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Integral indefinido:
definição e propriedades fundamentais1
Antes de enunciarmos o teorema da média vamos construir um exemplo
onde procuramos ilustrar algumas das ideias por detrás deste resultado.
Consideremos uma variável X = X(t) que depende continuamente de
t num dado intervalo [a, b]. Para concretizar podemos supor que X(t) é a
temperatura (em ◦C) da sala S2 no instante t (em h). Durante o perı́odo
de tempo compreendido entre t = a e t = b efectuámos n observações da
temperatura da sala procedendo da seguinte forma: dividimos o intervalo
[a, b] em n sub-intervalos de igual amplitude ∆ = b−a
n ,
Xj
X(t)
X3
X2
X1
Xn
t
a b
t1 t2 ∆ tj tn
b−a
Como ∆ = n obtemos
n Z b
b−a X
Xj , ∼ X(t) dt.
n a
j=1
1
Ora o primeiro membro representa a média das n observações, que vamos
notar X n , ou seja,
Pn
X1 + X 2 + · · · + X n j=1 Xj
Xn = = .
n n
Portanto
b
1
Z
Xn ∼ X(t) dt.
b−a a
Como X(t) é uma função contı́nua podemos mostrar que
Z b
1
lim X n = Xmed = X(t) dt.
n→∞ b−a a
Por esta razão designamos Xmed o valor médio da variável X em [a, b] e que
corresponde à noção intuitiva de média quando passamos do caso discreto de
n observações para o caso de uma observação X(t) a depender continuamente
de t. O teorema da média, enunciado a seguir, vai garantir que existe pelo
menos um instante t0 em que a temperatura X(t0 ) foi igual ao valor médio
das temperaturas da sala S2 , Xmed . Note que no caso discreto este resultado
é falso, ou seja, a média de n observações não corresponde necessariamente
a nenhum dos valores observados.
y y
f (x) f (x)
f (c) f (c)
x x
a b a b
Possı́veis valores de c
m ≤ f (x) ≤ M, ∀ x ∈ [a, b]
2
temos
Z b Z b Z b
m(b − a) = m dx ≤ f (x) dx ≤ M dx = M (b − a).
a a a
b
1
Z
Dividindo por b − a e atendendo ao facto que f med = f (x)dx vem
b−a a
m ≤ fmed ≤ M.
Integral indefinido
Definição 2 Seja f : [a, b] → R uma função integrável. Chama-se integral
indefinido de f à função
Z x
F (x) = f (t) dt, x ∈ [a, b].
a
f (x)
x
a x b
Área = F (x)
Exemplos:
x
x
t2 x2
Z
1. Se f (x) = x, x ∈ [0, 1], então F (x) = t dt = = .
0 2 0 2
3
x − 1, 1 ≤ x ≤ 2,
2. Seja f (x) = . Então
3, 2<x≤4
Rx
Z x 1 (t − 1) dt, 1 ≤ x ≤ 2,
F (x) = f (t) dt =
1 R2 Rx
1 (t − 1) dt + 2 3 dt, 2 < x ≤ 4,
h2 ix
t
2
− t , 1 ≤ x ≤ 2,
1
=
t2 − t 2 + 3 t x , 2 < x ≤ 4,
h i hi
2 1 2
x2 1
2 − x + 2, 1 ≤ x ≤ 2,
=
1 11
+ 3x − 6 = 3x − 2 , 2 < x ≤ 4.
2
y
f (x)
x
1 2 3
y x
11
2
F(x)
F (x)
1
2
x
1 2 3
x
Teorema
Rx 2 Seja f : [a, b] → R uma função integrável e seja F (x) =
a f (t) dt, x ∈ [a, b], o respectivo integral indefinido. Então são verificadas
as seguintes propriedades:
(ii) Se f (x) ≥ 0 [resp. f (x) ≤ 0] para todo o x então F (x) é uma função
crescente [resp. decrescente].
(iii) Se f (x) é uma função contı́nua em [a, b] então F (x) é uma função
derivável em [a, b] e tem-se F 0 (x) = f (x) para todo o x.
4
Observações:
1. A propriedade (iii) significa que F (x) é uma primitiva de f (x) sempre
que f (x) fôr uma função contı́nua. De facto, F (x) éR a única primitiva
a
de f (x) que se anula no ponto x = a (pois F (a) = a f (t) dt = 0).
Dem: Vejamos (i): seja x0 ∈ [a, b] um ponto arbitrário. Temos que mostrar
que limx→x0 F (x) = F (x0 ), ou seja, que limx→x0 F (x) − F (x0 ) = 0. Vamos
mostrar que limx→x+ F (x) − F (x0 ) = 0. O caso limx→x− F (x) − F (x0 ) = 0
0 0
prova-se de maneira análoga. Ora, tem-se por definição de F (x) e pela
aditividade do integral as relações
Z x Z x0
F (x) − F (x0 ) = f (t) dt − f (t) dt
aZ x0 a
Z x Z x0
= f (t) dt + f (t) dt − f (t) dt
a x0 a
Z x
= f (t) dt.
x0
Como f uma função integrável, é limitada, ou seja, existe M > 0 tal que
−M ≤ f (t) ≤ M para todo o t ∈ [a, b]. Em particular −M ≤ f (t) ≤ M
para todo o t ∈ [x0 , x]. Assim,
Z x Z x Z x
−M (x − x0 ) = (−M ) dt ≤ f (t) dt ≤ M dt = M (x − x0 ).
x0 x0 x0
Rx
Quando x → x0 , M (x − x0 ) → 0 o que implica que x0 f (t) dt → 0 como
querı́amos provar.
Vejamos (ii): sejam x1 , x2 ∈ [a, b] tais que x1 ≤ x2 . Temos que mostrar
que F (x1 ) ≤ F (x2 ). Ora, temos novamente pela aditividade do integral,
Z x2 Z x1 Z x2
F (x2 ) = f (t) dt = f (t) dt + f (t) dt.
a a x1
R x2
Como x2 ≥ x1 e f (t) ≥ 0 para todo o t, x1 f (t) dt ≥ 0. Portanto
Z x2 Z x1
F (x2 ) = f (t) dt ≥ f (t) dt = F (x1 ).
a a
F (x) − F (x0 )
lim = f (x0 ).
x→x0 x − x0
5
Rx
Vimos na demonstração do ponto (i) que F (x) − F (x 0 ) = x0 f (t) dt. Assim
Rx
F (x) − F (x0 ) x0 f (t) dt
lim = lim .
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
Z x
1
O valor f (t) dt corresponde ao valor médio de f (x) em [x 0 , x]
x − x 0 x0
(estamos a supor que x > x0 . O caso x < x0 é análogo). Como f é contı́nua
em [x0 , x] (uma vez que é uma função contı́nua em [a, b]), o teorema da
média garante que podemos encontrar c x ∈ [x0 , x] tal que
Z x
1
f (cx ) = f (t) dt.
x − x 0 x0
6
Exercı́cios resolvidos:
1. Considere f (x) = x2 + 2x, x ∈ [0, 3].
(a) Determine o valor médio de f (x).
(b) Determine c ∈ [0, 3] tal que f (c) = f med . Interprete geometrica-
mente o resultado.
2, 0 ≤ x < 1,
2. Considere a função f (x) = 0, 1 ≤ x < 3,
−1, 3 ≤ x ≤ 4.
Resolução:
1. (a) Por definição temos
3 3
1 x3
1
Z
2 2
fmed = (x + 2x) dx = +x = 6.
3−0 0 3 3 0
15 15
Estas áreas
y = x2 + 2x são iguais y = x2 + 2x
fmed = 6 fmed = 6
√ x √ x
−1 + 7 3 −1 + 7 3
7
Rx
2. (a) Por definição temos F (x) = 0 f (t) dt, x ∈ [0, 4], ou seja,
Rx
0 2 dt, 0 ≤ x < 1,
R
1 Rx
F (x) = 0 2 dt + 1 0 dt, 1≤x<3
R1 R3 Rx
0 2 dt + 1 0 dt + 3 (−1) dt, 3 ≤ x ≤ 4,
2x, 0 ≤ x < 1,
= 2 + 0, 1 ≤ x < 3,
2 + 0 + (−x + 3), 3 ≤ x ≤ 4.
Assim,
2x, 0 ≤ x < 1,
F (x) = 2, 1 ≤ x < 3,
−x + 5, 3 ≤ x ≤ 4.
8
y y
F(x)
f (x)
2 2
x x
1 3 4 1 3 4
3. (a) Tem-se
√
√
Z ( π)2 + π2 Z 3
2
π
2
F ( π) = sin t dt = sin2 t dt.
0 0
9
Exercı́cios
1. Considere a função
1 − x, 0 ≤ x < 1,
f (x) = 0, 1 ≤ x < 2,
2
(2 − x) , 2 ≤ x ≤ 3.
Rx
(a) Determine uma expressão analı́tica para F (x) = 0 f (t) dt
(b) Indique o valor médio de f (x) em [0, 3] e determine o(s) ponto(s)
onde f (x) atinge esse valor.
Z x √ √
2. Seja f uma função contı́nua em [1, +∞[ tal que f (t) dt = e x ( x − 1).
1
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