Você está na página 1de 334

OverlorD 4 Os Heróis

Lizardman
オーバーロード Ilustrado por so-bin
Aviso Legal:
A tradução de OVERLORD — para inglês e português — é feita e revisada de fã para fã,
não monetizem em cima da obra e não compactuem com quem o faz. Se quiserem e pu-
derem contribuir com o autor, comprem o livro ou ebook (japonês, inglês ou português)
em sua livraria de preferência.

Sobre:
A obra faz uso de muitos anglicismos, ainda mais por se basear em RPGS, então há mui-
tos termos em inglês e tentei preservar vários desses aspectos em alguns termos, nomes
de armas, itens, raças e coisas do tipo.
Claro, algumas coisas precisam de adaptação, outras é preciso generalizar. Dito isso,
pode não agradar aos adeptos do Dia do Saci em vez do Halloween. Estejam avisados.

Tentei remover o máximo possível de erros de português e concordância, mas, somos


apenas pessoas com boa vontade e não especialistas da língua portuguesa.
Quando encontrarem algum erro, sintam-se à vontade para entrarem em contato atra-
vés do e-mail disponível no blog :)

Créditos:
CRÉDITOS PT-BR:
ainzooalgown-br.blogspot.com
CRÉDITOS EN-US:
skythewood.blogspot.com
REFERÊNCIA DE NOMES:
overlordmaruyama.wikia.com

Atenção: Se baixou este arquivo de outro link que não o oficial do blog. Ou se tem muito
tempo que baixou e deixou guardado, que tal dar uma conferida no blog? Talvez esta seja
uma versão desatualizada :)

Revisão: 6.1 | Versão: 7.5


Sumário
Prólogo .......................................................................................................................................................... 5
Capítulo 01: Partida .......................................................................................................................... 16
Parte 1 ................................................................................................................................................................................... 17
Parte 2 ................................................................................................................................................................................... 30
Parte 3 ................................................................................................................................................................................... 43
Capítulo 02: Reunindo os Lizardmen ...................................................................................... 51
Parte 1 ................................................................................................................................................................................... 52
Parte 2 ................................................................................................................................................................................... 78
Parte 3 ................................................................................................................................................................................... 82
Interlúdio................................................................................................................................................ 108
Capítulo 03: O Exército da Morte ......................................................................................... 115
Parte 1 ................................................................................................................................................................................ 116
Parte 2 ................................................................................................................................................................................ 131
Parte 3 ................................................................................................................................................................................ 139
Parte 4 ................................................................................................................................................................................ 156
Parte 5 ................................................................................................................................................................................ 162
Parte 6 ................................................................................................................................................................................ 190
Capítulo 04: O Alvorecer do Desespero ............................................................................. 199
Parte 1 ................................................................................................................................................................................ 200
Parte 2 ................................................................................................................................................................................ 221
Parte 3 ................................................................................................................................................................................ 228
Capítulo 05: O Deus Congelado ............................................................................................ 255
Parte 1 ................................................................................................................................................................................ 256
Parte 2 ................................................................................................................................................................................ 274
Parte 3 ................................................................................................................................................................................ 292
Epílogo .................................................................................................................................................... 302
Posfácio .................................................................................................................................................. 308
Ilustrações .............................................................................................................................................. 311
Glossário ................................................................................................................................................ 326
OverlorD
オーバーロード
-Volume 04-
Os Heróis Lizardman

Autor:

Maruyama Kugane
Ilustrador:

so-bin
Prólogo
em-vindo de volta, Ainz-sama.”

B Fazia duas semanas desde a última vez que ele retornara ao seu escritório,
mas as palavras que se seguiram enviaram um arrepio em seus ossos.

“O senhor gostaria de jantar? Um banho? Ou — prefere — a — mim💕?”

Por um momento, Ainz imaginou ter visto vários corações cor-de-rosa saindo de trás
de Albedo.

“...Qual é o significado disto?”

“Estou brincando de recém-casados, Ainz-sama. Ouvi falar que este é o melhor modo de
uma esposa receber seu marido depois que ele retorna de uma viagem de negócios com
seu animal de estimação. O senhor gostou?”

Então foi por isso que ela não estava na superfície me esperando. Ainz nunca teve esposa,
muito menos namorada, mas quando ele estava prestes a responder friamente, “Quem
se importa?” ele engoliu essas palavras. Ele tinha seu orgulho como homem a considerar
e queria proteger sua imagem.

Além disso, que tipo de resposta ela esperava quando perguntou: “O senhor gostou?”

Apesar de sua falta de confiança, ele colocou uma atitude que parecia dizer, Está tudo
sob controle, e respondeu de uma forma que provavelmente não deveria causar muitos
problemas.

“Foi uma recepção encantadora, Albedo.”

Albedo sorriu e respondeu:

“Que bom ouvir isso, kufufufu~”

Quando Ainz a viu sorrir sedutoramente, ele abaixou sua postura como se preparando
para uma batalha.

Ele sentiu algo como uma cobra venenosa deslizando pela sua espinha.

Havia uma luxúria bestial escondida nos olhos de Albedo — provavelmente a fonte da-
quela sensação sorrateira. Aqueles olhos estavam mortalmente sérios. Se ele tivesse res-
pondido: “Eu quero você, é claro”, mesmo em tom de brincadeira, não havia dúvida de
que a superpredadora diante dele se apegaria a isso e o atacaria com selvageria. As pa-
lavras “estupro reverso” flutuaram brevemente em sua mente.

Embora ele tivesse poucos vestígios de desejo sexual, os remanescentes de sua perso-
nalidade humana pareciam estar reagindo as intenções de Albedo, que diziam a ele que

Prólogo
6
não faria mal algum experimentar. Sua curiosidade ainda não diminuíra e isso só aumen-
tou esse sentimento.

Pare com isso, seu idiota.

Não era exatamente autocontrole, mas Ainz usou algo similar — algo que teria sido im-
[mort o-vivo ]
possível se ele não fosse Undead — para se forçar a ignorar o subtexto das palavras de
Albedo.

Ainda assim, algo como nojo brotou de algum lugar dentro do coração de Ainz. Antes
de ter sido transportado para este Novo Mundo, ele havia alterado a narrativa de Albedo,
escrevendo que “ela o amava” em tom de brincadeira. Ele estaria tirando vantagem
dessa personalidade distorcida, sem antes ela realmente amá-lo de verdade.

Mas aquilo se foi... como fazer aquilo? Não é como se um relacionamento entre um homem
e uma mulher pudesse progredir somente através de conversas... É por isso que tenho medo
de dar o próximo passo?

Ainz — um virgem que nunca namorou antes — ponderou sobre o assunto.

Ao mesmo tempo, outro pensamento veio à mente. Os NPCs feitos por seus antigos ami-
gos podem ser considerados filhos deles. Como ele poderia manchar tais preciosos filhos
e deixá-los continuar com suas mentes distorcidas?

Idiota, agora não é hora de pensar esse tipo de coisa.

“Ah!”

O grito repentino de Albedo fez os pontos luminosos nos olhos de Ainz brilharem.

“O que é Albedo? Aconteceu alguma coisa?”

“Estou envergonhada. Eu ouvi dizer que uma esposa recém-casada deveria dar boas-
vindas ao marido em casa, enquanto vestida com seu traje definitivo de batalha — um
avental nu...”

Com isso, Albedo olhou para o vestido e seu rosto ficou ruborizado. Então ela respon-
deu:

“Se assim desejar, eu vou imediatamente...”

Sua voz era baixa, mas ele podia ouvir muito claramente. Ela furtivamente espreitava
Ainz enquanto continuava:

“...Me trocar na sua frente, Ainz-sama...”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


7
“Ah... sim... Ghrun! Na verdade... haaa. Ouça, Albedo, já fez bastante gracinhas. É hora da
reunião para troca de informações.”

“Sim, como desejar.”

Com alguma relutância — embora ele não tivesse certeza de onde exatamente a relu-
tância se originava — Ainz se forçou a ignorar as tentações de Albedo e se sentou em sua
poltrona. Então, ele jogou três algibeiras sobre a mesa. A seguir, ditou instruções para
Albedo, que havia mudado de personalidade de uma recém-casada ansiosa para uma
secretária eficiente.

“Este é o dinheiro que ganhei em E-Rantel. Use-o nos experimentos.”

As três algibeiras pareciam diferentes uma da outra. A maior delas parecia estar prestes
a estourar, e estava cheia de peças de prata e cobre que Ainz ganhara durante seu tempo
como aventureiro.

“Entendido. Vou ver se esses fundos podem ser usados para invocar monstros ou ativar
os sistemas de defesa de Nazarick.”

“Ótimo. Além disso, veja se podemos utilizá-las para criar itens, como pergaminhos e
assim por diante.”

Os olhos de Ainz se afastaram de Albedo, cuja cabeça estava profundamente abaixada.


Então ele olhou de volta para as algibeiras com uma expressão devota em seus olhos.

As peças de ouro obtidas em YGGDRASIL poderiam ser usadas para comprar itens má-
gicos, mas também poderiam ser usadas para taxas de manutenção da base de guilda.
Por exemplo, elas poderiam ser usadas para invocar monstros acima do nível 30 — que
não reaparecem naturalmente, ou “POP” —, como catalisadoras para o uso de certas ma-
gias, criação de itens mágicos, ressuscitar NPCs mortos e assim por diante.

Ele já havia verificado que as moedas de YGGDRASIL poderiam ser usadas neste mundo.
No entanto, ele não se certificou de que a moeda deste mundo também pudesse ser
usada dentro de Nazarick. Ele estava particularmente curioso se as moedas de prata e
cobre poderiam ser utilizadas, já que em YGGDRASIL só havia moedas de ouro.

Não seria exagero dizer que os resultados dessa experiência podem determinar o fu-
turo de Nazarick. Se o dinheiro desse mundo pudesse ser usado da mesma maneira que
as moedas de ouro de YGGDRASIL, isso poderia afetar muito seus planos futuros. Afinal,
isso mudaria dramaticamente a importância de ganhar dinheiro.

De fato, sob certas circunstâncias, uma situação poderia surgir onde o ganho de grandes
quantidades de moeda se tornasse essencial. Em contraste, se a moeda deste mundo não
pudesse ser usada, então a riqueza dentro da Tesouraria se tornaria um recurso insubs-
tituível, e despesas desnecessárias teriam que ser minimizadas.

Prólogo
8
“Além disso, sobre a Clementine—”

Quando Ainz falou o nome do cadáver desaparecido, suas sobrancelhas inexistentes se


enrugaram.

Seu erro de julgamento resultou no desaparecimento da dita mulher, que sabia algumas
coisas sobre ele. Não havia como saber se ela havia ressuscitado, ou mesmo se já tinha
dado com a lingua nos dentes. Um desconforto surgiu no coração de Ainz.

Neste mundo desconhecido, ele descobriu da pior maneira que havia potenciais inimi-
gos com os quais deveria ter muita cautela, mas até agora não havia aprendido nada
sobre eles e o pior, deixara alguém escapar com informações importantes.

Se pelo menos chegasse aos ouvidos de algum dos meus amigos, caso estejam neste
mundo... não posso ficar contando com a sorte. Eu preciso ter mais cuidado a partir de
agora. De qualquer forma, o mais importante agora é decidir o que devo fazer em relação
à minha identidade como Momon.

Se alguém estivesse o perseguindo, eles iriam atrás de Momon. No entanto, Momon era
seu trampolim para algo maior, seria uma pena descartá-lo. Ainda não havia chegado a
hora de revelar que Ainz era Momon.

Primeiro preciso observar mais o desenrolar da situação...

Não importava o quanto ele pensasse, suas contemplações só o levaram a um beco sem
saída. Portanto, ele decidiu deixar seus problemas de lado por enquanto e não pensar
mais nisso.

“Não é má idéia pedir ao Pandora’s Actor para colocar uma das lâminas daquela mulher
no triturador da Tesouraria e ver o que acontece.”

“Triturador?”

Foi só quando ouviu a voz de surpresa de Albedo que Ainz se lembrou do nome apro-
priado daquele item.

“É a Exchange Box. Alguém com habilidades do tipo comerciante pode obter melhores
preços ao usá-la. Peça ao Pandora’s Actor para se transformar em Nearata-san e usar a
habilidade dele.”

Depois de ver que Albedo assentiu em reconhecimento, Ainz desenrolou o pergaminho


sobre a mesa.

“Preste atenção aqui, me esforcei para obter isto, é um mapa-múndi que adquiri em E-
Rantel.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


9
“Isso é meio... entendi.”

Ainz entendeu o porquê as sobrancelhas de Albedo se franziram levemente, pois os de-


talhes do mapa diante deles eram terrivelmente vagos.

“Eu entendo o porquê está desapontada. Afinal, este mapa cobre apenas uma pequena
parte do da região à nossa volta. A escala feita ao acaso e muitos pontos de referência
também não foram registrados. Além disso, este mapa concentra-se nos países humanos,
e há apenas uma nação demi-humana registrada. É um mapa grosseiro, sem dúvida...
mas é improvável que encontremos algo melhor.”

Por exemplo, ele ouvira falar das tribos Centauros nas planícies, dos assentamentos Pa-
bilsag do povo Scorpionmen no deserto, do país dos Dwarfs nas montanhas e assim por
diante. Mas ele havia aprendido tudo isso conversando com o Chefe da Guilda dos Ma-
gistas de E-Rantel, já que não foram registrados no mapa. Em outras palavras, esse era
um mapa conveniente a humanos.

Um mapa vago como este dificilmente seria confiável, mas ele teria que gastar muito
dinheiro e tempo para obter um melhor.

Foi isso que Theo Rakheshir, o Chefe da Guilda dos Magistas, lhe dissera. O homem es-
tava sempre favoravelmente disposto a Ainz, de modo que tal informação poderia ser
considerada como certa.

Além disso, ele sentiu nas palavras do outro homem que mesmo um mapa como este já
era algo que exigia muito trabalho.

“Entendo. Então, ordenarei que o mapa seja duplicado e distribuído para cada Guardião.”

“Por favor, faça isso. Mas antes, explicarei brevemente o conteúdo do mapa.”

Ainz apontou para o centro do mapa. Era a região que tinha sido mais precisamente
detalhada.

“Aqui é E-Rantel, e esta região contém a Grande Tumba de Nazarick.”

Seu dedo se moveu para o nordeste, para os arredores de uma enorme floresta. Ele es-
tava bastante confiante em seu conhecimento da área ao redor de Nazarick.

“Esta é a Cordilheira Azerlisiana, que marca a fronteira entre o Reino Re-Estize e o Im-
pério Baharuth. A grande floresta ao redor da extremidade sul da cordilheira é a Grande
Floresta de Tob, há um grande lago aqui.”

O lago em questão tinha a forma de uma cabaça invertida e ficava entre o sopé ao sul
das montanhas e a Grande Floresta de Tob. O dedo de Ainz apontou na ponta sul do lago.

Prólogo
1 0
“Há uma aldeia de Lizardmen aqui, nestas grandes terras úmidas.”

Depois de ver Albedo concordar com a cabeça, Ainz continuou:

“Agora vou contar o que Theo Rakheshir me contou sobre os países vizinhos. Para o
noroeste do Reino é uma região delimitada por montanhas. Esta região é o Conselho Es-
tadual de Argland, que é habitada por muitos demi-humanos. O que precisamos ter cau-
tela são com seus conselheiros, dizem que são Dragões. Aparentemente, há cinco deles,
mas alguns dizem que são sete. Para o sudoeste do Reino está a nação conhecida como
o Reino Sacro Roble. Aparentemente, é cercado por todos os lados por uma alta muralha,
indicado aproximadamente aqui no mapa, e é conhecido como ‘A Grande Muralha’. Este
país fica atento contra muitas tribos demi-humanas que lutam frequentemente no de-
serto das redondezas, embora não seja indicado no mapa.”

“Não é para onde o Demiurge foi?”

“Isso mesmo. No outro extremo do deserto está a Teocracia Slane, entidades das quais
devemos ficar atentos.”

“Isto aqui é uma fronteira nacional?”

Albedo traçou uma linha ao redor da região circundante com seu dedo branco-lírio.

“Provavelmente. Mas sendo sincero, não adianta tentar estudar as fronteiras a partir
deste mapa, ele é muito vago. Agora para o Império. Há muitas cidades-estados situadas
a nordeste do Império, que formaram a Aliança Cidade-Estado. Parece haver também
uma cidade de demi-humanos. Para o sudeste do Império é uma região com vários pila-
res gigantescos de quartzo, bem como muitas cavernas. Aparentemente, existem tribos
humanoides que domam Wyverns.”

Quando Ainz ouviu a descrição do lugar, lembrou-o de Wulingyuan na província de


Zhangjiajie - Hunan, mas ainda não tinha todos os detalhes.

“Então, eles são Montadores de Wyvern?”

Em YGGDRASIL, jogadores com mais de 35 níveis em profissões equestres podiam con-


jurar as feras mágicas conhecidas como Wyverns, que lhes servira de montarias. No en-
tanto, não havia provas de que o mesmo fosse verdade também neste mundo.

“...Possivelmente. Indo por essa lógica, eles devem ser bastante fortes, mas mesmo as-
sim, não são exatamente oponentes temíveis para a Grande Tumba de Nazarick... No en-
tanto, a porção do mapa abaixo deles — a costa leste deste grande lago — não foi mape-
ada ainda.”

Ainz indicou uma das bordas externas do mapa.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


1 1
“E eles dizem que aqui é chamado de Reino Dragonic.”

“Dragonic?”

“Sim. Um poderoso Dragão fundou essa nação no passado e, aparentemente, sua realeza
herdou a linhagem do sangue de Dragão... mas se esses rumores são confiáveis, ainda
não se sabe. Enfim, isso é o que sei do mapa por enquanto.”

No mundo onde Ainz viveu como Suzuki Satoru, teria sido um rumor exagerado, mas
neste mundo, esse boato poderia ser verdade.

“Então, Ainz-sama, devemos ter cuidado com a Teocracia Slane e Conselho Estadual de
Argland, correto?”

Ainz cruzou os braços sobre o peito e disse: “Hmm...”. Pois ela tinha certa razão até onde
sabiam dessas nações, afinal, eles não sabiam o suficiente deles. Contudo, quando ela viu
a reação de Ainz, Albedo curvou-se lentamente em desculpas.

“Me perdoe. Dadas às nossas atuais circunstâncias, devemos estar em guarda contra
todos os outros países, estou certa?”

“...De fato, é isso mesmo. Mesmo que sejam pequenos, eles podem abrigar indivíduos
surpreendentes.”

Por exemplo, a pessoa que usou aquele Item World-Class em Shalltear.

Albedo podia sentir esse significado subjacente nas palavras de Ainz sem que ele pre-
cisasse declará-las explicitamente.

O dedo de Ainz continuou apontando os dedos para as bordas leste e sul do mapa.

“Além disso, há uma cidade que flutua nas ondas ao leste, também tem uma cidade que
foi fundada pelos Oito Reis da Ganância ao sul. Esses dois lugares são provavelmente os
que precisamos ser mais cautelosos. Principalmente a cidade dos Oito Reis da Ganância...
Já que dizem ser uma cidade flutuante no meio do deserto.”

“Uma cidade flutuante?”

“De acordo com as notícias que ouvi, seria mais correto descrevê-la como uma cidade
construída sob uma fortaleza voadora. Eles dizem que a água flui interminavelmente da
fortaleza para a cidade, e que a cidade em si é completamente cercada por uma barreira
mágica e não se parece com nada nativo do deserto.”

Os olhos de Albedo ficaram frios e ela respondeu calmamente:

Prólogo
1 2
“Devemos despachar uma força tática de vassalos para realizar reconhecimento?”

“Não vamos sair por aí pisando na cauda do tigre. Mesmo se o usuário do item World-
Class tenha vindo de lá, é melhor tentar uma abordagem cordial até termos certeza do
quão fortes são... Falando nisso, como anda a Shalltear?”

“Fisicamente ela parece bem, mas...”

“Vamos, diga logo. Até eu me sinto desconfortável com ela também.”

“Ah! Sinto muitíssimo. Na verdade, o estado mental dela está um tanto inquietante.”

“...Efeitos posteriores do controle mental? Será que nem a morte pode apagar comple-
tamente os efeitos de um item World-Class?”

“Não, não é isso... É mais como se ela ainda sentisse muita culpa por levantar a mão
contra o Supremo, ela não consegue perdoar a si mesma por ter feito isso, Ainz-sama.”

Por um momento, Ainz não entendeu muito bem, mas então, tudo ficou claro quase que
instantaneamente.

Tinha sido culpa de Ainz, não de Shalltear. Ele tinha dito a ela muitas vezes.

“Perdoe a minha insolência de se opor a seus dizeres. Mas se me permite, Ainz-sama.”

Ainz acenou para Albedo, que tinha uma expressão séria no rosto.

“Eu sinto que seria melhor se ela fosse punida.”

O brilho vermelho nas orbitas de Ainz diminuiu ligeiramente. Ele queria falar, mas fe-
chou a boca sem emitir nenhum som. Isso porque a mulher à sua frente parecia ter algo
mais a dizer.

“...Recompensas e punições são lados da mesma moeda. Se o senhor atribuir uma puni-
ção à Shalltear, isso eliminará a culpa em seu coração. Já que em contraste, ela está atu-
almente se sentindo culpada, pois não foi punida por suas ações.”

Ainz sentiu que isso fazia muito sentido. De fato, era por causa das punições que as re-
compensas poderiam existir. Porém, definir até onde deveria punir e o quanto deveria
perdoar, era algo que estava bem além de um mero assalariado como Ainz. Em circuns-
tâncias normais, ele deixaria o assunto de lado e simplesmente perdoaria Shalltear.

Por outro lado, embora se sentisse mal só de pensar em punir Shalltear, às vezes era
um mal necessário.

“...Compreendo. Então, eu vou pensar em como puni-la.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


1 3
“Eu sinto que será melhor assim. Por favor, perdoe qualquer ofensa que eu tenha feito.”

“Não entendi, como assim? Eu sempre aprecio tais sugestões. Eu sempre esperei que
alguém fosse capaz de entregar uma opinião quando eu estiver em dúvidas. Albedo, o
que você fez é muito apropriado para a sua posição como a Supervisora Guardiã da
Grande Tumba de Nazarick.”

“Muito obrigada!”

A beleza estonteante se curvou diante dele, suas bochechas estavam coradas e seus
olhos úmidos. Sentindo-se um pouco desconfortável com a reação exagerada de Albedo,
Ainz acenou calmamente e respondeu:

“Há algumas coisas que preciso lidar no momento. Cuide bem de Nazarick.”

“Será um prazer! Por favor, deixe comigo! Eu cuidarei dos assuntos enquanto o senhor
não estiver por perto, Ainz-sama!”

Ele pensou ter ouvido algo como “dentro das minhas capacidades de sua esposa”, em
algum lugar em meio de suas palavras, mas decidiu fingir que não tinha ouvido nada,
porque ela ainda tinha mais a dizer.

“Tenha muito cuidado, Ainz-sama. Quem controlou a Shalltear ainda pode estar nos vi-
giando.”

“Hmph!”

Essa foi a primeira vez que Ainz bufou em desgosto desde que entrou na sala.

“Talvez quem nos atacar... seja bem durão. Mas relaxe, Albedo. Como não tenho idéia do
tipo de inimigo que estamos enfrentando, pretendo priorizar a retirada quando o encon-
trarmos, e também tenho vários escudos de carne preparados para tal circunstância.”

Ainz lentamente levantou a cabeça para olhar para o teto e começou a visualizar os ini-
migos contra os quais ele precisaria se preparar.

Havia o misterioso detentor daquele Item World-Class que provavelmente era seu ini-
migo e outros jogadores, cuja existência ainda não estava clara. Além disso, havia os ves-
tígios de jogadores no passado. É claro que pode ser muito imprudente crer que todos
são inimigos, mas isso garantiria que ele não os negligenciasse por acidente. Ele teve que
assumir o pior cenário ao fazer seu planejamento.

“Antes de aprendermos mais detalhes sobre o inimigo, seria sensato agir o mais dis-
creto possível. Só que talvez precisemos espalhar uma isca para atiçar o inimigo... como
está o progresso daquele plano no fronte?”

Prólogo
1 4
Albedo abaixou os olhos e só por essa reação Ainz pôde adivinhar quais eram os resul-
tados.

“Cocytus ainda não fez nenhum relatório, mas a Entoma indica que o plano ainda não
excedeu nosso escopo de previsões. Eles já devem ter montado acampamento perto do
objetivo e estão se preparando para fazer contato.”

“Entendo... Bem, não foi o que eu esperava, mas o importante é o que podemos ganhar
com isso.”

“Seus dizeres me enchem de alívio.”

“Tudo bem. Eu tinha planejado observar como se sairiam daqui, mas infelizmente, sur-
giram várias tarefas para o Momon completar, é algo que preciso ir pessoalmente. Mas
eu gostaria de ver como foi a batalha. Faça-me o favor de gravar a batalha entre os Li-
zardmen e as forças da Grande Tumba de Nazarick.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


1 5
Capítulo 01: Partida

Prólogo
1 6
Parte 1

Cordilheira Azerlisiana situa-se entre o Império Baharuth e o Reino Re-

A Estize. Seus sopés ao sul são cercados por uma extensa floresta — a Grande
Floresta de Tob —, onde estende-se um enorme lago em sua extremidade
norte.

Este lago tinha mais de 20km² e lembrava uma cabaça invertida. Estava dividido em
Lago Superior e Lago Inferior. O Lago Superior era muito profundo e abrigava criaturas
maiores, enquanto o Lago Inferior era a moradia para as criaturas menores.

O extremo sul do Lago Inferior era cercado por zonas úmidas e inúmeras estruturas
haviam sido erguidas nessa região grande e pantanosa. Eram casas, cada uma foi cons-
truída no pântano e sustentada por cerca de dez palafitas cada.

Entre as muitas palafitas, uma delas tinha suas portas abertas, seu proprietário deu as
caras sob os raios dourados do sol.
[H o mem -L ag ar t o ]
Ele era um membro da raça demi-humana conhecida como Lizardman.

♦♦♦

Um Lizardman se assemelhava a um cruzamento entre humanos e répteis. Para ser pre-


ciso, os Lizardmen tinham mãos e pés semelhantes a humanos, eram essencialmente la-
gartos bípedes, embora a cabeça não tivesse nenhuma semelhança com as dos seres hu-
manos.

Por serem demi-humanos — classificação dada a Goblins, Ogros, etc —, eles eram facil-
mente rotulados como selvagens, devido à falta de tecnologia e consequentemente seu
modo de vida. Contudo, eles tinham uma civilização própria, embora não fosse muito
avançada.

Um Lizardman macho adulto tinha em média 193 centímetros e pesava mais de 100kg.
Sua massa corporal não era composta de gordura, mas de músculos firmes, que contri-
buíam para um físico impressionante e imponente.

Caudas reptilianas brotavam de suas lombares, que usavam para manter o equilíbrio.

Com pés grandes e dedos palmados, moviam-se muito bem na água e nos pântanos.
Sendo assim, não eram tão adeptos de movimentar-se em terra, mas dado o seu habitat
isso não constituía um problema.

Seus corpos estavam cobertos de escamas, cujas cores variavam de um verde sujo até
o cinza e o preto. Em vez da pele semelhante a lagartos, eles tinham peles duras que se
assemelhavam às dos crocodilos, seus tórax e pescoços estavam encobertos por pele de

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


1 7
cor geralmente branca-perolada. Essa pele era capaz de protegê-los melhor que uma ar-
madura humana de baixa qualidade.

Suas mãos tinham cinco dedos, como as dos humanos, e cada dedo era curvado com
uma garra curta.

As armas que usavam eram bastante primitivas, porque nunca tiveram a chance de mi-
nerar e refinar minérios para armamentos. Assim, suas armas mais comumente usadas
eram lanças feitas com presas e garras de monstros, bem como clavas com pontas de
pedra.

♦♦♦

O sol ofuscante estava a pico no céu azul, com apenas algumas nuvens efêmeras tin-
gindo a infinita extensão azul. O tempo estava muito bom, e podia-se ver claramente os
cumes montanhosos ao longe.

Este Lizardman tinha um amplo campo de visão, e ele podia ver o sol escaldante acima
de si mesmo sem mover a cabeça. Ele — Zaryusu Shasha — olhou brevemente para baixo
e depois desceu as escadas a um ritmo constante.

Zaryusu agarrou a marca em meio seu tórax branco escamoso.

Essa marca representava sua posição na tribo.

Tribos dos Lizardmen era uma sociedade surpreendentemente sistemática, e a autori-


dade máxima entre eles era o Chefe da Tribo. A posição não era hereditária; era conce-
dida à pessoa mais forte da tribo. Todos os anos, eles realizam uma cerimônia para sele-
cionar um novo chefe tribal.

Além disso, havia um conselho de anciãos que aconselharia o chefe, composto pelos
membros mais velhos da comunidade. Abaixo deles estavam os guerreiros Lizardmen,
os Lizardmen comuns, as Lizardmen fêmeas e os Lizardmen juvenis. Juntos eles compu-
nham a sociedade Lizardman.

Claro, havia alguns Lizardmen que estavam fora dessa hierarquia.

Primeiro, havia os sacerdotes — mais para druidas, na verdade — que anteviam perigo
iminente prevendo o tempo ou ajudando a tribo com magias curativas.

Então, havia os rangers, que formavam grupos de caça. Sua tarefa principal era pegar
peixes, mas os Lizardmen comuns também ajudariam nessa tarefa. Assim, seu trabalho
mais importante era suas atividades florestais.

Os Lizardmen eram onívoros, mas sua dieta principal era uma espécie de peixe com
cerca de 80 centímetros de comprimento, portanto não apreciavam verduras e frutas.

Capítulo 1 Partida
1 8
Mesmo assim, os caçadores ainda tinham que entrar na floresta para fins de registrar os
arredores. A terra não era segura para os Lizardmen, assim, especialistas eram necessá-
rios quando precisavam derrubar árvores.

Embora pudessem se mover como bem entendessem e tomar suas próprias decisões,
eles estavam sujeitos a autoridade do chefe tribal. A sociedade Lizardman era patrilinear,
com regras e responsabilidades claramente definidas para cada grupo.

Mas, no entanto, havia alguns que estavam fora da autoridade do chefe tribal.

Estes seriam os Viajantes.

Pode-se pensar em estrangeiros quando a palavra “viajante” é ouvida ou lida. No en-


tanto, seria impreciso. A sociedade Lizardman era fundamentalmente fechada, e não ad-
mitia ninguém de fora da tribo.

Sendo esse o caso, o que eram esses Viajantes?

Eram Lizardmen que queriam explorar o mundo.

Basicamente, Lizardmen não deixariam seus locais de nascimento a menos que fosse
uma questão de vida ou morte — por exemplo, quando o alimento tivesse acabado — ou
uma emergência igualmente grave. Ainda assim, havia alguns poucos Lizardmen que an-
siavam pela chance de ver o mundo lá fora.

Quando um Viajante decidisse deixar sua tribo, ele receberia uma marca especial em
seu peito. Representando sua partida da tribo — e sua autoridade.

Muitas vezes, aqueles que saíam para viajar pelo mundo exterior não retornavam. Às
vezes morriam longe de suas casas, às vezes encontravam um lugar para ficar no vasto
mundo novo que haviam descoberto, e assim por diante. No entanto, raros Viajantes vol-
taram para casa depois de se sentirem satisfeitos com o mundo.

Os Viajantes que voltavam às suas cidades de origem eram altamente aclamados pelo
conhecimento do mundo exterior que traziam consigo. Antes poderiam ser chamados de
rebeldes que haviam evitado a autoridade do chefe, mas ao retornarem, poderiam se
tornar celebridades locais.

Na verdade, havia alguns aldeões que mantinham uma distância respeitosa de Zaryusu,
mas na maioria dos casos os outros o viam com os olhos atônitos. No entanto, não foi só
porque ele era um Viajante. Havia outra razão para seus olhares de admiração—

Quando ele pisou no pântano depois do degrau final da escada, sua arma favorita cha-
coalhou em sua cintura, batendo-se em suas escamas.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


1 9
Tal arma tinha um fio pálido e afiado e emitia um brilho opaco. Tinha uma forma bizarra,
parecida com um Sai cuja lâmina e punho se misturavam como um, mas a lâmina ficava
mais fina quanto mais se afastava do cabo, até o ponto que a ponta ficasse fina como
papel.

Não havia Lizardman que não conhecesse esta arma. Era um dos itens mágicos consi-
[ D o r Congelante]
derados como os Quatro Grandes Tesouros das tribos Lizardmen — Frost P a i n .

O fato dele possuir essa arma era uma das principais fontes da fama de Zaryusu.

Zaryusu continuou seguindo em frente.

Ele tinha dois destinos em mente. Em suas costas estava um presente que ele levaria
para um desses lugares.

O dito presente era quatro peixes, cada um com um metro de comprimento. Ele os car-
regou nas costas enquanto avançava, e o odor deles não causava repulsa, mas sim tor-
mento.

Mas que vontade de comer esses peixes.

—Zaryusu teve que deixar esse desejo de lado enquanto suspirava várias vezes, as go-
tículas de água espalhavam em seus pés devidos as pegadas na lâmina rasa de água em
direção a aldeia Green Claw.

As crianças, cujas escamas verdes ainda eram luminosas e brilhantes, riram e gargalha-
vam enquanto corriam ao redor de Zaryusu, mas pararam quando viram o peixe grande
em suas costas. Através das fendas entre as casas, ele pôde ver crianças com apetites
vorazes e olhos focados em si — ou melhor, focados no peixe que carregava. Quase todos
tinham suas bocas levemente abertas, provavelmente salivando só de pensar. Mesmo
quando se afastou deles, seus olhos ainda estavam fixos a ele. Aqueles eram olhos de
crianças implorando por uma mordidinha.

Zaryusu sorriu sem graça e fingiu não ter notado. Em vez disso, continuou. Ele já havia
decidido quem receberia este presente e, infelizmente, não seriam essas crianças.

O fato de que o brilho nos olhos das crianças não era inteiramente devido à fome agra-
dou Zaryusu, porque era uma visão que seria inimaginável anos atrás—

Depois de deixar os olhares para trás, Zaryusu passou por várias casas ao longo do ca-
minho antes de encontrar a residência que era seu destino.

Ele estava agora nos arredores da aldeia, e se continuasse, não estaria mais no pântano,
mas em uma parte bastante profunda do lago. As casas construídas nesta linha divisória
sutil pareciam bastante resistentes e eram maiores do que as de Zaryusu.

Capítulo 1 Partida
2 0
O estranho era que a casa estava ligeiramente inclinada, então metade estava submersa
na água. Porém, isso foi por design e não por alguma força externa.

Zaryusu se aproximou da casa, seus passos eram mais profundos agora, enquanto se
aproximava, gotículas ainda maiores de água banhavam seus pés a cada passo dado.

Quando ele chegou perto, um grasno brincalhão veio de dentro. Talvez o seu ocupante
tivesse sentido o cheiro de alguma coisa.

Uma cabeça de serpente surgiu do que era equivalente a uma janela. Era uma cobra com
escamas marrons e olhos cor de âmbar. Quando avistou Zaryusu, esticou o pescoço para
fora e se enrolou em um tom de brincadeira ao redor dele.

“Bom garoto.”

Zaryusu acariciou o corpo da cobra de maneira amigável. A cobra pareceu achar muito
confortável e fechou os olhos — tanto as pálpebras quanto as membranas nictitantes.
Zaryusu também gostava da sensação das escamas sob os dedos.

Esta criatura era Rororo, o animal de estimação de Zaryusu.

Ele criara Rororo desde muito jovem, então parecia que realmente estavam conver-
sando.

“Rororo, eu trouxe sua comida. Coma devagar e nada de brigar, hein.”

Zaryusu jogou o peixe para dentro da casa através da janela, e batidas suaves vieram de
dentro.

“Eu queria brincar, mas eu tenho que verificar o criatório de peixes agora, então talvez
mais tarde.”

Talvez a cobra tenha entendido o que seu dono estava dizendo, mas relutantemente
aninhou-se contra o corpo de Zaryusu várias vezes antes de voltar à casa. Logo, o som
de carne sendo rasgada e vigorosa mastigação foi ouvido.

A maneira como Rororo comeu sugeriu que estava em boa forma e, com isso, Zaryusu
ficou aliviado quando deixou a casinha para trás.

♦♦♦

Depois disso, o destino de Zaryusu era o lago situado não muito longe da aldeia.

Seus pés pisaram contra o chão quando entrou na floresta. Ir nadando teria sido mais
rápido, mas Zaryusu tinha o hábito de checar os arredores para ver se alguma coisa es-
tava anormal.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


2 1
A visibilidade era muito limitada na floresta, ficar alerta era inevitável. Zaryusu tinha
uma mente muito forte, mas mesmo ele ficava mentalmente estressado ao andar em um
ambiente assim.

Em pouco tempo, ele viu seu destino através das árvores. O fato de nada ter acontecido
encheu Zaryusu de uma sensação de alívio. Zaryusu acelerou o passo pela floresta, agora
que estava perto.

Depois de desviar de um ramo após o outro, Zaryusu saiu da floresta. Foi então que seus
olhos se arregalaram. Isso foi porque ele viu alguém surpreendente diante dele.

Esse alguém era um Lizardman negro que parecia muito com Zaryusu.

“Ani-ja—”

“—Então é você.”

O Lizardman negro virou-se encarando Zaryusu com um olhar afiado. Este Lizardman
era o chefe da tribo Green Claw, assim como o irmão mais velho de Zaryusu — Shasuryu
Shasha.

Ele defendeu seu título como chefe em duas ocasiões anteriores e, sem ninguém para
desafiá-lo desta vez, ele manteve a posição de chefe. Seu corpo musculoso era de pro-
porções desconcertantes. Se alguém os mantivesse lado a lado, Zaryusu e seu corpo com
proporções mais equilibradas pareceria menor em comparação.

Uma velha cicatriz branca marcava suas escamas negras, como um raio que arqueia
através das nuvens de tempestade.

A espada em suas costas era uma espada pesada, sem adornos, com quase dois metros
de comprimento e forjada em aço. Era o símbolo do chefe e tinha sido encantada com
magias para evitar ferrugem e melhorar o fio.

Zaryusu se aproximou do lago e ficou ao lado de seu irmão.

“Tá fazendo o que aqui?”

“...Eu já ia te perguntar o mesmo, não é curioso, Ani-ja? Você não precisa vir aqui pes-
soalmente, já que é o Chefe da tribo, entendeu?”

“Muu.”

Incapaz de responder, Shasuryu grunhiu e voltou a olhar para o lago à sua frente.

Capítulo 1 Partida
2 2
Pilares resistentes estavam visíveis, perfurando a superfície do lago, envolvendo uma
área entre eles. Redes densamente tecidas haviam sido amarradas entre os pilares. Seu
objetivo era imediatamente óbvio.

Este era um criatório de peixes.

“Será quê... veio aqui querendo dar uma beliscadinha na comida?”

A cauda de Shasuryu mexeu em resposta às palavras de Zaryusu, e bateu no chão várias


vezes.

“Muu... nada disso. Eu apenas vim para ver como a criação vai indo.”

“...”

“Sério, irmãozinho. Você acha que o seu Ani-ja é alguém assim?”

Depois dessa afirmação contundente, Shasuryu deu um passo à frente. Embora Zaryusu
fosse um veterano moldado através de muitas batalhas desde seu tempo como Viajante,
essa sensação de pressão — como se pressionado na parede — fez até alguém como ele
querer recuar.

No entanto, Zaryusu agora tinha a maneira perfeita de responde-lo à altura.

“Bom, já que veio aqui só para dar uma conferida neles, então isso significa que não vai
querer nenhum. Que pena... Estava pensando em dar uns grandões a você, se eu achar
algum.”

“Muu.”

O som das batidas no chão desapareceu, e a cauda de Shasuryu ficou tensa.

“Sabe, eles são realmente deliciosos. Tratei deles muito bem, com muita comida sabo-
rosa e cuidei para que ficassem saudáveis e gordos. Eles têm uma suculência que não vai
achar em lugar algum.”

“É mesmo é...?”

“Quando você dá uma mordida, sucos frescos e suaves fazem uma explosão de sabores
na boca. A carne é tão macia, que praticamente derrete na língua.”

“Muuuu~!”

O som de uma cauda batendo soou novamente, mais intenso do que antes.

Zaryusu olhou para a cauda de seu irmão mais velho e, em tom brincalhão, acrescentou:

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


2 3
“A cunhada sempre disse que sua cauda é muito honesta, Ani-ja.”

“Como é? Aquela fêmea, ela adora uma conversa fiada. E que história é essa de cauda
honesta?”

Zaryusu não tinha idéia de como responder ao seu irmão mais velho, que estava
olhando para a própria cauda imóvel. Eventualmente, ele murmurou algo ao longo das
palavras de: “Isso pode ser verdade...”

“Hmph, aquela fêmea é endiabrada... se já esteve com uma, entenderia como me sinto
agora.”

“Você sabe que não posso me casar.”

“Hmph, que bobagem é essa? É por conta dessa marca? Acorda, quem se importa com
aqueles anciãos? Nem uma única fêmea nesta aldeia te rejeitaria... mesmo aquelas com
a cauda bem torneada.”

As caudas dos Lizardmen eram usadas para armazenar nutrientes. Assim, uma cauda
grossa era muito atraente para os membros do sexo oposto. Zaryusu teria preferido fê-
meas de cauda grossas em sua juventude, mas depois de crescer e ver o mundo, ele optou
por evitá-las o máximo possível.

“Até onde eu vi, lá não tem nada que me interesse, já que não gosto tanto assim de cau-
das grossas. Se eu tivesse que escolher apenas pela cauda, prefiro uma de cauda mais
magra. Com todo respeito, alguma com o corpo da Cunhada já seria de bom tamanho.”

“Bem, é normal pensar dessa maneira, dada à sua personalidade... Mas cá entre nós, é
melhor passar longe de fêmeas iguais a ela. Você pode acabar se machucando. Aaah, que-
ria tanto que sofresse um pouco com a vida de casados. É injusto que eu seja o único da
familia sofrendo nisso.”

“Ei ei ei, Ani-ja, toma cuidado com o que fala, a Cunhada descobre cada coisa.”

“Muu... viu só? Por conta de umas coisas dessas que o casamento é um saco. Olha que
absurdo, até você, meu próprio irmão, pode ameaçar a mim, seu irmão mais velho e
chefe.”

Uma gargalhada alegre ecoou sobre o lago pacífico.

Depois que Shasuryu se acalmou de sua alegria, ele observou o criatório de peixes di-
ante dele mais uma vez. Enquanto uma mistura complexa de emoções passava pelo seu
coração, ele murmurou admirado:

“Sabe, você realmente fez um excelente trabalho aqui, com esse...”

Capítulo 1 Partida
2 4
Sentindo a perda de palavras de seu irmão mais velho, o irmão mais novo deu-lhe uma
mão amiga.

“Criatório de peixes?”

“Sim, isso mesmo. Ninguém fez isso antes em nossa tribo e agora todos sabem que criar
peixes é um plano viável. Se isso continuar, muitas pessoas vão começar a nos imitar de
inveja.”

“Isso é tudo graças a você, Ani-ja. Eu sei que você mexeu muitos pauzinhos para fazer
isso dar certo.”

“Zaryusu, eu sei onde quer chegar. Não vamos discutir isso de novo. O que realmente
fica memorável foi o quanto se esforçou na criação de todos os deliciosos peixes deste
criatório.”

Claro, ele falhou muitas vezes quando começou a montar seu criatório de peixes. Afinal,
era apenas uma idéia que ele teve depois de ter sido inspirado pelo que tinha visto e
ouvido em suas viagens. Até mesmo a rede ao redor rebentara inúmeras vezes, e levara
um ano inteiro de tentativa e erro antes de poder construir um criatório de peixes fun-
cional.

E, no entanto, as coisas não paravam por aí.

Os peixes tinham que ser cuidados e precisavam ser alimentados.

Ele havia jogado todos os tipos de ração para ver qual seria a mais eficaz e, como resul-
tado, havia matado todos os peixes do criatório mais de uma vez. Houve até casos em
que monstros derrubaram a rede de contenção, mandando-o de volta à estaca zero.

Outros membros das tribos haviam fofocado e desaprovado sobre o modo que ele es-
tava usando peixes como brinquedos, e alguns até o chamavam de idiota. No entanto,
seu trabalho com afinco agora deu frutos.

Peixes grandes nadavam placidamente sob a superfície do lago. Eles eram maiores que
peixes capturados na natureza. Nenhum Lizardman acreditaria que eles tinham sido cri-
ados desde pequenos. Bem, ninguém, exceto o irmão mais velho de Zaryusu e sua cu-
nhada.

“...Bom trabalho, Zaryusu.”

Shasuryu murmurou seu elogio ao olhar o mesmo cenário de seu irmão mais novo. Sua
voz continha tons de várias emoções se misturando.

“É tudo graças a você, Ani-ja.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


2 5
A resposta de seu irmão mais novo foi cheia de tons de complexidade semelhante.

“Muu, o que eu fiz?”

De fato, seu irmão — Shasuryu — não tinha feito nada para ajudar. No entanto, isso foi
apenas em referente a fazer algo diretamente.

Sempre que algo acontecia com os peixes, um sacerdote aparecia imediatamente. Mui-
tas pessoas vieram ajudá-lo a coletar materiais para tecer as redes. Quando os machos
da tribo pescavam, sempre separavam o peixe mais saudável para ele. Enquanto isso, os
caçadores entregaram frutas para usar como alimento.

Todos esses ajudantes recusaram-se inflexivelmente a revelar a identidade da pessoa


que os enviara, mas não importava o quão estúpido Zaryusu fosse, ele tinha uma boa
noção de quem era, bem como o fato de que essa pessoa não desejava ter sua identidade
conhecida.

Isso porque um chefe tribal ajudando alguém que se separou da tribo seria muito ina-
dequado.

“Ani-ja, quando os peixes ficarem maiores, pode ter certeza que será o primeiro na fila
para conseguir um.”

“Oh, não vejo a hora!”

Shasuryu se virou para ir embora e depois disse baixinho:

“Eu sinto muito.”

“Como assim, Ani-ja? ...Você não fez nada de errado.”

Ele não sabia se Shasuryu ouvira essas palavras. Tudo o que Zaryusu pôde fazer foi ob-
servar em silêncio enquanto seu irmão mais velho saía, caminhando ao longo da margem
do lago.

Depois de inspecionar as condições no criatório de peixes, Zaryusu voltou para a aldeia.


Então, uma sensação estranha o fez repentinamente olhar para o céu.

Não havia nada de anormal. A única coisa que ele podia ver no céu azul claro eram os
picos montanhosos cobertos de nuvens ao norte.

Em outras palavras, um cenário perfeitamente normal.

Não havia nada de anormal lá. Assim que se perguntou se poderia estar imaginando
coisas, ele notou uma nuvem estranha no céu.

Capítulo 1 Partida
2 6
Ao mesmo tempo, nuvens espessas que apagavam o sol de repente apareceram no cen-
tro da aldeia. Eram tão densas e espessas que mergulharam a aldeia inteira na escuridão.

Chocados, todos olharam para o céu.

Os sacerdotes disseram que hoje seria sol. Suas previsões meteorológicas eram bas-
tante precisas, sendo que eram baseadas em magia e conhecimento adquirido ao longo
de muitos anos de experiência. Assim, seria bem surpreendente errarem a previsão do
tempo.

No entanto, o estranho era que não havia nuvens no céu, exceto no céu diretamente
acima da aldeia. Era como se alguém tivesse conjurado aquelas nuvens lá.

Essa estranha cena continuou a se desenrolar.

As nuvens começaram a girar em torno da aldeia e, quando o fizeram, espalharam-se


para cobrir uma área maior. Era como se o céu estivesse sendo rapidamente devorado
por essas nuvens misteriosas.

Isso era altamente incomum.

Os guerreiros Lizardmen apressadamente se prepararam para a batalha. As crianças se


esconderam nas casas. Zaryusu abaixou a postura e olhou ao redor, uma das mãos se
fechou ao redor do punho da Frost Pain.

As nuvens escuras agora enchiam o céu acima, mas ao longe ainda se via o céu azul. As
nuvens cobriam apenas a aldeia. Foi nesse momento que ele ouviu um barulho feito pe-
los Lizardmen, vindo do centro da aldeia. Era um sibilar estridente carregado pelo vento.

Era um aviso. Alertava sobre um inimigo poderoso e a necessidade de fugirem imedia-


tamente.

Ao ouvir o aviso, Zaryusu imediatamente começou a acelerar os passos pelos pântanos,


e logo em seguida já estava correndo.

Ele correu, correu e correu mais um pouco.

Embora fosse difícil correr nas zonas úmidas, Zaryusu manteve o equilíbrio ao usar a
cauda como contrapeso. Com uma velocidade que nenhum ser humano poderia atingir
— claro, considerando que os Lizardmen eram mais adequados para este terreno — ele
chegou ao local de onde veio o aviso.

Zaryusu e os guerreiros formaram um círculo no centro da aldeia e olhavam para os


arredores. Seus olhos seguiram os deles, e logo ele estava olhando também.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


2 7
Suas muitas linhas de visão convergiam em um só lugar — um monstro que parecia
uma nuvem negra.

Inúmeros rostos terríveis e em constante mudança emergiram de dentro. Os rostos per-


tenciam a muitas raças e espécies, mas a única coisa que todos tinham em comum era o
fato de todos terem expressões agonizantes.

O vento carregava os sons de choro, gritos de agonia, ranger de dentes e os últimos


suspiros de um moribundo. A maré interminável de barulho arrepiante fez Zaryusu es-
tremecer de medo.

...É problema dos grandes... Devemos deixar os outros fugirem para que o Ani-ja e eu pos-
samos cuidar disso. Mas se a gente fizer isso...

Zaryusu facilmente estava entre um dos principais combatentes das tribos dispersas, e
mesmo assim ele tinha medo do poderoso undead diante dele.

Neste momento, os únicos que poderiam se defender contra esse tipo de oponente eram
provavelmente ele e seu irmão mais velho. O mais importante era que Zaryusu ainda não
sabia quais habilidades especiais essa criatura undead possuía.

Olhando ao redor, ele notou que todos os guerreiros Lizardmen ao redor dele estavam
ofegantes e nervosos, como crianças assustadas.

O monstro que havia se apoderado do centro da aldeia ainda não havia feito nenhum
movimento.

Ele não sabia quanto tempo havia passado. Nesta atmosfera tensa, o menor movimento,
mesmo o vento soprando contra a grama, poderia sinalizar o início de uma batalha cata-
clísmica. A melhor prova disso eram os guerreiros, que estavam lentamente se aproxi-
mando de seus inimigos. Eles encolhiam seus ombros com o imenso estresse que vinha
sobre eles, então se moveram.

Zaryusu de canto do olho viu Shasuryu sacar a espada. Com uma velocidade para igua-
lar a dele, Zaryusu também sacou. Se houvesse luta, o plano deles era assumir a liderança
e atacar o inimigo antes de qualquer outro.

Não deve ser considerado imprudência se der para revelar as habilidades especiais do
inimigo para todo mundo...

A tensão no ar ficou mais espessa — e então os gritos repentinamente cessaram.

O monstro falou com as vozes de muitos, misturados como um. Ao contrário das lamen-
tações vagas e indefinidas de antes, essa voz tinha um propósito claro.

Capítulo 1 Partida
2 8
OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman
2 9
“—Escutem bem. Eu sou um servo do Supremo, venho para transmitir uma men-
sagem para vocês.”

Uma onda de comoção se espalhou pela multidão. Todos se entreolharam. Apenas


Zaryusu e Shasuryu permaneceram focados no monstro.

“Eu proclamo formalmente que seus dias estão contados, pois o Supremo enviou
suas tropas para eliminá-lo. No entanto, em sua misericórdia, o Supremo conce-
derá a vocês a liberdade de lutar — por mais fútil que seja — por suas vidas. Em
oito dias a partir de agora, sua tribo se tornará o segundo sacrifício entre as tribos
de Lizardman deste lago.”

O rosto de Zaryusu se encheu de ferocidade. Ele mostrou os dentes e fez um rosnado


ameaçador.

“Lutem com todas as suas forças. O Supremo se deleitará em zombar de seus es-
forços.”

O monstro polimorfo do tipo névoa ascendeu mais alto.

“Não se esqueçam — daqui a oito dias...”

O monstro flutuou no céu azul claro, em direção à floresta. Enquanto os outros Lizard-
men observavam, Zaryusu e Shasuryu apenas olhavam para o distante céu.

Parte 2

A maior cabana da aldeia — a que normalmente servia como local de reunião — não
tinha muita utilidade em circunstâncias normais. Afinal, o chefe detinha autoridade ab-
soluta dentro da aldeia, de modo que dificilmente havia necessidade de realizar reuniões.
Assim, era um ponto de encontro apenas no nome. No entanto, uma energia bizarra inun-
dou a cabana hoje.

Atualmente estava cheio de muitos Lizardmen, e o interior originalmente espaçoso era


agora muito apertado. Além dos guerreiros Lizardmen, os sacerdotes, caçadores, anciãos
e o Viajante Zaryusu estavam presentes. Todos sentaram-se de pernas cruzadas no chão,
olhando para Shasuryu.

Como chefe da tribo, Shasuryu anunciou o início da reunião e, em seguida, a chefe dos
sacerdotes falou primeiro.

Era uma Lizardman fêmea de idade avançada, seu corpo estava pintado com marcas
brancas de aparência sinistra. Aparentemente, tinham algum tipo de significado, mas
Zaryusu não sabia qual era.

Capítulo 1 Partida
3 0
“Todos se lembram das nuvens que cobriram o céu? Aquilo foi magia. Eu sei de duas
magias que podem controlar o tempo. A primeira é 「Control Weather」, uma magia do
sexto nível. Mas não pode ser isso, porque o magic caster que puder usar tal magia seria
uma figura lendária. A outra é uma magia do quarto nível, 「Control Clouds」. Apenas
um poderoso magic caster seria capaz de usar, e apenas um tolo se oporia a tal pessoa.”

Os sacerdotes pintados de forma semelhante assentiram em aprovação de onde esta-


vam, ladeados atrás da Suma Sacerdotisa.

Zaryusu compreendeu o quão poderoso era, mas muitos outros não conseguiam enten-
der, mesmo depois de ser dito que era magia de 4º nível. A sala logo se encheu de mur-
múrios intrigados.

A Suma Sacerdotisa parecia desconcertada, sem saber como explicar a situação para
eles. Então, ela apontou para um dos Lizardmen. Tal Lizardman tinha uma expressão
perplexa no rosto também, e apontou para si mesmo.

“É você mesmo. Você acha que poderia me vencer em uma briga?”

O Lizardman indicado apressadamente negou com a cabeça.

Ele poderia ser capaz de vencer se a luta fosse limitada a armas, mas se o uso de magia
também fosse permitido, então suas chances de vitória eram pequenas. Não — pequenas
não faziam jus; um mero guerreiro como ele não teria chance alguma.

“Mesmo assim, alguém como eu só pode usar a magia do segundo nível na melhor das
hipóteses.”

“Está dizendo que quem fez aquilo é duas vezes mais forte que a senhora, Suma Sacer-
dotisa?”

A Suma Sacerdotisa não sabia quem havia feito essa pergunta, mas ela suspirou e ba-
lançou a cabeça ao ouvi-la.

“Não é apenas ser duas vezes mais forte. Qualquer um que possa usar magias de quarto
nível pode matar nosso chefe facilmente.”

Ela ficou em silêncio, depois completou sua declaração com:

“Bem, não é um fato, mas é muito provável.”

Agora que eles sabiam como eram poderosas as magias de 4º nível, o interior da sala
de reuniões ficou em silêncio. Então, Shasuryu falou novamente:

“Então, o que está tentando dizer, Suma Sacerdotisa, é que—”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


3 1
“Acho que seria melhor fugir. Não temos chance, não importa o quanto lutemos.”

“Que bobajada é essa?”

Um imponente Lizardman ficou de pé com um grunhido grave. Era facilmente do tama-


nho de Shasuryu, ele era o guerreiro principal da tribo.

“Está insinuando que a gente deve fugir sem lutar!? Vamos fugir só por conta de uma
ameaça?”

“—Você é retardado por acaso? Eu estou dizendo que no momento em que lutarmos,
será tarde demais!”

A Suma Sacerdotisa também se levantou, seus olhos raivosos se encontraram com os


do Chefe Guerreiro. Ambos começaram a rosnar em tons baixos cheios de perigo. Assim
que as palavras “perigo iminente” passaram pela mente de todos, uma voz calma falou:

“...Vocês dois, se controlem.”

O Chefe Guerreiro e a Suma Sacerdotisa piscaram, como se tivessem sido atingidos por
um raio de tristeza. Então, eles se viraram para olhar para Shasuryu. Eles se desculparam
e sentaram-se.

“Chefe dos Caçadores, me diga o que pensa.”

“...Eu entendo as opiniões do Chefe Guerreiro e da Suma Sacerdotisa e concordo com as


opiniões deles.”

A pergunta de Shasuryu foi respondida por um Lizardman magro. Dito isto, chamá-lo
de magro fazia-lhe um desserviço; sua constituição era mais para um corpo definido do
que musculoso.

“Bem, ainda temos algum tempo, não seria melhor ficar de olho no que acontece nas
redondezas? Disseram que vão enviar um exército, então faz sentido que acampem aqui
perto. Manter um exército requer mão de obra, então por que não decidimos as coisas
depois de dar uma olhada neles?”

Não faz sentido discutir enquanto não sabemos nada — murmúrios para esse efeito pu-
deram ser ouvidos ao fundo.

“—Anciões.”

“Essa não é uma decisão que cabe a mim. O que todos falaram tem méritos e deméritos.
Chefe, a decisão está em suas mãos.”

Capítulo 1 Partida
3 2
“Huu...”

Os olhos de Shasuryu moveram e encontraram Zaryusu. Seu olhar parecia transmitir


um aceno de aprovação. Assim, com a sensação de ter sido gentilmente empurrado no
meio de algo — e talvez algo perigoso —, Zaryusu ergueu a mão para compartilhar sua
opinião.

“Chefe, eu gostaria de dizer alguma coisa.”

A atenção de todos os Lizardmen convergiu para Zaryusu. Todos pareciam apreensivos.


Claro, alguns desses olhos estavam cheios de raiva.

Do lado de um dos anciãos veio a repreensão:

“Como ousa se dirigir a nós, Viajante!? Já deveria estar mais que satisfeito por termos
deixado entrar aqui!”

“Agora sente-se e—”

Houve um baque alto de uma cauda que bateu com força no chão. Isso cortou as pala-
vras do ancião ao meio como uma lâmina afiada.

“Cale-se.”

Havia um tom ameaçador na voz de Shasuryu. Foi atada ao rosnar grave que qualquer
Lizardman fazia quando estava com raiva. Ninguém ousaria interrompê-lo quando ele
estava assim, e a tensão na cabana se elevou como a maré. O calor presente no ar conge-
lou como algo sólido.

Nesse momento, um dos anciãos falou. Contudo, ele não havia percebido que havia mui-
tos olhares reprovadores dirigidos a ele, incitando-o a não causar mais problemas.

“Mas Chefe, o senhor não pode dar um tratamento especial a ele mesmo que seja seu
irmão. Os Viajantes são—”

“Eu já não te disse para calar a boca?”

“Uuu...”

“Todos vocês foram convidados porque cada um tem idéias e opiniões relevantes para
o tema. Que mal há em perguntar a um Viajante sua opinião?”

“Mas os Viajantes são—”

“Em minha posição de chefe, eu já declarei que não há problema. Ou pretende desafiar
as minhas ordens?”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


3 3
Shasuryu dirigiu seu olhar do ancião — agora em silêncio — para os outros líderes tri-
bais.

“Suma Sacerdotisa, Chefe Guerreiro, Chefe dos Caçadores, vocês também acham que
não faz sentido ouvi-lo?”

“Há valor nas palavras de Zaryusu.”

O Chefe Guerreiro respondeu antes de qualquer outra pessoa e continuou:

“Nenhum guerreiro rejeitaria a opinião de quem brande a Frost Pain.”

“Concordo. As palavras dele tem valor.”

O Chefe dos Caçadores disse em um tom casual. Por último a Suma Sacerdotisa, que
simplesmente encolheu os ombros e respondeu:

“É claro que devemos ouvi-lo. Apenas tolos ignorariam o conselho de um indivíduo ex-
periente.”

O conselho de anciãos franziu a testa ao receber escárnio dos líderes. Shasuryu acenou
com a cabeça para as respostas dos três, depois ergueu o queixo para indicar que
Zaryusu deveria falar. Enquanto ainda estava sentado, Zaryusu disse:

“Se eu fosse escolher entre fugir ou lutar, escolheria o último.”

“Oh... por qual motivo?”

“Porque é a única opção real que temos.”

Em uma situação normal ele teria que explicar suas razões para dizer isso se o chefe
pedisse, mas Zaryusu não deu mais detalhes. Sua atitude parecia dizer: Sem mais, é aí
mesmo que ouviu.

Shasuryu segurou seu queixo com a mão, e ele parecia estar mergulhado em pensamen-
tos.

...Não me diga que você também percebeu... Ani-ja.

Enquanto Zaryusu lutava para evitar que seus pensamentos aparecessem em seu rosto,
a Suma Sacerdotisa falou, com uma expressão desconcertada no rosto.

“...Se for o caso, podemos vencer?”

“Claro!”

Capítulo 1 Partida
3 4
O Chefe Guerreiro gritou com uma intensidade que poderia evaporar o desconforto no
ar, mas a Suma Sacerdotisa simplesmente estreitou os olhos.

Zaryusu respondeu em seu nome, negando as palavras do Chefe Guerreiro:

“...Não se precipite, dada a nossa situação atual, nossas chances de vitória são muito
baixas.”

“...Então por que disse aquilo agora?”

“Chefe Guerreiro, o inimigo já deve estar de olho em nós há algum tempo — eles sabem
a nossa força de luta. Se não fosse assim, acha que viriam zombar da nossa cara daquele
jeito? Sendo assim, apenas a nossa força de luta não vai dar conta, perderemos.”

Então o que devemos fazer? Quando esse pensamento passou pela mente de todos,
Zaryusu ocultou suas verdadeiras intenções e tomou a iniciativa:

“Isso significa que teremos que desafiar suas expectativas... todos ainda se lembram
daquela guerra do passado?”

“É claro que sim!”, alguém respondeu.

Ninguém aqui era estúpido o suficiente para ter esquecido o incidente de vários anos
atrás. Ou melhor, todos se lembrariam disso, não importando o quão estúpidos fossem.

Sete tribos haviam ocupado esse pântano no passado. Foram as tribos Green Claw,
Small Fang, Razor Tail, Dragon Tusk, Yellow Speckle, Sharp Edge e Red Eye.

No entanto, apenas cinco dessas tribos existiam hoje em dia.

Isso porque houve uma guerra que tirou muitas vidas e destruiu duas tribos.

A causa dessa guerra foi a incapacidade de capturar peixes suficientes para alimentar
seu povo. Eventualmente, os caçadores foram forçados a deixar seu território e pescar
fora. Todas as tribos haviam feito isso.

Em pouco tempo, os caçadores de cada tribo se encontraram em pontos de pesca um


do outro. Uma vez que esse assunto dizia respeito ao suprimento de comida de suas res-
pectivas tribos, eles não podiam recuar.

Em pouco tempo, os argumentos se transformaram em violência, e essa violência ceifou


vidas.

Depois disso, os guerreiros de cada tribo começaram a viajar com seus caçadores para
apoiá-los, e assim as batalhas sobre a comida estouraram.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


3 5
A guerra se arrastou em cinco das sete tribos, com as tribos Green Claw, Little Fang e
Razor Tail de um lado contra as tribos Yellow Speckle e Sharp Edge. Tornou-se um es-
tado de guerra total que não envolvia apenas seus guerreiros, mas até mesmo os machos
comuns e as fêmeas Lizardman.

Depois de repetidas batalhas, a aliança contendo a Green Claw foi vitoriosa, já as outras
duas tribos ficaram tão desgastadas que não puderam mais se manter e foram dissolvi-
das. No entanto, os Lizardmen sem tribos foram absorvidos pela Dragon Tusk, que não
havia participado da luta.

A ironia foi que a falta de comida que levara à guerra foi resolvida pela diminuição da
população de Lizardmen no pântano, porque todos que sobreviveram agora tinham pei-
xes suficientes para viver.

“O que aquela guerra tem a ver com a nossa situação?”

“Pense no que o nosso inimigo disse. Ele mencionou que esta aldeia era ‘a segunda’. Isso
não implica que eles enviaram mensageiros para outras aldeias?”

“Oh...”

Murmúrios de compreensão vieram do grupo quando perceberam o que Zaryusu que-


ria dizer.

“Em outras palavras, você quer reformar a aliança!?”

“...Nem pensar.”

“Ele tem razão. Devemos renovar nossa aliança.”

“Assim como na guerra do passado...”

“E isso vai nos garantir a vitória?”

Os sussurros dos Lizardmen reunidos ficaram cada vez mais altos. Todos dentro da ca-
bana falaram sobre a plausibilidade da sugestão de Zaryusu, mas Shasuryu permaneceu
em silêncio. Ele não parecia que ia falar. Zaryusu não se atreveu a olhar seu irmão —
pois aquele olhar parecia ver através de seus pensamentos — nos olhos.

Depois de passar o tempo suficiente para todos discutirem o assunto, Zaryusu falou
novamente.

“Espero que não tenham a idéia errada. O que eu realmente proponho é que façamos
uma aliança com todas as tribos.”

Capítulo 1 Partida
3 6
“Como assim!?”

O Chefe dos Caçadores — que era a segunda pessoa presente a perceber onde ele queria
chegar — exclamou em surpresa. Zaryusu olhou intensamente para Shasuryu, e todos
os Lizardmen olharam para os dois.

“E sugiro formar uma aliança com as tribos Dragon Tusk e Red Eye também, Chefe.”

Essa bomba perturbou todos os presentes.

Eles não tinham tido relações anteriores com as tribos Dragon Tusk e Red Eye, já que
eles se abstiveram de lutar durante a guerra tribal. Além disso, a Dragon Tusk tinha re-
cebido os sobreviventes das tribos Yellow Speckle e Sharp Edge, por isso fazia sentido
considerá-los uma tribo potencialmente problemática no futuro.

Ainda assim, se eles pudessem se aliar àquelas duas tribos, isso formaria uma aliança
de cinco tribos.

Se funcionasse, poderia haver uma chance de sobreviver. Assim que todos ousaram ter
esperanças com isso, Shasuryu perguntou sucintamente:

“Quem será o nosso enviado?”

“Eu vou.”

A resposta imediata de Zaryusu não assustou Shasuryu. Ele conhecia bem Zaryusu e,
com toda a probabilidade, já havia antecipado essa resposta. Os Lizardmen ao redor
murmuraram sobre não haver melhor candidato para isso, mas alguém expressou sua
insatisfação.

“—Enviar um Viajante?”

Foi Shasuryu. Seu olhar frio e gelado perfurou Zaryusu.

“Isso mesmo, chefe. É uma emergência, se o outro lado não me ouvir por eu ser um
Viajante, então não vale a pena se aliar.”

Zaryusu retornou o olhar frio. Depois de se entreolharem por um tempo, Shasuryu sor-
riu tristemente. Talvez ele tivesse desistido de seu irmão, ou de persuadi-lo de seu curso,
ou já tivesse reconhecido que era o melhor para o trabalho, mas foi um sorriso genuíno
e sem segundas intenções.

“—Leve o selo do chefe com você.”

O selo simbolizava que o portador agia com a autoridade do chefe, e não era algo que
um Viajante pudesse ter permissão para possuir. Vários membros do conselho ancião

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


3 7
falaram, mas eles murcharam sob o olhar penetrante de Shasuryu e engoliram suas pa-
lavras.

“Muito obrigado.”

Zaryusu fez uma profunda reverência em agradecimento. Depois disso, Shasuryu con-
tinuou:

“...Nomearei nossos enviados para as outras tribos. Primeiro—”

♦♦♦

A noite veio, e com ela o frescor noturno. A umidade e o calor faziam os pântanos pare-
cerem opressivamente quentes, mas, uma vez que a noite chegasse, essa sensação len-
tamente passaria. Certamente, uma vez que os ventos da noite soprassem, até o antes
abafado pântano ficaria mais fresco. Claro, essas mudanças no clima não significavam
nada para os Lizardmen com suas peles grossas.

Zaryusu caminhou ao longo do pântano, indo para a casa de seu animal de estimação,
Rororo.

Embora ainda tivessem tempo, uma emergência poderia surgir. Além disso, não havia
garantia de que o inimigo manteria a palavra, até mesmo poderiam fazer algo para im-
pedir Zaryusu. Depois de considerar esses fatores, Zaryusu chegou à conclusão de que
montar em Rororo era o melhor curso de ação.

O som dos passos de Zaryusu diminuiu até que finalmente parou. Ele carregava uma
bolsa cheia de todos os tipos de itens, que chacoalharam quando ele parou. A razão pela
qual ele parou foi porque viu um Lizardman de aparência familiar emergir de trás da
cabana de Rororo, sob o luar.

Eles trocaram olhares, o Lizardman de escamas negras inclinou a cabeça como se em


confusão. Então diminuiu a distância.

“—Eu sempre senti que você deveria ter sido chefe.”

Essa foi a primeira coisa que o irmão mais velho de Zaryusu, Shasuryu, disse desde que
chegou mais perto.

“...O que está dizendo, Ani-ja?”

“Você se lembra da guerra?”

“Claro, por quê?”

Capítulo 1 Partida
3 8
Zaryusu foi quem o unificou a tribo — como ele não se lembraria? Então, ele percebeu
que Shasuryu provavelmente estava pensando a mesma coisa também.

“...Você tem noção do quanto eu me arrependo de ter te marcado quando quis se tornar
um Viajante depois da guerra? Não sai da minha cabeça que eu deveria ter te impedido,
mesmo que fosse na base da força.”

Zaryusu balançou a cabeça. A expressão de seu ainda era vívida em seu coração.

“...Mas você sabe muito bem o porquê aceitou meu pedido, foi porque eu poderia voltar
depois de aprender a cultivar peixes.”

“Mais cedo ou mais tarde daria um jeito de descobrir como faz. Um Lizardman inteli-
gente como você que deveria ser o nosso líder.”

“Ani-ja...”

Não se podia mudar os acontecimentos do passado. Portanto, falar sobre “e se” não ti-
nha sentido agora. Mas ainda assim estavam discutindo esses assuntos, seria porque no
fundo eram inseguros?

Não, não era por isso.

“...Preste atenção no que vou te falar, não é o chefe da tribo falando agora, é seu irmão.
Pode ficar tranquilo que não vou perguntar se vai ficar bem sozinho, mas eu só preciso
que volte em segurança. Não se esforce muito.”

Zaryusu sorriu para essas palavras.

“Pode deixar. Eu voltarei depois de completar minha missão. Deve ser fácil.”

Shasuryu respondeu com um “Muuu” e então sorriu amargamente.

“Vamos fazer o seguinte, se não cumprir sua palavra, eu vou comer o peixe mais gordo
do seu criatória, fechado?”

“Ani-ja, essa proposta nem faz sentido. Na verdade, dizer essas coisas não faz você pa-
recer forte.”

“...Muuu.”

E então, os dois sorriram. Eventualmente, eles se olharam novamente, com expressões


sérias em seus rostos.

“Então, suas intenções são apenas garantir uma aliança?”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


3 9
“...Como assim? O que está tentando dizer?”

Os olhos de Zaryusu se estreitaram e então ele pensou:

Merda.

Dada a perspicaz percepção de seu irmão, sua reação naquele momento foi muito ruim
para ele.

“...Eu senti que estava escondendo algo durante a reunião. Era quase como se você es-
tivesse tentando guiar os pensamentos de todos.”

Zaryusu ficou estupefato, mas Shasuryu continuou falando:

“...Eu acredito que uma das razões para essa guerra foi porque as pequenas disputas
entre cada tribo terminaram e o número de Lizardmen aumentou novamente.”

“Ani-ja, não precisa dizer mais nada.”

O tom firme de Zaryusu só pareciam dar credibilidade às palavras de Shasuryu.

“Então... era mesmo isso.”

“...É a única maneira de impedir que uma guerra como aquela aconteça novamente.”

Zaryusu falou aquelas palavras com um toque de resignação em sua voz. Ele achava que
seu esquema era perverso e desprezível. Se possível, ele gostaria de ter escondido de seu
irmão.

“...Então, o que pretende fazer se as outras tribos recusarem uma aliança? Não há como
competir com eles se o nosso povo tiver sido exaurido pela batalha e pela guerra.”

“Se isso acontecer... nós vamos ter que eliminá-los primeiro.”

“Vamos começar matando nosso próprio povo agora?”

“Ani-ja...”

Ao ouvir a nota de súplica na voz de Zaryusu, Shasuryu sorriu, como se não pensasse
nisso.

“Eu te entendo. Não há nada de errado com o seu modo de pensar. Na verdade, também
concordo com isso. O líder de uma tribo deve se preocupar com a sobrevivência de sua
tribo, então não se preocupe, irmão.”

“Obrigado. Então, eu devo trazer as outras tribos para a nossa aldeia?”

Capítulo 1 Partida
4 0
“Não. Se aquele monstro estava dizendo a verdade, nossa aldeia será a segunda. Então,
com toda a probabilidade, os combates mais violentos ocorrerão na primeira aldeia a ser
atacada. Em circunstâncias normais, seria melhor ir nas últimas da fila, ou nas que te-
nham boa defesa. Só que, se nossas aldeias forem dizimadas, a vida pós guerra será
muito difícil. Por isso acho que seria melhor fazer com que nosso montante na primeira
aldeia seja atacado. Quanto às comunicações... pedirei que a Suma Sacerdotisa que man-
tenha contato com você usando magia. Então, acha que consegue guiar os outros líderes
para o ponto de encontro?”

“Conte comigo.”

Seria difícil enviar muita informação usando a magia que seu irmão tinha em mente, e
não funcionaria se a distância entre eles fosse grande demais. Era um método de comu-
nicação precário. No entanto, Zaryusu sentiu que seria suficiente, dadas as circunstân-
cias.

“E além disso, vou usar os peixes do seu criatório como ração.”

“Claro. Se der, poupe os alevinos e os peixes jovens. O criatório só começou a funcionar


recentemente e, mesmo que tenhamos que abandonar a aldeia, poupar os pequeninos
ajudará o criatório no futuro.”

“Tem a minha palavra. Então, quantos dos nossos esses peixes podem alimentar?”

“...Se você incluir os sem gordura, deve haver o suficiente para cerca de mil.”

“Nada mal... então o nosso problema alimentar será resolvido por enquanto.”

“Mm, já lidou com problemas piores. Enfim, estou indo, Ani-ja. —Rororo?”

Uma cabeça de serpente apareceu da janela em resposta ao chamado de Zaryusu. Suas


escamas brilhavam úmidas sob a pálida luz do luar. Elas brilharam fracamente enquanto
seu ângulo que a luz era refletida mudava, produzindo uma cena de beleza fantasmagó-
rica.

“Vamos dar um passeio. Não vai sair daí?”

Rororo olhou para Zaryusu e Shasuryu e depois moveu a cabeça para trás. Isso foi se-
guido por um borbulhar e o som de algo pesado em movimento.

“Então, Ani-ja, gostaria de perguntar uma coisa. Quantas pessoas está planejando eva-
cuar? Dependendo das circunstâncias, talvez eu precise usar esse número para negociar.”

Shasuryu apenas hesitou por um momento antes de responder:

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


4 1
“...Doze guerreiros, vinte caçadores, três sacerdotes, setenta machos, cem fêmeas... e al-
gumas crianças.”

“...Certo. Entendi.”

Zaryusu ficou em silêncio depois de ver o sorriso cansado de Shasuryu. Então, o som de
salpicos de água ecoou pela atmosfera opressiva. Os dois olharam para a fonte do som e
sorriram nostalgicamente.

“Muu... cresceu muito bem. Fiquei bastante chocado quando entrei em sua cabana.”

“Mmm. Sei bem como se sente, Ani-ja. Não achava que ia ficar tão grande. Ele era tão
pequeno quando o encontrei.”

“É difícil de acreditar. Afinal, já era muito grande quando você o trouxe pra cá.”

Enquanto os dois relembravam o modo como Rororo se parecia quando jovem, quatro
cabeças serpentiformes saíram da água perto da cabana. Elas se aproximaram de
Zaryusu e Shasuryu.

Só então, as cabeças subiram de repente, revelando uma forma massiva escondida den-
tro da água. Suas quatro cabeças reptilianas eram unidas ao seu corpo por longos pes-
coços, e o dito corpo tinha quatro pernas.

Era uma fera mágica — uma Hydra.

Esse era o nome da espécie de Rororo.

Não era uma simples cobra, ainda mais dado o fato de que fazia ruídos de mastigação
quando Zaryusu arremessou os peixes.

Rororo tinha cinco metros de comprimento, mas era bem ágil e logo chegou ao lado de
Zaryusu.

Como um macaco subindo em uma árvore, Zaryusu graciosamente subiu no corpo de


Rororo.

“Você deve voltar em segurança. Além disso, não fique tenso demais. Seu estilo combina
mais com alguém agitado que adora falar, eu não vou deixar ninguém morrer hoje, essas
coisas.”

“...Eu já estou bem crescido.”

Shasuryu bufou ao ouvir isso.

Capítulo 1 Partida
4 2
“Olha só, o pirralho cresceu e ficou convencido... Brincadeira. Mas enfim, se cuida. Se
você não voltar, saberemos quem atacar primeiro.”

“Eu voltarei com segurança. Espere por mim, Ani-ja.”

Depois disso, os dois se entreolharam — os olhos cheios de emoção — e então cada um


partiu para seu caminho.

Parte 3

Havia muitos cômodos no 9º Andar da Grande Tumba de Nazarick. Apesar dos quartos
privados dos membros da guilda e dos NPCs, havia também uma grande banheira, uma
sala de jantar, um salão de beleza, uma loja de roupas, uma loja de conveniência, um
centro de cuidados com a pele, uma sala de manicure e muitas outras coisas. Uma im-
pressionante variedade de instalações estava disponível aqui, abrangendo quase todas
as formas de serviço ou idéias imagináveis.

Essas instalações eram em grande parte sem sentido no jogo. E provavelmente haviam
sido criados porque seus criadores eram defensores dos detalhes e queriam que a
Grande Tumba de Nazarick se encaixasse na imagem de uma Arcologia. Em contraste,
pode ter sido uma resposta psicológica às condições miseráveis de vida que eles enfren-
taram no mundo real.

E então, havia o interior de um desses cômodos.

Era liderado pelo Sous-Chef da Grande Tumba de Nazarick. Ele normalmente mostrava
suas habilidades na sala de jantar, mas em certos horários e datas ele vinha a este lugar
para preparar comida para todos desfrutarem.

Esta sala tinha como tema um pequeno bar de coquetéis com poucos clientes habituais,
e o interior foi suavemente iluminado com lâmpadas escuras.

Continha uma prateleira de bebidas, um balcão com oito banquetas. Embora o cômodo
estivesse mobiliado com simplicidade, Sous-Chef pensava nele como “um lugar onde as
pessoas pudessem beber em paz”. Esse lugar que ele recebera era como sua fortaleza
pessoal, e isso o enchia de satisfação.

No entanto, alguns minutos depois de receber esse cliente pela primeira vez, ele perce-
beu que a atmosfera estava diretamente relacionada à natureza de sua clientela.

♦♦♦

*Glub glub glub, fuwaaah~*

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


4 3
A julgar pelo som, a cliente em questão acabara de tomar a bebida de uma vez.

Enquanto limpava uma taça de vinho, Sous-Chef pensou vagamente:

Se quer beber assim, há lugares melhores para isso.

E de fato, havia um bar social e um clube no 9º Andar, então não havia necessidade de
ela vir aqui e beber assim.

Com um baque abafado, o copo — provavelmente um do tipo Highball, a julgar pelo


tamanho — bateu no balcão. Sous-Chef lutou contra a raiva que ameaçava contorcer seu
rosto.

“Me dê outro aí!”

Sous-Chef foi obrigado a encher o copo mais uma vez. Depois de despejar vodka desti-
lada, ele adicionou um pouco de corante alimentar Azul No. 1.

Então, ele gentilmente misturou antes de entregar.

“Essa bebida é chamada de Lágrimas da Donzela.”

Ele havia inventado o nome agora enquanto a garota diante dele o encarava com um
olhar duvidoso. Aparentemente, ela nunca tinha visto uma bebida sendo misturada an-
tes, porque sua expressão imediatamente se transformou em gratidão.

“Oh, então a cor azul espalhada representa lágrimas?”

“Sim, isso mesmo.”

Ele mentiu sem qualquer hesitação.

Ela ergueu o copo e engoliu em um gole, como se estivesse bebendo café com leite após
um banho quente.

Então, como antes, ela bateu o copo no balcão com toda a força.

“Hoo, acho que agora está começando a fazer efeito.”

“Bem, a senhorita tem bebido muito depressa. Que tal parar e descansar por hoje?”

“...Não. Eu não quero.”

“Entendo...”

Capítulo 1 Partida
4 4
Sous-Chef pegou o copo e começou a limpar novamente. Sua irritação cresceu quando
a garota olhou para ele.

Se quer falar algo, vá em frente e fale. É por isso que as mulheres são tão complicadas.
Meus clientes devem ser senhores elegantes, não mulheres irritantes. Bem que eu poderia
banir as mulheres deste lugar... não, acho que não. Isso desrespeitaria os Seres Supremos.
Peço perdão, mas qualquer um na minha situação pensaria o mesmo.

Esta mulher tinha sido convidada aqui por ninguém além de si mesmo. Quando ele a
encontrou no 9º Andar, ele a viu por trás e temia que ela estivesse deprimida. Assim ele
puxou assunto com ela, algo que agora lamentava amargamente. Ainda assim, já que foi
ele quem a convidou, era seu dever tratá-la com respeito cabível a um dono de bar.

Eu preciso ser hospitaleiro, mesmo que seja servindo drinques. Se bem que eu posso unir
o útil ao agradável!

Depois de se preparar psicologicamente, ele perguntou:

“Há algo errado, Shalltear-sama?”

Naquele momento, a garota — Shalltear — abriu a boca. Parece que ela estava espe-
rando por essa pergunta há muito tempo.

E também parecia que o palpite dele estava errado.

“Desculpe, eu não quero falar sobre isso.”

Está de sacanagem com minha cara!?

—E então seu rosto enrugou em uma carranca. No entanto, Shalltear não conseguia in-
terpretar as expressões faciais de um Myconid, e por isso ela não deu bola. Em vez disso,
ela usou o dedo para brincar com o copo diante dela.

“Eu acho que estou um pouco bêbada”.

“...Não me diga.”

...Até parece.

Shalltear poderia ter sentido que estava bêbada, mas Sous-Chef estava totalmente con-
vencido de que não era o caso.

Embriaguez era semelhante a ser envenenado. Assim, era impossível que alguém imune
ao veneno se intoxicasse. Por ser um tipo de undead, Shalltear era imune ao veneno,

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


4 5
então ela não poderia estar bêbada. O fato era que as pessoas que vinham para cá reti-
ravam os itens que as tornavam imunes a veneno ou vinham aproveitar a atmosfera, já
que sabiam que não se embriagariam.

Ainda assim, Shalltear acreditava que estava bêbada. Isso provavelmente era verdade
para ela — estava intoxicada pelo ambiente.

Enquanto Sous-Chef se perguntava o que deveria fazer em seguida, ele ouviu um som
maravilhoso. Ele se virou para a direção do som.

“Bem-vindo.”

“Olá, Peckii.”

Ele ganhou esse apelido porque parecia bastante similar a um certo cogumelo. A pessoa
que havia se dirigido a ele por esse apelido era um de seus clientes habituais — o Mor-
domo Assistente, Eclair. Ele estava acompanhado pelo criado que carregava Eclair pela
cintura.

Eclair foi colocado em uma das banquetas, como de costume. Isso porque Eclair tinha
apenas 100 centímetros de altura e tinha dificuldade para subir nas banquetas sozinho.

Ele ficou perplexo com a razão de dois de seus clientes — que estavam sentados lado a
lado — não se cumprimentarem. Então, ele olhou para Shalltear e notou que sua cabeça
estava baixa e ela parecia estar murmurando para si mesma. Ele podia esboçar algo que
soava como um pedido de desculpas ao Supremo (Ainz Ooal Gown).

Com um movimento um pouco exagerado, Eclair sinalizou para uma bebida.

“Eu vou querer aquela.”

“Como desejar.”

Havia apenas uma bebida que veio à mente quando ele disse “aquela”.

Este seria um coquetel de dez cores feito com dez licores diferentes — o Nazarick.

Não só o coquetel era visualmente atraente, mas seu sabor era agradável ao paladar.
Seus frequentes clientes aprovaram poderosamente e sentiram que era digno do nome
“Nazarick”, mas isso não era algo que ele recomendaria aos outros.

Sempre Sous-Chef estava o experimentando para aprimorar o sabor, para ele não es-
tava bom o bastante, mas não sabia como fazer para deixá-lo perfeito.

Com movimentos praticados à perfeição, ele derramou o coquetel de dez cores no copo
tipo Flute e o colocou na frente de Eclair.

Capítulo 1 Partida
4 6
“Beba isto, senhorita.”

E então, um som de ~whoosh, seguido por um acidente, aconteceu.

Talvez Eclair estivesse tentando entregar o copo para ela o fazendo deslizar sobre o
balcão, mas apenas um personagem de mangá ou uma pessoa muito habilidosa poderia
fazê-lo. Um pinguim não era nenhum dos dois.

Ele pegou o copo caído e deu um suspiro de alívio depois de ver que não estava danifi-
cado. Ele limpou o licor derramado e depois olhou para Eclair com um olhar infeliz:

“Seria pedir demais que não fizesse isso novamente com suas nadadeiras? Se insistir
em repetir, terei que conduzi-lo para fora dentro de um balde.”

“...Eu sinto muito.”

Shalltear levantou a cabeça. Parece que ela percebeu a presença de Eclair graças a seu
ato.

“Ara, se não é o Eclair? Há quanto tempo.”

“Sim, já faz um tempinho... Bem, parece que eu continuo vindo em sua direção sempre
que a senhorita chega ao Nono Andar.”

“Mesmo?”

“Sim. Mas que curioso... eu não esperava encontrá-la neste lugar. Sempre pensei que
apenas o Demiurge viesse aqui, dentre os Guardiões. Acredito que uma vez ele veio aqui
para beber com o Cocytus.”

“Oh, sério?”

Os olhos de Shalltear se arregalaram ao ouvir sobre seus colegas.

“Mas, o que aconteceu para que começasse a gostar disso?”

“Eu acabei fazendo... não, cometendo um erro terrível. Como Guardiã, só me restou a
depressão, então vim afogar minhas mágoas na bebida.”

Um olhar perplexo apareceu no rosto de Eclair, e ele perguntou ao Sous-Chef com os


olhos: O que há de errado com ela? No entanto, ele também não sabia, então tudo o que
pôde fazer foi balançar a cabeça em resposta.

Entretendo, ele ainda esperava que todos pudessem ser felizes enquanto bebiam. Com
isso em mente, Peckii sugeriu algo que surpreendeu os dois.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


4 7
“Que tal tentar algo para melhorar seu humor? Um copo de suco de maçã, talvez?”

Os dois pararam por um momento quando ouviram isso.

“Feito com as maçãs colhidas no Sexto Andar.”

Foi interessante para ambos, então assentiram ao mesmo tempo. Ele ficou satisfeito em
ver suas respostas sinceras.

Não tardando, ele trouxe dois simples copos de suco de maçã no balcão. Sous-Chef
olhou para o criado, imaginando se ele também queria, mas a oferta foi recusada silen-
ciosamente como de costume.

Naturalmente, ele tinha um canudo para Eclair, que era uma ave.

“O gosto é delicioso.”

“É muito bom, mas falta algo... talvez não seja doce o suficiente?”

Esse foi o comentário que os dois fizeram depois de beber suas bebidas de uma vez.

“Bem, não posso fazer nada quanto a isso. Eu já comi essas maçãs antes, elas não são
tão doces quanto as que estão guardadas em Nazarick.”

“Existe uma macieira no Sexto Andar? Eu não me lembro de nenhuma.”

Aparentemente, Shalltear tinha ouvido falar disso antes, pois ela respondeu em seu lu-
gar.

“Essas seriam as maçãs que o Ainz-sama trouxe? Eu ouvi da Albedo sobre um plano
para reabastecer nossos consumíveis, onde cultivaríamos sementes do lado de fora em
Nazarick para ver se produziriam frutos.”

Peckii também tinha ouvido falar disso. Ele também recebeu ordens de usar todo tipo
de comida do lado de fora para fazer pratos, a fim de ver se eles poderiam aumentar os
atributos de quem se alimentasse com elas.

“Sim, eu também ouvi falar. Se der certo, também haverá um pomar. O único porém, é
que não são doces o suficiente.”

“Sim, mas não é que sejam intragáveis. Creio que este suco é perfeito para limpar o pa-
ladar.”

“...Ainda assim, quem as cultivou? Aura e Mare estão do lado de fora... É algum bichinho
de estimação deles?”

Capítulo 1 Partida
4 8
“Não, não, isso seria a Dryad que o Ainz-sama trouxe do lado de fora.”

O rosto de Eclair parecia estar dizendo: “Quem?” Em contraste, Shalltear parecia estar
dizendo “Ah!”.

“...Entendi, então colocaram a pessoa certa para o trabalho. Será que o Ainz-sama pla-
nejou isso desde o começo?”

“Quem é essa? Nazarick tem novos membros?”

Shalltear respondeu à pergunta de Eclair. Ele já tinha visto uma Dryad antes, mas não
conhecia essa. Assim, ele prestou bastante atenção no assunto.

A Dryad havia sido trazida após a batalha para avaliar a capacidade de lutar em grupo
dos Guardiões. Aparentemente, houve algum tipo de acordo com a Dryad que resultou
no fato da Dryad ser trazida à Nazarick para criar um pomar de maçãs.

“Isso quer dizer que Nazarick nunca para de evoluir, está constantemente melhorando,
concordam?”

Os dois assentiram para as palavras de Eclair.

Quanto ao Sous-Chef, até então ele não tinha certeza sobre os detalhes deste assunto e
os planos futuros para a Grande Tumba de Nazarick. Todavia, ele agora entendia que o
último Ser Supremo que permaneceu aqui, Ainz Ooal Gown, estava tentando manter sua
força neste mundo e planejando aumentar ainda mais seu poder.

“Entendi. Isso significa que, no futuro, Nazarick pode ter muito mais recém-chegados
como a Dryad... é isso?”

Shalltear inchou suas bochechas em desgosto depois de ouvir as palavras de Eclair.

“...Eu certamente espero que não. Como podemos deixar essas gentalhas andarem li-
vremente sobre os lugares que os Seres Supremos construíram?”

Ele também sentia o mesmo e não pôde deixar de franzir a testa enquanto pensava so-
bre as moradas dos Seres Supremos sendo manchadas por pessoas de fora. No entanto,
houve uma coisa que ofuscou esses sentimentos.

“Ainda assim, temos que suportar isso, porque essa é a vontade de Ainz-sama.”

A palavra do Ser Supremo, Ainz Ooal Gown, era absoluta. Se ele dissesse que algo branco
era preto, então certamente ficaria preto.

“Eu não pretendo desafiar nenhuma decisão do Ainz-sama!”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


4 9
Os outros dois assentiram para o bramido de Shalltear.

“Sim, precisamos ser mais leais ao Ainz-sama, precisamos ser exemplos para as massas.
E tenho plena certeza de que, depois do que a senhorita fez, ninguém mais ousará trair
o Ainz-sama.”

“Exatamente. O que me diz, Shalltear? Quando a hora chegar, tenho certeza que a se-
nhorita será—”

Eclair começou seu discurso de recrutamento usual — e nunca bem-sucedido —, mas


foi abafado por um grito bizarro.

“Nãããããooo~!”

Shalltear agarrou a própria cabeça enquanto gritava diante deles. Suas lamentações
eram preenchidas com promessas de lealdade.

“...O que aconteceu? Ela parecia estar bem agora mesmo.”

Em resposta à pergunta de Eclair, Sous-Chef apenas balançou a cabeça e os ombros:

“Sei lá...?”

Capítulo 1 Partida
5 0
Capítulo 02: Reunindo os Lizardmen

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


5 1
Parte 1

sol estava a pino depois de meio dia viajando com Rororo. Zaryusu final-

O
mente chegara a seu destino sem encontrar nenhum dos inimigos que o
preocupava.

Havia várias casas aqui que se assemelhavam às da tribo Green Claw, e


barricadas de estacas afiadas apontavam para lados aleatórios. O espaçamento entre as
estacas era bastante grande, mas eram suficientes para afastar monstros como Rororo.
Havia menos moradias aqui do que na tribo Green Claw, mas cada uma delas era maior
em escala.

Portanto, ele não podia determinar qual tribo tinha mais pessoas.

Cada edificação continha uma bandeira que esvoaçante ao vento. A dita bandeira estava
estampada com o símbolo da “Red Eye”.

Certamente, esse foi o primeiro destino que Zaryusu escolheu — a região da tribo Red
Eye. Depois de olhar ao redor, Zaryusu deu um suspiro de alívio.

Felizmente, eles ainda viviam no lugar que a informação chegava ao destino. Ele temia
que eles tivessem migrado após a guerra anterior, se fosse o caso, ele teria que tentar
encontrar a tribo.

Olhando para a direção de onde veio, Zaryusu viu sua própria aldeia nos limites de sua
visão. Eles certamente estavam preparando uma ampla recepção para os convidados.
Dado como ele se sentia desconfortável quando ele deixou sua aldeia, ele estava bastante
certo agora que não seriam atacados.

A melhor prova disso foi a chegada segura de Zaryusu aqui.

No entanto, ele não tinha certeza se isso era observado pelo ser chamado de Supremo,
ou se esse desenvolvimento estava dentro do escopo de eventos previsto, parecia que o
inimigo não pretendia voltar atrás em sua palavra, e nem pretendiam impedir os Lizar-
dmen de se prepararem.

É claro que, mesmo que as forças daquele Supremo “alguma coisa” — ou seja lá o que
fosse — aparecesse, Zaryusu não teria escolha a não ser continuar com todas as suas
forças.

Zaryusu desmontou de Rororo e espreguiçou-se preguiçosamente.

Embora cavalgar Rororo por longos períodos de tempo fizesse seus músculos enrijece-
rem, simplesmente esticar-se daquele jeito já o enchia de conforto.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


5 2
Depois disso, Zaryusu indicou que Rororo deveria ficar onde estava e esperar. Então,
tirou um pouco de peixe seco de seus alforjes e os deu a Rororo, para que comesse um
café da manhã reforçado.

Originalmente, ele pretendia que seu pessoal trouxesse suas próprias provisões para
cá, mas não podia dar essa ordem porque o transporte poderia danificar os terrenos de
caça dos Red Eye.

Depois de afagar todas as cabeças de Rororo, Zaryusu partiu sozinho.

Se ele tivesse mantido Rororo ao seu lado, a presença da Hydra poderia deixar o outro
lado cauteloso demais para sair e falar. Como Zaryusu tinha vindo propor uma aliança,
ele não queria pressioná-los indevidamente.

A água espirrava em torno de seus pés quando ele avançava.

Pelo canto do olho, Zaryusu notou vários guerreiros da tribo Red Eye seguindo seus
movimentos de dentro da barricada. Muito parecido com os guerreiros da tribo Green
Claw, eles não usavam armadura e carregavam longas lanças, cada uma das quais era
essencialmente um bastão longo com ponta afiada de osso. Outros carregavam fundas,
mas o fato de que nenhum deles havia lançado projéteis nele sugeria que eles não tinham
intenção de atacar imediatamente.

Zaryusu também não queria agitá-los, então ele lentamente se aproximou até chegar ao
portão principal. Então, ele se virou para os Lizardmen que o observavam com cautela,
e gritou em alto tom:

“Eu sou Zaryusu Shasha da tribo Green Claw! Procuro uma audiência com seu chefe!”

Depois de algum tempo, um Lizardman velho segurando um cajado nodoso chegou. Ele
era seguido por cinco membros da sua tribo. O corpo do velho Lizardman era pintado
com desenhos brancos.

Ele é o Sumo Sacerdote?

Zaryusu se fez parecer uma figura impressionante, mesmo ficando apenas parado e es-
perando.

Neste momento, eles eram iguais. Assim, ele não pôde mostrar nenhum sinal de fra-
queza. Zaryusu permaneceu imóvel enquanto o sacerdote inspecionava a marca em seu
peito.

“Eu sou Zaryusu Shasha da Green Claw. Há algo que devo discutir com você.”

“...Se dependesse de mim, você poderia dar meia-volta. Mas quem lidera nossa tribo
decidiu te conceder uma audiência. Venha comigo.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


5 3
Esta resposta meio vaga deixou Zaryusu um pouco confuso.

O que o deixou perplexo foi o porquê o Lizardman não ter chamado quem os lidera de
“chefe”. Além disso, eles não lhe pediram nenhuma prova de sua identidade. Dito isto,
seria problemático se ele perguntasse demais e acabasse irritando alguém. Com uma
vaga sensação de que algo estava errado, Zaryusu seguiu atrás do grupo de Lizardmen.

♦♦♦

Ele foi levado para uma casinha muito bem construída. Era facilmente maior que a casa
do irmão de Zaryusu, em sua aldeia.

As paredes eram decoradas com desenhos pintados com tintas raras, implicando o alto
status de seu ocupante.

Curiosamente, esta casa não tinha janelas, embora tivesse orifícios de ventilação espa-
lhados por suas paredes. Como qualquer outro Lizardman, Zaryusu podia ver muito bem
no escuro.

No entanto, isso não significa que eles gostavam de viver na escuridão.

Sendo esse o caso, por que esse líder morava em uma cabana escura como essa?

Perguntas como essa apareceram na mente de Zaryusu, mas ninguém as respondia.

Olhando para trás, ele viu que o sacerdote e os guerreiros que o levaram para cá não
estavam mais nos arredores.

Ao ouvir as ordens dos que o guiava para que se retirassem, ele pensou que estavam
sendo muito descuidados e quase perguntara o porquê haviam feito aquilo.

Contudo, uma vez que Zaryusu soube que o pedido vinha do líder da aldeia — chefe
interino deles —, o seu respeito por seja lá quem estivesse dentro da cabana só cresceu.

Zaryusu havia prometido a seu irmão mais velho que retornaria em segurança, mas isso
não significava que voltaria ileso. Cercá-lo com guerreiros armados para aplicar pressão
não adiantaria nada. Mas caso os Red Eye tivessem feito isso, ele teria ficado desapon-
tado com a falta de consideração.

No entanto, se a oposição já havia previsto isso, e preparasse uma grande demonstração


para ele—

Isso significa que eu vou lidar com um negociador experiente...

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


5 4
Zaryusu ignorou propositadamente as pessoas que o observavam de longe. Ele mar-
chou até a porta e se anunciou em alto tom:

“Eu sou Zaryusu Shasha da tribo Green Claw! ME disseram que o líder dessa tribo estava
aqui! Posso solicitar uma audiência?”

Uma voz fraca respondeu, concedendo-lhe entrada. Era uma voz feminina.

Zaryusu entrou sem hesitar.

Como esperado, o interior era escuro como breu.

Mesmo possuindo visão no escuro, a mudança dramática nos níveis de luz fez Zaryusu
piscar.

Um odor acre pairava no ar, possivelmente de algum tipo de mistura de ervas. Zaryusu
esperava uma fêmea velha, mas a voz facilmente destruiu tal preconceito.

“Eu ofereço-lhe boas-vindas.”

A voz veio através de uma porta no interior do ambiente escuro, de modo que ele supu-
sera que devia pertencer a alguém idoso. Mas agora, ele percebia que era uma voz jovem
e cheia de vigor.

Quando os olhos de Zaryusu finalmente se ajustaram à luz ambiente, a forma de uma


Lizardman revelou-se à sua frente.

Branca como a neve.

Essa foi a primeira coisa que Zaryusu pensou quando a viu.

Suas escamas eram brancas como a neve, brilhantes como o dia, limpas e livres de im-
perfeições.

Seus olhos redondos e brilhantes eram carmesins, brilhando como rubis. Seu corpo es-
guio não era masculino e robusto, mas feminino e delicado.

Seu corpo estava coberto de desenhos tribais vermelhos e negros indicando que ela era
uma adulta, e que conhecia muitas magias — E que era solteira.

Zaryusu já foi perfurado por lanças antes.

Mas isso era uma dor lancinante que o fez sentir que algo quente tinha perfurado seu
peito, uma agonia que pulsava através de seu corpo no ritmo das batidas do seu coração.
Zaryusu experimentou algo assim.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


5 5
Não havia dor, mas—

Zaryusu permaneceu em silêncio sem se mover.

A reação de sua contraparte ao seu silêncio era ilegível. Com um sorriso escárnio, ela
perguntou:

“Parece que até mesmo o portador da Frost Pain — um dos Quatro Tesouros — também
me considera uma aberração.”

Na natureza, o albinismo era uma condição muito rara. Isso porque os albinos eram
muito destacáveis no ambiente e tinham dificuldade em sobreviver aos rigores da vida.

O mesmo se aplica aos Lizardmen, que possuíam algum grau de civilização. Isso porque
eles não tinham tecnologia para permitir que peles sensíveis ao sol ou tivessem visão
sensível sobrevivessem. Como resultado, Lizardmen albinos adultos seriam ainda mais
raros, alguns até foram mortos assim que nasceram.

Entre os Lizardmen, ser considerado um mero incômodo não era a pior das coisas. Na
pior das hipóteses, alguns até eram considerados monstros. Esse era o significado do
escárnio em seu sorriso.

No entanto, nada disso se aplicava a Zaryusu.

“—O que há de errado com você?”

A fêmea surpresa perguntou a Zaryusu, que estava paralisado na porta. A resposta de


Zaryusu foi um grito que aumentou de tom antes de acabar, com alguns ruídos no meio.

Os olhos da Lizardman fêmea se arregalaram e seu queixo caiu levemente. Abrangia sua
surpresa, confusão e constrangimento.

Esse som era conhecido como um chamado de acasalamento.

Depois de perceber o ato tolo que ele havia inconscientemente executado, a cauda da
Lizardman fêmea balançou para frente e para trás; para um lizardman é o equivalente
ao corar de bochechas em humanos. Ela se debateu com tanta violência que parecia que
a casa seria derrubada.

“Er— ah, não. Não, não é isso. Eu não quis dizer isso, eu—”

A reação de pânico de Zaryusu pareceu acalmar a fêmea. Seus dentes se apertaram um


contra o outro em uma risada rangente, e então ela tentou consolá-lo em um tom exas-
perado.

“Por favor acalme-se. Será muito problemático para mim se você perder o controle aqui.”

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


5 6
“Ah! Sinto muito.”

Depois de se desculpar, Zaryusu entrou. A essa altura, a cauda da Lizardman fêmea já


repousava no chão. Parece que ela finalmente conseguiu recuperar a compostura. Ainda
assim, a ponta ainda se contraia e espasmava, o que sugeriu que ela não se acalmou com-
pletamente ainda.

“Por aqui, por favor.”

“—Obrigado.”

A fêmea conduziu Zaryusu para o que parecia ser um assento no chão que parecia ter
sido tecido de fibras vegetais. Eles ficaram frente a frente quando se sentaram.

“Prazer em conhecê-la. Sou um Viajante da tribo Green Claw, Zaryusu Shasha.”

“Grata pela formalidade. Eu sou a Chefe Interina da tribo Red Eye, Crusch Lulu.”

Depois de se apresentarem, os dois examinaram um ao outro, como se estivessem fa-


zendo uma avaliação de sua contraparte.

O breve silêncio encheu a cabana, mas não poderia durar muito. Zaryusu era um convi-
dado, por isso cabia à Crusch — como anfitriã — falar primeiro.

“Então, estimado convidado, não vamos nos limitar na cerimônia. Eu gostaria que pu-
déssemos falar livremente, então tudo bem se relaxar.”

Zaryusu assentiu em resposta ao pedido de relaxamento.

“Eu sou grata por isso. Na verdade, eu não estou acostumada a conversar formalmente.”

♦♦♦

“Então, o que te traz à minha tribo?”

Crusch já tinha uma idéia, apesar de sua pergunta.

O misterioso undead apareceu no centro de sua aldeia, o que implicava que outra pes-
soa usou magia de controle de nuvens do 4º nível — 「Control Clouds」. Além disso, o
visitante era um herói Lizardman de outra tribo.

Assim, só poderia haver uma resposta. Assim que Crusch queria saber como reagir a
Zaryusu, ela ouviu uma resposta que superou completamente suas expectativas.

“—Por favor, case-se comigo.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


5 7
“...”

—?

—!

“Ah—?”

Por um momento, Crusch se perguntou se seus ouvidos estavam funcionando correta-


mente.

“Eu não vim aqui por isso. E sei muito bem que seria melhor discutir os negócios pri-
meiro e deixar isso para depois. Mas é que eu não posso negar o que estou sentindo no
meu coração. E vou entender totalmente se zombar de mim, eu sei que estou sendo um
macho tolo.”

“Uu, er, mm. Oh...”

Depois de ouvir essas palavras que ela nunca ouvira antes desde o nascimento, e que
acreditava que nunca seriam direcionadas a ela, uma tempestade caótica abocanhou o
coração de Crusch e ela ficou completamente incapaz de se concentrar.

Zaryusu sorriu amargamente ao ver Crusch naquele estado e continuou:

“Eu sinto muito, mas é o que eu sinto. Não deveria ter perguntando isso assim, ainda
mais nesse momento. Tenha o tempo que precisar para me responder...”

Por muito tempo, Crusch finalmente conseguiu reunir seus pensamentos mais uma vez,
ou pelo menos conseguiu começar a pensar novamente. Finalmente ela se acalmou, mas
quando as palavras de Zaryusu apareciam em sua mente, ela sentia como se sua cabeça
fosse queimar a qualquer momento.

Ela estudou o rosto do macho à frente, tomando cuidado para não deixa-lo perceber
enquanto avaliava sua expressão estoica.

Eu não posso acreditar que ele fica tão calmo depois de dizer uma coisa dessas... Será que
ele diz isso para todas? Ou será um garanhão que todas querem...? Não posso negar, ele é
muito bonito... Ah—! O que eu estou pensando!? Este deve ser o esquema dele... sim, isso
mesmo. É óbvio, ele só quer melhorar meu humor. Além disso, até parece que alguém pedi-
ria minha a mão em casamento...!

Por nunca tendo sido cortejada antes, sua mente estava atordoada depois de receber
essa pergunta. Ela não percebeu a maneira como a ponta da cauda de Zaryusu se con-
traia levemente. O macho diante dela também estava lutando para controlar suas emo-
ções e impedi-las de irromperem.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


5 8
OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman
5 9
“Er, hum... hm.”

Assim, o silêncio recaiu entre eles. Levaria um tempo até que os dois conseguissem es-
friar a cabeça, aquecidos por pensamentos febris.

Depois de passar tempo suficiente para recuperarem a compostura, Crusch percebeu


que eles deviam retornar ao tópico original por enquanto.

Assim que Crusch pensou em perguntar a Zaryusu sobre suas razões para ter ido, ela
lembrou do que ele perguntara agora a pouco.

Como alguém pergunta uma coisa dessas primeiro?

A cauda de Crusch bateu no chão com um *thwap*. O macho diante dela estremeceu,
como se tivesse sido atingido fisicamente.

Crusch entrou em pânico, percebendo que isso era um comportamento muito rude.

Mesmo que fosse um Viajante, ele ainda era um representante de uma tribo. E ainda
não eram um Lizardman comum, mas um herói que portava a Frost Pain. Essa não era a
atitude que ela deveria estar adotando com alguém assim.

Mas é tudo culpa sua! Anda, diz alguma coisa também!

Zaryusu havia escolhido o silêncio porque estava envergonhado com o que fizera, mas
Crusch não havia percebido isso enquanto tentava selar o vulcão em seu coração.

O silêncio continuou. Percebendo que já estava passando dos limites, Crusch tomou co-
ragem e tentou mudar de assunto.

“Dado que você não tem medo da minha aparência, imagino que deve ser muito cora-
joso, não é?”

Ao ouvir a pergunta autodepreciativa de Crusch, Zaryusu respondeu com uma expres-


são que parecia dizer: Que bobagem é essa?

O que se passa na cabeça dele?

Crusch pensou.

“Não escutou? Você não tem medo do meu corpo branco?”

“...É como a neve que cobre as montanhas.”

“...Eh?”

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


6 0
“—É uma cor bonita.”

E, claro, ele teria que dizer a única coisa que ninguém nunca havia falado com ela antes.

Esse Lizardman é maluco!?

Incapaz de suportar tanta tensão, o selo contendo emoções de Crusch explodiu para tão
longe que nunca mais foi visto.

Ao ver Crusch sem a menor idéia do que fazer, Zaryusu casualmente estendeu a mão e
tocou as escamas de Crusch. Sua mão roçou aquelas escamas lustrosas, bonitas e apa-
rentemente polidas — que eram um tanto frias ao toque.

“SHAAA!”

Crusch engasgou, soou como o susto, o som pareceu esfriar um pouco as cabeças deles.

Ambos sabiam que algo estava acontecendo com eles, mas não conseguiram se conter.
Pânico os preencheu dos pés à cabeça. Por que ele foi incapaz de se controlar e a tocou?
E por que ela o deixou fazer isso? Essas questões tornaram-se ansiedade e, por sua vez,
tornou-se confusão.

No final, suas caudas bateram repetidas vezes no chão, com tanta força que toda a ca-
bana pareceu tremer.

Em pouco tempo, seus olhos se encontraram e perceberam o estado da cauda um do


outro. Logo depois, suas caudas congelaram no meio do movimento, como se o tempo
tivesse parado para eles.

“...”

“...”

Em poucas palavras, o clima era tenso. O silêncio recaiu mais uma vez, e eles se estuda-
ram mais furtivamente. Depois disso, Crusch finalmente conseguiu se recompor. Com
um olhar em seus olhos que dizia “nem tente mentir para mim”, ela perguntou:

“...P-Por quê... você fez isso de repente?”

Embora Crusch não tivesse expressado adequadamente o que queria dizer, Zaryusu pa-
recia ter percebido o significado e deu uma resposta direta e honesta.

“Creio que seja um caso de amor à primeira vista. Além disso, podemos morrer daqui
uns dias, então não pretendo deixar arrependimentos para trás.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


6 1
Crusch ficou perplexa em como responder à fervorosa confissão de Zaryusu. No entanto,
havia algo dentro daquelas palavras que ela não podia aceitar.

“...Quer dizer que até mesmo o portador da Frost Pain sente que pode morrer?”

“É um inimigo desconhecido, não podemos nem sonhar em cantar vitória... Chegou a


ver o monstro que eles usaram como mensageiro? O que veio à nossa aldeia era mais ou
menos assim...”

Zaryusu entregou um esboço do monstro em questão. Ela olhou e assentiu.

“Mm, é o mesmo.”

“Você sabe que tipo de monstro é?”

“Não. Nem ninguém na minha tribo sabe.”

“Entendo... Bem, eu já vi um monstro assim antes...”

A voz de Zaryusu sumiu e ele estudou a reação de Crusch e disse:

“Eu fugi dele”.

“—Eh?”

“Eu não venci. Ou melhor, eu quase morri.”

Depois de perceber o quão forte o monstro era, Crusch deu um suspiro de alívio. Parecia
que acalmar os ânimos dos guerreiros tinha sido a coisa certa a fazer.

“Aquela coisa é incorpórea e pode confundir a mente com seus lamentos. Armas não-
encantadas são inúteis, então eu não poderia vencer apenas com números.”

“Nós, druidas, temos magias que podem temporariamente encantar armas...”

“...Isso é bom, você pode se defender contra ataques mentais?”

“Podemos melhorar a resistência a esses ataques, mas proteger a mente de todos está
além de minhas capacidades.”

“Entendo... todos os sacerdotes podem lançar magias assim?”

“Quase todos os sacerdotes podem reforçar as resistências, mas eu sou a única na minha
tribo que pode evitar a sensação de confusão.”

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


6 2
Crusch percebeu que a respiração de Zaryusu estava um pouco irregular. Que por sua
vez pareceu perceber que a posição de Crusch não era para se mostrar.

De fato, Crusch Lulu era uma druida veterana, e seus poderes eram provavelmente su-
periores a qualquer outro sumo sacerdote entre os Lizardmen.

“...Quando a tribo Red Eye será atacada?”

“Eles disseram que seriamos os quartos.”

“Entendi... então, o que pretendem fazer?”

Algum tempo havia se passado.

Crusch debateu os méritos e deméritos de contar a ele. A tribo Green Claw certamente
escolheria lutar, e Zaryusu provavelmente estava aqui para garantir uma aliança para
lutar em conjunto. Como ela poderia transformar isso em vantagem para a tribo Red
Eye?

Os Red Eyes nunca pretenderam formar uma aliança. Eles tinham a intenção de fugir.
Afinal, lutar contra qualquer um que pudesse usar magia de 4º nível seria extremamente
insensato. Não havia outra conclusão que pudessem pensar, uma vez que a oposição de-
les também poderia conjurar undeads.

No entanto, seria realmente sensato abrir o jogo assim?

Enquanto seus pensamentos giravam dentro de sua cabeça, Zaryusu estreitou os olhos,
como se fosse revelar sua alma a ela.

“Se não se incomodar, minha opinião sincera é que—”

Crusch não sabia o que Zaryusu diria a seguir e manteve os olhos afiados fixados nele.

“—O que me preocupa é o que vai acontecer depois que evacuarmos nossos povos.”

Crusch não tinha idéia do que Zaryusu estava falando. Mas ele calmamente se explicou:

“Você acha que pode continuar vivendo como se nada tivesse acontecido depois de
abandonar seu lar?”

“Acho que não... ou melhor, seria quase impossível, não é?”

Se eles deixassem este lugar e construíssem uma nova vida em outro lugar, isso impli-
caria a entrada em um novo ambiente. Eles teriam que apostar suas vidas em uma luta
pela vida e pela morte — pela sobrevivência — e vencer. E, em sua essência, os Lizard-

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


6 3
men não eram os governantes nativos desse lago. Eles lutaram durante anos para con-
quistar seu nicho nessas terras úmidas. Uma raça como a deles não poderia simples-
mente sair e ir prosperar em território desconhecido.

“Está dizendo que pode ser difícil encontrar comida e abrigo, é isso?”

“Sim...”

Crusch respondeu em um tom um tanto estridente que transmitiu suas dúvidas:

“Então, o que aconteceria se todas as cinco tribos tentassem evacuar imediatamente?”

“Seria—!”

Crusch ficou sem palavras, porque ela já havia adivinhado as verdadeiras intenções de
Zaryusu.

A área ao redor do lago era espaçosa, mas em qualquer lugar que uma determinada
tribo fugisse também seria um território muito disputado para as outras tribos. Em ou-
tras palavras, apenas se mudar para um novo lugar provocaria uma batalha pela sobre-
vivência. Além disso, todos estariam brigando por causa do peixe que era seu alimento
básico.

Diante disso, o que aconteceria se os eventos se desenrolassem dessa maneira? Até


onde sabiam, algum conflito sangrento, como a guerra de anos atrás, poderia voltar a
acontecer.

“Então está me dizendo quê... você quer forma uma aliança com nós, mesmo sabendo
que ainda podemos perder é porque—”

“—Isso mesmo. Não é apenas pela minha tribo, mas levei em conta um modo para ame-
nizar as perdas das outras tribos.”

“Que tipo de lógica é essa!?”

Foi por isso que ele queria que eles unissem e lutassem. Mesmo se perdessem, o número
de Lizardmen seria diminuído.

Isso foi bem radical — a idéia de que todos eram descartáveis, além dos guerreiros,
caçadores e sacerdotes. Ainda assim, ela conseguiu entender a lógica por trás disso. Ou
melhor, quando se tem uma visão de longo prazo das coisas, sacrificar todos os outros
seria o curso de ação mais sábio.

Se houvessem menos Lizardmen, eles não precisariam de muita comida. Dessa forma,
as várias tribos podem coexistir em harmonia.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


6 4
Crusch procurou alguma maneira de refutá-lo.

“—Deixa eu ver se entendi, você que quer reduzir nossos números e criar um lar em
outro lugar que nem sabemos se é perigoso ou não?”

“Preste atenção— o que acha que vai acontecer se todo mundo conseguir escapar para
uma região nova? Quando o suprimento de peixe ficar baixo, vamos nos matar por co-
mida de novo!?”

“Nem sabemos onde será, pode ter peixe de sobra!”

“E se não tiver?”

Crusch não sabia como responder a resposta fria de Zaryusu.

Zaryusu parecia estar assumindo o pior cenário quando planejou tudo, o que parecia
uma posição extrema para Crusch. Se eles fizessem o que ela estava pensando, então
uma tragédia aconteceria quando as coisas ficassem difíceis. No entanto, se eles fizessem
como Zaryusu sugeria, então a tragédia poderia ser evitada.

Além disso, mesmo que os Lizardmen adultos morressem em batalha, não seria algo
triste segundo eles, pois seria uma morte gloriosa.

“...Batalharemos contra qualquer tribo que recusar minha oferta.”

Seu tom frio fizera Crusch estremecer.

O que ele queria dizer era que ele não permitiria que a tribo Red Eye migrasse para
outro lugar com seus números inalterados.

Era uma conclusão sensata e muito apropriada.

Quando as tribos depreciadas rumassem para a tribo Red Eye — cuja força não dimi-
nuía — elas correriam risco de aniquilação. Para evitar isso, a única escolha que tiveram
seria atacar quaisquer tribos que não optassem por aderir a aliança. Uma decisão per-
feitamente racional de fazer a partir da perspectiva de um líder cujo povo estava em
perigo, e se ela estivesse no lugar dele, ela poderia muito bem ter tomado essa decisão
também.

“Eu sinto que, se formarmos uma aliança, mesmo se perdermos, haverá uma chance
mínima de conflitos quando nossas tribos se mudarem para novas terras.”

Crusch não entendeu o significado daquelas palavras, e a dúvida apareceu em seu rosto.
Foi então que Zaryusu decidiu se explicar em termos mais simples.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


6 5
“Sinto que a aliança fomentará um espírito de cooperação mútua e mudará nossas pers-
pectivas. Todos serão companheiros que derramaram sangue, suor e lágrimas, não mais
serão estranhos de tribos diferentes.”

“Então é isso.”

Crusch murmurou quando a iluminação a atingiu.

Em outras palavras, as tribos que lutassem juntas não necessariamente recorreriam à


violência quando a comida ficasse escassa.

Dada a opinião de Crusch e suas experiências passadas, ela se perguntou se eles pode-
riam alcançar tal estado.

Assim que Crusch abaixou a cabeça e começou sua contemplação, Zaryusu perguntou:

“Falando nisso, como foi que sua tribo sobreviveu aquele período?”

Crusch levantou a cabeça, como se tivesse sido espetada por uma agulha. Ela olhou ri-
gidamente para Zaryusu, que tinha um semblante de surpresa.

Parece sincero, ele não sabe o motivo.

Embora eles não se conhecessem há muito tempo, Crusch tinha uma compreensão gros-
seira da personalidade de Zaryusu, e seus instintos lhe disseram que sua pergunta não
representava ameaça para sua tribo.

Crusch estreitou os olhos e olhou para Zaryusu, como se tentasse penetrá-lo com seu
olhar afiado. Ela sabia que Zaryusu ficaria confuso sobre o porquê alguém o encarava
daquele jeito, mas mesmo assim, ela ainda tinha que fazer isso.

“—Preciso mesmo responder?”

♦♦♦

Seu tom estava cheio de desdém e ressentimento. Tão grande foi a mudança que
Zaryusu se perguntou se estava falando com outra pessoa.

Mas como chegara até aqui, Zaryusu não recuaria, pois isso era potencialmente uma
salvação que poderia ajudar a todos.

“Eu gostaria de ouvir. Foi graças aos sacerdotes? Ou outra coisa? Descobriram como
economizar—”

Zaryusu cortou suas palavras no meio do caminho.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


6 6
Se houvesse realmente uma maneira de salvar a todos, o olhar no rosto de Crusch não
teria sido tão amargo.

Talvez Crusch sentisse o que Zaryusu estava pensando, mas ela riu, como se zombasse
de si mesma.

“Você está certo. Não há como salvar a todos.”

Ela disse isso e sorriu desanimada.

“Recorremos ao canibalismo — comendo nossos companheiros mortos.”

O impacto desses dizeres deixou Zaryusu sem palavras. Matar os fracos — reduzindo
seus números — não era proibido, mas comer um dos outros era uma prática impura,
um tabu entre os tabus.

Uma coisa dessas deveria ser um segredo levado ao túmulo, e ela está dizendo assim, para
alguém de fora da tribo— para um visitante? Será que ela pretende me matar...? Não, não
parece ser o caso.

♦♦♦

Até mesmo Crusch ficou surpresa com o porquê de estar contando a Zaryusu tudo isso.

Ela sabia muito bem que sua tribo seria vilificada por isso. Mas por quê—

E então ela continuou falando, como se sua boca não estivesse mais sob seu controle.

“Naquela época — durante a guerra tribal — nossa tribo estava nas última devido à
falta de comida. Mas não participamos da guerra porque nossa tribo tinha mais sacerdo-
tes e desproporcionalmente menos guerreiros. E os sacerdotes criavam comida com ma-
gia.”

Como se estivesse sob o controle da vontade de outrem, Crusch prosseguiu.

“No entanto, a comida que os sacerdotes criavam com magia era pouco mais do que
uma medida paliativa, e nossa tribo estava lenta e seguramente seguindo o caminho da
destruição. Até que um certo dia, o antigo chefe trouxe de volta um pouco de comida;
carne vermelha fresca.”

—Talvez eu queira confessar... meus pecados.

O som de Crusch rangendo os dentes encheu o ar.

O macho diante dela ouviu silenciosamente. Ela poderia estar sendo malquista por ele,
mas Zaryusu não mostrou absolutamente nenhum sinal.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


6 7
Crusch agradeceu por isso.

“Lá no fundo, todos sabiam de onde vinha a carne. Criamos leis rígidas e as famílias que
as violassem eram exiladas. Assim que alguém era exilado, mais carne chegava. Mas to-
dos ignoraram essa coincidência e comeram a carne para sobreviver. Mas isso não du-
raria para sempre, seria impossível. Muitos sentimentos foram suprimidos, mas chegou
uma hora que tudo explodiu.”

Crusch fechou os olhos e recordou o rosto do chefe anterior.

“Nós comemos aquela carne... mesmo depois de descobrirmos a procedência... fomos


tão culpados quanto o chefe. Lembrando aqui e agora, dá até um pouco de pena.”

Após terminar seu monólogo, Crusch olhou Zaryusu nos olhos. Como ela não viu ne-
nhum sinal de repulsa, uma emoção sutil de alívio surgiu e, para sua surpresa, seguida
por alegria.

Por que ela estava tão feliz com isso?

Crusch começou a perceber a resposta para essa pergunta.

“...Sabe, às vezes, pessoas como eu nascem na tribo Red Eye. Quando crescem, desen-
volvem alguma forma de habilidade especial — no meu caso, eu era talentosa na magia
sacerdotal. Por isso, eu estava entre as candidatas para ser a próxima chefe tribal... Eu
me rebelei contra o chefe, muitos se uniram a mim. Essa batalha dividiu a tribo em dois,
mas vencemos porque éramos mais fortes.”

“E então seus estoques de comida ficaram adequados porque seus números diminuí-
ram?”

“Sim... e no final, nossa tribo sobreviveu. Quando nos rebelamos, o chefe resistiu até o
amargo fim e morreu depois de ficar gravemente ferido. Antes de receber o golpe fatal,
ele olhou nos meus olhos e sorriu.”

As palavras tinham dificuldade de sair da boca de Crusch, era como se a machucasse.

A culpa de ter matado o chefe anterior inflamou seu coração.

Ela não podia confessar esses seus pecados para as pessoas que tinham ficado ao lado
dela, cúmplices de sua traição. Mas agora, ela podia desabafar para Zaryusu. Foi por isso
que estava falando sobre o passado.

“Eu não esperava por aquilo, sorrir justo para quem o matou. Não havia ódio, ressenti-
mento, hostilidade ou malícia— foi apenas um sorriso gentil! E não sai da minha cabeça
quê... será que o chefe fez as coisas que fez já ciente disso? Por outro lado, nós agimos

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


6 8
como bestas. O chefe não fez nada de errado! Depois que ele morreu — digo, depois que
o bode expiatório por todos os nossos pecados foi morto — nossa tribo se uniu mais uma
vez. E no fim, ele nos deixou o maior dos presentes, resolveu a nossa escassez de alimen-
tos!”

A essa altura, Crusch já havia chegado a seu ponto de ruptura.

Ela lutou por muito tempo com sua culpa e o fardo de se tornar a Chefe Interina. Assim,
quando desabafou, ela o fez com uma força tremenda. No entanto, Crusch suprimiu esse
dilúvio iminente lágrimas, pois ela sabia que caso se entregasse a isso, ela poderia até
não ser capaz de falar.

Um soluço quase inaudível encheu o ar. Biologicamente falando, era uma quantidade
insignificante de lágrimas, mas o fato era que, em um nível psicológico, ela havia sido
quebrada ao ponto de chorar.

♦♦♦

Que corpo pequeno e frágil ela tinha.

Neste mundo, a fraqueza era intolerável. As crianças ainda eram um grupo protegido,
mas o mesmo não poderia ser dito dos adultos, havia pouca diferença entre lizardmen
machos e fêmeas.

Os Lizardmen valorizavam a força. Deste ponto de vista, ele deveria estar desprezando
a fêmea diante dele. Afinal, como poderia a líder de uma tribo mostrar fraqueza diante
de um membro de outra tribo — diante de um estranho?

Porém, Zaryusu pensava diferente.

Mesmo que a achasse muito bonita, ela era mais do que isso, era uma guerreira. Uma
guerreira com muitas feridas, ofegante e desesperada, mas que não desistia. Zaryusu não
sentia que ela estava se mostrando como uma fraca diante dele.

Por mais duro que fosse seu fardo, ela ainda levantava e seguia em frente. Por isso ja-
mais poderia ser considerada fraca.

Zaryusu se aproximou e gentilmente envolveu os braços ao redor de Crusch.

“—Não sabemos de tudo, cada um de nós age de forma diferente. Se eu tivesse no seu
lugar, poderia ter feito a mesma coisa. Não vou dizer alguma palavra mágica que te con-
sole, porque não existe uma resposta certa neste mundo. Às vezes existem apenas esco-
lhas, e não importa se nos arrependemos depois, se choramos e pensamos em desistir
de carregar um fardo que é pesado demais; o que importa, é que no fim levantamos e
seguimos em frente.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


6 9
O calor de seus corpos fluía um para o outro e o pequeno tremor de seus batimentos
cardíacos eram compartilhados. Por um momento, parecia que seus corações estavam
lentamente se sincronizando.

Que sensação estranha.

Este era um calor que Zaryusu nunca sentiu antes em sua vida. Ele já abraçara Lizard-
men antes.

Será que é porque estou abraçando essa fêmea — Crusch Lulu?

Em pouco tempo, Crusch se livrou do peito de Zaryusu.

Zaryusu lamentou por um momento a partida de seu calor, mas ficou em silêncio por-
que não sabia expressar esse sentimento.

“Acho que já me humilhei demais na sua frente... Tudo bem me desprezar, sabe?”

“O que está dizendo, se humilhar? Eu lá pareço o tipo de macho que riria de alguém que
não desiste? Com alguém que mesmo ferida ainda sonha com um futuro? ...Além de ser
muito bonita.”

“—!”

“—!”

A cauda branca se enrolou e bateu repetidamente no chão.

“...Oh céus.”

Zaryusu não perguntou sobre o que Crusch quis dizer com essas palavras. Em vez disso,
ele fez outra pergunta.

“Enfim, a tribo Red Eye cria peixes?”

“Cria?”

“Sim, criação e nutrição de peixes para serem comidos.”

“Não fazemos isso, pois os peixes são uma bênção da natureza.”

Pelo que Zaryusu sabia, nenhuma tribo de Lizardman jamais havia praticado a criação
de peixes. Isso porque eles achavam que cultivar sua própria comida era uma forma de
blasfêmia.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


7 0
“Isso parece ser o que os sacerdotes— o que os druidas pensam. Já pensou em tentar
mudar a mente deles? Afinal, é para combater a fome. Os sacerdotes da nossa tribo pa-
recem ter aceitado isso.”

Crusch assentiu.

“Eu mesmo vou ensinar vocês a criar peixes. O segredo está na alimentação. É preciso
alimentá-los com os frutos conjurados por magias druídicas. Os peixes ficam grandes e
gordos quando se alimentam disso.”

“Não terá problemas me contando o segredo para a criação de peixes?”

“Claro que não. Não faz sentido esconder isso. É mais importante que eu ajude tantas
tribos quanto possível.”

Crusch curvou-se profundamente para Zaryusu e levantou a cauda em agradecimento.

“Você tem a minha maior gratidão.”

“Você... Bem, você não precisa me agradecer assim. Bem, em troca, eu gostaria de per-
guntar uma coisa novamente.”

A emoção desapareceu do rosto de Crusch, e essa mudança de atitude acalmou o cora-


ção de Zaryusu.

Essa era uma questão que ele não podia evitar. Zaryusu respirou fundo e Crusch tam-
bém.

E então, Zaryusu perguntou:

“O que a tribo Red Eye pretende fazer sobre a próxima batalha?”

“...Depois do que eu e os anciões discutimos, estamos atualmente a favor de fugir.”

“Então, Chefe Interina, Crusch Lulu, serei um pouco mais claro — você ainda concorda
com isso?”

Crusch não pôde responder.

Era natural hesitar, dado que isso se referia ao destino da tribo Red Eye.

No entanto, Zaryusu não pôde fazer nada a respeito dessa resposta, mas forçou um sor-
riso a seu rosto.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


7 1
“...Está em suas mãos. Eu acredito que a razão pela qual o chefe anterior sorriu, foi por-
que ele estava confiando a você o futuro da tribo. Então, agora é a hora de provar que
não foi em vão. Isso é tudo o que tenho a dizer. O resto é com você.”

Os olhos redondos de Crusch percorreram o ambiente. Não implicava que ela queria
fugir ou procurar ajuda, mas que ela estava procurando a resposta certa dentro de seu
coração.

Independentemente do resultado, tudo que Zaryusu tinha que fazer era aceitar a res-
posta.

“Como Chefe Interina, posso perguntar quantas pessoas pretendem evacuar?”

“Por enquanto, estamos planejando evacuar doze guerreiros, vinte caçadores, três sa-
cerdotes, setenta machos, cem fêmeas e algumas crianças.”

“...Quanto aos outros?”

“—Dependendo das circunstâncias, podemos ter que deixar todos morrerem.”

Crusch olhou para o vazio e murmurou:

“—Minha nossa.”

“Diga o que decidiu, Chefe Interina Crusch Lulu, da tribo Red Eye.”

♦♦♦

Crusch considerou suas opções.

Ela poderia matar Zaryusu. Pessoalmente falando, ela não queria fazer isso, mas era um
assunto diferente se fosse sua responsabilidade como Chefe Interina.

Que tal matar ele e fugir com o resto da aldeia?

Crusch abandonou essa linha de pensamento, porque era uma aposta extremamente
perigosa e dizia respeito ao futuro deles. Além disso, não havia garantia de que ele real-
mente tivesse vindo sozinho.

E seu eu concordar, mas assim que ele der às costas eu fugir com todos?

Isso provavelmente acarretaria problemas. Se eles tentassem bancar os espertinhos,


isso poderia levar a uma guerra contra a tribo Green Claw — uma que levaria ao exter-
mínio de seu povo. Afinal, a intenção dele era reduzir a população, e não importava quem
morresse no processo.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


7 2
Por fim, se Crusch não concordasse com a aliança, ele provavelmente levaria um exér-
cito para destruir a tribo Red Eye.

No entanto, ela não sabia se Zaryusu havia percebido que havia uma falha nesse plano.
Pois, mesmo se não fossem com ele, o problema da falta de alimentos ainda permanecia.

Então, a iluminação surgiu em Crusch e ela sorriu. Nunca lhe foi dado outra escolha. A
partir do momento em que Zaryusu propôs a aliança, desde o momento em que ele su-
geriu que trabalhassem com a tribo Green Claw, o único caminho para a tribo Red Eye
sobreviver era juntar-se à batalha. Zaryusu já sentia para onde o pêndulo moral dela iria.

Mesmo assim, ele queria que Crusch lhe desse a resposta. Ele provavelmente queria ver
se Crusch — a líder da tribo — era digna de ficar ao lado dele como companheira.

Depois disso, tudo o que restou foi falar sua decisão.

No entanto, se ela dissesse, muitas pessoas certamente morreriam. Ainda assim—

“Quero deixar claro uma coisa. Nós não estamos lutando para morrer, estamos lutando
para vencer. Eu posso ter dito muitas coisas que te deixaram desconfortável, mas se der-
rotarmos o inimigo, podemos rir de tudo isso no fim. Espero que você entenda isso.”

Crusch assentiu mostrando que entendia.

Ele era um Lizardman compassivo. Com isso, Crusch respondeu com sua decisão:

“...Nós, a tribo Red Eye, nos uniremos a vocês, para garantir que o sorriso do chefe an-
terior não tenha sido em vão, e também porque eu quero dar a tribo Red Eye sua melhor
chance de sobrevivência.”

Crusch se curvou profundamente e levantou a cauda.

“—Muito obrigada.”

Zaryusu assentiu com a cabeça, e sua cauda firmemente ereta falou mais de suas emo-
ções do que suas palavras jamais conseguiram.

♦♦♦

Era manhã.

Zaryusu olhou para o portão principal da tribo Red Eye, estava do lado de fora de frente
a Rororo.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


7 3
Ele deu um grande bocejo, ainda estava se sentindo um pouco cansado, porque esteve
na reunião tribal da Red Eye até tarde da noite passada. No entanto, o tempo era essen-
cial e ele precisava visitar outra tribo ainda hoje.

Zaryusu lutou com afinco contra o espectro do sono, mas perdeu a luta e bocejou de
novo, mais alto do que antes.

Mesmo Rororo dificilmente oferecendo um passeio estável, por algum motivo ele sentiu
que ainda poderia adormecer em cima dele.

Zaryusu olhou para o sol, estava com um forte brilho amarelado, apesar de ter acabado
de raiar, e então olhou de volta para o portão principal. Uma sensação de confusão to-
mou conta dele, porque algo anormal saíra de lá.

Era um amarrado de plantas.

Era um conjunto de roupas que tinham sido feitas com longas tiras de pano e cheias de
ervas rameiras. Se deitasse no pântano, pareceria uma ruma de ervas daninhas à distân-
cia.

Ah, onde eu vi um monstro assim antes—

Enquanto Zaryusu recordava as paisagens que tinha visto como um aventureiro, Ro-
roro rosnou ameaçadoramente atrás dele.

Claro, Zaryusu sabia quem era aquela pilha de ervas daninhas. Não havia nenhuma dú-
vida sobre isso. Afinal de contas, uma cauda branca ainda era visível.

Enquanto olhava aturdido para a cauda oscilante e distraidamente afagava Rororo para
acalmá-lo, a pilha de ervas já havia chegado a Zaryusu.

“—Bom dia.”

“Mm, bom dia... parece que reuniu a tribo.”

Ele olhou para os moradores da tribo Red Eye. Estava cheio de uma energia frenética,
com muitos Lizardmen correndo de um lado para o outro. Crusch ficou de lado para as-
sistir e então respondeu:

“Não houve problemas com isso. Nossos enviados devem ser capazes de alcançar a al-
deia Razor Tail ainda hoje, também já escolhemos quem vamos evacuar.”

De acordo com a troca de informação dos sacerdotes, a tribo Razor Tail seria a primeira
a ser atacada. O fato de que a primeira tribo a ser atacada não era a tribo Dragon Tusk
era uma dádiva enviada dos céus quando consideravam o tempo que tinham.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


7 4
“Mas por que quer ir comigo, Crusch?”

“É simples, Zaryusu. Só que antes de te responder, quero que me diga uma coisa — o
que pretende fazer agora?”

Depois da longa reunião que durou do anoitecer até o meio da noite, nenhum dos dois
se sentia desconfortável em falar uns com os outros pelo primeiro nome. Até mesmo o
modo como falavam havia mudado, provavelmente porque tinham se familiarizado um
com o outro.

“Bem, pretendo visitar outra tribo — a Dragon Tusk.”

“Eles são uma tribo que valorizam a força acima de tudo, né? Eu ouvi dizer que eles são
a tribo com o maior poder de luta.”

“Mm, é isso aí. Como não tivemos muito contato com eles, é melhor estar preparado
para qualquer imprevisto.”

Era uma tribo bem isolada e misteriosa, portanto, mesmo visitando seu domínio já seria
arriscado. Além disso, eles haviam absorvido os sobreviventes das duas tribos que ti-
nham sido desmantelados durante a guerra anterior, de modo que tornava as coisas
ainda mais perigosas.

Zaryusu havia se destacado durante aquela guerra, então ele seria um inimigo odiado
pelos sobreviventes daquelas duas tribos.

Mesmo assim, eram a tribo cuja força eles mais precisavam durante o conflito que se
aproximava.

“Como já deve saber... nada é mais seguro do que ir acompanhado, sendo assim, eu irei.”

“—Por quê?”

“Acha esquisito?”

A pilha de ervas daninhas sussurrou suavemente. Zaryusu mal conseguia discernir


aquelas palavras porque ele não conseguia ver o rosto dela.

“Não é isso... mas é muito perigoso.”

“E por acaso existe lugar seguro em tempos de guerra?”

Zaryusu não pôde respondê-la. Ao pensar calmamente na situação, havia muitas vanta-
gens em viajar com Crusch. No entanto, como macho, ele não queria levar a fêmea que
amava para um lugar onde sabia que grande perigo estava esperando.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


7 5
“—Acho que nem consigo mais raciocinar direito.”

Ele não podia ver o rosto de Crusch dentro da pilha de ervas daninhas, mas ela parecia
estar sorrindo.

“...Desde que chegou venho querendo perguntar isso: por que você se veste assim?”

“Achou feio?”

Não era tão feio, apenas bizarro. No entanto, seria melhor elogiá-la por isso? Zaryusu
não sabia como responder, mas depois de pensar, calculou a expressão que não conse-
guia ver e respondeu:

“...Bem, eu deveria dizer que está bonito... não é?”

“Até parece...”

Crusch o calou com uma negação simples. Era provavelmente por isso que Zaryusu se
sentia sem forças para retrucar.

“Bem, uso isso porque não lido bem com a luz do sol. Por isso, preciso me vestir disso
sempre que saio durante o dia.”

“Entendi...”

“Ah, mas você me deve uma resposta, não mude de assunto. Posso ir com você?”

Não importava o que dissesse a ela, tudo seria inútil. Tê-la por perto seria vantajoso
para seu objetivo de forjar uma aliança. Ela deve ter sugerido isso porque se sentia da
mesma maneira. Assim, não havia razão para recusar.

“...Tudo bem. Será uma honra que me dê uma mão, Crusch.”

Com uma sensação de alegria que parecia vir do fundo do coração, Crusch respondeu:

“—Pode deixar. Conte comigo, Zaryusu.”

“Está pronta para sair?”

“Claro. Minha mochila está cheia de tudo que preciso.”

Depois de ouvir isso, Zaryusu olhou para ela e notou uma protuberância. O cheiro forte
de grama fresca e outras ervas emanava daquilo. Já que ela era uma druida, deveria ter
habilidades relativas a ervas e afins, então provavelmente estava preenchida com esses
materiais.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


7 6
“Zaryusu, você parece cansado.”

“Uhh, pois é. É que estou com um pouco de sono. Os últimos dois dias foram bem corri-
dos, nem dormi direito.”

Só então, uma mão de escamas brancas surgiu sob a massa de ervas daninhas.

“Aqui. É um fruto de Rikiriko. Coma com a casca e tudo.”

A mão lhe ofereceu uma fruta marrom. Zaryusu colocou-o na boca e mordeu sem hesi-
tar.

Um gosto amargo encheu sua boca, afugentando sua fadiga. Embora mal passável em
termos de sabor, depois de mastigá-lo várias vezes, uma explosão de sabor floresceu em
sua língua. Além disso, até mesmo as respirações que ele exalava tinham o mesmo gosto
nelas.

“Muu! Que sensação boa! Parece que cada respirada me enche de energia.”

Zaryusu havia inconscientemente adotado o tique verbal de seu irmão mais velho.
Crusch não pôde deixar de rir quando ouviu.

“O sono passou, viu? Mas o fato é que ele não está realmente acabado, então não se
acostume com isso. Seria melhor encontrar um lugar para descansar.”

Cada respiração de Zaryusu o enchia de felicidade, assim como a sensação de frescor


do corpo inteiro. Ele respondeu:

“Vou ver se tiro uma soneca no Rororo até chegar lá.”

Dizendo isso, Zaryusu imediatamente montou em Rororo. Ele foi seguido por Crusch.
Rororo olhava para Zaryusu devido à sensação estranha de uma pilha de grama mon-
tando-o, mas Zaryusu finalmente conseguiu acalmá-lo.

“Então vamos. Não é muito estável, então é melhor você se agarrar a mim.”

“Tudo bem.”

Os braços de Crusch rodeavam a cintura de Zaryusu. Os ramos de sua roupa de ervas


fizeram Zaryusu sentir coceira.

“...”

Zaryusu franziu a testa. Não era bem essa sensação que esperava ao ser abraçado.

“—Algo de errado?”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


7 7
“Não é nada. Vamos. Rororo, eu conto com você.”

O que exatamente a estava fazendo tão feliz? A alegre risada de Crusch veio de trás dele
e, quando Rororo se moveu, Zaryusu também estava bem sorridente.

Parte 2

A Grande Floresta de Tob ficou silenciosa sob a opressão de seus novos governantes.
Isso porque todos os seres vivos tinham se escondido, com medo do olhar daqueles que
detinham poder sobre eles.

No entanto, esse não foi o caso de uma área específica da floresta.

O som de corte de árvores e troncos sendo movidos inundava o ar naquele lugar.

Havia um Golem que se assemelhava a um robô — um Golem de Ferro — que transpor-


tava toras para uma estrutura de madeira maciça que ainda estava em construção.

Parecia que demoraria muito tempo até que a construção estivesse completa. Mesmo
ocupando uma grande área, as partes que haviam sido construídas eram surpreenden-
temente pequenas.

Um grupo de undeads e Golems trabalhava lá.


[Liches Anciões]
Entre esses undeads estavam os Elder Liches, que usavam vestes vermelhas vistosas.

De vez em quando, eles eram abordados por demônios que tinham cerca de 30 centí-
metros de altura — pequenos monstros com asas de morcego e pele vermelha-acobre-
ada, chamados de Diabretes. Os Diabretes mantinham caudas delgadas — cuja extremi-
dade pontiaguda como ferrões gotejava veneno — fora do caminho para que não atra-
palhassem o trabalho dos Elder Liches.

Um dos Elder Liches desenrolou a cópia heliográfica que estava segurando e deu ordens
a um dos Golems subordinados a ele.

O Golem obedientemente parou o que estava fazendo e comparou o local de trabalho


ante a cópia heliográfica, ele parou para cogitar. Pouco depois, falou ao Diabrete no seu
ombro.

Depois de ouvir, o Diabrete indicou que entendeu, e voou.

Voando com movimentos desgraciosos, o Diabrete abriu os olhos e observou a área cir-
cundante. Em pouco tempo, encontrou seu alvo e desceu.
Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen
7 8
O dito alvo era a Guardiã do Sexto Andar da Grande Tumba de Nazarick — Aura Bella
Fiora. Em outras palavras, ela era uma das pessoas que agora governavam essa floresta.

♦♦♦

A Elfa Negra enrolou o pergaminho formando um megafone para que a voz dela fosse
ouvida a longa distância. O Diabrete pousou diante dela e curvou-se profundamente, ao
que ela perguntou em tom familiar:

“E aí~ e de qual grupo tu é?”

“Aura-sama, eu venho do Grupo U-Três.”

“Grupo U, huh? Prontinho, achei aqui. Algo mais?”

As equipes de trabalho foram divididas em nomes com as vogais de “A” a “U”, e foram
designadas para trabalhar em diferentes áreas. Pelo que Aura podia lembrar, o Grupo U
foi designado para o armazém. O progresso foi o segundo mais rápido entre todas as
outras áreas.

“Há uma discrepância na espessura das madeiras usadas na construção, a senhora po-
deria nos dar mais tempo—”

O Diabrete de repente calou a boca, porque um bracelete de aço ao redor do pulso de


Aura de repente fez um som.

“Hora do almoço~!”

O rosto de Aura mudou quando ela ouviu aquela voz preguiçosa, mas alegre. Suas ore-
lhas caíram e ela parecia estranhamente vulnerável e envergonhada.

“Tá bom, Bukubukuchagama-sama!”

Ela respondeu à pulseira.

“Então, é hora da comida, a gente já terminou o turno da manhã.”

Dificilmente algum dos monstros aqui precisaria comer. Na verdade, Aura também
[Anel do S u s t e n t o ]
usava o Ring of Sustenance, que eliminava a necessidade de comida ou sono. No entanto,
seu mestre insistiu que, “Todos devem fazer intervalos de vez em quando”, então ela teve
que obedecê-lo apesar de seus desejos.

“Ah, foi mal. É hora de descansar, então volte daqui uma hora.”

“Entendido. Então eu vou na frente.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


7 9
O Diabrete inclinou-se e voou em meio a uma cacofonia de sons ruidosos.

Enquanto ela observava o Diabrete voar em direção ao armazém, Aura rodeou seus om-
bros e, em seguida, olhou para o bracelete em torno de seu pulso.

O rosto dela era bem sorridente.

Essa foi uma recompensa que seu mestre lhe dera por seu árduo trabalho. É claro que
os Guardiões foram criados para servir o seu criador e os Seres Supremos, então dar
tudo de si no trabalho era um fato fundamental da vida deles. Assim, eles não deveriam
ter aceitado uma recompensa, pois seu trabalho era apenas uma questão de dever.

No entanto, ela não podia recusar o bracelete que seu mestre lhe dera.

“Huhuhu~, eu quero ouvir mais da voz da Bukubukuchagama.”

Aura carinhosamente acariciou o bracelete em seu pulso. Esse gesto era mais amoroso
e gentil do que como ela acariciava seus próprios animais.

Todas as vozes registradas neste item vieram do Ser Supremo que fez Aura.

As vozes encheram Aura de prazer, mesmo que tudo o que fizessem fosse dizer a hora.

Ela tinha ficado com ciúmes quando soube que seu irmão (Mare) tinha recebido o Anel
de Ainz Ooal Gown, mas com toda a honestidade de seu coração, ela sentia que este item
era melhor.

“Ehehehehe~”

As orelhas de Aura se inclinaram e ela acariciou o bracelete com timidez nos olhos e
rubor nas bochechas. Então ela assentiu em satisfação ao reluzente bracelete sob a luz
do sol. Mas logo depois disso, ela inclinou a cabeça, perplexa.

“Por que o Ainz-sama disse que não era pra programar o despertador naqueles horá-
rios?”

Ainz ordenou que o relógio não fosse configurado para indicar os horários de 07:21 ou
19:19, entre outros.

“Hm... vou perguntar ele depois. Ah, droga!”

Depois de perceber o tempo que havia perdido, ela correu apressadamente.

Havia uma empregada a esperando em seu destino.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


8 0
As 41 empregadas que serviam à Grande Tumba de Nazarick eram criaturas hetero-
mórficas chamadas Homúnculos. Todas se pareciam com mulheres bonitas. No entanto,
essa em especifico era peculiar.

Ela tinha a cabeça de um cão que estava dividida ao meio por uma linha — parecia uma
cicatriz com marcas de costura. Parecia que o rosto dela foi partido ao meio e depois foi
costurado novamente.

Era Pestonya S. Wanko.

A Chefe das Empregadas da Grande Tumba de Nazarick e uma clériga de alto nível.

“Eu trouxe o hambúrguer como pediu, Aura-sama. Os acompanhamentos são dois picles
e batatas fritas com casca, já a bebida é refrigerante de cola... eh... ~wan.”

O atraso antes do “~wan” fez Aura pensar que ela tinha esquecido de adicionar seu ti-
que verbal no final de suas palavras, mas Aura preferiu não dar bola. Sua atenção estava
concentrada no cheiro que atormentava sua barriga e a fazia salivar. Mesmo que o anel
que ela usava significava que não precisava comer, isso não a tornava incapaz de fazê-lo.
Além disso, comer era uma atividade prazerosa, especialmente quando se tratava de
uma culinária tão deliciosa.

“Os efeitos combinados desta comida e bebida são—”

“Ah, relaxa. Eu não pedi pra fazer isso só pra aumentar meus atributos.”

“Entendido ~wan.”

Aura se aproximou de Pestonya e do carrinho de jantar que ela estava empurrando, o


aroma que emanava era delicioso.

“Hora de comer, hora de comer~!”

Pestonya removeu a tampa de prata da bandeja quando Aura entoou sua rima.

“Ohhhhh~”

Os olhos de Aura estavam não desgrudavam da comida a cada segundo que a tampa se
levantava, e ao mesmo tempo ela disse algo que veio à mente.

“Carne moída A-Sete é boa, mas eu prefiro carne moída mista. Seria bom um hambúr-
guer com os três tipos.”

“Informarei ao Head Chef seus desejos ~wan.”

“Mm, obrigada!”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


8 1
Aura pegou a bandeja inteira e deu uma risadinha enquanto se deleitava.

Parte 3

Enquanto Zaryusu examinava a tribo Dragon Tusk que estava diante de seus olhos, uma
pilha de vegetação se empurrou para frente de sua cabeça. Escusado dizer que essa
massa de folhas era Crusch. Ela estendeu a mão para afastar a vegetação que cobria seu
rosto, um gesto que Zaryusu achou muito fofo.

“Vai realmente ir entrando com tudo? Já quer chegar comprando briga com eles?”

“Não, é o oposto. A tribo Dragon Tusk valoriza a força. Se deixasse o Rororo para trás e
fosse a pé, poderia acabar sendo desafiado por todo tipo de gente antes mesmo de chegar
no chefe. Entrar montando em Rororo vai evitar isso.”

Depois de avançar com Rororo por alguma distância, deu a entender que eles foram
vistos, porque vários guerreiros emergiram da aldeia, cada um empunhando uma arma
e observando Zaryusu e companhia.

Rororo sentiu a hostilidade e soltou um grunhido baixo. Ao ouvir o grunhido de adver-


tência de Rororo, Zaryusu insistiu para que ele fosse adiante.

Continuar assim poderia desencadear um confronto. Zaryusu continuou até o conflito


ser quase inevitável, ele parou Rororo e pulou de suas costas. Crusch pulou também.

Um grande número de guerreiros apontava armas para os dois. Seus olhares pareciam
infligir uma pressão palpável; isso não era mais mera hostilidade, mas algo no nível de
intenção assassina.

Crusch pareceu abalada por seus olhares e ficou sem reação. Isso porque ela não era
experiente no campo de batalha, apesar de suas poderosas habilidades druídicas.

Em contraste, Zaryusu avançou. Ele protegeu Crusch com seu corpo e gritou:

“—Eu sou Zaryusu Shasha, um representante de outra tribo. Eu procuro uma audiência
com seu chefe!”

Sua voz poderosa soprou a sede de sangue no ar. A situação inverteu para os guerreiros
da Dragon Tusk, que se encolheram quando ouviram sua voz.

Então, Crusch levantou a voz e declarou seu nome.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


8 2
“Eu sou Crusch Lulu, Chefe Interina da tribo Red Eye. Eu também procuro uma audiên-
cia com seu chefe.”

Embora sua voz não fosse alta, estava cheia da segurança e confiança de quem carre-
gava o destino de sua tribo nos ombros. Impulsionada pela voz viril e orgulhosa do ma-
cho ao seu lado, a fêmea tímida de antes não mais existia.

“Repito! Eu estou aqui para ver o chefe! Onde ele está!?”

Nesse momento — uma onda correu pelo ar. Era como se emoções brutas tivessem se
transformado em uma onda de choque. A onda de sentimentos banhou Zaryusu e seu
grupo.

As cabeças de Rororo se debateram selvagemente. Suas mandíbulas se abriram e deu


voz a um rugido ameaçador enquanto olhava ao redor. O rugido da Hydra ecoava de to-
dos os lados e o ar parecia rachar, como se estivesse com medo.

“...Não há necessidade de me proteger assim.”

“Eu não fiz isso para te proteger, pois você escolheu vir aqui por vontade própria. Mas
acontece que quem destruiu a tribo deles fui eu, então esses olhares de vingança devem
vir para mim.”

Os guerreiros começaram a se reunir na entrada da aldeia. Eram todos Lizardmen mus-


culosos e imponentes. Seus corpos estavam cobertos de cicatrizes desvanecidas, o que
implicava que eram veteranos calejados. Ainda assim, Zaryusu não viu seu chefe entre
eles.

Todos esses Lizardmen eram meros guerreiros. Nenhum deles tinha a temível estatura
de seu irmão, e nenhum deles tinha nada parecido com a aparência incomum de Crusch
ou seu ar de autoridade.

Quando Rororo rugiu, os Lizardmen continuaram os cercando sem se aproximar. E en-


tão—

“Ngk!”

—Crusch engoliu em seco e grunhiu. No entanto, Zaryusu já havia percebido a chegada


de outro Lizardman e permaneceu indiferente. Isso porque ele já havia sentido a apro-
ximação lenta de um ser poderoso antes mesmo de ter surgido.

Ainda assim, ele não pôde deixar de olhar para o Lizardman diante dele.

Em poucas palavras, esse Lizardman era monstruoso.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


8 3
Encarando-os, estava um gigantesco Lizardman macho, com mais de 230 centímetros
de altura. Só isso não o teria qualificado como monstruoso, mas essa não foi a única razão
pela qual foi descrito como tal.

Para começar, seu braço direito era extremamente grosso e de aparência bizarra, como
a enorme garra de um caranguejo-uçá. Mas seu braço esquerdo não era fino, sendo quase
igual ao de Zaryusu. Apenas o braço direito que era anormalmente grosso, e não se tor-
nara assim por causa de uma mutação ou doença, mas simplesmente por causa da massa
muscular pura.

O dedo anelar e o dedo mindinho estavam faltando na mão esquerda.

Havia cicatriz que se estendia da borda da boca até os olhos, possivelmente causada por
algum tipo de confronto passado. Sua cauda era achatada, como se tivesse sido esma-
gada. Parecia mais um jacaré do que um lagarto.

No entanto, fora de todas essas características visuais, a coisa que mais chamou a aten-
ção era a marca em seu peito. O desenho era diferente do que Zaryusu tinha em seu peito,
mas o significado era o mesmo — esse Lizardman também era um Viajante assim como
ele.

E enquanto avaliava Zaryusu e companhia—

—O som de gravetos quebrando saiu de sua boca, foi o som do monstruoso Lizardman
rangendo os dentes. Era provavelmente sua risada.

“Bem-vindo, mestre da Frost Pain.”

A voz grave e monstruosa do Lizardman combinava perfeitamente com sua aparência.


Ele provavelmente estava falando normalmente, mas mesmo isso exalava um ar incrível
de poder.

“Prazer em conhecê-lo. Eu sou da tribo Green Claw, Zaryu—”

O Lizardman monstro acenou limitando o resto de sua introdução.

“Diga logo como se chamam.”

“...Eu sou Zaryusu Shasha, e esta é Crusch Lulu.”

“Isso aí é um... Monstro Planta? Se bem que, o que é um monstro planta pra quem ca-
valga uma Hydra? Você é cheio dos animaizinhos, huh.”

“...Não é bem assim.”

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


8 4
O monstruoso Lizardman mais uma vez acenou para Crusch, que estava tirando a roupa
de folhas.

“Ei, é brincadeira. Não fica levando as coisas a sério não, relaxa aí.”

“—!”

Depois de olhar para Crusch enquanto ela tirava a pilha de folhas, ele olhou de volta
para Zaryusu.

“Então, veio fazer o que aqui?”

“Antes disso, eu poderia saber o seu nome?”

“Claro, eu sou o chefe da tribo Dragon Tusk, Zenberu Gugu. Me chame de Zenberu.”

Zenberu riu em seu jeito de ranger os dentes. Enquanto isso era exatamente o que ele
esperava, mas a idéia de um Viajante tornar-se chefe ainda era bastante surpreendente.

Mas era algo que ele podia aceitar. Um Lizardman como ele não era um simples Viajante.
Na verdade, a hostilidade se dissipara no momento em que ele aparecera. Claramente,
ele era um Lizardman com grande autoridade, além de poder marcial extraordinário e
grande liderança.

“Já que é assim, então me chame de Zaryusu. Mas então, Zenberu... algum monstro es-
tranho visitou sua aldeia esses dias?”

“Mm, aquele mensageiro do Supremo ou sei lá o que?”

“Já que eles vieram, então podemos discutir—”

Zenberu levantou a mão para interromper Zaryusu.

“Sei por alto o que vai dizer. Mas aqui a gente só ouve os fortes. Saque sua espada.”

O imponente Lizardman diante dele — Zenberu Gugu da tribo Dragon Tusk — mostrou
suas presas em um sorriso cheio de dentes.

“Quê!?”

Quando Crusch ofegou, ela viu olhares aprovadores nos rostos de Zaryusu e dos guer-
reiros nos arredores.

“...Bem, isso simplifica as coisas, chefe da Dragon Tusk. Vai me economizar muito tempo.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


8 5
“É um mensageiro de primeira, hein? Não, você é o mestre da Frost Pain, não esperava
nada menos.”

♦♦♦

Escolher os fortes como seus líderes foi uma decisão muito racional para os Lizardmen.

No entanto, era realmente uma boa idéia quando envolvia a sobrevivência contínua de
suas tribos? Eles não deveriam discutir isso com os outros e considerar o assunto de
vários ângulos antes de chegarem a uma conclusão?

Esses pensamentos passaram pela cabeça de Crusch — seguidos pela surpresa de que
ela realmente pensou algo dessa maneira.

O fato era que todos os guerreiros que os observavam aprovavam a decisão do chefe,
fossem machos ou fêmeas. Ela provavelmente teria se sentido da mesma maneira se ti-
vesse perguntado a mesma coisa mais cedo.

Isso lá são horas de questionar?

De onde essas dúvidas vieram?

Foi por causa de algum tipo de ataque mágico? Isso era impossível. Ela estava confiante
de que ninguém neste pântano era superior a ela em termos de magia. Essa confiança a
fez absolutamente certa de que ela não tinha sido vítima de algum tipo de encantamento.

Crusch se virou para olhar para os dois.

Zaryusu e Zenberu.

Se postos um ao lado do outro, pareceria uma criança ao lado de um adulto.

O físico não determinava tudo. Ela estava muito ciente disso já que era um tipo de magic
caster. No entanto, dada a enorme diferença entre os corpos dos dois, ela não podia dei-
xar de ter esperanças que talvez esse não fosse o caso.

Esperança? Estou com esperanças que eles— que ele não precise lutar?

Crusch queria saber o porquê estava tão apreensiva. Por que ela não queria isso? Por
que ela não queria que eles lutassem?

Havia apenas uma resposta para isso, o que era óbvio.

Crusch sorriu amargamente, como se fosse zombar de si mesma.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


8 6
Como eu sou boba, por que não quero admitir? Eu não quero que o Zaryusu lute porque
tenho medo dele se machucar... dele morrer.

Em poucas palavras era apenas isso que ela sentia.

Era raro que essas batalhas fossem travadas até a morte. Todavia, a palavra “raro” im-
plicava que a possibilidade ainda existia. Vidas poderiam facilmente ser perdidas se lu-
tassem até que não estivessem mais em posse de seus sentidos. Como fêmea, ela não
queria que seu companheiro morresse por participar dessa luta.

Então sim! Em seu coração, Crusch aceitou há muito tempo a proposta de Zaryusu.

Jamais entreguei meu coração assim para nenhum macho— espera aí, quer dizer que eu
sou fácil? Mas é que, me sinto... feliz e um pouco chateada... Argh, que ódio disso!

Tendo aceitado seus sentimentos mais íntimos, Crusch se aproximou de Zaryusu en-
quanto se preparava para a batalha e colocou a mão em seu ombro.

“Precisa de alguma coisa? Perdeu algo?”

“Não é nada.”

Crusch deu um tapinha no ombro dele.

Era um ombro forte.

Desde que amadurecera, Crusch seguiu os passos para ser uma sacerdotisa. Ela havia
tocado os corpos de muitos machos enquanto orava, aplicava remédios e enquanto es-
tava conjurando magias sobre eles. Mas tocar o corpo de Zaryusu foi impactante do que
todos os outros juntos.

Então assim que é o corpo do Zaryusu... huh.

Seus músculos firmes, cheios de sangue quente que estava ansioso para a batalha, uma
masculinidade palpável.

“...Tem algo errado?”

Zaryusu ficou perplexo com a mão de Crusch o tocando por tanto tempo.

“—Eh? Ah, é quê... foi uma oração. A oração de uma sacerdotisa.”

“Entendi, os espíritos ancestrais da sua tribo protegem aqueles de outras?”

“Os espíritos da nossa tribo não são tão mesquinhos. Boa sorte.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


8 7
Crusch se desculpou internamente com seus antepassados enquanto tirou a mão dos
ombros de Zaryusu, pois ela havia mentido sobre rezar pela vitória do macho que ela
favorecia.

Zenberu também estava se preparando para a batalha. Ele carregava uma enorme arma
na mão direita — uma alabarda de aço com quase três metros de comprimento. Um Li-
zardman regular precisaria das duas mãos para empunhá-la.

Mas ele a manuseava como se fosse um graveto.

O movimento circular da alabarda gerou uma rajada de vento que atingiu Crusch, que
estava a alguma distância dele.

“Você... não, a pergunta certa é, você vai ficar bem?”

“Sobre isso... bem, ainda não sei.”

No começo, Crusch queria perguntar se ele poderia ganhar, mas no final, ela não conse-
guiu. Para Zaryusu lutar nessa situação, ele deveria saber que a vitória não era impossí-
vel.

Deixando a entender que não perderia. Eles só se conheciam há um dia e viajavam jun-
tos durante metade desse tempo, porém Crusch já tinha certeza disso.

Por algum motivo ela o amava, havia algo nele que merecia esse sentimento.

“E aí, já se preparou mestre da Frost... ah, Zaryusu.”

“Já sim. Estou pronto assim que estiver pronto.”

Com um floreio dramático, Zaryusu virou as costas para Crusch e entrou no círculo de
duelos.

Crusch suspirou. Isso foi por causa das costas que não podiam deixar de chamar sua
atenção.

♦♦♦

O calor da mão que se apoiava por tanto tempo no ombro de Zaryusu — nem foi tanto
tempo assim, na verdade — lentamente desapareceu.

A batalha que viria a seguir era essencialmente uma versão simplificada da batalha de
seleção para o chefe tribal. Como era essencialmente um duelo, a assistência mágica de
terceiros era contra as regras.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


8 8
Porém, o calor no ombro de Zaryusu — o toque de Crusch que o fez se sentir nervoso e
agitado — o fez se perguntar se ela havia conjurado alguma magia nele. No entanto, não
havia como ela, Chefe Interina de tribo, não saber dessa regra.

Então qual motivo havia para ele estar tão cheio de energia? Afinal, ela não o deu ne-
nhum aperfeiçoamento.

Seria porque mostrar o quanto era bom, como um macho se exibindo para sua fêmea?
Seu irmão mais velho havia dito uma vez que ele era como uma “árvore ressecada...”,
mas isso não parecia essencialmente verdade.

Zaryusu entrou no círculo formado por Lizardmen e rapidamente sacou a Frost Pain de
sua cintura. A lâmina emanava uma névoa branca e gelada, como se em resposta à von-
tade de Zaryusu.

Uma turbulência atingiu os Lizardmen nos arredores.

Eles eram os sobreviventes da tribo Razor Edge — em outras palavras, eles conheceram
o antigo dono da Frost Pain, e eles entendiam bem seu temível poder.

Ao ver o poder da Frost Pain que apenas um verdadeiro proprietário poderia liberar, o
semblante selvagem de Zenberu se transformou em alegria. Ele mostrou os dentes e
rosnou como uma fera.

Em resposta ao espírito de luta de seu oponente, Zaryusu teve apenas uma resposta
fria:

“Eu não quero te machucar muito.”

Sua provocação imediatamente incitou a ira de todos os guerreiros ao seu redor. No


entanto, eles imediatamente se acalmaram quando o som de um baque anormalmente
alto ecoou pelo ar.

Zenberu havia cravado a ponta de sua alabarda na terra úmida.

“Oh... então me faça provar a derrota! Prestem atenção! Se eu morrer nessa luta, ele será
seu novo chefe! Nada de objeções e nem de choradeira!”

Os guerreiros não concordaram imediatamente, mas também não protestaram. Se


Zaryusu realmente matasse Zenberu, eles o obedeceriam, mesmo por má vontade.

“Assim que eu gosto. Agora venha pronto pra me matar. Eu devo ser o cara mais forte
que já enfrentou.”

“Pode ser verdade... não vou pegar leve. Além disso, se eu morrer pela sua mão...”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


8 9
Zaryusu olhou para Crusch.

“Tudo bem. Vou deixar sua fêmea voltar em segurança.”

“...Ela não é minha ainda.”

“Kek, parece que você realmente gosta da monstro planta. Ela é uma fêmea tão boa as-
sim?”

“Muito boa.”

Eles não prestaram atenção na dita fêmea, que estava agachada no chão com as mãos
na cabeça.

“Agora eu fiquei curioso. Se eu ganhar, acho que vou dar uma espiadinha nas intimida-
des dela, vou tirar uma casquinha antes de deixar ela ir.”

Zaryusu estava tomado apenas com a intenção de lutar, mas depois de ouvir isso, essa
intenção havia desenvolvido outra nuance.

“...Parece que me deu uma excelente razão para vencer. O corpo da Crusch é só meu,
não vou deixar outro macho tirar proveito!”

“Olha só! Tá mesmo caidinho por ela, né?”

“Claro. Nada pode impedir um macho apaixonado.”

Várias outras Lizardmen fêmeas pareciam estar conversando com a fêmea de cócoras,
mas ela sacudiu a cabeça apressadamente. Os dois machos deixaram essa questão de
lado por enquanto.

“Ha!”

Zenberu gargalhou de alegria.

“Trate de me vencer! Um macho morto não manda em muita coisa!”

“Essa é a minha intenção.”

Zaryusu e Zenberu fixaram seus olhares um no outro. Parece que eles disseram tudo o
que tinha que ser dito.

“—Aqui vou eu.”

“—Vem com tudo.”

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


9 0
Os dois trocaram palavras concisas, mas sem golpes.

Assim que a antecipação dos Lizardmen espectadores chegou no pico, Zaryusu come-
çou a avançar. Não havia som, apesar de ser um pântano alagado.

Zenberu permaneceu imóvel, aguardando seu inimigo.

Em pouco tempo, quando Zaryusu chegou a uma certa distância, um som enorme soou
do ar de onde Zaryusu acabara de evadir. Era o som de Zenberu balançando sua alabarda.

Não houve destreza; foi apenas um balanço vigoroso.

No entanto, foi chocante, precisamente por causa de beleza e graciosidade.

Zenberu apoiou a alabarda, assumiu a postura e se preparou para a próxima incursão


de Zaryusu. Ele empunhou a alabarda maciça com apenas a mão direita. Imediatamente
após cada balanço ciclônico, ele reiniciava imediatamente para uma posição de pronti-
dão.

Zaryusu sentiu que algo estava estranho.

Portanto, para verificar o significado desse movimento, ele avançou para o alcance de
ataque de seu oponente — e foi submetido a esse tipo de golpe furacão. Ele bloqueou o
cabo da arma com a Frost Pain, mas uma dor intensa atingiu a mão que segurava a es-
pada, e ele foi jogado para longe.

Poder-se-ia dizer que ele tinha uma força de braço extraordinária, já que pôde arremes-
sar um Lizardman com a força de um braço.

—O sangue deles estava fervendo.

Os guerreiros ao redor rugiram quando viram seu chefe mostrar sua força incompará-
vel.

A cauda de Zaryusu balançou quando ele cambaleou para trás, ainda em pé.

Ele balançou a mão entorpecida e estreitou os olhos.

Mas... o que é isso?

A atenção de Zaryusu estava concentrada no corpo volumoso diante dele.

Não faz o menor sentido. Foi muito... fraco.

De fato tinha sido um golpe rápido e, caso o bloqueasse, seria arremessado longe, mas
era apenas isso. Não era nada aterrorizante.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


9 1
Os movimentos de Zenberu eram como uma criança brincando. Não havia técnica, ape-
nas pura força bruta. A questão agora era se isso era realmente tudo o que ele tinha.
Alguém com um braço enorme daqueles deveria ser capaz de empunhar uma arma com
mais habilidade.

Será que ele não está indo com tudo para eu ficar confiante?

Zaryusu sentiu que não era o caso.

Ele começou a reconsiderar sua estratégia, atento ao sentimento incomum de não saber
a verdade. Zenberu, até então parado, sorriu e perguntou:

“Que foi? Não consegue usar o poder da Frost Pain?”

A provocação sorrindo deixou claro sua intenção, mas Zaryusu não mordeu a isca de
Zenberu.

“Eu já fui derrotado pelo portador da Frost Pain.”

Zaryusu lembrou. Ele conhecia a quem Zenberu se referia — o ex-chefe da tribo Razor
Edge, e também aquele cuja vida Zaryusu havia ceifado.

Ele relaxou um pouco de sua concentração em Zenberu e ampliou seus horizontes.

Dentre todos os olhares de hostilidade que sentia, os mais intensos vinham dos sobre-
viventes da tribo Razor Edge.

“É daí que as feridas da minha mão esquerda vieram.”

Zenberu balançou a mão esquerda mostrando os dois dedos faltando para dar ênfase.

“Talvez se usar a técnica que aquele cara usou, você pode ter uma chance de me vencer.”

“Não me diga?”

Respondeu Zaryusu com uma voz fria e calma.

Com certeza, era uma técnica muito poderosa. Só podia ser usada três vezes ao dia, mas
aumentava drasticamente as chances de vitória.

Zaryusu só havia derrotado o portador anterior da Frost Pain porque ele já havia gasto
seus três usos diários. Se o seu inimigo tivesse sido capaz de usá-la corretamente na-
quela ocasião, Zaryusu poderia ser a contraparte a morrer.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


9 2
No entanto, alguém que conhecesse o poder da Frost Pain não sairia incitando seu usu-
ário a fazê-lo.

Zaryusu permaneceu em guarda.

Não sei o que esse cara pretende... mas ficar aqui parado não vai me dar a resposta. Hora
de fazer meu movimento.

Tendo decidido o seu curso de ação, Zaryusu avançou, duas vezes mais rápido que antes.

Zenberu respondeu a Zaryusu movendo-se de forma similar.

Zaryusu não evitou, mas enfrentou o golpe de frente com Frost Pain. Todos que viram,
sentiram que Zaryusu seria arremessado longe mais uma vez.

Zaryusu interceptou a alabarda com Frost Pain — e defletiu o ataque.

Não havia necessidade de Artes Marciais ou coisas do gênero. Os golpes da alabarda de


Zenberu eram brincadeiras de criança. Não importando o quão vigorosamente ele a ba-
lançasse, seus golpes eram fáceis de defletir.

Os olhos de Zenberu ficaram arregalados em choque— ou melhor, em respeito.

Ao mesmo tempo, Zaryusu correu para frente como um raio, mais rápido do que Zen-
beru poderia recuperar sua postura. Mesmo com músculos como os dele, redefinir a pos-
tura depois de um golpe de força total com sua alabarda levaria tempo. Esse tempo era
o suficiente para Zaryusu se aproximar.

No momento seguinte, a Frost Pain cortou o corpo de Zenberu—

♦♦♦

—E sangue espirrou.

Tormentos estrondosos irromperam de todos os lados, assim como uma lamentação de


dor.

Não foi Zenberu quem tropeçou para trás sangrando. Mas sim Zaryusu, com dois cortes
ensanguentados no rosto.

Em contraste com o que tinha feito até agora, Zenberu avançou em direção a Zaryusu,
com a intenção de não o deixar escapar. Ele continuou avançando com a arma que feriu
Zaryusu.

Essa arma era — suas garras.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


9 3
Elas colidiram com a Frost Pain, e o toque de metal soou. Mas a alabarda estava cravada
no chão.

“Grrrwh!”

Zenberu exalou e, assim que avançou, seu braço maciço lançou em uma rajada de golpes.

Comparado ao seu amadorismo anterior, seus golpes de mãos nuas estavam no nível
de um mestre. Agora que a peça mais importante do quebra-cabeça havia sido revelada,
tudo ficou claro para Zaryusu.

Zenberu não era um guerreiro, mas sim um monge; aquele que usava o poder do Ki para
transformar seu corpo em uma arma viva.

Zaryusu bloqueou as ondas de ataques com a Frost Pain.

As garras dos Lizardmen eram mais afiadas e mais duras do que as unhas humanas,
mas nem mesmo elas fariam sons metálicos ao contato.

Mas isso, na verdade, era uma habilidade do monge chamada 「Natural Steel Wea-
pon」, que endurecia as armas naturais, como garras ou dentes.

Dizia-se que os punhos dos monges mais habilidosos poderiam até quebrar o adaman-
tite, o metal mais duro conhecido. Porém, a julgar pela sensação que reverberava através
da Frost Pain, Zenberu ainda não havia atingido esse nível. Ele estava apenas a par com
o aço. Mesmo assim, suas garras endurecidas podiam ficar em pé de igualdade com Frost
Pain, um dos Quatro Tesouros, isso não era de se menosprezar.

Os dois trocaram golpes sem parar.

Zenberu juntou as garras as afunilando como uma lança, já Zaryusu segurou firme na
Frost Pain. Eles saltaram para evitar os ataques do outro, abrindo a distância entre eles.

“—Ha-ha, então você ainda está vivo!”

Zenberu lambeu a carne e o sangue que manchava as pontas dos dedos.

Zaryusu também estendeu aquela língua que era mais comprida que um humano, e lam-
beu o líquido vermelho que fluía do lugar que correspondia à face de um ser humano.

Ele estava feliz por ter conseguido fugir do golpe daqueles punhos afiados que tinha
mirado seus olhos. Ele foi ferido, mas não profundamente, e ele poderia continuar lu-
tando. Ele agradeceu aos espíritos de sua tribo por protegê-lo e—

Talvez eu só consegui isso porque os ancestrais da tribo da Crusch me protegeram.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


9 4
Zaryusu ficou agradecido, mas Zenberu estava resmungando.

“Sabe o que é...? Se eu te derrotar sem você ter usado aquela habilidade, vai parecer que
pegou leve comigo.”

Zenberu cerrou os punhos e bateu no peito várias vezes.

“Desculpe, mas não estou afim.”

“Hmmm. Só não venha choramingar na minha cabeça quando perder!”

“Você troca uns golpes comigo e ainda acha que eu sou mau perdedor?”

“...Não, eu não sei. Perdão, falei sem pensar. Já que não vai mesmo usar aquilo, então
aqui vou eu!”

Com um *whoosh*, a perna de Zenberu cortou o ar em direção a Zaryusu.

Não houve hesitação nesse movimento.

Zaryusu cortou as escamas da perna de Zenberu com Frost Pain enquanto escapava do
chute, mas um barulho metálico soou e o golpe ricocheteou.

Os olhos de Zaryusu se arregalaram.

Quando uma espada encontrava carne, a carne deveria ter sido ferida. O mundo funci-
onava assim. No entanto, o Ki de um monge poderia mudar essa lógica.

Este foi o resultado da 「Steel Skin」. Essa habilidade poderia encobrir o corpo em Ki
antes que qualquer ataque pudesse tocá-lo, tornando-o tão resistente quanto o aço. As-
sim como 「Natural Steel Weapon」, quanto mais habilidoso fosse o monge, mais duro
se tornaria.

O fato de que seu oponente havia repelido uma espada mágica apenas com carne deixou
mais que claro que eram um monge habilidoso. Contudo, Zaryusu ainda sentia que podia
vencer.

Não era que houvesse uma diferença esmagadora entre suas habilidades de combate.
Foi só que as circunstâncias foram contra Zenberu desde o início.

♦♦♦

Ele veio com uma série desconcertante de golpes.

Voadora. Chicote de cauda. Soco direto. Mão da faca. Ele atacou com tudo isso e muito
mais.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


9 5
Cada golpe de Zenberu era mais rápido e pesado que o anterior. Tudo o que Zaryusu
poderia fazer contra um inimigo como esse era adotar uma defesa total.

Cada sequência de golpes era seguida por uma sequência de defesas.

Se ele não se defender dos ataques destrutivos de seu inimigo, a derrota de Zaryusu
seria uma questão de tempo. Confiantes na vitória de seu chefe, os Lizardmen vizinhos
aplaudiram enquanto Zenberu atacava com golpe após golpe.

As garras de Zenberu ocasionalmente roçavam Zaryusu, facilmente marcando seu


corpo escamoso e em seu rastro deixando feridas que choravam sangue. Essas lesões
não podem ser consideradas leves em nenhum sentido da palavra.

O corpo de Zaryusu estava coberto por essas feridas. Sua vida estava em risco, e não
seria estranho se ele se rendesse a qualquer momento. Os olhares alegres no rosto dos
espectadores Lizardmen só provaram isso enquanto se preparavam para celebrar a imi-
nente vitória do chefe.

No entanto — não era assim que Zenberu se sentia.

Toda vez que seus golpes eram bloqueados, Zenberu sentia a vitória se afastar cada vez
mais de seu alcance, e isso o deixava ansioso.

A Frost Pain estava impregnada com uma aura gélida e infligia dano ao frio sempre que
feria um inimigo. Um efeito colateral disso era que causava dano por frio a qualquer um
que tocasse na arma. Em outras palavras, apenas tocar na arma por algum tempo já era
o suficiente para desgastar lentamente o corpo de Zenberu por danos passivos.

Suas mãos estavam congelando, suas pernas estavam dormentes e seus movimentos
estavam diminuindo.

Mas que droga, daquela vez eu perdi rápido demais... eu nem sabia que essa arma podia
fazer isso! Lutar contra ele é como enfrentar dois ao mesmo tempo! Não esperava nada
menos de um dos Quatro Tesouros!

Zaryusu adotou uma postura defensiva pois já sabia desse efeito. Ou melhor, ele fez isso
porque sabia que era uma maneira garantida de causar dano. E provavelmente por isso
que ele não se esquivou dos ataques de Zenberu.

Ele havia escolhido um caminho certo para a vitória. Pois esta falta de aberturas fez dele
o maior inimigo de Zenberu.

Zenberu queria seu trunfo em Zaryusu, mas agora era tarde demais. E se ele bloqueasse
até isso, aí que as chances de vitória de Zenberu seriam mínimas, e isso na melhor das
hipóteses.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


9 6
Parecia que estava socando um uma montanha.

Ahhh, caramba, não vai dar pra vencer esse cara— Mas! Eu esperei muito por isso!

Sua batalha com o Lizardman do passado passou por sua mente. Ele era mais forte
agora do que era antes, e treinou sem parar para obter a vitória. Mesmo quando soube
que a pessoa que o havia derrotado havia sido morta ele não se arrependeu do tempo
gasto, e nunca parou de treinar.

Ele estava esperando por este dia.

Por ser um chefe, ele não podia abandonar tudo para se entregar à batalha, por isso
ficara maravilhado ao saber que o portador da Frost Pain chegara à sua aldeia.

Ele não podia deixar a batalha que tanto ansiou acabar assim.

Zenberu começou a perder o tato em seus socos e chutes, seu Ki não conseguia mais
fluir para as extremidades de seus membros. Ainda assim, ele continuou atacando.

Ele é forte, mais forte que o antigo dono!

Assim como ele se aperfeiçoou incessantemente, o Lizardman à sua frente deve ter se
treinado até à exaustão também.

Embora soubesse que a Frost Pain o deixava em tremenda desvantagem, ele jamais se
daria por vencido.

Esse cara é de mais! Ele é digno da Frost Pain! Até onde sei, deve ser o Lizardman mais
forte de todos os tempos!

Zenberu não interrompeu seus ataques combinados, mesmo quando mentalmente elo-
giava Zaryusu, que bloqueava seus ataques com a Frost Pain.

♦♦♦

Feridas, sangue e mais feridas.

Crusch tinha dedicado toda sua atenção a testemunhar essa intensa luta de idas e vin-
das, e com suas excelentes habilidades de druida, ela já tinha visto como a batalha ter-
minaria.

Incrível... ele deve ter previsto tudo isso quando a batalha começou.

Crusch ficou impressionada com as excelentes destrezas marciais de Zaryusu.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


9 7
As ovações continuaram de todos os lados.

Eles estavam torcendo por Zenberu, que estava atacando sem parar e parecia ter a van-
tagem. Nenhum deles percebeu que os membros de Zenberu estavam gradualmente fi-
cando lentos.

Zaryusu era muito forte. Crusch tinha certeza disso.

Quase todos os Lizardmen lutavam com seus corpos por força bruta, mas Zaryusu — e
Zenberu — lutavam com habilidade, e a Frost Pain auxiliou nessa habilidade de luta.

Portanto, a Frost Pain foi um fator importante no desenvolvimento da situação atual —


do abismo entre eles. Mas não foi a única razão para isso.

Se alguém desse a Frost Pain a um guerreiro comum, será que o sujeito poderia lutar
contra Zenberu a este nível?

A resposta era simples, não. Zenberu não era um capanga de meia-tigela.

A arma em si era bem poderosa, mas Zaryusu só conseguiu explorá-la em todo o seu
potencial por ser um guerreiro de primeira categoria.

E mais notável que isso foi sua mente perceptiva e analítica.

Zaryusu evitou o golpe quando Zenberu derrubou sua alabarda porque estava do es-
copo que havia previsto. Ele sentiu a presença do trunfo de seu inimigo, sentiu que a
alabarda era uma mera distração.

Descobrir como criar peixes, técnicas de batalha. O quanto Zaryusu aprendeu desde que
saíra em sua jornada como Viajante? Quantos segredos mais ele trazia consigo?

Antes que percebesse, Crusch tinha certeza da vitória de Zaryusu. Agora, ela apenas
observou o semblante de seu rosto, seu coração batia forte, mas já não era de ansiedade.

“Ele é realmente um macho impressionante...”

♦♦♦

O tempo parecia passar para aqueles que assistiam a essa emocionante batalha, mas os
dois participantes sentiram o contrário. A fadiga em seus corpos e espíritos causado por
sua respiração ofegante era mais intenso do que a passagem do tempo.

Apesar de estar coberto de sangue, o espírito de luta de Zaryusu ainda era forte. Isso
por si só já era um bom motivo para os Lizardmen circundantes parabenizaram-no. Afi-
nal, ninguém mais havia durado tanto tempo contra o chefe deles antes.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


9 8
E então, quando Zenberu parecia prestes a conquistar a vitória — ele abandonou sua
postura de luta.

O público esperou ansiosamente. Zenberu deveria declarar sua vitória em breve.

No entanto, o oposto aconteceu.

“Perdi!”

Eles estranharam, o chefe deles deveria ter sido o vencedor.

Mas então por que ele anunciou sua derrota? Apenas Crusch previra isso. Ela correu
para o “ringue” de luta.

“Você está bem?”

Ao ouvir essas palavras, Zaryusu exalou e abaixou a espada em sua mão. Com uma voz
muito cansada, ele respondeu:

“Não é nada grave... devo ser capaz de lutar na próxima batalha.”

“...Mm. Mesmo assim vou usar magia de cura em você.”

O traje de grama de Crusch farfalhou e ela colocou a cabeça de fora.

Zaryusu sentiu um calor aconchegante inundando suas feridas, diferente do calor ar-
dente de um machucado. Enquanto se deleitava com a sensação de vitalidade fluindo de
volta para seu corpo, ele se virou para olhar o gigantesco Lizardman com quem acabara
de lutar mortalmente.

Zenberu foi cercado por seus companheiros. Ele estava explicando a situação para eles
e a estratégia que Zaryusu estava usando.

“Isso deve bastar.”

Crusch declarou que seu tratamento estava completo depois de lançar duas magias nele,
e Zaryusu olhou para baixo em seu corpo.

Mesmo com sangue coagulado ainda grudado em sua pele, os ferimentos abaixo haviam
se recuperado completamente. Havia um pequeno fisgar nas feridas quando se movia,
mas pelo menos não parecia que abririam.

“—Obrigado.”

“Não tem de quê.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


9 9
Crusch sorriu de forma gentil, e os dentes perolados ficaram a mostra, eram muito bo-
nitos.

“—Você é linda.”

“Quê—!?”

A cauda dela balançou e bateu na lâmina-d'água no chão. E os dois se encararam silen-


ciosamente.

O silêncio de Crusch se devia a não saber o porquê esse macho mencionaria tão casual-
mente algo assim. Ela não estava acostumada com tais elogios, então ouvir Zaryusu di-
zendo essas coisas não fazia bem para seu coração.

Enquanto isso, Zaryusu não fazia idéia do motivo pelo qual Crusch estava quieta. Fiz
algo de errado? Pensamentos como esse pairaram por sua mente. Por ter pouca experi-
encia com fêmeas, ele não tinha idéia do que deveria fazer. Zaryusu estava surpreenden-
temente tenso também.

Assim que o constrangimento entre eles atingiu o ápice, uma voz os salvou.

“Ei ei seu desgraçado, vão ficar de casalzinho aí?”

Os dois olharam para a fonte da voz — para Zenberu.

Suas reações simultâneas e idênticas deixaram Zenberu momentaneamente sem pala-


vras.

“Hm! Ei, branquinha, que tal uma cura aqui?”

Zenberu parecia bastante indiferente ao albinismo de Crusch. Por sua vez, Crusch lem-
brou da marca no corpo de Zenberu e percebeu o porquê ele a tratou assim.

“Tá bom, eu curo... mas você não deveria deixar os sacerdotes da sua tribo fazerem isso?

“Ahhh, relaxa, relaxa. Chega de conversa, tá doendo aqui. Parece que meus ossos con-
gelaram. Dá pra andar rápido com isso?”

“Só porque insistiu, mas lembre-se de dizer isso aos seus sacerdotes.”

“Tá certo, eu falo que te forcei. Anda logo.”

Crusch suspirou e trabalhou sua magia de cura.

Zaryusu notou que os olhares hostis à sua volta haviam diminuído um pouco e que ha-
via alguns olhos amigáveis olhando para ele.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


100
“Tudo bem, está feito.”

Crusch tinha lançado mais magias de cura em Zenberu do que em Zaryusu. Isso impli-
cava que seus ferimentos não eram externos, mas internos.

“Ohh, você é melhor que nossos sacerdotes!”

“Obrigada. Mas eu normalmente não curo os membros de outras... não importa. Grata
pelo seu elogio.”

“Então, já que estamos ambos curados, por que não falamos sobre o assunto principal?
Pode ser um pouco repentino, mas não vai se importar com isso, não é?”

“Oh! Diga o que tem a dizer— sabe, eu realmente queria dizer isso...”

Zenberu parou no meio da frase e sorriu:

“Mas primeiro, vamos beber!”

Zaryusu e Crusch não entenderam o motivo e seus rostos estavam igualmente confusos.

“Assuntos chatos descem melhor com álcool. Nunca ouviram essa?”

Zaryusu entendeu o significado do duelo de vida e morte. Afinal, provava sua força, algo
útil na negociação. Era o modo de vida do Lizardman. Mas por outro lado, festas regadas
a bebedeira eram estranhas, isso porque a tribo Green Claw não tinha essa prática.

Qualquer um que bebesse logo depois de lutar pela própria vida parecia bastante de-
primente do ponto de vista dele.

“Eu não entendo...”

Zaryusu murmurou sua resposta como se tivesse toda a vida drenada de seu corpo, seu
semblante caiu.

No entanto, foi imediatamente abafado por uma onda de arrependimento, se comportar


de maneira tão infantil diante de um chefe tribal que nem mesmo era seu aliado, foi algo
extremamente vexatório. Na verdade, ele sentiu Crusch olhando para ele com uma ex-
pressão estranha nos olhos.

Zaryusu não tinha experiência com amor, por isso não sabia o motivo para Crusch o
ficar observando sem parar. Ele estava vendo um novo lado de sua amada, e ele achou
curioso e adorável.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


101
“Quero dizer, beber muito deixa a conversa confusa e a mente turbulenta, isso poderia
gerar ruídos nesse assunto que é bem importante.”

Zaryusu tentou apressadamente emendar suas palavras, mas Zenberu o ignorou res-
pondendo:

“Ei ei ei, você é um Viajante, não é? Não ouviu dizer que, se quiser aprender alguma coisa,
vá para os Dwarfs?”

“Não, não foi meu caso. Eu visitei o povo da floresta.”

“Mesmo? Então vou resumir a lição que aprendi com os Dwarfs, amigos que bebem uni-
dos se tornam grandes amigos. Talvez nosso tempo juntos seja curto, mas é bom discutir
as coisas com sinceridade. Estou errado, Zaryusu Shasha?”

“Entendo... sim, tudo bem, Zenberu Gugu.”

“É assim que eu gosto! Vamos encher a cara essa noite! Sem frescuras! Comecem os
preparativos!”

♦♦♦

A pilha de troncos repousando no chão tinha quase dois metros de altura, e as chamas
vermelhas ardiam ferozmente, como almejassem o céu. A enorme chama vermelha afu-
gentou a escuridão da noite.

Perto da pilha de toras havia um grande pote com mais de um metro de altura e cerca
de 40 centímetros de raio. Um aroma fermentado emanava dele.

Várias dúzias de Lizardmen se revezaram retirando líquido do pote. No entanto, o vinho


dentro não parece esgotar.
[Grande Pote de
Este era um dos Quatro Tesouros assim como a Frost Pain de Zaryusu — o Great Wine
Vinho]
Pot.

Embora pudesse produzir um suprimento infinito de vinho, o sabor era aceitável na


melhor das hipóteses, e qualquer um que provasse seu vinho enrugaria o nariz. No en-
tanto, era um delicioso néctar para os Lizardmen.

E com isso dito, os convidados continuavam chegando.

Havia uma região tranquila a certa distância do pote de vinho. A razão pela qual este
lugar era quieto era bastante simples — porque estava cheio dos corpos de muitos Li-
zardmen bêbados, que jaziam insensíveis aqui.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


102
Todos os Lizardmen que tinham ficado tão bêbados ao ponto de desmaiar foram des-
pejados nas periferias da comemoração.

Tendo removido sua roupa frondosa, Crusch cuidadosamente — tomando cuidado para
não pisar nas caudas dos Lizardmen caídos — dirigiu-se a este lugar, prestando muita
atenção ao chão. Seus passos estavam normais, aparentemente estava sóbria, mas ainda
assim era difícil dizer.

Sua cauda parecia ter vida própria, energicamente flexionando aqui e ali. Às vezes en-
rolava, às vezes ficava ereta e às vezes caía. Ela se comportava como uma criança que
havia comido muito açúcar.

O fato era que Crusch sentia um desalento percorrendo sua alma. Parte foi por causa do
vinho, mas não apenas isso. O outro restante se resumia a seu corpo. Esta foi a primeira
vez que ela mostrou sua pele para tantas pessoas.

Como o chefe da Dragon Tusk era um Lizardman anormal, os demais Lizardmen da


tribo só a estranharam a princípio, logo se acostumaram com sua estranheza.

Com as duas mãos cheias de comida, Crusch cheia de êxtase continuou em frente.

Ela chegou ao lugar onde Zaryusu e Zenberu estavam sentados no chão e erguendo o
copo um para o outro.

Os ditos copos pareciam ter sido feitos usando cascas de coco, e o líquido dentro era
transparente, mas emanava um cheiro denso e fermentado.

Crusch pôs um par de peixe cru na frente dos dois — lanches para acompanhar as be-
bidas. Zenberu sorriu e cumprimentou Crusch.

“Yo, monstro planta.”

“...Você poderia não me chamar disso?”

Ela já tinha tirado a roupa, por que ele insistia em chamá-la assim? Parece que planejava
se divertir dessa maneira. Depois que ela percebeu, Crusch decidiu parar sua resistência
inútil.

“Já discutiram o assunto?”

Zaryusu e Zenberu se entreolharam e assentiram.

“A maior parte.”

Os dois queriam falar em particular, então pediram à Crusch que os deixasse a sós. Já
que eles disseram isso, tudo o que ela pôde fazer foi sair e trazer um pouco de comida,

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


103
mas dentro de seu coração, ela esperava fazer parte da conversa. Afinal, se estivessem
discutindo a próxima batalha, certamente era algo que precisava saber.

Ela esperava poder absorver o básico, mesmo que não pudesse escutar a maior parte
da conversa—

“É uma conversa entre machos.”

—Mas Zenberu a impediu com aquelas palavras frias. Crusch expressou seu desconten-
tamento em seu rosto, mas não teve escolha senão mudar de assunto.

“Então, o que pretende fazer? Lutar ombro a ombro, como aliados?”

“Quê? Ah, nem precisava pedir. Claro que vamos lutar. Ou melhor, mesmo se não tives-
sem dado as caras aqui, todo mundo aqui ia lutar até o fim.”

Um som como gravetos raspando um contra o outro vieram da boca de Zenberu.

“Você é realmente viciado em lutar.”

“Ah, não me elogie assim, agora tô todo envergonhado!”

Zenberu não prestou atenção à Crusch quando ela revirou os olhos, mas fez um pedido
a ela.

“Ah, certo... Monstro planta, dá uma mãozinha aqui e me ajude a colocar bom senso nele.
Eu já pedi de tudo que é jeito, mas o Zaryusu não quer aceitar a posição de ser chefe.”

Havia um olhar cansado no rosto de Zaryusu. A julgar pelo desanimo, Crusch percebera
que essa conversa já se estendia a um bom tempo.

“Mas é que ele não pode aceitar. Afinal, vocês são de tribos diferentes e ele é um...”

Crusch estava prestes a dizer “ele é um Viajante”, mas então considerou que Zenberu
também era um e, no fim, decidiu mudar de assunto.

“Então, por que diabos se tornou um Viajante?”

“Hã? Ah tá, quando o antigo dono da Frost Pain me venceu, eu fiquei muito mal e queria
ficar mais forte! Aí eu pensei que seria melhor pra mim ir pra outro lugar, entende? Aí
eu virei um Viajante.”

Ao lado dele, Zaryusu mexia os ombros em impotência. Foi então que Crusch se lembrou
do que Zaryusu lhe dissera sobre suas próprias viagens.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


104
No passado, quando ele partiu em sua jornada, a única coisa que o mantinha em movi-
mento foi sua força de vontade, sua determinação e senso de dever para com sua tribo.
Zenberu — como um companheiro de viagem — deveria ter se sentido da mesma ma-
neira... mas agora, ele não podia sentir nada disso dele.

Crusch colocou uma mão gentilmente no ombro de Zaryusu, como se dissesse: Ele é ele
e você é você.

Nesse momento, quem os observasse provavelmente concluiria que eram amantes.


Quando ela percebeu isso, a cauda de Crusch se enrolou, enquanto a cauda de Zaryusu
começou a balançar para frente e para trás.

Os dois se entreolharam e sorriram timidamente. Zenberu, que fingiu não ter visto nada
disso, continuou:

“Então eu pensei que deveria haver alguém muito forte naquela montanha, já que é bem
grandona. Então, durante as minhas viagens, eu conheci os Dwarfs e aprendi muitas coi-
sas com eles. Aquela alabarda, foram eles que fizeram. No começo eu não queria, mas
eles me pediram pra ficar com ela como lembrança dos bons momentos, aí eu tive que
aceitar.”

“...Então foi isso que aconteceu. Bem interessante.”

A resposta de Crusch pareceu um pouco descuidada, ou melhor, um pouco desinteres-


sada.

“Oh, obrigado.”

—Aparentemente notar o sarcasmo não era o forte dele.

Agora que o bom humor no ar havia sido arruinado, Crusch pegou seu vinho e bebeu de
um só gole. Ela sentiu queimar enquanto descia pela garganta, e o calor parecia irradiar
de seu estômago por todo o corpo. Zaryusu terminou seu vinho de uma só vez também.

Só então, uma pergunta foi ouvida. Parecia completamente diferente da voz de agora a
pouco e, por um momento, fez com que se perguntassem quem havia perguntado.

“Mas diz aí, acha que podemos ganhar?”

Zaryusu respondeu calmamente:

“...Eu não sei.”

“Mm, sei como é. É aquilo, não há batalha com vitória garantida. Se aparecesse alguém
se achando, pensando que vai vencer sem nem conhecer o inimigo, eu mesmo faria ques-
tão de derrotar o sujeito, só pra calar a boca dele.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


105
Crusch não soube como responder, Zenberu dava boas risadas.

“Mas eu acho quê... nosso inimigo foi um pouco descuidado. As mudanças aqui devem
afetar nossas chances de vitória.”

No lugar de Zaryusu, Crusch olhou para Zenberu com uma expressão confusa no rosto.

“Se lembra do que o monstro disse?”

“Foi mal, eu tava tirando um cochilo.”

“...Mas certamente quem ouviu deve ter de contado?”

“Hmph, eu não queimo minha mente com essas coisas, então esqueci. Mesmo assim, o
importante é que, se é uma briga que eles querem, então vamos dar a eles uma briga e
tanto.”

Qual o problema desse cara—

Crusch decidiu abandonar suas tentativas de explicação com isso. Zaryusu sorriu ironi-
camente e respondeu:

“...Ele nos disse para lutarmos com todas as nossas forças.”

Uma expressão tensa apareceu no rosto de Zenberu e suas feições se contorceram vio-
lentamente.

“Isso é bem irritante. Aqueles sujeitos tão zombando bem na nossa cara desde que isso
começou.”

Zenberu deixou um rosnar agressivo sair.

O rosnar trouxe consigo ira e desprazer.

“Sim, aos olhos deles não somos nada. Para serem arrogantes assim... só posso concluir
que são poderosos o bastante para fazer nossa resistência ser inútil. Mas vamos esmagar
essa arrogância. Vamos reunir as cinco tribos e mostrar como somos fortes. Eu quero
rebater o ataque deles e mostrar que nossa força merece respeito.”

“Hmph, gostei do que ouvi. Agora tu falou a minha língua.”

Assim que os dois machos estavam se deleitando com seus futuros planos de batalha,
Crusch jogou um balde de água fria.

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


106
“Eu duvido que haja muito mérito em ferir o orgulho deles. Tudo o que precisamos fazer
é provar o nosso valor e só, não é? Talvez, se notarem isso, eles não nos exterminem.”

“Ei ei ei, está me dizendo para chegar lá e me curvar depois de tudo isso?”

“Zaryusu... Eu sei que fugir é perigoso, mas eu acho que é melhor viver, mesmo em ca-
tiveiro...”

Disse Crusch em voz baixa.

Os outros dois não negaram, nem questionaram sua mentalidade de escrava. Não era
que eles quisessem ser governados, mas escravos tinham mais futuro do que defuntos.
Enquanto houvesse um futuro, haveria infinitas possibilidades.

Por exemplo, eles poderiam ensinar o método de criação de peixes a todos, e isso pode-
ria permitir que eles abandonassem suas casas e fugissem para outros lugares. Qualquer
líder que abandonasse essa possibilidade e ordenasse que todos morressem não era
digno de sua posição.

“Ouçam bem o que nos rodeia....”

Quando ouviram a voz calma de Zaryusu, os três se calaram e ouviram os sons de alegria
que vinham da festa.

“Se nos governarem, talvez não possamos rir e nos alegrar assim.”

“Mas talvez possamos, não?”

“Tomara, mas não acho. Alguém que vem para nos exterminar não seria tão compassivo.
Afinal, se houvesse alguma piedade em seus corações, eles nem teriam vindo com ame-
aças para início de conversa.”

Crusch assentiu. Mas mesmo assim—

“Eu sei mas o que eu quero dizer é... por favor, não morra.”

“—Eu não vou. Não antes de ouvir sua resposta.”

“—!”

Crusch e Zaryusu trocaram olhares apaixonados sob o céu noturno.

E então, eles fizeram seu voto.

—Não prestando atenção a Zenberu, que estava entediado da melosidade.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


107
Interlúdio

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


108
rovavelmente já estavam discutindo outra coisa na sala de reuniões assim

P
que saiu.

No entanto, seus deveres naquela sala acabaram. Por isso ele foi embora.

Dito isso, ele ainda tinha trabalho a fazer. Na ocasião, estava apenas dando um relatório,
mas agora tinha que cumprir suas responsabilidades como o Primeiro Assento da Escri-
tura Preta — em outras palavras, como líder. Isso incluía ressuscitar seus companheiros
mortos, escolher substitutos temporários para suas posições, bem como treinamento,
condução de experimentos, e assim por diante.

Afinal, as Seis Escrituras eram organizações secretas, então levavam vidas duplas, infil-
trando-se mesmo na Teocracia.

Falando de sua vida pessoal, ele era casado — e com várias parceiras. Atualmente, havia
[Descendentes dos Deuses]
apenas três G o d k i n s dentro da Teocracia Slane, e assim os superiores sugeriram
que ele tinha que fazer seu dever patriótico e procriar.

Todas essas exigências se acumularam e o deixaram praticamente sem tempo livre.

“Que chatice, esperava poder relaxar hoje.”

Depois de ser libertado da reunião dos Cardeais — uma reunião dos mais importantes
detentores de nomeações na Teocracia Slane — ele rodeou os ombros, e então sua aten-
ção foi atraída por um som *clack-cleck-clack*.

Ele sabia quem havia feito o som sem nem mesmo ver. Havia poucos na Teocracia Slane
que tinham permissão para entrar neste lugar, e quando ele pensou sobre as pessoas
que não estavam presentes na sala de reunião, a resposta ficou clara.

Como esperava, havia uma garota encostada na parede.

Ela tinha um penteado singular, com o lado esquerdo sendo uma cor diferente do di-
reito. Um era prata cintilante, enquanto o outro era um preto bem intenso. A cor dos
olhos dela era similarmente díspar.

Ao lado dela, encostada na parede, havia uma gadanha de guerra que lembrava uma
lança em forma de cruz.

Embora parecesse jovem, alguém que mal aparentasse 15 anos, sua idade não corres-
pondia à sua aparência. Desde que ele se tornou o capitão da Escritura Preta — o Pri-
meiro Assento — a aparência da garota não mudara em nada.

Ele sem querer foi guiado a olhar para as orelhas dela— mas então se deteve.

Isso porque ele sabia que a garota odiava quem quer que olhasse para suas orelhas.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


109
Os lábios sedutores da garota formaram uma curva, como se ela estivesse lendo sua
mente.

Ela era uma criança mestiça, nascida de probabilidades quase impossíveis, o Assento
Extra da Escritura Preta, — conhecida pela alcunha de “Morte Certa”. Ela era uma guar-
diã, responsável por defender o Sanctum Sanctorum da Teocracia Slane, o lugar onde as
relíquias de cinco deuses eram mantidas.

O som que ele ouvira vinha do brinquedo em suas mãos. Na Teocracia Slane, se chamava
“Cubo de Rubik”, e aparentemente era uma herança dos Seis Grandes Deuses. A voz da
garota misturou-se com o clack-cleck-clack.

“Montar um lado é bastante simples, mas é difícil conseguir dois.”

Ele não achava difícil fazê-lo, mas não sabia se deveria dizer isso a ela. No final, ele es-
colheu responder apenas sorrindo amargamente. A menina não parecia se importar com
sua resposta e continuou indiferente:

“O que aconteceu? Até os Cardeais apareceram.”

“Se me lembro bem, você recebeu uma cópia do relatório.”

“Não li.”

A menina respondeu sem hesitar e continuou:

“Além disso, perguntar a alguém que sabe é mais rápido. A Astróloga das Mil Ligas co-
[Soberano Dragão d a C a t á s t r o f e ]
meteu um erro? Você foi enviado para lidar com o Catastrophe Dragonlord... aconteceu
alguma coisa?”

Ao longo de toda essa conversa, os dois ainda não haviam se entreolhado. A atenção da
garota estava focada no brinquedo em sua mão.

“...Acabamos nos envolvendo com uma criatura misteriosa que se assemelhava a uma
Vampira. Houve dois mortos e uma gravemente ferida, por isso recuamos.”

“Quem morreu?”

Não havia nenhum traço de tristeza por seus camaradas abatidos em sua voz. Ela pare-
cia estar perguntando sobre algo completamente alheio a ela. Ainda assim, ele não se
importava. Era simplesmente o jeito dela.

“Cedran, que estava protegendo à Kaire-sama e o Beaumarchais, que tentou capturar a


Vampira que foi imobilizada.”

Interlúdio
110
“O Grande Escudo e o Correntes Divinas, huh. A Princesa Miko da Terra morreu recen-
temente naquela explosão estranha, e agora a Escritura Preta perdeu dois dos seus me-
lhores... nada é tão ruim que não possa piorar, eu acho. Quem se feriu?”

“Kaire-sama. Parecia haver algum tipo de maldição anulando as magias curativas que
tentamos usar, então recuamos.”

“E a tal Vampira?”

“Deixamos lá. A Vampira entrava em postura de ataque toda vez que tentamos capturá-
la ou nos aproximamos. Decidimos que seria mais sensato deixar aquilo em paz.”

“Está me dizendo que não resolveram nada?”

“...Eles decidiram deixar as coisas como estavam durante a reunião agora a pouco.”

Essa foi a decisão que tinham chegado na sala de reuniões mais cedo.

Foi julgado melhor deixá-la sozinha e fortalecer o país ao invés de atacar precipitada-
mente e sofrer baixas severas. Além disso, nenhum outro país deveria ser capaz de der-
rotar a criatura undead. De fato, se alguém assim aparecesse, isso o tornaria um ser po-
deroso que requeria atenção, e implicaria que eles deveriam aprimorar suas defesas na-
cionais primeiro. No final, todos concordaram com esse curso de ação. Eles decidiram
deixar para trás apenas os funcionários essenciais da inteligência e fazer com que todos
se retirassem.

Ele concordou com o julgamento deles.

Afinal de contas, as únicas pessoas que poderiam derrotar aquela Vampira eram, pro-
vavelmente, Godkins ou Dragonlords. Portanto, eles deixariam as sentinelas a postos e
se encontrassem alguém que pudesse derrotar aquela Vampira, então eles estariam em
guarda alta contra tal ser.

“Hmm. Quer dizer que a criatura não era uma mera Vampira?”

Ele concordou. Foi por isso que ele chamou de misterioso undead.
[Soberano Dragão V a m p í r i c o ] [Soberano Dragão do F é r e t r o A n c i ã o ]
“Será que é um Dragonlord? O Vampiric Dragonlord ou o Elder Coffin Dragonlord?”

A curva de seus lábios se alargou, um nítido sorriso. Isto é, se alguém considerasse a


mancha em seu rosto, ansiando por sangue, como um sorriso.

“...Esses dois Dragões já não estão mortos?”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


111
Ele se sentiu um pouco desajeitado quando perguntou isso, mas ela imediatamente res-
pondeu:

“Ambos são undeads, não sabemos se eles foram realmente destruídos.”

A garota finalmente levantou a cabeça, olhando diretamente para ele. Seus olhos desi-
guais pareciam brilhar com o que parecia curiosidade, prazer e luxúria de batalha.

“Quem você acha que é mais forte, eu ou essa tal Vampira?”

Ele esperava essa pergunta e a respondeu com uma resposta pronta.

“Você, com certeza.”

“É mesmo...?”

A garota olhou para o brinquedo, como se tivesse perdido o interesse pelo assunto.

Dentro de seu coração, ele deu um suspiro de alívio.

“Que pena. Já estava imaginando que eu poderia provar a derrota.”

Ao ouvi-la murmurar para si mesma, ele se perguntou: Quem venceria se elas lutassem?

Ele havia trocado golpes tanto com a garota quanto com a Vampira, e de fato sentiu que
a Vampira era superior. No entanto, essa Vampira não seria capaz de derrotar a “Morte
Certa”.

Isso por causa da diferença em suas panóplias.

A Vampira parecia estar completamente despreparada, o que era uma fraqueza em


monstros poderosos. Eles tinham grande orgulho em sua força, o que significava que não
faziam uso de itens mágicos poderosos.

Em contraste, ela estava vestida nas relíquias dos Seis Deuses, então ele pôde concluir
que ela era mais poderosa.

No entanto, e se ambos os lados fossem equipados com itens semelhante?

Impossível.

Ele imediatamente rejeitou a questão que surgiu em sua mente. Afinal, era impossível
encontrar equipamento que rivalizasse com a panóplia dela, que havia sido herdada dos
deuses.

Mas e se fosse possível?


Interlúdio
112
Se isso acontecesse... a Assento Extra da Teocracia Slane, a mais poderosa e nunca der-
rotada, poderia ser vencida. Em outras palavras, esse momento seria o fim de toda espe-
rança, quando os defensores da humanidade ruiriam ao pó.

Ele se perguntou por um momento:

Por que estou assumindo que ela lutaria sozinha?

Embora não pudesse se comparar a ela, ele ainda era um Godkin despertado que tam-
bém possuía muitos itens mágicos. A Vampira poderia ser poderosa, mas estava sozinha,
e se ele pudesse fazer uso de sua panóplia, eles deveriam ser capazes de lidar com isso.

Não havia como existir mais seres tão poderosos quanto o ser undead com quem tro-
cara golpes.

Imerso em pensamentos, ele ouviu o som de risos. Então, franziu a testa e olhou para a
sua fonte e perguntou:

“Mas mudando de assunto. Já escolheu outra noiva?”

Esse foi um dos tópicos que surgiram durante a reunião de agora. Em resumo, pergun-
tava quando encontraria uma parceira adequada. Deixando claro, a dita noiva não era
bem uma parceira que viveria um “felizes para sempre”; um sinônimo mais adequado
para o que ela seria poderia ser de “máquina de fazer bebês”.

“Eu ainda não encontrei ninguém.”

“Hmm, porque ainda é jovem, é?”

Quando a Escritura Preta se movia, seus membros usavam máscaras mágicas para es-
conder suas identidades.

De acordo com as leis estabelecidas pelos deuses, alguém com 20 anos de idade era
considerado adulto na Teocracia Slane, mas após removerem essas máscaras, a idade
real se mostrava muito abaixo desse número.

“Quando se casar, sua noiva vai para algum lugar secreto na Teocracia... mas não se
preocupe, ela ainda será capaz de criar seu filho.”

“Eu sei. Eu sou o capitão da Escritura Preta, não é algo que precise me lembrar.”

“Claro que sabe. Sabe, há coisas que é melhor dizer à sua futura esposa... me refiro às
outras várias esposas que terá além dela. A lei não proíbe poligamia, mas é melhor dizer
para evitar atritos futuros, pois algumas pessoas odeiam isso.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


113
A Teocracia Slane permitia a prática da poligamia desde que o indivíduo pedisse ao es-
tado. A poligamia tinha sido adotada desde a época em que as linhagens de sangue ti-
nham que ser mantidas puras devido à falta de entidades poderosas. No entanto, em
circunstâncias normais, a prática padrão era de um homem para uma mulher, e havia
apenas alguns casos em que a sanção nacional havia sido concedida. Mesmo quando con-
cedida, um homem só poderia ter duas esposas.

“Agradeço pelo lembrete, mas e quanto a você... não quer se casar?”

Ele fez essa pergunta porque ela parecia jovem, mas a aparência dela não correspondia
à idade real.

“Hmm, bem, me caso sem problemas com o homem que puder me derrotar. Não dou a
mínima se ele for feio ou tiver uma personalidade ruim... ou até mesmo se ele não for
humano. Afinal, será o homem que me derrotou. Quão fortes seriam nossos filhos?”

A garota estava toda sorridente quando colocou a mão em sua própria barriga. Se essa
fosse a condição, ele estava bastante confiante de que ela jamais se casaria.

No entanto, as coisas mudariam se alguém que pudesse derrotar aquela Vampira apa-
recesse?

Uma onda de desconforto assolou seu coração.

Interlúdio
114
Capítulo 03: O Exército da Morte

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


115
Parte 1

h, já tô vendo.”

O Zenberu — sentado perto da parte de trás de Rororo — riu enquanto


olhava para frente.

Algumas centenas de metros à frente, eles puderam ver a primeira tribo marcada para
extinção — a aldeia da tribo Razor Tail. Embora fosse mais ou menos do mesmo tamanho
que a aldeia Green Claw, havia mais Lizardmen aqui, provavelmente porque os Lizard-
men de outras tribos tinham se reunido a ela.

Agora que estavam se preparando para a guerra, todos estavam muito ocupados.

“É difícil me conter com esse clima no ar.”

Cada baforada de Zenberu era quente, mostrando sua animosidade com o cheiro do
ambiente. Era um odor que fervia o sangue. No entanto, Crusch nunca tinha sentido o
cheiro antes, e ela disse algo diferente dos outros dois.

“É seguro continuar cavalgando no Rororo?”

Tendo sentido a atmosfera tensa ao longe, Crusch, a monstro planta, estava começando
a ficar nervosa. Ela estava preocupada que os Lizardmen prontos para a batalha ficariam
instigados se Rororo chegasse perto.

Eles poderiam conhecer Zaryusu, mas não Crusch ou Zenberu, e não significava que to-
dos na tribo Razor Tail conhecessem Zaryusu também.

“Não, é o oposto. Estamos mais seguros montados nele.”

Um olhar confuso apareceu no rosto de Crusch (obscurecido pelas folhas). Sentindo sua
confusão, Zaryusu elaborou:

“Meu irmão deve ter vindo mais cedo, e deve ter dito a eles que eu estaria montando
Rororo. Então as notícias sobre nós nas costas de Rororo já devem ter chegado aqui, tudo
o que temos a fazer é avançar lentamente.”

Na verdade, quando Rororo estava chapinhando no pântano, um Lizardman preto


emergiu da aldeia. Zaryusu acenou para a figura familiar.

“Aquele lá é o meu irmão.”

“Entendi.”

Capítulo 3 O Exército da Morte


116
“Oh...”

Os dois falaram ao mesmo tempo. Crusch estava genuinamente curiosa, enquanto Zen-
beru parecia um animal selvagem que tinha avistado um rival à altura.

Ao avanço constante de Rororo, a distância entre os dois — entre Zaryusu e Shasuryu


— diminuía cada vez mais. Logo, eles estavam perto o suficiente para ver o rosto um do
outro, e os irmãos se entreolharam.

Só estavam separados há dois dias. No entanto, se prepararam para a eventualidade de


nunca mais se verem novamente, então a reunião foi um tanto tocante.

“Estou feliz que voltou, Zaryusu!”

“Mm, e trago boas notícias, Shasuryu!”

O olhar de Shasuryu foi para as duas pessoas sentadas atrás de Zaryusu. Zaryusu sentiu
os braços de Crusch se apertarem um pouco ao redor da cintura, devido à tensão.

Uma vez que eles estavam na frente de Shasuryu, Rororo parou na frente do rosto fa-
miliar e encostou nele com suas quatro cabeças.

“Sinto muito, esqueci de trazer comida.”

No instante em que Rororo ouviu essas palavras, suas cabeças imediatamente recuaram
de Shasuryu, como uma criança fazendo birra. A Hydra pode não ser capaz de entender
os Lizardmen, mas deve ter percebido subliminarmente o significado daquelas palavras.
Ou isso, ou não sentia nenhum cheiro de comida nele.

“Então, vamos descer.”

Depois de acenar para os outros dois, ele pulou das costas de Rororo e pegou a mão de
Crusch quando ela pulou. Shasuryu olhou para Crusch com uma expressão de perplexi-
dade no rosto.

“E o que é esse monstro planta?”

O fato de que todos reagissem da mesma forma deixava Crusch um pouco desmorali-
zada, mas ela não queria contestá-lo. Isso foi provavelmente devido ao constante abuso
verbal de Zenberu. Mas as palavras que se seguiram foram uma bomba que fez Crusch
enrijecer.

“Ela é a fêmea que eu amo.”

“—Ohh.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


117
Shasuryu murmurou admirado. Então, ele voltou sua atenção para a ainda paralisada
Crusch, que segurava a mão de seu irmãozinho.

“Muu... Me diga uma coisa, a fêmea dentro disso é bonita?”

“Uhum, e estamos considerando casamen—!”

A dor repentina na mão de Zaryusu o calou, porque a pessoa que a segurava tinha es-
petado as garras com força. Shasuryu olhou para eles com algum desagrado.

“Entendi... Quem diria, alguém como você, que falava sobre as aparências e blablabla...
o que era mesmo, ah... ‘Você sabe que eu não posso me casar?’. Então estava apenas ten-
tando ser o legalzão. Só não tinha achando a fêmea ideal... enfim, de volta aos negócios.
Eu sou Shasuryu Shasha, chefe da tribo Green Claw. Vocês têm meu muito obrigado por
se juntarem a nós.”

A maneira como Shasuryu falou não buscou a confirmação de sua aliança, mas irradiava
a certeza de que eles ajudariam. No entanto, Crusch e Zenberu não eram do tipo que
seriam abalados por pequenas coisas como essa.

“Nós que deveríamos agradecer. Eu sou a Chefe Interina da tribo Red Eye, Crusch Lulu.”

Todos esperavam que Zenberu se apresentasse depois que Crusch estivesse cumpri-
mentando Shasuryu, mas eles não ouviram nada do tipo. Em vez disso, Zenberu olhou
para Shasuryu dos pés à cabeça.

Depois que ficou satisfeito com o que viu, ele assentiu e falou com uma expressão bestial
no rosto:

“Oh, então é você — o guerreiro que usa habilidades sacerdotais em batalha. Já ouvi
falar dos seus feitos.”

“Estou surpreso que até mesmo a tribo Dragon Tusk saiba de mim.”

A resposta de Shasuryu foi como dois animais selvagens circulando um ao outro.

“Enquanto seu irmão não aceita ficar no meu lugar, eu sou o chefe da tribo Dragon Tusk,
Zenberu Gugu.”

“Obrigado por ter vindo. Você me parece bem adequado para ser chefe de uma tribo
que valoriza a força.”

“Que tal aquecimento, hein? Bom que cada um valida a força do outro, e aí?”

“...Até que não é uma má idéia.”

Capítulo 3 O Exército da Morte


118
Zaryusu não sentiu vontade de detê-los. Era verdade que, uma vez que descobrissem
quem era mais forte, muitas coisas se tornariam muito mais simples no futuro.

No entanto, Shasuryu levantou a mão antes que eles pudessem começar, e apagou as
chamas da ânsia de Zenberu pela batalha.

“—Se dependesse de mim, iriamos agora, mas agora não parece ser a hora certa.”

“Por quê?”

Shasuryu sorriu quando Zenberu franziu a testa.

“...Os batedores que enviamos devem retornar em breve, espero que tragam informa-
ções do inimigo. Depois de ouvirmos o relatório dos batedores, podemos ir no aqueci-
mento, o que me diz?”

♦♦♦

Havia uma pequena cabana que estava sendo usada como sala de reuniões dos vários
chefes.

Todos os chefes e Zaryusu estavam aqui, para um total de seis Lizardmen.

O nome de Zaryusu — portador da Frost Pain e matador do antigo chefe da tribo Razor
Edge — era famoso entre as tribos. Além disso, ele foi o herói que persuadiu a tribo Red
Eye e Dragon Tusk a se unirem à aliança, então nenhum dos chefes presentes se opôs à
sua presença.

Os seis sentaram-se em círculo dentro do interior apertado. Os três chefes tinham sido
duramente pressionados para esconder sua surpresa quando Crusch revelou sua pele
branca como a neve, mas agora eles já acostumaram nem que seja um pouco.

Depois que as saudações terminaram, o primeiro a falar foi o chefe da tribo Small Fang.

Ele tinha uma constituição física pequena para um Lizardman, mas seus músculos eram
bem definitos e tão duros quanto o aço. Como originalmente era caçador, provavelmente
era o melhor atacante à distância de todos os Lizardmen das redondezas. Na verdade,
ele eliminou todos os seus oponentes durante os principais testes de seleção os acer-
tando com um único pedregulho.

Depois de mobilizar todos os caçadores para explorar, ele agora entendia a disposição
do inimigo.

“Os números dos inimigos são cerca de cinco mil.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


119
Esse número excedia em muito a força das tropas Lizardmen, mas ainda estava dentro
do alcance esperado. Alguém até suspirou de alívio ao ouvir.

“...Então, quem é o líder inimigo?”

“A gente não sabe. Os batedores avistaram monstros que pareciam imensos pedaços de
carne vermelha, mas era difícil chegar perto deles.”

“E qual a aparência do exército?”

“É um exército de undeads, com Skeletons e Zombies.”

“Há cadáveres de Lizardmen?”

“Não havia nenhum Lizardman. Não tenho muita experiencia nas criaturas da terra seca,
por isso não é certeza, mas pareciam ser humanoides de algum tipo, também não havia
cauda neles.”

Depois de ouvir as características, Zaryusu tinha certeza de que eles eram de uma tribo
das planícies — humanos.

“Não podemos tomar a iniciativa e lançar um ataque preventivo?”

“Seria bem difícil. Os malditos estão usando uma clareira na floresta como acampa-
mento, conseguem imaginar o trabalho que isso deve ter dado? E estava tudo limpo,
como se nem tivesse tido floresta ali, deveria ter— ah, eu saí do assunto. De qualquer
forma, eles estão na floresta. E se a gente indo juntos já foi dificil, imagine se os guerrei-
ros fossem juntos?.”

“E se fazer uma emboscada apenas com os caçadores?”

“Sem essa, Crusch-kun. Há apenas vinte e cinco caçadores. Como derrotariam cinco mil
undeads? No máximo seria terceirizar o suicídio deles.”

“Hm... então que tal mobilizar os sacerdotes?”

Várias pessoas concordaram com a sugestão de Shasuryu e olharam para Crusch. No


entanto, Zaryusu respondeu à pergunta.

“Eu acho que seria melhor não fazer nada.”

“Hã? Por quê?”

“Eles honraram o acordo por parte deles, mas eu não acho que permitirão que lancemos
um ataque furtivo.”

Capítulo 3 O Exército da Morte


120
“Sou obrigado a concordar. Até que todas as tribos estejam prontas, é melhor esperar.”

“Vamos nos preparar para aguentar um cerco?”

“Defender, difícil é.”

Aquela voz inarticulada veio de um dos Lizardmen, o chefe da tribo Razor Tail.

Ele estava vestido com uma armadura branca, que brilhava com um brilho não perten-
cente ao metal.
[Osso do
A armadura irradiava uma aura mágica fraca. Um dos Quatro Tesouros — o White
D r a g ã o Branco]
Dragon Bone.
[Dragões G é l i d o s ]
Esta armadura foi feita a partir dos ossos de Frost Dragons infundidos a frio, ao serem
enterrados na Cordilheira Azerlisiana. É claro que armaduras feitas de meros ossos —
até mesmo os ossos de seres poderosos como Dragões — não continham nenhuma ma-
gia. Contudo, em algum ponto do processo de fabricação, a armadura tinha adquirido
propriedades mágicas.

Mas havia uma pegadinha nessas propriedades mágicas, que estavam mais inclinadas
a uma maldição.

Isso porque a White Dragon Bone convertia o intelecto do indivíduo em força defensiva.
Se uma pessoa inteligente a coloca, ela se tornará mais dura do que o aço — pode até ser
capaz de rivalizar com a força do mythril, ou o lendário metal adamantite.

No entanto, a inteligência perdida não retornaria, mesmo que a armadura fosse remo-
vida. Foi por isso que as lendas diziam ser um item amaldiçoado.

O portador da armadura já esteve originalmente no auge do intelecto dos Lizardmen, e


depois que ele colocou a armadura, tornou-se resistente o suficiente para desviar todas
e quaisquer armas que os Lizardmen possuíssem — até mesmo a Frost Pain. Sua dureza
já estava praticamente a par do adamantite.

Além disso, quem a usasse normalmente perdia capacidade cognitiva, virando um defi-
ciente mental, sendo assim, já que o atual detentor ainda era capaz de esboçar raciocínio
lógico, isso mais que provava seu quão inteligente era. Depois disso, a tribo Razor Tail
não mais decidiu a sucessão hierárquica por lutas, mas por inteligência.

“P-pântano aqui. Fundação rasas. Muros... frágeis.”

“Entendo. Então, devemos ser agressivos?”

Perguntou Crusch.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


121
“Hm, agora tão falando minha língua. E melhor partir pra cima do que aguentar um
cerco. Eu acho que cada um aqui aguenta três— não, quatro inimigos? Só meter a por-
rada neles, deve ser moleza.”

Quando ouviram as palavras de Zenberu, os outros se entreolharam. Eventualmente,


Crusch mudou de assunto.

“A questão agora é se o inimigo tem reforços... eles ainda podem estar organizando suas
forças.”

“Hmmm... isso é difícil de dizer. Dado o tamanho da clareira, não acho que deve ter mais
espaço para tropas... A não ser que posicionem eles na floresta mesmo.”

Os undeads não precisavam comer, beber ou descansar, e não precisavam de grandes


acampamentos. Portanto, era muito difícil dizer seus números baseado no tamanho de
seus acampamentos.

“Em nome da segurança, melhor considerar um cenário de defesa.”

“Nesse caso, nós, a tribo Red Eye, fortaleceremos as barricadas, e esperaremos que o
cerco seja menos difícil. Espero que todos nos ajudem com isso.”

Os outros chefes concordaram com a cabeça, inclusive o decepcionado Zenberu.

“Enfim, vamos melhorar as defesas imediatamente. Também é preciso estabelecer uma


cadeia de comando.”

“Para começar, vamos atribuir o comando dos sacerdotes para a Crusch-san. Ela tam-
bém terá autoridade sobre eles em combate.”

Todos concordaram com o chefe da Small Fang, exceto um:

“Todos os chefes devem formar um esquadrão à parte.”

Disse Zaryusu, que tragou toda a atenção para si.

“Hah. Então quer isso, irmãozinho?”

“E-esquadrão de elite... Planeja?”

“Correto. O inimigo é numeroso e, se não eliminarmos o comandante, já podemos dar


adeus a qualquer vitória. Além disso, se vierem monstros como aquele mensageiro, nos-
sos números não vão servir de nada. Vamos precisar dos melhores para dar conta.”

“Mas não acha que deixar as nossas tropas sem líderes, vai ficar bagunçado demais?”

Capítulo 3 O Exército da Morte


122
“Apenas... es-escolha... Chefe Guerreiro, substituto.”

“A gente não precisa de comandante. É só partir pra cima e meter o pau em quem apa-
recer!”

“...Que tal ter o esquadrão de elite emitindo ordens dentro do cerco e só sair quando o
comandante inimigo das às caras, ou se a situação ficar ruim?”

Zenberu se animou:

“Por mim, tudo bem! Beleza então, vai ser um esquadrão de seis com todos aqui, inclu-
indo o Zaryusu.”

“Não, muita gente junta, melhor três para cada lado.”

Dividir-se em duas equipes significava que poderiam lutar em dois lugares, mas tam-
bém significava que sua força seria dividida e enfraquecida.

“Uma equipe será a unidade de caça e destruição para lidar com os comandantes inimi-
gos, enquanto os outros serão responsáveis por gerenciar as tropas inimigas.”

“Já que é assim, acho que ter três chefes formando uma equipe deve funcionar. O
Zaryusu-san pode se agrupar com os chefes que trouxe. Vamos adaptar os objetivos da
equipe para atender às circunstâncias.”

Complementou o chefe da Small Fang. Já Shasuryu indagou seu irmão com:

“Hm, parece bom. Concorda com ele, Zaryusu?

“Claro. Crusch, Zenberu, vocês se opõem?”

“Eu? Não me importo.”

“Nem eu. É uma pena que não dê pra gente se exibir um pouco, mas vou obedecer ao
vencedor.”

“Ainda há quatro dias para o ataque inimigo, não é?”

“Sim.”

“Então, há algo que precisa ser feito o quanto antes?”

“Precisamos estocar pedras de atirar e fortalecer nossos muros. Também precisamos


deixar que as várias tribos se misturem e estabeleçam relações de confiança, funciona-
remos com mais harmonia assim.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


123
“Nós da tribo Small Fang gostaríamos que o Shasuryu lidasse com isso, assim como an-
tes.”

“Nós bem... com isso. Vocês dois... Concordam?”

Crusch e Zenberu acenaram.

“Eu assumirei o comando, então. Depois disso, decidiremos nossas tarefas nos próxi-
mos três dias.”

♦♦♦

Depois que o trabalho do dia terminou, Zaryusu caminhou silenciosamente pela aldeia
movimentada. Vários Lizardmen viram a marca em seu peito e a Frost Pain em sua cin-
tura, assim cumprimentaram-no respeitosamente.

Seria meio trabalhoso, mas ele decidiu respondê-los para aumentar o moral. Portanto,
ele colocou um olhar confiante e digno em seu rosto e respondeu com uma voz vigorosa
e destemida.

Desta forma, Zaryusu chegou ao local dos muros ao redor da aldeia. Muitos Lizardmen
estavam lá, toda a sua atenção focada em erguer barricadas o mais rápido possível.

Primeiro, eles usaram a vegetação para servir de base para pilares de madeira e preen-
cher os espaços entre eles. Depois cobriram-nos com um pouco de lama mais seca. Os
sacerdotes então encantavam as estruturas quando completas. Havia rachaduras na su-
perfície, provavelmente a água havia evaporado completamente. Então, eles repetiram
o mesmo processo do outro lado.

“Ah, Zaryusu. Algo de errado?”

“Nada, eu só queria ver o que você estava fazendo.”

Água espirrou suavemente sobre o chão molhado enquanto Zaryusu caminhava até
Crusch, que ainda estava em seu traje de monstro planta. Então, ele apontou para a ati-
vidade incessante diante dele.

“O que é isso?”

“É o nosso muro de terra. Nós não sabemos que tipo de inimigos vamos enfrentar, então
eu queria dificultar qualquer ataque... mas ainda não terminamos nem a metade, e nem
vamos ter tempo suficiente para tal.”

“Entendi... Mas não vai quebrar facilmente, sendo feita toda de terra?”

Capítulo 3 O Exército da Morte


124
“Vai ficar bem. Uma camada fina de terra se quebra fácil, mas um muro dessa grossura
não. Mas não é perfeita, não pudemos reunir material suficiente devido à falta de tempo
e caso chova, vai ficar mais fraca, mas não vai desmoronar tão fácil assim.”

Quando pensou a respeito, praticamente qualquer coisa seria difícil de destruir se fosse
suficientemente grossa.

Dezenas de Lizardmen estavam trabalhando tão rápido quanto podiam diante de


Zaryusu, mas ainda assim estavam a passos de tartaruga. Mesmo se eles a engrossassem
por três dias seguidos, ainda não seria forte o bastante, mas era melhor que nada.

“Também estamos melhorando as estruturas das cercas em lugares que não podemos
dar cobertura, vai evitar que rompam facilmente.”

Disse Crusch apontando para uma direção.

Eles haviam arrancado os pilares de madeira e os erguidos em uma forma triangular. O


espaço entre eles era atado com cordas frouxas que haviam sido tecidas a partir de fibras
vegetais. Zaryusu sentiu que eram semelhantes à cerca em torno da aldeia dos Red Eye.

“Como funciona?”

“Vamos colocar objetos pesados naquelas aberturas triangulares, isso vai garantir que
não caiam se forem empurradas ou puxadas. E aquelas cordas são destinadas a obstruir
os movimentos. Se mordem a isca, podemos feri-los com espadas ou outras armas bran-
cas, por isso deixamos elas mais frouxas, foi de propósito.”

Crusch respondeu avidamente à pergunta de Zaryusu.

Apenas ela havia recebido sabedoria de Zaryusu durante as viagens que teve nos últi-
mos dias, então, ficou muito contente em ser capaz de distribuir sua sabedoria pela pri-
meira vez. Além disso, havia outra emoção por trás disso.

“Muito bom... Desse jeito que fazem fica bem resistente.”

Aquelas palavras de elogio respeitoso encheram Crusch de orgulho.

Zaryusu assentiu vigorosamente.

Eles estavam acelerando o plano de converter a aldeia em uma fortaleza o máximo que
pudessem. Não poderia ser comparável as defesas de humanos ou Dwarfs, mas apesar
disso era o melhor que podiam fazer nessas terras úmidas, onde movimentar-se era di-
fícil.

“Estava pensando em algo, Zaryusu... você já contou aos guerreiros...”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


125
Assim que Crusch disse isso, o vento carregou o clamor dos guerreiros para eles. Suas
vozes estavam cheias de excitação e pareciam bastante sangue-quente.

“O que está acontecendo? Já ouvi essas palmas antes... Será que é!? Estão torcendo por
uma briga. O seu irmão inventou de duelar com o Zenberu agora?”

Zaryusu assentiu. Então ele percebeu que Crusch havia revelado seu rosto e parecia
bastante preocupada.

“...Seu irmão é o supremo comandante. Não vai dar problema se ele for derrotado?”

“Eu não sei. Mas meu irmão é bem forte. Sempre que ele notar uma abertura para usar
suas magias sacerdotais, ele ficará ainda mais forte. Contra ele, até eu posso perder.”

A força de Shasuryu ficava extraordinária depois de conjurar várias magias em si


mesmo. Além disso, embora ele provavelmente não usasse magias ofensivas durante
uma batalha simulada, se o fizesse, mesmo Zaryusu — antes de ser dono da Frost Pain
— não seria páreo para ele.

Afinal, quando Zaryusu derrotou o antigo dono da Frost Pain, a única razão pela qual o
dono não usava sua habilidade especial — limitada a três utilizações por dia — em
Zaryusu foi porque todas as três ocorrências já haviam sido gastas em Shasuryu.

“Isso é bom...”

Enquanto Zaryusu pensava como ele deveria mostrar à preocupada Crusch a forma com
que seu irmão lutava, ele se lembrou de uma preocupação oculta que ele não havia le-
vantado até agora.

Ele não sabia se deveria mencionar, mas no final decidiu fazê-lo.

Era um pouco chato falar de algo que escondera de propósito antes, ainda mais agora,
que todos já estavam trabalhando sem parar. No entanto, ele não conseguia segurar a
aflição que sentia, e também não queria esconder nada dela.

“Há uma coisa que me preocupa—”

Crusch sorriu ao ouvir o desconforto na voz de Zaryusu. Parecia zombar dele. O olhar
em seu rosto destoava do clima no ar — ou com a personalidade dela — e Zaryusu ficou
sem palavras. Portanto, foi Crusch quem falou em seu lugar.

“—É o que você não mencionou antes? Digo, e se o inimigo já tivesse previsto nossos
planos e antecipado que formaríamos uma aliança, estou correta?”

Zaryusu ficou em silêncio, pois ela acertou em cheio.

Capítulo 3 O Exército da Morte


126
Em outras palavras, a possibilidade de que o inimigo tivesse dado a eles todo esse
tempo para se prepararem, informou-os a ordem de ataque e permitiu que Zaryusu for-
masse sua aliança, tudo com o propósito de reunir as tribos para que todos pudessem
ser esmagados de uma vez.

“Bem, é a sua cara ficar preocupado com isso, desde que te conheci, notei que é bem
minucioso no que faz. Ainda assim, não importa o que aconteça, é melhor combater o
inimigo primeiro e se preocupar com o resto mais depois.”

“Mesmo se vencermos, o inimigo provavelmente não desistirá. Ou melhor, eu duvido


muito que vão desistir.”

“Isso pode ser verdade, mas você estava certo sobre o que disse naquela noite. Mas
olhe—”

Não parecia haver nada na direção em que Crusch estava apontando. No entanto,
Zaryusu entendeu que ela estava se referindo a toda a aldeia.

“Você vê como todas as tribos Lizardmen estão lutando juntas pelo mesmo objetivo?”

De fato, os Lizardmen estavam todos trabalhando para o mesmo objetivo.

Zaryusu recordou a grande festa realizada para celebrar a aliança das Cinco Tribos. As
pessoas de cada tribo se misturaram sem preconceitos. É claro que seria errado dizer
que os sobreviventes das duas tribos destruídas não nutriam rancor, mas, no mínimo,
conseguiram engolir seu ressentimento.

“Que irônico...”

Zaryusu murmurou para si mesmo. Ele sempre pensou que eles se manteriam isolados
por um longo tempo, mas ele não esperava ver todos unidos, como uma só tribo, devido
a um inimigo externo.

“Precisamos proteger as possibilidades que o futuro nos reserva, Zaryusu. As tribos se


unindo certamente nos estimularão a crescer.”

Zaryusu nunca tinha visto as técnicas de construir muros com terra. Contudo, agora que
todas as outras tribos também sabiam disso, as tribos dos Lizardmen certamente cons-
truiriam tais fortificações no futuro. Essas paredes resistentes seriam capazes de impe-
dir incursões de monstros. Se isso acontecesse, o número de ataques a crianças diminui-
ria drasticamente e os números dos Lizardmen aumentariam.

E conforme o número de membros aumentasse, eles podiam usar os criatórios de pei-


xes de Zaryusu para alimentá-los.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


127
Talvez em um futuro próximo, esse pântano possa se tornar o lar de uma tribo de Li-
zardmen grande e unida.

“Vamos vencer, Zaryusu. Não podemos prever o que acontecerá no futuro e, mas de-
pendendo do resultado, tudo ficará mais claro que vencermos a batalha. Se tudo der
certo, vamos prosperar unidos e não precisaremos nos preocupar em matar uns aos ou-
tros ou ter escassez de alimentos.”

Crusch sorriu. Zaryusu lutou contra a onda de emoção dentro dele, porque se ele dei-
xasse fluir livremente, as consequências poderiam ser irrecuperáveis. Ainda assim, ha-
via uma coisa que ele tinha a dizer a qualquer custo.

“Você realmente é uma fêmea incrível — depois da batalha, eu só peço que me diga a
resposta para a pergunta que fiz quando nos conhecemos.”

O sorriso de Crusch ficou ainda mais brilhante.

“Sim, Zaryusu. Eu vou te dizer depois que tudo acabar—!”

♦♦♦

Demiurge cantarolava alegremente enquanto trabalhava.

Ele pegou um osso polido e considerou onde melhor encaixá-lo. Em pouco tempo —
talvez ele já tivesse decidido — ele raspou parte de sua ponta e inseriu no objeto diante
dele, algo que ele estava construindo.

O osso raspado se encaixava perfeitamente em seu lugar, como se sempre tivesse per-
tencido ali.

Se a construção de uma casa sem pregos fosse chamada de “armação de madeira”, a


técnica de Demiurge poderia ser chamada de “armação óssea”.

“Eu tenho um bom pressentimento sobre isso.”

Demiurge sorriu enquanto passava os dedos pelos ossos. Ele sentiu que ele produziria
um excelente trabalho se continuasse assim.

“Ainda assim... preciso de um osso da coxa de um homem de cerca de cento e vinte cen-
tímetros de comprimento.”

Ele ainda poderia completar sem o osso, mas o produto final não ficaria tão bom.

Em circunstâncias normais, ele deixaria isso de lado, mas esse presente era destinado
ao amado mestre a quem ele devia sua eterna lealdade, então ele tinha que completá-lo
com o melhor de sua capacidade.

Capítulo 3 O Exército da Morte


128
“Se eu pudesse encontrar um osso adequado.”

Em alto astral, Demiurge seguiu em frente.

A verdade é que Demiurge gostava de fazer objetos como esses. Não era por um amor
a artesanatos ósseos, mas por amar artesanatos em geral. Ele estava muito interessado
nesse campo, abrangia itens que iam de objetos simples à mobília, e suas técnicas haviam
superado às de um amador casual.

De fato, seu artigo atual provocaria a surpresa de praticamente qualquer um que o visse,
desde que desconsiderasse os materiais de que era feito.

Essa barraca também continha outros itens, como uma estátua de seu mestre feita de
lava solidificada, todos os tipos de cadeiras, braçadeiras variadas e assim por diante. To-
das eram obra de Demiurge. Mesmo que algumas dessas peças tenham sido construídas
mais para funcionalidade ao invés de decoração, elas ainda eram excelentes exemplares
de artesanato.

Demiurge pegou um pedaço de osso no canto da tenda e começou a avaliá-lo. Nesse


momento, ele sentiu alguém na entrada da tenda.

Ele gentilmente colocou o osso de volta e segurou o item insubstituível que seu mestre
lhe emprestara, antes de focar sua atenção no movimento externo. Em circunstâncias
normais, quem o esperaria seria seus vassalos ou camaradas. Ninguém poderia violar
essa defesa de três camadas sem o conhecimento de Demiurge. Ainda assim, era verdade
que ele tinha que ter cuidado com o inimigo que havia dominado Shalltear.

Alguns segundos depois, alguém abriu a aba da porta de tecido. Ele estava vestido de
branco e usava uma máscara preta de pássaro com um bico comprido.

Era Pulcinella.

Uma espécie de palhaço criado pelos Seres Supremos, assim como Demiurge. Ele tinha
sido designado a ajudar Demiurge nessa operação.

Depois de garantir que ele não estava sob controle mental, a tensão deixou os olhos de
Demiurge. Ao mesmo tempo, ele soltou o artefato em sua mão.

“Demiurge-sama, a esfola está completa.”

Demiurge sentiu uma pontada de pesar por essas palavras.

Originalmente, Demiurge teria feito esse trabalho e saboreado cada segundo, mas a ne-
cessidade de ser cauteloso com um inimigo misterioso e poderoso implicava que ele não
poderia deixar este lugar por qualquer coisa. Assim, entregou a tarefa a Pulcinella.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


129
Tomando cuidado para manter suas emoções escondidas, Demiurge deu a Pulcinella
novas ordens.

“Bom trabalho. Então, comece o próximo passo imediatamente. Seria rude apresentar
algo neste estado ao Ainz-sama.”

Quando Pulcinella se curvou graciosamente, Demiurge perguntou:

“Então, quantos morreram?”

“Nenhum. Graças aos carrascos, eles só desmaiaram, então devemos ser capazes de es-
folá-los logo. Infelizmente, alguns não estavam dispostos a aceitar a magia de cura a prin-
cípio... mas estava dentro dos parâmetros aceitáveis, por isso não é um problema.”

“Maravilhoso.”

Reunir as matérias-primas era uma tarefa árdua e eles precisavam realizar várias esfo-
lações para recuperar seu investimento. Mesmo assim, ele não usara anestesia nem mé-
todos indolores para remover as peles.

“Eu quero levar alegria a todos.”

Essa súbita interjeição fez Demiurge pensar na personalidade de Pulcinella.

Pulcinella era famoso em Nazarick por sua bondade e misericórdia. Ele havia sido cri-
ado para deixar todos felizes, e ainda assim foi destinado a cumprir esse propósito.

“Todos na Grande Tumba de Nazarick estão felizes em servir o grande Ainz-sama.”

Demiurge concordou.

“Obviamente. Então, uma pergunta para você, Pulcinella, está insinuando que todos os
outros ficarão felizes em servir Nazarick?”

“Como poderiam? Não quis dizer isso. Servir ao Ainz-sama é verdadeiramente uma
coisa feliz, que me faz querer derramar lágrimas de alegria, mas não pode ser contada
como felicidade verdadeira se for forçada.”

“Oh, então o que deve ser feito?”

“Simples. Escolha uma pessoa e corte o braço dela. Então, os outros se comparam a essa
pessoa e se consideram afortunados. Será maravilhoso! E então, para fazer a pessoa cujo
braço foi cortado feliz, você simplesmente corta as pernas das outras pessoas! Oh, quão
felizes eu os fiz ser!”

Capítulo 3 O Exército da Morte


130
Demiurge acenou para o palhaço, que estava rindo para o alto céu.

“Entendo. É uma ótima idéia.”

Parte 2

O tempo passaria devagar se tudo o que fizesse fosse esperar. No entanto, praticamente
voou quando se preparava para uma tarefa com um limite de tempo.

A hora marcada havia chegado.

Hoje, o sol escaldante arrastava-se lentamente pelo céu, que era de um azul anil e sem
nuvens. Não havia som do vento, e o mundo estava envolto em um profundo silêncio,
que se podia ouvir o proverbial som de um alfinete caindo.

A tensão pré-batalha encheu o ar.

Alguém engoliu em seco e a respiração de alguém se acelerou.

Mesmo sem saber ao certo quanto tempo havia passado, eles decidiram ficar reunidos
em silêncio—

Um buraco apareceu no céu e uma nuvem se elevou. Ela se expandiu tão rapidamente
quanto a de antes, até que envolveu todo o céu.

Não demorou muito até que as nuvens obscurecessem o céu, quando a luz do sol se foi
e só restou escuridão—

Os Lizardmen viram incontáveis undeads saírem da floresta e passarem pela fronteira


que compartilhavam com o pântano. As árvores os obscureceram e impediram que con-
seguissem uma contagem exata, então tudo o que podiam ver era uma maré interminá-
vel que se arrastava para frente.

Os atacantes eram 2200 Zombies, 2200 Skeletons, 300 feras undeads, 150 arqueiros e
100 Cavaleiros Skeletons, uma tropa total de 4950, não incluindo o comandante e sua
comitiva.

Os defensores eram o exército das Cinco Tribos.

A tribo Green Claw contribuiu com 103 guerreiros, 5 sacerdotes, 7 caçadores, 124 ma-
chos e 105 fêmeas.

A tribo Small Fang contribuiu com 65 guerreiros, 1 sacerdote, 16 caçadores, 111 ma-
chos e 94 fêmeas.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


131
A tribo Razor Tail contribuiu com 89 guerreiros armadurados, 3 sacerdotes, 6 caçado-
res, 99 machos e 81 fêmeas.

A tribo Dragon Tusk contribuiu com 125 guerreiros, 2 sacerdotes, 10 caçadores, 98 ma-
chos e 32 fêmeas.

A tribo Red Eye contribuiu com 47 guerreiros, 15 sacerdotes, 6 caçadores, 59 machos e


77 fêmeas.

Suas forças combativas combinadas eram de 429 guerreiros, 26 sacerdotes, 45 caçado-


res, 491 machos e 308 fêmeas, um total de 1.380 Lizardmen, sem incluir os chefes e
Zaryusu.

Uma batalha desequilibrada de mais de três para um estava prestes a começar.

♦♦♦

Havia uma cabana de madeira.

Era de design simples e feita de madeira pura, com pouca ornamentação. Mas era bem
alta, um total de cinco metros do chão ao teto, e mais de vinte metros de comprimento e
largura.

Não havia quase nenhuma mobília aqui, apenas um imenso espelho pendurado na pa-
rede, uma enorme e robusta mesa e as cadeiras em volta.

Havia vários seres sentados nessas cadeiras e, na mesa, havia muitos pergaminhos en-
rolados — pergaminhos mágicos.

“E este é o últimooo. Um pergaminho de teletransporteee.”

Quando a voz estridente — que lembrava a imagem de uma jovem garota — pronun-
ciou essas palavras, outro pergaminho foi colocado sobre a mesa.

Quem o fez foi uma garota humanoide com uma roupa de empregada.

Ela era adoravelmente fofa, com o cabelo preso em dois coques no lado da cabeça. No
entanto, ela estava cercada por um ar estranho e seus olhos eram bastante peculiares.

Os ditos olhos eram grandes e redondos, pareciam bolinhas de gude, mas não havia
brilho algum. Além disso, tais olhos não piscavam.

Seu corpo esbelto estava totalmente envolto em um uniforme encantador de empre-


gada, e o colarinho alto obscurecia completamente seu pescoço. Além de seu rosto, ne-
nhuma parte de sua carne estava exposta.

Capítulo 3 O Exército da Morte


132
Ela era uma das Empregadas de Batalha das Pleiades — Entoma Vasilissa Zeta.

“Ainda há os pergaminhos deee 「Message」, mas a mesa está ficando bagunçada, al-
guém pode vir limpar a mesa, por favooor?”

Entoma olhou para o ser mais alto sentado à mesa, que assentiu lentamente em res-
posta.

“Arrumem. Isso.”

“Issoo, nhom nhom! Arrumem bem rápido entãooo!”

Depois de ouvir Cocytus concordar com as instruções de Entoma, os servos ao redor da


mesa começaram a trabalhar para limpar a mesa.

Cada um deles era um ser heteromórfico. Alguns pareciam louva-a-deus, alguns pare-
ciam formigas e um até parecia um cérebro gigantesco.

Cada um deles tinha uma aparência diferente, mas eles tinham duas coisas em comum.
A primeira, eles eram vassalos de Cocytus, e a segunda, todos serviam Nazarick.

Por essa razão, eles obedeceram Entoma, apesar do fato dela ser mais fraca do que eles.

Dentro da cadeia de comando da Grande Tumba de Nazarick, o fator mais crucial não
era o poder bruto, mas sim se eles haviam ou não sido criados por um dos Seres Supre-
mos. Desse ponto de vista, Entoma se classificava muito bem.

Depois de verificar que a mesa tinha sido limpa—

“Finalmenteee, pegues estes para o senhoor, Cocytus-samaaa.”

—Entoma falou aquelas palavras sem mexer a boca, e então pegou a bolsa a seus pés e
providenciou vários pergaminhos enrolados.

“Estes são pergaminhos deee 「Message」. Segundo o Ainz-sama, eles foram feitos com
a pele que o Demiurge-samaaaa trabalhou com afinco para obter. Ainz-sama também
disse que gostaria de ser informado seee algum problema surgir com o uso delees.”

“Mesmo? Compreendo... Eu. Informarei. A. Ele. Se. Tal. Problema. Ocorrer.”

Cocytus pegou os pergaminhos de Entoma com uma de suas quatro mãos.

“Agora. Isso... Parece. Que. O. Demiurge. Está. Mais. Avançado. Do. Que. Eu.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


133
Ele sorriu amargamente para os servos em volta dele quando disse isso. Seus servos
responderam com sorrisos irônicos.

Quando pegou os pergaminhos, Cocytus mergulhou em contemplação.

Cocytus tinha ouvido uma vez que o suprimento de pergaminho de baixo nível de Na-
zarick estava acabando.

Encontrar um lugar para reabastecer e armazenar o básico para produzir vários itens
era um problema que precisava ser resolvido o quanto antes. As reservas ainda eram
suficientes para o momento, mas se continuassem a usá-las, acabariam se esgotando um
dia. Portanto, todos — incluindo seu mestre — começaram a trabalhar para corrigir essa
situação.

Parte da solução envolveu as macieiras no 6º Andar, das quais ele tinha ouvido falar.

No entanto, este foi um problema que Cocytus — que era responsável pela segurança
de Nazarick — não podia fazer nada. Afinal de contas, desde que ele foi designado para
tarefas de proteção, ele não podia ir procurar soluções do lado de fora.

Demiurge — que havia saído para o lado de fora, certamente resolveria esse problema
no final. Pode-se dizer que era de se esperar.

Seu amigo cumpriu sua missão.

Foi um feito admirável, e Cocytus ficou feliz por ele. No entanto, as chamas do ciúme
ardiam em seu âmago. O fato de que seu companheiro poderia ajudar um dos Seres Su-
premos — o mestre a quem ele adorava — o encheu de ciúmes.

Sua própria conduta era a defesa de Nazarick.

Essa difícil tarefa era sem dúvida mais importante do que qualquer ordem dada aos
outros Guardiões. Se questionado, qualquer vassalo concordaria que era uma tarefa im-
portante. Afinal de contas, eles não podiam deixar que a ralé comum colocasse os pés no
santuário dos Seres Supremos.

No entanto, Cocytus não poderia provar sua devoção e lealdade já que não tinha ne-
nhum intruso.

Foi por isso que Cocytus quis provar-se aqui obtendo bons resultados.

Para os Guardiões, ajudar seu mestre era uma fonte de grande deleite. Cocytus queria
experimentar essa alegria também.

Atualmente, uma chance para isso estava diante dele.

Capítulo 3 O Exército da Morte


134
Cocytus se virou para olhar a imagem dentro do espelho e apertou o pergaminho com
força.

O espelho não refletia o interior da sala, mas mostrava parte do pântano. A cena dentro
[Espelho d a V i s ã o R e m o t a ]
do Mirror of Remote Viewing foi a razão pela qual Cocytus passou os últimos dois dias
na cabana de troncos que Aura construíra.

Esta batalha — quando se considerava o poder absoluto da Grande Tumba de Nazarick,


era mais como um massacre — era pouco mais que uma maneira de recuperar cadáveres.
Quando ele recebeu essa tarefa sagrada, o mestre de Cocytus também estabeleceu várias
regras.

A primeira regra foi que Cocytus estava proibido de pisar no campo de batalha. Natu-
ralmente, isso se estendia também aos seus servos. Ele deveria usar as forças alocadas a
ele para lidar com esse problema.

A segunda regra era que o Elder Lich, designado como comandante do exército, seria
guardado até o final.

A terceira regra era que ele tinha que tomar sozinho o máximo possível de decisões.

Havia outros detalhes além disso, mas essas eram as mais importantes das ordens que
ele recebera.

Sua tarefa era conseguir a vitória usando apenas as forças implantadas nas margens do
lago. No entanto, se obtivesse sucesso, ele poderia demonstrar sua lealdade ao seu
grande mestre.

“Muito. Obrigado, Por. Favor. Transmita. Meus. Agradecimentos. Para. O. Ainz-sama.”

Entoma assentiu desinteressadamente.

“Então... Você. Retornará?”

“Não. Recebiii instruções para observar o resultado da batalhaaa.”

Então ela deveria ser uma observadora.

O sangue de Cocytus ferveu quando ele percebeu a importância de sua tarefa.

Já era hora de começar.

Cocytus ativou 「Message」 e deu suas ordens ao comandante do exército da morte.

“—Avancem.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


135
♦♦♦

Duas fogueiras brilhavam em ambos os lados da plataforma elevada, banhando os ar-


redores com uma luz bruxuleante.

Na plataforma estavam vários Lizardmen, incluindo chefes, líderes e outras figuras im-
portantes de cada tribo.

Diante da plataforma havia muitos Lizardmen prontos para a batalha. O clamor deles
subia e caía como uma onda. Isso se originava de seu desconforto, preocupação e medo
— eles lutaram para esconder todas essas emoções, mas não conseguiram esconder o
tremor em seus corações.

Estavam às vésperas da batalha. Seus amigos, companheiros e familiares poderiam se


tornar cadáveres em um instante, ou eles mesmos poderiam cair em combate. Logo
iriam para o lugar cruel que era o campo de batalha.

Shasuryu Shasha deu um passo à frente dos chefes reunidos e interrompeu sua como-
ção.

“Lizardmen aqui reunidos, sua atenção!”

Uma voz majestosa ecoou pelo ar. Silenciava o entorno imediato e fazia as palavras de
Shasuryu soarem excepcionalmente ressonantes.

“Confesso que nosso inimigo tem um grande número.”

Ninguém fez um pio, mas todos podiam sentir os tremores no ar.

Após uma breve pausa, Shasuryu falou novamente.

“Mas não precisam ter medo! Pela primeira vez em nossa história, as Cinco Tribos se
uniram como uma só! Através da nossa aliança, agora somos uma só tribo! Portanto, os
ancestrais das Cinco Tribos cuidarão de nós — até mesmo os espíritos de outras tribos
nos protegerão!”

“Sacerdotes!”

Com esse comando, Crusch deu um passo à frente, diante dos sacerdotes das Cinco tri-
bos, e então ela tirou a roupa para revelar suas escamas brancas.

“Esta é Crusch Lulu, a líder dos Sumo Sacerdotes!”

Crusch deu outro passo à frente enquanto Shasuryu a chamava pelo nome.

“Conjure os antepassados sobre nós!”

Capítulo 3 O Exército da Morte


136
“—Ouçam bem, filhos da Grande Tribo!”

Como essa tribo recém-formada lidaria com isso?

Com uma determinação tão dura quanto aço em sua voz, Crusch continuou. Às vezes
sua voz era aguda, às vezes era baixa, às vezes parecia que ela estava rosnando, e às
vezes parecia que estava cantando.

No início, quase todos sentiram asco de Crusch, a albina. No entanto, depois de ver sua
confiança inabalável, esse desgosto gradualmente desapareceu.

O corpo de Crusch balançava gentilmente enquanto ela falava. Suas escamas brancas
brilhavam à luz da fogueira — a luz refletida fazia parecer que os espíritos dos ancestrais
haviam caído sobre Crusch.

Havia olhares de adoração reverenciada no rosto de todos.

“Agora que as Cinco Tribos são uma, significa que os espíritos das Cinco Tribos prote-
gerão a todos! Eis senhoras e senhores! Testemunhem o advento dos inumeráveis ante-
passados através das gerações, enquanto eles tomam presença ao vosso lado!”

Crusch abriu vigorosamente os braços e apontou para o céu. Todos olharam para cima,
mas tudo o que viram foi uma extensão do céu noturno comum. Não havia espíritos des-
cendo nem nada.

No entanto, alguém murmurou alguma coisa.

“Que luz é aquela?”

A voz fraca ficou mais alta, e vários Lizardmen acrescentaram: “Eu estou vendo”. Al-
guém disse que viu uma luz fraca, alguém gritou sobre um Lizardmen, alguém murmu-
rou sobre um peixe gigante, alguém exclamou que havia uma criança e alguém murmu-
rou incrédulo sobre um ovo.

Havia apenas uma coisa dentro dos corações dos Lizardmen — que os espíritos de seus
ancestrais realmente estavam com eles.

“Os espíritos vieram nos proteger!”

Deste modo, fazia sentido que alguém gritasse exatamente isso.

“Sintam! Sintam o poder deles entrando em seus corpos!”

A voz de Crusch parecia falar diretamente para suas almas. Soava como se estivesse
vindo de um lugar distante e muito próximo ao mesmo tempo.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


137
Quando os Lizardmen ouviram sua voz, eles sentiram algum tipo de força preenchendo-
os.

“Sintam! Sintam a força que os ancestrais das Cinco Tribos lhes deram!”

Agora, todos os Lizardmen presentes se sentiam destemidos.

Eles podiam sentir o intenso poder dentro deles. Essa sensação de sangue quente eli-
minou seu desconforto anterior; seus corpos brilhavam de dentro com o calor, como se
tivessem acabado de beber vinho.

Essa foi a prova certa de que os espíritos dos ancestrais haviam descido ao reino mortal.

Crusch desviou os olhos da multidão de Lizardmen de aparência embriagada e acenou


para Shasuryu.

“Ouçam-me, Lizardmen. Os ancestrais estão conosco agora. O inimigo nos supera, mas
vamos perder?”

“NÃO!”

O ar tremeu quando os Lizardmen — com olhares vagamente bêbados em seus rostos


— responderam a Shasuryu em uníssono.

“Exato! Agora que os espíritos dos ancestrais estão conosco, não há como perder! Va-
mos derrotar o inimigo e oferecer esta vitória para eles!”

“OHHHHH!”

O moral de todos estava no ápice. No lugar dos Lizardmen inquietos de antes, agora só
haviam guerreiros famintos por batalha.

Este não foi um efeito mágico como 「Charm」. Mesmo com tantos druidas, eles não
tiveram o luxo de conjurar magias em todos aqui antes do início da batalha.

Pelo contrário, esse foi o resultado da bebida especial que os Lizardmen haviam bebido
antes de começar a cerimônia.

A bebida era uma receita transmitida através das gerações, que dava coragem a quem
a bebesse. Foi feito com ervas que induzia um breve período de intoxicação, euforia e
alucinações naqueles que a consumissem.

O resultado do líquido era um estado de consciência alterada.

Capítulo 3 O Exército da Morte


138
O discurso de Crusch tinha a intenção de ganhar tempo para os efeitos entrarem em
ação.

Quando se conhecia a verdade, dificilmente parecia impressionante. Porém, para aque-


les que testemunhavam esse espetáculo com seus próprios olhos — em outras palavras,
os Lizardmen que viam a prova de que seus ancestrais estavam caminhando com eles —,
esse ritual inflamava a coragem dentro deles.

“Então, começaremos a aplicar as pinturas de guerra. Antigamente, cada tribo teria sua
própria cor, mas agora que os espíritos das Cinco tribos residem dentro de todos nós,
usaremos as cores de cada tribo para todos!”

Vários sacerdotes pegaram panelas de barro e andaram entre os Lizardmen.

Os Lizardmen se decoraram usando a tinta das vasilhas. Eles acreditavam que os espí-
ritos ancestrais dentro deles guiavam suas mãos, então deixavam as pontas dos dedos
vagarem livremente, traçando desenhos por todo o corpo.

Muitos deles pintaram seus corpos inteiros, possivelmente graças a esse “advento” es-
piritual. No entanto, quase nenhum dos Lizardmen da Green Claw aplicou tinta a si mes-
mos. Isso porque Zaryusu, Shasuryu e os membros de elite das tribos não o fizeram. Em
outras palavras, era uma forma de idolatria.

Depois de olhar em volta e se convencer de que todos estavam prontos, Zaryusu sacou
sua espada e apontou para o portão da aldeia.

“Avante!”

“OHHHHHH!”

Inúmeros rugidos ecoaram pelo ar.

Parte 3

As tropas da Grande Tumba de Nazarick foram divididas em dois grupos, então se po-
sicionaram no pântano.

A divisão Zombie estava no flanco esquerdo dos Lizardmen, enquanto a divisão Skele-
ton estava à sua direita. Os Arqueiros e Cavaleiros Skeletons estavam posicionados atrás
da divisão Skeleton.

As Feras Zombies eram mantidas na retaguarda, como se fossem uma unidade de co-
mando.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


139
Os Lizardmen que os enfrentariam também estavam divididos em duas forças, apesar
de seus números relativamente pequenos. Os caçadores e as fêmeas estavam do lado dos
Zombies, enquanto os machos e guerreiros estavam do lado dos Skeletons. Em contra-
partida, os sacerdotes permaneciam dentro da aldeia, protegidos pelos muros e barrica-
das.

Os Lizardmen haviam saído da aldeia pois sabiam que não adiantava resistir a um cerco.
Não viria ajuda, e seus muros eram tudo menos resistentes. Além disso, o inimigo era
um exército dos mortos, que não necessitava de provisões ou descanso.

Dadas estas circunstâncias profundamente desfavoráveis, um cerco seria uma péssima


idéia.

No entanto, uma vez que os Lizardmen se agruparam do lado de fora, eles compreen-
deram totalmente a tremenda disparidade entre suas forças e as do inimigo.

Uma situação em que um enfrentasse três ainda pode ser comparada com a de dez que
enfrentam trinta. Mas se mil tivessem que lutar contra três mil, a grande diferença em
suas respectivas forças tornou-se muito aparente. Mesmo que três mil undeads não fi-
zessem mais nada além de ficar em formação, ainda assim, eles eram uma visão muito
intimidante.

Apesar das circunstâncias, os Lizardmen não mostraram nenhum sinal de medo. Seus
ancestrais estavam com eles agora — números não significavam nada diante disso.

Logo, as forças undeads começaram um avanço lento. Os Zombies e Skeletons começa-


ram a se mover, enquanto os Arqueiros e Cavaleiros Skeletons permaneciam onde esta-
vam. Talvez eles estivessem sendo mantidos em reserva.

Os Lizardmen também avançaram.

“OHHHHHH!”

As zonas úmidas ecoaram com um grito estridente, acompanhado pelo som de inúme-
ros respingos. A água se transformou em espuma e a terra voou para todos os lados.

Os dois exércitos continuaram avançando, até que estivessem à beira de um confronto


feroz. No entanto, uma anormalidade surgiu no exército de Nazarick.

Os Zombies e os Skeletons tinham começado seu avanço juntos, mas à medida que avan-
çavam, gradualmente se separaram. Isso porque os Zombies eram lentos em relação aos
Skeletons. Além disso, as zonas úmidas dificultavam muito a locomoção.

Monstros lentos como Zombies estavam atolados na lama, seus movimentos ficavam
ainda mais lentos. No entanto, monstros ágeis como Skeletons não eram tão afetados.

Capítulo 3 O Exército da Morte


140
Portanto, o primeiro combate foi entre os Skeletons e os guerreiros Lizardmen.

Os Lizardmen não empregaram formações, simplesmente colidiram com os Skeletons.


Não havia arte em sua técnica; simplesmente golpeavam sempre que viam um inimigo.

Liderando o caminho estavam os cinco Chefes Guerreiros das várias tribos. Até certo
ponto, era tolice um comandante liderar na linha de frente. Contudo, eles eram os me-
lhores guerreiros de suas respectivas tribos, o moral da tropa despencaria se eles não
lutassem à frente de suas tropas. Como não era o caso, os Lizardmen avançavam com
ânimos altos.

Eles estavam sendo apoiados por 89 guerreiros armadurados da tribo Razor Tail. Ditos
guerreiros usavam armaduras de couro e brandiam escudos de couro, possuíam a mais
alta força defensiva de qualquer grupo dentre as tribos.

Eles levantaram seus escudos, atacando a horda de Skeletons como uma parede única
e unida.

Então eles entraram em confronto — as vanguardas dos Skeletons e dos Lizardmen


colidiram-se umas com as outras.

Naquele momento, incontáveis ossos voaram em todas as direções, e o esquadrão Li-


zardman invadiu a horda Skeleton.

Os sons da carnificina abalaram o céu, o barulho de ossos esmagados parecia intermi-


nável. Houve gritos esporádicos de dor, mas esses foram abafados pelos sons de ossos
quebrando.

Os Lizardmen tinham uma vantagem incontestável nesse primeiro combate, e a maré


da batalha os favorecia.

Se os combatentes não fossem Lizardmen, mas humanos, o oposto provavelmente seria


o caso.

Skeletons eram feitos de ossos, então armas perfurantes eram quase completamente
ineficazes já que tinham grande resistência. Portanto, tropas humanas — que geral-
mente usavam lâminas e espadas como armas primárias — teriam dificuldade em dani-
ficar esses Skeletons.

A vantagem dos Lizardmen se devia ao fato de que eles usavam maças e clavas como
suas armas primárias, o que causava danos por impacto — o ponto fraco dos Skeletons.

Os Lizardmen facilmente esmagaram os corpos ósseos dos Skeletons a cada balanço de


suas armas. Mesmo se sobrevivessem a um ataque, o segundo os pulverizaria. Em con-

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


141
traste, as espadas compridas enferrujadas que os Skeletons usavam eram desviadas pe-
las escamas e peles duras dos Lizardmen. Mesmo alguns deles sendo feridos, ninguém
sofreu ferimentos fatais.

Esta foi a primeira investida.

Quase 500 Skeletons jaziam em fragmentos apenas daquele confronto.

♦♦♦

O queixo de Cocytus caiu quando ele olhou para a cena se desdobrando no espelho.

Esta foi a primeira vez que eles ficaram frente a frente, mas a força dos Lizardmen su-
perou suas expectativas. Sendo um guerreiro primoroso, Cocytus possuía um grau de
percepção da força de seu inimigo.

Era verdade que, como indivíduos, os Skeletons eram claramente mais fracos do que os
Lizardmen e não tinham esperança de vitória. No entanto, seus números deveriam ter
compensado essa fraqueza.

Mesmo assim, esse resultado aconteceu. Qual era o significado disso? Isso o fez se per-
guntar se eles tinham sido fortalecidos por algum outro poder.

Com toda a certeza, somente os Arqueiros e os Cavaleiros Skeletons poderiam reivindi-


car a vitória sobre os Lizardmen neste estado atual.

Os Skeletons eram destruídos um após o outro enquanto observava a batalha. Os Skele-


tons e Zombies provavelmente serviriam apenas para enfraquecer a resistência de seus
oponentes.

Nesse. Ritmo, As. Únicas. Tropas. Efetivas. Que. Temos. São. As. Trezentas. Feras. Zombies,
Os. Cento. E. Cinquenta. Arqueiros. Skeletons. E. Os. Quinhentos. Cavaleiros. Skeletons... O.
Peso. Dos. Números. Está. Contra. Nós.

Cocytus calculou as chances mentalmente.

Os undeads eram fortes, especialmente em batalhas prolongadas; quase ninguém con-


seguia vencê-los. Os undeads não sentiam nada — nem mesmo medo, dor, fadiga ou a
necessidade de dormir.

As vantagens que aquelas características conferiam na guerra dificilmente precisavam


ser declaradas.

Por exemplo, se alguém girasse uma maça na cabeça de uma criatura viva, havia uma
grande chance de que a criatura morresse, se sobrevivesse, sangraria profusamente e
agonizaria de dor. Quem recebesse um golpe desses perderia naturalmente a vontade

Capítulo 3 O Exército da Morte


142
de lutar. Claro, uma exceção tinha que ser feita para guerreiros que haviam sido treina-
dos para suportar grandes dores, mas a maioria das pessoas simplesmente desistiria.

Essa era uma reação perfeitamente natural dos seres vivos.

Mas e quanto aos undeads?

Quebrar seus crânios? Eles continuariam atacando mesmo que pedaços de seu cérebro
vazassem a cada golpe.

Quebrar os braços? Eles continuariam atacando com seus membros despedaçados.

Cortar as pernas? Eles rastejariam para fazer o próximo ataque.

De fato, enquanto a energia negativa que servia como sua força vital não fosse esgotada,
os undeads continuariam lutando. Enquanto as condições para a morte instantânea não
fossem cumpridas — a decapitação era bastante comum para a maioria dos seres unde-
ads de baixo nível —, eles não perderiam a vontade de lutar. Em outras palavras, eram
os soldados perfeitos.

Não se pode negar que os Lizardmen eram atualmente superiores, indo pela força indi-
vidual. Porém, mesmo originalmente com todas as vantagens a seu favor, agora seria
complicado virar o jogo.

A opinião de Cocytus sobre os Lizardmen subiu um pouco, e ele concluiu que não eram
para serem levados em tom de brincadeira. Sendo esse o caso, seria preciso prolongar a
batalha.

“Devemos. Recuar. E. Esperar. Uma. Chance. Para. Lançar. Outro. Ataque?”

“Seu servo sente que seria o mais sábio movimento.”

“Seu servo é da opinião de que seria melhor mobilizar os arqueiros e a cavalaria.”

“Não, não, devemos continuar o ataque até que o inimigo esteja exausto.”

“Mas que bem faz exaurir o inimigo? Se não pudermos esmagar o quartel general deles,
o inimigo acabará recuperando sua força.”

“Certamente. O inimigo parece ter uma defesa forte, mas eles estão se escondendo atrás
daquelas paredes frágeis. Que tal saquear a aldeia e depois cercá-los?”

Depois de ouvir as respostas de seus servos, Cocytus pegou o pergaminho 「Message」


e olhou para Entoma, tentando ler sua expressão.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


143
Entoma olhava desinteressadamente para o espelho. Ela tirou um biscoito verde de al-
gum lugar e levou-o até o queixo, e logo os sons de mastigação foram ouvidos. Essa ati-
tude parecia estar dizendo que ela não estava preocupada com os eventos que estavam
se desenrolando. Talvez fosse por isso que ela não tinha expressão no rosto.

—Não, esse rosto inexpressivo não era nada mais que uma decoração.

Cocytus pensou em sua verdadeira natureza e percebeu que tentar ler sua expressão
era um gesto tolo.

Ela era uma devoradora por natureza. Até mesmo o amigo de Cocytus, Kyouhukou um
dos Cinco Piores de Nazarick, afirmou sem rodeios que “Ela é uma das coisas mais assus-
tadoras de Nazarick”. Essa era a sua verdadeira natureza.

Cocytus abandonou o plano de tentar adivinhar seus pensamentos pela expressão facial
e desenrolou o pergaminho, enviando uma 「Message」 ao comandante do exército.

♦♦♦

“—Tão achando que a gente é o quê? Lixo?”

Zenberu murmurou. Ele falou isso em voz baixa, mas ainda foi alto o suficiente para que
todos que observavam os inimigos dentro das paredes ouvissem.

“Até agora não mobilizaram os arqueiros e nem a cavalaria. Realmente parece que estão
nos menosprezando.”

“Sim, também pensei que eles viriam com tudo...”

Concordou o chefe da Small Fang.

“Luta de Zombies... indo bem.”

Havia apenas 45 caçadores combatendo os Zombies. Eles lançavam ataques arremes-


sando pedras, lentamente afastando os Zombies dos Skeletons. As fêmeas se moveram
lentamente para uma posição onde pudessem flanquear os Skeletons.

“Você não acha que os movimentos deles são muito suspeitos?”

“...Pois é.”

Os Zombies não foram apenas desviados como completamente distraídos pelos caça-
dores. Algum comandante permitiria tais movimentos? Não, não deveria ter sido possí-
vel, mas os Zombies estavam se movendo como descrito. Sendo esse o caso, o que o ini-
migo tem em mente? Ninguém presente sabia o porquê.

Capítulo 3 O Exército da Morte


144
“Estou aqui sem saber que estratégia é essa.”

“Mm, concordo... Shasuryu.”

Independentemente do quanto pensassem a respeito, eles não sentiam que houvesse


algum significado particular para os movimentos dos Zombies.

Depois de observar por mais algum tempo, Zaryusu compartilhou seus pensamentos
com os outros.

“Será que não há comandante?”

“Sem comandante...? Ah, quer dizer que os undeads estão agindo de acordo com ordens
que receberam no começo da batalha?”

“Mm, algo assim.”

Os undeads de baixo nível como Zombies e Skeletons, não possuíam inteligência. Por-
tanto, dar-lhes ordens no momento apropriado era a melhor maneira de comandá-los.
No entanto, os Zombies e outros inimigos pareciam ter recebido ordens para matar qual-
quer Lizardmen próximo. Era nisso que eles estavam concluindo.

“Tá me dizendo que, esses malditos pensaram que poderiam vencer a gente com o peso
dos números...? Não pode ser, e se for um teste pra ver se podem lutar bem sem um
comandante?”

Indagou Zenberu.

“É o que parece.”

“Desgraçados! Eles querem nos provocar!?”

Curiosamente quem gritou foi Shasuryu e não Zemberu. Mesmo Shasuryu não podia
tolerar esse tipo de coisa. Afinal, os Lizardmen estavam arriscando suas vidas nisso. O
chefe da Small Fang tentou apaziguar sua raiva com:

“Acalme-se, Shasuryu. Nós não sabemos se é isso.”

“Mm, desculpe... pelo menos estamos indo bem por enquanto, é um alívio.”

“Ani-ja, você está certo, mas agora precisamos reduzir os números dos inimigos o má-
ximo possível.”

Batalhar é muito fatigante, tanto física, quanto mentalmente. Em um campo de batalha


em que não se sabia se o inimigo viria da frente, da retaguarda, da esquerda ou da direita,
bastava balançar a arma algumas vezes e já se estaria mais exausto do que o normal.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


145
Como os undeads não sentiam fadiga, nada disso valia de regra.

Essa era a diferença entre os vivos e os mortos e, com o passar do tempo, essa diferença
se tornava cada vez mais evidente.

Em outras palavras, o tempo era o inimigo dos Lizardmen.

“Tchh, eu devia tá lá...”

“Paciência... é bom ter, Zenberu.”

De fato, se um poderoso guerreiro como Zenberu entrasse em campo, eles provavel-


mente poderiam acabar com os Skeletons em instantes. Mas isso significaria revelar seu
trunfo. O grupo de meia dúzia de pessoas de Zaryusu era sua arma secreta. Mesmo que
obviamente precisassem usar seu trunfo em caso de emergência, eles não poderiam re-
velar seu verdadeiro poder enquanto a situação não fosse a pior possível, ou até que seu
verdadeiro inimigo desse às caras.

“Está muito conveniente para meu gosto, mas espero que dure mais um pouco.”

Disse Zaryusu aos outros, que responderam afirmativamente. Então, ele se virou para
Crusch e perguntou:

“Como vão as coisas aí, bem?”

“...Sim, e o ritual está indo bem também.”

Crusch respondeu à pergunta de Zaryusu enquanto ela olhava ao redor da aldeia. O ri-
tual que os sacerdotes estavam realizando na aldeia poderia muito bem ser outro trunfo
para os Lizardmen. Normalmente, levaria muito tempo, mas como todos os sacerdotes
de todas as tribos estavam reunidos, estava progredindo a um ritmo tremendamente
rápido o bastante para ser usado nessa batalha.

“Então esse é o poder da cooperação...”

“Uhumm... Com certeza, a guerra do passado nos fez trocar muitas informações...
Quando essa acabar, espero que nossa cooperação dure por muito tempo.”

Os outros chefes assentiram vigorosamente com a sugestão de Shasuryu. Eles compar-


tilharam muito conhecimento graças a essa batalha, e viram com seus próprios olhos a
importância de trabalharem juntos em direção a um objetivo comum. Os três chefes que
se aliaram no passado, mas não trocaram informações, foram particularmente vigorosos
em seu acordo.

Zaryusu olhou para os cinco e sorriu.

Capítulo 3 O Exército da Morte


146
“Qual é a graça?”

Perguntou Crusch.

“Nada não. Apesar das circunstâncias, me sinto feliz.”

Crusch imediatamente percebeu o que ele estava pensando.

“—Eu também, Zaryusu.”

Enquanto olhava para a sorridente Crusch, os olhos de Zaryusu se estreitaram como se


ela estivesse brilhante como o sol. Havia notas de admiração e bondade em seus olhos.

Era natural que casal não se abraçasse agora. Afinal, eles não podiam satisfazer seus
desejos diante da morte de seus conterrâneos. No entanto, as caudas de Zaryusu e
Crusch pareciam ter vida própria, balançavam e ocasionalmente se tocavam.

“Muuu...”

“Perdeu ele, quer que eu seja seu irmãozão?”

“Estão no mundinho deles.”

“Romântico.”

“Conclusão... ser jovem, é bom... futuro promissor.”

Os quatro Lizardmen mais velhos acenaram com a cabeça enquanto olhavam par ao
casal adorável.

É claro que não havia como Crusch e Zaryusu saberem disso. Suas caudas se moviam e
se contorciam sem pausa, mas tinham expressões sérias e dignas em seus rostos.

“Ani-ja, o inimigo está se movendo.”

Shasuryu e os outros chefes não puderam deixar de achar graça da mudança repentina
na atitude de Zaryusu. Ao mesmo tempo, eles olharam para a formação do inimigo. Os
Cavaleiros Skeletons estavam avançando em hordas.

“Ei ei ei, não me diga que eles estão vindo pra gente?”

“A cavalaria? Estão planejando abalar nosso moral, atacando diretamente?”

“Não, eles devem estar planejando circular ao redor dos guerreiros e dos machos e de-
pois flanquear, não?”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


147
Isso é problema.

Todos chegaram à mesma conclusão sem dizer uma palavra. A mobilidade dos Cavalei-
ros Skeletons era difícil de lidar.

Se os Cavaleiros Skeletons tivessem se movido no início da batalha, eles teriam priori-


zado sua destruição. No entanto, os guerreiros e os Lizardmen machos estavam atual-
mente travados em combates corpo a corpo, os caçadores estavam cuidando dos Zom-
bies e as fêmeas estavam flanqueando os Skeletons arremessando pedras, então havia
pouca força de trabalho para bloquear os Cavaleiros Skeletons.

“Parece que será melhor se dermos o primeiro passo.”

Shasuryu assentiu depois que o chefe da tribo Small Fang falou.

“A questão agora é quem devemos enviar... ou melhor, quem devemos permitir lutar
primeiro...”

♦♦♦

Cavaleiros Skeletons.

Eram Skeletons empunhando lanças e montados em Cavalos Skeletons. Eles não tinham
características especiais além de sua mobilidade aprimorada, mas como dito, a mobili-
dade era excelente nesse terreno pantanoso. Seus corpos eram feitos de osso e não afun-
davam muito na lama, o que significava que podiam avançar na mesma velocidade de
um cavalo comum.

Quase uma centena de Cavaleiros Skeletons estavam avançando, com a intenção de cir-
cular por trás dos Lizardmen e destruí-los pela retaguarda.

Eles viram três Lizardmen se aproximando a esquerda — em outras palavras, da aldeia


— mas os Cavaleiros Skeletons não lhes deram atenção. Eles não haviam recebido or-
dens para lutarem assim, então ignorariam, desde que não os atacassem. Undeads inin-
teligentes eram assim.

Assim que estavam prestes a chegar na retaguarda das forças dos Lizardmen, o campo
de visão do Cavaleiros Skeletons foi subitamente virado de ponta-cabeça. O cavaleiro
voou para o ar e caiu pesadamente no pântano.

Um humano ficaria confuso e incapaz de agir. No entanto, os Cavaleiros Skeletons eram


seres undead não inteligentes, e imediatamente continuaram a se mover para cumprir
suas ordens.

Apesar de se reerguer rapidamente, havia sido ferido, e por isso se movia mancando.

Capítulo 3 O Exército da Morte


148
Nesse momento, foi atingido por outro Cavaleiro Skeleton sem cavalo, e os ossos que-
brados dos dois Cavaleiro Skeleton estavam espalhados por todo o pântano.

Cenas como essa estavam acontecendo em todos os lugares.

Por que algo assim aconteceu nas terras úmidas abertas? A resposta foi simples — era
uma armadilha.

Havia valas de madeira enterradas no pântano e, quando os Cavaleiros Skeletons pisas-


sem nelas, caíam.

Os Cavaleiros Skeletons caíam um após o outro. Se fossem humanos, eles teriam dimi-
nuído o ritmo. No entanto, os Cavaleiros Skeletons não fariam isso. Embora tivessem
discernimento suficiente para evitar um buraco do qual estavam cientes, não tinham ca-
pacidade de desconfiar de armadilhas. Isso porque eles não tinham ordens para fazê-lo
e não tinham inteligência para permitir que se adaptassem à situação.

Seu avanço precipitado para as armadilhas parecia uma forma de suicídio em massa.

Ainda assim, mesmo as armadilhas sendo muito eficazes, elas eram apenas uma medida
de atraso. Elas poderiam causar algum dano, mas não poderiam eliminar os Cavaleiros
Skeletons. Sempre que caiam, logo em seguida se levantavam cobertos de lama.

Só então, houve um som de whoosh seguido por um assovio no ar. Logo depois, um dos
Cavaleiros Skeletons caiu com a cabeça arrancada.

Os Cavaleiros Skeletons julgaram que esta era uma ação inimiga e olharam nos arredo-
res.

Nesse momento, a cabeça de outro Cavaleiro Skeleton voou de seus ombros, quebrada
como uma bola de vidro.

Os Cavaleiros Skeletons avistaram três Lizardmen há cerca de 80 metros deles. Eles


também os viram lançando pedras com suas fundas, esmagando os crânios dos Cavalei-
ros Skeletons—

Os Cavaleiros Skeletons começaram a se mover.

♦♦♦

Ao mesmo tempo, a situação da batalha com os Skeletons começou a mudar.

Depois que o som de incontáveis cordas esticadas de arco foi ouvido, um vulto de fle-
chas foi visto, obscureceram ainda mais um céu como a chuva negra.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


149
Os 150 Arqueiros Skeletons miraram na luta corpo a corpo dos Skeletons e Lizardmen.
Eles não dispararam apenas uma flecha, disparavam até que esvaziasse sua aljava...

Os Lizardmen não esperavam uma tempestade de flechas desse nível.

Muitos Lizardmen foram atingidos e colapsaram. Eles não podiam lutar contra os Skele-
tons e bloquear as flechas ao mesmo tempo.

Claro, os Skeletons também foram atingidos pelas flechas, mas não foram feridos.

Usar os Skeletons — com imunidade quase absoluta a danos perfurantes — como bar-
ricadas e, em seguida, fazer com que os Arqueiros Skeletons disparassem atrás deles foi
uma estratégia quase perfeita. Eles teriam tempo suficiente para acabar com todos os
Lizardmen no tempo que levaria para liderar 2.000 Skeletons para cercá-los.

O problema foi que haviam usado essa tática tarde demais. Caso tivessem começado
com essa tática, o destino dos Lizardmen teria sido selado. Eles teriam sido afogados sob
a maré esmagadora das forças inimigas e a vitória teria sido decidida. No entanto, o re-
sultado da batalha foi decidido em grande parte por este ponto.

Os Lizardmen ignoraram os Skeletons e atacaram os Arqueiros Skeletons na retaguarda.

Cerca de 150 flechas caíram como chuva, e vários Lizardmen atingiram o solo como
resultado. No entanto, isso era apenas uma pequena parte de suas forças.

Os Lizardmen tinham pele grossa e escamas duras, então mesmo sem armadura, eles
tinham a mesma força defensiva que os humanos em armaduras de couro. Mesmo que
uma flecha perfurasse seus couros, sua espessa camada de músculos os mantinha vivos.

Além disso, as flechas disparadas pelos Arqueiros Skeletons não iam rápido o bastante.
Essa foi outra razão pela qual não puderam matar os Lizardmen.

Os Lizardmen rugiram destemidamente enquanto atacavam. Eles cruzavam os braços


sobre a cabeça quando a tempestade de flechas caía sobre eles, e mesmo se fossem per-
furados pelas flechas, eles independentemente continuavam.

Três flechas—

Este era o máximo que cada um dos Arqueiros Skeletons conseguia errar. Se fossem
minimamente inteligentes, teriam recuado. Teria sido melhor recuar imediatamente e
se reagrupar, dando apoio às tropas de undeads sobreviventes.

Entretanto, as mentes dos Skeletons não podiam processar tais ordens complicadas,
nem haviam recebido qualquer comando do tipo. Portanto, eles só poderiam fazer o que
lhes foi dito — continuar atirando nos Lizardmen, mesmo que se aproximassem muito.

Capítulo 3 O Exército da Morte


150
Houve um rugido poderoso — e então os Skeletons e os Arqueiros Skeletons afogaram-
se igualmente sob a maré crescente de Lizardmen. Os Arqueiros Skeletons não podiam
mais atirar a essa distância. Seu dever agora era serem sacos de pancadas para os inimi-
gos e, assim, eles caíam firmemente, em pares e trios.

Atualmente, os Zombies ainda estavam vivos, mas os Skeletons tinham sido quase com-
pletamente derrotados.

Foi quando o inimigo enviou novos oponentes.

Se tratava de Feras Zombies.

Esses monstros — feitos de cadáveres de lobos, cobras pítons e outras criaturas — com-
binavam a força dos Zombies e a agilidade dos animais selvagens.

As Feras Zombies aceleraram o passo para os Lizardmen. Os rápidos avançaram à


frente, enquanto os lentos ficaram para trás; era uma investida irregular sem nenhuma
formação.

Os ataques vindos de baixo foram inesperadamente difíceis de evitar. As Feras Zombies


rasgariam as pernas de seus inimigos e acabariam com tudo assim que fossem imobili-
zados. Uma técnica de combate verdadeiramente selvagem.

Os Lizardmen, cada vez mais fatigados, tiveram dificuldade em evitar esses ataques.
Vários Lizardmen foram muito lentos para evitar que suas gargantas fossem arrancadas
pelas Feras Zombies. Depois de ver seus companheiros caírem, até mesmo os que se pre-
pararam para o combate ou acreditavam na proteção ancestral não podiam esconder os
olhares de medo em seus rostos.

Os Chefes Guerreiros levaram os machos para uma luta sangrenta, mas agora eles esta-
vam gradualmente sendo forçados a recuar. Enquanto pensavam que a linha de batalha
acabaria se rompendo, o chão diante deles inchou.

Diante deles apareciam dois pedaços de barro, sem braços e sem pernas, com cerca de
170 centímetros de altura.

Os dois pedaços de lama começaram a se mover.

As criaturas não tinham pernas, mas se moviam hábil e suavemente sobre as zonas úmi-
das, em direção às Feras Zombies. Depois de encurtar a distância, dos aglomerados de
lama brotaram chicotes que eram mais longos do que qualquer proporcionalidade de
seus corpos.
[Elemental d o P â n t a n o ]
Este era um dos trunfos dos Lizardmen, se chamavam Swamp Elemental e foram con-
jurados pelos esforços combinados de todos os sacerdotes.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


151
Os Swamp Elementals atacaram as Feras Zombies, usando braços como um tentáculo-
chicote, subjugando o inimigo. Naturalmente, as Feras Zombies destemidamente contra-
atacaram, cortando com garras e rasgando com presas.

Esta era uma batalha entre seres que não conheciam o medo. Todavia, a maré virou a
favor dos Swamp Elementals, puramente por causa da diferença entre suas forças de
combate.

O poder dos sacerdotes derrotou aqueles que já não mais viviam. Esse fato reacendeu
a coragem dos Lizardmen e eles se mobilizaram para outra investida.

Uma brutal batalha se seguiu.

Ao contrário da luta anterior com os Skeletons, os Lizardmen começaram a sofrer bai-


xas. No entanto, a vitória estava na mão dos Lizardmen, que agora tinham a vantagem
numérica.

♦♦♦

Vamos. Perder.

Cocytus entendeu o que o aguardava.

Não havia undeads inteligentes entre as forças que ele havia sido designado. Essa foi a
principal causa de sua derrota, e algo que o preocupou desde o início, mas ele não espe-
rava que eles fossem tão fracos.

A cabeça de Cocytus começou a doer por sua ingenuidade. Embora houvesse uma ma-
neira de dar a volta por cima, ele preferiu não usar, porque fazer esse movimento era o
mesmo que admitir a derrota.

Ainda assim, como ele poderia relatar o fracasso ao seu mestre? Cocytus pegou o per-
gaminho 「Message」. Quem ele veria contatar...

“...Demiurge?”

『Olá, velho amigo. Qual o motivo de seu contato? Aconteceu alguma coisa?』

Uma voz calma e uniforme falou na mente de Cocytus. A inteligência de Demiurge es-
tava nos pináculos de Nazarick. Com certeza ele teria uma idéia para uma situação como
essa.

Em certo nível, Demiurge também poderia ser considerado um rival, por isso, Cocytus
não estava muito feliz em pedir-lhe ajuda. Ainda assim, o mais importante era evitar a

Capítulo 3 O Exército da Morte


152
derrota. Como ele poderia deixar os exércitos da Grande Tumba de Nazarick serem mas-
sacrados em batalha? Ele estava disposto a deixar de lado seu orgulho e se curvar diante
dos outros em busca de ajuda para evitar esse resultado.

“Na. Verdade—”

Depois de ouvir a explicação sobre a situação atual, Demiurge — que estava ouvindo
em silêncio — suspirou exasperado.

『Então, o que quer que eu faça?』

“Eu. Espero. Que. Você. Possa. Me. Ajudar. A. Pensar. Em. Algo, Se. Isso. Acontecer, Sere-
mos. Derrotados... Posso. Aceitar. Uma. Derrota. Pessoal, Mas. Não. Posso. Permitir. Que.
A. Grande. Tumba. De. Nazarick — Os. Seres. Supremos — Sejam. Desonrado. De. Tal.
Maneira.”

『...Você acha que o Ainz-sama deseja verdadeiramente a vitória?』

“O. Que. Quer. Dizer?”

『Veja bem, por que acha que o Ainz-sama escolheu uma formação tão fraca para um
exército?』

Cocytus nutria suas dúvidas sobre esse ponto. Ele não tinha idéia de qual razão poderia
justificar a retirada das forças de Nazarick em um exército.

“...Ainz-sama. Deve. Ter. Motivações. Pessoais, Mas. Quais. Seriam?”

『...Existem várias possibilidades que me vêm à mente.』

Esse. Demiurge. É. Um—

Cocytus não disse, apesar de seu respeito pelo demônio crescer silenciosamente.

『Deixe-me perguntar uma coisa, Cocytus. Você já está aí há vários dias. Não acha que
deveria ter reunido informações sobre os Lizardmen?』

Ele estava certo. No entanto—

“Não— O. Ainz-sama. Ordenou. Que. Eu. Derrotasse. O. inimigo. Com. Essa. Força. Em.
Um. Confronto. Direto.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


153
『De fato, mas espero que você pense com cuidado, Cocytus. O importante é que tipo
de resultados você mostrará ao Ainz-sama, não acha? Se exterminar a aldeia fosse o ob-
jetivo, então você deveria ter considerado os métodos ideais para o extermínio, não
acha?』

Cocytus não tinha nada a dizer, afinal, Demiurge tinha acertado em cheio.

『Ainz-sama deve ter atribuído esses servos a você porque ele tinha isso em mente.』

“...Quer. Dizer. Que. O. Ainz-sama. Deliberadamente. Atribuiu. Tropas. Inadequadas. À.


Mim?”

『A possibilidade é muito alta. Se você tivesse pesquisado a aldeia de antemão, talvez


você soubesse que suas forças seriam insuficientes para conquistar a aldeia. Nesse caso,
você teria dito ao Ainz-sama que “Exterminar a aldeia será difícil com essas forças, eu
desejo pedir reforços.” Esse era provavelmente o objetivo de Ainz-sama.』

Em outras palavras, Demiurge estava tentando dizer que Cocytus tinha que adivinhar a
intenção de seu mestre e adaptar seus métodos à situação, não seguir as ordens cega-
mente.

『Este parece ser um dos planos de Ainz-sama para melhorar a maneira como aborda-
mos as questões, mas ele parece ter outros objetivos em mente também...』

“Outros. Objetivos?”

Cocytus apressadamente perguntou a Demiurge. Ele já havia errado uma vez e não que-
ria aumentar seus erros.

『Ainz-sama enviou mensageiros para a aldeia, mas ele não declarou o nome de Naza-
rick. Além disso, ele ordenou que você não entrasse em campo. Sendo esse o caso—』

Cocytus engoliu em seco enquanto esperava Demiurge terminar. Porém, Demiurge não
o fez.

『Ngh, Cocytus! Sinto muito, mas algo urgente surgiu. Conversamos mais depois. Boa
sorte.』

As palavras de Demiurge foram cortadas e o 「Message」 terminou.

Enquanto Cocytus se perguntava o que assustaria alguém tão calmo quanto ele, seu
olhar mudou para outra pessoa sentada na mesa dentro da sala. Ele viu Entoma descas-
cando um talismã esfarrapado da testa.

Se ela, uma Talismante, estava usando um talismã, significava que—

Capítulo 3 O Exército da Morte


154
—Já era tarde demais.

Sendo esse o caso, agora era a hora de implantar seu ultimato, seu trunfo. No entanto,
isso realmente atenderia aos objetivos de seu mestre?

Talvez pela primeira vez Cocytus contemplou os verdadeiros motivos subjacentes de


seu mestre. Ainda assim, havia apenas uma conclusão que ele poderia alcançar.

Cocytus conjurou outra magia 「Message」.

“—Preste. Atenção, Comandante. Elder. Lich: Ataque. E. mostre. Aos. Lizardmen. Seu.
Poder.”

♦♦♦

O corpo ósseo — trajando um luxuoso conjunto de mantos, mas desgastado pelo tempo
— apertou um bastão retorcido em uma de suas mãos. Sua pele era uma fina camada
estendida sobre o crânio e começava a apodrecer, apresentava uma inteligência malé-
vola dentro de seus olhos. Seu corpo irradiava energia negativa como névoa.

O magic caster era o Elder Lich em questão.

Depois de receber suas ordens, a criatura undead olhou para o pântano. Então, virou-
[ B r u t o s de Carne Sang u e]
se para os Blood Meat Hulk — criaturas undeads que eram massas de pele e músculos
vermelhos — que estavam atrás. Para essas criações gêmeas do Ser Supremo, ele deu
uma ordem:

“Matem aqueles três Lizardmen.”

Após o recebimento dessas ordens, os dois Blood Meat Hulk avançaram em direção aos
três Lizardmen que estavam devastando os Cavaleiros Skeletons.

Mesmo os Blood Meat Hulk sendo undeads de baixo nível que só podiam atacar com
força bruta, eles possuíam o poder de regeneração. Como resultado, levaria muito tempo
para derrubá-los com ataques físicos.

O Elder Lich sentiu que os Blood Meat Hulk podiam comprar tempo suficiente para ele.

Isso pode ser considerado uma estratégia tola. O Elder Lich era um magic caster e não
estava acostumado a combates corpo a corpo, então, em circunstâncias normais, teria
sido melhor manter os Blood Meat Hulk ao seu lado.

No entanto, ele não podia fazer isso agora.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


155
Suas ordens foram de “Mostre aos Lizardmen seu poder”. Portanto, ele tinha que pros-
seguir sozinho e destruir os Lizardmen com seu poder esmagador.

O Elder Lich avançou. Seu rosto se contorcia em uma forma assustadora enquanto ria.

Ele sentiu que isso era como roubar doces de crianças.

Ele tinha sido pessoalmente feito por Ainz Ooal Gown, o Ser Supremo, como resultado,
ele era muito superior aos Elder Liches de Nazarick. E agora, sua tarefa era demonstrar
sua força aos Lizardmen.

Ele jurou obter a vitória pelo nome que seu mestre lhe dera.

“Eu, Iguva, dedico minha futura vitória a ti, meu Soberano.”

Parte 4

Depois de acabar com as Feras Zombies, os Lizardmen massagearam os ombros em fa-


diga e suspiraram de alívio. Havia angústia em seus rostos, mas ao mesmo tempo havia
sorrisos leves.

Era verdade que eles haviam sofrido muitas baixas, mas tiveram sorte por ter aguen-
tado até aqui. Se os Swamp Elementals não tivessem se juntado à luta... não, se eles ti-
vessem chegado um pouco mais tarde, a formação deles teria desmoronado e isso teria
se transformado em uma derrota.

“Estamos saindo!”

Gritavam os Chefes Guerreiros. Era um anúncio de que eles estavam saindo da batalha.

Seus corpos estavam fracos devido à fadiga, e apenas erguer suas armas exigia um
grande esforço, não era certo dizer que não estavam realmente empenhados. Eles esta-
vam cansados, mas a batalha ainda não havia terminado.

Eles tinham que tomar cuidado com os reforços do inimigo, mesmo quando eliminavam
os Zombies distantes.

“Atenção! Levem os gravemente feridos de volta à tribo, o resto de vocês se agrupem


acima—”

O som de fogo rugindo o interrompeu.

Calor escaldante engolfou o ambiente e os Swamp Elementals no centro da labareda se


contorceram.

Capítulo 3 O Exército da Morte


156
Quando as chamas desapareceram como se nunca tivessem existido, os dois elementais
estavam em péssimo estado. Um único ataque de fogo os destruiu pela metade.

Antes que os Lizardmen pudessem gritar de surpresa, labaredas se alastraram mais


uma vez. Os Swamp Elementals não puderam suportar os ataques e se desintegraram no
rugido infernal.

Assim que os Swamp Elementals — que demonstraram incrível poder contra as Feras
Zombies — desapareceram sem deixar rastros, os rostos dos Lizardmen ficaram pálidos,
incapazes de acompanhar o que estava se desdobrando diante deles.

O que aconteceu?

Após se darem conta que os Swamp Elementals haviam sumido, tentaram desespera-
damente negar essa realidade. Isso porque, se realmente fosse o caso, isso significava
que havia um monstro mais poderoso vindo em sua direção.

Os Lizardmen olharam confusos para os arredores, suprimindo seu medo. Assim que
avistaram um undead ao longe, uma bola de fogo mais uma vez voou de sua mão.

A bola de fogo do tamanho de uma cabeça voou pelo ar em linha reta e rumou para o
pelotão líder das tropas Lizardman.

Em circunstâncias normais, as chamas desapareciam ao entrar em contato com a água.


No entanto, esta bola de fogo era um fenômeno mágico e desafiava à lógica. Quando a
bola de fogo tocou a água, foi como se tivesse atingido uma superfície dura. Um furioso
ciclone de fogo floresceu a partir do ponto de impacto.

A explosão de fogo consumiu vários Lizardmen — e depois desapareceu.

É uma ilusão?

—Esse pensamento desapareceu em um instante. O cheiro de carne carbonizada flutu-


ando no ar e os corpos de Lizardmen caídos no chão eram reais o suficiente.

A criatura undead avançava a passos lentos, tão elegantes que alguém poderia conside-
rar como arrogância. Esse era o caminhar de um ser poderoso, totalmente confiante em
seu poder.

Enquanto os Lizardmen hesitavam sobre se deveriam atacá-lo com força máxima, o


mesmo modo usado para destruir os Arqueiros Skeletons, outra bola de fogo voou para
eles.

A bola de fogo explodiu violentamente, reivindicando as vidas de todos os Lizardmen


no entorno em um instante.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


157
Este era um poder esmagador. Isso fez as pessoas pensarem que tudo o que aconteceu
naquele momento era pouco mais que uma brincadeira.

“Uooooohh!”

Os Lizardmen gritaram para banir o medo de seus corações. Assim que vários Lizard-
men avançaram imprudentemente à frente, uma voz fria e límpida falava do que parecia
ser uma distância inconcebivelmente grande:

“—Tolos.”

Isso foi tudo o que seu inimigo disse. Os Lizardmen foram incinerados por uma bola de
fogo antes que pudessem gritar.

O undead deu um passo à frente, e mais de 100 Lizardmen imediatamente deram um


passo para trás. A disparidade entre seus poderes era como uma grande muralha avan-
çando sem parar, forçando-os a recuar.

“Fujam!”

Um grito estridente e eletrizante foi ouvido. A voz pertencia a um dos principais guer-
reiros.

“Ele é diferente dos outros! Não podemos derrotar essa coisa!”

Uma conclusão verdadeira. A visão majestosa do Elder Lich avançando lentamente por
si só era impressionante. Isso fez os Lizardmen se sentirem como se um vento forte es-
tivesse soprando em sua pele.

“Fujam e informem os chefes e o Zaryusu disso.”

“Vamos tentar ganhar tempo!”

Outra bola de fogo explodiu e vários outros lizardmen pereceram.

“Rápido! Não percam tempo!”

Os cinco Chefes Guerreiros ordenaram aos Lizardmen que fugissem e, ao mesmo tempo,
calcularam a distância entre eles. Eles estavam se afastando, então, mesmo quando uma
bola de fogo explodisse, pelo menos um deles seria capaz de fechar a brecha para o ini-
migo. Era uma tática suicida projetada para atingir esse objetivo.

Depois de se espalharem, os cinco olharam um para o outro e depois correram.

Capítulo 3 O Exército da Morte


158
O inimigo estava a cerca de 100 metros de distância. Eles se desesperaram com a dis-
tância que os separava, mas, mesmo assim, corriam com toda a força. Isso porque,
mesmo que eles perecessem no meio do caminho, suas mortes ainda dariam informa-
ções úteis aos chefes e a Zaryusu.

♦♦♦

Os Lizardmen que haviam segurado o inimigo sem esforço antes, agora voltavam cor-
rendo como uma revoada de pássaros assustados.

Zaryusu observou a cena com calma. Ou melhor, desde que este poderoso inimigo apa-
receu, ele estava examinando cada movimento. Sua atenção estava concentrada na cria-
tura undead que poderia conjurar fogo assassino.

Seus movimentos eram completamente diferentes dos inimigos irracionais de antes.


Com toda a probabilidade, esse era o comandante inimigo.

Quando a criatura chegou a menos de 100 metros dos cinco Chefes Guerreiros, ela co-
meçou a usar sua magia 「Fireball」 para executar ataques de efeito de área. Isso os
forçou a se dispersar, e parecia querer queimar os Chefes Guerreiros até a morte en-
quanto corriam.

“Acho que tá na hora da gente ir pra cima.”

Zaryusu acenou com a cabeça às palavras de Zenberu. Crusch também sinalizou em


concordância. Ela estava ciente de que esta poderia ser uma batalha onde todos pode-
riam encontrar um final glorioso.

“Sim, é nossa vez. Aquela coisa é muito forte. Nosso inimigo pode muito bem ser o su-
bordinado pessoal daquele Supremo lá, ou o comandante deste exército... Mesmo que
não seja, certamente deve ser um trunfo de algum tipo.”

“É o que parece. Não é qualquer um que pode controlar tantos undeads assim. Como
vamos entrar em campo? Aquilo está bem longe, vai demorar até alcançar ele.”

A pergunta de Crusch trouxe dor de cabeça para Zaryusu.

Eles não estavam lutando para morrer, então eles tinham que planejar contornar isso.

Zaryusu e Zenberu não podiam atacar à distância, então eles teriam que se aproximar
para um combate corpo a corpo. O problema agora estava nos 100 metros entre eles e o
inimigo.

Zaryusu e os outros provavelmente poderiam aguentar uma ou duas 「Fireballs」 com


facilidade, mas provavelmente receberiam mais do que apenas uma ou duas antes de
chegar ao seu oponente, e a verdadeira luta só começaria quando chegassem lá. Não era

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


159
difícil ver como o inimigo iria repeli-los se tentassem um ataque frontal recebendo ata-
ques de fogo.

“Essa distância dá medo.”

“Sim... com certeza dá. Nunca pensei que cem metros poderiam parecer tão distante...”

Zaryusu e seus amigos se perguntavam como poderiam alcançar o inimigo com nenhum
ou o mínimo possível de danos.

“Que tal ir rente ao chão?”

“Talvez desse usando poderes sacerdotais... mas ainda seria difícil. Se pudéssemos usar
「Invisibility」...”

Eles provavelmente poderiam fechar a lacuna instantaneamente ficando invisíveis e


usando a magia 「Fly」. No entanto, os druidas não puderam conjurar essas magias.

“Então, que tal fazer um escudo e avançar atrás dele?”

“Construir escudos levaria muito tempo.”

“É só arrancar umas casas e ir pra cima, não?”

Zenberu sorriu sem graça ao perceber a futilidade das palavras que acabara de falar. O
inimigo atacava com bolas de fogo explosivas. Mesmo se bloqueassem, as temperaturas
escaldantes ainda os queimariam. Não havia tempo agora para fazer um escudo de corpo
inteiro que pudesse suportar altas temperaturas.

“Ah, bem... Aquilo... pode servir.”

“Como assim, Zaryusu?”

Perguntou Crusch nervosamente, sentindo um pouco de medo.

Meu rosto está tão assustador assim?

Pensou Zaryusu. Ainda assim, não poderia evitar. Afinal, ele estava tão estressado que
queria gritar.

“Um escudo... acho que acabei de encontrar um...”

♦♦♦

Iguva assentiu, ficou satisfeito consigo mesmo e com a situação atual.

Capítulo 3 O Exército da Morte


160
As coisas estavam indo muito bem. Os Blood Meat Hulk ainda estavam lutando, mas ele
tinha avançado com sucesso para a aldeia.

Vários Lizardmen estúpidos tentaram atacá-lo, mas depois de ver o poder da sua
「Fireball」, eles perceberam que a resistência era fútil. Os atacantes que obtiveram
mais sucesso, foram os cinco que se separaram para atrasá-lo, mas mesmo eles só con-
seguiram chegar a 50 metros.

Iguva seguiu em silêncio, como se estivesse passeando por um deserto vazio. Mesmo
sentindo pena dos Lizardmen fracos — embora de maneira zombeteira — ele não seria
descuidado.

Ele estava perto da aldeia, seu objetivo. Uma vez lá, ele pretendia lançar várias「Fire-
balls」 para destruir os Lizardmen juntamente com sua aldeia.

No entanto, os Lizardmen provavelmente tentariam impedi-lo de chegar ao seu destino.


Isso significaria que já era hora do próximo contra-ataque.

Iguva olhou para a aldeia e suas suspeitas foram confirmadas.

“...Ooh? Mas é claro.”

Iguva viu uma Hydra vindo para ele.

Se esse era seu trunfo, os Lizardmen perderiam a vontade de lutar, uma vez que ele
esmagasse com força esmagadora. Se isso acontecesse, ele seria capaz de destruir a al-
deia mais facilmente.

Por segurança, Iguva olhou em volta, depois checou o céu e parou apenas depois de
verificar que não havia vestígios do inimigo. Ele esperou vagarosamente que a Hidra en-
trasse no alcance de seu ataque.

Quando a Hydra chegou ao limite do referido alcance, começou a correr ainda mais.
Como esperado, o monstro estava indo direto para Iguva.

“Que tolice. Acha que eu deixaria algo tão lento chegar perto de mim? Você não
passa de um animal.”

Com um sorriso zombeteiro no rosto, Iguva conjurou uma 「Fireball」 de sua mão e
arremessou na Hydra.

A bola flamejante voou em linha reta e atingiu a Hydra em cheio. Chamas ardentes
emergiram e consumiram a Hydra.

No entanto, a Hydra continuou em frente, embora um pouco instável em seus pés. Con-
tinuou correndo, embora estivesse envolto em chamas... não, as chamas se apagaram em

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


161
um instante, então Iguva deveria estar vendo coisas. Dito isto, a visão diante dele mos-
trou a extraordinária determinação da Hydra.

Iguva franziu a testa em desgosto. O fato de poder resistir a um de seus ataques mágicos
foi um golpe em seu orgulho.

Embora fosse verdade que a Hydra parecia estar protegida com alguma magia defen-
siva para reduzir o dano, a magia defensiva não era de nível alto, então não pôde anular
completamente sua magia.

...Se bem me lembro, as Hydras têm a capacidade de regeneração... mas não deve-
riam resistir a ataques de fogo. Em todo caso, animais desse porte tem mais vitali-
dade. Nesse caso, faz sentido que tenha resistido.

Esse raciocínio confortou um pouco Iguva, mas não foi o bastante para apagar as cha-
mas do rancor em seu coração. Iguva era um monstro especial que havia sido criado
pessoalmente pelo Ser Supremo Ainz Ooal Gown — o fato de que essa criatura não ti-
vesse morrido em um golpe era um insulto ao seu mestre.

Com os olhos frios que eram o oposto da raiva ardente dentro dele, Iguva estudou a
Hydra que se aproximava.

“...Que desagradável. Morra!”

Ele lançou outra bola de fogo na Hydra, e as chamas ruidosas engolfaram seu corpo. Por
um momento, ele até achou que podia sentir o cheiro de sua carne queimando à distância.
Mesmo que seu inimigo não tivesse sofrido uma ferida fatal, certamente hesitaria em
continuar ou não.

No entanto—

“—Por que não está parando? Por que essa coisa persiste?”

Parte 5

Rororo continuou sua marcha firme e decidida para frente. Seu corpo era grande, mas
estava correndo no pântano, então sua velocidade era quase a mesma que a de um Li-
zardman. A água espirrava em todas as direções e uma cacofonia líquida ecoava por toda
parte.

Seus olhos âmbares tinham ficado turvos pelo calor intenso e duas de suas quatro ca-
beças pendiam impotentes.

Mesmo assim, continuou correndo para frente.

Capítulo 3 O Exército da Morte


162
Outra 「Fireball」 veio, atingindo o corpo de Rororo. A energia térmica contida na
「Fireball」 explodiu e se espalhou por toda parte. A dor era como ser espancado por
todo o corpo; seus olhos pareciam mais secos do que nunca, e o ar superaquecido quei-
mava seus pulmões.

Todo o seu corpo estava queimado, e a agonia que estava acabando com Rororo agora
dizia que, se continuasse, sua própria vida se extinguiria.

Mesmo assim — ele continuou correndo.

Correu sem hesitação.

As altas temperaturas arrancaram as escamas de sua pele e fizeram com que bolhas
cheias de sangue estourassem, mas mesmo assim continuou em frente.

Um animal não inteligente teria dado meia-volta e fugido, mas Rororo não o fez.

Rororo era uma fera mágica chamada Hydra.

Havia muitos tipos de feras mágicas. Alguns possuíam maior inteligência do que um ser
humano e alguns eram pouco mais sábios que um animal comum. Francamente falando,
Rororo pertencia à última categoria.

O fato de que Rororo — que possuía a inteligência pouco acima da média de um animal
comum — continuava avançando, mesmo à beira da morte, em direção a Iguva, a fonte
de sua dor foi algo inteiramente inesperado, quase impossível de entender.

E com toda certeza, mesmo seu oponente, Iguva, achou difícil entender. Ele se pergun-
tou se Rororo estava sob a influência de algum controle mental.

Entretanto, não era o caso.

Certamente, essa não era a resposta.

Iguva não seria capaz de entender.

Rororo corria com toda a força pela sua família.

Rororo nunca tinha visto seus pais, mas as Hydras não eram o tipo de criaturas que
abandonavam seus descendentes. Feras desse tipo viveriam com um dos pais até uma
certa idade, aprendendo a sobreviver na natureza. Mas então, por que isso não se aplica
a Rororo?

Isso porque Rororo era um mutante. As Hydras normais tinham oito cabeças quando
nasciam e, à medida que cresciam, germinavam mais cabeças, até um máximo de doze.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


163
No entanto, Rororo só teve quatro cabeças no nascimento, então seus pais o abandona-
ram no relento.

Sem a proteção de seus pais, até mesmo uma jovem Hydra — que algum dia poderia se
transformar em uma criatura poderosa — certamente pereceria no ambiente hostil da
natureza.

Isto é, se um certo Lizardman não tivesse passado e o tivesse apanhado.

—E assim, Rororo ganhou uma família — ele foi pai, mãe e amigo íntimo, tudo em um
só.

Como a mente de Rororo estava prestes a quebrar sob a agonia, lembrou-se de uma
pergunta que sempre ponderou no passado.

Por que este corpo tão grande? Por que tantas cabeças?

Ocasionalmente pensava isso ao olhar para o querido pai que a criara. Como resultado,
Rororo também pensou em outra coisa.

Talvez algum dia essas cabeças caiam e novos membros brotem, assim como a grama, e
assim serei como meu Pai.

E se isso realmente acontecesse — o que mais a Hydra desejaria?

Sim. Já fazia tempo que não dormiam juntos, então talvez fossem bom que se enrolas-
sem e cochilassem juntos. Sempre se sentiu solitário porque se tornou grande demais e
consequentemente eles tiveram que dormir separados.

As chamas pareciam queimar os pensamentos de Rororo. Elas preencheram sua visão


e a agonia atravessou seu corpo mais uma vez. Ele gemeu de dor quando a angústia to-
mou conta dele. Mas sentia um calor reconfortante por trás, esse calor nada tinha em
comum com as chamas que o consumiam.

Rororo sentia como se estivesse sendo esmagado por incontáveis martelos de ferro.

Doía tanto que não podia mais pensar.

As pernas de Rororo se fraquejaram, sinalizando para o resto da criatura que ela deve-
ria parar de avançar.

No entanto—

No entanto — Isso era realmente suficiente para fazer Rororo parar?

Capítulo 3 O Exército da Morte


164
—Não. Ele não parou.

Rororo continuou avançando. Seu ritmo diminuiu. Seus músculos estavam queimados
e rígidos, e não podia continuar correndo no ritmo habitual.

Sofria com cada passo que dava.

Estava difícil respirar. Apenas respirar exigia grande esforço. Talvez seus pulmões ti-
vessem sido queimados.

Mesmo assim, não parou.

Agora, apenas uma de suas cabeças ainda podia se mover. As outras cabeças imóveis
eram pouco mais que peso morto. A visão da criatura undead conjurando outra bola de
fogo em sua mão era uma cena borrada na visão nublada de Rororo.

Seus instintos animais permitiram que percebessem algo.

Se levasse outro golpe, ele morreria. Contudo, Rororo não estava com medo. Sem parar,
sem cessar, ele galopou bravamente à frente—

Este foi um pedido de seu pai, mãe e amigo. Portanto, nunca iria parar.

Assim que Rororo se arrastou desesperado — e cansado — para a frente, uma bola de
fogo vermelha voou mais uma vez de uma mão undead. Ela voou pelo ar direto para
Rororo. Não havia dúvida de que este último ataque consumiria Rororo em chamas. Foi
um fato inegável.

Ele morreria.

Seria o fim de tudo.

No entanto—

Na verdade — seria caso apenas se o Lizardman mencionado acima não interferisse.

Como ele podia assistir Rororo morrer diante dele? Como ele poderia permitir que tal
injustiça acontecesse?

Isso era impossível.

“—「Icy Burst」!”

Zaryusu gritou quando saltou de trás de Rororo, balançando a Frost Pain enquanto cor-
ria ao lado dele.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


165
Capítulo 3 O Exército da Morte
166
O ar diante deles congelou em um instante, formando uma parede de névoa branca.
Essa era uma névoa de ar super-resfriado; o vento gelado da Frost Pain.

Essa foi uma das habilidades da Frost Pain.


Era uma técnica especial que só poderia ser ativada três vezes ao dia — 「Icy Burst」.
A técnica congelava tudo em uma área a frente e causava danos massivos.

A parede de névoa congelada era sólida e bloqueava a 「Fireball」 que se aproximava.


O orbe de chama ardente encontrou a parede de névoa fria — pelas leis da magia, per-
mitir que colidissem era a escolha mais sábia.

Acertou—

As chamas abrasadoras explodiram, guerreando com a névoa congelada de marfim.

Parecia que duas serpentes, uma branca e outra vermelha, estavam tentando se consu-
mir. Depois de um momento de resistência, ambos os poderes desapareceram.

Em choque, a surpresa apareceu no rosto da criatura undead. Essa foi uma reação na-
tural ao ver a dissipação da magia que havia conjurado.

Ainda havia alguma distância entre as duas partes. No entanto, eles já podiam ver os
rostos — e movimentos dos outros. O esforço e a determinação de Rororo haviam cru-
zado a distância aparentemente intransponível entre eles e trazido os três ilesos para
este lugar.

“Rororo...”

Zaryusu engasgou. No final, Zaryusu escolheu as palavras mais apropriadas que conse-
guia pensar em seu vocabulário — uma frase simples e de fácil compreensão.

“Obrigado!”

Após gritar seus agradecimentos a Rororo, Zaryusu avançou sem olhar para trás, se-
guido por Zenberu e Crusch.

Um coaxar quase inaudível respondeu-lhe. Foi o som de encorajamento para sua família.

♦♦♦

Iguva observou em silêncio. Sua 「Fireball」 havia sido anulada, e ele não pôde deixar
de expressar sua descrença em palavras.

“Não pode ser!”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


167
Iguva preparou-se para lançar outra magia. Naturalmente, ainda era uma 「Fireball」.
Ele não estava pronto para reconhecer que os Lizardmen que o atacaram realmente neu-
tralizaram sua magia.

A 「Fireball」 lançada flamejou rumo aos três Lizardmen.

O líder Lizardman balançou sua espada e bloqueou a 「Fireball」 com uma parede de
névoa congelante, e ambos sumiram juntos. Sim, a mesma coisa que acabara de aconte-
cer novamente—

“Pode vir! Vou anular tudo que jogar em mim!”

O grito furioso do Lizardman adentrou seus ouvidos.

Iguva respondeu com um “Tch” em desgosto.

E pensar que um mero Lizardman é capaz de desviar um de meus ataques, justo eu,
uma criação do Ser Supremo, Ainz-sama!

Iguva se esforçou para reprimir sua raiva fervente.

Era bem provável que ele não pudesse mais usar sua 「Fireball」. No entanto, o fato de
sua oposição ter se abrigado atrás da Hydra e se aproximado, significava que provavel-
mente existia um limite para o número de vezes que tal habilidade pudesse ser usada.
Ainda assim, ele não sabia se poderia ser usado dez vezes, ou se todo uso só esgotaria a
estamina — o que significa que com a recuperação apropriada, ele poderia ser usado
sem limite.

Como devo lidar com isso? Gostaria de verificar a veracidade de seus dizeres, se
possível...

Iguva ainda podia disparar 「Fireball」, mas ele não sabia dizer o quanto das palavras
do Lizardman eram verdade ou bravata.

Menos de 40 metros separavam Iguva dos Lizardmen.

Além disso, o Lizardman que o atacava parecia um guerreiro. Como um magic caster
undead, Iguva não queria ser arrastado para um corpo a corpo.

Portanto, sua magia 「Fireball」 seriam desperdício de mana. Ele não era estúpido o
suficiente para realmente testar quantas vezes seu oponente poderia bloquear suas téc-
nicas sob as circunstâncias atuais. Se eles não tivessem se escondido atrás daquela
Hydra — isto é, se eles ainda não tivessem fechado a lacuna — ele poderia ter tentado
verificar suas alegações. No entanto, aquela maldita Hydra arruinou essa chance.

“Sua... Hydra maldita...”

Capítulo 3 O Exército da Morte


168
Iguva amaldiçoou e decidiu seu próximo passo.

“—Então, que tal isso?”

Por coincidência, seus inimigos haviam se alinhado em linha reta. Iguva estendeu um
dedo e apontou para os três Lizardmen que estavam o pressionando. A eletricidade cre-
pitava em torno daquele dedo.

“Prove minha ira trovejante! 「Lightning」!”

Um fluxo de eletricidade branca avançou e então—

♦♦♦

Zaryusu ainda estava a alguma distância, mas ele pôde ver a luz branca coruscando ao
redor do dedo de Iguva — 「Lightning」.

O 「Icy Burst」 da Frost Pain poderia defender-se contra ataques de fogo e frio, mas
Zaryusu nunca o usou contra raios, e ele não sabia se funcionaria.

Então, seria mais sensato correr o risco ou se dispersar para dispersar os alvos do ini-
migo e minimizar o dano causado?

Zaryusu agarrou a Frost Pain com força.

Ele podia sentir o surto elétrico no ar, a prova de que o raio estava apontado para ele.

“Deixa comigooo—!”

Zenberu agiu mais rápido do que Zaryusu e saltou para frente com um grande grito. Ao
mesmo tempo, a magia voou em direção deles.

“—「Lightning」!”

“Yargh—! 「Resistance Massive」!”

Exatamente quando parecia que o raio estava prestes a perfurar Zenberu, seu corpo
instantaneamente fortaleceu. No final, a descarga elétrica que deveria ter perfurado ele
e as duas pessoas atrás foi espalhada e desviada.

「Resistance Massive」,esta era uma habilidade de monge, que descarregava Ki de


todo o corpo para reduzir os danos mágicos.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


169
Foi uma técnica que Zenberu aprendeu durante suas viagens, depois de perder para o
「Icy Burst」 da Frost Pain no passado. A técnica poderia ser usada para defender-se
contra qualquer magia que causasse dano, mesmo se fizesse o dano em área.

Ambos os lados ofegaram de surpresa, mas Zaryusu e Crusch — que acreditavam em


seu camarada — não ficaram muito chocados com isso. Assim, enquanto o magic caster
undead cambaleava de surpresa, os Lizardmen se aproximavam cada vez mais.

Quando saíram correndo, Zaryusu de repente percebeu algo.

Se ele tivesse usado 「Icy Burst」 durante seu duelo com Zenberu, esse movimento de
agora a pouco teria o anulado, e Zenberu teria usado a abertura para derrotá-lo. Talvez
fosse por isso que ele estava tentando forçar Zaryusu a usar seu 「Icy Burst」.

“Haha! Moleza, como mastigar caranguejos!”

Zaryusu sorriu para a voz confiante de Zenberu, mas seu rosto se apertou quase imedi-
atamente depois. Isso foi porque Zaryusu podia ouvir uma corrente de dor em sua voz.

Se até mesmo um Lizardman como Zenberu não conseguia conter sua dor, isso impli-
cava que suas feridas não eram leves. Além disso, se essa técnica não tivesse pontos fra-
cos, ele não concordaria com o plano de se esconder atrás de Rororo.

Zaryusu olhou para frente. Menos de 20 metros os separavam do inimigo. A grande dis-
tância entre eles havia diminuído muito.

♦♦♦

À medida que se aproximavam, Iguva percebeu que os seres à sua frente eram oponen-
tes poderosos, ele não deveria pegar leve. O fato de poderem combater sua magia era
digno de elogios. Claro, ele tinha outras maneiras de atacar, mas agora ele tinha que dar
alguma consideração à defesa.

“Vocês são excelentes sacrifícios; perfeitamente qualificados para experimenta-


rem meu poder.”

Iguva sorriu friamente enquanto conjurava sua magia.

“「Summon 4th Tier Undead」.”

Em meio a um jorro de bolhas, quatro esqueletos emergiram do pântano para defender


Iguva, cada um segurando escudos redondos e espadas curvas. Esses undeads eram cha-
mados de Guerreiros Skeletons, e eles estavam em uma classificação completamente di-
ferente dos Skeletons comuns.

Capítulo 3 O Exército da Morte


170
Mesmo podendo conjurar outros undeads, ele escolheu os Guerreiros Skeletons para
resistir aos ataques frios. Iguva e outras criaturas esqueléticas como ele eram imunes a
danos causados pelo frio.

Protegido por seu esquadrão de guarda-costas, Iguva olhou para o inimigo que se apro-
ximava. Era a atitude de um campeão invicto que esperava um desafiante.

As contrapartes finalmente se aproximaram.

Apenas 10 metros os separavam agora.

Sim, apenas isso os separava. Depois de se certificar de que os undeads não atacariam
imediatamente, ele olhou para trás.

Ele olhou para a distância que havia percorrido. Estavam muito perto, mais alguns pas-
sos e chegariam ao seu objetivo, estavam quase no fim daqueles 100 metros de um
campo de matança a céu aberto. Sem Rororo, Frost Pain, Zenberu ou Crusch, ele nunca
teria chegado tão longe. Pode-se dizer que foi tão difícil quanto tentar ascender aos céus.
No entanto, ele havia cruzado essa distância e estava ao alcance de seu inimigo.

Eles superaram essa distância juntos.

Quando Zaryusu viu os Lizardmen levarem Rororo de volta à aldeia, ele soltou um sus-
piro momentâneo de alívio. Então se repreendeu por seu momento de frouxidão e olhou
para os undeads diante dele.

Zaryusu reconhecia que eram inimigos temíveis.

Se os encontrasse em circunstâncias diferentes, ele teria fugido imediatamente ao


avistá-los de longe. Apenas por estar diante deles, seus instintos gritavam para que fu-
gisse, e até mesmo sua cauda estava ouriçada. Com o canto do olho, Zaryusu notou que
as caudas de Zenberu e Crusch exibiam reações similares da esquerda à direita.

Os dois devem estar pensando a mesma coisa que Zaryusu. De fato — eles estavam lu-
tando contra o desejo de fugir enquanto enfrentavam os undeads diante deles.

Zaryusu moveu sua cauda, encostando nos dois pelas costas.

Os dois olharam para Zaryusu com expressão de surpresa em seus rostos.

“Podemos vencê-los se nós três trabalharmos juntos.”

Disse Zaryusu.

“Belas palavras, Zaryusu. Nós podemos ganhar.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


171
Crusch usou a cauda para acariciar o local nas costas, onde Zaryusu encostou.

“Hah, agora dá pra fazer algo, não?”

Zenberu riu, havia um olhar de orgulho em seu rosto.

E assim, os três percorreram o trecho final para o inimigo.

—A distância entre os dois lados era de 8 metros.

De um lado estavam Zaryusu e companhia, que haviam corrido até aqui e estavam ofe-
gantes. Enfrentando-os estavam os undeads, que não respiravam. Seus olhos se encon-
traram e o inimigo falou primeiro.

“Eu sou Iguva, um Elder Lich sob a bandeira do Supremo. Curvem-se diante de
mim, eu lhes concederei uma morte rápida e indolor.”

Zaryusu não pôde deixar de sorrir, pois percebeu que esse Iguva não sabia de nada.

Não importava o quanto ele pensasse, só havia uma resposta.

Zaryusu sorria, mas Iguva não estava descontente. Em vez disso, ele esperou silencio-
samente a resposta. Iguva conhecia sua força e estava confiante de que poderia eliminar
Zaryusu e seus companheiros. Foi por isso que sua atitude foi de superioridade e até de
gratidão — afinal, eles tinham vindo até aqui para se sacrificarem.

“Digam-me vossas respostas.”

“Huhu, bem, quer mesmos saber...?”

Zaryusu levantou a Frost Pain e segurou-a com força. Zenberu ergueu os punhos, assu-
mindo uma postura especial de combate. Crusch não fez movimentos especiais, mas ela
tocou a fonte de mana dentro dela, preparada para lançar magias a qualquer momento.

“Então, aqui está a minha resposta— Vai sonhando!”

Os Guerreiros Skeletons consideraram que a resposta era hostil, e levantaram suas es-
padas enquanto se cobriam com seus escudos.

“Preparem-se para morrerem em agonia eterna. Lembrem-se que rejeitaram mi-


nha oferta final de misericórdia!”

“Te mandarei de volta para seu lar, para o mundo dos mortos, Iguva!”

Neste momento, a batalha que determinaria seu destino, havia começado.

Capítulo 3 O Exército da Morte


172
♦♦♦

“Vai pra cima, Zaryusu!”

Zenberu atacou primeiro, mas direcionou seus ataques a um Guerreiro Skeleton.

Ele não se importava que o Guerreiro Skeleton bloqueasse seu golpe com seu escudo;
ele simplesmente acelerou seu punho com força bruta. O escudo se dobrou para dentro
e o Guerreiro Skeleton, que se contorcia, colidiu com os outros Guerreiros Skeletons e
perderam o equilíbrio. Ele também tentou acertar outro Guerreiro Skeleton com a cauda,
mas não conseguiu emendar o ataque.

A formação dos Guerreiros Skeletons se curvou sob o ataque de Zenberu, e Zaryusu


imediatamente preencheu a lacuna que eles haviam desocupado.

“Parem ele!”

Dois Guerreiro Skeletons foram em direção a Zaryusu com suas lâminas curvas quando
ouviram o comando de Iguva.

Ele poderia tê-los evitado se quisesse. Se ele quisesse levar os golpes de frente, ele po-
deria tê-los bloqueado com a Frost Pain. No entanto, Zaryusu não fez nenhum dos dois.
Evadir implicaria em desacelerar, e ele não queria fazer um movimento tão inútil na
frente de Iguva.

Além disso, alguém já estava preparando uma jogada—

“「Earth Bind」!”

A lama crepitou como um chicote, emaranhando os dois Guerreiros Skeletons. Os chi-


cotes de lama pareciam correntes de ferro; os Guerreiros Skeletons ficaram imobilizados
enquanto Zaryusu aproveitava a abertura.

Sim — Crusch também o ajudava.

Zaryusu não estava lutando sozinho. Ele poderia confiar-se aos seus camaradas.

Infelizmente, mesmo a magia de Crusch não conseguiu selar completamente os movi-


mentos de seus inimigos, e as lâminas dos guerreiros Skeletons arranharam Zaryusu.
Todavia, essas lesões não significavam nada para ele; o sangue fervente em sua alma
desconsiderava o conceito de dor.

Zaryusu aumentou o tamanho de seus passos.

Ele correu para Iguva, que mirava nele. Mesmo que fosse atingido por uma magia de
ataque, ele estava determinado a afrontar o golpe e continuar correndo.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


173
“Tolos! Conheçam o medo! 「Scare」!”

A visão de Zaryusu turvou-se. Ele começou a se perguntar onde estava quando um ter-
ror sem nome floresceu dentro dele, e ele sentiu como se algo estivesse o rodeando de
todos os lados.

Ele parou seus passos. A magia 「Scare」 sacudiu seu coração e impediu que suas per-
nas o obedecessem. Sua mente dizia a suas pernas para se moverem, mas seu coração
não permitiria que seu corpo desse um passo.

“Zaryusu! 「Lion’s Heart」!”

Quando Crusch gritou essas palavras, o terror se dissolveu em um instante e, em seu


lugar, reacendeu-se o espírito de luta. A magia que conferia coragem havia exorcizado o
medo de seu coração.

Iguva olhou infeliz para Crusch e apontou um dedo para ela.

“Intrometida, pare de interferir! 「Lightning」!”

Houve um clarão branco—

“Gyaaah!”

—E Crusch lamuriou.

O coração de Zaryusu oscilou; foi quase consumido por um ódio intenso, mas ele con-
seguiu se controlar no final. O ódio era uma arma útil às vezes, mas contra um inimigo
poderoso, poderia acabar sendo uma lança apontada para seu próprio coração. Quando
confrontado com um poderoso inimigo, era necessário paixão ardente e lógica gelada.

Zaryusu não olhou para trás.

Já que Iguva atacou Crusch, isso significava que Zaryusu tinha uma abertura para se
aproximar. Um olhar de consternação apareceu no rosto de Iguva e ele sabia que havia
cometido um erro. Isso, por sua vez, trouxe um sorriso irreverente a Zaryusu, cuja amada
havia sido ferida.

“Tchh! 「Light—”

“Muito lento!”

A Frost Pain golpeou lateralmente, desviando o dedo que Iguva estava planejando es-
tender.

Capítulo 3 O Exército da Morte


174
“—Gah!”

“Você deixou um guerreiro chegar perto de você, magic caster! Pode ir dando adeus às
suas magias!”

Sem contar os conjuradores, a maioria dos magic caster que permitiam que um inimigo
se aproximasse poderia ter suas magias interrompidas durante a conjuração.

Mesmo um monstro poderoso como Iguva não era exceção.

Zaryusu estreitou os olhos, confuso com a sensação subindo por seu braço. Cortá-lo pa-
recia estranho; Iguva deve ter tido algum tipo de resistência a sua arma.

Ainda assim, ele não estava ileso. Sim, se ele pudesse resistir a danos, então tudo o que
ele tinha que fazer era infligir mais danos.

Sendo esse o caso, tudo o que ele tinha que fazer era continuar atacando-o.

É claro que era mais fácil falar do que fazer, Zaryusu sabia disso. Porém, isso era tudo
que um guerreiro como Zaryusu podia fazer.

“Não me menospreze, Lizardman!”

Três flechas de luz apareceram diante de Iguva e dispararam contra Zaryusu. Ele as
resvalou reflexivamente com sua arma, mas as flechas mágicas atravessaram sua arma
e perfuraram seu corpo, enviando uma onda de dor latejante através dele.

Esta foi uma 「Silent Magic: Magic Arrow」. Não havia preparação necessária para as
magias silenciosas, portanto elas não poderiam ser interrompidas. Além disso, as
「Magic Arrow」 eram magias somente bloqueáveis por magia; nem mesmo alguém
como Zaryusu poderia bloquear.

Zaryusu cerrou os dentes e golpeou Iguva com a Frost Pain.

“Kuh! Desgraçado! Lizardman maldito!”

「Magic Arrow」 poderiam sim ser indefensáveis por meios comuns, mas, inversa-
mente, causavam danos desprezíveis. Alguém como Zaryusu, com um corpo afiado ao
longo de centenas, se não milhares de batalhas, não era fraco o suficiente para ser inca-
paz de lutar por tal magia.

Os projeteis mágicos atingiram Zaryusu novamente, causando dor até os ossos. Zaryusu
segurou a dor e contra-atacou com um giro de sua espada.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


175
Depois de várias idas e vindas, os movimentos de Zaryusu começaram a diminuir. O
latejar severo dificultava seus movimentos ágeis, ilustrando claramente a diferença en-
tre ele e os undeads, que não conheciam a dor.

Iguva e Zaryusu perceberam isso, e suas expressões eram dramaticamente diferentes


como resultado.

Os fortes viveriam e os fracos morreriam. Essa era uma verdade inalterável. Isso foi
claramente ilustrado na luta corpo a corpo de Zaryusu e Iguva. No entanto, também era
verdade que os fracos poderiam competir com os fortes se eles se unissem.

“「Middle Cure Wound」!”

A dor de Zaryusu desapareceu com essas palavras e sua vitalidade retornou a ele.

Aquela cura mágica da retaguarda virou a situação contra Iguva, até então distante, e
ele amaldiçoou em voz alta:

“Malditos Lizardmen!”

Zaryusu estava lutando com seus companheiros de confiança; Crusch, Zenberu e—

“Rororo... eu não vou perder!”

“Devaneios idiotas... como se eu, uma criação do Supremo, fosse derrotado por
seres tolos! Quão idiota és!?”

Iguva olhou malevolamente para os três Lizardmen. Ele não tinha usado magia de con-
juração porque os undeads que ele havia conjurado ainda estavam por perto. Ele não
poderia conjurar mais enquanto os antigos ainda estivessem presentes. Portanto, a ba-
talha deles era monótona com idas e vindas com 「Silent Magic: Magic Arrow」, en-
quanto Zaryusu atacava Iguva.

Parecia que nunca terminaria.

Sendo esse o caso, o impasse teria que ser quebrado pelas retaguardas. Se reforços apa-
recessem de ambos os lados, a batalha logo seria decidida a seu favor.

Zaryusu e Iguva sabiam disso.

♦♦♦

O ataque elétrico fez Crusch ficar toda dolorida, mas ela engoliu sua dor e conjurou
「3rd Tier Summon Beast」.

Capítulo 3 O Exército da Morte


176
Um enorme — cerca de 150 centímetros — caranguejo com uma enorme pinça direita
surgiu da superfície da água, como se sempre tivesse dormido ali e acabado de acordar.
Escusado dizer que foi conjurado pela magia 「3rd Tier Summon Beast」.

O caranguejo gigante andou ao lado de Zenberu e pinçou os Guerreiros Skeletons com


sua enorme garra.

Zenberu sorriu para esse inesperado aliado. Considerando que ele tinha que defender
Crusch e afastar os ataques de todas as direções, a ajuda chegou bem a tempo, e foi um
grande alívio para ele.

“Tá certo então, caranguejão esquisito! Dá uma surra nesses dois aí!”
[ A g a r r o Es t al a do ]
O caranguejo gigante — chamado Snap Grasp — balançou sua pinça menor como que
em reconhecimento e virou-se para os Guerreiros Skeletons.

Não é hora de pensar essas coisas... mas esses dois até se parecem.

Crusch sorriu, apesar das circunstâncias. No entanto, ela imediatamente limpou o rosto
e se concentrou na batalha. Ao mesmo tempo, ela respirava forçadamente, para deixar
sua respiração sob controle.

Ela havia conjurado magias de proteção em Rororo e o curado antes de vir para cá, e ela
também estava conjurando magias de suporte em Zenberu. Ela estava dando tudo de si.

Além disso, ela havia conjurado uma magia de invocação em cima disso tudo. Seu corpo
estava em um estado exausto e ela estava tendo problemas para ficar em pé.

Ela ainda não tinha forças para se curar. Mesmo se tivesse, Crusch já havia decidido que
seria um desperdício de mana se o fizesse, já que perdia lentamente a capacidade de
lutar.

No entanto, se ela desmaiasse aqui, isso desmoralizaria Zenberu e Zaryusu, que esta-
vam lutando nas linhas de frente. O sangue escorria do canto da boca de Crusch, ela mor-
deu o interior de sua bochecha para se manter consciente.

“「Middle Cure Wound」!”

Ela lançou magia de cura em Zaryusu, que estava envolvido na luta com Iguva.

Suas pernas pareciam impotentes e sua visão estava trêmula. Ela sentiu uma sensação
líquida em todo o corpo.

Por um momento, Crusch não tinha idéia do porquê ela acabara assim. Quando ela caiu
na lama?

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


177
No momento seguinte, ela imediatamente percebeu o motivo. Ela não tomou feridas
adicionais, apenas deve ter desmaiado por um momento e desabou.

Crusch deu um suspiro de alívio, não porque ainda estava viva, mas porque ainda podia
lutar.

Ela não planejou se forçar a ficar de pé. Mas mesmo que tentasse, ela não tinha forças
para resistir e sentia que seria um desperdício de energia fazê-lo.

Ela viu as formas de Zaryusu e Zenberu lutando duramente em sua visão turva; as for-
mas dos companheiros com quem viajara por um breve período. Zenberu estava enfren-
tado quatro Guerreiros Skeletons de uma só vez, e Zaryusu havia suportado os ataques
mágicos de Iguva. Ambos estavam cobertos de feridas.

Crusch conseguiu controlar sua respiração e lançou uma magia.

“「Middle Cure Wound」!”

E além de curar as feridas de Zenberu...

“「Middle Cure Wound」!”

Ela curou os ferimentos de Zaryusu.

“Huu...”

Crusch estava ofegante.

Sua respiração parecia estranha. Ela estava sem fôlego, não importava o quanto ten-
tasse respirar.

Talvez um dos sintomas do uso excessivo de magia. Sua cabeça doía como se tivesse
sido golpeada. Mesmo assim, Crusch tentou o máximo para forçar seus olhos a se abri-
rem.

Tantos dos seus morreram até agora — como ela poderia ser a primeira a sair do campo
de batalha?

Quando abriu vigorosamente os olhos, mesmo com as pálpebras pesando toneladas em


seu entendimento, ela continuou:

“「Middle Cure Wound」!”

♦♦♦

Capítulo 3 O Exército da Morte


178
O punho cerrado de Zenberu bateu em cheio no crânio do Guerreiro Skeleton. Ele sentiu
o rangido dos ossos que depois quebrou-se sob a pressão de seu punho, e assim outro
Guerreiro Skeleton foi exterminado, mas seu punho só parou quando o crânio foi afun-
dado na lama.

“E com isso são dois — gahahahahh—”

Ele exalou como se estivesse respirando toda a sua fadiga e, em seguida, olhou para os
Guerreiros Skeletons restantes. O caranguejo gigante que Crusch havia conjurado não
era visto em parte alguma, mas graças à sua ajuda em lidar com dois dos Guerreiros
Skeletons, Zenberu pôde acabar com os outros dois.

A situação se desenvolveu dessa maneira graças ao apoio de Crusch.

Mais dois. Depois disso, Iguva seria o próximo.

Ele flexionou seu grosso e poderoso braço direito — ainda se movia bem.

Seu braço esquerdo estava coberto de feridas e quase inútil. Zenberu foi um pouco exa-
gerado ao usá-lo como escudo. Ele olhou brevemente para o membro flácido.

“Deixa pra lá, já ajudou muito.”

Encarando o Guerreiro Skeleton, ele tentou usar o braço flácido, mas uma dor intensa
encheu seu corpo — até mesmo tentar mover seus dedos o colocava em tremenda ago-
nia.

Mas ele realmente deixaria isso o impedir? Agora a pouco, seus novos parceiros não
desistiram, mesmo com aquele com várias de cabeça desmaiadas. Como ele, Zenberu,
poderia fazer menos?

Zenberu pôde apreciar o quão forte os Guerreiros Skeletons eram depois de lutar con-
tra eles por tanto tempo. Eles eram fortes o bastante para que apenas dois já o deixasse
em tempo de respirar.

Portanto, lidar com quatro de uma só vez significava que suas chances de vitória eram
muito pequenas.

Valeu caranguejão! Depois dessa, vou até parar de comer caranguejos por um tempo em
sinal de respeito.

Com aquele gesto silencioso de apreciação por sua comida favorita, ele olhou mortal-
mente para os dois Guerreiros Skeletons que estavam se aproximando.

Ele cerrou o punho.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


179
Ele ainda podia se mover. Então ainda poderia lutar.

Supreendentemente, ele ficou surpreso com o fato de poder continuar lutando.

“Hah! Bobagem perder tempo pensando nessas merdas!”

Havia apenas uma razão para isso, não é mesmo?

Zenberu riu de si mesmo.

Ele observou a forma de Zaryusu que estava logo atrás dos Guerreiros Skeletons,
mesmo sendo alto, aqueles inimigos superavam seu poder com folga.

“Parece muito heroico, não...”

De fato—

Ele poderia continuar lutando porque estava lutando junto com Zaryusu, Crusch e Ro-
roro.

“Minha nossa, Zaryusu, levou uma surra, hein? Tá pior do que quando trocamos aqueles
golpes.”

Com um feroz golpe de baixo para cima, ele esmagou um dos Guerreiros Skeletons. No
entanto, ele não pôde bloquear a lâmina curva com braço esquerdo, e ganhou outro corte
perto do ferimento que Crusch acabara de fechar com magia.

“...Crusch tá na pior, mas ainda faz o possível pra ajudar. Tomará que ela fique bem.”

A magia de Crusch curou mais uma vez os ferimentos de Zenberu. Ele não podia se virar
para verificar, mas parecia que a voz dela estava vindo de algum lugar muito perto da
superfície da água. Ele podia imaginar a postura dela ao conjurar tais magias — mas
mesmo assim, ela ainda os estava conjurando.

“...É uma fêmea muito boa mesmo.”

Se ele tivesse que reivindicar uma esposa, ele escolheria alguém como ela.

Zenberu estava ligeiramente com inveja de Zaryusu agora.

“De jeito nenhum que eu vou cair primeiro! Seria patético demais!”

Desviou seu braço maciço e depois bateu com a cauda. Então ele riu friamente, comen-
tando que ele era mais velho que qualquer um deles.

Capítulo 3 O Exército da Morte


180
Os dois Guerreiros Skeletons se aproximaram lentamente, com os escudos erguidos. A
maneira como eles bloquearam sua visão de Zaryusu irritou Zenberu.

“Saiam da frente, seus merdas! Assim eu não consigo ver as costas dele!”

Com um rugido, Zenberu avançou—

♦♦♦

As idas e vindas uniformemente equilibradas de Iguva e Zaryusu continuava. Os olhos


de Zaryusu estavam focados na batalha, e ele notou Iguva olhando para outro lugar. O
rosto de undead do Elder Lich se contorceu em um sorriso selvagem, e o coração de
Zaryusu pareceu congelar ao ouvir o que viria a seguir.

Ele ouviu o som de água respingando quando alguém desabou na água.

“Veja! Seu amigo caiu!”

Ele não podia olhar para trás. Talvez um dos seus camaradas tivesse caído, ou talvez
não. O coração de Zaryusu doía como se suas escamas fossem arrancadas, mas como
enfrentava um oponente tão poderoso, ele não teve o luxo de desviar o olhar. Sua derrota
seria selada no momento em que se virasse para olhar. Zaryusu não veio aqui para per-
der de uma maneira tão tola.

Ele veio aqui para ganhar.

No entanto, se os dizeres de Iguva fossem verdadeiros, então seria possível que os re-
forços inimigos estivessem vindo de trás deles. Ele tinha que pensar em uma maneira de
lidar com isso, ou as coisas poderiam ficar feias.

Enquanto Zaryusu estava se preparando para suportar uma magia de ataque, ele ouviu
o som de alguém pisando em água enquanto se levantava, assim como o som de vários
ossos estalando.

“Zaryusu! A gente terminou aqui! O resto é com vocrgh!”

“...「Middle Cure Wound」.”

Um barulho de água espalhando foi ouvido junto com o grito de dor vindo de Zenberu.

A magia de Crusch pareceu mais um gemido, mas os ferimentos de Zaryusu lentamente


se recompuseram.

“Grh!”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


181
Iguva estava claramente infeliz com isso. Mesmo sem olhar, ele poderia dizer que os
outros dois haviam feito a sua parte. Isso significaria que depois disso—

“Minha vez!”

Iguva bloqueou o corte da Frost Pain.

“Hahaha... eu, Iguva, sou um Elder Lich, mas não me despreze porque não sou um
lutador corpo a corpo!”

♦♦♦

Apesar de bancar o durão, Iguva já supunha que suas chances de vitória eram pequenas.

Dada a diferença em sua força, ele pode ser capaz de vencer em uma batalha corpo a
corpo. No entanto, a Lizardman branca tinha curado suas feridas durante todo esse
tempo, então Zaryusu tinha a vantagem da vitalidade.

Além disso, ele só podia bloquear um de cada três golpes feitos contra ele. Isso signifi-
cava que os outros dois o acertariam. Mesmo Iguva sendo resistente ao corte de armas
assim como Skeletons, e também suportando o dano adicional por frio que a Frost Pain
infligia, sua situação ainda era bastante terrível.

Ele entrou em pânico.

O Ser Supremo, Ainz Ooal Gown, o havia criado e o designado como comandante deste
exército. Ele não podia se dar ao luxo de perder aqui.

Iguva queria conjurar mais alguns soldados undeads, mas ele precisava de tempo para
a conjuração. Portanto, era difícil fazer tal magia enquanto seu inimigo estava bem na
frente dele.

Se isto continuasse, a vitória iria para seu inimigo.

Com isso em mente, Iguva voltou ao seu último recurso. Não era um método ideal —
poderia até ser o pior curso de ação se as coisas corressem mal —, mas era a única carta
que restara para jogar.

Zaryusu ficou confuso com Iguva se virando para correr, mas ele prosseguiu mesmo
assim. Iguva recebeu um golpe nas costas com toda a força de Zaryusu e titubeou, mas
não caiu. Zaryusu estalou a língua com a vitalidade inesgotável de Iguva e imediatamente
o seguiu.

Iguva se virou, seu rosto distorcido com uma raiva que parecia imprópria para um ser
undead, mas sua expressão tinha uma tonalidade de prazer.

Capítulo 3 O Exército da Morte


182
Na sua mão, crepitava uma luz carmesim — uma 「Fireball」.

A confusão pertubou Zaryusu quando ele se aproximou.

Ele planeja usar uma magia de efeito de área à queima-roupa? Ele quer se sacrificar—
não!

Um sentimento de medo percorreu o coração de Zaryusu quando percebeu que Iguva


não estava olhando para ele. Os olhos de Iguva estavam voltados para trás de Zaryusu
— em Crusch e Zenberu, caídos na lama.

—O que devo fazer?

Zaryusu sacudiu a cabeça.

Iguva estava se deixando com grande abertura. Se ignorasse os dois, ele poderia acabar
com Iguva de uma vez por todas. Mas se ele quisesse salvá-los, era difícil prever como a
batalha terminaria. Os dois ficaram gravemente feridos e um único passo em falso seria
fatal.

Eles tinham vindo tão longe justamente para isso — vencer Iguva? Muitas pessoas mor-
reram por essa causa também.

Nesse caso, ele deveria abandoná-los. Eles provavelmente sorririam e o perdoariam.


Zaryusu agiria assim se estivesse no lugar deles.

—No entanto.

Zaryusu não abandonaria os companheiros com quem ele lutou e sangrou para morrer.

Nesse caso, ele os ajudaria e depois destruiria Iguva.

Depois de decidir, as coisas ficaram muito simples.

“「Icy Burst」!”

Zaryusu ergueu uma parede de névoa congelante que emergiu a partir de seus pés.

“Gwaaaargh—!”

O vórtice congelado congelou Zaryusu por um momento; seu corpo inteiro doía além
do descritível.

Zaryusu fixou os olhos atentamente em Iguva para evitar perder a consciência, lutava a
todo instante contra a dor.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


183
Enquanto rangia os dentes e gemia de dor, a névoa gelada os envolveu e flutuou em
todas as direções.

Quando Iguva viu a névoa branca se espalhando, ele sorriu, sua expressão aparente-
mente dizia: “Assim como planejado”. Seu inimigo poderia ter vencido se tivesse aban-
donado seus amigos, mas mesmo assim ele preferiu seus amigos.

Iguva era imune ao frio e a elétricidade, motivo pelo qual ele podia ficar em pé em meio
à corrente de ar congelante. Ele esmagou a 「Fireball」 em sua mão e recuperou a mana,
porque permitir que essa chama tocasse a parede branca de ar frio que agora o rodeava
era um gesto autodestrutivo.

Uma vez que esta névoa branca começasse a dissipar, ele poderia acabar com os outros
dois Lizardmen. Primeiro, ele teria que eliminar o que ainda estava de pé. Iguva olhou
em volta e rosnou. Isso porque ele não via seu alvo.

“E agora... onde ele está?”

Sua visão estava bloqueada por massas de névoa branca.

Iguva possuía visão no escuro, mas não conseguia enxergar através de condições ambi-
entais que impediam a visibilidade. Portanto, ele perdeu a localização do inimigo.

Ainda assim, não havia necessidade de se preocupar muito. A julgar pelo grito de dor
de instantes atrás, seu oponente deveria ter sido gravemente ferido. Parando para pen-
sar a respeito, dado que o frio era poderoso o suficiente para repelir uma bola de fogo
que ele tinha projetado, seu rival deveria ter tomado dano por frio equivalente ao que
levaria se fosse atingido por uma 「Fireball」.

Receber um golpe desse porte enquanto já estava gravemente ferido poderia ser fatal.
Se fosse o caso, isso facilitaria seu lado, pois poderia prolongar a batalha e torturá-lo
ainda mais depois.

Preciso sair deste nevoeiro agora mesmo.

Assim que pensou nisso, Iguva descartou imediatamente a idéia.

—Neste momento, mover-se exporia sua posição.

Em vez de recuar, ele deveria conjurar mais undeads. Enquanto tivesse escudos de
carne, a vitória estaria na palma de sua mão, mesmo que o Lizardman ainda não esti-
vesse morto.

Quando Iguva estava prestes a lançar sua magia, ele ouviu um súbito chapinhar de água.

♦♦♦

Capítulo 3 O Exército da Morte


184
Frost Pain — um dos Quatro Tesouros dos Lizardmen, transmitido através das gerações.

Segundo a lenda, a Frost Pain foi feita do gelo quando o lago congelou pela única vez em
sua história, e possuía três poderes mágicos.

Primeira, uma aura fria que envolvia a lâmina, causava dano por frio a cada golpe bem-
sucedido.

Segundo, seu trunfo, o 「Icy Burst」, utilizável apenas três vezes ao dia.

E o terceiro era—

♦♦♦

O som de algo cortando o ar chegou aos ouvidos dele.

Antes que ele percebesse o que estava acontecendo, viu a ponta de uma lâmina diante
dos olhos.

Um grande impacto abalou o crânio de Iguva.

A lâmina que perfurou seu olho esquerdo sacudiu a cabeça. Iguva uivou de surpresa
quando finalmente percebeu o que estava acontecendo.

“Guwaaargh—! Por que não está mortooo!?”

Quando Frost Pain afundou-se em sua órbita esquerda, sentiu sua vitalidade se es-
vaindo em torrentes—

O nevoeiro se dispersava constantemente, revelando Zaryusu, cujo corpo estava co-


berto de uma leve camada de gelo. Ele ficou diante de Iguva, que estava instável em seus
pés, já que tinha uma espada cravada em sua cabeça.

Iguva não conseguia entender como Zaryusu ainda estava de pé depois de um ataque
tão poderoso baseado no frio.

♦♦♦

Isso foi devido ao terceiro poder oculto da Frost Pain.

Uma habilidade defensiva que conferia resistência a ataques baseados em frio.

♦♦♦

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


185
É claro que nem o Frost Pain conseguiu anular completamente o poder do 「Icy Burst」.
Já era difícil o suficiente para Zaryusu ficar de pé depois de receber aquele dano frio. Sua
respiração era irregular, seus movimentos eram lentos e sua cauda estava murcha no
chão. Ele mal era capaz de lutar. Na verdade, ele mal conseguira mirar este golpe. Ele
simplesmente agiu por instinto, alimentando o golpe com os últimos restos de sua força.

Pode-se dizer que foi um golpe de sorte.

Zaryusu lutou para manter os olhos abertos.

O golpe que ele havia lançado com os restos de sua força parecia ter sido suficiente para
acabar com Iguva.

Não mais capaz de lutar, Zaryusu olhou para Iguva, um olhar de expectativa no rosto.

Iguva se debatia.

Talvez Iguva não pudesse mais sustentar sua integridade corporal, a pele de seu rosto
rasgou e seus ossos se fragmentaram, enquanto suas roupas caíam em farrapos. Era só
uma questão de tempo antes que ele fosse destruído. Assim que Zaryusu pensou que ele
havia ganho em uma vitória milagrosa—

—Uma mão ossuda agarrou-o pela garganta.

“Eu... eu sou um vassalo criado pelo Ser Supremo... acha que pode me vencer... tão
facilmente!?”

O estrangulamento de Iguva não era forte, e ele poderia se soltar. No entanto—

“—Guwaargh—!”

—Agonia subiu pelo corpo de Zaryusu e ele gritou de dor.

Isso porque ele estava sendo infundido com energia negativa, que corroía sua força vital.
Zaryusu foi treinado para suportar a dor, mas não suportou a terrível angústia que rou-
bava todo o calor de suas veias.

“Morraaaa, Lizardman maldito!”

O rosto de Iguva começou a desmoronar e os fragmentos se desintegravam no ar.

A vida de Iguva estava desaparecendo, mas sua lealdade ao mestre o manteve agarrado
a esse mundo da linha entre a sua não-vida e a morte.

Zaryusu tentou resistir, mas o medo falava mais forte, seu corpo não mais respondia
aos seus comandos.

Capítulo 3 O Exército da Morte


186
Ele também estava à beira da morte. A infusão de energia negativa de Iguva estava ex-
tinguindo o restante de sua força vital.

A visão de Zaryusu oscilou e ficou turva.

Parecia que o mundo estava lentamente se enchendo de névoa branca.

Iguva também tentava desesperadamente permanecer consciente, mas sorriu em vitó-


ria ao ver a resistência de Zaryusu.

Ele teria que matar este Lizardman e os outros dois Lizardmen que se juntaram ao ata-
que. Eles deveriam ser os mais fortes entre suas raças.

Sendo esse o caso, matá-los seria um presente ao seu grande mestre — o melhor pre-
sente possível que ele poderia dar ao seu criador.

A expressão de Iguva falava mais do que suas palavras, mas aquele olhar em seus olhos
fez Zaryusu perceber que ele também sentia o mesmo.

“Pereçaaa!”

Seu corpo já não o respondia, ele podia sentir o calor de seu corpo desvanecendo, pare-
cia que algum veneno corroía seu sangue. Até respirar era difícil. Apenas sua mente per-
manecia afiada sob essas circunstâncias.

Ele não podia morrer ainda.

Rororo, que correu com toda a sua força.

Zenberu, que fizera de si mesmo um escudo vivo.

Crusch, que usara magias até desmaiar.

E então, havia todos os Lizardmen que haviam morrido lutando nessa guerra.

Enquanto Zaryusu pensava em como lutar, ele ouviu alguma coisa.

—A voz suave de Crusch.

—A voz alegre de Zenberu.

—Os gritos brincalhões de Rororo.

Ele não os ouvia de fato.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


187
Crusch estava inconsciente. Zenberu estava em coma. Rororo estava longe.

Sua mente tinha imaginado essas vozes porque estava confusa? Teria inventado as vo-
zes de amigos que ele conhecia há pouco mais de uma semana? Até mesmo os gritos de
seus familiares?

Não.

De fato, isso não estava correto.

Isso foi porque todos estavam aqui—

“—Ah... YAAAAAAGH—!”

“—!? Como ainda tem força!?”

O semiconsciente Zaryusu gritou, e Iguva exclamou em surpresa.

Os olhos de Zaryusu moveram e se fixaram em Iguva. Seus olhos estavam nublados, mas
seria difícil acreditar que ele não estivesse visto com o próprio olho sua intensidade la-
tente. A visão fez Iguva congelar.

“Crusch! Zenberu! Rororo!”

“—! O que está tentando fazer—!? Morraaa!”

De onde ele tirou essa vitalidade? A onda maciça de energia negativa que fluía para ele
deveria estar se dissolvendo e consumindo a força vital de Zaryusu. E, de fato, os mem-
bros de Zaryusu estavam pesados, e seu corpo parecia congelado.

Mesmo assim, toda vez que ele gritava seus nomes, Zaryusu sentia um lampejo de calor
dentro dele. Esse calor não veio de sua força vital.

Em vez disso, surgiu de um lugar dentro do peito — o coração.

Ele podia ouvir o som de músculos tensos. Esse som veio da mão direita de Zaryusu, do
seu punho cerrado. Ele estava infundindo toda a sua força naquele punho.

♦♦♦

“Isso é ridículo—! Como ainda pode se mover? Monstro malditoo—!”

Ele realmente podia se mover. Verdadeiramente uma visão inacreditável.

As emoções se alastraram no coração de Iguva, mas ele se esforçou para reprimi-las.

Capítulo 3 O Exército da Morte


188
Ele era Iguva, o comandante geral das forças da Grande Tumba de Nazarick durante
esta expedição, e mais importante, ele foi a criação do Supremo Governante da Morte —
Ainz Ooal Gown.

Um ser poderoso como ele não poderia ser derrotado assim—

“Mor—!”

“—Este é seu fim, monstro!”

Ele foi mais rápido.

Sim, a velocidade total desse golpe foi mais rápida do que a taxa em que Iguva estava
infundindo energia negativa—

O punho firmemente fechado atingiu o cabo da Frost Pain—

—As juntas de Zaryusu sangraram. Atingido por um golpe tão pesado, a lâmina perfu-
rou o crânio de Iguva.

“ARGHHHH!”

Como um undead, Iguva não sentia dor, mas ainda podia entender que a energia nega-
tiva que provia sua vida havia desaparecido.

“Mas... mas... como isso poderia... Ain...z... sama...”

O completo entendimento de seu fracasso banhou os olhos de Iguva. Quando Zaryusu


desabou como uma marionete cujos cordéis foram cortados, houve um grande baque.

“...Me... me... perdoe...”

—Finalmente o corpo de Iguva caiu, acompanhado do pedido de desculpas ao seu mes-


tre.

♦♦♦

O interior da sala estava em silêncio. Ninguém acreditava no que tinham acabado de


ver, e assim ninguém falou. A única exceção era a empregada — Entoma.

“Cocytus-samaaa, parece que o Ainz-sama está chamando o senhorrr.”

“—Entendido.”

Com a cabeça baixa, Cocytus se virou para Entoma.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


189
Ele reprimiu sua vergonha enquanto seus vassalos olhavam para ele com desconforto.

Mas por outro lado, ele queria oferecer elogios.

Afinal, essa tinha sido uma batalha emocionante.

E pensar que o inimigo realmente transformou o impossível no possível. É verdade que


o Elder Lich havia cometido alguns erros de julgamento, mas, em circunstâncias normais,
o Elder Lich ainda deveria ter vencido, apesar de seus erros.

“...Surpreendente, Verdadeiramente. Surpreendente.”

Cocytus repetiu essas palavras para expressar sua sincera opinião.

Eles haviam desafiado e vencido o impossível.

“...Que. Pena.”

Cocytus respirou enquanto observava os Lizardmen dançando e cantando em triunfo


através do espelho.

Os guerreiros mostrados no espelho eram extremamente fracos, mas eles tinham acen-
dido o espírito de luta de Cocytus.

“Ah... Realmente, Uma. Pena.”

Cocytus hesitou. Ele escolheu o cenário mais assustador dos muitos em sua mente, pen-
sou nele e tomou uma decisão.

“—Vamos.”

Parte 6

Zaryusu sentia como se estivesse sendo levado para fora de um mundo de trevas. Seu
corpo estava bem melhor.

Depois que ele abriu os olhos, a cena borrada diante dele o fez querer se perguntar al-
gumas coisas.

Onde estou? Por que estou dormindo aqui?

Inúmeras perguntas surgiram em seu coração, e então ele percebeu que havia um peso
sobre ele.

Capítulo 3 O Exército da Morte


190
—Branco...

Zaryusu olhou para a forma branca. Tendo acabado de acordar, a palavra “branco” foi a
primeira coisa que lhe veio à mente. Enquanto lentamente recupera os sentidos, ele per-
cebeu o que era.

Era Crusch. Ela havia adormecido em cima dele.

“Uh...”

Ela está viva.

Zaryusu ficou tão aliviado que quase pronunciou essas palavras em voz alta. No entanto,
ele as engoliu. Não suportava acordar Crusch e resistiu ao impulso de tocá-la. Suas esca-
mas podiam ser bonitas, mas ele ainda não podia tocar uma fêmea adormecida apenas
por capricho.

Zaryusu lutou para não tocar Crusch e começou a pensar em outras coisas.

Havia muitas coisas para ponderar.

Para começo de conversa, o que ele estava fazendo aqui?

Ele tentou relembrar, pensando no que havia acontecido no passado. A última coisa que
conseguiu lembrar foi a visão da derrota de Iguva, tudo depois disso era obscuro. No
entanto, o fato de que não havia sido capturado, mas sim dormindo aqui, significava que
as tribos haviam vencido.

Zaryusu soltou um lento suspiro de alívio, evitando acordar Crusch. Parecia que o fardo
dos últimos dias finalmente havia se dissipado, mas, na verdade, ainda havia alguns pro-
blemas importantes.

Contudo, ele queria deixar seu coração descansar por enquanto. Zaryusu aproveitou o
calor de Crusch e suspirou baixinho.

Depois disso, Zaryusu tateou seu próprio corpo. Ele estava totalmente normal, não ha-
via nada faltando. Ele pensava que poderia ter sido aleijado de alguma forma, mas parece
que que a sorte estava do seu lado.

Só então, ele pensou no outro amigo que lutou ao seu lado. Não havia mais ninguém no
quartinho além de Crusch. Sendo esse o caso, o que aconteceu com Zenberu? Um senti-
mento de desconforto o banhou, ainda assim, um macho poderoso como Zenberu não
morreria tão facilmente.

Crusch dava ares de ter sido acordada pelos movimentos de Zaryusu e seu corpo moveu.
Parecia que seu corpo suave tocava sua alma. Ela deve estar prestes a acordar.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


191
“Mmmn...”

Crusch fez um gemido adorável e depois olhou ao redor com os olhos sonolentos. Logo
que percebeu Zaryusu embaixo dela, ela sorriu de alegria.

“Muu—”

Depois que Crusch, ainda sonolenta, abraçou Zaryusu, ela começou a se esfregar nele.
Era como se ela fosse um animal tentando marcá-lo com seu cheiro.

Zaryusu ficou sem saber como reagir e deixou Crusch fazer o que quisesse. Na verdade,
havia até uma voz perversa dentro dele que dizia: “Não é como se eu não quisesse isso”.

Suas escamas esbranquiçadas eram frias e agradáveis. Além de serem muito confortá-
veis, também emitiam um aroma encantador de ervas.

Será que eu devo abraçá-la?

Assim que ele estava prestes a perder o controle, Crusch caiu em si e ela olhou nos olhos
de Zaryusu.

—Ela ficou paralisada.

Zaryusu começou a pensar no que dizer à Crusch, que estava em silêncio. Finalmente,
ele decidiu sobre algo que aliviaria o clima:

“—Posso te abraçar também?”

Bem, suas emoções crescentes lhe disseram que seria o correto.

Crusch gritou de surpresa, e sua cauda bateu no chão. Então, ela praticamente saiu de
perto de Zaryusu, até que deu de costas em uma parede.

Ele podia ouvir um suave gemido de Crusch enquanto ela se enrolava no chão, dizendo:
“Estúpida, estúpida, eu sou tão estúpida”, ou algo nesse sentido.

“...Bem, estou muito feliz que esteja bem, Crusch.”

Essas palavras pareciam restaurar alguma aparência de normalidade em Crusch (ex-


ceto sua cauda), e ela olhou para cima e sorriu para Zaryusu.

“Digo o mesmo, eu estou feliz que esteja bem.”

Um pensamento impróprio apareceu na mente de Zaryusu enquanto ele olhava para o


rosto gentil de Crusch, mas ele lutou para resistir e fez uma pergunta mais apropriada.

Capítulo 3 O Exército da Morte


192
“Você sabe o que aconteceu depois que eu desmaiei?”

“Bem, mais ou menos. O inimigo recuou depois que Iguva foi derrotado, e parece que
seu irmão derrotou os monstros com sucesso, e então nós três fomos salvos... aconteceu
ontem.”

“Então, o Zenberu... ele não está aqui...”

“Sim, ele está bem. Acho que ele se recuperou mais rápido que você; ele ficou bem com
um pouco de magia de cura, então agora deve estar ajudando na limpeza do pós-batalha.
Eu estava muito exaurida por causa da mana, acabei desfalecendo aqui...”

Crusch levantou-se e sentou-se ao lado de Zaryusu. Ele também queria se levantar, mas
Crusch gentilmente o deteve.

“Não se esforce demais. Você foi o que mais se feriu na batalha.”

Talvez ela estivesse se lembrando das circunstâncias, mas a voz de Crusch ficou baixa.

“Estou tão feliz... feliz que tenha voltado inteiro...”

Zaryusu gentilmente acariciou Crusch — cujos olhos estavam abatidos — para con-
fortá-la.

“Eu não vou morrer antes de ouvir sua resposta. Estava muito preocupado com você.”

A resposta. Essa palavra os fez estoicos.

Ambos não disseram nada. O silêncio no ar era tão denso que quase se podia ouvir seus
corações batendo.

A cauda de Crusch moveu-se lentamente para envolver Zaryusu. A maneira como as


duas caudas — uma escura e uma clara — entrelaçaram-se fê-las parecer um par de co-
bras acasaladas.

Zaryusu olhou para Crusch que, por sua vez, olhou-o também. Eles viam seus próprios
reflexos nos olhos um do outro.

Zaryusu falou em voz baixa — não, não era uma fala, mas um chamado. Era o mesmo
chamado que fizera na primeira vez em que vira Crusch.

—Um chamado de acasalamento.

Zaryusu não fez nada além disso. Não, seria melhor dizer que ele não podia fazer nada.
A única coisa que se movia era seu coração, batendo violentamente dentro de seu peito.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


193
Logo, um som similar foi emitido por Crusch — um chamado. Foi igualmente agudo,
gorjeando perto do fim — um chamado de acasalamento que fôra aceito.

Havia um olhar indescritivelmente fascinante no rosto de Crusch, e Zaryusu não conse-


guia mais tirar os olhos dela. Crusch deitou-se em Zaryusu, da mesma maneira que ela
estava quando adormeceu mais cedo.

Não havia nada entre os dois agora. Suas respirações e o calor de seus corpos se mistu-
ravam. Seus batimentos cardíacos se sincronizaram ao toque de seus peitos. Assim, os
dois se tornaram um—

♦♦♦

“Yo! Cadê vocês!?”

—E então Zenberu abriu a porta e entrou.

Crusch e Zaryusu congelaram como um par de estátuas de gelo.

Zenberu olhou para eles — em Crusch, sentada sobre Zaryusu — com uma expressão
de perplexidade no rosto e inclinou a cabeça:

“Que foi? Não tão trepando?”

Quando perceberam o que Zenberu estava falando, os dois se separaram um do outro,


então se levantaram lentamente e se aproximaram sem uma palavra.

Zenberu parecia completamente confuso quando se inclinou para olhar por cima dos
dois.

“—Guwaaargh!”

Os dois punhos em suas entranhas lhe tiraram o ar, e o corpo maciço de Zenberu caiu
sobre o chão.

“Uuug... bons socos... especialmente o seu, Crusch... ugggh... doeu pra caramba...”

Zaryusu à parte, até mesmo o punho de uma fêmea enraivecida foi suficiente para der-
rotar Zenberu. Apenas um soco não foi o bastante para acalmar sua raiva, mas o clima
no ar havia desaparecido sem deixar vestígios e não voltaria, mesmo se ela continuasse
a atingi-lo.

A maneira como eles deram as mãos — como um antidoto para não bater ainda mais
em Zenberu — também foi bastante intrigante, mas Zaryusu decidiu esclarecer as preo-
cupações em seu coração fazendo uma pergunta a Zenberu.

Capítulo 3 O Exército da Morte


194
“Mudando de assunto. Tem muitas coisas que eu preciso te perguntar. Eu perguntei à
Crusch, mas eu quero sua opinião também, qual a nossa situação agora?”

Zenberu ignorou a maneira como eles estavam de mãos dadas e respondeu:

“Ainda não percebeu? A gente tá fazendo uma celebração daquelas!”

“E meu irmão é o responsável, acertei?”

“Isso aí. Mas enfim, os caçadores foram verificar, e não encontraram mais nada, nenhum
sinal de reforços ou de emboscada. Não tinha nada que chamasse a atenção. Ninguém
abaixou a guarda ainda, mas o seu irmão já declarou vitória. Só vim aqui porque ele man-
dou.”

“Ordens dele?”

“Pois é, aí seu irmão me disse —Gahahaha, deixa eles descansarem um pouco. Até onde
sei, devem estar trepando como coelhos. Gahaha, tô me sentindo até mal por ter atrapa-
lhado o clima, mas a curiosidade falou mal alto. Gahahaha!”

“Deixa de mentira! E desde quando ele ri com ‘gahaha’?”

“O-oh..., agora que falou, acho que não tinha nenhuma ‘gahahaha’ mesmo...”

“Como se o Ani-ja realmente risse desse jeito, até parece...”

“Quero dizer, só tava dizendo do jeito que entendi...”

“—Seu nojento.”

As palavras da boca de Crusch foram frígidas o suficiente para rivalizar com as tempe-
raturas abaixo de zero do 「Icy Burst」. Até mesmo Zaryusu ficou assustado com aquele
barulho aterrorizante. Naturalmente, Zenberu — como o alvo dessas palavras — conge-
lou em um instante.

“Então, porque você está aqui?”

“Certo, eu vim pra...”

“Se você veio para bisbilhotar, vou te dar um gostinho da minha magia.”

Crusch não estava brincando. Zaryusu e Zenberu estavam bem cientes disso.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


195
“Eeer... pra que isso...? Eu vim convidar vocês. Nós três fomos as figuras-chave na vitória,
não é? Então nem pensar que vão ficar de fora. Fora que a gente precisa planejar o futuro
juntos...”

“Entendi...”

Crusch sorriu sem graça depois de ouvir a explicação de Zenberu e entender o que isso
significava. Resumindo: eles tinham que planejar outra batalha no futuro e agora era o
melhor momento para mostrar sua força.

“Ah, sim. Vamos juntos, Crusch?”

Crusch inflou suas bochechas em desgosto, e ela parecia um sapo mutante do tipo que
vivia no pântano.

Porém, é muito mais bonita que um.

Pensou Zaryusu.

“E aí?”

Zenberu perguntou ao casal — que olhavam um para o outro — em um tom casual.

“Ah... Uhum. Vamos indo.”

Depois que concordaram, os três saíram. Assim que desceram os degraus até a cabana
e pisaram no pântano, Zaryusu desapareceu da linha de visão de Zenberu e Crusch. Isso
porque algo enorme o atingira.

*Dongorogoropashpash*

Isso foi provavelmente como soou.

O que envolveu Zaryusu foi o corpo de Rororo. Suas quatro cabeças se contorciam ener-
gicamente, e farejou Zaryusu, que havia caído no pântano.

“Rororo! Você está bem!”

O Zaryusu, manchado de lama, levantou-se e gentilmente acariciou o corpo de Rororo


ao examiná-lo. Ele aparentemente recebeu cura mágica, porque as queimaduras anteri-
ores foram completamente curadas, como se nunca tivesse sido ferido antes.

Rororo gorgolejou e envolveu suas cabeças brincando em torno de Zaryusu. As cabeças


amarravam seu corpo inteiro, e elas pareciam estar apertando com força.

“Ei ei ei, Rororo, assim não!”

Capítulo 3 O Exército da Morte


196
Em tom de brincadeira, Zaryusu implorou a Rororo que parasse, mas Rororo simples-
mente gritou de alegria e se recusou a soltar.

*Pasha, pasha, pasha*

Zaryusu de repente ouviu o som rítmico de respingos. Ele ficou perplexo quando per-
cebeu sua fonte. Os ditos respingos vieram de Crusch, ela estava sorrindo gentilmente
enquanto olhava para Zaryusu e Rororo, mas sua cauda atingia o pântano como um me-
trônomo.

Zenberu — que originalmente estava de pé ao lado de Crusch — estava agora se distan-


ciando dela, com um olhar de estranho no rosto.

Rororo parou de brincar. Provavelmente sentira algo estranho.

“Que foi?”

“Nada não...”

Zaryusu olhou para Crusch, que estava bastante confusa. Ele não entendeu. Não impor-
tava como parecesse, Crusch parecia estar sorrindo para o reencontro de Rororo e
Zaryusu, mas por algum motivo isso o fez ficar arrepiado.

“Que estranho—”

Crusch sorriu novamente.

Rororo deixou Zaryusu, assim que se libertava, Zenberu olhou nervosamente. Talvez
ele fosse incapaz de suportar tal atmosfera assustadora, então Zenberu decidiu apressa-
damente mudar de assunto:

“Certo, Rororo, venha comigo.”

Rororo não conseguia entender o que os Lizardmen estavam dizendo, mas neste caso
parecia que sim. Depois que Zenberu o montou, saiu imediatamente com velocidade sur-
preendente.

Depois que os dois saíram, o mesmo ar sinistro pairou entre Zaryusu e Crusch.

Ela segurou a própria cabeça e chacoalhou.

“Ahhh, o que deu em mim? Parece que meu coração não é mais meu. Eu sei que é boba-
gem, mas não consigo me controlar. Parece uma maldição.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


197
Zaryusu podia entender como ela se sentia. De fato, ele se sentiu da mesma maneira
quando a conheceu.

“Para ser sincero, Crusch — eu estou muito feliz.”

“—O quê?”

*Pasha!* Um barulho que foi mais alto do que o habitual soou. Então, Zaryusu foi para
o lado de Crusch.

“Ouça, você pode ouvir?”

“Huh?”

“As coisas que protegemos e as coisas que temos que proteger no futuro.”

O vento carregava um ruído alegre consigo. Estava havendo uma festa regada a vinho.
Seria uma festa para se despedir e agradecer aos espíritos ancestrais, celebrar suas vi-
tórias e dar aos mortos o que lhes é devido.

Em circunstâncias normais, o vinho era uma mercadoria muito valiosa. O fato de pode-
rem hospedar tantos banquetes nesses poucos dias foi porque Zenberu e sua tribo trou-
xeram um dos Quatro Tesouros, motivo pelo qual podiam desfrutar de bebidas alcoóli-
cas ilimitadas. Além disso, o clima festivo quase inacreditável agora era porque todos
das tribos estavam reunidos aqui.

Zaryusu riu para Crusch quando ouviu as festividades:

“Talvez ainda não tenha acabado. Talvez aquele tal Supremo se vingue de nós. Mesmo
assim... vamos relaxar um pouco hoje.”

Com isso, Zaryusu passou o braço pela cintura de Crusch. Crusch permitiu que a força
de Zaryusu a segurasse, e então ela encostou a cabeça no ombro de Zaryusu.

“Devemos?”

“Sim...”

Depois de dizer isso, Crusch hesitou brevemente antes de acrescentar:

“...Querido.”

Inclinando-se um contra o outro, os dois Lizardmen desapareceram na comoção da


festa—

Capítulo 3 O Exército da Morte


198
Capítulo 04: O Alvorecer do Desespero

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


199
Parte 1

s passos de Cocytus estavam pesados enquanto caminhava em direção ao

O
Salão do Trono. Parecia ser contagioso, pois os passos de seus vassalos
vindo por trás eram lentos e pesados também.

A razão para isso foi por ter perdido para os Lizardmen. Eles haviam lide-
rado as forças de Nazarick em batalha e terminaram derrotados.

Pessoalmente, Cocytus tinha uma boa impressão dos Lizardmen. Tendo sido criado
como um guerreiro, Cocytus tinha um profundo respeito por excelentes guerreiros.

No entanto, a situação agora era completamente diferente.

Nazarick não poderia sofrer uma derrota. Além disso, eles não lutaram para se defender,
mas para conquistar uma área do mundo exterior. Qualquer um ficaria chateado por
uma gloriosa primeira batalha ter terminado em derrota ignominiosa.

De fato, ele não tinha o exército adequado. Isso o fez lembrar das palavras de Demiurge.
No entanto, isso seria uma mera desculpa. Mesmo que seu mestre tenha considerado a
possibilidade de fracasso, ainda seria melhor vencer.

Logo, ele viu a sala diante do Salão do Trono — a Chave Menor de Salomão (Lemegeton).
Seus passos ficaram mais pesados, a ponto de os espectadores pensarem que ele havia
sido atingido por algum tipo de magia.

Cocytus não se importava se seu mestre o repreendesse. Ele já havia se preparado para
ser morto ou condenado a cometer suicídio e apagar a mancha de sua desonra.

O que Cocytus temia era desapontar seu mestre.

O que ele deveria fazer se fossem abandonados pelo único Ser Supremo remanescente?

Cocytus considerava-se uma arma. Ele se via como a espada empunhada por seu mestre,
que cortava obedientemente quando ordenada. Portanto, a coisa mais assustadora que
ele poderia imaginar era ser considerado inútil e imprestável.

Pior ainda, como ele poderia encarar os outros Guardiões se seu mestre os abandonasse
por causa dele?

Eles. Nunca. Me. Perdoariam. Se. As. Coisas. Piorarem, Nem. Mesmo. Minha. Vida. Será.
Suficiente. Para. Expiar. Meus. Erros.

E também—

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


200
Se. O. Mestre. Estiver. Decepcionado. E. Nos. Abandonar. Assim. Como. Os. Outros. Seres.
Supremos, O. Que. Devo. Fazer...

Cocytus tremeu. Ele era imune ao frio, então o tremor não era devido a uma fonte ex-
terna, mas de uma causa interna. Se Cocytus fosse um ser humano, ele teria começado a
vomitar sob a tremenda pressão mental que o preenchia.

Isso. Não. Pode. Acontecer... Ainz-sama. Nunca... Nos. Abandonaria.

Ele era o único Ser Supremo remanescente na Grande Tumba, depois de todos os outros
terem partido.

Ele era seu Ser Supremo e seu governante absoluto.

Como. Poderia. Um. Mestre. Tão. Misericordioso. Nos. Abandonar?

Ele tentou se consolar com esse pensamento, mas no fundo do seu coração, uma voz
calma o disse que tal coisa não era impossível.

Ele alcançou o Lemegeton.

Em circunstâncias normais, não haveria ninguém aqui além dos Golems circundantes e
dos monstros de cristal. Contudo, havia muitos seres presentes. Especificamente, Demi-
urge, Aura, Mare e Shalltear, juntamente com seus vassalos de alto nível escolhidos a
dedo.

Todos olhavam para Cocytus, e sua culpa causou um rápido pânico em seu rosto.

Isso porque ele sentia que todos o castigavam por seu fracasso. Ou não — Cocytus sen-
tiu que eles poderiam estar se culpando. O pensamento a partir de agora cruzou sua
mente mais uma vez. Quem poderia dizer que eles podem não se sentir da mesma ma-
neira?

Após uma inspeção mais próxima, ele descobriu que não havia sinal de repreensão em
seus olhos.

“Perdoe. Meu. Atraso, Até. O. Demiurge, Que. Estava. Mais. Distante, Chegou. Aqui. Antes.
De. Mim.”

“Não tem problema. Não há necessidade de se desculpar por esses assuntos triviais.”

Demiurge falou pelos outros.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


201
Seu tom era calmo como sempre, sem qualquer sugestão de emoções negativas. No en-
tanto, Demiurge era um Guardião que era perito em planejamento, habilidade em mani-
pular emoções e esconder seus verdadeiros sentimentos, então Cocytus não sabia dizer
se estava realmente descontente ou não.

Deste ponto de vista, pôde-se concluir que o estado de Demiurge enquanto assistia à
batalha entre Ainz e Shalltear foi um acontecimento bem singular. Certamente, isso era
uma demonstração das profundezas de sua devoção.

“Eu já informei os outros Guardiões, mas vou tomar o lugar de Albedo, serei o Supervi-
sor desta vez. Há alguma objeção?”

“Não. Por mim, tudo bem.”

Albedo não estava por perto pois ela estava acompanhando seu mestre no lugar de Se-
bas.

“Ótimo. Assim que todos chegarem, iremos para o Salão do Trono juntos. No entanto,
como a Albedo não está aqui, gostaria de ratificar nossa lealdade ao nosso mestre. Em-
bora esse tipo de coisa deva ser ensaiado de antemão, não há tempo para isso agora.
Assim, darei uma explicação verbal para acelerar as coisas, peço que prestem atenção.”

Os Guardiões e seus servos indicaram sua compreensão, mas apesar disso, Cocytus ti-
nha uma pergunta. Todos os Guardiões estavam aqui, então quem exatamente eles esta-
vam esperando?

Mas suas perguntas foram respondidas assim que o viu. Cocytus sentiu a presença de
um ser vivo se aproximando.

Quando olhou naquela direção, ele viu uma criatura heteromórfica flutuando no ar, em
direção ao Lemegeton. Parecia uma criança— não, talvez um feto seria mais preciso. Ti-
nha um pequeno e enrugado rabo e seu corpo era rosa brilhante. Tinha uma auréola
angelical sobre a cabeça e um par de asas murchas sem penas nas costas. Tinha cerca de
um metro de comprimento e voava lentamente por esse caminho.

“Quem é esse aí?”

Demiurge respondeu à pergunta de Aura:

“É Victim, Guardião do Oitavo Andar.”

“Então esse é o Victim...”

Victim alcançou o Lemegeton e girou. Cocytus teve a sensação de que ele estava olhando
ao redor.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


202
OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman
203
Já que Victim não tinha pescoço, ele teve que virar o corpo inteiro para olhar ao redor.

C o m o v a i ‚ pessoal‽ Me chamo V i c t i m ˳
“Ohlemrev, a v u ? aseuqrut atocarret.”

Demiurge parecia completamente indiferente à maneira peculiar de falar de Victim e


respondeu em nome de todos:

“Bem-vindo, Victim. Eu sou Demiurge e estou no lugar da Albedo para esta reunião.”
Ainz-sama m e i n f o r m o u previamente˳
“Axiema luza olerama oãrfaça .”

Após dizer isso, Victim fez com que todo o seu corpo virasse, olhando para todos mais
uma vez.
E u conheço a t o do s ‚ então e s p e r o q u e entendam s e e u p e d i r q u e dispensemos
“ Asor ogidní obmaj , oãmil ocsamad oãmlas o x o r asor aruprúp oterp o t e r p
as apresentações˳
aniregnat .”

“Mesmo? Ótimo. Então, já que estamos todos aqui, vou explicar o que eu estava falando.”

Todos prestaram muita atenção à explicação de Demiurge, porque logo encontrariam


seu mestre supremo, Ainz-sama, no coração da Grande Tumba de Nazarick. O menor
erro pode muito bem ser punido com a morte.

Depois que ele terminou de falar, Demiurge deu a todos algum tempo para digerirem o
que tinham ouvido antes de guiar os Guardiões e seus vassalos para o Salão do Trono.

O coração de Cocytus palpitou quando entrou no Salão, ele tinha entrado poucas vezes
antes.

Com sua construção notável, as bandeiras que representavam os Seres Supremos assim
como o Item World-Class em suas profundezas, esta sala realmente merecia seu nome
como o coração de Nazarick. A exibição espetacular diante dele permitiu-lhe esquecer
brevemente o tormento dentro de sua alma.

Ao longo do caminho, os Guardiões deixaram seus vassalos para trás e formaram uma
linha nos degraus diante do trono. Então, eles saudaram o emblema da guilda Ainz Ooal
Gown, que pendia sobre as paredes como sinal de respeito e lealdade.

Depois disso, eles se ajoelharam com as cabeças abaixadas, aguardando a chegada de


seu mestre.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


204
Logo, o som das pesadas portas se abrindo veio de trás, e um par de passos entrou no
corredor. Escusado dizer que não era o som do seu mestre, porque o dono da Grande
Tumba de Nazarick nunca se moveria desacompanhado.

“Uma recepção calorosa para Ainz Ooal Gown-sama, Governante Supremo da Grande
Tumba de Nazarick, bem como Albedo-sama, a Supervisora Guardiã.”

Essa voz pertencia à Yuri Alpha, das Pleiades.

Eles podiam ouvir as portas se abrindo mais uma vez, e desta vez houve o som nítido
de botas e um cajado batendo no chão. Foi seguido por sapatos de salto alto pisando no
chão.

Normalmente, quando o mestre entrava, eles deveriam ter se curvado para demonstrar
respeito. No entanto, ninguém presente fez isso. Isso porque já estavam demonstrando
seu maior respeito.

No entanto, esse não foi o caso de Cocytus.

O desconforto que enchia sua alma se manifestou em seu corpo como um movimento
físico. Foi uma coisa pequena, mas influenciou muito o humor no ar.

Através do uso de uma habilidade, Cocytus podia sentir os outros Guardiões prestando
atenção nele. Albedo, andando atrás de seu mestre, também estava irradiando uma raiva
que tentava suprimir sem muito sucesso. Porém, ninguém se atreveu a falar nessas cir-
cunstâncias.

Os passos passavam lentamente pelos Guardiões todos alinhados, subiam os degraus e


então alcançavam o trono, terminando no som de alguém sentado. A voz de Albedo então
ecoou em voz alta e límpida pelo Salão do Trono.

“Levantem vossas cabeças para contemplar a glória de Ainz Ooal Gown-sama.”

Os Guardiões reunidos olharam para cima — os sons de seus movimentos foram per-
feitamente coordenados — para seu mestre que estava sentado no trono.

Cocytus também levantou a cabeça imediatamente.

Lá, ele viu o Supremo Governante da Grande Tumba de Nazarick, o Ser Supremo cujo
cajado estava envolto em uma terrível aura, iluminada por um misterioso esplendor ne-
gro — Ainz Ooal Gown.

Diante dele estava Albedo, que olhava de cima para os Guardiões, incluindo Cocytus.
Satisfeita com o que viu, ela assentiu e então se virou para Ainz.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


205
“Ainz-sama, os Guardiões de Nazarick estão reunidos ante sua presença. Por favor, con-
ceda-nos suas ordens.”

Ainz fez “Uhun” em tons régios e profundos, antes de bater seu cajado no chão. O gesto
atraiu a atenção de todos e, em seguida, Ainz falou lentamente:

“Bem-vindos, Guardiões. A seguir, primeiramente devo transmitir meus agradecimen-


tos. Demiurge!”

“Sim!”

“Eu sempre estou te importunando por qualquer coisa. Bom trabalho. Obrigado pelo
seu serviço leal.”

“Oh, meu senhor, é um elogio muito generoso. Eu sou apenas seu humilde servo, Ainz-
sama; é natural que eu apareça diante do senhor sempre que me convocar. Isso não re-
quer nenhum agradecimento.”

Demiurge fez uma reverência profunda. Ele parecia estar tremendo de deleite.

“Se é como se sente. Ah, claro. Alguém suspeito apareceu na área que está?”

“Não. Porém, tenho sido muito cuidadoso e deve ser fácil detectar alguém que se apro-
xime...”

“...Isso é bom. Mas não abaixe sua guarda. Afinal, nossos inimigos podem atacar ao me-
nor descuido. Além disso, há a questão da pele que você me trouxe... de acordo com o
Bibliotecário Chefe, é possível fazer pergaminhos de baixo nível com ela. Você pode ga-
rantir um fornecimento estável?”

“Sim! Não haverá problemas a respeito disso. Já capturamos uma quantidade adequada.”

“Ah, ótimo... Mas, como se chamam mesmo as criaturas?”

“Criaturas...? Ah! Aquelas criaturas que o senhor diz, Ainz-sama...”

Demiurge fez uma breve pausa para pensar e continuou:

“São ovelhas de duas patas do Reino Sacro. O que acha do nome Abelion Sheep?”

O tom alegre de Demiurge intrigou Cocytus. Demiurge era fundamentalmente alguém


de bom temperamento, possivelmente até compassivo. Entretanto, isso apenas com as
criações dos Seres Supremos. Ele era extremamente cruel com os demais.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


206
Poder-se-ia vislumbrar tons da dita crueldade sob sua máscara bem-humorada. Mesmo
sua malícia profundamente enraizada sendo dirigida para as criaturas mencionadas
acima, ele realmente se referiria a seres não inteligentes com tal atitude?

Dada a personalidade de Demiurge, algo não se encaixava. No entanto, não era o mo-
mento ideal para tais perguntas.

“Entendi... ovelhas.”

Seu mestre parecia satisfeito, o que por sua vez colocou um sorriso nos rostos de De-
miurge e Albedo.

“Embora eu ache que bodes seriam melhores... esse nome servirá. Então, a pele dessas
ovelhas deve servir... Será que a captura excessiva afetará o ecossistema local?”

“Eu duvido. E o uso da magia de cura nos permite esfolar indefinidamente. Portanto,
não precisaremos capturar grupos grandes se não nos envolvermos em produção em
grande escala. Isso também é graças ao trabalho dos Torturers.”

“Hm? As partes do corpo separadas não desaparecem quando a magia de cura é apli-
cada?”

“Sobre isso... aprendemos algumas coisas durante nossos experimentos. Se uma grande
mudança ocorrer nas partes do corpo decepadas — se forem moídas, por exemplo —
essas partes permanecerão. Em outras palavras, uma vez que a pele esfolada tenha sido
processada, a magia de cura não mais a reconhece como parte do corpo, e com isso não
mais desaparece quando é aplicado magia de cura. Com isso, descobrimos que eles po-
dem ser alimentados com a própria carne extraída deles. Uma curiosidade, não exata-
mente relacionada ao assunto, mas se aquele que for curado rejeita a magia, ou quem
curar não a fizer com boa vontade, sua eficácia de cicatrização cai e isso gera cicatrizes.
Com isso, chegamos à conclusão que magias de nível inferior são mais propensas a cica-
trizes com o passar do tempo.”

“Interessante... a magia é bastante impressionante. Muito bem, continue.”

“Como desejar. Eu devo começar a colhê-las de acordo com a idade e o sexo. Uma vez
feito isso, poderia me dizer qual idade de pele é mais adequada?”

“Vou deixar o Bibliotecário Chefe lidar com isso. A seguir, Victim.”

S i m ‚ Ainz-sama˳
“Luza, a z n i c .”

“Eu o chamei aqui por apenas um motivo. Se algo inesperado acontecer, eu posso pre-
cisar de você para nos proteger com sua habilidade... Peço desculpas por isso, e prometo
que vou ressuscitá-lo imediatamente. Espero que entenda.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


207
Demiurge j á m e contou i sso ˳ Por favor n ã o s e preocupe‚ Ainz-sama˳ Afinal‚ e u
“ Aipés aniregnat ahcibok odrap . Aneis enimsaj ocissáirt , ohnatsac . Aven , egeb
ta m bé m s o u s e u servo˳ O objetivo da minha v i d a é a morte‚ então não há
ohnatsac misemrac odrac . Iuqac orbur s á l i l ocnarb luza aishcúf , aznic megiluf
m a i o r a l e g r i a p a r a m i m d o q ue a j ud a r o s S e r e s Supremos‚ m e s m o no menor d o s
megurref ohlemrev edrev adlaremse etalracse ajnaral olerama eznorb atarp oruo
caminhos˳
aedíuqro.”

“Eu sei... mas ainda assim, me perdoe.”

Victim engasgou de surpresa ao ver seu mestre se curvar a ele. Houve um olhar de per-
plexidade e choque em seu rosto.

E u n ã o m e atreveria‼
“Ajnaral oruo enimsaj!”

“Se circunstâncias especiais surgirem, precisaremos sacrificá-lo para impedir a fuga do


inimigo. Mesmo nesse caso, espero que aceite que não o mataremos por maldade. Você
é um dos amados filhos de meus companheiros e eu não desejo que sofra, mas todos nós
podemos sofrer se deixarmos um inimigo desconhecido fugir.”

N ã o s e p r e o c u p e e m ex p li ca r ‚ A i n z - s a m a ˳ E s t o u p l e n a m e n t e c i e n t e de seus d e s í g n i o s ˳
“Asor erco olerama aniregnat, misemrac. Odrac adlaremse edrev avilo adratsom.”

“Há uma frase usada em um dos mecanismos de Nazarick. Diz o seguinte; ‘Ninguém tem
maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos’. Essa frase descreve
você com perfeição. Sou grato pelo seu amor.”

O olhar de Ainz moveu do Guardião que havia prometido sua lealdade à morte, e mudou
para outro Guardião.

“Próxima, Shalltear.”

Os ombros de Shalltear tremeram. Ela não esperava que fosse ser chamada, e sua res-
posta pareceu anormalmente alta.

“S-Sim!”

“...Vinde a mim.”

Ao contrário dos outros Guardiões, Shalltear era a única que tinha sido convocado para
o lado de seu mestre. Ela ficou de pé, surpresa e em pânico. Seu desconforto era clara-
mente aparente nas costas, e ela parecia um criminoso condenado sendo mandado para
quebrar pedras. Ainda assim, ela levantou a cabeça e empinou o peito, como se estivesse
caminhando para a glória.

Depois de subir os degraus, Shalltear imediatamente se ajoelhou a uma curta distância


diante do trono.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


208
“Shalltear, gostaria de falar sobre o assunto que atormenta seu coração como um chi-
cote de espinhos.”

Enquanto seu mestre falava essas palavras, Shalltear imediatamente soube do que ele
estava falando, e seu rosto se encheu de vergonha e culpa.

“Ahhh! Ainz-sama! Por favor, por favor, me puna! Mesmo sendo uma Guardiã, eu ainda
assim cometi um erro imbecil! Por favor, me puna da forma mais severa possível!”

O lamuriar angustiado de Shalltear ecoou pelo Salão do Trono, Cocytus se viu simpati-
zado com ela. Ou melhor, qualquer Guardião — na verdade, qualquer um que fosse feito
pelos Seres Supremos — seria capaz de entender como ela se sentia.

Mesmo que tivesse sido mentalmente controlada, ela não poderia perdoar a si mesma
por ter apontado sua lança para um dos Seres Supremos.

“Entendo... então, Shalltear, venha até aqui.”

Quando ela ouviu seu mestre chamá-la, Shalltear lentamente rastejou em direção ao
Trono.

Ainz estendeu uma mão ossuda para Shalltear, cuja cabeça estava curvada diante do
trono, e gentilmente acariciou sua cabeça.

“Ai-Ainz-sama...”

Shalltear nervosamente levantou a cabeça, praticamente morrendo de medo.

“...Seu fracasso foi devido a um erro de cálculo da minha parte. Além disso, você estava
lidando com um Item World-Class, o que significa que estava em grande desvantagem.
Shalltear — Eu amo todos vocês que servem lealmente à Nazarick, todos que foram cri-
ados do zero. Isso a inclui também. Por que tenta me forçar a punir você, sendo que não
tem pecado algum, sendo alguém a quem eu amo?”

O mestre desviou o olhar, como se estivesse desconfortável com a situação. Cocytus não
tinha idéia de onde seu mestre estava olhando, mas parecia ter falado baixinho. O rosto
de seu mestre era esquelético, de modo que não havia lábios que ele pudesse ler, mas
provavelmente dissera o nome de alguém.

“Oh, Ainz-sama! O-o senhor realmente disse que me ama!?”

A voz comovida de Shalltear ecoou pelo corredor.

Cocytus estava atrás de Shalltear, então ele não podia ver seu rosto. No entanto, sua
atitude dizia tudo. Sua voz soou engasgada, enquanto seus ombros se contraíam.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


209
Ele podia ver a outra mão de seu mestre gentilmente acariciando o rosto de Shalltear.
Estava segurando um lenço branco.

“Se acalme, se acalme, Shalltear. Não chore. Isso estragará sua beleza.”

Shalltear não respondeu. Ela simplesmente pressionou seu rosto — provavelmente


seus lábios — nas costas da mão acariciando seus cabelos.

Mare e Aura já estavam derramando lágrimas.

Demiurge também tocou no canto de seus olhos. Cocytus tinha um pouco de inveja da-
queles que podiam chorar, e ele olhou ansiosamente para as costas de seus colegas to-
talmente leais.

O que Shalltear mais temia era ser considerada inútil, encrenqueira e desleal, e além de
ser abandonada pelo Ser Supremo misericordioso que permaneceu com eles até o fim.

Contudo, seu mestre obliterou completamente esse desconforto.

E o fez com a palavra “amor”.

Quão. Feliz. A. Shalltear. Deve. Estar. Agora?

Como alguém na mesma situação que ela — não, sua própria situação era pior —
Cocytus só podia vê-la em silêncio, com inveja desenfreada em seus olhos.

“Então, Shalltear, você pode volt—”

“—Ainz-sama.”

Uma voz fria interrompeu as palavras do seu mestre. Cocytus olhou com raiva para Al-
bedo por seu desrespeito. E então, um arrepio de medo percorreu-o quando sentiu um
punhal de aflição apontado para seu coração.

“A entrega de castigos e recompensas apropriadas é um dos pilares do mundo. Eu sinto


que ela ainda deve ser punida.”

“...Albedo, você questiona minha decis...”

As palavras de seu mestre desvaneceram. Ele deve ter ficado incapacitado de falar por
algum motivo sobre o qual Cocytus não sabia. No final, foram as palavras de Shalltear
que influenciaram sua decisão final.

“Ainz-sama, eu concordo com o que a Albedo disse. Por favor, me castigue como achar
melhor. Eu anseio pela chance de expressar plenamente minha lealdade.”

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


210
“...Tudo bem. Eu o farei depois de decidir sobre a forma apropriada de punição. Você
pode voltar para o seu lugar.”

“Sim, Ainz-sama.”

Shalltear desceu as escadas, seus olhos já vermelhos estavam ainda mais vermelhos.
Ela retornou à sua posição original e curvou-se com uma devoção incomparável ao seu
mestre.

E então—

“Cocytus, Ainz-sama tem algo para dizer. Preste muita atenção.”

O ar se encheu de tensão.

Era a vez dele agora.

A cabeça de Cocytus se curvou bem baixo. Aquela postura, que só lhe permitia ver o
chão, era uma clara demonstração de respeito, Cocytus o fez porque não tinha coragem
de olhar diretamente para o seu mestre.

“Eu vi a sua batalha com os Lizardmen, Cocytus.”

“Sim!”

“Acabou em derrota.”

“Sim! A. Culpa. Para. Esta. Falha. É. Toda. Minha, Por. Favor. Aceite. Minhas. Mais. Since-
ras. Desculpas. E. Eu. Rezo. Que. Permitira. Eu—”

O som do cajado atingindo o chão interrompeu o pedido de desculpas de Cocytus. Então,


a voz fria de Albedo fez seus órgãos auditivos tremerem.

“...Você está sendo muito rude com o Ainz-sama, Cocytus. Se quer mesmo se desculpar,
faça isso de cabeça erguida.”

“Me. Perdoe!”

Ele levantou a cabeça e olhou para seu mestre, que estava sentado no topo da escada.

“...Cocytus, em sua posição de general de um exército derrotado, o que tem a dizer?


Como se sente, já que não entrou em campo e simplesmente agiu como comandante?”

“Eu. Estou. Profundamente. Arrependido. De. Minha. Incapacidade. Para. Alcançar. A.


Vitória, Mesmo. Depois. De. Ordenar. Às. Minhas. Próprias. Tropas. E. Com. A. Perda. Do.
Comandante. Elder. Lich. Que. O. Senhor. Pessoalmente. Criou, Ainz-sama.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


211
“Hm? Ah, posso conseguir undeads como aquele de qualquer lugar, não faz falta alguma.
Não há necessidade de se preocupar com isso, Cocytus. O que eu realmente quero saber,
é como você se sentiu ao comandar uma batalha. Deixarei claro de uma vez por todas —
eu não pretendo culpá-lo por essa derrota.”

Os Guardiões e os vassalos atrás deles ficaram confusos com essas palavras, com exce-
ção de Albedo e Demiurge.

Então. O. Demiurge. Estava. Certo... Oh!

Cocytus percebeu que seu mestre estava prestes a continuar falando e se concentrou
apressadamente nele.

“Afinal, qualquer um pode falhar. Até mesmo eu.”

O ar no Salão do Trono ficou inquieto. Como poderia o Ser Supremo, Ainz Ooal Gown
falhar? Na verdade, ele não havia cometido um erro até agora.

Em outras palavras, ele estava apenas dizendo isso para confortar Cocytus.

“Mas a questão é, o que você aprendeu com essa batalha. Em outras palavras, o que acha
que deveria ter feito para vencer, Cocytus?”

Cocytus começou a pensar em silêncio. Ele agora sabia o que tinha que fazer para ven-
cer, e assim falou livremente de suas próprias deficiências.

“Eu. Subestimei. Os. Lizardmen, Eu. Deveria. Ter. Sido. Mais. Cuidadoso.”

“Uhum. Ou seja, não importa o quão fraco seja seu oponente, você não pode menos-
prezá-lo... Eu deveria ter deixado a Narberal ver essa batalha também. Mais alguma
coisa?”

“Sim, Eu. Não. Tinha. Informação. Suficiente. E. A. Partir. Desta. Batalha. Eu. Aprendi.
Que. Minhas. Chances. De. Vitória. Seriam. Certas. Se. Eu. Conhecer. A. Força. E. O. Ter-
reno. Inimigo.”

“Muito bom. Algo mais!?”

“O. Comandante. Era. Inadequado, As. Tropas. Dentro. Do. Campo. Eram. Undeads. De.
Baixo. Nível, Eu. Deveria. Estar. Acompanhando-os. Com. Comandantes. Que. Poderiam.
Se. Adaptar. Às. Circunstâncias. E. Questões. Oportunas... Seria. Preciso. Ordens. Adicio-
nais. Depois. De. Considerar. O. Armamento. Dos. Lizardmen. E. Atacado. Com. Zombies.
Para. Cansá-los. E. Manter. Os. Inimigos. Juntos... Então. Atacar. Todos. De. Uma. Vez.”

“O que mais!?”

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


212
“...Minhas. Mais. Profundas. Desculpas, Mas. Isso. É. Tudo. Que. Eu. Posso. Pensar. Agora.”

“Não há necessidade de se desculpar. Você não disse nada de errado, e essa foi uma
excelente análise. Claro, há espaço para melhorias, mas parece que aprendeu bastante.
Na verdade, eu esperava que você não precisasse consultar os outros e descobrir essas
falhas sozinho... mas isso ainda é aceitável. Então, por que não fez todas essas coisas an-
tes?”

“...Eu. Não. Pensei. Nisso. Antes, Senti. Que. Eu. Poderia. Sobrepujá-los. Com. Números.”

“Compreensível. Mas você pensou isso depois que os undeads foram destruídos, não?
Muito bom! Contanto que você possa melhorar a si mesmo e evitar erros futuros, então
sua derrota cumpriu seu papel.”

Cocytus sentiu que seu mestre estava sorrindo.

“Existem muitos tipos de fracasso, mas o seu não é do tipo letal. Todos os undeads, ex-
ceto o Elder Lich, foram feitos automaticamente por Nazarick. Sua destruição não afeta
Nazarick de forma alguma. Em vez disso, se eles permitirem que um Guardião aprenda
algo e evite erros futuros, então essa falha é, na verdade, uma grande barganha.”

“Muito. Obrigado, Ainz-sama!”

“Contudo, o fato é que você foi derrotado. E deve ser punido assim como a Shalltear...”

Neste momento, seu mestre ficou em silêncio. Essa breve pausa deixou Cocytus descon-
fortável esperando o julgamento de seu mestre. Dito isso, ele ficou muito aliviado agora
que sabia que não decepcionara seu mestre. Entretanto, os dizeres de seu mestre o fizera
congelar.

“Originalmente, pensei que iria se retirar e agir na retaguarda, mas o modo como agiu
foi melhor. Cocytus, você irá pessoalmente apagar a mancha da sua vergonha... em ou-
tras palavras, exterminará os Lizardmen. Desta vez, você não tem permissão para pedir
ajuda a mais ninguém.”

Se eles aniquilassem os Lizardmen e mantivessem a palavra de deixá-los em paz, então


isso não contaria como uma derrota para Nazarick.

Todos que viviam fora de Nazarick eram vistos como formas de vida inferiores, isso
seria algo visto como uma honra a qualquer um dentro da Grande Tumba, expurgar a
vergonha de Nazarick com a morte. De fato, se fosse uma ordem dada ao Cocytus de dias
atrás, ele teria aceitado essa ordem sem hesitação. Contudo—

Cocytus estremeceu.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


213
Isso porque ele sabia o que essa ordem significava.

Ele inspirou e expirou várias vezes.

Assim que todos começaram a se perguntar por que Cocytus não havia respondido ao
comando de seu mestre, ele finalmente falou.

“Eu. Tenho. Um. Pedido. —Ainz-sama!”

O tempo pareceu desacelerar enquanto a atenção de todos repousava em Cocytus.

Por ser um Guardião, Cocytus era um dos seres mais poderosos e mais bem hierarqui-
camente classificados de Nazarick. Haviam poucos que estavam tão bem classificados
quanto ele, mas mesmo alguém como ele sentiu um calafrio percorrer seu corpo inteiro.

O arrependimento o tomava como avalanche, mas já era tarde demais.

Já que ele havia dito isso, não havia como voltar atrás.

Cocytus tinha olhos compostos e, portanto, um campo de visão muito amplo, mas de
sua postura curvada, ele não conseguia ver o rosto de seu mestre. O único consolo que
teve. Se seu mestre exibisse qualquer raiva ou desagrado, Cocytus estaria tremendo
tanto que não seria capaz de fazer nada.

“Por. Favor. Ouça. Meu. Clamor, Ainz-sama!”

Antes que seu mestre pudesse responder, alguém interrompeu Cocytus.

“Como você ousa!?”

Era Albedo. Seu grito ensurdecedor rugiu como um trovão, cheio da imponência que
convinha à Supervisora Guardiã. Cocytus tremeu, como uma criança sendo repreendida
por sua mãe.

“Que direito você tem de pedir algo ao Ainz-sama depois de manchar a glória de Naza-
rick com a derrota!? Que audácia!”

Cocytus permaneceu em silêncio. Ele estava determinado a não levantar a cabeça até
que seu mestre o reconhecesse. Ele permaneceria como estava mesmo se Albedo o mar-
telasse com toda a força de sua ira.

“Apresse-se e—”

No entanto, uma voz masculina calma dispersou a fúria de Albedo como névoa na luz
do sol.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


214
“—Tudo bem, Albedo.”

Seu mestre se repetiu, para acalmar a chocada Albedo.

“Levante sua cabeça, Cocytus. Qual seria esse pedido?”

Não havia raiva naquela voz, o que só tornava mais assustador. O medo que Cocytus
sentia era como ver o fundo de um lago límpido e saber que estava prestes a ser dragado.

O equipamento de Cocytus concedia-lhe resistência ao medo e efeitos que afetam a


mente, provenientes de fontes externas. Portanto, o medo que sentia brotava de dentro
de seu próprio coração.

Depois de engolir — parecia que estava engolindo veneno — Cocytus levantou lenta-
mente a cabeça e olhou para seu mestre e governante.

Pontos de fogo vermelho brilhante dançaram dentro das órbitas vazias de seu mestre.

“Não me faça repetir, qual seria o seu pedido?”

Ele não podia falar. Ele tentou várias vezes, mas as palavras ficaram presas na garganta
e nada saiu de sua boca.

“Algum problema? Cocytus?”

Um pesado silêncio encheu o ar.

“...Cocytus, eu não estou com raiva. Apenas desejo saber o que você está pensando e o
que está pedindo.”

Foi um tom gentil, como se tentasse acalmar uma criança atônita. Diante disso, Cocytus
finalmente conseguiu falar.

“Eu. Me. Oponho. Ao. Extermínio. Dos. Lizardmen. E. imploro. Para. Que. Mostre. A. Eles.
Sua. Misericórdia, Ainz-sama.”

Depois dessa afirmação simples e direta, Cocytus teve a impressão que o ar estava tre-
mendo. Na verdade, realmente estava.

A maior fonte disso veio de frente para ele — da intenção assassina de Albedo, seguida
pelo hesitar dos corações dos outros Guardiões. Em contraste, Demiurge e seu mestre
pareciam tão calmos quanto a água parada.

“...Cocytus, você tem noção do que está dizendo?”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


215
O tom gélido e assassino de Albedo fez Cocytus estremecer, apesar de sua imunidade
ao frio.

“Ainz-sama ordenou que exterminasse os Lizardmen para expiar seus pecados, mas
você nega essas ordens, como o culpado... Cocytus, Guardião do Quinto Andar, você está
com medo dos Lizardmen?”

Ela parecia que estava zombando dele, mas Cocytus não podia responder com nada.

A atitude de Albedo era apenas de se esperar. Se ele estivesse no lugar dela, Cocytus
estaria muito bravo também.

“Por que você não fala—”

O que silenciava Albedo não foi uma fala, mas o som de uma colisão. Foi o impacto agudo
do cajado contra o chão.

“Silêncio, Albedo. Estou no meio de uma conversa com o Cocytus. Contenha-se.”

“Minhas mais profundas desculpas! Eu imploro seu perdão!”

Albedo fez uma reverência e retornou à sua posição de origem.

Ainz se virou e encarou Cocytus com um olhar aguçado. Não houve leitura de sua ex-
pressão. Parecia que estava cheio de raiva, mas ao mesmo tempo ele parecia bastante
confuso.

“Então, Cocytus, esse pedido tem algum benefício para a Grande Tumba de Nazarick?
Conte-me.”

“Sim! No. Futuro. Eles. Poderiam. Procriar. Poderosos. Guerreiros... Sendo. Assim, Seria.
Uma. Pena. Destruí-los, Isso. É. Tudo. Que. Posso. Submeter... Eles. Parecem. Ter. Forte.
Instinto. De. Lealdade. E. Meu. Instinto. Diz. Que. Podem. Nascer. Lizardmen. Fortes. En-
tre. Eles. E, Quando. Aparecerem, Podemos. Usá-los. Como. Asseclas.”

“...Essa é uma boa idéia. Há pouca diferença nos níveis dos undeads feitos dos cadáveres
de Lizardmen comparados àqueles feitos com cadáveres humanos. Não há necessidade
de se preocupar com os cadáveres dos Lizardmen se conseguirmos recuperar eficiente-
mente os corpos enterrados em E-Rantel.”

Assim que Cocytus estava prestes a continuar, ele sentiu que seu mestre ainda não ha-
via terminado. O desconforto dentro de seu coração tomou forma material.

“Contudo, os undeads que farei com cadáveres dos Lizardmen serão mais econômicos.
Pois de fatos serão totalmente leais a mim, não terei que me preocupar em protege-los

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


216
e nem os alimentar. A única vantagem que posso ver nos Lizardmen, é que eles vão au-
mentar a população naturalmente, mas esse aumento demorará algum tempo... Fique à
vontade para dizer se esqueci de algo. Há alguma vantagem suficientemente convincente
que eles possuam?”

Se Cocytus pudesse persuadir seu misericordioso mestre, seu desejo poderia se tornar
realidade. No entanto, ele não conseguia pensar em nada.

Cocytus sempre pensou em si mesmo como uma arma para ser usada por seu mestre.
Como resultado, ele nunca havia pensado por conta própria antes, e por isso não conse-
guia pensar em como convencê-lo. Ele não havia considerado o que fazer para beneficiá-
los.

Além disso, seu mestre desejava ganhos para a Grande Tumba de Nazarick. Cocytus não
queria exterminar os Lizardmen porque havia exemplares extraordinários entre eles.
Em outras palavras, ele queria poupar os Lizardmen para preservar aqueles indivíduos
singularmente talentosos. Essa foi uma consideração pessoal, sem prestar atenção ao
quadro maior.

O coração de Cocytus queimava de ansiedade.

Se ele desagradasse ou enfurecesse seu silencioso mestre, essa chance miraculosa de


fazer uma sugestão seria em vão, deixando-o com a ordem de exterminar os Lizardmen.

Ele se atormentou mentalmente, mas não conseguiu encontrar uma resposta.

“O que aconteceu, Cocytus? Não consegue pensar em nada? Então será a exterminação,
correto?”

Foi a mesma pergunta de antes.

A mente de Cocytus estava completamente vazia. Sua boca parecia que pesava uma to-
nelada, e seus pensamentos simplesmente giravam em círculos.

Um tênue murmúrio filtrou-se pelo silencioso Salão do Trono:

“Certo... Que pena...”

Assim que essas palavras de arrependimento ameaçavam esmagar às esperanças de


Cocytus, ele foi ajudado por uma voz calma.

“Ainz-sama, um momento, por favor.”

“...O que é Demiurge? Algum problema?”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


217
“Sim. Diz respeito à decisão que o senhor tomou agora, Ainz-sama. Se for de seu inte-
resse, posso ter permissão para fornecer minha humilde opinião?”

“...Claro, prossiga.”

“Obrigado! Ainz-sama, tenho certeza de que entende a importância dos experimentos.


Portanto, não deveríamos também usar os Lizardmen para experimentos?”

“Oh, interessante, especifique.”

Cocytus imaginou que quando seu mestre se inclinou para frente de seu trono, seus
olhos vermelhos encontraram os seus por uma fração de segundo.

“Sim. Para começar, qualquer que seja o caminho que Nazarick seguir, no final, será
preciso controlar várias tropas, ou mesmo exercer controle sobre várias espécies. Seu
humilde servo alega que, quando chegar a hora, haverá uma grande diferença nos resul-
tados, dependendo de termos realizado ou não experimentos em governabilidade.”

Demiurge endireitou-se ainda mais, olhando seu mestre — que estava sentado em seu
trono — diretamente nos olhos, e fez seu resumo.

“Eu sinto que devemos assumir o controle da aldeia Lizardman e realizar experimentos
em governar sem o uso do medo.”

O toque estridente do cajado batendo no chão ecoou por toda parte.

“...Uma excelente sugestão, Demiurge.”

“Estou profundamente grato.”

“Então, vou fazer uso da sugestão do Demiurge a respeito dos Lizardmen. Eles não de-
vem ser exterminados, mas subjugados. Existem objeções? Quem tiver que levante a
mão.”

Os olhos vermelhos olharam todos os Guardiões.

“...Parece que não há. Então está decidido.”

Todos se curvaram em reconhecimento.

“Sua sugestão foi bastante notável, Demiurge. Está de parabéns.”

Demiurge sorriu.

“Eu não sou digno, Ainz-sama. Eu imagino que o senhor já tinha isso em mente, mas
estava apenas esperando que o Cocytus lhe dissesse.”

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


218
Seu mestre não respondeu, apenas sorriu amargamente. Mas a atitude de seu mestre
dizia tudo.

Cocytus sentiu que seu corpo tinha ficado mole de repente.

Ele sofrera uma derrota ignominiosa enquanto comandava os gloriosos exércitos de


Nazarick. Ele se opôs aos desejos do seu mestre sem preparar quaisquer outras alterna-
tivas à sua vontade. Como ele poderia descrever seu desempenho? Ele tinha sido tão—

Incompetente.... Afinal, Quão. Incompetente. Eu. Sou?

“...Não, não há nada do tipo, Demiurge. Você me enaltece muito. Eu estava apenas espe-
rando que vocês expressassem suas opiniões, independentemente do que sejam.”

O olhar de seu mestre mudou novamente, focando em Cocytus por mais tempo. Ele en-
tendeu o que seu mestre estava sugerindo, mas não conseguiu baixar a cabeça.

“O mais importante é entender o verdadeiro significado de minhas ordens. Depois de


fazer isso, devem executar a ação mais apropriada. Ouçam bem, Guardiões. Não sigam
cegamente as ordens. Vocês devem pensar antes de agir e considerar como Nazarick
pode prosperar com suas ações. Se acharem que suas ordens estão erradas, ou se tive-
rem uma alternativa melhor, então vocês devem me dizer, exponham suas idéias. —
Cocytus, acredito que eu disse que lhe puniria, não é verdade?”

“Sim... Me. Ordenou. Exterminar. Os. Lizardmen.”

“Exato. Agora, porém, não os destruiremos, mas os colocaremos sob nosso domínio.
Como resultado, alterarei sua punição. Você governará os Lizardmen, e você incutirá
uma lealdade profundamente enraizada à Nazarick dentro deles. Você está proibido de
governá-los com medo. Em vez disso, você transformará os Lizardmen em um modelo
de governança sem uso do medo.”

Cocytus nunca tinha assumido uma responsabilidade tão pesada antes — não, entre os
Guardiões, apenas Demiurge teve esse tipo de experiência.

Vai. Ser. Difícil. Concluir. Essa. Missão. Sozinho.

Esse pensamento apareceu brevemente na mente de Cocytus, mas como ele poderia
admitir tal fraqueza agora? Ele não podia dizer tais coisas para o governante compassivo
a quem devia a sua fidelidade, ou para o colega que lhe emprestara uma mão amiga.

“Entendido... Eu. Terei. Dúvidas... Assim, Eu. Precisarei. Pedir. Conselhos. De. Outros.”

“Claro. E esse assunto exigirá recursos consideráveis, rações e mão de obra. Nazarick
fornecerá isso.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


219
“Muito. Obrigado! Eu, Cocytus, Garanto. Que. Vou. Mostrar. Bons. Resultados, A. Miseri-
córdia. Que. Demonstrou. Não. Será. Em. Vão, Ainz-sama!”

Cocytus finalizou emocionado.

“Muito bem. Então, ordeno que todos os Guardiões saiam. Uma equipe servirá como
distrações, enquanto outra demonstrará nosso poder e mostrará aos Lizardmen que
nossa força não está limitada ao que eles viram. Se achar que isso poderá afetar sua re-
gência futura, eu posso rescindir essa ordem, Cocytus.”

Cocytus pensou cuidadosamente sobre o assunto e depois respondeu:

“Eu. Sinto. Que. Isto. Não. Causará. Quaisquer. Problemas.”

“Perfeito. Então, Guardiões, preparem-se para sair.”

Em uníssono, os Guardiões aqui reunidos indicaram seu assentimento.

“Albedo, eu também irei. Prepare nossas tropas.”

“Entendido. Considerando a possibilidade de nossos inimigos estarem espionando,


posso presumir que isso tem a intenção de enganá-los sobre nossas verdadeiras inten-
ções?”

“Basicamente. No entanto, não se esqueça de que devemos impor medo nos corações
de quem se opuser.”
[Guardas V e l h o s ]
“Talvez possamos enviar os O l d Guarders de Nazarick como o corpo principal de nos-
sas forças, para que elas pareçam mais impressionantes.”

Cocytus concordou com Albedo.

Havia um tipo de guarda undead chamada de Old Guarder.

Os Old Guarder de Nazarick eram sentinelas de alto nível que só eram encontradas den-
tro da Grande Tumba de Nazarick. Eles empunhavam armas com todos os tipos de efei-
tos mágicos e eram equipados com armaduras e escudos encantados. Além disso, possu-
íam muitas habilidades refinadas de combate, tornando-os excelentes sentinelas unde-
ads.

“Creio que será uma visão digna. Há quantos ao nosso dispor?”

“Três mil.”

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


220
“Precisamos de mais. Ou será difícil transmitir o efeito desejado com esses números...
Nosso objetivo é uma vitória completa e assustar aqueles que subestimam Nazarick. Se
colocarmos menos tropas do que antes, isso não significará nada, então eu gostaria de
implantar pelo menos o dobro usado no engajamento anterior. Que outras forças pode-
mos usar?”
[Gu ar das A n c i õ e s ] [Guardas M e s t r e s ]
“Então, que tal mobilizar os Elder Guarders e os Master Guarders? Assim teremos seis
mil.”

Como esperado da Supervisora Guardiã, Albedo respondeu de maneira suave e imedi-


ata. A resposta de Ainz foi simples e clara.

“Excelente! Então, houve algum problema na ativação do Gargantua?”

“Não, Ainz-sama. Correu tudo como previsto.”

“Use 「Gate」 para enviar nossas forças.”

“Creio que posso ficar sem mana se eu tiver que fazer isso sozinha.”

“Peça à Pestonya para ajudar. Peça-lhe que transfira mana para você. Se isso não for
suficiente, peça ajuda à Lupusregina.”

“Sim, senhor.”

“Depois disso, transfira a grade de aviso para Nigredo e Pandora’s Actor em meu lugar.
Isso vai enfraquecer nossa vigilância sobre o Sebas... mas apenas precisamos nos con-
centrar na observação física. Enfim, mantenha todo o resto. Amanhã, mostraremos aos
Lizardmen o poder da Grande Tumba de Nazarick!”

Parte 2

“Obrigado. Demiurge.”

Depois que seu mestre saiu, a primeira coisa que Cocytus fez foi expressar sua gratidão
a Demiurge. Demiurge respondeu a Cocytus profundamente curvado com o mesmo sor-
riso sereno de sempre.

“Não, não há necessidade de me agradecer.”

“Como. Não? Sem. Sua. Ajuda, Os. Lizardmen. Seriam. Exterminados.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


221
“...Cocytus, eu acredito que a razão pela qual o Ainz-sama aprovou sua sugestão foi por-
que ele havia previsto tal desenvolvimento.”

Enquanto Demiurge entregava sua conclusão com um dedo levantado, um suspiro as-
sustado ecoou pelo ar. O som parecia ter vindo de si mesmo, ou dos Guardiões ao seu
redor.

“Em outras palavras, eu acredito que o Ainz-sama antecipou que você diria tal coisa. Foi
por isso que ele o enviou para a aldeia Lizardman. Eu senti que era o caso porque o Ainz-
sama parecia mais feliz em ouvir você se opor à destruição da aldeia dos Lizardmen. Em
contraste, ele parecia muito desapontado quando você não conseguia abrir uma solução
alternativa.”

“Você. Quer. Dizer. Que. O. Ainz-sama. Estava. Decepcionado. Porque. Não. Consegui.
Elaborar. Minha. Sugestão?”

“Precisamente. E até onde sabemos, até a conversa que estamos tendo agora pode ter
sido prevista pelo Ainz-sama.”

“Como. Esperado. De. Ainz-sama, Ele. Tem. Planejado. Tudo. Com. Meticulosa. Perfeição.”

“M-mas, a-ah...”

“...Desembucha.”

Aura em um tom severo de voz pediu a seu irmão mais novo, Mare, para falar.

“Ah, s-sim. Ah, eu estava me perguntando o porquê ele havia enviado undeads tão fracos
no começo. Ah, ah... ta-talvez... O Ainz-sama tenha planejado que o ataque falhasse desde
o começo...”

“Bem, em vez de dizer que ele planejou que falhasse, é mais como se nosso mestre ti-
vesse antecipado as ações do Cocytus em relação aos Lizardmen, então planejando uma
vitória incerta?”

Um profundo sentimento de vergonha caiu sobre Cocytus quando ele se lembrou de sua
troca de mensagens com Demiurge naquela época. Afinal, ele havia ferrado o plano por
completo.

“Ele não poderia ter inventado algo assim se não compreendesse Cocytus tão bem. Bem,
assim que o Ainz-sama é...”

“Embora já tenhamos visto sua extraordinária destreza como guerreiro durante a ba-
talha contra a Shalltear, e ainda pensar que ele também possuía um talento extraordiná-
rio como estrategista. Eu não posso deixar de me prostrar diante dele em reverência.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


222
Mesmo o Ainz-sama dizendo o contrário, sinto que nada pode dar errado se simples-
mente obedecermos às ordens dele...”

“Ele é realmente incrível ~arinsu. Ele realmente faz jus ao nome daquele que uniu todos
os Seres Supremos.”

Shalltear animadamente acrescentou seu próprio elogio depois do Demiurge. Os outros


Guardiões concordaram com a cabeça.

♦♦♦

Depois de voltar ao seu quarto, Ainz pulou na cama. Ele pairou brevemente no ar antes
que seu corpo afundasse no colchão — e então começou a rolar.

Ele rolou para a direita e depois rolou para a esquerda.

A cama era grande o suficiente para ele fazer isso.

Seu manto luxuoso estava amassado depois disso, mas Ainz não prestou atenção, rindo
baixinho enquanto rolava. A razão pela qual Ainz estava fazendo uma coisa tão infantil
era porque não havia ninguém no quarto além dele.

Logo, Ainz satisfez seu desejo infantil pelos lençóis macios. Ele então olhou para o teto.

“Ahhh, estou tão cansado... ah, quero relaxar e encher a cara... embora eu nem consiga
fazer isso mais.”

Depois de reclamar para o nada, ele suspirou profundamente — embora não pudesse
respirar, então ele estava apenas reproduzindo os movimentos.

Ainz era undead, então o esgotamento físico e mental era um conceito estranho para
ele. No entanto, em termos humanos, ele passou todos os dias trabalhando duro no úl-
timo mês. Se ele tivesse estômago, estaria ulcerado agora.

Atualmente, Ainz estava cheio de estresse.

O guerreiro Momon havia derrotado a Vampira de cabelos prateados — Shalltear. Tal-


vez alguém que não estivesse em plena posse dos fatos pudesse pensar nisso como algo
impressionante, mas para a pessoa misteriosa que usara o Item World-Class em Shall-
tear, isso significaria outra coisa. A oposição poderia estar de olho em Ainz, ou até
mesmo ansiando para fazer contato com ele.

Portanto, Ainz passou seus dias em estado de alerta, com muitos itens em espécie pron-
tos para que pudesse fugir a qualquer momento. Durante seu tempo livre, ele se entre-
gou a um pouco aos devaneios — ou exercitar imaginação se assim preferir — e estudou

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


223
se ele seria capaz de escapar se o inimigo viesse buscá-lo, enquanto ao mesmo tempo
reunisse informações sobre seu inimigo.

Essa vida cotidiana pouco afetaria Ainz Ooal Gown, mas cansou os remanescentes de
sua humanidade — da personalidade de Suzuki Satoru. A razão pela qual ele se entre-
gava ao comportamento imaturo quando estava sozinho e tinha tempo livre era prova-
velmente um sinal de que Suzuki Satoru estava sob muito estresse, escondido sob a fa-
chada de Ainz.

“Não me lembro de trabalhar sem descanso ou dormir igual agora... imagine quantas
horas extras receberia este mês?”

Talvez essa reclamação tivesse vindo da personalidade de Suzuki Satoru sobrepujando


a de Ainz.

“A Grande Tumba de Nazarick... não, a Ainz Ooal Gown... não é uma empresa qualquer.
Como um empreendimento conjunto, devemos ter ética, por isso devemos pagar a todos
os funcionários as horas extras que têm...”

Depois de choramingar para si mesmo, Ainz franziu as sobrancelhas inexistentes.

“Hm? ...Será que não tenho direito a horas extras porque já tenho subsidio de moradia?
Uwah...”

Ainz rolou de novo e parou depois de meia dúzia de iterações.

“Tudo bem... já pensei muita inutilidade por um dia... Enfim, estou realmente impressi-
onado que o Cocytus disse aquilo.”

Foi uma grande surpresa. Pois jamais pensou que Cocytus realmente sentisse simpatia
pelos Lizardmen.

Na verdade, as ações de Cocytus foram uma grande dor de cabeça para Ainz.

Suzuki Satoru era o tipo de pessoa que passava noites pesquisando e, por rotina, expli-
caria tudo quando convocado a fazer um briefing. Portanto, ele não estava acostumado
a lidar com o inesperado. Contanto que o assunto estivesse em suas anotações, ele po-
deria dar um jeito de responder. Em outras palavras, o sucesso dos briefings de Suzuki
Satoru baseava-se em quanta pesquisa havia feito e em como poderia usá-la para res-
ponder às circunstâncias. Ele era extremamente inepto ao lidar com situações que exi-
giam adaptabilidade; na verdade, ele as odiava.

Infelizmente, ele não podia usar suas anotações no Salão do Trono e dizer: “Ah, por favor,
vamos a próxima página”. Portanto, Ainz ensaiara mentalmente os eventos no Salão do
Trono dez vezes antes. Ao fazê-lo, ele rezou para que ninguém fizesse nada de surpreen-
dente.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


224
Mas Cocytus jogou esse pequeno desejo pelos ares.

Ele ficou extremamente aflito com o que Cocytus diria, mas também ficou muito feliz.

Essa era a alegria que um pai poderia ter — como se uma criança até então dócil e obe-
diente tivesse expressado sua própria opinião pela primeira vez. O importante era que
o crescimento de Cocytus havia excedido em muito as expectativas de Ainz.

Quando Ainz voltou à Nazarick mais cedo, ele pediu a uma das empregadas para cozi-
nhar algo — um bife. Talvez ela precisasse praticar seus dons culinários e outros pontos
importantes da refeição, ainda assim, Ainz não nutriu grandes expectativas para o prato.
Muito menos esperava que a comida desse algum buff, como as comidas em YGGDRASIL.
Tudo o que ele queria era algo comestível.

No entanto, o resultado só poderia ser descrito como um pedaço de carvão.

Não importava quantas vezes a empregada praticasse, ela só podia fazer pedaços de
carne queimada.

Ainz abraçou esse resultado quando aceitou as sinceras desculpas da empregada. Afinal,
era o mesmo que ele tentando equipar uma espada grande usando seu manto.

Em YGGDRASIL, era necessário ter habilidades especializadas para fazer comida. Era
de se esperar, já que comida e bebida poderiam conceder bônus especiais quando con-
sumidas. No entanto, essa empregada não possuía essas habilidades.

Em outras palavras, se alguém não tivesse as habilidades adequadas para realizar uma
tarefa, isso terminaria em fracasso.

A questão de Cocytus também foi uma espécie de experimento. Ainz queria ver se os
personagens já finalizados como ele e os NPCs poderiam aprender algo novo. Este expe-
rimento foi projetado para ver se eles poderiam melhorar forçadamente aprendendo
táticas e estratégias.

Ele havia dado o comando de Cocytus sobre os undeads fracos porque achava que seria
capaz de aprender mais com a derrota.

No final, Ainz ficou satisfeito com os resultados. Cocytus mostrou a Ainz que ele tinha a
possibilidade de crescimento.

Claro, havia uma enorme diferença entre teoria e prática.

O próximo objetivo de Ainz era dominar completamente os detalhes do funcionamento


da magia neste mundo — isso se algo assim realmente existisse. Atualmente, Ainz ainda
não tinha certeza se a magia era uma habilidade ou conhecimento.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


225
Todavia, esse experimento mostrou que era possível aumentar o conhecimento sobre
algo.

Cocytus conseguiu provar que é possível. E o fez de forma muito boa.

Pensou Ainz.

A falta de crescimento era equivalente à estagnação. Mesmo que fosse poderoso agora,
ele poderia ser superado algum dia.

Mesmo que tivesse uma vantagem de 100 anos em tecnologia militar, ele ainda perderia
sua vantagem se não a melhorasse continuamente. Uma nação forte, mas estagnada, se
tornaria fraca em um piscar de olhos caso se deixasse cegar pela soberba.

“Bem, eu acho isso... estou feliz em saber que as crianças cresceram, mas é preocupante
também, pode chegar um tempo que não vão mais me considerar digno da lealdade de-
les...”

Ainz olhou para o véu da cama enquanto murmurava.

“Ahhh, é tão assustador, me dá medo...”

Os remanescentes da personalidade de Suzuki Satoru lamentaram o medo do desco-


nhecido.

A mudança era a consequência natural do amadurecimento. Então, quem poderia ga-


rantir que a lealdade absoluta deles não mudaria? Mesmo que isso não acontecesse, ele
ainda temia que um dia eles o considerassem indigno de ser o governante da gloriosa
Nazarick. Ele temia ser forçado a sair de sua posição como Chefe de Guilda.

“...Eu tenho que me tornar um líder que os Guardiões vão querer seguir... Por que não
há alguém para me ensinar os passos de um governante...”

Provavelmente não havia ninguém em Nazarick que fosse designado para tal propósito.

Quando Ainz caiu em contemplação, ele pensou em duas pessoas, dos Cinco Piores de
Nazarick. Um deles era Kyouhukou, que possuía o título de Duque, e o outro era Gashoku-
kochuuou, que tinha o título de Rei. Ainz se perguntou se poderia pedir que eles o ensi-
nassem, mas chegou a uma resposta simples e sucinta.

“...Nem pensar.”

Ele não queria aprender com eles a menos que não tivesse outra escolha.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


226
“Melhor esquecer isso... contanto que eu não erre muito, não precisarei me aposentar.
Mas ainda assim... sim, sobre aquelas ovelhas de duas pernas...”

Ainz já tinha imaginado a verdadeira identidade das ovelhas de duas pernas, juto por
isso não havia perguntado como se pareciam. Afinal, eram monstros que ele tinha visto
nos tempos de YGGDRASIL.

“Será que são iguais? Uma mistura de leão, cabra e serpente. As patas dianteiras são de
leões, as de trás são de cabras. Chimeras...”

Em YGGDRASIL, Chimeras andavam sobre duas patas, atacando com patas de leão, que
serviam de armas. Possuíam duas cabeças, uma de leão e outra de cabra, já a serpente
agia como um rabo. Isso porque esses monstros eram baseados nos dados visuais de
monstros conhecidos como Baphomets.

Então, por que Demiurge não simplesmente disse que eram Chimeras? Ainz teve lá suas
dúvidas, mas também chegou a uma resposta.

“Ou seja, devem se tratar de Chimeras mutantes. Não é, Demiurge?”

Ainz riu, e então acrescentou uma nota mental à sua opinião sobre Demiurge: Ele tem
um terrível senso de nomeação.

“Bem, as Chimeras em YGGDRASIL pareciam meio... não, Chimeras que se parecessem


com peixes seriam meio nojentas. Então essas ovelhas de duas pernas são uma nova raça
de Chimeras... as Chimeras do Reino Sacro... pode ser bom trazer uma delas para Naza-
rick. E o Victim... hm.”

Victim parecia exatamente como Ainz se lembrava, mas uma coisa se destacava em sua
mente.

“A linguagem que ele está usando... é o enoquiano, a linguagem dos anjos? Parece que
há um idioma diferente misturado na fala dele...”

Era traduzido automaticamente, então Ainz não sabia que tipo de linguagem ele estava
usando, mas soava estranho. Claro, isso pode ser porque Ainz não conhecia enoquiano.

“Mais uma coisa que não adianta perder tempo me preocupando. Enfim, já é hora de
começar...”

Ainz rolou de novo. Ele parou quando estava de bruços, para verificar algo que o inco-
modava desde então.

Ele pressionou o rosto no colchão e fungou.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


227
Ainz não tinha pulmões, então ele estava apenas passando pelos movimentos. Estra-
nhamente, ele podia sentir o cheiro de algo.

“Esse aroma de flores... será que alguém borrifou perfume na cama? As camas dos ricos
são assim? É bastante surpreendente... vou ter isso em mente quando eu fingir ser rico.
Uhun...”

Parte 3

Havia uma habilidade conhecida como 「Danger Perception」.

Entre aventureiros, aqueles com níveis em Ladino e aqueles com habilidades sensoriais
valorizavam essa habilidade. Como o nome indicava, permitia que o usuário percebesse
o perigo.

Havia duas variações principais dessa habilidade. Um tipo desconsiderava a lógica e a


análise, tomando decisões antecipadas com base nas percepções de uma pessoa. A outra
era o produto do raciocínio e dedução baseada em experiência. O proverbial sexto sen-
tido e intuição pertenciam à primeira categoria, enquanto aqueles que captavam traços
sensoriais minúsculos e observavam mudanças no ambiente caíam na segunda categoria.

Alguém aprenderia naturalmente o segundo tipo quando estivesse no campo de batalha


ou viajando sozinho, mesmo sem dedicar tempo para aprimorá-la. Era uma forma de
experiência adquirida por estar em ambientes perigosos.

Os Lizardmen eram superiores aos humanos nesse aspecto. Isso porque suas habilida-
des biológicas — seus sentidos — eram mais aguçados porque viviam em condições
mais hostis. Um ser humano normalmente vivia em um lugar seguro que estava longe de
monstros, mas os Lizardmen geralmente tinham monstros como vizinhos.

No caso de Zaryusu, ele era um Viajante e, portanto, costumava fazer viagens longas e
solitárias. Assim, ele poderia avaliar com precisão as mudanças no ar e no estado de es-
pirito de algo.

Seus olhos se abriram quando ele sentiu uma tensão se filtrando pelo ar.

A visão familiar do ambiente — embora ele só tivesse vivido lá por alguns dias — o
cumprimentou. Por mais próximo que um humano olhasse, eles não seriam capazes de
enxergar dentro do interior sem luz, mas isso não era um problema para os Lizardmen.

Não havia nada incomum sobre o lugar.

Zaryusu olhou ao redor e soltou um suspiro de alívio depois de se certificar que estava
tudo normal. Ao mesmo tempo, ele se sentou.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


228
Como um excelente guerreiro, Zaryusu podia passar do estado de sono para completa-
mente acordado em um instante. Seus olhos não seriam sobrecarregados pelo sono —
ele poderia acordar pronto para o combate.

Isso também foi relacionado ao hábito de sono leve deste Lizardman.

No entanto, Crusch não mostrou sinais de mexer-se de onde estava dormindo ao lado
dele.

Tudo o que ela fez foi gemer baixinho quando foi privada do calor de Zaryusu.

Em circunstâncias normais, Crusch deveria ter percebido a mudança no ar e acordado


de seu sono. Mas aparentemente não foi o mesmo desta vez.

Um sentimento de arrependimento encheu Zaryusu — o fardo de Crusch era tão grande


assim?

Quando recordou a noite anterior, ele sentiu que talvez o fardo de Crusch fosse maior
do que o seu. Parece que a fêmea Crusch estava sob mais pressão do que o macho
Zaryusu durante o processo de derrotar o Elder Lich.

Ele gostaria que ela continuasse dormindo, mas ele prestou atenção nos sons e ouviu
muitos Lizardmen agitados. Como ainda estavam em estado de alerta, seria mais peri-
goso deixá-la dormir do que acordá-la.

“Crusch, Crusch.”

Zaryusu sacudiu Crusch várias vezes com um pouco de força.

“—Hm? Mmm...”

Depois de contrair a cauda, ela abriu os olhos vermelhos.

“—Hm? Uuuu...?”

“Tem algo acontecendo.”

Essas palavras tiraram um Crusch do estado de meio adormecido para a plena vigília.
A Frost Pain jazia ao lado, depois de segurá-la, levantou-se, seguido por Crusch.

Os dois foram para fora e imediatamente perceberam a origem do alvoroço.

O céu acima da aldeia estava coberto por uma espessa camada de nuvens escuras.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


229
Quando olharam ao longe, perceberam que essas nuvens eram diferentes das nuvens
comuns, porque o céu à distância era limpo e claro.

Em outras palavras, isso significava que—

“São eles de novo?”

Um sinal de outro ataque inimigo.

“Parece que sim.”

Crusch concordou com a avaliação. Debate eclodia entre os Lizardmen das Cinco Tribos,
enquanto olhavam para o céu nublado. No entanto, não havia medo em seus rostos.

Isso porque eles alcançaram a vitória mesmo nessas terríveis circunstâncias, e isso os
tornou mais fortes.

Os dois correram para o portão principal da aldeia, acompanhados pelo som de salpicos
de água e lama. Eles passaram por vários Lizardmen se preparando para a batalha e, em
pouco tempo, chegaram ao destino.

Haviam muitos Lizardmen guerreiros reunidos no portão principal, e todos estavam


olhando para fora. Havia alguns rostos familiares entre eles, incluindo Zenberu, que ha-
via lutado e sangrado com eles, e o chefe da Small Fang estava também ao seu lado.

Zenberu acenou para os dois enquanto se aproximava, e então sacudiu o queixo para
indicar que deviam olhar para fora do portão.

Zaryusu e Crusch ficaram ao lado de Zenberu e olharam na direção indicada.

Diante deles, do outro lado da fronteira entre o pântano e a floresta, havia fileiras de
Skeletons.

“Eles voltaram.”

“Uhum...”

Zaryusu estalou a língua depois de responder Zenberu.

Eles já esperavam algo do tipo, mas isso foi rápido demais. Eles pensaram que as pesa-
das perdas que infligiram à oposição levariam algum tempo para serem repostas.

Mas como acabaram de perceber, estavam completamente enganados. O inimigo deles


realmente mobilizou um grande exército em pouquíssimo tempo.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


230
“...É só que, esses aí parecem mais fracos que os Skeletons que aquele Elder Lich lá con-
jurou.”

Porém havia um significado oculto por trás dessas palavras. Zenberu estava sugerindo
que os Skeletons diante deles eram mais fortes que os numerosos Skeletons de antes.

Zaryusu manteve os olhos treinados no exército diante deles. Isso era para entender a
força de seus oponentes e preparar as defesas adequadas.

De fato, todos eram criaturas esqueléticas, mas dramaticamente diferentes dos que ha-
viam combatido anteriormente.

Pela aparência, a maior diferença estava em seus equipamentos. Os Skeletons anterio-


res estavam armados apenas com espadas enferrujadas, mas esses tinham conjuntos
completos de equipamento. Além disso, eles pareciam mais apresentáveis do que os de
antes. Era como se os equipamentos desses novos Skeletons fosse de alta classe.

A maioria dos Skeletons estavam equipados com couraças, um escudo triangular inver-
tido —escudo heater — em uma mão, e os mais variados tipos de armas na outra mão.
Eles até tinham aljavas e arcos nas costas. Os Skeletons estavam totalmente equipados
para ataque e defesa e para lutar à curta ou longa distância.

Então, havia Skeletons que eram similarmente equipados com couraças, mas osten-
tando capas e capacetes vermelhos esfarrapados, empunhando espadas bastardas e es-
cudos redondos.

O último grupo incluía os Skeletons menos numerosos, mas bem mais equipados. Eles
usavam conjuntos de armadura douradas e seguravam piques brilhantes. Nem uma
única mancha de sujeira marcava suas brilhantes capas vermelhas.

Quando Zaryusu os inspecionou, ele percebeu algo. Ele esfregou os olhos várias vezes,
imaginando se estavam enganados. No entanto, a realidade diante dele permaneceu
como era.

“Eh...? Não pode ser...”

“Is-isso é ridículo...”

Crusch percebeu que Zaryusu estava murmurando com uma voz dolorida enquanto ela
engasgava em choque. Só então, Zenberu falou:

“...Pois é, parece que já notaram, né?”

A voz de Zenberu soou similarmente dolorida.

“Mm...”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


231
Zaryusu parou por aí. Ele não queria continuar, porque teria medo se continuasse, mas
tinha que dizer:

“...Aquelas armas parecem ser mágicas.”

Crusch assentiu com firmeza ao lado dele.

Todas as armas empunhadas pelo exército esquelético eram de natureza mágica. Al-
guns tinham espadas flamejantes, enquanto outros tinham martelos crepitando com ele-
tricidade. Alguns tinham lanças cujas pontas estavam embainhadas em luz verde, en-
quanto outras tinham foices que pingavam um fluido roxo viscoso.

“E não para por aí. Saca só aquelas armaduras e escudos. Parece quê... são encantadas.”

Zaryusu deu uma olhada mais de perto quando ouviu Zenberu falar.

E então, ele lamentou em desânimo. Isso foi porque Zaryusu percebeu que aquelas ar-
maduras brilhantes não refletiam a luz do sol, mas pareciam brilhar de dentro para fora.

Que tipo de governante poderia equipar um exército desse tamanho com itens mágicos?
Se fosse apenas uma questão de simples encantamentos para melhorar o fio seria enten-
dível, Zaryusu ouvira que certas grandes nações podiam acumular quantidades assim
depois de longo planejamento. No entanto, imbuir muitas armas mágicas com proprie-
dades elementais — e com variedade — existia um nível inimaginável de preparação.

Zaryusu lembrou-se dos Dwarfs que Zenberu havia falado há vários dias.

Os Dwarfs eram uma espécie montanhês, que possuíam habilidades excepcionais em


relação aos metais. Durante uma festa de bebedeira, os Dwarfs tinham compartilhado
uma lenda heroica — a do Imperador que fundou o Império dos Dwarfs, um herói que
usava uma armadura de adamantite, um homem que derrotou Dragões sozinho, e o “Ar-
tesão Mágico” dos Treze Heróis. Mesmo naquelas lendas não tinham falado de um exér-
cito — mais de 5.000 — desse tamanho, equipado com equipamentos mágicos tão pri-
morosos.

Então, o que Zaryusu estava observando agora era o quê?

“...Isso é um exército das lendas?”

Se eles não vieram de um mito humano, então deve ter vindo de algum tipo de lenda
divina.

Zaryusu estremeceu. Ele percebeu que havia desafiado um inimigo que não só estava
além de suas expectativas, mas que nunca deveria ter sido provocado.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


232
E mesmo assim, ele reuniu todos aqui com a intenção de morrer. Como alguém que po-
deria ter criado um plano tão ridículo teria medo agora? Ele já sabia que esse inimigo
estava além dos limites de sua imaginação. A solução era como eles lidariam com isso.

“Impossível. Isso deve ser uma ilusão ou algo assim.”

Quando todos ouviram as palavras ditas pelo chefe da tribo Small Fang, o mesmo olhar
surgiu em todos, que parecia dizer: Do que você tá falando? A oposição não estava se
movendo, mas parecia bem real. Emanavam uma presença assustadora e não podiam
ser meras ilusões.

Ainda assim, suas dúvidas foram sinceras. Ele não disse porque estava tendo um mo-
mento de loucura.

“Que base você tem para isso?”

Em resposta a Zaryusu, o chefe do Small Fang respondeu com confiança:

“Enviamos rondas de patrulhas para o reconhecimento, ninguém relatou ter visto unde-
ads assim. É impossível tantos soldados passarem despercebidos. Todos os batedores
que enviamos retornaram com segurança.”

“Entendo seu ponto... Mas eu duvido muito que sejam ilusões.”

“...Mas... é, talvez não sejam mesmo. Já que não são, podem ter saído da terra ou algo
assim. Um túnel explicaria tudo.”

“Não tô nem aí se vieram pelo chão, ou bateram asas até aqui, quero saber o que fare-
mos com eles? Não parece que querem lutar, ou negociar.”

“Parece mesmo... mas não acho que armariam tudo isso a troco de nada...”

Zaryusu olhou para o exército esquelético.

Ele estava procurando por seu comandante — e então, uma rajada de vento congelante
soprou sobre eles. Não foi apenas uma rajada — o vento frio soprava repetidamente.

Este vento sobrenaturalmente gélido não era um fenômeno natural. Não havia dúvida
de que era o resultado de magia.

“Vento? Eh... não pode ser! É outro tipo de magia... como isso é possível...?”

Crusch tremia enquanto se abraçava. Ela não parecia estar fazendo isso por causa do
frio, então Zaryusu perguntou:

“Crusch, o que há com esse vento frio...”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


233
“...Você pode não acreditar em mim, mas por favor me ouça. Eu pensava que as mudan-
ças do tempo de antes foram resultado da magia de quarto nível 「Control Clouds」,
mas eu estava errada. 「Control Clouds」 pode controlar nuvens, mas não pode gerar
ventos frios. Portanto... isso não apenas controla as nuvens, mas altera o clima. Em ou-
tras palavras, acho que o inimigo usou algo do sexto nível... 「Control Weather」.”

Crusch baixou a voz para que ninguém pudesse ouvir e continuou:

“Mas essa magia está além da minha capacidade de uso, então não tenho muita certeza
se isso é verdade.”

Zaryusu sabia como as magias do sexto nível eram incríveis. Eram magias que estavam
além daquelas usadas por Iguva, o oponente mais forte com quem Zaryusu havia lutado,
esse nível de magia era considerado a forma mais poderosa de magia do mundo.

“Então esse é... o poder do Supremo? Bem... isso explicaria muita coisa.”

Se ele pudesse usar magia do 6º nível, então o título de “Supremo” seria bem merecido.

“Ei ei ei, prestem atenção lá, tem alguma coisa estranha.”

Os murmúrios de Zenberu chamaram sua atenção.

Ventos frios não eram vistos por estas bandas — em outras palavras, uma mudança
sobrenatural no ambiente que estava além da capacidade de compreensão. O moral dos
Lizardmen despencou para o fundo do poço.

Anteriormente, apenas as nuvens haviam aparecido. Os sacerdotes ainda podiam con-


trolar as nuvens se se reunissem, construíssem uma enorme fogueira e conduzissem um
ritual. No entanto, quando os Lizardmen sentiram o frio acalento desse vento de outono,
perceberam como o inimigo era poderoso para manipular fenômenos naturais normal-
mente incontroláveis.

Mesmo sem as palavras de Crusch, o vento que soprava constantemente mostrava cla-
ramente quão poderoso era o seu próximo adversário.

“Tchh, malditos— começaram a se movimentar.”

Zaryusu cerrou os dentes e suprimiu a vontade de bater a cauda com pura força de von-
tade.

O que eles vão fazer agora?

Pensou.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


234
Os Lizardmen guerreiros entraram em pânico quando o exército esquelético avançou
marchando ao mesmo passo, pareciam em sincronia com um metrônomo. Alguns deles
até rosnaram em advertência. No entanto, Zaryusu ficou perplexo ao observar o movi-
mento do exército esquelético.

Não parece um movimento de batalha.

Assim que Zaryusu e Zenberu estavam prestes a pedir aos Lizardmen em pânico para
se acalmarem—

“SE ACALMEM!”

Um grito que capaz de tremer o ar foi ouvido.

Todos olharam na direção da voz. Seus olhos se fixaram em Shasuryu.

“Repetindo, se acalmem.”

A única coisa que pôde ser ouvida no silencioso foi sua voz confiante e digna, ecoando
em seus ouvidos.

“Não tenham medo, guerreiros. Não desapontem os antepassados que nos observam.”

Shasuryu passou pelos tranquilos e agora calmos Lizardmen e chegou ao lado de


Zaryusu.

“Irmão, o que o inimigo fez agora?”

“Mm, Ani-ja. Eles começaram a se mover... mas não parece uma formação de batalha.”

“Muu.”

Os 500 Skeletons se moveram e formaram dez fileiras.

“Mas o que estão fazendo?”

Como se esperasse por essa pergunta, o exército esquelético se moveu novamente.

Com coordenação perfeita, eles se separaram em dois do centro, deixando uma lacuna
entre eles, caberiam aproximadamente vinte Skeletons nesta lacuna. Dentro desse es-
paço havia uma figura.

Não era muito grande. Mesmo a uma distância de 250 metros, era claramente menor
que Zaryusu.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


235
Usava um manto negro e irradiava uma terrível aura de maldade. Parecia semelhante
ao Elder Lich que tinham lutado ontem, então era provavelmente um magic caster.

No entanto, a principal diferença entre os dois era o poder.

Um calafrio percorreu a espinha de Zaryusu ao vê-lo. Seus instintos lhe disseram que a
diferença entre o ser diante dele e o Elder Lich de ontem era como a diferença entre um
guerreiro e uma criança.

Mesmo a esta distancia, ele podia sentir a presença malévola emanando daquilo. Além
disso, seu equipamento por si só estava em um nível totalmente diferente.

Era como um avatar da morte — um governante da morte.

“O... governante da morte...?”

As palavras que saíram espontaneamente da boca de Zaryusu descreveram perfeita-


mente o monstro diante dele.

Na verdade, esse ser era um Rei que governava a morte.

“...Ooh!”

O que esse governante da morte tinha em mente?

Os Lizardmen entraram em pânico assim que olharam para o carrasco da extinção. Só


então, uma magia de aproximadamente dez metros de largura expandiu-se em torno da-
quele magic caster, como um hemisfério de energia.

No hemisfério havia sigilos translúcidos que se assemelhavam a letras e símbolos, bri-


lhando com uma luz branco-azulada. Esses sigilos mudaram com uma velocidade des-
concertante, cada um era diferente do outro.

A luz azul clara mudava de forma continua, iluminando o ambiente em um brilho fan-
tasmagórico. Se este não fosse o trabalho de um inimigo, talvez eles pudessem ter ficado
encantados, mas agora eles não estavam com disposição para tais coisas.

Zaryusu, incapaz de entender o que estava acontecendo, sentiu-se confuso.

A maioria dos magic casters não projetaria matrizes de magia como esses no ar ao con-
jurar suas magias. As ações do inimigo foram muito além do conhecimento de Zaryusu.
Portanto, Zaryusu perguntou à fêmea que sabia mais sobre magia:

“O que é aquilo?”

“Eu não sei. Não tenho idéia do que seja—”

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


236
A resposta de Crusch soou um pouco assustada. Parece que seu conhecimento de magia
a deixava ainda mais assustada com esse fenômeno desconhecido.

Assim que Zaryusu estava prestes a consolá-la com um afago—

Talvez por estar finalizada, o círculo mágico se fragmentou e se transformou em incon-


táveis partículas de luz, que voaram para o céu. E então, eles se espalharam do ar, como
uma explosão—

—E o lago congelou.

Ninguém tinha idéia do que estava acontecendo.

Havia o chefe respeitável Shasuryu, a incrivelmente talentosa sacerdotisa Crusch e o


Viajante veterano Zaryusu. Mesmo esses indivíduos, que eram extraordinariamente ta-
lentosos em seus respectivos campos, não conseguiam compreender imediatamente o
que estava acontecendo no momento.

Eles não sabiam o porquê de seus pés estarem presos no gelo.

Logo depois que seus cérebros conseguiram analisar os eventos, gritos de desespero
soaram.

De fato, cada Lizardman estava gritando.

Até mesmo Zaryusu. Crusch, Shasuryu e até mesmo Zenberu, o mais ousado de todos,
não foi exceção. O terror que brotou das profundezas de suas almas os levou a gritar de
medo.

A cena diante de seus olhos era horrível demais para suportar. O lago que congelou
apenas uma vez em eras longínquas, que nunca congelaria sob quaisquer circunstâncias
normais, era agora uma sólida camada de gelo.

Os lizardmen levantaram apressadamente os pés. Felizmente, o gelo não estava muito


grosso e quebrou imediatamente, mas as partes quebradas imediatamente congelaram
de volta. O frio que congelava até os ossos provou que isso não era uma miragem.

Em pânico, Zaryusu apressadamente escalou uma parede de terra e olhou ao redor, e


então ficou boquiaberto com a visão ridícula à sua volta.

Tudo, até onde seus olhos podiam ver, estava congelado.

Era impossível imaginar que um lago tão grande pudesse congelar, mas o gelo cintilante
diante de seus olhos era realidade.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


237
Zaryusu temia pelos criatórios de peixes, mas agora não era hora de se preocupar com
essas coisas.

“Não pode ser...”

Crusch, que havia escalado com Zaryusu para olhar em volta, estava tão estupefata
quanto ele. Essa fala desanimada veio de sua boca aberta.

Muito parecido com Zaryusu, ela não podia acreditar no que estava vendo.

“Monstro!”

Ele amaldiçoou em voz alta. Ao mesmo tempo, ele esperava que a maldição melhorasse
um pouco o terror em seu coração.

“Saiam daí, rápido!”

Gritou Shasuryu.

Vários Lizardmen já haviam colapsado. Os Lizardmen guerreiros que ainda podiam se


mover trabalharam juntos para soltar seus amigos caídos do pântano congelado.

Os Lizardmen que haviam colapsado estavam medrosamente pálidos e tremiam incon-


trolavelmente. Talvez o frio tenha roubado sua vitalidade.

“Ani-ja, vou dar uma olhada!”

Com o Frost Pain na mão, Zaryusu não seria afetado pelos efeitos de um frio desse nível.

“Não... não vá!”

“Por que não!?”

“Sinto que eles devem fazer algo! Eu a proíbo de deixar este lugar! Preste atenção no
que eles fazem! Você viajou pelo mundo e acumulou todo tipo de conhecimento; você é
o único que pode lidar com essa tarefa!”

Os olhos de Shasuryu deixaram Zaryusu e ele falou com os guerreiros ao seu redor.

“Vou lançar uma magia para proteger vocês do frio, 「Protection Energy: Ice」. Diga a
todos na aldeia para não tocar no gelo.”

“Vou te ajudar.”

“Obrigado! Crusch, cuide de alguns por mim. Cure os que estiverem em estado crítico!”

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


238
Crusch e Shasuryu começaram a lançar magias nos Lizardmen já salvos.

Zaryusu permaneceu em cima do muro de terra, seu olhar atento concentrou-se na for-
mação inimiga e em cada movimento que faziam. Ele precisava executar a missão que
seu irmão mais velho lhe havia confiado.

“Hup!”

Zenberu, que havia escalado ao lado dele, observou vagarosamente as forças inimigas.

“Não precisa ficar com essa cara séria. É o jeito do seu irmão, né não? Ele confia em você,
sabe como é. Mesmo se deixar passar algo, ele não vai brigar.”

O tom relaxado de Zenberu ajudou a refrescar a cabeça de Zaryusu.

Muito parecido com o que haviam feito na batalha com o Elder Lich, eles podiam dividir
o fardo entre si e trabalhar juntos enquanto ele supervisionava tudo.

Zaryusu olhou em volta e notou que os guerreiros estavam subindo no muro de terra
para observar o inimigo. De fato, ele não estava lutando sozinho, mas com todos.

Parece que aquela força avassaladora — aquela magia — o havia deixado perturbado.

Zaryusu exalou, como se quisesse expulsar o ar impuro acumulado dentro de si.

“Desculpa.”

“Nada pra se desculpar.”

“...Certo. Que bom que está aqui, Zenberu.”

“Haah, mas não vá esperando grandes coisas se for trabalho intelectual.”

Seus olhos se encontraram e eles riram. Então voltaram sua atenção para o inimigo.

“Mas caramba, aqueles monstros são da pesada.”

“Sim, estão em um nível completamente diferente.”

O Rei da Morte, arrogante e majestoso, contemplava Zaryusu e a aldeia Lizardman.


Como o governante deste mundo e de além-mundos. O que parecia ser um objeto minús-
culo à distância parecia ter se expandido para dezenas de vezes seu tamanho real.

“...Aquele lá deve ser o Supremo que tanto falam.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


239
“Provavelmente. Espero que ele seja o único capaz de congelar um lago com magia as-
sim.”

“Eu também. A gente não deve passar de formiguinhas pra um cara desses. Droga, mas
que droga! Todo mundo aqui não passa de merda pra ele. Olha lá... eles começaram a
fazer algo.”

O magic caster que havia congelado o lago levantou a mão que não segurava um cajado
e acenou para a aldeia. Ele deve estar dando uma ordem, os instintos de Zaryusu foram
ativados e, no momento seguinte seus instintos foram validados de uma forma horrível.

“Ohhhhh!” vozes assim vieram de todos os lugares da aldeia.

“O quê... é aquilo? Mas que porra é aquilo!?”

Zaryusu pensara que não podia mais se surpreender, mas depois de ver o que estava
diante dele, não pôde deixar de gritar em resposta.

Diante de seus olhos havia uma enorme estátua de pedra, com um par de braços e per-
nas.

Seu tórax robusto e semelhante a uma muralha pulsava com luz vermelha, como um
batimento cardíaco. Seus membros eram largos e grossos, e parecia quase fofo... bem,
teria sido, se não tivesse mais de 30 metros de altura.

Esta enorme estátua de pedra apareceu de repente da floresta. Chamar de ilusão seria
uma mentira para aceitar a dura realidade.

A estátua moveu-se lentamente e retirou um cubo gigantesco de rocha do nada.

E então, a arremessou.

Zaryusu, reflexivamente, protegeu os olhos. A morte instantânea aguardava qualquer


um que fosse atingido por aquela imensa rocha.

A terra estremeceu e um estrondo tremendo assaltou Zaryusu naquele mundo de escu-


ridão. A parede de terra tremeu violentamente.

Depois disso, ouviu-se o som da chuva pesada — da areia e detritos que haviam sido
lançados acima caíram de volta à terra. Foi acompanhado por gritos de surpresa de toda
a aldeia.

Eles estavam preparados para morrer, mas não estavam preparados para esse terror
inimaginável. A chocante lição de agora fez até mesmo os veteranos da batalha de ontem
gritarem como crianças.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


240
Zaryusu deu um suspiro de alívio quando percebeu que ainda estava vivo. Quando ele
nervosamente abriu os olhos, viu o exército dos undeads em movimento e percebeu que
a gigantesca estátua não era mais vista.

A enorme rocha agora estava entre as contrapartes. As tropas undeads se aproximaram


da rocha, e então se ajoelharam depois de levantarem seus escudos como se quisessem
bloquear o céu. Os outros Skeletons pularam sobre os escudos e, depois de manterem o
equilíbrio com agilidade, ergueram os escudos também.

No momento em que Zaryusu percebeu o que o inimigo estava fazendo, ele tremeu dos
pés à cabeça, como se tivesse sido atingido por um raio.

“Não me diga quê... degraus? Estão usando um exército lendário como degraus!?”

Os Skeletons se aproximaram da rocha gigante com velocidade surpreendente, e então


a escadaria formada pelo exército de undeads finalmente tomou forma.

Então, os outros soldados undeads fizeram o seu movimento. Eles pareciam mais refi-
nados do que os Skeletons de antes, e havia cerca de 100 deles. Eles seguravam lanças
com bandeiras anexadas, do tipo que lanceiros podiam carregar.

O tecido vermelho brilhante — suas bandeiras — era bordado com o mesmo brasão.

Suas capas ondulavam ao vento, esses undeads marcharam sobre o pântano com uma
coordenação imaculada. Eles esmagavam o gelo sob seus pés enquanto avançavam em
silêncio. Então, outro grupo de Skeletons marchou sobre o pântano com os mesmos mo-
vimentos fluídos, tendo o cuidado de manter o espaçamento adequado do primeiro
grupo. Então cruzaram as lanças com as dos guerreiros do lado oposto.

As lanças cruzadas formavam uma passagem que levava à enorme rocha.

“...Uma procissão real?”

Zenberu estava certo.

O magic caster da morte percorreu o caminho feito pelos undeads. As silhuetas de vá-
rias pessoas eram visíveis por trás dele. Ninguém notou a chegada deles.

Apenas o mover da cabeça do magic caster já mostrava um poder insondável.

Ele estava vestido com um manto negro que parecia ser feito da própria escuridão, e
um brilho de ébano emanava do cajado que carregava. Esse brilho se moldava em faces
atormentadas de seres humanos, que se dissolviam desaparecendo em nada. Sob o capuz
de seu manto havia um rosto esquelético e, dentro de suas órbitas vazias, dançavam pon-
tos de luz vermelhas e bruxuleantes.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


241
Ele estava adornado com inúmeros itens de joias mágicas, os quais estavam além da
compreensão de Zaryusu. Ele andava a passos largos com o ar de um monarca.

Uma mulher de pele clara seguia atrás do Rei da Morte. Ela se parecia com uma humana,
mas ela diferia em um aspecto fundamental — asas em sua cintura.

“Ela é um... demônio?”

♦♦♦

Demônios.

Haviam diabos que destruíam com força bruta e espíritos malignos que corrompiam
com o intelecto. Todas essas variantes eram conhecidas coletivamente como demônios.
Diziam que eram monstros de crueldade e malícia lendárias, que existiam para destruir
todos os seres de boa índole. Seus nomes eram um agouro de mal.

Zaryusu tinha ouvido falar de demônios durante suas viagens.

Ele tinha ouvido falar de sua natureza assustadora. Aparentemente, 200 anos atrás,
existiu um monstro que era um rei dos demônios —, ficou conhecido como “Deus Demô-
nio”, que reuniu demônios sob sua bandeira e quase destruiu o mundo.

O Deus Demônio foi finalmente derrotado pelos Treze Heróis, e os vestígios dessa ba-
talha ainda podem ser vistos até hoje.

Se os undeads fossem os monstros que odiavam os vivos, então os demônios eram


monstros que queriam fazer os vivos sofrerem.

Por trás do demônio havia um par de gêmeos Elfos Negro e depois uma garota de cabe-
los prateados. Além dela havia um monstro de aparência sinistra que flutuava no ar e,
finalmente, um ser de cauda que se assemelhava a um humano.

O monstro assustador por si só não parecia muito forte, mas a ponta da cauda dos Li-
zardmen começou a tremer apenas por olhar para cada um deles. Seus instintos primi-
tivos gritavam para fugirem o mais rápido possível.

O grupo avançou em silêncio, passando sob as lanças e bandeiras, subindo as escadas


que conduziam até a imensa rocha. Eles pisaram os soldados undeads sem qualquer he-
sitação, parecendo reis e rainhas no topo da enorme rocha. O Rei da Morte acenou com
a mão.

Em um instante, um trono alto e luxuoso que brilhava com uma luz negra apareceu, e o
Rei da Morte sentou-se prontamente sobre ele.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


242
Atrás deles, as pessoas que pareciam ser seus confidentes formaram uma fila, olhando
para a aldeia como se estivessem esperando alguma coisa. No entanto, eles não fizeram
nada além disso.

O que estava acontecendo?

Vários Lizardmen olharam desconfortáveis um para o outro, e no final eles finalmente


decidiram deixar os mais sábios de seus membros falarem.

“...Ah, o que vamos fazer agora, Zaryusu-san? Preparar para fugir?”

A voz estava totalmente desprovida de espírito de luta. A cauda caída falou as palavras
que estava em seu coração.

“Não, não há necessidade. Lembre-se do Elder Lich de antes. Esse magic caster ultra-
passa, e muito, aquele Elder Lich, então deve ser brincadeira de criança ele nos matar a
essa distância. Tenho certeza quê... ele vai dizer alguma coisa.”

Aparência de compreensão surgiu nos rostos dos Lizardmen.

Depois disso, os olhos de Zaryusu estavam firmemente fixos no grupo diante deles. Ele
era como um camponês olhando para seu Rei, enquanto examinava incessantemente os
monstros no topo daquela enorme rocha.

Ele não queria deixar nada passar despercebido.

Agora que estavam bem mais perto, ele poderia examiná-los em detalhe, até mesmo a
direção para ondem olhavam.

Aquele Rei da Morte os olhava nos olhos? Os Elfos Negros não pareciam particular-
mente hostis. A garota de cabelos prateados tinha um sorriso de escarnio no rosto. A
expressão gentil da demônia era paradoxalmente arrepiante. A expressão do monstro
assustador era ilegível. Já os olhos do homem de cauda estavam desprovidos de qualquer
emoção.

Depois que eles estudaram um ao outro por um tempo, o Rei da Morte mais uma vez
levantou até a altura do peito. Vários Lizardmen agitaram a caudas violentamente ao
notarem.

“—Não tenham medo. Não nos envergonhe diante de nossos oponentes.”

As críticas afiadas de Zaryusu levaram todos os Lizardmen a se endireitarem e estufa-


rem seus peitos.

Várias nuvens negras apareceram diante do Rei da Morte — 20 no total. Elas giravam
sem parar, crescendo cada vez mais, até formarem uma única nuvem de névoa negra

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


243
com cerca de 150 centímetros. Logo, inúmeros rostos assustadores apareceram em suas
superfícies.

“Isso é...”

Zaryusu recordou os monstros que vieram para as aldeias como mensageiros e as cria-
turas undeads que ele tinha visto durante suas viagens.

Crusch já havia explicado isso anteriormente, mas era muito difícil ferir monstros in-
corpóreos sem a ajuda de armas encantadas, armas feitas de metais especiais, magia ou
Artes Marciais específicas.

Mesmo juntando todas tribos Lizardmen, elas teriam apenas algumas armas mágicas.
Em outras palavras. Apenas derrotar essa coisa já seria muito desafiador.

Como enfrentar um inimigo poderia conjurar casualmente 20 desses monstros com um


acenar de sua mão?

“...Então quando falam em controla a morte, é disso que estão falando.”

Nosso inimigo é um monstro incrivelmente poderoso, alguém a quem o poderoso Elder


Lich jurou lealdade.

Zaryusu pensou desanimado.

O Rei da Morte murmurou algo, e então estendeu a mão, como se estivesse ordenando
um ataque. Os monstros voaram para cercar a aldeia e começaram a recitar em uníssono:

“Nós, por meio deste, retransmitimos a vontade do Ser Supremo.”

“O Ser Supremo solicita um diálogo. Despache seus representantes imediata-


mente.”

“Qualquer atraso só irá incorrer na ira do Ser Supremo.”

Depois do monólogo, os undeads incorpóreos retornaram ao lado de seu mestre.

“Quê? ...Não me diga... foi só para isso?”

Zaryusu perguntou, com um olhar estúpido no rosto.

Ele enviou undeads tão poderosos como meros mensageiros?

No entanto, a coisa mais inacreditável foi o que veio a seguir. Depois de receber instru-
ções do governante da morte, a garota de cabelos prateados atrás dele bateu palmas com
força.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


244
Com aquele aplauso — todos aqueles undeads foram aniquilados.

“QUÊ!?”

Zaryusu não conseguiu conter seu grito de choque.

Aqueles monstros convocados não foram banidos, mas destruídos.

Clérigos eram capazes de destruir undeads. Porém, apenas conseguir bani-los já era
bem difícil. Se um clérigo fosse suficientemente poderoso, não só podia os banir, mas
também os destruir. No entanto, em muitos de uma só vez exigiria muito poder.

Em outras palavras, a moça de cabelos prateados era uma serva tão poderosa quanto o
Rei da Morte. Sendo esse o caso, as pessoas ao lado dela poderiam ser igualmente pujan-
tes.

“Ha-hahaha—”

Zaryusu não pôde deixar de rir.

Isso era apenas esperado. O que mais ele poderia fazer senão rir? Eles eram muito mais
poderosos.

“Irmão!”

“—Ah, Ani-ja!”

Zaryusu olhou para baixo em resposta ao chamado e viu que Shasuryu e Crusch esta-
vam ao sopé do muro. Os dois subiram na parede de terra e juntos olharam para o magic
caster.

Crusch se forçou no espaço entre Zaryusu e Zenberu, quase fazendo Zenberu cair. No
entanto, ele não deu bola.

“Aquele é o general inimigo? Parece tão poderoso que só de olhar já fico arrepiado. Ele
lembra um pouco aquele Elder Lich que você derrotou... mas não há como comparar a
força um do outro, é muito além...”

“...Ani-ja, acabaram o que estava fazendo?”

“Muu. A maior parte. Crusch e eu esgotamos nossa mana. E depois de ouvir os mensa-
geiros... sentimos que seria melhor dar prioridade nisso. Mas falando daqueles mensa-
geiros... Zaryusu, estaria disposto a vir comigo?”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


245
Zaryusu olhou em silêncio para Shasuryu e depois assentiu profundamente. Shasuryu
pareceu brevemente desconfortável, mas retomou sua expressão habitual imediata-
mente, tão rapidamente que ninguém percebeu que ele já havia olhado daquele jeito.

“Eu sinto Muito.”

“Não se preocupe, Ani-ja.”

Shasuryu saltou do muro de terra com esse pedido de desculpas, aterrissando na lama
congelada da margem.

“Então, vamos.”

“Tenha cuidado.”

Zaryusu abraçou Crusch com força, e então ele pulou no pântano.

Zaryusu e Shasuryu pisaram na fina camada de gelo. Depois de deixar o portão principal,
Zaryusu pôde sentir a comitiva do Rei da Morte os encarando, era como se seus olhares
exercessem uma pressão física tangível. Ele também podia sentir os olhares inquietos
atrás dele, e o mais preocupado deles provavelmente pertencia à Crusch.

Zaryusu lutou contra o desejo de ficar com ela.

Só então, Shasuryu falou.

“...Eu sinto muito.”

“...Por que, Ani-ja?”

“...Se as negociações derem errado, podem nos matar como exemplo.”

Zaryusu estava preparado para isso. Foi por isso que ele abraçou Crusch com força an-
tes de ir.

“...Só de ver esses números, eu mesmo não deixaria que você viesse sozinho, Ani-ja. Se
apenas uma pessoa fosse, é bem capaz que pensariam que somos pretensiosos.”

Zaryusu era um indivíduo famoso entre os Lizardmen, um sujeito ideal para negocia-
ções. Contudo, ele era um Viajante e sua morte não prejudicaria os Lizardmen como um
todo. Deste ponto de vista, não haveria arrependimentos se ele morresse.

Mesmo se um herói morresse, a tribo ainda poderia continuar lutando enquanto hou-
vesse outros chefes por perto. No pior dos casos, havia a possibilidade de perder a Frost
Pain; sem isso, eles seriam incapazes de resistir ao frio do lago.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


246
Os dois caminharam em silêncio, cada passo os levava para mais perto da morte.

Eles alcançaram a escadaria de undeads que conduzia ao trono e elevaram suas vozes.
Se o trono tivesse sido colocado mais para trás, talvez eles pudessem subir, mas dado
que estava situado na borda da rocha, provavelmente significava que eles não queriam
deixar os lizardmen subirem.

Afinal de contas, os reis tinham que ter uma vantagem de comando.

Não havia tal regra entre os Lizardmen, mas muitas espécies tinham a prática comum
de seres superiores negligenciando os inferiores. É claro que isso seria muito rude se
tivessem vindo apenas para dialogar.

Em outras palavras, “dialogar” era apenas um nome bonito. Não havia intenção de falar
com eles em pé de igualdade.

Em vez disso, na verdade, esperar tratamento seria atestar ignorância. Zaryusu e os


outros poderiam ter vencido a batalha anterior, mas depois de ver o conjunto de seres
acima, sobre a imensa rocha, até mesmo eles seriam forçados a concluir que sua vitória
anterior não tinha qualquer significado. Não passou de brincadeira de criança.

“Estamos aqui! Eu sou Shasuryu Shasha, representante dos Lizardmen, ao meu lado
está o maior herói dos Lizardmen!”

“Eu sou Zaryusu Shasha!”

Mesmo assim, não havia lisonja em suas vozes estridentes. Eles sabiam que foi um gesto
tolo, mas tinham sido as últimas gotas de dignidade que possuíam. A batalha anterior
poderia ter sido uma demonstração secundária aos olhos de seus oponentes, mas eles
não podiam abandonar o orgulho dos guerreiros que haviam perecido em campo de ba-
talha.

Não houve resposta. O Rei da Morte simplesmente moveu a cabeça para olhá-los do alto
do trono, olhando-os sem nenhuma reserva. Não havia sinal de que ele faria qualquer
coisa.

Quem os respondeu foi a demônia de asas negras.

“Nosso mestre sente que não adotaram uma postura de escuta suficientemente respei-
tosa.”

“...O quê?”

Depois de ouvir suas vozes cheias de dúvidas, ela falou para o ser de cauda que parecia
um homem humano.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


247
“—Demiurge.”

“『Ajoelhem-se』.”

Zaryusu e Shasuryu de repente caíram de joelhos, suas cabeças afundaram no pântano.


Pareceu um movimento perfeitamente natural para os espectadores.

A lama esfriava seus corpos, e o gelo quebrado imediatamente congelou mais uma vez.

Eles não aguentaram. Não importava o quanto tentassem, seus corpos não se moviam
nem um centímetro. Era como se um par de mãos enormes e invisíveis estivesse pressi-
onando-os e tirando a liberdade de seus corpos.

“『Não resistam』.”

No instante em que a voz penetrava de novo em seus ouvidos, Zaryusu e Shasuryu sen-
tiam como se seus corpos estivessem sob controle de outro cérebro — um órgão invasor
que recebia ordens de outros e que seus corpos obedeciam sem hesitar.

Depois de ver seus corpos impotentes ajoelhados pateticamente na lama, a demônia


pareceu bastante satisfeita e relatou a seu mestre:

“Ainz-sama, eles estão prontos para ouvi-lo.”

“Obrigado — levantem a cabeça.”

“『Vocês têm permissão para levantar suas cabeças』.”

Zaryusu e Shasuryu levantaram as cabeças, a única parte de seus corpos que podiam se
mover, e ergueram os olhos como se estivessem desesperados para ver seu rei.

“Eu sou... Ainz Ooal Gown, mestre da Grande Tumba de Nazarick. Em primeiro lugar,
gostaria de agradecer-lhes por me ajudarem a concluir meu experimento.”

Um experimento? Você matou nosso povo e ousa dizer que é um experimento!?

Seu ressentimento abanou as chamas da raiva em seu coração, mas ele resistiu. Afinal,
agora não era hora de fazer cena.

“Bem, então direto ao ponto... se submetam ao meu reinado.”

O magic caster Ainz levantou a mão, silenciando Shasuryu, que estava prestes a falar.

Shasuryu sabia que tentar falar agora não seria sábio, e só restou ficar de boca fechada.

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


248
“—Entretanto, Vocês derrotaram um de meus exércitos e não estão dispostos a serem
governados por mim. Portanto, atacaremos novamente em quatro horas. Se puderem
ganhar, jamais ousaria ir contra vocês de novo. De fato, os ressaciarei por todos os males
e prejuízos que causei.”

“...Posso fazer uma pergunta?”

“Está bem. Pergunte seus anseios.”

“O senhor será o líder do ataque... Gown-dono?”

A garota de cabelo prateado atrás dele franziu a testa, enquanto o sorriso da demônia
ficou malévolo. Talvez elas estivessem descontentes com a adição do honorífico impró-
prio. Ainda assim, não fizeram nada fora do comum, possivelmente porque seu mestre
não mencionou o assunto.

Ainz as ignorou e continuou falando:

“Não. Não me intrometerei nisso. O atacante será um dos meus homens de confiança...
e apenas ele. Se chama Cocytus.”

Quando Zaryusu ouviu isso, um profundo sentimento de desespero o preencheu, como


se fosse o fim do mundo.

Se Ainz atacasse com um exército, os Lizardmen poderiam ter uma chance de vitória.
Em outras palavras, ele prolongaria um sofrimento que chamou de experimento, talvez
alguns pudessem escapar. E até mesmo uma escassa e fugaz chance de vitória.

Mas curiosamente, ele não despacharia um exército.

Apenas um soldado.

Montaram um grande exército só para se mostrarem e, mesmo com isso tudo, apenas
um os atacaria. A menos que fosse algum tipo de punição, as palavras de Ainz significa-
vam que ele estava absolutamente confiante na vitória.

Alguém digno da confiança absoluta do poderosíssimo Rei da Morte...? A conclusão que


restara, concluía que o ser em questão era incrivelmente poderoso, a ponto dos Lizard-
men não terem esperança de vitória.

“Escolhemos nos render—”

“Seria chato demais se render sem lutar. Lutem com tudo. Isso faria de nossa vitória
algo mais saboroso.”

Ainz interrompeu Shasuryu, impedindo-o de falar.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


249
Vai nos fazer de exemplo, seu desgraçado!?

Zaryusu o amaldiçoou por dentro.

A realidade era que o forte usaria a morte para lavar a mancha da derrota.

Em outras palavras, eles realizariam um sacrifício vivo. Isso seria uma demonstração
de domínio absoluto, projetado para eliminar qualquer traço de rebelião dentro dos Li-
zardmen.

“É tudo que tenho a dizer. Enfim, esperarei ansiosamente pelos eventos daqui a quatro
horas.”

“Um momento, por favor— este gelo vai derreter?”

Se eles ganhassem ou perdessem, seria muito difícil para os Lizardmen sobreviverem


com um lago congelado.

“...Ah, eu quase me esqueci...”

Ainz respondeu casualmente e continuou:

“Eu apenas queria evitar manchar minhas vestes no pântano. Dissiparei a magia logo
mais.”

O quê!?

Zaryusu e Shasuryu ficaram tão chocados que não conseguiram falar. Na verdade, eles
se perguntaram se tinham entendido direito.

Ele congelou o lago só porque não queria se sujar!?

Algo tão inacreditável que estava ficando cômico. Eles estavam indo contra alguém que
poderia moldar o mundo a seus caprichos com o menor dos esforços.

Eles estavam no caminho de uma entidade desse calibre. Zaryusu e Shasuryu sentiram
um terror similar a vez que ficaram sozinhos quando crianças.

“Até breve, Lizardmen — 「Gate」.”

Tendo dito suas palavras, Ainz acenou com a mão e um portal de escuridão apareceu
na frente do trono. Ele então entrou na escuridão.

“Adeus, Lizardmen.”

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


250
“Tchauzinho, Lizardmen-sans!”

“Até mais ~arinsu. Lizardmen.”

As duas mulheres e um dos Elfo Negro se despediram dos Lizardmen em um tom de-
sinteressado antes de entrar na escuridão atrás de Ainz.

“Er, erm, então, ah, tchau-tchau, se cuidem.”

E u também m e despeço˳
“Asor enimsaj even megurref.”

O monstro assustador desapareceu na escuridão após a garota Elfa Negra.

“『Estão livres agora』. Bem, espero que nos entretenha, Lizardmen.”

Finalmente, o homem de cauda entrou na escuridão. Houve um som suave, e a força que
prendia os dois desapareceu com ele.

Zaryusu e Shasuryu permaneceram ajoelhados na lama onde haviam sido abandonados,


sem a força para se levantar.

Eles nem prestavam atenção a dor contínua que vinha do frio congelante que entrava
neles. Isso porque o choque que acabaram de sentir excedia em muito qualquer dor fí-
sica.

“Desgraçados...”

Essa frustação incaracterística de Shasuryu foi preenchida com uma mistura complexa
de emoções.

♦♦♦

Vários chefes, que haviam subido nos muros de terra para evitar o frio, os deram boas-
vindas. Não havia outros lizardmen por perto.

Eles provavelmente o fizeram porque estavam ansiosos para discutir assuntos em par-
ticular. Sentindo isso, Shasuryu decidiu não medir as palavras e disse-lhes os eventos do
diálogo que não eram um diálogo.

Não houve grande reação à sombria narração de Shasuryu, apenas uma leve surpresa.
Provavelmente foi porque esperavam uma conclusão assim.

“Entendi... mas o gelo vai derreter mesmo, né? Não vai dar pra lutar pisando naquilo.”

“Vai ficar bem. Ele disse que derreteria o gelo.”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


251
“Foi isso que ganharam negociando?”

Shasuryu não respondeu à pergunta do chefe da Tribo Small Fang, apenas sorriu. O
chefe sabia o que isso significava e balançou a cabeça em resignação.

“Enquanto vocês estavam nas negociações, fomos olhar os arredores... e encontramos


traços do inimigo nas margens do lago. Provavelmente tropas undeads. Com toda a cer-
teza, já nos cercaram e aguardam ordens.”

“Inimigo... não pense quê... nos deixar fugir.”

“Eles falaram sério sobre isso...”

“Também acho.”

Os quatro chefes que não participaram suspiraram profundamente. Provavelmente


chegaram à conclusão de que seriam sacrifícios.

“Então, o que a gente faz?”

“...Mobilize todos os guerreiros Lizardmen, e... aqueles aqui presentes...”

“Ani-ja... pode permitir que apenas cinco participem?”

Disse Zaryusu olhando para a desnorteada Crusch pelo canto do olho, era como se ele
implorasse a todos os machos presentes.

“Se o objetivo do inimigo é demonstrar poder, não faz sentido exterminarem o nosso
povo. Se for o caso, precisamos ter alguém capaz de liderar os Lizardmen sobreviventes.
Se todos aqui morrerem, será um grande golpe no futuro dos Lizardmen.”

“...Ele tem razão, o que acha, Shasuryu?”

“Mm, Zaryusu... você está certo.”

Os dois chefes olharam para Zaryusu e Crusch e assentiram.

“—Parece bom. Eu aprovo isso.”

Depois de receber a aprovação de Zenberu, o último chefe, Shasuryu não conseguiu


mais encontrar qualquer razão para negar o pedido de seu irmão mais novo.

“Então está decidido. Eu também pensei que alguém teria que permanecer vivo para
liderar as tribos unidas — Crusch deve se sair bem com esse dever. Talvez o albinismo
dela possa afetar seus deveres, mas seus poderes sacerdotais são insubstituíveis.”

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


252
“Por favor, esperem, eu também quero lutar!”

Crusch gritou enquanto protestava contra sua exclusão neste momento:

“Até porque, se um de nós tiver que ficar para trás, não seria melhor se fosse o Sha-
suryu? Ele é o chefe que todos mais confiam!”

“É precisamente por esse motivo que ele não pode. O inimigo quer nos amedrontar, nos
tornar dóceis e, para isso, vai usar tudo que tiver. Então acha mesmo que eles poupariam
um Lizardman capaz de inspirar a esperança de dias melhores? Creio que não... né?”

“E também... A Crusch é a menos popular entre os chefes devido ao seu albinismo.”

Crusch ficou muda. Era um fato indiscutível que outros pensavam mal dela por causa
de sua condição.

Crusch sabia que não poderia convencer os outros e, em vez disso, virou-se para
Zaryusu.

“Eu quero ir também. Quando você me chamou aqui, eu já aceitei meu destino. Por que
inventa uma coisa dessas agora?”

“...Naquela época, eu pensei que todos nós poderíamos morrer, mas agora há uma
chance de que um de nós possa viver.”

“Só pode estar de brincadeira!!”

O ar pareceu tremer, como se em resposta à raiva de Crusch. O som de tapas ressoou


na parede de terra, enquanto a cauda de Crusch se debatia violentamente nas garras de
suas emoções.

“—Zaryusu, vá convencê-la. Vejo você em quatro horas.”

Shasuryu se afastou deixando esses dizeres para trás. Então, houve o som de gelo ra-
chando e salpicos de água. Os outros três chefes saltaram do muro de terra, seguindo
atrás de Shasuryu. Zenberu acenou para os dois que permaneceram enquanto saía. De-
pois de vê-los partir, Zaryusu virou-se para Crusch.

“Crusch, por favor, me entenda.”

“Entender o quê!? Você não pode perder! Se eu ajudasse com os meus poderes sacer-
dotais, poderíamos vencer!”

Quão vazias essas palavras soaram. Até mesmo Crusch não conseguiu acreditar no que
acabara de dizer.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


253
“Eu não quero que a fêmea que eu amo morra. Por favor, conceda o último desejo deste
macho tolo.”

Crusch abraçou Zaryusu, com uma expressão de pesar no rosto.

“Você é muito egoísta!”

“Eu sinto Muito...”

“Você vai morrer...”

“Eu sei...”

De fato, as chances de sobrevivência eram muito pequenas. Não, ela poderia concluir
que eram inexistentes.

“Você entra na minha vida em uma semana, me faz te amar e agora quer que eu te veja
morrer?”

“Mm...”

“Conhecer você foi a minha alegria e a minha perdição.”

Crusch abraçou Zaryusu com força, como se ela nunca quisesse deixá-lo ir.

Zaryusu não podia falar. O que ele deveria dizer? O que ele poderia dizer?

Sua mente girava em torno da mesma pergunta. Depois de algum tempo, Crusch levan-
tou a cabeça, com o rosto cheio de determinação.

Uma onda de inquietação tomou conta de Zaryusu. Ele tinha a sensação de que Crusch
insistiria em segui-lo. Então, Crusch lançou um ultimato simples e vigoroso para Zaryusu.

“—Me engravide.”

“—O quê!?”

“Agora!”

Capítulo 4 O Alvorecer do Desespero


254
Capítulo 05: O Deus Congelado

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


255
Parte 1

inz estava no mesmo quartel que Cocytus usou ontem — a fortaleza que

A
com Ainz:

A q u i
Aura estava construindo. Se alguém ouvisse atentamente, poderia escutar
sons fracos de trabalho vindo de longe.

Assim que entraram na sala, Victim até então em silêncio falou de repente

m e d e s p e ç o ‚ Ainz-sama˳
“Atarp even megurref, Ocissáirt.”

“Obrigado pelo seu árduo trabalho. Por favor, cuide do Primeiro Andar de Nazarick en-
quanto não retornamos.”
Entendido˳
“Adlaremse.”

“「Gate」.”

Victim passou pelo portal de escuridão que Ainz havia conjurado. Levaria diretamente
ao 1º Andar da Grande Tumba de Nazarick.

Depois de observar que o Guardião — cuja morte ativaria uma poderosa habilidade de
restrição de movimentos — sair pelo 「Gate」, Ainz olhou para o resto da sala. Ao
mesmo tempo, sentiu Aura cabisbaixa atrás dele.

Parece que ela fez o melhor que pôde para criar um belo espaço e receber Ainz. Foi
muito emocionante ver os sinais de seu trabalho e dedicação, isso podia ser visto em
cada cantinho. No entanto, esta sala era muito mais simples do que às de Nazarick. Tal-
vez Aura se sentisse envergonhada disso.

Não é assim tão ruim...

Ainz — Suzuki Satoru — tinha sido originalmente uma pessoa simples, então ele real-
mente não se importava. Embora seu quarto como mestre de Nazarick fosse luxuoso, às
vezes o luxo excessivo fazia com que se sentisse desconfortável. Ele podia relaxar um
pouco nesse lugar, então era muito bom.

Quero tanto uma sala de oito tatames. Talvez devesse discretamente definir uma em al-
gum lugar. Ah, eu preciso recompensar meus subordinados. Preciso dizer à Aura que estou
satisfeito com o trabalho dela.

As pessoas precisam agradecer e confiar nos outros por seu trabalho se quiserem ter
sucesso.

Capítulo 5 O Deus Congelado


256
Ainz lembrou-se de quando estava fazendo uma tarefa na empresa e ouvira algo da sala
do diretor. Ele não sabia quem havia dito isso, mas era uma frase muito boa. Isso o fez
pensar que era como um superior ideal deveria ser.

Você precisa expressar a gratidão em seu coração. Se você não elogiar o seu pessoal, eles
não vão trabalhar... algo assim?

“Sinto muito pela demora, Aura. Nada aqui me desagrada. Na verdade, estou muito sa-
tisfeito com o resultado, se esforçou muito para ficar parecida com Nazarick, fez isso
tudo pensando em mim.”

“...Sim.”

Os olhos de Aura se arregalaram levemente. Ainz não sabia se isso contava como prê-
mio de consolação mas Ainz estava sem idéias. Tudo o que podia fazer era tentar blefar,
olhando em volta.

A sala ainda cheirava a madeira.

Em circunstâncias normais, teria sido melhor voltar para Nazarick do que ficar neste
lugar quase indefensável. Isso porque, sem a aplicação de magias defensivas, esse local
era pouco mais que uma casa de papel machê. Por outro lado, esse era um ótimo lugar
para se usar como isca e atrair um peixe grande.

Estava bem longe do lago, então qualquer um que pudesse persegui-los aqui — se hou-
vesse algum — provavelmente seria um jogador de YGGDRASIL ou pessoas de poder
comparável a eles.

Em outras palavras, este lugar foi construído para atrair um oponente poderoso.

Algo perigoso, é claro. Mas Ainz sabia que, quem não arrisca, não petisca.

Nada deles ainda. Ou será quê... esta operação também falhou? Hm..? Que coisa é aquela?

“...Aura, me responda uma coisa. O que é aquilo ali?”

O olhar de Ainz fixou em uma cadeira branca dentro da sala. Tinha um encosto alto e
parecia muito sólido. Devido à requintada perícia que havia entrado em sua construção,
ela facilmente se qualificava como uma obra de arte. Bem, contanto que alguém não con-
siderasse uma única coisa.

“É um pouco simples, mas foi um trono especialmente feito para o senhor.”

Um dos subordinados por trás dele — Demiurge — respondeu com confiança em nome
de Aura. Tendo antecipado isso, Ainz continuou perguntando:

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


257
“...E esses ossos que serviram para construí-la?”

“Vieram de todos os tipos de animais. Eu selecionei ossos escolhidos de Griffins e Wy-


verns.”

“...Entendi... então é isso...”

O trono de ossos não fazia parte da mobília de Nazarick, então provavelmente foi algo
que Demiurge fizera do lado de fora. Além disso, a construção do trono parecia usar mui-
tos ossos humanos ou humanoides. Mesmo sem manchas de sangue ou carne e sendo
completamente feito de ossos brancos puros, Ainz ainda imaginava que podia sentir o
cheiro do sangue.

Ligeiramente enojado, Ainz hesitou se sentaria ou não. No entanto, seria difícil simples-
mente ignorar uma cadeira que tinha sido feita especialmente para ele. Dito isto, se ele
tivesse uma boa razão, seria um assunto diferente.

Ainz refletiu a respeito, e então de repente juntou as mãos.

“...Shalltear, lembro-me de dizer que puniria você em outra ocasião, não foi? Decidirei
isso agora. Sim... eu vou humilhá-la.”

“Sim!”

Shalltear parecia surpresa por ter sido mencionada.

“Ajoelhe-se e abaixe a cabeça. Se apoie em suas mãos e joelhos no chão.”

“Sim!”

Confusa, Shalltear foi até o local indicado por Ainz — o centro da sala — antes de ficar
de quatro no chão.

Depois de se mover para o lado de Shalltear, Ainz imediatamente sentou em suas costas
esbeltas.

“—Ai-Ainz-sama!”

O grito de surpresa da Shalltear soou como algo como “Heinzsh-sama”. Ela parecia em
pânico, mas permaneceu imóvel, porque Ainz estava sentado de costas.

“Você está aqui para ser minha cadeira, entendeu?”

“Sim!”

Ainz se virou da anormalmente feliz Shalltear e olhou para Demiurge.

Capítulo 5 O Deus Congelado


258
“—Perdoe-me, Demiurge. Mas hoje me sentarei aqui.”

“Perfeitamente compreensível! Admirável! E pensar que se sentaria em cima de uma


Guardiã! De fato, é uma cadeira que ninguém pode fazer — em outras palavras, um as-
sento apropriado para um Ser Supremo. Ainz-sama, o senhor superou minhas expecta-
tivas mais uma vez. Como esperado de um Ser Supremo!”

“Cer... Certo...”

Demiurge estava radiante enquanto bradava sua lealdade a seu mestre. Ainz não tinha
idéia do porquê ele estava sorrindo tanto e se afastou desconfortavelmente. Então, uma
linda mulher de sorriso gentil se dirigiu a Ainz.

“Perdoe-me, Ainz-sama, mas posso me ausentar por um instante? Retornarei em breve.”

“Qual o problema, Albedo? Não importa, tudo bem. Pode ir.”

Depois de agradecer Ainz, Albedo saiu da sala. Depois disso, ouviu-se uma voz feminina
gritando “DORYAAAAA!” de fora da sala, seguida por um tremendo impacto contra a pa-
rede, que fez o recinto tremer violentamente.

Cerca de um minuto depois, Albedo retornou em silêncio, com seu habitual sorriso gen-
til no rosto.

“Estou de volta, Ainz-sama. Ah, sim, Aura, eu acidentalmente esbarrei na parede quando
saí, parece que danificou um pouco. Poderia consertar mais tarde? Sinto muitíssimo.”

“Ah, er, tá né... Beleeeza, depois eu conserto.”

Ainz suspirou, engolindo muitas das coisas que ele queria dizer. Ele recordou seu olhar
que quase se afastou e olhou para o cajado que irradiava uma aura maligna.

Obviamente, ele não traria o verdadeiro Cajado de Ainz Ooal Gown para um lugar tão
perigoso. Mais um de seus experimentos, foi construído em imitação à sua Arma da Gui-
lda. Depois de ajustá-lo os paramentos com itens mágicos usados para testes de efeitos
especiais na Tesouraria, parecia quase como a coisa real, e era um bom chamariz.

A guilda se dispersaria se a Arma da Guilda fosse destruída. Portanto, ele não poderia
carregá-la casualmente por aí. Estava atualmente sob os cuidados da Guardiã do Santu-
ário das Flores de Cerejeira no 8º Andar.

Também preciso considerar contramedidas se o Anel for roubado, mas não consigo en-
contrar um lugar adequado para o experimento...

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


259
Enquanto Ainz pensava, o corpo de Shalltear de repente se contraiu. Esse movimento
parecia um ajuste para que Ainz pudesse sentar-se mais confortavelmente. Uma sensa-
ção bizarra de desconforto levou Ainz a olhar para a nuca de Shalltear.

Ela estava ofegante.

Ele provavelmente era muito pesado para ela. As costas de Shalltear eram quase tão
finas quanto às de uma garota de 14 anos, ela era bem magra. Pensar que um adulto
estaria sentado em algo tão esbelto era bem inusitado. Ainz se convenceu que ele agora
não passava de um pervertido cruel desavergonhado que tinha ido longe demais.

Shalltear, uma NPC feita por um de seus amigos do passado, Peroroncino. Com toda a
certeza, ele não esperava que Shalltear acabasse sendo atormentada assim. Isso delibe-
radamente era uma ação que envergonhava seus antigos companheiros, Ainz acreditava
que isso também era uma forma de punição para si mesmo. No entanto, ele agora perce-
beu sua tolice por ter pensado assim.

No que eu estava pensando quando inventei essa punição... eu não tenho mais salvação.

“Shalltear, está desconfortável?”

Se for, então eu vou parar— assim que Ainz estava prestes a dizer isso, Shalltear olhou
para trás, olhando para Ainz. Seu rosto estava vermelho e seus olhos ardiam intensa-
mente.

“NEM PENSAR! Na verdade, sinto que isso é praticamente uma recompensa!!”

Cada palavra que ela falava carregava o calor dentro de seu corpo, e seus olhos vidrados
refletiam o rosto de Ainz. Sua língua vermelha lambia os lábios até ficarem bem úmidos,
deixando um brilho sedutor. A forma como o corpo dela se contorcia ligeiramente lem-
brava uma serpente.

Não havia como confundir isso com nada além de desejo carnal.

“Essa não...”

Isso o fez querer fugir.

Ainz quase se levantou.

Eu não posso, como eu poderia fazer isso?

Isso era uma punição para Shalltear, mas o erro de Shalltear foi por causa do erro de
cálculo de Ainz. Portanto, resistir ao impulso de se levantar também era uma maneira
de se punir.

Capítulo 5 O Deus Congelado


260
Ainz esmagou a crescente onda de emoções complexas dentro de si.

Ele tentou ao máximo suportar a cadeira ofegante que se agitava abaixo. Mesmo assim,
ele não pôde deixar de imaginar:

Quantos fetiches você colocou nela, Peroroncino!?

“...Então, vamos falar de negócios. Os Lizardmen estão tão assustados quanto o espe-
rado?”

“Certamente, Ainz-sama.”

“Isso mesmo, basta olhar para os rostos dos Lizardmen.”

Ainz riu ao ouvir as respostas dos Guardiões. Na verdade, ele mal podia dizer como as
expressões dos Lizardmen haviam mudado. Mesmo os Lizardmen se parecendo mais
com humanos do que com répteis, suas expressões faciais eram completamente diferen-
tes das humanas.

“Ótimo, podemos considerar que nosso plano para os impressionar antes da chegada
do Cocytus foi um sucesso.”

Ainz suspirou de alívio.

Ele não esperava nada menos das magias de Super-Aba, que só podiam ser usadas qua-
tro vezes ao dia. Mesmo contrariando seu modo de pensar, Ainz usou 「Creation」, se
isso não os impressionasse, então tudo o que ele poderia dizer era que fracassou.

“Então, Demiurge, quando terminará de contabilizar as informações sobre até que


ponto o lago foi congelado?”

“Ainda estamos reunindo os dados relevantes, mas o raio de congelamento foi maior
que o esperado, o que apresenta algumas dificuldades. Se possível, espero que nos seja
dado um pouco mais de tempo.”

Ainz estendeu a mão para impedir Demiurge de genuflectir e, em seguida, segurou o


queixo com a mão esquelética antes de cair em contemplação. Aparentemente, o raio
efetivo da magia foi maior do que ele imaginava, mas ainda foi mais um experimento
mágico de grande sucesso.

「Creation」, uma magia de Super-Aba que poderia mudar os atributos do terreno. Em


YGGDRASIL, alguém poderia usá-la para afastar o calor em regiões quentes ou para su-
primir o frio congelante de áreas congeladas.

Na verdade, ele poderia tê-los intimidado à submissão sem usar magias de Super-Aba.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


261
No entanto, ele havia usado mesmo assim, pois queria realizar um experimento sobre
o tamanho do raio da magia. Em YGGDRASIL, 「Creation」 poderia afetar uma área bas-
tante grande, quando a testaram em Nazarick, conseguiu cobrir o todo do 8º Andar. Con-
tudo, até então eles não sabiam como se comportaria ao ar livre.

Em YGGDRASIL, poderia cobrir uma área, mas ele queria saber a extensão dos efeitos
neste mundo. Se ele a usassem em uma planície, toda a area seria coberta? Se sim, seria
algo extremamente poderoso.

De certo modo, ele já a achou bem forte por ser capaz de cobrir um lago. Parece que
deveria ter muito cuidado ao usar magias de Super-Aba.

“Aura, e a nossa rede de segurança?”

“A gente despachou os undeads que você emprestou pra patrulhar dentro dum raio de
dois quilômetros, mas não achamos nadica de nada. Até enviei algumas das minhas feras
mágicas que são boas em reconhecimento pra patrulhar num raio de quatro quilômetros,
e também não achei nada de suspeito.”

“Mesmo... Nosso inimigo pode fazer sua abordagem por alguns meios perfeitamente in-
detectáveis. Você já se preparou contra isso?”

“Já sim. A Shalltear tava me ajudando, aí a gente colocou uns undeads que são bons em
vigilância.”

“Muito bom.”

Aura era toda sorrisos depois do elogio de Ainz. Sua depressão anterior não era mais
vista.

“Mesmo com isso tudo, a pessoa que usou o item World-Class na Shalltear ainda não fez
nada, mesmo nos expondo assim?”

Todos olharam para Ainz quando fez essa pergunta novamente, mas ele não estava per-
guntando para ninguém em particular.

“Por que a oposição não está espionando este lugar e Nazarick?”

“Será que o inimigo está de olho em nós com um Item World-Class que o torna imune à
vigilância comum?”

Ainz inclinou a cabeça em confusão depois que Demiurge respondeu com sua pergunta.

“...Eu usei o Momon porque achei que eles poderiam usar esses meios... se o inimigo usa
Itens World-Class para nos espionar, eles não poderão observar Momon, já que ele tam-
bém possui um Item World-Class. Portanto, venho operando no pressuposto de que eles

Capítulo 5 O Deus Congelado


262
usariam observação física ou algum meio direto... bem, pode ser magia também, mas em
resumo, eu tenho presumido que eles usariam métodos mais convencionais de espiona-
gem...”

Ainz sentiu que os Guardiões ao seu redor pareciam intrigados, e percebeu que sua ex-
plicação não foi suficientemente clara.

“Bem... como eu vou colocar isso... no passado, possuíamos uma mina que produzia um
metal raro. O preço era bem alto porque o monopolizamos, então um grupo de pessoas
planejou roubá-lo de nós. Naquela época, nossa oposição usou o Ouroboros. Um dos
itens World-Class conhecidos como Os Vinte.”

Ainz estreitou os olhos.

Ele ficara furioso quando a mina fôra roubada, mas, relembrando agora, era uma boa
lembrança. Era verdade, mesmo quando ele se lembrava de como tinham sido caçados e
perdido alguns poucos equipamentos raros.

“O quê!? Alguém realmente ousou tomar o território que havia sido reivindicado pelos
Seres Supremos? Imperdoável! Por favor, nos ordene para caçá-los imediatamente!”

Ainz apressou-se a desviar o olhar quando ouviu Albedo desabafar sua raiva.

Ele viu todos os Guardiões borbulhando de raiva e intenção assassina. Mesmo Demi-
urge, sereno como sempre, tinha um semblante selvagem. Isso não foi tudo; Ainz podia
vislumbrar a determinação tomando forma no rosto tímido e reservado de Mare.

Aliás, Ainz não podia ver a expressão de Shalltear por estar de quatro, mas podia sentir
o corpo dela tenso, era como se sentisse sua determinação inabalável pela bunda.

“Acalmem-se! Isso está no passado.”

Ainz levantou a mão para ordenar que os Guardiões esfriassem suas cabeças. Embora
parecesse que tinham recuperado um pouco a compostura, ainda pareciam instáveis,
como magma fluindo sob a superfície. Ainz decidiu usar o tópico anterior para mudar de
assunto.

“Nosso inimigo usou o Ouroboros, o que impossibilitou nossa entrada no mundo onde
a mina estava. E provavelmente usaram o tempo que o efeito estava ativo para procurar
e encontrar a mina. Quando o selo se quebrou e pudemos entrar no mundo, descobrimos
que a mina já havia sido levada.”

Eles haviam lutado de forma imprudente para retomar a mina e muitos dos membros
da guilda haviam morrido pelo menos uma vez, mas Ainz resistiu à vontade de falar.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


263
“Enfim, apenas quis usar isso como comparativo. Mesmo eu dizendo que o mundo es-
tava selado, pessoas com itens World-Class conseguiram entrar. Sendo assim, deve ser
impossível que eles nos identifiquem mesmo que usem Itens World-Class para vigilân-
cia.”

Enquanto Ainz escutava os suspiros de entendimento de seus subordinados, ele se per-


guntou se isso aconteceria de fato.

Tudo indicava que sim, mas não havia provas indicando ser impossível.

Quando o Five Elements Overcoming — um dos Os Vinte, assim como o Ouroboros —


foi usado, a empresa enviara uma mensagem para todos os titulares de itens World-Class.
Além de um pedido de desculpas, eles também incluíram um item como compensação.
O pedido de desculpas foi: “Caros donos de itens World-Class, vocês não deveriam ter
sido afetadas por mudanças no mundo, mas descobrimos que manter seus dados inalte-
rados será uma tarefa muito difícil para o sistema. Portanto, estamos fazendo uma exce-
ção especial e também alterando seus dados.”

Portanto, ele não poderia concluir que era uma defesa perfeita. Ainda assim, esse inci-
dente foi um caso especial.

Um dos Itens World-Class da Ainz Ooal Gown estava defendendo Nazarick e, tinha o
efeito de proteger contra magias de adivinhação. Se tal item não pudesse bloquear a vi-
gilância dos Itens World-Class, então seria sem sentido sua existência.

“Portanto, sinto que o inimigo tentará se aproximar de Momon... mas até então, só vie-
ram até ele mães que seguravam filhos recém-nascidos ou aventureiros.”

Quem se aproximava implorava que ele tocasse a cabeça de seus filhos na esperança de
que crescessem fortes, ou pediam para cumprimentá-los na esperança de se tornarem
mais fortes. Ninguém havia pedido para conversar em particular.

Ainz havia criado muitas aberturas como essa de propósito, esperando que o inimigo
tentasse algo.

Não dar a Cocytus um item World-Class fazia parte desse plano. Ainz pretendia usá-lo
como isca para atrair a oposição. Seu inimigo era temível precisamente porque Ainz não
conhecia sua identidade. Sendo esse o caso, aprender sobre seu oponente provavel-
mente os ajudaria a encontrar uma maneira de lidar com eles.

“Posso compartilhar minha humilde opinião sobre esse assunto?”

“O que seria, Albedo?”

Capítulo 5 O Deus Congelado


264
“Ainz-sama, como o senhor disse agora, seu objetivo é descobrir a identidade do ini-
migo e aprender mais sobre eles. Nesse caso, não é possível que o inimigo não esteja
disposto a se aproximar porque ainda não foi exposto?”

Ah...

“Mas é claro, Albedo. Eu considerei esse ponto também.”

Até parece. Ainz já havia assumido que seu inimigo era como ele e que gostava de apren-
der sobre sua oposição.

...Que gafe. E se eu fiz tudo errado até agora?

“Me perdoe. Além disso...”

Pare de perguntar, Albedo, por favor—

Ainz não podia se obrigar a implorar isso dela. Ele sentiu como se tivesse terminado um
exame de múltipla escolha, e então, quando verificou o gabarito, percebeu que marcou
as respostas corretas nas caixas erradas.

“Há a questão de anunciar que a Shalltear foi derrotada por um item mágico...”

“Sim. Eu relatei o mesmo para a Guilda. Isso foi para evitar que as pessoas temessem a
força de Momon. Cristais com magias seladas por si só, são itens extremamente raros,
então quebrar um para um experimento deve ser difícil. Portanto, dizer que o Cristal
Selado saiu de controle — que o monstro foi derrotado através do uso de um item má-
gico — é mais convincente e significa que menos pessoas ficarão de guarda contra o Mo-
mon.”

“Isso certamente faz todo sentido. Funcionaria bem contra pessoas que pensam que
cristais de selagens de magias são itens raros.”

A sutilidade nas palavras de Albedo em sua declaração fez com que Ainz se sentisse
muito desconfortável.

“...Mas, e se o nosso inimigo tiver vários desses cristais como o senhor, Ainz-sama?”

“...Hm? Ah, então é isso que você quer dizer.”

Ainz deu um showzinho de percepção repentina, mas ele não tinha idéia do que ela
queria dizer.

E se a oposição tivesse muitos desses cristais? O fato era que de fato eram itens muito
valiosos neste mundo. Albedo estava preocupada com o fato de alguém quebrar um cris-
tal desses para experimentos?

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


265
Ainda assim, não parecia que era realmente isso.

Uma sensação de mau presságio encheu o coração de Ainz. Ele queria que Albedo fosse
mais clara, mas por ter mostrado uma pretensão de conhecimento, agora era tarde de-
mais para poder voltar atrás.

Sinceramente... estou mesmo apto a agir como um governante e decidir a direção de Na-
zarick? E se eu acabar levando todo mundo para um precipício?

Ele queria fugir de tudo isso e acabar com esses medos.

Incapaz de suportar a tensão da liderança — que só foi amplificada quando ele ferrou
com tudo graças a seu medo de ser julgado —, ele chorou internamente.

No entanto, ele não poderia simplesmente fugir. Já que se chamava Ainz Ooal Gown, ele
não podia abandonar as coisas — os NPCs e os tesouros de Nazarick — que seus amigos
haviam feito. O mais importante era que ele não queria se tornar um pai inútil.

Às vezes me preocupo se vão me trair, abandonar ou desistir de mim. Mas isso significa
que tudo o que preciso fazer é ser o Ainz Ooal Gown em que acreditam e esperam que eu
seja.

Portanto, Ainz colocou uma máscara de confiança, a pose de um governante com grande
confiança em si mesmo, algo que ele havia praticado no espelho.

“Não se preocupe. Entendo seu desconforto.”

Então, Ainz olhou em volta.

“Albedo... compartilhe suas preocupações com os outros Guardiões.”

“Ah, imediatamente! Se a oposição possuir múltiplos cristais como o senhor, Ainz-


sama... qualquer um que conheça suas habilidades provavelmente verá essa notícia
como uma farsa. Ou seja, saberão que a Shalltear não foi derrotada pelo cristal. Embora
o inimigo não saiba, possivelmente, que a Shalltear lutou com todas as suas forças, qual-
quer um com um Item World-Class provavelmente vai considerar que Shalltear e Mo-
mon têm força equivalente. Portanto, certamente considerariam que Momon — um mis-
terioso guerreiro que apareceu de repente em E-Rantel — é uma ameaça, não? Além
disso, a oposição também pode suspeitar de algo sobre a ligação entre Shalltear e Mo-
mon...”

“...Albedo e Guardiões. O que vocês acham que o inimigo fará a seguir?”

“Permita-me responder, então. Eu sinto que se o nosso inimigo pretende se opor ao


senhor, Ainz-sama, eles irão responder espalhando rumores de que Momon e a Vampira

Capítulo 5 O Deus Congelado


266
estão juntos — mesmo sem prova alguma — e atacarão a persona de Momon. Nossa
oposição certamente não desejará que Momon se torne mais e mais famoso.”

Uwah...

Ainz gemeu internamente.

Seu objetivo original de ir à E-Rantel era coletar informações, mas seu objetivo princi-
pal era tornar a persona de Momon famosa — e também para fugir um pouco de ser
governante. O plano original era transformar Momon em um grande herói e depois re-
velar sua verdadeira identidade, transferindo a fama e a glória que ele acumulara para
Ainz Ooal Gown, algo que possivelmente ressoaria no mundo inteiro.

Além disso, serviria também para mostrar que a antiga guilda famosa pelo PK havia
mudado, que agora lutava contra a injustiça através do nome de Momon. Mas agora, es-
ses planos eram pouco mais que bolhas de sabão desaparecendo ao vento.

“Oh? Ei Demiurge, me tira uma dúvida aqui. Não acha que faria mais estrago espalhar
esses rumores aí de trabalhar com a Vampira depois que ele ficar famosão?”

“Aura, fazer isso seria uma péssima jogada. Uma vez que o Ainz-sama seja suficiente-
mente famoso, as pessoas considerariam esses rumores como fofoca de mau gosto. Mas
essa reputação deve ser eliminada antes que cresça e se torne difundida.”

“Uma observação muito astuta, Demiurge.”

Ainz assentiu magnanimamente em resposta ao agradecimento de Demiurge, como se


ele estivesse pensando a mesma coisa também.

“Isso me leva a uma dúvida. Se esse é o caso, por que o inimigo não espalhou esses ru-
mores ainda?”

Demiurge levantou um dedo depois de ouvir a pergunta de Ainz.

“Em primeiro lugar, o inimigo não concluiu sua investigação sobre o Momon-sama. Se
descobrirem que Momon-sama derrotou a Shalltear em combate aberto, eles certamente
desejariam evitar irritá-lo, ou talvez tentassem recrutá-lo para o lado deles. Em segundo
lugar—”

Ele levantou outro dedo.

“E se a oposição encontrou a Shalltear por acaso? Talvez faziam algo totalmente aleató-
rio, talvez tenha sido até um grupo de andarilhos?”

“É praticamente impossível tudo isso ter sido ao mero acaso, Demiurge. Seria muita
coincidência...”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


267
Ainz disse isso, mas em seu coração, ele percebeu que não era impossível.

Ele estava decidido que tinha sido um ataque contra Shalltear — ou diretamente à
Grande Tumba de Nazarick. No entanto, Shalltear foi atacada pouco depois de todos te-
rem sido trazidos para este novo mundo. Nessas circunstâncias, seria necessária uma
precisão sobrenatural para o alvo ter sido justamente ela.

Estaria ele sendo excessivamente paranoico na existência de um mentor de todas essas


coincidências?

Ainz estreitou os olhos — os pontos de luz vermelha nas órbitas dos olhos.

Até onde se sabia, a falta de informação ainda era um problema. Ele não tinha mão de
obra suficiente e precisava de mais força.

De qualquer forma, o maior problema atualmente é a falta de uma rede de coleta de


informações.

Atualmente, ele ordenou que Sebas lidasse com esse tipo de trabalho. No entanto, havia
um limite para a quantidade de inteligência que um número limitado de pessoal de inte-
ligência poderia reunir. No início, ele só queria aprender os fatos básicos deste mundo,
mas eles estavam agora em um estágio em que tais informações não eram mais suficien-
tes.

Eles não conseguiam aprender o suficiente se passando por aventureiros e comercian-


tes. Era a mesma diferença entre um cidadão comum e um funcionário de alto escalão
do governo que tinham acesso a informações de importância diferente.

Além disso, ele não tinha idéia de que tipo de pessoa poderia analisar os dados coleta-
dos e determinar se alguma informação em particular era ou não importante.

“Espero que não. De todo modo, o nosso principal desafio agora é a falta de informação.
Nossas mãos estão amarradas porque temos que ter cuidado com um inimigo desconhe-
cido...”

Demiurge fez um sorriso conspiratório para Ainz quando o ouviu resmungar.

“Nesse caso, por que não procurar uma nação para apoiá-lo?”

Depois de um breve silêncio, Albedo disse “Oh” para indicar que entendia. Logo, Ainz
fez o mesmo barulho.

“Bem sagaz, Demiurge. Então foi isso que quis dizer.”

Capítulo 5 O Deus Congelado


268
No entanto, os outros três Guardiões ainda pareciam bastante confusos. Depois disso,
Aura perguntou primeiro:

“Ainz-sama, pode explicar pra nós?”

Assim que Aura fez essa pergunta, Ainz agradeceu por não ter nenhuma expressão fa-
cial.

“É sério quê... Mare, Shalltear, vocês não entendem o que o Demiurge estava tentando
dizer?”

Ambos balançaram a cabeça em negação ao mesmo tempo.

“Hm. Não há o que fazer então. Diga a eles, Demiurge.”

“Sim, senhor. Pessoal. O Ainz-sama está preocupado com a existência de um inimigo


oculto e poderoso. Eu sinto que se o encontrarmos, caso sejam hostis a nós, precisamos
ter algum tipo de barganha que possamos usar durante as negociações.”

Sensei, eu não entendi — esse olhar apareceu nos rostos de três estudantes e um adulto.
Demiurge-sensei pareceu perceber que sua explicação era muito complicada e decidiu
continuar explicando depois de se emburrar para se igualar aos estudantes.

“O que você faria se o Ainz-sama fosse dominado por algum item World-Class?”

“Eu mataria o desgraçado que fez isso.”

“...Não, não é isso que quero dizer, Aura. O que estou tentando dizer é, você não acha
que o fato de ser controlado pela mente contaria como um álibi? O fato é que há pessoas
por aí que realmente podem nos dominar com itens World-Class, então podemos plei-
tear de maneira convincente que o Ainz-sama foi controlado por um item World-Class.”

A Assistente Albedo completou a palestra do Sensei Demiurge:

“Em outras palavras, fingindo apoiar outro país, temos uma desculpa para qualquer
ação que Nazarick faça. Ao dizer que fomos ordenados a fazê-lo por um país e que não
tivemos escolha a não ser obedecer, poderíamos jogar a culpa nas mãos de outros, assu-
mindo que existe um inimigo que possa rivalizar conosco. Além disso, se a outra parte
não quiser um conflito aberto, eles não terão outra escolha senão aceitar isso.”

“Faz todo sentido ~arinsu... então, mesmo que alguém estiver infeliz com algo que fa-
çamos, contanto que tenhamos um bom álibi, poderíamos escapar de todas as responsa-
bilidades do ocorrido... fascinante, como esperado de Ainz-sama...”

Ainz estendeu a mão e acariciou a cabeça de Shalltear, a cadeira. Parecia um chefe da


máfia acariciando um gato siamês.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


269
“Tudo isso saiu da mente do Demiurge, não da minha, ele merece todos os créditos.”

“Não, não é nada do tipo. Senti que o senhor já tinha chegado à mesma resposta, Ainz-
sama.”

“Ah, er... hum. Parece que estou assumindo o crédito por todo o seu trabalho. Sinto
muito. Mas sim, com certeza será mais fácil obter informações se apoiarmos outro país.”

Um país provavelmente já teria uma rede de coleta de informações que almejavam


tanto construir. Sendo esse o caso, infiltrá-lo com servos de Nazarick ajudaria a coletar
muitas informações úteis.

Demiurge sorriu ao pensar que sua sugestão tinha sido útil em algo que incomodara
Ainz, e nas palavras de Ainz, que pareciam confirmar suas opiniões e de Albedo.

“De fato.”

Ainz estava ciente do subtexto: “Parece que já tinha chegado à mesma resposta.”

“Ah, certamente. Como esperado de Ainz-sama — e pensar que teria idéias tão excep-
cionais... nesse caso, até formas de vida inferiores, como seres humanos, poderiam ser
surpreendentemente úteis.”

Depois que Albedo falou, os outros Guardiões — incluindo Shalltear, a cadeira — olha-
ram para Ainz com olhos brilhantes cheios de pura lealdade.

Ainz se sentiu muito desconfortável, mas se consolou com o fato de que os dois pinácu-
los de inteligência haviam aprovado.

“Mas e aí... Se a gente vai se infiltrar num país. Qual será?”

“Se escolhermos dos países vizinhos, teremos o Reino, o Império e a Teocracia.”

“Que-que tal um país mais distante? Quero dizer, o Conselho Estadual ou o Reino Sacro...”

“Eu preferiria não selecionar um país distante, e evitaria fazer contato com a Teocracia
antes de sabermos o suficiente sobre eles. Isso deixa o Reino e o Império... a julgar pelo
relatório do Sebas, o Reino não é particularmente interessante. No entanto... este as-
sunto requer um estudo mais aprofundado. De todo modo—”

Ainz interrompeu a conversa, estendendo a mão para o espelho.

“Nós demos os Lizardmen algum tempo. Vamos ver se eles fizeram algo inesperado.”

Uma vista aérea da aldeia dos Lizardmen apareceu no Mirror of Remote Viewing.

Capítulo 5 O Deus Congelado


270
Ainz estendeu a mão para o espelho e com um sutil movimento de sua mão, ele mudou
o cenário que mostrava.

Naturalmente, ele começou ampliando a imagem.

Desta forma, eles podiam ver todos os detalhes dos preparativos dos Lizardmen para a
batalha.

“Que esforço fútil...”

Demiurge murmurou gentilmente olhando para os Lizardmen.

Onde será que aqueles estão? É difícil distinguir um Lizardman de outro.

Ainz franziu a testa enquanto procurava pelos seis Lizardmen que ele havia visto antes.

“Oh — tem aquele de armadura. Esse é o sujeito que atira pedras? E então, aquele com
a espada grande está aqui. As diferenças estão distintas. Talvez cores, equipamentos ou
variações físicas óbvias sejam boas maneiras de diferenciá-los... ah, há aquela distinta.”

Depois disso, Ainz mudou a imagem do espelho em confusão.

“...Eu não vejo aquela Lizardman branca e aquele com uma arma mágica.”

“Hm... aquele que se chama Zaryusu?”

“Ah, isso mesmo, esse é o nome dele.”

Depois que Aura o lembrou, Ainz lembrou-se do nome do Lizardman que se adiantou
para negociar com ele.

“E se estiver em casa?”

“Possivelmente.”

O Mirror of Remote Viewing não era capaz de espiar dentro de estruturas. No entanto,
isso apenas em circunstâncias normais.

“Demiurge, me traga a Infinite Backpack.”

“Como desejar.”

Se curvando, Demiurge pegou tal mochila que estava na mesa que tinha sido deslocada
para o canto da sala antes da entrada de Ainz. Ainz retirou um pergaminho dela.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


271
Depois disso, ele ativou a magia inscrita dentro dele.

A magia produzia um sensor invisível e incorpóreo. Não podia penetrar barreiras má-
gicas, mas podia passar por paredes convencionais, independentemente da sua espes-
sura. Se não pudesse passar através das paredes, isso implicaria que havia um poderoso
inimigo presente, então tinham que ser cautelosos.

Ele fundiu o sensor ao Mirror of Remote Viewing, para que os Guardiões pudessem ver
o que Ainz podia ver. Então ele moveu o sensor flutuante, parecido com um olho.

“Vamos ver o que há dentro desta casa.”

Ainz selecionou uma das casas mais próximas — sua cobertura estava um tanto degra-
dada — e enviou o sensor para dentro. Apesar da escuridão do interior, parecia tão bri-
lhante quanto o dia através dos olhos do sensor.

A Lizardman branca estava pressionada contra o chão da casa. Sua cauda estava levan-
tada e havia um Lizardman preto montado nela.

Ainz ficou totalmente confuso.

Por um momento, ele não sabia o que estava acontecendo. No momento seguinte, ele
não tinha idéia do porquê estariam fazendo algo assim em um momento como este.

Depois disso, Ainz rapidamente conduziu o sensor para fora.

“...”

Ainz agarrou sua cabeça em um momento de fraqueza infinita. Os Guardiões ao seu re-
dor não tinham idéia do que dizer e olhavam para o chão com expressões intrigadas em
seus rostos.

“—Isso foi muito desagradável. Cocytus vai atacar a qualquer momento e eles ainda têm
tempo para isso!”

“É isso aí!”

“Er, ah, um s-sobre isso...”

“Demiurge está certo! Precisamos fazer os dois sofrerem ~arinsu!!”

“Mas que inveja...”

Ainz acenou com a mão para silenciar os Guardiões.

Capítulo 5 O Deus Congelado


272
“...Esqueçam isso, todos estarão mortos em breve. Uma vez vi um filme que dizia que
situações como essas estimulam o desejo de propagar a espécie.”

Ainz assentiu, certo de sua opinião.

“Realmente faz muito sentido!”

“Bem, se isso é tudo, creio que devemos perdoá-los.”

“É isso aí!”

“Er, ah, um s-sobre isso ...”

“Eu concordo com o Demiurge-sama...”

“...Silêncio, todos vocês.”

Depois que os Guardiões ficaram em silêncio, Ainz suspirou.

“...Bem, creio que perdi minha motivação. Não importa, provavelmente não há ninguém
com quem se preocupar na aldeia Lizardman. Mas isso não significa que podemos ser
descuidados, pois algum inimigo pode estar indo para lá. Aura...”

Ainz congelou e olhou para os gêmeos.

DROGA! E agora!? Esses dois ainda não receberam educação sexual... quero dizer, eles são
apenas crianças!

Ainz de repente entendeu como era para um pai ver uma cena indecente na televisão
durante uma reunião de família.

Mas que merda, imagina se eles passarem a perguntar de onde vem os bebês? Fodeu! Não
posso acreditar que eu deixei os filhos de Bukubukuchagama verem isso— calma, ainda dá
tempo de consertar. Ignorando a Albedo, o Demiurge... bem, ele provavelmente os ensinaria
de uma perspectiva científica. Já a Shalltear... não, ela nem pensar. Lidarei com isso outro
dia.

Depois de empurrar a pergunta para o fundo de sua mente, Ainz tossiu e perguntou:

“Se a rede de segurança captar qualquer coisa, todos os Guardiões — inclusive eu —


agirão juntos.”

Se houvesse outros jogadores por perto, poupar os Lizardmen ficaria de lado. Se eles
não se tornassem aliados, teriam que ser exterminados para evitar vazamentos de infor-
mações. Se chegasse a esse ponto, eles destruiriam a aldeia, mesmo se tivessem que re-
correr a todas as forças do 8º Andar para fazer isso.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


273
Ainz pôs de lado a culpa que sentia por violar sua promessa a Cocytus. Afinal, sua que-
bra de promessa seria por uma boa causa.

“...Prestem atenção, o show está prestes a começar... hora de assistir o Cocytus em ação.”

Parte 2

Quatro horas passaram em um piscar de olhos.

O gelo do pântano havia derretido há muito tempo e os guerreiros estavam reunidos ali
— no portão principal da aldeia. Após a intensa batalha de antes, havia poucos e precio-
sos guerreiros que sobreviveram para lutar mais essa batalha.

Havia 316 deles no total.

Apenas os guerreiros participariam dessa batalha, isso porque Shasuryu havia dito: “Se-
rão poucos inimigos, gente demais só vai atrapalhar”.

Isso parecia uma explicação bastante lógica, mas não foi tudo.

Zaryusu ficou um pouco à frente dos Lizardmen e olhou para os guerreiros.

Todos estavam pintados com marcas que mostravam que os ancestrais haviam descido
sobre eles. A determinação era evidente em seus rostos e eles pareciam confiantes na
vitória.

Os Lizardmen circundantes estavam aplaudindo seus guerreiros. Ainda assim, ele podia
ver alguns preocupados no meio da multidão.

Zaryusu se esforçou para manter uma expressão indiferente, a fim de evitar que sua
inquietação aparecesse em seu rosto. Ele não queria que os outros Lizardmen soubes-
sem que esta batalha era, em suma, um sacrifício vivo ao Rei da Morte.

De fato, essa seria uma batalha que pretendia demonstrar o poder do Rei da Morte aos
Lizardmen. Sua finalidade era erradicar completamente a própria possibilidade de re-
belião entre os Lizardmen. Eles não tinham chance de sobreviver, o que significava que
o subtexto por trás das palavras de Shasuryu era que “para que pudéssemos reduzir as
baixas ao mínimo”.

Zaryusu desviou o olhar dos Lizardmen e voltou seu olhar atento para a formação ini-
miga.

Capítulo 5 O Deus Congelado


274
O exército esquelético permaneceu onde estava. Não havia sinal do monstro chamado
Cocytus entre eles. Zaryusu duvidou que o mesmo se tratasse de um Skeleton. Já que era
um subordinado confiável daquele Rei da Morte, como ele poderia ser apenas mais um
no meio deles? Ele deve ser algum ser cuja força era aparente em um relance.

Um forte barulho veio de trás do preocupado Zaryusu—

“—Hey, Zaryusu.”

—Zenberu o cumprimentou como de costume. Ele permanecia como de costume,


mesmo quando se dirigia para a morte certa.

“O moral tá nas alturas.”

“Bem, seria bom se pudesse ficar assim quando enfrentássemos o tal do Cocytus...”

“É. Oh, tá na hora?”

Shasuryu estava no portão principal, e todos os olhos dos Lizardmen estavam nos dois
Swamp Elementals ao seu lado.

Crusch não estava aqui, pois gastou toda a mana na conjuração dos elementais. Estava
com grande exaustão física após conjurar uma infinidade de magias defensivas de longa
duração em Zaryusu, isso a deixara quase imóvel. De fato, quando eles saíram de casa,
Crusch já havia dito que desmaiaria após usar muita mana, e eles nunca mais se veriam
novamente.

Sozinho agora, Zaryusu olhou para o lugar onde Crusch estava. O jeito que ela parecia
quando se separaram fez Zaryusu se sentir como se tivesse sido esfaqueado no coração.

“Guerreiros, vamos!”

Com um grito empolgante, Shasuryu alimentou as chamas do espírito de luta dos Lizar-
dmen, e o ar estava cheio de tensão.

Ele teve que pensar como um guerreiro novamente. Zaryusu refreou seus pensamentos
alucinantes.

Os Lizardmen avançaram lentamente, liderados por Shasuryu e os dois Swamp Elemen-


tals.

Eles estavam deixando a aldeia para que não sofresse danos na luta.

Zaryusu e Zenberu seguiram atrás deles.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


275
Nesse momento, Zaryusu de repente olhou de novo para a aldeia. Havia muros quebra-
dos de terra, os Lizardmen preocupados os observando, e—

Zaryusu suspirou baixinho e afastou todas as suas preocupações enquanto avançava.


Ele não falou o nome da fêmea que estava em seus lábios.

♦♦♦

Os Lizardmen invadiram o pântano e entraram em formação na região entre o exército


esquelético e a aldeia.

Dito isto, eles não tinham formação notória. Simplesmente se espalharam para esperar
a luta. À sua frente estavam os vários chefes tribais e os dois Swamp Elementals.

O exército esquelético provavelmente estava esperando pela chegada deles. Eles bate-
ram em seus escudos e pisaram no chão.

Os muitos pequenos atrasos normalmente fariam a marcha de um exército soar como


banda fora de tom em algum ponto. No entanto, este exército de undeads marchou com
perfeita coordenação, produzindo um som harmonioso. Se as circunstâncias fossem di-
ferentes, seria digno de aplausos.

Assim que os Lizardmen foram atraídos pelo som de seus movimentos, várias árvores
caíram — atrás do exército esquelético.

Havia apenas uma razão pela qual aquelas árvores gigantescas cairiam — porque al-
guém as havia derrubado.

Isso provocou uma comoção entre os Lizardmen.

Como ninguém era visível ainda, era razoável supor que várias pessoas haviam traba-
lhado juntas para derrubar aquelas árvores. No entanto, se fosse esse o caso, as árvores
estariam caindo com demasiada uniformidade. É claro, depois de ver a sincronia do exér-
cito undead, um observador poderia pensar que eles poderiam derrubar árvores com tal
precisão, mas nenhum dos Lizardmen achava que era isso.

Um pensamento bizarro passou por suas mentes — que tudo isso tinha sido feito por
um ser.

Isso porque não havia som de lâminas cortando madeira antes que as árvores caíssem.
Em outras palavras, pode ser possível (por mais surpreendente que seja) que alguma
pessoa incrivelmente forte tenha derrubado as árvores com um único golpe.

Quão forte é um braço e quão poderosa seria uma arma para cortar uma árvore enorme
ao meio com um único golpe?

Capítulo 5 O Deus Congelado


276
Os terríveis tremores das árvores que caíam misturaram-se com o som do exército es-
quelético batendo escudos, e ambos se aproximaram dos Lizardmen.

A ansiedade começou a fermentar. Isso era de se esperar — quem poderia permanecer


calmo em tais circunstâncias? Mesmo Zenberu — que estava preparado para morrer —
ficou abalado, apesar de tentar esconder.

Logo, a criatura que havia aberto um caminho pela floresta finalmente apareceu. Ao
mesmo tempo, as batidas nos escudos pararam de repente.

No silêncio sobrenatural, a primeira coisa que viram foi uma massa de luz azul brilhante.
O quão mais brilhante seria se o céu não estivesse nublado?

Parecia um inseto bípede, com o corpo maciço de uns 250 centímetros de altura. Algo
entre uma formiga ou um Louva a deus, parecia um híbrido feito por um demônio total-
mente depravado.

Seu exoesqueleto duro estava envolto em um frio congelante e brilhava como pó de


diamante.

Tinha uma cauda selvagem que era tão longa quanto seu corpo e cravejada de incontá-
veis pontas. Suas poderosas mandíbulas pareciam que poderiam facilmente cortar as
mãos de um homem.

Tinha quatro braços, e em suas extremidades haviam garras afiadas como navalhas,
cada uma das quais estava embainhada em uma manopla brilhante. Usava um amuleto
em formato de disco em um colar de ouro e anéis de platina ao redor dos tornozelos.

Foi assim que o ser de inigualável poder, seguidor do Rei da Morte, fez sua entrada.

♦♦♦

Esse é o Cocytus?

O coração de Zaryusu bateu forte. Inconscientemente, sua respiração ficou mais rápida.

Nenhum dos Lizardmen falou. A atenção de todos foi atraída para o monstro que dera
às caras, eles estavam tão assustados que não conseguiam desviar o olhar.

Eles começaram a recuar lentamente sem perceber. Sejam eles guerreiros Lizardmen
que vieram com o moral alto, ou Zaryusu e os outros que vieram aqui preparados para
morrer, todos ficaram profundamente chocados pelo aparecimento desta entidade ini-
maginavelmente poderosa.

Eu sei que o Rei da Morte não usou tudo que tinha, mas nem em sonho eu esperava que o
guerreiro que ele enviaria seria tão assustador.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


277
Mesmo com uma magia que removeu seu medo, o impulso de fugir ainda surgiu dentro
do coração de Zaryusu. Foi um milagre que os guerreiros, que não eram protegidos por
essa magia, não estivessem atropelando uns aos outros enquanto fugiam.

Cocytus lentamente se aproximou.

Entrou orgulhosamente no pântano, passando pelo exército esquelético...

—E então Cocytus parou cerca de 30 metros dos Lizardmen. Depois disso, seu rosto de
insectóide girou sobre o pescoço esguio, como se estivesse procurando alguém.

Zaryusu teve a sensação de que os olhos de Cocytus estavam nele.

“—Bom, Já. Que. O. Ainz-sama. Está. Assistindo, Eu. Devo. Garantir. A. Vocês. Uma.
Chance. Para. Brilhar... Contudo, Antes. Disso. 「Ice Pillar」.”

Quando a magia foi ativada, dois pilares de gelo irromperam da água entre os Lizard-
men e Cocytus, a cerca de 20 metros de distância.

“Isto. Pode. Parecer. Grosseria. Para. Os. Guerreiros. Que. Estão. Prontos. Para. Morrer,
Mas. Eu. Devo. Informar. Todos. Que. Passarem. Destes. Pilares. Encontrarão. Seus. Tú-
mulos... Quem. Cruzar. Esta. Linha. Morrerá.”

Cocytus cruzou os braços, como se quisesse dizer: A escolha é sua.

“Ei, quem diria, mas ele parece ser um sujeito honrado, né não?”

Zaryusu assentiu profundamente com as palavras de Zenberu. Então ele deu um passo
à frente. Zenberu e os outros dois chefes o seguiram.

Shasuryu olhou para trás, para os guerreiros que estavam prestes a segui-lo.

“Vocês deveriam ficar aqui... não, voltem para a aldeia. Caso contrário... morrerão com
a gente.”

“Como é!? Queremos lutar também! Dá medo, mas... mesmo assim, ainda queremos lu-
tar!”

“Recuar não é covardia. É preciso verdadeira coragem para viver.”

“Então por—”

“Isso não vale para nós. Como chefes, não podemos aceitar outras pessoas nos gover-
nando sem lutar, entendeu?”

Capítulo 5 O Deus Congelado


278
“Mas, Chefe, vamos lutar também!”

“Não sejam afobados! Vocês são jovens, saiam daqui! Deixe o resto para os velhos aqui!”

Um grupo de Lizardmen avançou lentamente, eram bem mais velhos, mas nenhum de-
les tinha idade suficiente para ser considerado idoso. Havia 57 deles, e nenhum dos ou-
tros podia dizer qualquer coisa depois de ver seus rostos.

Talvez se mostrassem que estavam prontos para morrer ou tivessem desistido de si


mesmos, os jovens desobedeceriam. No entanto, em suas expressões continham um
apelo para os Lizardmen mais jovens viverem e celebrarem o milagre da vida.

Com nada mais para dizer, os guerreiros restantes recuaram. Shasuryu se virou para
encarar Cocytus mais uma vez.

“...Desculpe pela espera, Cocytus.”

Cocytus estendeu a mão para os Lizardmen e fez um movimento os chamando: o gesto


parecia dizer “Podem vir.”. Em resposta a essa provocação, Shasuryu gritou:

“AVANÇAAAR—!”

“OHHHH!”

Totalmente preparados para morrer, os Lizardmen deram voz a um grito das profun-
dezas de suas almas, um rugido que parecia dividir o próprio céu, e avançaram contra
Cocytus.

♦♦♦

Cocytus considerou calmamente os guerreiros que o atacavam.

“...Desculpem. Meu. Desrespeito, Mas. Eu. Devo. Diminuir. Seus. Números.”

Cocytus tinha certeza de que não seria derrotado, mesmo que todos os guerreiros o
alcançassem, mas ainda assim, ele tinha que eliminar seus oponentes.

Pessoalmente falando, Cocytus teria gostado de permitir que seus inimigos chegassem
perto para que pudessem lutar. Porém, ele havia recebido muito mais generosidade do
que merecia, e permitir que esse bando de guerreiros desleixados batalhe contra um
Guardião da Grande Tumba de Nazarick seria desrespeitoso com Ainz.

Assim, ele desencadeou sua aura.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


279
Uma habilidade derivada da profissão Cavaleiro de Niflheim — 「Frost Aura」. Esta
habilidade especial danificava e retardava o inimigo através do uso de temperaturas ex-
tremamente frias. Em plena potência, poderia até mesmo congelar os Lizardmen que
estavam apenas assistindo ao longe.

Então ele teve que reprimir seu poder. Foi preciso estreitar seu raio e reduzir seu dano.

Uma onda de frio congelante expandiu-se a partir de Cocytus, preenchendo instantane-


amente um raio de 25 metros de diâmetro.

A temperatura despencou após a exposição ao frio intenso, e o ar parecia grunhir.

“...Hm. Isso. Deve. Bastar...”

Ele recuou sua aura.

A exposição momentânea significava que a nevasca selvagem desaparecera como


nunca tivesse existido. No entanto, não era ilusão ou truque. A melhor prova disso eram
os 57 cadáveres de Lizardmen que cobriam o pântano.

Apenas mais cinco resistiram. Claro, eles eram os cinco Lizardmen mais fortes. Sem se
incomodar com o poder de Cocytus ou com a morte de seus companheiros, eles se mo-
veram como um.

Uma pedra voou pelo ar. O Lizardman blindado liderou a investida, seguido por mais
dois atrás dele. Além disso, os dois Swamp Elementals tinham rachaduras por todo o
lado depois do ataque congelante, e ficaram atrás dos Lizardmen porque eram mais len-
tos. Aquele na retaguarda incitou magias uma após a outra.

Capítulo 5 O Deus Congelado


280
♦♦♦

O primeiro ataque foi uma pedra, destinada à garganta de Cocytus. Mas foi completa-
mente sem sentido, pois—

“—Nós, Guardiões, Estamos. Equipados. Com. Itens. Que. Garantem. Resistência. Contra.
Ataques. À. Distância.”

Uma barreira invisível que parecia cobrir seu corpo desviou a pedra.

A seguir continuou a investida com um Lizardman. A armadura que ele usava era uma
herança ancestral, um dos Quatro Tesouros — a White Dragon Bone. Era forte o sufici-
ente para desviar a Frost Pain, um dos Quatro Tesouros, e foi aclamada como a armadura
mais resistente entre os lizardmen.

Em contrapartida, havia uma espada que Cocytus equipou do nada, como se tivesse sido
sacada no ar.

A espada de Cocytus desembainhada era um odachi — sua lâmina de mais de 180 cen-
tímetros de comprimento, chamada God Slaying Emperor Blade. A mais afiada entre as
21 armas que Cocytus possuía.

Em seguida, ele a moveu mirando no Lizardman.

Um corte fluido ressoou calmamente passando pelo ar. Se não fosse pela situação atual,
teria sido um som que as pessoas gostariam de ouvir.

Depois desse som, o corpo do chefe e sua armadura se dividiram em duas metades da
cabeça à cauda, que caíram para a esquerda e para a direita, no pântano.

A God Slaying Emperor Blade estava intacta, apesar de ter quebrado a mais forte arma-
dura dos Lizardmen.

Os outros dois Lizardmen não pareciam afetados pela morte de seu companheiro. Eles
levantaram suas armas e executaram um ataque de pinça.

“Yeeart!”

À direita, Zenberu enviou um golpe no rosto de Cocytus, reforçando-o com 「Natural


Steel Weapon」 e 「Steel Skin」.

“Guooooh!”

À esquerda estava Frost Pain, apunhalando a barriga.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


281
Capítulo 5 O Deus Congelado
282
Este ataque foi calculado para explorar o fato de que armas longas eram pesadas em
combates corpo a corpo.

Claro, isso só se aplica a pessoas comuns.

Cocytus moveu-se ligeiramente e interceptou o braço de Zenberu com a lâmina God


Slaying Emperor Blade. Seus movimentos sobrenaturais faziam parecer que a arma em
sua mão era uma extensão de seus membros.

A pele de Zenberu poderia rivalizar com a dureza do aço sob os efeitos da 「Steel Skin」,
mas a armadura de agora já havia provado o quão afiado era a God Slaying Emperor
Blade.

A lâmina entrou no braço de Zenberu cortando como se estivesse passando pela água.

“Guwaaargh—!”

Quando o braço direito cortado de Zenberu pulverizou sangue arterial fresco, a outra
mão de Cocytus agarrou casualmente a Frost Pain, que se dirigia para sua barriga.

“Oh! Interessante, Esta. É. Uma. Boa. Espada.”

“Waaah!”

Zaryusu desistiu, e soltou a Frost Pain até então imóvel, e imediatamente atacou o joe-
lho de Cocytus com um chute. Cocytus não o evitou; ele simplesmente recebeu o golpe.
No final, quando o pé de Zaryusu encostou no joelho de Cocytus, foi Zaryusu quem sentiu
a dor.

Parecia apenas chutar uma parede de ferro com todas as suas forças.

“「Over Magic: Mass Cure Light Wounds」.”

Através do uso de quantidades prodigiosas de mana, pode-se aumentar a eficiência que


normalmente não deveria ser usável. Ajudado por esse aprimoramento de metamagia,
Shasuryu conjurou a magia que curava as feridas de todos.

“Oh...”

Cocytus olhou para Shasuryu com interesse, já que este usava uma técnica de metama-
gia da qual nunca ouvira falar antes. No entanto, os dois Swamp Elementals bloquearam
sua linha de visão. Enquanto o braço de Zenberu gradualmente retomava sua forma ori-
ginal, os dois Swamp Elementals atacaram Cocytus usando seus tentáculos. Mas Cocytus
foi mais rápido e já havia cortado os corpos dos Swamp Elementals.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


283
Assim que os Swamp Elementals se dissolveram em pedaços de lama, Zaryusu deu um
soco nos olhos compostos de Cocytus, na barriga e no peito. Naturalmente, Zaryusu
quem foi ferido com esses ataques. A pele dos punhos se partiu e sangue fresco jorravam
como lágrimas.

“Que. Incômodo.”

Cocytus golpeou o peito de Zaryusu com a cauda espetada.

♦♦♦

“Guaargh!”

Zaryusu voou para longe como se tivesse sido atingido por um tacape em altíssima ve-
locidade. No final, ele bateu no pântano, rolando várias vezes antes de parar. No entanto,
a agonia em seu peito e o sangue vermelho brilhante a cada vez que ele tossia, tornaram
difícil para Zaryusu respirar.

As costelas quebradas provavelmente perfuraram seus pulmões, não importava o


quanto tentasse, ele ainda sentia se afogando. Parecia que estava na água. O fluído
quente escorrendo em sua garganta o fez querer vomitar. Ele olhou para o peito e a fe-
rida — que parecia que alguém o havia esfaqueado com uma lâmina afiada — estava
jorrando sangue.

—Apenas um ataque reduziu Zaryusu a esse estado lastimável.

Zaryusu olhou para Cocytus, o espírito de luta ainda queimava em seus olhos enquanto
lutava para continuar respirando.

“Você. Ainda. Deseja. Lutar... Então. Isso. Deve. Retornar. Para. Você.”

Depois de jogar a Frost Pain de volta a Zaryusu, Cocytus o ignorou e se virou para os
Lizardmen restantes.

Shasuryu lançou uma magia de cura em Zenberu, que havia regenerado o braço, mas
cuja saúde estava muito esgotada.

Assim que Cocytus estava prestes a alcançá-los, outra pedra voou para ele, tentando
desviar sua atenção — no entanto, o ataque foi inútil, e foi facilmente desviado.

“Que. Irritante.”

—Cocytus resmungou e depois estendeu a mão para o chefe da Small Fang.

“「Piercing Icicle」.”

Capítulo 5 O Deus Congelado


284
Várias dezenas de lanças de gelo afiados como navalha, cada uma do tamanho de um
braço, pontilhavam uma grande área.

Um dos Lizardmen estava dentro do raio de ataque e as lanças de gelo o perfuraram


instantaneamente.

Elas acertaram uma no peito, duas na barriga e uma na coxa direita — cada uma delas
facilmente penetrou em seu corpo.

O chefe da Small Fang — o melhor ranger entre os Lizardmen, caiu no pântano como
uma marionete cujos cordéis foram cortados, a lama espirrou com o baque.

“Uoooooh!”

“「Over Magic: Mass Cure Light Wounds」!”

Zenberu avançou enquanto Shasuryu conjurou sua magia de cura novamente. Zenberu
estava tentando ganhar tempo para as feridas de Zaryusu se recuperarem.

Ele sabia que este era um curso imprudente de ação, e que ele não era nada ante o poder
de Cocytus. Mesmo assim, Zenberu correu na frente sem hesitar um momento.

Cocytus virou-se levemente para Zenberu, que havia entrado em seu alcance de ataque.

Um flash de luz foi mais rápido do que Zenberu podia ver—

Sua velocidade estava além da destreza de Zenberu—

A lâmina cortou facilmente através da carne de Zenberu—

O cadáver decapitado de Zenberu jorrou sangue como um gêiser, desmoronando sua-


vemente no pântano. Logo depois disso, sua cabeça juntou-se ao gramado.

“...Agora. Restam. Somente. Vocês. Dois... Ouvi. Falar. Da. Sua. Força. A. Partir. De. Ainz-
sama. E, No. Fim, Somente. Vocês. Dois. Permaneceram.”

Cocytus — que não se moveu nem um centímetro desde que a batalha começou — es-
tudou os dois, e sacolejou sua espada. Não havia nenhum traço de sangue ou gordura na
lâmina branca reluzente. Esse movimento bonito parecia que poderia varrer tudo em
um único golpe.

De frente, estava Zaryusu, que se recuperara a ponto de mal poder ficar de pé, e Sha-
suryu, que sacara sua espada grande. Os dois flanqueavam a frente e a traseira de
Cocytus. Zaryusu sujou os dedos no sangue que escorria de seu peito e espalhou-o no
rosto.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


285
A maneira como ele aplicava o sangue a si mesmo fazia parecer que ele estava convo-
cando os espíritos ancestrais sobre si mesmo.

“—Zaryusu, como vão as feridas?”

“Terríveis. Ainda dói bastante. Mas, eu posso dar alguns golpes.”

“Estamos ferrados... Não acha que já deu o que tinha que dar? Olha, sendo sincero, mi-
nha mana está quase esgotada. Se eu perder a concentração, posso desmaiar.”

Os dentes de Shasuryu se rangiam um no outro. Talvez ele estivesse rindo. Quando


Zaryusu ouviu isso, sua expressão também mudou.

“...Oh, sério mesmo? É Ani-ja, você se esforçou bastante também.”

Zaryusu sorriu e suspirou, relaxando os ombros. Seu braço da espada relaxou.

Uma torrente de dor irrompeu perto de seu peito, mas Zaryusu lutou para ignorá-la.

Ele não desistiria justo agora — Zaryusu pretendia lutar até o fim.

Desde o começo, ele sabia muito bem que a vitória era impossível.

A derrota era inevitável, mas eles não puderam aceitá-la.

Isso porque seria como mentir para seu povo, dizendo-lhes que poderiam ganhar. Já
que os outros realmente acreditaram neles, não puderam aceitar o fato de que seriam
derrotados.

Eles tiveram que dar tudo o que tinham até o momento final—

“Então trate de usar a espada que está empunhando!!”

O grito de Zaryusu ecoou por toda a área circundante.

O som de estalidos veio das mandíbulas de Cocytus.

“Belo. Grito. De. Guerra.”

Cocytus provavelmente estava rindo. Mas este não foi o riso do forte zombando dos
fracos, mas sim um guerreiro rindo com um companheiro de luta.

“Assim que se fala, Zaryusu. É isso aí. Eu vou lutar ao seu lado até nosso amargo fim.”

Shasuryu sorriu também.

Capítulo 5 O Deus Congelado


286
“Então... Sinto muito por te manter esperando, Cocytus-dono.”

Cocytus encolheu os ombros quando Shasuryu disse isso.

“Tudo. Bem... Não. Sou. Tão. Grosseiro. Ao. Ponto. De. Interromper. Uma. Despedida. En-
tre. Irmãos... Agora. Preparem. Para. Seu. Destino... Não, Peço. Perdão... Vocês. Já. Esta-
vam. Prontos. Desde. O. Começo.”

Quando Zaryusu e Shasuryu começaram a se mover, Cocytus preparou a God Slaying


Emperor Blade e perguntou:

“Digam. Seus. Nomes.”

“Shasuryu Shasha!”

“Zaryusu Shasha!”

“...Eu. Vou. Me. Lembrar. De. Vocês, Guerreiros... Eu. Também. Peço. Desculpas. Por. Não.
Usar. Armas. Nas. Minhas. Mãos. Restantes... Não. É. Que. Eu desejo. Desprezar. Vocês...
Mas. Simplesmente. Não. São. Fortes. O. Suficiente. Para. Isso.”

“Que pena.”

“É sim— aqui vou eu!”

♦♦♦

Os dois atacaram Cocytus, a lama respingou no pântano.

O timing descoordenado de seus ataques desconcertou Cocytus.

Os dois não entraram em seu alcance ao mesmo tempo. Shasuryu foi o primeiro a fazer
isso. Sentindo um esquema, Cocytus aguardou o próximo movimento.

Já que Shasuryu foi o primeiro a entrar em sua zona de ataque, Cocytus estudou cuida-
dosamente o próximo movimento de Shasuryu.

Shasuryu parou logo antes de Cocytus alcançá-lo e—

“「Earth Bind」!”

—E lançou uma magia.

Incontáveis correntes formadas de lama saltaram em Cocytus, Zaryusu correu selvage-


mente. Ele havia até escondido a Frost Pain nas costas para que seu oponente não pu-
desse avaliar seu alcance de ataque.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


287
A declaração de Shasuryu de que “estou quase sem mana” era apenas um artifício para
enganar Cocytus. Se ele tivesse mordido a isca, talvez pudesse ter sido preso pelas cor-
rentes místicas e sido atingido pela investida de Zaryusu por trás.

Por mais duro que seja seu exoesqueleto, eu ainda posso ser capaz de penetrar se eu for
com tudo que tenho. Com isso em mente, Zaryusu abandonou a defesa para se concentrar
no ataque, e o ataque resultante deveria ter sido bastante forte.

Ele. Deve. Confiar. Muito. Nessa. Espada.

Cocytus podia entender como ele se sentia, afinal, guerreiros tendem a ser parecidos.
Cocytus se sentia confiante sobre as armas que possuía. Em particular, a espada que ele
agora empunhava — que já havia sido usada por seu criador — era especialmente im-
portante para ele. Portanto, apesar de quão desequilibrado seria a batalha, Cocytus in-
sistiu em fazer uma batalha com a God Slaying Emperor Blade na mão, como um sinal de
seu respeito supremo.

Contudo, eles tinham cometido um erro de cálculo; seu oponente era Cocytus, Guardião
do 5º Andar da Grande Tumba de Nazarick.

“...Minhas. Defesas. Não. Podem. Ser. Violadas. Por. Alguém. De. Nível. Menor. Que. O.
Meu.”

As correntes de lama deixaram Cocytus um instante antes de alcançá-lo, voltando à


terra comum e afundando de novo na lama. Magias de baixo nível não podiam perfurar
as defesas mágicas de Cocytus.

“—「Icy Burst」!”

Quando o grito ecoou, um vórtice de névoa branca cercou Cocytus.

Esforço. Sem. Sentido.

Cocytus era imune a danos causados pelo frio, então, enquanto a suave brisa da nevoa
congelante soprava ao seu redor, ele esperava pacientemente que Zaryusu e Shasuryu
entrassem em seu alcance de ataque.

Logo o momento em que estava esperando chegou. No entanto, Cocytus hesitou breve-
mente; ele pensou:

Meu. Inimigo. Pode. Ser. Parado. Apenas. Tendo. A. Cabeça. Decapitada?

Diante do ataque completo de Zaryusu, Cocytus não achou que a mera decapitação im-
pediria seu avanço. A imagem mental de um corpo sem cabeça correndo apareceu em
sua mente.

Capítulo 5 O Deus Congelado


288
Nesse caso, ele deveria cortar as mãos primeiro e depois a cabeça.

Não, Isso. Não. Seria. Honrado... Melhor. Acabar. Com. Ele. De. Uma. Só. Vez.

Zaryusu fez a investida com todas as suas forças, dedicando cada fibra de seu ser ao
ataque, mas ainda era lento demais para Cocytus.

Uma sombra negra apareceu em meio à névoa branca — Zaryusu fez um ataque perfu-
rante com a espada, e Cocytus a pegou levemente entre os dedos, como antes.

Cocytus não sentiu danos ao frio nas pontas dos dedos. Talvez Zaryusu tenha desconfi-
ado que Cocytus era imune ao frio e optou por não ativar a habilidade.

A investida foi rápida, mas facilmente bloqueada. Isso confundiu Cocytus. Mas essas
dúvidas desapareceram em um instante. A vida de seu inimigo terminaria com um golpe
da God Slaying Emperor Blade, então não havia mais nada para se pensar.

E então só restaria um deles.

Então.... Apenas. Avançaram. Sem. Planejar. Nada...

Assim que o decepcionado Cocytus estava prestes a atacar, ele mudou de idéia.

Entendo...

“GRRRRHAAA!”

Com um poderoso rugido, a espada grande cortou a névoa congelante que pairava no
ar. O movimento de Shasuryu trazia consigo um vendaval que dispersou o nevoeiro con-
gelado.

O 「Earth Bind」, a investida de Zaryusu, 「Icy Burst」, todos foram chamarizes.

Por ter sido cauteloso com Zaryusu esfaqueando-o com a Frost Pain, o golpe de Sha-
suryu com a espada grande seria mais prejudicial, então essa deve ter sido a verdadeira
intenção dos irmãos. Contudo—

“Ataques. Surpresa. Devem. Ser. Realizados. Em. Silêncio.”

Já que ele não pôde mitigar o som que fizeram enquanto corriam pelo pântano, não
poderia ser qualificado como um ataque surpresa. Cocytus ficou perplexo — então vale-
ria mesmo a pena receber dano do frio? Ou essa foi apenas uma luta sem sentido.

Ainda assim, era verdade que seu inimigo havia entrado em sua zona de ataque.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


289
Agora que a arma de Zaryusu estava a seu alcance, não havia nada a temer. Apenas a
ordem em que morreram mudaria. Tendo decidido isso, Cocytus manejou a God Slaying
Emperor Blade.

O golpe acertou em cheio.

Shasuryu foi partido ao meio junto com sua espada grande. Antes que o corpo pudesse
atingir o chão, Cocytus retirou sua lâmina, planejando atacar Zaryusu—

♦♦♦

—E então, os dedos segurando a Frost Pain escorregaram.

Surpreso, Cocytus olhou para os dedos para ver o que o fez deslizar para a frente.

Ele viu o vermelho brilhante de sangue em meio à névoa branca pairando no ar.

Em um instante, Cocytus percebeu por que seus dedos haviam escorregado.

—Sangue?

Ele estava confuso.

Ele se perguntou, e então, quando viu o rosto de Zaryusu através da névoa, de repente
se deu conta do que era.

O sangue manchado em seu rosto não era para pintar a si mesmo, mas para lustrar sua
espada.

Tampouco o 「Icy Burst」 teve a intenção de ferir Cocytus ou esconder a forma de Sha-
suryu. Seu objetivo era esconder o sangue que cobria a espada. Que por isso era escon-
dida nas costas.

Quando ele bloqueou o ataque de Zaryusu, Cocytus fez isso com os dedos. Zaryusu lem-
brou-se disso e apostou na pequena chance de fazer isso de novo. Assim, ele tinha feito
todos estes estratagemas para conseguir isso. Só então, um raio de luz surgiu no cérebro
de Cocytus.

Então. Foi. Por. Isso. Que. O. Seu. Avanço. Foi. Tão. Fraco! Não. É. De. Se. Admirar! O. Plano.
De. Lubrificar. A. Espada. Com. Sangue. Não. Era. Para. Me. Perfurar... E. Para. Criar. Essa.
Chance, Ele. Diminuiu. A. Velocidade. Para. Me. Fazer. Pensar. Que. Era. Fácil. De. Pegar!

A lâmina deslizou lentamente, avançando em direção ao corpo azul-claro de Cocytus.


Agora que Zaryusu tinha jogado toda a sua força e até peso corporal na investida, nem
mesmo Cocytus seria capaz de pará-lo — nem mesmo com dois dedos sujos de sangue.

Capítulo 5 O Deus Congelado


290
Se ele tivesse agarrado mais longe, poderia haver algo mais a ser feito. Mas a esta curta
distância, ele estava sem opções.

Cocytus ficou tão comovido que sentiu um arrepio.

Embora tivessem contado com um pouco de sorte, esse foi um ataque que exigiu várias
apostas, cada uma delas valendo a pena. O mais importante era que, sem Shasuryu, nada
disso seria possível.

Shasuryu não deveria ter entendido a aposta de Zaryusu, mas, como irmão mais velho,
depositara toda a sua confiança em seu irmão mais novo, a ponto de sacrificar sua pró-
pria vida. Aquele ataque surpresa sem sentido e gritos foram todos para desviar a aten-
ção de Cocytus de seu irmão por um momento.

Um único momento.

E por apenas um único momento — enquanto Zaryusu forçava Frost Pain para ele com
toda a sua força — as mandíbulas de Cocytus tremeram.

“Magnífico—”

E assim a lâmina atingiu o corpo de Cocytus — ela desviou levemente. Seu corpo, que
brilhava em um azul fraco, não tinha sequer um arranhão.

Este era o resultado do abismo intransponível que separava os NPCs de Nazarick de


nível mais alto de mero Lizardman.

“—Me. Perdoe, Mas. Possuo. Uma. Habilidade. Que. Nega. Temporariamente. Ataques.
De. Arma. Fracamente. Encantadas, Uma. Vez. Ativado, Seu. Ataque. Se. Torna. Inútil.”

Esse golpe foi bem estruturado, Cocytus sentiu que deixar uma cicatriz desse golpe
como uma marca de respeito por esses guerreiros seria apropriado. No entanto, ele es-
tava sob os olhos de um Ser Supremo, e ele não poderia fazê-lo em sua posição como
Guardião.

Cocytus deliberadamente deu um passo para trás, espirrando na lama e manchando seu
corpo azul imaculado.

Foi apenas um único passo.

Não havia sentido para isso. Recuar não teria feito nenhuma diferença para ele. Zaryusu
ainda morreria e Cocytus ainda ganharia.

Entretanto, esse passo para trás foi um sinal de louvor do forte — Cocytus — ao fraco
— Zaryusu.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


291
Zaryusu sorriu, como alguém fazia quando sabia muito bem que tipo de destino o aguar-
dava, mas ainda assim, aguardou o inevitável. Quando ele o fez, Cocytus moveu sua es-
pada para baixo—

Parte 3

“Foi uma batalha espetacular!”

Ainz disse em louvor a Cocytus, que estava ajoelhado diante dele.

“Muito. Obrigado.”

“Porém, creio que já tenha entendido que, mesmo usando o chicote desta vez, você deve
utilizar a cenoura no futuro. Você não deve governá-los através do medo.”

“Eu. Compreendo.”

Depois que Ainz assentiu, ele olhou para os outros Guardiões na sala.

“Muito bom. Agora me ouçam bem, Guardiões. Como eu disse anteriormente no Salão
do Trono, Cocytus administrará a aldeia Lizardman. Se ele precisar de ajuda, espero que
vocês colaborem com ele. Cocytus, espero que você promova uma lealdade profunda-
mente enraizada à Nazarick nos Lizardmen. Também espero que você cultive o desen-
volvimento de novos talentos. Conto com você. Se precisar da Heaven's Feather ou ou-
[ T r a j e Motorizado]
tros itens especiais, me avise. Eu também vou emprestar o Powered S u i t por en-
quanto.”

Os jogadores podiam mudar as raças de personagem em YGGDRASIL, mas isso não sig-
nificava que alguém pudesse mudar de raça quando quisesse. Alguns requisitos precisa-
vam ser atendidos para a mudança, e as mudanças eram irreversíveis.

Parte dos requisitos eram itens. Alguém que queria se tornar um Elder Lich precisaria
[ L i v r o dos Mortos]
de um Book of the Dead. Alguém que queria se tornar um Diabrete precisaria de uma
[ S e m e n t e do Caído] [ P e n a Celestial]
Fallen Seed. O item Heaven's Feather que Ainz mencionou era usado para se tornar um
Anjo.

Ainz mencionou isso porque achava que seria possível mudar as raças por tais meios.

“Espero. Poder. Contar. Com. A. Ajuda. De. Todos. Quando. Chegar. A. Hora — Ainz-sama.
Poderia. Me. Dizer. O. Que. O. Senhor. Deseja. Fazer. Com. Aqueles. Lizardmen?”

“Aqueles Lizardmen?”

Capítulo 5 O Deus Congelado


292
“Sim. Os. Chamados. Zaryusu E. Shasuryu.”

Os dois que lutaram até o fim. Seus cadáveres ainda deveriam estar no pântano. Todavia,
por que ele os citou?

“Hmm... Pretendo recuperar os cadáveres e usá-los como matérias-primas, até mesmo


posso usá-los para meus experimentos na criação de undeads sem uso de minhas habi-
lidades.”

“—Seria. Uma. Pena...”

“Hm? Por que pensa assim? Eles são tão valiosos quanto insinua?”

Ainz assistiu a batalha através do Mirror of Remote Viewing e viu uma vitória esmaga-
dora. Ele não viu nada de mais se comparado a Cocytus.

“...Eles. Podiam. Ser. Fracos... Contudo, Eu. Vi. Guerreiros. De. Espírito. Destemido, Usá-
los. Como. Matéria-prima. Seria. Um. Desperdício, Sinto. Que. Eles. Podem. Tornar-se.
Mais. Forte, Possivelmente. Até. Excedendo. Nossas. Expectativas, Ainz-sama... Acredito.
Que. Ainda. Não. Conduziu. Qualquer. Experimento. Prático. Ressuscitando. Mortos, Po-
deria. Testar. Com. Eles?”

...É impressão minha ou ele gosta daqueles lagartos?

Com toda a honestidade, Ainz não percebeu nada quando ouviu coisas como “Guerrei-
ros de espírito destemido”. Ele tinha ouvido falar de termos como “intenção assassina”
em mangás e light novels, e até usara quando avisava Narberal para se conter, mas ele
não entendia realmente o significado disso. Além disso, Ainz não tinha idéia do que era
esse negócio de empatia entre guerreiro.

Isso porque, apesar de sua condição atual, Ainz tinha sido originalmente um mero as-
salariado. Um cidadão japonês que realmente conhecesse guerreiros de espírito deste-
mido ou intenção assassina provavelmente seria considerado perigoso. Talvez o máximo
que pudesse entender seria o “brilhantismo de um vendedor”, mas apenas em termos
vagos.

“Claro... Então seria um desperdício?”

Quando Ainz ouviu sobre a aprovação de Cocytus dos Lizardmen, seus verdadeiros pen-
samentos foram: Bem, mesmo que chame isso de desperdício, eu não tenho idéia do que
quer dizer exatamente.

Ainda assim, ao pensar bem a respeito, as palavras de Cocytus fizeram muito sentido.

Ele queria encontrar um lugar para experimentar a ressurreição, e Ainz achava que usá-
los para esses experimentos seria muito benéfico. Além disso, diferentemente de como

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


293
Cocytus estivera debatendo no Salão do Trono, ele agora propusera algo útil. Se isso
fosse um sinal de evolução, então ele havia conseguido com louvores.

Ele parou brevemente para considerar, e então Ainz pensou em seus excepcionais su-
bordinados. Estavam todos alinhados, com uma postura correta e subserviente — silen-
ciosos e imóveis.

“Albedo, qual é a sua opinião?”

“Seria a mesma que a sua, Ainz-sama.”

“...O que me diz, Demiurge?”

“Eu sinto o que o senhor decidir será o melhor, Ainz-sama.”

“......E você, Shalltear?”

“O mesmo que Demiurge, eu devo obedecer a sua decisão, Ainz-sama ~arinsu.”

“.........Aura?”

“Isso aí, penso igual os outros.”

“............Mare.”

“Ah, ah, ah... sim. Penso o m-mesmo que os outros.”

Se fosse para responder assim, era melhor nem ter perguntado.

Ainz sentiu a cabeça doer.

Ainz pensou muito, e finalmente percebeu alguma coisa — talvez os Guardiões não
achassem que isso fosse grande coisa. Em outras palavras, não importa como ele deci-
disse, eles não sentiam que haveria grandes benefícios ou desvantagens.

Claro, ele teve que considerar suas respectivas situações. Às vezes, problemas podem
surgir devido às diferentes circunstâncias.

Simplificando, quando uma pessoa rica diz: “Cara, é tão baratinho”, alguém de condição
social mais baixa duvidaria imediatamente da veracidade dessas palavras. Em outras
palavras, era o resultado de diferentes valores e prioridades.

Eu perdi meu tempo perguntando... enfim, isso significa que não tem problema ressuscitar
os Lizardmen, né? Queria pensar nisso com mais calma, porque cometi muitos erros recen-
temente.

Capítulo 5 O Deus Congelado


294
Sem saída, Ainz teve que ponderar os méritos e deméritos da situação sozinho.

“...Nós decidimos subordinar a aldeia Lizardman ao nosso governo, mas existe um can-
didato adequado para o líder? Eles têm um grupo que gerencia toda a aldeia?”

“Não, mas há uma pessoa que é adequada para ser representante da aldeia.”

“Oh? Quem seria?”

“A. Lizardman. Branca. Que. Não. Entrou. Em. Combate, Ela. Parece. Ter. Poderes. Druí-
dicos.”

“Aquela! Hm, pode ser viável...”

Pode valer a pena usar ela. Também daria para usá-la para ficar de olho nos outros.

No entanto, tê-la executando o plano de Ainz pode minar o plano de Cocytus de admi-
nistrar a aldeia. Sendo esse o caso, o que ele deveria fazer?

Neste ponto, um lampejo de inspiração atingiu Ainz.

...Não seria mais rápido perguntar diretamente a ela? Afinal, não recebi respostas úteis
agora...

Ainz compartilhou seus planos com Cocytus, que respondeu afirmativamente.

Dada a reação de Cocytus, o fato de que ele poderia estar cedendo aos desejos de seu
mestre não poderia ser descartado. No entanto, depois de olhar para Demiurge e Albedo,
ele notou que nenhum deles parecia estar agindo fora do comum, o que assegurou a Ainz
que seu curso de ação estava correto.

“Muito bem. Quanto tempo antes que ela possa ser trazida?”

“Peço. Perdão. Se. Parecer. Desrespeito, Mas. Eu. Senti. Que. Desejaria. Isso. E. A. Trouxe.
De. Antemão... Ela. Está. Esperando. No. Outro. Cômodo.”

Ainz olhou para Demiurge, que acenou com a cabeça.

Isso é incrível. Ele resolveu o problema sem ordens prévias, e parece que pensou isso sem
ajuda de ninguém.

Ainz se perguntou se era assim que um superior se sentia quando via seu subordinado
crescer como pessoa. Ele estava sorridente — embora não fosse visível em sua expres-
são, dado que era um esqueleto.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


295
“Não, não, não, você fez bem, Cocytus. Perder tempo é tolice e seu julgamento foi correto.
Tudo bem, traga-a para dentro.”

“Ah, dá pra esperar um pouquinho!”

“Por que, Aura?”

“Mesmo que ela não conheça como é a original, acho que se encontrar ela nesse lugar-
zinho vai prejudicar sua reputação, Ainz-sama. E acho que seria melhor receber ela no
Salão do Trono de Nazarick.”

Os outros guardiões assentiram, com exceção de Mare.

“...Sinto. Muito, Eu. Não. Tinha. Considerado. Isso, Por. Favor. Me. Perdoe!”

“Hm...”

Eu nem tinha pensado por este lado.

Com isso em mente, Ainz se perguntou como deveria resolver esse problema. Então, ele
se lembrou das palavras de antes. Então, nesse caso—

“—Aura.”

“Sim!”

“Você não disse uma vez que construiu este lugar para parecer com Nazarick? Você es-
tava certa, este lugar é tão bom quanto. Cocytus, traga ela. Eu a encontrarei aqui.”

“Ai—Ainz-sama!”

“Aura, se acalme.”

“Albedo!”

Gritou Aura olhando para Albedo, seu rosto todo corado insinuava “Por que tá se me-
tendo nisso?”. Albedo, porém, apenas deu uma olhadela sem prestar muita atenção, man-
tendo seu foco na porta principal. Foi Demiurge quem respondeu à furiosa Aura.

“...Ainz-sama não cometeria um erro. Sendo esse o caso, se o Ainz-sama diz que este
lugar é tão bom quanto Nazarick, então—”

“—Não há como ser outra coisa ~arinsu...”

Shalltear terminou.

Capítulo 5 O Deus Congelado


296
Bem, eu não acho que estou totalmente correto, espero que não pensem assim sempre... Se
bem que hoje acabou me ajudando.

“Aura, preste atenção. Eu sinto que este lugar — construído por você, uma das minhas
subordinadas mais confiáveis — é tão bom quanto Nazarick, mesmo que ainda não es-
teja completo... Você entende?”

“...Obrigada, Ainz-sama!”

Aura curvou-se em gratidão e os outros Guardiões também.

Não há necessidade de ficar tão comovida, eu acho... Estou começando a me sentir enver-
gonhado agora.

“Nesse caso, traga-a, Cocytus.”

“Imediatamente!”

♦♦♦

Cocytus imediatamente trouxe a Lizardman albina para a sala. Ela se ajoelhou com a
cabeça inclinada diante de Ainz.

“Como se chama?”

“Vossa Onipotência, o maior dentre dos grandes Supremos, Rei da Morte, Ainz Ooal
Gown-sama, eu sou a representante dos Lizardmen, Crusch Lulu.”

Bem, isso não parece nada natural.

Ainz se perguntou quem havia inventado esse título, mas no final ele decidiu adotar a
atitude calma e equilibrada de um Rei.

“...Mm, seja bem-vinda.”

“Obrigada, Gown-sama. Por favor, aceite a maior lealdade de nós, os Lizardmen.”

“Hm...”

Ainz observou Crusch com cuidado.

Mas que escamas bonitas. Brilham muito sob a luz da iluminação mágica. Como será a
sensação de te tocar...?

Ainz se perguntou por curiosidade.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


297
Quando Ainz se perdeu em seus pensamentos, ele percebeu que os ombros de Crusch
estavam tremendo. Cocytus deveria ter desabilitado suas habilidades de emanação de
frio, então provavelmente foi devido a algum outro motivo.

Enquanto pensava no assunto, Ainz percebeu que o estremecimento dela fazia todo o
sentido.

Se Ainz dissesse que ele estava descontente com os Lizardmen, cada um deles seria pri-
vado de seus pensamentos. Portanto, Crusch estava presa em cada palavra que Ainz di-
zia. Dado que ela estava nervosa e ansiosa, o silêncio antinatural de Ainz a teria enchido
de terror.

Ainz não era o tipo de pessoa que se divertia atormentando os fracos. Ele poderia co-
meter atrocidades pela Grande Tumba de Nazarick, mas seu estado mental não se de-
gradara ao ponto de realizar tais atos como parte do cotidiano.

“Os Lizardmen viverão sob minha bandeira deste dia em diante. No entanto, Cocytus
governará vocês no meu lugar. Eu confio que não há problemas com isso, correto?”

“—Sim.”

“Ótimo. Você pode voltar.”

“Eh? Posso mesmo!?”

—Exclamou Crusch surpresa de onde ela estava se curvando. Ela tinha pensado que
Ainz exigiria os céus e lua, então essa traição total de suas expectativas trouxe essa rea-
ção inesperada.

“Você pode voltar por enquanto, Crusch Lulu. Os Lizardmen logo entrarão em um perí-
odo de prosperidade nunca vista. Suas futuras gerações agradecerão de todo coração
pelo dia que juraram lealdade a mim.”

“Vossa Onipotência é muito gentil. Nós já estamos profundamente gratos pela miseri-
córdia que o senhor nos mostrou apesar de nossa oposição a um Ser Supremo.”

Ainz se levantou lentamente de seu trono e se aproximou de Crusch. Ele se ajoelhou e


pôs a mão no ombro dela.

Surpresa, Crusch estremeceu e a vibração ressoou na mão de Ainz.

“Além disso, tenho um pedido especial para você.”

“O que seria, Vossa Onipotência? Mesmo que não esteja a meu alcance, me esforçarei
para cumprir vossos desejos como sua fiel serva, Gown-dono...”

Capítulo 5 O Deus Congelado


298
“A idéia não foi originalmente minha — mas se você concordar, eu ressuscitarei
Zaryusu com algumas condições.”

Enquanto falava o nome que ouvira de Cocytus, Crusch de repente levantou a cabeça,
choque era claramente visível.

Ainz estudou presunçosamente o rosto de Crusch. Ela parecia estar tentando esconder
seus sentimentos, mas sua expressão mudou no momento. Lizardmen e humanos ti-
nham expressões faciais muito diferentes, então Ainz não podia ter certeza do que estava
lá, mas pelo menos ele podia notar alegria, raiva e tristeza.

“É mesmo possível...?”

“Eu possuo poder sobre a vida e a morte. A morte nada mais é do que um estado de ser
para mim.”

Depois de ouvir as palavras quase imperceptíveis de Crusch, Ainz continuou:

“Pense como um antidoto para quem está doente ou envenenado, mas não posso pro-
longar o tempo de vida.”

Talvez fosse impossível fazê-lo através de meios convencionais, mas poderia ser possí-
vel com 「Wish Upon a Star」... Mas agora não era a hora para tais coisas.

“...Então, o que Vossa Onipotência deseja de sua leal escrava? ...Talvez meu corpo?”

Ainz ficou perplexo.

“Não, isso é um pouco demais...”

Ficou maluca!? Eu não sou um depravado, não é como se eu fosse tão longe a ponto de me
reproduzir com um réptil...

Tendo quase dito isso, Ainz lutou para manter sua imagem majestosa.

Ele decidiu ignorar o som do ranger de dentes que vinham atrás dele.

“Grhun! Claro que não. É simples — quero que você observe os Lizardmen e veja se
algum deles vai me trair.”

“Nenhum Lizardman o trairá.”

Depois de ouvir a resposta firme de Crusch, Ainz sorriu friamente para ela.

“Eu não sou tão ingênuo para acreditar nisso. De fato, eu não sou suficientemente po-
deroso para saber o que todos os Lizardmen pensam, mas se eles forem suficientemente

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


299
humanos, a traição será bastante comum. Portanto, gostaria que alguém ficasse de olhos
em seus movimentos, em silêncio.”

Crusch retomou sua expressão vazia, o que fez Ainz pensar que tinha falado algo errado.
Mesmo ele querendo ressuscitar Zaryusu, Ainz queria que ela pedisse e assim a acorren-
tasse a ele com as correntes do dever. O que ele deveria fazer se ela recusasse?

Se eu soubesse que ela ficaria assim, não teria sido tão ganancioso... É, acho que não adi-
anta chorar sobre o leite derramado.

“...Você está diante de um milagre, mas não durará para sempre. Se não o aproveitar,
será perdido para sempre.”

O rosto de Crusch parecia estar se contraindo.

“Se acalme, não será um ritual profano. Magias de ressurreição não existem neste
mundo? Será uma simples magia como qualquer outra.”

“Isso é algo das lend...”

Enquanto Crusch hesitava, Ainz falou em tons ternos, mas com uma atitude arrogante.

“Crusch, eu gostaria que você pensasse sobre o que é mais importante para você.”

Ainz observou os olhos de Crusch enquanto suas palavras lentamente chegavam até ela.
Parecia alguém que estava prestes a consumar uma venda.

Depois disso, Ainz precisaria mostrar à Crusch que o milagre que ele proporcionou não
seria de graça. Afinal, as pessoas suspeitariam de coisas de graça, mas suas suspeitas
seriam facilitadas se houvesse uma taxa razoável em troca.

“Apenas quero que observe os Lizardmen em segredo por mim. A depender do andar
da carruagem, você pode se deparar com escolhas difíceis. Obviamente, para me prote-
ger de sua traição, lançarei uma maldição em Zaryusu quando ressuscitá-lo. Se eu julgar
que você me traiu, ela matará Zaryusu. Sei que é um trabalho puxado, mas para ter o
Zaryusu de volta vale a pena, não acha?”

Dito isso, Ainz não podia lançar tal maldição.

Ainz se levantou, como se dissesse que havia terminado sua atuação e depois abriu os
braços.

Crusch olhou para Ainz com uma expressão atormentada em seus olhos.

“Ah, sim, quando Zaryusu for ressuscitado, direi que ele foi trazido de volta à vida pois
será útil para mim. Garantirei que o nosso acordo fique em sigilo absoluto. Vamos,

Capítulo 5 O Deus Congelado


300
Crusch Lulu, faça a sua escolha. Esta será sua última chance para trazer seu amado
Zaryusu de volta. O que você vai fazer? Você aproveitará essa oportunidade ou a aban-
donará? Decida.”

Ainz lentamente estendeu a mão para Crusch enquanto olhava para os Guardiões, e
disse:

“Se ela se recusar, nenhum de vocês tem minha permissão para repreendê-la. Então,
Crusch Lulu, qual é a sua resposta?”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


301
Epílogo

Capítulo 5 O Deus Congelado


302
ma sensação suave encheu seu corpo. Era como se uma mão estivesse ten-

U tando arrastá-lo através das águas profundas, mas Zaryusu a ignorou. Isso
porque ele sentiu algo repugnante daquela mão assustadora.

Depois de um instante em uma eternidade passar, ele sentiu a mão alcan-


çando-o novamente. Zaryusu queria afastá-la mais uma vez, mas parou. Isso porque ou-
viu uma voz vindo do seu lado, a da fêmea que ele amava.

Ele hesitou.

Hesitou mais uma vez.

E continuou hesitando.

Nesse mundo em que o conceito de tempo era vago, Zaryusu ficou perplexo e, apesar
de relutante, estendeu a mão.

Depois disso, alguém o puxou com força, arrastando-o para um mundo brilhantemente
branco.

Ele se sentiu impotente.

Ele sentiu como se suas entranhas fossem um saco de lama.

Ele se sentia incrivelmente cansado. Mesmo atividade física intensa nunca o deixou tão
exausto antes.

Zaryusu lutou para abrir os olhos com as pálpebras pesadas.

A luz penetrou em seu campo de visão. Os olhos dos Lizardmen podiam se ajustar au-
tomaticamente à iluminação do ambiente, mas não resistiam a clarões momentâneos de
luz. Zaryusu piscou—

“Zaryusu!”

Alguém o abraçava com força.

“Cr-Crusch?”

Pela lógica, ele nunca mais deveria ouvir aquela voz novamente. Mas isso porque ele
acreditava que nunca mais ouviria a voz daquela fêmea.

Quando seus olhos finalmente se ajustaram à luz, ele olhou para a fêmea que o abraçava.

Ela era a fêmea que ele amava — Crusch Lulu.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


303
Por quê? O que aconteceu?

Várias dúvidas e desconforto inundavam o coração de Zaryusu. Sua memória final era
de — sua cabeça caindo no pântano. Ele deveria ter sido morto por Cocytus.

Então por que ele estava vivo? A menos que—

“—Crusch, bocê borreu também?”

Zaryusu falou, mas sua lingua parecia dormente, só que mesmo assim tentou espremer
uma pergunta.

“Eh?”

A resposta que recebeu foi um olhar confuso no rosto de Crusch. Ao vê-lo, Zaryusu deu
um suspiro de alívio, porque sabia que Crusch não estava morta. Nesse caso, por que ele
ainda estava vivo?

A voz do lado dele forneceu uma sugestão.

“Hm... parece que deu certo, mas seus pensamentos ainda são confusos, também parece
ter perdido níveis... Se for isso mesmo, é bem similar à YGGDRASIL.”

Depois de perceber quem havia dito aquelas palavras, Zaryusu olhou para a fonte, sur-
preso.

Diante dele estava o Rei da Morte, um magic caster de extraordinário poder.

Em sua mão havia uma varinha de 30 centímetros de comprimento, que irradiava uma
aura sagrada díspar com o monarca undead que a segurava. Era uma linda varinha que
parecia ter sido feita de marfim e adornada em ouro, sua alça estava encravada com ru-
nas.

Zaryusu não sabia o que era, mas se tratava da Resurrection Wand, o item mágico que
trouxera Zaryusu à vida. Em circunstâncias normais, aqueles que não pudessem usar
magia clerical não seriam capazes de usar itens mágicos imbuídos de magias clericais,
mas itens mágicos desse tipo eram uma exceção à regra.

O olhar de Zaryusu vagou, e ele percebeu que estava na aldeia Lizardman.

Eles estavam na praça central, e muitos Lizardmen estavam ajoelhados ao redor deles.
Sua postura imóvel mostrava seu tremendo respeito.

“Bas o quê...?”

Epílogo
304
Era natural ajoelhar-se diante de um poder tão impressionante. Todavia, não era ape-
nas o respeito que sentia vindo dos Lizardmen, mas algo mais profundo. Os Lizardmen
não adoravam deuses, e estritamente falando, sua fé estava em seus ancestrais.

Mas agora ele sentia uma reverência a divindades emanando dos Lizardmen circundan-
tes.

“Mm. Saiam, Lizardmen. Alguém os dirá quando poderão entrar na aldeia novamente.”

Ninguém falou contra essa ordem. Mais do que isso, eles obedeceram sem um único
som de protesto. Os Lizardmen deixaram a aldeia em silêncio, o único som sendo o de
seus corpos e os salpicos da lama no pântano.

Talvez suas próprias vontades tivessem sido destruídas depois de ver um tremendo
poder. Claro, isso pode ter sido também devido à prática do Lizardman de obedecer aos
fortes.

Em outras palavras, tudo estava acontecendo como Ainz havia planejado.

“Aura, todos eles foram embora?”

“Sim, todo mundo.”

Uma Elfa Negra o respondeu. Ela estava de pé atrás de Ainz todo esse tempo, e por isso
Zaryusu não a havia notado, mas o principal motivo foi devido a seu silêncio absoluto.

“Direto ao ponto. Zaryusu Shasha, permita-me felicitá-lo pela sua ressurreição.”

Ressurreição.

Demorou um pouco para Zaryusu analisar o significado dessa palavra. Quando final-
mente percebeu, um impulso fluiu de seu coração que deixou todo o seu corpo tremendo.

Ressurreição— quer dizer que ele me trouxe de volta à vida?

Ele não conseguiu falar. Apenas fez barulhos ofegantes.

“O que foi? Eu duvido que os Lizardmen desprezem a ressurreição, não é? Ou você es-
queceu como falar?”

“Bes-bessurreicão... bocê... bocê pode drazer os mordos... de bolta à bida...?”

“Correto. Você pensou que eu não poderia ressuscitar os mortos?”

“Boi... Boi uma brande cerimôbia de bessurreicão?”

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


305
“Grande cerimônia? É isso? Eu sou mais que suficiente para fazer essa tarefa.”

Zaryusu não tinha mais nada a dizer depois de ouvir isso. Magia de ressurreição era um
milagre que só podia ser realizado pelos Lizardmen lendários que possuíam a linhagem
dos Dragonlords.

E o ser diante dele poderia fazer isso sozinho. Ele era um monstro? Não, seria impreciso.
Ele era um magic caster de incrível poder? Não, isso também estava errado.

Zaryusu agora entendeu completamente.

Ele liderava um exército lendário e era acompanhado por demônios. Em outras pala-
vras — o ser diante dele era nada menos que um Deus.

Zaryusu levantou-se trêmulo e se prostrou diante de Ainz. Crusch apressou-se a seguir


o exemplo.

“Oh, Subremo.”

Zaryusu sentiu algo como confusão no olhar do Ser Supremo que o olhava de baixo para
cima, mas supôs que ele estivesse enganado.

“Bor davor, aceide binha ederna lealdade.”

“Muito bem. Eu lhe prometo isso em nome de Ainz Ooal Gown.”

“Bor davor, bonceda brosperidade aos Bizardmen.”

“Isso é tudo? Claro que vou garantir a prosperidade de todos os que servem sob a minha
bandeira.”

“Senbor dem beus mais profundos adradebimentos.”

“Bem, você parece estar com bastante dificuldade para falar. Descanse, você deve voltar
ao normal. Por enquanto, tire um tempo para se recuperar. Há muitas coisas que preci-
sam ser decididas, e a coisa mais importante é como cuidar dessa aldeia... Você pode
entrar em contato com o Cocytus sobre assuntos relacionados a isso.”

Depois de dizer isso, Ainz se preparou para sair. No entanto, Zaryusu ainda tinha algo a
perguntar, uma pergunta que precisava ser respondida agora.

“Esbere, por fabor! E Zenberu e beu irbão?”

“Seus cadáveres estão naquela direção.”

Epílogo
306
Ainz indicou o exterior da aldeia com um movimento do queixo, quando estava prestes
a partir com Aura.

“Bosso pedir-lhe para ressuscidár ebes?”

“...Hm ...Não vejo motivo algum para isso.”

“Endão, bor que me ressuscidou? Zenberu e beu irbão são fordes. Edes cerdamente se-
rão údeis.”

Ainz observou Zaryusu e depois encolheu os ombros.

“Pensarei a respeito... Preservarei seus corpos, e então eu vou considerar isso.”

O manto de Ainz ondulou enquanto andava, indicando que a conversa terminara. A voz
de Aura sumia enquanto ela disse:

“Aquela Hydra é tão fofinha...”

Zaryusu finalmente se recuperou de sua prostração e sentiu-se extremamente fraco.

“Eu escabei com bida... ou belhor, eu boltei à bida.”

Ele não tinha idéia de como seriam governados no futuro. No entanto, se eles pudessem
mostrar o quão útil os Lizardmen poderiam ser, isso não deveria ser tão ruim.

“Crusch, Ani-ja—”

“Está bem. Vamos nos preocupar com isso mais tarde, tá bom? Por enquanto, você pre-
cisa descansar e se recuperar. Vai ficar tudo bem. Eu te carrego.”

“Mm... Bor bavor.”

Zaryusu se deitou e fechou os olhos. O desejo de dormir tomou conta, como se estivesse
pronto para dormir depois de um longo dia de trabalho.

Enquanto saboreava a sensação gentil que o acariciava, a mente de Zaryusu afundou na


escuridão mais uma vez.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


307
Posfácio

Epílogo
308
Creio que ninguém começou a ler deste volume. Há quanto tempo, sou o Maruyama
Kugane. Então, como eu mencionei no posfácio do volume anterior, este volume é bas-
tante singular para uma light novel, sendo inteiramente sobre os Lizardmen. Isso é muito
raro entre as light novels, né?

E sim, talvez eu seja apenas ignorante, mas tenho a sensação de que poucas light novels
escrevem sobre o personagem principal lançando um ataque unilateral a uma aldeia pa-
cífica. Mas e aí, o que acharam desse volume?

Suponho que terão opiniões nos dois extremos. Mas enfim, em volumes futuros, é muito
provável que surjam cenas pesadas ao massacrar os mais fracos. O protagonista de
OVERLORD não é alguém que chegou no mundo para resolver todos os problemas e
transformá-lo no paraíso. Ele é o tipo de pessoa que tem interesses próprios, que faz as
coisas pensando em seu bem em primeiro lugar. Ou seja, ele não é do tipo que corre para
salvar a donzela assim que souber que ela está em apuros, ele é mais como um predador
que saí à procura de donzelas e... calma aí, isso soa meio errado.

Portanto, se já jogou jogos de estratégia deve saber, o modo mais fácil para Ainz alcan-
çar seus objetivos não é desafiar os fortes, mas subjugar os fracos para aumentar suas
forças.

Portanto, eu queria escrever essa história da perspectiva menos comum do invasor, em


oposição ao ponto de vista mais comum da parte invadida. Mas simplesmente fazer uma
briguinha de ambas as partes dificilmente conta como uma invasão.

A seguir, expressarei meus agradecimentos. So-bin-sama, sua arte da Crusch foi foda
que fiquei até animadinho. O Chord Design Studio, o design da capa, da lombada e do
pôster foi muito legal. Ohaku-sama, você é sempre meticuloso na sua revisão. E ainda há
a minha editora, F-Da-sama, que me ajudou de muitas maneiras.

Obrigado a todos. Honey, obrigado pelas “dicas penetrantes”. Realmente quebrei a ca-
beça para fazer dar certo.

Além disso, meus mais profundos e sinceros agradecimentos vão para todos os leitores
que compraram este livro. Muito obrigado! Então, espero que possamos nos encontrar
no próximo volume. Até logo.

Como um aparte, eu estive procurando uma maneira de colocar “morte” no título de


capítulo em cada livro, mas estou começando a ficar sem idéias, então devo parar de
fazer isso a partir do próximo volume.

Foi apenas uma gracinha da minha parte, então ter ou não ter, não faz mal... O ponto é,
quando a pessoa não leva jeito e fica forçando uma coisa, o tiro acaba saindo pela culatra!
Triste.

- Maruyama Kugane
Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen
310
Ilustrações
Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen
312
Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen
314
Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen
316
Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen
3 1 8
Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen
3 2 0
Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen
322
Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen
324
Glossário

Capítulo 2 Reunindo os Lizardmen


326
Glossário
-Magias, Habilidades & Passivas- Mirror of Remote Viewing: .... Espelho da Visão Remota.
Tradução livre de seus nomes Ouroboros: Ou oroboro (ou ainda uróboro) é um con-
ceito representado pelo símbolo de uma serpente, ou um
3rd Tier Summon Beast: ..... Inovação 3º Nível de Besta. dragão, que morde a própria cauda. O nome vem do grego
Charm: ............................................................................Charme. antigo: οὐρά (oura) significa “cauda” e βόρος (boros), que
Control Clouds: ........................................ Controlar Nuvens. significa “devora”. Assim, a palavra designa “aquele que
Control Weather:.........................................Controlar Clima. devora a própria cauda”.
Creation: ........................................................................ Criação. Powered Suit: ............................................Traje Motorizado.
Danger Perception: ........................... Percepção de Perigo. Resurrection Wand: .................... Varinha de Ressureição.
Earth Bind: .................................................. Vinculo de Terra. Ring of Sustenance: ..................................Anel do Sustento.
Fireball: ............................................................... Bola de Fogo. White Dragon Bone: .....................Osso do Dragão Branco.
Frost Aura: ................................................... Aura Congelante.
Gate: ................................................................................... Portal.
Ice Pillar: ..............................................................Pilar de Gelo. -Termos & Terminologias-
Icy Burst: .........................................................Estouro Gelado.
Invisibility: ........................................................Invisibilidade. Alevinos:Alevino (ou alevim) é a designação dada aos
Lightning ................................................................ Relâmpago. peixes recém-saídos do ovo e que já reabsorveram o saco
Lion’s Heart: .................................................Coração de Leão. vitelino.
Magic Arrow: ................................................... Flecha Mágica. Briefing:É um conjunto de informações ou uma coleta de
Mass Cure Light Wounds: Cura em Massa de Feridas Le- dados passados em uma reunião para o desenvolvimento
ves. de um trabalho ou documento.
Message: .................................................................. Mensagem. Cubo De Rubik:Também conhecido como cubo mágico, é
Middle Cure Wound: ..................... Cura Média de Feridas. um quebra-cabeça tridimensional, inventado pelo hún-
Natural Steel Weapon: .................... Arma Natural de Aço. garo Ernő Rubik em 1974. Originalmente foi chamado o
Piercing Icicle: .........................................Sincelo Perfurante. “cubo Mágico” pelo seu inventor, mas o nome foi alterado
Protection Energy: Ice:........... Energia de Proteção: Gelo. pela Ideal Toys para “Cubo de Rubik”.
Resistance Massive: ............................. Resistência Maciça. Dragon Tusk: ...............................................Presa de Dragão.
Scare: ............................................................................ Assustar. Enoquiano:Nome relacionado à mítica língua dos anjos,
Steel Skin: .............................................................. Pele de Aço. cunhado pelo ocultista e astrólogo da côrte elisabetana Dr.
Summon 4th Tier Undead:Invocar Morto-Vivo de 4º Ní- John Dee e seu assistente Edward Kelley no final do sé-
vel. culo XVI.
Wish Upon a Star: .............................. Desejo a Uma Estrela. Escudo Heater:Acredita-se que é uma versão atualizada
do escudo kite e esteve em uso do século XII ao XVIII. As-
sim como o escudo de gota, o Heater fica menor perto da
-Metamagia- base, mas se comparado na altura o heater é muito menor.
Sua altura é medida do ombro até a cintura. Foi muito
Over Magic: Exceder Magia - Em troca de grandes usado por cavaleiros a cavalo.
quantidades de mana, permite que o usuário ative uma Flute:Flute é um tipo de taça com cabo alto e bojo com-
magia de um nível maior do que normalmente é capaz prido e estreito, especialmente desenvolvida para o ser-
de usar. viço de champagne e espumantes em geral. Sua principal
finalidade é preservar o gás carbônico presente nestas
Silent Magic:Magia Silenciosa - permite que o usuário
bebidas o máximo de tempo possível, garantindo a per-
ative uma magia sem a necessidade de recitá-la, elimi-
sistência do perlage (ação espumante da bebida).
nando o perigo de um terceiro ou pessoa interromper
Funda:Ou fundíbulo é uma arma de arremesso constitu-
a ativação. ída por uma correia ou corda dobrada, em cujo centro é
colocado o objeto que se deseja lançar. Também chamada
de atiradeira, catapulta ou estilingue, embora alguns des-
-Itens- ses nomes possam remeter a tipos de armas de arre-
Tradução livre & Curiosidades messo específicos.
Gadanha:Ou gadanho (também podendo ser denomi-
Book of the Dead: ..................................... Livro dos Mortos. nado alfange) é uma ferramenta utilizada na agricultura
Exchange Box: ............................................ Caixa de Cambio. para ceifar cereais ou para o corte de erva. Também é o
Fallen Seed: ............................................... Semente do Caído. tipo de arma associada ao ceifador da morte.
Five Elements Overcoming:Subjugação dos Cinco Ele- Godkin: ................................................. Descendente de Deus.
mentos – no taoísmo significa superar as relações entre Green Claw: ......................................................... Garra Verde.
os cinco elementos. Highball:É um copo alto que pode conter 240 a 350 ml. É
Frost Pain:...................................................... Dor Congelante. usado para servir coquetéis e outras bebidas mistas.
God Slaying Emperor Blade:Lâmina do Imperador Ma- Infinite Backpack: .......................................Mochila Infinita.
tador de Deus. Ki:気 - é um elemento da cultura tradicional chinesa que
Great Wine Pot: .................................Grande Pote de Vinho. se manifestaria como uma força cósmica que criou e per-
Heaven's Feather: .......................................... Pena Celestial. meia todo o universo.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


327
Little Fang: .......................................................Presa Pequena. ao teatro da Roma Antiga. Se caracteriza pelo nariz longo,
Odachi:Um ōdachi (大太刀) ou nodachi (野太刀) era um cifose, grande barriga, barrete, roupa multicolorida e fala
tipo de espada japonesa tradicionalmente usada pela tremida e esganiçada.
classe samurai do Japão feudal. Sous-Chef:Ou chef de cuisine, é o assistente direto do
Pique: Também conhecido por chuço ou lança longa, é chef executivo, o segundo no comando.
uma arma de haste medieval, usada pelos piqueiros, que Vampiric Dragonlord: Soberano Dragão Vampírico. Os
por sua vez constituíam a base da infantaria medieval. O kanjis abaixo do Furigana de “Vampírico” são de 吸血
pique consistia de uma lança de aproximadamente 3 a 5 (Kyūketsu), significa: Hematófago, e talvez até mesmo
metros. Vampiro 吸血鬼 (Kyūketsuki).
PK: .............................. Player Killer - Quem mata jogadores. Wulingyuan:É uma região de interesse paisagístico e his-
POP:É abreviação de “Repopulation”, Monstros que nas- tórico na província de Hunan, China. O local é conhecido
cem automaticamente em dungeons. pelos mais de 3.000 pilares de arenito, gargantas e cumes,
Ranger:Em RPG’s, é uma classe de personagens com pe- muitos com mais de 200 metros de altura cercados por
rícia a coisas relacionadas à floresta, rastreamento e caça, florestas.
além de proficiências com arcos, geralmente é traduzido
como Patrulheiro, Guarda Florestal.
Razor Tail: ...................................................... Cauda Navalha. -Raças & Monstros-
Red Eye: ........................................................... Olho Vermelho.
Sai:(釵) é uma arma tradicional usada em Okinawa. A Abelion Sheep ................................................ Ovelha Abelion.
forma básica da arma é a de um bastão de metal embo- Baphomet:Bafomete ou ainda Bafomé (pronúncia em in-
tado e em forma cônica, com dois “dentes” curvos (yoku) glês: [ˈbæfoʊmɛt]; do latim medieval Baphometh, baffo-
projetando-se do cabo (tsuka). Existem muitos tipos dife- meti, ocitano Bafomé). É uma criatura simbólica que apa-
rentes de sai com vários pinos para agarrar e bloquear. receu como um ídolo pagão em transcrições do julga-
Sanctum Sanctorum:Locução latina que significa "o mento da inquisição dos Cavaleiros Templários no início
santo dos santos". Aplica-se a qualquer lugar a ser defen- do século XIV.
dido dos profanos, algum lugar onde apenas pessoas se- Blood Meat Hulk: ..........................Brutos de Carne Sangue.
letas podem entrar. Curiosidade: É o nome da base usada Chimera:Quimera (em grego: Χίμαιρα, transl.: Chímaira)
pelo Doctor Strange (Doutor Estranho), pela Marvel Co- é uma figura mística caracterizada por uma aparência hí-
mics. brida de dois ou mais animais.
Sharp Edge:......................................................... Crista Afiada. Diabrete:Um imp ou diabrete é um ser mitológico seme-
Sincelo:É um fenómeno meteorológico que acontece em lhante a uma fada ou um demônio.
situações de nevoeiro aliado a uma temperatura de -2 °C Dryad:Na mitologia grega, as dríades (em grego: Δρυάδες,
a -8 °C. Dryádes, de δρῦς, drýs, “carvalho”) eram ninfas associa-
Talismante:Uso das habilidades do magista no uso de ta- das aos carvalhos. De acordo com uma antiga lenda, cada
lismãs para lançar magias. dríade nascia junto com uma determinada árvore, da qual
Tatame: 畳- um material de revestimento tradicional no ela exalava. A dríade vivia na árvore ou próxima a ela.
Japão, utilizado desde o Período Muromachi. É feito de Quando a sua árvore era cortada ou morta, a divindade
palha de arroz prensada revestida com esteira de junco e também morria.
faixa lateral. Este tipo de revestimento está presente em Dwarf: ................................................................................. Anão.
quartos tradicionais japoneses conhecidos como wa- Elder Guarder:.................................................. Guarda Anciã.
shitsu (和室). Por padrão um tatame tem 95cmx182cm. Elder Lich: ............................................................. Lich Ancião.
Torturers: .......................................................... Torturadores. Frost Dragon: ...................................................Dragão Gélido.
Wan:わん- É o equivalente japonês à “au”, onomatopeia Goblin:Raça demi-humana - Eles são feios, geralmente
latido de cachorros. mal-intencionados e, às vezes, humanoides maliciosos
Yellow Speckle: ........................................... Pintas Amarelas. que moram nas florestas.
Golem:No folclore judaico, o golem (‫ )גולם‬é um ser ani-
mado que é feito de material inanimado, muitas vezes
-Nomes- visto como um gigante de pedra.
Griffin:Em grego: γρύφων, grýphōn ou γρύπων, grýpōn,
Catastrophe Dragonlord:Soberano Dragão da Catás- forma primitiva γρύψ, grýps; latim: grifo. É uma criatura
trofe. Os kanjis abaixo do Furigana de “Catástrofe” são de lendária alada com cabeça e asas de águia e corpo de leão.
破滅 (Hametsu), significa: ruína, destruição. Pode tam- Hydra:Hidra – em grego antigo: Ὕδρα, na mitologia
grega, era um monstro, filho de Tifão e Equidna.
bém ser interpretado como “cair em ruína”.
Lizardman: .................................................. Homem-Lagarto.
Elder Coffin Dragonlord:Soberano Dragão do Féretro
Master Guarder: ........................................... Guarda Mestre.
Ancião. Os kanjis de seu nome são de 朽棺, significa “Cai-
Myconid: ................ Ou Miconídio, é um fungo humanoide.
xão velho” ou mesmo “Caixão podre”.
Ogro:A palavra ogro é de origem francesa, originalmente
Gashokukochuuou:餓食狐蟲王 Seu nome significa algo derivada do deus etrusco Orcus, que se alimentava de
como “Rei Proliferum Faminto”. Seu nome “餓食狐蟲” soa carne humana.
semelhante a “芽殖孤虫”, um nome japonês para Sparga- Old Guarder: ..................................................... Guarda Velha.
num (parasita). Skeleton:....................................................................Esqueleto.
Peckii:Seu apelido vem do fungo conhecido por “Fungo Snap Grasp:................................................... Agarro Estalado.
Dente Sangrento”, nome cientifico Hydnellum Peckii. Swamp Elemental: .......................... Elemental do Pântano.
Pulcinella:Ou Polichinelo é uma antiga personagem-tipo Undead: ................................................................... Morto-Vivo.
e burlesca da commedia dell'arte, cujas raízes remontam

Glossário
328
Wyvern:Ou em português “Serpe”, é todo réptil alado se-
melhante a um dragão — conhecida como “dragonetes”
— de dimensões distintas, muito encontrado na heráldica
medieval.

-Honoríficos & Tratamentos-

Ani-ja:兄者 vem de 兄者人 – é um modo de referir-se ao


irmão mais velho, mas é uma palavra antiga que não mais
é usada.
Dono:殿 | どの - O sufixo “dono” vem da palavra “tono”,
que significa “senhor”. Seria semelhante a “meu senhor”.
Na época dos samurais, costuma-se denotar um grande
respeito ao interlocutor.
Kun:君 - O sufixo “Kun” é bastante utilizado na relação
“superior falando com um inferior”, mas apenas se hou-
ver um certo grau de intimidade e amizade entre ambos.
Sama:様 | さま- O sufixo “Sama” é uma versão mais res-
peitosa e formal de “san”. A traduções mais próxima do
termo “sama” para o português seria “Vossa Senhoria”.
No Japão, é importante referir-se a pessoas importantes
ou a alguém que admira e é muito importante, no império
antigo era muito usado para se referir a rainhas.
San:さん - O sufixo “San” é um honorífico que pode ser
usado em praticamente todas as situações, independente
do sexo da pessoa. Normalmente é usado para pessoas
que temos pouca ou nenhuma intimidade. Também usado
quando a pessoa considera o interlocutor como um de
igual hierarquia.

OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman


329
Notas de Tradução:
A frase da Albedo. “O senhor gostaria de jantar? Um banho? Ou — prefere — a —
mim💕?” essa frase da Albedo é uma referência ao 新婚三択 (shinkonsantaku, literal-
mente: “três questões [escolhas] para o recém-casado”).
É uma frase frequentemente usada na cultura pop / otaku japonesa pela esposa que
convida o marido para a cama. Na verdade, basta fazer uma pesquisa por “新婚三択” e
ver os vários exemplos.
Os golpes de Zenberu. Aparentemente ele usa golpes de Karate, e “mão da faca” seria
o Shuto (手刀), ou Tegatana (手刀).
A Dryad. Essa aventura onde aparece a Dryad vem do CD Áudio Drama 01 - A Árvore
Maligna Selada.
Carne A7. Entre as muitas escalas de qualidade de carne, há uma que vai do A3 ao A5.
Essa escala mede a quantidade de gordura intramuscular da carne. Como tal, a escala A
é destinada somente a cortes da raça bovina Wagyu. Por exemplo, 1kg de Wagyu A5
custa mais de 500,00 dólares. Então quando a Aura fala de carne A7, seria a carne entre
as carnes, a qualidade suprema.
Os horários proibidos no relógio da Aura. Em japonês o som ao falar 7:21 (Sete Dois
Um) é similar a Onanī ou seja, Onanismo (masturbação). Já 19:19 (Um Nove Um Nove) é
similar a “Iku! Iku!”, que significa algo como “Estou gozando! Estou gozando!” em Eroges.
Demiurge, o artesão. A técnica de construção que ele usa é equivalente a construções
sem pregos ou cola, são compostas por mais de 300 Netsugi (根継ぎ). Basicamente, es-
sas mais de 300 variações de cortes e formas diferentes de conectar madeiras sem a
necessidade de prego ou cola.
Cavaleiro Skeleton. O “Cavaleiro” deles vem de Rider, não de Knight.
Iguva Negrito. As falas e pensamentos deles são entre os caracteres 『』, que original-
mente são para conversas através da magia Message, ou vozes com algum efeito metafí-
sico. Como os 『』já são usados para a magia, decidi usar o negrito para transparecer
essa voz diferente.
Bíblia. A frase “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos
seus amigos”, vem de João 15:13.
Dwarf. Dei preferência a usar “Dwarfs” em vez de Anões/Anãos. Ao meu ver “Dwarfs”
dá uma conotação de uma raça com determinadas características. Já “Anãos” simples-
mente é mais abrangente e pode ser a raça, mais também qualquer pessoa com nanismo.
Mesmo que “Anões/Anãos” seja a tradução de Dwarfs usada em PT-BR.
Morte Certa. Quando lerem por aí que ela se chama Zesshi Zetsumei, tenham em mente
que esse nome nada mais é do que como se fala “morte certa” em japonês. Resumindo,
Morte Certa = Zesshi Zetsumei = 絶死絶命.
ございません
Falas do Victim. Suas falas são escritas em hiragana com furigana, ex: 「ひとにひあお
むらさきちやはい」. A parte em hiragana (em negrito) é como se ele falasse em cores.
Isso porque Enoquiano = エノク (Enoku) e soa muito similar a como é escrito cores em
katana, 絵の具 = エノグ (Enogu). Então pode ser que em sua narrativa era para dizer
que ele fala em Enoquiano, mas por um erro de grafia, colocando as duas partículas em
cima do ク, ficou como se falasse em cores. Praticamente um trocadilho. Fonte.

Glossário
330
OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman
331
Glossário
332
OVERLORD 4 Os Heróis Lizardman
333
O implacável exército da morte se aproxima da pacífica aldeia dos Lizardmen.

Para proteger sua tribo e salvar seus entes queridos, os Lizardmen resistirão.

Enquanto isso, o grande exército de undeads lutará em prol dos “experimentos” de


Ainz. Seu comandante é o Guardião do 5º Andar, Cocytus; O Regente do Rio Congelado.

Testemunhe o mundo governado pela severa lei da selva.

ISBN: 978-4047289543

ISBN: 978-4047289543

Glossário
334

Você também pode gostar