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Recurso para a questão 45 da prova do REVALIDA INEP

Prezada banca examinadora do REVALIDA INEP,


A questão de n° 45 trouxe como temática a interpretação de dois gráficos relacionados à síndrome respiratória aguda
grave (SRAG) por COVID-19. Enquanto o primeiro gráfico traz o número de internações hospitalares estratificados
por raça/etnia, o segundo refere-se à mortalidade proporcional.O gabarito preliminar informa que assertiva correta é a
“B”, transcrita a seguir:
“As pessoas brancas tiveram melhor sobrevida que as pessoas das outras raças/etnias juntas”.
Para encontrar esse resultado, o candidato precisaria subtrair os percentuais dos dois gráficos. Porém,esse cálculo não
corresponde a nenhum dos conceitos vigentes de sobrevida e peço gentilmente a sua permissão para explicar o porquê.
Como dito, a literatura epidemiológica traz alguns conceitos envolvendo a sobrevida. O primeiro deles, trazido por
Medronho e colaboradores (1), afirma que“a proporção de sobrevida, também denominada sobrevida, é uma medida
complementar a incidência acumulada”. Nesse sentido, se o maior número de internações por SRAG é da etnia
branca, então é justamente essa etnia que deve apresentar a menor sobrevida, já que o somatório da sobrevida com a
incidência deve ser igual a 100% (afinal, são medidas complementares).
Existe ainda um segundo conceito, também trazidopor Medronho e colaboradores (1) e por Leon Gordis (2), onde a
sobrevida seria a “probabilidade de um indivíduo não morrer”. Ora, aqui temos o primeiro grande “x da questão”: no
contexto da SRAG, a probabilidade de um indivíduo não morrer (ou seja, de sobreviver)é complementar a
probabilidade de ele morrer, ou seja, é complementar à letalidade (2). Cabe lembrar que a letalidade se refere a
probabilidade de morte em quem tem a doença.
Fletcher e colaboradores (3) também informam que a letalidade é a medida a ser utilizada no cálculo da sobrevida. Os
autores afirmam que a sobrevida é a “razão entre o número de pacientes sobreviventes e o número de pacientes em
risco de morrer naquele ponto”. Mais uma vez, é a letalidade quem informa o risco de morrer em quem tem a doença
(no caso, a SRAG).
No entanto, temos um grande problema no enunciado: a questão não trouxe um gráfico de letalidade, e sim de
mortalidade proporcional por etnia, o que torna inviável o cálculo da sobrevida:

 Primeiro porque, como vimos, a mesma deve ser calculada de forma complementar à letalidade e não de forma
complementar à mortalidade proporcional.
 Segundo porque a mortalidade proporcional não informa risco de morte, conforme largamente descrito na
literatura. Ela apenas informa a distribuição percentual de óbitos segundo uma característica (que, naquele
caso, foi a etnia). E veja bem: se a mortalidade proporcional não pode informar o risco de morrer, então
elatambém não pode ser utilizada para calcular o risco de sobreviver (ou seja, para a sobrevida).
Por isso, por haver um erro conceitual no cálculo da sobrevida, e por não existir alternativa correta que contemple o
enunciado, solicito gentilmente a anulação da questão.
Atenciosamente,
Referências bibliográficas:
1. Costa AJL & Kale PL. Capítulo 2: Medidas de Frequência de Doenças. In: Epidemiologia – 2ª edição.
Organizado por Roberto Medronho e colaboradores. Editora Atheneu, 2009.
2. Gordis L. Capítulo 6: História natural da doença: maneiras de expressar o prognóstico. In: Epidemiologia,
Editora Thieme Revinter, 5ª edição, 2017.
3. Fletcher RH et al. Capítulo 7: Prognóstico. In: Epidemiologia clínica – elementos essenciais. Editora Artmed,
5ª edição, 2011.

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