, suas pálpebras se abrindo. Um grito corta a sala enquanto January luta para
ficar de pé. — Solte ele, por favor?

11 Peitões chorões.
— Doc, cuide dela, — diz Morelli, afastando-se.

Eu dou um passo para frente, puxando-a de volta contra o meu corpo.

— Não mate Kurt, — ela suspira. — Por favor.

Eu coloco a mão sobre sua boca e a sensação de seus lábios contra minha
palma envia outro zumbido através de mim.

Adriano deixa Cooper de quatro. Ele se ajoelha, engasgando como um


motor quebrado.

— Boa noite, Kurt, — diz Morelli como se os dois fossem velhos


amigos.

O rosto de Cooper se contrai. — Você…?

— Eu. Bem-vindo à Velvet House. Você não vai ficar muito tempo.

Cooper tenta ficar de pé, mas Adri coloca uma bota em suas costas.

January grita novamente em minha mão. O som é abafado, mas Cooper


ainda a ouve. Seu rosto ensanguentado fica rígido. — January? — Ele olha para
Morelli. — Você a levou.

— Nós fizemos.

— Olha, você pode ficar com ela. Você pode fazer o que quiser, apenas
me deixe ir.

January cai em meus braços. Pobre Tesorina. Traída pelo homem que a
protegeu metade de sua vida. Mesmo eu não vi isso chegando. Eu a puxo de pé. —
Está tudo bem, querida. Ele vai pagar por dizer isso.

Mas a pirralha balança a cabeça. — Nuuuh. Porfav?

Eu pressiono minha mão com mais força em seus lábios.


Morelli sorri para Cooper. — Esperávamos que a segurança fosse
enfraquecida pela transferência, mas você e seu parceiro foram uma vergonha.
Bêbado em plena luz do dia. E por que você estava nos fundos da catedral?
Presumo que você estava ligando para o seu revendedor?

A expressão de Cooper é suplicante. — Sr. Morelli, você pode ficar com


ela. Você pode…

Adri o chuta na lateral. Ele cai no tapete, cuspindo sangue.

Morelli levanta a mão furiosa. — Cristo, Adriano! Onde está a lona?

— Merda. Aqui. — Basher corre para a frente com o filme plástico.

— Jesus Cristo. Qual é o ponto agora? — Morelli diz, apertando a ponta


do nariz. — Você deveria colocá-lo para fora de antemão.

Eu não posso deixar de rir.

— Você acha isso engraçado, Valente?

— Obviamente. — Eu tiro minha mão da boca de January. — E você,


Tits? Você acha isso engraçado?

— Por favor! Por favor, não mate Kurt.

— Obrigado, Janie, — Cooper insulta, pingando sangue. — Obrigado!

Adriano o chuta novamente, e há um estalo audível de costelas.

— Legal, — eu digo.

January dá um pequeno grito. — Sr. Morelli, por favor, solte Kurt!

Ell franze a testa. — Bella, este homem foi designado para protegê-la e
não apenas falhou miseravelmente, ele apenas traiu você. Ele não merece viver.

— Mas você não pode matá-lo!


Eu abaixo minha boca para a orelha de January. — O que eu ganho se eu
te ajudar? Você vai me chupar na frente do seu guarda-costas enquanto todo
mundo assiste?

Ela se contorce e eu aperto meu aperto ao redor dela.

Morelli estala a língua. — Doc, pare de provocá-la. Basher, coloque o


plástico embaixo de Cooper antes que o tapete fique ainda mais fodido. Adriano,
mate esse idiota.

— E quanto a mim? — pergunto a Morelli. — Por que não posso matar


Cooper?

— Porque eu não vou ficar acordado a noite toda, vendo você esfolar
esse idiota. Eu preciso de uma porra de sono.

— Estraga prazeres.

January solta um grito ensurdecedor. Adri parece assassino. Se há uma


coisa que ele odeia mais do que mulheres chorando, são mulheres gritando. Eu
coloco a mão sobre sua boca. — Me desculpe por isso.

Adriano balança a cabeça e se vira para Morelli. — Faça Basher fazer


isso.

— Foda-se, — diz Basher de uma vez. — Você faz isso, porra.

Morelli levanta a mão. — Por que Bobby?

Adriano sacode a cabeça junto à January. Morelli olha dela para Basher,
que é lento demais para tirar a expressão de horror do rosto.

Morelli inclina a cabeça. — Bobby, mate o guarda-costas.

Toda a cor sai do rosto de Basher. Ele olha para January. — Ela pode ir
para o outro quarto?
— Não. — Morelli enfia a mão na cintura e lhe entrega seu Walther
PPS. — Agora.

— Mas…

Suas narinas se dilatam. — Pense na sua mãe. Suas irmãs. Isso é tudo.
Dez anos de planejamento. Não falhe conosco.

O rosto de Basher endurece. Ele é um garoto fofo. Um cara legal. Mas


isso não é tudo o que ele é e ninguém luta mais com isso do que ele. Ele dá a
January um último olhar e então seus ombros caem. — Ok.

Ela luta contra mim enquanto Bobby se aproxima de Cooper, sua bunda
esfregando contra meu jeans. Eu pressiono nela, e ela me morde. Forte.

— Ow, — eu digo, balançando a palma da minha mão. — Pequena


cadela!

— Vocês são maus, — January grita. — Homens maus e horríveis!

Eu pressiono minha mão de volta sobre sua boca. — Você acha que nós
nos importamos em ser maus, Tesorina? Você acha que nós nos importamos?

Morelli tira um lenço do paletó. — Você não sabe do que está falando,
Srta. Whitehall. Você foi protegida a vida inteira. Disse o que é certo e errado. Sua
moral é como sua boceta. Completamente não testado. Você nunca teve que fazer
uma escolha. Doc, tire sua mão.

No momento em que o faço, January grita e Morelli enfia o pano entre os


lábios. Ela faz um barulho de indignação abafada, e ele a esbofeteia novamente.

— Lembre-se do que eu disse, Srta. Whitehall. Comporte-se e viva ou


desobedeça e morra. — Ele se vira para Basher. — Mate ele.
Basher pressiona a arma na cabeça de Cooper. O plástico contém o spray
e o corpo sacode duas vezes antes de ficar parado.

January cai em meus braços. Tenho certeza que ela está desmaiada.

— Então está feito, — eu digo. — Podemos comer? Estou morrendo de


fome.

Morelli passa a mão pelo cabelo perfeito de modelo. — Ainda não.


Configure uma câmera e coloque uma cadeira no meio da sala. Hora de mostrar a
Parker o que fizemos.
Adriano Rossi

Calma segue a morte do guarda-costas. A garota está desmaiada no chão,


enquanto Doc e eu arrumamos a sala e Basher metodicamente limpa os respingos
de cérebro. Ele não vai olhar para mim. Eu não me importo. Essa foi a decisão
certa. Seja lá o que Basher pensou que estava acontecendo, não está. A garota não
pertence a ele, e ela nunca pertencerá. Eu fiz um favor a ele.

— Onde diabos conseguimos esse ring ligth? — Doc pergunta, ajustando


o tripé.

Ell ergue os olhos de seu assento perto do fogo. — Por quê?

— Porque é para meninas adolescentes que fazem vídeos de maquiagem.

— Isso não significa que não vai funcionar.

Doc olha para ele. — Mataria você nos ajudar?

— Você tem tudo sob controle.

— Você é um preguiçoso, Morelli.


Ell está sentado em uma cadeira perto do fogo fazendo sua própria
limpeza: contatando nossos ratos do NYPD,12 confirmando que ninguém nos ligou
ao que aconteceu na catedral. Mas Doc sabe disso. Ele só gosta de provocar.

As pérolas no vestido de noiva da garota e os diamantes em seu cabelo


continuam refletindo a luz. Ridículo pra caralho, ela se casando. Ela não conseguia
passar por uma festa do pijama sem chamar sua madrasta puta para levá-la para
casa. Eu não quero olhar para ela, mas ela continua atraindo a luz também – pele
pálida e cílios longos. Ela faz meu sangue ferver quando normalmente ele se move
como lama. Eu quero que ela vá. Envolta na mesma folha de plástico que Cooper é
jogado no Atlântico gelado.

— Zia? — Ela se mexe no chão, balançando-se sobre as palmas das


mãos. — Zia?

A voz dela é tão suave. Flutuante. Eu me afasto dela. — A menina está


acordada.

Ell está de pé. — Bom. Srta. Whitehall, como você está se sentindo?

Ela não responde. Seu olhar cai no corpo de Cooper e a cor desaparece
de seu rosto. Doc abandona o tripé e salta para ela. — Você vai vomitar? Porque
suas únicas opções são seu vestido ou seu ex-guarda-costas.

Sua garganta delicada se contrai. — Por favor, poderia tomar um pouco


de água?

— É claro. — Eli gesticula para Basher. — Bobby, pegue um pouco de


água para a Srta. Whitehall.

12 Departamento de Polícia de Nova York.


Basher dirige-se ao bar de madeira e volta com um copo de cristal cheio
de água. Ela poderia esmagá-lo e tentar nos cortar, ou cortar os pulsos, mas tudo o
que a garotinha faz é bebericar. Ela está apenas pela metade antes que Morelli
pegue o copo dela. Ela deixa uma marca de batom vermelho na borda. A visão
disso faz meu pau doer.

— Agora, Srta. Whitehall, devemos discutir negócios.

— Q-Que tipo de negócio?

Ell levanta seu copo, bebendo do lugar que seus lábios mancharam. O
rosto da garota fica tão vermelho quanto seu batom. Típica. A necessidade de Eli
Morelli de saber que pode seduzir qualquer mulher em seu caminho é patológica.
Mas não importa. Ela também não pertence a ele. Eu limpo minha garganta.

Ell olha para mim, divertido. — Me perdoe. Temos negócios com


Zachery Parker. Negócios com os quais você nos ajudará.

Seus olhos são tão claros que você pode lê-los como um livro — todo
medo, culpa e esperança. Era assim quando ela dançava também, você podia sentir
seus sentimentos. Sua alegria, sua tristeza.

— O que você quer que eu faça?

— Tire seu vestido.

A sala se enche de um silêncio frio o suficiente para cortar a pele.

— Por favor, — ela sussurra. — Por favor, Sr. Morelli?

Ell estende o copo. — Bobby?

Basher dá um passo à frente para pegar o copo. Seu rosto está em branco
e eu estou feliz. Se ele tivesse a aparência de antes, eu o forçaria a fazer as honras
novamente. Mas talvez ele gostasse disso. Ele geralmente o faz, mesmo que não
admita.

Ell sorri para a garota. — Você se lembra do que eu te disse antes de seu
guarda-costas ser morto?

Ela abaixa a cabeça.

— Então você sabe que não deve me recusar. Tire seu vestido.

Ela olha para cima, todos os lábios trêmulos e olhos lacrimejantes. — Sr.
Morelli… não posso.

— Faça do seu jeito. Doc?

Sorrindo, Doc puxa seu revólver da parte de trás de sua calça jeans. —
Fique na frente da câmera e tire a roupa.

Seus olhos suplicantes percorrem o saguão de entrada.

— January Joy Whitehall, vou estourar seus miolos e Bobby será o único
a chorar por você.

Ela olha para Basher, seu rosto como uma caveira na luz bruxuleante do
fogo. Seu olhar cai sobre mim. Aqueles olhos como grandes mundos verdes
perguntando se é verdade se ela poderia morrer esta noite. Pelo menos ela está
perguntando para a pessoa certa.

Doc pressiona o cano em sua cabeça e eu sinto a sensação contra meu


próprio crânio, um anel frio de aço. — Último aviso, Tesorina. Vou acabar com
você, depois foderei seu cadáver. Fique de pé.

Ela empalidece, mas não fica de pé. Há uma espinha dorsal nessa
menina. Nós não vimos isso chegando. Talvez eu devesse. Eu a vi dançar mil
vezes, repetição, força e controle.
Ell volta para sua cadeira perto do fogo. — Bata nela.

Doc abaixa a arma e dá um tapa nela. A cabeça da garota se move para o


lado.

Ela toca sua bochecha. — Você é uma besta.

Doc ri. — Tire o vestido e eu te mostro quanto.

— Nunca.

Ele a esbofeteia novamente, mas desta vez e desta vez, ela o encara. —
Você é louco.

Doc sacode a mão. — Tire seus peitos e pare de desperdiçar meu tempo.

— Não!

Eu atravesso a sala para Eli. — Nós deveríamos matá-la.

— Nós a trouxemos aqui por um motivo.

Doc arrasta a garota em direção à cadeira na frente da câmera. Suas mãos


batendo em seus braços. — Me deixar ir!

Dê a ela um pouco mais e ela estará cuspindo e coçando. Eu cerro os


dentes. — Se você está determinado a fazer isso, eu posso controlá-la.

— Como?

Eu puxo a pulseira de platina do meu bolso. — Leia o nome.

Ell aperta os olhos para o pequeno amuleto do coração. — Onde você


conseguiu isso?

— A detive enquanto ela estava correndo para fora da igreja.

Ell sorri. — Belo trabalho. Vá assumir.


A menina está caída na cadeira. Doc faz uma careta quando me vê
chegando. — Dê-me mais cinco minutos.

— Não. Saia.

Eu deixo cair a pulseira no colo da garota. Ela o pega com seus dedos
longos e elegantes e o fogo em seus olhos desaparece. — Margot? Você também a
também?

Eu balanço minha cabeça. — Só a pulseira. Sua irmã está viva, mas não
precisa estar. Sua escolha.

O rosto da garota muda. É uma expressão que já vi um milhão de vezes.


Repulsa. Mas meu sangue é espesso e firme. Deixe-a me odiar. Não importa. Eu
devolvo a pulseira ao meu bolso. — O que vai ser?

Sua mão levanta para o seio esquerdo, segurando-o levemente.

Doc ri. — Vai nos dar um show, Tesorina?

A cor brilha em suas bochechas, mas ela o ignora, soltando e levantando


as mãos para o véu. Eli estala a língua. — Deixe isso, Srta. Whitehall. O vestido.

Ela alcança atrás de si mesma para seu zíper. O som dele descendo é
como uma língua ao longo do meu pau. Seus dedos se atrapalham e ela olha para o
teto. — Está preso.

— Você gostaria de alguma ajuda? — Eli pergunta. Ele soa gentil.


Diferencial. É assim que ele é com as mulheres. Deixando-as pensar que tudo será
fácil.

Ela hesita. — Sim, por favor?

Ell sorri. — Ah, Bella, é tão encantador quando você é educada. Vire-se.

Ela treme quando os dedos dele roçam sua pele de porcelana.


Os dentes de Doc estão à mostra enquanto seu olhar passa do rosto para
o peito e volta. Ele a quer amarrada à sua cabeceira para que ele possa cortá-la,
fodê-la, deixá-la faminta até a selvageria.

A maravilha que desapareceu dos olhos de cachorrinho de Basher


quando ele matou Cooper está de volta. Ele levaria a garota para a cama e a foderia
gentilmente, a faria acreditar que tinha encontrado um homem que a trataria assim
pelo resto de sua vida – acreditaria por um tempo.

Eli acaricia a cintura da garota. Ele a está medindo. Apesar de todas as


suas palavras suaves, seu objetivo é sempre a possessão. Para reduzir uma garota a
um peso equivalente em ouro. Quando o faz, ele coloca uma coleira no pescoço
dela e desfila com ela até ficar entediado. Então ela aceita algumas fichas e vai
embora ou sai da empresa por uma rota mais permanente. Esses homens, meus
irmãos, são idiotas, todos eles, mas não é culpa deles. Para eles, as possibilidades
dessa garota são infinitas. Para mim, eles apontam para a mesma estrada bifurcada
– mate-a ou sofra. E eu não vou deixar isso acontecer. Vou acabar com isso antes
que as coisas fiquem mais fodidos.

As mãos de Ell sobem para o zíper preso. Um puxão curto e o fecho


desliza para baixo, expondo suas costas. É pálida e delicada e totalmente
imaculada. Meus dedos se contorcem quando imagino minha pistola de tatuagem
beijando aquela tela impecável.

Doc solta um assobio baixo e a garota aperta as dobras soltas do vestido


em seu corpo. Quatrocentos mil dólares em rendas e pérolas venezianas. Não
vamos destruí-lo. Quando ela estiver morta, podemos cercar a namorada de algum
gângster que pensa que ela é da realeza.

— Srta. Whitehall. Solte, — Eli sussurra.


O vestido cai em câmera lenta como uma avalanche e então January
Whitehall está de pé em sua lingerie de casamento e salto, seu longo véu ainda
preso ao cabelo. Seu corpo é elegante e bem musculoso. Sua calcinha é mais
vagabunda do que eu esperava. Seus seios grandes saem de um espartilho
minúsculo e mal há um pedaço de renda entre as pernas.

Bobby faz um som de gato esmagado e tosse com o punho fechado para
disfarçar.

Ell lhe dá um sorriso frio. Eu posso praticamente ver os números


zumbindo em sua cabeça, o valor da garota subindo mais.

January envolve os braços em volta de si mesma e inclina a cabeça para


que o véu caia sobre o ombro. É ainda mais obsceno do que se ela ficasse nua. Doc
chama minha atenção e pisca. Lembro-me dele como um adolescente, mirando em
alguma princesa de Manhattan que ninguém achava que ele poderia ter.
Seduzindo-a como se alguém o pagasse para fazê-lo. A garota precisa morrer antes
que isso fique confuso.

Ell gesticula para a cadeira na frente da câmera. — Por favor, sente-se.

Ela obedece, provavelmente dando boas-vindas à cobertura mais simples


que oferece aos olhos famintos.

— Obrigado. Bobby, câmera?

— Está gravando.

— Então quem deve fazer as honras? — Eli pergunta.

Eu franzo a testa. — Porque não você?

— Eu preciso falar.

— Você não pode falar e foder ao mesmo tempo?


A garota solta um gemido triste que todos ignoramos.

— Vai ficar melhor se for simultâneo, — Eli considera Basher. — Não,


você não.

Doc aponta para o peito. — Eu?

— Você a beijou seu pezzo di merda. — Pedaço de merda.

— Tudo bem. Então deve ser quem Parker quer ver menos. O gárgula.

Ell se vira para mim. — Você quer fazer isso?

Aquele calor novamente, fervendo em minhas veias. Fazendo meus


músculos se contraírem. — O que funcionar.

— Ok. Use a Walther.

Vou até a mesa perto do fogo e pego a arma. Basher praticamente avança
para mim. — Não aquela.

Eu levanto a arma, pronta para quebrá-la sobre sua cabeça, mas ele acena
com as mãos. — Eu não quero te parar. Tem sangue nele.

Eu olho para baixo. O cano está salpicado com sangue de Cooper. —


Huh.

Eu me viro para a garota, desgosto gravado em cada linha de seu rosto


bonito e infantil. Meu peito aperta. Durante anos eu a observei à distância, mas isso
é ódio de perto. — Você ainda quer que eu use? — Eu pergunto a Eli.

Ele sorri. — Você é um homem doente. Não. Use a sua.

Eu entrego a Bobby a Walther e tiro minha Glock. — Você vai falar?

Eli verifica seu cabelo em um espelho próximo. — É claro. Vamos lá.


A garota fica imóvel quando me aproximo. Fixo como um coelho nos
faróis.

— Abra sua boca.

Ela pressiona seus lábios cheios juntos. Eles são tão fofos que é como se
fossem desenhados por um homem que passou anos aperfeiçoando a arte. Eu
estendo a mão para beliscar suas narinas, mas antes que eu faça, ela obedece. Eu
olho para a extensão de sua boca e meu pau endurece contra minha perna. Não é
uma aceleração lenta, vou de desapegado a duro como se estivesse afundado em
uma mulher e me imagino fodendo a cara da garota enquanto os outros assistem.
Descendo por sua garganta virgem.

Em vez disso, enfio a arma em sua boca.

Seus braços saltam, empurrando contra mim. Eu agarro seu ombro e a


prendo na cadeira com uma mão. Ela me agarra, mas seus tapas e arranhões são
como beijos em meus braços. Eu empurro o cano mais fundo. Ela grita e o revólver
capta o som e gargareja. Bombeio, mas apenas um pouco. Do jeito que eu faria se
fosse meu pau entre os dentes dela.

— Bom, — Eli diz atrás de mim, sua voz grossa como mel.

— A cadela precisa se acalmar ou ela vai engasgar de verdade, — diz


Doc. — Mostre a ela, Adri.

Eu solto o ombro da garota e aperto seu pescoço. É tão esbelto, é como


agarrar um cisne. — Pare de gritar e chupe.

Ela geme ao redor do cano. Eu aperto os dedos em sua garganta. — Você


quer que eu faça isso com meu pau?

— Nnnghh!
Doc ri. — Azar, grandão.

Eu o ignoro e olho direto nos olhos da garota. — Você quer perder sua
virgindade com uma pistola?

— Nnnngggghh.

Eu me inclino para seu ouvido. — Você vai pegar o cano primeiro. Mas
continue mexendo e eu vou tentar o cabo.

Um pequeno suspiro e a pressão na arma diminui. Sua cabeça balança


para frente e para trás, puxando o cano com puxões altos e desleixados. Ela não
tem ideia do que está fazendo, mas pelo menos está fazendo. Eu olho para Eli. —
Está pronto?

— Estou, — diz ele, divertido. — Bom trabalho.

— Sim, nada mal, — diz Doc. — Não se preocupe, Tesorina. Você não
pode realmente dar partida em uma arma.

A garota faz um som distorcido. Olho para Basher. Ele parece um pouco
doente, mas não consegue tirar os olhos dela. Seja o que for que ele esteja
sentindo, ele vai reclamar disso mais tarde.

Enfio a arma mais fundo em sua garganta, e ela engole obedientemente.


Olhando para o outro lado, vejo Doc espalmando seu pau através de seu jeans. Ele
sorri. — Eu vou masturbar se você fizer isso.

— Espere sua vez. — Eli entra na frente da câmera. — Boa noite,


Parker.

A diversão sai da sala como uma lâmpada queimada. Eu torço a arma na


boca da garota e ela suga como uma estrela pornô. Espero que Parker veja. Espero
que queime como ácido de bateria.
— Como você pode ver, nós temos sua noiva. — Morelli passa uma
mecha do cabelo da garota entre os dedos. — Você manteve January Whitehall
para si mesmo desde que ela era uma garotinha. Mas ela é nossa agora.

Doc ri, o som é mais antecipação do que diversão genuína.

Eli solta os fios de cabelo. — Nós não vamos fodê-la, não a princípio.
Mas vamos mantê-lo informado do nosso progresso. Pequenas atualizações,
enquanto a ajudamos a se tornar uma mulher.

Eu empurro a arma mais fundo novamente. Ela engasga um pouco, mas


continua. Ela é mais forte do que eu pensava. — Bom, — eu digo a ela. — Boa
Pryntsesa.

Um inseto gelado rasteja pelo meu pescoço. Eu não queria dizer isso,
mas certamente ninguém me ouviu. Eli ainda está conversando com Parker; a
menina ainda está chupando e engasgando.

— …este é apenas o começo, — Eli diz para a câmera. — Se você for


um homem inteligente, você vai comer sua arma. 13 Mas você não é um homem
inteligente, Parker. Então, aproveite o show.

— Isso é o suficiente, — diz Eli. — Bobby, pare de gravar.

Eu puxo a arma da boca da garota e seus lábios estalam juntos. Ela olha
para mim e por um segundo, é com algo diferente de terror. Meu intestino cai.
Pryntsesa. Talvez ela tenha me ouvido. Então ela desliza para o chão, chorando em
grandes soluços. — Eu quero ir para casa! Eu quero ir para casa!

Limpo o cano na minha camiseta. — Acabamos?

13 Cometer suicídio com uso de arma de fogo na boca da vítima.


— Nós terminamos, — Eli concorda. — Bobby, pegue a filmagem, edite
e envie. Srta. Whitehall, se parar de chorar, pode ter uma suíte no andar de cima.
Roupas limpas. Uma cama grande para dormir.

— Eu quero ir para casa!

— Ela está muito longe, — diz Doc. — Ela não vai parar de
choramingar agora.

Minha Glock ainda está na minha mão. Uma bala entre os olhos, mais
rápida que o céu. A garota nunca conseguiu dançar para uma plateia. A idade
adulta é apenas mais um palco em que ela nunca se apresentará.

Ell caminha até a parede e aperta o interfone. — Gretzky? Acabamos.


Traga Harvey e Sal e um kit de limpeza. Quero a garota do porão e o hall de
entrada limpos. Agora.

O porão. A pequena cela que Morelli construiu para manter as pessoas


que ainda não estamos prontos para matar.

— Quero todos vocês na sala de jantar à meia-noite. — Eli vai para as


escadas, seu humor claramente azedado. Bobby segue com a câmera.

Doc e eu ficamos na frente do fogo e observamos Gretzky carregar a


garota para fora da sala, seus membros balançando como um cervo morto. Quando
eles se vão, Doc bate a palma da mão no meu ombro. — Ei, Adri, o que significa
'Pryntsesa'?

O inseto gelado cutuca a base do meu crânio.

— Ah, eu me lembro. É ucraniano para 'eu me apaixonei por uma boceta


adolescente. Como vou me render para sair dessa?'
Raiva queima em mim como propano. Pego sua camiseta e enrolo a gola
em volta do meu punho. — Eu a quero morta.

— Porque isso faria os sentimentos irem embora, não é?

Eu quero matá-lo, mas forço minha mão a abrir. Não adianta lutar contra
Doc. Ele come a raiva e bebe a frustração. Eu me viro e vou para a escada.

— Você me deve uma camiseta nova, seu fodido.

Eu olho para trás. — Eu vou te pagar em conselho. Essa boceta é mais


problema do que vale a pena.

— Como quiser, Pryntsesa. — A risada de Doc me segue até o saguão de


entrada.
Elliot Morelli

January Whitehall. Quando você a vê pela primeira vez, pensa 'sim, é


uma garota bonita.' Mas quanto mais você olha, mais a simplicidade desliza para
revelar uma mulher moldada por anjos. Sua pele não é lisa, é impecável. Seu rosto
não é lindo, é o de uma deusa saindo de uma concha. Seu corpo não é decente, é a
perfeição de seios grandes e pernas compridas. Os garotos de quinze anos mais
excitados não teriam coragem de sonhar com isso. Logo ela é tão linda que quase
dói. Então dói. Essa faísca de necessidade de tocá-la. Para torná-la sua. Eu sempre
tive controle. Sempre fui capaz de esperar pelo que preciso.

Esta noite, ofereci um acordo à Srta. Whitehall 'fique de pé e ela poderia


morar na minha casa.' Em vez disso, ela estava deitada no chão chorando por casa.
Eu queria pegá-la e carregá-la para a ala leste de qualquer maneira.

— Você vai comer ou o quê? — Doc pergunta.

Eu o ignoro. Ele e Adriano estão aspirando comida japonesa, mas não


tenho apetite. Posso pensar em January Whitehall. Sua bunda redonda, sua barriga
lisa, seu lindo rostinho. Se ao menos ela tivesse se levantado… mas o tempo no
porão fará bem a ela. Se ela for minha, ela terá que aprender a se comportar
corretamente. Sem lágrimas. Sem birras.

Doc gesticula para meu frango Karaage com seus pauzinhos. — Eu


posso ter aquilo?

Eu faço uma carranca, puxando o recipiente de plástico para mais perto


de mim. Eu não posso acreditar que ele deu o primeiro beijo na garota. Ele deve tê-
la forçado a isso. Domenico não saberia sutileza se ele acordasse com ela
chupando seu pau. January Whitehall vai me beijar por vontade própria. Vou
convencê-la na palma da minha mão antes de tomar sua inocência.

Não era nosso plano original sequestrá-la. Nós íamos colocar uma bala
na cabeça dela e tentar colocar o máximo de seu cérebro em Parker quanto
possível. Mas depois de anos de vigilância, matá-la começou a parecer um
desperdício. Como quebrar uma caixa de vidro para pegar uma sobremesa cinco
estrelas. Você pode impedir o verdadeiro dono de apreciá-lo, mas você estraga
tudo do mesmo jeito. Queríamos a sobremesa 'mesmo que fosse apenas para prová-
la antes de jogá-la no chão.'

Era um risco, é claro, os Whitehall são uma família poderosa de Nova


York. Mas January é um membro relativamente insignificante. A filha mais nova
de um terceiro filho. Sua falta de importância é a única razão pela qual Parker
conseguiu comprar sua mão em primeiro lugar. Valeu a pena o risco de raptá-la.
Haveria rixa, mas os Whitehall não iriam à guerra por uma adolescente. Embora
nenhum ato único pudesse apagar o que Parker fez, pensei que assistir sua noiva
ser atacada pelos homens que vinham matá-lo era um começo promissor.
Esta noite entrei no meu hall de entrada e estava pronto para entregá-la a
Doc e Basher para brincar, depois Adriano para matar. Até que eu a vi.

Durante séculos, a família da minha mãe lidou com pedras preciosas.


January Whitehall é una perla rara. Uma jóia única na vida. Identificar seu
potencial é a única coisa inteligente que Parker já fez.

Quando eu esfreguei meu sapato entre suas pernas, eu esperava ver


medo, mas quando meu sapato roçou sua calcinha, os olhos da Srta. Whitehall se
arregalaram e seus mamilos viraram pedra sob aquele vestido ridículo. Sua
vergonha era tão deliciosa quanto sua excitação.

Vou humilhá-la com seus próprios desejos. Vê-la moer-se no meu pau,
chorando enquanto ela goza em cima de mim.

— Tem certeza que vai comer o frango?

Eu olho para Doc. A mesa ao redor dele é uma bagunça. Papel solto,
pedaços de arame, tabletes, bisturis descartados e livros didáticos. As tábuas de
carvalho polidas estão cobertas de sujeira, e as mesas laterais estão cobertas de
centímetros de poeira. Esta casa tem mais de duzentos anos e em menos de cinco,
meus irmãos a transformaram em um banheiro de parada de caminhões. As casas
de meu Nonno estavam sempre imaculadas, nem uma impressão digital no espelho
ou um grão de poeira na lareira. Se ele visse este lugar… — Este lugar é uma
bagunça do caralho.

Doc enfia outro bolinho na boca. — Por que você está reclamando com a
gente sobre isso? Contrate uma faxineira.

— Eu fiz. Ela viu sua oficina e fugiu.

Doc sorri. — Oh sim. Então, contrate outra pessoa.


— Enquanto estamos mantendo a filha de uma das famílias mais
prestigiadas de Nova York em nosso porão?

— Bem, se você for muito paranóico, não podemos ter uma casa limpa,
podemos?

— Temos uma equipe interna de cinco pessoas. Um deles…

Doc aponta seus pauzinhos para mim. — Você quer dizer aos garotos
para pararem de nos fazer dinheiro e vigiar as pessoas que tentam nos matar para
que possam esfregar o tapete, ser meu maldito hóspede. Pessoalmente, vou viver
com a bagunça.

Pego meus pauzinhos e cavo meu frango karaage. Domenico Valente é


tão desrespeitoso agora quanto era aos dezesseis anos. Pior. Ele costumava ter pelo
menos um pouco de medo do que aconteceria se ele falasse com a pessoa errada.
Balas iriam ricochetear da sua arrogância agora. Antes que eu possa dizer isso a
ele, Bobby entra na sala. — Eu enviei o arquivo. Parker já viu.

Eu abaixo meus pauzinhos. — Ele assistiu à filmagem?

— Algumas vezes.

Eu sinto uma doce, quase vertiginosa sensação de liberação, e sorrisos se


espalham pelos rostos do meu irmão, até mesmo de Adriano. Levanto e caminho
até o bar para pegar a garrafa de grappa que trouxe da minha ala. Foi destilado pelo
meu Bisnonno e tenho guardado desde que fiz dezoito anos. É surreal quebrar o
selo e sentir o cheiro do licor agridoce. Eu despejo medidas triplas e trago os
copos.

— Parabéns, — eu digo, levantando meu copo. — Que todos os nossos


planos sejam bem-sucedidos e nossos perdidos sejam vingados.
Bebemos e por um momento ninguém fala. Estamos todos perdidos em
nosso próprio mundo. Não importa quanto tempo passe, as memórias do que nos
trouxe até aqui nunca se apagam. Quando você é jovem, as coisas têm um frescor
que você não pode recuperar. Seu primeiro gosto de vinho. A primeira vez que
você conhece uma garota que vai deixar você beijá-la. A primeira vez que um
homem aponta uma arma para você e seu sangue vira gelo.

Hoje em dia você poderia me amarrar na lateral de um trem, e eu não


sentiria aquele medo brilhante que consumia tudo. Uma coisa boa. Mas há algo
sobre os velhos tempos, nós quatro correndo soltos pelos bairros, armando nossos
primeiros esquemas, convencidos de que éramos reis. Agora meus irmãos e eu
somos reis, mas lutamos por cada centímetro de nossa soberania com sangue.
Estamos cansados e não rimos como costumávamos.

Bobby vem para o meu lado da mesa. — Posso ter uma palavra?

— É claro.

Levamos nossa grappa para o corredor. Bobby e eu temos cabelos


escuros e olhos castanhos, mas ninguém nunca nos confunde com irmãos. Ele tem
uma aparência grosseira com pele morena e sobrancelhas grossas. Comum, minha
nonna diria, mas bonito e mais inteligente do que qualquer um que eu conhecia até
conhecer Doc.

— Problema com Cooper? — Eu pergunto.

— Não. Ele está com Harvey e Sal. Ele estará no Atlântico pela manhã.
É só que… — Ele olha para um ponto além do meu ombro. — Adriano não
deveria ter me feito matá-lo na frente dela.

Minha mão aperta ao redor do meu copo. Durante meses Doc me avisou
que Bobby estava apaixonado por January, mas eu o considerei um babaca
barulhento. Esta é uma complicação que eu não preciso, especialmente agora que
eu quero a garota.

— Eu fiz você matar Cooper e foi a decisão certa.

— Você poderia ter dito a Adri…

— Mas eu não fiz. — Eu aperto o ombro de Basher. — Vamos comer.

Ele hesita. — O que vai acontecer em January?

Até a maneira como ele diz o nome dela é um aviso. Suave e protetor. —
Vamos discutir isso mais tarde. Neste momento, estamos comemorando.

Bobby parece querer dizer mais alguma coisa, mas eu me viro e volto
para a sala de jantar. Doc bate seu copo de grappa vazio na mesa. — Recarregue.

Sirvo-lhe mais licor e encho meu próprio copo. Bobby se senta à minha
direita, puxando ramen de cogumelos para si. Ele esconde suas refeições
vegetarianas no último pedido, como se não pudéssemos notar sua diminuição do
apetite por carne. Nós, que o conhecemos melhor do que ninguém.

Os olhos de Doc estão selvagens quando ele ergue o copo. — Um


brinde.

Adriano, Basher e eu levantamos nossos copos.

— Por mijar na cara de Parker e roubar sua noiva. Salut.

Eu sorrio. — Salut.

Bobby bate a mão na mesa. — Gretzky está escutando a casa de Parker.


Ele matou três de seus homens depois que voltou para casa da catedral.

— Ele está fazendo nosso trabalho por nós, — diz Doc alegremente.
Não digo nada. A raiva cega de Parker durará pouco tempo. Ele vai se
recompor e vir atrás de nós.

— Alguma das famílias ligou para prestar contas da cena na catedral? —


Eu pergunto.

Bobby balança a cabeça. — Ninguém entrou em contato ainda.

— Eles vão e quando o fizerem, daremos uma resposta. Estamos


decretando vingança contra Parker. Qualquer um que possa perder dinheiro com a
situação pode receber uma parte do que reivindicamos de sua propriedade. O resto
pode olhar para o outro lado.

Adriano chupa macarrão do ramen. — E se eles não quiserem uma


parte? Se eles quiserem retribuição pelo inconveniente?

— Nós dizemos a eles para escolherem um lado. Parker ou Velvet


House.

Doc sorri sonhadoramente. Ele adoraria que uma família do crime


brigasse conosco. Se eu desse a palavra, ele mataria Jonestown em todas as filiais
da família de Nova York. Mas eu sou um homem de negócios. Eu não mato por
prazer. Eu mato quando é necessário e quando isso me beneficia. Parker é a única
exceção. Construí a Velvet House com um olho naquele animal. Para coletar
riqueza e poder suficientes para que, quando chegasse a hora de arruiná-lo, nós
suportaríamos.

Eu sirvo a todos nós outra rodada. — Fiquem bêbados hoje à noite.


Amanhã, o verdadeiro trabalho começa.

Doc drena sua grappa. — January Whitehall.


Basher parece desapontado. Até Adriano ergue os olhos de seu ramen.
Confie em Doc para mencionar o elefante na sala da maneira mais perturbadora
possível.

— O que tem ela? — Eu pergunto.

— Eu quero ela. Por trás. De joelhos. No meu rosto. A porra que


funciona. — Ele olha ao redor da mesa. — Este sou eu fazendo uma reivindicação
e é melhor vocês, bastardos, respeitá-la.

— Isso vai ser um problema, — eu digo levemente. — Porque eu a


quero.

Os olhos de Doc se estreitam. — Você disse que o resto de nós poderia


tê-la.

— Verdade. Mas agora que a vi, minha opinião mudou.

Adriano volta a comer como se nada tivesse acontecido, mas Bobby


parece que vai vomitar. A Velvet House não tem uma estrutura familiar
tradicional. As regras são aquelas que nós mesmos criamos. Mas eu sou o chefe e
meus irmãos sabem disso. O que significa que se eu quiser a Srta. Whitehall, ela é
minha.

Doc solta um longo suspiro. — Ok. Podemos compartilhá-la.

— Você não compartilha. Você mal pode deixar outras pessoas


escolherem música no carro…

— Isso não é…

— Além disso, — eu digo em voz alta. — Eu quero a Srta. Whitehall


como minha amante, o que significa que ela terá uma posição oficial em minha
casa. Ela não será passada pela Velvet House como uma prostituta.
— Uma amante? — Bobby pergunta. — Mas você não é casado.

— Ainda não, mas assim que esse negócio de Parker terminar, ficarei
noivo.

Doc ri. — Com a filha daquele cara do relógio? Você disse que ela
cheirava a aspargos.

Eu pressiono meus dedos em minhas têmporas. É um milagre eu não ter


matado esse homem. De todos os benefícios de se casar, não estar na proximidade
diária de Doc está no topo da lista. Inteligente como ele é, perceptivo como ele
pode ser, ele é um completo lunático. Sem a proteção de Adriano e meu dinheiro,
ele estaria na Correcional de Bayview anos atrás.

— Não importa com quem eu me case. A questão é que vou me casar no


verão. Mantenha seus calendários claros.

— E daí? — Doc pergunta. — Você se casa e nos expulsa de casa?

— O que você acha que nosso futuro reserva? Minha esposa e filhos
jantando conosco todas as noites? Nós quatro morando em uma casa de
fraternidade para sempre?

— Você não poderia se casar.

— Tenho quase trinta e quatro anos. Eu preciso de herdeiros.

Doc balança para trás em sua cadeira. — Então, onde estará January
enquanto você estiver comprando uma esposa?

— Minha amante não será seu brinquedo enquanto eu estiver fora. Vou
mandá-la para outro lugar.

— Parece um desperdício de boceta, — Doc murmura. Ele limpa a


garganta. — Tenho uma ideia melhor. Ela deveria vir trabalhar na Dreams.
Bobby engasga com seu macarrão. — Como stripper?

— Não, como uma maldito segurança. Claro, como uma stripper.

— Qual é a sua justificativa para isso?

Doc dá de ombros. — Ela é gostosa. Podemos ganhar dinheiro com ela.


E ela teve todas aquelas aulas de dança. Além disso, como Parker vai se sentir
quando enviarmos vídeos dela trabalhando no pole14?

Um ponto válido. O homem gastou uma fortuna em segurança privada


impedindo os meninos de tocar o braço de January na sala de aula. Ele pode ter um
aneurisma vendo-a fazer lap dance,15 o que seria engraçado.

Doc abaixa sua cadeira, seus olhos nos meus. — Estou pensando a longo
prazo. Segurança hermética no clube. Parker teria mais sorte em raptá-la do The
Hague. E se alguém a ameaçar lá, eles estão pedindo problemas com Danil
Yamlihanov. Metade das coalas16 estão chupando os meninos dele.

Eu sorrio. — Você está fazendo mais sentido do que o normal.

— Apenas imagine isso, — diz Doc com um sorriso. — Baby Whitehall,


balançando os peitos para estranhos. Ela vai ser humilhada pra caralho.

— E você terá acesso a ela quando quiser. Se ela está em seus clubes, ela
é tão boa quanto a sua.

Doc dá de ombros. — Eu não vou me desculpar por querer destruir sua


boceta.

14 Referência ao pole dance.


15 Dança sensual onde a dançarina move-se sensualmente no colo do cliente.
16 Eufemismo australiano para stipper.
Bobby faz um barulho de desgosto e Doc pisca para ele. — Não seja um
puritano, Basher. Você se divertiu muito na Dreams e pode passar sempre que você
quiser. Eu vou te dar metade de uma dança.

— Foda-se, idiota.

— Bobby, o que você acha que devemos fazer com ela? — Eu digo,
cortando qualquer resposta fútil que Doc estava prestes a responder. — Você
conhece a garota. O que você acha que vai funcionar?

Bobby enrola seus pauzinhos no macarrão. — Eu…

— Sim?

Ele balança a cabeça. — Eu não sei.

— Bobby, — eu digo suavemente. — Você tem o direito de falar e eu


tenho a responsabilidade de ouvir.

Ele torce a cara como se estivesse tentando não vomitar. — Eu acho.


Acho que quero me casar com ela.

Doc começa a rir. Adriano bufa. Eu mordo o interior da minha bochecha,


então eu não me junto a eles. — Bobby…

Ele faz uma careta. — Ria o quanto quiser. O que vai irritar Parker mais
do que saber que sua noiva se casou com outro?

— Eu transando com ela na frente de cinquenta russos? — Doc sugere.

O olhar de Bobby trava no meu. — Eu me importo com ela. Eu vou


cuidar dela. E vamos começar a tentar ter um bebê imediatamente.

Doc continua rindo, mas posso ver de onde Bobby está vindo. Seria
humilhante enviar a Parker fotos de sua noiva com o filho de outro homem. Se eu
fizesse de January minha amante, não a engravidaria. Por mais doce que fosse ver
meu filho inchando aquele corpo perfeito, não preciso de filhos ilegítimos
drenando minha conta bancária e comprometendo minha linhagem.

Talvez January seja mais adequada para Bobby. E se eu a desse a ele,


talvez ele não ficasse muito bravo se eu a tivesse algumas vezes primeiro.

Doc parece estar pensando na mesma linha. — Você pode se casar com
ela, Basher. Mas no segundo que você virar as costas, eu estarei subindo as escadas
para foder com os testes de paternidade.

Bobby bufa. — Você acha que eu vou morar aqui quando nos casarmos?

— O que você vai fazer? Arrastá-la de volta para Ohio? Fazer com que
ela o ajude com os porcos?

— Valente, — Bobby diz calmamente. — Você poderia lubrificar cada


pole na Dreams com sua personalidade. Você é um canalha, e o dia em que
January quiser foder com você é o dia em que eu compro um abrigo anticorrosivo
porque a porra do mundo está acabando.

Olho para Adriano. Ele está comendo uma segunda tigela de ramen. Um
estranho pensaria que ele estava nos ignorando. — Adri, dê sua opinião.

Ele balança a cabeça.

— Não seja assim. Você ajudou a trazê-la aqui. O que você quer fazer?

— Acho, — diz ele, mastigando lentamente, — que a colocamos no


chão.

Há uma batida.

— Porra, Rossi? — diz Doc. — Sempre com a porra do assassinato


irrestrito.

Bobby aponta um dedo para Adriano. — Não toque nela.


Eu levanto uma mão. — Pedi a opinião dele. Ele deu. Ele tem o direito
de discutir matá-la como qualquer um de vocês são seus planos.

— Foda-se, — resmunga Doc. — A garota é inútil como um cadáver.


Por que não podemos pelo menos ganhar dinheiro com ela?

— Nós iremos? Adriano? — Eu pergunto.

— Porque ela é uma vadia chorona.

A mandíbula de Bobby aperta.

— Ela é bastante chorona, — Doc admite.

Adriano enxuga o rosto com as costas da mão. — Ela será uma esposa
terrível, uma stripper inútil e uma prisioneira pior.

— Então vamos matá-la? — Eu pergunto. — Como isso é útil?

— É útil porque é prático. Só pegamos a garota para quebrar o Parker. E


todas as suas ideias de merda 'ter ela como stripper, mantê-la como uma prostituta,
engravidá-la' você acha que isso terá o mesmo efeito que eu cortar o coração dela e
enviar para ele?

Ninguém responde porque ninguém pode. Todos nós voltamos à nossa


comida. Quando termino, olho ao redor da mesa. Bobby está de mau humor
pegando ramen e deixando-o cair no recipiente. Doc está de cabeça baixa,
claramente planejando, e há um brilho duro nos olhos de Adriano. Esta noite era
para ser uma celebração. Em vez disso, sentamos aqui, inteiramente divididos. É
minha culpa. Eu não pretendia pegar a garota para mim. Não sou estranho a
princesas mimadas e raramente estou com vontade de interpretar o príncipe
obediente. No entanto, não posso deixar que os outros a tenham. Eu sei, por
observar chefes caídos, que assumir um prêmio desejado por todos em seu círculo
íntimo é um convite à desconfiança. Vou fazê-la minha, mas tem que parecer
democrático.

A solução vem a mim, brilhante como uma lâmpada. — Devemos falar


com ela sobre isso.

Todo mundo olha para cima.

— Você pretende dizer a January o que cada um de nós quer para ela? —
Bobby pergunta.

— Sim.

Adriano faz uma careta. — Você vai deixar a garota escolher?

— Estamos com um impasse e seria útil entender o que ela quer. — E


January quase gozou nos meus sapatos sociais. Não há como ela não me escolher.

— Eu gosto disso, — diz Doc.

Olho para Bobby e ele assente.

— Então, estamos de acordo? Hoje à noite, bebemos, amanhã


conversamos com January.

Doc sorri. — Como Adriano vai convencê-la a ser assassinada?

— Ele não precisa falar com ela.

— Eu quero, — diz Adriano.

— Você não vai matá-la sem minha permissão.

Seus olhos verdes parecem venenosos e, por um segundo, acho que ele
vai me dizer para me foder, mas então ele inclina a cabeça. — Beleza.

Estou longe de ser tranquilizado, mas me volto para os outros. — Vou


falar com ela primeiro.
— Por quê? — Doc exige.

Aponto para o brasão de Velluto na parede.

— Ok. Mas eu sou o segundo.

— Terceiro, — diz Bobby, um rubor descendo por seu pescoço.

— Então temos um consenso. — Eu despejo mais grappa. — Cartas?

Chamamos lá embaixo para charutos e conhaque. Doc assume o sistema


de som tocando o tipo de acid house que deixa seus dentes no limite.
Conversamos, contamos piadas, repassamos as partes interessantes do sequestro e
especulamos se Parker está cortando os próprios pulsos. Doc rouba-nos às cegas,
como faz sempre que jogamos cartas. A tensão entre nós desaparece e rimos
juntos, como fazíamos quando éramos meninos.

E ainda há outra figura pairando em nossa mesa, assistindo


silenciosamente em sua lingerie de casamento. Eu a vislumbro nos momentos entre
batidas, entre mãos, entre goles de conhaque e baforadas de fumaça. Eu a sinto lá e
me pergunto se ela está dormindo ou chorando em sua jaula embaixo da Velvet
House.
January Whitehall

Isso é pior do que um pesadelo. Os pesadelos terminam e isso continua e


continua. Que tipo de pessoa tem uma cela no porão de sua casa? Ou foi feito para
mim? É difícil saber qual ideia é mais assustadora.

Deito na cama de solteiro com o travesseiro sobre o rosto, esperando que


algo aconteça. Meu estômago ronca sem parar. No canto da cela há um pequeno
banheiro murado com vaso sanitário e pia, mas sem chuveiro. Posso beber da
torneira, mas não há comida. Acho que faz quase três dias desde que comi. Pego o
São Cristóvão de Zia Teresa e corro meus dedos pelas bordas.

Quando acordei no tapete vermelho macio de uma linda casa, pensei que
tinha sido resgatada. Vendo o sorriso horrível de Doc, minhas esperanças
morreram pela segunda vez.

Domenico Valente.

Um nome poético para um homem aterrorizante. As vestes do padre


escondiam as tatuagens no pescoço e o corpo esguio e poderoso. Em uma camiseta
sem mangas e jeans pretos, ele me lembrava um lobo ártico. Eu me lembro o que
'Tesorina' significa agora. Tesouro. Ele está zombando de mim. Não sei muito
sobre as pessoas, mas sei quando me odeiam por ser um Whitehall. Lurida
sgualdrina, ele me chamou. Puta imunda.

Mas eu não sou uma puta. Eu nunca tinha beijado ninguém até ele.
Lembro-me da maneira como ele pressionou seus lábios nos meus e o calor passou
por mim como chamas no óleo.

— Eu não gostei, — digo à cela. — Ele tinha uma faca. Ele me deu um
tapa.

Ninguém responde.

Eu não gosto de bad boys. Essa era Giuseppina. Atravessava a rua


quando ouvia vozes altas ou via tatuagens. Eu gosto de garotos legais. Meninos
tipo…

Roberto Bassilotta.

No meu último ano, precisei de ajuda com álgebra. Sempre fui péssima
em matemática, mas mamãe não me deixava largar. Meu professor disse que
Bobby era o melhor tutor na área dos três estados, então mamãe organizou uma
sessão experimental. Quinn estava com tanta inveja.

— Quase fui reprovada em matemática de propósito apenas para me


qualificar para a ajuda dele. Espere, ele parece estar em uma boy band.

Achei que Quinn estava exagerando, mas quando encontrei Bobby na


biblioteca, quase ri. Ele tinha olhos castanhos cheios de alma, ombros grandes e
orelhas ligeiramente salientes. Ele era bonito da maneira mais amigável possível e
eu me senti boba por gostar disso.
Bobby tinha planilhas arrumadas na mesa ao lado dele, mas antes que eu
pudesse dizer 'olá' Kurt moveu as folhas para o outro lado da mesa. — Srta.
Whitehall vai sentar aqui.

Eu estava tão mortificada, mas Bobby sorriu como se fosse totalmente


normal ter guarda-costas agressivos. — Sem problemas, January. Sente-se e me
diga onde você está tendo mais problemas com matemática.

Depois disso, nos encontrávamos três vezes por semana, sentados um de


frente para o outro, revisando meu dever de casa e praticando exames.

— Não se chame de estúpida, — ele dizia quando eu ficava frustrada. —


Você não é estúpida, você está aprendendo.

— Aprender o quão estúpida eu sou, — eu dizia, e ele ria.

Ele usava uma rotação de suéteres e camisas azul-escuras. Eles sempre


se agarravam ao seu peito musculoso, e ele arregaçava as mangas para que eu
pudesse ver seus antebraços fortes. Eu costumava fantasiar sobre tocá-los. Eu sabia
que se minha mãe descobrisse que eu tinha uma queda por Bobby, ela iria parar
nossas aulas particulares, então eu nunca falei sobre ele. A única vez que disse o
nome dele foi durante minhas confissões a Domenico.

Doc deve ter adorado ouvir minhas fantasias patéticas e contar a Bobby
tudo o que eu disse.

Eu pressiono o travesseiro com mais força no meu rosto tentando sufocar


a vergonha. Ele deve me ver como uma criança. Uma colegial arrasada contando
ao padre sobre seu professor de matemática. Tão constrangedor.

Por quê você se importa? uma voz afiada na minha cabeça exige. Ele
matou Kurt.
Mas é difícil manter esse conhecimento no meu cérebro. Não parece real.
Não era real como Bobby descendo as escadas era real. Ele estava vestindo uma
camisa que eu tinha visto um milhão de vezes na Trinity Grammar e tudo que eu
conseguia pensar era 'Oh meu Deus, Bobby vai me salvar!'

Mas ele parecia diferente. Na escola ele sempre foi um pouco


desajeitado, aqui ele era ágil e confiante. E quando ele olhou para mim, sua
expressão era dura.

Em algum lugar dentro do porão, ouço água pingando. Plink. Plink.


Plink. É uma sorte eu não ser o tipo de pessoa que fica estressada com o barulho de
fundo. Mamãe ficaria louca aqui embaixo. Ela está com a polícia? Ou ela e o Sr.
Parker estão tentando lidar com isso em particular? Espero que não. Os homens lá
em cima despedaçariam qualquer um que mandassem atrás de mim.
Especialmente…

Adriano Rossi.

Ridiculamente alto e ainda mais tatuado que Doc. Seu cabelo castanho
claro é tão grosso que parece quase oleoso. Longo no topo e raspado nas laterais.
Ele tem uma barba curta e rala e um nariz orgulhoso todo torcido por ter sido
quebrado. Um dente de ouro brilha quando ele fala. E aqueles olhos, aqueles olhos
verdes holográficos. Eu deveria tê-lo reconhecido na catedral. Ele estava sempre
esperando na recepção do meu estúdio de balé, olhando tão atentamente que pela
primeira vez fiquei feliz por Kurt e Theodore estarem comigo. E quando eu
começava minhas aulas, ele me observava dançar pelas janelas da nossa sala de
aula.

— Ele é um pervertido, — disse Nadia a quem quisesse ouvir. — Ele


está tirando roupas íntimas dos armários quando não estamos olhando.
Eu costumava pensar que ela era boba porque ele não olhava de forma
grosseira, olhando para nossas pernas e seios. Seus olhos seguiram o movimento,
do jeito que você deveria fazer, e eu me senti mal por ele porque talvez ele só
gostasse de balé. O que prova o quão idiota eu sou. Ainda posso sentir o gosto do
cano da arma. Vendo a forma de urso dele acima de mim, bombeando em minha
boca. Se alguém tirar minha vida nesta casa, será Adriano Rossi.

A menos que seja o último.

Elliot Morelli.

Mesmo estando presa no escuro, minhas entranhas brilham ao pensar


nele. Eli Morelli ordenou a morte de Kurt. Ele fez Adriano colocar a arma na
minha boca. Ele me deu um tapa na cara. Não deveria importar que ele seja bonito.
Lembro-me da sensação de seu sapato entre minhas pernas. A maneira como ele
parecia enquanto me esfregava. — Isso não é bom?

Uma febre se espalha pelo meu corpo. Recuso-me a tocar o lugar onde
ele me violou, mas sei que se o fizesse, estaria encharcada. O que há de errado
comigo?

Conheço o nome Morelli. Sua família é tão proeminente em Nova York


quanto o Whitehall. Mas eu não ouvi falar de um 'Eli' ou um 'Elliot.' Isso não
significa muito. Mamãe não gosta dos Morelli. Acho que há rixa entre nossas
famílias. Mas se Eli é um Morelli, por que ele é um criminoso? Não sou ingênua,
sei que quando a lei impede meus tios de fazer o que querem, eles dão a volta por
cima, mas me sequestrar e matar meu guarda-costas não é subornar um vereador
para construir um novo arranha-céu.

— Você é propriedade da Velvet House, — Eli disse enquanto acariciava


seu sapato contra mim. Mas o que é Velvet House? Uma gangue? Um negócio?
Ele se apresentou como Elliot Velluto Morelli. Velluto significa 'veludo' em
italiano. O que quer que seja a Velvet House, ele deu o nome de si mesmo.

Um bocejo estica minha mandíbula dolorosamente e minha visão


embaça. Quero ficar acordada para o que acontecer a seguir, mas estou tão, tão
cansada. Eu empurro o medalhão de Zia de volta no meu sutiã e deixo meus olhos
fecharem.

— Bella.

Alguém está sacudindo meu ombro. — Zia?

— Não, Bella.

Eu pisco. Meu quarto está frio. Forma estranha. A verdade entra como
luz sob uma porta. Não é meu quarto. Não é minha casa. Eu fui sequestrada e um
homem está inclinado sobre mim, seu sorriso como algo saído de uma música.

— Sr. Morelli?

— Sim. — Ele me examina e seus olhos escuros brilham como âmbar à


luz da lâmpada. Deus ele é bonito. Sinto que devo me desculpar, embora não tenha
ideia do motivo. — Bom Dia…? Ou boa noite?

Ele não sorri. — Como você está se sentindo, Srta. Whitehall?

Estou exausta. Meu rosto está sujo de maquiagem velha e estou


preocupada com o cheiro. E mesmo sabendo que não é verdade, parece que a
qualquer momento mamãe pode entrar e explodir porque tenho um garoto no meu
quarto. — Eu me sinto bem.

Ele sorri. Sua camisa é branca brilhante e o colarinho está aberto.


Imagino enterrando meu rosto em seu peito dourado.

— Fico feliz em ouvir isso, Bella.


Eu gostaria que ele não me chamasse assim. Eu sei que ele não está
dizendo que eu sou bonita. Que é um apelido italiano como 'querida.' Mas o jeito
que sai em sua voz com sotaque envia borboletas flutuando através de mim.

Eli franze a testa, linhas de aparência régia aparecendo em sua testa. —


Quantos anos você tem?

Eu mordo meu lábio inferior. Por que ele está sendo tão educado? Ontem
à noite ele me bateu e agiu como se me odiasse. Ele está tentando descobrir mais
informações para ferir o Sr. Parker? — Fiz dezoito anos no mês passado.

— Isso é muito jovem para estar noiva.

— Isso, hum, foi um arranjo?

Por que estou dizendo isso como se fosse uma pergunta?

Eli pega minha mão esquerda e examina meu anel de noivado. Seu toque
envia arrepios pelo meu braço. Sua pele é macia, mas posso sentir a força em seus
dedos. Ele poderia me machucar se quisesse. Ele fez.

Ele puxa o anel do meu dedo e o segura contra a luz do abajur. — Este
diamante, Bella. É muito… — Ele gesticula para mim, exigindo uma resposta.

— Grande? — Eu sugiro.

— Vulgar.

— Oh. — A pedra tem quatro quilates, então não foi barata, mas parece
um micro-ondas de cristal. Eli enfia o anel no bolso do peito. Meu estômago cai,
mas eu sei que não devo pedir de volta. O que ele vai fazer com isso? A resposta
óbvia é 'vender', mas ele não parece alguém que precise de dinheiro.

Eli sorri. Seus dentes são perfeitos. — Domenico me disse que você fala
italiano.
— Eu… sim.

— Maravilhoso. Não é todo dia que você conhece uma garota americana
que fala italiano. Sei mai stata na Itália? — Você já esteve na Itália?

Eu hesito. Zia Teresa e eu só falávamos italiano quando minha mãe


estava fora e é mais fácil entender o que as pessoas estão dizendo do que falar.

— Não… Non songa mai stata na Itália, — arrisco.

Ele concorda. — Quase. Non sono mai stata.

— Desculpe, — eu sussurro. — Minha Zia Teresa emigrou nos anos 60 e


nunca aprendeu italiano moderno. Ela fala dialeto. Eu também, eu acho.

— Eu vejo. — Eli se aproxima e sinto o cheiro de colônia de lavanda,


fresca e dolorosamente adorável. Eu gostaria de poder tomar um banho.

— Eu tenho algo para você, Srta. Whitehall, — diz ele.

— Uma muda de roupa?

Ele ri. — Dependendo de como você receber minha proposta, sim. E eu


poderia repensar minha oferta de ontem e deixar você subir. Você gostaria de
dormir em uma bela cama de dossel em um quarto com janelas?

O pensamento de escapar da cela faz meu coração acelerar. — O que


você gostaria de me dar?

Ele me olha de cima a baixo. — Todos os tipos de coisas, Bella.

Minhas bochechas queimam. Estou sempre fazendo isso, preparando as


pessoas para fazer piadas às minhas custas. No ensino médio, Ryan Wingfield
disse: 'Se eu lhe dissesse que você tem um corpo bonito, você usaria isso contra
mim?' e eu disse que sim. Todos morreram de rir de mim.
— Desculpe, — eu murmuro. — Eu sou meio burra.

— Você é adorável. Aqui. — Eli tira algo do bolso do terno. Uma


pequena maçã vermelha. Ele a estende para mim. — Coma.

Pego a maçã o mais rápido que posso sem arrebatar. Eu já sinto meus
dentes afundando na pele entre meus dentes, o suco doce esmagando minha língua.
Mas quando a maçã toca meus lábios, paro. E se estiver envenenada? Eu a abaixo
para o meu colo.

Eli levanta uma sobrancelha. — Você não está com fome?

— Eu… Não agora.

— Você está me recusando?

Minha boca fica seca. É estúpido recusar algo deste homem, mesmo que
seja veneno. Eu dou a ele meu melhor sorriso bobo. — Comer na frente das
pessoas me deixa nervosa.

— Ah. — Um pequeno sorriso curva sua linda boca. Ele pega meu
queixo em sua mão e meu estômago se revira. — Você gostaria de um presente,
Bella?

— E a maçã?

— Isso foi um mimo. Isso... — Ele enfia a mão no outro bolso e tira um
colar. — … é um presente.

É um colar curto de diamantes cravejado de pedras vermelhas ardentes.


Mesmo à luz do lampião, brilha como um tesouro de pirata.
— É tão bonito! São garnet17?

Eli passa um dedo sobre a pedra central. — Rubis. A família da minha


mãe, os Vellutos, tem uma paixão por rubis.

— Oh.

— Isso… — Ele balança o colar para que brilhe. — … pertencia à minha


mãe. Quando ela faleceu, tornou-se minha.

— Eu sinto muito.

Ele franze a testa. — Você está arrependida?

— Que sua mãe morreu. Isso é realmente triste.

Um olhar passa por suas belas feições. Então ele pisca e é como se nada
tivesse acontecido. — Assim que te vi, pensei neste colar. Seus lábios vermelhos e
pele pálida. Nada realçaria mais a beleza dessas pedras.

— Eu… hum, obrigada?

Ele sorri, mas seus olhos são todos profissionais. — Você vai usá-lo para
mim?

Um calor ondulante se espalha pelo meu corpo. Eu ignoro, puxando o


travesseiro em meu peito. — Não se for tão importante para sua família. Não seria
certo.

— Eu digo o que é certo. — Sua mão livre acaricia meu pulso. — Vou
mandar fazer um vestido para você. Veludo preto com fenda na lateral. Você estará
nua debaixo dela, meus rubis em sua garganta, e todo homem que a vir me desejará
morto.

17 O cristal, geralmente, possui tons avermelhados fortes e é muito conhecido por seus poderes de agir
em relacionamentos amorosos, em atos de proteção e por suas inúmeras propriedades que ajudam na saúde
física e mental de quem a utiliza.
Ele parece satisfeito com a ideia.

Eu posso ver isso também. Nós. Eu no vestido de veludo, meu cabelo


solto em volta dos ombros. Eli em um smoking, seu braço na minha cintura.
Estamos participando de um evento, do tipo que eu costumava ir com minha mãe,
só que desta vez não vou embora à meia-noite. Eu estaria livre para dançar, beber e
explorar.

A mão de Eli roça meu lado, e eu me afasto. — Eu não quero… hum…

— Você não quer meu colar? Ou você não me quer?

O peso de suas perguntas rola pela minha mente. Acho que posso querê-
lo, mas não quero isso. E por que estamos falando sobre o futuro quando estou
trancada em seu porão? — Eu pensei que estava aqui para punir o Sr. Parker.

Ele sorri como se eu estivesse perdendo algo óbvio. — Você não precisa
saber o motivo de estar aqui, Bella. Você não precisa saber de nada.

Eu quero que isso seja verdade quase tanto quanto eu quero colocar seu
colar e ser o que ele quer que eu seja. Mas isso é tão patético. Eu olho em seus
olhos. — Pode ser. Mas eu quero saber.

— Por quê? Você é uma virgem doce e eu vim oferecer rubis. Não é o
suficiente?

Eu tento dizer não, mas ele já está me beijando. Eu o deixei, o calor


correndo de seus lábios para os meus. Meu coração incha dentro do meu peito. Ele
é diferente de Doc. Mais suave e completo. Ele geme em minha boca e o
conhecimento que este homem perfeito me quer, deixa minha pele em chamas. Eu
o beijo de volta, vergonha e doçura lutando dentro de mim até que Eli se afasta,
esfregando o polegar sobre meu lábio inferior. — Sim. Você é tudo que uma
mulher deveria ser. Você será minha.
Há um som apressado em meus ouvidos. — Já estou noiva.

Ele sorri — Não, você não está.

— Sr. Parker…

— Logo estará morto. Depois de arrancarmos dele a miséria suficiente.


— Ele diz isso como se comentasse sobre o tempo.

— Mas você não pode matar o Sr. Parker!

O rosto de Eli se contrai em uma expressão familiar. Estou irritando ele,


mas não posso agir como se isso fizesse sentido. — Por que todos vocês odeiam
tanto o Sr. Parker?

Ele me olha como se eu fosse uma criança querendo saber para onde vai
o sol à noite. Ele suspira. — Ele errou por nós quatro há muito tempo. Isso satisfaz
sua curiosidade?

— Hum… — Isso não é algo que eu não poderia ter adivinhado. Na


verdade, seria mais estranho se o Sr. Parker não fizesse algo para fazê-los odiá-lo.
— O que ele fez?

Seu rosto endurece. — Faça outra pergunta.

— Ok… — Eu lancei minha mente para algo que eu quero saber. —


Você está na máfia?

Seus lábios pressionam juntos. — Se você perguntar isso de novo, serei


forçado a bater em você. Eu sou um homem de negócios. Tenho interesses
profissionais.

Ele soa tão enojado, lágrimas pinicando nos cantos dos meus olhos. —
Desculpe, Sr. Morelli.
— Ah, Bella, não chore. — Eli joga um braço em volta dos meus
ombros. Eu desisto e desabo em seu peito.

— Vai ser feito, — ele murmura em meu cabelo. — Vou manter você.

Eu me afasto. — Você quer dizer… casar comigo?

Por um segundo, ele me encara e depois ri. Uma risada rica e genuína
que eu não tinha ouvido antes.

— Desculpe, — eu digo novamente, querendo desaparecer. — Eu não


deveria… Desculpe.

— Srta. Whitehall, não tome isso como um descaso em sua beleza, mas
nós dois não combinamos.

Eu sinto meu rosto queimar. Se ele não está atraído por mim, por que
estava me beijando? — O que você quer dizer?

Eli pega seu colar dos meus cobertores. Deve ter deslizado para lá
enquanto estávamos nos beijando.

— Significa que posso rastrear minha linhagem de volta à Casa de


Savoy. Você é de uma família rica, mas eu me casaria com meu nome.

— Oh. — Olho para o teto escuro. Não é todo dia que dizem que você
não é importante o suficiente para se casar. Especialmente depois de tudo com o
Sr. Parker.

Ele corre um dedo ao longo do meu queixo. — Não me confunda, Bella.


Você é uma coisa preciosa e bonita e pretendo mantê-la como minha. Teríamos um
acordo.

Minha mente vai para bolsas de grife e férias tropicais. — Você quer
dizer como uma sugar baby?
Isso arranca outra gargalhada surpresa de Eli. — Como uma garota cujo
uso da internet foi monitorado por seu ex-noivo sabe o que é uma sugar baby?

Eu não sei o que é estranho. Ouvi-lo dizer 'ex-noivo' como se tudo


estivesse resolvido, ou que ele acha que o Sr. Parker estava me espionando. Mas é
claro que ele sabe, ele estava me espionando. Ele e Bobby e Doc e Adriano.

— Estou esperando uma resposta, Srta. Whitehall?

Eu engulo. — Uma garota da minha escola estava em um site de sugar


baby. Minhas amigas e eu conversamos sobre isso às vezes.

— Ah. Bem, suponho que nenhuma quantidade de vigilância poderia


impedir as fofocas de adolescentes.

— Isso significa que você me quer como sua sugar baby?

Ele parece divertido. — Você seria minha amante.

A palavra envia um arrepio através de mim. — Oh.

— Você teria seu próprio apartamento. Seu próprio carro, seu próprio
dinheiro. Nos veríamos com frequência. Ir a jantares e festas e feriados. Todo
mundo saberia que você era minha.

— E… o que eu faria quando não te visse?

— O que você quiser, Bella.

O assustador é que eu já sei o que eu faria. As mesmas coisas que


planejei quando ia ser a esposa do Sr. Parker. Eu cozinhava, fazia exercícios,
dançava, assistia a documentários sobre crimes reais, saía com Margot e Zia
Teresa…

Zia Tereza. Seu rosto enrugado aparece em minha mente tão claramente
como se eu estivesse olhando para ela. Zia não gostava de homens italianos. —
Arrogante, — ela dizia sempre que algum garoto de cabelos escuros passava
zunindo em um carro esportivo. — Os meninos da mamãe, cada um e isso não os
torna doces. Faz com que cheguem em casa às quatro da manhã fedendo a álcool e
perfume de outra mulher e mentindo por entre os dentes. Você estaria melhor
casada com uma pia de cozinha.

Sempre achei que ela estava sendo boba, mas nenhuma de suas filhas se
casou com italianos. O que Zia Teresa diria sobre Eli Morelli?

— Olhe para este pavão arrogante, andando por aí como se ele fosse o
rei do mundo. Ele é um criminoso! Você tem de pensar um pouco, January. Por
que esse mascalzone18 está seguindo você oferecendo rubis? O que você tem que
ele quer?

Olho para Eli. — Por que você me daria um colar que é tão importante
para sua família?

Ele vira a cabeça para o lado, como se tentasse ver de onde veio a
pergunta. — Porque você vai ficar linda nele.

— Acho que talvez você não esteja me dando. Acho que talvez seja um
empréstimo.

— Um empréstimo para quê?

— Meu corpo.

Ele esfrega o queixo, mas não diz nada.

— Eu não acho que eu deveria pertencer a você. — As palavras caem


dos meus lábios antes que eu possa detê-las.

18 Canalha.
Ele enfia o colar de volta no bolso com movimentos lentos e deliberados.
— Isso é sobre Doc? Você preferiria que algum coglione19 tatuado fosse o
primeiro homem a levá-la para a cama?

Lembro-me do meu primeiro beijo, daquele violento choque de bocas.


— Não. Eu só não acho que deveria estar… hum, saindo com alguém agora.

É uma coisa tão estúpida de dizer que espero que ele ria de novo, mas ele
apenas balança a cabeça e se aproxima de mim na cama. — Como eles chamam
um homem que paga uma sugar baby?

Eu pisco. — Um sugar d…

Antes que eu possa dizer a palavra, ele me puxa sobre suas coxas. Eu
luto, mas ele prende minhas mãos na parte inferior das minhas costas. Ele puxa
minha calcinha para baixo, expondo meu traseiro. — Estou esperando, Srta.
Whitehall. Um sugar o quê?

Meu cérebro está entorpecido, cinquenta mil pensamentos tocando em


um milhão de volumes. — Um sugar…

Sua mão bate na minha bunda, me fazendo gritar. — Sim?

— …daddy, — eu suspiro, minha pele queimando.

Um sopro de riso. — Sim. Um sugar daddy. — Ele me dá um tapa mais


forte, a sensação como fogo branco em minhas bochechas.

— Seu pai bateu em você quando você era uma garotinha?

Eu balanço minha cabeça.

— Isso não é surpreendente. Você precisa de um homem para ensiná-la a


se comportar.

19 Idiota.
Ele me bate novamente. Eu me imagino jogada em seu colo com minha
calcinha de casamento puxada para baixo e piscinas de calor entre minhas pernas.
Olho por cima do ombro para ele e uma parte louca de mim deseja que ele seja
meu marido. Que eu tinha andado pelo corredor ontem e encontrado Elliot Morelli
no final dele. Meu peito fica apertado. — Por favor?

— Por favor, o quê?

— Por favor, deixe-me ir.

Por um segundo, acho que ele não vai, então estou rolando para fora do
colo dele, caindo no chão. Eli ajusta suas algemas enquanto eu rastejo para uma
posição sentada.

— Você será minha, — diz ele, calmamente. — Mas você não está
pronta. Você precisa de tempo para entender seu lugar neste mundo.

Com um sorriso selvagem, ele se abaixa e desliza a mão no meu


espartilho, seus dedos brincando com meu mamilo.

Faço um som que nunca ouvi antes. Uma espécie de chiado de


sacanagem.

O sorriso de Eli desaparece. — Eu vou foder sua boceta virgem até que
você esteja derretendo na minha cama, Srta. Whitehall. Lembre-se disso.

Seus dedos beliscam meu mamilo e então ele me libera, saindo pela
porta da minha cela e desaparecendo na escuridão.
January Whitehall

Eu como a maçã de Eli alguns segundos depois que ele saiu. Estou com
muita fome para me importar se está envenenada. Eu gostaria de poder dizer que
estava deliciosa, mas não senti gosto de nada. Meu cérebro estava totalmente
ocupado com sua oferta: 'Você será minha.'

Sua proposta não é tão diferente do acordo que minha mãe fez com o Sr.
Parker. Na verdade, este é mais pessoal. Sr. Parker não queria meu corpo do jeito
que Eli quer. Ele só queria uma noiva de Whitehall para progredir na sociedade de
Nova York.

Eu não deveria saber por que o Sr. Parker me queria. Mamãe nunca
disse. Mas quando eu tinha treze anos, perguntei a Zia Teresa por que o Sr. Parker
podia sentar-se ao meu lado quando vinha jantar.

— Porque é ele, — ela me disse.

— Mas nenhum outro garoto pode sentar perto de mim. Se eles tentarem,
Kurt saca sua arma.
Zia evitou meu olhar. — Você faz muitas perguntas, Bella. Um hábito
que você deveria tentar quebrar.

Aceitei a decisão dela da mesma forma que aceitei tudo o que aconteceu
comigo, mas ela sabia que se não me contasse a verdade, ninguém diria. Dois dias
depois, ela me puxou para o meu banheiro e ligou o chuveiro e a banheira ao
mesmo tempo.

— O que você está fazendo, Zia?

— Shh! — Ela me puxou para perto, sua voz quase inaudível sobre a
água batendo. — Você quer saber por que o Sr. Parker se senta ao seu lado?

Eu balancei a cabeça.

— Sr. Parker é um bilionário. Não sei o que ele faz, sua madrasta diz que
são computadores ou algo assim. De qualquer forma, ele conheceu seu pai em uma
festa que organizamos para o prefeito de Nova York. O Sr. Parker e seu pai se
tornaram amigos. Ele estava tendo problemas para fazer conexões. Seu pai disse
que ele era 'dinheiro novo' e ele teria que esperar para ganhar o tipo de reputação
que queria.

— Ele estava com raiva?

— Muito. Um mês depois, ele voltou para casa e voltou para se casar
com sua família.

Meus olhos se arregalaram. Eu tinha apenas oito anos quando papai


morreu, então eu devia ser um bebê quando eles estavam tendo essas conversas. —
Sr. Parker queria se casar comigo?

— Ele queria se casar com sua irmã. Margot tinha quinze anos, haveria
menos tempo para esperar - não, não faça barulho, Bella.
Zia pressionou a mão sobre minha boca suplicante, suprimindo meu
gemido de horror. Seus olhos estavam fixos nos meus. — Fique quieta e deixe-me
terminar. Seu pai não recusou o Sr. Parker. Mas também não o encorajou. Mas
então ele morreu, Deus descanse sua alma. — Zia fez um rápido sinal da cruz.

— Mas o Sr. Parker voltou? — eu pressionei.

— Ele voltou, Bella. Ele esperou um ano, depois voltou a negociar com
sua madrasta. Ela ofereceu a mão de Margot em casamento, mas o Sr. Parker disse
que ela não tinha a atitude certa para uma esposa. Ele sabia que Margot acabara de
ser suspensa da escola. Quase deixei cair a bandeja de batatas assadas que estava
carregando quando ele sugeriu você. Eu esperava que sua madrasta lhe dissesse
para di andare a fanculo,20 mas ela me ordenou que a levasse para a sala de jantar.
Você provavelmente não se lembra. Você era muito jovem.

Ela olha para mim esperançosa e eu balanço minha cabeça. — Não me


lembro.

— Bom. — Zia estremece. — Eu te acordei e te carreguei para a sala de


jantar. Eu esperava que você se molhasse na frente dele. Que você iria cair ou
implorar por um copo de leite. Eu até belisquei você, tentando te fazer chorar, mas
quando eu te coloquei na frente do Sr. Parker, você respondeu todas as perguntas
dele como uma dama de camisola e eu vi que não havia nada que eu pudesse fazer.
Ele gostou de você. Sua mãe concordou com o casamento naquela noite.

Eu poderia ter perguntado por que, mas eu já sabia. Dinheiro.

Os Whitehalls são vistos como ultra, mega ricos, mas somos uma família
grande e nossa fortuna está espalhada entre dezenas.

20 Ir à merda.
— Rico em ativos, — meu tio Titus disse uma vez em uma festa de
Natal. — Mas pobre em dinheiro. Isso é metade de Whitehall escória hoje em dia.

Mamãe preferia morrer a admitir, mas nós já fomos essas escórias.


Depois que papai morreu, não havia ninguém para trabalhar ou negociar nossa
parte anual da fortuna da família. Paramos de ir para nossas casas de veraneio. Zia
Teresa se tornou não apenas minha babá, mas também cozinheira e governanta.
Mamãe e Harris discutiam constantemente sobre seu Audi, a mãe dizendo que ele
teria que pagar a gasolina e os reparos com seu fundo fiduciário.

Depois que mamãe me prometeu ao Sr. Parker, tudo mudou. Em um


minuto mamãe estava gritando que precisávamos vender nossa casa em Big Bear,
no outro ela tinha um Bugatti prata e havia quatrocentas pessoas na minha festa de
nono aniversário. Não precisei perguntar de onde vinha o dinheiro. Quando eu
tinha dez anos, ouvi minha mãe perguntando ao nosso contador: — O pagamento
trimestral de Zachery já chegou? — Só não sabia por que ele estava nos dando
dinheiro. E então eu soube.

Eu não culpo a mãe. Ela estava sozinha com três casas e quatro filhos
para cuidar. Ela tinha a responsabilidade de cuidar de nossa família e eu também.
Pelo menos o Sr. Parker queria que eu fizesse parte de sua família. Tudo o que Eli
Morelli ofereceu foi um colar de rubis emprestado e alguns passeios agradáveis.

E ser tocada por ele...

Eu empurro o pensamento para longe. Ele me sequestrou, mandou matar


meu guarda-costas e me trancou neste porão.

Eu me levanto e me limpo o melhor que posso. Lavo com água da pia do


banheiro e lavo minha lingerie de casamento, deixando-a no toalheiro para secar.
Enrolo o cobertor fino em volta de mim e volto para a cama, colocando meu São
Cristóvão ao lado do abajur. Meu estômago ronca. Se eu pudesse escapar com o
colar de Eli. Eu penhorava e depois ia direto para a delicatessen21 mais próxima e
comia tudo atrás do balcão. Então eu reservaria um hotel e tomaria um banho.
Ligaria para Zia e dizer-lhe: — Estou voltando para casa!

E então o Sr. Parker me encontraria. E nos casaríamos novamente.

Meu peito aperta. — Não, — digo a mim mesma. — Você prefere ser a
esposa dele do que ficar presa aqui.

Um arranhão ruidoso me faz pular. Luz extra inunda o porão e passos


ressoam nas escadas de metal.

— Olá? — Eu chamo, tentando soar forte. — Quem é?

— E aí, Tesorina?

Meu coração afunda quando Doc emerge das sombras. Ele ainda está
descalço e com jeans pretos rasgados, mas sua camiseta mudou. É outra sem
mangas que mostra suas costelas tatuadas. Ele deve estar muito orgulhoso dos
lados de seu corpo. Eu enrolo o cobertor mais apertado em volta de mim. — Olá,
Sr. Valente.

— Oh, tão bem-educada. — Ele agarra as barras da minha cela e se


inclina para trás. — Você está disposta a fazer qualquer coisa ou o quê?

Eu o vejo balançar-se para frente e para trás. Ele é tão maníaco, como se
a qualquer momento ele desse um salto mortal ou andasse no teto. Eu me movo
para a direita contra a parede. — Você nunca respondeu minha pergunta. Você é
realmente um médico?

Ele sorri. — Eu posso ser. Isso te excita?

21 Loja que vende comidas finas e iguarias.


Ignoro a pergunta. — Que tipo de médico?

— Um ginecologista.

Eu franzo a testa. — O que é um ginecologista?

Ele me encara por um momento, então joga a cabeça para trás e ri. O
som salta pelo porão, e é como se uma centena de Elvis loiros estivessem rindo de
mim.

Meu rosto queima. Esta não é uma situação nova para mim. O que quer
que seja um ginecologista, tenho certeza que é sujo. Espero que Doc pare de rir.
Eventualmente, ele balança a cabeça e suspira. — Ah… Você vale cada centavo
que custa mantê-la aqui, Tesorina.

— Quanto pode custar uma maçã e um pouco de água?

— Não vá fazer perguntas. Vai te matar. De qualquer forma, não vim


aqui para falar de dinheiro. Eu tenho uma coisa para você.

Lembro-me dos rubis de Eli. De alguma forma, acho que Doc não me
trouxe joias. Ele enfia a mão no bolso de trás e tira um pacote laranja de Reece's
Pieces. — Você quer?

Reece's não são meus favoritos, mas minha boca enche de água só de
pensar em manteiga de amendoim e chocolate. — Sim por favor.

— O que você vai me dar por isso?

Sinto como se uma câmera de TV estivesse se afastando, me mostrando


exatamente como isso é bizarro. Eu deveria estar casada e agora estou pensando
em implorar por doces em um porão. — Eu… eu não sei. Por favor?
Com um olhar que diz que arruinei sua diversão, ele joga o pacote pelas
barras, pousando-o no meu colo. Eu pego o doce. Está quente e provavelmente
meio derretido pelo calor do corpo de Doc.

— Está selado, Tits. Inalterado.

Eu não sei se isso é verdade, mas assim como com a maçã, estou com
muita fome para me importar. Abro o pacote e coloco o chocolate na boca. Eu
mastigo e engulo antes de lamber cada traço dos meus dentes e bochechas,
evitando o olhar de Doc.

— Quer mais? — ele pergunta.

Concordar seria jogar em suas mãos, e mesmo que eu esteja morrendo de


fome, eu não quero dar isso a ele. Eu olho para ele, observando seu cabelo loiro
espesso e olhos azuis brilhantes. — Você é muito justo para um italiano.

Ele volta a se puxar para frente e para trás nas barras como se estivesse
fazendo flexões verticais. Eu tento não olhar para seus braços.

— Posso não ser italiano. Eu poderia simplesmente falá-lo.

— Ok.

— Você não acredita em mim?

Eu balanço minha cabeça. Está na maneira como ele se move. Essa


arrogância como se o mundo fosse secretamente dele e ele estivesse esperando que
todos os outros percebessem.

— Eu sou do norte, — Doc diz finalmente. — A família da minha mãe


veio de Milão. Pai de Vercelli. Ou foi o que a mãe disse, eu nunca conheci o idiota.

Ele me dá um olhar, como se me desafiasse a perguntar sobre seu pai


ausente. — E quanto aos outros? De onde eles são?
— Basher é de Dovadola, os Morelli são de Nápoles e Adri é um saco
misto. Pai romano. Mãe ucraniana.

Por alguma razão, consigo imaginar a mãe de Adriano, de olhos verdes e


bonita. Você pode vê-la nele. A beleza misturada com aquele rosto moreno e cheio
de cicatrizes.

— Você irritou Morelli, perguntando se ele é mafioso. — Doc sorri para


mim como se tivéssemos planejado isso juntos.

— Eu não estava tentando ser rude.

— O Nonno de Morelli do lado de sua mãe era da máfia. O velho queria


dar o império a Eli quando ele morresse, mas não conseguiu.

— Por quê?

— Não pode passar uma dinastia pela linha materna. Não quando você
tem um filho. O primo de Morelli, Giovanni, é um babaca, mas ele é sangue, então
o que você vai fazer?

Penso na minha madrasta. Seu Bugatti. Seus trajes Chanel. Oferecendo


Margot ao Sr. Parker e ficando comigo. O que você vai fazer?

— Então Eli é um Morelli, como a família Morelli de Nova York?

Doc me dá um sorriso malicioso. — Sim, mas ele não é um jogador de


pau grande no que diz respeito a eles. O pai dele é o terceiro filho.

Assim como eu.

Então, mesmo que ele seja da realeza italiana por parte de mãe, Eli
Morelli é apenas o filho de um terceiro filho. Talvez seja por isso que ele chamou
seu negócio de Velvet House, ele está se apoiando no nome mais chique de sua
mãe.
Sinto Doc me observando como se pudesse provar meus pensamentos.
— Não é tão pateta quanto você parece, hein?

— Eu não sou pateta. Eu simplesmente não era muito boa na escola.

— Você acertou. Você não tem notas para dispensar óleos essenciais,
mas mesmo assim entrou para Belas Artes na Colombia.

Olho para o meu colo. Eu nunca deveria ter entrado na Colombia, mas
mamãe e o Sr. Parker queriam que eu fosse para a faculdade. Disseram que isso
faria de mim uma esposa mais realizada.

— Não quero me formar.

— E você acha que isso a torna melhor? Empurrando alguém que queria
estar lá?

— Eu não tive escolha!

Doc e eu nos encaramos, e meio que espero que ele vá embora. Ele pula
das barras e há um barulho de chaves. — Entrando, Tits.

Minha cela parece infinitamente menor com Doc andando de um lado


para o outro. Eu posso sentir o cheiro dele, aquela colônia alcoólica forte, sabonete
fresco e pele limpa.

Ele faz uma pausa. — Você se cansou de ser virgem?

Não digo nada. Se este é o seu tom, é horrível. Pelo menos Eli trouxe
rubis.

— …porque se você cansou de ser virgem, podemos encerrar aqui,


agora.
Eu o imagino em cima de mim, toda aquela agressão forçada para ao
meu corpo, e minha boceta vibra para a vida. Quanto tempo leva para obter a
síndrome de Estocolmo?

— O quê? Você quer que Morelli te abra com seu pau dourado em vez
disso?

Eli me perguntou a mesma coisa sobre Doc. Talvez eles tenham algum
tipo de problema um com o outro? Isso pode ser útil, embora eu não veja como.

Doc estala os dedos. — Ei, estou falando com você.

— Por que eu dormiria com qualquer um de vocês? Você está me


mantendo como refém.

Os olhos de Doc se estreitam. — Você quer que o bom baby Bobby seja
o primeiro?

— Não, eu disse que não quero nenhum de vocês.

Ele se aproxima da cama, os lábios curvados em um sorriso de escárnio.


— Se Basher é o que você quer, tudo bem para mim. Estou feliz em ser o
substituto. Na verdade, eu prefiro.

Meu cérebro derrete um pouco. Ele não pode estar falando a verdade. Os
caras não gostam quando você dorme com outro, até eu sei disso.

— Ou talvez não seja Bobby, — Doc diz lentamente. — Talvez você


queira que seja Adri?

Eu puxo meus joelhos em meu peito. — Vá embora.

— Eu ouvi sua confissão, lembra? — Ele aperta as mãos no peito. — Eu


deveria ser mais gentil com o homem que limpa meus estúdios de dança. Eu
deveria dizer olá para ele mesmo estando com tanto medo.
Ele dá uma risada alta e ecoante. — Você imaginou ele seguindo você
por algum corredor escuro e fazendo você sentar em seu pau grande e tatuado?

Quero agarrar Doc pelos lindos cabelos loiros e gritar na cara dele. Mas
se eu tocá-lo, ele estará livre para me tocar, e então eu realmente posso perder
minha virgindade neste porão. Penso em Zia Teresa. Ela me salvou de Eli. Como
ela lidaria com Doc? A resposta é óbvia. Mas eu não tenho uma espátula para bater
nele.

— Olá? Terra para virgem?

Eu encontro os olhos de Doc e canalizo cada grama da minha Zia


interior, desaprovadora. — Domenico, se eu tiver que ficar presa aqui, você
poderia, talvez, não ser tão nojento?

Ele bufa. — Você não respondeu minha pergunta, January. Você quer
ser fodida por um assassino tatuado?

— Você quer dizer Adriano? Ou você?

Ele sorri. — Isso é muito bom, Tesorina. Viva e você pode desenvolver
uma personalidade, afinal. Mas chega de foder. Você quer morrer?

— Como é?

Ele cai na ponta da cama, fazendo o colchão fino balançar. Uma mecha
de seu cabelo grosso cai em seus olhos. Não é justo que alguém tão louco seja tão
bonito. Eli é lindo, mas também é elegante e pode fingir ser legal. Tudo sobre Doc
diz que ele te mataria por deixar cair uma xícara de café.

— Você percebeu que nunca mais verá sua família?

Todo o ar sai dos meus pulmões. Evitei pensar no que poderia acontecer
comigo porque achava que significava morrer. Mas Doc está certo. Mesmo que eu
possa sair do porão, por que eles me deixariam ir para casa e arriscariam contar a
todos que me sequestraram?

Um calor cai na minha mão e Doc empurra os dedos pelos meus. Eu


deveria me afastar, mas a sensação do toque de outra pessoa é muito boa para
recusar.

— Você precisa deixar tudo isso afundar, — diz ele asperamente. —


Mas quando isso acontecer e você estiver pronta para sair do porão, acho que você
deveria vir dançar nos meus clubes.

— Eu… que clubes?

Ele levanta as sobrancelhas loiras.

— Clubes de strip? — Eu pergunto, meu coração afundando.

— Sim. Dinheiro bom. Seguro pra caralho.

Imagino Doc cercado por belas mulheres nuas e sentimentos espinhosos


se misturam ao meu pânico. Aposto que ele dorme com as dançarinas. Aposto que
ele flerta com todas psicoticamente. Aposto que elas gostam.

— Vou colocar você em lingerie branca como sua merda de casamento.


Pegar algumas asas de anjo e dizer aos clientes que você é virgem. Eles vão ficar
loucos.

Eu escuto com a mesma descrença de quando Anita me disse que eu


poderia ser modelo. Eu não posso ser uma stripper. Eu nunca usei uma minissaia
antes. E serei virgem quando sair desta cela?

Doc lê minha mente. — Eu não sei se devo foder você ou não. O mais
inteligente seria mantê-la pura. Deixar você trabalhar no pole e depois leiloá-la.
Dessa forma, pagaríamos pelo seu sequestro quatro vezes.
Eu tento puxar minha mão dele, mas Doc me segura rápido.

— Tentador, — ele murmura. — Muito tentador pra caralho. Eu nunca


gostei de virgens, mas você…

Sem aviso, ele me beija. Duro. Meu cérebro fica embaçado enquanto
nossas bocas se movem juntas com muita familiaridade. A vibração na minha
boceta torna-se um latejar.

Doc me libera. — Você é apenas uma pequena granada de mão com


tesão, não é?

— Você é nojento.

Seus dentes brilham na semi-escuridão. — Você é como uma daquelas


garotas do Disney Channel, mantida completamente limpa por muito tempo.

Sua mão desliza pelos meus ombros, fazendo minha pele brilhar. — Eu
acho que o pêndulo está pronto para balançar para o outro lado, não é?

Abro a boca e ele me corta com outro beijo. Este é mais profundo, sua
língua habilmente rápida sobre a minha enquanto ele empurra o cobertor para
baixo, expondo meus seios. Ele os apalpa, esfregando grosseiramente. — Foda-se,
você tem grandes peitos.

— Não…

— Sim. Agora, shhhh. — Ele se aproxima, seus lábios roçando minha


bochecha. — Eu conheço você, Tesorina. Melhor do que você se conhece. Você
quer liberdade.

Eu luto de lado. — Eu não…


— Você estava com ciúmes de suas amigas por ir a encontros. Inveja de
sua irmã por usar roupas que não foram feitas por vovós. Você queria tanto ser elas
que te cortou por dentro.

Meus protestos morrem na minha garganta. Eu confessei a ele. Ele já


conhece meus segredos mais sombrios.

Ele segura meu peito, pressionando-os juntos. — Linda pequena January


presa em casa, noiva de um velho de pau mole. Nunca conseguindo se divertir.
Nunca saindo. Foi tão injusto, não foi, Tesorina?

Suas palavras coçam alguma coceira escondida no meu cérebro. É bom


ouvir alguém dizer isso em voz alta.

Doc esfrega sua barba contra minha bochecha. — Entregue-se a mim e


você pode fazer o que quiser. Vestir o que quiser. Você pode subir no palco e ver
os homens falir só de olhar para você. Não seria divertido?

Eu engulo. — Se eu fizesse o que você queria, eu ainda estaria presa. Eu


pertenceria a você.

Doc agarra meus braços, me levantando em seu colo. — Você não quer
ser minha?

Estamos praticamente nariz a nariz e eu estou de topless. Sem nada, se


ele decidir puxar o último cobertor. Eu o encaro, respirando com dificuldade. Ele
me dá um olhar estranho. Ele está prestes a me dizer que eu sou bonita? Que ele
está apaixonado por mim?

Doc franze a testa. — Eu não sou do tipo ciumento. Você pode foder
quem quiser. Experimentar. Contanto que você esteja trazendo dinheiro, eu não
dou a mínima.
Eu estremeço. Ele realmente quer dizer isso? Eu tento me imaginar
dormindo com pessoas de seus clubes. Os homens que me pagam. Meu estômago
cai aos meus pés. — Eu não quero isso.

— Mentirosa. — Doc se inclina para frente e captura um dos meus


mamilos em sua boca. O calor úmido pulsa através de mim e eu jogo minha cabeça
para trás.

— Viu, — diz ele, liberando meu mamilo. — Faça a coisa de colegial


católica o quanto quiser, mas você está dolorida.

— Não, eu…

— Me poupe. Eu não sou Morelli. — Ele nos vira para a cama, seu
corpo arqueando sobre o meu como uma gaiola tatuada. Eu aperto meus olhos e
tento ignorar o brilho entre minhas pernas.

— Diga-me que você não me quer?

Deve ser fácil. Apenas quatro pequenas palavras. Mas eu nunca fui uma
boa mentirosa e por mais que eu odeie esse homem, as palavras não saem.

As mãos de Doc retornam aos meus seios, e ele abaixa a boca para o meu
outro mamilo, puxando-o e fazendo todo o meu corpo estremecer.

— Doc!

Sua língua circula meu pico sensível. — Diga meu nome verdadeiro.

— D-Domenico. — Ele me chupa até eu ver estrelas. — Por favor, não


faça isso.

Ele gruda seus quadris nos meus e eu posso sentir seu comprimento duro
por trás de seu jeans. — Está tudo bem, Tesorina, vou fazer com que seja gentil. Já
faz muito tempo desde que eu peguei a cereja de alguém, mas eu posso fazer isso
de novo.

Eu o odeio. Eu odeio pensar nele com outras virgens. Eu agarro seu


cabelo e puxo o mais forte que posso.

Ele olha para mim suavemente. — Ai…?

— Você não pode dormir comigo. Eli prometeu… ele quer…

Os olhos de Doc ficam escuros. — Morelli pode ir se foder.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, seu braço tatuado está entre
minhas pernas, dedos roçando minhas coxas. Suas mãos são treinadas, mais
seguras do que certas. Prendo a respiração quando ele sente minha umidade e sorri
de orelha a orelha. — Você está encharcada, Tesorina.

Fecho os olhos. — Domenico.

— Sim, diga a porra do meu nome. — Ele passa o polegar sobre meus
lábios encerados, e um gemido me escapa.

Doc solta uma risada baixa. — Você quer se mexer, baby? Você quer
gozar?

Ele faz parecer revoltante, barato e feio. Do jeito que eu vou ser se eu
deixá-lo fazer isso. Eu empurro seu peito. — Eu não quero isso.

— Ah, sim, o que você quer?

— Eu quero ir para casa! — Isso explode em mim, choroso e patético, e


algo em mim muda. — Saia de mim! Eu quero ir para casa!

Doc mostra os dentes e tenho certeza que ele vai me dar um tapa. Então a
pressão na parte inferior do meu corpo desaparece. Ele está ao meu lado, pairando
sobre a cama. — Você é patética.
Eu puxo o cobertor para cima, cobrindo-me. — Eu quero ir para casa.

— Casa para quê? Estar presa e controlada? Ter sua mãe descontando
cheques em sua boceta?

Meu peito se contrai. — Não fale da minha mãe!

— Você quer dizer sua cafetina?

— Cale-se!

Ele dá uma risada irregular. — Se alguma cadela do parque de trailers


fizesse o que ela fez, os policiais a jogariam na cadeia. Sua mãe vende você pelo
maior lance e o Governador vem ao casamento.

Lágrimas queimam em meus olhos. Não há nada de bom nessas


verdades. Nada emocionante. Elas são feias e mesmo que eu queira, não posso
contestá-las.

— Quando você vai perceber, idiota? Você já estava à venda. Agora


você não tem que ficar sentada chorando sobre isso. Você tem uma escolha.

— Trabalhando para você? — Eu soluço.

Doc bate um punho em seu peito. — Sim! Liberdade. Dinheiro. Auto-


respeito. Quem você quiser foder sempre que quiser foder.

Meu estômago se revira tanto que quase vomito. Realmente chegou a


isso? Todas as minhas aulas de balé e guarda-costas. Meus planos de casamento e
minha aceitação na Colombia. Minha única chance real de liberdade é ser a sugar
baby de Eli ou uma stripper? Meu olhar cai no pequeno pingente de ouro na minha
cômoda. Proteção para sempre que você viajar de casa. Eu encontro o olhar de
Doc. — Não. Eu não vou trabalhar para você.

— Porque você é uma garotinha fraca?


Eu me movo tão rápido que não me sinto fazendo isso. Em um minuto
estou na cama, no próximo estou com um dedo no rosto de Doc. — Porque você
não me merece!

Ele dá um passo para trás. Eu me movo com ele, pressionando meu dedo
em seu peito. — Talvez minha mãe tenha me vendido. Talvez eu sempre fosse
propriedade de alguém, mas pelo menos o Sr. Parker era respeitoso! Pelo menos
Eli tentou fazer com que estar com ele soasse bem! Você vem aqui com Reece's
Pieces, me dizendo que não se importa com quem eu durmo e que eu sou iditota e
você espera que eu queira estar com você?

Doc pega meu dedo e me puxa como um peixe. — Eu poderia fazer você
querer isso. Eu poderia deixá-la tão desesperada que você me foderia no altar da
catedral na frente de toda a sua família.

Minha bravura desaparece em um piscar de olhos. — O que você…

Sua mão se fecha em volta da minha garganta. — Você quer que eu te


mostre? Tirar a escolha de suas mãos?

Sinto uma pergunta genuína e, embora não tenha ideia de como ele
poderia tirar minha escolha, a última coisa que quero é menos escolha. Eu balanço
minha cabeça.

— Tudo bem. — Doc solta minha garganta e se dirige para a porta da


cela, tirando as chaves do bolso. — Você tem três opções. Você pode se despir nos
meus clubes, comer uma bala ou ser vendido para a Bratva. Sabe o que é isso?

— Não.

Ele enfia a chave na fechadura e a abre. — Máfia russa. Você vai levar
por trás. Foder duas dúzias de vezes por dia. Entrarão tantos paus de estranhos que
você não vai andar um quarteirão sem ver alguém que te violou.
Ele se move pela porta da cela e bate as barras entre nós. Meu coração
encolhe no meu peito. Apesar de tudo, não quero ficar sozinha novamente. Eu
coloquei meus braços através da gaiola. — Doc?

Ele não olha para trás. Ainda há uma carta que posso jogar. Talvez o
único que me resta. — Quem é Alessia Valente?

Ele para, seu corpo inteiro fica tenso. Imediatamente eu sei que cometi
um erro. — Desculpe, eu não…

Uma mão me agarra pelas barras, me puxando para o metal frio. O


cobertor cai aos meus pés e estou nua. A ponta da faca borboleta de Doc está na
minha garganta.

— Como, — ele rosna, — porra, você conhece esse nome?

Eu tento não gritar. — Você disse isso ao Sr. Parker na catedral. E seu
sobrenome é Valente, então pensei que Alessia poderia ser sua mãe ou sua irmã?

Doc não se move. — Você não tem ideia. Nenhuma. Porque você é uma
cadela estúpida sem sentido. Não é mesmo?

Eu aceno freneticamente.

— Então deixe-me ajudá-la. — Ele corre a parte plana da lâmina ao


longo da minha bochecha. — Diga o nome da minha irmã novamente e eu vou te
cortar de orelha a orelha e depois foder você com a faca.

Seus olhos são pontos ocos de luz. Faróis no escuro. Você poderia
desaparecer neles sem deixar vestígios. Ele está dizendo a verdade. Ele poderia me
cortar. Ele poderia me matar sem pensar duas vezes.

— Eu não vou dizer isso de novo, — digo a ele. — Eu sinto muito. Eu


sinto muito.
Ele me empurra para trás e eu caio no chão, alívio berrando através de
mim. As bochechas de Doc afundam e algo molhado escorre pelo meu rosto.

— Oh meu Deus, você cuspiu em mim!

Por um momento nós nos encaramos e é uma loucura, mas eu quero rir.
Tenho certeza que Doc também.

— Desculpe, — eu digo com pressa. — Doc, estou falando sério. Eu


sinto muito.

Seu rosto trabalha furiosamente, mas ele se vira, indo embora sem outra
palavra.

Fico imóvel no chão. Eu tinha razão. Alessia é sua irmã.


January Whitehall

— Levante-se, — uma voz grita, e eu acordo. Chorei por tanto tempo


depois que Doc partiu que devo ter cochilado.

— Eu disse, levante-se. — Levanto-me de um salto como se estivesse no


exército e me volto para a voz. É um homem que eu nunca vi antes. Ele deve ter
pelo menos sessenta anos com bigode grisalho e expressão hostil.

Ele joga um saco de pano pelas barras. — Põe isto.

Eu não me movo.

— Faça isso ou você não vai conseguir se lavar.

Lavar? Tipo tomar banho? Eu pego o saco do chão e o coloco na minha


cabeça. Mesmo que ele esteja mentindo, estou disposta a correr o risco se isso
significar me sentir limpa novamente.

Eu ouço a cela destrancar. O homem pega meu cotovelo e me guia para


frente. Estou instável em meus pés, mas seu toque é leve como se ele realmente
não quisesse chegar perto de mim. Suas instruções são cortadas enquanto ele me
leva até os lances de escada e curvas.

— Você tem quinze minutos, — ele finalmente diz, soltando seu aperto e
puxando o saco da minha cabeça.

— O que… — eu digo, mas ele já está fechando a porta atrás dele.

Eu pisco, reajustando meus olhos para as luzes brilhantes do cômodo


antes de soltar uma risada trêmula. Ele estava dizendo a verdade. Estou em um
lindo banheiro de mármore branco. Há pilhas de toalhas felpudas, prateleiras
cheias de sabonete líquido, xampu e hidratante, e escovas de dentes ainda em suas
embalagens.

Pego um sabonete de morango e um xampu e condicionador de coco e


tiro minha calcinha e sutiã em um segundo, praticamente correndo para o grande
chuveiro. Deixei a água quente bater em mim por minutos antes de me esfregar
com uma bucha. As grossas bolhas brancas deslizam sobre minha pele e é como
uma experiência religiosa.

Consciente do limite de tempo, termino rapidamente e saio do chuveiro e


me enrolo em uma toalha, me sentindo cinco quilos mais leve.

Ao lado das toalhas há uma pequena pilha de roupas. Uma camiseta rosa,
shorts de algodão branco, meias brancas e calcinha rosa. Uma garotinha, mas
muito melhor do que eu esperava 'tenho certeza que Doc iria me querer com uma
coleira de cachorro e uma tanga de couro ou algo assim.'

Escovo os dentes, hidrato o rosto, penteio o cabelo e passo desodorante


sob os braços em estado de êxtase. Depois de ficar presa no escuro, estou
começando a me sentir quase normal novamente. As roupas se encaixam
perfeitamente, mas não há sutiã ou bolsos para eu colocar meu São Cristovão e
você pode ver meus mamilos através da camiseta. Coloco as meias e procuro
sapatos. Eu bato na parte de dentro da porta. — Oi, tem sapatos?

— Não.

— Ah, mas minhas meias vão ficar arruinadas no chão?

Um grunhido irritado. — Você está vestida?

— Sim.

— Então coloque o saco de volta na sua cabeça.

Eu faço isso, e seguro meu São Cristovão em meu punho. A porta


destranca e o homem pega meu braço novamente. Quando ele tira o saco e estamos
em uma pequena sala, vazia, exceto por uma mesa e uma cadeira. Sobre a mesa
está uma tigela de sopa de tomate e um queijo grelhado. Meu coração salta. — Isso
é para mim?

— Sim. Senta.

— Obrigada! Muito obrigado! Senhor…?

Ele olha para mim com seus olhos cinzentos de pedra. — Gretzky.

— Obrigado, Sr. Gretzky.

Eu como rápido, queimando o céu da boca, mas não me importo. Em


segundos, o prato e a tigela estão vazios.

Sr. Gretzky faz uma careta. — Terminou?

Eu concordo. — Tudo estava delicioso.

— Eu não fiz a comida. — Ele me devolve o saco.

Eu hesito. — Alguém quer me ver? Sr. Morelli, talvez?

— Não.
Com um suspiro, coloco o saco na minha cabeça. O Sr. Gretzky me leva
de volta pela casa até que eu ouço o agora familiar ranger da porta do porão. Meu
peito se esvazia. Será melhor estar limpa e alimentada na minha cela, mas é tão
solitário no escuro. Talvez esse seja o plano de Eli e Doc? Para derreter meu senso
de perspectiva e me forçar a escolher uma de suas propostas por puro tédio.

Ou eles se esqueceram de mim.

— Levante os pés para não bater na grade, — diz Gretzky.

Faço o que me mandam antes de tirar o saco da cabeça. — Obrigado por


me ajudar… Ahhh!

Bobby se levanta da minha cama, com as mãos para cima. — Desculpe!


Desculpe, January, eu não queria te assustar!

Ele está vestindo calças de brim e um suéter azul marinho com as


mangas arregaçadas. Ele parece um namorado de TV. — O que você está fazendo
aqui?

— Eu queria falar com você.

A porta do porão bate. O Sr. Gretzky deve ter saído. O que significa que
Bobby e eu estamos sozinhos.

Ele se move para um lado, gesticulando para a cama. — Venha, sente-se.

Sem saber o que mais fazer, sento-me, enfiando os pés debaixo de mim.
Estou super consciente do meu cabelo úmido e rosto limpo, meus mamilos roçando
minha camiseta. Cruzo os braços sobre o peito. — Hum, então por que você está
aqui?

Bobby passa a mão pelo cabelo curto. — Você se sente melhor depois do
banho?
— Sim, totalmente.

— Isso é bom.

Ele não está mais agindo frio e confiante. Ele é mais como era quando
estava me ensinando, legal, mas desajeitado. Eu tento não sorrir. Bobby não é
insanamente lindo como Eli, nem perigosamente lindo como Doc. Ele é mais
prático. Mais americano. O tipo de cara que manda rosas no Dia dos Namorados e
sua família gosta 'se sua família fosse normal.'

— Então, eu uh… — Ele gesticula para minha mesa lateral. — Trouxe


algumas coisas para você.

Eu viro. Ao lado da lâmpada há um pequeno buquê de flores cor-de-rosa


em um copo de plástico e um fino colar de ouro.

— Eu vi que você tem aquele São Cristovão. Achei que você poderia
querer colocá-lo em uma corrente.

Eu jogo meus braços em volta do pescoço de Bobby. — Oh meu Deus,


obrigada, obrigada, obrigada!

Ele faz um som estrangulado, mas seus braços se fecham ao meu redor.
Seu suéter é de cashmere e eu esfrego meu rosto contra ele, inalando seu cheiro
doce de fumaça de madeira. Bobby é tão forte, ele é tão…

O frio se expande em meu núcleo quando me lembro dele se


aproximando de Kurt, seu rosto firme e seguro. O homem que me segurava
levantou a arma que matou meu guarda-costas. Eu vi. Vi Kurt deitado no chão,
boquiaberto vermelho onde seu rosto costumava estar.

Eu me afasto. — Eu… hum…


A mandíbula de Bobby aperta, seus olhos castanhos fixos em mim. —
Dê-me seu São Cristovão. Vou colocá-lo na corrente.

Abro o punho e olho para o pequeno círculo dourado. Uma parte de mim
quer dar a ele, mas uma parte muito maior de mim deseja que ele não tivesse
matado Kurt. Por mais adorável que fosse usar o medalhão no pescoço, não posso
ter o precioso São Cristóvão de Zia Teresa preso a algo tão comprometido.

— Ou não, — Bobby diz, seu rosto vermelho brilhante.

— Desculpe Bobby, eu só… espere, o que você está fazendo?

Ele se ajoelha na minha frente. — January, preciso dizer algo. Eu quero


você fora deste porão. Eu quero você segura e feliz novamente.

Há um palpitar em sua voz, como se minha dor o estivesse machucando


também.

— Posso falar com minha Zia Teresa ou minha mãe?

— Ainda não. Mas podemos fazer outros arranjos.

— Que tipo de arranjos?

Ele estende a mão para a minha. Faíscas formigam no meu braço e por
mais que eu queira me afastar, não o faço.

— JJ. — Seus olhos castanhos comoventes travam nos meus. — Você é


a mulher mais incrível que eu já conheci.

Meu coração bate contra meu peito. — Mas eu não sei fazer nada. Eu
não sei quanto é sete vezes nove.

— Isso não importa. Esperei minha vida inteira para encontrar alguém
como você.
Minha cabeça está latejando. Eu quero muito perguntar o que ele quer
dizer se ele está dizendo o que eu acho que está, mas esta não é a biblioteca Trinity
Grammar. E em um canto da minha mente, Kurt está implorando por sua vida
enquanto Bobby caminha em direção a ele, segurando a arma de Eli.

Imagino Zia Teresa fumando sob a coifa do forno da minha madrasta.


Acorda, bela. Você está sendo enganado de novo.

Eu olho para o meu short limpo e apertado. — Você fez isso para que eu
pudesse subir e tomar banho e comer?

— Eu… sim.

— Como é que você não me levou você mesmo? Você conseguiu que o
Sr. Gretzky fizesse isso?

Eu tento soar doce, não ameaçadora, mas os olhos de Bobby se


estreitam. — Eu não estou tentando manipulá-la.

— Claro que não, — eu digo. Mas eu sei que ele está. Ele queria que eu
estivesse limpa e confortável, mas ele não queria ensacar minha cabeça e me guiar
pela Velvet House como um boneco de teste de colisão. Ele ainda quer que eu o
veja como um cara doce e gentil. Meu professor de matemática. Minha paixão do
ensino médio. O pensamento é mais doloroso do que as ameaças de Eli, a arma de
Adriano na minha boca, a faca de Doc contra meu pescoço.

— January? O que há de errado?

Eu pego meu travesseiro e o abraço no meu peito. — Hum, tipo, tudo?

O canto de sua boca se levanta. — Sim, acho que está certa, mas
podemos melhorar as coisas.
Eu desvio o olhar. Parte de mim quer dizer a ele que qualquer coisa é
melhor do que ficar trancada em um porão, mas não quero desperdiçar a gentileza
de Bobby deixando-o bravo. — Obrigada por me deixar tomar banho e me dar
comida.

— JJ… eu ainda sou o cara que te ensinou trigonometria.

Eu sei o que ele realmente quer dizer. Você ainda pode gostar de mim.
Eu ainda estou segura. Mas uma coisa pode não ser verdade e a outra
definitivamente não é.

— Eu sei.

Há um longo silêncio doloroso.

— Como você se tornou meu tutor de matemática? — Eu pergunto,


precisando dizer alguma coisa.

— Não foi muito difícil. Eu tenho um mestrado em ciência da


computação.

— Oh. — Presumi que ele havia chantageado para entrar na Trinity


Grammar, como Doc posando como padre ou Adriano fingindo ser um zelador.
Mas, novamente, Bobby ensinava matemática às pessoas. Pessoas que não eram
eu. — Você… trabalha em ciência da computação?

— A Velvet fornece serviços de vigilância. Eu dirijo nossas operações.


São alguns dos melhores do país.

Eu ouço uma nota de orgulho em sua voz e meu estômago dá um nó. —


Serviços de vigilância para criminosos?

Ele passa a língua sobre o lábio inferior. — Sim. Mas também


corporações, hotéis e famílias como a sua.
— Como a minha?

— Pessoas ricas com muitos ativos. — Ele mexe no joelho. — Eu sei a


impressão que devemos ter dado a você, mas a Velvet House não é uma gangue. É
um negócio.

— Eu não acho que muitas empresas matam pessoas em seus tapetes. Ou


sequestram noivas.

Ele solta um suspiro lento. — Existem alguns lados complicados. Mas o


que está acontecendo com você, não é uma prática padrão. Parker é… diferente.

É tão estranho ouvi-lo dizer o nome do Sr. Parker. Eu pensei que meu
professor de matemática e o homem com quem eu deveria me casar eram partes
separadas da minha vida. Acontece que eles se juntaram muito antes de eu
aparecer.

— Como o Sr. Parker se encaixa no seu negócio?

O rosto de Bobby muda. Ele se torna o homem que matou Kurt


novamente. Eu me contorço para trás. — Desculpe, eu não deveria ter perguntado.

— Não, você não deveria. Mas aceite minha palavra. Parker não é quem
você pensa que é. Ele é perigoso.

Imagino o rosto redondo e os olhos azuis do Sr. Parker. — Já vi


cavoodles22 mais perigosos andando pelo Central Park.

Bobby não sorri. — Ele é um homem mau. Vai por mim.

— Mas ele sempre foi tão legal!

Bobby fica de pé, com o rosto tenso. — Ele estava esperando seu tempo
até que você se casasse com ele. Como você pode não ver isso?

22 A raça de cachorro mestiça vem de uma mistura do Cavalier King Charles Spaniels com o Poodle.
— Sr. Parker teve muito tempo para ser mau comigo, mas ele nunca me
tocou.

Um rosnado baixo ressoa no peito de Bobby. — Eu também nunca


toquei em você.

— Você não deveria ser meu marido.

A mandíbula de Bobby se projeta. — Então você queria se casar com


ele? Você queria as mãos sujas dele por todo o seu corpo?

— Não, mas eu queria fazer o certo pela minha família. E eu não queria
ficar trancada em uma cela.

Vermelho brilhante se espalha pelas bochechas de Bobby e em seu


pescoço como gelato de framboesa derretido. — Você tem razão. Mas é sobre isso
que estou aqui para falar com você – os outros arranjos. Você vai precisar ficar
aqui por mais algum tempo. Mas uma vez que isso tenha passado, acho que pode
ser uma boa ideia, se você quiser, e você acha que é uma boa ideia para nós, para
você e para mim. Para nós... Não que haja pressão. Não há pressão. Depende de
você, JJ…

Suas palavras soam como anagramas. Como se houvesse uma mensagem


lá, mas não consigo descobrir o que é sem um rolo de papel e canetas tricolores. —
Bobby, o que você está dizendo?

Ele limpa a garganta, tão vermelho que quase posso sentir o calor saindo
dele. — Podemos nos casar. Para sua proteção.

Em algum lugar no porão, a água pinga.


Eu quero perguntar se ele está brincando, mas tenho certeza que ele vai
morrer de vergonha. — Hum, como o casamento vai me proteger do Sr. Parker?
Vocês não estão planejando matá-lo?

— Eu... sim. — O olhar de Bobby desliza para o lado. — É mais um…


tipo… coisa… futura.

Entendo. Ele não quer dizer 'me proteger' do Sr. Parker. Ele quer dizer
'me proteger' de seus amigos. De tirar a roupa e me tornar uma sugar baby e o que
Adriano Rossi quiser fazer comigo. Eu mordo minha unha do dedão.

— January?

Eu não posso encontrar seus olhos. — Sim?

Bobby cai de volta em seu joelho. Divulgar a notícia parece ter aliviado
um pouco de sua pressão interna. — Eu sei que isso é muito para aceitar, mas não
seria um casamento como você teve com Parker. Eu não quero controlar você.
Uma vez que você esteja sob minha proteção, você pode fazer o que quiser.

Exceto ir para casa. E não consigo imaginar Doc, o homem que acabou
de colocar uma faca na minha garganta, me deixando ir pulando para o pôr do sol
com Bobby. — Os outros… hum, vão ficar bem com nós nos casando?

— Eles não vão gostar. Mas se for o que você escolher, eu vou colocar
meu pé no chão e eles terão que respeitar.

Eu acredito nele. Meu coração dá um pulo. Eu poderia me casar com


Bobby? Seria melhor do que despir-se ou ser vendida à máfia russa. Mas mesmo
considerando o que dizer sim significaria, minhas entranhas se contorcem. Estou
presa atrás de vidro sujo. Eu só posso ver pedaços do que está acontecendo ou por
quê. Eu quero limpá-lo e ver a coisa toda. — Eu pensei que eu não era sofisticada o
suficiente para me casar?
— Esse é Eli. Não sou nenhum príncipe italiano. Você estará acima do
esperado comigo.

Há um sorriso em sua voz. Sem pensar, olho direto para o rosto de


Bobby e sua beleza me domina. Seus olhos castanhos são acolhedores, e eu me
imagino andando pelo corredor em direção a ele. Dormindo em seus braços
grandes e musculosos. Minha mente tenta imaginar como ele se parece nu, e eu me
afasto.

Bobby pega minha mão novamente, dobrando-a na dele. — Só porque eu


não sou um Velluto não significa que não posso cuidar de você. O que eu faço
paga melhor do que Wall Street. Você pode ter tudo o que tinha na casa da sua
mãe. Mais.

Os sentimentos românticos melosos desaparecem. — É isso que você


pensa de mim? Que sou uma garimpeira que quer colheres de diamante e cartões
pretos Amex?

— Não! Eu só quero que você saiba que o mundo está aberto para você.
Que se você se casar comigo, eu vou trabalhar duro para tornar sua vida linda. Eu
compro uma casa para nós onde você quiser, e você pode ir para a faculdade ou
começar seu próprio negócio ou dançar ou ter aulas de canto ou apenas… ser
minha esposa.

Bobby soa exatamente do jeito que eu queria que um homem soasse


quando falasse em se casar comigo. Ele até parece exatamente do jeito que eu
sonhei que meu marido poderia parecer. Mas do canto da minha mente, Zia Teresa
fala. Se você se casar com este homem, você será a esposa de um assassino.

— …e podemos pegar um cachorro ou um gato ou…


Eu me inclino para frente e pressiono um dedo nos lábios de Bobby. —
Você está me pedindo em casamento ou está dizendo que é isso que vai acontecer?

Seus olhos se arregalam. — Eu estou perguntando. Eu nunca… estou


perguntando, January.

— Então minha resposta é não.

Bobby parece desapontado. — Isso é porque você quer estar com Eli?

Oh meu Deus, não isso de novo. — Não.

Sua boca se torna uma linha dura. — Doc?

Eu arranco minha mão da dele. — Qual é o seu problema? Você e todos


os outros perguntando: 'É ele em vez de mim?' Eu não quero nenhum de vocês!
Porque isso é tão difícil de entender? Eu só quero voltar a ser como as coisas eram!

A boca de Bobby suaviza. — JJ…

— Só minha família me chama de JJ! Você não pode me chamar de JJ!

Ele se levanta, sua mandíbula trabalhando. Ele quer ser gentil e suave,
mas posso sentir sua raiva queimando sob a superfície. — Você não pode voltar. E
você não quer. Você não quer ser a esposa de Parker.

— Como você sabe? Você nem vai me dizer o que ele fez para te deixar
com raiva.

Bobby balança as mãos em frustração. — Ok, — ele diz. — Quando


suas aulas de dança começaram?

— Eu... quando eu era pequena?

— Quando você tinha nove anos, — Bobby corrige. — Porque Parker


tem uma queda por bailarinas.
— Como você…?

— Eu administro a vigilância profissional para ganhar a vida. Parker fez


você começar a dançar e ele é a razão pela qual você não tinha permissão para
desistir quando estava no ensino médio.

Meu estômago revira. Quando eu tinha quinze anos, minha instrutora de


balé, Madame Blanchet, me disse que era hora de considerar estilos de dança 'mais
adequados à minha figura.' Eu não estava com o coração partido. Eu já era uma
cabeça mais alta e duas taças maiores do que todas as garotas da minha classe. Mas
quando levei a carta de Madame Blanchet para minha mãe, ela a jogou no lixo. —
Você vai ficar na New York Academy. É importante que as mulheres jovens
tenham equilíbrio.

Eu balanço minha cabeça como um cachorro tentando se livrar da água.


— Mamãe queria que eu fosse bailarina.

— E o seu peso? Sua mãe queria que você pesasse exatamente 54


quilos?

Cada músculo do meu corpo fica rígido.

— De novo, Parker. Ele queria você assim.

A sala começa a girar. Tento encontrar Bobby no borrão da luz do


lampião. — Mamãe me pesava. Ela mudava minha comida se eu não estivesse com
54.

— E ela fez isso com sua irmã? Ou só você?

Um milhão de pensamentos aterrorizantes passam por mim e então tudo


explode. Minha mente fica em branco, meu corpo cai sobre as cobertas, pesado
como cimento.
Um braço envolve meus ombros. Bobby, me envolvendo em caxemira e
seu cheiro doce e defumado. Ele pressiona a boca no meu cabelo. — Eu sinto
muito. Eu sinto muito, porra. Você merecia coisa melhor.

Energia surge de volta através de mim e eu me viro e meio que subo em


seu colo. Bobby fica rígido como uma prancha, — JJ… baby… o que você está
fazendo?

— Eu só preciso estar mais perto. Tudo bem?

Ele torce os joelhos para longe. — Ah, talvez não agora…

Por um segundo, sou espetada, depois vejo. O cume grosso ao longo de


seu quadril. — Você tem uma… eu te dei uma…?

O rosto de Bobby está escarlate. — Desculpe, você é tão linda e…

Eu me movo sem pensar, me deslocando totalmente em seu colo. Bobby


faz um barulho de protesto, mas quando eu o beijo, ele me beija de volta.

Não é como com Doc ou Eli. Não é como nada que eu já senti. É
dourado e delicado como uma manhã de primavera. Um primeiro beijo. Um
verdadeiro primeiro beijo. O começo de algo precioso.

Nós nos separamos, sorrindo como idiotas. Bobby pressiona sua testa na
minha. — Eu não posso te dizer quanto tempo eu queria fazer isso.

— Eu também. Eu nunca pensei…

— Eu sei.

Nós nos beijamos novamente, mais devagar desta vez, e a sensação de


Bobby pressionado contra meu short faz o calor lamber entre minhas coxas.

— JJ. — As mãos de Bobby estão em meus quadris e ele se esfrega em


mim. — Você é tão deslumbrante.
Está errado, balançar contra a ereção de Bobby. Ainda mais errado do
que Doc chupando meus mamilos. Doc me fez sentir presa, forçada a sentir as
coisas. Estar com Bobby é uma escolha. Mas eu não paro e ele também não. Ele é
mais áspero do que eu pensei que seria e eu gosto disso. Nós nos beijamos até eu
ficar sem fôlego. Até que tudo entre minhas pernas esteja apertado e encharcado.

As mãos de Bobby roçam a barra da minha camiseta. — Eu posso?

Eu engulo. — Não sei. Estou tão confusa.

— Tudo bem. — Bobby abaixa a cabeça. — Sabe quando eu soube que


tinha sentimentos por você?

Eu sorrio para ele como um idiota. — Diga-me?

— Foi ouvir você cantar Rex Orange County. Aquela música 'Loving is
Easy'. Você estava sorrindo e batendo os pés e eu apenas... — Ele pressiona a mão
no coração. — Derreti.

Eu rio, envergonhada e encantada. — Eu posso cantar músicas melhores.

— Impossível. — Ele beija minha bochecha. — Não quero apressá-la,


mas se nos casarmos, posso fazer tudo certo.

O brilho no meu peito evapora. — Bobby…

— Eu sei. Eu sei que é muita pressão, mas podemos fazer isso funcionar.
— Seu rosto é sério e juvenil. Abro a boca para perguntar quantos anos ele tem
exatamente e então o pensamento estala, como se estivesse sempre lá. — Bobby?
Você me ouviu cantar Rex Orange County na escola?

Seus olhos escuros se movem para a esquerda e depois para trás


novamente. — Sim.
O gosto de queijo e tomate sobe na minha boca. — Nunca cantei na
escola, nem para mim mesma. Eu teria ficado muito envergonhada.

Ele não diz nada, mas um rubor rasteja por seu pescoço novamente.
Deslizo para fora do colo de Bobby e ando para o lado da cela, o mais longe que
posso. — Você estava me espionando, não estava? Em casa ou nas minhas aulas de
canto ou em algum lugar.

Ele abaixa a cabeça. — Eu sinto muito.

— Acho que você é muito bom em vigilância.

Ele bufa uma risada sem humor.

— E você já matou outras pessoas, não é? Kurt não foi o primeiro.

— Não.

Eu aceno, me sentindo mais calma do que deveria. — Acho que talvez


você devesse ir.

— Sim. — Bobby se levanta e se afasta lentamente, como se tentasse


pensar em algum motivo para ficar. Estou pensando muito também, mas não há
nada lá. A porta do porão se abre e ele se vai, assim como os outros dois.

Sua corrente de ouro ainda está na minha cômoda. Eu não verifico se


está bom o suficiente para segurar o medalhão. Eu não toco em nada.
January Whitehall

As pessoas sempre pensaram que eu era estúpida. Eu sou o bebê da


minha família. Eu não conseguia dizer 'espaguete' direito até os doze anos. Minhas
notas sempre foram péssimas, e eu acreditava em tudo que as pessoas me diziam.
Papai Noel é real. O chiclete engolido fica dentro de você por sete anos. Cegonhas
entregam bebês. Margot e Lachlan garantiram que as crianças nunca fossem más
comigo, mas eles ainda riam quando eu não sabia o que era uma 'festa da salsicha'
ou o que '420' significava. Eu li as partes erradas do livro em voz alta na aula de
inglês. Bradley Fox compôs uma música sobre mim na sétima série. Eu ainda sei
todas as palavras.

January Whitehall,

Não sabe ler nem escrever.

Ela é muito burra para jogar,

E come terra o dia todo.


As pessoas sempre pensaram que eu sou estúpida, mas depois que Bobby
saiu da minha cela, eu me senti estúpida. Estúpida até os ossos, profundamente
penetrante.

Eu não tenho que questionar o que Bobby me disse. O Sr. Parker é um


homem mau. A verdade é como um holofote, brilhando em anos de evidência. Sr.
Parker me observando atentamente enquanto eu comia. Sr. Parker sempre
perguntando sobre balé. Sr. Parker implorando para minha mãe para assistir
minhas aulas. Mas mais do que isso, eu me lembro do olhar de medo nos olhos de
Zia Teresa quando ela me viu em meu vestido de noiva. Seu medalhão de São
Cristóvão. Uma última tentativa de me proteger de uma situação impossível.

Não sei se o Sr. Parker é um homem mau como os quatro homens nesta
casa são homens maus. Mas ele não é quem eu pensava que era. O casamento que
eu imaginava ter com ele, amigável e respeitoso, se não romântico, era uma
fantasia. Ele me fez fazer balé. Ele controlava meu peso através da mãe. Quem
sabe o que mais ele queria fazer?

Sou exatamente o que Doc me disse que eu era quando acordei nesta
casa. Uma garota estúpida que não pode ver o que está na frente de seu rosto.

A visita de Bobby drena a minha vida. Volto para a cama e cochilo até o
Sr. Gretzky aparecer novamente, batendo na porta da minha cela. — Você quer se
lavar e comer?

Não quero ir a lugar nenhum, mas sei que me sentirei melhor depois de
comer alguma coisa. — Claro.

Ele me joga o saco de pano e eu cubro meu rosto e permito que o Sr.
Gretzky me leve de volta para o banheiro. Eu tomo outro banho e tento não pensar
no olhar no rosto de Bobby quando eu disse a ele que não posso ser sua esposa.
Há uma roupa nova ao lado do chuveiro, um vestido vermelho e
sapatilhas de couro pretas. Sapatos que são apenas sapatos. O que eles acham que
eu faria com tênis? Bater na cabeça do Sr. Gretzky e tentar escapar? E de onde vêm
essas roupas? Eli fez um transporte de roupas quando cheguei aqui ou algo assim?

O vestido parece muito pequeno. Não é, mas meus seios estão


empurrando para cima e a cintura é apertada. Eu meio que espero que o Sr.
Gretzky me diga para voltar a vestir minha camiseta e shorts, mas ele mal olha
para mim antes de jogar o saco sobre minha cabeça e me levar para a sala de
alimentação. Ovos mexidos e torradas com manteiga estão esperando por mim. Em
casa eu nunca tinha permissão para comer pão, a menos que mamãe estivesse fora
e, mesmo assim, Zia Teresa comprava massa azeda cara. Minha torrada é pão de
sanduíche velho simples. O tipo que vem em uma bolsa. É incrível.

— Quem cozinha minha comida? — Eu pergunto ao Sr. Gretzky. —


Posso agradecê-los?

Ele me ignora. Cinco minutos depois estou de volta na cela. Uma


semana atrás, se você tivesse me dito que meu maior problema em ser sequestrada
seria o tédio, eu teria dito que você era louco. Mas isso é. Sem nada para fazer,
meus problemas se aglomeram ao meu redor como pássaros malvados, bicando e
grasnando.

— Zia, — eu sussurro. — Por favor ajude?

Estou com medo de que ela não responda, que sua voz me abandonou
como todo o resto, mas depois vem.

Levante-se, Bella.

Eu fico de pé, me sentindo desajeitada e superexposta no meu vestido


vermelho. — O que devo fazer?
O que você costuma fazer quando está entediada?

Eu sorrio. Eu sei exatamente o que fazer. Estou espantada por não ter
pensado nisso antes.

Leva vinte minutos para percorrer minhas escalas de aquecimento e


então eu canto. Eu canto Adele. Eu canto os Beatles. Eu canto Kate Bush. Eu canto
Edith Pilaf. Eu canto sentada. Eu canto andando pela cela. Eu canto até minha voz
ficar rouca e então continuo. Conforme as horas passam, a sensação de estar sendo
observada fica mais forte, mas eu não me importo.

Cantar é mais fácil do que falar. Encontro força na repetição disso, no


subir e descer da minha voz. O puxão do meu abdômen. As emoções que você
pode derramar nas letras e por trás delas. Cantar é a maneira mais fácil de ser eu.

Eventualmente, minha voz falha, mas está tudo bem. Já sei o que fazer a
seguir. Tiro minhas sapatilhas e pratico balé. Não há espaço suficiente para dançar,
mas usando as barras da cela como corrimão, eu me movo de posição em posição,
cantarolando Lago dos Cisnes. Logo minha pele está brilhando e minha mente está
felizmente vazia. Quando pensamentos ruins surgem, eu os empurro de volta,
concentrando-me novamente nas posições. O Sr. Parker pode ter me forçado a isso,
e eu posso ter o corpo errado e ser estúpida, mas o balé me fez forte. Vou dançar
todos os dias que estiver aqui.

Estou praticando combinações de dégagé23 quando a porta do porão se


abre. Eu congelo no lugar, uma mão nas barras me segurando como prisioneira.
Não é o Sr. Gretzky. A silhueta na porta é muito grande.

23É o apontar do pé para uma posição aberta com o peito do pé totalmente arqueado, sem transferência
de peso.
Uma emoção percorre minha espinha. Eu sei quem é. A única pessoa que
eu quero ver ainda menos do que quero ser mantida em cativeiro. Botas batem nas
escadas de metal e a porta do porão se derrete na escuridão. Sua voz sai das
sombras. — Continue.

Eu congelo. Eu não percebi que tinha parado de dançar. Eu tento


começar de novo, mas minhas pernas estão derretendo no chão, e eu posso sentir o
gosto dos meus próprios dentes.

Ele se aproxima da minha bolha de luz, olhos verdes venenosos


brilhando.

— Olá, Sr. Rossi, — eu digo.

Seus passos são lentos e pesados. — Continue. Dançando.

Movo-me aos solavancos para a quinta posição, levantando as mãos


sobre a cabeça. Adriano avança, materializando-se do nada. Ele é muito maior que
os outros. Sua cabeça atinge o teto do porão. Penso no homem meio touro que
estudamos na mitologia grega. Aquele que matava pessoas por diversão. Eu abaixo
meus braços em meio segundo e vejo a arma amarrada ao seu lado. Minha pele fica
gelada. Eu mantenho a pose por pura memória muscular, minhas entranhas
tremendo. Eu quero desmoronar.

Zia! Eu grito em minha mente. Zia!

A voz vem de novo, lenta e calma. Dance, Bella. Apenas continue se


movendo.

Eu faço posições de menina. Primeiro, segundo, plié, pirueta.

Os segundos passam como horas, meus braços e pernas vibrando de


medo. Por favor, vá embora, por favor, deixe-me viver, repito para mim mesma.
Eu percorro as mesmas poses até que minhas pernas estão tremendo. Ele
sabe que posso fazer mais, mas não diz nada, apenas observa até que meu corpo
fica emborrachado e eu caio de joelhos.

— Eu disse que você poderia parar?

Tento desesperadamente não chorar. — Não.

— Olhe para mim.

Eu levanto meu olhar para o dele. A cicatriz de Adriano brilha à luz do


abajur, prata contra sua bochecha morena. Ele deve ter conseguido em uma briga,
mas tudo o que consigo imaginar é ele no meio de uma floresta lutando contra um
urso. Ele, sem camisa e segurando uma espada, e o urso com um focinho nevado,
batendo em seu rosto. O animal recebe um único golpe antes de Adriano agarrar
sua garganta, rasgando-a com os dentes.

— Sr. Rossi, há algo que você queira perguntar…?

Uma batida. — Você acha que algo sobre você me interessa?

As palavras vêm antes que eu possa pensar. — Minha dança.

— Sua dança?

Eu balancei minha cabeça, lágrimas pinicando em meus olhos. —


Você… me via dançar. Você sempre viu.

A mão enorme e tatuada de Adriano se move em direção à arma e ele a


tira do coldre. Minhas entranhas tremem como água e eu luto para não gritar.

Ele dá um passo em direção às barras, engolindo o chão entre nós. — Eu


vejo você dançar?

— Sim. Eu quero dizer não. Nunca.


Ele aponta o cano para mim. — Você acha que alguma coisa sobre você
é interessante?

— Não, claro que não.

— Você tem razão. A coisa mais interessante que você poderia fazer por
mim é morrer.

— Não. — O sussurro força seu caminho pelos meus lábios. Eu


pressiono minhas mãos trêmulas na minha boca. O buraco da arma me encara.

— Não? — Adriano repete. — Você não quer morrer?

A morte está tão perto que eu posso sentir o gosto, metal frio com uma
ponta de alívio 'o gosto de sua arma na minha boca.' Fecho os olhos e me despeço
de Zia Teresa e Margot, de Lachlan e Penelope e…

— Ajoelhe-se.

Eu abro meus olhos. — P-Perdão?

— Fique de joelhos.

A adrenalina pulsa através de mim como pregos enferrujados. É isso que


os carrascos fazem você fazer? Eu me coloco em uma posição ajoelhada e tento
não olhar para suas calças de lona pesadas. Há algo além de me matar que poderia
ser feito enquanto estou de joelhos. É isso que ele quer? Não sei o que esperar.

— Abra sua boca.

Meu queixo cai antes que minha alma possa protestar.

Os lábios de Adriano se torcem. — Sua putinha. — Sua mão tatuada se


move para o zíper e meu coração bate tão forte que sinto gosto de sangue. Vou ver
um homem pela primeira vez. Prová-lo. A menos que eu desmaie antes mesmo de
começar e então ele atire em mim.
Frio cai em meu decote. Adriano está esfregando o cano da arma contra
meus seios.

— Os outros pensam que você é inocente. — Sua voz ressoa no escuro,


profunda e desumana. Como se chamava o homem-touro da mitologia grega?

A arma volta pela minha clavícula, o metal aquecido pelo calor do meu
corpo. Minha mandíbula está doendo por estar aberta e minha língua parece peluda
de medo. Eu não quero dar a ele um boquete, mas eu gostaria que qualquer outra
coisa estivesse acontecendo.

— Você é uma boa putinha?

Devo concordar? Discorda? Eu decido ir com a verdade. — Não?

Ele pressiona o cano com força contra minha têmpora. — Eu disse para
você fechar a boca?

Estou petrificada, mas ainda sei que foi um truque sujo. Minha
respiração fica presa e embora eu queira implorar, eu sei que não vai funcionar.
Nada irá. Eu deixei meu queixo cair.

Ele agarra o lado do meu pescoço. — É isso, putinha. Agora chupe.

Uma fração de segundo de pânico antes que ele deslize sua arma na
minha boca. Eu tento me afastar, mas sua grande mão bate na parte de trás da
minha cabeça, me segurando no lugar.

— Eu disse 'chupe.'

Choramingando, eu fecho meus lábios ao redor do cano sentindo o agora


familiar óleo e metal. Eu me movo para frente e para trás, lágrimas escorrendo dos
meus olhos. Sinto uma onda quente de irrealidade e sei que vou desmaiar. Talvez
Adriano saiba disso também porque ele agarra meu cabelo. — Chupe mais forte.
Apertado e rápido.

Não é como da última vez. Da última vez eu estava em uma cadeira com
Adriano acima de mim. Ele estava empurrando a arma na minha boca enquanto eu
tentava manter meus dentes fora do caminho. Foi violento. Forçado. Quase
encenado. Isso é diferente. Estou de joelhos e Adriano está bombeando a arma
lentamente, entrando e saindo da minha boca. Parece mais fazer isso do que chupar
uma arma. Meus olhos travam em suas calças de lona. A frente é grossa e
distorcida. Ele tem uma… mas ele está me fazendo chupar a arma dele. Doc estava
certo. Ele é uma grande aberração. Eu gaguejo uma risada contra o cano. A mão de
Adriano aperta meu cabelo. — Algo engraçado?

Minhas entranhas mergulham. Eu chupo a arma mais fundo me fazendo


engasgar.

Ele sorri, seus lábios torcendo para revelar seu dente de ouro. — Use sua
língua na parte de baixo.

Eu bato minha língua contra o metal e seu sorriso se alarga. — Boa


menina.

Como ele sabe? Ele não pode sentir isso. Ou talvez ele possa. Talvez ele
seja algum tipo de ciborgue.

Ele move a mão livre da minha cabeça e esfrega a palma da mão em seu
zíper. Imagino-o duro e grosso como uma píton e um carrapicho indesejável passa
por mim como estática.

Algumas garotas gostam disso, Doc sussurra em minha mente. Algumas


garotas querem ser fodidas por uma grande aberração.
Mas eu não. Eu não posso querer isso. Porque se eu quisesse dormir com
Adriano, isso significaria que estou quebrada por dentro. Uma boneca quebrada.

Ele agarra meu queixo através das barras. — Eu quero que você vá
embora, putinha.

Eu engasgo, acidentalmente mordendo a arma. Adriano me encara. —


Faça melhor.

Eu abro minha boca e tento chupar suavemente.

— É isso. — Ele passa a mão pelo meu cabelo suado. — Você já sabia
que eu quero te matar?

Sim. Eu sabia disso quando ele empurrou a arma de Eli pela primeira vez
na minha garganta. O ódio em seus olhos dizia que ele estava morrendo de vontade
de atirar em mim e empilhar meu corpo em cima do de Kurt.

— Todas aquelas vezes que você pensou que eu estava vendo você
dançar, eu estava desejando poder estrangulá-la até a morte.

Eu gaguejo. O cuspe escorre dos meus lábios, desce pelo meu queixo.

Adriano zomba. — Você está babando em si mesma como uma velha


desdentada.

Eu aperto meus lábios ao redor do cano e tento engolir o cuspe, mas mais
gotas saem e eu o sinto chegar ao meu peito.

— Você é uma garotinha nojenta, não é?

Eu aceno, lágrimas escorrendo dos meus olhos.

Ele balança a cabeça para a porta do porão. — Eu vi você manipulá-los.


Tentando conquistá-los com seu choro e sorrisos bonitos. Você é patética.
A arma vai mais fundo, e eu engasgo.

O dente de ouro de Adriano reluz para mim. — Continue.

Minha mandíbula dói, mas eu chupo mais rápido, querendo ser boa. Para
agradá-lo. Ocorre-me que se ele realmente estivesse se forçando em minha boca,
eu agiria da mesma maneira. Um raio de calor doentio passa por mim. Eu gostaria
que fosse o pau dele? Eu quero que ele me queira mesmo enquanto ele faz isso?

A mão de Adriano se move do meu cabelo para o meu pescoço, seus


dedos travando em minha garganta. — Se você tentar chupar Bobby, ou Eli ou
Doc, se você tentar conseguir o que quer deles sendo uma putinha, eu vou te matar
antes que o gozo deles esteja na metade da sua garganta.

A luz aparece na frente dos meus olhos, mas ainda assim, continuo
chupando.

— Entendido?

Eu gemo ao redor do cano.

— Que porra foi isso?

— Erg eniigoo.

— Bom. Aperte seus seios.

Eu hesito.

— Coloque a porra das mãos em seus peitos e brinque com eles ou eu


vou explodir sua cabeça.

Minotauro.

A palavra sai da parte de trás do meu cérebro enquanto eu toco meus


seios através do meu vestido. Minotauro. O filho amaldiçoado de uma deusa e um
touro, correndo ao redor de um labirinto escuro e matando por diversão. Eu chupo
com força, chupo até que minhas bochechas estejam arranhadas e minha boca
esteja cheia de cortes e sangue e meu cérebro seja um borrão branco.

— Você está quase terminando, — Adriano resmunga. — Faça minha


Glock gozar na sua boca.

Ele quer dizer que vai atirar em mim? O medo confunde minha mente,
mas minha boca continua se movendo, sugando e engolindo.

— Basta.

Ele mal disse a palavra antes de eu ser empurrada para trás e desabar no
chão.

— Você é uma vergonha. — Adriano limpa a arma na calça e a devolve


ao coldre. — Você tenta enganar sua saída daqui, eu farei pior do que te matar.
Você se encontrará em um buraco sujo, mijando em um balde. Eu tenho uma
máquina de tatuagem. Eu vou marcar você. Seu rosto. Seus peitos. Vou colocar
meu nome em cima de você. Perfurar seus mamilos, cortar sua pele e então, se
você tiver sorte, eu vou te matar.

Eu engasgo, sentindo o gosto de bile, queijo e ovos. Adriano sorri como


se fosse a coisa mais doce que ele já viu.

— Você quer saber por que você ainda está viva? Porque meus irmãos
querem sua boceta. Mas assim que eles terminarem com você, eu vou acabar com
sua vida e não vou me incomodar em te foder primeiro.

Concordo com a cabeça, mas posso ver que a frente de sua calça ainda
está inchada. Ele não me acha feia. Ou se ele acha, ele ainda gostava de fazer isso
comigo.
— Você acha que eu quero sua boceta inútil? — Ele diz isso tão
baixinho que pode estar falando sozinho.

— Não, — eu sussurro.

Ele pressiona o rosto entre as barras, os olhos frios como o espaço


sideral. — Vamos ser claros, garotinha. Você não vale a pena estuprar.

As palavras soam em minha mente como sinos quebrados, quebrando


minhas entranhas. Estou com muito medo de chorar, muito magoada para respirar.

Ele vira as costas para mim. — Aproveite os últimos dias de sua vida,
Pryntsesa.

Fico deitada no escuro, ouvindo a água pingar do teto. Conto três mil
novecentas e trinta e três gotas.

Dinheiro.

Liberdade.

Casamento.

Morte.

Estas são as quatro escolhas que meu futuro reserva. Os únicos caminhos
que posso esperar trilhar.
Elliot Morelli

A verdade de ser um chefe significa acordar todas as manhãs para manter


uma máquina de mil peças que, apesar da manutenção constante, é um erro
explodir. Eu deveria estar feliz. Eu deveria estar em êxtase pra caralho. Tudo após
a catedral correu perfeitamente. Reclamações mínimas do submundo, interferência
policial mínima, jornalistas suficientes para manter o desaparecimento de uma bela
debutante fora dos noticiários. Eu esperava problemas de fora 'apoiadores de
Parker, famílias rivais, os Whitehall canalizando dinheiro para ex-agentes do
Mossad. Em vez disso, o caos está vindo de dentro da Velvet House.'

Achei que January iria quebrar como uma onda na praia. Ela deveria ser
uma agradável inconveniência. Uma maneira de atormentar Parker antes de
acabarmos com ele em retribuição justa pelo que ele fez conosco dezessete anos
atrás. Mas todos os dias que eu seguro a garota no meu porão, ela se torna um
espinho maior no meu lado.

Ela deveria estar implorando para sair da cela por qualquer meio
necessário, mas ela está comendo e dormindo bem e seu humor está estável.
Enquanto isso, meus irmãos, os homens que eu preciso focado e em forma de luta,
estão destruindo uns aos outros. Dia e noite eles discutem sobre o que fazer com
January Whitehall. Por duas vezes, Adriano separou fisicamente Bobby e Doc.
Três vezes Bobby afastou Adriano do porão, com certeza 'como eu' que ele estava
planejando matar a garota. E em quatro ocasiões diferentes, Adriano arrastou Doc
para longe dos monitores de segurança onde ele desmaiou bêbado, observando-a.
A última vez que ele tinha um cigarro aceso entre os dedos. O maldito idiota
poderia ter queimado a Velvet House até chão.

É o suficiente para deixar um homem louco. Mas se eu mencionar o


quão irracionais e idiotas eles estão sendo, tudo o que ouço é que estou chateado
que January não me escolheu. Quem eu sou. Se a pirralha tivesse pegado meus
rubis e concordado em ser minha amante, não estaríamos nessa confusão.

Eu nunca deveria ter dado a ela uma escolha. Fazer isso a deixou fora
dos limites, enquanto esperávamos sua decisão 'uma decisão que ela nunca tomará.'
Nós sequestramos January para enviar a Parker imagens dela sendo passada entre
nós quatro como uma prostituta de despedida de solteiro. Agora nenhum de nós
sabe como proceder. Não quando o que desejamos está em completo conflito.
Quem tem o direito de conseguir o que quer? Nós quatro nunca competimos por
nada mais sério do que pôquer, muito menos por uma garota. Mas agora estamos.
E temo do que cada um de nós é capaz.

Dez dias após a chegada de January, encontro meus amigos na sala de


jantar, uma transmissão ao vivo de sua cela tocando em uma tela próxima.

— Mesmo que ela decida se casar com você, — Doc está dizendo a
Bobby. — Vou estragar tudo.
Bobby coloca as mãos sobre a mesa. — Se ela escolher se casar comigo,
você tem que recuar. É o que todos concordamos.

Doc sopra no cano do revólver que está limpando. — Eu não concordei


com essa merda. Eu quero fodê-la. E eu consigo o que quero.

Os olhos de Bobby se estreitam. — Não dessa vez.

Adriano levanta o olhar do telefone. — Eu posso fazer isso para que


ninguém a tenha.

Doc aponta a arma para ele. — Se você acabar com essa boceta antes
que eu prove, você vai ter uma faca enfiada na orelha.

Eu limpo minha garganta. — É bom ver que isso ainda está acontecendo.

Meus amigos nem olham para mim.

— Você estragou tudo entre mim e January, — Bobby diz a Adriano. —


Se não fosse por você me fazendo matar o guarda-costas dela…

— Você não é o tutor de matemática da putinha, — Adriano grita. —


Você quer se iludir, isso é problema seu. Mas você não está fingindo na minha
frente.

Meu olhar cai no monitor. January está sentada em sua cama com um
vestido branco, o cabelo solto em volta dos ombros. Ela emagreceu desde que
chegou, mas isso só aguçou sua beleza. Sua boca se abre em um 'O' vermelho e
percebo que ela está cantando. Eu a observo cantarolando com os olhos fechados e
me parece que ela está tirando força de nós como uma flor absorvendo o sol.

— Eu deveria tê-la matado no altar, — diz Adriano. — Cortado a


garganta dela na frente de sua família.

Doc bate o pente em seu revólver. — Besteira.


— O que você disse?

— Eu disse besteira, — Doc gira a colt24 em seu dedo como um


pistoleiro. — Você quer enfiar seu pau nela. Talvez você queira fazer isso
enquanto a mata, mas não aja como se estivesse acima disso. Mesmo depois de
termos informações suficientes do estúdio dela, você voltava lá toda semana.
Observando-a.

Adriano salta sobre a mesa e Doc se afasta rindo. — O quê? Você vai me
matar como sua pequena Pryntsesa?

Adriano se levanta, empurrando a cadeira para trás. Doc terá sorte de sair
inteiro desta. E os dois são os amigos mais antigos de nós quatro, vizinhos de
quando tinham seis ou sete anos.

Uma lembrança me vem. Mamãe interrompendo uma briga entre meu


irmão Kit e eu na manhã de Natal. Estávamos brigando por causa de uma pistola
de água, e ela a arrancou e deu um tapa em nós dois. — Espero que estejam felizes.
Agora, ninguém pode tê-la.

Eu sei o que tenho que fazer. Na verdade, uma parte de mim sabe desde
que saí do porão com meu colar ainda no bolso.

Adriano avança sobre Doc, suas mãos enormes fechadas em punhos.


Doc joga o revólver sobre a mesa e tira sua faca borboleta, mudando seu peso de
um pé para outro. Bobby paira como um policial nervoso, sem saber quem
machucar ou proteger.

Eu me movo para ficar entre eles. — É o bastante.

Doc mostra os dentes. — Podemos ter uma briga por aqui?

24 Marca de arma de fogo.


— Você está segurando uma faca, — eu grito. — Mas cale a porra da
boca e me escute.

Para crédito de Doc, ele não responde. Dou um passo para trás para
poder ver todos os meus três irmãos. — Espero que vocês estejam felizes, — digo
a eles, olhando de rosto em rosto amuado. — Agora, ninguém pode tê-la.

Doc franze a testa. — Que porra você está falando, Morelli?

— Esta situação de January Whitehall. Termina. Hoje à noite.

— O que você quer dizer? — Bobby pergunta, ficando branco.

— Estou mandando ela embora. E sabe por quê? Porque vocês, bastardos
egoístas, não sabem fazer concessões.

Doc aponta sua faca para mim. — Eu não sei como fazer concessões?

— Guarde isso, seu idiota loiro. Não me esqueci de você quase nos
queimando vivos.

Doc balança a cabeça, mas posso dizer que ele está tentando não sorrir.

Espero mais discussão, mas o silêncio pungente diz que os outros


entendem o que estou fazendo. Talvez até esperasse por isso. O alívio de uma
decisão tomada e um problema resolvido.

— Sente-se, — eu digo. — Vou pegar todas as bebidas e podemos


conversar.

Enquanto eles se sentam, vou até o bar e abro uma garrafa de Bowmore.
Quando termino de servir as bebidas, a briga já está esquecida e eles já estão
discutindo sobre um segurança casado que engravidou uma das strippers de Doc.
Doc o encontrou ameaçando a garota no banheiro feminino.
— Eu dei a ela cinco mil, disse a ela para voltar para Dallas, mas não
acabou. O idiota vai pegá-la novamente. Ele sabe onde os pais dela moram.

— É Revesby? — Adriano pergunta. — O Latvian?

— O próprio.

— Ele estragou uma entrega no ano passado. Parece que o idiota é mais
valioso morto do que vivo.

— Sim, mas ele está com a equipe de Enzo. Não precisamos do drama.

Bobby pega seu telefone e verifica alguma coisa. — Ele tem alguns dias
de folga na próxima semana. Marco poderia levá-lo para Atlantic City. Overdose
acidental.

— Pode funcionar, — Doc reflete. — Ele está cheio de cocaína na


maioria dos dias. Eu poderia misturar-lhe um lote ruim.

Enquanto meus irmãos elaboram os detalhes para despachar esse homem


inútil, fico mais convencido do meu próprio plano. Por quase duas décadas nós
quatro resolvemos problemas e respeitamos as opiniões uns dos outros.
Construímos algo que é igual a qualquer uma das antigas famílias. Não será
comprometido por uma pequena virgem.

Eu tomo meu lugar na cabeceira da mesa. — Assim que conseguirmos


um passaporte, a garota vai para Nápoles. Meu primo Gio encontrará um lugar para
ela em sua casa.

Doc toma metade de seu uísque. — Então, você vai deixar seu primo ter
ela depois de todo o nosso trabalho duro?
— Ela não vai se prostituir. Ela é uma garota bonita de uma família rica
e fala italiano. Ela pode se casar com um de seus caporegimes.25

A boca de Doc se abre, mas Bobby fala primeiro. — Você vai forçar
January a se casar com outra pessoa?

— Não. Gio vai. Mas isso não é da sua conta. Você ofereceu sua mão a
ela e ela não aceitou.

Os olhos de Bobby ficam escuros. — Você…

— Pare. Roberto, somos uma família. Você vai queimar isso por uma
garota que você mal conhece?

— Você não entende.

— Eu entendo melhor do que você. Você está apaixonado por ela e quer
que ela seja sua esposa. Ela não quer ser sua esposa. Então você quer mantê-la por
perto até que ela mude de ideia. Eu digo que ela vai para a Itália antes que ela foda
completamente sua cabeça.

Sua mão aperta o copo. — Ela é nossa responsabilidade. Você não pode
simplesmente se livrar dela porque ela não está fazendo o que você queria.

Doc bate na mesa. — Eu quero dizer alguma coisa.

Eu olho para ele.

— Eu quero dizer algo para Bobby, — ele esclarece, virando-se para ele.
— Eu te amo.

Os olhos de Bobby quase caem de sua cabeça. — O quê?

25 Membro de patente alta na hierarquia de uma família da máfia italiana.


— Eu te amo, — Doc diz levemente. — Eu sempre amei, mas você não
pode ser estúpido sobre January. Se ela quisesse se casar com você, ela teria dito
sim. Ela é esse tipo de garota.

A expressão de Bobby não muda, mas seus ombros caem. — Ela está
com medo. Ela só precisa de tempo.

— Você está errado. Mais tempo e Adri vai matá-la.

Bobby olha para Adriano, que dá de ombros.

— Eu devo.

Bobby dá uma risada sem humor. — Então, enviamos January para um


país estrangeiro para ser forçada a se casar?

Doc balança a cabeça. — Você quer se casar por amor, Bash. Você
nunca vai ser feliz com uma esposa que você sequestrou. Então deixe essa garota
ir. Ela não é a única.

Bobby olha para mim, seu amigo mais antigo. Eu levanto meu uísque. —
Ele está certo pela primeira vez. Ela não é a garota com quem você se casa.

Ele faz um som impotente em algum lugar entre uma risada e um


gemido. — Todos os nossos planos, anos de vigilância, e nada de bom resultou
disso. Nós apenas vamos deixá-la ir.

Eu giro o licor em volta do meu copo. — Ah, eu não diria isso.

— O que você quer dizer? — diz Doc.

Eu escolho minhas palavras com cuidado. Só porque essa situação tem


um lado bom, não posso deixar ninguém pensando que vai conseguir o que quer.
— Eu disse que mandávamos a garota para a Itália. Eu não disse em que condição
sua boceta deve estar quando ela chegar lá.
Adriano ergue o nariz como um predador farejando sangue.

— Espere, — diz Bobby. — Seu primo, se dissermos a ele que January é


virgem e ela não sangrar…

— A maioria das garotas não sangram, — Doc retruca. — Não se você a


deixar molhada. Alguém ia ter que dizer a January para enfiar uma agulha no dedo
dela na noite de núpcias. Estou feliz por ser eu.

— Mas o risco…

— Somos a Velvet House? — Eu pergunto a Bobby. — Ou alguma


coleção fraca de idiotas? Eu quero foder a noiva de Parker. E eu não dou a mínima
se enviarmos a algum mafioso uma esposa que foi fodida algumas vezes. Eles
deveriam estar gratos por estarem recebendo a Srta. Whitehall por mais tempo do
que eu.

Os olhos de Doc se arregalam em surpresa fingida. — Elliot, essa pode


ser a coisa mais romântica que eu já ouvi.

Eu franzo o cenho. Ele sabe que eu odeio ser chamado de Elliot. Olho
para Bobby, esperando repulsa, mas o canto de sua boca se ergueu. Eu quase posso
ver as rodas em sua mente girando. Se eu não puder me casar com ela, pelo menos
será alguma coisa.

À sua frente, Adriano sacode o copo, fazendo o cristal soar. — Quem vai
primeiro?

Uma nova tensão estala pela sala.

Bobby me olha bem nos olhos. — Você está puxando a classificação de


novo?
Eu poderia. É tentador. Eu me viro para os monitores. A Srta. Whitehall
ainda está cantando em seu vestido branco. Ela parece um anjo. Eu poderia amarrá-
la na minha cama, lamber sua boceta e tomá-la como um homem deveria. Ficar
com ela por algumas horas, depois a entregar, encharcada, bêbada e
completamente quebrada. Então deixar os outros fazerem o que quiserem, sabendo
que eu fui o primeiro dela.

Mas não vai funcionar. O ressentimento já está se formando em meus


irmãos e o ressentimento gera incompetência. Se eu reivindicar a virgindade da
Srta. Whitehall, livrar-me dela não vai ajudar. Eu ainda seria o capitão de um navio
desmoronando sob pressão.

Eu dou de ombros da maneira mais entediada possível. — Não. Eu não


preciso ir primeiro.

Bobby se senta mais reto. — Então como?

Ele me pegou. Eu não faço ideia. E preciso de uma rápida antes que
comecem mais brigas mesquinhas.

Doc estala os dedos. — E se ela ainda decidir?

— Ela teve dez malditos dias para decidir, — Adriano resmunga.

— Ah, mas ela não vai decidir por conta própria. Nós estaríamos dando a
ela uma pequena ajuda.

Encaro o Doc. — Você quer dizer…?

— Eu faço. — Doc sorri. — Me dê uma hora e eu vou fazer um pouco.

Orchard.

A razão de estarmos todos aqui. Se eu fechar os olhos, ainda posso ver


Doc andando até o portão da minha escola, o cabelo preso atrás das orelhas como
Kurt Cobain. As garotas da Trinity não deveriam gostar de um bandido como ele,
mas sempre que ele aparecia vendendo, saía com uma dúzia de números. Adriano
também estava lá, olhando por cima do ombro de Doc. Dois anos mais velho e já
atrelado a um psicopata com mais cérebro do que bom senso. Eles comandavam
tudo sozinhos. Sem cartéis, sem chefes, apenas as pílulas que Doc misturava em
seu porão e Adriano chutando a merda de qualquer um que tentasse roubá-los.

— Você precisa de dinheiro para expandir, — eu disse ao Doc. — E


você precisa de liderança. Alguém com a previsão para protegê-lo.

Eu era um merda arrogante. Eles precisavam de um líder, mas pensar que


aos dezessete eu era esse líder… Ridículo. Eu tomo um gole profundo de uísque.

— Tudo bem, — eu digo ao Doc. — Misture. Nós vamos dar a ela.

— Ell… — O rosto de Bobby está tenso. — Não sei se consigo fazer


isso.

Eu poderia mandá-lo lá para cima. Dizer a ele para ir rezar um terço sem
nós, se isso o fizer se sentir melhor. Mas eu conheço Bobby. Quando adolescente,
Doc fez Adriano transar dando maconha de graça às meninas. Consegui fazer sexo
com Bobby convidando nossas colegas de classe para o apartamento do meu pai
em Manhattan. As garotas de pernas longas e cabelos escuros que Bobby mal
conseguia falar na frente. Elas apareciam todas tímidas, dizendo que só queriam
assistir a um filme e algumas horas depois estariam sendo fodidas dos dois lados e
gritando por mais. Bobby sempre ia à igreja depois, mas nunca me dizia para parar.
Ele tem medo de seu lado sombrio. Medo do que ele gosta. Mas eu sei como
empurrá-lo para a felicidade.

— Você quer estar com January, — eu o lembro. — Você a quer tanto


quanto qualquer um de nós. Talvez mais.
— Então você pode ver por que eu tenho um problema com isso?

Eu sorrio. — Você deveria. Essa é a questão. Nenhum de nós consegue o


que deseja. Todos os nossos planos com January Whitehall terminam esta noite. E
acredite em mim, daqui a vinte anos você vai se arrepender de não tê-la mais do
que se arrepender de participar.

Bobby solta uma respiração longa e lenta, e posso dizer que sua
resistência está diminuindo.

Doc lhe dá um tapinha no ombro. — Não se preocupe, Bash. Você vai se


sentir melhor com toda essa merda uma vez que você der uma boa foda à moda
antiga. Então, onde devemos dosar ela? Dentro da cela? Ver quem ela tenta foder
através das grades?

Eu balanço minha cabeça. January já mostrou muita audácia em sua cela.


Eu a quero abalada. Desequilibrada. — Nós a levaremos para a sala de estar.
Coloque-a de lingerie na frente do fogo e assista ao show.

— Aí porra, — Doc sorri para nós. — Dez mil diz que ela me implora
para quebrá-la.

Bobby bebe o resto de seu uísque. — Veremos.

Eu rio, principalmente aliviado por ele estar aceitando nosso plano.

— O que você quer dizer com 'veremos?' — Doc exige.

— January tinha uma queda por mim antes de tudo isso começar. Você
dá Orchard a ela e acha que ela não virá atrás de mim?

Doc zomba. — Eu a beijei.

— Eu a beijei, — Bobby atira de volta. — E ao contrário de você, ela


queria que eu fizesse isso.
Desta vez minha risada é real. — Desculpe dizer a vocês dois, mas a
Srta. Whitehall mal consegue olhar para mim sem corar. Ela é praticamente minha.

— Vamos ver porra, — Doc murmura.

— E você? — pergunto Adriano. — Está dentro?

Ele dá de ombros, mas há um sorriso brincando em seus lábios.

Doc aponta sua bebida para Adriano. — Você será fodido pela mudança
climática antes de ter fodido January Whitehall. Ela tem medo de você.

O sorriso de Adriano fica um pouco mais largo.

— Ele acha que vai ajudar, — diz Bobby astutamente. — Você não?

— Talvez… — Adriano diz. — Não seria a primeira garota a tentar


foder para escapar da morte.

— Queremos investir nisso? — Eu pergunto à mesa.

Doc estreita os olhos. — Que tipo de dinheiro?

— O que você disse. Dez mil. A menos que você ache que não vai
ganhar?

Doc faz uma careta. — Ok.

— Tudo bem, — diz Bobby.

Adriano resmunga o que considero um sim.

— Então é um acordo. Nós damos a ela Orchard e o primeiro a foder sua


boceta virgem, ganha.

Todo mundo acena com a cabeça e o alívio pulsa através de mim como
novocaína. Teremos uma noite de devassidão que a Srta. Whitehall apreciará tanto
quanto nós, e depois a mandaremos para uma aventura italiana. Ela vai se casar
com um homem rico e bem relacionado e será tudo o que lhe foi prometido por sua
madrasta com o benefício adicional de não ter que foder Zachery Parker.

Uma imagem me ocorre, January, descalça na água na praia de


Mappatella, a barriga pesada com o filho de outro homem. Meu peito dói, mas eu
ignoro e volto minha atenção para meus irmãos. — Sobre esta noite, precisamos de
algumas regras básicas.

Doc revira os olhos. — Você tira a graça de tudo.

— Que regras? — Bobby pergunta.

— Regra um, — eu digo levantando um dedo. — Ninguém tem


permissão para tocá-la antes que ela os toque.

— Isso é justo, — Doc admite.

— A segunda é não brigar. Qualquer um de vocês levanta as mãos e


ficará trancado no porão enquanto eu levo a Srta. Whitehall para cima e a fodo até
ela gemer.

— Também justo, — diz Doc. — Mais alguma coisa ou posso ir fazer


Orchard agora?

— Um segundo. — Levanto meu copo e espero que os outros façam o


mesmo. Quando todos eles seguiram o exemplo, eu sorrio. — Para um problema
resolvido.

Bebemos enquanto abaixo de nós canta January Whitehall. Alheia, em


seu vestidinho branco.
January Whitehall

Eu fico em silêncio quando ouço alguém na escada. Comi e tomei banho


horas atrás e geralmente durmo antes de ver o Sr. Gretzky novamente. Mas aqui
está ele. — O que está acontecendo, senhor?

— Levante-se, Srta. Whitehall, — diz ele, destrancando a cela.

Eu fico de pé. — Vou ver o Sr. Morelli e os outros?

Sr. Gretzky me chama para a frente.

Eu devo estar vendo eles. Talvez eles estejam me levando lá para cima
para descobrir quem eu escolhi? A menos que eu esteja sem tempo e eles vão me
matar e é por isso que o Sr. Gretzky não colocou o saco na minha cabeça. A ideia
deveria me assustar, mas além de um azedume na boca, estou um pouco animada.
Depois de dias na mesmice, pelo menos isso é algo novo.

As luzes brilhantes doem meus olhos quando entro em um corredor largo


com paredes que são metade madeira polida, metade creme.
— Por aqui. — O Sr. Gretzky me conduz por vasos de porcelana e
estátuas empoeiradas em pequenos suportes de madeira. Nas partes creme das
paredes estão pendurados quadros a óleo de vacas e cavaleiros e belas mulheres de
pele morena. O tapete grosso que senti sob meus pés uma dúzia de vezes é
vermelho-sangue. Não vejo nem ouço outra alma enquanto caminhamos por um
interminável labirinto de escadas e corredores. A Velvet House está vazia.

Eventualmente, o Sr. Gretzky para em uma porta de madeira com uma


maçaneta de ouro. — Vá para dentro. Lave e vista-se.

Eu espero, mas ele não dá um limite de tempo do jeito que costuma


fazer. — Quanto tempo devo levar?

Uma expressão de dor cruza seu rosto. — O tempo que você precisar.

Talvez eu esteja jantando com os quatro? Uma última refeição antes de


Adriano me estrangular com uma longa corda ou o que quer que seja naquele filme
que Lachlan costumava amar. Abro a porta e entro no banheiro familiar. Lingerie
está esperando onde minhas roupas costumam estar. Um sutiã rosa brilhante, tanga
combinando e cinta-liga, meias pretas e um par de sapatos pretos brilhantes.

— Ah, — eu sussurro. — Ah… merda.

Aproximo-me da lingerie com o menor dos passos. Eu levanto a


calcinha. Ela é tão pequena que nem pode ser chamada de calcinha. — F-Foda-se.

Pensamentos torcem através de mim como fogo. Adriano pode não me


matar de lingerie, mas acho que minha virgindade não vai durar a noite toda.

Eles ainda vão me fazer escolher entre eles? Quem devo escolher? Tive
dias para pensar nas ofertas deles e ainda não sei. Eli vai se cansar de mim em um
mês, e obviamente não vou escolher Adriano me matando. A escolha mais
inteligente seria casar com Bobby, mas ele matou Kurt. Se ele fizesse coisas piores
uma vez que eu fosse sua esposa, eu só teria que me culpar. Escolher Doc e
trabalhar em seus clubes de strip parece ser a maneira mais fácil de encontrar ou
comprar um telefone e ligar para minha família. Mas também parece ser a maneira
mais rápida de passar o tempo com Doc que é o mais malvado e carrega uma faca e
cuspiu na minha cara…

Há uma batida forte na porta. — Srta. Whitehall. Banho.

Eu pulo. — Sim, desculpe.

Minhas mãos tremem sob a água quente. Não quero perder minha
virgindade. Sem isso, o campo de força contra os homens que me trouxeram aqui
terá desaparecido. Não valerá a pena me proteger. E Adriano me disse que uma vez
que seus irmãos dormissem comigo, ele me mataria.

Na verdade, ele disse que uma vez que eles estivessem entediados
comigo, ele me mataria. Talvez eu possa entretê-los? Mas como devo entreter três
homens perigosos, um dos quais é dono de clubes de strip? Eu não sei nada sobre
sexo. E uma vez que a novidade de ser meu primeiro passar…

Então não posso perder minha virgindade. Vou ter que fazer o que for
preciso para permanecer intocada.

Outra batida na porta. — Mexa-se, Srta. Whitehall.

Eu franzo a testa. Por dizer que eu poderia levar todo o tempo que
precisasse, o Sr. Gretzky parece impaciente. Desligo o chuveiro e enrolo uma
toalha grande em volta de mim. Há mais coisas no armário do banheiro do que o
normal, um pequeno frasco de perfume de baunilha, uma fileira de batons Dior e
uma paleta de sombras Yves Saint Laurent.

Eu bato na porta. — Sr. Gretzky… devo me maquiar?


Há uma pausa e tenho certeza de que o ouvi xingar. — Sim, Srta.
Whitehall.

Eu me sinto mal por ele. Seja qual for o seu trabalho normal, ele
realmente odeia lidar comigo. Aprendi muito sobre isso com Theodore e Kurt.

Kurt... Imagino o corpo dele, sem expressão e ensanguentado na lona


plástica. Aconteça o que acontecer, não vou perder minha virgindade com Bobby.
Não importa que Kurt fosse assustador e ruim em seu trabalho e me vendeu para
Eli. Ele não merecia morrer. Mas então eu penso em Bobby me beijando na minha
cela, seus braços em volta de mim. Penso na maneira como ele olhou para mim
quando falou sobre morarmos juntos. — Pare com isso, — digo a mim mesma. —
Simplesmente pare.

Não sou muito boa em maquiagem. Eu não tinha permissão para usar na
escola, e isso era feito para mim quando nossa família ia a eventos. Eu também não
tenho ideia de para quem estou me vestindo e tenho certeza que todos gostariam de
algo diferente. Bobby definitivamente gosta do visual de 'garota da porta ao
lado.'26 Doc iria querer lábios brilhantes e curvas. Eli parece ser um cara que
apreciaria glamour 'lábios vermelhos e cílios postiços.' Adriano…

Lembro-me dele olhando para mim através da minha cela, a luz da


lâmpada esculpindo sombras em seu rosto cheio de cicatrizes. Você não vale a
pena estuprar. O rímel que estou segurando escorrega da minha mão e cai sobre os
azulejos.

— Srta. Whitehall?

— Já vou, — eu grito, minha voz muito mais alta do que o habitual.

26 Mulher jovem , bonita, simples, confiável, bom caráter. São essas características que a tornam especial.
Eu tento por pequenas e sutis pinceladas de base e sombra pêssego como
eu fiz no meu casamento. No último minuto, adiciono lábios brilhantes e muito
rímel. Não sei se parece bom ou se uma garotinha invadiu a bolsa de maquiagem
da mãe, mas dá para perceber que tentei.

Eu ando até a lingerie. Eu tenho evitado olhar para ela até agora. Eu
coloco tudo de costas para o espelho. Leva séculos para prender as tiras
penduradas no cinta liga rosa às minhas meias. Assim que coloco uma, sai outra.

O Sr. Gretzky bate na porta. — Precisamos nos mexer.

Eu consigo anexar o último clipe, em seguida, olho para o espelho.


Minha boca se abre. Eu pareço… não sei como estou. O sutiã e a calcinha rosa
brilhante realçam as notas de marfim da minha pele. Você pode ver meus mamilos
através do material puro e da linha da minha… lá embaixo. Mas não parece brega,
parece sutil e meio bonito.

Quem escolheu a calcinha tem muito bom gosto.

Eu empilho meu cabelo na minha cabeça e me viro, estudando as linhas


do meu corpo. Adulta. É assim que eu pareço. Adulta e sexy. Eu balanço minha
bunda no espelho e sorrio. O que os caras vão dizer quando eles…

Eu estremeço. O que há de errado comigo? Isso não é um jogo. Esta é


minha vida. O que acontece quando eu sair deste banheiro decide o meu futuro e
eu estou andando de calcinha como uma idiota. Doc está certo. Eu sou como uma
garota da Disney, se rebelando contra sua mãe controladora. Eu solto meu cabelo e
prometo manter o foco.

Meu medalhão de São Cristóvão está ao lado da pia. Eu o pego, pronta


para colocá-lo no bojo do meu sutiã, mas percebo que todos poderão vê-lo. Não
posso deixá-lo aqui e não o colocaria na corrente de Bobby, mesmo que o tivesse
comigo.

Uma batida forte na porta. — Srta. Whitehall, terminamos.

Olho para o medalhão e, por um louco segundo, penso em engoli-lo.


Então eu o enfio na lateral do meu sutiã. Existe o risco de que quem estou
conhecendo veja e tire isso de mim, mas não vou a lugar nenhum sem isso. —
Saindo!

Eu envolvo meus braços em volta do meu corpo para tentar me proteger


do Sr. Gretzky.

Ele mal olha para mim. — Estava na hora. — Ele agarra meu cotovelo e
me leva para outro conjunto de escadas de madeira.

— Onde estamos indo? — Eu pergunto, tentando não tropeçar em meus


saltos.

— Sala de estar.

Meu pulso salta. Serei tocada ou morta? Permitido escolher meu futuro
ou dada a alguém por razões que não entendo? Ou estou errada em tudo? Estou
prestes a ser usada e enviada de volta para o porão?

Passamos por um conjunto escuro de portas duplas para uma sala onde a
única luz vem de uma lareira crepitante. Salpica laranja sobre sofás de couro. Vejo
as costas de quatro homens. Um loiro, um preto brilhante, um castanho juvenil, um
com os lados raspados. Minha boca seca. Eles estão todos aqui.

A mão em meu cotovelo aperta e o Sr. Gretzky me arrasta em direção ao


fogo. Eu mantenho meus olhos no tapete enquanto o calor lava meu corpo.

— Boa noite, Srta. Whitehall, — Eli fala lentamente.


Eu sei melhor do que não responder. — Boa noite, Sr. Morelli.

— Olhe para nós.

Minha cabeça parece feita de concreto, mas encontro seu olhar. Ele e
Adriano estão sentados em poltronas com asas27, Doc e Bobby estão em lados
opostos de um sofá. O ar parece engrossar ao meu redor e meu peito arfa como se
eu estivesse correndo.

Eli está vestindo um terno azul escuro e sua camisa branca imaculada
está aberta em sua garganta. Ele parece uma capa de revista. Por que ele tem que
ser um assassino?

Ele levanta seu copo para mim. — Temos novidades para você, Bella.
Seu tempo na Velvet House está quase no fim.

Meu coração para. — Você vai me matar?

Ele sorri com indulgência. — Não. Mas você já esteve naquele porão
tempo suficiente. Estamos enviando você para Nápoles.

Minhas pernas balançam como se o chão embaixo de mim estivesse se


movendo. — Nápoles?

— Sim. Meu primo Gio mora lá. Ele pode encontrar um emprego para
você e um novo lar seguro. Você gostaria disso, Bella?

— Claro, — eu digo automaticamente. O que aconteceu com minhas


escolhas? Isso faz parte do plano de mexer com o Sr. Parker? Algum deles vai
comigo? Ou eles estão mentindo, e eu realmente estou prestes a ser estrangulada
com barbante afinal?

27 Poltrona ou cadeira de clube com “asas” presas à parte de trás da cadeira, normalmente, mas nem
sempre, estendendo-se até o apoio de braço.
Olho para Bobby. Minhas entranhas se contorcem. Ele está vestindo uma
camiseta preta e eu posso ver uma grande tatuagem em seu bíceps direito. Ele
parece diferente esta noite. Mais velho, eu acho. Não sabia que ele tinha tatuagens.
Deus, por que ele tem que ser um assassino?

Elliot sorri. — Você tem sentido falta de Bobby? Você estava esperando
que ele viesse visitá-la novamente?

Eu deixo cair meu olhar para minhas mãos. Eu pensei que ele iria me
visitar novamente. Achei que todos iriam, mas, tirando o Sr. Gretzky, estou
sozinha há dias.

Doc se mexe no sofá. — Ela está decepcionada, Morelli. Ela não quer ir
embora.

Eu olho para ele. Seu cabelo loiro está caindo em seus lindos olhos azuis
como de costume. Lembro-me de seu corpo tatuado arqueado sobre mim, sua boca
puxando meu mamilo e uma onda rola pelo meu corpo. Seus lábios se curvam e
tenho certeza que sei o que ele está pensando. Deveria ter me escolhido, Tesorina.

Talvez eu devesse. Stripping não pode ser mais assustador do que ir para
a Itália sozinha para viver com os primos da máfia de Eli. Por que Doc tem que ser
um assassino? E um psicopata? E um idiota?

— Não fique desapontada, Bella, — Eli diz. — Só porque você não


escolheu nenhum de nós, não significa que estamos com raiva. Nós estamos…
Doc? Como você colocaria isso?

Os olhos de Doc são brilhantes e frios como uma estrela moribunda. —


Orgulhoso de você.
— Sim, — Eli concorda. — Orgulhoso de você. Na verdade, Bella,
estamos tão orgulhosos de você que gostaríamos de lhe dar um presente de
despedida.

Meu coração bate tão forte que tenho certeza que está prestes a quebrar
minhas costelas. — Que… que tipo de presente?

Adriano se mexe na cadeira. Eu me recuso a olhar para ele. Aonde quer


que eu vá, seja em Nápoles ou no chão, pelo menos ele não estará lá.

— De joelhos, — Eli diz preguiçosamente, e Gretzky empurra meu


ombro me fazendo cair no chão.

Eli acena com a mão para ele. — Obrigado, Gretzky, isso é tudo.

Ele sai e então estamos sozinhos. Os quatro e eu. O único som é o silvo e
o crepitar do fogo. Olho para Bobby em busca de segurança, mas seu rosto está
firme. Meu estômago aperta. Sexo ou morte. Não posso estar aqui de calcinha para
mais nada. Mas com certeza, eles não vão me fazer… na frente dos outros. Isso
seria nojento. Seria errado.

Elliot limpa a garganta. — Domenico, mostre a Orchard à Srta.


Whitehall.

Doc coloca o copo na mesa ao lado do sofá e se levanta. Seus pés


tatuados estão descalços, e seu jeans preto está rasgado nos joelhos. Ele tira algo
do bolso, sorrindo como se tudo isso fosse uma grande piada. — Sabe o que é isso?

Eu olho para a mão dele. É um peixinho de plástico. O tipo que tem


molho de soja em lugares de sushi. Apenas o líquido neste é claro. — É veneno?

Doc ri. — Eu queria, porra.


Elliot estica os braços ao longo das costas da cadeira. — Por que nós
envenenamos você, Bella? Que desperdício seria.

— Então o que é…?

Os olhos de Elliot são pretos líquidos à luz do fogo. Ele está tentando
parecer relaxado, mas seus músculos estão tensos, como um grande felino prestes a
atacar. — É algo que vai fazer você se sentir muito animada com a ideia de nos
conhecer melhor.

O calor lambe meu pescoço e minhas mãos. Tenho quase certeza de que
o fogo está se espalhando irritantemente por todo meu corpo. Olho para Doc e seu
sorriso é duro como diamante. — O que você diz, Tesorina? Quer ficar chapada?

Eu olho para o peixe. — É… MDMA28?

Elliot e Doc riem e até Bobby sorri.

— Não, Bella, — Eli diz. — É algo especial. Algo só para você.

Eu engulo, minha garganta se contraindo ao redor de um caroço. — Isso


é para que você possa me filmar para o Sr. Parker?

Do canto mais escuro da sala, Adriano resmunga.

— Não diga esse nome na nossa frente, — Eli diz levemente. — Não se
você quiser ir para a Itália.

— Eu sinto muito.

O rosto de Eli se abre em um sorriso bonito. — Você é doce, Srta.


Whitehall. Ela não é um doce, Bobby?

28 Ecstasy.
— Sim, ela é doce. — Bobby fala lentamente, e eu me pergunto se ele
está bêbado. Ele parece bêbado.

Doc dá um passo em minha direção. — Morelli. Dê a palavra.

— Qual é a sua pressa, Domenico? Bella, você gostaria de uma bebida?

— Hum, eu estou bem. — Um dos meus saltos escorregou entre as


minhas pernas e percebo que estou encostada nele, me esfregando nele. Eu me
obrigo a ficar quieta. — Eu poderia apenas voltar para minha cela, por favor?

A mão de Doc dispara, prendendo em volta do meu pescoço. — Já chega


de conversa, Tits. Morelli, decida.

Eu gaguejo com indignação, mas todos me ignoram.

— O que você acha, Bobby? — Eli diz em sua voz lenta e melódica. —
Devemos dar a ela a Orchard?

Eu olho para Bobby, meus olhos arregalados, implorando. Ele ainda


pode me salvar. Me proteja.

Ele esvaziou sua bebida. — Faça isso.

Meu coração cai quando Eli sorri. — Ok. Domenico, vá em frente.

Doc enfia a ponta do peixe na boca e morde a tampa vermelha. — Abra.

Eu pressiono meus lábios e balanço minha cabeça.

O polegar de Doc roça minha bochecha. — Qual é, baby. Não me faça


forçar sua linda mandíbula aberta.

Posso sentir o cheiro de algo vindo do peixinho sem tampa. Algo doce e
estranhamente familiar.

Doc olha para Eli. — Permissão para machucá-la?


O cheiro fica mais forte, e clica. Jolly Ranchers.29 É assim que cheira.
Doce de maçã verde. 'Orchard', Eli chamou a droga. Deve ser por isso. Porque
cheira a maçã. Mas o que isso faz?

— Tits, — a voz de Doc é irritável. — Aqui está o acordo. Você quer


falar com sua Zia Teresa?

Eu suspiro. — Sério…

Ele engancha um dedo na minha bochecha e antes que eu possa piscar, o


líquido espirra na minha garganta. Eu tento cuspir, morder, me afastar, mas já foi.
Eu engoli. Doc tira o dedo e enfia o peixe vazio no bolso. — Feito.

Eli ri. — Dissimulado.

— Eficaz. — Os olhos do Doc brilham. — Sem volta, Tesorina.

Minha boca está escorregadia com as consequências adocicadas do que


quer que estivesse no peixe. — O que… o que vai acontecer comigo?

— Essa é a porra da pergunta, não é? — Doc se joga de volta no sofá ao


lado de Bobby. — Não deve demorar.

Eli tamborila os dedos no braço da cadeira. — Estimativa?

— Quinze minutos. Talvez menos. Ela não come há um tempo.

Todos os quatro pares de olhos se voltam para mim. À luz do fogo, eles
parecem deuses decidindo meu destino. Eu provavelmente deveria fazer alguma
coisa, convencê-los a não fazer o que eles estão planejando, mas há um brilho
dourado no meu estômago e está se espalhando pelas minhas veias como mel. Eu

29 Fabricante de balas mastigáveis. O pacote contém os sabores maçã verde, cereja, uva, framboesa azul e
melancia.
me sinto bem. Eu me sinto muito, muito bem. E embora seja impossível, tenho
quase certeza de que já me senti assim antes.
Elliot Morelli

January continua se reorganizando. Ela cruza e descruza as pernas como


se tentasse se dobrar no menor pedaço possível. Seus mamilos são como balas
duras sob seu sutiã transparente, e ela continua jogando o cabelo e arqueando as
costas. Doc colocou um hardbass russo, e você pode dizer que ela está tentando
não se contorcer com a batida.

Ela é adorável. Quando a Orchard a atingir totalmente, ela não será capaz
de manter as mãos longe de sua vagina virgem. Ou ela vai subir no meu rosto e me
implorar para deslizar minha língua dentro dela. Estou me sentindo generoso o
suficiente para que provavelmente o farei.

— Mmm. — January se vira de lado, esticando suas longas pernas e


todos nós vislumbramos o tecido rosa que cobre sua boceta.

Bobby suprime um gemido. — Quanto tempo?

— Cala a porra da boca, — Doc murmura, sua voz áspera como se ele já
estivesse dentro dela.
Essa garota o superou. Esse homem que nunca coloca o pau na mesma
stripper duas vezes, passou a última semana ignorando suas responsabilidades para
ficar bêbado na frente dos monitores de segurança e assistir January cantar. Só
prova que fiz a escolha certa ao mandá-la para Nápoles. Aconteça o que acontecer,
não vou alimentar arrependimentos.

A sala ainda está pesada com o cheiro de maçãs verdes açucaradas. Doc
não sabe o que faz Orchard cheirar assim. Esse é o problema com os savants 30, eles
não podem fazer o trabalho. Não que qualquer outra pessoa também possa.
Dezessete anos e Deus sabe quanto dinheiro investi em pesquisa e não estamos
mais perto de respostas.

January dá um gemido suave. Suas pupilas dilataram.

— Foda-se sim, — Doc murmura. — Aqui vamos nós.

Todos nós nos sentamos mais retos.

— O que está acontecendo comigo? — ela choraminga.

— Qual é a sensação? — Eu pergunto.

— Como… fogo rosa está correndo através de mim. — Ela arrasta as


mãos pelos braços e estremece. — Como eletricidade.

Eu sorrio. Esta pequena virgem recatada vai se espalhar e nós vamos


saquear seu corpo como a boneca perfeita que ela é. Eu me viro para verificar se a
luz da câmera está piscando. Mesmo que não enviemos isso para Parker, quero
uma cópia.

30 Distúrbio psíquico que faz com que algumas pessoas tenham habilidades extraordinárias em áreas
específicas, em particular concretas e peculiares, conhecidas também como “ilhas de genialidade” e “
prodígios” mas, ao mesmo tempo, mostrem limitações associadas a um déficit cognitivo/intelectual.
— Domenico… — O jeito que ela ronrona seu nome faz meu pau doer.
— O que é Orchard?

Doc olha para mim. — Devo contar a ela?

Eu assisto January balançando para frente e para trás como se ela


estivesse montando um pônei invisível. — Não vejo por que não.

— Orchard é algo que inventei enquanto misturava pílulas.

O rosto bonito de January é curioso.

Doc dá uma risada cacarejante. — Aqui você está pensando que eu era
algum tipo de farmacêutico. Eu traficava drogas, Tesorina.

Sua boca se abre e Adriano bufa. Ela lhe dá um único olhar antes de
voltar seu olhar para Doc. — Oh…

— Me julgando? — Ele exige.

— Não.

— Mentirosa. Desculpe, eu não saí do saco de algum milionário e tive


que fazer meu próprio caminho no mundo.

January não parece estar ouvindo, apenas mordiscando o lábio inferior.

O rosto de Doc suaviza. — Você quer saber o que está acontecendo em


seu corpo, Tesorina?

Ela solta o lábio, tentando se concentrar em seu rosto. — Sim?

— Seu sangue está afinando. Seu coração está acelerado e sua boceta
está pulsando como uma luz estroboscópica. Você está pensando em quão vazia
você está. Sobre como seria bom ter algo grosso empurrando dentro de você. Em
breve você não será capaz de parar de pensar nisso. Você vai se sentir tão vazia
que vai gritar.

Eu me ajusto através das calças do meu terno.

— Não, — sussurra January. — Eu não vou.

— Não depende de você, Tesorina. É isso que a Orchard faz. Muito em


breve você vai rastejar sobre o vidro quebrado para provar meu pau.

Eu rio enquanto ela pressiona seu rosto em suas mãos. — Não se


preocupe, Bella. Não precisa ser Domenico. Você pode vir aqui para mim.
Nenhum vidro quebrado envolvido.

Doc me lança um olhar desagradável. — Foda-se, Morelli.

As mãos de January caem de seu rosto e ela levemente roça as palmas


das mãos sobre os mamilos. — Sr. Morelli?

— Sim, Bella?

A cor inunda suas bochechas e ela aperta os seios através do sutiã. —


Eu... eu me sinto estranha.

— Venha sentar no meu colo e falar comigo sobre isso.

— Foda-se… — rosna Doc. — Pare de falar com ela.

Eu levanto meu copo para os outros. — Bom lidar com vocês,


cavalheiros. Espero o dinheiro na mesa de jantar no café da manhã.

— A aposta não acabou, — diz Bobby.

— Aposta? — January olha de mim para ele. — Que aposta?

Eu sorrio. — Trinta mil para quem foder você primeiro. Agora, venha
aqui e faça isso comigo.
O olhar de January está em Bobby. — Você não está…?

— Você acha que eu não estaria? — Bobby pergunta com uma voz dura.
— Ou você está esperando?

Ela parece desapontada, a verdade afundando. Mesmo seu professor de


matemática não é mais seu salvador.

Doc gargalha. — É divertido quando Basher para de fingir que é legal.

Bobby o ignora e reabastece seu uísque. Ele está bebendo sem parar
desde o jantar e pelo jeito que ele está olhando para ela, ainda massageando
distraidamente seus seios, ele vai fodê-la nove vezes antes de se satisfazer.

— Vocês estão todos aqui… — A voz de January é um gemido rouco.


— Vocês não podem estar todos aqui.

Doc sorri. — De que outra forma vamos saber com quem você quer
foder primeiro?

— Mas se vocês estão todos aqui…?

— É uma coisa boa, — digo a ela. — Uma vez que eu tenha deflorado
você, você ainda estará com fome. Então meus irmãos vão intervir e ajudar.

January percebe que está se tocando e prende as mãos ao lado do corpo.


— Por favor, não me faça fazer isso.

— Eu não vou fazer você fazer nada, Bella. Você será insaciável. Quatro
homens podem não ser suficientes.

— Não… — Sua voz é um gemido ofegante. Ela soa como se já tivesse


uma língua entre as pernas.

Meu pau está duro como um espinho. Quanto tempo mais vai demorar
até que eu possa levá-la?
Doc coloca sua bebida no tapete. — Seus mamilos doem, Tesorina?
Você quer que eu os chupe de novo?

A saudade atravessa o rosto de January como o sol através de uma


nuvem.

Doc sorri, o sorriso duro e intenso que partiu o coração de uma centena
de colegiais. — Venha aqui, baby. Eu vou fazer tudo melhorar.

Ela se mexe nos calcanhares e por um momento eu congelo, certa de que


ela está prestes a ir até ele. Mas então ela balança a cabeça de um lado para o outro.
— Não. Eu não posso… Não na minha primeira vez. Não com… todos vocês.

Ela não está negando que vai acontecer. Ela já deve sentir isso. Já sei que
é tarde demais. Quando eu esfreguei meu sapato contra sua boceta, ela queria ser
fodida ali mesmo. Mas ela foi criada como uma boa menina e é difícil para ela
admitir que quer sexo, mesmo para si mesma. Agora sua primeira vez será com
quatro homens, e ela vai adorar cada segundo, mesmo que se odeie depois. Mas
então se ela queria estar com um homem, ela deveria ter me escolhido.

— Sim, com todos nós, — eu digo. — Mas não se preocupe, Bella.


Quando a despachamos para Nápoles, direi ao meu primo que é pura como a neve.
Seu futuro marido vai…

Doc me lança um olhar furioso. — Cala a boca, Morelli.

Ele tem um ponto. Por que sobrecarregar sua mente bonita e super
estimulada? Eu sorrio para January. — Concentre-se em como você se sente.
Abrace isso.

Ela fecha os olhos, seus lábios carnudos se separando em uma súplica


silenciosa.
Eu olho entre suas pernas. Uma mancha escura está se espalhando pelo
material. Eu só posso imaginar o quão macia e inchada é a boceta dela. Tomei
Orchard, mas o efeito sobre os homens é um leve zumbido do que faz com as
mulheres. Uma coisa cromossômica, Doc pensa, mas isso é outro palpite.

— Oh meu deeeus, — January choraminga, as palmas das mãos subindo


e descendo pelas coxas.

Ela é tão linda, contorcendo-se dourada à luz do fogo. Um milhão de


fotografias perfeitas em movimento. Mas ainda assim ela não vem para nenhum de
nós.

Doc rola a cabeça para trás ao longo do sofá. — Porra, isso está levando
uma eternidade.

Limpo a garganta para ter certeza de que não pareço uma idiota ofegante.
— Ela é mais forte do que eu imaginava.

— Nós deveríamos ter apostado em quanto tempo ela vai demorar para
quebrar.

— Ainda há tempo. — Eu verifico meu relógio. — Mil dizem que ela


não dura mais cinco minutos.

Doc pega sua vodka e termina. — Oito. Ela não tem mais nada no
tanque. E você, Basher?

— Seis.

Eu sorrio. — Sempre dividindo a diferença. Rossi?

O rosto de Adriano está meio escondido na sombra. — Vinte minutos.

Doc bufa. — Vinte? Você bateu a cabeça e esqueceu com a Orchard


funciona?
— Ela vai lutar com tudo que ela tem. E ela tem muito.

Eu rio. Doc sendo mole com uma garota é uma coisa. Mas Adriano? —
Isso quase soa como um elogio. Você está mudando de ideia sobre a garota?

Um grunhido. — Vinte minutos.

— É o seu dinheiro. Então, está combinado, cinco minutos, seis, oito e


vinte. O melhor homem pode ganhar.

— Você não vai ganhar. — Os olhos de January ainda estão fechados.


Ela mudou para uma posição de ioga de pernas cruzadas, as mãos apoiadas nos
joelhos com meia.

— O que foi isso, Bella?

— Você não vai ganhar. Nenhum de vocês. — Sua voz é mais forte pela
segunda vez.

Doc ri. — Tesorina, você não está ouvindo? Você não vai resistir.
Ninguém pode. Você vai ser usada como uma prostituta imunda.

Seus olhos se abrem, frios e claros como um lago na floresta. — Eu não


vou.

Eu a estudo. Ela encontrou alguma resistência dentro de si mesma. Foda-


se isso. Ela não pode ir para Gio uma pirralha desafiadora. Se fôssemos apenas nós
dois, eu bateria em seu traseiro em carne viva. Mas não temos permissão para tocá-
la. Vou precisar de outra maneira de discipliná-la.

— Ok, Bella, — eu digo. — Um novo acordo. Se você conseguir resistir


a Orchard e manter sua virgindade, pode deixar sua cela.

Suas boca se separa. — Sério?

— Sério. Você pode subir as escadas e dormir em uma bela ala sozinha.
— Eli… — Adriano avisa.

Eu aceno com a mão para ele. Sua derrota será ainda mais humilhante
dessa maneira. Ficando fodida sabendo que ela vai ter que voltar para sua cela uma
garota com tesão e quebrada. — Você concorda, Srta. Whitehall?

— Sim, — diz January. — Eu posso fazer isso.

— Claro que você pode. — Eu me sirvo mais uísque. — Agora feche os


olhos e tente não pensar em mim dobrando você sobre esta poltrona e fodendo
você como a boa menina que você é.

Suas bochechas queimam e ela fecha os olhos novamente.

— Apenas espere, — Doc murmura. — Oito minutos.

— Cinco, — eu digo.

Mas cinco minutos se passam e January não se move. Mais um minuto e


Bobby perde a aposta. Dois minutos depois, Doc também. Furioso, ele pega uma
garrafa de JB do bar e bebe do gargalo. — Isso não deveria estar acontecendo.

— Talvez a dose…

— A dose transformaria Madre Teresa em uma estrela pornô. Não há


nada de errado com a dose. Tem algo errado com ela.

January senta-se serenamente. Um sorriso está curvando os cantos de sua


boca.

Bobby pressiona a palma da mão na frente de seu jeans. — Eu não


aguento isso.

Eu não digo nada, mas não tenho ideia do que fazer. Doc está certo, isso
não deveria estar acontecendo. Testamos Orchard dezenas de vezes,
principalmente em garotas dos clubes do Doc. Com o consentimento delas, as
trancamos em uma sala de observação. Quando a droga atinge, eles batem no
espelho de duas faces, implorando a quem está olhando para fodê-las. Todas elas
se masturbam, algumas delas corcoveiam nos cantos da mesa, elas estão tão
desesperados por estimulação. Como ela ainda não está em cima de nós? Ou pelo
menos se tocando? Mas enquanto observamos, seus movimentos ficam mais sutis.
Mais silencioso. Ela está respirando ritmicamente, seu cabelo grosso cobrindo seus
seios. Ela parece sobrenatural, ajoelhada pacificamente em sua lingerie como uma
pequena deusa.

— Pelo amor de Deus, isso não faz nenhum sentido. — Doc insulta.

Ela está nos humilhando. Deveríamos estar controlando-a, corrompendo-


a. Lembrando a ela que não há nada que ela possa recusar que não possamos
aceitar. Agora estamos em volta dela, olhando para ela. Quase adorando-a. Essa
garota que se recusou a ser minha amante, a trabalhar para Doc, a se casar com
Bobby ou a implorar a vida de Adriano. Essa garota…

Doc sopra uma respiração difícil. — Se ela demorar muito mais, estou
me masturbando.

— Gozar para ela conta como toque, — eu aviso.

— Fodida fascista.

— Por que não tocamos nela? — Bobby sugere. — Não é um toque


adequado. Apenas, tipo, uma massagem ou…

— Foda-se, — Doc puxa sua camiseta sobre a cabeça. — Ei, Tesorina?


Por aqui.

Espero que ela o ignore, mas seus olhos se arregalam quando ela observa
seu peito nu.
— Sim, você vê isso? — Doc passa a mão pelo abdômen tatuado. —
Todo seu. Venha pegar isto.

— Idiota, — eu murmuro, mas a língua de January aparece, molhando


seus lábios inchados.

— Sim, você gosta disso, Tits? Você quer ser fodida em uma confusão
de gritos?

A expressão de January é torturada. — Pare de me chamar assim!

— Não. — Doc agarra seu pau através de seu jeans. — Vamos lá, você
sabe que você quer.

Seu rosto fica escarlate. Isso vai funcionar? Devo tirar a roupa?

Doc abre o botão de cima de seu jeans e Bobby recua. — Não chegue
perto de mim!

— Ou de mim, — Adriano resmunga.

— Sim, como se vocês, canalhas, ainda não tivessem visto. — Doc abre
o zíper e trabalha na palma da mão. — Gostou, Tesorina?

O olhar de January está fixo, hipnotizado. Ela já viu um pau duro antes?
Ela está imaginando como se sente?

Doc bombeia a si mesmo. — Sim, bonito e grande, não é? Quer vir


sentar nele?

Do outro lado do sofá, Bobby esvazia seu copo. — January?

— Foda-se, — Doc estala, mas ele já perdeu a atenção de January.

Quando ela olha para Bobby, seus olhos verdes suavizam e eu sinto uma
onda de ciúmes. Ela nunca me olhou assim. Nunca chegou perto. Toda a frieza de
Bobby desapareceu. Suas bochechas estão vermelhas quando ele passa a mão pela
boca. — JJ, se você vier aqui, eu vou… eu vou…

— O quê? — Doc zomba. — Você vai gaguejar para ela?

— …vou lamber sua boceta.

O silêncio cumprimenta o final da frase de Bobby até que a risada de


Doc a quebra. — Suave, cara. Muito legal.

O rosto de January fica ainda mais vermelho, mas ela não quebra o
contato visual com Bobby.

Parecendo mortificado, mas determinado, ele se inclina para frente. —


January, eu juro por Deus, você não tem que fazer nada comigo. Eu não vou tirar
sua virgindade. Eu só vou cuidar de você. Te tocar Eu vou usar minhas mãos.
Minha boca.

Seu lábio inferior treme.

— Eu sonhei com você por tanto tempo, JJ. Eu fantasiei sobre o seu
gosto. Isso é tudo que eu quero, te lamber até você gozar.

Eu vejo a ideia de ceder em flash no rosto de January.

— Não dê ouvidos a ele, Tesorina, — Doc chama. — No minuto em que


você deixa esse cara legal idiota perto de você, sua virgindade se foi.

Ela franze a testa.

— Ignore-o, JJ. Ele dirá qualquer coisa que precisar para vencer.

Doc ri. — Eu vou, Tesorina, porque eu sou um idiota egoísta e eu não


minto sobre isso. Mas e Bobby? Ele mente sobre quem ele é. Ele fingiu ser seu
amigo e acabou com seu guarda-costas bem na sua frente, lembra?
January suspira.

— Jesus, — eu assobio. — Isso é necessário?

Bobby se vira para Doc, punho erguido. — Fodido...

— Idiota? Desculpe, Bash. Vale tudo no amor e na guerra.

Bobby abre a boca, mas eu entro primeiro. — Qualquer um que viole a


regra dois está fora.

Doc volta para January e dá um tapinha nas coxas. — Vamos, querida.


Eu vou entrar em você como se sua boceta fosse a única coisa que me mantém
vivo.

Bobby xinga baixinho. — January, Doc matou cerca de um milhão de


pessoas, e eu nunca quis mentir para você. Eu…

— Apenas pare de falar, por favor? — January parece que ela está
prestes a desmaiar.

— Vocês idiotas estão fodendo isso, — eu digo.

Doc olha para mim. — Vamos ver você se sair melhor.

— Ok. — Eu me mexo no meu lugar. — Srta. Whitehall, guardami. —


Olhe para mim.

Os olhos de January encontram os meus.

— Bambina Brava, — eu digo. — Stai andando così bene. — Boa


garotinha. Você está indo tão bem.

Doc ri enquanto ele enfia seu pau de volta em seu jeans. — Quebrando o
italiano, não é? Todos nós podemos fazer isso.
Eu o ignoro. Os olhos verdes de January já estão me seguindo como se
eu estivesse fazendo um truque de mágica.

— Quando você me viu pela primeira vez, você mal conseguia olhar
para mim, Bella. — Eu viro minha manga direita. — Isso foi apropriado. Você é
uma garota tímida e respeitosa e estava noiva de outro homem.

Sua garganta se contrai. Eu vou apertar uma mão ao redor dela enquanto
eu a faço montar em mim. Eu alcanço minha manga esquerda. — Mas não é
inapropriado que você me queira agora. Eu posso beijar você. Te tocar. Olhar bem
nos olhos enquanto deslizo meu pau em sua linda boceta.

Ela solta um pequeno gemido impotente. — Sr. Morelli…

— Sim, Bella, — eu digo baixinho. — Eu sei que dói. Venha a mim e eu


cuidarei de você como a garotinha preciosa que você é.

Ela empurra para frente e Bobby geme. — Como isso está acontecendo?

— Malditos antebraços, — Doc murmura. — Mulheres ,camisas e


antebraços de merda.

Eu continuo arregaçando minha manga, bem devagar. — Vamos, Bella.


Venha para o papai e ele fará tudo melhorar.

Ela põe a mão nervosa no tapete e depois se recosta, o rosto vermelho de


vergonha. Eu seguro seu olhar e deixo ela me beber, sabendo que ela não pode
resistir…

Um apito corta o ar, fazendo todos nós pularmos.

Adriano abaixa os dedos tatuados da boca, feios como um dos demônios


de Goya.

Doc esfrega o peito. — Você me assustou, seu fodido gigante.


Adriano não o reconhece. Ele e January estão se encarando, olhos verdes
em olhos verdes. Ele aponta para o chão a seus pés. — Aqui.

January se encolhe.

Eu me forço a rir, meu coração ainda está acelerado demais. — Boa


tentativa, Rossi.

Adriano bate uma bota no tapete. — Agora.

Uma fração de segundo depois, January se arrasta em direção a ele. Ela


se move lentamente, uma mão após a outra como se um grande peso estivesse
amarrado às suas pernas. Meu estômago afunda.

Doc solta uma risada bêbada selvagem. — Foda-me, fale sobre dark
horse.31

Eu cerro os dentes. Adriano é ganancioso. Se ela o escolher, o resto de


nós vai ficar horas esperando.

— Bella? — Eu incito, mas ela não olha na minha direção.

— Ainda dá tempo de mudar de ideia, — Doc chama, mas ele está


apenas feliz que ela está cedendo. Ele e Adriano se conhecem há muito tempo. Ele
tem a melhor chance de entrar em ação com ele.

January está a centímetros de Adriano. Mesmo desta distância, posso ver


que ela está chorando. Rossi não vai gostar disso. Ele gosta de causar dor, mas não
suporta lágrimas. Sua solução usual é enrolar uma camiseta no rosto da garota e
depois fodê-la por trás. Eu o imagino segurando seus quadris pálidos em suas mãos
tatuadas. Manipulando seu belo corpo com o dele cheio de cicatrizes. Às vezes eu

31 Azarão; uma pessoa que não se espera que tenha sucesso ou que vença inesperadamente uma
competição.
gosto de ver coisas bonitas se quebrarem, mas não sei se vou conseguir deixar
minha amargura de lado e curtir o show.

— January… — A voz de Bobby é baixa, implorando. — January, ele


quer te matar.

Ela congela. Adriano faz barulho como um touro bravo.

Eu mordo uma risada. Sim. Arruine isso, seu bastardo esperto.

— Se não fosse por nós, ele já teria matado você, — Bobby diz tão
baixinho que sua voz é quase inaudível sobre a música. — Ele quis você morta no
momento em que a viu. Não o deixe vencer.

January se recosta, o peito arfando.

— Seu idiota do caralho, — Doc estala. — Estávamos tão perto, porra.

— Vale tudo no amor e na guerra.

— Você vai pagar por isso, Bassilotta, — Adriano diz calmamente.

Eu olho para ele. — Não ameace Bobby na minha frente.

— Foda-se isso. — Adriano se levanta, parecendo tão instável quanto eu.

— Você sai, você não pode voltar, — eu o lembro.

— Não importa. Ela acabou. Ninguém ganha.

January olha para Adriano. — Desculpe, Sr. Rossi.

Ele lhe dá um olhar de ódio absoluto. — Lembre-se do que eu te disse,


Bambi.

Eu franzo a testa. — Bambi?

Adriano vira seus olhos verdes loucos para mim. — O veado morto.
— A mãe de Bambi morre, seu idiota, — Doc murmura, mas seu olhar
ainda está travado em January. — Como você está fazendo isso, Tits?

Ela sorri para ele. — Talvez sua droga não seja muito boa?

Eu quase rio, mas me seguro no último segundo. Bobby não consegue se


conter, ele se dobra, gargalhando. Adriano sai, seu passo pesado até no tapete. Doc
olha rebeldemente para o espaço. Conheço esse clima, mas antes que eu possa
dizer qualquer coisa, Doc anda até a parede próxima e a atravessa com o punho,
poeira de gesso espalhando o tapete. Ele sai da sala batendo a porta atrás de si.

— Idiota, — murmuro, embora esteja aliviado por ele não ter dado um
soco em Bobby ou jogado uma das pinturas no fogo.

— Isso significa que eu ganhei? — A voz de January é baixa, mas firme.

Bobby olha para ela e eu o vejo perceber que nunca conseguirá tocá-la.

— Vá, — eu digo a ele. — Eu vou lidar com a garota. Saia daqui.

— Tem certeza?

— Sim. Vou escoltá-la até a ala leste. Vá.

Ele sai da sala o mais rápido que pode sem correr. Provavelmente para
foder seu punho em algum lugar.

A luta de January com a Orchard a esgotou. Enrolada no tapete, ela


parece menor e ainda mais delicada.

— A competição acabou, — digo a ela. — Você mantém sua virgindade.

Sua boca franze como um pequeno botão de rosa. — Ah... me desculpe,


eu acho.
— Eu também, Bella. Eu nunca fui um bom perdedor. Venha aqui um
segundo. Sente-se comigo.

Ela não se move. Eu reviro os olhos. — Sou um homem de palavra. Eu


não vou tocar em você. Sente-se no sofá de Doc e Bobby, se quiser.

Ela ainda parece nervosa, mas ela faz o que é mandado, enrolando-se em
uma bola no couro. Eu posso sentir o cheiro do céu quente de sua boceta. Eu quero
tirar sua calcinha encharcada, enfiá-la em sua boca, em seguida, enfiar meu pau
dentro dela.

Em vez disso, vou para o bar. Se alguma coisa pede um martini, é esta
noite. Despejo gin na coqueteleira. — Doc é muito orgulhoso para perguntar,
Bella, então eu vou. Como você resistiu a Orchard?

— Hum, acho que balé, talvez. Aprendendo a manter posições


desconfortáveis por muito tempo.

Então, Parker é o culpado por tudo isso. Maldito idiota. Lembro-me da


gravação do vídeo. Vou ter que me certificar de que Bobby exclua a filmagem. Eu
nunca quero reviver essa experiência.

— Sr. Morelli…?

Eu coloco três cubos de gelo na coqueteleira. — Sim?

Suas bochechas queimam vermelhas. — Essa não foi a primeira vez que
me senti assim.

Eu sorrio. — Molhada e com tesão?

— Não. — Ela morde o lábio inferior inchado. — Eu... acho que já


recebi Orchard antes.

— Isso é impossível.
— É verdade. Quando eu tinha quinze anos, eu estava em um baile e
fiquei… doente do mesmo jeito.

Larguei a coqueteleira. Sua expressão é firme, seus olhos claros. Ela não
está mentindo. Meu estômago dá um nó. — Parker. Parker estava lá?

— Eu… sim.

Em dois passos estou ao lado dela, puxando-a para ficar de pé. —


Bobby?

— O quê? — Uma voz tensa chama do fundo do corredor. Ele


provavelmente está no banheiro se masturbando na pia.

— Chame Doc e Adriano e me encontre na ala leste. Nós temos um


problema.
Bobby Bassilotta

Velvet House não é um lugar fácil para se andar bêbado. Bustos de


bronze e vasos estúpidos saltam da escuridão para mim e estou tão cheio de bebida
e tesão e pânico de segunda mão que é como se o lugar estivesse em uma
inclinação. Encontro Doc na cozinha, um cigarro apagado entre os dentes, puxando
um pacote de seis cervejas da geladeira.

— Precisamos ir para a ala leste, — digo a ele.

Ele não se vira. — Não.

— Eli precisa de nós.

As costas de Doc endurecem. Os dois estão sempre brigando um com o


outro, mas Doc sabe que Eli não exagera. Ele bate à porta da geladeira. — Estou
trazendo as cervejas.

— Que seja. Precisamos pegar Adriano.

Doc tira o cigarro da boca e o enfia atrás da orelha. — Ele vai ficar
chateado.
Adriano mora na ala sul. Ninguém está autorizado a chegar perto de seu
andar. Nem mesmo as faxineiras. Doc e eu vamos para lá em silêncio e tento não
pensar em January. Sua boca beijável, seu cabelo brilhante. O jeito que ela olhou
para mim quando eu falei sobre ir atrás dela. Ela ainda me quer 'para salvá-la e
tocá-la.' Esta noite foi um show de merda, mas pelo menos provou isso.

Chegamos à porta de Adriano. — O que você acha que ele tem aí? —
Doc pergunta.

— Cabeças de cabra? Um monte de fotos conectadas com barbante


vermelho?

Doc toca o interfone. — Lurch, dê o fora dessa porra.

— Você tem que chamá-lo assim?

— Foda-se, coroinha.

Adriano abre a porta sem camisa. Eu vi seu peito nu um milhão de vezes,


mas sempre me deixa meio doente. Há cicatrizes de bala e cortes em seus ombros,
tatuagens feias sobre todo o resto. Ele olha de Doc para mim. — O quê?

— Ell precisa de nós na ala leste — digo.

— A menina?

— Sim.

Adriano começa a fechar a porta, mas eu enfio meu pé por ela. — É


importante.

— E se não for, você pode matá-la, — acrescenta Doc. — E Morelli.

Há uma pausa.

— Deixe-me pegar uma camisa.


A ala leste é onde os hóspedes ficam, não que tenhamos muitos deles. É
no quarto andar e uma cadela para chegar. Meu pau estica contra o meu jeans
enquanto nós três fazemos nosso caminho até lá. Não consigo parar de imaginar
January se contorcendo no tapete. Ela estava tão perto de ceder.

— Eu preciso de boceta, — Doc murmura. — Eu não consigo me


concentrar, porra.

Fico quieto, mas sinto o mesmo. Só que o pensamento de estar com


alguém além de January faz meu estômago revirar. Eu só quero ela. Por que diabos
tudo acabou assim?

A porta externa da ala leste está aberta. Vamos para o quarto e


encontramos Eli em uma cadeira de veludo ao lado da cama de dossel. January está
dormindo debaixo das cobertas. Meu coração salta ao vê-la. Ela parece tão
pequena entre todos os travesseiros e cobertores. Eu quero subir ao lado dela e
abraçá-la. Prometer a ela que tudo ficará bem.

Eli nos recebe. — Obrigado por vir.

Doc tira o cigarro de trás da orelha. — É melhor que seja bom.

— Fume isso aqui e eu vou estripar você, — Eli diz levemente.

January dá um gemido suave, virando a cabeça de um lado para o outro.

— Deus, ela é linda, — eu digo, porque estou bêbado, e não posso deixar
de dizer isso.

Ell olha para mim. — Eu não trouxe você aqui para vê-la dormir.

Ele estende a mão sobre a cama, balançando o ombro de January. —


Acorde, Bella. Precisamos falar com você.
Os olhos de January se abrem e ela puxa os lençóis até o nariz. — O que
está acontecendo?

— Não entre em pânico, — Eli diz. — Diga a eles o que você me disse.

January abaixa o cobertor. — Eu… hum, eu já tomei essa droga antes.

— Não, você não tomou, — Doc murmura ao redor de seu cigarro


apagado.

— Mas… hum? — Ela olha para Eli, que levanta a mão.

— Apenas continue.

— Foi em um baile beneficente, — sussurra January. — Fiquei com frio,


depois com calor, e não conseguia parar de pensar em… — Ela se interrompe,
corando escarlate.

— Então, você ficou com tesão, — retruca Doc. — Isso não é a mesma
coisa que ter O.

— Deixe-a falar. — Eli coloca a palma da mão nas cobertas, onde deve
estar a coxa de January. — Termine, Bella.

Pela milionésima vez, gostaria de ser Eli Morelli. Não é um sentimento


novo, ter ciúmes dele. Mas ele poderia se casar com January se quisesse e isso
queima.

— Depois do baile, fiquei doente por dias, — diz ela. — Eu não


conseguia sair da cama, e eu continuei…

— Fodendo-se. — Doc olha para Eli. — Essa merda de colegial excitada


não significa nada.

— Porque você não está ouvindo, — Eli diz irritado. — January, quem
lhe deu uma bebida naquela noite?
— Sr. Parker.

O cigarro cai entre os dentes de Doc. — O quê?

— Sr. Parker, — ela repete. — Ele estava sentado na mesa da minha


família, mas não tenho certeza se ele era o único…

— Cala a boca. Que bebida ele te deu?

— Hum, um mocktail.32 Era azul com calda brilhante.

— Qual era o gosto?

— Doce, mas, hum, engraçado. Achei que talvez ele tivesse pegado um
coquetel normal por engano.

Meus músculos ficam fracos. Ele a drogou. Eu sei do que Parker é


capaz, mas ele deveria deixá-la em paz até se casar com ela.

— Diga a última parte, — Eli ordena. — O que aconteceu depois?

— Comecei a… me sentir como me senti esta noite. — A voz de January


é apenas um sussurro. — Só que foi pior.

— Fale, — Doc late. — Como foi pior?

— Eu não conseguia me concentrar. Minha cabeça estava girando. Eu


disse a Margot que precisava ir embora. Eu estava tentando encontrar um lugar
privado porque… — Ela olha para suas mãos e uma pontada retorcida passa por
mim. Porque ela estava tentando encontrar um lugar para se tocar.

— Sr. Parker me seguiu. Ele disse que conhecia um lugar onde eu


poderia sentar. Ele me levou para uma sala ao lado e me deu um copo de água. Eu

32 Coquetel sem álcool.


me lembro porque ele foi tão cuidadoso para não me tocar e eu… — sua voz falha.
— Eu… queria que ele me tocasse.

Minhas mãos se fecham em punhos. Eu quero matar Parker. Voltar no


tempo e matá-lo quando eu tinha dezessete anos. Todo esse tempo planejando e
rodeando. Enquanto isso, ele roubou nossa droga e usou na garota que eu amo.

— O que aconteceu depois? — Doc pergunta. Sua voz é afiada, mas eu


posso ouvir algo mais rastejando nas bordas. Medo ou talvez apenas suavidade.

— Eu me sentia doente. Eu estava com tanto medo de estragar meu


vestido.

— Quer dizer que você queria vomitar?

Ela balança a cabeça, seus olhos enormes na semi-escuridão.

— Você fez?

— Não, minha mãe nos encontrou e ficou muito brava. Ela e o Sr. Parker
foram para outro lugar, e então ela voltou e me disse que estávamos indo para casa.

— O que aconteceu quando você chegou em casa?

January desvia o olhar, mordendo o lábio inferior.

— Eu não dou a mínima para o quão envergonhada você está, Tesorina.


O que aconteceu depois?

Ela se encolhe e eu empurro o ombro de Doc. — Olhe como você fala


com ela.

Ele se vira para mim, os olhos estreitados. — Ou o quê?

Eu endireito meus ombros. Doc é cruel em uma luta, e não acima de


puxar o cabelo e soco na virilha, mas eu sou maior e ele sabe disso. Adri sempre
foi seu músculo. A questão é se ele interviria se lutássemos agora? Olho para
Adriano, e ele me encara de volta, vazio como uma estátua.

— Basta, — diz Eli. — Vocês dois estão agindo como tolos.

— Basher está agindo como um tolo, — esbraveja Doc. — Diga a ele


para puxar o pau e voltar com a cabeça limpa.

— Vá se foder seu…

— Eu me toquei, — deixa escapar January. — Quando cheguei em casa.

Doc e eu nos voltamos para ela. Ela está corando. — Eu me toquei,


depois vomitei. Fiquei acordada a noite toda fazendo isso.

O canto da boca de Doc se levanta. — Vomitando ou se tocando?

— Ambos. — Ela balança a cabeça como se tentasse desalojar as


memórias. — Zia Teresa queria que eu fosse para o hospital, mas mamãe não
deixou ela me levar. Ela disse que eu estava com intoxicação alimentar. Eu estava
com tanto medo porque o tempo todo elas estavam conversando ao lado da minha
cama, eu não conseguia parar… você sabe. — Seus olhos brilham com lágrimas.
— …Eu estava debaixo das cobertas, e acho que elas não me viram, mas foi
humilhante. Eu não sabia o que estava acontecendo.

Eu tenciono meu braço, pronto para socar Doc por rir, mas pela primeira
vez ele parece tão horrorizado quanto eu.

— Vá em frente, — Eli pede.

January inspira uma respiração trêmula. — Eventualmente eu parei de


ficar doente e… você sabe… mas eu estava exausta. Eu não me senti melhor por
quase uma semana.

— Você vomitou no dia seguinte? — Doc pergunta.


— Não, mas me senti como se estivesse gripada.

— E seu humor? Você estava deprimida? Você teve problemas para


dormir?

Faz muito tempo que não o vejo assim. Profissional. Tire as tatuagens e
o cigarro e ele pode ser um médico fazendo rondas no hospital.

— Hum, apenas cansada, eu acho. — January parece um novo tipo de


nervoso, como se Doc fazer perguntas sensatas fosse mais perturbador do que ele
tirar seu pau. — Você acha que o Sr. Parker me deu Orchard?

Doc olha pela janela escura salpicada de chuva. — Sua mãe conversou
com você sobre o que aconteceu?

— Não.

Há um tremor de partir o coração em sua voz. Eu não aguento porra. —


Sua mãe pode não ter entendido. Ela pode ter realmente pensado que você tinha
intoxicação alimentar ou algo assim.

January me dá um sorriso suave. — Minha madrasta é muito inteligente.


Acho que ela não perde muita coisa.

Não há nada que eu possa dizer sobre isso.

— Obrigado por nos contar o que aconteceu, — Doc diz calmamente. —


Como você se sente agora?

— Hum, bem?

Ela está mentindo. Sua voz está tremendo, e seus olhos estão brilhando
com lágrimas. Mais uma vez, olho para Doc, pronto para repreendê-lo se ele
zombar dela, mas seu rosto está tenso de preocupação. Lembro-me dele olhando
para trás quando tudo começou. Antes de Alessia, antes da Orchard, ele costumava
ter emoções humanas normais. Mas em algum lugar ao longo do caminho, a
máscara de riso se tornou seu rosto.

— Chega. — A voz de Eli é fria. — Fora. Nós precisamos conversar.

— Devo ir com você? — January murmura.

— Não, Bella, seja uma boa menina e durma. Dentro de uma hora, vou
pedir a Gretzky que traga um pouco de comida.

Ela acena com a cabeça, seus olhos já fechando. A vontade de subir na


cama ao lado dela retorna. Eu fico para trás enquanto os outros saem da sala. —
Você está bem? Precisa de alguma coisa?

Suas bochechas ficam rosadas. — Você poderia talvez… ficar comigo


um pouco?

Algo em seus olhos faz meu pau endurecer. Penso na Orchard ainda
nadando em seu sangue, minha oferta de fazê-la gozar sem tirar sua virgindade. —
Eu… o que você…

Ell assobia. — Bobby. Agora.

Eu mordo de volta um suspiro. — Desculpe JJ. Durma bem.

Ela abaixa a cabeça. — Adeus, Bobby.

— Puxa-saco, — Doc diz, assim que eu saio pela porta. Eu olho para ele,
mas o que devo dizer? Que eu não sou completamente estúpido por January
Whitehall? Que eu não quero ser o que ela precisa?

Ell tranca a porta atrás de mim, me dando uma olhada enquanto coloca
as chaves no bolso. — Nem pense nisso.

Espero que ele nos leve para a sala de jantar, mas ele se dirige para a
varanda mais próxima.
— Eu quero um cigarro, — diz Eli. — Você tem seu maço, Domenico?

— Não me chame assim, — Doc murmura, mas ele puxa seu maço de
Marlboro desgastado de seu jeans.

Está muito frio lá fora, a chuva caindo do telhado em um fluxo


constante. Doc entrega um cigarro a Eli e Adriano e depois olha para mim. — Quer
um?

Eu nunca fumo a menos que esteja tão bêbado, não me lembro de ter
feito isso. Eu balanço minha cabeça, o vento gelado chicoteando meu rosto. Deve
estar abaixo de zero, mas Doc está descalço e de camiseta. Ainda assim, eu sei que
não deveria sugerir que ele colocasse sapatos. Doc é o irmão mais velho mal-
humorado que eu nunca pedi.

— O que você acha? — Eli pergunta.

Doc acende o cigarro, um lampejo no escuro. — Ele deu a ela O.

— Como?

— Parker deve ter roubado alguns.

Ell exala uma corrente de fumaça branca. — Ele roubou? Ou ele


replicou?

Doc dá uma tragada forte em seu cigarro. — Ele precisaria de uma


amostra para replicá-lo, então de qualquer forma ele deve ter roubado um pouco.
Mas ele deu a ela alguns dos nossos.

— O que te faz pensar isso? — Eli pergunta.

— Porque ela vomitou várias vezes.

Adriano acende o cigarro, criando uma chuva de faíscas. — Pode ter sido
o álcool.
— Um coquetel que ela mal bebeu? — Doc balança a cabeça. — A
Orchard não é estável. O máximo que guardei uma dose foi de seis meses e quando
dei a Mel 'não, Meg' ela disse que se sentiu mal depois. Ela não vomitou, mas foi a
primeira vez que alguém disse isso. Se Parker está fazendo seu próprio
equipamento, então vomitar é uma novidade. Se ele guardou o que roubou, oxidou.
Meu dinheiro está nisso.

— Estou surpreso que ele não a matou, — Eli diz sombriamente.

Doc acende um segundo cigarro na ponta do primeiro. — Se ela tivesse


bebido o coquetel inteiro, ele provavelmente teria.

Ficamos ali por um longo tempo, nossa respiração e fumaça de cigarro se


misturando com o ar úmido. Imagino a garota enfiada na cama a menos de dois
quartos de distância, morta em uma festa de gala de caridade. Eu quero ir até ela e
dar a ela qualquer coisa, tudo, para fazê-la se sentir melhor.

— Arriscado, — diz Adriano. — Dopar ela na frente de sua família.

— Porco do caralho, — Doc murmura. Lembro-me de vê-lo andar pelo


hospital depois que Alessia foi atacada e meu estômago deu um nó.

— Ele queria que ela fosse embora? — Eli pergunta. — Ele estava
tentando matá-la?

Doc bufa. — De jeito nenhum, porra.

— Então o que…?

— O filho da puta ficou cansado de esperar. Ele tinha um quarto todo


escolhido para levá-la, não tinha? Se a mãe dela não tivesse vindo atrás dela...

Um pensamento horrível me ocorre. — January disse quantos anos ela


tinha quando aconteceu?
— Quinze, — Eli responde.

Estou esperando raiva, e ela está lá, mas principalmente me sinto


miserável. January é mais doce do que qualquer um que eu já conheci. Como tem
sido a vida dela?

— Por que ele jogaria tudo fora assim? — Eli pergunta. — Pagando a
mãe de January por anos, nem mesmo deixando-se segurar na mão dela. Por que
ele desistiria de tudo isso apenas para a dose em uma festa de gala onde há todas as
chances de ele ser pego?

— Porque ele pirou. — Adriano mói a ponta do cigarro debaixo da bota.


— Você sabe como ele é.

Nós sabemos. Melhor que qualquer um. Mas aprendi há muito tempo
que revisitar essas memórias é pedir aos pesadelos que assumam residência
permanente na minha cabeça.

— Porca miseria33, — Eli murmura. — Que bagunça do caralho.

Doc sopra fumaça para o céu. — Você acertou.

— Não podemos mandar January embora. Não até sabermos se Parker


está fazendo Orchard, — Eli diz.

Eu tento não deixar minha expressão mudar. — Você a quer de volta na


cela?

— Não. Ela pode ficar na ala leste. Na verdade, ela pode andar pela casa
por tudo que me importa. Não é como se ela fosse um perigo para ninguém.

Adriano se afasta.

33 Que droga.
— Tudo bem por mim, — diz Doc. — Eu preciso perguntar a ela sobre a
O. Talvez fazer alguns testes

— Você não vai fazer isso, — Eli interrompe. — Parker ainda precisa
lidar com isso. Temos um trabalho a fazer e tempo limitado.

Doc parece rebelde, mas não diz nada.

— Isso vale para todos vocês, — acrescenta Eli. — Fique longe da


garota. Temos peixes maiores para fritar.

Ele segura meu olhar até que eu aceno. — Ok.

— Bom. — Ele se volta para Adriano. — Estou avisando, Rossi. Ela


morre e você está na merda.

Adriano inclina a cabeça.

Eli esfrega a testa. — Eu preciso ligar para Peirce. Ele não mencionou
que Parker tem acesso a uma droga que funciona em mulheres, mas ele não sabia
que essa é a informação que nos interessa. Durma um pouco. Amanhã vamos
trabalhar.

Ele sai, levando a chave da porta de January com ele.

Adriano resmunga e desaparece atrás dele. Sinto uma pontada de pânico


e lembro que, se estou trancado do lado de fora do quarto de January, Rossi
também está.

Doc tira outro cigarro do maço. — Grande noite.

— Sim, — eu digo. Devo seguir Adriano? Certificar-se de que ele não vá


depois atrás de January?

— Outra garota dopada por minha causa.


Há uma batida e percebo que Doc está falando sério. A miséria marca
cada centímetro de seu rosto. Eu agarro seu braço, sua pele está fria como um
cadáver. — Você não é responsável pelo que Parker fez.

Ele não olha para mim. — Ela poderia ter morrido.

Novamente, aquela torção em sua voz, medo e suavidade juntos. Eu


aperto meu agarre no braço de Doc. — Você não estava tentando machucá-la.
Você não poderia saber.

— Isso é o que você disse sobre Alessia.

Faz anos desde que o ouvi dizer o nome dela. Eu aperto mais forte. —
Você não é um homem mau.

Ele bufa. — Então, como acabamos aqui?

Estamos patinando perigosamente perto da coisa sobre a qual nenhum de


nós quer falar.

— As coisas aconteceram do jeito que aconteceram. Você ainda não é


responsável por Parker.

Um sorriso curva a boca de Doc e ele levanta uma mão congelada para a
minha. — Obrigado.

— A qualquer momento. — Eu limpo minha garganta. — Você precisa


colocar uma porra de sapatos.

Doc ri. — É por isso que todas as mulheres amam você, Bobby. Você é
tão sincero.

Eu balanço minha cabeça, mas estou sorrindo. — Vamos dormir um


pouco.
— Espere um momento. — Ele se atrapalha com seu isqueiro,
acendendo seu novo cigarro. — Você quer uma mão? Eu posso usar meus poderes
para o bem e para o mal, sabe?

— Que porra você está falando?

— January. Eu vi o jeito que ela estava olhando para você antes de


Morelli fazer você sair.

Eu reviro os olhos. — Não me enlouqueça só porque você se sente mal.

— Eu nunca agradeci ninguém por nada. A garota está sozinha há dias,


ela provavelmente está morrendo de vontade de ser tocada. E por mais que eu
odeie admitir, você foi o mais próximo dela esta noite. Ela ainda confia em você.

— Ela me odeia por matar seu guarda-costas.

— Ela está confusa e com tesão. Ela quer que você a conforte.

— Mas ela não quer se casar comigo.

Doc engasga com o cigarro. — Porra, Basher. Você não quer muito,
quer?

Eu não consigo reprimir um sorriso. — O que quer que você esteja


pensando, não vai funcionar de qualquer maneira. Eli a trancou.

— Ele fez? — Doc tira o chaveiro de Eli do bolso. — Devemos ir visitá-


la?

Eu hesito. Nós quatro somos próximos, mas sempre houve divisões. Doc
e Adriano de um lado, eu e Elliot do outro. Devo minha lealdade a Eli. Mas ele ia
mandá-la embora e não ia pedir minha opinião sobre isso.

Doc acende o cigarro e se dirige para a porta. — Vamos, Basher.


Eu olho para a chuva. — Ela deveria ir para o primo de Eli.

— Isso é mais tarde. Agora é agora.

E então estou atrás dele, caminhando de volta para a porta de January. O


quarto está quente e já cheira a ela. Eu inalo. Estou tonto e bêbado, mas muito
consciente do meu entorno.

Doc vai até a mesa de cabeceira, acende um abajur. — Ei, Tesorina.

Ela está deitada de costas. Olhar para ela me faz desejar ter escrito
música. Seus olhos verdes se abrem e ela olha de Doc para mim. — Oi…?

Doc se senta em sua cama. — Basher e eu pensamos que você poderia


querer alguma companhia.

— Oh. — Ela coloca uma mão hesitante no braço de Doc. — Você está
congelando.

Ele sorri. — Sim. Podemos compartilhar seus cobertores?

O queixo de January afunda em seu peito, mas ela sorri. — Pode ser.

Meu coração está indo como um trem de carga. Doc está certo. Ela está
com medo e com tesão e ansiando por conforto. Isso pode realmente acontecer.

January se move pela cama, abrindo espaço para Doc.

— Obrigado, baby. — Ele sobe ao lado dela e me chama para frente.

Por um milhão de razões eu quero dizer a ele para parar – Eli, a Orchard,
seus pés sujos.

Em vez disso, vejo o homem mais inteligente e irritante que conheço se


aconchegar na mulher que amo. Minhas mãos frias estão queimando, meu coração
ainda está acelerado demais.
— Bobby? — A voz de January é tímida. — Você…? Você precisa se
aquecer também?

Eu peciso, mas eu não posso me mover. Eu não posso nem falar.

— Ele virá, Tesorina. Apenas dê a ele um momento. — Ele sorri para


ela, brilhante e largo, e ela sorri de volta.

Ela está nervosa, mas você pode dizer que ela está feliz por ele estar lá.
Uma sensação de aperto prende atrás do meu umbigo e puxa com força. Esta não é
a primeira vez, eu, Doc e uma garota. Mas é sempre alguma dançarina em um de
seus clubes. Alguém que sabe o placar e não quer nada além de sexo. Essa é
January e January é tudo.

Doc tira o cabelo dos olhos dela. Ele faz parecer natural. Como se ele
tivesse feito isso um milhão de vezes. — Você ganhou, Tesorina. Você me venceu.

Eu me movo em direção ao pé da cama até que as cobertas roçam meus


joelhos.

— O que você quer dizer? — January pergunta.

— Você me venceu, — Doc repete. — Você resistiu a Orchard e fez de


todos nós tolos.

January sorri. — Desculpe.

— Nunca se desculpe por vencer. — Doc passa o dedo pela bochecha


dela até a nuca. — Você gostaria de uma recompensa por ser uma garota tão boa?

Ela treme tanto que faz seus cachos tremerem. — O que você quer dizer?

Doc se inclina para mais perto do nariz dela. — Você quer ter sua boceta
lambida?
Os olhos de January se arregalam e vejo o mesmo medo e saudade que
está queimando dentro de mim. — Não sei…

O cobertor caiu em seus ombros. Ela ainda está em sua lingerie rosa.
Lentamente, com facilidade, Doc move um braço ao redor dela. — Basher só quer
fazer o que ele disse antes, Tesorina. Ele quer lamber sua boceta virgem até que
você goze. Você não quer deixá-lo?

Ela morde o lábio. — Eu não deveria.

— 'Não deveria' é uma palavra estúpida. — A mão de Doc se move para


baixo, acariciando-a através do sutiã. Os olhos de January rolam de prazer antes
que ela se afaste, olhando para mim com vergonha suficiente para incendiar uma
freira.

— Desculpe, eu não posso fazer isso com vocês dois.

— O que você quer dizer, nós dois? — Doc diz em perplexidade


simulada. — Estou tocando em você e Bobby não está fazendo nada.

— Mas vocês dois não podem estar aqui quando…

— Por que não? — Ele move a palma da mão em seus seios em um lento
ritmo circular. — Você não quer que seu primeiro orgasmo seja especial?

— Não sei. — Ela fecha os olhos, sua respiração difícil. — Mas você
não vai querer que eu... faça algo de volta?

Não, eu acho. Pode ser só para você, January. Claro, pode.

Doc ri baixinho. — Não se preocupe conosco, Tesorina. Somos meninos


grandes. Podemos nos controlar.

Ele belisca seu mamilo e ela engasga. — Então eu acho… eu acho…


mas eu realmente não deveria…
Doc me dá um olhar duro. Se mexa. Agora.

Eu levanto as cobertas do colchão e me abaixo, me sentindo


completamente desconectado do meu corpo. Estou realmente prestes a fazer isso?
E na frente de Doc? Mas os pés de January se curvam acima da minha cabeça, suas
solas lisas e unhas pintadas de cereja. Já posso sentir o cheiro dela, doce como torta
de maçã.

— Você está excitada, Tesorina? — Doc pergunta, em algum lugar


acima de mim.

— Eu não deveria… eu deveria permanecer virgem.

— E você vai.

Eu agarro os tornozelos de January e os afasto. Ela dá um gemido alto e


ofegante. — Bobby…

— Shhh, — a voz de Doc é baixa. — Isso não conta, baby. Somos só nós
três na sua pequena cama, brincando juntos. Ninguém precisa saber. Apenas deixe
Basher fazer você se sentir bem.

Ela diz algo que não consigo ouvir, mas seu cheiro fica mais forte. Eu
deslizo minhas mãos até suas panturrilhas. Sua pele é macia e suave, músculos
longos se contraem sob meus dedos.

— Bobby, você tem certeza?

— Ele está exatamente onde quer estar, — diz Doc. — Por que você não
se deita e me deixa…

Há um som de material se movendo, e January dá um gemido agudo.


Meu pau pulsa contra meu estômago. Ele deve estar chupando seus mamilos, do
jeito que ele fez na cela. Eu o vi fazer isso nos monitores. Me masturbei sobre isso
mais tarde. Não que eu fosse admitir isso.

Deslizo minhas mãos para o topo das coxas de January, passando meus
polegares sobre a tanga rosa transparente que Eli escolheu para ela. Ela está
encharcada, molhada como a chuva lá fora. Minha boca se enche de saliva. Tudo
que eu quero fazer é fazê-la gozar com a minha língua. Com um único dedo, eu
movo a calcinha encharcada para um lado e minha visão turva. Ela é pequena e
rosa e suave e perfeita.

E então suas mãos estão segurando minha cabeça. — Bobby, você não
precisa…

Faço uma pausa, a língua já estendida. Morrerei se tiver que parar, mas
morreria por January de qualquer maneira.

— Tesorina, — Doc canta. — Você é uma garota crescida e ganhou sua


aposta. Se você não quer a boca de Basher em você enquanto eu chupo seus peitos,
você pode dizer não.

— Eu posso dizer não, — ela repete, sua voz grossa com luxúria. Eu
pairo, língua tremendo, rezando para Doc saber o que está fazendo.

— Isso mesmo. — Há um ruído suave de sucção. — Mas você quer


algum alívio, não é, baby? Você está sofrendo por isso a noite toda, toda a sua
vida, você só quer um homem para fazê-la gozar.

— Sim, — ela respira. — Sim… eu quero gozar.

Isso é tudo que preciso. Eu me inclino para frente e dou uma longa e
lenta lambida. Ela engasga e suas coxas se fecham ao redor da minha cabeça, me
prendendo. Meio convencido de que isso é um sonho, eu volto ao trabalho,
lambendo sua boceta do jeito que eu gostaria de beijar seus lábios perfeitos.
— Sua garotinha gananciosa, — Doc murmura. — Você gosta da língua
de Bobby agradável e macia em sua boceta enquanto eu brinco com seus peitos?

January bate forte contra o meu rosto. Os ruídos que ela faz são como
arame farpado passando pelo meu cérebro. Eu pressiono meu pau dolorido contra o
colchão e desejo que seja sua boceta.

A luz me faz olhar para cima. Doc levantou os lençóis, verificando a


ação. Maldito pervertido. Eu sorrio para as dobras de January e volto ao trabalho.
Ela geme e uma onda de suco de menina sedosa inunda minha boca.

Ela está perto, quero dizer ao Doc. Muito perto.

Mas ele já parece saber. A luz desaparece e eu o ouço chupar seus


mamilos novamente. Eu desenho círculos suaves com minha língua e os quadris de
January estremecem. Ela diz algo que não consigo ouvir.

— Eu não posso te beijar, baby, — Doc diz. — Eu tenho fumado.

— Eu não me importo. Por favor, Domenico?

A maneira como ela diz o nome dele… Dói. Dói e sinto-me bem e
fodido. Emaranhado do jeito que sempre é quando sou convencido a trepar com
uma garota com Doc ou Eli, apenas um milhão de vezes pior. Um milhão de vezes
melhor.

Doc ri. — Você quer duas línguas em você, Tesorina?

— Sim, — suspira January.

Eu não posso evitar. Eu bato contra o colchão. Eu esperava ser capaz de


chegar ao meu quarto para me masturbar. Mas foda-se, se isso é o mais próximo
que eu vou chegar de January, eu poderia muito bem gozar enquanto eu a como.
— Beije-me, — sussurra January e eu sei que ela está falando com nós
dois. Eu a lambo devagar e com firmeza e a sinto gozar enquanto ela e Doc se
beijam. O som deles se beijando me atravessa como balas. Eu sempre gostei de
assistir, gostei de trios, mas algo sobre Doc beijar January enquanto ela goza na
minha cara só me faz perder o controle. Eu gemo em sua boceta enquanto o líquido
bombeia para fora de mim.

Eu continuo lambendo até January empurrar minha testa para longe. Eu


quero engatinhar e segurá-la, mas Doc já está deslizando para fora da cama. Saio
dos cobertores do jeito que entrei, piscando à luz dourada do lampião. Eu me sinto
nojento, mas você não pode ver nada. Ninguém tem que saber. Ela olha para mim
corada e tão linda que dói. — Hum, obrigado, Bobby.

Não consigo falar, não consigo nem sorrir. Eu ainda posso sentir suas
pernas em volta de mim, cheirá-la em todos os lugares.

— Basher fará isso quando quiser, Tesorina. — Doc se afasta da cama.


— Nós vamos antes que Gretzky apareça com pãezinhos de pizza para você.

O sorriso de January escurece, então ela inclina a cabeça para o lado. —


As pessoas te chamam de Doc por causa das pílulas?

— Huh?

— Seu apelido. É porque você era um traficante de drogas?

Uma batida e depois um meio sorriso. — Sim.

— Eu pensei assim. — A voz dela é suave. — Eu não sou sempre


estúpida.

Eu me abaixo, encontrando seu pé entre as cobertas, e dou um aperto


suave. — Você nunca é estúpida.
— Bobby… — ela murmura.

Doc pega meus olhos e bate em seu pulso.

Soltei o pé de January. — Tchau JJ.

— Não, — ela diz, toda doce como uma garotinha.

Doc se inclina para frente e lhe dá um beijo rápido na testa. — Durma,


Tesorina. — Ele sacode a cabeça para mim. — Vamos lá.

De volta à minha ala da Velvet House eu me dispo e tomo banho. Coloco


a calça do meu pijama, escovo os dentes. Enquanto faço isso, repito o beijo que
Doc deu em January. Não o alucinante enquanto eu estava descendo sobre ela, o
rápido na cabeça quando saímos.

Esse beijo me preocupa. Eu sei que amo January e Eli a quer, e Adriano
a odeia. Mas há quinze minutos não faço ideia do que meu amigo psicótico,
fumante inveterado e inventor de drogas sente por ela.
January Whitehall

Bobby está entre minhas pernas, me lambendo suavemente. Eu inclino


meus quadris e o prazer lava sobre mim como uma onda. Eu não deveria deixá-lo
fazer isso, mas é tão bom. Seus olhos castanhos encontram os meus, quentes e
gentis. — Toque-me, JJ.

Eu me abaixo e passo meus dedos por seu cabelo e ele se torna longo e
loiro. Doc sorri. — Você vai gozar na minha cara, Tits?

— Não me chame assim!

— Ah, relaxa, pequena Bella. — Eli está sentado em uma cadeira ao meu
lado. Ele se inclina para frente, passando a mão pelos meus seios. — Domenico
está apenas elogiando você. Você tem seios perfeitos.

A língua entre minhas pernas se move mais rápido, esvoaçando sobre


meu clitóris inchado. Eu grito quando meu orgasmo se aproxima.

— Pare! Por favor? Me deixe ir?


Eli prende seu colar de rubi em volta da minha garganta. — Tarde
demais para isso, Pryntsesa.

Olho para baixo e não é Doc me lambendo, é um homem com cabelo


castanho desgrenhado com os lados raspados. Sua boca está quente como vapor e
ele cava em mim, profundo e duro com os dentes. Eu tento gritar, mas nenhum
som sai. Ele olha para mim, olhos verdes brilhando como dois semáforos. — Goze
e eu vou te matar.

Ele abaixa a cabeça e sua língua desliza através de mim. Ele é bom nisso.
Bom demais. Eu vou gozar, mas morrer também. Eu preciso gritar…

— Senhorita?

— Não!

— Srta. Whitehall?

Eu pulo de pé. Não estou onde estava.

Um homem está na minha frente. Um estranho. Ele está usando o mesmo


uniforme cinza do Sr. Gretzky, mas tem cabelos brancos e uma longa barba de
Papai Noel. Ele levanta o pacote em seus braços. — Desculpe por incomodá-la,
senhorita.

Eu puxo os cobertores até meu queixo, meu coração disparado. — Eu...


tudo bem.

O homem idoso sorri. — Eu sou Harvey. Estou aqui para lhe trazer
roupas limpas e levá-la até a sala de jantar para o café da manhã.

Faz tanto tempo desde que alguém falou comigo de uma maneira
normal, estou um pouco surpresa. — Café da manhã?
— É claro. Embora seja quase hora do almoço. — Ele coloca o pacote na
minha cama com um sorriso cheio de dentes. — O banheiro está à sua esquerda, se
você ainda não o viu. Vou esperar lá fora.

Ele sai, fechando a porta atrás de si.

Eu estava muito estressada para prestar atenção no quarto ontem à noite,


mas é bonito. Há molduras de folha em todo o telhado e uma pequena grelha para
uma fogueira. Eu rastejo para fora da cama e ando até a enorme janela. Do lado de
fora há uma fonte branca e o que parece ser uma quadra de tênis. Além disso, há
terrenos verdes ondulantes até onde posso ver.

O banheiro é tão bonito quanto o resto do quarto. Prometendo usar a


banheira de garras mais tarde, ligo o chuveiro o mais quente que posso e entro.
Enquanto passo a bucha pela minha pele, a excitação pulsa através de mim. Era
onde estava a boca de Bobby. Este é o lugar onde as mãos de Doc estavam. Isso
não era um sonho. Deixei um homem cair em cima de mim enquanto outro homem
e eu nos beijamos. — Oh Deus…

Na noite em que nos conhecemos, Eli me disse que minha moral não era
testada. Eu quero dizer que sou uma boa pessoa e sei o que é certo e errado, mas eu
sei? Eu estava animada por ser colocada na frente deles de calcinha e aliviada por
ter uma razão para me sentir atraída por eles. Eu sei que Bobby matou Kurt e Eli
ordenou e Doc teria feito isso alegremente, mas eu ainda deixei eles me tocarem na
noite passada. E eu queria que eles me tocassem mais. Todos eles, mesmo 'meu
estômago se contrai enquanto penso' Adriano.

Balanço a cabeça, mandando água para todos os lados. — Mas eu ainda


sou virgem, — digo a mim mesma. Até eu ouço o vazio na minha voz. Não parece
um grande consolo. O que a mãe diria se soubesse? O que Zia Teresa diria?
Imagino-a sentada na beira da banheira, jogando caça-níqueis em seu
telefone.

— Zia, você acha que eu sou nojenta?

Ela olha para mim, sua expressão suave. — Eu acho que você deveria
sair do chuveiro, Bella.

Faço o que me mandam, me secando e examinando as roupas que


Harvey me trouxe. Calcinha de algodão amarela, vestido azul e sapatilhas.

Como de costume, o vestido que me deram se encaixa perfeitamente,


mas confortavelmente. Eu me olho no espelho de corpo inteiro e suspiro. Não é à
toa que Doc continua me chamando de 'Tits.'

Há uma leve batida na porta. — Você está pronta para ir, senhorita?

Eu coloquei meu melhor sorriso de 'conhecer novas pessoas.' — Eu já


vou sair.

Harvey me leva da minha ala por outro corredor com carpete vermelho.
A casa é ainda mais bonita à luz do dia, mas está suja. Há poeira em todas as
superfícies e teias de aranha nos lindos vitrais. Além deles, posso ver a borda de
uma densa floresta verde. Parece que estamos a quilômetros de distância de
qualquer lugar.

— Desculpe-me, Harvey? — Eu pergunto, tentando soar inocente. —


Onde estamos?

— Albany.

Alívio inunda através de mim. Norte do estado de Nova York. Não


muito longe de casa.

— E que lugar é esse? É tão bonito.


— Não é? A Velvet House agora pertence ao Sr. Morelli, mas foi
construída por Wallace McKenna em 1869. Ele era um financista e governador de
Nova York…

Enquanto descemos por corrimãos de madeira e passamos por quartos


enormes, Harvey continua seu discurso de guia turístico. Ele me conta quando o
conservatório foi construído, a idade de certas pinturas e as pessoas importantes
que se casaram nos jardins. Eu sorrio e aceno com a cabeça, mas minha mente
continua me arrastando de volta para a noite passada. Ajoelhando-me em frente ao
fogo enquanto Doc tirava a camisa; Eli murmurando para mim em italiano…

Vadia, minha mente sussurra. Se eu deixasse eles me pegarem ontem à


noite, provavelmente estaria em um avião para a Itália agora. Eli ainda vai me
mandar embora? O chão parece deslizar debaixo de mim e eu paro, uma mão sobre
os olhos.

— Senhorita? Você está bem?

— Só um pouco tonta. — Eu tento sorrir para Harvey. — É, hum, o Sr.


Morelli ou qualquer um dos outros por aí…?

Sua expressão é um pouco simpática demais. — Sr. Morelli e o Sr.


Bassilotta foram para Nova York e o Sr. Rossi e o Sr. Valente têm negócios em
outro lugar hoje.

— Oh. — Acho que foi a mesma coisa enquanto eu estava na cela e eu


simplesmente não tinha ideia, mas é estranho que eles tenham ido e me deixado
aqui. Como se todos nós cinco devêssemos estar no mesmo espaço.

— Sr. Morelli me disse que você está livre para explorar a casa— diz
Harvey. — Há uma biblioteca e uma academia. Ou você pode visitar a galeria da
família no terceiro andar ou assistir a um filme no cinema. Ou eu ficaria feliz em
levá-la para um passeio pelos jardins?

Minha cabeça gira. Eu só quero ir a algum lugar quieto e me sentar. —


Isso tudo parece realmente adorável, mas eu poderia tomar café da manhã antes de
decidir, por favor?

— É claro.

Continuamos nosso caminho, Harvey falando sobre a história da Velvet


House no máximo de sua voz, e eu me pergunto se ele estava envolvido em se
livrar do corpo de Kurt. Ele parece ser um homem tão bom. Ele é algum tipo de
psicopata? Mas então quem sou eu para julgar? Deixei o assassino de Kurt me
chupar. E eu gozei enquanto ele fazia isso. Eu poderia culpar a Orchard, mas
estaria mentindo.

Sua moral não é testada.

São mais alguns minutos de escadas sinuosas e corredores iguais antes


de entrarmos em uma área com piso de mármore. Harvey abre uma porta de metal.
— Essa é a cozinha.

Eu tenho que morder minha língua para não gritar. É gigantesca, ainda
maior que o refeitório da escola, e está imunda. Cada superfície está coberta de
gordura ou copos e pratos sujos, e cheira a vegetais velhos que foram deixados ao
sol. Se Zia Teresa visse este lugar, ela desmaiaria.

Harvey limpa a garganta. — É um pouco... Faz tempo que não temos


faxineira. Ou um chef. Não vamos ficar aqui. Seu café da manhã é por aqui.

Ele me conduz por outra porta para uma bela sala de jantar que também é
imunda. A mesa enorme está cheia de caixas e papel e recipientes para viagem e
mais pratos sujos. Há tanto lixo que a maioria das cadeiras de veludo também
foram empilhadas.

Harvey aponta para onde um pequeno espaço foi aberto para mim. Uma
caixa de flocos de milho espera pacientemente ao lado de uma garrafa de leite e
uma única tigela e colher. — Aqui está, senhorita.

— Obrigada, Harvey. — Por dentro, estou gritando. Como esses homens


vivem assim? Eu sei que eles são assassinos, mas bagunçar essa linda casa velha é
um tipo diferente de crime.

Eu tomo meu lugar e despejo o cereal. Harvey paira com preocupação de


avô. — Você gostaria de um pouco de café?

— Só se você estiver pegando um pouco para você, — eu digo, e um


pensamento me ocorre. — Sr. Harvey…

— Apenas Harvey.

— Desculpe, Harvey, quantas pessoas trabalham na Velvet House?

Espero que ele fique cauteloso, mas ele continua sorrindo para mim. —
Há uma equipe rotativa de trinta e cinco de nós moramos no local. Gretzky e eu
você já conhece, mas também há Dolmio, Jackie Schnee e meu filho, Sal.

— Seu filho? — Eu digo. — Vocês moram aqui juntos?

— Nós fazemos. Tem sido ótimo para Sal desde seu divórcio. — Harvey
olha para a porta e me dá um grande sorriso. — Você gostaria de conhecê-lo e os
outros?

A ideia de conhecer mais homens é um pouco assustadora, mas a


empolgação de Harvey é fofa. — Isso seria adorável.
Ele sai pela porta pela qual passamos e eu adiciono leite ao meu cereal e
tento não pensar em quão suja minha tigela pode estar. Você pode dizer que esta é
uma casa onde só homens moram. Além da bagunça, está muito frio. Talvez seja
por isso que Adriano esteja de mau humor o tempo todo.

Estou raspando o resto do meu cereal quando alguém bate na porta.


Harvey reaparece com um homem careca e um cara de meia-idade com pálpebras
caídas.

— Dolmio e Schnee, — diz ele. — Sal está cochilando e eu não


consegui que aquele bastardo mal-humorado do Gretzky viesse te ver. Ops.
Desculpas por xingar.

— Isso é completamente normal. — Eu me levanto, estendendo minha


mão para o cara de meia-idade. — Oi, sou January.

— Eu sei, — diz ele, esfregando o nariz. Apertamos as mãos. O toque do


Sr. Schnee é tão mole quanto macarrão molhado.

O cara mais novo, Dolmio, sorri para mim. — Você tem dezoito anos.

— Eu tenho. — Eu estendo minha mão direita. — Quantos anos você


tem?

— Trinta e nove. — Ele estende a mão esquerda e nós dois nos


encaramos. Mas quando eu retiro minha mão direita e estendo minha esquerda, ele
também muda de mão, deixando-nos incapazes de apertar novamente.

— Cristo, — murmura Harvey, empurrando Dolmio para o lado. —


Apenas volte para a sala de segurança, ok?

— Tudo bem, — concorda Dolmio. Ele sai da sala, batendo com o


ombro no batente da porta.
— Desculpe, — Harvey diz para mim. — Ele é um amigo da família e
ainda está em treinamento.

— Está bem. Ele parece legal.

— Hum. De qualquer forma, você decidiu o que gostaria de fazer hoje?

— Eu poderia talvez… ligar para minha irmã?

As sobrancelhas pesadas de Schnee levantam. — Não.

— Ok, bem… — Eu mentalmente examino as opções que Harvey


sugeriu, mas eu não sinto vontade de fazer nenhuma delas. Meu olhar cai em uma
cadeira de veludo cheia de caixas de pizza. — Eu poderia talvez… limpar?

Os homens trocam olhares desconfortáveis.

— Isso é doce de sua parte, senhorita, — Harvey diz lentamente. — Mas


tenho certeza de que não era isso que o Sr. Morelli tinha em mente.

— Eu sei, mas gostaria de me sentir útil. — E se convencer os outros a


serem mais gentis comigo e possivelmente não me matarem ou me mandarem para
a Itália, isso seria um bônus.

Harvey olha para Schnee que dá de ombros, limpando o nariz


novamente. Eu realmente gostaria que não tivéssemos apertado as mãos.

— Eu suponho que não há mal nenhum…? — Ele diz a Harvey.

Eu sorrio para eles. — Incrível! Você tem algum material de limpeza?

Schnee me mostra um pequeno armário cheio de luvas de borracha e


frascos vazando de creme de limpeza.

— Você… quer uma mão? — ele pergunta.

— De jeito nenhum.
— Ótimo, sou alérgico a poeira. — Ele passa a mão pelo nariz
escorrendo. — Ok, bem, há um interfone em cada cômodo. Pressione o meio se
precisar de nós.

— Claro.

Ele está a meio caminho da porta quando se vira. — Se algum dos chefes
perguntar por que você está limpando, certifique-se de dizer a eles que foi ideia
sua.

Eu franzo a testa. — Acho que nenhum deles se importa com o que eu


faço.

Schnee me dá um longo olhar. — Você está errada.

Antes que eu possa perguntar o que ele quer dizer, ele desaparece.

A cozinha é nojenta, mas também está vazia. Não há nada nas prateleiras
ou nas geladeiras industriais, exceto vinho, condimentos e um pacote de seis
refrigerantes de laranja.

Ainda bem que não tenho que jogar nada fora, empilho todos os pratos
da cozinha e da sala de jantar ao lado da pia e encho com água quente e sabão.
Enquanto esfrego, passo pelas minhas escalas, para cima e para baixo e para trás
novamente. Eu gosto de limpeza. Sempre tentei ajudar Zia Teresa em casa, mas ela
não queria parecer preguiçosa na frente da mamãe. E se eu levasse uma caixa vazia
para a lixeira, mamãe iria me repreender.

Aqui eu posso demorar o quanto eu quiser e me concentrar em tirar as


manchas de manteiga de amendoim dos pratos. Quando os pratos estão prontos, eu
limpo as bancadas de aço inoxidável, até que elas brilhem prateadas novamente.
Eu canto Dolly Parton enquanto caminho. Estou tirando o esfregão antigo e o balde
do armário quando Harvey enfia a cabeça pela porta. — Você está com fome,
senhorita? Posso sair correndo e pegar algo para você? Qualquer coisa que você
queira.

Eu limpo o cabelo dos meus olhos com meu bíceps. — Se não for muito
incômodo, você poderia, por favor, ir a uma mercearia para mim?

— Claro, — diz ele, surpreso. — O que você gostaria?

— Eu estava pensando que eu poderia cozinhar o jantar para agradecer


por ser tão gentil comigo.

Um rubor se espalha por suas bochechas. — Isso não é necessário.

— Mas estou limpando a cozinha. Seria uma pena não usá-la.

A expressão de Harvey é de dor. — Sinto muito, Srta. Whitehall, mas o


Sr. Morelli deve voltar esta noite e estou preocupado que ele pense… bem, eu não
sei o que ele vai pensar. Mas eu sei que ele não gostaria que você cozinhasse para
mim.

Lembro-me de como Eli parecia à luz do fogo, arregaçando lentamente


as mangas da camisa. Meus músculos pélvicos se contraem. Se eu pertencesse ao
Sr. Morelli, ele provavelmente não iria querer que eu cozinhasse para outro
homem. Mas eu não. Então por que seria um problema?

Sorrio para Harvey. — Sr. Morelli adoraria que eu cozinhasse para você.
Ele me disse para me tornar útil.

A sobrancelha de Harvey suaviza. — Ele disse?

Ontem à noite Eli me disse para 'ser uma boa menina.' Certamente
cozinhar e limpar é ser uma boa menina? Cruzo os dedos atrás das costas, só por
precaução. — Ele disse. E eu posso fazer comida suficiente para todos. Você e o
Sr. Gretzky e o Sr. Schnee e Dolmio e Sal…
Harvey me dá um sorriso triste. — Faz semanas desde que eu tive uma
refeição caseira…

Eu tento não parecer muito animada. — Maravilhoso. Eu poderia


escrever uma lista de ingredientes para você?

— É claro. O que você vai fazer?

A comida para curar toda a tristeza. A única coisa que eu sinto vontade
de comer sempre que estou para baixo. — Uma velha receita de família.

Harvey me encontra uma caneta e papel e anoto tudo que preciso.


Quando ele sai, eu limpo o chão da cozinha até que eles fiquem limpos. Enquanto
secam, volto para a sala de jantar e coloco todos os recipientes e papéis sujos em
sacos de lixo. Tudo o que parece útil vai para uma grande caixa no canto da sala.
Uma vez que o lixo é limpo, eu lustro a mesa de jantar e os aparadores e empurro
todas as cadeiras de volta no lugar. O tapete ainda está empoeirado, mas todo o
resto parece cem vezes melhor.

Sentindo-me estupidamente orgulhosa de mim mesma, volto para a


cozinha e pego um refrigerante de laranja. Sento-me no balcão limpo e bebo como
se fosse a rainha do mundo.

Toda a minha vida eu estive lá, como um bastão de doces em uma árvore
de Natal. Zia Teresa fazia minhas tarefas. Meus professores e Bobby inventaram
desculpas para meu dever de casa. Eu era boa em canto e balé, mas não ajudei
ninguém com isso, assim como não ajudaria ninguém se estudasse Belas Artes na
Colombia. Ninguém sequer precisava de mim para casar com o Sr. Parker. Mamãe
precisava de dinheiro e o sr. Parker precisava de uma esposa com um sobrenome
importante, mas ninguém precisava de January Whitehall.
No entanto, esta cozinha costumava estar suja e agora está limpa por
minha causa. Pela primeira vez na minha vida, fiz algo útil. Mamãe ficaria furiosa
ao me ver agindo como uma serva, mas o que há de tão ruim em limpar? Todo
mundo gosta quando as coisas estão limpas. Olho em volta para as superfícies
cintilantes. Talvez eu pudesse perguntar a Eli se eu poderia ser sua empregada
doméstica?

Parece loucura, mesmo na minha cabeça, mas eles definitivamente


precisam de alguém e eu gostaria muito mais de ser empregada doméstica do que
ser enviada para a Itália. Além disso, poderia estar mais segura se Eli e os outros
me vissem como uma serva. Eu não quero ser sua sugar baby ou esposa, sua
strippers ou vítima de assassinato. Eu quero ser muito sem importância para propor
ou matar. Eu quero derreter nas paredes desta linda casa do jeito que Zia Teresa fez
na minha casa. Como empregada, eu não seria ninguém. E eu poderia ser feliz
sendo ninguém.

— Tarde! — Harvey irrompe na cozinha, braços carregados de


mantimentos. — Tudo parece maravilhoso.

— Obrigada, — eu digo, deslizando para fora do balcão. — Como foi na


loja?

— Demorou um pouco, mas encontrei tudo.

Harvey comprou três vezes mais ingredientes do que eu preciso. Resolvo


fazer tudo de uma vez, assim todo o pessoal pode comer e sobrar. Já encontrei uma
panela grande para a carne, então coloco o frango e a carne bovina para ferver em
água com sal enquanto tiro cuidadosamente a casca da cenoura e da batata.

Eu não deveria saber cozinhar. Mamãe não gostava do meu interesse por
comida mais do que gostava que eu cantasse, mas sempre que ela saía, eu ficava
com Zia Teresa na cozinha. Zia podia fazer qualquer cozinha sob o sol, mas
quando éramos só nós duas, só cozinhávamos italiano. As refeições com as quais
ela cresceu e amou. Zia me mostrou como cortar espaguete e fettuccini, enrolar
nhoque, dobrar raviólis cheios de salsa e ricota fresca. Fizemos alfredo e carbonara
e canelone, embora a maioria dos pratos não tivesse nomes reais.

— Como você chama isso? — Eu pediria uma sopa grossa de espinafre e


arroz.

— É espinafre com arroz, — Zia dizia.

— Mas o que é isso em italiano?

Ela iria revirar os olhos. — Espinaci e riso.

Enquanto a mãe estava fora fazendo as pálpebras, Zia Teresa concentrou


meus estudos em sobremesas, tiramisu e profiteroles e bolo continental. Quando
mamãe voltou e eu estava de volta a uma dieta de couve e frango grelhado, sonhei
com creme de mascarpone.

Na oitava série eu queria fugir e me tornar uma chef. À medida que


envelhecia, imaginava cozinhar para o Sr. Parker, deixando-o tão feliz com minha
comida que deixaria Zia Teresa morar conosco. Então ela e eu poderíamos ficar na
minha cozinha e conversar e fazer bandejas de lasanha e biscoitos polvilhados com
açúcar. Enquanto tiro a gordura da superfície do meu caldo, espero de todo o
coração que Zia Teresa saiba que estou viva e bem e fazendo brodo.

— Ei, Tits.

Eu estremeço, minha espátula voando da minha mão. Doc se inclina


contra o balcão limpo, sorrindo para mim.

— Doc! Você me assustou.


— Desculpe, — diz ele, olhando ao redor da cozinha impecável. — O
que há com a limpeza? Você está quebrada?

Sua camiseta é azul bebê hoje. A cor deixa seus olhos um milhão de
vezes mais bonitos. Eu limpo minhas mãos no meu vestido. O dia todo tentei não
estragar tudo, mas já estou coberta de sujeira e meu cabelo está uma bagunça.

Isso não importa, eu me lembro. Você quer ser uma serva.

Doc cruza os braços tatuados sobre o peito. — Existe uma razão para
você estar bancando a dona de casa?

— Só senti vontade de fazer alguma coisa.

— Não sei se alguém te contou, riquinha, mas temos uma academia.


Temos uma piscina. Você não precisa fazer o cosplay da Sra. Hughes.34

Não sei quem é, mas posso dizer que Doc está tirando sarro de mim. Que
mesmo depois de ontem à noite, ele ainda me odeia. — Eu não posso deixar de ser
uma Whitehall mais do que você pode deixar de ser de onde você é. E eu não estou
tentando puxar o saco de vocês, eu só gosto de limpeza.

Doc se arrasta até o balcão. — É justo, Ttts. — Ele me olha de cima a


baixo. — Sabe, se você quer ser nossa empregada, eu posso te dar um uniforme.

Eu sei que ele quer dizer um avental de babados e salto alto. Roupas de
stripper. — Não, obrigada. — Pego minha faca de legumes e volto para minhas
cenouras. — Como foi seu dia?

— Por quê?

Deus, qual é o problema dele? — Só estou tentando falar com você.

34 Governanta da série Downton Abbey.


— Oh sim? — Ele se aproxima de mim. — Que tal conversarmos sobre
o que eu e Bobby fizemos com você ontem à noite?

Eu raspo um pedacinho de casca de uma cenoura, me recusando a olhar


para ele.

— Você suspira, você sabe, — diz ele em tom de conversa. — Sempre


que alguém te beija. No começo, eu pensei que você estava fingindo, mas você está
com tanto tesão, não é?

Eu o ignoro, descascando outra tira de casca da minha cenoura.

Ele se aproxima novamente. — Lembra, Tesorina? Lembra como eu te


beijei?

Muito bem. Sua boca macia e preguiçosa na minha, o gosto de licor e


chuva e cigarros frescos.

— Foi um bom beijo, — diz Doc com um sorriso. — Você não


concorda?

Eu inclino minha cabeça, deixando meu cabelo suado balançar entre nós.
Foi um beijo perfeito, mas isso não torna mais fácil descascar vegetais. Doc
provavelmente já beijou mil garotas. Ele não se importa comigo.

— Vai me ignorar, Tits? Depois daquele bom orgasmo que te dei?

Eu cuidadosamente corto uma batata em metades. Nós dois sabemos que


foi Bobby quem me deu o orgasmo. Ele só quer que eu fale com ele e eu não vou.

Doc balança suas longas pernas contra o balcão. — Você vai ficar e
cozinhar quando a esposa de Morelli se mudar?

Minha boca se abre. — Sr. Morelli é casado?


Doc ri. — O que há de errado, Tits? Com ciúmes do príncipe Elliot já
está conquistado?

Eu deixo cair meu olhar para as batatas, furiosa comigo mesma por falar.

— Não se preocupe. Ele ainda não é casado. Mas ele precisa de bebês
italianos de sangue puro para herdar suas taças de vinho do século XVIII ou
qualquer outra merda. Ele terá uma esposa no verão.

Tento me concentrar em cortar legumes, mas não consigo parar de


imaginar uma deusa italiana com pele dourada e olhos castanhos líquidos. Os rubis
de Eli em volta do pescoço. Meus planos de ser empregada doméstica viraram
fumaça. Não haveria nada mais humilhante do que esperar pelo Sr. e pela Sra.
Morelli.

— O que você está fazendo? — Doc pergunta. — Harvey disse que era
uma 'velha receita de família', mas a julgar pelo que está acontecendo aqui, isso é
besteira. A menos que você esteja fazendo salada de maionese.

Eu não posso deixar de sorrir. — Eu nunca disse que era minha receita
de família.

— Muito inteligente, Tesorina. Outro presente da sua Zia Teresa?

Ele se lembrou do nome dela. Uma pequena emoção boba passa por
mim. — É na verdade. Brodo é o favorito de Zia. E meu.

— Certo. — O olhar de Doc permanece na panela fervendo.

— Sua mãe fazia brodo?


Ele bufa. — Minha mãe era uma drogada, Tits. Macarrão com queijo da
Kraft35 foi a única massa que comi enquanto crescia.

Antes que eu possa pensar no que dizer sobre isso, Bobby entra. — O
que está acontecendo? Por que eu posso sentir o cheiro...

Ele me vê e olha duas vezes. Doc ri. — Aqui está um menino cuja mãe
fez macarrão, Tesorina. Basher é quase tão ruim quanto Morelli. Não vão a
restaurantes italianos porque não tem gosto suficiente de casa.

— Oi, — eu digo, evitando contato visual. — Bem vindo de volta.

— Ei. — Bobby está vestindo um suéter de tricô e parece meu ex-tutor


de matemática. — Você está bem?

Penso em suas bochechas barbudas roçando minhas coxas, os


movimentos suaves de sua língua, a tatuagem de um peixe-espada em seu bíceps
pesado... Olho para a tábua de cortar. Eu sei que as pessoas ficam com as pessoas e
depois falam com elas novamente. Por que não posso?

Doc gargalha no silêncio constrangedor. — Ei, você sabe o que


realmente tem gosto de casa para Basher, Tits?

— Cala a boca, — Bobby resmunga.

Eu consigo sorrir para ele. — Obrigada.

— A qualquer momento.

— Aww reunião de amantes, — Doc murmura, enfiando um cigarro


entre os dentes. Ele puxa um isqueiro do bolso e o fecha para que uma pequena
chama apareça.

Quase tenho um ataque cardíaco. — Você não pode fumar aqui!

35 Macarrão com queijo instantâneo.


Doc levanta as sobrancelhas loiras. — Perdão?

— Acabei de limpar! Você não pode ir lá fora?

Ele faz uma careta, e por um momento eu tenho certeza que ele vai
acender só para me irritar. Mas então o cigarro e o isqueiro desaparecem. — Se eu
me comportar, posso te beijar de novo?

Lembro-me daquelas lambidas lentas e confiantes de sua língua e meu


rosto fica insuportavelmente quente. — Eu… Não. Você pode ter pulmões mais
saudáveis.

Doc revira os olhos e me lembro de Zia Teresa com tanta força que
quase desabei em lágrimas. Talvez seja o destino. Não importa onde eu vá, algum
italiano mal-humorado se recusará a parar de fumar perto de mim. Pego a tábua de
cortar e deslizo os legumes picados na panela.

— Que tal eu te dar outro beijo de qualquer maneira? — diz Doc. — Só


porque você gosta tanto?

Olho por cima do ombro e Doc ri. — Preocupada se Basher vai ficar
com ciúmes? Não. Ele gosta de compartilhar. Lembra da noite passada?

As bochechas de Bobby ficam vermelhas, mas ele não parece zangado.


Minhas entranhas apertam. Não tenho ideia do que quero que aconteça.

Doc desliza para fora do banco e tira a tábua das minhas mãos. — Um
beijo, Tesorina. Isso é tudo.

— Doc…

— Domenico, — ele corrige. — Sempre que fazemos isso, você me


chama pelo meu nome verdadeiro.
Eu desvio o olhar. Não era para ser assim. Eu deveria ser uma serva.
Para desaparecer em segundo plano.

O dedo de Doc levanta meu queixo. — Apenas um beijinho.

Meus olhos se movem para Bobby. Ele está olhando para nós dois com
uma expressão estranha no rosto.

Doc se abaixa e acaricia meu pescoço. — Não seja tímida, baby. Basher
sabe o quanto você gosta de beijar. Ele podia sentir o gosto.

Eu engulo, minha boca seca como torrada. Doc cheira a cigarro e licor,
colônia e suor. Eu sei que deveria me afastar, mas eu fecho meus olhos em vez
disso.

— Um beijo, — diz ele, tão perto que eu gosto de suas palavras. — Um


beijo para mim, depois um beijo para Basher.

— Não, — eu sussurro.

— Sim. Um beijo para nós dois e depois…

— A porra está acontecendo aqui?

Eu pulo como se alguém tivesse disparado uma arma. Doc suspira,


abaixando o dedo do meu queixo. — Otimização perfeita, Morelli.

Eli está na porta de terno escuro e gravata vermelha. Como sempre, sua
beleza angular bate como um tijolo. Coloco meu cabelo atrás da orelha. Eu me
senti desarrumada na frente de Doc e Bobby. Eu me sinto nojenta na frente de Eli.

— Então é aqui que você esteve o dia todo, Domenico? Fazendo a Srta.
Whitehall limpar a cozinha?

Doc bufa. — Tenho lidado com Romanov. A garota limpou sozinha.


Eli lhe dá um olhar cético.

— Acredite em mim. Se fosse minha escolha, ela estaria lá em cima


polindo outra coisa.

Eli olha para mim. — A limpeza foi ideia sua, Bella?

Eu gostaria de ter feito qualquer outra coisa hoje. Ir para a academia.


Andar no terreno. Até ler um livro. — Sim, hum, foi.

— Eu já lhe ofereci uma roupa de empregada, — diz Doc. — Quer


contribuir? Comprar um espanador para ela?

Eli o ignora. Ele caminha até o fogão onde o brodo está começando a
cheirar como o céu. Ele se vira para mim. — Você pode cozinhar?

— Eu, sim?

Ele se aproxima, sapatos brilhantes estalando no chão recém-lavado. —


Você não me disse que sabia cozinhar.

— Eu, hum, não achei que você gostaria de saber?

Ele sacode um polegar atrás dele. — É Pastina di Pollo?

— Não sei. É… minha Zia Teresa chama isso de brodo.

— Tudo bem. — A expressão de Eli é suave. Talvez meu jantar seja tão
inautêntico que ele vá jogar a panela inteira na pia.

— Você não tem que comer, — eu digo rapidamente. — Eu apenas


pensei que Harvey e os outros iriam gostar e eu gosto e eu realmente não estava
tentando… fazer nada…
O olhar de Eli cai no parmesão embrulhado em plástico ao lado do
ralador. Seu rosto escurece. — Cos'è questa merda repugnante? — O que é essa
merda nojenta?

Eu estremeço. — Harvey trouxe.

Eu me sinto mal jogando Harvey debaixo do ônibus, mas é muito menos


provável que ele fique preso em uma cela se o Sr. Morelli odeia queijo parmesão
comprado em loja tanto quanto Zia Teresa.

— Coloque no lixo, — Eli estala. — Harvey pode dirigir até a


delicatessen para comer parmesão.

Ele pega o telefone e digita uma mensagem. Uma mensagem para


Adriano ordenando que ele me estrangulasse por insultar sua herança? O que me
deu para fazer comida italiana na casa de um príncipe italiano? Por que não pedi
um hambúrguer ao Harvey?

Eli enfia o telefone de volta no paletó e me olha. — Você está imunda. E


seu vestido está arruinado.

— Eu sei. Eu sinto muito, mas…

— Sua refeição pode esperar mais uma hora?

Eu pisco. — Hum, claro. Fica melhor quanto mais tempo ferve.

— Bom. Vá se limpar. Vou lhe trazer um vestido novo e vamos comer às


sete.

— Você quer dizer eu e os guardas?

Sua boca se curva para cima. — Quero dizer todos nós. Há coisas que
nós cinco precisamos discutir.
Meu estômago se revira. Cinco significa Adriano. Não sei a opinião dele
sobre comida italiana, mas não quero ofendê-lo. — Talvez você possa comer sem
mim? Ou posso servi-lo e comer na cozinha?

Doc ri. — Viu? Disse que ela quer ser nossa empregada.

Eli levanta uma sobrancelha. — Isso é verdade, Bella? Você quer nos
servir?

É o meu momento de dizer sim. Para dar o primeiro passo para se tornar
um ninguém útil e invisível. Mas quando olho nos olhos âmbar de Eli, penso nos
rubis que ele me ofereceu uma vez. Os que eu veria no pescoço de sua esposa
italiana.

— Hum, não. Na verdade, não. Quer dizer, não assim.

— Entendo.

— Provocadora, — diz Doc. — Eu queria aquele uniforme.

Eli aponta para a porta da cozinha. — Saia agora, Srta. Whitehall. Vá se


embelezar para nós.

A frase ecoa na minha cabeça enquanto ando pelos corredores tentando


encontrar o caminho de volta para o meu quarto. — Vá se embelezar para nós.

Nós, como em todos eles. Isso significa que Eli sabe sobre mim, Doc e
Bobby? Ele não parecia chateado por encontrar Doc prestes a me beijar. Eles já
poderiam ter dito a ele o que tínhamos feito? Isso parece impossível, mas eles
planejavam dormir comigo na frente um do outro na noite passada. Eles apostaram
em quem iria primeiro. A pele na parte de trás do meu pescoço aperta. Isso é uma
coisa que os homens fazem? Compartilhar uma mulher entre eles? Imagino
perguntando a Zia Teresa e tudo que vejo é ela tirando o chinelo e me batendo com
ele. Eu poderia perguntar a Margot ou Penelope, talvez, se elas estivessem aqui, e
todas nós estávamos bebendo.

— Eita!

Eu andei direto em uma parede. Eu olho para cima sorrindo para


encontrar Adriano Rossi olhando para mim. Eu abro minha boca para me
desculpar, mas antes que eu possa falar, sua mão tatuada dispara e se fecha em
volta da minha garganta. Ele me prende contra a parede de painéis.

— Socorro, — eu suspiro.

Ele se inclina, sua barba áspera contra minha bochecha. — Ouvi dizer
que você chegou muito perto de ser fodida na noite passada, garotinha.

Eu quero gritar, mas meu corpo está congelado. Lembro-me do meu


sonho, aqueles olhos verdes elétricos brilhando enquanto sua língua mergulhava
profundamente dentro de mim. — Por favor…

— No segundo em que terminarem com você, você já era.

Ele solta minha garganta e eu caio no tapete empoeirado. Ele passa por
cima de mim e continua andando.

— Sr. Morelli disse que você não tem permissão para me machucar—
sussurro.

Adriano se vira, dente de ouro brilhando. — Acidentes acontecem,


Pryntsesa.

Eu vejo como ele desaparece em uma esquina, cada fibra do meu corpo
zumbindo com medo.
Elliot Morelli

— Sinto muito, Sr. Morelli. — Harvey coloca o queijo parmesão ralado


na hora, pão quente e manteiga com sal na mesa da sala de jantar na minha frente,
seu rosto corado de vergonha.

Eu ofereço um pequeno aceno de cabeça. — Não vai acontecer de novo?

— Claro que não.

— Bom. Leve tudo para a cozinha e depois vá buscar algumas garrafas


de Montalcino.

O velho sai correndo e eu me pergunto se January sabia que ela estava


sendo mantida ao lado de alguns milhões de dólares em vinho. Provavelmente não.
Ela me parece uma garota deliciosamente desatenta. Não é simples, mas focada
apenas nas coisas que lhe interessam. Eu inalo o aroma de sua comida. Se o gosto é
tão bom quanto o cheiro, ela é muito talentosa. Uma linda virgem que fala italiano
e cozinha. Eu realmente vou dar uma garota assim para Gio?

Adriano passa, com o rosto enterrado no telefone.


— Vem jantar? — Eu chamo.

— Eu não estava planejando isso.

— Não é uma sugestão. Precisamos discutir as coisas com a garota.

— Não tenho nada a dizer a ela.

— E nós? Seus irmãos?

Um olhar cruza seu rosto. Cansaço. Ou talvez apenas a velha exaustão.


— Você tem alguma ideia do que está fazendo com essa garota?

— Não seja melodramático. Ela vai sair do nosso caminho em breve.

Seus olhos se estreitam.

Meu temperamento, contido por intermináveis reuniões com associados


paranóicos de Parker, aumenta. — Se você tem algo a dizer, diga.

— Parker desperdiçou milhões mantendo essa boceta em espera. Tem


certeza de que não está fazendo a mesma coisa?

É uma pergunta que me fiz muitas vezes hoje, pois ignorei as ligações de
Gio confirmando o lugar de January em sua casa. Mas eu não vou dizer isso a
Adriano. — Nós a levamos pelos motivos certos.

Ele olha incisivamente para as sacolas brilhantes na cadeira ao meu lado.


— Tem certeza que não é outra coisa?

— Você está questionando meu julgamento?

— Não, — diz ele categoricamente. — Mas você precisa ter cuidado.


Doc e Bobby… — Ele balança a cabeça desgrenhada. — Esqueça.

— O quê?

— Eu disse 'esqueça.'
Confio em Adriano com minha vida, mas é difícil saber onde ele está em
qualquer coisa que não esteja partindo alguém ao meio. Ele não é totalmente
italiano. Um criminoso sem vínculos com o crime organizado. Ele tem poucas
necessidades e nunca gostou de mulheres. Nunca, que eu saiba, teve uma
namorada. Mas sua aversão à January é sem precedentes. É irritante.

— Você estará no jantar, — digo a ele. — Você se vestirá


adequadamente e se comportará como um ser humano e não como um cafone
vicioso.36 Entendido?

Ele não diz nada ao sair da sala, mas eu sei que ele estará lá. Seja como
for, a lealdade de Adriano é absoluta.

Doc e Bobby entram. Doc está vestindo uma camisa. Uma preta que eu
nunca tinha visto antes. Eu gesticulo para ele. — O que é tudo isso?

Doc puxa seu colarinho. — Você disse para se vestir.

Eu quero perguntar: 'Desde quando você se importa com o que eu digo?'


mas seria má liderança questionar alguém que obedece a ordens. Recolho as
sacolas ao meu lado. — Sente-se e tome uma bebida. Eu vou dar os presentes dela
para January.

— O que você deu a ela? — Bobby pergunta.

— Você vai ver.

Doc não pode encontrar meus olhos. Não tenho certeza se é a camisa ou
porque sei o que ele fez com January na noite passada. Ele esperava que Bobby
não me contasse, mas Bobby é meu amigo mais antigo. Ele me conta tudo.

36 Mal-educado.
O que Doc pode não perceber é que não estou bravo por ele ter tocado
em January. Estou chateado com ele por roubar minhas chaves e me minar, mas
seu pequeno pseudo trio me dá esperança.

Ela os deixou tocá-la, o que mostra com um pouco de persuasão que ela
está disposta a ser tocada. E se Adriano estava tentando me avisar que Doc e
Bobby estão apaixonados por ela, isso não é novidade. Eu também. Seja como for
esta noite, ainda vou dizer a Gio que ela é virgem.

Eu destranco a porta do quarto de January, mas ela não está em lugar


nenhum. — Srta. Whitehall?

Um pequeno rangido do banheiro. — Sr. Morelli?

— Saia. Trouxe algumas coisas para você.

Ela emerge em uma toalha, gotas de água ainda grudadas em sua pele.
Ela parece tão bonita quanto um pôr do sol sobre o Mediterrâneo. Eu quero reclinar
com um copo do melhor uísque do mundo e apenas observá-la.

— Sr. Morelli…? — ela repete, bochechas agora escarlates. — O que


você queria me dar?

Eu mantenho meu rosto severo. Ela não tem ideia de quão atraente ela é,
mas é melhor assim. Melhor ela não formar maus hábitos. Eu estendo a maior
sacola para ela. — Para você usar no jantar.

— Oh. — Ela cruza um braço sobre a toalha e pega as alças de corda. —


Você não precisava… embora eu ache que sim porque eu não tinha mais nada para
vestir. Mas obrigada.

Ela se senta na cama e abre a sacola. O vestido surge em uma onda de


seda creme. January olha para mim. — É branco…
— E você ainda é virgem, Bella. Vá ao banheiro e se troque.

Ela hesita. — É um vestido lindo, mas ainda preciso cozinhar a pastina


para o brodo.

— Gretzky pode fazer isso.

O aperto entre suas sobrancelhas me faz sorrir. — O homem pode


cozinhar pastina, Bella. É mais importante que você esteja linda para nós. Agora vá
colocar meu vestido.

Quando ela surge alguns minutos depois, tenho que cerrar a mandíbula
para não sorrir. Ela é requintada. O vestido é sem costas com uma fenda profunda
na lateral, e faz sua pele pálida brilhar como o luar. Você pode ver as linhas de seu
abdômen, as protuberâncias de seus seios e a sombra entre as pernas.

Ela se vira conscientemente. — Você não gosta?

— É assim que uma mulher com a sua silhueta deve se vestir. Agora os
sapatos.

January volta para a cama, e eu passo para ela a segunda maior sacola.
Ela pega a caixa listrada em preto e branco e seus olhos se arregalam. —
Aquazzura?

— Certamente, você já os teve antes?

— Não. Eu não tinha permissão para usar salto alto porque... — Ela fica
vermelha brilhante, e eu entendo. Ela é alta para uma mulher. De salto alto, ela se
sobressairia a Parker.

— Você não precisa mais se preocupar com isso, Bella.

— Eu sei. Quero dizer, obrigada.


Ela abre a caixa, revelando os brilhantes saltos de ouro rosa. — Eles são
lindos.

Eu observo enquanto ela desliza os sapatos nos dedos dos pés. Eu não
costumo ligar para pés, mas os dela são lindos, pequenos e brancos com pequenas
unhas cor de rosa.

Estendo a pequena bolsa da Bergdorf's. — Maquiagem. Vou deixar você


aplicar, mas gostaria que você usasse batom vermelho.

— Você escolheu maquiagem para mim?

— Eu descrevi sua coloração para um assistente. Eu quero que você seja


sutil. Não que domine seu rosto.

— Sim, Sr. Morelli.

Eu gosto do jeito que ela fala, rouca e doce, do jeito que uma mulher
deve ser. — Resta uma coisa, — digo a ela.

Seus olhos verdes brilham para mim. — Sim, Sr. Morelli?

Eu puxo o colar de rubi do meu bolso, as pedras brilhando na luz do


quarto.

Ela se afasta de mim.

— Você não precisa entrar em pânico. Nenhuma promessa será feita


porque você usa este colar. Eu só quero vê-lo contra a sua pele.

Ela volta ainda mais para a cama. — Eu não acho… eu só…

Meu bom humor desaparece. Apesar de toda a sua beleza e gratidão, ela
está agindo como uma criança. Enfio o colar no bolso. — Tudo bem. Coloque sua
maquiagem e desça.
Ela está desapontada. — Sr. Morelli…?

— Não me deixe esperando.

Encontro meus homens sentados ao redor da mesa de jantar recém-


limpa, todos bem arrumados e bebendo vinho. É assim que a Velvet House deve
ser.

Sento-me à cabeceira da mesa e levanto a taça de Montalcino que foi


servido para mim. — Salut.

— Eu estava apenas dizendo que Parker está agindo de forma estranha,


— Bobby me diz. — Trancando-se em seu escritório com seu contador-chefe.

— Você estava esperando que ele fizesse outra coisa? — Eu pergunto.

— Estava esperando ameaças. Ele esperando seu tempo me preocupa.

Doc joga um pedaço de pão na boca. — Deixe-o sentar e ficar de mau


humor. Dá-nos mais tempo para investigar esta treta da Orchard. Encontrei uma
ex-namorada dele em Mônaco. Estou tentando entrar em contato e perguntar se ela
já ficou extremamente excitada na presença de Parker.

— Boa ideia, — eu digo. — Se tivermos confirmação, podemos...

Todos se voltam para a porta. Bobby fica vermelho. A mandíbula de Doc


trava. Até Adriano olha. É January Whitehall, em tempo recorde e ela parece
deliciosa pra caralho. Eu me levanto e os outros três me seguem.

Ela levanta as mãos e as deixa flutuar de volta para os lados. — Oi


pessoal…

— Você parece uma estrela de cinema, — Bobby deixa escapar, então


parece mortificado. Espero que Doc tire sarro dele, mas ele parece incapaz de falar.
Eu me movo em direção a ela e estendo a mão. Quando ela o pega,
faíscas correm pelo meu braço. Eu a levo para o assento à minha esquerda.

— Que vestido bonito, Tesorina, — Doc diz maliciosamente. — Morelli


comprou para você?

— Sim.

Doc levanta seu copo para mim. — Boa escolha.

Eu mordo um sorriso enquanto encho a taça de vinho de January do


decantador.

Ela leva a mão aos lábios vermelho-sangue. — Eu provavelmente não


deveria beber.

— Você não deve ser rude também, Bella, — eu digo, passando-lhe o


vinho. — Eu sou seu anfitrião.

Ela levanta a taça com as duas mãos e bebe, um pequeno arrepio


passando por ela.

— Você gosta disso?

— Sim, — diz ela com um sorriso pouco convincente.

— Minhas irmãs receberam um pouco de vinho em sua limonada quando


crianças, — digo a ela. — Você prefere isso?

Ela toma um gole muito maior. — Você não tem limonada. Só


refrigerante de laranja.

Bobby ri e ela parece satisfeita.

Gretzky e Schnee servem a comida. Eles não gostam de ser tratados


como garçons, mas sabem que não devem reclamar. Eu mergulho minha colher no
caldo e tem gosto de casa. Azeite e sal, queijo e massas. Eu como alguns bocados e
olho para cima para ver January olhando para mim. Ela não tocou na comida. Ela
parece ainda mais desconfortável do que quando Adriano fodeu sua boca com uma
arma. Eu sorrio para ela. — Está bom, Bella.

Bobby acena com a cabeça e até Doc sorri. — Você nunca terá
permissão para sair agora, Tits.

January cora e pega a colher.

Nós poderíamos mantê-la. Seria arriscado deixá-la ficar onde Parker


poderia encontrá-la tão facilmente, mas o que é risco para homens como nós? E
pode levar tempo para fazê-la confiar em nós, mas o tempo não é um objeto.
Enquanto esperamos que suas tendências mais pudicas sejam quebradas, podemos
comer juntos assim. A mesa posta com boa comida e vinho. Poderíamos rir e
relaxar, recuperar algo que foi perdido para nós há muito tempo.

Doc pergunta a Bobby sobre a cerâmica tcheca que ele acabou de


comprar para um colecionador particular em Hudson.

January se anima quando menciona vidro soprado. — Acho que vi algo


assim no The Met37 ano passado. — Ela diz isso com uma pressa nervosa, como se
esperasse que a puníssemos.

Doc sorri. — A única vez que fui ao Met foi para vender maconha.

Os olhos de January se arregalam. — Sério?

— Sim, ele era um filho de médico que queria se encontrar na seção


européia de escultura e artes decorativas…

37 Museu Metropolitano de Arte da cidade de Nova York.


January ouve com muita atenção enquanto Doc conta a história. Bobby
intervém, corrigindo os erros de Doc e esvaziando suas proclamações egoístas. Eu
assisto todos os três com um sorriso. Meus irmãos estão felizes. Mesmo Rossi não
parece tão miserável. Isso me lembra de estar de volta à casa do meu Nonno,
cercado por seus amigos e primos e suas esposas, todos bebendo vinho e contando
histórias.

Gretzky volta com o prato de carne e é tão bom quanto qualquer coisa
que minha nonna já serviu. Tenho que lutar para não elogiar January. Tal como
acontece com a sua beleza, a minha apreciação pela sua cozinha tem de ser
temperada ou vai arruiná-la.

Percebo que sua taça de vinho está quase vazia. Para alguém que não
queria nada, ela está passando por isso rápido. Há um brilho em seus olhos e seus
movimentos são mais lânguidos. Eu encho a taça dela.

Terminamos nosso segundo prato e o clima fica ainda mais leve.


Enquanto January, Doc e Bobby riem e flertam, considero para onde devemos
levá-la depois disso. Poderíamos voltar para a sala de estar, mas meu quarto tem
espelhos de corpo inteiro e frigobar 'e quero ver tudo.'

Bobby aponta para sua tigela vazia. — Isto estava perfeito, JJ.

— Obrigada, — diz ela. — A pastina estava um pouco exagerada.

Eu não posso deixar de rir. — Tem certeza que você não é italiana,
Bella?

January fica rosa, mas eu sei que ela gosta da pergunta. — Acho que
estou acostumada com minha Zia Teresa me dando feedback.

— Uma empregada corrigindo seu comportamento? Você ficou com


raiva dela?
Ela parece chocada. — Claro que não. Você não pode melhorar sem
correção.

Eu a estudo sobre minha taça de vinho. É uma coisa rara, uma mulher
que pode receber críticas sem levar para o lado pessoal. Penso em minha promessa
de mandá-la para Gio. Deixar outros porcos possuírem essa joia de menina.

— Onde está Gretzky? — Doc exige. — Quero sobremesa.

January respira. — Oh, me desculpe. Eu não fiz nada.

— Eu sei que você não fez, — digo a ela. — Eu fiz Harvey pegar alguns
cannoli.

Ela dá um sorriso tímido. — Isso soa maravilhoso. Eu amo cannoli.

— Bom, — diz Doc. — Eu vou alimentá-la no meu colo.

January mal tem tempo para reagir. Há uma batida forte na porta e
Schnee entra na sala. — Desculpa por interromper. Temos um problema.

— O quê? — Eu digo. A atmosfera calorosa e parecida com um encontro


desaparece imediatamente.

— Uma equipe apareceu no armazém do rio norte. Parece que eles estão
tentando incendiar o lugar.

— Merda, — Doc sibila. — Quantos?

— Duas dúzias. Totalmente armado, até onde sabemos.

Doc se levanta, pressionando um guardanapo na boca. — Lá se vai a


falta de ameaças. Basher?

Bobby já está de pé. — Nós vamos pegar o helicóptero, — ele diz a


Schnee. — Diga a Piscopo que estaremos aí em vinte minutos.
Adriano esvazia sua taça de vinho. — Malditos idiotas.

— Vá, — eu digo. — Entre em contato comigo assim que tiver


novidades.

— Espere, aonde vocês estão indo? — January pergunta.

Doc caminha para o lado dela da mesa e a beija na bochecha. — Você


tem sorte, Tits. Você pode manter sua virgindade por mais uma noite.

Ele aponta para mim, e eu aceno pelas costas de January. Sou um monte
de coisas, mas não sou cruel. Eu não vou fodê-la sem Doc assistindo.

— Obrigado pelo jantar, JJ, — diz Bobby.

January esconde seu sorriso atrás de sua mão. — A qualquer momento.

Ambas as bochechas estão vermelhas.

— Awww, — Doc diz. — Isso não é fofo?

— Muito, — eu concordo.

— Porra, apresse-se, — Adriano grita.

Eu não vou com eles. Eu quero, mas é uma má aparência para um chefe
ajudar com o que provavelmente acabará sendo um incidente menor. Mas enquanto
eu os vejo partir, meu peito aperta. Nunca é fácil enviar pessoas que você ama para
o perigo.

January olha para meus irmãos como um cordeirinho perdido. — Por


favor, Sr. Morelli? Onde eles estão indo?

— Para resolver um problema com seu ex-noivo.

Sua mão levanta para a garganta — Sr. Parker está queimando seu
armazém?
— Não. Homens que trabalham para ele estão tentando incendiar nosso
armazém. Eles não terão sucesso.

— Mas por que ele faria isso?

— Esta é a nossa vida, Bella. Não é tudo o que fazemos, mas é uma parte
disso. E considerando o que fizemos com Parker, esperávamos isso mais cedo e
pior.

Ela olha para seu jantar meio comido. — Eu não posso acreditar que
tudo isso é real.

Fecho os olhos brevemente. Na última semana de January Whitehall me


surpreendeu com sua inteligência e ingenuidade. Preciso saber se ela tem estômago
para atividades criminosas ou se vai continuar enterrando a cabeça na areia. — O
que você sabe sobre como Parker ganhou seu dinheiro?

— Hum, eu sei que ele trabalha com tecnologia?

— Muito bem. E você sabe onde ele conseguiu o dinheiro para sua
empresa?

January me dá um olhar de bela confusão. — Ele é… um homem que se


fez sozinho, não é?

Eu bufo. Eu nunca vou entender a obsessão americana com o azarão. Na


Europa, você é admirado por suas conexões e seu nome de família. Aqui, todo
mundo quer ser conhecido por trabalhar do nada.

— Parker é feito por si mesmo tanto quanto isso... — Eu bato meus


dedos na mesa de jantar. — …é ouro de vinte e quatro quilates. Ele herdou seu
dinheiro. Embora isso ainda seja muito diplomático. 'Lavado' é a palavra correta.

— O dinheiro do Sr. Parker estava sujo?


— Sim, Bella. Era imundo. Seu pai traficava drogas para a família
Mariucci. Haxixe e heroína e coca. E antes que você diga que Parker não tinha
controle sobre quem era seu pai, ele trabalhou para ele. Ele descobriu como lavar
dinheiro de drogas através de criptomoedas e poker online. Nesse sentido, ele era
um empreendedor de tecnologia.

January chupa o lábio inferior. — Ele ainda vende drogas?

— Não. Ele mudou de ideia.

— O que você quer dizer?

— O pai de Parker morreu quando ele tinha vinte anos. Zachery


assumiu, mas não tinha apetite para o negócio. Ele pegou todo o dinheiro e mão de
obra que pôde e se tornou legítimo. É por isso que alguns anos depois ele estava
administrando uma empresa de tecnologia e cortejando seu pai, esperando se casar
com sua família.

Os olhos de January se movem de um lado para o outro enquanto ela


processa isso. Eu aprecio a resposta dela. Uma mulher que fica quieta quando
confrontada com más notícias é uma agradável surpresa.

Ela pisca duas vezes, e seu olhar volta para o meu. — Como você sabe
de tudo isso?

Eu me sirvo outra taça . — Eu só sei.

— Tem algo a ver com o motivo de você ter me roubado ou…

— Já chega. — Eu empurro minha cadeira para trás. — Por que estamos


desperdiçando nossa noite falando sobre aquele homem feio? Venha aqui, Bella.

Suas bochechas ficam rosadas, mas ela não se move.

Eu abro meus braços. — Venha, bonequinha. E traga seu vinho.


Ela levanta a taça e o carrega cuidadosamente para mim. O esmalte
pérola em suas unhas está lascado, provavelmente por causa da limpeza da
cozinha. Quando Parker estiver morto e eu contratei funcionários para limpar e
servir o jantar, ela pode fazer as unhas. Sangue vermelho. Ou rosa pálido. Ela se
senta delicadamente no meu colo, e eu a puxo para mais perto, colocando-a contra
o meu peito. — Beba seu vinho.

Ela bebe obedientemente e eu vejo sua garganta trabalhar, colocando um


cacho atrás da orelha. Não consigo me livrar dela. Vou colocar meus rubis em
volta do pescoço dela, e ela pertencerá à Velvet House.

Ela vira a cabeça e inala profundamente.

— Algo está errado?

— Sua colônia… — ela ronrona, um pouco de insulto nas bordas de sua


voz. — Qual é o tipo?

— Você não gosta?

— Ah, não, é só que... acho que nunca senti cheiro de lavanda em um


homem antes.

— É embaraçoso, Bella? Pouco viril? Você quer que eu seja como


Adriano e cheire a couro e sangue?

Ela estremece contra o meu peito. — Ele me odeia.

— Não leve para o lado pessoal. Adriano odeia qualquer coisa que o faça
sentir e isso inclui desejo.

Ela estremece e eu envolvo meus braços em volta dela, enterrando meu


rosto em seu pescoço. Ela tem um cheiro limpo e doce e eu quero lamber cada
centímetro dela. Bobby disse que ela choramingou como um gatinho enquanto ela
gozou em seu rosto. Eu quero ouvir aquele som suave, ligeiramente patético. Eu
deslizo minhas mãos pelos lados de seu corpo e ela se torce no meu colo, coxas
macias trabalhando contra as minhas. — Sr. Morelli, você me deu aquela droga?

Eu me afasto sorrindo. — É isso que você acha?

Sua cabeça se inclina para o lado.

— Bella, nós dois sabemos que você me queria desde o momento em


que colocou os olhos em mim.

— Mas então por que você me deu Orchard ontem à noite? Eu já


queria… quer dizer… você não precisava… — Ela enterra o rosto na frente da
minha camisa. — Eu não deveria estar dizendo isso.

Eu me mexo contra ela para que ela possa sentir meu pau duro. Ela puxa
uma respiração afiada, mas ela não se afasta.

Eu corro a mão por sua coxa, brincando com a fenda em sua saia. — Nós
lhe demos a Orchard porque achamos que seria divertido deixá-la em um frenesi.
Mas você é cheia de surpresas, não é?

— Assim como você. — Ela bate no meu peito. — Você é mais legal do
que finge ser.

Eu puxo a fenda um pouco mais, expondo mais coxa de porcelana. — É


isso mesmo?

— Eu penso que sim. — Ela engole. — Os outros vão ficar bem? Doc e
Bobby e… e Adriano?

— Você está preocupada com eles? Você mudou de ideia sobre nós?

— Não. Quero dizer, são vocês que querem se livrar de mim.


Eu rio. Ela está atrevida esta noite. Talvez seja seu estado natural,
emergindo com vinho e uma sensação de segurança. Deslizo minha palma entre
suas coxas. — Eu poderia ter mudado de ideia, agora que sei que você sabe
cozinhar?

Ela inala. — Eu estava tão nervosa. Eu nunca cozinhei para homens


antes.

Eu gosto que ela estava nervosa. — O que mais você sabe cozinhar?

— Um pouco de tudo. Massas principalmente.

— Você quer dizer ferver a água e jogá-la dentro?

— Não. Posso fazer nhoque de batata, tortellini e ravioli. Muitas coisas.


Embora eu precisasse de uma máquina de enrolar.

Eu beijo seu pescoço, para que ela não me veja sorrir. — Que garotinha
deliciosa você está se tornando.

— O-obrigada.

Se ela está ciente disso ou não, ela está abrindo as pernas, praticamente
me desafiando a mergulhar a mão entre suas dobras.

— É isso que você quer em uma esposa? — ela pergunta. — Uma


mulher que cozinha macarrão?

— Minha esposa não cozinha.

— Porque ela vai ser muito chique para sujar as mãos?

Aqui está novamente. O atrevimento provocador. — Exatamente, Bella.


Minha amante, por outro lado…
— Então, você quer uma mulher que cozinhe, mas não como esposa ou
mãe para seus filhos?

Eu suspiro. — Eu não poderia explicar para uma americana como você.

— Você não cresceu na América?

— Eu cresci, mas isso não me faz americano. Os italianos trazem sua


pátria onde quer que viajem, como os romanos faziam.

Ela sorri. — Os romanos tinham amantes?

Eu belisco o lado de seu pescoço. — Sim.

Ela ri. — Ah, entendo.

— Ter uma amante não é uma coisa vergonhosa. O casamento é um


acordo entre duas famílias. Sua esposa é sua parceira de negócios. Uma amante é
uma pessoa que você escolheu por prazer.

January considera isso. — Foi isso que seu pai fez?

— Meus pais se casaram por amor.

— Sério?

— Você está confundindo essa afirmação com uma feliz, Bella. Meus
pais eram miseráveis.

— O que aconteceu?

Eu levanto minhas palmas e as fecho sobre seus seios, apertando-a


levemente.

Ela se contorce. — Sr. Morelli…

Assim que ouço aquela nota selvagem e desesperada em sua voz, deixo
cair minhas mãos. Eu não sou nenhum adolescente excitado. Se January for minha,
ela precisa aprender que esses jogos continuarão como eu achar melhor. Que ela
não pode me controlar com seu corpo mais do que ela poderia me controlar com
lágrimas.

— Meus pais se conheceram em um feriado em Bornéu. Minha mãe


estava noiva de um conde e meu pai, Vincent Morelli, era um investidor
financeiro. Foi amor à primeira vista. Três dias depois de se conhecerem, minha
mãe devolveu seu anel e meu pai lhe deu o dele.

Os olhos de January brilham como estrelas. — Uau. Então, eles se


casaram?

— Eles casaram. A família da minha mãe ficou furiosa. Meu Nonno a


expulsou de casa.

Ela fica boquiaberta para mim. — Mas os Morelli são uma das famílias
mais ricas de Nova York!

— É verdade, mas para meu Nonno, todo dinheiro americano era


dinheiro novo. — Seu olhar incrédulo me faz sorrir. — Minha mãe veio morar com
meu pai em Manhattan. Eles se casaram e um ano depois eu nasci.

— Eles tiveram um casamento grande e lindo?

— Eles tiveram. Então eles tiveram um casamento curto e infeliz.

— Por quê?

— Minha mãe estava acostumada a viajar, a diamantes, a passar cheques


sem pensar. Meu pai era rico, mas não era um conde. Depois que nasci, mamãe
acertou as coisas com Nonno e me levou de volta para Nápoles e morou na casa
dele por semanas a fio. Às vezes ela nem dizia ao meu pai que estava indo embora.
Ele simplesmente voltava para casa do trabalho e descobria que tínhamos ido
embora.

— Ela sequestrou você?

Eu bufo. — Não seja melodramática, Bella. Ela sempre voltava para


Nova York. Não que isso fizesse algum bem. Depois que minhas irmãs nasceram,
as coisas pioraram.

January fica boquiaberta comigo. — Como?

— Só aconteceu. Meu pai amava minha mãe, mas não conseguia fazê-la
feliz. Eles se separaram pouco depois que meu irmão nasceu.

— Oh. — January levanta a taça e toma um gole profundo de vinho.

Eu levanto meu joelho, empurrando-a. — Eu desapontei você? Você


quer pensar que o amor vence tudo?

Ela não sorri. — Você acha que o casamento de seus pais teria sido
melhor se seu pai tivesse uma amante?

— Acho que as pessoas deveriam ser racionais sobre o que faz o


casamento funcionar.

— E você já foi casado?

Eu franzo a testa. Audácia é uma coisa, imprudência é outra. — Não, e


nem você, Srta. Whitehall.

January segura a língua. Eu mudo minha mão para seu abdômen,


sentindo sua barriga lisa ficar tensa sob seu vestido. — Você tem tanta certeza que
não quer viver aqui e bancar a amante, Bella?

— Você significa para você? Ou para… todos vocês quatro?


Eu esfrego minha bochecha contra a dela, acariciando sua pele sedosa
com minha barba. — Isso importa?

— Eu acho. Achei que você me quisesse só para você?

— Eu queria, mas vendo o quão feliz você fez meus irmãos esta noite,
estou considerando outras opções.

January termina seu vinho.

Divertido, pego a taça e coloco na mesa. — Isso é um 'sim?'

— Acho que não consigo…

Eu mordo de volta um sorriso. Pelo que ela já fez com Doc e Bobby, não
há nada que ela gostaria mais do que ser nossa putinha. Mas ela ainda não está
pronta para saber isso sobre si mesma. Vou ter que mostrar a ela. Eu beijo o lado
de seu pescoço. — Bem, o que você quer fazer consigo mesma, Srta. Whitehall?

— Não tenho certeza. Isso muda todos os dias.

— Eu duvido muito disso. Você é doméstica. Você quer cantar e


preparar comida e dançar ao redor de uma cozinha bonita sendo uma linda
garotinha.

Sua boca se abre. — Isso é tão… eu não quero isso.

— Ah, Bella, não proteste. É adorável.

— Mas você está dizendo que eu sou um idiota!

— Não, estou dizendo que seu coração pertence à sua casa. E sempre
será. — Eu pressiono minha mão entre suas pernas. — Você gostaria que eu
comprasse uma máquina de macarrão? Encher os armários e deixar você cozinhar
o jantar para nós todas as noites?
Meus dedos roçam as pétalas molhadas entre suas pernas, e ela se
contorce contra mim.

— Eu não quero ser sua amante.

— Ser amante é um amor mais puro do que ser esposa. É tudo carinho.
Todo prazer. É precioso.

— E os outros?

Eu rio. — Ah, a verdadeira pergunta. 'Eu teria que desistir de Doc e


Bobby?'

— Não! Não é isso que eu quero dizer!

Eu sorrio. — Você não precisa mentir. Eu ouvi sobre a noite passada.

— Você ouviu?

— É claro. Meus irmãos e eu não temos segredos. — Eu descanso meu


polegar contra o botão macio entre suas pernas. — Você gostaria de ser
compartilhada?

— Compartilhada? Afinal, o que isso quer dizer?

— Você não é uma garota estúpida, tenho certeza que você entende.

— Mas como isso funcionaria? Segundas à noite estou com Doc, terças
estou com Bobby?

— Talvez, — eu digo uniformemente. — Podemos criar nossas próprias


regras. Essa é a graça disso.

— E você… aprovaria isso?


Eu esfrego meu polegar contra ela, mais leve que um sussurro. —
Contanto que você não seja minha esposa, eu não me importo se você sentir prazer
com meus irmãos. Na verdade, eu ficaria feliz em ver isso.

— Você não pode querer dizer isso! — ela suspira. Seja do choque ou do
meu toque, não tenho certeza.

Eu me movo mais rápido, acariciando seu clitóris em círculos suaves. —


Bella, você é jovem e nunca teve um namorado. Você não sabe muito sobre os
homens.

— Não, mas não acho que a maioria dos homens seja como você.

Eu raspo meus dentes ao longo do lado de seu pescoço pálido. —


Quando você se instalar, vou pedir para Doc levá-la para Dreams. Os homens
assistem seus amigos fazerem lap dances; eles falam sobre os corpos das mulheres
uns com os outros. Quando eles estão próximos 'e meus irmãos e eu somos muito
próximos' os homens podem encontrar prazer em compartilhar uma bela mulher
juntos.

Há um silêncio pesado e eu sei o que ela está pensando. Eu sorrio. —


Que mente suja você tem, Bella. Mas não, nenhum de nós sente atração por
homens.

— Então por que…?

— Há um ditado, — murmuro em seu ouvido. — 'É bom dirigir uma


Ferrari, mas você não pode vê-la passar.' Você é aquela Ferrari, January. Às vezes
eu quero dirigir e às vezes eu quero ver você ser conduzida. Emprestá-la a alguém
em quem confio, porque esse é o meu prazer.

— Eu… eu não sou um carro, eu sou uma garota.


— Uma menina bonita e obediente, — eu digo, trazendo minha segunda
mão entre suas coxas abertas. Sua boceta está encharcada, e não há resistência
quando deslizo a ponta de um dedo dentro dela. Quando bombeio, ela geme como
um gatinho perdido, exatamente como Bobby disse que faria.

— Meus irmãos e eu somos homens ocupados, Bella. Viajamos e


trabalhamos longas horas. Não temos tempo para namorar. O sexo é fácil de
encontrar, mas o conforto do lar é outra questão.

Eu pulso meu dedo dentro dela, com cuidado para não penetrar muito
profundamente.

— Quanto mais tempo você está aqui, mais eu acho que pode ser prático
mantê-la. Uma pequena mulher para nós brincarmos.

Sua cabeça inclina para trás no meu ombro, seus olhos verdes vidrados.
— Não sei…

— Então não saiba. Deixe-me saber para você. Estou lhe dizendo que
não há nada que você gostaria mais do que morar na minha casa e cozinhar e
cantar e ser fodida por quatro homens.

Sua boceta ondula ao redor da minha mão. — Não…

— Não negue. Apenas o pensamento de ser nossa já faz você gozar em


meus dedos.

Ela joga a cabeça de um lado para o outro. — Mas Adriano me odeia.

— E às vezes é um prazer foder o que você odeia.

Eu a esfrego em círculos firmes e ela agarra meu pulso e tenta empurrar


minha mão. Eu a afasto, pulsando e acariciando ao mesmo tempo.

— Não… — Ela sussurra. — Por favor.


Seus músculos internos se apertam ao meu redor, praticamente me
atraindo. Vou fazê-la gozar. Mostrar a ela onde ela pertence.

Ela torce contra mim, ofegante. — Eu não quero ser uma amante. Quero
ser especial para alguém.

— Você não ouviu uma palavra do que eu disse? Você seria especial
para nós quatro.

— Não. Você está mentindo. Você está apenas com medo de amar
alguém do jeito que seu pai amou sua mãe.

As palavras são uma faca no meu peito. Eu me levanto, deixando-a cair


no chão. Ela se encolhe abaixo de mim, choque escrito em seu rosto. — Peça
desculpas, Srta. Whitehall. Agora.

Os olhos de January já estão brilhando de lágrimas. — Eu… sinto muito,


Sr. Morelli.

— Não está bom o suficiente. — Eu agarro seu cabelo e a puxo de


joelhos. — Eu não sou mais legal do que finjo ser. Sou mil vezes mais cruel. Você
se esquece. Você esquece onde está. É para minha diversão que lhe foi dada uma
escolha entre eu e meus irmãos. Não há como sair dessa situação em que você não
estará amarrada a um homem poderoso, curvada, usada e feita para ter seus filhos.

— Eu sinto muito. — A represa estoura e lágrimas escorrem por suas


bochechas.

— Eu sei que sim. Agora você vai provar isso. Abra meu ziper e leve-me
para fora.

— Mas…

Eu aperto meu aperto em seu cabelo. — Agora, Srta. Whitehall.


Ela pega meu cinto, desafivelando-o com dedos desajeitados. Eu a deixei
chafurdar em sua própria falta de jeito. Se ela queria que eu fosse gentil, ela
deveria ter mantido sua boca idiota fechada. Ela puxa meu cinto e abre minhas
calças. Ela hesita quando chega à minha cueca.

— Você já viu um antes? — Eu exijo.

Ela engole e eu me lembro da noite anterior. — Doc, se acariciando na


sua frente?

Ela acena.

— Aquele homem está sempre arruinando as coisas. Não importa, Srta.


Whitehall. Meu pau será o primeiro que você vai provar. Leve-me para fora e
chupe.

Ela me puxa da minha cueca e meu estômago aperta com o toque


hesitante de seus lábios. Eles se fecham sobre mim e ela chupa, literalmente,
desenhando em mim sem se mover. É bom, mas não vai fazer o trabalho. Eu puxo
seu cabelo, guiando-a para frente e para trás. — Assim.

Ela agarra o ritmo, e eu gemo. — Essa é uma boa menina. Mais fundo.
Concentra-se.

Todos os músculos do meu corpo se contraem enquanto eu me esforço


em sua boca, e me dou conta do peso no meu bolso. O colar de rubis. A coroa final
para a princesa de joelhos.

— Não pare de chupar. — Eu solto seu cabelo e tiro o colar. Eu o prendo


ao redor de sua garganta. Minha. Toda minha. Ela olha para cima, sua boca cheia
de pau, meus rubis brilhando contra sua pele pálida. — Linda.
Eu raspo uma lágrima de sua bochecha e coloco na minha língua. Ela dá
um pequeno gemido de impotência que vibra no meu eixo. Eu sorrio. — Há mais
que você precisa aprender do que apenas como fazer um homem gozar. Você está
aqui agora. E você é nossa. Você mostrou alguma força, mas se você quer ser
digna do mundo em que se encontra, para ser uma mulher que eu teria orgulho de
chamar de minha, você precisa ser mais do que apenas uma bela bagunça.

Uma batida na porta. January começa, mas eu seguro a parte de trás de


sua cabeça e a seguro no lugar. — Entre.

Gretzky entra, sua expressão em branco. — Doc precisa falar com você.

Eu olho para January, ainda trabalhando para frente e para trás, lágrimas
se acumulando no chão abaixo dela. — Isso é urgente?

— Muito.

Gretzky não exagera. Eu me puxo da boca de January e passo o polegar


sobre seus lábios inchados. Seu rosto está pálido como papel.

— Leve a Srta. Whitehall para o meu quarto e tranque a porta.

— Sim, senhor.

Eu acaricio a bochecha manchada de lágrimas de January. — Esteja


pronta. Quando eu voltar, você cumprirá seu dever comigo. E se os outros
voltarem vivos, você também cumprirá seu dever com eles.
January Whitehall

Estou correndo por uma casa em chamas, pegando quadros e vasos para
mamãe. Eu sou a única que pode fazer isso. Mamãe disse que o fogo não pode me
tocar. Mas talvez ela estivesse mentindo porque as chamas estão se aglomerando,
lambendo meus calcanhares e transformando meu cabelo em palha. Corro mais
rápido, empilhando as coisas umas sobre as outras, tentando não deixar cair nada...

— Tesorina?

Uma mão fria sacode meu ombro e eu suspiro. Sinto cheiro de uísque e
cigarros. — Domenico?

Uma risada baixa. — Sim, querida. Basher está aqui também. E Morelli.

Eu me levanto e vejo formas escuras se movendo ao pé da cama de Eli. É


o dobro do minha, grande como um oceano. A mão gelada de Doc se fecha no meu
ombro. — Você sentiu nossa falta?
Eu quero dizer não, mas quando seu peso afunda no colchão, eu sorrio.
Há uma sensação de retidão nele estar aqui em desacordo com todo o resto. —
Você está bem? Nenhum de vocês está ferido?

— Estamos bem, Tesorina. Me beija.

Antes que eu possa protestar, a boca de Doc desce sobre a minha. Eu


luto por um segundo e então desisto. Ele beija tão bem. Não há urgência, apenas
uma exploração lenta como temos todo o tempo do mundo. Uma lâmpada de
cabeceira acende e a cor corre para mim. Vejo o dourado brilhante do cabelo de
Doc, as tatuagens escuras em seus antebraços.

Outro peso se instala nas minhas costas. — JJ…

Uma mão mais quente cobre meu queixo, quebrando meu beijo com
Doc. Bobby. Ele me beija, rápido e áspero. Sinto Doc deslizar sob as cobertas,
colocando seu joelho frio entre minhas pernas. Ainda estou usando meu vestido
branco e os rubis de Eli estão pesados em volta da minha garganta. Tentei tirá-los,
mas o fecho é impossível de desfazer sozinho.

Bobby geme na minha boca, suas mãos enrolando no meu cabelo. Há um


som de algo sendo arrastado pelo chão e eu me afasto. Eli está se acomodando em
uma cadeira ao pé da cama, seus olhos escuros brilhando. — Olá, Bella.

Lembro-me da sensação dele em minha boca, sua promessa antes de


partir de que todos me levariam. Um chiado de medo percorre meu corpo.

— Bobby tem sido um menino corajoso, — diz Eli. — Ele foi


esfaqueado.

Eu suspiro. — O quê?

Bobby olha para Eli. — Você tinha que dizer a ela?


Doc ri no meu pescoço. — Mostre a ela sua ferida de guerra, cara durão.

Com uma carranca, Bobby se inclina para trás e vejo um curativo onde
sua camiseta encontra sua clavícula.

— Oh meu Deus!

— Não é nada, JJ. Apenas um arranhão.

Eli ri. — Você vai ter que fazer Bobby se sentir melhor, Bella. Dê-lhe
outro beijo.

Ele diz isso levemente, mas é uma ordem. Eu pressiono meus lábios nos
de Bobby e o calor surge entre minhas pernas.

Doc lambe uma linha em meu decote. — E eu, Tesorina? Eu também fui
corajoso.

Bobby me libera. — Vá em frente, Jay. Beije-o.

No momento seguinte, a língua de Doc está de volta na minha boca,


lambendo suavemente. Assim como adormecer depois do que Eli fez, é mais fácil
do que eu quero que seja.

As mãos de Bobby roçam minha bunda. — Deus, você é sexy. A garota


dos meus malditos sonhos.

Minhas entranhas derretem, e beijo Doc ainda mais fundo. Ele sorri
contra meus lábios, colhendo os benefícios do elogio de Bobby. Minhas bochechas
queimam. Eu deveria parar com isso. Ou pelo menos não gemendo e pressionando
contra os dois enquanto faíscas iluminam meu corpo.

Doc interrompe o beijo e se abaixa, ofegante, no meu mamilo. — Fique


com Bobby. Eu quero fazer isso.
Ele abre meu vestido e me puxa em sua boca. Meu olhar encontra Eli.
Ele está descansando em sua poltrona como a realeza, observando seus homens
colocarem as mãos em cima de mim. Ele disse que queria ser meu primeiro, mas
Bobby está puxando meu vestido e Doc está chupando meu mamilo e ele está
apenas observando, seu olhar tão pesado quanto seu colar.

Ele sorri. — Não se preocupe, Bella. Apenas divirta-se.

A mão de Bobby está entre minhas pernas, seus dedos esfregando


levemente. Enquanto meus olhos rolam para trás, Doc me beija novamente.

— Você está tão bonita entre eles, Srta. Whitehall. Eu vou ver você ser
fodida e então eu vou ter a minha vez.

Faço um barulho de pânico e Doc engole com a língua.

— Eu queria sua virgindade, — diz Eli. — Mas meus irmãos foram tão
corajosos esta noite, eles merecem essa honra. Bobby será o primeiro homem a
terminar em sua boca. Domenico ganhou o direito de tomar sua boceta.

Os dedos de Bobby correm ao longo da minha fenda, espalhando a


umidade como creme. Eu gemo e Doc grunhe em resposta, seu pau no jeans
pressionando minha coxa. Todos nós nos encaixamos tão facilmente, como peças
de um quebra-cabeça.

— Ainda tem seu cuzinho apertado, Bella. Isso será meu. Mas vou
deixar os meninos terem seu prazer primeiro.

Choque ondula através de mim. Se isso for verdade, quando terminarem,


não serei nenhum tipo de virgem. E o que acontecerá então? Eli não vai me querer
como sua amante. Bobby não vai me fazer sua esposa. Doc não pode leiloar meu
corpo. Adriano vai me matar. Eu empurro a mão no peito de Doc. — Por favor,
não tire minha virgindade?
Ele grunhe. — Essa merda de novo.

— Srta. Whitehall, nós discutimos o que era e o que não era possível no
jantar, — Eli diz friamente.

— Eu sei. Mas minha virgindade é a única coisa valiosa que tenho.

Bobby faz um barulhinho perturbado. Ele pode discordar, mas ele ainda
não pode me salvar.

— É nossa, — Eli diz. — Você não tem escolha.

— Se você me deixar continuar virgem, eu farei coisas por você. Para


todos vocês. Com minha boca e minhas mãos.

— Você vai fazer isso de qualquer maneira.

— Sim, mas eu estarei… entusiasmada. Eu vou me vestir. Eu vou ser


feliz. Você não terá que ameaçar.

Doc me empurra de costas e sobe em cima de mim. Sua faca borboleta


está em sua mão. — Deite-se quieta.

Meus olhos se enchem de lágrimas. — Domenico, não.

Ele abaixa a faca na minha garganta. — Você não entende, não é?


Ameaçar você deixa meu pau duro.

— Mas por favor…

Sua boca se contorce naquele sorriso de escárnio de Elvis. — Forçar-me


em você me fará gozar com tanta força que ficarei cego. Eu ganhei você e vou ter
você, porra.
Eu olho para Bobby. Seu rosto está sombreado, seus olhos ilegíveis. A
parte plana da faca de Doc crava em minha pele. — Você acha que Basher virá em
seu socorro? Ele te ama, Tits, mas ele me ama mais.

Bobby segura meu olhar, sem dizer nada.

Um tremor me percorre. — Isso não pode estar acontecendo…

— Isso está. — Doc se recosta, seus quadris me prendendo na cama. Ele


enfia a faca entre os dentes e desafivela o cinto. Suas mãos mergulham em seu
jeans e ele puxa seu pau. É duro e grosso e brilhante na cabeça.

— Por favor pare?

Ele me ignora, movendo-se para frente para se sentar no meu peito. Ele
agarra meu cabelo, empurrando minha cabeça para cima. — Abra bem, — diz ele
ao redor da faca.

Eu separo meus lábios e ele dirige em mim. Ele é mais grosso que Eli
com um gosto cru que me faz pensar em bife sangrento. É mais difícil dar um
boquete deitada de costas, mas eu sugo e chupo e balanço para frente e para trás do
jeito que Eli me mostrou. Se eu fizer um bom trabalho, talvez possa proteger
minha virgindade.

Doc abre a boca e a faca cai em sua mão. Ele o segura na minha
garganta. — Morelli? Posso estragar esse vestido?

— Vá em frente.

Eu gemo perto de Doc. A seda é tão linda e cara.

Eli ri. — Desculpe, Bella. Nós gostamos de arruinar coisas bonitas.

Doc tira uma perna de mim e traz sua faca entre meus seios. — Segure
firme.
Eu congelo enquanto ele corta. A seda quase não faz barulho ao se partir.
Ele cai do meu corpo como folhas de outono e meus mamilos enrugam. Doc sorri,
agarrando meu peito. — Foda-se, estes são enormes. Qual o seu tamanho?

Eu gemo quando ele me belisca.

Doc bate sua faca no colar de Eli. — Vamos, vadia. Diga.

— 44, — eu choramingo.

— 44? — Doc dá um assobio baixo. — Você não poderia dizer sob todas
essas roupas de freira.

— E o vestido de noiva dela? — Eli pergunta. — Eu nunca vi uma noiva


mais corpulenta.

— Sim, Parker é um fodido de mau gosto. Mas eu pensei que era um


sutiã push-up ou algo assim.

Apesar da conversa casual 'ou talvez por causa disso' há uma selvageria
no ar. Uma sensação de que tudo pode acontecer. Eu tento me sentar, mas Doc
pressiona a faca no meu pescoço. No segundo seguinte ele está de volta em cima
de mim, agarrando meu cabelo e forçando-se em minha boca.

O colchão se move e ouço o farfalhar de zíperes e botões. Meu corpo


endurece.

— Mais profundo, — Doc grunhi. — Chupe meu pau.

Mãos se fecham ao redor de minhas panturrilhas, levantando minhas


pernas para cada lado de um peito quente e peludo. Minha boceta se abre, a
umidade escorrendo pelas minhas coxas.

— Bobby, não, — eu tento dizer.


— Foda-se, — Doc geme. — Quando ela fala, eu posso sentir no meu
pau.

Algo suave e quente desliza entre minhas pernas e eu grito. Eu sei o que
é, Bobby arrastando seu pau duro pela minha boceta.

— Cuidado, Basher, — Doc retruca. — Essa cereja é minha.

— Apenas brincando, — Bobby geme, enquanto ele se esfrega na minha


umidade. Eu não quero gostar, mas ele está deslizando sobre o lugar que ele
lambeu ontem à noite fazendo tudo formigar.

— Você está linda, Bella, — Eli chama. — Nua e presa. Tome


Domenico em sua garganta. Engula-o.

Eu obedeço, abrindo minha boca e deixando Doc ir mais fundo.


Enquanto eu estiver chupando ele, ele vai impedir Bobby de tirar minha
virgindade.

— Menina bonita, — diz Eli. — O pau de Bobby se sente bem contra


sua boceta? Você gostaria que ele deslizasse dentro de você e te enchesse?

Doc faz uma pausa. — Morelli, matei três homens e mantive Basher
vivo. Ela é minha.

— Eu sei, — Bobby ofega. — Mas até você liberar a boca dela, eu vou
continuar fazendo isso.

Enquanto eles trabalham em extremidades opostas do meu corpo, o


orgasmo surge dentro de mim, como lava rolando sobre a terra. O pau de Bobby
desaparece das minhas dobras. Há um momento de alívio antes que suas bochechas
barbudas estejam contra minhas coxas e ele esteja me lambendo novamente. Eu
gemo, incapaz de me impedir de me esfregar em seu rosto. Minha boceta parece
exuberante e vazia. Preciso de algo dentro de mim ainda mais do que quando
estava com Orchard. Mas não posso perder minha virgindade.

Doc sai da minha boca. — Eu vou enlouquecer se continuarmos. Eu


estive no limite por muito tempo. Basher, vá ajoelha-se.

Bobby me dá uma última lambida e se move para o final da cama. Doc


joga a faca na cama e tira a camisa. Deslizando de cima de mim, ele tira seu jeans.
Suas coxas e canelas estão cobertas de tatuagens. Leões rugindo e espinhos
retorcidos e crânios com facas nas órbitas oculares.

Meu coração bate tão dolorosamente que estou quase doente. Vai
acontecer. Eu realmente vou perder minha virgindade com um psicopata violento.

Doc se ajoelha entre minhas pernas, seu pau na mão. — Agora, como
devo fazer isso? Por trás? Fazer você me montar e dar um show para os meninos?

Eu fico congelada, nua, exceto pelo colar de Eli, sabendo que o momento
que eu temia está aqui.

— Eu poderia fazer isso de forma agradável e tradicional, — diz Doc. —


Missionário.

— Por favor? — Eu consigo sussurrar.

— Por favor, missionário? Tudo bem. — Ele se apoia em cima de mim,


uma mão na cama, e esfrega seu pau em mim. É grosso e redondo como um taco
de beisebol. — Você está pronta para se tornar uma mulher?

— Domenico…

Ele abre um sorriso para os outros. — Você está assistindo, Bash? Dez
dólares dizem que ela goza assim que eu estiver dentro dela.
Ele move a cabeça de seu pau pelas minhas dobras como Bobby fez e
seus olhos encontram os meus. Tem uma pergunta aí. Você quer isso também?

Sim, eu acho. Sim, eu quero saber como é o sexo. Sim, eu quero saber
como é com esse homem. Mas há mais do que 'sim.' Lá está o Sr. Parker pagando
milhões para nunca me tocar. Eli me avisando que onde quer que eu vá pertencerei
a um homem poderoso. Adriano me dizendo que vou morrer assim que os outros
terminarem comigo.

Eu balanço minha cabeça e por um segundo de partir o coração, Doc


parece arrasado. A próxima faca dele está no meu pescoço.

— Foda-se. Eu sei que você quer. Diga.

Não posso. Eu empurro de volta contra a lâmina de Doc e uma pontada


na minha garganta.

O pânico borra suas feições bonitas e ele levanta a faca. — Porra,


January?

— Domenico. — Há um aviso na voz de Eli. — Se ela vai se machucar,


você precisa guardar a faca.

Doc pressiona o polegar no local do meu pescoço. — É mesmo, Tits?


Você prefere decapitar a si mesmo do que me foder?

Ouço a mágoa por trás de sua raiva, mas também ouço Adriano me
dizendo que vai acabar com minha vida. Se houver alguma maneira de escapar de
dormir com Doc 'com qualquer um deles' eu preciso aguentar. Não digo nada.

Doc levanta o polegar e há sangue, tão vermelho quanto os rubis de Eli


espalhados por ele. Ele o leva aos lábios e o suga. — Você não sabe o quão fodida
você está.
Minha pele se arrepia, mas antes que eu possa gritar, sua mão está sobre
minha boca. Ele larga a faca e sobe em meu peito, seu corpo magro e de lobo me
prendendo no colchão. Ele cospe em mim, manchando meus seios com sua saliva e
me acaricia com força. Ele desliza seu pau em meu decote. Não dói, mas é
estranho. Ele empurra para frente, seus dedos mordendo meus seios. — Vou pintar
uma pequena imagem mental para você, antes de pintar seu peito meu esperma,
Tesorina.

Eu sinto o abismo entre esse apelido doce e como Doc realmente se sente
sobre mim, e dói. Mas eu ganhei. Minha virgindade foi poupada. Eu inclino minha
cabeça para frente e puxo a cabeça de seu pau em minha boca o máximo que
posso.

Doc solta um gemido gutural. — Você vai ficar aqui na Velvet House
conosco. Sem chance de sair agora. Você tem os rubis de Morelli em volta do
pescoço e meu pau entre seus seios, e não pode mentir por nada. Não vamos
mandar você para a Itália para que o primo de Eli descubra que lhe demos
mercadorias danificadas. Olhe para mim.

Ele sorri, o mesmo sorriso frio que ele ofereceu enquanto eu subia o
corredor um milhão de anos atrás.

— Ninguém quer uma esposa que atende quatro criminosos. Então você
vai ficar aqui, cozinhando e limpando para nós. E vamos deixar você ser virgem,
porque quem se importa? Tem muita boceta por aí.

As palavras me cortam, mais dolorosas do que sua lâmina. A ideia dele


dormindo com outra garota, qualquer um deles dormindo com outra garota, é
horrível.
— Você vai me chupar sempre que eu quiser. Enquanto todos os seus
amigos idiotas estão se casando e tendo filhos, você estará aqui na Velvet House
com sua coleira, me chupando. — Ele corre um dedo pelo colar de Eli, puxando-o
com força enquanto bombeia entre meus seios. — E você vai ficar aqui até que eu
termine com você.

Enquanto eu o chupo, eu sei que esse é o preço de negar a ele minha


virgindade. Ele tem que me humilhar. Para ser o vencedor. Não precisava ser
assim. Doc entrou na sala sorrindo e me beijando. Mas fiz minha escolha. Eu
queria continuar virgem. E enquanto Doc grunhe e o puxa para fora da minha boca,
penso na minha primeira noite na Velvet House. Eli dizendo que nunca fiz
escolhas reais. Eu fiz uma escolha esta noite e isso me trouxe aqui.

Doc vem, o jato espesso em meus seios. Ele esfrega a palma da mão
nele, limpando o esperma em cima de mim. Seu sorriso é duro como pregos. — E
se Zia Teresa pudesse ver você agora, hein?

É tão cruel que o ar sai dos meus pulmões. Eu pressiono a mão em meus
lábios e espero que alguém o faça se desculpar.

— Limpe-a e saia do caminho, — Eli exige.

Doc não se move. — Ainda não.

Ele estala a língua. — O que você…

Doc cai de joelhos ao lado da cama. Ele aperta meus quadris e me puxa
para a borda antes de se estabelecer entre minhas pernas. — Não se mexa ou você
vai gozar nos lençóis de Morelli como a puta suja que você é.

Então ele me lambe. A mesma língua que disse palavras tão feias e
indelicadas volta tão docemente que meu corpo convulsiona. Eu quero odiá-lo,
gritar em protesto, mas meu corpo está apertado com desejo, o orgasmo apenas um
fôlego. Eu enrolo os dedos dos pés e me preparo para o final quando algo duro me
pressiona. Eu me sento, meus músculos do estômago apertando. — O que é isso?

Doc me ignora e continua lambendo meu clitóris, bombeando o que quer


que esteja entre minhas pernas para dentro e para fora. Prazer surge através de mim
e eu desabo no colchão.

— Domenico, — Eli avisa.

Carrancudo, Doc levanta a cabeça. — É apenas uma polegada. Sua


preciosa flor ainda é virgem.

Ele abaixa a boca e continua lambendo enquanto empurra o objeto duro


dentro de mim.

Eu grito. — Sério, o que…?

Mas quando eu digo, eu já sei. O cabo da faca borboleta que cortou


minha garganta. — Ai meu Deus.

Eu tento me sentar novamente, mas Doc me empurra de volta para baixo.


— Isso mesmo. Se você não pegar meu pau, você vai foder minha faca.

Ele abaixa a boca para mim, chupando e lambendo como um animal até
que eu gozo. Meu orgasmo detona como uma bomba, e eu grito até meus pulmões
cederem.

Doc me observa, seus olhos negros de ódio. — Pronto, — diz ele,


puxando sua faca de mim. — Você não é melhor do que eu, não é, sua puta rica?

O choque passa por mim, transformando meus músculos de borracha em


pedra. Ele me odeia. Ele realmente, realmente me odeia.

— Limpe-a, — Eli diz friamente.


— Faça você mesmo. — Doc fica de pé. Ele usa os dedos dos pés para
pegar suas roupas e sai sem dizer mais nada.

Não é Eli que me limpa. É Bobby. Seus dedos estão firmes enquanto ele
me enxuga com um pano úmido e depois um seco até não restar nenhum vestígio
de Doc. Eu seguro as lágrimas quando ele faz isso. É como se eu tivesse sido
despedaçada na sujeira. Pedaços de mim se espalharam por uma enorme extensão
de terra. Eu quero que Bobby me conforte, me pegue e me abrace, mas seu toque é
obediente, e ele não vai me olhar nos olhos.

Quando ele se afasta, Eli me olha e estala a língua novamente. —


Pequena Srta. Whitehall… O que vou fazer com você?

Eu não digo nada.

— Vou lhe oferecer outra chance de consertar as coisas. Você vai deixar
Bobby tirar sua virgindade?

Bobby está nu e impassível ao lado de Eli, mas posso ver o vermelho


manchando suas bochechas. Ele ainda me quer. Ele ainda quer isso, mas o que era
verdade para Doc é verdade para ele. Eu balanço minha cabeça.

O brilho nos olhos de Bobby desaparece e eles se transformam em


conchas vazias.

— Tudo bem, — diz Eli. — Você vai pagar de uma forma diferente.
Bobby, mostre à Srta. Whitehall o que você gosta.

Bobby olha para ele, sobrancelha erguida.

— Estou falando sério, — diz Eli. — Mova-se antes que eu mude de


ideia.
Meu sangue gela. O que ele poderia fazer comigo que Doc ainda não
fez?

Bobby sobe na cama e me puxa de quatro. Ele parece maior nu, cabelo
escuro cobrindo seu peito musculoso. Ele empurra com força nas minhas costas até
que minha bunda esteja no ar. — Fique quieta, JJ.

Abro a boca para perguntar o que ele vai fazer e ele me bate.

— Ai! — Olho para trás para ter certeza de que é Bobby – meu doce
professor de matemática – fazendo isso.

Sua expressão é pétrea. — Vire-se para trás.

Sinto uma onda de raiva. — Ou o quê?

A boca de Bobby se afina. — Eu vou bater em você até que você não
consiga se sentar. Não me teste. Eu vou fazer isso.

Olhando em seus olhos castanhos, eu sei que é verdade e a indignidade


disso me faz gritar: — Você deveria ser legal!

Eli ri, mas a expressão dura de Bobby não muda. — Foda-se ser legal.
Onde isso me levou?

— Eu gosto de você.

— Mas você respeita Doc. Você respeita Eli. Você não me respeita.

— Isso não é verdade!

— Bata nela de novo, — Eli diz preguiçosamente.

Sua mão desce com força, e eu arqueio minhas costas na picada. O calor
vermelho se espalha através de mim, seguido por uma verdade vergonhosa. Isso
não parece ruim. Não do jeito que deveria. Bobby agarra a parte de trás do meu
pescoço. — Vire, January. Veja.

Eu faço e a visão dele faz minha boceta apertar. Eu o imagino me


pegando enquanto estou de quatro assim, seus músculos pesados flexionando
enquanto ele bate em mim. Enquanto eu assisto, ele cospe em sua mão e a desliza
sobre seu pau. — Eu vou fazer você gozar agora.

— Bobby…

Seu olhar suaviza. — Eu não vou te machucar.

Minha bunda latejante diz que isso não é verdade, mas eu sei o que ele
quer dizer. Ele não vai tirar minha virgindade. E ele não. Ele entalha seu pau entre
minhas pernas, empurrando minhas coxas apertadas ao redor de si, do jeito que
Doc fez com meus seios.

Ele pulsa para frente, roçando meu clitóris dolorido e a sensação é tão
forte que eu suspiro. — Bobby!

Ele dá um gemido gutural. — Você não sabe o quão bom isso parece,
January. Sua bunda saltando contra mim. Sua boceta encharcando meu pau.

Meus músculos tremem enquanto eu luto para me segurar. Eu não posso


acreditar que isso é Bobby sendo tão nojento, mas seu pau desliza contra mim, e
pontos brilhantes correm pelos meus olhos.

— Ela vai gozar de novo, — Eli diz, parecendo divertido. — Mova-se


mais devagar. Estável.

Bobby xinga, mas ele faz o que ele manda e enquanto sua carne inchada
se arrasta em mim, meu corpo treme. Não posso gozar de novo. Não depois que
Doc acabou de me fazer. Eu não sou uma prostituta. Eu não gosto disso.
Mas a pressão entre minhas pernas aumenta e o colar de Eli bate na
minha pele e eu estou fazendo o que Bobby disse que eu estava, encharcando seu
pau com minha boceta carente e desobediente. Eu posso sentir Eli assistindo, posso
imaginar Doc descendo em cima de mim, empurrando em mim com o cabo de sua
faca. Minha bunda está queimando e no fundo da minha mente, vejo Adriano
Rossi, sua arma apontada para minha testa…

— É isso, — Bobby ofega. — Assim mesmo, querida. Goze em mim.

Minha visão fica turva e todo o meu corpo enrijece. Em algum lugar eu
posso me ouvir gritando, mas por dentro tudo está parado. Bobby faz túneis através
da minha carne encharcada, forçando estimulação em mim até que eu sinto que
vou desmaiar.

— Você está pingando em cima de mim, — ele grunhe. — Porra. Porra.


Muuuuito!

Seus quadris batem nos meus e a umidade espirra em meu estômago. Eu


desabo para frente, pressionando meu rosto nos lençóis enquanto Bobby bombeia
entre minhas coxas. Mais umidade vem, deslizando em cordas grossas pelo meu
abdômen até a parte inferior dos meus seios.

Bobby solta um suspiro. — Desculpe pelos seus lençóis.

Eu murmuro que está tudo bem, então percebo que ele não está falando
comigo.

— Está tudo bem, — diz Eli. — Você vai ficar ou…?

— Não, eu vou sair.


E como Doc antes dele, Bobby sai da cama e pega suas roupas, saindo
sem olhar duas vezes. Eu pressiono meu rosto nas cobertas enquanto meu coração
ziguezagueia. Fui usada de novo, fui embora de novo, mas ainda sou virgem.

— Minha vez, Bella. — A voz de Eli é tão suave quanto o veludo que
compõe seu nome. — Você vai ser uma garota esperta e abrir as pernas?

Ele já sabe a resposta, posso ouvir em sua voz. Ele está me desafiando a
negá-lo na cara dele.

Eu mantenho minha cabeça enterrada em seus lençóis. — Sinto muito,


Sr. Morelli. Não posso.

— Claro que não pode. — Há um som de estalo e um cheiro forte e


adocicado enche o ar. Levanto a cabeça e vejo que Eli acendeu um charuto. Ele
exala uma nuvem de fumaça prateada acima de nossas cabeças. — Achei que você
fosse mais esperta do que isso, Srta. Whitehall.

— Talvez seja eu sendo inteligente.

Sua mandíbula endurece. — Talvez Adriano esteja certo sobre você.


Talvez você seja mais problema do que vale a pena.

Frio desliza através de mim. — Eu não quero desapontá-lo, Sr. Morelli.


Eu só quero continuar virgem.

Eli dá uma tragada em seu charuto e a ponta queima branco-alaranjada.


— De certa forma eu admiro você, Srta. Whitehall. Não há uma mulher em um
milhão que poderia ter resistido a Orchard do jeito que você fez, e sua insolência
infantil tem seu charme. Mas estabeleci certas expectativas esta noite e você não
conseguiu atingi-las.
Seu tom uniforme é pior do que as ameaças de Doc. Mais enervante do
que a raiva de Bobby. — Sinto muito, Sr. Morelli.

Ele aponta o charuto para o chão à sua frente. — De joelhos.

Meu batimento cardíaco bate em meus ouvidos enquanto eu rastejo pela


cama em direção a ele. Olho seu charuto e me lembro do fogo do meu sonho. Foi
um aviso? Ele vai me queimar?

Eli sopra uma nuvem de fumaça. — Não vou pedir de novo.

Eu desabo a seus pés.

— Bella. — O charuto paira sobre mim. — Você está ficando sem tempo
e opções. Você sabe disso?

Eu aceno, tentando não manter meu rosto longe da ponta em chamas. Já


sinto o calor dele na minha bochecha, a ameaça disso no meu coração.

— Você vai terminar o que começou na sala de jantar. Você vai me


chupar como se sua vida começasse e terminasse com meu pau. E enquanto você
faz isso, eu vou sentar aqui e fumar isso… — ele inclina o charuto para mim. — …
e pensar por que eu deveria deixar você viver.

Minha mente fica em branco. O medo obliterando o pensamento.

Eli move as mãos para o apoio de braço. — Que bagunça fizemos com
você.

Eu toco meu cabelo. É um ninho de rato de ser agarrado e puxado e eu


ainda estou coberta pelo esperma de Bobby. O sorriso crítico de Eli me faz querer
me enrolar em uma bola e me esconder. Mas estou congelada, hipnotizada pela
ponta do charuto aceso.
— Você está imunda, — diz ele com satisfação. — Agora me leve para
fora e chupe.

Minhas mãos tremem quando desfaço sua braguilha e o puxo para a


palma da minha mão. No dia do meu casamento, quase desmaiei ao pensar em
fazer algo assim com o Sr. Parker. Esta noite, é um compromisso que preciso fazer
para permanecer viva.

Eu aperto a base do pau de Eli e o tomo em minha boca. Enquanto


balanço em seu colo, observo o charuto. O medo me faz mover duas vezes mais
rápido, chupando como se ele fosse algo delicioso.

— Você gostou do que meus homens fizeram com você esta noite?

É uma pergunta capciosa. Ele só está dizendo isso para me provocar. Eu


redobrei meu foco, correndo minha língua ao longo de seu eixo.

— Tudo bem, — diz ele secamente. — Não responda. A razão pela qual
pergunto é porque, como Bobby, tenho algo que gosto na cama. Quer saber o que
é?

Os pelos da minha nuca se arrepiam. Já levei palmadas, já tive uma faca


na garganta e entre as pernas. O que mais esses homens podem fazer comigo que
não seja sexo?

Eli se move para frente, o movimento forçando seu pau mais fundo
dentro de mim. Eu quase vomito, reajustando minha mandíbula e tento engolir. Os
dedos de sua mão livre se fecham ao redor da minha garganta. — Eu gosto de
enforcar. Sabendo que estou segurando a vida de uma mulher em minhas mãos
enquanto faço o sangue correr para sua cabeça.

Eu engasgo.
— Boa menina, — ele murmura. — Olho para seu lindo pescoço branco,
vestido com meus rubis, e penso como seria fácil acabar com você, Srta. Whitehall.
Quão conveniente.

Seu aperto aumenta. A sensação não é natural, mas não é mais


desconfortável do que ter seu pau empurrando entre meus lábios. Eu lambo ele,
tentando ser melhor do que eu era na sala de jantar. Tentando fazê-lo gozar.
Tentando terminar a noite virgem.

As unhas de Eli cravam na minha garganta e sinto o gosto de uma


explosão de sal. Minha cabeça gira com a falta de ar, mas continuo empurrando,
sabendo que ele deve estar perto.

— Bella, — ele respira e o sêmen inunda minha boca. Eu engulo e ele


geme, estremecendo impotente acima de mim. Ele é tão implacável, tão totalmente
controlado, mas eu o fiz fraco.

Sento-me nos calcanhares e espero.

Depois de um longo momento, Eli inclina meu queixo para olhar para
ele, seu peito arfando. — Você já teve o suficiente, ou devo mandar chamar
Adriano?

Meu coração para. Ele não me deixou negociar minha virgindade. Ele
iria dormir comigo apenas para me humilhar e depois acabar com minha vida. —
Não, por favor, — eu digo, de língua grossa.

— Tudo bem. Talvez na próxima vez. — Ele estende a mão para mim.
— Venha, Bella. Você precisa dormir.

Eu hesito, me perguntando se isso é apenas mais jogos.

— Sem truques. Deixe-me ajudá-la.


Eu coloco minha mão na dele e ele me levanta. — Como você está se
sentindo?

A resposta a essa pergunta é muito grande para eu dizer. Eu apenas


aceno.

Ele me dá um sorriso triste e me empurra para o banheiro. — Meu


banheiro é por ali. Banho. Eu vou esperar por você.

Eu lavo em uma confusão de movimentos desconexos, água correndo


pelo meu cabelo. Eu venci. Eu mantive minha virgindade. Eu negociei minha saída
de um beco sem saída, tudo por conta própria.

Eu rastejo para fora do banheiro, esperando que Eli esteja sentado onde
ele estava, mas ele está de pé ao lado da cama enquanto Bobby coloca lençóis
limpos.

— Aqui. — Bobby diz quando termina, abrindo as cobertas e me


chamando.

Eu olho para Eli. Ele se move em minha direção e coloca uma mecha de
cabelo atrás da minha orelha. — Eu preciso ir, mas você vai dormir aqui esta noite.

Abro a boca, mas nenhum som sai.

Eli se inclina e me beija suavemente na testa. — Deite-se. Bobby vai


ficar com você e mantê-la segura.

Eu subo na cama e Bobby desliza para o outro lado. Nós deitamos lá


juntos, quase nos tocando. Ele está sentindo o mesmo que eu? Que ele gostaria de
me abraçar, mas ele não tem certeza se é apropriado? Eu me mexo, roçando meu
ombro contra o dele. Bobby pressiona de volta, sua pele quente como a luz do sol.
— JJ?
— Sim?

— Você pode cantar para mim?

Meu coração aperta. — Hum, claro. O que você gostaria de ouvir?

— Aquela francesa.

Eu sei que música ele quer dizer. 'La vie en Rose.' — Tem certeza que
Eli ou alguém não vai ficar bravo se eu fizer barulho?

Seus dedos tecem através dos meus. — Eu tenho certeza. Por favor,
cante para mim.

Fecho os olhos e canto o mais baixinho que posso, minha voz falhando
nas notas mais baixas. E enquanto eu sussurro as palavras para 'La vie en Rose',
Bobby solta um suspiro suave, como se algo dentro dele tivesse liberado. E quando
termino, deitamos juntos, de mãos dadas.

***

— Nós vamos precisar ir para lá hoje. Certificar-se de que…

— …Mas não se…

— …Sim, essa é uma ideia melhor…

A luz pressiona minhas pálpebras. Eu ignoro. Estou tão cansada e todo o


meu corpo dói.

— O que mais? — um homem pergunta.

É Bobby. Posso sentir suas pernas ao meu lado, peludas e quentes, como
um grande e amigável ursinho de pelúcia.

— Não muito, estamos apenas presos a lidar com as consequências.


Esse é o Sr. Morelli. Ele deve estar de pé ao lado da cama.

— Sempre haveria baixas, — diz uma terceira voz. A mancha dolorida


no meu pescoço lateja. É Doc. Ele está aqui porque me perdoou? Está tudo bem?

— E se for uma coincidência? — Bobby pergunta.

Doc bufa. — Parker se muda para o armazém e na manhã seguinte a


velha está no hospital?

O som de carne batendo em carne.

— Chiudi quella cazzo di bocca, — Eli sibila. Cala a porra da boca.

Sinto todos os três pares de olhos em mim. Eu deixo pequenas gotas de


ar entrarem e saírem do meu nariz, o resto de mim ainda está como pedra.

— Graças a Deus, porra, — Eli murmura. — Essa conversa acabou.


Vista-se e desça.

As cobertas se movem e o calor de Bobby deixa meu corpo.

A velha está no hospital. Por que uma pessoa ferida importaria se o


armazém fosse atacado e muitas pessoas fossem feridas? Meu corpo sente antes
que minha mente entenda. Uma cãibra aguda no meu estômago. Meus olhos se
abrem. Doc e Eli estão na porta do quarto, Bobby congelou, sua camiseta pela
metade.

— Zia Teresa está no hospital, — digo. — Sr. Parker a atacou.

Eles não têm tempo para mentir. A resposta está escrita no rosto de cada
um.
Eli começa a dizer alguma coisa, mas um buraco está se abrindo dentro
de mim, um buraco onde Zia Teresa está, fumando e me dizendo o que fazer. Eu
grito e o som vem de dentro e continua e continua.

Bobby pressiona as mãos nos ouvidos. Doc sai da sala. Em um passo Eli
está ao meu lado. Ele agarra minha bochecha e me dá um tapa no rosto. Mas
continuo gritando. Eu grito até minha cabeça inchar e meus olhos ficarem
borrados. Vou gritar até morrer.

Fora da neblina vem Doc. Com uma agulha. Ele enfia no meu braço e a
escuridão cai.
January Whitehall

Passo sete dias sozinha, trancada na ala leste. Todas as manhãs, Harvey
ou o Sr. Gretzky me traziam comida que eu não comia. Eu implorei a eles que me
dissessem algo 'qualquer coisa' sobre minha Zia, sobre o que os outros estavam
fazendo. Eles nunca fizeram. Uma vez o Sr. Gretzky perguntou se ele poderia ter o
colar de rubis de Eli de volta. — Se ele quiser, ele mesmo pode conseguir, — eu
disse a ele.

Eli nunca veio.

No terceiro dia tentei arrombar a fechadura da minha porta com uma


tesoura de unha. Eu não tinha ideia do que estava fazendo e a tesoura escorregou e
cortou minha mão. Doc irrompeu na sala com outra agulha. Quando acordei,
qualquer coisa que eu pudesse usar para quebrar coisas ou me machucar havia
desaparecido. Ele deixou o colar no entanto.
Na manhã do oitavo dia, elaborei um plano. É terrível e provavelmente
vai me matar, mas não me importo com o que acontece comigo agora. Se Zia
Teresa se machucou por causa do Sr. Parker, nada mais importa. Ela tem quatro
filhas e onze netos e já está dando a vida inteira por mim. Eu preciso sair daqui e
ter certeza que ela está bem. Além disso, todos da minha antiga vida já devem
pensar que estou morta agora. Não tenho mais nada a perder.

Coloco meu vestido mais leve, tiro as meias e faço uma trança no cabelo,
prendendo o São Cristóvão de Zia nas dobras mais apertadas. O vento está uivando
lá fora, dobrando as grandes árvores quase ao meio.

Quando ouço alguém vindo, pressiono meu ouvido no chão de madeira.


Um passo lento e uniforme diz que é o Sr. Gretzky que me traz o café da manhã.
Ele é quem eu esperava. Ele sempre entra mais na sala do que Harvey e parece
mais inclinado a lidar com um problema do que entrar em contato com os caras.

Abro a janela do quarto o máximo que posso, então rastejo atrás da


porta. Parte de mim sabe que isso pode não funcionar. É um truque infantil que
Margot e eu pregamos uma na outra quando éramos crianças. Escondendo-se atrás
da porta, em seguida, pulando e gritando 'boo!' Mas é o melhor que tenho.

O Sr. Gretzky bate na porta. — Srta. Whitehall? Seu café da manhã.

Ele destranca a porta, e ela se abre, escondendo meu corpo. Meu coração
bate tão forte contra meu peito que tenho medo de que ele ouça. Ele dá um passo à
frente e coloca a bandeja do café da manhã na minha cômoda. — Srta. Whitehall?

Eu tento não respirar.

— Oh merda, — diz o Sr. Gretzky, e eu ouço uma enxurrada de passos.


Eu espio do meu esconderijo. Ele está na janela aberta olhando para
baixo. É o meu momento. Eu deslizo pela porta e então estou lá. Por outro lado.
Com pressa, vejo que ele deixou a chave na fechadura.

— Ei! — O Sr. Gretzky grita.

O tempo desacelera. Eu fecho a porta enquanto ele se lança em minha


direção. Meus dedos se atrapalham com a chave e tenho certeza de que ele vai me
alcançar antes que eu possa trancá-la, mas então o metal gira com o clique mais
doce.

Sr. Gretzky bate na madeira com tanta força que empurra a porta para a
frente como uma onda. — Destranque! Deixe-me sair!

— Desculpe, Sr. Gretzky. — Pego a chave e corro, o tapete empoeirado


macio sob meus pés descalços.

Desço um corrimão, respirando rápido. Nunca esperei chegar tão longe.


Meu plano terminou com o Sr. Gretzky me atacando. Do barulho alto ecoando
atrás de mim, ele não ficará trancado no meu quarto por muito tempo. Eu corro
mais rápido. Eu só preciso chegar a Eli ou Doc ou Bobby…

Uma porta à minha direita se abre e um homem enorme e cheio de


cicatrizes entra em meu caminho. A única pessoa que eu não queria ver. Não há
tempo para mudar de direção. Eu bato em Adriano Rossi rápido. Seu corpo parece
blocos de concreto. Eu luto para trás, mas sua mão se fecha no meu ombro,
mordendo. — Você.

Há um estrondo atrás de nós e o Sr. Gretzky aparece, ofegante. — Me


desculpe senhor. Ela estava se escondendo. Eu pensei que ela pulou pela janela.

Adriano olha para Gretzky. — Você a deixou escapar.


— Me desculpe senhor.

— Ela pode voltar para a cela.

— Não! — Eu grito, tentando desesperadamente organizar meus


pensamentos. — Eu preciso falar com você!

— Cale-se. — Adriano grita. — Gretzky. Cela.

— Eu sei de uma coisa! Adriano, eu sei onde o Sr. Parker mantém a


Orchard.

Seus dedos apertam meu ombro. — O quê?

— Ele tem um cofre secreto. Eu o ouvi falar sobre isso no telefone.


Aposto que a Orchard está lá. E mesmo que não esteja, aposto que um monte de
coisas importantes estão!

Os olhos verdes de Adriano queimam nos meus. — Você está mentindo.

— Eu não sou inteligente o suficiente para mentir!

Seu rosto muda, as sobrancelhas se juntando.

Meu coração dá um pulo. Ele acredita em mim.

— Você ouviu Parker falando sobre um cofre?

— Sim.

— Onde está?

— Eu… eu vou te dizer se você me levar para a minha Zia Teresa.

Adriano me joga no chão. — Eu terminei com você. — Ele levanta uma


bota como se fosse pisar em mim.

Eu levanto meus braços para cobrir meu rosto, mas me forço a continuar
falando. — Se você me matar, não encontrará o cofre.
Um momento de silêncio e estou de pé.

— Sr. Rossi? — diz Gretzky.

Adriano se vira para ele. — Você tem algo a dizer?

— Não senhor.

— Bom.

Adriano me arrasta pelo corredor e pela porta por onde entrou. Pontos
pretos surgem na frente dos meus olhos e vejo diferentes futuros esticados como
estradas invisíveis. Vida. Morte. Nápoles. Zia Tereza. Sr. Parker. Eu gostaria de ter
sido corajosa o suficiente para fugir no meu casamento. Para parar tudo isso antes
que acontecesse. Adriano me conduz até a escada de madeira e por corredores
amplos. Sua mão está tão fria quanto a arma que ele colocou na minha boca. Eu
gostaria de poder me livrar disso, mas eu sou mais esperta. Ele pode estar me
levando para a morte, mas é uma chance que tenho que correr para me aproximar
de Zia Teresa.

Ele abre um conjunto de portas duplas com sua impressão digital e


praticamente me joga para dentro. A sala é uma câmara infernal gótica. Facas nas
paredes e quadros que dariam pesadelos às crianças. Monstros gritando na frente
de céus vermelhos, corvos, ossos, dragões escamosos de dedos longos. Há uma
arte nisso, mas é feio. Cruel. No meio de tudo há uma cama enorme com lençóis
pretos. É difícil acreditar que Adriano Rossi faça algo tão vulnerável quanto
dormir. Ele deveria rondar os terrenos da Velvet House à noite, jogando seus
chifres para trás e berrando para o céu.

— Você tem um minuto. Diga-me o que você sabe.

— Eu… você pode me levar para ver minha Zia Teresa?


Ele tira a arma do coldre do ombro. E uma risada histérica me escapa. —
Você vai colocar na minha boca de novo? É por isso que estamos no seu quarto?

Adriano faz alguma coisa com a arma para que pareça mais pronta para
entregar a morte. Meu sangue se transforma em gelo. — Você não pode me matar.
Se você me matar, você não vai descobrir o que eu sei.

Suas narinas se dilatam, mas posso vê-lo revirando o dilema em sua


mente. Meu olhar cai para uma garrafa de vodka em sua mesa de cabeceira. —
Desculpe, posso… posso tomar uma bebida?

Seus olhos percorrem meu rosto, me lendo como um romance que ele
odeia.

Eu luto contra outra risada louca. — Tenho certeza de que estou prestes a
morrer. E se estiver, não quero faze isso sóbria.

Ele olha um pouco mais, então dá de ombros e pisa na garrafa, jogando-a


para mim. Não é vodka, é grappa, e quando eu abro a tampa, o cheiro oleoso quase
me faz engasgar. Eu bebo do gargalo e engasgo e cuspo. Adriano me observa. Eu
posso dizer que ele está se divertindo. Eu bebo novamente.

— O cofre de Parker. Onde está?

— O que aconteceu com minha Zia Teresa?

Ele cruza o espaço entre nós em um passo largo e pressiona sua arma na
minha cabeça. Um pequeno círculo frio. Ele cheira a terra e pedra. Uma antiga
floresta escondida atrás das montanhas. — Você quer que eu faça isso?

O licor queima meu estômago em um rastro escaldante. — Se você me


matar, aposto que os outros vão ficar com raiva.
— Os outros. Se eles não fossem tão bocetas, eu teria te matado semanas
atrás.

— Desculpe, — eu digo friamente.

Ele me dá um olhar que não consigo ler. Talvez desprezo. Talvez


simplesmente desgosto. — Como diabos você os convenceu a deixar você
continuar virgem?

Um nó sobe na minha garganta. — Talvez eles não quisessem me


machucar?

— Isso faz três deles. — Ele pressiona a arma com mais força na minha
testa, mas não sinto nenhum medo. O álcool está passando por mim como rastros
de luz, me emprestando fogo. — Sr. Rossi, só quero saber o que aconteceu com
minha Zia. Você nunca amou tanto alguém que enlouqueceria se fosse ferido?

— Não.

Eu mantenho meu olhar fixo em Adriano. Eu também tenho olhos


verdes. Talvez como sua mãe ou sua irmã. — Por favor? — Eu sussurro. — Por
favor, Adriano?

Sua boca se contrai, abre quase contra sua vontade. — Ela foi atacada
saindo da casa da sua madrasta. Braços quebrados, rosto fraturado.

O ar deixa meus pulmões em um sussurro. — Ela foi assaltada?

— Foi um trabalho armado. Parker nos lembrando do que ele pode fazer.

Lágrimas bem nos meus olhos e rolam pelas minhas bochechas. Eu os


deixo onde estão. Eu não mereço limpá-las. — Por quê? Zia nem é minha família
de verdade.
— Use sua cabeça. Parker não vai entrar em guerra com os Whitehalls.
Ele escolheu alguém que enviaria uma mensagem, mas não tinha recursos para se
proteger. — A voz de Adriano é amarga.

— Foi isso que ele fez com você?

Eu não sabia que seu poder sobre a arma tinha afrouxado até que ele a
pressionou com mais força contra o meu crânio. — O cofre. Agora.

— Sr. Parker e eu estávamos andando pelo Central Park quando ele


recebeu uma ligação de um cara instalando um cofre em uma árvore em seu
quintal.

— Uma árvore? — Adriano enfia a arma na minha cabeça. — Uma porra


de árvore?

— Um buraco que estava sendo expandido. Eles iam instalar um biosafe


e então plantar algo sobre ele. Era alto. Como quatro metros no quintal.

— E Parker disse isso na sua frente?

Lembro-me daquela tarde gelada de inverno, minhas luvas vermelhas e


minha empolgação em escolher meu próprio pedido do Starbucks 'um caramelo
Venti com chantilly.' Aquela garota se sente tão estupidamente jovem, como uma
irmãzinha que foi para um internato.

— Sr. Parker pensou que eu era uma idiota, — eu digo. — Ele me


drogou na frente de toda a minha família. Você realmente acha que ele tinha medo
de atender ligações de negócios na minha frente?

Adriano levanta a arma. — Você ainda ia se casar com ele.

— Sim, eu já te disse que não sou inteligente. — Eu levanto a grappa e


bebo. Desta vez eu mal engasgo.
Adriano me observa engolir. — O que você acha de Parker agora?

— Ele é um idiota assustador.

Adriano sorri.

Eu teria dito o que eu achasse que ele queria ouvir, mas o insulto sai
doce como caramelo. Eu quero fazer isso de novo. — Ele é um criminoso
pervertido e nojento.

Seu sorriso desaparece. — Você me contou o que sabe e eu lhe contei


sobre sua Zia. Você vai voltar para a cela até consertarmos a porta do seu quarto.

— Espere! — Estendo a mão para ele, e quase cambaleio para o lado. —


Desculpe, esta grappa é loucamente forte.

O rosto de Adriano suaviza. — Então, pare de beber, Pryntsesa.

O apelido — o que quer que signifique — me dá força. — Adriano, por


favor, me leve para ver minha Zia?

Seu olhar cai da minha boca para a frente do meu vestido. É renda
marfim. Quem está me vestindo ainda prefere o branco. Eu empurro meus ombros
para trás. — Por favor?

Ele bufa. — Você está tentando me seduzir?

— Eu…

— Vamos deixar algo claro. Você é um cachorro, January Whitehall.


Um cachorrinho barulhento. E se dependesse de mim, eu te colocaria para baixo
como um.

Eu cambaleio para trás como se ele me empurrasse, deixando cair a


grappa de modo que o licor se espalhasse por todo o chão.
Adriano sorri e as cicatrizes em seu rosto se contorcem como um raio. —
Você vai voltar para sua cela.

A cela. O pequeno espaço escuro onde eu cantava e praticava balé


sozinha. — Ok.

Adriano se dirige para a porta. Meus membros estão soltos enquanto eu


tropeço atrás dele, meu peito é um emaranhado de nervos. Ele pressiona o polegar
no sensor do painel, e eu me lembro de como ele costumava esperar por mim no
estúdio de balé. Sempre que passava por ele, prendia a respiração, desejando poder
desaparecer. Seu olhar parecia me seguir através de portas trancadas e paredes,
como se ele estivesse em todos os lugares que eu ia.

Minha cabeça está correndo como se estivesse viajando por uma rodovia.
Ele estava lá no meu estúdio me vendo dançar. Ele estava lá quando me deram
Orchard, competindo para ser meu primeiro.

Adriano Rossi está mentindo.

Eu puxo as alças do meu vestido para baixo e ele cai no chão. Estou nua,
exceto pela minha calcinha de algodão. Achei que não tinha nada a perder, mas
tenho. Minha virgindade.

Adriano se vira. Seu rosto se transforma em uma colcha de retalhos


grotesca de dor e luxúria. Minhas pernas ficam fracas, e mal consigo me segurar,
mas passo a mão pelos meus ombros, descendo até os meus seios. — Você adorava
me ver dançar. Você gostaria que eu dançasse para você agora?

O silêncio é tão alto que dói. Eu seguro meus seios, correndo minhas
palmas sobre meus mamilos. O calor passa por mim e eu solto um pequeno 'oh'
surpreso.

A mandíbula de Adriano aperta. — O que você quer?


— Prometa me levar para minha Zia e você pode ser meu primeiro.

Seu lábio se curva. — Você me deixaria arruinar você?

Eu arrasto meus dedos sobre meu abdômen esperando que ele não possa
ver o tremor em minhas mãos. — Há coisas mais importantes do que a pureza.

— O que me impede de te foder e depois cortar sua garganta?

Eu tomo uma respiração pequena e controlada. — Eu não acho que você


pode me matar.

Ele dá um passo em minha direção. — O quê?

Cada músculo do meu corpo vibra. Se eu pulasse, poderia atravessar o


teto. — Eu não acho que você pode me matar por causa de como eu danço.

Adriano vira o rosto e eu sei que estou certa.

— Você quer se livrar de mim, — eu digo baixinho como uma oração.


— Mas você não pode acabar com minha vida e os outros não querem me deixar ir.
Então, me leve para ver minha Zia e então eu corro e nunca mais volto.

Ele fecha os olhos, e percebo que Adriano Rossi é quase bonito, com seu
cabelo grosso e boca carnuda. Até suas cicatrizes prateadas são meio bonitas.
Então seus olhos se abrem e tudo o que posso ver é seu olhar frio e vazio.

— Você acha que meus irmãos vão me deixar perder você?

— Eles vão te perdoar. O que vocês quatro têm é maior do que eu.

— Era. Você fodeu tudo.

— Desculpe, eu só…

— De coração partido, — ele cospe a palavra como se isso o deixasse


doente. — Todos três. Não conversam. Não comem. Por sua causa.
Seus olhos caem para meus seios, e eu o sinto girando como uma
maçaneta em uma porta. Ele enfia a arma de volta no coldre. — Eu vou te foder,
então eu vou te levar para sua Zia. Então você pode pegar um avião para a América
do Sul. Chile ou Brasil. Você terá que descobrir tudo por conta própria. Aprender o
idioma. Provavelmente limpar as casas ou chupar pau por dinheiro.

Eu ignoro a pressão repentina no meu estômago. — Eu não me importo.

Ele se aproxima. — Você nunca mais verá os outros. Se você sonhar em


contatá-los, eu vou te matar.

Eu penso em Eli esperando por mim enquanto eu tomava banho. Doc se


esgueirando até mim na cozinha. Bobby me pedindo para cantar. — Tudo bem.

— Então está feito.

Eu congelo, esperando seu próximo movimento. Ele se abaixa,


segurando minha boceta na palma da mão. Sua outra mão se fecha em volta do
meu pescoço e ele me conduz para a cama. A pressão entre minhas pernas dói, mas
mantenho minha boca fechada. Aconteça o que acontecer, não vou gritar de dor.

Ele me empurra para o colchão e tira seu coldre de ombro e sua camisa.
Seu peito está coberto de cicatrizes, hematomas e tatuagens. Ele abre o botão de
sua calça jeans, puxando o zíper para baixo. Ele não está usando cueca e seu pau se
projeta através do V. Não parece do jeito que era na catedral. É grosso e duro e
vermelho na ponta, as tatuagens esticadas ao redor de sua pele. Ele se inclina para
frente e passa a palma da mão na minha barriga. Meu corpo se contrai. Eu sinto
que vou fazer xixi, mas ainda há outra sensação por trás disso, uma sensação
quente, aconchegante e viva.

— Você vai me foder por sua liberdade?

— Sim, — eu sussurro.
Ele se acomoda em cima de mim e tenho certeza que ele vai afundar seus
dentes em mim. Então seus lábios encontram os meus e sua grande língua acaricia
minha boca. Estou tão surpresa que meus olhos reviram. Não só ele está me
beijando, mas eu gosto disso. É tão fácil quanto beijar Bobby ou Doc. Suas mãos
prendem as minhas acima da minha cabeça e ele me beija tão profundamente que
sinto que estou me afogando. De perto, seu cheiro é almiscarado como o canto
esquecido de uma biblioteca. Estou sozinha há dias e minha fome de toque ruge
como uma fera. Eu envolvo minhas pernas ao redor dele.

Adriano grunhe na minha boca, seus quadris rolando sobre os meus. Se


for assim, não será tão ruim. Mas então sua mão trava em volta da minha garganta,
segurando meu crânio como se eu fosse uma boneca bobblehead38. Ele afasta sua
boca da minha. — Putinha.

Eu choramingo e ele aperta mais forte. — Diga que você me quer.

— Eu quero você, — eu sussurro, sem saber se é verdade ou não. O


calor pulsa entre minhas pernas e eu tento não pensar em seu pau longo e tatuado.

Seus dentes travam ao redor do lóbulo da minha orelha. — Você se


dedilhou?

— Não… não por dentro.

— Mas você foi usada por Doc e Basher. E Doc enfiou a faca em você.

— Apenas um pouco do punho. Por favor, não faça o mesmo?

Ele me dá um tapa, e o lado do meu rosto fica ardente. Eu grito e ele


aperta minha garganta com mais força. — Fique quieta ou eu te mato.

38 João bobo.
Deito-me como uma tábua enquanto Adriano estende a mão para o lado e
puxa um pedaço de cordão preto. Ele me amarra na cabeceira da cama, como se eu
fosse um cervo morto que ele está amarrando no carro.

— Mantenha a porra da boca fechada. — Ele se move para baixo do meu


corpo e separa minhas dobras com um dedo grosso. Eu espero por mais, mas ele
apenas olha para minha boceta. Eu pareço nojenta? Desfigurada? Mas há uma
quietude no rosto cheio de cicatrizes de Adriano, um prazer que eu não esperava
ver. Ele me pega olhando para ele e dá um tapa no meu clitóris. — Você está
encharcada. Doc me disse que você gostava de pau, mas porra quem sabia?

Eu choramingo, sem saber o que dizer. Meus pulsos já estão doendo com
a força com que ele me amarrou. Ele esfrega um polegar áspero e tatuado pelos
meus lábios e minha boceta vibra. Eu espero que ele se force dentro de mim, mas
em vez disso sua cabeça desgrenhada abaixa e sua língua lava meu clitóris. É mais
suave do que qualquer parte dele deveria ser. Ele é uma merda e o mundo inteiro se
inclina novamente, desta vez de uma forma que não tem nada a ver com álcool. —
Oh meu Deus!

Ele olha para mim por entre as minhas coxas. — Quieta.

Ele retorna sua boca para mim, e enquanto sua língua rola pela minha
boceta dolorida, eu mordo o interior das minhas bochechas para não gritar.
Adriano é o terceiro homem a fazer isso comigo. Todos eles foram tão diferentes.
Bobby foi preciso. Doc era preguiçoso e experiente, mas Adriano me lambe como
um urso no rio. Como se fosse um ato primordial. Eu ia fingir que gostei do que ele
fez comigo, mas não tenho que fingir que gosto disso.
Ele geme enquanto lambe, lento e constante. Ele também gosta. Sua
barba faz cócegas em minhas coxas e eu arqueio contra ele, meus dedos dos pés se
curvando. — Adriano…

Ele se afasta, passando a mão sobre a boca e eu choramingo como uma


pirralha.

Eu me preparo para um tapa, mas ele solta uma risada retumbante e


aperta seu pau tatuado. Eu não posso imaginar o quanto doeria fazer tatuagens
nessa parte do seu corpo. O único propósito deve ser assustar as mulheres com
quem ele dorme. Então, eles sabem quanta dor ele pode suportar. Ele se ajoelha em
cima de mim bombeando. Minha boceta aperta, quente com desgosto. Quer a boca
de Adriano novamente.

— Por favor? — eu murmuro. — Adriano?

Seus olhos verdes furiosos encontram os meus. — Quando eu terminar


de foder você, você vai deixar o país?

— Sim. O que você quiser, Sr. Rossi.

Sua boca se torna uma linha apertada. — Sua mentirosa do caralho, me


dizendo o que eu quero ouvir. Talvez você não vá para a Colombia sozinha. Talvez
eu siga você.

Eu estremeço.

— Não gosta disso, não é?

Eu balanço minha cabeça.

Ele cai sobre os cotovelos, o cabelo em seu peito roçando meus mamilos.
— Que Pena. Eu sei como seguir as pessoas sem que elas vejam. Eu fiz isso com
você por anos.
Ele acaricia seu pau através das minhas dobras e eu gemo. Sua boca me
deixou tão no limite que mal consigo pensar, e por mais assustadora que a corda
seja, fico feliz por ela estar lá. Significa que estou sendo forçada a isso. Para se
sentir assim.

— Talvez onde quer que você vá eu consiga um apartamento próximo,


— ele murmura. — Talvez você sinta que estou te observando enquanto você vai
trabalhar. Enquanto você dorme à noite.

Imagino Adriano lá fora, olhando pelas janelas escuras e parado nas ruas
lotadas onde construo minha nova casa. Um sentimento que eu não esperava toma
conta de mim. Cordialidade.

— Talvez eu me sinta segura, — eu sussurro. — Talvez eu sentisse que


você estava me protegendo.

Ele estremece, grandes ombros tremendo, então ele estende a mão e solta
a corda que segura minhas mãos. Eu os deixei cair na cabeceira da cama, pulsando
com sangue.

— Eu posso ser seu monstro de estimação, — Adriano murmura. — Sair


à noite e te foder enquanto você está inconsciente. Você não terá ideia até que
todos os seus filhos saiam parecendo comigo.

Eu deveria estar apavorada, mas há uma nota em sua voz que se fosse
cantada me faria chorar. Eu escovo uma mão sobre suas costas sentindo os sulcos
suaves do tecido cicatricial. — Adriano, não tenho mais medo. Estou me
entregando a você.

Ele joga a cabeça para trás, evitando meus olhos. Seu punho ainda está
bombeando seu pau tatuado e posso ver uma gota perolada crescendo na cabeça.
— Eu não quero o que você tem para dar, — diz ele.
— Mas…

— Você já é minha, January.

Tudo dentro de mim fica parado.

— Eu assisti você dançar e você era minha. Parker quer seu sobrenome.
Sua madrasta quer dinheiro. Os outros querem seu corpo, mas eu vi você. Eu assisti
você dançar. E desde então todas as noites sonhei com você.

Eu não consigo respirar. Eu não posso pensar.

— Seu cabelo. Sua boca…

A mão livre de Adriano traça meus lábios. Então ele fecha os olhos,
desconforto e constrangimento guerreando em seu rosto.

A morte frenética que eu pensei ter desaparecido, paira perto novamente.


Se eu chatear este homem agora, se eu o ofender, ele vai me matar só para salvar
seu coração. Eu toco sua bochecha cicatrizada. — Adriano, eu preciso ir. Eu
preciso ver minha Zia.

Seus olhos verdes perfuraram os meus. — Eu vi você.

Meu coração dói, porque ele viu. Ele me viu dançar quando ninguém
mais faria. Muito alta e muito peituda para ser uma bailarina, ele não se importava.

Sua respiração está irregular agora, seu punho ainda trabalhando em seu
pau e tão assustada quanto eu estou com ele me levando, estou mais assustada com
o que vai acontecer se ele não o fizer.

— Você me caçou, — eu sussurro. — Você me pegou. Por favor, me


leve.

Ele fecha os olhos, as luzes verdes se apagando. Somos apenas nós dois
sozinhos na cama dele. As últimas pessoas do mundo. A mão em seu pau diminui e
ele se posiciona entre minhas pernas. Meu corpo dói, meu clitóris está corado, e eu
sei que vou gozar enquanto ele me fode. Eu gozarei gritando e tremendo e
implorando por mais, e meu marido, quem quer que ele seja, não será o primeiro
homem a me fazer sentir essas coisas. Adriano Rossi será. Eu fecho meus olhos,
esperando o momento em que minha boceta se estica para deixar esse assassino
brutal dentro de mim. — Por favor, seja meu primeiro, — eu sussurro, enquanto
uma pequena lágrima cai do meu olho.

A cabeça do pau de Adriano roça em mim, mas não penetra.

Eu empurro meus quadris, incitando-o dentro de mim. — Leve-me.


Acabe com isso.

— Pryntsesa… — Adriano recua como um garanhão, me olhando bem


no rosto. Eu não sei o que ele está tentando ver, mas ele não encontra. Ele mostra
os dentes e então ele está acima de mim, seu punho tremendo em seu pau, uma
mão segurando meu peito.

Seu esperma é grosso e quente enquanto corre pelos meus quadris e


estômago. Ele joga a cabeça para trás em um gemido, um urso pardo lutando
contra uma armadilha. Acabou. Adriano terminou sem penetrar no meu corpo.
Ainda sou, de alguma forma, virgem.

Ele se vira e ouço um grunhido de zíper. — Vamos lá.

— Adriano?

Ele olha para mim, sua expressão tão odiosa quanto na noite em que
cheguei em Velvet House. — Estamos saindo.
Adriano Rossi

January se senta ereta no banco do carro ao meu lado. Eu disse a ela para
colocar maquiagem, o suficiente para que qualquer um que a conhecesse não a
reconhecesse imediatamente. Ela tem feito um bom trabalho. Sombra dourada
pesada, bochechas rosadas, lábios vermelhos brilhantes. As roupas ajudam. Um
pequeno vestido fino e o colar de rubi e saltos altíssimos que Eli comprou para ela.
Ela parece uma pequena socialite arrogante.

Ela olha para frente, seus olhos verdes vagos. Eu quero quebrar a cabeça
dela e ler seus pensamentos. Ela está pensando sobre o que fizemos? Ou essa
expressão calma e vazia é para o futuro dela?

Depois que eu terminei com ela, ela pegou uma das minhas camisetas e
limpou meu esperma de seu estômago como se ela tivesse feito isso a vida toda. —
Posso ir ver minha Zia agora?

Era como se minha cabeça tivesse sido virada do avesso. Eu finalmente


toquei a garota que dançava nos meus sonhos e a única razão pela qual ela permitiu
que fosse fazer o que queria. Eu queria jogá-la de volta em sua cela e esconder a
chave. Em vez disso, eu me empurrei para os meus pés. — Se eu levar você para
ver sua governanta, será a última coisa que você fará em solo americano.

Ela olhou para mim, suas costas retas e sua boca firme. — Eu sei.

Ela fez as malas, e eu me barbeei e me vesti. Quando pegamos um BMW


sem identificação na garagem subterrânea, nenhum de nós se parecia com nós
mesmos.

January já tem uma nova identidade. Eli fez isso quando ainda estava se
iludindo de que mandaria a garota para Nápoles. Isabela Branco. Tenho o
passaporte dela, carteira de motorista e um cartão AMX com dez mil. Quando
chegarmos às partidas internacionais, vou empurrá-la em um avião com os três e
vê-la voar para a liberdade. Morelli vai ficar lívido, e Doc e Bobby vão lutar, mas,
eventualmente, eles vão entender por que eu fiz isso.

Essa garota é problema. Sequestrá-la foi um risco desnecessário que


todos nós corremos por diferentes razões. Ou talvez fosse o mesmo motivo no
final. Todos nós a queríamos mais perto e isso foi um erro. Enquanto ela estiver
conosco, as coisas não podem estar certas. Mandá-la embora é a única coisa que
pode trazer a balança de volta ao equilíbrio.

Teresa Calderoli é paciente do St. John's Private Medical Center. Parece


mais uma mansão do que um hospital e o estacionamento está cheio de Porches.
Considerando que Calderoli é governanta, alguém gastou muito dinheiro para
mantê-la aqui. Parker ou a cadela de Whitehall.

Estaciono o carro e procuro algo suspeito. As informações de Bobby


dizem que os homens de Parker abandonaram o hospital depois de três dias sem
nós ou January aparecer. Ainda assim, não há razão para tornar as coisas óbvias.
Eu alcanço meu porta-luvas e tiro um par de óculos de armação preta transparente.
A cicatriz no meu rosto é sempre identificável, mas barbeado, de terno sob medida
e óculos, não me pareço muito com Adriano Rossi. Eu me viro para a garota. —
Pronta para ir?

— Você costuma se disfarçar de corretor da bolsa?

Ela parecia tão séria no estúdio de balé, tão solene e pequena. Mas aqui
ela está tirando sarro das minhas roupas. E de volta ao meu quarto, ela agiu como
se eu foder sua boca com uma arma, era um feitiche meu. Deve ser culpa de Doc.
Ele sempre foi uma má influência.

— Podemos ir? — ela pergunta, uma mão já na porta. — Por favor?

Eu ergo um dedo. — Porque estamos aqui?

— Para visitar minha tia June. Ela quebrou a perna ao cair de uma
bicicleta.

— E quem é você?

— Elizabeth Mills. Uma caloura no Fashion Institute.

Eu aponto para mim mesmo. — Eu?

Espero que ela fique vermelha, mas ela apenas sorri friamente. — Você é
meu pai, Anthony Mills.

— Bom. Vamos lá.

Eu cruzo o braço dela debaixo do meu enquanto caminhamos para o


hospital. Eu não quero tocá-la, mas ela está tremendo como uma drogada. Ela se
inclina para mim, e eu tento não respirar seu cheiro. Como nectarinas doces e luar.

O exterior pode ser chique, mas o interior do St. John's cheira como
todos os hospitais, como desinfetante e carne no microondas. As cabeças se voltam
enquanto nos dirigimos para a recepção, homens e mulheres olhando para January.
Inevitável. Eu poderia tê-la feito usar jeans e esfregar o rosto, mas a garota é bonita
demais. Nada menos que um saco de batatas teria ajudado e isso teria sido ainda
mais perceptível.

— Cinco minutos, — murmuro em seu ouvido. — Então vamos sair


daqui.

— Sim pai.

— Bom dia, — eu digo para a mulher de aparência entediada atrás da


recepção. — Antonio Mills. Minha filha e eu estamos aqui para visitar June Mills.

Tirei o nome das notas de escoteiros de Bobby. Uma velhinha que


podemos fingir que estamos visitando se Parker ainda estiver verificando o registro
de convidados.

— Sra. Mills fica no terceiro andar, — diz a recepcionista. — Entre e


pegue o elevador à esquerda.

Eu rabisco uma assinatura falsa no livro de visitas e então guio January


para o elevador. Ela enfia os calcanhares no chão. — Não podemos comprar flores
para a tia? — Ela gesticula para o estande ao lado da recepção.

Eu cerro os dentes. — Tudo bem. — Eu pego um buquê de rosas


amarelas estupidamente caras e January faz um trabalho decente ao parecer
entediada enquanto cutuca as unhas ao meu lado. Ela realmente deveria estar em
seu telefone, mas eu não estou dando um a ela. Ela pode comprar alguma coisa
quando chegar onde está indo. Será mais seguro assim.

— Aqui, — eu digo entregando-lhe as rosas. — Todo seu.

O canto de sua boca se contrai. — Obrigado, pai.


Enquanto caminhamos para o elevador, penso no pai dela, Nicholas
Whitehall. Ele cedeu ao câncer sem impedir sua segunda esposa de víbora de fazer
o que quisesse depois de sua morte. Ele sabia o que ela era, avisou-a para não se
encontrar com Parker, mas nunca tomou medidas para proteger sua filha.

Se eu fosse o pai de January, teria vendido minhas propriedades no


exterior e amarrado o dinheiro em fundos fiduciários que a madrasta não podia
tocar. Eu mandaria January para um internato suíço para crescer na neve e céus
suaves. Certificado de que chegasse a milhões assim que ela completasse dezoito
anos. Mas isso são ricos idiotas. Sempre pensando que nada pode machucá-los,
mesmo depois de mortos.

Quando estamos no elevador, aperto o botão do sexto andar. Zia Teresa


está no quarto 612. Enquanto o elevador se move, ouço a respiração superficial de
January e penso nela esparramada na cama, minha língua entre suas pernas. Ela
estava debaixo de mim, gemendo e a segundos de gozar. Tudo que eu tinha que
fazer era plantar meu pau dentro dela e acabar com isso. Mas eu não podia tirar a
virgindade dela. Eu não sei por quê. Só que eu teria cortado meu pau antes de
deslizar dentro dela.

Talvez ela foda um homem assim que ela pousar onde quer que ela vá.
Livrar-se do que todo mundo quer. Talvez ela até se apaixone pelo cara. Um cara
legal e normal que promete protegê-la e dar a ela o mundinho seguro que ela
deseja.

Eu ainda vou encontrá-la. Eu provei sua boceta e a vi dançar. Eu fui o


primeiro homem a quem ela se ofereceu. Estamos unidos agora. Enquanto ela
estiver viva, ela é minha.
Saímos no sexto andar. January anda rápido demais pelo corredor. Eu
puxo seu ombro, a faço desacelerar. Ela já está chorando. Lágrimas caindo em seu
vestido rosa vulgar. Eu viro meu rosto. Não suporto as lágrimas das mulheres.
Paramos do lado de fora da sala 612.

— Cinco minutos, — repito.

Seus olhos estão fixos na porta. — É claro.

Eu agarro seu queixo. — Sua Zia parece ruim. Ela pode não estar
consciente. Você grita ou faz qualquer barulho, eu entro lá e enfio minha mão na
sua boca.

Ela me olha bem nos olhos. — Eu prometo que vou ficar quieta.

Eu a solto. — Então vá.

Ela continua me encarando. — Adriano. Obrigada.

Eu aperto minha mandíbula e não digo nada.

Ela abre a porta 612 e entra. Dou-lhe alguns minutos antes de enfiar a
cabeça para dentro. O quarto está escuro, com cortinas grossas fechadas sobre as
janelas. Há cartões e flores em todos os lugares. January está sentada ao lado da
cama, o rosto enterrado nos lençóis de Teresa Calderoli. A velha parece mal. Seu
rosto é uma confusão de roxo e ambos os braços estão engessados. Quem quer que
tenha trabalhado nela foi além do dever. Ela está inconsciente ou o material em seu
IV está ajudando-a a dormir. Eles provavelmente são mais generosos com
remédios em um lugar como este.

— Você está bem? — Eu pergunto.

Ela levanta a cabeça, maquiagem espalhada ao redor dos olhos. — Está


na hora?
Quero trancá-la no porão. Escondê-la longe de tudo que a faz parecer
assim. — Não muito, — eu digo, fechando a porta para ela.

Passamos por uma máquina de café no caminho do elevador. Eu a


encontro, preparado para enfiar qualquer quantia de dinheiro dentro da abertura
para conseguir algum. Acontece que é grátis. Aperto um botão e vejo os grãos
recém-preparados derramarem em um copo de papel.

Meu telefone vibra. Eli me ligando. Já recebi mensagens e ligações


perdidas de Bobby e Doc. Então, começa.

Eu empurro meu telefone longe e tomo meu café. Está muito quente,
mas eu esvazio o copo na boca de qualquer maneira. Eu esperava que a Zia de
January estivesse acordada. Queria ver se o relacionamento era mútuo ou se a
garota havia projetado uma mãe em outra parte desinteressada. Olhando para o
meu copo vazio, me pego esperando que seja real. Esse alguém amava January
como Magdalena Rossi me amava. Estupidamente. Contra todo o seu melhor
julgamento.

Mamãe parece próxima neste hospital, tão diferente daquele em que a vi


morrer. Oito leitos de hospital amontoados em um quarto, médicos de olhos mortos
dando atualizações distraídas, suas mentes já nos pacientes que poderiam viver. Eli
queria pagar por um hospital particular, mas eu sabia que era tarde demais. Eu só
estava esperando ela ir. Fecho os olhos e a vejo em nossa pequena cozinha verde,
dobrando varenyky39 e cantando junto ao rádio. Eu sou mais velho do que ela era
agora e tudo sobre isso está errado. Eu deveria morrer jovem.

Um barulho atrás de mim. Um rangido como um sapato gasto.

39 Pastel originário da Ucrânia.


O tempo se dobra para trás, descascando como a ponta de uma lâmina.
Eu puxo minha Glock do coldre de ombro, mas é tarde demais. Eu sei como eu sei
meu nome. A bala corta meu lado. Eu me viro, cortando a testa de um cara
baixinho, mas mal tive tempo de mirar no loiro enorme atrás dele antes que alguém
me agarrasse. Eu puxo contra eles, quebrando seu domínio, mas eles enfiam seus
dedos no meu ferimento de bala, rasgando para baixo. Minha cabeça se abre em
agonia.

— Derrube ele!

O loiro maciço corre em minha direção, eu levanto minha arma enquanto


seu punho bate no meu nariz. A dor tira o ar dos meus pulmões. Eu caio de joelhos,
engasgando com o sangue.

Uma mulher grita. January? Eu empurro meu pé no chão e tento ficar de


pé, mas o loiro me chuta no peito. Eu me esparramei de costas e meus óculos
falsos saíram voando. Eu os ouço se estilhaçar no chão. Uma emboscada. Uma
estúpida emboscada comum.

O gosto metálico do sangue desce pela minha garganta e eu o corto. O


loiro pega minha arma e cospe na minha cara. — Maldito safado.

Outro grito feminino. — Adriano! Ajude-me!

Vejo January em seu minúsculo vestido rosa, sentada ao lado de sua Zia
Teresa. Lembro-me da sensação dela debaixo de mim. Eu deveria tê-la fodido. Por
que eu não transei com ela?

— Olá, Rossi.

É engraçado como Parker mudou pouco em vinte anos. Seu rosto está
sem rugas, seus olhos azuis redondos ainda procurando mais dinheiro, mais boceta,
mais poder, mais pílulas. Um vazio girando ao redor do nada. Eu tusso, borrifando
mais sangue para cima e para trás no meu próprio rosto.

Parker ri. — Eu vou te matar, Rossi.

Ele está apostando na leve confiança de Morelli, mas sua voz está
trêmula.

— Então, porra, faça isso.

Parker lambe os lábios rosados. — Você e January se registraram como


pai e filha. Isso foi uma piada ou você violou minha noiva?

Eu rio. — Você não tem a mínima ideia.

O olhar de Parker fica preto. — Cale-se.

— Eu a tinha no meu rosto uma hora atrás, nua e me implorando para…

Parker não é forte, mas uma bota nas costelas ainda é uma bota nas
costelas. Sinto outro estalo surdo e minha respiração se torce como uma torneira
enferrujada.

— Você cresceu uma língua, lambe-botas. O que aconteceu com deixar


seus amigos falarem?

Eu rio mesmo que isso faça meu interior gritar. — Você está fodido,
idiota. Você me mata, há mais três vindo.

Parker pega uma Beretta de algum lugar e a coloca sobre meu rosto. —
Hora de morrer, hein?

Eu não falo. Homens melhores do que Parker apontaram uma arma para
minha cabeça. Eu não os insultaria implorando por minha vida. A morte sempre foi
uma possibilidade, e esta é a minha merda. Eu mereço. Tudo o que posso esperar é
que os outros encontrem January. Que Morelli se case com ela e deixe Doc e
Bobby transar com ela quando quiserem. E eles terão jantares como o que tivemos.

Olho para o cano da arma. — Mate January e os outros vão fazer você
pagar.

Parker mostra os dentes e o mundo escurece.

***

Luz vermelha através de rachaduras de papel.

Lento, vazando calor.

Um homem gritando. Aquele gemido horrível de inseto.

Sirenes.

— Sr. Mills?

Uma mulher de branco está pressionando algo na minha cabeça, dizendo


algo que não consigo ouvir. Eu pisco. Paredes brancas com borda de folha. Mica
salpicava o chão. Ainda estou no hospital St. John's. Eu tento me levantar e
desmorono, sangue escorrendo pela minha boca como veneno. Eu pressiono minha
mão no ferimento de bala e vou de novo, cambaleando em meus pés. A dor está lá,
mas a uma ou duas ruas de distância. O problema de outra pessoa. Eles devem ter
me dado drogas.

Uma garota atrás de mim grita e o médico diz outra coisa. Eu os ignoro e
cambaleio para frente. A porta de Zia Teresa está aberta, os cartões, flores e doces
exatamente onde estavam. A velha ainda está na cama e, por um segundo, acho que
está tudo bem. Então eu vejo seus olhos castanhos vazios.
Ela está morta e January se foi.
January Whitehall

— Sua vadia nojenta e degenerada.

Sento-me em frente ao Sr. Parker em uma limusine. As janelas estão


escurecidas. Se ele me bater ninguém vai ver.

Zia Teresa está morta. Um homem mascarado colocou as mãos em volta


da garganta dela e a matou. Eu o vi fazer isso. Ouvi os sons horríveis. Adriano é
baleado. Eu não sei se ele está morto, mas quando fui arrastada por ele, ele não
estava se movendo.

Estes são os fatos. Eles não podem ser discutidos ou chorados. Eles não
podem ser alterados.

O Sr. Parker se inclina para frente, juntando os dedos. — Dez anos. Há


dez anos que venho pagando a cadela da sua mãe para que seja raptada no nosso
casamento. Milhões de dólares pelo ralo.

Sr. Parker têm olhares vidrados em seu rosto. Parece que meu ex-noivo
tem falado muito sobre isso desde o meu sequestro.
Fixo um sorriso compreensivo em meu rosto. — Sinto muito, Sr. Parker.

— Não sorria para mim, putinha. Sabe, a tua mãe pensa que te roubei.
Por que diabos eu faria isso? — Ele me olha com expectativa.

— Não tenho certeza, Sr. Parker.

— Claro, você não tem, sua cadela estúpida. — Sua expressão é alegre.
Tenho certeza que ele está morrendo de vontade de falar comigo assim.
Provavelmente foi difícil para ele me comprar flores e me levar para passear
quando esse é o relacionamento que ele realmente queria ter.

Ele se aproxima, batendo um dedo no colar de rubi. — Você andou


fodendo Eli Morelli?

Seu hálito é doce e azedo como refrigerante rançoso. Minha garganta se


contrai. — Não.

O Sr. Parker dá uma risada alta e trêmula. — Então, você fodeu Adiano?

— Eu… quem?

Ele olha para mim como se eu fosse um pedaço de terra inútil. — Adiano
Rossi.

Eu sorrio. — É pronunciado 'A-dree-ah-no.'

A dor explode em meu rosto.

— Sua prostituta inútil, — Parker sibila. — Você os fodeu. Você fodeu


os quatro, não foi?

Meu lábio está partido. Eu toco a pequena parte da minha pele, sinto o
sangue escorrer como água oleosa. Fiquei impressionada com os outros, mas isso
parece completamente diferente. Quando eles fizeram isso, meu pulso acelerou e o
ressentimento e o calor lutaram por espaço dentro de mim. Olhando nos olhos do
Sr. Parker, tudo o que sinto é uma decepção chata e silenciosa.

— Eu ainda sou virgem, — digo a ele.

— Você é uma putinha mentirosa.

Eu lambo meu lábio superior. Odeio o gosto de sangue, mas não tenho
Kleenex e acho que ninguém vai me dar. — Juro pela minha Zia Teresa, ainda sou
virgem. Nenhum deles dormiu comigo. Ninguém fez isso.

O Sr. Parker estreita os olhos. — E se eu mandar um médico examinar


você? Você ainda estaria intacta?

Tenho certeza que o hímen não funciona assim. Que se cobrisse o buraco
você não poderia menstruar. Mas não vou dizer isso ao Sr. Parker.

— Claro, estou intacta, — eu digo, tentando soar triste, mas levemente


ofendida. — Você pode pedir para um médico me examinar. Eu quero que você
faça isso. Ainda sou virgem.

Ele se recosta em seu assento. Ele ainda não acredita em mim.

— Eles teriam filmado. Se eles tirassem minha virgindade, eles teriam


filmado e mostrado a você.

O Sr. Parker traça os dentes com a língua. — Nós nunca tivemos


nenhuma gravação deles fodendo com você depois do primeiro. Eu pensei que
você estava morta.

Ele parece levemente irritado, como se tivesse perdido uma carteira. Ele
agarra meu pulso, esmagando-o em sua mão carnuda e muito quente. — Por que
eles não continuaram filmando você? Por que eles não se forçaram em você?
Lembro-me daquele jantar na Velvet House. Nós cinco sentados ao redor
da mesa de jantar polida comendo, bebendo e rindo. Eu deveria ter dito sim para
ficar lá. Se tivesse, estaria segura e Zia Teresa ainda estaria viva.

Eu toco um dedo no meu ombro, onde meu São Cristóvão está escondido
sob a alça do meu vestido. Zia Teresa está comigo agora. Eu a carrego no meu
coração. E uma vez ela me disse para não me culpar pelo que as outras pessoas
fazem, mas para me concentrar na minha própria sobrevivência.

O Sr. Parker ainda está me observando, esperando uma resposta.

— Eu acho que eles tinham sentimentos por mim, — eu digo baixinho.


— Eles não queriam me forçar. Eles queriam que eu os escolhesse.

Ele dá uma gargalhada. — Isso é hilário pra caralho.

Seus guarda-costas sorriem amavelmente.

Eu mordo de volta meu próprio sorriso secreto. O Sr. Parker acredita em


mim. Ele sabe que ainda sou virgem. Ele vai me manter viva apenas para zombar
dos homens que me roubaram dele. Enquanto sua limusine zumbia pela cidade,
repito seus nomes como um mantra. Elliot Morelli. Domênico Valente. Roberto
Bassilotta. Adriano Rossi.

Eles são assassinos. Homens perigosos e violentos. E eles virão em


busca de vingança sangrenta. Eu só tenho que sobreviver até que eles me
encontrem.

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