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Au la 6
An ális e d o Film e
“O Qu e Vo cê Faria?”
Cinco hom ens e duas m ulheres disputam um a vaga para um alto cargo
executivo de um a grande empresa em Madri (Espanha). Os candidatos
participam da últim a etapa da seleção, do qual apenas um restará. Fechados
num a sala, as provas são elaboradas baseadas num cham ado “Método
Grönholm ”, que basicam ente incitará os piores instintos de cada candidato na
tentativa de elim inar os concorrentes. Esta é a tram a narrativa do film e “O Que
Você Faria?” (El m étodo), de Marcelo Piñeyro, produzido em 20 0 5, que baseia-
se na peça de teatro “El m étodo” (de 20 0 3), escrita pelo autor catalão J ordi
Galcerán (na peça eram quatro os candidatos a executivo de um a m ultinacional
– e não sete, com o no film e).
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A Precariedade do Trabalho no Capitalismo Global
Num prim eiro mom ento, a abertura do film e nos m ostra fragm entos
com postos do despertar cotidiano dos candidatos ao posto de alto executivo da
em presa Dekia, num a Madri sitiada pelos m anifestantes anti-globalização que
protestam contra o encontro de cúpula FMI-Banco Mundial. Com certeza, este é
um dia especial para todos eles – e para o centro de Madri, tom ado pela
agitação popular. Assim , um dos candidatos, J ulio, acorda às 7 horas. Ana dá
café da m anhã ao filho e observa na TV as notícias da m anifestação popular.
Diz: “Parece que vai ter confusão”. O filho parece querer aproveitar a confusão
para faltar à escola. Ricardo, outro candidado, lê os jornais na m esa do café da
m anhã ao lado da fam ília Nieves se prepara para a seleção, m aquiando-se.
Fernando tom a o café da m anhã na rua, lendo m anchetes do jornal. Enrique
escreve em seu palm , sentado no banco traseiro de um a van. Carlos chega de
m oto à torre da Dekia. Panfletos de m anifestantes dizem : “Outro m undo es
posible”. Carlos – o últim o a chegar - se dirige ao Departam ento de Pessoal da
grande empresa.
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H is tó ria
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elim inado J úlio, tinha acabado de ser eliminada do jogo). Diante da janela de
vidro, é Ricardo, ao lado de Fernando e Enrique, que observa: “Não se vê nada
daqui”. Ora, esta observação de Ricardo é bastante significativa: os “proletários
de classe m édia” tendem a estar im ersos num a névoa ideológica que encobre a
percepção do verdadeiro m ovimento da história, que é a história da luta de
classes. A partir do pequeno m undo da pseudo-concreticidade cotidiana, eles
nada vêem – a não seus interesses particularistas. Enquanto individualidades
pessoais de classe im ersos na existência alienada que apenas reitera sua
condição de proletariedade subsum ida ao acaso e contingência, eles não vêem
nada (talvez não vêem sequer som bras, com o os hom ens e m ulheres no m ito da
Caverna, de Platão). Eles apenas ouvem sons ecoando à distância, sons das
palavras-de-ordem inscritas na dialética das m assas em m ovim ento - m assas-
que-se-fazem -classes-sociais.
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teleológica prim ária, que caracteriza o ato do trabalho, diz respeito a ação do
hom em sobre a Natureza; a segunda - a posição teleológica secundária, traço
distintivo da esfera da ideologia, diz respeito a ação do hom em sobre outro
hom em (ou ação do hom em sobre si m esm o). Na m edida em que se desenvolve
o com plexo do trabalho, am plia-se o cam po das posições teleológicas
secundárias, caracterizadas pelos atos de preparatórios do trabalho social.
Trabalh o e Id e o lo gia
(segundo Lukács)
H o m e m – N atu re za
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Fo rm as d e s e r d a Id e o lo gia
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Reestruturação Produtiva
To yo tis m o
Es co lh as p e s s o ais e s tran h ad as
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Ao ser inquirido se tem câm era ou não, Ricardo apenas confirm a que a
em presa Dekia se utiliza de um novo m étodo de seleção de pessoal baseado na
técnica do reality show , estratégia de m anipulação reflexiva que altera o
registro da m anipulação sistêm ica. Com o o espírito do protestantism o, que,
com o observou Marx, coloca os grilhões no interior da alm a hum ana, o espírito
do toyotism o – base m aterial da nova lógica de m anipulação reflexiva – tende a
excluir o vigia exterior (câm eras e m icrofones, por exem plo), e m esm o o
inform ante oculto - com o salientam os, a função de Ricardo, o suposto
“Inform ante da em presa”, é m enos vigiar os candidatos que m ediar (ou
facilitar, com o se diz) a dinâm ica do reality show ). Os verdadeiros algozes de
cada um dos candidatos é o Outro-proxim o-de-si ou o próprio candidato (o que
dem onstra que a culpabilização da vítim a possui um lastro real).
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Mais tarde, Ricardo iria confirm ar que não tem “vigia externo” – em bora
possam os verificar, ao final, que há sim , câm eras de video nos recintos da Dekia.
Na verdade, as câm eras de video não cum prem a função de vigiar os candidatos
da dinâm ica de seleção de pessoal. Diz ele: “Não porque seja ilegal [o que
dem onstra o desprezo das grandes em presas pelos “preciosism os” legais - G.A].
Não nos parece ético.”
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Um detalhe curioso: além de não ter voz – pois a voz é dos próprios
candidatos finalistas que lêem seus com unicados nas telas dos m onitores
(expressão da em presa toyotista), não sabem os o que a em presa produz (o que é
expressão da lógica social do trabalho abstrato). É interesante observar que o
processo de seleção de pessoal por m eio do m étodo Grönholm é m ediado por
telas de m onitores ligados em rede que dizem quais os próxim os passos da
dinâm ica de grupo. Um dos concorrentes diz, logo que a logom arca da em presa
Dekia aparece na tela do com putador: “Vam os ver o que as m áquinas têm a
dizer”. Na verdade, no sistem a-fetiche do capital, são as m áquinas que se
expressam . Máquinas que têm algo a dizer e hom ens que agem com o m áquinas
– eis a dimensão fetichizada da sociabilidade capitalista.
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Em bora Ana tenha elogiado Fernando pela boa defesa que fez de J úlio,
colocando, segundo ela, os colegas concorrentes contra a parede, Ana votou
contra J úlio, desclassificando-o. Fernando intrigado pergunta: “Se achou tão
boa, por que votou contra?”. Ana dá uma resposta intrigante: “Acho que gosto
de que m e im plorem .” Ora, a atitude dela expressa um tipo de auto-satisfação
perversa. Im potentes diante das condições de produção de sua vida pessoal,
individualidades de classe com personalidades narcísicas, se auto-satisfazem
com a exaltação de sua pessoa por outrem . Ao dizer que gosto que m e im plorem ,
Ana expressou um a falha de personalidade que expõe um a crueldade interna.
Na sociedade do fetiche, as falhas de caráter que expõem o lado desum ano das
pessoas, tornam -se quase constantes. Nas situações de concorrência, elas são
recorrentes, com a exaltação perversa do Eu por atitudes de imploram ento se
pondo com o bálsam os da alm a hum ana alienada.
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excluída tal com o J úlio foi excluído pelo voto dela na prova anterior. Nesse caso,
coube a Carlos exercer o papel de predador – predação exercida com
argum entação lógico-racional (no sentido da racionalidade sistêm ica). Mas
Carlos – com o Ana – sabem que estão inseridos num jogo cruel. Ele diz: “Sinto
m uito, Ana. Fiz o m esm o que você. Cuidei de m im . O que eu disse, não foi pra
valer. Só estava interpretando um papel para ganhar um jogo.”
Auto-satisfação perversa
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A frustração – m esm o que de form a sim ulada, com o ocorreu por alguns
segundos no film e - é o sentim ento adequado para esm agar as veleidades
pessoais das individualidades de classe. Frustra-se para decom por vontades e
projetos – m esm o que sejam projetos particularistas, com o o de cada um dos
concorrentes pelo cargo de executivo da Dekia. Na verdade, Montse, a
secretária, sim ula que o RH decidiu term inar as provas. Por alguns segundos,
frustraram -se expectativas. Mas logo a seguir, ela diz: “Brincadeira! . Na
verdade, não é apenas um a brincadeira, m as um a técnica de revolver e
m anipular a subjetividade dos candidatos.
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J úlio diz: “Não nos conhecem os. Terá que ser por intuição.” E indica
Enrique com o líder do grupo. Mas Enrique estava sob suspeita de ser o
Im postor. Fernando diz que se recusa a escolher o Inform ante da em presa.
Diante do im passe, Enrique indica J úlio e Nieves propõe um a votação por
escrito e secreta para escolher o “capitão do tim e”, e verificar quanto apoio tem
Enrique ou J úlio. No final, depois de rom per im passes com Fernando, J úlio é o
líder escolhido.
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O que está em jogo são valores ecológicos que devem ser respeitados
inclusive pela em presa (Enrique chegou a dizer: “A ecologia e o meio-am biente
são fatores que nenhum a em presa pode prescindir”). Num prim eiro m om ento,
coloca-se, portanto, um a discussão no plano ético-m oral: Júlio fez ou não a
coisa certa? O próprio J úlio quer que a discussão perm aneça nesta instância
ético-m oral. Enfim , coloca-se o prim ado ético-m oral (diz ele: “O que tem os que
discutir é quais são as conseqüências das nossas decisões. Se a em presa lhes
pedisse algo ilegal, vocês fariam ?” – todos se calam ).
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suicida ao lançar resíduos no rio e por não ter sabido prever as conseqüências,
com o a denúncia de J úlio.”
Diz ele: “J úlio agiu bem e a em presa agiu m al. Ninguém aqui duvida de
que sua intenção e objetivo eram corretos. Mas nosso dever agora é decidir se
nessas circunstâncias, hoje aqui, escolheríam os você para o em prego. E nesse
caso, há um detalhe que m e faz pensar que não o escolheria. Não é haver posto
os interesses dos outros na frente dos da sua própria em presa, m as ter usado os
m eios equivocados para consegui-lo. Se era tão evidente que tinha razão, se era
tão evidente o erro da diretoria, m oral e empresarialm ente, com o não conseguiu
faze-los ver?”. E conclui: “A empresa provavelm ente tam bém errou, m as aqui
avaliando J úlio, m inha conclusão é que você não soube estabelecer um a
com unicação correta e eficaz com a diretoria. Por isso não o escolheria para o
cargo.”
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Logo após a elim inação de J úlio, abre-se outra prova que propicia que
outro candidato possa ser eliminado pelos dem ais. Na verdade, eis a lógica do
m étodo Grönholm : não é a em presa que elim ina os candidatos, m as sim , seus
colegas concorrentes. As vitim as se elim inam um as as outras. É a lógica da
m anipulação reflexiva, onde a culpabilização das vitim as possui seu reverso: a
incorporação, pelas vitim as, da própria perversidade do capital (Enrique
conseguiu apreender, de form a não-critica, a lógica do m étodo Grönholm ao
observar: “Terão que disputar para ver quem ganha”. Aliás, Enrique é a
personalidade conform ista que visa se adequar às disposições sistêm icas. É um
hom em m edíocre e perspicaz, m as volúvel às im posições dadas).
A discussão para elim inação de J úlio não foi propriam ente um a tarefa,
m as um ardil arm ado pela em presa para elim inar o líder escolhido. Na segunda
tarefa propriam ente dita coloca-se um a tarefa que apela para o m ito clássico da
escassez com o elem ento da exclusão prim ordial. Diz o texto da prova: “Ano de
20 13. A Terceira Guerra Mundial estourou e o planeta se afoga sob um a nuvem
radioativa. Por sorte, todos vocês estão a salvo porque tiveram acesso a um
abrigo antinuclear equipado com o necessário para sobreviverem 20 anos.
Infelizm ente o refúgio foi projetado para um a fam ília de cinco pessoas e um de
vocês terá que abandona-lo. Decidam quem deverá ir em bora, defendendo
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antes, cada um , a sua perm anência com argum entos com prováveis. Quem for
expulso do abrigo, abandonará tam bém o processo de seleção.”
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Segundo, o discurso latente que contém o viés ideológico com sua lógica
social – ora, a artim anha da escassez organiza os significados do discurso
m anifesto. E pergunta-se: por que se escolheu – e trata-se de um a escolha
m oral – construir o discurso parabólico com o registro sim bólico da escassez?
Não se poderia faze-lo com outro registro ideológico (por exem plo, a lógica da
abundância e a perspectiva da solidariedade)? Nesse caso, poderia-se aferir, do
m esm o m odo, com petências m orais com outros conteúdos sociais. É claro que,
sem escassez, não haveria necessidade da concorrência...e inclusive, do poder
social estranhado (o capital). É curioso que Fernando atribui a si, a função de
representar o poder político com o “com petência” necessária sob as condições
sociais da escassez. Isto é, a escassez im plica, por natureza, o poder político.
Ora, a inquirição crítica desvela, num a cam ada m ais profunda, o telos
ideológico da construção da parábola do abrigo nuclear: ora, por que o abrigo
anti-nuclear só foi projetado para um a fam ília de cinco pessoas?
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Im p u tação d a cu lpa
(cada um assum e a culpa pela sua própria desgraça)
Jo go d e p e rve rs id ad e s m ú tu as
(cada um age para elim inar o outro)
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sem inal que nasce da ordem capitalista produtivista). Com o um predador voraz,
Carlos se utiliza com habilidade discursiva, do preconceito para desqualificá-la
– e “exclui-la” Ana – com o o ancião cansado do conto de J ack London – teve
seu tem po e deve ser sacrificada. Sob o capitalism o global, a exclusão social de
hom ens e m ulheres fracassados é quase com o um a “lei da vida”.
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Ana. Ele se utiliza, com inteligência, do conto de London para exprim ir valores
com positivos da lógica do capital que hoje, m ais do que nunca, desqualifica e
exclui àqueles que não se adaptam às novas disposições sistêm icas. Os fracos –
hom ens e m ulheres que não se adequam à lógica produtivista – m erecem
m orrer (com o o ancião cansado).
Num prim eiro m omento, Ricardo confidencia a Enrique ter sido líder
sindical de um a em presa récem -privatizada na Argentina. Ricardo executa um
m irabolante jogo de provocações. É um das características do jogo da
m anipulação reflexiv a – provocar para testar. Com o um bom ator – qualidade
intrínseca de quem m anipula, Ricardo assum e o papel de ativista sindical
enrustido. J oga palavras de ativism o social, provocando a opinião de Enrique,
verificando com o ele se m anifesta diante de afirm ações progressistas (“O FMI
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está sufocando o m undo” ou ainda: “Mas vai concordar com igo que o m undo
está um a m erda”).
Na ordem do capital, exige-se cada vez m ais com petência m oral – isto é a
capacidade de assum ir (e afirmar), sem vacilação, valores m orais da ordem
burguesa. Portanto, Enrique se desqualifica não quando delata o coleta
concorrente, m as quando vacila em afirm ar que o que fez foi expressam ente
correto. Não basta apenas acreditar, m as sim , assum ir plenam ente a
responsabilidade. Eis o sentido da com petência m oral.
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em ocional do capital, não se perm itindo sequer reconhecer o Outro com o ente
existente. Enfim , Enrique deveria ser firm e em contestar a greve, evitando,
portanto, entender os m otivos dos grevistas. Ele diz que “entende os m otivos,
m as não está de acordo.” Ora, com o executivo do capital. não deveria se
perm itir a se colocar no lugar daqueles que contestam o m undo. Ele vacila –
com o todo equilibrista. Não tem a personalidade firme exigida pela em presa.
Por isso, Ricardo é categórico: “Nesse m om ento, não preenche o requisito para
o cargo.”
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da fechadura.”, ou ainda, “sem pre quis ser corretor e acabou punheteiro”. brinca
Carlos com um trocadilho de palavras. Nieves é incisiva: “Está te cham ando de
punheteiro”. Fernando a agride com a bola do jogo.
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espaço possível de serm os nós m esm os – com o diz Fernando. Entretanto, sob a
m anipulação reflexiva, este espaço de resistência pessoal está m inado pela
presença do olhar vigilante do Outro com o próxim o estranhado.
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através de seus próprios esforços pessoais. Por ser m ulher, utiliza-se de seus
atributos naturais para galgar posições profissionais. Na dinâm ica de grupo
para para seleção do cargo executivo da Dekia, Nieves dem onstrou ser a m ais
dura – por exem plo, foi ela que acusou J úlio de trair a em presa. Foi ela que
provocou Fernando, entregando-se a ele no banheiro e depois frustrando-o.
Mais adiante, a frustração de Fernando, o “m acho ibérico”, o conduziria a sua
expulsão da dinâm ica de grupo.
Num a das cenas finais, após a elim inação de Fernando, Carlos e Ricardo,
o psicologo da em presa, conversam no banheiro. Ele explica a Carlos a natureza
do m étodo Grönholm . Com o só restaram Carlos e Nieves, um dos dois deve ser
o escolhido para ocupar o cargo de executivo da Dekia. Na verdade, Ricardo e
Montse, a secretaria - a outra psicologa da em presa = “arm aram ” para Carlos e
Nieves um a arena onde os dois pudessem dem onstrar sua capacidade de
perversidade m útua. Torna-se necessário provocar Carlos, ex-am ante de Nieves,
para a predação derradeira. Assim , Ricardo elabora outra farsa. Diz ele: “O certo
é que o em prego é dela, Carlos. Neste m om ento, eu deveria estar dizendo ‘adeus,
obrigado por ter vindo, entrarem os em contato.’ E não é só porque Montse tem
certeza. Um a m ulher pode ser ótim a psicologa, m as sem pre decide por outra
m ulher. É que Nieves pontuou m elhor que você nas provas, esta é a verdade.”
Ora, não é que Ricardo quer mandar Carlos em bora – pelo contrário,
quer prepara-lo para provocar Nieves no lim ite. Cria-se m ais um a situação de
farsa. Por isso, diz: “Fiz um acerto com Montse. E vam os lhe dar um a últim a
oportunidade.” E exorta Carlos a “destruir” Nieves. Diz Ricardo: “Quero que
entenda que abriram um a exceção porque eu insisti. Se não conseguir destrui-
la, o em prego é dela.” Carlos está perplexo. Pergunta: “Mas com o destrui-la?”. E
Ricardo diz: “Isso é com você. Tive que brigar por isso. Não vá falhar. Tem 15
m inutos.”
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Realm ente, com o diria Ricardo, psicologo do film e “O que você faria?”,
soa bem as palavras “sentido de protagonização, responsabilidade e significado
em cada ação da vida”. Entretanto, o jogo de palavras é um recurso
m anipulatório que oculta a perversa irracionalidade social intrínseca à lógica da
concorrência com o guerra social total.
Enquanto Ricardo incita Carlos a “destruir” Nieves, para poder ficar com
o cargo de executivo da Dekia, Montse procura persuadir Nieves a adotar um a
últim a estratégia para tirar Carlos da jogada: “Tem que convence-lo a
abandonar a prova”. Enfim , ela deve encontrar um jeito para fazer Carlos ir
em bora. Esta últim a prova é o em bate final entre os dois últim os candidatos.
Mais um a vez, o jogo da m anipulação reflexiva, organizado por Ricardo e
Montse, se im põe – tanto um quanto o outro buscam convencer os dois
candidatos que há ainda um a chance, apesar da vantagem do adversário.
Montse diz que parece que Carlos pontuou m elhor que Nieves. Mas Ricardo
disse o m esm o para Carlos – que Nieves está com vantagem em pontos). O que
procura é utilizar o recurso da vantagem do adversário para em ular o
concorrente. E a últim a chance que ainda existe. O prêm io é o em prego, o tão
cobiçado cargo de executivo da Dekia.
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Nieves está estressada. Aparentem ente, com o m ulher, ela parece m ais
sensível às batalha psicológica pelo em prego. Montse a encontra desanim ada na
poltrona da sala. Pergunta se está bem . Oferece um a aspirina. É nesse m om ento
que observa: “Para nós [m ulheres], é sem pre duas vezes m ais difícil.” E
incentiva: “Mas você esteve incrível o dia inteiro, em todas as provas.”
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Ora, desde o com eço da dinâm ica de pessoal, Nieves assum e o papel de
loba voraz – por exemplo, ela acusa J ulio de trair a em presa. Fica calada quando
Ana é “trucidada” pelos argum entos de Carlos; m anipula o desejo de Fernando,
frustrando-o quando o abandona no ápice do intercurso sexual no banheiro
(“Term ine sozinho”, diz ela). Além disso, encontra com o concorrente, Carlos,
ex-am ante, com quem tivera há alguns anos, um sonho pessoal de afetividade.
Portanto, Nieves sente um a excessiva carga de estresse que se m anifesta na
batalha final.
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Sob pressão sentim ental de Carlos, estressada com a dinâm ica de grupo,
sem saber com o convencer Carlos a abandonar a prova, Nieves num a atitude
inusitada, diz para Carlos: “Vam os em bora! Vam os abandonar a prova?”. Carlos
fica desconcertado: “Agora?”. Nesse m om ento, ela faz um desabafo pessoal no
estilo de Fernando”. Diz ela: “J á provam os para eles o que valem os. Vam os
desistir agora. Se quiserem escolher um de nós, que escolham .” E prossegue:
“Quanto m ais vão nos avaliar? Até quando terem os que com petir? Até que
arranquemos os olhos um do outro? Sei que são m uitos candidatos e só há um a
vaga. Entendo que seja necessário com petir. Estou até disposta a aceitar que a
vida é assim . Tudo bem , se é preciso ser um lobo, eu sou.” E expressa que o
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sentim ento afetivo que sente por Carlos é seu ponto fraco: “Com os outros, não
m e im portava com petir, m as com você…com você, não quero, não quero. O que
quero é voltar àquela praia, tom ar um porre e sonhar que montam os um
restaurante e m oram os lá.”
Finalm ente, Nieves convida Carlos a sair. Ele vacilante, a acom panha. No
elevador, ela exclam a: “Com o não percebi! Tam bém estabeleceram um objetivo
para você, não é?”. Transtornada, pergunta a Carlos: “Tudo que m e disse era
para alcançar o seu objetivo, certo? Quando m e perguntou sobre o africaninho,
queria saber m esm o se eu teria tido filho com você ou só foi para ganhar a
prova? Você ainda tem tem po. A vaga ainda pode ser sua. Tenho que fazer algo
para que a consiga? O que tenho que fazer, Carlos?”. Na verdade, Nieves se
rendera. Ela sai do elevador. Mas Carlos perm anece lá. Fora, ela acom panha o
elevador subindo até o andar do DP da Dekia. Carlos ganhara a prova.
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Nas cenas finais do film e “O que você faria?”, percebem os que existe sim ,
um a câm era que vigia todos os am bientes da em presa Dekia. Ela acom panha a
m ovim entação de Carlos e Nieves que se retiram da sala do Departam ento de
Pessoal e se dirigem ao elevador. Talvez Ricardo e Montse estejam m onitorando
os candidatos concorrentes, acom panhando deste m odo, a “batalha final”. Ela
focaliza a expressão de Nieves acom panhando a subida do elevador (com
Carlos) até o andar do DP.
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Qu e s tio n am e n to s
3. Enum ere outros carecim entos radicais de hom ens e mulheres sob o
capitalism o global?
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