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Igualdade Racial nas Organizações

O Brasil é um país em que mais de 50% da população brasileira se autodeclara negra. É o


suficiente para as empresas se atentarem ao tema, caso contrário, estará ignorando
questões que abrangem uma visão mais ampla da sociedade brasileira, oportunidades de
mercado e responsabilidade social corporativa. Uma enorme parte da população negra não
está incluída do mercado de trabalho, também sendo ausente nos cargos de liderança nas
grandes empresas, o que impacta em suas vidas e no desenvolvimento do país.

Tendo isso em mente, as organizações precisam olhar para dentro de si e avaliar como elas
encaram a questão racial dentro delas, se estão avaliando isso e quantos esforços estão
sendo feitos para que a igualdade estabelecida no princípio democrático, mas é tão
diferente, na prática. É preciso, também, avaliar como o conceito de equidade pode ser
aplicado pelas empresas para fazerem parte do alcance da igualdade, fora do papel.

Igualdade X Equidade
Os dois termos são muito confundidos, então vamos começar entendendo a diferença entre
os dois.

● Igualdade: tem por base que todos possuem os mesmo direitos, deveres e
oportunidades. No entanto, sabe-se que a realidade é bem diferente.

● Equidade: é sobre corrigir os desequilíbrios causados pelas falhas da prática da


igualdade, para que a desigualdade entre grupos comece finalmente a diminuir.

Uma Dívida Histórica Reconhecida


A herança da escravidão da população negra no mundo representa séculos de exploração e
discriminação contra milhões de pessoas ao longo da história, apenas pela cor da pele e
origem. Isso significa que povos escravizados se submeteram a condições degradantes de
vida durante anos, o que normalizou a desigualdade social entre eles e os que não
passaram pelas mesmas experiências. Já é passada a hora de entender que isso não pode
continuar sendo banalizado.

O estabelecimento dos Direitos Humanos mundialmente reconhece que grupos


historicamente vulneráveis e desfavorecidos, que sofreram opressões e preconceitos,
possuem necessidades específicas que precisam ser atendidos, e isso inclui as empresas.

A Empresas como Aliadas


O mundo corporativo ainda precisa percorrer um longo caminho para realmente ver
resultados duradouros e efetivos contra o racismo. As empresas precisam verdadeiramente
vestir a camisa antirracista. Isso começa de dentro, fazendo uma autoanálise da cultura da
empresa e seus processos. Isso pode começar com:
Letramento racial
Apesar de ser pouco conhecido, o termo letramento racial refere-se à conscientização sobre
a luta antirracista na sociedade. Reconheça a luta antirracista na sociedade, entendendo o
racismo estrutural brasileiro, dívida histórica e para que alguns conceitos sejam
apresentados, como cor, raça, racismo, viés inconsciente, cotas e branquitude:

Diagnóstico
Entenda o percentual de pretos e pardos nas empresas e, com base nos resultados, tome
medidas para mudanças é fundamental. Dentro desse diagnóstico, uma ferramento possível
é o censo étnico-racial, que mapeia o perfil dos colaboradores e que setores precisam de
um incremento na igualdade.

Pesquisas já mostraram que empresas mais diversas conseguem ter mais lucro e
inovação.

Modificar o recrutamento
As pessoas tendem a usar desculpas, como “a falta de pessoas qualificadas” para contratar
quem são iguais a elas. Pense em como mudar esse pensamento e realidade, com
treinamentos focados no entendimento da equidade.

Também é necessário entender que, antes mesmo do processo seletivo, existem obstáculos
que pessoas negras enfrentam que pode impossibilitá-las de fazer parte do recrutamento,
como acessibilidade ou barreiras de acesso à educação, além de preconceitos dentro das
próprias empresas. Não basta abrir vagas para pessoas pretas se não há entendimento de
como elas irão chegar ao público desejado.

Um exemplo: não é difícil que um jovem periférico desista, ou seja impedido de concorrer a
uma vaga pela distância para chegar ao local. Isso tendo em mente que a maior parte da
população negra é periférica e mora distante dos grandes centros, onde fica a maior parte
dos escritórios.

Para isso, pode-se procurar soluções, como promover mais processos virtuais, mover-se
para as proximidades das comunidades ou buscar iniciativas RH que já trabalham com o
recrutamento de pessoas negras.

Mudar a cultura
Se não houver uma cultura antirracista dentro da empresa, apenas a inserção de pessoas
negras não será o suficiente para a equidade ser alcançada.

Dentro dessa mudança de cultura, é muito interessante a criação de uma ouvidoria interna,
focada em racismo, e equipes focadas em diversidade. Ao criar esse espaço seguro, o
racismo precisa deixar de ser um tabu nas empresas e os espaços precisam ser seguros
para se conversar sobre o tema.

A equidade só vai funcionar se houver mudança na cultura, e isso também diz respeito às
pessoas brancas, que precisam entender seus privilégios e seus posicionamentos como
aliados.

Olhar para o fator psicológico


Agora, entende a necessidade de uma política duradoura, que aborde os problemas de
racismo para além de aumentar o número de negros nas empresas. Com isso, também é
importante para garantir saúde mental às minorias que ingressam na organização.

A discriminação geralmente ocorre de forma velada, implícita, mas está no dia a dia dos
trabalhadores. Quanto ao racismo, expressões como “a coisa ficou preta”; “o samba do
crioulo doido” geram sofrimento. São pequenas formas de violência mental que foram
normalizadas (e que devem entrar no entendimento do racismo estrutural), mas que geram
estresse, depressão, burnout e riscos para a própria vida de quem as sofre.

Capacitação
Para compensar eventuais faltas de habilidades práticas, conhecidas como hard skills, o
combate à desigualdade racial precisa focar na capacitação no pós-contratação. Os
movimentos que defendem a equidade pregam que as empresas necessitam desenvolver
as habilidades que faltam em um funcionário.

A maior parte dos desligamentos ocorrem em decorrência de comportamento, não


habilidades. Portanto, é preciso investir e dar oportunidades para equilibrar os números
internamente. Se você quer mais talentos, desenvolva habilidades, como, por exemplo, o
inglês, e ofereça isso, com uma postura propositiva.

É preciso ir além
Não mantenha apauta antirracista apenas no convívio interno da empresa, já que o cenário
é muito maior do que apenas uma ou duas organizações. Após avaliar e melhor sua cultura
organizacional, coloque em prática outras ações de incentivo, como:

● tornar-se uma empresa signatária de pactos raciais e apoiadora de projetos;


● contribuir com relatórios de iniciativas empresariais pela igualdade racial;
● criar uma comunicação mais inclusiva;
● levar os treinamentos e capacitações para fora da empresa, mesmo antes do
recrutamento;
● apoiar organizações centradas na equidade racial educacional e empresarial

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