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VADE MECUM

INTERNATO 10ª
ETAPA

Gabriel Ricci Pupo


UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Sumário Óbito fetal .................................................................. 111


Propedêutica obstétrica ................................................ 3 Vacinas e Imunoglobulinas ........................................ 113
Mecanismos do parto .................................................... 6 Orientações nutricionais ............................................ 115
Assistência ao parto normal .......................................... 8 Diabetes gestacional .................................................. 117
Atendimento à gestante no pronto atendimento ....... 11 Hipertensão gestacional ............................................ 119
Estudo da bacia ........................................................... 13 Pré-eclâmpsia ............................................................ 123
Contratilidade uterina ................................................. 15 Eclâmpsia ................................................................... 126
Alterações fisiológicas no organismo materno ............ 17 Síndrome HELLP ......................................................... 128
Síndrome TORCH-Z ...................................................... 21 Hiperêmese gravídica ................................................ 129
Sangramentos da segunda metade da gestação ......... 26 Manejo das anemias na gestação .............................. 132
Partograma .................................................................. 31 Parasitoses na gestação ............................................. 136
Indução ao trabalho de parto ...................................... 34 Uso de fármacos na gestação .................................... 140
HIV na gestação ........................................................... 36 Anestesia obstétrica................................................... 146
Isoimunização Rh......................................................... 38 Hepatites na gravidez ................................................ 148
Fases clínicas do parto ................................................. 41 Ultrassonografia obstétrica ........................................ 150
Sangramentos da primeira metade da gestação ......... 42 Corioamniorrexe prematura ...................................... 160
Puerpério normal ........................................................ 48 Gestação prolongada ................................................. 164
Gemelaridade .............................................................. 51 Tireoideopatias na gestação ...................................... 167
Cardiotocografia .......................................................... 54 Vulvovaginites na gestação ........................................ 172
Sífilis na gestação ........................................................ 58 Profilaxia Streptococcus do grupo B ........................... 175
ITU na gestação ........................................................... 61 Patologias do colo e HPV na gestação........................ 177
Dopplervelocimetria para vitalidade fetal ................... 64 Arboviroses na gestação ............................................ 179
Métodos não farmacológicos para alívio da dor no Ventilação mecânica .................................................. 181
trabalho de parto ........................................................ 68 Parada cardiorrespiratória (PCR) ............................... 184
Cardiopatias na gestação............................................. 70 Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA)
Perfil biofísico fetal ...................................................... 76 ................................................................................... 186
Patologias do líquido amniótico .................................. 78 Morte encefálica ........................................................ 188
Trabalho de parto pré-termo ...................................... 81 Síndrome coronariana aguda ..................................... 190
Distócias ...................................................................... 86 Acesso venoso central ............................................... 193
Manejo da hemorragia puerperal ............................... 91 Paracentese ............................................................... 197
Tromboflebite pélvica séptica ..................................... 94 Toracocentese ........................................................... 199
Morbidade febril puerperal ......................................... 95 Drenagem de tórax .................................................... 202
Parto cesáreo .............................................................. 97 Hemorragia digestiva alta .......................................... 204
Restrição de crescimento intrauterino ...................... 102 Hemorragia digestiva baixa ........................................ 207
Anticoncepção no puerpério ..................................... 107 Insuficiência cardíaca aguda ...................................... 209
Parto fórceps ............................................................. 108 Tromboembolismo pulmonar .................................... 212
SAAF e LES ................................................................. 110 Cetoacidose diabética ................................................ 217
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Estado Hiperosmolar Hiperglicêmico Não Cetótico ... 219 Hipertireoidismo subclínico ....................................... 354
Síndrome hepatorrenal ............................................. 221 Hiperprolactinemia .................................................... 356
Arritimias cardíacas ................................................... 223 Síndrome de Sheehan ................................................ 357
Insuficiência renal aguda ........................................... 227 Insuficiência adrenal .................................................. 358
Distúrbios ácido-básicos ............................................ 230 Síndrome de Cushing ................................................. 363
Distúrbios hidroeletrolíticos ...................................... 234 Hiperaldosteronismo ................................................. 366
Sepse ......................................................................... 239 Endocardite infecciosa ............................................... 369
Derrame pleural ........................................................ 240 Cuidados paliativos .................................................... 375
Ascite ......................................................................... 242 Delirium ..................................................................... 379
Erisipela ..................................................................... 247 Mini exame do estado mental ................................... 384
Celulite ...................................................................... 250 Síndrome metabólica ................................................. 386
Hipertensão Arterial Sistêmica .................................. 251 Bronquiectasia ........................................................... 390
Doença Renal Crônica ................................................ 255 Neoplasia pulmonar (nódulo solitário) ...................... 391
Litíase renal ............................................................... 268 Pneumoconioses ........................................................ 392
Artrose....................................................................... 271 Asma .......................................................................... 393
Artrite reumátoide .................................................... 273 DPOC .......................................................................... 396
Lúpus Eritematoso Sistêmico .................................... 275 Febre maculosa .......................................................... 399
Síndrome do Anticorpo Anti Fosfolípide.................... 276 Influenza .................................................................... 401
Gota ........................................................................... 277 Síndrome gripal .......................................................... 404
Valvulopatias ............................................................. 278 Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) ............... 405
Insuficiência cardíaca ................................................ 280 Malária ....................................................................... 406
Eletrocardiograma (ECG) ........................................... 282 Leptospirose .............................................................. 407
Drogas anticoagulantes ............................................. 296 Paracococidioidomicose ............................................ 411
Vitaminas................................................................... 297 Dor crônica................................................................. 414
Deficiência de folato e vitamina B12 ......................... 305 Comunicação de más notícias .................................... 418
Encefalopatia de Wernicke ........................................ 313 Osteoporose .............................................................. 419
Trombose Venosa Profunda (TVP)............................. 316
Exame neurológico .................................................... 318
Acidente Vascular Cerebral ....................................... 326
Sono .......................................................................... 327
Cefaleia ...................................................................... 328
Epilepsia .................................................................... 329
Diabetes Mellitus....................................................... 330
Complicações crônicas do diabetes mellitus ............. 340
Hipotireoidismo......................................................... 347
Hipotireoidismo subclínico ........................................ 350
Hipertireoidismo ....................................................... 351
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Propedêutica obstétrica • Naturalidade


A primeira consulta é o contato inicial da gestante com • Procedência
seu obstetra, momento em que serão estabelecidas as Antecedentes clínicos pessoais e familiares
relações de confiança e empatia, e tem como objetivos • Doenças familiares e pessoais: hipertensão,
principais: endocrinopatias, anemias, cardiopatias,
• Definir a condição de saúde da mãe e do pneumopatias, colagenoses, doenças
concepto gastrointestinais, oncológicas, psiquiátricas etc.
• Estimar a idade gestacional Antecedentes ginecológicos e menstruais
• Iniciar o planejamento do acompanhamento • Menarca
pré-natal • Características dos últimos ciclos menstruais:
Nas gestantes de baixo risco, após a realização da periodicidade e duração
primeira consulta, o retorno é agendado para 15 dias • Tratamentos ginecológicos clínicos e cirúrgicos
depois para avaliação dos exames complementares • Contracepção
solicitados. A partir de então, as consultas têm • Data do último exame colpocitológico
periodicidade mensal até 28 semanas, e a cada 2 a 3
História obstétrica atual e pregressa
semanas até 36 semanas. A partir de 36 semanas
• Idade gestacional: utiliza-se a DUM. Em caso de
gestacionais até a ocorrência do parto, o retorno ao pré-
incerteza desta, seguir a datação
natal é semanal.
ultrassonográfica
Na primeira consulta, devem ser discutidos:
IG pelo US Intervalo de erro
• Número e frequência das consultas pré-natais < 9 semanas ±5 dias
• A rotina da consulta pré-natal (aferição do peso 9 semanas a 15 semanas e 6 dias ±7 dias
materno e da pressão arterial, medida da altura 16 semanas a 21 semanas e 6 dias ±10 dias
uterina, ausculta dos batimentos cardíacos 22 semanas a 27 semanas e 6 dias ± 14 dias
fetais, número de ultrassonografias e > 27 semanas e 6 dias ± 21 dias
necessidade de exames vaginais) Considerar o tempo de amenorreia somente se este
• Orientação sobre quando procurar a estiver dentro do intervalo de erro do ultrassom
emergência/pronto-socorro: sinais de alarme de • Data provável do parto (DPP): segundo a regra
trabalho de parto, ausência de movimentação de Näegele, adicionam-se 7 dias ao primeiro dia
fetal, perdas vaginais da última menstruação e subtraem-se 3 meses
Anamnese do mês
• Intercorrências na gestação
• Nome
• Idade materna: a idade materna ideal para a Antecedentes obstétricos
gestação é dos 20 aos 29 anos (maior fertilidade • Elencar o número de gestações e a via de parto
da mulher) (abdominal ou vaginal), a idade gestacional no
o Adolescentes: maior incidência de parto, o peso do recém-nascido, o ano de
anemias, DHEG, prematuridade, baixo ocorrência dos eventos obstétricos, a idade do(s)
peso ao nascer e desproporção filho(s) e as intercorrências clínicas e obstétricas
cefalopélvica • Abortamento: avaliar se o evento foi precoce ou
o Acima dos 35 anos: maior incidência de tardio, espontâneo ou intencional, e se houve
malformações fetais e aneuploidias necessidade de intervenção (curetagem uterina
• Etnia: raça negra está mais associada a pré- ou aspiração manual intrauterina)
eclâmpsia • Gestação ectópica
• Estado civil • Mola hidatiforme: tipo de mola (parcial ou
• Profissão completa) e se houve necessidade de
• Nacionalidade quimioterapia para neoplasia trofoblástica
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• Paridade: número total de gestações e a lesões sexualmente transmissíveis e secreções


discriminação dentre elas de quais evoluíram patológicas; no toque, avaliam-se comprimento,
além da fase de abortamento, ou seja, para além consistência e dilatação do colo uterino
de 20 semanas gestacionais • Mamas: alterações patológicas e preparo para
o Nuligesta: mulher que nunca engravidou amamentação
e não está grávida no momento • Palpação obstétrica: visa o reconhecimento do
o Primigesta: se encontra atualmente na feto, sua situação, apresentação e posição
primeira gestação
o Multigesta: mulher a partir da segunda Manobras de Leopold-Zweifel
gestação, seja ela atual ou já pregressa Primeiro tempo: exploração do fundo uterino
o Nulípara: nenhuma de suas gravidezes • Procura-se reconhecer o contorno do fundo do
ultrapassou 20 semanas útero e a parte fetal que o ocupa, sendo na
o Primípara: apenas uma gravidez além de maioria das vezes o polo pélvico
20 semanas
Segundo tempo: exploração do dorso fetal
o Multípara: duas ou mais gravidezes além
• Procura-se sentir o dorso fetal e as pequenas
de 20 semanas
partes ou membros
Informações e riscos psicossociais • Quando o dorso está à esquerda, o feto está à
• Reconhecer as marcas e características do esquerda e vice-versa
abuso: hematomas, lesões não usuais, Terceiro tempo: exploração da mobilidade
depressão, início tardio do pré-natal etc.
• Visa a exploração da mobilidade do polo que se
• Gestação programada ou não apresenta em relação ao estreito superior.
• Barreiras potenciais para o pré-natal: dificuldade Procura-se apreender o polo entre o polegar e o
de comunicação, transporte inacessível, dedo médio da mão direita, imprimindo-lhe
dificuldades de deixar os filhos, movimento de lateralidade que indicam o grau
constrangimentos financeiros e ausência de de penetração na apresentação na bacia
licenças profissionais • Quando ela está alta e móvel, esse polo balança
• Ambiente familiar: estável ou instável, saúde
mental do casal, nível de estresse, tabagismo, Quarto tempo: exploração da escava
etilismo ou uso de drogas ilícitas • O examinador volta suas costas para a cabeça da
paciente, colocando as mãos sobre as fossas
Exame físico ilíacas
Primeira consulta
Consultas de acompanhamento
Geral
• Rotineiramente, nas consultas de
• Inspeção geral da pele acompanhamento avaliam-se peso materno,
• Verificação de mucosas pressão arterial e altura uterina e realiza-se
• Temperatura ausculta dos batimentos cardíacos fetais
• Peso e estatura • Exame dos demais sistemas, especular e toque:
• Ausculta cardíaca e respiratória realizados diante de alguma queixa

Exame obstétrico Exames laboratoriais


• Medida da altura uterina: entre a sínfise púbica Solicita-se na primeira consulta o perfil pré-natal, que
e o fundo uterino inclui:
• Ausculta dos batimentos cardíacos fetais:
• Tipo sanguíneo ABO e fator RhD: se a gestante
possível com o sonar Doppler a partir de 9
for RhD-negativo, solicitar coombs indireto.
semanas. Varia de 110 a 160 bpm
Diante do resultado negativo, o exame é
• Vulva e vagina: inspeção, exame especular com
repetido mensalmente. Se a pesquisa desses
visualização do colo uterino e toque vaginal. No
exame ginecológico, deve-se avaliar possíveis
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anticorpos se mostrar positiva, é seguido o • Entre 24 e 28 semanas de gestação: teste de


protocolo de aloimunização RhD tolerância oral à glicose de 75 g se a glicemia em
• Hemograma: na gravidez, valores menores que jejum na primeira consulta for inferior a 92
11 g/dL de hemoglobina indica anemia mg/dL; ecocardiografia fetal nas pacientes com
• Sorologia para toxoplasmose indicação
o Gestantes suscetíveis (IgG e IgM
negativas):acompanhamento sorológico Ultrassonografia
mensal até 36 semanas e orientações
o Gestantes imunes (IgG positiva e IgM
negativa): não necessitam de repetição
o Infecção aguda (IgM positiva): se a
paciente tiver o resultado positivo no
primeiro trimestre, deve ser realizado o
teste de avidez
• Sorologia para hepatite B: HBsAg
• Sorologia para hepatite C
• Sorologia para sífilis: solicitar VDRL e, se positivo, Principais queixas na gestação
realizar o FTA-ABs para confirmação. Se o FTA- • Náuseas e vômitos: comuns na primeira metade
ABs for negativo, deve-se investigar colagenoses da gestação, provavelmente relacionados à
• Sorologia para vírus da imunodeficiência gonadotrofina coriônica e ao estrogênio.
humana (HIV): diante de resultado negativo, o Recomenda-se fazer refeições pequenas e em
exame é repetido obrigatoriamente no terceiro quantidade fracionadas
trimestre • Lombalgia
• Glicemia em jejum: valores de glicemia em jejum • Varizes: em decorrência do aumento da
abaixo de 92 mg/dL (entre 92 e 125 mg/dL indica compressão das veias cava inferior, femorais e
DMG; 126 mg/dL ou mais indica diabetes prévio) pélvicas pelo útero. Utilizar meias elásticas e
são considerados normais. Nesse caso, fazer repouso com membros suspensos
recomenda-se a aplicação universal do teste de • Doença hemorroidária
tolerância à glicose oral de 75 g (GTT) entre 24 e • Pirose: em geral, são sintomas leves que
28 semanas melhoram com fracionamento das refeições,
o Jejum: < 92 mg/dL evitando a posição muito plana ao deitar e com
o 1 hora após sobrecarga: < 180 mg/ dL uso de antiácidos
o 2 horas após sobrecarga:< 153 mg/d • Obstipação: é muito comum e piora à medida
• Urina tipo I: preferencialmente urina da manhã que a gestação evolui. Não se deve prescrever
• Urocultura: rastreamento da bacteriúria óleos minerais porque eles reduzem a absorção
assintomática, condição que deve ser tratada em de vitaminas lipossolúveis
gestantes • Fadiga e sonolência
• Protoparasitológico de fezes (três amostras) • Cefaleia
• Colpocitologia oncótica (Papanicolaou) • Leucorreia: comumente, as gestantes
• Ultrassonografia desenvolvem aumento do fluxo vaginal não
No acompanhamento do pré-natal, são solicitados os patológico
seguintes exames: • Candidíase vaginal: a gravidez propicia a
proliferação desse patógeno em decorrência da
• Mensalmente: coombs indireto (gestantes RhD- umidade aumentada no meio vaginal, associada
negativo com parceiro RhD-positivo); sorologia à redução do pH vaginal e à alteração da
para toxoplasmose no caso de a gestante imunidade celular
apresentar imunoglobulinas M (IgM) e G (IgG)
negativas

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Mecanismos do parto Posição e variedade de posição


Dá-se o nome de mecanismo de parto ao conjunto de • Posição fetal: relação do dorso fetal com o lado
movimentos e fenômenos ativos e, principalmente, materno. A ausculta dos BCF é melhor no dorso
passivos do feto durante sua passagem pelo canal de • Variedade de posição: complementa a
parto. orientação espacial do concepto ao relacionar
um ponto de referência da apresentação fetal
As contrações uterinas são a força motriz do trabalho de com um ponto de referência ósseo da bacia
parto. materna. É definida por três letras
As apresentações cefálicas fletidas com variedade de o 1ª letra: ponto de referência da
posição anterior, além de mais comuns, são as que apresentação fetal - O (occipício), B
apresentam melhores características para a progressão (bregma), N (naso), M (mento), S (sacro)
dos mecanismos de parto. e A (acrômio)
2ª letra: lado materno para o qual está
Relações uterofetais voltado o ponto de referência fetal
Atitude (posição): D (direita) e E (esquerda)
• Consiste na relação das diversas partes fetais o 3ª letra: variedade de posição, conforme
entre si, sendo na maioria das vezes de flexão o feto esteja voltado para o ponto de
generalizada referência ósseo da bacia materna: A
(anterior), T (transversa), P (posterior ou
púbis), S (sacro)

Apresentação cefálica fletida


• É a mais comum. Em termos gerais, divide-se o
mecanismo de parto em seis tempos

Insinuação
• É definida como a passagem do maior diâmetro
Situação da parte apresentada pelo estreito superior da
• Consiste na relação entre o maior eixo da bacia materna
cavidade uterina e o maior eixo fetal. Essa Descida ou progressão
relação dá origem a três possibilidades de
• É o momento definido pela passagem do polo
situação fetal: longitudinal, transversa e oblíqua
cefálico (ou da apresentação fetal em geral) do
Apresentação estreito superior para o estreito inferior da pelve
• É definida como a região fetal que ocupa a área materna
do estreito superior e nela se vai insinuar • Na prática clínica, usa-se o esquema de De Lee,
• Longitudinal: cefálica ou pélvica, dependendo do com os planos ditos em centímetros, a partir das
polo fetal que ocupa a região inferior do útero espinhas isquiáticas:
o Cefálica: em flexão ou deflexão o Móvel: > -3 cm
▪ 1º grau de deflexão: bregma o Ajustada ou fixada: -3, -2 ou -1 cm
como ponto de referência o Insinuada: 0 cm
(apresentação de bregma) o Fortemente insinuada: + 1, +2 ou +3 cm
▪ 2º grau: glabela (apresentação o Baixa: +4 ou +5 cm (já aflorando na
de fronte) vulva)
▪ 3º grau: mento (apresentação Rotação interna
de face)
• O objetivo da rotação interna é coincidir o
o Pélvicas: nádegas ou joelhos e pés
diâmetro anteroposterior do polo cefálico com o
• Transversas: córmicas (ou de ombro) ou dorsais maior diâmetro da bacia materna

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• Os principais fatores que impedem que essa


rotação ocorra são contrações de baixa
intensidade, ausência de flexão cefálica e fetos
grandes

Desprendimento cefálico
• O desprendimento cefálico ocorre com a descida
final da cabeça fetal em posição occipitopúbica,
até que seja possível a locação do suboccipício
no subpúbis materno

Rotação externa
• A rotação externa da cabeça fetal, também
denominada movimento de restituição, leva o
occipício a voltar-se para o lado materno que
ocupava no interior do canal de parto

Desprendimento do ovoide córmico


• O desprendimento do ovoide córmico
caracteriza-se pela exteriorização das cinturas
escapular e pélvica do feto

Fenômenos plásticos do polo cefálico


• Cavalgamento ósseo: reduz os diâmetros
cefálicos, facilitando a adaptação e a descida da
cabeça fetal pelo canal de parto
• Bossa serossanguínea: é consequente ao
mecanismo de parto e tem valor no diagnóstico
de parto distócico

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Assistência ao parto normal o Posição sentada na cama apoiada em


travesseiros
O trabalho de parto e o parto são processos fisiológicos
o Posição sentada com apoio dos
que culminam com o nascimento. Esse momento deve
antebraços sobre os membros inferiores
ser cercado por vários cuidados, que compreendem a
atenção e o apoio clínico e psicológico não só à Analgesia
parturiente como também aos seus familiares. • A analgesia durante o trabalho de parto deve ter
por objetivo proporcionar conforto à parturiente
Diagnóstico de trabalho de parto
• “A presença de contrações uterinas rítmicas Alimentação e fluidos intravenosos
capazes de promover a dilatação e o • Prefere-se alimentos que produzam poucos
esvaecimento cervical” resíduos, como líquidos adocicados, gelatinas e
• Outra definição importante é: “a presença de sorvetes
contrações uterinas dolorosas acompanhadas • A manutenção rotineira de acesso venoso
de perda de tampão mucoso, rotura precoce de deverá ocorrer apenas em casos em que estão
membranas e/ou esvaecimento cervical” sendo administrados antibióticos, nas induções
de trabalho de parto, nas distócias funcionais e
Avaliação inicial da parturiente
quando se utiliza analgesia
Exame físico inicial
• Exame físico geral: verificação da pressão Prolapso de cordão
arterial, da frequência cardíaca, da temperatura • Prolapso do cordão umbilical ocorre quando o
e do peso cordão umbilical sai do útero antes do feto,
• Exame obstétrico: padrão das contrações sendo mais comum após rotura do saco
uterinas, a palpação obstétrica, o exame vaginal amniótico
e a vitalidade fetal • A manifestação clínica mais comum é a presença
• Avaliação da integridade das membranas de desacelerações variáveis de repetição ou
amnióticas: confirmar com exame especular e, bradicardia
caso estejam rotas, observar se há presença de • Ao exame de toque vaginal, pode-se tocar o
mecônio cordão umbilical prolapsado
• Sangramento vaginal • Após diagnosticar o prolapso de cordão, deve-se
• Colo uterino: dilatação cervical (0 a 10 cm), realizar a cesárea imediatamente
esvaecimento, posição do colo, tipo de
apresentação e altura de De Lee Desacelerações precoces
• Pelve materna: realizar a pelvimetria • Há ocorrência da desaceleração precoce pela
compressão da cabeça fetal secundária às
Exames laboratoriais contrações
• Tipo sanguíneo ABO/fator Rh: verificar se • Na desaceleração precoce, a queda da
durante o pré-natal foram verificados para frequência cardíaca fetal é coincidente com a
profilaxia anti-D no pós-parto contração uterina ou, caso apresente
• Teste rápido para HIV decalagem, será inferior a 15 segundos
• Essas desacelerações não são acompanhadas de
Preparo da paciente hipóxia ou acidose fetal
• Atividades como andar e sentar-se em cadeira
confortável são associadas a maior conforto da Desacelerações tardias
paciente durante o período de dilatação • As desacelerações tardias são causadas por
• Várias posições podem ser escolhidas pela hipoxemia fetal resultante da redução do fluxo
gestante durante o trabalho de parto sanguíneo placentário em feto com baixa
o Posição sentada com apoio sobre reserva de oxigênio, os quais não suportam a
almofada redução do fluxo sanguíneo durante as
contrações uterinas
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• As desacelerações tardias podem ser precedidas Desprendimento do polo cefálico


por taquicardia, uma resposta simpática com • Deve ser lento e gradual, controlando sua saída
vasoconstrição em determinadas regiões que com uma das mãos espalmada e apoiada no
tem por objetivo a proteção de órgãos nobres períneo e a outra favorecendo sua flexão
• As desacelerações tardias iniciam-se após o • Após o desprendimento do polo cefálico,
período de decalagem de 20 a 30 segundos verificar circular de cordão e desfazê-las
• Clinicamente, as desacelerações tardias
associam-se à diminuição do pH fetal e a maior Aspiração de líquido amniótico na orofaringe e na
morbidade e mortalidade perinatal nasofaringe
• Recomenda-se que esse procedimento não seja
Assistência ao segundo período do trabalho de realizado rotineiramente
parto
Cuidados na rotação externa
• Quando a dilatação do colo uterino está
• A rotação externa, em geral, se processa de
completa, pode-se dizer que se iniciou o
forma espontânea; caso não ocorra, pode ser
segundo período do trabalho de parto
guiada pelo obstetra
• As contrações se tornam mais frequentes (2 - 5
contrações/10 minutos), e com maiores Desprendimento do biacromial e do tronco
intensidade e duração • O desprendimento das espáduas deve ser lento.
À medida que progride a expulsão fetal, o
Posição da parturiente
obstetra deve dirigir uma de suas mãos pelo
• Dorso elevado em pelo menos 45°
dorso fetal até conseguir apreender os maléolos
Força expulsiva do recém-nascido
• Esforços expulsivos (puxos) devem ser
Clampeamento do cordão umbilical
encorajados no período expulsivo
• Geralmente ocorre depois de um intervalo de 30
• Orienta-se à paciente que, após inspiração
segundos a 3 minutos após o parto
profunda, realize puxo com duração de
aproximadamente 10 segundos concomitante Assistência ao terceiro período do trabalho de
com a contração uterina parto (dequitação)
Cuidados no parto • Não devem ser realizadas manobras para
Proteção do períneo promover o descolamento da placenta de forma
rápida (risco de inversão uterina)
• Realização de pressão na região perineal,
levando-a ao encontro da apresentação fetal, • Estima-se que a média de tempo necessário para
sem realização de episiotomia a dequitação é de 5 minutos, sendo que ocorre
em até 15 minutos em 90% dos casos
Episiotomia e perineotomia • Assim que a placenta se apresenta no introito
• Episiotomia deve ser realizada de forma restrita, vaginal, solicita-se à mulher que exerça pequena
em casos de sofrimento fetal, parto operatório, pressão abdominal para sua completa expulsão.
distócia de biacromial e nos casos em que exista Nesse momento, roda-se a placenta para que o
risco de lacerações perineais graves (terceiro e desprendimento das membranas seja completo
quarto grau) (manobra de Jacobs)
Características Mediolateral Perineotomia Reparação de lacerações no canal de parto e
Sutura reparadora Média Fácil episiorrafia
dificuldade
Lesão muscular Maior Menor • Lacerações cervicais e vaginais devem ser
Dor no pós-parto Maior Menor suturadas com fio absorvível de curta duração
Resultado estético Pior Melhor • A episiorrafia se inicia com a sutura da mucosa
Risco de lacerações anais Menor Maior vaginal com pontos contínuos ancorados e, em
Sangramento Maior Menor

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seguida, realiza-se a sutura dos músculos e da


pele do períneo, com pontos separados
• As lacerações perineais podem ser classificadas
em:
o Primeiro grau: pele e mucosa
o Segundo grau: pele, mucosa, e músculos
transverso superficial do períneo e
bulbocavemoso
o Terceiro grau: esfíncter externo do ânus
o Quarto grau: esfíncter interno do ânus e
a mucosa retal

Puerpério imediato
• O puerpério imediato compreende a primeira
hora após o parto e tem importância no que
concerne a observação de eventuais
hemorragias. Habitualmente, a infusão de
ocitocina iniciada após a dequitação e o próprio
mecanismo fisiológico da retração uterina (globo
de segurança de Pinard) são suficientes para
conter o sangramento do leito placentário.
Recomenda-se a infusão de vinte unidades de
ocitocina diluídas em 500 mL de soro fisiológico
ou glicosado a 5% nas primeiras 6 horas após a
dequitação

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Atendimento à gestante no pronto ultrassom – é importante realizar o exame


especular antes do toque genital nesses casos
atendimento pois caso for uma placenta prévia próxima ao
Atendimento no Pronto-Atendimento orifício e houver o toque, há risco de maior
As principais queixas obstétricas que trazem a gestante descolamento e, consequentemente, maior
ao pronto atendimento são dor, perdas vaginais e sangramento
ausência de movimentação fetal. o Sangramento: o colo uterino da gestante
é muito sensível, sendo muito comum
• Sangramento pequenos sangramentos, principal-
• Perda de líquido mente quando iniciarem as contrações,
sinais de alerta
• Ausência de movimentação podendo se exteriorizar, juntamente
fetal com o tampão mucoso, algumas rajas de
• Contrações trabalho de parto sangue, sem maiores preocupações.
Quando a gestante chega em trabalho
Anamnese de parto é comum observar o períneo
• Dor: pode ser caracterizada como uma ensanguentado, também sem maiores
contração, lombalgia, hipogástrio/baixo ventre preocupações. O sangramento que
ou cefaleia exige uma maior atenção é o
• Contração: é caracterizada pela paciente por sangramento ativo, independente-
uma dor tipo cólica que se inicia em região mente do volume
lombar com irradiação para o baixo ventre (dor o Tampão mucoso: se assemelha a um
referida, uma vez que, pela fisiologia, a ‘catarro’ inodoro com coloração
contração se inicia no fundo uterino, evoluindo bastante variada, sendo que a perda
para o istmo) e sensação de endurecimento pode ser em um único episódio assim
difuso do abdome, com duração de até 1 minuto como ocorrer durante alguns dias – não
e frequência de 2 a 3 contrações a cada 10 relacionar perda do tampão mucoso
minutos – média de 1 contração a cada 3 com data do parto
minutos – por pelo menos 60 minutos o Urina: habitualmente a gestante perde
• Lombalgia: será necessária a propedêutica para urina, principalmente no final do
infecção do trato urinário – sintomas de ITU e período gestacional e muitas vezes de
Giordano ao exame físico – assim como quando maneira imperceptível, sendo que a
a queixa for do tipo dor em hipogástrio/baixo história típica é de que após urinar e se
ventre, entretanto, este tipo de queixa é levantar do vaso há a sensação de que
esperada principalmente ao final da gestação, algum líquido molhou a roupa íntima,
seja pela insinuação do polo cefálico ou mesmo muitas vezes associado com ideia de
pela abertura que a bacia sofre gradativamente rompimento de bolsa, entretanto, a
• Cefaleia: será necessária a aferição imediata da explicação é que há mudança da
PA, sempre se atentando que, ao se observar angulação da uretra e aumento da
uma pressão elevada, é preconizado a posição pressão sobre a bexiga ao ficar em pé,
de decúbito lateral esquerdo (DLE) para a havendo, então, essa perda residual
gestante por 10 a 15 minutos com posterior o Secreção vaginal: no final da gestação
reavaliação observa-se o aumento da secreção
• Perdas vaginais: se caracterizam por sangue, vaginal, sendo muito comum durante o
tampão mucoso, urina, líquido, leucorreia final da gestação que a gestante note a
fisiológica e leucorreia infecciosa. Quando essa roupa íntima úmida (não encharcada,
queixa aparecer no pronto atendimento é caso em que se suspeita de bolsa rota)
preconizada a realização de exame especular com característica de ‘leite
sem gel, teste de cristalização da perda vaginal ralo/aguado’, inodoro e não pruriginoso
(‘folhas de samambaia’) e, em alguns casos,

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• Diminuição ou ausência de movimentação fetal:


obrigatoriamente realiza-se um exame de
vitalidade fetal – cardiotocografia e/ou
ultrassom. É importante reiterar que no final da
gestação é comum a diminuição da
movimentação fetal, sendo então necessário
tranquilizar a mãe e familiares quanto a queixa.
Habitualmente o feto pode ficar de 4 a 6 horas
sem se mexer, sendo que isso não requer
grandes preocupações, entretanto, caso o feto
fique mais que esse período sem se movimentar,
é orientado que a gestante coma algo doce e
aguarde por mais 1 hora. Se após esse tempo
ainda não houver movimentação, orienta-se que
procure o pronto atendimento para prova de
vitalidade fetal
• Outras queixas: se a gestante vier ao pronto
atendimento queixando-se de outras queixas
como náuseas e vômitos, dor abdominal,
diarreia, febre, entre outras, são caracterizadas
por serem queixas clínicas, as quais exigem uma
história mais detalhada sobre o sintoma para
chegar ao possível diagnóstico

Exame físico obstétrico


• Altura uterina: medida da borda superior da
sínfise púbica ao fundo uterino, utilizando-se fita
métrica
• Manobras de Leopold
• BCF: utilizando-se o sonar doppler – normal de
110 a 160 bpm
• Toque vaginal: posição (anteriorizado,
medializado, posteriorizado), consistência
(firme, média, amolecida), esvaecimento (longo,
médio, curto) e dilatação (fechado - 10 cm)
• Dinâmica fetal: caso a queixa for contração,
realiza-se a dinâmica fetal, a qual caracteriza-se
pela contagem da frequência e duração das
contrações durante 10 minutos, associado à
escuta do BCF
• Exame especular: caso a queixa for de perdas
vaginais, realiza-se o exame especular

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Estudo da bacia Bacia menor


A pelve ou bacia é dividida em pelve maior e menor - essa É dividida nos estreitos superior, médio e inferior
é chamada de bacia obstétrica

O sacro localiza-se entre os dois ossos ilíacos e se articula


com eles por meio da articulação sacroilíaca. Juntamente
à vértebra L5, constitui o ângulo sacrovertebral, cujo
vértice é denominado promontório sacral

Estreito superior (a)


Abrange a área do promontório à borda superior da
sínfise púbica. Apresenta dois diâmetros
anteroposteriores, dois diâmetros transversos e dois
oblíquos

• Diâmetro promontossuprapúbico (conjugata


Diâmetros da bacia vera anatômica): com menor interesse
• Do ponto de vista obstétrico, para a avaliação da obstétrico, é traçado do promontório até a
via de parto é necessário apenas o borda superior da sínfise púbica
conhecimento das dimensões da bacia menor • Diâmetro promontopúbico mínimo (conjugata
vera obstétrica): de maior interesse obstétrico, é
Bacia maior traçado do promontório ao ponto
No estudo da bacia maior, consideram-se os diâmetros retrossinfisário de Crouzat, situado 3 a 4 mm
transverso e anteroposterior: abaixo da borda superior da sínfise púbica
• Diâmetros transversos: o diâmetro biespinha • Primeiro diâmetro oblíquo: parte da eminência
estende- se da espinha ilíaca anterossuperior de ileopectínea esquerda
um lado à do lado oposto; o diâmetro bicrista vai • Segundo diâmetro oblíquo: sai da eminência
do ponto mais alto da crista ilíaca de um lado até ileopectínea direita
o lado oposto Estreito médio (c)
• Diâmetro anteroposterior: o diâmetro É delimitado pela área entre as vértebras S4 e S5 até a
sacropúbico externo, ou conjugata externa margem inferior da sínfise púbica. Dois diâmetros devem
(diâmetro de Baudelocque), estende-se da ser citados:
fosseta situada abaixo do processo espinhoso da
última vértebra lombar (L5) até a borda superior
da sínfise púbica

• Diâmetro sacromediopúbico (anteroposterior –


b): vai do meio da concavidade do osso sacro
(S4/S5) até o meio da face posterior da sínfise
púbica

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• Diâmetro bi-isquiático (transverso): se estende


de uma espinha isquiática à outra, mede 10,5 cm
e é o ponto de maior estreitamento do canal de
parto

Estreito inferior (d)


É delimitado pela área da ponta do cóccix até a borda
inferior da sínfise púbica

• Diâmetro sagital posterior: traçado da ponta do Exame clínico da bacia obstétrica


cóccix ao meio do diâmetro bituberoso • Basicamente, o exame da bacia se resume à
• Diâmetro cóccix-subpúbico: se estende da ponta avaliação dos diâmetros (pelvimetria) e da
do cóccix à borda inferior da sínfise morfologia pélvica (pelvigrafia)
• Diâmetro transverso (bituberoso): se situa entre • A avaliação clínica da bacia por meio de toque
as duas faces internas da tuberosidade isquiática ginecológico deve ser efetuada de preferência
no final do pré-natal, já próximo do termo
Tipos de bacia
Há quatro tipos de bacia, classificados com base na
forma do estreito superior:

o Ginecoide
o Antropoide (negras)
o Androide
o Platipeloide
• A raça, as condições socioeconômicas, a
atividade física, as características nutricionais da
infância e da adolescência, além de o habitat
interferem na formação da bacia
• As mulheres urbanas têm uma tendência maior
a bacias ovaladas, ao passo que as campestres
têm tendência a bacias arredondadas

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Contratilidade uterina miometriais comprimem os vasos que as


atravessam, garantindo a hemostasia local (o
Chegada a hora do parto, o útero, que é o continente
que caracteriza clinicamente o chamado "globo
para o feto e seus anexos, tem a função de fazer
de segurança de Pinard")
progredir o produto da concepção por meio de suas
• Tonicidade: é representada pela pressão
contrações.
intrauterina no intervalo de duas contrações
Fisiologia das contrações uterinas unidade • Contratilidade: o útero apresenta atividade
contrátil miometrial contrátil durante toda a gestação. Essas
• A contração uterina é influenciada por três contrações são de dois tipos: de alta frequência
sistemas reguladores: e baixa amplitude (tipo A) e de alta amplitude
o Cálcio: promove a contração (contrações de Braxton Hicks ou tipo B)
o Calmodulina: promove a contração
o Monofosfato de adenosina cídico (AMP
cíclico): impede a contração
• Esses três sistemas reguladores respondem a
ações hormonais e a agentes farmacológicos:
o A progesterona, principal hormônio da
gravidez, eleva o limiar de excitabilidade
da fibra miometrial e torna o útero
quiescente
o De forma inversa, as prostaglandinas
também modulam o fluxo de cálcio e
favorece a contração das fibras
• As células musculares comunicam-se umas com
as outras via conexões proteicas denominadas
gap junctions (conexinas). O estrógeno é o Contrações no ciclo gravídico-puerperal
principal responsável pelo aumento da contrações uterinas durante a gestação
concentração das proteínas de conexão
• Durante a gestação, o miométrio apresenta
Características miometriais crescimento constante e, em virtude do
• Sensibilidade dolorosa: é discreta no colo e no bloqueio progestagênico, há baixa frequência de
corpo uterino. A queixa dolorosa relatada na contrações
cesárea se deve ao manuseio do peritônio. • Nas últimas semanas de gravidez, as contrações
Durante o parto por via vaginal, ela coincide com de Braxton Hicks apresentam frequência maior
a contração e resulta da projeção da e, em consequência disso, ocorrem distensão do
apresentação fetal contra o segmento inferior e segmento inferior do útero e pequeno grau de
da compressão dos órgãos vizinhos encurtamento cervical, o que justifica a
• Excitabilidade: as fibras miometriais podem ser percepção de diminuição do volume do abdome
excitadas nessa fase (queda do ventre)
• Elasticidade: a capacidade elástica do miométrio
Contrações uterinas durante o parto
é representada pelas características de
• O início do trabalho de parto é considerado
extensibilidade (adaptação da parede
quando a dilatação atinge 2 cm, estando a
miometrial às alterações do conteúdo uterino ao
atividade uterina compreendida entre 80 e 120
longo da gestação e, principalmente, no trabalho
Unidades Montevidéu. As contrações uterinas se
de parto) e retratilidade (encurtamento das
iniciam na parte superior do útero, local em que
fibras contráteis miometriais (com aumento de
são mais intensas, e se propagam com
sua espessura), mantendo-se praticamente
intensidade decrescente pelo corpo do útero até
inalterado o tônus uterino). Depois da
dequitação, em razão da retratilidade, as fibras
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atingir o segmento inferior (tríplice gradiente ocorre diminuição da concentração de


descendente) progesterona, o parto é deflagrado
• Durante a fase de dilatação, a frequência das
Teoria prostaglandínica
contrações uterinas é de duas a três em 10
minutos, com intensidade de aproximadamente • A COX-2 é responsável pela liberação de
30 mmHg; já no período expulsivo, pode chegar prostaglandinas pelas membranas fetais, as
a cinco contrações em 10 minutos, com quais têm efeito estimulador das contrações
intensidade de 50 mmHg. Nessa fase, soma-se às Teoria fetal
contrações uterinas os puxos • O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal do concepto
Contrações uterinas no puerpério se relaciona com o trabalho de parto e este é
precedido por um incremento na síntese de
• Após a expulsão fetal, o útero continua a
estrógeno, com consequente diminuição na
apresentar contrações rítmicas, mas indolores,
concentração sérica de progesterona.
cuja função é propiciar a dequitação fisiológica e
Entretanto, na espécie humana não é evidências
hemostasia (globo de segurança de Pinard)
da presença desse mecanismo
• Decorridas as primeiras 12 horas após o parto, as
contrações reduzem progressivamente
• Durante as mamadas, a sucção do leite
determina a liberação de ocitocina, o que causa
aumento na frequência das contrações e
ocasionalmente pode provocar desconforto na
puérpera (dor de tortos)

Determinismo do parto
• Na primeira metade da gestação, o útero se
expande por hiperplasia e hipertrofia celular,
ocorrendo em seguida acomodação da unidade
fetoplacentária e crescimento contínuo por
estiramento do miométrio

Teoria ocitócica
• A ocitocina, ao se ligar a um receptor de
membrana nas células miometriais, deflagra
contrações uterinas
• Sua concentração sérica é máxima por volta da
36ª semana de gestação e não declina até o
parto. Entretanto, sua eficácia maior ocorre em
uma fase mais avançada do trabalho de parto,
devido ao número aumentado de receptores
• O acetato de atosibana é um bloqueador dos
receptores da ocitocina

Teoria da gangorra
• A teoria da gangorra afirma que o parto ocorre
em virtude do estiramento miometrial crescente
determinado pelo crescimento do concepto
• A distensão excessiva da fibra muscular leva à
sua contração reflexa. Ela é inibida pela alta
concentração de progesterona que mantém o
útero refratário às contrações. Uma vez que
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Alterações fisiológicas no organismo Coagulação


• Os níveis plaquetários estão discretamente
materno reduzidos na gravidez normal, sendo parte deste
O organismo da mulher sofre mudanças anatômicas e evento por conta da hemodiluição, mas também
funcionais durante a gravidez, nas mais variadas esferas há consumo plaquetário (coagulação
– molecular, bioquímica, hormonal, celular e tecidual – intravascular no leito uteroplacentário)
para, enfim, reorganizar a função de todos os órgãos e • Considera-se plaquetopenia na gestação
sistemas de forma harmônica, tornando-se capaz de contagem inferior ou igual a 100.000/mm3
redefinir um novo equilíbrio adaptativo para a presença
do feto em desenvolvimento. Metabolismo do ferro
• As necessidades de ferro durante o ciclo
Adaptações hematológicas gravídico-puerperal aumentam, pois há
• O volume sanguíneo materno aumenta consumo pela unidade fetoplacentária,
consideravelmente durante a gravidez, utilização para produção de hemoglobina e
atingindo valores 30 a 50% maiores do que os mioglobina, e depleção por meio de perdas
níveis pré-gestacionais sanguíneas e do aleitamento
• O papel da hipervolemia no organismo materno
está associado ao aumento das necessidades de Adaptações hemodinâmicas
suprimento sanguíneo nos órgãos genitais, em • Na gravidez, o aumento da frequência cardíaca
especial em território uterino e proteção em em conjunto com a elevação do volume sistólico
relação à redução do retorno venoso desencadeia aumento do débito cardíaco.
Débito cardíaco de gestantes normais chega a
Volume sanguíneo e plasmático ser 50% maior que em mulheres não grávidas
• O aumento da volemia materna decorre do
acréscimo de volume plasmático (45 – 50%) e,
em menor proporção, da hiperplasia celular
(33%)
• O aumento relativo da produção de prostaciclina
• O sistema renina-angiotensina-aldosterona tem
ocasiona vasodilatação sistêmica
sua atividade aumentada de forma a suplantar a
• A produção endotelial de óxido nítrico está
ação de mecanismos excretores, sofrendo
aumentada no período gestacional e colabora
aumento da filtração glomerular e de peptídeo
localmente para a vasodilatação periférica
atrial natriurético

Eritrócitos
• Em média, mulheres grávidas possuem 450 mL a
mais de eritrócitos, com maior incremento no • O aumento da pressão venosa nos membros
terceiro trimestre inferiores é justificado pela compressão das
• Considera-se anemia gestacional, em geral, veias pélvicas pelo útero volumoso. Por essa
hemoglobina < 11 g/dl razão, há maior chance de a gestante apresentar
hipotensão, edema, varizes e doença
Leucócitos hemorroidária
• A leucocitose pode estar presente na gravidez • A compressão uterina também pode ocorrer
normal, com valores de leucócitos totais entre sobre vasos maiores, como a veia cava inferior,
5.000 e 14.000/mm3. Durante o parto e o quando a gestante se encontra na posição
puerpério imediato, os valores de leucócitos supina a partir da segunda metade da gravidez
elevam-se de modo significativo, podendo
chegar a 25.000/mm3

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Sistema endócrino e metabolismo Metabolismo dos carboidratos e lípides


Hipófise • Fase anabólica (estrógeno e progesterona):
• Durante a gestação normal, a hipófise aumenta observa-se redução da glicemia de jejum e da
de tamanho, em especial os lactótrofos, geradas glicemia basal materna às custas de
pela ação estimulante do estrógeno armazenamento de gordura, glicogênese
• O beta-hCG, por sua semelhança molecular com hepática e transferência de glicose para o feto
o TSH, estimula a função tireoidiana, que, por • Fase catabólica (hormônio lactogênico
meio de retroalimentação negativa, reduz a placentário): iniciada a partir da segunda
produção e a secreção hipofisária de TSH metade da gravidez, com lipólise,
• Os níveis de hormônio adrenocorticotrófico neoglicogênese e resistência periférica à insulina
(ACTH) aumentam progressivamente, devido à Metabolismo proteico
produção tanto pela hipófise como pela placenta • Existe aumento do balanço nitrogenado
• Em relação à neuro-hipófise, os níveis de materno total com acúmulo de
ocitocina mantêm-se constantes durante a aproximadamente 1 kg de proteína no termo da
gestação, para se elevarem na fase ativa e no gestação
período expulsivo do trabalho de parto
Pele e anexos
Tireoide • Observam-se eventos vasculares da pele e dos
• A regulação da tireoide está evidentemente anexos, como eritema palmar, teleangiectasias,
alterada na gravidez em razão de três hipertricose e aumento de secreção sebácea e
modificações do organismo materno: redução da sudorese
dos níveis séricos de iodo, glicosilação da • A hiperpigmentação da pele da gestante
globulina transportadora de hormônios também está relacionada aos altos níveis de
tireoidianos e estimulação direta dos receptores progesterona, que parecem aumentar a
de TSH pela beta-hCG produção e a secreção do hormônio
Paratireoides melanotrófico da hipófise, induzindo à produção
• O metabolismo do cálcio está sobrecarregado na de melanina, provocando as denominadas
gravidez, pois há drenagem de cálcio e outros cloasmas ou melasmas
elementos maternos para a formação do Sistema esquelético
esqueleto fetal
• As articulações, de modo geral, sofrem processo
• Na lactante, as demandas são ainda maiores, por de embebição gravídica, devido à ação sistêmica
causa do alto teor de cálcio no leite da progesterona e do estrógeno
Adrenais • Nas articulações dos membros inferiores, esse
• Hipercortisolismo: o aumento do cortisol sérico fenômeno pode predispor a gestante a dores
é decorrente da redução de sua excreção e do crônicas, entorses, luxações e até fraturas
aumento de sua meia-vida • Durante a gravidez, observa-se que as
• Hiperaldosteronismo relativo: mantém o articulações da bacia óssea se apresentam com
balanço eletrolítico de sódio, de acordo com as maior elasticidade, aumentando a capacidade
alterações do volume plasmático pélvica e modificando a postura e a
deambulação maternas
Adaptações metabólicas do organismo materno
• Ganho de peso materno decorre, em grande Sistema digestório
parte, do acúmulo de componente hídrico intra • Grande parte das gestantes se queixa de
e extravascular, e em menor proporção, do aumento de apetite (leptina aumentada) e sede
acúmulo de componentes energéticos e (ADH aumentado)
estruturais (carboidratos, lípides e proteínas) • Náuseas e vômitos são ocorrências mais
prevalentes no primeiro trimestre e
desaparecem ao longo da gravidez
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• Estrógeno e progesterona causam relaxamento Istmo e segmento inferior


do esfíncter esofágico inferior e redução de seu • Alteração da consistência do istmo, com
peristaltismo com aumento da incidência de consequente edema e amolecimento do local
refluxo gastroesofágico, causando pirose. Da
mesma forma, a contratilidade da musculatura Colo uterino
lisa do estômago, da vesícula biliar e dos • O colo uterino adquire consistência amolecida
intestinos encontra-se reduzida, gerando • A hipertrofia glandular da endocérvix
empachamento e obstipação desencadeia maior produção de muco, espesso
e viscoso, denominado rolha de Schröeder
Sistema respiratório • Ao fim da gravidez e durante o parto, a cérvix
• Ocorre elevação do volume corrente para suprir passa por processo de colagenólise e
a maior demanda de oxigênio desestruturação do tecido conjuntivo que
• Há sensação de dispneia nas gestantes, que sustenta o arcabouço do colo uterino, na
pode se associar a conscientização da respiração intenção de prepará-lo para esvaecimento e
dilatação
Sistema urinário
• O aumento da volemia em associação com a Vagina
redução da resistência vascular periférica • A hipervascularização local provoca hiperemia e
provoca elevação do fluxo plasmático edema da mucosa vaginal, que torna-se
glomerular, com consequente aceleração do arrouxeada (sinal de Kluge)
ritmo de filtração glomerular • O aumento do diâmetro das artérias vaginais
• Ao contrário do que ocorre em não grávidas, o permite sentir sua pulsação nos fórnices laterais
padrão de excreção urinária é maior à noite, em (sinal de Osiander)
razão do repouso em decúbito, com maior • Ocorre redução do pregueamento mucoso
mobilização dos fluidos extravasculares e menor vaginal, o que garantem a distensão necessária
capacidade de reabsorção de água livre do órgão para formação do canal de parto em
momento oportuno
Sistema nervoso central
• As principais queixas das gestantes, ligadas ao Mamas
sistema nervoso central (SNC), relacionam-se a • A gestante queixa-se com frequência de dor e
discretas alterações de memória e hipersensibilidade mamária já no primeiro
concentração, geralmente no último trimestre, e trimestre e costuma apresentar melhora com o
sonolência (devido à progesterona – depressor decorrer da gravidez
do SNC – e à alcalose respiratória) • A produção hormonal de estrógeno e
progesterona pela unidade placentária e a
Útero produção de prolactina pela hipófise materna
Miométrio promovem o crescimento e o desenvolvimento
• Hiperplasia: ocorre com menor frequência, mamário necessários para o processo de
sendo restrita às primeiras semanas de gestação lactação no pós-parto
• Hipertrofia: é modificação mais intensa, • O mamilo torna-se mais pigmentado e sensível.
aumentando em dez vezes o diâmetro da fibra A papila apresenta-se mais saliente, pois está
muscular com maior capacidade erétil
• Alongamento: ocorre na segunda metade da • A pele das mamas pode apresentar estrias em
gravidez e se relaciona ao estiramento da razão dos elevados níveis de cortisol associados
cavidade uterina pela presença do concepto à distensão local
• A hipervascularização do tecido glandular torna
Vascularização e inervação
visível a rede venosa sob a pele, chamada de
• No início da gravidez, o útero recebe 3 a 6% do
rede de Haller
débito cardíaco; no termo, a proporção é de
cerca de 12%
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Alterações imunológicas

• O feto é um tecido “estranho” que é


repetidamente enxertado e tolerado nos
mamíferos, mesmo apresentando MHC
paternos e antígenos de histocompatibilidade
menores diferentes daqueles da mãe
• Por alguma razão, o feto não é reconhecido
como estranho. A camada externa da placenta, a
interface entre os tecidos fetais e maternos, é o
trofoblasto. Esse não expressa as proteínas
clássicas do MHC de classes I e II, tornando-se
resistente ao reconhecimento e ao ataque pelas
células T maternas
• Os tecidos que não possuem a expressão da
classe I são, entretanto, vulneráveis ao ataque
por células NK. O trofoblasto pode ser protegido
do ataque pelas células NK por meio da
expressão de uma molécula HLA de classe I – a
HLA-G, que se liga a receptores NK e inibe a
morte pelas células NK
• A placenta também pode sequestrar o feto das
células T da mãe por um mecanismo ativo de
retirada de nutrientes. A enzima indolamina 2,3-
dioxigenase (IDO) é expressa em altos níveis por
células na interface mãe-feto. Essa enzima
cataboliza e, portanto, elimina, o aminoácido
essencial triptofano nesse local, e células T que
não têm acesso ao triptofano mostram resposta
reduzida
• Outro fator que pode contribuir para a
tolerância materna ao feto é a secreção de
citocinas na interface materno-fetal. Tanto o
epitélio uterino quanto o trofoblasto secretam
citocinas, incluindo o TGF-β, a IL-4 e a IL-10. Esse
padrão de citocinas tende a suprimir as
respostas TH1

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Síndrome TORCH-Z de 12 semanas. Pode permanecer detectável por


até 1 ano
Toxoplasmose • IgG: infecção pregressa. Surge após duas
No caso da gestante, a importância se dá pela semanas de infecção
possibilidade de transmissão ao feto (toxoplasmose o Alta avidez: infecção crônica, há mais de
congênita). 4 meses, em média
Transmissão o Baixa avidez: diz que a infecção pode ter
ocorrido nos três meses anteriores
• Ingestão de oocistos em água e alimentos
contaminados (vegetais, frutas) ou ingestão de • PCR: diagnóstico de infecção fetal pelo líquido
cistos em carnes cruas/malcozidas e em locais amniótico
em que eventualmente possa haver fezes de Diagnóstico
felinos (terra, areia)
• A infecção ao feto se dá pela transmissão
transplacentária

Sintomas
A maioria das pacientes não tem sintomas, mas, quando
presentes, são principalmente:

• Linfonodomegalia
• Adinamia
• Mialgia
• Febre
• Cefaleia
• Hepatomegalia
• Artralgia

Risco na gestação
• A infecção fetal pode causar:
o RCIU
o Morte fetal
o Prematuridade
o Microcefalia
o Lesões oculares
o Hidrocefalia
o Calcificações cerebrais
o Hepatoesplenomegalia
o Polidrâmnio
o Hidropsia fetal Conduta
• Gestante que contrai o protozoário no início da Gestantes imunes (IgG reagente e IgM não reagente)
gravidez (até 24 semanas) costuma ter infecção • Apresentam anticorpos e devem seguir o pré-
menos frequente, mas está sujeita a maior risco natal de rotina
de abortamento ou sequelas graves Gestantes susceptíveis (IgG e IgM não reagentes)
• No final da gravidez, a infecção é mais comum e • Orientações para evitar a doença e repetir a
o acometimento mais comum é oftalmológico sorologia bimensalmente ou em cada trimestre
Sorologia até o final da gravidez
• IgM: infecção aguda, surge após uma semana do o Não ingerir carnes cruas ou malcozidas
contato, desaparecendo, geralmente, em torno o A água deve ser tratada ou fervida
o Lavar frutas e verduras adequadamente
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o Evitar contato com qualquer material Tratamento


que possa estar contaminado com fezes • Espiramicina
de gatos; como solo, gramados e caixas
de areia

Gestantes com IgG não reagente e IgM reagente (IgG – e


IgM+)
• Existem duas possibilidades: falso positivo ou
infecção aguda muito recente
• Essas gestantes devem receber espiramicina na
dose de 3,0 gramas ao dia e repetir a sorologia
em 2 a 3 semanas
o Falso negativo: a nova sorologia
demonstra IgG não reagente e IgM
reagente. Suspender a espiramicina
o Infecção aguda recente: há
aparecimento de IgG. Mantém-se a
espiramicina e deve realizar a pesquisa
da infecção fetal após 18 semanas de
gestação

Gestantes com IgG reagente e IgM reagente (IgG+ e


IgM+)
• Indica possível infecção aguda
• Há necessidade de testes confirmatórios como
avidez de IgG, avaliação seriada dos títulos de
IgG ou outros ensaios de pesquisa de IgM como
ELISA de captura ou imunofluorescência indireta
• Recomenda-se o início imediato da profilaxia da
transmissão vertical com espiramicina, na dose
de 3,0 g, até descartar o caso e, se isso não for
possível, deve-se mantê-la até o final da gravidez
o Títulos de IgG estáveis ou decrescentes:
manter espiramicina
o Títulos crescentes: pesquisa de infecção
fetal
Rubéola
Pesquisa da infecção fetal
Geralmente, apresenta-se como uma infecção leve ou
• Amniocentese (PCR): indicada nos casos de assintomática em adultos ou crianças.
soroconversão diagnosticada na repetição da
sorologia, na presença de quadro clínico Quando a infecção acomete gestantes, especialmente
materno com confirmação pela sorologia, casos durante o primeiro trimestre, pode resultar em
com alterações ultrassonográficas sugestivas de abortamento, óbito fetal ou na Síndrome da Rubéola
toxoplasmose congênita e nos casos com Congênita.
provável infecção aguda na gravidez
Tríade clássica: catarata, cardiopatia, surdez congênita.
• Resultado positivo: feto infectado – realizar
tratamento com sulfadiazina, pirimetamina e A reinfecção com rubéola pode ocorrer, tanto com
ácido folínico até o final da gestação, imunidade naturalmente adquirida quanto pela
intercalando tratamento tríplice por 3 semanas vacinação.
e espiramicina por 3 semanas
22
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Transmissão Citomegalovírus
• É transmitido por via respiratória e via O citomegalovírus (CMV) é um dos agentes etiológicos
hematogênica mais comuns entre os causadores de infecção congênita
• O período de incubação é de duas a três semanas e perinatal.
e o contágio pode acontecer um ou dois dias
Sua transmissão ocorre pelo contato com sangue, saliva,
antes da erupção cutânea e até uma semana
urina ou por contato sexual com pessoas infectadas.
após
• O RV atravessa a barreira placentária quando Quadro clínico
infecta a gestante e dissemina-se nos tecidos • A infecção primária em adultos, geralmente, é
fetais. Quanto mais próximo da concepção, assintomática, mas podem ocorrer febre, mal-
maior é o dano produzido estar, mialgia e calafrios, além de leucocitose,
linfocitose e testes de função hepática anormais
Fisiopatologia
• Dos fetos com infecção congênita decorrente de
• O vírus da rubéola, por sua habilidade de inibir o
infecção primária materna, 10% a 15%
crescimento e a maturação celular, altera o
apresentam sinais e sintomas ao nascimento,
crescimento e desenvolvimento de todos os
sendo as manifestações clínicas mais comuns
sistemas do organismo
hepatoesplenomegalia, cardiomegalia, derrame
• Os efeitos citolíticos e citopáticos do vírus
pericárdico e/ou pleural, calcificações
promovem congestão hepática, pneumonia,
intracranianas periventriculares, hidropsia,
nefrite, acometimento linfonodal, miocardite,
ventriculomegalia, microcefalia, coriorretinite e
edema e infiltrado inflamatório nos neurônios
perda auditiva
do córtex cerebral (possui neurotropismo)
• O acometimento ocular dá-se pela infecção das Epidemiologia
células epiteliais do corpo ciliar e das glândulas • Promiscuidade, citologia cervicovaginal
lacrimais, resultando em catarata congênita alterada, 1ª gravidez antes dos 15 anos,
• O acometimento da cóclea no seu período de multiparidade e antecedente de DST são fatores
desenvolvimento produz a surdez comumente associados a aumento de risco para
neurossensorial citomegalovirose
• No quadro agudo de infecção primária, a
Diagnóstico
transmissão vertical para o feto pode ocorrer em
• Diante de suspeita clínica ou laboratorial da
40% a 50% dos casos
infecção na mãe (por sorologia IgM e IgG), deve-
se pesquisar comprometimento fetal Diagnóstico
o Isso pode ser feito diretamente por • O diagnóstico de CMV congênito pode ser obtido
pesquisa de vírus no feto (amniocentese pela sorologia compatível com infecção primária
para detectar RT-PCR viral ou ou recorrente materna, mas, principalmente,
cordocentese para identificar IgM no após a detecção de achados ultrassonográficos
sangue fetal) ou, indiretamente, por fetais sugestivos da infecção:
achados ultrassonográficos (alterações, o SNC: ventriculomegalia, calcificações
cerebrais, microcefalia, cardiopatias intracranianas e microcefalia
congênitas, RCIU etc.) o Coração: cardiomegalia, derrame
pericárdico
Tratamento
o Abdome: hepatomegalia, espleno-
• A gestante deve ser acompanhada em serviço
megalia, calcificações parenquimatosas,
especializado de medicina fetal
ascite, intestino hiperecogênico
• Deve haver vigilância atenta da vitalidade fetal,
o Placenta/líquido amniótico: placento-
por meio dos métodos de avaliação de vitalidade
megalia, placenta pequena, oligoâmnio,
ultrassonográficos e não ultrassonográficos.
polidrâmnio

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Outros: restrição de crescimento fetal, endovenosa, em dose unimensal, até o termo da


hidropsia fetal gravidez (alto custo)
• A infecção primária materna é definida pela
soroconversão de IgM anti-CMV, detectada pelo Herpes vírus
teste Elisa ou pela presença de IgG anti-CMV em O herpes genital é uma das mais frequentes infecções
pacientes com sorologia IgG e IgM negativas sexualmente transmissíveis (IST).
antes da gravidez Essa infecção é causada pelo herpes simples vírus (HSV),
• O diagnóstico da recorrência da infecção é que provoca lesões na pele e nas mucosas dos órgãos
suspeito quando há aumento dos títulos de IgG genitais masculinos e femininos
anti-CMV ou nova soroconversão de IgM, na
presença de IgG reagente previamente Durante a gravidez, recomenda-se profilaxia antiviral
• A observação de sinais ultrassonográficos de com aciclovir a partir das 36 semanas de gestação até o
infecção fetal é fato extremamente importante parto em mulheres com história de herpes genital.
para a indicação da amniocentese para a A cesariana eletiva deve ser realizada em pacientes que
realização da PCR apresentem lesões ativas no momento do parto, para
Tratamento reduzir o risco de herpes neonatal.
• Ganciclovir e foscarnet Quadro clínico
o Essas drogas causam efeitos colaterais, • O surto herpético caracteriza-se pela
em especial a toxicidade renal e apresentação de vesículas na região dos genitais,
pancitopenia, provocadas pelo uso de períneo, nádegas, parte superior das coxas ou
ganciclovir e foscarnet, respectivamente áreas perianais, que costumam ulcerar antes de
• Tem sido proposta a alternativa terapêutica para desaparecer
a gestante com o uso de Imunoglobulina Anti- • Os sintomas da infecção primária podem incluir
CMV específica. Sua administração é feita por via ainda mal-estar, febre ou adenopatia localizada
24
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Os surtos subsequentes, causados pela objetivo diminuir as manifestações da doença ou


reativação do vírus latente, costumam ser mais aumentar o intervalo entre as crises
brandos e indistinguíveis clinicamente o Primoinfecção:
▪ Aciclovir 400 mg 3xd (7 – 14
Fisiopatologia dias)
• O HSV é transmitido através do contato direto da o Recorrente:
mucosa ▪ Aciclovir 400 mg 3xd (5 dias)
• Fatores de risco para a transmissão vertical: o Supressão:
o Tipo de infecção (primária versus ▪ Aciclovir 400 mg 1xd (6 meses)
recorrente)
o Tipo de HSV (HSV-1 vs HSV-2) Zika vírus
o Presença de anticorpo materno Vírus transmitido principalmente pela picada do
o Tipo de parto (cesariana vs parto mosquito Aedes aegypt.
vaginal)
Transmissão vertical e sexual.
o Duração da ruptura da membrana
o Integridade da barreira cutânea Anamnese e exame físico
o Presença de HSV no trato genital • Febre: baixa, pode ser persistente
materno • Artralgia leve
Diagnóstico • Exantema quase sempre presente e manifestado
nas primeiras 24 horas
• O herpes genital manifesta-se por pequenas
vesículas que se agrupam nos genitais • Prurido leve a intenso
masculinos e femininos • Olho vermelho leve ou intenso
• Algumas vezes, as lesões estão presentes dentro Diagnóstico
do meato uretral ou, por contiguidade, podem • Até o quinto dia de sintoma: colher PCR
atingir a região anal e perianal, de onde se sanguíneo
disseminam caso o sistema imunológico esteja • De 5 dias a 3 semanas: PCR urinário
debilitado. As lesões do herpes genital
• Superior a 3 semanas: difícil encontrar partículas
costumam regredir espontaneamente, mesmo
virais pelo PCR
sem tratamento, nos indivíduos
imunocompetentes. Nos imunodeprimidos, Tratamento
incluindo os infectados pelo HIV, as • Sintomático
manifestações clínicas adquirem dimensões
extraordinárias Profilaxia
A melhor forma de evitar a zika é impedindo a
Sintomas proliferação do mosquito. Portanto é essencial:
• Os pródromos caracterizam-se por ardor,
prurido, formigamento e adenomegalia, que • Manter a caixa d’água bem fechada
podem anteceder a erupção cutânea • Não acumular lixo no quintal
• Hiperemia aparece alguns dias após e, depois, • Não deixar água parada em pneus e vasos de
evoluem para vesículas agrupadas, que, depois, plantas, por exemplo
rompem-se formando exulceração dolorosa • Manter o lixo sempre bem fechado
seguida de cicatrização • Não deixar calhas entupidas
• O vírus migra pela raiz nervosa até alojar-se num
gânglio neural, onde permanece quiescente até
a recidiva seguinte

Tratamento
• Não existe ainda tratamento eficaz quanto à
cura da doença; portanto, o tratamento tem por
25
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Sangramentos da segunda metade da Complicações

gestação
Placenta prévia
Classicamente, a placenta prévia é definida como a
presença de tecido placentário que recobre ou está
muito próximo ao orifício interno do colo uterino após
28 semanas.

Classificação
• Placenta prévia: a placenta recobre total ou
parcialmente o orifício interno do colo

• A placenta prévia também está associada a


outras complicações, como restrição do
crescimento fetal (RCF – geralmente associada a
tabagismo), hipóxia, anemia fetal e
malformações fetais (2,5 vezes maior)

Incidência
• A placenta prévia complica cerca de 1 a cada 305
partos

Fatores de risco
• Idade materna avançada
• Paridade: a multiparidade aumenta o risco
• Placenta de inserção baixa: a borda placentária • Gestações múltiplas: a frequência 40% maior
se insere no segmento inferior do útero, não • Número de cesáreas prévias: o risco aumenta
chega a atingir o orifício interno e se localiza em com o número de cesáreas anteriores
um raio de 2 cm de distância desta estrutura • Número de curetagens para abortamentos
anatômica espontâneos ou induzidos
• Tabagismo: duas vezes aumentado
• Outros: cirurgia uterina, uso de cocaína,
mulheres que residem em altitudes elevadas e
feto do sexo masculino

Fisiopatologia
• Qualquer problema que leve à deciduação
deficiente, forçando o ovo a buscar outros locais
para sua oxigenação e nutrição, ou que interfira
no processo de nidação, tornando-a tardia e
provavelmente mais baixa, pode estar
relacionado ao desenvolvimento de placenta
prévia
• A cicatriz uterina, resultante de histerotomias
anteriores, principalmente cesáreas, pode
predispor a uma implantação placentária no
segmento inferior. Com o avanço da gestação,
mais de 90% dessas placentas de inserção baixa
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

identificadas no início da gestação tornam-se • Devem ser solicitados inicialmente a


altas, com aparente "migração" para regiões concentração de hemoglobina e o hematócrito,
mais distantes do colo uterino e do segmento a determinação do tipo sanguíneo e os exames
inferior (diferença de crescimento uterino de avaliação da função renal
inferior e superior) • Quando o sangramento materno não for intenso
(ausência de alteração hemodinâmica materna)
Diagnóstico
em gestações com fetos pré-termo, a conduta
• O diagnóstico de placenta prévia deve sempre
expectante pode ser adotada
ser suspeitado em qualquer gestante com
• Em idade gestacional acima de 37 semanas,
sangramento indolor após 24 semanas
indica-se a interrupção da gestação
Diagnóstico clínico
Conduta expectante
• Sangramento vaginal no final do segundo
• De forma geral, em 50% dos casos o parto pode
trimestre ou início do terceiro
ser postergado por pelo menos 4 semanas
o Indolor
• Gestação no termo: possível realizar parto
o Início súbito
vaginal com placentas de inserção baixa
o Útero de consistência normal e indolor à
• Gestações entre 25 e 34 semanas: administrar
palpação
corticoides para amadurecimento pulmonar
o Contrações uterinas após episódio
fetal, na vigência de hemorragia
hemorrágico
• Gestantes sem histórico de sangramento
• O exame especular pode mostrar colo uterino de
diagnosticadas por US: controle domiciliar,
aspecto normal, evidenciar tampão mucoso
desde que sejam orientadas para abstinência
sanguinolento, coágulo na vagina ou
sexual e repouso relativo; além disso, devem ser
sangramento proveniente da cavidade uterina
capazes de chegar rapidamente ao hospital
• Não realizar toque vaginal em suspeita de
placenta prévia Conduta ativa
• Impõe-se a conduta ativa nos casos de
Ultrassonografia
sangramento materno intenso, vitalidade fetal
• A maioria dos casos de placenta prévia é
alterada, maturidade fetal comprovada ou idade
diagnosticada durante ultrassonografia de rotina
gestacional acima de 37 semanas
em mulheres assintomáticas, em geral durante o
• Está indicada a interrupção da gestação com 37
segundo trimestre
semanas, por cesárea
• O padrão-ouro diagnóstico de placenta prévia é
a ultrassonografia transvaginal Acretismo placentário
• O exame transabdominal pode apresentar falso A expressão "placenta acreta" refere-se a uma placenta
positivo de até 25%, pois requer o enchimento que está aderida de forma anormal ao útero
vesical
• Invade o miométrio: increta
Conduta • Invade a serosa: percreta (pode atingir órgãos
• Realizar ultrassonografia transvaginal em caso adjacentes como bexiga
de hemorragia da segunda metade da gestação
• O toque vaginal é proscrito
• Na presença de sangramento vaginal ou
contrações uterinas, recomenda-se a internação
imediata
• Na vigência de sangramento, deve-se obter
acesso venoso calibroso para administrar
cristaloides e manter a estabilidade
hemodinâmica e o débito urinário

27
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Fatores de risco • Compressão uterina por suturas e pontos


• Cesáreas prévias são os principais hemostáticos
• Outros fatores de risco são: idade materna acima • Antibioticoterapia e ocitocina
de 35 anos, aumento da paridade, defeitos
Conduta ativa
endometriais (síndrome de Asherman) e
• Institui-se cesariana para permitir fácil acesso ao
leiomioma submucoso
feto e amplo campo cirúrgico para
Diagnóstico histerectomia. Dar dose profilática de cefazolina
• Em geral, a primeira manifestação clínica do 2 g (3 g para obesas) em dose única 30-60
acretismo placentário consiste em hemorragia minutos antes do procedimento
profusa, com risco de óbito materno, que ocorre • A incisão recomendada é a mediana
após tentativa de separação da placenta infraumbilical, pois permite a ampliação rápida
• Em casos de placenta percreta, com invasão de da laparotomia, se necessário, com melhor
bexiga, pode haver hematúria durante a exposição da cavidade abdominal
gestação
Descolamento prematuro de placenta
• O exame mais utilizado para o diagnóstico pré-
O descolamento prematuro de placenta (DPP) consiste
natal de acretismo é a ultrassonografia
na separação da placenta normalmente inserida (corpo
Complicações ou fundo do útero) antes da expulsão do feto em
• A hemorragia intensa é a principal complicação, gestação de 20 ou mais semanas completas.
podendo provocar coagulação intravascular
A rotura de vasos maternos na decídua basal está
disseminada (CIVD), síndrome do desconforto
implicada como causa imediata dessa separação.
respiratório do adulto, insuficiência renal,
histerectomia periparto e morte materna O sangue acumulado separa a placenta da decídua
inicialmente por meio de uma fina camada. Esse
Conduta hematoma resultante pode ser pequeno e autolimitado
• Em geral, aceita-se que a histerectomia total (separação parcial), ou pode continuar a dissecar a
abdominal seja o tratamento ideal para os casos interface placenta-decídua, levando à separação quase
de acretismo placentário completa ou completa desta (separação total).
• Em alguns casos, entretanto, pode haver
acretismo apenas focal, e a terapêutica não será Pelo fato de a placenta separada não ser capaz de
tão agressiva manter sua função de troca de gases e nutrientes, o feto
torna-se progressivamente comprometido à medida que
Cateterização por balão esse processo evolui.
• A cateterização por balão pode ser utilizada pelo
radiologista intervencionista para ocluir Morbidade e mortalidade perinatais
temporariamente a aorta ou as artérias ilíacas • O óbito fetal costuma ocorrer quando há
internas, a fim de prevenir a hemorragia durante separação de pelo menos 50% da placenta
o procedimento cirúrgico • Mulheres que apresentam qualquer grau de
descolamento da placenta têm chance maior de
Conduta conservadora óbito fetal, parto prematuro e RCF
• A fim de preservar a fertilidade em alguns casos, • Para os recém-nascidos que sobrevivem, há
vários autores relataram tentativas de manter o maior risco de sequelas neurológicas
útero e evitar a histerectomia
• Embolização das artérias uterinas e extração Fisiopatologia
manual da placenta após um período (por • Na maior parte dos casos estão envolvidas
exemplo, 2 meses) anormalidades vasculares e placentárias,
• Metrotexate incluindo aumento da fragilidade vascular,
• Ressecção do segmento uterino acometido malformações dos vasos ou placentação
anômala

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• A invasão trofoblástica deficiente resulta em Diagnóstico


diminuição do fluxo sanguíneo placentário e em • O diagnóstico de DPP é basicamente clínico,
resposta endotelial anormal a substâncias podendo ser auxiliado pela ultrassonografia e
vasoativas. Esses vasos placentários anormais sugerido por achados da cardiotocografia
estão predispostos à isquemia e à rotura,
levando ao descolamento prematuro da Diagnóstico clínico
placenta • Os sinais e sintomas clássicos do descolamento
prematuro de placenta são:
Fatores de risco o Sangramento vaginal
o Dor súbita e intensa no abdome
o Dor à palpação do útero
o Contrações uterinas (taquissistolia ou
hipertonia)
• A presença dos sinais clássicos de descolamento
prematuro de placenta, com exceção do
sangramento vaginal, pode significar hemorragia
oculta severa (sangue acumulado entre a
placenta e o útero, sem exteriorização pela
vagina)
• No exame físico geral materno, podem-se
encontrar convergência tensional, ou seja,
valores de pressão arterial sistólica e diastólica
mais próximos (observada nas hipertensas por
causa do aumento da pressão arterial diastólica),
estado de pré-choque ou choque hipovolêmico
ou sinais indiretos de coagulação intravascular
disseminada (CIVD), como petéquias, equimoses
• Síndromes hipertensivas: são as condições que e hematomas
apresentam maior associação com o • O exame físico obstétrico pode revelar
descolamento prematuro de placenta. sangramento genital visível externamente,
Infelizmente, o uso de drogas anti-hipertensivas aumento progressivo da altura uterina (nos
não parece reduzir o risco de descolamento casos de sangramento oculto), hipertonia e/ou
prematuro de placenta nos casos de hipertensão hiperatividade uterina, ausculta fetal difícil ou
crônica ausente e bolsa das águas tensa ao toque
• Cesárea prévia: a cicatriz uterina próxima da
Diagnóstico ultrassonográfico
implantação da placenta na parede anterior do
• Sinais ultrassonográficos que podem ser
útero poderia ocasionar perfusão sanguínea
sugestivos de descolamento prematuro de
deficiente com inadequado fluxo de sangue para
placenta incluem visualização do coágulo
os espaços intervilosos, predispondo ao DPP
retroplacentário, elevações da placa coriônica,
• Uso de cocaína: cerca de 10% das gestantes
aumento localizado da espessura placentária e
usuárias de cocaína apresentarão descolamento
imagens compatíveis com coágulos no estômago
prematuro de placenta no terceiro trimestre,
fetal
devido à vasoconstrição aguda causada pela
droga Conduta clínica
• Fatores mecânicos: o trauma abdominal externo • As gestantes com suspeita de descolamento
pode causar rápida compressão/descompressão prematuro de placenta devem ser monitorizadas
na interface placenta-decídua, levando ao DPP avaliando-se cuidadosamente o estado
hemodinâmico materno (pressão arterial,
frequência cardíaca, débito urinário), com
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

imediata estabilização da função cardiovascular,


quando necessária
• Entre os exames laboratoriais iniciais, devem
constar avaliação do hematócrito, contagem de
plaquetas, tipo sanguíneo
• Se o feto está vivo e apresenta viabilidade, a
interrupção deve ser imediata e pela via mais
rápida. Nos casos em que houver
cervicodilatação, recomenda-se a amniotomia
imediata e, em seguida, a gestante deverá ser
encaminhada ao centro obstétrico. A
amniotomia é realizada com o objetivo de
reduzir a pressão intra-amniótica
• Se a paciente se encontra em trabalho de parto,
hemodinamicamente estável, e com
cardiotocografia sem sinais de sofrimento fetal,
pode-se aguardar o parto vaginal
• A cesárea é indicada se a mãe se encontrar
instável, se houver sinais de sofrimento fetal ou
alguma contraindicação ao parto vaginal
• O parto deverá ocorrer dentro de 4 a 6 horas,
sendo a amniotomia conduta obrigatória
• Se as condições maternas estiverem ruins
(hipovolemia, choque, distúrbios hidro-
eletrolíticos, alterações da coagulação), devem-
se corrigir os distúrbios de volemia, anemia e
hipóxia o mais rápido possível, interrompendo a
gestação pela via mais rápida

30
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Partograma o Nos casos de deflexão de primeiro grau,


o bregma passa a ser amplamente
O partograma é uma representação gráfica da evolução
atingível, porém o lambda agora será a
do trabalho de parto, cujo uso se tornou obrigatório em
fontanela de difícil alcance. Desta forma,
toda maternidade a partir de 1994 (OMS).
ao representarmos a deflexão de
A fase latente se inicia com o aparecimento das primeiro grau no partograma, podemos
contrações dolorosas e regulares que provocam o desenhar apenas o bregma, como um
amolecimento e apagamento do colo uterino, porém losango, de onde partem duas linhas: a
com velocidade de dilatação ainda lenta (0,35 cm/h). sutura sagital e a sutura metópica,
representando sua linha de orientação
A fase ativa também é conhecida como trabalho de parto
propriamente dito e inicia-se quando a dilatação atinge
pelo menos 4 cm, de acordo com o Ministério da Saúde
Nesta fase, a dilatação cervical se processa de forma
mais rápida (>1,2 cm/h). É dividida em três períodos: fase
de aceleração (dilatação inicial, com duração de cerca de
uma hora), fase de inclinação máxima (dilatação linear e
rápida) e fase de desaceleração (dilatação em velocidade Interpretação
constante), na qual ocorre normalmente a descida da
• As marcações são iniciadas na fase ativa do
apresentação.
trabalho de parto (a partir de 3/4 cm com duas
Representação ou três contrações eficientes em 10 minutos)
• No modelo de partograma mais utilizado, na o A taxa normal de dilatação do colo varia
parte superior, há um espaço para a marcação em média 1,2 cm/h (primigestas) e 1,5
da dilatação do colo uterino em centímetros, a cm/h (multíparas)
altura e a variedade de posição da apresentação. • Se a dilatação for inferior a 1 cm/h, as marcações
Observamos também que foram traçadas duas irão se aproximar da “linha de alerta”. O alerta
linhas diagonais neste espaço: a da esquerda implica simplesmente a necessidade de uma
corresponde à “linha de alerta” e a da direita à melhor observação clínica. Se houver parada ou
“linha de ação” atraso maior da dilatação, esta ultrapassará a
• Logo abaixo, observamos local para registro da “linha de ação”, indicando a necessidade de
hora do exame, frequência cardíaca fetal, correção do problema (parto disfuncional)
contrações uterinas, estado da bolsa das águas, o As linhas de alerta e de ação servem
administração de medicamento como auxílio na avaliação da evolução
da DILATAÇÃO cervical e não da descida
Variedades de posição da apresentação. Isso não significa
• Na representação da apresentação no necessariamente conduta cirúrgica
partograma geralmente observamos uma esfera
(apresentação cefálica) Distócias
o Na apresentação fletida, o mais Período do parto Distócia diagnosticada
Preparatório Fase latente prolongada
corriqueiro é desenharmos três linhas
Fase ativa prolongada
confluentes: duas linhas representando (prolongamento da fase de dilatação)
as suturas lambdoides (posterior) e uma Dilatatório
Parada secundária da diltação
linha representando a sutura sagital Parto precipitado (taquitócito)
(anterior) Prolongamento da descida
Pélvico
Parada secundária da descida

Fase ativa prolongada


• A dilatação do colo uterino ocorre lentamente,
numa velocidade menor que 1 cm/hora. A curva
31
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

da dilatação ultrapassa a linha de alerta e, às pode-se tentar deambulação,


vezes, a linha de ação amniotomia, analgesia
o Causas: geralmente decorre de
contrações ineficientes (falta de motor),
desproporção cefalopélvica, defeitos
de posição da apresentação
o Conduta: a correção é feita inicialmente
pelo emprego de técnicas humanizadas
de estímulo ao parto normal, por
exemplo, estimulando-se a deambula-
ção e, se necessário, amniotomia,
administração de ocitocina

Distócia de rotação
• É suspeitada quando a cabeça do feto não roda
para OP, permanecendo em variedades de
posição oblíquas ou transversas no período
expulsivo

Parto taquitócico
• É diagnosticado quando a dilatação cervical e a
descida e expulsão do feto ocorrem num
período de quatro horas ou menos. Lacerações
Parada secundária da dilatação do trajeto também são mais frequentes neste
• É diagnosticada por dois toques sucessivos tipo de parto
(intervalo de 2 horas) com dilatação o Causas: pode acontecer em decorrência
permanecendo a mesma, com a mulher em de iatrogenia pela administração
trabalho de parto ativo. Há associação frequente excessiva de ocitocina
com sofrimento fetal agravando o prognóstico o Conduta: neste caso, deve-se suspender
perinatal a infusão de ocitocina até o retorno a
o Causas: a causa principal é a um padrão contratural normal; revisar
desproporção cefalopélvica relativa o canal de parto também é uma medida
(assinclitismo ou deflexão) ou absoluta importante pelo risco de hemorragia
(polo cefálico > bacia)
o Conduta: desproporção céfalo-pélvica
absoluta indica cesárea. Nas relativas,

32
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Parada secundária da descida


Período pélvico prolongado • É diagnosticada por dois toques sucessivos em
• Manifesta-se no partograma com a descida mesma altura e mesma posição cefálica, com
progressiva da apresentação, mas dilatação do colo uterino completa
excessivamente lenta após dilatação completa o Causas: desproporção céfalo-pélvica
o Causas: essa distócia geralmente está o Conduta: cesárea
relacionada à contratilidade uterina
deficiente
o Conduta: sua correção é obtida pela
administração de ocitocina, rotura
artificial da bolsa das águas e, ainda,
pela utilização do fórcipe, desde que
preenchidos os pré-requisitos para sua
aplicação. O Ministério da Saúde (2017)
define como limite de tempo de
período expulsivo para primíparas de
2,5 horas e de 1 hora em multíparas

33
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Indução ao trabalho de parto Valores inferiores ou iguais a 6 denotam que a


maturação cervical não foi completa, com baixa
A indução do trabalho de parto consiste na estimulação
probabilidade de parto vaginal após a indução
de contrações uterinas em paciente fora de trabalho de
parto por meio de métodos específicos e com o objetivo Métodos para maturação cervical
de promover o parto. Os principais métodos são classificados em
Vários são os fatores associados ao sucesso da indução farmacológicos ou mecânicos
do trabalho de parto, destacando-se como • Farmacológicos: prostaglandinas E1 e E2,
características maternas a paridade, a idade, o peso e a relaxina, óxido nítrico e hialuronidase
estatura, e como fatores fetais, o peso e a idade • Mecânicos: balão, laminária e descolamento de
gestacional. Sabe-se, porém, que o mais importante membranas
fator preditor para o sucesso do trabalho de parto é a
maturação cervical. Métodos farmacológicos
• Prostaglandinas: E2 (dinoprostona) ou E1
Indicações (misoprostol)
• A indução do trabalho de parto tem por
indicação situações maternas e fetais nas quais
haja benefício com o término da gestação. As
indicações mais comuns são:
o Rotura prematura de membranas
ovulares (RPMO)
o Pós-datismo
o Fetos grandes para a idade gestacional e
com peso próximo a 4.000 g
(questionável)

Contraindicações
• Gestação múltipla
• Placenta prévia
• Macrossomia fetal
• Sofrimento fetal
• Apresentações anômalas
• Malformações uterinas
• Vício pélvico
• Infecção ativa por herpes genital
• Sorologia positiva para HIV
• Carcinoma cervical invasivo Prostaglandina E2 (dinoprostona)
• A prostaglandina E2 reduz o intervalo entre o
Maturação cervical início da indução e o parto, e pode ser
• É fundamental avaliar a maturação cervical do administrada pelas vias oral, endocervical e
colo uterino. Para isso, utiliza-se o índice de vaginal, sendo os melhores resultados obtidos
Bishop ou a ultrassonografia com o uso endocervical e vaginal
Índice de Bishop • Antes da administração da prostaglandina E2,
0 1 2 3 deve-se avaliar a vitalidade fetal por meio da
Dilatação 0 1-2 cm 3-4 cm 5-6 cm cardiotocografia e do perfil biofísico fetal
Esvaecimento 0-30% 40-50% 60-70% 80%
• Após aplicação da prostaglandina E2, traça-se
Altura da -3 -2 -1 ou 0 +1 ou +2
apresentação cardiotocografia pelo período de 2 horas
Consistência Firme Média Amolecida -
Posição Posterior Medial Anterior -

34
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Prostaglandina E1 (misoprostol) • O agente uterotônico mais utilizado para a


• A apresentação mais comumente utilizada é a indução e a condução do trabalho de parto é a
vaginal, seguida pela oral. A dose de escolha é de ocitocina
25 μg
Administração da ocitocina
• Antes da administração do misoprostol, deve-se
avaliar a vitalidade fetal por meio da • Diluição: 1 ampola (5 UI) diluída em 500 ml de SG
cardiotocografia e do perfil biofísico fetal 5% (solução 10 mUI/ml)
• Após assegurar-se da boa vitalidade do feto, • Infusão: 2 mUI/min (12 ml/h em BIC ou 4
realiza-se a aplicação do misoprostol 25 μg no gotas/min). Aumenta-se 2 mUI/min a cada 15
fórnice vaginal posterior. Em seguida, realiza-se minuto (dose máxima de 32 mUI/min) até atingir
a cardiotocografia pelo período de 2 horas contração adequada
• A dinâmica uterina e o índice de Bishop devem • Durante a infusão contínua, o tempo necessário
ser reavaliados 4 horas depois da administração para resposta da musculatura uterina é de 3 a 5
da primeira dose do medicamento minutos
• Caso a maturação cervical não tenha ocorrido e • A dose máxima de ocitocina tem sido
não se observem contrações uterinas rítmicas, arbitrariamente fixada em valores entre 20 e 40
pode-se aplicar mais uma dose da droga. Pode mUI/min
ser aplicada mais uma dose depois Ocitocina e principais complicações
Métodos mecânicos • Hiperestimulação uterina: a presença de
• O mecanismo de ação de todos os métodos taquissistolia (definida como mais que 5
mecânicos é similar e envolve a liberação de contrações em 10 minutos) e de hipertonia
prostaglandinas. Os principais riscos associados uterina é complicação comum do uso
a esses métodos são infecção, sangramento, inadequado da ocitocina. Caso ocorram,
rotura de membranas e descolamento de suspende-se a droga. Às vezes pode ser
placenta necessário o uso de terbutalina
• Hiponatremia: a semelhança na estrutura da
Dilatadores osmóticos (laminárias) ocitocina e do ADH pode levar à estimulação dos
• Os dilatadores osmóticos são compostos de receptores de ADH nos rins, resultando em
materiais hidrofílicos naturais ou sintéticos que, retenção hídrica e consequente hiponatremia
ao absorver água, aumentam gradativamente de dilucional. Os principais sinais e sintomas são
espessura e promovem dilatação cervical confusão mental, convulsões, coma e
Cateter-balão de Foley transcervical insuficiência cardíaca congestiva
• A utilização transcervical de cateter de Foley • Hipotensão: a ocorrência de hipotensão associa-
alocado próximo ao orifício interno do colo se à utilização de altas doses de ocitocina
uterino, com o balão inflado, é capaz de administrada em bolus
promover a maturação cervical

Descolamento digital de membranas ovulares


• Consiste em toque vaginal no qual, ao se
ultrapassar o orifício interno do colo, realiza-se
movimento circular com o objetivo de separar as
membranas amnióticas da parte inferior do
segmento uterino

Métodos para indução do trabalho de parto


• A indução do trabalho de parto visa promover
contrações uterinas capazes de dilatar o colo do
útero, permitindo que ocorra o parto vaginal
sem que haja sofrimento fetal
35
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

HIV na gestação trabalho de parto prolongado e parto vaginal


operatório
O controle da transmissão vertical relaciona-se à
qualidade do pré-natal, à profilaxia antirretroviral Contraindicação à lactação
periparto e à suspensão do aleitamento materno. • O aleitamento materno se associa a acréscimo
Na assistência pré-natal, é de extrema importância o do risco de transmissão vertical de 7 a 22%,
rastreamento adequado da infecção pelo HIV, para que sendo, portanto, formalmente contraindicado,
medidas profiláticas sejam tomadas a tempo de se inclusive a pacientes com cargas virais
obterem os melhores resultados possíveis. O uso de indetectáveis ou em uso de antirretrovirais
terapia antirretroviral combinada em gestantes
Triagem sorológica e diagnóstico
soropositivas e a manutenção da carga viral abaixo de
• Para diagnóstico, o teste mais difundido é o teste
1.000 cópias/mL não só previnem a transmissão vertical,
rápido, entretanto é menos confiável do que o
como também evitam o aparecimento de infecções
Elisa, sendo que se for possível e houver acesso
oportunistas, que podem levar a complicações
é preferível que o realize, recomendado em 3
obstétricas, como prematuridade.
momentos: no 1º trimestre, começo do 3º
Atualmente a incidência de consultas de pré-natal com trimestre e na maternidade (coincidente com as
gestantes HIV positivo gira de 2 a 4% e as taxas de testagens para sífilis). Ao realizar o Elisa e o
transmissão vertical em gestantes infectadas pelo HIV resultado vier positivo, o diagnóstico é
variam entre 25 e 30% na ausência de medidas confirmado, apesar de que se preconiza a
profiláticas. realização do teste confirmatório
posteriormente – Western-Blot ou Imunoblot
Transmissão vertical • Solicita-se carga viral após diagnóstico ou 1ª
• A transmissão vertical do HIV ocorre em 70% dos consulta de pré-natal, 30 dias após início da
casos durante o período periparto e parto, 10% terapia antirretroviral (TARV) e 34ª semana
durante o pós-parto e amamentação e 20% gestacional para definição de via de parto
durante o período intrauterino, sendo que em • Pacientes com teste de rastreamento negativo
80% dos casos a transmissão vertical ocorre no são consideradas não infectadas e devem colher
último mês ou últimas semanas de gestação, novo teste no último trimestre
pois existe na interface fetomaterna a barreira
placentária, a qual sofre deterioração com o Outros exames complementares
decorrer do período gestacional por • Dosagem de CD4+: para análise de status
‘envelhecimento tecidual’, levando a uma maior imunológico
predisposição de transmissão vertical no final da • PPD a cada trimestre: se PPD ≥ 5 mm, realiza-se
gestação o teste do escarro/baciloscopia, introduzindo
• Nos primeiros meses a transmissão vertical tratamento caso positivo ou profilaxia caso
ocorre em uma frequência baixa, porém com negativo
maiores danos ao feto; em contrapartida, nos • Genotipagem viral: antes de iniciar a TARV ou
últimos meses, a frequência de transmissão quando houver falha virológica. Considera-se
aumenta, entretanto observa-se menos danos falha virológica após início da TARV com 2 cargas
fetais. virais ≥ 1000 cópias/mL, sendo então necessário
• Os principais fatores de risco classicamente a adequação do esquema terapêutica e
associados à transmissão vertical do HIV incluem solicitação da genotipagem viral
carga viral elevada, ausência de tratamento • Fundoscopia: avaliar retinites decorrentes de
com terapia antirretroviral, vaginose, sífilis, uso infecções por toxoplasmose
de drogas ilícitas, relações sexuais sem • Ecocardiograma
preservativo, prematuridade, baixo peso do • Enzimas hepáticas: a depender da classe de
recém-nascido, procedimentos obstétricos antirretroviral em uso e, sem em uso de
invasivos, bolsa rota há mais de 4 horas,

36
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

nevirapina, colher enzimas hepáticas mensais ou Acompanhamento pré-natal


quinzenais • A abordagem inicial da paciente inclui
orientação quanto a riscos de transmissão
Vacinação
vertical e como evitá-la, investigação do status
• Preconiza-se a vacinação de influenza,
sorológico do parceiro, uso de substâncias
pneumococo, meningococo, hepatite A caso
ilícitas, anamnese e exame físico detalhados
existir coinfecção com hepatite B ou C, DTPa e
• Devem ser avaliados: comorbidades, infecções
hepatite B, sendo que no caso da hepatite B se a
oportunistas, tempo de diagnóstico da doença,
paciente não tiver doses anteriores deve-se
uso prévio de terapia antirretroviral ou de outros
vacinar com dose dupla
medicamentos, antecedente obstétrico, uso de
• Contraindica-se vacinas de vírus vivo atenuado,
substâncias e imunizações. As pacientes devem
se CD4+<200 células/mL e durante o último mês
ser orientadas a utilizar preservativo em todas as
devido a transativação heteróloga – desvio da
relações sexuais
resposta imune para os antígenos da vacina com
menor controle da resposta ao HIV, com
consequente resposta de aumento transitório
da carga viral por aproximadamente 4 semanas

Recomendações de terapia antirretroviral em


gestantes

A TARV durante a gestação é composta pela
tríade tenofovir, lamivudina e raltegravir, sendo
indicada para todas as gestantes,
independentemente da carga viral ou da
contagem de CD4+
• No pós-parto/puerpério, com encaminhamento
para o serviço de infectologia, realiza-se a troca
do raltegravir pelo dolutegravir

Parto
• A escolha da via de parto é dependente da carga
viral da paciente
o >1000 cópias/mL indica-se a cesárea
eletiva (não estar em trabalho de parto
e bolsa íntegra) com 38 semanas
associado a zidovudina (AZT) EV 3 a 4
horas antes do ato operatório
o Entre 50 e 1000 cópias/mL, recomenda-
se parto normal associado à zidovudina
o < 50 cópias/mL ou carga viral
indetectável, indica-se parto normal
sem zidovudina
• É preconizado que não se tenha um período
expulsivo prolongado por ser justamente esse
período em que há maior contato do feto com as
secreções maternas, evitando-se o uso de
fórcipe ou vácuo extrator e episiotomia

37
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Isoimunização Rh • Mesmo em quadros menos graves, com a


criança em melhores condições ao nascimento,
Quando uma gestante RhD-negativo é exposta a sangue
podem ocorrer anemia em grau variável e
com células RhD-positivo, frequentemente por conta de
aumento da bilirrubina indireta, a qual
hemorragia feto-materna, ela desenvolve anticorpos
ultrapassa a barreira hematoencefálica, levando
anti-D que atravessam a placenta, resultando na
à impregnação cerebral dos núcleos da base,
destruição de eritrócitos fetais, situação que é
condição denominada kernicterus
denominada doença hemolítica perinatal.

As manifestações clínicas dessa doença variam de Incompatibilidade ABO


anemia fetal leve assintomática, hidropsia fetal com • A incompatibilidade ABO é relativamente
anemia grave e icterícia até óbito fetal. comum, atingindo cerca de 30% das gestações
• A hemólise decorrente dessa forma de
Etiologia incompatibilidade é rara (menor do que 2%) e
• A etiologia da aloimunização RhD é decorrente quando ocorre, é leve, nunca causando anemia
da exposição a antígenos eritrocitários não fetal grave
compatíveis, como na transfusão de sangue
incompatível, uso de drogas intravenosas e Antígenos do sistema RhD
transplante. Porém, a principal causa é a • O antígeno RhD é o mais imunogênico e
ocorrência de hemorragia feto-materna em considerado o de maior importância clínica
gestação de feto RhD-positivo com mãe RhD- • Os principais antígenos do sistema RhD são cinco
negativo - D, C, c, E e e
• A sensibilização ainda pode ocorrer em situações • Os antígenos do grupo RhD podem apresentar
ou procedimentos que provocam hemorragia variações quantitativas (RhD fraco) e qualitativas
feto-materna, como ameaça de abortamento, (RhD parcial) de sua expressão na membrana
descolamento prematuro de placenta, trauma eritrocitária
materno, biópsia de vilosidades coriônicas, o RhD fraco: apresenta poucos sítios
amniocentese, cordocentese, transfusão antigênicos nas hemácias com epítopos
intrauterina e manipulação obstétrica normais – não são candidatas à
• Em todas as situações citadas, é preconizada a profilaxia
administração de imunoglobulina anti-D para o RhD parcial: apresenta número normal
prevenção da aloimunização de sítios antigênicos, porém apresenta
alterações nos epítopos – devem
Fisiopatologia receber imunoglobulina como se
• A aloimunização é causada pela exposição fossem RhD negativas
materna a antígenos eritrocitários não
compatíveis, sendo 98% dos casos relacionados Diagnóstico
aos antígenos ABO e RhD • A primeira etapa no diagnóstico da
• Após exposição primária aos antígenos aloimunização é a solicitação, no início do pré-
eritrocitários desconhecidos, ocorre natal, da tipagem sanguínea
sensibilização por meio da produção inicial de • Caso a gestante seja RhD-negativo na ausência
imunoglobulina M (IgM), que não atravessa a de anti-D, esta deve receber profilaxia contra
barreira placentária. Posteriormente, em uma aloimunização
segunda exposição ao antígeno desconhecido,
ocorre a produção de imunoglobulina G (IgG),
Acompanhamento pré-natal
O acompanhamento das pacientes deve adotar o
que ultrapassa a barreira placentária, aderindo-
seguinte protocolo:
se à membrana dos eritrócitos e ativando o
sistema reticuloendotelial, principalmente no • Nas gestantes não sensibilizadas, deve-se
baço, onde acontecem a hemólise e a fagocitose realizar a pesquisa de anticorpos atípicos

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

mensalmente e a profilaxia com imunoglobulina • Aadministra-se imunoglobulina anti-D para as


anti-D gestantes RhD-negativo; entretanto, a
• Nas gestantes sensibilizadas, sem histórico de imunoglobulina não terá efeito se a gestante já
DHPN, e com títulos anti-D <16, realiza-se a for sensibilizada
determinação mensal dos títulos de anticorpos • A imunoglobulina anti-D deve ser administrada
• Nas gestantes com título de anti-D >16 ou nas seguintes situações, quando o parceiro for
antecedente de DHPN (independente do título RhD-positivo:
de anticorpos), são encaminhadas para setor o Em gestantes RhD-negativo, não
especializado para pesquisa de anemia fetal sensibilizadas, com 28 semanas de
• Todas as pacientes são orientadas a procurar gestação
imediatamente o serviço de pronto- o No pós-parto de recém-nascido RhD-
atendimento em caso de redução da positivo ou D-fraco
movimentação fetal o Em casos de abortamento
o Em gravidez molar
Transfusão intrauterina o Em gestação ectópica
• O primeiro passo na terapêutica fetal para a o Quando ocorre óbito intrauterino
aloimunização é a cordocentese, dando o Após procedimento invasivo (biópsia de
preferência para a punção do cordão na inserção vilosidades coriônicas, amniocentese,
placentária, após 17 semanas cordocentese)
(preferencialmente após 20 semanas), o Nas síndromes hemorrágicas durante a
paralisando o feto com brometo de pancurônio gestação (sangramentos de repetição,
• Dosa-se imediatamente a hemoglobina no placenta prévia), devendo ser repetida a
sangue. Se a hemoglobina estiver abaixo do cada 12 semanas até o parto
normal para a idade gestacional, pode-se o Quando há trauma abdominal
infundir o feto com concentrado de hemácias de o Na realização de versão cefálica externa
sangue RhD-negativo que seja também o Após transfusão de sangue incompatível
compatível com o tipo sanguíneo ABO materno • A imunoglobulina no pós-parto deve ser
administrada preferencialmente até 72 horas
Tratamento adjuvante
• Plasmaférese: o plasma contendo anticorpos é
removido e substituído por plasma, albumina e
solução salina, reduzindo-se assim diretamente
os anticorpos maternos e indiretamente os
anticorpos fetais. Esse procedimento deve ser
realizado entre 12 e 16 semanas de gestação
• lmunoglobulina intravenosa: a imunoglobulina
deve ser administrada antes da presença de
anemia fetal e, nos casos muito graves, pode ser
iniciada ainda em torno de 8 semanas de
gestação
• Parto: o parto é realizado entre 34 e 37 semanas
nos fetos tratados com transfusão intrauterina
ou entre 37 e 40 semanas nos demais casos,
sempre individualizando cada caso

Prevenção
• A aloimunização contra um determinado
antígeno pode ser prevenida pela administração
passiva de anticorpos contra aquele antígeno

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Fases clínicas do parto • O período expulsivo pode durar em média 30


minutos nas multíparas e 60 minutos nas
O parto é caracterizado por contrações das fibras
primíparas
miometriais, cujas principais funções são a dilatação
cervical e a expulsão do feto através do canal de parto. Dequitação
Essas contrações são dolorosas, porém, antes do seu • O útero expele a placenta e as membranas (após
início, o útero sofre modificações fisiológicas e o nascimento do feto)
bioquímicas locais concomitantes ao aumento da • O descolamento placentário ocorre em virtude
frequência de contrações indolores (contrações de da diminuição do volume uterino depois da
Braxton Hicks), até que o verdadeiro trabalho de parto expulsão fetal, associada às contrações uterinas
seja deflagrado. vigorosas e indolores
• A dequitação ocorre entre 10 minutos e 1 hora
O processo fisiológico que regula tais modificações não após o parto. Fisiologicamente, sabe-se que ela
possui um marco bem definido como as fases clínicas do deve ocorrer dentro de 20 a, no máximo, 30
parto, contudo, pode ser dividido em quatro etapas: minutos
• Quiescência (fase 1): relativa ausência de
Primeira hora pós-parto (quarto período de
resposta a agentes que determinam a
contratilidade uterina. Ela se inicia com a Greenberg)
implantação do zigoto e perdura por quase toda • Nesse período, ocorrem a estabilização dos
a gestação sinais vitais maternos e a hemostasia uterina
• Ativação (fase 2): prepara o útero e o canal • Inicia-se imediatamente após a dequitação e
cervical (descida do fundo uterino) para o caracteriza-se pela ocorrência dos fenômenos
trabalho de parto de miotamponamento, de trombotampo-
• Estimulação (fase 3): clinicamente dividida em namento, pela indiferença miouterina e pela
três períodos (dilatação, expulsão e dequitação) contração uterina fixa que a segue
• Involução (fase 4): retorno ao estado pré-
gravídico (puerpério). Seu início ocorre após a
dequitação e é caracterizado por uma contração
persistente que promove a involução uterina

Dilatação
Inicia-se com as primeiras contrações dolorosas, cuja
principal ação é a modificação da cérvix e termina com a
dilatação completa do colo uterino (10 cm) de modo a
permitir a passagem fetal

• Essas modificações abrangem dois fenômenos


distintos: o esvaecimento cervical e a dilatação.
Nas primíparas, primeiro ocorre o esvaecimento
e, depois, a dilatação. Nas multíparas, os eventos
são concomitantes

Expulsão
O feto é expelido do útero através do canal de parto por
meio da ação conjugada das contrações uterinas e das
contrações voluntárias dos músculos abdominais
(puxos). Tem início com a dilatação completa e se
encerra com a saída do feto

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Sangramentos da primeira metade da evidente tireopatia ou com maior incidência de


anticorpos antitireodianos
gestação • Síndrome dos ovários policísticos: maior
Abortamento resistência à insulina, com consequente
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define hiperinsulinemia e elevação do hormônio
abortamento como a expulsão ou extração do feto antes luteinizante, obesidade e hiperandrogenismo
de 20 semanas ou pesando menos de 500 g. Infecções
Classificação • As infecções maternas (bacterianas ou virais)
• Intenção: espontâneo ou induzido (provocado) podem ocasionar abortamento por lesões da
• Cronologia precoce se ocorrer até 12 semanas e decídua, da placenta, das membranas ovulares e
tardio, se ocorrer entre 12 e 20 semanas de do produto conceptual
gestação Causas uterinas
Epidemiologia • Miomas: a localização do mioma é mais
importante que seu tamanho, sendo os miomas
• É a complicação mais frequente da gravidez
intramurais e principalmente os submucosos
• A maioria dos abortamentos ocorre nas
que distorcem a cavidade uterina os mais
primeiras 12 semanas de gravidez e 50 a 80%
relacionados aos casos de abortamento
apresentam alterações cromossômicas, sendo a
• Incompetência cervical: principalmente devido a
mais comum delas a trissomia autossômica (em
traumas (dilatação e curetagem), laceração pós
ordem decrescente de frequência, dos
parto traumático ou pós abortamento,
cromossomos 16, 22, 21, 15, 13, 2 e 14)
amputação ou conização do colo e origem
Etiologia congênita (alteração do colágeno por exposição
Alterações cromossômicas a dietilestilbestrol). O tratamento clássico da
• Trissomia: relacionadas com a idade materna incompetência cervical é a realização da
avançada e com a diminuição ou ausência de cerclagem do colo uterino
recombinação meiótica Malformações uterinas
• Monossomia: geralmente ocorre pela falta de • Defeitos da fusão dos ductos de Müller
um cromossomo sexual paterno, sem relação
com idade materna Fatores imunológicos
• Triploidia: encontra-se associada à mola parcial. • Causas autoimunes: pacientes com doenças
Os fetos triploides podem apresentar defeitos autoimunes apresentam maior probabilidade de
do tubo neural, onfalocele (intestino fora da perda fetal, contudo somente a síndrome
cavidade abdominal), dismorfismo facial, fenda antifosfolípide (SAF) apresenta como critério de
labial e sindactilia. Os abortamentos triploides definição a presença de perda fetal
são geralmente relacionados a cariótipos do
Trombofilias hereditárias
tipo 69,XXY ou 69,XXX, e originam-se da
• Deficiências da antitrombina e das proteínas C e
fecundação por dois espermatozoides
S e as mutações do gene da protrombina e do
(dispermia) ou por um espermatozoide que
fator V de Leiden
duplica seu genoma
• Tetraploidia: é rara Drogas e agentes nocivos
• Tabagismo
Alterações endócrinas
• Álcool
• Diabetes mellitus: maior taxa de abortamento
em mulheres com DM 1 que não estão Trauma
metabolicamente controladas no início da • No início da gestação, o produto conceptual se
gravidez encontra bem protegido dos traumas
• Tireopatias: a incidência de abortamento abdominais e não se pode atribuir o
mostra-se aumentada em pacientes com abortamento a traumas de menor gravidade. No
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

trauma grave, o produto conceptual pode sofrer • No exame físico, dependendo da intensidade da
trauma direto ou, ainda, sofrer consequências hemorragia, pode-se evidenciar anemia,
danosas em função do estado hemodinâmico taquicardia e hipotensão arterial
materno • No exame especular, observa-se sangramento
ativo proveniente do canal cervical, geralmente
Formas clínicas de abortamento
com presença de restos dos produtos da
Ameaça de abortamento concepção. O orifício interno do colouterino
• Caracteriza-se por sangramento vaginal em encontra-se dilatado no exame de toque vaginal
pequena quantidade, acompanhado ou não de
dor em cólica na região hipogástrica Abortamento completo
• No exame ginecológico, o colo uterino encontra- • Quando o abortamento ocorre no primeiro
se fechado e o tamanho do útero é compatível trimestre da gravidez, principalmente nas 10
com o atraso menstrual semanas iniciais, é comum a expulsão completa
• O exame ultrassonográfico evidencia atividade dos produtos da concepção
cardíaca do produto conceptual • Rapidamente, o útero se contrai e o
• A conduta é expectante, devendo haver apenas sangramento, juntamente às cólicas, diminui de
monitoramento da hemorragia intensidade. O orifício interno do colo uterino
tende a fechar-se em poucas horas
Abortamento em curso • É, portanto, caracterizado por ausência de dor,
• É caracterizado clinicamente por sangramento ausência de sangramento ou, se presente,
moderado ou intenso, acompanhado de dor discreto, colo uterino fechado e ausência de
abdominal em cólica, geralmente de forte produto conceptual na USG
intensidade

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Abortamento incompleto • Caracteriza-se pelo sangramento de odor fétido,


• É mais frequente após 10 semanas de gravidez e presença de febre, colo aberto ou fechado e
consiste em expulsão do feto e permanência da presença de cólicas
placenta ou restos placentários
Tratamento
• O sangramento vaginal persiste e, por vezes,
torna-se intermitente Conduta expectante
• Há cólicas em decorrência das contrações na • Costuma haver sucesso no caso de abortamento
tentativa de esvaziar o conteúdo uterino incompleto
• O volume uterino é menor que o esperado para Tratamento medicamentoso
a idade gestacional e, no exame de toque, o • Misoprostol
orifício interno do colo uterino geralmente se • Dose: 800 µg de misoprostol por via vaginal a
encontra pérvio; contudo, algumas vezes pode cada 24 horas, por até 2 dias
se apresentar fechado
• Recomenda que a conduta em caso de < 12 Tratamento cirúrgico
semanas seja a realização de Misoprostol ou • O tratamento clássico para abortamentos, tanto
AMIU, se > 12 semanas orienta a realização da de primeiro quanto de segundo trimestres, é a
curetagem curetagem uterina
• Nas últimas décadas, como tratamento
Aborto retido/gestação anembrionada alternativo à curetagem uterina e à aspiração
• Ocorrência de morte embrionária ou fetal antes elétrica a vácuo, tem-se preconizado a aspiração
de 20 semanas de gravidez, associada à retenção manual intrauterina em casos de abortamento
do produto conceptual por período prolongado de primeiro trimestre
de tempo, por vezes dias ou semanas
• Geralmente, as pacientes relatam cessação dos Gravidez ectópica
sintomas associados à gravidez (náuseas, Denomina-se gravidez ectópica a gestação cuja
vômitos, ingurgitamento mamário) implantação e desenvolvimento do ovo ocorrem fora da
• Geralmente não há sangramento. Pode ocorrer cavidade corporal do útero.
sangramento vaginal, na maioria das vezes em
pequena quantidade, de forma semelhante ao
Epidemiologia
observado nos casos de ameaça de abortamento • A tuba uterina representa o local mais frequente
• Não há BCF de gravidez ectópica (95-98% dos casos)

Abortamento habitual Etiologia


• O abortamento habitual, também denominado • Doença inflamatória pélvica: Chlamydia
recorrente, classicamente é definido como a trachomatis e Neisseria gonorrhoeae acarretam
ocorrência consecutiva de três ou mais alterações significativas nas tubas que facilitam
abortamentos espontâneos o acontecimento de gravidez ectópica
• Pensar em SAAF • Uso de dispositivo intrauterino (DIU)
• Cirurgia tubária prévia
Abortamento infectado • Antecedente de gravidez ectópica
• O abortamento infectado, principalmente em • Procedimentos relacionados à reprodução
países em que a lei proíbe a interrupção da assistida
gestação, muitas vezes encontra-se • Anticoncepção de emergência: o levonorgestrel
intimamente ligado à ilegalidade, sendo sua contribui para a ocorrência de gestação ectópica
prática realizada em condições inadequadas pela alteração da motilidade tubária, que causa
• A infecção que se inicia no útero (endometrite) retardo na chegada do ovo à cavidade
pode se propagar para os anexos (anexite), endometrial
peritônio pélvico (pelviperitonite), cavidade • Outros fatores de risco, de menor relevância:
peritoneal (peritonite generalizada) e, ainda, início precoce da atividade sexual; antecedente
disseminar-se por via hematogênica (sepse) de múltiplos parceiros sexuais; e o tabagismo,
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por causa dos efeitos da nicotina na atividade Tratamento


ciliar e na motilidade tubária • O tratamento pode ser cirúrgico (radical ou
conservador) ou clínico (medicamentoso ou
Anamnese
expectante)
Dor abdominal, sangramento vaginal e atraso ou
irregularidade menstrual são considerados a tríade do Tratamento cirúrgico
quadro clínico da gravidez ectópica • Indicação: gravidez ectópica rota ou
contraindicação ao tratamento clínico
• Dor abdominal: em cólica até a presença de dor
• Particularmente, nos casos de gravidez tubária,
sincopal e lancinante. Outros locais de dor que
o tratamento cirúrgico pode ser radical
podem ser mencionados incluem abdome
(salpingectomia) ou conservador (salpingos-
superior, região lombar, região cervical e
tomia ou ressecção parcial)
escápula (sinal de Laffont)
• Sangramento vaginal: as pacientes relatam Tratamento medicamentoso
sangramento brando, vermelho escuro ou • Metotrexato: tem sido a droga mais utilizada no
acastanhado tratamento medicamentoso da gravidez
• Irregularidade menstrual: cerca de 5 a 25% das ectópica íntegra. Por ser teratogênico é
pacientes não relatam atraso da menstruação, fundamental a certeza diagnóstica de gravidez
contudo apresentam irregularidade menstrual ectópica
Esquema de dose única com 50 mg/m2
Exame físico de metotrexato por via intramuscular.
• Podem-se encontrar desde pacientes com Esse esquema é indicado em casos com
exame físico normal até mulheres com evidente os seguintes parâmetros:
instabilidade hemodinâmica ▪ Gravidez ectópica íntegra de até
• Nos casos de rotura tubária, identifica-se palidez 4 cm de maior diâmetro
progressiva incompatível com o sangramento ▪ Estabilidade hemodinâmica
vaginal ▪ Desejo de procriação
• Raramente surge o sinal de Cullen ▪ Ausência de atividade cardíaca
• Comumente, à palpação do abdome, verifica-se do produto conceptual
dor localizada em um dos quadrantes em caso de ▪ Beta-hCG sérica <5.000 mUI/mL
gravidez ectópica íntegra, ou generalizada, após e crescente (acima de 10%) em
a rotura tubária duas dosagens consecutivas (24
• O exame tocoginecológico pode revelar a a 48 horas)
presença de sangramento vaginal • Glicose hipertônica: age causando necrose
• Em virtude do acúmulo de sangue e coágulos na asséptica do tecido trofoblástico
pelve, o exame do fundo de saco posterior pode • Cloreto de potássio: causa assistolia no produto
ser extremamente doloroso (sinal de Proust) e conceptual, geralmente usado como adjuvante
por isso é também denominado grito de Douglas ao metrotexato
Exames complementares Conduta expectante
• Beta-hCG: pode ser detectada 10 dias após a • Na evolução natural da gravidez ectópica, alguns
ovulação casos podem terminar em abortamento tubário
• Ultrassonografia: a espessura endometrial na ou em reabsorção completa do tecido
gravidez ectópica é significativamente menor do trofoblástico. As pacientes com gravidez
que na gestação tópica ectópica de pequeno tamanho e concentrações
• Dopplervelocimetria colorida transvaginal séricas de beta-hCG baixas e em declínio são
• Laparoscopia: utilizada na impossibilidade de candidatas para esse tipo de conduta. Títulos de
estabelecer diagnóstico por métodos não- beta-hCG inferiores a 1.000 mUI/mL indicam alta
invasivos probabilidade de sucesso

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Gestação ectópica íntegra de até 4 cm Mola completa


no maior diâmetro • Não há desenvolvimento de embrião,
o Estabilidade hemodinâmica membranas e cordão umbilical
o Desejo de procriação • Tem o aspecto de “cacho de uva”
o Ausência de atividade cardíaca do • Tem cromossomos exclusivamente de origem
produto conceptual paterna e em sua maioria as molas desse tipo
o Beta-hCG sérica <5.000 mUl/mL e são 46,XX. O óvulo “vazio” é fecundado por um
decrescente (acima de 10%) ou estável espermatozoide 23,X. Ocorre, então, a
(variação de até 10%) em duas dosagens duplicação do genoma paterno, originando uma
consecutivas (24 a 48 horas) célula 46,XX
Outras formas de gravidez ectópica • Cerca de 5 a 10% das molas completas são 46,XY
e se originam da fecundação de um óvulo sem
• Gravidez ectópica ovariana
carga genética por dois espermatozoides
• Gravidez intersticial
contendo cromossomos X e Y
• Gravidez cervical
• Gravidez abdominal Mola parcial
• Gravidez heterotópica: coexistência de gravidez • Macroscopicamente, pode ser identificado um
ectópica e tópica embrião ou feto com inúmeras malformações
• Gravidez em cicatriz de cesárea associado a placenta aumentada com presença
de vesículas
Doença trofoblástica gestacional • Do ponto de vista genético, aproximadamente
Doença trofoblástica gestacional é um termo genérico 90% das molas parciais se originam da
que engloba um conjunto de alterações que surgem a fecundação de um óvulo normal por dois
partir do trofoblasto humano e apresentam como espermatozoides, resultando em uma célula
característica comum o antecedente gestacional. triploide (69,XXX ou 69,XXY), enquanto os 10%
Mola hidatiforme restantes são tetraploides
• A mola hidatiforme pode ser dividida em mola Anamnese
completa e mola parcial. Essas duas formas • Sangramento vaginal: é o sinal mais encontrado
diferem quanto aos aspectos histológicos, nos casos de mola hidatiforme. Apresenta-se
genéticos e clínicos com coloração escura, em geral em pequena
Tipo de mola Características Características clínicas quantidade, e tem início por volta da oitava
genéticas e semana de gravidez
patológicas
• Eliminação espontânea de vesículas: de
Completa • Diploide • hCG > 100.000 UI/L (em
(características • Ausência de geral) acontecimento raro, é indício patognomônico
difusas) concepto • Complicações clínicas são dessa enfermidade
• Hiperplasia mais comuns (quando
trofoblástica diagnóstico tardio) • Dores abdominais: geralmente localizadas no
difusa • Evolução para neoplasia: hipogástrio
• Hidropsia 15-20%
vilosa difusa • Hiperêmese: especialmente se a mola for
Parcial • Triploide • hCG < 100.000 UI/L (em volumosa (altas doses de beta-hCG)
(características • Concepto geral)
focais) malformado • Complicações clínicas
Exame físico
• Hiperplasia mais raras
trofoblástica • Evolução para neoplasia: • Discordância entre o volume uterino e o atraso
focal < 5%
menstrual – aumento exagerado do volume
• Hidropsia
vilosa focal • Não se identificam partes fetais ou presença de
Epidemiologia batimentos cardíacos fetais
• Mulheres com idade nos extremos da vida
Exames complementares
reprodutiva, adolescentes ou acima dos 40 anos,
• Beta-hCG: valores séricos elevados de hCG,
têm maior probabilidade de desenvolver mola
especialmente acima de 200.000 mUI/mL, são
hidatiforme
46
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

altamente sugestivos de doença trofoblástica • Coriocarcinoma gestacional: é uma forma


gestacional (se parcial, raramente ultrapassa extremamente agressiva de neoplasia
100.000 mUI/mL) trofoblástica gestacional e caracteriza-se por
• Ultrassonografia: o padrão ultrassonográfico invadir profundamente o miométrio e os vasos
mais descrito consiste em múltiplas áreas sanguíneos, causando hemorragia e necrose.
anecoicas entremeadas por ecos amorfos Responde muito bem à quimioterapia
(imagem em “flocos de neve”) – padrão ausente • Tumor trofoblástico do sítio placentário
em molas parciais • Tumor trofoblástico epitelioide
Tratamento Diagnóstico
• Esvaziamento molar: o método de eleição para o • A estabilização ou o aumento da concentração
esvaziamento da cavidade uterina é a aspiração de hCG, após esvaziamento molar, desde que
a vácuo afastada a hipótese de gravidez, impõe o
• Histerectomia: é uma alternativa terapêutica diagnóstico de neoplasia trofoblástica
válida para mulheres que já têm sua prole gestacional. Sendo necessário apenas 1 para
constituída estabelecer o diagnóstico, os critérios são:
• Quimioterapia profilática: em razão da o Pelo menos quatro valores de hCG em
dificuldade de se predizer quem desenvolverá platô (variação de ± 10% nos títulos), por
neoplasia trofoblástica gestacional pós-molar no mínimo 3 semanas, nos dias 1, 7, 14
e 21
o Elevação dos títulos de hCG em pelo
menos 10%, por no mínimo três valores
ao menos por 2 semanas, nos dias 1, 7 e
14
o Diagnóstico histológico de
coriocarcinoma gestacional
o Evidência de doença metastática em
mulher em idade reprodutiva

Estadiamento da neoplasia trofoblástica gestacional


• As pacientes com escore menor ou igual a 6 são
classificadas como de baixo risco, enquanto
aquelas que apresentarem escore 7 ou mais são
consideradas de alto risco
Neoplasia trofoblástica gestacional
A neoplasia trofoblástica gestacional inclui as formas Tratamento
malignas da doença trofoblástica gestacional: mola • Quimioterapia: as pacientes com neoplasia
invasora, coriocarcinoma gestacional, tumor trofoblástica gestacional de baixo risco (não
trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico metastática ou metastática) apresentam índice
epitelioide de cura elevado - praticamente 100% - por meio
de quimioterapia
• Mola invasora: representa uma sequela da mola
• Radioterapia: cerca de 10 a 15% das metástases
hidatiforme e caracteriza-se por apresentar
acometem o SNC, e o tratamento mais
vilosidades molares invadindo profundamente o
empregado é a associação de quimioterapia e
miométrio, podendo ocasionar perfuração
radioterapia
uterina, hemorragia e infecção. A quimioterapia
• Outros sítios de metástases: podem precisar de
é o tratamento de escolha para pacientes com
cirurgia para controle de tratamento como
mola invasora. A cirurgia (histerectomia) fica
nefrectomia e ressecção de alça intestinal
reservada para os casos de perfuração uterina e
resistência à quimioterapia, sem evidência de
metástase
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Puerpério normal Colo uterino


O puerpério, ou período pós-parto, tem início após a • À medida que a dilatação regride, o colo uterino
dequitação e se estende até 6 semanas completas após torna-se progressivamente mais espesso, e faz-
o parto. se a reconstrução do canal cervical, que adquire
forma de fenda
Classificação
Vagina e vulva
• Puerpério imediato: até o término da segunda
• A vagina encontra-se alargada e lisa
hora após o parto
imediatamente após o parto, havendo redução
• Puerpério mediato: do início da terceira hora até
gradual de suas dimensões e reaparecimento
o final do décimo dia após o parto
gradual de sua rugosidade
• Puerpério tardio: do 11º dia até o retorno das
menstruações, ou 6 a 8 semanas nas lactantes Tremores
• Tremores pós-parto são observados em 25 a
Modificaçõesanatômicas e fisiológicas
50% das pacientes após parto vaginal
Involução uterina
• Imediatamente após a dequitação, o útero inicia Parede abdominal
o processo de involução • No período pós-parto, a musculatura da parede
• O fundo uterino tipicamente atinge a cicatriz abdominal encontra-se frouxa, mas readquire
umbilical 24 horas após o parto, alcançando a seu tônus normal, na maioria dos casos, várias
região entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical semanas depois
depois de 1 semana. A involução uterina
Alterações sanguíneas e plasmáticas
costuma ser mais rápida nas mulheres que
• No puerpério, espera-se uma ascensão dos
amamentam
níveis de hemoglobina e de hematócrito da
ordem de 15% sobre os níveis pré-gravídicos
• Em relação à série branca, durante o trabalho de
parto, tem início importante leucocitose
(atingindo 25 mil ou mais leucócitos), a qual se
estende ao puerpério imediato
• Observam-se também plaquetocitose,
linfocitopenia relativa e eosinopenia absoluta

Sistema endócrino
• Após a dequitação, observa-se queda do beta-
hCG, que retorna ao normal em 2 a 4 semanas
• Para as mulheres não lactantes, o retorno da
menstruação após parto de termo varia de 7 a 9
• Na segunda semana pós-parto, o útero não é
semanas
mais palpável no abdome
• Mulheres lactantes têm atraso no retorno da
• Nos primeiros 3 dias de puerpério, as contrações
ovulação, já que a prolactina inibe a liberação
uterinas provocam cólicas abdominais. Essas
pulsátil do GnRH pelo hipotálamo
cólicas intensificam-se com a sucção do recém-
nascido, como resultado da liberação de Perda ponderal
ocitocina • Aproximadamente metade do ganho ponderal
• A regeneração da ferida placentária, associado adquirido durante a gravidez é perdida nas
às alterações involutivas que se processam primeiras 6 semanas após o parto
simultaneamente, vincula-se à produção e à • A perda imediata de 4,5 a 6 kg é atribuída ao
eliminação de quantidade variável de exsudatos feto, placenta, líquido amniótico e perda
e transudatos, denominados lóquios, sanguínea
geralmente por 4 semanas
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Alterações ósseas batimentos cardíacos e a frequência respiratória


• Após o parto, há diminuição generalizada da em intervalos regulares
densidade do osso, que na maioria das mulheres • Ela deve ser submetida a exame físico geral e
volta aos níveis pré-gravídicos entre 12 e 18 especial, com avaliação de mamas, abdome,
meses do período pós-parto trato urinário, região perineal e membros
inferiores
Alterações dermatológicas • Deve-se monitorizar o sangramento vaginal e
• Pode haver aparecimento de estrias palpar o fundo uterino, para verificar se o útero
• O cloasma habitualmente desaparece no está contraído
puerpério, mas sem período estabelecido
• Ocorre o eflúvio telógeno (queda de cabelos) Queixas frequentes
entre 1 e 5 meses após o parto • Cólicas abdominais, dor na episiorrafia ou na
cicatriz cirúrgica abdominal, ingurgitamento
Mamas mamário
Lactação • É aconselhável a administração de analgésicos e
• Colostro: o colostro, precursor do leite materno, anti-inflamatórios a cada 6 ou 8 horas, a fim de
surge ao final da gestação ou, o mais tardar, nos minimizar esse desconforto
primeiros 2 a 5 dias após o parto. Possui maior
teor de minerais, proteínas, vitamina A e Dieta e deambulação
imunoglobulinas e menor concentração de • Tão logo seja possível, deve ser oferecida à mãe
carboidratos e gordura dieta geral, encorajando-a também a deambular
• Leite: o leite materno maduro contém precocemente
carboidratos (lactose), gorduras, proteínas e • A rápida deambulação é responsável por menor
minerais taxa de complicações urinárias e de obstipação,
assim como menor risco de TVP e TEP
Processo lactogênico
• Participam desse processo, além da prolactina, a Cuidado com as mamas
progesterona, o estrógeno, o hormônio • Se o colostro já estiver presente no momento do
lactogênico placentário, o cortisol e a insulina parto, recomenda-se que a mãe amamente logo
• A lactação não se inicia antes da queda nas primeiras horas após o nascimento
plasmática dos níveis de estrógeno, • As pacientes devem ser orientadas acerca da
progesterona e hormônio lactogênico técnica correta de amamentação
placentário depois do parto • A presença de deformidades nos mamilos, assim
• A manutenção da secreção láctea (galactopoese) como de traumas mamilares, geralmente
depende de sucção regular do recém-nascido, ocasionados por posicionamentos e pega
com esvaziamento dos ductos e alvéolos inadequados, pode dificultar o processo de
mamários amamentação, gerando ansiedade no casal. O
• A prolactina modifica a secreção de colostro tratamento desses traumas mamilares consiste
para leite propriamente dito no período de no uso de analgésicos, do próprio leite materno
aproximadamente 72 horas. Esse fenômeno ou de cremes para acelerar a cicatrização das
também é conhecido como apojadura ou mamas (vitamina A e calciferol - vitamina D,
descida do leite e coincide com o ingurgitamento lanolina anidra modificada ou corticosteroides)
mamário típico desse período • Mastite é o processo inflamatório de um ou mais
segmentos da mama (mais comumente o
Assistência no puerpério hospitalar quadrante superior esquerdo), que pode ou não
Cuidados e controles progredir para infecção bacteriana. As fissuras
• Durante a internação, especialmente no são, na maioria das vezes, a porta de entrada das
primeiro dia de puerpério, a mãe deve ter bactérias. O leite acumulado, a resposta
aferidos a temperatura, a pressão arterial, os inflamatória e o dano tecidual resultante
favorecem a instalação da infecção, em geral
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

causada pelo Staphylococcus aureus. Na mastite, Atividade sexual


a parte acometida da mama encontra-se • Há, comumente, diminuição do interesse sexual
dolorosa, hiperemiada, edemaciada e quente. O nesse período. Esse desinteresse é atribuído à
mais importante no tratamento da mastite é o fadiga, à dor e ao sangramento vaginal
esvaziamento adequado da mama; e a • Também se verifica com frequência atrofia do
manutenção da amamentação está indicada por epitélio vaginal e diminuição da lubrificação em
não oferecer riscos ao recém-nascido de termo mulheres que amamentam exclusivamente ou
sadio que utilizam anticoncepcionais somente de
progesterona. Lubrificantes ou cremes tópicos à
Vacinação
base de estrógeno podem ser usados para alívio
• Antes da alta hospitalar, devem ser checadas a
dos sintomas decorrentes da atrofia vaginal
situação vacinal e as sorologias da mãe. Se
necessário, a imunização para rubéola, hepatite Retorno ambulatorial
B e coqueluche (dTpa) pode ser realizada no • O primeiro retorno solicitado deve acontecer
próprio hospital ou no puerpério tardio entre 7 e 10 dias após o parto. Nesse momento,
Isoimunização devem ser avaliadas as condições da episiorrafia
em relação à deiscência, infecções e
• Mulheres RhD-negativo, não sensibilizadas e
hematomas. Para as cesáreas, os pontos devem
com recém-nascido RhD-positivo, devem
ser retirados e a cicatriz avaliada quanto à
receber imunoglobulina anti-D até 72 horas
presença de sinais sugestivos de infecção ou
depois do parto
hematomas de parede
Alta hospitalar • Outro retorno de puerpério é agendado para 40
• Após parto vaginal não complicado, a puérpera dias após o parto, ocasião em que a paciente
poderá receber alta hospitalar em 24 horas e, recebe orientações anticoncepcionais e quanto
em caso de cesárea, esta normalmente se ao retorno da atividade sexual
prolonga para 48 horas

Anticoncepção
• Após 2 a 3 semanas do parto, mulheres que não
amamentam podem fazer uso de
anticoncepcionais de progesterona somente
(pílulas, implantes, injeções) ou de métodos de
barreira. O uso de anticoncepcionais hormonais
orais (ACHO) combinados deve ser iniciado 28
dias depois do parto, segundo a maioria dos
estudos (a ovulação pode retomar apenas 25
dias após o parto). O dispositivo intrauterino
(DIU) pode ser inserido imediatamente depois
do parto, apesar de ser maior a taxa de expulsão
em comparação com a inserção mais tardia
• Mulheres que amamentam exclusivamente e
mantêm-se amenorreicas estão 98% protegidas
de uma nova gravidez pelos primeiros 6 meses.
Para as lactantes, o uso de anticoncepcionais de
progesterona somente, minipílulas ou
medroxiprogesterona de depósito não afeta a
qualidade tampouco diminui a produção de leite

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Gemelaridade Determinação da corionicidade


Gestação múltipla é definida como aquela proveniente • As complicações, do ponto de vista fetal, são
de um ou mais ciclos ovulatórios, resultando no mais frequentes nas gestações monocoriônicas.
desenvolvimento intrauterino de mais de um zigoto ou Portanto, na prática, a determinação da
na divisão do mesmo zigoto, independente do número corionicidade é o principal fator determinante
final de neonatos. do resultado e do prognóstico da gestação
• O melhor período para a determinação da
Incidência e epidemiologia corionicidade e da amnionicidade é durante o
• A incidência de gestações múltiplas apresenta primeiro trimestre da gestação
variações entre as regiões do planeta (preferencialmente entre a 6ª e 8ª semana)
• Há maior frequência de gestação múltipla • A gestação dicoriônica pode ser definida a partir
quando há história familiar materna e com o da quinta semana pela visualização de mais de
aumento da idade materna (até cerca de 37 um saco gestacional e da presença de septo
anos) e da paridade. No entanto, o aumento espesso entre eles
acentuado observado ao longo das últimas • A partir de 9 semanas, a projeção do
décadas deve-se sobretudo ao uso cada vez mais componente coriônico entre as membranas
difundido de medicações para indução da amnióticas, identificado na base da inserção
ovulação e transferência de múltiplos embriões placentária, forma o sinal do lambda,
por ciclo de reprodução assistida característico das gestações dicoriônicas (torna-
se mais difícil de ser identificado com o decorrer
Tipos de gestação múltipla da gestação)
As gestações múltiplas podem ser classificadas segundo
a zigoticidade ou a corionicidade:

• Polizigóticas (dois terços): quando resultam da


fecundação de mais de um óvulo e os produtos
conceptuais apresentam materiais genéticos
distintos
o Nas gestações polizigóticas, cada zigoto
sempre desenvolve seus próprios cório e
âmnio
• Monozigóticas (um terço): são resultantes da
divisão de massa embrionária inicial comum e os
produtos conceptuais resultantes apresentam • Nas gestações monocoriônicas, no final do
carga genética idêntica primeiro trimestre, há fusão das membranas
o Divisão em até 72 horas: acontece em amnióticas adjacentes, dando origem a um
um quarto dos casos e forma duas septo fino entre as duas cavidades amnióticas
placentas e dois sacos amnióticos que se insere de maneira abrupta na placenta,
(gestação dicoriônica e diamniótica) formando o sinal do T
o Divisão entre 4 e 8 dias: acontece em
74% dos casos e resulta em uma
placenta e duas cavidades amnióticas
(gestação monocoriônica diamniótica)
o Divisão entre 8 e 13 dias: ocorre em 1%
dos casos e resulta em 1 placenta e 1
saco amniótico (gestação
monocoriônica monoamniótica)
o Divisão após 14 dias: resulta em gêmeos
unidos

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Diagnóstico o Razão da diferença de peso estimado


• Achados clínicos: volume uterino maior do que o entre os dois fetos pelo peso do maior
esperado, presença de 2 polos cefálicos, feto >20-25% (tem sido a mais utilizada)
ausculta de 2 BCF distintos
Óbito fetal
• Exame ultrassonográfico: durante o primeiro
• A gestação gemelar é reconhecidamente fator
trimestre permite diagnosticar com segurança
de risco para o óbito fetal
praticamente todos os casos
• Nas gestações em que ocorre óbito de um dos
Complicações maternas fetos, há risco aumentado para óbito do outro
• As gestações múltiplas estão associadas com gemelar, sequelas neurológicas e parto pré-
aumento de praticamente todas as termo
complicações, exceto o pós-datismo e a Malformação fetal congênita
macrossomia fetal • A incidência de anomalias congênitas em
• Do ponto de vista materno, ocorre maior nascimentos gemelares é de cerca de 5 a 6%
frequência de anemia; hiperêmese gravídica; • Esse aumento é ainda mais acentuado nas
pré-eclâmpsia; complicações hemorrágicas da gestações monozigóticas, provavelmente por
gestação, como placenta prévia e descolamento causa do processo de divisão da massa
prematuro de placenta. Hipertensão arterial é embrionária
uma das complicações mais frequentes
Anomalias cromossômicas fetais
Complicações fetais
Rastreamento ultrassonográfico
Rotura prematura de membranas ovulares
• O método de eleição para a determinação do
• A rotura prematura de membranas ovulares risco de anomalias cromossômicas em gestações
(RPMO) ocorre com maior frequência múltiplas é a medida da translucência nucal
Prematuridade realizada entre 11 e 13 semanas de gestação
• A duração média da gestação gemelar é de Rastreamento bioquímico
aproximadamente 35 semanas e, para as • Apresenta desempenho inferior ao relatado em
gestações trigemelares, de aproximadamente 32 gestações únicas; entretanto, o rastreamento
semanas combinado no primeiro trimestre pode reduzir a
Restrição do crescimento fetal taxa de falso-positivos observada no método
• O risco de nascer um concepto com restrição de ultrassonográfico baseado exclusivamente na
crescimento em gestações gemelares é cerca de medida da translucência nucal
10 vezes maior do que em gestações únicas Determinação do cariótipo fetal
Discordância de crescimento fetal • Amniocentese: punção de uma das cavidades
• A discordância de crescimento fetal ocorre em 5 amnióticas com aspiração do volume de líquido
a 15% das gestações gemelares e está associada necessário e repetição na outra cavidade
ao aumento do risco de óbito fetal e de • Biópsia de vilosidade coriônica: sua vantagem
mortalidade neonatal. Na literatura, ela é em relação à amniocentese é a possibilidade de
definida de diferentes formas: estabelecer um diagnóstico em fase precoce da
o Diferença de peso em valores absolutos gestação
de 250 a 300 g entre os gêmeos maior e • Cordocentese: pouco utilizada, sendo reservada
menor aos casos tardios
o Diferença de desvio-padrão de peso
Síndrome de transfusão feto-fetal
entre os gêmeos em tabela predefinida
• É compicação específica e exclusiva das
o Diferença entre as circunferências
gestações monocoriônicas, ocorrendo em cerca
abdominais dos fetos maior que 2 cm
de 10 a 15% delas

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• O mecanismo primário da doença baseia-se na que evite o comprometimento circulatório do


transferência não balanceada de sangue entre as gemelar sobrevivente. Esse tipo de intervenção
circulações dos dois fetos. Assim, o gêmeo só é indicada nos casos em que há sinais de
doador apresenta anemia e restrição do morte intrauterina iminente de um dos fetos
crescimento grave acompanhados de oligúria e
oligoâmnio, enquanto no gêmeo receptor Acompanhamento pré-natal
ocorre sobrecarga circulatória e policitemia, • O acompanhamento pré-natal das gestações
podendo levar ao desenvolvimento de gemelares envolve número médio de consultas
complicações cardíacas e hidropsia maior do que o de gestações únicas
• A pesquisa da colonização materna por
estreptococo do grupo B é realizada entre 30 e
32 semanas, em virtude da menor idade
gestacional média do parto nas gestações
gemelares
• A realização de exames ultrassonográficos
periódicos é um dos pilares do manejo
contemporâneo dessas gestações

Resolução da gestação e parto


• Em virtude da maior incidência de morte fetal, é
prática comum recomendar a resolução das
gestações monocoriônicas com 36 semanas
completas e das dicoriônicas com 38 semanas
• As complicações mais comuns do parto na
gestação múltipla incluem distócias funcionais,
apresentação fetal anômala, prolapso de
• Diversas técnicas foram propostas para o
cordão, descolamento prematuro de placenta e
tratamento dessa condição com o objetivo de
hemorragias pós-parto
melhorar a sobrevida dos fetos, entre elas a
• Atualmente, para a escolha da via de parto são
amniodrenagem, a cirurgia endoscópica com
levadas em consideração, principalmente, as
laser, a septostomia e o feticídio seletivo
apresentações dos fetos e a idade gestacional.
Amniodrenagem Para gestações a termo, quando o primeiro
• Indicado quando o polidrâmnio, quando gemelar ou ambos são cefálicos, não havendo
progressivo, leva ao desconforto materno e outras complicações, pode-se optar pela via
torna o útero tenso à palpação vaginal. Em casos em que o primeiro gemelar
não é cefálico ou apresenta peso estimado
Cirurgia endoscópica intrauterina com laser menor que o segundo (com diferença maior ou
• Identificação e coagulação com laser das igual a 500 g), opta-se pela cesárea
anastomoses que comunicam as duas • Para gestações pré-termo com fetos viáveis ou
circulações fetais em que o peso estimado seja menor do que
1.500 g, a via recomendada também é a
Septostomia
abdominal
• Consiste na criação de um orifício na membrana
interamniótica comunicando as duas cavidades,
sendo geralmente realizada junto com a
amniodrenagem

Feticídio seletivo
• Implica a interrupção seletiva da vida de um dos
gêmeos e deve ser realizada por meio de técnica
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Cardiotocografia o Hipertensão crônica


o Doença renal
A cardiotocografia (CTG) é um dos exames mais
o LES
utilizados na avaliação do bem-estar fetal.
o DM tipo I
Baseia-se no comportamento da FCF e é efetuada por o Pré-eclâmpsia
meio de dispositivo especial (cardiotocógrafo), o qual o CIUR
registra em traçados próprios a FCF, as contrações o Gestação múltipla
uterinas e os movimentos corpóreos fetais. o Mau passado obstétrico
o Pós-datismo
A cardiotocografia pode ser classificada como anteparto
• Caso a cardiotocografia mantenha padrões
(ou basal) e intraparto, de acordo com sua realização
alterados, estaria indicada, quando disponível, a
fora do trabalho de parto ou na sua vigência,
investigação complementar fetal, através do
respectivamente.
perfil biofísico fetal e/ou dopplervelocimetria e
Os padrões alterados da cardiotocografia, sob influência repetição seriada do exame. Na ausência destes
do sistema nervoso autônomo, expressam os episódios exames, estaria indicada a interrupção da
de hipoxemia fetal, os quais também desencadeiam gestação
fenômenos adaptativos caracterizados pela
Alterações basais
vasodilatação dos territórios considerados nobres
(cérebro, coração e adrenais) e vasoconstrição na
circulação de outros órgãos e sistemas com detrimento
da circulação periférica fetal. Ao mesmo tempo, através
dos reflexos cardiovasculares mediados pela
estimulação dos quimiorreceptores, o sistema nervoso
autônomo promove alterações nas características da FCF
que são evidenciadas pela cardiotocografia.

Cardiotocografia anteparto
• Monitorização anteparto: é realizada em
intervalos diários ou semanais enquanto houver • Linha de base: constitui-se na FCF média
indicação. A piora do estado materno obriga a (arredondada para 0 ou 5) em um intervalo de
reavaliação, mesmo que testes satisfatórios dez minutos, excluindo variações periódicas e
recentes estejam presentes. Não está indicada períodos de variabilidade marcante. Ocorrem
antes de 26 semanas de gestação, devido à nos intervalos das contrações uterinas. Seus
imaturidade fisiológica do sistema nervoso limites se encontram entre 110 e 160 bpm
autônomo. Em geral, recomenda-se que a o Taquicardia: linha de base da FCF acima
monitorização anteparto seja realizada em de 160 bpm durante dez minutos. Pode
gestações de risco para morte fetal: ser causada por hipoxemia fetal inicial
o Síndrome antifosfolipídeo (baixa reserva de oxigênio no sangue);
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

hipertermia; tireotoxicose; infecção a elevação por pelo menos dez segundos em, no
intrauterina; doenças cardíacas fetais mínimo, dez batimentos em relação à linha de
(arritmias); fatores constitucionais; base. Podem estar associadas à atividade uterina
ansiedade ou uso de drogas ou à movimentação fetal e são sinais de bem-
o Bradicardia: linha de base da FCF abaixo estar fetal e de que as reservas metabólicas
de 110 bpm durante dez minutos. Pode estão preservadas
ocorrer na vigência de hipóxia fetal o Quando o feto se movimenta ocorre
(baixa disponibilidade de oxigênio aos vasodilatação muscular, com diminuição
órgãos); nas doenças cardíacas fetais do débito cardíaco e aumento
(bloqueios); no uso de drogas; nos compensatório da FCF. Durante uma
fatores constitucionais; na analgesia contração uterina pode ocorrer leve
peridural e paracervical compressão do cordão umbilical,
• Variabilidade: pequenas irregularidades na prejudicando o retorno venoso ao átrio
frequência cardíaca fetal. Sua ausência é direito e, desta forma, induzindo a
importante marcador de hipóxia fetal acelerações da FCF. Quando
hipoxemiado, não ocorre a aceleração
da FCF, por provável mecanismo de
defesa para economia de glicogênio
cardíaco
o Na hipoxemia fetal, o primeiro sinal que
pode ser percebido na cardiotocografia
é o desaparecimento das acelerações à
movimentação fetal. Portanto, entenda:
na presença de aceleração da frequência
cardíaca fetal (reatividade) não há
• Existem diversas causas não asfíxicas sofrimento fetal
relacionadas à diminuição da variabilidade da • DIPS ou desacelerações: são quedas transitórias
frequência cardíaca fetal, como uso de opioides, na frequência cardíaca fetal. Podem ser
propranolol, tranquilizantes, benzodiazepínicos, periódicos ou não periódicos de acordo com sua
sulfato de magnésio, atropina, anestésicos relação com a atividade uterina
locais, anencefalia fetal, arritmias fetais, o São divididos, segundo a amplitude da
bloqueios cardíacos, sono fetal, sepse e queda, em leves (<15 bpm), moderados
prematuridade. Dessa forma, o achado isolado (15-45 bpm) ou graves (>45 bpm)
de variabilidade diminuída não deve levar a o DIP precoce é aquela que começa
medidas intempestivas, e maiores investigações precocemente, isto é, junto da
devem ser propostas contração uterina
• Alterações transitórias: são alterações de o DIP tardia é aquela que começa
pequena duração, podendo ser periódicas ou tardiamente, isto é, após o início das
não periódicas contrações
o As periódicas são consequentes à o DIP variável (umbilical) é aquela cuja
atividade uterina, enquanto as não forma, duração e início são variáveis. É
periódicas decorrem de diversos decorrente da compressão transitória
fatores, como movimentação fetal, do cordão umbilical; por isso apresenta
manipulação vaginal e outros forma e durações variáveis
• Acelerações: são aumentos transitórios na
frequência cardíaca fetal de, no mínimo, 15 bpm Índice cardiotocométrico
e duração de quinze segundos. Em fetos • O índice cardiotocométrico é o somatório das
prematuros com menos de 32 semanas, diversas pontuações distribuídas
considera-se aceleração da frequência cardíaca

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Essas desacelerações não são acompanhadas de


hipoxia ou acidose fetal; portanto, sua
observação não implica indicação de parto
imediato

• Com base nesses valores, o feto é classificado


em:
o Ativo (índices 4 e 5 - normal)
o Hipoativo (índices 2 e 3 - suspeito)
o Inativo (índices 0 e 1 - anormal)

Estímulo vibroacústico
• Está indicado quando a cardiotocografia basal
não evidenciar reatividade fetal após cinco
minutos de exame. Considera-se normoxêmico o
feto que apresentar aceleração da FCF em no
mínimo 20 bpm e por tempo não inferior a três
minutos, depois de estimulado

Monitorização intraparto
• Em geral, recomenda-se que a monitorização
intraparto contínua seja realizada somente em
gestações de alto risco, como na síndrome
antifosfolipídeo, hipertensão crônica, doença
renal, LES, gestação múltipla, mau passado
obstétrico ou pós-datismo. Está ainda indicada
nas induções, presença de líquido meconial, na
amniorrexe e nas pacientes que apresentem
alterações da FCF à ausculta intermitente
• Um dos objetivos do acompanhamento
intraparto é distinguir o feto com uma FCF não
reativa que se encontra em hipoxemia, porém
bem compensado, daquele que se encontra em Desacelerações tardias
acidose e sob risco de sequelas neurológicas ou • As desacelerações tardias são causadas por
morte hipoxemia fetal resultante da redução do fluxo
sanguíneo placentário em feto com baixa
Desacelerações precoces
reserva de oxigênio
• A redução da oxigenação local provoca
• Fetos com baixa reserva de oxigênio não
diminuição da frequência cardíaca fetal. Na
suportam a redução do fluxo sanguíneo durante
desaceleração precoce, a queda da frequência
as contrações uterinas e têm sua pO2 menor que
cardíaca fetal é coincidente com a contração
16 a 18 mmHg (normal 23-30 mmHg), o que
uterina ou, caso apresente decalagem, será
estimularia o centro vagal à diminuição da
inferior a 15 segundos
frequência cardíaca fetal
• Esse tipo de desaceleração é comumente
observado no período expulsivo, inclusive de
partos eutócicos
56
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• As desacelerações tardias são recorrentes e a redução do nível de oxigênio e o acúmulo de


simétricas, e iniciam-se após o período de dióxido de carbono no sangue fetal. Assim,
decalagem de 20 a 30 segundos poderá ser instalada acidose fetal mista na
dependência da frequência e da duração dos
episódios de compressão do cordão umbilical

Avaliação do estado fetal


• Categoria 1: padrão tranquilizador
o Linha de base entre 110 e 160 bpm
o Variabilidade moderada (6 a 25 bpm)
o Ausência de desaceleração tardia ou
variável
o Acelerações/desacelerações precoces
(presentes ou não)
• Categoria 2:
o O que não se encaixa na categoria 1 e 3
• Categoria III: padrão intranquilizador
o Ausência de variabilidade
o Qualquer uma das alterações:
▪ Desacelerações tardias
recorrentes
▪ Desacelerações variáveis
recorrentes
▪ Bradicardia
▪ Padrão sinusioidal

Desacelerações variáveis ou umbilicais


• As desacelerações variáveis são recorrentes e
não apresentam relação temporal, de forma fixa,
com as contrações uterinas
• Seu início e término são abruptos, podendo ser
precedidas ou seguidas por pequenas
acelerações resultantes de compressão
transitória do cordão umbilical (compressão da
veia umbilical) e denominadas acelerações-
ombro
• A oclusão dos vasos umbilicais exclui o leito
placentário de baixa resistência da circulação
fetal e, assim, ocorrem aumento da resistência
vascular periférica e aumento transitório da
pressão arterial, que por um mecanismo reflexo
estimula os barorreceptores com consequente
redução da frequência cardíaca fetal
• Como consequências da interrupção
intermitente das trocas materno-fetais, ocorrem
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Sífilis na gestação • Sífilis terciária: a sífilis terciária é ocorrência rara,


com o uso rotineiro de penicilinas. Clinicamente,
A sífilis é uma infecção sistêmica crônica causada pelo
pode se manifestar por meio de nódulos
Treponema pallidum
cutâneos ou gomas sifilíticas, acometimento
Mais de 80% das mulheres com sífilis estão em idade articular, cardiovascular e neurológico
reprodutiva e, dessa forma, sob risco de transmissão • A neurossífilis é quadro insidioso e grave em que
vertical da doença há invasão da espiroqueta no líquor. As sequelas
da neurossífilis incluem tabes dorsalis (dor
A incidência de sífilis no Brasil é de aproximadamente 4%
intensa em um dermátomo e ataxia
na população geral e de 2% em gestantes
locomotora), pupilas de Argyll Robertson
A transmissão da sífilis se dá primordialmente por (abolição do reflexo pupilar à luz, sem prejuízo
contato sexual e pode se manifestar de diferentes do reflexo de acomodação), paresias, convulsões
formas, de acordo com o estágio da doença e demência

Achados clínicos Rastreamento e diagnóstico pré-natal


• Sífilis primária: caracteriza-se pelo • O diagnóstico pode ser realizado por meio da
desenvolvimento do cancro duro no local de pesquisa direta do agente na lesão primária ou
inoculação. O cancro duro é uma úlcera, secundária, utilizando- se exame microscópico
geralmente única, indolor, de bordos duros e de campo escuro
fundo limpo, altamente infectante. Na mulher, a • O diagnóstico sorológico é realizado com testes
lesão pode surgir em qualquer região do trato não específicos para a sífilis e dosagem de
genital inferior (vulva, vagina e colo uterino). A anticorpos específicos para o treponema. O
linfadenomegalia generalizada ocorre em 50%, teste não específico, ou não treponêmico, é a
das pacientes pesquisa laboratorial de doença venérea (VDRL,
• Sífilis secundária: é uma doença sistêmica do inglês venereal disease research laboratory)
disseminada que surge em um período que varia o Apresenta títulos elevados quando há
de 1 a 2 meses depois do aparecimento do infecção aguda e, principalmente, na
cancro duro. As lesões são descritas como um fase secundária da doença
exantema maculopapular róseo, de limites o Baixos títulos estão presentes nas fases
imprecisos, que acomete tronco e raízes de latente e terciária
membros, estendendo-se por todo o • Quando o título de VDRL é persistentemente
tegumento, incluindo as regiões palmar e baixo (teste de VDRL persistentemente positivo,
plantar. O rash cutâneo desaparece do soro puro até a diluição 1:4 em paciente
espontaneamente entre 2 e 6 semanas. Esse adequadamente tratado, assintomático e com
quadro pode ser acompanhado de sintomas reservatório liquórico de treponemas
gerais, como febre, cefaleia, fadiga, faringite, descartado) por mais de 2 anos após o
adenopatia, perda de peso e artralgia. As lesões tratamento, pode significar falso-positivo ou
hipertróficas em genitália ou em regiões de cicatriz sorológica
dobra e atrito e a alopecia de couro cabeludo e • Sempre suspeitar de infecção ativa (seja ela
sobrancelhas são outras formas da manifestação nova, persistente ou reinfecção) na gestante
de secundatismo da sífilis quando encontrado qualquer valor positivo no
• Sífilis latente: denomina-se sífilis latente o exame de VDRL, já a partir do título 1:1
período entre o quadro de sífilis secundária e • Recomenda-se a coleta do exame na primeira
terciária. Pacientes assintomáticas e que consulta de pré-natal, entre 28 e 32 semanas de
ignoram a duração da sua infecção, ou seja, gestação, e no período periparto. Uma vez que o
desconhece-se o tempo de latência, são resultado for positivo, a confirmação diagnóstica
consideradas como tendo sífilis de duração deve ser realizada com teste treponêmico
indeterminada, que deve ser conduzida como • É considerada resposta adequada ao tratamento
latente tardia a queda dos títulos de VDRL em quatro vezes (o
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

equivalente a duas diluições), por exemplo, de • O acometimento neonatal pode causar lesões
1:64 para 1:16 em órgãos internos, como pulmão, fígado
• O teste específico, ou treponêmico, para sífilis é (cirrose hipertrófica), baço e pâncreas. Também
o FTA-Abs cursa com osteocondrite em ossos longos, como
o fêmur, a tíbia e o rádio

Tratamento
• O tratamento de escolha é a penicilina, sendo
terapêutica tanto para a mãe como para o feto,
uma vez que atravessa a placenta
• Alérgicas à penicilina (embora seja recomendada
a dessensibilização) podem usar
alternativamente:
o Não gestantes: doxiciclina por 14 dias
o Gestantes: eritromicina – não trata o
concepto
• A posologia da penicilina depende do estágio da
doença:
o Sífilis primária, secundária e latente
recente: penicilina G benzatina,
2.400.000 UI (1.200.000 UI em cada
nádega) IM, em dose única
o Sífilis latente tardia, duração
• A punção lombar para análise do líquor está indeterminada e terciária: penicilina G
indicada nos casos com sintomas neurológicos, benzatina, 2.400.000 UI, IM, uma vez
sífilis terciária e resposta inadequada ao por semana, por 3 semanas
tratamento (aumento dos títulos de VDRL). O o Neurossífilis: penicilina G cristalina de
diagnóstico de neurossífilis é feito por meio da 3.000.000 a 4.000.000 UI, por via
combinação do resultado sorológico positivo e intravenosa, a cada 4 horas por 10 a 14
aumento da celularidade e proteínas no líquor dias, seguido de penicilina G benzatina,
(mais que 10 linfócitos/mL e acima de 40 mg/dL 2.400.000 UI por via intramuscular,
semanalmente, por 3 semanas
de proteínas)
• Todos os contatos sexuais atuais da paciente
Repercussões fetais devem ser testados e, se positivos, tratados,
• As pacientes com sífilis primária, secundária ou pois, do contrário, considera-se alta a chance de
latente recente apresentam até 66% de fetos a gestante se reinfectar. Os parceiros sexuais
com algum acometimento. Os achados mais deverão receber dose única de penicilina G
frequentes são: benzatina, 2.400.000 UI, IM
o Alteração da função hepática • O tratamento materno e fetal é considerado
o Hepatomegalia adequado apenas nos casos em que:
o Trombocitopenia o A gestante foi tratada com penicilina
o Anemia o O parto ocorrer pelo menos 30 dias após
o Ascite o término do tratamento
o Imunoglobulina M (IgM) antitreponema o Todas as doses da penicilina tenham
fetal presente sido administradas com intervalo
• Tipicamente, a placenta apresenta-se adequado. Caso a gestante deixe de
aumentada e edematosa, com sinais evidentes tomar uma das doses, todo o esquema
de processo inflamatório deve recomeçar
o Os parceiros sexuais forem tratados
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Reação deJarisch-Herxheimer
• Se manifesta com tremores, taquicardia,
hipotensão, mialgia e febre. Geralmente, essa
reação ocorre em um período que varia de 1 a 2
horas após a aplicação de penicilina, com
resolução espontânea em 24 horas. Essa reação
denota a liberação maciça de lipopolissacarídeos
dos espiroquetas, podendo cursar com
contrações uterinas, diminuição da
movimentação fetal, desacelerações da
frequência cardíaca fetal e óbito fetal
• Caso ocorra, fazer o uso de corticoide

Controle pós-tratamento
• Recomenda-se repetir o teste sorológico VDRL
com 1, 3, 6, 12 e 24 meses após o tratamento
• Os títulos devem cair pelo menos quatro vezes
(duas diluições) após 6 meses de tratamento e
devem se tomar negativos entre 12 e 24 meses.
Se o título de VDRL estiver mantido, ou
apresentar aumento, devem-se considerar as
hipóteses de neurossífilis, falha de tratamento
ou reinfecção

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

ITU na gestação uma amostra de urina é obtida, e o diagnóstico


(e início do tratamento) é feito em mulheres com
As infecções do trato urinário representam a forma mais
≥ 105 UFC/mL sem a obtenção de uma amostra
frequente de infecção bacteriana no ciclo gravídico-
confirmatória
puerperal

A bacteriúria assintomática é a forma mais comum, mas


Abordagem terapêutica
também podem ocorrer envolvimento do trato urinário • A bacteriúria assintomática deve ser tratada em
inferior (causando cistite), alterações dos cálices renais, gestantes, em virtude do incremento no risco de
da pelve renal e do parênquima, provocando um quadro pielonefrite e resultados perinatais adversos
mais grave de pielonefrite. (ex.: baixo peso ao nascer, prematuridade e
aumento na taxa de mortalidade perinatal).
Os microrganismos que causam as infecções urinárias Duração do tratamento: 4-7 dias:
são os da flora perineal normal. A Escherichia coli é o • Nitrofurantoína (100 mg) VO de 6/6 horas;
patógeno mais frequentemente encontrado, com OU
incidência entre 75 e 90%. • Cefuroxima (500 mg) VO de 12/12 horas; OU
A bacteriúria durante a gravidez apresenta incidência • Cefalexina (500 mg) VO de 6/6 horas
similar nas não gestantes sexualmente ativas. (somente se a bactéria for sensível, após
antibiograma, pois o índice de resistência da
Fisiopatologia E. Coli é superior a 50%); OU
• O relaxamento do músculo liso e a dilatação • Cefadroxila (500 mg) VO de 8/8 ou de 12/12
ureteral da gestação, proporcionados pela horas; OU
progesterona, facilitam a ascensão de bactérias • Norfloxacino (400 mg) VO de 12/12 horas;
da bexiga para o rim, aumentando o risco de OU
pielonefrite • Amoxicilina (500 mg) VO de 8/8 horas (para
• A maior pressão do útero sobre a bexiga e os estreptococos do grupo B)
ureteres, próximo das 22-26 semanas e • Fosfomicina trometamol (3 g) pó diluído em
associados à imunossupressão da gestação, água, dose única, em jejum
também contribui para maior incidência pelo
refluxo vesico-ureteral Controle de cura
• Glicosúria e aminoacidúria (associados ao • Após 7 dias do término do tratamento, deve ser
aumento da taxa de filtração glomerular), realizada uma nova cultura de urina para
associados à mudança de osmolaridade urinária, verificar a eficácia do tratamento, uma vez que
são fatores facilitadores de ascensão bacteriana 30% dos casos de bacteriúria assintomática não
são solucionados após um período curto de
Bacteriúria assintomática terapia
• O rastreio da bacteriúria assintomática deve ser • Quando isso ocorre, deve ser feito o mesmo
realizado através da cultura de urina entre a 12- antibiótico por um período mais longo ou
16 semanas de gestação ou na primeira consulta, escolhido um outro antibiótico ao qual o
o que ocorrer antes. A amostra deve ser coletada microrganismo seja sensível, realizando um
de modo a minimizar a contaminação, devendo curso mais longo
orientar a gestante a afastar os pequenos lábios
e coletar a urina na saída da uretra Cistite
• Ausência de sintomas e mais duas amostras de • A cistite aguda durante a gestação mostra
urina colhidas consecutivamente com características clínicas singulares. Apresenta-se
isolamento da mesma bactéria em contagem ≥ como uma síndrome caracterizada por quadro
105 UFC (unidades formadoras de colônias)/mL de urgência, polaciúria, disúria e incômodos
ou amostra única de urina cateterizada com uma suprapúbicos, sem sintomas de acometimento
espécie bacteriana isolada em contagem ≥ 102 do quadro geral, como febre e dor à percussão
UFC/mL. Observação: Na prática clínica, apenas costolombar

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Abordagem Diagnóstica bacteriúria, sem necessidade de substituir o


• A análise do sedimento urinário pode evidenciar antibiótico
leucocitúria (acima de 10 leucócitos por campo)
e hematúria. A urocultura apresenta mais de 100
Pielonefrite
mil colônias por mL • Os quadros de pielonefrite são as complicações
mais graves e frequentes na gestação, e estão
• Em geral, o tratamento das pacientes grávidas
associados ao aumento das morbidades
com cistite aguda é iniciado antes que o
materna e fetal
resultado da cultura esteja disponível
• A pielonefrite não tratada está associada a
Abordagem terapêutica eventos perinatais desfavoráveis
• Duração do tratamento: 4-7 dias (prematuridade, sepse neonatal) e é uma
• Nitrofurantoína é uma boa escolha, mas seu uso frequente causa de sepse materna
não é recomendado após a 36ª semana e • O quadro clínico é caracterizado por sintomas
durante a lactação, pois há o risco de o recém- sistêmicos: febre, taquicardia, calafrios,
nato desenvolver anemia hemolítica, se tiver náuseas, vômitos, dor lombar com sinal de
deficiência de glicose-6-fosfato Giordano positivo
• Sulfametoxazol e trimetoprima devem ser
Abordagem diagnóstica
evitados no primeiro trimestre (potencialidade
• Cultura de urina
teratogênica da trimetoprima) e no terceiro
trimestre (pois podem causar kernicterus no • Análise do sedimento urinário: leucocitúria
bebê, especialmente nos prematuros) (acima de 10 leucócitos por campo). A sua
o Nitrofurantoína (100 mg) 1 comprimido ausência não descarta o diagnóstico
VO de 6/6 horas; OU • Sempre que possível, realizar ultrassonografia
o Cefuroxima (500 mg) 1 comprimido VO (USG) de vias urinárias (pesquisa de litíase
de 12/12 horas; OU urinária associada)
o Cefalexina (500 mg) 1 comprimido VO de Abordagem terapêutica
6/6 horas (só se a bactéria for sensível, • Indicação de internação: indicada a
após antibiograma, pois o índice de hospitalização para antibioticoterapia
resistência da E. Coli é superior a 50%); endovenosa (após a coleta de urina para cultura)
OU
• Antibioticoterapia inicialmente empírica, com os
o Cefadroxila (500 mg) 1 comprimido VO
betalactâmicos sendo a primeira opção de
em intervalos de 8 ou 12 horas; OU
tratamento: cefuroxima 750 mg EV de 8/8 horas;
o Norfloxacino (400 mg) VO de 12/12
cefepima 2 g EV a cada 8 ou 12 horas
horas; OU
• Se afebril por 48 horas, trocar para terapia VO
o Amoxicilina (500 mg) 1 comprimido VO
(com base no antibiograma), completando 10-14
de 8/8 horas (para estreptococos do
dias de tratamento ambulatorial
grupo B); OU
o Fosfomicina trometamol: administrada, Falência terapêutica
em jejum, na dose única de 3 g da • Se, após três dias completos de cefuroxima, a
apresentação em pó, diluída em água paciente ainda apresentar febre e/ou
sintomatologia urinária, investigar: obstrução do
Controle de cura
trato urinário, infecção por pseudomonas,
• Após 7 dias do término do tratamento, deve ser
imunossupressão, infecção por bactérias
realizada uma nova cultura de urina para
multirresistentes
verificar sua eficácia
• Antibiograma resistente e melhora dos Seguimento
sintomas: prevalece a clínica e a paciente é • Após o tratamento da pielonefrite, deve-se
considerada curada se houver ausência de iniciar a quimioprofilaxia com nitrofurantoína

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50-100 mg/dia ou cefalexina 250-500 mg/dia,


até o parto

Controle de cura
• Deve ser realizado em todos os casos de infecção
urinária na gravidez
• Cultura de urina de uma semana após o término
do tratamento, para confirmar erradicação da
bacteriúria
• Se a urina for estéril e não houver sintomas
urinários presentes, esta deve ser repetida
mensalmente até o parto

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Dopplervelocimetria para vitalidade Interpretação dos sonogramas


fetal Artérias uterinas
• Fluxo de baixa resistência (normal)
A Dopplervelocimetria é um estudo ultrassonográfico da
velocidade do fluxo sanguíneo nos vasos do corpo
humano, arteriais ou venosos, baseado no princípio
físico do efeito Doppler.

Tem sido utilizada para avaliar a circulação materna • Fluxo de alta resistência - com incisura
(artérias uterinas), fetoplacentária (artérias umbilicais) e
protodiastólica (alterado). A incisura representa
fetal (artéria cerebral média - ACM, aorta abdominal,
uma má adaptação da camada músculo-elástica
artérias renais, ducto venoso e seio transverso).
que fica persistente nos vasos que levam sangue
Circulação fetal à placenta, aumentando a resistência nesse
local. Elas surgem devido ao ciclo de fechamento
• Quando a estrutura placentária apresenta
aórtico
desenvolvimento completo (14 semanas), temos
uma estrutura funcional placentária, com um
lado materno e um lado fetal, havendo trocas
gasosas, de nutrientes e a barreira placentária
• Sabe-se que o sangue chega na placenta pela Artérias umbilicais
artéria uterina e segue para o feto pela veia • Sonograma normal
umbilical. O sangue que circulou pelo feto
retorna à placenta pelas artérias umbilicais para
retornar à circulação materna
• A circulação fetal é aberta, ou seja, há contato
entre sangue venoso e arterial. O trajeto do
sangue a partir das artérias uterinas consiste em • Diástole zero (alterado) – grave
seguir em direção à placenta, de onde é comprometimento da placenta
conduzido pela veia umbilical ao feto. Essa veia
se bifurca em veia porta (fígado) e ducto venoso
(primeiro shunt). O sangue da veia porta atinge
as veias hepáticas, sendo levado até a veia cava
inferior, assim como o sangue oriundo do ducto • Diástole reversa (alterado)
venoso
• Da veia cava inferior, o sangue chega ao átrio
direito, onda há o forame oval (segundo shunt),
que permite que o sangue possa ir, além do Ducto venoso (avalia miocárdio fetal)
ventrículo direito, para o átrio esquerdo. Do • Normal
ventrículo direito, o sangue pode seguir para o
pulmão pelas artérias pulmonares e retornar
pelas veias pulmonares, promovendo a nutrição
pulmonar (não há troca gasosa) ou para o ducto
arterioso (terceiro shunt), chegando na aorta, • Alterado
assim como o sangue que advém do átrio
esquerdo através do forame oval, que também
chega na aorta após passar pelo ventrículo
esquerdo
• Para retornar à placenta, da aorta o sangue
segue para as ilíacas comuns e ilíacas internas,
das quais surgem as artérias umbilicais
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Modificações fisiológicas observadas na anormalidades se relacionam a maior frequência


Dopplervelocimetria de artérias umbilicais de RCF e de pré-eclâmpsia e são verificadas no
sonograma por:
durante a gestação
o Indices Dopplervelocimétricos elevados
• Na avaliação da Dopplervelocimetria de artérias
(índice de pulsatilidade acima do
umbilicais no primeiro trimestre, habitualmente
percentil 95 de curva de normalidade)
não se observa fluxo diastólico. Espera-se que,
▪ Normal: diferença pequena
após a 14ª semana de gestação, o fluxo
entre a parte sistólica e a
diastólico já tenha se tornado positivo,
diastólica da onda (baixo índice
refletindo a diminuição da resistência
de pulsatilidade)
placentária decorrente da primeira onda de
▪ Alterado: grande diferença
invasão trofoblástica
entre a parte sistólica e
• Com a evolução da gestação e, portanto, da diastólica da onda (alto índice
placentação, ocorre gradual aumento do fluxo de pulsatilidade)
diastólico o Incisura protodiastólica em ambas as
Indicações e aplicabilidade da artérias, que persistam após 24 a 26
semanas de gestação
Dopplervelocimetria
Caso haja alguma alteração circulatória, o feto terá Dopplervelocimetria das artérias umbilicais
repercussões (pouca nutrição ou pouca oxigenação), • A Dopplervelocimetria das artérias umbilicais
havendo necessidade de adaptações. O US pode reflete a resistência placentária, que pode estar
detectar essas alterações através do baixo crescimento aumentada por placentação inadequada,
fetal e sofrimento fetal infartos e/ou tromboses no leito placentário
• Essas alterações podem ser dimensionadas
Avaliação da ocorrência de insuficiência placentária
pelos altos valores nos seus índices
• A Dopplervelocimetria dos vasos que destinam
Dopplervelocimétricos (índice de pulsatilidade,
seus fluxos à placenta (artérias uterinas e
relação sístole/diástole) e ainda, em análise
umbilicais) é utilizada para estudo da função
qualitativa do sonograma, pela diminuição ou
desse órgão. Sua indicação está reservada às
ausência de fluxo diastólico final ou até mesmo
gestações que possam evoluir com insuficiência
por fluxo diastólico reverso nas artérias
placentária
umbilicais
• Entre as doenças maternas que mais se
relacionam à insuficiência placentária, pode-se Avaliação da hemodinâmica fetal
citar: hipertensão arterial em todas as suas • Quando identificada a presença de
formas; DM 1 e 2; trombofilias congênitas e anormalidades na Dopplervelocimetria de
adquiridas; cardiopatias, principalmente as artérias umbilicais, por resultados de índices
cianóticas e aquelas com grave anormais (com fluxo diastólico ainda positivo) ou
comprometimento funcional desse órgão; LES; e pelo diagnóstico de fluxo ausente ou reverso,
pneumopatias restritivas graves deve-se considerar a ocorrência de insuficiência
• A função placentária pode ser investigada por placentária
meio da circulação útero-placentária • Pode-se, assim, inferir a existência de menor
(representada pelas artérias uterinas) e da oferta de nutrientes, o que levará a RCF e
circulação fetoplacentária (representada pelas diminuição da oferta de oxigênio com hipoxemia
artérias umbilicais) e consequente desencadeamento de resposta
hemodinâmica fetal
Dopplervelocimetria de artérias uterinas
• As adaptações do sistema hemodinâmico fetal
• Os resultados anormais na Dopplervelocimetria
têm por primeiro objetivo a redistribuição do
das artérias uterinas se associam a invasão
fluxo sanguíneo para priorizar áreas nobres,
trofoblástica inadequada, que determina a
como cérebro, coração e adrenais, em
manutenção de alta resistência vascular. Essas
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

detrimento de músculos, vísceras e rins o Território venoso


(centralização), funcionando como mecanismo ▪ Caso haja baixo índice de
de defesa fetal, sem relação com o prognóstico pulsatilidade cerebral e alto
fetal índice umbilical, sendo viável (IG
• Considerando-se a sequência de alterações na >34 semanas), opta-se por
Dopplervelocimetria que é desencadeada pela resolver a gestação. Não
hipoxemia, observa-se que, após as havendo possibilidade (IG <34
modificações no território arterial, ocorrem semanas), avalia-se o ducto
anormalidades no território venoso fetal venoso, que estando normal,
o Território arterial poder-se-á aguardar um pouco
▪ Artéria cerebral média: tem mais, e fazer terapia com
resistência aumentada, às vezes corticoide antes de resolver a
até com diástole zero, e sua gestação
representação sem diástole • Na artéria cerebral média, é normal que haja
representa o padrão da sístole grande e diástole baixa (alto índice de
normalidade. Mediante pulsatilidade), sendo preocupante quando o
hipoxemia (centralização), índice de pulsatilidade se torna baixo, indicando
observa-se, nesse vaso, sofrimento fetal
aumento do fluxo sanguíneo na
diástole com consequente Acompanhamento das gestações com
diminuição dos índices de diagnóstico de insuficiência placentária
pulsatilidade, representando • Os casos com insuficiência placentária inferida
diminuição da resistência pela Dopplervelocimetria que ainda exibem
fluxo diastólico final positivo na
Dopplervelocimetria das artérias umbilicais e
cujos fetos apresentam ACM normal poderão ter
acompanhamento ambulatorial duas vezes por
semana, desde que a doença materna se
apresente estável
Normal Alterado

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Caso ocorra diagnóstico de centralização da


circulação fetal, deve-se proceder à internação
para avaliação diária da vitalidade fetal e
controle clínico materno
• As gestantes nas quais se verifica fluxo ausente
ou reverso nas artérias umbilicais serão
internadas para avaliação diária da vitalidade
fetal ou parto
• O momento para término da gestação poderá
ser:
o Imediato (não precedido da
administração antenatal de
corticosteroides para maturação
pulmonar): impossibilidade de controle
da doença materna (risco de morte
materna), diástole reversa na
Dopplervelocimetria das artérias
umbilicais, ducto venoso com valor de
índice de pulsatilidade para veias
superior a 1,5, perfil biofísico fetal
inferior ou igual a 6 e desacelerações
tardias de repetição
o Mediato (após uso de corticosteroide
antenatal): ducto venoso com valor de
índice de pulsatilidade para veias entre
1 e 1,5 e oligoâmnio
• É importante esclarecer que, após a utilização de
corticosteroide, ocorre diminuição dos índices
de pulsatilidade das artérias umbilicais e do
ducto venoso

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Métodos não farmacológicos para Movimentação e posição materna


• A gestante de baixo risco em trabalho de parto
alívio da dor no trabalho de parto deve, sempre que possível, deambular,
Educação antenatal movimentar-se e mudar de posição para a forma
• A educação antenatal consiste na orientação mais confortável, uma vez que as dimensões da
individual ou em grupo de gestantes e de seus pelve variam e podem aliviar a dor
acompanhantes com a finalidade de informar
sobre o processo de trabalho de parto e o parto, Bola de parto
as práticas comuns no atendimento da gestante • A bola de parto, também conhecida como bola
do serviço, o início da paternidade e a suíça, bola obstétrica ou bola de Bobath, permite
amamentação. Isso pode reduzir a ansiedade e a mudança de posição, diminuindo a sensação
ajudar no controle da dor dolorosa da contração uterina; estimula
movimentos espontâneos e não habituais, e
Técnica de respiração ajuda na rotação e na descida fetal
• Na técnica de respiração, é importante evitar a
hiperventilação, a qual produz acentuada queda Hidroterapia
na pressão parcial de dióxido de carbono no • A hidroterapia se refere ao banho de imersão ou
sangue arterial, vasoconstrição uterina e menor de aspersão
liberação de oxigênio para o feto • Ao entrar na água aquecida, o calor e a flutuação
• A técnica correta de respiração consiste em ajudam a liberar a tensão muscular e podem
respiração rápida e superficial no momento do conferir uma sensação de bem-estar
auge da contração e, ao final da contração, • A água quente proporciona uma estimulação
inspira e expira lentamente a fim de promover confortante aos nervos da pele, o que promove
boa troca de oxigênio e dióxido de carbono após vasodilatação, reversão da resposta nervosa
a respiração rápida simpática e redução de catecolaminas
• A recomendação para iniciar a hidroterapia é de
Exercícios de relaxamento que a gestante esteja na fase ativa do trabalho
• O objetivo das técnicas de relaxamento é reduzir de parto para evitar a diminuição das contrações
a ansiedade e a tensão muscular secundárias ao relaxamento muscular
• Em geral, as técnicas de relaxamento distraem a • A paciente é encorajada a permanecer na
paciente, aumentam sua sensação de controle banheira ou no chuveiro enquanto quiser e
da dor e facilitam o sono e o repouso estiver confortável
• A temperatura da água não deve exceder a
Ambiente temperatura corporal para evitar aumento da
• O ambiente ideal para o manejo da dor no temperatura corporal materna e o tempo de
trabalho de parto e no parto tem que ser banho é tipicamente limitado entre 1 e 2 horas
confortável e privado, além de oferecer área • Postula-se que, durante o banho de imersão, a
para caminhar, tomar banho e descansar pressão hidrostática da água sobre o tecido
• Durante o trabalho de parto, o acompanhante subcutâneo edemaciado da gestante faz com
pode ajudar a mulher a lidar melhor com a dor e que o fluido seja movido para o espaço
a ansiedade e melhorar os desfechos obstétricos intravascular, que leva ao aumento do volume
o Maior probabilidade de parto vaginal sanguíneo. Isso resulta em aumento da
espontâneo produção de fator natriurético atrial (FAN), que
o Menor probabilidade de receber finalmente suprime a produção de vasopressina
analgesia intraparto pela glândula pituitária e um efeito
o Menor duração do trabalho de parto e acompanhado é a supressão da produção de
menor incidência de parto instrumental ocitocina
• Não deve realizar banho de imersão antes dos 6
cm de dilatação, pois pode aumentar a fase
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

latente e estudos indicam redução do apgar • Postula-se que a música desvia a atenção da dor,
nesses casos levando um estímulo agradável ao cérebro que
desvia a o foco da dor
Massagem
• A massagem é uma terapêutica simples, de baixo Aromaterapia
custo, que, associada à respiração, à melhor • A aromaterapia é a ciência do uso de óleos
posição e à deambulação essenciais altamente concentrados ou essências
• A massagem é realizada na região lombar destiladas a partir de plantas a fim de utilizar
suas propriedades terapêuticas
Acupuntura • Apesar de incerto, seu mecanismo de ação
• Para a dor do trabalho de parto, a colocação das parece estimular a produção de substâncias
agulhas depende do grau e da localização da dor, relaxantes, estimulantes e sedativas endógenas
do estágio do trabalho de parto, do nível de
cansaço materno, da tensão, da ansiedade e de
uma variedade de outros fatores

Acupressão
• Acupressão, ou shiatsu, é uma alternativa mais
simples para a acupuntura. A pressão é feita com
os dedos nos pontos de acupuntura
• Um ponto comum é o spleen 6 em cada tíbia.
Esse ponto está localizado quatro dedos acima
do maléolo medial e a pressão é aplicada na tíbia
e diagonalmente para a frente. O ponto é o mais
sensível da área circundante

Hipnose
• A hipnose é um estado de profundo de
relaxamento com uma mente alerta
• A hipnose utilizada para o parto é quase sempre
auto-hipnose: a hipnoterapia ensina a mulher a
induzir o estado de hipnose em si mesma
durante o trabalho de parto

Estimulação elétrica transcutânea


• A estimulação elétrica transcutânea é a
transmissão de impulsos elétricos de baixa
tensão para a pele via eletrodos de superfície
• Para aliviar as dores do parto, um par de
eletrodos é geralmente colocado
paravertebralmente ao nível de T10 a L1 e outro
ao nível de S2 a S4. A gestante controla os
parâmetros do aparelho por controle remoto
• Estudos dizem não haver resultados
significativos

Musicoterapia
• A musicoterapia utiliza a música como estímulo
auditivo para diminuir a percepção da dor

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Cardiopatias na gestação mecânicas, presença de fibrilação atrial e


trombofilias hereditárias ou adquiridas) e
As doenças cardiovasculares continuam como as
administração de medicamentos
principais causas de morte materna nos Estados Unidos
antitrombóticos
da América (EUA) e a terceira causa entre indivíduos com
25 a 44 anos de idade.

As doenças cardíacas comprometem em torno de 1% das


gestações e, embora ainda seja alta, a mortalidade
materna tem decrescido acentuadamente ao longo dos
últimos 50 anos.

Epidemiologia
• A cardiopatia diagnosticada antes ou durante o
ciclo gravídico-puerperal tem incidência de 0,3 a
4,2%
• O aumento da taxa de sobrevivência de
mulheres portadoras de cardiopatia congênita
tem mantido sua incidência em níveis crescentes
nos últimos anos
• A cardiopatia é a principal causa indireta de
morte materna no município de São Paulo,
sendo que a maior parte das mortes ocorreu no
período puerperal

Alterações cardiovasculares na gestação normal


• As alterações hemodinâmicas na gestação têm
como finalidade aumentar o fluxo sanguíneo Doenças cardiovasculares durante a gestação
para a unidade fetoplacentária. No entanto, • É essencial avaliar qualquer mulher grávida com
mulheres com doença cardiovascular doença cardíaca, pelo risco de resultados
preexistente podem exibir marcante adversos durante a gravidez, o parto e o
deterioração clínica durante o curso da gravidez puerpério. Idealmente, essa avaliação deveria
• Durante a gestação, ocorre aumento do débito ser realizada antes da gravidez, visando estimar
cardíaco e queda da resistência vascular os riscos envolvidos para a gestante e o concepto
sistêmica sem concomitante aumento da • O objetivo é a otimização do quadro clínico:
demanda metabólica considerar ajuste medicamentoso (com troca de
• Imediatamente após o parto, a descompressão medicamentos com risco de teratogênese);
da veia cava inferior, aliada à autotransfusão quando indicado, programar cirurgia para
decorrente da contração do útero, produz correção ou paliação de defeitos cardíacos
subsequente aumento no débito cardíaco. A
maior parte das alterações hemodinâmicas é
revertida aos níveis pré-gestacionais dentro das
primeiras 2 semanas do período puerperal
• Paralelamente às modificações hemodinâmicas,
na gravidez se desenvolve um estado de
hipercoagulabilidade. Essas modificações,
associadas à estase venosa, resultam em risco
aumentado de fenômenos tromboembólicos, o
que deve ser levado em conta quando há riscos
adicionais (pacientes com próteses valvares

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Repercussões da gravidez sobre a doença suportam bem a gravidez, com índice de


cardiovascular complicações ao redor de 12% (arritmias,
desenvolvimento de insuficiência cardíaca
• O aumento da volemia durante a gravidez é mal
direita)
tolerado por pacientes com limitação do débito
cardíaco (portadoras de insuficiência cardíaca • Nas pacientes com doenças não corrigidas
congestiva, lesões miocárdicas, doença cirurgicamente, costuma haver piora da cianose
obstrutiva valvar ou vascular) e também nas e hipoxemia, e aumento da incidência de
pacientes com risco de dilatação ou dissecção de fenômenos tromboembólicos
grandes vasos (síndrome de Marfan) Transposição dos grandes vasos
• A diminuição da resistência vascular periférica, • Na transposição corrigida das grandes artérias
nas pacientes com shunts direita-esquerda e (discordância atrioventricular e ventrículo-
hipertensão pulmonar, pode provocar piora das arterial), a ocorrência de complicações na
condições hemodinâmicas e acentuação da gravidez está associada à disfunção ventricular
cianose (por hipofluxo pulmonar), e pode até e/ou aos bloqueios atrioventriculares
levar à morte súbita em casos de hipovolemia
secundária a sangramento ou redução de Defeitos septais
retorno venoso Defeitos do septo interatrial
• O risco de morte materna por cardiopatia é • A gravidez é bem tolerada, a menos que a
comparativamente aumentado nas pacientes hipertensão pulmonar se desenvolva, mas isso é
com hipertensão pulmonar síndrome de Marfan raro porque as pressões na artéria pulmonar na
com dilatação de raiz da aorta, miocardiopatia gravidez são usualmente baixas
periparto na gravidez atual, casos de infarto
Defeitos do septo interventricular
agudo do miocárdio com menos de 2 semanas
de intervalo até o parto, estenose mitral e • Os adultos com defeitos extensos não corrigidos
aórtica, uso de próteses valvares mecânicas e apresentam falência ventricular esquerda e
coarctação da aorta não corrigida ou cardiopatia hipertensão pulmonar, assim como uma alta
congênita cianótica incidência de endocardite bacteriana
• Em alguns casos, a descompensação clínica • A gravidez é geralmente bem tolerada na
materna pode estar associada a interrupção de presença de shunts esquerda-direita de grau
medicamentos, presença de anemia, processos pequeno a moderado (menor que 1,25 cm²)
infecciosos, desenvolvimento de forma grave da • Quando as pressões arteriais pulmonares
doença hipertensiva específica da gestação atingem níveis sistêmicos, há, contudo, fluxo
(DHEG), gestação múltipla, ganho de peso reverso ou bidirecional (síndrome de
excessivo ou atividade física excessiva Eisenmenger). Quando isso acontece, a
mortalidade materna atinge incidência em torno
Gestação associada às principais cardiopatias de 30 a 50%. Dessa forma, a gravidez é
Tetralogia de Fallot contraindicada e um abortamento terapêutico
• Estenose pulmonar, defeito do septo deve ser oferecido em caso de falha na
interventricular, cavalgamento da aorta sobre o contracepção
septo e hipertrofia ventricular direita Cardiopatias congênitas complexas
• Sinais de pior prognóstico são: marcante • Esse grupo engloba pacientes com anatomia
diminuição da saturação arterial de oxigênio, cardíaca alterada, em geral sem possibilidade de
obstrução residual do fluxo de saída ventricular correção cirúrgica ou com realização prévia de
direita, com severa elevação da pressão cirurgia paliativa (atresia de tricúspide,
ventricular e hematócrito materno acima de hipoplasia de ventrículo direito, atresia de
62% artéria pulmonar, ventrículo único etc.)
• Pacientes com tetralogia de Fallot previamente
submetidas à correção cirúrgica geralmente

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• O aconselhamento preconcepcional é Doenças cardíacas valvares


extremamente importante nesse grupo, estando • A doença valvar pode ser congênita ou
a gestação contraindicada em muitas pacientes adquirida, secundária a doença reumática,
outras doenças reumatológicas (lúpus, artrite
Doenças da aorta reumatoide), infecção pelo vírus da
Coarctação da aorta e síndrome de Marfan imunodeficiência humana (HIV), endocardite e
• A coarctação da aorta e a síndrome de Marfan trauma. A valvopatia reumática é a doença
têm sido relacionadas a maior risco de morte cardíaca mais prevalente durante a gestação no
materna secundária à dissecção da aorta Brasil e se desenvolve após infecção de vias
Síndrome de Eisenmenger e hipertensão arteriolar aéreas superiores por estreptococos beta-
hemolíticos do grupo A
pulmonar
• Na síndrome de Eisenmenger (hipertensão • As mulheres com valvopatias (congênitas ou
pulmonar associada a defeito do septo adquiridas) apresentam maior incidência de
interventricular ou canal arterial pérvio), a insuficiência cardíaca congestiva e arritmias, em
mortalidade materna vem se mantendo alta especial nos casos de estenose mitral e aórtica
• O mesmo é válido nos casos de hipertensão • Em situações de descompensação cardiológica
pulmonar, que pode ser primária ou secundária refratária a tratamento clínico, pode haver
indicação de valvoplastia percutânea por balão
(decorrente de tromboembolismo pulmonar,
doença pulmonar obstrutiva crônica, ou até cirurgia cardíaca para valvoplastia ou
esquistossomose, vasculites e uso de drogas ou troca valvar
medicamentos) • Na estenose aórtica, as complicações maternas
• As mortes acontecem mais frequentemente no estão relacionadas a estenose moderada ou
puerpério e a gestação é contraindicada, sendo grave, que podem provocar queda exagerada do
recomendada sua interrupção no caso de débito e hipotensão
ocorrência não planejada • As complicações da estenose mitral na gravidez
estão principalmente relacionadas ao aumento
Arterite de Takayasu da frequência cardíaca e do débito cardíaco
• A arterite de Takayasu constitui uma vasculite causados pela gestação e ao estreitamento da
caracterizada pela oclusão idiopática da aorta e valva mitral. Com o aumento da pressão atrial
de seus principais ramos esquerda, a paciente começa a desenvolver
• Sua natureza leva a quatro complicações sintomas de dispneia, diminuição da capacidade
principais: retinopatia isquêmica, hipertensão de exercício, ortopneia e dispneia paroxística
arterial secundária (quando a artéria renal é noturna, podendo apresentar, nos casos mais
afetada), insuficiência aórtica e aneurisma da graves, edema pulmonar
aorta ou de seus ramos • Na presença de condição clínica que possa
• O tratamento é feito com corticosteroides e sugerir indicação de cirurgia cardíaca após a 28ª
outros imunossupressores, se necessário. A semana, deve ser considerada a resolução da
gravidez não altera o prognóstico da doença, gestação
mas alguns eventos desfavoráveis, como • As lesões valvares com regurgitação
agravamento da hipertensão arterial e (insuficiência mitral e aórtica) não combinadas a
insuficiência cardíaca, podem ocorrer lesões estenóticas habitualmente apresentam
• Durante a gestação, recomenda-se redução da evolução mais favorável na gravidez. Quando
dose do corticosteroide, suspensão de existe disfunção ventricular sintomática,
imunossupressores com risco de teratogênese habitualmente é indicado tratamento com
(se possível) e administração de AAS em baixas diuréticos, digoxina e em substituição a
doses para prevenção de pré-eclâmpsia inibidores de enzima conversora da
sobreposta angiotensina, nitratos e/ou hidralazina
• As mulheres portadoras de próteses mecânicas,
o que não acontece nas portadoras de próteses
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biológicas, apresentam dificuldades com a no final da gravidez ou com menos de 2 semanas


anticoagulação, pois, como na gravidez existe de intervalo até o parto
hipercoagubilidade, há risco aumentado da
ocorrência de fenômenos tromboembólicos. Por Arritmias cardíacas
sua vez, os anticoagulantes orais têm sido • As arritmias cardíacas leves são comuns durante
relacionados a aumento do número de a gravidez, como taquicardia sinusal,
abortamentos espontâneos, sangramentos extrassístoles ventriculares e supraventriculares,
cerebrais fetais, embriopatia warfarínica e e geralmente são pouco sintomáticas e bem
fenômenos hemorrágicos maternos toleradas sem medicação
• O surgimento de uma arritmia sintomática pode
Miocardiopatias estar associado a outras condições, como
Miocardiopatia periparto anemia, infecção, hipertireoidismo ou embolia
• A miocardiopatia periparto (MCPP) constitui pulmonar
uma miocardiopatia dilatada, em que as • Os medicamentos utilizados no tratamento de
pacientes apresentam sintomas de insuficiência arritmias podem levar a efeitos indesejáveis
cardíaca congestiva que se iniciam no final da sobre o concepto, como a amiodarona
gravidez (mais raramente) ou nos 5 meses após (hipotireoidismo fetal) e os betabloqueadores
o parto, sendo responsável por vários casos de (RCF)
mortalidade materna, até tardiamente (no • O tratamento de reversão de arritmias agudas
primeiro ano após o término da gestação) com repercussão hemodinâmica deve ser
instituído prontamente. Quando indicados,
Miocardiopatia dilatada
podem ser utilizados adenosina ou verapamil,
• As miocardiopatias dilatadas virais, idiopáticas,
assim como a cardioversão elétrica
sequelas de miocardiopatia periparto ou ainda
de etiologia chagásica (mais frequentes em Gestação após transplante cardíaco
nosso meio) apresentam evolução variável • Com o aumento do número de transplantes em
durante a gestação mulheres em idade fértil, dezenas de casos de
• Nas situações em que a disfunção é grave (fração gestação pós-transplantes têm sido descritos,
de ejeção inferior a 45%), há uma grande ainda que a gravidez seja desencorajada nas
possibilidade de deterioração na gravidez e no receptoras
puerpério • As complicações clínicas são relacionadas aos
• O tratamento das miocardiopatias inclui casos de rejeição (com piora cardiológica),
repouso, restrição hídrica e de sal, infecções relacionadas à imunossupressão,
vasodilatadores, digitálicos e betabloqueadores. presença de coronariopatia pós-transplante e
Além disso, recomenda-se realizar hipertensão (relacionada principalmente ao uso
anticoagulação profilática quando em vigência da ciclosporina), principalmente no 1º ano pós-
de insuficiência cardíaca e até o final do transplante
puerpério • Quanto às complicações obstétricas, além das
• Essas pacientes devem ser desencorajadas decorrentes da cardiopatia e hipertensão, existe
quanto a futuras gestações o risco de teratogênese causada pelos
imunossupressores e infecções, em especial por
Doenças cardíacas isquêmicas citomegalovírus
• A incidência de infarto agudo do miocárdio na
• O aleitamento está contraindicado pelo uso dos
gravidez é de uma em cada 10 mil gestações,
imunossupressores e o bloqueio da lactação
podendo ocorrer por aterosclerose,
deve ser feito mecanicamente, uma vez que há
vasoespasmo, trombose ou dissecção de artéria
maior risco de espasmo coronariano com uso de
coronária. A mortalidade no quadro agudo pode
carbegolina e bromoergocriptina
ser de 25 a 50%, aumentando em mulheres com
menos de 35 anos e quando o infarto acontece

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Repercussões materno-fetais decorrentes de Manejo do parto e do puerpério nas


cardiopatias cardiopatias
• Prematuridade e mortalidade perinatal • Em condições favoráveis, o parto da gestante
• Maior frequência de baixo peso fetal quando há cardiopata deveria ser espontâneo, sob
cardiopatia com capacidade funcional limitada analgesia peridural e com abreviação do período
• Complicações perinatais de prematuridade, expulsivo por meio de fórcipe
RCIU e baixo peso ao nascer são frequentes em • Nas pacientes de médio e alto risco
portadoras de valvopatias cardiovascular (grupos II e III da OMS),
• Muitas vezes, a repercussão sobre o produto da recomenda-se, na Clínica Obstétrica do HC-
concepção não é decorrente apenas da doença FMUSP, parto programado a partir da 37ª
materna, mas também do tratamento a ela semana. A indução não é contraindicada nas
dispensado pacientes clinicamente estáveis. A maturação
o Diuréticos e betabloqueadores: podem cervical com prostaglandina E (misoprostol ou
provocar redução do fluxo placentário, dinoprostona) é segura nas pacientes
restrição do crescimento fetal e portadoras de cardiopatia
oligoâmnio • A antibioticoterapia profilática (ampicilina, 2 g,
o Amiodarona: pode levar ao por via intravenosa, e gentamicina, 1,5 mg/kg
hipotireoidismo fetal (até 120 mg), por via intravenosa ou
intramuscular, 1 hora antes do parto e 6 horas
Acompanhamento pré-natal das gestantes com após) para endocardite infecciosa no parto é
doenças cardíacas realizada nas situações de risco moderado e alto
• O acompanhamento pré-natal das gestantes para endocardite:
com doenças cardíacas deve ser realizado em o Alto: próteses valvares, endocardite
hospital especializado (terciário ou quaternário) infecciosa prévia, cardiopatias
• Exames complementares como congênitas cianóticas complexas, shunts
eletrocardiograma e ecocardiograma devem ser sistêmicos pulmonares
incluídos na rotina do pré-natal o Médio: malformações cardíacas
• Recomenda-se repetição desses exames no congênitas (exceto comunicações
terceiro trimestre ou quando houver piora do interatriais, comunicações
quadro clínico interventriculares e PCA corrigidas ou
• Recomendam-se retornos mais próximos (a cada comunicação interatrial tipo ostium
3 ou 2 semanas até 28 semanas e, depois, secundum), disfunção valvar adquirida,
semanalmente até o parto) miocardiopatia hipertrófica, prolapso de
• A avaliação complementar da vitalidade fetal se valva mitral com regurgitação e/ou
inicia entre 24 e 26 semanas com o estudo espessamento
Dopplervelocimétrico das artérias umbilicais e • OBS: de acordo com a aula do Dr. Salim, essa
depois, mais amiúde, com o perfil biofísico fetal profilaxia deve conter VANCOMICINA!
associado ao estudo hemodinâmico fetal a partir
Anestesia
de 28 semanas nos casos mais graves
• A analgesia do trabalho de parto é de extrema
• Em situações de deterioração clínica que não
importância em pacientes com doenças
respondem à terapêutica, considera-se a
cardíacas
resolução da gestação, independentemente da
• A anticoagulação contraindica a realização de
idade gestacional
punção lombar
• A utilização de corticoterapia para aceleração da
maturidade pulmonar fetal deve ser vista com
extrema cautela em gestantes com cardiopatia,
em função do risco de piora materna

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Perfil biofísico fetal acarretando menor diurese e, assim, diminuição


do volume de líquido amniótico
O perfil biofísico fetal é um método de propedêutica do
bem-estar fetal que estuda atividades biofísicas fetais e Descrição dos parâmetros biofísicos
a estimativa do volume de líquido amniótico. Cada um dos cinco parâmetros anteriormente citados -
Baseia-se na hipótese de que as atividades biofísicas frequência cardíada fetal, movimentos respiratórios
fetais são um reflexo do grau de oxigenação do SNC e fetais, movimentos corporais fetais, tônus fetal e
tem por objetivo associar variáveis antes analisadas líquido amniótico - recebe, para composição do perfil
separadamente para melhorar a predição do sofrimento biofísico fetal, a pontuação 0 ou 2, o que dependerá do
fetal. fato de terem sido ou não atingidos os critérios
preestabelecidos
Indicações
• Frequência cardíaca fetal: consideram-se
Este método é indicado como complemento a:
normais: padrão ativo (presença de pelo menos
• Cardiotocografias normais: resultado normal na uma aceleração transitória em 10 minutos de
cardiotocografia não exclui a possibilidade de traçado), padrão reativo ao estímulo sônico
oligoâmnio, tomando necessária a avaliação do (aumento de pelo menos 20 bpm fetais, com
índice de líquido amoniótico (ILA) nesses casos duração igual ou superior a 3 minutos) ou
• Cardiotocografias suspeitas ou anormais: para padrão bifásico (no qual se observam
diminuir os resultados falso-positivos da acelerações transitórias após resposta ao
cardiotocografia e os partos prematuros estímulo sônico)
iatrogênicos. Assume grande importância • Variáveis ultrassonográlicas: as variáveis
quando se avaliam situações nas quais as ultrassonográficas (movimentos respiratórios
anormalidades da frequência cardíaca fetal são fetais, movimentos corporais fetais, tônus e
decorrentes de prematuridade extrema, volume de líquido amniótico) deverão ser
arritmias cardíacas fetais ou da utilização de identificadas ou não em um período máximo de
medicações pela mãe que, por passagem 30 minutos consecutivos (duração máxima do
transplacentária, sejam capazes de interferir no tempo do exame); a média de tempo necessário
comportamento da frequência cardíaca fetal, para a observação dessas variáveis, porém, é
como betabloqueadores e sedativos inferior a 5 minutos
• Movimentos respiratórios fetais: considera-se
Variáveis que compõem o perfil biofísico fetal normal a presença de um episódio de
Marcadores agudos movimentos respiratórios com duração de 30
• A frequência cardíaca fetal é o primeiro segundos
parâmetro a se alterar e, a seguir, os • Movimentos corporais fetais: a ocorrência de
movimentos respiratórios fetais, os movimentos um movimento rápido e amplo ou de três
corporais fetais e por último o tônus movimentos corporais lentos caracteriza a
normalidade dessa atividade biofísica
Marcador crônico
• Tônus: é verificado pela atitude fetal de flexão
• O marcador crônico do perfil biofísico fetal é o
ou pela presença de movimentação corporal
líquido amniótico
satisfatória. Na ausência de movimentos
• Após a segunda metade da gestação, os
corporais fetais, deve-se avaliar o tônus pela
principais responsáveis pela produção do líquido
visualização dos movimentos de abertura e
amniótico são os pulmões e, sobretudo, os rins
fechamento das mãos e pela constatação dos
do feto
movimentos palpebrais ou de sucção
• Diante da hipoxemia crônica e após o
• Volume de líquido amniótico: para esse volume
desencadeamento do fenômeno da
ser classificado como normal, é necessário que
centralização da circulação fetal, ocorre redução
atinja valores superiores ou iguais a 2,0 cm. Uma
da perfusão sanguínea desses órgãos,
alternativa para a avaliação do volume de líquido

76
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

amniótico é a utilização do ILA, pois ele permite


o estudo de toda a cavidade uterina.
Consideram-se normais valores de ILA
superiores a 5,0 cm

Interpretação do perfil biofísico fetal


• Para cada uma das variáveis consideradas
normais, são atribuídos 2 pontos; para as
anormais, 0. O valor total do teste varia de 0 a 10
pontos
• A indicação de conduta ativa, quando os valores
do perfil biofísico fetal são inferiores a 6, é
fundamentada no fato de que, abaixo desse
valor, há associação com acidose no nascimento,
marcador considerado padrão-ouro para
diagnóstico de sofrimento fetal
• A indicação da resolução da gestação deve
sempre considerar a idade gestacional e o risco
de morte e de sequelas neonatais. Assim, os
escores de perfil biofísico fetal iguais a 6 podem
indicar a resolução da gestação quando a idade
gestacional é superior a 34 semanas

77
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Patologias do líquido amniótico movimentação do feto, e observa-se o sinal do


“piparote”. Também é comum edema nas
O produto conceptual é envolto por líquido amniótico
porções baixas do ventre materno e nos
durante todo o seu desenvolvimento intrauterino. Além
membros inferiores
de manter a homeostase térmica, o líquido proporciona
proteção ao feto contra traumas mecânicos, evita Avaliação ultrassonográfica
fenômenos compressivos do cordão umbilical e é • Quando houver suspeita clínica, o diagnóstico
fundamental para o adequado desenvolvimento do das alterações do volume de líquido amniótico
sistema musculoesquelético, permitindo a pode ser confirmado pelo exame
movimentação corporal. ultrassonográfico, o qual permite avaliar o
volume de líquido por meio de critérios
Fisiologia
subjetivos ou semiquantitativos
• No início da gestação, o líquido contido na
cavidade amniótica é essencialmente um Critérios subjetivos
ultrafiltrado do plasma materno • Oligoâmnio: presença de pequena quantidade
• A partir do início do segundo trimestre, a difusão de líquido amniótico entre as interfaces fetais e
do líquido extracelular através da pele fetal a parede uterina, constatação das pequenas
torna a composição do líquido amniótico partes fetais muito “aglomeradas” e diminuição
semelhante à do plasma fetal evidente do líquido amniótico, o que dificulta o
• A partir de 20 semanas, com a queratinização da estudo da morfologia fetal
pele fetal, as fontes principais de líquido • Polidrâmnio: aumento evidente do volume de
amniótico passam a ser a urina fetal e o fluido líquido amniótico com identificação de grandes
pulmonar bolsões, discrepância entre o tamanho do feto e
• Já a reabsorção desse líquido se faz a quantidade de líquido amniótico, e presença
principalmente por meio da deglutição fetal, de espaços entre o feto e a parede uterina
seguida de reabsorção intestinal e trocas através anterior
da superfície das membranas que revestem o
cordão umbilical, a face fetal da placenta e a Critérios semiquantitativos
parede uterina Técnica do maior bolsão de líquido amniótico: a
técnica consiste na medida do diâmetro vertical
Avaliação clínica do maior bolsão de líquido amniótico, livre de
• Oligoâmnio: há suspeita de oligoâmnio quando partes fetais e alças de cordão umbilical,
o volume uterino é menor que o esperado para observado durante exame ultrassonográfico.
a idade gestacional, podendo-se evidenciar a
diminuição do líquido amniótico e o fácil
reconhecimento das partes fetais pela palpação
do abdome materno. A mãe também pode
relatar redução na movimentação fetal e/ou
história de perda de líquido pela via vaginal
• Polidrâmnio: nesses casos, a queixa mais comum
da gestante é a dispneia, a altura uterina é maior
do que a esperada para a idade gestacional e,
além disso, a pele do abdome materno
apresenta-se distendida, lisa e brilhante, com
presença de estrias extensas. No tempo
palpatório do exame clínico, há dificuldade para
identificar partes fetais, e em alguns casos o • Índice do líquido amniótico (ILA): com a gestante
útero pode apresentar hipertonia decorrente do em decúbito dorsal horizontal, o abdome
volume excessivo. A ausculta dos batimentos materno é dividido em quatro quadrantes
cardíacos fetais é dificultada pelo excesso de determinados pela linha nigra e pelo eixo
78
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

transverso, que passa no nível da cicatriz hemodinâmica), o que destina maior fluxo
umbilical materna. O resultado final é sanguíneo para órgãos mais importantes
computado pela soma das medidas do maior (cérebro, coração e adrenais), em detrimento de
bolsão vertical identificado em cada um dos outros, como rins, pulmões e sistema digestório.
quadrantes. Essa técnica tem como principais Com o hipofluxo sanguíneo nesses territórios,
vantagens ser de fácil padronização e apresentar ocorre diminuição gradativa do volume de
boa reprodutibilidade. O método é utilizado líquido amniótico
preferencialmente para gestações acima de 28 • Durante o terceiro trimestre da gestação, e
semanas e quando o fundo uterino ultrapassa a principalmente no pós-datismo, o diagnóstico de
cicatriz umbilical oligoâmnio é frequente e associa-se ao declínio
da função placentária
• A exposição materna a substâncias como os
AINES podem cursar com redução acentuada do
volume de líquido amniótico

Oligoâmnio
• O oligoâmnio é a redução do volume de líquido
amniótico, que é classicamente definida como
valores abaixo de 300 a 400 mL
• Do ponto de vista fetal, as principais
repercussões de oligoâmnio de instalação
precoce e persistente incluem a ocorrência de
hipoplasia pulmonar e o aumento do risco de Tratamento
óbito perinatal. Outras consequências incluem a • Investigar sinais e sintomas que indiquem RPMO
ocorrência de deformidades do polo cefálico e ou exposição a substâncias e medicamentos
da face, e mau posicionamento das • Buscar malformações e avaliar a adequação do
extremidades crescimento fetal e dos parâmetros da vitalidade
fetal nos casos de insuficiência placentária
Causas • A resolução da gestação está indicada nos casos
• Durante o segundo trimestre da gestação, esse de oligoâmnio com maturidade pulmonar fetal
diagnóstico está mais frequentemente comprovada ou quando as provas de vitalidade
associado a quadros de insuficiência placentária fetal estiverem alteradas, independentemente
grave com restrição do crescimento fetal (RCF), da maturidade fetal, mas após a viabilidade. Em
rotura prematura das membranas ovulares casos com idade gestacional igual ou superior a
(RPMO) e anomalias fetais que impedem a 37 semanas, recomenda-se a resolução da
eliminação da urina fetal na cavidade amniótica, gestação
como agenesia renal bilateral, doença renal • Quando a idade gestacional é inferior a 37
cística e obstruções urinárias baixas ou bilaterais semanas, analisa-se o valor do ILA. O oligoâmnio
• Quando o quadro está relacionado à grave, caracterizado se o ILA apresentar valor
insuficiência placentária, o déficit nutritivo e o inferior a 3,0 cm, é situação em que se indica a
regime de hipoxia desencadeiam o fenômeno de resolução da gestação. Quando o ILA apresentar
redistribuição da circulação fetal (centralização
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

valor entre 3,0 e 5,0 cm, o caso deve ser relacionado à hiperglicemia fetal com
analisado com base na condição clínica materna consequente poliúria. Outra possibilidade inclui
e fetal o aumento na concentração de glicose presente
no líquido amniótico, o que provoca influxo de
Hidratação materna
água para o interior da cavidade amniótica,
• O estado de hidratação materna parece ser o
seguindo o gradiente osmótico
principal fator regulatório materno do volume
• Entre as causas placentárias, a mais
de líquido amniótico
frequentemente encontrada é o polidrâmnio
Amnioinfusão associado às gestações monocoriônicas. Por
• A amnioinfusão consiste na realização de causa da presença de anastomoses vasculares
amniocentese para infusão de soro fisiológico na entre as duas circulações fetais, uma parcela
cavidade amniótica. O sucesso desta técnica desses casos é complicada pela síndrome de
ainda permanece obscuro transfusão feto-fetal grave, em que o feto
receptor geralmente é hipervolêmico e
Polidrâmnio apresenta aumento da produção urinária, o que
• O polidrâmnio é definido quando o volume de ocasiona o polidrâmnio
líquido amniótico excede 2.000 mL
• Trata-se de quadro grave, uma vez que Tratamento
habitualmente cursa com trabalho de parto Amniodrenagem
prematuro e elevados índices de mortalidade • Nos casos associados a dispneia e/ou dor
perinatal abdominal materna, realiza-se amniodrenagem
• Além do desconforto respiratório materno, vale aliviadora para amenizar temporariamente os
citar como principais complicações o trabalho de sintomas maternos
parto prematuro, a RPMO, o descolamento Inibidores da prostaglandina
prematuro de placenta (DPP), a apresentação
• A administração de indometacina à mãe é a
fetal anômala, o parto moroso e a distocia
alternativa não invasiva de tratamento.
funcional, o prolapso de membros ou cordão, a
Habitualmente empregada na dose inicial de 25
atonia uterina e a hemorragia pós-parto
mg a cada 6 horas durante os 2 primeiros dias e
Causas de até 1,5 a 3 mg/kg/dia após
• As causas de polidrâmnio são diversas e podem • Essa substância parece reduzir a produção de
envolver fatores maternos, fetais e/ou líquido amniótico pelo feto, atuando
placentários diretamente no epitélio pulmonar e nos rins

• O diabetes mellitus constitui a principal condição


materna associada ao polidrâmnio. O
mecanismo fisiopatológico sugerido está
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Trabalho de parto pré-termo


Parto pré-termo (ou prematuro) é aquele ocorrido a
partir de 20 e antes de 37 semanas completas (259 dias).

No nosso meio, as taxas de parto prematuro espontâneo


situam-se em torno de 10% dos nascimentos.

É importante distingui-lo do conceito de pequeno para a


idade gestacional (PIG), que é o recém-nascido (RN) que
nasce abaixo do esperado para a idade gestacional,
assim como distingui-lo do RN de baixo peso ao nascer,
aquele que nasce com peso inferior a 2.500 g,
independente da idade gestacional.

Classifica-se como parto pré-termo moderado o ocorrido


entre 33 e 36 semanas; muito pré-termo entre 28 e 32
semanas incompletas; e pré-termo extremo aqueles com
menos de 28 semanas.

Etiologia e fisiopatologia
• O parto pré-termo é evento multifatorial, no
qual estão envolvidas a liberação de citocinas
inflamatórias (interleucina 1, 6 e 8, fator de
necrose tumoral), hormônios hipotalâmicos e
adrenais (ocitocina, cortisol e hormônio
liberador de corticotropina), produção de
estrógenos placentários, liberação de
prostaglandinas e proteases e formação de
trombina
• Estes eventos parecem ser resultado de um dos
• A história de parto prematuro anterior é o fator
quatro processos patológicos: ativação
de risco mais significativo para um novo evento.
prematura do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
• Os principais micro-organismos associados à
materno e fetal; inflamação/infecção;
prematuridade são: E. Coli, Streptococcus do
hemorragia decidual e distensão uterina
grupo B, Chlamydia trachomatis, Trichomonas
patológica
sp, Gardnerella vaginalis, Neisseria gonorrheae
• O parto prematuro, visto de forma isolada, tem
como um grande fator causal a rotura precoce Quadro clínico e diagnóstico
de membranas ovulares, mas, na maior parte • No trabalho de parto prematuro, a atividade
dos casos, não é possível identificar um fator uterina encontra-se precocemente aumentada,
desencadeante causando dor, persistindo por no mínimo uma
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

hora, mesmo com a grávida em repouso e nariz, gemência, acidose metabólica e


submetida à sedação respiratória, cianose e estertores
• Podemos caracterizá-lo da seguinte forma: • O RN normalmente é tratado com a
o Ameaça de trabalho de parto administração de surfactante exógeno, obtendo
prematuro: atividade uterina melhora significativa na maioria dos casos
aumentada, apagamento parcial ou
total do colo, dilatação ausente ou Imaturidade fetal - exames
discreta É interessante que possamos predizer, em alguns casos,
o Trabalho de parto prematuro franco: a maturidade fetal, o maior preditor prognóstico. Para
quatro contrações em 20 minutos, ou esse fim, pode-se lançar mão da amniocentese e, através
oito em 60 minutos associadas à da amostra do líquido amniótico, realizar os seguintes
alteração do colo do útero E dilatação exames (embora pouco realizados rotineiramente,
cervical maior que 2 cm OU apagamento ficando mais restritor ao âmbito de pesquisa):
cervical maior ou igual a 80% • Dosagem de creatinina: avalia a maturidade
Marcadores de parto prematuro renal, sendo tanto maior quanto mais avançada
a gestação
• Ultrassonografia para avaliação do comprimento
• Percentual de células fetais maduras: avaliação
do colo uterino
da maturidade epidérmica através da coloração
• Dosagem de fibronectina fetal na secreção
pelo azul do Nilo; a presença de células
cervicovaginal: acredita-se que a fibronectina
anucleadas e de coloração alaranjada acima de
seja a “cola” do trofoblasto, promovendo a
10% fala a favor de maturidade
adesão celular na interface uteroplacentária e
• Teste de Clements: mistura-se etanol à amostra
membrana fetaldecídua. Preconiza-se sua coleta
de líquido amniótico; a visualização de borbulhas
de fundo de saco posterior, em mulheres de alto
estáveis após agitação fala a favor da presença
risco para parto prematuro (sintomáticas), com
significativa de lecitina produzida pela via CDF-
membranas íntegras, dilatação menor de 3 cm e
colina
idade gestacional entre 24 e 35 semanas
• Dosagem de Fosfatidilglicerol: quando a
Prognóstico dosagem deste elemento do surfactante
• O parto prematuro associa-se à maior pulmonar se encontra maior ou igual a 0,3,
susceptibilidade aos tocotraumatismos e anóxia, sugere maturidade pulmonar
podendo haver graves lesões cerebrais
Conduta prevenção
• A prematuridade pode se associar a sequelas
• Acompanhamento rigoroso do pré-natal em
tardias, como retardo do crescimento,
mulheres com história de parto prematuro
disfunções auditivas e visuais, maior chance de
anterior, com fatores de risco e com gestação
óbito no primeiro ano de vida,
gemelar
hiperbilirrubinemia, persistência do canal
arterial, hemorragia intracraniana, anemia, • Orientação sobre os sinais e sintomas de
hipoglicemia e doença de Síndrome de Angústia trabalho de parto prematuro
Respiratória (SAR), que é a principal causa de • Rastreamento e tratamento de infecções e
morte do RN pré-termo controle da polidramnia pelo esvaziamento por
amniocentese ou pelo uso de anti-inflamatórios
SAR • Diminuição da atividade física
• Como nos prematuros há predomínio da • Tratamento da vaginose bacteriana
produção de lecitina (precursor da produção de • Cerclagem: a avaliação ultrassonográfica
surfactante) pela via da metilação e não pela evidenciando comprimento cervical menor que
CDF-colina, há maior predisposição à SAR 20 mm, a presença de dilatação do orifício
• Essa síndrome é caracterizada por respiração interno ou imagem em funil no orifício interno
laboriosa do RN, taquipneia, com tiragem do colo medindo pelo menos 16 mm após 16
intercostal ou esternal, batimento de asa do semanas de gestação são importantes dados
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

sugestivos do diagnóstico. Deve ser realizada • Inibidores da síntese de prostaglandinas: inibem


preferencialmente entre 12 e 16 semanas. A a cicloxigenase e bloqueaiam a conversão do
técnica mais utilizada é a cirurgia de McDonald ácido aracdônico livre em prostaglandina. A
(sutura em bolsa de tabaco com fio não indometacina é o fármaco mais frequentemente
absorvível – fita cardíaca ou Ethibond) utilizado
o As contraindicações ao procedimento o São contraindicações específicas ao uso
são: de inibidores da cicloxigenase: púrpura
▪ Dilatação do colo maior que 4 trombocitopênica, úlcera péptica,
cm agranulocitose, uso de anticoagulantes,
▪ Malformações fetais asma brônquica, doença renal ou
▪ Infecção cervical ou vaginal hepática, plaquetopenia, hipersensibi-
purulenta lidade aos AINE, gestação com mais de
▪ RPMO 32 semanas
▪ Atividade uterina o São efeitos colaterais dos inibidores da
▪ Idade gestacional maior que 24 COX: oligoidramnia, irritação gástrica,
semanas hemorragia intraventricular neonatal
▪ Sofrimento fetal • Bloqueadores de canais de cálcio: dentro deste
▪ Morte fetal grupo de medicamentos, a nifedipina é seu
• Suplementação com progestágenos: na forma principal representante
de supositórios vaginais diários ou injeções o Contraindicações ao uso: hipotensão
intramusculares semanais, a partir do segundo (PA < 90 x 50 mmHg), ICC e disfunção
trimestre até 34 semanas de gravidez ventricular esquerda
o Efeitos colaterais: hipotensão, síncope,
Inibição do trabalho de parto edema periférico
• Entre 24 e 34 semanas • Antagonistas da ocitocina: o medicamento é o
Tocólise atosiban
Quando prescrita isoladamente para prolongar a o Não há contraindicações específicas ao
gestação, não melhora o prognóstico fetal. Seu objetivo uso de antagonistas da ocitocina
principal é permitir o uso do corticoide, medicação que o Efeitos colaterais do uso de antagonistas
realmente diminui a morbimortalidade neonatal. As da ocitocina: náuseas e vômitos,
drogas geralmente utilizadas são: cefaleia, reação no local de injeção (mais
comum)
• Betamiméticos: atuam em receptores uterinos,
Qual medicamento utilizar
causando relaxamento muscular. São eficazes
em prolongar a gestação por 48 horas, tempo • Antes de 32 semanas: indometacina
suficiente para administração de corticoides, • Entre 32 e 34 semanas: nifedipino, seguido de
visando acelerar a maturidade pulmonar fetal. betamiméticos
Algumas drogas disponíveis no mercado incluem Corticoterapia
o salbutamol, a ritodrina, a terbutalina, o
• A administração antenatal de glicocorticoides
fenoterol e a isoxsuprina
acelera o desenvolvimento dos pneumócitos e
o São contraindicações específicas ao uso
estimula a síntese de surfactante. As medicações
de betamiméticos: cardiopatia,
recomendadas são a betametasona e
glaucoma de ângulo agudo, anemia
dexametasona. Outros corticoides não devem
falciforme, história de edema agudo de
ser utilizados, pois não atravessam eficazmente
pulmão
a barreira placentária
o Efeitos colaterais do uso de
• A corticoterapia deve ser utilizada entre 24 e 34
betamiméticos: palpitação, taquicardia
semanas em toda gestante com risco de parto
materna e fetal, tremores

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

prematuro, independente da presença de rotura disso, as acelerações fetais são menos


prematura de membranas ovulares frequentes e mais discretas (em torno de 10
o Contraindicações à corticoterapia: bpm)
presença de infecção ovular, infecções • Via de parto: não se justifica a indicação de
maternas e úlcera péptica sangrante cesariana em fetos prematuros em
o Efeitos adversos: o efeito mais apresentação cefálica. A cesariana parece
preocupante parece ser a ocorrência de beneficiar os fetos com peso estimado entre 750
edema agudo de pulmão nas gestantes e 2.000 g em apresentação pélvica, devendo-se
que recebem o tratamento em realizar a histerotomia longitudinal na
associação a agentes tocolíticos, prematuridade extrema
especialmente na presença de infecções • Amniotomia: deve ser evitada, mantendo-se as
ou gestação múltipla. Mulheres membranas íntegras pelo maior tempo possível
diabéticas em uso de insulina devem ser • Fórcipe e vácuo-extrator: o fórcipe profilático
rigorosamente acompanhadas, pelo não deve ser utilizado rotineiramente e o
risco de descontrole glicêmico. Em vacuoextrator está contraindicado por
relação ao feto, podem ocorrer apresentar riscos de hemorragia intracraniana
alterações nos parâmetros de avaliação
do bem-estar fetal, tais como Rastreio e profilaxia para infecção por
diminuição ou aumento da frequência Streptococcus do grupo B (GBS)
cardíaca fetal basal, diminuição ou • Atualmente, recomenda-se que TODAS as
aumento da variabilidade, diminuição gestantes com idade gestacional de 35-37
dos movimentos fetais e alterações nos semanas sejam rastreadas através da coleta de
parâmetros biofísicos fetais, as quais swab vaginal (introito vaginal) e retal. As
podem ser confundidas com pacientes colonizadas devem receber antibiótico
comprometimento do bem-estar fetal durante o trabalho de parto ou no momento da
amniorrexe
Neuroproteção por sulfato de magnésio • Na indisponibilidade da cultura, recomenda-se a
• Indica-se sulfato de magnésio em todas as avaliação do risco para infecção. Os fatores de
gestantes com idade gestacional entre 24 e 32 risco a serem considerados são: trabalho de
semanas em trabalho de parto ativo (> 4 cm de parto com menos de 37 semanas, temperatura
dilatação, com ou sem RPMO) ou em parto pré- intraparto maior ou igual a 38°C, amniorrexe há
termo eletivo indicado por razões maternas ou mais de 18 horas
fetais, na dose de 4-6 g em bolus durante 20
minutos, seguido de 1-2 g/hora de manutenção,
por no máximo 24 horas antes do parto, sendo
suspenso logo após o mesmo

Assistência ao trabalho de parto


• O trabalho de parto deve ser assistido, sem
tentativa de inibição, quando não há benefício
em prolongar a gestação (antes de 24 semanas
ou após 34 semanas), quando há
contraindicação à tocólise e quando há falha da
tocólise

Assistência ao parto prematuro


• Avaliação da vitalidade fetal: deve ser realizada
de forma rigorosa/contínua. Nos fetos pré-
termo, existe uma variabilidade diminuída,
assim como uma linha de base mais alta. Além
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Distócias • Na distócia por hipoatividade primária, o


trabalho de parto se inicia de forma ineficaz e
Distócia é por definição a anormalidade no desenrolar do
lenta. Em sua forma secundária, após início de
trabalho de parto.
contrações uterinas adequadas ou exageradas,
Tem como causa alterações em um ou mais dos três ocorre diminuição significativa da atividade
fatores determinantes para o sucesso do parto, a saber: uterina
a força, o trajeto e o objeto. • Na terapêutica dessa condição, utilizam-se
medidas ocitócicas (administração de ocitocina e
Riscos maternos e fetais amniotomia) que promovam a adequação das
• A principal complicação associada ao diagnóstico contrações uterinas, estimulando-as
de distócia é infecção, sobretudo a
corioamnionite. Outro fato descrito é a Distócia por hiperatividade
ocorrência de lesões no assoalho pélvico • Nesse caso, a distócia se deve a atividade uterina
decorrentes de trabalho de parto prolongado exacerbada, traduzida pelo aumento na
frequência e na intensidade das contrações
Anormalidades na força contrátil uterinas. Com isso, torna-se de grande
Distócia funcional importância avaliar a presença ou não de
• Define-se distócia funcional como a presença de processo obstrutivo que impeça a progressão do
anormalidade do fator contrátil durante o trabalho de parto, podendo então subdividir a
trabalho de parto, o que influencia diretamente distócia por hiperatividade em sem obstrução e
a progressão da dilatação cervical com obstrução
• A distócia por hiperatividade sem obstrução é
Classificação comum em grandes multíparas e caracteriza-se
pela evolução rápida (menos que 3 horas) do
trabalho de parto (taquitócito). As principais
complicações descritas são, para a mãe,
lacerações do canal de parto e, para o feto,
maior risco de hemorragia intracraniana. A
terapêutica para essa situação tem por objetivo
evitar ou tratar possíveis traumas maternos e
fetais decorrentes do trabalho de parto de curta
duração, e para isso utiliza amniotomia tardia,
analgesia precoce, revisão cuidadosa do canal de
parto e observação rigorosa do recém-nascido
• A distócia por hiperatividade com obstrução
ocorre quando existe processo obstrutivo
Quadro clínico e conduta terapêutica impedindo o trânsito do feto pelo canal de parto,
Distócia por hipoatividade como ocorre na desproporção cefalopélvica.
• Essa forma de distócia caracteriza-se por Uma vez diagnosticada, realiza-se para cesárea
trabalho de parto de evolução lenta, com
contrações uterinas fracas e ineficientes Distócia por hipertonia
• Deve-se verificar a possibilidade de falso • A hipertonia uterina, além de impedir a
trabalho de parto (contrações uterinas com progressão da dilatação do colo uterino, dificulta
intervalos e intensidade irregulares sem a oxigenação do feto, sendo por isso
modificação do colo uterino). Nesse caso, deve- imprescindível aumentar a vigilância da
se avaliar a vitalidade fetal, pesquisar a presença vitalidade fetal. Ela se subdivide em polissistolia,
de mecônio e orientar repouso domiciliar com superdistensão e descolamento prematuro de
antiespasmódico leve placenta (DPP)
o A polissistolia se caracteriza pela
presença de mais de cinco contrações
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

em 10 minutos, sendo subdividida em constituindo-se, desse modo, um caso de


hiperestimulação e taquissistolia distócia funcional não corrigível
▪ A hiperestimulação é marcada
pela ocorrência de cinco ou mais Anormalidades do trajeto
contrações em 10 minutos ou • As anormalidades do trajeto se traduzem pela
contrações com duração presença de distócias ósseas ou de partes moles
superior a 2 minutos e intervalo e representam estreitamentos da pelve capazes
inferior a 1 minuto entre as de diminuir sua capacidade e, com isso, dificultar
contrações, podendo estar ou ou impedir a passagem fetal
não acompanhadas de
Distócias ósseas
alterações na cardiotocografia
• Define-se por distócia óssea a presença de
▪ O termo taquissistolia tem sido
anormalidade na forma, na dimensão ou na
utilizado para definir o aumento
inclinação da pelve que dificulte ou impossibilite
do número de contrações
o parto vaginal
uterinas (mais que cinco) sem
alterações na frequência Anormalidades (vícios) do estreito superior
cardíaca fetal • Na avaliação do estreito superior, é importante
o A superdistensão ocorre em casos de o estudo dos diâmetros anteroposterior e
gestação múltipla e polidrâmnio, e em transverso médio. Diâmetro anteroposterior
muitas situações leva à distócia inferior a 10 cm ou diâmetro transverso médio
funcional. Na gemelidade, o tratamento com menos de 12 cm são parâmetros da
é iniciado com amniotomia e presença de vício do estreito superior
administração de ocitocina para corrigir • O diâmetro anteroposterior é obtido
as irregularidades da contração uterina. indiretamente medindo-se a conjugata
A amniocentese é a alternativa nos diagonalis. Para sua mensuração, realiza-se
casos de polidrâmnio importante e exame de toque vaginal com o objetivo de palpar
deverá ser utilizada com drenagem lenta o promontório
e progressiva do líquido amniótico, em
virtude do risco de DPP
o O DPP classicamente é acompanhado de
hipertonia. A terapêutica indicada
engloba amniotomia, analgesia e até
mesmo o uso de ocitocina para que as
contrações possam se sobrepor à
hipertonia instalada

Distócia de dilatação
• Essa forma de distócia tem por características a
ausência de dilatação cervical ou a progressão
lenta, apesar de a paciente apresentar
contrações uterinas adequadas à fase do
trabalho de parto • Quando a ponta do dedo médio atinge o
• A terapêutica é feita com o uso de analgesia, promontório, marca-se a parte proximal do dedo
amniotomia e ocitocina, quando necessário que entra em contato com o ângulo subpúbico,
medindo-se a distância entre esses dois pontos.
Indicação de cesárea por distócia funcional Subtraindo-se 1,5 cm da medida obtida, infere-
• A cesárea está indicada quando a distócia se o valor do diâmetro anteroposterior ou
funcional for diagnosticada, todas as medidas conjugata vera obstétrica. Assim, valores de
terapêuticas forem instituídas e mesmo assim conjugata diagonalis inferiores a 11,5 cm
não ocorrer progressão do trabalho de parto, correspondem a diâmetros anteroposteriores
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inferiores a 10 cm e são utilizados para definir a médio) e bituberoso menor que 8 cm (estreito
presença de vício do estreito superior inferior)
• Quando é impossível atingir o promontório,
Distócias de partes moles
aceita-se que o diâmetro superior da pelve
apresenta dimensões adequadas ao parto • Vulva e períneo: veias varicosas, estenose
vaginal vulvar, edema de vulva e condiloma acuminado
extenso. Raramente essas condições serão
Anormalidades (vícios) do estreito médio impedimento para a via baixa, mas em geral se
• As anormalidades do estreito médio associam-se associam a maior risco de sangramento e
frequentemente a partos prolongados nos quais, infecções
apesar da insinuação do polo cefálico, da • Vagina: a presença de septos vaginais pode
ocorrência de moldagem e das contrações dificultar ou impedir a progressão do parto
uterinas efetivas ou até mesmo exacerbadas, vaginal
não se obtém progresso no trabalho de parto • Colo: hipertrofia do colo do útero, estenose
• Para avaliação do estreito médio, é importante cervical e edema de colo
obter a medida de seu diâmetro transverso (bi- • Tumores prévios: tumoração que se antepõe à
isquiático), que, clinicamente, na maioria das apresentação, impedindo ou dificultando a
vezes coincide com o diâmetro bituberoso e, progressão do feto pelo canal de parto. Os
portanto, pode ser inferido pela mensuração tumores que mais comumente têm esse efeito
deste são os miomas, o carcinoma de colo de útero e
• Para se obter a medida do bituberoso, deve-se os tumores de ovário
localizar a borda interna das tuberosidades
isquiáticas e medir a distância entre estas com Anormalidades do objeto
fita métrica aplicada tangencialmente à borda Tamanho fetal
superior do ânus • O tamanho fetal poderá impedir a progressão
normal do trabalho de parto tanto em situações
de peso fetal acima de 4.000 g como nos casos
de desproporção cefalopélvica
• A ultrassonografia permite estimar o peso fetal,
podendo assim ser utilizada como mais um dado
a ser avaliado na escolha da via de parto

Distócia de biacromial
• A distócia de biacromial se dá quando a
apresentação é cefálica e o polo cefálico já se
• Considera-se que medidas do bituberoso desprendeu, mas os ombros não se soltam e não
inferiores a 10 cm sejam um indício de distócia se observam quaisquer outras dificuldades
do estreito médio • São descritos como fatores associados a essa
intercorrência a obesidade materna, o pós-
Anormalidades (vícios) do estreito inferior
datismo e o DMG
• Essa forma de distócia deve ser considerada
quando o bituberoso se encontra com medida Riscos maternos e fetais
inferior a 8 cm • As complicações maternas, entre as quais as
mais comumente descritas são lacerações do
Avaliação da pelve óssea e via de parto
canal de parto, atonia uterina com hemorragia
• Os parâmetros para definição de vício pélvico,
• As complicações fetais são lesões de plexo
baseados na biometria da pelve menor ou bacia
braquial e fratura de clavícula e úmero
obstétrica, são: conjugata vera obstétrica menor
que possui menos de 10 cm (estreito superior),
bi-isquiático com menos de 9,5 cm (estreito

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Assistência à distócia de biacromial • Está relacionada com multiparidade,


• Não tracionar a cabeça: essa atitude pode levar prematuridade, placenta prévia, polidrâmnio e
à distensão do plexo braquial ou do bulbo, com anormalidades da pelve óssea
graves complicações neurológicas • O diagnóstico pode ser facilmente presumido
• Ampliar a episiotomia pela palpação abdominal (manobra de Leopold):
• Manobra de McRoberts: consiste na hiperflexão não se palpa nenhum polo no fundo uterino;
e abdução das coxas. Associa-se à manobra uma porém, é fácil identificar o polo cefálico em uma
pressão suprapúbica para reduzir o tamanho do das fossas ilíacas e o polo pélvico na outra
ombro • Uma vez iniciado o trabalho de parto e
• Manobra de Rubin I: comprimi-se, através de diagnosticada a situação transversa, deve-se
pressão suprapúbica, a região posterior do recomendar cesárea a fim de prevenir
ombro localizado anteriormente, rotacionando- complicações maternas e fetais
o para frente, reduzindo o volume ocupado
Apresentação pélvica
(adução do ombro)
• Parto pélvico por via vaginal só deverá ocorrer
• Manobra de Rubin II: semelhante à manobra de
de forma planejada e com consentimento da
Rubin I, mas realizada internamente. Pode ser
parturiente após o esclarecimento de todos os
necessária episiotomia para introduzir a mão na
riscos possíveis. Apesar de alguns autores
região posterior do ombro localizado
afirmarem que o parto vaginal pode ser uma boa
anteriormente, empurrando-o para frente
opção, se indicado apenas em casos favoráveis,
(adução do ombro)
em condições maternas adequadas, na ausência
• Manobra de Woods: para desprender o ombro
de malformações e depois de avaliado o peso
posterior. Realiza-se abdução do ombro
fetal, para a maioria dos casos a recomendação
localizado posteriormente, ou seja, empurra-o
é pela cesárea eletiva
para trás
• Manobra de Jacquemier: consiste em retirada de Apresentação de face
um membro superior do bebê, • A apresentação de face representa o grau
preferencialmente o braço posterior, máximo de deflexão do polo cefálico. Nela se
diminuindo o diâmetro de biacromial para observa que o occipício está em contato com o
acrômio axilar. Para desprender o ombro dorso fetal e o mento é a parte que se apresenta
posterior, pode-se utilizar a manobra de • Os fatores que se associam a ela são
Jacquemier. Após suspender o polo cefálico, multiparidade, macrossomia, pelve do tipo
introduz-se a mão pela concavidade do sacro, platipeloide, desproporção cefalopélvica e
apreende-se o antebraço e, por deslizamento, prematuridade
este é retirado pela face anterior do tórax. Em • O parto é possível quando a variedade de
seguida, abaixa-se o tronco, que liberará o posição é a mentoanterior; nesse caso, o
ombro anterior trabalho de parto geralmente é mais
• Manobra de Matthes: a paciente deve adotar a prolongado, mas o progresso é contínuo
posição genupeitoral
• Manobra de Zavanelli: quando for impossível Apresentação de fronte
alcançar o ombro, a cesárea está indicada. A • A apresentação de fronte ou cefálica defletida
manobra consiste na realização dos movimentos de 2° grau não permite a insinuação e, portanto,
inversos do parto, reintroduzindo a cabeça fetal o parto vaginal. O ponto de referência é o naso

Anormalidades de situação e apresentação Apresentação composta


Situação transversa • A apresentação composta é aquela em que um
ou mais membros entram simultaneamente com
• Define-se situação transversa como aquela em
o polo cefálico ou com o polo pélvico na pelve
que o maior eixo fetal é perpendicular ao maior
materna e está associada a maior risco de
eixo do útero, ou ainda quando o feto se situa
prolapso de cordão
obliquamente ao eixo uterino
89
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• A combinação mais frequente é de cabeça e mão


fetais
• O toque vaginal permite o diagnóstico pela
percepção da presença do membro procidente
ou prolapsado. A evolução do caso dependerá da
presença ou não de prolapso de cordão, da
apresentação fetal e do bem-estar e tamanho do
feto
• Muitas vezes, com o progresso do trabalho de
parto, a parte apresentada avança pela pelve e o
membro que se encontra em procidência tende
a regredir para fora da pelve, permitindo a
evolução para o parto vaginal. Há ainda a
possibilidade de se tentar a redução manual da
parte prolapsada. Nos casos em que não houver
redução do membro, deve-se optar pela cesárea

Variedade de posição occipitoposterior ou


occipitotransversa
• Essa é a denominação que se dá à persistência
da posição occipitoposterior ou
occipitotransversa a despeito da progressão da
dilatação, e está relacionada ao período
expulsivo prolongado
• Diante da ocorrência da variedade de posição
occipitoposterior ou occipitotransversa, a
evolução do trabalho de parto poderá ser de
uma das seguintes formas:
o Rotação para a variedade de posição
occipitopúbica (90% dos casos)
o Rotação inversa para a variedade de
posição occipitossacra
o Parada em variedade de posição
occipitoposterior ou occipitotransversa
• As principais causas para a persistência da
cabeça fetal nessas variedades de posição são
pelves que apresentam estreitamento do
diâmetro transverso, como as classificadas em
antropoides, e distócia funcional de
hipoatividade

90
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Manejo da hemorragia puerperal o Laceração de histerotomia com


acometimento de vasos uterinos
Com a separação da placenta, a hemostasia do sítio
o Hemostasia inadequada
placentário se processa por meio de vasoespasmo local
e formação de trombos nos vasos uterinos. Mais Diagnóstico
importantes ainda para a hemostasia são a contração e • Os efeitos da hemorragia na mulher dependerão
a retração do miométrio, que comprime grande número do volume de sangue prévio à gestação, do
de vasos. aumento desse volume durante a gravidez e do
Segundo a Federação Internacional de Ginecologia e grau de anemia após o parto
Obstetrícia (FIGO), a hemorragia pós-parto pode ser
definida e diagnosticada clinicamente como
sangramento excessivo que torna a paciente sintomática
(visão turva, vertigem, síncope) e/ou resulta em sinais de
hipovolemia (hipotensão, taquicardia ou oligúria).

A hemorragia pós-parto pode ser classificada em


primária, a mais comum, quando ocorre nas primeiras 24
horas após o parto; ou secundária, quando acontece
entre 24 horas e 12 semanas de pós-parto.

Etiologia e fatores de risco


Mnemônica TTTT: Tônus, Trauma, Tecido e Trombo

• As principais causas de hemorragia pós-parto • Pelo fato de a atonia uterina representar a maior
são atonia uterina (incapacidade do útero de causa de hemorragia pós-parto, deve-se
contrair-se adequadamente), retenção de inicialmente esvaziar a bexiga e realizar toque
fragmentos placentários e lacerações do canal vaginal bimanual
de parto • O achado de útero amolecido e pouco contraído
• Os fatores de risco descritos para a atonia sugere a atonia como fator causal
uterina incluem: segundo período do parto • Deve-se descartar as lacerações pelo exame
prolongado, parto instrumentado, minucioso do canal de parto
sobredistensão uterina (macrossomia, gestação • Hematomas do trato genital também podem
múltipla, polidrâmnio), uso de medicações levar a perda sanguínea significativa. Os
(tocolíticos e anestésicos halogenados) e sintomas mais frequentes são pressão pélvica ou
corioamnionite retal e dor
• Além da atonia uterina, outras complicações • A retenção de fragmentos placentários consiste
obstétricas que podem estar associadas à em outra causa de hemorragia pós-parto
hemorragia pós-parto são: • Menos comumente, a hemorragia pós-parto
o Lacerações do períneo, da vagina ou do pode ser causada por coagulopatia. Situações
colo uterino associadas a coagulopatia incluem: síndrome
o Coagulopatia dilucional (placenta HELLP, DPP, óbito fetal, sepse e embolia
prévia) ou de consumo (descolamento amniótica. Os seguintes exames laboratoriais
prematuro de placenta - DPP, sepse, devem ser solicitados diante da suspeita de
embolia amniótica) coagulopatia: hemograma com plaquetas,
o Retenção placentária ou acretismo tempo de protrombina, tempo de
placentário tromboplastina parcial ativada, fibrinogênio,
o Inversão uterina produtos de degradação da fibrina e tipo
o Rotura uterina sanguíneo
o Deiscência de cicatriz de histerotomia

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Conduta
• Massagem do fundo do útero: o útero deve ser
elevado e massageado como intervenção inicial
mais importante. A bexiga deve ser esvaziada
por meio de cateterismo intermitente ou
contínuo, já que a repleção vesical pode
interferir na contratilidade do segmento inferior
mesmo se o fundo uterino mostrar-se contraído
• Acesso venoso calibroso: para a administração
de líquidos, sangue e medicações
• Administração de ocitocina (uterotônico): 10 a
40 UI em 1.000 mL de solução salina intravenosa
contínua
• Administração de Metilergometrina
(uterotônico): 0,2 mg por via intramuscular
(nunca intravenosa) a cada 2 a 4 horas
• Prostaglandina E1 (misoprostol): 800 a 1.000 μg • Compressão uterina bimanual (manobra de
por via retal ou 200 μg por via oral + 400 μg por Hamilton): uma das mãos fixa a porção posterior
via sublingual ou 200 μg por via oral + 400 μg por do útero, enquanto a outra é posicionada
via sublingual + 400 μg por via retal. Verificar fechada pelo canal vaginal (anteriormente ao
temperatura, pois pode haver febre acima de colo uterino), de modo que as duas paredes
40°C com uso de misoprostol uterinas sejam comprimidas
• Infusão de grande volume de cristaloides: para • Reparo de lacerações: procede-se a avaliação da
prevenir hipotensão vagina e do colo uterino para reparo de
• Transfusão de hemoderivados: de acordo com a lacerações, se existentes, usando-se de
necessidade preferência categute simples 0 ou 2-0, com
sutura contínua ou em pontos separados
Hemorragia não responsiva a drogas
• Curagem e/ou curetagem uterina: se o
uterotônicas sangramento tiver origem na cavidade uterina,
deve-se também realizar curagem e/ou
curetagem uterina, e qualquer fragmento
placentário retido tem de ser removido
• Tamponamento uterino: colocação do tampão
(compressa ou gaze) em toda a cavidade uterina.
Enquanto o tampão estiver posicionado na
cavidade uterina (em geral por 24 horas), devem
ser administrados antibióticos de largo espectro.
Também podem ser utilizados para o
tamponamento a sonda de Foley, o balão de
Sengstaken-Blakemore ou o balão de Bakri
(capacidade de acomodar 400 a 500 mL de
solução salina na cavidade uterina)
• Embolização arterial: a embolização das artérias
uterinas consiste em alternativa segura e efetiva
à cirurgia para o controle da hemorragia uterina.
O agente embolizante de escolha é o gelfoam
• Laparotomia: de preferência, a laparotomia
deve ser realizada por meio de incisão mediana

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

infraumbilical, para melhor exposição do campo representativo na cavidade uterina (fragmentos


cirúrgico. A atonia uterina e os locais de placentários, membranas)
sangramento extrauterino, se presentes, em
geral podem facilmente ser identificados. Se um Inversão uterina
pequeno vaso for responsável pelo • A inversão uterina ocorre quando o fundo
sangramento, deve ser imediatamente uterino se move para o interior da cavidade
clampeado e ligado com fio de sutura adequado endometrial. Pode ser incompleta (o fundo se
• Ligadura das artérias uterinas: tanto a atonia projeta para dentro da cavidade uterina),
uterina como o sangramento adjacente ao útero completa (o fundo invertido ultrapassa o orifício
de difícil controle devem ser tratados pela externo do colo uterino) ou prolapsada (o corpo
ligadura de artérias uterinas. Após a ligadura uterino invertido ultrapassa o introito vaginal)
bilateral das artérias uterinas, observa-se o • Ela é classificada como aguda (até 24 horas após
sangramento. Se essa medida não for suficiente o parto), subaguda (até 30 dias de período pós-
para contê-lo, os vasos uterovarianos também parto) ou crônica (mais de 30 dias após o parto)
devem ser ligados distalmente ao corno uterino, • Se não for adequadamente reconhecida e
passando o fio de sutura pelo miométrio, tratada, a inversão uterina pode levar a
medialmente a esses vasos hemorragia grave e choque, resultando em
• Sutura de B-Lynch: comprime o útero, com morte materna
resultado semelhante àquele obtido por meio da • As duas principais causas são tração excessiva do
compressão uterina bimanual cordão umbilical e pressão do fundo uterino,
• Sutura das artérias ilíacas internas: deve ser tipicamente ocorrendo nos casos de úteros
considerada somente quando a ligadura das relaxados e implantação fúndica da placenta
artérias uterinas não surtir o efeito desejado. Se • Os fatores de risco incluem macrossomia, cordão
o obstetra não tiver muita experiência no curto, uso prolongado de ocitocina ou sulfato de
manejo do retroperitônio, ele deverá omitir esse magnésio, primiparidade, anomalias uterinas,
passo e realizar a histerectomia em seguida, a remoção manual da placenta e acretismo
não ser que possa consultar prontamente algum placentário
cirurgião oncológico ou outro cirurgião • O diagnóstico é clínico, mas exames de imagem
familiarizado com essa técnica - ultrassonografia e ressonância nuclear
• Histerectomia: consiste no último recurso, mas magnética (RNM) - também podem ser usados
não deve ser postergado nas situações mais para confirmar a inversão uterina quando o
graves, especialmente nos casos de coagulopatia diagnóstico clínico for duvidoso e a paciente
e que requeiram imediato controle da estiver hemodinamicamente estável
hemorragia. A histerectomia subtotal deve ser o • O tratamento consiste na administração de
método de escolha na maioria dos casos de uterolíticos seguida de manobra para restituir o
histerectomia pós-parto útero à sua posição normal (manobra de Taxe).
Se não houver sucesso com essa manobra, a
Hemorragia pós-parto secundária terapêutica cirúrgica será o próximo passo
• Define-se hemorragia pós-parto secundária • Imediatamente após o útero voltar à sua
quando o sangramento uterino excessivo ocorre posição, agentes uterotônicos são
entre 24 horas e 12 semanas após o parto administrados para prevenir a reinversão,
• A quantidade de sangramento geralmente não é diminuindo também a perda de sangue
tão pronunciada quanto na hemorragia pós- • O relaxamento uterino pode ser conseguido
parto primária, mas, assim como nesta, uma administrando-se drogas betamiméticas (por
história prévia de hemorragia pós-parto exemplo, terbutalina)
secundária predispõe a taxa maior de
recorrência
• A curetagem uterina é, em geral, eficaz, mesmo
quando não se identifica conteúdo
93
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Tromboflebite pélvica séptica relação paciente/teste deverá ser mantida entre


2 ou 2,5
Febre puerperal persistente, de origem desconhecida,
• Heparina de baixo peso molecular: a dose é
associada a dor abdominal mal localizada, uso correto
1mg/Kg 12/12h (enoxiheparina 20 a 40 mg/dia,
dos antimicrobianos e ausência das complicações
SC). Não há necessidade de controle do sistema
supracitadas.
de coagulação
Etiologia • Antibioticoterapia: clindamicina em associação
• Infecção geralmente ocorre após a alta com gentamicina; ampicilina ou penicilina
hospitalar e os fatores predisponentes incluem associada a aminoglicosídeo (gentamicina ou
falta de cuidados com mamilos, técnicas amicacina) e metronidazol (esquema tríplice)
inadequadas de amamentação, esvaziamento • Histerectomia total: após a exclusão intra-
inadequado das mamas por técnica incorreta da operatória de abscessos, hematomas ou corpos
amamentação e trauma mamilar estranhos e constatando-se útero e/ou os com
• Os principais agentes etiológicos envolvidos são sinais infecciosos, está indicada para extirpação
os germes gram-positivos, principalmente o do foco infeccioso. O diagnóstico de
Staphylococcus aureus. evoluem com piora endomiometrite é uma indicação absoluta de
clínica progressiva e acentuada há necessidade histerectomia total, pois a subtotal manteria
de admissão em Centro de Terapia Intensiva foco infeccioso
para suporte avançado e, havendo sinais de
fasceíte necrotizante perineal ou abdominal, o
agressivo debridamento cirúrgico do tecido
infectado se impõe, já que nesta situação a
mortalidade varia de 50 a 100% dos casos

Exame físico
• É pouco elucidativo

Exames complementares
• Hemograma
• Hemocultura
• Cultura de material endocervical e endometrial
• Lesões de trajeto: obter culturas das coleções ou
abscessos infectados preferencialmente por
aspiração para possível identificação do agente
etiológico e sensibilidade aos antimicrobianos.
Caso seja exploração de ISC, obter material para
cultura após lavagem com SF 0,9%.
• US: é fundamental para o diagnóstico de
retenção de produtos da concepção, abscessos
intracavitários e de parede abdominal

Tratamento
• Heparina não fracionada: 24.000 a 36.000 UI por
dia, EV (preferência em bomba de infusão a
1.000 UI/hora) por 10 a 14 dias. Se o diagnóstico
estiver correto a paciente ficará afebril dentro de
48 a 72 horas. Estas pacientes deverão fazer
controle diário da coagulação com TTPA e a

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Morbidade febril puerperal Diagnóstico


A infecção puerperal é a principal causa de febre no • Baseia-se principalmente na presença de febre,
puerpério e indica a presença de endometrite, uma vez excluídas com rapidez outras causas. A
endomiometrite e endoparametrite. Dessa forma, ocorrência de febre, especialmente se acima de
procurou-se agrupar todos os estados febris puerperais 38,5°C, ainda que nas primeiras 24 horas de
sob a denominação de morbidade febril puerperal, a puerpério, não deve ser ignorada, pois os
qual se conceitua como a ocorrência de temperatura de estreptococos β-hemolíticos dos grupos A
pelo menos 38°C, excluídas as primeiras 24 horas de (Streptococcus pyogenes) e B causam febre já
puerpério, por 2 dias quaisquer, durante os 10 dias nesse período, portanto, devem ser tratados
iniciais do pós-parto, devendo a temperatura ser para endometrite, a menos que seja evidente a
determinada por via oral, pelo menos quatro vezes ao presença de outra causa de febre
dia. • Pacientes com desidratação, atelectasia,
ingurgitamento mamário e cistite geralmente
Fatores de risco não apresentam elevação de temperatura dessa
• Rotura prematura de membranas ovulares proporção e por isso, após as primeiras 24 horas
(RPMO), anemia, fórcipe médio, lacerações do de puerpério, qualquer elevação de temperatura
canal de parto, trabalho de parto prolongado e oral para pelo menos 38°C deve ser valorizada
infecção vaginal são fatores predisponentes • Cerca de 10 a 20% das pacientes com
• A cesárea, de forma isolada, tem sido endometrite têm sinais de bacteriemia (febre,
considerada o principal fator de risco para o tremores, calafrio, taquipneia e taquicardia).
desenvolvimento de infecção puerperal, Então, pacientes que no pós-parto apresentem
podendo ocorrer em razão da necrose tecidual, temperatura oral de pelo menos 38°C e
maior perda sanguínea ou presença de bactérias taquicardia devem ser consideradas como
em tecido cirúrgico traumatizado, vasos portadoras de infecção até que se prove ao
miometriais e cavidade peritoneal contrário
• A presença de útero doloroso, pastoso e
Microbiologia hipoinvoluído constitui a tríade clássica da
• As bactérias mais frequentemente isoladas são endometrite pós-parto (tríade de Bumm). A
as que habitam o intestino e colonizam o loquiação pode ser tornar fétida e com aspecto
períneo, a vagina e o colo uterino: Streptococcus purulento
agalactiae, Enterococcus spp., Escherichia coli,
Bacteroides bivius e Bacteroides disiens Exame físico
• Exame físico geral: cavidade oral (dentes) e
Patogenia orofaringe, ausculta cardíaca e pulmonar,
• A cavidade uterina no pós-parto, em especial a mamas (sempre chamar a enfermagem para
área da ferida placentária, constitui região com reorientar quanto a amamentação), abdômen
grande potencial para desenvolvimento de (ruídos hidroaéreos, distensão, contração e
infecção involução uterina). Se cicatriz, avaliar
• A endometrite pós-parto origina-se a partir da abaulamento, hiperemia, drenagem de
ascensão, através do colo uterino de bactérias. A secreção, deiscência
existência de decídua necrótica e sangue na • Membros inferiores (MMII): sinais de trombose
cavidade uterina são importantes meios de venosa
cultura para o crescimento bacteriano. Após a • Exame ginecológico: especular
cesárea, contribui para o crescimento o Avaliar episiorrafia: abaulamento,
bacteriano a presença de trauma cirúrgico, hiperemia, drenagem de secreção
hematoma na linha de sutura e corpo estranho o Realizar teste do ergot
(fio de sutura)

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Exames complementares • Debridamento de material necrótico


• Hemograma: apresenta leucocitose (15.000 a • Drenagem de abscessos
30.000 células/mm³), porém deve se atentar • Histerectomia: indicada nas formas disseminas,
para o fato de que o aumento no número de localizadas ou propagadas, refratárias ao
leucócitos é um processo fisiológico do pós- tratamento clínico
parto e isoladamente não é indicativo de
infecção
Profilaxia
• Hemocultura: considera-se hemocultura • A administração profilática de antimicrobianos
positiva se ocorrer crescimento da mesma tem reduzido sobremaneira a incidência.
bactéria em dois frascos. Recomenda-se a Preconiza-se que a profilaxia antimicrobiana seja
realização de hemocultura nos casos que não administrada em todos os casos de operação
respondem ao tratamento inicial feito de forma cesariana, exceto para aquelas pacientes que já
empírica, nas pacientes imunodeprimidas e nos estejam recebendo medicação antimicrobiana
casos de sepse (por exemplo, em casos de corioamnionite), e
que esta profilaxia ocorra dentro dos 60 minutos
• Cultura endocervical: a terapêutica clínica para
que antecedem o início da cesárea
endometrite pós-parto é empírica e em geral
não se modifica com os resultados obtidos, os • Nos casos de cesárea de urgência, preconiza-se
quais são mais úteis com o intuito de pesquisa que a profilaxia antimicrobiana seja efetuada tão
logo seja possível
• Exames de imagem: auxilia no diagnóstico de
retenção dos produtos da concepção, abcessos, • Utiliza-se, em dose única, cefazolina, e em
hematomas intracavitários e da parede pacientes alérgicos a antibióticos β-lactâmicos,
abdominal administra-se clindamicina

Tratamento
Clínico
• Baseia-se na prescrição de antibióticos de largo
espectro, uma vez que a infecção é
polimicrobiana. Em virtude do potencial de
complicação, dá-se preferência a instituir o
tratamento com a paciente internada
• As combinações mais utilizadas são:
clindamicina em associação com gentamicina;
ampicilina ou penicilina associada a
aminoglicosídeo (gentamicina ou amicacina) e
metronidazol (esquema tríplice)
• A permanência da febre por período superior a
72 horas é considerada falha terapêutica,
devendo-se excluir resistência bacteriana,
infecção do sítio cirúrgico, hematomas, celulite
pélvica, abscesso intracavitário, tromboflebite
pélvica e febre como reação adversa ao uso de
antibiótico. Nessa situação, são imprescindíveis
o re-exame clínico da paciente e a exclusão de
foco infeccioso extragenital

Cirúrgico
Está indicado nas seguintes situações:

• Curetagem de restos placentários

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Parto cesáreo natal e, em virtude disso, indica-se a interrupção


da gestação pela via mais rápida ou evitam-se
No parto que ocorre pela operação cesariana, ou
grandes manobras obstétricas
cesárea, o nascimento se dá por meio de incisão cirúrgica
abdominal, ou seja, laparotomia e incisão uterina Idade materna avançada
(histerotomia) • A idade materna avançada, com incidência
crescente na atualidade, associa-se
Epidemiologia
significativamente com maiores taxas de
• A incidência de cesáreas é crescente em todo o
abortamentos, anomalias cromossômicas,
mundo
anomalias congênitas, diabetes mellitus
• Muitos fatores são responsáveis por essa
gestacional placenta prévia, macrossomia,
mudança substancial, sendo os principais a
descolamento prematuro de placenta,
melhora nas técnicas operatórias e anestésicas e
prematuridade, baixo peso ao nascimento e
as mudanças culturais do mundo moderno
mortalidade perinatal. Como consequência da
• Além disso, como fonte de estímulo para a sua morbidade citada, as taxas de cesárea também
adesão, atribui-se à operação cesariana são significativamente altas
proteção contra a incontinência urinária de
esforço, o prolapso genital e os distúrbios na Obesidade
esfera sexual • A obesidade materna está associada a maior
• A redução do risco de injúria fetal, notadamente frequência de pré-eclâmpsia, diabetes mellitus
o sofrimento fetal, e a conveniência médica são gestacional e macrossomia fetal. Em
outros fatores que também aumentam a taxa de consequência desse fato, os partos operatórios
cesáreas são significativamente mais incidentes e, além
disso, suas complicações são de maior monta
Fatores de risco para cesárea
Indução do parto Excesso de rotação axial do cordão umbilical
• A indução do parto tem se associado ao (espirais)
aumento do risco de cesárea em muitas • Os vasos do cordão umbilical distribuem-se
circunstâncias, especialmente em nulíparas com espacialmente de forma helicoidal e seus
colo desfavorável espirais aumentam progressivamente com a
evolução da gestação. O excesso de espirais está
Oligoâmnio associado a aumento na incidência de restrição
• A hipoxemia fetal crônica desencadeia o do crescimento fetal (RCF), desacelerações da
processo de redistribuição do débito cardíaco frequência cardíaca fetal durante o trabalho de
fetal, culminando em isquemia renal e parto e trombose vascular com subsequente
decréscimo da diurese fetal. Como estenose dos vasos umbilicais. Em razão disso, a
consequência, ocorre diminuição da produção probabilidade de término da gestação em parto
de líquido amniótico proporcional ao tempo e à operatório é maior
intensidade da carência de oxigênio pelo feto
Predição de parto operatório
Mecônio
Predição em nulíparas
• As intervenções obstétricas são mais frequentes
• A predição de parto operatório em nulíparas é
quando a gravidez ou o trabalho de parto cursam
especialmente vantajosa para as gestações de
com a presença do líquido amniótico tinto de
alto risco, notadamente quando há lenta
mecônio. Foi detectada maior indicência de
evolução do trabalho de parto
acidemia nos recém-nascidos das pacientes com
mecônio. O líquido amniótico tinto de mecônio Predição do parto obstruído
é classificado em + ("cruzes"), de + até ++++. O • As variáveis que podem ser utilizadas para a
mecônio espesso (+++ ou ++++) associa-se predição de cesárea motivada por parto
significativamente com maior morbidade pós- obstruído são: paridade, história de

97
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

macrossomia anterior, altura uterina no termo e


estatura da mãe

Predição clínica e por meio da ultrassonografia


transperineal
• A combinação de dados clínicos e
ultrassonográficos (transperineais) no momento
do parto pode oferecer substrato para a
elaboração de um método de predição da
cesárea: IMC, idade materna, história de cesárea
prévia, índice de Bishop, comprimento do colo,
posição da bexiga (à manobra de Valsalva) e
• Inicia após a contração
descida do polo cefálico
• Nadir ocorre após o pico de contração
Principais indicações de cesárea • Retorno à linha de base
• Apresentação pélvica • Estase de sangue interviloso
• Procedimentos da medicina reprodutiva
Desacelerações variáveis (DIP III)
• Uso da monitorização eletrônica intraparto
• As desacelerações variáveis surgem como
• Aumento dos casos de indução do parto
consequência da compressão do funículo, tendo
• Maior prevalência da obesidade como principal fator predisponente o
• Medicina defensiva oligoâmnio, cuja etiologia é, sobretudo, a
• Cesáreas eletivas para preservação do assoalho hipoxemia fetal oriunda de insuficiência
pélvico placentária crônica
• Essas desacelerações ganham a conotação de
Cesárea de emergência
gravidade quando apresentam as seguintes
Sofrimento fetal características: duração maior que 1 minuto,
• Os partos nos grandes centros, em sua maioria, recuperação em linha de base bradicárdica ou
são monitorizados por meio da cardiotocografia taquicárdica, morfologia em W e associação com
Anormalidades cardiotocográficas desaceleração tardia. Quando apresentam essas
características, ocorre maior associação com
acidemia no nascimento

Desacelerações tardias ou DIP II


• As desacelerações tardias constituem a
anormalidade cardiotocográfica que mais
comumente aparece quando há hipoxemia e
Bradicardias prolongadas
refletem melhor a queda da reserva fetal de
• Representam um importante sinal para a
oxigênio, durante o trabalho de parto
indicação de cesárea emergencial, com
tolerância mínima para o início do ato operatório

98
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

como amniotomia, infusão de ocitocina, sedação


e analgesia. Se todas as medidas adotadas forem
infrutíferas, a indicação da operação cesariana
torna-se imperiosa

Sofrimento fetal por insuficiência placentária


crônica grave
• Nos casos de insuficiência placentária grave
demonstradas por meio da ocorrência de
diástole zero ou reversa no sonograma das
artérias umbilicais, a anormalidade
hemodinâmica mais relevante é diagnosticada
mediante aferição dos índices de pulsatilidade
Síndromes hemorrágicas agudas
venosa realizada pela Dopplervelocimetria no
• Descolamento prematuro de placenta (DPP)
ducto venoso
• Placenta prévia com sangramento intenso
• Os valores críticos desses índices indicam
• Traumas maternos (acidentes em geral)
hipoxemia fetal grave
Iminência de rotura uterina • Realizar cesárea de urgência nesses casos
• A iminência de rotura uterina é diagnosticada
Cesáreas eletivas
por meio de sinais clínicos conhecidos (anel de
• A cesárea eletiva inclui a cirurgia planejada por
Bandl alto - próximo à cicatriz umbilical - e
uma série de razões maternas, fetais e
distensão com retesamento dos ligamentos
placentárias (ou por demanda)
redondos)
• É típica de parto obstruído, cuja etiologia é, em Causas fetoanexiais
sua maioria, a desproporção cefalopélvica. Além Malformações fetais
das pacientes com parto obstruído, as • Gêmeos unidos (xifópagos)
parturientes com cicatriz uterina anterior
• Ventriculomegalia: indica-se cesárea para fetos
também estão sujeitas à rotura uterina
que apresentam macrocefalia ou para casos em
Cesárea post mortem que a desproporção cefalopélvica impede o
• Quando há morte materna sob vigilância parto por via vaginal
médica, o feto pode ser salvo se a intervenção • Espinha bífida: diminuição dos riscos de infecção
operatória ocorrer até 20 minutos após o óbito • Onfalocele: a indicação de cesárea relaciona-se
estritamente com o volume da onfalocele
Prolapso do cordão umbilical (cesárea se > 5 cm)
• Em geral, ocorre durante o trabalho de parto • Gastrosquise: a conduta para a via de parto
após a rotura de membranas, espontânea ou restringe-se aos aspectos exclusivamente
artificial obstétricos
• Tanto o transporte da parturiente da sala de
admissão até a sala de parto quanto o Apresentações anômalas
procedimento anestésico e cirúrgico devem • Apresentação pélvica
incluir o toque bidigital para soerguer a • Apresentação córmica
apresentação, objetivando a descompressão • Apresentação cefálica defletida de 2° e 3° graus
funicular Macrossomia fetal
Distócia funcional incorrigível • A fratura de clavícula no período neonatal está
• A distócia funcional é caracterizada por muito mais associada a recém-nascidos
distúrbios da contratilidade uterina, resultando macrossômicos com 4.000 g ou mais de peso do
na não progressão do parto. Para sua correção, que quando há distócia de ombros ou de
são instituídas várias medidas terapêuticas, biacromial

99
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Gestações múltiplas Cesárea clássica anterior


• Apresentações anômalas • Na cesárea denominada clássica, a incisão
• Discordância de peso (diferença entre os uterina é corporal e realizada excepcionalmente
gemelares maior que 20%) nas situações que dificultam a incisão na região
• Gemelares monoamnióticos segmentar: placenta prévia, miomas
• Síndrome de transfusão feto-fetal segmentares, prematuridade extrema etc.
• Insuficiência placentária em um dos gemelares nessas situações, o útero não suporta o trabalho
• Prematuridade extrema de parto

Aloimunização fetomaterna Correção de incontinência anal, urinária e fístulas


• Nos fetos submetidos a transfusão sanguínea • Mulheres que sofreram correção de
intrauterina devido a comprometimento incontinência fecal decorrente de parto prévio
anêmico fetal, o parto, via de regra, é com lesão do esfíncter anal, se submetidas a
programado e se realiza por via abdominal novo parto vaginal, apresentam riscos de
incontinência anal definitiva
Placenta prévia/acretismo placentário
• O parto cirúrgico é mandatório em ambas as Cesárea a pedido (demanda ou opção)
situações • O ACOG estabelece que a "cesárea a pedido não
• O procedimento a seguir é a histerectomia deve ser realizada antes de 39 semanas de
gestação e não é recomendada para mulheres
Causas maternas que desejam vários filhos"
Fatores obstrutivos e tumores prévios
• Atresia vaginal, condiloma acuminado Complicações
volumoso, varizes vulvovaginais extensas e • A cesárea é usualmente considerada muito
volumosas, estenose cicatricial do colo uterino, segura, sendo um procedimento de baixo risco,
carcinoma invasivo e tumores uterinos ou tanto na opinião da equipe profissional como
ovarianos que constituem tumores prévios para o público leigo
• Entretanto, muitas complicações maternas
Doenças maternas observadas nos períodos intraoperatório e
• Cardiopatias: algumas gestantes com puerperal, bem como nas gestações
cardiopatias graves como a coartação da aorta e subsequentes, são mais frequentes quando o
a síndrome de Marfan com aorta dilatada não nascimento se dá por via abdominal
suportam o trabalho de parto e, por isso, devem
ser submetidas à cesárea eletiva Acretismo placentário
• Eclâmpsia e síndrome HELLP (Hemolysis,
Elevated Liver enzymes, Low Platelet count):
quando existe a indicação de término da
gestação, mas as condições cervicais não
favorecem o parto vaginal
• Doenças infecciosas: HIV, herpes genital com
lesões ativas no momento do parto

Cicatriz uterina prévia


• Além das cicatrizes uterinas decorrentes de
cesáreas anteriores, a miomectomia e outras
intervenções uterinas (miometrectomia) que
promovem enfraquecimento de segmentos
miometriais são motivo de impedimento ao • Algumas das diversas complicações que podem
parto vaginal devido ao risco de rotura uterina suceder são: hemorragia intensa; coagulação
durante o trabalho de parto intravascular disseminada; necessidade de
histerectomia; lesão dos ureteres, da bexiga e de
100
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

outros órgãos; síndrome da angústia respiratória parto vaginal. As complicações mais frequentes
do adulto; insuficiência renal são infecção puerperal, hemorragia e
• A perda sanguínea média no parto com placenta tromboembolismo
acreta é estimada em 3.000 a 5.000 mL
• Em diversos centros, ela é a principal causa de
Parto vaginal após cesárea
histerectomia periparto • Na ausência de contraindicações, as gestantes
que desejavam o parto vaginal poderiam tentá-
Placenta prévia lo, se a cesárea prévia tivesse sido executada
pela técnica de incisão uterina segmentar
transversa

• A incidência de placenta prévia aumenta em


pacientes com cesárea anterior
• O risco é maior conforme o aumento do número
de cesáreas prévias

Lesões urológicas
• As lesões urológicas iatrogênicas são passíveis
de acontecer em cirurgias ginecológicas e nas
cesáreas
• A bexiga e a porção terminal dos ureteres são os
locais mais frequentemente lesados

Gravidez ectópica na cicatriz uterina de cesárea


• A gravidez ectópica em cicatriz de cesárea ocorre
do lado externo da cavidade uterina, mas é
completamente recoberta por tecido miometrial
e por tecido fibroso, em geral na região do
segmento uterino

Incontinência urinária de esforço


• Um dos argumentos para a opção pela cesárea a
pedido é a proteção do diafragma pélvico,
diminuindo as chances de ocorrência de
incontinência fecal, incontinência dos flatos e
incontinência urinária

Dor pélvica
• Pacientes submetidas à cesárea apresentam
risco aumentado de dor pélvica crônica

Morbidade materna
• A cesárea aumenta consideravelmente a
morbidade materna quando comparada com o
101
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Restrição de crescimento intrauterino • A policitemia é consequência da elevação da


eritropoetina fetal decorrente da hipoxia crônica
A restrição do crescimento fetal (RCF) ainda é uma das
intrauterina
principais complicações da gravidez e está associada a
elevados índices de morbidade e mortalidade perinatal e • Com a hiperviscosidade sanguínea surgem
na infância. outras complicações, como insuficiência
cardíaca, trombose cerebral e insuficiência
Além disso, evidências recentes indicam que a adaptação respiratória
fetal ao suprimento limitado de nutrientes pode levar a • Quando o tecido cerebral é comprometido pela
alterações permanentes em sua fisiologia e em seu hipoxia e desnutrição antes de 34 semanas,
metabolismo, dando origem a doenças que surgirão surgem problemas de adaptação, irritação e
posteriormente, na idade adulta, como hipertensão dificuldade de concentração. Entretanto,
arterial, hipercolesterolemia, coronariopatias e diabetes. quando a agressão é muito precoce (antes de 26
semanas), os distúrbios são mais graves, com
O conceito mais aceito na atualidade é a presença de
comprometimento do aprendizado, da fala e da
peso fetal abaixo do percentil 10 para a idade
escrita
gestacional, estimado pela ultrassonografia obstétrica.

Epidemiologia Consequências em longo prazo


• Cerca de 80% deles recuperam suas medidas de
• Estima-se que 3 a 10% dos recém-nascidos
estatura e peso no primeiro ano de vida. Entre
apresentem crescimento restrito
aqueles que não se recuperam até 2 anos, cerca
Morbidade e mortalidade de 50% mantêm-se pequenos na idade adulta
• A morbidade perinatal é cerca de cinco vezes
Classificação
maior do que nos casos em que o peso do recém-
A classificação relaciona o agente etiológico com a fase
nascido é adequado para a idade gestacional, em
de crescimento celular prejudicada e o tipo clínico, sendo
consequência da maior frequência de hipoxia,
a RCIU classificada em:
aspiração de mecônio, insuficiência respiratória,
hipoglicemia, hipocalcemia, policitemia, • Tipo I (simétrico): o agente agressor atua
hipotermia, hemorragia pulmonar e prejuízo no durante a embriogênese. O recém-nascido
desenvolvimento neuropsicomotor apresenta redução proporcional das medidas
• A mortalidade perinatal é em torno de oito vezes corporais (peso, estatura e circunferência
maior do que nos adequados para a idade cefálica). Os fatores mais frequentemente
gestacional, sendo o óbito fetal súbito uma das envolvidos são genéticos, infecções congênitas,
suas consequências diretamente relacionadas drogas e radiações ionizantes
ao grau de restrição • Tipo II (assimétrico): a atuação sobre o feto
• A hipoglicemia neonatal presente nesses casos acontece no terceiro trimestre da gestação. Dá
relaciona-se à redução dos estoques de origem a recém-nascido com redução
glicogênio hepático e miocárdico, ao decréscimo desproporcional das medidas corporais. O polo
da neoglicogênese hepática e à redução do cefálico e os ossos longos são pouco atingidos,
tecido adiposo permanecendo acima do percentil 10, sendo o
• A hipocalcemia decorre da prematuridade (pelo abdome a região mais comprometida. Ele é o
atraso na introdução de leite para o recém- tipo mais frequente e é típico das insuficiências
nascido) e da ocorrência de hipoxia (por placentárias
sobrecarga de fósforo devido à lesão celular, • Tipo intermediário: o agente agressor atua no
aumento dos níveis séricos de calcitonina e segundo trimestre da gestação,
diminuição do fluxo de cálcio para o líquido comprometendo tanto a fase de hiperplasia
extracelular quando se corrige a acidose) como a de hipertrofia das células. Geralmente,
• A hipotermia, quando presente, ocorre por nesses casos, o feto se apresenta com
causa da perda excessiva de calor por escassez comprometimento cefálico e de ossos longos,
de tecido subcutâneo mas em grau menor do que no tipo I. Os fatores
102
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

mais frequentemente envolvidos são • Anemias: embora todos os tipos de anemias


desnutrição, uso de determinados fármacos, possam comprometer o crescimento fetal, as
tabagismo e alcoolismo hemoglobinopatias e, principalmente, a anemia
falciforme, são as mais importantes. Esta última,
Fatores de risco além de diminuir demais a oxigenação fetal,
Fatores fetais eleva a viscosidade do sangue e permite a
• Alterações genéticas e malformações formação de trombos em nível placentário
congênitas: cromossomopatias, principalmente • Diabetes mellitus: há comprometimento
as trissomias autossômicas (dos cromossomos vascular avançado no sítio de implantação
13, 18 e 21), e outras alterações cromossômicas placentária com diminuição do fluxo
como as triploidias, a síndrome de Turner uteroplacentário
(cariótipo 45,X) e os mosaicismos. O espectro de • Doenças autoimunes: o lúpus eritematoso
malformações inclui as dos sistemas sistêmico (LES) constitui uma das principais
cardiovascular (tetralogia de Fallot, hipoplasia enfermidades do grupo das doenças autoimunes
das câmaras esquerdas, estenose pulmonar e responsáveis pela RCF - a presença de
defeito do septo interventricular), nervoso e imunocomplexos na membrana basal do
digestório e dos aparelhos genitourinário e trofoblasto, além da vasculite placentária,
musculoesquelético explica a insuficiência placentária encontrada
• Infecções: rubéola, citomegalovírus, HIV, nesses casos
varicela-zóster e o herpes-vírus. Das infecções • Trombofilias: entre as adquiridas, destaca-se a
por protozoários, sabe-se que a toxoplasmose síndrome antifosfolípide (SAF), caracterizada
aguda e a malária podem causar RCF pela presença de anticorpos antifosfolipídicos
• Gestação múltipla: na gestação múltipla, os fetos (anticoagulante lúpico e anticardiolipina). Entre
demonstram uma trajetória de crescimento as hereditárias, as principais são a mutação do
diferente da gestação única. As curvas de fator V (fator V de Leiden) e do fator II
crescimento fetal no gemelar são semelhantes (protrombina) e as deficiências das proteínas S e
às da gestação única até 30 a 32 semanas de C, além da deficiência da antitrombina
gestação, quando ocorre diminuição progressiva • Desnutrição: a desnutrição materna grave,
do crescimento fetal nos gêmeos em relação aos quando presente no primeiro e no segundo
únicos. Em placentas únicas, o peso dos fetos trimestres, acomete a fase de hiperplasia
tende a ser menor do que nas separadas celular, resultando em lesões irreversíveis,
principalmente na esfera neurológica. Já no
Fatores placentários
terceiro trimestre, quando as células crescem
• Alterações placentárias: placenta prévia, principalmente em tamanho, a desnutrição
placenta circunvalada, corioangiomas, inserção compromete sobretudo o peso fetal. Assim,
velamentosa de cordão e artéria umbilical única ganho de peso materno inadequado,
• Insuficiência placentária: a diminuição da principalmente no terceiro trimestre, constitui
perfusão uteroplacentária é uma das causas um sinal de alerta para possível RCF
mais importantes de RCF
Fatores ambientais
Fatores maternos • Entre os fatores ambientais, podem ser citados
• Síndromes hipertensivas: relacionam-se com os componentes hostis externos, incluindo-se
comprometimento vascular placentário, com entre eles o estresse e o estilo de vida (hábitos e
consequente queda do fluxo uteroplacentário vícios)
presente tanto na DHEG como na hipertensão
Fatores psicossociais
arterial crônica
• Fatores psicossociais, incluindo o estresse, a
• Cardiopatias: no Brasil, a cardiopatia reumática
ansiedade e a depressão, têm sido apontados
é a mais frequente, em especial a estenose
como causadores de RCF. Nessas situações,
mitral, que corresponde a 90% dos casos
103
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

costuma haver um consumo maior de drogas, sugerem RCF assimétrica por estar a CA
álcool e cigarros, que também interferem no mais comprometido do que outros
crescimento fetal parâmetros
• Dopplervelocimetria: diante do diagnóstico de
Medicamentos
RCF, a Dopplervelocimetria constitui o próximo
• Drogas antineoplásicas, anticonvulsivantes exame a ser solicitado. Ela permite diferenciar o
(fenitoína e trimetadiona), betabloqueadores feto pequeno por insuficiência placentária do
(em especial o atenolol) e os esteroides pequeno constitucional, além de proporcionar a
Diagnóstico avaliação do grau de insuficiência placentária.
Inicialmente, devem ser avaliadas as artérias
• Ganho ponderal materno: o ganho de peso
umbilicais. Nas situações patológicas, devido à
materno insuficiente deve nos alertar para a
placentação inadequada, eleva-se a resistência
possibilidade de crescimento fetal diminuído. O
de perfusão e, consequentemente, o fluxo
peso materno deve ser aferido em cada consulta
diastólico diminui. Com isso, aumenta a relação
de pré-natal e, para seu acompanhamento,
sístole/diástole (S/D). Com o agravamento, o
pode-se utilizar a curva de Atalah, que relaciona
fluxo diastólico torna-se nulo (diástole zero) ou
o IMC materno com a semana de gestação. O
reverso (diástole reversa). Valores normais de
gráfico é dividido em quatro faixas: baixo peso,
Doppler estão entre P5 e P95
peso adequado, sobrepeso e obesidade
o Redução da diástole indica Doppler
• Medida da altura uterina: a medida da altura
semanal; diástole zero indica Doppler
uterina com a fita métrica menor do que a
diário e fluxo reverso indica resolução da
esperada para a idade gestacional, ou seja,
gestação. Enquanto faz-se o Doppler
abaixo do percentil 10, constitui sinal clínico
diário, se índice de pulsatilidade (IP) > 1,
suspeito de RCF e deve ser sempre utilizada para
indica-se realização de corticoterapia e
o seu rastreamento
se > 1,5, indica-se resolução da gestação
• Ultrassonografia: o diagnóstico provável da RCF
o Os fetos pequenos com fluxo normal nas
é feito pela ultrassonografia, que é mais precisa
artérias umbilicais apresentam baixo
do que a medida da altura uterina. São
risco perinatal e são considerados
importantes as medidas do diâmetro biparietal
constitucionalmente pequenos. Uma
(DBP), da circunferência cefálica (CC), da
vez estabelecido o diagnóstico da
circunferência abdominal (CA), da relação
insuficiência placentária, é importante
circunferência cefálica/circunferência
que se avalie a resposta fetal à
abdominal (CC/CA), do comprimento do fêmur
hipoxemia, ou seja, se há
(F) e da relação comprimento do
comprometimento do território arterial
fêmur/circunferência abdominal (F/CA). Entre
e venoso fetal. O estudo da artéria
essas medidas, CA é um dos marcadores mais
cerebral média (ACM) fetal informa
importantes do estado nutricional do feto, por
sobre a redistribuição do fluxo
refletir o volume do fígado e da gordura
sanguíneo para os territórios mais
subcutânea abdominal
nobres (centralização), em decorrência
• Para o cálculo do peso fetal, utilizam-se as
da hipóxia
medidas da cabeça, do abdome e do fêmur.
o A diminuição do índice de pulsatilidade
Considera-se a presença de RCF quando o peso
da ACM reflete vasodilatação
do feto se encontra abaixo do percentil 10 em
secundária à hipóxia
relação à idade gestacional
o Feito o diagnóstico, as relações CC/CA e Critério diagnóstico
F/CA podem sugerir o tipo de RCF.
Restrição Precoce (<32 semanas)
Relação CC/CA superior a 1,0 após 34
Pré-requisito: ausência de malformações congênitas
semanas ou relação F/CA superior a 23,5
na segunda metade da gestação • Critérios absolutos: qualquer um desses fecha o

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

diagnóstico: percentil 95 (IP AUmb > P95) ou Relação


o Circunferência abdominal abaixo do Cerebro-Placentária abaixo do Percentil
Percentil 3 (CA < P3) 5
o Peso Fetal Estimado abaixo do Percentil Conduta assistencial
3 (PFE < P3) • O acompanhamento da gestante com RCF deve
o Doppler: Diástole Zero da nas Umbilicais ser realizado em um centro terciário em virtude
• Critérios associados: combinação de pelo menos das complicações perinatais e da necessidade de
1 dos critérios a e b com pelo menos 1 dos avaliações mais complexas
critérios c e d fecha diagnóstico • Na RCF do tipo I grave, deve-se solicitar sorologia
a) Circunferência abdominal abaixo do materna para rubéola, citomegalovírus, varicela-
Percentil 10 (CA < P10) zóster e toxoplasmose. Quando os achados
b) Peso Fetal Estimado abaixo do Percentil ultrassonográficos sugerem a presença de
10 (PFE < P10) infecção, a busca por tais entidades deve fazer
c) Doppler: IP das umbilicais acima do parte da pesquisa. Os achados
percentil 95 (IP AUmb > P95) ultrassonográficos sugestivos são
d) Doppler: IP médio das uterinas acima do
ventriculomegalia, hidropsia não imune,
percentil 95 (IP AUt > P95)
microcefalia, hemorragia intracraniana ou
Restrição Tardia (≥32 semanas) calcificações, hepatoesplenomegalia e aumento
Pré-requisito: ausência de mal-formações congênitas da placenta
• Deve-se suspeitar de trombofilia quando a
• Critérios absolutos: qualquer um desses fecha o
paciente apresentar história de trombose, perda
diagnóstico
fetal de segundo ou terceiro trimestre, RCF de
o Circunferência abdominal abaixo do
início precoce ou surgimento precoce de DHEG
Percentil 3 (CA < P3)
grave
o Peso Fetal Estimado abaixo do Percentil
3 (PFE < P3) Momento ideal para o parto
• Critérios associados: pelo menos 2 dos 3 critérios
• Desde que a vitalidade fetal esteja preservada, é
fecha o diagnóstico:
mais prudente que o nascimento ocorra o mais
o Circunferência abdominal abaixo do próximo possível do termo
Percentil 10 (CA < P10) E/OU Peso Fetal
• Na Clínica Obstétrica do HC-FMUSP, a
Estimado abaixo do Percentil 10 (PFE <
propedêutica da vitalidade fetal na RCF é
P10)
realizada a partir da viabilidade (25 semanas),
o Queda de 2 quartis (ou 50 percentis) da
Circunferência Abdominal E/OU do Peso por meio de Dopplervelocimetria, perfil biofísico
Fetal Estimado fetal e cardiotocografia fetal
o Doppler: IP das umbilicais acima do

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Quando os exames de vitalidade, incluindo o parto pode ser realizada nos casos com
Doppler de ACM, mantêm-se normais, o indicação de interrupção da gestação
diagnóstico mais provável é de um pequeno • Se o colo uterino for favorável, ou seja, se o
constitucional e não há necessidade de índice de Bishop for superior a 6, utiliza-se
hospitalização. Nesses casos, a gestação pode ocitocina diluída em soro glicosado. Se o colo for
ser mantida até 40 semanas desde que não desfavorável, faz-se inicialmente a maturação
exista associação com doença materna que cervical com a aplicação de prostaglandina E2
resulte em insuficiência placentária local e, em seguida, a indução do parto com
o Caso ocorra essa associação, deve-se ocitocina
interromper a gestação com 37 semanas • O clampeamento do cordão umbilical deve ser
o Entre 34 e 37 semanas, diante do achado precoce, logo após o primeiro movimento
de artéria umbilical anormal, ou seja, respiratório do recém-nascido, a fim de se evitar
relação S/D acima do percentil 95 para a maior transferência de massa eritrocitária e
idade gestacional, ou de diástole zero, consequente hiperviscosidade sanguínea
interrompe-se a gestação
o Antes de 34 semanas gestacionais, na
presença de diástole zero, a gestante
deve ser internada e realiza-se o Doppler
de ducto venoso. Se o índice de
pulsatilidade para veias situar-se entre 1
e 1,5, faz-se um ciclo de corticosteroide
(desde que entre 25 e 34 semanas) e
interrompe-se a gestação após 48 horas.
A interrupção imediata é indicada
quando o índice de pulsatilidade para
veias é superior a 1,5. Se for constatada
a presença de oligoâmnio (índice de
líquido amniótico < 5) ou diástole
reversa pelo Doppler de artéria
umbilical, preconiza-se a interrupção da
gestação a partir da viabilidade fetal. Da
mesma forma, é feita a corticoterapia
antenatal

Conduta assistencial intraparto


• O parto vaginal deve ser preferido nos casos de
malformações incompatíveis com a vida. Nos
demais casos, a via de parto deve ser
individualizada, tendo-se em mente que o feto
com RCF é mais suscetível a mudanças bruscas
de fluxo uteroplacentário, apresentando maior
risco de hipoxia, mecônio e morte intraparto.
Portanto, ao se optar pela via vaginal, torna-se
imprescindível o controle da vitalidade fetal
intraparto
• Na presença de boa oxigenação fetal,
apresentação cefálica e peso estimado pela
ultrassonografia acima de 1.500 g, a indução do

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Anticoncepção no puerpério Métodos comportamentais


A menos que haja alguma restrição religiosa, por
Hormonais progestogênicos exemplo, não deve ser oferecido à pacientes
Não se deve utilizar estrogênio na anticoncepção no
puerpério, pois o estrogênio interfere na quantidade e Definitivos
qualidade do leite. Mesmo para pacientes que não • Laqueadura tubária: para sua realização, deve-se
amamentarão, não é recomendado seu uso pelo risco ter idade ≥ 25 anos E ≥ 2 filhos
aumentado em 40 vezes de fenômenos
tromboembólicos.

Devem ser iniciados 40 dias (6 semanas) após o parto.

Mecanismo de ação
• Interfere na qualidade do muco cervical,
promove atrofia endometrial, reduz a
motilidade ciliar e impede a ovulação

Tipos
• Baixa dosagem oral: minipílula – para seu uso, é
obrigatório amamentar regularmente em até 4
em 4 horas
• Média dosagem oral: desogestrel - não
apresenta relação com a amamentação e pode
ser iniciado após o parto (não disponível na rede)
• Injetável IM: acetato de medroxiprogesterona
150 mg – aplicado a cada 3 meses e, por falta de
estudos a respeito, não pode ser utilizado antes
de 6 semanas do parto
• DIU liberador de levonorgestrel: Mirena® -
alterações locais e, em 50% dos casos, não
bloqueia o ovário e, portanto, possui baixo efeito
anti-androgênico. Tem duração de 5 anos
• Implanta subdérmico: Implanon® - é o mais
eficaz dos métodos contraceptivos e apresenta
duração de 3 anos

Métodos de barreira
Tipos
• DIU de cobre: TCu380A – provoca irritação
endometrial e é espermicida. Tem duração de 10
anos e pode ser colocado em até 48 horas após
o parto e após 40 dias do parto. No intervalo
entre 48 horas e 40 dias não deve ser
implantado, pois há maior risco de expulsão
• Condom: existe na apresentação masculina e
feminina
• Diafragma + espermicida

107
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Parto fórceps Funções do fórcipe


O fórcipe obstétrico é o instrumento destinado a auxiliar • O fórcipe exerce três funções básicas: preensão,
a extração fetal por meio da preensão do polo cefálico, rotação e tração
diminuindo a duração do segundo período do parto.
Indicações e condições maternas e fetais de
Quando existe a suspeita de sofrimento fetal, abreviar o aplicabilidade
período expulsivo por meio do uso de fórcipe é de • A principal indicação de fórcipe é para abreviar o
enorme utilidade. fim do segundo período do trabalho de parto
caso haja situações que gerem risco materno-
Tipos e funções do fórcipe
fetal
Classificação
Indicações maternas
• Doença cardíaca
• Comprometimento pulmonar
• Infecção amniótica
• Algumas condições neurológicas
• Exaustão
• Falha de progressão após determinado período
de espera ou segundo período do parto
prolongado, especialmente nas situações em
que há sofrimento fetal concomitante

Indicações fetais
• Prolapso de cordão umbilical
• Cabeça insinuada nas apresentações cefálicas
• Cabeça derradeira nas pélvicas

Condições de aplicação do fórcipe


• Condições maternas: colo completamente
dilatado, bolsa das águas rota e estreitos médio
e inferior compatíveis com o volume cefálico
• Condições fetais: concepto vivo, cabeça
insinuada e volume cefálico normal

Técnica operatória
Tipos de fórcipe • Posição semissentada (elevação do dorso em
Os três fórcipes mais utilizados na prática clínica diária pelo menos 45º)
são os fórcipes: • Pernas hiperfletidas sobre o abdome
• Bexiga urinária vazia
• De Simpson-Braun: sua indicação limita-se às
variedades oblíquas e pegas diretas (púbica e Técnica geral
sacra) De forma geral, a técnica para aplicação do fórcipe
• De Kielland: variedades transversas compreende basicamente quatro tempos: apresentação
• De Piper: reservado para as apresentações espacial, introdução das colheres, articulação e extração
pélvicas com cabeça derradeira encravada fetal

Mnemônica: Senhor Osvaldo “Kruz” Também Parece • Apresentação espacial: é a orientação do fórcipe
Perdido da Cabeça à vulva de modo que sua concavidade fique
voltada para o ponto de referência fetal. Projeta-
se assim, imaginariamente, a posição que o

108
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

fórcipe assumirá após a completa introdução e • Paralisia facial: quando ocorrem pegas
articulação de seus cabos, antes da rotação assimétricas, casos em que uma colher do
o Introdução da mão-guia: a mão em fuso fórcipe apoia e aperta o nervo facial de maneira
é introduzida lateralmente, situando-se errônea, há possibilidade de paralisia facial que,
entre a parede vaginal e a cabeça, até os na maioria das vezes, regride espontaneamente
dedos atingirem a orelha fetal. Caso a • Esmagamento dos nervos parietais
apresentação esteja muito baixa, não é • Fraturas cranianas
necessário atingir as orelhas • Lesões oculares
o Introdução da primeira colher: a
introdução é conduzida pela mão que Complicações maternas
apreende o cabo do fórcipe (mão • As complicações maternas estão ligadas
preensora), sendo esta sempre oposta à basicamente a dois eventos: gestos inadequados
mão-guia e orientada pelos dedos da durante a aplicação e falhas ou complicações da
mão-guia. A primeira colher é ampliação do períneo por meio de episiotomia
introduzida até atingir a região • Lesões leves, como fissuras perineais ou vaginais
parietomalar (pega regular) simples, são de fácil abordagem e não deixam
o Retirada da mão-guia: depois de locada sequelas
a colher, retira-se a mão-guia com • Lesões vaginais extensas devem ser abordadas
cuidado e entrega-se o cabo ao auxiliar, com muita atenção, em especial nos casos de
que o conservará fixo pegas difíceis e de fórcipes com grandes
o Introdução da segunda mão-guia: rotações
novamente em fuso, a mão é • As roturas de esfíncter do ânus são mais raras e,
introduzida lateralmente na hemipelve, se prontamente identificadas e suturadas com
oposta àquela anterior técnica adequada, têm grande possibilidade de
o Introdução da segunda colher: presa e não deixar sequelas
conduzida pela mão preensora,
enquanto o auxiliar segura o cabo da
primeira colher do fórcipe, a segunda
colher deve ser orientada num triplo
movimento de abaixamento, translação
e torção, o qual se denomina manobra
de Lachapelle. Essa manobra só é válida
para pegas oblíquas, não se aplicando
em casos de pegas diretas, ou seja, nas
variedades de apresentação
occipitopúbica e occipitossacra
• Articulação: os cabos do instrumento devem
estar paralelos
• Extração fetal: antes de proceder à extração
fetal, é necessário realizar uma primeira tração
de prova, cuja finalidade principal é melhor
adaptar as colheres sobre as bossas parietais e
evitar transvios

Complicações no produto conceptual


• Lesões cutâneas: relacionadas aos transvios de
rotação e de tração (transvios horizontais e
verticais)

109
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

SAAF e LES meses, ou seja, ausência de crise lúpica, ausência


de glomerulonefrite e ausência de necessidade
SAAF de ajuste de dose, visto que em pacientes com
• A síndrome dos anticorpos antifosfolipídios quadros instáveis de lúpus que acabam
(SAAF) é uma doença autoimune caracterizada engravidando apresentam piora significativa do
por ser uma trombofilia adquirida (uma vez que lúpus. A maioria dos medicamentos são classe C
não possui como fator de risco a hereditariedade e D, sendo que se torna possível a utilização
ou antecedentes familiares de SAAF), que vai apenas do corticoide e dos antimaláricos,
promover tromboses espontâneas, sem fatores medicações de escolha para tratamento de
de risco, tanto arterial como venosa lúpus na gestação
• Classifica-se em primário, quando surge • As manifestações do lúpus durante a gestação é
independente de outra doença autoimune, e muito semelhante às manifestações fisiológicas
secundário, quando associa-se a outra doença da gravidez, assim como a casos semelhantes à
autoimune, por exemplo, o lúpus pré-eclâmpsia, visto que a frequência desta em
• Existe a possibilidade de VDRL positivo mulheres com lúpus é mais alta. Para
persistente cruzado, além do TTPa e diferenciação, dosa-se alguns marcadores, visto
trombocitopenia que na exacerbação irá haver aumento desses
• Geralmente está muito associado a quadros de marcadores, diferentemente das manifestações
abortos de repetição e óbitos fetais de 2º ou 3º da gravidez ou pré-eclâmpsia
trimestre sem justificativas, ou evolução de • As complicações mais importantes são lúpus
quadro grave de pré-eclâmpsia precoce, neonatal, principalmente quando mãe
descolamento prematuro de placenta e restrição portadora de anticorpo anti Ro e anti La, sendo
do crescimento intrauterino sem justificativas que o RN apresenta trombocitopenia transitória,
• Para o diagnóstico é necessário a presença de lesões cutâneas nas primeiras semanas de vida e
um diagnóstico clínico e um laboratorial. O bradicardia com risco de insuficiência cardíaca, e
diagnóstico clínico pode ser trombose glomerulonefrite lúpica
espontânea, abortos de repetição (≥ 3 abortos
independente da IG), 1 aborto com > 10 semanas
e parto precoce < 34 semanas. O diagnóstico
laboratorial é decorrente da dosagem do anti-
β2-glicoproteína I, anticardiolipina e anti-
coagulante lúpico. Repete-se o critério
laboratorial após 12 semanas para confirmação
diagnóstica, entretanto para o início de
tratamento basta ter a presença de um critério
clínico e um laboratorial, sem a necessidade da
repetição do critério laboratorial após 12
semanas.
• O tratamento é feito com AAS e heparina

LES
• O lúpus possui componente genético e
ambiental, sendo que na mulher possui um
importante componente ambiental que é o
estrogênio
• É uma doença autoimune de caráter crônico. A
paciente portadora de lúpus pode engravidar,
entretanto deve engravidar no melhor momento
do lúpus, se mantendo estável por pelo menos 6

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Óbito fetal portadoras de trombofilias hereditárias,


apresentam também risco aumentado para
A morte do produto conceptual é sempre um evento
óbito fetal, em razão dos fenômenos
marcante na vida dos casais, com profundas
trombóticos placentários
repercussões. Esse fato desencadeia um turbilhão de
fortes emoções e reações em todas as pessoas Origem fetal
envolvidas, desde os amigos e familiares mais próximos • As condições mais frequentes incluem presença
desses casais até os profissionais envolvidos no seu de anormalidades cromossômicas e
atendimento. malformações estruturais graves, infecções
congênitas, anemia fetal acentuada decorrente
Conceito
da aloimunização materna e casos de hidropsia
• Óbito fetal é a morte de um produto da
não imune
concepção, antes de sua expulsão ou extração
completa do organismo materno Origem anexial
• Segundo a Organização Mundial da Saúde • Nesse grupo, vale destacar o descolamento
(OMS), esse conceito independe da duração da prematuro da placenta, que é a causa isolada
gravidez, entretanto, um grande número de mais frequente
autores prefere defini-lo a partir de 20 ou 22
semanas de gestação. Na Clínica Obstétrica do Quadro clínico
HC-FMUSP, adota-se a idade de 22 semanas • A queixa mais comum das gestantes em casos de
como limite inferior para definição de óbito fetal óbito fetal é a parada da movimentação fetal,
que pode ser acompanhada de regressão ou
Etiologia completo desaparecimento dos sintomas
• Os fatores de risco incluem idade materna gravídicos subjetivos
avançada (principalmente acima de 40 anos), • No exame físico, não é possível auscultar os
obesidade, nuliparidade, raça negra, batimentos cardíacos fetais, e o peso corpóreo
antecedente de óbito fetal, condições materno e a turgescência mamária diminuem
socioeconômicas precárias, baixo nível de • Há também diminuição da altura uterina por
instrução escolar, gestação múltipla e pós- causa da redução do líquido amniótico
datismo
• A monitorização fetal intraparto tem reduzido a Propedêutica ultrassonográfica
proporção de óbitos que ocorrem durante o • Diante da suspeita clínica de óbito fetal, o exame
trabalho de parto; de fato, esse evento tem se ultrassonográfico é mandatório e confirma o
tornado cada vez mais raro. As principais diagnóstico, confirmando a ausência de
situações de risco nesses casos são batimentos cardíacos
descolamento prematuro de placenta,
Investigação
sofrimento fetal, prolapso de cordão e
• Recomenda-se investigar eventos relevantes do
apresentação pélvica
período pré-natal e, após o parto, examinar
Origem materna cuidadosamente o recém-nascido em busca de
• Entre as doenças maternas, destacam-se a feições dismórficas, registrando por meio de
hipertensão arterial e o diabetes mellitus não documentação fotográfica e radiológica do
controlado como principais causas de óbito fetal produto conceptual
• No Brasil, a aloimunização materna a antígenos • Do ponto de vista materno, podem ser
de superfície eritrocitária ainda constitui causa solicitadas provas sorológicas específicas
importante de óbito, em razão de anemia fetal quando essas não foram realizadas
grave e hidropsia que ocorrem nesses casos anteriormente, pesquisa de anticorpos
• As gestantes com doenças autoimunes, como irregulares antieritrocitários, anticoagulante
lúpus eritematoso sistêmico (LES) e presença de lúpico e anticorpos antifosfolipídicos, e glicemia
autoanticorpos em sua circulação, além das materna

111
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• O estudo da placenta, do cordão umbilical e das


membranas pode revelar achados consistentes
com infecção, descolamento prematuro de
placenta e mudanças vasculares, que são
frequentemente associadas aos casos de
restrição do crescimento fetal ou pré-eclâmpsia

Conduta
• Após o óbito fetal, quando o casal opta pela
conduta expectante, o trabalho de parto se inicia
espontaneamente em até 90% das vezes, até 2
semanas após o diagnóstico
• Rotura prematura de membranas ovulares,
infecção ovular, descolamento prematuro de
placenta e placenta prévia constituem
contraindicações à conduta expectante
• A permanência do feto morto no organismo
materno por mais de 4 semanas é definida como
retenção. Nessas circunstâncias, a principal
complicação é o quadro de coagulação
intravascular disseminada (CIVD) da mãe,
decorrente da liberação de substâncias
tromboplásticas do conjunto fetoanexial. Assim,
é mandatória a monitorização dos casos de óbito
fetal por meio de testes da coagulação materna
(coagulograma e contagem de plaquetas) a
intervalos regulares, preferencialmente
semanais
• Quando a opção é pela conduta ativa, esta
dependerá de fatores relacionados a idade
gestacional e volume uterino, intercorrências
clínicas e/ou obstétricas associadas, presença de
cicatriz uterina e condições do colo uterino

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Vacinas e Imunoglobulinas • O Ministério da Saúde, em seu Manual de Pré-


natal, recomenda a vacinação para todas as
Tétano gestantes após o primeiro trimestre, mas pode
• A vacina com o toxoide tetânico (associada ao ser realizada em qualquer idade gestacional
toxoide diftérico – dT) é recomendada a partir de • Deve haver um intervalo de 30 dias entre a
20 semanas para profilaxia do tétano neonatal e primeira e a segunda dose e de 180 dias entre a
suas doses devem ter intervalo de 60 dias (ou primeira e a terceira dose
pelo menos 30 dias entre elas). O Ministério da
Saúde 2012 recomenda iniciar esquema vacinal Raiva
o mais precocemente possível • A vacinação contra a raiva deve ser administrada
• Duas doses da vacina já são suficientes para em caso de exposição ao vírus
prevenção do tétano neonatal, sendo que a
última dose deve ser administrada até 20 dias Rubéola
antes da data provável do parto • É altamente recomendável a vacinação para
• Caso a gestante não complete seu esquema de rubéola antes de planejar a gestação. Deve-se
três doses durante a gravidez, este deverá ser aguardar um intervalo mínimo de um mês após
completado no puerpério ou em qualquer outra sua aplicação para engravidar
oportunidade • A paciente que inadvertidamente tomá-la
durante a gravidez, deve ser encaminhada para
centros de referência, embora, até hoje, não
exista relato documentado de rubéola
intraútero a partir de contaminação pela vacina
• A infecção pelo vírus da rubéola durante a
gestação, principalmente no primeiro trimestre,
pode causar abortamento, morte fetal, parto
prematuro e malformações congênitas. Quando
a infecção ocorre durante a embriogênese
(primeiro trimestre), cerca de 80% das crianças
Influenza podem nascer com a síndrome da rubéola
• Vacina recomendada a todas as gestantes, em congênita. As malformações podem ser graves,
qualquer período gestacional, durante a com comprometimento ocular (catarata,
campanha anual contra influenza sazonal, glaucoma, microftalmia), auditivo (surdez total),
lembrando que não há risco em vacinar grávidas cardíaco (persistência do canal arterial, defeitos
com esta vacina de septo) e neurológico (retardo mental,
• A vacina que contém o adjuvante só poderia ser microcefalia) ou resultar em manifestações
administrada a partir do 2º trimestre da discretas, como déficit auditivo parcial ou
pequenos defeitos cardíacos. Quando a infecção
gravidez. O Ministério da Saúde optou por
vacinar a gestante somente com a vacina sem ocorre após o quarto mês de gestação, a
adjuvante por dois motivos: não atrapalhar a deficiência auditiva pode ser a única
operacionalização da vacinação e evitar que manifestação da rubéola congênita
qualquer intercorrência na gestação de mulher Febre amarela
inadvertidamente vacinada antes do 2º
• A vacina contra febre amarela é contraindicada,
trimestre da gravidez viesse a ser atribuída à
porém seu uso pode ser liberado em situações
vacina
de surto, se a gestante reside ou em caso de
Hepatite B viagem inevitável para áreas endêmicas, devido
• A vacinação é recomendada para evitar a à alta morbidade da doença na gestação
contaminação da gestante e prevenir a • O Ministério da Saúde ressalta que lactantes que
transmissão vertical amamentam crianças menores de seis meses
também não devem ser vacinadas
113
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Os calendários de vacinação do Ministério da as complicações maternas graves decorrentes


Saúde recomendam que a vacina seja da infecção
administrada a partir dos nove meses de idade.
Uma nova dose deve ser administrada a cada dez
anos, a partir da última dose

Coqueluche
• A vacina dTpa é indicada para TODAS as
gestantes a partir da 20ª semana de gestação,
preferencialmente, podendo ser administrada
até 20 dias antes da data provável do parto
• Ela deve ser administrada a cada gestação, visto
que os anticorpos possuem curta duração,
portanto, a vacinação durante uma gravidez não
manterá alto nível de anticorpos protetores em
gestações subsequentes

Histórico vacinal Conduta na gestação


Previamente vacinada, Uma dose de dTpa a partir
com pelo menos três doses da 20ª semana de gestação,
de vacina contendo o o mais precocemente
componente tetânico possível
Uma dose de dT e uma dose
de dTpa, sendo que a dTpa
Em gestantes com
deve ser aplicada a partir da
vacinação incompleta
20ª semana de gestação, o
tendo recebido uma dose
mais precocemente
de vacina contendo o
possível. Respeitar intervalo
componente tetânico
mínimo de um mês entre
elas
Em gestantes com
Uma dose de dTpa a partir
vacinação incompleta
da 20ª semana de gestação,
tendo recebido duas doses
o mais precocemente
de vacina contendo o
possível
componente tetânico
Duas doses de dT e uma
dose de dTpa, sendo que a
Em gestantes não dTpa deve ser aplicada a
vacinadas e/ou histórico partir da 20ª semana de
vacinal desconhecido gestação. Respeitar
intervalo mínimo de um
mês entre elas

Outras vacinas e imunoglobulinas


• Não devem ser utilizadas vacinas de vírus vivos
atenuados (sabin, caxumba, sarampo, rubéola)
• Imunoglobulina contra varicela, sarampo,
hepatite B e tétano podem ser utilizadas,
contanto que tenham indicação precisa
• Para gestantes susceptíveis expostas ao vírus da
varicela, recomenda-se a administração de
Imunoglobulina para Varicela-Zóster (VZIG) até
96 horas após o contato, com o intuito de reduzir
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Orientações nutricionais 7. Evite refrigerantes e sucos industrializados,


bolos, biscoitos recheados e outras guloseimas
O ganho ponderal médio ideal da grávida é de
no seu dia-a-dia
aproximadamente 12,5 kg. O feto, a placenta e o
8. Diminua a quantidade de sal na comida e retire
aumento uterino e das mamas representam
o saleiro da mesa. Evite consumir alimentos
aproximadamente 9 kg, sendo o restante tecido
industrializados com muito sal (sódio) como
gorduroso materno.
hambúrguer, salsicha, linguiça, presunto,
O ganho ponderal máximo recomendado para as obesas
salgadinhos, sopas, molhos e temperos prontos
é de até 9,1 kg.
9. Para evitar a anemia, consuma diariamente
Restrições alimentares alimentos fontes de ferro como: carnes, feijão,
Alguns alimentos devem ser limitados ou mesmo grão-de-bico, soja, folhas verde-escuras, grãos
evitados durante a gestação por conta de seu potencial integrais, castanhas e outros. Consuma junto
tóxico. Entre eles, estão: desses alimentos aqueles fontes de vitamina C
como: acerola, laranja, caju, limão
• Peixes: intoxicação por mercúrio se ingestão de 10. Mantenha o seu ganho de peso gestacional
peixes contaminados, prejudicando o sistema dentro de limite saudáveis. Pratique, seguindo
nervoso fetal orientação de um profissional de saúde, alguma
• Cafeína atividade física e evite as bebidas alcoólicas e o
• Carnes cruas: toxoplasmose e verminoses fumo
• Frutas e vegetais não lavados
• Produtos não pasteurizados Diagnóstico Nutricional
• Calcule a idade gestacional em semanas.
10 passos da alimentação na gestação Quando necessário, arredonde a semana
1. Faça pelo menos três refeições (café da manhã, gestacional da seguinte forma: 1, 2 e 3 dias
almoço e jantar) e dois lanches saudáveis por considere o número de semanas completas; e 4,
dia, evitando ficar mais de três horas sem comer. 5 e 6 dias, considere a semana seguinte. (ex. 12
Entre as refeições, beba água, pelo menos 2 semanas e 2 dias = 12 semanas; 12 semanas e 5
litros dias = 13 semanas)
2. Inclua diariamente nas refeições seis porções do • Classifique o estado nutricional, utilizando o IMC
grupo de cereais (arroz, milho, pães e alimentos através da Curva de Atalah
feitos com farinha de trigo e milho), tubérculos o Baixo Peso (BP): IMC ≤ aos valores
como as batatas e raízes como a mandioca. Dê expostos na faixa correspondente a
preferência aos alimentos na sua forma mais baixo peso
natural, pois além de serem fontes de o Adequado (A): IMC compreendido na
carboidratos, são boas fontes de fibras, faixa de valores expostos na coluna
vitaminas e minerais correspondente a adequado
3. Procure consumir diariamente pelo menos três o Sobrepeso (SP): IMC compreendido na
porções de legumes e verduras e três porções ou faixa de valores expostos na coluna
mais de frutas nas sobremesas e lanches correspondente a sobrepeso
4. Coma feijão com arroz todos os dias ou, pelo o Obesidade (O): IMC ≥ aos valores
menos, cinco vezes por semana expostos na coluna correspondente a
5. Consuma diariamente três porções de leite e obesidade
derivados e uma porção de carnes, aves, peixes
ou ovos. Retire a gordura aparente das carnes e
a pele das aves antes da preparação
6. Consuma, no máximo, 1 porção por dia de óleos
vegetais, azeite, manteiga ou margarina

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Avaliação do estado nutricional da gestante debilitantes. Essas gestantes deverão ganhar


segundo o IMC por semana gestacional entre 12,5 e 18 kg, sendo este ganho, em média
de 2,3 kg no primeiro trimestre (até a 13ª
semana de gestação) e de 0,5 kg/semana no 2º
e 3º trimestre
• Adequado (A): dar orientações nutricionais,
visando a manutenção do peso adequado e a
promoção de hábitos alimentares saudáveis.
Essas gestantes devem ganhar em torno de 11,5
kg-16 Kg. De forma geral, para as gestantes com
IMC adequado, utilizamos a recomendação de
300 a 500 gramas por semana distribuídos ao
longo da gestação
• Sobrepeso e Obesidade (S e O) investigue a
obesidade pré-gestacional, casos de edema,
polidrâmnio, macrossomia e gravidez múltipla.
Dê orientação nutricional a gestante, visando a
promoção do peso adequado e de hábitos
alimentares saudáveis, ressaltando que no
período gestacional não se deve perder peso,
pois é desejável mantê-lo. As gestantes com
sobrepeso devem acumular entre 7 e 11,5 Kg; e
as obesas devem ganhar em torno de 7 Kg, com
recomendação específica e diferente por
trimestre

• Estimativa do ganho de peso para as gestantes:


através da avaliação do IMC e classificação do
estado nutricional da gestante, pode-se estimar
o ganho de peso ideal total até o final da
gestação. Para cada situação inicial há uma faixa
de ganho de peso recomendada, lembrando que
o ganho de peso ideal no primeiro trimestre é
definido para todo o trimestre e o segundo e
Suplementação
terceiro trimestre, o ganho de peso é definido
• Sulfato ferroso: 40-60 mg de ferro elementar,
por semana:
que corresponde a 1 drágea de sulfato
ferroso/dia (200-300mg). Recomenda-se ingerir
antes das refeições, preferencialmente com
suco cítrico. Deve ser mantido no pós-parto e
nos pós-aborto por 3 meses
• Ácido Fólico: tem forte efeito protetor contra
defeitos abertos do tubo neural. Deve ser usado
rotineiramente 3 meses antes e durante toda a
Condutas conforme o diagnóstico nutricional gestação na dose de 400 microgramas (0,4mg ao
realizado dia), deveremos prescrever 40 gotas 1x ao dia
• Baixo peso (BP): investigue a história alimentar, • Ômega 3
a hiperemese gravídica, as infecções, as • Iodo
parasitoses, as anemias e as doenças

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Diabetes gestacional • Diabetes mellitus gestacional: glicemia de jejum


na primeira consulta entre 92 e 125 mg/dL ou
O termo diabetes mellitus descreve um grupo de
por meio do teste de tolerância à glicose oral
doenças em que se observa metabolismo anormal de
(GTT) de 75g. entre 24 e 28 semanas na presença
carboidratos, caracterizado por hiperglicemia, em
de glicemia de jejum normal na primeira
decorrência de defeitos na secreção e/ou na ação da
consulta
insulina.
o Jejum: >92 mg/dl
Fisiopatologia o 1ª hora: >180 mg/dl
• A gestação é caracterizada por acréscimo na o 2ª hora: >153 mg/dl
resistência periférica à insulina e por incremento
Complicações clínicas maternas
na produção de insulina pelas células-beta do
• Hipertensão arterial: é complicação frequente
pâncreas
em pacientes diabéticas, tendo sua prevalência
• A resistência à insulina aumenta durante a
relacionada ao tipo de diabetes, à obesidade, à
gestação em virtude da secreção placentária de
idade e à etnia. A hipertensão se associa a maior
alguns hormônios considerados diabetogênicos,
risco de doença cardiovascular, retinopatia e
como hormônio do crescimento, cortisol e
nefropatia
hormônio lactogênico placentário
• Retinopatia diabética: é a complicação vascular
• Na gestação, o metabolismo energético pode ser
mais específica do diabetes mellitus
dividido em duas fases distintas: a primeira é
• Nefropatia diabética: é uma das principais
conhecida como fase anabólica, na qual a
causas de insuficiência renal crônica. A
glicemia das gestantes tende a diminuir, em
microalbuminúria associa-se a maior risco de
especial quando ocorre jejum prolongado. A
desenvolvimento de pré-eclâmpsia, e é definida
segunda fase é catabólica, com crescente
como a perda de 30 a 299 mg de albumina em
consumo de nutrientes maternos pelo feto.
urina coletada durante 24 horas, sendo
Nela, torna-se evidente o aumento da
considerada um estágio precoce da nefropatia
resistência periférica à insulina
diabética. A progressão para macroalbuminúria
• Quando as modificações na função pancreática
(valores de 300 mg ou mais em urina de 24
não são suficientes para vencer a resistência à
horas) associa-se ao desenvolvimento de
insulina, ocorre o diabetes mellitus gestacional
insuficiência renal crônica
• Risco de malformações fetais: hiperglicemia nas
primeiras 6 a 8 semanas de gestação aumenta o
risco de malformações fetais. São mais
comumente afetados o aparelho cardiovascular,
o sistema nervoso central (SNC), o sistema
digestório, o aparelho genitourinário e o
aparelho musculoesquelético

Assistência pré-natal
• Na presença de hipertensão arterial sistêmica
(HAS), os valores de pressão arterial sistólica
devem ser mantidos entre 110 e 129 mmHg, e os
de diastólica entre 65 e 79 mmHg
• Preconiza-se ainda o rastreamento de
Diabetes mellitus diagnosticado na gestação
cardiopatia isquêmica pela realização de
• Diabetes pregresso: apresentam, na primeira
eletrocardiograma para todas as pacientes e de
consulta de pré-natal, um dos seguintes
ecocardiograma para as portadoras de
critérios: glicemia em jejum ≥126 mg/dL,
vasculopatias
hemoglobina glicada ≥6,5%, glicemia ocasional
>200 mg/dL
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• A avaliação da função renal consiste em pesquisa


de microalbuminúria ou de proteinúria e na
determinação dos valores de creatinina sérica
• Gestantes diabéticas têm risco aumentado em
três a cinco vezes de apresentar bacteriúria
assintomática, sendo importantes o
rastreamento e o tratamento dessa condição
clínica
• A ultrassonografia deve ser realizada no Controle glicêmico intraparto
primeiro trimestre e tem como objetivos • Manter a glicemia entre 70 e 110 mg/dl
documentar a viabilidade da gestação, estimar a o Dieta zero por 8 horas
idade gestacional e permitir a avaliação o Suspender insulina NPH
morfológica inicial em busca de malformações. A o Infusão contínua de soro glicosado,
medida da translucência nucal agregará visando euglicemia
informações relativas ao risco de o Insulina regular conforme glicemia
cromossomopatias e malformações cardíacas (horária ou 2/2 horas), visando
euglicemia
Tratamento
• Dieta: a educação dietética, muitas vezes, é Controle glicêmico pós-parto
terapêutica suficiente para atingir o controle • Suspender a insulina e avaliar conforme glicemia
glicêmico. A dieta é constituída por capilar
aproximadamente 40 a 50%, de carboidratos, 30 o Se continua alterada, manter 1/3 da
a 35% de lípides e 15 a 20% de proteínas e será dose da insulina que usava durante a
fracionada em seis refeições (café da manhã, gestação
lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, o Se normal, realizar TOTG 6-12 semanas
jantar e ceia) após o parto
• Exercícios físicos: podem promover melhor o Se é diabética prévia, retornar com as
controle glicêmico. Pacientes que medicações utilizadas previamente à
rotineiramente praticam atividades físicas e já o gestação
faziam previamente à gestação deverão manter
suas atividades com as adaptações necessárias a
essa nova fase da vida. Pacientes que não tinham
esse hábito, por sua vez, poderão ter benefícios
com a prática de exercícios físicos apropriados
para gestantes e para o trimestre específico da
gestação
• Insulinoterapia: terapêutica medicamentosa de
escolha no tratamento do diabetes durante a
gestação
o Insulina NPH fracionada em duas
tomadas (jejum e jantar)
o A dose inicial será calculada de acordo
com o peso materno, sendo de 0,5
U/kg/dia
o 2/3 da dose é tomada pela manhã e o
restante aplicado antes do jantar

118
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hipertensão gestacional enzimas hepáticas, insuficiência renal, edema


pulmonar ou sintomas visuais e cerebrais
A doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) é
(cefaleia, amaurose, escotomas, fosfenas). Na
uma das complicações mais frequentes da gravidez.
iminência de eclâmpsia, destacam-se cefaleia,
Embora a evolução seja favorável nas pacientes com
dor epigástrica e alterações visuais
formas leves da doença, as formas graves (com
• Eclâmpsia: aparecimento de convulsões em
eclâmpsia e síndrome HELLP) constituem importante
paciente com pré-eclâmpsia
causa de morbidade materna grave e mortalidade
materna e perinatal. • Hipertensão crônica: hipertensão arterial
persistente anterior à gravidez ou anterior a 20
Além da eclâmpsia e da síndrome HELLP, outras semanas e que se mantém após o puerpério
situações graves podem estar associadas à DHEG, como • Hipertensão transitória: elevação dos níveis
descolamento prematuro de placenta (DPP), coagulação pressóricos no final da gestação ou no início do
intravascular disseminada (CIVD), hemorragia cerebral, puerpério (24 horas de pós-parto), sem
edema pulmonar, insuficiência hepática e insuficiência proteinúria e que retorna aos valores normais
renal aguda. As complicações perinatais incluem em até 10 dias após o parto
prematuridade, restrição do crescimento fetal (RCF), • Síndrome HELLP: é uma pré-eclâmpsia grave ou
sofrimento fetal e morte perinatal. eclâmpsia com hemólise, elevação de enzimas
hepáticas e plaquetopenia
Conceito de DHEG
• Compreende o conjunto das alterações
pressóricas observadas na gestação, incluindo a
pré-eclâmpsia e a eclâmpsia. Ela é caracterizada
pela presença de hipertensão arterial, edema
e/ou proteinúria a partir de 20 semanas de
gestação, em pacientes previamente
normotensas
• Eclâmpsia é a ocorrência de convulsões tonico-
clônicas generalizadas e/ou coma em gestante
com pré-eclâmpsia
• Define-se hipertensão arterial quando a pressão
arterial sistólica é igual ou superior a 140 mmHg
e/ou a pressão arterial diastólica é igual ou
superior a 90 mmHg
• A proteinúria é considerada significativa pela
relação proteína/creatinina em amostra isolada
de urina quando a relação (com ambas as
medidas em mg/dL) for igual ou superior a 0,3
• O edema generalizado constitui sinal de alerta
para possível desenvolvimento de DHEG

Formas clínicas Incidência


• Pré-eclâmpsia: desenvolvimento de hipertensão • As doenças hipertensivas complicam até 10%
arterial (PAS ≥140 mmHg e/ou PAD ≥90 mmHg), das gestações
com proteinúria significativa (≥300 mg/l em • A prevalência da DHEG (pré-eclâmpsia) é
urina de 24 horas) e/ou edema de mãos e face classicamente apresentada como sendo de 5 a
que ocorre após 20 semanas. A mais recente 8%
diretriz do ACOG admite o diagnóstico de pré- • O aumento da prevalência de obesidade tem
eclâmpsia na ausência de proteinúria na sido relacionado ao aumento da prevalência de
presença de trombocitopenia, alteração das DHEG nos países desenvolvidos

119
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Fatores de risco produzem menos prostaciclina e óxido nítrico do


• Idade materna avançada que os de gestantes normais
• Nuliparidade • A mudança na permeabilidade vascular
• História familiar de DHEG endotelial seria a responsável pelo
• Obesidade extravasamento de proteínas sanguíneas para o
• Gestação múltipla terceiro espaço, causando proteinúria e edema
• Doença trofoblástica gestacional Predisposição genética
• DHEG em gestação pregressa • Há evidências epidemiológicas do envolvimento
• Colagenose genético na DHEG. Assim, filhas de mães com
• Diabetes pré-eclâmpsia têm maior incidência da doença
• Doença renal
• Trombofilia: em especial em associação com a Estresse
síndrome antifosfolípide • Estudos epidemiológicos demonstram que o
risco relativo de DHEG é maior em situações de
Etiologia estresse. Este achado é explicado pelas
Deficiência da invasão trofoblástica alterações endoteliais, com aumento da
• A placentação normal, ao completar-se, diminui atividade simpática vasoconstritora
a resistência vascular e aumentando o fluxo
Fisiopatologia
sanguíneo placentário. A placenta torna-se
órgão extremamente vascularizado, que permite Alterações cardiovasculares
as trocas materno-fetais • Apesar de o débito cardíaco elevar-se em
• Na DHEG, o fluxo uteroplacentário diminui, o aproximadamente 50% durante a gestação
que leva à diminuição da oxigenação fetal normal, pelo aumento correspondente do
• Essas alterações na perfusão placentária possam volume plasmático, o nível da pressão arterial
ser responsáveis pela ativação endotelial normalmente não se eleva, chegando mesmo a
seguida de vasoespasmo (responsável pela diminuir na primeira metade da gestação. Esse
ocorrência de hipertensão arterial, oligúria e fato ocorre porque a resistência periférica total
convulsões), pelo aumento da permeabilidade se reduz em consequência do desvio do fluxo
capilar (responsável pela ocorrência de edema, sanguíneo sistêmico para a placenta e pela ação
proteinúria e hemoconcentração) e pela de várias substâncias vasodilatadoras, como a
ativação da coagulação (responsável pela prostaciclina, a prostaglandina E e o óxido nítrico
plaquetopenia) • Na DHEG, o volume plasmático é menor em
comparação com a gestação normal. Com a
Fatores imunológicos lesão endotelial ocorre aumento da
• Sugere-se que haja uma resposta inflamatória permeabilidade capilar, havendo
exacerbada que impede a placentação adequada extravasamento do plasma para o meio
extravascular, o que, por sua vez, dá origem ao
Lesão endotelial e alterações inflamatórias
edema e à hemoconcentração. Com o aumento
• Embora a pré-eclâmpsia pareça se originar na da viscosidade sanguínea surgem os fenômenos
placenta, o tecido mais afetado na apresentação trombóticos. Em decorrência do vasoespasmo
clínica da doença é o endotélio vascular. O generalizado, a resistência periférica total torna-
endotélio intacto impede a formação de se elevada, com consequente isquemia em
trombos todos os órgãos
• Na presença de lesão vascular, que pode ser • Portanto, o aumento da resistência periférica
mecânica, química ou metabólica, iniciam-se a
total é o principal responsável pela elevação da
cascata de coagulação e a adesão de plaquetas pressão arterial na DHEG. É pouco provável que
• É sabido que os vasos de mulheres com pré- esse efeito seja determinado pela hiperatividade
eclâmpsia e os do cordão umbilical de seus do sistema nervoso autônomo, estando
recém-nascidos, diante de lesão endotelial,
120
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

provavelmente mais implicados os fatores Alterações uteroplacentárias


humorais • O fluxo uteroplacentário encontra-se diminuído
na DHEG, caracterizando o quadro de
Prostaglandinas
insuficiência placentária, principal responsável
• O desequilíbrio entre prostaglandinas
pelos resultados perinatais adversos
vasodilatadoras (prostaciclinas) e
• O comprometimento da circulação
vasoconstritoras (tromboxano A2 - TXA2), com
uteroplacentária, com aumento da resistência,
predomínio destas últimas na circulação
pode ser evidenciado de maneira direta pela
uteroplacentária, pode estar envolvido no
Dopplervelocimetria de artérias uterinas e
desenvolvimento da DHEG
indiretamente pela Dopplervelocimetria de
Alterações da coagulação artéria umbilical
• Coagulação intravascular disseminada pode • A invasão trofoblástica deficiente nas artérias
ocorrer na DHEG espiraladas diminui o fluxo interviloso, e a
vasoconstrição das arteríolas vilosas determina
Alterações renais elevação da resistência vascular fetoplacentária,
• Na DHEG, a perfusão renal cai e determina o que, por sua vez, repercute na
reduções no fluxo plasmático renal e na filtração Dopplervelocimetria umbilical com o achado de
glomerular. Consequentemente, os níveis de resistência vascular aumentada, diástole zero ou
ureia e creatinina podem aumentar. Do mesmo reversa
modo, a concentração plasmática de ácido úrico
eleva-se e está diretamente relacionada à Diagnóstico clínico-laboratorial
gravidade da doença • A maioria das gestantes na fase inicial da pré-
eclâmpsia é assintomática
Alterações hepática
• Lesões hepáticas podem ser observadas em
mulheres com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia
e são secundárias ao vasoespasmo intenso

Alterações pulmonares
• Na eclâmpsia, tanto o edema pulmonar como a
broncopneumonia aspirativa são causas de
insuficiência respiratória grave e estão
implicados em até 60% dos casos de óbito
materno

Alterações cerebrais
• As altereações cerebrais observadas na pré-
eclâmpsia grave e na eclâmpsia podem ser
explicadas por duas teorias: na primeira, a
hipertensão grave levaria à vasoconstrição
reflexa, com consequente queda do fluxo
cerebral, edema citotóxico e eventuais áreas de
infarto cerebral; e na segunda teoria, a
eclâmpsia representaria uma forma de
encefalopatia hipertensiva na qual elevações • O diagnóstico de DHEG deve ser presumido nas
abruptas da pressão arterial levariam à quebra gestantes com hipertensão arterial, edema e/ou
dos mecanismos de autorregulação da proteinúria significativa após 20 semanas de
circulação cerebral, com hiperperfusão, gestação
disrupção dos capilares, extravasamento de
plasma e eritrócitos, com edema vasogênico
121
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hipertensão arterial Outros exames complementares


• Na gravidez normal ocorre queda da pressão • Hemograma com contagem de plaquetas: a
arterial no segundo trimestre, devido à redução plaquetopenia é mais frequente e mais
da resistência periférica total significativa nas pacientes com quadro clínico
• O diagnóstico de HAS é feito se PAS >140 mmHg mais grave de DHEG e de início mais precoce.
e/ou PAD >90 mmHg Quando inferior a 100.000 plaquetas/mm3, é
• Devem ser realizadas pelo menos duas medidas considerada fator de mau prognóstico,
de pressão arterial, tomando-se então a segunda principalmente se estiver associada à elevação
como a de definição de enzimas hepáticas e hemólise (síndrome
• A paciente deve permanecer sentada por pelo HELLP)
menos 5 minutos antes da medida da pressão • Bilirrubinas e enzimas hepáticas: entre os sinais
arterial de hemólise, destacam-se a icterícia e/ou o
• O manguito para a aferição da pressão arterial aumento de bilirrubinas séricas maior ou igual a
deve ser de tamanho adequado. Se tiver a 1,2 mg% associados ao aumento de DHL (>600
largura habitual (12 cm), pode superestimar a UI/L)
pressão arterial em pacientes obesas cuja • Ureia e creatinina: na DHEG grave, a queda da
circunferência do braço é superior a 31 cm e filtração glomerular acarreta elevação dos níveis
subestimar se a circunferência for menor do que de ureia e creatinina. Assim, níveis superiores a
23 cm 1,1 mg/dL são indicativos de maior repercussão
renal da doença
Edema • Pesquisa de colagenoses: se há suspeita de LES,
• O edema leve de mãos, face e membros quando a pesquisa de anticorpos antinucleares
inferiores é comum na gravidez normal, for positiva, preconiza-se a identificação do
principalmente no final dela autoanticorpo (anti-DNA, anti-SM, anti-RNP,
• É considerado patológico o edema depressível e anti-Ro, anti-La, anti-Sc170 e anti-Jo). E, uma vez
generalizado e que não desaparece no repouso identificado, pode confirmar o diagnóstico de
determinada doença reumática
Proteinúria
• Pesquisa de trombofilias: as trombofilias
• A proteinúria constitui importante sinal de
adquiridas (síndrome antifosfolípide - SAF)
DHEG, sendo considerada significativa quando:
podem estar associadas à DHEG grave e de
o Igual ou superior a 300 mg em urina
instalação precoce, e sugere-se a pesquisa dos
coletada durante 24 horas
anticorpos anticardiolipina, anticoagulante
o Relação proteína/creatinina >0,3 em
lúpico e anticorpos antibeta-2-glicoproteína 1
amostra isolada de urina
nessas pacientes
o Presença em fita indicadora (>1+)
• Tomografia/ressonância nuclear magnética
Ácido úrico cerebral: o estudo de imagem cerebral, por
• A dosagem do ácido úrico sérico é importante tomografia ou ressonância nuclear magnética,
para o clínico, pois sua elevação ocorre está indicado nos casos de eclâmpsia em que as
precocemente na DHEG e pode estar convulsões são reincidentes ou na presença de
relacionada à queda da filtração glomerular ou a sinais localizatórios de lesão neurológica
alterações de reabsorção e excreção tubular
• Ainda que não seja oficialmente considerada um
critério diagnóstico de pré-eclâmpsia, a
presença de nível sérico de ácido úrico superior
a 6 mg/dL (em gestante com valores
anteriormente normais e sem uso de diuréticos)
é altamente sugestiva da presença de DHEG

122
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Pré-eclâmpsia • Nas formas graves, para gestantes internadas,


prefere-se a levomepromazina na dose de 3 mg
O tratamento adequado da pré-eclâmpsia visa a diminuir
(3 gotas de solução oral) a cada 8 horas
a incidência de complicações maternas, como acidentes
vasculares cerebrais, e a morbidade e a mortalidade por Hipotensores
eclâmpsia. • O tratamento com drogas hipotensoras deve ser
iniciado quando as medidas citadas forem
Medidas não farmacológicas
insuficientes para diminuir os níveis pressóricos
Repouso e a pressão arterial diastólica se mantiver maior
• O repouso em decúbito lateral esquerdo (DLE) ou igual a 100 mmHg
promove o aumento do fluxo plasmático renal, • O mais adequado, tanto para a gestante como
intensifica a natriurese e, consequentemente, para o feto, é reduzir os níveis pressóricos em 20
diminui os níveis de pressão arterial a 30% das medidas diastólicas iniciais
• Recomenda-se repouso em DLE por pelo menos • Diante de pré-eclâmpsia grave, hipertensão
1 hora no período da manhã e da tarde (ou 2 arterial crônica com pré-eclâmpsia sobreposta e
horas depois do almoço) pré-eclâmpsia associada à RCF, o controle
Dieta hipossódica materno e fetal deverá ser realizado com a
• A recomendação da Clínica Obstétrica do HC- paciente internada
FMUSP é a dieta hipossódica contendo 2 a 3 g de Drogas
sal/dia • Pindolol: droga de primeira escolha; na dose de
• A redução da oferta de sal acarreta queda dos 5 mg, por via oral, duas vezes ao dia, com
níveis séricos de sódio, com diminuição da aumento de 5 a 10 mg/dia enquanto mais de
reatividade vascular e queda da pressão arterial 50% das medidas diastólicas estiverem acima de
• Recomenda-se reduzir o sal adicionado aos 100 mmHg (dose máxima de 30 mg/dia)
alimentos, evitando o uso de saleiro à mesa e o • Metildopa: recomendada em casos de
consumo de alimentos industrializados contraindicação ao uso de betabloqueadores
(conservas, frios, embutidos, temperos e molhos (broncoespasmo, diabetes de difícil controle); na
prontos) dose inicial de 250 mg, por via oral, três vezes ao
dia, com aumento de 250 a 500 mg/dia, até
Terapêutica farmacológica
controle pressórico adequado (dose máxima de
3 g/dia)
• Anlodipino: terceira escolha; na dose de 5 a 10
mg/dia por via oral, sendo 5 mg uma vez/dia ou
5 mg a cada 12 horas. O nifedipino, igualmente
bloqueador dos canais de cálcio, também pode
ser utilizado na dose de 20 a 60 mg/dia por via
oral, em apresentação de liberação lenta, em
duas a três tomadas ao dia

Tratamento das complicações hipertensivas


agudas
• Urgência hipertensiva: ocorre elevação da
Sedação pressão arterial (PAD ≥120 mmHg), porém com
• Nas formas leves, em gestantes acompanhadas condição clínica estável, sem comprometimento
em regime ambulatorial, pode-se optar pela de órgãos-alvo, e cujo tratamento pode ser feito
sedação com benzodiazepínicos - diazepam (5 a por via oral
10 mg por via oral a cada 12 horas) • Emergências hipertensivas: condição clínica
grave, com PAD ≥120 mmHg, com lesão

123
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

progressiva de órgãos-alvo em progressão e • Exemplo: para uma paciente de 65 kg, para


risco de morte, exigindo imediata redução da iniciar o tratamento com a dose de 0,25
pressão arterial por tratamento parenteral (p. μg/kg/min, devem-se infundir 4 mL/h
ex.: eclâmpsia) • Outra alternativa ao uso do nitroprusseto de
sódio para os casos de emergência hipertensiva
sem resposta à hidralazina (em especial nos
quadros de edema agudo pulmonar) é a
administração de infusão de nitroglicerina (5 a
100 μg/min em infusão intravenosa contínua)
• Quando, associado à emergência hipertensiva,
houver indicação do uso de sulfato de magnésio
(profilaxia das convulsões na iminência de
eclâmpsia ou eclâmpsia), ele deverá ser utilizado
conforme as orientações preconizadas para a
eclâmpsia

• A configuração de emergência hipertensiva na


gestação está presente com níveis pressóricos
elevados, associados a cefaleia, epigastralgia,
distúrbios visuais, edema agudo de pulmões ou
cianose ou, ainda, presença de sinais de
insuficiência coronariana ou dissecção de aorta
• O tratamento dessa condição deve ser pronto e
cuidadoso, com o objetivo de reduzir em 20 a
30% os níveis pressóricos. A droga indicada é a
hidralazina, utilizando-se 5 mg a cada 15
Conduta obstétrica na pré-eclâmpsia
minutos, pela via intravenosa. Para evitar
iatrogenia, recomenda-se a diluição da ampola Pré-eclâmpsia leve
de hidralazina (1 mL = 20 mg) em 19 mL de água • Nas formas leves é possível fazer o
destilada, obtendo- se solução de 1 mg/mL acompanhamento ambulatorial semanal para
• Se não houver resposta após doses repetidas de avaliação clínica, proteinúria de fita e de
hidralazina (até 30 mg no total), utiliza-se o vitalidade fetal
nitroprusseto de sódio (0,25 a 10 μg/kg/min), o Crescimento fetal: medida seriada a
com monitorização cuidadosa da pressão cada consulta da altura uterina e
arterial, evitando-se quedas abruptas e ultrassonografia obstétrica mensal
suspendendo a droga assim que for obtido o o Função placentária: avaliada
efeito hipotensor desejado. O nitroprusseto de semanalmente nos casos leves pela
sódio é fornecido em frascos de 50 mg, que em Dopplervelocimetria de artérias
solução-padrão são diluídos em 200 mL de soro umbilicais (na 20ª e na 26ª semanas) e
glicosado a 5% (250 μg/mL). Deve ser artérias uterinas, a partir de 26 semanas
administrado em bomba de infusão contínua, o Resposta hemodinâmica fetal: diante de
em equipo protegido da luz. A infusão de 1 mL/h anormalidades na Dopplervelocimetria
fornece 4 μg/min. De maneira prática, pode-se das artérias umbilicais, analisa-se a
utilizar a seguinte fórmula para cálculo da resposta hemodinâmica fetal à hipoxia,
infusão utilizada: o que inclui a avaliação da artéria
cerebral média e do ducto venoso
𝑑𝑜𝑠𝑒 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑗𝑎𝑑𝑎 (μg/kg/min) × 𝑝𝑒𝑠𝑜 (𝑘𝑔) o Atividades biofísicas fetais:
𝑖𝑛𝑓𝑢𝑠ã𝑜 (𝑚𝑙/ℎ) =
4 semanalmente, realizar cardiotoco-

124
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

grafia, movimentos respiratórios,


movimentos corporais e tônus muscular
fetais, juntamente com a
Dopplervelocimetria
• Estando a vitalidade fetal preservada, aguarda-
se o parto até o máximo de 40 semanas, quando
se interrompe a gestação, em princípio por
indução do trabalho de parto
• Diante do comprometimento da vitalidade fetal,
realiza-se o parto terapêutico

Pré-eclâmpsia grave ou história de hipertensão


arterial crônica com DHEG sobreposta
• Nas formas graves, a paciente deve ser internada
em enfermaria de gestação de alto risco
• A gravidez pode ser seguida até que se observe
alguma anormalidade que indique sua
interrupção ou até que se atinja a idade
gestacional de 37 semanas
• Até que se consiga o controle adequado da
pressão arterial, a avaliação da vitalidade fetal
deve ser feita diariamente e depois duas a três
vezes por semana
• Avalia-se o crescimento fetal por meio da
ultrassonografia obstétrica a cada 15 dias

Interrupção da gestação
• Imediato: iminência de eclâmpsia, mau controle
pressórico (já em uso de três drogas
hipotensoras em dose máxima), diástole reversa
nas artérias umbilicais, índice de pulsatilidade
para veias do ducto venoso > 1,5, perfil biofísico
fetal <6, desacelerações tardias de repetição na
cardiotocografia, oligoâmnio grave (índice do
líquido amniótico < 3,0 cm)
• Mediato (após uso de corticosteroide
antenatal): indice de pulsatilidade para veias do
ducto venoso >1,0 e <1,5, oligoâmnio (ILA entre
3,0 e 5,0 cm)

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Eclâmpsia • A convulsão típica da eclâmpsia evolui


clinicamente em quatro fases, as quais foram
A eclâmpsia caracteriza-se pelo aparecimento de
assim descritas por Briquet:
convulsões tonico-clônicas generalizadas, excluindo-se
o Fase de invasão: pode ser silenciosa ou
aquelas de outras causas ou alterações do sistema
precedida de grito ictal ou aura. Surgem
nervoso central (SNC), em gestantes com sinais e
fibrilações, principalmente em torno da
sintomas de pré-eclâmpsia.
boca, com o aparecimento de
As complicações maternas mais frequentemente contrações em outras regiões faciais. A
associadas à eclâmpsia são hemorragia cerebral, edema língua pode ser exteriorizada e, com o
agudo dos pulmões, insuficiência respiratória ou renal e fechamento da boca, pode ser atingida e
coagulopatia. lesada. Os membros superiores ficam
em pronação, com o polegar sobre a
Classificação prognóstica mão fechada
o Fase de contrações tônicas: tetanização
de todo o corpo com opistótono
cefálico. Os masseteres se contraem
com força, fechando a boca
o Fase de contrações clônicas: inspiração
profunda seguida de expiração
estertorosa e saída de muco
sanguinolento pela lesão da língua. Pode
haver incontinência de fezes e urina
o Fase de coma: surge diante de
convulsões repetidas ou prolongadas
em que há perda de consciência e
ausência de reflexos com duração de
alguns minutos até horas ou dias

Tratamento clínico
Para o planejamento terapêutico, torna-se importante a
realização de alguns exames complementares:

• Hemograma com contagem de plaquetas


• Coagulograma
Quadro clínico • Ureia
• A eclâmpsia é caracterizada pelo • Creatinina
desenvolvimento de convulsões generalizadas, • Sódio e potássio
excluindo-se aquelas de causa neurológica, • Enzimas hepáticas
anestésica, farmacológica ou por complicações • Ácido úrico
metabólicas, em gestantes com os sinais e os • Bilirrubinas totais e frações
sintomas da pré-eclâmpsia • DHL
• O processo de instalação da eclâmpsia é • Gasometria arterial
geralmente gradual, embora em alguns casos a • Proteinúria
instalação seja rápida e devastadora, e se inicia • Exame de fundo de olho
com a elevação da pressão arterial e ganho • Eletrocardiograma
excessivo de peso (>1.000 g/semana), além de • Tomografia computadorizada (se houver
edema generalizado persistência do quadro convulsivo)

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• Diante dos efeitos tóxicos da hipermagnesemia,


deve ser utilizado o gluconato de cálcio a 10% na
dose de 10 mL intravenosos em 3 minutos
• Com a persistência de convulsões, apesar da
utilização do sulfato de magnésio, ou nos casos
confirmados de hemorragia cerebral, realiza-se a
administração de fenitoína na dose de 250 mg (1
ampola diluída em soro fisiológico, 250 mL
intravenosos em 10 minutos). E repete-se o
esquema a cada 30 minutos até completar 750
mg. Para a manutenção, usam-se 100 mg por via
intravenosa a cada 8 horas enquanto se
mantiver a venoclise. E então, 100 mg por via
oral a cada 8 horas, seguindo a orientação do
neurologista
• O tratamento hipotensor está indicado diante de
• Para a prevenção de novas convulsões, utiliza-se pressão arterial diastólica ≥ 110 mmHg,
o sulfato de magnésio. De maneira geral, com o decorridos 20 a 30 minutos da dose venosa do
sulfato de magnésio se observa controle da esquema de ataque com sulfato de magnésio.
convulsão logo após a dose de ataque e, entre 1 Utiliza-se a hidralazina na dose de 5 mg por via
e 2 horas a partir da primeira administração, a intravenosa a cada 15 minutos até o controle da
paciente encontra-se consciente pressão arterial, ou seja, redução de 20 a 30% da
• O sulfato de magnésio pode ser administrado pressão arterial diastólica em relação às medidas
segundo três diferentes esquemas iniciais

Monitorização fetal
• Com a estabilização materna, deve-se dar início
à avaliação da idade gestacional, do peso e da
vitalidade fetal
• Bradicardias fetais transitórias com duração de 3
a 5 minutos são comuns após as convulsões e
não indicam que a interrupção da gestação deva
ser imediata
• Depois do episódio convulsivo, é comum o
aparecimento de taquicardia fetal
compensatória com desacelerações transitórias
que desaparecem em 20 a 30 minutos

Tratamento obstétrico
• A gestante, após receber as medidas
terapêuticas, permanece internada, sob
vigilância contínua até a 34 semanas. A
interrupção da gestação é antecipada caso
ocorra evolução materna desfavorável ou
sofrimento fetal

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Síndrome HELLP estabilização das condições clínicas maternas,


profilaxia da convulsão (quando indicada),
A síndrome HELLP é uma entidade clínica que pode
terapia anti-hipertensiva e avaliação da
ocorrer na pré-eclâmpsia ou na eclâmpsia e se
vitalidade fetal
caracteriza por um conjunto de sinais e sintomas
• Os exames laboratoriais utilizados para o
associados a hemólise microangiopática, elevação das
diagnóstico da síndrome HELLP devem ser
enzimas hepáticas e plaquetopenia.
repetidos com intervalos de no máximo 6 a 12
Hemólise horas para avaliar a evolução da doença
• O aumento da destruição de eritrócitos é • O uso do corticosteroide no período anteparto
responsável pela hiperbilirrubinemia não tem demonstrado produzir melhoras nos
conjugada, daí o aparecimento de icterícia. No parâmetros laboratoriais (plaquetas, enzimas
entanto, a icterícia só é observada quando o hepáticas e bilirrubinas). Dessa maneira, indica-
nível de bilirrubina ultrapassa 3 mg/dL se o corticosteroide para os casos cuja
• Como as hemácias possuem grande quantidade interrupção da gestação seja necessária por
de DHL, a hemólise promove a elevação da óbito fetal ou pela gravidade do quadro clínico
atividade dessa enzima no soro materno com fetos inviáveis, com o intuito de
melhorar as condições clínicas e laboratoriais
Elevação de enzimas hepáticas maternas, principalmente visando à elevação da
• Em decorrência da necrose das células contagem de plaquetas, o que permite maior
hepáticas, ocorre a elevação das enzimas TGO e segurança para o procedimento obstétrico.
TGP Utiliza-se dexametasona, 10 mg, a cada 12 horas
até o parto
Plaquetopenia
• A redução do número de plaquetas Tratamento obstétrico
(<100.000/mm3) na síndrome HELLP é • Em idade gestacional a partir de 34 semanas ou
consequência do aumento da sua destruição diante de feto viável com vitalidade alterada
• Acredita-se que as plaquetas circulantes aderem (conforme os critérios de parto na pré-eclâmpsia
ao colágeno vascular exposto pela lesão grave), interrompe-se a gestação
endotelial. Além disso, o consumo de plaquetas • Para as gestantes com menos de 34 semanas
exacerba-se diante da coagulação intravascular com vitalidade fetal preservada, adota-se
disseminada, situação em que se observam conduta conservadora com rigoroso
também baixos níveis plasmáticos de acompanhamento clínico e laboratorial até 34
fibrinogênio (<300 mg/dL) e de antitrombina III semanas
(<80%) e aumento do tempo de protrombina • A melhor via de parto para essas gestantes é a
(<70%), além de elevação dos produtos de vaginal, visto que determina menor
degradação da fibrina (>40 mg/mL) sangramento intraoperatório

Quadro clínico e diagnóstico


• A sindrome HELLP é um diagnóstico
predominantemente laboratorial. As
manifestações clínicas são geralmente múltiplas
e imprecisas e superpõem-se às da pré-
eclâmpsia, sendo comuns as queixas de cefaleia,
dor epigástrica e/ou no hipocôndrio direito,
perda de apetite, náuseas e vômitos, escotomas
e níveis pressóricos elevados

Tratamento clínico
• O tratamento inicial é o mesmo utilizado para as
formas graves de hipertensão arterial, ou seja,
128
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hiperêmese gravídica Hormônio estimulante da tireoide (TSH)


Náuseas, acompanhadas ou não de vômitos, podem • Vários mecanismos podem envolver a
ocorrer em 50 a 90% de todas as gestações. estimulação da função tireoidiana durante a
gestação. Em virtude da semelhança estrutural
Esses sintomas têm início entre 5 e 6 semanas de com o TSH, a elevação dos níveis séricos de hCG
gestação, com picos em torno de 9 semanas, e pode causar uma estimulação excessiva da
usualmente declinam por volta de 16 a 18 semanas. glândula tireoide
Uma pequena porcentagem das gestantes apresenta Córtex da adrenal
vômitos incoercíveis, levando a desidratação e • Alguns estudos apresentaram diminuição dos
desequilíbrio acidobásico e hidroeletrolítico, perda de sintomas nas pacientes com hiperêmese quando
peso e, em alguns casos, disfunção hepática e renal, estas utilizavam corticoterapia
hemorragia retiniana e distúrbios nutricionais e • A hipótese foi sustentada pelos achados dos
neurológicos (encefalopatia de Wernicke). níveis de cortisol significativamente menores em
A apresentação mais grave desses sintomas requer pacientes com vômitos em relação às pacientes
hospitalização e é denominada hiperêmese gravídica assintomáticas, embora outros estudos
(persistência de vômitos acompanhada de perda de peso observassem o inverso
maior que 5% da massa corporal pré-gravídica e Infecção por Helicobacter pylori
cetonúria, sem outras causas).
• Um aumento da incidência de infecção por
Etiologia Helicobacter pylori é observado nas pacientes
com hiperêmese
Gonadotrofina coriônica humana
• A hCG é o principal hormônio associado à Deficiência nutricional
hiperêmese gravídica. O período em que ocorre • Alguns trabalhos relatam deficiência de vitamina
o pico do nível sérico de hCG coincide com a B6 relacionada à hiperêmese
época de maior incidência dessa afecção
• Em outras situações nas quais há elevação dos Causas psicológicas
níveis do hormônio também se observa uma • A hiperêmese pode ser descrita como uma
relação direta com os sintomas (por exemplo, conversão de sintomas ou um sintoma de
gemelidade, mola hidatiforme e gestações com histeria, neurose ou depressão e poderia ser o
feto do sexo feminino ou com síndrome de resultado de estresse psicológico, pobreza e
Down) conflitos conjugais

Progesterona Quadro clínico


• Como a atividade hormonal do corpo lúteo está • O quadro clínico é caracterizado por vômitos
aumentada no primeiro trimestre da gestação, incoercíveis que podem levar a alterações do
quando a hiperêmese é mais comum, diversos equilíbrio acidobásico e hidroeletrolítico,
pesquisadores procuraram uma associação desidratação e perda de peso
entre esse quadro e os níveis de progesterona, • Em alguns casos, ocorrem alterações hepáticas,
sendo que trabalhos mostram relação com os renais, cerebrais e hemorragia retiniana
níveis elevados e outros com os níveis reduzidos • Caso esses distúrbios não sejam corrigidos, a
paciente pode evoluir para desnutrição e
Estrógenos deficiência de vitaminas
• Hiperêmese gravídica é mais prevalente em • Em fases mais avançadas, sintomas de psicose
condições associadas a níveis elevados de tornam-se presentes, aparecendo alucinações e
estrógeno, como na gestante com sobrepeso, na síndrome de Korsakoff, uma doença crônica
primigesta e em gestantes com fetos em que não neuropsiquiátrica caracterizada por alterações
ocorreu a descida dos testículos do comportamento associadas a perda de

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

memória (amnésia retrógrada) e do aprendizado Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e


(amnésia anterógrada) acidobásicos
• A síndrome de Wernicke, caracterizada pela • Vômitos persistentes causam perdas de ácido
tríade confusão mental, alterações oculares e clorídrico, cloreto de sódio e cloreto de potássio
ataxia, pode se instalar em quadros graves de provenientes do suco gástrico, o que dá início à
hiperêmese alcalose metabólica hipoclorêmica
• O tratamento, portanto, deve preconizar a
Diagnóstico
reposição volêmica com cloreto de sódio, por
• O diagnóstico da hiperêmese gravídica é clínico,
causa da desidratação, e deve repor o cloro
porém sem critério uniforme e geralmente de
• Se ocorrerem alterações dos níveis séricos de
exclusão
potássio e sódio, esses elementos devem ser
• É importante estabelecer diagnósticos
repostos até sua devida normalização
diferenciais entre esta e outras enfermidades
que possam causar náuseas e vômitos Terapêutica medicamentosa
persistentes, como gastroenterocolite aguda, • Metoclopramida 10 mg (Plasil®) associada a
síndrome dispéptica, hérnia hiatal, colecistite, piridoxina ou anti-histamínicos (prometazina 4
hepatite, esteatose hepática, apendicite, mg – Fenergan®) se mostraram seguros no
pancreatite, obstrução intestinal, porfiria, primeiro trimestre da gravidez
infecção urinária, uremia, tumores cerebrais, • A terapêutica medicamentosa com
enxaqueca, distúrbios psiquiátricos, intoxicação ondansetrona (Vonau®), é utilizada em
medicamentosa, hipertireoidismo, cetoacidose pacientes que apresentam quadro grave de
diabética e iminência de eclâmpsia náuseas e vômitos durante tratamento
quimioterápico. É uma droga evitada no
primeiro trimestre, sendo categoria B. Os efeitos
colaterais mais comums relatados na utilização
da ondansetrona são: cefaleia, fadiga,
obstipação e sonolência
• Diazepan: a adição de diazepam na terapia com
hidratação e vitamina se mostrou efetiva em
reduzir as náuseas. Não foram observados
efeitos teratogênicos com a utilização do
benzodiazepínico; contudo, o diazepam é
classificado pelo FDA na categoria D e, dessa
forma, deve ser utilizado com cautela e evitado
como droga de primeira escolha em casos
Tratamento refratários
• Internação hospitalar obrigatória • O tratamento da hiperêmese em curto prazo
• Jejum por 24-48 horas com a metilprednisolona (16 mg, três vezes ao
Hidratação dia), com retirada lenta no decorrer de 2
• A paciente com hiperêmese normalmente se semanas, foi mais efetivo que o tratamento com
apresenta desidratada, necessitando de a prometazina, mas notou-se um aumento do
reposição volêmica intravenosa feita em geral risco de fenda labial relacionado à exposição ao
com soro glicofisiológico que, além da corticosteroide no primeiro trimestre
hidratação, oferece um aporte calórico Nutrição
• Podem ser adicionadas a essa expansão • Nas primeiras 24 a 48 horas de internação, as
vitaminas como as do complexo B e o ácido pacientes devem permanecer em jejum. Após
ascórbico, a fim de tratar eventual carência esse período, é introduzida uma dieta leve
vitamínica

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

hipercalórica, pobre em lípides, que depois consultas psicológicas para um projeto de


progredirá para uma dieta mais consistente tratamento que faça uso de intervenções diretas
• Quando essa tentativa é infrutífera, deve-se nos fatores psicossociais precipitantes e para o
optar pela nutrição enteral ou parenteral, desenvolvimento de um tratamento com o
dependendo do caso intuito de diminuir o estresse
• A nutrição enteral tem maior sucesso nas
Acupuntura e acupressão
gestantes em que a náusea e o vômito estão
• A estimulação no ponto P6 (também chamado
diretamente relacionados ao consumo de
ponto de Neiguan) é utilizada para tratar a
alimentos. A nutrição por sonda nasoenteral
náusea e o vômito. Esse ponto localiza-se duas
pode diminuir os vômitos em razão da redução
polegadas acima do punho, na face interna do
da estimulação dos receptores gustativos e
braço, entre os tendões dos músculos flexor
olfatórios que iniciam a fase digestiva na
radial do carpo e palmar longo
orofaringe
• Quando ocorre aumento do apetite, a dieta Gengibre
enteral é descontinuada e a ingestão de O gengibre (1g/dia) pode diminuir as náuseas e os
alimentos deve ser aumentada vômitos, sendo tão eficaz quanto a vitamina B6 em
progressivamente até que se possa retirar a diminuir a sintomatologia
sonda
Vitamina B6 (piridoxina)
• A piridoxina é uma vitamina do complexo B que
age como uma coenzima necessária ao
metabolismo de aminoácidos, carboidratos e
lípides
• 30 a 75 mg/dia de piridoxina durante 5 dias é
eficaz no controle dos sintomas
• No Brasil, a piridoxina é encontrada associada a
outros antieméticos, como o dimenidrinato
(Dramin B6®)

Psicoterapia de apoio
• É comprovado que parte dos casos de
hiperêmese gravídica tem relação com
distúrbios comportamentais e alterações
psicológicas, incluindo distúrbios conversivos.
Nesses casos, deve ser enfatizada a utilidade das

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Manejo das anemias na gestação • Aproximadamente 200 mg são excretados por


intestino, urina e pele. Esse montante total
Estima-se uma prevalência global de anemia entre
excede consideravelmente a capacidade de
mulheres grávidas de cerca de 38,2%, sendo a principal
estocagem de ferro da maioria das mulheres
causa a deficiência de ferro.
jovens (cerca de 300 mg) e, em geral, não se
Na gravidez, anemia é definida por hemoglobina menor consegue obter com uma dieta usual. Com a
que 11 g/dl. rápida expansão do volume sanguíneo materno
durante o segundo trimestre, a deficiência de
Consequências das anemias são:
ferro se manifesta frequentemente por uma
• Risco aumentado de parto prematuro queda apreciável na concentração de
• Restrição do crescimento fetal (RCF) hemoglobina
• Influência na vascularização placentária, por • No terceiro trimestre, necessita-se de maior
alteração da angiogênese durante os estágios quantidade de ferro para aumento da
iniciais da gestação hemoglobina materna e transporte para o feto.
• Risco de baixo peso ao nascer A quantidade de ferro transferida ao feto não se
• Alterações nas funções cognitivas de crianças altera, havendo ou não deficiência materna,
relacionadas à carência de ferro na vida razão pela qual um feto de uma mãe
intrauterina severamente anêmica não apresenta deficiência
• Alterações metabólicas na vida adulta como de ferro. Não há, portanto, relação entre o
aumento de níveis pressóricos, alteração de hematócrito fetal e materno
metabolismo lipídico e obesidade também Anamnese
foram observados
• Cansaço
• Na presença de hemoglobina <6 g/dL, existem
• Adinamia
efeitos ainda mais danosos ao feto, como
• Fraqueza
diminuição do líquido amniótico, vasodilatação
• Sonolência
cerebral e alterações da frequência cardíaca
• Cefaleia
• Anêmicas por deficiência de ferro estão mais
• Tontura
susceptíveis a infecções, especialmente do TGU
• Zumbido
Anemia por deficiência de ferro • Dispneia
• As duas principais causas de anemia gestacional • Taquicardia
e no puerpério são deficiência de ferro e perda • Dificuldade de concentração
sanguínea aguda. Tanto em países • São comuns as perversões do apetite (pica),
desenvolvidos como naqueles em sendo que a paciente passa a ter predileção por
desenvolvimento, a deficiência de ferro continua ingestão de substâncias como terra, tijolo,
sendo a causa mais comum macarrão cru, arroz cru, gelo etc
• São fatores de risco predisponentes à anemia
Exame físico
ferropriva: múltiplas gestações com intervalo
• Palidez cutaneomucosa
menor que 2 anos; perdas crônicas antes da
gestação, como em doenças ginecológicas, • Cabelos quebradiços
parasitoses ou perdas gastrointestinais; baixa • Estomatites
absorção de ferro (doença celíaca ou gestações Diagnóstico
após cirurgia bariátrica); deficiência nutricional; • As evidências morfológicas clássicas de anemia
fatores físicos e sociais (alcoolismo, depressão) ferropriva (hipocromia e microcitose) são muito
• Em uma típica gestação única, as necessidades menos proeminentes nas gestantes que em
maternas de ferro variam em torno de 300 a 800 mulheres não grávidas
mg para o feto e 500 mg para a placenta (em • A avaliação inicial deve incluir o hemograma
média 27 mg/dia), além do disponível para a completo, pesquisa de falcização para mulheres
expansão da massa de hemoglobina materna
132
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

afrodescendentes e dosagem de ferritina e ferro o Leves: hemoglobina até 10


sérico o Moderadas: 8-10
• Ferritina: indicativos de anemia quando abaixo o Graves: abaixo de 8
de 15 μg/L • A dose terapêutica é de 120 a 180 mg de ferro
elementar, fracionada em três tomadas ao dia,
antes das refeições
• Quando ocorrer intolerância gástrica, os
comprimidos podem ser ingeridos junto às
refeições, o que melhora a aderência das
pacientes ao tratamento
• Após a correção da anemia, mantém-se o
tratamento por mais 30 dias e, em seguida,
retorna-se à profilaxia
• As modificações na dieta também são muito
importantes na prevenção de anemia. A
ingestão de carne vermelha, frango, peixe,
vegetais de folhas verde-escuras (por exemplo,
espinafre e rúcula) e leguminosas (por exemplo,
feijão e soja) pode servir como outras fontes de
ferro
• Em algumas situações, como intolerância ao
ferro por via oral, síndrome de má-absorção,
incapacidade do paciente de se medicar por via
oral, taxa de perda de ferro superior à
possibilidade de reposição e incapacidade de
manter níveis séricos adequados de ferro
durante programa de hemodiálise, a reposição
do ferro deve ser realizada por via parenteral,
preferencialmente por via intravenos. No Brasil,
a apresentação intravenosa mais utilizada é o
sacarato de hidróxido de ferro (Noripurum®),
disponível em ampolas de 100 mg e com uma
dose recomendada de 400 mg/semana, dividida
Tratamento em duas aplicações (200 mg diluídos em 250 mL
• A suplementação de ferro a partir do segundo de solução cristaloide infundidos lentamente em
trimestre da gestação é recomendada, 2 horas)
principalmente naqueles países que são o Após o início do tratamento, realizar
considerados endêmicos para a anemia hemograma com 30 dias, esperando-se
ferropriva, utilizando-se compostos de ferro melhora de 1 g/dl
como sulfato ferroso em dose ajustada para o Para anemia com HB abaixo de 7 g/dl,
fornecer 40 a 60 mg/dia de ferro elementar (200 pensa-se em transfusão
a 300 mg/dia de sulfato ferroso)
o Tomar cuidado com polivitamínicos, Anemia por perda sanguínea aguda
pois costumam apresentar dosagens • Perdas sanguíneas no início da gestação podem
baixas de ferro (abaixo de 40 mg de ferro provocar anemia em decorrência de
elementar) abortamento, gravidez ectópica e mola
• A prevalência de anemia ferropriva é tão alta hidatiforme. Contudo, a ocorrência de anemia
que alteração no hemograma de hemoglobina por hemorragia obstétrica é muito mais comum
autoriza o tratamento como ferropriva no período puerperal
133
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• O diagnóstico é confirmado pela queda da para prevenção contra a anemia megaloblástica,


concentração de hemoglobina do tipo mas também pelos estudos que relacionam sua
normocítica e normocrômica. O tratamento deficiência aos defeitos do tubo neural
baseia-se na reposição do volume plasmático • Recomenda-se o consumo diário de 0,4 mg (na
com cristaloides ou coloides e reposição de prática, em Ribeirão Preto, utiliza-se 5 mg)
ferro, ou transfusão sanguínea
Deficiência de vitamina B12
• Transfunde-se quando HB abaixo de 7 ou acima
de 7 para aquelas que têm sintomas (não • Extremamente rara na gravidez, a deficiência de
levanta, lipotimia, vertigem) vitamina B12 decorre de ausência do fator
intrínseco (necessário para sua absorção), sendo
Anemia megaloblástica também denominada anemia perniciosa de
• A anemia megaloblástica caracteriza-se pela Addison, ou em decorrência da deficiência
diminuição na síntese de DNA pela medula nutricional
óssea, decorrente de deficiência de vitamina B12 • É uma doença autoimune muito incomum em
ou ácido fólico mulheres em idade reprodutiva, praticamente
encontrada somente em mulheres com
Deficiência de ácido fólico antecedente de gastrectomia, com doença de
• Geralmente encontrada em mulheres que não Crohn e ressecção ileal
consomem vegetais de folhas verdes, legumes • O uso de anti-histamínicos e inibidores da
ou proteína animal. A deficiência de ácido fólico bomba de prótons, bem como parasitoses
pode também estar relacionada ao consumo intestinais, podem aumentar o risco da
excessivo de etanol na gravidez e acomente um deficiência de vitamina B12 na gestação
terço das mulheres em todo o mundo • As mulheres com antecedente de gastrectomia
• Outras causas incluem: gemelaridade, doenças podem necessitar de até 1.000 μg por via
inflamatórias intestinais em atividade e uso de intramuscular, mensalmente
drogas como as anticonvulsivantes
• As necessidades de folato passam de valores em Anemias hemolíticas adquiridas
torno de 50 a 100 μg/dia fora da gravidez para • Anemia hemolítica autoimune: caracterizada
em torno de 400 μg/dia requeridos na gravidez por produção de anticorpos aberrantes, em que
os testes de Coombs direto e indireto são
Diagnóstico
positivos. O feto não é afetado, pois os
• Hipersegmentação de neutrófilos
anticorpos IgM não ultrapassam a barreira
• Formas jovens de eritrócitos com volume placentária e os anticorpos IgG não estão
aumentado associados diretamente à agressão das
• Com o aumento da intensidade, surgem hemácias. Os corticosteroides são eficazes para
eritrócitos nucleados periféricos ao mesmo o tratamento, sendo utilizada prednisona na
tempo que na medula se desenvolve eritropoese dose de 1 mg/kg/dia ou equivalente
megaloblástica • Anemia hemolítica induzida por drogas: reverte
Tratamento com a suspensão da droga e pode ser prevenida
• O tratamento consiste em repor ácido fólico e ao se evitar o agente farmacológico causador.
prover orientação nutricional Entre os exemplos de drogas, podem ser citadas
• A utilização de 1 mg/dia de ácido fólico produz penicilinas, cefalosporinas, quinidina,
alterações importantes já a partir de 4 a 7 dias rifampicina e tiopental
de tratamento, produzindo normalização de • Anemia hemolítica induzida pela gravidez: pode
reticulócitos, leucócitos e plaquetas surgir no começo da gestação, de forma severa,
e ser resolvida meses após a gravidez. Há boa
Prevenção resposta ao uso de corticosteroides, podendo-se
• Grande atenção tem sido dada à necessidade de utilizar prednisona até o parto
uma dieta rica em ácido fólico, não somente

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Anemias aplásica e hipoplásica


• Raramente encontradas na gravidez, essas
anemias geralmente graves são acompanhadas
de plaquetopenia, leucopenia e acentuada
hipocelularidade na medula óssea
• A etiologia pode ser identificada em um terço
dos casos e inclui fármacos, infecção, radiação,
leucemia, distúrbios imunológicos e doenças
adquiridas, como anemia de Fanconi

Anemia aplásica na gravidez


• Um tipo raro, mas bem identificado, de anemia
na gravidez é a aplasia de células vermelhas. A
gravidez pode efetivamente induzir um quadro
de hipoplasia eritrocitária. Essa forma rara pode
ser herdada com um padrão autossômico
recessivo e, embora a doença tenda a sofrer
recorrência em gestações subsequentes, as
alterações parecem não se transferir ao feto

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Parasitoses na gestação Amebíase


As doenças infecciosas parasitárias são afecções que Etiologia
comumente acometem a gestante em razão da alta • A Entamoeba histolytica é transmitida pela
incidência e prevalência na população, principalmente ingestão de cistos e por intermédio de
nas comunidades em que o saneamento básico é alimentos, água, talheres ou mãos
deficiente. contaminados

Nas gestantes, essas entidades podem ser exacerbadas Quadro clínico


ou alterar a evolução da gravidez - como é o caso da • Varia de estado assintomático a doença invasiva
malária - e debilitar a paciente no aspecto nutricional, grave
como ocorre nas infecções por helmintos. • A colite aguda causada pela E. histolytica pode
variar de sintomas leves a intensos ou até
Giardíase
mesmo fulminantes, causando perfuração do
Etiologia cólon
• A Giardia intestinalis (também denominada G.
lamblia ou G. duodenalis) é o protozoário Diagnóstico
enteropatógeno humano mais comum • O diagnóstico da amebíase se faz com o exame
protoparasitológico de fezes
Quadro clínico
• O parasita é responsável por diarreia aguda e Tratamento
crônica • Metronidazol: dose de 500 a 750 mg (20 a 40
• A má absorção intestinal causada pela G. mg/kg/dia), três vezes ao dia, por 5 a 10 dias
intestinalis pode ser severa, e a infecção crônica • Etofamida: dose de 1 g/dia, por 3 dias
pode causar atraso de crescimento e • Teclozana: dose de 500 mg/dia, por 3 dias
desenvolvimento em uma criança
Balantidíase
Diagnóstico Etiologia
• Exame protoparasitológico de fezes: observam • O Balantadium coli é um protozoário cuja
os cistos ou os próprios parasitas infecção se dá pela ingestão de água ou
• Teste de imunofluorescência direta ou do teste alimentos contaminados
imunoenzimático: realizados em amostras de
fezes Quadro clínico
• Causa sintomas similares ao da amebíase,
Tratamento incluindo a colite
• Metronidazol (categoria B): é prescrito
normalmente em dose de 2 g via oral, uma vez Diagnóstico
ao dia, por 3 dias. Também pode ser prescrito • O diagnóstico é feito ao identificar os trofozoítos
em dose de 250 mg, três vezes ao dia, por 5 dias ou seus cistos nas fezes ou nos raspados e nas
• Tinidazol (categoria C): é prescrito em dose de 2 biópsias de úlceras no intestino grosso
g via oral, em dose única
Tratamento
• Albendazol e o mebendazol (categoria C): a dose
• Ampicilina, o metronidazol e a bacitracina: não
recomendada de albendazol é de 400 mg, por via
são contraindicados na gravidez
oral, uma vez ao dia, por 3 dias; e a dose de
• A cirurgia pode ser necessária na colite
mebendazol é de 100 mg, por via oral, duas
fulminante
vezes ao dia, por 3 dias
• Nitazoxanida (categoria B): prescrito 500 mg por
3 dias

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Criptosporidiose aumentar o risco dos defeitos abertos do tubo


neural, se for utilizada no início da gravidez
Etiologia
• Cryptosporidium parvum é um parasita Malária
oportunista cujo oocisto é a forma de ingestão
Etiologia
do parasita pelo homem
• A malária é causada pelo protozoário
Quadro clínico Plasmodium sp (P. vivax e o P. falciparum, P.
• Diarreia aguda autolimitada nos pacientes ovale e o P. malariae) que é transmitido pelo
imunocompetentes mosquito do gênero Anopheles
• Os pacientes imunocomprometidos com AIDS ou • No Brasil, a malária é uma doença endêmica que
com outro estado de imunodepressão podem ocorre no norte do país, principalmente na
apresentar diarreia persistente e aquosa região amazônica

Diagnóstico Quadro clínico


• O diagnóstico pode ser confirmado pela • O quadro clínico varia de acordo com a
identificação do parasita nas fezes, utilizando a imunidade do paciente, e a primoinfecção pode
coloração pelo método de Giemsa ser mais grave, com maior probabilidade de
• Os métodos de imunofluorescência direta complicações e óbito
podem ser empregados e têm sensibilidade e • Na fase aguda, o paciente apresenta paroxismo
especificidade febril, em quatro períodos sucessivos: frio, calor,
• Biópsia de intestino delgado suor e apirexia
• PCR • A instalação súbita de febre se manifesta por
sensação de frio intenso e tremores
Tratamento generalizados, que podem ser acompanhados de
• Nitazoxanida: 500 mg, por 3 dias cefaleia, náuseas e vômitos. O período de calor
• Azitromicina dura de 2 a 6 horas e tem início quando cessam
os calafrios, podendo ser acompanhado de
Isosporíase taquipneia, sede e febre alta atingindo 40 °C
Etiologia • O período de sudorese pode perdurar de 2 a 4
• A Isospora belli é um protozoário do intestino horas
delgado e sua infecção é relativamente • Em seguida, a temperatura diminui
incomum, sendo um agente oportunista em rapidamente, e os sintomas de cefaleia, sede e
pacientes com AIDS mal-estar generalizado desaparecem
• Se o paciente não for submetido a tratamento
Quadro clínico
depois de aproximadamente 48 horas (terçã
• Causa uma diarreia autolimitada em pacientes
benigna, por P. vivax; e terçã maligna, por P.
imunocompetentes e diarreia crônica nos
falciparum) ou 72 horas (febre quartã, por P.
imunodeprimidos
malariae), ele voltará a apresentar nova crise de
Diagnóstico malária, semelhante à anterior, que pode
• Realizado por exame protoparasitológico de repetir-se várias vezes, com os intervalos
fezes mencionados

Tratamento Diagnóstico
• Sulfametoxazol 800 mg e trimetoprima, 160 mg: • O diagnóstico é realizado pela identificação do
quatro vezes ao dia, por 7 dias. A sulfonamida plasmódio no sangue do doente (gota espessa)
pode provocar hiperbilirrubinemia quando ou pelo quadro clínico descrito, principalmente
administrada no terceiro trimestre da gestação e naquelas pessoas que moram em áreas
a trimetoprima tem propriedade antagonista do endêmicas ou que retornaram de viagem a essas
ácido fólico e pode causar anemia e até regiões

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• O índice de infecção por P. falciparum é 4,2 vezes Diagnóstico


maior em grávidas do que em não grávidas nas • O diagnóstico é realizado pelo exame
mesmas condições. Este fato é observado com protoparasitológico de fezes
maior frequência em primigestas; nas
multíparas, o índice de infecção cai Tratamento
progressivamente à medida que as gestações • Não devem ser utilizados no primeiro trimestre
vão se sucedendo • Albendazol, 400 mg, por via oral, em dose única
• Os abortamentos, óbitos fetais e a • Mebendazol, 100 mg, por via oral, duas vezes ao
prematuridade são comuns nas gestantes com dia, por 3 dias
malária • Pamoato de pirantel, 10 mg/kg/ dia, por via oral,
• Ainda, a anemia e a insuficiência placentária por 3 dias
causadas pela doença podem provocar o baixo
Teníase
peso do recém-nascido
Etiologia
Tratamento • Ocorre quando o homem ingere carne de porco
• A quinina é a droga mais antiga utilizada para o ou de boi mal passada e contaminada
tratamento da malária. Ela pode ter efeito direto • Também pode ocorrer ao ingerir os ovos do
na musculatura lisa e, dessa forma, provocar o parasita por meio de alimentos contaminados ou
trabalho de parto prematuro. Além disso, tem água
efeito sobre o pâncreas e, com o aumento da
insulina, pode causar hipoglicemia Diagnóstico
• A cloroquina parece ser segura na gestação, • O diagnóstico de teníase se dá pela identificação
porém não se recomenda a sua utilização como das proglótides, dos ovos ou antígenos contra o
monoterapia contra a malária causada pelo P. verme nas fezes
falciparum, por causa da resistência do parasita • A cisticercose é diagnosticada por sintomas,
a ela exames de imagem - tomografia
• A amodiaquina é recomendada pela computadorizada ou imagem de ressonância
Organização Mundial da Saúde (OMS) como nuclear magnética, testes sorológicos, resposta
droga a ser considerada na gravidez ao teste terapêutico ou, raramente, pela biópsia
• A mefloquina é recomendada pelo Centers for
Tratamento
Disease Control and Prevention (CDC) como
• A teníase é tratada após o primeiro trimestre
droga profilática nas gestantes que viajarão para
com praziquantel na dose de 10 mg/kg via oral,
áreas endêmicas de malária, e não foram
em dose única, ou, como alternativa, utiliza-se a
observados efeitos adversos na gravidez com a
niclosamida 2 g via oral, em dose única
dose profilática
• Apenas nos casos de hiperêmese gravídica, a
Ascaridíase teníase deve ser tratada mesmo no primeiro
trimestre, por causa do risco da autoinfecção
Etiologia
com os ovos da tênia
• O Ascaris lumbricoidis, um verme que acomete o
• A cisticercose é tratada com albendazol ou
intestino delgado, pode causar deficiência
praziquantel
nutricional com maior impacto na gravidez,
alterações pulmonares (síndrome de Loeffler) Estrongiloidíase e ancilostomíase
decorrentes da migração da larva ao pulmão e
Etiologia
obstruções intestinais e do ducto biliar
• A estrongiloidíase causada pelo Strongyloides
• Esse parasita pode ser transmitido pela ingestão
stercoralis e a ancilostomíase causada pela
de alimentos e água contaminados com os ovos
Ancylostoma duodenale e pelo Necator
do verme
americanos

138
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• São contraídas de larvas presentes no solo e do sistema porta frequentemente desenvolvem


apresentam, como na ascaridíase, uma fase em circulação colateral, incluindo varizes esofágicas
que as larvas migram para o pulmão do e gástricas. A rotura dessas varizes pode resultar
hospedeiro, provocando sintomas (síndrome de em hemorragia maciça e morte do paciente
Loeftler) como tosse seca, dispneia e febre
Diagnóstico
Diagnóstico • O diagnóstico é realizado com base em amostras
• O diagnóstico, como em outros helmintos, é de fezes pela técnica de Kato-Katz ou por ensaios
realizado pelo exame protoparasitológico de imunoenzimáticos, e é confirmado pela técnica
fezes de Westem blotting
• Na gravidez, solicita-se no pré-natal a
Tratamento endoscopia digestiva alta para avaliar a presença
• As recomendações são para que sejam utilizados e a gravidade das varizes esofágicas no início do
após o primeiro trimestre terceiro trimestre da gravidez e também se
• O cambendazol é utilizado no tratamento da avalia a pressão da artéria pulmonar por meio do
estrongiloidíase, na dose de 5 mg/kg, por via ecocardiograma transtorácico
oral, em dose única, que deve ser repetida após
15 dias. Pode-se ainda administrar tiabendazol Tratamento
25 mg/kg, por via oral, duas vezes ao dia, por 3 • A cesárea deve ser preconizada, se houver risco
dias, com dose máxima de 3 g/dia aumentado de rotura das varizes esofágicas no
• No tratamento da ancilostomíase, são utilizados trabalho de parto, utilizando-se anestesia geral
o pamoato de pirantel e o mebendazol, como na nos casos de hipertensão pulmonar
ascaridíase • O tratamento da esquistossomose é realizado no
puerpério com praziquantel 40 a 50 mg/kg, por
Esquistossomose via oral, em dose única, ou com oxamniquina 15
Etiologia mg/kg, por via oral, em dose única
• A esquistossomose, uma doença endêmica no
nordeste brasileiro, é causada pelo Schistosoma
mansoni
• Os sintomas da doença são o resultado do
processo inflamatório desencadeado pelo
sistema imunológico como resposta aos ovos do
parasita, que alcançam o sistema porta e, no
fígado, acarretam fibrose hepática e hipertensão
do sistema porta. Os pacientes com hipertensão

139
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Uso de fármacos na gestação social relacionados a leis, sexualidade e abuso de


álcool e drogas
As drogas apresentam capacidades teratogênicas
• Alterações leves foram descritas com doses de
variáveis quando comparadas umas às outras. Algumas
dois drinques diários (30 mL de álcool absoluto)
causam graves disrupções do desenvolvimento se
em fases iniciais da gestação. A síndrome fetal
administradas durante o período da organogênese,
do alcoolismo materno geralmente ocorre em
como a talidomida. Outras produzem retardo mental,
mulheres que ingerem de quatro a cinco (de 60
restrição do crescimento ou outras anomalias quando
a 70 mL de álcool absoluto) ou mais drinques por
usadas excessivamente durante o desenvolvimento do
dia. As mulheres alcoólatras com ingestão de
produto conceptual, como o álcool.
oito ou mais drinques por dia durante a gestação
O Food and Drug Administration (FDA) classifica as apresentam um risco de 30 a 50% de ter filho
drogas em relação ao seu risco durante a gestação: com a síndrome fetal do alcoolismo materno
• O álcool é considerado droga de categoria X se
• A: não demonstraram risco para o feto no
usado em grande quantidade na gestação
primeiro trimestre da gestação e não existe
evidência de risco no restante da gestação Anticonvulsivantes
• B: estudos em animais não demonstraram dano • Fenitoína (D): as malformações associadas à
fetal; entretanto, não existem estudos bem utilização dessa droga constituem a síndrome da
controlados em gestações humanas; ou estudos fenitoína fetal, caracterizada por: restrição de
em animais demonstraram efeito adverso, mas crescimento, atraso no desenvolvimento,
estudos adequados em gestações humanas não defeitos cardíacos, alterações craniofaciais
demonstraram risco fetal (microcefalia, hipertelorismo, ptose palpebral,
• C: risco não descartado. Estudos em animais fenda labiopalatina), dismorfismo facial (nariz
demonstraram efeitos adversos e não existem pequeno com filtro largo, prega epicântica),
estudos adequados em gestações humanas; ou hipoplasia de unhas ou falanges distais
não existem estudos em animais e em gestações • Carbamazepina (D): as alterações são as mesmas
humanas; entretanto, o benefício potencial do da fenitoína, podendo apresentar também
uso da droga pode justificar o risco potencial anoftalmia, espinha bífida e pé torto
• D: evidência positiva de risco. Estudos • Ácido valproico (D): está associado a defeito
adequadamente controlados ou observacionais aberto do tubo neural, anomalias cardíacas,
em gestações humanas demonstraram risco defeitos da face e dismorfismo facial,
para o feto; entretanto, o benefício potencial microcefalia, hidrocefalia, anomalias
pode superar o risco genitourinárias e esqueléticas, atresia duodenal,
• X: contraindicação na gestação. Risco fetal que retardo mental e autismo
claramente supera qualquer benefício possível à • Fenobarbital (D): está associado a fenda
paciente labiopalatina, malformações cardíacas e do
sistema urinário
Álcool
• Lamotrigina (C): estudos em humanos e animais,
• O álcool é um dos teratógenos mais frequentes.
utilizando dosagens baixas, sugerem baixo risco
As crianças nascidas de mães alcoólatras
• Topiramato (C): malformações craniocaldais e
apresentam alterações bem específicas, como
de extremidades e restrição do crescimento
restrição de crescimento, retardo mental e
anomalias como microcefalia, fissura palpebral Anticoagulantes cumarínicos (varfarina)
pequena, prega epicantal, hipoplasia maxilar, Os anticoagulantes podem ser necessários durante a
nariz pequeno com filtro hipoplásico, lábio gestação para o controle de doenças tromboembólicas e
superior fino, prega palmar anormal, anomalias em gestantes com próteses valvares cardíacas não
de articulações e cardiopatias biológicas
• Na vida adulta, fetos expostos tendem a ter mais
comprometimento de habilidades de convívio • Cumarínicos: atravessam a barreira placentária e
são teratogênicos. Quando utilizada no primeiro
140
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

trimestre, está associada a risco de embriopatia Hormônios


caracterizada por hipoplasia nasal grave, A exposição exógena a hormônios sexuais antes de 7
calcificação anormal nas cartilagens e ossificação semanas completas geralmente não tem efeito nas
prematura dos ossos (pontilhado ósseo na estruturas externas. Entretanto, entre 7 e 12 semanas,
radiografia). A utilização dessa droga no segundo os tecidos genitais femininos respondem à exposição
trimestre também está associada a exógena de andrógenos e podem levar à masculinização.
malformações decorrentes principalmente de As áreas do cérebro com altas concentrações de
hemorragias com alteração do crescimento e receptores de estrógeno e andrógeno também são
desenvolvimento dos locais afetados, podendo influenciadas pela exposição hormonal. Os hormônios
causar agenesia do corpo caloso, atrofia programam o sistema nervoso central para a identidade
cerebelar, atraso no desenvolvimento e retardo do gênero, o comportamento sexual, os níveis de
mental agressividade e o comportamento específico. O período
• Heparina de baixo peso molecular: é segura para crítico para a influência no comportamento é mais tardio
o feto, pois não atravessa a placenta do que para a genitália externa, com o grau de alteração
comportamental proporcional à dose e ao tempo de
Retinoides exposição
Os retinoides, especialmente a vitamina A, são essenciais
para o crescimento normal, a diferenciação dos tecidos, • Andrógenos (X): a exposição intrauterina a
a reprodução e a visão andrógenos (testosterona e derivados, acetato
de medroxiprogesterona) no primeiro trimestre
• Vitamina A (A): altas doses (acima de 25.000
leva à hipertrofia do clitóris, fusão completa ou
UI/dia) de suplementação com vitamina A foram
parcial dos lábios e agenesia de vagina. A
associadas a malformações. Recomenda que
exposição em qualquer idade gestacional
durante a gestação não se exceda a dosagem de
provoca hipertrofia do clitóris
5.000 UI/dia
• Estrógenos – Dietilestilbestrol (X): a maioria dos
• Isotretinoína (X): utilizada no tratamento da
compostos estrogênicos não afeta o
acne, a utilização dessa droga no primeiro
desenvolvimento embrionário, entretanto o
trimestre está associada a alta taxa de
dietilestilbestrol causa malformações de corpo e
abortamento e malformação fetal. As
do colo uterino (hipoplasia da cavidade do corpo
malformações mais comumente associadas são
e do colo uterino; constrição da cavidade
anomalias do SNC (hidrocefalia, cegueira por
uterina), adenose vaginal, adenocardnoma de
acometimento do nervo óptico, defeitos na
células claras da vagina e do colo uterino,
retina, microftalmia e defeitos no cerebelo),
anomalias estruturais do colo uterino e vagina,
defeitos craniofaciais (microtia ou anotia,
defeito das tubas uterinas
implantação baixa de orelhas, hipertelorismo,
• Progestágenos (X): norgestrel, levonorgestrel,
ponte nasal baixa, microcefalia, micrognatia e
medroxiprogesterona. Com propriedades
agenesia ou estenose do canal auricular
androgênicas, podem levar à masculinização da
externo), defeitos cardiovasculares
genitália feminina
(transposição dos grandes vasos, tetralogia de
Fallot defeito do septo interventricular ou Antineoplásicos
interatrial), defeitos no timo (ectopia, hipoplasia • Ciclofosfamida (D): as malformações descritas
ou aplasia) e outros (redução de membros, em fetos expostos no primeiro trimestre são:
diminuição do tônus muscular e anomalias de hipoplasia de dígitos de mãos e pés, fenda
comportamento) palatina, artéria coronária única, ânus
• Etretinato (X): utilizado para tratar psoríase, é imperfurado, restrição de crescimento e
um potente teratógeno causador de microcefalia
malformações dos membros e dígitos, defeitos • Metotrexato (X): antagonista do ácido fólico, sua
do tubo neural, microcefalia, dismorfismo facial utilização no primeiro trimestre da gestação está
e defeitos esqueléticos associada a várias malformações. As

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

características da síndrome são: restrição de primeiro trimestre ou se ela precisar ser utilizada
crescimento, diminuição da ossificação do nesse período da gestação, a gestante deve ser
crânio, implantação baixa de orelhas, tranquilizada de que o risco para o embrião ou
micrognatia, anomalia de membros e retardo feto, se é que existe, é provavelmente muito
mental. A exposição no segundo e terceiro baixo
trimestres pode estar associada a toxicidade e
óbito fetal Antivirais
• Ribavirina (X): altamente teratogênica, com
Antibióticos malformações como hidrocefalia e de
• Tetraciclinas (D): o uso de 1g de tetraciclina ao extremidades
dia no segundo e terceiro trimestres pode • Inibidores da transcriptase reversa nucleosídeos
provocar descoloração marrom-amarelada dos e não nucleosídeos (B e C): zidovudina,
dentes e diminuição do crescimento dos ossos nevirapina, estavudina, lamivudina, abacavir,
longos adenofovir (categoria C durante a gestação),
• Aminoglicosídeos (C): a ototoxicidade e tenofovir (categoria B na gestação)
nefrotoxicidade descritas em prematuros e • Inibidores das proteases: efavirenz, indinavir,
adultos que utilizaram essas drogas não foram lopinavir (categoria C durante a gestação),
descritas em fetos expostos ritonavir e saquinavir (categoria B na gestação)
• Sulfonamidas (C): podem provocar • Inibidores da ligação ou fusão do vírus da
hiperbilirrubinemia se forem utilizadas próximo imunodeficiência humana (HIV) às células
ao termo. Quanto ao trimetoprim, deve-se evitar hospedeiras: enfuvirtida (categoria B na
seu uso no primeiro trimestre em razão da gestação). A única droga antiviral contraindicada
possibilidade de teratogênese (malformações formalmente na gestação é o efavirenz
cardiovasculares, do sistema urinário e do tubo (teratogênese em primatas)
neural) • Os antivirais indicados para prevenção e
tratamento de infecção por influenza A e B são a
Antifúngicos amantadina, zanamivir e oseltamivir, que
• Griseofulvina (C): indicado para o tratamento de pertencem às categorias C na gestação
micoses da pele, unhas e couro cabeludo, pode
causar gemelidade imperfeita Antimaláricos
• Fluconazol (C): usado para candidíase e • Quinino (X): em altas doses, foi associado a
meningite criptocócica, pode causar malformações do sistema nervoso central, de
teratogênese associada ao uso contínuo de 400 extremidades, de face, do coração, do sistema
mg ou mais diariamente no primeiro trimestre. digestório, do aparelho genitourinário e
As malformações observadas são similares às vertebral e surdez relacionada à hipoplasia do
descritas na síndrome de Antley-Bixler: nervo auditivo. Só deve ser utilizado em doses
anomalias do crânio (braquicefalia, terapêuticas para tratamento de malária por
trigonocefalia, craniossinostose, desproporção Plasmodium falciparum resistente à cloroquina
craniofacial e fontanela anterior alargada),
alterações faciais (hipoplasia maxilar, exotropia, Talidomida (X)
lobos da orelha pequenos e micrognatia), • A talidomida é um agente imunomodulador
esqueléticas (fêmur curvo ou fraturado, usado no tratamento do eritema nodoso
clavículas, costelas e ossos longos finos com hansênico, que é manifestação da hanseníase. A
osteopenia difusa) e cardíacas (tetralogia de exposição fetal à droga durante um período
Fallot, hipoplasia de artéria pulmonar, forame crítico do desenvolvimento resulta em graves
oval patente e ducto arterioso patente) defeitos, como redução de membros (amelia,
• Itraconazol (C): recomenda-se não utilizar o focomelia, aplasia ou hipoplasia de ossos
itraconazol durante a organogênese. Caso tenha longos), hemangioma facial, atresia esofágica ou
ocorrido exposição inadvertida à droga no duodenal, anomalias da orelha externa, surdez,

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malformação do aparelho genitourinário e Opioides (B)


malformações do sistema cardiovascular • Os analgésicos opioides comumente usados são
meperidina, morfina, codeína e não foram
Inibidores da enzima conversora da
associados a anomalias congênitas; entretanto,
angiotensina (D) a maioria dos neonatos nascidos de mães em
• Os IECA (captopril, enalapril) são utilizados no uso crônico dessas drogas apresenta síndrome
tratamento da hipertensão arterial. Esses da abstinência caracterizada por irritabilidade,
agentes anti-hipertensivos, quando utilizados no tremor, disfunção gastrintestinal, depressão
segundo e terceiro trimestres, parecem ter respiratória, febre, sucção pobre e convulsões
também efeito hipotensor e de hipoperfusão no
feto, provocando hipoperfusão renal com Anestésicos
anúria, oligoâmnio, hipoplasia pulmonar, • Anestesia geral (B ou C): todos os agentes
restrição de crescimento, membros utilizados para anestesia geral atravessam a
relativamente curtos e mau desenvolvimento do barreira placentária e não provocam
crânio teratogênese. Os agentes já avaliados e que se
apresentam seguros são halotano (categoria B),
Bloqueadores dos Receptores de Angiotensina - óxido nitroso, etomidato, tiopental (categoria C)
BRA (C/D) • Anestesia locorregional (B): não foram descritas
• Esses agentes, como o valsartana e o losartana, malformações associadas à exposição de
levam às mesmas alterações fetais descritas para lidocaína ou outras aminoamidas
os inibidores da enzima conversora da
angiotensina Anticoagulantes
• Heparina (C): a heparina é um anticoagulante
Misoprostol (X) não teratogênico por atravessar a barreira
• É contraindicado no primeiro trimestre da placentária, mesmo as heparinas de baixo peso
gestação por induzir abortamento e provocar molecular (enoxaparina)
malformações, e no segundo e terceiro • Trombolíticos (C): agentes trombolíticos
trimestres por promover contrações uterinas também podem ser utilizados com segurança
relativa na gestação, no que diz respeito ao feto
Analgésicos (B)
• Os analgésicos não hormonais derivados do Antieméticos (A, B ou C)
paracetamol são seguros durante a gestação, • Náuseas e vômitos ocorrem em
enquanto os derivados de salicilatos em doses aproximadamente 80% das mulheres no
baixas (40 a 150 mg) parecem ser seguros nos primeiro trimestre da gestação. Os anti-
dois primeiros trimestres da gestação histamínicos H1 não demonstram associação
• O uso de ácido acetilsalicílico no terceiro com malformações congênitas. O tratamento
trimestre, próximo ao termo, pode apresentar complementar inclui antiácidos, antagonistas
sangramento excessivo na mãe e no feto dos receptores de H2 e inibidores da bomba de
• Na necessidade de analgésico ou antipirético, os prótons, e não existem evidências que associem
salicilatos devem ser substituídos pelo as malformações congênitas com esses três
paracetamol, que é droga da categoria B grupos de drogas

Anti-inflamatórios não hormonais (B) Metformina (B)


• Os anti-inflamatórios não hormonais, como • A metformina parece causar diminuição das
ibuprofeno, naproxeno e cetoprofeno, não são taxas de abortamentos espontâneos, com
considerados teratogênicos; entretanto, quando resultados normais da gestação, redução do
utilizados no terceiro trimestre, podem levar ao risco de desenvolver diabetes mellitus
fechamento precoce do ducto arterioso. Além gestacional durante a gestação e crescimento
disso, podem reduzir a excreção fetal e provocar normal sem evidência de teratogênese
oligoamnio
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Drogas respiratórias desse grupo: nifedipino, verapamil, anlodipino,


diltiazem e nicardipina. Reações adversas graves
(bloqueio neuromuscular) foram descritas
quando o nifedipino foi associado ao sulfato de
magnésio
• Diuréticos: não são normalmente
recomendados na gestação, por poderem levar
a hipovolemia, que pode ter repercussão no
crescimento fetal. Os diuréticos tiazídicos não
foram associados a malformações congênitas;
entretanto, quando utilizados próximo ao parto,
podem provocar trombocitopenia neonatal,
sangramento e distúrbio eletrolítico. A
hidroclorotiazida é droga da categoria B. Outros
diuréticos, como espironolactona (categoria D),
furosemida (categoria C) e ácido etacrínico
(categoria B), devem ser utilizados na gestação
somente se o benefício justificar o risco perinatal
potencial, pelo risco ou pela pequena
experiência de uso na gestação

Agentes antiparasitários
• Infecções vaginais (tricomoníase e vaginose
bacteriana): pode ser utilizado o metronidazol
• O mebendazol e o albendazol são anti-
Anti-hipertensivos helmínticos pertencentes à categoria C na
• Metildopa (B): um antiadrenérgico, é o anti- gestação. O tratamento das parasitoses
hipertensivo mais utilizado para tratamento das intestinais, na gestação, somente é
síndromes hipertensivas na gestação e seu uso recomendado quando o parasita está causando
há muitos anos não demonstrou nenhum doença clínica ou problema de saúde pública. Na
prejuízo materno ou fetal ausência de manifestação clínica, o tratamento
• Hidralazina (C): é droga relativamente segura deve ser postergado para após a gestação
quando utilizada nas emergências hipertensivas • A ivermectina, que é indicada para tratamento
por curto tempo de várias parasitoses, pertence às categorias C
• Nitroprusseto de sódio (C): pode ser utilizado, se na gestação
necessário, por pouco tempo, não permitindo
acúmulo excessivo de cianeto no fígado fetal
Antiprotozoários
• Clonidina (C): antagonista alfa-adrenérgico • A espiramicina (categorias C) é antimicrobiano
indicado nas infecções por toxoplasmose e
• Betabloqueadores (C e D): o uso dessas drogas é
criptosporidiose
relativamente seguro, apesar de poucas
informações no primeiro trimestre e de possível • A nitazoxanida (categorias B) é indicada no
associação com restrição de crescimento fetal tratamento de diarreia por Cryptosporidium
(quando utilizadas no segundo e terceiro parvum e Giardia lamblia
trimestres). Prefere-se o pindolol (que pertence Antitireoidianos
à categoria B)
• Metimazol: anomalias congênitas como aplasia
• Bloqueadores dos canais de cálcio (C): utilizados cutis foram associadas à utilização de metimazol.
para tratar as síndromes hipertensivas na Portanto, a droga de escolha durante a gestação
gestação e devem ser utilizadas quando o e lactação é a propiltiouracila
benefício justificar o risco potencial. Fazem parte
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Agentes tireoidianos (A)


• A levotiroxina (categoria A) é a droga de escolha
no tratamento do hipotireoidismo durante a
gestação

Psicotrópicos
• Benzodiazepínicos (D): fazem parte desse grupo
diazepam, clonazepam, alprazolam e
midazolam. A exposição a essas drogas no
primeiro trimestre deve ser evitada, por causa
das controvérsias em relação ao risco de
teratogênese. As malformações seriam de
extremidades e fenda labiopalatina e alterações
faciais decorrentes do comprometimento do
sexto e sétimo pares de nervos cranianos
(abducente e facial, respectivamente). A
utilização dessas drogas no terceiro trimestre,
em período próximo ao parto, em doses altas
excedendo 30 a 40 mg de diazepam pode
provocar hipotonia, letargia e dificuldades de
sucção no recém-nascido, além da síndrome da
abstinência, que é caracterizada por tremores,
irritabilidade, hipertonicidade, diarreia, vômito e
sucção vigorosa
• Antidepressivos (C): inibidores seletivos da
recaptura da serotonina (fluoxetina, sertralina,
venlafaxina) ou tricíclicos (amitriptilina,
nortriptilina) não demonstraram teratogênese e,
portanto, podem ser utilizados durante a
gestação
• Antipsicóticos (C): a exposição no terceiro
trimestre aos derivados fenotiazínicos pode
levar a sintomas extrapiramidais no recém-
nascido (irritabilidade, movimentos distônicos
em membros, principalmente os superiores, e
hipertonicidade). A clorpromazina não foi
associada a malformações quando utilizada em
baixas doses. O lítio é indicado no tratamento de
episódios maníacos do transtorno afetivo
bipolar. Essa droga deveria ser evitada no
primeiro trimestre pelo risco de malformações
cardiovasculares, polidrâmnio, bócio e espinha
bífida

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Anestesia obstétrica bloqueio motor, se comparado à técnica


peridural, e, além disso, não causa prejuízo a
A dor do parto é frequentemente a mais intensa dor
motricidade, dando à parturiente a possibilidade
experimentada durante a vida de uma mulher.
de continuar a deambulação
A dor do parto aumenta a ansiedade e a resposta do • A técnica combinada apresenta vantagens claras
estresse materno, o que se traduz em um aumento dos quando é realizada no final do primeiro ou no
níveis de catecolaminas circulantes, o que está associado segundo período do parto, quando o alívio da
a diminuição do fluxo sanguíneo uterino, incoordenação dor precisa ser rápido e a analgesia perineal é
contrátil e alterações cardiotocográficas, levando a ciclo mais requisitada. Nessa fase, a técnica peridural
vicioso em que o aumento da dor gera alterações na isolada necessita de considerável dose de
dinâmica do parto, e vice-versa. A sensação dolorosa anestésico local para atingir adequadamente as
aumenta ainda o volume corrente e a frequência fibras sacrais, o que compromete a mobilidade
respiratória, causando hipocapnia e alcalose materna e dificulta os puxos. Por outro lado, a
respiratória. Por outro lado, a analgesia também reduz a técnica peridural pode ser a escolha em
circulação de adrenalina, o que tem efeito inibidor da situações nas quais exista alta probabilidade de
contratilidade uterina. evolução para cesárea, pois a confiabilidade do
posicionamento do cateter peridural é maior
Métodos farmacológicos sistêmicos nessa técnica. A técnica peridural também
• São recomendados métodos farmacológicos deveria ser procedimento de escolha nas
sistêmicos para prover analgesia durante o parto pacientes que apresentam maior instabilidade
em situações em que não se dispõe de instalação hemodinâmica, como aquelas com pré-
de analgesia de condução ou quando há eclâmpsia ou cardiopatia, pois o início de ação
contraindicação a esses métodos de analgesia, mais lento da peridural proporciona maior
como sepse, hemorragia materna ativa, infecção segurança nesses casos, com menor risco de
no local de punção e coagulopatia. As drogas hipotensão
mais utilizadas nesses casos são a petidina, a
morfina, a fentanila, a alfentanila e a Contraindicações à analgesia de condução no
remifentanila trabalho de parto
• Nos casos em que é possível a administração por • Infecção no local da punção
meio de bomba de infusão controlada pela • Hipotensão ou hipertensão arterial acentuada
paciente, essa via deve ser preferida • Hipovolemia por anemia ou desidratação
• Uso de anticoagulantes e neuroplégicos
Técnicas regionais: peridural e analgesia
• Doenças medulares ou neurológicas
raquiperidural acometendo a região
• Atualmente, as técnicas de bloqueio regional de • Recusa da paciente
condução são consideradas o padrão-ouro para
o alívio da dor do parto Complicações da analgesia de condução durante o
• A técnica de bloqueio combinado raquiperidural, trabalho de parto
mais conhecida no Brasil como técnica de duplo As complicações da analgesia podem ser imediatas ou
bloqueio utiliza dose inicial de anestésicos locais tardias
e/ou opioides no espaço subaracnoide e a
• Entre as imediatas, a mais frequente é a
subsequente associação da analgesia peridural,
hipotensão materna, definida como pressão
com posicionamento do cateter nesse espaço,
sistólica inferior a 100 mmHg ou redução de 25%
para administração das complementações
na média pressórica prévia ao bloqueio. Ela
necessárias. A técnica mais frequentemente
ocorre por causa da vasodilatação periférica
utilizada para esse procedimento, a dupla
induzida pela administração da droga, e está
punção, é conhecida como agulha através de
associada à redução do estímulo doloroso. De
agulha. O uso do bólus intratecal resulta em
maneira geral, leves quedas na pressão arterial
rápido alívio da dor e diminuição significativa do
não têm efeito considerável sobre o feto; no
146
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

entanto, a ocorrência de hipotensão grave pode Anestesia peridural


reduzir o fluxo placentário a ponto de • Bupivacaína + adrenalina + fentanila + morfina
determinar alterações cardiotocográficas ou até infundidos lentamente, em dose única
comprometer fetos com reserva de oxigênio
limítrofe. Habitualmente, a expansão volêmica Anestesia raquidiana
materna com soluções isotônicas como Ringer • Bupivacaína + fentanila + morfina, injetados em
lactato ou solução fisiológica simples aproximadamente 30 segundos
precedendo o início do bloqueio é suficiente
Anestesia local
para evitar quedas graves na pressão arterial
• A realização de anestesia local (lidocaína 2%)
materna
tem a finalidade de permitir a incisão e o reparo
• Entre as complicações tardias, a mais comum é a
da episiotomia quando esta for indicada ou a
cefaleia pós-punção
realização de sutura de lacerações existentes
Monitorização pós-analgesia
Bloqueio do nervo pudendo
Após a instalação do bloqueio, deve-se dar atenção
• Deve-se fazer a infiltração quando a
especial aos seguintes pontos:
cervicodilatação for completa e a apresentação
• PA e FC aferidas constantemente e prontamente estiver baixa (+2)
corrigidas
• Posição que não comprometa o estado
Cefaleia pós-punção
hemodinâmico, evitando a posição supina • É importante que a cefaleia pós-punção seja
diferenciada de cefaleias por outras causas
• Antes de permitir deambulação, verificar PA, o
comuns no pós-operatório, como anemia e
bloqueio motor e o equilíbrio da paciente
hipertensão arterial
• Em relação ao feto, dá-se preferência à
• A paciente deve ser mantida em repouso no
monitorização contínua após a instalação do
leito, com o objetivo de aliviar os sintomas, com
bloqueio
hidratação oral ou parenteral, e associação de
Anestesia para cesárea analgésicos e anti-inflamatórios de horário
• As técnicas de eleição para a cesárea são as • Aguarda-se 24 horas para reavaliação do quadro.
técnicas regionais, raquidiana ou peridural. A Se houver melhora ou estabilização, a conduta
anestesia geral só é indicada em situações de deve ser expectante; se não houver melhora, a
contraindicação das demais técnicas cefaleia for incapacitante ou houver piora,
• Atualmente, a anestesia raquidiana é a técnica procede-se ao tampão sanguíneo (blood patch)
escolhida por envolver menor volume de • Se não for obtido resultado satisfatório após
anestésico, maior segurança (menor toxicidade essas condutas, é prudente solicitar a avaliação
do anestésico local), maior rapidez na instalação de um neurologista antes de qualquer outra
e melhores condições operatórias para o medida para que seja afastada a possibilidade de
obstetra hematoma subdural e trombose de seio sagital
• Antes da execução de qualquer técnica, todas as
Morte materna
pacientes devem ser monitorizadas com
• A anestesia geral está associada a maior risco de
cardioscópio, medição não invasiva da pressão
problemas nas vias aéreas entre as mulheres
arterial e oximetria de pulso. Além disso, elas
submetidas a cesáreas do que nas pacientes não
devem receber expansão volêmica com 10
obstétricas
mL/kg de soluções cristaloides (500 mL de soro
glicosado a 5% e o restante de solução de Ringer • A maioria dos casos de morte materna
lactato), a partir da qual a infusão é reduzida, relacionada à anestesia ocorre durante
administrando-se durante o procedimento anestesia geral para cesárea
volume máximo de 1.500 mL

147
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hepatites na gravidez Abordagem à gestante vivendo com hepatite B


• Gestantes HBsAg reagentes no exame de
Hepatite B triagem deverão complementar a avaliação com
A prevalência na população geral de hepatite B é 10%. solicitação de HBeAg (avaliação de replicação
Por isso, é importante fazer o rastreio da doença, sendo viral), ALT e CV-HBV. Em caso de perfil sorológico
solicitado o marcador o HBsAg, pelo menos, no primeiro HBeAg positivo, há indicação de profilaxia com
e terceiro trimestres. Idealmente, seria solicitado em TENOFOVIR a ser realizada no 3º trimestre da
todos os trimestres gestação, pois a transmissão vertical se dá em
Não é solicitado anti-HBS, pois a maioria da população já 70-90% dos casos. Recomenda-se seguir a
possui soroconversão e seria um gasto desnecessário. terapia antiviral com TENOFOVIR durante toda a
Em grupos de risco (drogaditos, profissionais do sexo), é gestação e manter essa terapia após o parto
interessante solicitar. • Para gestantes que tenham comprovadamente
HBsAg reagente e que iniciem tardiamente o
O cuidado com a hepatite B é relevante devido à sua pré-natal, ou que não tenham acesso ao
cronificação, sendo os bebês acompanhados por pelo resultado da CV-HBV em tempo hábil, será
menos um ano na infectologia. A taxa de cronificação necessário considerar iniciar profilaxia com
pela transmissão vertical é de 90%, podendo evoluir para TENOFOVIR enquanto se aguarda CV-HBV ou até
cirrose e hepatocarcinoma. o momento do parto
Abordagem à mulher em idade reprodutiva com • No caso de gestantes com infecção crônica pelo
hepatite B HBV e que já estejam em terapia antiviral, deve-
se levar em consideração a gravidade da doença
• A maioria dos casos de transmissão vertical
materna e o potencial risco/benefício para o feto
ocorrem durante o trabalho de parto e parto,
• Gestantes com fibrose hepática avançada (F3 de
seguido pelo terceiro trimestre
Metavir) ou com cirrose hepática (F4 de Metavir)
• Nas mulheres com infecção crônica pelo HBV
– TENOFOVIR
com indicação de terapia antiviral (atividade
• Mulheres grávidas que já estejam em terapia
inflamatória moderada a grave e/ou fibrose
com análogos de nucleosídeos/nucleotídeos,
moderada a grave ou cirrose hepática crônica) e
especialmente TENOFOVIR e lamivudina,
que não estejam planejando engravidar,
deverão ter sua medicação continuada
qualquer um dos medicamentos de primeira
linha (interferon, entecavir ou tenofovir) poderá • Mulheres que engravidem em uso de entecavir
ser utilizado, em conjunto com orientação para deverão ter seu esquema substituído por
práticas contraceptivas TENOFOVIR
• Nas mulheres com infecção crônica pelo HBV em • O uso de interferon está contraindicado
tratamento com interferon, as orientações durante a gestação e seu uso deverá ser
quanto à necessidade de contracepção deverão descontinuado, devendo ser avaliada a
ser oferecidas até o término do tratamento com introdução de esquema oral com TENOFOVIR
esse medicamento Manejo e tratamento de acordo com os diferentes
• O esquema vacinal para a hepatite B com três cenários clínicos
doses está recomendado durante a gestação • Todas as gestantes com hepatite B que
para todas mulheres sem histórico de vacinação apresentem níveis de HBeAg reagente, CV-HBV
ou com esquema vacinal incompleto superiores a 200.000 UI/mL ou ALT > 2xLSN
• Gestantes expostas ao HBV em qualquer devem receber terapia profilática com
trimestre, por relação sexual ou acidente com TENOFOVIR 300mg uma vez ao dia VO, a partir
material biológico, deverão receber associação de 28-32 semanas de gestação (terceiro
de vacina e imunoglobulina. trimestre)
• No caso de gestantes que apresentarem o perfil
sorológico HBsAg reagente e HBeAg não
reagente, a determinação dos níveis de CV-HBV
148
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

deverá ser realizada imediatamente (avaliação proteção da equipe, sendo realizado no primeiro
inicial) e repetida ao final do segundo trimestre trimestre.
da gestação. A decisão sobre a terapia profilática
• A infecção pelo HCV ocorre pela via percutânea,
deverá ser realizada entre a 28ª e a 32ª semana
por meio da exposição ao sangue contaminado,
de gestação
por via sexual e por transmissão vertical
• Todas as gestantes identificadas com HBsAg
• A infecção pelo HCV não é, por si só, impeditiva
reagente devem ser encaminhadas ao pré-natal
para o planejamento da gravidez. Há evidências
de alto risco e/ou serviço de referência
de que mulheres com HCV estão sob risco de
Prevenção da transmissão vertical da hepatite B piores desfechos maternos e neonatais, como
• A principal forma de transmissão vertical da diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, restrição de
infecção pelo HBV é a perinatal, sendo a crescimento, hemorragia pré-parto e parto pré-
transmissão intrauterina mais rara. Para reduzir termo
a transmissão durante parto, pode-se realizar o • Os medicamentos utilizados para o tratamento
clampeamento precoce do cordão umbilical, da hepatite C aguda e crônica são teratogênicos
evitar procedimentos invasivos (fórceps, vácuo ou não possuem dados que comprovem
extrator, amniotomia e epsiotomia), evitar segurança na gestação; por isso, são
distócia, dar banho logo ao nascimento contraindicados durante esse período. Se for
• No puerpério, realizar a vacinação para hepatite confirmada a gestação durante o tratamento da
B e imunoglobulina humana anti-hepatite B hepatite C, este deverá ser suspenso
(IGHAHB). As demais doses da vacina serão feitas • Recomenda-se que mulheres em idade fértil em
aos 2, 4 e 6 meses tratamento de hepatite C sejam submetidas a
o A avaliação da soroconversão deve ser testes de gravidez com periodicidade e que
realizada mediante anti-HBs e HBsAg utilizem contracepção
entre 30 a 60 dias após a última dose da • Após o tratamento, deve-se evitar gestação
vacina para hepatite B. Idealmente, a pelos próximos seis meses
dose da vacina ao nascimento deve ser • É recomendada a realização da sorologia em
dada em até 24 horas após o parto, gestantes com fatores de risco para infecção por
preferencialmente na sala de parto HCV, como: infecção pelo HIV, uso de drogas
• Todas essas medidas reduzem a taxa de ilícitas, antecedentes de transfusão ou
transmissão para menos de 1% transplante antes de 1993, mulheres submetidas
• Ocasionalmente, a infecção da criança ocorre no a hemodiálise, aquelas com elevação de
período pós-natal pelo contato com adultos aminotransferases sem outra causa clínica
infectados pelo HBV, sendo essa forma de evidente e profissionais de saúde com história
transmissão definida como horizontal de acidente com material biológico
• Não há evidências científicas que recomendem
Amamentação uma via de parto preferencial com o propósito
• Para o binômio mãe-filho em que todas as de prevenir a TV do HCV
recomendações foram seguidas – vacina e • Orienta-se evitar procedimentos invasivos, parto
IGHAHB na criança exposta e profilaxia laborioso e tempo de ruptura de membranas
medicamentosa com TENOFOVIR na gestante maior que seis horas para minimizar a
com indicação –, a amamentação não está possibilidade de TV
contraindicada

Hepatite viral C
A prevalência é 3% e a taxa de transmissão vertical é
menor do que 5%, e, embora não haja tratamento no
Brasil (as medicações Ribavirina e Interferon são
categoria X), é realizada a sorologia na gestação para
acompanhamento do RN por pelo menos 12 meses e
149
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Ultrassonografia obstétrica • Quando existe massa placentária única, elas


podem ser dicoriônicas, com placentas
Ultrassonografia morfológica de primeiro próximas, ou monocoriônicas. Na massa
trimestre placentária única, a presença da projeção do
A ultrassonografia morfológica deve ser realizada em um cório em direção à membrana amniótica é
período que varia de 11 a 13 semanas e 6 dias. A melhor patognomônica de gestação dicoriônica (sinal do
idade gestacional, dentro desse período estipulado, é a lambda)
de 12 semanas, porque não é tão precoce para avaliar a
morfologia fetal e é excelente também para avaliar a
medida da translucência nucal e outros marcadores de
anomalias cromossômicas

• Quando a membrana se insere de forma abrupta


no cório (sinal do T), define-se a gestação
monocoriônica

Determinação da corionicidade
• O primeiro trimestre é o melhor período,
algumas vezes o único, para determinar a
corionicidade de gestações múltiplas
• Nessa fase de 11 a 14 semanas completas, duas
placentas separadas definem a gestação
dicoriônica

Rastreamento de anomalias cromossômicas


• Os parâmetros que podem ser examinados para
o rastreamento de anomalias cromossômicas
nessa fase da gestação (de 11 a 13 semanas e 6
150
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

dias) incluem: medida da translucência nucal, Avaliação do polo cefálico


avaliação do osso nasal, avaliação do fluxo • Integridade da calota craniana, tentando
sanguíneo no ducto venoso e regurgitação descartar anencefalia e outros defeitos de
tricúspide fechamento do crânio
• No corte transverso do polo cefálico, avaliar a
Avaliação da morfologia fetal (vaginal ou
integridade da foice cerebral e os plexos
abdominal)
coroides
• A partir de 11 semanas, o embrião passa a ser
denominado feto e o comprimento cabeça-
nádegas mede mais do que 42 mm
o A calcificação da calota craniana já pode
ser identificada, e no encéfalo os plexos
coroides ocupam um terço dos
ventrículos laterais e o forame magno é
demonstrado próximo à base do crânio
o O maxilar e a mandíbula podem ser
visualizados
o Os ossos longos dos membros
superiores e inferiores podem ser
individualizados
o Alguns órgãos internos como estômago,
bexiga e, em algumas ocasiões, rins
podem ser identificados
• Com 12 semanas, já se evidenciam mais • Avaliar a fossa posterior, na qual com 12 a 13
nitidamente toda a anatomia externa e os
semanas já se evidenciam o cerebelo e a cisterna
órgãos internos magna
o O cerebelo, a fossa posterior, os tálamos
e as órbitas estão mais bem definidos do
que antes
o O palato anterior pode ser visualizado
o Os dígitos das mãos e algumas vezes dos
pés já podem ser identificados e
contados
o O diafragma pode ser visualizado
o O estômago e a bexiga estão presentes
na maioria das vezes
o As costelas e a coluna vertebral já estão
bem definidas e podem ser avaliadas
• Com 13 semanas, pouca informação adicional é
obtida em relação ao exame feito com 12
semanas; entretanto, observa-se com melhor
nitidez as estruturas fetais
o Agora, os dedos dos pés são melhor
visualizados, assim como a face
o O coração também é visualizado com Avaliação da face
nitidez maior do que com 12 semanas e • Corte transverso demonstrando as cavidades
é possível avaliar as quatro câmaras e, orbitárias e, quando possível, o cristalino
em alguns casos, detectar anomalias
cardíacas

151
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Corte sagital do polo cefálico e da face para Avaliação do abdome


avaliação da translucênda nucal • Corte transverso do abdome e identificação do
• Corte sagital da face e avaliação da presença ou estômago
ausência do osso nasal • Corte transverso do abdome com visualização da
• Avaliação do perfil da face parede abdominal e da inserção do cordão
umbilical
Avaliação do tórax
• Corte transverso do tórax e avaliação das quatro
câmaras cardíacas e proporção do coração
comparado com o tórax

• O fechamento da parede abdominal já se


completou com 12 semanas, ou seja, a herniação
fisiológica do intestino já retornou para a
cavidade abdominal
• Descendo com o corte transverso, compara-se a
lateralidade do coração com a do estômago Avaliação dos rins e da bexiga
• Avaliação coronal do tórax e identificação do • No primeiro trimestre, os rins têm aparência
diafragma hiperecoica com centro hipoecoico, que
representa urina na pelve renal. Esse aspecto

152
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

hiperecoico ajuda na diferenciação das glândulas


adrenais que apresentam aspecto hipoecoico
• A bexiga deve ser sempre visualizada a partir de
13 semanas
• As malformações do sistema urinário já descritas
com diagnóstico precoce são: agenesia renal
bilateral, rim policístico do tipo infantil, rim
multicístico, hidronefrose e megabexiga
• A bexiga é avaliada na visão coronal da pelve
fetal e, para facilitar sua visualização, pode-se
utilizar o Doppler colorido para identificar as
artérias vesicais

Avaliação da coluna vertebral


Nesse tipo de avaliação, deve-se obter corte sagital e
coronal da coluna vertebral

• Malformações grosseiras na coluna vertebral


são passíveis de detecção nessa fase da
gestação, como agenesia de sacro e defeito
extenso na coluna; entretanto, espinhas bífidas
de tamanho moderado ou pequeno podem não
ser detectadas

Avaliação das extremidades


• Nessa avaliação, deve-se identificar os quatro
• Para se aferir o tamanho da bexiga, ela deve ser membros com todos os seus segmentos e avaliar
medida no seu maior eixo longitudinal; o posicionamento das mãos e dos pés e os
considera-se medida normal valor inferior a 7 dígitos das mãos
mm

153
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Medidas adicionais
• Além da biometria básica (diâmetro biparietal,
diâmetro occipitofrontal, circunferência cefálica,
circunferência abdominal e comprimento do
fêmur), acrescenta-se nessa fase a medida de
outras estruturas que podem ajudar no
diagnóstico de malformações fetais ou na
avaliação comparativa em exames
subsequentes. Essas estruturas são:
o Corno posterior do ventrículo cerebral
lateral

Ultrassonografia morfológica do segundo


trimestre (18 a 24 semanas)
O exame morfológico de rotina no segundo trimestre
pode ser realizado a partir de 18 semanas de gestação;
entretanto, a avaliação feita entre 20 e 24 semanas
gestacionais parece ser mais adequada. Isso porque com
a avaliação do exame morfológico de primeiro trimestre
já se consegue diagnosticar algumas malformações
graves; além disso, aguardar até pelo menos 20 semanas
contribui para melhor visualização das estruturas fetais
e menor interferência materna (panículo adiposo ou o Cerebelo
cicatrizes abdominais) o Cisterna magna
o Prega nucal

154
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Osso nasal
o Úmero
o Diâmetro anteroposterior das pelves
renais
o Pés

Morfologia fetal
• Crânio: examinar a integridade e a forma, medir
o diâmetro biparietal e a circunferência cefálica
• Encéfalo: examinar os ventrículos cerebrais,
plexos coroides, estruturas da linha média, cavo
do septo pelúcido, fossa posterior (cerebelo e
cisterna magna), medir o corno posterior do
ventrículo lateral
• Face: examinar o perfil, as órbitas, os cristalinos,
o osso nasal, os lábios e o palato

• Pescoço: medir a espessura da prega nucal

155
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Coluna: examinar em toda a sua extensão • Posição de saída da aorta ou eixo longo: analisar
(cervical, torácica, lombar e sacral) nos cortes a aorta emergindo do ventrículo esquerdo. Essa
longitudinal, coronal e transversal posição pode ser comparada a um pé de
bailarina, em que a sapatilha representa o
ventrículo esquerdo e o tornozelo a aorta

• Tórax: avaliar o parênquima pulmonar e, no


corte sagital do tórax, examinar a integridade do
diafragma e o formato do tórax

Avaliação do coração
Na avaliação do coração, devem-se incluir a frequência e
o ritmo, o situs e o rastreamento de cardiopatia por meio
da avaliação das seguintes estruturas:

Coração • Posição de saída da artéria pulmonar ou eixo


• Posição das quatro câmaras: analisar a presença curto: essa posição pode ser comparada a uma
das quatro cavidades cardíacas, átrios direito e margarida, em que o miolo representa a aorta
esquerdo, ventrículos direito e esquerdo. Essas em corte transversal, que é o centro do corte, e
cavidades deverão ter dimensões e espessura a artéria pulmonar ao lado, vista
proporcionais longitudinalmente

• Posição dos três vasos: no mesmo corte se


observam a artéria pulmonar, a aorta e
transversalmente a veia cava superior

156
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Abdome: no corte transverso, avaliar localização,


presença e tamanho do estômago e da vesícula biliar.
Avaliar integridade da parede abdominal e inserção do
cordão umbilical

• Genitália: a avaliação da genitália raramente


apresenta indicação médica, como nas doenças
ligadas ao sexo e nos casos de suspeita de
• Extremidades: avaliar a presença de todos os genitália ambígua
ossos longos (incluindo a forma e aspecto • Cordão umbilical: o cordão umbilical deve ser
ultrassonográfico e os movimentos das examinado conforme descrito anteriormente
articulações). Medir o fêmur. Avaliar a posição • Volume de líquido amniótico: pode ser avaliado
das pernas e dos pés e os dígitos. Não há de forma subjetiva e sua acurácia é boa quando
obrigatoriedade de medir todos os ossos longos, o operador é experiente. Formas objetivas e
exceto quando o fêmur estiver curto, o que pode semiquantitativas de avaliar quantidade de
sinalizar displasia esquelética líquido amniótico podem ser aplicadas por meio
da medida do maior bolsão vertical e do índice
do líquido amniótico (ILA)
• Placenta: a descrição da localização da placenta
em relação ao orifício interno do colo deve ser

157
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

feita. A avaliação do grau, do aspecto e da comprimento da porção fechada e residual do


espessura deve ser realizada colo e o total (comprimento do funil mais
comprimento do colo fechado)
Avaliação do colo uterino
• Existem evidências de que a avaliação do colo Dopplervelocimetria das artérias uterinas
uterino é útil na predição de parto prematuro. A • O estudo das artérias uterina e umbilical fornece
avaliação do comprimento do colo uterino pode informação sobre a perfusão uteroplacentária e
ser realizada pelas vias transabdominal e fetoplacentária, respectivamente, enquanto a
transvaginal; entretanto, a avaliação pela via avaliação pelo Doppler de órgãos selecionados é
vaginal apresenta maior acurácia e melhor útil para identificar alterações hemodinâmicas
reprodutibilidade do que a transabdominal secundárias à hipoxemia fetal
• Para avaliação do comprimento do colo, é • Em gestações normais, a resistência ao fluxo da
necessário seguir padronização técnica: artéria uterina diminui com a evolução da
o A paciente, com a bexiga vazia, deve ser gestação, e isso reflete de certo modo a invasão
posicionada com as coxas abduzidas, trofoblástica das artérias espiraladas e sua
para permitir uma gama completa de conversão em vasos de baixa resistência
movimentos durante o exame • De forma semelhante, ocorre uma diminuição na
o Medir a distância entre os orifícios resistência ao fluxo sanguíneo nas artérias
interno e externo. Três imagens (e umbilicais secundária ao amadurecimento
medidas) são obtidas durante um progressivo da placenta e ao aumento do
período de aproximadamente 3 minutos número de vilosidades terciárias
e registra-se a menor medida obtida • A utilização do Doppler das artérias uterinas no
o Registrar a presença de afunilamento no rastreamento de pré-eclâmpsia, restrição do
orifício interno. A mucosa endocervical crescimento e mau prognóstico da gestação tem
fornece uma definição precisa do grau ótimo valor quando os parâmetros estão
de afunilamento normais e tranquiliza a gestante. Entretanto,
o Observar também a possível presença quando os parâmetros estão alterados, a
de alterações dinâmicas no colo, sensibilidade é baixa para sua aplicabilidade na
definidas pelo aparecimento e rotina e em grande escala
desaparecimento do afunilamento
durante o exame Ultrassonografia obstétrica do terceiro
trimestre sistematização do exame
A ultrassonografia obstétrica de rotina do terceiro
trimestre pode ser realizada após 34 semanas de
gestação. Nessa fase, é possível estimar e projetar o peso
no nascimento, além de avaliar outros parâmetros

• Outros componentes da cérvix podem ser


medidos e avaliados, como a presença e o
tamanho do funil no orifício interno do colo, o
158
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Grau I – placenta heterogênea,


apresenta pontos brancos (ecogênicos)
dispersos pela placenta.
o Grau II – placenta heterogênea,
apresenta agrupamentos de
calcificações que formam imagens que
parecem uma vírgula
o Grau III – placenta heterogênea,
apresentando calcificações circulares
que contornam os cotilédones
placentários

Cordão umbilical
• Presença de circular cervical

Avaliação do útero
• Na presença de miomas, deve-se descrever a
relação com o segmento inferior e o tamanho,
Avaliação do bem-estar fetal para que o obstetra possa avaliar as condições
• Durante a avaliação ultrassonográfica, enquanto de parto
se faz a biometria e se avaliam outros
parâmetros, o bem-estar fetal deve ser
observado pela presença de movimentos
corporais e respiratórios, tônus e líquido
amniótico

Avaliação da morfologia fetal


• Devem ser avaliados principalmente encéfalo,
coração, pulmão, rins e trato gastrintestinal.
Quando se detecta uma alteração nesse exame,
deve-se tentar fazer a avaliação morfológica
fetal completa, dentro das limitações da idade
gestacional presente

Avaliação do volume de líquido amniótico


• Esse tipo de avaliação é parte integrante do
exame ultrassonográfico e pode ter um caráter
objetivo ou subjetivo. A avaliação subjetiva do
volume de líquido amniótico é usualmente
realizada em período inferior a 20 semanas.
Entretanto, as técnicas que quantificam o
volume de líquido amniótico tornam a análise
mais acurada e facilitam o acompanhamento da
gestação

Avaliação da placenta
• Avaliar o grau placentário. Indicar a localização
da placenta e sua relação com o colo uterino
o Grau 0 – placenta homogênea, sem
calcificações.

159
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Corioamniorrexe prematura o Diminuição da atividade imunológica


bactericida do líquido amniótico
As membranas e o líquido amniótico funcionam como
• Esses fatores estão relacionados com infecção
uma barreira protetora, que gera um ambiente estéril,
ascendente da flora vaginal, sendo os principais
principalmente em relação à flora bacteriana vaginal, e
agentes envolvidos: estreptococos do grupo B,
exercem funções essenciais para a proteção, o
Gardnerella vaginalis, Neisseria gonorrhoeae,
crescimento e o desenvolvimento do feto.
Escherichia coli
Quanto ao desenvolvimento do feto, a integridade da
cavidade amniótica propicia uma tensão correta sobre o Complicações
tórax fetal, o que é de extrema importância para a boa Complicações maternas
formação dos pulmões fetais. Assim, em casos de rotura • Corioamnionite (também denominada infecção
prematura das membranas ovulares (RPMO), pode haver ovular ou intra-amniótica), endometrite e
comprometimento da formação pulmonar e bacteriemia são as mais frequentes
consequente hipoplasia dos pulmões fetais. • A sepse materna é rara devido à pronta
intervenção obstétrica diante dos sinais
• Rotura prematura das membranas ovulares pré-
maternos de infecção
termo: antes de 37 semanas
• Rotura prematura das membranas ovulares Complicações fetais/neonatais
precoce: no início do trabalho de parto (até 3 • As três mais importantes complicações da RPMO
cm) pré-termo de origem fetal/neonatal são
• Rotura prematura das membranas ovulares hipoplasia pulmonar, prematuridade e infecção
oportuna: no final do período de dilatação (6-8 neonatal
cm) o Hipoplasia pulmonar: a RPMO pode
• Rotura prematura das membranas ovulares evoluir para oligoamnio, e a principal
tardia: junto da expulsão (empelicado) conseguência deste é a hipoplasia
pulmonar
Incidência o Prematuridade: é a complicação mais
• A incidência da RPMO espontânea é de frequente na RPMO e importante causa
aproximadamente 5%, sendo associada a um relacionada com mortalidade e
terço de todos os partos prematuros morbidade neonatais. As principais
complicações decorrentes da
Etiologia
prematuridade são síndrome da
• Iatrogênica: decorrente de cirurgias cervicais
membrana hialina, hemorragia
durante a gestação ou de procedimentos
intraventricular, enterocolite
invasivos intrauterinos, como amniocentese,
necrosante e sepse neonatal por
biópsia de vilosidades coriônicas e laserterapia
imaturidade do sistema imunológico
• Espontânea: envolve fatores que alteram a
o Infecções: as principais são infecção
estrutura das membranas, cujo principal
local (onfalite e conjuntivite), infecção
componente é o colágeno
do trato urinário, pneumonia e
o Sobredistensão uterina (polidrâmnio e
septicemia
gestação múltipla)
o Fatores mecânicos (contrações uterinas Avaliação das gestantes
e movimentação fetal) • Diante da suspeita de perda de líquido
o Alteração da integridade cervical amniótico, a avaliação da gestante deve adotar a
(incompetência cervical e cerclagem) sequência semiológica: confirmação do
o Fatores intrínsecos às membranas diagnóstico, determinação da idade gestacional,
(deficiência de alfa-1-antitripsina e avaliação da presença de infecção materna e/ou
síndrome de Ehlers-Danlos) fetal, avaliação da vitalidade fetal e
o Alteração da oxigenação tecidual hospitalização
(tabagismo)
160
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Confirmação diagnóstica Avaliação da vitalidade fetal


• A confirmação diagnóstica da RPMO é feita • A avaliação da vitalidade fetal deve ser realizada
clinicamente; a gestante relata perda de líquido por meio da cardiotocografia e do perfil biofísico
e, ao exame especular, observa-se escoamento fetal
de líquido pelo orifício externo do colo uterino • É importante ressaltar que um parâmetro
• O toque vaginal não deve ser realizado pelo risco importante na avaliação do perfil biofísico fetal
inerente de infecção ou, caso seja é a presença de movimentos respiratórios
extremamente necessário realizá-lo, este não
deve ser repetido frequentemente Hospitalização
• Em casos de dúvida no diagnóstico, podem ser • As mulheres com diagnóstico de RPMO que
realizados testes que verificam a mudança do pH apresentam fetos viáveis devem permanecer em
vaginal de ácido e o teste da arborização regime de internação hospitalar até o parto, com
poucas situações de exceção. As pacientes são
Determinação da idade gestacional mantidas em repouso com monitorização dos
• A determinação da idade gestacional é realizada sinais clínicos e laboratoriais de infecção e da
pela história clínica da gestante - data da última vitalidade fetal
menstruação (DUM) - e confirmada por exame • A Clínica Obstétrica do HC-FMUSP recomenda
ultrassonográfico de primeiro trimestre conduta expectante em regime hospitalar; no
entanto, em situações especiais, pode-se adotar
Avaliação da presença de infecção materna e/ou conduta expectante em regime domiciliar desde
fetal que alguns critérios sejam observados
• A avaliação da presença de corioamnionite é
fundamental para a conduta na RPMO, uma vez
que, após o diagnóstico de infecção, a conduta é
resolutiva, independentemente da idade
gestacional
• Existem alguns fatores de risco que aumentam a
chance de corioamnionite: número de exames
vaginais durante o trabalho de parto (seis ou
mais), duração do trabalho de parto (maior que
12 horas), RPMO há mais de 24 horas,
colonização materna por estreptococos do
grupo B, líquido meconial
• Afastando-se outros focos de infecção, o
diagnóstico de corioamnionite se baseia na
presença de um critério maior (febre > 37,5 ºc)
ou pelo menos dois dos seguintes sinais:
taquicardia materna (frequência cardíaca >100
bpm), taquicardia fetal (FCF >160 bpm), útero
irritável (contrações irregulares), saída de Aspectos controversos
secreção purulenta pelo orifício externo do colo • De início, ressalta-se que em idades gestacionais
uterino, leucocitose (>15.000/mm3 ou aumento inferiores a 26 semanas não está recomendada
de 20%, especialmente se houver desvio à a administração de antibioticoprofilaxia, de
esquerda), diminuição abrupta da quantidade de corticosteroides ou a tocólise
líquido amniótico, diminuição de movimentos
fetais e, principalmente, ausência de Tocólise
movimentos respiratórios no perfil biofísico • Na ausência de claro benefício na inibição do
fetal, aumento maior que 20% da proteína C trabalho de parto prematuro em pacientes com
reativa RPMO, é razoável não utilizar a tocólise, uma vez
que tal prática imporia um risco desnecessário
161
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

sobre a paciente, sem comprovada diminuição colhe-se conteúdo cervical para pesquisa de
da morbidade ou da letalidade neonatais gonococo e Chlamydia trachomatis, cultura de
secreção vaginal para Escherichia coli e,
Corticoterapia principalmente, cultura de introito vaginal e
• A corticoterapia reduz a incidência de síndrome perianal para estreptococos do grupo B
do desconforto respiratório, hemorragia • Inicia-se a antibioticoprofilaxia para
intraventricular e enterocolite necrosante em estreptococos do grupo B, que deverá ser
recém-nascidos pré-termo com idade mantida por 48 horas, podendo ser interrompida
gestacional inferior a 34 semanas, porém, o antes se houver resultado de cultura negativo.
maior temor de seu emprego é aumentar o risco Utiliza-se a penicilina G cristalina. Caso haja
de infecção evolução para trabalho de parto, e o resultado
• Acredita-se que a corticoterapia seja benéfica na da cultura seja positivo ou não esteja disponível,
diminuição da incidência da síndrome da a antibioticoprofilaxia é mantida até o
membrana hialina e da hemorragia nascimento
intraventricular, principalmente em idades • Como o resultado da cultura é considerado
gestacionais inferiores a 32 semanas válido por cinco semanas, nova coleta deve ser
• Conclui-se que o uso da corticoterapia em idades feita após esse período ou entre 35 e 37 semanas
gestacionais de 32 ou mais semanas não provou • Deve-se realizar diariamente cardiotocografia e
consistentemente ser benéfico e aumenta o perfil biofísica fetal para avaliação da vitalidade
risco de piora ou de instalação de fetal, em razão do maior risco de sofrimento
corioamnionite fetal na RPMO
• Na Clínica Obstétrica do HC-FMUSP preconiza-se • O hemograma deve ser realizado a cada 2 dias,
a corticoterapia em casos de RPMO apenas em além do exame clínico e da avalição diária da
idades gestacionais inferiores a 32 semanas, vitalidade fetal
desde que afastada a possibilidade de
• Caso não haja sinais de corioamnionite, de
corioamnionite, e com ciclo único de
trabalho de parto ou de sofrimento fetal, a
betametasona, na dose de 12 mg por via
interrupção da gestação é feita com 36 semanas,
intramuscular, em duas doses com intervalo de
baseada na melhor evolução do recém-nascido
24 horas
no berçário
Antobioticoprofilaxia • A via de parto é obstétrica e dá-se preferência à
• O objetivo da antibioticoprofilaxia é aumentar o via vaginal
período de latência e diminuir a morbidade e a
Conduta diante do diagnóstico de
letalidade neonatais
• Na Clínica Obstétrica do HC-FMUSP, preconiza-
corioamnionite
se antibioticoprofilaxia apenas para infecção • Diante da corioarnnionite, a conduta é ativa,
neonatal por estreptococos do grupo B, de curta independentemente da idade gestacional
duração e de forma direcionada para um • A via de parto preferencial é vaginal, e a
microrganismo específico antibioticoterapia deve ser iniciada
• Utiliza-se na corioamnionite dois tipos de
Conduta na RPMO em gestações abaixo de 36 esquemas terapêuticos, dependendo da
semanas disponibilidade no serviço de atendimento:
• Em caso de RPMO em gestações abaixo de 36 o Primeiro esquema: ampicilina +
semanas, adota se conduta expectante gentamicina + metronidazol. A
• Diante dessa conduta, são imprescindíveis o ampicilina e a gentamicina devem ser
controle da vitalidade fetal e a pesquisa de administradas a partir do momento do
corioamnionite diagnóstico, ao passo que a utilização do
• Mantém-se a paciente internada e, na metronidazol é iniciada após o
internação, realiza-se o exame especular e clampeamento do cordão umbilical

162
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Segundo esquema: clindamicina +


gentamicina

Conduta na RPMO após 36 semanas


• A conduta na RPMO após 36 semanas de
gestação é ativa, ou seja, inicia-se a indução do
parto ou realiza-se cesárea imediatamente, na
eventualidade de contraindicação de indução
• Em casos de trabalho de parto no termo da
gestação com rotura prematura de membranas
por mais de 18 horas ou em casos de trabalho de
parto prematuro, preconiza-se a profilaxia da
infecção neonatal por estreptococos do grupo B,
para todas as gestantes com cultura do
conteúdo vaginal e perianal positiva para esse
microrganismo ou para aquelas em que a cultura
não foi realizada ou seu resultado é
desconhecido. Utiliza-se, para tanto,
antibioticoterapia durante o trabalho de parto
com penicilina G cristalina
• É necessária a administração de antibióticos por
pelo menos 4 horas antes do nascimento para
que a profilaxia seja considerada adequada

163
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Gestação prolongada • Fatores intrínsecos do miométrio: doenças


específicas do miométrio podem dificultar a
No pós-datismo e na gestação prolongada, a carência da
excitabilidade das fibras miometriais e, por
oxigenação fetal é a preocupação prevalente,
consequência, levar à ausência de trabalho de
diferentemente do que ocorre com as gestantes doentes
parto e ao prolongamento da gestação
previamente à gestação e com aquelas que evoluem com
intercorrências clínicas gestacionais, nas quais a • Fator cervical: a contratilidade anormal das
prematuridade é o evento de maior relevância. fibras musculares inibe os estímulos miogênicos
ou espinhais para a liberação de hormônios
• Pós-datismo: gestações entre 40 e 42 semanas relacionados ao trabalho de parto, como as
• Gestação prolongada: gestações que prostaglandinas
ultrapassam 42 semanas
Influência nos resultados perinatais
Fatores que influenciam a incidência de Aumento na mortalidade
gestação prolongada • Após 41 semanas, em todas as condições de
Ciclos menstruais risco gestacional (alto ou baixo), a taxa de
• Nos ciclos menstruais irregulares, mortalidade fetal apresenta aumento
principalmente na espaniomenorreia (ciclos com significativo e aumenta a cada semana
espaçamento anormal, geralmente 2-3 meses), subsequente
muitas vezes a ovulação é incerta e comumente
Aumento na morbidade
incide em períodos não reconhecíveis
• Oligoâmnio: ocasiona vulnerabilidade do cordão
Utilização de anticoncepcionais hormonais umbilical às compressões durante as contrações
• Ovulação em data desconhecida por falha de uterinas e os movimentos corporais vigorosos do
anticoncepcional ou por sua interrupção causa feto. Esses eventos compressivos funiculares
taxas falsamente elevadas de gestação desencadeiam, no feto, resposta parassimpática
prolongada intensa culminando com a eliminação de
mecônio
Ultrassonografia precoce • Mecônio ante e intraparto (aspiração)
• Ao contrário das duas situações anteriores • Macrossomia fetal (tocotraumatismos): como
(irregularidades menstruais e utilização de resultado da maior duração da gestação, a
anticoncepcionais), com a USG há estimativa macrossomia fetal aumenta as probabilidades
mais acurada da idade gestacional e a incidência de distocia do biacromial o que eleva o risco de
de gestação prolongada decresce traumas maternos e fetais
Etiologia Influência na morbidade materna
• Idade materna • Aumento nas taxas de distócias, especialmente
• Paridade: as primigestas parecem ter biacromial
predisposição maior • Maior número de lesões perineais por
• Etnia: gregas e italianas apresentam taxas macrossomia fetal
significativamente elevadas dessa intercorrência • Duas vezes mais incidência de cesárea
gestacional • Conturbação do período final da gestação por
• Fatores fetoanexiais: de ocorrência rara, dois ansiedade materna
fatores fetoanexiais são associados à gestação
prolongada: anencefalia e deficiência da Diagnóstico anteparto
sulfatase placentária • Para o diagnóstico pré-natal da gestação
• Excessiva atividade endócrina placentária: prolongada se faz mister conhecer com precisão
excesso de produção placentária de a idade gestacional. A execução de um exame
progesterona ultrassonográfico no primeiro trimestre da

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

gestação é essencial para diminuir as dúvidas a aplicação deve ser muito parcimoniosa
respeito da idade gestacional nos casos suspeitos de líquido amniótico
meconial, pois o “susto” provocado no
Diagnóstico após o parto feto leva à ocorrência de movimentos
• O diagnóstico após o nascimento pauta-se nas inspiratórios bruscos (gasping), com
características do recém-nascido, que exibe aspiração fetal de mecônio
algumas mudanças relacionadas ao tempo de o Perfil biofísico fetal: serve para enfatizar
exposição ao regime de carência crônica de a avaliação do volume de líquido
nutrientes e oxigenação amniótico por meio do índice do
o Grau I: pele seca, descamativa (plantas líquidoamniótico (ILA), pela técnica dos
dos pés e palmas das mãos), dobras quatro quadrantes. O oligoâmnio é
cutâneas excessivas e tecido subcutâneo definido quando esse índice é menor
escasso; unhas longas; cabelos que 5 cm, o que indica a interrupção da
abundantes; ausência ou escassez de gestação
lanugem; ossos cranianos mais rígidos e
aspecto vigil e envelhecido Indução do parto
o Grau II: além dessas características, o Utiliza-se como critério de favorabilidade do colo à
recém-nascido e outros componentes indução o índice de Bishop > 6
do conteúdo intra-amniótico
apresentam-se tintos de mecônio, em
função da presença de líquido amniótico
meconial
o Grau III: além de todas as alterações
referidas, somam-se unhas e pele
intensamente amareladas e cordão
umbilical amarelo-esverdeado

Conduta assistencial
• A conduta visa diagnosticar a falência
placentária precocemente e evitar os danos ao
feto decorrentes de eventual hipoxia. Na Clínica
Obstétrica do HC-FMUSP, recomenda-se que a
gestação evolua até o limite de 42 semanas,
quando sua interrupção é indicada

Vigilância da vitalidade fetal


• Início: a vigilância da vitalidade fetal deve ser
iniciada a partir de 40 semanas e um dia
• Periodicidade: os exames do bem-estar fetal
devem ser realizados duas vezes por semana
• Métodos
o Cardiotocografia de repouso e
estimulada (teste da estimulação
sônica): na cardiotocografia de repouso,
as desacelerações variáveis causadas
pelas compressões do cordão umbilical
durante as contrações ou pelos
movimentos fetais vigorosos constituem
foco de maior importância. Quanto ao
teste da estimulação sônica, sua
165
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166
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Tireoideopatias na gestação provavelmente, a partir de 18 a 20 semanas já


pode produzir seu próprio aporte hormonal
A tireoide, como outros órgãos endócrinos, sofre
• Durante a vida fetal, a produção normal de
profundas mudanças durante o ciclo gravídico.
hormônios tireoidianos parece ser
Precocemente, nas primeiras semanas de gestação, o
particularmente importante para o
aumento dos níveis circulantes de estrógenos resulta na
desenvolvimento do sistema nervoso central
diminuição da metabolização hepática da proteína
transportadora de hormônios da tireoide (TBG), • Alguns anticorpos antitireoidianos produzidos
causando aumento de sua concentração sérica e, pela gestante, como o anticorpo antirreceptor
de TSH (TRAb), podem resultar em
consequentemente, aumento relativo das formas ligadas
dos hormônios tireoidianos (T3 total e T4 total) em hipertireoidismo fetal devido à sua capacidade
comparação às formas livres, que se mantêm pouco ou de atravessar a barreira placentária, o que já não
nada alteradas. acontece com o anti-TPO
• Medicações utilizadas no tratamento do
Fatores que corroboram com a diminuição do iodo na hipertireoidismo, como a propiltiouracila e o
gestação são: iodúria, aumento da demanda pela metimazol, também podem ultrapassar a
necessidade fetal e produção aumentada de hormônios barreira placentária e, dessa forma, desencadear
tireoidianos. Por essa razão, a reposição de iodo vem hipotireoidismo fetal
sendo indicada por toda a gestação (do diagnóstico ao
parto), independentemente do TSH (dose máxima de Rastreamento das disfunções tireoidianas na
600 mcg/dia). gestação
• Algumas sociedades preconizam que o
Função tireoidiana na gravidez rastreamento seja feito ativamente apenas
• A hCG possui a propriedade de estimular os naquelas que apresentam algum fator de risco
receptores de TSH em razão da semelhança para a doença e outras que seja feito de maneira
estrutural de suas moléculas. Esse fato aumenta universal com 9 semanas
a produção de hormônios tireoidianos e, por
meio de retroalimentação negativa, leva a uma
diminuição dos níveis de TSH no início da
gestação, os quais retomam seus valores
normais a partir do segundo trimestre

1º tri 2º tri 3º tri Puerpério


TSH N ou ↓ N N N
T3 e T4 N ↑ ↑↑ N ou ↓
totais
T3 e T4 N ou ↑ N N ou ↓ N
livres
1º trimestre TSH: 0,1 - 2,5
2º trimestre TSH: 0,2 - 3,0
3º trimestre TSH: 0,3 - 3,5
• É importante observar os valores de referência
pelo método do laboratório, subtraindo-se 1
ponto para considerar o valor normal para a
gestante, independentemente do trimestre, pois
essa divisão tende a cair por terra
Hipertireoidismo
Função tireoidiana fetal Prevalência e etiologia
• Por volta de 12 semanas de gestação, a tireoide • O hipertireoidismo é uma síndrome
fetal já é capaz de concentrar iodo e, desencadeada pela produção e circulação
excessiva dos hormônios tireoidianos. Sua
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

principal causa é a doença de Graves, • Hipertensão e/ou pré-eclâmpsia podem ocorrer


representando 85 a 95% dos casos nos casos de maior gravidade
• O hipertireoidismo na doença de Graves é • Durante a gravidez, o quadro clínico sofre
causado pela produção de TRAb, anticorpo que alterações em consonância com a idade
se liga a receptores de células foliculares da gestacional. No primeiro trimestre de gestação,
tireoide pela coestimulação provocada pela hCG,
• Os anticorpos podem atravessar a placenta e observa-se piora do quadro clínico. No segundo
causar estados de estimulação e inibição da e no terceiro trimestres, devido ao efeito
tireoide fetal, mas o evento é incomum imunossupressor e à elevação da TBG, o quadro
• A ação imunomoduladora da gestação tende a clínico da doença apresenta-se menos
promover melhora da atividade imunológica exacerbado
antitireoidiana. Aliada à elevação da TBG e ao
aumento de formas ligadas de hormônio
tireoidiano, tradicionalmente há melhora da
doença, principalmente no segundo e no
terceiro trimestres, o que ocorre em até dois
terços das gestantes. Em contrapartida, no
puerpério, com o declínio da atividade
imunossupressora e a exacerbação da
imunidade humoral, há uma tendência à
reativação do quadro clínico de
hipertireoidismo, principalmente após o terceiro
mês pós-parto

Quadro clínico
• Em gestantes com hipertireoidismo não
compensado e/ou não tratado, é possível
observar irritabilidade e agressividade,
inquietação, tremores finos, taquicardia e ganho
de peso inferior ao esperado ou mesmo perda de
peso

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Complicações maternas e neonatais Tratamento medicamentoso


• Maternas: aborto, pré-eclâmpsia, ICC, DPP, crise • As pacientes que serão tratadas são as que
tireotóxica, fibrilação atrial apresentam hipertireoidismo clínico e overt
• Fetais: prematuridade, RCF, óbito fetal, bócio hipertireodismo, ou seja, as que apresentam TSH
fetal, hipotireoidismo fetal, hipertireoidismo supresso (≤0,01)
fetal e neonatal • As medicações utilizadas podem apresentar
malefício, já que atravessam a barreira
Diagnóstico placentária e podem desencadear bloqueio da
• O diagnóstico de hipertireoidismo primário é glândula fetal e consequente hipotireoidismo.
realizado quando a dosagem de T4 total ou de T4 Por conta disso, o tratamento deve ser
livre se apresenta aumentada e o TSH, cuidadoso e equilibrado, devendo-se utilizar a
suprimido, com presença de autoanticorpos terapêutica mínima, visando a manter os níveis
• Níveis normais determinam o diagnóstico de de T4 total ou T4 livre no limite superior da
hipertireoidismo subclínico, que não está normalidade
associado a complicações obstétricas. Uma vez • Drogas antitireoidianas são o tratamento de
que o tratamento clínico implica risco de escolha durante a gestação: propiltiouracil e
hipotireoidismo fetal, essas pacientes não metimazol (ambos categoria D). Ambas inibem a
devem ser tratadas organificação do iodo pela tireoide e têm efeito
• Níveis elevados de T4 livre ou T4 total máximo após aproximadamente 15 dias do início
determinam hipertireoidismo clínico e estão do tratamento. Atribuem-se ainda à
associados às complicações obstétricas; propiltiouracila papel inibitório na deiodação do
demandam, portanto, tratamento com drogas T4 livre em T3 livre, forma ativa do hormônio, e
antitireoidianas ação na imunidade local tireoidiana
• O principal diagnóstico diferencial é o • O propiltiouracil (100 a 450 mg/dia dividida em
hipertireoidismo transitório gestacional, que 3 tomadas) é a droga de escolha para o
está relacionado a altos níveis de hCG, capaz de tratamento do hipertireoidismo no primeiro
estimular os receptores de TSH, podendo causar trimestre, uma vez que apresenta menor
elevação das frações livre e total de T4 e passagem placentária. No segundo e terceiro
consequente redução dos níveis circulantes de trimestres, opta-se pelo metimazol (5 a 30
TSH. Nesses casos, os sinais e sintomas de mg/dia em 1 ou 2 tomadas) pelo risco de
hiperêmese gravídica estão mais proeminentes hepatite fulminante, mas pode-se manter o
do que ao quadro hiperdinâmico típico da propiltiouracil, desde que haja
doença de Graves acompanhamento da lesão hepática (TGO e TGP
quinzenais, no mínimo) e hemograma
• O controle laboratorial é realizado por meio da
dosagem sérica de T4 livre a cada 2 semanas nos
casos mal controlados e a cada 4 a 6 semanas
nos casos bem controlados
• Deve-se dosar o TRAb no início da gestação e
entre 22 e 26 semanas, para se avaliar o risco de
hipertireoidismo fetal/neonatal

Tratamento radioativo
• O tratamento com iodo radioativo é
contraindicado na gravidez.
• Na amamentação, a terapêutica radioativa
também está contraindicada

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Tratamento cirúrgico reavaliar a dosagem de TSH e T4 livre ou total


• A remoção parcial da glândula é medida de após 2 a 3 semanas
segunda linha na gestação, devido aos riscos • Amamentação: considera-se que a
cirúrgicos e anestésicos. Se indicada, deve ser amamentação é segura em doses de até 450
realizada prioritariamente entre 14 e 22 mg/dia de propiltiouracil e de 30 mg/dia de
semanas de gravidez metimazol. Orienta-se a lactante a tomar o
• Suas indicações principais são refratariedade ao comprimido da medicação após o término das
tratamento medicamentoso habitual, mamadas, a fim de evitar concomitância com o
necessidade de altas doses de tioureias, alergia pico sérico da droga
a ambas as medicações, bócios gigantes ou
câncer de tireoide

Tratamento obstétrico
• É imprescindível diagnosticar e acompanhar as
intercorrências da doença sobre o concepto. A
ultrassonografia morfológica entre 18 e 22
semanas de gestação deve atentar para a
avaliação do tamanho da tireoide fetal
• O aumento das medidas da tireoide fetal é
indicativo de bócio e pode ser consequência de:
o Hipotireoidismo fetal, pela passagem
das drogas utilizadas no tratamento Hipotireoidismo
materno ou mais raramente pela
Prevalência e etiologia
inibição por autoanticorpos. O
• O hipotireoidismo está mais frequentemente
tratamento é feito por meio de redução,
associado à disfunção primária da glândula
quando possível, da dose da medicação
tireoide. Raramente é secundário a uma doença
antitireoidiana, seguida, se necessário,
da hipófise e/ou do hipotálamo. A doença
de injeções intra-amnióticas de
primária, que leva à destruição da glândula,
levotiroxina
pode apresentar etiologia diversa, incluindo
o Hipertireoidismo fetal, resultante da
tireoidite de Hashimoto, tratamento prévio com
passagem de anticorpos estimuladores
iodo radioativo, ablação cirúrgica da tireoide
através da placenta. O tratamento é
realizado com propiltiouracil ou Quadro clínico
metimazol administrados à gestante, • Fadiga, obstipação, intolerância ao frio, perda de
associados ou não à reposição hormonal cabelo, aumento de peso, pele seca, cãibras
com levotiroxina sódica nos casos de musculares, entre outras queixas
hipotireoidismo materno decorrente • O bócio pode ou não existir
desse tratamento
Diagnóstico
Parto e puerpério • É feito por meio da dosagem do TSH e do T4 total
• O parto raramente precisa ser antecipado e a sua ou livre
via é de indicação obstétrica, exceto nos casos • Nas pacientes com disfunção glandular primária,
de descontrole clínico grave, nos quais se dá espera-se TSH acima dos valores de referência
preferência à cesárea para o trimestre e T4 total ou livre diminuídos
• Após o parto, a necessidade de tioureia pode • A presença de anti-TPO e antitireoglobulina
estar mantida ou aumentada, em razão da (anti-TG) relaciona-se com a doença de
cessação da imunossupressão da gravidez. Hashimoto
Orienta-se manter a dose de medicamento e

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Complicações materno-fetais • A avaliação da vitalidade fetal é realizada a partir


• Elevam-se as taxas de abortamento, óbito fetal, de 34 semanas de gestação por meio do perfil
prematuridade, pré-eclâmpsia, RCF, anemia e biofísica fetal e está indicada a partir da
anomalias congênitas viabilidade fetal nos casos em que o quadro
• O não tratamento, mesmo em formas leves de clínico está descompensado
disfunção tireoidiana, está associado a déficit no
desenvolvimento intelectual de crianças em
idade pré-escolar e escolar

Hipotireoidismo subclínico
• O hipotireoidismo subclínico é definido como
elevações dos níveis circulantes de TSH (porém
abaixo de 10 mUI/L), sem alterações dos valores
absolutos dos hormônios tireoidianos (T4 total,
T4 livre e T3), em pacientes assintomáticas

Tratamento clínico
• O tratamento do hipotireoidismo, tanto clínico
quanto subclínico, é realizado por meio de
reposição hormonal com levotiroxina sódica
administrada uma vez ao dia, preferencialmente
em jejum
• Para o hipotireoidismo clínico, recomenda-se
iniciar o tratamento com 2 μg/kg/dia, em dose
única diária, em jejum, para as pacientes sem
tratamento prévio, e aumentar a dosagem de
acordo com a medida de TSH, dosado a cada 4
semanas
• Para o hipotireoidismo subclínico, sugere-se que
se inicie a levotiroxina na dose de 1,2 μg/kg/dia,
em dose única a ser tomada em jejum. O
controle deve ser feito por meio da dosagem de
TSH a cada 4 semanas

Tratamento obstétrico
• O tratamento obstétrico visa a identificar as
complicações materno-fetais do hipotireoidismo
• A ultrassonografia obstétrica é realizada
mensalmente para controle do crescimento
fetal, por causa dos altos índices de RCF

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Vulvovaginites na gestação vaginal demonstram presença de


microrganismos anaeróbios em grande
Tricomoníase quantidade (Gardnerella vaginalis, Bacteroides
Etiologia sp., Mobiluncus sp.) associada à diminuição dos
• A tricomoníase é causada por um protozoário Lactobacillus sp.
flagelado, anaeróbio, móvel, denominado • A vaginose bacteriana não é doença transmitida
Trichomonas vaginalis sexualmente, mas pode ser desencadeada após
• É doença de transmissão essencialmente sexual atividade sexual, na qual ocorre elevação do pH
vaginal pelo contato com o sêmen
Apresentação clínica
• Cervicovaginite, com corrimento vaginal Apresentação clínica
amarelo ou amarelo-esverdeado, profuso, com • Corrimento vaginal amarelo, esbranquiçado
odor fétido e bolhoso ao exame especular e/ou acinzentado, com odor fétido
• Irritação vulvar e uretral intensa
Diagnóstico
• A ectocérvix pode apresentar-se hiperemiada,
O diagnóstico pode ser realizado na presença de três ou
com pontos de sangramento e aspecto dito de
mais dos seguintes critérios de Amsel
framboesa
• Na colposcopia, o teste de Schiller demonstra a • Presença de corrimento vaginal homogêneo,
assim chamada "lesão tigroide" branco-acinzentado, fluido
• pH vaginal > 4,5
Repercussões obstétricas
• Teste das aminas (Whiff test) positivo: "odor de
• A tricomoníase durante a gestação está
peixe" após a adição de hidróxido de potássio a
relacionada a trabalho de parto prematuro,
10%
rotura prematura de membranas ovulares e
• Presença de clue cells à microscopia óptica pela
baixo peso ao nascer
coloração de Gram ou Papanicolaou
Diagnóstico
Repercussões obstétricas
• O pH vaginal é, em geral, maior que 4,5
• A vaginose bacteriana está intimamente
• O diagnóstico pode ser realizado com
associada a trabalho de parto prematuro, RPMO,
microscopia da secreção vaginal e visualização
corioamnionite, infecção puerperal e infecção
direta do protozoário em material colhido a
de sítio cirúrgico
fresco
• A reação em cadeia da polimerase é teste Tratamento
padrão-ouro, mas de acesso restrito • O tratamento na gestação pode ser realizado
com metronidazol, 500 mg, por via oral, a cada
Tratamento
12 horas ou com gel vaginal de metronidazol a
• Metronidazol: 2g, por via oral, em dose única
0,75%, por 7 noites
• O uso de gel vaginal à base de metronidazol é
recomendado como terapia adjuvante, para Candidíase
alívio dos sintomas, mas não é eficaz quando Etiologia
utilizado isoladamente
• A Candida albicans é a principal espécie do
• Os parceiros de gestantes infectadas devem ser microrganismo a originar corrimento,
sempre tratados responsável por aproximadamente 85 a 90% das
Vaginose bacteriana ocorrências

Etiologia Apresentação clínica


• A vaginose bacteriana é resultado de • Tipicamente, a candidíase vaginal apresenta-se
desequilíbrio na composição da flora microbiana por meio de corrimento vaginal branco ou
vaginal, que normalmente é composta por branco-amarelado, grumoso, por vezes
Lactobacillus sp. As alterações da microflora abundante e sem odor
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Ao exame vaginal com espéculo, observam-se Outros sintomas como disúria, retenção
placas brancas aderidas às paredes vaginais e ao urinária, proctite e corrimento vaginal podem
colo uterino, com aspecto de nata de leite estar presentes, caso haja acometimento da
• Ardor e prurido acompanham o quadro, uretra, do canal anal ou do colo uterino,
simulando ITU respectivamente
• Primeiro episódio não primário: refere-se à
Repercussões obstétricas aquisição de um dos tipos de herpes-vírus, na
• A candidíase vaginal não modifica o prognóstico presença de anticorpos do outro tipo de herpes-
perinatal e não está relacionada a complicações vírus. O quadro clínico apresenta manifestações
obstétricas sistêmicas leves e lesões genitais menores,
Diagnóstico menos dolorosas, com resolução mais rápida
• O diagnóstico é clínico e pode ser confirmado • Infecção recorrente: trata-se da reativação do
pelo exame microscópico direto do conteúdo herpes-vírus genital de infecções prévias. O
vaginal, o qual, ao se adicionar hidróxido de quadro clínico varia de acordo com a paciente e
potássio a 10% ou soro fisiológico a 0,9%, mostra seu status imunológico. Os sintomas locais
pseudo-hifas ou esporos predominam sobre os sintomas sistêmicos
• O uso da fita de acidez vaginal revela níveis de • Herpes neonatal: é infecção do recém-nascido
pH menores que 4,0 resultante da passagem por canal de parto
contaminado. A maioria dos neonatos adquire a
Tratamento forma leve da doença, que permanece localizada
• A terapêutica na gravidez impossibilita o uso de em pele, olhos e boca, e cuja mortalidade é nula.
imidazólicos por via oral, pois estes podem O acometimento do sistema nervoso central e os
causar efeitos adversos ao produto conceptual. casos de doença disseminada apresentam
O tratamento de escolha está restrito aos mortalidade que varia de 15 a 57%
cremes vaginais à base de miconazol, clotrimazol
Repercussões obstétricas
e nistatina, que podem ser usados com
segurança • O risco de transmissão vertical é maior na
infecção primária, provavelmente pela ausência
• O tratamento do parceiro está indicado na
de anticorpos maternos. Teoricamente, a
presença de sintomas ou a partir do segundo
infecção materna primária, na ausência de
episódio da gestante, preferencialmente com
anticorpos e durante o primeiro trimestre, pode
fluconazol 150 mg, por via oral, em dose única
permitir a disseminação hematogênica do vírus,
Herpes genital causando uma variedade de malformações
Etiologia • O risco de trabalho de parto prematuro, no
• O herpes genital é causado por um DNA-vírus, o entanto, não está aumentado em gestantes com
herpes-vírus. Existem dois tipos de vírus: o primeiro episódio não primário ou recorrência
herpes-vírus 1 (HSV-1) e o herpes-vírus 2 (HSV- da doença
2), este mais responsável pelas lesões genitais Diagnóstico
Apresentação da infecção • O método diagnóstico de primeira escolha é a
• Infecção primária: trata-se da ausência de detecção de partículas virais, utilizando swabs
anticorpos anti-HSV-1 ou anti-HSV-2 no para coleta de material da base das úlceras
momento em que a paciente adquire a infecção Tratamento
pela primeira vez. O quadro clínico mais comum • O tratamento é composto por medidas de
é o de vesículas genitais, que rapidamente suporte e terapêutica medicamentosa
evoluem para úlceras bastante dolorosas, com • Medidas de suporte: analgésicos, banho de
um período de resolução aproximado de 10 a 20 assento e gel de lidocaína
dias. A linfadenomegalia inguinal geralmente
• Tratamento antiviral: as medicações antivirais
acompanha o surgimento das lesões genitais.
atravessam a barreira placentária, concentram-
173
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

se no líquido amniótico e chegam ao plasma


fetal em níveis terapêuticos. O tratamento deve
ser mantido por 7 a 10 dias, podendo ser
prolongado se não houver cura completa das
lesões no décimo dia. As opções terapêuticas
incluem: aciclovir 400 mg, três vezes por dia;
valacilovir 500 mg, duas vezes ao dia
• Os episódios recorrentes devem ser tratados
com terapia de supressão profilática de longa
duração (aciclovir 400 mg, por via oral, duas
vezes ao dia, por todo o período gestacional)
sem risco de desenvolver resistência à droga

174
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Profilaxia Streptococcus do grupo B aparente (40%), a artrite séptica (5 a 10%) e


raramente a onfalite e osteomielite
O estreptococo do grupo B ou Streptococcus agalactiae
é a principal causa de sepse de origem materna nos EUA Estratégias para a prevenção da doença
e também pode ser causa de infecção na gestante,
perinatal pelo EGB
causando corioamnionite, endometrite, ITU e infecção
A prevenção da doença perinatal pelo EGB (DPEGB)
de sítio cirúrgico.
depende muito mais da conduta obstétrica do que dos
A prevalência de colonização materna pelo EGB é cuidados neonatais propriamente ditos. Existem três
influenciada pelo local da coleta, período da gravidez em estratégias para a prevenção da DPEGB: imunização,
que esta foi realizada, raça, idade (quanto menor a antissepsia do canal de parto e profilaxia com
idade, maior é o risco), paridade (quanto menor a antibióticos intra-parto (AIP)
paridade, maior a chance de colonização) e nível sócio-
• Imunização: a vacina induz anticorpos soro-
econômico.
específicos contra o EGB e a grande dificuldade
O fator determinante para a infecção neonatal precoce em desenvolvê-la encontra-se na conjugação
pelo EGB parece ser a presença desse microrganismo no das diferentes cepas do estreptococo. Tem a
trato genital materno ao nascimento. O aparelho vantagem de prevenir a forma precoce e tardia
urinário também é um importante sítio de infecção por da doença
essa bactéria, especialmente durante a gravidez, quando • Antissepsia do canal de parto: feita com
usualmente manifesta-se como bacteriúria gluconato de clorexidina, uso tópico de solução
assintomática ou sintomática. aquosa de clorexidina a 0,2% em irrigação
vaginal a cada 6h da admissão até o nascimento
Fatores de risco • Profilaxia com antibióticos intraparto (AIP): deve
• História prévia de irmão com doença invasiva ser feita intraparto, não havendo qualquer
por EGB vantagem em se tratar a gestante colonizada
• Bacteriúria por EGB durante a gestação pelo EGB antes do parto. Conceitualmente, a
• Trabalho de parto com idade gestacional inferior quimioprofilaxia intraparto é a administração de
a 37 semanas antibiótico logo após o início do trabalho de
• Ruptura de membranas igual ou superior a 18 parto ou ruptura das membranas, sendo
horas necessárias pelo menos duas doses de
• Temperatura intraparto igual ou maior que 38°C antibióticos com intervalo de 4 horas antes da
• Cerclagem resolução do parto para que uma menor
• Descolamento prematuro de placenta sem causa percentagem de RN esteja colonizada pelo EGB
detectável ao nascimento. A quimioprofilaxia é hoje a
• Presença de mecônio com idade gestacional melhor arma no combate ao EGB. A AIP deveria
inferior a 34 semanas ser com penicilina (5.000.000 U inicialmente e,
após, 2.500.000 U a cada 4 horas até o
Apresentação clínica neonatal nascimento) preferencialmente ou ampicilina
• Forma precoce: é a mais frequente (80%) e (2g inicialmente e, após, 1g a cada 4 horas até o
ocorre nos primeiros sete dias de vida, sendo a nascimento
transmissão durante o parto ou nascimento,
pela passagem do RN pelo trato genital “Screening”de cultura pré-natal
colonizado ou por via ascendente. Evolui com • Não é uma rotina geral coberta pelo SUS em pré
bacteremia, sepse, meningite e pneumonia natal de baixo risco, embora um bom pré natal
• Forma tardia: afeta RN de sete dias até 12 devesse ter essa pesquisa de maneira universal
semanas de idade, sendo que sua transmissão • Em situações ideiais, toda gestante entre 35 e 37
pode ser horizontal ou nosocomial e raramente semanas de idade gestacional (IG) deveria
vertical. As manifestações clínicas mais comuns realizar a pesquisa do EGB em material obtido
são a meningite (30 a 40%), bacteremia sem foco por meio de “swab” colhido do terço distal da
vagina e retal
175
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Exceções: mulheres com bacteriúria por


EGB durante a gestação atual e
mulheres que tiveram um bebê com
doença invasiva por EGB em gestação
prévia
o Pacientes com risco de trabalho de parto
pré termo: é feito a partir da 28 semana,
sendo repetido a cada 5 semanas se o
resultado for negativo
• O resultado negativo dá segurança de 5 semanas
• O resultado positivo é suficiente para indicação
de profilaxia para o parto
• Colhe-se o swab vaginal e anal, sendo a coleta
vaginal primeiro

Indicações de profilaxia intraparto


• Cultura de rastreio positiva para EGB (reto e
vagina)
• Parto anterior com bebê afetado por EGB (sepse
neonatal) – a mãe conta que o bebê precisou
tomar antibiótico por bastante tempo quando
nasceu, que perdeu o bebê por infecção
• Bacteriúria por EGB na gestação atual/
urocultura positiva para S. agalactiae
(desnecessário ter mais de 100 mil colônias e
duas culturas, basta uma cultura positiva)
• Status de cultura anteparto desconhecido
(cultura não realizada ou resultado não
disponível)
• Febre intraparto (temperatura axilar ≥38°C)
• Trabalho de parto prematuro
• Ruptura prolongada das membranas ovulares
(≥18h)
• Teste de amplificação de ácido nucleico (NAAT)
positivo para EGB

Profilaxia intraparto não-indicada


• Gestação anterior com cultura positiva para EGB
(a menos que a cultura seja também positiva
nessa gestação)
• Parto cesáreo eletivo realizado na ausência de
ruptura de membranas amnióticase antes do
início do trabalho de parto (independentemente
do estado materno de portadora do EGB)
• Cultura retal e vaginal com 35 a 37 semanas (ou
até 5 semanas antes do parto) negativa para EGB
durante a gestação atual, independentemente
da presença de fatores de risco intra parto

176
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Patologias do colo e HPV na gestação Diagnóstico


• O diagnóstico é clínico, realizado por meio de
HPV visualização direta das lesões
As verrugas genitais podem acometer a vulva, o colo ou
• O uso de ácido acético a 5% tinge as verrugas de
a vagina. Quando ocorre durante a gestação, pode haver
branco (aparência acetobranca), cuja
exacerbação da manifestação, devido ao quadro
identificação fica facilitada
fisiológico de imunossupressão pelo qual a mulher passa
• Lâmpadas brancas e lentes de aumento ajudam
neste período.
na identificação de lesões pequenas
Etiologia • A biópsia da lesão reserva-se para casos nos
• O causador dos condilomas é o HPV, que possui quais o aspecto ou o comportamento pós-
mais de 70 sorotipos terapia foge ao padrão esperado
• A transmissão deste ocorre por contato sexual e Repercussões obstétricas
o uso de preservativo não evita a transmissão de
• O papilomavírus humano dos sorotipos 6 e 11
modo completamente efetivo, pois não cobre
pode causar papilomatose respiratória na
toda a região genital externa
criança contaminada no canal de parto. Essa
• A disseminação pode ocorrer por intercurso oral,
afecção é de difícil controle e apresenta altos
genital ou das mãos
índices de recidivas
Fatores de risco Tratamento
• Múltiplos parceiros sexuais
• Fora do período gestacional, se a lesão for
• Presença de outras doenças sexualmente pequena, pode, a princípio, haver apenas
transmissíveis associadas acompanhamento, pois pode haver remissão
• Abuso de drogas ilícitas espontânea. Quando as lesões são maiores,
• Imunossupressão deve-se realizar o tratamento
Apresentação clínica • No período gestacional, devem sempre ser
• A apresentação clínica clássica é de lesões tratados (com método ablativo químico ou
verrucosas cujo número, localização, tamanho e físico, ou com exérese cirúrgica) e vale lembrar
extensão de tegumento acometido são variáveis que a taxa de transmissão vertical não muda
com a mudança da via de parto. Só é indicada a
• Surgem, em geral, com aspecto
cesárea quando os tumores são muito grandes,
hiperqueratósico e papilomatoso, mas podem
prejudicando a via de parto baixa
aparecer também como pápulas lisas e planas.
Na maioria das vezes, são lesões exofíticas, • O melhor período de tratamento é sempre o
podendo apresentar-se de forma séssil ou mais precoce possível, podendo ser utilizado
pedunculada para tal: ácido tricloroacético, nitrogênio líquido,
laser de CO2, excisão cirúrgica, aspiração
• Em gestantes, pode haver acometimento tanto
ultrassônica
de regiões externas do trato genital inferior
(vulva e região perianal) como de regiões Alterações citológicas
internas (mucosas vaginal, ectocervical e intra- Não há alterações na rotina de citologia oncótica na
anal) gestação, tanto em tempo quanto em técnica, ou seja,
• Massas exofíticas muito extensas localizadas no realiza-se tanto a coleta ectocervical quanto
colo uterino ou vagina impedem o parto vaginal, endocervical, lembrando que há uma maior
seja pelo fato de funcionarem como tumor probabilidade de sangramento
prévio, seja pelo risco de sangramento da
mucosa, que se apresenta mais friável por causa A rotina é realizar a coleta dos 25 aos 64 anos, sendo dois
das modificações gravídicas locais exames anuais consecutivos e, sendo ambos negativos,
• Lesão anal grande pode, por sua vez, dificultar a trienal
defecação por causa da constrição do canal anal

177
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Células escamosas atípicas de significado


indeterminado (ASC-US): repete em 1 ano se
tiver entre 25 e 29 anos e em 6 meses se maior
que 30 anos
• ASC-H: colposcopia. Realizar biópsia se houver
necessidade (suspeita de lesão de alto grau)
• Células glandulares atípicas de significado
indeterminado (AGC): colposcopia
• LSIL: repete em 6 meses
• HSIL: colposcopia. Confirmada lesão de alto
grau, realizar conização caso haja sinal sugestivo
de invasão. Caso contrário, acompanhar a
paciente nos três trimestres com citologia,
colposcopia e, se necessário, nova biópsia

Câncer de colo uterino


• Confirmado sempre por histopatológico
• Para definir o tratamento, deve-se definir a
idade gestacional: até 20 semanas, pode-se
intervir com abortamento, para prosseguir com
o tratamento 30 dias depois
• Passadas 20 semanas, é necessário esperar o
final da gestação, interrompendo, geralmente,
em até 37 semanas

178
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Arboviroses na gestação • Aumento repentino do hematócrito


Vetor: Aedes aegypti • Queda abrupta de plaquetas
• Desconforto respiratório
Vírus: flavivírus e alphavírus
Investigação laboratorial
Dengue • NS1: 3 primeiros dias
Quadro clínico • Sorologia: a partir do 6º dia, solicita-se IgM
• Dor muscular intensa
Critérios de alta
• Febre alta que surge na metade do quadro
• Estabilização hemodinâmica por 48 horas
• Surgimento do exantema após desaparecimento
• Ausência de febre por 48 horas
da febre
• Melhora do quadro clínico
• Exantema em metade dos casos
• Hematócrito normal e estável por 24 horas
• Dor articular leve
(único critério que não é 48 horas)
• Cefaleia
• Plaqueta em elevação, acima de 50 mil
• Discrasia hemorrágica
• Ausência de sintomas respiratórios
Classificação de risco
Profilaxia
• Grupo A: sem sinais de sangramento
• Comportamentais: controle de vetor – uso de
• Grupo B: Gestante é sempre, no mínimo, grupo
telas, evitar criadouros
B, portanto, realiza-se hematócrito capilar
• Repelente: em áreas expostas e por cima da
• Grupo C: sinais de choque, definido para
roupa, evitando o rosto. A melhor opção é o
pacientes com plaquetopenia
aerossol
Hidratação • Vacinação: não recomendada, pois é vírus vivo
• Se hematócrito > 44% ou aumento > 10% em atenuado
relação ao hematócrito recente, a paciente deve
Zika
ser hidratada na unidade com 80 ml/kg/dia –
Toda paciente que surge com exantema,
sendo 1/3 administrado em 4 horas EV e
independentemente da presença de febre, deve levar à
reavaliar após
suspeita de zika.
• Se não houver melhora ou houver sinais de
alarme, conduzir como grupo C, hidratando com 80% dos casos de zika são assintomáticos.
20 ml/kg/h e reavaliação a cada 2 horas
o Se houver melhora, hidratar com 25 Quadro clínico
ml/kg em 6 horas • Conjuntivite não pruriginosa
• Se não houver melhora, conduzir como grupo D: • Febre baixa que inicia no início do quadro
expansores plasmáticos, investigar • Exantema
coagulopatias e consumo • Dor muscular e articular moderada
• Hipertrofia ganglionar intensa
Sinais de alarme • Acometimento neurológico
• Dor abdominal intensa e contínua
• Vômitos persistentes Prevenção
• Hipotensão postural e/ou lipotimia • Picada do vetor
• Hepatomegalia dolorosa • Vertical
• Sangramento de mucosas • Sexual: recomenda-se que gestantes utilizem
• Hemorragias importantes (hematêmese ou preservativo durante toda a gestação
melena) • Hemoderivados
• Sonolência e/ou irritabilidade
Complicações não fetais
• Diminuição da diurese
• Encefalite, meningoencefalite, mielite
• Hipotermia
• Síndrome de Guillian-Barré
179
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Trombocitopenia

Complicações fetais
• Microcefalia: abaixo do percentil 3
o Feminino: PC menor ou igual a 31,5 cm
o Masculino: PC menor ou igual 31,9 cm

Chikungunya
Quadro clínico
• Febre alta
• Exantema em 50% dos casos
• Dor muscular leve
• Artralgia intensa
• Edema articular
• Hipertrofia ganglionar moderada

Febre amarela
Vacinação
• Gestantes não devem receber a vacina de rotina
• Gestantes que moram em áreas com
confirmação da circulação viral devem ser
vacinadas em dose padrão
• Gestantes que vão viajar para áreas de risco
devem ser desaconselhadas a viajar, mas se for
imprescindível, a gestante deve ser vacinada em
dose padrão
• Em situação de vacina aplicada em mulher que
não tinha conhecimento da gestação, não houve
relato de teratogênese
• Mulheres amamentando não devem ser
vacinadas: recomenda-se guardar o leite antes
da vacinação, caso haja necessidade e somente
retornar a amamentação após 10 dias
• Gestantes com doenças auto-imunes,
imunossuprimidas ou em uso de
quimioterápicos não podem tomar a vacina

180
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Ventilação mecânica o À pressão: o ventilador percebe que o


paciente tentou inspirar, pois a pressão
A ventilação mecânica é diferente da ventilação
ficou negativa, e dispara
fisiológica; na ventilação fisiológica, a inspiração é ativa,
o A fluxo: o ventilador percebe a
envolvendo contração diafragmática para criar um
aceleração do fluxo quando o paciente
gradiente de pressão intratorácico diferente da
tenta inspirar e dispara
atmosfera, provocando a entrada de ar. Já a expiração é
• Ciclagem: quando o ventilador para de insuflar o
um processo passivo. Na ventilação mecânica, o
ar abre a válvula expiratória e permite que o
ventilador gera uma pressão positiva que empurra o ar
paciente exale o ar
para dentro dos pulmões e abaixa o diafragma
o Na curva de pressão, é quando a curva
artificialmente.
cai
Curvas o Na curva de fluxo, é quando toca o eixo
• Pressão: no modo PCV, a curva tende a ser zero
quadrada - a pressão sobe na inspiração, se o Na curva de volume, é quando cai, logo
torna constante e cai na expiração após o platô
• Pico: pressão máxima atingida pelas vias aéreas
durante o ciclo ventilatório
• Platô: pressão de pausa, quando o ventilador
para de insuflar o ar, o fluxo se torna nulo e o ar
para de entrar e sair
• PEEP (pressão positiva ao final da expiração):
• Fluxo: é a única que é positiva na inspiração e serve para evitar o colapso alveolar (feita pela
negativa na expiração glote, fisiologicamente). Na curva de pressão, é
a pressão mínima, mais próxima do zero
• Volume corrente: volume de ar que entra e sai a
cada ciclo respiratório
• Frequência respiratória: número de ciclos
respiratórios em 1 minuto
• Volume minuto: produto do volume corrente
vezes a frequência respiratória
• Volume: a curva sobe na inspiração, atinge um • Tempo inspiratório: tempo que o paciente passa
platô e cai na expiração, quando o ar está sendo na inspiração
exalado • Tempo expiratório: tempo que o paciente passa
na expiração
• Relação I:E: relação entre o tempo inspiratório e
expiratório, sendo, geralmente, a expiração (por
ser passiva) mais lenta que a inspiração
• FiO2: fração inspirada de oxigênio é a
porcentagem de oxigênio oferecida para o
paciente
Conceitos Modos ventilatórios
• Disparo: início do ciclo ventilatório, quando a • Controlados: o ventilador mecânico faz todo o
máquina ou o paciente dispara o ventilador e trabalho e o paciente faz pouca ou nenhuma
começa a fase inspiratória. Pode ser: alteração
o A tempo: determina o ciclo ventilatório • Assistidos: a maior parte da ventilação mecânica
a um tempo escolhido pelo é feita pelo ventilador, mas o paciente tem
programador alguma interação, principalmente em relação ao
disparo
181
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Espontâneo: mais próximo da ventilação Desmame da ventilação mecânica


fisiológica, pois a maioria dos parâmetros é livre • 13-26% dos pacientes vêm a óbito em ventilação
e determinada pelo paciente mecânica
• 75% têm desmame simples (primeira tentativa
Ventilação controlada a volume
de respiração espontânea)
• Disparo pode ser a tempo, fluxo ou pressão
• 10-15% têm desmame com duração entre 24-72
• A variável limite é o volume (o médico escolhe o
horas
volume corrente oferecido ao paciente)
• 5-10% têm desmame prolongado, demorando
• O fluxo é controlado e fixo
mais de 7 dias para o processo de desmame
• A pressão é variável, determinada pelas
• 1% dos pacientes são dependentes de ventilação
características do paciente
mecânica
• A ciclagem é determinada pelo volume
• A vantagem deste modo é o controle preciso do Fases do desmame
volume e fluxo, o que é bom para patologias em • Pré-desmame: paciente que acabou de intubar
que é necessário controlar perfeitamente o ou com SARA grave e que não há intenção de
volume corrente, como na síndrome do extubação no momento; o paciente necessita de
desconforto respiratório agudo (SDRA) proteção de via aérea, mas deve-se estar
• A desvantagem é a ausência de controle de pensando no tratamento da causa base para que
pressão e volume corrente fixo (difícil para possa ser possível o desmame da ventilação
pacientes que estão acordados e sem uso de mecânica
bloqueador neuromuscular) • Aptidão: identificar precocemente os pacientes
com condições de serem submetidos a um teste
Ventilação controlada à pressão
de respiração espontânea – falência respiratória
• O disparo pode ser a tempo, fluxo ou pressão
resolvida ou controlada. Deve estar compensado
• A variável limite é a pressão
e com PEEP <8 cm H2O, FiO2 ≤0,4, volume minuto
• O tempo inspiratório é controlável <12L, capacidade de iniciar esforços
• A ciclagem é a tempo respiratórios
• O fluxo e volume corrente são variáveis • Preditores: visa identificar os pacientes com
• A vantagem é o controle de pressão, e fluxo e maior risco de perder o teste de respiração
volume corrente variáveis espontânea. O mais validado é o índice de
• A desvantagem é a incapacidade de controlar o respiração rápido e superficial (relação
volume corrente frequência respiratória/volume corrente) –
Pressão de suporte ventilatório quando maior que 105 respirações/min/litro é
indicativo de alta taxa de falha no teste de
• O disparo é a fluxo ou pressão (só funciona em
respiração espontânea
pacientes com drive ventilarório preservado,
o PaO2/FiO2 >200
capazes de gerar ventilação)
o Paciente alerta
• A variável limite é a pressão
o Tosse à aspiração presente
• A ciclagem é a fluxo
o PEEP ≤5 cm H2O
• O fluxo e volume corrente são variáveis e
o Volume minuto <15 ipm
determinados pelo paciente
• Teste de respiração espontânea: caso o paciente
• O tempo inspiratório e expiratório são variáveis
esteja apto, coloca-se parâmetros semelhantes à
• A vantagem é a ventilação ser próxima ao
ventilação espontânea no ventilador ou retira o
fisiológico
paciente do ventilador e coloca uma peça em T
• A desvantagem é a limitação da monitorização com oxigênio no ventilador de um lado e ar
da ventilação mecânica e necessidade de ambiente do outro (não utilizado na prática; usa-
cooperação do paciente (útil para pacientes que se PSV de 5-7 cm H2O e PEEP de 5-8). Realiza-se
estão em desmame da ventilação mecânica) o teste uma vez ao dia, de maneira geral
o Sinais de intolerância ao teste:
182
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

▪ FR >35
▪ PAS >180 ou <90 mmHg
▪ SatO2 <90%
▪ FC >140
▪ Agitação, sudorese ou alteração
do nível de consciência
• Extubação: avaliar se o paciente é capaz de
proteger as vias aéreas (reflexo da tosse
presente, ausência de secreção abundante,
neurológico preservado)
o Não extubar se não tiver 2 ou 3 dos
parâmetros
o Ventilação não invasiva (VNI) pós-
extubação: quando o paciente falha no
teste de respiração espontânea, pode-se
tentar a VNI facilitadora; quando o teste
é bem sucedido, mas o paciente
apresenta maiores riscos (hipercapnia
após extubação, insuficiência cardíaca,
tosse ineficaz, secreções copiosas, mais
de uma falência consecutiva no
desmame, idade maior que 65 anos,
obstrução de vias aéreas), pode-se
tentar a VNI profilática
• Reintubação: caso haja sinais de insuficiência
respiratória, deve-se identificar a causa e
reintubar
o ICC, auto PEEP, causa base não
resolvida, esforço respiratório,
desnutrição, distúrbio hidroeletrolítico,
infecção, disfunção orgânica grave

Regra prática
• Para alterar PO2: mexer na FiO2 e PEEP
• Para alterar PCO2: mexer no tempo inspiratório
e na frequência respiratória

183
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Parada cardiorrespiratória (PCR) ajuda para manejar a situação, visto que o


paciente não está bem
Cadeia de sobrevivência: elos que a AHA recomenda
3. Checar pulso: o pulso a ser checado é o carotídeo
serem seguidos sempre que houver suspeita de colapso.
e não deve levar mais de 10 segundos para
1. Checar responsividade do paciente, checar checar o pulso central
respiração ou gasp agônico e checar pulso em 4. Compressão: 30:2 ou, se houver via aérea
carótida ou femoral (menos de 10 segundos) avançada, as compressões são ininterruptas e as
2. ativar SME (chamar o samu pelo 192) ou solicitar ventilações são feitas a cada 6 segundos (10
carrinho de parada ou DEA ventilações por minuto)
3. compressões de alta qualidade – aumenta a 5. Comandar organização: líder da equipe
sobrevida, garantindo a viabilidade dos tecidos (geralmente assume a monitorização e
4. choque (desfibrilação) – permite o retorno da desfibrilação), acesso IV e medicamentos, vias
circulação espontânea aéreas, compressão, tempo/anotação
5. suporte avançado 6. Checar ritmo: ritmos chocáveis (fibrilação
6. cuidados pós-parada ventricular e taquicardia ventricular) e ritmos
não-chocáveis (atividade elétrica sem pulso e
ABC (CAB) assistolia)
C - Compressões • Checar os cabos
• 30 compressões:2 respirações (para os leigos, • Aumentar o ganho
apenas o hands only – sem respirações) • Derivações
• Posicionamento correto: ao lado da vítima, com 7. Chocar: pás em ápice e base, equipe afastada e
os braços esticados e compressão no terço retorno imediato da RCP após choque (sem
inferior do esterno com a região hipotenar da checar pulso ou ritmo no primeiro ciclo). Se
mão dominante, entrelaçada com a mão não desfibrilador monofásico, utilizar 360 J e, no
dominante bifásico, 200 J. Após segundo ciclo, realizar novo
• Execução adequada: frequência de 100-120/min choque (se chocável) e se não houver retorno de
(Staying Alive – Bee Gees), deprimindo 5-6 cm do ritmo, realizar adrenalina 1 mg (em seguida
tórax e retorno completo do tórax realizar flush de 20 ml de SF e elevar o membro
por 10-20 segundos). No próximo ciclo, utilizar
A - Vias aéreas amiodarona (300 mg – 2 ampolas) e flush.
• Abrir via aérea. Se difícil, realizar via aérea Intercalar com adrenalina no próximo ciclo e no
avançada (IOT ou máscara laríngea) seguinte, amiodarona (150 mg – 1 ampola),
• Sempre verificar a posição do tubo após IOT: lembrando que amiodarona só pode ser
ausculta, capnografia, expansibilidade torácica realizada por 2 vezes
o Quando há capnografia que não Quando o ritmo é não-chocável, não utilizar
aumenta, pode haver associado um choque e amiodarona, aplicando somente RCP e
pneumotórax adrenalina
B - Ventilação 8. Causas reversíveis: 5 Hs e 5 Ts
• Quando apenas com abertura manual das vias Hipovolemia: SF 0,9% ou ringer lactato
Hipóxia: oxigênio (via aérea avançada)
aéreas, realizar 2 ventilações a cada 30
compressões H+ (acidose): bicarbonato de sódio
Hipotermia: aquecer manta ou fluido aquecido
• Se em via aérea avançada, realizar uma
Hipo/hipercalemia: gluconato de cálcio,
ventilação a cada 5 ou 6 segundos
bicarbonato de sódio, solução polarizante,
10 passos da PCR albuterol
1. Checar responsividade: paciente não respira (ou Toxinas: antídoto específico
gasping agônico) e não responde Trombose cardíaca (IAM): angioplastia primária
2. Chamar equipe: independentemente de saber se Tamponamento cardíaco: pericardiocentese
está em parada cardiorrespiratória, é necessária
184
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Tensão pulmonar (pneumotórax): punção de


alívio e drenagem de tórax
TEP: trombólise
9. Considerar drogas
10. Cuidados pós-parada: controle hemodinâmico,
realizar ECG de 12 derivações, suporte
ventilatório, suporte neurológico (controle de
convulsões), hipotermia terapêutica, identificar
causas que podem ser tratadas (como SCA),
transferir paciente para hospital apropriado

Drogas na parada
• Adrenalina: apresentam maior taxa de retorno
da circulação, mas não há aumento da
sobrevida; os pacientes sobreviventes com uso
de adrenalina apresentam pior desfecho
neurológico
• Amiodarona: usada na FV e TV refratária (no
terceiro e quinto choques), podendo ser
substituída por lidocaína
• Lidocaína: semelhantemente à amiodarona, a
primeira dose é dobrada (1,5 mg/kg) e a
segunda, simples (0,75 mg/kg)
• Bicarbonato de sódio: não é utilizado
rotineiramente, apenas em casos de parada com
acidose ou hipercalemia conhecida. Isso
acontece quando há parada prolongada,
havendo acidose lática importante, sendo que
no meio ácido a adrenalina não age bem. Uma
indicação formal é a intoxicação por tricíclico, a
fim de alcalinizar o sangue. A dose é de 1 mEq/kg
• Sulfato de magnésio: não é recomendado de
rotina, sendo usado apenas em torsades de
pointes

Administração de drogas
Via de regra, utiliza-se a via de acesso venoso ou
intraósseo. Em último caso, administra-se as drogas pelo
tubo orotraqueal. As drogas que podem ser
adminitradas pelo tudo são:

• Vasopressina
• Atropina
• Naloxona
• Epinefrina
• Lidocaína

185
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Síndrome do Desconforto Respiratório pneumócitos tipo II, promovendo inativação do


surfactante, atelectasiando os alvéolos e
Agudo (SDRA) fazendo formação de membrana hialina,
Algumas epidemias evoluem com SDRA, como a diminuindo grandemente a complacência
síndrome respiratória aguda grave (H1N1) e corona pulmonar
vírus, por exemplo. • Todas essas características exigem ventilação
mecânica, porém esta pode piorar o quadro do
SDRA (antigamente denominada SARA – síndrome da
paciente, pois o movimento de
angústia respiratória aguda) é um quadro caracterizado
abertura/fechamento do alvéolo promove
pela insuficiência respiratória aguda que evolui com
atelectotrauma, perpetuando a reação
hipoxemia grave (causada pelo shunt pulmonar – há
inflamatória (explicando a alta taxa de
necessidade de alto PEEP e FiO2) e hipercapnia (causada
mortalidade)
pelo espaço morto – há necessidade de aumento da FR
• Quando coloca-se PEEP (altas pressões), o
ou volume corrente ou tempo expiratório ou relação ins-
exp) em um paciente com baixa complacência, podendo alvéolo distende (bem aerado), mas comprime o
vaso (mal perfundido)
ser de causas pulmonares ou extrapulmonares.

Lesão pulmonar aguda (LPA) x SDRA


Instalação Oxigenação RX-tórax POAP
Infiltrados
LPA Aguda PaO2/FiO2 <300 <18 mmHg
bilaterais
Infiltrados
SDRA Aguda PaO2/FiO2 <200 <18 mmHg
bilaterais

Critérios para definição de SDRA


• Instalação: uma semana de insulto clínico ou de
novo/piora dos sintomas respiratórios
• Radiografia ou TC de tórax: opacidades bilaterais
– não totalmente explicada por edema, colapso
lobar/pulmonar ou nódulos (não melhora com
furosemida)
• Origem do edema: insuficiência respiratória não
totalmente explicada por insuficiência cardíaca
ou sobrecarga volêmica. Necessidade de
avaliação objetiva (p. ex. ECO) para excluir
edema hidrostático se não houver fator de risco
presente
Fatores de risco
• Oxigenação:
• Primária (pulmonar): pneumonia grave, H1N1,
o Leve: 200 > PaO2/FiO2 ≤ 300 com PEEP
coronavírus, aspiração de componente tóxico,
ou CPAP ≥ 5 cmH2O
inalação de fumaça, queimadura de via aérea,
o Moderada: 100 > PaO2/FiO2 ≤ 200 com
contusão pulmonar, afogamento
PEEP ≥ 5 cmH2O
• Secundária (extrapulmonar – melhor
o Grave: PaO2/FiO2 ≤ 100 com PEEP ≥ 5
prognóstico): choque séptico de foco urinário,
cmH2O
choque cardiogênico, pancreatite, politrauma,
Fisiopatologia politransfusão (reação adversa imediata que faz
• O pulmão fica branco, pois o alvéolo está SDRA – edema agudo de pulmão, transfusion-
preenchido por exsudato inflamatório, pois há related acute lung injury (TRALI), relacionada à
necrose do pneumócito tipo I, com ativação de transfusão de plasma de mulheres multíparas,
células inflamatórias em cascata, fazendo edema devido à presença abundante de anticorpos)
alveolar proteico, além de necrose dos
186
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Quadro clínico PCO2 sobe). Para fazer recrutamento, coloca-se


• Insuficiência respiratória aguda com hipoxemia e a ventilação a pressão e deixa-se um delta
necessidades constantes de aumento de FiO2 (pressão de platô – PEEP) de 15 com PEEP de 25
• Hipercapnia e acidose respiratória por um minuto, chegando no 40; depois mais um
• Volume corrente no máximo para tolerar minuto com PEEP de 35, chegando no 50... Como
pressão de platô permitida (e o paciente sequer 35 é uma pressão absurda, é necessário que o
faz volume de 6 ml/kg – ventilador já alarma de paciente esteja sedado, bloqueado e com o
pressão de pico) mínimo de estabilidade hemodinâmica, caso
• FR de 35 irpm contrário o paciente pode chocar e parar. Depois
deixa-se 2 minutos com PEEP de 45 e pressão de
• Tempo expiratório baixo, em limte para auto-
PEEP 60; neste momento abre-se a válvula exalatória
e pode haver barotrauma. Essas altas pressões
• Necessidade de pressões cada vez mais altas
têm objetivo de remover líquido e recrutar áras
Exames complementares não ventiladas. A partir dai, inicia-se a
• Gasometria: acidose respiratória diminuição da pressão e calcula-se as
• Raio x e TC: infiltrado difuso bilateral complacências (com pressão de platô – PEEP
fixado em 15), de tal forma que conforme o
Complacência pulmonar volume corrente estiver máximo, a PEEP é ideal
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 (o pulmão consegue ser perfundido em boa
𝐶𝑜𝑚𝑝𝑙𝑎𝑐ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑒𝑠𝑡á𝑡𝑖𝑐𝑎 =
𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑙𝑎𝑡ô − 𝑃𝐸𝐸𝑃 adaptação)
• Redução do espaço morto
OBS: a pressão de platô – PEEP é a pressão responsável
pela hematose (oxigenação) Estratégias não ventilatórias
• Manejo conservador de fluidos: paciente
Tratamento
necessariamente intubado e não encharcar o
Estratégias ventilatória paciente, pois os alvéolos já estão preenchidos
• Tratamento da causa base: pancreatite, • Bloqueador neuromuscular: indicado quando a
politrauma... relação PaO2/FiO2 está abaixo de 150, é
• Proteção pulmonar: realizar ventilação necessário retirar toda a resistência adicional
protetora - volume corrente de 4 a 6 ml/kg, que há no pulmão, incluindo o tônus da
pressão de platô abaixo de 30 (ou pelo menos musculatura
abaixo de 40), FR inicialmente em 25 e após • Corticoide: controverso, mas indicado por
coleta de gasometria, chegar próximo de 35 (não reduzir o tempo de ventilação, embora não haja
superior pelo risco de auto-PEEP), FiO2 para benefício na mortalidade
chegar em saturação de 88-92%, PEEP de acordo • Oxido nítrico inalatório: pode ser usado para
com a “tabela de referência PEEP-FiO2” lavar um pouco do CO2
• Posição prona: no decúbito ventral, a gravidade
faz com que o líquido inflamatório desça e dá-se Suporte extracorpóreo
mais pressão no local onde estava o líquido • Retirada de CO2
anteriormente. Pacientes responsivos à prona • ECMO: forma de circulação extracorpórea
são aqueles com aumento de 20% ou mais na prolongada que oxigena e remove o gás
relação PaO2/FiO2 em 2 horas. Se for responsivo, carbônico (CO2) diretamente do sangue
fica em prona 18 horas
• PEEP/recrutamento: na manobra de Prognóstico
recrutamento em específico, a pressão de platô • Em torno de 25% dos pacientes vão a óbito
é ajustada a até 60 e para ter certeza de que a
pressão ficará fixa neste valor, ventila-se a
volume (se ventilar a pressão, o volume corrente
abaixa pela baixa complacência pulmonar e o

187
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Morte encefálica • Reflexo da tosse: colocar uma sonda no paciente


e tocá-la na carina, obervando se há tosse – NC
Perda irreversível de todas as funções encefálicas,
IX e X
incluindo tronco encefálico.
• Teste da apneia: colocar FiO2 de 100% por 10
Equivale a morte, mesmo que tenha batimentos minutos no paciente, desacoplar o ventilador,
cardíacos e função da medula espinhal. colocar um cateter nasal a 6 litros por minuto e
colher gasometria, devendo-se observar PO2 alto
Avaliação da morte encefálica e PCO2 abaixo de 55. Deixar por 10 minutos o
• Afastar causas reversíveis de coma: não pode cateter, obervando se não ocorre incursão
estar sedado ou em uso de drogas depressoras respiratória e colher gasometria ao final dos 10
do SNC (midazolam, fentanil, tionembutal minutos, devendo haver PCO2 acima de 55
(maior tempo de meia-vida – 12h), halotano, • Reflexos medulares: não estão abolidos na
succinilcolina, etomidato, propofol...) morte encefálica
o Se drogas usadas em bolus, esperar 3
vezes o tempo de meia-vida Exames complementares
o Se drogas usadas em infusão contínua, • Exames de fluxo: não são influenciados por
esperar 5 vezes o tempo de meia-vida drogas depressoras do SNC, hipotermia e
• Lesão encefálica de causa conhecida: alterações metabólicas. Podem, porém, dar falso
necessidade de exame de imagem (TC) positivo
• Afastar intoxicações exógenas o Doppler transcraniano: verifica
• Afastar distúrbios hidroeletrolíticos ou ácido- atividade da artéria cerebral média,
base graves porém alguns pacientes não têm janela
• Temperatura corporal central deve estar acima para visualização da ACM
de 35°C (abaixo de 25°C o paciente fica o Cintilografia
midriático) o Arteriografia
• PAM ≥60 mmHg ou PAS ≥100 mmHg o Angio-TC (ainda não aprovada para
determinar morte encefálica)
Determinação de morte encefálica • Exames de atividade elétrica
Ausência de função cerebral o Eletroencefalograma: não pode ser
• Coma - Glasgow 3 (não responde ao estímulo realizado caso o paciente tenha feito uso
doloroso, tátil e vocal) de barbitúrico na internação, mesmo
• Ausência de movimentos espontâneos que supere o tempo de meia-vida
• Ausência de posturas anormais • Exames de atividade metabólica
o Pet-scan: pouco utilizado na prática para
Ausência de função de tronco morte encefálica
• Reflexo pupilar: reação pupilar à luz (fotomotor
direto e consensual) – NC II e III Pré-requisitos
• Reflexo corneano-palpebral: estímulo da córnea • Presença de lesão encefálica conhecida
com algodão delicadamente, reagindo com (visualizada por exame de imagem), irreversível
fechamento palpebral e capaz de causar morte encefálica
• Reflexo óculo-cefálico: olhos ficam fixos ao • Ausência de causas tratáveis que possam
movimentar a cabeça no caso de morte confundir o diagnóstico de morte encefálica, por
encefálica exemplo o tempo de drogas depressoras de SNC
• Reflexo vestíbulo coclear: ao colocar soro gelado • Tempo em observação hospitalar: antes eram
na membrana timpânica do paciente (após necessárias 24 horas para abrir protocolo de
otoscopia para verificação de rolha de cerume), morte encefálica. Agora, em caso de trauma,
observar o olho ipsilateral para ver se não há bastam 6 horas, sendo necessárias as 24 horas
nistagmo no caso de encefalopatia hipóxico-isquêmica

188
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Temperatura corporal (esofagiana, vesical ou


retal) ≥35°C + PaO2 ≥94 % + PAS ≥100 mmHg ou
PAM ≥65 mmHg ou pela faixa etária (<16 anos)

Diagnóstico de morte encefálica


• Clínico + clínico capacitado (fez curso de
determinação para morte encefálica ou tem
mais de 10 provas supervisionado ou se tem
residência em medicina de emergência,
medicina intensiva, neurologia ou neurocirugia)
+ método gráfico

Óbito do paciente
• A declaração do óbito se dá ao final do protocolo
• Se houve trauma, é feita pelo IML
• É uma doença de notificação compulsória:
sempre notificar!

Doação de órgãos
• Médico da UTI que concluiu a declaração do
óbito: pode, mas não deve falar com a família
sobre doação de órgãos
• Médico da UTI que faz parte de alguma equipe
transplantadora (tem interesse): não pode
legalmente falar com a família sobre doação de
órgãos
• Família opta por não fazer a doação dos órgãos:
a conduta é desligar os aparelhos. A família pode
assistir o desligamento dos aparelhos e não pode
levar o corpo para a casa

189
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Síndrome coronariana aguda que nas primeiras três horas a troponina vai vir
negativa)
Angina instável: placa instável que oclui
• Tipo 4a: complicação da angioplastia
parcialmente a luz do vaso.
coronariana (oclusão de ramo da artéria
IAM sem supra de segmento ST: rompimento da principal, embolização distal) – valor de
placa de ateroma com formação de trombo que oclui referência da troponina é 3 vezes o limite
a luz do vaso parcialmente. anterior
• Tipo 4b: infarto relacionado à trombose de stent
IAM com supra de segmento ST: rompimento da
• Tipo 5: infarto relaciondo à cirurgia de
placa de ateroma com formação de trombo que oclui
revascularização miocárdica – valor de
a luz do vaso totalmente.
referência da troponina é 10 vezes o valor limite
Condução da síndrome coronariana aguda anterior
• Paciente chega com dor torácica: realizar ECG e
Tratamento (MONABICHEE)
verificar positividade para supra ST (elevação do
segmento ST em duas ou mais derivações Morfina
contíguas de 1 mm, exceto em V2 e V3, que deve • É o analgésico de escolha
ser maior que 1,5 mm na mulher e maior que 2 • Dose: 0,05 a 0,1 mg/kg – diluir 1 ampola (1 ml)
mm no homem com mais de 45 anos e maior que de morfina (10 mg) em 9 ml de água destilada,
2,5 no homem com menos de 45 anos ficando uma solução de 1 mg/ml
o Com supra ST: encaminhar • Efeitos colaterais: hipotensão, depressão
o Sem supra ST: solicitar marcadores de ventilatória, reação alérgica por liberação de
necrose miocárdica histamina
• Marcador de necrose miocárdica: troponina, • Morfina não muda a mortalidade, então só deve
CPK e CKMB. Lembrar que as troponinas são ser usada em casos de muita dor e
muito sensíveis e podem positivar em situações descompensação do duplo produto (FC x PAS),
que não são SCA, sendo pedidas, então, apenas que deve ficar abaixo de 6.000
uma troponina por internação, devendo ser
Oxigênio
solicitada 12 horas após o início dos sintomas,
• Deve ser oferecido aos pacientes com satO2
quando atinge o pico
<94%
o Angina instável: negativas. Paciente que
• Não deve ser oferecido a todos (satO2 > 94%) por
necessitará de ser estratificado, por
fazer vasoconstricção e agravar o quadro
exemplo, sendo encaminhado para
realizar teste ergométrico, eco-estresse Nitrato
o IAMSSST: protocolo • Na upa: nitrato
o IAMCSST: protocolo o Isordil (sublingual)
o Isordil (dinitrato de isossorbida) e
Tipos de infarto
Monocordil (mononitrato de
• Tipo 1: complicação de placa aterosclerótica
isossorbida): prescrito até 4
(erosão, ruptura, ulceração)
comprimidos às 8, 14 e 20 horas. Deve
• Tipo 2: desbalanço entre oferta e demanda de
haver um intervalo de 12 horas, pois
oxigênio na ausência de complicação da placa
esses medicamentos apresentam
aterosclerótica (anemia, sepse em uso de droga
taquifilaxia, ou seja, dependem da
vasoativa, hipotensão, bradi ou taquiarritmias)
dessaturação dos receptores para
• Tipo 3: morte súbita na vigência de
voltarem a fazer efeito
sintomas/alterações eletrocardiográficas
o Sustrat: prescrito de 8 em 8 horas
sugestivas de IAM em que marcadores de
• No leito de hospital: nitroglicerina
necrose miocárdica não estão disponíveis (pode
ser colhido no SVO, mas não virão positivas, já

190
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Nitroglicerina (Tridil): potencial ▪ Stent farmacológico (com anti-


vasodilatador coronariano melhor. Não mitótico): duplamente
muda mortalidade antiagregado por 1 ano
• Nitroprussiato (Niprid): não é recomendado ▪ Stent convencional:
para SCA, pois causa vasodilatação venosa duplamente antiagregado por 3
potente, podendo cursar com síndrome do meses
roubo coronariano e agravamento do quadro • Novos antiagregantes
o Ticagrelor: menor risco de sangramento,
AAS (ácido acetilsalicílico) meia vida de 24 horas e mais caro
• Dose de ataque: 300 mg o Prasugrel: maior risco de sangramento e
• Contraindicações: dissecação de aorta, histórico valor menor
de choque anafilático com AAS
Heparina
Beta-bloqueador • Heparina de baixo peso molecular
• Muda a mortalidade (enoxaparina): a mais fácil de usar, mas a que
• Não deve ser usada nos primeiros minutos de apresenta menores provas de anticoagulação
atendimento junto com o AAS e clopidogrel (como INR para varfarina, por exemplo)
• O beta-bloqueador de escolha é o propranolol, o <75 anos: 1 mg/kg de 12 em 12 horas
pois apresenta meia-vida mais curta o >75 anos: 0,75 mg/kg de 12 em 12 horas
• A administração vai depender do perfil o Clearance <30: 1 vez ao dia
hemodinâmico do paciente, sendo usado apenas • Heparina não fracionada: deixa o paciente mais
no Killip 1 na mão, mas é mais difícil anticoagular o
o Killip 1: assintomático (usar beta- paciente. Recomendada para pacientes
bloqueador) dialíticos, que apresentam sangramento
o Killip 2: estertor na base, B3, turgência o Dose de ataque: 80 UI/kg
jugular o Depois: 18 UI/kg/h
o Killip 3: edema agudo de pulmão o Realizar TTPa a cada 6 horas para
o Killip 4: choque cardiogênico – FC >100 aumentar ou diminuir a dose
bpm, PAS <90 mmHg, FR >20 ipm, • Derivados não heparinoides (foundaparinux):
perfusão capilar lentificada, oligúria utilizado em pacientes que apresentam
plaquetopenia após uso de enoxaparina
IECA
(trombocitopenia induzida pela heparina)
• Muda a mortalidade
• Também é um medicamento para ser usado nas Estatina
primeiras 24 horas, mas não nos minutos iniciais, • Atorvastatina: 80 mg por dia
devendo ser utilizado após a reabertura da • Rosuvastatina: 20-40 mg por dia
artéria
• O IECA de escolha é o captopril, de 8 em 8 horas Espironolactona
• Deve receber alta com prescrição de
Clopidogrel espironolactona
• Antiagregante plaquetário que age no ADP,
diferentemente do AAS, que age Anatomia coronariana
irreversivelmente na via da COX • Os ramos principais são: coronária direita,
• Dose: cirunflexa e descendente anterior
o <75 anos: 300 mg • Artérais que saem da descendente anterior são
o >75 anos: 75 mg diagonais e artérias que saem das diagonais são
o Clearence de creatinina <75: 75 mg diagonalis
o Paciente que vai para angioplastia: 600 • Artérias que saem da circunflexa são marginais e
mg (duplamente antiagregado) artérias que saem da marginal são marginalis

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Estratégia de reperfusão
Centro com angioplastia
• Realizar angioplastia em até 90 minutos se
houver possibilidade de intervenção percutânea
nesse tempo

Centro sem angioplastia


• Realizar trombólise química em até 60 minutos
na impossibilidade de transportar o paciente
para um centro com angioplastia em até 120
minutos

Critérios de reperfusão
• Redução em mais de 50% do supra de ST, onde
este é maior
• Pico precoce de enzimas (CKMB) <12h
• Desaparecimento da dor subitamente
• Arritmia de reperfusão (ritmo idioventricular
acelerado)

Contraindicações de trombólise
• Tudo que já sangrou/tem alto risco de sangrar a
No ECG cabeça
Parede
Derivação Provável artéria
ventricular
alterada comprometida
afetada
V1-V4 Anterior DA
V1-V6, D1, aVL Anterior extensa DA
D2, D3 e aVF Inferior – traçar CD (supra de D3 é
V3R e V4R maior que D2) ou
CX
V7 e V8 Posterior CX ou CD
V3R e V4R Ventrículo direito CD
D1 e aVL Lateral alto CX
• V1 e V2: 4º EIC paraesternais
• V3: entre V2 e V4
• V4: 5º EIC na linha hemiaxilar
• V5: 5º EIC na linha axilar anterior
• V6: 5º EIC na linha axilar média
• V7: 5º EIC na axilar posterior
• V8: 5º EIC na linha hemiescapular
• Vermelho: mão direita
• Amarelo: mão esquerda
• Preto: pé direito
• Verde: pé esquerdo

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Acesso venoso central • Agulhas para anestesia (13 x 0,45 para botão
anestésico, 30 x 0,7 ou 40 x 12 para anestesia
Introdução de cateter apropriado em veia central
mais profunda)
(femoral comum, jugular interna, subclávia) a partir de
técnica percutânea, com objetivo de obtenção acesso • Kit punção venosa central estéril, contendo:
para infusão de substâncias entre outros. agulha de 8 cm de comprimento e diâmetro 18
G; seringa 10 mL; fio guia metálico; dilatador
Indicações plástico; cateter venoso (mono, duplo ou triplo
• Impossibilidade de acesso venoso periférico lúmen); anteparos para fixação do cateter
• Infusão de substâncias cáusticas, vasopressores • Kit para sutura contendo: porta agulha, pinça,
ou hiperosmolares (ex.: NPT) tesoura; fio de mononylon 2.0 ou 3.0
• Reposição rápida de fluidos e/ou sangue em • Conectores
urgências ou cirurgias (questionável) • Curativo
• Preparo pré-cirúrgico de pacientes de alto risco
e/ou alta complexidade cirúrgica
Conceitos anatômicos
• Monitorização hemodinâmica invasiva (pressão Veia jugular interna (VJI)
venosa central, saturação venosa central) • Localização: anterior e lateral à carótida interna,
• Cateterização de artéria pulmonar (cateter na porção apical do triângulo cervical, formado
específico Swann-Ganz) por porções clavicular e esternal do músculo
• Realização de hemodiálise ou aféreses esternocleidomastoideo, além de base com a
(plasmaférese/leucoaférese) clavícula
• Nutrição parenteral central • Normalmente se situa de 2 a 3 cm de
• Inserção de marca-passo transvenoso profundidade

Contraindicações ao Procedimento Veia subclávia (VSC)


• Localização: anterior e inferior à artéria
• Alterações anatômicas
subclávia, separada pelo músculo escaleno
• Infecções na região de realização do
anterior
procedimento
• Seu trajeto localiza-se em sua maior porção
• Coagulopatia não corrigida (INR >1.5, plaquetas
posteriormente à borda inferior da clavícula
<50.000/mm³)
• Une-se medialmente à VJI para formar a veia
• Desconhecimento da técnica e/ou inexperiência
braquiocefálica
• Trombose do vaso a ser puncionado
Veia femoral (VF)
Materiais
• Localização: no triângulo femoral (de Scarpa),
• Clorexidina degermante e alcoólica
delimitado pelo ligamento inguinal, músculo
• Par de luvas estéreis, avental cirúrgico estéril,
sartório e músculo adutor longo da coxa
máscara facial e gorro
• Situada medialmente à artéria femoral comum
• Campos estéreis
• Pacotes de gaze estéril Sítio de punção
• Pinça cirúrgica para degermação, cuba rim ou • A escolha deve levar em conta a condição clinica
recipientes estéreis para armazenamento das do paciente, a experiência do médico, indicação
soluções empregadas do acesso e possíveis complicações. A seguinte
• Ampola de anestésico local (lidocaína 1 a 2%, 20 ordem de opção na escolha do sítio de punção é
mL) sugerida, levando-se em conta a facilidade da
• Ampola de 10 mL de solução para injeção ou SF técnica e o menor risco de complicações
0.9% (para eventual diluição do anestésico) 1. Veia Jugular Interna (VJI)
• Equipo de soro macrogotas 2. Veia Subclávia (VSC)
• Frasco de SF 0.9% 100 mL a 500 mL 3. Veia Femoral (VFe)
• Seringa de 10 mL e 20 mL

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• Quando se opta por VJI ou VSC, é preferencial a fisiológicas) com maiores taxas de infecção;
escolha do lado direito, visto que a cúpula maior risco de complicações trombóticas;
pleural é mais baixa, o que reduz a chance de necessidade de cateteres maiores para atingir a
pneumotórax, e devido ao fato do ducto torácico circulação central
desembocar na VSC esquerda, com menos risco • Contraindicações ao sítio: discrasias sanguíneas
de quilotórax graves; plano de manutenção do cateter por
maiores períodos; infecção local
Veia jugular interna
• Vantagens: menor risco de complicações; maior Técnica
facilidade de compressão local e de mais fácil Comum a todos os sítios
acesso em caso de controle cirúrgico de 1. Comunicar ao paciente sobre o procedimento,
complicações; puncionável mesmo em discrasias explicando toda a sequência ao qual será
sanguíneas moderadas submetido
• Desvantagens: punção difícil em pessoas com 2. Avaliar, no contexto global do paciente,
pescoço curto e/ou obesos; anatomia variável; condições de suportar o procedimento
tendência a colabamento da veia em a. Na presença de discrasia sanguínea,
hipovolemia; local de mobilidade, o que dificulta corrigir previamente, se possível: INR
a manutenção de curativo seco e estéril; possível >1,5: considerar infusão de plasma
contaminação em pacientes traqueostomizados fresco (10 mL/Kg) antes do
• Contraindicações ao sítio: discrasias sanguíneas procedimento. Havendo tempo hábil,
graves; cirurgia de carótida ipsilateral; tumores considerar vitamina K (IM, 10 mg, por no
cervicais ou intravasculares com invasão para o mínimo 3 dias)
átrio direito b. Plaquetopenia (<50.000/ mm³):
considerar transfusão profilática de
Veia Subclávia concentrado de plaquetas, 1 unidade
• Vantagens: menor variabilidade anatômica; para cada 7-10 Kg de peso, logo no
melhor fixação do acesso; menor taxa de infeção momento do procedimento
do sítio de punção; não colaba em situações de 3. Higienização adequada das mãos e colocação
choque hipovolêmico dos equipamentos de proteção individual
• Desvantagens: necessidade de prática para 4. Assepsia e antissepsia local por meio de técnica
evitar complicações; difícil compressão, no caso asséptica
de acidentes arteriais; alto risco de complicações 5. Anestesia local com lidocaína inicialmente com
graves, incluindo pneumotórax, hemotórax botão anestésico (derme), seguido de planos
• Contraindicações ao sítio: discrasias sanguíneas mais profundos (idealmente já localizando o
de qualquer grau; pacientes com DPOC; trauma vaso a ser puncionado, evitando-se a infusão
clavicular, cirurgias prévias no local ou intravascular do anestésico)
deformidades; durante PCR 6. Preenchimento de todas as vias do cateter com
solução salina
Veia Femoral
• Vantagens: relativamente superficial e de fácil Veia Jugular Interna (acesso central/médio)
punção; facilmente compressível e fácil acesso 1. Posicionamento do paciente: decúbito dorsal
cirúrgico; facilidade em utilizar cateter de grosso horizontal com cabeceira rebaixada em relação
calibre (muito usada para diálise); fácil acesso na aos membros inferiores (Trendelenburg),
PCR; preferência para punção em casos de extensão cervical contralateral ao sítio de
discrasia sanguínea punção (face voltada para o lado oposto)
• Desvantagens: local de muita mobilidade, 2. Localizar o ápice do trígono formado pelas duas
dificultando curativo fixo e estéril; local cabeças do músculo esternocleidomastoideo
altamente úmido e potencialmente (SCM)
contaminado (contato com secreções

194
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

3. Palpar artéria carótida com a mão não 16. Descarte material adequadamente, evitando
dominante e afastá-la medialmente com acidentes de trabalho
suavidade, a fim de evitar a punção da mesma
4. Realize a punção venosa com agulha (bisel Veia Subclávia Infraclavicular
voltado acima) conectada seringa parcialmente 1. Posicionamento do paciente: decúbito dorsal
preenchida com SF 0,9%, sempre realizando horizontal com cabeceira rebaixada em relação
pressão negativa (aspirando), imediatamente aos membros inferiores (Trendelenburg),
abaixo ao ápice do trígono, lateralmente à extensão cervical contralateral ao sítio de
carótida, em um ângulo inclinado de 30° em punção (face voltada para o lado oposto),
relação a pele, em direção do mamilo ipsilateral membros superiores estendidos ao longo do
5. Após a localização da VJI pelo refluxo venoso, corpo e coxim interescapular
manter a posição firmemente com mão não 2. Identificam-se com parâmetros anatômicos à
dominante e remover a seringa da agulha clavícula, sulco subclávio, fúrcula esternal e sulco
6. Inserir fio guia com a extremidade em "J" deltopeitoral, formado entre os músculos
suavemente para dentro do vaso, o qual deve deltoide e peitoral maior
progredir sem resistência (atentando para 3. Realiza-se a punção na junção do terço proximal
possíveis arritmias) com o médio da clavícula, na altura do sulco
7. Retirar a agulha, mantendo o fio guia deltopeitoral direcionando a agulha logo abaixo
firmemente para não se movimentar (em da clavícula para a fúrcula esternal com
momento nenhum permita que o fio guia angulação de 30° com o tórax, reduzindo para
penetre completamente no sítio, evitando-se 15° após a passagem para a região posterior da
assim sua embolização) clavícula. O bisel da agulha deve estar voltado
8. Realizar pequena incisão (aproximadamente 3 para o sentido caudal
mm) com uma lâmina de bisturi para facilitar a 4. O sangue deve fluir facilmente, de maneira livre,
passagem do dilatador venoso pelo ponto de e apresentar característica de sangue venoso
punção (não pulsar e ter coloração mais escura)
9. Inserir dilatador na pele guiado pelo fio, 5. Os demais passos seguem a técnica de Seldinger
empunhando pela extremidade distal. já descrita (passagem de fio guia, dilatação e
Movimentar o dilatador, com movimento de posterior passagem do cateter de forma guiada)
rotação no próprio eixo (opcional). Não realizar Veia Femoral
força exagerada e não inserir o dilatador 1. Posicionamento do paciente: decúbito dorsal
excessivamente, além da profundidade de horizontal com leve flexão e rotação lateral da
punção coxa a ser puncionada
10. Retirar o dilatador, mantendo o fio guia em 2. Proteja a região genital para evitar
posição com cuidado para não embolizar contaminação adicional durante o
11. Vestir o fio guia com o cateter e, antes de inseri- procedimento
lo na pele, retirar um pequeno pedaço de fio guia 3. Puncionar 1 a 2 cm distal ao ligamento inguinal e
por um dos lúmens do cateter. Esta parte do fio medialmente à artéria femoral, com um ângulo
deve ser segurada com uma das mãos, enquanto de 30° a 45° com relação à pele em direção
se faz a inserção do cateter, garantindo a cranial (abdome)
manutenção da posição do fio 4. O sangue deve fluir facilmente de maneira livre
12. Após a inserção completa do cateter, retirar o e apresentar característica de sangue venoso
fio-guia (não pulsar e ter coloração mais escura)
13. Teste todas as vias do cateter por aspiração de 5. Os demais passos seguem a técnica de Seldinger
sangue, infusão e teste do refluxo do sangue já descrita (passagem de fio-guia, dilatação e
(posicionar o frasco de soro abaixo do paciente) posterior passagem do cateter de forma guiada)
14. Fixar o cateter com sutura (simples ou
"bailarina")
15. Curativo oclusivo
195
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Cuidados pós-procedimento
• Radiografia de tórax é mandatória após a punção
de acessos altos, preferencialmente antes da
infusão de substâncias adicionais. Deve-se
checar: trajeto do cateter, localização de sua
ponta, presença de complicações pleurais
• Manter o cateter pelo menor tempo necessário,
e apenas trocar o cateter em caso de
necessidade
• Caso haja suspeita de infecção relacionada ao
cateter, recomenda-se nova punção
• Caso o cateter esteja posicionado dentro do
coração (ex.: intraventricular), recomenda-se o
recuo; por outro lado, nunca se deve “introduzir
a mais” após o procedimento

Complicações
• Punções arteriais
• Sangramento contínuo pelo sítio de punção
(discrasias)
• Hematomas
• Equimoses
• Infecção relacionada ao cateter
• Tromboflebite séptica
• Trombose e tromboembolismo venoso
• Pseudoaneurisma
• Fístulas arteriovenosas
• Veia jugular interna: punção acidental da
carótida (mais comum); punção acidental da
traqueia e lesão do nervo laríngeo recorrente;
embolia aérea; pneumotórax; hemotórax;
quilotórax (à esquerda); lesão cardíaca pelo
cateter; arritmias cardíacas atriais; mau
posicionamento do cateter em direção à veia
subclávia ipsilateral
• Veia subclávia: punção acidental da artéria
subclávia; mau posicionamento do cateter
desvio para a jugular interna; embolia aérea;
pneumotórax; hemotórax; quilotórax (à
esquerda); lesão cardíaca pelo cateter; arritmias
cardíacas atriais
• Veia femoral: punção acidental da artéria
femoral; trombose; sepse relacionada ao cateter

196
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Paracentese • Sigmoide: é mais flexível em relação ao ceco,


tornando a punção à direita mais arriscada em
Procedimento invasivo para coleta de líquido da
caso de distensão abdominal
cavidade abdominal, a partir de punção ou drenagem do
mesmo. Técnica
1. Discutir com o paciente o procedimento que
Indicações
será realizado
• Avaliação diagnóstica de ascite: hipertensão
2. Posicionamento: decúbito dorsal horizontal. Em
portal, infeccioso, neoplásico
caso de ascites de volume menor ou necessidade
• Diferenciação de peritonite infecciosa em
de maior escoamento, é possível a elevação do
paciente cirrótico (espontânea ou secundária)
tórax
• Alívio sintomático em paciente com ascites
3. Realizar exame físico adequado, confirmando a
volumosas refratárias ao tratamento clínico com
ascite e auxiliando na avaliação do ponto de
diuréticos, com sintomas de restrição
punção: sinal de Piparote, macicez móvel de
ventilatória ou desconforto abdominal
decúbito
Contraindicações 4. Preparo do local a ser puncionado com soluções
• Discrasia sanguínea não corrigida antissépticas, colocação de campos estéreis
• Coagulação intravascular disseminada (CIVD) 5. Localização do ponto de punção: quadrante
inferior esquerdo do abdome; ponto central em
• Distensão excessiva das alças intestinais
uma linha imaginária que passa na espinha ilíaca
• Infecção local no sítio de punção
anterossuperior à cicatriz umbilical, distante dos
• Paciente pouco colaborativo
vasos epigástricos inferiores; abaixo da cicatriz
• Inexperiência do médico
umbilical, lateralmente aos músculos reto
Materiais abdominais. Punções à direita são evitadas pelo
• Soluções antissépticas fato de o ceco ser fixo, podendo ser puncionado
• Equipamentos de proteção individual (luva com maior facilidade em caso de distensão
estéril, avental estéril, gorro, máscara e óculos) intestinal; além da parede abdominal ser mais
• Campo fenestrado estéril espessa. A região da linha alba infraumbilical
também é uma opção, todavia com maior risco
• Pacote de gaze
de punção vesical (esvaziar bexiga antes –
• Seringas (10 mL e 20 mL)
sonda)
• Agulhas
6. Anestesia local: sobre o ponto de punção,
• Anestésico local (lidocaína 1% ou 2%)
inicialmente superficial e posteriormente
• Jelco para punção (14 G)
aprofundando-se com auxílio da técnica em Z,
• Equipo de soro
idealmente puncionando a cavidade abdominal
• Torneira de três vias e aspirando líquido peritoneal; em caso de
• Frasco coletor para secreção (plástico ou vidro) aspiração de sangue, não injetar anestésico e
• Curativo comprimir localmente por tempo suficiente,
• Tubos para envio adequado do material para evitando hematomas locais
análise laboratorial 7. Proceda a punção com o Jelco 14 sobre a área
anestesiada, com auxílio da técnica em Z,
Conceitos anatômicos
mantendo a aspiração
• Artérias epigástricas inferiores: ramos das
8. Quando o líquido peritoneal for aspirado,
artérias ilíacas externas, ascendem
interrompa a inserção da agulha e avance a
posteriormente aos músculos retoabdominais,
parte plástica do cateter
realizando anastomoses com as artérias
9. Retire a seguir a agulha com cuidado para ocluir
epigástricas superiores na parede anterior do
o cateter, evitando a entrada de ar
abdome
10. Conecte o cateter à torneira de três vias e
posteriormente ao equipo de soro

197
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

11. Aspire líquido para análise diagnóstica (30 a 60 • Disfunção hemodinâmica (remoção de grandes
mL), fechando a torneira para o exterior volumes): hipotensão arterial, síndrome
12. Proceda a retirada do líquido peritoneal por hepatorrenal
gravidade com a extremidade do equipo
posicionada abaixo do paciente em um frasco
coletor
13. Após a drenagem desejada, retirar o cateter
14. Realizar curativo local

Pearls and Pitfalls


• Pacientes com maior risco de complicações
incluem: gestantes, obstrução intestinal,
organomegalia, retenção vesical, bridas
abdominais
• Na necessidade de realizar paracentese em
pacientes com obstrução intestinal e retenção
urinária, idealmente realizar cateterização
nasogástrica ou uretral, respectivamente, antes
do procedimento
• Em casos de maior risco, o uso de USG como
auxílio para melhor definição do sítio de punção
agrega segurança ao procedimento
• Não se deve fazer a punção sobre sítios de
infecção local, cicatrizes cirúrgicas ou
hematomas na parede abdominal
• Quando o cateter trepidar e o fluxo estiver
intermitente, significa que o volume da ascite
reduziu. Caso deseje tentar manter a drenagem,
é possível tracionar levemente o cateter até o
fluxo ficar contínuo ou ainda pedir para que o
paciente vire lateralmente para o lado do
cateter, criando um bolsão de líquido
• É possível remover volumes de até 5 L sem
consequências hemodinâmicas imediatas. Para
retirada de volumes maiores, é preciso realizar a
devida reposição de albumina pós-
procedimento, quando indicada: albumina 20%,
6 a 8 g/L retirado (considerando-se o volume
total removido) Ex.: para retirada de 6 L, é
preciso repor 36 g de albumina

Complicações
• Hemoperitôneo
• Lesão de artéria epigástrica inferior
• Punção de alça intestinal
• Infecção intra-abdominal
• Pneumoperitôneo
• Punção vesical

198
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Toracocentese • Equipo de soro


Procedimento invasivo que envolve a introdução de uma • Frasco coletor (vidro ou plástico)
agulha/cateter na cavidade pleural com o objetivo de • Torneira de 3 vias
remover líquido ou ar, com fins diagnósticos ou • Tubos de coleta para exames (roxo, amarelo,
terapêuticos. seringa heparinizada, cultura)
• Material para curativo
Indicações
Conceitos Anatômicos
Derrame pleural
• O feixe vasculonervoso (incluindo a artéria e veia
• Diagnóstico (exsudato x transudato)
intercostal e nervo intercostal) possui seu trajeto
• Diagnóstico para decisão de complementação
abaixo da borda inferior dos arcos costais, desde
com drenagem
a coluna vertebral à porção anterior do tórax
• Terapêutico em caso de sintomático (dispneia
• "Triângulo de segurança": área para possível
principalmente)
punção lateral mais segura
• Derrame pleural associado a sepse (suspeita de
o Anterior: borda do músculo peitoral
empiema)
maior
Pneumotórax o Posterior: borda do músculo peitoral
• Pneumotórax espontâneo primário de qualquer maior
tamanho se sintomático o Inferior: 5º ou 6º espaço intercostal
• Pneumotórax espontâneo primário >2 cm (na o Vértice: base axilar
altura do hilo pulmonar, medindo-se a distância
Técnica
entre o pulmão e parede torácica)
• Pneumotórax espontâneo secundário de 1-2 cm
Preparatório
sem sintomas • Discutir com o paciente o procedimento e seus
• Pneumotórax hipertensivo em situação de riscos, consentimento
emergência • Confirmar o nome do paciente
• Confirmar a lateralidade do procedimento por
Contraindicações exame físico e exame de imagem (radiografia,
• Lesões no sítio de procedimento (incluindo USG)
celulite, herpes zoster, invasão cutânea tumoral) • Para punção posterior de líquido: sentado na
• Distúrbios de coagulação não corrigidos beira da cama, levemente inclinado para frente
o INR <1.5; PTTa <2x referência ou com os braços apoiados em anteparo (mesa)
plaquetas >50.000 não alteram o risco • Para punção lateral no triângulo de segurança de
de sangramento líquido: decúbito horizontal com o tronco
• Uso de trombolíticos levemente elevado e o braço ipsilateral ao
• Anticoagulação plena (respeitar o tempo de derrame elevado acima da cabeça
suspensão) • Para punção de pneumotórax: decúbito
• Derrames pequenos horizontal com braços ao longo do corpo
• Paciente não cooperativo
Toracocentese
Materiais 1. Higienização das mãos e uso de EPI
• Equipamento de proteção individual 2. Cuidados locais de assepsia e antissepsia
• Campo estéril 3. Colocação de campo estéril
• Gaze estéril 4. Identificação do ponto de punção: 2 cm abaixo
da ponta da escápula (evitando abaixo da 9ª
• Soluções antissépticas
costela) ou com auxílio de USG. Para punções
• Seringas (10 e 20 mL)
anteriores, 5º EIC, na linha axilar anterior
• Agulhas
5. Anestesia local de lidocaína 1% a 2%, atingindo
• Anestésico local (lidocaína 1 ou 2%)
todos os planos (pele, subcutâneo, periósteo e
• Cateter com agulha (Jelco 14 ou 16)
199
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

pleura parietal), certificando-se de se fazer o • Frasco para bacterioscopia e cultura


trajeto na borda superior da costela. Manter a
aspiração negativa até se obter amostragem do Controle de imagem
líquido pleural (derrame pleural) ou ar • Radiografia de tórax ou ultrassonografia para
(pneumotórax) avaliar complicações e efetividade do
6. Puncionar com o jelco, de forma perpendicular à procedimento
parede torácica, a cavidade pleural a partir da • Pequenos pneumotórax assintomáticos podem
borda superior da costela ser manejados de forma conservadora com
7. Assim que aspirado o conteúdo pleural controle radiológico
desejado, tracionar a agulha e avançar o cateter • Avaliação clínica: atentar para sintomas de
plástico desconforto ventilatório, dor torácica, podendo
8. Retirar a agulha ocluindo o cateter, de forma a indicar edema de reexpansão pulmonar
evitar a entrada de ar na pleura
Pearls and Pitfalls
9. Conectar torneira de 3 vias ao cateter ou este
• A punção guiada por USG torácico está associada
diretamente ao equipo de soro
a uma menor taxa de complicação, falhas no
Retirada do conteúdo pleural procedimento e lesões viscerais, portanto deve
• Derrame pleural: aspirar com seringa de 20 mL ser o método de escolha
líquido pleural para análise (em média 50 a 60 • Para punções diagnósticas apenas, se a agulha
mL) atingir a pleura, não há necessidade de se utilizar
• Pneumotórax: aspirar o ar, fechando o sistema caterer agulhado de maior diâmetro
para o ambiente e abrindo para o paciente; • A solicitação de testes de coagulação pré-
depois, fechando para o paciente e abrindo para procedimento eletivo não é recomendação de
o ambiente (com auxílio da torneira de 3 vias) rotina pela BTS (2010), sendo indicada apenas
• Drenar o restante do líquido para coletor situado em casos de uso de anticoagulantes ou
em nível abaixo do paciente coagulopatia suspeita
• Para toracocentese terapêutica, retirar o • Coagulograma não está indicado nos
máximo de líquido possível, evitando-se no geral procedimentos ditos de urgência em pacientes
volumes superiores a 1,5 L em um único com importante comprometimento ventilatório
procedimento (risco de edema de reexpansão • A maioria dos procedimentos pleurais não
pulmonar) necessita ser realizada de forma emergencial,
• Atentar para sinal de desconforto respiratório, portanto não deve ocorrer no período noturno,
dor torácica, dispneia, tosse ou hipotensão exceto em caso de relevante comprometimento
• Em caso de um desses, reduzir o fluxo de cardiopulmonar (BTS, 2010)
drenagem ou mesmo cessar o procedimento a • Paciente em ventilação mecânica não é
depender da tolerância do paciente contraindicação ao procedimento, todavia exige
10. Retirar o cateter em pausa respiratória maior atenção e cuidado, pelo maior potencial
11. Realizar curativo oclusivo no local de punção pulmonar
12. Solicitar radiografia de tórax para controle. • Causas de falha do procedimento: derrames
Cuidados pós-procedimento pequenos, derrame loculado, seio costofrênico
muito agudo, viscosidade aumentada do líquido
Envio do líquido pleural para análise laboratorial pleural
• Tubos de bioquímica: proteína, LDH, glicose, • Atentar que nem todo velamento na radiografia
ADA de tórax corresponde a um derrame pleural
• Celularidade e contagem diferencial • Para a análise dos critérios de Light para derrame
• Pesquisa de citologia oncótica (volumes de 20 a pleural, não esquecer de obter amostra
60 mL) sanguínea (LDH, proteínas)
• Gasometria: com seringa heparinizada (envio
imediato para análise)

200
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Complicações
• Pneumotórax (aproximadamente: 3-20%)
• Tosse (minimizado se retirado volumes <1.500
mL)
• Dor (realizar a devida anestesia local e,
eventualmente, sistêmica)
• Hemotórax
• Infecção local
• Edema de reexpansão (0,2 a 14%)
• Reação vasovagal
• Punção de órgãos sólidos (fígado/baço)
• Punção cardíaca
• Vazamento continuado de líquido pelo sítio de
punção

201
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Drenagem de tórax 3. Posicionar o paciente em posição supina ou com


cabeceira elevada
A drenagem torácica é o procedimento médico que visa
4. Elevar o membro ipsilateral da punção ao
manter ou restabelecer a pressão negativa normal do
máximo possível ou colocar a mão por trás da
espaço pleural.
cabeça
Por meio desta técnica, é possível remover líquido, ar e 5. A região a ser passado o dreno é o triângulo de
sólidos (fibrina) no espaço abaixo da pleura ou segurança, delimitado pela borda lateral do
mediastino, que podem ser consequentes de traumas, músculo peitoral maior, linha axilar média e a
procedimentos cirúrgicos, infecções, dentre outros. linha imaginária ao nível dos mamilos
6. Localizar a clavícula, contar as costelas,
O procedimento é feito por meio da inserção de um
descendo através da parede torácica até
dreno na cavidade pleural, após anestesia local, vedado
encontrar o 4º ou 5º espaço intercostal e
na extremidade oposta, abaixo do nível do tórax.
posicionar a mão na linha axilar anterior
Indicações 7. Realizar antissesia e colocar os campos
• Pneumotórax recorrente, persistente, 8. Realizar anestesia local, sempre aspirando antes
hipertensivo ou bilateral de injetar. Lembrar de anestesiar estruturas
• Pneumotórax em paciente ventilado por pressão mais profundas, incluindo periósteo
positiva 9. Quando a seringa aspirar líquido ou ar da
cavidade pleural, removê-la
• Hemotórax
10. Realizar incisão de 1,5 a 2 cm acima da costela
• Derrame pleural grande sintomático ou
11. Dissecar os tecidos subcutâneos com a pinça até
recidivante
atingir os músculos intercostais e dissecá-los
• Empiema
também
• Quilotórax
12. Explorar o local com o dedo até encontrar a
Contraindicações pleura parietal e perfurá-la com a pinça
13. Passar o dreno direcionado para o ápice e
Relativas
posteriormente
• Diátese hemorrágica
14. Fixar o dreno com fio de sutura, fechando a
• Coagulopatias
incisão e realizando “bailarina”
Materiais 15. Fazer curativo local
• Avental, máscara e luvas estéreis 16. Realizar raio-x de tórax para confirmar
posicionamento
• Campos estéreis
17. Conectar o dreno ao sistema de drenagem e
• Anestésico
desclampar. Manter o sistema de drenagem 1
• Clorexidina e gaze estéril
metro abaixo do tubo
• Agulhas 25 G e 21 G
• Seringas de 10 e 20 ml Complicações
• Bisturi com lâmina 11 • Sangramento
• Pinça Kelly ou Crile • Hematoma local
• Fio de sutura não absorvível • Pneumotórax
• Dreno de tórax tamanho 16 a 22 • Laceração de órgãos (pulmão, órgãos intra-
• Sistema de drenagem abdominais)
• Curativo • Infecção e empiema pleural
• Lesão arterial, venosa ou nervosa
Técnica
• Enfisema subcutâneo
1. Preparar a bandeja com o material necessário
• Neuralgia (dar morfina)
2. Clampear a extremidade proximal e distal do
• Obstrução, pneumotórax persistente, enfisema
dreno (para facilitar a passagem)
ou problemas com o selo d’água

202
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Edema de reexpansão por retirada de mais de 1-


1,5 litros em menos de 30 minutos

Critérios para retirada do dreno


• Drenagem <100 ml em 24 horas
• Melhora clínica
• Resolução do derrame
• Reexpansão pulmonar
• Melhora radiológica
• Melhora do aspecto do líquido

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hemorragia digestiva alta os níveis do leito vascular intra-hepático. As


causas de hipertensão portal são:
Hemorragia digestiva alta é definida como sangramento
o Pós hepático: síndrome de Budd-Chiari,
intraluminal de qualquer localização situada entre o
obstrução de veia cava inferior e
esôfago superior e o ligamento de Treitz.
pericardite constritiva
O sangramento gastrintestinal alto não varicoso resulta o Pré-hepático: trombose de veia
da lesão da mucosa esofágica ou gastroduodenal com espênica e trombose de veia porta
ulceração ou erosão de um vaso subjacente; ao passo o Intra-hepático: pode ser pré-sinusoidal,
que o sangramento gastrintestinal varicoso tem origem sinusoidal ou pós sinusoidal
na ruptura das varizes gastroesofágicas. ▪ Pré-sinusoidal:
esquistossomose, sarcoidose,
Etiologia hipertensão portal idiopática,
A doença ulcerosa péptica é a maior causa de HDA. Os cirrose biliar primária
grandes fatores de risco para desenvolvimento de HDA ▪ Sinusoidal: cirrose alcoólica,
nesses pacientes são: cirrose criptogênica, cirrose pós-
• Uso de anti-inflamatórios não hormonais (AINH) necrótica, hepatite autoimune,
• Infecção pelo H. pylori hepatite alcoólica
▪ Pós-sinusoidal: síndrome da
• Úlceras de estresse: erosões de mucosa que
obstrução sinusoidal
ocorrem normalmente no fundo e no corpo do
estômago, podendo eventualmente aparecer no Anamnese
antro • Hematêmese ou melena
• Acidez gástrica • É importante investigar ocorrência de episódios
Fisiopatologia prévios de sangramento, uso de álcool, história
prévia de quadro dispéptico, passado de doença
• Síndrome ou laceração de Mallory-Weiss: é a
ulcerosa péptica, bem como quadro
laceração da mucosa no esôfago distal na junção
consumptivo (emagrecimento e queda do
gastroesofágica, presumivelmente após
estado geral), ingestão de medicamentos
repetidos esforços para vomitar. Ocorre
(AINH), uso de anticoagulantes e comorbidades
principalmente em alcoolistas e grávidas
(insuficiência renal e hepática)
• Angiodisplasia do trato gastrintestinal alto: é
também conhecida por malformação Exame físico
arteriovenosa, teleangiectasia e ectasia vascular • Inclui toque retal e avaliação das características
• Neoplasias do trato gastrintestinal do aspirado da sonda nasogástrica
• Lesão de Dieulafoy: é um vaso submucoso • Presença de massa intraabdominal ou linfonodo
aberrante dilatado que erode o epitélio de supraclavicular sugere neoplasia
revestimento sobrejacente e não é associado • Presença de manchas pigmentadas na mucosa
com uma úlcera primária, causando bucal sugere síndrome de Peutz-Jeghers com
sangramento que pode ser maciço sangramento de pólipos intestinais benignos
• Fístula aortoentérica: deve ser considerada em
pacientes com sangramento profuso e cirurgia Causas de hemorragia aguda gastrointestinal
de aneurisma de aorta; além de úlcera • Causas mais comuns: úlcera gástrica (come – dói
penetrante, invasão tumoral, trauma, – passa), úlcera duodenal (dói – come – passa),
radioterapia e perfuração por corpo estranho varizes esofágicas, laceração de Mallory-Weiss
• Esofagite erosiva: segunda maior causa de HDA, • Causas menos comuns: erosão gástrica,
juntamente com as varizes esofágicas gastropatia, esofagite, gastropatia por
• Varizes esofágicas: o fator inicial para seu hipertensão portal, câncer, varizes gástricas,
desenvolvimento é a resistência ao fluxo portal, lesão de Dieulafoy, telangiectasias, ectasia
que ocorre de forma secundária à resistência vascular gástrica
aumentada ao fluxo portal, ocorrendo em todos
204
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Causas raras: duodenite erosiva, úlcera • Necessidade de transfusão


esofágica, fístula aortoentérica, hemobilia, • Hematêmese, melena
doença de Crohn • Presença de sangue vermelho vivo no toque
retal
Exames complementares • Achado de sangue no aspirado nasogástrico.
Endoscopia digestiva alta
• Método de eleição para diagnóstico de HDA Escore de Blatchford
• A endoscopia deve ser realizada precocemente Inclui hemoglobina, ureia, frequência cardíaca, presença
(dentro das primeiras 24 horas), logo após o de síncope ou melena na apresentação e evidência de
paciente ter recebido ressuscitação volêmica e doença hepática ou cardíaca.
estar hemodinamicamente estável
• Escore igual ou maior que 1 indica alto risco de
• Se o sangramento apresenta melhora ressangramento.
espontânea ou dificultou a visualização na
• Os pacientes com escore zero têm baixo risco e
endoscopia, é recomendável fazer endoscopia
podem ser submetidos a endoscopia digestiva
também após 24 horas de sangramento (second
ambulatorialmente.
look)
o O escore será zero quando: Hb > 13 g/dL
Estudo radioisotópico (cintilografia) em homem e > 12 g/dL em mulheres,
• O mapeamento com hemácias marcadas com PAS > 110 mmHg, FC < 100 bpm, ureia <
Tecnécio (Tc99m) permite identificar o possível 30 mg/dL, sem melena ou síncope na
sítio de sangramento apresentação, sem história ou evidência
• Pode ser empregado com taxas de sangramento de doença hepática ou cardíaca.
baixas de até 0,1 mL/min
Tratamento da HDA não varicosa
• A utilidade clínica desse teste é para screening
Ressuscitação e transfusão
antes da arteriografia, um teste mais invasivo
• 30 ml/kg/dia EV de soro fisiológico
Arteriografia • É importante ater-se a dados da história e do
• Permite rápida localização e potencial exame físico que sugiram hipovolemia, como
terapêutico do sangramento gastrintestinal ansiedade, torpor, síncope, dispneia, sensação
quando taxas de sangramento excedem 0,5 de extremidades frias e úmidas; além da busca
mL/min objetiva de sinais de choque (pressão arterial
• É indicada nas situações em que o exame sistólica < 100 mmHg e frequência cardíaca >
endoscópico não foi diagnóstico, ou quando o 100/min)
sangramento é tão ativo que impossibilita • Se perda volêmica estimada > 30% ou com
exame adequado hematêmese presenciada em grande
quantidade, transfundir concentrado de
Sonda nasogástrica hemácia (1 bolsa aumenta 1 ponto de Hb)
• Pode ter valor como diagnóstico na confirmação • Pacientes com sangramento ativo e
inicial de HDA se o aspirado nasogástrico coagulopatia (tempo de protrombina
oriundo de lavagem gástrica com soro fisiológico prolongado com INR > 1,5) devem receber
a 0,9% for positivo para sangue ou borra de café plasma fresco congelado – 20 ml/kg EV
• • Pacientes com plaquetas inferiores a
Risco de ressangramento e morte 50.000/mm3 devem receber plaquetas – 1
unidade para cada 10 kg de peso
• Idade superior a 65 anos
• , respectivamente, mas não se deve atrasar a
• Choque
endoscopia até correção de coagulopatia
• Estado geral ruim
• Comorbidades Bloqueadores H2 e inibidores de bomba
• Valor de hemoglobina inicial baixo (hemoglobina • Omeprazol 80 mg EV em bolus. Depois, 40 mg EV
≤ 10 g/dL ou Ht ≤ 30%) de 12/12 horas
205
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• O tratamento com IBP é indicado para do volume sanguíneo total, e se acompanha de


classificação 1a, 1b, 2a e 2b instabilidade hemodinâmica
• Na presença de hipovolemia, o paciente pode
Análogos da somatostatina apresentar-se ansioso, torporoso, dispneico,
• Octreotide: apresenta benefício teórico por com história de síncope ou referindo sensação
reduzir fluxo sanguíneo esplâncnico, diminuir de frio e extremidades úmidas. A extensão da
secreção ácida, e apresentam ainda efeitos perda sanguínea pode ser estimada a partir da
citoprotetores gástricos pesquisa de sinais objetivos de hipovolemia:
Endoscopia o Queda de 30 mmHg abaixo do basal
• Endoscopia precoce, devendo ser realizada nas o Frequência cardíaca acima de 100 bpm
primeiras 24 horas. (pode estar ausente nos pacientes β-
bloqueados)
• A classificação endoscópica de Forrester
o Alterações ortostáticas, observadas
classifica as úlceras sangrantes da seguinte
quando o paciente é mobilizado da
forma:
posição supina para a sentada. Queda de
1) Úlcera sangrante ativa:
10 mmHg ou mais na pressão sistólica, e
1a) Sangramento importante (“esguichando”) elevação de 15 bpm ou mais na
frequência cardíaca indicam
1b) Sangramento menor (“babando”)
hipovolemia significativa
2) Úlcera sem sangramento ativo:

2a) Vaso visível não sangrante

2b) Úlcera com coágulo aderido (sempre irrigar


para retirar coágulo)

2c) Úlcera com manchas de hematina

3) Úlcera com base limpa

Tratamento cirúrgico
• Para pacientes em que não se obtém sucesso no
tratamento endoscópico, recomenda-se o
tratamento cirúrgico
• Pacientes com necessidade de transfusão de
mais de seis unidades de concentrado de
hemácias também se beneficiam dessa
intervenção

Tratamento da HDA varicosa


Ressuscitação e transfusão
• As medidas de ressuscitação e hidratação são
semelhantes às detalhadas para pacientes com
hemorragia não varicosa
• Hemorragia varicosa é tipicamente evento
clínico agudo caracterizado por hemorragia
gastrintestinal maciça, que se apresenta como
hematêmese, acompanhada ou não de melena e
hematoquezia. Hemorragia maciça geralmente
implica perda de aproximadamente 25% ou mais

206
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hemorragia digestiva baixa Achados clínicos


É definida como sangramento intraluminal distal ao • A prioridade inicial deve ser a estabilidade
ligamento de Treitz. Esse sangramento pode se hemodinâmica do paciente - aferir sinais vitais e
manifestar de várias formas: corrigir imediatamente alterações que possam
acarretar risco de morte do paciente
• Sangramento oculto: não há mudança na cor das • Além da alteração dos sinais vitais, outros
fezes; detectado pela pesquisa de sangue oculto critérios utilizados para definir sangramento
nas fezes maciço são queda do hematócrito acima de oito
• Melena (apenas 11% dos casos de melena ocorre pontos em relação ao nível de base após o
em HDB): fezes de coloração preta, pastosas e volume de ressuscitação, e necessidade de
com odor fétido; característica da HDA, pode transfusão de mais de duas bolsas de sangue
ocorrer por sangramento do cólon direito, se a • Antecedentes de uso de aspirina, anti-
motilidade é lenta inflamatórios ou warfarina devem levantar a
• Fezes de cor marrom: resultantes da mistura de suspeita de HDA por doença ulcerosa péptica ou
fezes de coloração normal com fezes pretas lesão aguda da mucosa gastroduodenal
• Enterorragia: é definida como a passagem de • Paciente com uso crônico de álcool, história de
sangue vermelho vivo pelo reto, com ou sem hepatite, epidemiologia para esquistossomose,
fezes estigmas de insuficiência hepática e hipertensão
• Hematoquezia: passagem de sangue junto com portal devem levantar suspeita de HDA, mais
as fezes, provavelmente a mais comum frequentemente oriunda de varizes
apresentação da hemorragia dos cólons esofagogástricas, ou mais raramente de HDB por
varizes retais ou colopatia esquistossomótica
Etiologia e fisiopatologia
• Constipação crônica associa-se frequentemente
As causas de HDB são muito mais difíceis de ser
a hemorroidas e doença diverticular do cólon
determinadas que as de HDA
• Mudança do hábito intestinal pode ser
decorrente de neoplasia de cólon.

Exame físico
• Inspeção anal e toque retal: sangue vivo ao
toque indica maior probabilidade de HDB
oriunda do retossigmoide ou cólon esquerdo, e
sangue coagulado orienta origem alta ou de
intestino delgado
• É importante lembrar que as hemorroidas
geralmente não são palpáveis e são frequentes
causas de sangramento.

Exames complementares
Laboratoriais
• Nas HDB maciças ou na presença de qualquer
sinal de alteração hemodinâmica, os pacientes
devem ser monitorizados; coleta imediata de
exames complementares (hemograma,
plaquetas, coagulação, função renal, hepática,
eletrólitos, teste rápido para HIV etc.) e tipagem
sanguínea

207
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Endoscopia digestiva alta • As medidas em pacientes com instabilidade


• Endoscopia digestiva alta deve ser realizada de devem ser rápidas e vigorosas, com inserção de
urgência se houver sangue no aspirado gástrico, cateteres de grosso calibre em veias periféricas,
ou se a história ou achados clínicos são usualmente as antecubitais, e infusão rápida de
sugestivos de HDA, sobretudo se não houver bile solução cristaloide.
no aspirado
Cirurgia
Colonoscopia • A cirurgia de emergência pode ser necessária em
• O paciente deve estar hemodinamicamente 10% a 25% dos pacientes. As indicações são
estável antes do seu início baseadas em três características básicas:
• O diagnóstico de sangramento do intestino o Instabilidade hemodinâmica.
delgado pode ser feito quando o sangue fresco é o Sangramento persistente ou recorrente.
encontrado no íleo terminal ou passando pela o Quantidade de transfusões de
válvula ileocecal, após ter sido afastada fonte de hemoconcentrados necessários.
HDA
• Outra vantagem da colonoscopia é a
possibilidade de tratar a causa do sangramento

Cintilografia e arteriografia
• As principais vantagens da cintilografia são a sua
alta sensibilidade para detectar sangramentos
ativos ou intermitentes e evitar o procedimento
invasivo da angiografia em pacientes cujo
sangramento já cessou espontaneamente
• A angiografia realizada após uma cintilografia
positiva determina com maior precisão o sítio de
sangramento e possibilita a realização de
embolização ou orienta uma melhor abordagem
cirúrgica

Tratamento
• As medidas de ressuscitação devem ser iniciadas
em qualquer paciente com sangramento ativo,
sobretudo se o paciente apresenta sinais ou
sintomas de instabilidade hemodinâmica.

208
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Insuficiência cardíaca aguda Fatores relacionados ao tratamento do paciente


• Não aderência ao tratamento farmacológico
Insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica
definida como alteração funcional ou estrutural cardíaca • Falta de acesso às medicações
que ocasiona suprimento sanguíneo inadequado para • Abuso de sal e água
atender às necessidades metabólicas do organismo ou o • Consumo de álcool, abuso de drogas e
faz às custas de altas pressões de enchimento cardíaco. tabagismo

A IC aguda é definida como aparecimento de IC com Fatores cardiovasculares


sintomas agudos em pacientes sem diagnóstico prévio, • Evolução da doença de base
ou a descompensação aguda dos sintomas em pacientes • Isquemia miocárdica
com IC conhecida. Assim, a IC agudamente • Miocardite e pericardite
descompensada (ICAD) pode se apresentar de três • Emergência hipertensiva
formas: • FA, TEP

• IC aguda sem diagnóstico prévio Fatores sistêmicos não cardiovasculares


• IC crônica agudizada • Uso de medicações não apropriadas (AINE,
• IC refratária ao tratamento clínico corticoide)
• Sepse
Etiologia • Exacerbação de DPOC
• As etiologias da IC são diversas e incluem • Anemia
doenças que afetam o miocárdio, pericárdio, • Diabetes descompensado
endocárdio, válvulas cardíacas e metabolismo • Distúrbio hidroeletrolítico
• No Brasil, a principal etiologia da IC é a
cardiopatia isquêmica crônica associada à Anamnese
hipertensão arterial. Em determinadas regiões • Os pacientes com ICAD geralmente apresentam-
do país ainda é prevalente a IC associada à se com alguma combinação de sintomas como
doença de Chagas, à cardiopatia valvular dispneia, fadiga, sobrecarga de volume,
reumática crônica e raramente a hipotensão e disfunção de órgãos-alvo
endomiocardiofibrose • A ortopneia e a dispneia paroxística noturna são
os achados mais específicos para diagnóstico de
Fisiopatologia ICAD
• Na maioria das formas de IC, a redução do débito
cardíaco é responsável pela inapropriada Exame físico
perfusão tecidual (IC com débito cardíaco • Estertores crepitantes são frequentes, e se
reduzido). De início, esse comprometimento do ocupam todos os campos pulmonares sugerem
débito cardíaco se manifesta durante o congestão significativa
exercício, e com a progressão da doença ele • Os pacientes podem apresentar sibilância
diminui até ser observada sua redução no devido a edema peribronquiolar simulando
repouso asma e outras causas de broncoespasmo
• Existem condições nas quais o débito cardíaco • Ainda podem evoluir com presença de B3 ou B4
poderá ser normal ou até elevado, como em (ritmo de galope)
condições de pós-carga diminuída ou • Sopros cardíacos novos podem ocorrer
hipermetabolismo, porém inadequado à • Sinais de edema periférico como edema de
demanda metabólica tecidual, caracterizando a membros inferiores e estase venosa jugular
IC com débito cardíaco elevado (IC alto débito) também podem estar presentes

Fatores precipitantes
A maioria das descompensações de IC ocorre por falta de
aderência ao tratamento farmacológico ou às medidas
dietéticas
209
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Critérios diagnósticos Exames complementares


Alguns exames laboratoriais e de imagem são
necessários e incluem eletrocardiograma (ECG),
radiografia de tórax e exames laboratoriais como função
renal, eletrólitos, hemograma completo, urina l

• Raio-x de tórax: índice cardiotorácico acima de


0,6, área cardáica aumentada, sinais de
congestão pulmonar, derrame pleural
• ECG: isquemia miocárdica, sinais de sobrecargas
ventriculars
• Creatinina e ureia: o prognóstico é pior quando
a creatinina é >1,5 mg/dl
• Gasometria: pode demonstrar hipoxemia, fator
de pior prognóstico
• D-dímero: pode avaliar a presença de TEP como
fator descompensador
• Peptídio natriurético cerebral do tipo B:
aumento para valores superiores a 500 pg/ml é
diagnóstico de IC; valores abaixo de 100 pg/ml
descartam
• Troponinas: indicam lesão miocárdica, fator que
pode descompensar IC
• Sódio: hiponatremia é importante fator
• Diagnóstico definitivo de IC: 8 a 12 pontos prognóstico na IC
• Diagnóstico possível: 5 a 7 pontos • Potássio: hipercalemia ou hipocalemia
• Diagnóstico improvável: 4 ou menos pontos • ECO: mensura a função sistólica e pode
demonstrar acinesia de paredes específicas,
ajudando no diagnóstico da causa da
descompensação
• Hemograma: pode demonstrar anemia e
leucocitose, indicativo de infecção associada
• Urina I: pode demonstrar achados sugestivos de
ITU como causa da descompensação

Estratificação prognóstica
• A estratégia mais fácil para determinar o
prognóstico desses pacientes utiliza apenas duas
variáveis, que são creatinina >1,5 mg/dL e
valores de pressão arterial sistólica menores que
115 mmHg. Os pacientes com ambos os achados
apresentam mortalidade na internação maior
que 20%

• Diagnóstico: 2 critérios maiores ou um critério Classificação


maior e dois menores • Perfil A: sem congestão em repouso e sem sinais
de má-perfusão tecidual (quente e seco)
• Perfil B: congestão em repouso e sem sinais má-
perfusão tecidual (quente e úmido)

210
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Perfil C: congestão em repouso e sinais de má- aumento da diurese, oxigenação e ventilação,


perfusão tecidual (frio e úmido) vasodilatação e inotropismo, conforme
• Perfil L: sem congestão em repouso e má- necessidade
perfusão tecidual (frio e seco)
Perfil A
Tratamento • A maioria dos pacientes não necessitam de
• A abordagem inicial de pacientes com ICAD internação
depende do grau e do tipo de descompensação • Tratar os fatores desencadeantes conhecidos
da IC e da pressão arterial inicial do paciente • Correção de distúrbios hidroeletrolíticos
• Os objetivos iniciais são estabilização • Digoxina em pacientes com fibrilação atrial
hemodinâmica, melhora da oxigenação e da
Perfil B
ventilação e resolução ou alívio dos sintomas
• Diuréticos são indicados devido à congestção –
• Deve-se tentar encontrar fatores
furosemida 0,5-1,0 mg/kg
descompensadores da IC e o tratamento
• Vasodilatadores parenterais (nitroglicerina ou
específico deve ser realizado
nitroprussiato) diminuem a pré e pós-carga,
o Síndrome coronariana aguda:
podendo ser utilizados de acordo com a PA
cineangiocoronariografia
o Emergências hipertensivas: redução de Perfil C
pelo menos 25% dos níveis pressóricos • Sugere-se retirar IECA e betabloqueadores
nas primeiras horas – nitroprussiato • Diurético de alça
o Taquiarritmias: manejo conforme • Inotrópico: dobutamina
recomendação das diretrizes e
• Caso haja choque cardiogênico ou sinais de
cardioversão elétrica se houver
hipoperfusão tecidual, sugere-se uso de
instabilidade
inotrópicos
o Complicações mecânicas de SCA:
• Em caso de oligoanúria com volemia aumentada,
correção de acordo com a complicação.
pode ser necessária hemodiálise
Mandatóraia a realização de
ecocardiograma Perfil L
o TEP: trombólise • Reposição volêmica
• Os pacientes devem inicialmente ser • Se necessário, uso de inotrópicos
monitorizados, com verificação de pressão
arterial em pé e sentado, peso corporal,
saturação de oxigênio e eletrocardiograma.
Estratégias iniciais de tratamento incluem

211
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Tromboembolismo pulmonar • Quando há formação de trombo proximal


grande, há hipertensão pulmonar. O ventrículo
Embolia pulmonar refere-se à obstrução de uma artéria
direito não está habituado a atuar sob altas
pulmonar, por um material que se deslocou de uma
pressões, havendo dilatação (reduzindo a fração
parte do corpo até os pulmões, levado pela corrente
de ejeção do ventrículo esquerdo) e
sanguínea.
consequente falência de sua função (cor
• Trombótica (TEP): de origem sanguínea pulmonale). Essas alterações podem causar
• Não trombótica: gasosa (ar pela passagem de produção de BNP e troponina (devido à isquemia
cateter), amniótica, gordurosa (na fratura de de VD)
óssos longos, a medula amarela cai na corrente • Os dois principais mecanismos de morte por TEP
sanguínea e pode chegar na circulação são a oclusão abrupta da artéria pulmonar e o
pulmonar) efeito isquêmico no sistema de condução de His-
Purkinje
Epidemiologia
• É a complicação pulmonar mais frequente em Fatores de risco
pacientes internados Hereditários
• 500.000 novos casos de TEP por ano • Mutação do fator V de Leiden: a proteína C
• Há pouca distinção na incidência entre homens (responsável pela desativação do fator V na
e mulheres, sendo um pouco maior em cascata da coagulação) não atua, favorecendo a
mulheres, especialmente pelo uso de ACO ativação constante da cascata da coagulação e
combinados promovendo a formação de trombos
• 15% das mortes dos pacientes hospitalizados • Deficiência de antitrombina 3: também é uma
ocorrem por TEP proteína anticoagulante
• 40-45% dos pacientes não tratados com TEP • Deficiência da proteína C e S
evoluem com óbito • Mutação no gene da protrombina: a
protrombina passa a ser produzida em excesso,
Fisiopatologia
causando formação de trombos
• Tríade de Virshow (hipercoaguabilidade, estase
sanguínea e lesão endotelial): quando o paciente Adquiridos
tem pelo menos 2 dessas alterações, há maior • Idade avançada: isoladamente não é tão
risco de formação de trombo importante, mas em associação com outros
• O trombo que se forma (principalmente nas fatores de risco, aumenta o impacto deste. Já há
artérias ilíacas e femorais) se desprende e, via risco aumentado a partir dos 50 anos
circulação, chega à artéria pulmonar, • Tromboembolismo venoso (TVP ou TEP) prévio
promovendo aumento do espaço morto alveolar • Câncer: é um estado de hipercoaguabilidade
e alteração na ventilação/perfusão (bem • Obesidade: lesão endotelial mais incidente
ventilada e mal perfundida) – shunt direito- devido ao estado inflamatório causado pela
esquerdo obesidade, além da estase
• Os ácinos desprovidos de nutrição sanguínea • Cirurgias e imobilizações: principalmente
produzem substâncias que agem nos cirurgias ortopédicas (principalmente quadril e
pneumócitos tipo II das regiões próximas da joelho) e viagens muito prolongadas
oclusão, havendo redução de surfactante, • Gravidez/estrógenos
promovendo atelectasias • Tabagismo: lesão endotelial
• Todas essas alterações podem causar hipoxemia • Insuficiência venosa
e hipercapnia • Hiperviscosidade: baixo fluxo sanguíneo
• Quando o trombo é pequeno e impacta nos • Síndrome nefrótica: perda de proteínas
ramos das artérais pulmonares, ocorre infarto anticoagulantes – antitrombina 3, proteínas C e
pulmonar (hemorragia intralveolar e, às vezes, S
formação de necrose) • Fibrilação atrial
212
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• IAM há menos de 3 meses • Suspeita de tromboembolismo venoso – 3


• Fratura de membros inferiores pontos
• Politrauma • Sinais de trombose venosa profunda – 3 pontos
• IC descompensada: o risco é correlacionado com • FC >100 bpm – 1,5 ponto
o grau de disfunção sistólica • Imobilização ou cirurgia nas 4 semanas
• AVE anteriores – 1,5 ponto
• Insuficiência respiratória aguda: principalmente • TVP ou embolia pulmonar prévia – 1,5 ponto
se já IOT • Hemoptise – 1 ponto
• Pneumonia comunitária • Malignidade – 1 ponto
o 0-2 pontos: baixa probabilidade
Classificação o 3-6 pontos: média probabilidade
Quanto ao tempo o ≥7 pontos: alta probabilidade
• Agudo: resolução em até 3 meses
Escore de PERC
• Crônico: sem resolução em até 3 meses
Deve ser utilizado em casos de baixa probabilidade de
Quanto à hemodinâmica TEP. Se todos os critérios forem negativos, exclui-se TEP.
• Maciça ou de alto risco: relacionado a Caso haja critério positivo, é necessário prosseguir a
hipotensão, disfunção de VD (hipocinesia, investigação com D-dímero
falência)
• Idade ≥50 anos
• Submaciça: PA normal, no limite, mas o paciente
• Hemoptise
já apresenta sinais de disfunção ventricular
• FC ≥100 bpm
direita
• SatO2 em ar ambiente <95%
• Não maciça ou baixo risco: PA normal, ventrículo
• Edema unilateral de MMII
direito funcionando normalmente, mas o
trombo está presente na artéria pulmonar • Cirurgia ou trauma há menos de 4 semanas com
necessidade de anestesia geral
Manifestações clínicas • Antecedente de TEP ou TVP
As manifestações de TEP em pacientes sem doenças • Uso de estrogênio
cardiopulmonares prévias costumam surgir quando há
20% de obstrução da vasculatura pulmonar Exames complementares
• Oximetria de pulso: a oximetria de pulso média
• Dor torácica tríade clássica – ocorre na é menor em pacientes com TEP que em
• Dispneia minoria dos casos pacientes sem TEP (93 ± 2% vs. 95 ± 3%), embora
• Dor pleurítica possa ser normal
• Tosse seca (23%) • Gasometria arterial: a pressão parcial média de
• Hemoptise oxigênio no sangue arterial (PaO2) é menor (73 ±
• Taquipneia 19 mmHg vs. 80 ± 21 mmHg). A pressão arterial
• Estertores crepitantes parcial de dióxido de carbono (PaCO2) é
• Hiperfonese de B2 e sopro tricúspide (sugestivos geralmente baixa, refletindo um aumento de
de hipertensão pulmonar) 20% a 50% na ventilação minuto para compensar
• Taquicardia a perda de eficiência pulmonar secundária ao
• Pode haver convulsão (1-2%) aumento do espaço morto. Os pacientes
• Síncope (17%) apresentam gasometria normal em cerca de 30%
• Febre >38°C (10%) dos casos
• Edema assimétrico de membros inferiores (23%) • D-dímero: marcador da degradação da fibrina
com valor preditivo negativo alto (aumenta com
Escore de Wells neoplasia, infecção, pós-cirúrgico). É um exame
Indica a probabilidade de o TEP acontecer sensível, mas pouco específico
o Valor normal: até 500 μg/mL

213
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Em pacientes acima de 50 anos é: idade pulmonoares) e sinal de Westmark (região com


em anos x 10 μg/mL pouca vascularização, por obstrução completa
• Angio-TC: possibilidade de visualização do da artéria lobar)
trombo, com sensibilidade e especificidade de
90%
o Indicada em pacientes com
probabilidade clínica pré-teste alta ou
naqueles com D-dímero positivo
o Permite avaliar diagnósticos diferenciais
o É um exame seguro e não invasivo
o Contribui para a estratificação de risco
em pacientes com TEP
• TC e ECO: a dilatação ou lesão do ventrículo
direito, evidenciada na tomografia
computadorizada (TC) de tórax, no
ecocardiograma ou sugerida pela elevação da
troponina ou do peptídeo natriurético tipo B, • Arteriografia pulmonar: atualmente é mais
indica insuficiência cardíaca direita e aumento utilizado para guiar terapêuticas invasivas como
do risco de choque circulatório e de morte embolectomia
• Cintilografia pulmonar: atualmente vem sendo • US: pode-se realizar US de membros inferiores a
substituiída pela angio-TC, sendo utilizada fim de documentar TVP
quando há contraindicação ao uso de contraste.
Verifica que a perfusão não está adequada, Abordagem diagnóstica
embora a ventilação esteja
• ECG: raramente demonstra diagnóstico de TEP,
sendo algumas vezes possível visualizar o padrão
S1Q3T3 (onda S profunda em D1, presença de
onda Q e onda T invertida em D3). O ECG mais
comum do TEP é o que demonstra taquicardia
sinusal, não o padrão S1Q3T3

Avaliação de risco
• Na suspeita de TEP, deve-se verificar se o
paciente está chocado, utilizando-se como
parâmetro a PAS. Se esta for maior do que 90
mmHg, admite-se que não há choque e aplica-se
a escala PESI (escala de estratificação clínica pós-
diagnóstico)
• Raio-x de tórax: pode ser normal ou demonstrar
sinais clássicos de TEP (difíceis de aparecer) –
corcova de Hampton (consolidação com base
voltada para pleura e ápice voltado para o hilo),
sinal de Palla (dilatação das artérias

214
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

até equalizar as medicações e podem


receber alta em seguida
o Aqueles com disfunsção do ECO e ambos
os exames alterados são risco
intermediário alto e devem permanecer
internados, em alguns casos em UTI

Tratamento
• Medidas gerais: MOV e analgesia
• Cristaloide: em bolus de até 500 mL, em
pacientes hipotensos. Ressalva-se, no entanto,
que sobrecarga volêmica pode piorar a
disfunção de VD
• Drogas vasoativas: são frequentemente
necessárias para melhorar o inotropismo
cardíaco, elevar a pressão arterial e garantir a
perfusão tecidual adequada
o Dobutamina deve ser considerada em
pacientes com índice cardíaco reduzido;
essa costuma ser a primeira droga
prescrita com o intuito de melhorar o
débito de VD
o Norepinefrina aumenta a pressão
arterial sistêmica e melhora a perfusão
coronariana; melhora a função de VD
por ação inotrópica positiva direta
o Epinefrina combina os efeitos das duas
drogas anteriores

Pacientes estáveis hemodinamicamente


Risco de
mortalidade • Anticoagulação
Disfunção Marcador
cardiovascular Choque ou PESI III-V
de VD de lesão o Heparina não fracionada EV: dose de
precoce hipotensão ou sPESI >1
(hospitalar ou
(ECO) miocárdica ataque de 80 UI/kg endovenosa e
30 dias) infusão contínua com dose inicial de 18
Alto + + + +
UI/kg/h e ajuste da dose pelo TTPA com
Intermediário
- + Ambos positivos o objetivo de atingir valores de 1,5-2,5).
Alto
Intermediário
- +
Um (ou nenhum) É a primeira escolha para o paciente em
Baixo positivo
diálise ou com doença renal crônica
Baixo - - Avaliação opcional (neg)
avançada (ClCr < 15 mL/min.),
• Pacientes com baixo risco podem ir para casa
instabilidade hemodinâmica, extremos
tomando anticoagulante oral (pode ser um dos
de peso e idade e em pacientes com alto
novos anticoagulantes). A alta ocorre em menos
risco de sangramento e disfunção renal.
de 5 dias de internação
o Heparina de baixo peso molecular:
• Pacientes com risco intermediário ou alto devem
maior meia vida e não depende de
permanecer internados, realizar
monitorização, mas não pode ser
ecocardiograma e exames de sangue (troponina
utilizada em nefropatas
e BNP)
▪ Enoxaparina: SC: 1,5 mg/kg de
o Aqueles com ECO e um exame alterado
peso, 1 x/dia) por 5 a 10 dias e,
(intermediário baixo) devem
a seguir, anticoagulante oral
permanecer internados por alguns dias
215
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

(varfarina), iniciando-se com 5


mg por dia, mantendo INR entre
2e3
o Fondaparinaux: representa uma boa
opção para pacientes alérgicos a
heparina ou com plaquetopenia
induzida pela heparina, embora a
melhor opção nessa situação sejam os
inibidores diretos da trombina. As doses
são:
▪ Peso menor que 50 kg: 5 mg SC,
1 x/dia
▪ Peso 50-100 kg: 7,5 mg SC, 1
x/dia
▪ Peso maior que 100 kg: 10 mg
SC, 1 x/dia
• Os novos anticoagulantes são opções: não são
inferiores à varfarina, possivelmente são mais
seguros (os pacientes sangram menos,
principalmente idosos), mas custam mais caro.
São contraindicados em caso de insuficiência
renal
o Rivaroxabana: dose de 15 mg por via
oral (VO) a cada 12 horas, por 21 dias,
seguida de 20 mg VO uma vez ao dia
o Apixabana: administrar 10 mg VO a cada
12 h, por 7 dias, seguidos de 5 mg VO a
cada 12 h
• Filtro de veia cava: paciente com
contraindicação para anticoagulação ou com
recorrência de TEV mesmo com anticoagulação

Pacientes instáveis hemodinamicamente


• Heparina não fracionada
• Trombolítico: estreptoquinase, tenecteplase,
alteplase, uroquinase (utilizar, preferencial-
mente, em até 48 horas)
o Contraindicações absolutas: cirurgia
maior recente, sangramento ativo,
trauma maior (menos de 2 semanas),
AVCi <2 meses, qualquer AVCh,
coagulopatia significativa
• Embolectomia: pacientes com contraindicação
ao uso de trombolíticos ou que não respondem
à trombólise

216
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Cetoacidose diabética • Hálito cetônico


A CAD caracteriza-se pela tríade bioquímica de • Náuseas, vômito e dor abdominal
hiperglicemia, cetonemia e acidose metabólica com • O nível de consciência varia de estado de alerta
hiato iônico (anion gap) alto pleno a coma profundo

Fisiopatologia Exames complementares


• A hiperglicemia na CAD é o resultado de três Glicemia (mg/dl) 250 a 800
eventos: (1) aumento da gliconeogênese; (2) Cetonúria ≥ 3+
glicogenólise aumentada; e (3) menor utilização Na+ Em geral, baixo
K+ Alto, normal ou baixo
da glicose por fígado, músculos e adipócitos
Bicarbonato Baixo
• A diminuição da insulina e a elevação dos níveis
pH sanguíneo Baixo (< 7,3)
de cortisol também resultam em diminuição da
Osmolaridade plasmática Variável, em geral < 320
síntese de proteínas e proteólise elevada com
aumento da produção de aminoácidos (alanina e
glutamina), os quais, juntamente com os ácidos • Habitualmente, a contagem de leucócitos varia
graxos livres (AGL) liberados dos adipócitos, de 10.000 a 15.000/mm3, contudo, valores
servem de substrato para a gliconeogênese >25.000 leucócitos/mm3 sugerem infecção
• O aumento dos níveis de glucagon, associada possivelmente desencadeando o
catecolaminas e cortisol, associado à quadro
insulinopenia, estimula as enzimas • Na série vermelha, normalmente se espera
gliconeogênicas aumento do hematócrito em decorrência da
desidratação
Cetonemia • Anemia deve alertar o médico para doenças
• A cetonemia aumentada causa acidose associadas, principalmente nefropatia e
metabólica, levando à respiração de Kussmaul. hipotireoidismo
Causas de cetonemia incluem: • O anion gap (AG) ou hiato aniônico tipicamente
o Insulinopenia com excesso de está aumentado na CAD (>12 nos casos
catecolaminas moderados ou graves). Ele é calculado
o Queda da metabolização periférica de subtraindo-se da concentração de sódio a soma
corpos cetônicos entre o cloro e o bicarbonato – valor normal é de
o Aumento do desdobramento do tecido 12 ± 2 mEq/l
adiposo por deficiência de insulina, com • Exames de imagem: a radiografia de tórax deve
aumento da disponibilidade da carnitina ser de rotina, uma vez que infecções do trato
e aumento da atividade do sistema respiratório são frequentemente os
carnitina aciltransferase (CAT) precipitantes da CAD
o O excesso de glucagon
• Eletrocardiograma (ECG): deve ser solicitado
Anamnese para todos os portadores de DM2 ou para os
• A CAD evolui rapidamente dentro de poucas pacientes com DM1 há mais de 10 anos. O ECG
horas após o(s) evento(s) precipitante(s) também é útil para acompanhar as alterações
séricas do potássio e sua reposição
• Instalação rápida e progressiva de sintomas de
descompensação de diabetes, especialmente Tratamento
poliúria e polidipsia • Os objetivos principais no tratamento das CAD
Exame físico são: (1) restauração do volume circulatório e
perfusão tecidual; (2) redução gradual da
• Sinais de desidratação: mucosa bucal seca, olhos
glicemia e da osmolalidade plasmática; (3)
fundos, turgor da pele diminuído, taquicardia,
correção do desequilíbrio de eletrólitos e
hipotensão e, nos casos mais graves, choque
redução da cetose; e (4) identificação e pronto
• Respiração de Kussmaul

217
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

tratamento do fator desencadeante, quando solução glicosada (SG) a 5% e SF 0,45% e reduz-


possível se pela metade a infusão de insulina (de 0,1 para
0,05 U/kg/h)
Hidratação
• Na maioria dos casos, a reposição de líquidos Fósforo
pode ser feita com solução salina ou fisiológica a • Fazer reposição se fósforo <1,0
0,9% (SF 0,9%) ou a 0,45% (SF 0,45%), na
dependência dos níveis séricos do sódio (Na+). Bicarbonato
Para fazer soro 0,45%, misturar 500 ml de água • A administração de HCO3 na CAD está associada
destilada com 500 ml de SF 0,9% e 2 ampolas de a alguns efeitos adversos, tais como alcalose
NaCl 20% metabólica, hipocalemia, agravamento da
• Expansão: 1000 ml/h em 2 horas, totalizando anoxia tecidual, redução mais lenta da
2000 ml de SF. Importante reavaliar pulmões e cetonemia, aumento no risco de edema
diurese constantemente cerebral, principalmente em crianças, e acidose
paradoxal do liquor. No entanto, pacientes com
• Manutenção: duração de 22 horas, calculado
CAD devem receber HCO3 quando o pH está <6,9
através da fórmula
ou entre 6,9 e 7,0 se estiver em coma, em
𝑣𝑜𝑙. 2 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 (𝑒𝑥𝑝𝑎𝑛𝑠ã𝑜) − 𝑣𝑜𝑙. 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 hipotensão (PAS<90 e PAD <60 mmHg) ou em
𝑉𝑜𝑙. 𝑚𝑎𝑛𝑢𝑡𝑒𝑛çã𝑜 =
22 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 arritmia (pelo menos 1 dos 3 critérios)
OBS: 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑝𝑒𝑠𝑜 (𝑘𝑔) × 10 × % 𝑑𝑒𝑠𝑖𝑑𝑟𝑎𝑡𝑎çã𝑜 + • Reposição: acrescentam-se 2 ampolas (100 mEq)
𝑛𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑎 (35 𝑎 40 𝑚𝐸𝑞/𝑘𝑔/𝑙) de bicarbonato de sódio a 400 ml de água estéril
contendo 20 mEq/l de KCl e administra-se essa
Insulina
solução na velocidade de 200 ml/h durante 2
• O potássio deve estar ≥3,3 para repor insulina horas até que o pH exceda 7,0. Se isso não
(lembrar que insulina é contrarregulardor do ocorrer, repete-se a infusão da solução até que
potássio). Nesse caso, é necessário repor o o valor do pH esteja >7,0
potássio (1 ampola de KCl 19,1% tem 25 mEq de
potássio)
o Repor 20-40 mEq se o potássio estiver
abaixo de 3,3 (na prática, 2 ampolas)
o Repor 20-30 mEq se o potássio estiver
≥3,3 (na prática, 1 ampola). Se o
paciente apresenta calemia >5,0 mEq/l,
não se deve infundir potássio
inicialmente. Deve-se estar atento para
possíveis alterações do ECG
• Reposição da insulina: bolus de 0,1 U/kg e
manutenção de 0,1 U/kg/h EV em bomba de
infusão contínua
o Montagem de bomba de insulina: 100 U
de insulina regular em 100 ml de soro
fisiológico 0,9%, totalizando 1 U/ml
• Controles: deve-se realizar dextro a cada hora, e
gasometria, glicemia sérica e dosagem de
eletrólitos a cada 2 horas
• Ajuste da dose: deve-se ajustar a dose da
insulina de tal forma a haver correção de 50-75
mg/dl por hora
• Quando a glicemia estiver entre 200 e 250
mg/dl, muda-se a reposição de líquidos para
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Estado Hiperosmolar Hiperglicêmico função renal um componente pré-renal,


diminuindo a eliminação de glicose e elevando
Não Cetótico mais ainda seu nível sérico
Trata-se de uma forma de descompensação típica do
portador de DM tipo 2 idoso. Anamnese e Exame Físico
• Embora a história possa ser pobre ou ausente
Para que ocorra o EHNC é necessária a presença de em alguns casos, a simples presença de
hiperglicemia e ingesta de líquidos inadequadamente depressão do nível de consciência em um
baixa. paciente idoso nos obriga a pensar no
Assim como na cetoacidose diabética, o fator diagnóstico de EHHNC
precipitante mais comum é infeccioso (30 a 60% dos • Tipicamente há relato de desidratação
casos), principalmente de foco pulmonar ou urinário. progressiva ao longo de vários dias, associado à
Dentre os fatores não infecciosos, destacam-se os pneumonia ou infecção urinária
acidentes cerebrovasculares, o IAM, os quadros • O uso das drogas anteriormente citadas ou
abdominais que cursem com vômitos ou diarreia e as mesmo à submedicação com insulina são fatores
endocrinopatias (hipertireoidismo, Cushing e potencialmente desencadeantes e devem ser
acromegalia). Algumas drogas têm como paraefeito a questionados
inibição da secreção ou da ação periférica da insulina, • Sinais clínicos de desidratação intensa estão
podendo desencadear o EHHNC. Incluem-se nesta lista geralmente presentes
betabloqueadores, fenitoína, cimetidina, tiazídicos, • Hipotensão e oligúria são manifestações de
simpaticomiméticos e corticosteroides. hipovolemia importante
• Distensão e dor abdominal com náusea e
vômitos são comuns devido à gastroparesia
ocasionada pelo estado de hiperosmolaridade
• Os achados do exame neurológico são
extremamente variados, desde o deficit motor
focal à crise convulsiva generalizada e coma

Diagnóstico
• Os critérios diagnósticos da ADA (American
Diabetes Association) para o EHHNC são: (1)
Glicose plasmática >600 mg/dl; (2) pH arterial
>7,3; (3) HCO3 >18; e (4) Osmolaridade
plasmática efetiva >320 mOsm/kg
• A osmolaridade efetiva deve ser calculada pela
fórmula: Osm = 2 x Na + Glicose/18
Patogênese • Acidose metabólica com ânion-gap aumentado
pode ocorrer devido à acidose lática ou urêmica
• A patogênese pode ser compreendida como um
progressivo aumento da osmolaridade sérica Conduta
consequente à hiperglicemia e à hipernatremia, • A insulinoterapia só deve ser instituída após
sem uma elevação equivalente da osmolaridade generosa reposição hídrica. Aqui é obrigatório o
intracelular. Resulta disso o desvio de fluido do uso da insulina regular IV em bomba de infusão
intra para o extracelular
• A hidratação venosa é iniciada com solução
• A diurese osmótica provocada pela salina isotônica mesmo na presença de
hiperglicemia leva à perda de água em maior hipernatremia, pois a concentração de sódio da
proporção que de eletrólitos, agravando a solução é menor do que a sérica, se esta estiver
hiperosmolaridade sérica acima de 154 mEq/L
• Com a contração do volume intravascular
adiciona-se ao comprometimento prévio da
219
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Após infusão de 1 a 2 litros nas duas primeiras


horas, deve-se substituir a solução por salina
hipotônica (salina a 0,45%), com um volume
total de 6 a 8 litros nas doze horas restantes
• Com a hidratação em curso inicia-se
insulinoterapia venosa contínua. A maior
sensibilidade à insulina observada nestes
pacientes em comparação com aqueles com
cetoacidose, o efeito de hemodiluição e o
restabelecimento da diurese concorrem levando
à rápida queda da glicemia. Nas primeiras 24
horas a glicemia deve ser mantida acima de 250
mg/dl, devido ao risco de edema cerebral. A
velocidade de queda da glicemia não deve ser
maior que 50-70 mg/dl
• A reposição de potássio é a mesma da
cetoacidose. Esses pacientes estão depletados
de potássio, embora a calemia possa estar
normal ou elevada, pelo efeito da
hiperosmolaridade
• O tratamento das comorbidades e dos fatores
desencadeantes é simultâneo à correção do
deficit hidroeletrolítico. Antibioticoterapia deve
ser iniciada imediatamente após a obtenção de
culturas, quando o quadro clínico sugerir
infecção. A profilaxia da doença
tromboembólica com baixas doses de heparina
subcutânea é mandatória
• Devido à gastroparesia frequentemente
observada nesses pacientes, indicam-se a
drenagem do conteúdo gástrico por sonda e a
utilização de enterocinéticos

220
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Síndrome hepatorrenal que desencadeia aumento na atividade dos


sistemas vasoconstritores endógenos (sistema
A síndrome hepatorrenal (SHR) é uma complicação
renina-angiotensina-aldosterona, sistema
comum em pacientes com cirrose, insuficiência hepática
nervoso simpático e hormônio antidiurético)
e hipertensão portal.
como mecanismo compensador
Caracteriza-se por vasoconstrição renal, redução da • Nos estágios iniciais da doença esses sistemas
perfusão renal com baixa taxa de filtração glomerular causam aumento transitório da retenção de
(TFG) e intensa redução da capacidade renal de excretar sódio e água, suficiente para restabelecer o
sódio e água livre, na ausência de lesões histológicas volume arterial e desativar os sistemas
renais significativas. vasoconstritores
• À medida que a doença progride, a vasodilatação
A SHR é a expressão extrema da disfunção circulatória
aumenta e se produz um aumento mais
que caracteriza a cirrose em seus estados mais
importante e persistente da atividade dos
avançados e tem sido classicamente considerada como
sistemas vasoconstritores, com maior retenção
secundária a uma vasodilatação arterial que ocorre na
de água e sódio e consequente formação de
circulação esplâncnica.
ascite
Fisiopatologia • Na fase final da enfermidade, a vasodilatação
arterial é muito pronunciada, há marcada
atividade dos sistemas vasoconstritores, que
determina intensa vasoconstrição da circulação
renal, dando origem à síndrome hepatorrenal

Anamnese e exame físico


• Retenção de sódio renal acentuada e
hiponatremia
• Hipertensão portal: tríade
hepatoesplenomegalia, hemorragia digestiva e
ascite
• Eritema palmar, telangiectasias aracniformes
• Icterícia
• Nutrição prejudicada
• Encefalopatia
• Oligúria
• Diminuição da protrombina e trombocitopenia
• Alteração do estado mental

Diagnóstico

• Segundo a teoria da vasodilatação arterial, a


hipertensão portal induz, por um mecanismo
não completamente conhecido, aumento da
síntese de fatores vasodilatadores na circulação
esplâncnica que determina a vasodilatação
arteriolar nesse território. As resistências
vasculares em outros territórios vasculares (rim,
cérebro, músculo e pele) são normais nas etapas
iniciais da doença, porém aumentam nas fases
tardias. A vasodilatação arterial produz
diminuição do volume sanguíneo arterial efetivo
221
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Classificação Tratamento
• SHR tipo 1: forma aguda, mais grave, frequente • Escolha: transplante de fígado
em casos de hepatite alcoólica, ou após • Hemodiálise: pode ser feita para melhora
descompensação aguda de cirrose hepática em sintomática, mas não trata completamente, uma
pacientes que, geralmente, apresentam vez que o problema é hepático
distúrbios de coagulação. Tem evolução rápida, • Medicamentos: terlipressina (vasoconstrição
entre uma e duas semanas, com oligúria ou esplâncnica) – também não é medida curativa,
anúria. Esses pacientes geralmente noradrenalina (vasoconstrição sistêmica)
desenvolvem encefalopatia, icterícia e distúrbios • Albumina: melhora parcial
de coagulação, a insuficiência renal aparece
durante a internação. O prognóstico é ruim, e Questão da aula: considerando suspeita diagnóstica de
ocorre a duplicação da creatinina sérica para um síndrome hepatorrenal, qual é a correta?
nível superior a 2,5 mg/dL, ou uma redução do a) Na SHR há processo de vasodilatação renal com
clearance de creatinina, para um valor menor vasoconstricção esplâncnica
que 20 mL/min durante um período de menos b) A SHR do tipo I apresenta creatinina > 1,5 e é
de duas semanas forma mais leve
• SHR tipo 2: forma mais leve e mais comum, com c) Para fechar diagnóstico da síndrome, é essencial
desenvolvimento progressivo de insuficiência descartar presença de doença renal
renal, com aumento da creatinina e ureia dentro parenquimatosa
de semanas ou meses, e geralmente com maior d) Na SHR, ao se realizar a reposição volêmica com
sobrevida. É definido por um aumento no nível albumina, ocorre melhora da função renal
de creatinina sérica em mais de 1,5 mg/dL e e) O tratamento padrão ouro da síndrome é
menor que 2,5 mg/dl ou por uma depuração de hemodiálise
creatinina inferior a 40 mL/min, e um sódio
urinário menor que 10 mmol/L

Exames complementares
• Hemograma: infecção, anemia, plaquetopenia
• Função renal: ureia e creatinina
• Lesão hepática: TGO, TGP
• Enzimas canaliculares: fosfatase alcalina e GGT
• Função hepática: albumina, fatores de
coagulação e bilirrubina
• Raio x de tórax
• Sorologias para HIV e sífilis
• Perfil lipídico: colesterol e triglicérides
• Ultrassom: hepático, abdominal (ascite)
• Paracentese diagnóstica: GASA

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Arritimias cardíacas • FA persistente de longa duração: >1 ano


• FA permanente: refratária ao tratamento
Fibrilação atrial
Anamnese Complicação
• Assintomático Tromboembolismo: tríade de Virchow (estase pela não
• Palpitação contração atrial, lesão endotelial pelo fluxo turbilhonar e
citocinas inflamatórias, e hipercoagulabilidade pelo
• Dispneia
aumento dos fatores de coagulação e agregação
• Desconforto torácico
plaquetária)
• Tontura
• Sudorese fria Tratamento
• Urgência urinária Controle da frequência (FC <110 para evitar
taquicardiomiopatia): digitálico (digoxina - pode usar na
Exame físico
IC), BCC (diltiazem e verapamil - não usar se hipotensão
• Ritmo irregular
ou bradicardia) e BB (propranolol, metoprolol e esmolol
• Dissociação pulso-precórdio - não usar na IC descompensada)
Achados no ECG Cardioversão química/farmacológica: amiodarona ou
• Ausência de onda P propafenona
• RR irregular
• QRS estreito Anticoagulação: o CHADSVASC determina o tempo de
• Pode haver ondas F anticoaguação após cardioversão, sendo que aqueles
com o escore maior ou igual a 2 devem anticoagular ad-
• Frequência atrial 350-700 por minuto e
ventricular de 90 a 170, geralmente eternum

Congestive heart failure (IC) -------------------------- 1 ponto

Hypertension (HAS) ------------------------------------- 1 ponto

Age ≥ 75 anos (idade) ---------------------------------- 2 pontos

Diabetes --------------------------------------------------- 1 ponto

Stroke (AVC) --------------------------------------------- 2 pontos

Vascular disease (vasculopatias) --------------------- 1 ponto

Age ≥ 65 anos --------------------------------------------- 1 ponto

Sex female (sexo feminino) ---------------------------- 1 ponto


Causas
• Cardiopatia hipertensiva/reumática/dilatada
• IAM
• Pós-cirúrgico
• Distúrbios eletrolíticos (hipocalemia,
hipomagnesemia)
• Acidose
• Álcool, cocaína (holiday syndrome)
• Hipertireoidismo

Classificação
• FA paroxística: até 7 dias; geralmente reverte
espontaneamente
• FA persistente: >7 dias

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Classificação
• Flutter típico (tipo I): F negativa em D2, D3 e AVF
• Flutter típico reverso: F positiva em D2, D3 e AVF
• Flutter atípico (tipo II): frequência atrial >350

Tratamento
• Semelhante ao da fibrilação atrial

Taquicardia supraventricular (TSV)


• Palpitação (pescoço ou peito)
• Dispneia
• Tontura
• Síncope

Achados no ECG
• QRS estreito
• RR regular
• FC >100 bpm
• Ausência de onda P

Flutter atrial
Anamnese Tratamento
• Palpitação • Instável: cardioversão elétrica sincronizada
• Dispneia • Estável: manobra vagal e adenosina (1 ampola
• Tontura de 6 mg e, se não funcionar, mais 2 ampolas)
• Astenia
• Desconforto torácico Taquicardia ventricular (TV)
Achados no ECG
Achados no ECG
Monomórfica
Ondas F (serrilhado)
• QRS alargado
RR regular • Ausência de onda P
• RR regular
QRS estreito
• FC >100
Condução 1:1, 2:1 ou 4:1 (mais comuns) • Morfologia do QRS é semelhante
Frequência ventricular de 150 bpm

224
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Bloqueio atrioventricular (BAV) 1º grau


• Intervalo PR longo (> 5mm) de forma fixa, sem
alteração

BAV 2º grau Mobitz 1


• Intervalo PR normal, que vai aumentando a cada
Polimórfica
batimento até “falhar”, depois volta ao normal
• QRS alargado
(fenômeno de Wenckebach). Não precisa de
• Ausência de onda P
marca-passo
• RR irregular
• FC >100
• Morfologia do QRS varia
• Torsade de pointes (complexos QRS aumentam
e diminuem amplitude)

BAV 2º grau Mobitz 2


• Intervalo PR normal e regular. De repente, há
uma/várias falha(s) e depois volta ao normal.
Precisa de marca-passo, pois ele não “avisa” que
vai falhar

BAV 2:1
• Há 2 ondas P para 1 complexo QRS de forma
Tratamento regular
• Monomórfica: se paciente instável, cardioversão
elétrica sincronizada; se estável, amiodarona,
procainamida ou sotalol (nunca verapamil)
• Polimórfica: desfibrilação + sulfato de magnésio

Fibrilação ventricular (FV) BAV 3º grau (BAVT)


Achados no ECG • Há um ritmo de onda P e um ritmo de QRS
• QRS alargado sem onda P independente um do outro, sendo o da onda P
• RR irregular mais rápido do que do QRS
• FC >100 bpm
• QRS totalmente anárquico

Tratamento
• Desfibrilação

225
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Questão da aula: paciente de 20 anos dá entrada no c) A paciente apresenta critérios de instabilidade


pronto socorro com palpitação precordial, referindo como dispneia, alteração do nível de
sintomas parecidos há um ano. PA 100 x 80 mmHg, sem consciência, hipotensão com má perfusão
sinais periféricos de baixo débito, ECG apresentando d) O tratamento mais adequado neste caso seria
taquicardia com QRS estreito e FC de 150 bpm, mas sem tratamento na sala de emergência, O2, acesso
conseguir visualizar onda T. A manobra vasovagal não venoso periférico e realização de desfibrilação
teve efeito. Qual medicação seria administrada elétrica com 100 joules
prioritariamente a fim de reverter a arritmia? e) O tratamento de escolha seria betabloqueador
para controle de frequência e observação clínica
a) Adenosina
b) Amiodarona

Questão da aula: paciente de 61 anos, hipertenso em uso


de várias medicações queixa-se de febre, vômito, dor em
HD, ao exame físico, REG, sem alteração em ausculta
respiratória e cardíaca, mas com FC de 42 e PA 120 x 70
mmHg. Abdome com dor à palpação e DB negativo.
Hemograma sugestivo de infecção. Foi solicitada
avaliação da cirurgia, que realizou US e detectou
colecistite aguda. Ao realizar ECG pré-operatório:

a) No bloqueio de segundo grau Mobitz 1, observa-


se intervalo PR fixo com bloqueio súbito do
batimento
b) No bloqueio de segundo grau Mobitz 2, observa-
se intervalo PR com aumento progressivo até
aparecimento de onda P bloqueada
c) O tratamento mais adequado nesses casos é a
administração de adenosina
d) No ECG do caso clínico do paciente, evidencia-se
ritmo sinusal com QRS estreito e padrão de
bloqueio AV do padrão 2:1
e) O uso de marca-passo definitivo não é o mais
adequado

Questão da aula: paciente de 52 anos, feminino, DM e


cardiopatia reumática com troca de válva, chega ao PS
com palpitação, dispneia importante e edema de MMII
há 2 semanas. Sem febre, REG, sonolenta, sopro
panfocal sistólico, FC de 160 bpm, PA de 90 x 60 mmHg,
presença de roncos e estertores na ausculta respiratória
e saturação de 90% em ar ambiente. Foi realizado ECG
(D2 longo)

a) Taquicardia regular, QRS estreito, 140 bpm, com


suspeita de taquicardia paroxística
supraventricular
b) Devido à instabilidade clínica da paciente, deve-
se realizar manobra vagal e, posteriormente,
administração de 6 mg de adenosina EV

226
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Insuficiência renal aguda o Hipovolemia (hemorragia, grandes


queimaduras, diarreia)
De acordo com o KDIGO, a definição de IRA é:
Intrínseca
• Aumento de 0,3 mg/dl de creatinina em 24h
A principal causa é a necrose tubular aguda (NTA). Outras
• Aumento da creatinina basal em 1,5 vezes em 7
causas são rabdomiólise (mioglobinúria), contraste,
dias
nefrite tubulointesticial, pielonefrite, necrose cortical
• Débito urinário <0,5 ml/kg/h dentro de 6 horas
(péssimo prognóstico – altas chances de cronificação - e
Classificação causado principalmente por acidentes ofídicos).
É importante classificar o paciente para melhor Cilindros granulosos são característicos de necrose
determinar o tratamento (necessidade de terapia renal tubular aguda e causam obstrução tubular
substitutiva) e prognóstico • Fração de excreção de sódio e sódio urinário
• Estágio 1 altos, osmolaridade e densidade urinária baixas,
o 1,5-1,9 vezes a creatinina basal em 7 ureia e creatinina séricas baixas
dias ou • Hiponatremia e hipocloremia: dilucional
o >0,3mg/dl em 48h ou • Hiperpotassemia: potássio é excretado
o Débito urinário <0,5 ml/kg/h por 6-12h primariamente por via renal e acidose
• Estágio 2 metabólica faz com que haja troca da excreção
o 2,0-2,9 vezes a creatinina basal ou de potássio por hidrogênio no túbulo distal
o Débito urinário <0,5ml/kg/h por >12h o A leptospirose é a única que cursa com
• Estágio 3 hipocalemia
o 3,0 vezes a creatinina basal ou • Acidose metabólica: não consegue reabsorver
o Elevação da creatinina basal para bicarbonato no túbulo proximal
>4mg/dl ou • Hipocalcemia: o cálcio está sendo excretado por
o Início de terapia de substituição renal via renal
(diálise) ou • Hipermagnesemia e hiperfosfatemia: o
o Em pacientes <18 anos, queda no RFG magnésio e fósforo são excretados
estimado para <35 ml/min por 1,73 m2 ou primariamente por via renal
o Débito urinário <0,3ml/kg/h por >24h ou
Causas
anúria por >12 horas
• NTA isquêmica
Etiologia • NTA séptica: causada por sepse
Pré renal • NTA nefrotóxica: endógenas (por exemplo, a
• Situações que cursam com hipovolemia mioglobina) e exógenas (por exemplo,
(diminuição do débito que o rim recebe) contraste). É pior do que a isquêmica, pois não
• Fração de excreção de sódio e sódio urinário atinge partes das porções do nefron e, sim, toda
a porção
baixos, osmolaridade e densidade urinários
altos, relação ureia/creatinina alta • Nefrite intersticial aguda (NIA): eosinofilia,
eosinofilúria, rash cutâneo, história prévia de
• A queda do débito renal faz com que os rins
criem mecanismos para compensação deste medicamentos (AINE, antibióticos – quinolonas,
baixo débito: ativação do SRAA na tentativa de aminoglicosídeos, penicilinas, beta-lalctâmicos -
conservação de sódio e água; ativação do e IBP) e febre
sistema nervoso simpático para fazer • Vasculites: embolização por colesterol. É
vasoconstrição e tentar aumentar o débito renal; importante diferenciá-la da nefropatia por
liberação de ADH para inserir aquaporinas no contraste:
ducto coletor a fim de reabsorver mais água; o Tempo de evolução: na nefropatia por
ativação do mecanismo de sede contraste, há piora da creatinina após
o Hipotensão arterial 48-72 horas da infusão do agente
agressor; na embolização por colesterol,
227
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

a piora da creatinina acontece 5-7 dias Marcadores de lesão renal aguda


após estímulo • A creatinina é um marcador tardio de função
o Exame físico: no êmbolo de colelsterol, renal, aumentando somente depois que mais de
há embolia em membros inferiores, 50% dos nefrons não são mais funcionantes
causando palidez cutânea local • Há 18 biomarcadores precoces de lesão renal
o Exames laboratoriais: nefropatia por aguda, mas que são caros e pouco disponíveis na
colesterol, além da eosinofilúria, há prática clínica. 4 deles são mais importantes
consumo de complemento, havendo o NGAL: o mais precoce, aumentando
queda de C3 cerca de 2 horas após a lesão inicial
• Síndrome hepatorrenal o KIM1
o Cistatina C
Pós renal
o IL-18
• Obstrução de vias urinárias
• Dilatação pielocalicial no US Desenvolvimento de lesão renal aguda
• Todas as pessoas estão sujeitas a desenvolver
Volume de diurese
LRA, mas alguns pacientes estão mais propícios,
• Anúrico: até 100 ml
como é o caso de:
• Oligúrico: até 400 ml
o Diabéticos
• Não-oligúrico: até 1200 ml
o Idoso >60 anos
• Poliúrico: acima de 1200 ml o Taxa de filtração glomerular diminuída
• Hiperpoliúrica: acima de 4000 ml (<60 ml/min/1,73m²)
Catabolismo o Em sinergia com aminoglicosídeos,
idade maior que 70 anos, TGF baixa etc.
É importante classificar quanto ao catabolismo por conta
da dieta, sendo normo ou hiperproteica, caso esteja Drogas que causam lesão renal aguda
hipercatabólico
• AINE, IECA e BRA: alteração da hemodinâmica
• Hipercatabólico: potássio aumentou 1,5 pontos intraglomerular
ou ureia aumentou 2 pontos ou creatinina • Tacrolimus: imunossupressor inibidor de
aumentou 2 pontos ou bicarbonato caiu em mais calcineurina, utilizado no pós-transplante renal,
de 2 pontos em 24 horas – 1 critério que provoca lesão-renal aguda por alterar a
o Costuma surgir em casos de feridas dinâmica intraglomerular, cuja dose terapêutica
(queimaduras, cirurgias), sangramento é próxima da dose tóxica
gastrointestinal, fístulas de alto débito, • Aminoglicosídeos e anfotericina B: toxicidade
infecção, acidose metabólica, resposta tubular direta
inflamatória • Beta-lactâmicos, penicilina, quinolonas, AINE,
• Não hipercatabólico diuréticos, IBP: NTA
• AINE: síndrome nefrótica
Critérios de diálise de urgência • Anti-retrovirais: nefropatia por cristais
• Hipervolemia refratária ao tratamento clínico o Lembrar que pacientes com HIV podem
• Hipercalemia refratária ter várias lesões: nefropatia por HIV,
• Acidose metabólica refratária atoxicicidade pelo anti-retroviral e
• Uremia, que consiste em sintomas do aumento glomerulonefrite membranosa
das escórias nitrogenadas – náuseas, vômitos, • Clopidogrel e ciclosporina: microangiopatia
soluços, consufão mental - (é diferente de trombótica
azetemia, que é elevação das escórias • Manitol: nefrose osmótica
nitrogenadas) • Estatinas e fibratos: rabdomiólise (a associação
• Intoxicação por drogas dialisáveis que menos provoca rabdomiólise é a
atorvastatina com fenofibrato e a pior, que não
pode ser associada é estatina com genfibrozila)
228
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Tratamento
• Dieta: hipoproteica geralmente, exceto para os
pacientes com hipercatabolismo
• Hidratação: balanço hídrico zerado, dependendo
da diurese do paciente. A reposição volêmica é
feita com cristaloide (SF 0,9%)
• Indicações de diálise
• Dopamina: igual placebo e não se usa dopamina
para lesão renal aguda, pois não há indicação
para seu uso como tratamento ou prevenção de
LRA

Profilaxia
• Evitar drogas nefrotóxicas: AINE, IECA, BRA,
antimicrobianos, contraste
o Se necessário usar antimicrobiano
nefrotóxico, fazer dose corrigida
o Contraste: preferencialmente usar
contraste não iônico de baixa
osmolaridade (caro) e sempre a menor
dose possível. Preparar o paciente antes
de receber contraste com hidratação 24
horas antes e 24 horas após e
alcalinização urinária (com bicarbonato)
para diminuir a chance de os radicais
livres agredirem os rins, e oferecer
mucolítico (N-acetilcisteína), pois é um
captador de radicais livres
o Furosemida: não há benefícios em
oferecer furosemida em pacientes
oligúricos, pois não muda a etiologia e
nem o prognóstico, trazendo apenas os
efeitos colaterais da furosemida
(ototoxicidade e hipocalemia)

Recuperação funcional
• Inicia em 5 a 15 dias após o quadro, mas pode
não ocorrer
• A biópsia renal está indicada quando não se sabe
a causa ou quando o paciente está a mais de 2
meses sem recuperação de função renal
• A fase diurética exige cuidado, pois o paciente
pode evoluir para pré-renal

229
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Distúrbios ácido-básicos óssea para tamponar ácidos que estão em


sobrecarga)
Ácido volátil: ácido carbônico, que é expelido pelos
• Normalmente, para compensar um distúrbio
pulmões.
metabólico, é feito um distúrbio respiratório, ou
Ácido fixo: excreção exclusivamente renal. São ácidos seja, se há acidose, os quimiorreceptores ativam
produzidos pelo metabolismo – sulfúrico, fosfórico, o centro respiratório no bulbo e promove
clorídrico etc. hiperventilação (lavagem do CO2), da mesma
forma que a alcalose promove hipoventilação e
Homeostase retenha CO2
• Para manter a homeostase corpórea, é
necessário manter o pH corpóreo dentro de uma Mecanismo de acidificação urinária
faixa da normalidade, que corresponde ao • A resposta de compensação renal aos distúrbios
intervalo de 7,35 a 7,45 ácido-base é lenta, pois depende do mecanismo
• O bicarbonato é a principal base e o CO2 o de acidificação urinária
principal ácido responsável pelo balanço ácido- • O rim apresenta três mecanismos para manter o
básico equilíbrio ácido-base: excreção de H+,
• Para manter o equilíbrio ácido-base, o corpo reabsorção de HCO3- e recirculação de amônia
utiliza tampões, sendo um deles o pulmonar,
capaz de tamponar o CO2 e excretá-lo,
Reabsorção do bicarbonato
rapidamente, via respiratória. Quando há • Depende da bomba de sódio-potássio ATPase e
aumento de ácidos fixos, é necessário excretar da bomba sódio-hidrogênio no túbulo proximal.
por via renal, que é mais lenta, demorando em Além desse transportador, há outros
torno de 3 a 5 dias para fazer a excreção cotransportadores na membrana luminal: sódio-
Outros tampões importantes são albumina glicose, sódio-aminoácido, sódio-sulfato, sódio
(diminuída nos pacientes hepatopatas, fosfato
cirróticos), fosfato ósseo (desmineralização

230
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• O hidrogênio que sai da célula se une com o canais ENAC (reabsorvedor de sódio) e ROMK
bicarbonato e, catalisado pela anidrase (excretor de potássio e hidrogênio) e aumento
carbônica 4, é transformado em ácido carbônico, da atividade da bomba sódio-potássio ATPase,
um composto instável, que rapidamente se promovendo reabsorção de sódio e excretando
dissocia em água e CO2. O CO2 é difundido potássio. Em acidose metabólica, o canal ROMK
passivamente pela dentro da célula, onde é opta por excretar hidrogênio.
unido à água, catalisado pela anidrase carbônica • As células intercaladas são de dois tipos: alfa e
2, retornando a ácido carbônico, que se dissocia beta. As alfa apresentam hidrogênio indo em
em hidrogênio e bicarbonato. O hidrogênio é direção ao lúmen (atuantes na acidose
secretado pelo transportador sódio-hidrogênio metabólica), enquanto as beta apresentam
novamente e o bicarbonato é absorvido junto hidrogênio em direção contrária ao lúmen
com o sódio pelo canal da membrana basolateral (atuante na alcalose metabólica). O hidrogênio
• Quando o hidrogênio é secretado, o lúmem excretado pela célula alfa se liga a um ânion e
começa a ficar muito positivo, afrouxando o excretado na urina (acidez titulável)
epitélio das células do túbulo proximal,
permitindo reabsorção paracelular de sódio, Distúrbios sindrômicos da regulação ácido-base
potássio, magnésio, cálcio Túbulo proximal
• A amônia vem da quebra da glutamina, que é • Síndrome de Fanconi: se manifesta com
transformada em amônia e bicarbonato. A glicosúria e glicemia normal; o mecanismo
amônia, no túbulo proximal se junta ao fisiopatológico consiste na inibição dos canais da
hidrogênio, formando amônio, que é incapaz de membrana luminal das células do túbulo
sair da célula, descendo a alça de Henle, até proximal (sódio-glicose, sódio-aminoácido,
chegar na região de 1200 mOsm (devido ao sódio-sulfato, sódio-fosfato...). É tudo “úria” –
mecanismo de contracorrente), onde o glicosúria, fosfatúria, perda de ácido úrico na
hidrogênio se despresende e permite a urina...
formação de amônia novamente, que consegue
Alça espessa de Henle
se difundir pela célula até chegar no ducto
• Síndrome de Bartter: inibe a bomba tripla,
coletor, onde é unida novamente ao hidrogênio,
causando hipocalcemia, hipocloremia,
transformada em amônio e excretada na urina
hipercalciúria, alcalose metabólica
• Na alça espessa de Henle há a bomba tripla (Na,
K, 2Cl). O sódio que entra por ela é transportado Túbulo distal
pela bomba de sódio-potássio ATPase; o cloro • Síndrome de Gitelman: hiponatremia,
passa pelo canal de cloreto (ambos para o lado hipocloremia, sem hipercalciúria, mas com
basolateral) e o potássio retorna ao lúmen pelo alcalose metabólica
canal de potássio, deixando o lúmen positivo,
afrouxando o epitélio da alça espessa de Henle, Túbulo coletor
havendo reabsorção paracelular de sódio, • Síndrome de Liddle: hiperexpressão dos canais
potássio, cálcio, magnésio ENAC, reabsorvendo muito sódio, causando
• No túbulo distal há a bomba sódio-cloro; o sódio hipertensão, hipocalemia, alcalose metabólica
é utilizado pela bomba de sódio-potássio ATPase
e o cloro passa pelo canal de cloro. O epitélio do
Ação dos diuréticos
túbulo distal é fixo, não havendo reabsorção Túbulo proximal
paracelular • Inibidor da anidrase carbônica (acetazolamida):
• No ducto coletor há dois tipos de células: pouco potente como diurético, mas provoca
principais e intercaladas. Na principal existe bicarbonatúria (útil na alcalose metabólica)
bomba de sódio-potássio ATPase, • Inibidor de SGLT2: atua no transportador sódio-
diferentemente da intercalada. Na principal, há glicose
ação da aldosterona (presença de receptor),
provocando transcrição no núcleo celular de
231
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Alça de Henle Passo 2.1: se configurar acidose ou alcalose respiratória,


• Diurético de alça (furosemida): inibe a bomba é necessário encontrar a nova PCO2 e HCO3 média
tripla, causando hipocalcemia, hipocloremia, (normalmente são, respectivamente, 40 e 24) e subtraí-
hipercalciúria, alcalose metabólica. Expolia las do normal
potássio
PCO2 HCO3
Túbulo distal ∆HCO3=0,1x∆PCO2 Acidose ↑10 ↑1
• Tiazídicos (hidroclorotiazida): hiponatremia, aguda
hipocloremia, sem hipercalciúria, mas com ∆HCO3=0,4x∆PCO2 Acidose ↑10 ↑4
crônica
alcalose metabólica
∆HCO3=0,2x∆PCO2 Alcalose ↓10 ↓2
Ducto coletor aguda
• Poupadores de potássio (amilorida, triantereno ∆HCO3=0,4x∆PCO2 Alcalose ↓10 ↓4
e espironolactona) crônica
Exemplo: pH=7,1 PCO2=90 HCO3=35 BE=0
o Espironolactona: inibidor do receptor da
aldosterona, utilizado na IC (inibe pH 7,1 configura acidose, bicarbonato 35 não configura
remodelamento cardíaco) como metabólica, mas PCO2 de 90, sim, e base excess 0
o Amilorida e triantereno: agem na ENAC, configura distúrbio agudo. A variação do PCO2 para o
inibindo a reabsorção de sódio normal é 90-40=50. Se aumento de 10 na PCO2
configura aumento de 1, a varição de 50 configura
Base Excess (BE)
aumento de 5 no HCO3, pela regra de 3. Sendo assim, o
• É o excesso de base: a quantidade de ácido ou HCO3 novo é 24 somado aos 5 que aumentaram, ou
base necessário no sangue a fim de titular 1 litro
seja, 29, com variação de 2 para mais ou menos, sendo
de sangue em temperatura de 37°C, mantendo então o novo intervalo normal de 27 a 31. Como 35 é
PCO2 de 40 mmHg constante, num pH de 7,4
maior que 31, há também alcalose metabólica
• Acompanha o bicarbonato: quando o associada
bicarbonato diminui (acidose metabólica), o
base excess também está diminuído. Quando o • Em distúrbios respiratórios, é necessário avaliar
bicarbonato aumenta (alcalose metabólica), o se o distúrbio é agudo ou crônico
base excesso também aumenta o Agudo: bicarbonato ou base excess
normais
Valores normais da gasometria o Crônico: bicarbonato ou base excess
• pH = 7,35 – 7,45 aumentados na acidose respiratória ou
• pO2 = 70 – 100 mm Hg diminuídos na alcalose respiratória
• pCO2 = 35 – 45 mm Hg
Passo 3 (se acidose metabólica): analisar PCO2 esperada
• HCO3 = 22 – 26 mEq/l
(1,5 x HCO3) + 8 ± 2 e caracterizar o distúrbio ventilatório
• BE = - 3 - + 3
associado
• Sat O2 = 95 - 98 %
• Se PCO2 estiver acima da PCO2 esperada, há
Interpretação da gasometria acidose respiratória associada
Passo 1: analisar o pH – acidose ou alcalose (não
• Se PCO2 estiver abaixo da PCO2 esperada, há
configura acidemia ou alcalemia necessariamente,
alcalose respiratória associada
portanto sempre observar os outros parâmetros)
Passo 3.1 (se alcalose metabólica): analisar PCO2
Passo 2: analisar bicarbonato – se abaixo de 22, configura
esperada (bicarbonato + 15) ± 2
acidose metabólica; se acima de 26, configura alcalose
metabólica, desde que haja correspondência com o pH Delta-Delta
(p. ex. pH 7,25 configura acidose, mas se HCO3 estiver ≥ Realizado em acidose metabólica com ânion gap (AG)
22, não é metabólico) elevado (insuficiência renal, cetoacidose diabética,
isquemia, acidose láctica, intoxicação por etilenoglicol,

232
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

intoxicação por salicilatos, intoxicação por metanol, Cloreto Urinário < 25 mEq/l:
abuso de tolueno, rabdomiólise, acidose D-láctica, 5- • Perdas gástricas, intestinais; diuréticos, baixa
oxoprolinúria) ingesta de cloreto; fibrose cística
𝐴𝐺 − 10 Cloreto Urinário > 40mEq/l
24 − 𝐻𝐶𝑂3 • PA normal: Bartter, Gitelman, diuréticos
• = 1 – Acidose simples com ânion gap elevado • PA alta: hiperreninismo, Cushing, Liddle,
• < 1 – Acidose com ânion gap normal superposta hiperaldosteronismo prim/sec,
• > 1 – Alcalose metabólica superposta mineralocorticóide exógeno

Causas de acidose metabólica Tratamento da acidose metabólica


• Hidratação
Aumento da geração de ácidos fixos
• Correção de bicarbonato: pH <7,2, bicarbonato
• Acidose láctica (hipovolemia, falência cardíaca,
<10, BE <-10
sepse, uso de biguanida (metformina),
o Quantidade de bicarbonato a ser
malignidade, alcoolismo, infecção por HIV,
administrada: (BE x peso x 0,3)/2 ou 3
acidose D-láctica)
ou, na prática, 1-2 mEq/kg
• Cetoacidose (diabetes, ingestão de álcool, jejum
prolongado) Tratamento da alcalose metabólica
• Ingestões (metanol, etilenoglicol, aspirina, • Hidratação
tolueno) • Espironolactona: antagonizar aldosterona
• Oxiprolinúria (ácido piroglutâmico) • Inibidor da anidrase carbônica: provocar
Perda de bases bicarbonatúria
• Diarréia
• Acidose tubular renal tipo 2
• Pós-tratamento de cetoaciodose
• Inibidores da anidrase carbônica
• Ureterosigmoidostomia

Diminuição da excreção de ácidos fixos


• Insuficiência renal
• Acidose tubular tipo I: distal, relacionada ao
hidrogênio
• Acidose tubular tipo IV: hipoaldo-
hiporreninêmico

Causas de alcalose metabólica


• Vômitos ou alta drenagem nasogástrica
• Fístula gástrica
• Adenoma viloso de cólon
• Diuréticos tiazídicos ou de alça
• Síndrome de Bartter ou de Gitelman
• Hemotransfusão maciça
• Baixa ingestão de cloreto
• Hipocalemia persistente
• Hiperaldosteronismo primário
• Hipertensão reno-vascular
• Síndrome de Cushing
• Administração de bicarbonato de sódio
233
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

𝑢𝑟𝑒𝑖𝑎 𝑔𝑙𝑖𝑐𝑜𝑠𝑒
Distúrbios hidroeletrolíticos 𝑜𝑠𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑎𝑙 = 2 × 𝑠ó𝑑𝑖𝑜 + +
6 18
Distúrbios do sódio
• A osmolaridade efetiva retira a ureia da fórmula,
É primariamente um distúrbio da água, portanto quando
há déficit de água, há aumento da concentração sérica pois esta passa livremente entre as células
de sódio, que provoca aumento da osmolaridade Hiponatremia
plasmática, levando ao aumento da secreção do ADH • Concentração sérica de sódio <135 mEq/l
(insere aquaporinas no túbulo coletor para aumentar • É primariamanete um distúrbio do metabolismo
reabsorção da água e diluir o sódio) e à ativação do da água
mecanismo de sede. O excesso de água provoca o o A defesa para controlar o sódio depende
mecanismo contrário. de: centro da sede intacto, liberação de
Metabolismo da água ADH intacta e túbulo coletor intacto
• O ADH consegue alterar a osmolaridade urinária o O metabolismo da água está relacionado
para o mínimo e para o máximo, que vai de 50 a à osmolaridade (osmorreceptor –
1200 mOsm, justamente por conta do mecanismo de sede e ADH) e o
mecanismo de contracorrente. A liberação de metabolismo do sódio está relacionado
ADH consegue chegar à osmolaridade urinária ao volume intravascular efetivo
máxima (1200 mOsm), então na liberação de (barorreceptor – PNA, SRAA,
ADH, há necessidade de preservação de água catecolaminas e ADH, via estímulos não
(desidratação) osmóticos do ADH, como estiramento
do vaso, náusea, vômito, analgesia)
• A excreção de água serve para excretar os
solutos (em média 600 a 800 mOsm diários), que • É importante saber o tempo de evolução da
devem ser excretados independente da hiponatremia, pois o tratamento depende deste
quantidade de água, sob a forma de urina, num parâmetro, uma vez que a correção muda a
volume de, em média, 670 ml por dia depender do tempo de evolução. As células
• A redução da secreção de ADH diminui a dendríticas são as mais sensíveis em relação à
variação do sódio, sendo importante determinar
reabsorção de água, havendo a mesma
quantidade de solutos para excretar, gerando se é aguda ou crônica por conta de alterações do
SNC
uma quantidade maior e menos concentrada de
urina a ser eliminada: 16 litros por dia (diabetes o Aguda: 24-48 horas
o Crônica: >48 horas
insípidus, pacientes esquizofrênicos que
ingerem muita água - potomania). Ingestão de • Sintomas: náuseas, vômitos, cansaço, tontura,
água superior a 10-15 litros causam intoxicação cefaleia
hídrica • Quem está mais sujeito ao quadro de
hiponatremia: cetoacidose diabética, idosos,
Conceitos básicos quadros infecciosos, doença renal (hiponatremia
• Sódio: controla o volume extra-celular dilucional) e medicamentos (diuréticos, ISRS –
• Água: controla a tonicidade extra-celular causam síndrome da secreção inapropriada do
• Volume intracelular: volume intracelular + ADH)
hemácias
Tonicidade
• Volume extravascular: volume intersticial +
• Realiza-se o cálculo de osmolaridade plasmática
volume plasmático – hemácias
a partir do sódio, glicose e ureia
Osmolaridade plasmática • Hipertônica: há alguma alteração a mais que é
• A osmolaridade sérica normal leva em capaz de puxar água, sendo o mais comum a
consideração 3 solutos principais: sódio (princial glicose – situações de cetoacidose, por exemplo
íon extracelular), glicose e ureia (ambos passam o Cada 100 mg/dl de elevação da glicose
livremente pela célula) plasmática acima de 100, diminui a [Na+]
aproximadamente 1,6 mEq/l

234
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Isotônica: também há algo que não deveria estar síndrome da secreção inapropriada de
ali, mas que não é capaz de deslocar tanto a ADH)
água, de tal forma que a água se desloca e ▪ Câncer pulmonar de pequenas
retorna ao local de origem. Causado por células, anestesia geral, dor,
dislipidemias (hipercolesterolemia, náusea, drogas (SSRI,
hipertrigliceridemia) e paraproteinemias carbamazepina, ciclofosfamida,
(mieloma múltiplo – idade em torno de 50-60 tiazídicos, venlafaxina, AINE),
anos, homem, negro, apresentando dor óssea, hipotireoidismo, patologias do
principalmente lombar, cujo exame de dosagem SNC são exemplos de causa de
de cálcio mostra hipercalcemia; nesses casos, síndrome da secreção
pedir eletroforese de proteínas séricas, que vai inapropriada de ADH
apresentar pico monoclonal gama; realizar ▪ O tratamento, se associada a
biópsia de medula em seguida, que vai volume extracelular normal, é a
apresentar aumento de 9% ou mais de reposição de hormônio
plasmócitos) – o mieloma pode cursar com tireoidiano ou
síndrome de Fanconi corticoesteroides. Se há SIADH,
• Hipotônica: necessário avaliar volume repõe-se soro a 3% e diurético
extravascular (hipo, hiper e euvolêmico) a partir de alça, além de carbonato de
de edema, turgor, mucosa lítio (por causar diabetes
o Hipervolêmico: situações de diluição do insipidus nefrogênico – inibe a
sódio por diminuição da excreção renal ação do ADH. Não é mais usado
de água, diminuindo o sódio sérico com frequência pela intoxicação
(sódio corporal total elevado) – por lítio). Se associada a volume
insuficiência cardíaca, cirrose, síndrome extra-celular contraído, realizar
nefrótica, DRC. O tratamento consiste hidratação com solução salina
no tratamento da causa base, restrição isotônica (SF 0,9%) – se agudo
salina, diurético (furosemida), restrição pode corrigir 12 mEq em 24
hídrica (para IRA ou DRC em oligoanúria) horas; se crônico, pode corrigir 8
o Hipovolêmico: paciente perdeu mais a 10 mEq em 24 horas, pois
sódio do que água ou a reposição de correções rápidas de
sódio foi menor do que a de água. Se a hiponatremia podem causar
perda for renal, o sódio urinário estará mienólise pontinha central (o
alto (síndrome perdedora de sal, paciente entra em coma
insuficiência adrenal primária); se for permanente), com maior risco
extra-renal, o sódio urinário não está para pacientes alcoólatras,
alto (perdas gastrointestinais, perdas desnutridos, em hipocalemia,
transdérmicas). Hidratar com SF 0,9% queimados e mulheres idosas
o Euvolêmica: relacionada geralmente a em uso de tiazídicos
distúrbios de ADH. Avaliar o quanto a
Reposição de sódio
osmolaridade está diminuída: se
• Soro fisiológico 0,9%: 154 mEq de sódio
levemente diminuída (acima de 275
mOsm) rever se realmente é uma • Soro 0,45%: 77 mEq de sódio
hiponatremia; se está abaixo de 275 • Soro 3%: 513 mEq de sódio
mOsm, avaliar osmolaridade urinária – • Soro glicosado: 0 mEq de sódio
se estiver abaixo de 100, há pouco • Água destilada: 0 mEq de sódio
soluto e muita água (polidipsia); se • Ringer lactato: 130 mEq de sódio
estiver acima de 100, avaliar sódio • 1 ampola (10 ml) de NaCl a 20%: 35 mEq
urinário (se <30 mEq/l, reconsiderar 𝑆ó𝑑𝑖𝑜 𝑖𝑛𝑓𝑢𝑛𝑑𝑖𝑑𝑜−𝑠ó𝑑𝑖𝑜 𝑠é𝑟𝑖𝑐𝑜
= ↑ de mEq a cada litro de soro
hipovolemia; se estiver ≥30, há á𝑔𝑢𝑎 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜𝑟𝑎𝑙 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙+1

235
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Água corporal total: peso*0,6 para homem e o Ganho de sódio: infusão errônea,
peso*0,5 para mulher hiperaldosteronismo primário, Cushing,
• Importante lembrar que esse aumento é o valor afogamento em água salgada
estabelecido para cada 24 horas – 12 mEq em • Sintomas: disfunção de SNC, espasmo muscular,
agudo e 8-10 mEq em crônico hiperreflexia, tremor, ataxia
• Acompanhar a infusão com furosemida para
Tratamento
excretar o excesso de água
• Associada a volume extra-celular contraído:
Hiponatremia aguda solução salina a 0,9% até normalização do VEC e
depois usar SG5%
• Associada a volume extra-celular normal:
infusão de SG5% ou SF 0,45% e tratamento de
diabetes insípidus, se presente
• Associada a volume extra-celular expandido:
diurético de alça, restrição salina, diálise
(insuficiência renal)
• Reduzir: <0,5 mEq/l/h ou <12 mEq/l/24 horas,
pois correções mais rápidas podem causar
edema cerebral (osmóis idiogênicos)
Hiponatremia crônica
Distúrbio do potássio
• Principal íon do meio intra-celular, atuante na
excitabilidade muscular
• Baixa concentração no plasma: 3,5 – 5,5 mEq/l
• Regulação do potássio: se dá por adrenalina,
aldosterona e insulina (contrarreguladores)
• A bomba sódio-potássio ATPase mantém o sódio
no intracelular e a aldosterona faz o ajuste fino
da excreção do potássio no ducto coletor (pela
expressão aumentada dos canais ENAC e ROMK)
Hipernatremia Hiperaldosteronismo
• Concentração sérica de sódio >145 mEq/l • Excesso de aldosterona, causando aumento do
o Perda de água por via renal: diurese sódio sérico (hipertensão arterial), eliminação de
osmótica, diurético de alça, defeito na potássio (hipocalemia) e eliminação de
concentração renal - diabetes insipidus hidrogênio – pela falta de potássio para excretar
(hipofisário – não produz ADH, ou via ROMK (alcalose metabólica)
nefrogênico – ADH não age)
▪ Causas de DI hipofisário: trauma Hipoaldosteronismo
de crânio, AVE, tuberculose, • Falta de aldosterona, causando diminuição da
toxoplasmose, tumores reabsorção do sódio sérico (hipotensão arterial),
▪ Causas de DI: nefrogênico: diminuição da eliminação de potássio
doença renal policística, DRC, (hipercalemia) e de hidrogênio (acidose
lítio, anfotericina B, amiloidose, metabólica)
mieloma múltiplo e síndrome de
Hipopotassemia
Sjögren
o Extra-renal: sudorese excessiva, • K+ <3,5 mEq/l (queda rápida influencia mais do
diarreia, perdas insensíveis, grandes que o valor absoluto)
queimaduras • Pode provocar parada cardíaca em sístole

236
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Desencadeia encefalopatia hepática em hipovolemia) e Gitelman


cirróticos – maior formação de amônia (bomba sódio-cloro inibida –
• Manifestações clínicas: fraqueza muscular, hipocalemia, alcalose
câimbras, arritmias cardíacas, vasoconstrição metabólica, hipomagnesemia,
renal, diabetes insípidus nefrogênico hipocalciúria), ATR II (acidose
o Alterações cardíacas: achatamento da metabólica hiperclorêmica +
onda T e aparecimento da onda U, hipocalemia – Síndrome de
batimentos ectópicos atriais e Fanconi), ATR I (acidose
ventriculares, aumento da sensibilidade metabólica hiperclorêmica +
ao digital hipocalemia + pH urina >5,3),
ATR IV (comum em diabético,
Na presença de potássio alterado no exame, é necessário causa hipercalemia –
distinguir a etiologia: hipoaldohiporreninêmico),
• Pseudo-hipopotassemia: geralmente por erro de Síndrome de Liddle
coleta – deve ser dosado logo após a coleta, sem (hipocalemia + alcalose
demora metabólica + HAS)
• Alterações na redistribuição: pensar na insulina, o Via extra-renal: diarreia, fístula, uso de
adrenalina, aldosterona laxativos, adenoma viloso
o Alcalose Tratamento
o Hipertireoidismo • Leve: K+ = 3,0 a 3,4 mEq/l
o Excesso de insulina o Reposição oral com xarope de KCl 10 ml
o Agonistas beta-adrenérgicos de 8/8 horas
o Excesso de catecolaminas o Tratamento da causa
(feocromocitoma) • Grave: K+ <3,0 mEq/l
o Paralisia periódica hipocalêmica o Infusão IV, respeitando a velocidade
o Intoxicação por bário máxima de infusão pelo risco de flebite
o Intoxicação por tolueno ▪ Velocidade máx de infusão
• Depleção do potássio: pode ser por via renal ou preconizada = 20 mEq/h (veia
extra-renal periférica)
o Via renal: hipertensivo ou normotensivo ▪ Velocidade máx permitida
▪ Hipertensivo: cursam com (emergência) = 40 mEq/h (veia
aumento do SRAA – hipertensão central)
renovascular, hipertensão • SF 0,9% 500 ml + KCl 19,1% 50 ml (5 ampolas),
maligna, reninoma, correndo de 8/8 horas e dosando potássio até
hiperaldosteronismo primário correção
(na suspeita – HAS de difícil o Não utilizar soro glicosado, pois este
controle, uso de três ou mais libera insulina, que é contrarregulador
anti-hipertensivos, sendo um potássico
deles um diurético – solicitar o Se o K+ não subir, acrescentar 1 ampola
dosagem de aldosterona, que de sulfato de magnésio
vai estar alta e renina, que vai
estar diminuída), síndrome de Hiperpotassemia
Liddle (hiperexpressão dos ▪ K+ plasmático >5,5 mEq/l
canais ENAC), síndrome de ▪ Manifestações clínicas: alterações
Cushing eletrocardiográficas (onda T apiculada),
▪ Normotensivo: síndrome de fraqueza, arreflexia, paralisia muscular,
Barter (bomba tripla inibida – parestesias
hipocalemia, alcalose
metabólica, hipercalciúria,
237
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Na presença de potássio alterado no exame, é necessário • Diálise: quando as terapêuticas anteriores não
distinguir a etiologia: funcionarem
• Critérios de diálise: uremia (pericardite urêmica,
• Pseudo-hiperpotassemia: geralmente por erro
encefalopatia urêmica, náusea, vômito, soluço),
de coleta – deve ser dosado logo após a coleta,
hipercalemia refratária, acidose metabólica
sem demora
refratária, hipervolemia refratária, intoxicações
• Alterações na redistribuição:
por drogas dialisáveis
o Acidose metabólica
o Hipoinsulinemia (DM 1)
o Bloqueadores beta-adrenérgicos
o Quimioterapia nas neoplasias
o Infusão de arginina
o Succinil-colina
o Intoxicação digitálica
• Retenção de potássio
o Insuficiência renal
o Carga de potássio exógena ou endógena
(esmagamento, hemólise ou
hipercatabolismo)
o Bloqueadores do sistema
renina/angiotensina
o Diuréticos poupadores de potássio
o Hipocortisolismo
o Hipoaldosteronismo
o Tubulopatias
o Drogas: ciclosporina/tacrolimus,
trimetoprim/sulfametoxazol

Tratamento
• Estabilização da membrana miocárdica:
gluconato de cálcio/cloreto de cálcio 1 amp EV
lento
• Bicarbonato de sódio
o Paciente já tem acidose metabólica
associada: fórmula de Ash: (Peso x BE x
0,3)/2 ou 1 a 2 mEq/kg
o Paciente não tem acidose metabólica
associada: 50 mEq em 5 minutos. Pode
repetir após 30 minutos
• Solução polarizante: glicose 50% 100ml +
insulina regular 10 UI correndo em 10-15
minutos. Se estiver hiperglicêmico, só infundir
insulina
• Resina de troca iônica (Sorcal®) - lento: adsorve
íons K+ dos capilares intestinais e troca por Ca2+ -
1 sachê de 30 g a cada 6 horas
• Diurético de alça: promove perda urinária de K +
rapidamente - furosemide (1 ampola = 20mg) 1-
2 ampolas EV até 6/6 horas – risco de
ototoxicidade
238
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Sepse Fatores de risco:


Síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS): tem • Internação em CTI; infecção nosocomial;
valor como instrumento de triagem para a identificação bacteremia; idade avançada; imunodepressão;
de pacientes com infecção e, potencialmente, sob risco hospitalização prévia por infecção; PNM
de apresentar sepse ou choque séptico, devendo haver, Tratamento
no mínimo, 2 dos sinais abaixo:
Pacote de 1 hora
• Temperatura central >38,3°C ou <36°C (ou • Exames laboratoriais: gasometria e lactato
equivalente em termos de temperatura axilar); arterial, hemograma completo, creatinina,
• FC >90 bpm; bilirrubina, coagulograma e 2 hemoculturas de
• FR >20 rpm ou PaCO2 <32 mmHg sítios distintos (antes da 1ª dose do ATB, porém,
• Leucócitos totais >12.000/mm³; ou <4.000/mm³ se não for possível, não deve postergar o início
ou presença de >10% de formas jovens (desvio à do ATB)
esquerda) • ATB EV de amplo espectro
• Se hipotensão (PAS <90 ou PAM <65),
Sepse: definida por infecção + disfunção orgânica. As
hipoperfusão (oligúria, presença de livedo,
disfunções orgânicas são:
tempo de enchimento capilar lentificado,
• Hipotensão (PAS <90 mmHg ou PAM <65 mmHg alteração do nível de consciência) ou lactato
ou queda de PA >40 mmHg) acima de 2 vezes o valor de referência, realizar
• Oligúria (≤0,5mL/Kg/h) ou elevação da ressuscitação volêmica com infusão imediata de
creatinina (>2mg/dL); 30 mL/kg de cristaloides
• Relação PaO2/FiO2 <300 ou necessidade de O2 • Se PAM <65 mesmo após infusão de volume,
para manter SpO2 >90%; iniciar drogas vasoativas (noradrenalina)
• Contagem de plaquetas <100.000/mm³ ou • Corticoide: recomendado para pacientes com
redução de 50% no número de plaquetas em choque séptico refratário - hidrocortisona 50 mg
relação ao maior valor registrado nos últimos 3 6/6h
dias; • Bicarbonato: usado apenas se pH <7,15 (mesmo
• Lactato acima do valor de referência; assim deve-se avaliar o uso)
• Rebaixamento do nível de consciência, agitação, • Controle glicêmico: manter glicemia <180 mg/dl
delirium;
• Aumento significativo de bilirrubinas (>2x o valor
de referência)

Quick SOFA (qSOFA)


• Em países desenvolvidos, pode-se usar o qSOFA
para triagem de pacientes sépticos (no Brasil não
é recomendado usá-lo de forma isolada)
• qSOFA: rebaixamento do nível de consciência; FR
>22 irpm; PAS <100 mmHg
• Diagnóstico de sepse: infecção + 2 critérios do
qSOFA
• Identifica o paciente com maior risco de óbito

Choque séptico
• Definido por sepse + (1) necessidade de
vasopressores para manter PAM ≥65mmHg ou
(2) lactato sérico >2 mmol/l (>18 mg/dl)

239
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Derrame pleural
Derrame pleural é o acúmulo anormal de líquido no
espaço pleural (espaço virtual que contém 5-15 ml de
líquido entre as pleuras parietal e visceral)

Etiologia
• Transudato: surge na ICC, cirrose hepática,
síndrome nefrótica, diálise peritoneal,
hipotireoidismo, síndrome da veia cava superior,
pericardite constritiva, atelectasia (aguda), • Incidência perfil: derrame >75-100 mL é visível
embolia pulmonar (20% dos casos) no seio costofrênico posterior
• Exsudato: surge em derrame parapneumônico,
infecções pleurais (bacterianas,
micobacterianas, virais, fúngicas, parasitárias e
rickettsiose), câncer, embolia pulmonar (80%
dos casos), colagenoses, asbestose, doenças
pancreáticas, uremia, atelectasia (crônica),
quilotórax, sarcoidose, drogas (nitrofurantoína,
amiodarona, metotrexate, dantrolene etc),
síndrome pós-injúria miocárdica

Anamnese
• Assintomático • Incidência de Lawrell (decúbito lateral com raios
horizontais): se lâmina líquida visualizada >
• Tosse
10mm indica >300 mL
• Dispneia
• Trepopneia (dispneia no decúbito contralateral
ao derrame)
• Dor torácica pleurítica ou que piora na
inspiração profunda

Exame físico
• MV reduzido/abolido
• Frêmito toracovocal abolido
• Macicez à percussão
• Atrito pleural (quando não há derrame
TC tórax
volumoso ainda)
• Método de imagem mais sensível (capaz de
• Respiração brônquica (se atelectasia)
detectar volumes tão pequenos quanto 10 ml)
• Egofonia (se atelectasia)
Toracocentese diagnóstica
Diagnóstico • Exame mais importante para esclarecer a
RX de tórax etiologia de um derrame pleural
• Incidência PA: derrame >175-200 mL é visível no
seio costofrênico lateral

240
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Líquido seroso: diferenciar transudato de


exsudato pelos critérios de Light, sendo
exsudato se:
o Relação proteína do líquido/proteína do
plasma >0,5
o Relação LDH do líquido/LDH do plasma
>0,6
o LDH do líquido >2/3 do limite superior
da normalidade no plasma (>200 U/l)

OBS.: até 25% dos derrames taxados como “exsudativos”


pelos critérios de Light, na realidade, são derrames
“transudativos”; assim, sempre que o contexto clínico
sugerir uma causa de derrame transudativo, mas a
toracocentese diagnóstica mostrar derrame exsudativo
(pelos critérios de Light), devemos recorrer ao cálculo do
Gradiente Soro-Pleural de Proteína - um resultado >3.1
g/dl confirma se tratar de TRANSUDATO

Tratamento
• Controle da doença de base
• Toracocentese terapêutica (alívio do
desconforto respiratório)
• Pleurodese (raro):fusão dos folhetos parietal e
visceral da pleura após instilação de substâncias
irritativas pelo dreno torácico (talco)

241
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Ascite diminuirão a perfusão renal e causarão retenção


líquida e aparecimento da síndrome
Ascite é definida como acúmulo patológico de líquido na
hepatorrenal e ascite
cavidade peritoneal.
• Classicamente, duas teorias foram criadas para
Pode ocorrer por múltiplas causas, incluindo neoplasia explicar o aparecimento da ascite nesses
maligna; no entanto, a relação entre cirrose e ascite é pacientes: underfilling e overflow
extremamente importante. Cirrose hepática é o Na teoria do underfilling, a pressão
responsável por 85% das ascites, e ascite está presente portal aumentada levaria ao
em 30% dos pacientes cirróticos no diagnóstico, extravasamento de fluido, e a
ocorrendo em 60% dos restantes nos próximos 10 anos. hipovolemia resultante levaria à
ativação do sistema renina-
Etiologia angiotensina-aldosterona, responsável
• A cirrose hepática é a principal causa de ascite por retenção de sódio e água, aumento
(85% dos casos). Outras causas são: do volume plasmático e da pressão
o Neoplasia maligna portal
o Insuficiência cardíaca o A teoria do overflow propõe que o
o Tuberculose evento primário é a retenção de sódio e
o Diálise água, expansão plasmática e aumento
o Doença pancreática da pressão portal com extravasamento
líquido
Fisiopatologia
• O aparecimento de ascite no paciente cirrótico é Manifestações clínicas
o evento final de uma série de alterações • A principal queixa do paciente geralmente está
anatômicas, fisiológicas e bioquímicas relacionada ao aumento do volume abdominal
• A presença de hipertensão portal é uma (importante descartar outras causas para tal –
condição essencial para aparecimento da ascite. distenção gasos, obesidade ou massas intra-
Pressão portal maior do que 12 mmHg é abdominais)
necessária para que ocorra retenção de líquido • A distensão abdominal causada pela ascite é na
• A partir do aparecimento da hipertensão portal, maioria das vezes indolor, exceto em caso de
mudanças importantes na circulação inflamação associada ou grande volume de
esplâncnica ocorrem, como a abertura de ascite
colaterais portossistêmicos que servem de • Podem ocorrer desconforto respiratório e
shunts nesta circulação. Além disso, ocorre dispneia por compressão pulmonar pelo líquido
aumento da circulação de mediadores ascético
inflamatórios e produtos de origem bacteriana • Saciedade precoce também é um dos sintomas
• A presença de shunts portossistêmicos, relatados
associada à diminuição da capacidade hepática • Os pacientes podem ter edema periférico e, caso
de metabolização desses mediadores, leva a um apresentem peritonite bacteriana espontânea
processo de vasodilatação esplâncnica, e ocorre (PBE), podem ocorrer febre ou confusão mental
o que chamamos de circulação hiperdinâmica do
paciente cirrótico, com aumento de débito Anamnse
cardíaco, diminuição da resistência vascular • Fatores de risco para doença hepática incluem:
periférica e da pressão arterial. Haverá, então, consumo de álcool (risco aumentado de cirrose
diminuição do volume circulante efetivo com com consumo de álcool >80 g/dia em homens e
consequente ativação de barorreceptores e 20 g/dia em mulheres em 10 anos) ou situações
sistemas vasoativos, com aumento da produção de risco aumentado de contaminação por vírus
de norepinefrina, endotelina, prostaglandinas, da hepatite (uso de drogas injetáveis, práticas
vasoconstritores e ativação do sistema renina- sexuais de risco etc.)
angio tensina e produção de ADH, que

242
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Avaliar antecedente de tuberculose, realização • A punção do líquido ascítico é realizada através


de diálise, doenças associadas como lúpus de punção na linha média ou na fossa ilíaca
eritematoso sistêmico (LES) e esclerodermia, esquerda (no 1/3 distal da linha que liga o
que podem estar associadas a hepatite umbigo à crista ilíaca anterossuperior)
autoimune ou cirrose biliar primária, • A punção do líquido ascítico tem indicação
insuficiência cardíaca, neoplasias, doença formal em todos os pacientes com ascite de
pancreática, obesidade, diabetes e doenças etiologia indefinida. Outras indicações
sexuais transmissíveis. ■ estabelecidas pela literatura incluem:
o Na admissão hospitalar
Exame físico o Condições clínicas suspeitas de infecção,
• O exame físico é parte essencial no diagnóstico e dor abdominal ou febre
tem a capacidade de detectar volumes a partir o Encefalopatia hepática
de 1.500 mL coletados na cavidade o Anormalidades laboratoriais que
• A manobra mais sensível para essa detecção é a sugerem infecção
macicez móvel o Deterioração da função renal
• Em pacientes sem macicez móvel e com o Sangramento gastrointestinal (descartar
distensão abdominal, a chance de a ascite estar PBE)
presente é de apenas 10% • A contagem de proteínas totais do líquido
• O diagnóstico pode ser realizado em ascites de ascítico também pode ser mensurada
menor volume com a ultrassonografia, que pode • É muito importante a contagem total de células
detectar a partir de 100 mL de volume e seu diferencial, pois contagens acima de 250
• Deve-se procurar achados sugestivos de doença células polimorfonucleares são diagnósticas de
cardíaca como estase jugular, edema periférico PBE
e B3; estigmas de doença hepática como • O líquido ascítico também deve ser submetido a
telangiectasias e hipertrofia de parótidas; realização de cultura, idealmente em frascos de
achados sugestivos de doença neoplásica como hemocultura. Esse procedimento aumenta a
nódulos supraclaviculares (alto risco de neopla taxa de detecção de crescimento bacteriano
sia), abdome escavado, nódulos em parede para 80%
abdominal ou nódulo periumbilical (nódulo • Outros testes que podem ser utilizados em
sister Mary-Joseph) também são importantes pacientes com ascite com GASA aumentado
incluem LDH, glicose e fosfatase alcalina, e
Classificação
podem ajudar inclusive na diferenciação entre
• Grau 1: ascite pequena, detectada apenas por
PBE e peritonite secundária
exame de imagem
• Os exames do líquido ascítico também podem
• Grau 2: ascite moderada, com distensão discreta
avaliar outras etiologias de ascite com GASA
do abdome
diminuído
• Grau 3: grande ascite com importante distensão
• Amílase: pode ser útil quando relação da amilase
abdominal
do líquido ascítico sobre o sérico >0,4 ou >6, o
Exames complementares que sugere, respectivamente, perfuração
• Exames de imagem como ultrassonografia e intestinal com peritonite secundária e ascite
tomografia computadorizada de abdome pancreática
detectam ascite em quantidades menores do • Bilirrubina: aumento da bilirrubina no líquido
que 100 mL, que seriam impossíveis de se ascítico sugere perfuração biliar
detectar pelo exame físico. Ultrassonografia • Adenosina deaminase: valores >40 U/L sugerem
pode ainda auxiliar a paracentese o diagnóstico de tuberculose. Outros exames
• O exame fundamental para o diagnóstico de úteis na tuberculose peritoneal incluem:
ascite é a paracentese diagnóstica com envio do o Pesquisa de micobactérias: sensibilidade
líquido para análise clínica de 0-2%

243
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Cultura: cultura de 1 litro do líquido tem primário ou por ruptura de focos na cavidade
sensibilidade de 62 a 83% peritoneal, resultando na formação de focos de
o Laparoscopia: sensibilidade próxima de necrose caseosa limitados por fibrose em locais
100% que aderem às alças intestinais. Pode ainda
• A citologia oncótica é outro exame importante e ocorrer por lesões em órgãos adjacentes, como
será positiva em quase 100% dos casos de intestino ou tubas uterinas e finalmente por
carcinomatose peritoneal contaminação direta do peritônio em pacientes
• Além dos exames do líquido ascítico, coleta de com insuficiência renal crônica em diálise
hemograma completo, função renal, função peritoneal
hepática, INR, proteínas totais e frações são • A TP pode cursar com dor abdominal e febre, e o
indicadas líquido ascítico tem em geral 500-2.000
céls/mm3 com predomínio linfocítico
GASA • Outros sintomas incluem sudorese noturna e
• A análise do líquido ascítico deve verificar a distensão abdominal (em pouco menos da
concentração de albumina metade dos casos), diarreia (em até 40% dos
• O GASA representa diferença entre a pacientes), hepatomegalia e esplenomegalia
concentração de albumina sérica e do líquido • O GASA na tuberculose é quase sempre maior do
ascético (GASA = albumina sérica - albumina do que 1,1
líquido ascético), e pode ser interpretado da • O isolamento do bacilo na cultura do líquido
seguinte maneira: ascítico tem uma sensibilidade de 35%, mas
o GASA > 1,1 g/dL = hipertensão portal requer um mínimo de 10 a 50 mL de ascite, com
o GASA < 1,1 g/dL = ausência de amostra ultracentrifugada e, em seguida,
hipertensão portal cultivada em meio Lowenstein-Jensen. A cultura
Ascite com GASA Ascite com GASA demora de 15 a 45 dias para ter resultado,
aumentado diminuído mesmo com uso de sistemas como o BACTEC
• Cirrose • Carcinoma • O aumento da adenosina deaminase (ADA) em
• Hepatite alcoólica peritoneal valores >40 u/L é muito útil para o diagnóstico
• Cirrose cardíaca • Tuberculose de TP
• Ascites mistas peritoneal • As biópsias cirúrgicas ou laparoscópicas
• Metástases • Ascite pancreática permanecem o meio mais efetivo para confirmar
hepáticas maciças • Obstrução ou o diagnóstico de TP
• Insuficiência infarto intestinal
hepática • Ascite biliar Peritonite associada a diálise peritoneal
fulminante • Síndrome • A peritonite associada a diálise peritoneal ainda
• Budd-Chiari nefrótica
é uma entidade relativamente comum, ocorre
• Trombose de veia • Vazamento
em até 45% dos pacientes nos primeiros 6 meses
porta linfático pós-
• Mixedema operatório do início da terapia, e pode ocorrer durante as
• Síndrome de • Serosite em trocas de banhos de diálise ou por infecções
obstrução doenças cutáneas associadas
sinusoidal inflamatórias • Em geral, é associada a microrganismos Gram-
• Fígado esteatótico positivos, mas a porcentagem de agentes Gram
da gravidez negativos tem aumentado
• Os pacientes geralmente apresentam quadro de
dor abdominal, febre, náuseas e vômitos,
Diagnóstico diferencial
diarreia, dialisado turvo ou hipotensão
Tuberculose peritoneal • O diagnóstico é realizado quando a contagem de
• A tuberculose peritoneal (TP) pode ocorrer por leucócitos for >100 céls/mm3 com mais de 50%
diversos mecanismos, incluindo disseminação de neutrófilos (em 85% dos casos >500
hematogênica de bacilos de um sítio pulmonar

244
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

neutrófilos /mm3) ou pesquisa direta de Gram Ascite quilosa


ou cultura positivas • A ascite quilosa é relativamente rara, sendo
definida por concentrações de triglicérides >200
mg/dL
• Pode ocorrer por obstrução dos ductos linfáticos
secundários a doença maligna, exsudação de
linfa de vasos retroperitoneais através de fístula
ou obstrução do ducto torácico por trauma com
fístula linfoperitoneal
• As etiologias da ascite quilosa incluem:
o Cirrose: 0,5 a 1% das cirroses cursam
com ascite quilosa
o Malignidade: linfoma representa de 30-
50% dos casos
o Alterações congênitas
o Doenças inflamatórias (principalmente
filariose)
o Pós-radioterapia
o Pós-trauma
o Insuficiência cardíaca
Ascite associada a malignidade o Síndrome nefrótica
• A ascite neoplásica pode ocorrer por múltiplos o Linfangioleiomiomatose
mecanismos. Entre eles, podemos citar Ascite hemorrágica
o Carcinomatose peritoneal: 53%
• Definida por uma contagem de hemácias
o Metástases hepáticas com hipertensão
>50.000/mm3
portal: 13%
• As causas incluem:
o Metástases hepáticas com
o Cirrose
carcinomatose: 13%
o Malignidade
o Carcinoma hepatocelular e cirrose: 13%
o Cisto ovariano roto
o Ascite quilosa: 7%
o Tuberculose
o Budd-Chiari secundário a oclusão por
o Parasitoses
malignidade: rara
o Insuficiência cardíaca
• As ascites neoplásicas geralmente têm >500
o Doenças inflamatórias
céls/mm3 com predomínio de células
o Trauma
linfomononucleares e o seu principal diagnóstico
o Diálise peritoneal
diferencial é a tuberculose peritoneal
• Cerca de 95% dos pacientes apresentam GASA ≥ Ascite pancreática
1,1 e conteúdo de proteínas totais do líquido • Representa o acúmulo de líquido pancreático na
ascítico > 2,5 g/dL cavidade peritoneal
• A glicemia sérica e do líquido ascítico tem • Tipicamente cursa com níveis de amilase > 1.000
resultados semelhantes, mas o LDH do líquido u/L e a relação amilase do líquido
ascítico é geralmente maior que o sérico ascítico/amilase sérica costuma ser próxima a 6
• O diagnóstico pode ser realizado pela citologia
do líquido ascético, mas o diagnóstico definitivo Ascite na insuficiência cardíaca
é realizado pela laparoscopia com biópsia • Costuma cursar com GASA ≥1,1, mas, ao
contrário da cirrose, a concentração de
proteínas do líquido ascítico usualmente é >2,5
g/dL

245
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• A dosagem de peptídeo natriurético cerebral • Falha em excretar mais que 78 mmol de sódio
(BNP), tanto sérico como no líquido ascético, por dia com uso de diuréticos
está geralmente aumentada • Azotemia (piora da função renal)
• Hipercalemia
Ascite pela síndrome de Budd-Chiari
• Aparecimento de outras complicações do uso de
• Outra situação que cursa com GASA ≥1,1, mas
diuréticos, como encefalopatia hepática
apresenta concentração de proteínas do líquido
• A paracentese de alívio está indicada em
ascítico > 2,5 g/dL
pacientes com desconforto significativo pela
• O diagnóstico pode ser confirmado pela
ascite, realizando a reposição de albumina
realização de Doppler de artérias supra-
quando se retira mais do que 5 L de líquido
hepáticas
ascítico (reposição de 8-10 g de albumina por
• Os pacientes frequentemente têm associação
litro retirado, incluindo os 5 L iniciais)
com trombofilias, como a mutação do fator V de
• O tratamento definitivo para as ascites
Leyden ou condições como hemoglobinúria
refratárias é o transplante hepático
paroxística noturna
Tuberculose peritoneal
Tratamento • O tratamento da tuberculose peritoneal é
O tratamento depende da etiologia da ascite
semelhante ao da tuberculose em outros sítios,
Cirrose hepática com duração de 6 a 9 meses com esquema
• Em pacientes com ascite por cirrose hepática, quádruplo
recomenda-se a interrupção imediata do • A ascite associada a infecção de cateter de
consumo de álcool e dieta hipossódica (consumo diálise peritoneal tem como opções para o
diário de sódio deve ser menor do que 2 g/dia) tratamento:
• A quantidade de líquidos ingeridos não precisa • Cefazolina ou outra cefalosporina de primeira
ser reduzida (a restrição de água livre só é geração se baixa incidência de cepas meticilino-
indicada com hiponatremia significativa com resistentes ou vancomicina se alta taxa de cepas
valores de sódio sérico abaixo de 120 mEq/L) meticilino-resistentes
• O tratamento deve ser iniciado com diuréticos. • Cobertura de Gram-negativos com cefalosporina
O objetivo é manter uma perda de 0,5 a 1 litro de terceira geração ou aminoglicosídeo
por dia, que pode ser monitorizada com a • Tratamento preferencialmente intraperitoneal
pesagem diária do paciente por 10 a 21 dias, com medicação intravenosa
• Os diuréticos poupadores do potássio, obrigatória em casos de choque séptico
antagonistas da aldosterona, são a escolha inicial
quando se decide por monoterapia. O uso
associado de diuréticos de alça, como a
furosemida, é indicado pela maior parte da
literatura. A recomendação no caso da
combinação de diuréticos de alça com
espironolactona é de usar na proporção 40 mg
de furosemida combinado com 100 mg de
espironolactona, com dose máxima de 160 mg
de furosemida e 400 mg de espironolactona, que
pode ser dividida em duas tomadas diárias
• Quando não há resposta a diuréticos, a ascite
pode ser considerada refratária. Os critérios para
essa definição são os seguintes:Falha em perder
com dose máxima de diuréticos mais de 300 g ao
dia

246
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Erisipela • Muitas doenças sistêmicas estão relacionadas


com incidência maior de erisipela, sendo,
É uma infecção bacteriana aguda da pele, que se traduz
portanto, consideradas fatores predisponentes,
por uma intensa capilarite linfática da derme, podendo
tais como o alcoolismo crônico, diabete melito,
ou não envolver o sistema de drenagem dos linfáticos
obesidade, neoplasias das mais variadas,
superficiais, caracterizado por estrias ou faixas
doenças que resultam em imunodeficiência e
eritematosas, e consequente adenite regional ou
insuficiência cardíaca
troncular.
• A permanência hospitalar nos casos de erisipela
Etiologia varia, em média, entre 7 e 12 dias
• O estreptococo β hemolítico do grupo A, ou seja,
o Streptococcus pyogenes, é o agente etiológico
Anamnese
mais frequente da erisipela. São descritas, • Os sinais e sintomas gerais costumam preceder
também, infecções por estreptococos dos as alterações que surgem na pele em 24 a 48 h e
grupos B, C e G, e, mais raramente, por incluem:
estafilococos, como o Staphylococus aureus o Febre alta, entre 38°C e 40°C
o Calafrios
• O Streptococcus pyogenes é o responsável pela
o Mal-estar
infecção nas erisipelas em 58 a 67% dos casos,
o Náuseas e vômitos
Streptococcus agalactiae do grupo B por 3 a 9%
o Astenia e mialgias
e outras Streptococcus spp. por 14 a 25%.
Associado ou isoladamente, pode estar presente • Um ou 2 dias após tais sintomas, aparece uma
o Staphylococcus aureus em 10 a 17% dos casos pequena área eritematosa no local
comprometido, com sensação de queimação
Epidemiologia local que se espalha progressivamente
• A incidência de erisipela é estimada em • Quando a doença se torna evidente, a placa
0,09/1.000 pessoas ao ano eritematosa se apresenta elevada, quente,
• Ainda é bastante observada em muitos países da tensa, brilhante e bem delimitada
Europa como Suécia, Alemanha e França, e • Sem tratamento, os sintomas gerais persistem.
menos incidente na América do Norte Surge, então, um edema firme, não depressível
• Nos países das Américas Central e do Sul, onde e doloroso à palpação, sendo geralmente
predomina o clima tropical (calor e umidade), observadas faixas linfangíticas com nódulo
torna-se entidade da prática diária médica linfático satélite
• É uma doença que acomete • Após cerca de 10 a 15 dias percebe-se a pele com
predominantemente indivíduos adultos, entre tonalidade um pouco mais escura e processo de
os 20 e os 90 anos de idade, atingindo um pico descamação. Essa forma de manifestação clínica
na faixa etária entre 60 e 80 anos pode ser definida como eritematoedematosa
• Em mais da metade dos casos, a erisipela • Relacionadas com o processo inflamatório e
compromete os membros inferiores, entretanto, infeccioso da erisipela, podem aparecer bolhas,
pode acometer outras regiões do corpo, como a decorrentes da confluência de inúmeras
face ou os membros superiores vesículas, e que podem ter conteúdo seroso e
• A solução de continuidade da pele na doença até mesmo hemático (forma vesicobolhosa –
venosa crônica, com a presença de dermatite e mais grave)
úlcera de estase, constitui um fator de risco • As infecções fúngicas interdigitais, em primeiro
importante para a ocorrência de erisipelas. Além plano, fissuras, pequenos traumatismos, picadas
do edema crônico e do antecedente de erisipela, de insetos e úlceras preexistentes, sobretudo
outros fatores locais, tais como micose secundárias a insuficiência venolinfática, devem
interdigital e safenectomia prévia, vêm sendo ser consideradas
considerados como fatores de risco para • Nos membros superiores, possíveis lesões que
celulites e erisipelas representam portas de entrada para a infecção

247
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

são o uso de drogas injetáveis e linfedema pós estreptococo do grupo A, pode ser
mastectomia e radioterapia utilizada a associação de penicilina e
• Em relação à erisipela facial, é frequente clindamicina
infecção de orofaringe inicial, com disseminação • Erisipelas necrosantes: o quadro se apresenta
para a face ou auto inoculação pela própria pele insidioso, embora progressivo, com sinais
maiores de linfangite, sem envolvimento
Complicações evidente da fáscia aponeurótica
Imunodeficiência, diabetes melito, obstrução arterial, • Abscessos: demanda tratamento cirúrgico
desnutrição, alcoolismo, insuficiência renal crônica, • Trombose venosa profunda associada ao quadro
neoplasias e idade avançada são fatores que, quando infeccioso: pode ocorrer em cerca de 1 a 5% dos
vinculados ao componente infeccioso, podem significar pacientes
maior incidência de complicações
• Linfedema residual: cronicamente, pode ocorrer
• Fasciite necrosante: mostra resposta sistêmica em até 12% dos pacientes como sequela de um
inflamatória exuberante e com evolução rápida episódio agudo de erisipela
da lesão tegumentar para a necrose, que se
Tratamento
mostra sempre profunda, comprometendo a
• Medidas gerais: envolve o repouso com a
fáscia aponeurótica e, muitas vezes, com pobre
elevação do membro acometido
reação linfática local
o Antieméticos: em pacientes com
o A apresentação inicial é semelhante à de
náuseas e vômitos, são necessários, mas
uma celulite, mas o paciente evolui com
por pouco tempo
sinais de toxemia e febre alta. Na
o Hidratação com solução salina
palpação, os planos profundos não
o Antitérmicos: dipirona ou paracetamol
podem ser distinguidos, possuindo uma
controlam a febre
consistência firme
o Anti-inflamatórios e analgésicos
o Dentre tais sinais estão dor
• Antibióticos: a penicilina é a primeira opção no
desproporcional aos achados do exame
tratamento da erisipela. O uso dos macrolídios,
físico (intensa e constante); bolhas de
como a eritromicina e a azitromicina, no
coloração violácea; hemorragia, necrose
tratamento das erisipelas, deve ser reservado
ou equimose da pele; anestesia cutânea;
para os casos de hipersensibilidade comprovada
edema além das margens do eritema;
à penicilina
progressão rápida (especialmente
o Tratamento ambulatorial: penicilina G
durante a antibioticoterapia); sinais
procaína na dose de 400.000 a 600.000
sistêmicos de toxemia e presença de gás
UI intramuscular de 12/12h nos
no subcutâneo, que pode ser detectada
primeiros 10 dias, e complementar com
à palpação ou exames de imagem
a penicilina benzatina
o Os achados laboratoriais incluem
o Pacientes internados: penicilina G
leucocitose, creatinina elevada, acidose,
cristalina intravenosa na dose de
sódio abaixo de 135 mmol/ℓ e CPK
500.000 UI/kg/24 h, fracionadas de 4/4
elevada
h pelo tempo necessário. Na ocasião da
o A cirurgia é a principal modalidade
alta hospitalar, o tratamento pode ser
terapêutica na fasciite necrosante
continuado com penicilina V oral com
o Na suspeita de infecção polimicrobiana,
dose de 50.000 a 100.000 UI/kg/24 h ou
um dos esquemas antimicrobianos
amoxicilina com dose de 20 a 30
indicados é a associação de ampicilina,
mg/kg/24 h, por um período de 12 a 15
sulbactam, clindamicina e
dias
ciprofloxacino. Os carbapenêmicos
o Nas celulites: amoxicilina + clavulanato
(meropeném ou imipeném cilastatina)
o Em área com elevada prevalência de
também podem ser utilizados nesses
infecções por Staphylococcus aureus
casos. Quando o agente etiológico é o
248
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resistente à meticilina (MRSA): Profilaxia


sulfametoxazol + trimetoprima. A • Penicilina benzatina, 1.200.000 a 2.400.000 UI
clindamicina é uma segunda opção IV, IM, a cada 3 semanas, durante um período de 4
na dosagem de 600 mg a cada 6 ou 8 h a 18 meses
o A vancomicina deve ser reservada aos
quadros de infecções graves com a Vacina de cepas mortas de Corynebacterium parvum: nas
ocorrência de necroses extensas, ou nos erisipelas ditas recidivantes e de difícil controle, utiliza-
casos de fasciite necrosante, em se 4 mg IM a cada 7 dias, durante 5 semanas e
associação à clindamicina sequencialmente uma ampola por mês durante 5 meses
• Heparina: efeito anti-inflamatório e minimiza os
riscos de trombose venosa profunda naqueles
pacientes obesos, acamados e com antecedente
prévio de tromboembolismo pulmonar
• Tratamento local: quando a lesão é basicamente
eritematoedematosa, as simples compressas de
soro fisiológico estéril à temperatura ambiente
ou levemente geladas têm efeito vasoconstritor
e são capazes de colaborar na hidratação da
pele, podendo ser realizadas de 4 a 6 vezes/dia.
Na sequência, é comum se usarem cremes ou
pomadas de corticoide associado a antibióticos,
de preferência um aminoglicosídio. Quando da
presença de bolhas, não se deve rompê-las ou
debridá-las, mas sim aguardar a ruptura
espontânea. Nas formas mais secretantes a
solução de permanganato de potássio bem
diluída (1:40.000) é referida e age como um
antisséptico secativo. As lesões preexistentes
que funcionam como porta de entrada,
sobretudo as micoses, devem ser combatidas.
Um antifúngico tópico, como o cetoconazol em
solução oleosa, deve ser mantido pelo tempo
necessário
• Tratamento cirúrgico: os abscessos devem ser
drenados sempre que diagnosticados. O
debridamento cirúrgico é de fundamental
importância e deve ser realizado precocemente,
sempre que necessário, com a finalidade de
erradicar o foco bacteriano e os tecidos
desvitalizados que servem como meio de cultura
• Oxigenoterapia hiperbárica: como tratamento
coadjuvante pode ser útil, juntamente com o
adequado uso de antibiótico e o debridamento
cirúrgico. O seu uso é indicado nos quadros
graves de erisipela necrótica em áreas extensas,
em sessões diárias com duração de 1 a 2 h

249
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Celulite

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Hipertensão Arterial Sistêmica Diagnóstico


Condição clínica multifatorial caracterizada por elevação • Diagnóstico de hipertensão: PA ≥ 140x90 mmHg
sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. com risco cardiovascular alto ou PA ≥ 180x110
mmHg
Frequentemente se associa a distúrbios metabólicos,
alterações funcionais ou estruturais de órgãos alvo, Indicações para MAPA ou MRPA
sendo agravada por outros fatores de risco, como • Suspeita de hipertensão do avental branco: HAS
dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose estágio 1 no consultório ou PA alta em
e diabetes. consultório em indivíduos sem lesão de órgão
alvo e baixo risco cardiovascular
Mantém associação independente com eventos como
• Suspeita de hipertensão mascarada: PA entre
morte súbita, AVE, IAM, IC, DRC e doença arterial
130x85 e 139x89 no consultório ou PA < 140x90
periférica.
mmHg no consultório em indivíduos
Epidemiologia assintomáticos com lesão de órgão alvo ou com
alto risco cardiovascular
• Atinge cerca de 32,5% da população adulta
brasileira e mais de 60% dos idosos • Identificação de hipertensão do avental branco
em hipertensos
• Contribui direta e indiretamente para 50% das
mortes por doença cardiovascular • Grande variação da PA no consultório na mesma
consulta ou em consultas diferentes
Fatores de risco • Hipotensão postural, pós-prandial, na sesta ou
• Idade: há associação direta e linear do induzida por fármacos
envelhecimento com a prevalência de HAS. A • PA elevada de consultório ou suspeita de pré-
idade entre 40 a 65 anos representa a maior eclâmpsia em mulheres grávidas
proporção • Confirmação de hipertensão resistente
• Sexo e etnia: mais comum em homens e negros
Indicações específicas para MAPA
• Excesso de peso e obesidade: a perda de peso é
• Discordância importante entre a PA no
o fator não medicamentoso de maior impacto no
consultório e em casa
tratamento da HAS
• Avaliação do descenso durante e sono
• Ingestão de sal: acima de 6 g de NaCl/dia
• Suspeita de HA ou falta de queda da PA durante
• Ingestão de álcool: consumo crônico e elevado
o sono habitual em pessoas com apneia de sono,
de bebidas alcoólicas aumenta a PA de forma
DRC ou diabetes
consistente (>30-40 g/dia em mulheres e >31
g/dia) • Avaliação da variabilidade da PA
• Sedentarismo Classificação
• Fatores socioeconômicos: a prevalência de HAS • Normal: ≤ 120 e/ou 80 mmHg
é maior quanto menor o nível de escolaridade
• Pré-hipertensão: 121-139 e/ou 81-89 mmHg
• Fatores genéticos • Hipertensão grau 1: 140-159 e/ou 90-99 mmHg
Fatores de risco cardiovascular adicionais • Hipertensão grau 2: 160-179 e/ou 100-109
• Idade: homem > 55 e mulheres > 65 anos mmHg
• Tabagismo • Hipertensão grau 3: ≥ 180 e/ou ≥ 110
• Dislipidemia: triglicérides > 150 mg/dl; LDL-C >
Exames de rotina para o paciente hipertenso
100 mg/dl; HDL-C < 40 mg/dl
• Análise de urina: cilindros hialinos, leucocitúria,
• DM
hematúria
• História familiar prematura de DCV (menos de
• Potássio plasmático: ajuda a ver função renal e
55 para homens e 65 anos para mulheres)
na avaliação da medicação que vai ser oferecida
ao paciente
• Glicemia de jejum e hemoglobina glicada

251
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• Ritmo de filtração glomerular • São considerados de risco intermediário:


• Creatinina plasmática homens com escore de risco global (ERG) entre
• Colesterol total, HDL e triglicérides 5% e 20% e mulheres com ERG entre 5% e 10%
• Ácido úrico plasmático • São considerados de alto risco: homens com
• Eletrocardiograma convencional ERG > 20% e as mulheres com ERG > 10%
• Sódio: se o paciente fizer uso de ISRS, diuréticos
Metas terapêuticas
e outros medicamentos que alterem sódio
• Estágio 1 e 2 com baixo a moderado risco
Estratificação cardiovascular e estágio 3: menor que 140x90
• A estratificação se dá de acordo com a tabela mmHg
abaixo:

252
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• Estágio 1 e 2 com alto risco cardiovascular: uso, age nos vasos, com redução da resistência
menor que 130x80 mmHg vascular periférica
• Pode ser utilizado, também, em situações de
Regulação da PA hipercalcemia
• Efeitos colaterais: reações idiossincráticas (rash
cutâneo), hiponatremia, hipocalemia (combinar
com poupador de potássio quando houver
sintomas), hipomagnesemia, hiperuricemia,
hiperglicemia, hipercalcemia (reduzem a
depuração de cálcio - não usar em
hiperparatireoidismo e usar em osteoporose ou
em litíase renal), hipercolesterolemia discreta

Diuréticos de alça
• Bumetanida, furosemida, torsemida
• Mais eficazes por serem mais potentes
• Util em hipertensos com perda significativa da
Tratamento função renal ou em pacientes com IC
Medidas não farmacológicas • Ação de curta duração
• A que apresenta maior impacto é perda de peso • Usados quando os tiazídicos não produzem
• Atividade física: pelo menos 150 minutos de resposta
aeróbico por semana • Agem na bomba tripla da alça de Henle, inibindo-
• Consumo de sal: abaixo de 6 g de NaCl por dia a, reduzindo a reabsorção de sódio
• Efeitos colaterais: hipocalemia, ototoxicidade,
Farmacológicas hipomagnesemia, hiperuricemia, risco de
desidratação, interação medicamentosa com
lítio (menor reabsorção de sódio pode aumentar
a reabsorção de lítio, podendo causar toxicidade
por litemia)

Diuréticos poupadores de potássio


• Espironolactona: compete com a aldosterona no
seu receptor, impedindo a implantação da ENAC
e RONK no lúmen
• Amilorida e trianterno: bloqueiam o canal ENAC
• Efeitos colaterais:
Diuréticos tiazídicos o Bloqueadores do canal de sódio:
• Hidroclorotiazida (25 mg), clortalidona, aumento da uremia, retenção de ácido
indapamina úrico e potássio, rash cutâneo
• Primeira escolha se não há complicações o Antagonista da aldosterona: distúrbio
• Dose única, diária, pela manhã gástrico, ginecomastia,
• Início de ação em 1-2 horas, durando de 12-24 hiperpotassemia, náuseas, letargia,
horas confusão mental
• Drogas de primeira escolha em
IECA/BRA
afrodescendentes
Essas drogas promovem arteriolodilatação, reduzindo o
• Age no túbulo distal, inibindo a bomba sódio-
pós-carga, venodilatação, reduzindo a pré-carga,
cloro, impedindo a reabsorção de sódio,
redução dos efeitos diretos da angiotensina II sobre o
impedindo também a reabsorção de água,
miocárdio
reduzindo a volemia (e o DC). Após 4 semanas de

253
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• IECA: captopril, enalapril, ramipril


o Indicações: alterações de perfil
metabólico, IC, DM, disfunção
ventricular, proteinúria
o Aumentam os níveis de bradicinina, uma
substância vasodilatadora endógena
(causando tosse em 5% dos pacientes).
Oorre também acúmulo de
prostaciclinas, maior produção de óxido
nítrico, contribuindo também com o
efeito do medicamento
• BRA: losartana, valsartana, candesartana
o Devem ser utilizados caso o paciente
não se beneficie com o IECA pelos seus Simpatolíticos de ação central
efeitos colaterais, sendo o mais grave o • Metildopa: falso neurotransmissor. Utilizado na
angioedema; a tosse, se muito hipertensão na gravidez, pré-eclâmpsia
incômoda também indica substituição • Clonidina: alfa2-agonista direto
• Efeitos colaterais: tontura, fadiga, depressão,
Bloqueadores do canal de cálcio pesadelos, constipação, boca seca, impotência
• Fenilalquilaminas: verapamil sexual, hipertensão rebote
• Benzodiazepinas: diltiazem é a droga
representante menos depressor miocárdico, Vasodilatares
sendo eficaz em angina e hipertensão. Seus • Arteriolodilatadores: hidralazina, minoxidil
efeitos colaterais são bradicardia excessiva e • Causam vasodilatação arteriolar intensa,
BAV reduzindo acentuadamente a PA, ativando
• Diidropiridínicos: afinidade vascular barorreceptores e estimulando o sistema
preponderante, sendo representados pelo simpático reflexo, provocando taquicardia e
anlodipino e nifedipino. Os efeitos colaterais liberação de renina, levando ao aumento da
mais comuns são edema maloplar, cefaleia, angiotensina II e aldosterona
rubor facial, tontura e palpitação • Efeitos colaterais: AVC, IAM, angina, cefaleia,
hipotensão postural, náuseas
Bloqueador alfa-1-adrenérgico
• Devem ser utilizados em associação com
• Prazosin, doxazozin: usados em associação em diuréticos (diminuir a retenção hídrica e de
pacientes com hipertensão grave sódio) e beta-bloqueadores (evitar a taquicardia
• Efeitos adversos: hipotensão ortostática, reflexa)
tontura, fraqueza, taquicardia reflexa, diarreia,
vômito

Beta-bloqueadores
• Diminuem o débito cardíaco, reduzindo a PA;
reduzem também a secreção de renina,
apresentam efeitos nos barorreceptores
• Efeitos colaterais: bradicardia (bloqueio AV), ICC
(paciente instáveis), crise asmática, pode
obscurecer os sintomas de hipoglicemia em
diabéticos usando insulina (ex. taquicardia,
tremores), efeitos sobre o sistema nervoso
central (sedação, pesadelos)

254
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Doença Renal Crônica G4 15-29 Diminuição grave


G5 < 15 Falência renal
Existe Doença Renal Crônica (DRC) quando há “dano
renal” (geralmente detectado pela presença de
albuminúria > 30 mg/dia, ou alterações equivalentes) Estágio da Albuminúria Interpretação
e/ou “perda de função renal” (definida como uma taxa Albuminúria
de filtração glomerular < 60 ml/min/1.73 m2), por um A1 < 30 Normal
período maior ou igual a três meses. A2 30-300 Aumento moderado
A3 > 300 Aumento grave
Ao contrário do que se observa na maioria dos casos de
IRA, na DRC não ocorre regeneração do parênquima
renal, e por isso a perda de néfrons, por definição, é Epidemiologia
irreversível. Às vezes, no entanto, a doença renal crônica • O Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de
pode se instalar de forma aguda, tal como acontece em Nefrologia, possui um pouco mais de cem mil
dois exemplos clássicos – necrose cortical aguda e indivíduos em programa de diálise crônica
glomerulonefrite rapidamente progressiva. • Anualmente, 5-10% de novos pacientes iniciam
terapia de substituição renal
Todas as nefropatias crônicas, após um período variável
• A etiologia no Brasil ainda é principalmente por
(geralmente entre 3 a 20 anos), podem evoluir para a
hipertensão, seguida por DM e
chamada Doença Renal em Fase Terminal (DRFT), em
glomerulonefrites crescênticas (presença de
que se observam níveis residuais de TFG (< 15% do
crescentes dentro do glomérulo – proliferação
normal). Neste momento, a histopatologia renal perde
extracapilar e multiplicação da cápsula de
as características específicas da nefropatia inicial,
Bowman), doença renal policística e outras
apresentando uma alteração universal: fibrose
causas.
glomerular e intersticial, aliada à atrofia dos túbulos (ou
seja, “perda total” dos néfrons). Adaptação
Estadiamento • O rim se adapta como se tivesse sofrido
uninefrectomia, elevando em até 80% o ritmo de
• A classificação da KDIGO permite estratificar o
filtração glomerular às custas de aumento da
paciente quanto ao risco de complicações da
fração por néfron, aumentando a pressão
DRC (ex.: eventos cardiovasculares, evolução
efetiva de ultrafiltração (PEUF) - dependente da
para DRFT, óbito)
pressão hidrostática, pressão oncótica, fluxo
• Além da taxa de filtração glomerular, agora se
plasmático e coeficiente de solubilidade
valoriza também o grau de albuminúria, uma vez
o Aumento da pressão hidrostática
que este parâmetro é capaz de predizer o
o Aumento do fluxo plasmático
prognóstico independentemente da TFG
• Com isso, há elevação do fluxo plasmático e
• Assim, a classificação final será composta pela
pressão hidráulica glomerular
combinação dos estágios “G” + “A”, devendo-se
• A pressão mantida alta no glomérulo é lesiva,
acrescentar a letra “D” se o paciente estiver em
causando dano endotelial, aumento de citocinas
diálise. Por exemplo: G1A2 (TFG normal, porém,
inflamatórias e até ruptura das células
presença de dano renal); G3aA1 (DRC leve a
endoteliais
moderada); G5DA3 (falência renal
“proteinúrica” em diálise) • A própria hiperfiltração adaptativa acaba
induzindo lesão glomerular, inicialmente pelo
Estágio TGF TFG Interpretação processo de glomeruloesclerose segmentar focal
G1 ≥ 90 Normal (justificando a proteinúria crescente), que com o
G2 60-89 Diminuição leve tempo evolui para glomeruloesclerose global
G3a 45-59 Diminuição leve a difusa, acompanhada de fibrose e atrofia de
moderada todo o néfron (justificando a DRFT)
G3b 30-44 Diminuição moderada • O bloqueio do sistema renina-angiotensina
a grave
comprovadamente consegue prevenir ou
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

atrasar esta evolução. O uso de inibidores da ECA o Compostos guanidínicos (os mais
ou Antagonistas da Angio II produz uma redução implicados na síndrome urêmica): ácido
no grau de proteinúria bem acima do esperado guanidinoacético, ácido
somente pela queda dos níveis tensionais (fato guanidinosuccínico, metilguanidina e a
relacionado à dilatação da arteríola eferente e creatinina (sem efeito tóxico)
redução da hipertensão intraglomerular) ▪ O ácido guanidinosuccínico
inibe a atividade plaquetária,
Etiologia sendo, portanto, um dos fatores
• Nefroesclerose hipertensiva 35% implicados no sangramento
• Glomerulopatia diabética 30% urêmico. As guanidinas também
• Glomerulopatia primárias 12% parecem se associar às
• Outras ou não informada 20% alterações do estado mental, e
o Nefrite lúpica, nefrites intersticiais se acumulam no fluido
crônicas, necrose tubular aguda com cerebroespinhal de pacientes
lesão permanente, nefropatia urêmicos
isquêmica, nefropatia do HIV, anomalias o Compostos aromáticos
renais congênitas, ateroembolismo, ▪ Os fenóis e os indóis geralmente
síndrome de Alport, mieloma múltiplo, apresentam carga negativa,
câncer renal e granulomatose de portanto, seu acúmulo contribui
Wegener para o aumento do ânion-gap na
• Rins policísticos 4% insuficiência renal. A
semelhança destes produtos
Aspectos fisiopatológicos da síndrome urêmica com neurotransmissores torna
• Acúmulo de toxinas nitrogenadas dialisáveis provável sua contribuição na
• Acúmulo de peptídeos (moléculas de peso gênese dos sintomas
médio) neurológicos
• Retenção de líquido (hipervolemia, HAS, o Aminas alifáticas
hiponatremia dilucional) ▪ A trimetilamina é um dos
• Retenção de eletrólitos (sódio, potássio, fosfato) responsáveis pelo hálito
• Retenção de ácido úrico, homocisteína urêmico, semelhante ao de
• Acidose metabólica peixe podre. As aminas também
• Inflamação sistêmica/aterosclerose acelerada se associam aos sintomas
• Deficiência de eritropoietina (anemia) neurológicos da uremia
• Deficiência de calcitriol (vitamina D ativa) o Poliaminas
• Hiperparatireoidismo secundário ou terciário
Distúrbios hormonais (perda da função
Toxinas Dialisáveis (Perda da Função de “Filtro”) endócrina)
• A disfunção renal grave leva ao acúmulo de • O principal parece ser a elevação dos níveis de
substâncias tóxicas endógenas, algumas das paratormônio (PTH), devido ao
quais podem ser filtradas pela membrana de hiperparatireoidismo secundário. O PTH é
diálise considerado uma verdadeira “toxina urêmica” e
• As toxinas nitrogenadas dialisáveis relacionadas contribui para quase todos os sinais e sintomas
à síndrome urêmica são principalmente: da síndrome, incluindo a encefalopatia, a
o Ureia (em níveis elevados > 380 mg/dl) cardiomiopatia, a anemia e o prurido
▪ Sua toxicidade é primariamente • A deficiência de eritropoietina é o principal fator
gastrointestinal (anorexia, patogênico da anemia urêmica
náuseas e vômitos) e • A deficiência de calcitriol, por sua vez, está
hematológica (sangramento) implicada na osteodistrofia renal e na miopatia

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

urêmica, sendo ainda uma das causas do • Estado de hipercatabolismo – desnutrição


hiperparatireoidismo secundário proteicocalórica
• A deficiência na produção de Amônia (NH3) pelo • Depressão imunológica – predisposição à
parênquima renal contribui para a acidose infecção
metabólica da uremia
• Um deficit na produção de óxido nítrico renal Desequilíbrio Hidroeletrolítico
contribui para a hipertensão arterial • Na insuficiência renal crônica, à medida que a
filtração glomerular se reduz, um mecanismo de
Aspectos clínicos da síndrome urêmica adaptação faz aumentar a fração excretória de
• Dá-se o nome de síndrome urêmica ao conjunto cada néfron remanescente, de forma a manter a
de sinais e sintomas que aparece na insuficiência capacidade de excreção renal total e garantir o
renal grave, quando a filtração glomerular está < equilíbrio hidroeletrolítico. Enquanto a TFG for
30 ml/min. Algumas manifestações da síndrome superior a 20 ml/min, o equilíbrio
urêmica respondem bem à diálise, enquanto hidroeletrolítico e acidobásico geralmente
outras não, necessitando de tratamento estará intacto. Entretanto, quando a filtração
específico (ou melhorando somente após chega a valores muito baixos, compatíveis com a
transplante renal) síndrome urêmica, a regulação hidroeletrolítica
torna-se limitada
Manifestações da síndrome urêmica que
• Distúrbios hidroeletrolíticos mais frequentes na
respondem à diálise síndrome urêmica:
• Desequilíbrio hidroeletrolítico – hipervolemia, o Hipervolemia: retenção de sódio e água
hipercalemia e hiponatremi o Hiponatremia: retenção de água livre
• Desequilíbrio acidobásico – acidose metabólica o Hipercalemia: retenção de potássio
• Sintomas gastrointestinais (anorexia, náuseas, o Acidose metabólica: retenção de H+
vômitos, diarreia) o Hiperfosfatemia: retenção de fosfato
• Sintomas neurológicos (encefalopatia, o Hipermagnesemia: retenção de
neuropatia periférica) magnésio
• Hipertensão arterial sistêmica o Hipocalcemia: deficiência de calcitriol
• Sintomas cardíacos (pericardite, edema
pulmonar cardiogênico) Balanço de sódio
• Sintomas pulmonares e pleurais (edema • A retenção de sódio é universal quando a
pulmonar não cardiogênico, derrame pleural) filtração glomerular está abaixo de 10 ml/min
• Disfunção plaquetária (predisposição à (10% da função renal), na ausência de uma
hemorragia) restrição adequada na dieta. A consequência é o
• Intolerância à glicose (resistência à insulina) Estado hipervolêmico
• Nesses pacientes, uma ingestão acima de 100
Manifestações da síndrome urêmica que não mEq/dia de sódio já pode ser suficiente para
respondem à diálise causar hipervolemia e suas consequências
• Anemia clínicas: (1) hipertensão arterial sistêmica; (2)
• Osteodistrofia renal edema generalizado. O edema, denominado
• Distúrbios do cálcio e fosfato (hipocalcemia, edema renal, distribui-se não só pelas áreas
hiperfosfatemia) dependentes de gravidade (membros inferiores,
• Prurido cutâneo bolsa escrotal), mas também na face e região
• Alterações articulares (artrite, periartrite, periorbitária. O edema frequentemente atinge
tenossinovite) as serosas, sendo comuns a ascite, o derrame
• Aterosclerose acelerada (doença coronariana) pleural e o derrame pericárdico
• Dislipidemia (hipertrigliceridemia com HDL-C • Sódio sérico: normal
baixo) • Carga filtrada de sódio: diminui
• Fração de excreção de sódio: aumenta

257
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒
↑ 𝐹𝐸 𝑁𝑎 = ↑ 𝐹𝐸 𝐾 =
𝑅𝐹𝐺 ↓ 𝑅𝐹𝐺 ↓
• Ativação: natriurese pressórica, prostaglandinas • Alto fluxo intratubular
dilatadoras, óxido nítrico e BNP • Alto aporte de sódio às porções terminais
• Inibição: SRAA, prostaglandinas • Dependente de aldosterona: aumenta a fibrose
vasoconstritoras, catecolaminas • Atenção à ingesta de potássio e drogas
• A retenção de sódio promove aumento do retentoras de potássio
volume extracelular e da pressão arterial
• Diuréticos e restrição salina leva à desidratação Desequilíbrio Acidobásico
e hipovolemia • Na insuficiência renal crônica, quando a filtração
glomerular está abaixo de 20 ml/min (20% da
Balanço de água função renal), a produção renal de amônia
• Quando a filtração glomerular está abaixo de 10 começa a cair. Com isso, a eliminação urinária de
ml/min (10% da função renal), um consumo de H+ torna-se prejudicada. Nesse momento,
água acima de 2-3 L/dia já pode ser suficiente começa a surgir uma acidose metabólica
para promover retenção de água livre, diluindo hiperclorêmica (ânion-gap normal)
o sódio plasmático • Quando a filtração glomerular está abaixo de 5-
• Sistema de contracorrente 10 ml/min (5-10% da função renal),
o Fluxo intratubular constante especialmente durante uma exacerbação aguda
▪ Baixo: perda do gradiente da insuficiência renal, surge uma acidose com
▪ Alto: limita o gradiente (medula ânion-gap aumentado. Neste caso, o cloreto
é “lavada”) sérico está normal. O aumento do ânion-gap é
• A doença renal crônica em associação com o decorrente da retenção do ânion sulfato,
aumento do fluxo tubular leva à perda da proveniente da dissociação do ácido sulfúrico
osmolaridade medular, aumentando o fluxo de • Um dos grandes problemas da acidose
sódio no túbulo coletor e fibrose intersticial metabólica na uremia crônica, mesmo em suas
• Diluição urinária: “água livre”, que depende fases iniciais (ex.: acidose hiperclorêmica) é a
diretamente do ritmo de filtração glomerular aceleração do catabolismo proteico, que
• Dificuldade em concentrar a urina, podendo contribui para a perda de massa muscular típica
gerar desidratação hipertônica desses pacientes
• Dificuldade em diluir a urina, podendo gerar • O equilíbrio ácido-base não é afetado
hiponatremia perceptivelmente nas fases iniciais
• A excreção de ácido titulável se mantém
Balanço de Potássio
• Excreção de amônio se mantém enquanto as
• A retenção de potássio na insuficiência renal
células do túbulo proximal ainda são capazes de
crônica é comum apenas quando a filtração
aumentar a síntese de amônia, decaindo em
glomerular está < 5-10 ml/min (menos de 5-10%
fases mais avançadas, provocando acidose
da função renal)
metabólica
• O débito urinário é um fator determinante:
• Ácido fixo retido é neutralizado pelo esqueleto,
quanto mais oligúrico for o paciente, maior sua
levando à desmineralização óssea
propensão a reter potássio
• A constipação intestinal pode desencadear Manifestações gastrointestinais
hipercalemia no paciente urêmico, por • O trato gastrointestinal é muito afetado pela
prejudicar uma importante via de eliminação uremia, com frequência respondendo pelos
deste íon no cólon, que passa a excretar até 40% primeiros sintomas da síndrome
do potássio (em situações normais, excreta 10%) • Em geral, a anorexia é o sintoma mais precoce
• Potássio sérico: normal • Seguem-se náuseas, plenitude abdominal e
• Carga filtrada de potássio: diminui vômitos (intolerância gástrica), que podem ser
• Fração de excreção de potássio: aumenta
258
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

explicados por dois fatores: (1) gastrite urêmica; Envolvimento dos Nervos Periféricos
(2) gastroparesia urêmica • A neuropatia periférica urêmica é uma
• A disgeusia (percepção de gosto amargo na polineuropatia axonal, sensorimotora, simétrica
boca) é decorrente da transformação da ureia, e com predomínio distal e de membros
por bactérias presentes na saliva, em amônia inferiores. Os sintomas iniciais são parestesias
• O comprometimento da mucosa intestinal, tanto nos pés do tipo “agulhadas”, que costumam
no delgado como no cólon, pode levar a um piorar à noite
quadro de diarreia urêmica, bem como ao íleo • O exame físico revela hipoestesia “em bota” e a
urêmico (distensão abdominal e cólicas) perda dos reflexos tendinosos distais –
• Hemorragia digestiva, tanto alta quanto baixa, hiporreflexia do Aquileu - é muito comum
pode ocorrer como complicação da uremia. É • Caso a uremia não seja prontamente tratada
explicada pela inflamação urêmica da mucosa (diálise ou transplante), o quadro evolui com
gastrointestinal, que pode evoluir com erosões perda de força distal e atrofia muscular, gerando
ou ulcerações, e pelo distúrbio plaquetário da dificuldade de marcha
uremia • A neuropatia pode atingir os membros
superiores, levando a parestesias e hipoestesia
Manifestações Neurológicas na distribuição “em luva”
Envolvimento do sistema nervoso central • Outra manifestação da uremia é a “síndrome das
• Declínio cognitivo leve a moderado, bem como pernas inquietas”, caracterizada por
alterações em testes neuropsicológicos, já desconforto nos membros inferiores e uma
podem ser observados em pacientes com TFG < necessidade incontrolável de mexer as pernas
60 ml/min
• O PTH possui importante efeito no SNC, levando Envolvimento do sistema nervoso autonômico
à entrada de cálcio nos neurônios. O • O comprometimento dos nervos periféricos do
hiperparatireoidismo secundário pode sistema nervoso autonômico (simpático e
contribuir para os sintomas neurológicos parassimpático) é comum na uremia crônica,
• Na uremia aguda (ou crônica agudizada), o levando à síndrome de disautonomia
paciente pode apresentar desorientação, • O controle da pressão arterial e da frequência
letargia, lassidão, confusão mental, surto cardíaca pode estar alterado. Isso pode causar
psicótico, delirium, associado a sinais de hipotensão postural, hipotensão durante a
encefalopatia metabólica, como nistagmo, hemodiálise não responsiva a volume e
disartria, asterixis, mioclonia espontânea, frequência cardíaca fixa (com predomínio de
fasciculações, hiperreflexia e sinal de Babinski taquicardia)
bilateral • A perda da influência vagal sobre o sistema de
• Na uremia crônica, o distúrbio mental tende a condução cardíaco pode predispor a arritmias
ser insidioso e mais sutil nas fases iniciais. malignas e à morte súbita
Observa-se disfunção cognitiva progressiva, • Outras manifestações relacionadas à
caracterizada por amnésia anterógrada, disautonomia são: anidrose, impotência e
dificuldade de concentração, alteração de distúrbio gastrointestinal (ex.: gastroparesia,
comportamento ou de personalidade, diarreia)
sonolência ou insônia, confabulação e perda do
raciocínio aritmético. Alguns pacientes
Hipertensão Arterial Sistêmica
desenvolvem apraxia motora (dificuldade em • Em indivíduos normais, aumentos iniciais da PA
executar tarefas), afasia (distúrbio da atuam diretamente no rim induzindo natriurese
linguagem) ou agnosia (perda da capacidade de (eliminação de sódio e água), de modo a reduzir
reconhecimento relacionado a uma função a PA. Este mecanismo provavelmente está
sensorial), uma síndrome demencial semelhante alterado na hipertensão essencial, havendo um
ao mal de Alzheimer reajuste da relação pressão arterial-natriurese

259
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Na doença renal parenquimatosa, a alteração hepatomegalia congestiva, derrame pleural,


pode ser ainda maior, levando a uma maior ascite, edema de membros inferiores
retenção de sódio e água. O sistema renina- • A diálise, ao retirar sódio e água (ultrafiltração),
angiotensina-aldosterona participa na gênese da pode ser a única maneira de manter estes
HAS, pois as nefropatias parenquimatosas pacientes compensados
podem levar à maior produção de renina
Pericardiopatia
• Além do sistema renina-angiotensina, outros
fatores humorais podem contribuir para a • O derrame pericárdico é visto em 50% dos
hipertensão na doença renal. Dois exemplos pacientes urêmicos, muitas vezes associado a
importantes são: (1) substância digital-símile; (2) derrame pleural e ascite, fazendo parte do
redução do óxido nítrico endotelial quadro de anasarca da uremia. Geralmente é
leve a moderado e não está relacionado a
• O controle pressórico é essencial nesses
sintomas de pericardite ou tamponamento
doentes, devendo-se manter a PA
cardíaco
obrigatoriamente abaixo de 140 x 90 mmHg e, se
possível, abaixo de 130 x 80 mmHg (em • A pericardite urêmica é caracterizada por: (1)
particular nos portadores de DRC dor torácica do tipo pleurítica (ventilatório-
“proteinúrica”). Sempre que possível os IECA ou dependente), contínua e que piora com o
Antagonistas da Angio II devem ser usados: eles decúbito dorsal; (2) atrito pericárdico; (3)
não apenas reduzem a pressão arterial, como alterações eletrocardiográficas de pericardite;
também reduzem de forma independente a (4) derrame pericárdico. Nem sempre os quatro
pressão intraglomerular e a proteinúria (pela itens estão presentes
vasodilatação da arteríola eferente), conferindo • O tamponamento cardíaco é a complicação mais
o benefício da “nefroproteção adicional” temida da pericardite urêmica. O espessamento
(diminuição da sobrecarga dos néfrons reduz a complacência do pericárdio, o que faz
remanescentes, que assim demoram mais para com que qualquer acúmulo rápido de líquido,
“esclerosar”) mesmo em quantidades pequenas, leve ao
• Contudo, quando a TFG está muito baixa, ou aumento da pressão intrapericárdica. A
quando existe doença renovascular importante, consequência é a compressão das câmaras
os IECA e Antagonistas da Angio II costumam cardíacas, limitando o enchimento diastólico e
induzir IRA e hipercalemia, o que limita sua levando ao baixo débito cardíaco. O quadro
utilização em pacientes que não estejam em clínico é composto pelos seguintes achados: (1)
programa de diálise. Diuréticos de alça (ex.: turgência jugular; (2) taquicardia; (3) pulso
furosemida, bumetanida) também são bons paradoxal (desaparecimento do pulso na fase
agentes anti-hipertensivos nos nefropatas inspiratória). Evolui para hipotensão arterial e
crônicos, promovendo balanço negativo de sal e dispneia. As bulhas cardíacas podem ou não
água (volume) estar abafadas. O ECG mostra alternância
elétrica
Manifestações Cardíacas e Pericárdicas
Manifestações pulmonares e pleurais
Insuficiência Cardíaca Congestiva
Envolvimento pulmonar
• Muitos pacientes com uremia crônica
apresentam comprometimento do miocárdio, • Os pulmões do paciente urêmico estão
seja por hipertrofia ventricular esquerda, seja geralmente com aumento do conteúdo líquido –
por cardiomiopatia dilatada com disfunção edema pulmonar crônico. Este edema
ventricular sistólica predomina no interstício pulmonar, mas
também pode acometer o espaço alveolar nos
• A retenção volêmica sobrecarrega o coração já
casos mais graves
doente, justificando sintomas clássicos de
insuficiência cardíaca congestiva – dispneia, • Este edema é chamado de Edema Pulmonar
ortopneia, dispneia paroxística noturna, Cardiogênico, e responde bem ao processo de
ultrafiltração (retirada de sódio e água na diálise)

260
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Diversas podem ser as consequências do edema reposição de crioprecipitado (rico em fator de


pulmonar crônico: (1) aumento do trabalho Von Willebrand)
respiratório, pois os pulmões ficam “pesados”, • A anemia sempre deve ser tratada, através da
levando o paciente a sentir dispneia; (2) reposição de eritropoietina recombinante ou
distúrbio na troca gasosa, do tipo diminuição da mesmo hemotransfusão de urgência. O
relação ventilação/perfusão (distúrbio V/Q), tratamento definitivo deve ser a diálise
predispondo o paciente à hipoxemia • Cumpre ressaltar que a síndrome urêmica
também predispõe à trombose, especialmente
Envolvimento Pleural em certas etiologias de doença renal (ex.:
• Cerca de 20% dos pacientes urêmicos têm glomerulopatias que cursam com síndrome
derrame pleural. Alguns apresentam sintomas nefrótica e perda de fatores anticoagulantes na
do tipo dor pleurítica, tosse ou dispneia. A causa urina). O estado inflamatório sistêmico
mais comum é a infecciosa, que sempre deve ser associado à disfunção renal crônica justifica a
descartada tendência pró-trombótica nos demais pacientes.
Distúrbio da hemostasia A heparina não fracionada pode ser utilizada
sem problemas, ajustando-se a dose de acordo
• A síndrome urêmica (aguda ou crônica) cursa
com o PTTa – por este motivo a heparina não
com tendência ao sangramento, devido a um
fracionada representa o anticoagulante de
distúrbio da hemostasia primária
escolha na DRC avançada
• A uremia inibe todas as funções plaquetárias
(adesão, ativação e agregação), pois a plaqueta Intolerância à glicose e metabolismo da insulina
se adere ao colágeno exposto tendo como ponte • O metabolismo dos carboidratos encontra-se
de ligação o fator de Von Willebrand, que está alterado na uremia, levando às seguintes
inibido na uremia. Além disso, também há baixa consequências: (1) intolerância à glicose; (2)
ativação plaquetária pelo tromboxano A2, pseudodiabetes urêmico
devido à depleção plaquetária de ADP e • A resistência periférica à insulina melhora
serotonina significativamente após os dois primeiros meses
• A anemia também contribui: com um de terapia dialítica e com a dieta hipoproteica
hematócrito normal, o fluxo laminar de sangue • A disfunção das células beta pancreáticas está
faz com que as hemácias se localizem no centro mais relacionada ao hiperparatireoidismo e ao
do vaso, “empurrando” as plaquetas para a aumento do cálcio citossólico
periferia (local onde a interação com o endotélio
• A depuração da insulina plasmática reduz-se
lesado é facilitada). Quando o hematócrito
quando a filtração glomerular cai abaixo de 40
diminui as plaquetas se afastam da parede
ml/min (40% da função renal), pois os rins são
vascular, pois a massa de hemácias no centro do
responsáveis pela depuração de 30% da insulina
vaso é menor
produzida diariamente pelo pâncreas, através da
• As manifestações clínicas podem ir desde enzima insulinase. Por isso, pacientes diabéticos
petéquias ou pequenas equimoses na pele até que fazem uso de sulfonilureias ou insulina
hemorragia cerebral ou digestiva. Sangramento exógena podem apresentar hipoglicemia caso as
gengival e epistaxe são comuns, assim como doses não sejam devidamente corrigidas
sangramento pós-operatório prolongado
• Em suma: a síndrome urêmica pode predispor
• O distúrbio urêmico da hemostasia pode ser tanto à hiperglicemia (intolerância à glicose e o
inicialmente controlado pela administração de pseudodiabetes urêmico) quanto à
desmopressina (dDAVP): 3 μg/kg intranasal ou hipoglicemia, em diabéticos que fazem uso de
0,3 μg/kg intravenoso. A desmopressina é um insulina ou hipoglicemiantes orais
análogo do ADH (vasopressina) que tem a
propriedade de induzir a liberação do fator de Anemia
Von Willebrand dos sítios de estoque. Quadros • A anemia é uma das primeiras manifestações da
mais graves ou refratários devem receber síndrome urêmica. Em geral se instala quando a

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

filtração glomerular cai abaixo de 30-40 ml/min alteração da matriz do osso e sua
(creatinina sérica > 2,0-3,0 mg/dl). Na doença desmineralização, predispondo o paciente à dor
renal em fase terminal, a anemia é um achado óssea, fraturas patológicas e deformidade
universal esquelética
• A anemia urêmica é normocítica e • Existem dois tipos principais de doença óssea na
normocrômica e é responsável por uma série de doença renal crônica: (1) osteopatia de alto
sintomas atribuídos à síndrome urêmica, tais metabolismo (alto turn over), decorrente do
como astenia, indisposição física e mental, hiperparatireoidismo secundário, também
depressão, deficit cognitivo, insônia, cefaleia, chamada de osteíte fibrosa cística; (2) osteopatia
diminuição da libido, anorexia e tendência ao de baixo metabolismo (baixo turn over),
sangramento também chamada de doença óssea adinâmica
• O principal fator implicado na gênese da anemia
Osteíte fibrosa cística: hiperparatireoidismo
urêmica é a deficiência relativa de
eritropoietina, porém sua gênese é multifatorial: secundário
toxinas dialisáveis e aumento de PTH também • O Paratormônio (PTH) estimula a reabsorção do
estão implicados, reduzindo a meia-vida da osso, o que, por sua vez, ativa a neoformação
hemácia de 120 para 65-70 dias e inibindo o óssea (“alto turn over”). O osso neoformado
efeito da eritropoietina na medula óssea. O PTH perde sua arquitetura composta por lâminas
promove fibrose medular, importante fator que paralelas de colágeno mineralizado – osso
contribui para a queda na produção de lamelar – e ganha uma nova arquitetura,
hemácias. Além destes fatores relacionados à caracterizada pela desorganização das fibras
própria síndrome urêmica, possíveis agravantes colágenas mineralizadas – o chamado osso
da anemia em renais crônicos são a carência de “trançado” ou “entrelaçado” – do inglês woven
ferro, carência de vitaminas (ácido fólico, B12) e bone. Este osso é bastante propenso a fraturas e
intoxicação pelo alumínio. A uremia predispõe deformidades
ao sangramento, principalmente por inibição da • O estímulo metabólico excessivo também leva à
atividade plaquetária e lesão da mucosa fibrose parcial da medula óssea e ao surgimento
gastrointestinal. A hemodiálise contribui de áreas císticas no osso, as quais podem sangrar
bastante para a perda sanguínea crônica, seja dando origem aos “tumores marrons” (cistos
diretamente, pelo próprio circuito, seja repletos de sangue “antigo”)
indiretamente, através das coletas frequentes • A produção de PTH pelas paratireoides é
de sangue para exames laboratoriais basicamente controlada por: (1) calcitriol (forma
• O diagnóstico deve ser feito na presença de ativa da vitamina D), através de um mecanismo
ferritina < 100 ng/ml e saturação de transferrina de “feedback” negativo; (2) níveis séricos de
< 20%. Neste caso, está indicada a reposição de fosfato; (3) níveis séricos de cálcio ionizado. Em
ferro (3 meses e almejando Hb de 11-12 para fases precoces da falência renal crônica, quando
DRC e 11 para dialíticos) a filtração glomerular está abaixo de 40 ml/min,
• Outro fator importante para a anemia da DRC é o fosfato começa a ser retido e precisa ser
a carência de folato (tendência à anemia filtrado em excesso pelos néfrons
megaloblástica). O ácido fólico é perdido na remanescentes, um fenômeno sabidamente
hemodiálise. Para evitar esta ocorrência, os inibitório da produção de calcitriol pelas células
nefrologistas também repõem ácido fólico de tubulares proximais. A queda na produção de
rotina nos pacientes em programa de calcitriol estimula a secreção de PTH,
hemodiálise simplesmente pela perda do feedback negativo.
Quando a filtração glomerular cai abaixo de 20
Osteodistrofia renal ml/min, já pode surgir a hiperfosfatemia (P > 4,5
• A osteodistrofia renal é um distúrbio da mg/dl), um fator que também estimula, por si só,
síndrome urêmica (não responsivo ou a síntese de PTH. Uma tendência à hipocalcemia
parcialmente responsivo à diálise) que leva à começa a ocorrer, devido a dois fatores: o efeito
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

quelante do cálcio ionizado pelo fosfato • O diagnóstico é facilmente confirmado pela


aumentado e a redução da absorção intestinal biópsia
de cálcio pela queda dos níveis de calcitriol
• O cálcio pode estar levemente reduzido ou Tratamento da Osteodistrofia Renal
normal baixo e o fosfato muitas vezes encontra- Hiperparatireoidismo secundário
se bastante elevado (> 6,5 mg/dl). O chamado • Como os grandes fatores que geram e mantêm
duplo- -produto Ca x P está geralmente elevado os elevados níveis de PTH na síndrome urêmica
(> 45), o que pode resultar na precipitação de são a hiperfosfatemia e a deficiência de
fosfato de cálcio insolúvel nos tecidos e vasos calcitriol, o tratamento se baseia na redução dos
sanguíneos, determinando problemas cardíacos níveis séricos de fosfato e no aumento dos níveis
(doença coronariana, valvopatias calcíficas), séricos de calcitriol
rigidez vascular com hipertensão sistólica e • A primeira medida é a restrição de fosfato na
isquemia e necrose da pele (calcifilaxia) dieta (< 800 mg/dia). A restrição de proteínas é
• Um hormônio produzido por osteócitos, a principal maneira de se restringir a ingestão de
chamado FGF 23 (Fibroblast Growth Factor 23), fosfato
aumenta já nas fases iniciais da doença renal • Se a restrição dietética de fosfato não for
crônica. Como se trata de uma substância suficiente, ou a hiperfosfatemia for grave, está
“fosfatônica” (cujo efeito é reduzir os níveis indicado o uso de quelantes orais de fosfato,
séricos de fosfato), o principal estímulo para o administrados juntamente às refeições (evitam a
seu aumento é a retenção renal de fosfato. O absorção do fosfato presente na dieta). O
FGF 23 assume um importante papel na carbonato de cálcio é ainda um dos quelantes
fisiopatologia da síndrome urêmica: (1) estimula mais usados. Nos últimos anos, o cloridrato de
diretamente a secreção de PTH pelas Sevelamer (Renagel) passou a ser o quelante de
paratireoides; (2) suprime a síntese renal de 1,25 escolha, embora de maior custo
diidroxi-vitamina D (calcitriol); e (3) representa • Nos casos refratários à restrição dietética de
fator de risco independente para hipertrofia do fosfato e aos quelantes, devemos acrescentar a
ventrículo esquerdo e morbimortalidade reposição de Calcitriol (metabólito ativo da
cardiovascular. Logo, um aumento do FGF 23, vitamina D), que promove absorção intestinal de
mesmo na vigência de níveis séricos normais de cálcio e fósforo e regula a mineralização óssea.
fosfato, já sinaliza a necessidade de dar início à Diminui o PTH e tem efeito que dura de 3 a 5
terapia anti-fosfatêmica – primeiro dias, podendo ser administrado VO ou EV. É
implantando-se a restrição dietética de fosfato, contraindicado quando é intolerado, na
posteriormente lançando-se mão de quelantes toxicidade por vitamina D, quando cálcio e
orais de fosfato fósforo estão altos, em gestantes e
amamentação. Os efeitos colaterais são
Doença óssea adinâmica elevação do cálcio e/ou fósforo
• Esta forma de osteopatia, também chamada de • Calcimimético: reduz os níveis de PTH por
doença óssea aplásica, é caracterizada por um aumentar a sensibilidade do receptor ao cálcio
baixo metabolismo e atividade celular do osso, extracelular, diminuindo os níveis séricos de
determinando uma importante perda da cálcio, podendo ser administrado VO, junto com
densidade óssea (como se fosse uma alimentação, preferencialmente. Os níveis do
osteoporose) fármaco são alcançados em 7 dias
Osteomalácia • A cirurgia de paratireoidectomia subtotal está
indicada para pacientes com PTH
• Osteomalácia é uma osteopatia de baixo turn
over que, diferentemente da doença óssea persistentemente acima de 800 pg/ml e:
o Hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia
adinâmica, apresenta no histopatológico
refratárias ao tratamento clínico
aumento do volume de osteoide (proteína
óssea) não mineralizado

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia Envolvimento Muscular


durante pulsoterapia com calcitriol ou • A fraqueza muscular está altamente ligada à
análogos da vitamina D osteodistrofia renal, sendo chamada de
o Calcificações extraósseas ou miopatia urêmica
arteriolopatia urêmica calcificante • O principal fator causal é a deficiência de
(calcifilaxia) calcitriol. Este hormônio é importante para uma
o Doença óssea avançada progressiva função muscular normal. Outras condições
debilitante que não responde ao associadas à hipovitaminose D, que não a
tratamento falência renal, também cursam com miopatia.
o Presença de glândulas paratireoides Fatores que contribuem para a miopatia urêmica
volumosas ao US são a acidose metabólica e o efeito direto do PTH
no músculo esquelético (acúmulo intracelular de
Manifestações cutâneas
cálcio), levando à proteólise e balanço negativo
• A pele do paciente urêmico costuma ser seca
de nitrogênio
(xerose urêmica) e hiperpigmentada
• O quadro é de fraqueza da musculatura proximal
(principalmente em áreas expostas ao sol),
(cinturas pélvica e escapular), manifestando-se
devido à redução da vitamina A cutânea e ao
como dificuldade em levantar-se da cadeira,
acúmulo de urocromos (escórias pigmentadas),
subir escada, pentear o cabelo etc. Pode haver
respectivamente
dor muscular, porém, as enzimas musculares
• Em pacientes não submetidos à terapia de
não se elevam
substituição renal pode-se observar uma espécie
de pó branco, a chamada neve urêmica. A neve Manifestações cardíacas e coronarianas
urêmica é uma das únicas manifestações • As causas mais comuns de óbito no doente renal
cutâneas que pode reverter com a diálise crônico são cardiovasculares (40% de todos os
• O prurido urêmico é multifatorial. Pode óbitos), através do desenvolvimento de
melhorar com a diálise, sugerindo correlação insuficiência cardíaca congestiva, infarto agudo
com toxinas urêmicas. Contudo, algumas vezes do miocárdio ou morte súbita arrítmica
não melhora e está intimamente relacionado ao • Fatores de risco cardiovascular associados à
hiperparatireoidismo uremia:
• Os cabelos tornam-se quebradiços, secos e o Sobrecarga volêmica/hipertensão
podem perder a coloração. No entanto, a arterial
alopecia não costuma ocorrer como resultado da o Anemia
uremia o Hiperparatireoidismo secundário
• As unhas podem mostrar uma série de o Calcificação vascular
alterações. A mais típica da síndrome urêmica é o Hiper-homocisteinemia
denominada unha meio a meio (unhas de o Dislipidemia (hipertrigliceridemia com
Lindsay), caracterizada por uma discromia bem HDL baixo)
demarcada de tom marrom ou róseo na metade o Disfunção endotelial/redução do óxido
distal da unha, ocasionada por hipoalbuminemia nítrico
o Desnutrição
Manifestações articulares e musculares o Estado inflamatório crônico (aumento
Envolvimento articular e periarticular de proteína C reativa, redução da
• Pacientes com uremia crônica podem albumina sérica)
apresentar quadros agudos de monoartrite, o Resistência insulínica pela uremia
oligoartrite, periartrite ou tenossinovite o Sobrecarga hemodinâmica (fístula
arteriovenosa)
o Apneia do sono

264
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Doença coronariana e aterosclerose Cardiomiopatia dilatada


• A doença coronariana aterosclerótica tem • A uremia crônica pode levar à disfunção sistólica
incidência muito aumentada na uremia. Este do ventrículo esquerdo, causando
fato se deve à aterosclerose acelerada desses cardiomiopatia dilatada – cardiomiopatia
pacientes, causada por fatores de risco urêmica
tradicionais (HAS, dislipidemia, DM, hiper- • É definida ao ecocardiograma como uma
homocisteinemia) e fatores de risco não redução da fração de ejeção (< 55%) associada
tradicionais (inflamação sistêmica, redução do ao aumento dos diâmetros cavitários
óxido nítrico, disfunção endotelial), todos • Além da uremia propriamente dita, a
secundários ao estado de falência renal crônica hipertensão arterial, a isquemia miocárdica e o
• A placa aterosclerótica obstrui infarto miocárdico podem contribuir para o
progressivamente as coronárias epicárdicas, e quadro
ao evoluir com instabilidade (inflamação • Clinicamente, manifesta-se com sinais e
intraplaca, seguida de fissura), leva à trombose sintomas de insuficiência cardíaca congestiva:
coronariana causadora da síndrome isquêmica dispneia, ortopneia, estertoração pulmonar,
aguda. A isquemia miocárdica aguda ou crônica turgência jugular, hepatomegalia e edema
pode levar à disfunção sistólica ventricular e às
arritmias ventriculares, desde extrassístoles até Dislipidemia
fibrilação ventricular (morte súbita) • A dislipidemia é decorrente da inibição pela
• Outro mecanismo de isquemia miocárdica é a uremia de diversas enzimas do metabolismo
doença microvascular. A reserva coronariana lipídico
está comprometida mesmo nos pacientes que • A dislipidemia mais comum da uremia é a
não apresentam obstrução das coronárias hipertrigliceridemia isolada (tipo IV), detectada
epicárdicas pela coronariografia. A disfunção em cerca de 80% dos pacientes
endotelial, predispondo à vasoconstricção, e a • Há uma queda do HDL, enquanto o LDL e o
hipertrofia ventricular esquerda, são colesterol total encontram-se geralmente na
mecanismos centrais na doença microvascular faixa normal
miocárdica • A hipertrigliceridemia é um fator de risco para
aterosclerose, principalmente quando associada
Hipertrofia ventricular esquerda à redução do HDL
• A hipertrofia ventricular esquerda (HVE) • O LDL, apesar de não se elevar pela uremia,
responde apenas parcialmente à diálise, mas apresenta alterações qualitativas que,
pode reverter completamente com o juntamente com as alterações do HDL, levam a
transplante renal um estado de bloqueio na retirada de colesterol
• Cerca de 80% dos pacientes com uremia crônica dos vasos – contribuindo para a aterosclerose
apresenta HVE acelerada. As estatinas podem ser usadas, com o
• Um fator importante é a hipertensão arterial, objetivo de manter o LDL < 100 mg/dl
que contribui pela sobrecarga pressórica crônica
do ventrículo esquerdo Estado hipercatabólico
• A HVE é um fator de risco independente para Desnutrição proteico-calórica
morbimortalidade cardiovascular. Também • O paciente urêmico costuma ter catabolismo
pode causar insuficiência cardíaca do tipo proteico acelerado, ao mesmo tempo em que
diastólica. Este tipo de insuficiência cardíaca ingere pouca quantidade de proteína, devido à
também leva à congestão pulmonar, anorexia. A consequência é a desnutrição
principalmente no paciente hipervolêmico, proteico-calórica, presente em cerca de 40% dos
manifestando-se como dispneia e ortopneia pacientes em programa de diálise
• O perfil nutricional se reflete nos níveis séricos
de albumina e na relação entre as concentrações

265
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

de aminoácidos essenciais em relação aos não • Evidentemente, qualquer outro fator de risco
essenciais cardiovascular presente também deve ser
combatido nesta fase – obesidade,
Distúrbio imunológico sedentarismo, tabagismo, dislipidemia, diabetes
• A uremia crônica está associada a uma série de mellitus
alterações do sistema imunológico, levando a • Nos estágios inicias da DRC, devemos tentar
um estado de imunodeficiência moderada manter uma ingesta proteica por volta de 0,8 g
• A função dos neutrófilos (leucócitos de proteína/kg de peso por dia, podendo reduzi-
polimorfonucleares), isto é, sua capacidade la até 0,6 g de proteína/kg de peso por dia mais
fagocítica e bactericida, está deprimida na a frente, quando os pacientes mesmo assim
uremia, predispondo a infecções bacterianas ou desenvolverem acidose metabólica,
fúngicas com evolução grave. A função dos hiperfosfatemia ou manifestações urêmicas,
linfócitos T, linfócitos B e monócitos/macrófagos mas nunca menos do isso
também pode estar comprometida
• A imunidade humoral, dependente de linfócitos Fase inicial da síndrome urêmica (G3b, G4)
B, geralmente está deficiente de maneira O tratamento visa basicamente o controle da
desproporcional para alguns agentes, hipertensão arterial (mais grave nesta fase), da anemia e
aumentando a chance de infecções virais, por da osteodistrofia renal e metabolismo cálcio-fósforo
exemplo: hepatite B e Influenza. A vacinação
• A hipertensão arterial exige diureticoterapia
contra esses agentes, por conseguinte, é
com diuréticos de alça (furosemida) em altas
mandatória
doses. Doses de até 200 mg/dia de furosemida,
Tratamento e acompanhamento do paciente não raro, são necessárias. Os casos refratários
indicam associar outro anti-hipertensivo
renal crônico
• Os IECA ou BRA devem ser feitos com muito
Fase precoce da nefropatia crônica (estágios G1, G2 cuidado, pelo risco de hipercalemia e retenção
e G3a) aguda de escórias nitrogenadas. Se o paciente
O tratamento visa basicamente controle da PA e da tolerar, sem alterações laboratoriais
proteinúria significativas (aceita-se um aumento de até 30-
• O controle da pressão arterial, com um alvo < 35% da creatinina), estas drogas possuem
140 x 90 mmHg (ou < 130 x 80 mmHg, se importantes benefícios nesta fase
possível, na DRC “proteinúrica”) é a medida mais • Alguns pacientes renais crônicos, por conta do
eficaz! As drogas de escolha são os IECA ou BRA. predomínio de alterações da função tubular,
Ao reduzirem a hiperfiltração dos néfrons também possuem dificuldade de conservação
remanescentes, tais fármacos reduzem a renal de sódio (um fenótipo classicamente
proteinúria (mais do que os outros anti- conhecido como “nefropatia perdedora de sal”),
hipertensivos) e aliviam a hipertensão sendo propensos à hipovolemia e agudização da
intraglomerular. Com isso, retardam a insuficiência renal. Portanto, deve-se tomar
progressão da nefropatia, atenuando a lesão cuidado com a restrição excessiva de sódio na
glomerular (GESF secundária) e tubular nos dieta desses doentes, especialmente quando
néfrons remanescentes ocorrem perdas extrarrenais de sal e água, como
• Um objetivo básico é reduzir a proteinúria para as perdas gastrointestinais
níveis < 0,5-1 g/dia, ou, caso isso não seja Doença renal em fase terminal (G5)
possível, redução de pelo menos 50-60% do O paciente apresenta TFG < 15 ml/min/1,73m2,
valor inicial creatinina sérica > 6-8 mg/dl e ureia sérica > 120-180
• As glomerulonefrites e vasculites devem ser mg/dl. O débito urinário pode estar normal ou reduzido.
tratadas agressivamente com corticosteroides e Nesse momento, a indicação de algum método de
imunossupressores substituição renal é inquestionável

266
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• O melhor é o transplante renal, mas a maioria


dos pacientes acaba entrando no programa de
diálise
• A dieta, neste momento, deve ter restrição
proteica menos acentuada (1,2 – 1,3 g/kg/dia),
tendo como principal objetivo evitar a
desnutrição proteico-calórica
• Em relação aos distúrbios hidroeletrolíticos e
acidobásicos, o paciente deve fazer restrição dos
seguintes elementos: sódio – 100 mEq/dia
(reduzir a retenção volêmica), potássio – 40
mEq/dia (evitar hipercalemia) e água – 1.000-
1.500 ml/dia (reduzir ou prevenir a
hiponatremia)
• Quando o bicarbonato sérico estiver
persistentemente abaixo de 20 mEq/L, está
indicada a reposição oral de bicarbonato de
sódio
• A reposição de ferro e ácido fólico está indicada
em todos os pacientes em programa de
hemodiálise

267
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Litíase renal • Alteração de pH urinário


o pH alcalino: acidose túbulo-renal ou
Os cálculos renais são massas sólidas formadas por
infecção por germes produtores de
minerais e sais ácidos que se aglutinam na concentração
uréase
da urina. A passagem pelo trato urinário pode ser
o pH ácido: diátese gotosa
dolorosa, mas eles geralmente não causam danos
permanentes. • Redução do volume urinário
• Imobilização prolongada
Epidemiologia • Uso de drogas litogênicas
• 5-15% da população
• Acomete principalmente adultos jovens do sexo
Composição dos cálculos
masculino
• Mudanças nas práticas alimentares estão
relacionadas ao aumento da prevalência
• O aumento da temperatura global influencia no
aumento da perda de água pela transpiração
• 50% dos indivíduos com episódio de litíase
apresentarão novo episódio em 10 anos

Fisiopatologia
pH
• Baixo: aumento dos cristais de urato
monossódico Cálculos de ácido úrico
o Cristais de ácido úrico diminuem o limiar • 10-15% dos casos
de agregação do oxalato de cálcio • São radiotransparentes (não aparecem no raio-
o Formação de cristais de cistina x)
• Alto: precipitação de fosfato de cálcio • Na urografia excretora, apresenta-se falhas de
o Aumenta a solubilidade de cistina enchimento
• É comum em pacientes com resistência à
Inibidores insulina (obesidade, diabetes, síndrome
• Citrato metabólica), devido à diminuição do tampão
• Magnésio amônia, aumentando o H+ e consequente
• Pirofosfato redução do pH e precipitação na urina
• Nefrocalcina • Hiperuricosúria
• Proteína de Tamm-Horsfall o 750 mg (mulheres)
• Outros: matriz proteica, uroponton, fragmento o 800 mg (homens)
de protrombina, albumina, fragmento de RNA e • 20% dos pacientes formadores de cálculos de
DNA, e glicosaminoglicanos cálcio apresentam também hiperuricosúria
Fatores de risco Cistina
• Sexo masculino • Representa 1% dos casos (na infância, 10%)
• Idade • São radiopacos, com aspecto de vidro moído
• Alteração anatômica do trato urinário • Cistinúria: doença hereditária autossômica
• Fatores epidemiológicos e genéticos recessiva caracterizada por inabilidade no
• Distúrbios metabólicos: hipercalciúria idiopática, manuseio dos aminoácidos dibásicos (cistina,
hiperexcreção de ácido úrico, hiperoxalúria, ornitina, lisina e arginina)
cistinúria, hipocitratúria, hipomagnesiúria • Excreção urinária normal: 20 mg/dia
• ITU • Baixa solubilidade em pH urinário normal
• Doenças endócrinas que interferem no promove formação de cálculo
metabolismo do cálcio
268
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Diagnóstico: suspeitado em pacientes com ▪ Tipo III: fuga renal anormal de


histórico familiar de cálculos urinários e aspecto fosfato
radiográfico de um cálculo fracamente opaco, o Renal: perda urinária de cálcio
em vidro fosco moído, com bordas lisas o Reabsortiva: hipersecreção de PTH
• Urina I: cristais hexagonais
• Cálculos de coloração âmbar
Estruvita
• Compostos por fosfato hidratado de amônio e
• Cistina urinária ajuda a confirmar o diagnóstico
magnésio
Hiperoxalúria • Forma-se na presença de Ureoplasma, Proteus,
• Em indivíduos normais, a maioria do oxalato Haemophilus e Corynebacterium, que são
urinário provém do metabolismo endógeno (da formadores de urease
glicina, glioxilato e ácido ascórbico) • Representa 10-15% dos cálculos
• Hiperoxalúria primária: doença autossômica • Mais frequente em mulheres e usuários de SVD
recessiva rara que causa hiperoxalúria grave • Cálculo coraliforme (mais preocupantes): se
(cálculos recorrentes de oxalato de cálcio formam na pelve renal e assumem seu formato
durante a infância)
• Pode levar a nefropatia tubulointesticial
Quadro clínico
• Diagnóstico por urina de 24h • Cólica nefrética: dor lombar de forte intensidade
com ou sem irradiação para flancos ou trajeto
• Hiperoxalúria: oxalato urinário > 40 mg/dia
uretral, chegando até fossa ilíaca ou genitália
• Dietética: oxalúria 40-60 mg/dia
externa
o Excesso de consumo de oxalato e baixa
• Dor abdominal difusa, sem fatores de melhora
ingestão de cálcio como fatores de risco)
ou piora com a posição corporal
• Entérica: oxalúria 60-120 mg/dia
• Pode se acompanhar de hematúria
o Ressecção intestinal, doença de Crohn,
macroscópica
derivação intestinal para tratamento de
obesidade e síndromes má-absortivas • Frequentemente acompanhada de mal estar,
o Formação de complexos de cálcio com náuseas e vômitos
gordura intestinal (saponificação) e • É importante a confirmação laboratorial e
hiperabsorção do oxalato livre (não radiológica
conjugado com cálcio) através da
Diagnóstico
mucosa colônica com permeabilidade
• Exame de urina (sedimento urinário)
alterada pelos ácidos graxos e sais
• Avaliação radiológica: raio-x simplesde abdome
biliares não absorvidos
e/ou ultrassom (ruim para ureter), tomografia
• Primária: oxalúria > 120 mg/dia
helicoidal de abdome e pelve sem contraste com
o Hereditárias
cortes finos (padrão-ouro)
Hipercalciúria • Urocultura: solicitada se houver sintomas de
• Pode ser observada em: dietas ricas em sódio, ITU, leucocitúria importante, bactérias no exame
uso de diuréticos de alça, ATR tipo I, sarcoidose, de urina simples, nitrito positivo e se o cálculo
excesso de aldosterona, distúrbios associados a for coraliforme/obstrutivo
hipercalcemia, idiopática
Teste metabólico
• Hipercalciúria
• Realiza-se em:
o Homens: > 300 mg
• Recorrência elevada
o Mulheres: > 250 mg
• Antecedentes de intervenções urológicas para
• Pode ser:
tratamento de litíase
o Absortiva: aumento da absorção de
• Pacientes calculosos com histórico familiar
cálcio intestinal
positivo
▪ Tipo I: independente da dieta
• Crianças (<18 anos)
▪ Tipo II: dependente da dieta
269
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Rim único • Estimular o consumo de alimentos ricos em


• ITU associada potássio e frutas cítricas

O que pedir
• Sangue: cálcio, ácido úrico, fósforo, creatinina,
potássio, bicarbonato, PTH, glicose
• Urina:
o Amostra isolada
o Amostra de 24 horas: cálcio, ácido úrico,
sódio, oxalato, magnésio, fosfato,
creatinina e medição de volume

Tratamento
Crise aguda
• Hidratação
• Antiemético, se necessário
• Antiespasmódico (escopolamina), AINE, morfina
e seus derivados
• Alfa-bloqueador: tansulozina: em cálculos de até
1 cm e por até 1 mês (obrigatório exame de
imagem). É necessário associar anti-inflamatório
para reduzir o edema da mucosa nos primeiros
dias

Medidas gerais
• Aumento da ingestão hídrica (30 ml/kg)
• Estímulo à atividade física
• Adequação da dieta de acordo com o distúrbio
metabólico
• Ingestões de cálcio e oxalato devem ser
balanceadas (evitar restrição importante de
cálcio)
• Adequar ingestão de sal e proteína animal

270
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Artrose sua produção pelos condrócitos; além disso há


produção do colágeno tipo X, inadequado para a
É uma doença degenerativa das articulações sinoviais.
composição do tecido cartilaginoso normal)
Acomete principalmente joelhos, quadris, mãos e coluna
• IL-1, IL-6, IL-8, IL-17 e TNF participam da
vertebral.
liberação dessas proteases
É um distúrbio musculoesquelético progressivo e lento,
sendo a principal causa de incapacidade nos idosos. Manifestações clínicas
• Dor articular com sensação de rigidez e edema;
Epidemiologia crepitação audível ou palpável; rigidez matinal
• Presente na maioria da população com > 65 anos por < 30 min; limitação do movimento; piora da
e em 80% daqueles com > 75 anos dor com atividade e melhora com repouso;
• Pode ser primária (idiopática) ou secundária instabilidade e limitação articular; atrofia
quando há algum fator predisponente (doenças muscular periarticular; deformidades articulares
metabólicas, distúrbios anatômicos, traumas, (como nódulos de Heberden nas IFD e nódulos
artrites inflamatórias e infecções) de Bouchard nas IFP)
• Comprometimento articular principalmente de
Fatores de risco mãos (IFD, IFP e CMC), coluna cervical e lombar,
• Hereditariedade: principalmente na forma quadris, joelhos e a 1ª MTF no pé (hálux)
poliarticular • Chamamos de rizartrose quando a articulação
• Obesidade: relaciona-se com a OA de joelho em acometida é a 1ª carpometacarpiana
ambos os sexos • Histologicamente apresenta perda da
• Idade: é o fator de risco mais importante. A integridade da cartilagem articular e alterações
partir dos 45 anos a prevalência de OA aumenta do osso subcondral
com progressão geométrica, sendo bastante
incomum antes disso. A explicação mais aceita é Raio X
que o grau de atividade metabólica da • Redução progressiva e assimétrica da interlinha
cartilagem articular diminui progressivamente articular, em áreas de máximo estresse de carga
com o passar do tempo • Esclerose óssea na zona subcondral (acentuação
• Disfunções hormonais: forma poliarticular é da hipotransparência na região subcondral)
predominante no sexo feminino • Osteófitos, que são irregularidades nas
• Hipermobilidade: aqueles que apresentam superfícies articulares (neocrescimento ósseo
excesso de amplitude dos movimentos devido a depois de degenerar a cartilagem, popularmente
uma flexibilidade aumentada nas articulações conhecido como “bico de papagaio”)
apresentam maior risco de desenvolver AO • Cistos subcondrais (imagens radioluscentes
• Artropatias e outras doenças: a presença de arredondadas na região subcondral)
inflamação nas articulações pode provocar uma
OA secundária Tratamento
• Trauma: quando de forte intensidade, é causa Não farmacológico
comum de OA de joelho • Importante que mantenha uma boa saúde geral,
• Uso repetitivo: determinadas ocupações, elimine os fatores de risco, emagreça
esportes e tarefas realizadas repetitivamente (diminuição da sobrecarga) e preserve uma boa
podem agravar a dor nas articulações força muscular
comprometidas • Exercer alguma atividade física diária (exercícios,
fisioterapia, hidroterapia), que seja compatível
Fisiopatologia com a idade e condicionamento físico do
• Devido à hiperatividade das metaloproteinases, paciente. Os exercícios devem ser de moderado
temos: desarranjo na rede colágena, degradação ou baixo impacto, sempre respeitando a
dos proteoglicanos e degeneração da cartilagem gravidade do envolvimento articular
(degradação da matriz cartilaginosa é superior à

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• Calçados apropriados, calcanheiras, palmilhas e


outros recursos para o realinhamento, absorção
de impacto e conforto também são importantes.
O uso de bengalas ou andadores também pode
ajudar

Farmacológico
• Cloroquina (250 mg/dia VO): para os casos de OA
nas mãos, por apenas 6 meses. O efeito seria o
de inibir a degradação acelerada da cartilagem
articular, pelo efeito inibidor de
metaloproteinases
• AINEs de uso tópico: não devem ser usados por
muito tempo. AINEs VO (ibuprofeno 800mg
8/8h): por no máximo 10 dias
• Corticosteroides intra-articular: aplicar no
máximo 3x em cada articulação, de 2/2 meses;
nos casos refratários de dor monoarticular
• Analgésicos: paracetamol 1g VO 6/6h.

Medidas intervencionistas
• Lavagem articular com soro fisiológico para
remoção de debris trazendo alívio sintomático
por alguns meses

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Artrite reumátoide • Os punhos tendem a ser acometidos


simetricamente formando ‘punhos em dorso de
É uma doença inflamatória auto imune e sistêmica.
camelo’. A hipertrofia sinovial pode causar a
Atinge a membrana sinovial, podendo evoluir com compressão do nervo mediano e gerar a
erosão e deformidades articulares. síndrome do túnel do carpo, que leva à
parestesia do polegar, 2º e 3º dedo e metade
Epidemiologia radial do 4º dedo. Para avaliar deve ser feita a
• Atinge principalmente mulheres de meia idade, manobra de Tinel e a de Phalen
na proporção de 3:1 em relação aos homens, • Os joelhos, quando acometidos, possuem o sinal
geralmente entre 25 e 55 anos da tecla que é a compressão da patela. Pode
apresentar sinais que simulam uma TVP e, nesse
Fatores de risco
caso, deve-se investigar cisto de Baker
• Tabagismo
• A coluna não costuma ser acometida, com
• Exposição à sílica, asbesto e à madeira
exceção de C1 e C2 que apresentam AR grave
Etiologia Extra-articulares
• Genética: presença do HLA DRB1 que possui uma
Pacientes com essas manifestações possuem altos
região de epítopo compartilhado e essa, por sua
títulos de fator reumatoide e anti-CCP
vez, apresenta peptídeos citrulinados
(artritogênicos) para linfócitos T, os quais se • Cutâneas: apresentam nódulos subcutâneos
tornam auto reativos causados pela vasculite de pequenas veias
• Esses linfócitos T migram para o espaço sinovial • Oftalmológicas: episclerite e esclerite
e ativam macrófagos que produzem citocinas, • Pulmonares: derrame pleural com líquido de
principalmente TNF-alfa. Esses linfócitos T baixo pH, baixo nível de glicose e queda do
também geram a transformação de linfócitos B complemento. Pode também apresentar
em plasmócitos, os quais secretam nódulos reumatoides no parênquima pulmonar
autoanticorpos, principalmente o fator e fibrose intersticial difusa. Nos casos mais
reumatoide (IgM contra IgG) graves e de mau prognóstico pode ter
• Essa inflamação das membranas sinoviais é Bronquiolite Obliterante com Organização
chamada de sinovite e esse tecido inflamatório Pneumônica (BOOP).
em proliferação é chamado Pannus • Cardíacas: pericardite, derrame pericárdico,
nódulos no miocárdio ou nas válvulas
Manifestações clínicas • Síndrome Felty: AR + Esplenomegalia +
Articulares Neutropenia
• Poliartrite crônica: erosiva, acomete
principalmente mãos (metacarpofalangiana e Diagnóstico
interfalangiana proximal, poupando
interfalangiana distal), simétrica e aditiva. Causa
dor articular e aumento do volume articular.
Pode também acometer grandes articulações
• Nas mãos apresenta frouxidão dos tecidos moles
e desvio ulnar dos dedos, além de subluxações e
proeminências ósseas. Sinais: Pescoço de cisne e
em botoeira

Os critérios de 1 a 4 precisam estar presentes há pelo


menos 6 semanas

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Radiografia
• Precoce: osteopenia peri-articular e aumento
das partes moles
• Tardio: redução do espaço articular simétrica,
erosões óssea justa articulares, desvio ulnar e
subluxações

Tratamento
O Objetivo é colocar a doença em remissão, ou seja: ≤1
articulação dolorosa e edemaciada; PCR ≤ 1mg/dL;
autoavaliação ≤ 1 ou índice simplificado da doença ≤ 3,3

Medidas gerais
• O paciente precisa de um acompanhamento
multidisciplinar, com psicologia, reumatologia,
fisioterapeutas e demais profissionais. O risco
cardiovascular deve ser reduzido com MEV,
principalmente deixando o tabagismo. Devem
ser vacinados contra influenza (anualmente) e
Para diagnóstico é necessário pontuação maior que 6 penumococos (a cada 5 anos)
• Podemos fazer diagnóstico com razoável grau de Medicamentos
certeza quando há: sinovite em 3 ou mais • DARMS: são drogas antirreumáticas
articulações, FR ou ACPA positivo, aumento de modificadores da doença. O principal é o
VHS e/ou proteína C reativa e exclusão de outros metotrexate (MTX). Tem efeito anti-
diagnósticos inflamatórios e analgésico. Eles reduzem e
retardam a progressão da doença
Exames laboratoriais
o Metotrexato: inibe a enzima diidrofolato
• Fator reumatóide: é um autoanticorpo que ataca
redutase. Pode usar suplementação com
as IgG. Sensibilidade de 70% e tem baixa
ácido fólico para reduzir sua toxicidade
especificidade. Geralmente tem altos títulos
o Leflunomida: inibidor da síntese de
quando há manifestações extra articulares. Não
pirimidinas
é útil para monitoramento da doença
o Cloroquina e hidroxicloroquina:
• Anti-CCP: sensibilidade de 70% e alta
antimaláricos. Menor toxicidade
especificidade (>90%). Aparece precocemente e
o Sulfassalazina: usada em combinação
não é útil para monitoramento
com outros DARMS
• PCR e VHS: apresentam-se altos na doença ativa
• DARMS biológicas: são usadas quando o
e por isso pode ser útil como marcador da
tratamento inicial não obteve bons resultados.
atividade da doença. Trombocitose e leucocitose
Ex: anti-TNF-alfa
também são achados.
• AINEs: são usados para sintomas, promovem
Artrocentese analgesia e desinflamação. O uso prolongado
• Análise do líquido sinovial: apresenta aspecto deve ser evitado
turvo, viscosidade reduzida, aumento de • Glicocorticoides: úteis no início até os DARMS
proteínas e concentração normal ou baixa de fazerem efeito. Controlam surtos agudos e seu
glicose. Há leucometria com predomínio de uso prolongado deve ser evitado. Deve-se usar a
polimorfonucleares menor dose possível
• FR e anti-CCP costumam ser positivos

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Lúpus Eritematoso Sistêmico

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Síndrome do Anticorpo Anti


Fosfolípide

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Gota

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Valvulopatias Indicação de ECO de acompanhamento


• Estenose de grau leve: 5 anos
Estenose aórtica • Estenose de grau moderado: a cada 2 anos
Etiologia • Estenose de grau grave: anual
• A etiologia mais comum é a calcificação dos
folhetos, prevalecendo em indivíduos idosos Tratamento
• Reumática: comum em adolescentes e adultos • Sintomático: diuético e dobutamina se muito
jovens sintomático
• Congênitas: valva aórtica bicúspide ou • Cirúrgico: substituição valvar
unicúspide, comum em adultos jovens e de meia
Insuficiência aórtica
idade
Etiologia
Sinais e sintomas • Doença reumática
• Angina • Degeneração mixedematosa
• Síncope e lipotímia • Endocardite infecciosa
• Sintomas de ICC • Valva aórtica bivalvar
• Morte súbita • Degeneração senil
• Dispneia • Dilatação e dissecção da aorta (Marfan, HAS)
• Dor torácica • Abuso de droga anoréticas
• Sangramentos gastrointestinais em casos graves • Espondilite anquilosante
por deficiência de fator de Von Willebrand e • Artrite reumatoide
presença de angiodisplasia intestinal (síndrome • Síndrome de Reiter
de Hyde) • Ehlers-Danlos
Exame físico Exame físico
• Pulso parvos e tardus • Pulso em martelo d’água (pulso de Corrigan)
• Pulso venoso jugular (onda a proeminente) • Sinal de Musset: oscilação da cabeça para baixo
• Ausculta com sopro sistólico rude, intenso e com e para frente
formato de crescendo e decrescendo (ejetivo) • Sinal de Minervini: pulsação na base da língua
com irradiação para carótidas e ápice • Sinal de Quincke: pulso capilar
o Aumento com manobras de • Pistol Shot: sensação de choque à ausculta de
agachamento certas artérias
• Fenômeno de Galavardin • Sopro diastólico regurgitativo
ECG • Sinal de Muller: pulsação da úvula
• Hipertrofia de VE • Sinal de Landolfi: pulsação das pupilas
• Sinal de Duroziez: duplo sopro à compressão
ECO femoral
• Quantifica a gravidade da estenose aórtica • Alargamento da pressão de pulso (PA
• Identificação das lesões associadas e respectivas divergente)
repercussões funcionais • Sopro de Austin Flint
• Mede a área valvar
o Área normal: 3-4 cm² ECG
o Estenose leve: > 1,5 cm² • Aguda: taquicardia sinusal
o Estenose moderada 1-1,5 cm² • Crônica: sobrecarga de VE
o Estenose grave: < 1,0 cm²
Raio-x
• Avalia o gradiente (gradiente = 4V²)
• Aguda: congestão pulmonar
o Estenose leve: < 20 mmHg
• Crônica: aumento da área cardíaca
o Moderada: 20-40 mmHg
o Grave: > 40 mmHg
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ECO
• Área do VE versus área do refluxo
o Leve: até 40%
o Moderada: 40-60%
o Grave: > 60%

Tratamento
• Vasodilatadores (nitroprussiato de sódio):
redução do pós-carga
• Diurético
• Cirurgia (casos agudos)

279
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Insuficiência cardíaca o Nictúria e oligúria


Disfunção cardíaca de alta morbimortalidade que Diagnóstico
consiste na principal causa de internação no SUS em • É clínico. Os exames complementares ajudarão
pacientes com mais de 60 anos. principalmente na classificação
A maioria das doenças que levam à IC caracterizam-se • Ecocardiograma: avalia a fração de ejeção,
pela presença de baixo débito, porém algumas dimensões cardíacas
(tireotoxicose, anemia, por exemplo), podem levar a alto • BNP: na emergência - IC improvável < 100,
débito. possível 100-400 e muito provável

Classificação
De acordo com a fração de ejeção
• Fração de ejeção reduzida: FE <40%
• Fração de ejeção limítrofe: FE 40-49%
• Fração de ejeção preservada: FE ≥ 50%

De acordo com a gravidade dos sintomas Etiologia


• Classe 1: dispneia aos grandes esforços • Isquêmica: principal causa, sendo importante
• Classe 2: dispneia aos médios esforços manter o paciente anticoagulado por 6 meses
• Classe 3: dispneia aos pequenos esforços • Hipertensiva: pode levar à hipertrofia, causando
• Classe 4: dispneia aos esforços disfunção ventricular
• Chagásica: a IC costuma surgir de 20 a 30 anos
De acordo com a progressão da doença após a picada do barbeiro
• A: risco de desenvolver IC – sem doença • Valvar: valvopatias não tratadas evoluem com
estrutural ou sintomas de IC (controle dos redução da fração de ejeção
fatores de risco para IC: tabagismo, dislipidemia, • Cardiomiopatias: dilatada idiopática, miocárdio
hipertensão, etilismo, DM, obesidade, monitorar não compactado (alteração muscuar em que as
cardiotoicidade) fribas ficam mais frouxas, favorecendo formação
• B: doença estrutural cardíaca presente – sem de trombos), displasia arritmogênica do
sintomas de IC (Considerar IECA, ventrículo direito, hipertrófica, restritiva
betabloqueador [metoprolol, bisoprolol e • Cardiotoxicidade
carvedilol] e antagonistas mineralocorticoides) • Alcoólica
• C: doença cardíaca estrutural presente – • Doenças extracardíacas (endócrinas,
sintomas prévios ou atuais de IC autoimunes, doença renal)
• D: IC refratária ao tratamento clínico – requer • Taquicardiomiopatia
intervenção especializada
• Miocardites
Sinais e sintomas • Periparto
• Sintomas típicos Fatores prognósticos
o Dispneia
• Exame físico: hipotensão, taquicardia, B3,
o Ortopneia
congestão persistente, perfusão inadequada
o Dispneia paroxística noturna
• ECG: fibrilação atrial, arritmias ventriculares
o Fadiga
complexas, redução de VFC, onda T alternante,
o Intolerância ao exercício
QT longo
• Sintomas menos típicos
• História: maior idade, classe funcional III ou IV,
o Tosse noturna
múltiplas admissçoes, pouca adesão, depressão,
o Ganho de peso
diabetes, DPOC
o Dor abdominal
o Perda de apetite e perda de peso

280
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Imagem: FEVE < 30%, disfunção de VD, disfunção


diastólica, hipertensão pulmonar, insuficiência
mitral e tricúspide
• Laboratório: hiponatremia, creatinina elevada,
ureia elevada, disfunção hepática, anemia,
BNP/NT-proBNP elevados, catecolaminas
elevadas, citocinas elevadas

Prevenção
• Perfil A: tratamento da HAS, interrupção de
tabagismo, redução da ingesta alcoólica, uso de
estatinas para pacientes com DAC ou elevado
risco cardiovascular, meta pressórica com PAS
inferior a 120 se evevado risco cardiovascular,
uso de empagliflozina em diabéticos
• Perfil B: IECA na disfunção de VE assintomática,
betabloqueador em adição ao IECA na disfunção
de VE, espironolactona em pacientes pós infarto
com FE <40%
• Perfil C: IECA (BRA se intolerantes ao IECA por
tosse ou angioedema), betabloqueadores
(succinato de metoprolol, bisoprolol e
carvedilol) e antagonista do receptor da
aldosterona (espironolactona)

281
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Eletrocardiograma (ECG)
ECG de 12 derivações
As 12 derivações do ECG tradicional incluem:

• Seis derivações que representam o plano frontal,


ou “visão” frontal do coração: DI, DII e DIII são
derivações bipolares, enquanto aVR, aVL e aVF
são derivações unipolares
• Essa combinação de derivações dá origem a 6
eixos (separados por 30°), essenciais para o
entendimento da atividade elétrica cardíaca no
plano frontal. Calibração
A velocidade normal de inscrição do traçado
eletrocardiográfico no papel é de 25 mm/s

• Cada quadrado pequeno (1 mm) corresponde,


portanto, a 40 ms. Cada quadrado grande (5
mm) corresponde a 200 ms
• Cada 1 mm de amplitude vertical do traçado
eletrocardiográfico corresponde a 0,1 mV na
calibração padrão (N)

Frequência cardíaca
• Para calcular a frequência cardíaca (FC), divide-
se 300 pelo número de quadrados grandes entre
o intervalo RR ou 1500 pelo número de
quadrados menores entre um intervalo RR.
• Seis derivações precordiais que representam o • No caso de ECG com ritmo irregular (intervalo RR
plano horizontal. Os eletrodos são posicionados irregular), a melhor forma de obter a FC é
no tórax do paciente contando o número de complexos QRS em um
o V1: quarto espaço intercostal à direita intervalo de 6 segundos, multiplicando o
do esterno - septo resultado por 10.
o V2: quarto espaço intercostal à
esquerda do esterno - septo
o V3: ponto médio entre V2 e V4 - anterior
o V4: quinto espaço intercostal à esquerda
sobre a linha hemiclavicular anterior -
anterior
o V5: no mesmo nível de V4, sobre a linha Ritmo
axilar anterior - lateral A principal e talvez mais importante função do ECG é a
o V6: no mesmo nível de V5, sobre a linha análise do ritmo cardíaco. Para o identificar, siga os
axilar média - lateral passos a seguir, a fim de facilitar e organizar o seu
o V3R: posição análoga ao V3, no raciocínio:
hemitórax direito - ventrículo direito
• Passo 1: tente identificar a onda P e analisar a
o V4R: posição análoga ao V4, no
sua morfologia – onda P sinusal ou ectópica?
hemitórax direito - ventrículo direito
o V7: linha escapular esquerda - dorsal • Passo 2: estabeleça a relação entre a onda P e o
complexo QRS – toda onda P é seguida de um
o V8: linha paravertebral esquerda - dorsal
complexo QRS?

282
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Passo 3: faça a análise do QRS (estreito ou largo) • Duração normal: 120 ms (3 mm)
• Passo 4: estabeleça a regularidade do ritmo • A amplitude normal da onda P nas derivações
(regular ou irregular) – os intervalos RR são periféricas é menor que 0,25 mV (2,5 mm). A
constantes? Sendo irregulares, mantêm um deflexão negativa em V1 deve ter, no máximo,
padrão de irregularidade (regularmente 0,1 mV (1 mm) de profundidade
irregular) ou não (irregularmente irregular)?
• Passo 5: defina o ritmo e estabeleça uma Intervalo PR
correlação clínica com o paciente em questão • Representa o tempo de condução elétrica do
átrio ao ventrículo
Ritmo sinusal • Morfologia: intervalo medido entre o início da
• No ECG normal, o ritmo sinusal é identificado onda P até o início do complexo QRS
por onda P positiva nas derivações DI, DII, aVF, • Duração normal: 120 a 200 ms (3-5 mm)
V4 e V6, negativa em aVR e negativa ou bifásica
nas derivações DIII e V1. Cada onda P é seguida Complexo QRS
de um complexo QRS, gerando um intervalo RR • Corresponde à despolarização ventricular
regular • Morfologia: a deflexão negativa inicial é a onda
Q, que representa a despolarização septal. A
primeira deflexão positiva é a onda R, que
representa a despolarização do ventrículo
esquerdo (VE), exceto em V1, onde uma
pequena onda R representa a despolarização
septal. A deflexão negativa após a onda R é
chamada onda S, que representa a
despolarização da parede lateral alta. Nas
derivações V1 e V2, a onda S também significa a
despolarização do VE
o Quando de pequena amplitude, as
ondas do complexo QRS devem ser
Eixo elétrico do complexo QRS representadas por letras minúsculas (q,
• Inicialmente, são observadas as derivações DI e r, s)
aVF para determinar o quadrante • Duração normal: 80 a 100 ms (2 a 2,5 mm)
o Se a onda é positiva em DI e em aVF o
• Amplitude máxima do complexo QRS em
eixo situa-se entre 0º e +90º pacientes com eixo normal é de 5 a 20 mm no
o Se positiva em DI e negativa em aVF está
plano frontal, e de 10 a 30 mm nas precordiais
entre 0º e -90º (desvio à esquerda)
o Se negativa em DI e positiva em aVF o Segmento ST
eixo localiza-se entre +90º e 180º • Corresponde ao período entre a despolarização
• A seguir, procura-se em qual derivação há onda e repolarização ventricular. Seu ponto inicial é
isoelétrica - o eixo será perpendicular a essa denominado ponto J
derivação • Morfologia: é medido do ponto J ao início da
o Se não houver onda isoelétrica, são onda T
analisadas as derivações vizinhas ao
quadrante inicialmente determinado Onda T
• Representa a repolarização ventricular
Onda P • Morfologia: é normalmente assimétrica, larga,
• Representa a despolarização atrial de amplitude variável. Sua polaridade costuma
• Morfologia: inscreve-se como onda positiva nas ser a mesma da maior onda do complexo QRS,
derivações DI, DII, aVF, V4 e V6, negativa em numa mesma derivação
AVR, e negativa ou bifásica nas derivações DIII e
V1
283
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Intervalo QT
• Compreende todo intervalo em que existe algum
fenômeno de repolarização de membrana
celular
• Morfologia: é medido do início do complexo QRS
até o final da onda T
• Duração normal: o tempo total de repolarização
varia inversamente com a frequência cardíaca. A
medida do intervalo QT deve ser corrigida (QTc),
portanto, utilizando a fórmula de Bazett,
devendo ser ≤ 440 ms (11 mm):
Sobrecarga atrial esquerda:
𝑄𝑇
= 𝑄𝑇𝑐 • Duração aumentada (> 3 mm) e amplitude
√𝑅𝑅 (𝑒𝑚 𝑠) normal
Onda U • Onda P com entalhe em DI, DII e aVL
• Pode estar presente como uma pequena • Onda P com parte terminal (deflexão negativa)
deflexão separada e posterior à onda T, maior que parte inicial (deflexão positiva) em
principalmente nas derivações V1 e V2 V1/V2– Sinal de Morris
• Sua causa não é bem definida, mas pode • Ondas Q profundas em DI e aVL, e, às vezes, V5
corresponder à repolarização do sistema de e V6
condução elétrica (fibras de Purkinje)
• É mais vista em casos de bradicardia

Anormalidade biatrial
Sobrecarga atrial direita
• O diagnóstico é baseado na presença de critérios
As sobrecargas atriais são identificadas diretamente pela
para anormalidades de ambos os átrios.
análise da onda P, que reflete a despolarização atrial.
Para avaliar a onda P, as melhores derivações são V1 e
DII

• Onda P apiculada e de amplitude maior que 0,25


mV (2,5 mm)
• Sinal de Peñaloza-Tranchesi: mudança brusca de
voltagem do QRS de V1 para V2, apresentando
V1 “qrs” de baixa amplitude e normal em V2
• Porção positiva inicial da onda P em V1 com área
maior que a sua porção negativa

284
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Sobrecarga ventricular direita


A causa básica da sobrecarga ventricular direita é a
hipertensão arterial pulmonar, seja esta primária
(idiopática) ou secundária (DPOC, miocardiopatias,
cardiopatias congênitas, estenose pulmonar, estenose
mitral). O padrão eletrocardiográfico característico é
decorrente de um desvio do eixo elétrico para a direita,
com onda R de grande amplitude em V1 e que se reduz
gradualmente até V6 (com aumento concomitante da
onda S)

• Ondas R aumentadas em V1 e V2 (precordiais


direitas) e S aumentadas em V5 e V6 (precordiais
esquerdas)

• 5 pontos = SVE
• 4 pontos = possível SVE

Bloqueio de ramo direito


O bloqueio de ramo (BRD) tende a prolongar a duração
do complexo QRS

• O grau de prolongamento depende da gravidade


da alteração
o BRD completos: QRS > 120 ms (3 mm)
o BRD incompletos: têm duração entre
100 e 120 ms (2,5-3 mm)
• Precordiais direitas (V1-V2): rsr’/rsR’/rSR’ com
Sobrecarga ventricular esquerda onda R alargada e entalhada (R’ habitualmente
• Desvio do eixo para esquerda além de -30° maior que r)
• Padrão Strain: onda T invertida em V5-V6 e ST • Precordiais esquerdas (V5-V6): qRS com onda S
infradesnivelado alargada (> que onda R ou >0,04s) e entalhada
• Índice de Sokolow-Lyon: soma da amplitude da • QRS alargado com ápice aplanado (entalhe)
onda S em V1 com a amplitude de R em V5-V6 • Alteração da repolarização: oposição entre QRS
maior ou igual a 35 mm e ST-T (QRS positivo em V1-V2 com infra-ST e
• Índice de Cornell: somar a onda R de aVL com a onda T negativa / QRS negativo em V5-V6 com
onda S de V3. Se maior que 28 mm no homem supra-ST e onda T positiva)
ou 20 mm na mulher é característico de SVE

285
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Bloqueio de ramo esquerdo


A incidência do bloqueio de ramo esquerdo (BRE)
aumenta com a idade, tendo prognóstico benigno em
indivíduos jovens; no entanto, está frequentemente
associado à doença cardíaca estrutural na população
idosa

• Padrão rS visto em V1 e V2
• O segmento ST e a onda T têm vetores
discordantes do complexo QRS
• Duração do complexo QRS > 120 ms (3 mm)
• Onda R monofásica, ampla e entalhada nas
derivações precordiais esquerdas – V5 e V6 e
usualmente em DI e aVL (aspecto em “torre”)
• Deflexão intrinsecoide retardada: duração
superior a 60 ms nas derivações precordiais
esquerdas – V5 e V6 Bloqueio divisional posteroinferior esquerdo
(BDPIE)
Bloqueio fascicular com esse padrão é quase
exclusivamente encontrado concomitantemente a BRD,
ocorrendo muito raramente de modo isolado

• Duração do complexo QRS < 110 ms


• Eixo do complexo QRS superior a +120° no plano
frontal
• Padrão rS nas derivações DI e aVL
• Padrão qR nas derivações DII, DIII e aVF (padrão
S1-Q3)

Bloqueio divisional anterossuperior esquerdo


(BDASE)
• Duração do complexo QRS < 120 ms (3 mm)
• Eixo do complexo QRS (> -30°) no plano frontal
• Padrão rS em derivações DII, DIII e aVF: onda S
em derivação DIII mais profunda que em DII e
padrão qR em derivação aVL

Bloqueio divisional anteromedial esquerdo


(BDAM)
• QRS com duração < 120 ms (3 mm)
286
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Orientação no plano frontal normal; Infarto agudo do miocárdio (IAM)


• Ondas R em V1, V2 e V3 (R1 < R2 < R3). No infarto, três processos básicos estão envolvidos e sua
alteração eletrocardiográfica esperada é:

• Isquemia (fase hiperaguda - até 72h): alterações


de onda T
o Onda T apiculada simétrica e de grande
amplitude.
• Injúria ou lesão (fase aguda - 1-7 dias):
alterações do segmento ST
o Infarto subepicárdico (IAMCSST):
Supradesnível de ST de 1 mm em duas
ou mais derivações contíguas, exceto
em V2 e V3, que deve ser maior que 1,5
mm na mulher e maior que 2 mm no
homem com mais de 45 anos e maior
Síndromes coronarianas agudas que 2,5 no homem com menos de 45
Lesão subendocárdica: infradesnivelamento do anos
segmento ST e manutenção do vetor da onda T com a o Infarto subendocárdico (IAMSSST):
mesma direção e o mesmo sentido do complexo QRS Infradesnível de ST
Isquemia transmural: resulta em uma onda T contrária • Infarto ou necrose (Fase crônica - > 7 dias):
ao sentido do vetor de ativação ventricular na região que presença de ondas Q patológicas (>1mm de
sofreu isquemia e supra de ST duração e/ou >1/3 da amplitude do QRS):

Isquemia
A isquemia é eletrocardiograficamente representada por
alterações de onda T, que variam segundo o tipo de
isquemia (primária ou secundária) e a camada acometida
(subendocárdica ou subepicárdica):

• Isquemia primária: onda T apiculada simétrica e


de grande amplitude
• Isquemia secundária: onda T apiculada
assimétrica e de grande amplitude
• Isquemia subendocárdica: onda T positiva
• Isquemia subepicárdica: onda T negativa
(invertida em relação ao QRS).
Taquiarritmias
A frequência cardíaca (FC) dita “normal” varia entre 60 e
100 bpm, definindo-se taquicardia quando a FC é
superior a 100 bpm
287
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Taquicardias de QRS estreito (< 120 ms) Taquicardias de QRS largo (≥ 120 ms)
São de origem supraventricular, ou seja, originadas em Podem ser de origem ventricular (80% dos casos) ou
qualquer estrutura cardíaca acima do feixe de His (nó supraventricular. O diagnóstico diferencial deve ser feito
sinusal, miocárdio atrial, nó atrioventricular (AV), feixe entre taquicardia ventricular (TV), taquicardia
de His ou uma combinação desses). As principais supraventricular (TSV) com aberrância de condução, TSV
representantes desse grupo são: pré-excitada, TRAV antidrômica e marca-passo em
situações específicas
• Taquicardia sinusal (TS)
• Taquicardia por reentrada nodal sinoatrial Bloqueio atrioventricular de 1º grau
(TRNSA) Todos os estímulos passam pela região do bloqueio
• Taquicardia atrial (TA) (supra-hissiana), porém com atraso;
• Flutter atrial (FLA)
• Intervalo PR alargado (>200ms ou 5 mm)
• Taquicardia atrial multifocal (TAM)
• Fibrilação atrial (FA)
• Taquicardia por reentrada nodal atrioventricular
(TRNAV)
• Taquicardia por reentrada atrioventricular
(TRAV)
• Taquicardia juncional focal (TJF)
• Taquicardia juncional não paroxística (TJNP)

288
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Bloqueio atriventricular de 3º grau (total)


Nenhum impulso é transmitido aos ventrículos
Bloqueio atrioventricular de 2º grau Mobitz I
Ocorre um atraso gradual e progressivo na passagem dos • Dissociação atrioventricular completa (intervalo
estímulos até que haja um bloqueio total (fenômeno de PP e RR regulares porém sem enlace AV)
Wenckebach)

• Aumento progressivo do PR até a ocorrência do


bloqueio (observa-se diminuição dos intervalos
RR concomitantes, pois os aumentos de PR são
decrescentes - atrasos cada vez maiores, mas
com incrementos cada vez menores determinam
ondas R cada vez mais próximas) Bloqueio atriventricular de 2º grau tipo 2:1
• Principal critério: intervalo PR antes da P No ECG há 2 ondas P para 1 QRS, mantendo-se constante
bloqueada > intervalo PR após a P bloqueada esta relação

• BAV 2:1 com QRS alargado sem BAV 1º grau =


Infra-hissiano (maligno)
• BAV 2:1 com QRS estreito com BAV 1º grau =
Supra-hissiano (benigno)

Fibrilação atrial
Fequências de estimulação atrial de 400-600 por minuto,
o que impede uma contração efetiva do miocárdio atrial,
caracterizando o estado fibrilatório

• Frequência cardíaca entre 90-170 bpm


Bloqueio atriventricular de 2º grau Mobitz II
(geralmente)
Não ocorre o atraso gradual e progressivo, havendo uma
• Ausência de onda P, com aspecto serrilhado da
duração fixa dos estímulos que precedem o estímulo
linha de base
bloqueado, ou seja, o bloqueio é do tipo “tudo ou nada”
• Intervalos RR irregulares
• Ondas P eventualmente bloqueadas (sem QRS) • QRS estreito (exceto em caso de bloqueio de
sem variação entre intervalos PR ramo associado)
• Principal critério: intervalo PR antes da P
bloqueada = Intervalo PR após a P bloqueada

289
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Fibrilação ventricular
Arritmia ventricular caracterizada pela despolarização Flutter ventricular
caótica dos ventrículos, levando a parada cardíaca Caracterizada por morfologia sinusoidal sem distinção
• Frequência ventricular de 400-600 bpm sem clássica entre o QRS e a onda T, sendo considerada uma
contração efetiva transição entre a taquicardia ventricular e a fibrilação
• Intervalo RR irregular ventricular, sendo extremamente instável e podendo
• Eletrocardiograma de morfologia irregular de resultar em parada cardíaca
difícil distinção de ondas • Frequência cardíaca de 250-350 bpm
• Intervalo RR regular
• QRS alargado (≥120 ms) sem distinção da onda
T, assumindo morfologia sinusoidal
• Transitório, podendo degenerar para fibrilação
ventricular

Flutter atrial
• Frequência atrial de aproximadamente 300 bpm
(ondas F) com frequência cardíaca dependendo
do grau de bloqueio pelo nó AV (2:1/4:1/1:1)
• Ondas F (com aspecto em dente de serra), sem
intervalo isoelétrico entre as ondas
• QRS estreito (exceto em caso de bloqueio de
ramo associado)
290
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Taquicardia Supraventricular por Reentrada Taquicardia Ventricular Monomórfica


Nodal (TSVPRN) Sustentada (TVMS)
Taquiarritmia decorrente de um mecanismo de A principal causa de TVMS é a doença coronariana,
reentrada em indivíduos com dupla via nodal podendo ocorrer na fase aguda de um IAM (primeiras
48h) e, o mais comum, na fase tardia de IAM extenso, em
• Frequência cardíaca de 120-220 bpm
que se formam circuitos de reentrada em volta de áreas
• Início e término súbitos, geralmente de fibrose miocárdica, de condução lenta e dispersão da
desencadeada por extrassístole atrial refratariedade. Outras causas seriam cardiomiopatias
• Ausência de onda P hipertrófica e dilatada, e a displasia arritmogênica de
• Intervalo RR regular ventrículo direito
• QRS estreito (exceto em caso de bloqueio de
ramo associado) • Frequência cardíaca maior que 100-120 bpm
• Intervalo RR regular
• QRS alargado (≥120 ms) e aberrante com
morfologia única por derivação
• Localização do foco: padrão BRD-símile =
VE/padrão BRE-símile = VD ou septo
interventricular

Taquicardia sinusal
Resposta fisiológica ao exercício físico e estresse
emocional, e compensatória a distúrbios orgânicos
(anemia, hipovolemia, insuficiência cardíaca, febre,
tireotoxicose, medicamentos e drogas)

• Frequência cardíaca: 100-160 bpm


• Ritmo sinusal (sem alteração de onda P) Taquicardia Ventricular Polimórfica Sustentada
• QRS estreito (exceto em caso de bloqueio de (TVPS)
ramo associado) • QRS de morfologia aberrante e alargados (≥ 120
ms) com morfologia variada na mesma
derivação

291
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Pericardite
• Fase 1: elevação do segmento ST difuso com Derrame pericárdico
concavidade para cima (2-5 mm em 8-12 • Baixa voltagem generalizada
derivações) e depressão do segmento PR • Taquicardia sinusal
concomitante • Alternância elétrica
• Fase 2 (dias): normalização gradual dos
segmentos ST e PR, com achatamento
progressivo da onda T
• Fase 3: inversão difusa de onda T (diferente do
que ocorre no IAM, em que a inversão da onde T
ocorre na presença do supra de ST)
• Fase 4 (dias a semanas): normalização das ondas
T

Doença de Chagas
Na fase indeterminada não há alterações
eletrocardiográficas. Nas fases posteriores, observam-se
as seguintes alterações:

• Na fase de cardiopatia clínica ocorrem as


alterações típicas: os distúrbios de condução,
como bloqueio do ramo direito (BRD) e/ou
bloqueio divisional anterossuperior (BDAS) e
eventualmente o BAV de 1º grau. Extrassístoles
ventriculares e fibrilação atrial são comuns.
• Na fase avançada aparecem as arritmias de pior
prognóstico, como extrassistoles ventriculares
polimórficas, taquicardia ventricular, BAV de
grau avançado e BAV total

292
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hipocalcemia
• QTc prolongado
• Inversão terminal de onda T

Hipercalcemia
• QTc curto
• Aumento de amplitude do QRS
• Ondas T bifásicas
• Ondas de Osborn (Pseudo-R'): Elevação do ponto
J (semelhante a hipotermia)

Hipercalemia
Manifestações ocorrem a partir de aumento progressivo
do potássio:

• Leve (< 6 mEq / L): ondas T altas, simétricas e de


pico estreito (superiores a amplitude de R)
• Moderada (6-7 mEq / L): ondas P alargadas e
achatadas (podendo desaparecer), enquanto o
intervalo PR prolonga-se
• Moderada-Grave (7-8 mEq / L): alargamento
progressivo do complexo QRS
• Grave (> 8 mEq / L): 2 ª metade doQRS se funde
com a onda T, resultando em uma "onda

293
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

senóide" (ritmo pré-terminal), havendo risco de


assistolia, fibrilação ventricular, taquicardia
ventricular ou TV sem pulso

294
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hipocalemia
Manifestações ocorrem a partir de diminuição
progressiva do potássio:

• Leve (< 3,5 mEq / L): onda T larga e achatada


• Moderada (1,5-3,5 mEq / L): aparecimento de
ondas U; aumento de amplitude e largura de
onda P e prolongamento do PR; leve depressão
do ST e alto risco de taquiarritmias
supraventriculares
• Grave (< 1,5 mEq / L): depressão mais acentuada
do ST; onda U aumentada com fusão a onda T;
risco de arritmias ventriculares

295
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Drogas anticoagulantes

296
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Vitaminas • A tiamina também parece promover a condução


nervosa colinérgica e serotoninérgica e a
Vitamina B1 (tiamina) transmissão axonal sináptica
Serve como catalisador na conversão de piruvato em
acetil coenzima A (CoA) e está envolvido em muitas Medição
outras atividades metabólicas celulares, incluindo o ciclo • ETKA: este é um teste funcional e os resultados
de Krebs. Além disso, participa do início da propagação são influenciados pela concentração de
do impulso nervoso. hemoglobina
• Excreção urinária de tiamina: útil para
A deficiência de tiamina causa fenótipos clínicos da
determinar a ingestão de tiamina de uma
síndrome de beribéri e Wernicke-Korsakoff.
população, mas são menos úteis para identificar
Fontes pacientes individuais com deficiência
• Tiamina é encontrado principalmente em clinicamente significativa de tiamina
alimentos como leveduras, legumes, carne de Deficiência
porco, arroz integral e cereais feitos a partir de
A deficiência de tiamina na dieta causa dois fenótipos
grãos integrais
clínicos: beribéri (infantil e adulto) e síndrome de
• A molécula de tiamina é desnaturada em pH alto Wernicke-Korsakoff
e altas temperaturas. Portanto, cozinhar, assar e
enlatar alguns alimentos, bem como a Beribéri infantil
pasteurização, podem destruir a tiamina • Beribéri em lactentes torna-se clinicamente
aparente entre os dois e os três meses de idade
Bioquímica e afeta principalmente bebês que são
Metabolismo amamentados por mulheres com uma dieta
• A tiamina é absorvida no intestino delgado por deficiente em tiamina
meio de transporte ativo e difusão passiva. A • As características clínicas são variáveis e podem
absorção máxima de tiamina ocorre no jejuno e incluir uma síndrome cardíaca fulminante com
íleo cardiomegalia, taquicardia, um grito agudo,
• As maiores concentrações são encontradas nos cianose, dispnéia e vômito
músculos esqueléticos, no fígado, no coração, • Os bebês mais velhos podem apresentar
nos rins e no cérebro sintomas neurológicos semelhantes à meningite
• A tiamina e todos os seus metabólitos são asséptica, incluindo agitação, choro afônico
excretados principalmente na urina e uma (silencioso), vômito, nistagmo, movimentos sem
pequena proporção é excretada na bile propósito, consciência alterada e convulsão, sem
anormalidades na análise do líquido
Ações
cefalorraquidiano
• A forma fosforilada (TPP) é um cofator
• O tratamento para formas agudas é
importante para enzimas envolvidas no
administração, por via parenteral, de tiamina,
metabolismo de carboidratos e aminoácidos de
usando doses em bebês de 100 a 150 mg
cadeia ramificada
• A tiamina tem um papel não identificado no Beribéri adulto
início da propagação dos impulsos nervosos. • O beribéri em adultos tem dois fenótipos
Consequentemente, a deficiência de tiamina clínicos, descritos como "seco" ou "úmido".
está associada à neuropatia, conhecida como Beribéri seco é o desenvolvimento de
neuropatia do beribéri neuropatia periférica simétrica caracterizada
• A tiamina tem um papel importante na síntese por comprometimentos sensoriais e motores,
de glutamato e ácido γ-aminobutírico, bem principalmente das extremidades distais. O
como na manutenção da bainha de mielina beribéri úmido inclui sinais de envolvimento
cardíaco com cardiomegalia, cardiomiopatia,

297
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

insuficiência cardíaca, edema periférico e Toxicidade


taquicardia, além de neuropatia • Acredita-se que níveis tóxicos sejam improváveis
• O tratamento para beribéri em adultos porque os rins podem limpar rapidamente quase
geralmente começa com a administração todo o excesso de tiamina e porque (como a
parenteral de tiamina se o paciente estiver maioria das vitaminas hidrossolúveis) a tiamina
gravemente doente (5 a 30 mg/dose, três vezes não é armazenada
ao dia por vários dias), seguido de tiamina oral,
5 a 30 mg por dia Exigências
• É de 0,5 a 0,9 mg por dia para crianças, 1,2 mg
Síndrome de Wernicke-Korsakoff por dia para homens adultos e 1,1 mg por dia
• A síndrome de Wernicke-Korsakoff é uma para mulheres adultas não grávidas
complicação neurológica devastadora da
deficiência de tiamina Vitamina B2 (riboflavina)
• A encefalopatia de Wernicke (WE) é uma Vitamina B2, ou riboflavina, é um membro de compostos
síndrome aguda que requer tratamento naturais conhecidos como flavinas, que têm um papel
emergente para prevenir a morte e a morbidade crítico em inúmeras reações bioquímicas,
neurológica, sendo caracterizada por nistagmo, principalmente aquelas classificadas como reações de
oftalmoplegia, ataxia e confusão. A síndrome de redução da oxidação.
Korsakoff refere-se a uma condição neurológica
Fontes
crônica que geralmente ocorre como
• Riboflavina é fornecido em muitos alimentos,
consequência da WE. É caracterizada por
incluindo leite e ovos, carnes, peixes, verduras,
memória de curto prazo prejudicada e
fermento e alimentos enriquecidos (cereais e
confabulação com cognição normalmente
pães fortificados)
normal
• WE é tratada com suplementação de tiamina. É Bioquímica
prática comum adiar a administração de • No intestino delgado proximal, a riboflavina é
dextrose a pacientes alcoólicos até que a absorvida passivamente
suplementação de tiamina seja iniciada para • A riboflavina finalmente atinge os hepatócitos,
evitar precipitar a WE em pacientes em jejum onde é metabolizada em flavina
prolongado ou com outras predisposições à WE, mononcleotídeo (FMN) e flavina adenina
como alcoolismo crônico dinucleotídeo (FAD)
Síndromes de disfunção do metabolismo da tiamina Ações
• Anemia megaloblástica responsiva à tiamina: • A riboflavina é um componente essencial das
mutações no gene SLC19A2, que codifica um coenzimas envolvidas em várias vias metabólicas
transportador de tiamina, são responsáveis por celulares, incluindo as vias respiratórias
uma síndrome de anemia megaloblástica, produtoras de energia
diabetes mellitus e surdez neurossensorial. O
distúrbio tende a se apresentar clinicamente Medição
entre a infância e a adolescência e responde a • Concentrações plasmáticas de riboflavina
altas doses de tiamina tendem a refletir a ingestão recente de
• Síndrome de disfunção do metabolismo da alimentos
tiamina tipo 2: mutações no gene SLC19A3, que • O ensaio da glutationa redutase dos eritrócitos é
codifica um transportador de tiamina, foram um melhor índice funcional da ingestão
relatados em alguns indivíduos com insuficiente de riboflavina
encefalopatia episódica. A encefalopatia é
Deficiência
freqüentemente desencadeada por doença
• Manifestações clínicas de deficiência de
febril e responde clinicamente a altas doses de
riboflavina incluem dor de garganta, hiperemia
biotina ou tiamina
das mucosas da faringe, edema das mucosas,
298
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

queilite, estomatite, glossite, anemia Fontes


normocítica-normocrômica e dermatite • Niacina é amplamente distribuído em alimentos
seborreica vegetais e animais. Boas fontes incluem
• Outras configurações nas quais insuficiência ou leveduras, carnes (especialmente fígado), grãos,
deficiência de riboflavina pode ser observada legumes, milho tratado com álcalis (como no
incluem: milho usado em tortilhas) e sementes.
o Pacientes com anorexia nervosa • É possível manter um status adequado de
o Pacientes com síndromes mal- niacina em uma dieta rica em proteínas (por
absortivas, como doença celíaca ativa, exemplo, ingestão de proteínas de 100 g/dia),
doenças malignas e síndrome do pois o triptofano pode ser convertido em um
intestino curto derivado de niacina no fígado. No entanto,
o Erros inatos raros do metabolismo nos requer aproximadamente 60 mg de triptofano
quais há um defeito na formação de para produzir 1 mg de niacina, e esse processo
enzimas dependentes da riboflavina, requer vitamina B6 (piridoxina), com variação
como acidemia glutárica tipo 1 ou individual significativa.
deficiência múltipla de acil-coenzima A
(CoA) desidrogenase (MADD) ou um Bioquímica
transportador de riboflavina (síndrome Metabolismo
de Brown-Vialetto-Van Laere) • O metabolismo da niacina envolve a conversão
o Uso a longo prazo de fenobarbital e de NAD e NADP na dieta em nicotinamida e
outros barbitúricos nicotínicoácido para absorção intestinal e, em
seguida, de volta ao NAD e NADP para uso nas
Papéis terapêuticos funções celulares
• Alguns defeitos de oxidação beta • Através de um processo passivo, a niacina é
intramitocondrial como MADD podem rapidamente absorvida pelo fígado, rins e
responder à terapia com riboflavina eritrócitos
• Além disso, pacientes com infecção pelo HIV • Além disso, uma porção do triptofano na dieta
tratados com zidovudina ou estavudina pode pode ser convertida em nicotinamida no fígado
desenvolver acidose láctica que é revertida pela
terapia com riboflavina Ações
• Muitas reações redox enzimáticas dependem da
Toxicidade NAD e da NADP como cofator. O papel da fração
• Não foram relatados efeitos adversos após a niacina é aceitar elétrons ou doar íons
ingestão de altas doses de riboflavina hidrogênio
Exigências Medição
• É de 0,5 a 0,9 mg por dia em crianças, 1,3 mg por • O status de niacina pode ser avaliado medindo a
dia para homens adultos e 1,1 mg por dia para N-metilnicotinamida urinária ou medindo a
mulheres adultas não grávidas NAD:NADP (razão) eritrocitário. No entanto,
esses testes não estão amplamente disponíveis
Vitamina B3 (niacina)
Niacina (ácido nicotínico e nicotinamida) é um nutriente Deficiência
essencial envolvido na síntese e metabolismo de Pelagra
carboidratos, ácidos graxos e proteínas. A deficiência de • Pelagra (que significa "pele crua") é
niacina causa pelagra (4 Ds), caracterizada por dermatite caracterizada por dermatite pigmentada
pigmentada fotossensível (geralmente localizada em fotossensível (geralmente localizada em áreas
áreas expostas ao sol), diarréia e demência, e pode expostas ao sol), diarreia e demência
progredir até a morte (death). • A pelagra devido à deficiência alimentar ainda
pode ser vista em países com recursos limitados,

299
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

onde a maior parte da dieta local consiste em • O uso de ácido nicotínico geralmente é limitado
milho ou sorgo não tratado por baixa tolerabilidade e há preocupações
• O achado mais característico da pelagra é a sobre a segurança da niacina e sua eficácia para
presença de uma erupção cutânea os desfechos clínicos
hiperpigmentada simétrica, semelhante em cor
e distribuição a uma queimadura solar, presente Exigências
nas áreas expostas da pele • É de 6 a 12 mg por dia em crianças, 16 mg para
• Outros achados clínicos são língua vermelha e homens adultos e 14 mg por dia para mulheres
muitos sintomas inespecíficos, como diarréia e adultas não grávidas
vômito. Os sintomas neurológicos incluem • Essas doses estão muito abaixo das doses anti-
insônia, ansiedade, desorientação, delírios, hiperlipidêmicas da niacina e não estão
demência e encefalopatia associadas à toxicidade
• Os requisitos podem ser aumentados para
Síndrome carcinóide indivíduos em diálise ou para aqueles com
• Na qual o triptofano é metabolizado em 5-OH processos de má absorção (por exemplo, após
triptofano e serotonina, e não em ácido cirurgia bariátrica)
nicotínico. Isso leva à deficiência de formas
ativas de niacina e o desenvolvimento da pelagra Vitamina B5 (ácido pantoténico)
A deficiência clínica é rara, provavelmente porque está
Uso prolongado de isoniazida disponível em muitas fontes alimentares e, também, em
• Uma vez que a isoniazida esgota as reservas de bactérias do cólon
piridoxal fosfato, o que aumenta a produção de
triptofano, um precursor da niacina. Vários Quando ocorre, é caracterizada por parestesias e
outros fármacos induzem a deficiência de disestesias, conhecidas como "síndrome dos pés em
niacina, inibindo a conversão do triptofano em chamas".
niacina, incluindo, pirazinamida, hidantoína,
Fontes
cloranfenicol
• As principais fontes alimentares de ácido
Doença de Hartnup pantotênico são gema de ovo, fígado, rim,
• É um distúrbio congênito autossômico recessivo brócolis e leite, além de frango, carne, batatas e
causado por um defeito no transporte de grãos integrais. A principal fonte alimentar de
membrana nas células intestinais e renais que ácido pantotênico está na forma de coenzima A
normalmente são responsáveis pela absorção do (CoA)
triptofano, um precursor da niacina • O ácido pantotênico também é produzido por
bactérias no cólon
Toxicidade
• O rubor pode ser experimentado de forma leve, Bioquímica
enquanto se toma doses tão pequenas quanto Metabolismo
10 mg por dia • O CoA é hidrolisado no intestino delgado para
• Em doses farmacológicas (por exemplo, 1000 a formar p ácido pantotênico, que é absorvido no
3000 mg/dia), efeitos colaterais comuns de jejuno e secretado na corrente sanguínea
niacina são rubor, náusea, vômito, prurido, através de um sistema de transporte
urticária, elevação das aminotransferases dependente de sódio
séricas e constipação • A maioria das células do corpo absorve o ácido
pantotênico através do mesmo mecanismo
Papéis terapêuticos
dependente de sódio. Uma vez dentro da célula,
• Em doses moderadas a altas (1000 a 3000 mg
o ácido pantotênico sofre um número de
por dia) de niacina é um agente anti-
fosforilações dependentes de ATP para se tornar
hiperlipidêmico bem estabelecido, diminuindo o
CoA
colesterol total e de baixa densidade de
lipoproteínas
300
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Ações Fontes
• O CoA tem um papel crucial na síntese e • Piridoxina e piridoxamina são
degradação de muitas moléculas, incluindo as predominantemente encontradas em alimentos
vitaminas A, D, colesterol, esteróides, heme A, vegetais; piridoxal é mais comumente derivado
ácidos graxos, carboidratos, aminoácidos e de alimentos de origem animal. Carnes, grãos
proteínas integrais, legumes e nozes são as melhores
• A coenzima A também tem um papel essencial fontes. Cozinhar, processar e armazenar
na primeira etapa do ciclo de Krebs, ligando-se alimentos pode reduzir a disponibilidade de
ao oxaloacetato para formar citrato vitamina B6
• O CoA também é necessário para a ativação e
Bioquímica
inativação de muitos hormônios peptídicos,
como o hormônio adrenocorticotrópico Metabolismo
• A piridoxina é convertida no fígado para sua
Medição forma ativa, piridoxina 5-fosfato. Este é então
• Várias técnicas de laboratório são empregadas catabolizado em ácido 4-piridoxico, que é
para medir níveis de ácido pantotênico excretado na urina e pode ser usado como um
sanguíneos, plasmáticos e urinários. No entanto, marcador da suficiência de piridoxina
como a deficiência pantotênica é rara, não
houve grande necessidade ou interesse em Ações
desenvolver testes amplamente disponíveis • O fosfato de piridoxal é utilizado para a
formação da base de Schiff durante a
Deficiência transaminação de aminoácidos, um passo
• Deficiência de ácido pantotênico é rara em fundamental na gliconeogênese. O fosfato de
humanos. Foi observado em indivíduos piridoxal também está envolvido na
gravemente desnutridos, geralmente em descarboxilação de aminoácidos, uma reação
situações de fome e guerra chave na conversão do triptofano em niacina,
• As manifestações clínicas podem incluir síntese de heme, biossíntese de esfingolipídeos,
parestesias e disestesias, conhecidas como síntese de neurotransmissores, função imune e
"síndrome dos pés ardentes" modulação hormonal esteróide
• É também um cofator enzimático essencial na
Toxicidade
via da transsulfuração pela qual a homocisteína
• Não há toxicidade conhecida para ácido é convertida em cistationina e sua
pantotênico. O consumo excessivo é excretado subsequenteconversão em cisteína
pelos rins
Deficiência
Exigências
• As deficiências marginais podem ser mais
• É de 2 a 4 mg por dia para crianças e 5 mg por comuns, manifestadas como estomatite
dia para homens e mulheres adultos inespecífica, glossite, quilosis, irritabilidade,
Vitamina B6 (piridoxina) confusão e depressão e possivelmente
Vitamina B6 consiste em piridoxina. neuropatia periférica
• A deficiência grave está associada a dermatite
A deficiência evidente de vitamina B6 é rara, e as seborreica, anemia microcítica e convulsões
manifestações primárias são dermatite, glossite e
anemia microcítica. Toxicidade
• Foram relatados casos de neuropatia periférica,
A toxicidade da vitamina B6 se manifesta com dermatoses, fotosensibilidade, tontura e náusea
neuropatia periférica, dermatoses, fotosensibilidade, com megadoses a longo prazo de piridoxina
tontura e náusea acima de 250 mg/dia; alguns casos de
neuropatia parecem ter sido causados por
ingestão crônica de 100 a 200 mg/dia
301
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Exigências que se liga à biotina e impede sua absorção),


• Varia de 0,5 a 1 mg em crianças, a 1,3 mg por dia pode levar à deficiência de biotina
para homens e mulheres jovens e depois • Além disso, pode ocorrer deficiência secundária
aumenta para 1,7 mg por dia para homens com de biotina devido à falta de uma enzima
mais de 50 anos e 1,5 mg por dia para mulheres específica (biotinidase), necessária para a
com mais de 50 anos liberação de biotina ligada à proteína para torná-
la biodisponível
Vitamina B7 (biotina) • As manifestações clínicas clássicas de deficiência
A caracterização de biotina como vitamina, foi baseada de biotina incluem dermatite ao redor dos olhos,
na descoberta de que a deficiência de biotina causa uma nariz e boca, conjuntivite, alopecia e sintomas
síndrome clínica, que é mediada por deficiências de neurológicos, incluindo alterações no estado
várias enzimas carboxilase. mental, letargia, alucinações
Fontes • Outras manifestações podem incluir mialgia,
anorexia e náusea
• Biotina pode ser encontrado em uma variedade
• No cenário de insuficiência de biotina, a
de plantas, mas é encontrado em níveis mais
gliconeogênese é prejudicada no fígado e nos
altos no fígado, gema de ovo, produtos de soja e
rins. Além disso, o catabolismo dos ácidos graxos
levedura
é prejudicado, causando um acúmulo de
Bioquímica propionil-CoA. A síntese de ácidos graxos
Metabolismo também é afetada pela deficiência de acetil-CoA
• Exceto as formas ingeridas de biotina, várias carboxilase, necessária para o alongamento dos
bactérias no intestino sintetizam a biotina como ácidos graxos. A interrupção na síntese de ácidos
subproduto de suas ações proteolíticas graxos leva a manifestações dermatológicas da
• A biotina é absorvida principalmente no deficiência de biotina (dermatite seborreica e
intestino delgado proximal e, em menor grau, no alopecia)
ceco Deficiência múltipla de carboxilase
• O excesso de biotina sérica é excretado pelo rim • A deficiência múltipla de carboxilase refere-se a
Ações um dos dois defeitos herdados do metabolismo
de biotina
• Biotina é um cofator essencial para vários
complexos enzimáticos da carboxilase em • A forma infantil é causada por uma deficiência
mamíferos, todos envolvidos no metabolismo de de holocarboxilase sintetase e se apresenta na
carboidratos, aminoácidos e lipídios. Eles primeira semana de vida com letargia, baixo
incluem tônus muscular e vômitos
o Acetil coenzima A (CoA) carboxilase • Uma forma de início posterior é causada pela
(ACC) deficiência de biotinidase e está associada a uma
o Carboxilase de piruvato (PC) perda lenta, mas progressiva, de biotina na
o Propionil CoA carboxilase (PCC) urina, levando à acidúria orgânica, sendo
o Metilcrotonil CoA carboxilase (MCC) caracterizada por ataxia, cetoacidose,
• Biotina atua como um transportador de CO na dermatite, convulsões, mioclonia e nistagmo
superfície de cada enzima. Como resultado, ele • A deficiência múltipla de carboxilase é
tem um papel essencial em muitos processos, diagnosticada definitivamente pelo estudo de
incluindo síntese de proteínas e replicação enzimas de linfócitos. O teste para essas
celular deficiências está incluído na tela do recém-
nascido na maioria dos estados
Deficiência • A deficiência múltipla de carboxilase infantil e de
Deficiência nutricional início tardio pode ser tratada com doses
• O consumo de grandes quantidades de claras de farmacológicas de biotina. O tratamento tardio
ovos cruas (que contêm avidina, uma substância pode falhar em reverter as sequelas
302
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

neurológicas e foi associado ao atraso o Transporte de ácidos graxos: o


neurológico e do desenvolvimento transporte de ácidos graxos de cadeia
longa através da membrana
Toxicidade mitocondrial é um processo dependente
• Nenhuma toxicidade de ingestão em excesso de de carnitina. A síntese de carnitina
biotina foi descrita requer ácido ascórbico como doador de
Exigências elétrons
• É de 8 a 12 mcg diariamente para crianças e 30 o Síntese de colágeno: a formação de
mcg diariamente para adultos colágeno requer hidroxilação enzimática
de dois aminoácidos: prolina e resíduos
Vitamina C (ácido ascórbico) de lisina dentro da estrutura do
Deficiência de vitamina C é responsável pelo escorbuto, colágeno. O ácido ascórbico é um
caracterizado por sinais cutâneos proeminentes doador de elétrons em reações
(petéquias, hemorragia perifolicular e hematomas), catalisadas pelas enzimas prolil
gengivite, artralgias e comprometimento da cicatrização, hidroxilase e lisil hidroxilase, que
que surge dentro de alguns meses em dieta deficiente formam hidroxiprolina e hidroxilisina,
em vitamina C. respectivamente. O fracasso desta etapa
na síntese do colágeno resulta na
Fontes cicatrização prejudicada da ferida, na
• Importantes fontes alimentares de vitamina C formação defeituosa dos dentes e na
são frutas cítricas, tomates, batatas, couve-flor, função deficiente dos osteoblastos e
brócolis, morangos, couve e espinafre fibroblastos
• Nas crianças, o leite materno fornece uma fonte o Síntese de neurotransmissores: a
adequada de ácido ascórbico para recém- síntese de noradrenalina envolve uma
nascidos e bebês hidroxilação da dopamina pela enzima
dopamina-beta-mono-oxigenase, onde
Bioquímica
o ácido ascórbico é um cofator
Metabolismo
necessário
• O ácido ascórbico é absorvido no intestino o Metabolismo da prostaglandina: o ácido
delgado distal através de um processo de ascórbico tem um papel no metabolismo
transporte ativo dependente de energia. Doses da prostaglandina e da prostaciclina.
dietéticas usuais de até 100 mg/dia são quase Pode ser capaz de atenuar a resposta
completamente absorvidas inflamatória ou até a síndrome da sepse
• À medida que as concentrações alimentares o Síntese de óxido nítrico: o ácido
aumentam, uma fração menor é absorvida; ascórbico pode promover a síntese de
dosagem farmacológica (> 1000 mg/dia) pode óxido nítrico, um potente vasodilatador
resultar em taxas de absorção <50%
• As concentrações sanguíneas de ácido ascórbico Medição
são reguladas pela excreção renal. Quantidades • Os níveis plasmáticos e dos leucócitos de
em excesso são filtradas pelos glomérulos renais vitamina C são a base para a avaliação e estão
e reabsorvidas pelos túbulos até um limiar razoavelmente bem correlacionados com a
predeterminado ingestão de vitamina C

Ações Deficiência
• O ácido ascórbico é um agente redutor biológico • A síndrome da deficiência clínica, conhecida
reversível (doador de elétrons), importante para como escorbuto, deve-se em grande parte à
manter a atividade de várias enzimas que síntese de colágeno prejudicada e tecido
incluem ferro e cobre conjuntivo desordenado
• O ácido ascórbico está envolvido em cada um • Os sintomas mais específicos (que ocorrem três
dos seguintes processos biológicos: meses após a ingestão deficiente) são
303
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

hiperceratose folicular e hemorragia peri-


folicular, com petéquias e cabelos enrolados
• Outros sintomas comuns incluem equimoses,
gengivite (com sangramento e recuo das
gengivas e cárie dentária), Síndrome de Sjogren,
artralgias, edema, anemia e comprometimento
da cicatrização de feridas
• Os sintomas sistêmicos generalizados são
fraqueza, mal-estar, inchaço nas articulações,
artralgias, anorexia, depressão, neuropatia e
instabilidade vasomotora
• Os sintomas do escorbuto geralmente ocorrem
quando a concentração plasmática de ácido
ascórbico é inferior a 0,2 mg/dL
• O tratamento para o escorbuto é a
suplementação com vitamina C e reversão das
condições que levaram à deficiência. Para
crianças, as doses recomendadas são 100 mg de
ácido ascórbico, administradas três vezes ao dia
(por via oral, intramuscular ou intravenosa) por
uma semana, e uma vez ao dia por várias
semanas até que o paciente esteja totalmente
recuperado. Os adultos são geralmente tratados
com 300 a 1000 mg por dia durante um mês

Toxicidade
• Grandes doses de vitamina C foram associados a
diarréia e inchaço abdominal
• Dados epidemiológicos mostraram uma
correlação entre a ingestão dietética e
suplementar de vitamina C e cálculos renais de
oxalato em homens, especialmente em doses
muito altas

Exigências
• Varia de 15 a 45 mg por dia em crianças, a 75 mg
por dia para a maioria das mulheres e 90 mg por
dia para homens; mulheres grávidas ou lactantes
e idosos têm requisitos de até 120 mg/dia

304
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Deficiência de folato e vitamina B12 • A vitamina B12 nos alimentos é ligada às


proteínas, e isso é dissociado no meio ácido do
As células humanas não podem sintetizar vitamina B12
estômago com a ajuda da pepsina
ou folato. Na maioria dos casos, uma dieta equilibrada
típica conterá quantidades adequadas de ambas as • Proteínas adicionais de ligação à vitamina B12,
vitaminas, com a exceção notável com relação às dietas conhecidas como ligantes R ou haptocorrinas
veganas, que não contêm quantidades adequadas de (HC), são secretadas na saliva e se ligam à
vitamina B12. vitamina B12 no estômago
• As células parietais gástricas produzem fator
Vitamina B12 intrínseco. As proteases pancreáticas secretadas
• A vitamina B12 (cobalamina) está presente em no duodeno com pH mais alto cortam os ligantes
muitos produtos de origem animal, incluindo R, permitindo que a vitamina B12 se ligue ao
carnes, laticínios e ovos. As maiores fator intrínseco
concentrações estão em amêijoas (mexilhão) e • O complexo fator intrínseco da vitamina B12 é
fígado. Muitos cereais matinais são enriquecidos absorvido pelos receptores da mucosa no íleo
com vitamina B12. Por outro lado, a vitamina • Uma pequena quantidade de vitamina B12
B12 não está presente em alimentos derivados ingerida (<1%) pode ser absorvida por difusão
de plantas passiva. Esta é a base para o uso de altas doses
• A ingestão diária recomendada de vitamina B12 de vitamina B12 por via oral na anemia
varia de 0,4 mcg por dia em bebês jovens a 2,4 perniciosa
mcg por dia em adultos, com necessidades • A vitamina B12 é exportada para a corrente
ligeiramente maiores durante a gravidez e sanguínea por uma proteína de ligação ao ATP
lactação. Uma dieta típica não vegetariana • A vitamina B12 está ligada a uma família de
contém as quantidades recomendadas, sendo transcobalaminas, às vezes denominadas
necessária a suplementação em dietas cobalofilinas. A vitamina B12 ligada à
vegetarianas transcobalamina é absorvida por outras células
• Os suplementos de vitamina B12 estão do corpo por endocitose mediada por
disponíveis sem necessidade de receita em receptores
comprimidos e líquidos, além de formas nasais • A vitamina B12 intracelular é metabolizada em
(evita-se por causar rinorreia, ser menos eficaz e adenosilcobalamina ou metilcobalamina
mais cara) e sublinguais
Absorção de folato e reservas corporais
Folato • Poliglutamatos de folato são clivados em
• O folato (vitamina B9) está presente em muitos monoglutamatos e absorvidos no lúmen do
produtos vegetais e animais, especialmente jejuno. A absorção é predominantemente
vegetais de folhas verde-escuras e fígado mediada por transportadora, mas a absorção
• A ingestão diária recomendada de folato varia de passiva também ocorre. A absorção é ideal em
65 mcg de equivalentes de folato na dieta em pH ligeiramente ácido (pH 5,5 a 6,0)
bebês a 400 mcg de equivalentes de folato na • O folato deve ser reduzido para ser eficaz em seu
dieta em adultos, com requisitos mais altos papel biológico na transferência de um carbono.
durante a gravidez e lactação (600 e 500 mcg, É reduzido a di-hidrofolato e depois a tetra-
respectivamente) hidrofolato (THF) por uma série de etapas
enzimáticas. O THF é subsequentemente
Absorção de vitamina B12 e reservas corporais convertido em 5,10metileno-THF, que é
O estoque total de vitamina B12 no corpo está na faixa convertido em L-5-metil-THF pela enzima
de 2 a 5 mg, com aproximadamente metade disso metilenotetra-hidrofolato redutase. A forma
armazenado no fígado. Se a ingestão ou absorção de predominante de folato no plasma é L-5-metil-
vitamina B12 cessa, a deficiência normalmente não se THF. Isso é rapidamente eliminado pelos
desenvolve por pelo menos um a dois anos, às vezes mais hepatócitos e outras células

305
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• O folato entra nas células por ligação a um relação ao ciclo de maturação citoplasmática
receptor de folato (megalina). Uma vez dentro (isto é, dissincronia nuclear-citoplasmática).
da célula, o folato é novamente poliglutamado Várias alterações megaloblásticas podem ser
para uma forma biologicamente ativa que não vistas em qualquer uma das células precursoras
pode se difundir de volta para fora da célula nucleadas da medula óssea, incluindo núcleos
• O tetra-hidrofolato poliglutamado atua como imaturos ou morfologicamente anormais em
doador de um carbono para processos relação à maturidade citoplasmática,
biológicos, incluindo a síntese de purinas e metamielócitos gigantes e figuras mitóticas
pirimidinas usadas na síntese de DNA aumentadas. Essas alterações podem causar
anemia isolada e/ou outras citopenias, que
Papéis fisiológicos geralmente são leves. Glóbulos vermelhos
Síntese de DNA, síntese de RNA, metilação de DNA macrocíticos (ou glóbulos vermelhos macro-
• A vitamina B12 e o folato desempenham um ovalocíticos) e neutrófilos hipersegmentados
papel crítico no DNA e síntese de RNA. A são os achados clássicos do esfregaço de sangue
deficiência de qualquer vitamina pode, portanto, periférico
prejudicar a síntese de DNA, que por sua vez • Eritropoiese ineficaz: a eritropoiese ineficaz
pode causar uma parada da célula na fase de (também chamada de hemólise intramedular)
síntese (S) de DNA do ciclo celular, cometer erros ocorre quando há morte prematura (por
de replicação de DNA e/ou sofrer morte exemplo, fagocitose ou apoptose) das células
apoptótica precursoras eritropoeticas em desenvolvimento
• O principal papel do folato na síntese de DNA é na medula óssea. Pode haver hipercelularidade
fornecer grupos metil que são adicionados a da medula óssea e achados laboratoriais de
outras moléculas (ou seja, atuar como um hemólise, incluindo ferro sérico elevado,
doador de um carbono). O principal papel da bilirrubina indireta e desidrogenase lática (LDH)
vitamina B12 é atuar como um cofator na reação e baixo índice de haptoglobina, além de
que recicla o 5-metiltetra-hidrofolato de volta ao contagem de reticulócitos tipicamente baixa
tetra-hidrofolato (THF), que pode ser convertido
Função neuronal
em formas que podem atuar como doadores de
• A deficiência de vitamina B12 afeta
carbono único. A geração de THF é acoplada à
adversamente a função neuronal. A proteína
conversão de homocisteína em metionina
básica de mielina compõe aproximadamente um
• Ciclos repetitivos de reparo defeituoso do DNA
terço da mielina, e a desmielinização no cenário
podem resultar em quebras e fragmentação da
de deficiência de vitamina B12 pode explicar
fita de DNA. O atraso da fase S no cenário da
muitos dos achados neurológicos
maturação citoplasmática normal é referido
como dissincronia nuclear citoplasmática, e isso Níveis elevados de vitamina B12 ou folato
constitui a base para alterações megaloblásticas • A vitamina B12 e o folato são vitaminas solúveis
na medula óssea. A morte celular apoptótica em água. A sobredosagem não é uma
constitui a base da eritropoiese ineficaz consideração importante, uma vez que o
Hematopoese excesso de ambos é excretado na urina.
• As células precursoras hematopoiéticas estão • No entanto, suplementação com doses elevadas
entre as células que mais se dividem no corpo e, ácido fólico pode estar associada a lesão
portanto, são um dos tipos de células mais neurológica irreversível quando administrada a
sensíveis à síntese anormal de DNA causada por indivíduos com anemia perniciosa não
deficiências de vitamina B12 e folato. São dois os diagnosticada. Além disso, a suplementação de
principais efeitos dessa deficiência na folato pode afetar o controle das crises ou
hematopoese: possivelmente interferir na absorção intestinal
• Alterações megaloblásticas: são causadas pela de zinco
desaceleração do ciclo de divisão nuclear em
306
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Causas de deficiência de vitamina B12 Má absorção de cobalamina nos alimentos


• As mais comuns são anemia perniciosa, condição • Má absorção de cobalamina nos alimentos é um
autoimune e distúrbios não imunes do estômago termo usado para descrever a deficiência de
ou intestino delgado que interferem na absorção vitamina B12, apesar dos níveis normais de
da vitamina B12 (por exemplo, cirurgia bariátrica vitamina B12 nos alimentos
ou intestinal) • O principal problema é a incapacidade de liberar
• Indivíduos mais velhos podem ter uma vitamina B12 das proteínas da dieta. Assim,
combinação de condições que interferem na esses indivíduos podem absorver suplementos
absorção de vitamina B12 dos alimentos, de vitamina B12 nos quais a vitamina não está
incluindo atrofia gástrica, acloridria devido ao ligada às proteínas, mas são menos capazes de
inibidor da bomba de prótons, crescimento absorver a vitamina B12 na dieta ligada às
bacteriano intestinal devido a antibióticos e/ou proteínas alimentares devido a condições que
excesso de álcool interferem na dissociação da vitamina das
proteínas alimentares
Anemia perniciosa • Eles geralmente têm um ou mais fatores
A anemia perniciosa (AP) é uma condição auto-imune predisponentes, como gastrite atrófica; cirurgia
que impede a formação do complexo fator intrínseco à gástrica; infecção crônica por H. pylori; acloridria
vitamina B12, que por sua vez diminui drasticamente a do uso crônico de antiácidos, bloqueadores do
absorção da vitamina B12. Autoanticorpos comumente receptor H2 ou inibidores da bomba de prótons;
vistos em indivíduos com AP podem ser direcionados uso crônico de álcool em excesso; insuficiência
contra fator intrínseco ou contra antígenos de células pancreática; ou uso de antibióticos com
parietais gástricas, mas apenas os anticorpos para fator crescimento bacteriano intestinal
intrínseco são importantes na patogênese • Muitos indivíduos com má absorção de
• Anticorpos anti-fator intrínseco: são cobalamina nos alimentos não são anêmicos e
relativamente insensíveis. Eles são relatados em não apresentam outras características da
aproximadamente 50 a 70% dos indivíduos com anemia megaloblástica, como macrocitose ou
AF e são mais comuns em negros do que em neutrófilos hipersegmentados, às vezes
brancos e levemente mais comuns em mulheres denominados deficiência subclínica. No entanto,
do que em homens pode ser prudente suplementar esses indivíduos
• Célula antiparietal: anticorpos de células com vitamina B12, pois pode não estar claro se
antiparietais, a maioria dos quais reage com a sintomas sutis são atribuíveis à deficiência até
H+K+-ATPase produtora de ácido nas células que ela seja corrigida
parietais, são relativamente inespecíficos. É Gastrectomia/cirurgia bariátrica e gastrite
relatado que eles são vistos em
• A ausência de ácido gástrico e pepsina nesses
aproximadamente 85 a 90% dos indivíduos com
distúrbios resulta na liberação prejudicada de
AP. Os anticorpos contra Helicobacter pylori são
vitamina B12 das proteínas alimentares, e a
capazes de reagir de maneira cruzada com a
produção reduzida de fator intrínseco prejudica
célula parietal H+K+-ATPase, sugerindo que o
a absorção da vitamina B12
mimetismo molecular pode desempenhar um
papel no desenvolvimento da deficiência de Infecção por H. pylori
vitamina B12 em indivíduos geneticamente • É proposto um mecanismo no qual as bactérias
suscetíveis que se infectam com H. pylori estimulam a produção de anticorpos que
reagem de maneira cruzada com a H +K+-ATPase
Ingestão alimentar inadequada
parietal gástrica
• Veganos, vegetarianos estritos e algumas
mulheres grávidas ou lactantes que limitam a Medicamentos/drogas
proteína animal podem se tornar deficientes em • Inibidores da bomba de prótons/bloqueadores
vitamina B12 do receptor H2/antiácidos: medicamentos que
reduzem o ácido gástrico podem diminuir a
307
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

absorção de vitamina B12, uma vez que o ácido delgado, doença inflamatória intestinal (DII),
gástrico desempenha um papel na dissociação enterite por radiação, doença celíaca
da vitamina B12 das proteínas alimentares, o (especialmente se o paciente não adere a uma
que permite que ele se ligue ao fator intrínseco. dieta sem glúten), linfoma, ileite tuberculosa,
O uso a longo prazo tem maior probabilidade de amiloidose ou ressecção ileal por qualquer
causar deficiência clinicamente significativa de motivo
vitamina B12 • Tênia de peixe: infestação com a tênia do peixe
• Metformina: a absorção reduzida de vitamina Dibothriocephalus latus causa deficiência de
B12 é um efeito adverso conhecido do uso a vitamina B12, porque o verme tem uma
longo prazo de metformina, afetando uma afinidade pela vitamina B12 e compete pela sua
proporção relativamente grande de pacientes absorção no íleo. A infecção pode resultar da
(até 30% em alguns estudos). O mecanismo de ingestão de peixe cru de água doce (vários tipos),
absorção reduzida de vitamina B12 com em áreas endêmicas ou quando os peixes
metformina está relacionado à homeostase afetados são importados. O diagnóstico é
alterada do cálcio. A captação intestinal do normalmente feito por análise de fezes
complexo fator intrínseco da vitamina B12
requer cálcio, e a suplementação de cálcio Distúrbios genéticos (vitamina B12)
reverte o efeito da metformina na absorção da • Em casos raros, a deficiência de vitamina B12 é
vitamina B12 causada por mutações que afetam um dos
• Óxido nitroso: óxido nitroso (N2O; gás do riso) fatores envolvidos em sua absorção ou
pode ser usado como anestésico inalante. O N2O metabolismo. Os exemplos incluem o seguinte:
inativa a vitamina B12 e prejudica sua Síndrome de Imerslund-Gräsbeck (também
capacidade de atuar como cofator para a chamada anemia megaloblástica juvenil ou
metionina sintase, levando à redução do anemia megaloblástica hereditária)
metabolismo de um carbono e efeitos na síntese Causas de deficiência de folato
de DNA e nas reações de metilação
Ingestão alimentar inadequada
• Distúrbios que afetam a absorção no intestino
• Indivíduos que são incapazes de consumir uma
delgado: a insuficiência pancreática pode
dieta variada e rica em nutrientes podem
impedir a ligação normal da vitamina B12 ao
desenvolver deficiência de folato. Os exemplos
fator intrínseco e vários distúrbios do intestino
incluem aqueles com dietas restritivas, uso
delgado podem reduzir a superfície de absorção
crônico de álcool com dieta limitada, anorexia
do complexo da vitamina B12-fator intrínseco;
grave ou ingestão oral reduzida no cenário de
organismos como bactérias ou vermes de peixes
uma doença sistêmica
podem competir pela absorção de vitamina B12
• Cozinhar alimentos destrói os folatos mais
• Insuficiência pancreática: as enzimas
naturais; portanto, indivíduos que consomem
pancreáticas são necessárias para dissociar a
exclusivamente alimentos cozidos também
vitamina B12 da saliva e proteínas alimentares, e
podem estar em risco
permitir que ele se ligue ao fator intrínseco. Esse
processo pode ser prejudicado em indivíduos Aumento dos requisitos
com insuficiência pancreática ou doença • Gravidez e aleitamento
pancreática crônica • Anemias hemolíticas crônicas
• Inflamação ou cirurgia do intestino delgado: • Doenças esfoliativas da pele
vários distúrbios do intestino delgado têm a • Hemodiálise
potencial de interferir na absorção de vitamina
B12 e pode levar a uma deficiência clinicamente Má absorção intestinal
importante de vitamina B12, especialmente se a • Má absorção de folatos pode ocorrer se a
ingestão for baixa e/ou se os estoques forem superfície de absorção intestinal tiver sido
limítrofes. Esses distúrbios incluem removida ou estiver disfuncional. Isso pode
supercrescimento bacteriano do intestino resultar de cirurgia (por exemplo, by-pass
308
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

gástrico) ou distúrbios inflamatórios, como • Os sintomas atribuíveis à hipóxia tecidual e à


doença celíaca e febre tropical isquemia de órgãos (por exemplo, dor no peito,
falta de ar) podem ocorrer se a anemia for grave
Medicamentos (folato) e/ou o indivíduo tiver uma doença cardíaca
A inibição do DHFR bloqueia a redução do DHF em tetra-
isquêmica subjacente
hidrofolato (THF), necessário para a conversão do
• Deficiência de vitamina B12 e de folato são
monofosfato de desoxiuridina (dUMP) em monofosfato
muito raras em bebês e crianças pequenas. Se
de desoxitimidina (dTMP)
presentes, eles podem se manifestar com atraso
• Metotrexato: inibe a diidrofolato redutase ou regressão no desenvolvimento, dificuldades
(DHFR) de alimentação, hipotonia, irritabilidade,
• Antibióticos: certos antibióticos (por exemplo, tremores ou convulsões
trimetoprim , pirimetamina ) inibem DHFR
Sintomas gastrointestinais
• Agentes anti-convulsivos: vários medicamentos
• Vitamina B12 a deficiência pode causar glossite
anticonvulsivantes afetam a absorção de folato
(incluindo dor, inchaço, sensibilidade e perda de
e/ou a utilização celular (por exemplo, fenitoína,
papilas da língua) e a deficiência de folato pode
valproato, carbamazepina)
causar úlceras orais. Isso ocorre porque as
Distúrbios genéticos (folato) células do trato gastrointestinal se dividem
• Os distúrbios genéticos que interferem na rapidamente e, portanto, são sensíveis à falta de
absorção de folato (por exemplo, má absorção ácidos nucleicos que ocorre quando essas
hereditária de folato) ou no metabolismo são vitaminas são deficientes
muito raros. Esses distúrbios autossômicos • Outros indivíduos podem ter sintomas
recessivos podem envolver mutações que gastrointestinais relacionados à condição
afetam o transportador de folato acoplado a subjacente que causou a deficiência, como dor
prótons (PCFT). ou diarreia relacionada à doença inflamatória
• Os indivíduos afetados podem ter deterioração intestinal, doença celíaca ou outros estados de
neurológica (ataxia, convulsões, déficits má absorção
cognitivos) e defeitos imunológicos
Alterações neuropsiquiátricas
Apresentação clínica • Os achados neurológicos mais comuns em
deficiência de vitamina B12 são parestesias
Apresentação típica
simétricas ou problemas de dormência e
• Os achados clássicos associados à deficiência de
marcha. A neuropatia é tipicamente simétrica e
vitamina B12 e de folato incluem agravamento
afeta mais as pernas do que os braços. O achado
da anemia macrocítica, icterícia e anormalidades
neurológico clássico na deficiência de vitamina
neurológicas variáveis mais proeminentes na
B12 é a degeneração combinada subaguda das
deficiência de vitamina B12 (retardo cognitivo e
colunas dorsal (posterior) e lateral (substância
neuropatia)
branca) da medula espinhal devido à
Anemia desmielinização. Está associado a fraqueza
• Muitas pessoas com deficiência de vitamina B12 progressiva, ataxia e parestesias que podem
ou a deficiência de folato apresenta sintomas progredir para espasticidade e paraplegia
vagos ou inespecíficos (por exemplo, fadiga, • Outros achados podem incluir: depressão ou
irritabilidade, declínio cognitivo), que comprometimento do humor, irritabilidade,
provavelmente se devem (pelo menos em parte) insônia, diminuição cognitiva, esquecimento,
à anemia. Isso ocorre porque os precursores de demência, psicose, perturbações visuais, que
glóbulos vermelhos (RBC) na medula óssea se podem estar associadas à atrofia óptica, déficits
dividem rapidamente e, portanto, são sensíveis sensoriais periféricos, fraqueza, que pode
à falta de ácidos nucleicos que ocorre quando progredir para paraplegia e incontinência se
essas vitaminas são deficientes grave, sentido de posição prejudicado, sentido

309
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

de vibração prejudicado, sinal de Lhermitte, uma fL), pancitopenia ou neutrófilos


sensação de choque que irradia para os pés hipersegmentados
durante a flexão do pescoço, ataxia ou teste de o Sintomas neurológicos ou psiquiátricos
Romberg positivo, reflexos anormais nos inexplicáveis
tendões profundos, sinais extrapiramidais (por o Dieta vegana estrita ou condições que
exemplo, distonia, disartria, rigidez), síndrome possam interferir na absorção
das pernas inquietas o Certos distúrbios auto-imunes, como
tireoidite ou vitiligo, ou aqueles que
Distinção da deficiência de vitamina B12 da tomam metformina
deficiência de folato o Sintomas gastrointestinais, como dor de
Dieta língua, anorexia ou diarreia
• Deficiência de vitamina B12 deficiência pode ser • Para um indivíduo com suspeita de deficiência
observada em veganos ou vegetarianos estritos de vitamina B12 ou de folato, a história deve
que não tomam vitamina B12 suplementar incluir perguntas sobre condições associadas
• Indivíduos que vivem em ambientes ricos em previamente diagnosticadas, particularmente
recursos que são capazes de seguir uma dieta doença celíaca ou doença inflamatória
normal são extremamente improváveis de se intestinal; cirurgia bariátrica, gástrica ou
tornarem deficientes em folato intestinal; ingestão dietética reduzida (por
exemplo, dieta vegana ou vegetariana, falta de
Achados clínicos associados vegetais frescos); uso de álcool (como causa
• O quadro clínico clássico de degeneração independente de anemia macrocítica e como
subaguda combinada do cordão (por exemplo, possível preditor de redução da ingestão
fraqueza progressiva, ataxia e parestesias que alimentar); e quaisquer sintomas, incluindo
podem avançar para paraplegia espástica) é sintomas neurológicos ou psiquiátricos sutis
restrito a pacientes com deficiência de vitamina • O exame físico deve focar nos achados
B12 gastrointestinais e dermatológicos, bem como
hepatoesplenomegalia e linfadenopatia, o que
Período
pode sugerir outras causas de anemia
• A deficiência de vitamina B12 geralmente se
macrocítica
desenvolve ao longo dos anos, pois o estoque
• Um exame neurológico completo deve ser
total de corpos é grande (aproximadamente 3 a
realizado para detectar sinais de alteração ou
5 mg, o que em muitos casos é suficiente para
menção afetada e/ou achados associados à
fornecer níveis adequados de vitamina B12 por
neuropatia central ou periférica (por exemplo,
5 a 10 anos)
sensação prejudicada de vibração,
• A deficiência de folato pode se desenvolver
propriocepção ou toque leve, ataxia, fraqueza)
rapidamente (semanas a meses, dependendo
dos estoques basais), pois os estoques corporais Exames laboratoriais
são limitados (aproximadamente 5 a 10 mg) e se • Hemograma completo e esfregaço de sangue: os
esgotam rapidamente durante a divisão celular achados no hemograma e a morfologia das
normal células sanguíneas no esfregaço de sangue
periférico são idênticas às duas deficiências e
Avaliação diagnóstica
podem incluir um ou mais dos seguintes itens:
Visão geral da avaliação o Anemia
• Nos países em que a deficiência alimentar é o Hemácias macrocíticas: MCV> 100 fL) ou
menos preocupante, deficiência de vitamina B12 macro-ovalocitose
e e/ou folato pode ser suspeitada em pacientes o Leucopenia leve e/ou trombocitopenia
com: o Baixa contagem de reticulócitos
o Anemia inexplicada, macrocitose o Neutrófilos hipersegmentados no
(volume corpuscular médio [VCM]> 100 esfregaço de sangue periférico (> 5% dos

310
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

neutrófilos com ≥5 lobos ou ≥1% dos o MMA e homocisteína normais: sem


neutrófilos com ≥6 lobos) deficiência de vitamina B12 ou folato
• Além de afetar a morfologia dos eritrócitos e o MMA e homocisteína elevados:
neutrófilos maduros, a anemia megaloblástica deficiência de vitamina B12 (não elimina
pode causar destruição prematura dos a possibilidade de deficiência de folato)
eritrócitos em desenvolvimento na medula o MMA normal, homocisteína elevada:
óssea (eritropoiese ineficaz que leva à hemólise nenhuma deficiência de vitamina B12.
intramedular) e na circulação periférica Consistente com deficiência de folato
(hemólise). Assim, achados laboratoriais • O MMA é elevado em deficiência de vitamina
associados à hemólise podem estar presentes: B12, mas não na deficiência de folato. Isso
o Aumento da desidrogenase de lactato ocorre porque a vitamina B12 é um cofator na
(LDH) conversão de metilmalonil-CoA em succinil-CoA,
o Aumento da bilirrubina indireta uma reação que ocorre nas mitocôndrias e é
o Baixo índice de haptoglobin catalisada pela metilmalonil-CoA mutase. Na
ausência de vitamina B12, essa reação não pode
Níveis séricos de vitamina B12 e folato prosseguir normalmente e o ácido
Para indivíduos com achados típicos no hemograma e metilmalônico se acumula
baixa contagem de reticulócitos, o único teste inicial
• Condições diferentes de deficiência de vitamina
necessário é a dosagem de vitamina B12 e de folato
B12 e de folato com potencial para alterar o
• Nível de vitamina B12 (soro): monitoramento MMA incluem o seguinte:
periódico de vitamina B12 podem ser úteis em o Insuficiência renal: aumento dos níveis
indivíduos com distúrbios intestinais que podem de MMA
afetar a absorção da vitamina B12, incluindo o Acidemia metilmalônica (acidúria):
doença celíaca, doença inflamatória intestinal, aumento dos níveis de MMA
ressecção ileal, enterite por radiação e terapia o Homocisteinemia hereditária: aumento
com metformina dos níveis de homocisteína
o Acima de 300 pg/mL: normal Autoanticorpos contra fator intrínseco
o 200 a 300 pg/mL: borderline
• O teste de autoanticorpos para fator intrínseco
o Abaixo de 200 pg/mL: baixo (deficiência)
(FI) é usado para identificar anemia perniciosa
• Nível de folato (soro): quando indicado, o teste (AP), uma condição auto-imune que leva a grave
de rotina para a deficiência de folato geralmente comprometimento da absorção de vitamina B12
é feito usando o nível de folato sérico
• Testamos anticorpos anti-FI em indivíduos com
o Acima de 4 ng/mL: normal
evidência bioquímica de deficiência de vitamina
o De 2 a 4 ng/mL: limite. Testes adicionais
B12 (baixo nível sérico de vitamina B12 e/ou alto
podem ser indicados, dependendo das
nível de MMA) sem outra causa óbvia
circunstâncias clínicas e do grau de
• Se houver suspeita de AP e o teste de
suspeita de deficiência de folato
autoanticorpos para FI for negativo, podemos
o Abaixo de 2 ng/mL: baixo. Consistente
fazer o diagnóstico com base em outros achados,
com deficiência de folato
como manifestações clínicas e laboratoriais,
Testes adicionais para indivíduos selecionados consistentes com deficiência de vitamina B12
Teste de metabólito (ácido metilmalônico [MMA] e (presença de neutrófilos hipersegmentados),
homocisteína) especialmente se esses achados se resolverem
com a administração de vitamina B12
• Utilizados nos casos em que os resultados iniciais
dos testes de vitamina B12 e/ou níveis de folato Resposta à reposição de vitaminas
são limítrofes ou inconclusivos, ou se os achados • Outra opção para indivíduos que têm valores
clínicos forem discordantes. A interpretação é a laboratoriais limítrofes, condições que
seguinte: interferem na medição (por exemplo, doença
renal) ou discordância entre exames
311
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

laboratoriais e quadro clínico é dar um curso de nível de vitamina B12 em um indivíduo


terapia de reposição para a vitamina suspeita de diagnosticado com deficiência de folato
ser deficiente, por exemplo, vitamina B12 1000
mcg parenteral semanalmente por três Determinando a causa subjacente da deficiência de
semanas, ou ácido fólico 1 mg por dia oral ou vitamina B12
parenteral durante uma a duas semanas • A principal consideração em um indivíduo com
• A resposta hematológica pode ser avaliada deficiência de vitamina B12 envolve determinar
medindo a contagem de reticulócitos e o a causa subjacente, que por sua vez determina a
hemograma completo antes e rota e a duração da terapia
aproximadamente duas semanas após a • Como exemplos, indivíduos com anemia
suplementação. Espera-se que a contagem de perniciosa são frequentemente tratados com
reticulócitos e o nível de hemoglobina suplementação parenteral indefinida de
aumentem à medida que a hematopoese vitamina B12. No entanto, altas doses de
melhora vitamina B12 por via oral (1000 a 2000 mcg por
• Não haverá mais neutrófilos hipersegmentados dia) são uma opção se não houver complicações
no esfregaço de sangue, e o VCM acabará neurológicas ativas e se espera que o indivíduo
retornando ao normal seja aderente
• Os veganos estritos devem tomar um
Diagnóstico diferencial suplemento oral, e os indivíduos com doença
• O diagnóstico diferencial de deficiência de celíaca ou DII podem exigir apenas
vitamina B12 e de folato incluem outras causas suplementação oral temporária até que seu
de anemia macrocítica (ou hemácias distúrbio gastrointestinal seja
macrocíticas sem anemia), outras causas de tratado/controlado
pancitopenia ou neutrófilos multilobados e
outras causas de achados neurológicos

Ensaio pós-diagnóstico
• Uma vez que o diagnóstico de deficiência de
vitamina B12 e/ou de folato for feita,
informações históricas adicionais e/ou testes são
usados para determinar a causa subjacente. Isso
é importante para evitar deficiências futuras,
escolher a via e a duração apropriadas da terapia
e identificar outras condições que possam
requerer tratamento (por exemplo, doença
celíaca, doença inflamatória intestinal [DII])
• Indivíduos com deficiência de folato e
deficiência concomitante de vitamina B12
podem ter uma resposta aparente à
suplementação de ácido fólico, com
normalização dos achados hematológicos e até
aparente normalização do nível séricos de
vitamina B12. No entanto, o ácido fólico não
pode corrigir os déficits neurológicos causados
pela deficiência de vitamina B12; esses déficits
podem se tornar progressivos e irreversíveis se
não forem tratados com vitamina B12
suplementar. Portanto, é prudente verificar o

312
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Encefalopatia de Wernicke Fisiopatologia


A síndrome de Wernicke-Korsakoff é a complicação • Tiamina é um cofator para várias enzimas
neurológica mais conhecida de deficiência de tiamina importantes no metabolismo energético,
(vitamina B1). incluindo transcetolase, alfa-cetoglutarato
desidrogenase e piruvato desidrogenase
O termo refere-se a duas síndromes diferentes, cada • Por causa do papel de tiamina na utilização de
uma representando um estágio diferente da doença. A energia cerebral, tem sido proposto que sua
encefalopatia de Wernicke (WE) é uma síndrome aguda deficiência inicie uma lesão neuronal inibindo o
que requer tratamento emergente para prevenir a morte metabolismo em regiões cerebrais com altos
e a morbidade neurológica. A síndrome de Korsakoff (SK) requisitos metabólicos e alta rotatividade de
refere-se a uma condição neurológica crônica que tiamina. Eventos como quebra da barreira
geralmente ocorre como consequência da WE. hematoencefálica, excitotoxicidade mediada por
receptores Nmetil-D-aspártico (NMDA) e
Epidemiologia
aumento de espécies reativas de oxigênio foram
• Prevalência: lesões cerebrais típicas da WE são
implicados na neurotoxicidade induzida por
observadas na autópsia em 0,4 a 2,8% da
deficiência de tiamina
população geral no mundo ocidental, e a maioria
• Deficiência de tiamina em usuários de álcool
dos pacientes afetados é alcoólatra. Enquanto os
resulta de uma combinação de ingestão
casos de WE em homens superam os de
inadequada, absorção gastrointestinal reduzida,
mulheres, as mulheres parecem ser mais
armazenamento hepático diminuído e utilização
suscetíveis ao desenvolvimento de WE do que os
prejudicada, porém nem todos os usuários de
homens
álcool deficientes em tiamina desenvolvem WE
• Condições associadas: embora frequentemente
associado ao alcoolismo crônico, a WE também Patologia
ocorre em condições de má nutrição causada • As lesões agudas de WE são caracterizadas por
por má absorção, baixa ingestão alimentar, congestão vascular, proliferação microglial e
aumento da necessidade metabólica (por petéquias. Em casos crônicos, há
exemplo, em doenças sistêmicas) ou aumento desmielinização, gliose e perda de neuropilos
da perda da vitamina hidrossolúvel tiamina (por com preservação relativa dos neurônios
exemplo, em diálise renal). As condições • A perda neuronal é mais proeminente no tálamo
associadas ao WE incluem: medial relativamente não mielinizado. A atrofia
o Alcoolismo crônico dos corpos mamilares é um achado altamente
o Anorexia nervosa ou outra doença específico na WE crônica e na síndrome de
psiquiátrica que leva a uma ingestão Korsakoff (SK) e está presente em até 80% dos
deficiente casos
o Hiperêmese da gravidez • Os corpos mamilares estão envolvidos em
o Alimentação intravenosa prolongada praticamente todos os casos, e o tálamo
(IV) sem suplementação adequada dorsomedial, o locus ceruleus, o cinza
o Jejum prolongado periaquedutal, os núcleos motores oculares, os
o Doença gastrointestinal ou cirurgia núcleos vestibulares e o cerebelo são
(especialmente cirurgia bariátrica) comumente afetados
o Malignidade sistêmica
o Transplante Manifestações clínicas
o Hemodiálise ou diálise peritoneal A tríade clássica de WE inclui: encefalopatia, disfunção
o Síndrome da Imunodeficiência oculomotora e ataxia de marcha (em até 1/3 dos casos,
Adquirida pode estar presente somente um ou dois elementos da
tríade)

313
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Encefalopatia: é caracterizada por profunda o Disfunção cerebelar


desorientação, indiferença e falta de atenção. A o Estado mental alterado ou
memória e a aprendizagem prejudicadas comprometimento leve da memória
também são evidentes. Alguns pacientes exibem • Testes laboratoriais: não há estudos de
um delírio agitado relacionado à retirada laboratório que sejam diagnósticos de WE
concomitante de etanol o A deficiência de tiamina pode ser
• Disfunção oculomotora: nistagmo (manifestação detectada com maior confiabilidade
ocular mais comum, geralmente horizontal), pela medida da atividade da eritrócito-
paralisia do reto lateral e paralisia do olhar tiamina-transcetolase (ETKA) antes e
conjugado refletem lesões do oculomotor, após a adição de pirofosfato de tiamina
abducente e núcleo vestibular. Anormalidades (TPP). Um ETKA baixo, junto com uma
pupilares, geralmente pupilas lentas ou estimulação de mais de 25%, estabelece
desiguais, podem estar presentes o diagnóstico de deficiência de tiamina
• Ataxia da marcha: ataxia envolve principalmente o Um nível sérico de tiamina ou TPP no
postura e marcha e é provavelmente devido a soro ou no sangue total também pode
uma combinação de polineuropatia, ser medido por cromatografia líquida de
envolvimento cerebelar e disfunção vestibular. alta eficiência. Um nível sanguíneo
Quando grave, é impossível caminhar. Os normal não exclui a possibilidade de WE
pacientes menos afetados andam com uma • Exames de imagem: não são necessários em
marcha ampla e com passos lentos e curtos todos os pacientes com suspeita de WE e não
devem atrasar o tratamento
Outros sinais: além da tríade clássica, estupor ou coma,
o A TC pode mostrar anormalidades
hipotensão e hipotermia foram achados proeminentes
simétricas e de baixa densidade nas
em casos inesperados. Pacientes com WE também
regiões diencéfalo, mesencéfalo e
podem apresentar os seguintes achados:
periventricular que aumentam após a
• Evidências de desnutrição protéico-calórica são injeção de contraste
observadas frequentemente em pacientes com o Os achados típicos da RM incluem áreas
• A disfunção vestibular sem perda auditiva é um de aumento de sinais T2 e recuperação
achado comum de inversão atenuada por fluidos
• A neuropatia periférica é comum e geralmente (FLAIR), diminuição do sinal T1 e
envolve apenas as extremidades inferiores. Os anormalidade de difusão ao redor do
pacientes queixam-se do aparecimento gradual aqueduto e terceiro ventrículo e no
de fraqueza, parestesias e dor que afetam tálamo medial, medula dorsal, placa
extremidades inferiores distais tectal e corpos mamilares
• A hipotermia foi descrita em 1 a 4% dos
Tratamento
pacientes
O diagnóstico de WE é difícil de confirmar e, sem
Diagnóstico tratamento, a maioria dos pacientes progride para coma
Embora estudos laboratoriais e de neuroimagem possam e morte. Portanto, o teste diagnóstico não deve atrasar
ser úteis, a WE é principalmente um diagnóstico clínico o tratamento. A administração intravenosa (IV) de
tiamina é segura, simples, barata e eficaz, sendo
• Critérios clínicos: os critérios sugeridos para o extremamente raras reações adversas
diagnóstico de WE e síndrome de Korsakoff (SK)
em usuários crônicos de álcool são baseados na • Pacientes com suspeita de WE requerem
correlação clínico-neuropatológica. A WE é administração parenteral imediata de tiamina.
diagnosticada em pacientes com dois dos Um regime recomendado é de 500 mg de
seguintes critérios de Caine: tiamina IV infundidos por 30 minutos três vezes
o Deficiência alimentar ao dia por dois dias consecutivos e 250 mg IV ou
o Anormalidades oculomotoras IM uma vez ao dia por cinco dias adicionais, em

314
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

combinação com outras vitaminas do complexo administração oral generalizada de tiamina para
B pacientes ambulatoriais em risco
• A administração de glicose sem tiamina pode
precipitar ou piorar a WE; assim, a tiamina deve
ser administrada antes da glicose
• Como a absorção gastrointestinal de tiamina é
irregular em pacientes alcoólicos e desnutridos,
a administração oral de tiamina é um
tratamento inicial não confiável para WE
• A administração oral diária de 100 mg de tiamina
deve ser continuada após a conclusão do
tratamento parenteral e após a alta hospitalar
até que os pacientes não sejam mais
considerados em risco

Prognóstico
• Administração imediata de tiamina leva à
melhora dos sinais oculares dentro de horas a
dias. Se a paralisia ocular não responder, outros
diagnósticos devem ser considerados
• Em um relatório, a recuperação da função
vestibular começou durante a segunda semana
após o tratamento com tiamina; melhora na
ataxia da marcha coincidiu com a recuperação
da função vestibular. A confusão diminui ao
longo de dias e semanas
• A anormalidade do sinal na ressonância
magnética (RM) desaparece com a melhora
clínica
• Enquanto a paralisia do olhar se recuperou
completamente na maioria dos casos, 60%
tinham nistagmo horizontal permanente.
Apenas aproximadamente 40% se recuperaram
da ataxia; os déficits restantes variaram da
incapacidade de andar a uma marcha lenta,
lenta e arrastada

Prevenção
• A WE pode ser precipitada iatrogenicamente
pela carga de glicose em pacientes com suspeita
de deficiência de tiamina
• Para evitar essa complicação, tornou-se prática
padrão nos departamentos de emergência
administrar tiamina antes ou junto com a infusão
de glicose, particularmente naqueles que estão
em risco de deficiência de tiamina
• A prevenção de WE e síndrome amnéstica de
Korsakoff (SK) pode ser possível através da

315
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Trombose Venosa Profunda (TVP) panturrilha com dorsiflexão passiva do pé) não é
confiável pela presença de TVP
Tromboembolismo venoso profundo (TVP) é uma das
• Sinais locais (por exemplo, massa inguinal) ou
manifestações do tromboembolismo venoso.
gerais de malignidade
As características da TVP dos membros inferiores são
inespecíficas e muitos pacientes são assintomáticos. Suspeita primária TVP (estratificação de riscos)
• Preferimos abordagens que incorporem a
Fatores de risco avaliação clínica da probabilidade de pré-teste
• História de imobilização ou hospitalização (PPT) e teste do D-dímero em pacientes
prolongada selecionados
• Cirurgia ou trauma recente • Essa abordagem permite o uso estratégico da
• Obesidade ultrassonografia para diagnóstico
• Tromboembolismo venoso prévio (TEV)
Avaliação da probabilidade clínica de pré-teste
• Malignidade ou sintomas constitucionais
• Em pacientes com suspeita de primeira TVP,
sugestivos de malignidade
sugerimos estimativa da PPT clínica. A medição
• Uso de contraceptivos orais ou terapia de
subsequente do nível do D-dímero e a
reposição hormonal
ultrassonografia de compressão dependem do
• Gravidez ou pós-parto
PPT atribuído da TVP
• Acidente vascular cerebral com hemiplegia ou
imobilidade Score de Wells
• Idade> 65 anos • Paralisia, paresia ou procedimento ortopédico
• História familiar de TEV recente de uma extremidade inferior (1 ponto)
• Insuficiência cardíaca • Recentemente acamado por mais de três dias ou
• Doença inflamatória intestinal cirurgia importante nas últimas quatro semanas
(1 ponto)
Anamnese • Sensibilidade localizada no sistema venoso
• Deve-se suspeitar de TVP em pacientes que profundo (1 ponto)
apresentam inchaço nas pernas, dor, calor e • Inchaço de uma perna inteira (1 ponto)
eritema • Inchaço da panturrilha 3 cm maior que a outra
• Os sintomas geralmente são unilaterais, mas perna, medido 10 cm abaixo da tuberosidade da
podem ser bilaterais tíbia (1 ponto)
• Os sintomas são confinados à panturrilha em • Maior edema na perna sintomática (1 ponto)
pacientes com TVP distal isolada, enquanto os • Veias superficiais não varicosas colaterais (1
pacientes com TVP proximal podem apresentar ponto)
sintomas na panturrilha ou na perna inteira • Câncer ativo ou tratado em seis meses (1 ponto)
Exame físico • Diagnóstico alternativo mais provável do que
Embora geralmente não seja revelador, um exame físico TVP (por exemplo, cisto de Baker, celulite, lesão
das pernas, abdome e pelve deve ser realizado em muscular, síndrome pós-flebítica, linfadenopatia
pacientes com suspeita de TVP para procurar: inguinal, compressão venosa externa) (menos 2
pontos)
• Veias superficiais dilatadas o A pontuação total em um paciente
• Edema unilateral com diferença nos diâmetros individual denota o seguinte risco de
da panturrilha ou da coxa: o maior diâmetro da TVP:
panturrilha é o achado mais útil ▪ 0 ou menos pontos - baixa
• Calor unilateral, sensibilidade, eritema probabilidade
• Dor e sensibilidade ao longo das principais veias ▪ 1 a 2 pontos - probabilidade
envolvidas: o sinal de Homans (dor na moderada
▪ 3 a 8 pontos - alta probabilidade

316
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Baixa probabilidade o Ultrassonografia negativa: se a


Em pacientes com PPT baixo para TVP primária, sugere- ultrassonografia de perna inteira é
se dosagem de D-dímero negativa (ou seja, não é identificada TVP
proximal ou distal), não é necessário
• Nível normal do D-dímero (<500 ng/mL):
mais nenhum teste
pacientes com PPT baixo em que o nível do D-
dímero é normal não precisa de mais testes Alta probabilidade
• Nível positivo do D-dímero (> 500 ng/mL): Em pacientes com uma PPT alta para a primeira TVP dos
pacientes com PPT baixo, nos quais o D-dímero membros inferiores, sugerimos a realização de USC
é positivo, devem ser realizados ultrassonografia proximal ou ultrassonografia de perna inteira (não dosar
de perna inteira ou ultrassonografia de D-dímero)
compressão proximal (USC)
• Ultrassonografia positiva: os pacientes devem
o Ultrassonografia positiva: os pacientes
ser tratados se a TVP proximal for identificada
devem ser tratados se:
▪ A TVP proximal é identificada
(por ultrassonografia de perna
inteira ou USC proximal) OU
▪ A TVP distal é identificada (na
ultrassonografia da perna
inteira) e o paciente atende aos
critérios para o tratamento da
TVP distal
o Ultrassonografia negativa: se a
ultrassonografia de perna inteira ou USC
proximal for negativa para TVP, nenhum
outro teste será necessário

Probabilidade moderada
Em pacientes com PPT moderada para a primeira TVP
dos membros inferiores, sugerimos que um teste de D-
dímero de alta sensibilidade

• Nível normal do D-dímero (<500 ng / mL):


pacientes com um PPT moderado e um nível
normal de D-dímero medido usando um teste de
alta sensibilidade não precisa de mais testes
• Nível positivo do D-dímero (≥500 ng / mL): se o
nível do D-dímero for positivo, deve-se realizar
ultrassonografia de perna inteira ou USC
proximal
o Ultrassonografia positiva: os pacientes
devem ser tratados se:
▪ A TVP proximal é identificada
(por ultrassonografia de perna
inteira ou USC proximal) OU
▪ A TVP distal é identificada na
ultrassonografia de perna
inteira e o paciente atende aos
critérios para o tratamento da
TVP distal

317
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Exame neurológico • Marcha tabética: para se locomover, o paciente


mantém o olhar fixo no chão; os membros
No exame neurológico, deve-se seguir uma sequência
inferiores são levantados abrupta e
composta por: estado mental; marcha e equilíbrio;
explosivamente, e, ao serem recolocados no
nervos cranianos; prova cerebelar; motricidade,
chão, os calcanhares tocam o solo de modo bem
sensibilidade, sinais meníngeos e vascular.
pesado. Com os olhos fechados, a marcha
Estado mental apresenta acentuada piora, ou se torna
• Orientação temporal: hora aproximada, dia, mês impossível. Indica perda da sensibilidade
e ano. proprioceptiva por lesão do cordão posterior da
• Orientação espacial: cidade, bairro, local onde medula.
está sendo realizada a consulta. • Marcha de pequenos passos: é caracterizada
• Memória: memorização de três palavras seguida pelo fato de o paciente dar passos muito curtos
pela subtração de 100-7-7-7... e repetição das e, ao caminhar, arrastar os pés como se estivesse
três palavras ao final. dançando ‘marchinha’.
• Linguagem: nomear dois objetos, repetir uma • Marcha vestibular: o paciente com lesão
frase, obedecer a um comando falado e outro vestibular (labirinto) apresenta lateropulsão
escrito, escrever uma frase e copiar um desenho. quando anda; é como se fosse empurrado para
o lado ao tentar mover-se em linha reta. Se o
Marcha ou equilíbrio dinâmico paciente for colocado em um ambiente amplo e
• Marcha helicópode, ceifante ou hemiplégica: ao lhe for solicitado ir de frente e voltar de costas,
andar, o paciente mantém o membro superior com os olhos fechados, ele descreverá uma
fletido em 90° no cotovelo e em adução, e a mão figura semelhante a uma estrela, daí ser
fechada em leve pronação. O membro inferior denominada também marcha em estrela.
do mesmo lado é espástico, e o joelho não • Marcha escarvante: quando o doente tem
flexiona. Devido a isso, a perna tem de se paralisia do movimento de flexão dorsal do pé,
arrastar pelo chão, descrevendo um semicírculo ao tentar caminhar, toca com a ponta do pé o
quando o paciente troca o passo. Esse modo de solo e tropeça. Para evitar isso, levanta
caminhar lembra o movimento de uma foice em acentuadamente o membro inferior, o que
ação. Aparece nos pacientes que apresentam lembra o ‘passo de ganso’ dos soldados
hemiplegia. prussianos.
• Marcha anserina ou do pato: o paciente para • Marcha claudicante: ao caminhar, o paciente
caminhar acentua a lordose lombar e vai manca para um dos lados.
inclinando o tronco ora para a direita, ora para a • Marcha em tesoura ou espástica: os dois
esquerda, alternadamente, lembrando o andar membros inferiores enrijecidos e espásticos
de um pato. Traduz diminuição da força dos permanecem semifletidos, os pés se arrastam e
músculos pélvicos e das coxas. as pernas se cruzam uma na frente da outra
• Marcha parkinsoniana: o doente anda como um quando o paciente tenta caminhar. O
bloco, enrijecido, sem o movimento automático movimento das pernas lembra uma tesoura em
dos braços. A cabeça permanece inclinada para funcionamento.
a frente, e os passos são miúdos e rápidos,
dando a impressão de que o paciente "corre Equilíbrio estático
atrás do seu centro de gravidade" e vai cair para • Terminado o estudo da marcha, solicita-se ao
a frente. paciente continuar na posição vertical, com os
• Marcha cerebelar ou marcha do ébrio: ao pés juntos, olhando para frente. Nessa postura,
caminhar, o doente ziguezagueia como um ele deve permanecer alguns segundos. Em
bêbado. Esse tipo de marcha traduz seguida, ordena-se a ele que feche as pálpebras.
incoordenação de movimentos em decorrência A isso se denomina prova de Romberg. No
de lesões do cerebelo. indivíduo normal, nada se observa, ou apenas
ligeiras oscilações do corpo são notadas (prova
318
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

de Romberg negativa). Na vigência de observar se eles são realizados em toda a sua


determinadas alterações neurológicas, ao fechar amplitude. Um dado importante que pode
as pálpebras, o paciente apresenta oscilações do ajudar nessa fase de avaliação da motricidade é
corpo, com desequilíbrio e forte tendência à a realização de movimentos repetitivos dos
queda (prova de Romberg positiva). A tendência dedos, como, por exemplo, aproximar e afastar
para a queda pode ser: para qualquer lado e o indicador e o polegar. Nas síndromes
imediatamente após interromper a visão, piramidais, existe diminuição da velocidade dos
indicando lesão das vias de sensibilidade movimentos. Nas extrapiramidais, como a
proprioceptiva consciente; sempre para o parkinsoniana, há também diminuição da
mesmo lado, após transcorrer pequeno período velocidade dos movimentos; porém, observa-se
de latência, traduzindo lesão do aparelho progressiva diminuição da amplitude dos
vestibular. movimentos com a realização deles. O mesmo
• Em algumas ocasiões, sobretudo nas lesões pode ser observado nos movimentos de flexão e
cerebelares, o paciente não consegue extensão da coxa sobre o tronco, com o paciente
permanecer de pé (astasia) ou o faz com sentado. Afastadas as condições locais
dificuldade (distasia), alargando, então, sua base extraneurológicas (abscesso, anquilose, retração
de sustentação pelo afastamento dos pés para tendinosa), as causas de redução ou abolição do
compensar a falta de equilíbrio. Tais movimento voluntário são representadas por
manifestações não se modificam quando se lesão dos neurônios motores e/ou de suas vias
interrompe o controle visual (prova de Romberg (sistema piramidal, colunas ventrais da medula e
negativa). nervos).

Motricidade Força muscular


Voluntária O paciente procura fazer os mesmos movimentos
mencionados no exame da motricidade espontânea, só
• Atua sobre os demais no sentido de inibição,
que, desta vez, com oposição aplicada pelo examinador
controle e moderação. O sistema motor
voluntário que comanda os movimentos dos • Literalmente, anotando-se a graduação e
vários segmentos do corpo é representado pelos identificando o local:
neurônios centrais ou superiores, situados no o Força normal nos quatro membros
córtex frontal, precisamente na circunvolução o Força discretamente diminuída
pré-central, cujos axônios formam o fascículo o Força moderadamente diminuída
corticoespinal, também chamado piramidal, o Força muito reduzida
indo terminar em sinapse nos vários níveis o Força abolida
medulares com os segundos neurônios motores. • Percentualmente, anotando-se também a
Esses são chamados periféricos ou inferiores e se graduação:
localizam nas colunas ventrais da medula. Seus o 100%: força normal
axônios alcançam a periferia e terminam nos o 75%: movimento completo contra a
músculos. A motricidade voluntária é estudada força da gravidade e contra certa
por meio de duas técnicas, uma para a análise da resistência aplicada pelo examinador
motricidade espontânea e outra para a avaliação o 50%: movimento contra a força da
da força muscular. gravidade
o 25%: movimento completo sem a força
Espontânea
da gravidade
• Solicita-se ao paciente executar uma série de
o 10%: discreta contração muscular
movimentos, especialmente dos membros, tais
o 0%: nenhum movimento
como, abrir e fechar a mão, estender e fletir o
• E, por último, nomeando os déficits de
antebraço, abduzir e elevar o braço, fletir a coxa,
movimento com o grau de força:
fletir e estender a perna e o pé. Durante a
o Grau V: força normal
execução desses movimentos, é importante

319
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Grau IV: movimento completo contra a diminuição do tônus quando o calcanhar


força da gravidade e contra certa toca a região glútea de modo fácil.
resistência aplicada pelo examinador • Balanço passivo: o examinador, com as suas
o Grau III: movimento contra a força da duas mãos, segura e balança o antebraço do
gravidade paciente, observando se a mão se movimenta de
o Grau II: movimento completo sem a forma normal, exagerada (na hipotonia) ou
força da gravidade diminuída (na hipertonia). O mesmo pode ser
o Grau I: discreta contração muscular observado, aplicando-se a manobra nos
o Grau 0: nenhum movimento membros inferiores, segurando a perna e
observando o balanço dos pés.
Tônus muscular
Pode ser considerado como o estado de tensão Coordenação
constante a que estão submetidos os músculos, tanto Coordenação adequada traduz o bom funcionamento
em repouso (tônus de postura), como em movimento de, pelo menos, 2 setores do sistema nervoso: o cerebelo
(tônus de ação). O exame do tônus é realizado com o (centro coordenador) e a sensibilidade proprioceptiva. A
paciente deitado e em completo relaxamento muscular. perda de coordenação é denominada ataxia, a qual pode
Na hipotonia, observam-se achatamento das massas ser de três tipos: cerebelar, sensorial e mista. Tais
musculares no plano do leito, consistência muscular movimentos a serem feitos denominam-se
diminuída, passividade aumentada, extensibilidade diadococinesia, e a capacidade de realizá-los é chamada
aumentada. A hipotonia é encontrada nas lesões do eudiadococinesia. Sua dificuldade é designada
cerebelo, no coma profundo, no estado de choque do disdiadococinesia e a incapacidade de realizá-los recebe
sistema nervoso central e em algumas encefalopatias o nome de adiadococinesia
(mongolismo). Na hipertonia, encontram-se consistência
muscular aumentada, passividade diminuída e • Prova dedo-nariz: com o membro superior
extensibilidade aumentada. A hipertonia está presente estendido lateralmente, o paciente é solicitado a
nas lesões das vias motoras piramidal, ou espasticidade tocar a ponta do nariz com o indicador. Repete-
(eletiva e elástica), e extrapiramidal, ou rigidez (plástica se a prova algumas vezes: primeiro, com os olhos
e não eletiva) abertos e, depois, fechados. O paciente deve
estar de preferência de pé ou sentado
• Inspeção: verifica-se a existência ou não de • Prova calcanhar-joelho: na posição de decúbito
achatamento das massas musculares de dorsal, o paciente é solicitado a tocar o joelho
encontro ao plano do leito. É mais evidente nas oposto com calcanhar do membro a ser
coxas e só tem valor significativo na acentuada examinado. A prova deve ser realizada várias
diminuição do tônus. vezes, de início com os olhos abertos; depois,
• Palpação das massas musculares: averigua-se o fechados. Diz-se que há dismetria (distúrbio na
grau de consistência muscular, a qual se mostra medida do movimento) quando o paciente não
aumentada nas lesões motoras centrais e consegue alcançar com precisão o alvo
diminuída nas periféricas. • Prova dos movimentos alternados: determina-se
• Movimentos passivos: imprimem-se ao paciente que realize movimentos rápidos e
movimentos naturais de flexão e extensão nos alternados, tais como: abrir e fechar a mão,
membros e observam-se: movimento de supinação e pronação, extensão
o A passividade, ou seja, se há resistência e flexão dos pés
(tônus aumentado) ou se a passividade
está aquém do normal (tônus Reflexo
diminuído). O reflexo trata-se de uma resposta do organismo a um
o A extensibilidade, isto é, se existe ou não estímulo de qualquer natureza. Para nosso estudo, têm
exagero no grau de extensibilidade da interesse os reflexos motores, cuja base
fibra muscular. Assim, na flexão da anatomofuncional é o arco reflexo, sendo este
perna sobre a coxa, fala-se em constituído pelos seguintes elementos: via aferente
(receptor e fibras sensoriais do nervo), centro
320
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

reflexógeno (substância cinzenta do sistema nervoso), investigados os reflexos aquileu, patelar, flexor
via eferente (fibras motoras do nervo) e órgão efetor dos dedos, supinador, pronador, bicipital e
(músculo) tricipital. Os reflexos miotáticos fásicos podem
estar: normais, abolidos, diminuídos, vivos ou
• Nos reflexos exteroceptivos ou superficiais, o
exaltados. Suas alterações podem ser simétricas
estímulo é feito na pele ou na mucosa externa,
ou não. O registro dos resultados deve ser feito
por meio de um estilete. Os reflexos cutâneos
literalmente ou por meio de sinais
habitualmente examinados são definidos como:
convencionais, da seguinte maneira: arreflexia
o Reflexo cutaneoplantar: estando o
ou reflexo abolido – encontradas nas lesões que
paciente em decúbito dorsal, com os
interrompem o arco reflexo (0), hiporreflexia ou
membros inferiores estendidos, o
reflexo diminuído (-), normorreflexia ou reflexo
examinador estimula superficialmente a
normal (+), reflexo vivo (++), hiper-reflexia ou
região plantar, próximo à borda lateral e
reflexo exaltado – lesões da via piramidal (+++)
no sentido posteroanterior, fazendo um
• Por fim, no reflexo de automatismo ou de
leve semicírculo na parte mais anterior.
defesa, representa uma reação normal de
A resposta normal é representada pela
retirada do membro a um estímulo nociceptivo,
flexão dos dedos. A abolição desse
habitualmente aplicado no pé. Procede-se com
reflexo ocorre quando há interrupção do
o paciente em decúbito dorsal e os membros
arco reflexo e, algumas vezes, na fase
inferiores estendidos, faz-se um beliscamento
inicial da lesão da via piramidal. A
na região dorsal do pé, ou uma flexão forçada
inversão da resposta normal, ou seja, a
nos dedos do pé, ou ainda a percussão rápida e
extensão do hálux (os demais podem ou
repetida na região plantar com o martelo de
não apresentar abertura em forma de
reflexo. Em condições normais, o membro
leque), constitui o sinal de Babinski,
estimulado permanece na mesma posição ou
indicando lesão da via piramidal ou
apresenta discreta retirada, caso o estímulo seja
corticoespinal
muito forte. A resposta anormal é uma tríplice
o Reflexos cutâneo-abdominais: ainda
flexão, representada pela flexão do pé sobre a
com o paciente em decúbito dorsal, com
perna, desta sobre a coxa e da coxa sobre a
a parede abdominal em completo
bacia. Corresponde, na verdade, a um exagero
relaxamento, o examinador estimula o
da resposta normal. Sendo encontrada na lesão
abdome do paciente no sentido da linha
piramidal, especialmente de nível medular
mediana em três níveis: superior, médio
e inferior. A resposta normal é a Sensibilidade
contração dos músculos abdominais que Os estímulos, de qualquer natureza, atuando sobre os
determina um leve deslocamento da órgãos receptores da superfície corporal ou na
cicatriz umbilical para o lado estimulado. profundidade do corpo, são conduzidos por sistemas
Podem estar abolidos quando houver especiais (vias aferentes ou aferências sensoriais) até o
interrupção do arco reflexo, na lesão da sistema nervoso central. Essas vias sensoriais estão em
via piramidal e, às vezes, mesmo na estreita e contínua ligação com as vias motoras,
ausência de alterações do sistema configurando, em seu conjunto, o arco reflexo que
nervoso (obesidade, pessoas idosas, representa a unidade anatomofuncional do sistema
multíparas) nervoso
• Nos reflexos proprioceptivos, profundos,
musculares ou miotáticos, reconhecem-se os • A sensibilidade subjetiva compreende as queixas
tipos fásicos ou clônicos, e os tônicos ou sensoriais que o paciente relata durante a
posturais. Na pesquisa dos reflexos miotáticos anamnese, ou seja, a dor e as parestesias
fásicos ou clônicos, o estímulo é feito pela (dormência, formigamento). A sensibilidade
percussão com o martelo de reflexos do tendão objetiva, a rigor, não deixa de ser subjetiva, já
do músculo a ser examinado. De rotina, são que depende da resposta do paciente aos
estímulos percebidos. É dita objetiva apenas
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

porque, nesse caso, está presente um estímulo comum, atrofia de mucosa), as alterações deficitárias
aplicado pelo examinador. A sensibilidade geral (hiposmia – diminuição da olfação – e anosmia –
refere-se a temperatura, dor, tato e pressão; e a ausência de olfação) ganham maior significado clínico.
especial refere-se aos nervos cranianos De outra parte, existem alterações da olfação por lesões
o Sensibilidade superficial: para a corticais que compreendem os seguintes tipos: parosmia
sensibilidade tátil, utiliza-se o pedaço de (perversão do olfato), alucinações olfatórias e cacosmia
algodão ou pincel macio, os quais são (sensação olfatória desagradável).
roçados de leve em várias partes do
II Nervo Óptico: as imagens são recolhidas na retina por
corpo. A sensibilidade térmica requer
meio dos cones e bastonetes, e conduzidas ao centro da
dois tubos de ensaio, um com água
visão no lobo occipital, pelos axônios que constituem o
gelada e outro com água quente, com
nervo, o quiasma e o trato óptico, o corpo geniculado
que se tocam pontos diversos do corpo.
lateral e as radiações ópticas. O nervo óptico é
A sensibilidade dolorosa é pesquisada
examinado da seguinte maneira:
com o estilete rombo, capaz de provocar
dor sem ferir o paciente. A diminuição • Acuidade visual: Pede-se ao paciente que leia
da sensibilidade tátil recebe o nome de alguma coisa, examinando-se cada olho em
hipoestesia; sua abolição, anestesia; e separado. Havendo diminuição da acuidade,
seu aumento, hiperestesia. Tais fala-se em ambliopia; quando abolida, constitui-
alterações estão na dependência da se em amaurose; ambas podem ser uni ou
lesão das vias das várias modalidades bilaterais. Caso o paciente utilize óculos, não se
sensoriais pede para retirá-lo.
o Sensibilidade profunda: a sensibilidade • Campo visual: Sentado, o paciente fixa um ponto
vibratória (palestesia) é pesquisada com na face do examinador, postado à sua frente. O
o diapasão de 128 vibrações por examinador desloca um objeto nos sentidos
segundo, colocado em saliências ósseas. horizontal e vertical, e o paciente dirá até que
A sensibilidade à pressão (barestesia) é ponto está ‘percebendo’ o objeto. Cada olho é
verificada mediante compressão digital examinado separadamente. A isso se denomina
ou manual em qualquer parte do corpo, avaliação do campo visual ou campimetria.
especialmente de massas musculares. A • Fundoscopia.
cinético-postural ou artrocinética
(batiestesia) é explorada deslocando-se III Nervo Oculomotor, IV Nervo Troclear e VI Nervo
suavemente qualquer segmento do Abducente: são examinados em conjunto, pois inervam
corpo em várias direções (flexão, músculos que têm por função a motilidade dos globos
extensão). Em dado momento, fixa-se o oculares, compreendendo o reto medial, o reto superior,
segmento em uma determinada o reto inferior, o oblíquo inferior (inervados pelo
posição, que deverá ser reconhecida oculomotor), o oblíquo superior (inervado pelo troclear)
pelo paciente e o reto lateral (inervado pelo abducente). O III nervo
inerva também a musculatura elevadora da pálpebra.
Nervos cranianos
Os 12 nervos cranianos têm origem no tronco encefálico • Motilidade extrínseca: a posição do globo ocular
ou se dirigem para ele, com exceção dos dois primeiros, é dada pelo funcionamento harmônico dos
que, por sinal, não têm características morfológicas de vários músculos. Caso haja predomínio de um
nervo, e sim de tecido cerebral e do ramo externo do XI, deles (por paresia ou paralisia de seu
cuja origem se encontra na medula cervical antagonista), ocorre o que se chama estrabismo
(desvio do olho), que pode ser horizontal
I Nervo Olfatório: no exame da olfação, empregam-se (convergente ou divergente) ou vertical
substâncias com odores conhecidos; de olhos fechados, (superior ou inferior). Na presença de
o paciente deve reconhecer o aroma que o examinador estrabismo, pelo menos na fase inicial, o
colocar diante de cada narina. Afastadas as condições paciente reclama de visão dupla ou diplopia.
que impeçam o reconhecimento do odor (resfriado
322
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o O exame é feito em cada olho acomodação. Os reflexos podem estar


separadamente e, depois normais, diminuídos ou abolidos.
simultaneamente, da seguinte maneira: o A abolição pode abranger todos os
estando o paciente com a cabeça reflexos ou ser dissociada. Assim, na
imóvel, o examinador solicita a ele que lesão unilateral do oculomotor, a pupila
desloque os olhos nos sentidos entra em midríase homolateral
horizontal e vertical. No exame (predomínio do simpático) e não
simultâneo, acrescenta-se a prova da responde a estímulo algum - é chamada
convergência ocular, que é feita midríase paralítica. A pupila oposta
aproximando gradativamente um permanece normal. Na lesão bilateral da
objeto dos olhos do paciente. via aferente (fibras pupilomotoras que
• Motilidade intrínseca: a íris é formada por fibras estão juntas com o nervo óptico), os
musculares lisas e apresenta uma camada reflexos fotomotor direto ou consensual
externa, radiada, inervada pelo simpático estão abolidos, enquanto o reflexo de
cervical, e uma camada interna, circular, que acomodação está preservado.
recebe a inervação parassimpática. Esta tem o Existem duas alterações pupilares,
origem no mesencéfalo, no núcleo de Edinger- classicamente conhecidas, que são o
Westphal, e suas raízes alcançam o olho por sinal de Argyll-Robertson e a síndrome
intermédio do III nervo, que constitui a sua via de Claude Bernard-Horner. O sinal de
eferente. A via aferente corresponde às fibras Argyll-Robertson consiste basicamente
pupilomotoras, as quais têm origem na retina e em miose bilateral, abolição do reflexo
transitam pelo nervo óptico. fotomotor e presença do reflexo de
o A pupila é normalmente circular, bem acomodação. A lesão responsável pelo
centrada e tem um diâmetro de 2 a 4 sinal de Argyll-Robertson situa-se na
mm. Ressalte-se que o diâmetro pupilar região periaquedutal, no mesencéfalo. A
é o resultado do funcionamento síndrome de Claude Bernard-Homer é
equilibrado entre os dois sistemas caracterizada por miose, enoftalmia
autônomos - simpático e (deslocamento do globo ocular para
parassimpático. A irregularidade do dentro de sua órbita) e diminuição da
contorno pupilar é chamada discoria; fenda palpebral. Decorre de lesão do
quando o diâmetro se encontra simpático cervical (traumatismo,
aumentado, fala-se em midríase; o neoplasia do ápice pulmonar, pós-
contrário, miose; a igualdade de cirurgia cervical).
diâmetros denomina-se isocoria; e a
V Nervo Trigêmeo: é um nervo misto, constituído de
desigualdade, anisocoria.
várias raízes – raiz motora, representada pelo nervo
o Dinamicamente, a pupila é examinada
mastigador, que inerva os músculos destinados à
por meio de um feixe luminoso (lanterna
mastigação (temporal, masseter e pterigoides). Avalia-se
de bolso) e pela convergência ocular. Em
a lesão unilateral da raiz motora pela observação dos
ambiente de pouca luminosidade, o
seguintes elementos: atrofia das regiões temporais e
paciente deve olhar para um ponto mais
masseterinas, a abertura da boca promove desvio da
distante. O examinador incide o feixe de
mandíbula para o lado da lesão, ao trincar os dentes,
luz em uma pupila e observa a resposta
nota-se debilidade do lado paralisado, há dificuldade do
nos dois lados. Chama-se reflexo
movimento de lateralização da mandíbula; raízes
fotomotor direto a contração da pupila
sensoriais que compreendem os nervos oftálmico,
na qual se fez o estímulo, e de reflexo
maxilar e mandibular, responsabilizando-se pela
fotomotor consensual a contração da
sensibilidade geral da metade anterior do segmento
pupila oposta. Em seguida, aproxima-se
cefálico. O exame dessas raízes é semelhante ao da
dos olhos um objeto, e as pupilas se
sensibilidade superficial, cabendo apenas acrescentar a
contrairão normalmente - é o reflexo da
323
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

pesquisa da sensibilidade corneana (em pacientes grosseira das duas raízes. A raiz coclear é avaliada pela
comatosos), feita com uma mecha de algodão que toca diminuição gradativa da intensidade da voz natural, voz
suavemente entre a esclerótica e a córnea. O paciente cochichada, atrito suave das polpas digitais próximo ao
deve estar com os olhos virados para o lado oposto, a fim ouvido, prova de Rinne (consiste em aplicar o diapasão
de perceber o menos possível a prova. A resposta normal na região mastoide. Quando o paciente deixar de ouvir a
é a contração do orbicular das pálpebras, daí a vibração, coloca-se o aparelho próximo ao conduto
denominação de reflexo córneo-palpebral. auditivo. Em condições normais, o paciente acusa a
percepção do som (Rinne positivo). Transmissão óssea
• Comprometida a raiz sensorial, o paciente vai
mais prolongada que a aérea (Rinne negativo) significa
referir dor, limitada à área correspondente à sua
deficiência auditiva de condução).
distribuição. Em tais casos, usa-se a designação
de neuralgia do trigêmeo ou de trigeminalgia, • As alterações auditivas são representadas por
sendo subdividida em dois tipos, a trigeminalgia sintomas deficitários (hipoacusia) ou de
secundária (alterações objetivas deficitárias de estimulação (zumbido, hiperacusia e
sensibilidade da face) e a essencial ou idiopática. alucinações). Afastadas as causas de diminuição
ou a abolição da acuidade por transmissão aérea
VII Nervo Facial: interessa-se a parte motora, a qual se
(tamponamento por cerume, otosclerose), as
divide anatoclinicamente em dois ramos – temporofacial
causas mais comuns de lesão da raiz coclear são
e cervicofacial –, os quais se distribuem para a
a rubéola, a intoxicação medicamentosa e a
musculatura da mímica facial. Para fazer o exame do
síndrome de Ménière.
nervo facial, solicita-se ao paciente enrugar a testa,
• O acometimento da raiz vestibular é
franzir os supercílios, fechar as pálpebras, mostrar os
reconhecível pela anamnese, quando as queixas
dentes, abrir a boca, assobiar, inflar a boca. A paralisia da
do paciente incluem estado vertiginoso,
face se chama prosopoplegia e, quando bilateral, fala-se
náuseas, vômitos e desequilíbrio. A vertigem
em diplegia facial. Cerca de 80% dessas paralisias são
corresponde a uma incômoda e ilusória
chamadas a frigore e têm caráter benigno.
sensação de deslocamento do corpo ou dos
• Tem importância prática a distinção entre a objetos, sem alteração de consciência. A
paralisia por lesão do nervo facial (paralisia investigação da raiz vestibular compreende a
infranuclear ou periférica) e aquela por lesão da pesquisa de nistagmo (movimento oscilatório
via corticonuclear ou feixe geniculado (paralisia e/ou rotatório do globo ocular, podendo ser
central ou supranuclear). No tipo periférico, toda espontâneo ou provocado), desvio lateral
a hemiface homolateral é comprometida, durante a marcha, desvio postural, sinal de
enquanto, na central, somente a metade inferior Romberg e provas calórica e rotatória.
da face contralateral se mostra alterada. Este • Quando há desvio postural durante a marcha,
último tipo ocorre com frequência nos acidentes observa-se lateropulsão para o lado da lesão. Se
vasculares e nas neoplasias cerebrais. o paciente estiver de pé ou sentado com os olhos
• Resta fazer algumas considerações sobre o fechados e os membros superiores estendidos
nervo intermédio ou nervo intermediário de para frente e elevados em ângulo reto com o
Wrisberg, que tem curto trajeto junto ao nervo corpo, os braços irão desviar-se para o lado do
facial. Por um de seus ramos principais (corda do labirinto lesado, e o corpo tenderá a cair para
tímpano), o nervo intermédio recolhe as este mesmo lado. Sinal de Romberg positivo,
impressões gustativas dos dois terços anteriores com desequilíbrio do corpo para o lado lesado.
da língua. Às vezes, na vigência de paralisia facial
IX Nervo Glossofaríngeo e X Nervo Vago: a lesão
periférica, é possível caracterizar alguma
unilateral do glossofaríngeo pode exteriorizar-se por
anormalidade da gustação.
distúrbios da gustação do terço posterior da língua
VIII Nervo Vestibulococlear: é constituído por duas (hipogeusia e ageusia); podendo aparecer disfagia. Mais
raízes, a coclear, incumbida da audição, e a vestibular, raramente ocorre dor, em tudo semelhante à
responsável pelo equilíbrio. No exame neurológico de trigeminalgia, exceto quanto à sede, que é na fossa
rotina, faz-se apenas uma exploração mais ou menos amigdaliana.
324
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Na lesão unilateral do IX e do X, observam-se


desvio do véu palatino para o lado normal,
quando o paciente pronuncia as vogais a ou e;
desvio da parede posterior da faringe para o lado
normal (sinal da cortina) pela cuidadosa
estimulação; disfagia com regurgitação de
líquidos pelo nariz, e diminuição ou abolição do
reflexo velopalatino.
• A lesão isolada do X nervo, a qual envolve apenas
o ramo laríngeo, determina considerável
disfonia.

XI Nervo Acessório: essencialmente motor, interessa


aqui o exame do ramo externo, de origem medular
cervical. Inerva os músculos esternocleidomastóideo e a
porção superior do trapézio. A lesão do acessório por
traumatismo, esclerose lateral amiotrófica ou
siringomielia tem como consequência atrofia desses
músculos, deficiência na elevação do ombro (trapézio) e
na rotação da cabeça para o lado oposto
(esternocleidomastóideo) do músculo comprometido.

XII Nervo Hipoglosso: trata-se de um nervo


exclusivamente motor, o qual se origina no bulbo e se
dirige para os músculos da língua. Examina-se
movimentando a língua para todos os lados, forçando-a
de modo que vá de encontro à bochecha e, por fim,
palpando-a, para avaliação de sua consistência.

• Nas lesões unilaterais do hipoglosso, observam-


se atrofia e fasciculação na metade
comprometida. Ao ser exteriorizada, a ponta da
língua se desvia para o lado da lesão. Às vezes,
ocorre disartria para as consoantes linguais.
• Nas lesões bilaterais, as manifestações
compreendem atrofia, fasciculação, paralisia,
acentuada disartria e dificuldade para mastigar e
deglutir (a língua auxilia esses atos).

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Acidente Vascular Cerebral

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Sono

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Cefaleia

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Epilepsia

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Diabetes Mellitus glicólise, e o que sobra serve de substrato para a


síntese de glicogênio hepático e muscular
Diabetes mellitus é uma doença do metabolismo
(glicogênese)
intermediário, caracterizada pela ocorrência de
• Anabolismo dos lipídios: diante do excesso de
hiperglicemia crônica, que em longo prazo promove
glicose no hepatócito, uma parte da acetilCoA
lesões em órgãos-alvo, podendo cursar também com
produzida pela glicólise é convertida em
descompensações metabólicas agudas.
malonilCoA para a síntese de ácidos graxos
De acordo com a etiopatogenia, os fatores que (lipogênese), que se tornam triglicerídeos nos
contribuem para a hiperglicemia são: deficit de insulina adipócitos
(absoluto ou relativo) e/ou resistência à insulina. • Anabolismo das proteínas: os aminoácidos
adentram as células e são utilizados na síntese
Fisiologia proteica
• Os carboidratos e lipídios são, essencialmente,
moléculas de reserva energética, ainda que Estado de Jejum (Interprandial)
participem também da estrutura física dos Visando à manutenção da glicemia, ocorre inibição da
tecidos e da intermediação de processos liberação de insulina, com estímulo à secreção de
metabólicos (ex.: como cofatores enzimáticos) contrarreguladores, particularmente o glucagon. O novo
• A insulina, sintetizada e secretada pelas células equilíbrio hormonal propicia dois fenômenos básicos: (1)
beta das ilhotas pancreáticas, é o grande catabolismo; e (2) utilização de ácidos graxos como
“maestro” do anabolismo. Por outro lado, os principal substrato energético
hormônios conhecidos como
• Catabolismo dos carboidratos: o glicogênio
“contrarreguladores da insulina” (glucagon,
hepático é clivado, liberando glicose para o
adrenalina, cortisol e, em menor grau, GH)
sangue (glicogenólise)
exercem efeito oposto, mediando o
• Produção hepática de glicose: à medida em que
catabolismo. A fim de manter a homeostase,
o glicogênio hepático se esgota, a glicemia passa
deve haver um equilíbrio dinâmico entre
a ser mantida pela gliconeogênese – síntese
anabolismo e catabolismo
hepática de glicose a partir de moléculas não
• A glicose é a grande fonte de energia dos
glicídicas: lactato dos músculos, glicerol do
neurônios! Sem reserva de glicose, o SNC
tecido adiposo e aminoácidos da proteólise
rapidamente entra em colapso na vigência de
celular (ex.: glutamina)
neuroglicopenia. Também NÃO são capazes de
• Catabolismo dos lipídios: os triglicerídeos são
realizar betaoxidação (geração de ATP a partir de
clivados, liberando ácidos graxos livres (lipólise).
ácidos graxos), sendo necessária a formação de
O estímulo provém dos hormônios
corpos cetônicos pelo fígado a partir dos ácidos
contrarreguladores, com efeito “permissivo” da
graxos, que podem ser usados como
hipoinsulinemia. Assim, os ácidos graxos se
“combustível alternativo” pelos neurônios.
tornam os principais substratos energéticos para
Todavia, isso causa cetoacidose, um tipo de
a maioria das células do corpo, em especial os
acidose metabólica com ânion-gap aumentado
miócitos, onde sofrem beta-oxidação. Se a
causado pelo excesso de corpos cetônicos
liberação de ácidos graxos for excessiva, uma
Estado Pós-Prandial parte será aproveitada pelo hepatócito para a
A absorção intestinal de nutrientes eleva os níveis séricos síntese de corpos cetônicos (cetogênese)
de glicose, aminoácidos e lipoproteínas ricas em • Catabolismo das proteínas: as proteínas são
triglicerídeos (quilomícrons/VLDL). A glicose estimula a quebradas em aminoácidos (proteólise), embora
liberação de insulina. A resposta insulínica promove dois este processo ocorra em pequena quantidade
efeitos básicos: (1) anabolismo e (2) utilização da glicose em curto prazo
como principal substrato energético
Incretinas
• Anabolismo dos carboidratos: a glicose captada • São peptídeos secretados pelo tubo digestivo
por hepatócitos e miócitos é utilizada na durante a absorção de nutrientes. Seu principal
330
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

efeito é aumentar a secreção pancreática de Etiopatogenia do DM Tipo 1


insulina em resposta à glicose. Em outras • O DM tipo 1A é uma doença autoimune, e não
palavras, as incretinas “incrementam” a raro coexiste com outras imunopatias (ex.:
secreção de insulina na presença de glicose, mas principal = tireoidite de Hashimoto, mas também
somente quando a glicose é absorvida a partir de doença celíaca, vitiligo, anemia perniciosa entre
uma refeição outras)
• Existem duas incretinas principais: GLP-1 • O modelo etiopatogênico mais aceito na
(Glucagon-Like Peptide 1) e GIP (Glucose atualidade se baseia na interação entre fatores
dependent Insulinotropic Peptide). Ambas são genéticos e ambientais. Acredita-se que
degradadas pela enzima DPP-4 (Dipeptidil infecções virais (ex.: Cocksackie B), e/ou
Peptidase 4) exposição a antígenos ainda desconhecidos,
poderiam, através de mimetismo molecular,
Classificação
desencadear o processo de insulite (inflamação
Classificamos o Diabetes Mellitus (DM) em quatro tipos
das ilhotas pancreáticas) em indivíduos
principais
geneticamente predispostos
• DM tipo 1 (5-10%): cursa com destruição • Diversos genes contribuem com essa
primária das células beta e hipoinsulinismo predisposição (ex.: genes HLA, como DR3 e DR4)
“absoluto”. É subdividido em tipo 1A • As ilhotas de Langerhans são invadidas por
(mecanismo autoimune – mais de 90% dos linfócitos T citotóxicos (CD8+), que destroem
casos) e tipo 1B (idiopático – 4-7%, seletivamente as células beta, deixando as
particularmente em negros e asiáticos). demais células intactas. Neste processo, é
Predomina em pacientes jovens não obesos comum surgirem autoanticorpos característicos,
(crianças e adolescentes), mas até 30% aparece porém estes NÃO parecem diretamente
após a idade de 30 anos (o chamado “LADA” ou patogênicos, sendo apenas marcadores de
Latent Autoimune Diabetes of Adults – diabetes autoimunidade direcionados contra antígenos
autoimune “latente” do adulto) das células beta
• DM tipo 2 (80-90%): cursa primariamente com o Anti-ilhota
resistência periférica à insulina, que ao longo do o Anti-insulina
tempo se associa à disfunção progressiva das o Anti-GAD (glutamic acid decarboxilase)
células beta (“exaustão” secretória). Predomina • A incidência do DM tipo 1 é bimodal,
em adultos obesos (> 45 anos), mas tem se apresentando um pico na faixa etária entre 4-6
tornado cada vez mais frequente em crianças e anos, e outro por volta de 10-14 anos. Não há
adolescentes (por causa da epidemia de diferença entre os sexos, porém observa-se
obesidade) ampla variabilidade em função da região
• DM gestacional: definido como a intolerância à geográfica e da etnia. A incidência global
glicose diagnosticada durante a gestação que aumenta em proporção direta à latitude
não configura um quadro de franco diabetes (distância da linha do equador)
mellitus segundo os critérios diagnósticos para • A etiopatogenia do DM tipo 1B é desconhecida.
pacientes não grávidas Algumas evidências sugerem que mutações no
• “Outros” Nesta categoria são incluídos os casos gene da insulina seriam as responsáveis por boa
que possuem etiologia específica bem definida, parte dos casos
como o DM associado ao uso de drogas (ex.:
glicocorticoides), endocrinopatias (ex.: síndrome Etiopatogenia do DM Tipo 2
de Cushing) ou mesmo defeitos monogênicos • No DM tipo 2 os fatores que justificam a
(ex.: o chamado “MODY” ou Maturity-Onset hiperglicemia são: (1) resistência à insulina; e (2)
Diabetes of the Young), entre outros deficit secretório das células beta
• Acredita-se que ambos sejam necessários para a
expressão clínica da doença, e parece que a
resistência à insulina surge primeiro, fazendo
331
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

com que a célula beta trabalhe em excesso até • Um importante sinal clínico é a acantose
atingir uma “exaustão” secretória nigricans, que pode indicar (1) resistência à
• Curiosamente, a influência genética no DM tipo insulina (ex.: DM ou pré-diabetes); (2) neoplasia
2 é muito maior do que no DM tipo 1. A maligna (ex.: Ca de pulmão ou do trato
concordância entre gêmeos univitelinos, por gastrointestinal – principalmente se o
exemplo, beira os 100%. Todavia, vale ressaltar acometimento for extenso, rápido e envolver
que, mesmo nesses casos, a história natural da palmas e solas)
doença tende a ser modulada em função do
estilo de vida (ex.: quanto mais obeso e Confirmação Diagnóstica
sedentário for o paciente, mais rapidamente o O diagnóstico de diabetes mellitus requer a
DM tipo 2 se instala e evolui) demonstração laboratorial de hiperglicemia. Critérios
diagnósticos de DM (basta um critério com dosagem
Quadro Clínico do DM Tipo 1 confirmatório ou dois testes diferentes concordantes
• O diagnóstico de DM tipo 1 costuma ser fácil, com o diagnóstico)
pois em geral o quadro CLÁSSICO está presente
• Hemoglobina glicada (HbA1c) ≥ 6,5% (necessita
e tem início AGUDO: estamos falando da criança
confirmação em segunda dosagem)
ou do adolescente que desenvolve – ao longo de
• Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl (necessita
dias ou semanas – poliúria, polidipsia, polifagia e
confirmação em segunda dosagem)
perda de peso (4 Ps)
• Glicemia 2h após TOTG-75 ≥ 200 mg/dl
• Eventualmente, a doença só é percebida na
(necessita confirmação em segunda dosagem)
descompensação (cetoacidose diabética)
• Glicemia aleatória ≥ 200 mg/dl + sintomas de
• O LADA (Latent Autoimmune Diabetes of Adults)
hiperglicemia – “pólis” (não necessita
aparece em indivíduos mais velhos e evolui de
confirmação em segunda dosagem)
forma insidiosa (anos), sendo comumente
confundido com o DM tipo 2. No entanto, mais Estados Pré-Diabéticos
cedo ou mais tarde um hipoinsulinismo • Existem pacientes que têm glicemia alterada,
ABSOLUTO se estabelece, produzindo mas ainda não preenchem critérios formais para
manifestações clínicas mais características de o diagnóstico de DM: são os indivíduos “pré-
DM tipo 1 (ex.: “polis” e cetoacidose diabética) diabéticos”, isto é, pessoas com alta
probabilidade de desenvolver DM tipo 2 em
Quadro Clínico do DM Tipo 2
curto prazo. Apresentam risco cardiovascular
• O diagnóstico de DM tipo 2 costuma ser tardio,
aumentado, mesmo que nunca se tornem
uma vez que muitos pacientes passam anos ou
diabéticos. Estados pré-diabéticos:
mesmo décadas completamente assintomáticos
o “Glicemia de Jejum Alterada” = glicemia
• O paciente típico é adulto (>40-45 anos), obeso,
de jejum entre 100-125 mg/dl
sedentário e possui outros fatores de risco
o “Intolerância à Glicose” = glicemia 2h
cardiovascular, mas vale lembrar que a
após o TOTG 75 entre 140-199 mg/dl
incidência em crianças e adolescentes está
o Hemoglobina Glicada (HbA1c) entre 5,7-
aumentando (em função da pandemia de
6,4%
obesidade)
• A conduta nos estados pré-diabéticos é baseada
• Com menos frequência, sintomas de franca
em medidas higienodietéticas, isto é,
hiperglicemia podem ser referidos (poliúria,
ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL + ATIVIDADES
polidipsia), sendo raríssimo o surgimento de
FÍSICAS REGULARES (“Modificações
cetoacidose diabética (a produção endógena de
Terapêuticas no Estilo de Vida” – MEV), visando
insulina é insuficiente para evitar a cetogênese
à redução do peso corporal e reversão do estado
hepática)
de resistência à insulina
• Às vezes, o diagnóstico é firmado na vigência de
• A cessação do tabagismo também tem se
um estado hiperosmolar não cetótico, principal
mostrado importante, pois o cigarro é
complicação aguda do DM tipo 2

332
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

comprovadamente um agravante da resistência mais frequente seria ideal (ex.: 6-10 vezes ao dia,
insulínica acrescentando, por exemplo, medidas entre 1-
• A metformina é segura e barata, porém, só vale 2h após o início das principais refeições – as
a pena ser indicada na prevenção do DM tipo 2 chamadas “glicemias pós-prandiais”, que podem
em pacientes de muito alto risco. Assim, ajudar a se chegar numa dose mais adequada de
segundo a ADA (American Diabetes Association), insulina em alguns casos, principalmente
são critérios para o seu emprego no “pré- quando as glicemias pré-prandiais atingem o
diabetes”: alvo desejado, mas o paciente continua com
o IMC ≥ 35 níveis de HbA1c acima do ideal)
o Idade <60 anos
o História de diabetes gestacional
• Medidas preventivas recomendadas no “pré-
diabetes”:
o Redução de pelo menos 7% do peso
corporal Dieta, Álcool e Exercício Físico
o Praticar, no mínimo, 150min/semana de • Os diabéticos tipo 1 geralmente são magros,
atividade aeróbica moderada (ex.: necessitando de aporte calórico suficiente para
caminhada) manter o seu peso ideal. Podemos calcular este
o Consultas frequentes para reforçar o aporte multiplicando-se o peso ideal por 22. Por
alcance das metas exemplo, se o peso ideal for 52 kg, o aporte
o Metformina nos pacientes de muito alto calórico deve ser 52 x 22 = 1.145 kcal. O peso
risco ideal para homens é 48 kg para os primeiros 152
o Exames anuais para rastreio do DM cm de altura, somados a 2,7 kg para cada 2,5 cm
a mais. O peso ideal para mulheres é 45 kg para
Fatores de risco para DM tipo 2 os primeiros 152 cm, somados a 2,3 kg para cada
• Obesidade grave 2,5 cm a mais
• Sedentarismo • Classicamente, recomenda-se que a dieta
• Parente de 1º grau acometido contenha em média 55-60% de carboidratos
• Etnia (negros, latinos, índio americano, ilhas do (especialmente amido e fibras solúveis,
pacífico) presentes em alimentos como verduras, frutas e
• História de diabetes gestacional legumes), 10-20% de proteínas e 30-35% de
• História de doenças cardiovasculares lipídios (especialmente as gorduras mono ou
• Estados pré-diabéticos poli-insaturadas, contidas nos óleos vegetais e
• Hipertensão arterial azeite). A preferência deve ser para os alimentos
• HDL < 35 mg/dl com baixo índice glicêmico (que elevam menos a
• Triglicerídeos >250 mg/dl glicemia pós-prandial), como o arroz integral,
• Síndrome dos ovários policísticos feijão e fibras solúveis (aveia, cereais, grãos). Os
• Acantose nigricans açúcares refinados (sacarose) devem ser
limitados, mas não totalmente proibidos
Tratamento do DM tipo 1 • Uma importante medida prática para indivíduos
Objetivos do tratamento em uso de insulina é a ingestão, NA CEIA, de
• Para que a terapia seja mais segura e eficaz, o alimentos com baixo índice glicêmico (ou seja,
paciente deve adquirir um glicosímetro, a fim de de absorção mais lenta, como carboidratos
acompanhar o efeito do tratamento e detectar o complexos) em conjunto com lipídios e/ou
surgimento de hipoglicemia. Idealmente, esta proteínas (que retardam o esvaziamento
medida deveria ser feita no mínimo quatro vezes gástrico), mantendo-se, assim, uma glicemia
ao dia: pré-prandial (antes do café da manhã, estável ao longo da noite, com menor risco de
almoço e jantar) e antes de dormir. No entanto, hipoglicemia durante o sono
para certos pacientes, uma monitorização ainda
333
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• O álcool deve ser desencorajado, por aumentar • O início do tratamento deve ser feito com 0,3 -
tanto o risco de hipoglicemia, em usuários de 0,5 U/kg/dia, por via Subcutânea (SC). A dose
insulina (o metabolismo do álcool inibe a média adequada a um diabético tipo 1 adulto em
gliconeogênese hepática), quanto o risco de geral oscila entre 0,5-1,0 U/kg/dia (ex.: 60 kg: 30-
hiperglicemia (no caso de bebidas adocicadas) 60 U/dia, o equivalente à produção endógena
• No caso do DM tipo 1, vale ressaltar os riscos do normal de insulina)
exercício físico extenuante sobre o controle • Existem três esquemas de insulinoterapia mais
glicêmico: pode haver tanto hipoglicemia (se os utilizados: Esquema 1: duas aplicações; Esquema
níveis de insulina estiverem relativamente altos 2: múltiplas aplicações de insulina; Esquema 3:
antes do início do exercício – pois o exercício infusão contínua
aumenta a sensibilidade do tecido muscular à
Esquema 1: duas aplicações
insulina) quanto hiperglicemia (se os níveis de
• Neste esquema, recomenda-se fazer 2/3 da dose
insulina estiverem relativamente baixos antes
diária na primeira tomada (manhã) e 1/3 na
do início do exercício – pois o estresse físico
segunda tomada (noite). A proporção
aumenta os hormônios contrarreguladores de
NPH/regular deve ser de 70/30% na primeira
insulina). Recomendações:
tomada e de 50/50%, na segunda tomada
o Não se exercitar se a glicemia capilar
estiver < 90 mg/dl ou > 250 mg/dl ou na • Por exemplo, uma dose total de 30 U/dia pode
presença de cetose ser dividida da seguinte maneira: 20 U (café da
o Alimentar-se 1-3h antes, evitando a manhã) + 10 U (jantar). As 20 U da manhã são
prática de exercícios físicos em jejum divididas em 14 U de NPH e 7 U de regular; as 10
o Ingerir suplementos de carboidrato a U da noite são separadas em 5 U de NPH e 5 U
cada 30 min durante exercícios de regular
extenuantes e prolongados • Este esquema deve ser ajustado pelas três
o Aplicar a insulina num músculo que não glicemias capilares pré-prandiais e uma antes de
participará da atividade física dormir. Observe a seguinte regra prática:
o Glicemia matinal – depende da NPH do
Insulinoterapia jantar da véspera
o Glicemia pré-almoço – depende da
regular da manhã
o Glicemia pré-jantar – depende da NPH
da manhã
o Glicemia antes de dormir – depende da
regular da noite
• Existem várias desvantagens com o esquema de
duas aplicações: (1) o período matinal antes da
aplicação da insulina pode ficar relativamente
“desprotegido”, permitindo a hiperglicemia
matinal; (2) eventualmente, a insulina NPH da
manhã pode ser insuficiente para controlar o
pico glicêmico pós-almoço; (3) o paciente não
pode “flexibilizar” suas refeições ou exercício
físico – isto é, ele tem que seguir uma rotina
muito rigorosa no tocante aos horários e
quantidade de alimentos ingeridos
• O período final do sono e início do amanhecer é
marcado pelo pico circadiano do GH, um
hormônio hiperglicemiante, aumentando a
produção hepática de glicose. Este fato pode

334
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

explicar a hiperglicemia matinal no paciente que (ou, de preferência, lispro, aspart ou


tomou a NPH antes do jantar, pois o seu efeito já glulisina) antes do café da manhã,
está diminuído no momento em que o paciente almoço e jantar (bolus)
acorda pela manhã. A este evento denomina-se o Glargina (ou detemir) antes do café da
fenômeno do alvorecer. Para controlar o manhã e antes do jantar (insulina basal)
fenômeno do alvorecer, deve-se simplesmente + insulina regular (ou, de preferência,
passar a tomada para antes de dormir, em vez de lispro, aspart ou glulisina) antes do café
antes do jantar, separando-se da injeção de da manhã, almoço e jantar (bolus)
insulina regular, que continua sendo pré-jantar
(agora três aplicações diárias)
• O simples aumento da NPH pré-jantar pode
desencadear o chamado efeito Somogyi,
definido por uma hiperglicemia matinal de
rebote provocada pelo pico dos hormônios
contrarreguladores (glucagon, adrenalina,
cortisol e hormônio do crescimento) em
resposta à hipoglicemia da madrugada (às 3h). Esquema 3: infusão subcutânea contínua ou bombas de
Esta hipoglicemia seria gerada por uma alta dose insulina
de insulina NPH antes do jantar. Portanto, o • Uma bomba de infusão injeta de maneira
tratamento deste fenômeno seria a redução da constante a insulina através de um cateter
insulina NPH noturna (do jantar) ou passar a colocado pelo próprio paciente no tecido
tomada para antes de dormir (esquema de subcutâneo, sendo substituído a cada três dias.
múltiplas aplicações). A medida da glicemia da Esse dispositivo funciona com insulina
madrugada (às 3h) pode ajudar a diferenciação ultrarrápida, podendo ser programado para
entre os dois fenômenos: se houver liberar uma dose basal de insulina e, através de
hipoglicemia, provavelmente estamos diante do um toque antes das refeições, liberar um bolus
efeito Somogyi para cobrir o período pós-prandial (utilizando o
mesmo cálculo da dose conforme o esquema
Esquema 2: múltiplas doses de insulina (esquema basal- com múltiplas doses)
bolus)
• Uma insulina de ação intermediária ou Tratamento do DM Tipo 2
prolongada substitui a liberação basal de
insulina pelo pâncreas, enquanto uma insulina
de ação rápida ou ultrarrápida simula o pico pós-
prandial. Na prática, são possíveis as seguintes
combinações:
o NPH (ou detemir) antes do café da
manhã e antes do jantar ou ceia (insulina
basal) + insulina regular (ou, de
preferência, lispro, aspart ou glulisina)
antes do café da manhã, almoço e jantar
(bolus)
o NPH antes do café da manhã, almoço e
Dieta e Exercício Físico
jantar (insulina basal) + insulina regular
• A dieta no DM tipo 2 tem como principal objetivo
(ou, de preferência, lispro, aspart ou
corrigir de forma paulatina e permanente a
glulisina) antes do café da manhã,
obesidade, trazendo o IMC para 20-25 kg/m2
almoço e jantar (bolus)
• A melhora da obesidade está relacionada com
o Glargina/degludec antes do café da
menor resistência periférica à insulina, bem
manhã (insulina basal) + insulina regular

335
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

como uma maior capacidade das ilhotas de pelos inibidores do SGLT-2, drogas que
secretar insulina em resposta à glicose bloqueiam a reabsorção tubular renal da glicose
• Quanto à composição da dieta, o mesmo filtrada nos glomérulos
preceito é válido em relação ao DM tipo 1, sendo
Biguanidas
classicamente recomendado manter 50-55% de
Metformina (Glifage®): 1.000-2.550 mg VO/dia, em duas
carboidrato, 10-20% de proteínas e 30-35% de
tomadas
lipídios, com menos de 10% do valor calórico
total de gorduras saturadas e menos do que 300 • A metformina é a única biguanida aprovada para
mg/dia de colesterol. Nos portadores de uso clínico
hipertrigliceridemia, a taxa de carboidratos pode • Sua ação ocorre através de três mecanismos
ser reduzida para 40-45%, fazendo-se a devida básicos: (1) inibição da gliconeogênese hepática,
substituição pelas gorduras monoinsaturadas. principal responsável pela hiperglicemia de
Nos portadores de LDL-C elevado, a dieta deve jejum, o que contribui para 75% de sua ação
conter menos de 7% do total calórico em hipoglicemiante; (2) melhora da sensibilidade
gordura saturada e menos de 200 mg/dia de dos tecidos periféricos à insulina (contribuindo
colesterol para queda da insulinemia); e (3) redução do
• O exercício físico regular é fundamental para os turnover de glicose no leito esplâncnico
diabéticos tipo 2, por auxiliar na correção da • Outro efeito é o aumento da produção de ácido
hiperglicemia (o músculo condicionado capta lático por estimular o metabolismo não
melhor a glicose), da obesidade e da hipertensão oxidativo da glicose em células intestinais. O
arterial, além de reduzir diretamente o risco lactato produzido pode ser usado na
cardiovascular. Um exercício aeróbico (ex.: gliconeogênese, sendo um importante fator
caminhada) por 30 min diários pelo menos cinco protetor contra a hipoglicemia
vezes por semana é o mais apropriado • Pelo fato de não estimular a secreção de insulina
• Exercícios isométricos de força (“musculação”) (não aumenta as chances de hipoglicemia
são fundamentais para evitar a sarcopenia quando usada em monoterapia), associado
(perda de massa muscular), devendo ser ainda a um pequeno efeito anorexígeno, a
realizados pelo menos duas vezes por semana metformina não está relacionada ao aumento de
peso e pode realmente contribuir para a sua
Terapia Farmacológica (Antidiabéticos)
redução e não causa hipoglicemia. Outro efeito
• Os antidiabéticos orais (ou hipoglicemiantes
benéfico da metformina é a redução dos
orais) formam a base da terapêutica
triglicerídeos (em 10-15%) e, em menor grau, do
medicamentosa do DM tipo 2, e exercem seu
LDL-colesterol
efeito estimulando a secreção de insulina pelas
• A metformina tem menor tolerabilidade do que
células beta (sulfonilureias e glinidas),
as sulfonilureias, levando a sintomas
aumentando o efeito periférico da insulina
gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarreia,
(metformina e glitazonas), retardando a
anorexia, gosto metálico) em 30% dos casos, no
absorção de carboidratos (acarbose) ou agindo
início da terapia
simultaneamente na célula beta – estímulo para
• As biguanidas são contraindicadas, pelo risco de
síntese de insulina – e alfa – reduzindo a
acidose lática grave, na insuficiência renal (TFG
produção de glucagon (inibidores da DPP-4). Os
estimada < 30 ml/ min), hepatopatia com
agonistas GLP1 são drogas de uso subcutâneo
transaminases acima de 3x o valor de referência,
que também atuam estimulando a síntese de
durante estresse agudo (cirurgia) e deve ser feita
insulina pela célula beta e reduzindo a produção
com muito cuidado em indivíduos > 80 anos
de glucagon pela célula alfa pancreática.
• A metformina reduz a absorção da vitamina
Juntamente com os inibidores da DPP-4, estas
B12 no íleo distal, mas existem poucos casos de
medicações formam o grupo dos
anemia megaloblástica relacionada ao seu uso.
incretinomiméticos. O mais novo acréscimo ao
De toda forma, recomenda-se monitorar
arsenal terapêutico do DM tipo 2 é representado

336
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

periodicamente os níveis séricos de B12 em Glitazonas (tiazolidinedionas)


todos os usuários crônicos de metformina Pioglitazona (Actos®): 15-45 mg VO/dia, em uma tomada

Sulfonilureias • São potentes sensibilizadores periféricos de


Clorpropamida (Diabinese®): 125-500 mg VO 1x. Uso não insulina. Sua ação é análoga a da metformina,
recomendado na prática clínica atual isto é, aumentam o efeito periférico da insulina,
porém, agem muito mais no estímulo à captação
Glibenclamida (Daonil®): 2,5-20 mg VO 1 a 2x
de glicose pelo músculo esquelético do que no
Glimepirida (Amaryl®): 1-8 mg VO 1x. Baixo potencial bloqueio da gliconeogênese hepática
indutor de hipoglicemia • A pioglitazona tende a reduzir os níveis de
triglicérides e aumentar os de HDL
Gliclazida (Diamicron MR®): 30-120 mg VO 1x. Não
• O efeito adverso mais frequente é o aumento de
interfere nos receptores cardíacos.
peso em 2-3 kg, além de edema em 5% dos
Glipizida (Minidiab®) 5-20 mg VO 1 a 3x casos, por vezes descompensando a ICC. Logo,
deve ser evitada em pacientes com ICC classe
• Estimulam diretamente a secreção basal de funcional III ou IV, podendo ser usada com
insulina pelas células beta pancreáticas cautela nas classes I e II
• São as drogas preferidas em pacientes com DM • Recomenda-se a dosagem de aminotransferases
tipo 2 não obesos com glicemia de jejum entre antes do início do tratamento com glitazona e a
160-270 mg/dl (aqueles em que predomina a intervalos de 2/2 meses durante o primeiro ano
disfunção das células beta em relação à e depois, periodicamente; deve-se suspender o
resistência periférica à insulina) tratamento se as aminotransferases ficarem ≥ 3
• Todas as sulfonilureias reduzem geralmente a vezes o valor normal
glicemia em 20%, possuindo um “teto” de dose, • A pioglitazona tem interação medicamentosa
acima do qual não há acréscimo do efeito com as drogas metabolizadas pelo citocromo
• O aumento da secreção de insulina pode P450 3A4, como anticoncepcionais orais,
provocar um aumento do peso do paciente, digoxina, ranitidina, nifedipina etc.; pode ser
dificultando o controle da obesidade necessário aumentar a dose desses fármacos na
• Efeitos adversos: o paraefeito mais temido é a vigência do uso de pioglitazona
hipoglicemia, às vezes grave e fatal,
especialmente nos idosos, alcoólatras, Inibidores da Alfa-Glicosidase
desnutridos, nefropatas, hepatopatas e em uso Acarbose (Glucobay®): 150-300 mg VO/dia, em três
de determinados medicamentos (salicilatos, tomadas (refeições)
warfarim, gemfibrozil, clofibrato, sulfas,
• Tais drogas inibem a ação das enzimas digestivas
fenilbutazona, metildopa, cloranfenicol,
do tipo alfa-glicosidades presentes na borda em
miconazol, propranolol ou IMAO). A
escova dos enterócitos, que clivam
clorpropamida está relacionada a outros efeitos
polissacarídeos complexos (como o amido) em
adversos específicos: efeito dissulfiram monossacarídeos (como a glicose). Também
(intoxicação por acetaldeído após ingestão
inibem a alfa-amilase pancreática, responsável
alcoólica: rubor facial, sudorese, náuseas) e pela hidrólise de amidos complexos no lúmen
hiponatremia, que algumas vezes pode ser
intestinal. Com isso, lentificam a absorção
grave, especialmente com o uso associado de
intestinal de glicose, fazendo reduzir a glicemia
tiazídicos (por SIADH) – por esses motivos,
pós-prandial nos diabéticos tipo 2
somado ao possível aumento do risco
• Outro efeito benéfico dessas drogas é a redução
cardiovascular, a Clorpropamida é considera
da relação LDL/HDL, o que pode diminuir os
uma droga obsoleta
riscos de evento cardiovascular
• Todas as sulfonilureias são metabolizadas pelo
• São excelentes drogas para os diabéticos com
fígado, devendo, portanto, ser utilizadas com
glicemia de jejum normal, porém com
muito cuidado em hepatopatas
hiperglicemia pós-prandial documentada. São
337
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

uma alternativa para aqueles comglicemia de que estimula a secreção de insulina de maneira
jejum entre 110-140 mg/dl glicose-dependente, inibe a secreção de
• Outra possível indicação da acarbose seria nos glucagon e o débito hepático de glicose, retarda
indivíduos com tolerância alterada à glicose, na o esvaziamento gástrico, induz saciedade, reduz
prevenção do DM tipo 2 o apetite e propicia perda ponderal
• O principal problema do uso dessas drogas (em • O principal efeito adverso dos análogos do GLP-
30% dos casos) é o aumento da flatulência 1 é a náusea (30 a 50% dos pacientes), sendo que
(devido à passagem de carboidratos não em 5% dos casos é a causa de interrupção do
digeridos ao cólon, onde serão metabolizados tratamento. Diarreia e vômitos também podem
por bactérias locais, produzindo o gás metano), acontecer. Um efeito adverso temido é a
além de desconforto abdominal, meteorismo e pancreatite aguda
diarreia
Inibidores do SGLT-2
Glinidas Dapagliflozina (Farxiga®): 10 mg VO/dia, em tomada
Repaglinida (Prandin®): 1-4 mg VO/dia, em três tomadas única
(refeições)
Canagliflozina (Invokana®): 100-300 mg VO/dia, em
Nateglinida (Starlix®): 120 mg VO/dia, em três tomadas tomada única
(refeições)
Empagliflozina (Jardiance®): 10-25 mg VO/dia, em
• Agem através de mecanismo semelhante ao das tomada única
sulfonilureias, porém, em receptores de
• O SGLT-2 (cotransportador de sódio e glicose) é
membrana diferentes. Assim, aumentam a
um canal presente na membrana apical das
secreção de insulina pancreática
células do túbulo proximal do néfron
• Apresentam uma meia-vida bastante curta, por
responsável pela reabsorção de cerca de 90% da
isso são utilizadas antes das refeições para o
carga de glicose filtrada.
controle da glicemia pós-prandial
• Essas drogas bloqueiam este canal, aumentando
Inibidores da Dipeptil Peptidase-4 (DPP-4) a perda urinária de glicose. Tal ação exerce
Vildagliptina (Galvus®): 100 mg VO/dia, em tomada única discreto efeito hipoglicemiante (em
monoterapia eles reduzem a hemoglobina
Sitagliptina (Januvia®): 100 mg VO/dia, em tomada única
glicada em 0,5-0,7 pontos), além de ser capaz de
Saxagliptina (Onglyza®): 5 mg VO/dia promover alguma perda de peso (em torno de 2-
3 kg)
• Estas medicações agem através da inibição
seletiva da DPP-4, uma enzima que inativa o GLP- Insulinoterapia (DM Tipo 2)
1 (Glucagon-Like Peptide 1) e o GIP (Glucose- • Atualmente, existem várias indicações para a
Dependent Insulinotropic Polypeptide). O GLP-1 insulinoterapia neste tipo de diabetes:
também reduz a secreção do glucagon o Falência terapêutica aos antidiabéticos
• São medicações bem toleradas e não causam orais, mesmo quando em terapia
aumento de peso ou hipoglicemia, já que combinada
estimulam a secreção de insulina dependente de o Hiperglicemia > 300 mg/dl na primeira
glicose consulta, pelo menos nas fases iniciais,
especialmente naqueles com história de
Análogos do GLP-1 perda ponderal, cetonúria ou cetonemia
Exenatide (Byetta®): 5 μg duas vezes ao dia SC, com (alguns desses pacientes são diabéticos
aumento posterior para 10 μg duas vezes ao dia SC tipo 1 de início tardio e forma branda:
Liraglutide (Victoza®): 1,2 a 1,8 mg SC uma vez ao dia LADA)
o Emagrecimento progressivo atribuído
• O GLP-1 é um hormônio liberado pelas células ao diabetes
enteroendócrinas localizadas no íleo e no cólon,

338
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Durante a gestação, quando os


antidiabéticos orais são contraindicados
o Em situações de estresse agudo
(cirurgia, infecções graves, AVE, IAM
etc.)
• No caso da NPH, utiliza- se uma aplicação
noturna, antes de dormir, começando com 10 U
SC (0,1-0,2 U/kg), no intuito de inibir a produção
hepática de glicose na madrugada e início da
manhã (fenômeno do alvorecer); isso facilita a
ação dos antidiabéticos orais durante o dia (BID:
bed time insulin, day time oral drugs)
• No caso da insulina glargina ou detemir,
podemos administrar a dose pela manhã, já que
esta insulina garante insulinemia satisfatória por
24h, sem apresentar pico plasmático
• Os pacientes em fase avançada do DM tipo 2
precisam de múltiplas aplicações diárias de
insulina, aproximando-se do tratamento do DM
tipo 1. Por depender do grau de resistência
insulínica do paciente, a dose pode variar de 0,5
a 0,6 U/kg/dia, em pacientes magros, com
predomínio de deficit secretório, até próximo de
2 U/kg/dia em pacientes com grande resistência
• A insulinização não significa suspensão do uso de
sensibilizadores da insulina (ex.: metformina),
uma vez que a insulina isoladamente não
consegue se sobrepor ao estado de resistência a
sua ação. Em geral, são suspensas as
sulfonilureias e as glinidas quando se utilizam
esquemas de insulinização com múltiplas doses

339
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Complicações crônicas do diabetes • Recentemente, foram introduzidos na prática


médica os anticorpos monoclonais anti-VEGF
mellitus (ex.: bevacizumab, ranibizumab – de
Retinopatia Diabética administração intravítrea), que podem ser
A retinopatia diabética é uma das principais causas de usados isoladamente ou em associação à
cegueira em indivíduos entre 20-74 anos nos países fotocoagulação a laser para o tratamento do
desenvolvidos, ocorrendo em quase 100% dos diabéticos edema macular diabético
tipo 1 após 20 anos, tratados com a terapia • A vitrectomia está indicada para os pacientes
convencional, e em 60% dos pacientes diabéticos tipo 2 com hemorragia vítrea e/ou descolamento de
após o mesmo período. retina, podendo ser também indicada na
presença de neovascularização muito intensa
No DM tipo 1, a retinopatia já pode aparecer após três a mesmo na ausência de hemorragia vítrea
cinco anos de doença, porém raramente surge antes da • Outras complicações oculares dos pacientes
puberdade, enquanto alguns diabéticos tipo 2 já diabéticos são a catarata e o glaucoma. A
apresentam retinopatia quando do seu diagnóstico, catarata pode ser explicada por dois
devido ao atraso no reconhecimento do DM tipo 2, que mecanismos: glicosilação das proteínas do
pode variar em média de 4-7 anos. cristalino e excesso de sorbitol levando a
Fatores de risco alterações osmóticas do cristalino que resultam
• Mau controle glicêmico em opacificação e formação de catarata. O
glaucoma de ângulo aberto, que é indolor, é a
• HAS concomitante
forma mais comum de glaucoma em diabéticos.
• Insulinoterapia
O glaucoma neovascular, que é doloroso, ocorre
• Tempo de evolução do DM
menos frequentemente, sendo resultado da
• Presença de nefropatia diabética
neovascularização da íris.
• Puberdade
• Gravidez Nefropatia Diabética
• Dislipidemia O comprometimento renal decorrente do diabetes
• Uveítes mellitus dá-se no glomérulo. A glomerulopatia diabética
• Cirurgia de catarata é um importante fator contribuinte para a
• Doença oclusiva vascular morbimortalidade desses pacientes.

Triagem e tratamento da retinopatia diabética A nefropatia diabética geralmente se apresenta ao


• Um exame fundoscópico cuidadoso, feito por médico com proteinúria manifesta no exame de urina
um oftalmologista, deve ser obtido em todo convencional (EAS) ou mais de 300 mg na urina de 24h.
diabético tipo 1 após cinco anos de doença Estes pacientes costumam ser assintomáticos do ponto
• No caso do DM tipo 2, como não existe precisão de vista renal, porém, já possuem uma glomerulopatia
na determinação do início da doença, avançada que leva ao estado de rins terminais em menos
recomenda-se o exame fundoscópico em todos de sete anos.
os pacientes quando do diagnóstico do DM. A Alguns pacientes, antes de evoluírem para insuficiência
partir do primeiro exame, a triagem deve ser renal avançada, podem desenvolver proteinúriana faixa
repetida anualmente para aqueles sem nefrótica (> 3,5 g/24h), eventualmente com repercussão
retinopatia e semestralmente, no mínimo, para clínica (síndrome nefrótica).
aqueles com retinopatia
• A RD não proliferativa, sem comprometimento Manifestações clínicas
macular, geralmente não requer tratamento • É caracterizada por proteinúria, HAS e perda da
específico. Já o edema de mácula indica o uso de função renal (síndrome urêmica)
anti-VEGF intraocular. A fotocoagulação a laser • Os produtos de glicosilação não enzimática
localizada fica como opção em pacientes podem provocar alterações tanto quantitativas
refratários ou não aderentes à terapia quanto qualitativas nos componentes da matriz

340
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

extracelular, o que pode contribuir para a • A microalbuminúria é uma fase precoce da


ocorrência de oclusão vascular glomerular nefropatia diabética que, se for tratada, pode
• Ocorre ativação do sistema renina-angiotensina- prevenir a evolução para nefropatia manifesta
aldosterona pela hiperglicemia, contribuindo (proteinúria franca). Os fatores determinantes
para muitas das alterações patológicas da progressão da fase de microalbuminúria para
observadas na ND. A angiotensina II parece estar a fase da proteinúria franca são a hiperglicemia
envolvida em muitos processos patológicos da e a hipertensão arterial. Por isso, recomenda-se
ND, entre eles alterações hemodinâmicas, uma triagem anual para a presença de
hipertrofia, acúmulo de matriz extracelular, microalbuminúria (utilizando-se, por exemplo, a
indução de fatores de crescimento etc. As relação albumina/creatinina em uma amostra
intervenções terapêuticas devem ser feitas nas aleatória) em todo diabético tipo 1, após pelo
fases mais precoces, uma vez que são bem menos cinco anos de instalação da doença, e em
menos eficazes quando já há proteinúria todo o diabético tipo 2, desde o diagnóstico
significativa ou insuficiência renal • Sempre que atendemos um paciente com
grande descontrole glicêmico, devemos
Fatores de risco
primeiro compensá-lo antes de solicitar a
São fatores de risco para o aparecimento e progressão
pesquisa de microalbuminúria, sob o risco de
da ND:
estarmos superestimando a proteinúria
• Duração da doença
Tratamento da nefropatia diabética
• Microalbuminúria
• A terapia é extremamente eficaz na fase da
• Mau controle glicêmico
microalbuminúria e moderadamente eficaz na
• Fatores genéticos fase de proteinúria franca sem insuficiência
• HAS renal. O tratamento da nefropatia diabética
• Tabagismo baseia-se (1) no controle glicêmico rígido; (2) no
• Hipercolesterolemia controle da hipertensão arterial com uso
• Obstrução urinária preferencial dos IECA (captopril, enalapril,
• ITU de repetição lisinopril) ou dos antagonistas da angio II
• Uso de drogas nefrotóxicas (losartan, ibesartan, candesartan)
• A VII Diretriz Brasileira de HAS (2016) recomenda
Diagnóstico
uma PA <130 x 80 mmHg para diabéticos. O
• O grande avanço na abordagem precoce está na
mecanismo benéfico dos inibidores da ECA
identificação e tratamento da denominada
decorre do seu efeito redutor da pressão de
microalbuminúria. Esta é definida como uma
filtração glomerular, por dilatarem
pequena quantidade de albumina eliminada na
predominantemente a arteríola eferente (onde
urina, incapaz de ser mensurada pelos métodos
a angiotensina II tem maior efeito
convencionais, porém acima dos valores
vasoconstrictor)
normais. Considera-se microalbuminúria a
• Atualmente os IECA estão indicados em todos os
presença de 30-300 mg de albumina na urina de
pacientes diabéticos com microalbuminúria ou
24h
proteinúria, mesmo na ausência de hipertensão
• A sua detecção pode ser feita de modo confiável
arterial sistêmica! Os antagonistas da angio II
em uma amostra aleatória de urina do paciente,
podem ser oferecidos àqueles que não toleram
medindo-se a relação albumina/creatinina.
os IECA por tosse seca irritativa ou
Considera-se positivo um valor > 30 mcg/mg ou
broncoespasmo
mg/g
• Em pacientes com estenose bilateral de artéria
• Após o surgimento da macroalbuminúria (>300
renal (entidade não rara nos diabéticos, pela
mg/24h), ocorre redução gradativa da taxa de
maior prevalência da aterosclerose), ou em
filtração glomerular, a uma velocidade média de
alguns renais crônicos com creatinina >3,0
12 ml/min/ano
mg/dl, os IECA ou antagonistas da angio II

341
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

podem levar à insuficiência renal aguda pré- teste do monofilamento é o exame de maior
renal e/ou promover retenção importante de acurácia para o diagnóstico precoce
potássio. Por isso, as escórias nitrogenadas e a • Estes pacientes são propensos a ter úlceras
calemia devem ser monitoradas de perto no plantares indolores, que podem infectar,
início da terapia acarretando gangrena úmida (pé diabético)
• Os diuréticos tiazídicos e os bloqueadores dos • Os sintomas podem ser brandos ou
canais de cálcio não diidropiridínicos podem extremamente limitantes. São referidos
potencializar o efeito antiproteinúrico do IECA inicialmente nos pés, especialmente na região
• O controle da dislipidemia (LDL <100 mg/dl) plantar. Variam de parestesias (dormência,
também é importante no tratamento da ND formigamento), disestesias, dor neuropática ou
• Deve-se indicar a diálise precocemente, quando hiperpatia (dor ao toque). A dor é o sintoma mais
a creatinina for superior a 6,0 mg/dl (ClCr <25 limitante, pode surgir em repouso, geralmente
ml/min). O transplante renal é a terapia de de caráter em queimação, com piora noturna
escolha para esta fase da doença (impedindo o paciente de dormir) e melhora
com a deambulação. A piora noturna pode
Neuropatia Diabética encontrar explicação possível na menor
O comprometimento do sistema nervoso periférico é competição com outros estímulos dolorosos à
uma complicação crônica frequente do diabetes noite ou ainda por influência do ritmo circadiano
mellitus, afetando até 50% dos pacientes DM do tipo 2 e no limiar da dor
pacientes DM tipo 1 em menor proporção. • Os sintomas podem progredir até a panturrilha
Postula-se como fisiopatologia uma combinação de um (“em bota”) e posteriormente para as mãos,
efeito metabólico (hiperglicemia, glicação não evoluindo para a distribuição “em luva”. No
enzimática, estresse oxidativo, ativação da proteína C entanto, essa distribuição nem sempre é vista
quinase etc.) dependente do acúmulo de sorbitol nos devido ao maior acometimento dos membros
axônios, associado ao comprometimento isquêmico inferiores
endoneural, devido à lesão microvascular. • As fibras motoras são menos afetadas no início
do quadro, mas, com o avançar da doença, a
Os fatores de risco para neuropatia diabética ainda não disfunção é comum, podendo cursar com
foram plenamente estabelecidos, porém a idade deformidades (ex.: dedos em martelo, dedos em
avançada, a duração do DM, susceptibilidade genética, garra etc.). Podem ainda ser encontradas atrofia
glico/lipotoxicidade, inflamação e estresse oxidativo dos músculos interósseos e limitação da
parecem interferir no curso desta complicação. extensibilidade articular das mãos, originando o
“sinal do rezador” (incapacidade de pôr as
Polineuropatia Simétrica Distal
palmas das mãos uma contra a outra, devido à
• É a forma mais comum de neuropatia diabética.
flexão parcial dos dedos)
A base fisiopatológica é a lesão das fibras axonais
grossas mielinizadas ou fibras A (que conduzem Tratamento
a sensibilidade vibratória e proprioceptiva) e de • É importante ressaltar que a resolução
fibras finas não mielinizadas ou fibras C (que espontânea ocorre em 40-50% dos casos após
conduzem a sensibilidade térmica, dolorosa e um ano. Porém, algumas vezes os sintomas
tátil) progridem e tornam-se refratários ao
• A lesão, por iniciar-se distalmente, acomete tratamento
primeiro os nervos periféricos dos membros • O tratamento deve ser o cuidado com o pé (uso
inferiores. Muitos pacientes assintomáticos já de sapatos com solado macio, evitar deambular
apresentam sinais da neuropatia: hipoestesia descalço, autoinspeção diária dos pés, inspeção
plantar ou em pododáctilos para diversos tipos no consultório médico) e a instituição da terapia
de sensibilidade (vibração, tato, picada de medicamentosa para controlar a dor
agulha, frio) e a perda do reflexo do Aquileu. O neuropática ou a disestesia

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• No tratamento sintomático da neuropatia • Este tipo de neuropatia ocorre independente de


diabética dolorosa, várias medicações podem outras complicações, não se apresenta
ser usadas: geralmente com sinais neurológicos e tende a
o Antidepressivos tricíclicos: melhorar com o controle metabólico adequado
particularmente a amitriptilina (dose
inicial de 25-50 mg VO à noite, com Neuropatia Autonômica
aumento progressivo até 150-200 caso Subdivide-se nos seguintes componentes: (1)
não haja resposta) e a imipramina. São cardiovascular; (2) periférico; (3) gastrointestinal e (4)
drogas consideradas de primeira linha e geniturinário. De uma forma geral, os sintomas mais
que atuam através do efeito modulador comuns relacionados à neuropatia autonômica diabética
da atividade dos receptores são a disfunção sexual (que pode ter um componente
nociceptivos das fibras C e no bloqueio macrovascular associado), tontura postural (às vezes
da recaptação sináptica de incapacitante), náuseas, vômitos e plenitude pós-
noradrenalina nos sistemas de controle prandial (sintomas da gastroparesia diabética), sudorese
da dor profusa da face e tronco superior, constipação e diarreia
o Anticonvulsivantes: gabapentina (900 a diabética (sintomas noturnos). Outras manifestações
3.600 mg/dia) e pregabalina (300 a 600 relatadas da neuropatia autonômica diabética são
mg/ dia) sudorese gustatória (sudorese intensa na porção
o Inibidores seletivos da recaptação da superior do corpo após ingestão de certos alimentos) e
serotonina e noradrenalina: a alterações na acomodação pupilar
duloxetina (60 a 120 mg/dia) Disautonomia Cardiovascular
o Ácido alfalipoico: também chamado de • É um sinal de maior risco de eventos cardíacos,
ácido tióctico (600 mg/dia), pode ser principalmente devido a arritmias, infartos
utilizado no tratamento da neuropatia silenciosos e morte súbita. Isquemia miocárdica
pelo seu efeito antioxidante silenciosa já foi identificada em 10-20% dos
o Creme de capsaicina a 0,075%: indivíduos diabéticos assintomáticos e deve ser
substância presente na pimenta que age pesquisada após a idade de 35 anos
inibindo o neurotransmissor substância • A hipotensão postural deve ser tratada com
P, estando indicada mais para casos de medidas gerais (levantar-se devagar, elevar a
dor localizada cabeceira da cama, cruzar as pernas ao levantar-
o Opioides: drogas como o tramadol, a se, aumentar a ingestão de sal, suspender ou
oxicodona e a metadona podem ser substituir drogas relacionadas) ou com o uso do
utilizadas em casos selecionados para o mineralocorticoide fludrocortisona,
alívio da dor contraindicado na hipertensão arterial
Polineuropatia Sensitiva Aguda • Betabloqueadores cardiosseletivos, como o
• Esta forma de neuropatia tem início agudo ou atenolol, são utilizados com boa resposta nas
subagudo, diante de um controle metabólico taquicardias decorrentes da disautonomia
ruim, descompensação metabólica aguda, como Disautonomia Periférica
a cetoacidose diabética, ou após melhora brusca • É decorrente da desnervação simpática dos
no controle glicêmico (antigamente chamada de membros. Os sintomas podem ser a hiperidrose,
neurite insulínica) alteração de temperatura e edema
• O quadro é marcado por dor importante, • Este tipo de neuropatia contribui
tipicamente com exacerbação noturna e durante importantemente para a úlcera do pé diabético,
o repouso, podendo ser uma dor lancinante, em na medida em que provoca ressecamento dos
queimação, hiperalgesia, choques, agulhadas e pés, favorecendo a ocorrência de fissuras
alodínea de contato bastante intensa, • O edema deve ser tratado com elevação das
principalmente nas pernas e pés pernas e/ou meia elástica

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Disautonomia Geniturinária metoclopramida 30 minutos antes das refeições,


• Pode levar às seguintes consequências: (1) domperidona, bromoprida ou cisaprida.
bexiga neurogênica; (2) disfunção erétil; (3)
Mononeuropatia
ejaculação retrógrada; e (4) dispareunia, pelo
ressecamento vaginal • A mononeuropatia do nervo mediano é a mais
comum deste grupo. A disfunção assintomática
• A bexiga neurogênica pode levar à retenção
deste nervo ocorre em 25% dos diabéticos de
vesical residual, predispondo à infecção urinária
longa data. Poucos manifestam a síndrome da
de repetição, podendo também manifestar-se
mão do pregador, típica da lesão do mediano.
como incontinência urinária por
Outros nervos periféricos que podem ser
transbordamento. O uso de colinérgicos
acometidos são o radial (punho caído), o ulnar e
(betanecol 10 mg quatro vezes ao dia) e
o fibular
alfabloqueadores (doxazosina 1 a 2 mg duas a
três vezes ao dia) podem ser úteis para melhorar Pé Diabético
os sintomas • O diabetes mellitus é a principal causa de
• A disfunção erétil ocorre em 25 a 75% dos amputação de membro inferior não traumática
diabéticos de longa data. Os diabéticos tipo 1 em nosso país
podem ficar impotentes em idades • O desenvolvimento do pé diabético resulta da
relativamente jovens (40-50 anos). A causa integração da neuropatia com a vasculopatia
geralmente é orgânica, e não psicológica, com ou sem a presença de infecção
dividindo-se meio a meio entre vascular • A neuropatia diabética tem um papel primordial,
(aterosclerose da artéria peniana) e neuropática. pois impede que o paciente note que apareceu
O paciente deve ser investigado para uma calosidade ou ferida no pé, que acaba por
hipogonadismo (dosagem hormonal), causa ulcerar e infectar-se. A neuropatia autonômica
vascular (Doppler peniano), uso de contribui pela secura podal (anidrose),
medicamentos (diuréticos, betabloqueadores, predispondo a fissuras ou pequenas rachaduras.
metildopa etc.) e causas locais (ex.: doença de A perda da sensibilidade proprioceptiva
Peyronie). A impotência vascular está desestabiliza a musculatura do arco plantar,
comumente associada à claudicação levando à distribuição de toda a pressão do peso
intermitente (arteriopatia dos membros do corpo para apenas uma área, geralmente a
inferiores. As drogas mais eficientes no região tenar – um local comum de úlcera
tratamento da disfunção erétil são os inibidores diabética. A infecção aliada à isquemia distal
da fosfodiesterase tipo 5: sildenafil, tadalafil e pode levar à gangrena úmida
vardenafil • O “pé diabético” é classificado em seis graus de
Disautonomia gastrointestinal lesão (classificação de Wagner)
• Manifestações gastrointestinais ocorrem em até o Grau 0 – Sinais de neuropatia e/ou
75% dos pacientes diabéticos, podendo isquemia, sem ulceração
acometer do esôfago ao ânus. A disautonomia o Grau I – Úlcera superficial
deve ser suspeitada nos pacientes com sintomas o Grau II – Úlcera profunda sem abscesso
dispépticos crônicos, como plenitude, náuseas e e sem osteomielite
vômitos (gastroparesia diabética), sem o Grau III – Úlcera profunda com celulite,
apresentar doença péptica endoscópica, e em abscesso, possivelmente com focos de
pacientes com diarreia (enteropatia diabética) osteomielite e gangrena do subcutâneo
ou constipação de início recente, excluindo-se o Grau IV – Gangrena úmida localizada em
outras causas. É muito comum a presença de pododáctilo
constipação intestinal, alternada com diarreia o Grau V – Gangrena úmida de todo o pé
noturna e gastroparesia. Os sintomas da • Os agentes infecciosos penetram nas feridas e
gastroparesia devem ser controlados com infectam o tecido cutâneo e subcutâneo,
provocando celulite. Bactérias Gram-positivas

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(estreptococo, estafilococo) costumam ser os o Não usar calçados apertados, de bico


únicos agentes nas infecções mais brandas. Estes fino, com sola dura ou tira entre os
agentes se associam aos Gram-negativos dedos
entéricos (Escherichia coli, Klebsiella, o Não usar remédios para os calos, nem
Enterobacter) e aos anaeróbios cortá-los
(Peptostreptococcus, Bacteroides) nas infecções o Enxugar bem os pés, inclusive entre os
mais graves, frequentemente polimicrobianas dedos, após o banho
• Os sinais principais clínicos que indicam infecção o Inspecionar o interior dos calçados antes
de uma úlcera diabética são: secreção purulenta, de usá-los
odor forte e celulite nos bordos da úlcera. Está o Só usar sapatos com meias (com costura
indicada a antibioticoterapia empírica com externa ou sem costura), trocando-as
antibiótico contra Gram-positivos nos casos diariamente
leves (superficiais), utilizando-se, por exemplo,
uma cefalosporina de primeira ou segunda Doença Coronariana e Cardíaca
geração, a amoxacilina/clavulanato ou a • O famoso estudo Framingham mostrou que o
clindamicina. Nas infecções profundas, que diabetes mellitus é um fator de risco
ameaçam o membro, a antibioticoterapia deve independente para eventos cardiovasculares
ser de amplo espectro (exemplos: (IAM, AVE), sendo 2-3 vezes maior para o sexo
ampicilina/sulbactam, ceftriaxone + masculino e 3-4 vezes maior para o sexo
clindamicina, ciprofloxacina + clindamicina etc.) feminino
e o debridamento cirúrgico dos tecidos • O IAM tem incidência maior nos diabéticos,
desvitalizados torna-se parte essencial da ocorre em idade mais jovem e apresenta maior
terapia mortalidade precoce (primeiro mês pós-IAM),
• Os casos avançados podem evoluir para especialmente no IAM anterior (40% a mais) e
osteomielite ou gangrena úmida, muitas vezes tardio
necessitando a amputação do membro afetado. • O diabetes mellitus a inda aumenta
O desbridamento deve retirar todo o tecido significativamente a chance de reestenose após
morto e infectado, às vezes sendo necessário angioplastia, necessitando frequentemente do
debridar até o osso (osteomielite por uso dos stents recobertos
contiguidade – geralmente no calcâneo). A • A disautonomia do diabetes aumenta a chance
amputação é sempre necessária nos graus IV e de um evento isquêmico se apresentar de forma
V. No caso de osteomielite, a antibioticoterapia atípica (dor atípica, sem dor) e aumenta a
deve ser mantida por três semanas incidência de eventos isquêmicos silenciosos
• O diagnóstico de osteomielite é feito pela • A insuficiência cardíaca congestiva por
ressonância magnética (melhor exame) ou por cardiopatia dilatada tem maior incidência nos
um probe inserido na úlcera: se chegar até o diabéticos. A cardiomiopatia isquêmica, o
osso, o diagnóstico de osteomielite está infarto miocárdico e a cardiopatia hipertensiva
praticamente certo são os principais fatores etiológicos. Entretanto,
• A prevenção do pé diabético é um elemento mesmo afastadas essas etiologias, a incidência
fundamental da consulta ambulatorial no de cardiopatia dilatada ainda permanece maior
diabetes mellitus. Os pacientes devem olhar o
Doença Cerebrovascular
próprio pé todos os dias, procurando qualquer
• O risco de AVE isquêmico está aumentado (duas
tipo de lesão e prevenir lesões com as seguintes
vezes) nos diabéticos, especialmente os do tipo
medidas:
2. A associação entre diabetes mellitus,
o Não andar descalço
hipertensão e tabagismo é alto risco para
o Não colocar os pés de molho em água
eventos vasculares encefálicos
quente ou usar compressas quentes
o Cortar as unhas de forma reta

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Arteriopatia Periférica
• A aterosclerose das artérias dos membros
inferiores frequentemente acompanha os
diabéticos de longa data e contribui bastante
para a má resolução das úlceras e feridas do “pé
diabético”
• A doença vascular acomete muito mais o
território tibioperoneiro (artérias tibiais e
fibulares) do que o território fêmoro-poplíteo,
isto é, a aterosclerose arterial dos membros
inferiores é mais distal nos pacientes diabéticos.
Isso dificulta os procedimentos de
revascularização em alguns pacientes,
aumentando o índice de amputações por
isquemia
• A hipertensão arterial e, especialmente, o
tabagismo são fatores de risco que aumentam
acentuadamente a incidência da doença
isquêmica dos membros inferiores nos
diabéticos (e também nos não diabéticos)
• A isquemia de membros inferiores sintomática,
diagnosticada pela alteração de cor da
extremidade (eritrocianose com o membro para
baixo e palidez com o membro para cima), queda
da temperatura e ausência de pulsos arteriais,
deve ser tratada
• Se a conduta conservadora for ineficaz, ou
houver isquemia aguda por trombose, deve-se
indicar a cirurgia de revascularização

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Hipotireoidismo geral ocorre dentro do primeiro ano após o


tratamento (com retorno espontâneo ao
Hipotireoidismo é a síndrome clínica caracterizada pela
eutireoidismo em alguns pacientes). O
deficiência de hormônios tireoidianos. Pode ser primário
hipotireoidismo pós-tireoidectomia subtotal
(HTP), quando resulta de condições que interfiram
tende a ser mais tardio, sendo observado em até
diretamente sobre a tireoide, ou central (por deficiência
40% dos pacientes seguidos por 10 anos. As
de TSH).
tionamidas (metimazol e propiltiouracil), em
O hipotireoidismo central (HC) caracteriza-se por doses excessivas, podem também causar
deficiente produção de TSH e pode resultar de qualquer hipotireoidismo por bloquearem a síntese de T3
patologia da região hipotalâmico-hipofisária, bem como e T4
de seu tratamento com cirurgia ou radioterapia. • Outros fármacos: além das tionamidas, algumas
Laboratorialmente, manifesta-se por níveis séricos substâncias, como o iodo (em quantidade
baixos de T4 livre, enquanto os do TSH em geral estão excessiva) e vários fármacos podem resultar em
baixos ou normais. Dessa maneira, o TSH tem pouca graus variados de hipotireoidismo, como
utilidade no diagnóstico e monitoramento do HC. O medicamentos ricos em iodo (amiodarona,
melhor parâmetro é, portanto, o T4 livre. contrastes radiológicos) ou o carbonato de lítio.
O uso dos inibidores da tirosinoquinase (p. ex.,
O hipotireoidismo primário (HTP) é uma doença muito
sunitinibe, sorafenibe, imatinibe, motesanibe
prevalente em todo o mundo e responde por 95% do
etc.), empregados no tratamento de diversos
total de casos de hipotireoidismo.
tipos de tumores, resulta em graus variados de
Fatores de risco do hipotireoidismo primário hipotireoidismo em uma alta proporção de
• Idade >60 anos pacientes (14 a 85%)
• Bócio • Radioterapia externa: hipotireoidismo primário
• Doença nodular tireoidiana pode, ainda, ser decorrente de radioterapia
• História familiar de doença tireoidiana externa da cabeça e do pescoço
• História de radioterapia para cabeça e pescoço Etiologia do hipotireoidismo central
(radiação externa e iodo radioativo) • Adquirido: o hipotireoidismo central (HC) pode
• Doença autoimune tireoidiana e extratireoidiana se originar de qualquer processo neoplásico,
• Fármacos (amiodarona, lítio, tionamidas, inflamatório, infiltrativo, isquêmico ou
interferon-α etc.) traumático que comprometa a capacidade
• Baixa ingestão de iodo secretória da hipófise anterior e/ou do
• Síndrome de Down hipotálamo. Em adultos, as causas mais comuns
• Síndrome de Turner são lesões tumorais da região hipotalâmico-
hipofisária e o tratamento cirúrgico e/ou
Etiologia do hipotireoidismo primário
radioterápico dessas lesões
• Doenças tireoidianas: a tireoidite de Hashimoto
• Congênito: defeitos congênitos na estimulação
(TH) é a causa mais comum de hipotireoidismo.
ou na síntese do TSH, ou na estrutura desse
Trata-se de doença autoimune, caracterizada
hormônio, representam raras causas de
por títulos elevados de anticorpos
hipotireoidismo central congênito (HCC)
antiperoxidase (anti-TPO). A doença de Graves
pode, também, ter essa doença como estágio Sintomas e sinais
final. As tireoidites subagudas (granulomatosa, • O hipotireoidismo tem como manifestações
linfocítica e pós-parto) com frequência levam ao mais marcantes: pele seca, pele áspera, letargia,
hipotireoidismo, que nesse caso é transitório na fala lenta, edema palpebral, déficit de memória,
grande maioria das vezes constipação intestinal, ganho de peso, queda de
• Tratamento do hipertireoidismo: a terapia com cabelos, dispneia, sensação de frio, sudorese
¹³¹I representa, em nosso meio, a segunda causa diminuída, pele fria, língua grossa, fraqueza,
mais comum de hipotireoidismo. Este último em edema facial, cabelos ásperos, palidez cutânea,

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edema periférico, rouquidão, anorexia, Sistema cardiovascular


nervosismo, menorragia, sonolência. • Bradicardia (a despeito da anemia), redução do
Entretanto, muitos pacientes são assintomáticos débito cardíaco, hipofonese das bulhas cardíacas
ou oligossintomáticos, sobretudo aqueles com • Hipotireóideos apresentam, ainda, risco
doença menos intensa ou de duração não aumentado para doença arterial coronariana
prolongada, sendo diagnosticados em exames aterosclerótica
de rotina
• De modo contraditório, cerca de dois terços dos Sistema digestivo
pacientes podem apresentar ganho ponderal. • Anorexia, constipação intestinal e distensão
Este último em geral é modesto e consequente, gasosa são as manifestações mais comuns
sobretudo, à retenção hídrica. Ao contrário do • Algumas vezes, grave retenção fecal ou íleo
que se acredita, obesidade não faz parte do paralítico podem acontecer. Megacólon pode
quadro do hipotireoidismo ser constatado por exames radiológicos
• Completa acloridria ocorre em mais de 50% dos
Alterações metabólicas pacientes
• Elevação do LDL-colesterol, a qual pode vir
isolada ou associada à hipertrigliceridemia Sistema respiratório
• O HDL-colesterol encontra-se inalterado ou um • O hipotireoidismo pode cursar com respirações
pouco baixo lentas e rasas, bem como respostas ventilatórias
alteradas a hipercapnia ou hipóxia
Alterações endócrinas • Ocorre dispneia em cerca de 50% dos pacientes
• Hiperprolactinemia • Pode haver também derrame pleural, bem como
• Redução nos níveis de IGF-1 e IGFBP3 apneia do sono obstrutiva
Manifestações oftalmológicas, neurológicas e Sistema musculoesquelético
psiquiátricas • Pacientes com hipotireoidismo podem
• Entre as alterações neurológicas, a mais grave é manifestar fadiga muscular generalizada,
o coma mixedematoso mialgias e cãibras
• Manifestações mais comuns são cefaleia, • Artralgias, derrames articulares, síndrome do
tonturas, zumbido no ouvido, astenia, adinamia, túnel do carpo e pseudogota também podem
fala lenta ou arrastada, hiporreflexia profunda, ocorrer
alterações vestibulares, déficits cognitivos,
distúrbios visuais, deficiência auditiva, Manifestações renais e distúrbios eletrolíticos
parestesias e tremores • No hipotireoidismo, pode haver diminuição do
fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração
Pele e fâneros glomerular, em função de redução do débito
• Hipotireóideos crônicos com frequência se cardíaco e do volume sanguíneo. Como
apresentam com alterações cutâneas consequência, ocorre elevação dos níveis séricos
caracterizadas por pele seca, descamativa e de creatinina, ácido úrico e magnésio
áspera, que pode ficar amarelada devido ao • Além disso, proteinúria discreta se faz presente,
acúmulo de caroteno muitas vezes secundária à insuficiência cardíaca
• Cabelos secos e quebradiços, queda de cabelos, ou a um aumento da transudação capilar de
fragilidade ungueal, rarefação do terço distal das proteínas
sobrancelhas (madarose) e edema facial são
outros achados comuns, mas inespecíficos Sistema reprodutivo
• Também podem ser encontrados edema de • Em mulheres, o hipotireoidismo acompanha-se
membros inferiores ou generalizado, bem como de irregularidades menstruais (oligomenorreia,
lenta cicatrização de feridas e ulcerações amenorreia primária ou secundária e,
sobretudo, menorragia), anovulação e
infertilidade

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• Em homens, podem ser observadas redução da • Caso o TSH persista elevado, aumenta-se a dose
libido, disfunção erétil e oligospermia da L-T4 em 12,5 a 25 μg/dia até que se consiga a
normalização do TSH
Sistema hematopoético • A meta são níveis entre 0,5 e 2,5 mUI/ℓ em
• Anemia leve a moderada é um achado comum adultos jovens, até 10 mUI/ℓ nos pacientes mais
Diagnóstico laboratorial idosos

Hipotireoidismo primário Idade TSH


• As alterações clássicas são: TSH elevado e níveis 20-60 anos 0,5-2,5
baixos de T4 livre (T4L) e T3 60-70 anos 2-6
• De início, observa-se apenas elevação do TSH, 70-80 anos 2a8
caracterizando o hipotireoidismo subclínico; a >80 anos Até 10
seguir, reduzem-se o T4 e, em uma fase
posterior, o T3 • Um TSH suprimido indica dose excessiva e
Hipotireoidismo central necessidade de que essa dose seja reduzida
• Caracteriza-se por níveis séricos de T4L baixos, • No caso do hipotireoidismo central, o
enquanto aqueles do TSH podem estar normais, monitoramento e os ajustes das doses devem
baixos ou, até mesmo, um pouco elevados (em ser feitos de acordo com o quadro clínico e os
geral, <10 mUI/ℓ) níveis de T4 livre (nunca pelo TSH), que, de modo
geral, devem ser mantidos no terço superior da
Tratamento faixa de normalidade
• O tratamento do hipotireoidismo consiste em • Os exames devem ser feitos a cada 6 a 8 semanas
geral na administração de levotiroxina ou L- até se atingir a dose de manutenção, e, depois,
tiroxina (L-T4), em uma dose única diária semestral ou anualmente
• Os pacientes devem ser orientados a tomar a
medicação em jejum (pela manhã, 60 minutos
antes do desjejum ou no final da noite, ao
deitarem-se)
• A dose ideal de L-T4 varia de acordo com a idade
e o peso do paciente.
o Em adultos jovens (16 a 65 anos), a dose
diária ideal é de 1,6 a 1,8 μg/kg de peso
ideal; na maioria dos casos, situa-se
entre 100 e 150 μg/dia para mulheres e
125 a 200 μg/dia para homens
o Em pacientes > 65 anos de idade,
coronariopatas ou com hipotireoidismo
grave de longa duração, deve-se iniciar a
reposição da L-T4 com 12,5 a 25 μg/dia,
reajustando-se a dose em 12,5 a 25
μg/dia, a intervalos de 15 a 30 dias

Avaliação terapêutica e monitoramento


• A resposta ao tratamento no hipotireoidismo
primário (HTP) deve ser avaliada pela dosagem
do TSH e T4L após 6 semanas, tempo mínimo
ideal para que se observe uma resposta plena do
TSH ao tratamento

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Hipotireoidismo subclínico acompanhamento. Em aproximadamente 50%


dos pacientes, o HSC é transitório, com
O hipotireoidismo subclínico (HSC) é um distúrbio
normalização do TSH na segunda determinação
comum na população geral, com prevalência variável de
acordo com sexo, idade, etnia e conteúdo de iodo na Tratamento
dieta. • O consenso brasileiro para o tratamento do HSC
A ocorrência é maior em brancos do que em negros, em adultos, assim como o consenso latino-
naqueles com história familiar de doença tireoidiana, em americano para tratamento do hipotireoidismo,
pacientes com distúrbios autoimunes (p. ex., diabetes recomendam o tratamento de reposição com
melito tipo 1) ou com história prévia de irradiação levotiroxina (L-T4) em pacientes com níveis de
externa em pescoço e face. TSH ≥10 mU/ℓ, em razão da maior probabilidade
de progressão ao hipotireoidismo franco e pelo
Apresentação clínica risco elevado de morbidades
• O curso natural do HSC é variável, podendo • O tratamento do HSC também é consensual
progredir ao hipotireoidismo franco (HOF), durante a gestação e em mulheres que
manter-se em HSC por períodos longos ou pretendem engravidar em breve, em função de
regredir espontaneamente ao eutireoidismo, complicações maternofetais durante a gestação
dependendo de características individuais e da (p. ex., risco aumentado para abortamento
população espontâneo) e por potenciais complicações
• Valores elevados do TSH (>7,5 mU/ℓ), presença neuropsicológicas para o feto
de bócio, de anticorpos antitireoglobulina • O tratamento do HSC persistente para pacientes
elevados, presença de doença celíaca e o com níveis de TSH >4,5 e <10 mU/ℓ permanece
aumento progressivo de anticorpos um dilema. Os componentes da boa história
antitireoperoxidase na avaliação inicial foram clínica serão de grande auxílio no processo de
fatores preditores da progressão ao HOF decisão. Se o paciente tem antecedente de
• A presença de autoimunidade tireoidiana doença cardiovascular ou risco cardiovascular
refletida por TAb positivos ou por aspectos elevado (hipertensão arterial, diabetes,
ultrassonográficos típicos e níveis de TSH >10 dislipidemia, síndrome metabólica),
mU/ℓ constituem os principais fatores de risco particularmente se a idade for <65 anos e o TSH
associados à progressão do HSC ao HOF sérico ≥7,0 mU/ℓ, o tratamento deve ser
considerado, em razão de elevado risco de
Sintomas incidência e morte por DAC ou AVC
• Dislipidemia: alguns estudos encontraram • Níveis séricos do TSH com elevação progressiva,
associação entre HSC e aumento do colesterol TAb positivos e ultrassonografia com alteração
total, LDLcolesterol (LDL-c) e LDL oxidada, a ecotextural difusa são marcadores da
maioria para níveis de TSH sérico >10 mU/ℓ progressão para o HOF e indicativos de
• Risco cardiovascular e mortalidade: hipertensão tratamento
arterial diastólica, disfunção diastólica do • Em idosos com idade ≥80 anos, o tratamento
ventrículo esquerdo (DDVE), disfunção sistólica, deve ser considerado apenas com níveis séricos
aterosclerose, disfunção endotelial e doença do TSH >10 mU/ℓ
arterial coronariana (DAC) • Também podem ser tratados pacientes com
sintomas de hipotireoidismo
Diagnóstico
• O HSC é definido por elevação persistente do
TSH sérico (>4,5 mU/ℓ e <20 mU/ℓ) e níveis
normais do T4 livre (T4L); a determinação do T3
ou T3 livre (FT3) é desnecessária
• HSC persistente é definido quando as alterações
laboratoriais persistem após 6 meses de

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Hipertireoidismo Diagnóstico clínico


As causas mais comuns de hipertireoidismo são a doença • A DG apresenta-se com três manifestações
de Graves (DG), o bócio multinodular tóxico (BMNT) e o principais: hipertireoidismo com bócio difuso,
adenoma tóxico (AT). Nessas situações, existe produção oftalmopatia infiltrativa e dermopatia
autônoma de T3 e T4, portanto elas se manifestam por (mixedema pré-tibial)
níveis suprimidos de TSH e elevação do T3 e do T4. • As manifestações clínicas do hipertireoidismo
são decorrentes do efeito estimulatório dos
Supressão do TSH, sem modificação dos HT, é típica do hormônios tireoidianos sobre o metabolismo e
hipertireoidismo subclínico (HSC). os tecidos. Entre as mais características,
A doença de Graves (DG) representa a etiologia mais incluem-se taquicardia, alterações oculares,
comum de hipertireoidismo (80% dos casos) e tem bócio, fibrilação atrial, tremor nas mãos,
origem autoimune. esplenomegalia, pele quente e úmida,
ginecomastia, nervosismo, queixas oculares,
Etiopatogênese sudorese excessiva, edema de membros
• A DG é um distúrbio autoimune cujo principal inferiores, intolerância ao calor, hiperdefecação
sítio antigênico é o receptor do TSH (TSHR). O (sem diarreia), palpitação, diarreia, fadiga,
hipertireoidismo se origina da produção pelos distúrbios menstruais, perda de peso, dispneia,
linfócitos B de anticorpos contra o TSHR (TRAb). fraqueza, aumento do apetite, sopro sobre a
Tais anticorpos se ligam ao TSHR e ativam tireoide
complexos de sinalização que, em última análise, • Uma manifestação mais comum da doença de
resulta em crescimento da tireoide, aumento de Graves, envolvendo pele e fâneros, é a onicólise
sua vascularização e incremento da taxa de (unhas de Plummer), que se caracteriza pela
produção e secreção dos hormônios tireoidianos separação da unha de seu leito. Geralmente
• Ao se ligarem ao receptor do TSH, os TRAb vão reverte espontaneamente, com a melhora do
estimular a síntese e a liberação dos hormônios hipertireoidismo
tireoidianos (T3 e T4), que, por sua vez, exercem • Há, contudo, um quadro chamado de
retroalimentação negativa sobre a hipófise, mas hipertireoidismo apático, observado em
não sobre os TRAb. Como consequência, surgirá pacientes idosos, em que não há os sintomas de
elevação do T3 e T4, associada à supressão do hiperatividade adrenérgica (agitação,
TSH nervosismo etc.), mas astenia intensa, fraqueza
muscular e prostração ou depressão grave.
Fatores predisponentes Muitas vezes, predominam manifestações
• Fatores genéticos cardiovasculares (p. ex., fibrilação atrial e/ou
• Fatores ambientais e endógenos: danos à insuficiência cardíaca refratárias ao tratamento
tireoide, por radiação ou por injeção de etanol, usual)
com a liberação de antígenos tireoidianos na • Uma distinção pode ser feita entre
circulação. Pode ser induzido pela terapia com hipertireoidismo e tireotoxicose. O primeiro
lítio (pode modificar as respostas imunes), bem implica que tanto a formação quanto a liberação
como desencadeado ou agravado pelo uso da de hormônios tireoidianos estejam aumentadas,
amiodarona. Em alguns pacientes, situações enquanto tireotoxicose representa a síndrome
adversas (como privação, aflição, divórcio, perda clínica resultante do excesso circulante de T3 e
do emprego etc.) ou, mesmo, programas T4
agressivos de perda de peso, antecedem a
eclosão da DG. Isso sugere a participação do Bócio
estresse como fator iniciante da doença. O • Na DG, o bócio é caracteristicamente difuso,
tabagismo aumenta em duas vezes o risco para sendo observado em 97% dos casos
DG • Pode ser assimétrico ou lobular, com volume
variável. Em alguns pacientes, há frêmito e sopro
sobre a glândula, produzidos por um notável
351
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

aumento do fluxo sanguíneo, sendo esse achado Esse exame somente deve ser solicitado,
exclusivo da doença portanto, quando houver dúvida diagnóstica
entre a DG e as mencionadas patologias
Oftalmopatia • Ultrassonografia: a US tem sensibilidade
• Decorre do espessamento dos músculos semelhante à RAIU/24 h para o diagnóstico da
extraoculares e aumento da gordura DG com as vantagens da US são ausência de
retrobulbar, o que leva a um incremento da exposição à radiação ionizante, ter maior
pressão intraorbitária. Como consequência, precisão na detecção de eventuais nódulos
podem ocorrer protrusão do globo ocular tireoidianos e custo mais baixo
(proptose ou exoftalmia) e diminuição da
• Cintilografia tireoidiana: deve ser realizada em
drenagem venosa, resultando em edema
pacientes com nódulos identificados à
periorbital, edema da conjuntiva (quemose) e
ultrassonografia, para avaliar se tais nódulos são
hiperemia conjuntival
“quentes” ou “frios”
Dermopatia (mixedema pré-tibial) • Punção aspirativa com agulha fina: indicada
• Acomete apenas 5 a 10% dos pacientes com DG quando forem encontrados nódulos tireoidianos
e, quase sempre, está associada à oftalmopatia normo ou hipocaptantes à cintilografia
(geralmente grave) e a títulos elevados de TRAb
Tratamento
• Consiste no espessamento da pele,
O hipertireoidismo devido à doença de Graves é tratado
particularmente na área pré-tibial, devido ao
com uma das seguintes abordagens: (1) uso de drogas
acúmulo de glicosaminoglicanos. As lesões
antitireoidianas (DAT), também denominadas
mostram-se em placas e, nelas, a pele está
antitireoidianos de síntese ou tionamidas, para
bastante espessada, com aspecto de casca de
normalizar a produção de T3 e T4; (2) destruição da
laranja e coloração violácea
tireoide, usando o iodo radioativo (RAI); ou (3) remoção
Diagnóstico laboratorial cirúrgica da tireoide
• A DG e quase todas as outras causas de Antitireoidianos de síntese (tionamidas)
tireotoxicose endógena significativa • Existem duas opções principais: metimazol
caracterizam-se por níveis baixos ou (MMI), também chamada tiamazol, e
indetectáveis de TSH, associados à elevação das propiltiouracil (PTU). A longa duração do MMI
frações total (ligada à globulina de ligação da (até 24 horas ou mais) torna possível sua
tiroxina [TBG]) e livre do T4 e T3 administração em dose única diária, o que
• Entre os pacientes com DG, até 50% apresentam facilita a melhor adesão ao tratamento. Em
anticorpos antitireoglobulina (anti-Tg) e até contrapartida, o PTU deve ser administrado,
90%, anticorpos antitireoperoxidase (anti-TPO), pelo menos inicialmente, em 2 a 3 tomadas
em títulos mais baixos do que os observados na diárias
tireoidite de Hashimoto. A ocorrência de • Em comparação ao PTU, o MMI possibilita a
anticorpos antirreceptores do TSH (TRAb) em obtenção do eutireoidismo de modo mais
pacientes hipertireóideos é altamente específica frequente e mais rápido, além de ser mais bem
para a DG (presentes em 90 a 100% dos casos) tolerado e causar menos hepatotoxicidade,
Exames de imagem devendo-se sempre escolher o MMI como
primeira opção. Duas exceções a essa norma são
• Captação do iodo radioativo nas 24 horas
o primeiro trimestre da gravidez e grave
(RAIU/24 h): se encontra elevada em
intolerância ao MMI
praticamente 100% dos casos de DG, o que
• O mecanismo de ação principal desses fármacos
possibilita facilmente sua diferenciação com os
casos de tireotoxicose secundária à tireoidite é a inibição da síntese de tiroxina (T4) e tri-
iodotironina (T3) dentro das células foliculares.
subaguda linfocítica e tireoidite pós-parto,
situações em que a RAIU/24 h está Além disso, PTU, mas não metimazol, inibe a
caracteristicamente muito baixa ou ausente. conversão periférica de T4 em T3

352
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Posologia: a dose inicial usual é de 10 a 30


mg/dia de MMI ou 100 a 300 mg/dia de PTU, na
dependência da gravidade do hipertireoidismo
• Após o início do tratamento, os pacientes devem
ser avaliados a cada 4 a 6 semanas. Uma vez
alcançado o eutireoidismo, a dose da tionamida
deve ser reduzida gradualmente até que se
obtenha a menor dose que mantenha os
pacientes eutireóideos. A partir daí, as visitas ao
médico passam a ser trimestrais
• A dose usual de manutenção é de 5 a 10 mg/dia
para o MMI e de 50 a 100 mg 2 vezes/dia para o
PTU

Betabloqueadores
• Os betabloqueadores têm como indicação
principal pacientes idosos com tireotoxicose
sintomática e outros pacientes tireotóxicos com
frequência cardíaca de repouso >90 bpm ou
doença cardiovascular coexistente
• Propranolol (40 a 120 mg/dia, em 2 a 3 tomadas)
é a opção mais utilizada
• Os betabloqueadores são geralmente suspensos
após as primeiras 3 ou 4 semanas

Iodo radioativo (radioiodo)


• O radioiodo (131I) tem como objetivo controlar o
hipertireoidismo, tornando o paciente
hipotireóideo. É facilmente administrado por via
oral, em solução ou cápsulas, e tem baixo custo.
Pode ser empregado como terapia inicial ou
como terapia definitiva de segunda linha, nos
casos de recidiva após o uso das DAT

Tireoidectomia
• A cirurgia está indicada, sobretudo, nas
seguintes situações: (1) bócios muito volumosos
(>150 g), (2) existência de sintomas
compressivos locais ou nódulos com suspeita de
malignidade após PAAF e (3) opção do paciente

353
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hipertireoidismo subclínico são facilmente reconhecidos, em função da


história clínica e do exame físico cuidadoso
A prevalência do hipertireoidismo subclínico (HiSC)
• Sinais oculares da oftalmopatia de Graves e/ou
endógeno é menor se comparado ao hipotireoidismo
elevação do anticorpo antirreceptor do TSH
subclínico exógeno
(TRAb) ou hipercaptação difusa à cintilografia
Etiologia confirmam o diagnóstico da doença de Graves
• A causa mais comum de HiSC é exógena,
Sinais e sintomas
determinada pelo uso de doses excessivas de L-
• Estudos que empregaram um método
T4 para tratamento do hipotireoidismo ou na
quantitativo de avaliação clínica da tireotoxicose
terapia supressiva no acompanhamento do
identificaram sintomas clínicos de tireotoxicose
câncer de tireoide
(ansiedade, insônia, nervosismo, tremor,
• O HiSC endógeno é determinado pelas mesmas
intolerância ao calor, palpitações etc.) e piora da
condições do hipertireoidismo franco (HTF), ou
qualidade de vida
seja, doença de Graves, doença nodular
• O HiSC tem sido ainda associado a alterações
autônoma da tireoide, tireoidites subagudas,
cognitivas, do humor e a maior risco de
fármacos etc. Em contrapartida, diferentemente
demência em idosos
do HTF, cuja causa mais comum é a doença de
Graves, o HiSC tem como principal causa a • Em alguns estudos, mas não em todos, o HiSC foi
doença nodular autônoma da tireoide associado a aumento da frequência cardíaca de
repouso, arritmias supraventriculares, aumento
• As causas do HiSC podem ainda ser classificadas
do índice de massa do ventrículo esquerdo,
como persistentes quando as alterações
comprometimento das funções sistólica e
laboratoriais permanecem inalteradas por ao
diastólica e alterações hemodinâmicas. A
menos 3 a 6 meses de acompanhamento, ou
evidência mais consistente do
transitórias quando os níveis séricos do TSH
comprometimento cardíaco no HiSC é a
retornam aos valores normais. Em geral,
fibrilação atrial (FA)
nenhum tratamento é necessário para as causas
transitórias, tais como as tireoidites (subaguda, • Os hormônios tireoidianos têm efeitos
silenciosa e pós-parto), hipertireoidismo importantes na remodelação óssea, e o seu
transitório da gestação e após exposição ao iodo excesso no HTF associa-se a perda da densidade
ou tratamento com iodo radioativo mineral óssea (DMO), osteoporose e fraturas

Diagnóstico Tratamento
• O HiSC caracteriza-se por concentrações séricas • Em pacientes com HiSC exógeno devido ao uso
baixas do TSH, associadas a valores normais de de dose excessiva de L-T4, recomenda-se reduzir
a dose da medicação e manter os níveis de TSH
T4L e T3 (ou T3 livre). A dosagem do T3 (ou T3
livre) é obrigatória para excluir a possibilidade de nos níveis-alvo de acordo com a faixa etária
tireotoxicose por T3 • Em pacientes tireoidectomizados em
• Um painel de consenso recomendou a utilização acompanhamento por carcinoma diferenciado
de valores do TSH sérico <0,45 mU/ℓ como valor da tireoide, com indicação de terapia supressiva
de corte para o diagnóstico com L-T4 para manter níveis de TSH <0,1 mU/ℓ
por período longo, o uso de betabloqueador
• Em idosos, a concentração baixa do TSH pode ser
pode ser considerado, particularmente para
fisiológica pela redução da filtração dos
pacientes com sintomas de hiperatividade
hormônios tireoidianos ou por alteração no set
adrenérgica, idade >60 anos, com risco
point hipofisário para secreção do TSH
cardiovascular ou com doença cardiovascular
• O HiSC exógeno e formas transitórias de HiSC
prévia
endógeno – tais como tireoidites subagudas
• Em mulheres na pós-menopausa, sobretudo
(virais ou autoimunes), tireoidite pós-parto,
para aquelas sem reposição estrogênica e DMO
hipertireoidismo transitório gestacional,
diminuída, deve-se realizar monitoramento com
tratamento do hipertireoidismo com 131I etc. –
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

densitometria óssea, determinação de cálcio e hipertireoidismo, bem como em


vitamina D, bem como avaliação da necessidade mulheres com osteoporose pós-
de tratamento específico com inibidores da menopausa sem tratamento e em
reabsorção óssea, reposição da vitamina D e pacientes com doença cardiovascular ou
suplementação de cálcio risco cardiovascular elevado. No HiSC
• Em pacientes com HiSC endógeno, algumas grau I (TSH entre 0,1 e 0,44 mU/ℓ), o
etapas devem ser seguidas antes da decisão final tratamento deve ser considerado em
de tratar ou apenas observar um paciente. São indivíduos ≥65 anos em função do maior
elas: risco de FA e em pacientes <65 anos com
o 1ª etapa: definir o caráter persistente do doença cardíaca preexistente ou com
HiSC. Para isso, deve-se repetir a sintomas de hipertireoidismo
dosagem de TSH, T4L e T3 (ou T3L) em
período de 3 a 6 meses
o 2ª etapa: definir a etiologia. A
cintilografia, a US da tireoide e a
determinação dos anticorpos
antitireoidianos serão de grande auxílio
para definição da etiologia da maioria
dos casos
▪ Hipercaptante difuso: Graves
▪ Hipercaptante multinodular:
bócio multinodular tóxico
▪ Hipercaptante em único nódulo:
Plummer
o 3ª etapa: excluir causas transitórias.
Causas transitórias, como tireoidites de
qualquer natureza, hipertireoidismo
transitório da gestação ou após
exposição ao iodo, em geral, não
demandam tratamento
o 4ª etapa: estabelecer o significado
clínico. Uma avaliação clínica cuidadosa,
incluindo pesquisa para sintomas e
sinais clínicos de tireotoxicose, história
médica detalhada, particularmente
sobre potenciais comorbidades ou
consequências do HiSC (ECO-Doppler,
Holter-ECG, transaminases hepáticas e
G-GT, cálcio, vitamina D, densitometria
óssea)
o 5ª etapa: tomada da decisão. Quando o
TSH for persistentemente <0,1 mU/ℓ
(HiSC grau II), o tratamento do HiSC é
fortemente recomendado em todos
indivíduos ≥65 anos de idade para evitar
o risco de FA, DAC e mortalidade por
DAC e de fraturas. Em paciente <65 anos
com HiSC grau II, o tratamento é
recomendado se houver sintomas de
355
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hiperprolactinemia • Outras causas: hipotireoidismo primário, etilista


crônico (devido à hepatopatia, que diminui a
A prolactina é o único hormônio hipofisário que não tem
degradação do estrógeno, estimulando a
um liberador hipotalâmico, mas possui um inibidor - a
produção de prolactina e disfunção erétil),
dopamina - que é produzida na eminência média e
insuficiência renal crônica (o ambiente urêmico
através da haste hiposária, chega à hipófise e inibe a
diminui a produção e liberação de dopamina,
produção e secreção de prolactina.
que é um inibidor da prolactina)
Fatores de liberação de prolactina • Macroprolactina: é a prolactina circulante ligada
• TRH: no hipotireoidismo primário, pela ao seu anticorpo, que pode estar elevada sem
diminuição de T3 e T4, ocorre aumento na repercussão clínica, pois não consegue ligar no
produção de TSH e TRH, sendo esse produtor de seu receptor
prolactina – para correção, tratar o
hipotireoidismo
Manifestações clínicas
• Galactorreia
• VIP (peptídio vasoativo intestinal)
• Irregularidade menstrual
• Serotonina: antidepressivos inibidores da
recaptação de serotonina podem cursar com • A hiperprolactinemia inibe o GnRH, havendo
hiperprolactinemia (fluoxetina, sertralina) redução na produção de LH e FSH. Como
consequência, há hipogonadismo
• Estrogênio: a prolactina é liberada pelo
hipogonadotrófico
estrógeno. Durante o ciclo menstrual, há uma
fase logo após a menstruação em que estrógeno • A hiperprolactinemia estimula a enzima 3β-
e progesterona estão baixos e, na medida em hidroxi-esteroide-desidrogenase no córtex
que os dias passam, chegando na metade do adrenal (responsável pela produção de
ciclo, onde ocorre estímulo para nova ovulação, androgênios). Os androgênios podem ser
ocorre aumento dos níveis de LH e FSH, aromatizados no tecido adiposo periférico,
responsável pelo pico ovulatório. Em dando origem ao estrógeno, que aumenta a
consequência disso, há aumento do estrógeno produção de prolactina, reforçando a disfunção
pelo aumento do FSH, havendo também sexual
aumento da prolactina (por essa razão, sempre Diagnóstico
que for dosar prolactina em mulher em idade
• Dosagem de prolactina
fértil, é necessário coletar logo após o período
• RNM: padrão ouro
menstrual, entre o segundo e quinto dia do ciclo
menstrual) Tratamento
• Alimentação: também aumenta a prolactina, por • Agonista dopaminérgico: potencializa a inibição
isso é necessário estar em jejum para coletar da prolactina pela dopamina
• Estresse: é necessário noite de sono repousante o Após 6 meses de tratamento, realizar
para realizar a coleta novo exame de imagem. Na ausência de
identificação de tumor, pode-se tentar
Causas de hiperprolactinemia suspender a medicação
• Fisiológicas: a que acompanha o ciclo menstrual,
estresse, alimentação, atividade sexual – não
necessita de tratamento
• Farmacológicas: antipsicóticos (atípicos),
antidepressivos ISRS, metoclopramida (Plasil®),
metildopa (causa, também, disfunção erétil)
• Patológica: tumor produtor de prolactina. Esse
tumor costuma não ser grande, traz a
repercussão da hiperprolactinemia (e na mulher,
a irregularidade menstrual)

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Síndrome de Sheehan • Pode-se repor estrógeno se a paciente não tiver


útero e estrógeno e progesterona se tiver útero
Hipopituitarismo especial que ocorre no sexo feminino
que ocorre devido a uma necrose isquêmica da hipófise
no pós-parto ou periparto.

Na gestação, a hipófise duplica de volume e, devido ao


estrógeno, apresenta intenso suprimento sanguíneo. Se
a mulher apresenta algum tipo de hemorragia
gestacional (descolamento prematuro de placenta,
retenção placentária, discrasia sanguínea atonia
uterina), a hipófise sofre isquemia.

Resposta isquêmica dos eixos


• O primeiro eixo a responder pela isquemia é o do
GH. A participação do GH na mulher adulta não
consiste no cescimento, porém é um hormônio
hiperglicemiante, podendo levar a mulher a
apresentar hipoglicemia
• O segundo eixo mais sensível é o das
gonadotrofinas, fazendo com que a mulher
deixe de ovular e ter ciclo menstrual
(infertilidade e amenorreia)
• O terceiro eixo mais sensível é o do TSH, casando
hipotireoidismo central (diminuição do TSH e
consequente diminuição de T3 e T4), causando
cansaço, desânimo, sonolência, tendência a
ganho de peso, retenção hídrica, mixedema,
madarose. Se houver evolução, pode entrar em
coma mixedematoso
• O quarto eixo é o adrenal (ACTH). O ACTH faz
feedback negativo com glicocorticoide
(hiperglicemiante) e, portanto, essa paciente
acentuará a hipoglicemia, podendo levar a
quadro de como hipoglicêmico, o que pode levar
ao óbito
• O quinto eixo é o da prolactina

Diagnóstico
• Diminuição de todos os hormônios hipofisários,
inclusive na periferia

Tratamento
• Consiste na reposição dos hormônios
fundamentais: eixo tireoidiano e adrenal
• Deve-se começar pelo glicocorticoide até
compensar a paciente antes de realizar a
reposição de T4 para não causar coma
hipoglicêmico por catabolismo acentuado do
cortisol

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Insuficiência adrenal • Hipoplasia adrenal congênita (mutações no DAX-


1; mutações no SF-1)
A insuficiência adrenal (IA) pode ser primária ou
secundária e se manifestar clinicamente de maneira • Deficiência familiar de glicocorticoide
aguda ou crônica. • Síndrome de Kearns-Sayre
• Síndrome de Smith-Lemli-Opitz e outras na
A IA primária, ou doença de Addison (DA), resulta tanto síntese dos esteróis
de doenças que determinam a destruição de 90% ou
mais do córtex adrenal, como de condições que reduzem Doença de Addison autoimune
a síntese dos esteroides adrenais, levando à produção Embora possa ocorrer isoladamente, cerca de 60 a 70%
subnormal de cortisol, aldosterona e androgênios. dos pacientes com DA autoimune têm associados um ou
mais distúrbios autoimunes, endócrinos e não
A IA secundária decorre de comprometimento endócrinos, caracterizando as síndromes poliglandulares
hipofisário, com deficiência da secreção da corticotrofina autoimunes (SPA)
(hormônio adrenocorticotrófico, ACTH) ou hipotalâmico,
com deficiência da secreção do hormônio liberador da • A SPA-1: habitualmente, manifesta-se na
corticotrofina (CRH). infância (90% com idade média de 7,4 anos) e se
caracteriza pela tríade de hipoparatireoidismo
A deficiência crônica de ACTH decorre principalmente de (HPT), DA e candidíase mucocutânea crônica
sua supressão pelo uso continuado de corticosteroides, (CMC)
resultando em atrofia dos córtices adrenais. • A SPA-2, também conhecida como síndrome de
Schmidt, predomina no sexo feminino e os três
Etiologia da insuficiência adrenal primária
principais componentes da SPA-2 são: DA (em
• No Brasil, a adrenalite autoimune representa
100% dos casos), doença autoimune tireoidiana
atualmente o principal fator etiológico da DA.
(geralmente Hashimoto) e DM1 (em 28 a 50%)
Uma causa secundária importante é a
• A SPA do tipo 3 (SPA-3) inclui a associação de
tuberculose
DAT (tireoidite de Hashimoto, mixedema
Causas adquiridas idiopático, tireoidite silenciosa e doença de
• Atrofia adrenal “idiopática” (adrenalite Graves) a uma ou mais doenças autoimunes,
autoimune) descartando-se a DA, o hipoparatireoidismo e a
• Doenças granulomatosas: tuberculose, candidíase crônica
sarcoidose, hanseníase • A SPA-4 também é rara e se caracteriza pela
• Micoses: paracoccidioidomicose, histoplasmose, combinação de doenças autoimunes que não se
criptococose enquadram nas condições mencionadas
• Doenças virais: AIDS, citomegalovirose anteriormente. Por exemplo, DA associada a
• Fármacos: cetoconazol, etomidato, rifampicina, hipogonadismo, gastrite atrófica, anemia
fenobarbital perniciosa, doença celíaca, miastenia gravis,
• Doenças infiltrativo-neoplásicas: metástases vitiligo, alopecia, hipofisite etc., mas não às
(pulmão, mama, rim, melanoma), linfomas manifestações principais das outras SPA
• Doenças infiltrativo-metabólicas: amiloidose, (hipoparatireoidismo, candidíase mucocutânea
hemocromatose crônica, DAT ou DM1)
• Hemorragia adrenal: traumatismo, cirurgia, uso Doença de Addison de causa infecciosa
de anticoagulantes, síndrome antifosfolipídica
• A TB constitui, de modo geral, a segunda causa
primária, septicemia, metástases, trauma ao
mais comum de DA
nascimento
• O acometimento da glândula ocorre por
• Adrenalectomia bilateral
disseminação hematogênica da infecção, e uma
Causas genéticas doença extra-adrenal geralmente é evidente. O
• Hiperplasia adrenal congênita trofismo pela adrenal decorre da supressão da
• Adrenoleucodistrofias imunidade celular intraadrenal, determinada
pela elevada concentração intraglandular de
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

glicocorticoides, 20 a 40 vezes maior do que na pacientes com cânceres de pulmão ou mama


circulação periférica disseminados
• O hipocortisolismo resulta de destruição dos • Pode haver comprometimento adrenal em casos
córtices adrenais e sua substituição por extensos de linfomas, melanomas e metástases de
granulomas epitelioides e caseificação, o que carcinoma de rim, estômago e cólon
ocasiona aumento do volume glandular.
Posteriormente, surge fibrose, e as adrenais se
Doenças genéticas
mostram de tamanho normal ou reduzido, com • Adrenoleucodistrofia: a adrenoleucodistrofia
calcificação evidente em 50% dos casos (ALD) é uma doença recessiva ligada ao X, e
• Na síndrome da imunodeficiência adquirida constitui a terceira causa mais comum de IA em
(AIDS), as adrenais são as glândulas endócrinas indivíduos do sexo masculino, após a adrenalite
mais afetadas. Tal envolvimento pode ser autoimune e a TB/PCM
secundário a infecções oportunistas (TB, • Hiperplasia adrenal congênita: na hiperplasia
citomegalovírus, micobactérias atípicas, micoses adrenal congênita (HAC), a hipofunção do córtex
etc.), fármacos (rifampicina, cetoconazol etc.) e adrenal decorre da deficiência de enzimas
lesões metastáticas (sarcoma de Kaposi, envolvidas na biossíntese do cortisol. A forma
linfomas) mais comum é a deficiência da 21-hidroxilase ou
P450c21 (CYP21A2)
Fármacos • Hipoplasia adrenal congênita: a hipoplasia
• Medicamentos que inibem a esteroidogênese adrenal congênita (CAH) é um distúrbio familiar
adrenal (p. ex., cetoconazol, fluconazol, raro em que há hipodesenvolvimento do córtex
itraconazol, etomidato,) ou que aumentem a adrenal
depuração metabólica dos esteroides adrenais
(p. ex., rifampicina, fenitoína, fenobarbital etc.) Etiologia da insuficiência adrenal secundária
podem ser causa de IA primária. Entretanto, Causas adquiridas
apenas o fazem se administrados em altas doses • Iatrogênica: glicocorticoidoterapia crônica
ou se houver uma doença adrenal de base que (causa mais comum)
limite a reserva secretória da glândula • Neoplasias: adenomas hipofisários, metástases
• Anticoagulantes, como a heparina, e inibidores para hipófise ou hipotálamo, craniofaringioma,
da tirosinoquinase, como o sunitinibe, podem tumores do terceiro ventrículo etc.
levar a IA aguda por hemorragia adrenal • Traumatismo craniano
• Síndrome da sela vazia
Hemorragia adrenal
• Vascular/isquêmica: trombose vascular,
• IA aguda por hemorragia adrenal pode ocorrer
síndrome de Sheehan (necrose pós-parto),
no curso da síndrome de Waterhouse-
anticoagulação
Friderichsen, que resulta de choque séptico
• Pós-cirúrgica: hipofisectomia, correção de
causado por infecção por meningococo
aneurisma, lesão da haste hipofisária
• Sepse por outros microrganismos (p. ex.,
• Radioterapia para tumores selares e
Haemophilus influenzae, Pseudomonas
parasselares
aeruginosa, Escherichia coli, pneumococo etc.)
• Doenças infiltrativas: sarcoidose,
pode também levar a hemorragia adrenal
hemocromatose
• Além disso, a síndrome antifosfolipídica, que é
• Doenças infecciosas: meningite, encefalite,
caracterizada por múltiplas tromboses arteriais
tuberculose
e venosas, tem emergido como uma das causas
• Doenças autoimunes: hipofisite linfocítica
mais comuns de hemorragia adrenal
• Deficiência isolada de ACTH
Doença adrenal metastática • Anorexia nervosa
• Metástases tumorais para as glândulas adrenais
Causas genéticas
são comuns, ocorrendo em até 70% dos
• Deficiência congênita isolada de ACTH

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Pan-hipopituitarismo congênito IA crônica secundária


• Associada à síndrome de Prader-Willi • As manifestações clínicas da IA secundária
diferem em dois aspectos principais das
Quadro clínico observadas na DA: não há hiperpigmentação
• As manifestações clínicas da IA crônica decorrem cutaneomucosa (uma vez que os níveis de ACTH
tanto da deficiência de glicocorticoides (astenia, e outros peptídeos da POMC encontram-se
mal-estar, anorexia, perda de peso, náuseas, baixos ou normais) e estão geralmente ausentes
vômitos, hipotensão etc.), como de a depleção de volume e a desidratação, assim
mineralocorticoides (avidez por sal, como a hipercalemia (devido à preservação da
hipovolemia, hipotensão e hipotensão secreção de mineralocorticoides)
ortostática) e androgênios adrenais (redução da • O mesmo se aplica à hipotensão, exceto em
pilificação axilar e pubiana, em mulheres) apresentações agudas
• Na IA secundária, habitualmente não há
deficiência mineralocorticoide porque o sistema IA aguda/Crise adrenal ou crise addisoniana
renina-angiotensina está intacto e mantendo a • Aproximadamente 25% dos pacientes com DA
secreção de aldosterona; contudo, pode haver apresentamse, na ocasião do diagnóstico, com
hiponatremia por redução do clearance de água uma crise adrenal estabelecida ou iminente. Essa
livre, devido ao hipocortisolismo apresentação é bem menos comum na IA
secundária
IA crônica primária • Crise addisoniana pode ser observada em
• Para que a DA se manifeste clinicamente, é portadores de insuficiência adrenal crônica,
preciso que pelo menos 90% do tecido expostos ao estresse de infecções, cirurgia ou
adrenocortical seja destruído desidratação (por privação de sal, diarreia ou
• Nas formas autoimunes e infiltrativas, essa vômitos), seja por falta do diagnóstico prévio da
destruição habitualmente é gradual e doença, seja porque não se fez o ajuste
progressiva. Posteriormente, tanto nas formas adequado da dose do glicocorticoide, necessário
autoimunes quanto nas infiltrativas, há um para essas situações. Pode, também, ser
estágio de deficiência parcial de glicocorticoides precipitada pela reposição isolada de hormônios
que se expressa por aumento inadequado do tireoidianos em indivíduos com hipotireoidismo
cortisol em resposta ao estresse e, raramente, e hipocortisolismo, bem como pelo uso de
por hipoglicemia pós-prandial inibidores da esteroidogênese adrenal
• Nos processos hemorrágicos e septicêmicos, a (cetoconazol, mitotano, metirapona,
destruição do córtex adrenal geralmente é mais aminoglutetimida etc.), quando usados em
rápida e a sintomatologia se apresenta de modo doses elevadas ou administrados a pacientes
agudo, caracterizando a crise adrenal com reserva funcional das adrenais reduzida
• Principais sintomas e sinais da doença de • Frequentemente, os pacientes se apresentam
Addison: com choque ou hipotensão, associado a outros
o Fraqueza, astenia e anorexia sintomas inespecíficos, tais como anorexia,
o Sintomas gastrintestinais náuseas, vômitos, dor abdominal (podendo
o Náuseas simular um abdome agudo), distensão
o Vômitos abdominal, fraqueza, apatia, confusão mental
o Constipação intestinal (podendo progredir para coma), febre
o Dor abdominal (secundária à infecção ou ao hipocortisolismo
o Avidez por sal per se), cianose ou palidez. Caso haja
o Perda de peso hiperpigmentação, ela pode ser útil para o
o Hiperpigmentação diagnóstico
o Hipotensão (PA sistólica < 110 mmHg)

360
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Diagnóstico da insuficiência adrenal crônica hipoglicemia induzida pela insulina ou teste de


tolerância à insulina (ITT)
Exames laboratoriais
Dosagem do cortisol sérico basal Teste da hipoglicemia induzida pela insulina ou teste da
• O cortisol sérico (CS), coletado entre 8 e 9h, deve tolerância à insulina Indicação
ser o primeiro exame a ser solicitado • O ITT está indicado para pacientes com suspeita
• Seu valor normal (VN), na maioria dos ensaios, é de IA secundária franca ou parcial (baixa reserva
de 5 a 25 mg/dℓ. Enquanto níveis <5 mg/dℓ são hipofisária)
indicativos de insuficiência adrenal, valores ≥18 • O ITT consiste na dosagem do CS basal e 30 e 60
mg/dℓ virtualmente excluem esse diagnóstico minutos após a administração por via
• A confirmação diagnóstica dos casos suspeitos intravenosa de insulina Regular (0,05 U/kg). Esse
com CS matinal >5 e <18 μg/dℓ vai requerer a teste baseia-se na capacidade de a hipoglicemia
dosagem desse hormônio durante o teste de induzir uma resposta de estresse do sistema
estimulação rápida com o ACTH sintético ou nervoso central (SNC) e aumentar a liberação do
outros testes dinâmicos CRH e, consequentemente, a secreção de ACTH
e cortisol
Dosagem do ACTH plasmático
• A resposta normal do CS é um pico >18 mg/dℓ.
• Na presença de níveis reduzidos de cortisol
Sua detecção descarta IA e baixa reserva
sérico (<5 μg/dℓ), valor de ACTH plasmático
hipofisária; contudo, é necessário que a glicemia
acima de duas vezes o limite superior da
caia para menos de 40 mg/dℓ para que o teste
normalidade é altamente indicativo de DA
possa ser interpretado corretamente
• Na DA, os níveis do ACTH plasmático quase
sempre excedem 100 pg/mℓ (VN: < 46 pg/mℓ) Teste do glucagon
• Concentração elevada de ACTH na presença de • Trata-se de um teste seguro, caso o ITT esteja
níveis normais de cortisol pode ser o primeiro contraindicado
sinal da fase precoce da IA primária. Na • Administra-se 1 mg de glucagon (1,5 mg no
insuficiência adrenal secundária, os valores do obeso) por via subcutânea, e o cortisol é dosado
ACTH são baixos (geralmente <10 pg/mℓ ou no com 0, 90, 120, 150, 180 e 240 minutos
limite inferior da normalidade [entre 10 e 20 • Os critérios para a resposta do cortisol são os
pg/mℓ]) mesmos esperados com o ITT

Teste de estimulação rápida com ACTH Teste do CRH


• Após coleta de amostra para o CS, administram- • Diferentemente do teste da metirapona, o teste
se por via intravenosa 250 μg (0,25 mg) de com CRH possibilita a distinção entre causas
tetracosactida ou cosintropina (Cortrosina®, primárias e secundárias. Pacientes com IA
Synachten® etc.), e dosa-se novamente o CS primária têm níveis elevados de ACTH que
após 30 e 60 minutos aumentam ainda mais após o CRH. Em contraste,
• Uma resposta normal à Cortrosina® (pico de o ACTH não responde ao estímulo com CRH na IA
cortisol >18 mg/dℓ) exclui IA primária e franca e secundária
IA secundária com atrofia adrenal. Não descarta, • Em uma série, um pico do cortisol pós-CRH ≤14
contudo, a possibilidade de uma deficiência leve mg/dℓ mostrou alta especificidade (96%), mas
ou recente (até 4 semanas) de ACTH baixa sensibilidade (76%) no diagnóstico de IA
• Um pico de cortisol <18 mg/dℓ confirma o
diagnóstico de IA, mas não discrimina se o Tratamento da crise adrenal
problema é adrenal ou hipotalâmicohipofisário, Medidas gerais
dilema esse facilmente resolvido pela dosagem • Coletar amostra de sangue para hemograma,
do ACTH plasmático dosagens bioquímicas e hormonais (cortisol e
• Para os casos de IA secundária leve ou recente, ACTH)
o melhor exame confirmatório é o teste da

361
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Corrigir depleção de volume (com solução


glicofisiológica), desidratação, distúrbios
eletrolíticos e hipoglicemia
• Tratar a infecção ou outros fatores precipitantes

Reposição de glicocorticoides
• Administrar hidrocortisona, 100 mg IV
inicialmente, seguidos de 50 mg IV de 4/4 ou 6/6
h, durante 24 h. Depois, reduzir a dose
lentamente nas próximas 72 h, administrando a
medicação a cada 4 ou 6 h IV
• Quando o paciente estiver tolerando alimentos
VO, passar a administrar o glicocorticoide VO e,
se necessário, adicionar fludrocortisona (0,1 mg
VO)

Tratamento de manutenção da insuficiência


adrenal (IA) crônica
• Prednisona ou prednisolona 3 a 5 mg/dia VO
(dividida em 1 a 2 doses): 3/4 às 7 ou 8h e 1/4 às
14h ou
• Hidrocortisona 10 a 20 mg às 7 ou 8h, 5 mg às 12
ou 13h, e 2,5 a 5 mg às 17 ou 18h VO, ou 5,5
mg/m2 de superfície corpórea
• Fludrocortisona: 0,05 a 0,2 mg às 8h VO
• Deidroepiandrosterona (DHEA) 25 a 50 mg/dia
VO (apenas para mulheres)

362
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Síndrome de Cushing Aspectos clínicos


A síndrome de Cushing (SC) é a condição resultante da • Entre as manifestações clássicas associadas à
exposição prolongada a quantidades excessivas de síndrome de Cushing (SC) incluem-se ganho de
glicocorticoides. Pode ser fruto da administração peso, letargia, fraqueza, irregularidades
terapêutica prolongada de glicocorticoides (SC exógena menstruais, perda da libido, hirsutismo, acne,
ou iatrogênica) ou, bem menos frequentemente, da estrias cutâneas purpúricas, miopatia proximal,
hiperprodução crônica de cortisol (SC endógena). disfunção erétil e distúrbios psiquiátricos (p. ex.,
depressão, ansiedade e, mais raramente,
A SC pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas é mais psicose)
comum em adultos, e predomínio no sexo feminino • Problemas associados, como hipertensão e
(3:1). diabetes melito, são comuns e podem ser o
motivo que leva os pacientes a procurar
Etiologia
assistência médica
As causas da SC dividem-se em duas categorias, de
• Sinais como “giba de búfalo” (aumento da
acordo com os níveis do ACTH circulante: ACTH-
gordura retrocervical), obesidade e hirsutismo
dependentes (71 a 80% dos casos) e ACTH-
são pouco úteis na distinção entre a SC e os
independentes (20 a 29% dos casos)
estados de pseudo-Cushing. Entretanto,
Síndrome de Cushing ACTH-dependente equimoses surgidas espontaneamente ou aos
A síndrome de Cushing ACTH-dependente ocorre mínimos traumatismos (consequentes ao
quando o hipercortisolismo se origina da secreção adelgaçamento da pele e ao aumento da
excessiva de ACTH. Em cerca 80 a 90% dos pacientes, o fragilidade capilar), miopatia proximal
fator etiológico é um adenoma hipofisário secretor de (afetando, sobretudo, os membros inferiores) ou
ACTH. Os casos restantes decorrem da secreção ectópica estrias violáceas ou purpúricas mais largas do
de ACTH ou, bem mais raramente, do hormônio que 1 cm tornam a possibilidade diagnóstica de
liberador da corticotrofina (CRH) SC bastante elevada em um paciente com
obesidade central
Doença de Cushing
• Algumas características, tais como aumento na
• A DC resulta, na grande maioria dos casos, de um pressão intraocular, catarata, hipertensão
microadenoma (diâmetro <10 mm) hipofisário intracraniana benigna, necrose asséptica da
secretor de ACTH cabeça do fêmur, osteoporose e pancreatite, são
Síndrome do ACTH ectópico mais comuns na SC iatrogênica do que na SC
• SAE pode se originar de diversos tumores; endógena, enquanto outras características,
porém, provavelmente, a causa mais comum é o notadamente hipertensão, hirsutismo e
carcinoma pulmonar de células pequenas. oligomenorreia/amenorreia, são menos
Outras causas bem documentadas são os prevalentes na SC iatrogênica
carcinoides tímicos e, menos comumente, os
Diagnóstico
carcinoides de outros órgãos (vesícula, fígado,
• Diante da suspeita clínica de SC, deve-se, de
intestino delgado, cólon etc.), o
início, descartar o uso de glicocorticoides (por
feocromocitoma, o carcinoma de ilhotas
qualquer via de administração), frequentemente
pancreáticas e o carcinoma medular da tireoide
omitido pelos pacientes
(CMT)
• A investigação da SC endógena inclui duas
Síndrome de Cushing ACTH-independente etapas: confirmação do hipercortisolismo e
Distúrbios adrenais definição de sua etiologia
• Em geral, são causados por um adenoma (cerca • Os três principais instrumentos diagnósticos
de 80%) ou, menos comumente, um carcinoma atualmente empregados para estabelecer o
produtor de cortisol diagnóstico de SC são os testes de supressão
com dexametasona (DST) em baixas doses, a
dosagem do cortisol salivar ao final da noite
363
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

(LNSC) e a medida do cortisol livre urinário (em entre 3 e 4h da manhã, alcançando pico entre 7
amostra de 24 horas) e 9h, quando, a partir daí, caem ao longo do
resto do dia. Os valores do cortisol sérico e
Testes de supressão com doses baixas de salivar espelham tal fato, sendo os níveis mais
dexametasona altos das 8 às 9h da manhã, e seu nadir em torno
• Estes testes visam demonstrar a perda da da meia-noite, na ausência de estresse
inibição por retroalimentação (feedback) do • Esse ritmo circadiano está alterado em pacientes
cortisol normal sobre o eixo HHA, tipicamente com síndrome de Cushing, e foi relatado que a
observada na síndrome de Cushing elevação do cortisol ao final da noite é
• Dois tipos de testes são mais empregados: considerada o mais precoce e mais sensível
supressão noturna com 1 mg de dexametasona marcador da enfermidade
(1 mg-DST) e administração de 2 mg (0,5 mg a • Essa diferença de comportamento dos níveis do
cada 6 horas) durante 48 horas (2 mg-DST), cortisol forma a base para a medida do cortisol
denominado no passado de teste de Liddle 1 sérico à meia-noite e do cortisol salivar (CSa)
Teste da supressão noturna pela dexametasona entre 23h e meia-noite
• Administra-se 1 mg de dexametasona (DMS) às • O CSa deve ser coletado entre 23h e meia-noite.
23h por via oral (VO), com dosagem do cortisol Existem várias maneiras de se coletar o cortisol
sérico (CS) na manhã seguinte às 8h salivar. Uma das mais acessíveis é a utilização de
• Classicamente, um valor do CS <1,8 μg/dℓ (50 tubos plásticos com algodão específicos para a
nmol/ℓ) descarta o hipercortisolismo, enquanto coleta de saliva (Salivette®), os quais
um valor >5 μg/dℓ (138 nmol/ℓ) é altamente possibilitam uma coleta fácil e limpa
sugestivo • Níveis de cortisol salivar ao final da noite (LNSC
>350 ng/dℓ [> 12,7 nmol/ℓ]), o diagnóstico de SC
Teste de supressão com 2 mg de dexametasona parece ser bastante provável
• Administra-se 0,5 mg de DMS a cada 6 horas (às • Por outro lado, valores < 150 ng/dℓ (< 5,4
9h, 15h, 21h e 3h) durante 48 horas. O sangue é nmol/ℓ) tornariam improvável esse diagnóstico
coletado para dosagem do CS antes e depois de • Outros autores adotam valores do LNSC >2 vezes
24 e 48 horas (6 horas após a última tomada de o LSN como indicativos de SC
DMS)
• Em indivíduos normais, o valor do cortisol sérico Definição da etiologia do hipercortisolismo
deve cair para menos de 1,8 μg/dℓ (50 nmol/ℓ) • Após a confirmação da síndrome de Cushing, o
após 24 e/ou 48 horas. Valores maiores são próximo passo é, na vigência de
bastante indicativos de SC hipercortisolemia, medir o ACTH plasmático
• O valor normal do ACTH plasmático é de até 46
Dosagem do cortisol livre urinário pg/mℓ, com o ensaio imunométrico
• Obtém-se a dosagem do cortisol livre urinário quimioluminescente. Tipicamente, entre 8h e 9h
(UFC) analisando-se uma amostra urinária de 24 da manhã, o ACTH se encontra suprimido (<10
horas, em que é incluída a segunda micção do pg/mℓ) nos tumores adrenais, elevado na SAE e
dia em que a coleta é iniciada até a primeira do normal (em, aproximadamente, 50% dos casos)
dia seguinte ou modestamente elevado na doença de
• Valores excedendo em quatro vezes o limite Cushing
superior da normalidade (LSN) praticamente • Níveis de ACTH >20 pg/mℓ (4 pmol/ℓ) indicam,
apenas ocorrem na SC confiavelmente, uma causa ACTH-dependente
Dosagem do cortisol salivar no final da noite • Diante da detecção de um ACTH <10 pg/mℓ (em,
• A secreção do cortisol é caracterizada por uma pelo menos, duas ocasiões), indicativo de
ritmicidade circadiana. Em indivíduos saudáveis hipercortisolismo de origem adrenal, deve-se
com estáveis ciclos sono–vigília convencionais, fazer avaliação por imagem das adrenais, por
os níveis plasmáticos de ACTH começam a subir meio de tomografia computadorizada (TC)

364
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Testes dinâmicos não invasivos • O teste consiste na administração por via


Teste de supressão com dose alta de dexametasona intravenosa de 10 μg (2,5 ampolas) da
• Os adenomas corticotróficos retêm tipicamente desmopressina (DDAVP® – ampolas de 1 mℓ com
alguma resposta aos efeitos supressivos dos 4 μg). O cortisol sérico e o ACTH plasmático são
glicocorticoides, enquanto os tumores que dosados antes (–30 e –15 min) e depois da
causam a síndrome do ACTH ectópico e os desmopressina (0, 15, 30, 45 e 60 min)
tumores adrenais não costumam fazer isso • Elevação de 20% ou mais no CS e de 35% ou mais
• Atualmente, o teste mais empregado é o teste no ACTH indica DC
com supressão noturna, em que 8 mg de DMS
Testes dinâmicos invasivos
são administrados às 23h, em dose única, com
Cateterismo bilateral dos seios petrosos inferiores
dosagem do CS às 8h ou 9h da manhã seguinte
• É o teste mais confiável na diferenciação entre
• Classicamente, supressão do CS >50% com
fontes hipofisárias e não hipofisárias de ACTH. O
relação ao valor basal indica doença de Cushing,
efluente hipofisário drena para o interior dos
enquanto supressão <50% sugere SAE ou tumor
seios petrosos via seios cavernosos e, portanto,
adrenal
um gradiente entre o valor do ACTH plasmático
Teste do CRH obtido nesse local e o de uma amostra
• Este teste baseia-se no fato de que a maioria dos plasmática periférica simultânea indica uma
corticotropinomas responde à administração do fonte central de ACTH
CRH com uma elevação significativa do ACTH e • Coletam-se as amostras basais e administra-se
do cortisol plasmático. Tal resposta é rara com CRH (1 μg/kg IV), obtendo-se amostras
os tumores ectópicos produtores de ACTH adicionais na periferia e no seio petroso após 1,
• Administram-se 100 μg (ou 1 μg/kg) de CRH em 3, 5 e 10 minutos
dose única intravenosa, em bolus, e dosam-se o • Um gradiente entre o ACTH basal central e o
cortisol sérico e o ACTH plasmático nos tempos: ACTH basal periférico >2:1 ou um gradiente
–5, –1, 15, 30 e 45 min estimulado >3:1 é indicativo de DC. Gradientes
• Diferentemente da SAE, na doença de Cushing menores indicam SAE
tipicamente observa-se uma excessiva elevação
Exames de imagem
do CS e ACTH após o CRH
o ACTH: aumento de, pelo menos, 35% no Ressonância magnética da hipófise
valor médio de 15 e 30 minutos em • A RM da sela túrcica deve ser realizada em todo
relação ao valor médio basal (–5 e –1 paciente com SC ACTH-dependente
min) • Em 10% da população adulta saudável
o Cortisol: aumento ≥20% nos valores submetida à RM de crânio, observa-se um
médios de 30 e 45 minutos sobre a microadenoma (geralmente <6 mm),
média do basal (tempos –5 e –1 min) caracterizando os chamados incidentalomas
hipofisários. Por isso, os exames de imagem
Teste da desmopressina devem sempre ser interpretados no contexto da
• A desmopressina é um análogo sintético da avaliação bioquímica previamente realizada
vasopressina (outro importante regulador da • O achado de um macroadenoma hipofisário
secreção do ACTH) que tem alta afinidade pelos (diâmetro >10 mm) praticamente confirma o
receptores V2 renais e os receptores V2/V3 nos diagnóstico
adenomas corticotróficos. Assim, a
desmopressina induz uma significativa elevação Tratamento
do cortisol e do ACTH na grande maioria dos • Para a grande maioria dos pacientes com DC, a
pacientes com DC, ao passo que esse tipo de adenomectomia seletiva por via transesfenoidal
resposta é bem menos frequente em deprimidos continua sendo o tratamento de escolha
e obesos

365
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Hiperaldosteronismo retenção hidrossalina inicial, o aumento da


pressão arterial estimula a natriurese pressórica
O hiperaldosteronismo primário ocorre quando há
e a liberação de peptídeo atrial natriurético.
produção excessiva de aldosterona pela suprarrenal, de
Assim, o rim do paciente aumenta a eliminação
maneira independente da estimulação normal pelo
de sódio e água, impedindo a formação do
sistema renina-angiotensina. Deve ser diferenciado do
edema
hiperaldosteronismo secundário, decorrente de um
• Complicações cardiovasculares (ex.: IC, AVE,
estímulo fisiológico à secreção de aldosterona, como
DRC) são mais frequentes no
acontece na vigência de redução do volume circulante
hiperaldosteronismo primário do que na HAS
efetivo (ex.: ICC, hipovolemia).
idiopática, mesmo para um nível idêntico de
Os níveis de renina permitem separar esses subtipos de hipertensão arterial. O motivo é o efeito tóxico
hiperaldosteronismo. No tipo “primário” há supressão direto da própria aldosterona nos tecidos
da renina (feedback negativo) e no tipo “secundário” há • Fraqueza muscular pode ser vista por causa da
hiper-reninemia. hipocalemia grave
• A deficiência de potássio também provoca lesão
O excesso de aldosterona exacerba a reabsorção de
nos túbulos renais (proximal = nefropatia
sódio no túbulo coletor, levando à hipervolemia e,
hipocalêmica vacuolar/distal = diabetes insípido
consequentemente, à hipertensão arterial. O
nefrogênico), resultando em poliúria e
hiperaldosteronismo também aumenta a excreção renal
polidipsia, além de tendência ao agravamento
de potássio e hidrogênio. O resultado final é
da própria hipocalemia
hipocalemia, um dos marcos da síndrome, associada à
alcalose metabólica. Exames complementares
Etiologia • Potássio: um dos achados mais clássicos do
hiperaldosteronismo primário é a hipocalemia,
• As principais causas de aldosteronismo primário
com níveis de potássio comumente <3 mEq/L
são o Adenoma Produtor de Aldosterona (APA) e
• Sódio: alguns doentes apresentam leve
a Hiperplasia Adrenal Bilateral Idiopática (HAI),
hipernatremia, principalmente nos casos que se
que atualmente representa a principal etiologia
acompanham de nefropatiahipocalêmica (a
• Outras causas menos frequentes são: hiperplasia
poliúria promove perda hídrica)
adrenal unilateral, carcinoma adrenal, produção
• Albuminúria: também pode haver
ectópica de aldosterona (por tumores de
microalbuminúria ou franca proteinúria
ovário), hiperaldosteronismo supressível por
(nefropatia hipertensiva), e até 15% dos casos
glicocorticoides e hiperaldosteronismo familiar
evolui com algum grau de azotemia
• A ingestão crônica de grandes quantidades de
• ECG: pode mostrar sobrecarga do ventrículo
substâncias contendo alcaçuz (ácido glicirrízico),
esquerdo (pela HAS) e presença de ondas U
como certos doces e tabacos, cursa com
proeminentes (pela hipocalemia). Extrassístoles
hipertensão e alcalose hipocalêmica, devido ao
atriais/ventriculares são comuns, assim como
efeito inibitório deste alcaloide sobre a enzima
episódios de taquiarritmia
11-β-hidroxiesteroide desidrogenase
• Finalmente, uma causa de hiperplasia adrenal Diagnóstico
congênita, a deficiência de 17-α-hidroxilase,
Indicações de realizar o rastreio
cursa com aumento da produção suprarrenal de
mineralocorticoides

Manifestações clínicas
• A principal é a hipertensão arterial, geralmente
grave e refratária
• Curiosamente, ao contrário do que seria
esperado, tais pacientes NÃO costumam
apresentar edema periférico, pois após a
366
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Em indivíduos normais, a expansão volêmica


promove queda na produção de aldosterona
(CAP < 5 ng/dl). Por outro lado, nos portadores
de HAP, a aldosterona plasmática não se altera
ou cai muito pouco (permanecendo com a CAP >
10 ng/dl)

Teste de supressão com captopril


• Administra 50 mg de captopril ao paciente
deitado e mede-se a aldosterona e ARP basal e
após duas horas
• O teste é positivo se ocorre ausência de
supressão da aldosterona (redução < 10% do
basal) ou aldosterona plasmática pós-teste > 5
Rastreamento bioquímico ng/dl
• No método tradicional, dosa-se a Concentração
de Aldosterona Plasmática (CAP) e a Atividade Teste com fludrocortisona
de Renina Plasmática (ARP), entre 8 e 10 horas • Administra-se 0,1 mg de fludrocortisona, de
da manhã, tendo o paciente corrigido 6/6h e durante quatro dias, medindo-se a
previamente a hipocalemia com reposição de aldosterona plasmática basal e após quatro dias
potássio. É obrigarório interromper o uso de • A ausência de supressão da aldosterona é
espironolactona pelo menos 4 semanas antes de caracterizada pelos mesmos parâmetros do
dosar a relação. De posse dos resultados, teste com captopril
determina-se a relação CAP/ARP Diagnóstico por Imagem
o Relação <30, com CAP >12 ng/dl e ARP
• Após confirmação laboratorial do
>1 ng/ml/h DESCARTA o diagnóstico
hiperaldosteronismo, o próximo passo é
o Relação >50, com CAP >20 ng/dl e ARP
estabelecer a etiologia
<0,1 ng/ml/h CONFIRMA o diagnóstico
• O primeiro exame a ser solicitado então é a TC
o Relação entre 30 e 50 indica a
de alta resolução do abdome superior, que
necessidade de testes adicionais
diferencia entre hiperplasia adrenal bilateral e
Testes de confirmação adenoma/carcinoma unilateral. Lesões > 4 cm já
Teste da sobrecarga ORAL de sódio são sugestivas de carcinoma
• Realizado pelo acréscimo de 3 g de NaCl em cada • Alguns portadores de lesão unilateral (sugerindo
uma das três refeições diárias, por três dias adenoma) na verdade possuem hiperplasia
consecutivos. No terceiro dia, coleta-se uma bilateral assimétrica! Na suspeita de casos assim,
urina de 24h para dosagem de aldosterona, devemos realizar a dosagem de aldosterona nas
sódio e creatinina veias adrenais. A cateterização percutânea
transfemoral permite a coleta de sangue de
• Aldosterona urinária >12 mcg/24h, na presença
ambas as suprarrenais para a dosagem de
de excreção urinária de sódio compatível com
aldosterona e cortisol. Uma relação
“sobrecarga salina” (Na+ urinário > 200-250 mEq)
aldosterona/cortisol >4:1 indica
é compatível com HAP
hiperaldosteronismo proveniente daquele lado
Teste da sobrecarga INTRAVENOSA de sódio (se os dois lados forem positivos, trata-se de
• Realizado através da infusão de 2 L de SF 0,9% IV hiperplasia bilateral)
em quatro horas, com o paciente deitado. A
concentração de aldosterona plasmática deve Tratamento
ser obtida antes e depois da expansão Adenoma adrenal
intravascular • O tratamento é cirúrgico, por meio da
adrenalectomia unilateral por via laparoscópica
367
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Devemos no pré-operatório corrigir o potássio


sérico, por meio de suplementos, e iniciarmos a
espironolactona em altas doses, 300-400 mg/
dia (controle da PA), no intuito de diminuirmos
as complicações anestésicas. Podemos ainda
associar a amilorida na dose de 20-40 mg/dia

Hiperplasia adrenal idiopática


• O tratamento de escolha da hiperplasia adrenal
idiopática é medicamentoso. A droga
recomendada é a espironolactona (100-400
mg/dia)
• A restrição de sódio, a manutenção do peso ideal
e a prática de atividade física regular constituem
outras medidas adequadas

368
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Endocardite infecciosa Etiologia


A endocardite infecciosa (EI) é uma doença causada por A principal causa, no geral, é o Staphylococcus aureus
microrganismos que se aderem à superfície endotelial do • Endocardite subaguda em valva nativa:
coração. As estruturas mais suscetíveis são as válvulas Streptococcus viridans; enterococos
atrioventriculares, podendo também ocorrer no • Endocardite aguda em valva nativa:
endocárdio dos átrios, ventrículos e grandes vasos. Staphylococcus aureus; Streptococcus
A lesão endotelial é o primeiro evento para o pneumoniae
aparecimento da endocardite. O turbilhonamento do • Bactérias Gram-negativas, fungos e bactérias do
sangue que ocorre nas valvopatias ou outras patologias grupo HACEK (Haemophilus, Actinobacillus,
funciona como um gatilho inicial. Com a lesão, ocorre Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens,
agregação local de plaquetas e fibrina, resultando na Kingella kingae) são outros microrganismos que
endocardite trombótica não infecciosa, que, em podem causar EI (endocardite com
presença de uma bacteremia, proporciona a adesão do hemoculturas negativas – demoram 14-21 dias
microrganismo e a formação da vegetação. para crescimento em cultura)
• Os idosos hospitalizados devem ser
A mortalidade intra-hospitalar atual de pacientes com EI cuidadosamente investigados na presença de
é de 15-20%, aumentando para até 40%, após 1 ano do febre e bacteremia
diagnóstico.
Fatores de risco
Padrão epidemiológico • Prótese valvar (principal fator de risco individual)
• A maioria (cerca de 80%) dos casos de EI incide
• Uso de dorgas endovenosas (S. aureus)
em pacientes com fatores de risco como doença
• Doença cardíaca estrutural (lesão reumática,
cardíaca estrutural, prótese valvar cardíaca, uso
prolapso de valva mitral, cardiopatias
de drogas intravenosas, HIV/Aids, EI prévia,
congênitas, hipertrofia de septo
procedimentos invasivos intravasculares e
interventricualar, coarctação de aorta)
hemodiálise. Pacientes jovens com EI em geral
• Imunossupressão
são portadores de sequela valvar de febre
• Endocardite prévia
reumática, cardiopatia congênita ou são
• Má higiene dentária
usuários de drogas intravenosas
• Não realização de profilaxia para tratamentos
• Um maior número de casos tem sido observado
odontológicos
em idosos, pacientes institucionalizados/
hospitalizados e submetidos a procedimentos Quadro clínico
invasivos • A endocardite tem uma apresentação clínica
• Há diferenças geográficas na epidemiologia da muito variada, desde um indivíduo,
EI. Nos países em desenvolvimento, como o aparentemente saudável, com sudorese noturna
Brasil, em razão da alta incidência de portadores ocasional, emagrecimento e febre baixa até um
de sequela da febre reumática, cuidado paciente gravemente doente, com sepse ou
inadequado com a higiene dental e a deficiência choque séptico ou com sinais de embolização
ao acesso aos sistemas de saúde, a forma sistêmica (acidente vascular cerebral, infarto
subaguda da doença ainda é encontrada com esplênico ou renal)
frequência • A febre é o principal sintoma da EI e está
presente em mais de 80% dos casos. Costuma
ser associada a calafrios e sudorese
• O diagnóstico torna-se mais provável na
presença de sinais de insuficiência cardíaca e em
pacientes que apresentam fatores de risco
previamente citados, como: prótese valvar

369
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

cardíaca, doença cardíaca estrutural ou


congênita, cateteres entre outros
• As apresentações atípicas são mais frequentes
em idosos e em pacientes imunossuprimidos, e
a febre é menos comum quando comparada com
a população mais jovem

Exame físico
• Sopro cardíaco: novos sopros ou mudanças de
sopros prévios, principalmente no quadro agudo
• Hepatoesplenomegalia, principalmente na
forma subaguda
• Fenômenos embólicos: petéquias, nódulos de
Osler, lesões de Janeway, hemorragia
intracraniana, manchas de Splinter (hemorragias Definições da endocardite infecciosa
subungueais)
o Lesões de Janeway: lesões hemorrágicas
maculares ou nodulares nas regiões
palmares ou plantares (indolores)
o Nódulos de Osler: lesões nodulares
dolorosas nas palmas das mãos e plantas
dos pés (dolorosos)
• Fenômenos imunológicos: poliartralgia,
manchas de Roth (hemorragias retinianas com
palidez central), glomerulonefrite, nódulos de
Osler
• Sinais de insuficiência cardíaca

Diagnóstico - Critérios de Duke


A aplicação dos critérios de Duke resulta em três
categorias de diagnóstico: “definitiva”, “possível” ou
“rejeitada”

Exames complementares
• Exames laboratoriais de rotina: hemograma
completo (leucocitose e desvio à esquerda),
ureia, creatinina, glicose, eletrólitos,
coagulograma, proteína C-reativa e velocidade
de hemossedimentação
• Devem ser solicitadas três amostras de
hemoculturas puncionadas em veia periférica de
locais diferentes, com intervalo de
preferencialmente 60 minutos entre elas e antes
do início dos antibióticos
• A análise da urina pode mostrar hematúria,
proteinúria e até mesmo piúria causada pelas
370
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

alterações imunológicas da endocardite sobre os o Intermediária: entre 2 e 12 meses da


rins cirurgia
• À radiografia de tórax, podemos encontrar o Tardia: após 12 meses da cirurgia
aumento da área cardíaca, sinais de congestão
pulmonar, áreas de condensação Complicações
parenquimatosa refletindo possíveis focos • Complicações cardíacas: insuficiência cardíaca,
infecciosos, além de sinais de embolia pulmonar abcesso, fístula perivalvar e os fenômenos
séptica quando houver comprometimento da embólicos. A insuficiência cardíaca ocorre pela
valva tricúspide em pacientes usuários de drogas insuficiência valvar aguda ou crônica por conta
endovenosas da destruição da valva ou por obstrução valvar
• O eletrocardiograma nos auxilia no diagnóstico pelas vegetações. Como consequência, os
de manifestações cardíacas decorrentes de pacientes evoluem com falência cardíaca
complicações como a extensão da infecção por progressiva, congestão pulmonar e edema
abcesso de anel valvar aórtico que atinge o agudo de pulmão. Os fenômenos embólicos são
sistema de condução elétrica causando consequência da presença de vegetações
bloqueios atrioventriculares (BAVT), além de valvares, sendo mais comuns nas vegetações
sinais de isquemia miocárdica decorrente de maiores que 10 mm. Essas vegetações migram
embolia coronariana mais comumente para o sistema nervoso
• O ecocardiograma é uma das principais armas central, sobretudo através da artéria cerebral
diagnósticas e permanece como exame de média (90%)
primeira linha na identificação de alterações • Complicações extracardíacas: a sequela
estruturais nas valvas acometidas pela neurológica é a complicação extracardíaca mais
endocardite, além de quantificar o grau de frequente e ocorre em cerca de 20 a 40% dos
disfunção valvar e miocárdica. Solicita-se o ECO casos, levando a alta mortalidade. A insuficiência
transtorácico, reservando o transesofágico para renal aguda é uma complicação comum e ocorre
casos de dúvidas diagnósticas. Recomenda-se em torno de 30% dos pacientes, sendo um fator
repetir o ecocardiograma transesofágico a cada independente de mau prognóstico. Sua etiologia
7 a 10 dias se o resultado inicial foi negativo com é multifatorial (depósito de imunocomplexos,
manutenção de alta suspeita clínica e quando glomerulonefrite vascular, infarto renal,
aparecem novas complicações como mudança deteriorização hemodinâmica pela insuficiência
na característica do sopro, abscesso e fístulas cardíaca ou choque séptico, exposição a
intracardíacas circulação extracorpórea em cirurgia cardíaca,
nefrotoxicidade pela antibioticoterapia com
Classificação aminoglicosídeos e vancomicina ou por
• Valva nativa aguda: duração menor que 6 exposição a contraste em exames de imagem).
semanas. Apresenta-se desde o início com As terapias de substituição renal, como
significativa toxicidade, evoluindo rapidamente hemodiálise e diálise peritoneal, são necessárias
para destruição valvar e infecção metastática. O quando o tratamento conservador com
principal agente é o S. aureus hidratação adequada e ajuste da dose de
• Valva nativa subaguda: duração maior que 6 antibióticos é ineficaz. As complicações
semanas. Evolui de modo insidioso em semanas reumatológicas incluem sintomas
a meses, com discreta toxicidade e raras musculoesqueléticos (artralgia, mialgia e
manifestações sistêmicas. Os principais agentes lombalgia) e são umas das primeiras
são Streptococcus viridans, enterococos, manifestações da doença. Artrite periférica
estafilococos coagulase-negativos e bacilos ocorre em 14%, e espodilodistite entre 3 e 5%
gram-negativos dos casos. O tratamento auxiliar é feito com
• Valva protética: surge no pós operatório de analgésicos e anti-iflamatórios ou antibióticos
cirurgia de troca valvar nos casos de espondilite
o Precoce: menos de 2 meses da cirurgia
371
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Tratamento semanas e manutenção da penicilina por mais 14


• O tratamento antibiótico e a estabilização clínica dias
inicial, compõem o cerne do tratamento de • Pacientes portadores de EPV causada por
pacientes com endocardite infecciosa (EI) estreptococo sensível a penicilina devem
• A escolha deve ser guiada pelo microrganismo receber tratamento com penicilina por seis
identificado na hemocultura ou no material semanas, com ou sem a associação de
retirado durante a cirurgia gentamicina nas primeiras duas semanas
• Nos pacientes de maior gravidade, deve-se • Pacientes idosos ou com alteração da função
instituir precoce e empíricamente o tratamento renal e que apresentam EI não complicada
antimicrobiano podem ser tratados com penicilina por quatro
• O tratamento cirúrgico faz-se necessário em semanas, sem associação de aminoglicosídeo
cerca de 30% dos casos de pacientes com EI. As
principais indicações são muito conhecidas:
insuficiência cardíaca refratária, falha de
tratamento etiológico, extensão perianular
(abscesso de anel ou fístula), embolia de
repetição e endocardite fúngica

Tratamento clínico
• O tratamento medicamentoso com antibióticos
deve ser direcionado para o microrganismo
responsável pela infecção e encontrado na
hemocultura; todavia, quando a situação clínica
demanda um início de terapia imediato, antes do
isolamento do agente, esta deve ser direcionada
para os germes mais prováveis e prevalentes
• O sucesso do tratamento da EI depende da
instituição precoce e adequada do antibiótico,
cujo principal objetivo é erradicar os
microrganismos contidos na vegetação. Estes,
por sua vez, multiplicam-se bastante, tornam-se
metabolicamente dormentes e são difíceis de
erradicar. Por esses motivos, sugere-se que o
tratamento ideal da EI seja por meio de
antibióticos com atividade bactericida ou
combinações de tipos diferentes, em detrimento
ao uso de antimicrobianos com atividade
bacteriostática
• Além disso, a administração endovenosa do
antibiótico permite a obtenção de
concentrações séricas apropriadas, evitando-se
ainda a absorção potencialmente errática da
administração oral Enterococos
• Enterococos são resistentes às cefalosporinas e
Estreptococos
apresentam menor sensibilidade às penicilinas
• A EVN por estreptococos sensíveis é tratada
quando comparados aos estreptococos
habitualmente com a combinação de penicilina
• O tratamento ideal da EI causada por enterococo
ou ceftriaxone e um aminoglicosídeo por duas
requer uma interação bactericida sinérgica entre
um antibiótico direcionado contra a parede
372
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

celular bacteriana (penicilina, ampicilina ou evidência de que melhore a evolução clínica ou


vancomicina) e um aminoglicosídeo capaz de diminua o risco de complicações. O uso dessa
exercer um efeito letal (estreptomicina ou associação (aminoglicosídeo/oxacilina) é
gentamicina) sugerido por até cinco dias, em razão da
• A associação de ampicilina com altas doses de potencial nefrotoxicidade do aminoglicosídeo.
ceftriaxone mostrou-se eficaz (com taxa de Quando é verificada resistência do estafilococo a
sucesso equivalente), com menor risco de oxacilina, deve ser optado pelo emprego de
nefrotoxicidade, quando comparada com a vancomicina, cuja associação com
associação tradicional de penicilina ou aminoglicosídeo também apresenta efeito
ampicilina com aminoglicosídeo benéfico, apesar da nefrotoxicidade
• Em pacientes alérgicos a penicilina, recomenda- • As EPV causadas por S. aureus têm alta
se o uso de vancomicina associado a mortalidade e o tratamento tem por base a
aminoglicosídeo associação de três antibióticos (oxacilina ou
• O tratamento antibiótico deve ser administrado vancomicina + aminoglicosídeo + rifampicina)
por quatro a seis semanas, optando-se pelo o A retirada da rifampicina se dá após a
período mais prolongado nos casos de EPV ou de retirada do biofilme (substituição da
EVN associados a complicações (como valva acometida)
abscessos) ou à permanência dos sintomas por
pelo menos 3 meses. É mandatária a
monitorização cuidadosa da função renal e dos
níveis de aminoglicosídeos, objetivando-se a
prevenção da nefrotoxicidade e da
ototoxicidade

Estafilococos
• Staphylococcus aureus adquiridos na
comunidade são, em sua maioria, produtores de
betalactamase, sendo assim resistentes a
penicilina e a ampicilina; por outro lado, são
sensíveis à oxacilina
• Nos casos de EVN por estafilococos, a associação
de um aminoglicosídeo pode garantir um
benefício adicional de acelerar a erradicação dos
estafilococos no sangue, apesar de não haver
373
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Tratamento empírico
• É apropriada a instituição precoce e empírica de
antibioticoterapia em pacientes com EI suspeita
ou confirmada e em algum dos seguintes
critérios de pior evolução: EI altamente
destrutiva e rapidamente progressiva,
descompensação clínica (sinais de insuficiência
cardíaca) ou instabilidade hemodinâmica

Organismos do grupo HACEK


• Os microrganismos do grupo HACEK são, muitas
vezes, resistentes a ampicilina por produzirem
betalactamase. Por outro lado, são geralmente
suscetíveis a cefalosporinas de terceira ou
quarta geração
• Ceftriaxone ou outra cefalosporina em doses
comparáveis está recomendado como
tratamento de EVN ou EPV causada por esse Tratamento cirúrgico
grupo de microrganismos • As principais indicações de tratamento cirúrgico
na EI são bastante conhecidas: insuficiência
cardíaca refratária, falha de tratamento
etiológico, extensão perianular (abscesso de
anel ou fístula), embolia de repetição e
endocardite fúngica
• A cirurgia na EI tem a finalidade de remover o
tecido infectado, restaurar a função valvar e
Fungos
corrigir os eventuais defeitos, como abscessos
• Endocardites fúngicas têm alta mortalidade e
de anel ou fístulas
elevados índices de recidiva. A anfotericina B ou
suas formulações lipossomais permanecem Pacientes jovens
como melhor opção terapêutica para os casos • Válvula mecânica, desde que haja condição
onde é isolada Candida sp., associada a cirurgia social de realizar anticoagulação
precoce de substituição valvar
Pacientes idosos
• A manutenção de antifúngico oral, geralmente
• Válvula biológica
fluconazol, por longos períodos é sugerida para
pacientes que não puderam realizar a cirurgia de
substituição valvar por apresentarem elevado
risco cirúrgico ou por dificuldades técnico-
cirúrgicas, assim como para os pacientes que
foram submetidos a cirurgia valvar, em razão do
alto risco de recidiva dessa infecção

374
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Cuidados paliativos • Ortotanásia: morte no momento certo sem que


o paciente seja submetido à intervenções fúteis,
Cuidado paliativo é uma forma especializada de cuidado
desnecessárias, de manutenção de sinais vitais;
interdisciplinar, centrado no paciente e família, para
sem intervenção de abreviar a vida (praticado no
indivíduos com doenças graves com risco à vida, cuja
Brasil)
meta é melhorar a qualidade de vida dos pacientes,
frequentemente envolvendo manejo de alta qualidade Princípios
da dor e de sintomas, a clara comunicação a respeito das • Promover alívio da dor e outros sintomas
condições médicas e a combinação de metas de cuidados desconfortantes (dispneia, fadiga, náusea,
do paciente com os tratamentos adequados. vômito...)
Reconhece e tenta abordar as complexas necessidades • Afirmar a vida e considerar a morte um processo
multidimensionais dos idosos e suas famílias, inclunido normal da vida, confortar o paciente sobre a
aspectos sociais, psicológicos/emocionais, espirituais e questão da morte
médicos. • Não antecipar e nem postergar a morte
• Integrar aspectos psicossociais e espirituais ao
Em geral pode ser fornecido concomitantemente com cuidado (presença do capelão)
tratamentos para prolongar a vida e não depende do
• Oferecer um sistema de suporte que auxilie o
prognóstico.
paciente a viver tão ativamente quanto possível
Pilares bioéticos até a sua morte, permitindo ao paciente realizar
• Beneficência: obrigação ética de maximizar o suas pendências (visitar alguém, resolver
benefício e minimizar o prejuízo; ter convicção e pendências financeiras)
informação técnica que assegure ser o ato • Oferecer sistema de suporte para auxiliar os
médico benéfico ao paciente familiares durante a doença
• Não maleficência: evitar intervenções que • Melhorar a qualidade de vida do doente e
determinem desrespeito à dignidade do influenciar positivamente o curso da doença
paciente como pessoa • Iniciar o mais precoce possível para melhor
• Autonomia: respeito à verdade, não admissível a compreender e controlar situações clínicas
decisão médica isolada estressantes
• Justiça: distribuição justa de recursos; se o Aspectos psicológicos, espirituais e sociais
paciente está na fase de morte inevitável e são
• A colaboração ativa com os principais membros
oferecidos cuidados desproporcionais,
da equipe de cuidados paliativos, como
estaremos utilizando inadequadamente os
assistente social, capelão, enfermeiros e
recursos existentes que poderiam ser aplicados
auxiliares é altamente aconselhável para ajudar
a outros pacientes
a coordenar os cuidados, melhorar as transições
Conceitos entre ambientes e abordar as necessidades
• Eutanásia: proibida no Brasil, é a prática de multidimensionais dos pacientes e suas famílias
promover a morte sem sofrimento (homicídio • O suporte de membros da família e de
assistido) cuidadores informais também é um foco central
• Mistanásia: morte antes da hora, a qual pode do cuidado paliativo
ocorrer por omissão de socorro, erro médico, Comunicação, tomada de decisão e
negligência, imprudência e imperícia
planejamento de cuidados avançados
• Distanásia: obstrinação terapêutica; uso
• O iniciar as discussões sobre o planejamento dos
contínuo e persistente de medidas que
cuidados avançados, pode ser útil que os clínicos
sustentam a vida do paciente com doenças
comecem explorando as prioridades dos
avançadas, com prolongada manutenção dos
pacientes em termos de conforto, longevidade
sistemas vitais biológicos e consequente retardo
ou funcionalidade
da morte

375
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Como as metas e preferências mudam com o • Todavia, o autorrelato isolado costuuma ser
tempo, tais discussões devem ser consideradas insuficiente em indivíduos com
parte do diálogo continuado comprometimento cognitivo, sendo mister a
• Durante o curso dos cuidados de alguém com combinação do relato do paciente com o do
doença crônica progressiva, como o Alzheimer, é cuidador e a observação clínica direta
imperativo que as discussões ocorram • Escalas de descrição verbal, o termômetro da
precocemente dor ou Escalas Faciais de Dor podem ser usadas
• Dar notícias ruins, como uma doença com risco como aJternativas às escalas numéricas verbais
de morte ou falta de opção de tratamentos ou escalas análogas visuais, as quais podem ser
eficazes, pode ser difícil. Ao dar essas notícias, o difíceis de usar em indivíduos com estado
modelo SPIKES (organização, percepção, cognitivo diminuído
convite, conhecimento, empatia, resumo e • Sinais, observacionais de desconforto podem
estratégia) fornece uma estrutura para se incluir alterações na expressão facial.
preparar para conversas difíceis vocalizações, movimentos corporais, interações
o Organização (Setup): encontrar espaço sociais, padrões de atividade e estado mental
privado, preparar-se para algumas • O paraectamol deve ser considerado a terapia de
perguntas difíceis e emoções que primeira linha para dor leve, embora se deva ter
possam surgir no encontro o cuidado de não exceder a dose diára total de 3
o Percepção: começar perguntando o que gramas
paciente/família já sabem ou o que eles • Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)
acham que está acontecendo geralmente devem ser usados com cuidado em
o Convite (Invitation): explorar quanta idosos devido ao alto risco de efeitos colaterais,
informação o paciente/família precisa e como insuficiência renal, irritação gastrintestinal
deseja e piora da insuficiência cardíaca
o Conhecimento (Knowledge): apresentar • Os opioides são usados primariamente para dor
os fatos da situação em linguagem clara moderada a grave, embora terapias não
e de fácil compreensão e discutir fatos opioides como corticoides, anti-epilépticos,
desconhecidos antidepressivos e agentes tópicos como
o Empatia: reconhecer que essas são adesivos de capsaicina e lidocaína permaneçam
notícias difíceis de aceitar importantes terapias adjuntas de controle da
o Resumo e estratégia (Sumarize and dor
Strategize): revisar o que foi discutido, o A meperidina deve ser evitada em todos
incluindo qualquer decisão que foi os idosos, pois seus metabólitos
tomada, e falar sobre os próximos frcquentementc levam a efeitos
passos adversos neuroexcitatórios, como
delirium
Cuidados paliativos em ambientes de cuidado o Além disso, a morfina e a codeína devem
de longo prazo ser evitadas em pacientes que têm
Manejo dos sintomas história de insuficiência renal
Dor o Opioidcs de ação prolongada, como a
• A avaliação da dor em idosos começa com o morfina de liberação prolongada ou
relato do paciente. adesivos de fentanil transdérmico, são
• A história do paciente é o “padrão-ouro” para a úteis quando a dor é persistente para
avaliação e deve ser tentada em todos os garantir alívio contínuo da dor durante
pacientes independentemente do estado todo o dia, com um opioide adicional de
cognitivo, uma vez que aqueles com demência curta ação e liberação imediata para
moderada a grave podem ser capazes de fornecer alívio imediato da dor, quando
comunicar a presença e a gravidade da dor ncassário

376
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

o Se forem prescritos opioides, deve-se o Labirintite: anticolinérgico (prometazi-


manejar a constipação agressivamente na, escopolamina)
com laxantes estimulantes o Pressão intracraniana aumentada:
glicocorticoide (dexametasona)
Dispneia
• É caracterizada por uma respiração rápida, Delirium
forçada ou superficial • A avaliação do delirium no fim da vida deve
• O tratamento é direcionado à causa subjacente concentrar-se em causas reversíveis
da dispneia e é preferido se for conscistente com • Estratégias não farmacológicas para prevenir o
as metas de cuidados do paciente, podendo delirium permanecem importantes, incluindo a
incluir antibióticos para pneumonia ou frequente reorientação, promovendo atividades
furosemida para exacerbação de IC durante o dia e um ambiente noturno calmo,
• Há aumento no corpo de evidência de apoio ao evitando agentes que possam precipitar o
uso de opioides para aliviar a sensação de falta delirium, inclusive medicações anticolinérgicas
de ar, iniciando com baixas doses (2 mg de • Pequenas doses de antipsicóticos (p. ex,
morfina oral de liberação imediata) e titulando haloperidol, 0,5 mg) costumam ser eficazes para
para cima conforme necessidade reduzir a agitação nesses pacientes
• Oxigênio suplementar frequentemente fornece • O tratamento com benzodiazepínicos é menos
alívio significativo dos sintomas nos indivíduo eficaz, porque podem piorar a agitação em
hipoxêmicos, embora não pareça haver alguns indivíduos
benefício similar nos não hipoxêmicos
Luto e depressão
• Simples alterações ambientais podem ajudar os
• A tristeza é uma resposta emocional adaptativa,
pacientes a respirar mais facilmente: direcionar
universal e altamente personalizada às múltiplas
um ventilador à beira do leito e elevar a
perdas que ocorrem ao final da vida. Essa
cabeceira da cama
resposta costuma ser intensa logo no início após
Náuseas e vômitos a perda, mas o impacto da tristeza na vida diária
• A identificação da causa provável da náusea é geralmente diminui ao longo do tempo sem
fundamental para desenvolver uma terapia intervenção clínica
efetiva • A depressão maior, todavia, não é universal nem
• As medicações associadas com náusea em adaptativa, embora seja comum entre pessoas
populações idosas incluem opioides, com doença avançada. Sentimentos de profunda
antibióticos, antineoplásicos, vitaminas (zinco, falta de esperança desamparo, inutilidade,
ferro) e inibidores da acetilcolinesterase culpa, falta de prazer e ideação suicida são
• Medicações antieméticas podem dar alívio fundamentais para distinguir a depressão da
sintomático à náusea tristeza
o Inflamação intestinal, quimioterapia: • Tanto a terapia cognitiva quanto os
antagonista do receptor de serotonina antidepressivos são tratamentos eficazes para
(ondansetrona) redução dos sintomas e melhora da qualidade de
o Tóxica/metabólica (inclusive induzida vida daqueles com depressão
por opioides): antagonista da dopamina
Fadiga e sonolência
(metoclopramida, haloperidol)
• Causas comuns incluem efeitos diretos de
o Obstrução intestinal maligna:
doenças avançadas e/ou seus tratamentos,
antagonista da dopamina +
anemia, hipoxemia, descondicionamento,
glicocorticoide + octreotida
medicações sedativas e aspectos psicológicos
(metoclopramida/haloperidol +
incluindo depressão
dexametasona + octreotida)
o Constipação: laxantes (estimulantes –
bisacodil, senna; osmótico – lactulose)

377
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Demência avançada
• Muitos indivíduos com demência avançada irão
desenvolver dificuldades alimentares.
Infelizmente, as preferências do paciente em
relação à nutrição e hidratação artificial em geral
não são documentadas até que seja muito tarde
para se ter essa discussão. Os membros da
familia são então confrontados a decisão de
administrar alimentos e líquidos por uma sonda
de gastrostomia endoscópica percutânea (GEP),
frequentemente durante uma hospitalização
por pneumonia

Cuidados com os membros da família: tristeza e


luto
• Deve ser dada consideração à saúde e bem-estar
dos membros da sua família antes e depois da
sua morte
• É mais intenso nos primeiros seis meses. O
sofrimento intenso atinge um pico em seis
meses em luto, mas ocasionalmente surtos de
tristeza podem se manter por anos. A maioria
lida bem, sem intervenção médica
• Para 10-20%, a tristeza pode se tornar
complicada, prolongada e ter um impacto
prejudicial significativo
• Os sintomas da tristeza prolongada e complicada
são distintos da tristeza normal. As
características fundamentais incluem o estresse
da separação do ente falecido, bem como
pensamentos disfuncionais, sentimentos e
comportamentos relacionados à perda

378
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Delirium • O delirium desenvolve-se em 80% dos pacientes


com doenças terminais
O delirium se caracteriza por um declínio agudo nos
níveis tanto de consciência quanto de cognição, com • As causas de delirium pós-operatório incluem
particular comprometimento da atenção. Podendo ser estresse decorrente da cirurgia, dor pós-
letal, mas ainda potencialmente um transtorno operatória, insônia, medicação analgésica,
reversível do sistema nervoso central (SNC), o delirium desequilíbrio de eletrólitos, infecção, febre e
costuma envolver perturbações da percepção, atividade perda de sangue
psicomotora anormal e prejuízo do ciclo de sono-vigília. Fatores de risco
O sintoma inconfundível do delirium é um prejuízo da O risco de delirium deve ser acomodado em duas
consciência, que normalmente ocorre associado a categorias: fatores predisponentes e fatores
prejuízos globais das funções cognitivas. Anormalidades precipitantes
do humor, na percepção e no comportamento são
• Idade avançada é um dos maiores fatores de
sintomas psiquiátricos comuns. Tremor, asterixe,
risco para o desenvolvimento de delirium
nistagmo, incoordenação e incontinência urinária são
• O sexo masculino também é um fator de risco
sintomas neurológicos habituais.
independente para delirium
Em sua forma clássica, o delirium apresenta início
repentino (horas ou dias), um curso breve e instável e
melhora rápida quando o fator causativo é identificado e
eliminado, mas cada um desses aspectos característicos
pode variar de um indivíduo para outro.

Delirium é um sinal de prognóstico desfavorável. Estima-


se que o índice de mortalidade em três meses de
pacientes que têm um episódio de delirium seja de 23 a
33%. O índice de mortalidade em um ano pode chegar a
50%.

Epidemiologia
• O delirium é um transtorno comum, sendo que
grande parte da incidência e dos índices de
prevalência é relatada em idosos
• Ele é relatado em 5 a 10% dos pacientes idosos
atendidos em pronto-socorro
• Entre os pacientes sem o problema no momento
da hospitalização, 5 a 30% acusaram sua
incidência subsequente durante a internação
• Relatou-se delirium em 10 a 15% dos pacientes
cirúrgicos do público em geral, 30% dos
pacientes em cirurgia cardíaca aberta e mais de
50% daqueles tratados para fratura do quadril
• Ele ocorre em 70 a 87% dos pacientes em
unidade de tratamento intensivo e em até 83%
de todos os pacientes em cuidados de fim de
vida
• Estima-se que 21% dos pacientes com
queimaduras graves e de 30 a 40% daqueles com
aids tenham episódios de delirium quando são
hospitalizados
379
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Etiologia
• As principais causas de delirium são doenças do
SNC (p. ex., epilepsia), doença sistêmica (p. ex.,
falência cardíaca) e intoxicação ou abstinência
de agentes farmacológicos ou tóxicos

Diagnóstico e características clínicas


• As características fundamentais de delirium
incluem:
• Consciência alterada, como nível reduzido de
consciência
• Atenção alterada, que pode incluir capacidade
reduzida de concentrar, manter ou deslocar a
atenção

380
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Prejuízo nos outros domínios do funcionamento o Febre: sepse, crise tireoidiana, vasculite
cognitivo, que pode se manifestar como • Pressão arterial
desorientação (em especial quanto a tempo e o Hipotensão: choque, hipotireoidismo,
espaço) e diminuição da memória doença de Addison
• Início relativamente rápido (de horas a dias) o Hipertensão: encefalopatia, massa
• Curta duração (em geral de dias a semanas) intracraniana
• Oscilações acentuadas e imprevisíveis quanto a • Respiração
gravidade e outras manifestações clínicas no o Taquipneia: diabetes, pneumonia,
decorrer do dia, às vezes piores à noite insuficiência cardíaca, febre, acidose
(confusão noturna), e que podem variar de (metabólica)
períodos de lucidez a prejuízo cognitivo e o Superficial: intoxicação por álcool ou
desorganização graves outra substância
• Características clínicas associadas costumam • Pescoço
estar presentes e podem ser proeminentes. Elas o Evidência de rigidez nucal: meningite,
podem incluir desorganização de processos de hemorragia subaracnoide
pensamento (desde tangencialidade leve até • Coração
incoerência manifesta), perturbações da o Arritmia: débito cardíaco inadequado,
percepção, como ilusões e alucinações, possibilidade de êmbolos
hiperatividade e hipoatividade psicomotora, o Cardiomegalia: IC, doença hipertensiva
distúrbio do ciclo de sono-vigília • Pulmões
(frequentemente manifestado como sono o Congestão: insuficiência pulmonar
fragmentado à noite, com ou sem sonolência primária, edema pulmonar, pneumonia
diurna), alterações do humor (desde • Hálito
irritabilidade sutil até disforia, ansiedade ou o Cetótico: diabetes
mesmo euforia evidentes) e outras • Fígado
manifestações de função neurológica alterada o Inchaço: cirrose, falência hepática
(p. ex., hiperatividade ou instabilidade • Sistema nervoso
autonômica, espasmos mioclônicos e disartria) o Assimetria com sinais de Babinski: lesão
expansiva, doença cerebrovascular,
Exame físico demência preexistente
• Um exame do estado mental – como o o Reflexo do focinho: massa frontal,
Miniexame do Estado Mental, o exame do oclusão da artéria cerebral posterior
estado mental ou sinais neurológicos – pode ser bilateral
usado para documentar o prejuízo cognitivo e o Fraqueza no olhar lateral: aumento da
fornecer um parâmetro para medir o curso pressão intracraniana
clínico do paciente. o Assimétrica: lesão expansiva, doença
• A presença de uma doença física conhecida ou cerebrovascular
uma história de lesão cerebral traumática ou o Hiperatividade: ansiedade, delirium
dependência de álcool ou de outra substância
aumenta a probabilidade do diagnóstico Exames complementares
• EEG: no delirium, o EEG em geral mostra uma
Exame sistemático
lentidão generalizada de atividade e pode ser útil
• Pulso
para diferenciar delirium de depressão ou
o Bradicardia: hipotireoidismo, síndrome
psicose. O EEG de um paciente delirante às vezes
de Stokes-Adams, aumento da pressão
mostra áreas focais de hiperatividade.
intracraniana
o Taquicardia: hipertireoidismo, infecção,
insuficiência cardíaca
• Temperatura:

381
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

experimentar alteração em seu nível de


consciência nem em sua orientação
• Aquele com sintomas hipoativos de delirium
pode parecer um pouco semelhante a uma
pessoa gravemente deprimida, mas os dois
podem ser diferenciados por meio de um EEG

Curso e prognóstico
• Embora o início de delirium costume ser
repentino, sintomas prodrômicos (p. ex.,
inquietação e medo) podem ocorrer nos dias
que antecedem o início de sintomas mais
desenvolvidos. Os sintomas da perturbação
costumam persistir enquanto os fatores causais
relevantes estiverem presentes, embora o
delirium em geral dure menos de uma semana
• Após a identificação e a remoção dos fatores
causais, os sintomas normalmente retrocedem
ao longo de um período de 3 a 7 dias, ainda que
Diagnóstico diferencial alguns possam levar até duas semanas para se
resolverem por completo
Delirium versus demência
• Quanto mais velho o paciente e maior o tempo
em que permaneceu delirante, mais tempo leva
para que o transtorno se dissipe
• Lembranças do que ocorreu durante um
delirium, após seu fim, costumam ser
irregulares; o paciente pode se referir ao
episódio como um sonho ruim ou um pesadelo
mal lembrado

Tratamento
• Quando a condição subjacente é toxicidade
anticolinérgica, pode ser indicado o uso de
salicilato de fisostigmina, de 1 a 2 mg por via
intravenosa ou intramuscular, com repetição da
dose em 15 a 30 minutos
• Outro objetivo importante do tratamento é
fornecer apoio físico, sensorial e ambiental. O
Delirium versus esquizofrenia ou depressão apoio físico é necessário para que o paciente
• Alguns pacientes com transtornos psicóticos, em delirante não se veja em situações nas quais haja
geral esquizofrenia ou episódios maníacos, risco de acidentes. A pessoa com delirium não
podem apresentar períodos de comportamento deve ter privação sensorial nem estímulo
extremamente desorganizado, de difícil demasiado do ambiente. Normalmente, ela se
distinção. De modo geral, no entanto, as beneficia da presença de um amigo ou parente
alucinações e os delírios de indivíduos com no quarto ou de um cuidador regular. Imagens e
esquizofrenia são mais constantes e mais bem decorações familiares, a presença de um relógio
organizados do que os daqueles com delirium. O ou calendário e orientações regulares quanto a
paciente com esquizofrenia costuma não pessoa, lugar e tempo podem ajudá-la a ficar
mais à vontade

382
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Farmacoterapia
• Os dois principais sintomas de delirium que
podem exigir tratamento farmacológico são
psicose e insônia
• Um fármaco de uso comum para psicose é
haloperidol (antipsicótico). Dependendo da
idade, do peso e da condição física do indivíduo,
a dose inicial pode variar de 2 a 6 mg por via
intramuscular, repetidos em 1 hora se ele
continuar agitado. Assim que o paciente se
acalmar, deve-se iniciar a medicação na forma
líquida concentrada ou em comprimidos. Duas
doses orais diárias devem ser suficientes, sendo
que dois terços da dose devem ser
administrados na hora de dormir. Para obter o
mesmo efeito terapêutico, a dose oral deve ser
cerca de 1,5 vez a dose parenteral. A dose
máxima é de 30 mg, mas é importante se manter
atento aos sintomas extrapiramidais, devendo-
se utilizar doses intermediárias
• O melhor tratamento para insônia é o uso de
benzodiazepínicos com meias-vidas curtas ou
intermediárias (p. ex., lorazepam 1 a 2 mg na
hora de dormir). Benzodiazepínicos com meias-
vidas longas e barbitúricos devem ser evitados, a
menos que façam parte do tratamento para o
transtorno subjacente (p. ex., abstinência de
álcool)
• Se o delirium for causado por dor grave ou
dispneia, um médico não deve hesitar em
prescrever opioides tanto por seus efeitos
analgésicos quanto sedativos

383
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Mini exame do estado mental se o paciente foi incapaz de repetir as três palavras.
Importante salientar que as palavras devem ser todas
Trata-se de um teste breve de rastreio cognitivo para
ditas antes da repetição do paciente, ou seja, não é uma
identificação de demência. A pontuação máxima é de 30
por uma. Saliente também que ele deverá lembra-las
pontos que pode ser influenciada pela escolaridade do
para um momento posterior
indivíduo. O impacto da escolaridade em nosso meio,
verificado por estudos recentes, mostrou as seguintes • Árvore
notas de corte padrão recomendadas: • Mesa
• Analfabetos: 13 pontos • Cachorro
• Indivíduos com baixa/média escolaridade: 18 Atenção e cálculo
pontos Para os cálculos, mesmo que o paciente erre uma conta
• Alta escolaridade: 26 pontos intermediária, considere os resultados corretos. Porém,
Os itens avaliados pelo MEEM são: orientação; memória se ao subtrair 7 do resultado errado, ele der uma
imediata; atenção e cálculo; memória de evocação e resposta correta, só considere a errada. Dê um ponto
linguagem. para cada resposta correta

• 100-7=93
Aplicação
• 93-7=86
• O paciente deve ser deixado à vontade, e não
deve sentir-se julgado • 86-7=79
• 79-7=72
• Os eventuais erros cometidos por ele durante a
prova não devem ser corrigidos, pois esta • 72-7=65
correção poderá inibi-lo Caso o paciente não conseguir se sair bem nesta prova,
peça a ele que soletre a palavra “mundo” de trás para
Orientação
frente
Temporal
Faça as perguntas referentes à orientação e pontue com Memória recente
1 ponto cada resposta correta e 0 ponto cada resposta Neste item se avalia memória recente (secundária), que
incorreta ou não respondida dura de minutos a semanas ou meses. Para testá-la,
pedir para o paciente repetir aquelas três palavras ditas
• Dia da semana
anteriormente. Anotar um ponto para cada palavra
• Dia do mês correta
• Mês
• Ano • Árvore
• Hora aproximada • Mesa
• Cachorro
Espacial
• Onde estamos? (consultório, hospital, Linguagem
residência) Avalia-se a fala espontânea, a compreensão oral, a
• Em que lugar estamos? (andar, sala, cozinha) repetição, a nomeação, a leitura e a escrita
• Em que bairro estamos?
Nomeação
• Em que cidade estamos?
Neste item avalia-se capacidades de nomeação,
• Em que estado estamos?
compreensão e entendimento do paciente (afasia
Memória imediata nominativa ou, na verdade, agnosia visual). Solicita-se,
Pergunta do tipo “posso testar sua memória?”, permite então, para o paciente normar os objetos apontados,
que a entrevista ocorra mais informalmente deixando o atribuindo-se 1 ponto para cada acerto. Permite-se 10
paciente tranquilo segundos para cada um

Peça que o paciente repita as três palavras. Marque um • Caneta


ponto para cada resposta correta, zero para incorreta ou • Relógio
384
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Repetição
Avalia-se a discriminação auditiva, a memória imediata e
a atenção. Solicita-se para o paciente repetir uma frase
pré estabelecida, lembrando que não deve ser pausada
em cada trecho para o paciente e, sim, dita por
completo. Atribui-se 1 ponto

• “Nem aqui, nem ali, nem lá”

Comando verbal
Neste item é possível avaliar principalmente a
compreensão oral do paciente, devendo-se sempre
excluir hipoacusia. Também se testam a memória
imediata, a praxia, a coordenação e a motricidade.
Atribui-se 1 ponto para cada um dos itens: pegar o papel,
dobrá-lo, colocá-lo no chão

• “Vou lhe dar um papel e quando eu o entregar,


pegue com sua mão direita, dobre-o na metade
com as duas mãos e coloque no chão”

Leitura
O paciente deve realizar o que está no comando escrito
apresentado, atribuindo-se 1 ponto para a realização
correta

• “Feche os olhos”

Escrita
Pedir ao entrevistado que escreva uma frase em um
papel em branco. “O Sr (a) poderia escrever uma frase
completa de sua escolha?” Contar um ponto se a frase
tem sujeito, verbo e predicado, sem levar em conta erros
de ortografia ou de sintaxe). Se o entrevistado não fizer
corretamente, perguntar-lhe: “Isto é uma frase?” e
permitir-lhe corrigir se tiver consciência de seu erro.
(máximo de trinta segundos)

Cópia do desenho
Neste item avalia-se a orientação vísuo-espacial,
programação motora e a praxia construtiva. Para que a
cópia do desenho seja considerada correta, é preciso que
sejam feitos os 10 lados e, portanto, 10 ângulos.
Também é importante que as figuras apareçam
intersectadas

385
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Síndrome metabólica Critérios da International Diabetes Federation (IDF)


A síndrome metabólica (SM) é comumente definida por Obesidade abdominal: cintura >90 cm em homens e >80
uma constelação de interligados fatores fisiológicos, cm em mulheres associada a, pelo menos, 2 dos
bioquímicos, clínicos e metabólicos que aumentam seguintes critérios:
diretamente o risco de doença cardiovascular e diabetes • Triglicerídeos elevados: ≥150 mg/dℓ (ou
melito tipo 2 (DM2). tratamento específico para dislipidemia)
Adiposidade visceral, resistência à insulina (RI), liberação • HDL-colesterol baixo: ≤40 mg/dℓ em homens e
excessiva de ácidos graxos livres e citocinas inflamatórias ≤50 mg/dℓ em mulheres
pelos adipócitos viscerais, estresse oxidativo, • Pressão arterial elevada: ≥130/85 mmHg (ou
dislipidemia aterogênica, hiperglicemia, disfunção tratamento específico para hipertensão)
endotelial, hipertensão e estado de hipercoagulabilidade • Glicemia de jejum elevada: ≥100 mg/dℓ
são os vários fatores que constituem a síndrome.
Prevalência da síndrome metabólica
A presença de SM confere um aumento de 5 vezes no • No mundo, a prevalência da SM varia
risco para DM2 e de 2 vezes no risco de desenvolver amplamente de acordo com as características da
doenças cardiovasculares (DCV) ao longo dos próximos 5 população estudada e os critérios utilizados.
a 10 anos; 2 a 3 vezes para acidente vascular cerebral Entretanto, independentemente do critério
(AVC); 3 a 4 vezes para infarto agudo do miocárdio (IAM) adotado, é consenso que essa prevalência vem
e de 2 vezes o risco para morrerem em consequência de aumentando na maioria dos países (em função
um desses distúrbios, independentemente de história das crescentes obesidade e prática de hábitos de
prévia de eventos cardiovasculares. vida sedentária), e se eleva a cada década de
vida
Definições • A IDF estima que um quarto da população adulta
• Existem, atualmente, duas classificações que mundial tenha SM
têm sido mais amplamente utilizadas: do
National Cholesterol Education Program’s Adult Fisiopatologia
Treatment Panel III (NCEP-ATP III ou ATP III) e da • Na gênese da SM estão envolvidos fatores
International Diabetes Federation (IDF). A genéticos e ambientais
classificação proposta pela IDF foi publicada em • De fato, SM parece ser decorrente diretamente
2005 e tornou-se rapidamente uma das de um excesso de tecido adiposo visceral (TAV)
definições mais utilizadas no mundo. Ela se e de uma diminuição do tecido adiposo
baseia no conceito de que a presença de gordura subcutâneo (TASC), o que levaria a maior
visceral (estimada pela medida da cintura) é o liberação de ácidos graxos livres (AGL) e
fator essencial e determinante de todos os citocinas inflamatórias na circulação, entre
outros componentes da SM outros achados
• Existem dois tipos principais de adipócitos no
Critérios do NCEP-ATP III
corpo humano: adipócitos subcutâneos e
Presença de 3 ou mais dos seguintes critérios:
adipócitos viscerais. Os primeiros são células
• Obesidade abdominal: cintura >90 cm em menores, que têm mais facilidade de se
homens e >80 cm em mulheres multiplicar e são mais responsivos ao efeito
• Triglicerídeos elevados: ≥150 mg/dℓ antilipolítico da insulina. Eles têm a capacidade
• HDL-colesterol baixo: <40 mg/dℓ em homens e de armazenar grandes capacidades de AGL sob a
<50 mg/dℓ em mulheres forma de triacilglicerol e produzem poucas
• Pressão arterial elevada: ≥130/85 mmHg citocinas inflamatórias. Em contraste, os
• Glicemia de jejum elevada: ≥110 mg/dℓ adipócitos viscerais são células maiores, que se
multiplicam pouco, são metabolicamente mais
ativos e apresentam atividade lipolítica mais
acentuada. Ademais, eles acumulam menos AGL

386
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

e possuem grande capacidade de secretar o Aumento da apo CIII


citocinas inflamatórias, tais como o fator de o Aumento das partículas de LDLpequenas
necrose tumoral-alfa (TNF-α), a interleucina-6 e densas
(IL-6), a proteína C reativa (PCR) e o inibidor do o Hipertrigliceridemia
ativador do plasminogênio-1 (PAI-1) o Redução do HDL-colesterol
• Primariamente, a SM parece ser decorrente de • Relacionadas com a trombogênese
uma desproporção na distribuição de adipócitos o Aumento do fibrinogênio
subcutâneos e viscerais. O excesso de citocinas o Aumento do PAI-1
pró-inflamatórias (principalmente, TNF-α e IL-6) o Aumento da viscosidade sanguínea
resulta em uma inflamação localizada no tecido • Relacionadas com os marcadores inflamatórios
adiposo que se propaga para uma inflamação o Aumento do número de leucócitos
sistêmica global, associada ao desenvolvimento o Aumento de interleucina-6 e TNF-α
de comorbidades relacionadas a obesidade, o Aumento de leptina e proteína C reativa
resistência à insulina (RI), estresse oxidativo e o Diminuição de adiponectina
aterosclerose. O excesso de PAI-1, juntamente • Relacionadas com os marcadores do status
com aumento dos níveis dos fatores VIII e V, oxidante
respondem por um estado de o Aumento da LDL oxidada
hipercoagulabilidade, o qual favorece a o Hiperuricemia
ocorrência de eventos vasculares trombóticos o Diminuição da paraoxonase-1
(p. ex., IAM e trombose venosa profunda) • Outras
• De maneira geral, o aumento da lipólise nos o Redução da interleucina-10 e da
adipócitos viscerais ocasiona um aumento do ghrelina
aporte de AGL para o fígado e o músculo
esquelético, inibindo a ação da insulina nesses Implicações clínicas da síndrome metabólica
órgãos, por um mecanismo denominado de • Doença cardiovascular: a dislipidemia
lipotoxicidade. A resistência insulínica no fígado encontrada em pacientes com SM é altamente
levaria a um aumento da gliconeogênese aterogênica. Caracteriza-se por
hepática (causando hiperglicemia), da produção hipertrigliceridemia e níveis baixos do HLD-c,
de citocinas inflamatórias (inflamação) e da associados a um aumento no número de
secreção excessiva de VLDL, com consequente partículas de LDL pequenas e densas, que são
hipertrigliceridemia e redução nos níveis de HDL- mais aterogênicas. Isso faz dessa população um
colesterol (HDL-c) grupo de pacientes altamente suscetíveis a
• O acúmulo intra-hepático de triglicerídeos doenças cardiovasculares (DCV), com risco até 3
favoreceria o surgimento da doença hepática vezes maior para evento cardiovascular, até 4
gordurosa não alcoólica (NAFLD) e da esteato- vezes para morte por DAC e até 2,4 para morte
hepatite não alcoólica (NASH) por qualquer causa
• A lipotoxicidade tem também ação deletéria • Diabetes melito tipo 2: juntamente com as
sobre as células beta, diminuindo a secreção de complicações cardiovasculares, o risco de
insulina e favorecendo o surgimento de desenvolvimento de DM2 faz parte das grandes
hiperglicemia complicações da SM. A incidência de DM2 é até
• Maior ativação do sistema renina-angiotensina- 5 vezes maior em pacientes com SM. Nesses
aldosterona (SRAA) e do sistema nervoso indivíduos, o risco de complicações
simpático está envolvida da gênese da microvasculares e macrovasculares, bem como a
hipertensão da SM mortalidade cardiovascular, são
significativamente maiores na presença de SM
Complicações da síndrome metabólica • Doença hepática gordurosa não alcoólica: é
• Relacionadas com os lipídios e as lipoproteínas resultado do excesso no aporte de ácidos graxos
o Aumento de apo B para o fígado (em consequência da lipólise
o Diminuição de apo AI exagerada) e está diretamente associada à RI e
387
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

ao acúmulo de gordura visceral. A NAFLD desidrogenase tipo 1 (11β-HSD1), que converte


envolve a esteatose e a esteato-hepatite (NASH) cortisona em cortisol. A conversão aumentada
• Hiperatividade do sistema nervoso simpático: de cortisol no tecido adiposo visceral levaria a
essa ativação seria um mecanismo um círculo vicioso, contribuindo para o
compensatório na tentativa de estabilizar o peso progressivo aumento da gordura visceral
corporal pelo aumento da termogênese. Um dos • Eixo somatotrófico: a diminuição do hormônio
principais ativadores do SNS é a de crescimento (GH) ocorre por diversos
hiperinsulinemia, principalmente pós-prandial mecanismos: (1) inibição direta da liberação de
(termogênese induzida pela alimentação). Essa GH na hipófise pela hiperinsulinemia; (2) inibição
hiperinsulinemia, associada a hiperleptinemia, no fígado da produção das proteínas de ligação
redução do óxido nítrico e aumento da do IGF-1 (IGFBP), o que levaria a um aumento da
endotelina-1, levaria a uma vasoconstrição fração livre do IGF-1 (fator de crescimento
periférica importante e retenção de líquidos, semelhante à insulina tipo 1) e inibição da
reduzindo o fluxo sanguíneo para a musculatura liberação do GH; (3) inibição direta da liberação
esquelética e ocasionando a RI do GH pelos níveis elevados dos AGL; e (4)
• Ativação do sistema renina-angiotensina- aumento da somatostatina, relacionado com os
aldosterona: Existem evidências de que tanto a níveis elevados de AGL
hiperglicemia como a hiperinsulinemia ativam o • Eixo gonadal: em homens ocorre diminuição dos
SRAA por aumentar a expressão do níveis plasmáticos de testosterona total e livre,
angiotensinogênio, da angiotensina II (AT II) e do redução da proteína de ligação dos hormônios
receptor AT1. Além disso, recentemente sexuais (SHBG), atenuação dos pulsos de LH e
demonstrou-se a produção de aldosterona pelos aumento dos níveis de estradiol. O excesso de
adipócitos em resposta à AT II. Neste contexto, o tecido adiposo correlaciona-se diretamente com
adipócito pode ser considerado uma miniatura aumento da atividade das aromatases, elevando
do SRAA. A ativação do SRAA e do SNS está os níveis de estradiol e estrona e inibindo a
envolvida na gênese da hipertensão na SM liberação de LH pela hipófise. A
• Alterações nos diversos eixos endócrinos hiperinsulinemia, por sua vez, diminui a
o Corticotrófico:↑ CRH; ↑ ACTH; ↑ produção hepática de SHBG, reduzindo a
cortisol; ↑ atividade 11β-HSD1 testosterona total, e parece inibir diretamente a
o Somatotrófico: ↓ GH; ↓ IGF-1; ↓ produção de testosterona. Ademais, parece que
IGFBP; ↑ somatostatina; ↑ IGF-1 livre a leptina, a exemplo da insulina, age bloqueando
o Gonadotrófico (mulheres): ↑ Atividade a 17,20-liase, inibindo, assim, a conversão de
da aromatase; ↓ GnRH; ↓ FSH; ↑ LH; 17OH-progesterona em androstenediona e,
↓ SHBG; ↑ androgênios; ↑ ovários consequentemente, a produção de
o Gonadotrófico (homens): ↑ Atividade testosterona. O eixo gonadal feminino também
aromatase; ↓ pulsos de LH; ↓ SHBG; ↓ sofre alterações nos pacientes com SM. A
testosterona total; ↓ testosterona livre característica mais marcante nessas mulheres é
• Eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal: a SM o hiperandrogenismo, secundário à ação da
assemelha-se, em muitos aspectos, à síndrome hiperinsulinemia e da secreção aumentada de
de Cushing. Os pacientes com SM apresentam LH pela hipófise sobre os ovários. A
uma hiperativação do eixo hipotalâmico- hiperinsulinemia está associada a um aumento
hipofisário-adrenal, que parece estar direto da produção de androgênios pelo ovário e
relacionada com um estado de hipercortisolismo à diminuição das SHBG, o que gera aumento da
subclínico. Isso pode levar a uma piora da fração livre da testosterona. O aumento da
resistência insulínica (por ação do cortisol no atividade da aromatase, relacionado à
receptor da insulina), dos lipídios e da pressão quantidade de tecido adiposo, está associado a
arterial. Além disso, o excesso de tecido adiposo uma elevação dos níveis de estrona, que, por sua
abdominal está relacionado com um aumento da vez, levam a maior secreção de LH pela hipófise,
atividade da 11β-hidroxiesteroide com diminuição do FSH. A resposta ovariana ao
388
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

excesso de LH é um aumento da produção de


androgênios. Além disso, o já mencionado
aumento de IGF-1 livre leva a aumento do
volume ovariano, além de potencializar a ação
do LH, o que também contribui para o
hiperandrogenismo. Já a diminuição dos níveis
de FSH interfere na maturação do folículo
ovariano, o que condiciona uma diminuição nos
níveis de estradiol. A ocorrência dessas
alterações é responsável pela alta prevalência da
síndrome de ovários policísticos em pacientes
com a SM
• Câncer: estudos têm evidenciado um risco
aumentado de câncer e mortalidade relacionada
ao câncer em pacientes com SM. A
hiperinsulinemia pode afetar o risco de câncer e
mortalidade relacionada ao câncer por meio dos
efeitos mitogênicos diretos de insulina. Além
disso, pode desempenhar um papel mitogênico
indireto, aumentando a produção de IGF-1
• Doença de Alzheimer: os pacientes com DM2,
doença caracterizada por RI e falência
progressiva das células beta, têm risco
aumentado de desenvolver várias formas de
disfunção cognitiva, incluindo a doença de
Alzheimer (DA). Diferentes mecanismos já foram
identificados ligando obesidade visceral, IR e DA.
A RI está associada a diminuição na captação de
glicose pelos neurônios, aumento na produção e
secreção de β-amiloide, formação de placas
senis, bem como fosforilação da proteína tau.
Outros mecanismos supostamente envolvidos
incluem diminuição na atividade da enzima
degradadora de insulina (IDE) e aumento do
estresse oxidativo secundário à hiperglicemia

389
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Bronquiectasia

390
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Neoplasia pulmonar (nódulo solitário)

391
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Pneumoconioses
Doenças do parênquima pulmonar induzida por poeiras
ou partículas: sílica, asbesto, carvão, berílio, metal duro,
poeira mista, silicatos diversos.

Silicose
Encontrada na mineração, cerâmica, refino de pedras,
marmorarias, perfuração de poções, fabricação de vidros
e jateamento de areia. Maior risco de tuberculose Silicose

• Silicose aguda: alta carga inalada em pouco


tempo, apresentando velamento pulmonar
difuso e insusficiência respiratória
• Silicose crônica: maioria dos casos há 10 anos ou
mais de exposição. Provoca granulomas bem
formados, acúmulo de macrófagos, fibroblastos,
gerando nódulos que podem coalescer e formar
massas (semelhante a neoplasia) Asbestose

Asbestose • Tomografia: superior ao raio-x, permite maior


Fibras de amianto são encontradas em indústria de precisão diagnóstica e quantificar a gravidade
fibrocimento, tecelagens, autopeças (pastilha de freio),
isolamento térmico e construção civil

• Cursa com derrame pleural, placas pleurais,


atelectasia redonda, neoplasia de pulmão,
laringe e ovário, mesotelioma de pleura e
peritônio
• É uma doença difusa, bilateral, iniciando-se nos Silicose
segmentos inferiores dorsais e periféricos dos
pulmões. Em alguns casos, atinge aspecto de
favo de mel

Anamnese
• Questionar história de exposição ocupacional e
ambiental do paciente aos compostos
causadores (sílica – silicose, asbesto – asbestose, Asbestose
carvão – antracose, ferro – siderose, berílio –
beriliose) Tratamento
• Podem ser assintomáticos por longo período • Afastamento do agente causal
• Sintomas comuns: dispneia progressiva, tosse, • Tratamento de infecções intercorrentes
estertores crepitantes e sibilos • Tratamento de tuberculose, frequentemente
associada
Exames complementares • Tratamento de suporte da insuficiência
• Raio-x de tórax: pode não haver correlação entre respiratória
os achados radiológicos e manifestações • Corticoide em casos selecionados

392
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Asma • Infecções respiratórias: principalmente virais


(vírus sincicial respiratório e adenovírus) e
Doença inflamatória das vias aéreas, caracterizada por
bactérias atípicas (C. pneumoniae e M.
sua hiperresponsividade, provocando obstrução do fluxo
pneumoniae)
aéreo, reversível de forma espontânea ou com
tratamento. • Deficiência de vitamina D

Sintomas recorrentes: sibilância, tosse, dispneia, Fisiopatologia


opressão torácica. • Após a sensibilização, a célula dendrítica
apresenta o alérgeno, que ativa célula TH2,
Fenótipos liberando IL-4 e IL-13, ativando células B, que se
• Asma alérgica: além de asma, costuma diferenciam em plasmócitos e produzem IgE,
apresentar rinite e atopias, além de escarro que ativa eosinófilos, mastócitos e basófilos,
eosinofílico. São pacientes que respondem bem desencadeando resposta imediata (basófilo e
ao tratamento com corticoide mastócito) e tardia (basófilo, mastócito e
• Asma não alérgica: pacientes com asma sem eosinófilo)
atopia reconhecida, escarro predominan- • Essa interação complexa entre células,
temente neutrofílico, geralmente sem rinite mediadores inflamatórios e citocinas, leva a:
• Asma de início tardio: sintomas semelhantes à o Contração da musculatura lisa nas vias
asma não alérgica aéreas
• Asma com obstrução fixa: causada o Aumento da permeabilidade vascular
principalmente por remodelamento o Estímulo de células secretoras de muco
• Asma com obesidade nas vias aéreas.

Epidemiologia
• No mundo há em torno de 334 milhões de
pessoas com asma. No Brasil, 10-20% da
população é portadora
• Após o surgimento das medicações inalatórias,
houve queda de 49% das internações por asma
no Brasil até 2011
• A mortalidade da asma gira em torno de 8
mortes/dia, no Brasil, por asfixia
• O controle ruim está associado a:
o Maior utilização dos serviços de saúde
o Piora na qualidade de vida
o Absenteísmo escolar e do trabalho. Remodelamento
o Perda de dias trabalhados. • Hiperplasia e hipertrofia da musculatura lisa nas
vias aéreas
Fatores de risco
• Aumento da permeabilidade vascular
• Genética: múltiplos genes envolvidos, por
• Hiperplasia e proliferação de células de Gobet e
exemplo, o ADAM33
das glândulas da submucosa
• Sexo: na infância é mais prevalente em meninos
• Neovascularização brônquica
e, na idade adulta, em mulheres
• Deposição de colágeno subepitelial
• Condições climáticas, poluição atmosférica,
esporos de fungos, pólen, emoções, constipação Suspeita clínica
nasal, infecções virais, tabagismo, alimentos, Os padrões que favorecem o diagnóstico de asma são:
medicamentos (beta bloqueador, AAS, IECA),
ácaros, poeira • Presença de mais de 1 sintoma de asma

393
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Sintomas que pioram à noite ou no início da • É compatível com broncoespasmo induzido por
manhã exercício: queda do VEF1 > 10-15% em relação
• Sintomas que variam em intensidade ao longo ao basal
do tempo
Medidas seriadas de pico de fluxo
• Desencadeantes: gripes/resfriados, fumaça,
Medidas pela manhã e à tarde por 2 semanas. São
odores fortes, mudança de tempo, alérgenos
compatíveis com asma:
(ex. pólen, mofo)
• Aumento do PFE > 15% após broncodilatador
Os padrões que reduzem a probabilidade de asma são:
𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑃𝐹𝐸 𝑚𝑎𝑡𝑖𝑛𝑎𝑙−𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑃𝐹𝐸 𝑣𝑒𝑠𝑝𝑒𝑟𝑡𝑖𝑛𝑜
• > 20%
𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑃𝐹𝐸
• Tosse como sintoma isolado
• Tosse produtiva Prova terapêutica
• Tosse associada a tontura e parestesia de Curso de prednisona de 40 mg/dia por 2 a 4 semanas,
extremidades sendo compatíveis com asma:
• Dor torácica
• Aumento do PFE > 20%
• Estridor inspiratório
• Aumento do VEF1 ≥ 20% e 250 ml
Diagnósticos funcionais
Exames adicionais
Espirometria
Avaliação laboratorial
É realizada pré- e pós-broncodilatador.
• Hemograma, níveis séricos de IgE, nível sérico de
• Distúrbio ventilatório oclusivo vitamina D, PPF e PPD
• Resposta ao broncodilatador
Tomografia de tórax de alta resolução
• Aumento de 200 ml e 7% do previsto no VEF1
• Atenuação em mosaico (áreas mais escuras e
mais claras) decorrente do aprisionamento
aéreo, mais visível em corte realizado durante
expiração
• Brônquios espessados: achado se correlaciona
com gravidade da doença e hiper-reatividade
brônquica

Pesquisa de eosinófilos no escarro/lavado nasal


• Eosinofilia persistente em pacientes em uso de
corticoide está associada a casos mais graves

Classificação inicial da gravidade:


Intermitente Leve Persistente Grave
moderada
Teste de broncoprovocação Diários ou
Sintomas Raros Semanais Diários
Metacolina, histamina contínuos
Despertares Quase
Raros Mensais Semanais
noturnos diários
• Utilizar concentração de irritante capaz de Necessidade
Rara Eventual Diária Diária
causar queda de 20% do VEF1 inicial (CP20) de β2
Limitação de Presente nas Presente nas
o CP20 da metacolina ≤4 mg/ml é atividades
Nenhuma
exacerbações exacerbações
Contínua
compatível com asma Afeta Afeta
• O aumento da concentração aumenta a chance Exacerbações Raras atividades e o
sono
atividades e o
sono
Frequentes

de falsos positivos para rinite, pós infecção viral VEF1 ou PFE ≥80% predito ≥80% predito
60-80% ≤60%
predito predito
Exercício: realizado em bicicleta ergométrica ou esteira. Variação
<20% <20-30% >30% >30%
VEF1 ou PFE
• Medida do VEF1 pré-teste e medidas seriadas a
cada 5 minutos pós-teste (até 30 minutos).
394
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Tratamento • Asma de difícil controle: asma com tratamento


Minimizar os sintomas, prevenir as exacerbações e evitar máximo por pelo menos 6 meses que persiste
os efeitos adversos das medicações. como não controlada
• Controle da asma: checar adesão do paciente,
• Medidas gerais: técnica correta, controle ambiental, tratamento
o Cessação do tabagismo de infecção e tratamento de comorbidades
o Controle de desencadeantes ambientais
(mofo, ácaros, animais domésticos,
exposição ocupacional)
o Vacinação (influenza e PPSV23 para
todos; PCV 13 se > 65 anos)
o Evitar medicações que sabidamente
pioram ou desencadeiam sintomas de
asma
• Medidas específicas:

Avaliação do controle da asma


• Asma grave: necessita de tratamento máximo
para manter controle

395
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

DPOC
Doença prevenível e tratável, geralmente progressiva, de
limitação persistente do fluxo aéreo, caracterizada por
reação inflamatória crônica no parênquima pulmonar e
nas vias aéreas em resposta a partículas ou gases
nocivos.

Epidemiologia
• Estima-se que 210 milhões de pessoas tenham
DPOC ao redor do mundo
• Prevalência varia de 7,8 a 19,7% na América
Latina
• DPOC tende a ser a terceira maior causa de
morte em todo o mundo até 2020
• Representa grande impacto econômico e social
• Prevalência de 3 a 11% de DPOC em não
tabagistas
• O subdiagnóstico é de 64% por falta de
espirometria

Fatores de risco
• Tabagismo é o principal: narguilé e cigarros
eletrônicos não são seguros
• Exposição ocupacional
• Queima de biomassa: fogão a lenha,
aquecimento de água • Bronquite: com a obstrução por inflamação e
• Genética: deficiência de alfa-1-antitripsina secreção de muco, ocorre decréscimo da
• Idade: pior quando mais cedo inicia-se o ventilação alveolar e aumento do débito
tabagismo ou outra exposição cardíaco, aumentando a circulação rápida em
pulmão pobremente ventilado, que leva à
• Sexo: mulheres são mais suscetíveis aos efeitos
hipercapnia e acidose respiratória, causando
do cigarro (maior queda de VEF1, mais doenças
hipoxemia, vasoconstrição arterial e cor
cardiovasculares, maior dependência)
pulmonale
• Nível socioeconômico
• Enfisema: destruição dos septos alveolares
• Poluição ambiental: material particulado e gases
nocivos
• Hiperresponsividade brônquica

Fisiopatologia
A inflamação sistêmica da DPOC é caracterizada por
aumento de PCR, fibrinogênio, VEGF, TNF alfa,
endotelina 1, IL-6 e proteína surfactante D

Anamnese
• Tosse crônica (seca ou produtiva)
• Dispneia persistente e progressiva
• Sibilância

396
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Opressão torácica
• Antecedentes pessoais (exposição) e familiares
• História de exacerbações

Exame físico
• Aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax
• Uso de musculatura acessória
• Murmúrio vesicular diminuído
• Sibilos expiratórios
• Aumento do tempo expiratório
• Bulhas cardíacas hipofonéticas
• Casos graves: cianose e sinais de cor pulmonale
(estase jugular, hepatomegalia, edema de
MMII).

Avaliação adicional
Pesquisa de comorbidades e consequências
sistêmicas da DPOC
• Síndrome metabólica
• Doenças cardiovasculares
Raio X
• Osteoporose
Apresenta sinais de hiperinsuflação (pelo menos dois
• Doença do refluxo gastroesofágico
critérios):
• Distúrbios do sono
• Retificação da cúpula diafragmática • Depressão
• Retificação das costelas • Consequências sistêmicas: anemia de doença
• Aumento dos espaços intercostais crônica, fadiga, sarcopenia, emagrecimento
• Coração em gota
Tomografia de tórax
• Aumento da transparência (preto)
Tomografia de baixa dosagem de radiação para
Diagnóstico funcional – espirometria rastreamento de neoplasias de pulmão, anual em
Realizada pré- e pós-broncodilatador. pacientes com:

• VEF1/CVF pós broncodilatador < 0,7 • Idade entre 55 e 74 anos


• Ausência de resposta ao broncodilatador ou • Carga tabagística > 30 anos/maço
resposta de volume ao broncodilatador, porém • Parou há menos de 15 anos
sem normalização da prova • Tomografia de alta resolução para pesquisa de
bronquiectasias e avaliação para possibilidade
Avaliação da gravidade de tratamento cirúrgico
Segundo a última atualização do GOLD, a classificação é
feita da seguinte forma: Pesquisa de deficiência de alfa-1-antitripsina
Pesquisada em casos de DPOC em idade inferior de 45
anos, sem fator de risco conhecido, enfisema
predominante em lobos inferiores
397
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Valores normais: 20-48 μM/L Exacerbações


• Deficiência: <11 μM/L (57-80 mcg/dL) Piora aguda ou subaguda dos sintomas (tosse, volume do
escarro e dispneia – sinais cardinais da exacerbação)
Teste de caminhada: de 6 minutos
• Melhor prognóstico se caminhar acima de 350 • Leve: tratamento apenas com broncodilatadores
metros de curta ação
• Moderada: broncodilatadores de curta ação +
Tratamento corticoide sistêmico ou antibiótico
• Medidas gerais: • Grave: monitorização em emergência ou
o Cessação do tabagismo hospitalização
o Vacinação (influenza e PPSV23 para
todos; PCV13 se > 65 anos) O manejo consiste em:
o Identificação e tratamento das
• Educar o paciente para reconhecer a
comorbidades
exacerbação
o Exercício físico/reabilitação pulmonar
• Principal causa de exacerbações é viral
nos GOLD B, C e D.
• Antibióticos: empregados se os três sinais
• Tratamento medicamentoso
cardinais da exacerbação estiverem presentes,
naqueles que tiverem dois sinais, mas com
aumento da purulência do escarro e nos casos
graves com necessidade de ventilação mecânica
• Tratamento ambulatorial: beta2 agonista de
curta ação e prednisona 40 mg por 5 a 7 dias

Vacinação
• Gripe anual
• Pneumocócica: prevenar 13 inicial e após 6
meses e 5 anos pneumo 23

398
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Febre maculosa Patogenia


O agente etiológico principal do Brasil é a Rickettsia • Período de incubação de 2-14 dias (média de 7
rickettsii, uma alfafetobactéria gram negativa dias)
desprovida de motilidade e de crescimento lento e difícil. • Inoculação → disseminação para todo o
organismo → invasão de células endoteliais de
É um parasita intracelular obrigatório. pequenos e médios vasos → replicação por
divisão binária
Epidemiologia
• O mecanismo de lesão endotelial se dá pela
• Está predominantemente presente nas regiões
perda de proteínas de adesão, estresse
Sudeste e Sul
oxidativo, citocinas e células T citotóxicas,
• Predomina no sexo masculino e adultos jovens,
fosfolipase A2 e proteases de origem bacteriana
justamente pela maior exposição: exposição em
• Extensa lesão microvascular: alterações da
espaços rurais e silvestres (atividades
permeabilidade vascular, distúrbios de
ocupacionais e de lazer) e exposição a animais
coagulação e lesões teciduais difusas
domésticos ou silvestres
• A taxa de letalidade é de 30% Imunidade
• A doença apresenta um caráter focal e • A suscetibilidade da doença é universal
esporádico • A imunidade adquirida é duradoura contra
reinfecção
Transmissão
• Vetorial: picada ou contato percutâneo com Quadro clínico
fluidos e tecidos de carrapatos infectados • Nos primeiros dias: é brando e inespecíficos
• Transfusão sanguínea e hemoderivados • Apresenta rápida progressão para as formas
• Exposição ocupacional em laboratórios graves, frequentemente fatais, com óbito
geralmente no 6º-7º dia
Vetores
o Icterícia
• Carrapatos: hematofagia, capacidade de
o Febre
parasitar diversas espécies de vertebrados,
o Exantema
papel de reservatório, amplificador e vetor
o Hepatoesplenomegalia
o A principal espécie que parasita
o Manifestações hemorrágicas
humanos no centro-sul do país é o
o Alterações cardiorrespiratórias: EAP,
Amblyomma cajannense lato sensu, que
hemorragia insuficiência respiratória,
apresenta infecção de até 1% e vertical
penumonite, alveolar, miocartite
de até 50%
o Disfunção renal: IRA (oligúria, elevação
o Amblyomma aureolatum apresenta
de ureia e creatinina)
distribuição restrita à mata atlântica,
o Manifestações neurológicas: edema
sendo seus principais hospedeiros os
cerebral, meningite, encefalite,
canídeos e humanos, apresentando
hemorragias (clinicamente cefaleia
transmissão de até 10% e vertical de
holocraniana intensa, fotofobia,
100%
alteração de comportamento,
• Interação patógeno-vetor: transmissão
convulsão, coma)
transovariana, transestadial, sexual e durante
o Alterações oftalmológicas: edema de
repasto
disco óptico, hemorragia retiniana
• Os principas hospedeiros são equinos, capivaras
(também funcionam como hospedeiros
amplificadores)
• Condições ambientais para desenvolvimento:
média a densa cobertura vegetal (pastos sujos,
capoeiras e mata ciliares)

399
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Doxiciclina: droga de escolha, mas


contraindicado na gestação
o Adultos: 100 mg de 12/12 horas por 7
dias
o Crianças <45 kg: 2,2 mg/kg de 12/12
horas por 7 dias
• Cloranfenicol: utilizado quando há
impossibilidade de utilizar a doxiciclina
o Adultos: 500-1000 mg de 6/6 horas por
7 dias
o Crianças: 50/100 mg/kg/dia, divididos
em 4 tomadas diárias por 7 dias

Exames complementares Vigilância epidemiológica


• Hemograma: leucócitos normais (raramente • Notificação compulsória de casos suspeitos
apresenta leucocitose) com desvio à esquerda; • Definição de caso suspeito: febre de início
trombocitopenia; anemia com hematócrito súbito, mialgia e cefaleia com antecedente de
normal ou diminuído exposição a carrapatos ou áreas de transmissão
• Hiponatremia: alteração característica da nos últimos 15 dias ou
doença o Febre de início súbito, mialgia e cefaleia
• Ureia e creatinina: aumentadas com exantema maculopapular entre o
• Enzimas hepáticas: aumentadas 2º e 5º dia e/ou manifestação
• CPK e DHL: aumentadas hemorrágica
• Hiperbilirrubinemia direta • Confirmação diagnóstica: positividade de
• Hipoalbuminemia exames de diagnóstico
• LCR: pleiocitose linfomonocitária,
proteinorraquia, glicorraquia
• Hipoxemia e querda da SatO2
• Raio-X: discretos infiltrados intersticiais,
derrame pleural, acometimento alveolar difuso
(SARA)

Diagnóstico laboratorial
• Diagnóstico sorológico
o Técnica Well-Felix
o Técnica de imunofluorescência indireta
o Fixação do complemento,
hemaglutinação indireta, ELISA,
Western-Blotting
• Métodos de detecção diretos
o Isolamento em cultura celular: é o
padrão ouro
o PCR
o Imuno-histoquímica

Tratamento
• Deve ser instituído precocentemente:
idealmente até o 5º dia
• Medidas de suporte quando necessárias

400
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Influenza trimestres, principalmente), obesos e


imunossuprimidos
A gripe é uma zoonose de aves, suínos, cavalos e
• No Brasil a mortalidade por influenza é elevada:
humanos causada por vírus pertencentes à família
a taxa de mortalidade variou de 0,4 a
Orthomyxoviridae, classificados como Influenza A,
0.6/100.000 no ano de 2018, sendo que a média
Influenza B e Influenza C.
de idade foi de 56 anos
Influenza A é o principal vírus associado a epidemias e
pandemias. Influenza B causa quadros clínicos Influenza A
semelhantes aos de A, e menos graves. A influenza C não • São encontrados em várias espécies de animais,
tem sido associada a epidemias, mas pode levar a além dos seres humanos, tais como suínos,
infecções respiratórias em vias aéreas superiores, cavalos, mamíferos marinhos e aves
especialmente em crianças. • As aves migratórias desempenham importante
papel na disseminação natural da doença
Etiologia
• São vírus respiratórios compostos por sRNA Influenza aviária (H5N1)
recobertos por hemaglutininas e • No hemisfério norte, a maior prevalência de
neuraminidases influenza aviária ocorre entre o final do verão e
o As hemaglutininas são importantes para o início do inverno, quando as aves fazem seu
a adesão ao epitélio respiratório movimento migratório
o As neuraminidases formam um grupo de • Na infecção por Influenza A H5N1, acredita-se
espículas agregadas na superfície das que a transmissão para humanos possa ocorrer
células e participam na liberação do de forma direta a partir da inoculação no trato
vírus no ápice de células infectadas respiratório por fômites contaminadas, no uso
de fertilizantes contendo fezes contaminadas ou
Características gerais por meio de inalação de aerossóis infectados de
• A proteção adquirida contra um sorotipo de excretas. O manuseio de aves doentes ou mortas
influenza não garante proteção cruzada contra uma semana antes do início dos sintomas tem
outros, razão pela qual a gripe não confere sido descrito como o principal fator de risco para
imunidade permanente e acomete pessoas de a aquisição da doença
todas as idades a cada surto • O período de incubação é curto, em média de 2
• Transmite-se por via aérea e tem curto período a 4 dias, com variação de até 8 dias
de incubação, o que permite rápida
disseminação Influenza suína (H1N1)
• A grande variabilidade antigênica do vírus • Em abril de 2009 um novo vírus influenza,
influenza é o principal fator que dificulta a combinação do vírus suíno, aviário e humano, foi
manutenção de proteção duradoura contra a identificado em humanos na Califórnia, EUA. A
gripe disseminação da doença ocorreu de pessoa a
pessoa
Epidemiologia • A Secretaria de Vigilância em Saúde do MS
• A influenza ocorre durante todo o ano, mas é definiu que todo caso suspeito de Influenza A
mais frequente no outono e no inverno, quando (H1N1) deveria ser notificado, com investigação
as temperaturas caem, principalmente no Sul e epidemiológica, realização de exame
Sudeste do país laboratorial específico e tratamento com
• Atualmente os subtipos: A (H1N1) e A (H3N2) antiviral
circulam de maneira sazonal • A transmissão ocorre de pessoa a pessoa, pela
• A influenza causa quadros mais graves em inalação de gotículas eliminadas pela tosse,
extremos etários (crianças abaixo de 4 anos, espirro ou fala de pessoas infectadas ou ainda
especialmente no primeiro ano, e pessoas acima por meio de contato direto com superfícies
de 65 anos), gestantes (segundo e terceiro contaminadas com os vírus H1N1 provenientes
de secreções respiratórias ou fluidos corporais
401
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• O período de incubação varia de 1,4 a 4 dias. O • O diagnostico clínico é caracterizado por febre
pico de carga viral ocorre no dia do início dos com sinal (is) de comprometimento de vias
sintomas e posteriormente evolui com queda aéreas superiores e com pelo menos um sinal de
gradativa comprometimento sistêmico. Os sinais e
sintomas são habitualmente de aparecimento
Influenza B súbito, como:
• Infectam exclusivamente os seres humanos o Comprometimento de vias aéreas
• Os vírus circulantes B podem ser divididos em 2 superiores: rinorreia, dor de garganta,
grupos principais (as linhagens) disfonia (rouquidão) e tosse
o Linhagens B/Yamagata e B/Victoria o Comprometimento sistêmico: mal-
• É visto nas epidemias sazonais estar, calafrios, cefaleia e mialgia
• As queixas respiratórias tornam-se mais
Influenza C
evidentes com a progressão da doença e
• Infectam humanos e suínos
mantem-se, em geral, por três a quatro dias após
• É detectado com muito menos frequência e o desaparecimento da febre. A rouquidão e a
geralmente causa infecções leves. linfadenopatia cervical são mais comuns em
• Apresenta implicações menos significativas de crianças. A tosse, a fadiga e o mal-estar
saúde pública frequentemente persistem pelo período de uma
• Não se relaciona com pandemias a duas semanas
Fisiopatologia Complicações
• O vírus causa injúria direta no epitélio Alguns casos podem evoluir com complicações, sendo as
respiratório. Nas células, ele se replica entre 4 – mais comuns:
6 horas, logo sendo liberado para infectar novas
células • Pneumonia bacteriana
• A infecção se propaga de pequenos focos para • Sinusite
grandes quantidades de células, as quais • Otite
apresentam alterações degenerativas e por fim • Desidratação
sofrem necrose e descamam • Piora de doenças crônicas como insuficiência
• A disseminação termina entre 2 a 5 dias depois cardíaca, asma ou diabetes
do aparecimento dos primeiros sintomas • Pneumonia primária por influenza
• Ocorre liberação de citocinas e mediadores
inflamatórios graças à infecção viral Sinais de agravamento
• Aparecimento de dispneia ou taquipneia ou
Período de contágio hipoxemia (SpO2 < 95%)
• O período de contágio é de cerca de 5 dias para • Persistência ou aumento da febre por mais de
adultos, e começa 1 dias antes do aparecimento três dias ou retorno após 48 horas de período
dos sintomas afebril
• Para crianças, pode se iniciar antes da • Alteração do sensório (confusão mental,
manifestação clínica e permanecer por mais de sonolência, letargia)
10 dias • Hipotensão arterial (PA < 90 e/ou 60 mmHg)
• Em pacientes imunossuprimidos, pode se • Diurese < 400 ml em 24 horas
prolongar por semanas a meses • Exacerbação dos sintomas gastrointestinais em
crianças
Quadro clínico • Desidratação
• Quadro febril (temperatura ≥37,8°C), com a • Exacerbação de doença preexistente (DPOC,
curva térmica usualmente declinando após dois cardiopatia ou outras doenças com repercussão
ou três dias e normalizando em torno do sexto sistêmica)
dia de evolução. A febre geralmente é mais
elevada, persistente e prolongada em crianças
402
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Miosite comprovada por creatinofosfoquinase – Quimioprofilaxia


CPK ≥ 2 a 3 vezes LSN • Pessoas com risco elevado de complicações não
• Elevação da creatinina sérica acima de 2,0 mg/dL vacinadas ou vacinadas ha menos de duas
semanas, após exposição a caso suspeito ou
Diagnóstico confirmado de influenza
• Existem técnicas de diagnóstico rápido a partir
• Crianças com menos de 9 anos de idade, primo-
de material coletado em nariz/garganta por
vacinadas, necessitam de segunda dose da
imunofluorescência ou ELISA que detectam a
vacina com intervalo de um mês para serem
ocorrência de influenza e que são mais úteis nas
consideradas vacinadas
primeiras 24 a 48 horas, quando há maior
• Pessoas com graves deficiências imunológicas
quantidade de vírus detectável nas secreções,
(exemplos: pessoas que usam medicamentos
sobretudo em grupos de pacientes vulneráveis e
imunossupressores; pessoas com AIDS com
que possam receber antivirais
imunodepressão avançada) ou outros fatores
• O diagnóstico específico é feito por cultura viral
que possam interferir na resposta a vacinação
coletada por swab de nariz e garganta, ou por
contra a influenza
reação em cadeia de polimerase (PCR), que
• Profissionais de laboratório, não vacinados ou
detecta mais especificamente o tipo de
vacinados a menos de 15 dias, que tenham
influenza.
manipulado amostras clinícas de origem
• Outra possibilidade confirmatória é a sorologia
respiratória que contenham o vírus influenza
comparativa com duas amostras em intervalos
sem uso adequado de EPI
de 15 dias ou apenas sorologia de convalescente
• Trabalhadores de saúde, não vacinados ou
Tratamento vacinados a menos de 15 dias, e que estiveram
• Os antivirais fosfato de oseltamivir (Tamiflu®) e envolvidos na realização de procedimentos
zanamivir (Relenza®) são medicamentos invasivos geradores de aerossóis ou na
inibidores de neuraminidase, classe de drogas manipulação de secreções de caso suspeito/
planejadas contra o vírus influenza confirmado de influenza sem o uso EPI
• O tratamento com o antiviral, de maneira • Residentes de alto risco em instituições fechadas
precoce, pode reduzir a duração dos sintomas e, e hospitais de longa permanência, durante
principalmente, a redução da ocorrência de surtos na instituição deverão receber
complicações da infecção pelo vírus influenza quimioprofilaxia, se tiverem comorbidades
• Estudos observacionais incluindo pacientes Vacina
hospitalizados demonstraram maior benefício
Grupos prioritários
clínico quando o fosfato de oseltamivir é iniciado
até 48 horas do início dos sintomas. Entretanto, • Indivíduos com 60 anos ou mais
alguns estudos sugerem que o fosfato de • Adultos entre 55 e 59 anos
oseltamivir pode ainda ser benéfico para • Crianças de 6 meses a 5 anos, 11 meses e 29 dias
pacientes hospitalizados se iniciado de quatro a • Gestantes
cinco dias apos o início do quadro clínico • Puérperas (até 45 dias após o parto)
• A indicação de zanamivir somente está • Trabalhadores da saúde
autorizada em casos de intolerância • Professores de escolas públicas e privadas
gastrointestinal grave, alergia e resistência ao • Povos indígenas
fosfato de oseltamivir. O zanamivir é • Pessoas com doenças crônicas não
contraindicado em menores de 5 anos para transmissíveis e outras condições
tratamento ou para quimioprofilaxia e para todo • Adolescentes e jovens entre 12 a 21 anos sob
paciente com doença respiratória crônica pelo medidas socioeducativas
risco de broncoespasmo severo. Além disso, • População privada de liberdade e funcionários
também não pode ser administrado em do sistema prisional
pacientes em ventilação mecânica

403
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Síndrome gripal Manejo para pacientes sem fatores de risco


Indivíduo que apresente febre de início súbito, mesmo para complicações
que referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta • Prescrever fosfato de oseltamivir baseada em
e pelo menos um dos seguintes sintomas, na ausência de julgamento clínico, preferencialmente nas
outro diagnóstico específico: primeiras 48 horas – 12/12 horas por 5 dias
• Prescrever medicamentos sintomáticos e da
• Cefaleia
hidratação
• Mialgia
• Orientar sobre retorno ao serviço de saúde se
• Artralgia surgirem sinais de agravamento do quadro
Em crianças com menos de 2 anos de idade, considera- (indica início imediato do fosfato de oseltamivir)
se também como caso de síndrome gripal: febre de início
súbito (mesmo que referida) e sintomas respiratórios
(tosse, coriza e obstrução nasal), na ausência de outro
diagnóstico específico.

Fatores de risco para complicações


• Grávidas e puérperas até duas semanas após o
parto
• Adultos ≥ 60 anos
• Crianças < 5 anos
• População com dificuldade de acesso ao sistema
• Pneumopatas (incluindo asma)
• Tuberculose de todas as formas
• Cardiopatas (excluindo HAS)
• Nefropatas
• Hepatopatas
• Doenças hematológicas (anemia falciforme)
• Distúrbios metabólicos (incluindo DM)
• Transtornos neurológicos e do desenvolvimento
que podem comprometer a função respiratória
ou aumentar o risco de aspiração
• Imunossupressão
• Obesidade (especialmente IMC ≥ 40 em adultos)

Manejo para pacientes com fatores de risco


para complicações
• Medicamentos sintomáticos
• Hidratação
• Fosfato de oseltamivir (Tamiflu®) para todos os
casos de SG que tenham condições e fatores de
risco para complicações, independentemente da
situação vacinal, mesmo em atendimento
ambulatorial
o Terapêutica precoce: redução da
duração dos sintomas e das
complicações da infecção pelos vírus da
influenza em pacientes com condições e
fatores de risco para complicações
404
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Síndrome Respiratória Aguda Grave • Coletar amostras de secreções respiratórias para


exame laboratorial, preferencialmente antes do
(SARS) início do tratamento
Indivíduo de qualquer idade, com síndrome gripal e que
apresente dispneia ou os seguintes sinais de gravidade: Indicação de internação em UTI
• Instabilidade hemodinâmica persis-tente
• SatO2 <95% em ar ambiente (pressão arterial que não respondeu à reposição
• Sinais de desconforto respiratório ou aumento volêmica (30 mL/kg nas primeiras 3 horas),
da frequência respiratória avaliada de acordo indicando uso de amina vasoativa
com a idade • Sinais e sintomas de insuficiência respiratória,
• Piora nas condições clínicas de doença de base incluindo hipoxemia (PaO2 abaixo de 60 mmHg)
• Hipotensão com necessidade de suplementação de oxigênio
Ou para manter SatO2 > 90%
• Evolução para outras disfunções orgânicas,
• Indivíduo de qualquer idade com quadro de como insuficiência renal aguda e disfunção
insuficiência respiratória aguda, durante período neurológica
sazonal

Em crianças: além dos itens anteriores, observar os


batimentos de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal,
desidratação e inapetência.

Exames complementares
Alterações laboratoriais:
• Hemograma (leucocitose, leucopenia ou
neutrofilia)
• Bioquímica do sangue (alterações enzimáticas;
musculares – CPK – e hepáticas – TGO, TGP,
bilirrubinas)

Radiografia de tórax:
• Infiltrado intersticial localizado ou difuso
• Presença de área de condensação

Manejo clínico
• Indicar internação hospitalar
• Realizar avaliação clínica minuciosa, realizar
hidratação venosa, oxigenoterapia se
necessário, e manter monitoramento clínico
• Avaliação inicial: pressão arterial, frequência
cardíaca, frequência respiratória e temperatura
axilar; exame cardiorrespiratório e oximetria de
pulso
• Deve ser estabelecido em prazo de 4 horas a
necessidade de internação em UTI
• Iniciar imediatamente o tratamento com o
fosfato de oseltamivir após a suspeita clínica,
independentemente da coleta de material para
exame laboratorial

405
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Malária

406
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Leptospirose na incidência da leptospirose. No Brasil, a


incidência é maior no período de janeiro a abril
A leptospirose, uma das zoonoses mais importantes do
• Em relação à faixa etária, a doença atinge com
nosso meio, é uma doença generalizada, febril, causada
maior frequência os adultos jovens dos 10 aos 39
por espiroquetas patogênicos do gênero Leptospira,
anos
podendo acometer o homem e os animais domésticos e
selvagens, sendo caracterizada por uma vasculite Transmissão
generalizada. • A transmissão ao homem pode ocorrer por
No homem, pode determinar manifestações clínicas contato direto com sangue, tecidos, órgãos ou
variadas, desde infecções inaparentes até a forma íctero- urina de animais infectados, ou, por via indireta,
hemorrágica, também conhecida como “doença de através do contato com água ou solo
Weil”. contaminados com a urina dos animais
portadores
Etiologia • Acredita-se que a leptospira atinja a circulação
• A espécie patogênica para o homem é a sanguínea através da pele ou da mucosa íntegra,
Leptospira interrogans sendo certa a passagem por abrasões na pele. O
• As leptospiras são microrganismos aeróbios homem se contamina ao lidar com os animais
obrigatórios, helicoidais, flexíveis e móveis, infectados ou pelo contato com águas
medindo em geral de 6 a 20 μm de comprimento contaminadas, ao andar descalço no solo úmido
e cerca de 0,1 μ de diâmetro e lamacento, nadar em lagoas ou pequenos rios
• Certos grupos profissionais estão mais expostos
Epidemiologia ao contágio, como trabalhadores de
• As leptospiroses constituem verdadeiras abatedouros, peixeiros, lavradores, criadores de
zoonoses. As leptospiras patogênicas são animais, militares durante campanhas em
capazes de afetar animais domésticos e regiões inundadas ou pantanosas, operários da
selvagens, determinando quadro clínico construção civil, lixeiros e trabalhadores da rede
variável, desde infecção inaparente até doença de esgoto. Certas atividades recreacionais
fatal, o que resulta, com frequência, em um também podem se constituir em fontes de
estado de portador renal crônico e leptospirúria aquisição da doença, especialmente natação,
por meses a anos, sendo este o principal fator na pescarias e caçadas onde haja água ou solo
transmissão da doença ao homem contaminados.
• O principal animal reservatório das leptospiroses • Animais domésticos, como os cães, gatos,
é o rato, pois é capaz de permanecer eliminando hamsters e outros, podem ser contaminados
o microrganismo pela urina por toda sua vida, com a urina do rato e transmitir leptospiras ao
constituindo-se um portador universal homem, atingindo preferencialmente donas de
• Outros animais também estão envolvidos na casa e crianças. As vacinas contra as leptospiras
cadeia epidemiológica: cachorro, bovinos, aplicadas rotineiramente nos cães domésticos
suínos, ovinos, caprinos e equinos. Em relação são capazes de protegê-los contra a doença, mas
aos animais silvestres, é grande a variedade de não contra o estado de portador
espécies entre roedores e carnívoros, incluindo
raposas, guaxinins, gambás, doninhas e gatos Fisiopatologia
selvagens • Após penetrarem através das mucosas ou da
• As enchentes e chuvas fortes constituem, em pele, as leptospiras atingem a corrente
nosso meio, grande fonte favorecedora do sanguínea e, rapidamente, alcançam todos os
contato do homem com as águas contaminadas, órgãos e tecidos do organismo, em especial,
quebrando, assim, a relação entre risco fígado, rins, coração e músculo esquelético
profissional e contato doméstico na leptospirose • O que chama a atenção em um doente com
para atingir pessoas não incluídas nesses grupos. leptospirose, além dos sinais de acentuada
Em todos os países ocorre uma variação sazonal toxemia, é a presença da icterícia que,

407
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

classicamente, assume tonalidade rubínica mialgia. Os grupos musculares acometidos com


devido à combinação do fator vascular, mais frequência são os da panturrilha, podendo
proeminente na doença, com a impregnação afetar os músculos paravertebrais e abdominais,
biliar amarela dos tecidos resultando em palpação dolorosa que pode ser
• O exame macroscópio revela hepatomegalia, bastante grave, assemelhando- se à rigidez de
com intensa colestase, e as vias biliares extra- nuca das meningites ou abdome agudo cirúgico.
hepáticas mantêm-se permeáveis. A vesícula Anorexia, náuseas, vômitos, diarreia, prostação
biliar está geralmente vazia ou com pouca bile e, ocasionalmente, transtornos mentais, dores
em seu interior, e suas paredes são espessadas articulares e injeção conjuntival são observados
por edema com frequência nesses pacientes. As
• O quadro renal é proeminente na leptospirose e, manifestações gastrointestinais podem ser
até pouco tempo, o principal responsável pela agravadas pela presença de melena ou
morte dos pacientes enterorragia
• O fenômeno de lesão vascular não é limitado aos • Os sintomas respiratórios em geral se
rins, mas é visível em outros setores, manifestam por tosse seca ou produtiva, com ou
particularmente pele, pulmão e trato digestivo. sem escarros hemoptoicos, podendo ocorrer
Na pele, ele contribui para o aspecto rubínico da hemoptise franca, dor torácica, desconforto
icterícia. No pulmão, há extravasamento respiratório com cianose, atrito pleural e
sanguíneo para a luz alveolar, originando ausculta pulmonar compatível com consolidação
opacificações (fugazes, uma vez que • As lesões cutâneas são variadas, podendo
rapidamente são reabsorvidas) no exame ocorrer exantemas maculares,
radiológico e quadros de hemoptise. No trato meculopapulares, eritematosos, urticariformes,
digestivo, o fenômeno de lesão capilar petequiais ou hemorrágicos
exterioriza-se pelo aparecimento de sufusões
Fase imune
hemorrágicas e edema na mucosa gástrica,
• Seguindo-se à desfervescência da febre e dos
dando origem, com frequência, a extensas
sintomas, pode ocorrer eventualmente, após um
hemorragias em superfície
a dois dias, uma fase imune, quando pode haver
Quadro Clínico recrudescimento da febre, porém com menos
• O período de incubação é variável, em geral de 3 intensidade, e aparecimento de sinais e
a 13 dias. A leptospirose segue geralmente uma sintomas de localização em diversos órgãos. É
evolução bifásica, sendo o primeiro período o de nesta fase que os anticorpos específicos
leptospirosemia, com duração de quatro a sete começam a ser detectados no soro
dias. Segue-se um período de defervescência em • A principal manifestação clínica na fase imune
lise, que dura de um a dois dias, seguido de das formas anictéricas é a meningite,
período de recrudescência da febre e dos caracterizada por cefaleia intensa, vômitos e
sintomas, que pode durar de 4 a 30 dias sinais de irritação meníngea. Cerca de 80 a 92%
correspondendo ao chamado segundo período dos casos apresentam alterações liquóricas,
ou fase imune da leptospirose porém somente em 50% são observadas
• Este modelo bifásico da doença, alterações clínicas
frequentemente observado na forma anictérica, • Outra ocorrência clínica importante na fase
pode, com frequência, não ocorrer na forma imune diz respeito ao acometimento ocular,
ictérica caracterizado por uveíte
• Nesta fase, a leptospira dificilmente é
Forma Anictérica encontrada no sangue periférico, porém a
Fase de leptospirosemia leptospirúria é frequente, durando de seis
• Os sintomas se iniciam abruptamente após o semanas até três meses
período de incubação. A febre é alta e remitente,
acompanhada de calafrios, cefaleia intensa e

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Forma ictérica ou síndrome de Weil Diagnóstico


• O termo “síndrome de Weil” deve ser utilizado • O diagnóstico deverá se basear nos elementos
para descrever o quadro clínico anteriormente positivos de ordem epidemiológica e clínica.
descrito associado a grave disfunção hepática, Entre estes estão o contato com animais, em
onde a icterícia é o sinal proeminente, e essa especial o rato, ou com águas contaminadas,
síndrome é acompanhada de disfunção renal, sobretudo após os períodos de enchentes ou por
fenômenos hemorrágicos, alterações necessidade profissional, além do relato de
hemodinâmicas, cardíacas, pulmonares e da sintomas como febre, cefaleia intensa, mialgia
consciência, associada a taxa de mortalidade (especialmente nos músculos da panturrilha) e
• Na forma ictérica, as fases de leptospirosemia e icterícia, acompanhados ou não de oligúria
imune não apresentam o curso bifásico que • Considera-se como caso confirmado de
pode ser bem observado na forma anictérica, e leptospirose aquele que preencher qualquer um
a febre geralmente persiste sem desfervescência dos seguintes critérios:
entre os dois estágios. Os sintomas o Paciente no qual se tenha isolado a
anteriormente descritos são mais intensos e têm leptospira de qualquer espécime clínico.
maior duração As leptospiras podem ser cultivadas do
• A icterícia, que constitui a característica principal sangue ou do liquor, geralmente na
nessa forma clínica, ocorre de três a sete dias primeira e no início da segunda semana
após o início da doença. Tem um início abrupto de doença. Na urina, as leptospiras são
e apresenta coloração amarelo—avermelhada. preferencialmente isoladas a partir da
A icterícia é intensa e, frequentemente, os níveis segunda semana de doença, podendo
de bilirrubinas atingem cifras superiores a 15 persistir positiva por várias semanas
mg/dL no soro, podendo atingir níveis de 60 após a convalescença
mg/dL ou mais, com predomínio das bilirrubinas o Paciente com sintomas clínicos
diretas. A urina é escura, porém as fezes acólicas sugestivos associados a uma conversão
não são geralmente observadas, mesmo quando sorológica com aumento de quatro
a icterícia é muito intensa vezes ou mais no título obtido pela
• O comprometimento renal na leptospirose é reação de soroaglutinação
frequente nessa forma da doença, microscópica, entre a fase aguda e a de
caracterizando-se por elevação nos níves de convalescença
ureia e creatinina, aumento da fração de o Detecção de imunoglobulina M (IgM)
excreção de sódio e alterações variáveis específica por ELISA
observadas no exame rotineiro da urina, como • Considera-se diagnóstico provável de
leucocitúria, hematúria, proteinúria e cristalúria leptospirose um paciente que apresenta dados
• O envolvimento cardíaco, que pode ser visto em epidemiológicos e clínicos sugestivos e cuja
qualquer forma clínica de leptospirose, é mais reação de soroaglutinação microscópica revele
proeminente na síndrome de Weil, como um título igual ou superior a 1:800 em uma única
decorrência da miocardite que se instala amostra de soro
• Os fenômenos hemorrágicos são relativamente
frequentes na síndrome de Weil. Hemorragias Tratamento
pulmonares podem variar desde simples Doença leve
escarros hemoptoicos até hemorragia pulmonar • Penicilina G cristalina 4.000.000 UI por dia por 4
maciça. Sangramentos gastrointestinais dias
traduzidos por hematêmese, melena ou • Doxiciclina 200 mg por dia por 7 dias
enterorragia podem ocorrer, variando também
na sua intensidade Doença grave
• Penicilina G cristalina 1,5 milhão UI EV de 6 em 6
hora, por 7 dias

409
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Doxiciclina 100mg EV duas vezes ao dia, por 7


dias
• Ceftrixone 1 a 2g EV uma vez ao dia, por 7 dias

Profilaxia
• Campanhas educacionais com intuito de alertar
os grupos ocupacionais de risco sobre o modo de
contágio e as consequências da doença.
Recomenda-se usar roupas especiais, luvas,
botas à prova d’água, lavar e desinfectar
ferimentos, evitar certas atividades
recreacionais em locais com probabilidade de
contaminação, como natação em lagos e
pequenos rios, pescarias e caçadas
• Programas de controle de roedores para impedir
a presença e multiplicação desses animais em
moradias, depósitos, armazéns, terrenos baldios
etc
• Medidas de saneamento como purificação da
água e destino adequado aos esgotos
• Adoção de medidas concretas que evitem as
enchentes durante os períodos de chuvas
• Uso da doxiciclina na dose de 200 mg em dose
única. Pode ser empregado para casos
específicos nos quais o clínico considere o risco
para aquisição da doença elevado
• A imunização de animais domésticos, em
especial os cães. Está disponível e é
recomendada para que os proprietários vacinem
seus animais

410
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Paracococidioidomicose Th1 compensada por padrão Th17 e Th22,


levando à inflamação de mucosas e intensa
Infecção fúngica causada pelos fungos termodimóficos
participação de neutrófilos
Paracoccidioides brasiliensis e Paracococidioides lutzii,
endêmica na América do Sul e Central. Classificação
É a principal micose sistêmica no Brasil, causando • Infecção paracoccidiodica
infecção pulmonar como apresentação mais comum, • Paracoccidioidomicose
seguida de membranas mucosas (cavidade oral), pele e o Forma aguda/subaguda (juvenil) – 5-
linfonodos. 25% dos casos
▪ Moderada
Nos imunocompetentes, a infecção costuma ser ▪ Grave
assintomática e autolimitada. o Forma crônica (do adulto) – 90% dos
casos
Epidemiologia
▪ Leve
• Incidência anual: nas zonas endêmicas, é em
▪ Moderada
torno de 3-4 casos por milhão
▪ Grave
• Prevalência: 80% dos casos estão no brasil
• Forma residual ou sequelas
• Mortalidade: entre 1980 e 1995, foram
registrados mais de 3 mil óbitos, sendo a taxa de Apresentação clínica
mortalidade em torno de 1,45 por milhão
Forma juvenil
• Foi considerada a 8ª causa de mortalidade por
• Crianças, adolescentes, adultos jovens,
doença infecciosa predominantemente crônica
alcoólatras, tabagistas e imunodeficientes
• Prioritariamente adquirida nas duas primeiras
• Rápida evolução, acometendo de múltiplos
décadas de vida, evoluindo para doença em
sistemas poucas semanas após exposição
adultos entre 30 e 50 anos
• Febre, perda ponderal, caquexia, mal-estar,
• Acomete 10-15 homens:1mulher
linfadenomegalia com possível supuração,
• Além do humano, animais domésticos e hepatoesplenomegalia, múltiplas lesões de pele,
silvestres podem se infectar. O tatu-galinha é um manifestação digestivas e acometimento
reservatório do Paracoccidoides brasiliensis osteoarticular
Fatores de risco • Acometimento de mucosas e sistema
• Trabalho rural respiratório é raro
• Desnutrição • Anemia, hipergamaglubulinemia (possível na
presença de ascite e edema periférico),
• Tabagismo e alcoolismo
eosinofilia
• Imunodeficiência
• Tende a evoluir para doença grave
• Visita a áreas endêmicas
Forma adulta
Imunopatogenia
• 30 a 60 anos, predominando em homens 22:1
• O controle da infecção depende da resposta
• Reativação após meses ou anos da exposição
imune celular efetiva e os linfócitos T possuem
inicial, forma de instalação mais lenta, sintomas
papel central
curando 4 a 6 meses antes do diagnóstico,
• A maioria dos infectados exibe padrão de
podendo haver instalação silênciosa
resposta Th1, resultando na formação de
• Unifocal (geralmente pulmão em 90%) ou
granulomas compactos e controle da replicação
multifocal (principalmente mucosas
fúngica
aerodigestivas superiores e pele)
• Formas graves evoluem com predomínio de
• Infecção pulmonar primária (tosse, dispneia,
resposta Th2 e Th9, com secreção de altos títulos
expectoração mucopurulenta), febre, mal-estar
de anticorpos específicos
• Úlceras de pele e de mucosa naso-orofaríngea,
• Formas crônicas, menos graves e com carga
odinofagia, disfagia e disfonia
fúngica menor, exibem depressão da resposta
411
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Linfadenomegalia mandibular ou cervical • Hemograma completo, VHS, eletrólitos,


dolorosa hepatograma, eletroforese de proteínas e
• Acometimento medular adrenal (astenia, função renal
emagrecimento, hipotensão, escurecimento da
pele e dor abdominal) Abordagem terapêutica
• SNC: cefaleia, déficit motor, convulsão, • Indicação de internação: doença disseminada e
alteração de comportamento e/ou consciência com complicações; portadores de comorbidades
• TGI: diarreia, síndrome da má absorção como AIDS, tuberculose e/ou neoplasias;
pacientes com sequelas ou instabilidade
• Hepatoesplenomegalia
hemodinâmica (DPOC descompensada, cor
Caso grave (3 ou mais critérios) pulmonale, doença de Addison e estenose de
• Perda ponderal maior que 10% laringe ou traqueaia)
• Intenso comprometimento pulmonar • Antifúngicos: azóis (itraconazol, voriconazol,
• Acometimento de outros órgãos (adrenal, SNC, posaconazol, cetoconazol); sulfonamidas
ossos) (sulfadiazina e sulfametoxazol-tripetoprim);
• Linfonodos acometidos em múltiplas cadeias, anfotericina B
superficial ou profundo, do tipo tumoral ou
Doença leva ou moderada
supurativo
• Itraconazol: 200 mg VO de 24/24 horas, por 9 a
• Títulos de anticorpos elevados
18 meses. Se necessário, 100 mg EV de 12/12
Complicações horas
• Anemia e caquexia • Recomenda-se tomar as cápsulas após o almoço
• Hemoptise, fibrose pulmonar e cor pulmonale ou jantar em única tomada. Bebidas ácidas
crônico ajudam na absorção
• Síndrome de Addison Doença grave
• Perfuração em palato ou septo nasal • Anfotericina B (em desoxicolato ou formulação
• Estenose de laringe e traqueia lipídica): por 2-4 semanas, pelo menor tempo
• Superinfecção bacteriana ou outros patógenos, possível, visando apenas a estabilização clínica,
sepse e óbito quando deve ser iniciado o tratamento de
manutenção com itraconazol ou cotrimazol
Abordagem diagnóstica
• Convencional: 0,5-0,7 mg/kg/dia (máximo 50
• Visualização de leveduras através do exame a
mg/dia) EV
fresco de escarro, raspado de lesão, aspirado de
• Quando não é possível utilizar anfotericina B,
linfonodos ou biópsia
utiliza-se o cotrimazol EV (800/160 de 8/8 horas)
• Testes sorológicos (auxílio no diagnóstico e na
ou fluconazol EV
avaliação de resposta ao tratamento)
• Itraconazol: 200 mg VO de 24/24 horas por, no
• Métodos: IDD, CIE, ELISA, imunoblotting com
mínimo, 12 meses
antígeno P43 e gp70
• Corticoides: quando o paciente está em estado
• Títulos mais elevados são encontrados em casos
de inflamação intensa, associar o uso de
mais graves, disseminados ou forma
prednisona por 1-2 semanas
aguda/subaguda
• PCR Avaliação após início do tratamento
• Lesão tegumentar cicatrizam em 30 dias
Exames complementares
• Linfadenopatias regridem em 45-90 dias
• Radiografia de tórax: padrão de asa de borboleta
• Estabilização das imagens radiológicas ocorre
• Ultrassonografia abdominal, tomografia ou
após 6 meses
ressonância
• Redução dos títulos de anticorpos ocorre em 6
meses e sua negativação ou estabilização em
níveis baixos em 10-24 meses
412
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Seguimento clínico
Consulta médica mensais nos 3 primeiros meses de
tratamento

Consultas, com solicitação de hemograma e provas


bioquímicas, trimestrais no 1º ano de tratamento

Exames sorológicos e radiológicos serão solicitados a


cada 6 meses

No segundo ano, os retornos deverão ser semestrais

Após suspensão do tratamento, consultas semestrais por


mais 2 anos

Critérios de cura
• Clínicos: ausência ou regressão dos sinais e
sintomas, podendo haver sequelas devido à
cicatrização e fibrose
• Micológico: negativação
• Radiológico: as imagens tendem a se
transformar em lineares, indicando cicatrização
e fibrose
• Imunológico: negativação ou títulos muito
baixos estáveis (IDD: 1:2 e CIE: 1:4)

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Dor crônica • Frequência: contínua, intermitente ou picos de


agudização (casos oncológicos)
O manejo adequado da dor envolve avaliação da dor
(investigação adequada, exame físico, descrição da dor), • Intensidade: escala de Edmonton ou outra
escolha do analgésico, baseado no tipo da dor e as suas escala que avalie uma nota para dor
dosagens adequadas. o Em caso de paciente incapaz de definir a
dor (demenciado), perguntar para o
A dor continua sendo um sintoma comum e muitas vezes cuidador
pouco valorizado e tratado. • Tratamentos já realizados: se houve resultados,
efeitos indesejáveis
Má adesão aos analgésicos/opioides
• Estado emocional: angústias espirituais,
Barreira dos médicos repercussões sociais, alterações
• Relutância em prescrever opioides comportamentais e humor podem estar
• Treinamento inadequado relacionados com a dor; questionar se o quadro
• Modo de complicações/efeitos adversos foi exacerbado com a dor
• Interação medicamentosa
Exame físico
Barreira dos pacientes • Geral: presença de taquicardia, aumento da PA,
• Relutância em queixar-se taquipneia
• Dor subnotificada • Exame direcionado: dor em movimento ou
• Interpretação da dor com palavras do tipo repouso, presença de massas palpáveis em
desconforto dores abdominais, presença de sensibilidade
• Relutância em tomar analgésicos local (neuropatias)
• Presença de comorbidades que fazem a • Exame psicológico: ansiedade, hostilidade,
prescrição mais difícil depressão
• Alto custo de alguns analgésicos, adicionado ao • A reavaliação dos pacientes com dor deve ser
custo de outras medicações constante

Avaliação da dor Escolha dos analgésicos


• Localização: onde está a dor?
• Irradiação: a dor anda para algum lugar?
• Descrição: com o que a dor se parece (ardor,
queimação, choque, aperto)? O quanto a dor
gera impacto na sua vida?
• Classificação:

• Nível 1: dor fraca – medidas não farmacológicas


(fisioterapia, acupuntura) e analgésicos não
opioides (paracetamol, dipirona, AINEs)
associado com os adjuvantes (antidepressivos
tricíclicos, anticonvulsivantes,
benzodiazepínicos, neurolépticos, relaxantes
musculares, bifosfonatos)
• Nível 2: dor moderada – opioides fracos
(codeína, tramadol) associado com os
adjuvantes
• Nível 3: dor forte – opioides fortes (metadona,
oxicodona, fentanil, hidromorfona, morfina)
414
Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

Codeína
• Disponível em comprimido ou solução (puro ou
em associações)
• Apresentação: via oral
o Comprimido: 7,5, 30 ou 60 mg
o Solução: 3 mg/ml
• Posologia: 6/6 horas até 4/4 horas
• Dose teto: 360 mg/dia
• Apresenta efeito antitussígeno
• Efeito constipante e hemético: prescrever
laxante e antiemético
• Metabolização hepática em morfina pelo
citocromo P450
o 7% dos caucasianos e 1-3% dos orientais
não fazem essa metabolização e não
apresentam efeito analgésico
o Não prescrever para pacientes com
insuficiência hepática
Paracetamol
• Disponível em comprimido ou solução Tramadol
• Apresentação via oral • Disponível em comprimido, solução oral e
o Comprimido: 500, 750 e 1000 mg injetável
o Solução: 200 mg/ml • Apresentação: via oral ou parenteral EV/SC
• Posologia: 8/8 horas até 6/6 horas o Comprimido: 50 mg e Retard 100 mg
• Seguro até 4 g para hepatopatas o Solução oral: 100 mg/ml (40 gotas)
• Evitar dose superior a 2 g para idosos o Injetável: 50 e 100 mg
• Posologia: intervalo de 6/6 horas (Retard 12/12
Dipirona
horas)
• Disponível em comprimido, solução e injetável
• Dose teto: 400 mg/dia
• Apresentação: via oral ou parenteral EV
• Melhor biodisponibilidade na forma VO
o Comprimido: 500, 1000 mg
• Comparado com codeína, apresenta menos
o Solução oral: 500 mg/ml
efeitos obtipantes, sem ação antitussígena e é
o Injetável: 500 mg/ml (2 ml)
mais nauseante
• Posologia: 6/6 horas até 4/4 horas
• Interessante de ser utilizado na dor neuropática
• Dose total diária de 4 a 6 g/dia
• Diminui o limiar convulsivo na apresentação EV
Anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) • Pode causar síndrome serotoninérgica se
• Adjuvantes em dores associadas a processos combinado com ISRS
inflamatórios, como a dor por metástases ósseas
Trocar para morfina
e tumores cutâneos
• Dose equianalgésica: 400 mg de tramadol = 40
• Preferir inibidores seletivos da COX-2 em
mg de morfina VO
pacientes com contraindicações e insucesso aos
• Dor intensa: dobrar a dose
AINEs convencionais
• Dose diária: 80 mg morfina VO
• Devem ser usados por curto prazo
• Dose de resgate: 10 mg de morfina VO (10-15%
• Evitar combinações para uso contínuo
da dose total)
• Se utilizar AINEs convencionais, avaliar
• Prescrição:
associação com IBP
o Morfina 15 mg VO de 4/4 horas (total
diária de 90 mg)

415
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o Resgate de morfina: 10 mg VO até 1/1 • Equivalência: 1,5-2 vezes mais potente que
hora morfina VO

Titular dose de morfina após 24 horas Metadona


• Recebeu 4 resgates de 10 mg (totalizando 40 mg) • Disponível em comprimidos ou injetável
• Nova dose de morfina diária: 80 + 40 = 120 mg • Apresentação: VO ou parenteral (SC/EV)
• Nova dose de resgate: 15 mg de morfina VO o Comprimido: 5, 10 mg (pode ser
• Prescrição macerado)
o Morfina 20 mg VO 4/4 horas (total de o Injetável: 10 mg/ml
120 mg) • Posologia: 12/12 horas e resgates a cada 3 horas
o Resgate de morfina de 15 mg VO até 1/1 • Sem dose teto
hora • Cuidado ao iniciar e titular a dose
o Meia vida longa (30 horas): demora dias
Morfina
até controle adequado da dor
• Disponível em comprimido e solução
o Interage com inúmeras drogas
• Apresentação: via oral ou parenteral EV/SC em
o Pode prolongar intervalo QT (sobretudo
bolus ou infusão contínua
diante de hipocalemia e
o Comprimido: 10 e 30 mg
hipomagnesemia)
o Solução oral: 10 mg/ml
o Comprimido LC (liberação Fentanil transdérmico
cronogramada – prolongada): 30, 60 e • Somente a apresentação transdérmica deve ser
100 mg (não utilizar em sonda usada para controle da dor
nasoentérica) • Apresentação: 12, 25, 50, 75 e 100 mcg
o Injetável: 0,1 mg/ml, 0,2 mg/ml, 10 • Intervalo: 72 horas (demora 3 dias até controle
mg/ml adequado da dor)
• Posologia: VO 4/4 horas e LC 12/12 horas • Equivalência: até 100 vezes mais potente que
• Não apresenta dose teto morfina VO
• A metabolização da morfina é hepática e a • 25 mcg de fentanil transdérmico equivale a 50
excreção é renal. Reduzir a dose nas mg/dia de morfina VO
insuficiências renal e hepática • É o opioide que menos causa constipação
• Equivalência de dose: via EV é 3x mais potente • Boa opção na insuficiência renal
que via VO • Resgate: com morfina
• Carbamazepina, fenobarbital, fenitoína
aceleram o clearance de morfina, havendo risco Efeitos colaterais
de síndrome de abstinência • Comuns: constipação, boca seca,
• Interrupção deve ser feita devagar, com redução náusea/vômito, sedação, transpiração
gradual da dose • Incomuns: pesadelos/alucinações,
• Tricíclicos podem aumentar o efeito da morfina disforia/delirium, mioclonia/convulsões,
prurido/urticária, depressão respiratória,
Oxicodona retenção urinária
• Disponível em comprimidos que não podem ser o Antídoto: naloxona
macerados/quebrados
• Apresentação: VO de liberação normal e
prolongada (não pode ser macerado/quebrado)
o Comprimido: 10, 20 e 40 mg
• Posologia: 12/12 horas (preferencialmente) ou
8/8 horas
• Sem dose teto

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Ajuste na insuficiência renal

Ajuste na insuficiência hepática

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Comunicação de más notícias

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Osteoporose principalmente a doenças pulmonares. Múltiplas


fraturas vertebrais são responsáveis por perda
A osteoporose, uma condição que se caracteriza por
de altura (com frequência de vários
menor resistência do osso, é prevalente entre as
centímetros), cifose e dor e desconforto
mulheres na pós-menopausa, mas também ocorre em
secundários relacionados com uma biomecânica
homens e mulheres com condições subjacentes ou
alterada do tronco
fatores de risco significativos associados à
• As doenças crônicas com um componente
desmineralização óssea.
inflamatório que aumenta o remodelamento
Suas principais manifestações clínicas são as fraturas ósseo, como a artrite reumatoide, elevam o risco
vertebrais e do quadril, embora possam ocorrer fraturas de osteoporose, o mesmo ocorrendo com as
em qualquer local do esqueleto. doenças associadas à má absorção. As doenças
crônicas que elevam o risco de quedas ou de
Definição fragilidade, incluindo a demência, a doença de
• A osteoporose é definida como uma redução na Parkinson e a esclerose múltipla, também
resistência do osso que resulta em maior risco de aumentam o risco de fratura
fraturas
• A Organização Mundial da Saúde (OMS) oferece Fatores de risco
uma definição operacional da osteoporose como Fatores relacionados com o estilo de vida
uma densidade óssea que cai em 2,5 desvios- • Abuso de álcool, baixa ingestão de cálcio, alta
padrão (DPs) abaixo da média para adultos ingestão de sal, atividade física inadequada,
jovens sadios do mesmo sexo – também imobilização, tabagismo (ativo ou passivo),
denominado como um escore T de –2,5 (T <-1,0 quedas, magreza excessiva, deficiência de
é definido como densidade óssea baixa) vitamina D, excesso de vitamina A, fraturas
prévias
Epidemiologia
• A osteoporose ocorre com mais frequência com Fatores genéticos
a idade avançada, quando se constata uma • Fibrose cística, síndrome de Ehlers- Danlos,
perda progressiva de tecido ósseo. Nas síndrome de Marfan, hemocromatose
mulheres, a perda da função ovariana por
ocasião da menopausa (por volta dos 50 anos de Estados hipogonádicos
idade) desencadeia uma rápida perda óssea, • Insensibilidade aos androgênios, anorexia
razão pela qual a maioria das mulheres preenche nervosa e bulimia, hiperprolactinemia,
critério para o diagnóstico de osteoporose aos menopausa prematura, insuficiência ovariana
70 a 80 anos de idade prematura, amenorreia atlética, pan-
• A epidemiologia das fraturas acompanha a hipopituitarismo, síndromes de Turner e
tendência à perda da densidade óssea, com Klinefelter
aumentos exponenciais nas fraturas tanto de
Distúrbios endócrinos
quadril quanto vertebrais com a idade
• Insuficiência da suprarrenal, diabetes melito
• As taxas de incidência de fraturas de quadril
(tipos 1 e 2), síndrome de Cushing, tireotoxicose,
duplicam a cada cinco anos depois dos 70 anos
hiperparatireoidismo
de idade. As fraturas de quadril estão associadas
a uma alta incidência de trombose venosa Distúrbios gastrintestinais
profunda e embolia pulmonar (20-50%) e a uma • Doença celíaca, bypass gástrico, doença
taxa de mortalidade entre 5 e 20% durante o ano inflamatória intestinal
subsequente à cirurgia
• As fraturas vertebrais só raramente exigem Distúrbios hematológicos
hospitalização, porém estão associadas a • Mieloma múltiplo, hemofilia, talassemia,
morbidade de longo prazo e um leve aumento leucemia e linfomas, doença falciforme
nas taxas de mortalidade, relacionadas

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Doenças reumatológicas e autoimunes receptor osteoclástico para essa proteína é


• Espondilite anquilosante, artrite reumatoide, denominado RANK
lúpus • A ativação do RANK pelo RANKL é uma via
comum final no desenvolvimento, na ativação e
Distúrbios do sistema nervoso central no tempo de sobrevida dos osteoclastos. Um
• Epilepsia, esclerose múltipla, doença de atrativo humoral para o RANKL, também
Parkinson, lesão medular, AVE secretado pelos osteoblastos, é a
osteoprotegerina (OPG). A modulação do
Condições e doenças diversas
recrutamento e da atividade dos osteoclastos
• Aids/HIV, alcoolismo, acidose metabólica
parece relacionada com a interação entre esses
crônica, DPOC, ICC, depressão, hipercalciúria
três fatores
Fármacos • A perda óssea excessiva pode ser devida a um
• Alumínio (em antiácidos), anticoagulantes aumento na atividade osteoclástica e/ou a uma
(heparina), anticonvulsivantes, inibidores da redução na atividade osteoblástica. Além disso,
aromatase, glicocorticoides (≥5 mg/dia de um aumento na frequência de ativação do
prednisona ou equivalente por ≥3 meses), lítio, remodelamento e, consequentemente, no
metotrexato, IBP, glitasonas, agentes número de locais de remodelamento pode
quimioterápicos para câncer, ISRS ampliar o pequeno desequilíbrio observado em
cada unidade de remodelamento
Fisiopatologia
• O remodelamento ósseo desempenha duas Nutrição com cálcio
funções primárias: (1) reparar as microlesões • O pico da massa óssea pode ser afetado por uma
dentro do esqueleto para manter a resistência ingestão inadequada de cálcio durante o
esquelética e o vigor relativo do esqueleto e (2) crescimento, resultando em maior risco de
suprir cálcio a partir do esqueleto para manter o osteoporose nas fases subsequentes da vida
cálcio sérico • Durante a fase adulta da vida, uma ingestão
• O remodelamento pode ser ativado por insuficiente de cálcio contribui para o
microlesões do osso como resultado de um hiperparatireoidismo secundário relativo, assim
estresse excessivo ou acumulado. As demandas como para um aumento na taxa de
agudas de cálcio envolvem a reabsorção remodelamento ósseo para que sejam mantidos
mediada pelos osteoclastos e o transporte do níveis normais de cálcio sérico
cálcio pelos osteócitos. As demandas crônicas de • A ingestão diária recomendada de cálcio é de
cálcio resultam em hiperparatireoidismo 1.000 a 1.200 mg para adultos. Esses aportes
secundário, remodelamento ósseo aumentado e devem ser, de preferência, de fontes dietéticas,
perda global de tecido ósseo. O remodelamento e os suplementos só devem ser usados quando
ósseo também é regulado por vários hormônios houver escassez do aporte dietético
circulantes, incluindo estrogênios, androgênios,
Vitamina D
vitamina D e paratormônio (PTH), assim como
• A deficiência grave de vitamina D provoca
por fatores do crescimento produzidos
raquitismo em crianças e osteomalacia em
localmente, como o IGF-I e o hormônio do
adultos. Os indivíduos de pele escura correm
crescimento imunorreativo II (IGH-II), o fator de
alto risco de deficiência de vitamina D
crescimento transformador β (TGF-β), o
• Há controvérsias sobre os níveis séricos ideais de
peptídeo relacionado com o paratormônio
25-hidroxivitamina D (25[OH]D), e alguns
(PTHrP), as interleucinas (ILs), as prostaglandinas
recomendam níveis > 20 ng/mL, enquanto
e membros da superfamília do fator de necrose
outros defendem uma meta ideal de > 75 nmol/L
tumoral (TNF)
(30 ng/mL). Para alcançar esse nível na maioria
• A citocina responsável pela comunicação entre
dos adultos, é necessário um aporte de 800 a
os osteoblastos, outras células da medula e
1.000 unidades/dia, em particular no caso de
osteoclastos é o ligante do RANK (RANKL). O
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indivíduos que evitam a luz solar ou que utilizam Medicamentos


rotineiramente loções bloqueadoras dos raios • Os glicocorticoides são a causa mais comum de
UV osteoporose induzida por medicação
• A insuficiência de vitamina D resulta em
hiperparatireoidismo secundário compensatório Tabagismo
e constitui um fator de risco importante para a • O uso de cigarros durante um longo período
osteoporose e as fraturas comporta efeitos deletérios sobre a massa
óssea. Esses efeitos podem ser mediados
Estado estrogênico diretamente, por efeitos tóxicos sobre os
• A deficiência estrogênica provavelmente causa osteoblastos, ou indiretamente, modificando o
perda óssea por dois mecanismos distintos, metabolismo do estrogênio
porém inter-relacionados: (1) ativação de novos
locais de remodelamento ósseo e (2) exagero do Medida da massa óssea
desequilíbrio entre formação e reabsorção • Dispõe-se de várias técnicas não invasivas para
ósseas estimar a massa ou a densidade esquelética. Elas
• O estado mais comum de deficiência de incluem densitometria óssea por meio de
estrogênio é a interrupção da função ovariana absortometria de raios X de dupla energia
por ocasião da menopausa, a qual ocorre, em (DEXA, de dual-energy x-ray absorptiometry),
média, aos 51 anos de idade absortometria de raios X de energia única (SXA,
• As células da medula óssea (macrófagos, de single-energy x-ray absorptiometry),
monócitos, precursores dos osteoclastos, tomografia computadorizada (TC) quantitativa e
mastócitos), assim como as células ósseas ultrassonografia (US). A DEXA é uma técnica
(osteoblastos, osteócitos, osteoclastos), radiográfica altamente acurada que se tornou o
expressam os receptores estrogênicos (ERs) α e padrão para medir a densidade óssea
β. A perda de estrogênio faz aumentar a • Embora possa ser usada para as mensurações de
produção de RANKL e pode reduzir a produção qualquer área esquelética, as determinações
de osteoprotegerina, aumentando o clínicas em geral são feitas para a coluna lombar
recrutamento de osteoclastos. O estrogênio e o quadril
também pode desempenhar um papel • Tornou-se uma prática padronizada relacionar
importante por determinar o período de vida das os resultados com valores “normais”, utilizando
células ósseas, controlando a taxa de apoptose escores T (um escore T de 1 é igual a 1 DP), que
comparam os resultados individuais com
Atividade física aqueles de uma população jovem com
• A inatividade, como o repouso prolongado no equivalência de raça e sexo. Os escores Z
leito ou uma paralisia, resulta em perda óssea (também medidos em DP) comparam os
significativa resultados individuais com aqueles de uma
• O risco de fratura é menor nas comunidades população de idade equivalente, que também
rurais e nos países em que a atividade física é apresenta equivalência para raça e sexo. Assim
mantida até uma idade mais avançada. Contudo, sendo, uma mulher de 60 anos com um escore Z
quando o exercício é iniciado durante a vida de –1 (1 DP abaixo da média para a idade) possui
adulta, os efeitos de um exercício moderado um escore T de – 2,5 (2,5 DPs abaixo da média
sobre o esqueleto são modestos para um grupo controle jovem)
• Um escore T abaixo de –2,5 na coluna lombar, no
Doença crônica
colo do fêmur ou no quadril como um todo tem
• Os mecanismos que contribuem para a perda
sido definido como diagnóstico de osteoporose
óssea são diferentes para cada doença e
resultam de múltiplos fatores, incluindo Quando medir a massa óssea
nutrição, níveis reduzidos de atividade física e • As diretrizes originais da National Osteoporosis
fatores que afetam as taxas de remodelamento Foundation recomendam as mensurações da
ósseo massa óssea em mulheres na pós-menopausa,
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admitindo que elas tenham um ou mais fatores Controle das fraturas


de risco para osteoporose além de idade, sexo e • As fraturas de quadril exigem quase sempre o
deficiência estrogênica reparo cirúrgico para que o paciente possa voltar
• As diretrizes também recomendam que a a deambular
mensuração da massa óssea deva ser • Esses procedimentos cirúrgicos são seguidos de
considerada em todas as mulheres por volta dos reabilitação intensa na tentativa de devolver aos
65 anos de idade pacientes seu nível funcional antes da fratura
• Outras fraturas (p. ex., vertebrais, das costelas e
Indicações para densitometria óssea
pélvicas) em geral são tratadas com tratamento
Considerar a densitometria óssea nos seguintes
de suporte, dispensando qualquer tratamento
indivíduos:
ortopédico específico. Apenas cerca de 25 a 30%
• Mulheres a partir dos 65 anos de idade e homens das fraturas vertebrais por compressão
a partir dos 70 anos, independentemente dos manifestam-se com dor de início súbito nas
fatores de risco clínicos costas. Para as fraturas agudamente
• Mulheres mais jovens na pós-menopausa, sintomáticas, o tratamento com analgésicos é
mulheres na transição da menopausa e homens necessário, incluindo anti-inflamatórios não
de 50 a 69 anos de idade com fatores de risco esteroides e/ou paracetamol, às vezes com o
clínicos para fratura acréscimo de um agente opioide (codeína ou
• Adultos que sofreram uma fratura depois dos 50 oxicodona)
anos de idade
Controle da doença subjacente
• Adultos com uma condição (p. ex., artrite
• Após a avaliação dos riscos, os pacientes devem
reumatoide) ou em uso de medicamento (p. ex.,
receber uma educação abrangente para reduzir
glicocorticoides, em uma dose diária de ≥ 5 mg
o impacto dos fatores de risco modificáveis
de prednisona ou equivalente por ≥ 3 meses)
associados à perda óssea e a quedas. Todas as
associados a uma baixa massa óssea ou a uma
medicações que aumentam o risco de quedas,
perda óssea
perda óssea ou fraturas devem ser revistas para
Quando tratar com base nos resultados da massa certificar-se de que todas são indispensáveis e
óssea estão sendo usadas nas menores doses
• A maioria das diretrizes sugere que os pacientes necessárias
devem ser considerados para tratamento • Para os que recebem reposição de hormônio
quando a DMO for >2,5 DPs abaixo do valor tireoidiano, deve-se efetuar uma avaliação do
médio para adultos jovens (escore T ≤ –2,5) na TSH para confirmar que o paciente não está
coluna, no quadril como um todo ou no colo do recebendo uma dose excessiva
fêmur • Para os pacientes que fumam, devem ser feitos
• O tratamento também deve ser considerado nas todos os esforços capazes de facilitar o
mulheres na pós-menopausa com fatores de abandono do tabagismo
risco (idade, fratura prévia, história familiar de • A redução dos fatores de risco para a ocorrência
fratura do quadril, peso corporal baixo, consumo de quedas também inclui o tratamento do abuso
de cigarros, uso excessivo de álcool, uso de de álcool e uma revisão do esquema terapêutico
esteroides e artrite reumatoide), até mesmo para quaisquer medicamentos que possam estar
quando a DMO não se enquadra na faixa para associados à hipotensão ortostática e/ou
osteoporose sedação, incluindo hipnóticos e ansiolíticos
• Se houver noctúria, a frequência deve ser
Manejo dos pacientes com fraturas reduzida, se possível (p. ex., diminuindo ou
O tratamento de um paciente com osteoporose envolve modificando o uso de diuréticos), pois a
com frequência o controle das fraturas agudas, assim necessidade de levantar-se no meio da noite
como o tratamento da doença subjacente constitui um fator desencadeante comum de
queda
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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

• Os pacientes devem ser instruídos acerca da 50 anos de idade, 400 UI para aqueles com 50 a
segurança ambiental no que concerne à 70 anos, e 600 UI para aqueles com > 70 anos
eliminação de fios elétricos expostos, cordas das • Alguns dados sugerem que podem ser
cortinas, capachos escorregadiços e mesas necessárias doses mais altas (≥ 1.000 UI) nos
móveis. Evitar o apoio dos pés descalços sobre idosos e em pacientes com doenças crônicas
assoalhos de madeira, checar as condições dos • Para indivíduos com osteoporose ou para
tapetes (em particular nas escadas) e aqueles que correm risco de osteoporose, o uso
proporcionar boa iluminação nos trajetos para de 1.000 a 2.000 UI/dia em geral consegue
os banheiros e para fora da casa são medidas manter níveis séricos de 25(OH)D acima de 30
preventivas importantes ng/mL
• Recomenda-se o tratamento para uma visão
inadequada, a qual representa um problema Terapias farmacológicas
particularmente com a percepção da Estrogênios
profundidade, que está associada • Reduzem a renovação óssea, previnem a perda
principalmente a maior risco de quedas. Os óssea e induzem pequenos aumentos na massa
pacientes idosos com deficiências neurológicas óssea da colunavertebral, do quadril e do corpo
(p. ex., acidente vascular encefálico, doença de como um todo
Parkinson, doença de Alzheimer) correm um • Dose de estrogênio: para os estrogênios orais, as
risco particularmente alto de cair e necessitam doses convencionais recomendadas são de 0,3
de supervisão e assistência especializadas mg/dia para os estrogênios esterificados, 0,625
mg/dia para os estrogênios equinos conjugados
Recomendações nutricionais e 5 μg/dia para o etinil estradiol. Para o
Cálcio estrogênio transdérmico, a dose usada
• A ingestão adequada de cálcio consiste em: comumente fornece 50 μg de estradiol ao dia
o Crianças pequenas (1-3 anos) 500
mg/dia Progestinas
o Crianças de mais idade (4-8 anos) 800 • Nas mulheres com útero, a progestina diária ou
mg/dia a progestina cíclica pelo menos 12 dias por mês
o Adolescentes e adultos jovens (9-18 são prescritas em combinação com os
anos) 1.300 mg/dia estrogênios, com a finalidade de reduzir o risco
o Homens e mulheres (19-50 anos) 1.000 de câncer uterino. O acetato de
mg dia medroxiprogesterona e o acetato de
o Homens e mulheres (51 anos e de mais noretindrona enfraquecem a resposta da
idade) 1.200 mg/dia lipoproteína de alta densidade ao estrogênio
• Se houver necessidade de um suplemento de • No tecido mamário, as progestinas podem
cálcio, deve ser fornecido em doses suficientes aumentar o risco de câncer de mama
para complementar a ingestão dietética e obter Moduladores seletivos da resposta ao estrogênio
um aporte total no nível desejado (1.000-1.200
(SERMs)
mg/dia). As doses de suplementos devem ser ≤
• Dois SERMs são usados atualmente em mulheres
600 mg de cada vez, visto que a fração de
na pós-menopausa: o raloxifeno, aprovado para
absorção do cálcio diminui com doses mais altas
a prevenção e o tratamento da osteoporose,
Vitamina D bem como para a prevenção do câncer de
• A vitamina D é sintetizada na pele sob a mama, e o tamoxifeno, aprovado para a
influência do calor e da luz ultravioleta. No prevenção e o tratamento do câncer de mama
entanto, grandes segmentos da população não (e, em menor proporção, no tratamento da
obtêm uma quantidade suficiente de vitamina D, osteoporose)
necessitando de suplementação. Recomenda-se • O raloxifeno aumenta o risco de trombose
um aporte diário de 200 UI para adultos com < venosa profunda e pode aumentar o risco de

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Gabriel Ricci Pupo – Internato 10ª Etapa - Vade Mecum

morte por acidente vascular encefálico entre • Quando a teriparatida está sendo aventada para
mulheres idosas. Por conseguinte, seu uso em pacientes que não receberam qualquer
geral não é recomendado em mulheres com tratamento prévio, deve ser administrada
mais de 70 anos de idade preferencialmente como monoterapia e seguida
de um agente antirreabsortivo, como um
Bisfosfonatos bisfosfonato. Se o tratamento com teriparatida
• O alendronato, o risedronato, o ibandronato e o não for seguido de agente antirreabsortivo, o
ácido zoledrônico foram aprovados para a osso adquirido é rapidamente perdido
prevenção e o tratamento da osteoporose pós-
menopausa. A alendronato, o risedronato e o Ranelato de estrôncio
ácido zoledrônico também foram aprovados • Aumenta a massa óssea em todo o esqueleto e
para o tratamento da osteoporose induzida por rediz o risco de fraturas vertebrais e não
esteroides, enquanto o risedronato e o ácido vertebrais
zoledrônico foram aprovados para a prevenção • O estrôncio é incorporado na hidroxiapatita,
da osteoporose induzida por esteroides substituindo o cálcio, característica essa que
• O alendronato, o risedronato e o ácido poderia explicar alguns de seus benefícios
zoledrônico estão aprovados para o tratamento relacionados com as fraturas
da osteoporose em homens
• Mostrou-se que o alendronato reduz a
renovação óssea e aumenta a massa óssea
• Dose do alendronato: a dose de 10 mg/dia está
aprovada para o tratamento da osteoporose,
enquanto a dose de 5 mg/dia é usada para
prevenção. A administração, todavia, ocorre
semanalmente, com 70 mg/semana. O
alendronato deve ser administrado com um
copo cheio de água antes do desjejum, pois os
bisfosfonatos são precariamente absorvidos

Denosumabe
• Administrado duas vezes por ano por via
subcutânea (SC) em mulheres na pós-
menopausa com osteoporose, aumenta a DMO
na coluna, no quadril e no antebraço e reduz as
fraturas vertebrais, de quadril

Paratormônio
• O PTH, quando administrado de modo exógeno
como injeção diária, exerce efeitos anabólicos
sobre o osso
• A teriparatida foi aprovada para o tratamento da
osteoporose tanto em homens quanto em
mulheres com alto risco de fraturas
• O tratamento é realizado como uma única
injeção diária administrada por um período
máximo de dois anos. A teriparatida produz
aumentos na massa óssea e medeia os
aprimoramentos arquitetônicos na estrutura
esquelética

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