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CONCÍLIO VATICANO II
Vol. II
P rimeira S essão ( S et .-D ez . 1962)
CONCILIO VATICANO II
VOL. II. PRIMEIRA SESSÃO (SET.-DEZ. 1962)
Compilado pelo
Teólogo Conciliar
I M P R I M A T U R
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR.
DOM MANUEL PEDRO DA CUNHA CINTRA,
BISPO DE PETRÓPOLIS.
FREI BERNVARDO WARNKE, O .F .M
PETRÓPOLIS, 3-4-1963.
I M P R I M I P O T E S T
E CONVENTU NOSTRO AD S. P. N.
FRANCISCUM IN CIVITATE S. PAULI.
DIE 23 MENSIS MART1I 1963.
FR. W ALTER KEMPF, O .F .M .
MINS. PROVLIS.
TODOS OS D IR E IT O S RESER V A D O S
Proêmio e Justificação.
D om V icente S chkrek
Arceb. Metrop. de Pôrto Alegre.
Credo
Sacrum Concilium
1. Docete Omnes Gentes.
Q u a n d o r e z a m o s “c r e d o
E cd esiam ", fazemos um ato de fé numa virtude interna, sob re
natural e divina, que se esconde sob os sin ais sacram en tais e a
organização externa e hierárquica, mas sem pre operante e sem
a qual a essência da Ig reja se reduziria a uma sim ples socie
dade externa e humana, nada mais. Do mesmo modo podemos
também rezar “credo M agisterium ” : creio ò M agistério, não ap e
nas no M agistério. Pois a própria m issão e o poder de ensinar
é também objeto de fé. Como na Ig reja, há tam bém no M a
gistério Eclesiástico uma virtude interna, sobrenatural e divina,
que se esconde atrás das atividades hum anas dos depositários
do múnus e do poder de ensinar, mas sem pre presente e ope
rante e sem a qual a natureza dêste M agistério se reduziria a
uma sim ples e falível autoridade humana, nada mais. D ispom o-
nos a crer no M agistério porque, primeiro, crem os o M agistério.
Não aceitam os com e em espírito de fé as definições e decisões
do M agistério porque reconhecemos, quiçá, em seus detentores
notáveis qualidades de intelccção e prudência: assentim os com
um ato de fé teologal a seus pronunciamentos porque, antes,
professam os que nêlcs e por eles age uma virtude divina que
nos garante a autenticidade de seu ensino. O Concilio Ecum ê
nico, que agora se reúne pela vigésima primeira vez, é o modo
mais solene e formal de expressão do M agistério que o Pai
confiou ao Filho, o Filho passou ao Colégio dos Apóstolos e êste
ao Colégio dos Bispos. E is por que podemos dobrar os joelh os
e rezar: Credo sacrum Concilium, in captivitatem redigens oninem
intellectum in obsequium Christi (cf. 2 Cor 1 0 ,5 ).
Há, com efeito, na ação do M agistério E clesiástico algo m ais
que numa atividade magisterial humana comum. E go rogabo P a
irem et aliam Paraclitum dabit vobis u t m a n e a i v o b i s c u m
i n a e t e r n u m (Jo 1 4 ,1 6 ). E os outros textos, já citados, que
2. Visum est Spiritui Sancto et nobis
dimus Spiritus Sancti g ra tia ; Spiritu San cto dirigente; per divi-
num Spiritum collecti; San cto incitante Spiritu; Domino Spiritu
duce convocati; Spiritu San cto auctore; S an cto Spiritu coope
rante; Spiritu Sancto prom ulgante; Spiritu San cto revelante; D i
vino Spiritu annuente; Spiritu San cto suggeren te; Spiritus San ctus
statuit; inspiratione sancti et vivifici Spiritus statuem us; Spiritus
Sancti gratia illuxit; vivifici Spiritus ope edidim us; conspiratione
sanctissimi Spiritus; a Spiritu San cto sum entes verbum ; univer-
salem Synodum munitam fuisse Spiritus San cti op eratio nc; S p i
ritus Sancti inspiratione et cooperatione; non absque peculiari
Spiritus Sancti duetu et gubernatione; Spiritus San cti illustratio-
ne edocti; Spiritus Dei pleni; Spiritu San cto dictan te; Spiritu
Sancto duce et m oderatore; auctore Spiritu San cto ; suggerente
Sancto et pacifico Spiritu; cum consensu Spiritus S a n c t i . ..
T a l é a convicção do AAagistério E clesiástico, expressa em
tempos e regiões diferentes e nas ocasiões mais solenes. Não
são textos raros nem rebuscados. Falam desem baraçadam ente,
sossegadam ente, como se fôsse coisa evidente. Para os C onci
liares e, segundo êles, nos C oncílios o Espírito San to opera, di
rige, reúne, in cita, convoca, coopera, revela, sugere, estabelece,
inspira, ilumina, conspira, guia, governa, modera, ensina, dita,
consente, promulga.
Que sentido dar a tudo isso?
O Concílio Vaticano I ensina: “ O Espirito Santo não foi
prometido aos sucessores de São Pedro para que êstes, sob a
revelação do mesmo, pregassem uma nova doutrina, mas para
que, com a sua assistência, conservassem santam ente e expu
sessem fielmente o depósito da fé, ou seja, a revelação recebida
dos Apóstolos” (D z 1 8 3 7 ). Cristo, com efeito, prometera o E s
pírito Santo com o fim de “trazer à memória” (no latim : "s u g g c-
ret” ; no original grego: "hypo-m nései”, de mimncsco tinà ti:
in memoriam rev oco); “não falará de si mesmo, mas falará do
que ouviu; tomará do meu e vo-lo dará a conhecer" (cf. Jo
1 6 ,1 3 -1 4 ). Não haverá, pois, necessidade de novas revelações
pròpriamente ditas. A missão dos Apóstolos e da Igreja não vai
além da de Cristo. E Cristo já dissera tudo: Omnia quaecumque
audivi a Paire meo nota feci vobis (Jo 1 5,1 5 ). O “depósito da fé”
está pronto, é definitivo, nos foi dado “uma vez para sem pre”
(Judas, vers. 3 ) . Agora é preciso “conservar santam ente e e x
por fielmente’ êste depósito. O s homens sòzinhos, com sua fa
lível memória e suas muitas paixões, seriam in capazes de cum
prir com fidelidade tão importante missão até a consum ação fi-
2. Visum est Spiritui Sancto et nobis 15
Concilio II
3. Spiritu Sancto Assistente.
N e m RE V ELA Ç A O , N EM 1N S-
piração pròpriamente ditas. Que faz então o Esp írito S a n to ?
O V aticano I usa o têrmo assistência ( “eo assistente” , Dz 18 3 6 )
para exprim ir a ação específica do Espírito San to sôbre o M a
gistério. Palavra vaga e genérica, mas que é, de fato, a m ais
comumente usada pelos teólogos. Não há, porém, unanimidade
entre êles acêrca da extensão desta “ assistên cia". Há duas
opiniões:
Auxilio puramente neg ativo: o E spirito San to apenas eli
minaria os perigos que poderiam fazer soçobrar a Igreja. Assim ,
por exemplo, Mangenot, no Dict. Thèol. Cath. (1, 2 1 2 7 ) , sustenta
que a assistência, mesmo em seu grau sumo e infalível, estaria su
ficientemente assegurada por uma ação sim plesm ente negativa,
sem precisarmos supor g raças especiais e positivas de iluminação
da mente ou de decisão da vontade; de outra maneira confun
diriamos assistência com revelação. Tam bém Dieckm ann, em seu
tratado sôbre a Ig reja, pensa assim . Admite som ente a possibi
lidade de influxos positivos, mas não os ju lga necessários para
explicar a assistência divina, nem mesmo no sumo grau que g a
rante a infalibilidade do M agistério E clesiástico. T a l posição é,
teòricamente, sustentável; e será, pràticam ente, em muitos c a
sos, suficiente.
Outros — e é a sentença mais comum entre os teólogos —
reclamam além disso auxílios positivos de luz c de fôrça. “ O s
melhores teólogos, diz Journet em L ’Eglise du Verbe Incarné,
afirmam que a Divina Providência sustenta sua Ig reja muito mais
mediante graças positivas de luz e de fôrça que por intervenções
puramente negativas” .
De fato, ponderando todos aquêles textos escritu rísticos e
conciliares, abundantes e positivos, devemos convir em que os
homens da Igreja, depositários do poder de ensinar, são também
3. Spiritu Sancto assistente 19
" a inteli6 ência e na vontade, ajudados
“rh a ^ m 0 ^ * 0 j urament0 antimodernístico falam do
char sm a v en ta t'5-' (D z 1837, 2 1 4 7 ). Casos haverá nos quais
sera suficiente uma assistência negativa e preservativa. Em ou
tras m uitas oportunidades, porém, o auxilio positivo será ao
menos de grande conveniência, sobretudo para evitar os erros.
Pois o errar é coisa_ demasiadamente humana. Mas a Igreja não
tem apenas a missão de preservar-nos da heresia. Ela tem o
oficio de ensinar também positivamente a verdade, todos os
dias, de modo claro, ao alcance de todos; deve conduzir os ho
mens por entre mil escolhos; deve orientar as inteligências num
inundo confuso, desnorteado pelas mais várias filosofias, sem
rumo moral e religioso; deve lembrar, sempre de nôvo, a tôdas
as gerações, raças e mentalidades tudo quanto Cristo recebeu
do P a i; deve traduzir a “boa nova” para mil línguas e modos
de falar diferentes. Há circunstâncias e situações complexas e
urgentes, quando o Magistério não pode mais calar, non possu-
mus non íoqui (At 4 ,2 0 ), quando a omissão seria pecado, quan
do a necessidade da orientação é imediata, urgente, quando,
além do mais, se trata de salvar almas que estão em perigo
im inente; é então, quiçá mais do que num pacífico Concílio
Ecum ênico, que os homens encarregados do ensino “autêntico”
precisam dum auxílio positivo de Deus. Vobiscum sum omnibus
diebus (M t 2 8 ,2 0 ); portae inferi non praevalebunt (Mt 16,18).
G ra ça s a Deus! Ai de nós, fôssemos dirigidos apenas pelos ho
mens da Igreja, mesmo quando inteligentes e bem intencionados!
E, sabem o-lo a posteriori, da história, nem sempre eram retas
as intenções humanas, mesmo daqueles que estavam mais alta
mente colocados na sacra hierarquia. Não é raro notar que os
que, na Igreja, possuem o poder de reger e de ensinar, são so
licitados pela sutil tentação de identificar seus pensamentos,
seus d esejos, suas atitudes e mentalidades pessoais com a dou
trina e os mandamentos que Cristo recebeu do Pai. Aconteceu
também (falam os a posteriori) que lhes minguasse a inteligência,
que se sentissem dominados por preconceitos unilaterais e es
treitos, por insuficientes ou falsas informações ou até por ne
nhuma informação. Pois fáceis são, entre nós homens, as inter
ferências egoístas, os cálculos mundanos nas empresas de apos
tolado, as vaidades e susceptibilidades que diminuem a com-
preensão e induzem ao rancor, as a preciaçíes do
por vêzes, se confundem com o respeito devido à sagrada função.
20 I. C redo Sacrum Concilium
letrjí,3 con tra r ' “ " '* , **t e “ "» ■ '« : >
form as fixas. A vida do C o r n ? Mhtí™ Vl.V,,'fa P° de Petr'fi« r-se em
zar. se _ São alirnmsc i/ P0 , * co P0lle formalizar-se e burocrati-
í s & M t
vino. Journet, na obra citad a, com para esta assistên cia com a
predestinação: Como a predestinação, sem destruir a liberdade
do homem, sem evitar-lhe provações e dificuldades, sem con
firm á-lo na graça, faz, contudo, que o predestinado alcan ce
com absoluta certeza sua eterna salvação, mediante uma pro
vidência especialíssim a, que organiza tôdas as g raças n ecessá
rias e até mesmo as fraquezas e os pecados de tal m aneira que
redunde na consecução da glória, — assim a A ssistência di
vina, sem destruir a liberdade do poder ju risdicional, sem ex i
mi-la da necessidade de in vestigar por sua conta e risco e, mui
tas vêzes, sem mesmo garantir a imunidade de erros e d esa
certos, faz, contudo, com que a Ig reja logre indefectlvelm ente
os grandes objetivos que lhe foram fixados, mediante uma pro
vidência especialíssim a, dando-lhe todos os auxílios positivos ne
cessários, até mesmo o próprio m ilagre, quando preciso, como
no caso da canonização.
Dois extrem os, pois, parece-nos, devem ser evitados na e x
plicação do modo como o Espirito San to assiste a Ig reja no
exercicio de seu dever de ensinar: o de afirm ar uma inspiração
pròpriamente dita, do tipo bíblico ou p rofético; e o de reduzir
a ação divina a um auxilio puramente externo e negativo. M as
entre êstes dois extrem os há ainda rica gam a de possibilidades
de assistência divina positiva (e poderiam os aqui relem brar to
dos aquêles verbos acim a mencionados, recolhidos das atas do
M agistério: o Espirito Divino opera, dirige, reúne, incita, coopera,
sugere, estabelece, ilumina, conspira, guia, governa, modera, en
sina, consente, p r o m u lg a ...) , dependendo sua maior ou me
nor intensidade de três fatores: da necessidade e urgência da
hora, da abertura e disponibilidade dos próprios detentores do
M agistério (pois, desgraçadam ente, podemos fechar-nos à ação
divina: Spiritum nolite extinguere, 1 T ess 5 ,1 9 ), e da libérrim a
vontade do próprio Espírito D ivino: Spiritus ubi vult spirat (Jo
3 ,8 ), dividens singulis prout vult (1 Cor 12 ,1 1 ).
Pio IX abriu o primeiro Concilio do V aticano com esta o ra
çã o: " . . . Tu fons verae lucis et sapientiae, divinae Tuae gratiae
lumen profer mentibus nostris, ut ea quae recta, quae óptima
sunt videamus: corda rege, fove, dirige, ut huius C oncilii a c -
tiones rite inchoentur, prospere promoveantur, salubriter p erfi-
ciantur”. E os sacerdotes, durante o Concílio, deviam rezar a
im perata: "D a quaesumus Ecclesiae Tuae, m isericors Deus, ut
Sancto Spiritu congregata, hostili nullatenus incursione turbetur.
Per Christum Dominum Nostrum ". E antes das reuniões do
3. Spiritu Sancto assistente 23
próprio C oncilio, como também neste Concílio antes das Congre
g ações G erais, recitava-se a antiga oração do Adsumus, que re
monta, na sua formulação latina, a Santo Isidoro de Sevilha
(5 6 0 - 6 3 6 ) e que exprim e mui vivamente a fé que o Magistério
E clesiástico tem, e a absoluta confiança, na assistência do E s
pirito San to, assistência negativa, externa, positiva e interna:
J e s u s , o e n v ia d o d o p a i,
falou de todos nós quando endossou estas solenes e sig n ificati
vas palavras de Isaias ( 5 4 ,1 3 ; cf. Je r 3 1 ,3 3 s ) : Et erunt omnes
docibiles Dei (Jo 6 ,4 5 ). “ D ocibiles” , no g reg o : didaktós (de
d id ásk o): aquêle que ó ensinado, discípulo. Serem os todos en
sinados por Deus, alunos de Deus, discípulos de Deus. D e que
m aneira? Concretam ente, agora, aceitando com verdadeiro es
pírito de fé os ensinam entos e as decisões do Concílio V ati
cano II. Hoc sentite in vobis quod et in Christo lesu (F ilip 2 ,5 ).
O “sentire cum E c c lesia ", nestes m eses, sig n ifica “ sentire cum
Concilio V aticano 11” . O “credere E c d esia m ” deve, agora, ser
traduzido para “credere Concilium” .
Antes de entrarm os nas particularidades e peculiaridades
de nossa atitude de fé e obediência perante o M agistério em
geral e o Concilio em especial, convém ponderar esta página de
Leão X III, na E ncíclica Sapientiae Christianae (de 1 8 9 0 ):
de assentim ento mental devido não é nem pode ser outro que
aquêle que corresponde estritam ente ao grau de autoridade dou
trinária com que os ensinam entos queriam ser propostos ou ao
grau de autoridade que o M agistério queria de fato empenhar.
E sta regra vale também para o Concilio Ecum ênico. E ’ preciso
estudar qual 6 ou foi exatam ente a “ mens C oncilii” em tal ou
tal ponto proposto e com que grau de autoridade quer ou que
ria o Concilio ensinar. Pois em bora o C oncílio Ecum ênico se ja
um modo solene e extraordinário de m anifestação do M ag is
tério Universal, nem tudo é ou quer ser proposto de modo de
finitivo e irreformável ou como verdade divinamente revelada.
Querer ir além daquilo que a Ig reja de fato intenciona propor ou
impor, e na medida em que o quer, não seria, com efeito, bom
sinal do autêntico “sentire cum E cclesia” . Poderia mesmo ser
um desserviço com péssimas consequências.
C om a pr esen ç a d e to d o
o clero secular e regular da Urbe formando ala ao imponente
cortejo do Episcopado do mundo inteiro, na presença de várias
centenas de milhares de espectadores diretos e de milhões de
telespectadores da Europa e da América, ao som festivo dos
sinos de Roma e dos sinos de todas as nações do mundo, num
ambiente de intensa comoção espiritual e de grande entusiasmo,
após fervorosa novena ao Divino Espirito Santo na qual parti
cipou tôda a população católica do globo, inaugurou-se solene
mente, na manhã do dia 11 de outubro de 1962, Festa da Ma
ternidade Divina de Maria Santíssim a, na Patriarcal B asílica de
São Pedro, no Vaticano, o X X I Concilio Ecumênico, chamado
V aticano II, o Concilio mais ecumênico da história da Igreja.
Segundo o programa previsto, 2.5 4 0 Padres Conciliares reu
niram -se às 8 ,3 0 no Vaticano para se paramentarem. Os Car
deais na Sala N* II dos Apartamentos B o rja ; os Patriarcas na
Sa la N? I; os Arcebispos, Bispos e Abades no corredor vizinho.
Depois dirigiram-se todos para a Sala Ducal, exceto os Car
deais, dispondo-se ordenadamente em fila para a grande pro
cissão. Na Sala dos Paramentos o Sumo Pontífice, assistido pelos
Cardeais c dignitários da côrte papal, revestiu-se dos paramen
tos sagrados c, acompanhado por todo o Colégio Cardinalício,
encam inhou-se para a Capela Paulina. Após a adoração ao San
tíssimo Sacram ento exposto, o Sumo Pontífice entoou o hino
Ave, Maris Stella, que foi cantado pelo côro. Depois da primei
ra estrofe, levantaram -se todos e a procissão pôs-se em movi
mento em direção à B asílica de São Pedro.
Solene e imponente procissão! 2.5 4 0 Bispos, provenientes de
todos os Continentes, representantes de tôdas as raças e de
tôdas as côres. Longas filas majestosas no hieratismo das mi
tras e das capas brancas, deslocando-se por entre o clero e os
Concilio II — 3
34 II. A bertura e Ambiente
A PRE P A RA Ç A O DA AULA
Conciliar levou em conta dois dados fundam entais: as sessões
conciliares deverão realizar-se na B a sílica de São P ed ro ; o núme
ro dos Padres Conciliares que tom arão parte nas reuniões pode
ser de cêrca de 2.5 0 0 . Óbvias necessidades de espaço sugeriram
que se utilizasse a nave central da B a sílica, desde a porta da
entrada até ao altar da Confissão. O trono do Sumo Pon tífice
foi colocado junto do altar da C onfissão e os lugares dos P a
dres Conciliares, ao longo dos dois lados da nave, distribuídos
em escadarias para permitir a com pleta visibilidade da Sala, de
tôdas as partes. Os trabalhos tiveram inicio em 15 de maio pas
sado. Construídas as escadarias, em estrutura m etálica, com qui
lômetros de tubos, dezenas de m ilhares de junturas e centenas
de metros cúbicos de m adeira, foram instalados os lugares dos
Padres Conciliares. Cada um dêles conta uma cadeira, revestida
de verde, uma escrivaninha e um genuflexório. P or cim a das
escadarias, nos espaços dos oito grandes arcos da nave central,
foram construídas as tribunas para os teólogos e dem ais peritos.
Estruturas m etálicas com quase 2 0 m etros de altura, por cim a
das tribunas, sustentam cortinados de dam asco que servem de
fundo a grandes tapêtes de A rras. T rê s mil metros de damasco,
dois mil metros de veludo, centenas e centenas de metros de
fra n ja s e guarnições douradas foram necessários para realizar
esta obra. Domina o conjunto a esplêndida arquitetura da B a
sílica que só por si revela a grandiosidade e m ajestade da Aula
Conciliar. Pa ra facilitar o trabalho da grande assem bléia foram
instalados na B a sílica aparelhos de sonorização: 3 0 alto-falantes
e cêrca de 4 0 microfones, todos coligados com uma sala de
contrôle g eral; uma central telefônica interna, com cêrca de 4 0
aparelhos telefônicos que permitem um contacto im ediato com os
diversos setores da Aula C onciliar; uma instalação de ilumina
2. A Aula Conciliar 37
O ART. I, § 1 DO REG U LA -
mento do Concílio diz que todos os .que foram convocados pelo
Sumo Pontífice para o Concílio Ecumênico são chamados “ P a
dres C onciliares”. E a bula de indicção Humanae Salutis, de
25-X 1 I-6 1 , determina: “Queremos e ordenamos que a êste Con
cílio Ecumênico, por Nós indicado, venham de tôda parte todos
os Nossos Diletos Filhos Cardeais, os Veneráveis Irmãos Patriar
cas, Prim azes, Arcebispos e Bispos tanto residenciais como ape
nas titulares e ademais todos os que têm direito e dever de in
tervir no Concilio”. Segundo um documento mimeografado em
Roma, no início do Concílio, são 2 .778 os Padres convocados:
8 7 Cardeais e Patriarcas ( 3 ,4 % ) , 1.619 Arcebispos e Bispos
residenciais ( 5 8 ,2 % ) , 975 Bispos titulares ( 3 5 % ) e 97 não B is
pos, isto é, Abades e Superiores Gerais (3 ,4 % ) . Mas de fato,
na solenidade da abertura do Concílio estiveram presentes 2.540
Padres Conciliares e a média de freqüência às Congregações
G erais durante o primeiro período é de cêrca de 2 .2 0 0 .1 Fêz-se
O C O N S E L H O D E P R E S ID Ê N -
cia do Concílio, de que fala o art. 4 do Regulam ento, é formado
de dez Cardeais nomeados pelo Papa. Com pete-lhe dirigir, “ex
Summi Pontificis auctoritate”, as discussões durante as C ongre
gações G erais e moderar a parte disciplinar do C oncilio, resol
vendo colegialmente os assuntos da direção, decidindo as diversas
questões que o regulamento coloca nas mãos da Presidência ou
lhe são encam inhadas pelo Papa. Um dêles, por turno, preside
as Congregações G erais. Nove dos dez Cardeais nomeados são
Arcebispos residenciais e apenas um (T iss e ra n t) ó da Cúria
Romana. Todos, com exceção de um (R u ffin i) já foram Mem
bros da C omissão Central Preconciliar. Há entre êles um italiano,
dois franceses, um espanhol, um alem ão, um holandês, um norte-
americano, um argentino, um australiano e um oriental. Cinco
dentre êles são especialistas em exegese (Lién art, Alfrink, Frings,
Ruffini e T iss e ra n t).
Cardeal Eugênio Tisserant: francês, com 78 anos de idade
e recebeu a púrpura em 1936. De 1936 a 1959, durante quase
um quarto de século, estêve à frente da S. C ongregação para
a Ig reja O riental. Agora é Prefeito da C ongregação Cerimonial,
bibliotecário e arquivista da San ta Sé e Presidente da Com is
são Pon tifícia para os Estudos B íblicos. Sábio de fam a mundial
e grande orientalista, pertence à Academia Francesa. E xtrem a
mente especializado, desde seus tempos de Sem inário, em lín
guas orientais, com numerosos diplomas em línguas an tig as: he
breu, siríaco, assírio, árabe, etíope, etc.
Cardeal Aquiles Liénart: é também francês, com 7 8 anos
de idade. E ’ o mais venerando dos purpurados franceses, pre
side à Assem bléia dos Arcebispos e goza de prestígio ex cepcio
nal na nação. Foi Professor de exegese nos Sem inários M aiores
de C am brai e Lille. Em 1928 foi eleito Bispo de Lille, sua ci-
4. 0 Conselho de Presidência c o Secretariado Geral 47
Nomeados pelo P a p a :
1. Estêvão I Sidarouss, P a tria rca dos coptas, do E gito;
2. Paulo Pedro Meouchi, P atriarca dos m aronitas de Antioquia, no
Líbano;
3. Alberto Gori, Patriarca dos latinos de Jerusalém , na Jordânia;
4. Paulo II Cheikho, P atriarca dos caldeus da B abilônia, no Iraque;
5. Inácio Pedro XIV Batanian, Patriarca dos armênios da Cilicia, no
Líbano;
6. José Rabbani, Administrador Apostólico dos sirios de Homs, na
Síria;
7. Asratc Mariam Yemmeru, Arcebispo de Addis Abeba, na E tiópia;
8. João B atista Scapinelli di Leguigno, Assessor da S. Congregação
para a Igreja Oriental;
9. Jacin to Gad, Exarca Apostólico para os católicos de rito bizan
tino na Grécia.
5. A s Comissões Conciliares 55
Nomeados pelo P a p a :
1. Cardeal Afonso Castaldo, Arcebispo de Nápoles, na Itália;
2. Tom ás B. Cooray, Arcebispo de Colombo, no C eilão;
3. Paulo Nguyen Van Binch, Arcebispo de Saigon, no Vietnam do Sul;
4. Pedro Palazzini, Secretário da S. C ongregação do Concilio (ita lia n o );
5. Carlos P. Greco, Bispo dc Alexandria, nos E E .U U .;
6. Angelo Temino Saiz, Bispo de Orense, na E spanha;
7. Ernesto Corripio Ahumada, Bispo de Tam pico, no M éxico;
8. Pio Alberto Farina Farina, Bispo tit. de Citarizio, no Chile;
9. José Maxim ino Eusébio Dominguez y Rodriguez, Bispo de M atanzas,
em Cuba.
Nomeados pelo P a p a :
1. Bernardo Mels, Arcebispo de Luluabourg, no Congo;
2. Paulo Philippe, Arceb. tit., S ecretário da C ongregação dos Religio
sos (fr a n c ê s );
3. Luis Severino Haller, Abade nullius de Saint-M aurice, na S uíça;
4. Rômulo Compagnoni, Bispo de Anagni, na Itália;
5. Domingos Vendargon, Bispo de Kuala Lumpur, na União M alaca;
6. Celso Sipovic, Bispo tit. de Mariamme, na Lituânia;
7. Sigardo Kleiner, Abade Geral dos Cistercienses (su íço );
8. João B. Janssens, Prepósito Geral dos Jesuítas (b e lg a );
9. Renato Ziggiotti, Superior Geral dos Salesianos (italiano ).
5. A s Comissões Conciliares 57
Nomeados pelo P a p a ;
1. Cardeal Paulo Qiobbe, da Cúria Rom ana (ita lia n o );
2. Cardeal André Jullien, da Cúria Romana (fr a n c ê s );
3. Cardeal Anselmo Albareda, O . S . B . , da Cúria Rom ana (esp a n h o l);
4. Henrique Dante, Arceb. tit.. S ecretário da S. C ongregação dos Ri
tos (ita lia n o );
5. Guilherme M aria Bekkers, Bispo de s'H crtogenbosch, na H olanda;
6. Bernardo Fey Schneider, Bispo-C oadj. de Potosí, na B olivia;
7. Ramão Masnou Boixeda, Bispo de Vich, na E spanha;
8. Pedro Schweiger, Superior Geral dos Claretianos (a lem ã o );
9. João Prou, Abade G eral de Solesm es, na França.
Nomeados pelo P a p a :
1. Cardeal Jaim e de B arros Câmara, Arcebispo do Rio J e Janeiro, no
B rasil;
2. Ernesto Sena de Oliveira, Arcebispo-Bispo de Coimbra, em P o rtugal;
3. Gregório Modrego y Casáus, Arceb.-Bispo de Barcelona, na Espanha;
4. Justino Daniel Simonds, Arceb.-Coadj. de Melbourne, na A ustrália;
5. A s Comissões Conciliares 59
Nomeado pelo P a p a :
8. na Com issão dos Sem inários e U niversidades: C ardeal Jaim e
de B a rros Câm ara, Arcebispo do Rio de Janeiro.
6. Os Peritos Conciliares.
S eg u n do o a rt. 9 do r eg u -
lamento, “ Perito” é um têrmo genérico que compreende os Teó
logos, os Canonistas e “outros expertos" do Concilio. O Regu
lamento distingue os “peritos conciliares”, nomeados pelo Sumo
Pontífice, dos "peritos particulares”, que cada Padre Conciliar
pode nomear para si. Mas somente os peritos oficiais podem
a ssistir às Congregações Gerais, nas quais, porém, não têm o
direito de falar, a não ser que sejam interrogados. Têm êles,
principalmente, a tarefa de colaborar com os Membros das Co
m issões Conciliares, para elaborar e emendar os textos e para
preparar as relações que devem ser apresentadas à Congrega
ção G eral. No fim da Primeira Sessão do Concilio (7 -1 2 -6 2 )
foi distribuída a seguinte lista dos peritos conciliares:
Concilio II — s
II. Abertura e Ambiente
Creio que a primeira pergunta que vos interessará será esta: se es
tamos satisfeitos com as reações dos cristãos não-católicos perante o
Concilio? — Resposta: Foi divulgada nestes dias uma expressão minha,
dita depois da Audiência que o Santo Padre concedeu aos Observadores
das comunidades não-católicas, na qual eu dizia: " E ’ um milagre, é um
verdadeiro m ilagre!” Dc fato, eu havia dito estas palavras, que não
eram apenas fruto da impressão naquela Audiência, que, aliás, foi uma
coisa singular e única no gênero, comovente pela delicadeza e familia
ridade que o próprio Santo Padre lhe queria emprestar. Não, aquelas
palavras refletem o conjunto das experiências que tivemos nestes dois
anos, decorridos desde a constituição do Secretariado. Pode-se dizer
com tôda objetividade que tôdas estas experiências cresceram aos pou
cos e sempre mais, tanto em amplitude quanto em profundidade. Não
me deterei a falar do calor com que foi saudada a instituição do Secre
tariado e do vastíssim o interêsse que suscitou e ainda encontra um
pouco, pode-se dizer, por todo o mundo. Acentuemos apenas dois fatos
destas últimas sem anas: O primeiro fato é a presença de mais de qua
renta Observadores delegados ou Hóspedes do Secretariado, que repre
sentam quase tôdas as grandes federações das confissões cristãs não-
católicas nascidas da Reforma e ainda um bom número de Igrejas Orien
tais. E ’ verdade que esta nossa alegria — digo “nossa”, incluindo tam
bém os Observadores e as Confissões que êles representam — é um
tanto turbada pela ausência de bom número de veneráveis Igrejas Or
todoxas do Oriente. E ’, contudo, necessário reconhecer que foram feitos
grandes esforços para superar os obstáculos existentes e, depois que
II. Abertura e Ambiente
“ C o n g r eg aç ão g er a l" e 1
o nome oficialmente usado para designar a reunião plenária
na Aula Conciliar. As Congregações Gerais são pròpriamente
as grandes sessões de trabalho do Concílio Ecumênico, durante
as quais os Padres Conciliares examinam, discutem e votam os
projetos ou textos (chamados também “esquemas”) elaborados
pelas Comissões Preconciliares, louvando-os ( “placet”), emen
dando-os ("p la cet iuxta modum” ) ou rejeitando-os ( “non pla
c e t" ) , como bem lhes parecer diante do Senhor. Cada Congre
gação é presidida, em nome e com autoridade do Papa, por
um dos dez Cardeais do Conselho de Presidência. Nas Congre
gações cada Padre veste o hábito coral de seu respectivo grau:
os Cardeais vermelho ou roxo, conforme o tempo litúrgico, com
roquete, manteleta e murça; os Patriarcas, hábito roxo, com ro-
quete, manteleta e murça; os Arcebispos e Bispos, hábito roxo,
com roquete e manteleta; os Bispos Orientais, Abades e Supe
riores Gerais, os hábitos corais próprios de cada Rito ou Or
dem. Além destes “Padres” podem assistir às Congregações Ge
rais também os Peritos oficiais nomeados pelo Papa (não os
particulares, nem os secretários dos B ispos), os Observadores e
Hóspedes do Secretariado para a União dos Cristãos e os fun
cionários e empregados para os trabalhos técnicos.
Problem a particularmente delicado para o cronista é o do
sigilo prescrito nos artigos 26 e 27 do Regulamento. No início
tinha-se a im pressão de que esta questão seria satisfatòriamente
resolvida pelo Serviço de Imprensa do Concílio. Na esperança
de serem suficientemente informados para poderem também in
formar, 1.255 jornalistas de todo o mundo se inscreveram nesta
Repartição do Concílio. Com esta finalidade foi instalada, na
V ia delia Conciliazione, junto à Praça de São Pedro, uma Sala
de Imprensa muito ampla e moderna, com todos os recursos
74 III. Crônica das C on gregaçõ es G erais
Comentário do cronista:
Outro dia um jorn alista disse-me que seu diretor nos E stados Uni
dos lhe havia solicitado metesse um pouco m ais de “jazz político” nos
seus despachos, isto é, impusesse ao Concilio os valores da política,
acentuando as disputas e diferenças de opinião entre os vários grupos
de Bispos. E sta é a "novidade”. Suponhamos que o ponto de vista dèste
diretor fôsse praticado na época do prim eiro Concilio da Igreja em
Jerusalém . Como teriam êles redigido suas noticias? Talvez assim : Um
grupo de jorn alistas teria comunicado ao seu diretor cm C artago que
muito murmúrio se fazia por causa da lentidão nos trabalhos prepa
ratórios do Concílio. Outro grupo teria enviado longo artigo ao Times
de Roma sôbre a tensão existente entre o grupo centralizador e os outros
favoráveis a uma autoridade m ais descentralizada. Dizia assim : “ Fonte
autorizada comunicou que existe crescente oposição à autoridade papal
representada por Pedro. T a l oposição parece apoiar-se nos Bispos João
e Tiag o, que certa vez chegaram a tentar, mediante influências exter
nas, tornar-se iguais ao Papa ou até superá-lo. E ’ até mesmo conhe
cido que a mãe dêles procurou a Nosso Senhor para conseguir o pri
meiro e o segundo lugar na Igreja em vez de Pedro”. Numa outra men
sagem ao Mensageiro de Antioquia lê-se o seguinte: "G rupo ocidental
e oriental. Os Bispos Filipe e André, êste último irmão do Papa, perten
cem ao grupo oriental. Foram êles que, em certo momento, quando ten
taram obter uma audiência com o Senhor, se encontraram com os gre
gos. Um porta-voz autorizado do próxim o Concilio declarou que o Papa
Pedro está vivamente im pressionado pelo fato de que uma pessoa tão
chegada à Cúria como o Bispo André, tivesse participado abertam ente
do bloco oriental". A Fôlha da T ard e'd e Jerusalém , que enviou o maior
número de correspondentes ao Concílio, transmitiu a seguinte resenha ao
chefe da redação: “O líder do grupo conservador é o Bispo Mateus
que, em todos os seus escritos, muito se interessa por Israel e que deu
Eleição das Comissões 79
H o je , à s 9 h o ra s da m a -
nhã, pela segunda vez reuniu-se, na Aula Conciliar, a C ongre
gação G eral do Concílio Ecum ênico V aticano II, com o fim de
eleger os 160 M em bros das dez Com issões C onciliares. Abriu-
se a Reunião com a Sa n ta M issa, celebrada por Mons. Casim iro
M orcillo González, A rcebispo de S a ra g o ça. A seguir o Sr. C ar
deal E . T isseran t recitou a invocação do “Adsumus” . Estavam
presentes 2 .3 7 9 Padres C onciliares. Antes de iniciar os trab a
lhos, o Secretário G eral do Concilio Mons. P éricles Felici le
vou solenemente o E vangelho ao altar onde continuou aberto
entre duas velas acesas durante tôda a reunião. 1 D eram -se de
pois, da parte de alguns P ad res Conciliares (o s C ardeais O tta-
viani, Roberti e R u ffin i), várias intervenções de esclarecim ento
sôbre os trabalhos da votação, decidindo logo o Conselho de
Presidência sôbre as propostas feitas. Procedeu-se então à pri
meira votação. O s trabalhos de apuração com eçarão esta tarde
e continuarão depois, já que o número de cédulas é muito ele
vado e os nomes a serem controlados vão além de 4 0 0 .0 0 0 .
Foi com unicado a todos que podem ser eleitos como M em bros
das C om issões todos os Pad res Conciliares, salvo os que já fa
zem parte do Conselho de Presidência e do Secretariado para
Questões Extraord in árias, os Presidentes das dez Com issões e
do Tribunal Administrativo, o Secretário G eral e os quatro Su b-
Concilio II — e
III. Crônica das C on gregaçõ es G erais
E xa ta m en te as 9 horas
desta manhã, a terceira C ongregação G eral do Concilio Ecum ê
nico V aticano II iniciou seus trabalhos na Aula de São Pedro.
Logo depois da San ta M is s a ', celebrada por Mons. M artinho
Antônio Jansen, B ispo de Roterdão (H o lan d a), o Secretário G e
ral Mons. Felici deu a ordem do “ex tra om nes” (saiam to
d o s), podendo permanecer na Aula Conciliar sòm ente os Padres,
os Peritos, os O ficiais e os O bservadores delegados. Estavam
presentes 2 .3 4 0 Pad res C onciliares. L evantou-se então tôda a
A ssem bléia dos Pad res a fim de seguir em silêncio e com o de
vido respeito e devoção a cerim ônia da entronização do Evan
gelho sôbre o Altar central. A seguir, o Secretário G eral anun
ciou que o Em. Sr. Cardeal Liénart estaria na Presidência da
terceira C ongregação G eral. Este logo ocupou o lugar no centro
da mesa e recitou a invocação do “Adsumus” . Foi lida uma
com unicação em latim pelo Secretário G eral e em francês, inglês,
alem ão, espanhol e árabe, pelos cinco Su bsecretários, noticiando
aos Pad res Conciliares que, a pedido do Conselho de Presidência
do C oncilio, considerando o grande número de votos dados tam
bém a candidatos que não atingiram a requerida m aioria ab so
luta, e no desejo de que os trabalhos conciliares avancem com
maior rapidez, o San to Padre d ign ara-sc de dispensar da norma
do art. 3 9 do Regulamento. P or esta razão devem ser conside
rados eleitos os primeiros 16 Padres que receberam o maior
número de votos em cada Comissão. Term inada a com unicação,
. , R e u n iu -s e e s t a m a n h a , a s
9 horas, na Aula Conciliar, a quarta Congregação Geral do XXI
Concílio Ecumênico. Celebrou a Santa Missa o Exmo. Sr. Ar
cebispo de Paderborn (Alem anha), Mons. Lourenço Jaeger. En
tronizado o livro dos Santos Evangelhos por Mons. Morcillo, um
dos cinco Subsecretários, ocupou a Presidência o Emo. Sr. Car
deal Gilroy, Arcebispo de Sydney (Austrália). A seguir, o Se
cretário G eral passou a ler os resultados das eleições das três
Comissões restantes, cuja apuração terminara sábado à tarde:
a Comissão da Disciplina dos Sacramentos, a dos Religiosos e
a dos Sem inários e Universidades Católicas. Aliás, êstes resul
tados, contràriamente ao que publicam certos jornais que se re
velam cada dia mais seguidores de fantasmas do que informa
dores objetivos da verdade, demonstraram o verdadeiro espírito
de fraternidade e ecumenicidade que anima os Padres Conci
liares. Nas dez Comissões, com efeito, há representantes de 42
nações, num equilíbrio feliz de nacionalidade e competência.
Começou-se então com o estudo do projeto de Constituição sôbre
a Sagrad a Liturgia que, como já foi anunciado, será o primeiro
assunto de discussão propriamente conciliar. Falou primeiro o
Cardeal Arcádio Larraona, C .M . F ., Presidente da Comissão Li-
túrgica. Deu breves esclarecim entos sôbre o tema a ser debatido
e pediu ao Padre Fernando Antonelli, O .F . M ., Secretário da
mesma Comissão, para ler as relações sôbre o projeto agora
em debate. A Constituição sôbre a Sagrada Liturgia é bastante
extensa: partindo da definição c natureza da Liturgia como tal,
estuda o Mistério Eucarístico (a Santa M issa), os Sacramentos,
o O ficio Divino (o Breviário), os Sacramentais, o Ano Litúrgi-
co, a Música c Arte Sacra, os Livros Litúrgicos, o Movimento
Litúrgico atual, a necessidade de uma sadia educação para a pie
III. C rônica das C on gregaçõ es G erais
Comentário do cronista:
Segundo um artigo publicado em LO sservatore Romano de 11-10-62
(dia de abertura do C oncílio) e assinado pelo Pe. Ciappi, O . P . , Mes
tre do Sacro Palácio, o Concilio deveria in iciar com a discussão do pro
jeto de Constituição sôbre as Fontes da Revelação. Mas na segunda
Congregação Geral foi comunicado que o debate conciliar com eçaria com
o projeto de C onstituição sôbre a Sagrad a Liturgia. Alguns Padres ti
nham apresentado uma moção neste sentido. Não queriam que o Con
cilio, que já era noticia de prim eira página na im prensa mundial, abrisse
com discussões teológicas difíceis e sutis, ou até com condenações e aná
temas. E ra necessário apresentar desde o inicio algo de positivo, ao
alcance de todos, com modificações palpáveis. A propaganda preconci-
liar abrira am plas perspectivas neste sentido. Para corresponder a esta
universal expectativa, nada m ais apto que a renovação da vida litúr-
gica. P o is a Liturgia é o grande e quase único meio de contacto com
o povo. E ’ nos atos litúrgicos e através dêles que os fiéis recebem a
doutrina e a vida cristã. E se, principalmente nestes últimos anos, fa
lam os do fenômeno da "d cscristianização”, se é verdade que as “mas
s a s ” se distanciam cada vez mais sensível e dolorosamente da “ Ig reja ”
(em bora esta "m assa de fiéis” deva ser também " Ig r e ja ” ), se assistim os
a uma quase generalizada ignorância religiosa (não só no B rasil ou
na América L atin a), é — ao menos em grande parte — porque a Li
turgia deixara de ser popular, porque os atos litúrgicos já não esta
vam ao alcance do povo ou da m assa. Transform ara-se a Liturgia cada
A Liturgia em geral 0,
=sr*=is í r .t ó H S ta r s
S V ~ 3?ÍLÍ!^r,S tó —
ção do fiel assistente. Nao sintonizavam. Enquanto o sacerdote recitava
em língua que os assistentes não compreendiam belas oraçõeslitúrgicas
os fieis se defendiam talvez (e o caso era ainda louvável), com o tèrçó
na mao, repetindo dezenas de Ave-Marias. A maioria dos que assis
tiam, faziam-no mais com a simples consciência de cumprir com um
« Ver í»ue Cra ,mpôst0 para buscar doutrina e alimento na
Mesa da Palavra e do Corpo do Senhor.
Ora, o X X I Concilio Ecumênico queria, antes de mais, uma renova
ção religiosa. Seu idealizador João XXIII o repetira sem cessar: o
Concílio Vaticano II deve ter um caráter nitidamente pastoral. Foi a
constante norma que recebêramos já nas Comissões Preconciliares. Não
só, pois, não podia faltar a renovação litúrgica, mas era de todo conve
niente começar com a revisão sincera, verdadeira e pastoral da Liturgia.
Seria também pela primeira vez que um Concilio Ecumênico, estando
literalmente presentes todos os Bispos do orbe católico, haveria de tra
tar ex professo a vida litúrgica não só dos sacerdotes mas — e sobre
tudo — dos fiéis.
Contudo, os Padres do Concilio não precisavam improvisar. A Divi
na Providência já vinha preparando o campo desde o inicio do século
X X , principalmente a partir de São Pio X. Todos conhecemos aquilo
que se chamou de “ movimento litúrgico". Até a década de 1920 êste
movimento não havia cogitado propriamente em reformas litúrgicas:
queria apenas uma "restauração” de ritos antigos. Lá por 1920 veio o
prim eiro grito de renovação. Queria-se a restauração da noite pascal
e da quinta-feira santa, não propriamente uma nova estrutura litúrgica
destas duas solenidades, mas apenas uma modificação no tempo ou na
hora de sua celebração. Bem mais profundo, porém, já era o desejo,
manifestado anos depois, de maior utilização da língua vernácula na Li
turgia. Deu motivos a sérias discussões no decênio de 1930-1940 e quase
fèz perigar todo o movimento. Na Alemanha, país onde o movimento era
mais forte, o Episcopado resolveu patrocinar os desejos de_ renovação
litúrgica, defendendo o movimento contra exacerbadas acusações, mesmo
em Roma. O Cardeal Bcrtram, de Breslau, foi, neste campo, um dos
pioneiros de maior autoridade. Em 1943 o Bispo de Tréveris Dom
Borncw asscr enviou à Santa Sé uma fundamental Promemória "D e
Restauratione Litúrgica in Germania". Mais decisivo, porém, para a re
novação, foi o inquérito promovido pela Ephemerides Liturgicae (Ro
ma) de 28-1-1948, pedindo a seus colaboradores de todo o mundo ex
primissem claramente seus desejos de reforma nos livros litúrgicos. Foi
então que começou a discussão cientifica de uma ampla e generalizada
renovação da vida litúrgica. Em 1951 realizou-se no mosteiro beneditino
de M aria la a c h (Alemanha) o primeiro Congresso Internacional de Es
tudos Litúrgicos. Repetiram-se depois regularmente èstes encontros in-
92 III. Crônica das C on gregaçõ es G erais
A Q U IN TA C O N G REG A Ç Ã O
G eral iniciou esta manhã, no horário de sem pre, com a San ta
M issa celebrada por Mons. Joã o Krol, Arcebispo de Filadélfia,
nos E stad os Unidos. Ocupou em seguida a P residên cia o Emo.
Sr. Cardeal Francisco Spellm an, A rcebispo de Nova York. S e
gundo os cálculos fornecidos pelo Centro M ecan ográfico, esta
vam presentes 2 .3 6 3 Pad res C onciliares. P articu lar solenidade
foi dada hoje à entronização do Ev ang elho: Partindo da está
tua de São Pedro, junto à qual está a m esa do C onselho de
Presidência, Mons. Jo ã o Villot, A rcebispo C oadjutor de Lião e
um dos cinco Su bsecretários do C oncilio, levou solenem ente o
livro dos Evangelhos por toda a nave central, antes de colocá-
lo sôbre o altar, enquanto a Assem bléia cantava o salm o “ Lau-
date Dominum”, alternando com o verso “Christus vincit” . O
Secretário G eral passou então a ler os nomes dos M em bros das
Com issões que substituirão os que, já eleitos pela Assem bléia,
todavia não eram elegíveis, porque já tinham sido indicados para
outros carg os do Concílio. Assim era o caso do C ardeal Estêvão
W yszynski, eleito Membro da C omissão do Apostolado dos Lei
gos, mas que pouco antes tinha sido nomeado para o S ecreta
riado das Questões “extra ordinem” e que agora foi substituído
por Mons. T h om as Morris, A rcebispo de Cashel, na Irlanda.
C oisa sem elhante acontecera com Mons. Teodoro Minisci, Aba
de “nullius” de San ta M aria em G rottaferrata, que já era Mem
bro do Secretariad o para a União dos C ristãos e, sim ultânea-
mente, fôra eleito para a C omissão das Ig rejas O rientais; foi
ag ora substituído por Mons. M ateus Kavukatt, Arcebispo de
C hangana-C herry, India. Depois disso o Secretário G eral e os
cinco Su bsecretários, cada um em sua língua, deram alguns es
clarecim entos sôbre o modo de proceder nos trabalhos desta
Debates sôbre o latim
95
O S A C R IF ÍC IO E U C A R ÍS T IC O
desta manhã, com o qual com eçou a sex ta C ongregação G eral
do X X I C oncílio Ecum ênico, foi oficiad o por Mons. Filipe N abaa,
A rcebispo de B eirute e G ibail para os M elquitas e que c um
dos cinco Su bsecretários do C oncilio. Em termos mais exatos,
tratou -se de uma C oncelebração em rito greco-m elquita. P resi
diu a C ongregação G eral de hoje o Emo. Sr. C ardeal Henrique
P ia y D eniel, A rcebispo de Toled o. A entronização do livro dos
E vangelhos em forma solene, como ontem, foi feita por Mons.
Jo sé Krol, A rcebispo de F ilad élfia, nos E stados Unidos. Estavam
presentes na Aula 2 .3 3 7 Padres. Term inada a invocação do
“Adsumus”, o Secretário G eral comunicou aos P adres a morte de
Mons. Aston C hichester, Arcebispo titular de Velebusto, que ha
via expirado uma hora antes, acom etido por um mal súbito, no
adro d a B a sílica . T od os os Pad res C onciliares recitaram juntos
o “ D e Profu n d is". Foi distribuído então o calendário dos trab a
lhos conciliares para o mês de novembro, que prevê a suspensão
das sessões para os primeiros quatro dias do mês. A partir do
dia ã de novembro, haverá sessões todos os dias, menos às
qu intas-feiras e aos dom ingos. Continuaram depois as interven
ções dos Pad res, ainda sôbre o Proêm io e o Prim eiro Capitulo
do projeto de Constituição sôbre a Sagrad a Liturgia. O Proê
mio, depois de lem brar que a tarefa de favorecer e promover
a Liturgia, entra nas finalidades do Concílio, sublinha que não
se trata de fazer novos pronunciamentos dogm áticos, mas de fi
x a r alguns princípios e norm as gerais, deixando então aos P e
ritos do mundo inteiro, com aprovação da San ta Sé, a tarefa
de estudar as aplicações concretas. Com êste fim se cham a a
atenção para a necessidade de acentuar sobretudo a natureza
teândrica da Liturgia, seu duplo caráter divino e humano, invi-
Renovação litúrgica 101
Calendário dos Santos. No calendário dos San tos para a Ig reja uni
versal, incluam-se sòmente os San tos realm ente significativos para tôda
a Igreja. Os outros sejam venerados em sua respectiva nação ou famí
lia religiosa.
A p ó s a r á p id a p a u s a d e
ontem, aproveitada, aliás, por muitos para encontros regionais
ou nacionais, continuaram esta manhã os trabalhos conciliares.
Celebrou a Santa Missa Mons. Deodato Yougbare, Bispo de
Koupela, Alto Volta. A oração do “Adsumus” foi recitada pelo
Cardeal Frings, Arcebispo de Colônia, Presidente da Sétima Con
gregação Geral. Estavam presentes 2.323 P ad res.1 Entronizado
o Evangelho, desta vez por Mons. Guilherme Kempf (um dos
Su bsecretários), continuaram as intervenções no debate sôbre a
Sagrad a Liturgia. Seguindo as normas do art. 33 do Regulamen
to, cada um, depois de ter falado, entrega ao Secretário Geral
suas observações c propostas por escrito. Apresentaram-se hoje
vários Abades G erais Beneditinos. Os filhos de São Bento, com
efeito, notabilizaram-se pelo amor com que, a exemplo de seu
San to Fundador, cultivam os estudos da Liturgia, transformando
não poucas vêzes suas Abadias em exuberantes centros de vida
litúrgica. Os Padres que hoje falaram tocaram um pouco em
todos os artigos da Constituição agora em estudo. Especial aten
ção mereceu a parte que fala das finalidades da Liturgia en
Falaram h oje:
A C O N G R EG A Ç Ã O GERAL
desta manhã continuou ainda a discussão em tôrno dos pará
grafos do primeiro capítulo de Constituição sôbre a Sagrad a
Liturgia. A amplitude e im portância que o primeiro capítulo tem
no conjunto da C onstituição explica também a dem ora no de
bate acêrca dos vários p arág rafos dêste capitulo que, sozinho,
ocupa a têrça parte de todo o projeto. As norm as e orientações
de caráter fundam ental e geral, expostas neste capítulo intro
dutório, condicionam , adem ais, todos os outros capitulos seguin
tes e exigem , por isso, particular cuidado e aprofundam ento.
Assim, depois, nas aplicações, será possível prosseguir m ais se
gura e ràpidamente. A todos os oradores a Presidência do Con
cílio recomendou brevidade e concisão. O assunto central das
intervenções de hoje, além da questão da língua (com prós e
c o n tra s), foi o problema de como facilitar aos fiéis a p articipa
ção ativa na Liturgia, que tem am pla aplicação sobretudo nos
territórios m issionários, onde também é sentido com maior ur
gência e apresenta m aiores dificuldades. Pois não é tão fácil
selecionar dentre as tradições, usos e costumes de cada povo
os elem entos mais significativos que, talvez, possam oportuna
e utilmente ser introduzidos no culto litúrgico. P ara isso c pre
ciso ter bons conhecim entos de etnologia, m issionologia e litur
gia, unidos a um sereno senso de equilíbrio e prudência. Su bli
nharam também os P ad res que, de modo geral, a natureza di
d ática e pastoral da Liturgia exige que a estrutura dos ritos seja
sim ples, breve, de fácil e im ediata com preensão, possivelmente
também quanto à língua. Su a natureza com unitária e hierárqui
ca reclam a também, sempre que o rito o permita, uma celebra
ção pública e comum e não apenas particular ou individual. A
fim de promover a participação ativa dos fiéis, é conveniente
Participação ativa na Liturgia ln
Term inou assim esta sem ana do C oncílio, inteiram ente con
sag rad a ao estudo da S a g rad a Liturgia. Não é fácil prever quan
to tempo ainda irá durar a discussão, pois que é grande o núme
ro de P ad res que se inscreveram para falar. Ontem à tarde
reuniram -se o Conselho de Presid ên cia e o Secretariado para
as questões ex traord in árias a fim de estudar problem as rela
cionados com o correr dos trabalhos conciliares. R eúne-se tam
bém tôdas as tardes a C om issão Litúrgica na sede da S a g ra
da C ongregação dos Ritos. C om em ora-se am anhã, dia 2 8 de
outubro, o quarto aniversário da eleição de Sua Santidade o
P a p a Jo ã o X X III. Recordando tão fausto acontecim ento, os P a
dres Conciliares, antes de encerrar a oitava C ongregação G e
ral, enviaram ao Sumo Pon tífice o seguinte telegram a: “ Na
proxim idade do grande dia, quando o orbe católico comemora
a eleição de V ossa Santidade, Nós, Padres C onciliares, reuni
dos, humildemente e com intenso fervor, elevam os nossas ora
ções suplicando a Deus O nipotente que, por intercessão da
B em -aventurada V irgem M aria e de Seu casto esposo São José,
Padroeiro do C oncílio, V os conserve por muitos anos, beatíssim o
e am abilíssim o P a i nosso e V igário de Cristo, e Vos assista
nos trabalhos do Concílio, tão felizm ente iniciados, de maneira
que prossigam fecundos e alcancem o êxito esperado segundo
os V ossos d esejos. P ara êste fim nos ajude V ossa Bênção Apos
tólica que imploramos com profunda veneração, estreitamente
unidos em tôrno de V ossa C átedra da V erdade” .
29-10-1962: Nona Congregação Geral.
O Princípio da Adaptação.
IO A N N ES PP. X X III.
30-10-1962: Décima Congregação Geral.
A Concelebração.
A DÉCIMA CONGREGAÇÃO
(je r a l do Concilio Ecumênico Vaticano II, reunida esta manhã,
estudou o segundo capitulo do projeto de Constituição sôbre
a Liturgia. O segundo capítulo — “De Sacrosancto Eucharistiae
M ysterio" — contém um breve proêmio e dois parágrafos, o
primeiro com sete e o segundo com três artigos. A introdução
lembra a Última Ceia e a ordem dada por Cristo aos Apóstolos
para que o divino convivio pascal fôsse renovado até a consu
mação dos séculos e continuasse na Igreja como o grande S a
cram ento da piedade, fonte e exemplo da unidade, sacrifício de
louvor, garantia e símbolo do convivio no céu. Esta é a razão
por que a Igreja tem sumo cuidado para que os fiéis não assis
tam ao Sacrifício Eucarístico apenas como inertes e mudos es
pectadores, mas, consciente e piedosamente; sejam alimentados
tanto na mesa da Palavra como na mesa do Corpo do Senhor;
clêem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos
quando, juntamente com o sacerdote, oferecem a hóstia ima
culada; e assim , dia após dia, cheguem a uma unidade sempre
mais perfeita, para que Deus seja tudo em todos. Baseados nes
tes princípios, os Padres preocuparam-se esta manhã, nas várias
intervenções, particularmente da Santa Missa, procurando e su
gerindo meios e modos de facilitar aos fiéis um conhecimento
mais exato, indispensável para uma participação íntima nos seus
ritos. Por êste motivo tornaram a falar do uso da língua ver
nácula na parte didática da M issa; desejaram melhor e mais
rica seleção dos textos da Sagrada Escritura, principalmente
para a Epistola e o Evangelho; falaram também da Comunhão
sob duas espécies e da concelebração em algumas situações
particulares, aprovadas pelos Bispos, como durante o retiro do
clero, nos congressos, etc. Em favor da concelebração notou-se
118 III. Crônica das Congregações Gerais
que ela está em uso ainda hoje, não apenas na Ig reja Oriental,
mas também na O cidental, na ordenação dos presbíteros c na
consag ração dos B ispos. Houve também referências ao jeju m eu
carístico. Os Pad res m anifestaram , m ais uma vez, grande inte
resse pelos povos de cultura não-ocid ental, no d esejo de favorecer
a ad aptação de alguns aspectos da Liturgia à m entalidade e às
tradições daqueles povos. Sã o problem as de grande interêsse,
sôbre os quais os Pad res, discutindo com com petência e pru
dência, dão pareceres e formulam as norm as m ais oportunas
para reavivar a devoção dos fieis ao M istério E ucarístico. —
A C ongregação G eral, iniciada às 9 horas, foi presidida pelo
Cardeal B ernardo Alfrink, A rcebispo de Utreque. Celebrou a
San ta M issa Mons. T ia g o M angers, B ispo de O slo (N o ru eg a).
E stavam presentes 2 .2 5 7 Pad res C onciliares. Logo depois da en
tronização do Evangelho, Mons. F elici anunciou que, por inicia
tiva da C om issão Pon tifícia do E stad o do V atican o, se daria
a cada Padre um envelope contendo um pequeno folheto com
indicação das tarifas postais e teleg ráficas para todos os países
do mundo e duas séries de selos em itidos para com em orar a
abertura do C oncílio, uma já carim bada c outra ainda nova.
A D ÉCIM A P R IM E IR A CO N -
g regação G eral, reunida esta manhã, encerra os trabalhos con
ciliares do mês de outubro, o primeiro do C oncilio, durante o
qual tivemos a solene abertura, a eleição dos M em bros das Co
m issões e as prim eiras discussões em torno do projeto de re
novação da Liturgia. P od e-se afirm ar que, já agora, os trab a
lhos tom aram uma direção bastan te clara de modo que poderão
continuar, se não rapidamente, ao menos ordenadam ente. Nos
próxim os quatro dias não haverá C ongregações G erais e muitos
P ad res, sobretudo os que moram perto de Rom a, pediram li
cença de ir às suas D ioceses para a festa de T od os os San tos
e a com em oração dos finados. Q uase todos estarão de volta
entre sábad o e domingo para poderem assistir às solenidades
na B a sílic a V atican a, com em orativas do quarto aniversário da
coroação de Sua Santidade, quando o Cardeal Montini, Arce
bispo de M ilão, oficiará solene M issa P on tifical em rito am -
brosiano. Presidiu os trabalhos desta manhã o C ardeal Eugênio
T isseran t, D ecano do Sacro C olégio. Celebrou a San ta M issa,
em rito dom inicano, o Exm o. Sr. A rcebispo de O ttaw a (C a n a
d á ), Mons. M aria Jo sé Lemieux, O . P . Estavam presentes 2 .2 3 0
P ad res C onciliares. Antes de iniciar os trabalhos o Secretário
G eral anunciou que hoje seria distribuída aos P adres a medalha
de p rata com em orativa da abertura do C oncilio, que, no verso,
traz a efígie de Joã o X X III e, no reverso, a figura do Pon tífice
abraçando um B ispo que representa todo o Episcopado. A Me
dalha é obra do escultor italiano Manzii. Continuou-se ainda
esta m anhã no d ebate do segundo capitulo que trata da Litur
g ia da San ta M issa. Alguns temas, já discutidos ontem, como
a C oncelebração e a Comunhão sob duas espécies, foram hoje
retom ados e aprofundados. Houve consenso geral acêrca da ne
Liturgia da Palavra 12|
S i w B i t í is r ’—"
1 3 6 - C a r d e a l Francisco KOENIG, Arceb. de Viena, na Áustria:
QUÊ na disposição dos ritos apareça o sensus sacrificn; que h aja maior
número de prefácios para festas e tempos. E suplica a tcdos nao fe
char a porta aos futuros.
137 — Plácido CAMBIAGHI, Bispo de Crema, na Itália: as M issas
tenham prefácio próprio; a homilia seja prescrita em tôdas as Missas.
Pede simplificação do rito de consagração dos óleos. Discorreu ampla
mente sôbre a concelebração, que êlc deseja também em favor de pa
dres doentes.
13 8 Francisco JO P, Bispo tit. de Daulia: a homilia c sempre
parte da Liturgia, também durante a semana, a não ser que o Ordi
nário dela dispense.
139 — Raimundo IGLESIAS NAVARRI, Bispo de Urgel, na Espa
nha: é totalmente contra a inovação da concelebração e da comunhão
sob duas espécies.
140 — João NUER, Bispo tit. de Fatano e aux. de Tebe-Luxor para
os coptos no Egito: fala do pão ázimo e do fermentado.
141 — Narcisio JUBANY, Aux. de Barcelona, na Espanha: nega os
motivos pastorais da comunhão sob duas espécies; mas não c contra
e faz propostas práticas neste sentido.
142 — João Batista PRZYKLENK, Bispo de Januária, no B rasil:
a concelebração e a comunhão sob duas espécies não sejam obriga
tórias para ninguém, mas sejam permitidas. S eja possibilitada a comu
nhão sob duas espécies por ocasião da primeira comunhão e do c a sa
mento. Todos os decretos contrários, por serem obsoletos, sejam aboli
dos, pois hoje a matéria já não oferece motivos para perigos na fé.
143 — Alberto DEVOTO, Bispo de Goya, na Argentina: declara-se
favorável a tudo que fomentar a participação dos fiéis na Liturgia.
Deseja absolutamente que sejam abolidos os estipêndios para as Santas
Missas. Enumera cinco razões. Procure-se, em troca, incutir nos fiéis a
obrigação que êles têm de ajudar a Igreja mais espontâneamente.
144 — Lourenço SATOSHI NAGAE, Bispo de Urawa, no Jap ão:
deseja tôda a Santa Missa em vernáculo, rezada ou cantada.
'4 5 João HALLINAN, Arceb. de Atlanta, nos E E .U U .: anuncia
que fala em nome de muitos Bispos dos E E .U U . e proclama que tam
bém êles querem a renovação da Liturgia. Desejam o uso do verná
culo, pois a Liturgia deve ser pública, comum e inteligível.
146 - Lourenço JAEGER, Arceb. de Paderborn. na Alemanha: de-
nhJ5n f,Xt r ií axat,van’ ente 35 ocasiões nas quais se poderia dar a Comu-
l l SOí ° rdenaçâo> na profissão religiosa, no casa-
mento, no batismo dos adultos, i i conversão dos adultos.
Liturgia da Palavra
123
„0 bÍL íit c“ “s *
mas drcuH stâncias; contra a comunMo sob V a s S i f c i S “ o f « r ’J S '
higiênica e por outros motivos. p * ’ por ser antl
. . D e p o i s d u m a in t e r r u p ç ã o
de quatro dias. recomeçaram esta manhã os trabalhos conci
liares para a décima segunda Congregação Geral. A Santa Mis
sa de abertura foi celebrada no rito maronita por Mons. José
Khoury, Arcebispo de Tiro, sendo concelebrantes os Padres Luís
Bostarn" e Maroun Harika. Presidiu a décima segunda Congre
gação G eral o Cardeal Liénart. Bispo de Lille. Estavam presen
tes 2 .1 9 6 Padres Conciliares. O Secretário Geral, antes de ler
os nomes dos Padres que solicitaram a palavra para hoje, co
municou as nomeações feitas por Sua Santidade para constituir,
como Membros, o Tribunal Administrativo e que são: os Car
deais Carlos Chiarlo, Francisco Morano, Guilherme Teodoro
Heard, o Arcebispo André Rohracher (de Saizburg, Áustria) e
os Bispos Lourcnço Floyd Begin, Edmundo Nowicki, João
Pohlschneider, Eugênio Beitia Aldazábal, João Vonderach e Fran
cisco J. Furey. A seguir o Secretário Geral pediu aos Padres
Conciliares não repetissem coisas já ditas por outros e reduzis
sem o mais possível a duração de suas intervenções. Algumas das
intervenções desta manhã tinham caráter geral sôbre todo o S a
crifício Eucarístico. Outras tocavam em questões particulares,
sugerindo modificações na Santa Missa. Tornou-se a insistir na
necessidade de proceder com prudência na revisão de palavras,
gestos, orações e posições que, com o passar dos séculos, nada
perderam de seu primitivo significado. Deve-se, por isso, conser
var a ordem atual da Missa, mesmo admitindo modificações par
ciais que facilitem aos fiéis a participação ativa nos ritos. Foi
dito também que as inovações devem sempre ter presentes, me
diante um estudo atento e profundo, as origens de cada ora
ção e cerimônia, as evoluções históricas por que passaram e
seu significado, verificando se continuam a ter ou não atuali-
126 m. Crônica das Congregações Gerais
o«x is s o 'Sr.?“às
Liturgia da Palavra I27
Concilio II
6 -1 1 -1 9 6 2 : Décima Terceira Congregação Geral.
Liturgia dos Sacramentos.
P r e s id iu à d é c im a t e r c e i -
ra Congregação Geral o Cardeal Tappouni, P atriarca de Antio-
quia dos sírios. Estavam presentes 2.211 Padres do Concilio.
Assunto de estudo e debate desta manhã foi ainda o segundo
capítulo da Constituição sôbre a Liturgia. Mas não se regis
traram novidades. Por duas vêzes o Secretário G eral fêz comu
nicações de bastante importância. Na primeira convida os P a
dres que desejam falar a apresentar antes, juntam ente com o
pedido de falar, também um resumo daquilo que desejam expor
na Aula Conciliar. Pede-se também aos Padres entregar à
Secretaria Geral duas cópias, depois da intervenção, uma para
o arquivo c a outra para a respectiva Comissão. Aniinciou tam
bém Mons. Péricles Felici que o Santo Padre concedeu ao Con
selho de Presidência a faculdade de propor à Congregação G e
ral terminar com a discussão sôbre um capítulo sempre que,
segundo o parecer da Presidência, o assunto já tenha sido suficien
temente aprofundado e ilustrado. Neste caso o Conselho de P re
sidência propõe o parecer à votação dos Padres, que poderão
aceitar ou não, levantando-se ou permanecendo sentados. E os
Padres que estiverem ainda inscritos para falar, poderão apre
sentar por escrito à Secretaria o que gostariam de dizer na
Aula. Esta segunda comunicação foi repetida em francês, espa
nhol, inglês, alemão e árabe. Valendo-se desta faculdade, o P re
sidente Cardeal Tappouni submeteu imediatamente à votação da
assembléia a proposta de encerrar a discussão sôbre o segun
do capitulo, que trata da Liturgia da Missa. E a Assembléia
dos Padres a aprovou. Passou-se então ao estudo do terceiro
capitulo, que traça normas sôbre a administração dos S acra
mentos e dos Sacramentais. O capitulo terceiro do projeto de
Constituição sôbre a Liturgia abre com breve introdução e con
Liturgia dos Sacramentos 13 1
srrScSLi.r*’^ ™
d a d e ^ e moditfcar"0 ° * * * C“ ria Romana: insistiu na necessi-
sobretudo também a na ♦ administração do matrimônio, acentuando
“ a íp O M ) P d° 681,080 (P0ÍS no rit0 de a 8 ora só se fala
Liturgia dos Sacramentos 133
188 - Cardeal Miguel BROW NE, O .P ., da Cúria Romana: mani
festa-se contra o que foi dito acêrca da unção dos enfermos e adverte
que o Sacram ento foi instituido sòmente para os moribundos
189 - Francisco HENGSBACH, Bispo de Essen, na Alemanha: ve
rificou que em muitos esquemas se fala dos Sacramentos; seria mais
razoável expor num só documento o que há a dizer sôbre os Sacra
mentos. Quanto ao Sacramento da Crisma pergunta se não seria con
veniente que no rito se inserisse a idéia do apostolado dos leigos.
190 — J os<S ARNERIC, Bispo de Sebenic, na Jugoslávia: nos ri
tuais particulares deseja tudo em vernáculo. Pensa que os padrinhos
deveriam receber os sacramentos da confissão e da comunhão no dia
em que perante Deus assumem suas responsabilidades de padrinhos.
191 — Domingos CAPOZI, Arceb. de Taiyan, na Síria: a unção dos
enfermos possa ser administrada em qualquer doença.
192 — Adão KOZLOW IEDKI, Arceb. de Lusalca, na Rodésia: mui
tos sacram entais poderiam ser administrados também por leigos, prin
cipalm ente nas regiões afastadas.
193 — Pedro PHAM-NGOC-CHI, Bispo de Quinon, no Vietnam.
194 — M ário MAZ1ERS, Bispo Aux. de Lião, na França: falou do
aspecto social dos Sacramentos.
195 — António PLAZA, Arceb. de La Plata, na Argentina.
196 — Jo sé ALI LEBRUN , Bispo de Valência, na Venezuela: o sa
cramento dos enfermos possa ser administrado a todos os doentes.
197 _ Túlio B O TERO , Arceb. de Medellin, na Colômbia: o rito da
Confirmação supõe certa idade. Pede um rito especial para os adultos
e outro para a s crianças. Deseja que se diga claramente qual é a ma
téria e a forma do Sacramento da Crisma.
198 — Manuel A. DE CARVALHO, Bispo de Angra, em Portugal.
199 — Ludovico CABRERA, Bispo de São Luís de Potosf, no Mé
xico: não lhe parece possível administrar o Sacramento da Crisma du
rante a Santa Missa, como se propõe no projeto; pois em sua região
é enorme a massa de crismandos. _
200 — Bento TOMIZAWA, Bispo de Sapporo, no Japao: expoe as
condições do matrimônio no Japão, onde são frequentes os casamentos
dc católicos com infiéis: deve haver para êlcs normas especiais, nem
é possível realizar tais casamentos durante a Missa.
201 — Bento R E E TZ , Arquiabade de Beuron, na Alemanha: discor
reu sôbre o oficio dos defuntos. .
202 — José RUOTOLO, Bispo de Ugento, na Itália: deseja um sa
cramental para os rapazes, uma espécie de "im ciaçao da juventude ,
c neste sentido dá propostas concretas.
203 — Mateus GARKOVIC, Bispo de Zara, na Jugoslávia.
204 - Luis BARBERO , Bispo de Vigevano na HáUa.
205 — Renato PAILLOUX, Bispo de Fort Rosebery, «a Rodésia Se
tentrional: acentue-se nos Sacramentos o aspecto so c ia .
A DÉCIMA Q U A RTA C O N G R E -
{ração Geral foi presidida pelo Cardeal Tom ás Norman Gilroy,
Arcebispo de Sidney. A Santa Missa foi celebrada por Mons.
Paulo Nguyen van Binh, Arcebispo de Saigon, no Vietnam. E
a entronização do Evangelho, com o canto do “ Laudate Domi-
num”, foi feita por Mons. Roberto Dosseli, Arcebispo de Lomé,
no Togo. Antes de iniciar as intervenções sôbre o terceiro cap i
tulo do projeto sôbre a Liturgia e que, como se informou ontem,
trata dos Sacramentos e dos Sacramentais, o Secretário G eral
comunicou que, depois do terceiro capitulo, será discutido ainda
isoladamente o quarto capítulo (sôbre o Breviário ). O s restan
tes quatro capítulos serão depois estudados em conjunto. Anun
ciou ainda Mons. Felici que, logo depois será apresentado à dis
cussão conciliar o projeto de Constituição sôbre as Fontes da
Revelação. As intervenções sôbre o capitulo terceiro tocaram um
pouco em todos os temas contidos nos 21 artigos, a com eçar
com a introdução, que alguns queriam mais precisa na distin
ção» entre sacramentos e sacramentais. Acêrca do Batism o fize
ram-se propostas no sentido de sim plificar algumas cerimônias
excessivamente complicadas na prática. Sem elhante desejo de
simplificar foi manifestado também com relação aos ritos de
outros Sacramentos. Na administração da Crisma aos que já
têm o uso da razão pareceria útil aditar a renovação das pro
messas do Batismo para que tenham melhor consciência das
obrigações que o Sacramento impõe aos crismados. Falou -se
também das responsabilidades dos padrinhos que, frequentemen
te, não têm consciência de suas obrigações. Um dos pontos em
que mais se jnsistiu nesta manhã foi também o Sacram ento da
Extrema-Unção. Antes de mais sugeriu-se mudar o próprio no
me que, para não poucos cristãos, significa quase a morte imi-
Liturgia dos Sacramentos 135
nentc, esquecendo-se assim que a Extrema-Unção não é um
Sacram ento de temor mas de consolação; e que não foi insti
tuído apenas para a purificação da alma mas também, embora
secundàriamente, para a cura do corpo. Observou-se ainda, que,
muitas vêzes, êste Sacramento deve ser administrado sob con
dição, ou porque por ignorância é considerado de pouco valor,
ou porque não se quer assustar os enfermos enquanto ainda
conscientes. Pa ra dissipar semelhantes conceitos falsos, seria,
pois, necessário permitir que a “Unção dos Enfermos" (tai
seria agora o nome) pudesse ser administrada também em casos
menos graves que os previstos atualmente, como por exemplo,
antes de difíceis operações cirúrgicas, e pudesse ser repetida
durante a mesma doença. Sua administração também poderia
ser mais facilitada reduzindo a unção apenas à fronte e às
mãos. O uso da lingua vernácula e o problema da adaptação
dos ritos de cada Sacramento às mentalidades e tradições dos
povos foi também objeto de alguns discursos de hoje, sobre
tudo da parte de Padres provenientes de regiões missionárias.
Entre os Sacram entais receberam especial relevo as exéquias dos
defuntos, cu jas orações são de grande beleza e profundidade.
E ' por isso necessário torná-las mais conhecidas entre os fiéis,
pois para muitos dêles um funeral é ocasião de um encontro
mais intimo com a Igreja, suas orações e seus ritos. Nota co
mum a tôdas as intervenções sôbre êste terceiro capitulo foi
a de uma busca diligente de tornar os Sacramentos mais com
preensíveis em sua substância e nos seus efeitos e de preparar
os fiéis para recebê-los mais conscientemente c com mais es
forço espiritual. Acabados os discursos sôbre o terceiro capi
tulo, com eçou-se com o estudo do quarto capítulo, que trata
do O ficio Divino. Os Padres presentes eram 2.214.
A b r in d o a d é c im a q u in t a
Congregação Geral, depois da oração do “Adsumiis", o Presi
dente Cardeal José Frings (Arcebispo de C olônia) recordou a
festa de hoje, Dedicação da Arquibasilica do Latrão, “ cabeça c
mãe de tôdas as igrejas". Intervieram primeiro doze Cardeais,
que examinaram o capítulo quarto, que trata da Liturgia do
Breviário. O assunto foi estudado sob o aspecto doutrinário, ex e
gético e pastoral. Depois falaram mais sete Padres C onciliares.
Concordemente todos acentuaram a im portância do O fício Divi
no para a vida espiritual, tanto do sacerdote que trabalha na
cura de almas, como do religioso consagrado à vida contem
plativa. Expressões como estas foram muitas vêzes repetidas:
o louvor de Deus através do Breviário é a principal obra sacer
dotal e o Oficio Divino pode ser considerado uma fonte de gra
ças para tôda a Igreja de Deus; é um meio de san tificação
pessoal e de ação pastoral; é um vínculo de união entre todos
os sacerdotes do mundo; é um manancial inexaurível de consola
ções — como o demonstrou ainda a mais recente história —
particularmente para os sacerdotes que sofrem perseguições em
cárceres ou campos de concentração; é um alimento para a alm a;
é um sustentáculo tanto para os sacerdotes jovens em suas di
ficuldades e preocupações, como para os velhos em suas can
seiras e enfermidades; é uma mina de tesouros escriturísticos
e patristicos na qual se pode todos os dias enriquecer a inteli
gência e o espirito do sacerdote; é uma causa sempre eficiente
de vida mais santa, de trabalho apostólico mais fecundo, de ati
vidade mais generosa e sobrenatural. Foi êste o fundo substancial
pôsto em relêvo por vários oradores, que exprim iram também
pareceres próprios sôbrc questões particulares do O ficio Divino,
como a língua a ser usada, a composição das várias partes do
0 B reviário
141
rio). Falou também da tradução dos salm os: retome-se a Vulgata, mo
deradamente corrigida. Melhorem-se as leituras históricas e omita-se o
que é inútil. H aja mais critério na seleção dos textos da Patrística.
Para tudo isso constitua-se uma Comissão especial. Terminou, coiío
lhe convinha, com um louvor do latim.
241 — Cardeal Agostinho BEA, Presidente do Secretariado da União
dos C ristãos: o Concilio não deve descer a particularidades: fixe os
grandes princípios universalmente válidos: que a oração do Breviário
é feita em nome de tôda a Igreja ; que tem também a finalidade de
ajudar na santificação pessoal; que deve haver certa distribuição de
Horas, para santificar o trabalho do dia; e quais as relações entre a ora
ção particular e a oficial.
242 — Cardeal Anselmo ALBAREDA, O . S . B . , da Cúria Romana:
defendeu o M artirológio e o Segundo Noturno (vida dos Santos: "Exempla
trahunt”).
243 — Guilherme CONNARE, Bispo de Grcensburg, nos E E .U U .:
declara falar em nome de 90% dos Bispos de sua nação: permita-se
na recitação privada do Breviário a livre escolha da língua, principal-
mente nas Lcctiones. Razão: para haver mais devoção e participa
ção pessoal.
244 — Sérgio MÊNDEZ, Bispo de Cuernavaca, no México: as ho
ras menores, mais reduzidas, sejam facultativas; as Matinas sejam substi
tuídas por um "officium Lectionum” bastante livre, de tempo em tempo
modificado, para que haja variação. Esta leitura possa ser feita na
língua materna.
245 — João Juliano W E B E R , Bispo de Estrasburgo, na França: fala
"cum consensu magnac partis Episcoporum G alliae": propõe um Breviá
rio bilingiie, com faculdade de rezar ou em latim ou em vernáculo. A
questão da língua é secundária. Disse que no Breviário deve haver mais
assunto para a meditação e santificação pessoal. Mas não quer um Ofi
cio Divino abreviado. D eseja também a reforma dos livros litúrgicos.
246 — Francisco FRANIC’, Bispo de Spálato, na Jugoslávia: deixe-
se o Breviário como está, introduzindo, porém, a obrigação da me
ditação.
247 — Jaim e CORBOV, Bispo de Monze, na Rodésia Setentrional:,
menos Antigo Testamento e mais Nôvo Testamento no Breviário; omi
tir muitos salm os, como também todos os versículos, bênçãos e outras
coisinhas; os textos da Patrística devem enquadrar-se melhor no ofi
cio; haja liberdade para a lingua; em todo o caso, o Oficio dos De
funtos seja em vernáculo.
248 — Francisco REH, Bispo de Charleston, nos E E .U U .: distin
guir entre Breviário coral (em latim) e particular (em vernáculo).
249 — Antônio AGUIRRE, Bispo de Santo Isidoro, na Argentina,
que fala em nome de nove outros Bispos da Argentina: "A tradição é
boa, mas a caridade é melhor”. Haja dois tipos de ofícios: para o côro
e para os pastôres. O dos pastôres conste de oração matutina, oração
vespertina e ofício de leituras para a meditação. E quando o trabalho
fôr muito, possam os Bispos dispensar da Leitura.
O Breviário.
P r e s id iu a d é c im a s é t im a
Congregação Geral o Cardeal Antônio Caggiano, Arcebispo de
Buenos Aires. A Missa inicial foi celebrada por Mons. José Ar-
neric, Bispo de Sebenick, na Jugoslávia, no rito romano, mas
com missal em língua paleoslava ou, como se diz mais cornu-
mente, na língua glagolitica. Êste tipo de missal, usado em vá
rias dioceses da Croácia, remonta ao século IX, aos tempos dos
Santos Cirilo e Metódio. Na Idade Média caiu em desuso, mas
foi reconhecido pelo Concílio de Trento, revisto e im presso no
tempo de Pio X e divulgado por Pio X I. Logo depois do
“Adsumus", o Secretário Geral repetiu a com unicação que a
Primeira Sessão do Concilio terminará, com uma função solene
presidida pelo Sumo Pontífice, no próximo 8 de dezem bro; no
dia seguinte, domingo, dia 9, haverá solene canonização de alguns
Santos. A Segunda Sessão do Concilio Ecum ênico Vaticano 11
começará no dia 12 de maio de 1963, quarto domingo depois
da Páscoa, e terminará no dia 29 de junho, festa de São P e
dro e São Paulo. Nos meses intermédios entre a primeira e
segunda Sessão trabalharão as Comissões C onciliares. Os trab a
lhos conciliares desta manhã prosseguiram com o estudo dos
últimos quatro capítulos do projeto sôbre a Liturgia. O primeiro
dêstes capítulos (o V na ordem) trata do Ano Litúrgico e consta
de breve proêmio e dois títulos subdivididos em oito artigos.
O sexto capitulo, sôbre as alfaias sacras, tem uma introdução
e três artigos. O sétimo capítulo, sôbre a música sacra, com
preende um proêmio e nove artigos. O último, que tala da arte
sacra, é composto de uma introdução e sete artigos. Como os
outros capítulos, também êstes têm, no rodapé, numerosas ano
tações. Dirigiu-se a atenção dos Padres sobretudo ao quinto
capitulo. Muito se disse sôbre a necessidade de acordar nos fiéis
Mosaico litúrgico 14 9
P r e s i d i u a is * c o n g r e g a -
ção Geral desta manhã o Cardeal Bernardo Alfrink, Arcebispo
de Utrecht, na Holanda. As primeiras intervenções desta manhã
rcfcriram -se de modo especial à música e à arte sacra. Antes,
porém, alguns Padres Conciliares exprimiram o desejo de que
se simplifique o rito da Missa Pontifical e que os paramentos
sejam mais conformes às leis da Liturgia e às regras da sim
plicidade. Recordaram-se os Cânones 1255 e 1276 do Código
de Direito Canônico relativos à doutrina católica sôbre o culto
particular e público das imagens com o fim de corrigir ou evi
tar abusos tanto na exposição de pinturas e esculturas novas,
como na remoção de outras antigas. A Igreja sempre favoreceu
o progresso da arte sacra, por isso aconselhou-se continuar na
mesma linha, tendo presente que as obras de arte inspiradas
pela fé e pela religião representam um hino permanente de lou
vor a Deus, ao mesmo tempo que levam a alma humana à ora
ção. A Igreja também aceitou tôdas as formas de arte, sem
contudo fazer seu êste ou aquêle dos diversos estilos que se su
cederam no decorrer dos séculos. Por isso, é necessário interes
sar-se pelas escolas superiores de arte como, aliás, já ontem
tinha sido sugerido, para que os artistas saibam unir em seus
trabalhos a inspiração sagrada e os cânones da verdadeira arte
que c de todos os tempos mesmo se mudam os gostos e as exi
gências. A arte sacra deve, portanto, encontrar o seu comple
mento nas tradições particulares das diversas regiões. Contrà-
riamente ao que por vêzes se afirma, o esplendor das obras de
arte, assim como a solenidade do culto não ofendem os pobres
e os humildes, que bem compreendem como se deve oferecer
a Deus tudo quanto a natureza tem de melhor, e de mais belo
produz a arte. Os santos, entre os quais o Cura d’Ars, sabiam
15 4 III. Crônica das Congregações G erais
Comentário do cronista:
Nos debates sôbre a Liturgia (que foram bem mais demo
rados que se esperava; e também mais importantes) era evidente
a presença de dois grupos: o dos conservadores e o dos pro
gressistas, segundo uma terminologia; ou, segundo outra, para
reconhecer em todos o necessário respeito à "trad itio": o grupo
dos tradicionalistas estáticos e o dos tradicionalistas dinâmicos.
Entre os dois extremos de cada posição possível surgiram ainda
todos os matizes intermediários imagináveis. E isto era natural.
Pois não se podia esperar que nestas questões opinassem do
mesmo modo o Pastor de uma zona industrial e descristiani-
zada e o de uma região rural e conservadora; ou um Bispo do
sertão brasileiro com pouquíssimos padres e o de uma zona
cristã e praticante com abundância de clero; ou, mais simples
mente, um Bispo da Itália e outro do Japão, o Pastor de Chica
go e o Bispo dos bantos africanos.
158
Hl. Crônica das Congregações Gerais
D e p o is d a in v o c a ç a o d o
Adsiimus” e antes de iniciar a discussão do nôvo projeto sôbre
as Fontes da Revelação, foi lida em latim, espanhol, inglês,
francês, alemão e árabe a seguinte comunicação: "Terminada
a discussão do projeto sôbre a Sagrada Liturgia, propõe-se
submeter à votação estas duas proposições: 1) O Concílio Va
ticano II, depois de examinado o projeto de Constituição sôbre
a Sagrada Liturgia, aprova suas diretrizes gerais, que querem
tornar, com prudência e compreensão, mais vitais e formativas
para os fiéis as diversas partes da Liturgia, de acôrdo com as
exigências pastorais de hoje. 2 ) As emendas propostas durante
a discussão conciliar, apenas examinadas e devidamente compi
ladas pela Comissão Litúrgica, sejam cuidadosamente submetidas
à votação da Congregação Geral para que possam ser usadas
na redação definitiva do texto". Os Padres Conciliares foram
então convidados a votar com fichas adrede preparadas para
o cômputo mecanográfico. Pelo fim da sessão o Secretário Geral
leu os resultados da votação: sôbre 2.215 votantes, houve 2.162
votos a favor, 46 contra e 7 nulos. — Imediatamente após a vo
tação, o Presidente da Sessão deu início aos trabalhos. Antes
de ser apresentado o nôvo projeto de Constituição Dogmática,
o Cardeal Alfredo Ottaviani, Presidente da Comissão Teológica,
sublinhou a importância do projeto em questão, mesmo sob o
ponto de vista pastoral, pois o ensino da verdade, que é sem
pre e em tôda parte igual, constitui o primeiro dever de todo
Pastor de almas. Ele deverá depois encontrar as formas e os
métodos melhores para expô-la. A relação foi lida por Mons.
Salvador Garofalo. Nela se precisou que a principal finalidade
do Concílio é defender e promover a doutrina católica. A se
guir foi explicado o projeto nas suas diversas partes. Eviden-
ConclUo II — 11
,62 III. Crônica das Congregações G erais
gativo. Nem mesmo fala claro, pois envolve muitas coisas em termino
logia equívoca. Se há realmente soluções, diga-se claram ente sim ou
não; se não há, seja-se sincero em concedê-lo. O esquema causa tédio
e irreverência. „ . ,
326 — Cardeal Agostinho BEA, Presidente do Secretariado para a
União dos Cristãos: “Forma non placet”. Não corresponde à finalidade
do Concilio. Somos pastores de todos c não só dos teólogos. Há no
esquema muitas coisas supérfluas, boas apenas para um manual. A Cons
tituição seja mais breve, menos ambígua, mais pastoral e mais ecumênica.
327 — Maximus IV SAIGH, Patriarca de Antioquia dos melqui-
tas: falou em francês, desaprovando o projeto. Razão principal: não
é pastoral.
328 — Gabriel MANEK, Arceb. de Endch, na Indonésia: "Schem a
hoc non placet”. Deu razões de ordem geral e motivos particulares. De
ordem geral: só muito remotamente poderia servir para a renovação
cristã desejada por João X X III; há nêle coisas supérfluas e algumas
até indignas de serem tratadas por um Concílio ( “Vix enim transcendit
modum quo haec matéria in quocumque libro manuali tractari s o le t");
reprova ou insinua reprovar opiniões propostas por católicos “ melioris
notae” ; trará apenas dificuldades ao movimento ecumênico. Dificuldades
particulares: não agrada a referência às "duas fon tes"; nem o conceito
de inspiração; nem o que se diz sôbre o valor histórico da S. Escritura.
Propõe então normas para um nôvo esquema.
329 — Alberto SOEGIJAPRANATA, Arceb. de Sem arang, na Indo
nésia: analisa em vários pontos a finalidade do Concílio c verifica que
os projetos de Constituição Dogmática apresentados para a discussão
não correspondem ao escopo prefixado pelo Papa. Por isso: “ Enixc
comraendamus, ut schemata dogmatica diligenter examinentur et funditus
emendentur”.
330 — Casimiro MORCILLO, Arceb. de Saragoça, na Espanha: fala
cm nome dos Bispos de sua nação: vê e denuncia os pontos fracos
do projeto, mas de modo geral o julga aceitável para a discussão e
defende-o contra as numerosas objeções “que circulam entre os Pad res”.
Dissolveu-se a Congregação às 12,20 horas.
Liturgia pastoral.
cia pasiorai. , _ .
Os Bispos, Pastôres de dioceses, de modo algum tem o desejo de
mudar por simples amor da novidade, ou o desejo de voltar a formas
litúrgicas primitivas, pelo simples fato de pertencerem elas ao tesouro
da tradição e, por isto, serem venerandas: nem o prurido da novidade,
nem o arqucologismo os tentam, senão que a pastoral hodierna tem
necessidade de respostas fundadas na tradição, a fim de que, através
da Liturgia, os fiéis recebam realmente o ensino da Igreja e plenamen-
tc participem da Missa e de todos os outros Sacram entos. A Liturgia
é extremamente necessária para que todos os batizados conheçam a pa
lavra de Deus e compreendam a sua fé de modo completo c ortodoxo.
E ’ o que, já no tempo de S. Leão Magno, dizia o leigo Próspero D’Aqui-
tània, com uma formulação que tantos Papas têm repetido: lex orandi,
lex credendi. A Liturgia, a lex orandi, è que deve ser o principal ensi
namento da fé, da lex credendi, para o povo dos batizados.
Para um Pastor que se preocupa não só com um escol particular-
mente culto, mas também com todo o povo cristão, inclusive os que
não sabem ler, principio tal é pejado de consequências, seja no que
diz respeito à estrutura dos ritos, seja quanto à língua de certas partes
da Liturgia. Vem-nos à mente, neste ponto, uma frase do Abade de
Solesmes Dom Guéranger, quando, a propósito da Igreja prim itiva, es
creve que, nos tempos de perseguição, a língua vulgar é necessária na
Liturgia para alimentar a fé e fortalecê-la até ao heroísmo. Infelizmente
não faltam, nos nossos dias, países onde a fé é perseguida, onde de
muitos modos é posta em perigo pela civilização moderna, onde a ca
tequese fora da Liturgia é impossível c radicalmentc insuficiente.
O Concílio, assembléia de todos os Pastôres da Igreja Católica, mos
tra claramente como são diversas as situações pastorais em que é cele
brada a Liturgia católica. O grande corpo da Igreja é hoje bastante
mais complexo e diverso do que o era na época do Concilio de Trento,
quando foram estabelecidos os Livros litúrgicos atuais. A própria Li
turgia deve fazer com que se nutram na fé e glorifiquem a Deus os
homens e as mulheres dos países cristãos e dos países descristianizados,
as massas batizadas da América Latina, as novas cristandades — da
África até o ExtTemo Oriente — e todo o nôvo povo da civilização in
dustrial. E’ compreensível que, ante tal diversidade, se Unha julgado
oportuno confiar, de um modo ou de outro, às Conferências Episcopais
uma parte, ao menos, da responsabilidade da adaptação pastoral da
Liturgia. Não se tem tornado presente, creio eu, que a própria Santa Sé
está na origem desta idéia, com um importante decreto litúrgico, publi
cado em abril de 1962, o qual reforma o ritual do batismo dos adultos.
Em virtude de tal decreto, às Conferências Episcopais é entregue o cuida
do das traduções da Liturgia do batismo dos adultos, juntamente com
a faculdade de estabelecer algumas adaptações, com o beneplácito da
Santa Sé: “Ad convcntus episcopales facultas defertur opportune sta-
tuendi. . . annuente Sancta Sede”.
, Pode-se fazer uma objeção pastoral a estas grandes mudanças li-
turgicas esboçadas pelo Concilio: em geral, os fiéis não gostam de que
se lhes perturbe a piedade, e um pastor prefere sempre uma educação
A s Fontes da Revelação 167
R e a l iz o u - s e n a m a n h a d e
hoje a vigésima Congregação Geral do Concilio. Os Padres Con
ciliares continuaram o exame do projeto sobre as Fontes da Re
velação em geral. No decorrer dos debates m anifestaram -se duas
tendências: de rejeição pura e simples do projeto e de aceita
ção com as correções necessárias. Os Padres Conciliares que
defenderam a primeira solução apresentaram os seguintes ar
gumentos a favor da própria tese: o projeto em questão é de
caráter demasiadamente escolástico e teórico; carece de espirito
pastoral; contém afirmações muito rígidas; trata certos pontos
doutrinais que ainda não foram suficientemente estudados pela
teologia; não é claro na formulação da verdade, principalmcnte
quando se pensa naqueles que não são católicos; descura o pro
blema da salvação dos que viveram antes de Cristo e dos que
não foram batizados; não favorece o progresso do trabalho cien
tífico, teológico e exegético. Conclusão: tendo presentes êstes de
feitos fundamentais, nada melhor do que substituir o projeto
estudado por outro inteiramente nôvo. Os Padres que se expri
miram a favor da segunda solução basearam os seus argum en
tos nas seguintes razões: o fundamento da ação pastoral está
na exposição clara da doutrina, mesmo que nela não se tenham
em conta os não-católicos; o papel do Concilio é explicar e de
fender a doutrina católica; o projeto em sua formulação atual foi
preparado por Bispos e sacerdotes de grande competência no
assunto; foi aprovado pela Comissão Central com posta em gran
de parte por Cardeais; os seminaristas esperam do Concílio
uma orientação segura sôbre os problemas doutrinais e exegé
ticos que hoje são discutidos em livros e revistas com pouca
clareza de idéias e grande superficialidade. O bjeto de emenda
do projeto em geral seriam principalmente: seu caráter, mais
As Fontes da Revelação 169
P r e s id iu a c o n g r e g a ç ã o
Geral desta manhã o Cardeal Norman Gilroy, Arcebispo de
Sydney, na Austrália. A missa foi celebrada por Sua Excia.
Revma. Mons. Antônio Baraniak, Arcebispo de Poznam, na P o
lônia. Oficiou o rito da entronização do Evangelho Sua Excia.
Revma. Mons. Lourenço Bianchi, Bispo de Hong-Kong. No início
dos trabalhos, o Secretário Geral do Concílio anunciou os nomes
dos Padres Conciliares inscritos para falar na sessão de hoje.
A seguir leu o Proêmio do projeto de Constituição sôbre a Li
turgia, com as emendas propostas nas Assembléias precedentes.
Imediatamente após tomaram a palavra o Cardeal Jaim e Lerca-
ro, Arcebispo de Bolonha, na Itália, e o Bispo de Nicollet no
Canadá, Afons. José Martin, ambos membros da Comissão Litúr-
gica, como relatores da Comissão Litúrgica. Os dois oradores
comunicaram ao plenário que a referida Comissão tinha consi
derado com muita diligência tôdas as observações e propostas
avançadas pelos Padres Conciliares e que depois de atento e pro
fundo exame aceitaram bom número delas, rejeitando outras.
Explicaram outrossim o método de trabalho adotado pela mesma
Comissão e expuseram os critérios que orientaram a introdução
no Proêmio de cada uma das emendas. Teve então início a
votação dos quatro pontos do Proêmio. Resultado:
Comentário do cronista:
As palavras ditas hoje pelo Cardeal Doepfner acêrca dos trabalhos
preconciliares posso confirmá-las de minha própria experiência pessoal
na Comissão Teológica Preconciliar. Fiz de todos os trabalhos um diá
rio pessoal. Impede-me o compromisso do sigilo de revelar particulari
dades. D arei apenas um ou outro exemplo de observações críticas ge
néricas que então fiz. Assim, no dia 6 de março de 1962, que era o se
gundo dia da Reunião Plenária da Comissão Teológica, discutiu-sc o
esquema "D e E cclesia”. No meu diário anotei então o seguinte, tex-
tualmente: “A subcomissão De Ecclesia, cujos esquemas estamos agora
estudando, está saturada e impermeável. Tiveram êles um total de 74
reuniões, até agora, e alguns esquemas tiveram que ser elaborados dez
vêzes e mais. O ra, tudo isso, tôdas essas longas e repetidas discussões,
sempre sôbre o mesmo assunto, tudo isso os saturou intimamente e os
encheu de tal maneira que já não querem mais saber de discussões e
novas propostas. Tornaram -sc assim impermeáveis e hermèticamente fe
chados a qualquer nova idéia. Não querem mais diálogo sôbre o assunto.
Para êles é coisa decidida. Colocaram-se numa espécie de situação de
defesa. Qualquer nova proposta ou emenda é aceita como um ataque
contra o qual é preciso defender-se. Foi esta a impressão nítida que
eu tive principalmente hoje. Verifiquei que nossas “animadversiones”, re-
17 6 |!l. Crônica das Congregações G erais
_ R e a l i z o u -s e e s t a m a n h a a
22* Congregação Geral do Concílio, sob a presidência do Car-
deal Francisco Spellman, Arcebispo dc Nova York, nos Estados
Unidos. A sessão foi precedida pela santa missa, hoje celebra
da pelo Arcebispo de Adelaide, na Austrália, Mons. Mateus
Beovich, e pelo rito de entronização do Evangelho, oficiado por
Mons. Carlos Quintero Arcc, primeiro Bispo da nova diocese de
Citidad Valles, no México. Achavam-se presentes 2.197 Padres
Conciliares. Após a oração “Adsumus", tiveram inicio os traba
lhos conciliares, com a leitura dos nomes dos oradores inscri
tos para a sessão de hoje. Continuando o exame geral do pro
jeto sôbre as Fontes da Revelação, os Padres Conciliares expu
seram os próprios pareceres insistindo não tanto sôbre o
conteúdo do texto discutido, mas principalmente sôbre sua for
mulação. Sublinhou-se ainda uma vez o fato de que os opositores
admitem plenamentc tôdas as verdades apresentadas. Discordam
apenas em alguns pontos, pois não crêem oportuno que o Con
cilio dirima questões que ainda são llcitamente discutidas pelas
diversas escolas teológicas. O Concílio — dizem — não se de
veria pronunciar pró ou contra determinadas correntes, mas ex
por unicamente a doutrina comum da Igreja. Notou-se hoje um
certo esfôrço no sentido de sugerir à Assembléia métodos que
levem à solução do problema, tais como: adiar a discussão do
projeto estudado para a Segunda Sessão do Concilio; propô-lo
novamente ao exame da Comissão competente, a qual levaria em
consideração as propostas até agora avançadas, enquanto o Ple
nário começaria o estudo de outro projeto; admitir neste nôvo
exame da questão a contribuição do Secretariado para a União
dos Cristãos. Fêz-se notar por um lado a necessidade de que
a verdade seja exposta plena e claramente para que o Concilio
Concilio II — 11
178 III. Crônica das Congregações G erais
A SANTA M ISSA D E A B E R T U -
ra da Congregação Geral de hoje foi celebrada em rito bizan-
tino-ucraniano pelo Arcebispo Coadjutor de Belgrado Mons. G a
briel Bukatko. Os cantos da Sagrada Liturgia foram executados
pelos alunos do Pontifício Colégio Ucraniano de Roma. Term i
nada a Missa, o celebrante entronizou o Evangelho na Aula
Conciliar. Tiveram, então, inicio os trabalhos da 2 4 a C ongrega
ção Geral sob a presidência do Cardeal Ernesto Ruffini, Arce
bispo de Palermo, na Itália. Antes de começarem as discussões
programadas para hoje, o Secretário Geral, por ordem do C ar
deal Cicognani, Secretário de Estado de Sua Santidade, leu uma
comunicação pontifícia sôbre a votação efetuada ontem, na qual
grande maioria de votos se exprim ira a favor da reelaboração do
projeto sôbre as Fontes da Revelação, não obtendo contudo o
quociente requerido para decidir a questão. Considerando o fato
de que os pareceres manifestados nas sessões precedentes deram
a entender que a discussão do projeto, tal como foi apresenta
do, seria demasiadamente laboriosa e prolongada, o Papa julgou
oportuno confiar o projeto sôbre as Fontes da Revelação ao exa
me de uma Comissão especialmente criada para êste fim. Esta
Comissão, por desejo do Sumo Pontífice, será com posta de al
guns Cardeais e de Membros tanto da Comissão Teológica como
do Secretariado para a União dos C ristãos. T erá a função de
reelaborar o projeto sôbre as Fontes da Revelação, levando em
conta os pareceres manifestados pelos Padres Conciliares nas
sessões. Terminado êste trabalho, o projeto será submetido à vo
tação do plen ário.1 Como conseqüência prática desta decisão,
Comentário do cronista:
No INICIO DA SESSÃO DE
hoje o Secretário Geral comunicou ao Plenário que, terminado
o exame do projeto sôbre os meios de Comunicação Social, en
trará em discussão o decreto sôbre a Unidade da Igreja, inti
tulado “ Ut unum sin t" e imediatamente depois o projeto de
Constituição sôbre Nossa Senhora. Êste último projeto, junta-
mente com o esquema sôbre a Igreja, publicado num único vo
lume, foi hoje distribuído aos Padres Conciliares. O projeto "U t
unum sint” já tinha sido enviado aos Padres do Concílio pre
cedentemente. — Começaram então os trabalhos programados
para hoje. Em primeiro lugar tomou a palavra o Cardeal Fer
nando Cento, Presidente da Comissão de Apostolado dos Lei
gos e Meios de Comunicação Social. Recordou aos presentes que
o projeto em exame fôra preparado por um Secretariado espe
cial, presidido por Mons. Martinho O’Connor, que há 14 anos
desempenha o cargo de Presidente da Pontifícia Comissão de
Cinema, Rádio e Televisão. Explicou que a Comissão Conciliar,
a que compete a matéria em questão, compreende também os
assuntos que se referem ao Apostolado dos leigos, contudo entra
hoje ein discussão sòmente o esquema sôbre os Meios de Co
municação Social. A apresentação do projeto foi feita por Mons.
René Stourm, Arcebispo de Sens, na França. O orador analisou
primeiramente a natureza dos meios de comunicação social e
sua grande importância no mundo de hoje. A Igreja, como
Mãe, necessàriamente deve interessar-se por êles, quer em seu
aspecto intelectual e cultural, quer em seu aspecto puramente
recreativo, pois sempre entra em questão a ordem moral. A se
guir apresentou um quadro estatístico dos vários meios de co
municação social, passando depois a demonstrar a necessidade
que a Igreja tem de servir-se dêles no desempenho de Sua mis-
198 111. Crônica das Congregações G erais
Comentário do cronista:
£ste Concilio não deixa a gente em paz. Sem anas atrás tivemos
que especializar-nos em Liturgia, depois em Exegese, agora nos "instru
mentos de comunicação social”, amanhã no ecumenismo, depois nas
muitas questões da Eclesiologia. E tudo isto só nesta Prim a Scssio.
Nas outras Sessiones virá muitíssimo mais. Para isto temos tantos "peri
tos”. Assim a gente não apenas repete os estudos feitos, mas vai apren
dendo também as últimas novidades em cada ramo. Conferências espe
cializadas, pequenas reuniões, bate-papo nos corredores, conversas à noi
te, entrevistas à imprensa, separatas de artigos, instruções "secreta s”,
encontros com teólogos, sobretudo também os próprios discursos nas
Aulas Conciliares, tudo isso, exposto e apresentado pelos mais compe
tentes, não deixa de ser um excelente curso intensivo. E agora devemos
especializar-nos nos meios modernos de divulgação. Distribuíram dados
impressionantes:
_ N ° se.tor imprensa: 8.000 diários, com 300 milhões de exemplares;
22.000 revistas, com 200 milhões de exemplares.
No setor cinema: 2.500 filmes produzidos todos os anos; 17.000 sa-
L°es mundo inteiro, frcqüentados anualmente por 17 bilhões, com
35 bilhões de horas.
No setor rádio: 6.000 estações em issoras e 400 milhões de aparelhos.
No setor televisão: 1.000 estações emissoras e 120 milhões de re
ceptores.
dúvida, um fenômeno de extraordinária amplitude e im
portância. São justamente êstes instrumentos que modificam o mundo de
Meios de Comunicação Social 201
um dia para outro. Não pode, certamente, a Igreja não tomar conheci
mento ou deixar êstes poderosos meios de comunicação social nas mãos
dos que dêles se aproveitam para o mal. Mas há sobretudo o lado po
sitivo: a Igreja tem a missão de pregar a tôdas as gentes o Evange
lho; ora êstes meios modernos podem e devem ajudar. Bem disse hoje
de manhã o Relator Mons. Stourm: "Novus orbis, novus rerum ordo
prae stupentibus oculis nostris fabricatur, qui rythmo celeri evolvitur...
Mundus, nobis luce Evangelii erudiendus, non amplius sicut Media Aeta-
te fiebat, iure meritoque, theologicis disputationibus atiendit. Nobis onus
incumbit cvangclizandi in aetate quae nos premit, scilicet hunc nostrum
mundum hodiernum, mundum technicum; qui salvari nequit nisi nos ad
iila instrumenta accedamus libere et fidenter ad gloriam et laudem
Evangelii”.
24-11-1962: Vigésima Sexta Congregação Geral.
Meios de Comunicação SoclaL
P r e s id iu a c o n g r e ç a o g e -
ral de hoje o Cardeal Bernardo Alfrink, Arcebispo de Utrecht.
No inicio da sessão o Secretário G eral leu um telegram a de
felicitações que seria enviado ao Santo Padre por ocasião de
seu aniversário natalício que transcorre amanhã, dia 2 5 : “O s P a
dres do Sacro Concílio Ecumênico, que se está celebrando se
gundo o vosso desejo, elevam para vós, Pastor amantíssim o, no
faustoso dia do vosso aniversário, os olhos, as mentes e os co
rações, e ao mesmo tempo fazem votos para que possais por
muitos anos ainda governar felizmente a Igreja com resultados
copiosos de unidade e de paz, para a glória da E sp ò 'a de Deus.
Pedimo-vos, Santo Padre, queirais confortar-nos a nós os nos
sos trabalhos com a vossa Bênção Apostólica”. Lido o telegra
ma, os Padres exprimiram sua unânime aprovação com um vi
brante aplauso. — Tiveram, então, início os trabalhos da ses
são de hoje. A maior parte das intervenções sublinhou a im
portância, no plano pastoral, dos meios de com unicação social,
quer para a difusão do Evangelho, quer para a penetração na
sociedade moderna daqueles valores humanos e cristãos que fa
vorecem o desenvolvimento da justiça social, o respeito da digni
dade humana, a paz e a união entre os povos. Uma nova ci
vilização está surgindo, e por isso é necessário e urgente que
os meios de comunicação social, que são por si um dom de
Deus, não sejam usados para enfraquecer ou mesmo destruir
aquêles mesmos valores humanos e cristãos. Alguns oradores ma
nifestaram o temor de que o Concílio não dê suficiente impor
tância ao projeto estudado. T rata-se, contudo, de uma questão
vital para tôdas as formas de apostolado moderno. Insistiu-se
então em que os leigos, formados no espirito cristão, tomem
consciência de suas possibilidades de ação nos diversos setores
Meios de Comunicação Social
203
dos meios formativos e informativos da opinião pública. Sôbre
o direito de informação, por todos admitido, notou-se que o
aludido direito não abrange a vida privada, cujos segredos de
vem ser respeitados por motivos de justiça e de caridade. Obser
vou-se, no que se refere ao uso, por parte da Igreja, dos meios
de com unicação social, que o projeto estudado não insiste su
ficientemente nos motivos sôbre os quais se baseiam os direitos
da Ig reja que, por missão divina, deve levar a salvação a todos
os povos. F êz-se aos Padres Conciliares um caloroso apêlo no
sentido de que se ofereça um auxílio concreto no campo dos
meios de com unicação social às nações em fase de desenvolvi
mento. Finalmente foram formulados votos de que um número
sempre maior de leigos seja formado não sõ espiritualmente, mas
também tècnicamente para que, com ardor apostólico e compe
tência, exerçam influência benéfica nos vários setores específicos
das técnicas modernas de difusão, transformando-as em meios de
penetração do pensamento católico. Achavam-se presentes à Con
gregação Geral de hoje 2.136 Padres Conciliares.
Comentário do cronista:
A mentalidade, o estilo, o modo de falar e de argumentar e outras
muitas particularidades dêste Concilio, parece-me, estão sendo determi
nados por um fator muito preciso: a presença, na Aula Conciliar e du
rante as discussões e votações, dos Observadores e Hóspedes não-
católicos. Lá estão êles, num lugar de honra, ã direita de quem entra,
bem na frente, junto ã mesa da Presidência: ortodoxos, coptas, velhos
católicos, anglicanos, luteranos, presbiterianos, congregacionalistas, me
todistas c outros. Não raras vêzes, quando um Padre Conciliar começa
a falar, depois de saudar os Eminentíssimos e Excelentíssimos Senho
res, acrescenta também: "Observatores dilectissimi", "dilecti Observatores
in Christo”, "amabiles Fratres Observatores", "Fratres Observatores".
Tenho a impressão de que a presença dêles no Concílio tem mais ou
menos a função de censores, no sentido da "censura" dos psicanalis
tas. Não é necessário que êles falem, basta que estejam presentes, mesmo
que não entendam o latim ou estejam dormindo: estão sempre lá e pode
ser que acompanhem atentamente. Esta idéia não pode deixar de estar
no fundo do Padre Conciliar no momento em que prepara seu discurso;
nem pode deixar de determinar a seleção dos têrmos que irá usar,
ou dos argumentos que há de desenvolver.
Ontem, às 18 horas, um dêstes Observadores, o Prof. Oscar Cullmann,
a convite do Serviço de Imprensa do Concílio, falou aos jornalistas.
206 III. Crônica das Congregações Q erais
Cnnrflio II — 14
210 Hl. Crônica das Congregações G erais
H*
27-11-1962: Vigésima Oitava Congregação Geral.
A Unidade da Igreja.
P r e s id iu o c a r d e a l a q u i-
les Liénart, Bispo de Lille. No inicio da sessão o Secretário
Geral comunicou ao Plenário que o Santo Padre, atendendo ao
pedido que lhe fôra expresso por muitos Padres C onciliares e
também por motivos pastorais, houve por bem fixar a data de
abertura do segundo período conciliar para o dia 8 de setembro
de 1963, em vez de 12 de maio, data precedentemente estabe
lecida. A seguir, falando em nome da presidência, submeteu à
votação do Plenário a seguinte proposta (que já tinha sido dis
tribuída na sessão a n te rio r): "Com o fim de proceder à reda
ção definitiva do projeto de Constituição sôbre os Meios de Co
municação Social, os Padres Conciliares são convidados a votar
os seguintes pontos: 1) O projeto é substancialm cnte aprova
do. E ’ sumamente oportuno que a Igreja, no exercício do seu
magistério conciliar, se ocupe de um problema de tanta impor
tância no campo pastoral. 2 ) Consideradas as observações feitas
pelos Padres Conciliares, confia-se à Comissão competente a
missão de extrair do projeto os princípios doutrinais essenciais
e as diretrizes pastorais mais genéricas, para form ulá-los de
um modo mais conciso e breve, para que o documento possa
ser oportunamente apresentado à votação. 3 ) Tudo o que se re
fere principalmente à prática e à execução, por expresso man
dato do Concílio, seja redigido em forma pastoral pelo orga
nismo mencionado no iT 57 do projeto, com a colaboração de
pessoas competentes de várias nações". — Im ediatamente após
a leitura da proposta, o Secretário G eral, em nome da Comis
são das Igrejas Orientais, leu uma declaração referente ao pro
jeto sôbre a Unidade da Igreja. Notou que não há nenhuma
dificuldade em que se modifique o título do projeto estudado
para que se veja com mais clareza tratar-se apenas dos cris-
Unidade da Igreja 2 13
Usaram da palavra:
478 — Cardeal Jaim e D E BARRO S CAMARA, Arceb. do Rio dc
Janeiro, no Brasil.
479 — Máximo IV SAIGH, P atriarca de Antioquia e de todo o
Oriente (falou em francês e depois todo o discurso foi repetido em la
tim ): pensa que o texto pode servir de base para a discussão. Lembra
que três Comissões Preconciliares prepararam três textos quase sôbre
o mesmo assunto; tudo isso deveria ser unido num só documento que
Unidade da Igreja 2 15
S o b a p r e s id ê n c ia d o c a r -
deal Gabriel Tappouni, Patriarca dos sirios de Antioquia, efe-
tuou-se hoje a 29* Congregação Geral do Concilio. A missa de
abertura dos trabalhos foi celebrada pelo Arcebispo de Adis
Abeba na Etiópia Mons. Asrate M aria Yemmeru, em rito etió
pico, que tem como característica a intensa participação dos
fiéis por meio de um contínuo diálogo com o celebrante. Os
cantos da sagrada liturgia foram executados pelos alunos do
Colégio Etiópico. Terminado o santo sacrifício, o celebrante en
tronizou na Aula Conciliar o Evangelho, ao som de música etió
pica, ritmada com tambores. Antes de se iniciarem as discussões
sôbre o projeto estudado, o Secretário Geral anunciou ao Ple
nário que, durante a sessão de hoje, seria distribuído aos Padres
Conciliares um texto com nove pontos do capítulo primeiro do
projeto sôbre a Liturgia, reelaborados pela Comissão Litúrgica
segundo as observações m anifestadas pelos Padres Conciliares.
Na Congregação Geral de sexta-feira próxim a, o texto em ques
tão será submetido à votação. Imediatamente após a com unica
ção do Secretário G eral, começaram os debates. Os Padres Con
ciliares que falaram na sessão de hoje pediram de nôvo a uni
ficação dos vários projetos que se referem à Unidade da Igreja.
Embora as relações com os dissidentes do Oriente não sejam
idênticas com as do Ocidente, há contudo pontos comuns que
poderiam ser tratados de um modo uniforme. Os oradores que
se manifestaram em favor do projeto louvaram principalmente
o espírito com que o documento foi elaborado, afirmando que
a doutrina católica é nêie exposta com clareza e ao mesmo tem
po num estilo que de nenhum modo pode ofender os dissiden
tes orientais. O documento, como foi notado, põe em evidência
a necessidade de se recorrer aos meios sobrenaturais para a
Unidade da Igreja 221
vviiiuooai
confessar iiuooa
nossa culpa na aeparaçao.
separação.
• 505 . T J osé K0 ESTN ER, Bispo de Gurk, na Áustria: recomenda
mais cuidado para nao darmos terreno à suspeita de que estamos tra
tando de coisas políticas.
506 — Alfredo ANCEL, Bispo auxiliar de Lião, na França: dis
corre sôbre a necessidade de humildade e abnegação para a União.
Humildade não é renúncia da verdade, seja ela de fé, seja de história;
não obsta a que amemos a Igreja, que em si é santa, mas em seus
membros pode ter rugas e máculas; não é fingida c por isso confessa
sua culpa e seus defeitos. O plenário aplaudiu com palmas.
507 — Miguel ASSAF, Arceb. greco-melquita de Petra, na Jordânia
(fala em fran cês): o esquema é um dos mais importantes propostos à
discussão conciliar. Aprova-o em seu conjunto. Critica passagens. Lem
bra que, de fato, no Oriente a Igreja se apresenta como Latina.
508 — Jorge DW YER, Bispo de Leeds, na Inglaterra: pergunta:
para quem foi escrito o esquema? Para os latinos? então é supérfluo.
Para os Orientais? então é inepto. Para os Orientais Roma não é Mater
(pois dela nada receberam) e há tempo deixou de ser Magistra. Já tra
balhamos dois meses e não vemos resultados...
As emendas do Proêmlo.
Concilio l i — u
30-11-1962: Trigésima Congregação Geral.
A Unidade da Igreja.
C e l e b r o u a s a n t a m is s a
desta manhã na Aula Conciliar o Bispo de Namur na Bélgica
Mons. André Charue. Imediatamente após, o Evangelho foi en
tronizado pelo Arcebispo de Florianópolis, Dom Joaquim D o-
mingues de Oliveira. No principio da sessão de hoje, que foi
presidida pelo Arcebispo de Nova York Cardeal Spellman, os
Padres Conciliares votaram as emendas dos nove primeiros pon
tos do capitulo primeiro do projeto sôbre a Liturgia. Explicando
ao Plenário os critérios adotados pela Comissão Litúrgica na
apresentação das emendas, Mons. José Martin, Bispo de Nicolet
no Canadá, declarou que das 59 emendas sugeridas pelos P a
dres Conciliares sôbre os pontos em questão só 9 eram de real
valor e portanto só estas eram submetidas à votação. Dez foram
consideradas de menor importância e as demais 4 0 referiam -se
apenas ao estilo e portanto não seriam votadas. Procedeu-se,
então, à operação de voto. Os resultados, publicados no fim da
sessão, foram os seguintes:
P r e s id iu a congregação
Geral de hoje o Cardeal José Frings, Arcebispo de Colônia.
O Secretário Geral leu no início os resultados das votações
de ontem referentes aos últimos quatro pontos do capítulo I?
do projeto sôbre a Liturgia, dos nove submetidos à votação do
Plenário:
524 — Cardeal Aquiles LIÊN ART, Bispo de Lillc, na Fran ça: acen
tuou o aspecto sobrenatural e misterioso da Igreja, advertindo que de
vemos tomar cuidado para não suprimir com nossas palavras e defini
ções o Mistério da Igreja. Pediu também muito m ais reserva na identi
ficação da Igreja Católica com o Corpo M ístico de C risto; ôste, disse,
é “multo latius” : os celicolas e todos quantos fora da Igreja de fato
vivem na graça santificante fazem parte do Corpo M ístico, mas não da
Igreja Católica. Pede por isso que a passagem, no texto proposto, que
afirma sem mais esta identificação seja simplesmente riscada. Aliás,
“totum Schema penitus recognoscatur", para que a Igreja apareça me
nos jurfdica e mais cheia de vida divina.
525 — Cardeal Ernesto RU FFIN I, Arceb. de Palermo, na Itália:
"Schema universe consideratum mihi placet” ; deseja, porém, que os ca
pítulos sôbre os leigos, os religiosos e o ecumenismo sejam tirados,
podendo servir de introdução doutrinária para outros documentos prepa
rados por Comissões especiais. Critica algumas passagens.
526 — Cardeal José BUENO Y MONREAL, Arceb. de Sevilha, na
Espanha: manifesta suas reservas com relação à identificação Igreja —
Corpo Místico. Pergunta: que valor quer o Concílio dar às suas decla
rações doutrinárias? Vê também uma grande lacuna no esquema: não
fala do sacerdócio como tal. Também falta um capitulo sôbre a s coisas
contingentes na Igreja.
527 — Cardeal Francisco KOEN1G, Arceb. de Viena, na Áustria:
o texto deve ser mais breve; exalta excessivamente a parte puramente
jurídica da Igreja (seria melhor mostrar os benefícios que ela é capaz
de prestar); não fala bastante da índole escatológica da Ig reja ; sente
a falta de um capítulo especial "de populo Dei".
528 — Cardeal Bernardo ALFRINK, Arceb. de Utrecht, na Holan
da: acusa o defeito de coordenação nas Comissões Preparatórias. Em
todo o esquema empresta-se mais importância ao corpo ou ao aspecto
exterior que à alma ou à vida interna e sobrenatural da Igreja. Decla
ra-se admirado por ter encontrado um capítulo sôbre os Bispos residen-
A Igreja
233
ciais e não simplesmente sôbre os Bispos em eeral r w ; ,
posição acêrca da colegialidade dos Bispos p o K q ^ t á “í * J Z
é mu.to negativo. Fale-se também mais claramente do Magistério O rT
nino dos Bispos. O capitulo sôbre as relações entre a Igreja e o E s u ío
deve insisbr menos nos direitos (que ninguém de nós contesta) e mais
na liberdade religiosa. Propoe que a Constituição sôbre Maria Ssma « a
orgânicamente inserida neste esquema: “in medio Ecclesiae collocetur"
Conclusão: todo o texto deve ser refeito por uma comissão mista.
529 — Cardeal José R IT T E R , Arceb. de St. Louis nos EE UU •
o esquema não fala da vida da Igreja. Está todo êle viciado por èrro
de método: toma por princípio orientador mais importante uma parte
puramente jurídica c externa e pouco ou mesmo nada ensina sôbre a
santidade e a vida interna da Igreja. Todos os membros da Igreja,
absolutamente todos (e não só os hierarcas, como supõe constantemente
o tex to), têm o direito e o dever de conservar, guardar, defender, pro
pagar e, até certo ponto, de interpretar o depósito da fé. E éste direito
não lhes é concedido por um indulto especial, mas pelo Batismo. A
Igreja é o próprio Cristo que vive em todos os Membros (não só nos
hierárquicos). “Schema ergo recognoscatur".
530 — Luciano BERNACKI, Bispo aux. de Gniezno, na Polônia:
acha que no esquema falta um capitulo essencial: de Summo Pontífice.
Insiste na nota da "Petrinitas Ecclesiae". Este Concilio deveria comple
tar o sim bolo: " . . . et unam, sanctam, catholicam, apostolicam necnon
petrinam Ecclesiam ”.
531 — Emílio DE SM EDT, Bispo de Bruges, na Bélgica: o esque
ma é defeituoso principalmente porque lhe falta o espirito ecuménico.
C aracteriza-se por trés qualidades: por seu triunfalismo, uma espécie
de concatenação dos triunfos da Igreja, no conhecido estilo de UOsser-
vatore Romano , "parum congruum cum realitate"; por seu clericalismo,
insistindo sobretudo na hierarquia, deixando o povo em segundo pla
no, acentua o que é provisório e deixa na sombra o que é essencial:
"Id quod permanet est populus Dei, id quod transit est potestas hie-
rarchica” ; depois da morte, no céu, só teremos o "povo de Deus”, o
resto, a potestas hierarchica, desaparece porque tem apenas a passa
geira função de servir e ajudar o povo: "omnis potestas in Ecclesia
est ad serviendum”. Em terceiro lugar peca o esquema por seu jurisdi-
cismo, pois não fala, como devia, da “maternitas Ecclesiae”. Dal certas
"aberrações” jurídicas e apriorlsticas que se encontram no texto (e dá
exemplos). — O orador foi aplaudido por uma salva de palmas.
532 — Marcelo L EFEBV RE, Arceb. tit. de Slnada de Frigia (Fran
ça) : discorre sôbre o método: cada Comissão deveria elaborar dois
esquemas, um para os Bispos e teólogos, outro para os fiéis.
533 — Artur ELCHINGER, Coadj. de Estrasburgo, na França: per
gunta: a quem se dirige o texto? Só aos Bispos e teologos? Sc fôr
também para o povo, deve ser mais pastoral. Chamou a atençao para as
novas perspectivas pastorais e ecumênicas de hoje: Ontem considerávamos
a Igreja sobretudo como instituição, hoje a sentimos como comunhão;
ontem olhávamos para o Papa, hoje consideramos mais os Bispos reu
nidos em tôrno do Papa; ontem estudava-se o Bispo isoladamente, hoje
êle é visto no conjunto do Colégio episcopal; ontem a teologia afirmava
o valor da hierarquia, hoje ela descobre o Povo de Deus; ontem acen-
234 III. Crônica das Congregações G erais
tuávamos o que separa, hoje preferimos ver o que une; ontem a teologia
da Igreja considerava a vida interna, hoje ela se volta para o exterior.
534 _ José D’AVACK, Arceb. de Camerino, na Itália: insiste na
vida interna da Igreja.
535 — Antônio PA W LÜ W SKl, Bispo de W ladislavia, na Polônia: faz
algumas observações genéricas.
536 — Joáo VAN CAUW ELAERT, Bispo de Inongo, no Congo
(fala em nome da Conferência Episcopal de sua n a çã o ): os homens
de hoje sentem a necessidade da fraternidade e buscam-na até em asso
ciações atéias. Ora, a Igreja deveria oferecer ao mundo um vulto sin
cero e cristão de fraternidade. Declara que os Bispos do Congo "fica
ram decepcionados com o esquema” : há nêle uma "iniuriosa invocatio
iuris”, falta-lhe o aspecto alegre da boa nova, apresenta uma Igreja
estática, sem espirito missionário. Portanto: "funditus recognoscatur a
commissione mixta” (palm as).
537 — Luís CARLI, Bispo de Segni, na Itália: critica a pressa com
que se resolveu discutir o presente esquema, quando tinhamos ainda
tantos textos enviados aos Bispos meses atrás. D eclara que a preocupa
ção ecumênica não deve influir nos debates conciliares. P a ssa então a
ridicularizar as tendências ecumênicas: já não querem mais falar sôbre
Nossa Senhora, já não se pode mais falar em heresias, já se deve evitar
a expressão "igreja militante”, já fica feio lembrar os poderes da
I g r e ja .. .
P r e s id iu a c o n g r e g a ç ã o
Geral desta manhã o Cardeal Ernesto Ruffini, Arcebispo de P a-
lermo, Itália. Depois da Santa M issa, em rito m alabárico, teve
lugar a votação de duas emendas dos seis pontos apresentados
ao Plenário pela Comissão Litúrgica, referentes ao capítulo pri
meiro do projeto sôbre a Liturgia. O relator explicou os crité
rios adotados pela Comissão Litúrgica na apresentação das re
feridas emendas. A primeira delas focaliza melhor os motivos
pelos quais os fiéis devem participar ativamente nas ações li-
túrgicas e a segunda sublinha a im portância do estudo da Li
turgia nos Seminários, Institutos religiosos e Faculdades de T e o
logia. Os resultados foram os seguintes:
Falaram hoje:
Comentário do cronista:
P r e s id iu o c a r d e a l a n t o -
nio Caggiano, Arcebispo de Buenos Aires, Argentina. No início
cios trabalhos Mons. Péricles Felici anunciou que seriam distri
buídas, no decorrer da sessão, outras emendas preparadas pela
Comissão Litúrgica, a fim de se proceder à sua votação nos
próximos dias. Usou da palavra, a seguir, Mons. Francisco
Scper, Arcebispo de Zagreb, Jugoslávia, manifestando sentimen
tos de afeto, de devoção e desejo de felicidades para o Santo
Padre. “Todos sabemos — afirmou — que consolação e ale
gria são para nós as audiências que João XXIII costuma con
ceder aos grupos de Bispos das diversas nações; mas estamos
dispostos a oferecer ao Senhor o sacrifício de renunciar a tais
encontros para que o Santo Padre não se sujeite a mais êste
cansativo trabalho". — Ainda hoje a maioria dos Padres Con
ciliares que intervieram nos debates, pôs em relêvo a impor
tância do projeto em estudo. Alguns até afirmaram que o do
cumento em questão constitui o cerne do Concílio Vaticano II.
Três pontos principalmente foram postos em especial evidência,
como favoráveis ao progresso dos estudos eclesiológicos: a Igre
ja considerada como Corpo Místico de Cristo, a colegialidade
e o caráter sacramental do Episcopado. Alguns oradores obser
varam que os textos da Sagrada Escritura, dos Santos Padres
e dos Teólogos são citados de um modo demasiadamente jurí
dico; que não se deu o justo valor aos Padres Orientais, e que
se exagerou o papel dos teólogos dos últimos séculos. Além dis
so, as citações da Sagrada Escritura não foram aproveitadas
em tôda a sua riqueza pelas explicações e pelos comentários.
Infclizmente — como se disse também — o projeto se limita
ao estudo da Igreja Militante, esquecendo-se de que o caminho
da Igreja no mundo sempre deve ser iluminado pela visão da
Concilio II — 16
242 III. Crônica das Congregações G erais
meta final. Houve também quem, por sua vez, louvasse a for
mulação acentuadamente jurídica do documento, alegando como
motivo o fato de que neste mundo não se pode prescindir das
instituições e das normas de caráter ju rídico, e até mesmo a
caridade não pode existir sem a justiça. Alguém recordou que
o Santo Padre, no seu discurso de 11 de setembro, tinha for
mulado o desejo de que o Concilio apresentasse ao mundo a
Igreja, como Luz dos povos. Ora, se o tema em estudo nestes
dias deve ser de certo modo o ponto central do Concilio, e dêle
devem dimanar as orientações gerais para todos os outros assun
tos futuros, seria oportuno coordenar todos os trabalhos de re
visão dos vários projetos relativos ao estudo da Igreja ad inlra
e ad extra. Isto é : a Igreja primeiro cm Si mesma, na Sua na
tureza e na Sua missão de Mãe e M estra; e depois, em face
dos grandes problemas que hoje afligem o mundo, desde os re
lativos à pessoa humana até aos que se referem à sociedade
nas suas exigências de justiça e de paz. Afirmou-se que seria
talvez necessária maior unidade entre os diversos capítulos re
digidos por pessoas diferentes. Pode-se desejar portanto uma
revisão feita por poucos e com unidade de estilo, preenchendo
assim as várias lacunas que se notam, por exemplo, no capitulo
sôbre os Bispos, onde não se tem em consideração a existência
do Bispo Titular, porquanto a função episcopal não está por si
mesma ligada a um lugar, mas ao serviço da Igreja. Alguns
louvaram o projeto porque precisa de modo bastante claro o ca
ráter sacramental do episcopado, põe em relêvo a doutrina sôbre
o sacerdócio, define bem a relação entre o Bispo e os seus sa
cerdotes, e evidencia mais claramente a paternidade episcopal. No
que diz respeito aos leigos, pediu-se que o Concilio proclam as
se solenemente a importância e a função do apostolado dêlcs
na Igreja de hoje, distinguindo com clareza aquilo que é ação
católica propriamente dita das outras obras que, embora neces
sárias, não possuem laços de dependência tão intim os com a
Hierarquia. Os leigos poderão também oferecer aos estudos do
Concílio uma preciosa colaboração em matérias de sua compe
tência especifica, como são os Meios de Comunicação Social e
em outros pontos referentes a aspectos especiais da sua ati
vidade no mundo. Os Padres presentes eram hoje 2.104. A
Assembléia terminou às 12,20.
dum”. Diz que o texto se baseia apenas sôbre a tradição dos últimos
cem anos, o que não é reto, nem universal, nem ecumênico, nem ca-
tolico. Estes mesmos defeitos se encontram na doutrina apresentada.
Dá exemplos.
555 — Cardeal Guilherme GODFREY, Arceb. de Westminster, na
Inglaterra: "generatim placet". Fala sôbre o ecumenismo. Descreve um
pouco a situação em sua terra. Tem receio de que estejam sucumbindo
aos perigos do falso irenismo. A verdadeira caridade não é só paciente
e benigna, mas também "non agit perperam”. E exclama: “caule loqua-
mur, caute agamus. Caritas sine scientia errat”.
556 — Cardeal Lco SUENENS, Arceb. de Malines, na Bélgica: pro
cura a "ratio ipsius Concilii”, um plano orgânico que coordene as par
tes. Propõe um programa: devemos tratar De Ecclesia, e dividir o con
junto em duas partes: ad intra (falando da natureza, dos ofícios etc.)
e ad extra, enquanto instituímos um triplice diálogo: com os fiéis, com
os irmãos separados e com o mundo moderno. Deseja também que o
Concílio crie um Secretariado para os problemas do mundo de hoje.
557 — Cardeal Agostinho BEA, Presidente do Secretariado para a
União dos Cristãos: lembra o valor histórico do presente esquema, que
ocupa e deve ocupar um lugar central no Concílio. Reconhece o grande
cuidado e diligência com que o texto foi elaborado. Passa então ã cri
tica: faltam coisas essenciais c há outras inteiramente supérfluas (dá
exemplos). Os argumentos, como foram expostos no texto, “potius
ofuscant quam illustrant". A metáfora do “corpo", para compreender a
natureza da Igreja, é certamente boa e bíblica, mas não é única, nem
pode dar uma idéia completa; outras comparações, também excelentes
e bíblicas, devem completar e ampliar a noção. Condena as freqüentes
exortações pastorais no texto: não é nisso que consiste o caráter pas
toral que tantos desejam: êle deve penetrar o próprio texto. Conclu
são: como está, “Schema non placet, nova elaboratione eaque valde pro
funda et solida indiget".
558 — Cardeal Antônio BACCI, da Cúria Romana: pede que todos
sejam mais breves no talar: “sumus Patres Conciliares, non catcchumc-
ni”. Já que não há diversidade na substância, mas apenas no modo,
pensa que é possível aprovar o esquema e corrigi-lo no modo de falar.
559 _ Cardeal Miguel BROWNE, da Cúria Romana: “Schema in
sua substantia adhuc mihi placet". Defende-o contra as objeções feitas.
560 — Emílio BLANCHET, Arceb., Reitor do Instituto Católico de
Paris, na França: não há coerência entreos capítulos; percebe-se que
foram elaborados por vários autores. Tôda a exposição é também "nimis
exclusive iuridica”. . j . .
561 — José RABBANI, Administrador Apostolico dos sinos de
Homs: "placet iuxta modum”. Critica passagens.
562 — Rafael MORAI.EJO, Aux. de Valência, na Espanha: sente a
falta de uma idéia central do esquema. Propõe normas para uma ela
boração mais coerente. t
563 — Emílio GUERRY, Arceb. de Cambrai, na França: disserta
sôbre a paternidade no B isp o .1
na Aula Conciliar,
cia da Secretaria de Eslado de Sua Santidade, i
Mons. DelPAcqiia e um pacote. Por esta c~
16*
244 III. Crônica das C ongregações G erais
Comentário do cronista:
Um fato nôvo, delicadíssimo por sua natureza, que, durante as dis
cussões conciliares se torna cada dia mais evidente aos olhos de obser
vadores imparciais e que me parece ser um dos resultados sensíveis
desta primeira fase do Vaticano II, é êste: a posição singular, na Igre
ja , dêste conjunto de pessoas que se chama “ Cúria Rom ana” e que,
por vêzcs, tem dado a penosa impressão de querer identificar-se com
a “Ecclesia Christi” simplesmente. Pois agora a gente vê c sente que
o grosso do episcopado mundial ou do Colégio dos Bispos (que, como
tal, inclui o P ap a ), sucessor do Colégio dos Apóstolos (que, como tal,
incluía Ped ro), não sente nem pensa como o grosso da Cúria Romana.
Ora, precisamente êste Colégio dos Bispos é o autêntico detentor dos
podêres eclesiásticos de reger e de ensinar. Darei dois exemplos: a S a
grada Congregação dos Ritos (como se podia perceber claram ente pela
atitude de seu Secretário e de outros curiais durante a discussão conci
liar do esquema sôbre a Liturgia) não teria aprovado a Constituição
sôbre a Liturgia, que, no entanto, nestes dias, está recebendo um esma
gador “placet” do Colégio dos Bispos. Assim também a Sagrada Con- *i
'■icrttos e M ensacei
v mui «vi»v Mviiiu pciu ovino roniince: "Vela a página 31
E li estava uma longa citado do livro dei Mona. Ouerry
íuerry s0
sObre o Bispo...
A Igreja '2 4 5
v
e trn E ° r i Pd<>Í anè 0 ° Í ![CÍ0 (C,0m0 Se podia Perceb«r pela atitude e intcr-
'“ í seu Secretário, de seu Assessor e de seus Consultores, que
i r t o ^ n í Í A os Principais autores do esquema), teria aprovado 0 pro
jeto De Fontibus Revelatioms”, que, todavia, recebeu o “non placet"
da maioria dos Bispos. Esta observação, delicada mas realista, é teo
logicamente muito importante para se compreender o significado exato
do axioma sentire cum Ecclesia”, com 0 qual, às vézes, se joga de
maneira bastante superficial c subjetiva. Nem sempre é fácil saber qual
e, de fato, 0 "sensus Ecciesiae". Não custa saber 0 sensus Sacrae Con-
grcgationis Rituum ou Sancti Oflicii; mas coincidirá sempre e de fato
com 0 sentir da Igreja? Eis, em todo o caso, um motivo que justifica
plenamente a convocação, de tempos em tempos, de Concílios Ecumê
nicos, mesmo depois que sabemos, com verdade de fé, que o Papa
é infalível. Pois ültimamente os manuais de Teologia tinham suas difi
culdades para justificar novos Concílios Ecumênicos, depois do de
Pio IX.
E já que ousei abordar o problema da Cúria Romana, vai aqui outra
observação feita nestes fecundos dias conciliares, agora particularmentc
com relação ao Santo Oficio. A Igreja tem absoluta necessidade dêste
importante dicastério, assim como a cidade precisa dum hospital. Po
de-se mesmo afirmar que o Santo Ofício é uma espécie de hospital na
Igreja. Haverá sempre, na Igreja, casos anormais, quase patológicos,
que levam ao extremo os sentimentos de fé e as atitudes de moral. Para
isso aí está o Santo Oficio. O cânon 247 do Direito Canónico define
bem a competência do Santo Oficio: "tutatur doctrinam fidei et mo-
rum” ; e no § 2: “iudicat de iis delictis quae sibimet secundum propriam
eiusdem legem reservantur, cum potestate has críminales causas viden-
d i . . . " Portanto casos criminais, de delitos, anormais, patológicos, de
exceção; c não casos comuns, normais, de todos os dias. Ora, foram
sobretudo os homens do Santo Oficio, especializados em tratar os casos
anormais na Igreja, que elaboraram os esquemas teológicos apresenta
dos agora ao Concilio; e os Padres Conciliares, acostumados a tratar
os casos normais da vida eclesiástica, ficaram justamente espantados.
Com muita razão disse na décima nona Congregação Geral 0 Cardeal
Léger que o esquema então em discussão (De Fontibus Revelationis,
elaborado pela gente do Santo Oficio) procede puramente do temor
contra erros ( “pavor errorum”). O psiquiatra que conhece bem as vá
rias categorias de anormalidades psíquicas, e está habituado a tratar
casos concretos de psicoses, corre constantemente 0 perigo de querer en
quadrar todo o mundo nalguma anormalidade psíquica; parece que para
êle já não há homens normais. Tem-se a impressão de que a mesma ten
tação existe para os especialistas nos perigos contra a fé e a moral:
por tôda parte e em tóda gente farejam tendências para a heresia e a
imoralidade. O projeto de Constituição sôbre a Liturgia fôra cuidadosa
mente elaborado, revisto e corrigido por numerosa comissão de espe
cialistas que, porém, conheciam também a Teologia; 0 mesmo projeto
passara pelo crivo da Comissão Central que, só ela, contava com 62
Cardeais; e, no entanto, êste mesmo projeto, depois de passar por tantas
mãos, caiu sôbre a mesa do Secretário do Santo Ofício que, tendo-o
lido, correu à quinta Congregação Geral (23-10-1962) para denunciar os
erros teológicos do te x to ...
5-12-1962: Trigésima Quarta Congregação GeraL
A Igreja.
P rof. Alceu d e A m oroso Lim a. C ard. A ugusto .1. da Silv a, Dom V icente S ch ere
A Igreja
249
A CONGREGAÇÃO GERAL DE
hoje foi presidida pelo Cardeal Eugênio Tisserant, Decano do
Sacro Colégio. Depois do "Adsumus”, o Secretário do Concílio
leu uma breve comunicação sôbrc as atividades conciliares, de
11 de outubro a 5 de dezembro (ontem) inclusive. Neste período
houve 3 4 Congregações Gerais. Os projetos discutidos foram ao
todo 5 : Sagrada Liturgia, Fontes da Revelação, Meios de Co
municação Social, Unidade da Igreja e a Igreja. As votações fo
ram 33. A primeira dizia respeito à eleição dos 160 membros
das Comissões Conciliares; 4 para a aprovação geral dos projetos
sôbre a Liturgia, Fontes da Revelação, Meios de Comunicação
Social e Unidade da Igreja. As outras 28 referiam-se á aprova
ção do Proêmio c do capítulo primeiro do projeto sôbre a Li
turgia. Usaram da palavra 587 Padres Conciliares.' Outros 523
apresentaram observações por escrito. Portanto, ao todo mani
festaram o próprio pensamento 1.110 Padres Conciliares. A se
guir o Secretário comunicou o resultado de outras quatro vota
ções de ontem, referentes à 5*, 6*, 7* e 8* emenda do capitulo
primeiro do projeto sôbre a Liturgia. Os três primeiros pontos
votados diziam respeito à língua que deverá ser usada na Litur
gia. A oitava emenda era sôbre a pregação da palavra de Deus.
O s 145 votos nulos desta última votação correspondem aos Pa
dres Conciliares que ontem não tiveram tempo para terminar a
votação. Mas, como o quociente dos votos favoráveis à emenda
já tinha superado de muito a maioria requerida, o Conselho de
Presidência não julgou oportuno repetir a votação. Na sessão de
hoje foram votados ainda os 2 últimos pontos do capítulo pri-
5 dc dezembro de 1962.
Amleto João Card. Cieognani, Secretário de Estado.
7-12-1962: Trigésima Sexta Congregação Geral.
A Igreja.
Falou então Sua Santidade o Papa JOAO X X III: declara que as Con
gregações Gerais, nestes dois meses, “realizaram imensa quantidade de
trabalho”. Revela que durante todo êste tempo "seguiu com alegre aten
ção a contribuição de cada um” (sabe-se, com efeito, que o Papa, nos
seus Apartamentos, acompanhava por alto-falante e especial dispositivo
televisivo os trabalhos de tôdas as Congregações G erais). “As ansieda
des pastorais que manifestastes, quer na direção dos trabalhos, quer nas
intervenções e conselhos, orais e escritos, permitiram-Nos ouvir a voz
de tôda a catolicidade que com esperança e expectativa neste período
dirigiu a sua atenção para as vossas reuniões”. “ Foi a Igreja docente
A Igreja 265
3ü k - - * * -
podem sucumbir à tentaçjo d . o a S , W
nico, se fôr universal mesmo, p o K S T S a e ? a, Z í ! J " 1" * -
„ . A p r o x im a n d o -s e o c o n c i-
Iio Ecumênico Vaticano II, Nossa alma enche-se de grande ale
gria ao pensamento do grandioso espetáculo que em breve apre
sentará a imensa multidão dos Bispos, reunidos em Roma, vin
dos de tôdas as partes do mundo, a fim de tratarem conosco,
junto ao túmulo do Príncipe dos Apóstolos, dos mais graves pro
blemas da Igreja. Por isto oferecemos a Deus as mais profundas
ações de graças, não só por nos haver inspirado a idéia de em
preendermos obra tão importante, mas ainda por haver constan
te e eficacissimamcnle guiado os trabalhos preparatórios do Con
cílio. Essa assistência confirma grandemente a Nossa confiança
em que os socorros sobrenaturais que foram prodigalizados des
de o início dêste empreendimento continuarão a ser abundantes
para o levarmos a bom têrmo.
Frutos copiosos espera a Igreja Católica dessa vasta assem
bléia. Santa Espósa de Cristo, Mãe e educadora de todos os po
vos, ela deseja, acima de tudo, que a luz da verdade luza para
todos os seus filhos, sem excetuar os que vivem fora dO'seu seio,
e deseja que sempre mais os inflame uma ardente caridade; por
quanto êsses bens celestes que são a verdade e a caridade são
os que mais contribuem para proporcionar a unidade e a paz. Os
fins que se propõe o próximo Concílio Ecumênico tendem a se
guir o mandamento dado por Jesus Cristo a seus apóstolos, e que
ate o fim dos tempos ecoará no universo inteiro: "Ide, ensinai
tôdas as nações, b a tiz a i-a s.. . e ensinai-as a observar tudo o que
eu vos mandei” (Mt 2 8 ,1 9 ). Os Bispos, sucessores dos após
tolos, têm, pois, a tríplice tarefa de ensinar, de santificar e de
governar; e, a fim de dignamente se desobrigarem disso, na sua
bondade prometeu-lhes Jesus Cristo estar com êles até à consu
mação dos séculos.
272 IV. Documentos
Vaticano II.
CA P . II: A S C O N G R EG A Ç Õ ES G E R A IS
Art. 3** A tarefa das Congregações Gerais. Nas C ongregações Ge
rais, que precedem as Sessões Públicas, após discussão os Padres es
tabelecem as fórmulas dos decretos ou cânones.
Art. 4* Presidência das Congregações Gerais.
§ 1* Tôda Congregação Geral é presidida, em nome e com a au
toridade do Sumo Pontífice, por um dos dez Cardeais nomeados pelo
Santo Padre.
§ 2* Êsses dez Cardeais, escolhidos pelo Sumo Pontífice, constituem
o Conselho de Presidência que, com a autoridade do Sumo Pontífice, está
encarregado de dirigir as discussões dos Padres e tõda a conduta do
Concílio.
CAP. 111: AS C O M ISSÕ ES CO NCILIARES
CA P. V I: O S E C R E T A R IA D O GERAL
dres nas suas exposições°e tfscuM õès^o d í ™ 0 ° ,quer é dit0 pclos Pa'
rais; transmitem em seguida ao S e c r e t a r i a r 80 |
daS Con£ reS aÇões Oe-
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hom^ funcionamento “ es' “ '" ® ’ * 5 ^ c„Mem do
CAP. IX : OS OBSERVADORES
Art. 18* Os Observadores do Concilio.
§ 1* Os Delegados dos cristãos separados da Sé Apostólica que es
tão autorizados pela Santa Sé a assistirem ao Concilio como Observa
dores podem assistir às Sessões Públicas e às Congregações Gerais, sal
vo cm casos particulares que serão determinados pelo Conselho da pre
sidência. Não assistirão às reuniões das Comissões, a menos que a isso
os autorize a autoridade competente. Não t£m o direito de tomar a
palavra c de votar por ocasião das discussões do Concilio.
§ 2* Os Observadores podem informar suas comunidades do que se
faz no Concilio; mas são obrigados a guardar segrêdo para com os
outros, tal como os Padres do Concilio, em virtude do art. 26*
§ 3 ' O Secretariado para a União dos Cristãos está encarregado
das relações entre o Concílio e os Observadores, a fim de que êstes
possam acompanhar os trabalhos do Concilio.
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CA P. V III: E X A M E DO S E SQ U E M A S
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Padres presenies, sa l,« % , " L X X . l i J " ? ■"*
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d iverso.* ’ * SC * b n ,sso 0 Sumo Pontífice decidir de modo
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T n ôv o . ,ex to conforme às emendas apro
vadas em Congregação Geral, a maioria prescrita não puder ser re
unida em Comissão Conciliar, apesar de todos os esforços que possam
azer' s? ; tóda a questao é transmitida á Congregação Geral.^
• k 3 . * T nbunal Administrativo as decisões são tomadas por maio-
ria absoluta dos votantes.
do esquema aprovado.
comunicado pelo Pre-
Pública e fixará o dia d « s a sessão. submetê-lo-á ã Sessão
§ 3» O Secretário Geral vela por que essa ata escrita, bem como
todos os atos da Congregação, seja classificada com cuidado nos ar
quivos do Concílio.
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vêzes eles se acham sob o pêso das adversidades, oprimidos pelo temor,
como os Apostolos que estavam espantados com a paixão e morte de
Cristo, escutem então a advertência de Paulo: Diz (o Senhor): No
tempo favorável escutei-te e no dia da salvação ajudei-te (2 Cor 6,2), e
acrescenta ainda: Eis agora o tempo favorável, eis agora o dia da
salvação.
O Concílio Vaticano, que se prepara, exige que os Bispos pro
curem haurir mais largamente a abundância daquela graça divina des
cida do céu no dia de Pentecostes, e da qual receberam um penhor se
guro mediante a imposição das mãos (2 Tim 1 ,6). O Apóstolo das
gentes ensina com gravidade, clareza e fôrça persuasiva por que vias
podem os Bispos isso conseguir: com efeito, depois de advertir que com
tóda diligência êles afastem de si tudo o que é contrário à dignidade
dos Bispos, exorta-os vivamente a, em vez disso, darem exemplos das
virtudes convenientes ao seu estado e capazes de mover o coração de
quem se haja afastado da Igreja: mas em tudo tornemo-nos recomendá
veis, como convém a ministros de Deus, com grande paciência (2 Cor
6,4). A estas exortações seguem-se vários outros avisos, mui frutuosos
para quem os medita.
Mas também para os tempos de dificuldades e de sofrimentos o
Apóstolo Paulo aconselha muitas coisas, das quais pensamos que, no
caso, podem os Bispos tirar não pouca consolação, visto que, no seu
ofício, nenhum dêles está isento de tribulações, necessidades e angústias
(2 Cor 6,4). Pode também suceder que, às vêzes, nos seus misteriosos
desígnios, Deus permita que as coisas ameacem ruína: e, todavia, aquêles
que nutrem grande confiança no auxílio providente e atual do próprio
Deus, aparecerão como aflitos, mas sempre alegres (2 Cor 6,10).
A fonte de um frutuoso ministério pastoral. — Sejam quais forem
as circunstâncias de tempos e de coisas, o ministério dos Bispos nunca
poderá produzir frutos abundantes se aquêles que com justa razão são
chamados sacrorum antistites não tiverem a peito orvalharem os seus
labôres com a oração assídua. Antes de tudo é necessário que êles hau
ram abundante graça divina no sacrossanto Sacrifício do altar, através
do qual, sobretudo, o valor do Sangue derramado por Cristo aplica-sc
às almas. Nesse mesmo Sacrifício, pelo qual, como cm místico amplexo,
todo sacerdote se une com Cristo, o Bispo achará santa consolação,
cspecialmente se celebra com tôda devoção, se para êle se prepara pie
dosamente e faz o devido agradecimento ao imortal e clementíssimo Deus.
Concilio II —
IV. Documentos
mente suplicar o Senhor por aquiles Bispos cuja ação pastoral, por cau
sa das tristes condições de seus paises, é exercida com perigo ou estorvada.
Queremos pôr fim a esta Carta com as palavras do Apóstolo Paulo:
Nossa bôca abriu-se para convosco; dilatou-se-nos o coração (2 Cor
6,11). Nossa alma consola-se observando Ôsse maravilhoso espetáculo de
unidade, de generosidade e de zélo pastoral oferecido pelos Bispos de
todo o mundo católico ao aproximar-se o Concilio. Não faltam, é ver
dade, motivos de preocupação e dificuldades, com os quais a Provi
dência de Deus permite sejam provados os seus eleitos, para ainda mais
purificá-los; todavia, pode-se hoje verificar o grandíssimo prestigio de
que goza, junto a todos, a Igreja una, santa, católica e apostólica, co
mo também a unidade da fé que nela brilha, enquanto seus filhos os
mais devotos excelem admiràvclmente na obediência e na caridade.
Isto quisemos dizer-Te, Venerável Irmão. E à Virgem Mãe de Deus
e nossa Mãe celeste, por nós invocada como Auxilium christianorum,
Auxilium Episcoporum, rogamos sejam felizmente postos em prática os
conselhos que nesta Carta Te demos; recorremos também à intercessão
de S. José, padroeiro da Igreja universal e do próximo Concilio. E, fi
nalmente, bem sabendo como as nossas fórças são inferiores às pesadas
tarefas, volvemo-nos súplices para Deus onipotente, fazendo nossa a ora
ção da Imitação de Cristo, adaptada às necessidades dos Bispos: Ajude-
nos a tua graça, ó Deus onipotente, a fim de que nós, que recebemos
o oficio episcopal, digna e devotamente possamos servir-te com tôda pu
reza e boa consciência. E, se não podemos viver com aquela inocência
de vida que seria de dever, ao menos concede-nos chorarmos, como ê
de dever, os culpas cometidas, e servirmos-te mais fervorosamente no
futuro, em espirito de humildade e no propósito de uma boa vontade
(livro IV, cap. 1 1 ,8).
"Paenitentiam agere”.
D e TO D O S OS M ODOS PRO -
curou o Papa, na fase preconciliar, preparar também espiritual-
mente o Concílio. Pedidos especiais foram dirigidos aos sacerdo
tes, aos sem inaristas, às religiosas, às crianças, aos que sofrem
para que não cessassem de rezar pelo Concilio. No vol. I já
reunimos os principais documentos. M as ainda às vésperas do
Concilio quis Sua Santidade dirigir ao mundo uma encíclica es
pecial, a fim de pedir também espirito de penitência em favor
do C oncílio:
Aos Veneráveis Irmãos P atriarcas, Prim azes, Arcebispos, Bispos e
outros Ordinários de Lugar em paz e comunhão com a Sé Apostólica,
João X X III, Papa.
Veneráveis Irmãos: Saúde e Bênção Apostólica.
Fazer penitência pelos próprios pecados é, para o homem pecador,
segundo o explícito ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, a pri
meira condição, não apenas para solicitar o perdão, mas ainda para
chegar à salvação eterna. Evidente se torna, pois, quão justificada seja
a atitude da Igreja Católica, dispensadora dos tesouros da divina Re
denção, a qual sempre considerou a penitência como condição indispen
sável para o aperfeiçoamento da vida de seus filhos c para seu me
lhor futuro.
Por êste motivo, na Constituição Apostólica de convocação do Con
cilio Ecumênico Vaticano II, quisemos dirigir aos fiéis o convite para
dignamente se prepararem para o grande acontecim ento não só com a
oração e com a prática ordinária das virtudes cristãs, mas também com
a m ortificação voluntária. 1*
Aproxim ando-se a abertura do Concílio, bem natural se Nos afigu
ra renovarmos com maior insistência a mesma exortação, visto que, em
bora estando presente na sua Igreja "iodos os dias até à consumação dos
séculos" o Senhor tornar-se-á então ainda mais próxim o das mentes
e dos corações dos homens através da pessoa dos seus representantes,
segundo a sua própria palavra: “Quem vos escuta a mim escuta".3
a vstnjsrm
" Z T ^ t ^ c r S o c V c l n r U ^ e c e n t . , C l. Lee. tom. VII. Prlburgl Brl.g-
190. col. 10.
»» Ml 28,20.
*• At 4,32.
»• Cl. Jo 10,16.
296 IV. Documentos
das luzes celestes e das graças divinas. A êste respeito, queremos pôr
à disposição dos fiéis os bens que fazem o tesouro espiritual da Igreja,
e, por isto, a todos os que tomarem parte na supradita novena será
concedida Indulgência Plenária, a ser lucrada nas condições habituais.
Oportuno será também promover nas diversas D ioceses uma função
penitencial propiciatória. E sta função deverá ser um fervoroso convite,
acompanhado com particular curso de pregação, a obras de misericórdia
e de penitência, com as quais procurem todos os fiéis tornar propício
Deus Onipotente e implorar dêle a renovação do espírito cristão, que
é um dos escopos precipuos do Concilio. Com efeito, justam ente obser
vava Nosso Predecessor Pio X I, de venerada m emória: “A oração c o
penitência são os dois poderosos meios postos por Deus à nossa dispo
sição em nossa época para a Êle reconduzir a mísera humanidade aqui e
acolá errante sem guia; são elas que tiram e reparam a causa primeira
e principal de tôda perturbação, isto é. a rebelião do homem a Deus".
Necessidade da penitência interna e externa. — Antes de tudo é ne
cessária a penitência interior, isto é, o arrependimento e a purificação dos
próprios pecados, o que espccialm ente se obtém com uma boa Confissão
e Comunhão, e com a assistência ao Sacrifício Eucarístico. A êste gê
nero de penitência deverão ser convidados todos os fiéis durante a No
vena ao Espfrito Santo. Vãs seriam, com efeito, as obras exteriores de
penitência se não fóssem acompanhadas da limpeza interior da alm a c do
sincero arrependimento dos próprios pecados. Neste sentido deve-se en
tender o severo aviso de Jesus: “Se não fizerdes penitência, todos igual
mente perecereis". 14 Afaste Deus êste perigo de todos aqueles que nos
foram confiados!
Além disto, devem os fiéis ser convidados também à penitência
exterior, quer para sujeitarem o corpo ao comando da reta razão c da
fé, quer para expiarem as suas culpas e as dos outros. De feito, o pró
prio S. Paulo, que subira ao terceiro Céu e atingira as culm inâncias da
santidade, não hesita em afirmar de si mesmo: "Mortifico o meu corpo
e mantenho-o em servidão" e alhures adverte: "O s que pertencem a
Cristo crucificaram sua carne com s u a s cobiças".'• E desta maneira San
to Agostinho insiste nessas mesmas recomendações: “Não basta melhorar
a própria conduta e deixar de fazer o mal, se também não se dá satisfa
ção a Deus pelas culpas cometidas, por meio da dor da penitência, dos
gemidos da humildade, do sacrifício do coração contrito, unidamente às
esmolas". ••
A primeira penitência exterior que todos devemos fazer é a de,
com ânimo resignado e confiante, aceitarmos de Deus tôdas as dores e so
frimentos que se nos deparam na vida, e tudo o que im porta fadiga e in
cômodo no exato cumprimento das obrigações do nosso estado, no nos
so trabalho cotidiano e no exercício das virtudes cristãs. E sta penitência
necessária não somente vale para nos purificar, para nos tornar propi
cio o Senhor e para impetrar o seu auxilio para o feliz e frutuoso êxito
do próximo Concilio Ecumênico, como também torna mais leves e quase
suaves as nossas penas, pondo diante de nós a esperança do prêmio
No
DIA 11 DE SETEMBRO
de 1962, exatamente um mês antes do início do XXI Concílio
Ecumênico, o Papa João X X III fêz questão de enviar ao mundo
uma radiomensagem especial sôbre o próximo Concilio. E ’ um
documento de certa importância, porque já traça normas con
cretas para o Concilio e, por isso mesmo, mais de uma vez, foi
citado e invocado durante as Congregações Gerais. A própria
Mensagem do Concílio à Humanidade, que publicamos páginas
adiante, se baseia parcialmente nêle. Eis, em português, seu tex
to com pleto:
A grande expectativa do Concílio Ecumênico, a um mês dc distância
do seu inicio oficial, brilha nos olhos e nos corações de Iodos os filhos
da Igreja católica, santa e bendita.
No decurso dêstes três anos de preparação, um número sem conta
de pessoas escolhidas, provenientes de tôdas as partes do mundo e dc
tôdas as linguas, unidas pelo sentimento e pela intenção, acumularam
uma riqueza de elementos de caráter doutrinal e pastoral tão abundante
que oferecerá ao episcopado do mundo inteiro, reunido sob as abóbadas
da basílica Vaticana, motivos de sapientíssima aplicação do magistério
evangélico de Cristo, luz vinte vêzes secular para a humanidade redimi
da com o seu sangue.
Encontramo-nos, portanto, com a graça de Deus, no momento opor
tuno. As proféticas palavras de Jesus, pronunciadas a proposito da con
sumação final dos séculos, encorajam as boas e generosas disposições
dos homens, que, particularmente em alguns momentos históricos da
Igreja, se abrem a um nôvo entusiasmo de elevaçao a « "lin h o cjw
cumes mais altos: Levalc capita vestra. quomam appropmq
vestra: levantai a cabeça, porque se aproxima a vossa libertação (
21,20-33).
Considerado na sua preparação espiritual, o Concilio Ecumênico, ?
da sua mauguraçau,
inauguração, parece ---------
merecer r o convite do Senhor:
poucas semanas aa - -o . .
Videte omnes arbores cum iam prodacuat ex se fruc u™.
P ?P , « . 1.
as arvores: quando começam a rebentar, vos aais ,
300 IV. Documentos
elas, de que está próximo o verão. Também vós, quando virdes que isto
começa a acontecer, sabei que está próximo o reino de Deus (ió .).
Esta palavra "regnum D ei", reino de Deus, exprime com clareza e
precisão os trabalhos do Concilio. “Regnum Dei”, reino de Deus, signi
fica e é realmente a Igreja de Cristo, una, santa, católica, apostólica,
tal qual Jesus, o Verbo de Deus feito homem, a fundou, a conserva
desde há vinte séculos, a vivifica ainda hoje com a sua presença e com
a sua graça, sempre a renovar nela os antigos prodígios que, através
dos tempos, por vêzes ásperos e difíceis, a levaram a multiplicar as vi
tórias do espirito. Vitórias da verdade sóbre o êrro, do bem sôbre o
mal, do amor e da paz sóbre as divisões e os contrastes.
Os termos da contradição: o bem e o mal, continuam c continuarão
a existir, porque o arbítrio humano possuirá sempre liberdade de expri-
mir-se e possibilidade de enganar-se; mas a vitória final e eterna em
cada uma das alm as eleitas e nas alm as eleitas de cada povo será vitó
ria de Cristo e de sua Igreja.
A êste propósito, é oportuna e feliz uma referência ao simbolismo
do círio pascal. Ao sinal litúrgico, eis que ressoa o seu nome: Lumen
Christi, luz de Cristo. A Igreja de Jesus responde desde todos os pontos
da terra: Deo gratias, Deo gratias, como que a dizer: Sim , lumen Christi,
lumen Ecclesiae, lumen gentium, luz de Cristo, luz da Igreja, luz
dos povos.
Que é, de fato, um Concilio senão a renovação dêste encontro com
o rosto de Cristo ressuscitado, rei glorioso e imortal, a brilhar em tôda
a Igreja para salvação, alegria e iluminação de tóda a humanidade?
E' na luz desta aparição que ressoa aos nossos ouvidos o salmo
antigo: "Levanta para nós a luz do teu rosto, Senhor. T u trouxeste a
alegria ao meu coração: Extolle super nos lumen vultus (ui Domine!
Dedisti laetitiam in cor meum" (SI 4,7 -8 ).
Verdadeira alegria para a Igreja Universal de Cristo é o que deseja
ser o nóvo Concilio Ecumênico.
A sua razão de ser — tal qual o desejam os, preparamos e espera
mos — é a continuação, ou melhor, o recomêço mais enérgico da res
posta do mundo inteiro, do mundo moderno, ao testam ento do Senhor,
formulado naquelas palavras solenes pronunciadas por Cristo com os
braços estendidos para os confins do mundo: Euntes ergo — docete
omnes gentes — baptizantes cos in nomine Patris et Fitii et Spiritus
Sancti — docentes eos servare omnia quaecumquc dixi vobis: Ide por
tôda a terra — ensinai todos os povos — batizando-os em nome do Pai
e do Filho e do Espirito Santo — ensinando-os a observar tudo o que
eu vos disse (cf. Mt 28,19-20).
A Igreja quer ser procurada tal qual é, na sua estrutura interior,
na sua vitalidade ad intra, que apresenta, antes de mais aos seus filhos,
os tesouros de fé iluminadora e de graça santificante, inspirados naque
las últimas palavras. E las exprimem a missão primordial da Igreja, os
seus títulos de serviço e de honra, que são: vivificar, ensinar, orar.
Radiomensagem preconciliar
301
Considerada nas relações da sua vitalidaH» <
as exigências e as necessidades dos povos ~ l ^ ■' f eran<e
manas encaminham de preferência a uma „ „ 5 83 v,ciss,,udes hu-
terrenos - a Igreja sente o dever de c o r r i n Z ^ J ? * 0 d0S be" S
lidades com o ensino de que importa 8 rf ponMbi'
temporais que não percamos as eternas P«<Wr/.nf- U m°,do pelas co,sas
11/ non amittamus aderna (cf. Dom. II! post Pent ' cS l ).*™ * Itmp°ral,a'
M ercê dêste sentido de responsabilidade perante os deveres do cristão
chamado a v.ver como homem entre os homens como crisMn
cristãos, deverão muitos outros, embora não sejam cristãos de fato
sentir-se incitados a tornar-se cristãos. Ü ,at ’
Esta e a porta de entrada para a chamada atividade externa mas
inteiramente apostólica, da Igreja, e de onde recebem vigor e irradiação
as palavras: ensinando-os a observar tôdas as coisas que eu vos disse”.
Com efeito, o mundo tem necessidade de Cristo: e é a Igreia oue
deve levar Cristo ao mundo. 8 J M
O mundo tem os seus problemas, para os quais busca, por vêzes
angustiadamente, uma solução. E’ claro que a ansiosa preocupação de
os resolver a tempo e retamente pode transformar-se em obstáculo para
a difusão da verdade total e da graça santificante.
O homem busca o amor da família dentro do lar doméstico; o pão
de cada dia para si e para os seus mais íntimos, a espósa e os filhos;
aspira e sente o dever de viver em paz, tanto no seio da sua comuni
dade nacional como nas relações com o resto do mundo; é sensível às
atrações do espirito que o leva a instruir-se e a clevar-se; cioso da sua
liberdade, não recusa aceitar as legitimas limitações para melhor corres
ponder aos seus deveres sociais.
Estes problemas de tanta importância sempre a Igreja os teve muito
a peito. Por isso, fê-los objeto de estudo atento e o Concilio Ecumêni
co poderá oferecer, em linguagem clara, soluções que são exigidas pela
dignidade do homem e pela sua vocação cristã.
E is alguns dèstes problemas: a igualdade fundamental de todos os
povos no exercício de direitos e deveres no seio de tõda a família hu
mana; a defesa corajosa do caráter sagrado do matrimônio, que impõe
aos esposos amor consciente e generoso, no qual se origina a procria
ção dos filhos, considerada nos seus aspectos religioso e moral, dentro
do quadro das mais vastas responsabilidades de caráter social, no tempo
e na eternidade.
As doutrinas fautoras de indiferentismo religioso ou negadoras de
Deus e da ordem sobrenatural, as doutrinas que ignoram a Providência
na história e exaltam exageradamente a pessoa do homem individual,
com perigo de o subtrair às responsabilidades sociais, é da Igreja que
essas doutrinas devem tornar a ouvir a palavra enérgica e generosa,
já formulada na encíclica Maler et Magislra, na qual está resumido o
pensamento de dois milênios de história do cristianismo.
Outro ponto luminoso.
Em face dos países subdesenvolvidos a Igreja apresenta-se — tal
qual é e quer ser — como a Igreja de todos e particularmente a Igreja
dos pobres.
302 IV . Documentos
Radiomensagem preconciliar
303
Convivência, coordenação e integração são
ecoam nas reuniões internacionais
. . . AL A ntes d e p r o n u n c ia r
i t dlscr ° de Aberíura> no memorável dia 11 de outubro de
.96oA^° Sum° Pontífice iá se referira, na fase preparatória, mais
de 200 vezes, em suas alocuções, ao futuro Concílio Ecumênico.
Quis, porém, o Papa do Concilio, preparar-se também de modo
imediato para tão grande quão importante acontecimento. Ines
peradamente, no dia 4 de outubro, fêz para isso uma peregrina
ção a Loreto e Assis. No discurso em Loreto declarou: “A pere
grinação apostólica de hoje a êste antigo e venerado santuário
quer pôr o selo às súplicas que em todos os templos do mundo,
cio Oriente e do Ocidente, c nos sagrados recessos da dor e da
penitência, a Deus se elevaram pelo feliz desenrolar da grande
assembléia ecumênica; e quer simbolizar, outrossim, o caminho
cia Igreja rumo às conquistas dêsse domínio espiritual, feito em
nome de Cristo, que é luz das gentes (cf. Lc 2 ,3 2 ); domínio que
é serviço e amor fraterno, suspiro de paz, progresso ordenado c
universal”. E na parte final dêste discurso de Loreto termina o
Sumo Pontífice com esta comovente oração: “O’ Maria, ó Maria,
Mãe de Jesus e Mãe nossa! Aqui viemos esta manhã para vos
invocar como primeira estrela do Concilio que está para reali
zar-se, como luz propícia ao nosso caminho, que se volve con
fiante para a grande assembléia ecumênica, que constitui uma ex
pectação universal. Já vos abrimos a Nossa alma, ó Maria; essa
alma que não mudou com o passar dos anos, desde o nosso pri
meiro encontro dos primórdios do século: o mesmo coração co
movido de então, o mesmo olhar súplice, a mesma prece. Nos
quase sessenta anos do Nosso sacerdócio, cada passo Nosso nos
caminhos da obediência foi assinalado pela vossa proteção, e
nada vos havemos pedido a não ser obterdes-Nos de vosso Di
vino Filho a graça de um sacerdócio santo e santificador. Tam
bém a convocação do Concílio, como o sabeis, fizemo-la, ó Mac,
Concilio II — 20
306 IV. Documentos
^jffrsMsr i r j S V =•*£
quem nao recolhe comigo desperdiça (ib. 11,23).
• 0 grande Prob,ema- proposto ao mundo, volvidos quase dois milê
nios cont,nua o mesmo. Cristo sempre a brilhar no centro da his órTa e
da v.da; os homens ou estão com Êle e com a Sua Igreja - e emão
o í contra
ou contfa Êle,
S e a del.bcradamente
n rh aÍ f ’ da ° rdem
contra6 adaSua
Paz Igreja,
~ 0U causando
cs,ã0 semconfu-
Êle-
sissim as orações a Deus. Porém, não sem grande esperança e com grande
d r ftantos
de tantoJ>an 4 t i r I|lMSri
obstáculos de a natureza
m?’ Vem0S h«°Íe qU
profana, C 3 ,greja'
como finalmente
acontecia livre
no passado.
pode desta Basílica Vaticana, como dum segundo Cenáculo Apostólico
fazer sentir por vosso meio a Sua voz, cheia de majestade e de grandeza.
Missão principal do Concilio: defesa e valorização da verdade. — O
que mais importa ao Concilio Ecumênico é o seguinte: que o depósito
sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais
eficaz. Essa doutrina abarca o homem inteiro, composto de alma e cor
po, e, como êle é peregrino nesta terra, manda-o tender para o céu.
Isto mostra como é preciso ordenar a nossa vida mortal, de maneira
que cumpramos os nossos deveres de cidadãos da terra e do céu, e con
sigamos dêste modo o fim estabelecido por Deus. Quer dizer que todos
os homens, tanto considerados individualmente como reunidos em socie
dade, têm o dever de tender sem descanso, durante tôda a vida, para
a consecução dos bens celestiais, e de usarem só para êste fim os bens
terrenos sem que o uso dêles prejudique a eterna felicidade.
O Senhor disse: "Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”
(Mt 6,33). Esta palavra — primeiro — exprime em que direção devem
mover-se os nossos pensamentos e as nossas fôrças; não esqueçamos po
rém as palavras que se seguem a esta exortação do Senhor: "e tódas
estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (ib.). Na realidade, sempre
existiram e existem ainda, na Igreja, os que, embora procurem com tô-
das as fôrças praticar a perfeição evangélica, não se esquecem de se fa
zerem úteis à sociedade; de fato, do seu exemplo de vida, constante-
mente praticado, e das suas organizações de caridade toma vigor o que
há de mais alto e mais nobre na sociedade humana.
Mas, para que esta doutrina atinja os múltiplos campos da atividade
humana, que se referem aos particulares, às famílias e à vida social, é
necessário primeiramente que a Igreja não se aparte do património sa
grado da verdade, recebido dos seus maiores; mas ao mesmo tempo deve
também olhar para o presente, para as novas condições de formas de
vida do mundo moderno, que abriram novos caminhos ao apostolado
católico.
Por esta razão a Igreja não assistiu inerte ao admirável progresso
das descobertas do gênio humano, c não foi a última a apreciá-las, mas,
mesmo seguindo êstes progressos, não deixa de avisar os homens para
que, acima das coisas sensíveis, elevem os olhares para Deus, fonte de
tôda a sabedoria e de tôda a beleza; e não esquece o mandamento im
portantíssim o: "Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás” (Mt
4,10; Lc 4 ,8), para que não suceda que a fascinação efêmera das coisas
visíveis impeça o verdadeiro progresso.
Modalidades na difusão da doutrina sagrada. — Isto pôsto, vê-se
claramente tudo que se espera do Concilio quanto à doutrina. O XXI
Concílio Ecumênico — que se aproveitará da eficaz e importante soma
de experiências jurídicas, litúrgicas, apostólicas e administrativas —- quer
transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios,
que através de vinte séculos, apesar das dificuldades^ e das oposiçoes, se
tornou patrimônio comum dos homens. Patrimônio não bem recebido por
todos, mas sempre riqueza ao dispor dos homens de boa vontade.
310 IV. Documentos
O ÚNICO DOCUMENTO P ú
blico do Concilio, nesta sua primeira fase, foi publicado logo no
inicio, na terceira Congregação Geral (2 0 -X -1 9 6 2 ). Tinha sido
preparado por iniciativa dos Cardeais Liénart, Doepfner, Léger,
Alfrink e Montini. Quando foi apresentado ao plenário do Con
cilio, já recebera também o beneplácito de João X XIII. O texto
foi distribuído a todos os Padres Conciliares no início da men
cionada Congregação Geral, foi lido em voz alta por Mons. Fe-
lici, Secretário Geral do Concílio, foi ràpidamente discutido (dis
cussão que resultou em duas emendas) e aprovado por quase
todos os 2 .340 Conciliares presentes. Nos debates conciliares
posteriores êste documento foi invocado várias vêzes para jus
tificar a mentalidade do magistério pastoral da ala inovadora
do Concílio. Damos aqui a versão portuguesa feita diretamente
do original latim:
Apraz-Nos enviar a todos os homens e a tôdas as nações a men
sagem de salvação, de amor e de paz que Jesus Cristo, Filho de Deus
vivo, trouxe ao mundo e confiou à Igreja.
Por êste motivo, Nós, sucessores dos Apóstolos, unânimes em ora
ção com Maria Mãe de Jesus, formando um só Corpo Apostólico do
qual é Cabeça o sucessor de Pedro, aqui nos congregamos por ordem
de Sua Santidade o Papa João X X III.
Resplandeça a Face de Jesus Cristo. — Queremos nesta reunião, sob
a direção do Espírito Santo, procurar como havemos de renovar a Nós
mesmos, para que sejam os encontrados mais e mais fiéis ao Evangelho
de Cristo.
Procuraremos apresentar aos homens de nosso tempo, íntegra e
pura, a verdade de Deus de tal maneira que êles a possam compreender
e a ela espontâneamente assentir.
Pois somos Pastórcs e desejamos saciar a fome de todos aquêles
que buscam a Deus e, "mesmo às apalpadelas, O encontram, pois Ele
não está longe de cada um de nós” (At 17,27).
Obedientes, pois, à vontade de Cristo que a Si mesmo Se entregou
à morte "a fim de apresentar a Si uma Igreja sem mancha ou r u g a ...,
3 14 IV. Documentos
A A B E R T U R A DO C O N C ÍLIO
foi uma fesla para o mundo inteiro. 79 nações e 7 organizações
internacionais fizeram -se representar na solenidade da abertu
ra. Também o Brasil enviou sua M issão E xtraordin ária nas pes
soas do Senador Afonso Arinos de Mello Franco, do Em b aixa
dor (junto à Santa S é ) Henrique de Souza Gom es c do P ro
fessor Alceu de Amoroso Lim a (conhecido em todo o Brasil co
mo o escritor católico "T ristã o de Atayde” ). Durante a Audiên
cia G eral do dia 31 de outubro de 1962 ponderou Sua San ti
dade: “ Ao reler o elenco do pequeno grupo de personalidades
vindas a Roma para o dia 8 de dezembro de 1869, o inicio do
Concílio Vaticano I, e confrontando-o com as 86 delegações es
peciais de Estados e Entidades Internacionais enviadas para o
Concilio V aticano II, devemos agradecer ao Senhor pelo enorme
caminho que a Ig reja percorreu, mesmo entre im ensas dificulda
des”. No dia 12 de outubro de 1962 João X X III recebeu as
Missões E xtraordinárias em Audiência, na C apela Sixtin a, pro
nunciando, em francês, o seguinte discurso:
Excelências e caros Senhores. A vossa estimada presença renova esta
manhã a emoção que sentimos ontem, em S. Pedro, na abertura solene
do Concilio Ecuménico; nela tomou parte cada um de vós em nome do
próprio Govêrno. Prim eiramente, queremos dizer-vos como é grande o
Nosso reconhecimento pela vossa presença, que veio contribuir para a
grandeza do acontecim ento e para o seu reflexo no mundo, que atingiu
todos os homens de boa vontade.
Quisemos, por isso, corresponder a êste concurso de exceção com
um ato de exceção, recebendo-vos na Capela Sixtina, habitualmente re
servada às cerimónias litúrgicas, na qual se reúnem também os Cardeais,
como bem sabeis, para a eleição do nóvo Pontífice.
Não é sem viva emoção, bem o compreendeis, que Nos dirigim os a
vós no mesmo lugar em que, há quatro anos, a Divina Providência dis
pôs, nos seus desígnios misteriosos, a elevação ao Supremo Pontificado
do humilde Patriarca de Veneza, que passara a maior parte da vida a
Discurso às Missões Extraordinárias 3 17
T r in t a e n o v e o b s e r v a -
clores e Hóspedes não-católicos, representando 20 comunidades
cristãs no Concílio Vaticano II, foram recebidos, na tarde do
dia 13 de outubro de 1962, na Sala do Consistório, pelo Papa
João X X III. Inicialmente Sua Santidade trocou cordial sauda
ção com cada um dos Observadores Delegados (dêstes encon
tros individuais reproduzimos na parte fotográfica vários ins
tantâneos), que lhe eram apresentados pelo Cardeal Bea. Para
cada um teve o Augusto Pontífice expressões afáveis, com mui
tos dêles evocou regiões e localidades por êle visitadas, nas
missões especiais a serviço da Santa Sé. Depois o Cardeal Bea
leu em francês a pequena alocução que passamos a traduzir:
Beatíssim o Padre: Tendo sido o Secretariado para a União dos
Cristãos instituído por Vossa Santidade para o fim de promover os
contactos com todos quantos professam a fé em Cristo Nosso Senhor e
Redentor, e para, com caridade, ajudá-los a acompanhar os trabalhos
do Concilio, sobremaneira nos alegramos hoje de podermos apresentar
a Vossa Santidade número tão considerável de Observadores Delegados
c de Hóspedes do Secretariado, irmãos nossos em Cristo.
A presença dêles manifesta claramente quão grande é o seu in
teresse por conhecer mais de perto a nossa Igreja Católica Romana, a
sua doutrina, as suas normas de vida, a sua constituição hierárquica c
o seu sincero c ativo zêlo apostólico pelo bem das almas.
Cste conhecimento mais imediato é o primeiro passo para essa
rcaproxim ação e reunião que, como Vossa Santidade disse certa vez,
são passos preliminares para aquela união de todos os cristãos que o
Senhor, na véspera da sua dolorosa paixão e morte, implorou de seu
Pai com tão ardente prece.
Que o desejo da união seja vivo e operante nas comunidades que,
com tanta caridade cristã, quiseram enviar-nos Observadores, disto a
reunião desta noite junto a Vossa Santidade constitui uma magnifica e
singular prova. Nós todos rogamos que éstes preciosos germes, fecun
dados e ulteriormente cuidados com caridade cristã, possam desenvol
ver-se felizmente e produzir o desejado fruto que Vossa Santidade tan
to tem a peito.
320 IV. Documentos
Concilio i i — ai
322 IV. Documentos
em Cristo, para que se realize, na medida das nossas (ôrças, tudo o que
será possível, hoje, como no futuro.
São êstes os pensamentos que desejávamos confiar-vos na ocasião
dêste nosso encontro familiar, que, assim 0 esperamos, é para todos nós
uma festa espiritual, uma espécie de Agape em Nosso Senhor Jesus
Cristo, a Quem seja dado louvor c glória, nos séculos dos séculos.
N ao e - s e c u n d a r ia , no
inundo de hoje, mesmo para um Concilio Ecum ênico, a ação dos
jo rnalistas. Já antes do Concilio, no dia 2 8 de maio de 1962,
o Santo Padre declarara aos participantes do C ongresso Inter
nacional da Federação dos Diretores e R ed atores-C h efes: “Con
vosco contamos, com efeito, caros senhores, e de maneira parti
cular ao se aproxim ar o Concílio Ecum ênico Vaticano II, acon
tecimento considerável, do qual se pode esperar que exerça in
fluência benéfica, para além mesmo das fronteiras da Ig reja C a
tólica, sôbre todos os homens de boa vontade. Mas, para atingir
essa meta, tendo em conta as condições do mundo de hoje, o
concurso dos órgãos de imprensa inculca-se não só como útil,
mas também, de alguma sorte, como indispensável. Já pensamos
nisto e N ossa intenção é dar novos e mais amplos desenvolvi
mentos ao Serviço de Im prensa que havemos estabelecido junto
à Comissão Central Preparatória do Concilio, a fim de que a
opinião pública possa ser convenientemente informada. Muito de
sejam os, com efeito, que, à míngua de inform ações suficientes,
os jornalistas não se vejam reduzidos a formular conjeturas mais
ou menos verossímeis, e a lançar no público idéias, opiniões, es
peranças que depois se revelem mal fundadas ou errôneas. Uma
inform ação — lim itada, de certo, pelas exigências da discrição
— porém positiva, e suficientemente abundante, perm itir-lhes-á,
como esperamos, exercerem aqui a sua nobre profissão em con
dições satisfatórias para êles mesmos e para seus leitores". In-
felizmente, como já notamos na introdução à crônica sôbre as
Congregações G erais, estas esperanças do Sumo Pontífice não
se concretizaram . Baseados, porém, nesta esperança, 1.255 jo r
nalistas de todo o mundo se inscreveram no Serviço de Impren
sa do Concílio. No dia 13 de outubro de 1962 o Sumo Pontífice
os recebeu em Audiência especial, na C apela Sixtina, durante a
qual pronunciou, em francês, a seguinte alocução:
Discurso aos jornalistas 327
O E N C E R R A M E N T O DA P R I-
meira etapa do Concílio Ecum ênico Vaticano II não foi tão so
lene como se esperava. Dois m otivos: Não se chegara a termi
nar nenhum documento conciliar para ser solenem cnte promul
gado e o Sumo Pontífice, há sem anas, estava gravemente en
fermo. E ra a F esta da Im aculada C onceição. C êrca de 2 .2 0 0 P a
dres C onciliares lotaram a Aula Conciliar. C antou-se uma Missa
Solene, acompanhada por todos com vibrante canto gregoriano.
Terminada a Santa M issa, compareceu o Papa Jo ão X X III, vi
vamente aclamado, que, a passos firmes, subiu até o trono, para
pronunciar, em latim, com voz forte, seu discurso de encerra
mento. O otimismo de suas palavras reanimou os Padres Con
ciliares. Reproduzim os aqui a versão portuguesa distribuída pelo
Serviço de Imprensa do Concílio, mas com algumas correções
feitas à base do texto latino:
raiz de, J essé (immacuiata virga dc radice lesse), da qual nasceu a flor
Subl rá da sua. raiz (« o s de radice eius ascendet), — os nossos
S
recimento V"enSa
da flor já sob a luzalegria: e mais ainda P°r vermos 0 apa
do Advento! p
Nota: O
Imprensa do Concilio e assim estí também
servatore Romano de 8-XII-I962. Mas o
Santidade na Aula Conciliar, diz assim:
dc qulbus dlsccptatum est et scntentlae
certain ac definham composltlonem appro
flctendam, Ita ut meilto colllgl possit
adhuc erlt dlsputandum".
Discurso de encerramento
r PÆ ™ de'l'Í960.Cr'S*0" ^ *""*>•
a o t i r a r ã o ™ ^ « ^ - C®nf ,,'® '*Se bem que não esteia iminente a fase da
aplicaçao, pois so virá após o têrmo definitivo dos trabalhos concilia-
W o fô u o COnt" d,° fixar 0 olhar ansioso na perspectiva dos
n o n S L i» a " UnC' am: .,ru*.os Para 3 Igreja Católica; melhor corres
p o n d e n t às maiores asp.raçoes dos nossos irmãos que se orgulham do
nome de cn stao s; e nova atração para tantos e tantos filhos de civili
zações antigas e gloriosas, às quais a luz cristã nada pretende roubar
mas sim desenvolver neles - como já outras vêzes sucedeu na história
germes fecundíssimos de vigor religioso e de progresso humano.
E isso que adivinha o Nosso coração ansioso. Veneráveis Irmãos;
e bem sabemos que a mesma solicitude existe no vosso coração.
Tratar-se-á então de estender a todos os campos da vida da Igreja
e às suas repercussões sociais tudo quanto fôr indicado pela Assembléia
Conciliar,^ e de aplicar as suas normas com “generosa adesão e pronta
execução’ (Oração pelo Concilio Ecuménico). Nessa fase importantís
sima ver-se-ão os Pastôres unidos num gigantesco esfórço de pregação
da verdadeira doutrina e de aplicação das leis, por êles mesmos decre
tadas; nesta obra hão de colaborar as fôrças do Clero secular e regular,
as famílias religiosas, e o laicato católico em tôdas suas atribuições e
possibilidades, para que a ação dos Padres encontre a resposta mais
pronta e fiel.
Será verdadeiramente o "nôvo Pentecostes”, que fará florescer a
Igreja nas suas riquezas interiores c na sua extensão materna a todos
os campos da atividade humana; será nóvo passo em frente, do Reino
de Cristo no mundo, reafirmação cada vez mais alta e persuasiva da
alegre boa-nova da Redenção, anúncio luminoso da soberania de Deus,
da fraternidade humana na caridade, da paz prometida na terra aos
homens de boa vontade, em correspondência ao beneplácito celeste.
Eis, Veneráveis Irmãos, os sentimentos que animam o Nosso co
ração comovido e se transformam em oração e esperança. Terminados
os trabalhos da presente Sessão do Concilio, estais para voltar às vossas
Nações, para junto do rebanho tão querido, a vós confiado. Ao mesmo
tempo que vos desejamos boa viagem, desejamos também que sejais,
junto dos vossos sacerdotes e fiéis, intérpretes eficazes dos Nossos votos,
exprimindo-lhes a Nossa grande benevolência. Neste momento ocorrem-
Nos as palavras de exortação e esperança, com que o Nosso Prede
cessor Pio IX sc dirigiu um dia aos Bispos do f Concilio Ecumênico
V aticano: "Vêdes, queridíssimos irmãos, como é belo e agradável cami
nharmos em harmonia na casa dc Deus. Oxalá assim possais caminhar
sempre. E assim como Nosso Senhor Jesus Cristo deu aos Apóstolos a
paz, também eu, seu indigno Vigário, vos dou a paz em seu nome. A
paz, como sabeis, afasta o temor; a paz fecha os ouvidos aos discursos
feitos sem experiência. Ohl que esta paz vos acompanhe todos os dias
da vossa vida” (Mansi, 1869-1870, pp. 765, 158).
Nos meses passados, todos aqui reunidos, saboreamos o sentido sua
víssimo destas palavras de Pio IX.
Longa caminhada nos espera ainda: mas estai certos de que o
Pastor Supremo vos acompanhará com afeto na ação pastoraj que exer
ceis nas vossas dioceses, ação que não se mostrará alheia às pre-
334 IV. Documentos
A MENSAGEM DE NATAL,
neste ano Conciliar, pronunciada no dia 22 de dezembro de
1962, foi uma espécie de comentário do Papa sôbre o Concilio.
O próprio Sumo Pontífice, no Discurso do dia seguinte ao Cor
po Diplomático, assim a qualificou: “Manifestamos ontem, na
Nossa Mensagem ao mundo, a impressão profunda que Nos dei
xou na alma a Primeira Sessão do Concilio Ecumênico. Quem
poderá jam ais esquecer essa visão grandiosa: a Igreja inteira,
presente na pessoa dos seus Bispos, a trabalhar pelo rejuvenes
cim ento das suas instituições e dos seus métodos, pela aproxima
ção de todas as almas de boa vontade? E isto, perante obser
vadores de diferentes confissões religiosas. Poder-se-ia mesmo
dizer, sem exagerar, perante o mundo inteiro. Porque, graças
aos meios modernos de difusão, que têm hoje papel tão impor
tante, todos e cada um puderam observar a liberdade, sinceri
dade e caridade que presidiram a êstes primeiros debates con
ciliares”. — Eis, na versão portuguesa, o texto integral da
Radiomensagem natalícia do Papa João X X III:
. C o m a d m ir á v e l p e r s e v e -
rança insistiu o Papa, desde que pensou no Concílio, no aspecto
pastoral das resoluções conciliares. Algumas Comissões Pre-
conciliares, principalmente a Teológica, não atenderam suficien
temente a esta norma. Foi também uma das razões principais
porque a Congregação Geral decidiu rejeitar os esquemas ela
borados pela Comissão Teológica. O próprio Concilio, na Men
sagem à Humanidade, promulgada durante a terceira Congre
gação Geral (2 0 -X -6 2 ), firmou também esta norma suprema:
Queremos apresentar aos homens de hoje a mensagem cristã,
não de qualquer maneira, mas de modo tal que êles, os homens
de hoje, possam compreendê-la, sentir-se atraídos por ela e
amá-la. Quando o Papa comunicou à trigésima quinta Congre
gação Geral (6 -X II-6 2 ) as normas que deveriam orientar os tra
balhos interconciliares, tornou a lembrar êste princípio, citando
também um incisivo texto do Discurso de Abertura que acentuara
o “caráter prevalentementc pastoral do magistério”. Êste mes
mo texto é mais uma vez citado pelo Sumo Pontífice no pe
queno Discurso que dirigiu aos Cardeais no dia 23 de dezem
bro, quando recebia os votos natalícios do Sacro Colégio, ex
pressos pelo Cardeal Decano, Eugênio Tisserant. Disse então
Sua Santidade:
O longo caminho dèstes meses, que nos conduzirá até o dia 8 de se
tembro do próximo ano, abre-se diante de Nós, rico de atraentes pro
messas. O Papa, como no tempo de preparação do Concilio, e como
em todo o decorrer de sua vida, gosta de confiar-se à boa Providência
do Pai Celeste, que tudo dispõe para o nosso bem.
Permitimo-Nos referir-Nos ao que nas semanas passadas foi oca
sião de certo temor para a Nossa saúde física. É-Nos grato exprimir
ainda uma vez pessoalmente os Nossos agradecimentos pelos votos
que fizestes chegar até Nós, em consonância de sentimentos e de ora
ção com tôda a família católica. Nossa humilde vida, como a vida de
cada um de nós, está nas mãos de Deus e agrada-nos tanto a frase de
S. Gregório Nazianzeno: "Voluntas Dei, pax nostra”.
Continuar co/n santa alegria e alacridade de espirito. — Entretanto,
retomemos com confiança o trabalho comum. Que o Senhor nos ajude
a todos juntos realizá-lo com santa alegria e alacridade de espírito. E'
uma grande satisfação e vivo encorajamento sabermo-Nos coadjuvado
por mentes e energias tão generosas, como o Sacro Colégio não cessou
de No-lo demonstrar, na manifestação de amável e pronta correspon
dência aos Nossos desejos.
E agora, Veneráveis Irmãos, caros filhos Nossos, eis que os Nos
sos votos se transformam em oração implorando para Vós, ao Divino
Infante de Belém, tôdas as escolhidas consolações da graça celeste. O
espirito dilata-se na intensa expectativa do Natal, e assim como em
Nossa Radiomensagem natalina de ontem à noite dirigimos o pensamen
to a tôda a família humana, hoje vos renovamos os votos paternos de
alegria cristã e de paz.
A benignidade e a graça do Divino Redentor nos acompanhem por
todo o ano com efusões de complacências celestes, das quais quer ser
penhor e reflexo a Nossa Bênção Apostólica.
“Mirabilis ille” : Nova Carta aos Bispos.
“A T O D O S E A CADA UM
dos Bispos da Igreja Católica e aos outros Padres do Concílio
Ecumênico Vaticano II” , é o endereço da nova C arta particular,
Mirabilis ille, que o Suíno Pontífice assinou no dia 6 de janeiro
de 1963. Tornou o Papa a lem brar aos Bispos o dever que têm
de estarem presentes no próximo dia 8 de setem bro e de se
prepararem com “suma d iligência" para os trabalhos conciliares:
“P ara os Bispos os trabalhos do Concílio devem ser neste ano
de 1963 como a pupila de seus olhos” . Anuncia que as Comis
sões do Concílio já retomaram “alegrem ente” o seu trabalho em
Roma e que a Secretaria do Concilio enviará “o m ais breve pos
sível” aos Padres Conciliares tudo o que concerne ao estudo e
preparo dos esquemas. A seguinte tradução é feita do texto ita
liano publicado no O sservatore R om ano:
f S v e S
ser apontados à Secretaria r.» r,i n? mes dêstes poderão, eventualmente,
preciosíssim o em circunstâncias
não rnmrfm apt3S 3 ®uardar escrupulosamente 0 segrêdo do Concilio
O vig“ Ce°noVép
mr e s t,r o a ^ "° n° bre’ C° m° também ^ 3“ S S
m a) Crf cef e ln[er6sse dos fiéis pelo Concilio. - Entre os fiéis au-
s è u í e íhe n ni ° ,n*er.êsse/ e.liKi°so P d °s trabalhos do Concilio e de-
dad ê^ dn ^ , , ■ AsS'm também 0 desenvolvimento das ativi-
e x D e c t a t J a erc,a ' a o 1,on« ° dos meses passados, superou tôda
expectativa, confirmam-no consoladoras noticias vindas de tôdas as par
tes do mundo, as quais Nos enchem de alegria. P
Também agora voltam-Nos suavemente familiares as recordações do
primeiro Pentecostes, como se êlc constituísse a nota predominante da
liturgia cotidiana: Spiritus Domini replevit orbem terrarum, et hoc quod
continet omnia scientia/n habet voeis (Sab 1,7).
O certo é que, quando foi convocado o Concilio Ecuménico e quan
do, depois, foi iniciada a sua celebração, a notícia suscitou em todos os
Continentes, e para além de todos os mares, onde quer que a Igreja
Católica conta filhos seus, primeiramente uma atenção respeitosa, e,
depois, um interêsse vivo, enquanto que agora é sempre mais viva a
espera e a confiança dos resultados providenciais.
O povo cristão, e de modo particular os fiéis que mais se distin
guem por vida pura, por paciência no sofrimento, por pureza e santi
dade de costumes, exultam de sentir-se unidos à súplica universal, pela
qual o feliz êxito do Concilio assegure ao gênero humano, mesmo sô-
bre a terra, aquela legitima e adequada prosperidade que é prelibação
do gõzo eterno.
b) Inconvenientes a evitar. — Não faltam vozes de almas simples
e fervorosas, dotadas de bons propósitos, que pedem sejam introduzidas
novas formas de preces públicas e privadas, tendentes a difundir na
Igreja Católica inteira formas de devoção correspondentes a singulares
características de língua, pais, tradições.
Pois bem: ao menos por ora, absolutamente não há necessidade de
novas ou especiais formas de oração, além das já em uso com a apro
vação da Autoridade Eclesiástica.
A Igreja Católica é como a Rainha "que se senta ao lado direito"
(do Senhor) (cf. SI 44,10), a qual está diante dos olhos das gentes
“em veste de ouro e de recamos variegados". A sua estrutura admirà-
velmente unitária tem fundamento no primado do Pontífice Romano, e
articula-se em dioceses, paróquias, de liturgia e ritos antiquíssimos, e de
ordenações c formas diversas e mais recentes. Isto basta à sua solidez
e compactez, e, com a variedade das formas de oração privada ou pú
blica, satisfaz as múltiplas exigências do espirito.
348 IV. Documentos
ovelh as); se alguém entrar por esta porta salvar-se-á: entrará e achará
o pasto" (Jo 10,9)1
Repetimos o augúrio com ânimo sereno: possa o Concilio Ecumênico
Vaticano II, excelentemente iniciado, suscitar na Igreja, com a graça do
Senhor, abundância de fôrças espirituais, e abrir vasto campo ao apos
tolado católico, de modo que, conduzidos pela Espôsa de C risto, os ho
mens possam atingir aquelas excelsas e desejadissim as m etas que ainda
não lograram atingir.
Grande esperança, que interessa à Igreja e a tôda a família humana!
Sôbre estas graves responsabilidades, inerentes à atuação do nosso
apostolado, nós, Bispos da Igreja do Senhor, devemos meditar. O haver
mos permanecido e permanecermos fiéis à integridade da doutrina cató
lica, segundo o ensino dos Santos Evangelhos, da T rad ição , dos Padres
da Igreja e dos Pontífices Rom anos é, por certo, uma grande graça c
um titulo de mérito e de honra. M as isto não basta para o cumprimento
do preceito do Senhor, quer quando êste diz: “ Ide e ensinai tôdas as
gentes” (M t 28 ,1 9 ), quer naquela passagem do Antigo T estam ento: " E
mandou a cada um dêles pensar no seu próxim o” (E cli 17,12).
A IMPRENSA DE TODOS OS
Países dedicou sua atenção à abertura do Concílio Ecumênico,
frisando o alcance excepcional do acontecimento, o significado
não somente religioso da assembléia máxima da Igreja Católica,
a importância das decisões que o próprio Concílio poderá ado
tar ante os problemas que o mundo moderno deve enfrentar.
O diário parisiense Le Monde, detendo-se a analisar as gran
des tarefas de renovação que pesam sôbre os Padres do Con
cilio, depois de salientar, através da presença de numerosos Bis
pos daquela que é “a Igreja do silêncio", que a religião ridi
cularizada por Stalin “está hoje, ao invés, bem viva", observa:
“Em vinte séculos a Igreja tem atravessado as piores tempesta
des com a tranquila certeza de ter por si as promessas da eter
nidade. Ela sobreviveu aos cismas, à Reforma, à Revolução fran
cesa, ao positivismo. Por que haveria de tremer em face da nova
revolução m arxista?" Le Monde continua sublinhando as tarefas
comuns das igrejas cristãs face à “maré da incredulidade”. As
velhas divergências, escreve êle, a muitos parecem bem secun
dárias em face da necessidade de reafirmar a fé comum e de
fazer compreender as razões desta fé. “E ’ isto que dá o seu
pêso ao movimento ecumênico, e que faz com que o Concílio
V aticano II seja seguido com tanta atenção, mesmo se sua con
tribuição para a união das igrejas só fôr perceptível a longo
prazo. Por enquanto, trata-se de uma vasta revisão do ensino e
das praxes da Igreja. Mais fácil será, porém, o diálogo se ela
conseguir libertar-se das escórias acumuladas durante os séculos".
Por sua vez, o diário católico La Croix define como “um
acontecim ento importante” o envio dos observadores do patriar-
cado de Moscou e a declaração conciliatória da agência Tass.
“E ’ ainda muito cedo para tirar as conclusões dêste aconteci-
362 V. R epercussões
mento” , escreve ela. "A cham o-nos frente a uma mudança de ati
tude cujas futuras conseqüências teremos que acom panhar” .
O acadêmico francês W aldim ir d’O rm esson, num com entá
rio publicado em Le Figaro, lem bra as responsabilidades graves
e árduas, responsabilidades sagrad as, que pesarão nos om bros
dos Padres do Concílio. E screve êle: “ Êles vêm de tôdas as
partes do mundo c representam tôdas as raças. Nunca reunião de
semelhante amplitude se havia ainda verificado. A palavra “ca
tólico" assume ai todo o seu significado. M as, se os Padres do
Concílio arcam com as responsabilidades m aiores, os leigos do
povo católico neste momento também têm as suas. Enquanto os
2 .7 0 0 Bispos reunidos cm Roma realizarem essa espécie de "e x a
me de consciência” da Ig reja , cada um dc nós, no seu lugar, no
seu ambiente, deverá promover um esforço pessoal e cumprir pre
cisos deveres de cristão".
A juízo do Combat, a maior preocupação dos P adres conci
liares deveria ser representada pela adaptação da vida religiosa
à vida civil, pela posição mais oportuna a assum ir cm face dos
regimes em via de transform ação, pela fixação das diretrizes cris
tãs no movimento das idéias. “Tudo — observa C om bat — até
mesmo a evasão do homem para o espaço, suscita problemas
que vão bastante além do processo intentado contra G alileu. A
Ig reja tem os seus cientistas. A Ig reja tem os seus revolucionários.
A Ig reja permanece atormentada por uma grande sede m issio
nária". Concluindo, escreve o jo rn a l: “ O C oncílio não trará uma
resposta a todos os nossos problemas espirituais. Êle pode pre
parar uma conjunção de impulsos para uma ética superior, hu
mana e fraterna. E sta é a prece das ig rejas de tôdas as confis
sões. A mais antiga das "internacionais” tem deveres de priori
dade que, a partir de hoje, se afirm arão sob uma luz romana
que pretende sempre ser universal” .
O vespertino Paris Presse detém-se sobretudo a analisar o
discurso do Pontífice. Escreve êle: “O C oncílio abriu-se com
uma surpresa. Esperava-se uma alocução de boas-vindas, tradi
cional, mas, em vez disso, João X X III fêz questão de pronunciar
um discurso verdadeiramente histórico, atacando sem m eias-m e-
didas certas tendências e doutrinas "superadas” que recusam à
Ig reja o direito de esposar completamente o seu século. Sem dú
vida, conheciam -se os sentimentos profundos do Pontífice, o seu
“liberalism o” , a sua extraordinária tenacidade. Porém hoje êle
os afirmou com singular determ inação. Não há dúvida dc que o
seu discurso irá direito ao coração do mundo católico”. A pro-
Na Imprensa ^
Os monges protestantes
de T ai zé
Dont José IC. Correa
Dom W ilson L. Schmidt
■Vo fund o: Jesse M. Under. Itr. Edm und Sch'.ink. lam es II. X irh o ls
No DIA 23 DE NOVEMBRO
de 1962, a convite da direção do Serviço de Imprensa do Con
cílio, o Rev. Prof. Dr. Oscar C u l l m a n n , Professor de Histó
ria Antiga da Igreja e do Nôvo Testamento em Basiléia ( n a '
Su íça) e na Sorbona (de P aris), falou aos jornalistas, em nome
dos outros Observadores e Hóspedes não-católicos, sflbre as im
pressões e esperanças que o Concilio Vaticano II nêles causou.
Reproduzimos aqui a versão portuguesa divulgada pelo próprio
Serviço de Imprensa do Concilio:
Concilio II — M
370 V. Repercussões
if r n’""b"Ss * 1” »*».
Wncia tm teria s Jaeslõcs. Moas w S k S L S " ' " í " « 1” P">» compra
quando prepara estas discussões \ ahJL b d sempre eva em con,a-
cm comumcoSmuSmdÍSsao
USSrH:S ? “ C° mCÇam
muito ^fecundas embora3 ' muitas
S a ç t ovézes
w itíd a
cm geralmentc nos
t n ., , , , CTOS da d llicld a d t. atima aladida, a s a J X " „ -
las e Z l ! ! , CC • qUes,oes teológicas, sentimos que mesmo ne-
# separados, princ.palmente quando se trata daquilo que a fé
católica fundamental tem a mais do que a nossa. Mas o fato4 de que
uma discussão tao aberta e tão fraterna seja possível, ao lado mesmo
do Concilio, deve ser considerado como um elemento muito positivo e
merecerá uma especial menção por parte dos futuros historiadores do
Concilio Vaticano II.
n Ass
L f * “ nt0 de u,ma anciania vigorosa, cordial, aberta e respeifosT a
crTstão c é rta m ín ^ Sem paí?rnalismo- e dc um espírito genuinamente
S n  ií I ? CSSa aud,ênc,a nâ0 el,minou nenhum dos problemas
doutrinários que fazem do papado, para um protestante, um dos ele
mentos mais estranhos a sua concepção da fé. Mas não foi a lembrança
dêsses problemas que os momentos ali passados nos trouxeram, e sim o
simples gôzo de estarmos em presença de um crente em Jesus Cristo.
Depois é necessário mencionarmos o Cardeal Bca, figura magra,
um tanto curvada, que por trás da fragilidade do seu físico esconde
uma energia espiritual e um amor à unidade cristã inextinguíveis. Uma
e outra vez volta êle, incansàvelmente, ao seu tema: os que foram
batizados em Jesus Cristo fazem parte de uma familia, por mais sepa
rados que se achem. Os conflitos entre os que crêem em Cristo são
conflitos entre irmãos — tanto mais difíceis por isto, seguramente, —
mas nem por isso menos prejudiciais.
Não é possível continuarmos a enumeração. A quem, como eu, se
ocupa do ensino teológico não é estranho lhe haja resultado particular-
mente grato o encontro com teólogos da estatura do jovem professor
alemão Hans Küng, ou do Padre Congar, do cónego Thils e muitos
outros. Todos — inclusive, creio eu, os Padres Conciliares — ficamos
profundamente impressionados com o vigor, a capacidade e o anseio de
renovação dos Bispos africanos, entre os quais se contam vários de
côr, e os asiáticos. As intervenções do Cardeal Gracias, da India, ou
dos Bispos da Indonésia e da África são sempre esperadas com inte
resse . . . e não decepcionam.
Em outros artigos desta revista fala-se do episcopado latino-ame
ricano. Não é necessário que eu acrescente algo ao que ali se diz. Mas
vem ao caso que, como observador latino-americano não-católico, eu
manifeste a positiva impressão, que o episcopado latino-americano deu,
de séria preocupação pela extensão da mensagem de Cristo, pelo tes
temunho social da Igreja, pela renovação desta em todos os seus a9-
378 V. Repercussões
neira o Catolicismo se torna mais "pro testan te". T a l coisa não está na
mente dos porta-estandartes católicos da renovação, nem tampouco, creio
eu, na dos melhores interlocutores protestantes. O Catolicismo busca a
inspiração da sua própria renovação interior nas suas próprias fontes,
na direção do seu próprio gênio e no testemunho apostólico primitivo.
O protestante, cuja fé básica é a confiança no poder renovador da
Palavra de Deus, regozija-se com essa busca, e por ela sente-se esti
mulado a colocar-se também, sempre de nôvo, sob essa Palavra inspi
rada que também chama o Protestantism o à renovação na verdade.
Que tem a ver tudo isto com a “união da Ig re ja ", da qual cons-
tantemente se fala h oje? Bem claro é que — como em diversas ocasiões
o esclareceu o Papa — êste não é um "Concilio de união”. A relação
entre o Concílio c a unidade é indireta, embora nem por isto menos
importante. A possibilidade de um contacto pessoal e direto é um
primeiro elemento positivo. A cortesia, a cordialidade não são o fim do
ecumenismo, são o principio necessário. Por demasiado tempo estivem os
travando uma polêmica a longa distância, sim plesmente das páginas de
livros e revistas. T a l coisa poderia ser adequada no terreno puramente
cientifico (quem s a b e !), onde a verdade é sim plesmente o b jetiv a ; mas
não pode sê-lo no campo cristão, onde a verdade é pessoal. A verdade
deve m anter-se e defender-se no amor, e o amor real só é possivel no
encontro pessoal. E ’ hora de deixarm os de discutir sim plesmente com
"p ap éis", e de começarmos a falar com "p esso a s". M ais ainda, o Con
cilio contribui positivamente para o ecumenismo, no esfôrço evidente
para dizer as coisas que a Igreja Católica sente dever dizer de ma
neira que elas possam ser compreendidas pelos que não são católicos
romanos. Há diferenças reais que a incompreensibilidade mútua das lin
guagens e das categorias de pensamento que utilizamos não nos permi
tem ver com clareza, e há diferenças irreais que essa incompreensibi
lidade cria. Êste esfôrço para "fa la r o idioma do outro”, para “tradu
zir”, é básico ao diálogo ecumênico.
Com respeito ao problema da unidade, não deve o cristão ser nem
um otim ista iludido nem um pessimista derrotado. A separação entre
protestantes e católicos não é questão secundária ou insignificante. T r a ta -
se, para uns e outros, do problema da verdade, da fidelidade ao evan
gelho de Jesus Cristo. Com todo o respeito mútuo e com todo o afeto
mútuo, o católico não pode senão orar pela conversão do Protestan tis
mo, e o protestante pela reforma do Catolicismo. Pa ra o católico, a fé
protestante é, ao menos, deficiente, pois lhe faltam algum as coisas con
sideradas essenciais, e para o protestante a fé católica acumulou ele
mentos supérfluos que desfiguram e ocultam o evangelho. T udo isto é
m ister reconhecê-lo, e é mister reconhecer que hoje não vemos a forma
de sairm os dêste "im passe”.
Mesmo dentro dêstes têrmos, muito resta por fazer. As diferenças
têm de ser reduzidas à sua verdadeira proporção * significado, elim inan
do-se falsas disjuntivas que se enunciaram no curso da polêmica. (Ê ste
é um tema sumamente importante no qual já se tem trabalhado, e que
merece que a êle se volte com amplitude). Ainda mais, é necessário que
o diálogo assuma um caráter vital. O protestante deve receber a critica
católica — e vice-versa — não simplesmente como uma m anifestação da
Entre os não-católicos 381
“diferença", mas sim como uma pergunta a que êle deve responder pe
rante o Senhor. Quando um irmão em Cristo nos interroga — mesmo
quando creiamos que êle está equivocado, — é o próprio Senhor que
nos está interrogando. O diálogo entre cristãos realiza-se sempre na pre
sença de C risto, e a lembrança desta realidade deve dar-nos, a uns e a
outros, consciência da seriedade dêste empenho, deve resguardar-nos de
respostas demasiado fáceis ou simplesmente “hábeis”, porque uns e ou
tros estam os sendo interrogados por Aquele que vê os corações e dis
cerne as intenções e os motivos ocultos.
M as essa Presença é, ao mesmo tempo, o que nos impede de cair
num pessimismo derrotista. Precisamente por estarmos na presença d’£le
— falo agora como protestante — podemos “desinteressar-nos” da per
gunta: aonde nos conduz èste diálogo? A história dos cristãos não está,
em último têrmo, nas nossas mãos. Não nos foi ordenado planejarmos a
história, mas sim sermos fiéis a Jesus Cristo hoje. Também na relação
entre católicos e protestantes temos que aprender a orar: “O pão nosso
de cada dia dai-nos hoje”. E, agradecidos por êste pão que êle nos dá,
temos de esperar confiantemente o que êle queira oferecer-nos amanhã.
No Protestantismo Brasileiro.
De MODO G ERA L O P R O T E S -
tantismo brasileiro não manifestou interesse acentuado pelo Con
cílio. O grupo mais cortês para com a Ig reja C atólica, no B r a
sil, se encontra na Ig reja Episcopal Brasileira. O Estandarte
Cristão, órgão oficial dos E piscop alianos brasileiros, ju lg a que,
em tese, não seria possível um autêntico movimento ecum ênico
entre os cristãos com exclusão da Ig reja C atólica. Já o grupo da
Ig reja Luterana do B rasil (o assim cham ado luteranism o missu-
riano) continua — como sempre estêve — numa posição feroz-
mente contrária à Ig reja C atólica. P a ra êles, qualquer entendimen
to com os católicos sign ifica destruir as mais lídimas essências
do C ristianismo. O M ensageiro Luterano, órgão oficial deles, con
tinua na mais sincera e inabalável convicção de que o Papa ê o
A nticristo. E ntre os Presbiterian os há algum as vozes, infelizmente
raras, com certo otimismo para com a Ig reja Católica e as ver
dadeiras intenções de Joã o X X III. A Ig reja M etodista B rasileira
encara com bastante entusiasmo os esforços de aproxim ação. O
Expositor Cristão, dos metodistas, entretanto, se compraz também
com eloquentes tiradas anticatólicas. Os B atistas, no B rasil, co
mo em tôda parte, têm um caráter eminentemente proselitista e
com bativo, sobretudo contra tudo que se apresenta católico ou
sim patizante com Roma. O Jornal Batista se coloca certam ente
na vanguarda do anticlericalism o brasileiro. M ais sectàriam ente
anticatólico é o Movimento Fundam cntalista no B rasil, que se
gloria de representar a parte mais tradicional do Protestantism o.
A C onfederação das Ig rejas Evangélicas Fundam entalistas, em sua
assem bléia reunida em São Paulo durante os dias 31 de outubro
a 2 de novembro de 1962, resolveu tornar pública a seguinte
resolução:
No Protestantismo brasileiro
Resolvem os:
Alertar todos os crentes evangélicos do B rasil, quanto ao perigo sutil
da propaganda relacionada com o Concilio V aticano II, que considera
mos uma "C ontra-Reform a”, em sua tática disfarçada, c apelamos para
a consciência de todos êsses crentes, no sentido de se separarem de
tôda a solidariedade e de tôda a relação eclesiástica que os possam
aproxim ar de Roma, seja por meio do Concilio Mundial de Igreja s, seja
diretamente.
Selon e medalha com em oraticos do C oncilio Vaticano I I
VI. Miscelânea
irlllo II — 35
Instantâneos.
liares, a convite dos sim ples Pre pos de todo o orbe católico, para
sidentes, para elaborarem e cor o fim de exercerem colegiada-
rigirem os textos, e para prepa mente, em união com o Pontífice
rarem as relações a serem apre Romano e sob a sua guia, o seu
sentadas em C ongregação Geral. oficio de m estres da fé, de legis
ladores e de juízes. S ó ao Papa
C ARD EAIS — O s Cardeais, segun cabe o direito de convocar, trans
do o Cân. 223, têm direito de ferir, suspender, dissolver um
participar do Concilio com voto Concilio Ecumênico. As defini
deliberativo, mesmo se não fo ções do Concilio, referentes à fé
rem Bispos. Neste Concilio V ati e aos costum es, são in falíveis,
cano II, todos os Cardeais, em após a sua prom ulgação pelo
número de 85, também são Sumo Pontífice.
Bispos.
IV . D o c u m e n t o s .......................................................................................................... 269
Regulamento do Concílio Vaticano II ................................................... 271
I Parte. As pessoas que tomam parte no Concilio . . 273
I. As Sessões Públicas ....................................................... 273
II. As Congregações Gerais .............................................. 274
III. As Comissões Conciliares ............................................ 274
IV. O Tribunal Administrativo .......................................... 275
V. Os Teólogos. Canonistas e outros Peritos ......... 275
VI. O Secretariado Geral ................................................... 276
VII. Os Guardas Gerais ....................................................... 277
VIII. A substituição das pessoas .......................................... 277
IX. Os Observadores ................................................................277
índice 413
353
V. Repercussões ..................................................................................
Entre nossos Bispos .................................................................................. 355
361
Na Imprensa ...............................................;••••■■■.................................
Entre os Observadores e Hóspedes não-Catolicos .. 369
Um Observador não-Católico Latino-Americano ............................ 376
382
No Protestantismo Brasileiro .................................................................
385
VI. Miscelânea .......................................................................................
387
Instantâneos . .
395
V II. Vocabulário C o n c ilia r .................................................................
397
Vocabulário Conciliar .................................................................................
409
índice ................................................................................................................ 411
índice . . . ........................................................................................
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