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CONCÍLIO VATICANO II
Vol. II
P rimeira S essão ( S et .-D ez . 1962)
CONCILIO VATICANO II
VOL. II. PRIMEIRA SESSÃO (SET.-DEZ. 1962)

Compilado pelo

PE. FREI BOAVENTURA KLO PPEN BURG , O .F .M .

Teólogo Conciliar

•DITÓRA VOZES LTDA. - PETR O PO LIS, RJ


i

I M P R I M A T U R
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR.
DOM MANUEL PEDRO DA CUNHA CINTRA,
BISPO DE PETRÓPOLIS.
FREI BERNVARDO WARNKE, O .F .M
PETRÓPOLIS, 3-4-1963.

I M P R I M I P O T E S T
E CONVENTU NOSTRO AD S. P. N.
FRANCISCUM IN CIVITATE S. PAULI.
DIE 23 MENSIS MART1I 1963.
FR. W ALTER KEMPF, O .F .M .
MINS. PROVLIS.

TODOS OS D IR E IT O S RESER V A D O S
Proêmio e Justificação.

' T alvez seja este o pri-


meiro volume, mais alentado, de crônicas ou informações sôbre
os trabalhos do Concilio Ecumênico Vaticano II, ora em re­
cesso. O Sr. Pe. Frei Boaventura Kloppenburg m erece louvores
por tê-lo escrito. Católicos e não-católicos acompanham com vivo
interêsse, manifesta curiosidade e fundadas esperanças o desen­
volvimento dos estudos da magna assem bléia. O livro não traz
apenas um registro árido e monótono de datas, nomes e teses.
Encerra também um comentário e uma apreciação dos debates
realizados, tudo inspirado em profundo e filial amor à Igreja.
O autor, professor de teologia, promotor de iniciativas apostóli­
cas de larga envergadura e autor de obras de valor e atuali­
dade, tem inegável autoridade para dar uma opinião. Nem to­
dos o acom panharão, em todos os pormenores, como â natural.
Mas as idéias expostas apóiam -se em razões sérias e objetivas.
Os mesmos assuntos já foram versados, “per longum et la-
tum”, de maneira mais ou menos feliz, em revistas especializa­
das de teologia e na imprensa européia em geral, durante os dias
do Concilio, em outubro e novembro do ano findo. Não há, por­
tanto, propriamente revelações originais.
Espíritos tímidos julgarão que a divulgação feita de diver­
gências de opiniões entre Padres Conciliares pode provocar má
impressão. Mas não será muito melhor dizer honestamente a ver­
dade do que tentar ocultá-la, de sorte que informantes impie­
dosos e irreverentes a desfigurem, colhendo dados em fontes
suspeitas ou venenosas?
A Igreja nada tem a temer da verdade e não devemos fazer
mistério quando a franqueza e o esclarecimento honesto muito
Proômio e Ju stificação

melhor conquistam simpatias e com preensão. Nem nos cabe im­


pedir a manifestação de opiniões sólidas, divergentes d os nos­
sos próprios modos de ver. Poucos dias antes do Concílio f o ­
ram publicados, em diversas línguas, o diário e as im pressões
do ven. servo de Deus P. Dehon, que durante o Concilio Ecum ê­
nico Vaticano / exercera as funções de taqu ígrafo e ajudante.
Que mal teria havido se esta interessante obra, com a repro­
dução de luzes e som bras do Concilio presidido por Pio IX, ti­
vesse saido logo após a interrupção da histórica reunião dos
Bispos?
Auguro, portanto, bons fa d o s a este livro que d ará uma idéia
do esforço que, dentro da linha traçada p or S. S. o P apa Jo ã o
XXIII, fazem os P adres Conciliares, reunidos na caridade de
Cristo e sob as luzes do Espirito Santo, a fim d e encontrar m é­
todos os mais eficientes e cam inhos os m ais seguros p ara p ro­
mover a encarnação do Evangelho no pensam ento e na vida
dos homens d o nosso tempo.

D om V icente S chkrek
Arceb. Metrop. de Pôrto Alegre.
Credo
Sacrum Concilium
1. Docete Omnes Gentes.

O PAI E TER N O TAN TO AMOU


os homens que lhes enviou seu Filho Unigénito para que todo
aquêle que n’Êle crer tenha a vida eterna. E o Verbo se fêz
homem e tomou morada entre nós. E go in hoc natus sum et
ad hoc veni in mundum, ut testimonium perhibeam veritati (Jo
1 8 ,3 7 ). Veio como Mestre, para ensinar. “Vós me chamais Mestre
e dizeis bem, porque deveras sou” (Jo 1 3,13). “Um só é vosso
M estre: C risto" (M t 2 3 ,1 0 ). Êle veio “cheio de verdade” (Jo
1,1 4 ). E go sum veritas (Jo 14 ,6 ). E go lux in mundum veni, ut
omnis qui credit in me in tenebris non maneat (Jo 12,46). Ego
sum lux mundi! (Jo 8 ,1 2 ; 9 ,5 ). Cinqiienta e três vêzes os Evan­
gelhos O apresentam como Mestre (41 como D idáscalos e 12
vêzes como R a b b i), e como quem ensina “com autoridade”
(M t 7 ,2 9 ).
Cristo, porém, não se apresentou como mestre particular para
ensinar em seu próprio nome: “Aquêle que crê em mim não crê
em mim, mas sim n’AquêIe que me e n v io u ... Porque eu não
falei por mim mesmo: o próprio Pai que me enviou foi quem
me ordenou o que hei de dizer e dc f a la r .. . As coisas que eu
falo, falo-as conforme o Pai me disse” (Jo 12,44-50). “O Pai
me e n v io u ... eu não faço nada por mim mesmo, mas, segun­
do me ensinou o Pai, assim falo" (Jo 8 ,1 6 .2 8 ). “A palavra que
vós ouvis não é minha, porém do Pai, que me enviou” (Jo 14,24).
“Tudo o que eu ouvi de meu Pai dei-vos a conhecer” (Jo 15,15).
E ’ por isso que Êle exige fé, pois “aquêle que me enviou é ve­
raz” ( Jo 7 ,2 8 ). Qui me spernit, spernit eum qui misit me (Lc
1 0 ,1 6 ). “Aquêle que me rejeita e não recebe minhas palavras,
já tem quem o julgue” (Jo 12,4 8 ).
Antes de deixar o mundo e voltar ao Pai, Cristo transmite
aos Apóstolos — para isso os escolhera e preparara — a mes­
ma missão que Êle recebera do P a i: “Assim como tu [P ai] me
10 !. Credo Sacrum Concilium

enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo” (Jo


17 18) E depois da gloriosa ressurreição, solenem ente: Sicut
misit me Pater, et ego mitto vos ( Jo 2 0 ,2 1 ). E m ais solene ain­
d a: D ata est mihi omnis potestas in caelo et in terra: euntes
ergo docete omnes gentes (M t 2 8 ,1 8 ).
Como Cristo era Mestre, os apóstolos deviam ser m estres:
Deviam ensinar a todos os homens “ tudo quanto eu ( Cristo|
vos mandei" (Mt 2 8 ,2 0 ). P ara isso receberiam um auxílio es­
pecial de D eus: “O E spírito Santo, que o Pai enviará em meu
nome, êsse vos ensinará tudo, e vos trará à m em ória<tudo quan­
to eu vos disse” (Jo 1 4 ,2 6 ); êle “estará convosco para sem pre”
(Jo 14,1 6 ). Êle é o “ Espirito da verdade" (Jo 1 4 ,1 7 ; 1 5 ,2 6 ).
“Quando vier Aquele, o Espírito da verdade, g u iar-v os-á para
a verdade completa, porque não fa la rá de si mesmo, mas fa ­
lará do que o u v ir ... Êle tom ará do meu e vo-lo dará a co­
nhecer” (Jo 1 6 ,1 3 -1 4 ).
O Pai envia Cristo e Jesus ensina o que o Pai lhe ordenou.
Cristo envia os Apóstolos e êstes transm item o que C risto lhes
ensinou. “ Em verdade, em verdade vos d igo: quem recebe aqu e­
le que eu enviar a mim me receb e; e aquêlc que me recebe re­
cebe a quem me enviou" ( Jo 1 3 ,2 0 ). P or isso vale o principio:
Qui vos audit me audit et qui vos spernit me spernit. Qui au-
tem me spernit, spernit eum qui misit m e (L c 1 0 ,1 6 ). E êste
outro: Quaecumque alligaveritis super terram, erunt ligata et in
caelo (M t 1 8 ,1 8 ). Como C risto, também os Apóstolos deverão
ser a “luz do mundo” (M t 5 ,1 4 ), o “ sal da terra" (M t 5 ,1 2 ). E
como já são julgados os que não quiserem receber as palavras
de Cristo, serão condenados também os que não quiserem crer
nos ensinam entos dos Apóstolos (M c 16,1 6 ).
Cristo era o legado do P a i; os Apóstolos são os enviados
de C risto: “O s homens vejam em nós ministros de C risto e dis-
pensadores dos mistérios de Deus. O que dos dispensadores se
exige é que sejam fiéis" (1 Cor 4 ,1 -2 ). “T a l é a confiança que
por Cristo temos diante de Deus. Não que por própria fôrça
sejam os capazes de pensar alguma coisa como de nós mesmos,
pois a nossa capacidade vem de Deus. Êle capacitou-nos como
ministros do nôvo testamento” (2 Cor 3 ,4 -6 ). "F o i Deus quem
assim nos fêz. Assim estamos sempre confiantes” (2 Cor 5 ,5 ).
“ Por mandato de Cristo somos em baixadores e Deus vos exorta
por meio de nós" (2 Cor 5 ,2 0 ). “Tenho, pois, esta g ló r ia .. .
não ousarei falar de coisa que Cristo não tenha operado por
mim para levar os gentios à obediência” (Rom 1 5 ,1 7 -1 8 ).
1. Docete omnes gentes 11

M as a “boa nova” (o “evangelho” ) que o Filho trouxe do


Pai e comunicou aos Apóstolos devia, por determinação do Pai,
ser levada a todos os homens. “Pregar-se-á em todo o mun­
do êste Evangelho do reino” (M t 2 4 ,1 4 ); "terá de ser pregado
o Evangelho a todas as nações” (M c 1 3,10). Não apenas aos
jud eu s: “Tenho ainda outras o v e lh a s ... c preciso que eu as
tra g a ” (Jo 1 0 ,1 6 ). Por isso, no momento em que dá aos Apóstolos
o mandato de “ ir a todos os povos", o Legado do Pai acrescenta:
“ E eis que Eu estou convosco todos os dias até a consumação
do mundo” (M t 2 8 ,2 0 ). Daí o expresso ensinamento do Vati­
cano I: "O eterno Pastor e Bispo das nossas alm as, querendo
perpetuar a salutífera obra da salvação, resolveu fundar a San­
ta I g r e ja . .. Por isso, assim como enviou os Apóstolos que ti­
nha escolhido do mundo, conforme tinha sido êle mesmo envia­
do pelo Pai, da mesma form a quis que até a consumação dos
séculos houvesse na sua Igreja pastôres e doutores” (D z 1821).
Insistim os: o mesmo Magistério que o Pai entregou ao F i­
lho, que o Filho passou aos Apóstolos — Magistério estrita­
mente sobrenatural — êste mesmo e idêntico Magistério passou
do Colégio Apostólico ao Colégio dos Bispos. Recebeu, pois,
a Ig reja de seu Divino Fundador uma missão e um poder es­
pecial de ensinar; e de ensinar como Êle, com autoridade, exi­
gindo assentim ento: "D obram os todo o pensamento à obediên­
cia de C risto” (2 Cor 1 0 ,5). Vaticano I: “A doutrina da fé, que
Deus revelou, não foi proposta ao engenho humano como uma
d escoberta filosófica a ser por êle aperfeiçoada, mas foi entre­
gue à Espôsa de Cristo como um depósito divino, para ser por
ela fielm ente guardada e infalivelmente ensinada" (D z 1800).
2. Visum est Spiritui Sancto et Nobis.

Q u a n d o r e z a m o s “c r e d o
E cd esiam ", fazemos um ato de fé numa virtude interna, sob re­
natural e divina, que se esconde sob os sin ais sacram en tais e a
organização externa e hierárquica, mas sem pre operante e sem
a qual a essência da Ig reja se reduziria a uma sim ples socie­
dade externa e humana, nada mais. Do mesmo modo podemos
também rezar “credo M agisterium ” : creio ò M agistério, não ap e­
nas no M agistério. Pois a própria m issão e o poder de ensinar
é também objeto de fé. Como na Ig reja, há tam bém no M a­
gistério Eclesiástico uma virtude interna, sobrenatural e divina,
que se esconde atrás das atividades hum anas dos depositários
do múnus e do poder de ensinar, mas sem pre presente e ope­
rante e sem a qual a natureza dêste M agistério se reduziria a
uma sim ples e falível autoridade humana, nada mais. D ispom o-
nos a crer no M agistério porque, primeiro, crem os o M agistério.
Não aceitam os com e em espírito de fé as definições e decisões
do M agistério porque reconhecemos, quiçá, em seus detentores
notáveis qualidades de intelccção e prudência: assentim os com
um ato de fé teologal a seus pronunciamentos porque, antes,
professam os que nêlcs e por eles age uma virtude divina que
nos garante a autenticidade de seu ensino. O Concilio Ecum ê­
nico, que agora se reúne pela vigésima primeira vez, é o modo
mais solene e formal de expressão do M agistério que o Pai
confiou ao Filho, o Filho passou ao Colégio dos Apóstolos e êste
ao Colégio dos Bispos. E is por que podemos dobrar os joelh os
e rezar: Credo sacrum Concilium, in captivitatem redigens oninem
intellectum in obsequium Christi (cf. 2 Cor 1 0 ,5 ).
Há, com efeito, na ação do M agistério E clesiástico algo m ais
que numa atividade magisterial humana comum. E go rogabo P a­
irem et aliam Paraclitum dabit vobis u t m a n e a i v o b i s c u m
i n a e t e r n u m (Jo 1 4 ,1 6 ). E os outros textos, já citados, que
2. Visum est Spiritui Sancto et nobis

nos asseguram particular assistência divina, que "vos ensinará


tudo” , que “vos trará à memória tudo quanto eu vos disse"
que “ vos guiará para a verdade completa", que “tomará do meú
e vo-lo dara a conhecer". E sobretudo também esta solene ga­
rantia do V erbo Eterno que habitou entre nós: Ecce ego vo-
biscum sum o m n i b u s d i e b u s usque ad consummationem
saecu h (M t 2 8 ,2 0 ). E aqui poderiam ser lembradas ainda tôdas
as passag ens que prometem diretamente a indefectibilidade dou­
trinal e vital da Ig reja, que, ao menos implicitamente, supõem
também uma especial assistência divina como garantia. Pois
através dos séculos a Igreja tem a missão de ser columna et
firmamentum verilatis ( I Tim 3 ,1 5 ).
Os Apóstolos tinham esta íntima c sossegante convicção:
S ufficicntia nostra ex Deo est (2 Cor 3 ,5 ). Por isso no Concilio
de Jerusalém podiam tranquilamente decidir assim : Visum est
Spiritui Sancto et nobis (At 15,28). Semelhante persuasão per-
pctuou-se depois na Igreja. No ano 252 escrevia S. Cipriano ao
Papa C ornélio em nome dos componentes do Concílio de Car-
ta g o : “ Placu it nobis Sancto Spiritu su g g cren te.. em 314, no
C oncilio de Aries, d izia-se: "P lacuit ergo, praesente Spiritu
Sancto et Angelis s u i s . . . ” ; em Nicéia, no primeiro Concílio
Ecum ênico, no ano 3 25, foi assim : “Quod trecentis Episcopis
visum est, non est aliud putandum quam solius Filii Dei sen-
ten tia” ; no de Éfeso, em 431, era esta a convicção: “Statuit
Synodus, alteram fidem nemini licere proferre quam definitam
a San ctis Patribus, qui in Nicaeno in Spiritu Sancto congregati
fuerunt” . E do mesmo modo nos outros sínodos e concílios. O
de Trento, em todos os seus decretos afirma proceder como
assem bléia "in Spiritu Sancto legitime congregata" (D z 782,
78 3 , 7 8 7 , 7 9 2 a , 84 3 a , 873a, 893a, 929a, 93 7 a ). Incidentalmente
acrescenta que o Concilio se reuniu “non absque peculiari Spi­
ritus San cti duetu et gubernatione" (D z 8 7 3 a ); que definiu "S p i­
ritus San cti illustratione edocta” (D z 930, 937a, 9 8 3 ); e que
demonstrou ou refutou os erros “Spiritus Sancti pracsidio”, ou
“divino Spiritu adiuvante” (D z 843a, 893a).
Para podermos entender melhor a natureza e avaliar^ a ex­
tensão da ação do Espirito Santo no Magistério Eclesiástico cm
geral e nos Concílios em particular, devemos ver e ponderar as
palavras, mormente os verbos empregados nos Concílios Gerais ou
nos sínodos regionais. Eis uma coleção de expressões usadas,
in Spiritu Sancto congregati (usada muitas vêzes, também no
Vaticano I ) ; Spiritus Sancti gratia congregati; operante uti cre-
14 l. Credo Sacrum Concilium

dimus Spiritus Sancti g ra tia ; Spiritu San cto dirigente; per divi-
num Spiritum collecti; San cto incitante Spiritu; Domino Spiritu
duce convocati; Spiritu San cto auctore; S an cto Spiritu coope­
rante; Spiritu Sancto prom ulgante; Spiritu San cto revelante; D i­
vino Spiritu annuente; Spiritu San cto suggeren te; Spiritus San ctus
statuit; inspiratione sancti et vivifici Spiritus statuem us; Spiritus
Sancti gratia illuxit; vivifici Spiritus ope edidim us; conspiratione
sanctissimi Spiritus; a Spiritu San cto sum entes verbum ; univer-
salem Synodum munitam fuisse Spiritus San cti op eratio nc; S p i­
ritus Sancti inspiratione et cooperatione; non absque peculiari
Spiritus Sancti duetu et gubernatione; Spiritus San cti illustratio-
ne edocti; Spiritus Dei pleni; Spiritu San cto dictan te; Spiritu
Sancto duce et m oderatore; auctore Spiritu San cto ; suggerente
Sancto et pacifico Spiritu; cum consensu Spiritus S a n c t i . ..
T a l é a convicção do AAagistério E clesiástico, expressa em
tempos e regiões diferentes e nas ocasiões mais solenes. Não
são textos raros nem rebuscados. Falam desem baraçadam ente,
sossegadam ente, como se fôsse coisa evidente. Para os C onci­
liares e, segundo êles, nos C oncílios o Espírito San to opera, di­
rige, reúne, in cita, convoca, coopera, revela, sugere, estabelece,
inspira, ilumina, conspira, guia, governa, modera, ensina, dita,
consente, promulga.
Que sentido dar a tudo isso?
O Concílio Vaticano I ensina: “ O Espirito Santo não foi
prometido aos sucessores de São Pedro para que êstes, sob a
revelação do mesmo, pregassem uma nova doutrina, mas para
que, com a sua assistência, conservassem santam ente e expu­
sessem fielmente o depósito da fé, ou seja, a revelação recebida
dos Apóstolos” (D z 1 8 3 7 ). Cristo, com efeito, prometera o E s ­
pírito Santo com o fim de “trazer à memória” (no latim : "s u g g c-
ret” ; no original grego: "hypo-m nései”, de mimncsco tinà ti:
in memoriam rev oco); “não falará de si mesmo, mas falará do
que ouviu; tomará do meu e vo-lo dará a conhecer" (cf. Jo
1 6 ,1 3 -1 4 ). Não haverá, pois, necessidade de novas revelações
pròpriamente ditas. A missão dos Apóstolos e da Igreja não vai
além da de Cristo. E Cristo já dissera tudo: Omnia quaecumque
audivi a Paire meo nota feci vobis (Jo 1 5,1 5 ). O “depósito da fé”
está pronto, é definitivo, nos foi dado “uma vez para sem pre”
(Judas, vers. 3 ) . Agora é preciso “conservar santam ente e e x ­
por fielmente’ êste depósito. O s homens sòzinhos, com sua fa ­
lível memória e suas muitas paixões, seriam in capazes de cum ­
prir com fidelidade tão importante missão até a consum ação fi-
2. Visum est Spiritui Sancto et nobis 15

nal. Pio X II, na Mystici Corporis, lembra a "deplorável inclinação


ao mal que 0 Divino Fundador permite mesmo nos mais ele­
vados membros de seu Corpo M ístico". Era, pois, muito neces­
sário aquêle especial auxílio do Espirito Santo.
Se, como é certo, não se deve dizer que o Espirito Santo
“ revela”, poder-se-á, quiçá, insistir na palavra "insp irar"? Não
faltam textos conciliares que fazem uso dêste vocábulo. No Con­
cílio de Constantinopla, por exemplo, em 681, na décima sexta
actio, pouco antes da definição sôbre as duas vontades em Cristo,
os Pad res Conciliares escrevem de si mesmos: “In sequenti vero
actione, inspiratione sancti et vivifici Spiritus, definitionem rectae
fidei convenientem synodaliter statu em u s.. e feita a definição,
os mesmos Conciliares relatam ao Papa Agatão: "Istinc igitur
in nos Spiritus Sancti gratia illu x it...; certam nec fallentem de­
finitionem, vivifici Spiritus ope, edidimus”. No segundo Concílio
ile Nicéia, em 787, os Conciliares comunicam ao Imperador:
" Conspiratione sanctissimi Spiritus consonantes invicemque col-
lecti. . . consonanter et unanimiter a Spiritu Sancto sumentes ver-
b i im ... spongia dogmatum divinorum delevimus” ; pouco de­
pois, os mesmos Padres afirm am : " . . . universalem Synodum
munitam fuisse Spiritus Sancti operationc” e que, por isso, os
Bispos “ Spiritus Sancti inspiratione et cooperatione in idipsum
convenisse et consonuisse”. Mais recentemente 0 Papa Pio XI,
na alocução de 19-3 -1 9 2 7 , declarou: "II Santo Padre pensata-
mente, deliberatam ente, anzi, può dirsi, non senza divina ispi-
razione, defini 1’Azione C a tto lic a .. . ” E mesmo agora João XXIII,
em vários documentos, declara que a idéia de convocar 0 atual
Concílio Ecumênico lhe veio por inspiração divina.
Como havemos de entender esta palavra usada tão sem re­
servas por Concílios Ecumênicos c Sumos Pontífices? O Padre
Seb astião Trom p, S . J . , atual Secretário da Comissão Teológica
C onciliar, por longos anos Professor de Teologia na Universi­
dade G regoriana, na conferência (intitulada: "Spiritus Sanctus
et Sacrum Concilium”, publicada em Divinitas 1961, pp. 503-
5 0 9 ) pronunciada no dia 18-1 1 -1 9 6 0 vê uma notável analogia
entre a in spiração da Sagrada Escritura e a inspiração dos
Santos C oncílios: “Absque ullo dubio mira est analogia, hucusque
nondum satis explorata, quam in traditione statui videmus inter
inspirationem, qua gaudent Episcopi duce Summo Pontífice in
Concilio legitime congregati, et inspirationem eam, qua donantur
hagiographi et evangelistae in conscribendis libris canomcis . t
recorda a conhecida palavra de S. Gregório Magno que decla­
16 I. Credo Sacrum Concilium

rou aceitar e venerar os quatro Concílios Ecum ênicos (N icéia,


Constantinopla, É feso e C alced ônia) como os quatro livros do
Evangelho: "S ic u t sancti Evangelii quattuor libros, sic quattuor
concilia suscipere et venerari me fa teo r” (E p . I, 2 5 ; P L 7 7 ,4 7 8 ).
E o Pe. Trom p insiste: Como o E spírito San to desce sôbre o
hagiógrafo a fim de ag ir nêle e com êle para o bem de tôda
a Igreja, assim desce o Paráclito sôbre o sacro C oncilio: “ Incitat,
inspirat, illuminat, docet et ita cooperatur efficaciter, ut Patres
synodaliter uniti ad infallibilem perveniant decisionem ” .
Poderia, certamente, o Pe. Trom p com provar sua tese com
aquêles inúmeros textos que já vimos. Não obstan te persiste sé­
ria dificuldade. Pois é necessário dar um sentido ex ato à pa­
lavra “inspiratio” . E ’ conhecida a definição dada por Leão X I 11
na Providentissimus Deus, em 1 8 9 3 : O Espirito San to — en­
sina o Papa — tomou homens como instrumentos (tam quam
instrumenta) para escrever: “Com virtude sobrenatural Êle pró­
prio os excitou a escrever e os assistiu enquanto escreviam , de
tal sorte que êles concebiam exatam ente, queriam referir fiel­
mente e exprimiam com verdade infalível tudo o que Êle lhes
ordenava escrever e sòm ente o que lhes mandava escrever; do
contrário Êle mesmo não seria o autor de tôda a E scritu ra” (D z
1 9 5 2 ). E ’ a razão por que dizemos que a Sagrad a Escritura tem
dois autores: um divino e principal, outro humano e instrumen­
tal. Seria também assim no C oncilio? B asta formular a pergun­
ta para ver que a resposta deve ser negativa. Há, por certo, no
Concílio, dois autores, divino e humano; mas a relação é muito
diferente.
O que caracteriza os poderes eclesiásticos (e os distingue
também essencialm ente dos outros poderes puramente hum anos)
é que seus detentores os exercem por uma participação ministerial
no próprio Cristo. E isto, em sentido estrito, supõe que Cristo,
de algum modo, continua a exercer efetivamente êstes ofícios.
M as não se deve falar sem distinções dêstes podêres. E ’ preciso
separar o poder de Ordem (santificar) do de Jurisdição (reg er
e ensinar). No exercício do poder de Ordem (santifican d o m e­
diante os Sacram entos) os homens são apenas “m inistros” (isto
é : instrumentos racionais) nas mãos de Cristo, sem nenhuma
virtualidade própria, a não ser aquela que lhes com pete precisa­
mente enquanto instrumentos racionais: Cristo é o autor prin­
cipal e o homem o autor instrumental. M as no exercício do poder
de Jurisdição (reger e ensinar) o homem é autor principal (e não
2. Visum est Spiritui Sancto et nobis

apenas m inisterial ou instrumental), particularmente assistido por


C risto ou pelo Espirito Santo. Devemos, pois, dizer que no exer­
cício do poder de ensinar (que faz parte do Poder de Jurisdição)
seus detentores são e continuam sempre os autores principais;
não pode haver, normalmente, "inspiração” tal que faça dos
homens apenas instrumentos mediante os quais o Espirito Santo
se m anifestaria. Em outras palavras: O Magistério da Igreja e do
Concílio não se exerce sob uma inspiração bíblica ou profética,
pela qual Deus seria o autor principal daquilo que como mero
instrumento escreve o hagiógrafo ou enuncia o profeta.

Concilio II
3. Spiritu Sancto Assistente.

N e m RE V ELA Ç A O , N EM 1N S-
piração pròpriamente ditas. Que faz então o Esp írito S a n to ?
O V aticano I usa o têrmo assistência ( “eo assistente” , Dz 18 3 6 )
para exprim ir a ação específica do Espírito San to sôbre o M a­
gistério. Palavra vaga e genérica, mas que é, de fato, a m ais
comumente usada pelos teólogos. Não há, porém, unanimidade
entre êles acêrca da extensão desta “ assistên cia". Há duas
opiniões:
Auxilio puramente neg ativo: o E spirito San to apenas eli­
minaria os perigos que poderiam fazer soçobrar a Igreja. Assim ,
por exemplo, Mangenot, no Dict. Thèol. Cath. (1, 2 1 2 7 ) , sustenta
que a assistência, mesmo em seu grau sumo e infalível, estaria su­
ficientemente assegurada por uma ação sim plesm ente negativa,
sem precisarmos supor g raças especiais e positivas de iluminação
da mente ou de decisão da vontade; de outra maneira confun­
diriamos assistência com revelação. Tam bém Dieckm ann, em seu
tratado sôbre a Ig reja, pensa assim . Admite som ente a possibi­
lidade de influxos positivos, mas não os ju lga necessários para
explicar a assistência divina, nem mesmo no sumo grau que g a ­
rante a infalibilidade do M agistério E clesiástico. T a l posição é,
teòricamente, sustentável; e será, pràticam ente, em muitos c a ­
sos, suficiente.
Outros — e é a sentença mais comum entre os teólogos —
reclamam além disso auxílios positivos de luz c de fôrça. “ O s
melhores teólogos, diz Journet em L ’Eglise du Verbe Incarné,
afirmam que a Divina Providência sustenta sua Ig reja muito mais
mediante graças positivas de luz e de fôrça que por intervenções
puramente negativas” .
De fato, ponderando todos aquêles textos escritu rísticos e
conciliares, abundantes e positivos, devemos convir em que os
homens da Igreja, depositários do poder de ensinar, são também
3. Spiritu Sancto assistente 19
" a inteli6 ência e na vontade, ajudados
“rh a ^ m 0 ^ * 0 j urament0 antimodernístico falam do
char sm a v en ta t'5-' (D z 1837, 2 1 4 7 ). Casos haverá nos quais
sera suficiente uma assistência negativa e preservativa. Em ou­
tras m uitas oportunidades, porém, o auxilio positivo será ao
menos de grande conveniência, sobretudo para evitar os erros.
Pois o errar é coisa_ demasiadamente humana. Mas a Igreja não
tem apenas a missão de preservar-nos da heresia. Ela tem o
oficio de ensinar também positivamente a verdade, todos os
dias, de modo claro, ao alcance de todos; deve conduzir os ho­
mens por entre mil escolhos; deve orientar as inteligências num
inundo confuso, desnorteado pelas mais várias filosofias, sem
rumo moral e religioso; deve lembrar, sempre de nôvo, a tôdas
as gerações, raças e mentalidades tudo quanto Cristo recebeu
do P a i; deve traduzir a “boa nova” para mil línguas e modos
de falar diferentes. Há circunstâncias e situações complexas e
urgentes, quando o Magistério não pode mais calar, non possu-
mus non íoqui (At 4 ,2 0 ), quando a omissão seria pecado, quan­
do a necessidade da orientação é imediata, urgente, quando,
além do mais, se trata de salvar almas que estão em perigo
im inente; é então, quiçá mais do que num pacífico Concílio
Ecum ênico, que os homens encarregados do ensino “autêntico”
precisam dum auxílio positivo de Deus. Vobiscum sum omnibus
diebus (M t 2 8 ,2 0 ); portae inferi non praevalebunt (Mt 16,18).
G ra ça s a Deus! Ai de nós, fôssemos dirigidos apenas pelos ho­
mens da Igreja, mesmo quando inteligentes e bem intencionados!
E, sabem o-lo a posteriori, da história, nem sempre eram retas
as intenções humanas, mesmo daqueles que estavam mais alta­
mente colocados na sacra hierarquia. Não é raro notar que os
que, na Igreja, possuem o poder de reger e de ensinar, são so­
licitados pela sutil tentação de identificar seus pensamentos,
seus d esejos, suas atitudes e mentalidades pessoais com a dou­
trina e os mandamentos que Cristo recebeu do Pai. Aconteceu
também (falam os a posteriori) que lhes minguasse a inteligência,
que se sentissem dominados por preconceitos unilaterais e es­
treitos, por insuficientes ou falsas informações ou até por ne­
nhuma informação. Pois fáceis são, entre nós homens, as inter­
ferências egoístas, os cálculos mundanos nas empresas de apos­
tolado, as vaidades e susceptibilidades que diminuem a com-
preensão e induzem ao rancor, as a preciaçíes do
por vêzes, se confundem com o respeito devido à sagrada função.
20 I. C redo Sacrum Concilium

P ara demonstrar a necessidatje do Espirito Santo, seria m ister falar


de numerosas outras tentações que constantem ente solicitaram e con­
tinuam a tentar os homens da Igreja. O melhor exemplo está na B íblia.
Os dirigentes do povo judeu não receberam esta assistên cia divina espe­
cial que nos garante a indefectibilidade e a perenidade da Ig reja . Por
isso sucumbiram às tendências e paixões humanas. Form aram os dois
grupos, ambos severamente castigad os por C risto: os saduceus e os fa­
riseus. Como, porém, a natureza humana continua sempre a mesma, tam ­
bém no cristão c nos hierarcas, permanecem idênticas também a s ten­
tações principais: a tentação para a esquerda ou o saduceism o e a
tentação para a direita ou o farisaísm o. O saduceismo, da ■esquerda,
sintetiza o conformismo, o oportunismo, o m odernismo: Não só vivem
no mundo, mas para o mundo, querem conquistar o mundo e o mundo
os conquista, com compromissos im possíveis: aceitam então o espírito
mundano, empregam meios e m étodos estranhos ao evangelho; in stalam -
se caseiramente ou, como se diz hoje, burguêsmente no mundo, é a se-
cularização; querem garantir suas posições, mantendo o poder sem opo­
sição c sem perseguição, esquecendo-se de que a Igreja, na terra , c e
deve ser militante: donde os com prom issos com o êrro e a contem pori-
zação com o m al; têm mêdo de ser reacionários, taxad os como a tra s a ­
dos, medievais, vem então o oportunismo. O farisaísmo, na extrem a-
direita, sintetiza o formalismo, o fixismo, o tradicionalism o: Há o pe­
rigo de alhear-se do mundo que deve ser convertido, e de viver só para
si e deixar que o mundo seja mundo e p ereça: in stalam -sc então casei-
ramente em si mesmos, no convento, no m osteiro, na sa cristia, na casa
paroquial, no palácio episcopal, sem incom odar-se com os milhões de
sêres humanos que andam pelas estradas do orbe, sem sentir cm sua
carne o grave problema dos "d escristian izad o s"; há a tentação de ver
na organização um fim em si e de fixar-se nela, intolerantemente, fe­
rozmente, impossibilitando ou dificultando sua verdadeira finalidade; há
o mêdo do progresso, da história, do que ainda não existiu, do insó­
lito, do extraordinário, do a rrojo, do nôvo; há o mêdo das necessárias
modificações, adaptações, riscos, experiências e da audácia; há, em suma,
a tentação da teocracia eclesiástica, que pode ser mortalm ente perigosa.
Numa página de H a n s K i i n g , em El Concilio y la Union de los Cris-
lianos (H erder 1961), que fala d estas tentações, temos alguns exem plos:
as práticas externas (necessárias e boas em s i), que podem m atar a au­
têntica piedade; a administração eclesiástica (burocracia, até certo pon­
to inevitável), que pode asfixiar a cura das alm as; o funcionarismo, que
pode opor-se ao Papa e aos B ispos; a propaganda religiosa, que pode
sufocar o espírito evangelizador e m issionário; a luta por posições sociais,
contra o autêntico apostolado; a rotina administrativa, contra os ca ris­
mas do Espirito San to; a tutela da fé, contra a direção espiritual; o
sêco racionalismo, o falso patetismo e a exibição literária, contra a
verdadeira pregação; um jurisdicismo clerical, contra a moral do ser-
mão da montanha; os ritos externos, que podem matar os sacram entos;-
as legalidades talm ud.cas contra a disciplina da Ig reja ; as cerim ônias
ôcas e nao sentidas, contra a liturgia viva e vivida; a ânsia do êxito
contra o espirito prim itivo; as ideologias filosóficas, contra a palavra dé
D eus; os sistemas teológicos, contra o Evangelho de C risto- a denún­
cia, contra a ortodoxia cristã; a uniformidade, contra a unidade da
3. Spiritu Sancto assistente 21

letrjí,3 con tra r ' “ " '* , **t e “ "» ■ '« : >
form as fixas. A vida do C o r n ? Mhtí™ Vl.V,,'fa P° de Petr'fi« r-se em
zar. se _ São alirnmsc i/ P0 , * co P0lle formalizar-se e burocrati-

í s & M t

Recebeu, pois, a Igreja o “carisma da verdade e da fé, que


nunca falece, para que cumprisse o sublime encargo da sal-
v açao de todos, a fim de que assim todo o rebanho de Cristo,
afastad o do venenoso engodo do êrro, fôsse nutrido com o pá-
bulo da celeste doutrina’’ (Vaticano I, Dz 1837). Pio XII, na
Mystici Corporis, vê no Espírito Santo a alma de todo o
Corpo M ístico: “Êle está todo na Cabeça, todo no Corpo e to­
do em cad a um dos membros; conforme as suas funções e de­
veres e segundo a maior ou menor saúde espiritual de que go­
zam, está presente e assiste de diversos modos: 6 Êle que com o
hálito da vida celeste em todas as partes do Corpo é o princí­
pio de tôda a ação vital e verdadeiramente salutar; é Êle que,
em bora resida e opere divinamente em todos os membros, con­
tudo também age nos inferiores por meio dos superiores; ó Êle,
enfim, que cada dia produz na Igreja, com suas graças, novos
in crem entos” (n. 5 7 ).
Pio X II conhece também uma ação direta de Cristo na
Ig r e ja : “ Nosso divino Salvador governa e dirige também por
si mesmo e diretamente a sociedade que fundou; pois que Êle
reina nas inteligências e corações dos homens e dobra e com­
pele a seu beneplácito as vontades ainda as mais re b e ld e s...
Ilumina e fortalece os sagrados pastôres para que fiel e frutuo­
sam ente se desempenhem de seus oficios” (n. 3 9 ). “Como da
ca b eça partem os nervos, que, difundindo-se por todos os mem­
bros do corpo, lhes comunicam sensibilidade e movimento, assim
também o divino Salvador infunde na sua Igreja fôrça e vigor”
(n. 4 8 ) . " E ’ Êle que infunde nos fiéis a luz da fé; Êle que aos
Pastôres e Doutores e sobretudo ao seu Vigário na terra enri­
quece divinamente com os dons sobrenaturais de ciência, enten­
dimento e sabedoria, para que conservem fielmente o tesouro da
fé, o defendam corajosamente, piedosa e diligentemente o ex­
pliquem e valorizem; Êle é enfim quem invisivelmente preside c
dirige os Concílios da Igreja” (n. 4 9 ).
Provam tôdas estas ponderações que há, no Magistério, as­
sistência divina positiva, tal, porém, que normalmente não chegue
a fazer do mestre humano um mero instrumento do agente di-
22 I. Credo Sacrum Concilium

vino. Journet, na obra citad a, com para esta assistên cia com a
predestinação: Como a predestinação, sem destruir a liberdade
do homem, sem evitar-lhe provações e dificuldades, sem con­
firm á-lo na graça, faz, contudo, que o predestinado alcan ce
com absoluta certeza sua eterna salvação, mediante uma pro­
vidência especialíssim a, que organiza tôdas as g raças n ecessá­
rias e até mesmo as fraquezas e os pecados de tal m aneira que
redunde na consecução da glória, — assim a A ssistência di­
vina, sem destruir a liberdade do poder ju risdicional, sem ex i­
mi-la da necessidade de in vestigar por sua conta e risco e, mui­
tas vêzes, sem mesmo garantir a imunidade de erros e d esa­
certos, faz, contudo, com que a Ig reja logre indefectlvelm ente
os grandes objetivos que lhe foram fixados, mediante uma pro­
vidência especialíssim a, dando-lhe todos os auxílios positivos ne­
cessários, até mesmo o próprio m ilagre, quando preciso, como
no caso da canonização.
Dois extrem os, pois, parece-nos, devem ser evitados na e x ­
plicação do modo como o Espirito San to assiste a Ig reja no
exercicio de seu dever de ensinar: o de afirm ar uma inspiração
pròpriamente dita, do tipo bíblico ou p rofético; e o de reduzir
a ação divina a um auxilio puramente externo e negativo. M as
entre êstes dois extrem os há ainda rica gam a de possibilidades
de assistência divina positiva (e poderiam os aqui relem brar to­
dos aquêles verbos acim a mencionados, recolhidos das atas do
M agistério: o Espirito Divino opera, dirige, reúne, incita, coopera,
sugere, estabelece, ilumina, conspira, guia, governa, modera, en­
sina, consente, p r o m u lg a ...) , dependendo sua maior ou me­
nor intensidade de três fatores: da necessidade e urgência da
hora, da abertura e disponibilidade dos próprios detentores do
M agistério (pois, desgraçadam ente, podemos fechar-nos à ação
divina: Spiritum nolite extinguere, 1 T ess 5 ,1 9 ), e da libérrim a
vontade do próprio Espírito D ivino: Spiritus ubi vult spirat (Jo
3 ,8 ), dividens singulis prout vult (1 Cor 12 ,1 1 ).
Pio IX abriu o primeiro Concilio do V aticano com esta o ra­
çã o: " . . . Tu fons verae lucis et sapientiae, divinae Tuae gratiae
lumen profer mentibus nostris, ut ea quae recta, quae óptima
sunt videamus: corda rege, fove, dirige, ut huius C oncilii a c -
tiones rite inchoentur, prospere promoveantur, salubriter p erfi-
ciantur”. E os sacerdotes, durante o Concílio, deviam rezar a
im perata: "D a quaesumus Ecclesiae Tuae, m isericors Deus, ut
Sancto Spiritu congregata, hostili nullatenus incursione turbetur.
Per Christum Dominum Nostrum ". E antes das reuniões do
3. Spiritu Sancto assistente 23
próprio C oncilio, como também neste Concílio antes das Congre­
g ações G erais, recitava-se a antiga oração do Adsumus, que re­
monta, na sua formulação latina, a Santo Isidoro de Sevilha
(5 6 0 - 6 3 6 ) e que exprim e mui vivamente a fé que o Magistério
E clesiástico tem, e a absoluta confiança, na assistência do E s­
pirito San to, assistência negativa, externa, positiva e interna:

“Aqui estam os diante de Vós, ó Espirito Santo Senhor nos­


s o ; aqui estam os cônscios dos nossos inúmeros pecados, porém
unidos d e m odo particular em Vosso nome. Vinde a nós e ficai
con osco: dignai-vos de penetrar nos nossos corações. Sêde guia
das nossas ações, indicai-nos aonde devemos ir, e mostrai-nos
o que devem os fazer, a fim de que, com Vosso auxilio, em tudo
p ossa ser-V os agradável a nossa obra. Sêde, Vós só, o nosso
inspirador, e dirigi as nossas intenções, pois só Vós possuís
um nome glorioso juntamente com o Pai e com o Filho. Não
perm itais nunca que sejam os perturbadores da justiça, Vós que
sois a infinita equidade; não permitais que a ignorância nos
induza ao mal, que as lisonjas nos curvem, que os interesses
m orais e materiais nos corrompam. Mas uni só a Vós os nossos
corações, fortemente, com o dom da Vossa graça, a fim de
que possam os ser em Vós uma coisa só, e em nada nos afas­
tem os da verdade. Assim como estamos unidos em Vosso nome,
possam os em cada obra nossa seguir os ditames da Vossa pie­
dade e da Vossa justiça, a fim de que hoje e sempre o nosso
juizo não se aparte do Vosso, e no século futuro possamos con­
seguir o prêm io da nossa ação. Amém .
4. Erunt Omnes Docibiles Dei.

J e s u s , o e n v ia d o d o p a i,
falou de todos nós quando endossou estas solenes e sig n ificati­
vas palavras de Isaias ( 5 4 ,1 3 ; cf. Je r 3 1 ,3 3 s ) : Et erunt omnes
docibiles Dei (Jo 6 ,4 5 ). “ D ocibiles” , no g reg o : didaktós (de
d id ásk o): aquêle que ó ensinado, discípulo. Serem os todos en­
sinados por Deus, alunos de Deus, discípulos de Deus. D e que
m aneira? Concretam ente, agora, aceitando com verdadeiro es­
pírito de fé os ensinam entos e as decisões do Concílio V ati­
cano II. Hoc sentite in vobis quod et in Christo lesu (F ilip 2 ,5 ).
O “sentire cum E c c lesia ", nestes m eses, sig n ifica “ sentire cum
Concilio V aticano 11” . O “credere E c d esia m ” deve, agora, ser
traduzido para “credere Concilium” .
Antes de entrarm os nas particularidades e peculiaridades
de nossa atitude de fé e obediência perante o M agistério em
geral e o Concilio em especial, convém ponderar esta página de
Leão X III, na E ncíclica Sapientiae Christianae (de 1 8 9 0 ):

“Ao dem arcar os limites da obediência não im agine alguém que


basta obedecer à autoridade dos P astôres das alm as c sobretudo do
Pontífice Romano nas m atérias de dogma, cu ja rejeição pertinaz traz
consigo o pecado de heresia. Nem basta ainda dar sincero e firme as­
sentimento àquelas doutrinas que, apesar de ainda não definidas com
solene julgamento da Igreja, são todavia propostas ã nossa fé pelo
m agistério ordinário e universal da mesma como divinamente reveladas,
as quais por decreto do Concílio Vaticano devem ser cridas com fé di­
vina e católica. E ’ necessário também que os cristãos contem entre os
seus deveres o de se deixarem reger c governar pela autoridade e di­
reção dos Bispos e principalmcnte da Sé Apostólica” (D . P. 10, n. 2 9 ).
— Pouco antes, no n. 26, explicara o Sumo Pontífice: “ Uma vez que
a fé cristã não se baseia na autoridade da razão humana, m as na da
razão divina; uma vez que quanto Deus revelou “não o crem os pela in­
trínseca verdade das coisas percebidas com a luz natural da razão, mas
pela autoridade do mesmo Deus que revela e que não pode enganar-se
4. Erunt omnes docibiles Dei
25
nem enganar-nos” (V at I D? i7ao\ ___
que constem serem reveladas quaíSÍ,uer verdades*
igual e pleno assentimento”. ’ 3 tôdas e a cada uma devem°s

D o is e x tre m o s d evem ser ev itad os p a ra q ue s e ia co rre ta

n..epqr p " a radta " 0SSa atÍtUdC p eran te 0 M a g is té rio d a I g í e ja : o de


q u e r e r a c e ita r a p e n a s o q ue é d efin id o com o v e rd a d e d e fé ( e
n a o s e r ia m o s s u fic ien tem en te “ e c le s iá s tic o s ” no n o sso s e n tir ) e
o d e id o la tr a r tô d a s a s ex p re s sõ es e p a la v ra s dos C o n cílio s e
P o n tífi c e s ( e s e r ia m o s m ais “c a tó lic o s ” que o P a p a ) . P a r a isso
d e v e m o s fa z e r e c o n s id e ra r a s s eg u in tes d is tin ç õ e s :

1. Vimos que há diferença entre revelação divina, inspiração


divina e assistência divina. Isso exige também atitudes diferen­
tes. Nos pronunciamentos da Sagrada Escritura Deus é o au­
tor principal; nos do Magistério Eclesiástico é o homem o autor
principal. Não será, pois, idêntica a nossa atitude de fé perante
um texto que tem a Deus como principal autor e outro que tem
como autor principal um homem. A virtude teologal da fé se
inclina exclusivamente diante de Deus. Portanto, na mesma pro­
porção em que um texto escrito se torna humano, diminui tam­
bém a intensidade do ato de fé teologal. Ora, nos textos pro­
postos pelo Magistério da Igreja predomina como autor princi­
pal o elemento humano. Devemos, por isso, necessàriamente, dis­
tinguir matizes e limitações que acusem a condição humana do
M agistério do qual procedem. Diante dêstes elementos humanos
não devemos tomar atitude de fé teologal. Assim, de per si, a
assistência divina garante a infalibilidade da Igreja apenas na­
quilo que se poderia considerar como resultado final do traba­
lho humano; e será então a êste resultado que daremos nosso
assentim ento de fé e não ao esfôrço anterior, às premissas, que
dependerão muitas vêzes das luzes naturais e dos recursos nor­
mais de que os homens costumam dispor, com tôdas as vicissi­
tudes, dificuldades, limitações e adversidades com que nos Con­
cílios se chegou ao fim, à custa de esforços e compromissos ti­
picamente humanos. Por isso, num texto do Magistério, tam­
bém no conciliar, devemos ver o tema essencial, distingui-lo dos
argumentos, das afirmações secundárias, das explicações e ilus­
trações, das respostas às objeções e de tudo aquilo que ocorre
apenas incidentalmente, obiter dictum. Nem tudo é definido, mes­
mo num texto solene e ex-cathedra. Diz o Código de Direito
Canônico: "D eciarata seu definita dogmatice res nulla intelli-
gitur, nisi id manifeste constiterit" (cân. 1323, § 3 ) . O grau
26 I. Credo Sacrum Concilium

de assentim ento mental devido não é nem pode ser outro que
aquêle que corresponde estritam ente ao grau de autoridade dou­
trinária com que os ensinam entos queriam ser propostos ou ao
grau de autoridade que o M agistério queria de fato empenhar.
E sta regra vale também para o Concilio Ecum ênico. E ’ preciso
estudar qual 6 ou foi exatam ente a “ mens C oncilii” em tal ou
tal ponto proposto e com que grau de autoridade quer ou que­
ria o Concilio ensinar. Pois em bora o C oncílio Ecum ênico se ja
um modo solene e extraordinário de m anifestação do M ag is­
tério Universal, nem tudo é ou quer ser proposto de modo de­
finitivo e irreformável ou como verdade divinamente revelada.
Querer ir além daquilo que a Ig reja de fato intenciona propor ou
impor, e na medida em que o quer, não seria, com efeito, bom
sinal do autêntico “sentire cum E cclesia” . Poderia mesmo ser
um desserviço com péssimas consequências.

2. F a la -se geralmente do tríplice Poder da H ierarquia E cle ­


siástica: de reger, de ensinar e de san tificar. Tam bém no ex er­
cício dêstes três Podêres a assistência divina não é igual. Q uan­
do santifica (Pod er de O rd em ), o ministro da Ig reja é causa
instrumental e Cristo a causa principal. P or isso, a assistência
divina é muito mais direta e intensa. Quando rege e ensina ( P o ­
der de Ju risd ição), o homem da Ig reja é sempre autor princi­
pal, mais ou menos assistido por Deus. Ensinam ainda os teó­
logos que a assistência divina é maior no exercício do poder de
ensinar (por exemplo, nas Constituições D ogm áticas) que no
de reger (mediante D ecretos D isciplinares). Sab e-se que, neste
Concílio, estão sendo discutidas numerosas Constituições (dou­
trinárias) e muitos D ecretos (d iscip linares). Aceitarem os uns e
outros, mas com assentim ento mental diferente.

3. Mesmo nos pronunciamentos doutrinários (não discipli­


nares) devemos distinguir entre os de ordem especulativa e os
de ordem prática. Os pronunciamentos de ordem especulativa
são puramente doutrinários, com valor absoluto e definitivo e,
como tais, irreformáveis, “ex cathedra” e infalíveis em si. N es­
tes casos o M agistério quer (esta é a “mens” ) ensinar uma
verdade real tal como é na ordem objetiva. Exem plo: M aria
Ssma. foi concebida sem pecado original; ou, foi assunta em
corpo e alma à glória celestial. Nestes casos o M agistério afirm a
com infalibilidade (garantida por D eus) uma verdade que é o b je -
tivamente tal. Nosso assentim ento é de fé divina e católica, por-
4. Erunt omnes docibiles Dei 27
qr ^ br s - r para tais P ^ ^ am en tos a Igreja tem Ea-
men í a a f stênc,a 'Clivei d° Espirito Santo. NosJ pronunda-
r - m e n s - ^ d ! ^ 0! "• 0T? * m prática não se PretendPe (esta é
e definitivo o T , Pnmànamente um fim doutrinário absoluto
e definitivo (ou a certeza duma verdade objetiva), mas uma fi­
nalidade prática e prudencial para determinadas circunstâncias
(ou a seguridade de_ uma doutrina): Tal doutrina em tais cir­
cunstâncias e condiçoes é mais segura, mais prudente (pode ser
e mui provavelmente também é mais certa, mais verdadeira,
m ais de acordo com a realidade objetiva como tal; mas isto
não se a firm a ). A doutrina assim proposta não é irreformáveJ
em si nem é infalivelmente certa. Teólogos de bom nome pen­
sam que também nestes pronunciamentos prudenciais o Magis­
tério E clesiástico é infalível; quer dizer: é infalivelmente certo
que em tal momento e tais circunstâncias tal doutrina ou ati­
tude é m ais segura. Damos então um assentimento de fé à se­
guridade (não necessàriamente à certeza) de tal doutrina. A
m aioria dos pronunciamentos doutrinários do Magistério são des­
ta segunda classe, para cuidar da boa e pura conservação do
depósito da fé, para orientar prudentemente os fiéis nos mil pro­
blem as doutrinários, direta ou indiretamente religiosos, com que a
tôda hora e em tôda parte nos defrontamos e nos quais, no mo­
mento, interessa não tanto a certeza quanto a seguridade de uma
doutrina. O Cardeal Franzelin, no tratado De Divina Traditione
(R om a 1896, p. 1 18), diz que a Igreja deve cuidar do depósito
da fé “non unice ex intentione definitiva sententia infallibiliter
decidendi veritatem, sed etiam absque illa ex necessitate et in­
tentione vel sim pliciter vel pro determinatis adiunctis prospicien-
di securitati doctrinae catholicae. In huiusmodi declarationibus,
licet non sit doctrinae veritas infaUibilis, quia hanc decidendi ex
hypothesi non est intentio, est tamen infaltibilis securitas". Jour-
net, na obra já citada, ensina: “Não duvidamos em dizer que
o M agistério propõe [os ensinamentos não definitivos] em vir­
tude duma assistência prática prudencial, que é verdadeira e
pròpriamente infalível, de modo que nos dá a segurança da pru­
dência em cada um de seus ensinamentos’ . Assim Billot e ou­
tros teólogos de bom nome. — Em tudo isso, todavia, convém não
esquecê-lo nunca, o que é essencial e o que decide mesmo é outra
vez a assim chamada “mens Concilii” : Sòmente aquüo que os
C onciliares intencionam propor e no sentido em que êles o en­
tendem é e deve ser considerado como formalmente definido,
proposto, determinado ou decretado pelo Concílio. E essa mens
28 I. Credo Sacrum Concilium

ou intenção deve constar positivamente. Assim , enquanto não se


sabe com certeza que os C onciliares queriam propor algum a dou­
trina como definitiva e irreform ável, não só não tem os nenhuma
obrigação de aceitar tal doutrina como irreform ável, mas tam ­
bém não devemos aceitá-la como tal. Tam bém esta regra faz
parte do verdadeiro “sentire cum E cclesia” .

Claro é que esta doutrina só vale para documentos pontifícios ou


conciliares que se dirigem a tóda a Igreja. E ’ para garan tir a in defecti-
bilidade da Igreja universal que nos é prometida a assistência especial
do Espirito Santo. Documentos que se dirigem a Ig reja s particulares
ou documentos puramente episcopais, em bora procedam também do Ma­
gistério "autêntico”, não têm a garantia da infalibilidade de iure. Não
basta citar um texto, mesmo que s eja pontifício. Não devemos dar aos
textos maior autoridade que êles de fato têm e querem ter. Mesmo nos
textos pontifícios devemos distinguir. Há textos solenes, como a s Con-
stitutiones Apostolicae (cham adas também "b u la ” ) ; há as Litterae (ou
Epistulae) Encyclicae dirigidas a todos os B ispos do mundo in teiro, ou
a todos os fiéis do orbe; há as Litterae Apostolicae, c a rta s menos solenes
que as encíclicas, dirigidas por vêzes a todo o mundo, por vêzes a nações
particulares; há as Epistulae, cartas sim ples, geralm ente de ca rá ter par­
ticular; há os Motu Proprío, documentos de iniciativa própria do Sumo
Pon tífice; há os Chirographa, cartas apenas assinadas pelo Papa, ge-
ralm cnte a uma pessoa particular; há, mais recentemente, as radiomen-
sagens, que podem ser até solenes e dirigidas ao orbe in teiro, ou a al­
gumas nações; há as mensagens, os discursos, as alocuções, os sermões,
quase sempre a grupos particulares; há ainda, ao menos com o atual
Papa, os improvisos, reproduzidos no jorn al oficioso do V aticano em
forma in direta; há ainda os "oracu la vivae voeis”, conversas inteira­
mente particulares entre o Papa e o visitante. Em muitos dêsses do­
cumentos pontifícios poderá o Papa fazer pronunciamentos doutrinários:
m as terão de caso para caso valor diferente. T em os um critério im por­
tante, mas não decisivo: a inserção nos Acta Apostolicae Sedis. D o­
cumentos Pontifícios que não são publicados neste boletim oficial certa ­
mente não têm o valor doutrinário prudencial de que acim a falam os.
Nem podemos dizer que todos os documentos oficialmente publicados
tenham êste valor. As grandes c solenes Encíclicas, as Constituições, al­
gumas Radiomensagens, sim, são documentos do M agistério Ordinário
Universal.

4. Já nos D ecretos D isciplinares a situação é diferente. D is­


tinguem os teólogos entre a substância dos D ecretos e sua uti­
lidade ou oportunidade. A assistência divina não pode consentir
que a Ig reja Universal, como neste Concílio, ordene cm seus D e­
cretos algo que é intrinsecamente mau ou que é contra os precei­
tos divinos positivos ou contra as leis naturais. Devemos por
isso dizer que todos os D ecretos D isciplinares Universais são,
em sua substância (por exemplo na doutrina que pressupõem )
4. Erunt omnes docibiles Dei
29

T ?*■ Si,Va COm0 “ emPl0 * W <10 celibato: Do


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não » « *nenhuma
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lei divina nem contra a natureza humana. Outra é a questão da
oportum dade ou utilidade dos Decretos Disciplinares. A opinião
e° glC a , maiS trad,cl0nal a « ™ a que a Igreja não é infalível
(isto é . de íure, por causa da assistência divina) na oportuni­
dade d as leis disciplinares. São Roberto Belarmino {De Rom.
Pont., W , cap. V ) diz expressamente que o Papa pode promul­
gar D ecretos perfeitamente inúteis. Suárez, o Doutor Exímio,
formula assim a doutrina teológica: “Sequitur primo Pontificem
non posse errare in praeceptis seu rebus moralibus, quas tradit
vel approbat pro Universa Ecclesia. Hoc intelligendum quan-
tum ad substantiam seu quantum ad honestatem morum. Nam
quoad circum stantias vel multiplicandi praecepta, vel rigorem aut
nimias poenas, non est inconveniens aliquando committere ali-
quem humanum defectum, quia hoc non est contra Ecclesiae san-
ctitatem ” . A razão teológica está nestas últimas palavras. Pode,
pois, haver também no Concilio Decretos substancialmente acer­
tados mas circunstancialmente inoportunos. Falamos, é evidente,
som ente da mera possibilidade.
Convém ter êstes princípios claramente diante de nós, mes­
mo e justam ente quando, como agora, nos colocamos como cris­
tãos diante do atual Concilio e fazemos o solene ato de fé:
Credo Sacrum Concilium. Pois quando dizemos “credo”, pen­
sam os num ato de fé teologal; e êste tem como objeto as coisas
divinas e não os elementos humanos. E o Concilio Ecumênico é
um caso típico divino-humano. Os Padres Conciliares, enquanto
seres humanos, limitados e falíveis, são os autores principais
das Constituições e dos Decretos; nêles, enquanto tais, não cre­
mos” ; rezamos por êles, para que se conservem abertos à ação
do Espírito Santo. Mas enquanto são o Magistério Universal ex­
traordinariam ente reunidos, convocados e presididos pelo Sumo
Pon tífice, cremos agir nêles o Espírito Divino que nos garante,
com certeza infalível, a verdade objetiva dos eventuais pronun­
ciam entos doutrinários absolutos, a seguridade c prudência dos
pronunciamentos doutrinários comuns e a correção substancial
dos D ecretos Disciplinares Universais. Nestas coisas seremos, en­
tão, em sentido próprio, docibiles Dei, discípulos de Deus.
Abertura e Ambiente
1
A S e sa ã o P ú blica
d e A b ertu ra
d o X X I C o n cilio
E cu m ên ico
1. A solene Abertura.

C om a pr esen ç a d e to d o
o clero secular e regular da Urbe formando ala ao imponente
cortejo do Episcopado do mundo inteiro, na presença de várias
centenas de milhares de espectadores diretos e de milhões de
telespectadores da Europa e da América, ao som festivo dos
sinos de Roma e dos sinos de todas as nações do mundo, num
ambiente de intensa comoção espiritual e de grande entusiasmo,
após fervorosa novena ao Divino Espirito Santo na qual parti­
cipou tôda a população católica do globo, inaugurou-se solene­
mente, na manhã do dia 11 de outubro de 1962, Festa da Ma­
ternidade Divina de Maria Santíssim a, na Patriarcal B asílica de
São Pedro, no Vaticano, o X X I Concilio Ecumênico, chamado
V aticano II, o Concilio mais ecumênico da história da Igreja.
Segundo o programa previsto, 2.5 4 0 Padres Conciliares reu­
niram -se às 8 ,3 0 no Vaticano para se paramentarem. Os Car­
deais na Sala N* II dos Apartamentos B o rja ; os Patriarcas na
Sa la N? I; os Arcebispos, Bispos e Abades no corredor vizinho.
Depois dirigiram-se todos para a Sala Ducal, exceto os Car­
deais, dispondo-se ordenadamente em fila para a grande pro­
cissão. Na Sala dos Paramentos o Sumo Pontífice, assistido pelos
Cardeais c dignitários da côrte papal, revestiu-se dos paramen­
tos sagrados c, acompanhado por todo o Colégio Cardinalício,
encam inhou-se para a Capela Paulina. Após a adoração ao San­
tíssimo Sacram ento exposto, o Sumo Pontífice entoou o hino
Ave, Maris Stella, que foi cantado pelo côro. Depois da primei­
ra estrofe, levantaram -se todos e a procissão pôs-se em movi­
mento em direção à B asílica de São Pedro.
Solene e imponente procissão! 2.5 4 0 Bispos, provenientes de
todos os Continentes, representantes de tôdas as raças e de
tôdas as côres. Longas filas majestosas no hieratismo das mi­
tras e das capas brancas, deslocando-se por entre o clero e os
Concilio II — 3
34 II. A bertura e Ambiente

fiéis para a grande Assem bléia C onciliar, imagem viva da uni­


dade e da vitalidade da Ig reja de C risto no mundo de hoje.
Entrando na B a sílica , os Padres Conciliares descobriam -se,
inclinavam -se diante do altar central e ocupavam os respectivos
lugares, esperando de pé a entrada do San to Padre. Ao entrar
na B asílica, o Papa desce da cadeira gestatória, descob re-se e
se ajoelha no faldistório junto do altar e entoa o Veni, C reator
Spiritus. Terminado o hino e ditas a s orações, teve lugar a ce­
lebração do santo sacrifício da m issa em honra do E spírito
Santo. O bservou-se durante a missa o rito das solenes cerim ô­
nias papais, om itindo-se, porém, o ato de obediência por parte
dos Cardeais e a homilia depois do evangelho.
Após a missa, teve início a primeira S essão do C oncílio.
O Secretário Geral, com a cab eça descoberta e acom panhado
por um grupo de acólitos, entronizou solenem ente o San to Evan­
gelho na Aula C onciliar, depositando-o num trono adrede pre­
parado sôbre o altar conciliar. D urante êste tempo o San to P a ­
dre param entou-se pontificalm ente para o supremo exercício de
sua autoridade. Teve, então, lugar a cerimônia de O bediência
dos Padres Conciliares. Tod os os Cardeais e P atriarcas beijam
a mão do Santo Padre. A seguir, dois A rcebispos e dois Bispos,
representantes de todos os presentes, beijam o jo elho direito do
Sumo Pontifice. Finalm ente, dois Abades e dois Superiores G e­
rais de Ordens religiosas, prostrando-se diante do trono papal,
beijam o pé direito do Santo Padre. O último a prestar obe­
diência ao Sumo Pontifice foi o Secretário G eral do Concílio.
Term inada a O bediência dos Pad res Conciliares, procedeu-
se à P rofissão de fé. O Santo Padre ajoelhou-se no faldistório
e, descoberto, pronunciou a solene P rofissão de fé, retornando
depois ao trono. O Secretário Geral, então, leu para todos, em
voz alta, a fórmula do juram ento, cu ja conclusão os Padres Con­
ciliares pronunciaram todos juntos, com a mão direita sôbre o
peito e depois a subscreveram .
Seguiram -se as preces especiais, próprias para o início dos
C oncílios: Adsumus, Domine, a antífona Exaudi nos, Domine e
a oração Mentes nostras. Foram cantadas imediatamente após as
Ladainhas de todos os Santos, com a invocação especial “ ut
hanc synodum benedicere. . . digneris”. Depois da oração D a
quacsumus, cantou-se o evangelho em latim e em grego, ceri­
mônia que m anifesta a unidade da Ig reja e da fé na variedade
dos ritos e das línguas. Seguiu-se uma súplica em rito oriental,
tirada dos rnais antigos textos litúrgicos do Oriente,1 com invita-
1. A solene abertura 35
tório, ladainhas e antífonas e com uma oração final que foi
cantada em grego pelo Santo Padre.
Encerrando o solene ato, o Papa proferiu do trono papal
a Alocução de abertura do Concilio, que pode ser considerada
como o program a de trabalho do Vaticano II. O Papa lembra a
im portância dos Concílios Ecumênicos na história da Igreja; ana­
lisa a origem, causas e oportunidade da celebração dêste nôvo
C oncilio; indica claramente sua finalidade primordial: defesa e
valorização da verdade, renovação espiritual da Igreja, adapta­
ção de sua estrutura e de seus métodos de ação às exigências
do presente; chama a atenção para a maneira de difundir a
verdade e reprimir os erros, para a necessidade de promover a
união da família cristã e de tôda a família humana em Cristo.
Depois da alocução, o Papa deu a Bênção Apostólica. Lida a
fórmula de concessão da indulgência, o Secretário do Concílio,
com o Evangelho nas mãos, anunciou aos presentes que a pri­
meira Congregação Geral se efetuaria no sábado próximo, às
9 horas.
Antes, porém, de darmos a crônica das Congregações G e­
rais, parece-nos interessante oferecer aòs nossos leitores um
conspecto do ambiente no qual se realizaram estas históricas
reuniões.
2. A Aula Conciliar.

A PRE P A RA Ç A O DA AULA
Conciliar levou em conta dois dados fundam entais: as sessões
conciliares deverão realizar-se na B a sílica de São P ed ro ; o núme­
ro dos Padres Conciliares que tom arão parte nas reuniões pode
ser de cêrca de 2.5 0 0 . Óbvias necessidades de espaço sugeriram
que se utilizasse a nave central da B a sílica, desde a porta da
entrada até ao altar da Confissão. O trono do Sumo Pon tífice
foi colocado junto do altar da C onfissão e os lugares dos P a ­
dres Conciliares, ao longo dos dois lados da nave, distribuídos
em escadarias para permitir a com pleta visibilidade da Sala, de
tôdas as partes. Os trabalhos tiveram inicio em 15 de maio pas­
sado. Construídas as escadarias, em estrutura m etálica, com qui­
lômetros de tubos, dezenas de m ilhares de junturas e centenas
de metros cúbicos de m adeira, foram instalados os lugares dos
Padres Conciliares. Cada um dêles conta uma cadeira, revestida
de verde, uma escrivaninha e um genuflexório. P or cim a das
escadarias, nos espaços dos oito grandes arcos da nave central,
foram construídas as tribunas para os teólogos e dem ais peritos.
Estruturas m etálicas com quase 2 0 m etros de altura, por cim a
das tribunas, sustentam cortinados de dam asco que servem de
fundo a grandes tapêtes de A rras. T rê s mil metros de damasco,
dois mil metros de veludo, centenas e centenas de metros de
fra n ja s e guarnições douradas foram necessários para realizar
esta obra. Domina o conjunto a esplêndida arquitetura da B a ­
sílica que só por si revela a grandiosidade e m ajestade da Aula
Conciliar. Pa ra facilitar o trabalho da grande assem bléia foram
instalados na B a sílica aparelhos de sonorização: 3 0 alto-falantes
e cêrca de 4 0 microfones, todos coligados com uma sala de
contrôle g eral; uma central telefônica interna, com cêrca de 4 0
aparelhos telefônicos que permitem um contacto im ediato com os
diversos setores da Aula C onciliar; uma instalação de ilumina­
2. A Aula Conciliar 37

ção, independente da iluminação da Basílica, com 40 projeto­


res, instalados na grande cornija central e numerosos outros
aparelhos para iluminar os lugares mais escuros da Basílica;
uma instalação de gravações com cabinas especiais e 4 grandes
aparelhos para gravar em fita magnética o que fôr dito durante
as sessões; um centro mecanográfico para a rápida apuração das
votações; instalações para televisão e rádio a serem utilizadas
nas sessões e cerimônias públicas.

A Aula Conciliar foi ornamentada com 10 grandes e preciosíssi­


mos tapêtes de Arras. Pertencem a uma das mais interessantes coleções
dos museus do Vaticano. Geralmente são conhecidos como tapêtes de
Arras "da nova escola de Rafael". Foram confeccionados em Bruxelas,
na Bélgica, em 1520, por conta da côrte papal, sob o pontificado de
Clemente VII, por Peter van Emghen e Bernardo van Orley. Os 10 pre­
ciosos tapêtes escaparam intactos ao saqueio de Roma, em 1527. Mas,
dois séculos depois, durante a revolução francesa, foram roubados e de­
sapareceram por completo. Identificados mais tarde, foram comprados
por comerciantes franceses e expostos no museu do Louvre. Em 1808
foram restituídos ao Papa Pio VII. Em 1934 foram colocados com mo­
dernas iniciativas técnicas na galeria dos Arras, no Museu do Vaticano,
onde permaneceram até poucos meses atrás. Atualmente acham-se ao
longo da9 paredes da Aula Conciliar, por cima das grandes tribunas
montadas nos vãos das arcadas da Basflica do Vaticano. São tecidos
em lã, sêda e ouro. Representam episódios da vida de Jesus Cristo, como
a adoração dos pastores, a adoração dos magos, a apresentação no
templo, a matança dos inocentes, a ressurreição, a aparição de Jesus a
M aria Madalena, a ceia em Emaús, a ascensão e a descida do Espirito
Santo. Do cimo da grande sala do Concilio parecem dizer que o obje­
tivo principal da grande assembléia ecumênica é a renovação espiri­
tual da Igreja.

Entre os Serviços técnicos modernos utilizados no Concílio


têm particular im portância os centros mecanográficos. Foram
instalados dois dêstes centros: um na sede da Secretaria Geral
do Concilio, outro na nave direita da B asílica de São Pedro, jun­
to do altar de Gregório XVI. O centro mecanográfico da Secre­
taria Geral do Concílio tem a missão de fornecer listas dos
Padres Conciliares com os respectivos dados e na ordem dese­
ja d a : alfabética, geográfica, de antiguidade, de dignidade, de
nacionalidade, etc. Estas listas são obtidas por meio de um pro­
cesso que consta de três fases: transform ação dos vários dados em
fichas perfuradas especiais, catalogação das fichas segundo o
esquema desejado e cômputo final das fichas com impressão ne­
las dos elementos requeridos. Nestas três fases intervêm três
diversos conjuntos mecanográficos: perfurador, selecionador e
II. Abertura e Ambiente

tabulador. O centro m ecanográfico da Secretaria G eral do Con­


cilio elabora também as estatísticas d esejadas pelos P adres Con­
ciliares, presentes na grande assem bléia. O da B asílica de São
Pedro tem por objetivo principal anotar a presença dos P adres
Conciliares nas reuniões e apurar os votos. P ara a anotação das
presenças nas reuniões é entregue a cada Padre uma ficha com
todos os dados que lhe dizem respeito. Com um lápis especial
contendo uma carg a m agnética os Padres apontarão os dados
requeridos, como por exemplo a própria assinatura no espaço
onde se encontra a palavra “adsum ". As fichas, uma vez reco­
lhidas, serão introduzidas no aparelho eletrônico de leitura m agné­
tica que transform ará o sinal gráfico da assin atura num furo. As
fichas perfuradas são depois elaborad as pelo tabulador que im­
primirá nelas o prospecto completo e as calculará. P ara a apu­
ração dos votos é entregue a cada Padre uma ficha-voto com
três quadrados. Nêles estão indicadas as três possibilidades de
voto: placet, non placet e placct iuxta modum. No momento da
votação cada Padre faz um sinal num dos três quadrados, se­
gundo o próprio voto. Logo depois, as fichas são recolhidas e
entram no aparelho de leitura m agnética que transform a os vá­
rios pareceres manifestados em furos, elim inando os votos nulos
e as fichas em branco. Por fim o tabulador calcula os votos e
imprime o prospecto oferecendo os resultados totais das votações.
Trinta radiocronistas e vinte telecronistas dos mais diver­
sos países com entaram a cerimônia da solene abertura do C on­
cilio Ecum ênico V aticano II. As im agens televisivas do histórico
acontecimento foram transm itidas para o Continente am ericano
por meio do satélite artificial T elstar. A Rádio V aticano e a
Radiotelevisão Italiana, em estreita colaboração, preparam -se
para enfrentar e satisfazer as múltiplas exigências de uma vasta
difusão radiofônica e televisiva dos momentos mais solenes da
assem bléia ecumênica. As autoridades do V aticano program aram
e realizaram um grandioso plano de novas instalações técnicas
para facilitar ao rádio e à televisão a possibilidade de ofere­
cer aos radiouvintes e telespectadores uma docum entação rápida,
segura e com pleta das Sessões Públicas do Concílio. Ao longo
de todo o perímetro interior da B a sílica e em várias zonas da
Cidade do Vaticano foram estendidos cabos televisivos para tor­
nar possível às telecâm aras a escolha das posições mais opor­
tunas. Na parte exterior da B a sílica e nos lugares mais estra­
tégicos do V aticano foram instaladas especiais estações-chave.
Nelas funcionam os estúdios móveis de direção dos trabalhos
2 . A Aula Conciliar 39

de filmagem. Cada estúdio-móvel recebe imagens provenientes


de tres telecâmaras. Para a cerimônia de abertura do Concílio
foram empregados cinco estúdios-móveis, que mediante uma ins-
talaçao especial de sincronização estavam coligados com uma
grande cabina de direção geral, situada também num estúdio-
móvel. E sta tem a missão de transmitir as imagens fornecidas
pelos demais estúdios coligados. Para a filmagem direta das ce­
rimonias mais importantes, a maior parte dos estúdios-móveis
encontra-se perto da entrada das grutas do Vaticano, de onde
partem tôdas as coligações radiotelevisivas com o interior da
B asílica. A Rádio Vaticano, que já possui larga experiência nes­
te campo e que renovou e modernizou últimamente grande parte
de suas instalações, se ocupa das transmissões radiofônicas das
cerim ônias. A Radiotelevisão Italiana colabora com vários ra-
diocronistas e telecronistas para a elaboração de reportagens
com pletas dos principais acontecimentos. Foi estudada com par­
ticular atenção a disposição dos radiocronistas e telecronistas na
Aula Conciliar. Os primeiros são instalados em duas tribunas
construídas defronte das duas grandes varandas que se acham
por cima das entradas principais da Basílica, de modo que pos­
sam seguir as várias fases das cerimônias, tanto pelo monitor
como em visão direta. Os telecronistas, por sua vez, são insta­
lados nas grutas do Vaticano e comentam as cerimônias, se­
guindo-as pelo monitor. Uma rêde de cabos coaxiais e telefônicos
que une entre si todos os estúdios-móveis recebe e distribui os
sinais televisivos e radiofônicos pelos diversos centros de pro­
dução, quer de rádio, quer de televisão, interessados. Estas novas
instalações técnicas exigiram o emprêgo de 50 quilômetros de
linhas telefônicas^ de 4 quilômetros e meio de cabos microfô-
nicos c de 11 quilômetros de cabos coaxiais. Foram estendidos
através de tubos e galerias abertas em zonas que, pela presença
de elementos artísticos e arqueológicos de inestimável valor his­
tórico, obrigaram a superar notáveis dificuldades técnicas. A ilu­
minação da B asílica do Vaticano, por ocasião das filmagens te­
levisivas e cinematográficas das grandes cerimônias, exige uma
potência de mais de 3 mil kw, mil dos quais distribuídos por
projetores de 10 mil watts, instalados na grande cornija que
corre à altura de 3 0 metros acima do pavimento do templo. A
Rádio V aticano construiu três novas cabinas para atividades ra­
diofônicas, no Estúdio do Petriano, cabinas que estão à dispo­
sição dos radiocronistas estrangeiros, tanto para a gravação,
40 II. Abertura e Ambiente

conto para a montagem de fitas sonoras. C onstruiu-se também


um estúdio televisivo com instalações permanentes para entre­
vistas e transm issões unilaterais para o estrangeiro. As insta­
lações radiofônicas e televisivas recentemente construídas ou mo­
dernizadas e o acôrdo entre as várias estações radiofônicas e
televisivas e a Rádio V aticano permitem assim a milhões de ra­
diouvintes e telespectadores acom panhar de perto o C oncílio
Ecum ênico V aticano II.
3. Os Padres Conciliares.

O ART. I, § 1 DO REG U LA -
mento do Concílio diz que todos os .que foram convocados pelo
Sumo Pontífice para o Concílio Ecumênico são chamados “ P a­
dres C onciliares”. E a bula de indicção Humanae Salutis, de
25-X 1 I-6 1 , determina: “Queremos e ordenamos que a êste Con­
cílio Ecumênico, por Nós indicado, venham de tôda parte todos
os Nossos Diletos Filhos Cardeais, os Veneráveis Irmãos Patriar­
cas, Prim azes, Arcebispos e Bispos tanto residenciais como ape­
nas titulares e ademais todos os que têm direito e dever de in­
tervir no Concilio”. Segundo um documento mimeografado em
Roma, no início do Concílio, são 2 .778 os Padres convocados:
8 7 Cardeais e Patriarcas ( 3 ,4 % ) , 1.619 Arcebispos e Bispos
residenciais ( 5 8 ,2 % ) , 975 Bispos titulares ( 3 5 % ) e 97 não B is­
pos, isto é, Abades e Superiores Gerais (3 ,4 % ) . Mas de fato,
na solenidade da abertura do Concílio estiveram presentes 2.540
Padres Conciliares e a média de freqüência às Congregações
G erais durante o primeiro período é de cêrca de 2 .2 0 0 .1 Fêz-se

1 O número 2.540 foi fornecido pelo Serviço de Imprensa do Con­


cilio. Realmente, pelas informações que procuramos obter diretamente
na Secretaria Geral do Concílio, não houve contagem exata no dia
da abertura; de modo que se trata de um número apenas aproxima­
tivo, com tendência a aumentar. Parece que também na primeira Con­
gregação Geral não se fêz a contagem. Das outras Congregações Gerais
temos números exatos:
2*: 2.379 13*: 2.211 25*: 2.153
3*: 2.340 14*: 2.214 26*: 2.136
4*: 2.351 15*: 2.216 27*: 2.133
5*: 2.363 16*: 2.173 28*: 2.160
6*: 2.337 17*: 2.185 29*: 2.144
7♦ : 2.323 18*: 2.209 3 0 : 2.145
8*: 2.302 19*: 2.215 31*: 2.112
9*: 2.277 2 0 : 2.212 32*: 2.116
I O : 2.257 21*: 2.206 33*: 2.104
11»: 2.230 22*: 2.197 34*: 2.114
12*: 2.196 23*: 2.211 35*: 2.082
24*: 2.185 36*: 2.118
42 II. A bertura e Ambiente

também um cálculo sôbre a idade dêles. V erificou-se que 1.612


(6 0 % ) ainda não alcançaram os 6 4 anos geralm ente previstos
para a aposentadoria. A m aioria, pois, ainda está em plena idade
de trabalho. Há entre êles 124 com mais de 8 0 anos, 4 1 8 entre
7 0 -8 0 anos, 521 entre 6 0 -7 0 anos, 981 entre 5 0 -6 0 anos, 60 7
entre 4 0 -5 0 anos, 2 4 entre 3 0 -4 0 anos. Não será supérfluo lem­
brar que, certamente, o nível geral de qualidades, capacidades
e cultura dos Padres C onciliares é alto, mesmo muito alto. Pois
a formação humana, filosófica, teológica, espiritual e apostólica
do clero, neste último século, atingiu de modo geral um nível
superior a qualquer outro século. O ra, precisam ente o E p isco­
pado é, por assim dizer, a nata do clero tão bem e intensiva­
mente formado. Encontram os hoje, no mundo, por tôda parte,
entre os Bispos, homens com notável cultura, form ação, pru­
dência e experiência. A m aioria dêles conquistaram um ou mais
títulos acadêm icos em U niversidades, mesmo nas mais fam o­
sas. Há entre êles homens que se destacaram por suas experiên­
cias no apostolado, na organização, com grandes m éritos pela
causa de Cristo, na ação social; homens experim entados na di­
reção e na orientação, profundos conhecedores das condições
e circunstâncias de suas respectivas nações e das exigências dos
tempos atu ais; pastores abertos para os problem as da hora pre­
sente, vigilantes sôbre os movimentos que atualm ente inquietam
os espíritos. Há entre êles B ispos que vivem no meio de habi­
tantes que estão ainda na idade da pedra e outros que devem
dirigir e orientar os povos mais cultos e avançados. Ao lado dos
Cardeais de Paris, Nova York, Colônia e Chicago estão também
os prelados de Ouagadougou, B ib o-D iolasso, Tiruchirapalli e
Tsiroanom andidy. Há P astôres que, como os de Milão e Paris,
devem cuidar de quatro milhões de fiéis e outros que, como os de
Bandjarm asin, Laghouart ou Hudson Bay, representam apenas
1.500 a 5 .0 0 0 fiéis, mas cujo território é im enso como uma boa
nação européia. Há P atriarcas de antigas sedes do tempo apos­
tólico e B ispos de territórios nos quais a Igreja conta com vinte
ou dez anos de vida. Há entre eles velhos, muito velhos, na boa
idade, jovens e muito jovens. Há Bispos pobres e paupérrimos,
há ricos e riquíssimos. B ispos cultos e inteligentes, universalmen­
te celebrados por seus profundos estudos eclesiásticos e P a s­
tôres que constantemente se ocupam com gente nem mesmo a l­
fabetizada. Bispos de p acificas e florescentes zonas cristãs e
outros que viveram as violências das lutas de classe e as cruel­
dades dos modernos perseguidores de religião.
3. Os Padres Conciliares 43

9nüaSD- C° ntava’ no dia da abertura do Concílio, exata­


mente 2 0 4 Bispos ou Padres Conciliares. Mas nem todos esta­
vam presentes. Faltaram uns trinta, alguns por doença, outros
por motivos pastorais. No dia 17-10-62 estavam presentes em
Roma, para o Concilio, 175 Bispos do Brasil, entre êles nossos
tres Cardeais, que, porem, não ficaram todos até o fim da pri­
meira etapa do Concílio. No dia 9 de outubro um grupo de cento
e doze^ Arcebispos e Bispos brasileiros seguiram para Roma,
em avião especialmente fretado pelo Govêrno Federal. Gesto ge­
neroso do Presidente João Goulart e que deve entrar na histó­
ria do Concílio Vaticano 11. Um dos nossos Padres Conciliares,
Dom Belchior da Silva Neto, Bispo-Coadjutor de Luz (M G ),
descreveu depois, para O Diário de Belo Horizonte (2 5 -1 0 -6 2 ),
esta memorável viagem, nos seguintes têrmos:

E ra já noite, lá pelas 21 horas do dia 9 do corrente [outubro de


1962], quando o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, era invadido
por mais de 100 Prelados da Santa Igreja, Arcebispos e Bispos, minei­
ros e paulistas, gaúchos e goianos, matogrossenses e paranaenses, ca­
riocas e capixabas, Padres Conciliares do Centro e Sul do País, a fim
de seguirem para Roma, chamados pelo Papa, para o II Concílio Ecumê­
nico do Vaticano.
Muitos outros Bispos, preferindo a via marítima, já aportavam
em terras da Europa ou para lá se encaminhavam.
Para nós outros, mais ousados talvez, lá estava, na pista do Ga­
leão, o possante DC-8 a jato, da Panair, prefixo PD S, gentilmente ofe­
recido pelo Presidente da República Dr. João Goulart, em homenagem
ao grande Concílio Ecumênico. Aliás, representando o Sr. Presidente,
lá estava, também, no Aeroporto, o Cel. Albino da Silva, Chefe da Casa
Militar da Presidência da República. E, mais que tudo, como garantia
da viagem, ilustre passageiro nos acompanhava. Era o próprio Diretor
da Panair do Brasil Dr. Paulo Sampaio.
De súbito, ouviu-se o alto-falante: "Senhores passageiros da P a ­
nair, com destino a Roma, com escala em Recife e Lisboa, por favor,
façam suas despedidas e se apresentem ao portão de embarque".
Eram já quase 22 horas quando decolava e roncava, céus afora,
o enorme pássaro de aço, a caminho da Cidade Eterna. Entoamos, en­
tão, a “Salve, Regina”. Viajávamos a 10.000 metros de altura, numa ve­
locidade de quase 1000 quilómetros a hora. Faltavam 15 minutos para
meia-noite, quando aterrissamos no Aeroporto dos Guararapes, na ci­
dade do Recife. Imensa multidão se aglomerava à nossa espera. Eram
velhos conhecidos e amigos. Eram Padres e Seminaristas, Freiras e nume­
rosas Irmãs de Caridade. Eram, sobretudo, outros valentes colegas no
Episcopado que iriam juntar-se à nossa caravana.
Após carinhosa saudação aos Bispos por parte do Chefe da Casa
Civil Dr. Hugo de Faria, e do agradecimento em nosso nome feito por
Dom Hclder Câmara, de nôvo nos acomodávamos no bôjo do avião e
44 II- A bertura e Ambiente

rompemos as nuvens carregadas. Lá em cim a, brilhavam as estréias e a


lua se afogava no mar.
As 4 horas, mais ou menos (hora do B ra s il), já o dia clareava para
nós. Atravessando o Atlântico em tào grandes alturas, eu me lembra­
va de quatro séculos passados, quando os descobridores cortavam os sete
m aresl Que diferença, meu Deus! A Europa agora estava tào perto.
Olhamos para as bandas do O riente e nos assustam os com uma nuvem
escura e medonha que s u b i a ... Figuram o-nos às cenas de Lusiadas:
" T ã o temerosa vinha e carregada, que pôs nos corações um gran­
de m êd o .. . ”
Felizmente, porém, o gigante a ja to se atirou sereno, roncando for­
te, sem r e c e io s ... e o nôvo Adam astor se perdeu distante no caminho.
Pelas jan elas da aeronave entrava de cheio a luz solar, acordando irre­
verente S S. Excias. que dormiam a sono sôlto.
Foi, então, que soou a voz de Dom Helder C âm ara: "V am os ter
a Santa M issa a bordo do avião. E ’ uma concessão especial do Santo
Padre. E ’ a prim eira vez que se celebra em tão grande altu ra” .
De fato, pouco tempo depois, o Arcebispo do M aranhão Dom José
Delgado iniciava o Santo Sacrifício da M issa, acompanhado pelos 120
Bispos brasileiros.
Viajávam os a 11.500 metros sôbrc o O ceano. E ra em ocionante ver
aquêles Prelados todos se acotovelando no bôjo do avião, para partici­
parem, todos, da Sagrad a Eucaristia. Ao dar a Ação de G raças, lembra­
mo-nos de Frei Henrique de Coimbra quando, séculos passados, após
longos meses no dorso do Oceano, ia esbarrar no ilhéu da Coroa V er­
melha, para a prim eira M issa no Brasil. G raças, meu D eus! Aqui estão
mais de 100 Bispos trazendo a Portugal, numa mensagem dc Fé, a m ais
bela resposta de uma nação cristã, conquistada à som bra da Cruz.
As 10,30 (hora da E uropa), descíamos em Lisboa, debaixo de uma
chuva persistente. Demora curta, para tomarmos logo o destino de Roma.
M ais três horas de viagem e furam os a m assa de nuvens para a terrissar­
mos no Aeroporto "Fium icino” da Cidade Eterna.
P ara onde irem os? A multidão de B ispos da T erra da Virgem de
Aparecida tinha uma casa de portas abertas, melhor que o mais fino
Hotel de Roma, com um apartamento para cada Bispo, e tudo gratuito
e tudo carinhosam ente preparado. E ’ um belo edifício, pertinho do Pio
B rasileiro. E-’ a “Domus M ariae”. E ’ a Casa de Nossa Senhora, nossa
Mãe e Padroeira.

Dom V icente Schercr, Arcebispo de Porto Alegre, no progra­


ma “A Voz do P a sto r” ( Jornal do D ia de 1 8 -1 2 -6 2 ) acrescen ta:

“Quanto ao estilo de vida dos Bispos brasileiros informo, certam en­


te para honra sua, com sério temor de tornar-m e indiscreto, que du­
rante o Concílio Ecuménico muitos dêles, na Domus M ariae, por falta
de recursos suficientes, lavavam êles mesmos sua roupa, no quarto que
ocupavam, por causa do alto custo de vida no exterior, em conseqüên-
3. Os Padres Conciliares 45

cia da desoladora situação de nossa moeda. Contou-me um Bispo do


P araná que êle paga a vianda, ou seja a comida vinda da pensão, para
um Bispo do nordeste brasileiro, desprovido dos meios necessários até
para sua modesta alimentação".

Aliás, sôbre isso o Conciliábulo, jornalzinho interno dos B is­


pos brasileiros durante o Concilio, fêz o seguinte comentário:

“P ara quem está habituado a acompanhar excursões de brasileiros


pelo estrangeiro, e a ver a falta de parcimônia, característica do nosso
povo, o que mais causa admiração, agora, é justamente a poupança.
Antes de se comprar qualquer coisa, contam-se os dinheirinhos, fazem-
se cálculos c afinal a solução é sempre optar pelo mais barato ou pela
negativa. Tudo, consequência da fraqueza do nosso cruzeiro”.
4. O Conselho de Presidência e o Secretariado Geral.

O C O N S E L H O D E P R E S ID Ê N -
cia do Concílio, de que fala o art. 4 do Regulam ento, é formado
de dez Cardeais nomeados pelo Papa. Com pete-lhe dirigir, “ex
Summi Pontificis auctoritate”, as discussões durante as C ongre­
gações G erais e moderar a parte disciplinar do C oncilio, resol­
vendo colegialmente os assuntos da direção, decidindo as diversas
questões que o regulamento coloca nas mãos da Presidência ou
lhe são encam inhadas pelo Papa. Um dêles, por turno, preside
as Congregações G erais. Nove dos dez Cardeais nomeados são
Arcebispos residenciais e apenas um (T iss e ra n t) ó da Cúria
Romana. Todos, com exceção de um (R u ffin i) já foram Mem­
bros da C omissão Central Preconciliar. Há entre êles um italiano,
dois franceses, um espanhol, um alem ão, um holandês, um norte-
americano, um argentino, um australiano e um oriental. Cinco
dentre êles são especialistas em exegese (Lién art, Alfrink, Frings,
Ruffini e T iss e ra n t).
Cardeal Eugênio Tisserant: francês, com 78 anos de idade
e recebeu a púrpura em 1936. De 1936 a 1959, durante quase
um quarto de século, estêve à frente da S. C ongregação para
a Ig reja O riental. Agora é Prefeito da C ongregação Cerimonial,
bibliotecário e arquivista da San ta Sé e Presidente da Com is­
são Pon tifícia para os Estudos B íblicos. Sábio de fam a mundial
e grande orientalista, pertence à Academia Francesa. E xtrem a­
mente especializado, desde seus tempos de Sem inário, em lín­
guas orientais, com numerosos diplomas em línguas an tig as: he­
breu, siríaco, assírio, árabe, etíope, etc.
Cardeal Aquiles Liénart: é também francês, com 7 8 anos
de idade. E ’ o mais venerando dos purpurados franceses, pre­
side à Assem bléia dos Arcebispos e goza de prestígio ex cepcio­
nal na nação. Foi Professor de exegese nos Sem inários M aiores
de C am brai e Lille. Em 1928 foi eleito Bispo de Lille, sua ci-
4. 0 Conselho de Presidência c o Secretariado Geral 47

dacie naía!. Com 46 anos, em 1930, foi nomeado Cardeal por


10 Queria assim apoiá-lo na luta pelos direitos sociais
do operário Por seu vivo interesse pelas questões sociais c tam-
bem conheddo como o “Bispo vermelho”. E* "prelado nullius”
da M issão da França e solidarizou-se, a seu tempo, com os pa­
dres operários.
Cardeal Inácio Gabriel Tappouni: Patriarca dos sírios de
Antioquia, é sírio, com 83 anos de idade e Bispo desde os tem­
pos de Pio X. Pois foi sagrado em 1913 e feito Cardeal em
1935, como primeiro purpurado da Igreja Oriental.
Cardeal Normando Tomás Gilroy: Arcebispo de muito equi­
líbrio e dinamismo missionário, está à frente de sua cidade na­
tal, Sydncy, desde março de 1940. Recebeu a púrpura no Con­
sistório de 1946 e tem 66 anos de idade.
Cardeal Jasc Frings: Arcebispo de Colônia e Presidente da
Conferência do Episcopado alemão, com 75 anos. Estudou no
Pontifício Instituto Bíblicc? de Roma. Antes de ser professor no
Sem inário, foi pároco de uma das mais importantes paróquias
de Colônia. Em 1942 foi nomeado Arcebispo. No meio das ruí­
nas da guerra foi um herói de caridade. E ’ autor também do
plano “Misereor”, lançado pelo Episcopado alemão para ajudar
os países missionários subdesenvolvidos. Participou com entusias­
mo no "diálogo ecumênico” com os protestantes. Pio XII deu-
lhe o capelo cardinalício em 1946.
Cardeal Henrique Pia y Deniel: Arcebispo de Toledo, E s­
panha, com 86 anos de idade. Doutor em Teologia, Filosofia e
Direito Canônico, foi Professor de Seminário até sua nomeação
para o Bispado de Avila, em 1919. Em 1941 passou à Arqui­
diocese de Toledo e Prim az da Espanha. Foi o criador da Uni­
versidade Pontifícia na Espanha e fundador de numerosos colé­
gios e pensionatos. E ’ considerado verdadeiro pioneiro de orga­
nizações católicas, sobretudo da Ação Católica. Foi nomeado
Cardeal em 1946.
Cardeal Francisco Speílman: tem 73 anos e é Arcebispo de
Nova York. E ’ americano de origem irlandesa. Era amigo pes­
soal de Pio XII, que lhe deu o capelo em 1946. Inicialmente
trabalhou na secretaria da Arquidiocese de Boston, depois estê-
ve por muitos anos em Roma. Em 1932 foi nomeado Bispo
auxiliar de Boston e em 1939 Arcebispo de Nova York. Tem
a fam a de ter jeito para o que os americanos chamam de
“public relations". Teve iniciativas bastante enérgicas e bem su­
cedidas.
48 II. A bertura e Ambiente

Cardeal Ernesto Ruffini: A rcebispo de Palerm o, na Itália,


com 7 4 anos. Estudou no Pontifício Instituto B íb lico de Rom a.
Ensinou no Ateneu do Sem inário Romano. D epois foi Reitor do
Latrão. Foi também Secretário da S. C ongregação dos Sem inários
e Universidades de Estudos. Homem, portanto, experim entado na
C úria Romana. Em 1945 foi nomeado Arcebispo residencial de
Palerm o.
Cardeal Antônio Caggiano: A rcebispo de Buenos Aires, com
7 3 anos, e Cardeal desde o C onsistório de 1946. Exím io pastor
de alm as, é ardente apóstolo, principalmente no cam po social
e da Ação Católica.
Cardeal Bernardo Alfrink: A rcebispo de U trecht, na Holanda,
com 6 2 anos. Term inado o curso no Instituto B íb lico de R o­
ma, foi Professor de exegese no Sem inário de U trecht e na
Universidade Católica de N imega. E ’ um dos iniciadores do m o­
vimento bíblico na Holanda e continua a colab orar em revistas
cientificas também depois de sua elevação à Sé Arquiepiscopal
em 1955. Criado C ardeal em 1960.

Em entrevista concedida ao jorn al La Croix (8 -1 2 -6 2 ), o Cardeal


Liénart, um dos Presidentes do Concílio, revelou que, nos prim eiros dias
do Concílio, o Papa dera uma audiência especial ao Conselho de P re­
sidência para dar-lhes algum as instruções. Em prim eiro lugar, dissera
João X X III, vós sois os legados pontifícios no Concilio. "N ossa função,
explica o Cardeal L iénart, é dirigir as sessões e fixar a crdem do dia.
Foi assim que decidimos que as discussões conciliares com eçariam com
o esquema sôbre a Liturgia. Normalmente deveriamos ter iniciado com
um texto doutrinário; m as decidimos que um esquema mais fácil permi­
tiria ao Concilio am bientar-se. Pois é preciso notar que o Concilio é
como uma grande máquina, cu ja s rodas ainda não estão habituadas a se
engrenar. Por outro lado, a Liturgia interessa ao público". Perguntado
se o Conselho de Presidência teve reuniões regulares, respondeu o C ar­
deal: “Não tivemos reuniões fixas. Éram os convocados, de improviso,
sempre que surgisse alguma questão à qual sc deveria dar uma res­
posta, como por exemplo quando sc cogitou da questão de tratar pri­
meiro o esquema sôbre Nossa S e n h o r a ... Aliás, permiti que vos diga
que foi sempre muito fácil entender-nos. A dezena de reuniões que
tivemos durante esta Prim eira Sessão foram as melhores do mundo.
A decisão era tomada de acordo com o parecer da m aioria e a minoria,
tôdas as vêzes e de boa mente se inclinava”. Depois o Cardeal con­
fessou que é "muito impressionante presidir a uma assem bléia de m ais
de duas mil pessoas, quando essas pessoas são cardeais, p atriarcas, ar­
cebispos, bispos, superiores m a io re s.. . Mas cu devo dizer que êlcs
representam também a assem bléia a m ais disciplinada e ao mesmo tem­
po a m ais livre. E ra sim plesmente surpreendente: levantava-se um para
exprimir seu pensamento, outro seguia logo mais para dizer exatamente
o contrário. Escutava-se um, escutava-se outro, sem que houvesse con­
flito, sem que houvesse constrangim ento".
O C onselho de P resid ên c ia:
da esq u erd a : C ard eais A lfrink, R u f fini,
Frings. L ienart. T isseron t, Tappouni,
P la y Deniei. Spellm an, Caggiano ( fa lta G ilroy)
O C a rd ea l h'i .it/s m
4. 0 Conselho de Presidência e o Secretariado Geral 49

Absolutamente vital para o Concílio é o ofício do Secre­


tario G eral. João X X III confiou êste cargo a Mons. Péricles
Felici, que já fôra Secretário das Comissões Antepreparatória e
Preparatória. Nasceu em 1911, em Segni, na Itália. Fêz os cursos
de filosofia e teologia no Latrão, Roma. Foi ordenado em 1933.
Em 1938 laureou-se in utroque iure. Foi Reitor do Seminário
Romano, Professor de Teologia Moral no Latrão, Oficial da Rota
Romana, Diretor Espiritual do Seminário Romano Maior. Em
1960 foi nomeado Arcebispo titular de Sam ósata.

O art. 13 do Regulamento prevê a nomeação de mais dois


Subsecretários. De fato, porém, o Sumo Pontífice nomeou cinco
Subsecretários. Devem estar todos os dias à disposição do Con­
selho de Presidência que, por delegação do Papa, estuda e re­
solve tôdas as questões relacionadas com o desenrolar do Con­
cilio. Devem também receber pedidos de intervenção, ajudando
nisso o Secretário Geral, para preparar a ordem do dia de
cada Congregação Geral. Devem transmitir às Comissões Con­
ciliares tôdas as emendas propostas durante as sessões. Devem
vigiar sôbre a redação exata e fiel de tôdas as atas das Con­
gregações G erais e sôbre a preparação das atas do Concílio.
Tudo isso exige relações diárias com os Padres Conciliares, seja
para obter esclarecimentos sôbre seus pedidos de intervenções,
seja para ajudar na solução de casos espinhosos. Os cinco Sub­
secretários são:

1. Casimiro Morcillo González, Arcebispo de Saragoça,


na Espanha. Nasceu em 1904, foi ordenado sacerdote em 1926,
sagrado Bispo Auxiliar de Madrid em 1943, nomeado Bispo de
B ilbao em 1950 e Arcebispo de Saragoça em 1955. Notabili-
zou-se por suas preocupações sociais e seus esforços para aju­
dar a América Latina. Foi Membro da Comissão Prcconciliar do
Govêrno das Dioceses.

2. Jo ão Villot, Arceb. Coadj., com direito à sucessão do


Cardeal Gerlier, Arcebispo de Lião e Primaz da G ália. Nasceu
cm 1905 foi ordenado sacerdote em 1930. Professor no Semi­
nário de Clermont, secretário do Cardeal Gerlier, diretor espiri­
tual dos estudantes da Universidade Católica de Lião. Em 1950
foi nomeado secretário da Conferência Episcopal da França. Em
1954 foi nomeado Bispo titular e em 1959 Bispo Coadjutor de
Lião. Foi Membro da Comissão Prcconciliar do Govêrno das
Dioceses.
Concilio II —
50 II. Abertura c Ambiente

3. Jo ã o Jo sé Krol, Arceb. de Filad élfia, nos E E .U U . Nasceu


em 1910 em Cleveland, filho de im igrantes poloneses. F oi Reitor
do Sem inário de Cleveland e em 1953 foi nomeado Bisp o Au­
xiliar de Cleveland. Em 1961 foi promovido à im portante sé a r-
quiepiscopal de Filad élfia. F oi também M em bro da C om issão
Preconciliar do Govêrno das D ioceses.

4. Filipe N abaa, A rcebispo para os m elquitas de Beirute e


G ibail, no Líbano. N asceu em 1907 em Said a, no Líbano. E n ­
trou depois na Sociedade dos M issionários de S ão Paulo. Foi
ordenado em 1931. Estudou depois no Instituto Oriental de Ro­
ma. Em 1948 foi nomeado A rcebispo para os m elquitas de sua
pátria.

5. Guilherme Kempf, Bispo de Lim burgo, na Alemanha.


Nasceu em 1906 em W iesbaden. Foi ordenado em 1939. Dirigiu
depois uma paróquia de operários em Frankfurt, que se tornou
conhecida em tôda a Alemanha por sua exem plar vida litúrgica.
Em 1949 foi nomeado Bispo de Lim burgo. Tem a fam a de ser
um dos renovadores da vida pastoral na sua pátria. Foi Membro
da Comissão Preconciliar para os Meios de C om unicação Social
5. As Comissões Conciliares.

O ART. 7 DO REG ULAM EN TO


preve dez Comissões Conciliares. Mas no dia 22 de outubro,
durante a quarta Congregação Geral, foi comunicado que o Su­
mo Pontífice equiparara em tudo o Secretariado para a União
dos Cristãos às outras dez Comissões. Assim há, de fato, onze
Comissões Conciliares. Diz o art. 6 do Regulamento que cada
Comissão tem um Cardeal-Presidente (que nomeia dois Vice-
Presid en tes), um Secretário (tirado do corpo dos Peritos Conci­
liares) e 24 Membros, dos quais 16 escolhidos pelos Padres
Conciliares e 8 nomeados pelo Papa (de fato, porém, o Papa
nomeou nove). Segundo a agenda do Concilio, a eleição devia
realizar-se no dia 13 de outubro, na primeira Congregação Geral.
Alas sentiu-se logo grande dificuldade: os Padres ainda não se
conheciam para que cada um pudesse em consciência elaborar
uma lista de 160 nomes. Por isso o Cardeal Liénart, Bispo de
Lille e um dos dez do Conselho de Presidência, propôs imedia­
tamente uma moção de adiamento, secundada pelo Cardeal Frings
(que declarou falar também em nome dos Cardeais Doepfner e
Koenig) e o aplauso do plenário. Seguiram -se então três dias
de intensa “política". As várias Conferências Episcopais e Or­
dens Religiosas compilaram listas especiais. Os não italianos
estavam sobretudo interessados em incluir também Cardeais em
cada Comissão (pois tôdas elas já tinham um Cardeal da Cúria
na presidência, nomeados pelo P ap a). O grupo de língua alemã
compôs uma lista, à qual aderiram os holandeses e belgas (que
têm grande número de Bispos m issionários). Os Bispos italia­
nos prepararam sua lista. Assim também os africanos, os orien­
tais, os americanos. Desta maneira os Padres já estavam bem
melhor informados e preparados para votar na segunda Con­
gregação G eral, no dia 16 de outubro. Dos 160 nomes propos­
tos pela “lista européia" saíram eleitos 90. Da lista italiana pas­
52 II. A bertura e Ambiente

saram 17. Os norte-am ericanos haviam proposto dois nomes


para cada Comissão e quase todos foram sufragados. Contando
todos, também os nove de cada Com issão nomeados pelo Pap a
e os do Secretariado para a União, trabalham nas C om issões
27 3 Padres, dos quais 160 eleitos e 113 designados pelo Papa.
Segundo os cálculos feitos pela Civiltà Cattolica (de 1 7 -X I-6 2 ),
os Padres das Com issões são assim distribuídos: Europa 154;
Á sia 3 8 ; África 12; America do Norte (incluindo M éxico) 3 6 ;
América do Sul 3 0 ; Austrália 3. P or n ações: Itália 5 2 ; Fran ça
2 2 ; Estados Unidos 2 1 ; E spanha 18; Alemanha 16; C anadá 11;
Índia 8 ; Brasil 8 ; Inglaterra 7 ; Polônia 6 ; Holanda 6 ; B élg ica
5 ; Líbano 5 ; Jap ão, Chile, Argentina, Jugoslávia, M éxico, S u íça :
4 cada uma; Irlanda, Áustria, Portugal, Síria, C hina (F o rm o ­
s a ) , Congo, A ustrália: 3 cada uma; Filipinas, Vietnam , Indoné­
sia, Tanganika, Á frica do Sul, Bolívia, C olôm bia, P a rag u ai:
2 cada uma; Checoslováquia, G récia, B ielo -R ú ssia, Luxem burgo,
Rússia (S ib é r ia ), Armênia, B irm ânia, C eilão, Etiópia, Iraque,
Israel, M alaca, Paquistão, Tailând ia, Á frica Equ atorial, C osta
de Marfim, Egito, M ad agascar, Tu n ísia, Cuba, Equador, G ua­
temala, Panam á, Peru, São Dom ingos, Uruguai, V enezuela: 1
cada nação. Ao todo, pois, são representados 61 países nas C o­
missões Conciliares. 2 8 dêles são C ardeais (1 6 da C úria) e P a ­
triarcas, 72 A rcebispos residenciais, 2 6 Arcebispos titulares ( 1 1
da C ú ria), 9 4 B ispos residenciais, 3 6 B ispos titulares e 1 1 Aba­
des ou Superiores Religiosos. D os 27 Prelados da Cúria nenhum
foi eleito pelos Pad res C onciliares.

No elenco, a seguir, damos primeiram ente os nomes dos


M em bros eleitos e na ordem em que foram votados (sem , por­
tanto, respeitar a ordem hierárquica de precedência) c, depois,
os nomes dos Mem bros nomeados pelo Sumo Pon tífice:

I. Com issão Doutrinária p ara a F é e os Costumes: Presidente:


C ardeal Alfredo O ttaviani; V ice-P resid ente: Cardeal Miguel
Brow ne; Secretá rio: Pe. Seb astião Trom p, S . J . ; M em bros:
1. José Schroetter, Bispo de Eichstätt, na Alemanha;
2. Gabriel Garrone, Arcebispo de Tolosa, na Fran ça;
3. Cardeal Francisco Koenig, Arcebispo de Viena, na Austria;
4. João van Dodewaard, Bispo de Haarlem, na Holanda;
5. Alfredo Vicente Scherer, Arcebispo de Porto Alegre, no B ra sil;
6. Cardeal Paulo Emílio Léger, Arcebispo de Montréal,’ no C anadá;
7. Hermenegildo Florit, Arcebispo de Florença, na Itália;
8. João Francisco Dearden, Arcebispo de Detroit, nos E E .U U .;
9. André M aria Charue, Bispo de Namur, na B élgica;
5. A s Comissões Conciliares 53

10. João José Wright, Bispo de Pittsburgh, nos E E .U U ;


11. M arcos Gregorio McGrath, Auxiliar de Panamá;
12. Jaim e H. Griffiths, Auxiliar de Nova York, nos E E .U U .;
13. M aurício Roy, Arcebispo de Québec, no Canadá-
14. Cardeal Rufino Santos, Arcebispo de Manila, nas Filipinas-
15. Francisco Seper, Arcebispo de Zagreb, na Jugoslávia;
16. Joao Peruzzo, Arcebispo-Bispo de Agrigento, na Itália.

Nomeados pelo Papa:

1. Cardeal Miguel Browne, O .P ., da Cúria Romana (irlandês);


2. Pedro Parente, Arceb. tit. de Tolomaide, Assessor do Santo Oficio;
3. Francisco Barbado y Viejo, Arcebispo de Salamanca, na Espanha;
4. Jorge Leão Pelletier, Bispo de Trois-Rivières, no Canadá ;
5. Francisco Franic, Bispo de Spalato, na Jugoslávia;
6. Miguel Doumith, Bispo de Sarba, no Líbano;
7. Francisco Spanedda, Bispo de Bosa, na Itália;
8. Beno Gut, Arquiabade dos Beneditinos (alem ão);
0. Aniceto Fernández, Mestre Geral dos Dominicanos (espanhol).

II. Comissão dos Bispos e do Govêrno das D ioceses: Presiden­


te: Cardeal Paulo M arella; Vice-Presidentes: Cardeais McIn­
tyre e Bueno y Monreal; Secretário: Lauro Governatori;
Membros :
1. Emílio Maurício Guerry, Arcebispo de Cambrai, na França;
2. Germano Schaufele, Arcebispo de Friburgo, na Alemanha;
3. Migue) Browne, Bispo de Galway, na Irlanda;
4. Pedro Vcuillot, Arceb.-Coadj. de Paris, na França;
5. Jorge P. Dwyer, Bispo de Leeds, na Inglaterra;
6. Cardeal Jaim e Francisco L. McIntyre, Arceb. de Los Angeles, nos
E E .U U .;
7. Miguel Dario Miranda y Gómez, Arcebispo de México, no Mexico;
8. Carlos José Alter, Arcebispo de Cincinnati, nos E E .U U .;
9. M aria-José Lemieux, Arcebispo de Ottawa, no Canadá;
10. Alberto Castelli, Arceb. fit. de Rusio, Secretário Geral da Conferên­
cia Episcopal da Itália;
11. José Piazzi, Bispo de Bérgamo, na Itália;
12. Raul Prim atesta, Bispo de San Rafael, na Argentina;
13. José Gargitter, Bispo de Brixen, na Itália;
14. Paulo Corrêa León, Bispo de Cúcuta, na Colômbia;
15 Luis Mathias, Arcebispo de Madras, na India;
16. Cardeal José Bueno y Monreal, Arcebispo de Sevilha, na Espanha.

Nomeados pelo Papa:


1. Cardeal Pedro Tatsuo, Arceb. de Tóquio, no Japão;
2. Leo Binz, Arcebispo de Saint Paul/Minnesota, nos E E .U U .;
3. Francisco Carpino, Arceb. tit. de Sardica, Assessor da Sagrada Con-
gregação Consistorial (italiano );
4. Vítor Bazin, Arcebispo de Rangoon, em Burma;
54 II. A bertura e Ambiente

5. Dionfsio Antônio Hayek, Arceb. dos sírios de Aleppo, na S íria ;


6. Angelo Fernandes, A rceb.-Coadj. de Delhi, na India;
7. Jerônim o Rakotom alala, Arcebispo de Tananarive, no M ad agascar;
8. Narciso Jubany Arnau, Aux. de Barcelona, na Espanha;
9. Lufs Carli, Bispo de Segni, na Itália.

III. Comissão das Ig reja s Orientais: P residen te: C ardeal Amleto


Cicognani; V ice-P rcsid en tes: C ardeal Q uiroga y P alacio s e
Mons. G abriel Bukatko; Secretá rio : Pe. A. W elykyj;
M em bros:
1. Ambrósio Senyshyn, Arceb. dos ucranianos de Filadélfia, nos E E .U U .;
2. José Perniciaro, aux. de Palerm o para a Eparquia albanesa de P ia ­
na, na Itália;
3. João Hõck, Superior Geral da C ongregação Beneditina da Baviera,
na Alemanha;
4. Antônio Baraniak, Arcebispo de Poznan, na Polôn ia;
5. Máximo IV Saigh, Patriarca dos melquitas de Antioquia e de todo
o O riente;
6. Gabriel Bukatko, Arceb.-Coadj. de Belgrado, na Jugoslávia;
7. José Parecattil, Arcebispo de Ernakulam , na India;
8. Neófito Edelby, Aux. do P atriarca dos m elquitas;
9. Manuel da Silveira d’Elboux, Arcebispo de C uritiba, no B ra sil;
10. João Bucko, Arceb. tit. de Leucade, para os ucranianos de Rom a;
11. André Sapclak, Bispo tit. para os ucranianos da A rgentina;
12. Cardeal Fernando Quiroga y P alacio s, Arceb. de S an tiago de Com­
postela, na Espanha;
13. Gregorio B. V arghcse Th angalathil, Arceb. dos m alaucarésios de
Trivandrum, na India;
14. Bryan J. M cEntegart, Bispo de Brooklyn, nos E E .U U .;
15. Martinho A. Jansen, Bispo de Rotterdam , na Holanda.
16. M ateus Kavukatt, Arceb. de C hanganacherry, na Índia.

Nomeados pelo P a p a :
1. Estêvão I Sidarouss, P a tria rca dos coptas, do E gito;
2. Paulo Pedro Meouchi, P atriarca dos m aronitas de Antioquia, no
Líbano;
3. Alberto Gori, Patriarca dos latinos de Jerusalém , na Jordânia;
4. Paulo II Cheikho, P atriarca dos caldeus da B abilônia, no Iraque;
5. Inácio Pedro XIV Batanian, Patriarca dos armênios da Cilicia, no
Líbano;
6. José Rabbani, Administrador Apostólico dos sirios de Homs, na
Síria;
7. Asratc Mariam Yemmeru, Arcebispo de Addis Abeba, na E tiópia;
8. João B atista Scapinelli di Leguigno, Assessor da S. Congregação
para a Igreja Oriental;
9. Jacin to Gad, Exarca Apostólico para os católicos de rito bizan­
tino na Grécia.
5. A s Comissões Conciliares 55

IV. Comissão da Disciplina dos Sacramentos: Presidente: Car­


deal Bento Aloisi M asclla; Secretário: Pe. Raimundo B i-
dagor, S . J . ; Mem bros:

1. José G arcia y Goldáraz, Arcebispo de Valladolid, na Espanha;


2. Jose Schneider, Arcebispo de Bamberg, na Alemanha;
José Tom ás McGucken, Arcebispo de Sào Francisco, nos E E .U U .;
4. Francisco v. Streng, Bispo de Basiléia e Lugano, na Suíça;
5. Armando Fares, Arcebispo de Catanzaro, na Itália;
6. Valeriano Bélanger, Aux. de Montréal, no Canadá;
7. Antônio Maria Alves de Siqueira, Arceb.-Coadj. de São Paulo no
B rasil;
8. Críspulo Benitez Fontúrvel, Bispo de Barquisimeto, na Venezuela;
9. João van Cauwelaert, Bispo de Inongo, no Congo;
10. Alexandre Renard, Bispo de Versailles, na França;
11. Anibal Maricevich Fleitas, Bispo-Coaclj. de Villarica, no Paraguai;
12. Pedro M. Puech, Bispo de Carcassonne, na França;
18. Francisco Reh, Bispo de Charleston, nos E E .U U .;
14. Lucas Katsusaburo Arai, Bispo de Yokohama, no Japão;
15. Tom ás Guilherme Muldoon, Aux. de Sydney, na Austrália;
16. M arcos Armando Lallier, Arcebispo de Marseille, na França.

Nomeados pelo Papa:


1. Guido Luís Bentivoglio, Arcebispo de Catânia, na Itália;
2. Angelo DelPAqua, Arceb. tit., substituto do Secretário de Estado de
Sua Santidade (italiano);
3. César Zerba, Arceb. tit., Secretário da S. Congregação dos Sacra­
mentos (italiano );
4. Paulo Yoshigoro Taguchi, Bispo de Osaka, no Japão;
5. João Bolognini, Bispo de Cremona, na Itália;
6. João Chedid, Vigário Patriarcal dos maronitas do Patriarca de An-
tioquia, no Líbano;
7. Marcelo Morgante, Bispo de Ascoli-Piceno, na Itália;
8. Miguel Kien Samophithak, Vigário Apostólico de Tharé e Nonseng,
na Tailândia;
9. João Pepcn y Soliman, Bispo N. S. tie la Altagracía, São Domingos.

V. Comissão da Disciplina do Clero e do Povo Cristão: Presi­


dente: Cardeal Pedro Ciriaci; Secretário: Pe. Alvaro del Por­
tillo; M em bros:
1. Henrique Mazerat, Bispo de Angers, na França;
2. Alfredo Bengsch, Arceb.-Bispo de Berlim, na Alemanha;
3. Henrique Maria Janssen, Bispo de Hildesheim, na Alemanha;
4. Miguel Raspanti, Bispo de Morón, na Argentina;
5. Leo Lommel, Bispo de Luxemburgo;
6. Cardeal José Ritter, Arceb. de St. Louis, nos E E .U U .;
7. Filipe Francisco Pocock, Arceb.-Coadj. de Toronto, no Canada,-
8. Lourenço José Shehan, Arcebispo de Baltimore, nos E E .U U .;
9. Luis Baccino, Bispo de S. José de Mayo, no Uruguai;
56 II. A bertura e Ambiente

10. Guilherme M aria van Zuylen, Bispo de Liège, na B élg ica ;


11. Henrique Nicodemo, Arcebispo de B ari, na Itália;
12. Agnelo Rossi, Arcebispo de Ribeirão Prêto, no B ra sil;
13. Vicente Enrique y Tarancón, Bispo de Solsona, na Espanha;
14. Francisco Marty, Arcebispo de Reim s, na Fran ça;
15. Manuel Trindade Salgueiro, Arcebispo de Évora, em Portugal.
16. Norberto Perini, Arceb. de Fermo, na Itália.

Nomeados pelo P a p a :
1. Cardeal Afonso Castaldo, Arcebispo de Nápoles, na Itália;
2. Tom ás B. Cooray, Arcebispo de Colombo, no C eilão;
3. Paulo Nguyen Van Binch, Arcebispo de Saigon, no Vietnam do Sul;
4. Pedro Palazzini, Secretário da S. C ongregação do Concilio (ita lia n o );
5. Carlos P. Greco, Bispo dc Alexandria, nos E E .U U .;
6. Angelo Temino Saiz, Bispo de Orense, na E spanha;
7. Ernesto Corripio Ahumada, Bispo de Tam pico, no M éxico;
8. Pio Alberto Farina Farina, Bispo tit. de Citarizio, no Chile;
9. José Maxim ino Eusébio Dominguez y Rodriguez, Bispo de M atanzas,
em Cuba.

V I. Comissão dos R eligiosos: Presid en te: Cardeal V alério V ale­


ri; Secretário: Pe. Jo sé Rousseau, O . M . I . ; M em bros:
1. Geraldo Huyghe, Bispo de Arras, na F ra n ça ;
2. Carlos José Leiprecht, Bispo de Rottenburg, na Alemanha;
3. Artur Tabera Araoz, Bispo de Albacetc, na Espanha;
4. Jerônim o B. Bortignon, Bispo de Pádua, na Itália;
5. Cardeal João Landázuri Ricketts, Arcebispo de Lim a, no Peru;
6. Jo rg e André Beck, Bispo de Salford , na In glaterra;
7. Bento Reetz, Abade Superior G eral da C ongregação Beneditina de
Beuron, na Alemanha;
8. Bernardino Echeverría Ruiz, Bispo de Ambato, no Equador;
9. Jorge Flahiff, Bispo de W innipeg, no C anadá;
10. Eduardo Celestino Daly, Bispo de D es M oines, nos E E .U U .;
11. Bento Tomizawa, Bispo de Sapporo, no Ja p ã o;
12. José Urtasun, Arcebispo de Avignon, na Fran ça;
13. Agostinho Sépinski, M inistro G eral dos Franciscanos (fra n c ês );
14. Tom ás V icente Cahill, Bispo dc Cairns, na A ustrália;
15. Jo sé M cShea, Bispo de Allentown, nos E E .U U .;
16. Paulo B otto, Arcebispo de C agliari, na Itália.

Nomeados pelo P a p a :
1. Bernardo Mels, Arcebispo de Luluabourg, no Congo;
2. Paulo Philippe, Arceb. tit., S ecretário da C ongregação dos Religio­
sos (fr a n c ê s );
3. Luis Severino Haller, Abade nullius de Saint-M aurice, na S uíça;
4. Rômulo Compagnoni, Bispo de Anagni, na Itália;
5. Domingos Vendargon, Bispo de Kuala Lumpur, na União M alaca;
6. Celso Sipovic, Bispo tit. de Mariamme, na Lituânia;
7. Sigardo Kleiner, Abade Geral dos Cistercienses (su íço );
8. João B. Janssens, Prepósito Geral dos Jesuítas (b e lg a );
9. Renato Ziggiotti, Superior Geral dos Salesianos (italiano ).
5. A s Comissões Conciliares 57

V II. Comissão das M issões: Presidente: Cardeal Gregório Pe­


dro A gagianian; V ice-Presidentes: Vítor Sartre e José Le-
cuona Labandibar; Secretário: Xavier Paventi; Membros:
1. Cardeal Laureano Rugambwa, Bispo de Bukoba, em T anganica;
2. Guido Riobé, Bispo-Coadj. de Orléans, na França;
3. Fulton Sheen, Aux. de Nova York, nos E E .U U .;
4. João B atista Zoa, Arcebispo de Jaunde, no Camerum;
5. Aurélio Signora, Prelado nullius de Pompéia, na Itália;
6. Afonso Escalante, Bispo tit. de Nicosia, Superior Geral do Instituto
de N. S. de Guadalupe para as Missões Ocidentais (M éxico);
7. Cardeal Tom ás Tien-Chen-sin, Arcebispo de Pequim; Administrador
Apostólico de Taipé, na China/Formosa;
8. Mauricio Perrin, Arcebispo de Cartago, na Tunísia;
9. Afonso Ungarelli, Prelado nullius de Pinheiro, no Brasil;
10. Caetano Pollio, Arcebispo de Otranto, na Itália;
It. Mariano Rossel y Arellano, Arcebispo de Guatemala;
12. João C. Sison, Arceb.-Coadj. de Nueva Segovia, nas Filipinas;
13. Pio Kerketta, Arcebispo de Ranchi, na Índia;
14. José Lecuona Labandibar, Bispo tit., Superior Geral do Instituto de
S. Francisco Xavier para as Missões Ocidentais (E sp anh a);
15. Luciano Pérez Platero, Arceb. de Burgos, na Espanha;
16. O scar Sevrin, Bispo tit. de Mossina (belga, na fndia).

Nomeados pelo Papa:


1. Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, Patriarca de Lisboa, Portugal;
2. Lourenço Leo Grancr, Arcebispo de Dacca, no Paquistão;
3. Pedro Sigismondi, Arceb. tit., Secretário da S. Congregação de Pro­
paganda Fide (italiano );
4. Vítor Sartre, Bispo tit. de Beroe (francês);
5. Bernardo Yago, Arcebispo de Abidjan, na Costa de Marfim;
6. Pedro-Martinho Ngo Dinh Thuc, Arcebispo de Hué, no Vietnam;
7. Alberto Soegijapranata, Arcebispo de Semarang, na Indonésia;
8. Estanislau Lokuang, Bispo de Tainan, na Formosa;
9. Leão Deschàtelets, Superior Geral dos Oblatos da Virgem Imacula­
da (canadense).
V lll. Comissão da Liturgia: Presidente: Cardeal Arcádio Lar-
raona; Vice-Presidentes: Cardeais Giobbe e Jullien; Se­
cretário: P. F. Antonelli, O . F . M . ; Membros:
1. Francisco Zauner, Bispo de Linz, na Áustria;
2. Carlos Rossi, Bispo de Biella, na Itália;
3. Carlos Justino Calewaert, Bispo de Gent, na Bélgica;
4. Henrique Jenny, Aux. de Cambrai, na França;
5. Oto Spülbeck, Bispo de Meissen, na Alemanha;
6 Francisco José Grimshaw, Bispo de Birmingham, na Inglaterra;
7. Paulo Hallinan, Bispo de Atlanta, nos E E .U U .;
8 Guilherme vam Bekkum, Bispo de Ruteng, na Indonésia;
9. José Malula, Aux. de Léopoldville, no Congo;
10. Cardeal Jaim e Lercaro, Arcebispo de Bolonha, na Itália,
II. A bertura e Ambiente

11. Alfredo Pichler, Bispo de B anjalu ka, na Jugoslávia;


12. Henrique Rau, Bispo de M ar del P lata, na A rgentina;
13. Francisco Jop, Aux. de Daulia, na Polônia;
14. Jesus Enciso Viana, Bispo de M allorca, na E spanha;
15. José Alberto M artin, Bispo de Nicolet, no C anadá;
16. Cesário d’Amato. Abade de S áo Paulo fora dos muros, Roma, na
Itália.

Nomeados pelo P a p a ;
1. Cardeal Paulo Qiobbe, da Cúria Rom ana (ita lia n o );
2. Cardeal André Jullien, da Cúria Romana (fr a n c ê s );
3. Cardeal Anselmo Albareda, O . S . B . , da Cúria Rom ana (esp a n h o l);
4. Henrique Dante, Arceb. tit.. S ecretário da S. C ongregação dos Ri­
tos (ita lia n o );
5. Guilherme M aria Bekkers, Bispo de s'H crtogenbosch, na H olanda;
6. Bernardo Fey Schneider, Bispo-C oadj. de Potosí, na B olivia;
7. Ramão Masnou Boixeda, Bispo de Vich, na E spanha;
8. Pedro Schweiger, Superior Geral dos Claretianos (a lem ã o );
9. João Prou, Abade G eral de Solesm es, na França.

IX . Com issão dos Seminários, Estudos e E du cação C atólica: P re ­


sid ente; Cardeal Jo sé Pizzard o; V ice-P resid en tes: C ardeal
Câm ara e Dino S ta ffa ; S ecretá rio : P. A. M ayer, O . S . B . ;
M em bros:
1. Patricio Luís O’Boyle, Arcebispo de W ashington, nos E E .U U .;
2. Alfredo Silva Santiago, Arcebispo de Conception, no Chile;
3. M arcelino O laechea Loizaga, Arcebispo de Valência, na Espanha;
4. José Hôffner, Bispo de Münster, na Alemanha;
5. Júlio Daem, Bispo de Antuérpia, na B élg ica;
6. Miguel Klepacz, Bispo de Lodz, na Polônia;
7. João Cristóvão Cody, Bispo de London, no C anadá;
8. João Colombo, Aux. de Milão, na Itália;
9. Ramão Bogarin Argana, Bispo de San Juan de las Misiones, no
Paragu ai;
10. Dionisio Eugênio Hurley, Arcebispo de Durban, na União Sul Africana;
11. Antônio M aria Cazaux, Bispo de Luçon, na Fran ça;
12. Emilio A. Blanchet, Bisp. tit., Reitor do Instituto Católico de Paris,
na Fran ça;
13. Otaviano Márquez Tóriz, Arcebispo de Puebla de los Angeles, no
M éxico;
14. Vicente M archetti Zioni, Aux. de São Paulo, no B rasil;
15. Arrigo Pintonello, Bispo Castrense da Itália;
16. M ário Paré, Bispo de Chicoutimi, no Canadá.

Nomeados pelo P a p a :
1. Cardeal Jaim e de B arros Câmara, Arcebispo do Rio J e Janeiro, no
B rasil;
2. Ernesto Sena de Oliveira, Arcebispo-Bispo de Coimbra, em P o rtugal;
3. Gregório Modrego y Casáus, Arceb.-Bispo de Barcelona, na Espanha;
4. Justino Daniel Simonds, Arceb.-Coadj. de Melbourne, na A ustrália;
5. A s Comissões Conciliares 59

fi T^fi?nPRn ? ç ° ,dy’ Ar<;e b - CoadÍ- * Nova Orleans, nos E E -.U U .;


7 íin ' t " S/ Ial ar’ Arceb,sP° de Medellin, na Colômbia;
7 S a ,a.’ ArCe^ .trt- Secretário da S. Congregação dos Semi-
nano s e Universidades (italiano);
8. José C arraro, Bispo de Verona, ná Itália-
9. Paulo Savino, Aux. de Nápoles, na Itália.

X. Com issão do Apostolado dos Leigos, da imprensa e Espe­


táculos: Presidente: Cardeal Fernando Cento; V ice-Presi-
dentes: Card. Henriqucz e M. O’Connor; Secretário: A. Glo-
rieux; Mem bros:
1. Francisco Hengsbach, Bispo de Essen, na Alemanha;
2. T iag o Ménager, Bispo de Meaux, na França;
3. José Armando Gutiérrez Granier, Aux. de La Paz, na Bolívia;
4. Angelo Herrera y Oria, Bispo de Málaga, na Espanha;
5. Estêvão Laszlo, Bispo de Eisenstadt, na Austria,-
6. Evásio Colli, Arcebispo de Parma, na Itália;
7. Guilherme E. Cousins, Arcebispo de Milwaukee, nos E E .U U .;
8. João Eduardo Petit, Bispo de Menevia, na Inglaterra;
9. M artinho João O’Connor, Arceb. tit., Presidente da Comissão Pon­
tifícia para Cinema, Rádio e Televisão (norte-americano);
10. Manuel Larrain Errázuriz, Bispo de Talca, no Chile;
11. Gerado De Vet, Bispo de Breda, na Holanda;
12. Eugênio de Araújo Sales, Administrador Apostólico de Natal, no
B rasil;
13. José Blomjous, Bispo de Mwanza, na Tahganica;
14. Paulo Yü Pin, Arcebispo de Nanking, na China (reside cm Form osa);
15. Cardeal Raul Silva Henriquez, Arcebispo de Santiago, no Chile;
16. Tom ás M orris, Arcebispo de Cashel, na Irlanda.

Nomeados pelo Papa:


1. Antônio Samoré, Arceb. tit., Secretário para os Negócios Extraordi­
nários de Sua Santidade (italiano);
2. M ário Castellano, Arcebispo de Siena, na Itália;
3. Renato Luís Stourm, Arcebispo de Sens, na França;
4. Boleslau Kominek, Arceb. tit. de Eucaita, na Polônia;
5. Eduardo Necsey, Administrador Apostólico de Neutra, na Checoslo­
váquia; .. .
6. Heriberto Bednorz, Bispo-Coadj. de Kattowitz, na Polônia;
7. Sebastião Valloppilly, Bispo de Tellicherry, na Índia;
8. Emílio Guano, Bispo de Livorno, na Itália;
9. Luís Civardi, Bispo tit., Assistente Nacional dos Movimentos Ope­
rários, na Itália.

X I. Secretariado para a União dos Cristãos: Presidente: Car­


deal Agostinho B ea ; Membros:
1. Lourenço Jaeger, Arcebispo de Paderborn, na Alemanha;
2. J. M. Martin, Arcebispo de Rouen, na França;
3. J. V. Heenan, Arcebispo de Liverpool, na Inglaterra;
4. F. Charrière, Bispo de Lausana, na Suíça;
II. Abertura e Ambiente

5. E. J. De Smedt, Bispo de Brugge, na B élg ica;


6. P. A. Nierman, Bispo de Groningen, na Holanda;
7. Th. Holland, Bispo tit., aux. de Sauthport, na In glaterra;
8. G. M. F. van Velsen, Bispo de Kroonstadt, na União Sul-A frican a;
9. G. Hart, Bispo de Dunkeld, na E scó cia ;
10. G. Volk, Bispo de Mainz, na Alemanha;
11. A. Katkoff, Aux. para o rito bizantino, em Roma, na Itália ( ru s s o );
12. T . Minisci, Superior Geral da C ongregação dos Basilianos, na Itália,
Abade em G rottaferrata (ita lia n o );
13. I. M ansourati, Procurador em Roma do Patriarcad o dos sírios de
Antioquia.

Do Brasil, portanto, temos nas Com issões C onciliares:

E leitos pelos Pad res C onciliares:

1. Na Comissão T e o ló g ica : Dom V icente Sch erer, Arcebispo de


PÔrto Alegre;
2. na Comissão das Ig reja s O rientais: Dom Manuel da Silveira
d’E lboux, A rcebispo de C uritiba;
3. na Comissão da D isciplina dos S acram en tos: Dom Antônio
Alves de Siqueira, A rceb.-C oad j. de São P au lo;
4. na Comissão da D isciplina do Clero e do Povo C ristão: Dom
Agnelo Rossi, A rcebispo de Ribeirão Prêto ;
5. na Comissão das M issões: Dom Afonso U ngarelli, Prelado
nullius de Pinheiro, no M aranhão;
6. na C omissão dos Sem inários e U niversidades: Dom Vicente
AAarchetti Zioni, B ispo Aux. de São Pau lo;
7. na Comissão do A postolado dos L eigos: Dom Eugênio de
Araújo Sales, Administrador A postólico de Natal.

Nomeado pelo P a p a :
8. na Com issão dos Sem inários e U niversidades: C ardeal Jaim e
de B a rros Câm ara, Arcebispo do Rio de Janeiro.
6. Os Peritos Conciliares.

S eg u n do o a rt. 9 do r eg u -
lamento, “ Perito” é um têrmo genérico que compreende os Teó­
logos, os Canonistas e “outros expertos" do Concilio. O Regu­
lamento distingue os “peritos conciliares”, nomeados pelo Sumo
Pontífice, dos "peritos particulares”, que cada Padre Conciliar
pode nomear para si. Mas somente os peritos oficiais podem
a ssistir às Congregações Gerais, nas quais, porém, não têm o
direito de falar, a não ser que sejam interrogados. Têm êles,
principalmente, a tarefa de colaborar com os Membros das Co­
m issões Conciliares, para elaborar e emendar os textos e para
preparar as relações que devem ser apresentadas à Congrega­
ção G eral. No fim da Primeira Sessão do Concilio (7 -1 2 -6 2 )
foi distribuída a seguinte lista dos peritos conciliares:

Abate, Antônio, O .P . Bevilacqua, Júlio, oratoriano


Abelian, Pedro, S . J . Bidagor, Raimundo, S . J .
Ahern, B am ab é, C .P . Boillat, Francisco
Albareda, José Maria Bonet, Manuel, Mons.
Anglés Pam ies, Higino, Mons. Bonet Marrugat, Alberto, Côn.
Antonelli, Fernando, O .F .M . Bosler, Raimundo
Boulard, Fernando
Baker, José Boyer, Carlos, S . J .
B alic, Carlos, O .F .M . Brennan, Francisco, Mons.
Bandas, Rodolfo, Mons. Breysse, Marcelo, sulpiciano
B aragli, Henrique Brezanoczy, Paulo, Mons.
B arry, Gerado, O .M .l. Bugnini, Aníbal, C .M .
B artoccctti, Vitorio Buijs, Ludovico, S . J .
Baum, Gregorio, O .E .S .A . Burke, André
Baum, Guilherme
B ejan, Ovídio, Mons. Caloyeras, Domingos, O .P .
Bélanger, Marcelo, O .M .I. Camagni, Ernesto, Mons.
Belloli, João Batista Camelot, Tomás, O .P .
Benjam im da SS. Trindade, O.C.D. Canais, Salvador, Mons.
Carbone, Vicente, Mons.
Bernard, João, Mons.
Cardinale, Higino, Mons.
Berutti, Cristóvão, O .P .
Casaroli, Agostinho, Mons.
Beste, Ulrico, O .S . B .
II. A b ertura e Ambiente

Casoria, José, Mons. Felici, Angelo, Mons.


Castellino, Jorge, S . D . B . Fenton, José, Mons.
Cechetti, Higino, Mons. Fernández Januário do S. Coração,
Cerfaux, Luciano, Mons. O .R .S .A .
Ceriani, G racioso, Mons. Ferrari Toniolo, Agostinho, Mons.
Chavasse, Antônio F erraro, Nicolau, Mons.
Che-Chen-Tao, Vicente Fiedler, Ernesto, Mons.
Chereath, Sebastião, Mons. Filipiak, Boleslau, Mons.
Ciappi, Luís, O .P . Finucan, Jaim e, Mons.
Civardi, Ernesto, Mons. Flynn, M arinho, Mons.
Clark, Aiano, Mons. Fohl, Júlio, O . S . B .
Clark, Ricardo, Mons. Frutaz Amato, Pedro, Mons.
Coffey, Jaim e F., Mons.
Colombo, Carlos G agnebet, Rosário, O .P .
Combes André, Mons. Galletto, Albino, Mons.
Congar, Ivo, O .P . Gam bari, Hélio, S .M .M .
Connell, Francisco, C .S S .R . G arofalo, Salvador, Mons.
Connolly, João P ., Mons. Gavazzi, Egidio, Abade O . S . B .
Cremin, Patricio F. C ass.
Crepeault, Paulo Emílio Gibson, Lourenço
Crovella, Hércules, Mons. Geraud, José, sulpiciano
Gillespie, Patricio, Mons.
Daniélou, João, S . J . Gillon, Ludovico, O .P .
Davis, Francisco, Mons. Giovanelli, Américo, Mons.
de Clercq, Carlos Giovannetti, Alberto, Mons.
del Portillo, Alvaro, Opus Dei Giusti, Alberto, Mons.
Delly, Manuel Glorieux, Aquiles, Mons.
Del Ton, José, Mons. Gössmann, Félix, O . E . S . A .
de Lubac, Henrique, S . J . Gottardi, Alexandre, Mons.
Denis, Jaim e, Mons. Governatori, Lauro, Mons.
d'Ercole, José, Mons. Goyeneclie, Servo, C .M .F .
Deskur, Andre, Mons. G raneris, José, Mons.
Devine, Tom ás F. Graves, Lourenço P ., Mons.
Dezza, Paulo, S . J . Grasso, Domingos, S . J .
Dhanis, Eduardo, S . J . Guerri, Sérgio, Mons.
Di B iagio, Agostinho, Mons. Gutiérrez, Anastásio, C .M .F .
Di Fonzo, Lourenço, O .F .M .C o n v .
Dirks, Ansgário, O .P . Haas, Jaim e
Doheny, Guilherme, Mons. Hacault, Antônio
Dumont, Cristóvão, O .P . Hamer, Jeronim o, O .P .
Häring, Bernardo, C . S S . R .
Eid, Emilio Herlihy, Donal, Mons.
Egger, Carlos, C .R .L . Heston, Eduardo, C . S . C .
Eldarov Jorge, O .F .M .C a p . Hickey, Jaim e Luis
Evers, Henrique, S . S . S . Higgins, Jorge, Mons.
Ew ers, Henrique, Mons. Hilarino de Milão, O .F .M .C a p .
Extross, João Hirschmann, João , S . J .
Hnilica, Paulo, S . J .
Fabro, Cornélio, C . P . S . Hoffmann, Henrique, Mons.
Fagiolo, Vicente, Mons. Howard, José
Faltin, Daniel, O .F .M .C o n v . Hurley, M arcos, Mons.
Fazzelaro, Francisco G. Hürth, Francisco, S . J .
6 . Os Peritos Conciliares
63
Iglesias, Daniel
McReavy, Lourenço
Jedin, Humberto Medeiros Sousa, Humberto, Mons.
Jelicic, Vitmiro, O .F .M . Medina Estévez, Jorge
Johnson, Jo sé J., Mons. Michiels, Gommaro, O .F .M .Cap.
Jungmann, José, S . J . Mizzi, Germano, O .C .D .
Moya, Rafael, O .P .
Keelcr, Guilherme E. Mulders, Afonso, Mons.
Kerrigan, Alexandre, O .F .M . Munoz Vega, Paulo, S . J .
Khalife, Inácio A., S . J .
Klempa, Sandor, O .P rem . Nabuco, Joaquim, Mons.
Kloppenburg, Boaventura, O .F .M . 0 ’Connel, João
Klostermann, Fernando, Mons. O’Connor, David, M .S .S S .T .
Küng, João O'Mara, João, Mons.
Onclin, Guilherme
Labourdctte, Miguel, O .P . Overath, João, Mons.
La fortune, Pedro, Mons.
Lnmhruschini, Fernando, Mons. Papali, Cirilo, O .C .D .
I.amlri, André Paradis, Vilfredo, Mons.
l.attanzi, Hugo, Mons. Pascoli, Plínio, Mons.
Laurentin, Renato Pasquazi, José, Mons.
l.ecuyer, José, C .S Sp. Pavan, Pedro, Mons.
I.edwolorz, Adolfo, O .F .M . Paventi, Xavier, Mons.
Lefebvre, Carlos, Mons. Pecoraio, Eduardo, Mons.
Leinfcldcr, Filipe, Mons. Peeters, Hermes, O .F .M .
Lentini, Sebastião, Mons. Peinador, Antônio, C .M .F .
Lessard, Raimundo Perreault, Al.-Maria, O .P .
Levesque, Carlos Henrique, Mons. Persich, Nicolau E.
Ligutti, Luis, Mons. Philips, Gerardo, Mons.
Lio, Hermenegildo, O .F .M . Pietrobelli, Angelo, Mons.
Loizeau, Eugênio Pinna, João, Mons.
Lopes da Cruz, Manuel, Mons. Piolanti, Antônio, Mons.
Lores, Vicente Plácido de S. José, C a rm .B .M .V .I.
Lumbreras, Pedro. O .P . Pozzi, Renato, Mons.
Pujol, Clemente, S . J .
M accarrone, Miguel, Mons.
M.tlak, João Quadri, Santo, Mons.
Mnly, Eugênio Quinn, João, Mons.
Mansourati, Inácio, Mons.
M ariani, Godofrcdo, Mons. Radenac, Henrique
Martil, Germano Raes, Afonso, S . J .
Martinez de Antonana, Gregório, Rahner, Carlos, S . J .
C .M .F . Ramirez, Jaime, O .P .
Martimort, Amado Jaime Ramselaar, Antônio, Mons.
Masi, Roberto, Mons. Rawden, João
Mattioli, Pedro, Mons. Regatillo, Eduardo, S . J .
Mauro, António, Mons. Reuter, Amando, O .M .I.
Mayer, Agostinho, O .S .B . Righetti, Mário, Mons.
McCormick, João P. Robitaille, Dionísio, Mons.
McDonald, Guilherme G., Mons. Rodhain, João, Mons.
McGraw, João T. Rodriguez, Manuel J., Mons.
McManus, Frederico Romani, Silvio, Mons.
64 II. A b ertura e Ambiente

Romita, Fiorenzo, Mons. Tilm ann, Clemente, oratoriano


Roschini, Gabriel, O .S .M . Tinello, Francisco, Mons.
Rossi, João Tobin, Tom ás, Mons.
Rossi, José, Mons. Tocan el, Pedro, O .F .M .C o n v .
Rousseau, José, O .M .I . Tondini, Amleto, Mons.
Toom ey, João G., Mons.
Sabattani, Aurélio, Mons. T rapè, Agostinho, O . E . S . A .
Sala, Luís Trezzini, Celestino, Mons.
Salaverri, Joaquim, S . J . T risco , Roberto
Salm on, Pedro, O . S . B . Trom p, Seb astião, S . J .
Sanchis, Joaquim, O .F .M . Tucci, Roberto, S . J .
Sauras, Emilio, O .P .
Schaut, Heriberto, Mons. V accari, Alberto, S . J .
Schmaus, Miguel, Mons. V agaggini, Cipriano, O . S . B .
Schw arz-Eggenhofer, Artur, Mons. Valentini, Luís, Mons.
Sennot, Roberto, Mons. Van den Broeck, Gommaro, O .Prem .
Seumois, André, O .M .I . Van den Eynde, D am ião, O .F .M .
Shea, Jorge, Mons. Verardo, Raimundo, O .P .
Sigmond, Raimundo, O .P . Verm ecrsch, Leopoldo, P .A .
Sikora, Ladislau, Mons. Viganò C attaneo, Egidio, S . D . B .
Spada, André, Mons. Violardo, Jaim e, Mons.
Spallanzani, César, Mons. V isser, João , C . S S . R .
Spence, Francisco G. Von Euw, C arlos
Springhetti, Emílio, S . J . Von Phul Mouton, Ricardo
Stack, João G.
Stakem eier, Eduardo, Mon9. W agner, João , Mons.
Stankevicius, José, Côn. W agnon, Henrique
Stano, Caetano, O .F .M .C o n v . W elykyj, Atanásio, O . S . B . M .
Stefanizzi, Antônio, S . J . W hite, Porter, J.
Steinmueller, João, Mons. W hitty, Pedro, Mons.
Stephanou, Pelópidas, S . J . W illebrands, João , Mons.
Stickler, Afonso, S . D . B . W irz, Jorge
Suárez, Laureano, S . P . W itte, João, S . J .
Sullivan, João R. W o jn ar, Melésio, O .S . B . M .

Talatinian, Basilio, O .F .M . Xiberta, Bartolom en, O .C a rm .


Tasco n , Tom ás, O .P .
T avard , Jorge, A .A . Zacarias de S. Mauro, O .F .M .C a p .
Th ils, Gustavo, Côn. Zannoni, Guilherme, Mons.
7. Observadores e Hóspedes não-Católicos.

P e l a PRIM EIRA VEZ NA H IS-


tória dos Concílios igrejas e comunidades cristãs que não estão
em comunhão com a Só Apostólica receberam o convite de enviar
seus representantes como "observadores”. O art. 18 do Regula­
mento do Concílio permite que êles possam assistir às Sessões
Públicas e às Congregações Gerais do Concilio. O Secretariado
para a União dos Cristãos, hàbilmente dirigido pelo velho Car­
deal B ea, estabeleceu contactos com diversas igrejas e comuni­
dades não-católicas, ofereceu-lhes tôdas as informações neces­
sárias sobre a natureza do Concílio, e depois de ter obtido res­
posta favorável, enviou a tôdas elas convites para que delegas­
sem seus representantes. UOsservatore Romano de 15/16 de
outubro publicou a seguinte lista :

Da Igreja Ortodoxa Russa (Patriarcado de M oscou): Arcipreste Vital


Borovoy, Professor na Academia teológica de Leningrado; Arquimandrita
Vladimiro Kotliarov, Vice-Chefe da Missão Russa em Jerusalém.
Da Igreja Copla do Egito: Pe. Youhanna Girgis, que já foi Inspetor
no Ministério da Instrução Pública; Dr. Tadros Mikhail Taidros, cx-
M agistrado de Côrte de Apelação, de Alexandria, no Egito.
Da Igreja Ortodoxa Síria: Pe. Ramban Zakka B. Iwas.
Da Igreja Ortodoxa da Etiópia: Abade Pedro Gabre Sellassie; Dr.
Haile Mariam Teshome.
Da Igreja Armênia: Pe. Vardapet Karekim Sarkissian, Reitor do Se­
minário Armênio de Antélias, no Libano.
Da Igreja Ortodoxa Russa no Estrangeiro: Mons. Antony, Bispo de
Genebra. Arcipreste Igor Troyanoff, Reitor das Igrejas Orientais Rus­
sas de Lausana e Vevey, na Sulça.
Da Igreja dos Antigos Católicos (União de Utrecht): Côn. Pedro
João Maan, Professor de Nôvo Testamento no Seminário de Amersfoort.
Da Comunidade Anglicana: Rev. Dr. João Moorman, da Igreja da
Inglaterra, Bispo de Ripon, na •Inglaterra; Rev. Dr. Frederico Grant,
da Igreja Episcopaliana Protestante, Professor emérito de Teologia bí­
blica no Seminário Teológico Union, de New York City; Dr. Haroldo

Concilio II — s
II. Abertura e Ambiente

de Soysa, da Igreja da índia, do Paquistão, Burm a e C eilão, arcediá-


cono de Colombo e Reitor da "D ivinity School” de Colombo, no Ceilão.

Da Federação Mundial Luterana: P ro f. D r. Kristen E. Skydsgaard,


Professor de Teologia Sistem ática na Universidade de Copenhague, na
D inam arca; Prof. Dr. Jorg e Lindbeck, Pro fesso r de T eo lo gia Histórica
na Y ale University de New Haven, nos E E .U U .
Da Aliança Mundial Presbiteriana: Rev. Hébert Roux, P a sto r da
Igreja Reformada da França, encarregado para as relações intercon-
fessionais, em P a ris; Rev. Dr. Douglas W . D. Shaw , da Ig reja da E s­
cócia, Pastor assistente de Edim burgo, na E scó cia ; Rev. P ro f. Jam es H.
Nichols, da Igreja Unida Presbiteriana, Pro fesso r de H istória Moderna
da Igreja no Colégio Teológico de Princeton, nos E E .U U .

Da Igreja Evangélica Alemã: Prof. Dr. Edmundo Schlink, Ordinário


de Dogmática na Universidade de Heidelberg, na Alemanha.

Da Convenção Mundial das Igrejas de Cristo (D iscíp u lo s): Rev.


Jesse M. Bader, Secretário G eral da Convenção.

Da União Mundial de Consultação dos Amigos: Dr. Ricardo Ullmann,


Professor no W oodbroke College, em Birmingham , na Inglaterra.

Do Conselho Internacional Congregacionatista: Rev. Dr. D oylas Hor-


ton, ex-M oderador Geral do Conselho, de Randolph, nos E E .U U ;
Rev. Prof. Dr. Jo rg e B. Caird, do M ansficld College, de O xford, na
Inglaterra e que substitui o 'P r o f . G. H. W illiam s.

Do Conselho Mundial M etodista: Rev. Frederico P. C orson, Bispo


da Igreja Metodista, Presidente do Conselho Mundial M etodista, de Fi­
ladélfia, nos E E .U U .; Rev. Dr. Harold Roberts, Principal do Colégio
Teológico de Richmond, na In glaterra; Rev. Dr. Alberto C. O utler, P ro ­
fessor de Teologia na Southern M cthodist University, em D allas, nos
E E .U U .

Do Conselho Mundial de Igrejas (G en eb ra ): Rev. Dr. Lucas Vischer,


Secretário para a investigação da Comissão “ Fé e C onstituição", de
Genebra.

Da Associação Internacional do Cristianismo Liberal: P ro f. Dr. L. J.


Van Holk, Professor na Universidade de Leiden, na Holanda; Prof.
Dr. J. L. Adams.

Hóspedes do Secretariado para a União dos Cristãos: Rev. Rogério


Schutz, Prior da comunidade protestante de T aizé, na F ra n ça ; Rev.
M ax Thurian, da mesma comunidade; Rev. P ro f. Dr. O scar Cullmann,
P rofessor nas Universidades de B asiléia e P a ris; Rev. P ro f. G. C.
Berkouw er, Professor na Universidade P rotestan te de Amsterdam, na
Holanda; Rev. Arcipreste Alexandre Schmemann, vice-D ecano do Sem i­
nário Ortodoxo São VIadimiro de New York, nos E E .U U .; Rev. Dr.
Stanley I. Stuber, de Jefferson City, Missouri, nos E E . U U . ’; Rev. Dr.
José Jackson, de Chicago, Illinois, nos E E .U U .; Rev. Côn. Bernardo
C. Paw ley, da Igreja da In glaterra; Mons. C assiano, Reitor do Instituto
Teológico russo-ortodoxo São Sérgio, de Paris.
7. Observadores e Hóspedes não-Católicos 67

No Congresso Pan-ortodoxo de Rodes, em 1961, ficara de­


cidido que tôdas as Igrejas da ortodoxia tomariam, diante do
Concilio, a mesma atitude. O Patriarcado de Moscou, entretanto,
resolveu romper êste pacto. Após vários meses de contactos ha­
vidos entre o Secretariado do Cardeal Bea e algumas persona­
lidades do Patriarcado de Moscou, Mons. J. Willebrands (S e ­
cretario G eral deste mesmo Secretariado) tomou a iniciativa de
ir diretamente a Moscou, onde estêve entre 27/9 e 2/10. Mas
apenas no dia 10 de outubro, vésperas da abertura do Concí­
lio, reuniu-se o Santo Sínodo para deliberar e resolver a res­
peito. Ficou então decidido enviar dois observadores oficiais
(m encionados no elenco supra), que chegaram à tarde do dia
11-10, de modo que não puderam assistir à solenidade da aber­
tura. A decisão do Patriarcado de Moscou surpreendeu as outras
Ig rejas O rtodoxas.
No dia 8 de novembro de 1962, o Cardeal Agostinho Bea,
Presidente do Secretariado para a União dos Cristãos (nome
oficial em latim : “ad unitatem christianorum fovendam” ), con­
cedeu aos jornalistas credenciados pelo Serviço de Imprensa do
Concílio uma entrevista sôbre os observadores e hóspedes não-
católicos, da qual reproduzimos aqui o essencial:

Creio que a primeira pergunta que vos interessará será esta: se es­
tamos satisfeitos com as reações dos cristãos não-católicos perante o
Concilio? — Resposta: Foi divulgada nestes dias uma expressão minha,
dita depois da Audiência que o Santo Padre concedeu aos Observadores
das comunidades não-católicas, na qual eu dizia: " E ’ um milagre, é um
verdadeiro m ilagre!” Dc fato, eu havia dito estas palavras, que não
eram apenas fruto da impressão naquela Audiência, que, aliás, foi uma
coisa singular e única no gênero, comovente pela delicadeza e familia­
ridade que o próprio Santo Padre lhe queria emprestar. Não, aquelas
palavras refletem o conjunto das experiências que tivemos nestes dois
anos, decorridos desde a constituição do Secretariado. Pode-se dizer
com tôda objetividade que tôdas estas experiências cresceram aos pou­
cos e sempre mais, tanto em amplitude quanto em profundidade. Não
me deterei a falar do calor com que foi saudada a instituição do Secre­
tariado e do vastíssim o interêsse que suscitou e ainda encontra um
pouco, pode-se dizer, por todo o mundo. Acentuemos apenas dois fatos
destas últimas sem anas: O primeiro fato é a presença de mais de qua­
renta Observadores delegados ou Hóspedes do Secretariado, que repre­
sentam quase tôdas as grandes federações das confissões cristãs não-
católicas nascidas da Reforma e ainda um bom número de Igrejas Orien­
tais. E ’ verdade que esta nossa alegria — digo “nossa”, incluindo tam­
bém os Observadores e as Confissões que êles representam — é um
tanto turbada pela ausência de bom número de veneráveis Igrejas Or­
todoxas do Oriente. E ’, contudo, necessário reconhecer que foram feitos
grandes esforços para superar os obstáculos existentes e, depois que
II. Abertura e Ambiente

não conseguim os o resultado esperado, procuramos evitar cuidadosam ente


que as relações reciprocas em Cristo sofram por causa dêste momen­
tâneo insucesso. — O outro fato é — olhando as c oisas com os olhos
da fé — também mais im portante e é que tan tas comunidades cristãs
não-católicas fizeram repetidos apelos, também oficiais, aos próprios fiéis,
de rezar pelo Concilio. D arei alguns nomes, que, m ais que outros argu­
mentos, ilustram a variedade de confissões e o fato como tais apelos
surgem por tôda parte no mundo inteiro. Esperam os que, num segundo
tempo, quando as coisas estiverem um pouco mais calm as, de poder
fazer um elenco mais completo. Comecemos com a Europa. Pediram ora­
ções pelo Concílio, em uma ou outra form a: A Fed eração Evangélica
Suíça, os Protestantes Austríacos, o Arcebispo de Canterbury Dr. Ram sey,
Prim az de tôda a Inglaterra, aos Anglicanos de tôda a In glaterra, os
Velhos Católicos da Suiça, o Conselho da Igreja E vangélica na Alema­
nha, o Conselho Mundial das Igrejas, a Aliança Mundial das Associações
C ristãs das Juventudes (pro testan tes). Nos E stados Unidos sem elhante
apêlo foi feito pelo Bispo Presidente dos Episcopalianos, o Dr. Lichten-
berger (que em novembro de 1962 fêz uma visita de cortesia ao Santo
Pad re) e da Igreja Unida Presbiteriana dos E stados Unidos. No C a­
nadá foi o Conselho da Igreja Unida de M ontréal que fêz o apêlo.
Dos outros continentes temos conhecim ento do apêlo da Arquidiocese
Anglicana de B risbane (A ustrália) e do Arcebispo e dos B ispos das
"ín d ias Ocidentais” reunidos em Georgetown, na Guiânia Inglesa. O mes­
mo fizeram várias Comunidades, que por uma ou outra razão não pude­
ram enviar O bservadores, como por exemplo, o P a tria rca Ecumênico
de Constantinopla c a Aliança B atista Mundial. E ’ sobretudo a esta União
na oração que eu chamo um verdadeiro m ilagre, se com pararm os esta
atitude com as outras tomadas na altura do Concílio V aticano I. A
respeito desta união, o Santo Padre disse no seu discurso-program a da
abertura do Concilio que a unidade, pedida por C risto em ardente ora­
ção para a Igreja, brilha com mais êste raio — e aqui cito textualm ente
— "d a unidade de oração e de ardentes desejos, com que os cristãos
separados desta Sede Apostólica aspiram a estar unidos conosco” . Êste
é já , portanto, um primeiro principio de unidade e, sobretudo, um sólido
fundamento da nossa esperança em Deus. Se Jesus assegurou que ouvi­
ria as nossas orações onde quer que dois se unissem para pedir qual­
quer coisa em Seu Nome, com quanto m aior razão não ouvirá a oração
de todos os batizados em C risto, que, espalhados por todo o mundo,
se unem à oração de Jesus, Sumo Sacerdote, ao Pai " a fim de que
todos sejam u m . . . ”

Pergunta: Que probabilidade existe de que uma ou outra das ve­


nerandas Igrejas Ortodoxas enviem ainda no futuro O bservadores ofi­
ciais ao Concílio ou ao menos algum dos seus membros para assistir,
a titulo pessoal, como Hóspede do S ecretariad o? — Resposta: E ’ muito
difícil dizê-lo. Bem sabeis que houve diversas notícias sôbre as con­
sultas mais ou menos amplas a tal propósito feitas um pouco por tôda
parte, mas até agora nada obtivemos de concreto. Suceda o que su­
ceder, é para desejar que se consiga realizar qualquer coisa que seria
sem dúvida muito útil para am bas as partes e para a causa universal
da união.
7. O bservadores e Hóspedes não-Católicos 69

Pergunta: Os Observadores estão contentes com as possibilidades


que até agora lhes foram proporcionadas, com o que viram e ouviram?
— R esposta: E sta pergunta, na realidade, devia ser feita a «les e não
a mim. Contudo, falando em geral, tenho a impressão - aliás confir­
mada por outros — de que estão verdadeiramente contentes, lá sabeis
que muitos deles ate fizeram declarações à imprensa neste sentido e
que nelas se mostram satisfeitos, se não mesmo admirados, por exem­
plo, da organização do Concilio, da maneira delicada com que foram
recebidos e têm sido tratados, da confiança com que todos são trata­
dos, da confiança com que também são postos à sua disposição todos
os documentos que se entregam aos próprios Padres Conciliares. Outros
louvaram, por exemplo, a universalidade do Concilio. Vários ficaram im­
pressionados particularmente pela liberdade que reina nas discussões.
Finalmcntc, posso afirmar que o Secretariado féz todo o possível para
os ajudar no cumprimento da sua delicada missão. De resto, ao sau­
d á-los na recepção que deu em sua honra o Secretariado, pediu-lhes
sinceram ente que depositassem em nós tôda a confiança para nos di­
zerem tudo o que lhes desagrada, as críticas, sugestões e desejos. De
propósito para isso o Secretariado organiza de fato tôdas as semanas
pelo menos uma reunião dos Observadores com diversos membros do
Secretariado, nas quais se pode falar e discutir abertamenle.

Pergunta: A respeito do fato de que muitos ficaram impressiona­


dos pela liberdade de discussão, foi-me proposta esta pergunta: se se
julga que exatamente êste aspecto do Concilio é apto a fomentar a
aproxim ação reciproca com os cristãos não-católicos. — Resposta: Pa­
rece-me que se deve responder sem mais que sim. Basta perguntar-se
por que é que a liberdade de discussão surpreendeu e impressionou.
Creio que a razão é esta: assim como se sabe que na Igreja Católica
se salienta tantas vêzes e fortemente o princípio de autoridade, mesmo
em matéria de doutrina, facilmente se imagina que seus membros, sem
excetuar os Bispos, sejam quase subjugados por esta autoridade de
modo a ficarem impedidos (perdoem-me a expressão) de pensar com
a própria cabeça. Neste sentido, de fato, alguém, e mais do que um,
se maravilhou com razão, ao ver que um Cardeal pode falar em sen­
tido oposto ao de outro. Por outras palavras: não se compreende, mui­
tas vêzes, como a mais completa adesão á autoridade do Magistério
da Igreja não exclui de modo nenhum a liberdade de opiniões sôbre
tantas outras coisas que ainda não foram esclarecidas nem definidas.
E ’ pois tanto mais útil observar no Concilio, de maneira muito concre­
ta, por outro lado, a completa adesão à doutrina da Igreja, quando esta
já foi esclarecida e definida, tal como se pôde verificar na profissão de
fé, que tanto os Bispos como o Papa pronunciaram solenemente na
abertura do Concílio. Na realidade, trata-se apenas da absoluta fideli­
dade à autoridade que se recebeu de Cristo e que foi explicada pela
Igreja no decurso dos séculos. Mas ao lado desta fidelidade é bom ver
também a liberdade de opinião e de discussão, quando a doutrina ain­
da há de ser esclarecida ou definida, ou quando se apresentam aplica­
ções práticas.
70 II. A bertura e Ambiente

Pergunta: Quais são, além do contacto e da assistência a dar aos


Observadores, as funções do S ecretariad o durante o C oncilio? Ou, mais
concretam ente: será encargo do Secretariad o sustentar diante do Con­
cilio os projetos elaborados na fase preparatória e apresentados à Co­
missão Central e por ela discutidos? — R esposta: Certam ente, o S e­
cretariado há de defender seus projetos. Bem sabeis que, há alguns dias
(no dia 22 de outubro) na C ongregação Geral, foi lido neste sentido
uma interpretação autêntica que o Santo Pad re deu mediante o S ecre­
tariado do Estado. A declaração esclarecia que o S ecretariad o, como as
outras Comissões, devia exam inar e discutir os projeto s de sua compe­
tência, apresentá-los às C ongregações G erais, corrigi-lo s quando neces­
sário, etc. Além disso, será também chamado a colab orar com a s outras
Comissões nas m atérias mistas que se referem à união dos cristãos.
Crônica
das Congregações Gerais
Intro d u ç ão .

“ C o n g r eg aç ão g er a l" e 1
o nome oficialmente usado para designar a reunião plenária
na Aula Conciliar. As Congregações Gerais são pròpriamente
as grandes sessões de trabalho do Concílio Ecumênico, durante
as quais os Padres Conciliares examinam, discutem e votam os
projetos ou textos (chamados também “esquemas”) elaborados
pelas Comissões Preconciliares, louvando-os ( “placet”), emen­
dando-os ("p la cet iuxta modum” ) ou rejeitando-os ( “non pla­
c e t" ) , como bem lhes parecer diante do Senhor. Cada Congre­
gação é presidida, em nome e com autoridade do Papa, por
um dos dez Cardeais do Conselho de Presidência. Nas Congre­
gações cada Padre veste o hábito coral de seu respectivo grau:
os Cardeais vermelho ou roxo, conforme o tempo litúrgico, com
roquete, manteleta e murça; os Patriarcas, hábito roxo, com ro-
quete, manteleta e murça; os Arcebispos e Bispos, hábito roxo,
com roquete e manteleta; os Bispos Orientais, Abades e Supe­
riores Gerais, os hábitos corais próprios de cada Rito ou Or­
dem. Além destes “Padres” podem assistir às Congregações Ge­
rais também os Peritos oficiais nomeados pelo Papa (não os
particulares, nem os secretários dos B ispos), os Observadores e
Hóspedes do Secretariado para a União dos Cristãos e os fun­
cionários e empregados para os trabalhos técnicos.
Problem a particularmente delicado para o cronista é o do
sigilo prescrito nos artigos 26 e 27 do Regulamento. No início
tinha-se a im pressão de que esta questão seria satisfatòriamente
resolvida pelo Serviço de Imprensa do Concílio. Na esperança
de serem suficientemente informados para poderem também in­
formar, 1.255 jornalistas de todo o mundo se inscreveram nesta
Repartição do Concílio. Com esta finalidade foi instalada, na
V ia delia Conciliazione, junto à Praça de São Pedro, uma Sala
de Imprensa muito ampla e moderna, com todos os recursos
74 III. Crônica das C on gregaçõ es G erais

técnicos para redigir e transm itir as notícias. Aos poucos, po­


rém, os jornalistas verificaram que de fato só faltava uma única
coisa para poderem inform ar o mundo sôbre os trabalhos con­
ciliares: faltava-lhes apenas a n o t ic ia ...
Verdade é que o Serviço de Im prensa fornecia diàriam ente
em sete línguas um boletim sôbre os trabalhos na Aula C onci­
liar. Eu mesmo, no primeiro mês, ajudei na redação dêstes co­
municados oficiais, responsável que era pelo setor de língua
portuguêsa. M as os próprios chefes dos sete setores lingüísticos
estavam proibidos de entrar na Aula Conciliar. Éram os infor­
mados primeiramente por Mons. F austo V allainc, Chefe geral do
Serviço, para podermos então inform ar os outros jorn alistas. Mas
notamos logo que os dados eram vagos, cheios de reticências,
unilaterais, tendenciosos, favoráveis apenas a uma parte dos P a ­
dres Conciliares, à dos conservadores, que, além disso, como se
viu depois, constituíam de fato a minoria. P ara podermos saber
o que realmente havia acontecido, tínham os que esperar o dia
seguinte, com prar os jorn ais de Rom a, inclusive os com unistas,
que se mostravam bem melhor inform ados; ou esperar m ais uns
dias, até que chegasse L a C r o i x ou, melhor ainda, L e Monde,
de P a ris, ou outros jornais e revistas da Fran ça, da Alemanha,
da Holanda, dos E stad o s U n i d o s ...
Logo no início do Concilio, no dia 13 de outubro, o Papa
concedera uma audiência especial aos jornalistas. No memorá­
vel D iscurso que então nos fêz, pediu que déssem os ao mundo
uma “inform ação leal e o b jetiv a " e não “inexata ou incomple­
ta ”. E exclam ou: “Que ocasião melhor que a dum Concílio
Ecum ênico, meus Senhores, para tomar um contacto sério com
a vida da Ig reja , para colhêr inform ações nos organism os res­
ponsáveis, que refletem com clareza o pensamento do E p isco­
pado da Ig reja universal, aqui reunido!" E acrescentou Sua S a n ­
tidade: “ Não vos será difícil descobrir e proclam ar os móveis
verdadeiros que inspiram a ação da Ig reja no mundo, e pode­
reis ser testem unhas de que ela nada precisa de esconder, segue

’ A crônica sôbre o Concilio de J c a n P é l i s s i e r , em La Croix.


consiste precisamente em resumir, mais ou menos brevemente, os pró­
prios discursos pronunciados pelos Padres Conciliares durante as Con­
gregações Gerais, tal como o fazemos mais adiante. Ê ste método é lou­
vado num artigo de UOsservatore Romano de 15-11-1962, p. 3, onde se
lê: “P a ra o Vaticano II La Croix enviou a Roma um de seus redatores
m ais capazes: Jean Pélissier. Sob o título "Journal du Concile” consagra
diàriam ente uma página à assembléia romana, na qual se encontra, além
do boletim oficial, um comentário do Diretor Pe. W enger a crônica con­
fiada a Pélissier e notícias de várias agências”.
Introdução 75
um cammho reto e sem desvios e nada deseja tanto como a
verdade D isse ainda o Sumo Pontífice aos jornalistas do Con­
cilio : E stais a serviço da verdade e é na medida em que lhe fordes
fieis que haveis de corresponder à expectativa dos homens” ;
" a deform ação da verdade pelos órgãos de informação pode,
pois, ter consequências incalculáveis". Admoestou-nos então o
Sumo Pontífice contra um perigo: “E ’ grande, sem dúvida, a
tentação de adular o gôsto de certa c lie n te la ... Põe-se em re­
levo um pormenor puramente exterior e deixa-se na sombra a
realidade profunda na apresentação dum fato, na análise duma
situação, duma opinião ou duma crença. Aqui está, bem o vêdes,
um modo de obscurecer a v e r d a d e ..."
Pois bem, era precisamente contra estas normas pontifícias
que pecavam os nossos boletins informativos; e era exatamente
à tentação indicada pelo Papa que êles haviam sucumbido. Numa
Congregação Geral, por exemplo, a maioria dos oradores falava
contra o uso exclusivo do latim na Liturgia e apenas um ou
outro defendia esta prática até agora tradicional na Igreja —
nosso boletim cra, então, o eco fiel destas raras vozes favorá­
veis ao latim, procurando deixar nos leitores a impressão de que
apenas uns poucos inovadores mais avançados desejavam tam­
bém um uso moderado do vernáculo. Abandonei então o Ser­
viço de Imprensa e passei ao corpo dos Peritos oficiais, po­
dendo desde aquêle dia assistir aos históricos debates do Con­
cílio. Houve reação contra os métodos de informação descritos e
conseguiu-se pequena melhora a partir da crônica sôbre a vigé­
sim a Congregação Geral ( 1 6 -X I-6 2 ). Mas mesmo depois houve
distorções. Exemplo típico de uma informação unilateral, ten­
denciosa e desleal, temo-lo no boletim sôbre a vigésima terceira
Congregação (2 0 de n o v .): Discutiam os Padres, há vários dias,
o projeto de Constituição sôbre as Fontes da Revelação; sabia-
se, mesmo pelos boletins oficiais, que havia forte oposição; fêz-
se então, no dia 20, a famosa votação para saber se os Padres
C onciliares estavam dispostos ou não a continuar na discussão
cio projeto. O boletim do Serviço de Imprensa assim noticiou
o resultado: “ Efetuada a operação de voto e de apuração, fo­
ram publicados os resultados. Êstes eram favoráveis à conti­
nuação dos debates sôbre as Fontes da Revelação . Cte leitores,
evidentemente, podiam e deviam concluir do texto oficial que
a maioria dos Padres havia dado voto favorável ao texto. Só
no dia seguinte puderam saber pelos jornais de Roma que, sôbre
2 .2 0 9 votos, apenas 822 tinham sido de fato favoráveis à con­
76 III. Crônica das C on gregaçõ es G erais

tinuação e que 1.368 Pad res C onciliares haviam condenado o


texto, sem contudo conseguirem derrubá-lo, por não terem atin­
gido os dois terços requeridos pelo Regulamento.
Assim, pois, é evidente que o boletim oficial é em si insu­
ficiente para dar sôbre o andam ento do C oncilio aqu ela infor­
mação leal e objetiva que o Sumo Pon tífice recomenda e a que
todos os católicos têm direito. Por outro lado, o art. 18 § 2 do
Regulamento do Concílio concede aos O bservadores n ão -católi­
cos o direito de inform ar suas com unidades “ de iis quae in
Concilio acta sunt". D ever-se-ia dizer, pois, que “ a fortiori” os
Bispos devem poder inform ar também suas com unidades sôbre
as mesmas coisas. D ai por que, de fato, não se observou a
prescrição do sigilo. B a stav a com prar os jo rn ais c as revistas
e acom panhar atentam ente os noticiários para fazer as atas do
Concílio. Como, porém, estas mesmas fontes publicavam também
não poucos m exericos, tornando-se difícil ou até im possível dis­
cernir a verdade do boato, resolvi com pletar as inform ações
oficiais do boletim, fazendo pequeno resumo de cada interven­
ção conciliar, ao menos a partir da décim a nona C ongregação
G eral (1 4 de n o v.), quando com ecei a assistir pessoalm ente às
discussões na B a sílica de São Pedro. As inform ações com ple­
mentares sôbre as C ongregações anteriores, em bora ainda insu­
ficientes, são contudo de fonte absolutam ente digna de fé.
Perguntei a vários Exm os. Senhores Arcebispos e Bisp o s
do B rasil sôbre a liceidade ou oportunidade da publicação des­
tas notas. T od os achavam que, em vista do que de fato já foi
publicado e do que por tôda parte se fala públicam ente, já não
há razão de m anter o sigilo de um segredo inexistente; e ju s ­
tamente para orientar mais seguram ente num mar também de
incontroláveis boatos, esta publicação parece até necessária. De
fato, aliás, nestas notas nada se diz que já não se ja de domínio
público e não poucas vêzes, como perceberá o leitor, fui discre­
to ou mantive absoluto silêncio.
Na crônica das C ongregações G erais, a parte anterior ao elen­
co dos nomes é, com algum as abreviações de coisas absolu ta­
mente supérfluas, o texto do boletim oficial, sempre fundido num
bloco só ; depois segue a parte estritam ente com plementar da
qual acim a se falou.
13-10-1962: Primeira Congregação Geral.
Eleição das Comissões.

E sta manha, a s n ove ho-


ras, teve início a primeira Congregação Geral do Concílio Ecumê­
nico Vaticano II, na Basílica Vaticana. Foi presidida pelo Car­
deal Tisserant. Depois da Santa Missa, celebrada por Mons.
Hermenegildo Florit, Arcebispo de Florença, no Altar Conciliar,
foi recitada pelo Secretário Geral a invocação ritual do Espi­
rito San to: “ Adsumus” . Logo depois começaram os trabalhos.
Foram distribuídos três fascículos aos Padres Conciliares que
ainda não os haviam recebido: o primeiro, com a lista completa
dos Padres Conciliares; o segundo com o elenco dos Padres
que já foram membros ou consultores das comissões preparató­
rias do C oncílio; o terceiro, contendo as dez cédulas, uma para
cada Comissão, destinadas á votação dos 160 membros, cuja
eleição, segundo a norma do regulamento, é da competência dos
Padres Conciliares. No início da votação pediu a palavra o Car­
deal Liénart, Bispo de Lille, ao qual se associou também o
C ardeal Frings, Arcebispo de Colônia, para apresentar uma mo­
ção de adiamento, motivando-a com a necessidade de uma pré­
via consulta, especialm ente entre os membros das diversas cir­
cunscrições eclesiásticas, que permitirá aos Padres Conciliares
um melhor conhecimento dos candidatos. Por causa desta mo­
ção, já um pouco antes das 10 horas a Assembléia foi dissolvida.
O Conselho de Presidência reuniu-se logo depois na Aula Con­
ciliar. Estavam presentes os dez Presidentes, os Cardeais Tisse­
rant, Tappouni, Liénart, Caggiano, Gilroy, Ruffini, Alfrink, Pia
y Deniel, Spellman e Frings.
76 III. Crônica das C on gregaçõ es G erais

tinuação e que 1.368 Pad res C onciliares haviam condenado o


texto, sem contudo conseguirem derrubá-lo, por não terem atin­
gido os dois terços requeridos pelo Regulamento.
Assim, pois, é evidente que o boletim oficial é em si insu­
ficiente para dar sôbre o andam ento do C oncilio aqu ela infor­
mação leal e objetiva que o Sumo Pon tífice recomenda e a que
todos os católicos têm direito. Por outro lado, o art. 18 § 2 do
Regulamento do Concílio concede aos O bservadores n ão -católi­
cos o direito de inform ar suas com unidades “ de iis quae in
Concilio acta sunt". D ever-se-ia dizer, pois, que “ a fortiori” os
Bispos devem poder inform ar também suas com unidades sôbre
as mesmas coisas. D ai por que, de fato, não se observou a
prescrição do sigilo. B a stav a com prar os jo rn ais c as revistas
e acom panhar atentam ente os noticiários para fazer as atas do
Concílio. Como, porém, estas mesmas fontes publicavam também
não poucos m exericos, tornando-se difícil ou até im possível dis­
cernir a verdade do boato, resolvi com pletar as inform ações
oficiais do boletim, fazendo pequeno resumo de cada interven­
ção conciliar, ao menos a partir da décim a nona C ongregação
G eral (1 4 de n o v.), quando com ecei a assistir pessoalm ente às
discussões na B a sílica de São Pedro. As inform ações com ple­
mentares sôbre as C ongregações anteriores, em bora ainda insu­
ficientes, são contudo de fonte absolutam ente digna de fé.
Perguntei a vários Exm os. Senhores Arcebispos e Bisp o s
do B rasil sôbre a liceidade ou oportunidade da publicação des­
tas notas. T od os achavam que, em vista do que de fato já foi
publicado e do que por tôda parte se fala públicam ente, já não
há razão de m anter o sigilo de um segredo inexistente; e ju s ­
tamente para orientar mais seguram ente num mar também de
incontroláveis boatos, esta publicação parece até necessária. De
fato, aliás, nestas notas nada se diz que já não se ja de domínio
público e não poucas vêzes, como perceberá o leitor, fui discre­
to ou mantive absoluto silêncio.
Na crônica das C ongregações G erais, a parte anterior ao elen­
co dos nomes é, com algum as abreviações de coisas absolu ta­
mente supérfluas, o texto do boletim oficial, sempre fundido num
bloco só ; depois segue a parte estritam ente com plementar da
qual acim a se falou.
13-10-1962: Primeira Congregação Geral.
Eleição das Comissões.

E sta manha, a s n ove ho-


ras, teve início a primeira Congregação Geral do Concílio Ecumê­
nico Vaticano II, na Basílica Vaticana. Foi presidida pelo Car­
deal Tisserant. Depois da Santa Missa, celebrada por Mons.
Hermenegildo Florit, Arcebispo de Florença, no Altar Conciliar,
foi recitada pelo Secretário Geral a invocação ritual do Espi­
rito San to: “ Adsumus” . Logo depois começaram os trabalhos.
Foram distribuídos três fascículos aos Padres Conciliares que
ainda não os haviam recebido: o primeiro, com a lista completa
dos Padres Conciliares; o segundo com o elenco dos Padres
que já foram membros ou consultores das comissões preparató­
rias do C oncílio; o terceiro, contendo as dez cédulas, uma para
cada Comissão, destinadas á votação dos 160 membros, cuja
eleição, segundo a norma do regulamento, é da competência dos
Padres Conciliares. No início da votação pediu a palavra o Car­
deal Liénart, Bispo de Lille, ao qual se associou também o
C ardeal Frings, Arcebispo de Colônia, para apresentar uma mo­
ção de adiamento, motivando-a com a necessidade de uma pré­
via consulta, especialm ente entre os membros das diversas cir­
cunscrições eclesiásticas, que permitirá aos Padres Conciliares
um melhor conhecimento dos candidatos. Por causa desta mo­
ção, já um pouco antes das 10 horas a Assembléia foi dissolvida.
O Conselho de Presidência reuniu-se logo depois na Aula Con­
ciliar. Estavam presentes os dez Presidentes, os Cardeais Tisse­
rant, Tappouni, Liénart, Caggiano, Gilroy, Ruffini, Alfrink, Pia
y Deniel, Spellman e Frings.
78 III. Crônica das C on gregaçõ es G erais

Comentário do cronista:

E sta primeira intervenção do C ardeal Liénart revelou desde


o início das sessões conciliares o espírito dc independência, fran­
queza e liberdade que caracteriza o presente C oncilio. Deixou
também clara, desde o primeiro dia, a existên cia, entre os P a ­
dres Conciliares, de ao menos dois grupos. O s jo rn ais certa­
mente exageraram esta divisão, nos grandes títulos do dia se­
guinte, mas o faro jornalístico adivinhou muito bem a direção
que o Concilio iria tom ar, quando berrou pelo mundo em fo ra:
“Terminou o Predom ínio da Cúria Rom ana” ; “A Rebelião dos
B isp o s” ; “A Ala Renovadora impõe uma Lista In tern acion al";
“ Luta feroz entre duas T en d ên cias” ; “O fensiva contra a C úria
Rom ana” ; “Os B ispos Europeus rejeitam os Candidatos de O tta-
viani” ; “ O Pap a sim patiza com os Inovadores” ; etc. Mons. Fulton
Sheen, no serm ão que fêz aos jornalistas do C oncílio no dia
21 de outubro, ironizou finamente o método dos jorn alistas de
aplicar ao Concílio as categ o rias políticas. Falou assim :

Outro dia um jorn alista disse-me que seu diretor nos E stados Uni­
dos lhe havia solicitado metesse um pouco m ais de “jazz político” nos
seus despachos, isto é, impusesse ao Concilio os valores da política,
acentuando as disputas e diferenças de opinião entre os vários grupos
de Bispos. E sta é a "novidade”. Suponhamos que o ponto de vista dèste
diretor fôsse praticado na época do prim eiro Concilio da Igreja em
Jerusalém . Como teriam êles redigido suas noticias? Talvez assim : Um
grupo de jorn alistas teria comunicado ao seu diretor cm C artago que
muito murmúrio se fazia por causa da lentidão nos trabalhos prepa­
ratórios do Concílio. Outro grupo teria enviado longo artigo ao Times
de Roma sôbre a tensão existente entre o grupo centralizador e os outros
favoráveis a uma autoridade m ais descentralizada. Dizia assim : “ Fonte
autorizada comunicou que existe crescente oposição à autoridade papal
representada por Pedro. T a l oposição parece apoiar-se nos Bispos João
e Tiag o, que certa vez chegaram a tentar, mediante influências exter­
nas, tornar-se iguais ao Papa ou até superá-lo. E ’ até mesmo conhe­
cido que a mãe dêles procurou a Nosso Senhor para conseguir o pri­
meiro e o segundo lugar na Igreja em vez de Pedro”. Numa outra men­
sagem ao Mensageiro de Antioquia lê-se o seguinte: "G rupo ocidental
e oriental. Os Bispos Filipe e André, êste último irmão do Papa, perten­
cem ao grupo oriental. Foram êles que, em certo momento, quando ten­
taram obter uma audiência com o Senhor, se encontraram com os gre­
gos. Um porta-voz autorizado do próxim o Concilio declarou que o Papa
Pedro está vivamente im pressionado pelo fato de que uma pessoa tão
chegada à Cúria como o Bispo André, tivesse participado abertam ente
do bloco oriental". A Fôlha da T ard e'd e Jerusalém , que enviou o maior
número de correspondentes ao Concílio, transmitiu a seguinte resenha ao
chefe da redação: “O líder do grupo conservador é o Bispo Mateus
que, em todos os seus escritos, muito se interessa por Israel e que deu
Eleição das Comissões 79

bem_ pouca ou melhor nenhuma atenção ao grupo estrangeiro. O Bispo


Sim ão Zelotes, conhecido conservador que se opõe a qualquer influência
estrangeira cm Israel, está intimamente ligado a êle. O bloco liberal é
guiado por Bispos que vieram dos novos paises subdesenvolvidos da
A sia e da África. Parece que um dos mais influentes Padres do Con­
cilio, que nunca foi membro da Cúria de Jerusalém, está dando todo
seu apoio a êste grupo. Seu nome é Paulo. Hàbilmente ajudado por
B arnabé, Tim óteo e Tito, êste erudito grupo seria capaz de obstruir
qualquer decisão que Pedro e o grupo conservador poderia promover
com relação à circuncisão; querem dar também a maior importância
às m issões estrangeiras”. O redator-chefe do Correio da Galiléia man­
dou ao seu jornal a seguinte noticia: "B ons observadores em Jerusa­
lém dizem que o Concilio estará nitidamente dividido com relação à
questão da Sagrada Escritura. (Jm dos blocos, chamado "Místico”, está
sob a direção de João, que, aliás, já está pensando em compor um tra­
tado profético sôbre o futuro da Igreja apoiando-se inteiramente no Pen-
tateuco e sua origem mosaica, na qual c r í firmemente. Outro bloco,
conhecido como "Crítica Moderna” , é dirigido por Tomé, que mais de
uma vez afirmou nada aceitar da Escritura além do que possa ser cien­
tificamente controlado. Seus sequazes lembram sempre estas palavras
ditas por êle: "Creio sòmente naquilo que posso ver e tocar”. Muitos
dizem ser bem possível que o Concilio continuaria interrompido por
anos, logo que entrar em debate o problema da Escritura”.
16-10-1962: Segunda Congregação Geral.
Eleição das Comissões.

H o je , à s 9 h o ra s da m a -
nhã, pela segunda vez reuniu-se, na Aula Conciliar, a C ongre­
gação G eral do Concílio Ecum ênico V aticano II, com o fim de
eleger os 160 M em bros das dez Com issões C onciliares. Abriu-
se a Reunião com a Sa n ta M issa, celebrada por Mons. Casim iro
M orcillo González, A rcebispo de S a ra g o ça. A seguir o Sr. C ar­
deal E . T isseran t recitou a invocação do “Adsumus” . Estavam
presentes 2 .3 7 9 Padres C onciliares. Antes de iniciar os trab a­
lhos, o Secretário G eral do Concilio Mons. P éricles Felici le­
vou solenemente o E vangelho ao altar onde continuou aberto
entre duas velas acesas durante tôda a reunião. 1 D eram -se de­
pois, da parte de alguns P ad res Conciliares (o s C ardeais O tta-
viani, Roberti e R u ffin i), várias intervenções de esclarecim ento
sôbre os trabalhos da votação, decidindo logo o Conselho de
Presidência sôbre as propostas feitas. Procedeu-se então à pri­
meira votação. O s trabalhos de apuração com eçarão esta tarde
e continuarão depois, já que o número de cédulas é muito ele­
vado e os nomes a serem controlados vão além de 4 0 0 .0 0 0 .
Foi com unicado a todos que podem ser eleitos como M em bros
das C om issões todos os Pad res Conciliares, salvo os que já fa ­
zem parte do Conselho de Presidência e do Secretariado para
Questões Extraord in árias, os Presidentes das dez Com issões e
do Tribunal Administrativo, o Secretário G eral e os quatro Su b-

1 O "Evangelho do Concilio” é o Códice Urbinato latino 10 da B i­


blioteca Vaticana. T ra ta -se de um esplêndido manuscrito da Renascença
Italiana, da côrte de Urbino. Desde 1667 pertence à Biblioteca V aticana.
Foi feito por ordem de Frederico de Montefeltro. As 255 fôllias em
pergaminho foram escritas pela elegante mão de M ateus de Contugi entre
os anos de 1475-1482. Tem 1082 in iciais e 499 tftulos em ouro. O pre­
cioso manuscrito é colocado sôbre o trono que serviu também para isso
no Vaticano I.
Eleição das Comissões

Secretários, ontem nomeados pelo Sumo Pontífice, a saber: Mon­


senhores Casimiro Morcillo González, Arcebispo de Saragoça-
Jo a o Villot, Arcebispo titular de Bósforo e Coadjutor de Lião’
Joa o Jo se Krol, Arcebispo de Filadélfia nos Estados Unidos!
Guilherme Kempf, Bispo de Limburgo, na Alemanha. Para a elei­
ção foi distribuído aos Padres um fascículo com os nomes dos
membros propostos pelas várias Conferências Episcopais. Mas é
evidente que cada um continua absolutamente livre de escolher
os membros que desejar, ainda que não estejam nas listas pro­
postas. J á compilavam os Padres suas listas, quando foi lida
em seis línguas (latim, francês, italiano, espanhol, alemão e in­
g lês) uma comunicação sôbre o modo como se procederá nos
futuros trabalhos conciliares e nas votações. Entre outras coisas
foi dito que as intervenções nos debates se farão sempre se­
gundo as normas do Regulamento e que a ordem do dia será
conhecida ao menos cinco dias antes da respectiva Congregação
Geral, para que as eventuais comunicações ou emendas possam
ser entregues três dias antes ao Secretário Geral. Comunicou-
se também que na próxima semana o primeiro projeto conciliar
a ser discutido será o esquema de Constituição sôbre a Sagra­
da Liturgia.

Comentário da Rádio Vaticano:

A segunda CongTegação Geral do Concilio, reunida têrça-feira pas­


sada, dia 16, trouxe à ordem do dia a votação para eleger os compo­
nentes das 10 Comissões especializadas que orientarão os trabalhos do
Concilio. Essa votação deveria ter começado na primeira Congregação
Geral, sábado, dia 13. Fôra, porém, adiada naquela data em conse-
qüência de uma proposta do Cardeal Liénart, apoiada pela palavra do
Cardeal Frings e pelos aplausos de grande maioria da assembléia ecumê­
nica. O adiamento em questão, concedido pelo Presidente de turno Car­
deal Tisserant, dava aos Padres do Concilio maior possibilidade de es­
colher com calma os próprios candidatos às diversas Comissões e mais
tempo para conhecê-los de perto e para consultar as diversas Confe­
rências Episcopais.
Como era em parte de esperar, o episódio deu azo a interpreta­
ções um tanto exageradas. Nem faltou quem visse no Concílio um Par­
lamento episcopal, dividido por lutas internas, de que o acontecido no
dia 13 seria apenas uma pequena prova.
Porque o sucedido está muito longe de corresponder objetivamente
a essas idéias, que poderíamos qualificar de "sensacionalismo político-
religioso", UOsservatore Romano de segunda-feira, dia 15, esclareceu
a opinião pública, escrevendo que tal episódio, longe de constituir uma

Concilio II — e
III. Crônica das C on gregaçõ es G erais

dem onstração de parlam entarism o, se inscreve na atm osfera própria dos


Concílios, onde — citam os o jorn al do Vaticano — "o s extrem os do
paradoxo autoridade-liberdade se consorciam e se realizam ”. E acrescen­
ta : “A autoridade está ao serviço da liberdade, a liberdade ao serviço
da autoridade e am bas ao serviço da verdade”. LO sservatore Roma­
no afirma depois que seria insensato e perigoso “ im aginar os Padres
do Concilio meramente passivos, repetidores m ecânicos, presenças inertes
numa assem bléia”. Sublinhando os numerosos e com plexos problemas
sôbre que o Concilio terá que pronunciar-se, diz: “S ôbre alguns assun­
tos haverá sem dúvida consenso unânime. Mas poderá também suceder
que sôbre determinadas questões os debates sejam acesos. E sta previsão
hipotética corresponde a um exame histórico dos concílios precedentes.
Explica-se pelo clima de defesa da verdade revelada em que vivem os
Padres Conciliares quando se devem pronunciar sôbre questões teoló­
gicas. E ’ também natural que nos Concílios surjam o que se chama vul­
garmente "partid os” do centro, da direita ou esquerda, conforme as po­
sições moderadas ou extrem istas assumidas durante os debates. Há até
quem fale de oposição. M as êstes assim cham ados "p artid os" ordenam -se
todos à busca e expressão da verdade. Um concilio, apesar da assis­
tência divina, inclui a livre discussão humana. Não teria valor um con­
cilio em que fôssem suprim idos sistem aticam ente todos os projetos, pro­
postas, pareceres e discussões que visam esclarecer a verdade.
Parece que um dos motivos que levou certa imprensa sensaciona­
lista ou partidária a tecer com entários excessivos, elaborados segundo os
critérios de uma receita pessoal, não foi somente o pedido de adiamento
da votação. Pedido, aliás, perfeitam ente compreensível, pois visava dar
a todos os Pad res do Concilio maior possibilidade para escolher com
calma os próprios candidatos. Foi principalmentc a distribuição de uma
brochura aos Padres C onciliares onde se indicavam os nomes de ca r­
deais, patriarcas, arcebispos e bispos que já tinham tomado parte nos
trabalhos preparatórios do Concilio, como mem bros de Comissões. Pre­
tendeu-se ver nesta distribuição uma tácita indicação de candidatos.
Suspeita sem fundamento, pois estas listas não eram nem novas nem
secretas. Há dois anos estavam ã venda muitas publicações que as apre­
sentavam. Além disso o número de pessoas contidas nestas listas ern
muitíssimo superior ao dos 160 que devem ser eleitos. Não se pode,
portanto, falar de limitação da liberdade individual dos Padres do Con­
cílio. M ais: As personalidades indicadas nas listas representam valores
incontestáveis. E a Igreja os foi buscar em todos os Continentes. Não
houve, pois, na distribuição destas listas nenhum espirito de facção ou
de grupo. Nem mesmo as listas em questão foram recomendadas ã es­
colha dos Padres Conciliares.
Dc tudo isto se pode concluir quanto a Igreja é leal para com a
imprensa. Mesmo sabendo antecipadamente que o desejo natural de sen-
sacionalism o poderia distorcer a verdade sim ples e concreta do Concí­
lio, admitiu e credenciou um número extraordinariam ente grande de
representantes da im prensa internacional, dando-lhes tôdas as facilidades
para informarem o mundo sôbre o andamento do Concilio.
Eleição das Comissões 83

Como se vê, o perigo de interpretações pessoais e, por isso mes­


mo, de desfigurações da verdade, pode ameaçar os leitores incautos e
deformar-lhes a perspectiva com que devem encarar os trabalhos do Con­
cilio. Pessoas bem formadas sabem muito bem que Deus não aniquila
o homem, que o divino não destrói o humano, que a graça não prescinde
da natureza, que o Espirito Santo conduz os homens por caminhos que
são divinos e ao mesmo tempo humanos.
Se nunca se saísse desta perspectiva global, realista e concreta,
evitar-se-iam tantos problemas fictícios, problemas criados pela imagi­
nação e pelo desejo imoderado de sensacionalismo.
A prim eira Congregação Geral do Concílio constituiu um exemplo
hem evidente de liberdade c autoridade inteiramenle ao serviço da ver­
dade, do humano que colabora com o divino, da Igreja que age através
da ação dos homens, sob o influxo da graça.
20-10-1962: Terceira Congregação Geral.
Mensagem à Humanidade.

E xa ta m en te as 9 horas
desta manhã, a terceira C ongregação G eral do Concilio Ecum ê­
nico V aticano II iniciou seus trabalhos na Aula de São Pedro.
Logo depois da San ta M is s a ', celebrada por Mons. M artinho
Antônio Jansen, B ispo de Roterdão (H o lan d a), o Secretário G e­
ral Mons. Felici deu a ordem do “ex tra om nes” (saiam to­
d o s), podendo permanecer na Aula Conciliar sòm ente os Padres,
os Peritos, os O ficiais e os O bservadores delegados. Estavam
presentes 2 .3 4 0 Pad res C onciliares. L evantou-se então tôda a
A ssem bléia dos Pad res a fim de seguir em silêncio e com o de­
vido respeito e devoção a cerim ônia da entronização do Evan­
gelho sôbre o Altar central. A seguir, o Secretário G eral anun­
ciou que o Em. Sr. Cardeal Liénart estaria na Presidência da
terceira C ongregação G eral. Este logo ocupou o lugar no centro
da mesa e recitou a invocação do “Adsumus” . Foi lida uma
com unicação em latim pelo Secretário G eral e em francês, inglês,
alem ão, espanhol e árabe, pelos cinco Su bsecretários, noticiando
aos Pad res Conciliares que, a pedido do Conselho de Presidência
do C oncilio, considerando o grande número de votos dados tam­
bém a candidatos que não atingiram a requerida m aioria ab so­
luta, e no desejo de que os trabalhos conciliares avancem com
maior rapidez, o San to Padre d ign ara-sc de dispensar da norma
do art. 3 9 do Regulamento. P or esta razão devem ser conside­
rados eleitos os primeiros 16 Padres que receberam o maior
número de votos em cada Comissão. Term inada a com unicação,

1 Com relação à S anta M issa, celebrada tôdas as manhãs na Aula


Conciliar, antes da Congregação Geral, o cronista fêz as seguintes obser­
vações: a M issa é celebrada sempre com o altar versus populum; é dia­
logad a; depois da elevação, durante o "grand e silêncio” até o Pater
Noster, o côro canta, apesar de tôdas as recentíssim as leis con trárias;
sempre se omitiram as três Ave-M arias no fim.
Mensagem ã Humanidade 85

Mons. Felici iniciou a leitura dos nomes dos Membros eleitos.


Porem deu apenas^ a lista das sete Comissões já apuradas, a
sa b er: das Comissões de Fé e Moral, de Liturgia, das Mis­
sões, das Ig rejas Orientais, dos Bispos e do Governo das Dio­
c eses, da Disciplina do Clero e do Povo Cristão, e do Aposto­
lado Leigo (a esta última Comissão uniu-se também o Secre­
tariado ^reconciliar para a Imprensa e o Espetáculo). Para a
Comissão da Sagrada Liturgia foram publicados também os no­
mes dos oito Membros nomeados pelo Sumo Pontífice. Por fim,
o Secretário Geral leu uma Mensagem, em língua latina, diri­
gida à humanidade, proposta pelo Conselho de Presidência aos
Padres Conciliares, com a aprovação do Sumo Pontífice. O tex­
to da Mensagem foi distribuído entre os Conciliares para que
pudessem tomar melhor conhecimento e na votação, após cêrca
de meia hora de estudo e recolhimento, dar o parecer levantan­
do ou permanecendo sentados. Alguns Padres manifestaram suas
observações e a Mensagem foi aprovada. Encerrou-se a terceira
Congregação Geral com a oração do “Agimus” (nós vos agra­
d ecem os), às 13 horas. No próximo dia 22 de outubro, segun­
da-feira, reunir-se-á pela quarta vez, iniciando então os traba­
lhos conciliares pròpriamente ditos, de estudo e discussão do
projeto dc Constituição sôbre a Sagrada Liturgia.

O boletim oficial publicado pelo Serviço de Imprensa não forneceu


os nomes dos Padres que intervieram nesta terceira Congregação Geral.
La Civiltà Cattolica (Nç 2679, de 3-11-62) dá os seguintes nomes: os
Cardeais Bacci, Wiszynski, Ferrctto, Cicognani, Léger; o Patriarca Má­
ximo IV Saigh; os Arcebispos e Bispos Fiordelli, Ferrero di Cavaller-
leone, Heenan, Compagnone, Hurley, Peruzzo, Costantini, Parente, Le-
fèvre, Calewaert, Flahiff, Malula, Hamvas, Echeverria, Maalouf, Pereira
da Costa, D’Agostino, Ancel, Carraro, Kandela, La Ravoire-Morrow,
Ferrari, Venczio, Rabban, Guano, Trindade Salgueiro, Arrieta Villalobos
c mais quatro outros de que não temos os nomes. Os mencionados Pa­
dres pediram a palavra para discutir um ou outro têrmo ou modo de
falar ou para propor pequena emenda ou acréscimo à Mensagem do
Concilio à humanidade.
O texto da Mensagem será reproduzido, em português, mais adian­
te, entre os documentos conciliares. Muito se fantasiou na imprensa acêr-
ca da origem dêste documento. Mons Guerry, Arcebispo de Cambrai,
na França, na Carta Pastoral que publicou imediatamente depois da
Prim eira Sessão do Concílio (cf. La Documentation Cathotique de 3-2-1963)
decidiu-se por isso a revelar claramente o modo como se originou a
Mensagem. Eis suas palavras:
"Desde o mês dc setembro, certos Bispos escreviam ao Cardeal Se­
cretário de Estado a fim de lhe chamarem a atenção para a importância
capital dc uma mensagem dos Padres do Concílio ao mundo, desde sua
86 III. C rônica das C on gregaçõ es G erais

abertura e antes dos debates teológicos. Com real satisfação souberam


(les em seguida que, por seu lado, dois teólogos, os PP. Chênu e Congar,
haviam redigido o texto de uma mensagem dèste gênero e tinham-na
enviado a seis Cardeais de diversos paises. Êsse texto, que começava
a circular, era muito interessante: colocava-se no plano da moral natu­
ral, o que, cm outras circunstâncias, era um terreno normal para um
diálogo com os descrentes, mas não tinha nenhuma probabilidade dc
ser aceito por um Concilio. O projeto não falava do Salvador. Teve,
pois, de ser afastado. Uma equipe de quatro Bispos franceses preparou
um projeto de mensagem numa perspectiva inteiramente diversa, a pró­
pria perspectiva da obra do Concilio: o desígnio do amor de Deus para
a salvação do mundo. Essa mensagem testemunhava a solicitude da Igre­
ja pelas angústias materiais e espirituais dos povos, por seus sofrimentos
e aspirações. Mas esta atenção aos problemas humanos, essa abertura às
necessidades dos homens eram apresentadas como uma exigência de fi­
delidade ao Evangelho e ao amor de Cristo aos homens. O anúncio da
boa-nova da salvação encontrava-se com as necessidades mais profundas
dos homens c primeiramente com a necessidade de um Salvador, Jesus
Cristo, "o único Salvador". Êste projeto dos Bispos é que foi submetido
pela equipe ao Cardeal Secretário de Estado, depois ao Conselho de
Presidência e finalmente à Assembléia Conciliar".
22-10-1962: Quarta Congregação Geral.
A Liturgia em geral.

. , R e u n iu -s e e s t a m a n h a , a s
9 horas, na Aula Conciliar, a quarta Congregação Geral do XXI
Concílio Ecumênico. Celebrou a Santa Missa o Exmo. Sr. Ar­
cebispo de Paderborn (Alem anha), Mons. Lourenço Jaeger. En­
tronizado o livro dos Santos Evangelhos por Mons. Morcillo, um
dos cinco Subsecretários, ocupou a Presidência o Emo. Sr. Car­
deal Gilroy, Arcebispo de Sydney (Austrália). A seguir, o Se­
cretário G eral passou a ler os resultados das eleições das três
Comissões restantes, cuja apuração terminara sábado à tarde:
a Comissão da Disciplina dos Sacramentos, a dos Religiosos e
a dos Sem inários e Universidades Católicas. Aliás, êstes resul­
tados, contràriamente ao que publicam certos jornais que se re­
velam cada dia mais seguidores de fantasmas do que informa­
dores objetivos da verdade, demonstraram o verdadeiro espírito
de fraternidade e ecumenicidade que anima os Padres Conci­
liares. Nas dez Comissões, com efeito, há representantes de 42
nações, num equilíbrio feliz de nacionalidade e competência.
Começou-se então com o estudo do projeto de Constituição sôbre
a Sagrad a Liturgia que, como já foi anunciado, será o primeiro
assunto de discussão propriamente conciliar. Falou primeiro o
Cardeal Arcádio Larraona, C .M . F ., Presidente da Comissão Li-
túrgica. Deu breves esclarecim entos sôbre o tema a ser debatido
e pediu ao Padre Fernando Antonelli, O .F . M ., Secretário da
mesma Comissão, para ler as relações sôbre o projeto agora
em debate. A Constituição sôbre a Sagrada Liturgia é bastante
extensa: partindo da definição c natureza da Liturgia como tal,
estuda o Mistério Eucarístico (a Santa M issa), os Sacramentos,
o O ficio Divino (o Breviário), os Sacramentais, o Ano Litúrgi-
co, a Música c Arte Sacra, os Livros Litúrgicos, o Movimento
Litúrgico atual, a necessidade de uma sadia educação para a pie­
III. C rônica das C on gregaçõ es G erais

dade litúrgica. A escolha do esquema “ De Sa cra Liturgia” como


primeiro assunto a ser tratado nas sessões conciliares, de pre­
ferência a outros temas talvez de maior interesse para a opinião
pública mundial, com preende-se fàcilm ente se se refletir sôbre
a finalidade do Concílio. Pois, segundo o pensamento de João
X X III e a Mensagem dos Pad res C onciliares à Humanidade,
pretende-se antes de mais uma renovação interna da Igreja. A
obra da Redenção, predita por Deus na S agrad a E scritura c
realizada por Cristo, é continuada pela Ig reja principalm ente me­
diante a Liturgia, com o sacrifício da Cruz perpètuam entc reno­
vado sôbre o altar, com os Sacram en tos, com a homenagem co ti­
diana da oração pública. Etim ològicam ente a palavra “ Liturgia”
significa obra, serviço, ofício público em preendido c exercido
no interêsse da comunidade. Desde a antiguidade, em sentido
estrito significa as obras, os atos de culto a Deus, realizados
pelos sacerdotes em nome dos fiéis. E neste sentido o vocábulo
“ L iturgia” foi recebido pela Ig reja desde os prim eiros séculos.
Portanto, a Liturgia pode ser definida como o culto prestado a
Deus pela Ig reja. E, neste culto, não é apenas parle externa
e sensível, nem mero cerimonial educativo. Tam bém não pode ser
considerada como sim ples conjunto de leis e preceitos pelos quais
a hierarquia eclesiástica regula os atos de culto. Ainda que não
encerre em si tôda a atividade da Ig reja, é, no entanto, a Li­
turgia fonte da qual promana a gra ça c a meta para onde ten­
dem as alm as. — Ontem, dom ingo, dia 21, às 10,30 horas, reu­
niu-se no palácio da S a g rad a C ongregação dos Ritos a Com is­
são da Sag rad a Liturgia, sob a Presidência do Cardeal Larraona.
E stavam presentes todos os membros eleitos pela Assem bléia
C onciliar e os nomeados pelo Papa. D urante a reunião, à qual
participaram também os Peritos da Com issão, o Cardeal L arrao­
na nomeou V ice-P resid entes os Cardeais O iobbe e Jullien e de­
signou como Secretário o Padre Fernando Antonelli, O . F . M . ,
Professo r no “Antonianum” de Roma e Prom otor G eral da Fé.
— No início da S essão de hoje Mons. Felici comunicou também
que o Secretariad o para a União dos C ristãos é equiparado em
tudo às outras dez C omissões Conciliares, o que sig n ifica: 1) que
êste Secretariad o apresentará diretam ente ao C oncílio os p roje­
tos elaborados na fase preparatória; 2 ) que tais projetos serão
discutidos, corrigidos e novamente redigidos seguindo o mesmo
procedimento usado nas outras Comissões e de acôrdo com as
normas dos artigos 5, 56-61 do Regulam ento; que, no caso em
que deva tratar questões m istas, o Secretariado há de colaborar
A 1 -iturgia cm geral

normalmente com as respectivas Comissões também interessa­


das, segundo o art. 58, 2 do Regulamento. A importante decisão
foi textualmente assim redigida e lida:

c -, ~ c? ,ari‘!í,,s ad unita,em christianorum fovendam secundum art H


§ 2 Ordinis Conclu eadem munera Iiabct et iisdem con stat personis at
in penouo praeparatoria Concilii. Ad vitandas incertitudines de eius mu-
neribus liaec pressius determinantur:
1 ) S e c re ta ria ts , sicut antca, munus habet fovendi c o n ta cts cum
fratn bus separatis. Hoc maxime refertur ad contactus cu.n Observato-
ribus delegatis et Hospitibus S e c re ta ria ts quorum cura, ad normam
art. 18 § 3 peculiaritcr committitur Secretariat!'.
2 ) Secretariatus, ad normam art. 5 Ordinis Concilii, etiam operam
“navat decretorum vel canonum schematics expendendis atque emen-
dandis iuxta suffragia a Patribus in Congregationibus generalibus
expressa”.
3) In Congregationibus Generalibus Secretariatus eodem modo pro-
cedit ac Commissiones conciliares ad normam artt. 56-61. Cardinalis
P raeses désignât relatorem e membris Secretariatus, qui argumentum
schem atis a S e c re ta ria t ad disceptandum propositi breviter illustret (art.
5 6 ). Haec schemata, sicut ea quae a Commissionibus proponuntur, dis-
cutiuntur, emendantur, ad suffragandum proponuntur (artt. 57-61).
4 ) Si a g i t r de quaestionibus quae pluribus Commissionibus com­
munes sunt, etiam Sccretarius in quaestionibus quae ad ipsius ambitum
pertinent, non aliter ac Commissiones, ad normam art. 58 § 2 ad operam
suam in Commissionibus mixtis praestandam vocatur.
Ex Audientia Sanctissimi em.mo Card. Secretario Status die 19 octo-
bris concessa.

Na discussão desta manhã houve um total de 20 intervenções:


1 — Cardeal José FRINGS, Arceb. de Colônia, na Alemanha: de­
seja que todos recebam o texto original elaborado pela Comissão Li-
túrgica Preconciliar. Louva o projeto como tal: "Placet". E ’ como que
o testamento de Pio XII. é sóbrio e apto para promover a união dos
cristãos.
2 — Cardeal Ernesto RUFFINI, Arceb. de Palermo, na Itália: pro­
põe pequenas modificações no texto.
3 — Cardeal Jaim e l.ERCARO, Arceb. de Bolonha, na Itália: louva
o aspecto pastoral do projeto e sobretudo a preocupação de fazer par­
ticipar mais consciente e ativamente os fiéis nos atos liturgicos.
4 — Cardeal João B. MONTIN1, Arceb. de Milão, na Itália: agra­
da-lhe a preocupação pastoral no texto. Pede que não se entre em
particularidades; dá algumas normas para o uso do latim e do verná­
culo: o latim só na parte estritamente reservada ao oficiante, o mais
seja rezado em vernáculo, pois a Liturgia è para os homens.
5 — Cardeal Francisco SPELLMAN, Arceb. de Nova York, nos
E E .L M J.: deseja o vernáculo só na catequese e instrução dos fiéis, o
resto em latim.
90 III. Crônica das C on g regaçõ es G erais

6 — Cardeal Júlio D O E PFN E R , Arceb. de Munique, na Alemanha.


7 — Cardeal Pedro TA SU O DOI, Arceb. de Tóquio, no Japão.
8 — Cardeal Raul SILVA ENR1QUEZ, Arceb. de S an tiago, no Chile.
9 _ Patriarca Paulo II CHEIKH O, para os caldeus de Babilônia.
1 0 — Egidio VAGNOZZI, D elegado Apostólico nos E E .U U . : deseja
que a Constituição sôbre a Sagrad a L iturgia use m ais os textos da
Encíclica “M ediator D ei” de Pio X II.
11 — Dionísio Eugênio H U RL E Y, Arceb. de Durban, na Á frica do Sul.
12 — Guilford YO UN G, Arceb. de Hobart, na Austrália.
13 — Manuel D EL RO SÁ RIO , Bispo de Zam boanga, nas Filipinas.
14 — G. B. SC A PIN E LL I, A ssessor da C ongregação das Igrejas
Orientais.
15 — Henrique D A N TE, Secretário da S. C ongregação dos Ritos:
impugnou e condenou o projeto ; defendeu que tòda legislação litúrgi-
ca deve continuar exclusivam ente nas mãos da San ta S é ; que o latim
deve permanecer como está ; e o vernáculo pode ser usado na prega­
ção e na catequese.
1 6 — Fidélis GARCIA M ARTIN EZ, Bispo tit. de Sululi (E sp a n h a ):
é absolutam ente pela manutenção do latim e que tudo continue em latim
como até agora.
17 — Guilherme K E M PF, Bispo de Lim burgo, na Alemanha.
18 — C arlos E. SABÓIA BAN DEIRA D E M ELLO, Bispo de Palm as,
no Brasil.
19 — Afonso UN GARELLI, Prelado de Pinheiro, M aranhão, no
Brasil.
20 — João H ERVAS Y B E N E T , Prelado de Ciudad Real, Espanha.

Comentário do cronista:
Segundo um artigo publicado em LO sservatore Romano de 11-10-62
(dia de abertura do C oncílio) e assinado pelo Pe. Ciappi, O . P . , Mes­
tre do Sacro Palácio, o Concilio deveria in iciar com a discussão do pro­
jeto de Constituição sôbre as Fontes da Revelação. Mas na segunda
Congregação Geral foi comunicado que o debate conciliar com eçaria com
o projeto de C onstituição sôbre a Sagrad a Liturgia. Alguns Padres ti­
nham apresentado uma moção neste sentido. Não queriam que o Con­
cilio, que já era noticia de prim eira página na im prensa mundial, abrisse
com discussões teológicas difíceis e sutis, ou até com condenações e aná­
temas. E ra necessário apresentar desde o inicio algo de positivo, ao
alcance de todos, com modificações palpáveis. A propaganda preconci-
liar abrira am plas perspectivas neste sentido. Para corresponder a esta
universal expectativa, nada m ais apto que a renovação da vida litúr-
gica. P o is a Liturgia é o grande e quase único meio de contacto com
o povo. E ’ nos atos litúrgicos e através dêles que os fiéis recebem a
doutrina e a vida cristã. E se, principalmente nestes últimos anos, fa­
lam os do fenômeno da "d cscristianização”, se é verdade que as “mas­
s a s ” se distanciam cada vez mais sensível e dolorosamente da “ Ig reja ”
(em bora esta "m assa de fiéis” deva ser também " Ig r e ja ” ), se assistim os
a uma quase generalizada ignorância religiosa (não só no B rasil ou
na América L atin a), é — ao menos em grande parte — porque a Li­
turgia deixara de ser popular, porque os atos litúrgicos já não esta­
vam ao alcance do povo ou da m assa. Transform ara-se a Liturgia cada
A Liturgia em geral 0,

vez mais e cristalizara-se numa espécie de rerimn„i,i j


simples organização do culto público num decoratlv°. numa

=sr*=is í r .t ó H S ta r s
S V ~ 3?ÍLÍ!^r,S tó —
ção do fiel assistente. Nao sintonizavam. Enquanto o sacerdote recitava
em língua que os assistentes não compreendiam belas oraçõeslitúrgicas
os fieis se defendiam talvez (e o caso era ainda louvável), com o tèrçó
na mao, repetindo dezenas de Ave-Marias. A maioria dos que assis­
tiam, faziam-no mais com a simples consciência de cumprir com um
« Ver í»ue Cra ,mpôst0 para buscar doutrina e alimento na
Mesa da Palavra e do Corpo do Senhor.
Ora, o X X I Concilio Ecumênico queria, antes de mais, uma renova­
ção religiosa. Seu idealizador João XXIII o repetira sem cessar: o
Concílio Vaticano II deve ter um caráter nitidamente pastoral. Foi a
constante norma que recebêramos já nas Comissões Preconciliares. Não
só, pois, não podia faltar a renovação litúrgica, mas era de todo conve­
niente começar com a revisão sincera, verdadeira e pastoral da Liturgia.
Seria também pela primeira vez que um Concilio Ecumênico, estando
literalmente presentes todos os Bispos do orbe católico, haveria de tra­
tar ex professo a vida litúrgica não só dos sacerdotes mas — e sobre­
tudo — dos fiéis.
Contudo, os Padres do Concilio não precisavam improvisar. A Divi­
na Providência já vinha preparando o campo desde o inicio do século
X X , principalmente a partir de São Pio X. Todos conhecemos aquilo
que se chamou de “ movimento litúrgico". Até a década de 1920 êste
movimento não havia cogitado propriamente em reformas litúrgicas:
queria apenas uma "restauração” de ritos antigos. Lá por 1920 veio o
prim eiro grito de renovação. Queria-se a restauração da noite pascal
e da quinta-feira santa, não propriamente uma nova estrutura litúrgica
destas duas solenidades, mas apenas uma modificação no tempo ou na
hora de sua celebração. Bem mais profundo, porém, já era o desejo,
manifestado anos depois, de maior utilização da língua vernácula na Li­
turgia. Deu motivos a sérias discussões no decênio de 1930-1940 e quase
fèz perigar todo o movimento. Na Alemanha, país onde o movimento era
mais forte, o Episcopado resolveu patrocinar os desejos de_ renovação
litúrgica, defendendo o movimento contra exacerbadas acusações, mesmo
em Roma. O Cardeal Bcrtram, de Breslau, foi, neste campo, um dos
pioneiros de maior autoridade. Em 1943 o Bispo de Tréveris Dom
Borncw asscr enviou à Santa Sé uma fundamental Promemória "D e
Restauratione Litúrgica in Germania". Mais decisivo, porém, para a re­
novação, foi o inquérito promovido pela Ephemerides Liturgicae (Ro­
ma) de 28-1-1948, pedindo a seus colaboradores de todo o mundo ex­
primissem claramente seus desejos de reforma nos livros litúrgicos. Foi
então que começou a discussão cientifica de uma ampla e generalizada
renovação da vida litúrgica. Em 1951 realizou-se no mosteiro beneditino
de M aria la a c h (Alemanha) o primeiro Congresso Internacional de Es­
tudos Litúrgicos. Repetiram-se depois regularmente èstes encontros in-
92 III. Crônica das C on gregaçõ es G erais

ternacionais em Odilienberg (1 9 5 2 ), em Lugano (1 9 5 3 ), em Lovaina


(1 9 5 4 ), em Assis (1 9 5 6 ), em M ontserrat (1 958) e em Munique (1 9 6 0 ).
Ao mesmo tempo promovcram-se também encontros e congressos nacio­
nais ou regionais, um pouco em todo o mundo, com propostas e suges­
tões concretas de renovação, reforma ou restauração. M onografias, re­
vistas especializadas, a rtigos em outras revistas p astorais ou eclesiásti­
cas, conferências, todo êssc conju nto criou não apenas uma nova atm os­
fera litúrgica, mas preparou todo um exército de liturgistas, especializados
nos vários campos que a Liturgia apresenta. Com o debate emergiram
também cada vez mais claram cnte os grandes princípios que devem orien­
tar um sadio trabalho de renovação da Liturgia:
1. “A prim eira e principal fonte do verdadeiro espirito cristão está
na participação ativa nos sacrossantos M istérios da Ig r e ja ” . Eram as
palavras de S. Pio X , no motu próprio Tra le sollcdtudine, de 22-11-1903,
tomadas como ponto de partida para nova estruturação doutrinária da
vida litúrgica: é através da Liturgia que a Ig reja continua a obra da
Redenção e Santificação. Por isso, Liturgia não é apenas parte exterior,
ritual do culto que a Igreja presta a D eus; nem é um mero cerimonial
educativo; nem o conju nto de leis e preceitos que regulam os atos
do culto: é, em prim eiro lugar, fonte da qual promana a graça, é meio
de salvação. T ransfere-se assim a Liturgia da periferia para o centro
da vida cristã, que im plica a afirm ação do pleno direito de cada cristão
à ação litúrgica como ação com unitária, consequência do B atism o. Dai
a im portância que tomou, no movimento litúrgico, a idéia do Corpo
Místico dc Cristo, da vocação sacerdotal de todos os cristãos, do pri­
mado da ação objetiva da L iturgia sôbre a subjetiva do homem, do
Ano Eclesiástico como expressão ativa da ação redentora de C risto,
da centralidade do m istério pascal (e por isso da M issa) no pensamento
teológico sôbre Cristo c na interpretação da Sagrad a Escritu ra. Voltou-
se assim a uma visão m ais im ediata ou existencial e concreta de C risto,
da Redenção e da Igreja.
2. A fim de que a Liturgia possa, de fato, produzir frutos, não
basta que se observem na ação litúrgica tôdas as leis para uma cele­
bração válida e licita : é necessário também que o s jiéis nela participem
consciente e ativamente. M as é sobretudo através da língua que êles
poderão ter tal participação consciente. Daí a necessidade de reservar
para a comunidade assistente boa parte da ação litúrgica, como ora­
ções dialogadas, aclam ações, ladainhas, leituras, cânticos, gestos c posi­
ções. Não basta entender (seria a participação consciente): é necessário
que possam também acompanhar, tomar parte, não ser meramente pas­
sivos (c a participação ativa).
3. A natureza com unitária e hierárquica da Liturgia reclama, sempre
que o rito o permita, uma celebração pública e com unitária, e não
apenas particular ou individual. Dai a necessidade de devolver à Liturgia
o ambiente comunitário, renovando a consciência da unidade espiritual
entre os fiéis, no Corpo M ístico de Cristo. Dai também o empenho dos
liturgistas em renovar os atos litúrgicos de tal m aneira que o aspecto
comunitário apareça mais claramente.
4. E ’ necessário distinguir na Liturgia entre os elementos de origem
divina (que, por isso, são im utáveis) e os de instituição humana (por
isso mesmo mutáveis e acom odáveis). E ’ a natureza teândrica também
A Liturgia em geral 93

da Liturgia, seu duplo caráter divino e humano, invisível e visível es­


piritual e jurídico, escatológico e administrativo. A cada elemento deve­
mos dar seu justo valor. Não podemos apreciar da mesma maneira os
elementos divinos-absolutos e os humanos-contingentes. A parte de insti­
tuição humana, por mais antiga e venerável que seja, não deixa de ser
contingente e condicionada pelas circunstâncias de tempo, lugar, meios,
modos e fins. M ais: os elementos de instituição humana não são apenas
em si mutáveis e acomodáveis, mas devem ser mudados e acomodados
às condições e circunstâncias novas que surgem com o correr dos tem­
pos c com a diversidade das nações.
5. A natureza didática c pastoral da Liturgia exige que a estrutura
dos ritos seja simples, breve, de fácil c imediata compreensão, possivel­
mente também na língua. Cada rito seja claro cm si de modo que possa
ser entendido pelo povo sem complicadas explicações, que atrapalham
a devoção e tolhem a espontaneidade. Dai a necessidade de suprimir
os ritos obsoletos, já não consentâneos com a mentalidade de hoje ou
de determinado povo (do chinês, do japonês, do banto, do a le m ã o ...) ;
de libertar-nos de arqueologismos sustentados ainda e apenas mediante
sim bolismos forçados; de eliminar as superestruturas, frutos muitas vê-
zes de falsas interpretações de ritos primitivos; e de rever certo fixismo
rubricista que conduz por vêzes a situações paradoxais.
6. E ’ preciso restituir seu indispensável valor à Liturgia da Pala­
vra. A Santa Missa não é apenas a mesa do Corpo do Senhor, mas tam­
bém da Palavra do Senhor. Desde 0 inicio do Cristianismo os fiéis se
reuniam na igreja por dois motivos: para ler a Sagrada Escritura e ce­
lebrar a Eucaristia. Urge devolver à primeira parte da Missa seu cará­
ter de catequese bíblica. Daí a necessidade de dar mais lugar à S a ­
grada Escritura na Liturgia da Missa, de selecionar textos mais abundan­
tes c ricos; e que tais leituras — coisa tão evidente que deveria ser
desnecessário dizê-lo — se façam na língua do povo.
Todo 0 desejo de renovação da Liturgia se baseia, pois, num prin­
cipio muito simples mas rico de conteúdo e consequências: que a Li­
turgia é pastoral c quando deixa de ser pastoral, deixa também de con­
seguir sua finalidade. Mas a realização prática dêste principio supõe
uma mentalidade especial tanto nos fiéis quanto nos pastôres: nos_ fiéis,
que êles não devem permanecer inativos e mudos durante a ação li-
túrgica; nos pastôres, que êles são os responsáveis por esta participação
consciente e ativa. Esta dupla convicção, a dos pastôres c a dos fiéis,
é fundamental e mais importante que qualquer reforma de ritos e ceri­
mônias que, sem tal consciência, não produziria nenhum efeito. O que
interessa ao movimento litúrgico não é nem o prurido de novidades
nem o arqucologismo, mas a preocupação pastoral de que os fieis pela
Liturgia (o grande meio de contacto entre os fiéis e os pastôres), re­
cebam de fato a Boa Nova da mensagem cristã e a participaçao nos
mistérios de Cristo.
23-10-1962: Quinta Congregação Geral.
Debates sôbre o Latim.

A Q U IN TA C O N G REG A Ç Ã O
G eral iniciou esta manhã, no horário de sem pre, com a San ta
M issa celebrada por Mons. Joã o Krol, Arcebispo de Filadélfia,
nos E stad os Unidos. Ocupou em seguida a P residên cia o Emo.
Sr. Cardeal Francisco Spellm an, A rcebispo de Nova York. S e ­
gundo os cálculos fornecidos pelo Centro M ecan ográfico, esta­
vam presentes 2 .3 6 3 Pad res C onciliares. P articu lar solenidade
foi dada hoje à entronização do Ev ang elho: Partindo da está­
tua de São Pedro, junto à qual está a m esa do C onselho de
Presidência, Mons. Jo ã o Villot, A rcebispo C oadjutor de Lião e
um dos cinco Su bsecretários do C oncilio, levou solenem ente o
livro dos Evangelhos por toda a nave central, antes de colocá-
lo sôbre o altar, enquanto a Assem bléia cantava o salm o “ Lau-
date Dominum”, alternando com o verso “Christus vincit” . O
Secretário G eral passou então a ler os nomes dos M em bros das
Com issões que substituirão os que, já eleitos pela Assem bléia,
todavia não eram elegíveis, porque já tinham sido indicados para
outros carg os do Concílio. Assim era o caso do C ardeal Estêvão
W yszynski, eleito Membro da C omissão do Apostolado dos Lei­
gos, mas que pouco antes tinha sido nomeado para o S ecreta­
riado das Questões “extra ordinem” e que agora foi substituído
por Mons. T h om as Morris, A rcebispo de Cashel, na Irlanda.
C oisa sem elhante acontecera com Mons. Teodoro Minisci, Aba­
de “nullius” de San ta M aria em G rottaferrata, que já era Mem­
bro do Secretariad o para a União dos C ristãos e, sim ultânea-
mente, fôra eleito para a C omissão das Ig rejas O rientais; foi
ag ora substituído por Mons. M ateus Kavukatt, Arcebispo de
C hangana-C herry, India. Depois disso o Secretário G eral e os
cinco Su bsecretários, cada um em sua língua, deram alguns es­
clarecim entos sôbre o modo de proceder nos trabalhos desta
Debates sôbre o latim
95

manhã. Continuou-se a seguir, no debate, iniciado ontem, sôbre


a Sag rad a Liturgia. As primeiras intervenções referiam-se ainda
ao projeto de Constituição em geral. Houve, como ontem, pare­
ceres diferentes, nos quais se refletem escolas, experiências e
problem as diversos que, porém, revelam também identidade de
d esejo em afirm ar o valor intrínseco da Liturgia para torná-la
expressão viva e real do culto que a Igreja universal presta
a Deus. A meta prefixada pelos Padres, com o debate sôbre o
tema central da Liturgia, é a de favorecer sempre mais, mor-
mente nos sacerdotes e, depois, nos fiéis, uma educação para
a autêntica piedade litúrgica, a fim de que a Liturgia possa
ser de fato fonte de graça e meio de salvação. O problema
litúrgico está hoje no centro de uma atenção cada vez mais
vasta e sensível. Nem sequer faltam pedidos de reformas mais
ou menos acentuadas, provindos de setores diferentes. A êste
propósito já a Encíclica Mediator Dei distinguia na Liturgia
entre elementos de origem divina e os de determinação huma­
na: os elementos instituídos pelo Divino Redentor não podem,
ê claro, ser modificados pelos homens; mas os elementos huma­
nos estão sujeitos a modificações, sempre aprovadas pela Sa­
grada Hierarquia, segundo as exigências dos tempos, das coisas
e das alm as.
discussão desta manhã intervieram:
Cardeal Alfredo OTTAVIANI, Secretário da S. C. do Santo
ü licio : criticou a parte doutrinária do projeto, denunciando não poucas
inexatidões. Propõe que o texto seja revisto por uma comissão de

,t0 °22°S— Cardeal José R IT T E R , Arceb. de St. Louis, nos E E .U U -:


recomenda o projeto, louva sua atualidade; pronuncia-se cm favor dum
maior uso da língua vernácula nos atos litúrgicos.
2:? - Armando FA RES, Arceb. de Catanzaro, na Ital.a: deseja abso­
luta unidade na Liturgia: na lingua, nas cerimônias e na caridade.
24 — Jacinto ARGAYA, Bispo de Mondencdo-Ferrol, na Espanha:
é pela renovação litúrgica; elimine-se o que com 0 tempo se acumu ou
e hoje já não tem mais significação para nós; acentue-se mais 0 essen­
cial e menos o acidental; é preciso voltar à simplicidade evangélica
25 _ Germano VOLK, Bispo de Mogúncia, na Alemanha, o cristão
de hoje vive fora de sua família: encontre êlc ao menos na igreja um
ambiente comunitário; use-se muito mais a língua vernácula, para haver
participação mais consciente e ativa.
26 - Sérgio MÉNDEZ ARCEO, Bispo de Cuernavaca, no México.
27 — José D ’AVACK, Arceb. de Camerino, na Itália.
28 - Garabed AMADOUNI, Exarca Apostólico para os “
Fran ça: acentua 0 aspecto pastoral na forma c no conteúdo, é pelo
uso do vernáculo.
96 III. Crônica d a s C on g regaçõ es G erais

Term inadas as intervenções de ordem geral sô brc o projeto, inicia­


ram -se os debates sôbre o proêmio c o capítulo prim eiro:
29 — Cardeal Ernesto RU FFIN 1, Arceb. de Palerm o, na Itália: fêz
uma série de pequenas observações e correções ao texto. Insistiu no la­
tim como "signum unitatis".
30 — Cardeal Jaim e D E B A R RO S CAMARA, Arceb. de São Sebas­
tião do Rio de Janeiro, no Brasil.
31 — Cardeal M aurício F E L T IN , Arceb. de Paris, na Fra n ça : é
pelo uso do vernáculo, mas com determ inação clara de seus limites.
32 — Cardeal João LANDAZURI R IC K E T T S , Arceb. de Lima, no
Peru.
33 — Cardeal Miguel BRO W N E , O . P . , da Cúria Romana.
34 — Patriarca Máxim o IV SAIGH , para os m clquitas de Antioquia:
falou em francôs c seu discurso foi publicado integralm ente por diver­
sas revistas. D isse que o uso do latim, no valor quase absoluto que
lhe é dado na Igreja Ocidental, parece a êles, do Oriente, coisa anor­
mal. Cristo mesmo falou a língua de seus contem porâneos. Os Apósto­
los e Discípulos fizeram o mesmo. Jam ais teriam tido a idéia de, numa
reunião da comunidade cristã, ler trechos da Sagrad a E scritu ra, cantar
os salm os e fazer a fração do pão numa lingua diferente da usada
pela própria comunidade reunida. Lembrou então a palavra do Apóstolo
São Paulo aos coríntios: “ Se dizes um louvor em espirito, como poderá
o não iniciado dizer o amem à tua ação de g ra ç a s? Pois que êle não
sabe o que dizes. Tu darás muito bem graças, porém o outro não se
edifica. Dou graça s a Deus que falo cm línguas mais do que todos vós;
porém na ig reja prefiro falar dez palavras com sentido para instruir
outros, a dizer dez mil palavras em línguas” (1 Cor 14,16-19). E
acrescentou: “Tod os os motivos aduzidos em favor de um Latim intan­
gível — uma lingua litúrgica mas morta — devem ceder diante desta
argum entação cla ra e unívoca do Apóstolo” . Lembrou a seguir o exem­
plo da própria Igreja de Roma, que até meados do século III usou
o grego na Liturgia, sim plesmente porque era então a lingua usada
pelos fiéis; e quando começaram a falar em latim, também a Liturgia
de Roma introduziu o latim. E pergunta: “P o r que hoje ela deixou de
adotar êste mesmo p.rincípio?" D eclara também que cada língua é li­
túrgica, pois diz o salm ista: "Louvai ao Senhor todos os povos”.
Em tôdas as linguas devemos louvar a Deus, anunciar o Evangelho e
oferecer o sacrifício. "N ó s orientais não conseguim os entender como é
possível congregar os fiéis para a oração e fazê-los então rezar numa
língua que êles não compreendem”. E ainda textualm entc exclam ou:
"A lingua latina está morta, mas a Igreja continua viva. Tam bém a lin­
gua, o instrumento da graça e do E spírito Santo, deve ser uma lingua
viva, pois é para os homens e não para os anjos. Não há língua q
deva permanecer in tacta” . Por isso propõe duas m odificações: 1) O
projeto de Constituição diz no n. 2 4 : "Linguae latinae usus in liturgia
occidentali servetur” ; mude-se para: "Lingua latina est lingua originalis
et officialis ritus romani” . — 2 ) Diz o projeto que as C onferências Epis­
copais possam propor à San ta S é se e em que medida desejam intro­
duzir na liturgia o vernáculo. O ra, não é necessário constituir uma
Conferência Episcopal para fazer semelhante proposta, pois qualquer fiel
Debates sóbre o latim
97
pode fazer isto! As Conferências dos Bispos, portanto
aoenas o direito de fazer tnt

„ " ^ • ------------ L/CLJdíUU oua cxcia.


que a questão, que hoje desperta grande interesse, a do uso da língua
vernacula na M issa, nasce da esperança de que os fiéis possam, dêste
modo, participar de maneira mais frutuosa no Santo Sacrifício. Mas é
preciso notar — observou o Sr. Bispo de Campos — que esta espe­
rança, tão sim pática e de caráter esscncialmente pastoral, não pode
referir-se a todo o conjunto de fiéis. Pois a Encíclica, de Pio XII, Afe-
diator Dei, de 2 0 dc novembro de 1947, recorda que o fuito que os fiéis
recebem de sua participação na Missa nasce da união íntima de seus
sentim entos com Jesus Cristo, Sumo Sacerdote, que se imola sôbre o
altar, como também com os do celebrante, sacerdote ministerial que
oferece o Sacrifício em nome de Jesus Cristo. Pois, ainda que a Missa
seja o Sacrifício de tdda a Igreja c nela devam participar todos os fiéis,
de fato compete apenas ao sacerdote efetuar a ação sacrificial. Pois bem,
é sabido e a Mediator Dei lembra que, além da recitação das mesmas
orações que o sacerdote reza no altar, há várias outras maneiras legí­
tim as pelas quais podem os fiéis unir-se ao sacerdote, por exemplo me­
ditando, ou fazendo outros atos de piedade privada que os excitem aos
atos correspondentes aos fins do Sacrifício da Missa. A Igreja vela ze­
losamente para que os fiéis possam escolher livremente entre os vários
modos de participar útil e frutuosamenfe do Santo Sacrifício. E embora
exorte os fiéis para que dêem todo o valor ao método ^que consiste
no uso do missal, afirma, não obstante, que êste método não é indicado
para tôdas as circunstâncias e para todos. Por outro lado, o uso do
missal não confere caráter litúrgico à oração rezada pelos fiéis e por
si mesmo nada acrescenta à ação sacrificial realizada pelo sacerdote.
Por tôdas estas razões, nada me parece justificar a esperança, que al­
guns alimentam, de que a introdução do vernáculo na Missa possa im­
portar cm uma renovação de povos e nações. Ademais, para que os
fiéis saibam o que o sacerdote está rezando, não é necessário que êste
recite a Missa na língua vernácula, pois existem muitos missais com o
texto traduzido para as línguas vivas, nos quais podem inteirar-se do
que o sacerdote reza. Se, pois, não se vêem grandes vantagens cm que
o sacerdote diga a Missa na língua do país, há, por outro lado, muitas
desvantagens no abandono do Latim. Antes de mais, o uso de uma
língua não vulgar nas coisas sagradas e, portanto, não acessível a to­
dos, aumenta a dignidade do culto, conferindo-lhe certo caráter de mis-
Conclllo IX — 7
98 III. Crônica das C on gregaçõ es G erais

tério que de algum modo é conatural às coisas que se relacionam com


Deus. Assim, nos ritos não-latinos da Ig reja C atólica, e até nas reli­
giões não-cristãs mais conhecidas, a sabedoria dos séculos estabeleceu
o uso de um idioma arcaico para os atos litúrgicos. No caso concreto
da Ig reja C atólica, o uso de uma língua sagrad a ajud a pedagogicam ente
os fiéis a assim ilar a noção da diferença essencial que existe entre seu
próprio sacerdócio, mais passivo e analógico, e o sacerdócio conferido
pelo Sacram ento da Ordem, único capaz de uma ação pròpriam ente sa ­
crificial. Nem se pode argum entar como se a língua latina não tivesse
um alcance universal ou como se cada povo estivesse para com éle
como por exemplo o chinês para com o aram aico. Pergunto, além disso,
se a tradução da M issa para as línguas dos diferentes países comuni­
caria aos fiéis todo o sabor do texto latino. Onde uma tradução, por
exata que seja, que consegue exprimir todos os im ponderáveis que se
escondem no texto original, pensado em latim, isto é, numa língua que
a Ig reja amolda há séculos para servir de instrumento por excelência
de seu M agistério e de sua o ra çã o? São problem as gravíssim os sôbre
os quais não se pode passar sem uma detida ponderação. Penso que
certas áreas culturais, muito distintas da área latina, poderiam aos pou­
cos substituir de modo m ais ou menos acentuado o latim por uni idioma
próprio, conservando naturalm ente um fundo universal comum, como
convém à Igreja C atólica, o que não quer dizer, necessàriam ente, que
há de ser uma língua vulgar. Sem elhante obra deveria fazer-se, por isso,
aos poucos e orgânicam ente e sempre inspirada e dirigida pela Santa
Sé, que goza de especial assistência do Espirito Santo em tudo que se
relaciona com o culto divino e a salvação das alm as. M as para os po­
vos ocidentais, que atualmente vivem no rito latino, como se vê, não
me parece que, nem mesmo num futuro rem oto, o abandono somente
parcial do latim na M issa tenha razão de ser. Ao concluir, desejo in­
sistir no alcance pastoral do latim na Liturgia, lembrando que com êle
a unidade da Igreja se torna por assim dizer palpável e a própria
Ig reja m ais esplèndidamente atraente, precisamente também para os não-
católicos, que, por preconceitos ou por falta de instrução, não aprovei­
tam outros meios para se inteirar da unidade da verdadeira Igreja
de C risto”.

Alguns dias depois, no dia 11 de novembro de 1962, L ’Osscrva-


torc delia Domcniea, na p. 12, publicava uma refutação anônim a, cm for­
ma de diálogo, precisamente dêstes argum entos cm favor do latim, para
defender o uso do vernáculo na Santa M issa. Lem bra prim eiramente que
ninguém quer mesmo acabar de todo com o latim, mas que se trata
apenas de dar lugar também às outras linguas, “para que a Missa
possa ser entendida por todos os fiéis c não apenas pelos professôres
de latim e pela gente de estudo”. A objeção de que para isso existem
missais em tódas as linguas, responde o jorn al do V aticano: “Sim , mas,
à parte o fato de que os missais custam e nem todos o compram, c bem
diferente o contacto imediato de um discurso que desce diretamente
do altar de um outro que se lê traduzido nas páginas enquanto o padre
parece ir adiante por sua c o n t a . . . ” — À o bjeção do sentido do mis­
tério ou misterioso, que estaria numa língua incompreensível ou não vul­
gar, responde o jornal da Santa S é : "O mistério é certam ente uma
Debates sôbre o latim 99

grande verdade, muito maior do que aquilo que compreendemos, e um


dos males do nosso tempo é precisamente o tentar rejeitar o mistério.
M as não se deve querer colocá-lo em t6da parte. A Igreja começou a
celebrar a Missa em língua viva e, se a língua morreu no caminho, é
inútil, neste processo histórico, fazer construções sóbre a teoria do mis­
tério. O mistério tem zonas e medidas bem outras que a da língua li-
túrgica; o mistério está além de tudo isso e continua inviolado. Colo­
car o senso do mistério na obscuridade da língua é uma transposição
cm planos sentimentais que se arrisca abaixar a verdadeira altura do
Incompreensível ao alcance daquele que tem um pouco de gramática
latina na cabeça. Deus, o Incompreensível, é bem outra coisa". — Re­
fere-se depois o articulista à perda de valores tradicionais de séculos
e de cultura; mas, responde, é difícil ou mesmo impossível reformar sem
perder alguma coisa. Há, porém, outros valores pastorais e apostólicos
que devem ser considerados; “e não se pode não valorizar a aproximação
que a língua falada determinará entre o celebrante e o povo fiel". De­
pois fala dos fiéis que até agora estavam quase que “condenados a uma
escassa compreensão”. E termina com esta frase: “As línguas podem ser
muitas e as liturgias também, mas a oração é uma e a caridade é uma”.
24-10-1962: Sexta Congregação Geral.
Renovação Litúrglca.

O S A C R IF ÍC IO E U C A R ÍS T IC O
desta manhã, com o qual com eçou a sex ta C ongregação G eral
do X X I C oncílio Ecum ênico, foi oficiad o por Mons. Filipe N abaa,
A rcebispo de B eirute e G ibail para os M elquitas e que c um
dos cinco Su bsecretários do C oncilio. Em termos mais exatos,
tratou -se de uma C oncelebração em rito greco-m elquita. P resi­
diu a C ongregação G eral de hoje o Emo. Sr. C ardeal Henrique
P ia y D eniel, A rcebispo de Toled o. A entronização do livro dos
E vangelhos em forma solene, como ontem, foi feita por Mons.
Jo sé Krol, A rcebispo de F ilad élfia, nos E stados Unidos. Estavam
presentes na Aula 2 .3 3 7 Padres. Term inada a invocação do
“Adsumus”, o Secretário G eral comunicou aos P adres a morte de
Mons. Aston C hichester, Arcebispo titular de Velebusto, que ha­
via expirado uma hora antes, acom etido por um mal súbito, no
adro d a B a sílica . T od os os Pad res C onciliares recitaram juntos
o “ D e Profu n d is". Foi distribuído então o calendário dos trab a­
lhos conciliares para o mês de novembro, que prevê a suspensão
das sessões para os primeiros quatro dias do mês. A partir do
dia ã de novembro, haverá sessões todos os dias, menos às
qu intas-feiras e aos dom ingos. Continuaram depois as interven­
ções dos Pad res, ainda sôbre o Proêm io e o Prim eiro Capitulo
do projeto de Constituição sôbre a Sagrad a Liturgia. O Proê­
mio, depois de lem brar que a tarefa de favorecer e promover
a Liturgia, entra nas finalidades do Concílio, sublinha que não
se trata de fazer novos pronunciamentos dogm áticos, mas de fi­
x a r alguns princípios e norm as gerais, deixando então aos P e­
ritos do mundo inteiro, com aprovação da San ta Sé, a tarefa
de estudar as aplicações concretas. Com êste fim se cham a a
atenção para a necessidade de acentuar sobretudo a natureza
teândrica da Liturgia, seu duplo caráter divino e humano, invi-
Renovação litúrgica 101

sivel c visível, espiritual e jurídico, escatológico e administrativo.


Sublinha-se particularmente a oportunidade de reconhecer, honrar
e favorecer todos os ritos atualmente vigentes na Igreja Católica.
O Prim eiro Capítulo da Constituição, sôbre os princípios gerais
da Liturgia, abre com um parágrafo no qual é definida a natu­
reza da Liturgia. A obra da Redenção, anunciada no Antigo Tes­
tamento, 6 continuada pela Igreja através dos séculos, não ape­
nas mediante a pregação do Evangelho, mas também por meio
dos Sacram entos, para os quais se ordena tôda a Liturgia. Em
cada ação litúrgica, em cada gesto visível e externo que a Igre­
ja exerce para administrar os Sacramentos está presente Cristo
que opera a salvação e confere a graça.

Intervieram esta manhã os seguintes Padres:


35 — Cardeal Eugênio TISSERA N T, Decano do Sacro Colégio:
totalm ente favorável ao uso do vernáculo na Liturgia.
36 — Cardeal Valeriano GRACIAS, Arceb. de Bombaim, na India:
defendeu o uso do vernáculo em tôdas as partes litúrgicas destinadas
ao povo. Declarou não ser possível continuar sempre "sicut erat in
principio et nunc et s e m p e r ...”
37 — Cardeal Agostinho BEA, Presidente do Secretariado para a
União dos Cristãos: defendeu o mesmo ponto de vista e recomendou
cuidado para não fechar as portas ao futuro.
38 — Cardeal Antônio BACCI, da Cúria Romana: defendeu o latim.
P ara a instrução do povo basta a homilia e o catecismo; as orações li­
túrgicas sejam feitas em latim.
39 _ Cardeal Alberto MAYER, Arceb. de Chicago, nos E E .U U .:
a favor do uso do vernáculo.
40 _ Pedro Canlsio VAN LIERDE, Vigário Geral de Sua Santidade
para o Estado do Vaticano.
41 — José D ESCU FFI, Arceb. de Esmirna, na Turquia: absoluta­
mente a favor do amplo uso da língua vernácula nos atos litúrgicos.
42 — Alexandre GONÇALVES DO AMARAL, Arceb. de Uberaba,

no Brasil. RAMANANT0 ANINA, Arceb. de Fianarantsoa, no

M a d a g a s c a r .^ K0 ZL0 W |ECKI, Arceb. de Lusaca, na Rodésia do Norte.


45 — Lino ZANINI, Delegado Apostólico na Palestina.
46 — Pedro PA REN TE, Assessor do Santo Ofício: contra o uso
do vernáculo. _ „ „ „ . . .
47 — Dino STA FFA , Secretário da S. Congregação dos Seminários
c Universidades: contra o uso do vernáculo na Liturgia. Lembrou pala­
vras do Direito Canônico para provar que só o Papa pode legislar em

49 — Francisco S E P E R , Arceb. de Zagrcb, na Jugoslávia: o altar


deve ser para o povo. _ . , , .
50 — João Carlos McQUAlD, Arceb. de Dublin, na Irlanda.
As 12,30 horas encerrou-se a sexta Congregação Geral.
102 III. Crônica das C on g regaçõ es G erais

O Serviço de Im prensa do C oncilio publicou hoje, para o


grupo linguístico alem ão, uni resumo das “sugestões e desejos
para uma reform a litúrgica” contidas no próprio texto da C onsti­
tuição sôbre a S a g rad a Liturgia ag ora em discussão. E is o
interessante texto em tradução portugu êsa:

De que se trata: T ra ta -s e de continuar na Igreja e na Sua Liturgia


a obra realizada por C risto de reconduzir os homens a Deus. Os ho­
mens, incorporados pelo batismo no M istério pascal da M orte e Res­
surreição do Senhor, reúncm -sc na C asa de Deus para ler a Sagrad a
E scritura e celebrar a E ucaristia. E sta celebração tem em prim eira linha
o sentido de agradecer a Deus e louvá-1'0 pelo dom inefável que rece­
beu em Cristo.

Ação de Cristo e Serviço da Igreja. C risto está pcssoalm ente pre­


sente na Igreja quando se léem as palav ras da E scritu ra. £ le continua
Sua obra salutar nos sacram entos, e na M issa oferece-se a Si mesmo atra­
vés do sacerdote. E sta oblação se realiza por C risto de tal modo que
associa a Si a Sua Igreja. A Liturgia é assim a m ais santa das obras,
o m ais santo dos serviços que a Ig reja tem a cumprir. E la é ao mesmo
tempo o prelúdio da L iturgia celestial.

N ão só Liturgia, mas Ela é o cume. E' contudo um êrro dizer que


a ação da Ig reja se esgota na Liturgia. E la na verdade, antes de tôda
Liturgia, deve anunciar aos homens a fé, e também os fiéis, atTavés da
Sua palavra, devem ser introduzidos em tôdas as obras do amor, da
piedade e do apostolado, pelas quais são cham ados a glorificar a Deus.
M as a vida da Igreja deve sempre chegar ao Seu cume na Liturgia,
pela qual também se renova continuamente. Ao lado da L iturgia também
deve ser cultivada pelos fiéis a oração pessoal, com a qual se recolhem
em suas celas para rezar a Deus no silêncio. No mesmo sentido se re­
comendam, igualm entc, os piedosos exercícios do povo cristão que se
realizam fora da Liturgia, espccialm ente quando aprovados pela Santa
Sé, como as Ladainhas, o Rosário, etc. Especial dignidade se reconhece
aos exercícios religiosos das ig reja s particulares, exercícios que se rea­
lizam por ordem dos bispos segundo antiga tradição ou conforme livros
devidamente aprovados (o s livros de canto d iocesanos). Contudo deve­
riam êstes ser de tal forma organizados que sintonizem bem com a Li­
turgia e a ela conduzam.

Possibilidade de reforma. Uma vez que a Liturgia ao lado do núcleo


imutável possui também elementos mutáveis, as reform as são possíveis.
E ’ tarefa da Igreja form ulá-las de modo que suas formas correspondam
ao conteúdo e que o povo cristão as possa entender e ativamente acom­
panhar-lhes a execução. Os livros litúrgicos devem ser m elhorados e
reeditados com a colaboração de especialistas de tôda a Igreja. Também
neste caso se deveria sempre ter em vista a participação dos fiéis. A
reform a deveria agir de modo que sempre se faça um cuidadoso estudo
teológico, histórico e pastoral do ato litiirgico, tendo sempre em conta
também a tradição. As novas form as devem proceder orgãnicam ente das
Renovação litúrgica
103
formas atuais. Para isto seria necessário tomar

Futuras tarefas para as Conferências Episcopais. Em cada nacáo ’


:r-se-ia deixar certa liberdade â« c * c - :- ____! naç.

Princípios e sugestões particulares. Na reforma deve-se cuidar tam­


bém para que cada rito seja simples e claro e se apresente sem repeti­
ções desnecessárias. A liturgia deve poder ser entendida pelo povo sem
explicações que atrapalhem. O latim será conservado na liturgia oci­
dental, mas deve-se dar maior espaço para a lingua vulgar, de modo
especial nas leituras, nas aclamações ao povo e cm várias orações e can­
tos. P ara a determinação mais exata dos limites do uso da língua ver­
náculo deveriam as Conferências Episcopais apresentar sugestões à San­
ta Sé. Nas leituras deve a S. Escritura ter maior destaque e se deverá
atender a uma maior variação. Sempre que possível, a ação litúrgica
(p. ex. no B atism o), deverá ser comunitária e não privada. Para fomen­
tar a participação do povo devem ser incluídas na ação litúrgica breves
aclam ações c respostas do povo, canto de salmos, cantos sacros e coisas
semelhantes e, em lugares apropriados, oração dialogada em forma de
ladainhas. Deve-se cuidar também da posição do corpo. Na liturgia nin­
guém poderá introduzir novidades de própria iniciativa. Sua regulamen­
tação é da competência da Santa Sé e, nos limites previstos, dos bispos.

Aplicação prática. O primeiro liturgo da diocese é o Bispo. Segue,


cm importância, a vida litúrgica nas paróquias e sobretudo no culto
dominical da paróquia. Batismos, casamentos, enterros, devem, via de
regra, ser realizados na própria paróquia. Para fomentar a vida litúr­
gica deve ser instituída, junto a cada Conferência Nacional de Bispos,
uma Comissão Litúrgica, e, quando possivel, também um Instituto Pas­
toral Utárgico. Cada Diocese deverá também possuir tal Comissão. Estas
comissões que, quando fôr o caso, poderão unir-se às comissões de
canto sacro e da arte sacra, devem reunir especialistas, inclusive lei­
gos, que representarão e promoverão os interêsses pastorais e litúrgicos.

Sugestões para a reforma da Missa. O Concílio dará somente nor­


mas gerais. Para os atos litúrgicos como tais e para as particularidades
do rito da Missa o Concilio poderá traçar apenas as grandes linhas,
pelas quais se orientará depois a Comissão especial a ser constituída
e que terá que elaborar as aplicações particulares. Isso vale de modo
especial para a Missa. A disposição da Missa, tanto no seu conjunto
como nas diversas partes, deve ser remodelada de tal maneira que seja
mais facilmente entendida pelos fiéis e que permita uma participação
mais ativa dos mesmos. Além da Mesa Eucarística deve ser enriquecida
também a Mesa da Palavra de Deus. Os tesouros da Bíblia devem ser
104 III. C rônica das C on g regaçõ es G erais

mais explorados, de maneira que depois de alguns anos se tenham lido


aos fiéis os principais trechos de tôda a E scritu ra. A homilia é recomen­
dada de modo todo especial como parte da Liturgia. A oração comuni­
tária ou oração dos fiéis, logo depois do evangelho e da hom ilia, deve
ser renovada ao menos para domingos e dias santos de guarda de modo
que o povo participe nas súplicas pela Igreja , pelas autoridades, pela
humanidade, etc.

A parte do vernáculo na Celebração Eucarística. Nas M issas para


os fiéis não se poupe o vernáculo sobretudo nas leituras, o rações co­
muns e alguns cantos. A Comunhão sob duas espécies s eja possível com
a licença do Bispo. M as caberá à San ta Sé estabelecer as ocasiões es­
peciais nas quais se pode com ungar sob duas espécies, por ex. nas Mis­
sas de ordenação, de matrimônio, etc.

Sugestões para a administração dos Sacramentos e Sacramentais.


Os Sacram entos e Sacram entais, que supõem a fc e a alimentam, devem
servir para santificar a vida dos fiéis e isso de diversas m aneiras. Com
o tempo obscureceu-se bastante seu sentido e assim é necessário puri­
ficar não pouco nas suas form as (o s livros a serem revistos são prin­
cipalm ente o Rituale Romanum e o Pon tificale Rom anum ). Na nova edi­
ção do Rituale Romanum deverão ser claram ente in dicadas as partes
para as quais se poderá também usar o vernáculo. Cada país, no en­
tan to, através da Conferência dos respectivos Bispos, deverá cuidar da
devida adaptação ou m odificação segundo as necessidades. O plano
deverá ser apresentado à San ta S é para confirm ação. P a ra o batismo de
adultos deverá ser reintroduzido o Catecum enato. Cada nova etapa
(g rau s) venha acompanhada de ritos religiosos. A preparação para o
batism o não s e ja feita apenas nas catequeses ou doutrinações, mas venha
acom panhada de determ inadas form as litúrgicas, a exemplo da anti­
ga Igreja.

Batismo de crianças e Batism o em casos dc urgência. Nos ritos de


batismo de crian ças deve-se levar em conta que as crianças ainda não
têm o uso da razão. O papel dos pais e padrinhos deve ser pôsto mais
em evidência. P a ra o batismo de urgência deve ser preparado um rito
especial que poderá ser usado também pelos catequistas nas terras de
missões e por leigos em caso s de extrem a necessidade. Depois dêste ba­
tismo de urgência não deverá ser repetido o rito comum do batismo,
mas para isso se há de elaborar um nôvo rito de admissão da criança
na Igreja.

Rito da Confirmação. Deve ser revisto também o rito da confirm a­


ção, que poderá ser administrado também durante a missa. A confirm a­
ção s e ja precedida pelos votos batismais.

Unção d os enfermos. A unção dos enfermos (o nome "extrem a-


unção" não seja m ais usado) deve ser feita depois da confissão, mas
antes da comunhão. Durante as doenças mais prolongadas seja permi­
tida sua repetição. As respectivas orações devem ser adequadas à
situação.
Renovação litúrgica 105

* i t o d ° ? rdena{õ° e d0 Matrimônio. A liturgia das Ordens Maio­


res ambém deve ser c o r r ig ia . A alocução do Bispo ao povo seja feita
em língua vernácula. As cerimônias do matrimônio que se encontram
no ritual romano sejam radicalmente renovadas e enriquecidas As Con­
ferências Nacionais dos Bispos elaborem um rito próprio, que corres­
ponda às exigências do pais e do povo. Como quer que seja o rito
o sacerdote assistente deverá sempre pedir e aceitar o consenso dos
esposos.

Revisão completa dos sacramentais. Os sacramentais (bênçãos de


objetos e instituições) devem passar por uma revisão total. Não se
esqueça também nisso a participação dos fiéis. Elabore-se também um
rito especial para a vestição, profissão e renovação dos votos religiosos.

Morte cristã. A liturgia do entêrro deve exprimir melhor o caráter


da morte cristã e adaptar-se mais às tradições regionais. Para o entêr­
ro de crianças faça-se um nôvo ritual.

Oração do Breviário. O Breviário: sua razão de ser é a santifica­


ção do dia através da oração. Nos primeiros séculos havia para isso
uma norma comum para o povo e clero. Quando começaram a florescer
as ordens monásticas introduziram-se as oito "horas” diárias, preenchi­
das principalmentc pela recitação dos Salmos.

Propostas de reforma do Breviário. A disposição das "horas" do


Breviário deve ser adaptada às circunstâncias da vida atual do clero.
Segundo a tradição, as Laudes da manhã e as Vésperas da tarde são
as horas principais. O Completório deve ser formulado claramente como
oração final do dia. As Matinas não devem estar ligadas a determinada
hora do dia. As horas menores devem ser elaboradas de tal maneira que
possam de fato servir à santificação do trabalho. Os 150 Salmos não
devem ser repetidos tôdas as semanas, mas sejam distribuídos para um
tempo maior e a revisão dos textos seja concluída. Também os hinos
devem ser revistos e as leituras da Sagrada Escritura, dos Padres e dos
Doutôres sejam enriquecidas e as referências históricas devem ser cor­
rigidas. Nas Vésperas sejam incluídas orações para as necessidades da
Igreja, e nas horas menores a oração final seja substituída pelo Pai-
Nosso. Favoreça-se também a participação do povo, especialmente nas
Vésperas nos domingos e dias festivos. A Hora recitada cm comum com
os fiéis na língua vernácula deve valer para o cumprimento do dever
do Breviário.

Ano Litúrgico. O ano litúrgico tem a finalidade de comemorar to­


dos os anos os fatos principais da Obra da Salvação, ao que se acres­
centa ainda, como ulterior desdobramento, a memória dos Santos. Mas
sobretudo, como centro do ano litúrgico, deve ser acentuada a festa
da Páscoa. Saliente-se também o caráter pascal do domingo. No tempo
da quaresma deve-se avivar a consciência da graça batismal e do es­
pírito de penitência; renove-se também o uso do jejum com necessária
adaptação às condições atuais.
106 III. Crônica d a s C on g regaçõ es G erais

Calendário dos Santos. No calendário dos San tos para a Ig reja uni­
versal, incluam-se sòmente os San tos realm ente significativos para tôda
a Igreja. Os outros sejam venerados em sua respectiva nação ou famí­
lia religiosa.

Data fixa para a P áscoa? Recomende o Concilio que a festa da


P áscoa seja fixada num determinado domingo do nosso Calendário Gre­
goriano, suposto o acôrdo dos interessados no assunto, em particular,
dos irm ãos separados. Não se oponha o Concilio aos esfo rços que ten­
dem à fixação dum calendário civil, com a condição, porém, de que nêle
se conserve a semana com sete dias.

Os utensílios sacros c os paramentos. Tam bém aqui urge uma re­


visão. Aceite a Igreja o que a técnica moderna c capaz de colocar à
nossa disposição. Há neste campo uma tarefa particular para as Confe­
rências Episcopais, segundo as necessidades regionais.

Uso da Música Sacra. A música sacra deve servir ã liturgia. Por


muito que se devam proteger e promover os tesouros da música sacra,
sempre, porém, se tenha em conta no solene oficio divino a participa­
ção dos fiéis. A Igreja Romana vê no canto gregoriano o canto próprio
de sua Liturgia, ocupando por isso também o prim eiro lugar. Todavia,
admitem-se também outras form as de música sacra, principalmente a
polifónica. Os com positores deveriam cria r obras não apenas para os
grandes coros, mas também para os m enores e ter sempre em consi­
deração a participação do povo. Nas Missões atente-se também á s tra ­
dições musicais locais, procurando pô-las a serviço da Igreja, inclusive
com a valorização dos instrumentos musicais do lugar. Entre os instru­
mentos musicais o órgão ocupe o prim eiro lugar. Outros instrumentos
e conquistas técnicas não sejam excluídas contanto que não funcionem
como autôm atos e permaneçam vinculados à ação pessoal do músico.
26-10-1962: Sétima Congregação Geral.
Lingua litúrgica.

A p ó s a r á p id a p a u s a d e
ontem, aproveitada, aliás, por muitos para encontros regionais
ou nacionais, continuaram esta manhã os trabalhos conciliares.
Celebrou a Santa Missa Mons. Deodato Yougbare, Bispo de
Koupela, Alto Volta. A oração do “Adsumus” foi recitada pelo
Cardeal Frings, Arcebispo de Colônia, Presidente da Sétima Con­
gregação Geral. Estavam presentes 2.323 P ad res.1 Entronizado
o Evangelho, desta vez por Mons. Guilherme Kempf (um dos
Su bsecretários), continuaram as intervenções no debate sôbre a
Sagrad a Liturgia. Seguindo as normas do art. 33 do Regulamen­
to, cada um, depois de ter falado, entrega ao Secretário Geral
suas observações c propostas por escrito. Apresentaram-se hoje
vários Abades G erais Beneditinos. Os filhos de São Bento, com
efeito, notabilizaram-se pelo amor com que, a exemplo de seu
San to Fundador, cultivam os estudos da Liturgia, transformando
não poucas vêzes suas Abadias em exuberantes centros de vida
litúrgica. Os Padres que hoje falaram tocaram um pouco em
todos os artigos da Constituição agora em estudo. Especial aten­
ção mereceu a parte que fala das finalidades da Liturgia en­

1 Notar-se-á que o número dos Padres presentes diminui t i regular­


mente nas próxim as Congregações Gerais, até equilibrar-se mais ou me­
nos em redor de 2.200. Motivos: logo no inicio foi comunicado que os
Bispos auxiliares não tinham obrigação de permanecer caso houvesse
necessidade pastoral; e mesmo os diocesanos que precisassem voltar po­
deriam obter licença; também os Núncios e Delegados Apostólicos deviam
retornar aos seus postos. Além disso os velhos, os doentes, os gripados,
os impedidos por fôrça maior, mesmo a chuva que, principalmente no
mês de novembro foi abundante e o frio bastante intenso, ao menos em
alguns dias, tudo isso explica perfeitamente a oscilação no número dos
presentes. Aliás, foi notável e mesmo surpreendente a assiduidade com
que tôdas as manhãs compareciam regularmente mais de dois mil Bispos.
A entrada dêles na Aula Conciliar e a saída constituíam sempre espe­
táculos para os turistas de Roma e mesmo para os romanos.
108 III. Crônica das C on g regaçõ es G erais

quanto pretende influir niais na vida espiritual dos fiéis. P ara


que a Liturgia possa dc fato produzir frutos, não b asta que se
observem na ação litúrgica tôdas as leis para unia celebração
válida e licita, mas é necessário que também os fiéis nela par­
ticipem consciente e ativam ente. E ’ certo que a Liturgia não ab ran­
ge tôda a vida espiritual dos fiéis, pois êles podem ded icar-sc
também a devoções pessoais e a orações particulares. M as é
bom que, enquanto possível, todos os exercícios de piedade, tan­
to os coletivos como os individuais, sintonizem com a Liturgia
que, como diz a Instrução da S a g rad a C ongregação dos Ritos
no nôvo ritual da Sem ana San ta, “sem pre, e mormente nos nos­
sos dias, supera por sua natureza tôdas as outras espécies e
m aneiras de rezar, ainda que excelentes” . O utra questão discuti­
da esta manhã foi a da língua a ser usada na Liturgia. Há
certam ente razões que militam em favor do latim, não apenas
como língua tradicional, mas também por sua função unitária.
A precisão lógica e concisão juríd ica torna o latim particular-
mente idôneo para fins teológicos e d ogm áticos. M as devemos
reconhecer também os motivos que recomendam o uso do ver­
náculo nas funções litúrgicas. Pois é sobretudo através da língua
que os fiéis poderão participar m ais conscientem ente nos atos
da Liturgia. O uso de várias línguas m ostra quase visivelmente
a catolicidade do Cristianism o, isto é, sua capacidade de ad ap tar-
se às tradições e aos valores dos povos de tôdas as latitudes
e de todos os tempos, ontem, hoje como amanhã. Discutem os
Padres sôbre êstes assu ntos aportando cada um a contribuição
da sua erudição e experiência. Não se trata de posições con­
trastantes mas de busca comum e fraterna. Através da livre m a­
nifestação de d iferentes pontos de vista procuram uma Liturgia
sempre mais capaz dc concretizar no plano catequético c pas­
toral a grande finalidade que a Ig reja se propõe na sua missão
divina: a salvação das alm as.

Falaram h oje:

51 — Cardeal Jo sé S IR I, Arceb. de Gênova: deseja uma Comissão


mista de teólogos e liturgistas para rever o esquema em discussão.
52 — Guilherme B E K K E R S , Bispo de s ’H ertogenbosch, na Holanda:
o uso da lingua vernácula deve ser facultativo, não obrigatório. As
C onferências Episcopais devem ter mais faculdades.
53 — Jaim e FL O R E S, Bispo de B arb astro, na Espanha.
54 — Alfredo ANCEL, Bispo tit. de D ora, Ordinário dc Ciudad
Real, na E spanha: variedade de ritos não é defeito.
Lingua litúrgica 109
55 — Luís CARLI, Bispo de Segni, na Itália: só a Santa Sé pos­
sa decidir sôbre o uso do vernáculo, não as Conferências Episcopais
que não têm poder jurídico.
56 — Cristóvão BUTLER, Abade Geral da Congregação Benediti­
na da Inglaterra.
57 — Simão HOA NGUYEN-VAN-HIEN, Bispo de Dalat, no Vietnam.
58 Demétrio MANSILLA REOYO, Bispo tit. de Eritre e aux. de
Burgos, na Espanha: lingua latina é meio, não fim. Em latim é im­
possível a participação consciente e ativa dos fiéis.
59 — Vitório M. COSTANTINI, Bispo de Sessa Aurunca, na Itália.
60 — Ludovico LA RAVOIRE-MORROW, Bispo de Krishnagar, na
india: não sabe por que o cânon da S. Missa não pode ser em língua
vernácula.
61 — Bento R E E TZ , Abade Geral da Congregação Beneditina de
Bcuron, na Alemanha: recomenda o uso moderado do vernáculo.
62 — Antônio ANOVEROS ATAUN, Bispo tit. de Tabuda, coadj.
de Cádiz e Ceuta, na Espanha.
63 — Carlos Justino CALEW AERT, Bispo de Gant, na Bélgica: pelo
vernáculo, mas moderado.
64 — Jaim e LE CORDIER, Bispo tit. de Priene, aux. de Paris: fides
cx auditu; mas ouvir é possível somente em vernáculo.
65 — João PROU, Abade Geral da Congregação Beneditina da
França.
66 — Jesus ENCISO VIANA, Bispo de Maiorca: apresentou dez ra­
zões em favor do uso do vernáculo na Liturgia.
67 — Henrique RAU, Bispo de Mar dei Plata, Argentina.
68 — Abílio DEL CAMPO, Bispo de Calahorra, na Espanha.
69 — Clemente ISNARD, Bispo de Nova Friburgo, no Brasil.
70 — Estanislau LOKUANG, Bispo de Tainan, em Formosa.
71 — Luis BORROMEO, Bispo de Pésaro, na Itália.
27*10-1962: Oitava Congregação GeraL
Participação ativa na Liturgia.

A C O N G R EG A Ç Ã O GERAL
desta manhã continuou ainda a discussão em tôrno dos pará­
grafos do primeiro capítulo de Constituição sôbre a Sagrad a
Liturgia. A amplitude e im portância que o primeiro capítulo tem
no conjunto da C onstituição explica também a dem ora no de­
bate acêrca dos vários p arág rafos dêste capitulo que, sozinho,
ocupa a têrça parte de todo o projeto. As norm as e orientações
de caráter fundam ental e geral, expostas neste capítulo intro­
dutório, condicionam , adem ais, todos os outros capitulos seguin­
tes e exigem , por isso, particular cuidado e aprofundam ento.
Assim, depois, nas aplicações, será possível prosseguir m ais se­
gura e ràpidamente. A todos os oradores a Presidência do Con­
cílio recomendou brevidade e concisão. O assunto central das
intervenções de hoje, além da questão da língua (com prós e
c o n tra s), foi o problema de como facilitar aos fiéis a p articipa­
ção ativa na Liturgia, que tem am pla aplicação sobretudo nos
territórios m issionários, onde também é sentido com maior ur­
gência e apresenta m aiores dificuldades. Pois não é tão fácil
selecionar dentre as tradições, usos e costumes de cada povo
os elem entos mais significativos que, talvez, possam oportuna
e utilmente ser introduzidos no culto litúrgico. P ara isso c pre­
ciso ter bons conhecim entos de etnologia, m issionologia e litur­
gia, unidos a um sereno senso de equilíbrio e prudência. Su bli­
nharam também os P ad res que, de modo geral, a natureza di­
d ática e pastoral da Liturgia exige que a estrutura dos ritos seja
sim ples, breve, de fácil e im ediata com preensão, possivelmente
também quanto à língua. Su a natureza com unitária e hierárqui­
ca reclam a também, sempre que o rito o permita, uma celebra­
ção pública e comum e não apenas particular ou individual. A
fim de promover a participação ativa dos fiéis, é conveniente
Participação ativa na Liturgia ln

reservar para a comunidade boa parte da ação litúrgica, como-


palavras, cânticos, gestos e posições. A vida litúrgica encontra
seu centro natural na Diocese e nas paróquias. Daí c evidente
a necessidade de cuidar com particular diligência de tôdas as
funções sacras na Catedral e nas igrejas paroquiais. — A oitava
C ongregação G eral teve início, nesta manhã, às 9 horas, depois
da San ta M issa, celebrada por Sua Excia. Mons. Miguel Mi­
randa, Arcebispo da Cidade do México e Presidente do CELAM
(C onselho Episcopal Latino-Americano). Estavam presentes 2.302
Padres. Recitado o “Adsumus”, pelo Cardeal Ruffini, Arcebispo
de Palerm o e Presidente por turno, fêz-se a cerimônia da en­
tronização do Evangelho, como nos outros dias.

Apresentaram-se hoje 24 Padres para falar sôbre as questões acima


lembradas, na seguinte ordem:

72 — Marcelino OLAECHEA, Bispo de Valência, na Espanha: pensa


que uma Comissão Teológica deveria rever o atual esquema. Julga tam­
bém exagerada a educação litúrgica nos Seminários, tal como está pre­
vista na Constituição.
73 — Luís Gonzaga DA CUNHA MARELIN, Bispo de Caxias do
M aranhão, no Brasil.
74 _ Eugênio D’SOUSA, Arceb. de Nagpur, na India: deseja maior
soma de competências para as Conferências Episcopais. Que entendem
os peritos de Roma das circunstâncias nas missões e terras distantes?
As Conferências locais com seus peritos podem resolver melhor.
75 — Segundo GARCIA DE SIERRA, Arceb. tit. de Pario e coadj.
de Ovicdo, na Espanha: contra o panliturgismo; mais devoção particular
e pessoal, principalmente à Eucaristia.
76 — Francisco M ARTY, Bispo de Reims, na França: propoe pe­
quenas modificações no texto.
77 _ Cirilo ZOHRABIAN, Bispo tit. de Acilisene: pelo vernáculo.
D iscorre sôbre a história da Armênia. _. . .
78 — Aniceto FERNANDEZ, O .P ., Mestre Geral dos Dominica­
nos: pelo latim, lembra a Constituição “Veterum Sapientia" e deseja
que o Concílio aprove o documento. . .
79 — Henrique JENNY, Bispo aux. de Cambrai, na França: deseja
recomendar o catecismo litúrgico. . . . „ .
80 - M arcos McGRATH, Bispo tit. de Ceem, aux. de Panamá
81 _ Zacarias ROLIM DE MOURA Bispo de Cajaze.ras, no Brasil.
82 — Jorge KÉMÉRER, Bispo de Posadas, na Argentina, acentue-
se mais a Liturgia da Palavra e o uso do vernácula
_ Alberto DEVOTO, Bispo de Goya, na Argentina.
84 - Pedro KOBAYASH1, Bispo de Sendai, no Japao: muito mais
língua vernácula; mostra com exemplos que a cultura lá no extremo
Oriente é totalm entc diferente da do Ocidente. . ,(
85 — lacinto THIANDOUM, Arceb. de Dakar, no Senegal, amplls-
a ln » « . £ v S n í a . o : cada Bispo pdssa J “'
i exigirem as necessidades pastorais.
em vernáculo, sempre que assim i
112 III. Crônica das C on g regaçõ es G erais

86 — Antônio PILD AIN , Bispo das Ilhas C anárias, na Espanha:


con tra quaisquer diferenças .de classes so ciais nos atos litúrgicos.
87 — Jo sé M ELA S, Bispo de Nuoro, na Itália: é pelo latim ; onde
houver mesmo necessidade, a San ta S é conceda indultos.
88 — Conrado D E V IT O , Bispo de Luchnow, na India.
89 — Jo sé SC H O ISW O H L, Bispo de Seckau, na Á ustria: antes da
votação do presente esquema todos os Pad res deveriam fazer a expe­
riência feita por èle no último domingo: ver pessoalm cnte a participa­
ção dos fiéis no culto litúrgico nas ig re ja s de R o m a ...
90 — C arlos W E B E R , Bispo de Ichowo, na China.
91 — C arlos E. SABÓ IA BAN DEIRA D E M ELLO . Bispo dc P a l­
mas, no Brasil.
92 — Tom ás M ULDOON, Bispo tit. de Fessei e aux. de Sydney,
na Austrália.
93 — José C ARRARO, Bispo de Verona, na Itália.
94 — C arlos F. Dl C A V A LLERLEO N E, Arceb. tit. dc Trebisonda.
95 — C ésar VIELM O, Bispo tit. de Ariasso, V igário Apostólico de
Aysén.
A S acra Assembléia encerrou seus trabalh os às 12,30 horas.

Term inou assim esta sem ana do C oncílio, inteiram ente con­
sag rad a ao estudo da S a g rad a Liturgia. Não é fácil prever quan­
to tempo ainda irá durar a discussão, pois que é grande o núme­
ro de P ad res que se inscreveram para falar. Ontem à tarde
reuniram -se o Conselho de Presid ên cia e o Secretariado para
as questões ex traord in árias a fim de estudar problem as rela­
cionados com o correr dos trabalhos conciliares. R eúne-se tam­
bém tôdas as tardes a C om issão Litúrgica na sede da S a g ra ­
da C ongregação dos Ritos. C om em ora-se am anhã, dia 2 8 de
outubro, o quarto aniversário da eleição de Sua Santidade o
P a p a Jo ã o X X III. Recordando tão fausto acontecim ento, os P a ­
dres Conciliares, antes de encerrar a oitava C ongregação G e­
ral, enviaram ao Sumo Pon tífice o seguinte telegram a: “ Na
proxim idade do grande dia, quando o orbe católico comemora
a eleição de V ossa Santidade, Nós, Padres C onciliares, reuni­
dos, humildemente e com intenso fervor, elevam os nossas ora­
ções suplicando a Deus O nipotente que, por intercessão da
B em -aventurada V irgem M aria e de Seu casto esposo São José,
Padroeiro do C oncílio, V os conserve por muitos anos, beatíssim o
e am abilíssim o P a i nosso e V igário de Cristo, e Vos assista
nos trabalhos do Concílio, tão felizm ente iniciados, de maneira
que prossigam fecundos e alcancem o êxito esperado segundo
os V ossos d esejos. P ara êste fim nos ajude V ossa Bênção Apos­
tólica que imploramos com profunda veneração, estreitamente
unidos em tôrno de V ossa C átedra da V erdade” .
29-10-1962: Nona Congregação Geral.
O Princípio da Adaptação.

A TERC EIRA SEMANA CONCI-


liar encontra os Padres empenhados ainda no estudo e na dis­
cussão do primeiro capitulo do projeto de Constituição sôbre
a Liturgia. Aliás o debate deste primeiro capítulo mostrou que
liá unanimidade entre os Padres acêrca da natureza e das fi­
nalidades da Liturgia. Todos sublinharam que através da Litur­
gia a Igreja continua no tempo a obra da redenção anunciada
por Deus no Antigo Testamento e realizada por Cristo no Nôvo.
T od os acentuaram a natureza conjuntamente divina e humana,
invisível e visível da Liturgia. Todos lembraram que a Liturgia
consta de elementos determinados por Deus (e, portanto, imutá­
veis) e de elementos de instituição humana e mutáveis que que­
rem tornar mais compreensíveis e mais acessíveis para os fiéis
de uma determinada época e cultura os mistérios da graça co­
municados através dos ritos litúrgicos. Com unânime insistên­
cia afirm ou-se a necessidade de promover e incrementar a par­
ticipação ativa dos fiéis na vida Iitúrgica. Neste sentido foram
apresentadas algumas propostas, como: a formação de profes­
sores realmente qualificados para dar nos seminários e nas fa­
culdades teológicas um ensinamento histórico, teológico, espiritual,
pastoral e jurídico da Liturgia; a inserção da ciência Iitúrgica
entre as disciplinas fundamentais; a criação de comissões litúr-
g icas nacionais e diocesanas e de institutos de liturgia pastoral
que evcntualmente poderiam servir-se também da competência
dos leigos, sobretudo quanto à música e arte sacra. Opiniões
e pareceres diferentes, porém, foram expressos, como já é sa­
bido, com relação à língua, aos modos e meios a serem usados
para adaptar os ritos litúrgicos à época atual e às mentalidades,
aos costumes e às tradições dos diversos povos. Uma parte,
mesmo admitindo a oportunidade de algumas modificações, mos-
Conclllo I I — 8
114 III. Crônica d a s C on g regaçõ es G erais

trou-se mais favorável à conservação da tradição litúrgica da


Ig re ja ; outra insiste mais na evolução do culto litúrgico: mesmo
conservando a substancial unidade da Liturgia, seria convenien­
te, segundo esta opinião, abandonar alguns elem entos já obso­
letos e de difícil com preensão e aceitar variações m ais adequa­
das às várias categ o rias de fiéis, às diversas regiões e povos
sobretudo nos territórios de mais recente evangelização. A apa­
rente lentidão com que os Pad res parecem progredir mostra
outra vez a s duas notas que caracterizam êste Concílio V a­
ticano II já desde sua fase antepreparatória e preparatória:
a nota da liberdade e da profunda seriedade dos estudos. Ao
convocar o C oncilio quis o San to Padre reunir em tôrno de
Su a C átedra os B isp o s de todo o mundo, para que cada um,
na plena consciência de sua m issão, trouxesse a contribuição
mais com pleta de doutrina e de experiência na solução dos pro­
blem as que a Ig reja é cham ada a resolver hoje para a evange­
lização do mundo. Cada voz que ressoa na Aula C onciliar pode
ser nova luz para a visão de uma questão, se ja cia teórica ou
prática, e pode sig n ificar um passo avante em direção a uma
melhor adequação dos instrumentos de salvação às necessidades
dos indivíduos e da própria sõciedade. A Presidência do C on­
cílio, por sua vez, no mais absoluto respeito à liberdade de
palavra de cad a Padre e no desejo de um aprofundam ento que
a tin ja a verdadeira substância de cad a artigo exam inado, vigia
para que as intervenções não sejam longas dem ais e para que
não se verifiquem repetições desnecessárias. A San ta M issa desta
manhã foi celebrada por Mons. Paulo Aijro Y am aguchi, Bispo
de N agasaki ( Ja p ã o ). Presidiu a nona C ongregação G eral o Emo.
Sr. C ardeal Antônio C aggiano, A rcebispo de Buenos Aires (A r­
g en tin a). E stavam presentes 2 .2 7 7 Padres Conciliares. Entroni­
zado o Evangelho, como sem pre, o Secretário G eral leu os no­
mes dos M em bros das dez Com issões Conciliares, nomeados pelo
San to Pad re. Derr.ogando o Regulamento, o Sumo P on tífice no­
meou nove, em vez de oito Mem bros, havendo assim , agora,
para cada Com issão 25 Mem bros.

Na discussão desta manhã, sempre em tô rno do prim eiro capítulo,


intervieram os seguintes Pad res Conciliares:

96 — Antônio SAN TIN , Bispo de T rieste, na Itália: não é totalm cn-


te contra o uso do vernáculo.
97 — José B A T TA G L IA , Bispo de Faenza, na Itália: a língua la­
tina deve ser conservada com am or: deve haver uniformidade na diver-
O princípio da adaptação 115

míí áSiSí5' u"~<* q” ~ "»«“ *


na- nFrefderico. ME,LENDRO, Arceb. (expulso) de Anking, na Chi-
na. mais participaçao dos fiéis pela comunhão.
ria n „17 Jjra" c,sco FRANIC, Bispo de Spalato, na Jugoslávia: histo­
ria o uso da língua vernácula entre os eslavos
„ „ „ J 00 ~ H7 r!?ue nic °DEMO, Arceb. de Bari, na Itália: totalmente
contra o uso da língua vernácula, argumentando com a Sagrada Escritura.
101 Oto SPU ELBEC K , Bispo de Meissen, na Alemanha: fala do
ponto de vista da Igreja militante, principalmente entre os comunistas:
a Liturgia deve ser mais consciente, simples e inteligível; nos países
comunistas os atos litúrgicos são os únicos meios ainda permitidos de
contacto com o povo.
102 Filipe BEN ITEZ, Aux. de Asunción, no Paraguai: falou dc
sua nação, mostrando a necessidade de maior adaptação da Liturgia;
para isso tenha cada Bispo os necessários podéres e não apenas as
Conferências Episcopais.
103 — Fidélis GARCIA, Bispo tit. de Sululi: propõe emendas.
104 — Alexandre SCANDAR, Bispo de Assiut, no Egito: absoluta-
mente pela lingua vernácula.
105 — Salomão FERRAZ, residente em São Paulo, no Brasil.
106 — Paulo BARRACHINA, Bispo dc Orihuela-Alicante, na Espa­
nha: mostra não haver oposição entre o esquema agora em estudo e a
Constituição “Veterum Sapientia”.
107 — Francisco SIMONS, Bispo de Indore, na India: o latim é
supérfluo.
108 — Júlio Jorge KANDELA, Arceb. de Seleucia, aux. do Patriar­
ca de Antioquia para os sirios: só vernáculo.
109 — Biagio D’AGOSTINO, Bispo de Vallo de Lucania, na Itália:
deseja uma definição mais clara da Liturgia; deve-se insistir não tanto
na participação, mas na devota participação dos fiéis na Liturgia.
110 — G. B. Tarcísio B E N E D E TTI, Bispo de Lodi, na Itália: deve­
mos proteger as devoções particulares e populares; lamenta a supressão
da festa de Nossa Senhora do Carmo (que até ajuda depois da m orte);
pede a inserção do nome de São José no cânon da Missa.
111 — João Batista PERUZZO, Arceb.-Bispo de Agrigento, na
Itália.
Terminou assim a discussão do primeiro capítulo. Leu então o Se­
cretário Geral a resposta do Sumo Pontífice às felicitações dos Padres
Conciliares. Ainda nesta nona Congregação Geral começou-se com o es­
tudo do segundo capitulo, que trata questões relacionadas com a reno­
vação litúrgica da Santa Missa. Nesta parte falaram os Cardeais Spellman,
Ruffini e Léger. As 12,15 horas, precisamente, encerrou-se a Sessão.
O texto da Mensagem Pontifícia aos Padres Conciliares é êste:

Aos Veneráveis Irmãos reunidos para celebrar o Concílio


Vaticano II. Acabamos de receber agora mesmo, com alma como­
vida, o particular testemunho de Vossa caridade, pela qual qui­
sestes manifestar-N os os vossos ardentes votos, na data na qual
o povo cristão de todo o mundo a vós confiado celebra jubiloso
116 III. C rôn ica das C on g regaçõ es G erais

o quarto aniversário da N ossa elevação ao govêrno de tôda a


Ig reja , por desígnio do am abilíssim o P ai celeste. D estes-N os um
suave confôrto, pelo qual vos agradecem os profundam ente, ale-
g rand o-N os de coração em poder com em orar, por disposição da
Divina Providência, este aniversário rodeado pela fulgente coroa
da vossa presença. Sôb re cad a um de vós e sôbre vosso coti­
diano trabalho im ploramos luzes e auxílios do E spirito S in to .
Q ueirais também vós unir as vossas insistentes orações às N os­
sas, para que o C oncilio Ecum ênico, congregado jun to ao se ­
pulcro de Pedro, resplandeça com o fulgurante estrela para tôda
a sociedade, difunda corajosam ente a verdade e a fôrça do E van­
gelho, distribua os tesouros da San ta Ig reja para a expansão
do Reino de C risto, Reino de Santid ade e de g raça, Reino de
Ju stiça, de Amor e de Paz. Antes de tudo supliquemos juntos
e com insistência ao Príncipe da Paz, para que Su a paz que
supera todo sentido, proteja os corações e as inteligências dos
homens, afa ste todos os perigos contra a paz, perigos que po­
deriam cau sar ruínas e lágrim as sem fim se não forem elim i­
nados em tempo e com suma prudência. Renovamos os Nossos
votos paternos confortando-vos com a Bênção Apostólica que
invocam os sôbre vós e vossos fiéis, neste momento distantes de
vós mas sumamente caros a Nós.

IO A N N ES PP. X X III.
30-10-1962: Décima Congregação Geral.
A Concelebração.

A DÉCIMA CONGREGAÇÃO
(je r a l do Concilio Ecumênico Vaticano II, reunida esta manhã,
estudou o segundo capitulo do projeto de Constituição sôbre
a Liturgia. O segundo capítulo — “De Sacrosancto Eucharistiae
M ysterio" — contém um breve proêmio e dois parágrafos, o
primeiro com sete e o segundo com três artigos. A introdução
lembra a Última Ceia e a ordem dada por Cristo aos Apóstolos
para que o divino convivio pascal fôsse renovado até a consu­
mação dos séculos e continuasse na Igreja como o grande S a ­
cram ento da piedade, fonte e exemplo da unidade, sacrifício de
louvor, garantia e símbolo do convivio no céu. Esta é a razão
por que a Igreja tem sumo cuidado para que os fiéis não assis­
tam ao Sacrifício Eucarístico apenas como inertes e mudos es­
pectadores, mas, consciente e piedosamente; sejam alimentados
tanto na mesa da Palavra como na mesa do Corpo do Senhor;
clêem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos
quando, juntamente com o sacerdote, oferecem a hóstia ima­
culada; e assim , dia após dia, cheguem a uma unidade sempre
mais perfeita, para que Deus seja tudo em todos. Baseados nes­
tes princípios, os Padres preocuparam-se esta manhã, nas várias
intervenções, particularmente da Santa Missa, procurando e su­
gerindo meios e modos de facilitar aos fiéis um conhecimento
mais exato, indispensável para uma participação íntima nos seus
ritos. Por êste motivo tornaram a falar do uso da língua ver­
nácula na parte didática da M issa; desejaram melhor e mais
rica seleção dos textos da Sagrada Escritura, principalmente
para a Epistola e o Evangelho; falaram também da Comunhão
sob duas espécies e da concelebração em algumas situações
particulares, aprovadas pelos Bispos, como durante o retiro do
clero, nos congressos, etc. Em favor da concelebração notou-se
118 III. Crônica das Congregações Gerais

que ela está em uso ainda hoje, não apenas na Ig reja Oriental,
mas também na O cidental, na ordenação dos presbíteros c na
consag ração dos B ispos. Houve também referências ao jeju m eu­
carístico. Os Pad res m anifestaram , m ais uma vez, grande inte­
resse pelos povos de cultura não-ocid ental, no d esejo de favorecer
a ad aptação de alguns aspectos da Liturgia à m entalidade e às
tradições daqueles povos. Sã o problem as de grande interêsse,
sôbre os quais os Pad res, discutindo com com petência e pru­
dência, dão pareceres e formulam as norm as m ais oportunas
para reavivar a devoção dos fieis ao M istério E ucarístico. —
A C ongregação G eral, iniciada às 9 horas, foi presidida pelo
Cardeal B ernardo Alfrink, A rcebispo de Utreque. Celebrou a
San ta M issa Mons. T ia g o M angers, B ispo de O slo (N o ru eg a).
E stavam presentes 2 .2 5 7 Pad res C onciliares. Logo depois da en­
tronização do Evangelho, Mons. F elici anunciou que, por inicia­
tiva da C om issão Pon tifícia do E stad o do V atican o, se daria
a cada Padre um envelope contendo um pequeno folheto com
indicação das tarifas postais e teleg ráficas para todos os países
do mundo e duas séries de selos em itidos para com em orar a
abertura do C oncílio, uma já carim bada c outra ainda nova.

Sôbre o tema hoje cm discussão houve um total de 23 in tervenções:

112 — Cardeal Guilherme G O D FR E Y , Arceb. de W estm inster, na


Jn g laterra: tem dúvidas com relação à homilia enquanto parte da Li­
turgia; com relação à comunhão sob duas espécies; e ã concelebração.
113 — Cardeal V aleriano GRA CIA S, Arceb. de Bombaim, na India:
d eseja esclarecim entos sôbre a competência das Conferências Episcopais.
114 — Cardeal José BU E N O M ONREAL, Arceb. de Sevilha, na
Espanha: é contra a comunhão sob duas espécies e contra a concele­
b ração ; mas deseja que a M issa possa ser celebrada a qualquer hora
do dia.
115 — Cardeal Bernardo ALFRINK , Arceb. de U trecht, na Holan­
d a: fala da comunhão sob duas espécies do ponto de vista bíblico e lhe
é favorável.
116 — Cardeal Alfredo O TTA V IA N I, S ecretário do Santo Oficio
(foi nesta ocasião que Sua Eminência fêz a intervenção da qual tanto
falaram o s jo r n a is ) : é contra a comunhão sob duas espécies, coisa,
aliás, que já fôra rejeitada na Com issão Central e não compreende
como, não obstante, reaparece no tex to; é contra o uso da língua ver­
nácula na M issa; é contra a concelebração. que é coisa teatral e cheia
de perigos para a fé.
117 — Cardeal Agostinho B E A , Presidente do Secretariad o para a
União dos C ristãos: propõe pequenas emendas.
118 — Cardeal Miguel B R O W N E , O . P . , da Cúria Romana.
A concelebração 119

119 — Hermcnegildo FLOR1T, Arceb. de Florença, na Itália.


120 — Frederico MELENDRO, Arceb. (expulso) de Anking, na China.
121 — Custódio ALV1M PEREIRA, Arceb. de Lourenço Marques, no
Moçambique.
122 — Estanislau LOKUANG, Bispo de Tainan, em Formosa.
123 — Paulo RUSCH, Administrador Apostólico de Innsbruck, na
Austria.
124 — Jorge D W YER, Bispo de Leeds, na Inglaterra.
125 — Manuel TRINDADE SALGUEIRO, Arceb. de Évora, em
Portugal.
126 — Carmelo ZAZINOVIC, Aux. de Veglia, na Jugoslávia.
127 — Miguel ARATTUKULAM, Bispo de Alleppey, na Índia.
128 — João Carlos McQUAID, Arceb. de Dublin, na Irlanda.
129 — Angelo FERNANDEZ, Coadj. de Karachi, na India.
130 — Carlos H. HELMSING, Bispo de Kansas City, nos E E .U U .
131 — Adriano DDUNGU, Bispo de Masaka, na Uganda.
132 — Sigardo KLEINER, Abade Geral da Ordem dos Cistercienses.
133 — Bernardo STEIN , Aux. de Trier, na Alemanha.
134 — lldefonso SANTIERRA, Aux. de S. Juán de Cuyo, na Ar­
gentina.
As 12,20 encerrou-se a reunião.
3 1 -1 0 - 1 9 6 2 : D écim a Prim eira C on gregação Geral.
Liturgia d a Palav ra.

A D ÉCIM A P R IM E IR A CO N -
g regação G eral, reunida esta manhã, encerra os trabalhos con­
ciliares do mês de outubro, o primeiro do C oncilio, durante o
qual tivemos a solene abertura, a eleição dos M em bros das Co­
m issões e as prim eiras discussões em torno do projeto de re­
novação da Liturgia. P od e-se afirm ar que, já agora, os trab a­
lhos tom aram uma direção bastan te clara de modo que poderão
continuar, se não rapidamente, ao menos ordenadam ente. Nos
próxim os quatro dias não haverá C ongregações G erais e muitos
P ad res, sobretudo os que moram perto de Rom a, pediram li­
cença de ir às suas D ioceses para a festa de T od os os San tos
e a com em oração dos finados. Q uase todos estarão de volta
entre sábad o e domingo para poderem assistir às solenidades
na B a sílic a V atican a, com em orativas do quarto aniversário da
coroação de Sua Santidade, quando o Cardeal Montini, Arce­
bispo de M ilão, oficiará solene M issa P on tifical em rito am -
brosiano. Presidiu os trabalhos desta manhã o C ardeal Eugênio
T isseran t, D ecano do Sacro C olégio. Celebrou a San ta M issa,
em rito dom inicano, o Exm o. Sr. A rcebispo de O ttaw a (C a n a ­
d á ), Mons. M aria Jo sé Lemieux, O . P . Estavam presentes 2 .2 3 0
P ad res C onciliares. Antes de iniciar os trabalhos o Secretário
G eral anunciou que hoje seria distribuída aos P adres a medalha
de p rata com em orativa da abertura do C oncilio, que, no verso,
traz a efígie de Joã o X X III e, no reverso, a figura do Pon tífice
abraçando um B ispo que representa todo o Episcopado. A Me­
dalha é obra do escultor italiano Manzii. Continuou-se ainda
esta m anhã no d ebate do segundo capitulo que trata da Litur­
g ia da San ta M issa. Alguns temas, já discutidos ontem, como
a C oncelebração e a Comunhão sob duas espécies, foram hoje
retom ados e aprofundados. Houve consenso geral acêrca da ne­
Liturgia da Palavra 12|

cessidade de dar mais lugar i Sagrada Escritura na Liturgia da


M issa. Os livros inspirados poderiam ser distribuídos no de-
curso de certo numero de anos de modo que todo êste rico te­
souro fosse apresentado aos fiéis e propiciasse aos sacerdotes
fonte inesgotável para uma pregação catequética viva e pro­
funda. Falaram também os Padres sôbre a homilia que deveria
ser parte da Liturgia como tal, à guisa de complemento, para
que a Missa seja sempre bem compreendida e vivida pelos fiéis.
Ha de ser uma homilia breve, substanciosa, ao alcance dos ou­
vintes, enquadrada no contexto da Liturgia. Em resumo, é pre­
ciso ressaltar na primeira parte da Missa, chamada didática ou
"d o s catecúmenos”, seu primitivo valor, de modo que ela se
una profundamente à segunda parte, chamada sacrificial. Os fiéis
devem assistir a ambas as partes sabendo que são, cada uma
a seu modo, igualmente importantes. Insistiu-se também na ne­
cessidade de educar os fiéis para a observação do preceito de
a ssistir à missa nos domingos e nas festas. Nesta revisão ou
renovação litúrgica, desejada por muitos Padres, acentuou-sc a
necessidade de proceder com prudência para não desprezar sem
mais tradições santas e veneráveis. O que foi dito vale não
apenas para os povos de cultura ocidental antiga, mas igual-
mente para todos os outros. O desejo dos Padres, repetidas vêzes
expresso, de facilitar a participação no Santo Sacrifício da Mis­
sa, a consciência de um sacerdócio comum a todos os fiéis em
virtude do caráter do Batismo e da Crisma, c uma das caracte­
rísticas não somente das intervenções desta manhã, mas de todo
o movimento litúrgico. E ’ a Missa entendida como convívio sacri­
ficial e sacrifício convival com Deus e os irmãos mediante Cristo
e seus sacerdotes. Daí também a insistência com que se diz que
a Comunhão não deve ser considerada como um ato isolado do
Sacrifício da Missa, mas como uma participação mais integral
do comungante no Sacrifício de Cristo. Também com relação
à M issa Dialogada, reconhecendo-se embora a oportunidade de
promovê-la mais amplamente, foi todavia observado que não se
devem tirar aos fiéis os momentos de profundo recolhimento
favoráveis à piedade pessoal.

Era tórno do tema cm discussão houve esta manhã 23 intervenções:


135 — Cardeal Jaim e LERCARO, Arcebispo de Bolonha, na Itália:
acentuou o valor da liturgia da palavra, lembrando o contraste que
há, boje, entre a disciplina da Igreja (não se comete pecado quando
se chega no momento do Ofertório) e a tomada de consciência cada
dia mate clara do valor e da necessidade da instrução. Olhando para
III. Crônica das Congregações Gerais
122

S i w B i t í is r ’—"
1 3 6 - C a r d e a l Francisco KOENIG, Arceb. de Viena, na Áustria:
QUÊ na disposição dos ritos apareça o sensus sacrificn; que h aja maior
número de prefácios para festas e tempos. E suplica a tcdos nao fe­
char a porta aos futuros.
137 — Plácido CAMBIAGHI, Bispo de Crema, na Itália: as M issas
tenham prefácio próprio; a homilia seja prescrita em tôdas as Missas.
Pede simplificação do rito de consagração dos óleos. Discorreu ampla­
mente sôbre a concelebração, que êlc deseja também em favor de pa­
dres doentes.
13 8 Francisco JO P, Bispo tit. de Daulia: a homilia c sempre
parte da Liturgia, também durante a semana, a não ser que o Ordi­
nário dela dispense.
139 — Raimundo IGLESIAS NAVARRI, Bispo de Urgel, na Espa­
nha: é totalmente contra a inovação da concelebração e da comunhão
sob duas espécies.
140 — João NUER, Bispo tit. de Fatano e aux. de Tebe-Luxor para
os coptos no Egito: fala do pão ázimo e do fermentado.
141 — Narcisio JUBANY, Aux. de Barcelona, na Espanha: nega os
motivos pastorais da comunhão sob duas espécies; mas não c contra
e faz propostas práticas neste sentido.
142 — João Batista PRZYKLENK, Bispo de Januária, no B rasil:
a concelebração e a comunhão sob duas espécies não sejam obriga­
tórias para ninguém, mas sejam permitidas. S eja possibilitada a comu­
nhão sob duas espécies por ocasião da primeira comunhão e do c a sa ­
mento. Todos os decretos contrários, por serem obsoletos, sejam aboli­
dos, pois hoje a matéria já não oferece motivos para perigos na fé.
143 — Alberto DEVOTO, Bispo de Goya, na Argentina: declara-se
favorável a tudo que fomentar a participação dos fiéis na Liturgia.
Deseja absolutamente que sejam abolidos os estipêndios para as Santas
Missas. Enumera cinco razões. Procure-se, em troca, incutir nos fiéis a
obrigação que êles têm de ajudar a Igreja mais espontâneamente.
144 — Lourenço SATOSHI NAGAE, Bispo de Urawa, no Jap ão:
deseja tôda a Santa Missa em vernáculo, rezada ou cantada.
'4 5 João HALLINAN, Arceb. de Atlanta, nos E E .U U .: anuncia
que fala em nome de muitos Bispos dos E E .U U . e proclama que tam­
bém êles querem a renovação da Liturgia. Desejam o uso do verná­
culo, pois a Liturgia deve ser pública, comum e inteligível.
146 - Lourenço JAEGER, Arceb. de Paderborn. na Alemanha: de-
nhJ5n f,Xt r ií axat,van’ ente 35 ocasiões nas quais se poderia dar a Comu-
l l SOí ° rdenaçâo> na profissão religiosa, no casa-
mento, no batismo dos adultos, i i conversão dos adultos.
Liturgia da Palavra
123

„0 bÍL íit c“ “s *
mas drcuH stâncias; contra a comunMo sob V a s S i f c i S “ o f « r ’J S '
higiênica e por outros motivos. p * ’ por ser antl

1 4 8 - João juliano W E B E R , Arceb. de Estrasburgo, na França-


cteseja ampla liberdade para a comunhão sob duas espécies: é a forma
da comunhão da Igreja primitiva.

• ! 19,i ArtUo Coadj. de Estrasburgo, na França: pede


seja dado aos Padres Conciliares o texto elaborado pela Comissão Li-
turgica Preconciliar antes de passar pela Comissão Central. Não que­
remos revolução, mas evolução. E ’ necessário combater um estreito con­
servadorism o; devemos rejeitar os puros formalismos. Falou das esperan­
ças das novas gerações que procuram uma comunidade na qual possam
integrar-se: que êles encontrem na Missa e na Liturgia o n tanto
idealismo anseiam.

'5 0 J os® KHOURY, Arceb. de Tyr dos maronitas, no Líbano:


é a favor da concelebração: seja divulgada não apenas por motivos ex­
trínsecos (grande número de padres, etc.), mas por motivos internos
e teológicos. Declara que não admira a restauração da concelebração,
mas a m ultiplicação das missas particulares.
151 — Neófito E D ELBY , Arceb. tit. de Edessa de Osreone: refuta
as objeções contra a administração da comunhão sob duas espécies,
explica como se faz no Oriente; declara que aquilo que Cristo féz é
bem feito; e que o Senhor disse também: "Bebei todos”.
152 — João Carlos ARAMBURU, Arceb. de Tucumán, na Argenti­
na: dè-sc permissão de celebrar a Santa Missa a qualquer hora do
dia e da noite. Diminua-se ainda mais o jejum eucarístico. Lembrou os
operários que trabalham durante o dia na fábrica e quando voltam
devem poder comungar nalguma missa vespertina: basta-lhes uma hora
de jejum eucarístico.
153 — Pedro PAO-ZIN-TOU, Bispo de Hsinchu, em Formosa: as
cerimônias e a língua da Liturgia devem adaptar-se a cada povo. Só
o cânon da missa em latim. A parte depois da santa Comunhão lhe pa­
rece muito breve: por que não se poderia recitar o Glória depois da
Comunhão?
154 — Carlos Maria HIMMER, Bispo de Tournai, na Bélgica: de­
clara falar em nome de muitos Bispos da Bélgica, da Áustria e da Es­
cócia: Basta uma hora de jejum eucarístico para todos, sacerdotes e
fiéis. A homilia é parte Integrante da Liturgia.
155 — João VAN CAUW ELAERT, Bispo de Inongo, no Congo: fêz- .
se intérprete de todo o Episcopado africano em favor da concelebração.
156 — Pedro BOILLON, Coadj. de Verdun, na França: a comu­
nhão dos enfermos, quando necessário, possa ser dada só sob a es­
pécie do vinho.
157 — José MELAS, Bispo de Nuoro, na Itália: sempre homilia,
também durante a semana. E ’ contra a concelebração e a comunhão sob
duas espécies.
124 III. Crônica das Congregações Gerais

Beoco das principais modificações propostas para a Missa:


Parece-me que as principais propostas, as que foram mais vêzcs
repetidas na Aula Conciliar, para renovar as cerimônias da Santa M issa,
são as seguintes:
1) Diminuir as orações ao pé do altar e torná-las mais sim ples e
inteligíveis. Alguns querem que sejam totalmente omitidas.
2) Distinguir mais nitidamente entre a Missa da Palavra e a da
Eucaristia. Alguns chegam a propor que as duas partes sejam celebra­
das em lugares diferentes: a Missa da Palavra no ambão, a da Euca­
ristia no altar.
3) As leituras devem ser dirigidas sempre para o povo (versus po-
pulum) e na língua do povo.
4) As orações comuns sempre na língua do povo.
5) Reintroduza-se depois do Evangelho, ao menos para as m issas
comunitárias, a “oratio communis”, naturalmente na língua do povo.
6) O rito do ofertório seja mais explicito e mais apto para expri­
mir a participação dos fiéis (ao menos nas m issas obrigatórias, aos
domingos).
7) Aumente-se o número de prefácios.
8) Diminuir os sinais da cruz, os beijos do altar, as genuflexões
e inclinações.
9) As principais orações do cânon sejam rezadas em voz alta.
10) Haja mais clara separação entre o “amen” da doxologia e o
Pater Noster.
11) O Pater Noster sempre rezado ou cantado com os fiéis.
12) A fração da hóstia e o “pax” sejam melhor ordenados.
13) As trés orações antes da comunhão, em voz alta.
14) A fórmula da distribuição da comunhão seja mais sim ples:
Lorpus Christi. Amen”.
15) Seja abolido o vinho na ablução.
16) Aumente-! o número de orações de ação de graças, depois da
comunhão.

da bênção finaí° evange,ho “ i * ou t0,alm e"te abolido ou recitado antes

A Missa termine com a bênção e uma fórmula de despedida


Omitam-se sempre as "preces leoninas" depois da Missa
5-11-1962: Décima Segunda Congregação Geral.
Liturgia da Palavra.

. . D e p o i s d u m a in t e r r u p ç ã o
de quatro dias. recomeçaram esta manhã os trabalhos conci­
liares para a décima segunda Congregação Geral. A Santa Mis­
sa de abertura foi celebrada no rito maronita por Mons. José
Khoury, Arcebispo de Tiro, sendo concelebrantes os Padres Luís
Bostarn" e Maroun Harika. Presidiu a décima segunda Congre­
gação G eral o Cardeal Liénart. Bispo de Lille. Estavam presen­
tes 2 .1 9 6 Padres Conciliares. O Secretário Geral, antes de ler
os nomes dos Padres que solicitaram a palavra para hoje, co­
municou as nomeações feitas por Sua Santidade para constituir,
como Membros, o Tribunal Administrativo e que são: os Car­
deais Carlos Chiarlo, Francisco Morano, Guilherme Teodoro
Heard, o Arcebispo André Rohracher (de Saizburg, Áustria) e
os Bispos Lourcnço Floyd Begin, Edmundo Nowicki, João
Pohlschneider, Eugênio Beitia Aldazábal, João Vonderach e Fran­
cisco J. Furey. A seguir o Secretário Geral pediu aos Padres
Conciliares não repetissem coisas já ditas por outros e reduzis­
sem o mais possível a duração de suas intervenções. Algumas das
intervenções desta manhã tinham caráter geral sôbre todo o S a ­
crifício Eucarístico. Outras tocavam em questões particulares,
sugerindo modificações na Santa Missa. Tornou-se a insistir na
necessidade de proceder com prudência na revisão de palavras,
gestos, orações e posições que, com o passar dos séculos, nada
perderam de seu primitivo significado. Deve-se, por isso, conser­
var a ordem atual da Missa, mesmo admitindo modificações par­
ciais que facilitem aos fiéis a participação ativa nos ritos. Foi
dito também que as inovações devem sempre ter presentes, me­
diante um estudo atento e profundo, as origens de cada ora­
ção e cerimônia, as evoluções históricas por que passaram e
seu significado, verificando se continuam a ter ou não atuali-
126 m. Crônica das Congregações Gerais

dade. Particularmente o Cânon da Missa, por sua sobriedade e


por motivos literários, litúrgicos, históricos e jurídicos, bem co­
nhecidos aliás, deve continuar intacto. Foram citadas, a propó­
sito, também as palavras do Concilio de Trento. Outros Padres
lembraram as inovações já feitas pelos Sumos Pontífices e pela
Sagrada Congregação dos Ritos, desde o tempo de Pio X. E ’
por êste caminho que se deverá continuar, com a sabedoria e o
equilíbrio do passado, não esquecendo, todavia, as particulares
condições e exigências do tempo atual. Falou-se mais uma vez
da Concelebração e da Comunhão sob duas espécies. A C oncc-
lebração, foi dito, deve ser reservada aos mosteiros e às comu­
nidades religiosas, porque pode favorecer o espírito de união
fraterna e a piedade. Quanto à Comunhão sob duas espécies,
foram lembradas dificuldades de ordem prática e sobretudo hi­
giênica. Em todo caso, concedeu-se, também, que para a co­
munhão sob duas espécies pode haver razões que a justifiquem
em principio e para alguns casos bem especificados. Propostas
e sugestões foram feitas também sôbre as orações ao pé do
altar (no sentido de dim inuí-las); sôbre a homilia; sôbre a par­
ticipação dos fiéis na ação e nas orações do ofertório; sôbre
a inclusão do nome de São José no Cânon ao lado do nome
da Virgem; sôbre uma maior coesão entre as duas partes da
Missa; sôbre a utilidade de ler do ambão as orações e lições
da primeira parte e de recitar do altar as da segunda parte
e de terminar a Missa com a bênção e o “ Ite Missa est”. Em
tudo isso, porém, os Padres, qualquer que fôsse o conteúdo de
seus discursos, notou-se constantemente uma dúplice preocupa­
ção: a de tornar sempre mais augusta e santa a celebração do
Sacrifício Eucarístico; e a de favorecer a compreensão e a par­
ticipação dos fiéis no Sacrifício de Cristo, através da ação do
Sacerdote e da própria vontade de oblação. Estam os ainda, como
é evidente, num clima e num tempo de discussão, quando as
intervenções têm apenas valor de propostas que a Assembléia
dos Padres terá que avaliar, propondo-se como fim único con­
seguir que a Constituição sôbre a Sagrada Liturgia receba uma
formulação que de fato corresponda às necessidades das alm as
e ao bem da Igreja e da sociedade.

Na discussão desta manhã intervieram:

“*• *'» ca'<i“ 1


!58 - Cardeal Carlos CONFALONIERI, Secretário da Sagrada Con-

o«x is s o 'Sr.?“às
Liturgia da Palavra I27

159 — C ardeal Jaim e M cIN TYRE, Arceb dc Lo« An»«i„


E E .U U .: pronunciou-sc pela absoluta manutenção do estad í
tra inovações ou renovações. "Mutationes non requiruntur"
55' co°!

160 - Guilherme DUSCHAK, Vig. Apost. d T c S p a n , nas Fi.ipi-


nas: por causa de sua utilidade p a sto ra I, deseja melhor adaptação dos
n tos espec.alm ente nas missoes. Pergunta: por que valeria somente
o rito atu al? D eseja que se renove a Santa Missa nas leituras, nas
oraçoes e na língua. As cerimônias sejam simples como na Última Ceia
Propoe convidar peritos de todos os ritos e de tôdas as igrejas que
aceitam a E ucaristia para elaborarem juntos um nòvo modo, mais sim­
ples e mais evangélico, de celebrar a Missa: seria a Missa Oecumenica
ou a M issa Orbis.
Estêvão LASZLO, B isp o d e Eisenstadt, na Á ustria: lem brou
que tôdas as renovações agora propostas de fato não são novas e sem­
pre continuaram a existir e que há belas experiências cá e lá. Para
que a L iturgia seja mais eficiente, deve ser revista do ponto de vista
pastoral e escrituristico. Isso vale para a Santa Missa e para todos
os outros ritos, inclusive o Breviário.
162 — C arlos FERRARI, Bispo de Monopoli, na Itália: cada nôvo
capitulo desta Constituição sôbre a Liturgia deve começar com decla­
rações teológicas. Pois a Teologia c a base da Liturgia. No ordo missae
deve-se distinguir claramentc a parte do celebrante e as partes que são
também do povo.
163 — Armando FA RES, Arceb. de Catanzaro, na Itália: gostou da
proposta (inserida no projeto) de inserir na Missa a oratio communis,
mas pede que seja bem variada. Deseja a concelebração também para
os monges em geral (missa conventual).
164 — Carlos E. SABÔIA BANDEIRA DE MELLO, Bispo de Pal­
mas, no B rasil: não quer absolutamente nenhuma modificação na estru­
tura da S. Missa, nem na língua litúrgica. "Teneamus quod habemus”.
Lembra exageros de 30 anos a tr á s ...
165 — Alberto F. COlfSINEAU, Bispo de Cabo Haitien, no Haiti:
pede maior devoção a São José; e que seu nome seja pronunciado sem­
pre que pronunciar o nome da Virgem: ‘‘nomen loseph ubicumque nomen
B. M. Virginis nominatur".
166 — Henrique JEN N Y, Aux. de Cambrai, na França: pede que o
nome dc São José seja inserido no cânon da Santa Missa.
167 — André PERRAUDIN, Arceb. de Kabgayi, na Ruanda Urundi:
enumerou o que, a seu ver, é necessário renovar na Missa: acentuar no
rito do Ofertório a participação ativa dos fiéis; tôdas as oraçoes sejam
recitadas "clara voce” ; na distribuição da S. Comunhão diga-se simples­
m ente: "Corpus C hristi!” ; omita-se o último Evangelho. Pediu tam­
bém radical sim plificação do Pontifical.
168 _ Paulo Estêvão BARRACH1NA, Bispo de Orihue a-Al.cante na
Espanha: as leituras na Santa Missa deveriam durante certo c.do, apre­
sentar o essencial de todo o catecismo. Defendeu a concelebraçao e pe­
diu que seja dado aos Padres Conciliares o texto « 'g o ra d o pela Co­
missão Litúrgica antes de passar pelo crivo da Comissão C t a .
169 - Agostinho LO PES DE MOURA, Bispo de Portalegre, em
Portugal.
III. Crônica das Congregações Gerais

Abade Primaz da Confederação Beneditina: quer


170 — Beno GUT,
leituras mais ricas da Sagrada Escritura na Santa Missa, textos nos
oüak aoTTouí^ se apresente tôda a Teologia: a origem do homem,
CrisTo S c Quanto à concelebração,
inccicui «ayav, deseja também o texto *preparado
' ,
S f Comissão Litúrgica Preconciliar. Aprova a Comunhão sob duas
Sp éci« e deseja-a também por ocasião da Profissão e dos jubileus
2 2 5 e 50 anos de Profissão; por ocasião da Missa pro spons.s e

‘ i 7 i _ Paulo YU PIN, Arceb. de Nanking, na China: vernáculo


em tôda a Santa Missa, inclusive nas particulares e também no B re­
viário. Disse que na China vive a têrça parte da humanidade e lem­
brou a grande diferença entre a mentalidade do chinês e a mcntalida-

172 — Marino BEKKERS, Bispo de s’Hertogenbosch, na Holanda:


a Liturgia deve adaptar-se às mentalidades dos diferentes povos. Lem­
brou que a concelebração c a comunhão sob duas espécies não são
inovações.,
173 _ Heládio ARANGUIZ V1CUNA, Bispo de Chillán, no Chile:
declarou falar em nome dos 34 Bispos chilenos: a Missa Verbi e a Mis­
sa Sacrificii devem destacar-se mais claramente. Po r sua natureza de­
veriam estas duas partes ser oficiadas também em lu gares diferentes:
uma dum púlpito, outra do altar. Todo o culto divino deve ser em
lingua vernácula.
174 — Paulo SE ITZ , Bispo de Kontun, no Vietnam: lembrou que
a religião não deve continuar estranha à vida social; e que não deve­
mos fechar nenhuma porta, “pois a Igreja foi feita para as M issões“.
175 — José PONT Y GOL, Bispo de Segorbe-Castillon, na Espanha.
176 — Tomás W . MULDOON, Aux. de Sydney, na A ustrália: de­
seja que a comunhão sob duas espécies dependa só do Ordinário.
177 — Jorge XENOPULOS, Bispo de Sira, na Grécia.
178 — Pedro THÉAS, Bispo de Tarbes e Lourdes, na Fran ça: de­
seja ardentemente a concelebração, que seria também a única solução
digna em lugares de peregrinação como Lourdes.
179 — César A. MOSQUERA CARREL, Arceb. de Guayaquil, no
Equador: pede a faculdade da binação também em dias de sem ana,
argumentando com a situação na América Latina.
180 — Gregório MODREGO Y CASAUS, Arceb. de Barcelona, na
Espanha: a Santa Missa, na parte catequética, deve apresentar tôda a
doutrina cristã, dogma e moral.
181 — José D’AWACK, Arceb. de Camerino, na Itália.

ú ltin S b? P u n i^ “ Unh‘ ?- “ b dnl? espéctes, tema muito discutido nestas


c° nc,liare?- ? Servií ° de Imprensa do Concilio distri­
buiu um documentário histórico, do qual tiramos algumas informações:

usada e m ^ t ô d a ^ Ip r S ’ I ? >munhão xsob duas espécies era comumente


a p en a s*« ^ casos “ma eS£ éc,e era a Comunhão administrada
em casa o a S ar h aref ' J 0m° Comunhâo dos doentes, dos presos,
n w in rf^ rfr^ Hav,a trto ma"eiras de administrar: a) tomar do
m i S d í v1„ha consa8 raÇão, ou dum cálice próprio; b) t o m £ umÜ
m stura de vinho comum com mínima quantidade de vinho consagrado
Liturgia da Palavra 129

(usado sobretudo em Roma até o séc. V II); c) administrar a santa


hóstia depois de im ersa no cálice (costume ainda hoje comum nos ritos
orientais).
2. Nos séculos XIV e XV diminuiu aos poucos êste uso sem que,
contra seu desaparecim ento, se notasse qualquer resistência. A razão
principal estava no conhecimento, sempre melhor formulado na Idade
Média, de que sob cada espécie está presente o Cristo todo.
3. M as nunca o uso da Comunhão sob duas espécies desapareceu
de todo. Alguns m osteiros e conventos conservaram por muito tempo
ainda êste uso. Também por ocasião das ordenações sacerdotais e da
coroação de reis e imperadores se usava administrar a Comunhão sob
duas espécies.
4. Os hussitas (séc. X IV ) e os reformadores (no séc. XVI) torna­
ram a exigir a Comunhão sob duas espécies, fazendo da questão uma
discussão teológica que acabou na heresia. Afirmavam que o "cálice
dos leigos" era necessário por instituição divina para a salvação. Daí
a reação dos Concílios de Constança e de Trento. Nestes decretos con­
ciliares ensina-se o seguinte: a) não há mandamento divino que obriga
a todos a receber a Comunhão sob duas espécies; b) pertence ao po­
der disciplinar da Igreja determinar de administrar os Sacramentos;
c) a essência do Sacram ento está também sob uma só espécie. Em
Trento o Concilio declarou expressamente que não proibia o cálice dos
leigos por estar em contradição com algum dogma, mas porque, nas
circunstâncias particulares daquele tempo, “por motivos justos^ e impor­
tantes”, os Padres Conciliares julgavam melhor a Comunhão^ apenas
sob a espécie do pão. O Decreto que proíbe o cálice dos leigos foi
aprovado por 87 votos contra 79; e é de notar que os dois Legados
Pontifícios votaram contra o decreto, portanto a favor da distribuição
da Comunhão sob duas espécies, também para os leigos.
5. Com a Constituição Apostólica Tradita ab antiquis, de 14-IX-1912,
São Pio X permitiu aos fiéis do rito latino comungar sob duas espé­
cies quando assistem a uma Missa de rito oriental, licença que entrou
também no Direito Canônico (cân. 866, § 1).

Concilio II
6 -1 1 -1 9 6 2 : Décima Terceira Congregação Geral.
Liturgia dos Sacramentos.

P r e s id iu à d é c im a t e r c e i -
ra Congregação Geral o Cardeal Tappouni, P atriarca de Antio-
quia dos sírios. Estavam presentes 2.211 Padres do Concilio.
Assunto de estudo e debate desta manhã foi ainda o segundo
capítulo da Constituição sôbre a Liturgia. Mas não se regis­
traram novidades. Por duas vêzes o Secretário G eral fêz comu­
nicações de bastante importância. Na primeira convida os P a ­
dres que desejam falar a apresentar antes, juntam ente com o
pedido de falar, também um resumo daquilo que desejam expor
na Aula Conciliar. Pede-se também aos Padres entregar à
Secretaria Geral duas cópias, depois da intervenção, uma para
o arquivo c a outra para a respectiva Comissão. Aniinciou tam­
bém Mons. Péricles Felici que o Santo Padre concedeu ao Con­
selho de Presidência a faculdade de propor à Congregação G e­
ral terminar com a discussão sôbre um capítulo sempre que,
segundo o parecer da Presidência, o assunto já tenha sido suficien­
temente aprofundado e ilustrado. Neste caso o Conselho de P re­
sidência propõe o parecer à votação dos Padres, que poderão
aceitar ou não, levantando-se ou permanecendo sentados. E os
Padres que estiverem ainda inscritos para falar, poderão apre­
sentar por escrito à Secretaria o que gostariam de dizer na
Aula. Esta segunda comunicação foi repetida em francês, espa­
nhol, inglês, alemão e árabe. Valendo-se desta faculdade, o P re­
sidente Cardeal Tappouni submeteu imediatamente à votação da
assembléia a proposta de encerrar a discussão sôbre o segun­
do capitulo, que trata da Liturgia da Missa. E a Assembléia
dos Padres a aprovou. Passou-se então ao estudo do terceiro
capitulo, que traça normas sôbre a administração dos S acra­
mentos e dos Sacramentais. O capitulo terceiro do projeto de
Constituição sôbre a Liturgia abre com breve introdução e con­
Liturgia dos Sacramentos 13 1

tém 8 títulos, subdivididos em 21 artigos. São tratados os pro­


blem as inerentes à revisão dos livros rituais, à preparação ne­
cessária para receber os Sacramentos, aos vários Sacramentos,
aos Sacram entais e às cerimônias das exéquias. Na introdução
fala-se da natureza e da finalidade dos Sacramentos e dos
Sacram entais, não do ponto de vista doutrinário e sim do litúr-
gico e pastoral. Pois acêrca da doutrina dos Sacramentos já
temos definições bem precisas feitas no Concilio de Trento e
declarações doutrinárias c condenações publicadas em 1907 con­
tra os que então eram chamados “modernistas”. O projeto re­
corda os cânones 731 e 733 do Código do Direito Canônico,
nos quais se diz: "Como os Sacramentos da nova lei são os
meios principais de santificação e salvação, êles devem ser admi­
nistrados e recebidos com grande devoção e respeito, segundo
o cerimonial prescrito pelos livros litúrgicos”. E é precisamente
para colocar em evidência a importância dos Sacramentos e
para tornar mais clara sua compreensão e seu significado tam­
bém aos fiéis, que os Padres fizeram algumas propostas nos
discursos desta manhã. Também para os Sacramentos, como nos
outros dias para a Missa, sublinharam a necessidade de pro­
ceder com cautela na revisão dos ritos e das cerimônias, ten­
do como escopo único tornar de fato mais profícua sua recepção
por cada um dos fiéis. Particularmente com relação ao matri­
mônio devem ser bem fixados os ritos para uma celebração mais
consciente e devota da parte dos dois ministros, que são os pró­
prios esposos. E ’ um Sacramento em tôrno do qual se cria fa­
cilmente um clima de superficialidade ou mesmo de mundanis-
mo que obscurece grandemente seu caráter sacro e sua impor­
tância não apenas humana mas também divina, não só individual
mas também social. Durante a sessão desta manhã o Secretário
Geral comunicou ainda que o Santo Padre fixou o fim desta
Prim eira Sessão do X X I Concílio Ecumênico para o dia 8 d f
dezembro próximo, festa da Imaculada Conceição. Haverá então
solene cerimônia na B asílica de São Pedro, presidida pelo pró­
prio Sumo Pontífice.

Falaram hoje, ainda sôbre o segundo capítulo:


182 — Francisco ZAK, Bispo de Sankt Polten, na Áustria: para
responder a certas dificuldades levantadas contra a comunhão sob duas
espécies, lembra que nem o texto do esquema nem ninguém nesta Aula
está querendo que a comunhão seja distribuída sempre sob duas es­
pécies, mas apenas em algumas ocasiões bem determinadas. Não ha,
pois, motivos para as tantas exagerações que ouvimos nestes dias, como
,3 2 lll. Crônica das Congregações Gerais
se Quiséssemos favorecer a heresia ou o cisma (como fôra dito, infeliz­
mente) Se querem que na Liturgia tudo fique como está, por que então
noT convocaram? por que então o Sumo Pontífice constituiu uma espec.al
Comissão Litúrgica Preconciliar? Sejam os razoáveis, como o Papa, e
recontuiçamos a necessidade de uma renovação litúrgica: apcr.am us
corda nostra desideriis pastoralibus dierum nostrorum .
183 — Francisco ZAUNER, Bispo de Linz, na Áustria: defende vi­
gorosamente a Comissão Litúrgica Preconciliar contra as acusações fei­
tas em dias anteriores: "gravia verba audivimus de nostra laesione ca-
nonum conciliorum ac periculis schismatis et modernismi quae nos para-
mus Ecclesiae”. Declara-se um dos autores do texto agora tão grave-
mente impugnado. Lembra que os 20 Membros (entre os quais 7 B is­
pos) e os mais do que 30 peritos haviam sido para isso convocados
pelo Papa. "Nemo se praesentavit". Nem é verdade que todos eram
jovens. Um, o Bispo de Passau, já tem 82 anos, outro 72, outro 69,
êle mesmo, pro dolor, já se aproxima dos 60. “Sumus omnes in provccta
aetate”. E o mesmo vale dos outros membros e peritos. Não havia entre
êles, é verdade, nenhum "curial”, a não ser o Presidente. “ Hoc probat
Sanctissimum Patrem noluisse scire vota litúrgica S. Congregationis tan-
tum, quas semper potest consulere, sed vota membrorum necnon perito-
rum ex omnibus orbis catholici partibus” . A Igreja deve renovar a Li­
turgia. Não podemos, para isso, esperar o Concilio Vaticano Terceiro!
Descreve então os grandes frutos dc vida espiritual e íeligiosa que
as tentativas de renovação litúrgica produziram em sua própria diocese.
Foi dito nesta Aula que o rito da Missa é uma terra santa, da qual não
nos devemos aproximar demais. “Ego omnino contrariam conclusionerq
invenio” : devemos mostrar aos fiéis esta terra santa, bastas vêzes ve­
la d a ... Defende a concelebração contra as objeções levantadas na Aula
Conciliar. Alguém havia argumentado que os sacerdotes, se não rece­
bessem o estipêndio, já não dariam nenhum valor à concelebração, "quod
non sine offensionc audivi". Pois seria o mesmo que dizer que os pa­
dres, se não recebessem o estipêndio, deixariam de celebrar a Santa
Missa. “Ego sine cunctatione defendo saltem meos 1200 sacerdotes meae
dioecesis a tali imputatione”.
— Júlio G. KANDELA, Arceb. Aux. do P atriarca de Antioquia
para os sirios: reclama em favor do sacerdote celebrante a espórtula
também da missa^ binada. Pede também um parágrafo especial para
garantir o exercício da devota adoração do Santíssimo Sacram ento.
Antônio PILDÁIN Y ZAPIAIN, Bispo das Ilhas Canárias,
na Espanha: deseja ardentemente que na nova oratio communis, que
agora será reintroduzida antes do Ofertório, não se reze apenas pelos
governantes_e poderosos, mas também c particularmente pelos pobres e
oprimidos. Fala então largamente da triste situação real de muita gente.
Sôbre o terceiro capítulo intervieram:
186 - Cardeal Ernesto RUFFINI, Arceb. dc Palcrmo na Itália-

srrScSLi.r*’^ ™
d a d e ^ e moditfcar"0 ° * * * C“ ria Romana: insistiu na necessi-
sobretudo também a na ♦ administração do matrimônio, acentuando
“ a íp O M ) P d° 681,080 (P0ÍS no rit0 de a 8 ora só se fala
Liturgia dos Sacramentos 133
188 - Cardeal Miguel BROW NE, O .P ., da Cúria Romana: mani­
festa-se contra o que foi dito acêrca da unção dos enfermos e adverte
que o Sacram ento foi instituido sòmente para os moribundos
189 - Francisco HENGSBACH, Bispo de Essen, na Alemanha: ve­
rificou que em muitos esquemas se fala dos Sacramentos; seria mais
razoável expor num só documento o que há a dizer sôbre os Sacra­
mentos. Quanto ao Sacramento da Crisma pergunta se não seria con­
veniente que no rito se inserisse a idéia do apostolado dos leigos.
190 — J os<S ARNERIC, Bispo de Sebenic, na Jugoslávia: nos ri­
tuais particulares deseja tudo em vernáculo. Pensa que os padrinhos
deveriam receber os sacramentos da confissão e da comunhão no dia
em que perante Deus assumem suas responsabilidades de padrinhos.
191 — Domingos CAPOZI, Arceb. de Taiyan, na Síria: a unção dos
enfermos possa ser administrada em qualquer doença.
192 — Adão KOZLOW IEDKI, Arceb. de Lusalca, na Rodésia: mui­
tos sacram entais poderiam ser administrados também por leigos, prin­
cipalm ente nas regiões afastadas.
193 — Pedro PHAM-NGOC-CHI, Bispo de Quinon, no Vietnam.
194 — M ário MAZ1ERS, Bispo Aux. de Lião, na França: falou do
aspecto social dos Sacramentos.
195 — António PLAZA, Arceb. de La Plata, na Argentina.
196 — Jo sé ALI LEBRUN , Bispo de Valência, na Venezuela: o sa­
cramento dos enfermos possa ser administrado a todos os doentes.
197 _ Túlio B O TERO , Arceb. de Medellin, na Colômbia: o rito da
Confirmação supõe certa idade. Pede um rito especial para os adultos
e outro para a s crianças. Deseja que se diga claramente qual é a ma­
téria e a forma do Sacramento da Crisma.
198 — Manuel A. DE CARVALHO, Bispo de Angra, em Portugal.
199 — Ludovico CABRERA, Bispo de São Luís de Potosf, no Mé­
xico: não lhe parece possível administrar o Sacramento da Crisma du­
rante a Santa Missa, como se propõe no projeto; pois em sua região
é enorme a massa de crismandos. _
200 — Bento TOMIZAWA, Bispo de Sapporo, no Japao: expoe as
condições do matrimônio no Japão, onde são frequentes os casamentos
dc católicos com infiéis: deve haver para êlcs normas especiais, nem
é possível realizar tais casamentos durante a Missa.
201 — Bento R E E TZ , Arquiabade de Beuron, na Alemanha: discor­
reu sôbre o oficio dos defuntos. .
202 — José RUOTOLO, Bispo de Ugento, na Itália: deseja um sa­
cramental para os rapazes, uma espécie de "im ciaçao da juventude ,
c neste sentido dá propostas concretas.
203 — Mateus GARKOVIC, Bispo de Zara, na Jugoslávia.
204 - Luis BARBERO , Bispo de Vigevano na HáUa.
205 — Renato PAILLOUX, Bispo de Fort Rosebery, «a Rodésia Se
tentrional: acentue-se nos Sacramentos o aspecto so c ia .

Term inaram os trabalhos às 12,30 horas.


7-1 1 -1 9 6 2 : Décima Quarta Congregação Geral.
Liturgia dos Sacramentos. O Breviário.

A DÉCIMA Q U A RTA C O N G R E -
{ração Geral foi presidida pelo Cardeal Tom ás Norman Gilroy,
Arcebispo de Sidney. A Santa Missa foi celebrada por Mons.
Paulo Nguyen van Binh, Arcebispo de Saigon, no Vietnam. E
a entronização do Evangelho, com o canto do “ Laudate Domi-
num”, foi feita por Mons. Roberto Dosseli, Arcebispo de Lomé,
no Togo. Antes de iniciar as intervenções sôbre o terceiro cap i­
tulo do projeto sôbre a Liturgia e que, como se informou ontem,
trata dos Sacramentos e dos Sacramentais, o Secretário G eral
comunicou que, depois do terceiro capitulo, será discutido ainda
isoladamente o quarto capítulo (sôbre o Breviário ). O s restan­
tes quatro capítulos serão depois estudados em conjunto. Anun­
ciou ainda Mons. Felici que, logo depois será apresentado à dis­
cussão conciliar o projeto de Constituição sôbre as Fontes da
Revelação. As intervenções sôbre o capitulo terceiro tocaram um
pouco em todos os temas contidos nos 21 artigos, a com eçar
com a introdução, que alguns queriam mais precisa na distin­
ção» entre sacramentos e sacramentais. Acêrca do Batism o fize­
ram-se propostas no sentido de sim plificar algumas cerimônias
excessivamente complicadas na prática. Sem elhante desejo de
simplificar foi manifestado também com relação aos ritos de
outros Sacramentos. Na administração da Crisma aos que já
têm o uso da razão pareceria útil aditar a renovação das pro­
messas do Batismo para que tenham melhor consciência das
obrigações que o Sacramento impõe aos crismados. Falou -se
também das responsabilidades dos padrinhos que, frequentemen­
te, não têm consciência de suas obrigações. Um dos pontos em
que mais se jnsistiu nesta manhã foi também o Sacram ento da
Extrema-Unção. Antes de mais sugeriu-se mudar o próprio no­
me que, para não poucos cristãos, significa quase a morte imi-
Liturgia dos Sacramentos 135
nentc, esquecendo-se assim que a Extrema-Unção não é um
Sacram ento de temor mas de consolação; e que não foi insti­
tuído apenas para a purificação da alma mas também, embora
secundàriamente, para a cura do corpo. Observou-se ainda, que,
muitas vêzes, êste Sacramento deve ser administrado sob con­
dição, ou porque por ignorância é considerado de pouco valor,
ou porque não se quer assustar os enfermos enquanto ainda
conscientes. Pa ra dissipar semelhantes conceitos falsos, seria,
pois, necessário permitir que a “Unção dos Enfermos" (tai
seria agora o nome) pudesse ser administrada também em casos
menos graves que os previstos atualmente, como por exemplo,
antes de difíceis operações cirúrgicas, e pudesse ser repetida
durante a mesma doença. Sua administração também poderia
ser mais facilitada reduzindo a unção apenas à fronte e às
mãos. O uso da lingua vernácula e o problema da adaptação
dos ritos de cada Sacramento às mentalidades e tradições dos
povos foi também objeto de alguns discursos de hoje, sobre­
tudo da parte de Padres provenientes de regiões missionárias.
Entre os Sacram entais receberam especial relevo as exéquias dos
defuntos, cu jas orações são de grande beleza e profundidade.
E ' por isso necessário torná-las mais conhecidas entre os fiéis,
pois para muitos dêles um funeral é ocasião de um encontro
mais intimo com a Igreja, suas orações e seus ritos. Nota co­
mum a tôdas as intervenções sôbre êste terceiro capitulo foi
a de uma busca diligente de tornar os Sacramentos mais com­
preensíveis em sua substância e nos seus efeitos e de preparar
os fiéis para recebê-los mais conscientemente c com mais es­
forço espiritual. Acabados os discursos sôbre o terceiro capi­
tulo, com eçou-se com o estudo do quarto capítulo, que trata
do O ficio Divino. Os Padres presentes eram 2.214.

Sóbre o terceiro capitulo falaram hoje:


206 — Pedro M. ROUOÊ, Coadj. de Nîmes, r França: insistiu t
que se mude o nome de "Extrema-Unção" para "Une ti o In^morum
(como, aliás, está previsto no projeto proposto aos Padres). ^ J
bém que êste Sacram ento possa ser administrado em qu q Ç
e possa ser repetido mais vêzes.
207 - F lojn ço ANCELINI Bisp«_ ntS
r administrada também“ antes 5das
.S
que a unção dos enfermos possa r
intervenções cirúrgicas.
, de Limburgo, na Alemanha: i
208 — Guilherme KEM PF, Bispo u . ~------ a um
orações se exprima mais claramente que a unção d . . para
Sacram ento de consolação e de esperança cristã (o po g
a ressurreição).
136 111. Crônica das Congregações Gerais

209 - Clemente ISNARD, Bispo de Nova Friburgo, no Brasil (fa ­


lou em nome de "muitos Bispos do B ra s il"): que o Sacramento da
Crisma possa ser administrado na Missa e fora da M issa; que nao se
fixe diretamente a idade para receber êste Sacramento (basta dizer:
"pueri, post consecutum usum ratioms ) ; que nào deseja rituais dife­
rentes para crianças e adultos (basta que no rito dos adultos se acrescen­
tem algumas orações).
210 — Ildefonso SANSIERRA, Aux. de São João de Cuyo, na Ar­
gentina- deve-se distinguir mais claramente entre Sacram entos e S a cra ­
mentais Na renovação dos votos batismais inclua-se também uma pro­
fissão de adesão explicita à Igreja. Na administração do Matrimônio
é necessário dar mais aos esposos e não apenas o consenso. Nas exé­
quias modifiquem-se os textos para que exprimam melhor a idéia do
“dies natalis”.
211 — Luís FAVERI, Bispo de Tivoli, na Itália: insistiu em aspectos
higiénicos: é anti-higiénico conservar o ano todo a água batismal, in­
suflar no rosto da criança, colocar sal na bôea, usar a própria saliva.
Deseja que se omita a unção nas costas e que a segunda unção, com
o crisma, se faça só na testa. Acabe-se também com os padrinhos, ao
menos na Crisma. Não quer que a administração da Crisma coincida
com a primeira comunhão.
212 — Antônio M ISTRORIGO, Bispo de Treviso, na Itália: nada de
nôvo: repetiu o que já foi dito.
213 — Aurélio DEL PINO Y GÕMEZ, Bispo de Lérida, na Espa­
nha: repetiu o que já foi dito.
214 — José SIBOMANA, Bispo de Ruhengeri, na Ruanda: os afri­
canos tém muitos ritos, principalmcnte os de iniciação, alguns expres­
sivos e muito apreciados pelo povo: devem ser aproveitados na admi­
nistração do Batismo. Por outro lado, é necessário omitir o que re­
pugna ao sentimento popular.
215 — Francisco PERALTA Y BALLABRIGA, Bispo de Vitória, na
Espanha: falou das complicadíssimas cerimônias fúnebres na Espanha c
deseja um rito exequial simples, igual para todos. Sugeriu também a
homilia na missa exequial (pois atingiria muita gente que não costuma
ir à igreja).
216 — Adriano D JAJA SEPO ETRA, Arceb. de Jacarta, na Indoné­
sia (fajou eni nome do Episcopado indonesiano): não concorda com a
indicação da idade de sete anos para administração da Crisma. Êste
Sacramento deve ser recebido na idade em que o cristão é capaz de
aceitar conscientemente suas responsabilidades e funções na Igreja. Pede
que se deixe a indicação da idade às Conferências Episcopais.
217 Guilherme BEKKERS, Bispo de s ’Hertogenbosch, na Holan­
da:^ na administração dos Sacramentos deve-se distinguir entre ritos essen­
ciais e acidentais. O essencial seja determinado para tôda a Igreja, o
acidental deixe-se para cada região, segundo seus usos e costumes. Neste
ponto haja mesmo “amplíssima liberdade” .
~ 8 Carlos W O JTYLA, Aux. de Cracóvia: na administração dos
Sacramentos é necessário atender a duas coisas: o aspecto pastoral
*e aJ ia) ÇOeS d0s Pa<*rmhos (pediu que os padrinhos comunguem naque-
Liturgia dos Sacramentos 137

2 1 9 - Guilherme VAN BEKKUM, Bispo de Ruteng, na Indonésia-


as cerimônias na admin.straçao dos Sacramentos sejam modificadas de
maneira que todos possam compreender-lhes o significado. Bom número
de oraçoes e exercícios piedosos deveria ser transformado cm Sacramen­
tal e inserido no Ritual.
220 - E u g ê n i o D SOUZA, Arceb. de Nagpur, na índia: pergunta
cândidamente: por que o latim é necessário para a forma dos sacra­
mentos? Seria necessário o latim para que seja eficaz o sacramento?
A insistência no latim lembra-lhe as fórmulas mágicas de religiões não-
cristãs. Referindo-se às Conferências Episcopais, pediu mais clara de­
finição das atribuições. "Non timeo P e tru m ... sed timeo aliquos peritos
Sacrae Congregationis adiunctos qui uno tractu calamo et duobus tan-
tum verbis non expedire recusare faciunt quod Episcopi plures in Con-
ferentia coadunati tanto labore examinaverunt et denique tandem sta-
tuerunt ut optimum in circumstantiis”.
221 — Alcides MENDOZA, Aux. de Abancay, no Peru: que o Ba­
tismo dos adultos possa ser dado também sem a licença do Bispo; que
a água batismal, sem crisma, possa ser feita pelo vigário; que se esta­
beleça nova fórmula para absolvição no confessionário.
222 — André WRONKA, Aux. de Gniesno, na Polônia: Cristo é o
principal m inistro em cada Sacramento: que isto fique também claro no
rito. Inclua-se o “ apêndice" no corpo do Ritual. Não haja ritos reser­
vados. Estude-se uma nova forma para a administração da Crisma.
223 — José MALULA, Aux. de Leopoldville, no Congo: Diversitas
in unitate. Os ritos de iniciação, tão frequentes na África, sejam de
algum modo incluídos no cerimonial do Batismo (naturalmente para a
Á frica).
224 — Ferdinando ROMO, Bispo de Torreón, no México.
225 — Fidélis GARCIA, Bispo tit. de SULULI (Espanha): Lem­
brou que a questão da iteração do Sacramento da Unção dos Enfermos
é dogmática e não disciplinar.
226 — Emílio TAGLE, Bispo de Valparaiso, no Chile: a cerimônia
da administração da Crisma seja tal que termine individualmente, sem
reservar uma cerimônia final para todos, quando muitos já se retiraram.
227 — Cardeal FRINGS, Arceb. de Colônia, na Alemanha: abriu a
discussão sôbre o quarto capitulo, a liturgia do Breviário. Falou da
versão latina dos salmos, defendendo as seguintes normas: mantenha-
se cuidadosamente o sentido original, mas use-se o vocabulário dos
Santos Padres e da Vulgata; só quando não fôr possível de outra ma­
neira recorra-sc à recente tradução aprovada por Pio XII. No Breviá­
rio deve haver muito mais leitura da Bíblia e da Patrística e não tantos
salm os em seguida, como agora nas Matinas (nove salm os). Conceda-se
aos Bispos a faculdade de permitir a recitação do Breviário em ver­
náculo.
228 — Cardeal Ernesto RUFFINI, Arceb. de Palermo, na Itália:
pensa que alguns Salm os poderiam ser omitidos, sobretudo os impreca-
tórios e outros, como o 87 e o 113, que parecem duvidar da sorte pós­
tuma do homem. Acha que não convém colocá-los nas maos dos im­
peritos, “quorum infinitus est numerus”. Com relação ao problema se a
recitação do Ofício Divino feita por religiosas é também oração publica
138 III. Crônica das Congregações Gerais
particular, o Cardeal pronunciou-se no sentido de oração

as noras menores, reu»*


também "oratio publica”.
230 - Cardeal Ferdinando QUIROGA Y PALACIOS, Arccb. de São
Tiago de Compostela: considere-se supressa a Hora Canônica que coin­
cide com outra ação litúrgica; omita-se a Prim a, que não tem justifi-
cação; as horas menores sejam tão reduzidas que possam, facilmente,
ser decoradas e, assim, recitadas de memória na hora conveniente; a
obrigação de recitar as Laudes termine ao meio-dia c a das Vésperas
às 22 horas.
231 — Cardeal Emílio LÊGER, Arceb. de Montreal, no Canadá:
promete falar sôbre dois assuntos: 1) a obrigação de recitar o breviá­
rio. Propõe que o clero não ligado à recitação em côro, seja obrigado
a recitar apenas as Laudes, as Vésperas c a Lectio Divina (que substi­
tui as atuais M atinas). Esta última poderá ser recitada a qualquer hora
do dia. Pois é inútil querermos forçar os padres a santificar as horas
do dia mediante a recitação do breviário (falta de tempo c oportuni­
dade); nem é o breviário o único meio. O esquema declara querer res­
taurar a “veritas Horarum”, mas não parece conhecer a realidade da
vida pastoral, da manhã à noite. Para êle as únicas "horas verdadei­
ras” são as Laudes (de manhã) e as Vésperas (à noite). O mais seria
fictício e formalismo. As outras horas devem ser santificadas "secun-
dum suam vocationem". 2) Quanto à língua, propõe que, ao menos na
recitação privada, se conceda a faculdade de rezar o breviário em ver­
náculo. Não quer pôr em discussão a excelência do latim; interessa-lhe
saber se é, de fato e concretamente, um meio jia r a elevar e alimentar
a alma. "Factum apertum habetur” : a absoluta maioria dos padres,
em todo o mundo, não está em condições de aproveitar razoavelmente
o latim. Para isso não bastaria estudar bem o latim no sem inário: seria
necessário conversar cm latim, ler os jornais em latim. Nestas condições
reais o latim não passa de um "péssimo formalismo”. — A Aula Con­
ciliar aprovou com vivíssima salva de palmas.
Também Sua Santidade o Papa João X X Ill manifestou-se hoje, não
na Aula Conciliar, diante dos Padres do Concílio, mas durante a Au­
diência Geral: " . . . Agora reúnem-se os Bispos para estudar, para exa­
minar todos os aspectos, tendo em conta as novas circunstâncias e ne­
cessidades, para indicar um caminho seguro. A vida do cristão não é
uma coleção de antiguidades. Não se trata de examinar um museu ou
uma academia do passado. Isto, sem dúvida, pode ser útil — como é
util visitar monumentos antigos — mas não basta. Vive-se para avan­
çar, mesmo guardando o que de Drecioso noa ofen>c» n n .i« « rtn mmn
Liturgia dos Sacramentos 139
Comentário do cronista:

Por que o boletim oficial de hoje omitiu totalmente as referências,


algumas delas extraordinárias e de grandíssimo interêsse, sôbre 0 Bre^
viário? Todo o mundo, depois da Congregação Geral de hoje, comen­
tou esta parte como a mais importante, sobretudo a intervenção do Car­
deal Léger, considerada revolucionária, mas excelente. Mas 0 boletim
oficial, que é para informar objetivamente, silencia. Para que, então, 0
Serviço de Imprensa do Concilio aliciou mais de mil jornalistas? Para
oferecer-lhes apenas uns boletins sumários, inexpressivos e mutilados?
No dia 28 de maio dêste ano disse o Papa aos jornalistas: "Para atingir
essa meta [de que antes falara: isto é: que 0 Concilio possa exercer
influência benéfica sôbre todos os homens], tendo em conta as condi­
ções do mundo de hoje, o concurso dos órgãos de imprensa inculca-se
não só como útil, mas também, de alguma sorte, como indispensável.
Já pensamos nisto, e Nossa intenção é dar novos c mais amplos desen­
volvimentos ao Serviço de Imprensa que havemos estabelecido junto à
Comissão Central Preparatória do Concilio, a fim de que a opinião pú­
blica possa ser convenientemente informada. Muito desejamos, com efeito,
que, à mingua de informações suficientes, os jornalistas não se vejam
reduzidos a formular conjeturas mais ou menos verossímeis, e a lançar
no público idéias, opiniões, esperanças que depois se revelem mal fun­
dadas ou e r r ô n e a s ...”
Parece que os dirigentes do Serviço de Imprensa pensam de modo
diferente. E ’ verdade que eu mesmo fiz hoje de manhã 0 boletim oficial
em português. Mas devo deixar consignado aqui, bem claramente, que
tudo quanto escrevi me foi ditado em italiano por Mons. Fausto Vallainc,
que, por sua vez, deve submeter tudo a Mons. Péricles Felici.
9 -1 1 -1 9 6 2 : Décima Quinta Congregação Geral.
O Breviário.

A b r in d o a d é c im a q u in t a
Congregação Geral, depois da oração do “Adsumiis", o Presi­
dente Cardeal José Frings (Arcebispo de C olônia) recordou a
festa de hoje, Dedicação da Arquibasilica do Latrão, “ cabeça c
mãe de tôdas as igrejas". Intervieram primeiro doze Cardeais,
que examinaram o capítulo quarto, que trata da Liturgia do
Breviário. O assunto foi estudado sob o aspecto doutrinário, ex e­
gético e pastoral. Depois falaram mais sete Padres C onciliares.
Concordemente todos acentuaram a im portância do O fício Divi­
no para a vida espiritual, tanto do sacerdote que trabalha na
cura de almas, como do religioso consagrado à vida contem­
plativa. Expressões como estas foram muitas vêzes repetidas:
o louvor de Deus através do Breviário é a principal obra sacer­
dotal e o Oficio Divino pode ser considerado uma fonte de gra­
ças para tôda a Igreja de Deus; é um meio de san tificação
pessoal e de ação pastoral; é um vínculo de união entre todos
os sacerdotes do mundo; é um manancial inexaurível de consola­
ções — como o demonstrou ainda a mais recente história —
particularmente para os sacerdotes que sofrem perseguições em
cárceres ou campos de concentração; é um alimento para a alm a;
é um sustentáculo tanto para os sacerdotes jovens em suas di­
ficuldades e preocupações, como para os velhos em suas can­
seiras e enfermidades; é uma mina de tesouros escriturísticos
e patristicos na qual se pode todos os dias enriquecer a inteli­
gência e o espirito do sacerdote; é uma causa sempre eficiente
de vida mais santa, de trabalho apostólico mais fecundo, de ati­
vidade mais generosa e sobrenatural. Foi êste o fundo substancial
pôsto em relêvo por vários oradores, que exprim iram também
pareceres próprios sôbrc questões particulares do O ficio Divino,
como a língua a ser usada, a composição das várias partes do
0 B reviário
141

Breviário, a divisão do tempo para sua recitação, a seleção de


novos textos tirados da Sagrada Escritura e dos Santos Pa­
dres, a ulterior revisão de algumas lições sôbre as vidas dos
Santos, o modo dc recitá-lo, seja em côro, seja em particular.
Muitos Pad res também pediram que o Breviário atual continue
como está, já que é o resultado de reformas feitas durante vá­
rios séculos. Foi louvada também a sabedoria das últimas dis­
posições em anadas por João X X III em 1962 para tornar mais
fácil a recitação do O fício Divino. Acêrca dos pedidos feitos
por alguns no sentido dc abreviar o Breviário a fim de dar aos
sacerdotes a possibilidade de dedicar-se mais às obras do apos­
tolado, foi lem brado com insistência que tôda e qualquer ativi­
dade mesmo generosa na vida pastoral se torna estéril quando
não é alim entada pela oração do sacerdote; e sua oração mais
alta e eficaz é a que êle faz em nome de tôda a Igreja e em
união com todos os irmãos, por meio do Breviário. Outros pro­
puseram adaptar melhor o Breviário às exigências de hoje e às
condições dos sacerdotes, na língua, ao menos em algumas par­
tes, na extensão, sobretudo de algumas Horas; e na composi­
ção, deixando tempo aos textos do Nôvo Testamento e omitindo
alguns Salm os de caráter histórico ou que se relacionavam com
situações particulares do povo judaico. As reformas feitas nes­
tes últimos anos tiveram sobretudo a finalidade de rever as ru­
bricas do O fício Divino, mas, segundo alguns, não atenderam
bastante à com posição. Notou-se, porém, que o Concílio deve
apenas enunciar os princípios universais e traçar as diretrizes
gerais de índole perene para tôda a Igreja, deixando aos orga­
nismos com petentes a solução dos casos particulares e das ru­
bricas, respeitando os Breviários que, também na Igreja Latina,
pertencem aos vários ritos. Antes de encerrar a sessão, na qua
estiveram presentes 2.2 1 6 Padres Conciliares, o Presidente Car­
deal Frings lembrou que um dêles, Mons. Afonso Carinci, Se­
cretário Emérito da Sagrada Congregação dos Ritos, completa
hoje exatam ente cem anos de vida. A Assembléia exprimiu seus
votos de felicidade no seguinte telegrama lido em latim pelo
Secretário G eral: “Os Padres reunidos na Congregação Geral
do Sacro Concílio, dirigem a ti, que hoje completas com alegre
auspicio cem anos, os mais vivos votos de felicitações, mam es-
tando o desejo de que o Senhor te conserve ainda por mui o
tempo e te acumule de Seus dons e de Suas graças .
142 III Crônica das Congregações Gerais

As intervenções de hoje deram-se na seguinte ordem:


232 - Cardeal Manuel GONÇALVES C EREJEIR A , Patriarca de Lis­
boa: retomando o problema da língua, recomendou a conservação do
latim. Lembrou as prescrições da “Veterum Sapientia . D eseja, porem,
que a estrutura do Breviário corresponda melhor a concreta realidade;
e que se defina mais claramente o caráter obrigatório do Oficio Divino.
233 - Cardeal Francisco SPELLMAN, Arceb. de Nova York, nos
EE UU • permita o Concilio aos padres a faculdade de recitar o breviá­
r io ' em vernáculo. As razões alegadas contra o vernáculo, porque pro­
duziria muita confusão entre os fiéis, não valem no caso: fala-se so
dos padres e da recitação particular.
234 — Cardeal Estêvão W YSZYN SKI, Arceb. de Gniesno e V arsó­
via, na Polônia: canta os louvores do Breviário e não deseja modifi­
cações. Fique também o latim; quem não entende, estude latim.
235 — Cardeal José LEFE B V RE , Arceb. de Bourges, na França:
obrigação do Breviário: como agora. D eseja modificações no texto, para
que possa servir mais à santificação pessoal; recomenda também as
assim chamadas “orações públicas” no Ofício Divino. M ais textos escri-
turisticos, enquadrados, porém, no espirito da Missa do dia.
236 — Cardeal Júlio DOEPFN ER, Arceb. de Munique, na Alema­
nha: louva a Constituição sóbre a Liturgia. Mas pede: 1) que as “ ho­
ras" e sua obrigatoriedade sejam ainda melhor adaptadas às condições
da vida de hoje (é, por exemplo, inútil querer insistir na recitação das
horas menores no tempo indicado; melhor seria propor “ horas m enores"
tão curtas que possam facilmente ser decoradas, para dizê-las então de
memória); 2) que a obrigação das Laudes cesse ao meio-dia e a das
Vésperas e Completas comece ao meio-dia (para evitar que se reze a
oração da manhã apenas à noite ou a oração da noite já de m anhã);
3) que se conceda aos sacerdotes a faculdade de recitar o breviário em
língua vernácula.
237 — Cardeal Alberto M EYER, Arceb. de Chicago, nos E E .U U .:
não se insista demais na recitação em determinadas horas do dia, pois
os padres, nem mesmo os mais bem intencionados, poderiam obedecer.
Deseja veementemente que os Padres Conciliares tenham a oportuni-
dade de votar sôbre a questão do uso permissivo do vernáculo na re­
citação particular do breviário. A recitação em vernáculo lhe parece
útil até_ mesmo para os que “linguam latinam optime callent". E tal
permissão não deveria, de maneira nenhuma, depender da ação de algu­
ma Conferência Episcopal, mas deveria ser concedida pelo próprio Con­
cílio a todos os sacerdotes, “maioris pietatis causa”.
p 8 - C a r d e a l Rufíno SANTOS, Arceb. de Manila, nas Filipinas:
em favor dos padres que trabalham na cura das almas, propõe que,
nos domingos, quando estão de fato sobrecarregados, só tenham que
reclt~ L as Mi tlnas <se Possível com apenas três salm os).
239 — Cardeal João LANDAZURI, Arceb. de Lima, no Peru: citou
uma porção de cânones do Direito Canônico.
Cardeal j n,ô.m.0 BACCI. da Cúria Romana: atualmente ape-
E- nrer?aó !n v fa/ te da% e‘ -uras do Breviário vem do Nôvo Testam ento.
tá rií£ F t a i n m » 3 s'tuaç.ao e. diLr maior valor aos textos neotestamen-
tános. Elim nem-sc outrossim do Oficio Divino todos os salm os que se
referem a situações particulares (e seria a têrça parte de to d í o ^ a l t “
0 Breviário 143

rio). Falou também da tradução dos salm os: retome-se a Vulgata, mo­
deradamente corrigida. Melhorem-se as leituras históricas e omita-se o
que é inútil. H aja mais critério na seleção dos textos da Patrística.
Para tudo isso constitua-se uma Comissão especial. Terminou, coiío
lhe convinha, com um louvor do latim.
241 — Cardeal Agostinho BEA, Presidente do Secretariado da União
dos C ristãos: o Concilio não deve descer a particularidades: fixe os
grandes princípios universalmente válidos: que a oração do Breviário
é feita em nome de tôda a Igreja ; que tem também a finalidade de
ajudar na santificação pessoal; que deve haver certa distribuição de
Horas, para santificar o trabalho do dia; e quais as relações entre a ora­
ção particular e a oficial.
242 — Cardeal Anselmo ALBAREDA, O . S . B . , da Cúria Romana:
defendeu o M artirológio e o Segundo Noturno (vida dos Santos: "Exempla
trahunt”).
243 — Guilherme CONNARE, Bispo de Grcensburg, nos E E .U U .:
declara falar em nome de 90% dos Bispos de sua nação: permita-se
na recitação privada do Breviário a livre escolha da língua, principal-
mente nas Lcctiones. Razão: para haver mais devoção e participa­
ção pessoal.
244 — Sérgio MÊNDEZ, Bispo de Cuernavaca, no México: as ho­
ras menores, mais reduzidas, sejam facultativas; as Matinas sejam substi­
tuídas por um "officium Lectionum” bastante livre, de tempo em tempo
modificado, para que haja variação. Esta leitura possa ser feita na
língua materna.
245 — João Juliano W E B E R , Bispo de Estrasburgo, na França: fala
"cum consensu magnac partis Episcoporum G alliae": propõe um Breviá­
rio bilingiie, com faculdade de rezar ou em latim ou em vernáculo. A
questão da língua é secundária. Disse que no Breviário deve haver mais
assunto para a meditação e santificação pessoal. Mas não quer um Ofi­
cio Divino abreviado. D eseja também a reforma dos livros litúrgicos.
246 — Francisco FRANIC’, Bispo de Spálato, na Jugoslávia: deixe-
se o Breviário como está, introduzindo, porém, a obrigação da me­
ditação.
247 — Jaim e CORBOV, Bispo de Monze, na Rodésia Setentrional:,
menos Antigo Testamento e mais Nôvo Testamento no Breviário; omi­
tir muitos salm os, como também todos os versículos, bênçãos e outras
coisinhas; os textos da Patrística devem enquadrar-se melhor no ofi­
cio; haja liberdade para a lingua; em todo o caso, o Oficio dos De­
funtos seja em vernáculo.
248 — Francisco REH, Bispo de Charleston, nos E E .U U .: distin­
guir entre Breviário coral (em latim) e particular (em vernáculo).
249 — Antônio AGUIRRE, Bispo de Santo Isidoro, na Argentina,
que fala em nome de nove outros Bispos da Argentina: "A tradição é
boa, mas a caridade é melhor”. Haja dois tipos de ofícios: para o côro
e para os pastôres. O dos pastôres conste de oração matutina, oração
vespertina e ofício de leituras para a meditação. E quando o trabalho
fôr muito, possam os Bispos dispensar da Leitura.

As 12,20 horas encerrou-se a 15* Congregação Geral.


10-1 1 -1 9 6 2 : Décima Sexta Congregação GeraL

O Breviário.

A 16* CO NG REG AÇÃO G ER A L


foi presidida pelo Cardeal Ruffini, Arcebispo de Palerm o. Ce­
lebrou a Santa Missa, no Rito B racarense, Sua E xcia. Dom Fran ­
cisco Maria da Silva, Bispo Auxiliar de Braga. Êste rito, que
em alguns pontos difere do de Roma, remonta ao ano 561 c foi
reconfirmado pela Bula Inter multíplices, de Pio X I, cm 1924.
A solene entronização do Evangelho foi feita por Dom César
Minali, O .F .M .C a p ., Prelado Nullius de Caroltna (M aran h ão ),
Brasil. Eram 2.173 os Padres Conciliares presentes hoje. Conti­
nuou-se esta manhã no estudo da Liturgia do Breviário. Ao que
já ontem se disse acêrca da importância do Breviário ajuntaram -
se hoje repetidas vozes que acentuaram não ser oportuno diminuir
o tempo que os sacerdotes devem consagrar à sua recitação,
não obstante as sempre crescentes ocupações do ministério pas­
toral. Pois a oração, e em particular a oração litúrgica do O fício
Divino, é, depois do Sacrifício Eucarístico e dos Sacram entos,
o principal meio de santificação e nenhum padre o pode menos­
prezar sem incorrer no grave risco de uma aridez espiritual que
haveria de revelar-se deletéria não apenas para si mesmo, mas
também para o povo a êle confiado. Aliás, foi observado que,
reduzindo a oração oficial do sacerdote de 15 ou 20 minutos por
dia, não sc resolveria o problema de suas múltiplas preocupa­
ções pastorais, mas certamente perderia na riqueza de sua vida
espiritual. Seu colóquio diário com Deus, através do Breviário,
é, com efeito, fonte não apenas de luz, mas também de fôrça
e sobretudo de graça. Todavia, se há circunstâncias particulares
nas quais o sacerdote poderia estar dispensado de uma parte
do Breviário, tais circunstâncias deveriam ser bem determinadas
e reconhecidas pelo Bispo, para não favorecer os abusos. Em
vários outros discursos houve referências a eventuais revisões de
Cardeal Rugambua, ( ardei; 'ir a d a s
da África

SI Cardeais; sobre o A lta r do C oncilio: o Kcangelho


0 Breviário 145
algumas partes do Breviário. Falou-se de uma nova tradução
dos Salmos, fiel ao espírito do texto original e ao mesmo tempo
num latim de compreensão mais fácil, embora nem sempre clás­
sico. O trabalho de revisão do Saltério, já felizmente iniciado
nestes últimos anos e atentamente continuado, seja levado a bom
têrmo — assim foi dito — com respeito ao espírito da lingua
latina e aos usos litúrgicos, como às tradições de tôda a Igreja.
A seleção de textos da Sagrada Escritura, de preferência dos li­
vros do Nôvo Testamento, deve ter em conta seu conteúdo for­
mativo, ascético e pastoral, deixando de lado aquelas partes que
se referem a situações históricas do povo de Israel ou a con­
dições psicológicas da antiga Lei que, por isso, são menos com­
preensíveis à mentalidade cristã e, consequentemente, menos fru­
tuosas para as almas do nosso tempo. Também os que pediram
a derrogação da língua latina no Breviário, especificaram que
se trataria não de uma faculdade geral, mas de uma concessão
para casos particulares e jam ais para a recitação coral. Às 11,45
horas, quando se tinha a impressão que as intervenções dos
Padres que falaram ontem e hoje sôbre o quarto capítulo já
haviam ilustrado suficientemente o assunto, o Presidente Cardeal
Ruffini, em nome do Conselho de Presidência, submeteu à vo­
tação do plenário a proposta de pôr fim ao estudo do Breviário
e passar à discussão dos quatro últimos capítulos do projeto.
E os Padres aprovaram a proposta. Os quatro capítulos agora
em estudo tratam do Ano Litúrgico, das alfaias sacias, da mú­
sica sacra e da arte sacra.

Intervieram na discussão desta manhã os seguintes Padres Con­


ciliares:
250 — Tiago FLORES, Bispo de Barbastro, na Espanha: insistiu
na necessidade de rezar c de rezar sempre.
2 51 _ Fidélis GARCIA, Bispo tit. de Sululi (Espanha): deseja mais
textos do Nôvo Testamento, tanto na Missa como no Breviário. Do Velho
Testamento, só os que se relerem mais dirctamentc ao Nôvo T esta­
mento e à obra da Redenção.
252 — César VIELMO, Vigário Apostólico de Aysén, no Chile: re­
comenda três diferentes formas de Breviário: o monástico, que no essen­
cial poderia ficar como está, incluindo, porém, as mais recentes modifi­
cações; o comum, para recitação particular, mas eliminando as orações
que supõem diálogo; e o pastoral, que seria facultativo, com obrigação
só para as Laudes, as Vésperas e as Matinas. Esta última constaria
de leituras bíblicas, doutrinárias, históricas (breve vida dos Santos) e
ascéticas, tôdas feitas em vernáculo.
Concilio n — 10
,46 III. Crônica das Congregações Gerais
253 — loão PROU, O . S . B . , Abade de Solesmes e Superior Geral
dos Beneditinos da França: falou sôbre o Saltério, man.festando o desejo
que tudo fique como está; deu normas para a tradução dos salm os.
254 — losé REU SS. Bispo aux. de Mogúncia, na Alemanha: propoc
que o Bispo possa conceder aos clérigos a licença de recitar o Breviário
em vernáculo; para as religiosas tal permissão seria comum. Razao
alegada: favorecer à piedade. Deseja também restringir a obr.gaçao do
Breviário: as Laudes e Vésperas seriam sempre obrigatórias; as Leitu­
ras (de livre escolha), por meia hora, também obrigatória.
255 — Renato José P1ÊRARD, Bispo de Chálons, na Fran ça: repe­
tiu o que já se disse acêrca das Laudes e Vésperas. Propõe que todos
aquêles que rezam duas missas por dia ou pregam duas vezes sejam
ipso facto dispensados das Matinas e das Horas Menores.
256 — Rafael GARCIA D E CASTRO, Arcebispo de Granada, na
Espanha: a oração particular não só deve ser recomendada, mas prescrita.
257 — Miguel GONZI, Arcebispo de M alta: deseja m ais rigor na
obrigação do côro, também para o Capítulo da Catedral.
258 — Estêvão LEVEN, Aux. de Santo Antônio, nos E E .U U . (fa ­
lou em nome de 90 7r dos Bispos de sua n ação ): os Bispos possam
permitir a recitação do Oficio em vernáculo; para as Lectiones do Bre­
viário, fixe-se o tempo e não os textos, a fim de dar espontaneidade
à meditação.
259 — Gabriel GARRONE, Arceb. de Tolosa, na Fran ça: devemos
ser mais realistas com relação à recitação do Divino Oficio em determi­
nadas horas; não convém insistir na "ho ra” (pois não depende dc
nós, mas da ocupação); poderia ser "formalismo”, nada mais. Haja
essencialmente três horas: Laudes, Vésperas e outra (não se diga "M a­
tinas", pois não corresponde à verdade) com leituras mais copiosas e
abundantes. T ais leituras possam ser feitas em vernáculo.
260 — José MARLING, Bispo de Jefferson City, nos E E .L M J.: apro­
va os argumentos em favor da recitação do Breviário em vernáculo: é
estimulo para rezar com mais devoção.
261 — Aniceto FERNANDEZ, O .P ., Superior Geral dos Dominica­
nos: define que o Oficio Divino é sempre oração comum, também quan­
do recitado em particular; portanto: manter os diálogos, respeitar os
tempos, ficar com todos os salmos. A dispensa só seja concedida quan­
do houver mesmo muito trabalho. Em tôdas as Catedrais seja o Breviário
recitado em côro. Convidem-se para isso também os fiéis.
262 — Luís CARLI, Bispo de Segni, na Itália: nas M atinas haja
menos salmos c mais leituras.
263 — Bernardo YAGO, Arceb. de Abidjan, na África Ocidental:
declara falar em nome de mais de duzentos Bispos da África. Em vez
das Matinas deseja um Oficio de Leituras (que pode ser dito a qual-
quer hora; por que insistir tanto na hora da m anhã?). Fiquem as Lau­
des, Vésperas e Completas. Mas basta uma só Hora Menor "ad meri-
diem sanctificandum”, pois para santificar o dia ainda temos a medita­
ção, a missa, o rosário, a visita ao S a n tíssim o ...
264 — José SOUTO, Bispo de Valência, na Espanha: o essencial
i Pv ireS rezcm' n.on multiplicatis verbis, sed meliiis” ; portanto:
Laudes, Vésperas e Matinas com muitas leituras meditadas; nas Mati-
0 Breviário 147

nas o Nôvo Testamento seja lectio continua (ou em latim ou em


vernáculo).
265 — Guilherme VAN H EES, Superior Geral da Ordem dos Cru-
cíferos: definiu que também as religiosas rezam em nome da Igreja;
declara que omitir uma Hora Menor é pecado grave; o Oficio Divino
deve ser recitado exatamente “sccundum distributionem temporis et ho-
rarum” ; vernáculo só para as religiosas.
266 — Vitório CO STANTINI, Bispo de Sessa Aurunca, na Itália:
os alunos e os professôres dos Seminários sejam obrigados a recitar
em côro as Laudes e as Vésperas, nos domingos e dias santos de guar-
da. Onde houver obrigação a côro, todos devem assistir também à
Missa Conventual como parte do Ofício Divino.
Nesta mesma décima sexta Congregação Geral iniciou-se ainda o
debate sôbre os quatro restantes capítulos. Falaram:
267 — Cardeal SPELLMAN: declarou que a maior parte déstes ca­
pítulos não deveria ser tratada em Concilio, pois apresentam apenas nor­
mas práticas.
268 — Filipe NABAA, Arccb. de Beirut e Gibail, no Líbano: falou
da festa de Páscoa c do Calendário universal fixo.
269 — Antônio PLAZA, Arceb. de La Plata, na Argentina: resta­
beleça-se na Liturgia o culto dos Santos: todos os Santos e suas ima­
gens devem ser celebrados e venerados.
270 — Pedro CULE, Bispo de Mostar, na Jugoslávia: na Igreja
Universal sejam venerados apenas os Santos de interêsse universal; os
outros fiquem para as ig rejas locais. Na quaresma não deve haver fes­
ta de Santo.
271 — Antônio TED D E , Bispo de Ales, na Itália: féz uma prega­
ção sôbre São José. Foi interrompido pelo Presidente Cardeal Ruffi-
ni: "Pracdicatio non fit praedicantibus”.
272 — Rafael GONZALEZ MORALEJO, Aux. de Valência, na Espa­
nha: deseja mais festas de Nossa Senhora.

A Assembléia terminou os trabalhos às 12,25 horas.


12-1 1 -1 9 6 2 : Décima Sétima Congregação Geral.
Mosaico Litúrgico.

P r e s id iu a d é c im a s é t im a
Congregação Geral o Cardeal Antônio Caggiano, Arcebispo de
Buenos Aires. A Missa inicial foi celebrada por Mons. José Ar-
neric, Bispo de Sebenick, na Jugoslávia, no rito romano, mas
com missal em língua paleoslava ou, como se diz mais cornu-
mente, na língua glagolitica. Êste tipo de missal, usado em vá­
rias dioceses da Croácia, remonta ao século IX, aos tempos dos
Santos Cirilo e Metódio. Na Idade Média caiu em desuso, mas
foi reconhecido pelo Concílio de Trento, revisto e im presso no
tempo de Pio X e divulgado por Pio X I. Logo depois do
“Adsumus", o Secretário Geral repetiu a com unicação que a
Primeira Sessão do Concilio terminará, com uma função solene
presidida pelo Sumo Pontífice, no próximo 8 de dezem bro; no
dia seguinte, domingo, dia 9, haverá solene canonização de alguns
Santos. A Segunda Sessão do Concilio Ecum ênico Vaticano 11
começará no dia 12 de maio de 1963, quarto domingo depois
da Páscoa, e terminará no dia 29 de junho, festa de São P e­
dro e São Paulo. Nos meses intermédios entre a primeira e
segunda Sessão trabalharão as Comissões C onciliares. Os trab a­
lhos conciliares desta manhã prosseguiram com o estudo dos
últimos quatro capítulos do projeto sôbre a Liturgia. O primeiro
dêstes capítulos (o V na ordem) trata do Ano Litúrgico e consta
de breve proêmio e dois títulos subdivididos em oito artigos.
O sexto capitulo, sôbre as alfaias sacras, tem uma introdução
e três artigos. O sétimo capítulo, sôbre a música sacra, com­
preende um proêmio e nove artigos. O último, que tala da arte
sacra, é composto de uma introdução e sete artigos. Como os
outros capítulos, também êstes têm, no rodapé, numerosas ano­
tações. Dirigiu-se a atenção dos Padres sobretudo ao quinto
capitulo. Muito se disse sôbre a necessidade de acordar nos fiéis
Mosaico litúrgico 14 9

o respeito para com os dias festivos. A obrigação de muitos


de trabalhar também aos domingos, não apenas nos países não-
cristãos, onde nem sempre coincide o dia festivo, mas também
nas nações cristãs fortemente industrializadas, torna difícil a san­
tificação do dia consagrado ao Senhor. Com igual esforço se
deveria restituir aos grandes períodos do Ano Litúrgico, como
o Advento e a Quaresma, seu significado original, acentuando
sua característica penitencial, mesmo se, para conseguir tal fi­
nalidade, fôsse necessário reduzir a importância litúrgica de algu­
mas festas de Santos ou transferi-las para outras datas. Tanto
mais que, para muitas partes do mundo, alguns Santos da anti­
guidade e até alguns recentes, são de fato pouco conhecidos.
Sôbre o tema da penitência em geral, necessária também para
a expiação das penas temporais, e sôbre a penitência quares-
mal cm particular, que deve preparar a ressurreição espiritual
pascal, falaram muitos Padres, que exprimiram o desejo de
adaptar às exigências da vida moderna e às condições das vá­
rias regiões, as formas tradicionais que parecem corresponder
melhor às necessidades das alm as. O que mais vale — foi dito
— é o espírito de penitência, que deve ser favorecido por to­
dos os modos. Falou-se também do problema bastante comple­
xo do calendário perpétuo e do dia fixo para celebrar a Páscoa.
Foram propostas normas que, sem entrar em particularidades,
têm a finalidade de recomendar o estudo desta questão, cuja so­
lução, concordando também outras Igrejas cristãs, sobretudo do
Oriente, poderia ser de notável importância tanto para a vida
religiosa como para a vida civil. Algumas intervenções se rela­
cionaram também com a música sacra e a arte sacra, particular­
mente nas Missões. Falou-se ainda do culto das imagens; de
festas particulares em honra de Santos; de usos e tradições de
certos povos c que poderiam ser absorvidos pela Igreja e rece­
ber significação profundamente cristã; da conveniência de adaptar,
segundo a mentalidade dos povos, os utensílios sacros, os can­
tos, as imagens c os edificios sacros. São as coisas, inclusive
a arte, que hão de servir à salvação do homem e não o homem
às coisas. Falou-se das relações entre os calendários litúrgicos
diocesanos e os de religiosos no mesmo território e sôbre a opor­
tunidade de estudar um código para a Liturgia. Auspiciou-se
também que surjam sempre mais numerosas as escolas de arte
sacra, capazes de educar os artistas para uma visão verdadei­
ramente cristã da vida, para que produzam obras perfeitas não
,5 0 Hl. Crônica das Congregações G erais

sòmente do ponto de vista artístico mas ainda do ponto de vista


religioso e cristão. Estavam presentes, esta manhã, 2 .1 8 5 P a ­
dres Conciliares.

As 21 intervenções desta manhã se fizeram na seguinte ordem:

273 — Cardeal Jaim e DE BARROS CAMARA, Arceb. de São Se­


bastião do Rio de Janeiro, no Brasil: a música sacra "non est ancilla,
sed pars cultus divini". Não é possível criar um espirito litúrgico sem
canto adequado. Dai a necessidade dc insistir no ensino c no ensaio
da música sacra nos Seminários, fundar escolas de música, especialmente
para o canto gregoriano, para que todos saibam cantar o necessário;
também o canto sacro popular seja conhecido e ensaiado.
274 — Cardeal Maurício FELTIN , Arceb. de Paris, na Fran ça: o
calendário perpétuo e a fixação da festa pascal não é da competência
exclusiva do Concilio: é necessário entrar cm contacto com organiza­
ções internacionais. Não há motivos teológicos contra tal inovação e
muitas razões pastorais recomendam-na. Nossas nações ocidentais pro­
põem como data fixa da Páscoa o primeiro domingo de abril. Pede
que os Orientais também se interessem por esta questão e façam pro­
postas concretas.
275 — Cardeal Laureano RUGAMBWA, Bispo de Bukoba, em Tan-
ganica: acentua a grande importância da música para a Liturgia. Mas
a autêntica música sacra deve acomodar-se à índole de cada povo. Na
África há muita música e grande amor pela música. Procure-se estudar
melhor também as formas da música africana.
276 — Conrado BAFILE, Núncio Apostólico em Bonn (A lem anha):
discorreu sôbre o calendário perpétuo, pronunciando-se pela reforma.
277 — Frederico MELENDRO, Arceb. (expulso) de Anking, na Chi­
na: é preciso adaptar as estátuas e imagens ao gôsto de cada povo.
O gôsto europeu não agrada aos chineses. Doutrinou que nunca se de­
vem colocar estátuas de Santos sôbre o altar do Santíssimo.
278 — José MARL1NG, Bispo de Jcffcrson, nos E E .U U .: conser­
vem-se no calendário universal sòmente os Santos de interêsse para tô-
da a Igreja. Propôs São Gaspar de Búfalo para a Igreja Universal. As
festas do Senhor, entretanto, sempre tenham precedência.
279 — Antônio BARANIAK, Arceb. de Poznan, na Polônia: faça-se
a reforma do calendário em intima colaboração com a ONU. Demorou-
se em muitas considerações sôbre o calendário perpétuo.
280 — Sebastião SOARES DE RESEN D E, Bispo de Beira, no Mo­
çambique: discorreu sôbre a ordem hierárquica entre os Santos. De­
fendeu um calendário comum para tôdas as dioceses, ordens e congre­
gações religiosas.
281 José KHOURY, Arceb. dos maronitas, de T iro, no Líba­
no: o dia hturgico é de vésperas para vésperas: por isso quer a volta
das pnmeiras vésperas. Recomendou que continue a obrigação de assis-
tir a missa dominical, mas que os que não podem assistir (por causa
de trabalhos e ocupações indispensáveis) possam cumprir a obrigação
em outro dia da semana, determinado pelo Ordinário. Pronunciou-se
pela fixação da Páscoa.
Mosaico litúrgico 15 1

282 — Vitorio REED , Bispo de Oklahoma, nos E E .U U .: deseja


mais variedade nas missas_ dominicais e feriais, principalmcnte nas lei-
turas, para melhor instrução dos fiéis. Façam-se novos formulários de
missas para todos os dias do ano. Deseja também mais variação nas
m issas votivas.
283 — Cirilo ZOHARABIAN, Bispo tit. dc Acilisenc (Itália).
284 — Antônio JANNUCCI, Bispo de Pescara, na Itália: gostaria de
missas especiais para todos os dias do Advento; e que de 8 a 24 de
dezembro seja sempre féria dc primeira classe; tôdás as festas de San­
tos sejam removidas do Advento. Crie-se também uma liturgia própria
para o ciclo de Natal: mysteria Verbi incarnati; para o tempo da Epi­
fania: mistérios da infância de Cristo; e um nôvo ciclo litúrgico sôbre
o Reino de Deus, que lembra a verdade da Igreja, do Corpo Místico,
da dilatação do Reino, da Igreja triunfante, de Cristo-Rei e de Ma­
ria Rainha.
285 — José McVINNEY, Bispo de Providence, nos E E .U U .: falou
do jejum , acentuando seu aspecto social e comunitário.
28G — Lourenço BERECIARTUA, Bispo de Siguenza-Guadalajara,
na Espanha: as missas feriais sejam melhoradas com leituras, para
grande proveito dos celebrantes e fiéis. Lembrou que antes de Gregório
Magno já havia tais leituras.
287 — Simão HOA NGUYEN-VAN-H1EN, Bispo de Dalat, no Viet-
nam: aqui em Roma, quantas festas surgiram de usos e costumes pa­
gãos: por que não valeria o mesmo princípio também para outras ter­
ras? No Vietnam o inicio do ano é uma festa pagã de muita impor­
tância. Ou devemos impregnar as coisas pagãs com espírito cristão, ou
substitui-las por festas ou coisas cristãs. Falando do jejum, declarou
que nas catequeses e pregações devemos anunciar e motivar a necessi­
dade da penitência. Propôs que a obrigação da missa dominical possa
em alguns casos ser transferida para um dia da semana. Também lhe
incomoda o manipulo.
288 — Leonardo RAYMOND, Bispo de Allahabad, na India: pede
que a desobriga pascal não fique no mês de abril, que na sua região
é um tempo cxtraordinàriamente quente (com mais de 40 graus); e que
tõdas as coisas litúrgicas não essenciais sejam da competência dos
Bispos ou ao menos das Conferências Episcopais. Não é a favor do
jejum dos moralistas e canonistas, mas que os cristãos se abstenham
do luxo c das coisas que levam ao luxo e à luxúria. Também insistiu
na necessidade dc adaptar a música; e perguntou: por que não pode­
mos usar no Oriente os instrumentos musicais desconhecidos no Oci­
dente? Revelou que muita música ocidental, mesmo sacra, é repelente
para êlcs, impedindo a conversão dos pagãos. Deseja também a adapta­
ção na arte sacra, para a qual deve valer uma só regra geral: digna
sanctitati, nada mais. Os indianos querem ver Nossa Senhora com ves­
tes indianas. "índia est nostra régio”.
289 — Mário CASTELLANO, Arceb. de Siena, na Itália: é_ abso­
lutamente em favor do calendário perpétuo. Quer clara definição dos
direitos das Conferências Episcopais regionais ou nacionais. Deseja tam­
bém um Codex Liturgicus,
152 III. Crônica das Congregações G erais

290 — Pedro NGO-DINH-THUE, Arceb. de Hue, no Victnam : acen­


tue-se o aspecto social, familiar e comunitário da Santa Missa. Nume­
rosas cerimônias não servem para muitas regiões. Se cm alguns lugares
há falta de sacerdotes, não será porque o povo não gosta dos ritos
estranhos? Dê-se, por isso, máxima liberdade aos Bispos ou às Con­
ferencias Episcopais.
291 — Manuel LARRAIN, Bispo de Talca, no Chile: só se admi­
tam ornamentos' que têm abertamente uma significação; somente sim-
bolos quando claramente inteligíveis. Nunca ornamentos com esplendor.
A forma da Liturgia deve refletir o espirito da simplicidade, na forma
do Verbo que se humilhou.
292 — Primo GASBARRI, Aux. de Velletri, na Itália: fér. um dis­
curso histórico sôbre a arte sacra.
293 — Paulo GOUYON, Bispo de Bayonnc, na Fran ça: sim plici­
dade nos utensílios, nas alfaias, no interior da igreja e nos Bispos.

A Assembléia encerrou os trabalhos às 12,25 horas.


13-11-1962: Décima Oitava Congregação Geral.
Questões Litúrgicas várias.

P r e s i d i u a is * c o n g r e g a -
ção Geral desta manhã o Cardeal Bernardo Alfrink, Arcebispo
de Utrecht, na Holanda. As primeiras intervenções desta manhã
rcfcriram -se de modo especial à música e à arte sacra. Antes,
porém, alguns Padres Conciliares exprimiram o desejo de que
se simplifique o rito da Missa Pontifical e que os paramentos
sejam mais conformes às leis da Liturgia e às regras da sim­
plicidade. Recordaram-se os Cânones 1255 e 1276 do Código
de Direito Canônico relativos à doutrina católica sôbre o culto
particular e público das imagens com o fim de corrigir ou evi­
tar abusos tanto na exposição de pinturas e esculturas novas,
como na remoção de outras antigas. A Igreja sempre favoreceu
o progresso da arte sacra, por isso aconselhou-se continuar na
mesma linha, tendo presente que as obras de arte inspiradas
pela fé e pela religião representam um hino permanente de lou­
vor a Deus, ao mesmo tempo que levam a alma humana à ora­
ção. A Igreja também aceitou tôdas as formas de arte, sem
contudo fazer seu êste ou aquêle dos diversos estilos que se su­
cederam no decorrer dos séculos. Por isso, é necessário interes­
sar-se pelas escolas superiores de arte como, aliás, já ontem
tinha sido sugerido, para que os artistas saibam unir em seus
trabalhos a inspiração sagrada e os cânones da verdadeira arte
que c de todos os tempos mesmo se mudam os gostos e as exi­
gências. A arte sacra deve, portanto, encontrar o seu comple­
mento nas tradições particulares das diversas regiões. Contrà-
riamente ao que por vêzes se afirma, o esplendor das obras de
arte, assim como a solenidade do culto não ofendem os pobres
e os humildes, que bem compreendem como se deve oferecer
a Deus tudo quanto a natureza tem de melhor, e de mais belo
produz a arte. Os santos, entre os quais o Cura d’Ars, sabiam
15 4 III. Crônica das Congregações G erais

unir a própria pobreza extrema aos cuidados mais atentos da


igreja a êles confiada. O que importa é evitar o excesso de lu­
xo, afirmou-se, e a satisfação da vaidade. E os primeiros a
serem cônscios desta exigência de “sim plicidade, verdade e po­
breza", como recomenda o Santo Padre, são os Bispos que vivem
no meio do povo, conhecem as necessidades não só espirituais,
mas também materiais dos seus diocesanos. Muitos Padres fa ­
laram também sôbre a música sacra que deve ser considerada
parte integrante da Liturgia. Insistiu-se sôbre o canto grego­
riano. Êste deve ser salvo de uma lenta sufocação, pois — dis­
seram alguns — sempre estêve intimamente conexo com a língua
latina. Ao mesmo tempo acentuou-se a im portância do canto
religioso em vernáculo que é necessário favorecer cada vez mais
como auxilio secundário da ação litúrgica. Têm também muita
importância no campo da música sacra os cantos próprios e
tradicionais nos Países de Missão, cantos estes que podem ser
útilmente adotados pela Igreja e adaptados à oração durante as
funções para-litúrgicas. Mencionaram-se argumentos já discuti­
dos, como o Calendário perpétuo e a data fixa da Pásco a; o
culto litúrgico das festas que deve ser breve e sim ples; a re­
dução dos dias santos não-dominicais; a necessidade da peni­
tência quarcsmal; o fim pastoral que se propõe tôda a liturgia,
nas suas várias expressões; a importância do Advento entre os
períodos do Ano Litúrgico. O Cardeal Cicognani anunciou que o
Santo Padre, acedendo ao desejo manifestado por muitos P a ­
dres, decidiu inserir o nome de São José no Cânon da Missa
logo a seguir ao da SSm a. Virgem, para que êste ato perma­
neça como recordação do Concilio Ecumênico Vaticano II, em
honra do Patrono do mesmo Concilio. E sta decisão do Santo
Padre entrará em vigor no dia 8 de dezembro próxim o. Entre­
tanto, a Sagrada Congregação dos Ritos preparará as atas ne­
cessárias. Antes do encerramento da Assembléia o Presidente
apresentou à votação a proposta de considerar terminado o ex a­
me dos quatro últimos capítulos do esquema sôbre a Liturgia.
A proposta foi aceita. O Presidente comunicou depois que am a­
nhã se começará o exame do Esquema de Constituição sôbre
as Fontes da Revelação. — Ontem à tarde, segunda-feira, 12
de novembro, foi realizada a reunião do Conselho de Presidên­
cia do Concilio. E esta tarde reuniu-se, pela primeira vez, a Co­
missão Teológica, para preparar a discussão conciliar de amanhã.
Questões litúrgicas várias 15 5

Tomaram parte nos debates de hoje 22 Padres Conciliares, na se­


guinte ordem:
José URTASUN, Arccb. de Avinhão, na França: deseja a
Missa Pontifical mais simples; e que os Bispos possam celebrar com
o povo também a missa dialogada e cantada.
295 — Luís MUNOYERRO ALONSO, Arceb. tit. de Sion, Vigário
Castrense para a Espanha: recordou os cânones 1255 e 1276 do Di­
reito Canônico.
296 — Antônio FU STELLA , Bispo de Todi, na Itália.
297 Ccsário D’AMATO, Abade de São Paulo fora dos muros,
em Roma: insistiu que o canto gregoriano deve ficar para tôdas as
solenidades e 0 canto popular religioso só nas missas não-solenes; cuide-
se que 0 canto litúrgico popular (na forma gregoriana) seja cada vez
mais propagado. Defendeu 0 latim para 0 canto-chão. Condenou vio­
lentamente certa forma de canto moderno dissonante.
298 — Luis HERNANDEZ ALMARCHA, Bispo de León, na Espa­
nha: na arte sacra conserve-se cuidadosamente a tradição eclesiástica:
é um "thesaurus culfurarum in Ecclesia” ; a arte sacra moderna destrói
a tradição antiga e recebida. Formem-se peritos em arte sacra e na
conservação das artes antigas.
299 — Pedro ZILLIANTI, Abade Nullius de Monte Olivete Maior,
na Itália: declarou que em sua região a gente é pobre, mas, não obstan­
te, aprecia a riqueza no culto; faça-se, pois, todo 0 possível, em ma­
téria de beleza e preciosidade no culto. Lembrou o templo do Antigo
Testamento. Declarou que devemos conservar e multiplicar também hoje
o patrimônio da Igreja. Disse ainda que mesmo a comida, o vestido e
n morada dos padres não devem ser pobres.
300 — José SOETEMANS, Abade Geral dos Cônegos Regulares
l.ateranenscs: falou das várias espécies de Abades e defendeu seus di­
reitos à celebração de Missas Pontificais. Argumentou: os Abades são
sagrados mediante sacramentais da Igreja: por que, pois, tirar-lhes o
direito de pontificar? Também os Abades aposentados devem continuar
com 0 mesmo direito, pois costumam celebrar com grande devoção. Se
Bispos sem jurisdição podem pontificar, por que não 0 poderiam os
Abades? "Non punientur Abbati!” Declarou que falava em nome de
muitos colegas.
301 — Henrique GOLLAND TRINDADE, Arceb. de Botucatu, no
Brasil: louva a sinceridade com que 0 texto que fala "D e Supellectile”
concede os abusos havidos por “vaidade humana” ; embora a questão das
vestes eclesiásticas não seja nada essencial, é contudo um elemento que
chama a atenção; pertencendo também à arte sacra, deve distinguir-se
pela simplicidade, austeridade e quase pobreza. A tradição litúrgica não
deve ser procurada no tempo em que a Igreja imitava a pompa dos
reis e príncipes (anéis, tronos, c a u d a s ...), porque seriam tradições
mundanas. Devemos voltar ao presépio, à cruz, às catacumbas. Propõe
que se acabe com rendas, caudas, púrpuras, arminhos, cruzes precio­
sas, etc. E exclamou: "Tempus opportunum est: mine agite, Fratres,
sicut Papa loanncs!”
302 — Casimiro KOWALSKl, Bispo de Chelmo, na Polônia: decla­
rou que, na ordem da intenção, 0 canto gregoriano está em primeiro
III. Crônica das Congregações G erais
156
ordem da execução, em último. Defendeu o canto po-
_ i._i . /Uo irArrlflHflc /líi fp I pfnnmn

a cultura seus inspiradores. Façam -se ig rejas m oaernas,


que sejam rcalmente obras de cultura e de piedade para os fiéis.
303 — Paulo YOSHIGORO TAGUCHI, Bispo de O saka, no Japão:
as vestes episcopais na Liturgia sejam mais simples (sem capa magna)
e mais adaptadas à mentalidade do povo. Nos livros pontificais há
coisas incompreensíveis para os fiéis lá no distante Oriente, e algumas
até que são motivos de escândalo, afastando o povo em vez de cha­
má-lo. Adaptem-se as vestes aos costumes humanos e criem-se novas
formas para os pontificais. Na arte sacra cuide-se a fim de evitar o
perigo da superstição. Nas nossas regiões, declarou, não se deve imi­
tar sem mais o que há em outras regiões, nem o que há em outras
religiões (por exemplo na forma de construção duma ig re ja ).
304 — Francisco JO P, Bispo tit. de Daulia (P o lô n ia ): falou em
nome de todos os Bispos poloneses: desejamos que se termine a dis­
cussão sôbre a Liturgia, pois o projeto como tal é excelente c a maio­
ria do que foi dito são coisas particulares que não podem entrar na
Constituição, que quer traçar apenas normas gerais, claras e capazes
de dar aos fiéis a necessária participação consciente e ativa nos atos
litúrgicos.
305 — Pedro Canisio VAN LIERD E, Sacristão e V igário Geral de
Sua Santidade para a Cidade do Vaticano: louvou o canto gregoriano
como valor espiritual e pastoral, é um canto ‘‘super omnes a rtes” , e um
tesouro inestimável. Deve manter na Liturgia o primeiro lugar, inclusive
por sua eficácia pastoral. Por isso propõe conservar e incrementar o
canto gregoriano, criando escolas particulares, ‘‘principalmente para o
gregoriano e excepcionalmente para o canto popular”.
306.— Guilherme KEM PF, Bispo de Limburgo, na Alemanha: falou
em favor da música moderna e declarou que gostaria de saber a precisa
razão por que alguns acham que seria contra a santidade.
307 — André SAPELAK, Visitador Apostólico para os fiéis ucra-
nianos na Argentina: fêz considerações contra o calendário perpétuo e
a fixação da festa de Páscoa.
308 — Paulo SE ITZ, Bispo de Kontum, no Vietnam: falou em nome
de todo o Episcopado vietnamense c disse que a arte sacra deve ser
"ancilla Liturgiae” : imagens, estátuas, etc. devem ser meios para favo­
recer a devoção e piedade e não valores em si. Por isso, todo o culto
prestado às imagens como tais deve ser abolido (deu o exemplo de
incensar as imagens), pois é superstição ou leva à superstição. Citou
documentos antigos e de outros Concílios segundo os quais no altar-
mor só pode estar a imagem do Divino Salvador. Referindo-se à música
sacra, declarou que não há necessidade de um capitulo próprio sôbre
isso, pois bastam os princípios gerais da Liturgia.
~~ Gern,ano VOLK, Bispo de Mogúncia, na Alemanha: também
o povo deve cantar e não só o celebrante e a Schola. O côro e a Schola
privam o povo do direito de cantar. Instruam-se os fiéis numa forma
Questões litúrgicas várias 15 7

de canto gregoriano mais simples e enquanto possível também em lin-


gua vernácula: todos cantem os textos (da missa) em vernáculo.
310 — Edmundo NOWICKI, Coadj. de Gdansk, na Polônia.
311 — Maurício BAUDOUX, Arceb. de São Bonifácio, no Canadá:
vcrifica-se atualmente na arte sacra muita incompetência. No pontifi­
cal há muita coisa inútil e incompreensível: seria melhor criar um nôvo
Pontifical. Dê-se aos fiéis não apenas a faculdade, mas também a pos­
sibilidade de cantar.
312 José CHEN TIEN-SIANG, Bispo dc Kaohsiung, na China:
as cerimônias festivas sejam breves, simples, nada de supérfluo e sirvam
para elevar de fato a mente a Deus (pois, na realidade, levam hoje
mais a exterioridades). Há, pois, necessidade de reformas. Nunca uma
festa deveria prevalecer sôbre o domingo. E havendo festas em dia
de semana, transfira-se o preceito de assistir á Missa ao domingo se­
guinte (por causa da obrigação que têm os fiéis de trabalhar). Decla­
rou também que é necessário dar mais valor à arte dos outros povos,
favorecê-la e colocá-la a serviço da religião cristã.
313 — Miguel Dario MIRANDA Y GÔMEZ, Arceb. da Cidade do
México, no México: (alou sôbre a música sacra.
314 — José LÓPEZ ORTIZ, Bispo de Tuy-Vigo, na Espanha: é
preciso dar mais tempo ao Advento.
315 — João POHLSCHNEIDER, Bispo de Aachen, na Alemanha:
os padres deveriam dar o exemplo de penitência, sobretudo na quaresma
e nas têmporas. As determinações positivas dos dias de jejum sejam
reduzidas ao minimo possível (pois o jejum não é mais forma de pe­
nitência para hoje). E ’ necessário reavivar o espirito de penitência.
Procurem-se formas novas de penitência, mas sem casuística.
Estavam presentes nesta décima oitava Congregação Geral 2.209
Padres Conciliares. A Assembléia encerrou os trabalhos às 12,15 horas.
E com isso pôs-se fim ao debate conciliar sôbre a Sagrada Liturgia.

Comentário do cronista:
Nos debates sôbre a Liturgia (que foram bem mais demo­
rados que se esperava; e também mais importantes) era evidente
a presença de dois grupos: o dos conservadores e o dos pro­
gressistas, segundo uma terminologia; ou, segundo outra, para
reconhecer em todos o necessário respeito à "trad itio": o grupo
dos tradicionalistas estáticos e o dos tradicionalistas dinâmicos.
Entre os dois extremos de cada posição possível surgiram ainda
todos os matizes intermediários imagináveis. E isto era natural.
Pois não se podia esperar que nestas questões opinassem do
mesmo modo o Pastor de uma zona industrial e descristiani-
zada e o de uma região rural e conservadora; ou um Bispo do
sertão brasileiro com pouquíssimos padres e o de uma zona
cristã e praticante com abundância de clero; ou, mais simples­
mente, um Bispo da Itália e outro do Japão, o Pastor de Chica­
go e o Bispo dos bantos africanos.
158
Hl. Crônica das Congregações Gerais

Penso porém, que, no fundo havia outros problemas de mui­


ta atualidade, questões em tôrno das quais muito se discutiu
últimamente, mas sôbre as quais não se preparara formal e ex­
plicitamente nenhum projeto de Constituição ou D ecreto Con­
ciliar. Refiro-me sobretudo aos problemas da desocidentahzaçao
da Igreja e ao de sua descentralização. De fato, a maioria das
intervenções, durante o debate sôbre a Liturgia, tinham por mo­
tivo como pano de fundo, uma ou outra destas duas grandes
preocupações da Igreja Universal. E é precisamente na Liturgia
que isto se fazia e faz sentir mais claramente (não exdusiv a-
mente). A Europa, ou o Ocidente, deixou de ser “o mundo".
Mas a Liturgia atual foi formulada quando a Euiopa era o
mundo e o resto eram “colônias” ou regiões totalmente desco­
nhecidas. Apenas um exemplo de nenhuma im portância: quando
temos que tomar a "pars hiemalis” do Breviário, suamos no
Brasil porque estamos em pleno verão, mas na Europa é mes­
mo inverno. E ’, porém, objetivamente, grande absurdo prescre­
ver para todo o mundo a "pars hiemalis”, quando a metade do
mundo vive no verão. Querer, não obstante, impor aos demais
esta terminologia ou exigir que a outra metade se conform e sim­
ples e obedientemente, não deixa de ser uma espécie de "c o ­
lonialismo cultural” ou espiritual, segundo uma expressão usada
pelo Cardeal Lercaro na conferência que fêz outro dia aos B is­
pos Brasileiros na Domus Mariae. O exemplo dado não tem
importância prática, mas mostra bem o que se quer dizer com
a palavra “desocidentalização”. Haverá muitos outros exemplos,
nos quais seria bem mais evidente o peso inútil e triste dc
um colonialismo cultural. Penso também no latim: obrigar a um
japonês, chinês, banto ou mesmo a um caboclo brasileiro a re­
zar o Pater N o stc r .. . Pio XII e João XX11I afirmaram clara­
mente que a Igreja, não obstante o muito que deve à cultura
ocidental, não pode nem deve identificar-se com ela; mas que
ela deve “encarnar-se” em tôdas as outras culturas, para ele­
vá-las e fecundá-las. O que o Cristianismo fêz em Roma é, cer-
tamente, o melhor e o mais clássico exemplo do que a mensagem
cristã é capaz de fazer, como pode adaptar-se a uma cultura,
a uma lingua, a usos e costumes de uma nação, como pode mes­
mo identificar-se com um povo. Por que não poderia repetir-se
a experiência de Roma na Índia ou em qualquer outro lugar onde
há gente chamada por Deus para viver segundo o Evangelho?
Não é acaso nisso que pensamos quando ensinamos na T eologia
Questões litúrgicas várias 15 9

Fundamental que a religião fundada por Cristo “est de iure


cath olica"?
Estou persuadido de que, da perspectiva da história univer­
sal de um futuro ainda muito remoto, nós, que vivemos neste
final do segundo milênio depois de Cristo, ainda estamos na
fase do “Cristianismo primitivo” ; pois o fim do mundo ainda
me parece estar à distância de muitos milênios (aliás, o Papa,
no programático Discurso de Abertura do Concílio, condenou os
“ profetas de desgraças que anunciam acontecimentos sempre in­
faustos, como se estivesse iminente o fim do mundo"). Desta
perspectiva podemos dizer que o Cristianismo está ainda nas
suas primeiras experiências, no final da “fase ocidental”, mar­
cada ainda pelas condições e situações do tempo que (na ter­
minologia da historiografia atual) se chama Idade Média; e
que o X X I Concilio Ecumênico foi o primeiro (apenas o pri­
meiro) grande ensaio de desocidcntalização ou ao menos de
desitalianização da Igreja Católica.
Estas tentativas, naturalmente, colocaram no centro dos de­
bates conciliares o segundo problema de fundo: o da descen-
tralizáção da Igreja. Teria sido natural tratar esta questão na
Constitutio de Ecclesia (que, aliás, não prevê um capitulo sôbre
isso; como também não tem nada sôbre a catolicidade da Igre­
ja ; mas a Comissão Prcconciliar dos Bispos e do Govêrno das
Dioceses preparou um Decreto especial sôbre as Conferências
Episcopais). Todavia, porque em vários artigos da Constitui­
ção sôbre a Liturgia se mencionavam as Conferências Episcopais
e porque o princípio de adaptação e acomodação da Liturgia
às diversas regiões e raças já estava quase enunciado no proê-
mio, sempre de nôvo surgiram, nos discursos conciliares, vozes
que criticavam a Cúria Romana e exigiam maior soma de po­
deres e competências para os Bispos ou ao menos para as Con­
ferências Episcopais ( “amo Petrum — exclamou um dêles —
sed timeo amanuenses eius” ), a ponto de o Cardeal Ruffini, quan­
do por turno ocupava a Presidência, suplicar aos Padres tives­
sem mais respeito e piedade para com a pobre gente da Cúria
Romana.
Devo assinalar ainda uma terceira causa profunda das di­
vergências que dividiram em dois campos os Padres Concilia­
res no debate sôbre a Liturgia: o próprio conceito da Igreja
Militante. Um grupo acentua o aspecto jurídico, externo e hie­
rárquico da Ig reja : Papa, Bispos, Sacerdotes, Fiéis formam os
graus de uma pirâmide: os fiéis, com um mínimo de partici-
160 III. Crônica das Congregações G erais

pação que lhes parece ser generosamente “concedida” ( “benigne


concessit”) ou "perm itida" (ou apenas tolerada), assistem pie­
dosa e devotamente ao que fazem os graus superiores que, por
sua parte, procuram avivar sobretudo as virtudes da obediência
e do respeito à autor idade magisterial. Outro grupo não nega
esta parte jurídica, mas não a acentua tanto: para éles a Igreja
é primeiramente e em sua totalidade o Corpo M ístico de Cristo,
o “populus Dei”, servido e ajudado por vários graus de “mi­
nistros" e “servos”. (N a Mensagem à Humanidade, de 2 0 -X -6 2 ,
declararam os Padres C onciliares: “ . . . A fé, a esperança e a
caridade impelem-nos a servir aos nossos irmãos, conform ando-
nos assim com o exemplo do Divino Mestre que não veio para
ser servido mas para servir. Por isso também a Igreja não nas­
ceu para dominar mas para s e r v i r . .. ” ) . O povo de Deus deve
viver consciente c ativamente a vida de Deus nos santos sinais
e mistérios (sacram entos); absolutamente ninguém pode excluir-
se desta vida e participação. Os sinais e ritos devem por isso
ser inteligíveis e simples; e a santa M issa há de ser a expres­
são religiosa suprema do povo de Deus que, aos domingos, não
vai à Missa apenas para cumprir um dever imposto, mas para
exprimir sua vida religiosa comunitàriamcnte e buscar os au­
xílios divinos. Claro que para os que têm da Igreja êste con­
ceito mais vivo do “Populus D ei" ou “Corpus mysticum”, a
Liturgia e a participação do povo nela é uma questão vital, de
vida ou morte: não se trata de “concessões” e “ perm issões”,
trata-se do próprio cerne da vida cristã.
Eis, no fundo, as causas principais das divergências por
ocasião do debate conciliar sôbre a Constitutio de Sacra Liturgia.
Encontram-se nossos Hispos diante do Pio llra sile iro

Os Cardeais do U rasii na Anta Conciliar


João X X IJ I fala com os 175 Padres. Conciliares do R ra sil

Dom Augusto P vtrõ. Dom From ■ 1. Mesquita


Dom Agnelo Rossi e I Jose T liu rle i
14-11-1962: Décima Nona Congregação Geral.
As Fontes da Revelação.

D e p o is d a in v o c a ç a o d o
Adsiimus” e antes de iniciar a discussão do nôvo projeto sôbre
as Fontes da Revelação, foi lida em latim, espanhol, inglês,
francês, alemão e árabe a seguinte comunicação: "Terminada
a discussão do projeto sôbre a Sagrada Liturgia, propõe-se
submeter à votação estas duas proposições: 1) O Concílio Va­
ticano II, depois de examinado o projeto de Constituição sôbre
a Sagrada Liturgia, aprova suas diretrizes gerais, que querem
tornar, com prudência e compreensão, mais vitais e formativas
para os fiéis as diversas partes da Liturgia, de acôrdo com as
exigências pastorais de hoje. 2 ) As emendas propostas durante
a discussão conciliar, apenas examinadas e devidamente compi­
ladas pela Comissão Litúrgica, sejam cuidadosamente submetidas
à votação da Congregação Geral para que possam ser usadas
na redação definitiva do texto". Os Padres Conciliares foram
então convidados a votar com fichas adrede preparadas para
o cômputo mecanográfico. Pelo fim da sessão o Secretário Geral
leu os resultados da votação: sôbre 2.215 votantes, houve 2.162
votos a favor, 46 contra e 7 nulos. — Imediatamente após a vo­
tação, o Presidente da Sessão deu início aos trabalhos. Antes
de ser apresentado o nôvo projeto de Constituição Dogmática,
o Cardeal Alfredo Ottaviani, Presidente da Comissão Teológica,
sublinhou a importância do projeto em questão, mesmo sob o
ponto de vista pastoral, pois o ensino da verdade, que é sem­
pre e em tôda parte igual, constitui o primeiro dever de todo
Pastor de almas. Ele deverá depois encontrar as formas e os
métodos melhores para expô-la. A relação foi lida por Mons.
Salvador Garofalo. Nela se precisou que a principal finalidade
do Concílio é defender e promover a doutrina católica. A se­
guir foi explicado o projeto nas suas diversas partes. Eviden-
ConclUo II — 11
,62 III. Crônica das Congregações G erais

ciou-se também o trabalho empregado na sua preparação. Con­


tribuíram, para a elaboração do projeto, membros e consultores
da Comissão Teológica, provenientes de várias nações e do­
centes em diversas Universidades. E stes sempre tiveram em con­
ta que uma constituição dogmática, emanada de um Concilio,
não é uma Encíclica, nem uma homilia, nem uma C arta P a s­
toral. E ’ um texto doutrinário imutável, em bora perfectível na
sua apresentação. 0 relator finalmente ilustrou os 5 capítulos
do projeto, a saber: as duas Fontes da Revelação, a inspiração,
a composição literária da Sagrada Escritura, o Antigo T esta ­
mento, o Nôvo Testamento, a Sagrada Escritura na Igreja. Na
discussão surgiram várias posições: uma favorável, outra desfa­
vorável e uma terceira que deseja reelaborar todo o projeto.
Os Padres que o aprovaram aduziram como razão ser possível
aperfeiçoar o texto mediante livre e aprofundada discussão na
Aula Conciliar. Outros acharam que o projeto é excessivamente
longo e pouco pastoral e ecumênico. Um terceiro grupo, enfim,
propõe nova formulação de tôda a Constituição. Concordaram
todos cm louvar o esforço dos trabalhos preparatórios, mas
também em pedir ulterior aperfeiçoamento. Por outro lado os
estudos teológicos ainda não atingiram suficiente clareza em
várias questões, as quais, por isso mesmo, ainda não estão
maduras para definições conciliares. Houve também propostas
para modificar o modo de proceder e trabalhar nas sessões con­
ciliares. Comunicou-se que na próxima semana será distribuído
o projeto de Constituição sôbre a Igreja.

As intervenções desta manhã deram-se na seguinte ordem:


316 — Cardeal Aquiles LIÉNART, Bispo de Lille, na Fran ça: de­
clarou que todo o projeto "non p lacet": Seu modo de falar é cxcessi-
vamente escolástico, inaceitável para o mundo moderno ( “non in ar-
gumentationibus scholasticis fundatur fides n ostra") c apresenta inexa­
tidões nos conceitos de “inspiração” e “tradição”. Já o titulo que fala
das “duas fontes” não ê correto, pois há uma só Fonte: o Verbo
Divino.
31 J — Cardeal José FRINGS, Arceb. de Colônia, na Alemanha: “non
placet ! O tom usado no projeto não lhe agrada. Lembra que também
no Vaticano I foram rejeitados muitos projetos por causa do inade­
quado modo de falar. O Papa quer vox pastoris, e no projeto ouve-se
a vox magistri. Não lhe agrada também por causa da doutrina nela
contida: o conceito de “duas fontes” não está nem na Patrística, nem
em Santo Tomás, nem nos Concílios: “unicus et iinus fons est Christus,
de quo nihil in schemate”. Também o conceito de "inspiração” lhe pa­
rece inaceitável: é rígido e favorece a uma inspiração quase verbal.
A s Fontes da Revelação 163

co'sas 0 Pf ojeto é manifestamente favorável a certa escola


teológica, condenando teólogos católicos e não hereges. E’ também exces­
sivamente comprido, é "im enso”.
. Cardeal Ernesto RUFFINI, Arceb. de Palermo, na Itália:
placet . Pois êste esquema é o ponto central de todo o Concilio. De­
nuncia um fato: entre os Padres Conciliares já circula um nôvo es­
quema para substituir êste; e pergunta: com que autoridade circulam
êstes projetos? (Referia-se a um projeto elaborado por convite das Con­
ferências Episcopais da Alemanha, Áustria, França, Holanda e Bélgica).
319 — Cardeal José SIRI, Arceb. de Gênova, na Itália: “utile ut
iacet”. Façam -se emendas. E' bom, pois apresenta doutrina fundamental.
Há lioje em tôrno destas questões muitos desvios, erros e perplexida­
des entre os católicos; dai a utilidade do esquema. Declara expressa­
mente que todos os Bispos da Itália aprovam seu modo de ver.
320 — Cardeal Fernando QUIROGA Y PALAC10S, Arceb. de San­
tiago de Compostela, na Espanha: aconselha aprovar o projeto: é boa
base para nossas discussões. Deseja, porém, uma série de emendas.
321 — Cardeal Paulo Emilio LÊGER, Arceb. de Montréal, no Ca­
nadá: o esquema deve ser totalmente refundido: exprime em forma
dogmática o que não passa de opinião de teólogos (exemplo: sóbre a
relação entre Tradição e Escritura). Procede puramente do temor con­
tra erros. Tòda a mentalidade do esquema é "pavor errorum”. O Con­
cilio deve falar sem agressividade e com serenidade. Nada daquilo que
o Papa espera conseguir no Concilio está no esquema. Não há nem
vestígio de preocupação pastoral. Foi dito esta manhã (referia-se à ex­
posição inicial do Cardeal Ottaviani) que a doutrina é o fundamento
da Pastoral; sim, mas aqui não é questão de fundamento, pois o que
está neste projeto pode ser encontrado em qualquer manual de Teo­
logia. O esquema não vê os homens, só olha para alguns teólogos e
escolas teológicas. Parece até que visa a ura só teólogo. Nada se diz
do fato da revelação, mas só das fontes.
322 — Cardeal Francisco KOENIG, Arceb. de Viena, na Áustria:
"nondum placet” . Pois contém doutrinas que não são "de fide”, mas
"d e schola”. Nem é prudente fazer definições sôbre questões nas quais
não temos certeza. Deseja saber também o valor teológico que se de­
veria dar à doutrina exposta no projeto.
323 — Cardeal Bernardo ALFRINK, Arceb. de Utrecht, na Holan­
da: não é nossa finalidade fazer dissertações teológicas ou repetir o
que outros Concílios já definiram. O conteúdo dêste esquema pode ser
encontrado em qualquer manual de Teologia. Para isso não precisa­
mos fazer um Concilio.
324 — Cardeal Lco SUENENS, Arceb. de Malines-Bruxelas, na Bél­
gica: “non placet”. Se fôssemos discutir conciliarmente sôbre todos os
projetos teológicos preparados para êste Concilio, teríamos não um Va-
ticanum II, mas um Tridentinum II (referia-se à duração). Propõe por
isso novos métodos no modo de trabalhar. Deseja também que as Co-
missões Posconciliares comecem a trabalhar desde já.
325 — Cardeal José R IT T E R , Arceb. de São Luís, nos EE-.UU.:
"Schem a reiiciendum est et novum proponatur”. Nêle não há nada de
nôvo, nem para a vida, nem para a doutrina. O Concilio não seria
necessário nem útil. Abundat loquacitas. O projeto é pessimista e ne-
164 III. Crônica das Congregações G erais

gativo. Nem mesmo fala claro, pois envolve muitas coisas em termino­
logia equívoca. Se há realmente soluções, diga-se claram ente sim ou
não; se não há, seja-se sincero em concedê-lo. O esquema causa tédio
e irreverência. „ . ,
326 — Cardeal Agostinho BEA, Presidente do Secretariado para a
União dos Cristãos: “Forma non placet”. Não corresponde à finalidade
do Concilio. Somos pastores de todos c não só dos teólogos. Há no
esquema muitas coisas supérfluas, boas apenas para um manual. A Cons­
tituição seja mais breve, menos ambígua, mais pastoral e mais ecumênica.
327 — Maximus IV SAIGH, Patriarca de Antioquia dos melqui-
tas: falou em francês, desaprovando o projeto. Razão principal: não
é pastoral.
328 — Gabriel MANEK, Arceb. de Endch, na Indonésia: "Schem a
hoc non placet”. Deu razões de ordem geral e motivos particulares. De
ordem geral: só muito remotamente poderia servir para a renovação
cristã desejada por João X X III; há nêle coisas supérfluas e algumas
até indignas de serem tratadas por um Concílio ( “Vix enim transcendit
modum quo haec matéria in quocumque libro manuali tractari s o le t");
reprova ou insinua reprovar opiniões propostas por católicos “ melioris
notae” ; trará apenas dificuldades ao movimento ecumênico. Dificuldades
particulares: não agrada a referência às "duas fon tes"; nem o conceito
de inspiração; nem o que se diz sôbre o valor histórico da S. Escritura.
Propõe então normas para um nôvo esquema.
329 — Alberto SOEGIJAPRANATA, Arceb. de Sem arang, na Indo­
nésia: analisa em vários pontos a finalidade do Concílio c verifica que
os projetos de Constituição Dogmática apresentados para a discussão
não correspondem ao escopo prefixado pelo Papa. Por isso: “ Enixc
comraendamus, ut schemata dogmatica diligenter examinentur et funditus
emendentur”.
330 — Casimiro MORCILLO, Arceb. de Saragoça, na Espanha: fala
cm nome dos Bispos de sua nação: vê e denuncia os pontos fracos
do projeto, mas de modo geral o julga aceitável para a discussão e
defende-o contra as numerosas objeções “que circulam entre os Pad res”.
Dissolveu-se a Congregação às 12,20 horas.

Liturgia pastoral.

A..v®taçã? de l,0í e> sôbre a Liturgia, só pode ser qualificada com


um adjetivo jornalístico: sensacional! O dia de hoje, 14 de novembro
de 1962, devia entrar na história: marca um fim de uma era e o co-
mêço de outra. Por mim, pessoalmente, diria que hoje terminou a "era
constantiniana da Igreja. — Esta nota de hoje, porém, não quer ser
um comentário meu. Preciso dar a palavra a um outro, ao Pe. Pedro
M ana Gy, O .P Professor de Liturgia no Instituto Católico de Paris
que, a convite do Serviço de Imprensa do Concílio, falou hoje aos jo r­
nalistas sôbre a Liturgia pastoral. Traduzo assim suas palavras:
No centro de tudo o que, de um mês a esta parte, foi dito sôbre
a Liturgia, há uma idéia bastante simples: a Liturgia é pastoral, e, se
nao fôr pastoral, não logra o seu fim.
Liturgia pastoral, que quer isso dizer?
As Fontes da Revelação

Antes de tudo, que os fiéisi q olslll àa Liturgia devem com-


„ . _assistem
que
Fmen^ eo’!,n'ftn6l|^CÍ0S ÜC par,iciParem «tivamente de uma "assembléia viva.
n l n l í nnr gar; q" C “ Pas,6res 850 '^ponsáveis por esta com­
preensão e por esta part.cipaçao ativa, e que a participação ativa dos
léK*r-?aMLltyr g i a é aip dos aspectos de maior importância da respon­
sabilidade dos Pastôres de alm as: muitas vêzes lembrou-o o Santo
Padre João X X III.
,T??.0S ,sabcm 9 ue êste grande rio da participação ativa e da pas­
toral liturgica tem o seu manancial aqui em Roma, numa das primeiras
palavras de S. Pio X, por éle pronunciadas na sua qualidade de Pas­
tor, conjuntamente, de uma diocese e da Igreja universal. Necessário se
féz, porém, muito tempo para que fôsse compreendido todo o alcance
desta palavra, e para que o manancial se tornasse um rio. O próprio
aspecto pastoral da Liturgia inspirou Pio XII e as reformas publicadas
sob o seu pontificado pela Congregação dos Ritos: estas últimas contri­
buiram não pouco, durante os últimos quinze anos, para difundir a pas­
toral litúrgica até aos extremos confins do mundo cristão.
Sem dúvida, ainda se acham aqui e ali, no mundo, muitas igrejas
onde os fiéis continuam a ser aquélcs "espectadores mudos" que Pio
XI criticava, c onde os Pastôres absolutamente não se preocupam com
fazè-los participar ativamente da Liturgia, não obstante ser tal parti­
cipação, segundo S. Pio X, a fonte indispensável do verdadeiro espírito
cristão. Agora, porém, que todos os Bispos do mundo estão reunidos
no Concilio, fica-se admirado de descobrir que tantos dêles, em tôdas
as cinco partes do mundo, têm aplicado com entusiasmo o programa
de pastoral litúrgica proposto por Pio XII, especialmente naquela Instru­
ção de 1958 que é um pouco o seu testamento. Agora muitas dioceses
já não têm Missas dominicais celebradas perante uma assembléia de
"espectadores mudos", mas sim uma liturgia viva celebrada com a par­
ticipação vital de todo o povo cristão. Encontrando-se todo dia com
Bispos, a gente nota como agora o senso da Liturgia pastoral já faz
parte do senso pastoral em si, e que os Pastôres da Igreja
reunidos cm Concilio bem sabem que a pastoral litúrgica é um dos
elementos essenciais da sua responsabilidade pastoral, convictos, com
S. Pio X, da importância de uma liturgia viva para todos os cristãos.
T al convicção, dos Pastôres e dos fiéis, é bastante mais impor­
tante do que tôdas as reformas litúrgicas esperadas do Concilio. Ficai
certos de que não digo isto para evitar falar aos jornalistas acêrca
dos problemas que os liturgistas se propõem, mas sòmcntc porque, para
nós liturgistas, êste é rcalmente o problema número um. Para quem
não está de acôrdo com as palavras de S. Pio X, a maior parte das
reformas litúrgicas inevitàvclmcnte são danosas e absolutamente inúteis.
Os Pastôres que efetivamente se aplicaram a realizar nas suas pa­
róquias ou dioceses a participação ativa na Liturgia podem testemu­
nhar que isto também tem significado um progresso para a piedade,
e para a vida de fé e de oração dos fiéis. Os cristãos têm sabido me­
lhor dar glória a Deus, têm-se tornado mais cônscios da sua fé e da
sua responsabilidade em face do mundo. Porém os Pastôres, os Bis­
pos e os Sacerdotes que têm experimentado a pastoral litúrgica sao
unânimes em reconhecer que os seus esforços teriam obtido resultados
bastante mais importantes se algumas dificuldades características da Li-
III. Crônica das Congregações G erais

cia pasiorai. , _ .
Os Bispos, Pastôres de dioceses, de modo algum tem o desejo de
mudar por simples amor da novidade, ou o desejo de voltar a formas
litúrgicas primitivas, pelo simples fato de pertencerem elas ao tesouro
da tradição e, por isto, serem venerandas: nem o prurido da novidade,
nem o arqucologismo os tentam, senão que a pastoral hodierna tem
necessidade de respostas fundadas na tradição, a fim de que, através
da Liturgia, os fiéis recebam realmente o ensino da Igreja e plenamen-
tc participem da Missa e de todos os outros Sacram entos. A Liturgia
é extremamente necessária para que todos os batizados conheçam a pa­
lavra de Deus e compreendam a sua fé de modo completo c ortodoxo.
E ’ o que, já no tempo de S. Leão Magno, dizia o leigo Próspero D’Aqui-
tània, com uma formulação que tantos Papas têm repetido: lex orandi,
lex credendi. A Liturgia, a lex orandi, è que deve ser o principal ensi­
namento da fé, da lex credendi, para o povo dos batizados.
Para um Pastor que se preocupa não só com um escol particular-
mente culto, mas também com todo o povo cristão, inclusive os que
não sabem ler, principio tal é pejado de consequências, seja no que
diz respeito à estrutura dos ritos, seja quanto à língua de certas partes
da Liturgia. Vem-nos à mente, neste ponto, uma frase do Abade de
Solesmes Dom Guéranger, quando, a propósito da Igreja prim itiva, es­
creve que, nos tempos de perseguição, a língua vulgar é necessária na
Liturgia para alimentar a fé e fortalecê-la até ao heroísmo. Infelizmente
não faltam, nos nossos dias, países onde a fé é perseguida, onde de
muitos modos é posta em perigo pela civilização moderna, onde a ca­
tequese fora da Liturgia é impossível c radicalmentc insuficiente.
O Concílio, assembléia de todos os Pastôres da Igreja Católica, mos­
tra claramente como são diversas as situações pastorais em que é cele­
brada a Liturgia católica. O grande corpo da Igreja é hoje bastante
mais complexo e diverso do que o era na época do Concilio de Trento,
quando foram estabelecidos os Livros litúrgicos atuais. A própria Li­
turgia deve fazer com que se nutram na fé e glorifiquem a Deus os
homens e as mulheres dos países cristãos e dos países descristianizados,
as massas batizadas da América Latina, as novas cristandades — da
África até o ExtTemo Oriente — e todo o nôvo povo da civilização in­
dustrial. E’ compreensível que, ante tal diversidade, se Unha julgado
oportuno confiar, de um modo ou de outro, às Conferências Episcopais
uma parte, ao menos, da responsabilidade da adaptação pastoral da
Liturgia. Não se tem tornado presente, creio eu, que a própria Santa Sé
está na origem desta idéia, com um importante decreto litúrgico, publi­
cado em abril de 1962, o qual reforma o ritual do batismo dos adultos.
Em virtude de tal decreto, às Conferências Episcopais é entregue o cuida­
do das traduções da Liturgia do batismo dos adultos, juntamente com
a faculdade de estabelecer algumas adaptações, com o beneplácito da
Santa Sé: “Ad convcntus episcopales facultas defertur opportune sta-
tuendi. . . annuente Sancta Sede”.
, Pode-se fazer uma objeção pastoral a estas grandes mudanças li-
turgicas esboçadas pelo Concilio: em geral, os fiéis não gostam de que
se lhes perturbe a piedade, e um pastor prefere sempre uma educação
A s Fontes da Revelação 167

paciente a uma mudança violenta. E ’ verdade, mas aqui c preciso con-


sidcrar a vocação e a graça próprias de um Concilio Ecumênico. O
Concilio de Trento, por exemplo, não só respondeu às necessidades
pastorais contemporâneas ao próprio Concilio, como também renovou
tôda a pastoral católica por muitos séculos. A graça de um Concilio
não consiste só em tornar as diversas partes da Igreja intensamente pre­
sentes umas às outras, mas também em ver para além do momento pre­
sente, em ver longe: a Igreja faz frente ao próprio tempo, seja no
mundo de hoje, seja no mundo de amanhã. Em tempo de Concilio, algo
da catolicidade da Igreja no espaço e no tempo reflete-se também sôbre
tôdas as paróquias do mundo. Em tôdas as paróquias da "catolichè",
o povo dos batizados e os seus Pastôres são convidados a superar
o horizonte habitual das suas formas dc oração c de vida litúrgica,
a superar as necessidades pastorais da comunidade local, para que a
Igreja, com todos os seus membros, se torne capaz, numa grande re­
novação, de responder aos homens de amanhã, oferecendo também a
êles aquèle lugar dc adoração em espirito c em verdade de que Nosso
Senhor Jesus Cristo fala no Evangelho.
Na eventualidade da promulgação de uma constituição conciliar só-
bre a Liturgia, importante é, para evitar desilusões, se saiba que nenhu­
ma ou quase nenhuma das suas disposições poderia ser aplicada ime­
diatamente. M ister seria, antes de tudo, que Comissões específicas
preparassem uma nova organização litúrgica, rubricas e, eventualmente,
traduções. Se essas Comissões fôssem tão bem organizadas como a Co­
missão Litúrgica Preparatória do Concilio, esta tarefa poderia ser levada
a bom termo no volver de poucos anos. Durante êste tempo, não de­
veriam os Pastôres fazer outra coisa senão praticar e inculcar a pa­
ciência e a disciplina. Deveriam também viver e fazer viver o espirito
da Liturgia da Igreja, tal como êle é explicitamente ensinado nos do­
cumentos de Pio XII que prepararam o Concilio — na “Mediator Dei ,
por exemplo - e pôr em prática a participação ativa na Liturgia em
todos os lugares onde se tem demorado a fazê-lo.
16-11-1962: Vigésima Congregação Geral.
As Fontes da Revelação.

R e a l iz o u - s e n a m a n h a d e
hoje a vigésima Congregação Geral do Concilio. Os Padres Con­
ciliares continuaram o exame do projeto sobre as Fontes da Re­
velação em geral. No decorrer dos debates m anifestaram -se duas
tendências: de rejeição pura e simples do projeto e de aceita­
ção com as correções necessárias. Os Padres Conciliares que
defenderam a primeira solução apresentaram os seguintes ar­
gumentos a favor da própria tese: o projeto em questão é de
caráter demasiadamente escolástico e teórico; carece de espirito
pastoral; contém afirmações muito rígidas; trata certos pontos
doutrinais que ainda não foram suficientemente estudados pela
teologia; não é claro na formulação da verdade, principalmcnte
quando se pensa naqueles que não são católicos; descura o pro­
blema da salvação dos que viveram antes de Cristo e dos que
não foram batizados; não favorece o progresso do trabalho cien­
tífico, teológico e exegético. Conclusão: tendo presentes êstes de­
feitos fundamentais, nada melhor do que substituir o projeto
estudado por outro inteiramente nôvo. Os Padres que se expri­
miram a favor da segunda solução basearam os seus argum en­
tos nas seguintes razões: o fundamento da ação pastoral está
na exposição clara da doutrina, mesmo que nela não se tenham
em conta os não-católicos; o papel do Concilio é explicar e de­
fender a doutrina católica; o projeto em sua formulação atual foi
preparado por Bispos e sacerdotes de grande competência no
assunto; foi aprovado pela Comissão Central com posta em gran­
de parte por Cardeais; os seminaristas esperam do Concílio
uma orientação segura sôbre os problemas doutrinais e exegé­
ticos que hoje são discutidos em livros e revistas com pouca
clareza de idéias e grande superficialidade. O bjeto de emenda
do projeto em geral seriam principalmente: seu caráter, mais
As Fontes da Revelação 169

legislativo que pastoral, no qual se nota influência preponde­


rante de determinadas correntes; sua extensão demasiadamente
longa e as repetições de que está repleto. Foi apresentada uma
proposta sôbre a oportunidade de criar uma equipe de trabalho
composta por Padres Conciliares de diversas tendências, com a
finalidade de se procurar um ponto de encontro concorde no
exame das várias opiniões surgidas nestes dois primeiros dias.
Foram esta manhã distribuídas aos Padres Conciliares as emen­
das que a Comissão Conciliar competente introduziu nos pri­
meiros quatro pontos do proêmio do projeto sôbre a Liturgia,
de acôrdo com os desejos expressos pela Assembléia. As vo­
tações destas emendas terão lugar nos próximos dias c serão
efetuadas separadamente para cada um dos quatro pontos. Os
Padres Conciliares presentes eram 2.212. Presidiu a Congregação
Geral de hoje o Cardeal Aquiles Liénart, Bispo de Lille, na
França. A Santa Missa foi celebrada em rito armeno por Sua
Excia. Revma. Mons. Jorge Layek, Arcebispo de Aleppo dos
Armenos.

Usaram da palavra dez Cardeais e onze Arcebispos e Bispos:


331 — Cardeal Eugênio T1SSERANT, Decano do Sagrado Colégio:
historiou brevemente a origem dos dois documentos de Pio XII sôbre
os estudos bíblicos: a "Divino afflante Spiritu" e a Carta ao Car­
deal Suhard.
332 — Cardeal GONÇALVES CEREJEIRA, Patriarca J e Lisboa, Por­
tugal: falou da conveniência do projeto agora em discussão; julga pos­
sível conciliar as idéias, aceitando o texto como base para a discussão.
Referiu-se também a uma "dolorosa observação” : revistas e jornais es­
tão publicando abertamente as discussões conciliares, o que perturba a
serenidade do debate. Pede a todos os presentes observem melhor o

S' e ,l333 - Cardeal Jaime DE BARROS CAMARA, Arceb. de São Sebas­


tião do Rio de Janeiro, no Brasil: declara que o esquema é de grande
im portância e atualidade. Não sabemos se os outros esquemas, que de­
veriam substituir êste, serão melhores. Seria facd despachar simples­
mente o projeto atual; mas não seria digno. Fêz questão de apoiar as
propostas feitas na última Congregação Geral pelo Cardeal Suenens
no sentido de modificar o modo de proceder nos debates conciliares.
334 - Cardeal Jaime McINTYRE, Arceb. de Los Angeles, nos
E E .U U .: o projeto lhe parece "compendiosa e clara exposição de uma
doutrina católica que deve ser recordada nas condiçoes atuais . Conde­
nou a excessiva insistência nos motivos pastorais. Haja caridade para
com os não-católicos, mas na base da verdade.
335 - Cardeal Antônio CAGGIANO, Arceb. de Buenos Aires, na
Arventina- referiu-se aos que deram o "non placet e tentou refutar as
alegações ‘ apresentadas. Falou do modo demorado e seno com que os
n0 III. Crônica das Congregações G erais

textos foram preparados. Não é possível rejeitá-los simplesmente: seria


de imensa responsabilidade. D eclara que a questão de dúplice fonte”
não é disputada entre os católicos, mas entre os cristãos c, portanto,
não é de livre discussão. A exata exposição da doutrina católica não
se opõe à autêntica união dos cristãos. “Verbum Dei est em inenter pasto-
ralis”. Por isso: "Schema placet iuxta modum”.
336 — Cardeal José L E FE B V R E , Arceb. de Bourgcs, na Fran ça:
o esquema não corresponde aos desejos do Papa. Expõe a doutrina de
modo negativo; é insuficiente para os homens de hoje; não é bastante
pastoral Dai a necessidade de uma revisão substancial e fundamental.
337 — Cardeal Rufino SAN TOS, Arceb. de Manila, nas Filipinas:
podemos livremente discutir e emendar o esquema. Nosso múnus prin­
cipal é doutrinário. Responde ãs objeções que acusam o projeto de não
ser pastoral: "Pascitur grex doctrina certa, integra, sana, incorrupta,
expressa acuratis formulis”. Assim procura responder também a tôdas
as outras objeções que foram ouvidas na Aula Conciliar.
338 — Cardeal João URBANI, Patriarca de Veneza, na Itália: “Sche­
ma mihi placet”. Mas há necessidade de correções, para ser m ais pasto­
ral e ecumênico. Denuncia os rumores e boatos sôbre desentendimentos
entre exegetas católicos em jornais, revistas e até seminários. Dai a ur­
gência de falar “aperte, praecise, perlucide”.
339 — Cardeal Raúl SILVA Y HENRÍQUEZ, Arcebispo de Santia­
go, no Chile: fala em nome dc "vários Padres da América Latina” :
o esquema não tem as condições necessárias para as finalidades do
Concilio: “Percipitur mens potius iudicis quam pastoris. P astores docent
ut patres, veritatem facicntes in caritate: clare, pcrspicue, am abiliter".
Vista-se, pois, o esquema com as vestes do Pai e do P astor. E os P e­
ritos, convocados para êste trabalho, sejam de tôdas as escolas teológicas.
340 — Cardeal Miguel BRO W N E, O . P . , da Cúria Rom ana: "mihi
placuit et adhuc placet quoad substantiam”. Enumera onze objeções fei­
tas anteontem contra o texto e as refuta uma por uma.
341 — Armando FA RES, Arceb. de Catanzaro, na Itália: defende o
texto como útil e necessário. E ’ ao menos boa base de discussão.
342 — Alfredo BENGSCH, Arceb.-Bispo de Berlim, na Alemanha:
"non placet", nem lhe parece possível emendar o texto que não concorda
com a mente do Sumo Pontífice: não é “ mater et m agistra”, mas ape­
nas mestra e mestra muito severa; condena erros que só se encontram
em um e outro teólogo; não deixa mais liberdade para novos estudos e
investigações. Depois fala da situação da Alemanha Oriental, do perigo
do materialismo teórico e prático: aquêles fiéis esperam auxilio e con­
solação: é preciso anunciar-lhes as riquezas que Deus nos deu pela
Revelação.
Artur TABERA , Bispo de Albacete, na Espanha: considera
o texto um fundamento sólido para a discussão. Embora tenha defei­
tos, pode ser corrigido. Refuta os contra-esquemas, "quae circumfe-
runtur”. Indica três critérios para emendar o projeto.
344 J 08* R EU SS, Bispo tit. de Sínope e Aux. de Mogúncia, na
Alemanha: non placet”, nem quer que êste projeto seja discutido, pois
há outros muito mais importantes, já preparados.
345 T -los^ GA RGITTER, Bispo de Brixen (B ressan on e), na Itá­
lia: propoe que dêste e do seguinte esquema se faça um só e muito
A s Fontes da Revelação 171

abreviado; c o nòvo texto seja verdadeiramente pastoral. “Não somos


funcionários da verdade". Os exegetas católicos sejam louvados e ani­
mados, para que com mais alegria continuem no difícil trabalho.
346 — Sim ão HOA HIEN, Bispo de Dalat, no Vietnam: é contra
o esquema; mas divagou sôbre assuntos estranhos.
347 — José BATTAGLIA, Bispo de Faenza, na Itália: laia da tris­
teza que lhe veio quando teve que ouvir tantos argumentos contra o
projeto: “argumenta fallacia et inania". Olhando para os que atacam
o esquema, tem a impressão de estar como Daniel na cova dos leões.
348 — Emílio GU ER RY, Arceb. de Cambrai, na França: acha que
estamos num equivoco acèrca das relações entre o múnus doutrinal e
o múnus pastoral. Procura desfaze-io. Mas o esquema lhe parece de­
ficiente, pois não fala aos homens de hoje.
34í> — Hermencgildo FLORIT, Arceb. de Florença, na Itália: “gau-
deamus de intacta libcrtate loquendi; sed intacta maneat etiam caritas”.
Pensa que no fundo, nos princípios, todos concordam, havendo dife­
renças apenas no método. Discorre então sòbre os vários métodos.
Lembra a "Form geschichte" que, segundo êle, anda também em am­
bientes católicos.
350 _ Clemente ALBA, Bispo de Tehuantepec, no México: é con­
tra o projeto como tal. Deve ser renovado e abreviado.
351 — Cristóvão B U TLER, Superior Geral da Congregação dos Be­
neditinos da Inglaterra: também é contra. Insiste que não devemos que­
rer acabar com controvérsias domésticas. Muitas questões aqui tratadas
ainda não são maduras. O esquema não tem apenas “espinhos super­
ficiais": está profundamente viciado.
A Assembléia terminou seus trabalhos às 12,25 horas.
17-11-1962: Vigésima Primeira Congregação Geral.
As Fontes da Revelação.

P r e s id iu a c o n g r e g a ç ã o
Geral desta manhã o Cardeal Norman Gilroy, Arcebispo de
Sydney, na Austrália. A missa foi celebrada por Sua Excia.
Revma. Mons. Antônio Baraniak, Arcebispo de Poznam, na P o­
lônia. Oficiou o rito da entronização do Evangelho Sua Excia.
Revma. Mons. Lourenço Bianchi, Bispo de Hong-Kong. No início
dos trabalhos, o Secretário Geral do Concílio anunciou os nomes
dos Padres Conciliares inscritos para falar na sessão de hoje.
A seguir leu o Proêmio do projeto de Constituição sôbre a Li­
turgia, com as emendas propostas nas Assembléias precedentes.
Imediatamente após tomaram a palavra o Cardeal Jaim e Lerca-
ro, Arcebispo de Bolonha, na Itália, e o Bispo de Nicollet no
Canadá, Afons. José Martin, ambos membros da Comissão Litúr-
gica, como relatores da Comissão Litúrgica. Os dois oradores
comunicaram ao plenário que a referida Comissão tinha consi­
derado com muita diligência tôdas as observações e propostas
avançadas pelos Padres Conciliares e que depois de atento e pro­
fundo exame aceitaram bom número delas, rejeitando outras.
Explicaram outrossim o método de trabalho adotado pela mesma
Comissão e expuseram os critérios que orientaram a introdução
no Proêmio de cada uma das emendas. Teve então início a
votação dos quatro pontos do Proêmio. Resultado:

Votaram Maioria Placet Non placet Nulos


1’ ponto 2.206 1.471 2.181 14 11
2» ponto 2.202 1.469 2.175 26 1
3’ ponto 2.203 1.469 2.173 21 7
4’ ponto 2.204 1.469 2.191 10 3
A s Fontes da Revelação , 73

O projeto sobre a Liturgia fôra debatido em 15 Congregações


Gerais, do dia 2 2 de outubro ao dia 13 de novembro6 Número
de pronunciamentos por escrito recebidos pela Secretaria Geral-
62 5 ; pronunciamentos orais: 329. Nesse período a Secretaria
Geraj registrou, cada dia, no protocolo, o conteúdo das inter­
venções escritas e orais e as enviou imediatamente à Comissão
Liturgica. O projeto sôbre a Liturgia consta de 8 capítulos dis­
tribuídos em 105 artigos, perfazendo um total de 33 páginas. —
Os pronunciamentos desta manhã orientaram-se segundo as duas
tendências fundamentais já bem claras desde os primeiros deba­
tes sôbre o projeto em questão: reelaboração completa do pro­
jeto ou mesmo substituição por outro projeto, formulado diver­
samente — correção do projeto atual na própria Aula Conciliar,
mediante as emendas sugeridas pelos oradores. Um denomina­
dor comum, porem, transparece sempre em ambas as correntes:
a necessidade de modificar o projeto proposto. Os argumentos
aduzidos foram mais ou menos os mesmos já expostos nas duas
sessões precedentes. Grande diversidade de pareceres manifestou-
se sobretudo quando se tratou da oportunidade de determinar
no Concilio, com forma solene, a doutrina sôbre as Fontes da
Revelação. Sublinhou-se o fato de que os estudos teológicos a
respeito do assunto em questão não chegaram até hoje a con­
clusões satisfatórias. De fato, ainda se discute se as Fontes da
Revelação são duas, inteiramente distintas, ou se Sagrada Es­
critura e Trad ição constituem expressões diversas de uma úni­
ca Fonte. Os defensores de ambas as tendências procuraram con­
firmação para a própria posição tanto no Concílio de Trento,
como no Vaticano I; todos, porém, mostraram-se concordes em
admitir a tradição como Fonte da Revelação. As divergências
residem no modo de entender c explicar as relações entre T ra­
dição e Escritura. Achavam-se presentes à Sessão de hoje 2.206
Padres.

Usaram da palavra 7 Cardeais e M Arcebispos, nesta ordem:


352 - Cardeal Carlos DE LA TORRE, Arceb de Quito, no Equador:
ouviu rumores e boatos segundo os quais os Padres Conciliares da
América Latina estariam contra o projeto de Constituição sôbre as
fontes da revelação; quer por isso declarar publicamente que, com re­
lação ao Equador, tais vozes não e xprim cm a verdade. . . n . .
353 - Cardeal Carlos José GARIBI Y RIVERA, Arceb de Guadala­
ja ra , no México: lembra o modo de proceder de outros Concílios que de;
fenderam a verdade e repeliram os erros. Ass.m deve ser
expor a verdade católica e condenar os erros dêste século. E porque
o projeto em discussão está nesta linha, placet .
174 III. Crônica das Congregações G erais

354 _ Cardeal Júlio D O EPFN ER, Arceb. de Munique, na Alemanha:


laia da preparação do esquema, que outro dia foi apresentado à Con­
gregação Geral como um texto "pacificam ente aprovado nas Comissões
Preconciliares” ; declara então que isso não foi assim e que já na Co­
missão Central foram apresentadas as mesmas dificuldades que ouvimos
agora mas que então delas não se tomou conhecimento. E' de parecer
que o’ projeto deve ser rejeitado e inteiramente refeito. Pensa que nisso
não há nenhuma irreverência para com o Sumo Pontífice. Pede ao Pre­
sidente da Comissão Teológica que faça redigir um nóvo texto por teó­
logos de ambas as tendências. Acaba declarando que fala cm nome das
Conferências Episcopais da Alemanha e da Áustria e de outros Bispos
de lingua alemã.
355 _ Cardeal Luís CONCHA, Arceb. de Bogotá, na Colômbia:
mostra-se admirado com tantas objeções feitas contra o esquema, que,
porém, não lhe mudaram a opinião favorável ao texto.
356 — Cardeal Antônio BACCI, da Cúria Rom ana: o projeto nos
foi dado para ser discutido, mas não para ser rejeitado. Parece-lhe
até “ilícito" repelir um texto que nos é apresentado pelo Sumo Pontífice.
357 — Paulo SC H M ITT, Bispo de Metz, na Fran ça: é contra a
teoria das “duas fontes”. Diz que no Concílio de Trento não se quis di­
rimir a questão ( “p a rtim ... partim” ). Contra o conceito da revelação
que seria apenas uma "locutio Dei”, insistiu no principio segundo o qual
Jesus Cristo, por sua vida, é também “revelação” ; parece-lhe “valde
periculosum” separar os fatos e os ditos de Jesus e querer ver revela­
ção divina apenas nas palavras do Divino Salvador.
358 — Cardeal Alfredo O TTAVIANI, Presidente da Comissão T eo ­
lógica: responde de improviso às acusações feitas minutos antes pelo
Cardeal Doepfner e informa que nas Comissões Preconciliares houve
ampla liberdade dc discussão; nem é verdade que tudo se fêz pacifica­
mente, nem que o esquema seja a voz de uma só escola teológica.
Lembrou também um cânon do Direito Canônico que proíbe a rejei­
ção do esquema.
Nesta altura intervém o Presidente, Cardeal Gilroy, para ler o nrt.
33, § 1 do Regulamento do Concilio: “Quivis Pater verba facere potest
de unoquoque proposito schemate vel admittendo, vel rciciendo, vel
emendando.. . ”
359 — Pedro PA REN TE, Assessor da Suprema Congregação do
Santo Oficio: é preciso distinguir entre a substância e a forma aci­
dental do projeto. Propõe que todos votem sôbre a substância ou os
principios. Passa então a fazer longa preleção sôbre a T radição, no
que foi interrompido pelo Presidente, por ultrapassar os dez minutos.
360 — Paulo BUTORAC, Bispo de Ragusa, na Jugoslávia: defen­
de a tradição ut revelationis fons” e deseja no projeto um capitulo
especial sôbre a Tradição.
361 Cardeal José FRINGS, Arceb. de Colônia, na Alemanha:
responde de improviso a Mons. Parente: ninguém nesta Aula Conciliar
duvida da existência da Tradição. E ’ preciso distinguir a “ordo cog-
noscendi’ da “ordo essendi” : nesta última há uma sô fonte, da qual
nascem como que dois rios: Sagrada Escritura e Tradição.
362 — Francisco SIMONS, Bispo de Indore, na tndia: dissertou
sôbre a inerrância da Sagrada Escritura.
A s Fontes da Revelação
175
363 — André CHARUE. Bisoo de n ™ , , , „„ •
se enèrgicam ente contra imaturas declarações c o n d ita « ? ' D ^ T ' 0 “'
técnica ou o método da “ Formgeschichte” conci,iares- Defendeu a
3W Angelo TEM INO, Bispo J ê Oren^p ns Per» t, *
se ao caráter pastoral do Concilio? declarou que devenir m a”
do que in forma . Por isso defende o projeto e o qualifica “aptissi-
“S"!?
mum ; O o stana, entretanto que se falasse mais claramente da ‘S -
çao vital e do “sensus fidelium”.
365 - João ZOA Arceb. de Yaoundé, no Camerum: declara falar
em nome de muitos B.spos da Africa". O projeto “omnino non pla-
cet , por motivos pastorais e exegéticos. Em nome próprio propõe que
a Comissão Teologica nomeie um grupo de teólogos de ambas as ten­
dências para elaborar um nôvo esquema
366 - Maurício PO URCHET, Bispo de Saint-Flour, na França-
admoesta que uma definição conciliar “est res gravíssima" e, portanto
só pode ser feita quando há mesmo urgente necessidade. No mais’
ê pela liberdade teológica.
367 — Jorge HAKIM, Bispo dos melquitas de Akka, em Israel: fala
cm francês; quer explicitamente dar seu apoio às criticas feitas contra
o projeto.
368 Jacinto ARGAYA, Bispo de Mondonedo, na Espanha: pro-
põe-sc a falar sôbre o valor doutrinário dos pronunciamentos dêste Con­
cílio. Mas c interrompido pelo Presidente: o assunto, agora, é outro.
369 — Júlio ROSALES, Arceb. de Cebú, nas Filipinas: em nome
da maior parte da Conferência Episcopal das Filipinas declara: “placet”.
Pois o projeto é suficientcmente pastoral c ecuménico e está na linha
do pensamento pontifício.
A Assembléia dissolveu-se às 12,15 horas.

Comentário do cronista:
As palavras ditas hoje pelo Cardeal Doepfner acêrca dos trabalhos
preconciliares posso confirmá-las de minha própria experiência pessoal
na Comissão Teológica Preconciliar. Fiz de todos os trabalhos um diá­
rio pessoal. Impede-me o compromisso do sigilo de revelar particulari­
dades. D arei apenas um ou outro exemplo de observações críticas ge­
néricas que então fiz. Assim, no dia 6 de março de 1962, que era o se­
gundo dia da Reunião Plenária da Comissão Teológica, discutiu-sc o
esquema "D e E cclesia”. No meu diário anotei então o seguinte, tex-
tualmente: “A subcomissão De Ecclesia, cujos esquemas estamos agora
estudando, está saturada e impermeável. Tiveram êles um total de 74
reuniões, até agora, e alguns esquemas tiveram que ser elaborados dez
vêzes e mais. O ra, tudo isso, tôdas essas longas e repetidas discussões,
sempre sôbre o mesmo assunto, tudo isso os saturou intimamente e os
encheu de tal maneira que já não querem mais saber de discussões e
novas propostas. Tornaram -sc assim impermeáveis e hermèticamente fe­
chados a qualquer nova idéia. Não querem mais diálogo sôbre o assunto.
Para êles é coisa decidida. Colocaram-se numa espécie de situação de
defesa. Qualquer nova proposta ou emenda é aceita como um ataque
contra o qual é preciso defender-se. Foi esta a impressão nítida que
eu tive principalmente hoje. Verifiquei que nossas “animadversiones”, re-
17 6 |!l. Crônica das Congregações G erais

metidas com antecedência e generosamente m im eografadas e distribuí­


das não foram recebidas com agrado e a quase totalidade foi sim­
plesmente rejeitada pela subcomissão. Estão cansados. E tenho mêdo que
farão o mesmo com as emendas que virão da Comissão Central . —
Foi isto exatamente, que se deu e que o Cardeal Doepfner denunciou
esta manhã. Três dias depois, no dia 9-3-1962, anotei no meu diário:
"O s trabalhos adiantam à fôrça. Somos como que empurrados. Vê-se
que há pressa. Querem terminar. Precisam acabar, porque já estamos
às portas do Concílio. Não sei se é bom. Preferiria que andassem mais
devagar e com mais ponderação. Assim, com êsse método (quase diria
ditatorial), inibe-se a liberdade. . Estou notando cada vez m ais insisten­
temente um abuso na citação de textos pontifícios. Quando surge uma
dificuldade, agarram-se desesperadamente a uns textos pontifícios, como
se essa fôsse a solução. Como os protestantes jogam com textos hibli-
cos. Quem tem o maior número de textos à mão, sai ganhando. Mas
não tenho dúvida que não seria difícil recolher textos também para a
parte contrária. E ’ questão de tempo, fichário, habilidade e um pouco
de insinceridade. Creio que a própria teoria do uso dos textos pontifí­
cios deve ser revista”. — E ’, aliás, bem interessante rever agora o diário
dos trabalhos preconciliares. Logo na primeira página encontro uma ano­
tação do dia 27-11-1960, quando a Comissão Teológica começava a tra­
balhar. Leio o seguinte: “Falando com a gente daqui [de Roma, onde
então estava] sôbre o próximo Concilio Ecumênico, verifiquei que mui­
tos são inteiramente pessimistas. Argumentam gcralm entc com o Sínodo
Romano, que acaba de sair e que está cheio de regras e determina­
ções, leis, leis, leis. Não há vida. Dizem que o Concílio seria o mesmo
para a Igreja Universal. Que está aqui em Roma um grupo forte, que
faz o que quer e que imporá sua vontade também aos Bispos no Con­
cilio. A não ser que surjam Bispos fortes, bem preparados e decididos
a barrar esta onda no próprio Concílio”. — Eis outro flash do dia
16-12-1960: "Tivemos hoje nova reunião da subcomissão Dc Deposito.
Estavam todos lá. Tornamos a discutir os mesmos assuntos [comentados
em dias anteriores], mais o problema do Monogenismo. Eu fui o único
a me opor formalmente a qualquer definição solene sôbre o assunto.
Penso que a questão é mais cientifica que teológica. Tem , certamente,
aspectos teológicos. Mas a meu ver tudo está ainda no inicio, princi­
palmente as investigações científicas (a paleontologia, p. ex .), de mo­
do que o problema não está maduro para qualquer definição. Repitam-
se as palavras da Humani Generis e deixe-se alguma porta aberta; ou
se quiserem fechá-la, não a fechem com a c h a v e ...”
,. ^ averia outros exemplos para mostrar a vontade de condenar e de
definir e o modo brutal com que por vêzes se tentava fechar a bóca
da oposição que, aliás, era pouco numerosa. Dou graças a Deus que esta
oposição é agora mais forte, muito mais numerosa, capaz dc fechar a
boca daqueles que, na fase preparatória, se julgavam os donos e se­
nhores, sem possibilidade de contestação. Tinha que vir êste bendito
Concilio, com 2.200 Bispos presentes, para m ostrar o autêntico "sensus
Ecclesiae .
19-11-1962: Vigésima Segunda Congregação Geral.
As Fontes da Revelação.

_ R e a l i z o u -s e e s t a m a n h a a
22* Congregação Geral do Concílio, sob a presidência do Car-
deal Francisco Spellman, Arcebispo dc Nova York, nos Estados
Unidos. A sessão foi precedida pela santa missa, hoje celebra­
da pelo Arcebispo de Adelaide, na Austrália, Mons. Mateus
Beovich, e pelo rito de entronização do Evangelho, oficiado por
Mons. Carlos Quintero Arcc, primeiro Bispo da nova diocese de
Citidad Valles, no México. Achavam-se presentes 2.197 Padres
Conciliares. Após a oração “Adsumus", tiveram inicio os traba­
lhos conciliares, com a leitura dos nomes dos oradores inscri­
tos para a sessão de hoje. Continuando o exame geral do pro­
jeto sôbre as Fontes da Revelação, os Padres Conciliares expu­
seram os próprios pareceres insistindo não tanto sôbre o
conteúdo do texto discutido, mas principalmente sôbre sua for­
mulação. Sublinhou-se ainda uma vez o fato de que os opositores
admitem plenamentc tôdas as verdades apresentadas. Discordam
apenas em alguns pontos, pois não crêem oportuno que o Con­
cilio dirima questões que ainda são llcitamente discutidas pelas
diversas escolas teológicas. O Concílio — dizem — não se de­
veria pronunciar pró ou contra determinadas correntes, mas ex­
por unicamente a doutrina comum da Igreja. Notou-se hoje um
certo esfôrço no sentido de sugerir à Assembléia métodos que
levem à solução do problema, tais como: adiar a discussão do
projeto estudado para a Segunda Sessão do Concilio; propô-lo
novamente ao exame da Comissão competente, a qual levaria em
consideração as propostas até agora avançadas, enquanto o Ple­
nário começaria o estudo de outro projeto; admitir neste nôvo
exame da questão a contribuição do Secretariado para a União
dos Cristãos. Fêz-se notar por um lado a necessidade de que
a verdade seja exposta plena e claramente para que o Concilio
Concilio II — 11
178 III. Crônica das Congregações G erais

possa produzir frutos de autêntica santidade tanto para o cle­


ro como para o povo cristão. Insistiu-se por outro lado sôbre
a finalidade do Concilio, finalidade pastoral e ecum enística, que
deve inspirar, orientar e animar todos os trabalhos conciliares,
segundo os desejos do Santo Padre. Por êste motivo explicou-se
em que consiste o caráter pastoral e ecumênico do Concílio. Com
respeito a êste último ponto, frisou-se que a verdade deve ser
hoje exposta pela Igreja com caridade, clareza, sim plicidade c
suavidade de modo que possa ser compreendida mesmo pelos
não-católicos. A elaboração do projeto doutrinal deveria levar
em conta os novos métodos adotados pelo movimento ecumêni­
co, entre os quais o diálogo com os cristãos de outras confissões.
Também êles admitem Cristo. Discordam apenas no que diz res­
peito ao modo de chegar até Êle. Para que se crie um clima
propício à união dos cristãos, se deveria expor a doutrina com
muita clareza, mas ao mesmo tempo de um modo sereno, ob je­
tivo e luminoso, sempre com a preocupação de respeitar o pon­
to de vista dos outros e principalmente de uma maneira bem
psicológica, para que dêste modo não se acentue a divisão exis­
tente mas, pelo contrário, se contribua positivamente para a
união. Êste seria o autêntico método ecumênico que o Secreta­
riado para a União dos Cristãos tem usado nos seus trabalhos.
O Concilio Vaticano II deverá constituir para o movimento ecumê­
nico um progresso e não um regresso, um auxílio e não um
impedimento. Ventilou-se a questão de orientar mais eficazm en­
te os trabalhos do Concílio, quer nas Congregações G erais, quer
nas Comissões especializadas, para o campo pastoral, tendo em
conta as diretrizes do Santo Padre. Term inada a sessão, às
12,10 reuniu-se na Aula Conciliar o Conselho de Presidência do
Concilio.

Falaram os seguintes Padres:


370 — Cardeal Benjamim DE ARRIBA Y CASTRO , Arceb. de T a r-
ragona, na Espanha: o projeto "placet”. No princípio, tendo ouvido tan­
tas objeções, estava inclinado a não dar sua aprovação; mas agora,
pensando bem e considerando o modo de proceder dos outros Concí­
lios, mudou de parecer. Refutou a seguir as objeções. Denuncia a audá­
cia de algunS' teólogos, a liberdade sem limites de exegetas e a perple­
xidade de muitos. E ’, pois, urgente orientar as mentes. S eja esta reunião
um Concílio de Unidade, de Santidade e de Verdade.
371 Normando Tomás GILROY, Arceb. de Sydney, na Austrália:
propõe aceitar o esquema e corrigi-lo, pois c ortodoxo, universal, posi­
tivo, explícito, fruto de um trabalho preparatório sério, diuturno e com­
petente. Faz um apêlo à tolerância.
A s Fontes da Revelação 179

372 - Cardeal Valeriano GRACIAS, Arceb. de Bombaim, na Índia:


deseja que os Padres trabalhem mais depressa, que o Concilio decida
a guma coisa, antes que caiamos nas mãos dos comunistas chineses
Mas o esquema agora apresentado não serve, já se assemelha a um edi­
fício velho que e preciso reconstruir: é mais fácil arrasá-lo e fazer um
nôvo. “ Hoc schema nostris desideriis non satisfacit". Põe-se a refutar
os argumentos em favor. Lembra que as Comissões Preconciliares não
tinham a promessa da assistência do Espirito Santo; mas agora sim.
373 — Cardeal Alberto M EYER, Arceb. de Chicago, nos EE UU •
o projeto nao concorda com as diretrizes do Sumo Pontífice. Ápesaí
da assistência do Espirito Santo, devemos trabalhar "caute, prudenter et
studiose”. Com o texto assim como está não iremos avante. E' necessário
elaborar um nôvo, “cooperantibus theologis et exegeticis variarum natio-
num et tendentiarum".
374 — Cardeal João LANDA2URI R1CKETTS, Arceb. de Lima, no
Peru: “Schema placet iuxta modum”. A doutrina exposta no texto é fun­
damental. Defende o projeto contra as objeções e faz propostas posi­
tivas para solucionar o impasse.
375 — Cardeal Laureano RUGAMBWA, Bispo de Bulcoba, em Tan-
ganica: queira o Conselho de Presidência pedir ao Sumo Pontífice a
permissão de adiar a discussão do presente esquema para a Sessão
seguinte e até lá seja corrigido.
376 — Pedro MARTIN, Vigário Apostólico de Nova Caledónia, na
Oceánia: "Schem a penitus recognoscatur”. Seu maior vicio está em se­
parar os ditos e os fatos de Cristo, considerando revelação apenas as
palavras de Jesus. Propõe uma série de sugestões práticas para elaborar
um nôvo texto.
377 — Luís HENR1QUEZ, Aux. de Caracas, na Venezuela: declara
em nome de Conferência Episcopal de sua nação: que o projeto não
seja aprovado; e que se elabore outro, consultando também a Pon­
tifícia Comissão Bíblica. Desenvolve numerosas considerações contra o
esquema.
378 — Jaim e G RIFFITH S, Aux. de Nova York, nos E E .U U .: tra­
balhamos a noite inteira c nada apanhamosl Não seria prudente rejeitar
agora o que com tanto esforço foi preparado (o orador^ fêz parte da
Comissão Teológica que elaborou o texto). Não é possível adiar um
assunto de tamanha importância: são tantos os que esperam ansiosa­
mente nossa orientação.
379 — Emílio DE SM EDT, Bispo de Brugge, na Bélgica: fêz um
dos mais notáveis discursos. O texto latino foi logo difundido pela agên­
cia noticiosa alemã KNA, do qual vai aqui a seguinte tradução: ‘ Falo
em nome do Secretariado para a União dos Cristãos. Examinando o
esquema sõbrc as Fontes da Revelação numerosos Padres manifestaram
zêlo deveras ecumênico. Todos desejam sincera e positivamente que nos­
so esquema favoreça a união. Mas, enquanto alguns afirmam que êle
corresponde aos requisitos de um sadio ecumenismo, outros o negam.
Para que melhor possais emitir o vosso julgamento, talvez vos apraza
ouvir nosso Secretariado dizer-vos em que consiste exatamente o ca­
ráter ecumênico de uma redação. Com efeito, nosso Secretariado foi
instituído pelo Sumo Pontífice para auxiliar os Padres a examinarem
os esquemas sob o ponto de vista ecumênico.
J8 0 u i. Crônica das Congregações G erais

O problema é o seguinte: O que se requer na doutrina e no estilo


de um esquema para que possa de fato servtr à obtenção de urn me­
lhor "diálogo entre os católicos e os não-católicos? — Respondo: Todos
os que têm a honra de chamar-se cristãos são unânimes em reconhecer
a lesus Cristo Tudo o que nos foi comunicado pelo mesmo Senhor consti­
tui o depósito da fé e é nossa salvação. Desta única fonte haurimos
todos católicos e não-católicos. Mas, quando se trata da maneira pela
qual nos aproximamos de Cristo, rompe a discórdia. Somos irmãos se­
parados uns dos outros. Já estamos cindidos há vários séculos. Sabemos
que esta desavença contraria a vontade dc Cristo. Quando iremos cessar
nossa separação? Por centenas de anos nós católicos opinávamos que
bastava expor com clareza a nossa doutrina. Os não-católicos não pen­
savam diferente. Ambos os grupos explicavam sua doutrina numa termi­
nologia que lhes era peculiar, num prisma ótico próprio. O que os ca­
tólicos afirmavam, porém, não o entendiam os não-católicos, e vice-versa.
Com êste método da "verdade clara” não se obteve progresso algum
no caminho da reconciliação. Pelo contrário, em am bas as partes cresce­
ram os preconceitos, as suspeitas, as querelas e as discussões pole-
mizantes. No decorrer das últimas décadas, todavia, sc adotou nôvo mé­
todo. A novel técnica ficou com o nome de diálogo ecumênico. Em que
consiste êle? Caracteriza-se pela qualidade de não sc preocupar apenas
com a verdade, mas também com a maneira pela qual se expõe a ver­
dade, para que possa ser compreendida pelos outros. Os cristãos das
diversas denominações se valem mütuamente para que uns e outros con­
ceituem com maior clareza e nitidez a doutrina a que aderem. O diá­
logo ecumênico não é, pois, uma deliberação ou negociação sôbre o
restabelecimento da união, nem projeta a união, mas é uma tentativa de
colóquio. De cada lado se dá testemunho da sua fé, testemunho sereno,
objetivo, lúcido, psicològicamentc adaptado. T a l sistema pode agora ser
aplicado no Concilio, segundo a vontade do Soberano Pontífice. Nossas
exposições conciliares assumirão espirito ecumênico e poderão estimular
em grande escala o diálogo unificador, se utilizarmos meios verdadeira­
mente capazes de iluminar os não-católicos sôbre a maneira dc a Igre­
ja ver e viver o mistério de Cristo.

Não i fácil, contudo, elaborar esquemas em estilo ecumênico. Por


quê? Cumpre evitar tôda aparência de indiferentismo. Um texto ecumê­
nico deve ilustrar com fidelidade a doutrina católica completa e integral
sôbre determinado^ assunto. Como poderiam os não-católicos apreender
de nós o que ensina o catolicismo, se expusermos uma doutrina muti­
lada, alterada, confusa? Sustentou-se nesta Aula que a forma ecumênica
de expressão se opõe à exposição integral da verdade. Os que assim
cogitam mostram não terem assimilado a natureza do diálogo ecumê­
nico. O colóquio não se estabeleceu para nos iludirmos uns aos outros.
Se quisermos que o nosso esquema seja interpretado com correção pelos
não-católicos, forçoso é atendermos a várias condições: (O Orador indi­
cou^ apenas quatro na Aula Conciliar; aqui referimos tôdas para que o
conjunto saia mais com pleto): 1) E ' necessário atender ã natureza da
atual doutrina dos ortodoxos e dos protestantes, isto é, conhecer bem
sua fé, sua vida litúrgica, sua teologia. 2 ) Saber o que pensam da
nossa doutrina e em que pontos êles a entendem bem ou mal. 3 ) T o ­
mar em conta os assuntos nos quais, segundo os não-católicos, nosso
As Fontes da Revelação 181
ensinamento é omisso ou pouco esclarecido, como, por exemplo a dou­
trina da palavra de Deus, o sacerdócio dos fiéis, a liberdade « L w a
4) Importa examinar se em nosso modo de falar não se imiscuem fSrnas
ou formulações dificilmente inteligíveis aos não-católicos. Convém lem­
brar aqui que o nosso método escolástico ou quase escolar constitui
para os não-católicos notável dificuldade e origina, bastas vêzes erros
e preconceitos. Outro tanto vale das expressões abstratas e puramente
noéticas por serem macessfveis aos orientais. O estilo bíblico e patrís-
tico, ao invés, evita e previne não poucos tropeços, confusões e pre­
venções. 5 ) Os têrmos usados precisam ser bem escolhidos (palavras
imagens, qualificações), tendo em mente as reações que provocam nó
espirito e na sensibilidade dos não-católicos. 6) Os julgamentos sejam
maduramente ponderados, atendendo ao contexto em que serão lidos pelos
não-católicos. 7) Os argumentos (citações, razões aduzidas), a argumen­
tação e a disposição lógica devem ser formulados de maneira que pos­
sam convencer os não-católicos. 8) Evite-se tôda polêmica estéril. 9) Os
erros devem ser repelidos com lucidez, mas de modo que não melindrem
as pessoas errantes.
Conclui-se de tudo isto, Veneráveis Padres, que um texto não é
ecumênico pelo simples fato de expor a verdade. E ’ dificil e é imprescin­
dível a delicadeza para fazer que uma exposição seja mesmo ecumé­
nica. O Sumo Pontífice congregou, no Secretariado para a União dos
Cristãos, Peritos, Bispos e Teólogos portadores de larga experiência.
A tais Peritos entregou a tarefa de ajudarem as outras comissões pre­
paratórias e sobretudo a Comissão Teológica, a fim de que a confecção
dos esquemas seja de fato ecumênica. Nosso Secretariado ofereceu sua
valia à Comissão Teológica, mas esta, por razões que não me cabe
aquilatar, a rejeitou. Propusemos a constituição de uma comissão mista,
mas a Comissão Teológica respondeu: não aceitamos. Destarte ela em­
preendeu sozinha a árdua obra de cunhar os esquemas com caráter
unificador. Com que resultados? Ouvimos inúmeros Padres julgar da
ecumenicidade do trabalho proposto. Afirmam alguns que o esquema
carece de espirito ecuménico: entre êles se acham os Padres que vi­
vem em meio aos protestantes e aos orientais. Diferiu o juízo dos Pa­
dres cuja maioria vive em regiões católicas. Para êles não falta ao
esquema índole ecuménica. Que nos perdoem, mas suplicamos a êstes
Padres que examinem se consideraram suficientemente a natureza do nôvo
método chamado diálogo ecumênico, suas condições e consequências.
Em suma, tendo recebido do Santo Padre a incumbência de trabalhar
para que o diálogo com os nossos irmãos não-católicos seja felizmente
promovido no Concilio, nós vos rogamos a todos. Veneráveis Padres,
queirais atender ao pensamento dêste Secretariado. Segundo nosso pa­
recer o esquema falha notavelmente cm seu caráter ecumênico. £ lc não
representa progresso para o encontro com os não-católicos, mas um em­
pecilho; muito mais: é prejudicial. Diletissimos Padres, observai que en­
fim hoje se criou nôvo método mediante o qual se pode entabular diá­
logo fecundo. O fruto dêste método já desponta nesta Aula pela presença
dos Observadores. A hora é providencial. Mas é também grave. Se êstes
esquemas da Comissão Teológica não sofrerem remodelação, seremos
responsáveis pelo fato de o Vaticano II ter frustrado imensa e fagueira
esperança. Refiro-me à esperança de todos aquêles que, com João XXIII,
182 III. Crônica das Congregações G erais

confiam, em jejuns e orações, que enfim se dê um passo rumo à união


fraternal de todos aquêles por quem Cristo Nosso Senhor orou “para
que todos sejam um”. (O Orador, eloqüentíssimo na parte final, foi vi­
vamente aplaudido por tôda a grande assembléia, apesar da expressa
proibição de bater palm as).
380 — David DE SOUSA, Bispo de Funchal, em Portugal: fála em
nome de “alguns B ispos": felicita-se com a Comissão T eológica pelo
grande trabalho apresentado para a atual discussão conciliar.
381 — Gabriel GARRONE, Arceb. de Tolosa, na Fran ça: o pro­
jeto não agrada. Faça-se um nôvo e trabalhem juntos a Comissão T eo ­
lógica e o Secretariado para a União.
382 — José D'AVACK, Arceb. de Camerino, na Itália: propõe um
nôvo capitulo sôbre o Magistério a ser acrescentado a êste projeto.
383 — Aurélio D EL. PINO, Bispo de Lérida, na Espanha: defende
o texto proposto.
384 — Dionisio H URLEY, Arceb. de Durban, na União Sul-Afri­
cana: não pode aprovar o esquema: falta-lhe a índole pastoral. Disse
que já na Comissão Central Preconciliar reclamara contra o aspecto
escolástico, magisterial e negativo dos esquemas, mas como "voz que
clamava no deserto”. Propõe que se distribua o projeto “De Verbo Dei",
elaborado pelo Secretariado para a União dos Cristãos.
385 — José RUOTOLO, Bispo de Ugento, na Itália: concorda com
o texto. Para resolver o impasse, propõe que se elabore um Proêmio
geral para tõdas as Constituições, com tôdas as qualidades pastorais,
ecumênicas e outras que estão sendo reclamadas.
386 — Alfredo ANCEL, Aux. de Lião, na Fran ça: não vê mais pos­
sibilidade para resolver a situação com compromissos. O Papa deve
nomear novos Peritos, também da outra tendência, para recomeçar.
387 — Paulo SE1TZ, Bispo de Kontum, no Vietnam: trd o s esperam
de nós uma doutrina clara e inteligível. O esquema proposto não presta.
A Assembléia terminou os trabalhos às 12,10 horas.
20-11-1962: Vigésima Terceira Congregação GeraL
As Fontes da Revelação.

.lioje A CONGREGAÇÃO GERAL DE


foi presidida pelo Cardeal José Frings, Arcebispo de Co­
lônia, na Alemanha. Celebrou a Santa Missa Mons. Carlos Hum­
berto Rodriguez-Quirós, Arcebispo de São José de Costa Rica.
Os Padres presentes eram 2.211. Lida pelo Secretário Geral a
lista dos oradores inscritos para a sessão de hoje, tiveram início
os debates. Os Padres Conciliares que se manifestaram a favor
do projeto em discussão analisaram as razões já aduzidas nas
sessões precedentes. Insistiram sobretudo no fato de que rejei­
tar simplesmente o projeto poderia dar azo a interpretações
tendenciosas como a de pensar que o conteúdo do projeto con­
tenha erros de doutrina. Fizeram-se de nôvo propostas no sen­
tido de confiar o projeto discutido ao estudo de uma Comissão
instituída especialmente para êste fim. Não faltou quem insis­
tisse na necessidade de se formular com muita clareza a dou­
trina católica sôbre a interpretação da Sagrada Escritura quer
para evitar eventuais confusões, quer para prevenir erros. Suge­
riu-se também a substituição do projeto sôbre as Fontes da Re­
velação por uma declaração solene sôbre a Sagrada Escritura.
No entanto, como se observou, a substituição do projeto criaria
problemas de ordem jurídica bastante difíceis, não previstos pelo
Regulamento do Concílio, e por isso uma proposta neste sentido
deveria necessàriamente ser submetida ao exame do Secretaria­
do para as questões extraordinárias. Nesta altura, interrompe­
ram-se os debates e o Secretário Geral do Concilio comunicou
3o Plenário que seria submetida à votação uma proposta do
Conselho de Presidência. Eis, em resumo, os têrmos da propos­
ta : terminada a discussão geral do projeto sôbre as Fontes da
Revelação, dever-se-ia passar ao estudo de cada um dos capí­
tulos do mesmo. Contudo, como durante as sessões já realiza­
184 III. Crônica das Congregações G erais

das um bom número se manifestara contrário à formulação do


projeto, o Conselho de Presidência do Concilio julgou oportuno
submeter a questão à votação da Assembléia. T ra ta -se de ex­
primir o próprio parecer a respeito da seguinte disjuntiva: in­
terromper o exame avançado do projeto sobre as Fontes da Re­
velação, para dar início ao estudo de um outro projeto, ou con­
tinuar os debates. Efetuada a operação de voto e de apuração,
foram publicados os resultados. Êstes eram favoráveis à conti­
nuação dos debates sobre as Fontes da Revelação. Entretanto
os trabalhos prosseguiam. Terminou-se a discussão do projeto
em geral e passou-se imediatamente ao exame do capítulo pri­
meiro do mesmo, capitulo sôbre a Sagrada Escritura e T r a ­
dição, como Fontes da Revelação.

Hoje falaram ainda sôbre o esquema em geral:


388 — Jorge CABANA, Arceb. de Sherbrooke, no Canadá: apela
à sua experiência pessoal com os "irm ãos separados” : êles tém boa
vontade e querem conhecer a nossa fé. Lembra o perigo do falso ire-
nismo denunciado por Pio XII na Humani Generis. Pensa que o es­
quema proposto está na boa linha: "mihi placet”.
389 — Bernardino ECHEVERRIA, Bispo de Ambato, no Equador:
dá exemplos de estranhas opiniões que — declara — têm mais ou menos
livre curso entre os exegetas de hoje; muitos católicos estão desorien­
tados e suscitam ansiedades entre os Pastôres. O esquema agora em
debate considera tudo isso: "placet".
390 — Fidélis GARCIA, Bispo tit. de Sululi (E sp a n h a ): pede a
constituição de uma Comissão especial, não muito numerosa, de Padres
Conciliares para redigir um nôvo texto.
391 — Miguel KLEPACZ, Bispo de Lodz, na Polônia: apresenta
uma série de pequenas propostas para corrigir o projeto.
392 — Henrique NICODEMO, Arceb. de Bari, na Itália: declara
que não se pode rejeitar o esquema, não obstante o art. 33, § I do
Regulamento.
393 — Antônio QUARRACINO, Bispo de Nueve de Julio, na Ar­
gentina: "non placet”, pelas razões já expostas por outros.
394 — Geraldo D E PROENÇA S1GAUD, Arceb. de Diamantina, no
Brasil: é a favor do texto.
395 — Luís CARLI, Bispo de Segni, na Itália: “placet”, defende
com considerações jurídicas que não é possivel rejeitar o texto.
396 Vitório COSTANT1NI, Bispo de Sessa Aurunca, na Itália:
é favorável ao esquema e propõe emendas; se houver algo imaturo,
fique para o Vaticano III.
Aniceto FERNANDEZ, O . P . , Mestre Geral dos Dominica­
nos: aprova o esquema c faz uma preleção sôbre o modo como êlc
entende o caráter pastoral c ecumênico do Concilio.
398 — Júlio BA R BETTA , Bispo tit. de Faran (Itá lia ): favorável
ao projeto sôbre as Fontes da Revelação.
As Fontes da Revelação I8r,

399 - João FE R RO . Arceb. de Regio Calábria, na Dália- é pelo


esquema e já refuta o texto de outro projeto "que circula e n L ™
Padres” (rcfere-se a um esbôço feito por ordem das Conferências Epis­
copais da Europa Central). v
400 - Francisco FR A N IC, Bispo de Spálato, na Jugoslávia: "pla-
cet luxta modum (foi um dos membros da Comissão Teológica Pre­
conciliar).
Iniciaram a discussão, ainda esta manhã, sôbre o primeiro capitulo
da Constituição (intitulado: "D e duplici fonte revelationis”), propondo
uma série de emendas de menor importância:
401 — Cardeal Eugênio TISSERA N T, Decano do Sacro Colégio
402 — Cardeal Ernesto RUFFINI, Arceb. de Palermo, na Itália.
403 -ï - Vicente M. JACONO, Bispo tit. de Patara (Itália).

Por ordem do Presidente o Secretário Geral comunicou então os


resultados da votação, de que acima, no texto do comunicado oficial,
se falou um tanto vaga e equivocamente. A pergunta submetida à vo­
tação do plenário fôra formulada exatamente nestes têrmos: "An
disceptatio de Schemate Constitutionis de Fontibus Revelationis inter-
rumpenda s it? ” A resposta "placet” significaria interrupção (e, como
o Cardeal Ruffini deixou bem claro, rejeição pura e simples do pro­
jeto ), "non placet" significaria aprovação do texto. O resultado preciso:
sôbre 2.209 votos houve 1.368 placet, 822 non placet e 21 nulos. Como
a maioria de dois terços, determinada pelo Regulamento, era de 1.473,
o texto foi considerado aprovado para a discussão (apesar de ter 1.368
contra e apenas 822 a fa v o r ... melior est conditio possidentis). Aliás,
não estou compreendendo esta história de maioria de dois terços para
rejeitar o esquema. Pois o art. 61, § 4 do Regulamento diz assim:
"Schem a sive integrum sive divisum maioritate suffragiorum probatur
vel reicitur”. Segundo êste artigo, acho que o esquema já está legal­
mente rejeitado.
Entre as questões que muitos Padres Conciliares quiseram conser­
var livres para a discussão dos teólogos (e que o texto do esquema
"D e Fontibus Revelationis" parecia querer condenar definitivamente) está
principalmente a que se relaciona com a Formgeschichte (F. G.), a
"história das formas”. Para que todos os Conciliares pudessem infor­
mar-se bem sóbre o que é mesmo a F. G., foi entre êles distribuído,
extra-oficialmente, um artigo informativo de Mons. Weber, Arcebispo-
Bispo de Estrasburgo, e publicado na revista daquela Diocese. Também
o Cardeal Bea fêz sôbre o mesmo assunto uma conferência aos Bispos
Brasileiros, na Domus Mariae. Tentarei resumir o que foi exposto por
Mons. Weber.
O método da F. G. aplicado ao Nôvo Testamento começou na Ale­
manha depois da primeira guerra mundial. Os dois principais funda­
dores foram: Martin Dibelius (Die Formgeschichte des Evangetwm,
1919, 4* ed 1961) e Rudolf Bultmann (Die Geschichte der synopttschen
Trodition, 1921, 4* edição 1958); outros autores que influíram: Karl-
Ludwig Schmidt, Georg Bertram e, mais moderadamente, Martin Albertz.
O método tem como base éstes dois princípios: 1) Os Evangelhos si-
nóticos são essencialmente o testemunho da fé da comunidade crista
186 111. Crônica das Congregações G erais

primitiva: querem instruir a comunidade sôbre a ação redentora e a


doutrina de Cristo: são, pois, mais pregação sôbre Jesus que pregação
de Jesus o que também explica a pobreza de dados cronológicos, to ­
pográficos geográficos e também psicológicos. 2) Os Evangelhos não
são obras’ literárias feitas de uma só vez: os evangelistas não elabora­
ram uma tradição informe, mas recolheram um material já suficiente
formado e fixado na tradição anterior, à qual deram uma certa moldura
que não deixa de ser artificial.
Postos êstes dois princípios, trata-se de determinar a origem e de
reconstruir a história dos elementos tradicionais coligidos pelos evange­
listas. Para isso êstes elementos são retirados da moldura criada pelos
evangelistas e classificados por formas, categorias ou gêneros literá­
rios. A primeira "form a” da mensagem evangélica foi a pregação dos
Apóstolos, o "Kerygma” (cf. 1 Cor 15,1-8; e os discursos de Pedro
nos primeiros capítulos dos Atos). Esta pregação da salvação por Cristo
devia desenvolver-se e ser completada por meio de algum as histórias
simples e ilustrativas, comparáveis ao gênero literário grego dos " P a ­
radigmas”, isto é, "Exem plos” ou "Chries” ( “chrciai” em greg o ), histo­
rietas típicas em tôrno duma pessoa (an ed o tas); ou ainda dos
“Apophtegmas”, sentenças ou axiomas. Lado a lado com estas simples
narrativas, das quais cada uma possui um núcleo de palavras centrais,
há também grupos de sentenças com conteúdo moral, ou "P a ra n ese s”,
como temos nas Epistolas: são as "L og ia” ou os oráculos do Senhor.
Por vêzes também situações pitorescas recebem sua forma especial, e
temos então as "Novelas". Já numa fase mais avançada encontramos
um conjunto de narrações que apresentam a Jesus como um ser mira­
culoso ou divino: entramos então na esfera dos “M itos” propriamente
ditos, que se encontram em muitas tradições religiosas. — T a is seriam,
segundo os fautores da F. G., as várias "form as” possiveis que, talvez,
poderiam ser também os "gêneros literários” usados na confecção dos
Evangelhos sinóticos. Sob a influência de fatôres diversos (culto pres­
tado a Cristo, urgências apologéticas ou polêmicas, necessidade de cor­
roborar com a Escritura tal ou tal narrativa, necessidade de ensina­
mento, justificação de instituições eclesiásticas, propaganda, etc.) teriam
nascido estas narrativas e se teriam desenvolvido segundo as leis co­
muns. Para tudo isso é importante o estudo do ambiente rabinico, do
ambiente religioso helénico, da formação de narrativas m iraculosas entre
os judeus c os gregos, do desenvolvimento e da extensão do Cristia­
nismo. De todo êste esfôrço em encontrar na T radição a form ação dos
nossos Evangelhos vem o nome de “ Form- und Traditionsgeschichte” :
a história das formas e tradições.
Rudolf Bultmann e sua escola dominaram pràticamcntc a exegese
protestante entregas duas guerras. E certamente houve entre êles exa­
geros e erros. Não se pode, todavia, condenar em bloco e simplesmente
o método da F. G. e os vários ensaios que, também no campo católico,
nêle se inspiraram. Antes de ser aplicado aos sinóticos foi, com grande
proveito, aplicado ao Antigo Testam ento, principalmente por Hermann
Gunlrel. Pois é certo que o Evangelho foi ensinado antes de ser fixado
por escrito. Aliás, êste princípio não é outra coisa que a afirmação do
primado da Tradição com relação à Escritura. Esta é a fixação da
Tradição num dado momento da história. A Tradição está inserida na
As Fontes da Revelação

Êsentuw e, inversamente, a Escritura está ancorada na Tradição Di-


belius e Bultmann distinguem entre tradição e redação: os nossos evan­
gelhos seriam a compilação ou melhor a reunião ordenada de elementos
preexistentes. Ora, tal afirmação parece ser perfeitamente aceitável- bas­
ta olhar c ver que há muitos elementos simplesmente justapostos sem
ligação ou conexão necessária; basta comparar os três sinóticos que
colocam elementos comuns em molduras diferentes. Pode-se mesmo admi­
tir que sôbre a fixação de certa narração ou a redação de certas pa­
lavras de Jesus podem ter influído certas circunstâncias do momento
da redação, como polêmica, apologética, culto, organização interna c
outras circunstâncias da Igreja nascente.
Entretanto, os propugnadores da F. O. também caíram em exage­
ros e erros evidentes. Seus protagonistas são geralmente racionalistas,
com preconceito contra tudo o que é sobrenatural. Têm êles também
uma falsa idéia da comunidade cristã primitiva, considerando-a não
como depositária e guardiã da mensagem de Cristo, mas como a cria­
dora desta mensagem. Eles assemelham a tradição cristã a uma tradi­
ção popular qualquer, esquecendo que ela sc formou em menos de meio
século sob a ação e o contrôle de homens que Lucas chama no seu
prólogo "o s que, desde o principio, foram testemunhas oculares e mi­
nistros da palavra” (L c 1,2). Desde o inicio a sociedade cristã foi uma
sociedade dirigida por chefes. Basta ver também com quanta energia,
não somente nos Atos, mas também nas Epístolas de São Paulo, in­
sistem na imutabilidade do ensino, na fidelidade da transmissão, na
função preponderante dos Apóstolos. Além disso a F. G. desconhece a
função principal, absolutamente única, de Cristo na origem do movi­
mento cristão, função sem a qual seria inexplicável o Cristianismo,
como o Islamismo é inconcebível sem Maomé. Erram também os fau­
tores da F. G. quando vêcm nos evangelistas apenas compiladores.
Sem falar de João, cujo Evangelho representa também uma forma da
tradição primitiva, cada um dêlcs tem uma personalidade literária bas­
tante caracterizada.
O terreno, pois, como se vê, dos estudos evangélicos é atualmente
um terreno nôvo e difícil A hierarquia deveria por isso dar confiança
aos exegetas que trabalham com zêlo e prudência. Neste sentido, aliás,
fizeram-se ouvir vários e veementes apelos nestes dias na Aula Con­
ciliar. Particularm ente desagradável e até vergonhoso foi, por isso, um
folheto de Mons. Spadafora, Professor de Sagrada Escritura na Uni-
versidade do Latrão, espalhado entre os Padres Conciliares ( ad essi
strettamente riservata", mas na realidade já publicada na revista Pa­
lestra dei Clero), contra o Pontifício Instituto Bíblico, com acusações
fantásticas e arbitrárias, exatamente no estilo de Mons. Antonino Ro­
meo no ano passado.
E ’, pois — e isso é importante — a mente do Concílio, ao menos
nos debates de agora, não condenar o método da F. G. e, consequente­
mente, as questões com ela intimamente conexas sôbre a historicidade,
a inerrância e a inspiração (a questão disputada: até que pon o a -
munidade cristã primitiva também participava do carisma da inspiração
ou se era um dom estritamente pessoal do hagiógrafo).
188 III. Crônica das Congregações G erais

Outra questão, que muitos Padres Conciliares quiseram que ficasse


Ue livre discussão para os teólogos, é a que se refere diretamente às
duas fontes da Revelação (já indicada no próprio título do esquema,
que por isso mesmo, foi muitas vêzes criticado). A questão, no fun­
d o ’ é esta: No Concilio de Trento fôra apresentado também um pro­
jeto no qual se propunha a seguinte doutrina: " . . . hanc veritatem [reve-
latam] partim contineri in libris scriptis, partim sme scripto traditio-
nibus”. Mas o texto definitivo omitiu propositalmente o partim-partim
c ficou assim redigido: " . . . hanc veritatem contineri in libris scriptis
et sine scripto traditionibus” (Dz 783). Houve, ültimamente, grande dis­
cussão, sobretudo entre Geisclmann e Lennerz, acêrca tia intenção e do
sentido exato desta modificação no texto tridentino. Em setem bro dêste
ano (1962) G e i s e l m a n n publicou na Editôra Herder (vol. 18 da
série Quaestionts Dispulatae) um estudo de 287 páginas intitulado:
Die Heilige Schrift uttd die Tradition (citado também por um dos P a ­
dres Conciliares numa Congregação G eral), no qual defende a suficiência
da S. Escritura para o conhecimento das verdades reveladas, dizendo
que a Tradição não nos dá propriamente verdades novas não contidas
na Escritura (com isso não aprova o principio da “sola Scriptura” ,
atribuído aos protestantes, pois para os protestantes êste principio quer
excluir sobretudo o M agistério).

Um grupo de teólogos resumiu em quatro pontos as principais di­


ficuldades teológicas contra o esquema “De Fontibus”. E is ai, pois, em
resumo, a critica essencial ao texto:
Schema hoc praeter doctrinam elementarem quattuor continet quae
relate ad doctrinam priorum Conciliorum et apud omnes admissam nova
sunt, scilicet:
I* Sancit sententiam quae Scripturam et Traditionem considerat tam-
quam duos fontes revelationis, quorum singuli partem tantum veritatum
revelatarum continent, lamvero plures theologi catholici, ex studio anti­
quorum Patrum, Mediaevalium, ipsius Concilii Tridentini, invenerunt
Scripturam et Traditionem potius distingui tamquam duo media viasque,
quibus integrum Evangelium, unus ille fons omnis veritatis ac disciplinae
salutaris (Con. Trid. Dz 783), continetur et ad nos pervenit. Haec sen-
tentia plura habet merita, decretis conciliaribus plene consona est, nullum
creat fidei periculum. Quare nulla est ratio cur condemnetur vcl reprobe-
tur, nisi quod differt a conceptione in manualibus elementaribus recentio-
ribus contenta.
2* Sancit aliquam theoriam circa inspirationem Scripturae, quae est
a magnis Scholasticis scholastice elaborata, sed quae vix habet rationem
lllorum factorum quae studia recentiora eruerunt circa originem librorum
inspiratorum. Ita facicns respuit ac reprobat conamina peritorum, qui
haec facta cum doctrina inspirationis componere quaerunt. lamvero haec
conamina, quae omnino retinent Scripturam esse verbum Dei, conscriptum
ab auctoribus inspiratis, nullomodo offendunt fidei vel earn periculo
exponunt.
3° Tertia quaestio est de valore historico Scripturae et praesertim
Evangeliorum. Haec quaestio revera delicatissima est, et maximi pro
A s Fontes da Revelação 189

fide momenti. Sed quae in Schemate de ea dicuntur, sunt superficialia


et am bigua: Synodus (n. 2 1 ) "illos damnat errores, quibus denegatur
vel extenuatur, quovis modo et quavis causa, germana veritas histó­
rica et obiectiva factorum vitae Domini nostri lesu Christi" (p. 17/22-25).
Quaestio autem praecise est, quaenam sit germana veritas histórica et
obiectiva. Dum autem ii condemnantur, qui quovis modo et quavis causa
historicitatem exténuant, arma praebentur integralistis, qui omnem criti­
cam inquisitionem accusant. Si e. g. quaero cur narratio coenae ultimae
différât apud Marcum et apud Lucam, et si ex differentia concludo
neutrum intendisse narrare nudum factum eo praecise modo quo fiebat,
imperitis videbit extenuare veritatem harum narrationum historicam.
Quaestio delicatissima est, quia facta et verba Christi sunt totius
fidei fundamentum. Quaestio tarnen vitari non potest, quia summopere
confert ad veram auctoris inspirati intentionem inveniendam.
4" Saepius (septies: n. 6 p. I l ; n. 13 p. 13/33; n. 17 p. 16/13;
n. 26 p. 20/4; n. 27 p. 20/19, 27, 30; n. 28 p. 20/37; n. 28 p. 21/15)
premitur, Scripturam legendam esse duce Magistério ecclesiastico. lam-
vero verba saepius itcrata obstupescunt. Nihil autem dicitur de relatione
inversa, qua Magisterium credens se subicit Scripturae et Traditioni,
quae pro ipso etiam M agistério sunt vcrbum Dei.
21-11-1962: Vigésima Quarta Congregação GeraL
As Fontes da Revelação.

A SANTA M ISSA D E A B E R T U -
ra da Congregação Geral de hoje foi celebrada em rito bizan-
tino-ucraniano pelo Arcebispo Coadjutor de Belgrado Mons. G a­
briel Bukatko. Os cantos da Sagrada Liturgia foram executados
pelos alunos do Pontifício Colégio Ucraniano de Roma. Term i­
nada a Missa, o celebrante entronizou o Evangelho na Aula
Conciliar. Tiveram, então, inicio os trabalhos da 2 4 a C ongrega­
ção Geral sob a presidência do Cardeal Ernesto Ruffini, Arce­
bispo de Palermo, na Itália. Antes de começarem as discussões
programadas para hoje, o Secretário Geral, por ordem do C ar­
deal Cicognani, Secretário de Estado de Sua Santidade, leu uma
comunicação pontifícia sôbre a votação efetuada ontem, na qual
grande maioria de votos se exprim ira a favor da reelaboração do
projeto sôbre as Fontes da Revelação, não obtendo contudo o
quociente requerido para decidir a questão. Considerando o fato
de que os pareceres manifestados nas sessões precedentes deram
a entender que a discussão do projeto, tal como foi apresenta­
do, seria demasiadamente laboriosa e prolongada, o Papa julgou
oportuno confiar o projeto sôbre as Fontes da Revelação ao exa­
me de uma Comissão especialmente criada para êste fim. Esta
Comissão, por desejo do Sumo Pontífice, será com posta de al­
guns Cardeais e de Membros tanto da Comissão Teológica como
do Secretariado para a União dos C ristãos. T erá a função de
reelaborar o projeto sôbre as Fontes da Revelação, levando em
conta os pareceres manifestados pelos Padres Conciliares nas
sessões. Terminado êste trabalho, o projeto será submetido à vo­
tação do plen ário.1 Como conseqüência prática desta decisão,

1 No dia 24 de novembro (cf. LV sservatore Romano de 25-X1-62)


foi publicada a constituição da nova Comissão ("Com issão de Revisão” ).
Nesta comunicação é dito também que o esquema é "D e Divina Reve-
A s Fontes da Revelação 19 1

foi anunciado que sexta-feira próxima a Assembléia Conciliar


iniciará o estudo do projeto sôbre os Meios de Comunicação
Social: imprensa, rádio, cinema, televisão. — Após a leitura des­
ta com unicação, tiveram lugar as intervenções dos oradores inscri­
tos para a sessão de hoje. Discutiu-se o capítulo primeiro do
projeto sôbre as Fontes da Revelação, que trata da Sagrada
Escritura e da T rad ição como Fontes da Revelação, confiadas
ao M agistério vivo da Igreja. Os oradores exprimiram os pró­
prios pareceres a respeito da doutrina exposta no capítulo es­
tudado c principalmente sôbre sua formulação. Tanto os que se
pronunciaram por uma reelaboração completa do capitulo, como
os que se limitaram a propor modificações do mesmo, motiva­
ram os seus argumentos em razões de ordem pastoral, insistin­
do no modo com que a doutrina deve ser exposta aos homens
de hoje. Além disso defenderam a liberdade de discussão das
diversas escolas teológicas em tudo aquilo que ainda não foi
definido. Muitos Padres Conciliares sugeriram a substituição do
titulo. Em vez de projeto sôbre as Fontes da Revelação, titulo
impugnado por muitas correntes teológicas, enunciá-lo como pro­
jeto “sôbre a Revelação”, ou como “sôbre a Revelação e sua
Transm issão”. Pelas mesmas razões, propôs-se substituir o tí­
tulo do capítulo primeiro: "sôbre a dupla Fonte da Revelação"
por: “sôbre a Sagrada Escritura e a Tradição”, insistindo ao
mesmo tempo na afirmação de que Deus é o único autor da
Revelação.

Usaram da palavra na sessão de hoje, falando sôbre o primeiro ca­


pitulo (que, aliás, já estava condenado):
404 — Emílio GUANO, Bispo de Livorno, na Itália: propôs tantas
emendas que acabariam num texto completamente nôvo.
405 — Eduardo MARTINEZ, Bispo de Samora, na Espanha: dese­
ja um proêmio especial no qual se acentue que a Igreja e Mater, nao
só M agistra. Observa que a Sagrada Escritura e a Tradiçao nao a
"fontes”, mas “ex fonte emanantes". Propõe outras muitas emendas.
406 — Cristóvão B U T L E R, Superior Geral da Congregação dos Be­
neditinos da Inglaterra: muitas emendas, justificando uma por u
o louvor dos exegetas, particularmente do Pontifício Instituto Bíblico
(contra o qual fóra distribuído entre os Padres um. .v'™le"*°
elaborado por Mons. Spadafora, Professor na Universidade do Latrão).

latione” (portanto outro nome). Bão Presidente os CardeaisO ttaviani


e B ca ; são Membros os Cardeais Liénart, Ffings Rutom, Meytr Le-
febvre e Browne. Acrescenta o comunicado: Da Com ^ jâ
ainda Membros da Comissão Teológica e do Secretariado para a
dos Cristãos".
19 2 III. Crônica das Congregações G erais

407 _ Vitor CHANG, Bispo tit. de Ciane (C h in a ): insiste neste


principio: Deus quer a salvação de todos os homens e, por isso, "omni-
bus hominibus totius generis humani Deus semper adfuit”. Defende a
tese de que Deus Se revela e continua a revelar-Se também aos povos
pagãos, já antes do pacto com o povo judaico.
408 — Máximo HERMANIUK, Arceb. de W innipeg para os ucra-
nianos, no Canadá (foi Membro da Comissão Teológica Precon ciliar):
o primeiro capitulo "non placet”. J á seu título indica uma escola. "Non
est duplex fons originis sed transmissionis”. Apresenta muitas emendas.
409 — João RU PP, Bispo de Principado de M ônaco: rom eça decla­
rando que fala em nome próprio e não dos Bispos de sua n a ç ã o ...
Deseja mais nítida distinção entre Tradição e M agistério. Critica mui­
tas passagens.
410 — Francisco M ARTY, Arceb. de Reims, na Fran ça: o essencial
não é só a doutrina de Cristo, mas o próprio Cristo. £ le mesmo é Re­
velação (contra o que o texto diz acèrca da revelação "verbal” ).
411 — Luís HENR1QUEZ, Aux. de C aracas, na Venezuela: critica
muitas passagens, a começar com o título.

412 — Pedro CANTERO, Bispo de Huelva, na Espanha: repete o


que já foi dito por outros. Propõe emendas.
413 — Francisco SE P E R , Arceb. de Zagrábia, na Jugoslávia: o ca­
pitulo “non placet”. Fala como bom e competente teólogo.
414 — Pedro VEU1LLOT, Arceb. Coadj. de Paris, na Fran ça: todo
o capitulo deve ser refeito: deseja "verbum Dei, non doctrinam schola-
rum”. Critica também o capitulo segundo.
415 — Lourenço JA EG ER, Arceb. de Paderborn, na Alemanha: pro­
põe e lê um nôvo texto, já elaborado, para substituir o capitulo.
416 — Rafael GONZALEZ MORALEJO, Aux. de Valência, na Espa­
nha: o titulo deve ser: “De Deposito Revelationis”. Defende a liberda­
de para os teólogos. Na nova Comissão devem entrar também teólogos
orientais.
417 — Constantino BARNESCHI, Bispo de Manzini, na União Sul-
Africana: rezemos para que sejam os mais unidos. Repete o que outros
disseram. Fala duma Comissão Internacional para editar a Sagrada Es­
critura em tôdas as línguas.
4*® — Carlos W O JTYLA , Aux. de Cracóvia, na Polônia: analisa
finamente os vários significados que a palavra "fo n s” pode ter e con­
clui que de nenhum modo o vocábulo tem aplicação no caso.
— Ubaldo C1BRLÁN, Prelado nullius de Corocoro, na Bolívia: não
se entende nada.
Os Padres presentes à sessão eram 2.185. A assembléia dissolveu-
se ao meio-dia.
As Fontes da Revelação J 93

Comentário do cronista:

Encerrou-se assim , melancòlicamente, a discussão sôbre o


texto preparado pela Comissão Teológica Preconciliar: reprova­
do. A votação de ontem infundira ainda vagas esperanças nos
seus defensores. A maioria absoluta, porém, já dera claramente
o “non placet”. Teria sido de fato inútil continuar na discussão
dum texto já pràticamente rejeitado, pois para sua aprovação
nunca conseguiria os dois terços exigidos pelo Regulamento.
E assim o Papa resolveu dar-lhe o tiro de misericórdia. E morreu.
M as não morreu apenas o projeto. A discussão, por vêzes
violenta e dramática, destas últimas seis Congregações Gerais e
que teve a meu ver seu ponto alto no discurso do Bispo de
Brugge (B élg ica ) Mons. Emílio de Smedt, no dia 19 de no­
vembro, tôda esta memorável e histórica discussão conciliar de
fato não foi apenas em tôrno do esquema “De Fontibus Reve-
lationis”. No fundo, tratava-se de algo mais importante e fun­
damental. O que se debateu nestes dias não foi um determinado
ponto de doutrina. As divergências doutrinárias eram de fato
pequenas e acidentais. O que houve foi um choque de menta­
lidades, de atitudes, de métodos. O grande problema debatido
não estava na ordem do dia, nem mesmo tinha sido previsto
pelos organizadores do Concílio. Surgiu na hora, inopinadamente.
Nenhuma Comissão Preconciliar o preparara. Tomou mesmo de
surpresa os homens que tinham o Concilio na mão. E não te­
nho dúvidas em dizê-lo: Foi obra do Espírito Santo. O que os
Padres Conciliares de fato discutiram foi isto: a mentalidade
que devem ter os Pastores de hoje. Foi esta a grande questão
que dividiu os dois mil e tantos Bispos do mundo inteiro em
dois grupos nitidamente distintos:
De um lado estão os conservadores (os mesmos, aliás, que
no inicio dos debates conciliares eram contra as inovações litúr-
g ica s), que querem continuar com a mentalidade recebida, aceita,
dominante e que vem (não da época apostólica) do tempo em
que o Ocidente era "o mundo", quando todos se diziam cató­
licos, quando todos obedeciam (e deviam obedecer) à voz da
Igreja, quando por tôda parte surgiam os tribunais da Inquisi­
çã o ; é a mentalidade que vê na Igreja sobretudo a função de
Magistério, de guardar, expor e defender a verdade, custe o que
custar, doa a quem doer, agrade ou não; é a mentalidade que
nos passados Concílios formulara os cânones doutrinários que
invariàvelmente terminavam com o terrível "anathema sit” ; é a
mentalidade do Mestre severo, sem contemporização e sem com-
Conclllo II — 13
19 4 III. Crônica das Congregações G erais

promisso, que sem dó nem piedade castiga o aluno até que


se resolva a ceder ou até que quebre; é a mentalidade do juiz
inexorável da verdade, que julga sem apelação possível, em úl­
tima e decisiva instância e até mesmo sem conceder ao menos
um pálido direito à defesa (na Inquisição e ainda hoje no T r i­
bunal do Santo Ofício não há advogados de defesa, pois o êrro
e sobretudo a heresia não têm direito à d e fe sa ); é a mentali­
dade da verdade pela verdade, da lei pela lei, do parágrafo
pelo parágrafo.
Do outro lado estão os que vêem na Ig reja também o mú­
nus de Pastor, que não negam o múnus m agistcrial, que absolu­
tamente não contestam a im portância fundamental da verdade
revelada c a necessidade de conservá-la incorrupta, de defendê-
la contra todos os ataques e de anunciá-la, íntegra e pura, a
todos os homens; mas que não querem anunciá-la de qualquer
maneira, mesmo com o risco de assustar as alm as, de afugen­
tá-las; que não querem custodiar a verdade por ela mesma, mas
para a salvação dos homens e de todos os homens, indo ao en­
contro dêles, a fim de saciar os que têm fome e sêde da ver­
dade; que têm como preocupação máxima não a redação da
verdade em fórmulas rígidas e imutáveis da Escola, mas numa
formulação tal que seja inteligível para os homens do tempo
atual (pois é para êles que são pastores, e não para os passa­
dos e futuros), para que possam compreendê-la, am á-la e ab ra­
çá -la ; que vêem na Igreja uma Mãe e Mestra amorosa, que quer
o bem e a salvação de seus filhos e só é Juiz inapelável e sem
instância quando já não é possível de outra maneira.
Fiquei grandemente surpreendido ao verificar que a maio­
ria dos dois mil Bispos congregados in Spiritu Sancto na Aula
Conciliar estava a lutar desesperadamente por esta segunda men­
talidade. A primeira é a que de fato domina aqui em Roma
(digo nos meios eclesiásticos, ou melhor, nas assim cham adas
Congregações Romanas) e vinha impondo mais ou menos auto-
ritativamente e por vêzes até despòticamente (último exemplo:
a regulamentação da Constituição “Veterum Sapientia” ) sua
mentalidade mediante instruções, decretos e adm oestações; a ou­
tra veio de fora (os romanos dizem: "d e além dos Alpes”,
porque para êles o mundo tem duas partes: a Itália e o resto),
sobretudo da Alemanha, da Áustria, da Holanda (fortem ente),
da Bélgica, da França, das Missões e teve agora a oportuni­
dade de manifestar-se livremente, decidida, viva, forte, sem mê-
As Fontes da RevelaçSo 195

do de falar e com a firme persuasão de ter também 0 Sumo


Pontífice de seu lado. A total maioria dos que falaram nestas
últimas seis Congregações Gerais era desta segunda mentalida­
de, mais pastoral (nos corredores, alguns, indignados, já exigiam
a im ediata condenação do que chamavam de “pastoralismo”),
mais tolerante, mais aberta, mais ecumênica, mais solícita e
amorosa (no campo contrário já encontraram um vocábulo para
estigm atizar os adversários: “amorite” . .
Aliás, não há dúvida, foi também êste segundo grupo que,
logo no início do Concílio, formulou a Mensagem do Concílio
à Humanidade, estabelecendo 0 seguinte princípio (então apro­
vado por to d o s): "Procuraremos apresentar aos homens de nos­
so tempo, integra e pura, a verdade de Deus, de tal maneira
que êles a possam compreender e a ela espontâneamente assen­
tir. Pois somos Pastores e desejamos saciar a fome de todos
aquêles que buscam a D e u s . .. ; de tal modo consagraremos
nossas energias e pensamentos à renovação de Nós mesmos, Pas­
tores, e do rebanho a Nós confiado, que a tódas as gentes se
apresente amável a face de Jesus C risto .. . ” Também no grande
Discurso de Abertura 0 Papa traçara esta norma clara: “Sem­
pre a Igreja se opôs a estes erros; muitas vezes até os conde­
nou com a maior severidade. Nos nossos dias, porém, a E s-
pôsa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia
que o da severidade; julga satisfazer melhor às necessidades
de hoje mostrando a validez de sua doutrina que condenando
e r r o s ... A Igreja Católica, levantando por meio dêste Concilio
Ecumênico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe
amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e
bondade com os filhos dela separados”. T ais e outras seme­
lhantes palavras de João XX III animavam a "oposição” e lhe
davam a certeza de ter 0 Papa a seu lado.
Ora, a votação de ontem e a decisão pontifícia de hoje deu
plena e merecida vitória à oposição. Mesmo que 0 Concílio, nes­
ta sua Prim eira Sessão, não aprove nenhuma Constituição
D ogmática, ainda que não faça nenhuma declaração doutriná­
ria, embora não consiga mais que a simples e pura rejeição dos
textos preparados naquela primeira mentalidade, mesmo então
o X X I Concílio Ecumênico terá feito um enorme trabalho e con­
seguido grande progresso: terá mudado uma mentalidade, que
pode ter sido excelente e providencial no passado, mas que tam­
bém estava condicionada por circunstâncias hoje inexistentes.
Sem a presença física, em Roma, na Basílica de São Pedro
196 Hl. Crônica das Congregações G erais

transformada em Aula Conciliar, de 2 .2 0 0 Bispos do mundo in­


teiro, esta mudança de mentalidade teria sido dificílim a, talvez
até mesmo humanamenfe impossível. E no entanto era urgente.
O mundo, o ambiente no qual a Ig reja está inserida para con­
tinuar a obra de redenção e santificação, transform ou-se e con­
tinua a modificar-se com extraordinária rapidez. Os homens da
Igreja, em Roma, não estavam habituados à rapidez nem incli­
nados a mudanças. Um Concilio Ecumênico sim, todos os Bispos
juntos, falando franca e livremente, isto sim era c foi capaz de
mostrar de que lado da balança estava de fato a maioria dos
que o Espirito Santo escolhera para reger a Igreja de Deus:
822 de um lado e 1.368 (mais o P ap a) de o u t r o .. .
23-11-1962: Vigésima Quinta Congregação Geral.
Meios de Comunicação Social.

No INICIO DA SESSÃO DE
hoje o Secretário Geral comunicou ao Plenário que, terminado
o exame do projeto sôbre os meios de Comunicação Social, en­
trará em discussão o decreto sôbre a Unidade da Igreja, inti­
tulado “ Ut unum sin t" e imediatamente depois o projeto de
Constituição sôbre Nossa Senhora. Êste último projeto, junta-
mente com o esquema sôbre a Igreja, publicado num único vo­
lume, foi hoje distribuído aos Padres Conciliares. O projeto "U t
unum sint” já tinha sido enviado aos Padres do Concílio pre­
cedentemente. — Começaram então os trabalhos programados
para hoje. Em primeiro lugar tomou a palavra o Cardeal Fer­
nando Cento, Presidente da Comissão de Apostolado dos Lei­
gos e Meios de Comunicação Social. Recordou aos presentes que
o projeto em exame fôra preparado por um Secretariado espe­
cial, presidido por Mons. Martinho O’Connor, que há 14 anos
desempenha o cargo de Presidente da Pontifícia Comissão de
Cinema, Rádio e Televisão. Explicou que a Comissão Conciliar,
a que compete a matéria em questão, compreende também os
assuntos que se referem ao Apostolado dos leigos, contudo entra
hoje ein discussão sòmente o esquema sôbre os Meios de Co­
municação Social. A apresentação do projeto foi feita por Mons.
René Stourm, Arcebispo de Sens, na França. O orador analisou
primeiramente a natureza dos meios de comunicação social e
sua grande importância no mundo de hoje. A Igreja, como
Mãe, necessàriamente deve interessar-se por êles, quer em seu
aspecto intelectual e cultural, quer em seu aspecto puramente
recreativo, pois sempre entra em questão a ordem moral. A se­
guir apresentou um quadro estatístico dos vários meios de co­
municação social, passando depois a demonstrar a necessidade
que a Igreja tem de servir-se dêles no desempenho de Sua mis-
198 111. Crônica das Congregações G erais

são de ensinar o Evangelho a todos os povos e de traçar dire­


trizes sôbre o seu uso. O projeto sôbre os Meios de Comuni­
cação Social consta de um proêmio e quatro partes, subdividi­
das cada uma em diversos capítulos. A primeira parte trata da
doutrina da Igreja sôbre o assunto em questão; a segunda con­
sidera a função apostólica dos meios de com unicação social; a
terceira expõe as normas disciplinares da Igreja neste campo
c a quarta analisa pormenorizadamente cada um dos meios de
comunicação, a saber: imprensa, cinema, rádio e televisão. —
As intervenções de hoje foram na maioria favoráveis ao projeto
estudado. Notou-se ser a primeira vez que o assunto em ques­
tão é examinado num Concílio. De fato, nos precedentes, a maior
parte dos atuais meios de comunicação ainda não existiam e
a imprensa não gozava da importância, da influência e do po­
der que tem hoje. Louvou-se outrossim a orientação pastoral do
projeto. As observações cm desabono do projeto referiam -se
não tanto ao seu conteúdo, mas principalmente à sua formu­
lação, julgada nem sempre apta para uma Constituição Con­
ciliar. Sugeriu-se abreviá-lo, conservando intacto o seu conteúdo
e acrescentando em forma de apêndice as partes acessórias c
as explicações que forem necessárias. Mereceu a aprovação de
muitos a proposta, contida no próprio projeto, de que a Santa
Sé institua um Secretariado especial para os Meios de Comuni­
cação Social, dotado de uma eficiente organização, primeiro in­
ternacional, depois com ramificações nacionais e diocesanas com
a finalidade de formar e informar a opinião pública. Foi mani­
festado também o desejo de que neste setor se tenha sempre
em conta a colaboração experiente dos leigos, e de que os do­
cumentos oficiais da Santa Sé sejam difundidos com grande
rapidez através dêstes meios modernos de com unicação. Venti­
lou-se finalmente a idéia de instituir uma poderosa agência ca­
tólica internacional de notícias, uma vez que são as agências as
verdadeiras fontes de informação. Achavam-se presentes à Con-
gregação Geral de hoje 2 .153 Padres Conciliares.

Usaram da palavra dois Cardeais e 15 Arcebispos e Bispos:


ec |
4m ~ Cardeal Francisco SPELLM AN, Arceb. de Nova York, nos
t t . U U . ; aprova o tema; pensa que a maior parte poderia ser tratada
tora do Concilio; declara que o esquema é muito longo e tem muitas
repetições.
421 — Cardeal Ernesto RU FFINI, Arceb. de Palermo, na Itália:
louva o esquema como tal, mas duvida se seria oportuno tratar tão
difusamente tais questões numa Constituição Conciliar. Bastariam algu-
Meios de Comunicação Social 199

J S e . £ ,araÇÕe8 fundamCntaÍS- deixand0 o ««»o para uma Instrução


422 - Vicente Henrique TARANCÓN, Bispo de Solsona, na Es­
panha: o texto deve ser reduzido, nem convém que o Concilio (ale
de coisas que estão em constante evolução
423 - A l b e r t o SANSCHAGRIN, C o a d j.d e Amos, no Canadá- fala
da vagarosa comunicação dos documentos da Santa Sé. Os Bispos de­
veriam ser informados antes que a imprensa divulgue partes nem sem­
pre precisas dos textos.
424 Jorge BECK, Bispo de Salford, na Inglaterra (participou
na elaboraçao do tex to ): louva o texto, bem elaborado e plenameVte
dentro do espírito pastoral do Concilio; mas pensa que não devia ser
discutido na Aula Conciliar e, sim, apenas por técnicos. Além disso é
muito longo: "tra cta t sine necessitate de minimis". Aproveita o ensejo
para dizer que julga todos os textos preparados muito compridos e, se
quisermos continuar assim, não seremos nós, mas nossos sucessores que
terão que votar os textos.
425 — Manuel LLOPIS, Bispo de Coria-Cáceres, na Espanha: fala
do cinema. O Concilio deve elaborar normas concretas. Propõe sugestões.
426 — Heriberto BEDNORZ, Coadj. de Katowic, na Polônia: o
Concilio deve falar sôbre os meios de comunicação social. 0 projeto
“generaliter placet". Algumas partes lhe parecem excessivamente longas.
427 — Francisco CHARRIÊRE, Bispo de Lousana, na Suíça: agra­
dece a Deus que tal esquema foi apresentado ao Concilio. Como Pro­
tetor da UNDA acentua a grande importância do assunto. Mas pensa
que seria melhor fazer dois documentos: uma Constituição Conciliar,
mais genérica e fundamental, e uma Instrução posterior elaborada por
competente Comissão.
428 — Manuel FERNANDEZ-CONDE, Bispo de Córdova, na Es­
panha: critica o projeto: é muito prolixo, repete sem necessidade; assi­
nala outras imperfeições.
429 — José D’AVACK, Arceb. de Camerino, na Itália: declara o
projeto "ingínuamente otimista". Fala então dos grandes perigos que
há nestes meios modernos, perigosos também para os padres que com
êles trabalham. Só com muita cautela, oração e penitência poderia al-
guém aventurar-se a fazer apostolado com tais instrumentos. Deveríamos
falar mais em reduzir as distrações, a busca de prazeres e anunciar
muito mais a necessidade da penitência e da Cruz. Falta isso no texto.
430 — Eugênio D’SOUSA, Arceb. de Nagpur, na índia: “res maxi-
mi momenti est". Mas não devemos perder tempo com as coisas miúdas.
A Igreja não deve proclamar apenas seus próprios direitos, também os
direitos dos outros. Em vez de insistir sempre nos direitos e na auto­
ridade da Igreja, deveriamos animar os leigos ao trabalho; em lugar
de alertar contra os perigos, mostremos a grande utilidade dêstes
instrumentos.
431 — Pedro CANTERO, Bispo de Huelva, na Espanha: o esque­
ma é muito extenso, tratam-se coisinhas que devem ser deixadas para
Comissões particulares. Não devemos elaborar tratados de moral profis­
sional. Faz propostas para modificar a estrutura, principalmente da quar-

^ P432 - Antônio de CASTRO M EYER, Bispo de Campos, no Brasil.


200 III. Crônica das Congregações G erais

433 _ José HEUSCHEN, Aux. de Liège, na B élg ica: "modo gene-


rali schema placet”, mas pode ser reduzido. Fala depois particularmente
da imprensa, que depende em grande parte das Agencias de noticias.
"Prim a notitia est maximi momenti": daí a necessidade de procurarmos
influir na confecção destas primeiras noticias divulgadas pelos jornais,
pois a retificação posterior será sempre difícil. Em vez de fundar uma
Agência católica própria, seria melhor constituir um grande S ecretaria­
do bem relacionado com as Agências existentes, procurando oferecer-
lhes nossa colaboração. “ Penetrare debemus in instituta cxsistentia, non
nova creare”. _ .
434 _ Vicente BRIZGYS, Aux. de Kaunas, na Polom a: “schcma
in genere mihi placet”. Deseja, entretanto, mais clara determinação dos
direitos também dos cidadãos, não apenas da Igreja. Acentuar outros-
sim que a Igreja tem o direito de possuir tais instrumentos.
435 ___________Alberto SOEGIJAPRANATA, Arceb. de Sem araug, na Indoné­
sia: agrada-lhe a estimação positiva dos instrumentos de comunicação
social. Pede, porém, que se fale mais cautclosamente dos direitos da
Igreja, principalmente para situações como na Indonésia, onde apenas
1 % da população é católica. Fale-se também dos direitos democráticos
dos cidadãos católicos e dos não-católicos.
436 — Renato BOUDON, Bispo de Mende, na Fran ça: desenvolve
três considerações teóricas.
A Assembléia encerrou seus trabalhos às 12,15 horas.

Comentário do cronista:

£ste Concilio não deixa a gente em paz. Sem anas atrás tivemos
que especializar-nos em Liturgia, depois em Exegese, agora nos "instru­
mentos de comunicação social”, amanhã no ecumenismo, depois nas
muitas questões da Eclesiologia. E tudo isto só nesta Prim a Scssio.
Nas outras Sessiones virá muitíssimo mais. Para isto temos tantos "peri­
tos”. Assim a gente não apenas repete os estudos feitos, mas vai apren­
dendo também as últimas novidades em cada ramo. Conferências espe­
cializadas, pequenas reuniões, bate-papo nos corredores, conversas à noi­
te, entrevistas à imprensa, separatas de artigos, instruções "secreta s”,
encontros com teólogos, sobretudo também os próprios discursos nas
Aulas Conciliares, tudo isso, exposto e apresentado pelos mais compe­
tentes, não deixa de ser um excelente curso intensivo. E agora devemos
especializar-nos nos meios modernos de divulgação. Distribuíram dados
impressionantes:
_ N ° se.tor imprensa: 8.000 diários, com 300 milhões de exemplares;
22.000 revistas, com 200 milhões de exemplares.
No setor cinema: 2.500 filmes produzidos todos os anos; 17.000 sa-
L°es mundo inteiro, frcqüentados anualmente por 17 bilhões, com
35 bilhões de horas.
No setor rádio: 6.000 estações em issoras e 400 milhões de aparelhos.
No setor televisão: 1.000 estações emissoras e 120 milhões de re­
ceptores.
dúvida, um fenômeno de extraordinária amplitude e im­
portância. São justamente êstes instrumentos que modificam o mundo de
Meios de Comunicação Social 201

um dia para outro. Não pode, certamente, a Igreja não tomar conheci­
mento ou deixar êstes poderosos meios de comunicação social nas mãos
dos que dêles se aproveitam para o mal. Mas há sobretudo o lado po­
sitivo: a Igreja tem a missão de pregar a tôdas as gentes o Evange­
lho; ora êstes meios modernos podem e devem ajudar. Bem disse hoje
de manhã o Relator Mons. Stourm: "Novus orbis, novus rerum ordo
prae stupentibus oculis nostris fabricatur, qui rythmo celeri evolvitur...
Mundus, nobis luce Evangelii erudiendus, non amplius sicut Media Aeta-
te fiebat, iure meritoque, theologicis disputationibus atiendit. Nobis onus
incumbit cvangclizandi in aetate quae nos premit, scilicet hunc nostrum
mundum hodiernum, mundum technicum; qui salvari nequit nisi nos ad
iila instrumenta accedamus libere et fidenter ad gloriam et laudem
Evangelii”.
24-11-1962: Vigésima Sexta Congregação Geral.
Meios de Comunicação SoclaL

P r e s id iu a c o n g r e ç a o g e -
ral de hoje o Cardeal Bernardo Alfrink, Arcebispo de Utrecht.
No inicio da sessão o Secretário G eral leu um telegram a de
felicitações que seria enviado ao Santo Padre por ocasião de
seu aniversário natalício que transcorre amanhã, dia 2 5 : “O s P a ­
dres do Sacro Concílio Ecumênico, que se está celebrando se­
gundo o vosso desejo, elevam para vós, Pastor amantíssim o, no
faustoso dia do vosso aniversário, os olhos, as mentes e os co­
rações, e ao mesmo tempo fazem votos para que possais por
muitos anos ainda governar felizmente a Igreja com resultados
copiosos de unidade e de paz, para a glória da E sp ò 'a de Deus.
Pedimo-vos, Santo Padre, queirais confortar-nos a nós os nos­
sos trabalhos com a vossa Bênção Apostólica”. Lido o telegra­
ma, os Padres exprimiram sua unânime aprovação com um vi­
brante aplauso. — Tiveram, então, início os trabalhos da ses­
são de hoje. A maior parte das intervenções sublinhou a im­
portância, no plano pastoral, dos meios de com unicação social,
quer para a difusão do Evangelho, quer para a penetração na
sociedade moderna daqueles valores humanos e cristãos que fa ­
vorecem o desenvolvimento da justiça social, o respeito da digni­
dade humana, a paz e a união entre os povos. Uma nova ci­
vilização está surgindo, e por isso é necessário e urgente que
os meios de comunicação social, que são por si um dom de
Deus, não sejam usados para enfraquecer ou mesmo destruir
aquêles mesmos valores humanos e cristãos. Alguns oradores ma­
nifestaram o temor de que o Concílio não dê suficiente impor­
tância ao projeto estudado. T rata-se, contudo, de uma questão
vital para tôdas as formas de apostolado moderno. Insistiu-se
então em que os leigos, formados no espirito cristão, tomem
consciência de suas possibilidades de ação nos diversos setores
Meios de Comunicação Social
203
dos meios formativos e informativos da opinião pública. Sôbre
o direito de informação, por todos admitido, notou-se que o
aludido direito não abrange a vida privada, cujos segredos de­
vem ser respeitados por motivos de justiça e de caridade. Obser­
vou-se, no que se refere ao uso, por parte da Igreja, dos meios
de com unicação social, que o projeto estudado não insiste su­
ficientemente nos motivos sôbre os quais se baseiam os direitos
da Ig reja que, por missão divina, deve levar a salvação a todos
os povos. F êz-se aos Padres Conciliares um caloroso apêlo no
sentido de que se ofereça um auxílio concreto no campo dos
meios de com unicação social às nações em fase de desenvolvi­
mento. Finalmente foram formulados votos de que um número
sempre maior de leigos seja formado não sõ espiritualmente, mas
também tècnicamente para que, com ardor apostólico e compe­
tência, exerçam influência benéfica nos vários setores específicos
das técnicas modernas de difusão, transformando-as em meios de
penetração do pensamento católico. Achavam-se presentes à Con­
gregação Geral de hoje 2.136 Padres Conciliares.

Comissão de Revisão: Foi constituída a Comissão para a


revisão do projeto que se chamará “De Divina Revelatione” (em
vez de “ De Fontibus Revelationis", como era). São Presidentes
os Cardeais Ottaviani e Bea. São Membros os Cardeais Liénart,
Frings, Ruffini, Meyer, Lefebvre, Browne e os demais Membros
da Comissão Teológica e do Secretariado para a União dos
C ristãos.

Usaram da palavra, na Congregação de hoje, 5 Cardeais e 19


Arcebispos e Bispos:
437 - Cardeal Estêvão WYSZYNSKI, Arceb. de Gnfezo e Varsó­
via, na Polónia: falou das transmissões religiosas (Rádio e Televi­
são ). D eseja que se obrigue a ler mais o texto do Evangelho.
438 - C a r d e a l Guilherme GODFREY, A rce b .d e Westminster na
Inglaterra: acha que o presente documento nao deveria ser publicado
pelo Concilio, mas à parte. Se, porém, fôr documento conciliar deverá
em todo o caso ser abreviado: “Documenta eoneniav.a non si.nt racta-
tus theologici”. Nem é necessário dizer o que é evidente: que: os nstru-
mentos são em si bons, que podem ser usados para o bem ou para
o mal, que a Igreja favorece o que é bom, etc.
439 — Paulo Emílio LÊGER, Arceb. de Montréal, no Canadá: teme
que não tratemos com suficiente’ solicitude o presente esquema que é
de extrema Sp o rtâ n cia . “Schema dignum est . o .
rationi”. Mas é necessário abreviá-lo. Deve ser também menos jurídico,
apareça mais a solicitude pastoral.
204 111. Crónica das Congregações G erais

440 — Cardeal Leo SUEN EN S, Arceb. de M alines-Bruxelas, na Bél-


gica: o presente esquema não é doutrinário, mas pastoral. Não pode­
mos tratar todos os esquemas com o mesmo método: quando temos
um texto doutrinário devemos examinar palavra por palavra; mas quan­
do temos um texto como êste o método deve ser outro. Quanto ao es­
quema, é “optimum quoad substantiam”. O Concilio poderia dar uma
aprovação geral, podendo ser então publicado como documento do Ma­
gistério Ordinário. Propõe uma declaração conciliar acèrca do “ius ad
vitam privatam", por causa dos muitos abusos atuais, na imprensa. Lem­
bra também que "minus nocet Ecclesiae oppositio adversariorum quam
passivitas fidelium” : os fiéis devem ter mais consciência e iniciativa para
reagir contra os abusos e para louvar e animar os program as bons.
441 — Cardeal Agostinho BEA, Presidente do Secretariado para a
União dos Cristãos: não devemos insistir tanto nos direitos da Igreja,
mas nos grandes benefícios e serviços que êstes instrumentos podem
prestar à Igreja. Dá exemplos. Recomenda como urgentíssim a uma Agên­
cia Noticiosa do Vaticano.
442 — Tiago MÉNAGER, Bispo de Meaux, na Fran ça: o esquema
é excessivamente jurídico. Insiste na necessidade de promover uma ação
positiva eficacíssim a para influir na formação da atual civilização
443 — André PERRAUDIN, Arceb. de Kabgay, na Ruanda: os B is­
pos de tôda a África, M adagascar e Ilhas adjacentes agradecem o pre­
sente esquema. Descreve a situação do Continente e pede a ajuda de
todos em favor da África, principalmente com relação ao apostolado
radiofônico.
444 — Alexandre RENARD, Bispo de Versailles, na Fran ça: discor­
re sôbre a necessidade da imprensa católica, que deve ser reconhecida
como apostolado veri nominis.
445 — Luciano BERNACKI, Aux. de Gniesno, na Polónia: na afir­
mação dos direitos há uma omissão: declare-se também o direito da
Igreja de possuir tais instrumentos.
446 — Casimiro MORC1LLO, Arceb. de Saragoça, na Espanha: pro­
põe algumas correções.
447 — Salvador BALDASSARRI, Arceb. de Ravena, na Itália: o tex­
to é muito prolixo. Aliás, há assunto demais para êste Concilio.
448 — Vito CHANG, Bispo tit. de Ciane (C h in a ): já não precisa
falar, pois outro já disse tudo que êle desejava expor.
449 — Antônio NWEDO, Bispo de Umuahia, na Nigéria: os B is­
pos da África, unânimemente, louvam o esquema. Recorda sua grande
necessidade para a África. Faz uma série de propostas de como se poderia
ajudar a África.
450 Marcelo GONZALEZ, Bispo de Astorga, na Espanha: “Sclie-
ma plausum omnino meretur”. Propõe emendas.
451 Mário CASTELLANO, Arceb. de Siena, na Itália: agrada-lhe
o texto, mas é preciso abreviar.
^52 — Paulo GOUYON, Bispo de Bayonne, na Fran ça: fala da im­
prensa católica. Defende os jornalistas católicos e pensa que somos ex-
cessivamente rigorosos para com êles.
José RUOTOLO, Bispo de Ugento, na Itália: dissertou fi­
losoficamente sôbre a arte.
Meios de Comunicação Social
205
• 545 — Antônio ONA, Bispo de Lugo na Esoanha- i„ k

meios de comunicação social. Pessimista mpauvets com os


456 - Vicente ZAZPE, Bispo de Rafaeia, na Argentina: insiste na

S ^ kS ^ CamP0; Sá° 0169 ^ « operar "a

"Schem a mihi valde pfSrt". E“ PMm?umac 5 ^ e«ôb2% m n


e de grande importância. Pensa que nào é comprido demais pois é
matéria novíssima e utilíssim a; pena seria, se tirássemos uma só linha
Propoe que não seja publicado pelo Concílio, mas por uma Comissão
especial.
458 — Bento RE E T Z , Abade da Congregação Beneditina de Beuron,
na Alemanha: declara que é monge, mas que os monges de hoje não
vivem nos desertos; e os instrumentos de comunicação social entram tam­
bém nos mosteiros. "Optimc et positive loquitur schema". Sugere que
seja discutido somente in genere, não in specie.
“159 — Estêvão LASZLO, Bispo de Eisenstadt, na Áustria: "Schema
in genere p la cef’ e lhe parece digno de um Concilio. O mundo moder­
no espera que digamos alguma coisa concreta. Refere-se particularmente
ao problema do cinema.
460 — Leo LOMMEL, Bispo de Luxemburgo: “placet". Diga-se que
os instrumentos de comunicação social são "dona Dei”. Os Estados de­
vem proteger a juventude contra os abusos.

Comentário do cronista:
A mentalidade, o estilo, o modo de falar e de argumentar e outras
muitas particularidades dêste Concilio, parece-me, estão sendo determi­
nados por um fator muito preciso: a presença, na Aula Conciliar e du­
rante as discussões e votações, dos Observadores e Hóspedes não-
católicos. Lá estão êles, num lugar de honra, ã direita de quem entra,
bem na frente, junto ã mesa da Presidência: ortodoxos, coptas, velhos
católicos, anglicanos, luteranos, presbiterianos, congregacionalistas, me­
todistas c outros. Não raras vêzes, quando um Padre Conciliar começa
a falar, depois de saudar os Eminentíssimos e Excelentíssimos Senho­
res, acrescenta também: "Observatores dilectissimi", "dilecti Observatores
in Christo”, "amabiles Fratres Observatores", "Fratres Observatores".
Tenho a impressão de que a presença dêles no Concílio tem mais ou
menos a função de censores, no sentido da "censura" dos psicanalis­
tas. Não é necessário que êles falem, basta que estejam presentes, mesmo
que não entendam o latim ou estejam dormindo: estão sempre lá e pode
ser que acompanhem atentamente. Esta idéia não pode deixar de estar
no fundo do Padre Conciliar no momento em que prepara seu discurso;
nem pode deixar de determinar a seleção dos têrmos que irá usar,
ou dos argumentos que há de desenvolver.
Ontem, às 18 horas, um dêstes Observadores, o Prof. Oscar Cullmann,
a convite do Serviço de Imprensa do Concílio, falou aos jornalistas.
206 III. Crônica das Congregações Q erais

Declarou concordar totalmente com o Cardeal B ea quando disse que


a presença dêles, no Concilio, " é um m ilagre”. (O Cardeal B ea, com
efeito, na entrevista concedida no dia 8-X I-62, exclam ara: “E* um mila­
gre, é um verdadeiro m ilagre!”). E continuou Cullmann: “Quando vejo
que nós ocupamos tôdas as m anhis nossos lugares, que são quase lu­
gares de honra, diante dos Cardeais; quando o Secretário do Con­
cilio, tôdas as manhãs, depois da Missa, pronuncia o exeant omnes e
nós podemos continuar nos nossos lugares, então fico sempre dc nôvo
maravilhado ao considerar até que ponto estamos verdadeiramente inte­
grados neste Concilio; e ao fazer minha a palavra do Cardeal Bea
sôbre o milagre, penso sobretudo naquilo que no passado significavam
os Concílios para aquiles que não eram católicos!” Depois de lembrar
que "estam os sendo iniciados em todos os segredos e que começamos
a conhecer as mui variadas correntes de pensamento do Catolicismo”,
o Prof. Cullmann continuou: "N ossa participação interna nos debates
déste Concilio é, a meu ver, já agora, uma concretização importante do
pensamento ecuménico. Vistos de fora, somos observadores passivos.
Mas de fato vivemos os debates com os nossos irm ãos católicos, com
éles tomamos posições pró e contra, durante as sessões, e com a mesma
atenção déles. E foi precisamente isto que nos aproximou de uma ma­
neira muito especial nestas últimas sem anas”. Depois revela que éles
se preparam para as sessões conciliares rezando e estudando; estudando
sobretudo os esquemas ("e sta palavra esquema tem agora um signifi­
cado inteiramente nôvo!” ), "fazendo anotações, confrontando os esque­
mas com a Bíblia e comparando-os com os textos dos Padres da Igreja
e com as decisões de Concílios anteriores. Nossas reações individuais
diante dos diferentes esquemas, que vimos até agora, são evidentemente
muito diferentes: um nos agrada, outro não; um nos dá alegria, outro
desilusões”.
Eis ai outro aspecto da mentalidade nova que domina no Concilio
e está se difundindo cada vez mais na Igreja. E não duvido que é obra
do Espirito Santo.
26-11-1962: Vigésima Sétima Congregação GeraL
Meios de Comunicação SoclaL

No INICIO DA SESSÃO, QUE


foi presidida pelo Cardeal Eugênio Tisserant, Decano do Sa­
cro Colégio, o Secretário Geral leu a mensagem do Santo P a­
dre em resposta ao telegrama de felicitações enviado sábado
pelos Padres Conciliares por ocasião do aniversário natalício
do Sumo Pontífice: "Profundamente sensibilizado pelos vossos
votos c felicitações, repletos de amor filial e fraterno, gratíssi­
mos ao Nosso coração entre todos os demais que recebemos no
dia do Nosso aniversário, agradecemo-vos cordialmente por êste
nôvo sinal de afeto. Respondendo à vossa manifestação de ho­
menagem e movido por igual caridade recíproca pedimos fer­
vorosamente a Deus que todo o bem por vós augurado transbor­
de copiosamente sôbre cada um de vós e sôbre os fiéis a vós
confiados. A Bênção Apostólica que vos concedemos efusiva­
mente a vós e aos vossos trabalhos seja penhor e sinal dos dons
celestes que imploramos para vós”. A seguir o Secretário Geral
passou a comunicar ao Plenário, em nome do Presidente, a agen­
da dos trabalhos previstos para o próximo mês de dezembro:
Haverá Congregação Geral todos os dias, excetuando o domin­
go. Sábado, dia 8, celebrar-se-á, na Basílica de São Pedro, a
solene cerimônia de encerramento dêste primeiro período con­
ciliar. O Secretário comunicou também que, terminado o exame
do projeto de Constituição sôbre os Meios de Comunicação So­
cial, seria apresentado ao Plenário o esquema sôbre a Unidade
da Igreja, preparado pela Comissão das Igrejas Orientais. Pre­
cisou outrossim que sôbre o mesmo assunto se tratarão ainda
questões análogas baseadas em projetos elaborados tanto pela
Comissão Teológica, como pelo Secretariado para a União dos
Cristãos. Por último comunicou que os Padres Conciliares des­
de já podem inscrever-se para as discussões do projeto sôbre
208 IN- Crônica das Congregações G erais

a Igreja que será proposto ao estudo do Plenário quando termi­


nar o exame do projeto sôbre a Unidade da Igreja. O esquema
de Constituição sôbre Nossa Senhora será discutido juntamente
com o projeto sôbre a Igreja, do qual será um capitulo. —
A primeira parte da sessão de hoje foi dedicada ao exame do
projeto sôbre os Meios de Comunicação Social. O s Oradores,
de um modo geral, exprimiram pareceres favoráveis ao documen­
to em questão, que foi julgado útil, oportuno e rico de conteúdo.
Foram feitas também observações m arginais que sublinharam
alguns aspectos do direito da Igreja de interessar-se pelos atuais
meios de comunicação, uma vez que eles exercem grande in­
fluxo quer na opinião pública quer na consciência dos indiví­
duos. Como conscqüência prática falou-se da necessidade de
criar escolas para a formação cristã e profissional de todos
aqueles que se dedicam à im prensa, cinema, rádio e televisão.
Observou-se por outro lado como na sociedade pluralística de
hoje, sob o ponto de vista religioso, os católicos devem con­
tinuamente escolher programas que não ofendam a própria fé
e, além disso, agir no sentido de que se respeitem sempre os
princípios da moral. Neste setor a colaboração entre católicos
e demais cristãos é sumamente conveniente como meio para
impedir a difusão do mal através dos meios de comunicação.
Finalmente ventilou-se a idéia de que as forças do bem se unam
cada vez mais, principalmente nos países de missão, com o es­
copo de proporcionar ao público ótimos meios de difusão da
religião e da cultura. — Às 11,30, o Secretário G eral, por ordem
do Presidente, pediu ao Plenário que se pronunciasse sôbre o
encerramento das discussões referentes ao projeto estudado. A
aprovação dos Padres Conciliares foi quase unânime. Passou-se
então ao estudo do projeto sôbre a Unidade da Igreja. Em pri­
meiro lugar tomou a palavra o Cardeal Cicognani, Secretário
de Estado de Sua Santidade, que na qualidade de Presidente
da Comissão das Igrejas Orientais, apresentou o nôvo projeto.
Em seu discurso, o orador declarou que o esquema é a expres­
são da solicitude da Igreja Católica pelo problema da união
com as Igrejas Orientais dissidentes. “Estam os unidos na fé
— disse — mas discordamos em alguns pontos de doutrina,
como o do primado de Pedro. O projeto sôbre a Unidade da
Igreja visa sublinhar a doutrina católica neste campo para que
o Concílio prepare um documento que abra as portas para
a unidade na caridade". Imediatamente após, o Pe. Atanásio
W elykyj, da Ordem de Sãò Basílio, Secretário da mesma C o-
Meios de Comunicação Social 209

missão, por ordem do Cardeal Cicognani, leu a relação sôbre


o assunto. Disse que a principal intenção da Comissão que
preparara o projeto fôra a de procurar do melhor modo possível
a via da reconciliação com os orientais dissidentes. Os proble­
mas que se referem aos ritos, disciplina eclesiástica, participa­
ção litúrgica, serão tratados em outra oportunidade. A primeira
parte do documento explica cm que consiste a unidade teológica
da Igreja que se funda na unidade de govêrno, isto 6, no pri­
mado de Pedro e de Seus sucessores. A segunda estuda os
meios que se devem empregar para que se possa chegar a uma
reconciliação efetiva com os orientais, meios de caráter teológico,
jurídico, psicológico e prático. A Igreja Católica, embora possua
a verdade, deve empregá-los para que a união seja um dia uma
realidade. A terceira parte, enfim, examina a forma e as con­
dições em que se possa verificar uma autêntica reconciliação,
tendo como base o respeito por tudo aquilo que faz parte do
patrimônio religioso, histórico e psicológico das Igrejas Orien­
tais. A relação conclui recordando a oração de Jesus antes
da Paixão e pedindo a Deus a Unidade de Seus discípulos em
todos os tempos. Tiveram então início as discussões sôbre o pro­
jeto proposto. Estavam presentes 2.133 Padres Conciliares.

Sôbre os Instrumentos de Comunicação Social falaram:

<161 — Luís CÍVARDI, Bispo tit. de Tespia (Itália): "Schema mihi


videtur bonum, valde utile et opportunum”. Pensa também que é ma­
téria conciliar. Há, porém, uma omissão: êstes instrumentos são usados
frequentemente também para fins recreativos. Parece-lhe oportuno afir­
mar explicitamente o direito da Igreja de pronunciar-se também sôbre
êstes meios enquanto instrumentos recreativos (por causa dos abusos).
Fala então de sua experiência pessoal com o cinema, que é causa de
grandes males morais.
462 — José HOEFFNER, Bispo de Muenster, na Alemanha: ‘‘gene-
ratim placet". Mas não basta definir apenas os direitos; o texto deve­
ria ser mais positivo c prático. Faça-sc também um apèlo aos leigos
católicos que no mundo pluralístico de hoje exercem a função de depu­
tados ou senadores para que cuidem prudentemente da observância
das leis naturais, principalmcnte em favor da juventude.
463 — Leão DUVAL, Arceb. de Argel, na Argélia: ilustra o as­
pecto missionário da questão. Lembra que no uso dêstes instrumentos
podemos servir-nos também dos não-cristãos.
464 — Santos MORO, Bispo de Avila, na Espanha: ■'laudanda Com-
missio Praeparatoria". Teria sido oportuno convocar um Concilio Ecumé­
nico apenas para discutir êste esquema. Propue sugestões. D e m « fa­
lar não só dos direitos, mas também dos deveres da Igreja neste cam-

Cnnrflio II — 14
210 Hl. Crônica das Congregações G erais

po. Menciona a questão da opinião livre na Igreja. D eseja também uma


Magna Agentia Catholica.
465 — Guilherme KEM PF, Bispo de Limburgo, na Alemanha: “quoad
substantiam placet”. Deve ser mais breve, excetuando o substancial; o res­
to, relacionado com a prática, seja publicado à parte por ordem do
Concilio.
466 — Adão KOZLOVIECKI, Arceb. de Lusaka, na Rodésia: fala
do direito à informação: a que informação precisamente tem o homem
direito? Tenho eu o direito de saber quanto dinheiro possui o Pre­
sidente desta Congregação G eral? Mencione-se também o direito de
negar informações (de crimes, etc.). Faça-se uma grave admoestação
conciliar aos homens de hoje contra os pecados de detração c calúnia.
Referindo-se ao cinema exclamou: “G ratias ago Hollywood pro film
Ben Hurl”
467 — Emílio TA G LE, Bispo de Valparaiso, no Chile: “ nimis lon-
gum Schema". Disserta sôbre os problemas do cinema e da imprensa.
468 — Sebastião SO ARES D E REZEN D E, Bispo de Beira, Moçam­
bique: lembra a necessidade de uma Agência Internacional Católica de
Noticias. Condena o pululamento das pequenas revistas, que surgem
como que por geração espontânea. Haja maior união para haver me­
lhores revistas.
469 — Aurélio DEL PINO: devemos distinguir, no esquema, o que
é genérico do que é particular e fazer dois documentos.
470 — André SANA, Bispo de Acra dos Caldeus, no Iraque (fala
em fran cês): acentua a extrema importância da questão. Lembra que
os filmes religiosos são também interessantes, mesmo para os não-cris­
tãos, como em sua terra.
471 — Alexandre FERNÁNDEZ, Bispo de São Cristóvão, na Vene­
zuela: fala em nome do Episcopado venezolano: “omnia quae in sclie-
mate ponuntur laudanda videntur”. D eseja, porém, mais brevidade. Faz
algumas propostas.
472 — Francisco SIMONS, Bispo de Indore, na India: deseja uma
declaração solene do direito “ libertatis exprimendi suam opinionem”,
baseado ijo princípio da liberdade de consciência. Fala da tolerância:
não podemos mesmo acabar com todos os males.
473 — João Pedro ZARRANZ, Bispo de Placência, na Espanha:
“magnopere placet, est enim maximi momenti et actualitatis". Lembra,
porém, os perigos dêstes instrumentos de comunicação social.

Iniciaram o debate do esquema “De Unitate Ecclesiae” :


474 — Cardeal Aquiles L1ÊNART, Bispo de Lille, na Fran ça: em­
bora tenha também elementos bons, “schema tollendum est”, pois nêle
há graves defeitos, tanto na forma como na matéria que trata. Passa
então a ilustrar êstes dois pontos.
475 — Cardeal Ernesto RU FFINI, Arceb. de Palermo, na Itália:
não aprova a primeira parte (o resto está bom ), que tem numerosas
imprecisões teológicas. Não compreende por que o esquema não faz par­
te do outro De Ecclesia.
Meios de Comunicação Social 211

476 — Cardeal Antônio BACC1, da Cúria Romana: "Schcma in uni-


versum considcratum mihi placet admodum”. Propõe correções: não de­
vemos dizer “de unitatc instauranda” (pois a unidade já existe), mas
"de omnium christianorum unitate procuranda” ; e outras.
477 — Cardeal Miguel BROW NE, O .P ., da Cúria RGmana: seria
melhor estudar primeiro o esquema sôbre a Igreja, no qual há muitos
elementos aqui repetidos. O texto dèste esquema deve entrar como ca­
pitulo no De Ecciesia.
Os trabalhos terminaram às 12,15 horas.

H*
27-11-1962: Vigésima Oitava Congregação Geral.
A Unidade da Igreja.

P r e s id iu o c a r d e a l a q u i-
les Liénart, Bispo de Lille. No inicio da sessão o Secretário
Geral comunicou ao Plenário que o Santo Padre, atendendo ao
pedido que lhe fôra expresso por muitos Padres C onciliares e
também por motivos pastorais, houve por bem fixar a data de
abertura do segundo período conciliar para o dia 8 de setembro
de 1963, em vez de 12 de maio, data precedentemente estabe­
lecida. A seguir, falando em nome da presidência, submeteu à
votação do Plenário a seguinte proposta (que já tinha sido dis­
tribuída na sessão a n te rio r): "Com o fim de proceder à reda­
ção definitiva do projeto de Constituição sôbre os Meios de Co­
municação Social, os Padres Conciliares são convidados a votar
os seguintes pontos: 1) O projeto é substancialm cnte aprova­
do. E ’ sumamente oportuno que a Igreja, no exercício do seu
magistério conciliar, se ocupe de um problema de tanta impor­
tância no campo pastoral. 2 ) Consideradas as observações feitas
pelos Padres Conciliares, confia-se à Comissão competente a
missão de extrair do projeto os princípios doutrinais essenciais
e as diretrizes pastorais mais genéricas, para form ulá-los de
um modo mais conciso e breve, para que o documento possa
ser oportunamente apresentado à votação. 3 ) Tudo o que se re­
fere principalmente à prática e à execução, por expresso man­
dato do Concílio, seja redigido em forma pastoral pelo orga­
nismo mencionado no iT 57 do projeto, com a colaboração de
pessoas competentes de várias nações". — Im ediatamente após
a leitura da proposta, o Secretário G eral, em nome da Comis­
são das Igrejas Orientais, leu uma declaração referente ao pro­
jeto sôbre a Unidade da Igreja. Notou que não há nenhuma
dificuldade em que se modifique o título do projeto estudado
para que se veja com mais clareza tratar-se apenas dos cris-
Unidade da Igreja 2 13

lãos orientais dissidentes e não dos protestantes. Disse também


que a primeira parte do documento tem em vista explicar as
situações reais originadas pela separação dos cristãos orientais
e não demonstrar teològicamentc a constituição da Igreja; e que
a segunda parte deduz alguns meios para a consecução da união
com os orientais dissidentes, sem que se pretenda entrar no
assunto do esquema sôbre a Igreja. O projeto — precisa por fim
a declaração — dirige-se diretamente a todos os católicos, exor­
tando-os a empregarem os meios nêle propostos, para fomentar
e mesmo conseguir a união com os irmãos dissidentes do Orien­
te- — Teve então lugar a operação de voto. Os resultados pu­
blicados no fim da sessão foram os seguintes: Sôbre 2.160 vo­
tos houve 2 .138 placet, 15 non placet e 7 nulos. — Depois foi
dada a palavra aos Padres inscritos para hoje. Em geral reco­
nheceram que o projeto encerra um núcleo substancialmente vá­
lido e aceitável. Não faltaram, contudo, observações que subli­
nhavam a necessidade de uma reelaboração mais ou menos pro­
funda de cada uma das partes, principalmente da primeira,
assim como a necessidade de uma contextura mais unitária e
homogênea de todo o projeto. Observou-se que foram prepara­
dos três esquemas que tratam mais ou menos do mesmo assun­
to: o redigido pelo Secretariado para a União dos Cristãos, um
capitulo apresentado pela Comissão Teológica e êste, elaborado
pela Comissão das Igrejas Orientais. Os três documentos — afir-
niou-se — dizem respeito a aspectos diferentes de um mesmo
problema, e, portanto, convém que os três organismos que se
ocuparam de sua elaboração se reúnam para redigirem um tex­
to único. Este deve expor, de maneira homogênea e unitária, os
múltiplos aspectos doutrinais, pastorais, litúrgicos e psicológicos
do problema, e sugerir os meios mais oportunos e idôneos para
o resolver. Vários Padres Conciliares notaram que as premissas
teológico-doutrinais do projeto estão formuladas de maneira de­
masiado áspera e peremptória, sem espírito ecumênico, e que po­
dem indispor os irmãos orientais separados, a quem principalmente
se dirige. Outros apelaram, ao contrário, para a necessidade de
evitar todo o falso irenismo, afirmando que a união com os
irmãos separados não se deve procurar pelo silêncio ou redu­
ção das verdades de ordem dogmática, mas pela exposição se­
rena c clara da doutrina católica, embora sem polêmicas. Do
ponto de vista histórico, notou-se que o projeto não põe suficien­
temente em evidência a mútua responsabilidade histórica, no que
sc refere à procura dos meios e dos modos de união. Católicos
2H III. Crônica das Congregações G erais

c ortodoxos, todos têm os seus motivos, e sobretudo culpas de


omissão, que exigem a revisão das respectivas posições e a cor­
reção dos erros do passado. Os encontros entre a hierarquia ca­
tólica e representantes das comunidades cristãs não-católicas po­
dem contribuir, segundo a experiência, dos bons frutos prove­
nientes do conhecimento recíproco e da útil colaboração, para
alcançar objetivos comuns de caráter prático. Recom endou-se
maior cautela no uso de termos que podem ofender a sensibili­
dade dos orientais. Outros Padres puseram ainda em evidência
que o problema da união com os irmãos separados do Oriente
apresenta aspectos muito diferentes do da união com os protes­
tantes. Dêle portanto se deve distinguir com nitidez. De fato,
os elementos que unem a Ig reja C atólica e a Igreja O riental se­
parada são muito mais válidos do que os que as dividem. A
Igreja Oriental, afirmou-se depois, deve a sua origem, desenvol­
vimento, organização e liturgia aos Apóstolos que a fundaram
e aos Padres dos primeiros séculos, sem dever nada, histórica-
mente, à Igreja Latina Romana. E ’ uma realidade que se deve
ter em conta no contacto com os irmãos dissidentes do Oriente
e que deve sugerir a máxim a cautela e respeito pelas suas tra­
dições e seus ritos. E ’ necessário garantir-lhes que a união não
importará uniformidade. A busca e a adoção dos meios mais
idôneos e eficazes para favorecer a união constitui sério e ur­
gente empenho a que é preciso dedicar-se com espírito generoso
e compreensivo, capaz de superar todos os m al-entendidos de
caráter histórico e contingente, criados em boa parte pelas pai­
xões e fraquezas humanas. Recomendou-se também máxima pru­
dência no estudo do assunto para evitar os erros do século
passado. Seria perigoso sim plificar o problema e menosprezar
as dificuldades que enchem de obstáculos o campo da união.
Com o fim de esclarecer que o projeto examinado se refere ex­
clusivamente ao problema da união com os dissidentes orientais,
sugeriu-se dar ao projeto o titulo: "sôbre a Unidade dos
C ristãos".

Usaram da palavra:
478 — Cardeal Jaim e D E BARRO S CAMARA, Arceb. do Rio dc
Janeiro, no Brasil.
479 — Máximo IV SAIGH, P atriarca de Antioquia e de todo o
Oriente (falou em francês e depois todo o discurso foi repetido em la­
tim ): pensa que o texto pode servir de base para a discussão. Lembra
que três Comissões Preconciliares prepararam três textos quase sôbre
o mesmo assunto; tudo isso deveria ser unido num só documento que
Unidade da Igreja 2 15

poderia ter o titulo "D e Unione Christianorum”. O título do presente


£ 2 K S f a a r da fala apenas dos meios parada u r£
dade. Propoe então uma serie de emendas. Insiste, entretanto, na con­
veniência de tratar o problema da união com os Orientais separada­
mente, pois apresentam aspectos nitidamente distintos dos protestantes
c .. 480 T ^ r.imo_ PRINCIPI, Secretário da Sagrada Congregação da
Fábrica de Sao Pedro: a parte dogmática dêste esquema está também
no De Ecclesia . Historia a seguir os esforços unionísticos de Leão
XIII e as grandes dificuldades de então. Propõe adiar a discussão do
presente esquema e debatê-lo juntamente com o outro sôbre a Igreja.
481 - Antônio PAWLOWSKI, Bispo de Wladislávia. na Polônia:
fala da evolução dos ritos e indica normas para sua manutenção. Lem­
bra os perigos do falso irenismo (exemplo: por vêzes alguns insistem
excessivamente na culpa dos latinos).
482 Filipe NABAA, Arceb. dos melquitas de Beirute e Gibail,
no Líbano: "Schem a in sua forma mihi nonnisi iuxta modum placet”.
Concede que a questão da união com os Orientais difere muito do mo­
vimento unionístico com os protestantes Ocidentais. Deseja que o es­
quema indique meios mais concretos, como: possibilitar maior colabo­
ração com os ortodoxos no campo social, festas comuns, maior be­
nignidade na communicatio in sacris e nos matrimônios mistos. Demo­
ra-se no conceito do “retôrno” : também os católicos devem retornar aos
ortodoxos, falando com êles, inclusive reconhecendo piiblicamente sua
parte de culpa na separação.
483 — José PARECATTIL, Arceb. de Ernakulam, na índia: "Sche­
ma in genere placet”. Apresenta considerações pastorais. Não concorda
com as repetidas expressões de louvor dos ritos orientais como "ornato
da Ig reja ": não são apenas “ornatos”, mas "partes integrantes". Deve­
mos ser mais cautelosos em fazer reviver ritos antigos. Recomenda Con­
ferências Episcopais mistas c dá como exemplo a experiência dèles na
India (K erala) onde se uniram eficientemente no combate ao comunismo.
484 — André SAPELAK, Visitador dos Ucrnnianos na Argentina:
defende o esquema e julga que não é longo demais. Deseja mais clareza
na expressão "fratres separati”. Parece-lhe impossível tratar num só
documento problemas tão diferentes como Ortodoxos e Protestantes.
485 — Ambrósio SENYSHYN, Arceb. dos ucranianos de Filadélfia,
nos E E .U U .: "in genere placet” ; mas acha que pode muito bem ser
um corolário da Constituição sôbre a Igreja, evitando assim repetições
inúteis. As normas da communicatio in sacris não podem ser as mes­
mas para ortodoxos e protestantes.
486 — Antônio VUCCINO, Arceb. tit. de Apro (residente na Fran­
ça) : sua intervenção foi depois publicada integralmente (La Documen-
tation Cath. N* 1392, de 20-I-I963, col. 123-126): No presente esquema
é tratado íinicamcnte a questão dos cristãos orientais ortodoxos. Em
primeiro lugar, o leitor é imediatamente surpreendido com a escolha do
titulo, assim enunciado: Schema Decreti, etc. Poder-se-ia com razão per­
guntar se a unidade da Igreja é uma questão menos importante que
a dos "instrumentos de comunicações sociais”, que recebeu a honra não
de um simples “decreto", mas de uma Constituição. Mas passemos
adiante. Ficamos muito reconhecido a todos que elaboraram sôbre o.mes­
mo objeto não um mas três esquemas diferentes, que são o resultado do
2 16 III. Crônica das Congregações G erais

trabalho da Comissão Teológica, da Comissão para as Igrejas Orientais


e do Secretariado para a União; êste último ainda não nos deu a co­
nhecer seu esquema. Por que motivo tão grande abundância de esque­
mas e textos? Seria um defeito de colaboração entre as mencionadas
Comissões? Não sei se meu julgamento é temerário. P o r que motivos
os Padres do Concilio se vêem obrigados a sofrer, até mesmo a expiar,
salva reverência, lacunas substanciais que poderiam ter sido evitadas se
as mencionadas Comissões se tivessem dado ao trabalho de colaborar.
Mas avancemos, não obstante, em paz, armados com paciência, para ouvir
longos discursos sôbre um só tema infelizmente recortado. P o r que êste
desperdício de um tempo tão precioso? Nesta assem bléia, dez minutos
valem quinhentas horas.
Sob o título De Ecelesiae unitale, propomos coordenar quatro capítu­
los que tratem da doutrina católica sôbre a unidade da Igreja, da dou­
trina das ig rejas orientais e das igrejas nascidas da Reforma sôbre o
mesmo assunto. Num quarto capitulo se trate do ecumenismo tal como
é praticado em tôdas as ig rejas cristãs, católicas ou não. Em outras
palavras, é desejável que seja elaborado um nôvo esquema sôbre a
unidade da Igreja no sentido indicado, mas, desta vez, com a colabo­
ração das três mencionadas Comissões ou simplesmente com a colabora­
ção da Comissão para as Igrejas Orientais e do Secretariado para a
União. O esquema teria um epilogo condigno se lhe acrescentássem os
o número 6 da Constituição sôbre Nossa Senhora, ao qual se deu o
título: “Maria sanctissim a fautrix Ecelesiae unitatis’’.
Observações gerais: Excetuados os três prim eiros números, nos ou­
tros se trata exclusivamente do aspecto puramente jurídico ou institu­
cional da Igreja, unidade que hoje chamamos de social ou estrutural.
Com efeito, mais de doze vêzes em poucas páginas reaparecem as pa­
lavras autoridade, jurisdição, poder judicial, poder de governo, poder
repressor, que são atribuídas à lgTeja e ao Chefe Supremo da Igreja.
Não há nenhuma dúvida de que tudo isso é necessário; entretanto, segundo
a vontade de Cristo, deve servir como meio para santificar os membros
do Corpo Místico de Cristo. Ademais, não é sem viva ansiedade que nos
perguntamos em que medida uma descrição puramente jurídica da unida­
de da Igreja poderia contribuir para o diálogo com os irmãos ortodoxos
e protestantes. Queirais, Veneráveis Irmãos, perdoar-me se ouso comu­
nicar-vos minha profunda convicção. Penso que a prim eira parte do De­
creto sôbre a unidade da Igreja, longe de alimentar o diálogo ecumênico,
será antes um sério obstáculo e, por conseguinte, é dc todo estranha ao
sentido ecumênico que queremos dar a êste Concilio.
Observações particulares: Depois de um convívio dc mais de trinta
anos na península balcânica, onde pude conhecer os muito amados
irmãos ortodoxos [como Bispo latino de Corfu], estou para atestar,
em virtude de uma experiência inteiramente pessoal, que a descrição da
unidade da Igreja, tal como está exposta no presente Decreto, não so­
mente não suscitará a minima benevolência no meio dos irmãos ortodo­
xos, mas, ao contrário, produzirá nêles uma repulsa quase instintiva.
Entendamo-nos, porém. Não é questão de modificar a doutrina, mas o
modo de apresentá-la aos nossos irmãos. Tem os o costume, nós os la­
tinos, herdeiros do Concílio de Trento, de afirmar com particular in­
sistência, por vêzes em têrmos agudos, a autoridade e o poder da Igreja
Unidade da Igreja 217

Católica e particularmente de seu Chefe. Se queremos encorajar a união


entre os cristãos, devemos evitar semelhante modo de falar e) sobretudo,
in terrogar o Evangelho onde brilha a verdade autêntica. Ora, sabemos
que Cristo hnha o costume de falar de si mesmo nestes têrmos: "Eu
sou o bom Pastor. Eu sou a porta por onde passam as ovelhas. Tenho
ainda outras ovelhas que não são dêste aprisco; e é preciso que eu as
traga; e elas ouvirão a minha voz (a voz do bom Pastor); e haverá
um so rebanho sob um só Pastor" (Jo 10,9 ss). Ora, a missão do Pastor
é constituída principalmente por aquilo que denominamos diaconia, mi­
nistério, serviço pastoral, que emana do coração do Pastor, isto é, de
seu amor às ovelhas. O próprio Cristo pergunta a Pedro: "Sim áo, filho
de João, am as-m e?" E, depois da resposta afirmativa de Pedro, Cristo
lhe diz: “Apascenta as minhas ovelhas”. Falemos, pois, aos nossos ir­
mãos nesta linguagem evangélica, que êles compreendem e que os toca.
Digamos-lhes que o primado de Pedro é sobretudo uma diaconia, um
cargo pastoral, um serviço que o chefe dos Apóstolos recebeu de Cristo
não para exercer o poder, nem para dominar, mas sobretudo para pas­
torear o rebanho de Cristo, pois, afinal, o poder jurídico de Pedro é
ordenado ao seu cargo pastoral. Esta diaconia, que emana do coração
do soberano Pastor, passa à alma de seu Vigário por comunicação do
Espirito Santo, a fim de torná-lo apto a exercer fortiter et saaviter o
cargo pastoral. Enfim, é a caridade, laço de perfeição, que, na Igreja
de Cristo, governa tudo e todos e orienta tudo, inclusive o próprio
poder jurídico, para a cdilicação do Corpo de Cristo. Esta é a imagem
verdadeira do soberano Pastor na Igreja que, com suavidade, atrai os
irmãos separados que a caridade dirige docemente ao Aprisco único de
Cristo, que é a Igreja Católica.
487 — Doróteo FERNANDEZ, Coadj. de Badajós, na Espanha: o
titulo do esquema é inepto: não dá o que promete. Passou então a
criticar numerosas passagens.
488 — Neófito ED ELBY, Arceb. aux. de Antioquia dos Melquitas:
fala da primeira parte, a doutrinária: é incompleta, superficial, mal for­
mulada c nada ecumênica. Deve ser totalmente refeito. "Redolet animo-
sitatc contra orientales”. O esquema deve começar na segunda parte
c ser incluído no De Ecclesia.
489 — Elias ZOGHBY, Vigário Patriarcal dos Melquitas no Egi­
to (fala em francês): precisamos distinguir entre Ortodoxos e Protes­
tantes. Dcmora-se então em demonstrar as grandes diferenças entre o
Oriente e o Ocidente.
490 — Sérgio MÉNDEZ, Bispo de Cuernavaca, no México: denun­
cia o defeito de coordenação. Não adianta discutir o texto sem antes
tomarmos conhecimento dos outros preparados pelo Secretariado para
a União dos Cristãos. O que temos em mão peca por jurisdicismo. E ’
um monólogo e não foi redigido no espirito do diálogo ecumênico. —
Propõe ainda que, na próxima Sessão, em vez de 2.500 Bispos, se reúnam
apenas 250, cada um representando dez; haja então Aula menor e tra­
dução simultânea.
491 — Félix ROMERO, Bispo de Jaén, na Espanha: louva o texto.
Apresenta uma série de emendas.
2 18 III. Crônica das Congregações G erais

492 — Atanásio HAGE, Superior Geral da Ordem B asiliana de São


João Batista: “in se et generaliter consideratum omnino placet”. O assun­
to é espinhoso. Deve ser integrado no De Ecclesia c pode ser fàcil-
mente abreviado. Pensa que se pode tratar também simuttàneamente o
problema protestante.
Estavam presentes 2.160 Padres. O trabalho terminou às 12,15.

O “Schema Decreti de Ecclesiae Unitatc: Ut omnes unum sint”


ocupa 16 páginas, não sendo dividido em capítulos, mas em 52 artigos
ou parágrafos. Os primeiros onze artigos resumem em breves linhas a
doutrina católica sôbre a unidade da Igreja, que não pode ser puramente
invisível, nem deve ser confundida com uniformidade. Infelizmcnte esta
unidade não existe entre todos os que se dizem cristãos, o que traz
grande prejuízo para a Igreja de Cristo. E is por que o Concilio faz um
apêlo a todos os cristãos indistintamente para que envidem todos os
esforços no sentido de restabelecer a unidade, enumerando a seguir
meios de ordem sobrenatural, teológica, litúrgica, canônica, disciplinar,
psicológica c prática.
Meios sobrenaturais: a oração, a devoção a M aria Ssm a. e a reno­
vação e reforma interna das alm as. Insiste-se de modo especial na fôr-
ça e na necessidade absoluta da oração, já que reconhecidamente a cau­
sa da união não poderá ser resolvida com meios puramente humanos.
O que os homens arruinaram, só Deus poderá reparar. Não menos se
insiste na urgência da reforma das alm as individualmente: sem êste
exemplo de vida cristã não poderá a Igreja esperar atrair os separa­
dos, ser o “signum levatum in nationibus”.
Meios teológicos: é preciso reconhecer, teórica e pràticamente, que,
embora seja uma só a verdade católica, sua exposição sistemática e sua
compreensão teológica pode contudo variar e de fato varia muito da
Igreja Ocidental para a Oriental. São duas culturas diferentes, que ne-*
cessàriamente têm seus reflexos na intelecção da verdade revelada. Res­
peite-se, pois, um sadio e necessário pluralismo teológico, não querendo
impor aos orientais o que é explicação teológica latina e tendo também
na devida conta a contribuição que a Teologia Oriental pode trazer
para a penetração do depósito da fé.
Meios litúrgicos: dada a grande predileção dos Orientais pela Li­
turgia é preciso que nós, os latinos, reconheçamos a venerabilidade e
a beleza dos ritos orientais. Não se trata apenas de tolerá-los, mas
devemos considerá-los como patrimônio da Igreja Universal. Não temam
os Orientais que, retornando a Roma, tenham que sacrificar ou aban­
donar sua Liturgia plurissecular.
Meios canônicos e disciplinares: similarmente ao que sucede na Li­
turgia, também a disciplina do clero e do povo oriental é um patrim ô­
nio que jam ais deverão sacrificar, voltando à Unidade.
Meios psicológicos: antes de tudo, relações de cordialidade e de
caridade fraterna entre ocidentais e orientais. O cisma não é culpa ex­
clusiva dos orientais. E ’ preciso reconhecê-lo com humildade c lembrar-
se da^ palavra do Senhor: “Quem estiver sem pecado atire a primeira
P ^ r a ” (Jo 8,7). Os historiadores, a expor a história do cisma, sejam
objetivos e evitem ofensas. Já que também a ignorância mútua é funesta
Unidade da Igreja 219

para a causa da Unidade, cuide-se dc entabular diálogos fraternos entre


teólogos de uma e de outra Igreja, diálogos que os Bispos devem pro­
mover, dirigir e supervisionar.
Meios práticos: cuidem os Bispos de despertar no seu clero e nos
fiéis um vivo interésse pela união com os Orientais. Os sacerdotes se­
jam formados, desde o Seminário, numa atmosfera de compreensão, ca­
ridade e vivo interesse pela causa da união; sejam instruídos já no Se­
minário sóbre a Teologia Oriental. Particularmente os que trabalham no
Oriente, não o façam sem antes ter estudado bem a Teologia Oriental.
Funde-se, possivelmente em Roma, um Instituto Oriental Superior, aberto
também para os estudantes acatólicos.
Term ina o esquema colocando as condições que a Igreja Católica
fará, caso os Orientais queiram voltar. Para os que nasceram na Igre­
ja Ortodoxa, basta que aceitem uma profissão de fé geral, que conte­
nha as verdades principais e a doutrina da igreja sóbre a Unidade, não
sendo necessária nenhuma abjuração. Esta só se imporá aos que, ha­
vendo sido católicos, passaram deliberadamente para a Igreja ortodo­
xa. Garante-se a todos os clérigos, regularmente ordenados na Igreja
Ortodoxa, o reconhecimento da validez de sua ordenação c a conserva­
ção do grau ou dignidade hierárquico que antes possuiam. Ninguém
pense, além disso, que a disciplina atualda Igreja com relação aos
Orientais seja decisiva e irreformável. Há uma série de pontos nos
quais a Igreja Católica pode e está disposta a renovar-se, de modo a
permitir aos que regressam sentirem-se como em casa própria.
28-11-1962: Vigésima Nona Congregação Geral.
A Unidade da Igreja.

S o b a p r e s id ê n c ia d o c a r -
deal Gabriel Tappouni, Patriarca dos sirios de Antioquia, efe-
tuou-se hoje a 29* Congregação Geral do Concilio. A missa de
abertura dos trabalhos foi celebrada pelo Arcebispo de Adis
Abeba na Etiópia Mons. Asrate M aria Yemmeru, em rito etió­
pico, que tem como característica a intensa participação dos
fiéis por meio de um contínuo diálogo com o celebrante. Os
cantos da sagrada liturgia foram executados pelos alunos do
Colégio Etiópico. Terminado o santo sacrifício, o celebrante en­
tronizou na Aula Conciliar o Evangelho, ao som de música etió­
pica, ritmada com tambores. Antes de se iniciarem as discussões
sôbre o projeto estudado, o Secretário Geral anunciou ao Ple­
nário que, durante a sessão de hoje, seria distribuído aos Padres
Conciliares um texto com nove pontos do capítulo primeiro do
projeto sôbre a Liturgia, reelaborados pela Comissão Litúrgica
segundo as observações m anifestadas pelos Padres Conciliares.
Na Congregação Geral de sexta-feira próxim a, o texto em ques­
tão será submetido à votação. Imediatamente após a com unica­
ção do Secretário G eral, começaram os debates. Os Padres Con­
ciliares que falaram na sessão de hoje pediram de nôvo a uni­
ficação dos vários projetos que se referem à Unidade da Igreja.
Embora as relações com os dissidentes do Oriente não sejam
idênticas com as do Ocidente, há contudo pontos comuns que
poderiam ser tratados de um modo uniforme. Os oradores que
se manifestaram em favor do projeto louvaram principalmente
o espírito com que o documento foi elaborado, afirmando que
a doutrina católica é nêie exposta com clareza e ao mesmo tem­
po num estilo que de nenhum modo pode ofender os dissiden­
tes orientais. O documento, como foi notado, põe em evidência
a necessidade de se recorrer aos meios sobrenaturais para a
Unidade da Igreja 221

obtenção da união e ao mesmo tempo insiste sôbre o emprêgo


dos meios humanos adequados à atual conjectura histórica. Se­
ria, pois, conveniente compor uma oração que íôsse recitada
por todos os cristãos em público e em particular, especialmentc
pelas crianças, para que estas sejam educadas no espirito da
união. E sta iniciativa, que é um sinal da solicitude dos Padres
Conciliares pela unidade da Igreja, constituiria já um dos pon­
tos concretos do Concílio. Alguns afirmaram que a primeira con­
dição para a obtenção da união desejada deveria ser remover
os obstáculos que impedem o conhecimento e a estima recípro­
cos. Outros, repetindo razões já expostas precedentemente, no­
taram que se devem evitar expressões equivocas e todo irenismo,
pois a união deve ser baseada principalmente sôbre a verdade,
embora sempre seja necessário usar uma linguagem que não
ofenda os orientais dissidentes. Por outro lado o projeto de
Constituição sôbre a Unidade da Igreja deveria ter em conta
a diversidade concreta das Igrejas Orientais dissidentes, tôdas
elas ricas de tradições antigas, de méritos no campo da evan­
gelização e de mártires da fé. Êste patrimônio religioso, histórico
e litúrgico do Oriente é um patrimônio comum da Igreja, sem
distinção de Oriente e Ocidente, pois a Igreja é uma. Para que
se possa obter a união seria ainda sumamente necessário de
ambas as partes grande espírito de humildade para reconhecer
os erros e uma grande caridade para esquecer os defeitos co­
muns. — Em sua intervenção o Cardeal Ottaviani propôs que
após a discussão do atual projeto se começasse o estudo do "de
Beata Virgine” em vez do “de Ecclesia”, por motivo de tempo.
No fim da sessão, o Secretário Geral leu um comunicado com o
qual se convidava a Assembléia a dedicar a Novena em honra
da Imaculada Conceição à oração pelos Bispos da Igreja, presen­
tes ou não ao Concilio, e por todo o povo cristão. A Assembléia
terminou os trabalhos às 12,20. Nela achavam-se presentes 2.144
Padres Conciliares. Imediatamente depois reuniu-se o Conselho
de Presidência do Concilio.

Falaram três Cardeais, um Patriarca e treze Padres:


493 — Cardeal Inácio Gabriel TAPPOUNI, Patriarca dos sirios em
Antioquia (e hoje Presidente por turno): explica o sentido e a finalida­
de do esquema. O título será mudado, mas o conteúdo "servandum
omnino erit”. . ,
494 _ Cardeal Francisco SPELLMAN, Arceb. de Nova York, nos
EE U U .: fala da "vera Ecclesia”, que é uma só e com a qual tôdas
as outras devem estar unidas. Lembra que, no esfôrço unionistico, de-
222 III. Crônica das Congregações G erais

vemos insistir sobretudo nos meios sobrenaturais, a oração c a inter­


cessão da Ssma. Virgem. Chama outra vez atenção para o falso ire-
nismo. "Schem a placet". .
495 — Cardeal Alfredo O TTAVIAN I, Secretário da Suprema Con­
gregação do Santo Oficio: “Schema in suo complexu mihi placet”.
Propõe algumas correções. D eseja que se faça um só documento con­
ciliar relacionado com a união dos cristãos, em bora reconheça as gran­
des diferenças entre ortodoxos e protestantes. Passa então a criticar a
ordem do dia: “ fere ridiculum cst” querermos discutir ainda nesta Prim a
Sessio a Constituição De Ecclesia, que é longa, com muitas questões
de grande importância. Seria impossível terminá-la nesta etapa conci­
liar. Propõe por isso começar logo com o debate sôbrc Nossa Senhora,
como aliás ficara decidido na semana passada (e êle se declara sur­
preendido e maravilhado com a nova m udança). Poderíamos dar assim
ao mundo um "spectaculum concordiae”, ainda mais porque amanhã co­
meçará a novena da Imaculada. T eria assim o Papa, na Festa do
dia 8 de dezembro, a alegria de promulgar um texto sôbre nossa Mãe
Celeste. Apela então aos Bispos m issionários, aos orientais, aos que
têm Santuários marianos em suas dioceses c a todos os que amam a
Santíssima Virgem para que apoiem sua proposta.
496 — Patriarca Paulo III CHEIKHO, dos caldeus de B abilônia:
“Schema valde mihi placet". Defende o texto como preciosa instrução
aos católicos sôbre o melhor modo de trabalhar para a União. Pede
ainda que o Concilio faça compor uma oração especial pela União dos
Cristãos, que possa ser rezada por todos, católicos ou não, em público
e em particular, também nas escolas pelas crianças. No fim dirige seu
discurso diretamente aos Observadores c Hóspedes não-católicos pre­
sentes na Aula Conciliar.
497 — José TAW IL, Arceb. e Vigário P atriarcal dos melquitas de
Damasco: critica algumas passagens que não lhe parecem concordar
com o espirito do diálogo ecumênico. Descreve a situação real das
Igrejas Orientais unidas, que deveriam, no Oriente, ser um exemplo para
as outras quando se decidirem à União. D eclara que, assim como está
a situação real, dificilmente as outras se sentirão atraídas. "Schem a
iterum elaborandum et quidem profundius cum Secretariam Unionis”.
498 — João VELASCO, Bispo de Hsiamen, na China (exp u lso):
“mens et propositum huius Schematis omnino placent”. Não lhe agrada,
porém, o modo: “indulgere videtur nimis irenismo” (acha que não se
insiste bastante no Prim ado e na Autoridade do Romano Pontífice).
De maneira nenhuma devemos acusar os Latinos como co-culpáveis pela
separação. "P lacet iuxta modum".
499 — Marcelino OLAECHEA, Arceb. de Valência, na Espanha:
denuncia passagens "menos exatas ou até errôneas".
500 — José KHOURY, Arceb. dos maronitas de T iro , no Líbano:
declara falar em nome de “alguns Bispos orientais”. O esquema não
só não se dirige a todos os não-católicos, mas nem mesmo vale para
os vários ramos de ortodoxos (que são muito diferentes entre s i). A
união não deve fundar-sc sôbrc os unidos mas sôbre a realidade. E ’
muito vigoroso na critica do texto. No fim recebe aplausos do plenário.
501 — Miguel DARMANCIER, Vigário Apostólico das Ilhas W al-
lis, na Nova Calcedônia: o esquema deveria falar com mais humildade;
Unidade da Igreja 223
é excessivamente "rom ano". Devemos confessar
na aenararãn
na separação. 1 nossa parte de culpa
502 - Domingos HOANG VAN DOAN, Bispo tit. de Saccea íViet-
i) : o texto deve ser menos __ ° saccea (viet

vviiiuooai
confessar iiuooa
nossa culpa na aeparaçao.
separação.
• 505 . T J osé K0 ESTN ER, Bispo de Gurk, na Áustria: recomenda
mais cuidado para nao darmos terreno à suspeita de que estamos tra­
tando de coisas políticas.
506 — Alfredo ANCEL, Bispo auxiliar de Lião, na França: dis­
corre sôbre a necessidade de humildade e abnegação para a União.
Humildade não é renúncia da verdade, seja ela de fé, seja de história;
não obsta a que amemos a Igreja, que em si é santa, mas em seus
membros pode ter rugas e máculas; não é fingida c por isso confessa
sua culpa e seus defeitos. O plenário aplaudiu com palmas.
507 — Miguel ASSAF, Arceb. greco-melquita de Petra, na Jordânia
(fala em fran cês): o esquema é um dos mais importantes propostos à
discussão conciliar. Aprova-o em seu conjunto. Critica passagens. Lem­
bra que, de fato, no Oriente a Igreja se apresenta como Latina.
508 — Jorge DW YER, Bispo de Leeds, na Inglaterra: pergunta:
para quem foi escrito o esquema? Para os latinos? então é supérfluo.
Para os Orientais? então é inepto. Para os Orientais Roma não é Mater
(pois dela nada receberam) e há tempo deixou de ser Magistra. Já tra­
balhamos dois meses e não vemos resultados...

As emendas do Proêmlo.

No UOsservatore Romano de hoje, 28-11-1962, encontro um pequeno


artigo assinado por Benvenuto M a t t e u c c i , intitulado: "O Proêmio
emendado do Esquema Litúrgico". Eis suas informações oficiosas:
Poderá interessar alguma noticia sôbre as emendas ("emendatio-
nes”) propostas pela Comissão Conciliar “De Sacra Liturgia" e apro­
vadas pelos Padres no tocante ao Proêmio. O processo pressupõe que
seja remetido aos Padres Conciliares, de uma parte, o texto na sua pri­
mitiva redação original, com as relativas notas; e, de outra parte, o
texto emendado, com as modificações pedidas e integrações. Confrontan­
do os dois textos, o original e o outro emendado, no qual sc condensam
horas de discussão e de trabalho, parece quase impossível que modifica­
ções mesmo leves tenham requerido tanto tempo, tanto cuidado. A pri­
meira impressão, com efeito, é justamente oferecida por uma exatidão
redacional, por uma pontual atenção, típica de fôda Constituição, e so­
bretudo de uma Constituição conciliar. Variações, em aparência minimas,
224 III. Crônica das Congregações G erais

diremos insignificantes, têm uma im portância própria, um valor próprio.


A substituição de um têrmo, uma correção gram atical ou sintática, a
atenuação de uma expressão conceptual, a passagem do abstrato ao con­
creto, a eliminação de uma frase, estas e outras emendas só um super­
ficial poderia im aginá-las uma pedanteria rcdacional. A Igreja, mãe da
Palavra, mais do que qualquer outra sociedade, tem o respeito dos têrmos
que exprimem o pensamento e a realidade, sobretudo quando pensamen­
to e realidade são o depósito sagrado da Revelação ou o instrumento da
oração c da espiritualidade litúrgica. Na sua longa experiência, ela
sabe quanta e qual responsabilidade pode encerrar-sc numa palavra,
numa simples expressão. Numerosos exemplos oferece a propósito a his­
tória dos Concílios, a história das heresias e dos cismas. M uitas vèzes
as escolas, os sistemas teológicos, por tonalidades term inológicas distin­
guem-se entre si, diversificam-se. Necessário se faz, por isto, um processo
diligente, acurado, meticuloso. Num texto sagrado como o da legislação
conciliar, que implica, juntamente com diretivas c normas práticas, um
conteúdo teológico, as expressões devem formular-se com uma exatidão
formal que traduza e comunique, na sua inteireza, a doutrina e o ma­
gistério da Fé. Insistimos nestes pontos salientes preliminares no intuito
de advertir que não se trata somente de uma precisão verbal e formal,
mas também de uma terminologia e de uma forma que tim um nexo
Intimo e solidário com verdades teológicas, doutrina comum da Igreja,
ou com verdades definidas e de fé divina e católica. P o r isto as Co­
missões Conciliares procedem com lentidão. Não devem tanto avaliar,
joeirar, confrontar pareceres pró e contra, sopesá-los, elidi-los quando
sejam da mesma entidade numérica, quanto devem inseri-los no texto
proposto, de modo a integrar e modificar êste sem transtornos substan­
ciais, quando êstes não sejam postulados, requeridos para uma revisão
e uma reelaboração como no caso do esquema sôbre as fontes da Re­
velação. Quem, graças a razões de estudo, está afeito às Constituições
conciliares compreende como uma explicitação doutrinária ou qualquer
outra emenda possa dar lugar a um aprofundamento, a uma orientação,
a abrir novos caminhos, a dar encaminhamento a particulares indaga­
ções e introspecções.
Pressuposto isto, passemos ao esquema litúrgico emendado, isto é,
ao Proêmio. Teve-se em conta, antes de tudo, dissipar obscuridades e
equívocos, oferecer um texto que, ao mesmo tempo que favorecesse a
vida litúrgica, fôsse dispositivo para a unidade. Por isto, à expressão
ad unionem fratnim separatorum substituiu-se estoutra: ad unionem
omnium in Christo credentium. Eliminou-se também a expressão de não
pretender o Concílio formular e apresentar nenhuma definição dogmática
(dcclarat se in praesenti Constitution nihil vcllc dogmatiee definire),
talvez para que os Padres tenham maior liberdade para uma reforma
que não considere sómente as rubricas, mas também os elementos da
liturgia que não são de instituição divina. Declarou-se que as normas
práticas da constituição só concernem, em principio, ao rito latino, em­
bora podendo também aplicar-se aos outros ritos (têrmo genérico em
lugar da primitiva expressão "ritus orientales et occidcntales”). Afirmou-
se que a Igreja aceita e venera todos os ritos legitimamente recebidos e
reconhecidos, insistindo sôbre as "normae practicae”. D as notas, talvez
por se tratar de uma Constituição conciliar, tirou-se a referência à
Unidade da Igreja 225

Mediator Dei, cuja doutrina constitui o fundamento teológico do esquema


inteiro, preferindo-se fontes imediatas tanto litúrgicas como bíblicas. Ou­
tras pequenas modificações parece-nos salientarem uma preferência por
expressões concretas (por exemplo, eos qui intus sunt, quando se fala
da Liturgia que edifica a Igreja; e de substituições como forís em lugar
dc extra. A doutrina do proêmio litúrgico pode sintetizar-se na intenção
do Concilio de aumentar a vida cristã dos fiéis, de tornar as institui­
ções mais conformes às necessidades, favorecendo tudo o que concorra
à união dos crentes em Cristo Jesus, para conduzir todos à sua Igreja.
Para êste fim, afirma êle, contribui a Liturgia, que, por isto, se deve
instaurar e favorecer. A liturgia, com efeito, enquanto no Sacrifício
Eucarístico renova a obra da redenção, o próprio mistério de Cristo,
permite aos fiéis reviverem a autêntica vida da Igreja, na qual o visível
é o cúmulo de realidades invisíveis, o humano é ordenado ao divino, a
contemplação é ordenada à ação, dc modo a apresentá-la como “signum
levatum in nationes” para reunir num só redil, sob um só Pastor, os
dispersos filhos de Deus. Por isto o Concilio estabelece princípios para
todos os ritos, e normas aplicáveis de modo particular ao rito romano,
declarando que, fiel à tradição, a Igreja entende sejam conservados e
favorecidos todos os ritos reconhecidos legítimos, com as modificações
que "cautc” se julgue possam oferecer-lhes nôvo vigor, em relação às
atuais necessidades, todavia sempre na linha de uma sã tradição. Êste,
em substância, o sentido do proêmio emendado. Outros esquemas emen­
dados serão submetidos aos Padres, e ter-se-ão outras votações. O eco,
apenas extinto, das discussões conciliares revive nas emendas, das quais,
uma vez aprovadas, ter-se-á o texto definitivo da Constituição liturgica.

Concilio l i — u
30-11-1962: Trigésima Congregação Geral.
A Unidade da Igreja.

C e l e b r o u a s a n t a m is s a
desta manhã na Aula Conciliar o Bispo de Namur na Bélgica
Mons. André Charue. Imediatamente após, o Evangelho foi en­
tronizado pelo Arcebispo de Florianópolis, Dom Joaquim D o-
mingues de Oliveira. No principio da sessão de hoje, que foi
presidida pelo Arcebispo de Nova York Cardeal Spellman, os
Padres Conciliares votaram as emendas dos nove primeiros pon­
tos do capitulo primeiro do projeto sôbre a Liturgia. Explicando
ao Plenário os critérios adotados pela Comissão Litúrgica na
apresentação das emendas, Mons. José Martin, Bispo de Nicolet
no Canadá, declarou que das 59 emendas sugeridas pelos P a ­
dres Conciliares sôbre os pontos em questão só 9 eram de real
valor e portanto só estas eram submetidas à votação. Dez foram
consideradas de menor importância e as demais 4 0 referiam -se
apenas ao estilo e portanto não seriam votadas. Procedeu-se,
então, à operação de voto. Os resultados, publicados no fim da
sessão, foram os seguintes:

Votaram Maioria Placei Non placet Nulos


1’ ponto: 2 .145 1.430 2.0 9 6 41 8
2» ponto: 2.143 1.430 2.103 34 6
3’ ponto: 2 .139 1.426 1.984 150 5
4» ponto: 2.135 1.423 2 .113 13 9
5’ ponto: 2.125 1.418 2.0 4 9 66 10

Os resultados da votação dos outros 4 pontos serão publicados


na sessão de amanhã. Nas intervenções de hoje houve manifes­
tações favoráveis à redação de um projeto que trate exclusiva­
mente da Unidade dos Cristãos. £ ste assunto é de importância
tal no mundo moderno que seria sumamente conveniente que
Unidade da Igreja 227

o Concilio o pusesse em evidência com um documento especial


Deve notar-se que precedentemente muitos oradores se tinham
manifestado por uma integração de todos os três projetos que
tratam do mesmo assunto, embora sob pontos de vista diversos,
numa única Constituição. Os oradores que usaram da palavra
esta manhã louvaram quase todos o projeto sôbre a Unidade
da Igreja, em suas linhas gerais, não deixando, porém, de su­
gerir modificações de outros pontos particulares. Uns, por exem­
plo, observaram que o problema da União deve ser estudado
não nos livros mas na vida concreta de hoje, de um modo rea­
lístico e não romântico, sempre com a intenção de se encontrar
um verdadeiro equilíbrio entre o desejo tão louvável de ecume­
nismo e a necessidade de salvaguardar os princípios imutáveis
da doutrina católica. Se, por um lado, os católicos cometeram
erros, sob o ponto de vista histórico, por outro de nenhum mo­
do o cisma, teològicamente considerado, pode ser imputado à
Igreja. Houve também quem insistisse sôbre a necessidade da
caridade, como base fundamental da união. O projeto sôbre a
Unidade da Igreja, como se afirmou hoje, foi elaborado com a
intenção de preparar um decreto conciliar que, convidando os
dissidentes do Oriente à união, manifeste claramente como os
católicos estão decididos a trabalhar pela causa da unidade. Para
isto deve-se ter em conta que a doutrina católica, embora per­
maneça imutável, pode ser apresentada de modos diversos, se­
gundo as exigências das pessoas e dos tempos. Os que se ex­
pressaram por uma reelaboração do projeto, no sentido de que
êste abranja também os dissidentes do Ocidente, aduziram como
argumento o fato de que existe para ambos os grupos separa­
dos um único Secretariado presidido por um único Cardeal.
Observaram também que se concluirá em breve o primeiro pe­
ríodo conciliar sem que fôsse estudado de um modo explicito
o problema do protestantismo. Mesmo assim — como outros no­
taram — os Observadores protestantes puderam constatar com
satisfação durante as sessões assistidas, o interêsse da Igreja
Católica pela união dos cristãos e a grande liberdade de ex­
pressão dos Padres Conciliares em manifestar as próprias opi­
niões e em relatar as próprias experiências. No. fim da sessão,
o Secretário Geral, em nome da Presidência, submeteu à vota­
ção do Plenário o encerramento dos debates sôbre o documento
estudado. Todos os Padres presentes manifestaram-se a favor
da moção. — Não tendo sido aceita a proposta formulada pelo
228 III. Crônica das Congregações G erais

Cardeal Ottaviani na sessão precedente de se estudar im ediata­


mente após o projeto sôbre a Unidade da Ig reja o esquema sôbre
Nossa Senhora, o Secretário G eral anunciou ao Plenário que
amanhã, dia 1’ , se iniciaria o exame do projeto sôbre a Igreja.

Sôbre o projeto falaram hoje 2 Cardeais c 13 outro9 Pad res:


509 — Cardeal Estêvão W YSZ YN SK I, Arceb. de Varsóvia, na Po­
lônia: "Schema videtur generaliter bonum et optime disiungitur a Sche-
mate De Ecclesia”. Louva os esforços unionistas. Justifica a diversidade
de esquemas sôbre assuntos afins. Propõe pequenas correções.
510 — Cardeal Agostinho BEA, Presidente do Secretariado para a
União dos Cristãos: fala da origem e finalidade do presente projeto.
“In genere valde placet”. Acha que deve ser mantido como documento
separado, tirando algumas coisas que são objeto também de outros
textos.
5 1 1 — Manuel TRIN DADE SALG UEIRO , Arceb. de Évora, em
Portugal.
512 — Máximo HERMANIUK, Arceb. dos ucranianos de Winnipeg,
no Canadá: deseja um só documento sôbre a união. Propõe emendas.
513 — Eftimio YOUAKIM, Bispo dos mclquitas de Zaleh e Furzol,
no Líbano: louva o texto e lhe dá “ plena adesão” ; apenas algumas
correções.
514 — Abílio VAZ DAS N EVES, Bispo de B ragança e Miranda, em
Portugal: disserta sôbre a caridade como principal meio para a união.
515 — Francisco FRANIC’, Bispo de Spálato, na Jugoslávia: lem­
bra a experiência de sua nação, onde há muitos ortodoxos e declara
que o problema deve ser resolvido não na base dos livros mas no fun­
damento da realidade. Louva o texto como bem equilibrado. Agrada-
lhe também que só trate dos ortodoxos, pois os protestantes são con­
siderados hereges também pelos ortodoxos, que não permitiriam um
tratamento quase em pé de igualdade com os protestantes. Critica algu­
mas passagens e sugere correções.
516 — Agostinho SÊPIN SKI, Ministro Geral dos Frades Menores
Franciscanos: aprova o esquema e propõe oito emendas.
517 — Dionisio HAYEK, Arceb. dos sírios de Alepo, na S íria : "S ch e­
ma placet”, mas tem defeitos. Sugere modificações. Fique como documen­
to separado, sem tratar do problema protestante. Lembra que o projeto
omitiu um meio sobrenatural muito importante: o recurso à Santíssima
Eucaristia como vinculo da unidade.
518 João HEENAN, Arceb. de Liverpool, na Inglaterra: demo­
ra-se em falar geniricam ente sôbre o problema da união. Lamenta a
ausência de Observadores de Constantinopla e outros grupos ortodoxos.
D eseja um texto mais breve.
519 Alexandre OLALIA, Bispo de Lipa, nas Filipinas: "placet
iuxta modum”. Deseja mais firmeza no modo de falar. Não gosta dos
modos subjuntivos: deve ser imperativo ou ao menos indicativo.
Unidade da Igreja 229

520 — José PO N T Y GOL, Bispo de Segorbc-Castellón, na Espa­


nha: algumas emendas.
521 — Rodolfo STAVERMAN, Vigário Apostólico de Holftndia, na
Nova Guiné Ocidental: já lhe parece inevitável a inserção dêste pro­
jeto no esquema De Ecclesia. Como está, o texto seria mais nocivo
que útil; é excessivamente monológico. "Spiritus humilis compunctionis
in vanum quaeritur”. Fala também da colegialidade dos Bispos, em
termos muito incisivos.
522 — Nicolau ELKO, Bispo Ordinário dos rutenos cm Pittsburgh,
nos E E .U U .: “placet”.
523 — António BUKATKO, Arceb. Coadj. de Belgrado, na Jugoslá­
via: agrada-lhe o esquema proposto.

A Assembléia, que contou hoje com a presença de 2.145 Padres


Conciliares, encerrou seus trabalhos às 12,30 horas.
1-12-1962: Trigésima Primeira Congregação Geral.
A Igreja.

P r e s id iu a congregação
Geral de hoje o Cardeal José Frings, Arcebispo de Colônia.
O Secretário Geral leu no início os resultados das votações
de ontem referentes aos últimos quatro pontos do capítulo I?
do projeto sôbre a Liturgia, dos nove submetidos à votação do
Plenário:

Votaram Maioria Placet Non placet Nulos


6’ ponto: 2.122 1.415 2.101 15 6
7° ponto: 2 .1 2 0 1.414 2 .004 101 5
8* ponto: 2 .116 1.411 2.192 19 5
9" ponto: 2.117 1.411 2.0 9 7 13 7

Imediatamente depois, em nome do Conselho de Presidência, o


Secretário Geral submeteu à votação a seguinte proposição: “T e r­
minado o exame do decreto sôbre a Unidade da Igreja, os P a ­
dres do Sacro Concílio aprovam-no como documento que encer­
ra as verdades comuns da fé e como um sinal de lem brança
e de benevolência para com os irmãos separados do Oriente.
Êste decreto, porém, segundo as observações e as propostas for­
muladas na Aula Conciliar, formará um só documento com o de­
creto sôbre o Ecumenismo, preparado pelo Secretariado para a
União dos Cristãos, e com o Capítulo XI do projeto de Consti­
tuição dogmática sôbre a Igreja, o qual trata também do ecume­
nismo”. Procedeu-se à votação, que deu o seguinte resultado:
sôbre 2.112 votos houve 2 .068 placet, 36 non placet e 8 nulos.
A seguir o Cardeal Ottaviani proferiu breves palavras apresen­
tando o projeto sôbre a Igreja. Acentuou o fato de que o texto
foi estudado durante o período preparatório do Concílio por cêr-
ca de 7 0 entre Membros e Consultores da Comissão Teológica,
A Igreja 231

verdadeiramente peritos na matéria, tendo sido depois revisto


pela Comissão Central. Por êste e outros motivos que derivam
do seu próprio conteúdo, o documento deve ser estudado com
muita diligência pelos Padres Conciliares. O projeto sôbre a
Igreja, em sua formulação atual, compreende 55 pontos distri­
buídos em 11 capítulos perfazendo um total de 90 páginas. As
notas explicativas, porém, e as citações da Sagrada Escritura
e dos Santos Padres que ocupam uma boa parte do volume,
não fazem parte do projeto pròpriamente dito. A matéria expos­
ta no documento apresentado trata da natureza e dos membros
da Igreja, do episcopado, dos religiosos, dos leigos, da autori­
dade, magistério e missão da Igreja e finalmente do ecumenismo.
Após as palavras de introdução do Cardeal Ottaviani, falou como
relator AÍons. Francisco Franic, Bispo de Spálato, na Jugoslá­
via. Expôs a matéria contida nos onze capítulos, indicou os pon­
tos que ainda constituem matéria de livre discussão e acentuou
o fato de que certas questões como o ecumenismo, o problema
dos leigos e dos religiosos, são tratadas apenas sob o aspecto
teológico, apontando só os princípios fundamentais. — Os ora­
dores de hoje louvaram o projeto em geral, seu conteúdo e es­
trutura, principalmente porque nêle se tomam em consideração
problemas que revelam o progresso dos estudos sôbre a Igreja,
tais como a Igreja como Corpo Místico de Cristo, o ecumenismo
e o laicato. Alguns acentuaram, por outro lado, a necessidade
de precisar mais o conceito de Corpo Mistico, sem contudo es­
quecer que a finalidade do projeto deve ser expor a doutrina
católica, respeitando porém tudo aquilo que é mistério. Além dis­
so observou-se que seria conveniente tratar com mais amplidão
a questão da natureza e dos limites do poder episcopal e pre­
cisar, neste ponto, os poderes das Conferências Episcopais e dos
Patriarcas. Alguns insistiram que o Concílio esclareça a posição
dos fiéis na Igreja, como povo de Deus, a cujo serviço a Hie­
rarquia deve colocar os meios de salvação. Também o problema
da liberdade de consciência foi analisado por não poucos P a­
dres, enquanto conexo com o da autoridade da Igreja e porque
vem tratado em particular num capitulo sôbre a tolerância re­
ligiosa. Finalmentc propôs-se que as questões a serem estuda­
das posteriormente em outros projetos, como o ecumenismo, o
apostolado dos leigos e os estados de perfeição, não sejam exa­
minados neste projeto De Ecclcsia. Alguns Padres manifestaram
o desejo de que o projeto seja redigido com um estilo mais
pastoral e missionário, deixando de lado alguns aspectos dema-
232 Hl- Crônica das Congregações G erais

siadamente jurídicos, pois assim poderá corresponder melhor ás


expectativas do mundo moderno. Finalmente houve quem obser­
vasse que, com a evolução dos tempos, os problemas teológicos
referentes à Igreja assumiam características novas. Enquanto no
passado foram bem determinadas muitas questões referentes à
natureza e às funções do Sumo Pontificado e da Hierarquia e
à missão salvifica da Igreja, hoje assumem notável importância
os temas do episcopado, dos leigos, do espirito m issionário da
Igreja e do ecumenismo. — F oi distribuído na sessão de hoje
um fascículo contendo outros 6 números do capítulo primeiro
do projeto sôbre a Liturgia (1 0 - 1 5 ) com as emendas aprovadas
pela Comissão competente para serem votados na sessão de se­
gunda-feira próxima. Os Padres Conciliares presentes eram 2.112.

Na sessão desta manhã falaram 6 Cardeais e 8 outros Pad res:

524 — Cardeal Aquiles LIÊN ART, Bispo de Lillc, na Fran ça: acen­
tuou o aspecto sobrenatural e misterioso da Igreja, advertindo que de­
vemos tomar cuidado para não suprimir com nossas palavras e defini­
ções o Mistério da Igreja. Pediu também muito m ais reserva na identi­
ficação da Igreja Católica com o Corpo M ístico de C risto; ôste, disse,
é “multo latius” : os celicolas e todos quantos fora da Igreja de fato
vivem na graça santificante fazem parte do Corpo M ístico, mas não da
Igreja Católica. Pede por isso que a passagem, no texto proposto, que
afirma sem mais esta identificação seja simplesmente riscada. Aliás,
“totum Schema penitus recognoscatur", para que a Igreja apareça me­
nos jurfdica e mais cheia de vida divina.
525 — Cardeal Ernesto RU FFIN I, Arceb. de Palermo, na Itália:
"Schema universe consideratum mihi placet” ; deseja, porém, que os ca­
pítulos sôbre os leigos, os religiosos e o ecumenismo sejam tirados,
podendo servir de introdução doutrinária para outros documentos prepa­
rados por Comissões especiais. Critica algumas passagens.
526 — Cardeal José BUENO Y MONREAL, Arceb. de Sevilha, na
Espanha: manifesta suas reservas com relação à identificação Igreja —
Corpo Místico. Pergunta: que valor quer o Concílio dar às suas decla­
rações doutrinárias? Vê também uma grande lacuna no esquema: não
fala do sacerdócio como tal. Também falta um capitulo sôbre a s coisas
contingentes na Igreja.
527 — Cardeal Francisco KOEN1G, Arceb. de Viena, na Áustria:
o texto deve ser mais breve; exalta excessivamente a parte puramente
jurídica da Igreja (seria melhor mostrar os benefícios que ela é capaz
de prestar); não fala bastante da índole escatológica da Ig reja ; sente
a falta de um capítulo especial "de populo Dei".
528 — Cardeal Bernardo ALFRINK, Arceb. de Utrecht, na Holan­
da: acusa o defeito de coordenação nas Comissões Preparatórias. Em
todo o esquema empresta-se mais importância ao corpo ou ao aspecto
exterior que à alma ou à vida interna e sobrenatural da Igreja. Decla­
ra-se admirado por ter encontrado um capítulo sôbre os Bispos residen-
A Igreja
233
ciais e não simplesmente sôbre os Bispos em eeral r w ; ,
posição acêrca da colegialidade dos Bispos p o K q ^ t á “í * J Z
é mu.to negativo. Fale-se também mais claramente do Magistério O rT
nino dos Bispos. O capitulo sôbre as relações entre a Igreja e o E s u ío
deve insisbr menos nos direitos (que ninguém de nós contesta) e mais
na liberdade religiosa. Propoe que a Constituição sôbre Maria Ssma « a
orgânicamente inserida neste esquema: “in medio Ecclesiae collocetur"
Conclusão: todo o texto deve ser refeito por uma comissão mista.
529 — Cardeal José R IT T E R , Arceb. de St. Louis nos EE UU •
o esquema não fala da vida da Igreja. Está todo êle viciado por èrro
de método: toma por princípio orientador mais importante uma parte
puramente jurídica c externa e pouco ou mesmo nada ensina sôbre a
santidade e a vida interna da Igreja. Todos os membros da Igreja,
absolutamente todos (e não só os hierarcas, como supõe constantemente
o tex to), têm o direito e o dever de conservar, guardar, defender, pro­
pagar e, até certo ponto, de interpretar o depósito da fé. E éste direito
não lhes é concedido por um indulto especial, mas pelo Batismo. A
Igreja é o próprio Cristo que vive em todos os Membros (não só nos
hierárquicos). “Schema ergo recognoscatur".
530 — Luciano BERNACKI, Bispo aux. de Gniezno, na Polônia:
acha que no esquema falta um capitulo essencial: de Summo Pontífice.
Insiste na nota da "Petrinitas Ecclesiae". Este Concilio deveria comple­
tar o sim bolo: " . . . et unam, sanctam, catholicam, apostolicam necnon
petrinam Ecclesiam ”.
531 — Emílio DE SM EDT, Bispo de Bruges, na Bélgica: o esque­
ma é defeituoso principalmente porque lhe falta o espirito ecuménico.
C aracteriza-se por trés qualidades: por seu triunfalismo, uma espécie
de concatenação dos triunfos da Igreja, no conhecido estilo de UOsser-
vatore Romano , "parum congruum cum realitate"; por seu clericalismo,
insistindo sobretudo na hierarquia, deixando o povo em segundo pla­
no, acentua o que é provisório e deixa na sombra o que é essencial:
"Id quod permanet est populus Dei, id quod transit est potestas hie-
rarchica” ; depois da morte, no céu, só teremos o "povo de Deus”, o
resto, a potestas hierarchica, desaparece porque tem apenas a passa­
geira função de servir e ajudar o povo: "omnis potestas in Ecclesia
est ad serviendum”. Em terceiro lugar peca o esquema por seu jurisdi-
cismo, pois não fala, como devia, da “maternitas Ecclesiae”. Dal certas
"aberrações” jurídicas e apriorlsticas que se encontram no texto (e dá
exemplos). — O orador foi aplaudido por uma salva de palmas.
532 — Marcelo L EFEBV RE, Arceb. tit. de Slnada de Frigia (Fran­
ça) : discorre sôbre o método: cada Comissão deveria elaborar dois
esquemas, um para os Bispos e teólogos, outro para os fiéis.
533 — Artur ELCHINGER, Coadj. de Estrasburgo, na França: per­
gunta: a quem se dirige o texto? Só aos Bispos e teologos? Sc fôr
também para o povo, deve ser mais pastoral. Chamou a atençao para as
novas perspectivas pastorais e ecumênicas de hoje: Ontem considerávamos
a Igreja sobretudo como instituição, hoje a sentimos como comunhão;
ontem olhávamos para o Papa, hoje consideramos mais os Bispos reu­
nidos em tôrno do Papa; ontem estudava-se o Bispo isoladamente, hoje
êle é visto no conjunto do Colégio episcopal; ontem a teologia afirmava
o valor da hierarquia, hoje ela descobre o Povo de Deus; ontem acen-
234 III. Crônica das Congregações G erais

tuávamos o que separa, hoje preferimos ver o que une; ontem a teologia
da Igreja considerava a vida interna, hoje ela se volta para o exterior.
534 _ José D’AVACK, Arceb. de Camerino, na Itália: insiste na
vida interna da Igreja.
535 — Antônio PA W LÜ W SKl, Bispo de W ladislavia, na Polônia: faz
algumas observações genéricas.
536 — Joáo VAN CAUW ELAERT, Bispo de Inongo, no Congo
(fala em nome da Conferência Episcopal de sua n a çã o ): os homens
de hoje sentem a necessidade da fraternidade e buscam-na até em asso­
ciações atéias. Ora, a Igreja deveria oferecer ao mundo um vulto sin­
cero e cristão de fraternidade. Declara que os Bispos do Congo "fica ­
ram decepcionados com o esquema” : há nêle uma "iniuriosa invocatio
iuris”, falta-lhe o aspecto alegre da boa nova, apresenta uma Igreja
estática, sem espirito missionário. Portanto: "funditus recognoscatur a
commissione mixta” (palm as).
537 — Luís CARLI, Bispo de Segni, na Itália: critica a pressa com
que se resolveu discutir o presente esquema, quando tinhamos ainda
tantos textos enviados aos Bispos meses atrás. D eclara que a preocupa­
ção ecumênica não deve influir nos debates conciliares. P a ssa então a
ridicularizar as tendências ecumênicas: já não querem mais falar sôbre
Nossa Senhora, já não se pode mais falar em heresias, já se deve evitar
a expressão "igreja militante”, já fica feio lembrar os poderes da
I g r e ja .. .

O "Schem a Constitutionis Dogmaticae De Ecclesia ” compreende exa­


tamente 81 páginas, sendo a metade texto e a outra metade notas de
esclarecimento ou de bibliografia subsidiária. Divide-se em 11 capítulos,
assim intitulados:

1. De Ecclesiae militantis natura.


2. De membris Ecclesiae militantis eiusdemque necessitate ad salutem.
3. De episcopatu ut supremo gradu sacramenti Ordinis et de sa-
cerdotio.
4. De episcopis residentialibus.
5. De statibus evangelicae acquirendae perfectionis.
6. De laicis.
7. De Ecclesiae magistério.
8. De auctoritate et oboedientia in Ecclesia.
9. De relationibus inter Ecclesiam et Statum.
10. De necessitate Ecclesiae annuntiandi Evangcliutn omnibus gentibus
et ubique terrarum.
11. De oecumenismo.

O primeiro capitulo mostra como Cristo, obedecendo ao mandato do


Pai, fundou a Igreja, para perpetuar através dos séculos a economia da
salvação e redenção de todos os homens. Depois de ilustrar os diversos
têrmos com que a Sagrada Escritura apresenta a Igreja (regnum, domus,
templum, grex et ovile, sponsa Christi, columna et fundamentum veritatis,
populus Dei, mas sobretudo Corpus Mysticum Christi), mostra que ela
é una e indivisível. Termina afirmando que o Corpo M istico de Cristo
se identifica com a Igreja católica romana. O segundo capítulo aborda
A Igreja 235

a espinhosa questão da pertinência à Igreja. Seguindo também aqui a


doutrina de Pio XII, enuncia primeiro a doutrina da necessidade de per­
tencer à Igreja para salvar-se, explanando depois como se deve entender
êste princípio. Passa depois a enunciar as condições que se requerem
para ser membro da Igreja, sempre segundo Pio X II: batismo válido,
aceitação total de tôdas as verdades da Igreja, comunhão de regime
sob o Romano Pontífice. Sendo assim, os cristãos separados não se po­
dem dizer membros da Igreja, muito embora possam a ela estar orde­
nados, o que pode ser suficiente, sob certas condições, para a sua sal­
vação. O terceiro capitulo enuncia e dirime uma questão que continuava
pendente, ao menos em parte, entre os teólogos modernos: que o Epis­
copado, não menos que o Prcsbiterato, é verdadeiro sacramento, justi­
ficando a superioridade, por direito divino, dos Bispos sóbre os Sacer­
dotes, também sob o aspecto da "potestas ordinis”. O quarto capitulo
se ocupa com o Episcopado sob o aspecto de "potestas iurisdictionis”.
Eala-se apenas dos Bispos residenciais e não dos titulares. Ilustra-se
a competência jurisdicional do Bispo como Pastor singular de sua dio­
cese e como inserido no colégio episcopal. O capitulo quinto considera
a posição singular que na Igreja ocupam os que, leigos ou sacerdotes,
cultivam a vida religiosa no seio de algum instituto de perfeição. Mos­
tra a sublimidade dc tal gênero de vida e salvaguarda contra as falsas
acusações do mundo a excelência do mesmo. Mantém também, ao menos
em principio, o direito de o Santo Padre isentar tais pessoas da jurisdi­
ção do Bispo, se o quiser. O sexto capitulo é todo éle dedicado à fun­
ção dos leigos na Igreja. Definido o conceito, passa-se a mostrar em
que forma os leigos podem participar e devem, em certas circunstâncias,
do múnus pastoral, sacerdotal e jurisdicional da Igreja e dos Bispos.
Analisa-se quais os setores principais em que convém ou se deve lançar
mão dos leigos na difusão do reino de Deus. O sétimo capitulo aborda
o Magistério da Igreja: sua natureza e existência na Igreja, seu objeto
primário e secundário, seus detentores e instrumentos subsidiários. O
oitavo capitulo trata uma questão atualíssima: autoridade e obediência
na Igreja. M ostra-se primeiro qual o fundamento da autoridade e da
correlativa obediência. Ilustra-se depois o que se deve entender por li­
berdade e opinião pública na Igreja, indicando-se também seus limites.
O nono capitulo procura esclarecer as questões que se prendem ao bi­
nômio Igreja e Estado, quais as relações mútuas, quais os direitos e os
deveres de uma para outro. O décimo capitulo está-lhe intimamente coli­
gado, já que trata do dever e do direito que a Igreja tem de difundir
o Evangelho entre todos os povos, em todos os tempos. Detém-se a
expor os deveres que em decorrência dêste direito inalienável da Igreja
impendem a qualquer Estado, mesmo não-católico ou pagao. O ultimo
capítulo fala do ecumenismo.
3-12-1962: Trigésima Segunda Congregação Geral.
A Igreja.

P r e s id iu a c o n g r e g a ç ã o
Geral desta manhã o Cardeal Ernesto Ruffini, Arcebispo de P a-
lermo, Itália. Depois da Santa M issa, em rito m alabárico, teve
lugar a votação de duas emendas dos seis pontos apresentados
ao Plenário pela Comissão Litúrgica, referentes ao capítulo pri­
meiro do projeto sôbre a Liturgia. O relator explicou os crité­
rios adotados pela Comissão Litúrgica na apresentação das re­
feridas emendas. A primeira delas focaliza melhor os motivos
pelos quais os fiéis devem participar ativamente nas ações li-
túrgicas e a segunda sublinha a im portância do estudo da Li­
turgia nos Seminários, Institutos religiosos e Faculdades de T e o ­
logia. Os resultados foram os seguintes:

Votaram Maioria Placet Non placet Nulos


1) 2 .113 1.408 2 .0 9 6 10 7
2) 2.1 0 9 1.406 2.051 52 6

Na sessão de hoje foram louvados os aspectos positivos do pro­


jeto estudado, entre os quais o esfôrço que nêle se nota por esta­
belecer uma clara noção teológica de Igreja com sólidas bases
na Sagrada Escritura, noção que favoreça o colóquio com os
irmãos dissidentes e renove o fervor do povo fiel. Outro ponto
positivo do projeto é a intenção de estudar com mais profundi­
dade as questões referentes aos direitos e deveres dos Bispos
e dos Leigos e o problema do ecumenismo. Foram objeto de
crítica no projeto, considerado em geral, a sua com posição nem
sempre suficientemente coordenada nos diversos capítulos e sua
formulação demasiadamente jurídica. Em particular, observou-se
que seria necessário estabelecer melhor os fundamentos da dou­
trina do laicato, precisando com clareza de onde deriva a digni­
dade dos leigos ou, como se diz hoje, o “sacerdócio dos leigos”,
A Igreja 237

como membros do Corpo Místico, realidade esta que lhes confe­


re a missão de instaurar no mundo o Reino de Cristo com au­
toridade própria e não apenas como simples executores das di­
retrizes da Hierarquia. Quanto ao poder dos Bispos, pediu-se
que o projeto insista mais no vínculo de caridade que os une
ao Sumo Pontífice e não só na dependência jurídica. No que
se refere às relações entre Igreja e Estado, alguns sugeriram
que se tenha sempre em conta a realidade concreta de hoje para
que não se provoque reações por parte do poder político, pois,
se c verdade que a Igreja deve estar pronta para enfrentar as
perseguições, nem por isso ela as deve provocar. Alguns, final-
mente, manifestaram o desejo de que o projeto seja mais aber­
to para as experiências pastorais, principalmente dos países de
missão. Achavam-se presentes na sessão de hoje 2.116 Padres
Conciliares. A Assembléia dissolveu-se ás 12,25.

Falaram hoje:

538 — Cardeal Francisco SPELLMAN, Arceb. de Nova York, nos


E E .U U .: o esquema "mihi placet”. Disserta entio sôbre o apostolado
dos leigos e acha que o texto proposto não fala bastante da Ação
Católica.
539 — Cardeal José SIRI, Arceb. de Gênova, na Itália: “Schema
est bonum quamvis pcrfectibile”. Deseja que se explicite mais a iden­
tidade objetiva entre o Corpo Mistico e a Igreja Católica. Diga-se tam­
bém que o Magistério Eclesiástico é sempre vivo e igual em todos os
séculos e não apenas dc quando em quando.
540 — Cardeal Jaime M cINTYRE, Arceb. de Los Angeles, nos
E E .U U .: de modo geral o esquema lhe agrada. Deseja que no capitulo
sôbre os membros da Igreja se fale também da sorte das crianças que
morrem sem batismo.
541 — Cardeal Valeriano GRACIAS, Arceb. de Bombaim, na Índia:
o projeto é fundamcntalmente aceitável, mas precisa de boas correções.
Ataca sobretudo o capítulo que fala dos direitos que a Igreja tem de
pregar a todos os povos e em tôdas as nações: é um texto absoluta­
mente unilateral, sem nenhuma experiência pastoral e desconhece a si­
tuação real nas missões. Assim como está, seria um autêntico convite
aos governos não-católicos para nos perseguir. ‘‘Estamos sempre prontos
a morrer mártires, mas não estamos dispostos a pedir aos governos
para que nos martirizem”.
542 — Cardeal Emilio LÊGER, Arceb. de Montréal, no Canadá:
acentua a importância do capitulo sôbre o Episcopado; mas o texto
proposto é insuficiente. Congratula-se com os Padres Conciliares pela
mentalidade de profunda renovação, que lhe parece ser o donum
magnum” dêste Concilio. Mas que seja realmente eficiente. Propõe por
isso a criação de um especial Conselho Intersessional quc cu.de de
fato, até a próxima Sessão, da necessária coordenação e elaboração do
material.
238 III. Crônica das Congregações G erais

543 — Cardeal Júlio D O EPFN ER, Arceb. de Munique, na Alemanha:


vê neste esquema o centro de todo o Concilio. M as o texto ainda não
satisfaz. E passa a assinalar os grandes defeitos gerais: os vários ca­
pítulos são apenas justapostos, não coordenados nem coerentes; falta
em tudo um uso "profundior” da S. E scritu ra; exagera-se o aspecto
jurídico; não há clareza sôbre o valor doutrinário de cada texto. Deseja
sobretudo mais luz sôbre a colegialidade dos Bispos e sua relação com
o Primado, que não deve ser considerado apenas em si e absolutamente.
Evitem-se as expressões nada bíblicas como "poder” , "govêrno”, etc.,
substituindo-as por outras mais bíblicas como “m inistério”, “serviço”,
etc. Em resumo: "Schem a non placet, nova et profunda elaboratione
indiget”. Dá então normas para tal trabalho.
544 — Boleslau KOMINEK, Arceb. tit. de Eucaita (P o lô n ia ): “in
genere mihi placet” . E ’, porém, omisso numa coisa muito importante:
a Cruz. Disserta a seguir sôbre a função do sofrim ento na fundação e
no crescimento da Igreja.
545 — Francisco M ARTY, Arceb. de Reims, na Fran ça: insiste no
caráter misterioso e sobrenatural da Igreja: tudo o que dela aparece
visivelmente "non est nisi mysterii epiphania”. Mas o esquema em dis­
cussão fala quase só da parte institucional. Como a humanidade de Cristo
não deve ofuscar o mistério de Cristo, assim o aspecto institucional da
Igreja não deve abafar o mistério da Igreja. Quanto aos leigos, adverte
que não devem ser tidos apenas como "servos m enores” da hierarquia.
546 — José G A R G ITTER, Bispo de Brixen, na Itália: fala dos B is­
pos e dos Leigos. Os Bispos não devem ser considerados somente en­
quanto estão sujeitos ao Romano Pontificc, mas enquanto são sucesso­
res dos Apóstolos. Reconheça-se claram cnte o direito dos Bispos de
reger efetivamente suas Dioceses nas circunstâncias reais em que vivem.
Também os Leigos possam ver melhor seus direitos e deveres c não pas­
sem como meros executores de ordens recebidas: êles têm competência
própria na Igreja.
547 — Geraldo HUYGHE, Bispo de Arras, na Fran ça: por que,
pergunta, continua o mundo tão afastado da Igreja? Não será porque
não nos fazemos compreender? Pecam os no modo de apresentar a Igre­
ja. E êste esquema corrigirá o pecado? Não! Faltam-lhe três qualida­
des: o espírito aberto e realm ente católico (o esquema apresenta uma
Igreja fechada c satisfeita consigo mesma), o espirito m issionário (não
basta um capitulo: todo o texto deve vibrar) e o espirito de humilde
serviço (o texto só fala de poder, de potência, de dominação). D ai:
total remodelação do esquema.
548 — Dionísio H URLEY, Arceb. de Durban, na União Sul-Africa­
na: "Schem a mihi non multum placet". Acha que todo o trabalho precon-
ciliar foi deficiente. Os textos devem apresentar não apenas uma dou­
trina verdadeira em si, mas uma doutrina formulada para os homens
de hoje, que vivem num tempo bem diferente do Tridentino.
549 — Júlio BA R BE TTA , Bispo tit. de Faran (Itá lia ): louva o es­
quema que lhe parece bom tanto na estrutura como na form a; declara
que o texto não é nem triunfalista, nem clericalista, nem jurisdicista.
550 — Narciso JUBANY, Aux. de Barcelona, na Espanha: "in ge­
nere laude mihi dignum videtur” . Mas deseja saber qual a intenção fun­
damental dêste Concílio: se quer definir dogmaticamente ou apenas en-
A Igreja 239

sinar autênticamente. Mesmo nesta última suposição deveriamos ser mais


prudentes, pois um ensino autêntico de fato equivale a uma definição
dogmática e, portanto, tôdas as normas que se exigem para as defini­
ções devem ser observadas também para o ensino autêntico, sobretudo
a que se refere a condenações de opiniões teológicas: tôdas as vêzes
que isso acontecer, os Padres deveriam ser advertidos expressamente
e receber as razões por que tal ou tal condenação parece ser tão
urgente.
— J ° ao R u p p . Bispo do Principado de Mônaco: não percebe
a idéia diretriz de todo êste esquema. Mostra que o texto peca por ex­
cessos e por defeitos; e dá exemplos.
552 Brás M USTO, Bispo de Aquino, Sora e Pontecorvo, na Itá­
lia: defende o texto contra tôdas as acusações. Fala violentamente e
lança contra certos Padres Conciliares as palavras de São Paulo: "Virá
tempo em que não sofrerão a sã doutrina; antes, conforme as próprias
paixões e levados pelo prurido de ouvir, arregimentarão para si mes­
tres e afastarão os ouvidos da verdade para os voltar às f á b u la s ..."
(2 Tim 4,3-5).
553 — Adão KOZLOW1ECKI, Arceb. de Lusaka, na Rodésia Se­
tentrional: declara que o esquema não corresponde aos desejos do Su­
mo Pontífice. Critica sobretudo o estilo (proposições longas) que, "pro
nobis minus sapientibus”, é dificil e muitas vêzes ininteligível. Falta
em todo o texto o espirito da caridade: que aproveita ter uma fé capaz
de transportar montanhas, se não temos a caridade?

Comentário do cronista:

Parece-me que já se pode dizer alguma coisa concreta acêr-


ca das grandes linhas do Concilio. Como em tôda e qualquer
reunião humana, também na parte humana deste Concílio há
dois grupos bem caracterizados: o grupo conservador, agarrado
inclusive e firmemente às tradições humanas e reacionário con­
tra quaisquer tentativas de inovação; e o grupo progressista,
dinâmico e vivo, aberto às novas condições, circunstâncias e exi­
gências de lugares e tempos diferentes. O grupo conservador
tem seus representantes principalmente na Itália (particularmen­
te em Rom a), na Espanha, em alguns setores da Polônia, da
Inglaterra, da Irlanda, dos Estados Unidos e um pouco também
na América do Sul, inclusive no Brasil. O grupo progressista
está sobretudo na Alemanha, Áustria, Holanda, Bélgica, Fran­
ça, notàvelmente também entre os Bispos Missionários (que são
mais de 8 0 0 !) , bastante nos Estados Unidos, no Canadá, na
América Latina, inclusive, com forte contingente, no B r a sil.1 Ve-

■ Doze Bispos do Rio Grande do Sul, em Carta coletiva depois do


Concilio, declararam: " . . . tomamos posição e votamos nós mesmos e,
240 III. Crônica das Congregações G erais

rificou-se pelas votações que a maioria absoluta dos Bispos do


Episcopado Mundial se inclina à renovação, por vêzes até ra­
dical. Já não é contra o segrêdo, pois está em todos os jornais,
mencionar alguns nomes. Da parte conservadora salientam -se
neste Concílio os Cardeais Ottaviani, Ruffini, Siri, Godfrey,
Spellman, M clntyre; da parte progressista estão evidentemente
os Cardeais Bea, Liénart, Léger, Frings, Doepfner, Alfrink, Sue-
nens, Ritter, Meyer e o Patriarca Máximo IV. O "non plus
ultra” do grupo renovador foi sem dúvida o Bispo de Brugge
Mons. Emílio De Sm edt; e o “non minus infra” do grupo con­
servador foi, também sem dúvida, o Bispo de Aquino Mons.
Brás Musto; ambos, aliás, bons oradores. O primeiro foi aplau­
dido e o segundo vaiado. C aracteriza-se êste C oncílio também
pela grande influência dos Cardeais, alguns deles realmente ora­
dores brilhantes, como Liénart, Ruffini e Suenens. Outros, de
fama mundial, como Fulton Sheen, nunca disseram uma palavra.
Aliás, mais e mais os indivíduos tiveram que ceder à comuni­
dade e assim , em lugar de falar em nome próprio e individual,
viu-se que era melhor falar em nome dos Bispos de uma na­
ção ou de uma Conferência Episcopal. Houve mesmo propostas
de que, na Aula, só tivessem vez de falar os C ardeais e os porta-
vozes de grupos maiores; pareceres, propostas e emendas indi­
viduais poderiam muito bem ser encaminhados por escrito à Se­
cretaria Geral. Dois mil e tantos Bispos é uma assem bléia ex­
cessivamente grande para se dar o direito de falar a todos
individualmente. Se dois mil Bispos quisessem falar cada um
apenas uma vez durante dez minutos, teríamos 2 0 .0 0 0 minutos,
ou 33 3 horas; e se contarmos para cada C ongregação Geral
três horas, precisaríam os de 111 Congregações G erais, ou cin­
co meses de ininterrupta atividade conciliar, para que cada B is­
po pudesse ter a satisfação de ter falado ao menos uma vez
num Concilio Ecumênico. Mas alguns dão a im pressão de de­
sejarem esta satisfação cada semana. Quem mais vêzes fala
é certamente o Cardeal Ruffini; mas êle, por bem ou por mal,
ao menos tem alguma coisa concreta a dizer. Há outros, porém,
que falam e a gente não consegue saber o que querem dizer.
Já se ouvem murmúrios quando, no início da Congregação G e­
ral, o Secretário lê certos nomes que se inscreveram para falar.

segundo as manifestações ouvidas, a quase totalidade dos Bispos do B ra­


sil e da América Latina, seguindo a linha adotada também pelo Episco­
pado dos países da Europa Central”.
4-12-1962: Trigésima Terceira Congregação Geral.
A Igreja.

P r e s id iu o c a r d e a l a n t o -
nio Caggiano, Arcebispo de Buenos Aires, Argentina. No início
cios trabalhos Mons. Péricles Felici anunciou que seriam distri­
buídas, no decorrer da sessão, outras emendas preparadas pela
Comissão Litúrgica, a fim de se proceder à sua votação nos
próximos dias. Usou da palavra, a seguir, Mons. Francisco
Scper, Arcebispo de Zagreb, Jugoslávia, manifestando sentimen­
tos de afeto, de devoção e desejo de felicidades para o Santo
Padre. “Todos sabemos — afirmou — que consolação e ale­
gria são para nós as audiências que João XXIII costuma con­
ceder aos grupos de Bispos das diversas nações; mas estamos
dispostos a oferecer ao Senhor o sacrifício de renunciar a tais
encontros para que o Santo Padre não se sujeite a mais êste
cansativo trabalho". — Ainda hoje a maioria dos Padres Con­
ciliares que intervieram nos debates, pôs em relêvo a impor­
tância do projeto em estudo. Alguns até afirmaram que o do­
cumento em questão constitui o cerne do Concílio Vaticano II.
Três pontos principalmente foram postos em especial evidência,
como favoráveis ao progresso dos estudos eclesiológicos: a Igre­
ja considerada como Corpo Místico de Cristo, a colegialidade
e o caráter sacramental do Episcopado. Alguns oradores obser­
varam que os textos da Sagrada Escritura, dos Santos Padres
e dos Teólogos são citados de um modo demasiadamente jurí­
dico; que não se deu o justo valor aos Padres Orientais, e que
se exagerou o papel dos teólogos dos últimos séculos. Além dis­
so, as citações da Sagrada Escritura não foram aproveitadas
em tôda a sua riqueza pelas explicações e pelos comentários.
Infclizmente — como se disse também — o projeto se limita
ao estudo da Igreja Militante, esquecendo-se de que o caminho
da Igreja no mundo sempre deve ser iluminado pela visão da
Concilio II — 16
242 III. Crônica das Congregações G erais

meta final. Houve também quem, por sua vez, louvasse a for­
mulação acentuadamente jurídica do documento, alegando como
motivo o fato de que neste mundo não se pode prescindir das
instituições e das normas de caráter ju rídico, e até mesmo a
caridade não pode existir sem a justiça. Alguém recordou que
o Santo Padre, no seu discurso de 11 de setembro, tinha for­
mulado o desejo de que o Concilio apresentasse ao mundo a
Igreja, como Luz dos povos. Ora, se o tema em estudo nestes
dias deve ser de certo modo o ponto central do Concilio, e dêle
devem dimanar as orientações gerais para todos os outros assun­
tos futuros, seria oportuno coordenar todos os trabalhos de re­
visão dos vários projetos relativos ao estudo da Igreja ad inlra
e ad extra. Isto é : a Igreja primeiro cm Si mesma, na Sua na­
tureza e na Sua missão de Mãe e M estra; e depois, em face
dos grandes problemas que hoje afligem o mundo, desde os re­
lativos à pessoa humana até aos que se referem à sociedade
nas suas exigências de justiça e de paz. Afirmou-se que seria
talvez necessária maior unidade entre os diversos capítulos re­
digidos por pessoas diferentes. Pode-se desejar portanto uma
revisão feita por poucos e com unidade de estilo, preenchendo
assim as várias lacunas que se notam, por exemplo, no capitulo
sôbre os Bispos, onde não se tem em consideração a existência
do Bispo Titular, porquanto a função episcopal não está por si
mesma ligada a um lugar, mas ao serviço da Igreja. Alguns
louvaram o projeto porque precisa de modo bastante claro o ca­
ráter sacramental do episcopado, põe em relêvo a doutrina sôbre
o sacerdócio, define bem a relação entre o Bispo e os seus sa­
cerdotes, e evidencia mais claramente a paternidade episcopal. No
que diz respeito aos leigos, pediu-se que o Concilio proclam as­
se solenemente a importância e a função do apostolado dêlcs
na Igreja de hoje, distinguindo com clareza aquilo que é ação
católica propriamente dita das outras obras que, embora neces­
sárias, não possuem laços de dependência tão intim os com a
Hierarquia. Os leigos poderão também oferecer aos estudos do
Concílio uma preciosa colaboração em matérias de sua compe­
tência especifica, como são os Meios de Comunicação Social e
em outros pontos referentes a aspectos especiais da sua ati­
vidade no mundo. Os Padres presentes eram hoje 2.104. A
Assembléia terminou às 12,20.

Houve na Congregação Geral de hoje 17 intervenções:


554 — Cardeal José FRINGS, Arceb. de Colônia, na Alemanha:
"Censco hoc Schema penitus emendandum et profundius recognoscen-
A Igreja 243

dum”. Diz que o texto se baseia apenas sôbre a tradição dos últimos
cem anos, o que não é reto, nem universal, nem ecumênico, nem ca-
tolico. Estes mesmos defeitos se encontram na doutrina apresentada.
Dá exemplos.
555 — Cardeal Guilherme GODFREY, Arceb. de Westminster, na
Inglaterra: "generatim placet". Fala sôbre o ecumenismo. Descreve um
pouco a situação em sua terra. Tem receio de que estejam sucumbindo
aos perigos do falso irenismo. A verdadeira caridade não é só paciente
e benigna, mas também "non agit perperam”. E exclama: “caule loqua-
mur, caute agamus. Caritas sine scientia errat”.
556 — Cardeal Lco SUENENS, Arceb. de Malines, na Bélgica: pro­
cura a "ratio ipsius Concilii”, um plano orgânico que coordene as par­
tes. Propõe um programa: devemos tratar De Ecclesia, e dividir o con­
junto em duas partes: ad intra (falando da natureza, dos ofícios etc.)
e ad extra, enquanto instituímos um triplice diálogo: com os fiéis, com
os irmãos separados e com o mundo moderno. Deseja também que o
Concílio crie um Secretariado para os problemas do mundo de hoje.
557 — Cardeal Agostinho BEA, Presidente do Secretariado para a
União dos Cristãos: lembra o valor histórico do presente esquema, que
ocupa e deve ocupar um lugar central no Concílio. Reconhece o grande
cuidado e diligência com que o texto foi elaborado. Passa então ã cri­
tica: faltam coisas essenciais c há outras inteiramente supérfluas (dá
exemplos). Os argumentos, como foram expostos no texto, “potius
ofuscant quam illustrant". A metáfora do “corpo", para compreender a
natureza da Igreja, é certamente boa e bíblica, mas não é única, nem
pode dar uma idéia completa; outras comparações, também excelentes
e bíblicas, devem completar e ampliar a noção. Condena as freqüentes
exortações pastorais no texto: não é nisso que consiste o caráter pas­
toral que tantos desejam: êle deve penetrar o próprio texto. Conclu­
são: como está, “Schema non placet, nova elaboratione eaque valde pro­
funda et solida indiget".
558 — Cardeal Antônio BACCI, da Cúria Romana: pede que todos
sejam mais breves no talar: “sumus Patres Conciliares, non catcchumc-
ni”. Já que não há diversidade na substância, mas apenas no modo,
pensa que é possível aprovar o esquema e corrigi-lo no modo de falar.
559 _ Cardeal Miguel BROWNE, da Cúria Romana: “Schema in
sua substantia adhuc mihi placet". Defende-o contra as objeções feitas.
560 — Emílio BLANCHET, Arceb., Reitor do Instituto Católico de
Paris, na França: não há coerência entreos capítulos; percebe-se que
foram elaborados por vários autores. Tôda a exposição é também "nimis
exclusive iuridica”. . j . .
561 — José RABBANI, Administrador Apostolico dos sinos de
Homs: "placet iuxta modum”. Critica passagens.
562 — Rafael MORAI.EJO, Aux. de Valência, na Espanha: sente a
falta de uma idéia central do esquema. Propõe normas para uma ela­
boração mais coerente. t
563 — Emílio GUERRY, Arceb. de Cambrai, na França: disserta
sôbre a paternidade no B isp o .1

na Aula Conciliar,
cia da Secretaria de Eslado de Sua Santidade, i
Mons. DelPAcqiia e um pacote. Por esta c~
16*
244 III. Crônica das C ongregações G erais

564 — Carlos MACCARI, Assistente Geral da Ação Católica Ita­


liana: propõe emendas para o capitulo sôbre os leigos.
565 — Tomás HOLLAND, Coadj. de Portsmouth, na Inglaterra.
566 — Alberto D EVOTO , Bispo de Goya, na Argentina: o esque­
ma não corresponde aos legítimos desejos dos P astôres e fiéis.
567 — José VAIRO, Bispo de Gravina e Irsina, na Itália: placet
iuxta modum; critica alguns textos e palavras.
568 — Francisco HENGSBACH, Bispo de Essen, na Alemanha: apro­
va explicitamente o que os Cardeais Liénart, Alfrink, Docpfner, Frings
e outros disseram contra o esquema. D eseja que todo o texto comece
com um capitulo especial sôbre Jesus Cristo, Cabeça c Senhor da Igreja.
Sugere propostas para reformar os outros capítulos.
569 — Miguel DOUMITH, Bispo dos m aronitas de S erba, no Líba­
no: critica vigorosamente o capitulo sôbre os B ispos: como a mãe dá
ao filho um brinquedo com mil recomendações para não quebrá-lo,
assim nos entregam, entre mil cuidados, um conceito sôbre o Episco­
pado. Não consegue apagar a penosa impressão de que os Bispos, se­
gundo o texto, de fato não passam de funcionários do Papa. Faz a se­
guir considerações teológicas sôbre a sagração (ord o) e missão do
Bispo: “missio est ratio ordinis et ordo est fundamentum m issionis".
Denuncia o abuso de conferir o ordo episcopalis sem a missio cpiscopa-
lis e declara que isso não vem da boa tradição apostólica, e que tal
estado de coisas leva ao funcionarismo e ã secularização do Episcopado.
570 — José D ESC U FFI, Arccb. de Esmirna, na Turquia: fala do
Prim ado e da Infalibilidade do Sumo Pontífice e suas relações com o
Colégio dos Bispos. O Vaticano II deveria completar o que o V atica­
no I não teve tempo de terminar.

Comentário do cronista:
Um fato nôvo, delicadíssimo por sua natureza, que, durante as dis­
cussões conciliares se torna cada dia mais evidente aos olhos de obser­
vadores imparciais e que me parece ser um dos resultados sensíveis
desta primeira fase do Vaticano II, é êste: a posição singular, na Igre­
ja , dêste conjunto de pessoas que se chama “ Cúria Rom ana” e que,
por vêzcs, tem dado a penosa impressão de querer identificar-se com
a “Ecclesia Christi” simplesmente. Pois agora a gente vê c sente que
o grosso do episcopado mundial ou do Colégio dos Bispos (que, como
tal, inclui o P ap a ), sucessor do Colégio dos Apóstolos (que, como tal,
incluía Ped ro), não sente nem pensa como o grosso da Cúria Romana.
Ora, precisamente êste Colégio dos Bispos é o autêntico detentor dos
podêres eclesiásticos de reger e de ensinar. Darei dois exemplos: a S a ­
grada Congregação dos Ritos (como se podia perceber claram ente pela
atitude de seu Secretário e de outros curiais durante a discussão conci­
liar do esquema sôbre a Liturgia) não teria aprovado a Constituição
sôbre a Liturgia, que, no entanto, nestes dias, está recebendo um esma­
gador “placet” do Colégio dos Bispos. Assim também a Sagrada Con- *i

'■icrttos e M ensacei
v mui «vi»v Mviiiu pciu ovino roniince: "Vela a página 31
E li estava uma longa citado do livro dei Mona. Ouerry
íuerry s0
sObre o Bispo...
A Igreja '2 4 5

v
e trn E ° r i Pd<>Í anè 0 ° Í ![CÍ0 (C,0m0 Se podia Perceb«r pela atitude e intcr-
'“ í seu Secretário, de seu Assessor e de seus Consultores, que
i r t o ^ n í Í A os Principais autores do esquema), teria aprovado 0 pro­
jeto De Fontibus Revelatioms”, que, todavia, recebeu o “non placet"
da maioria dos Bispos. Esta observação, delicada mas realista, é teo­
logicamente muito importante para se compreender o significado exato
do axioma sentire cum Ecclesia”, com 0 qual, às vézes, se joga de
maneira bastante superficial c subjetiva. Nem sempre é fácil saber qual
e, de fato, 0 "sensus Ecciesiae". Não custa saber 0 sensus Sacrae Con-
grcgationis Rituum ou Sancti Oflicii; mas coincidirá sempre e de fato
com 0 sentir da Igreja? Eis, em todo o caso, um motivo que justifica
plenamente a convocação, de tempos em tempos, de Concílios Ecumê­
nicos, mesmo depois que sabemos, com verdade de fé, que o Papa
é infalível. Pois ültimamente os manuais de Teologia tinham suas difi­
culdades para justificar novos Concílios Ecumênicos, depois do de
Pio IX.
E já que ousei abordar o problema da Cúria Romana, vai aqui outra
observação feita nestes fecundos dias conciliares, agora particularmentc
com relação ao Santo Oficio. A Igreja tem absoluta necessidade dêste
importante dicastério, assim como a cidade precisa dum hospital. Po­
de-se mesmo afirmar que o Santo Ofício é uma espécie de hospital na
Igreja. Haverá sempre, na Igreja, casos anormais, quase patológicos,
que levam ao extremo os sentimentos de fé e as atitudes de moral. Para
isso aí está o Santo Oficio. O cânon 247 do Direito Canónico define
bem a competência do Santo Oficio: "tutatur doctrinam fidei et mo-
rum” ; e no § 2: “iudicat de iis delictis quae sibimet secundum propriam
eiusdem legem reservantur, cum potestate has críminales causas viden-
d i . . . " Portanto casos criminais, de delitos, anormais, patológicos, de
exceção; c não casos comuns, normais, de todos os dias. Ora, foram
sobretudo os homens do Santo Oficio, especializados em tratar os casos
anormais na Igreja, que elaboraram os esquemas teológicos apresenta­
dos agora ao Concilio; e os Padres Conciliares, acostumados a tratar
os casos normais da vida eclesiástica, ficaram justamente espantados.
Com muita razão disse na décima nona Congregação Geral 0 Cardeal
Léger que o esquema então em discussão (De Fontibus Revelationis,
elaborado pela gente do Santo Oficio) procede puramente do temor
contra erros ( “pavor errorum”). O psiquiatra que conhece bem as vá­
rias categorias de anormalidades psíquicas, e está habituado a tratar
casos concretos de psicoses, corre constantemente 0 perigo de querer en­
quadrar todo o mundo nalguma anormalidade psíquica; parece que para
êle já não há homens normais. Tem-se a impressão de que a mesma ten­
tação existe para os especialistas nos perigos contra a fé e a moral:
por tôda parte e em tóda gente farejam tendências para a heresia e a
imoralidade. O projeto de Constituição sôbre a Liturgia fôra cuidadosa­
mente elaborado, revisto e corrigido por numerosa comissão de espe­
cialistas que, porém, conheciam também a Teologia; 0 mesmo projeto
passara pelo crivo da Comissão Central que, só ela, contava com 62
Cardeais; e, no entanto, êste mesmo projeto, depois de passar por tantas
mãos, caiu sôbre a mesa do Secretário do Santo Ofício que, tendo-o
lido, correu à quinta Congregação Geral (23-10-1962) para denunciar os
erros teológicos do te x to ...
5-12-1962: Trigésima Quarta Congregação GeraL
A Igreja.

A C O N G REG AÇÃO G ERA L DE


hoje foi presidida pelo Cardeal Bernardo Alfrink, Arcebispo de
Utrecht, Holanda. Celebrou a santa missa o Arcebispo de Curi­
tiba, Dom Manuel da Silveira D ’Elboux. Iniciando os trabalhos,
o Secretário Geral anunciou que seriam distribuídos aos P a ­
dres Conciliares os textos das emendas dos últimos pontos do
capítulo primeiro do projeto sôbre a Liturgia, para serem subme­
tidos à votação na sessão de amanhã. Foi também distribuído
um fascículo contendo os títulos (tirados dos vários projetos de
Constituição) de todos os assuntos que já foram estudados no
Concílio ou que ainda o serão. T ra ta -se de uma síntese muito b re­
ve elaborada pelas Comissões Preparatórias, síntese que será
proposta ao estudo das Comissões Conciliares para que os vá­
rios temas, se fôr oportuno, sejam reduzidos a princípios gerais
e se possam coordenar com mais homogeneidade os assuntos
afins e assim se obtenha mais unidade. Procedeu-se então à
votação programada para hoje de outros 11 pontos sôbre a
Liturgia. O primeiro deles referia-se à renovação dos livros li-
túrgicos que deverá ser feita com a colaboração dos peritos e
o conselho dos Bispos. O segundo ponto tratava da adoção das
tradições locais na Liturgia, quando estas são compatíveis com
o espírito litúrgico. O terceiro dizia respeito à competência dos
Bispos em determinar algumas adaptações dos livros litúrgicos.
A quarta emenda era relativa à língua litúrgica. Foi êste o re­
sultado da votação:
Votaram Maioria Placet Non placet Nulos
1) 2 .110 1.406 2.087 14 11
2) 2.114 1.408 2 .083 21 10
3) 2.109 1.406 2 .044 50 15
4) 2.073 1.382 2.033 36 4
A Igreja 247

Os resultados referentes aos outros pontos serão publicados na


Congregação Geral de amanhã. Antes da votação Mons. Carlos
Calewaert, Bispo de Gand, Bélgica, na qualidade de Relator da
Comissão Litúrgica, explicou ao Plenário os critérios adotados
pela referida Comissão na apresentação das emendas. "Tôdas
as decisões da Comissão — disse Mons. Calewaert — foram
tomadas por unanimidade. Modificou-sc a ordem das matérias
para que os assuntos fôssem apresentados numa ordem mais
lógica. Assim, partindo das normas gerais, passou-se às ques­
tões de índole didática c pastoral, como por exemplo, aos pro­
blemas da língua vernácula e a adoção das tradições populares
na Liturgia. Os pontos submetidos à votação de hoje — acres­
centou — foram considerados pelos Padres Conciliares de gran­
de importância, porque constituem quase o fundamento sôbre
o qual se instaurará uma nova ordem litúrgica". — Continuan­
do o exame do esquema sôbre a Igreja, a maior parte dos ora­
dores de hoje exprimiu opiniões favoráveis à formulação geral
dos temas, ainda que manifestando observações e reservas sô­
bre alguns pontos. E ’ necessária uma linha de equilíbrio —
foi dito — para distinguir bem o que na Igreja se pode mudar
c o que é imutável. Deve-se evitar todo o subjetivismo na ma­
neira de julgar, considerando os problemas cm todos os seus
aspectos e procedendo com prudência para não confundir coisas
marginais, tais como a ordem dos argumentos e a língua, com
o que é substancial, tal como a doutrina. Outros observaram que
no projeto se devem aprofundar mais as relações entre Cristo
e a Igreja, pondo claramcnte em relevo que a Igreja, fundada
por Cristo, d’Êle recebe tudo, é a Sua continuação no tempo
e o instrumento por Êle querido para a salvação dos homens.
Notou-se que a parte relativa aos Bispos, importantíssima por
ser o complemento da doutrina sôbre o Romano Pontífice defi­
nida no Vaticano I, nem sempre é perfeitamente lógica e por
vezes mais jurídica do que teológica. Desejou-se por isso que
sejam melhor precisadas as relações entre o Papa e os Bispos,
relações que não são apenas de caráter jurídico mas também
sobrenaturais. Outros louvaram o projeto pela clareza com que
expõe a doutrina do Corpo Místico e pelas indicações que apre­
senta sôbre os erros contra os quais é necessário prevenir hoje
os fiéis no que se refere à doutrina “De Ecclesia”. Outros, jul­
gando o projeto imperfeito sob outros aspectos, sugeriram que
se insista mais sôbre a graça como parte e apoio necessário
de lodo o apostolado, tanto leigo como sacerdotal; que se acres­
248 III. Crônica das C ongregações G erais

cente uma parte relativa ao estado matrimonial, tão nobre e


santo, e, principalmente, tão fecundo para o Corpo M ístico; e
que se explique mais amplamente a necessidade de que a Igre­
ja , em virtude do mandato recebido do Salvador, evangelize
todos os povos. Estiveram presentes na C ongregação G eral de
hoje, 2.114 Padres Conciliares. A Assem bléia terminou os tra­
balhos às 11,45 a fim de permitir aos Padres Conciliares esta­
rem presentes na Praça de São Pedro durante o “ Angelus" que
o Santo Padre recitou ao meio-dia da janela dos seus aposen­
tos, em substituição da costumada audiência das quartas-feiras.
No fim do “Angelus” o Santo Padre referiu-se à doença dos
últimos dias e ao atual progresso do seu estado de saúde. De­
pois saudou os Padres Conciliares reunidos na P raça junta­
mente com grande número de fiéis, e exprim iu a sua intensa
alegria por ver diante de si tão escolhida e com pleta represen­
tação de todo o corpo da Ig reja : Bispos, sacerdotes e povo.
A primeira fase do Concilio está para terminar, pois vai ficar
suspenso durante nove meses — disse o Santo Padre — mas
guardaremos sempre no Nosso coração a suavidade e multi­
plicidade das experiências vividas durante êste primeiro período
em que o Episcopado Católico, representando tôdas as raças c
nações do mundo, ofereceu um impressionante espetáculo dc
unidade nas preocupações e de mútua colaboração na procura
do caminho mais idôneo para o esperado rejuvenescimento da
Igreja.

Usaram da palavra na Congregação de hoje:

571 — Cardeal Ernesto RU FFIN I, Arceb. de Palermo, na Itália:


propõe a elaboração de dois esquemas paralelos: um dogmático, breve,
conciso, vigoroso; outro pastoral, mais amplo, adaptado ao espirito
moderno.
572 — Cardeal João B atista MONTINI, Arceb. de Milão, na Itália:
louva a homenagem que o Concilio prestou a São José, alegra-sc com
o capitulo preparado sôbre Nossa Senhora, mas deseja veementemente
que o Concílio “pie, sollemniter, consulto celebret Dominum Nostrum
lesum Christum”, pois Êle é a vida da Igreja, sem Elo nada podemos
fazer, a Igreja é apenas um instrumento no qual está Cristo presente.
Deve o esquema exaltar muito mais ôste “ mysterium E cclesiac". O que
no esquema é dito sôbre o Episcopado não satisfaz e é mais jurídico
que teológico. “Hoc Schema a Commissione mixta recognoscatur ut apte
et congruenter sit compositum" (Palm as).
573 — Patriarca Máximo IV SAIGH, dos melquitas de Antioquia:
(fala fran cês): o esquema peca não pelo que diz, mas pelo que omite,
e as reticências são significativas. Denuncia também o triunfalismo e o
jurisdicismo. Critica fortemente os exageros com que é exaltado o Su-
/)«O rirn tr v da Ocidvntv : prrtos, brancos, am arrlos. rrihas. tnoçns. . .
Jõlll Hispos congni/ados no E s p irito Santo
/\ r-4 a , \« o o

P rof. Alceu d e A m oroso Lim a. C ard. A ugusto .1. da Silv a, Dom V icente S ch ere
A Igreja
249

574 _ Hermenegildo FLOR1T, Arceb. de Florença, na Itália- o es­


quema Ihe parece um feliz equilíbrio entre os elementos imutáveis e
os mutáveis. Propoe emendas. «muráveis e
575 - Antônio PLAZA, Arceb. de La Plata, na Argentina: "Schema
nnlii placet ; faz uma viva apologia do texto
576 - Guilherme PLUTA, Bispo tit. d eL ep tis Magna (Polônia):
disserta largamente sôbre o valor da vida espiritual e ascética para a
Igreja, considerando o esquema incompleto neste particular.
577 — Pedro FIORDELLI, Bispo de Prato, na Itália: lamenta que
no esquema falte um capitulo sôbre a santidade do matrimônio
578 — Bernardo MELS, Arceb. de Luluaburgo, no Congo: o es­
quema devia ser mais missionário.

Os Princípios Gerais da reforma Utúrglca agora aprovados.

Seria interessante dar o texto completo das emendas, algumas delas


de grande importância, que nestes últimos dias estão sendo aprovadas
com um número surpreendentemente alto de "placet", para a reforma
litúrgica. Mas o constante aviso do "sub secreto" que acompanha inva­
riavelmente cada emenda que nos é entregue não mo permite. Em troca,
vou traduzir um bom artigo, que se aproveita com bastante liberdade
das emendas, escrito por um bom liturgista, o beneditino Cipriano V a ­
g a g g i n i e publicado em LVsservatore Romano de 8-12-1962. Êle
dirá com mais competência e sem cair no perigo da indiscrição o que,
a esta altura do Concilio, já se pode dizer da importante reforma da
Liturgia feita pelo Concilio Vaticano II. Eis, pois, suas palavras, em
tradução verbal:
Foi feliz a Constituição De sacra Liturgia. Digamo-lo francamente:
quando, há alguns meses, os Padres do Concílio receberam êste esque­
ma, alguns houve realmente que com êle ficaram otimamente impressio­
nados. Não faltou, porém, quem ficasse mais ou menos desconcertado
tom aquèle cunho considerado talvez muito audaciosamente tendido para
um futuro pouco conhecido ou mal seguro. Mesmo entre os mais fa­
voráveis à Liturgia e ao esquema, nem todos ousavam esperar um tão
completo sucesso. Os primeiros choques da discussão — feita sempre,
aliás, com aquêle admirável equilíbrio da mais completa liberdade e da
mais responsável disciplina, equilíbrio de que a Igreja tem o segrído
— puderam, às vêzes, dar a impressão de que sôbre o esquema se
adensava uma borrasca. Mas, com o progredir da discussão, as idéias
e as posições rapidamente se aclararam. Das opiniões expressas em ses­
são não tardou a aparecer que, num campo espinhoso e cheio de pro­
blemas tão delicados quanto urgentes, o esquema movia-sc com prudência
e equilíbrio, mesmo se acompanhados de uma franca compreensão das
necessidades da Igreja no mundo de hoje.
Numerosas foram as observações dos Padres ao proêmio e ao ca­
pítulo I. Ocupam elas umas 249 páginas de formato grande. Porém as
correções requeridas pela esmagadora maioria foram, em suma, de pou-
250 UI. Crônica das Congregações G erais

ca importância, destinadas, as mais das vêzes, a m elhorar a expressão


e a completá-la em algum ponto secundário. Por isto, assim que se
chegou às votações, patenteou-se uma admirável unanimidade moral de
apreciação favorável.
Assim, o primeiro capitulo do esquema De sacra Liturgia, sôbre
"O s princípios gerais para reformar e promover a Liturgia”, teve a hon­
ra, não programada, de constituir as prim ícias dos frutos que o Concilio
Vaticano II começa a oferecer ao mundo. O movimento litúrgico toca,
com isto, o ponto mais alto até agora atingido na sua impressionante
trajetória ascensional. A vida espiritual e pastoral da Igreja, por sua
vez, assinala uma data cujas conseqüências poderiam ser incalculáveis
num futuro próximo.

A estrutura geral. — O primeiro capitulo da Constituição da litur­


gia, além de um proémio geral em que se explica o intento do Con­
cilio no trato destas matérias, consta de cinco partes. O escopo destas
absolutamente não é oferecer uma espécie de tratado, nem mesmo teo­
lógico ou pastoral, da liturgia. Quer-sc apenas estabelecer os princípios
gerais para promovê-la e reformá-la. Às bases teóricas, teológicas e
pastorais recorre-se somente para enquadrar as normas gerais de ordem
prática na sua justa perspectiva ideal. O raciocínio é sim ples: da na­
tureza da liturgia deriva a sua particular eficácia para atingir o escopo
da vida cristã, e compreende-se a sua excepcional im portância na vida
da Igreja (parte I: Da natureza da sagrada liturgia e da sua importância
na vida da Igreja). Cumpre, pois, pôr todo o empenho em conduzir
o povo a participar dela plenamente com a alma c com tôda a pessoa;
o que supõe, em primeiro lugar, a form ação litúrgica do clero e uma
intensa catequese do próprio povo (II parte: Da form ação litúrgica e
da participação ativa). Mas isto exige também da Igreja, onde se faz
mister, uma adequada reforma da liturgia fundada em princípios e dire­
trizes bem nítidas (III parte: Da reforma da liturgia). Exige, além disso,
o desenvolvimento do espirito litúrgico nas dioceses e paróquias (IV
parte: Da necessidade de promover a vida litúrgica na diocese e na
paróquia), e também uma adequada organização diocesana, ou mesmo
nacional, para promovê-lo (V parte: Para promover a ação pastoral
litúrgica).

A Liturgia, ápice e fonte das atividades da Igreja. — A primeira


parte (nn. 5-13) é o fundamento doutrinário geral de tôda a Consti­
tuição, no qual se quer esclarecer a im portância da liturgia na vida da
Igreja, derivando-a da própria natureza desta. A natureza da liturgia
(nn. 7-8) é vista a partir da natureza e da obra de Cristo, como “sa­
cramento” fontal e indispensável de todo culto e de tôda santificação
no mundo (n. 5 ). Dêste sacramento primordial deriva o sacram ento que
é a própria Igreja no seu conjunto ( totius Ecctesiae tuae mirabite sa-
cramentum ), nascida de Cristo para aplicar entre os homens a obra da
sua redenção. A Igreja realiza esta obra em primeiro lugar mediante o
Sacrifício e os outros Sacramentos, em tôrno aos quais, justam ente, cres­
ce e se organiza tôda a liturgia (n. 6 ), sempre, como o próprio Cristo,
dc estrutura encarnada e sacramental.
Assim, a liturgia se inculca "como o exercício do sacerdócio dc
Cristo, no qual, por meio de sinais sensíveis, è significada e, do modo
A Igreja 251
próprio a cada um, realizada a santificação do homem, e no qual ao
mesmo tempo, o Corpo místico de Cristo, Cabeça e membros, exercita
o culto publico integral" (n. 7). Tôda ação litúrgica é, por isto, "ação
sagrada por excelíncia, a cuja eficácia nenhuma outra ação da Igreja
pode, no mesmo titulo e no mesmo grau, igualar" (n. 7) para o escopo
do culto de Deus e da santificação do homem.
Estamos, já agora, no ponto culminante a que queríamos chegar no
raciocínio: por isto, conquanto “a liturgia não esgote tôda a atividade
da Igreja" (n. 9 ), todavia â o cimo a que tende tôda a sua ação e, ao
mesmo tempo, a fonte da qual deriva tôda a sua fôrça" (n. 10).
Mas, bem entendido, para que a liturgia obtenha em cada fiel
todo o seu fruto, indispensável se torna não somente que êste não lhe
oponha obstáculo, mas também que cultive intensamente a vida espiritual
de meditação, de oração, de ascese, de cumprimento dos deveres do
próprio estado também fora das ações litúrgicas (nn. 11-12). A liturgia
não suprime, em seu proveito, nenhuma das indispensáveis atividades de
vida espiritual ou de vida apostólica intensas, mas penetra-as c or-
dena-as, porque as dirige para o escopo do culto de Deus e da santi­
ficação do homem na participação plena, espiritual e externa das ações
sagradas, enquanto, sob outro aspecto, as pratica como cumprimento do
compromisso contraído ao participar dessas mesmas ações. Doutrina ca­
pital e magnífica. Não é difícil perceber as enormes conseqiiéncias que,
tomada a sério, ela terá em todos os campos da vida cristã.
Esta parte doutrinária não só codifica solenemente muitas doutrinas
fundamentais já desenvolvidas pela encíclica Mediator Dei, como tam­
bém, em alguns pontos, esclarece-as c desenvolve-as. Demodo especial,
justamente em visar a natureza da liturgia diretamente na visual de
Cristo, como sacramento geral derivado de Cristo; em pôr melhor em
relèvo o duplo aspecto incluso em tôda ação litúrgica, ou seja o de
culto prestado a Deus e o de santificação que aí Deus faz do homem;
cm acentuar o fato de ser a liturgia tôda estruturada em regime de
sinais sensíveis; e especialmente na doutrina da liturgia, cimo e fonte
de tôda atividade da fgreja.

Formação litúrgica e ensino da liturgia. — Quem vê a liturgia à


luz em que a considera o Concílio não tem dificuldade em compreender
a afirmação de que a Igreja anseia por levar o povo a viver intensa­
mente tamanho tesouro (n. 14), e de que, portanto, ela se preocupa
de fazer com que o clero seja plenamcnte informado e como que embe­
bido dela (nn. 15-18), para que, por sua vez, lhe transfunda o espirito
nos fiéis (nn. 19-20). „
Particular importância tem o que se diz no n. 19. Nao tanto peio
fato de ai se estabelecer que já agora a liturgia deve ser computada
entre as matérias principais nos programas de ensino eclesiástico, quan-
to pelas diretivas dadas no modo de estudá-la e de ensiná-la. O Con­
cilio quer que ela seja considerada "tanto sob o aspecto teológico e his­
tórico quanto sob o aspecto espiritual, pastoral e jurídico . E o con­
ceito de liturgia integral, como se vem esclarecendo de uns vinte
anos a esta parte. Longe estamos da identificação da ciência liturgien
com o conhecimento das rubricas, ou mesmo só com o da história dos
ritos. E ’ êste um aviso cheio de consequências não só para os estudiosos
252 III. Crónica das Congregações G erais

e para os docentes dc liturgia, como também para a form ação litúrgi-


ca do clero.
O Concilio recomenda, depois, aos "professôres das outras matérias
teológicas, especialmente dc dogmática, dc teologia espiritual e pasto,
raf, porem suficientemente cm relêvo, segundo as intrínsecas exigências
de cada matéria, o mistério de Cristo e a história da salvação, de modo
que dai espontáncamentc resultem as relações de cada disciplina com
a liturgia, para maior beneficio da unidade da form ação sacerdotal". Tam ­
bém aqui se toca um problema teórico e prático fundamental: o da
unidade dos diversos ramos da teologia, e dos reflexos que isto pode
ter na formação do sacerdote. Diz-se que esta unidade das ciências
eclesiásticas deve ser buscada dc modo especial no fato de cada uma,
a seu modo, dever ilustrar um objeto fundamental comum: a história
sagTada centralizada no mistério de Cristo, e que, se isto fór feito do
modo devido, espontâneamente vêm a m anifestar-se os laços dc cada
ramo do saber com a liturgia. Com efeito, que é a liturgia senão uma
certa atualização, sob o véu dos sinais sagrados, da história sagrada,
mistério de Cristo presente e operante entre nós? Isto é, desse mistério
que a Bíblia anuncia, que a dogmática aprofunda sistemàticam ente, que
a espiritualidade vive e que a pastoral ensina a transm itir aos homens.
Assim a ciência litúrgica, sem minimamente invadir o campo dos outros
ramos do saber eclesiástico, é todavia olhada, na form ação e na vida
sacerdotal, como a ciência da coisa na qual mais concretam ente se ca­
talisa a realidade profunda de que tratam tôdas as ciências eclesiás­
ticas. Nada há de admirar nisto, suposto que, dc algum modo, a liturgia
seja o dogma vivido nos momentos mais sagrados, a B íblia pregada,
a espiritualidade da Igreja em ato mais característico, o cimo e a fonte
da sua atividade.

Os princípios diretivos da reforma litúrgica. — Estam os agora no


centro do esquema da liturgia. Se a liturgia é um conju nto de sinais,
para que ela cumpra bem as exigências da sua natureza m ister se faz
que êstes sinais exprimam o que êles querem significar de modo tal
que o povo possa fàcilmente compreendê-los, para poder participar ple­
namente da celebração das realidades sobrenaturais que êles, ao mes­
mo tempo, envolvem e manifestam (n. 2 1 ). E ’ êste o principio dos prin­
cípios de tóda reforma litúrgica.
As normas que dai derivam são agrupadas em quatro secções:
normas gerais (nn. 2 2 -2 5 ); normas derivadas da natureza hierárquica
e comunitária da liturgia (nn. 2 6 -3 2 ); normas derivadas da sua natureza
didática e pastoral (nn. 3 3 -3 6 ); normas derivadas da necessidade de
adaptá-la ao gênio próprio c às tradições dos diversos povos (nn. 37-40).
As normas gerais definem a autoridade à qual compete a reforma,
o principio da tradição e do legitimo progresso, o da conexão entre
reforma litúrgica e mentalidade bíblica, e afirmam, enfim, a necessida­
de da reforma dos livros litúrgicos.
A novidade de maior relêvo é aquela a que alude o n. 22. Pri­
meiro ali se afirma que a autoridade competente para a reforma litúr­
gica é só a Santa Sé, e, conforme o direito, o bispo. Depois estabele­
ce-se o principio de que, por concessão da lei, isto pode também com­
petir a uma autoridade episcopal territorial supradiocesana, desde que
nacional. A esta autoridade, nos capítulos seguintes, é pedida a exe-
A Igreja 233

cuçâo, a aplicação concreta e a adaptação local de muitas faculdades


particulares referentes à liturgia, e que a Santa Sé não mais p 2 £ £
T re n to r S' exclus,vamen,e- como ° «zera depois do Concílio de

E ’ esta uma grande novidade, porque consagra o fundamento de


“ !" a d.e sc' ntra,! zaçá0 no campo litúrgico a favor não tanto de cada
bispo de per si (o que levaria a um excessivo fraccionamento), quanto
de uma autoridade territorial supradiocesana. São intuitivas as conse­
quências possíveis dêste principio para uma adaptação da liturgia às
Tão1 d iversasnecess,dadcs ,ocais c mais aderentc às situações concretas

Qual será, porém, essa autoridade territorial supradiocesana? O texto


escolhe de propósito uma fórmula genérica: são as "competentes assem-
Netas episcopais territoriais de vário gênero, legitimamente constituídas".
Poderá ser, por exemplo, conforme os casos, o concílio provincial, a
conferência episcopal regional, ou a nacional. Não se quis determinar,
para não tolher nenhuma possibilidade. Com efeito, diversa é a situa­
ção nos diversos países. As conferências episcopais nacionais, cuja im­
portância tanto tende a crescer no momento atual da vida da Igreja,
não só não têm em tôda parte a mesma estrutura e a mesma eficiência,
como também nem sequer têm uma autoridade jurídica definida. Talvez
o Concilio a defina depois.

Natureza comunitária da liturgia e reforma litúrgica. — Da natu­


reza comunitária e hierárquica da liturgia (inculcada no n. 26) deduzem-
se cinco normas capitais de reforma: tôda vez que é possível a forma
também externamente comunitária, com concurso c participação do po­
vo, na celebração dos ritos, será preferida á forma quase individual e
privada (n. 27). Todo ator no drama litúrgico faça tôda e só a parte
que lhe cabe (n. 28 ), o que vale igualmente dos ministrantes, dos lei­
tores, dos comentadores e da schola cantorum (n. 29). A participação
ativa do povo deve ser promovida, especialmente, mediante as respos­
tas, as aclamações, os cantos (n. 30), e deve ser assinalada nas rubricas
(n. 31). Finalmente: “na liturgia, afora a distinção por oficio litúrgico
c as honras devidas, consoante leis litúrgicas, às autoridades civis, não
deve haver nenhuma acepção de pessoas ou de condições, nem nas ceri­
mónias, nem nas solenidades exteriores” (n. 32). Basta pensar nas cha­
madas "classes” freqüentemente em uso na celebração dos casamentos
e dos funerais, por exemplo, para compreendermos a que é que aqui
visa a Igreja.

Natureza pastoral da liturgia e língua litúrgica. — Afirmado o


princípio da natureza também didática e pastoral da liturgia (n. 33),
do mesmo derivam três normas fundamentais de reforma. Antes de tudo,
a da necessidade de que os ritos sejam de estrutura simples e clara,
por si mesmos fàcilmente compreensíveis ao povo (n. 34). Depois, a de
uma mais abundante, mais variada e mais bem escolhida leitura da
Bíblia na liturgia (n. 35, 1). Desta norma derivará, para o tempo li­
túrgico depois de Pentecostes, uma revisão assaz notável da escolha
e da distribuição das leituras bíblicas nas missas e no ofício. A mesma
norma está ligada uma nova insistência sôbre a necessidade da homi-
254 III. Crônica das Congregações G erais

lia e da catequese litúrgica, como também um aceno à oportunidade de


organizar em rito litúrgico as chamadas vigílias bíblicas (35, 2 -4 ).
Finalmente, da própria natureza didática e pastoral da liturgia su­
cede passar-se a examinar a questão da língua. E is o texto capital do
n. 36: “§ I’ O uso da lingua latina, salvo direito particular, seja con­
servado nos ritos latinos. § 2 ' Porém, jà que, tanto na missa como na
administração dos sacramentos e nas outras partes da liturgia, não ra­
ramente o uso da lingua vernácula pode ser muito útil ao povo, concc-
da-se a esta uma parte mais larga, antes de tudo nas leituras, nas exor­
tações, em algumas orações e em alguns cantos, atendo-se às normas
que nesta matéria serão, cada vez, definidas nos capítulos seguintes.
§ 3* A autoridade territorial de que se trata no artigo 22 § 2°, no respei­
to das precedentes normas, e mesmo depois de, se preciso, haver-se
aconselhado com os Bispos das regiões vizinhas de mesma língua, com­
pete estabelecer o modo e o uso da lingua vernácula, com a reserva de
que tudo o que ela houver decidido seja examinado e confirmado pela
Sé Apostólica".
Por enquanto trata-se só da afirmação do principio geral. Mas é
fundamental a sua importância. Os capítulos sobre a missa, sobre os
sacramentos e os sacram entais e sõbre o ofício divino determinarão,
depois, a cada vez, os limites máximos que o Concilio perm itirá no uso
do vernáculo nesses ritos, enquanto que a autoridade territorial a que
se alude deverá decidir se, como c até que ponto se poderá usufruir
desta faculdade na própria região.
E ’ sabido que esta questão foi a mais discutida cm todo o debate
sôbre a liturgia. Pronunciaram-se 81 oradores. As suas observações
ocupam mais de cem páginas cerradas. M anifestaram -se três tendên­
cias: os que não queriam conceder nada ao vernáculo; os que queriam
fôsse permitido, a quem quer que o desejasse, dizer tudo em verná­
culo; os que queriam manter o principio de máxima do latim, mas tam­
bém abrir notavelmente a porta ao vernáculo. A esm agadora maioria
foi desta opinião média, que era a indicada pelo esquema. E ’ a trilha
da prudência c da audácia apostólica harmoniosamente unidas. Introdu­
zindo oficialmcnte o bilinguismo na vida da liturgia latina, o Concílio
Vaticano 11 encerra um passado histórico memorável.

Liturgia e adaptação ao gênio dos povos. — O Concilio tomou


a sério a índole profundamente pastoral e didática da liturgia. Por
isto, não podia evitar o afrontar com apostólica ousadia outro grave
c urgente problema que dai deriva: o da adaptação da própria liturgia
às legitimas tradições e ao gênio religioso próprio dos diversos povos.
Eis com quanta firmeza é proclamado o principio: “A Igreja, quando
não está em questão a fé ou o bem comum geral, não pretende impor,
nem mesmo na liturgia, uma rígida uniformidade. Antes, estima e promo­
ve as características e os dotes de alma das várias raças c dos vários
povos. Considera com benevolência tudo aquilo que, nos usos dos p o­
vos, não está indissolúvelmente ligado à superstição e ao êrro, e, se pode,
protege-o c conserva-o; antes, às vêzcs admite-o na própria liturgia,
desde que isso possa harmonizar-se com o verdadeiro e autêntico espi­
rito litúrgico".' E ’ a primeira vez que o princípio da adaptação, tão in­
sistentemente inculcado pelos Papas no campo geral das missões, de-
A Igreja
255

S íS tfí B““"'0 XV’ ‘ “ P"Ci,a '


A prim eira norma geral que dai é deduyirfn nn __ ___
umto, à
litúrgica é que, publicando os livros litúrgicos que s e r v id o 'd e "o ím a
q. ,,ec . S^ o. rito romano e de. salvaguarda à sua unidade
na«S nârtVi,|lfrMa,|ta ^ náo. eXÍ<?Írá uma r«Ci<*a uniformidade nas peque­
nas particularidades de cada rito, mas deixará uma certa mareem i
livre escolha (n. 38 ). Nas diversas regiões, a autoridade territoriaf com-
petente decidirá como ■ o- comportar concretamente dentro r
gem (n. 39).
A segunda norma vai ainda mais além. Reconhecc-se (n 40) que
em certas regiões poderá talvez apresentar-se o problema de uma adapta-
çao ainda mais profunda do que a prevista pelas edições oficiais dos
livros litúrgicos. Neste caso exortam-se as autoridades episcopais terri­
toriais competentes a estudarem o problema e a fazerem propostas
concretas à Santa Sé. Esta, se fór oportuno, anuirá também cm permitir
eventuais experiências.
E ’ esta uma perspectiva audaciosa. Pense-se na gravidade do pro­
blema, por exemplo, em certos paises de missões na Aírica ou na
Asia. Prudentemente, sim, mas com apostólica liberdade, abre-se a vál­
vula a uma possível adaptação, lenta mas profunda, do rito romano ãs
necessidades locais de povos que, no desenvolvimento da sua civilização
e do seu modo de sentir, pouco ou nada devem à tradição romana, por
mais nobre e gloriosa que esta seja.
A ânsia pastoral que João XXIII tão providencialmentc soube in­
fundir nos Padres do Concílio, e a máxima indiscutida na vida da
Igreja: salus animarum suprema lex fizeram com que os Padres não
se espantassem entrevendo êsses longínquos horizontes. Duc in altum!
As duas últimas secções déste primeiro capitulo repisam a necessi­
dade de promover a vida litúrgica nas dioceses (n. 41) e nas paró­
quias (n. 42), e de organizar o movimento litúrgico mediante a cria­
ção de órgãos competentes diocesanos, interdiocesanos ou nacionais
(nn. 43-46).

Conclusão. — O primeiro capitulo da Constituição da liturgia e o


mais importante do documento, porque lhe estabelece os princípios fun­
damentais. Os capítulos seguintes sóbre a missa, os sacramentos e os
sacramentais, sóbre o oficio divino, o ano litúrgico, os acessórios sacros,
a música sacra e a arte sacra, não fazem senão aplicar aquêles princí­
pios ãs diversas partes da liturgia ou aos diversos objetos considera­
dos, embora sem descer, também ôles, aos detalhes. Em suma, se a
Constituição será como que a Magna Carta que deve servir de guia ao
cumprimento da reforma litúrgica, êste primeiro capitulo é como que
a alma da própria Magna Carta.
Assim que o seu texto fór definitivamente promulgado pelo Papa,
liturgistas, pastôres, juristas pôr-se-ão cm obra não só para interpretá-
lo nas suas mínimas particularidades, como também para lhe apreender
o espírito profundo e traduzi-lo na prática da vida da Igreja. Fruto
seguro produzirá êste trabalho. • .
Seguro porque êste capítulo sóbre os princípios gerais para pro­
mover e reformar a liturgia, conquanto possa talvez parecer revolucio­
nário, em realidade não é um bólide inesperadamente caído do ceu.
256 III. Crônica das C on gregações G erais

E\ antes, uma semente que cai em terreno òtimamente preparado, é


uma chuva benéfica que restaura uma terra que arde por recebé-la. 0
místico campo da Igreja ardia, sim, já agora quase em tôda a sua gleba,
na expectativa desta chuva fecunda, mais ou menos conscientemente, é
verdade, conforme os casos, mas, no fundo, em tôda parte com intensi­
dade. Não sem razão, desde há cinqüenta anos, o movimento litúrgico
tem estado em obra e atingiu tôdas as plagas. Prova disto as votações
alcançadas por êste capitulo.
Eis aqui, justamente, uma verificação que com satisfação pôde fa­
zer todo liturgista que teve a fortuna de assistir às discussões concilia­
res nesta m atéria: a visual litúrgica é, já agora, uma fôrça arrebata­
dora na Igreja, e tôda compenetrada com o movimento pastoral, mis­
sionário, espiritual, ecumênico, teológico: os grandes movimentos que
neste momento animam o corpo místico de Cristo.
Para aquêles que até aqui consideraram a liturgia e o movimento
litúrgico como coisas muito m arginais na vida da Igreja, a assistência
àquelas discussões terá tido valor de "revelação ”. S e ja lá como fôr,
muitos repetirão o que na aula conciliar disse um alto prelado repre­
sentante de todo um continente: "Saudem os com alegria o esquema da
liturgia. Finalmcnte temos aquilo que a nossa ânsia pastoral e missionária
há tanto tempo esperava”. E qual e a parte da Igreja que não deva
hoje considerar-se em estado missionário, e de ânsia pastoral?
Além disto, basta conhecer a importância da visual litúrgica naqui­
lo a que outro autorizado Padre, falando em nome do Secretariado da
União dos Cristãos, chamou “o nôvo método do diálogo ecumênico"
nas relações com nossos irmãos separados, para compreendermos como
o primeiro capitulo da Constituição da liturgia toca também de perto
êste problema. Não foi sem razão que os O bservadores se sentiram
tão interessados nas discussões sôbre a liturgia, as quais, ao invés,
alguns poderiam ter imaginado estranhas às preocupações dèles.
Aliás, nada de extraordinário em que a questão litúrgica se ma­
nifeste em intima conexão com tudo o que de mais vital há hoje na
Igreja. Sabemos que a vida, a vida da Igreja especialmente, é una:
e dela a liturgia é uma das expressões mais totais c mais características.
6-12-1962: Trigésima Quinta Congregação Gera!
A Igreja.

A CONGREGAÇÃO GERAL DE
hoje foi presidida pelo Cardeal Eugênio Tisserant, Decano do
Sacro Colégio. Depois do "Adsumus”, o Secretário do Concílio
leu uma breve comunicação sôbrc as atividades conciliares, de
11 de outubro a 5 de dezembro (ontem) inclusive. Neste período
houve 3 4 Congregações Gerais. Os projetos discutidos foram ao
todo 5 : Sagrada Liturgia, Fontes da Revelação, Meios de Co­
municação Social, Unidade da Igreja e a Igreja. As votações fo­
ram 33. A primeira dizia respeito à eleição dos 160 membros
das Comissões Conciliares; 4 para a aprovação geral dos projetos
sôbre a Liturgia, Fontes da Revelação, Meios de Comunicação
Social e Unidade da Igreja. As outras 28 referiam-se á aprova­
ção do Proêmio c do capítulo primeiro do projeto sôbre a Li­
turgia. Usaram da palavra 587 Padres Conciliares.' Outros 523
apresentaram observações por escrito. Portanto, ao todo mani­
festaram o próprio pensamento 1.110 Padres Conciliares. A se­
guir o Secretário comunicou o resultado de outras quatro vota­
ções de ontem, referentes à 5*, 6*, 7* e 8* emenda do capitulo
primeiro do projeto sôbre a Liturgia. Os três primeiros pontos
votados diziam respeito à língua que deverá ser usada na Litur­
gia. A oitava emenda era sôbre a pregação da palavra de Deus.
O s 145 votos nulos desta última votação correspondem aos Pa­
dres Conciliares que ontem não tiveram tempo para terminar a
votação. Mas, como o quociente dos votos favoráveis à emenda
já tinha superado de muito a maioria requerida, o Conselho de
Presidência não julgou oportuno repetir a votação. Na sessão de
hoje foram votados ainda os 2 últimos pontos do capítulo pri-

1 Nota-se pequena diferença entre êste número e a numeraçSo corri­


da da presente crônica. A diferença é devida, provàvelmente, ao fato de
que na enumeração desta crônica não entraram os Relatores.
Concilio II — 17
258 III. Crônica das C ongregações G erais

meiro. As explicações preliminares sõbrc as emendas submetidas


hoje à aprovação do Plenário foram feitas por Mons. Francisco
Grimshaw, Arcebispo de Birmingham, Inglaterra. O ponto n* 9
se refere ao valor da celebração da San ta M issa; o n* 10 fala
da competência das Conferências Episcopais em m atéria de Li­
turgia; o n? 11 da competência dos Bispos no que diz respeito
aos costumes locais. Mais duas emendas foram apresentadas
hoje: a primeira sôbre a adm inistração dc alguns sacramentos
fora da própria paróquia; a segunda sôbre a instituição de Co­
missões Litúrgicas pela competente autoridade eclesiástica lerri-
torial. E is os resultados das votações:

Votaram Maioria Placet Non Placet Nulos


5) 2.0 7 2 1.382 2.011 54 5
6) 2 .082 1.388 2.0 1 6 56 10
7) 2 .079 1.386 2.041 30 8
8) 2.086 1.384 1.903 38 145
9) 2 .082 1.388 2.0 5 4 22 6
10) 2.0 5 8 1.372 2.0 2 3 31 4
11) 2 .078 1.380 2.0 3 7 37 4
D 2.037 1.358 1.916 115 6
2) 2.0 1 4 1.343 1.981 22 11
O s oradores de hoje manifestaram o desejo de que o estudo
sôbre a Igreja, quer em sua natureza, quer em sua atividade,
constitua o centro de todos os trabalhos Conciliares. Alguns pu­
seram em evidência a dificuldade que se deve superar para en­
contrar um ponto de equilíbrio entre a necessidade de descobrir
novos métodos de evangelização e a de conservar íntegra a
doutrina em todos os seus aspectos. Houve quem lamentasse o
fato de que o projeto não frise suficientemente o aspecto do sa­
cerdócio e os laços que unem os sacerdotes ao Bispo. Outros
propuseram, como já se fizera precedentemente, a elaboração de
dois textos para o projeto em questão, um em forma doutrinal,
outro expondo a doutrina de um modo pastoral, missionário e
ecumênico. M anifestou-se o desejo de que o projeto ponha em
evidência dc um modo mais claro a relação íntima que há en­
tre a presença de Cristo na Igreja e a presença de Cristo nos
pobres. Finalmente falou-se também sôbre os problemas da au­
toridade e da obediência dentro da Igreja. No final da sessão
de hoje, o Secretário Geral propôs ao Plenário submeter ama­
nhã à votação .(P lacet — non Placet — Placet iuxta modum)
co?iuntnÍ0 Ae l Cap^ ° Píimeir0 d0 Pr°ict0 s6bre a Liturgia, em
2 í A Assembléia, levantando-se, aprovou por quase una-
. ™ . de a P i0!»**«- Os Padres presentes eram 2.082. A As­
sembléia terminou às 12,15.

Nesta penúltima Congregação Geral falaram:

faz Í 7a9 “ C^ ea\ JaT LERCARO, Arcebispo de Bolonha, na Itália:


iô breT ^ r d? S Cardeais Süenens e M°n«ni. Depois disserta
sobre o mistério de Cnsto nos pobres.
____ 580 ~ Henrique COMPAGNONE, Bispo de Angani, na Itália: dá
normas para as emendas e institui um demorado exame de consciência.
581 João HERVAS, Bispo de Ciudad Real, na Espanha: defende
e louva a solidez do esquema e fala difusamente sôbre o método a ser
usado cm teologia.
582 — Sérgio MÉNDEZ, Bispo de Cuernavaca, no México: propõe
emendas. Fala da Maçonaria.
583 — Guilherme PHILBIN, Bispo de Down, na Irlanda: chama a
atenção para o aspecto estritamente dogmático do esquema e acentua
a necessidade de condenar também os erros de hoje.
584 — Alexandre RENARD, Bispo de Vcrsailles, na França: denun­
cia um “notável defeito" do esquema: não fala dos presbíteros.
585 — Armando FARES, Arcebispo de Catanzaro, na Itália: disserta
sôbre as razões por que tTatamos da Igreja e sôbre as diretrizes segun­
do as quais o esquema foi preparado. O texto lhe agrada, contanto que
dèle se eliminem os aspectos pastorais, missionários e ecuménicos.
586 — João VELASCO, Bispo (expulso) de Hsiamen, na China: de­
fende a Infalibilidade do Sumo Pontífice que êle julga ter sido contes­
tada na Aula Conciliar.
587 — Paulo BARRACCHINA, Bispo de Orihuela-Alicante, na Es­
panha: deseja que se exprima melhor o nexo entre os membros da Igreja.
588 — José BUKLEY, Superior Geral dos Maristas: disserta sôbre
a questão da autoridade e obediência. Acha que o capitulo do esquema
que fala desta questão está muito defeituoso e ignora a verdadeira
razão da atual crise da autoridade. Deveria iniciar com a afirmação da
liberdade dos indivíduos; critica a tendência de alegar que a vontade
do Superior é a vontade de Deus.
589 _ Constantino STELLA, Arcebispo de Aquila, na Itália: de­
fende o esquema negando-lhe os três defeitos que outro dia lhe foram
atribuídos: triunfalismo, clericalismo e jurisdicismo.
590 _ Jorge HAKIM, Arcebispo de S. João de Acri, em Israel (fala
em francês): critica fortemente o texto, dizendo que não toma conheci­
mento da Igreja Oriental. Deve ser reelaborado.

Durante a Congregação Geral de hoje o Secretário comunicou ao ple­


nário as novas normas gerais para os futuros trabalhos conciliares, en­
tre o primeiro e o segundo período do Concilio, normas expressamente
aprovadas por Sua Santidade em audiência ontem, dia 5 de dezembro.
260 III. Crônica das Congregações G erais

concedida ao Cardeal Amleto Cicognani. Vai aqui a tradução feita dire­


tamente do texto latino distribuído entre os Padres e não do italiano
publicado pelo UOsservatore Romano, que omitiu algum as linhas inte­
ressantes e importantes:

Normas para os Trabalhos Conciliares entre a Conclusão do Primeiro


e o Inicio do Segundo Período do Vaticano II.
1. Durante o longo intervalo que medeia entre a conclusão do pri­
meiro e o início do segundo período do Concílio (8 de setembro de
1963) os esquemas sejam novamente examinados e aperfeiçoados, tendo
em devida conta o trabalho anteriormente feito. Esta tarefa é confiada
às Comissões Conciliares, que serão ajudadas por Subcomissões espe­
ciais e mistas, a fim de que os trabalhos procedam com maior rapidez.
2. A finalidade própria do Concilio Ecumênico V aticano II, que o
Augusto Pontífice muitas vêzes indicou e de modo especial recordou na
alocução do dia 11 de outubro p .p ., deverá ditar as normas que hão
de dirigir e inspirar o trabalho a ser feito. Aliás, não poucos Padres ex­
pressaram nas Congregações G erais o mesmo juízo, ou se ja , que os
vários assuntos sejam tratados á luz da mencionada finalidade. Na men­
cionada alocução afirmou o Papa: “O ‘punctum saliens’ dêste Concilio
não é, portanto, a discussão de um artigo ou outro da doutrina funda­
mental da Igreja, repetindo e proclamando o ensino dos Padres e dos
Teólogos antigos e modernos, pois êste supõe-se bem presente e familiar
ao nosso espirito. Para isto não era preciso um Concílio. M as da reno­
vada, serena e tranquila adesão a todo o ensinamento da Igreja, na sua
integridade e exatidão, como brilha nos Atos Conciliares, desde Trento
até ao Vaticano 1, o espirito cristão, católico e apostólico do mundo
inteiro espera um progresso na penetração doutrinal c na form ação das
consciências, em correspondência mais perfeita com a fidelidade à dou­
trina autêntica; mas também esta seja estudada e exposta por meio de
form as de indagação e formulação literária do pensamento moderno. Uma
é a substância da antiga doutrina do ‘depositum fidei' e outra é a for­
mulação que a reveste: e é disto que se deve — com paciência, se ne­
cessário — ter grande conta, medindo tudo nas form as e proporções
do magistério de caráter prevalentemente pastoral. . . . A Igreja Cató­
lica, levantando por meio dêste Concílio Ecumênico o facho da verdade
religiosa, deseja m ostrar-se Mãe amorosa de todos, benigna, paciente,
cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados. Ao gê­
nero humano, oprimido por tantas dificuldades, Ela diz, como outrora
Pedro ao indigente que lhe pedia esmola: "E u não tenho nem ouro nem
prata; mas dou-te aquilo que tenho: em nome de Jesus Cristo Nazareno,
levanta-te e anda!” (At 3,6).
3. Antes de tudo é necessário que dentre os muitos assuntos tra­
tados sejam escolhidos alguns, e os principais; sejam examinados aquê-
les que concernem à Igreja universal, aos fiéis e à inteira família hu­
mana. Os esquemas sejam elaborados de molde a tratar mormente os
princípios mais gerais, omitindo-se as questões particulares que não lhes
estão diretamente vinculadas; porquanto é preciso considerar que um
Concilio Ecumênico diz respeito à Igreja universal e suas Atas valerão
para sempre. Por isto mesmo evitem-se a demasiada cópia de palavras
e as repetições. Tudo o que se referir à futura revisão do Código de
A Igreja 261

Direito Canônico seja remetido à Comissão competente. Da mesma for­


ma, é conveniente que alguns assuntos especiais sejam confiados às Co­
missões que serão instituídas depois do Concilio.
4. Entrementes, institui-se uma nova Comissão para coordenar e di­
rigir os trabalhos do Concilio; dela fazem parte alguns Cardeais c Bis­
pos, sob a presidência do Secretário de Estado, que deverá informar o
Augusto Pontífice acêrca do que se faz no Concilio (cf. cân. 222, § 2 ).
A tarefa especifica desta nova Comissão, tarefa que deverá ser cum­
prida em entendimento com os Emmos. Presidentes das Comissões Con­
ciliares, é a seguinte: coordenar c acompanhar os trabalhos das Co­
missões, bem como tratar com os Emmos. Presidentes das ditas Co­
missões, não apenas acêrca de questões relativas à competência, senão
também daquilo que é necessário para urgir e garantir a conformidade
dos esquemas com a finalidade do Concilio. Os Emmos. Presidentes se­
rão ajudados pelos Vice-presidentes, Secretários e Membros de cada
Comissão. As circunstâncias hão de mostrar quais serão as normas opor­
tunas a seguir. Com utilidade poderão ser também consultadas e inqui­
ridas — não em razão de estrito dever, mas de consideração e cortesia
— outras pessoas, dotadas de experiência nos vários setores, sobretudo
nas formas externas de apostolado; isto porque tais pessoas, se forem
consultadas, poderão contribuir a interessar os que os rodeiam pela
causa do Concilio. Esta consulta de opiniões se faça de tal maneira,
que o maior número possível possa tranquila e livremente manifestar o
seu juízo, salvas a devida prudência e cautela.
5. Os diversos esquemas, uma vez revisados dêste modo e aprova­
dos em forma genérica pelo Augusto Pontífice, enviar-se-ão aos Bispos,
trâmite os Presidentes das Conferências Episcopais, onde esta via se
demonstrar mais oportuna; aos Bispos pede-se que examinem os esque­
mas e em seguida os remetam à Secretaria Geral do Concilio dentro
de um certo prazo, a estatuir-se para cada ocasião, prazo em todo caso
breve. _ .
6 As Comissões Conciliares, após receberem as observações feitas
pelos Bispos, procederão à inserção das emendas nos esquemas, tendo
em conta as observações recebidas e ponderando bem as razões que mi­
litam pró ou contra as diversas emendas, de forma que os esquemas de­
vidamente preparados, possam ser propostos à Congregação Geral.
Essas normas foram aprovadas por Sua Santidade Joao x x n i.

5 dc dezembro de 1962.
Amleto João Card. Cieognani, Secretário de Estado.
7-12-1962: Trigésima Sexta Congregação Geral.
A Igreja.

A SAN TA M ISSA D E ST A MA-


nhã na Aula Conciliar foi celebrada em rito caldeu por Mons.
Gabriel Ganni, Bispo Coadjutor de Beirut para os Caldeus do
Líbano. Presidiu à C ongregação G eral o Cardeal Liénart, B is­
po de Lille. No inicio da sessão o Secretário G eral anunciou que,
ao meio-dia, o Santo Padre viria à Aula Conciliar para recitar
com os Padres Conciliares a prece mariana do Angelus e diri­
gir-lhes algumas palavras como conclusão dêste primeiro pe­
ríodo de trabalhos. Amanhã, com a San ta M issa, em São Pe­
dro, cantada em gregoriano pelos Padres C onciliares e pelo povo
e com o discurso de encerramento do Santo Padre, terminará a
primeira etapa do Concílio Ecumênico Vaticano II. Longo aplau­
so manifestou os sentim entos de alegria que a notícia causou
nos presentes. A seguir o Secretário leu algumas normas para
as cerimônias litúrgicas do dia 8 e do dia 9 de dezembro. D e­
pois, explicou os critérios que seriam adotados para a votação
de hoje, para a aprovação do proêmio e do capitulo primeiro
do projeto sôbre a Liturgia. O voto “placet iuxta modum”, que
hoje pela primeira vez poderia ser dado, é um voto fundamen­
talmente positivo. Quem o dá, deve apresentar, até 31 do cor­
rente mês, as correções que deseja introduzir na matéria votada,
do contrário o voto será considerado puramente como placet. An­
tes de dar a palavra aos Padres inscritos para hoje, o Cardeal
Liénart dirigiu à Assembléia palavras de saudação convidando
os presentes a agradecerem a Deus a assistência concedida neste
primeiro período Conciliar. Manifestou também os seus votos de
feliz Natal aos Padres Conciliares, mesmo aos Cardeais e B is­
pos que não puderam tomar parte no Concílio. Procedeu-se en-
lo t o aa
no um T L t í foram
sessão fV0,° ' osde seguintes:
“P“'3' 50- 0s " * “" * " * Pecados
Votaram 2.118
Maioria requerida 1.412
P la c e t ........................ 1.922
Non p la c e t ................ 11
Placet iuxta modum 180
Nulos .................................... 5
Como os votos em favor superaram de muito a maioria reque­
rida, o Secretário declarou aos presentes que não seria mais ne­
cessário explicar as razões do voto “placet iuxta modum” dado
por apenas 180. — Também na Congregação Geral de hoje ma-
nifestou-se o desejo de que o projeto sôbre a Igreja seja con­
siderado o centro dos trabalhos conciliares. Os oradores desta
manhã ofereceram um precioso contributo ao estudo do projeto
em questão, chamando a atenção dos Padres Conciliares para
alguns aspectos importantíssimos da doutrina católica sôbre a
Igreja, tais como a Caridade e o papel do Evangelho. A Cari­
dade, como foi dito, deve ser considerada a alma do Corpo Mís­
tico de Cristo, a fonte da verdadeira unidade e o princípio de
equilíbrio entre o jurídico e o espiritual, o doutrinal e o pasto­
ral, a autoridade c a liberdade. Por outro lado, no Evangelho
não se deve ver apenas um livro de espiritualidade. Êle deve
constituir a fonte genuína da doutrina sôbre a Igreja. Assim a
renovação espiritual a que se propõe o Concílio consistirá prin-
cipalmente na perfeita subordinação da organização eclesiástica
aos fins evangélicos e na purificação da mesma dos defeitos e
imperfeições existentes para que ela possa ser um autêntico si­
nal daquilo que representa. Deste modo encontrar-se-á também
a solução para tôdas as eventuais antinomias que de quando
em quando se apresentam. Houve também quem exprimisse o de­
sejo de que se tenha em consideração no projeto o conceito tra­
dicional de unidade da Igreja, o qual, não sendo unívoco, com­
preende a diversidade das várias Igrejas unidas pelo laço co­
mum de subordinação á Igreja de Roma. Outros pediram que na
reelaboração do projeto sejam postas em relêvo as diversas fi­
guras bíblicas da Igreja, como, por exemplo, a de EspÔsa de Cris­
to e a de Povo de Deus. — Às 11,55 o Santo Padre veio à Sala
Conciliar onde rezou o Angclus com os presentes aos quais diri­
giu também algumas palavras. — Os Padres Conciliares hoje pre­
sentes à Assembléia eram 2.118. A Assembléia terminou às
12,12 horas.
264 III. Crônica das Congregações G erais

Nesta última Congregação Geral da primeira fase do Concilio Va­


ticano II falaram:
591 __ Cardeal Francisco KOENIG, Arceb. de Viena, na Áustria:
lembra os principais frutos desta etapa conciliar. Louva as normas ponti­
fícias publicadas ontem para orientar os trabalhos preparatórios da se­
gunda etapa. "D e E cclesia” deve ser o pensamento central de todo o
Concilio.
592 — Cardeal José L E FE B V R E , Arceb. de Bourges, na Fran ça: de­
clara que ficou muito decepcionado ao verificar que o esquema sòbre
a Igreja nada diz da Caridade de Cristo. Lembra que a própria palavra
“caritas” está apenas no capítulo que fala dos leigos. Fique claro no
texto que a Igreja é o mistério da caridade de Cristo.
593 _ Vicente R E Y E S , Bispo de Borongan, nas Filipinas: louva o
esquema c afirma que devemos mesmo ser “triunfantes”.
594 — Luís DE BAZELAIRE, Arceb. de Chambéry, na França: a
Igreja é Mater e M agistra; mas o vulto materno, no esquema, está mui­
to apagado.
595 — Isaac GH ATTAS, Bispo dos coptos de T eh as, no Egito (fala
em fran cês): o esquema deve ser mais realm cnte tradicional e não pode
omitir o Oriente.
596 — Alfredo ANCEL, Bispo Aux. de Lião, na Fran ça: fala da
organização jurídica da Igreja, que deve ser tal que corresponda de fato
aos fins que Cristo quis para sua Igreja. Lembra que Pedro não viveu
separado do Colégio Apostólico. Todo o esquema deve ser mais evangélico.
597 — Alfredo SILVA, Arceb. de Concepción, no Chile: declara que
com muita atenção ouviu as críticas feitas, mas o esquema continua a
merecer seu "placet”. Disserta sóbre o sentido do "aspecto pastoral” .
598 — Alfredo D ’SOUZA, Arceb. de Nagpur, na India: pensa que
o texto é incorrigível. Deve-se compor um outro totalm ente nòvo. Faz
uma das criticas mais ferozes ouvidas pelo plenário.
599 — Germano VOLK, Bispo de Mainz, na Alemanha: critica que
das numerosas figuras bíblicas para ilustrar a natureza da Igreja foi
tomada apenas uma, a do Corpo, o que é insuficiente; lembra a da Spon-
sa e a do Populus Dei. O modo de falar do esquema difere muito do
modo de falar da Sagrada Escritura: “non satis sapit Evangelio". Todo
o esquema deve ser renovado.
600 — Cristóvão B U T L E R , Superior Geral da Congregação Bene­
ditina na Inglaterra: o Concilio deve usar de suma cautela nos pronun­
ciamentos doutrinários. Devemos evitar as questões disputadas.

Falou então Sua Santidade o Papa JOAO X X III: declara que as Con­
gregações Gerais, nestes dois meses, “realizaram imensa quantidade de
trabalho”. Revela que durante todo êste tempo "seguiu com alegre aten­
ção a contribuição de cada um” (sabe-se, com efeito, que o Papa, nos
seus Apartamentos, acompanhava por alto-falante e especial dispositivo
televisivo os trabalhos de tôdas as Congregações G erais). “As ansieda­
des pastorais que manifestastes, quer na direção dos trabalhos, quer nas
intervenções e conselhos, orais e escritos, permitiram-Nos ouvir a voz
de tôda a catolicidade que com esperança e expectativa neste período
dirigiu a sua atenção para as vossas reuniões”. “ Foi a Igreja docente
A Igreja 265

r< X .?° E,M8"to * “ » "£r<£Sf3,Z 7Zi£


Comentário final do cronista:

Dois meses atrás, às vésperas do Concilio, nlo teria nem


sequer sonhado o que hoje, no último dia desta primeira fase do
Concilio, numa visão retrospectiva, se poderá dizer acerca dos re­
sultados dêste grande Encontro Mundial dos Bispos Católicos.
Falando então com um dos principais responsáveis pela elabora­
ção preconciliar dos esquemas teológicos, manifestava êle a es­
perança de que o Concílio aprovaria os textos depois de três a
quatro semanas de sessões conciliares. E hoje, oito semanas de­
pois, numa reviravolta espetacular, só vejo farrapos e ruínas.
Fiasco? Resultados apenas negativos? Tempo perdido? Tentarei,
ainda sob a impressão imediata dos acontecimentos vividos, or­
denar em vários pontos quais me parecem ser os verdadeiros
resultados desta primeira fase do Concílio Vaticano II:

1. Resultado absolutamente positivo: a renovação da vida


litiirgica. Já comentei o assunto. Basta acrescentar aqui que a
votação dos Padres Conciliares mostrou que a quase totalidade dos
Bispos do mundo inteiro era a favor desta renovação: geralmente
cêrca de 2.000 diziam "placet” e apenas uns 30 ou 40 arriscavam
ainda um ”non placet”. Era a vitória absoluta e final do movi­
mento litúrgico. O grupinho do “non placet” já não tem mais
razão de ser se quiser, de fato, como sempre alega, "sentire cum
E cclesia”. Pois esta “Ecclesia” exprimiu agora clarissimamente
seu sentir.
2. Outro grande resultado, êste negativo mas com valor po­
sitivo- O Concílio não foi, como muitos temiam, uma espécie de
“Sínodo Romano” para fôda a Igreja. Vontade para isso não fal­
tava. Nem mesmo faltavam os projetos. Centenas de novas pres­
crições e proibições, juridicamente perfeitas, com previsão de tó-
das as possíveis circunstâncias para evitar a fuga, tudo isso cer­
tamente não teria contribuído para levar aos homens de hoje a
boa nova da redenção. Graças a Deus, a mentalidade que pouco
a pouco e até mesmo ràpidamente tomou conta da Aula Conci­
liar não permitiu sequer a apresentação das leis cuidadosamente
preparadas.
266 III. Crônica das C ongregações G erais

3. Eis, aliás, um terceiro resultado muito positivo: a supe­


ração dc uma mentalidade que poderiam os qualificar como pós-
tridentina: jurídica, apologética e unilateralmente anti-reform ista,
que identifica a Igreja com a hierarquia e vê nos "sú d itos” (têr-
ino característico desta mentalidade, mas pouco b íblico) apenas
indivíduos aos quais benignainente podem ser concedidas permis­
sões, faculdades, graças, mas que têm sobretudo uma grande
missão a cumprir: obedecer.
4. Surpreendente resultado foi também êste: viu-se e sen­
tiu-se que as mais recentes correntes teológicas da Europa Cen­
tral (principalmente França e Alemanha, mas também Holanda e
B élgica) tiveram influência positiva muito mais forte do que se
pensava. A Teologia oficial, tal como se cristalizou em alguns
manuais considerados clássicos, recebeu da parte do Concilio um
aviso suficientemente claro para se renovar. Os projetos de Cons­
tituições dogmáticas, preparados pela Comissão T eológica Pre-
conciliar, estavam certamente e totalmente no espirito desta T eo ­
logia oficial, e no entanto foram fragorosam ente reprovados. Não
devemos subestimar o grande valor positivo dêste fato, o mais
notável desta primeira fase do Concilio.
5. Este fato, aliás, também provou a insuficiência da Co­
missão Central Preconciliar. E sta Comissão fora considerada co­
mo uma espécie de “Concilio em m iniatura” e não poucos pen­
savam que, para se fazer um autêntico Concilio Ecum ênico, seria
suficiente um grupo de delegados que representassem as várias
nações. No entanto estas semanas de Concílio literalmente uni­
versal deixaram evidente que a Comissão Central, apesar dc sua
universalidade, de fato não fôra capaz de representar ou defen­
der os interêsses da Igreja Universal, pois a maioria dos Padres
Conciliares derrubou o que a maioria da Comissão Central havia
aprovado. Sab e-se que na Comissão Central também houve opo­
sição (o Cardeal Doepfner e o Arcebispo Hurley não fizeram
disso nenhum segrêdo), mas esta não tinha fôrça suficiente (quer
dizer: votos) para vencer o grupo dominante. O mesmo, aliás,
poderia dizer-se também da Comissão Teológica Preconciliar: o
grupo “oficial” era numericamente tão superior que o outro gru­
po pràticamente não chegava nem a ter vez e voz para falar. Só
mesmo um Concilio Ecumênico era capaz de fazer o que de fato
foi feito. Dai também a conveniência ou até mesmo a periódica
necessidade dêstes grandes encontros dos Bispos de todo o mun­
do. Pois é muito humano que um grupo, quase uma oligarquia,
se instale como que definitivamente nalgum dicastério, mesmo
A Igreja
267

3ü k - - * * -
podem sucumbir à tentaçjo d . o a S , W
nico, se fôr universal mesmo, p o K S T S a e ? a, Z í ! J " 1" * -

^qUKC S , 'r rumãfe“^


. c H6 ' f dl- t5 mbem clue hoje, com os modernos instrumen­
tos de comunicação social (como se deve dizer agora), já seria
mp“ e ^ hcí perdidos- convocar « B i i o l ; s
pa a ter a opinião deles, bastaria comunicar-se com êles. Tería­
mos assim uma especie de Concilio Ecumênico à distância. Pa­
rece, porem, que esta primeira fase do Vaticano II provou que
convocar os Bispos e reuni-los numa só e ampla Aula Conciliar
nao e perder tempo e dinheiro. Por exemplo: se todos os Bispos
hvessem recebido pelo correio o esquema “De Fontibus Revela-
tionis , tal como fôra elaborado na fase preconciliar, com o pe­
dido de dar o “placet" ou o “non placet”, creio que não seria
temerário pensar que o texto teria sido aprovado (pois nêle não
havia nenhuma heresia e, portanto, não teria estado em jôgo a
infalibilidade da Igreja).
7. Resultado positivo de grande valor foi também o próprio
encontro como tal. Muitas vezes isolados nas suas Dioceses, sem
tempo nem livros para estudar ou atualizar-se, os Bispos toma­
ram agora contacto com os grandes problemas do tempo pre­
sente. As Congregações Gerais foram verdadeiras aulas, com cur­
sos intensivos e mestres os mais capazes que hoje vivem. Foram
60 0 aulas em dois meses! E além destas, ainda outras, fora da
Aula Conciliar, nos numerosos encontros de grupos, territoriais ou
linguísticos, para permuta de idéias e experiências. Jocosamente
falou-se de dois Concílios paralelos: um, o Vaticano, na Aula
Conciliar, e outro, o Lateranense, nos dois lodos ou corredores,
ambos com suas características e ambos importantes. Do valor
destes encontros extraconciliares, individuais ou coletivos, vale­
ria a pena fazer um estudo à parte. Como também da influência
dos teólogos e “peritos".
8. Nos comentários anteriores já me referi a um outro re­
sultado de grande importância e que agora só quero recordar:
êste Concílio marca o início decisivo da desocidentalização da
Igreja. Pois a organização atual da Liturgia e Disciplina da Igre­
ja foi de fato formulada séculos atrás, quando a Europa (ou o
“Ocidente” ) era o mundo, quando as instituições sociais se pro­
clamavam cristãs e católicas, quando a voz do Papa e da Igreja
era ouvida e aceita, quando os problemas sociais não eram ainda
268 III. Crônica das C ongregações G erais

tão vivamente sentidos, quando ainda não se falava tanto dos


direitos humanos e das liberdades modernas. H oje tudo mudou,
menos a parte humana e mutável da Ig reja que continua como
séculos atrás. Ora, o Papa resolvera convocar os Bispos preci­
samente também para esta adaptação e atualização. E os Bispos
falaram livremente, francamente, abertamente, sem receio, saben­
do que João X X III desejava e queria que assim se manifestassem.
E a Igreja começou a d eso cid e n ta liz a r-se.. .
9. Também o inicio da descentralização deve ser anotado co­
mo resultado positivo de imenso alcance para a Igreja. Princi­
palmente a discussão sôbre a Liturgia e o Episcopado deu moti­
vos para tocar neste assunto de natureza bastante delicada.
10. Os mais audaciosos ecum enistas destes últimos vinte
anos certamente não esperavam receber do Concílio tão ampla
aprovação qual de fato lhes foi dada. Parecia-m e maravilhoso e
inacreditável que em plena Aula Conciliar até mesmo um Pre­
lado espanhol fizesse ouvir sua voz para protestar contra o ca­
ráter pouco ecumênico de um esquema. A só presença de ob­
servadores não-católicos, quase como convidados ou hóspedes de
honra do Concilio, foi justamente qualificada pelo Cardeal Bea
como um “verdadeiro m ilagre”. Nos outros Concílios, para os
hereges, havia tratamento d ife r e n te ... Fato novo, inaudito na
história dos Concílios, que um Padre Conciliar se levantasse para
cumprimentar os ortodoxos, anglicanos e protestantes com estas
palavras: “Observatorcs, fratres in Christo dilectissim i”.
Este é, pois, em resumo, o grande resultado positivo da Pri­
meira Sessão do C oncílio: Sabem os agora exatam ente o que a
Ecclesia Christi quer e com o ela deseja concretizá-lo. Agora o
Concílio pode com eçar: encontrou seu caminho.
IV. D o c u m e n to s
Regulamento do Concílio Ecumênico Vaticano n.

„ . A p r o x im a n d o -s e o c o n c i-
Iio Ecumênico Vaticano II, Nossa alma enche-se de grande ale­
gria ao pensamento do grandioso espetáculo que em breve apre­
sentará a imensa multidão dos Bispos, reunidos em Roma, vin­
dos de tôdas as partes do mundo, a fim de tratarem conosco,
junto ao túmulo do Príncipe dos Apóstolos, dos mais graves pro­
blemas da Igreja. Por isto oferecemos a Deus as mais profundas
ações de graças, não só por nos haver inspirado a idéia de em­
preendermos obra tão importante, mas ainda por haver constan­
te e eficacissimamcnle guiado os trabalhos preparatórios do Con­
cílio. Essa assistência confirma grandemente a Nossa confiança
em que os socorros sobrenaturais que foram prodigalizados des­
de o início dêste empreendimento continuarão a ser abundantes
para o levarmos a bom têrmo.
Frutos copiosos espera a Igreja Católica dessa vasta assem­
bléia. Santa Espósa de Cristo, Mãe e educadora de todos os po­
vos, ela deseja, acima de tudo, que a luz da verdade luza para
todos os seus filhos, sem excetuar os que vivem fora dO'seu seio,
e deseja que sempre mais os inflame uma ardente caridade; por­
quanto êsses bens celestes que são a verdade e a caridade são
os que mais contribuem para proporcionar a unidade e a paz. Os
fins que se propõe o próximo Concílio Ecumênico tendem a se­
guir o mandamento dado por Jesus Cristo a seus apóstolos, e que
ate o fim dos tempos ecoará no universo inteiro: "Ide, ensinai
tôdas as nações, b a tiz a i-a s.. . e ensinai-as a observar tudo o que
eu vos mandei” (Mt 2 8 ,1 9 ). Os Bispos, sucessores dos após­
tolos, têm, pois, a tríplice tarefa de ensinar, de santificar e de
governar; e, a fim de dignamente se desobrigarem disso, na sua
bondade prometeu-lhes Jesus Cristo estar com êles até à consu­
mação dos séculos.
272 IV. Documentos

Ora, é preciso ensinar aos homens aquilo que concerne à


verdadeira fé e aos bons costumes, e cada vez mais mister se
torna lembrar qual é a natureza íntima da Ig reja e quais são as
suas funções e os seus fins. Com efeito, mais radiosa será então
a face da nossa Mãe a Igreja, e mais intensamente am á-la-ão os
homens, mais docilmente recorrerão aos seus meios de salvação
e obedecerão às suas leis. Ademais, os modernos progressos cien­
tíficos e técnicos estenderam largamente o domínio do homem sô-
bre a natureza. Nêles brilha um raio da Sabedoria divina, "r e ­
flexo da luz eterna, espelho sem mancha da atividade de Deus, e
imagem da sua bondade” (S a b 7 ,2 6 ); por isto é que é de de­
sejar que os homens achem aí um incentivo para se preocuparem
mais com a sua vida moral, e para chegarem a essa perfeição in­
terior a que por sua natureza a alm a humana aspira.
Em razão do número e da variedade dos que dêle participa­
rão, o próximo Concílio certamente aparecerá aos olhos de todos
como o mais grandioso de todos os C oncílios que a Igreja já co­
nheceu. Se é êste um motivo de conforto, nem por isto deixa de
comportar cuidados e preocupações, pois tarefa aparentemente
bem difícil será aproveitar com sabedoria uma tal soma de con­
selhos, escutar tantos oradores, pesar maduramente os votos e
os desejos de todos, e traduzir na realidade tôdas as decisões
que forem tomadas. Entretanto, o que Nos infunde confiança é
que, mau grado suas diferenças de nacionalidade, de raça e de
lingua, todos os Padres do Concilio são N ossos irmãos em Cristo,
e são animados de um só e mesmo Espirito (cf. 1 Cor 12,11).
Consoante as palavras de Jesus Cristo, eles aparecerão, pois, ver­
dadeiramente como a luz do mundo, e poderão dar frutos "em
tudo o que é bom, justo e verdadeiro” ( E f 5, 8 - 9 ) .
Para que sejam abundantíssimos êsses frutos, devemos con­
tar, antes de tudo, com o auxilio dc Deus onipotente, auxílio
que temos invocado em tôdas as nossas preces, pela intercessão
de Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e os homens, da S S .
Virgem M aria e de S. José, seu espôso, sob a proteção especial
de todos os quais houvemos por bem colocar o Concílio. Para
isso concorrerá também a ação comum de todos os que partici­
parem do Concílio, com a condição de se desenrolar ela na con­
córdia e na boa ordem. Foi por isto que julgam os oportuno es­
tabelecer certas regras que, levando em conta as circunstâncias
e o caráter particular dêsse Concílio, farão que nessa vasta as­
sembléia os trabalhos se desenrolem como é de mister, e sejam
Regulamento uu
do »-onciiio
Concilio 273

Vaticano II.

IOANNES PP. XXIII.

PRIMEIRA PA RTE: AS PESSOAS QUE TOMAM PARTE NO CONCILIO.

Art. 1’ Os participantes do Concilio.

§ 1’ Constituem o Concílio Ecumênico, com o Sumo Pontífice, os


Bispos e outras pessoas para CIc convocadas pelo Sumo Pontífice; todos
são chamados “Padres Conciliares”.
§ 2 * Se alguém convocado para o Concilio em virtude do cânone
223, § I», do Código de Direito Canônico, ou do cânone 168, § 1 * (De
Personis) do Código de Direito Oriental, por justa causa estiver impe­
dido de participar dêle, deve enviar um procurador que o represente,
em virtude do cânone 224, §§ l*-2T do C .I .C ., ou 169, §§ l'- 2*, De
personis, do C .I.O .
§ 3* Os Padres serão auxiliados por teólogos, canonistas e outros
peritos. Terão a seu serviço: um secretariado geral, subsecretários, mes­
tres de cerimônias, pessoas que lhes indicarão o seu lugar, notários,
promotores, escrutinadores, secretários-arquivistas, leitores, intérpretes, tra­
dutores, estcnógrafos e técnicos.

CAP. I: AS SESSÕ ES PÚBLICAS

Art. 2* A tarefa das Sessões Públicas. Nas Sessões Públicas, os Pa­


dres exprimem seu voto, em presença do Sumo Pontífice, sôbre as fór­
mulas dos decretos ou cânones que foram preparados nas Congregações
Gerais, a fim de que, se o julgar bom, sôbre êles o Sumo Pontífice ex­
prima sua opinião e ordene promulgá-los.
Concilio n — 1»
274 IV. Documentos

CA P . II: A S C O N G R EG A Ç Õ ES G E R A IS
Art. 3** A tarefa das Congregações Gerais. Nas C ongregações Ge­
rais, que precedem as Sessões Públicas, após discussão os Padres es­
tabelecem as fórmulas dos decretos ou cânones.
Art. 4* Presidência das Congregações Gerais.
§ 1* Tôda Congregação Geral é presidida, em nome e com a au­
toridade do Sumo Pontífice, por um dos dez Cardeais nomeados pelo
Santo Padre.
§ 2* Êsses dez Cardeais, escolhidos pelo Sumo Pontífice, constituem
o Conselho de Presidência que, com a autoridade do Sumo Pontífice, está
encarregado de dirigir as discussões dos Padres e tõda a conduta do
Concílio.
CAP. 111: AS C O M ISSÕ ES CO NCILIARES

Art. 5" A tarefa das Comissões. As Comissões Conciliares preparam


e emendam, conformemente às opiniões expressas pelos Padres nas
Congregações Gerais, os esquemas dos decretos ou cânones.
Art. 6* A composição das Comissões.
§ 1 * Cada Comissão é presidida por um Cardeal nomeado pelo
Sumo Pontífice.
§ 2* Cada Comissão compreende, além do Presidente, vinte e qua­
tro membros, escolhidos entre os Padres do Concilio, sendo dois terços
pelos Padres e um têrço pelo Sumo Pontífice. 1
§ 3* Um Padre só pode ser Membro de uma única C om issão; sc o
julgar oportuno, um Presidente de Comissão pode consultar qualquer
Padre.
§ 4* Cada Presidente de Comissão escolhe, entre os Padres de sua
Comissão, um ou dois vice-Presidcntes para o secundarem e substituírem
se estiver ausente ou impedido.
§ 5» O Presidente de Comissão escolhe um secretário entre os teó­
logos, os canonistas ou os peritos do Concilio.
Art. 7» A lista das Comissões.
§ l* São criadas d e z ’ Comissões Conciliares: a) A Comissão Dou­
trinária para a Fé e os Costumes; b) a Comissão dos Bispos e do Go-
vêrno das D ioceses; c) a Comissão das Igrejas O rientais; d) a Comissão
da Disciplina dos Sacram entos; e) a Comissão da Disciplina do Clero
e do Povo C ristão; f) a Comissão dos Religiosos; g ) a Comissão das
M issões; h) a Comissão da Liturgia; i) a Comissão dos Seminários, Es­
tudos e Educação Católica; j) a Comissão do Apostolado dos leigos; d.i
Imprensa e Espetáculos.
§ 2* Há, ademais:
I. O Secretariado para os negócios extraordinários do Concílio, cujo
papel é examinar as novas questões particulares propostas pelos Padres
1 Atas dc i Santo Padre nomeou 9 Membros, cm lugar dc 8, que serlnm
exatamente os __ terços ..............
previstos .neste parAgrato do Regulamento.
1 No dia 22 de outubro, durante .,- quarta CongrcgaçAo Geral, foi comunicado
oMiiiHrn .........
que o Sumo Pontífice equiparara em tudo „* Secretariado para a UnIJo dos Crls-
tSos As outras dez Comissões; liA, pois, de '***
(ato, ----- ComlssCts Conciliares.
Regulamento do Concílio
275

cretjrio a. a « * f a tS S T S Í Ü J T ^ S3S S"


n o rJ» M™ ‘ ^ C’ iSU» <“ **« *« - < * * * -
III. A Comissão para as questões técnicas e de organização.
IV. O Secretariado administrativo.
m»cn?S «r ea - ' Sm0S 5orresP°ndentes aos números II, III e IV têm as
d" ^ ** *• — *

CAP. IV: O TRIBUNAL ADMINISTRATIVO


Art. 8® A Constituição do Tribunal Administrativo.
. Pel° Sunl0 Pontl,ice é criado um tribunal especial que deci­
dirá sobre as questões relativas à disciplina do Concilio, sôbre as dis­
pensas e as contestações.
§ 2® O Tribunal Administrativo é presidido por um Cardeal no­
meado pelo Sumo Pontífice. ’ Compreende dez membros, que são Pa­
dres do Concílio, igualmente nomeados pelo Sumo Pontífice.
§ 3® As decisões do Tribunal Administrativo são proferidas por três
Membros que se sucedem por turno; em caso de apelação, são proferi­
das cm presença de todos.
§ 4’ O Tribunal Administrativo julga sòmente segundo a verdade,
sem solenidade.
§ 5® O Tribunal Administrativo é assistido por um dos notários con­
ciliares, e, se o requerer a questão, por um dos promotores conciliares.

CAP. V: OS TEÓLOGOS, CANONISTAS E OUTROS PERITOS


Art. 9® Os peritos do Concilio. Os teólogos, canonistas e outros es­
pecialistas, que são englobados sob o nome de "Peritos” ou expertos
do Concilio, são nomeados pela autoridade do Sumo Pontífice.
Art. 10® O oficio dos peritos do Concilio.
§ 1® Os peritos do Concilio assistem às Congregações Gerais, mas
nelas só falam quando interrogados.
§ 2® A pedido dos Presidentes das Comissões, e sob sua direção,
os Peritos do Concilio levam seu concurso a qualquer das Comissões.
Trabalham então com os Membros dela na elaboração e emenda dos es­
quemas, bem como na redação dos relatórios.
Art. II® Os peritos privados.
§ l® Cada Padre Conciliar pode apelar para as opiniões e para o
trabalho não só dos Peritos conciliares como também de todo teólogo,
canonista ou especialista privado. _
K o® Os peritos privados não assistem nem as Congregações Gerais
nem às sessões das Comissões, mas são obrigados, por juramento, a
guardar scgrêdo sôbre os atos e discussões do Concilio.
Cardeal
■ Segundo fOsserv. Rom. de 6-9-62. tol nomeado para
Francisco Robcrtl.
276 IV. Documentos

CA P. V I: O S E C R E T A R IA D O GERAL

Art. 12* A constituição do Secretariado Geral. O Secretariado Geral


do Concilio, dirigido pelo Secretário Geral, compreende quatro ofícios:
a ) O oficio das cerimônias; b) o ofício dos atos jurídicos; c) o ofi­
cio da redação e conservação dos a to s; d) o oficio dos técnicos.
Art. 13» Lista dos funcionários e oficiais. O S ecretário Geral e dois
subsecretários. *
I. Ofício das cerimônias: o prefeito das cerimônias, os mestres das
cerimônias e os que indicam os lugares.
II. Ofício dos atos jurídicos: os notários, os prom otores e os es-
crutinadores.
III. Oficio da redação e conservação dos ato s: os redatores, os lei­
tores, os intérpretes, os tradutores, os estenógrafos.
IV. Ofício dos técnicos: os que são encarregados das instalações
técnicas.
Art. 14* Nomeação dos funcionários c oficiais. T o d os os funcionários
e oficiais que trabalham para o Concílio são nomeados pela autoridade
do Sumo Pontífice.
Art. 15* Encargo dos diferentes funcionários e oficiais.
§ 1* O Secretário Geral está a serviço da presidência; após as Ses­
sões Públicas ou as Congregações Gerais, desobriga-sc dos negócios que
lhe são confiados; ocupa-se, enfim, de reunir, classificar e conservar cui-
dadosamente os atos do Concilio.
§ 2* Os subsecretários secundam o Secretário Geral e substituem-no
em caso de ausência ou impedimento.
§ 3* O Prefeito das cerimônias regula e dirige as funções sacras
e as cerimônias. E ’ auxiliado pelos mestres de cerimónias e pelos que
indicam os lugares.
§ 4* Os Indicadores de lugares conduzem os Padres ao lugar que
lhes é designado e que está marcado. Anotam os nomes dos Padres pre­
sentes e velam por que os Padres preencham a fôlha de presença.
§ 5’ Os Notários redigem atas de tudo o que foi feito nas Sessões
Públicas, nas Congregações G erais e no Tribunal Administrativo, classi­
ficam -nas e colocam-nas nos arquivos.
§ 6* O s Promotores pedem solenemcnte, no fim de cada sessão pú­
blica, que os notários do Concílio presentes redijam uma ata autêntica
de tudo o que foi feito no correr da sessão.
§ 7* Os Escrutinadores coletam os votos dos Padres nas Sessões
Públicas e nas Congregações Gerais, e fazem-lhes a apuração.
§ 8* Os Redatores tomam nota de tudo o que foi feito nas Sessões
Públicas e nas Congregações Gerais, de maneira a poderem fazer disso
um relato escrito; devem preocupar-se de fazer imprimir os esquemas,
os avisos e outros anúncios destinados a ser lidos no Concilio ou dis­
tribuídos aos Padres.
§ 9* Os Leitores estão à disposição dos Padres para lhes lerem
as exposições.

* De fato o Sumo Pontífice nomeou S Subsecretários e nio npenat os dois pre­


visto por êste parágrafo.
Regulam ento do Concilio 2„

seus conhecimentosVa^lingu«. 3 Serviço dos Padrcs. nas discussões,

digid§as' lm °h n Ju a ^ v ílg a í- S é m ™ sã ?™ 3S Cxposiç6es dos Padres re-


tim, dos^afos e documenios encarregados da redação, em la­

dres nas suas exposições°e tfscuM õès^o d í ™ 0 ° ,quer é dit0 pclos Pa'
rais; transmitem em seguida ao S e c r e t a r i a r 80 |
daS Con£ reS aÇões Oe-
- r:*£7r--' ^ v .J E í r .s & r : nr < a fs
hom^ funcionamento “ es' “ '" ® ’ * 5 ^ c„Mem do

CAP. VII: OS GUARDAS GERAIS DO CONCILIO


Art. 16* O oficio dos guardas gerais. Como é de tradiçáo na Igreja
dois guardas nomeados pelo Sumo Pontífice, acompanham o Sumo Pon-
tifice e os Padres quando entram na sala do Concilio, e vigiàm a
entrada do Concilio. b

CAP. VIII: A SUBSTITUIÇÃO DAS PESSOAS


Art. 17* Se, por uma razão qualquer, uma das pessoas que têm
parte no Concilio vier a faltar, outra pessoa é designada pela autori­
dade competente para substitui-la.

CAP. IX : OS OBSERVADORES
Art. 18* Os Observadores do Concilio.
§ 1* Os Delegados dos cristãos separados da Sé Apostólica que es­
tão autorizados pela Santa Sé a assistirem ao Concilio como Observa­
dores podem assistir às Sessões Públicas e às Congregações Gerais, sal­
vo cm casos particulares que serão determinados pelo Conselho da pre­
sidência. Não assistirão às reuniões das Comissões, a menos que a isso
os autorize a autoridade competente. Não t£m o direito de tomar a
palavra c de votar por ocasião das discussões do Concilio.
§ 2* Os Observadores podem informar suas comunidades do que se
faz no Concilio; mas são obrigados a guardar segrêdo para com os
outros, tal como os Padres do Concilio, em virtude do art. 26*
§ 3 ' O Secretariado para a União dos Cristãos está encarregado
das relações entre o Concílio e os Observadores, a fim de que êstes
possam acompanhar os trabalhos do Concilio.

SEGUNDA PARTE: AS REGRAS A OBSERVAR DURANTE O CONCILIO


CAP. 1: QUANDO E ONDE TÊM LUGAR AS REUNIÕES
Art. 19* Quando têm lugar as reuniões.
§ 1 * Tôda reunião conciliar é anunciada aos Padres em tempo
oportuno. . , .
§ 2* Em cada Congregação Geral indica-se quando terá lugar a
Congregação seguinte.
§ 3* Só haverá convocação individual quando o presidente o julgar
necessário.
278 IV. Documentos

Art. 20* Onde Um lugar as reuniões.


§ I* As Sessões Públicas e as Congregações G erais têm lugar na
Basílica Patriarcal de São Pedro.
§ 2* As reuniões das Comissões Conciliares têm lugar em diferentes
locais determinados.
CAP. II: A V ESTIM E N T A
Art. 21» Os paramentos que devem ser revestidos em Sessão Pública.
§ í* Em todo tempo os Padres usam paramentos brancos.
§ 2* Devem ser usados os paramentos seguintes: a) para os Car­
deais: os paramentos próprios da sua Ordem, com a mitra de sêda ada­
mascada; b) os P atriarcas, Prim azes, Arcebispos, Bispos, tanto residen­
ciais como titulares: a capa e a mitra de linho; c) os Abades e Prelados
nullius: a capa e a mitra de linho; d) ou outros Pad res: o hábito de côro
que lhes é próprio.
Art. 22» A í vestes que devem ser usadas nas Congregações Gerais.
Nas Congregações, todos os Padres usam as vestes seguintes: a ) os
Cardeais: o hábito cardinalício, vermelho ou roxo, conforme o tempo li-
túrgico, com o roquete, o mantelete e a m urça; b) os P a tria rca s: o há­
bito roxo, com o roquete, o mantelete e a m urça; os P a tria rca s orientais
usam o hábito próprio do seu rito; c) os Arcebispos e Bispos, tanto re­
sidenciais como titulares: o hábito roxo, com o roquete e o mantelete
sòmente; d) os Abades c outros religiosos: o hábito de côro que lhes
é próprio.
Art. 23* A í vestes que devem ser usadas nas Comissões. T odos aque­
les que usam hábito trazem a batina sem o manto (tacerna); os outros
trazem o hábito que lhes é próprio.

CAP. 111: AS PR ECED ÊN C IA S


Art. 24* A ordem das precedências.
§ 1 * Nas Sessões Públicas, Congregações G erais e Com issões Con­
ciliares, os Padres tomam assento, usam da palavra e votam segundo a
ordem de precedência seguinte: o s Cardeais-Bispos, os C ardeais-Sacer­
dotes e os Cardeais-Diáconos; os Patriarcas, os Prim azes, os Arcebis­
pos, os Bispos, os Abades e Prelados nullius, o Abade-Primaz, os Aba­
des Superiores de Congregações m onásticas, os Superiores G erais das
Congregações clericais isentas.
§ 2» Em igualdade de grau e de ordem, tem a prioridade o mais
antigo nesse grau; se foram nomeados ao mesmo tempo, tem a priori­
dade o mais antigamente ordenado, ou aquêle que, mesmo mais recen­
temente ordenado, o foi pelo Sumo Pontífice; se ordenados ao mesmo
tempo, tem a prioridade o m ais idoso (cf. C . I . C . , cân. 106, 3«; C .I .O .,
De personis, cân. 37, 3*).
§ 3* Se um Padre não respeitar essa ordem para tomar assento,
usar da palavra ou fazer outros atos, não adquire com isso nenhum di­
reito, e não deve causar prejuízo a ninguém.
§ 4 * Os Procuradores têm assento no lugar especial que lhes é
designado, observando entre si a ordem de precedência. Os Peritos do
Concilio têm assento igualmente no seu lugar.
Regulamento do Concílio 279

CAP. IV: A PROFISSÃO DE FE ’

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§ 3 « Os Procuradores, os Peritos do Concílio, os funcionários e os


oficiais fazem, antes da abertura do Concílio, profissão de fé perante o
Presidente ou seu delegado, no dia e hora fixados.

CAP. V: A OBRIGAÇAO DO SEGRÊDO E O COMPROMISSO


DE DESEMPÇNHAR FIELMENTE O PRÓPRIO CARGO
Art. 26* A obrigação, para os Padres, de guardar segrído. Os Pa­
dres são obrigados a guardar segrêdo sôbre as discussões que têm lu­
gar no Concílio e sôbre as declarações de cada um.
Art. 27* As obrigações dos Procuradores, Peritos, empregados e ofi­
ciais. Os Procuradores, os Peritos conciliares, os empregados, os oficiais
e os outros que trabalham no Concílio devem, antes da abertura do
Concílio, prestar, perante o Presidente ou seu delegado, juramento de
desempenharem fielmente o seu cargo c de guardarem segrêdo sôbre os
atos, discussões, declarações dos Padres e votos.

CAP. VI: A LÍNGUA QUE DEVE SER UTILIZADA NO CONCILIO


Art. 28 ' A língua que deve ser utilizada nas Sessões Públicas, nas
Congregações Gerais, no Tribunal Administrativo e nas Atas. Nas Ses­
sões Públicas, nas Congregações Gerais, no Tribunal Administrativo e
para a redação das atas, utiliza-se o latim. Para que seu emprêgo seja
mais fácil, haverá à disposição dos Padres leitores, intérpretes e
tradutores.
Art. 29* A língua a ser utilizada nas Co/nissões. Nos debates das
Comissões, além do latim podem-se empregar as linguas vulgares mais
difundidas; porém o que fôr dito nessas línguas deve ser logo tradu­
zido em latim.

CAP VII. A COMPILAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DOS ATOS


E DOCUMENTOS

Art. 30» Como são compiladas e distribuídas as atas e documentos.


§ I* Tôdas as atos e documentos são compilados e distribuídos pelo
Secretariado Geral.
6 2’ Os esquemas dos decretos c cânones, bem como todos os tex­
tos a aprovar devem ser distribuídos aos Padres de tal sorte que êles
tenham tempo de tomar conselho, de amadurecer o seu juízo e de ado­
tar sua decisão no que concerne ao voto.
280 IV. Documentos

CA P. V III: E X A M E DO S E SQ U E M A S

Art. 31* O processo do exame dos esquemas. O exame dos esque­


mas faz-se consoante o processo seguinte:
a) O esquema è proposto e brevemente explicado; b) são feitas ob­
servações a propósito do esquema e são propostas a s emendas a lhe se­
rem feitas; c) as emendas são examinadas e, depois, adotadas ou rejei­
tadas; d) o esquema é modificado conformemente às emendas adotadas;
e) se o esquema modificado necessitar de novas emendas, será modifi­
cado ainda uma vez, e assim por diante, até ser aprovado.
Art. 32* A apresentação dos esquemas. Tôda questão que deve ser
discutida em Congregação Geral é apresentada e brevemente explicada
por um Relator designado pelo Presidente da Comissão competente.
Art. 33» A apresentação das emendas.
§ I» Cada Padre pode exprimir seu parecer sobre qualquer esquema
apresentado, para pedir a sua adoção, rejeitação ou emenda. Deve, por
escrito, apresentar o essencial da sua exposição ao Secretariado Geral
ao menos três dias antes.
§ 2* Deve a sua exposição versar prim eiramente sôbre os princípios
gerais, c depois sôbre as disposições particulares, seguindo sempre a
ordem do esquema.
§ 3* Cada Padre só pode, em princípio, intervir uma única vez so­
bre uma mesma questão, e lhe é pedido não exceder de dez minutos.
§ 4* Se êle exceder o s limites prescritos de tempo e de assunto, o
Presidente pode chamá-lo à ordem.
§ 5* Quando êle houver findado a sua exposição, aquêle que pro­
puser uma emenda deverá redigir um relatório por escrito e apresentá-
lo ao Secretariado Geral, depois de assiná-lo.
§ 6» Aquêle que entender que cada palavra ou cada parágrafo do
esquema devem ser emendados, deve propor, por escrito, uma fórmula a
ser substituída à precedente.
Art. 34* A admissão ou rejeição das emendas. Após a declaração
do Relator, a Congregação Geral vota para saber se cada uma das
emendas propostas deve ser rejeitada ou inserida no esquema.
Art. 35» O exame do texto emendado. Após ouvir a declaração do
Relator, a Congregação Geral examina cada parte do conju nto do texto
emendado, e adota-o ou não.
Art. 36* O exame das emendas ulteriores. Se certas partes do es­
quema emendado não forem aprovadas pela Congregação Geral, reata-
se o mesmo processo que precedentemente (arts. 33*-35*) para oferecer
novas emendas.
CAP. IX : O S E SC RU T ÍN IO S
Art. 37* A fórmula que deve ser empregada.
§ 1* Nas Sessões Públicas, em presença do Sumo Pontífice, a fór­
mula é : plaeet, non placet.
§ 2* Nas Congregações Gerais, a fórmula para adotar ou rejeitar
as emendas é: placet, non plaeet; para cada esquema emendado, seja
inteiro ou dividido, a fórmula é: placet, non placet, placet iuxta modum.
Aquêle que vota placet iuxta modum (sim , com reserva) deve indicar por
escrito, clara e sucintamente, os motivos de suas reservas.
Regulamento do Concilio 28,

fflocet, non placet, X c e / CS a^ (ííI5Pregam' Se’ nos votos. as fórmulas


« i. M o modo de es"utlnio.
$ J ? Nas Sessões Pública« 0 r.*« />
meio de cédulas especiais a menos <' ongre|®Ções Gerais, vota-se por

pelo Presidente de cada Comissão.’ °d dC escru“ n,° é determinado


Art. 39* A maioria dos sufrágios

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Padres presenies, sa l,« % , " L X X . l i J " ? ■"*
1«, I ' do C I C . «p «AK, -e e c «. nde “ aP,ICa 0 e^nonc 10 1, $
d iverso.* ’ * SC * b n ,sso 0 Sumo Pontífice decidir de modo

vadaf r 6
T n ôv o . ,ex to conforme às emendas apro­
vadas em Congregação Geral, a maioria prescrita não puder ser re­
unida em Comissão Conciliar, apesar de todos os esforços que possam
azer' s? ; tóda a questao é transmitida á Congregação Geral.^
• k 3 . * T nbunal Administrativo as decisões são tomadas por maio-
ria absoluta dos votantes.

CAP. X : APRESENTAÇAO DE NOVAS QUESTÕES


Art. 40* Condições em que podem ser aceitas novas proposições.
§ 1* Novas questões propostas só podem ser admitidas: a) se con­
cernirem ao bem público da cristandade; b) se fór necessário, ou, ao
menos, oportuno, que sejam submetidas ao Concílio; c) se não conti­
verem nada que seja contrário àquilo que sempre foi o senso da Igreja,
e às suas tradições.
§ 2* As novas questões devem ser apresentadas por escrito ao Pre­
sidente, indicando-se-lhes o motivo.
CAP. X I: AS PARTIDAS E AS AUSÊNCIAS
Art. 41* A partida de um Padre. “Nenhum daqueles que devem par­
ticipar do Concílio pode deixar éste antes de estar efetivamente termi­
nado, salvo por motivo conhecido e aprovado pelo Presidente do Con­
cilio, e após lhe haver sido pedida autorização para partir" ( C .I .C .,
cân. 225; C .I .O ., De personis, cân. 170).
Art. 42* A ausência de um Padre. Aquêle que não puder participar
dc uma Sessão Pública ou de uma Congregação Geral deve indicar ao
Conselho de Presidência, por intermédio do Secretário Geral, o motivo
da sua ausência.
CAP. X II: A DISPENSA DA OBRIGACAO DE RESIDÊNCIA
Art. 43* A percepção dos frutos dos benefícios. Todos aquêles que
devem participar do Concilio, ou que nêle trabalhem a qualquer título
legitimo, podem, durante o Concílio e por tanto tempo quanto a êle
assistirem ou estiverem a seu serviço, perceber todos os proventos dos
seus benefícios e as distribuições cotidianas, salvo aquelas que só se
fazem entre pessoas presentes (cf. C .I .C ., cân. 420, § 1*, 9*).
1 De (mo. na elelçJo do» Membros da» Comltade» Conclllare», o Subo Pontlllce
decidiu de modo diverso.
282 IV. Documentos

TERCEIRA PARTE: O DESENROLAR DOS TRABALHOS


CAP. I: O PRO CESSO DAS S E S S Õ E S PÜBL1CAS

Art. 44* O desenrolar das funções sacras e das ceriptônias. Em tudo


o que concerne às funções sacras c às cerimônias, há que se conformar
à instrução particular aprovada pelo Sumo Pontífice.
Art. 45* A convocação das Sessões Públicas. O Presidente das Con­
gregações Gerais, conformemente à ordem recebida do Sumo Pontífice,
determina o dia e a hora das Sessões Públicas, e dêles avisa os Padres
em tempo útil.
Art. 46* A abertura das S essões Públicas.
§ P No dia e hora fixados, os Padres, os Peritos conciliares, os
funcionários e os oficiais reúnem-se na sala do Concílio.
§ 2* Os que indicam os lu gares conduzem os Padres, quando estes
chegam, ao assento que lhes está designado, cuidando particularmente
de lhes tomar os nomes, como é dito no artigo 15’ , § 4*.
§ 3 * A Missa é celebrada por um Cardeal designado pelo Presidente.
Art. 47* A leitura dos decretos e cânones. O Secretário Geral adian­
ta-se até ao lugar do Sumo Pontífice, que lhe entrega os decretos e
cânones a serem examinados na S essão ; lê-os, em seguida, no púlpito.
Art. 48* A votação dos decretos e cânones.
§ 1* Lidos os decretos e cânones, o Secretário Geral formula nos
Padres a pergunta seguinte: “ Eminências, Excelências e Reverendos Pa­
dres, aceitais os decretos e cânones desta constituição?”
§ 2* A esta pergunta, os Padres respondem preenchendo a sua cé­
dula de votação, onde indicam placet ou non placei, e assinam.
§ 3* Os escrutinadores recolhem as cédulas, e transm item -nas ao Se­
cretário Geral, que dará o resultado do escrutínio, enquanto os notários
o anotam.
Art. 49* A promulgação dos decretos e cânones.
§ P O Secretário Geral dá respeitosamente conta ao Sumo Pontífice
dos resultados da votação, dizendo: "Santo Padre, os decretos e câ­
nones que acabam de ser examinados foram adotados por todos os P a ­
dres sem exceção” (ou “à exceção de tan tos" se tiver havido votos
negativos).
§ 2* Se se dignar de confirmar os decretos e cânones, o Sumo
Pontífice pronuncia a fórmula seguinte: Decreta et cânones modo exa-
minata placuerunt Palribus, nemine dissentiente (vel, tot numero ex-
ceptis). Nosque, sacro approbante Concilio, illa ita decernimus, statui-
mus, atque sancimus, ut le d a sunt: ( “Os decretos e cânones que acabam
de ser lidos receberam o assentimento dos Padres (sem exceção, ou à
exceção de tantos votos). E Nós também, com a aprovação do Concílio,
queremo-los, estabelecemo-los e promulgamo-los tais como foram lidos”).
Art. 50* As atas dos decretos e cânones aprovados.
§ P Os Protonotários e os Promotores adiantam-se até o mais alto
degrau do assento.
§ 2 * O s Promotores, ajoelhados no meio do degrau mais baixo, pe­
dem aos Protonotários fazerem uma ou várias atas de tudo o que foi
feito na Sessão.
Regulamento do Concílio 283
§ 3* O Protonotário mais antigo resoonde- "P o ,— i
testemunhas”, inclinando a cabeça oara « °' e dls,° 8018
para o prefeito dos camareiros o L „<.etf re^°S,° ! c.a8a Pontif(cia e
dos perto do trono, à sua direita^ ’ S í c,rcunstânc,a. estão senta-
Art. 51* Como terminam as Sessões Públicas.

§ 2’ O s ic r e tá r i^ G ^ r í u i d a d T fa z ír U v í í " " ’ dá * 8Ua Mnçà° '


cada Sessão Pública, e coloca-a nos arquivos Uma 3,3 de

CAP. II: O PROCESSO DAS CONGREGAÇÕES GERAIS

Arc f 2- ADcc’nl voca^ã° das Congregações Gerais. Por ocasião da pri­


meira Sessão Publica, o Presidente das Congregações Gerais indica aos
Padres o dia e hora em que elas começarão.
Art. 53’ O programa. Em tempo útil o Presidente faz conhecer aos
Padres o programa dos debates.
Art. 54* A abertura das Congregações Gerais.
§ 1 * No dia e hora indicados, os Padres, os Peritos conciliares, os
funcionários e os oficiais reúnem-se na sala do Concilio.
§ 2 * Os que indicam os lugares conduzem os Padres, quando êstes
chegam, ao assento que lhes está designado, cuidando particularmente
de lhes tomar os nomes, como é dito no artigo 15*, § 4*.
§ 3’ A Missa do Espirito Santo é celebrada por um Padre desig­
nado pelo Presidente; em seguida o Presidente reza a oração do Adsumus.'
Art. 55 Eleição dos Membros das Comissões Conciliares. Antes de
começarem os debates, os Padres elegem os membros das Comissões
conformemente aos artigos 6’, §§ 2*-3*, e 39*, § 1*.
Art. 56* Apresentação e explicação dos esquemas. O Presidente enun­
cia o assunto pôsto em discussão.’ Chama ao púlpito o Relator, o qual
foi designado pelo Presidente da Comissão competente, para apresentar
brevemente êsse mesmo assunto.
Art. 57* A discussão dos esquemas.
§ 1* O Presidente, pelo visto da lista estabelecida pelo Secretário
Cieral, chama, pela ordem que lhes está designada para falarem, os Pa­
dres que prèviamente se inscreveram para êste fim.
§ 2» Os Oradores sucedem-se para propor emendas, que entregam
por escrito ao Secretário Geral quando tiverem acabado de falar
6 3* Quando todos os Oradores inscritos na lista tiverem falado, o
Presidente pode conceder a palavra aos Padres que a tenham pedido no
decurso da Congregação.a
284 IV. Documentos

Art. 58» A transmissão das emendas às Copiissões.


§ 1« Quando a exposição de um esquema ou de parte de um es­
quema está terminada, o Presidente ordena transm itir ã Comissão com­
petente as emendas que foram propostas.
§ 2* Se essas emendas concernirem a duas ou várias Comissões, o
Presidente decide a quais Comissões devem elas ser transm itidas, para
que estas as examinem juntas e façam sôbre elas um só e mesmo relatório.
§ 3« O Secretário Geral transm ite as emendas que reuniu ã ou às
Comissões designadas pelo Presidente.
Art. 59’ O exame dos esquemas seguintes. Quando o exame das ou­
tras partes de um esquema não puder ser feito logo em seguida, c
transferido para outra data, e, enquanto isso, pode-se passar ao exa­
me de outros esquemas.

Art. 60» O exame das emendas.


§ 1 » Os textos impressos das emendas examinados pelas Comissões
são distribuídos aos Padres, acompanhados de uma sucinta exposição.
§ 2» No dia fixado pelo Presidente, o Relator apresenta uma expo­
sição escrita das emendas.
§ 3» O Secretário Geral lê cada emenda, e os Pad res dizem se a
adotam ou a rejeitam , votando placet ou non placct.
§ 4» O s escrutinadores apuram as cédulas de votação c comunicam-
nas ao Secretariado Geral, para que proclame os resultados do escrutí­
nio, enquanto os notários os anotam.
§ 5* Após a votação sõbre as emendas, o Secretário Geral comunica
o resultado dela aos Padres e à Comissão competente.

Art. 61* O exame do texto emendado.


§ 1* A Comissão competente, que é ou única ou composta de vá­
rias, em virtude do art. 58*, § 2, afasta as emendas que não foram
aprovadas, e modifica o esquema ou a parte do esquema conformemente
às emendas que foram adotadas.
§ 2* O texto emendado é impresso c transmitido ao Presidente da
Congregação Geral, e depois é distribuído aos Padres.
§ 3* No tempo fixado, os Padres, após ouvirem a declaração do
Relator, pronunciam-se sôbre o texto emendado, inteiro ou dividido, con­
forme o que houver decidido o Presidente, votando placet, nonplacet ou
placet iuxta piodum. Aquéle que vota placet iuxta modum deve indicar
na sua cédula as reservas que faz.
§ 4* O esquema, inteiro ou dividido, é rejeitado por maioria dos
sufrágios.
§ 5* Salvo o caso em que o esquema, inteiro ou dividido, é re­
jeitado por maioria dos sufrágios, as reservas (modi) são examinadas
de conformidade com o que é dito nos arts. 58*-60».
§ 6* Quando tódas as partes do esquema houverem sido adotadas,
é (ste considerado como adotado no conjunto.
§ 7* Em casos particulares, o Presidente pode pedir nova votação
sôbre o conjunto do esquema. Neste caso, os Padres votam placet ou
non placet.
Regulamento do Concílio

do esquema aprovado.
comunicado pelo Pre-
Pública e fixará o dia d « s a sessão. submetê-lo-á ã Sessão

§ 3» O Secretário Geral vela por que essa ata escrita, bem como
todos os atos da Congregação, seja classificada com cuidado nos ar­
quivos do Concílio.

CAP. III: O PROCESSO DAS COMISSÕES


Art. 64’ A convocação das Comissões Conciliares. Cada Presidente
de Comissão precisa a data e as outras circunstâncias das reuniões dos
Padres de sua Comissão e comunica-as a êstes.

Art. 65 ' O estudo dos esquemas e a designação dos Relatores.


§ I’ O Presidente da Comissão submete todos os esquemas ao exa­
me dos Padres da sua Comissão.
§ 2 ' O Presidente deve fixar os modos de discussão, pedindo o pa­
recer dos Padres e dos Peritos, a lingua que será utilizada, conforme­
mente ao art. 29», e o modo como se votará, conformemente ao art.
38», § 2*.
§ 3» O Presidente da Comissão designa o Relator que deverá apre­
sentar e explicar o esquema perante a Congregação Geral, no espírito
da Comissão.
Art. 66* A ordenação das emendas.
§ I» A Comissão competente, única ou constituída de várias como
é dito no art. 58», dispõe e coordena as emendas propostas pelos Pa­
dres em Congregação Geral.
§ 2 ' O Presidente de Comissão confirma a missão do Relator, ou
nomeia outro entre os Padres de sua Comissão, o qual fará sôbre as
emendas propostas um relatório escrito, destinado a ser lido em Con­
gregação Geral.
§ 3 ' O secretário da Comissão vela para que as emendas postas em
ordem, assim como o relatório a respeito delas, sejam impressos, e, por
intermédio do Secretário Geral, transmite-as ao Presidente da Congre­
gação Geral e distribui-as aos Padres.
Art. 67* A inserção das emendas.
§ I» Uma vez que se haja votado sôbre as emendas, o Presidente
da Comissão competente, única ou constituída de várias, como é dito
no art. 58», cuida de que as emendas adotadas sejam inseridas no es­
quema, a fim de redigir um nôvo texto, que será igualmente impresso e
distribuído aos Padres.
286 IV. Documentos

§ 2» O texto emendado só pode ser submetido ao julgamento da


Congregação Geral se, na Comissão, tiver obtido a m aioria prescrita
no art. 39», §§ l*-2*.
Art. 68* Emendas ulteriores do texto. S e a C ongregação Geral, após
examinar o texto emendado, pedir novas emendas, a Comissão competente
cuidará de oferecê-las, conformando-se aos votos emitidos pelos Padres
em Congregação Geral.
Art. 69* A ata das reuniões. O secretário da Comissão deve fazer
uma ata escrita de cada sessão.
Art. 70* Normas complementares. Quando as Comissões Conciliares
não tiverem regras particulares, inspirar-se-ão, quanto ao seu processo,
nas da Congregação Geral.
"Omne8 Sane": Carta aos Bispos.

.........................No DIA 15 DE ABRIL DE 1962,


ja na iminência do Concilio, o Santo Padre dirigiu uma Carta
pessoal a todos e a cada um dos Membros do Episcopado. Este
documento, que abre com as palavras “omnes sane”, foi depois
publicado nos A da Apostolicae Sedis de 24 de setembro de 1962,
pp. 5 5 9 -565. Reproduzimo-lo aqui, integralmente, em nossa
tradução:

Venerável e Caríssimo Irmão Nosso: Ao se aproximar sempre mais


o Concilio Ecumênico Vaticano II, indubitàvelmente todos vêem o quan­
to é necessário que os fiéis rezem com sempre maior fervor ao Espirito
Santo Paráclito, a fim de que, com a sua fôrça e as suas luzes, assista
e guie aquêles que preparam êste importantíssimo acontecimento e dêlc
se ocupam, acontecimento esperado no mundo inteiro, com ânimo como­
vido, por todo aquèle que se preza do nome de cristão.
Por isto, com a recente exortação Sacrae laudis convidamos todo o
clero a rezar o Ofício divino por essa intenção; e as notícias que ate
agora nos têm chegado claramente atestam que por essa exortação os
sacerdotes se sentiram incitados a uma mais viva piedade. Muito tempo
antes, com êsse mesmo fim, havíamos também composto uma oração
destinada a ser rezada diáriamente pelos fiéis. E, como sabes, não per­
demos ocasião alguma de exortar todos os filhos da Igreja, especial­
mente as crianças, os doentes e os que sofrem, a, pela mesma intenção,
oferecerem generosamente ao benigno Deus as suas preces e dores.
Preparem-se os Bispos para o Concilio. — Todavia, como é justo,
todo nosso pensamento e solicitude tende a fazer com que o ânimo dos
Bispos seja todo absorvido por êste importantíssimo acontecimento, pois
a êles, juntamente com o Pontífice Romano, compete prestar o próprio
concurso ao Concilio e arcar-lhe com o pêso, cada um por sua parte.
Ao dar-Te êste sinal da nossa benevolência e confiança, o qual, mesmo
estando fora dos costumes da Sé Apostólica, certamente Te resultará
grato, move-nos o desejo de desde já manifestar-Te a alegria particular
que experimentaremos no próximo mês de outubro, quando com pater­
nal amplexo pudermos abraçar todos os Bispos católicos.
Ademais, com esta Carta desejamos também exprimir a cada um
dos Bispos a Nossa gratidão por tudo o que fizeram em preparaçao do
IV. Documentos

Concilio, dc que ficam sendo insigne testemunho os numerosos volu­


mes dos Acta et Documenta. Queremos também exortar o s mesmos Bis­
pos a preparar-se para o Concilio sobretudo com a santidade da vida,
bem sabendo que, mesmo só com isto, podem cooperar para o sucesso
dêste empreendimento grandioso e, no que lhes concerne, fazer com que
a Igreja Católica se apresente aos homens como a Espôsa de Cristo san­
ta e sem mácula (cf. Ef 5,27).
Em verdade, os Atos Pontifícios, endereçados nestes últimos tempos
sobretudo aos Bispos, nunca deixam de incitar â integridade da vida
tanto os sagrados Pastôres como o rebanho a êles confiado, embora
achando que, indubitavelmente, os P astôres já refletem e imitam a viva
imagem de Cristo Bom Pastor, e às suas ovelhas já servem de modelo
e de exemplo. Mas, diferentemente das outras, esta nossa carta não é
dirigida a todos os Bispos em geral, senão a cada um em particular,
a fim de que para cada um constitua como que um laço de amizade,
ã semelhança de uma carta de família.

Relações cordiais do Vigário de Cristo com os Bispos. — A isto


fomos impelido, Venerável Irmão, pela experiência da Nossa vida pas­
sada. Certamente T e é conhecido como a tarefa de representante da
Santa Sé em diversas partes do mundo não é destituída de solicitudes c
de dificuldades, c como a cruz que todo Pasto r de diocese traz sôbre
0 próprio peito não é um puro sinal de honra. Reportando-Nos com a
mente aos longos anos decorridos de 19 de março de 1925, data da
Nossa sagração episcopal, a 28 de outubro de 1958, quando, embora
1 merecedor, fomos elevado à Cátedra de Pedro, somos grato aos Sumos
Pontífices que, com cartas pessoais ou comuns, nos am pararam e nos
incitaram nos primórdios do Nosso ministério episcopal e no seu de­
sempenho. Dai facilmente poderdes compreender com que disposição dc
ânimo teríamos acolhido um tal grave incitamento à santidade da vida,
sempre que Nos fôsse dirigido pelo Sucessor de Pedro na iminência de
um Concilio Ecumênico. Pois bem: essa exortação ora dirigim o-la a cada
um dos Nossos Irmãos no Episcopado, no Oriente e no Ocidente. Quei­
ra Deus que esta Carta possa chegar a todos aquêles a quem é destinada.
Bem sabem os quantos incômodos, solicitudes e dificuldades não raro
pesam, por motivo do ofício, sôbre um Bispo, à s vêzes até longe dos
amigos, aos quais possa comunicar as próprias am arguras. Nem igno­
ramos como pode suceder que nem mesmo entre os seus colaboradores
ache o Bispo quem lhe infunda coragem c o sustente em suportar se­
renamente a dor, e como unicamente a Deus tenha de pedir auxílio e
consôlo. E, além disto, os próprios sustentáculos da piedade, que o B is­
po procura juntamente com os seus sacerdotes — como, por exemplo,
os Exercícios Espirituais — a s m ais das vêzes não são bastantes para
as suas necessidades, devendo êle, em tais circunstâncias, ocupar-se mais
dos outros do que de si mesmo.
A dignidade episcopal segundo S. Paulo. — Já que a Nós, Vigário
de Cristo na terra, tem isto sido filialmente confiado pelos próprios B is­
pos, e No-lo hão atestado, pensamos que esta Nossa C arta paternal os
inflamará não pouco nessa procura da santidade que tanto lhes con­
vém, a êles sucessores dos Apóstolos. A isto parece muito a propósito
adaptar-se uma passagem do Apóstolo Paulo que se lê na Missa da
primeira dominga da quaresma: Na qualidade de c o t a h n m A ^ n

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vêzes eles se acham sob o pêso das adversidades, oprimidos pelo temor,
como os Apostolos que estavam espantados com a paixão e morte de
Cristo, escutem então a advertência de Paulo: Diz (o Senhor): No
tempo favorável escutei-te e no dia da salvação ajudei-te (2 Cor 6,2), e
acrescenta ainda: Eis agora o tempo favorável, eis agora o dia da
salvação.
O Concílio Vaticano, que se prepara, exige que os Bispos pro­
curem haurir mais largamente a abundância daquela graça divina des­
cida do céu no dia de Pentecostes, e da qual receberam um penhor se­
guro mediante a imposição das mãos (2 Tim 1 ,6). O Apóstolo das
gentes ensina com gravidade, clareza e fôrça persuasiva por que vias
podem os Bispos isso conseguir: com efeito, depois de advertir que com
tóda diligência êles afastem de si tudo o que é contrário à dignidade
dos Bispos, exorta-os vivamente a, em vez disso, darem exemplos das
virtudes convenientes ao seu estado e capazes de mover o coração de
quem se haja afastado da Igreja: mas em tudo tornemo-nos recomendá­
veis, como convém a ministros de Deus, com grande paciência (2 Cor
6,4). A estas exortações seguem-se vários outros avisos, mui frutuosos
para quem os medita.
Mas também para os tempos de dificuldades e de sofrimentos o
Apóstolo Paulo aconselha muitas coisas, das quais pensamos que, no
caso, podem os Bispos tirar não pouca consolação, visto que, no seu
ofício, nenhum dêles está isento de tribulações, necessidades e angústias
(2 Cor 6,4). Pode também suceder que, às vêzes, nos seus misteriosos
desígnios, Deus permita que as coisas ameacem ruína: e, todavia, aquêles
que nutrem grande confiança no auxílio providente e atual do próprio
Deus, aparecerão como aflitos, mas sempre alegres (2 Cor 6,10).
A fonte de um frutuoso ministério pastoral. — Sejam quais forem
as circunstâncias de tempos e de coisas, o ministério dos Bispos nunca
poderá produzir frutos abundantes se aquêles que com justa razão são
chamados sacrorum antistites não tiverem a peito orvalharem os seus
labôres com a oração assídua. Antes de tudo é necessário que êles hau­
ram abundante graça divina no sacrossanto Sacrifício do altar, através
do qual, sobretudo, o valor do Sangue derramado por Cristo aplica-sc
às almas. Nesse mesmo Sacrifício, pelo qual, como cm místico amplexo,
todo sacerdote se une com Cristo, o Bispo achará santa consolação,
cspecialmente se celebra com tôda devoção, se para êle se prepara pie­
dosamente e faz o devido agradecimento ao imortal e clementíssimo Deus.

Concilio II —
IV. Documentos

E, se bons e piedosos fiéis se distinguem pela sua devoção para com


o augustíssim o sacramento da Eucaristia, como poderiam o s Bispos não
ter vivíssima devoção a £sse mesmo sacram ento, para dêle haurirem, co­
mo da fonte principal, graças, consôlo, fôrça e serenidade? Como po­
deriam não aspirar com tôda alma ao Tabernáculo, e ali dcter-se
e ali achar repouso em meio às crescentes preocupações c trabalhos do
seu ofício?
Fortalecido, no divino Sacrifício, pode o Bispo achar incitamentos
à piedade seja no breviário, sõbre o qual escrevemos a todos os sa­
cerdotes na exortação Sacrae laudis, seja nos piedosos exercícios enu­
merados no cân. 125 do Código de Direito Canônico (êste cânone re­
comenda a confissão freqüentc, e, diàriamente, a oração mental, a vi­
sita ao SS. Sacram ento, a reza do rosário, o exame de consciência),
exercícios que indubitàvelmente alimentam e ateiam nas alm as o amor
de Deus.Muitas vêzes sucede, Venerável Irmão, teres de lembrar ao
Teu clero estas sapientíssim as normas, nas quais se revela a maternal
solicitude da Igreja, sobremaneira desejosa de que os seus m inistros se­
jam santos e santificadores. E a experiência T e ensina que, muitas vê­
zes, estas exortações dirigidas ao clero foram para T i um suave esti­
mulo a um mais atento cuidado de T i mesmo. Grande é o consôlo dos
sacerdotes e dos fiéis a T i confiados quando vêem o seu Pasto r tender
com tôdas as veras à santidade, de modo a preceder os outros com o
exemplo. E ', com efeito, seu dever representar o seu rebanho no altar
de Deus, e em nome dêle oferecer a Deus dons e orações em odor de
suavidade. Um Bispo santo conduzirá, sem dúvida, os seus sacerdotes
à santidade; e, de outra parte, os santos costumes do clero não deixam
de contribuir para o progresso religioso da diocese inteira. Mesmo se
nem sempre se lhes podem ver os salutares frutos, segundo aquela sen­
tença do Senhor Jesus: Um c o que semeia e outro é o que ceifa (Jo
4 ,37), todavia grande é o júbilo preparado no céu para os que na
terra semearam no pranto.

Votos conclusivos e piedosas exortações. — Aproxim amo-nos da


Quinta-Feira Santa, que, por motivo da instituição do sacerdócio católi­
co, ocorrida justamente nesse dia, costuma ser chamada dies sacerdotc-
lis. Porém achamos que mais exatamente se poderia defini-la como dies
episcopalis, havendo então Cristo conferido a sagração episcopal aos
seus Apóstolos, dos quais os sacros P astôres da Igreja são legítimos
sucessores. Por isto, a um amável desígnio da Providência havemos atri­
buído o podermos conferir de Nossa mão a dignidade episcopal a doze
membros do Sacro Colégio cardinalício, pertencentes à Ordem dos diá­
conos. Esta dignidade episcopal certamente m ostrará de maneira mais
manifesta a nobreza e a grandeza das tarefas confiadas à tríplice Or­
dem dos Cardeais, em auxílio do Vigário de Cristo no govêrno da Igreja
universal. Já de antemão saboreamos a grande alegria daquele dia: an­
tes, se de tal nos não houvesse dissuadido a longura dos sagrados ritos,
teria sido Nosso desejo ajoelharmo-nos diante dos doze novos Bispos
e, seguindo o exemplo de Cristo Senhor, lavar-lhes os pés.
Naquele dia, Venerável Irmão, lembrar-nos-emos também de T i,
confiando em que, também Tu, cercado pelos T eu s sacerdotes, quererás
retribuir com as Tuas preces as do Sucessor de Pedro, e semelhante-
Carta aos Bispos 291

mente suplicar o Senhor por aquiles Bispos cuja ação pastoral, por cau­
sa das tristes condições de seus paises, é exercida com perigo ou estorvada.
Queremos pôr fim a esta Carta com as palavras do Apóstolo Paulo:
Nossa bôca abriu-se para convosco; dilatou-se-nos o coração (2 Cor
6,11). Nossa alma consola-se observando Ôsse maravilhoso espetáculo de
unidade, de generosidade e de zélo pastoral oferecido pelos Bispos de
todo o mundo católico ao aproximar-se o Concilio. Não faltam, é ver­
dade, motivos de preocupação e dificuldades, com os quais a Provi­
dência de Deus permite sejam provados os seus eleitos, para ainda mais
purificá-los; todavia, pode-se hoje verificar o grandíssimo prestigio de
que goza, junto a todos, a Igreja una, santa, católica e apostólica, co­
mo também a unidade da fé que nela brilha, enquanto seus filhos os
mais devotos excelem admiràvclmente na obediência e na caridade.
Isto quisemos dizer-Te, Venerável Irmão. E à Virgem Mãe de Deus
e nossa Mãe celeste, por nós invocada como Auxilium christianorum,
Auxilium Episcoporum, rogamos sejam felizmente postos em prática os
conselhos que nesta Carta Te demos; recorremos também à intercessão
de S. José, padroeiro da Igreja universal e do próximo Concilio. E, fi­
nalmente, bem sabendo como as nossas fórças são inferiores às pesadas
tarefas, volvemo-nos súplices para Deus onipotente, fazendo nossa a ora­
ção da Imitação de Cristo, adaptada às necessidades dos Bispos: Ajude-
nos a tua graça, ó Deus onipotente, a fim de que nós, que recebemos
o oficio episcopal, digna e devotamente possamos servir-te com tôda pu­
reza e boa consciência. E, se não podemos viver com aquela inocência
de vida que seria de dever, ao menos concede-nos chorarmos, como ê
de dever, os culpas cometidas, e servirmos-te mais fervorosamente no
futuro, em espirito de humildade e no propósito de uma boa vontade
(livro IV, cap. 1 1 ,8).
"Paenitentiam agere”.

D e TO D O S OS M ODOS PRO -
curou o Papa, na fase preconciliar, preparar também espiritual-
mente o Concílio. Pedidos especiais foram dirigidos aos sacerdo­
tes, aos sem inaristas, às religiosas, às crianças, aos que sofrem
para que não cessassem de rezar pelo Concilio. No vol. I já
reunimos os principais documentos. M as ainda às vésperas do
Concilio quis Sua Santidade dirigir ao mundo uma encíclica es­
pecial, a fim de pedir também espirito de penitência em favor
do C oncílio:
Aos Veneráveis Irmãos P atriarcas, Prim azes, Arcebispos, Bispos e
outros Ordinários de Lugar em paz e comunhão com a Sé Apostólica,
João X X III, Papa.
Veneráveis Irmãos: Saúde e Bênção Apostólica.
Fazer penitência pelos próprios pecados é, para o homem pecador,
segundo o explícito ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, a pri­
meira condição, não apenas para solicitar o perdão, mas ainda para
chegar à salvação eterna. Evidente se torna, pois, quão justificada seja
a atitude da Igreja Católica, dispensadora dos tesouros da divina Re­
denção, a qual sempre considerou a penitência como condição indispen­
sável para o aperfeiçoamento da vida de seus filhos c para seu me­
lhor futuro.
Por êste motivo, na Constituição Apostólica de convocação do Con­
cilio Ecumênico Vaticano II, quisemos dirigir aos fiéis o convite para
dignamente se prepararem para o grande acontecim ento não só com a
oração e com a prática ordinária das virtudes cristãs, mas também com
a m ortificação voluntária. 1*
Aproxim ando-se a abertura do Concílio, bem natural se Nos afigu­
ra renovarmos com maior insistência a mesma exortação, visto que, em­
bora estando presente na sua Igreja "iodos os dias até à consumação dos
séculos" o Senhor tornar-se-á então ainda mais próxim o das mentes
e dos corações dos homens através da pessoa dos seus representantes,
segundo a sua própria palavra: “Quem vos escuta a mim escuta".3

1 C(. Constltulio Apostollca Humanae salutis; AAS UV (1962), p. 12.


» Lc 10,'16.'
"Paenitentiam agere" 293

Ápelos à penitência no Antigo Testamento. _ Na realidade sendo


° ç°inCi'° HClJmemC0 r reun,âo dos sucessores dos Apóstolos, á quem
o Salvador divino confiou o mandato de ensinar tôdas as gentes ensi­
nando-as a observarem tôdas as coisas que êle mandara \ quer êlcsigni-
«H -L viT a« ,Va ic 3 ta af!rmÍ Çá0 1103 direitos divinos sôbre a humanidade
s e J Deus e L fv a d o r St° ’ * d° S deVCreS qUC ligam 03 homens 30
Ora, se interrogarmos os livros do Antigo e do Nôvo Testamento,
vemos que todo gesto de mais solene encontro entre Deus e a huma­
nidade — para nos exprimirmos em linguagem humana — sempre foi
precedido de um mais persuasivo apêk) à oração e à penitência. Com
efeito, Moisés não entrega ao povo hebreu as tábuas da lei divina senão
depois de haver êle feito penitência pelos seus pecados de idolatria e
de ingratidão. * Os profetas exortam incessantemente o povo de Israel
a implorar Deus com coração contrito, a fim de cooperar na realização
do desígnio da Providência que acompanha tôda a história do povo
eleito. Comovente ér entre tôdas, a voz do profeta Joel, que ressoa na
sagrada liturgia quaresmal: “Agora, pois, diz o Senhor: Convertei-vos a
mim de todo o vosso coração, no jejum, nas lágrimas e nos suspiros. E
rasgai os vossos corações, e não as vossas vestes. Entre o vestíbulo e o
altar os sacerdotes ministros do Senhor chorarão e dirão: Perdoa, ô Se­
nhor, perdoa teu povo; e não abandones a tua herança ao opróbrio de ser
dominada pelas nações". ’
A penitência no ensino de Jesus Cristo e dos Apóstolos. — Antes
de se atenuarem, tais convites à penitência fazem-se mais solenes com
a vinda do Filho de Deus à terra. Eis, com efeito, que João Batista, o
Precursor do Senhor, dá inicio à sua pregação com o grito: "Fazei peni­
tência, pois próximo está o Reino dos Céus”. ' E o próprio Jesus não
inicia o seu ministério com a imediata revelação das sublimes verdades
da fé, e sim com o convite a purificar a mente e o coração de tudo o que
pudesse impedir o frutuoso acolhimento da Boa-Nova: “Dali por diante
começou Jesus a pregar e a dizer: Fazei penitência, pois está próximo
o Reino dos Cius”. ’ Ainda mais do que os profetas, o Salvador exige
dos seus ouvintes a mudança total do espirito, no reconhecimento sin­
cero e integral dos direitos de Deus: “Eis que no meio de vós está o
Reino de Deus“ ’ -, a penitência é fôrça contra as fôrças do mal; ensi-
na-nos o próprio Jesus Cristo: “O Reino dos^ Céus conquista-se pela jôr-
ça, e os que usam violência arrebatam-no". '•
Igual apêlo ressoa na pregação dos Apóstolos. Efetivamente, S. Pe­
dro assim fala às turbas depois de Pentecostes, no intuito de as dispor
para também receberem o sacramento da regeneração em Cristo e os
dons do Espírito Santo: “Fazei penitência, e batize-se cada um de vós
em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos vossos pecados; c rece­
bereis o dom do Espirito Santo"." E o Apóstolo das Gentes ad c
Romanos de que o Reino de Deus nao consiste na prepotência c nos

< Cl. Mt 28,19-20.


■ Cl. tx 32,0-35; c I Cor 10,7.
294 IV. Documentos

desenfreados gozos dos sentidos, mas sim no triunfo da justiça e na paz


interior: “Pois o Reino de Deus não é comida e bebida, mas sim justiça,
paz e alegria no Espirito Santo " . 15
Não se deve crer que o convite à penitência seja dirigido somente
àqueles que pela primeira vez devem entrar a fazer parte do Reino de
Deus. Em realidade, todos os cristãos têm o dever e a necessidade de fa­
zer violência a si mesmos, ou para repelir os seus inim igos espirituais,
ou para conservar a inocência batismal, ou para readquirir a vida da
graça perdida com a transgressão dos preceitos divinos. De feito, se c
verdade que todos os que se tornaram membros da Igreja pelo santo
Batismo participam da beleza que Cristo a ela conferiu, segundo as pa­
lavras de S. Paulo: "Cristo amou a Igreja, e a si mesmo se deu por ela,
no intuito de santificá-la, purificando-a com o lavacro de água mediante
a palavra de vida, para fazer aparecer diante de si a Igreja vestida de
glória, sem mancha e sem ruga ou outra coisa que tal, mas sim santa
e imaculada" 1 1 ; se isso é verdade, verdade é também que todos os que
com graves culpas mancharam a cândida veste batismal devem temer
grandemente os castigos de Deus se não procurarem tornar a fazer-se
cândidos e resplendentes no sangue do C o r d e ir o " pelo sacram ento da
penitência e pela prática das virtudes cristãs. Também a êsses, portan­
to, se endereça o severo aviso do Apóstolo S. Paulo: "Se alguém que
viola a lei de Moisés, por depoimento de duas ou três testemunhas, mor­
re sem nenhuma remissão, quanto mais acerbos suplícios pensais que
merece quem houver concutcado o Filho de Deus, e houver tido como
profano o sangue do Testamento, em que foi santificado, e houver feito
ultraje ao Espirito de graça! Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus
vivo" . "
O pensamento e as praxes da Igreja. — Veneráveis Irmãos, a Igreja,
Espôsa dileta do Salvador divino, sempre permaneceu santa e imaculada
em si mesma, pela fé que a ilumina, pelos sacram entos que a santificam ,
pelas leis que a governam, pelos numerosos mem bros que a embelezam
com o adôrno de heróicas virtudes. M as há nela também filhos esque­
cidos da sua vocação e eleição, os quais em si mesmos deturpam a beleza
celestial, e não refletem em si mesmos as divinas sem elhanças de Je­
sus Cristo.
Pois bem: a todos, mais do que palavras de reprovação e de amea­
ça, apraz-Nos dirigir uma paternal exortação a terem presente êste
consolador ensinamento do Concilio de Trento, eco fidelíssim o da dou­
trina católica: “Revestidos, com efeito, de Cristo no batismo (G ál 3,27),
por meio dêle nos tornamos uma criatura inteiramente nova, obtendo a
plena e integral remissão de todos os p ecados; a uma tal novidade e in­
tegridade não podem os todavia chegar por meio do sacramento da peni­
tência sem nossa grande dor e trabalho, sendo isto reclamado pela jus­
tiça divina, de modo que a penitência foi justamente chamada pelos san­
tos Padres um certo batismo laborioso”. ••
O exemplo nos Concílios precedentes. — O apêlo à penitência, por­
tanto, como instrumento de purificação e de renovação espiritual, não
"P a enitentiam agere” 295

ma. uf apud te meas nostra tuo desiderio futgeat ouac se eonr/s ma


ca™estia eapiamus"'.'' 6 tambén,: t t t M m , mitigatis. facilius
Não há, portanto, que admirar se os Nossos Predecessores, ao pre­
pararem a celebração dos Concílios Ecumênicos, preocuparam-se com
exortar os fiéis a penitencia salutar. Baste-nos lembrar alguns exemplos.
Inocêncio III, ao se aproximar 0 Concilio Lateranense IV, exortava
os filhos da Igreja com estas palavras: “A oração junte-se o jejum e a
esmola, a fim de que, por meio destas duas asas, a nossa oração mais
fácil c mais cèleremente voe aos ouvidos de Deus misericordiosíssimo,
e êle nos atenda benevolamente no momento oportuno”. " Com uma carta
endereçada a todos os seus prelados e capelães, Gregório X dispôs que
a solene abertura do II Concilio Ecumênico de Lião fôsse precedida de
três dias de jejum . ** Pio IX, enfim, exortou todos os fiéis a que, na purifi­
cação da alma de tòda mancha de culpa 011 reato de pena, dignamente
c em perfeita alegria se preparassem para a celebração do Concilio
Ecumênico Vaticano: . . . “visto ser coisa manifesta que as orações dos ho­
mens são mais aceitas a Deus se êstes a èle se volvem com coração
limpo, isto é, com a alma purificada de tôda culpa" . ”
Oportunas sugestões em preparação ao Concilio Ecumênico Vatica­
no II. — Seguindo 0 exemplo dos Nossos Predecessores, também Nós,
Veneráveis Irmãos, ardentemente desejamos convidar todo o mundo ca­
tólico — clero e laicato — a preparar-se para a grande celebração Con­
ciliar com a oração, com as boas obras e com a penitência. E, já que a
oração pública é o meio mais eficaz para obter as graças divinas, se­
gundo a própria promessa de Cristo: " Onde dois ou três estão reunidos
em meu nome, eu estou no meio dêles” ” , mister sc torna portanto que
os fieis todos sejam "um sá coração e uma só alma" ” como nos pri­
meiros tempos da Igreja, e, com a oração e com a penitência, impetrem
de Deus que êste extraordinário acontecimento produza aquêles frutos
salutares que estão na expectativa de todos; isto é, um reavivamento
tal da fé católica, um tal reflorescimento de caridade e incremento dos
costumes cristãos, que até mesmo nos irmãos separados despertem um
vivo c eficaz desejo de unidade sincera e operosa, num único redil e sob
um só pastor. *•
Para êste fim, exortamo-vos, ó Veneráveis Irmãos, a que, na ime­
diata vizinhança do mesmo Concilio, em cada paróquia das dioceses a
cada um de vós confiadas, promovais uma solene novena em honra do
Espirito Santo, para invocar sôbre os Padres do Concilio a abundância

a vstnjsrm
" Z T ^ t ^ c r S o c V c l n r U ^ e c e n t . , C l. Lee. tom. VII. Prlburgl Brl.g-
190. col. 10.
»» Ml 28,20.
*• At 4,32.
»• Cl. Jo 10,16.
296 IV. Documentos

das luzes celestes e das graças divinas. A êste respeito, queremos pôr
à disposição dos fiéis os bens que fazem o tesouro espiritual da Igreja,
e, por isto, a todos os que tomarem parte na supradita novena será
concedida Indulgência Plenária, a ser lucrada nas condições habituais.
Oportuno será também promover nas diversas D ioceses uma função
penitencial propiciatória. E sta função deverá ser um fervoroso convite,
acompanhado com particular curso de pregação, a obras de misericórdia
e de penitência, com as quais procurem todos os fiéis tornar propício
Deus Onipotente e implorar dêle a renovação do espírito cristão, que
é um dos escopos precipuos do Concilio. Com efeito, justam ente obser­
vava Nosso Predecessor Pio X I, de venerada m emória: “A oração c o
penitência são os dois poderosos meios postos por Deus à nossa dispo­
sição em nossa época para a Êle reconduzir a mísera humanidade aqui e
acolá errante sem guia; são elas que tiram e reparam a causa primeira
e principal de tôda perturbação, isto é. a rebelião do homem a Deus".
Necessidade da penitência interna e externa. — Antes de tudo é ne­
cessária a penitência interior, isto é, o arrependimento e a purificação dos
próprios pecados, o que espccialm ente se obtém com uma boa Confissão
e Comunhão, e com a assistência ao Sacrifício Eucarístico. A êste gê­
nero de penitência deverão ser convidados todos os fiéis durante a No­
vena ao Espfrito Santo. Vãs seriam, com efeito, as obras exteriores de
penitência se não fóssem acompanhadas da limpeza interior da alm a c do
sincero arrependimento dos próprios pecados. Neste sentido deve-se en­
tender o severo aviso de Jesus: “Se não fizerdes penitência, todos igual­
mente perecereis". 14 Afaste Deus êste perigo de todos aqueles que nos
foram confiados!
Além disto, devem os fiéis ser convidados também à penitência
exterior, quer para sujeitarem o corpo ao comando da reta razão c da
fé, quer para expiarem as suas culpas e as dos outros. De feito, o pró­
prio S. Paulo, que subira ao terceiro Céu e atingira as culm inâncias da
santidade, não hesita em afirmar de si mesmo: "Mortifico o meu corpo
e mantenho-o em servidão" e alhures adverte: "O s que pertencem a
Cristo crucificaram sua carne com s u a s cobiças".'• E desta maneira San­
to Agostinho insiste nessas mesmas recomendações: “Não basta melhorar
a própria conduta e deixar de fazer o mal, se também não se dá satisfa­
ção a Deus pelas culpas cometidas, por meio da dor da penitência, dos
gemidos da humildade, do sacrifício do coração contrito, unidamente às
esmolas". ••
A primeira penitência exterior que todos devemos fazer é a de,
com ânimo resignado e confiante, aceitarmos de Deus tôdas as dores e so­
frimentos que se nos deparam na vida, e tudo o que im porta fadiga e in­
cômodo no exato cumprimento das obrigações do nosso estado, no nos­
so trabalho cotidiano e no exercício das virtudes cristãs. E sta penitência
necessária não somente vale para nos purificar, para nos tornar propi­
cio o Senhor e para impetrar o seu auxilio para o feliz e frutuoso êxito
do próximo Concilio Ecumênico, como também torna mais leves e quase
suaves as nossas penas, pondo diante de nós a esperança do prêmio

“ LUt.^Enc. Corltole Chrltll compulsl, AAS, 24 (1932), p. 101.


” I Cor'9,27.
*■ Oál 5.2-).
>• Scrm. 351. 5, 12; PL 39. 1349. >
"Paenitentiam agcre”
297
eterno: "Os sofrimentos do tempo presente não podem ter proporção com
a gloria que devera manifestar-se em nós" >• P op0 (ao com
Cooperar na divina Redenção. - Além das penitências que neces­
sariamente temos de enfrentar pelas dores inevitáveis desta vida mor” l
mister se faz que os cristãos sejam tão generosos a ponto de também
oferecerem a Deus mort.f,cações voluntárias, à imitação do nosso Div"-
no Redentor, que, segundo a expressão do Príncipe dos Apóstolos, "uma
vez por tôdas morreu pelos pecados, justo petos injustos, a fim de nos
oferecer a Deus, mortificados na carne, porém vivificados no espirito".11
"Portanto, já que Cristo padeceu na carne", armemo-nos também nós
do mesmo pensamento . Sirvam nisto de exemplo e de incitamento tam­
bém os Santos da Igreja, cujas mortificações infligidas ao seu corno
nao raro inocentíssimo enchem-nos de admiração e quase nos aterram
Ante êsses campeões da santidade cristã, como não oferecer ao Senhor
alguma privação ou pena voluntária da parte também dos fiéis, que tal­
vez tantas culpas tenham a expiar? Elas são tanto mais agradáveis a
Deus quanto não vêm da enfermidade natural da nossa carne e do nosso
espirito, mas espontânea c generosamente são oferecidas ao Senhor cm
holocausto de suavidade.
Sabido é, enfim, que o Concílio Ecuménico tende a incrementar de
nossa parte a obra da Redenção, que Nosso Senhor Jesus Cristo, "ofere­
c e n d o -s e ... porque ête mesmo o quis"“ , veio trazer para entre os ho­
mens não só com a revelação da sua celeste doutrina, mas também com
o derramamento voluntário do seu precioso Sangue. Ora, podendo cada
um de nós afirmar com S. Paulo Apóstolo: “Ategro-me com o que pa­
deço . . . e completo aquilo que falta aos padecimentos de Cristo, em pró
do corpo dêle, que é a Igreja" ” , também nós devemos portanto alegrar-
nos de poder oferecer a Deus os nossos sofrimentos "para a edificação
do Corpo de Cristo" ” , que é a Igreja. Antes, devemos sentir-nos imen­
samente alegres e honrados de sermos chamados a esta participação
redentora da pobre humanidade, sobejas vêzcs desviada do reto caminho
da verdade e da virtude.
Infelizmente muitos, em vez da mortificação e da renegação de si
impostas por Jesus Cristo a todos os seus seguidores com estas pala­
vras: "Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada
dia a sua cruz e siga-me"” , antes procuram desenfreadamente os pra­
zeres terrenos, e deturpam e debilitam as energias mais nobres do espi­
rito. Contra êste modo de viver desregrado, que não raro desencadeia
as paixões mais baixas e leva a grave perigo da salvação eterna, e pre­
ciso que os cristãos reajam com a fortaleza dos Mártires e dos Santos
que sempre ilustraram a Igreja Católica. Dessarte todos poderão contn-
huif, segundo o seu estado particular, para o melhor êxito do Concilio
Ecumênico Vaticano II, que justamente deve conduzir a um reflorescimen­
to da vida cristã.
Convites conclusivos. - Depois destas paternais exortações, confia­
mos Veneráveis Irmãos, em que vós mesmos « f ■ « S S ” «
com entusiasmo, mas também estimulareis a acolhê-las Nossos filhos do
clero c do laicato espalhados pelo mundo todo. Com efeito, se, como esta

•> Cf. Ibld 4.1. LC 0,23.


»» Is 53,7.
298 IV. Documentos

na expectação de todos, o próxim o Concilio Ecumênico deverá acarretar


um grandíssimo incremento da religião católica; se nêle ressoará de modo
ainda mais solene o verbum regni de que se fala na parábola do se­
m ead or” ; se queremos que por meio dêle o Reino de Deus se consolide
e se estenda sempre mais no mundo, o bom êxito de tudo isto dependerá,
em grande parte, das disposições daqueles a quem serão dirigidos os
seus ensinamentos de verdade, dc virtude, de culto público e privado
para com Deus, de disciplina, de apostolado m issionário.
Por isto, Veneráveis Irmãos, aplicai-vos sem demora, por todos os
meios ao vosso alcance, a fim dc que os cristãos confiados aos vossos
cuidados purifiquem seu espirito pela penitência e se inflamem cm maior
ardor de piedade; de modo que a boa semente, que naqueles dias será
mais larga e abundantemente esparzida, não seja por êles dispersada
nem sufocada, mas por todos seja acolhida com ânim o bem disposto
c perseverante, e dêsse grande acontecim ento tirem êles copiosos e du­
radouros frutos para a sua eterna salvação.
Por último, pensamos que ao próxim o Concílio podem justam ente
aplicar-se as palavras do Apóstolo: "Eis agora o tempo aceitável, eis
agora o dia da salvação". ” Corresponde, porém, aos desígnios da Pro­
vidência de Deus que os seus dons sejam distribuídos segundo as dispo­
sições de ânimo de cada um. Portanto, aquêles que querem ser filial­
mente dóceis a Nós, que de longo tempo Nos esforçam os por preparar
os corações dos cristãos para êsse grandioso evento, diligentemente pres­
tem atenção também a êste Nosso último convite. Assim, seguindo o
Nosso e o vosso exemplo, Veneráveis Irmãos, os fiéis — e em primeiro
lugar os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, as crianças, os doentes,
os que sofrem — elevem súplicas e façam obras de penitência com o fim
dc obterem de Deus para a sua Igreja aquela abundância de luzes e de
auxilios sobrenaturais de que naqueles dias terá ela especial necessidade.
De feito, como podemos pensar que Deus não se mova à largueza de gra­
ças celestes quando de seus filhos recebe tal abundância de dons que
respiram fervor de piedade e perfume de m irra?
Além disto, todo o povo cristão, em obséquio ã Nossa exortação de­
dicando-se m ais intensamente à oração e à prática da m ortificação, ofe­
recerá um admirável c comovedor espetáculo dêsse espírito de fé que
deve animar indistintamente todo filho da Igreja. Isto não deixará tam­
bém de abalar salutarmente o ânimo daqueles que, excessivamente preo­
cupados e distraídos com as coisas terrenas, deixaram -se levar à negli­
gência dos seus deveres religiosos.
Se, como está nos Nossos desejos, tudo isto acontecer, e vós puder­
des deslocar-vos das vossas Dioceses rumo a Roma, para a celebração
d o'C oncilio, trazendo convosco um tão rico tesouro de bens espirituais,
legitimamente poder-se-á esperar que surja uma nova e mais feliz era
para a Igreja Católica.
Animados desta esperança, de todo coração concedemos a vós, Ve­
neráveis Irmãos, e ao clero c ao povo confiado aos vossos cuidados,
a Bênção Apostólica, penhor dos celestes favores e testemunho da Nossa
benevolência paternal.
Dado em Roma, junto a S. Pedro, a 1 » de julho de 1962 festa do
Preciosíssim o Sangue de N. S. J. C , quarto ano do Nosso pontificado.
----------------- IOANNES PP . X X III.
” Mt 13,19. — 2 Cor 6,2.
Radiomensagetn Preconciliar.

No
DIA 11 DE SETEMBRO
de 1962, exatamente um mês antes do início do XXI Concílio
Ecumênico, o Papa João X X III fêz questão de enviar ao mundo
uma radiomensagem especial sôbre o próximo Concilio. E ’ um
documento de certa importância, porque já traça normas con­
cretas para o Concilio e, por isso mesmo, mais de uma vez, foi
citado e invocado durante as Congregações Gerais. A própria
Mensagem do Concílio à Humanidade, que publicamos páginas
adiante, se baseia parcialmente nêle. Eis, em português, seu tex­
to com pleto:
A grande expectativa do Concílio Ecumênico, a um mês dc distância
do seu inicio oficial, brilha nos olhos e nos corações de Iodos os filhos
da Igreja católica, santa e bendita.
No decurso dêstes três anos de preparação, um número sem conta
de pessoas escolhidas, provenientes de tôdas as partes do mundo e dc
tôdas as linguas, unidas pelo sentimento e pela intenção, acumularam
uma riqueza de elementos de caráter doutrinal e pastoral tão abundante
que oferecerá ao episcopado do mundo inteiro, reunido sob as abóbadas
da basílica Vaticana, motivos de sapientíssima aplicação do magistério
evangélico de Cristo, luz vinte vêzes secular para a humanidade redimi­
da com o seu sangue.
Encontramo-nos, portanto, com a graça de Deus, no momento opor­
tuno. As proféticas palavras de Jesus, pronunciadas a proposito da con­
sumação final dos séculos, encorajam as boas e generosas disposições
dos homens, que, particularmente em alguns momentos históricos da
Igreja, se abrem a um nôvo entusiasmo de elevaçao a « "lin h o cjw
cumes mais altos: Levalc capita vestra. quomam appropmq
vestra: levantai a cabeça, porque se aproxima a vossa libertação (
21,20-33).
Considerado na sua preparação espiritual, o Concilio Ecumênico, ?
da sua mauguraçau,
inauguração, parece ---------
merecer r o convite do Senhor:
poucas semanas aa - -o . .
Videte omnes arbores cum iam prodacuat ex se fruc u™.
P ?P , « . 1.
as arvores: quando começam a rebentar, vos aais ,
300 IV. Documentos

elas, de que está próximo o verão. Também vós, quando virdes que isto
começa a acontecer, sabei que está próximo o reino de Deus (ió .).
Esta palavra "regnum D ei", reino de Deus, exprime com clareza e
precisão os trabalhos do Concilio. “Regnum Dei”, reino de Deus, signi­
fica e é realmente a Igreja de Cristo, una, santa, católica, apostólica,
tal qual Jesus, o Verbo de Deus feito homem, a fundou, a conserva
desde há vinte séculos, a vivifica ainda hoje com a sua presença e com
a sua graça, sempre a renovar nela os antigos prodígios que, através
dos tempos, por vêzes ásperos e difíceis, a levaram a multiplicar as vi­
tórias do espirito. Vitórias da verdade sóbre o êrro, do bem sôbre o
mal, do amor e da paz sóbre as divisões e os contrastes.
Os termos da contradição: o bem e o mal, continuam c continuarão
a existir, porque o arbítrio humano possuirá sempre liberdade de expri-
mir-se e possibilidade de enganar-se; mas a vitória final e eterna em
cada uma das alm as eleitas e nas alm as eleitas de cada povo será vitó­
ria de Cristo e de sua Igreja.
A êste propósito, é oportuna e feliz uma referência ao simbolismo
do círio pascal. Ao sinal litúrgico, eis que ressoa o seu nome: Lumen
Christi, luz de Cristo. A Igreja de Jesus responde desde todos os pontos
da terra: Deo gratias, Deo gratias, como que a dizer: Sim , lumen Christi,
lumen Ecclesiae, lumen gentium, luz de Cristo, luz da Igreja, luz
dos povos.
Que é, de fato, um Concilio senão a renovação dêste encontro com
o rosto de Cristo ressuscitado, rei glorioso e imortal, a brilhar em tôda
a Igreja para salvação, alegria e iluminação de tóda a humanidade?
E' na luz desta aparição que ressoa aos nossos ouvidos o salmo
antigo: "Levanta para nós a luz do teu rosto, Senhor. T u trouxeste a
alegria ao meu coração: Extolle super nos lumen vultus (ui Domine!
Dedisti laetitiam in cor meum" (SI 4,7 -8 ).
Verdadeira alegria para a Igreja Universal de Cristo é o que deseja
ser o nóvo Concilio Ecumênico.
A sua razão de ser — tal qual o desejam os, preparamos e espera­
mos — é a continuação, ou melhor, o recomêço mais enérgico da res­
posta do mundo inteiro, do mundo moderno, ao testam ento do Senhor,
formulado naquelas palavras solenes pronunciadas por Cristo com os
braços estendidos para os confins do mundo: Euntes ergo — docete
omnes gentes — baptizantes cos in nomine Patris et Fitii et Spiritus
Sancti — docentes eos servare omnia quaecumquc dixi vobis: Ide por
tôda a terra — ensinai todos os povos — batizando-os em nome do Pai
e do Filho e do Espirito Santo — ensinando-os a observar tudo o que
eu vos disse (cf. Mt 28,19-20).
A Igreja quer ser procurada tal qual é, na sua estrutura interior,
na sua vitalidade ad intra, que apresenta, antes de mais aos seus filhos,
os tesouros de fé iluminadora e de graça santificante, inspirados naque­
las últimas palavras. E las exprimem a missão primordial da Igreja, os
seus títulos de serviço e de honra, que são: vivificar, ensinar, orar.
Radiomensagem preconciliar
301
Considerada nas relações da sua vitalidaH» <
as exigências e as necessidades dos povos ~ l ^ ■' f eran<e
manas encaminham de preferência a uma „ „ 5 83 v,ciss,,udes hu-
terrenos - a Igreja sente o dever de c o r r i n Z ^ J ? * 0 d0S be" S
lidades com o ensino de que importa 8 rf ponMbi'
temporais que não percamos as eternas P«<Wr/.nf- U m°,do pelas co,sas
11/ non amittamus aderna (cf. Dom. II! post Pent ' cS l ).*™ * Itmp°ral,a'
M ercê dêste sentido de responsabilidade perante os deveres do cristão
chamado a v.ver como homem entre os homens como crisMn
cristãos, deverão muitos outros, embora não sejam cristãos de fato
sentir-se incitados a tornar-se cristãos. Ü ,at ’
Esta e a porta de entrada para a chamada atividade externa mas
inteiramente apostólica, da Igreja, e de onde recebem vigor e irradiação
as palavras: ensinando-os a observar tôdas as coisas que eu vos disse”.
Com efeito, o mundo tem necessidade de Cristo: e é a Igreia oue
deve levar Cristo ao mundo. 8 J M
O mundo tem os seus problemas, para os quais busca, por vêzes
angustiadamente, uma solução. E’ claro que a ansiosa preocupação de
os resolver a tempo e retamente pode transformar-se em obstáculo para
a difusão da verdade total e da graça santificante.
O homem busca o amor da família dentro do lar doméstico; o pão
de cada dia para si e para os seus mais íntimos, a espósa e os filhos;
aspira e sente o dever de viver em paz, tanto no seio da sua comuni­
dade nacional como nas relações com o resto do mundo; é sensível às
atrações do espirito que o leva a instruir-se e a clevar-se; cioso da sua
liberdade, não recusa aceitar as legitimas limitações para melhor corres­
ponder aos seus deveres sociais.
Estes problemas de tanta importância sempre a Igreja os teve muito
a peito. Por isso, fê-los objeto de estudo atento e o Concilio Ecumêni­
co poderá oferecer, em linguagem clara, soluções que são exigidas pela
dignidade do homem e pela sua vocação cristã.
E is alguns dèstes problemas: a igualdade fundamental de todos os
povos no exercício de direitos e deveres no seio de tõda a família hu­
mana; a defesa corajosa do caráter sagrado do matrimônio, que impõe
aos esposos amor consciente e generoso, no qual se origina a procria­
ção dos filhos, considerada nos seus aspectos religioso e moral, dentro
do quadro das mais vastas responsabilidades de caráter social, no tempo
e na eternidade.
As doutrinas fautoras de indiferentismo religioso ou negadoras de
Deus e da ordem sobrenatural, as doutrinas que ignoram a Providência
na história e exaltam exageradamente a pessoa do homem individual,
com perigo de o subtrair às responsabilidades sociais, é da Igreja que
essas doutrinas devem tornar a ouvir a palavra enérgica e generosa,
já formulada na encíclica Maler et Magislra, na qual está resumido o
pensamento de dois milênios de história do cristianismo.
Outro ponto luminoso.
Em face dos países subdesenvolvidos a Igreja apresenta-se — tal
qual é e quer ser — como a Igreja de todos e particularmente a Igreja
dos pobres.
302 IV . Documentos

Tôda a ofensa e violação do quinto e do sexto mandamento do san­


to Decálogo; o desprêzo das obrigações que promanam do sétimo man­
damento; as misérias da vida social que clamam vingança aos olhos de
D eus: tudo deve ser claram cnte verberado e deplorado. E ’ dever de todo
o homem, dever urgente do cristão, avaliar o supérfluo pela medida das
necessidades alheias, e vigiar cuidadosamcnte por que a administração
e distribuição dos bens criados seja orientada para o proveito de todos.
T rata-se da difusão do sentido social e comunitário, que é ima­
nente ao cristianismo autêntico; e também isto deve ser vigorosamente
afirmado.
Que dizer das relações entre Igreja e sociedade civil? Vivemos, pe­
rante um mundo político nôvo. Um dos direitos fundamentais a que a
Igreja não pode renunciar é o da liberdade religiosa, que não é apenas
liberdade de culto.
A Igreja reivindica e ensina esta liberdade e por ela continua a
sofrer penas e angústias em muitos paises.
A Igreja não pode renunciar a esta liberdade, porque é conatural
ao serviço que está obrigada a realizar. Êste serviço não se apresenta
como corretivo e complemento daquilo que outras instituições devem fa­
zer ou que monopolizaram; mas é elemento essencial e insubstituível do
desígnio da Providência para guiar o homem pelo caminho da verdade.
Verdade e liberdade são os alicerces sôbre que se edifica a civilização
humana.
O Concilio Ecumênico vai reunir-se 17 anos depois da segunda
guerra mundial. Pela primeira vez na história os Pad res do Concílio
pertencerão a todos os povos e nações; cada qual apresentará o seu
contributo de inteligência e experiência, para pensar e curar as cicatri­
zes dos dois conflitos que tão profundamente m odificaram a fisionomia
de tõdas as Nações.
As mães e os pais de familia detestam a gu erra; a Igreja , Mãe de
todos sem distinção, proclamará uma vez m ais o apêlo que se eleva do
fundo dos séculos, de Belém, e finalmente do Calvário, para se difun­
dir em suplicante mandamento de paz: paz que previne os conflitos
armados, paz que deve ter as suas raizes e as suas garantias no co­
ração de cada um dos homens.
E' natural que o Concilio, na sua estrutura doutrinal e na ação
pastoral que promove, queira exprimir a aspiração dos povos a percor­
rerem o caminho que a Providencia indica a cada um, para colabora­
rem, no triunfo da paz, em tornar cada vez mais nobre, mais justa e
meritória para todos a existência terrena.
Os bispos, pastôres do rebanho de Cristo em tôdas as nações que
existem debaixo do céu, ex omni natione quae sub caelo sunt (cf. At
2 ,5 ), recordarão o conceito de paz, não só na sua formulação negativa,
como proscrição dos conflitos armados, mas sobretudo nas suas exi­
gências positivas. E stas requerem de todos os homens conhecim ento e
observância constante dos próprios deveres, respeito da jerarquia e da
harmonia dos valores, serviço dos valores espirituais acessíveis a todos,
posse e emprêgo das energias naturais e da técnica exclusivamente para
fins de elevação do nível de vida espiritual e econômica dos povos.
>

Radiomensagem preconciliar
303
Convivência, coordenação e integração são
ecoam nas reuniões internacionais

, : l----- *— w WV..V.1.V pwuc vcmuar-se uma coisa, us


preciosos elos da corrente de caridade, que desde os primeiros séculos
da era cristã a graça do Senhor tinha estendido, em realização da uni­
dade católica, sôbre as várias nações da Europa e do mundo então
conhecido, e que por circunstâncias diversas se foram depois resfriando
até chegarem a quebrar-se, êsses elos apresentam-se agora à considera­
ção de quantos não são insensíveis ao sòpro nôvo que o projeto do
Concilio despertou por tôda parte, cm ansiosas aspirações de fraterna
reconciliação, nos braços da antiga mãe comum, saneia et universalis
mater Ecclesia.
Isto é motivo de serena complacência e ultrapassa a primeira inspi­
ração que presidiu à preparação dèste encontro mundial.
Como é bela a súplica litúrgica: UI cuncto populo chrístiano pacem
et unitatem (argiri digneris — dignai-Vos dar a todo o povo cristão a paz
e a unidade. Como é superabundante a alegria dos corações ao lermos
o capítulo 17 de S. João: Ut omnes unam sint. Unam: Que todos sejam
um só, em unidade de pensamentos, de palavras e de obras.
O antigo poeta das gloriosas gestas do cristianismo (Prudêncio,
ibid.), voltando ao tema do impulso à cooperação universal da justiça
e da fraterna convivência de todos os povos, recorda enèrgicamente a
todos os filhos da Igreja que, em Roma, se mantêm na expectativa os
dois príncipes do apostolado, Pedro e Paulo: êste, grande vaso de elei-
j _a?___i . particularmente
___a- .i___ « ..„neisf a Awrancrplhn
ção destinado
«iflU UCdUflctUU \JUi lilUldl JIICJMC a anunciar
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recebido; ai. C
aquêle, :« : a DftrJrA
Simão Pedro, ciintaHn
sentado H pcHp há
desde na vinte
vinte
séculos sôbre a primeira cátedra, pronto para abrir e fechar as portas
do céu: para abrir, compreendeis amados filhos, abrir as portas na vida
presente e para a eternidade.
304 IV. Documentos

Não poderíamos encontrar expressões tão felizes e adequadas, tão


concordes entre si, da preparação individual e coletiva e de súplica pelo
feliz êxito do Concilio Ecumênico.
Queremos, todos e em todo o mundo, repeti-las e fazê-las repetir
com insistência nestas últimas sem anas, desde II de setembro a 11 de
outubro, dia da inauguração da grande assem bléia conciliar. E stas vozes
parecem vir do Céu. Dão o tom ao canto coral do Papa e dos Bispos,
do clero e do povo. Um só cântico se eleva potente, harmonioso, pene­
trante: Lumen Christi, Deo gratias. E sta luz brilha c brilhará pelos sé­
culos: sim, Lumen Christi, Ecclesia Christi, lumen gentium — Luz de
Cristo, Igreja de Cristo, luz dos povos.
"Deus onipotente e misericordioso! E ’ da vossa graça que desce até
aos vossos fiéis o dom de poder servir-vos digna e alegremente. Conce­
dei que sejam os capazes de caminhar expeditamente e sem hesitações
para a realização das vossas promessas. Assim vo-lo pedimos de todos
os pontos da terra e do céu. Pelos méritos de Jesus Cristo, M estre e
Salvador de todos nós. Amém. Amém” (cf. XII Dom. depois de Pentec.
O ração).
O P ro g ra m á tic o Discurso de Abertura.

. . . AL A ntes d e p r o n u n c ia r
i t dlscr ° de Aberíura> no memorável dia 11 de outubro de
.96oA^° Sum° Pontífice iá se referira, na fase preparatória, mais
de 200 vezes, em suas alocuções, ao futuro Concílio Ecumênico.
Quis, porém, o Papa do Concilio, preparar-se também de modo
imediato para tão grande quão importante acontecimento. Ines­
peradamente, no dia 4 de outubro, fêz para isso uma peregrina­
ção a Loreto e Assis. No discurso em Loreto declarou: “A pere­
grinação apostólica de hoje a êste antigo e venerado santuário
quer pôr o selo às súplicas que em todos os templos do mundo,
cio Oriente e do Ocidente, c nos sagrados recessos da dor e da
penitência, a Deus se elevaram pelo feliz desenrolar da grande
assembléia ecumênica; e quer simbolizar, outrossim, o caminho
cia Igreja rumo às conquistas dêsse domínio espiritual, feito em
nome de Cristo, que é luz das gentes (cf. Lc 2 ,3 2 ); domínio que
é serviço e amor fraterno, suspiro de paz, progresso ordenado c
universal”. E na parte final dêste discurso de Loreto termina o
Sumo Pontífice com esta comovente oração: “O’ Maria, ó Maria,
Mãe de Jesus e Mãe nossa! Aqui viemos esta manhã para vos
invocar como primeira estrela do Concilio que está para reali­
zar-se, como luz propícia ao nosso caminho, que se volve con­
fiante para a grande assembléia ecumênica, que constitui uma ex­
pectação universal. Já vos abrimos a Nossa alma, ó Maria; essa
alma que não mudou com o passar dos anos, desde o nosso pri­
meiro encontro dos primórdios do século: o mesmo coração co­
movido de então, o mesmo olhar súplice, a mesma prece. Nos
quase sessenta anos do Nosso sacerdócio, cada passo Nosso nos
caminhos da obediência foi assinalado pela vossa proteção, e
nada vos havemos pedido a não ser obterdes-Nos de vosso Di­
vino Filho a graça de um sacerdócio santo e santificador. Tam­
bém a convocação do Concílio, como o sabeis, fizemo-la, ó Mac,
Concilio II — 20
306 IV. Documentos

como expressão de obediência a um desígnio que Nos parece


verdadeiramente corresponder à vontade do Senhor. H oje, mais
uma vez, e em nome de todo o Episcopado, a vós, Mãe dulcíssi­
ma, que sois saudada como Auxilium Episcoporum , pedimos,
para Nós, Bispo de Roma, e para todos os Bispos do universo,
obterdes-N os a graça de entrarmos na sala conciliar da Basílica
de S. Pedro como no Cenáculo entraram os Apóstolos e os pri­
meiros discípulos de Jesu s: um só coração, uma só palpitação
de amor a Cristo e às almas, um só propósito de vivermos e de
nos imolarmos pela salvação dos indivíduos e dos povos. Assim,
pela vossa maternal in tercessão, nos anos e nos séculos futuros
possa-se dizer que a graça dc Deus preveniu, acompanhou e co­
roou o X X I Concílio Ecum ênico, infundindo em todos os filhos
da Santa Igreja nôvo fervor, impulso de generosidade, firmeza
de propósitos. Em louvor de Deus onipotente: Pai, Filho e E s­
pirito Santo, pela virtude do Sangue precioso de Cristo, cujo
domínio pacifico é flor de liberdade e de graça para todos os
povos, para tôdas as civilizações e instituições, para todos os
homens. Amém. Amém” .
Preparado assim , pronunciou João X X III, na abertura do
Concilio, seu program ático Discurso, que deveria ser impresso
em reluzentes letras de ouro. E is o texto:

Veneráveis irmãos. Alegra-se hoje a Santa Madre Igreja, porque, por


singular dom da Providência Divina, amanheceu o dia tão ansiosamente
esperado em que se inaugura o Concilio Ecumênico Vaticano (I, aqui,
junto do sepulcro de São Pedro, com a proteção da Virgem SS ., de quem
celebramos hoje a dignidade de Mãe de Deus.
Os Concílios Ecumênicos na Igreja. — A sucessão dos vários Con­
cílios celebrados na H istória — tanto os 20 Concílios Ecumênicos, como
os inúmeros Provinciais e Regionais, também importantes — testemu­
nham claramente a vitalidade da Igreja Católica e constituem pontos
luminosos da Sua história.
O gesto do mais recente e humilde sucessor de São Pedro, que vos
fala, de convocar esta soleníssima reunião, pretendeu afirm ar, mais uma
vez, a continuidade do M agistério Eclesiástico, para o apresentar, em
forma excepcional, a todos os homens do nosso tempo, tendo em conta
os desvios, as exigências e as possibilidades da idade moderna.
E ’ bem natural que, iniciando o Concilio Universal, Nos apraza con­
templar o passado, para ir recolher, por assim dizer, as vozes, cujo eco
animador queremos tornar a ouvir na recordação e nos méritos tanto
dos mais antigos, como também dos mais recentes Pontífices, Nossos
Predecessores: vozes solenes e venerandas, levantadas no Oriente e no
Ocidente, desde o século IV até a Idade Média, e desde então até à
época moderna, que transmitiram o testemunho daqueles Concílios; vo­
zes a aclamarem em perenidade de fervor o triunfo da instituição divina
Discurso de abertura
307

liSSÍ' ,,Kit * J~» . Nome, a ,.


nuvem de tristeza e de p S v S ff. pJr í ^ de 19 sécu,os uma
Sim eão a Maria, Mâe de Jesus aquela S « ; / ' “ 0 manifestou o velho
continua a realizar-se: ■•Êste mcnino L r / ^ ’ qUC * ™ realizado e
surreição de muitos, e será sinal de c o n t r a i o ' ' 7 ^ 2 3^

^jffrsMsr i r j S V =•*£
quem nao recolhe comigo desperdiça (ib. 11,23).
• 0 grande Prob,ema- proposto ao mundo, volvidos quase dois milê­
nios cont,nua o mesmo. Cristo sempre a brilhar no centro da his órTa e
da v.da; os homens ou estão com Êle e com a Sua Igreja - e emão
o í contra
ou contfa Êle,
S e a del.bcradamente
n rh aÍ f ’ da ° rdem
contra6 adaSua
Paz Igreja,
~ 0U causando
cs,ã0 semconfu-
Êle-

fratTÍcidasZa re açocs humanas- e perigos continuados de guerras


Os Concílios Ecumênicos, tôdas as vêzes que se reúnem, são cele­
bração solene da união de Cristo com a Sua Igreja, e por isso levam
à irradiação universal da verdade, à reta direção da vida individual, do­
méstica e social; ao reforço das energias espirituais, cm perene elevação
para os bens verdadeiros c eternos.
Estão diante de Nós, na sucessão de várias épocas déstes primei­
ros 20 séculos da história cristã, o testemunho dêste magistério extra­
ordinário da Igreja, recolhido em vários voiumes imponentes, patrimó­
nio sagrado dos arquivos eclesiásticos, tanto aqui em Roma como nas
Bibliotecas mais célebres do mundo inteiro.
Origem e causa do Concilio Ecumênico Vaticano II. — Pelo que
respeita à iniciativa do grande acontecimento que agora se realiza, baste,
como simples titulo de documentação histórica, reafirmar o Nosso tes­
temunho humilde e pessoal do primeiro e imprevisto florescer no Nosso
coração e nos Nossos lábios da simples palavra de “Concilio Ecumê­
nico”. Palavra pronunciada diante do Sacro Colégio dos Cardeais na­
quele faustíssimo dia 25 de janeiro de 1959, festa da Conversão de São
Paulo, na sua Basílica. Foi uma surpresa: uma irradiação de luz sobre­
natural; uma grande suavidade nos olhos e no coração. Mas, ao mesmo
tempo, um fervor, um grande fervor que se despertou, de repente, em
todo o mundo, na expectativa da celebração do Concílio.
Três anos de preparação laboriosa, consagrados a indagar com am­
plidão e profundidade as condições modernas da fé e da prática religiosa,
e dc modo especial da vitalidade cristã c católica, pareceram-Nos um
como primeiro sinal, um primeiro dom de graça celestial.
Iluminada pela luz dêste Concilio, a Igreja, como esperamos confia­
damente, crescerá em riquezas espirituais e, recebendo a fôrça de novas
energias, olhará intrépida para o futuro. Na verdade, com atualizações
oportunas e com a prudente coordenação da colaboração mútua, a Igreja
308 IV. Documentos

conseguirá que os homens, as famílias e os povos voltem realm ente a


alma para as coisas celestiais.
E assim a celebração do Concilio torna a ser motivo e singular
obrigação de grande reconhecim ento ao supremo D ador de todos os
bens, por celebrarmos com cântico de exultação a glória de C risto S e­
nhor’ Rei glorioso e im ortal dos séculos e dos povos.
Oportunidade da celebração do Concilio. — Há ainda um argumento,
veneráveis irmãos, que é útil propor à vossa consideração. P a ra tornar
mais concreta a Nossa santa alegria, queremos, diante desta grande As­
sembléia, notar as felizes e consoladoras circunstâncias em que se inicia
o Concilio Ecumênico.
No exercício cotidiano do Nosso ministério pastoral chegam -N os aos
ouvidos insinuações de alm as, ardorosas sem dúvida no zèlo, m as não
dotadas de grande sentido de discrição e m oderação. Nos tempos mo­
dernos, não vêem senão prevaricações e ruínas; vão repetindo que a
Nossa época, em com paração com as passadas, tem piorado; e compor-
tam-se como quem nada aprendeu da H istória, que é também mestra da
vida, e como se no tempo dos Concílios Ecumênicos precedentes tudo
fôsse triunfo completo da idéia e da vida cristã, c da ju sta liberdade
religiosa.
Mas a Nós parece-N os que devemos discordar desses profetas de
desgraças, que anunciam acontecim entos sempre infaustos, como se es­
tivesse iminente o fim do mundo.
Na ordem presente das coisas a m isericordiosa Providência está-N os
levando para uma ordem de relações humanas que, por obra dos ho­
mens e a maior parte das vèzes para além do que êlcs esperam , se en­
caminham para o cumprimento dos seus desígnios superiores e inespe­
rados, e tudo, mesmo as humanas diversidades, converge para o bem
da lgTeja.
E ’ fácil descobrir esta realidade se se considera com atenção o mun­
do de hoje, ocupado com a política e as controvérsias de ordem econô­
mica, a tal ponto que já não se encontra tempo de pensar nas preocupa­
ções de ordem espiritual, de que se ocupa o M agistério da San ta Igreja,
à s te modo de proceder não é certamente justo, e com razão temos de
desaprová-lo; não se pode contudo negar que estas novas condições da
vida moderna têm pelo menos a vantagem de ter suprimido aqueles inú­
meros obstáculos, com que em tempos passados os filhos do século im­
pediam a ação livre da Igreja. De fato, basta percorrer mesmo rapida­
mente a história eclesiástica, para verificar sem sombra de dúvida que
os Concílios Ecumênicos, cu ja s vicissitudes constituíram uma sucessão de
glórias verdadeiras para a Igreja Católica, foram muitas vêzcs celebra­
dos com alternativas de dificuldades gravíssim as e tristezas, por causa
da intromissão indevida das autoridades civis. Os príncipes dêste mun­
do, é certo, propunham-se às vêzes proteger com tôda a sinceridade a
Ig reja ; mas as mais das vêzes isto não se dava sem dano e perigo es­
piritual, porque êles procediam segundo as conveniências da sua política
interesseira e perigosa.
A êste propósito, confessamo-vos que sentimos dor vivíssima por
muitíssimos Bispos, que nos são tão caros, fazerem hoje sentir aqui
a sua ausência, por estarem presos pela sua fidelidade a Cristo, ou de­
tidos por outros impedimentos; pensar nêles leva-Nos a elevar fervoro-
Discurso de abertura 309

sissim as orações a Deus. Porém, não sem grande esperança e com grande

d r ftantos
de tantoJ>an 4 t i r I|lMSri
obstáculos de a natureza
m?’ Vem0S h«°Íe qU
profana, C 3 ,greja'
como finalmente
acontecia livre
no passado.
pode desta Basílica Vaticana, como dum segundo Cenáculo Apostólico
fazer sentir por vosso meio a Sua voz, cheia de majestade e de grandeza.
Missão principal do Concilio: defesa e valorização da verdade. — O
que mais importa ao Concilio Ecumênico é o seguinte: que o depósito
sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais
eficaz. Essa doutrina abarca o homem inteiro, composto de alma e cor­
po, e, como êle é peregrino nesta terra, manda-o tender para o céu.
Isto mostra como é preciso ordenar a nossa vida mortal, de maneira
que cumpramos os nossos deveres de cidadãos da terra e do céu, e con­
sigamos dêste modo o fim estabelecido por Deus. Quer dizer que todos
os homens, tanto considerados individualmente como reunidos em socie­
dade, têm o dever de tender sem descanso, durante tôda a vida, para
a consecução dos bens celestiais, e de usarem só para êste fim os bens
terrenos sem que o uso dêles prejudique a eterna felicidade.
O Senhor disse: "Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”
(Mt 6,33). Esta palavra — primeiro — exprime em que direção devem
mover-se os nossos pensamentos e as nossas fôrças; não esqueçamos po­
rém as palavras que se seguem a esta exortação do Senhor: "e tódas
estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (ib.). Na realidade, sempre
existiram e existem ainda, na Igreja, os que, embora procurem com tô-
das as fôrças praticar a perfeição evangélica, não se esquecem de se fa­
zerem úteis à sociedade; de fato, do seu exemplo de vida, constante-
mente praticado, e das suas organizações de caridade toma vigor o que
há de mais alto e mais nobre na sociedade humana.
Mas, para que esta doutrina atinja os múltiplos campos da atividade
humana, que se referem aos particulares, às famílias e à vida social, é
necessário primeiramente que a Igreja não se aparte do património sa­
grado da verdade, recebido dos seus maiores; mas ao mesmo tempo deve
também olhar para o presente, para as novas condições de formas de
vida do mundo moderno, que abriram novos caminhos ao apostolado
católico.
Por esta razão a Igreja não assistiu inerte ao admirável progresso
das descobertas do gênio humano, c não foi a última a apreciá-las, mas,
mesmo seguindo êstes progressos, não deixa de avisar os homens para
que, acima das coisas sensíveis, elevem os olhares para Deus, fonte de
tôda a sabedoria e de tôda a beleza; e não esquece o mandamento im­
portantíssim o: "Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás” (Mt
4,10; Lc 4 ,8), para que não suceda que a fascinação efêmera das coisas
visíveis impeça o verdadeiro progresso.
Modalidades na difusão da doutrina sagrada. — Isto pôsto, vê-se
claramente tudo que se espera do Concilio quanto à doutrina. O XXI
Concílio Ecumênico — que se aproveitará da eficaz e importante soma
de experiências jurídicas, litúrgicas, apostólicas e administrativas —- quer
transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios,
que através de vinte séculos, apesar das dificuldades^ e das oposiçoes, se
tornou patrimônio comum dos homens. Patrimônio não bem recebido por
todos, mas sempre riqueza ao dispor dos homens de boa vontade.
310 IV. Documentos

O nosso dever não é só conservar êste tesouro precioso, como se nos


preocupássemos unicamente da antiguidade, mas de dedicar-nos com von­
tade pronta e sem temor àquele trabalho que a nossa época exige, pros­
seguindo assim o caminho que a Igreja percorre há vinte séculos.
O "punctum saliens” dêste Concilio não é, portanto, a discussão de
um artigo ou outro da doutrina fundamental da Igreja, repetindo e pro­
clamando o ensino dos Padres e dos Teólogos antigos c modernos, pois
èste supõe-se bem presente e familiar ao nosso espirito.
Para isto não havia necessidade de um Concilio. M as da renovada,
serena e tranqOila adesão a todo o ensino da Igreja, na sua integridade
e exatidão, como brilha nos Atos Conciliares, desde T ren to até ao V ati­
cano I, o espirito cristão, católico e apostólico do mundo inteiro espera
um progresso na penetração doutrinal e na form ação das consciências,
em correspondência mais perfeita com a fidelidade à doutrina autêntica;
mas também esta seja estudada e exposta por meio de form as de indagação
e formulação literária do pensamento moderno. Uma é a substância da
antiga doutrina do depositam fidei e outra é a form ulação que a reveste;
e é disto que se deve — com paciência, se necessário — ter grande conta,
medindo tudo nas formas e proporções do magistério de caráter preva-
lentemente pastoral.
Como reprimir os erros. — Ao iniciar-se do Concilio Ecumênico V a­
ticano II, mais evidente que nunca se torna que a verdade do Senhor
permanece eternamente. De fato, ao suceder uma época a outra, vemos
que as opiniões dos homens se sucedem excluindo-se umas às outras e
que muitas vêzes os erros se dissipam logo ao nascer, como a névoa
ao despontar o sol.
Sempre a Igreja se opôs a êstes erros; muitas vêzes até os conde­
nou com a maior severidade. Nos nossos dias, porém, a Esposa de
Cristo prefere usar mais o remédio da m isericórdia que o da severidade:
julga satisfazer melhor à s necessidades de hoje mostrando a validez da
sua doutrina que condenando erros. Não quer dizer que faltem doutrinas
enganadoras, opiniões e conceitos perigosos, contra os quais nos deve­
mos premunir e que temos de dissipar; mas êsses estão tão evidentemen­
te em contraste com a reta norma da honestidade, e deram já frutos tão
perniciosos, que hoje os homens parecem inclinados a condená-los, em
particular os costumes que desprezam a Deus e a Sua lei, a confiança
excessiva nos progressos da técnica e o bem-estar fundado exclusiva-
mente nas comodidades da vida. Sempre se vão èles convencendo mais
do valor máximo da dignidade da pessoa humana, do seu aperfeiçoa­
mento c do esfôrço que êle exige. O que m ais im porta, a experiência
ensinou-lhes que a violência feita aos outros, o poder das arm as e c
predomínio político não contribuem para a feliz solução dos graves pro­
blemas que os atormentam. Sendo assim, a Igreja Católica, levantando
por meio dêste Concilio Ecumênico o facho da verdade religiosa, de­
seja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de mi­
sericórdia e bondade com os filhos dela separados. Ao gênero humano,
oprimido por tantas dificuldades, ela diz, como outrora Pedro ao pobre
que lhe pedia esmola: "E u não tenho nem ouro nem prata; mas dou-
te aquilo que tenho: em nome de Jesus Cristo Nazareno levanta-te e
anda" (A t 3 ,6). Quer dizer, a Igreja não oferece aos homens de hoje
riquezas caducas, não promete uma felicidade só terrena; mas comuni-
Discurso de abertura 3 11

i r*it o da EJraIça d,vlna- cll,e- elevando os homens à dignidade


íL ÍS , D ef ’ ,deff ndem eficazmente e fomentam uma vida mais
humana, abre a fonte da sua doutrina vivificante, que permite aos ho­
mens, iluminados pela luz de Cristo, compreender bem aquilo que Cies
sao na realidade; a sua excelsa dignidade e o seu fim; por meio dos
seus filhos, estende ainda a tôda a parte a amplitude da caridade crista
que e o melhor auxilio para eliminar as sementes da discórdia- e nada
c mais eficaz para fomentar a concórdia, uma paz justa e a união fra­
ternal de todos.

Deve promover-se a unidade da família cristã e humana. — Deus


“quer salvar todos os homens e que todos cheguem ao conhecimento da
verdade” (I Tim 2,4). Mas os homens não podem sem a ajuda de tôda
a doutrina revelada conseguir uma completa e sólida união dos espíritos,
com a qual anda junta a verdadeira paz e a salvação eterna. Daí o
empenho da Igreja em promover e defender a verdade.
Infelizmcnte a família cristã, no seu conjunto, não chegou ainda a
esta visível unidade na verdade.
A Igreja Católica julga portanto dever seu empenhar-se ativamente
para que se realize o grande mistério daquela unidade, que Jesus Cristo
pediu com oração ardente ao Pai do Céu pouco antes do seu sacrifício.
Ela goza de paz suave, bem convicta de estar intimamente unida com
«aquela oração; e muito se alegra depois quando vé que essa invocação
estende a sua eficácia, com frutos salutares, mesmo àqueles que estão
fora do seu seio. Mais ainda, se consideramos bem esta mesma unidade,
obtida por Cristo para a sua Igreja, parece que brilha com tríplice raio
de luz sobrenatural e benéfica: a unidade dos católicos entre si, que deve
constituir exemplo perene; a unidade de orações e de desejos ardentes,
com os quais os cristãos separados desta Sé Apostólica ambicionam unir-
se conosco; por fim, a unidade na estima e no respeito para com a
Igreja Católica, por parte daqueles que seguem ainda religiões não-cris-
tãs. Neste particular, é motivo de tristeza considerar como a maior
parte do gênero humano — apesar de todos os homens terem sido re­
midos pelo sangue de Cristo — não vem beber àquelas fontes da graça
divina que existem na Igreja Católica. Por isso à Igreja Católica —
cuja luz tudo ilumina e cuja fôrça de unidade sobrenatural beneficia a
tôda a humanidade — bem se adaptam as belas palavras de São Ci-
priano: "A Igreja, aureolada de luz divina, envia os seus raios ao mun­
do inteiro; é porém luz única, que por tôda a parte se difunde sem que
fique repartida a unidade do corpo. Estende os seus ramos a tôda a
terra pela sua fecundidade, difunde sempre mais e mais os seus germes
de vida: todavia uma só c a cabeça, única é a origem, e é mãe sem
par cheia de fecundidade; por ela fomos dados à luz, alimentamo-nos
com o seu leite, vivemos do seu espirito” (De Catholicae Ecelesiae
Unitate, 5 ).
Veneráveis irmãos. Isto se propõe o Segundo Concilio Ecumênico do
Vaticano, que, ao mesmo tempo que une as melhores energias da Igreja
e se empenha por fazer acolher pelos homens mais favoràvelmente a boa
nova da salvação, como que prepara e consolida o caminho para aquela
unidade do gênero humano, que se requer como fundamento necessário
para que a cidade terrestre se conforme à Cidade celeste "na qual reina
3 12 IV. Documentos

a verdade, é lei a caridade, é a extensão a eternidade” (cf. S. Augustin.,


Epist. C X X X V III, 3 ).
Conclusão. — E agora "dirige-se a vós a nossa voz” (2 Cor 6,1 1 ),
Veneráveis Irmãos no Episcopado. Eis-nos finalmente todos reunidos
nesta Basílica do Vaticano, centro da história da Ig reja : onde o Céu e
a terra estão agora estreitamente unidos, aqui junto ao sepulcro de Pe­
dro, junto a tantos túmulos dos Nossos S antos Predecessores, cujas
cinzas nesta hora solene parecem exultar com m isteriosa comoção.
O Concílio que agora começa surge na Igreja como dia que pro­
mete a luz mais brilhante. Estam os apenas na aurora: mas já de quanta
suavidade não enche o nosso coração o prim eiro anúncio do dia que
nascei Aqui tudo respira santidade, tudo leva a exultar! Contemplemos
as estréias, que aumentam com o seu brilho a m ajestade dêste templo;
sim, as estréias, segundo o testemunho do Apóstolo S. João (Apoc 1,20)
sois vós mesmos; e convosco vemos brilhar aquêles candelabros dou­
rados à volta do sepulcro do Príncipe dos Apóstolos, isto é, as ig rejas
a vós confiadas (ib .).
Vemos, ao vosso lado, em atitude de grande respeito e de expecta­
tiva cheia de sim patia, essas digníssim as personalidades aqui presentes,
chegadas a Roma dos cinco continentes, para representarem a s Nações
do mundo.
Pode-se dizer que o céu e a terra se unem na celebração do Con­
cilio: os santos do céu, para proteger o nosso trabalh o; os fiéis da
terra, continuando a rezar a D eus; e vós, fiéis às in spirações do Espírito
Santo, para procurardes que o trabalho comum corresponda às espe­
ranças e às necessidades dos vários povos. Isto requer da vossa parte
serenidade de espirito, concórdia fraterna, moderação nos projetos, dig­
nidade nas discussões e prudência nas deliberações.
Queira o céu que as vossas canseiras c o vosso trabalho, para o
qual se dirigem não só os olhares de todos os povos, mas também as
esperanças do mundo inteiro, correspondam plcnamente à s aspirações
universais.
Deus todo-poderoso, cm vós colocamos tôda a nossa esperança, des­
confiando das nossas fôrças. Olhai benigno para êstes Pastô rcs da Vossa
Igreja. A luz da Vossa graça sobrenatural nos ajude a tomar a s de­
cisões e a fazer as leis; e ouvi tôdas as orações que Vos dirigim os com
unanimidade de fé, de palavra e de espirito.
O’ M aria, auxilio dos cristãos, auxílio dos Bispos — de cujo amor
tivemos recentemente uma prova especial no vosso templo de Lorcto,
onde tivemos o gôsto de venerar o mistério da Encarnação — disponde
tôdas as coisas para um feliz resultado, e, juntamente com o Vosso es-
pôso São José, com os santos apóstolos São Pedro e São Paulo, com
São João B atista e São João Evangelista, intercedei por nós junto de Deus.
A Jesus Cristo, am abilíssimo Redentor nosso, Rei imortal dos povos
e do tempo, amor, poder e glória pelos séculos dos séculos. Assim s eja !
Mensagem dos Padres Conciliares à Humanidade.

O ÚNICO DOCUMENTO P ú ­
blico do Concilio, nesta sua primeira fase, foi publicado logo no
inicio, na terceira Congregação Geral (2 0 -X -1 9 6 2 ). Tinha sido
preparado por iniciativa dos Cardeais Liénart, Doepfner, Léger,
Alfrink e Montini. Quando foi apresentado ao plenário do Con­
cilio, já recebera também o beneplácito de João X XIII. O texto
foi distribuído a todos os Padres Conciliares no início da men­
cionada Congregação Geral, foi lido em voz alta por Mons. Fe-
lici, Secretário Geral do Concílio, foi ràpidamente discutido (dis­
cussão que resultou em duas emendas) e aprovado por quase
todos os 2 .340 Conciliares presentes. Nos debates conciliares
posteriores êste documento foi invocado várias vêzes para jus­
tificar a mentalidade do magistério pastoral da ala inovadora
do Concílio. Damos aqui a versão portuguesa feita diretamente
do original latim:
Apraz-Nos enviar a todos os homens e a tôdas as nações a men­
sagem de salvação, de amor e de paz que Jesus Cristo, Filho de Deus
vivo, trouxe ao mundo e confiou à Igreja.
Por êste motivo, Nós, sucessores dos Apóstolos, unânimes em ora­
ção com Maria Mãe de Jesus, formando um só Corpo Apostólico do
qual é Cabeça o sucessor de Pedro, aqui nos congregamos por ordem
de Sua Santidade o Papa João X X III.
Resplandeça a Face de Jesus Cristo. — Queremos nesta reunião, sob
a direção do Espírito Santo, procurar como havemos de renovar a Nós
mesmos, para que sejam os encontrados mais e mais fiéis ao Evangelho
de Cristo.
Procuraremos apresentar aos homens de nosso tempo, íntegra e
pura, a verdade de Deus de tal maneira que êles a possam compreender
e a ela espontâneamente assentir.
Pois somos Pastórcs e desejamos saciar a fome de todos aquêles
que buscam a Deus e, "mesmo às apalpadelas, O encontram, pois Ele
não está longe de cada um de nós” (At 17,27).
Obedientes, pois, à vontade de Cristo que a Si mesmo Se entregou
à morte "a fim de apresentar a Si uma Igreja sem mancha ou r u g a ...,
3 14 IV. Documentos

porém que seja santa c im aculada" (E f 5 ,2 7 ), de tal modo consagra­


remos nossas energias e pensamentos à renovação de Nós mesmos, P as-
tóres, e do rebanho a Nós confiado, que a tódas a s gentes se apresente
amável a face de Jesus Cristo resplandecente em nossos corações “ para
refletir o esplendor de Deus” (2 Cor 4 ,6 ).
Tanto Deus amou o M undo... — Cremos que o Pai amou tanto o
mundo que, para salvá-lo, lhe entregou Seu Filho; e que, pelo mesmo
Filho, nos livrou da servidão do pecado, “por Êle reconciliando tudo
para Êle, pacificando tudo pelo sangue de Sua cruz" (Col 1,20), de
modo que “sejam os chamados filhos de Deus e de fato o somos" (1
Jo 3 ,1). Ademais, do Pai nos é dado o Espirito para que, vivendo a
vida de Deus, amemos a Deus c aos irmãos, nós que somos todos um
em Cristo.
Longe de nós, que aderim os a Cristo, fugir dos deveres e trabalhos
terrenos. Pelo contrário, a fé, a esperança e a caridade impelem-nos
a servir aos nossos irmãos, conformando-nos assim com o exemplo do
Divino Mestre que “não veio para ser servido mas para servir” (Mt
20,28). Por isso também a Igreja não nasceu para dominar mas para
servir. “Êle deu a Sua vida por nós e nós devemos dar a vida pelos
nossos irmãos" (1 Jo 3,16).
Por isso, enquanto esperamos que, pelos trabalhos do Concílio, bri­
lhe mais clara e viva a luz da fé, aguardam os uma renovação espiri­
tual, da qual também se origine um feliz impulso que iavoreça os bens
humanos, isto é, as invenções da ciência, os progressos da técu.-a e
uma difusão mais ampla da cultura.
Estimula-nos a Caridade de Cristo. — Aqui reunidos de tódas as
nações que há sob o céu, trazemos em nossos corações as ânsias de
todos os povos a nós confiados, suas aflições da alma e do corpo, suas
dores, seus desejos e suas esperanças. Preocupam-nos vivamente tódas
as angústias que hoje afligem os homens. D irija-se, pois, nossa solici­
tude em prim eiro lugar aos m ais humildes, aos mais pobres e aos mais
fracos. A exemplo de Cristo, sintamos compaixão da multidão que pa­
dece fome, sofre miséria e vive na ignorância. Olhemos constantemente
para os que, desprovidos dos auxilios oportunos, ainda não atingiram
um nível de vida digno do homem.
Por êste motivo nos Nossos trabalhos demos grande importância
a tudo aquilo que se relaciona com a dignidade do homem e que con­
tribui para a verdadeira comunidade dos povos.
"Estim ula-N os a caridade de C risto” (2 Cor 5 ,1 4 ), pois “quem,
vendo seu irmão passar necessidade, lhe fecha suas entranhas, como
permanece nêle a caridade de D eus?” (1 Jo 3,17).
Propõem-se-nos dois problemas de maior importância. — O Sumo
Pontffice João X X III, na radiomensagem de 11 de setembro de 1962, acen­
tuou particularmente dois pontos;
Prim eiro, o que se relaciona com a paz entre os povos. Não há
quem não deteste a guerra e deseje ardentemente a paz. Porém, mais
que todos, deseja-a a Igreja, pois Ela é Mãe de todos.
Pela voz do Romano Pontífice Ela jam ais deixou de proclam ar não
apenas Seu amor à paz, mas também Sua vontade de paz, sempre dis­
posta a ajudar de todo o coração a qualquer esfôrço sincero, procuran-
Mensagem à Humanidade 3 15

do com tôdas as Suas fôrças irmanar os povos, favorecer entre êles


uma estima reciproca de sentimentos e de obras.
E sta Nossa assembléia conciliar, admirável pela diversidade de ra­
ças, nações e línguas, não é acaso indubitável testemunho de uma co­
munidade unida pelo amor fraterno, do qual é esplendente manifestação
visível? Professam os que todos os homens são irmãos, seja qual fôr a
sua raça ou nação.
Em segundo lugar, o Sumo Pontífice insiste na justiça social. A
doutrina exposta na Encíclica Mater et Magistra mostra claramente quan­
to a Igreja é necessária ao mundo de hoje para denunciar as injustiças
e as indignas desigualdades, para restabelecer a verdadeira ordem das
coisas e dos bens de tal modo que, segundo os princípios do Evangelho,
a vida do homem se torne mais humana.
A fôrça do Espirito Santo. — Não possuímos nem riqueza nem po­
der terreno, mas depositamos nossa confiança na fôrça do Espirito de
Deus, prometido à Igreja pelo Senhor Jesus Cristo. Por isso, humilde
e ardentemente, convidamos a todos, não só aos nossos irmãos dos quais
somos Pastôres, mas a todos os irmãos que crêem em Cristo e aos de­
mais homens de boa vontade que "Deus quer sejam salvos e venham
ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2,4), a fim de que colaborem co­
nosco para estabelecer no mundo uma vida civil mais ordenada e fra­
ternal. Pois tal é a vontade de Deus que pela caridade apareça cm
certo sentido já neste mundo o Reino de Deus como antecipação do
Reino Eterno.
Brilhe, assim pedimos, em meio a êste mundo, que está ainda tão
longe da paz desejada, por causa das ameaças oriundas do próprio
progresso cientifico, certamente maravilhoso mas nem sempre orientado
para a lei superior da moralidade, brilhe a luz da grande esperança
em Jesus Cristo, nosso único Salvador.
Discurso às Missões Extraordinárias.

A A B E R T U R A DO C O N C ÍLIO
foi uma fesla para o mundo inteiro. 79 nações e 7 organizações
internacionais fizeram -se representar na solenidade da abertu­
ra. Também o Brasil enviou sua M issão E xtraordin ária nas pes­
soas do Senador Afonso Arinos de Mello Franco, do Em b aixa­
dor (junto à Santa S é ) Henrique de Souza Gom es c do P ro ­
fessor Alceu de Amoroso Lim a (conhecido em todo o Brasil co­
mo o escritor católico "T ristã o de Atayde” ). Durante a Audiên­
cia G eral do dia 31 de outubro de 1962 ponderou Sua San ti­
dade: “ Ao reler o elenco do pequeno grupo de personalidades
vindas a Roma para o dia 8 de dezembro de 1869, o inicio do
Concílio Vaticano I, e confrontando-o com as 86 delegações es­
peciais de Estados e Entidades Internacionais enviadas para o
Concilio V aticano II, devemos agradecer ao Senhor pelo enorme
caminho que a Ig reja percorreu, mesmo entre im ensas dificulda­
des”. No dia 12 de outubro de 1962 João X X III recebeu as
Missões E xtraordinárias em Audiência, na C apela Sixtin a, pro­
nunciando, em francês, o seguinte discurso:
Excelências e caros Senhores. A vossa estimada presença renova esta
manhã a emoção que sentimos ontem, em S. Pedro, na abertura solene
do Concilio Ecuménico; nela tomou parte cada um de vós em nome do
próprio Govêrno. Prim eiramente, queremos dizer-vos como é grande o
Nosso reconhecimento pela vossa presença, que veio contribuir para a
grandeza do acontecim ento e para o seu reflexo no mundo, que atingiu
todos os homens de boa vontade.
Quisemos, por isso, corresponder a êste concurso de exceção com
um ato de exceção, recebendo-vos na Capela Sixtina, habitualmente re­
servada às cerimónias litúrgicas, na qual se reúnem também os Cardeais,
como bem sabeis, para a eleição do nóvo Pontífice.
Não é sem viva emoção, bem o compreendeis, que Nos dirigim os a
vós no mesmo lugar em que, há quatro anos, a Divina Providência dis­
pôs, nos seus desígnios misteriosos, a elevação ao Supremo Pontificado
do humilde Patriarca de Veneza, que passara a maior parte da vida a
Discurso às Missões Extraordinárias 3 17

servir d.rctamente a Santa Sé no Oriente e no Ocidente. E eis que


passados quatro anos, a mesma Providência bondosa Nos concede á
alegria de abrir o Concilio Ecumênico e de ver a grande maioria dos
povos da terra associados, por meio das vossas ilustres pessoas, a êste
acontecim ento, que já atraiu por tôda a parte a atenção sôbre a Igre­
ja Católica. 6
Isto vos mostra o lugar importante que vem ocupar a reunião es­
pecialíssima e solene desta manhã, entre as várias cerimônias conciliares:
indica bem que o Concilio, além do seu significado religioso, oferece um
aspecto social que interessa à vida dos povos, o que é pôsto em grande
relêvo pela vossa presença neste local.
Bem sabido é e bem evidente que um Concilio interessa primeira­
mente à Igreja Católica. Pretende manifestar a sua vitalidade e garantir
a sua missão espiritual. Mas quer também adaptar os seus meios de
ação, para a doutrina evangélica ser vivida com dignidade e ser recebida
mais facilmente pelos povos. Quer também aplanar o caminho que há de
levar ao encontro de tantos irmãos; porque o Concilio é também, con­
forme dissemos no dia 25 de janeiro de 1959, um nôvo convite aos fiéis
das Comunidades separadas para elas nos seguirem com amabilidade
nesta busca da união e da graça, a que tantas almas aspiram em todos
os pontos da terra (cf. Disc. Mess. Coll., Vol. I, p. 133).
O Concilio deseja, por fim, fazer ver ao mundo como se deve pôr
em prática a doutrina do seu Divino Fundador, príncipe da paz. Na
verdade, todos os que vivem segundo esta doutrina contribuem para
que se estabeleça a paz e favorecem a verdadeira prosperidade.
Entre homens que não conhecem senão relações de fôrça física, o
dever da Igreja consiste em revelar tôda a importância e eficácia da
fôrça moral do Cristianismo, que é mensagem tôda de verdade, de jus­
tiça e de caridade.
Sôbre êstes fundamentos deve o Papa trabalhar, para estabelecer
uma paz verdadeira, destinada a penetrar os povos, de respeito pela
pessoa humana, e a procurar uma justa liberdade de culto e religião;
paz que favorece a concórdia entre os Estados, mesmo que exija, é claro,
algum sacrifício.
As conseqüèncias naturais serão o amor mútuo, a fraternidade e o
fim das lutas entre os homens de origens diversas e de mentalidades
diferentes. Assim se apressarão o auxílio tão urgente em favor dos po­
vos a caminho do progresso e a procura do seu verdadeiro bem, com
“exclusão de quaisquer pretensões de domínio” (Mater et Magisira, Po-
ligl. Vatic. n. 184). Esta é a paz que todos os homens esperam e pela
qual tanto sofreram: é bem tempo de ela dar passos decisivos!
Esta é a paz que a Igreja procura estabelecer: com a oração, com
o respeito profundo que tem pelos miseráveis, pelos ^doentes e pelos
velhos, e com a difusão da sua doutrina, que é doutrina de amor fra­
terno, porque os homens são irmãos e — dizemo-lo comovido — todos
filhos do mesmo Pai. O Concilio contribuirá, sem dúvida, para êste nôvo
clima e para afastar qualquer conflito, especialmente a guerra, êsse fla­
gelo dos povos, que hoje viria a significar a destruição da humanidade.
Excelências e caros Senhores, temos diante dos olhos, nesta Capela
Sixtina, a obra-prim a grandiosa de Miguel Angelo, o Juízo Final, cuja
seriedade faz pensar e refletir. Sim, Nós temos de dar contas a Deus,
3 18 IV. Documentos

Nós e todos os Chefes de Estado que levamos a responsabilidade do


destino dos povos. Lembrem-se todos que um dia terão de dar conta
das suas ações a Deus Criador, que será também Supremo Juiz. Com
a mão na consciência, ouçam o grito de angústia que sobe para o Céu
de todos os pontos da terra, desde as crianças inocentes aos velhos, des­
de os indivíduos às sociedades: paz, paz. Êste pensamento da conta con­
siga que êlcs não deixem de fazer nenhum esfôrço para conseguir êste
bem, que é, para a família humana, um bem superior a todos os demais.
Continuem êles a encontrar-se e a discutir, e cheguem a acordos
leais, generosos e justos. Estejam prontos também aos sacrifícios neces­
sários para salvar a paz do mundo. Assim poderão os povos trabalhar
num clima de serenidade, tódas as descobertas da ciência servirão o
progresso e contribuirão para tornar cada vez mais agradável a vida
na terra, que é já acompanhada de tantas dores inevitáveis.
O Concilio, como se inaugurou ontem na vossa presença, manifestou
de maneira evidente a universalidade da Igreja. Não há dúvida que esta
imponente assembléia “de todos os povos, línguas e n ações" (cf. Apoc
4,9) — proclamando a boa nova da salvação a um mundo há um sé­
culo vítima das maiores perturbações — há de levar a resposta luminosa
de Deus aos problemas angustiosos da atualidade, e há de fomentar o
verdadeiro progresso das pessoas c dos povos. E stes são, em todo o
caso, Excelências e caros Senhores, os Nossos votos mais ardentes. De
todo o coração imploramos, para vós e para todos os povos de que
sois ilustres Representantes, a abundância das bênçãos divinas. Sim ,
conforme diz o Salm ista:

“Deus se compadeça de nós e nos abençoe,


“mostre-nos sereno o seu rosto,
“para que na terra se conheça o seu caminho,
“e entre todos os povos a sua salvação.
"Dêem -vos graças os povos, ó Deus,
“todos os povos vos dêem graças!
"Rejubilem e cantem os povos,
"porque julgais os povos com justiça,
" e governais as nações da terra.
“Dêem-vos graças os povos, ó Deus,
"dêem -vos graças todos os povos” (SI 6 6,1-6).
Assim seja.
Diálogo com os não-Católicos.

T r in t a e n o v e o b s e r v a -
clores e Hóspedes não-católicos, representando 20 comunidades
cristãs no Concílio Vaticano II, foram recebidos, na tarde do
dia 13 de outubro de 1962, na Sala do Consistório, pelo Papa
João X X III. Inicialmente Sua Santidade trocou cordial sauda­
ção com cada um dos Observadores Delegados (dêstes encon­
tros individuais reproduzimos na parte fotográfica vários ins­
tantâneos), que lhe eram apresentados pelo Cardeal Bea. Para
cada um teve o Augusto Pontífice expressões afáveis, com mui­
tos dêles evocou regiões e localidades por êle visitadas, nas
missões especiais a serviço da Santa Sé. Depois o Cardeal Bea
leu em francês a pequena alocução que passamos a traduzir:
Beatíssim o Padre: Tendo sido o Secretariado para a União dos
Cristãos instituído por Vossa Santidade para o fim de promover os
contactos com todos quantos professam a fé em Cristo Nosso Senhor e
Redentor, e para, com caridade, ajudá-los a acompanhar os trabalhos
do Concilio, sobremaneira nos alegramos hoje de podermos apresentar
a Vossa Santidade número tão considerável de Observadores Delegados
c de Hóspedes do Secretariado, irmãos nossos em Cristo.
A presença dêles manifesta claramente quão grande é o seu in­
teresse por conhecer mais de perto a nossa Igreja Católica Romana, a
sua doutrina, as suas normas de vida, a sua constituição hierárquica c
o seu sincero c ativo zêlo apostólico pelo bem das almas.
Cste conhecimento mais imediato é o primeiro passo para essa
rcaproxim ação e reunião que, como Vossa Santidade disse certa vez,
são passos preliminares para aquela união de todos os cristãos que o
Senhor, na véspera da sua dolorosa paixão e morte, implorou de seu
Pai com tão ardente prece.
Que o desejo da união seja vivo e operante nas comunidades que,
com tanta caridade cristã, quiseram enviar-nos Observadores, disto a
reunião desta noite junto a Vossa Santidade constitui uma magnifica e
singular prova. Nós todos rogamos que éstes preciosos germes, fecun­
dados e ulteriormente cuidados com caridade cristã, possam desenvol­
ver-se felizmente e produzir o desejado fruto que Vossa Santidade tan­
to tem a peito.
320 IV. Documentos

Acolha Vossa Santidade com benevolência éstes nossos sentimentos


e êstes nossos desejos, como também os agradecim entos de todos nós
por tudo quanto, nestes anos, V ossa Santidade quis fazer para realizar
o desejo de Nosso Senhor de que todos sejam um.

Falou então Sua Santidade o Papa João X X III, também em


francês, e disse:

Caros Senhores. O Nosso tào agradável encontro de hoje é de ca­


ráter familiar e confidencial. Pretende ser m anifestação simultàneamente
de respeito e de simplicidade.
A primeira palavra que nos sobe do coração 6 uma prece, uma li­
ção útil a todos, colhida do Salm o 6 7 : Benedictus Dominus per singulos
dies: portal onera nostra Deus, salus nostra. “ Bendito seja o Senhor, dia
a dial £le nos alivia de todo o nosso pêso, o Deus da nossa salva­
ção” (SI 67,20).
Em 1952, o Papa Pio X II, em gesto inesperado e surpreendente,
pediu-me para ser patriarca de Veneza. Respondi-lhe que não precisava
de grande reflexão para aceitar. A minha vontade não contava real­
mente nada, nesta proposição; na minha alm a não havia qualquer de­
sejo que a orientasse para uma função ou ministério m ais do que para
outro. O meu lema episcopal bastava para responder: Obedientia et Pax!
Portanto, quando ao fim de trinta anos de serviço dirigido pela
Santa Sé, me dispus para com eçar um gênero de vida quase nôvo, e
para encontrar, como pastor, o povo de Veneza, que eu devia guiar de­
pois durante seis anos, repensei e meditei estas palavras do Salm o:
Portat onera nostra Deus! E' Deus quem nos leva. Êle nos conduz tais
como somos e com tudo o que tem os: com as suas riquezas cm nós
e com as nossas misérias.
£ s te mesmo pensamento me estava presente quando aceitei, há
quatro anos atrás, a sucessão de São Pedro, e em tudo o que depois
se foi realizando, dia após dia, até ao anúncio e à preparação do Concílio.
Pelo que toca à minha humilde pessoa, não gosto de me referir a
in spirações particulares. Circunscrevo-me à sã doutrina que ensina co­
mo tudo vem de Deus. E ’ neste modo de pensar que eu considero como
inspiração celeste a idéia do Concílio que se inaugurou em 11 de ou­
tubro. Devo dizer-vos que naquele dia eu estava muito comovido.
Naquela hora providencial e histórica considerava com particular
atenção o meu dever do momento presente, que consistia em estar re­
colhido, rezar e agradecer ao Senhor. Contudo, o meu olhar dirigia-se
de vez em quando para tantos filhos e irmãos. E desde que se fixou
no vosso grupo, em cada um de vós, senti na vossa presença nôvo mo­
tivo de confôrto.
Sem querer antecipar o futuro, contentemo-nos hoje com verificar
o fato. Benedictus Deus per singulos dies. Quanto a vós, procurai ler
no meu coração: talvez compreendereis muito mais do que as palavras
não dizem.
Como poderei esquecer os dez anos passados em So fia ? E os outros
dez transcorridos em Istambul e Atenas? Foram vinte anos de grande
felicidade e plenitude, durante os quais pude conhecer personalidades
venerandas e jovens cheios de generosidade. Considerava-os com amiza-
Diálogo com os não-católicos 321

P r t x í S mOriente a n S " Í a mÍSSã° de rePresentan*e do Santo Padre no


Proxim o Oriente não se referisse a êles diretamente.
Depois, cm Paris, que é uma das encruzilhadas do mundo — e que
° nt0r' PrrnmP r *5 te ' T apÓS a última * u m a - «ve numerosos en­
contros com cristãos pertencentes a diversas confissões.
Que eu saiba, nunca entre nós houve confusão quanto a princípios
nem qualquer contenda no plano da caridade, durante 0 trabalho comum
que as circunstâncias nos impunham para auxiliar os que sofriam. Não
parlamentamos , mas falamos; não discutimos, mas nos quisemos bem.
Já vai longe o dia em que impus uma medalha do pontificado de
Pio XI a um venerando ancião, prelado duma igreja oriental que não
estava em comunhão com Roma. Êste gesto pretendia ser — e o foi
simples ato de amável cortesia. Pouco tempo depois, êste mesmo
prelado, prestes a fechar os olhos à luz do mundo, dispôs que, depois
da morte, a medalha lhe fôsse colocada sôbre 0 coração. Eu mesmo o
vi, e tal recordação ainda me comove.
De propósito aludi a êste episódio, porque na sua entemecedora
simplicidade se pode comparar com a flor do campo que a renovação
das estações permite colhêr e oferecer. Que o Senhor acompanhe sem­
pre assim os nossos passos com a Sua graça.
A vossa querida presença aqui, a emoção que faz vibrar 0 meu co­
ração de sacerdote — de Episcopus Ecclesiae Dei, como dizíamos na
quinta-feira passada perante a Assembléia Conciliar, — a emoção dos
meus colaboradores, e, como estou certo, também a vossa, me permitem
patentear-vos 0 desejo do meu coração, que arde por trabalhar e so­
frer, para que se aproxime a hora em que se realize para todos a ora­
ção de Jesus na última ceia. Todavia, a virtude cristã da paciência
não prejudica a prudência, que é igualmente fundamental.
Sim, repito-o: Benedictus Deus per singulos dies — Que Deus seja
bendito, dia a dia. Portanto, para hoje, baste-nos isto.
A Igreja Católica dedica-se ao seu trabalho, sereno e generoso; vós,
à vossa missão de observadores, com atenção renovada e benevolente.
Sôbre tudo, e sôbre todos, desça a graça celeste que inspira, move
os corações, e coroa os méritos.

Dois dias depois (1 5 -X -1 9 6 2 ), às 17 horas, o Secretariado


para a União dos Cristãos convidou os Observadores e Hóspe­
des para uma recepção que teve lugar no Hotel Columbus. O en­
contro tinha um caráter reservado e familiar, contando-se com
a presença somente dos Observadores e Membros do Secreta­
riado. O Cardeal Bea, como Presidente do Secretariado, dirigiu
aos convidados 0 seguinte discurso:
Meus queridos irmãos em Cristo! Em vez de uma longa enumera­
ção de vossos títulos, que respeito profundamente, permiti que eu me
dirija a vós com estas palavras simples e profundas: "Meus irmãos
em Cristo”. . . . , . .
Êste título nos imerge imediatamente na consciência profunda da
incomensurável graça do batismo que nos une com laços indestrutíveis,
mais fortes do que qualquer divisão entre nós. Foram êstes laços, dos

Concilio i i — ai
322 IV. Documentos

quais os cristãos de tôdas as partes do mundo se fazem cada vez mais


conscientes, que fizeram com que as Autoridades vos delegassem como
Observadores, no Concilio da Igreja Católica Rom ana; foram também os
mesmos laços que levaram Sua Santidade João X X III a criar o S e­
cretariado para a União dos C ristãos, a fim de que a s comunidades
não-católicas possam melhor seguir o s trabalhos do Concílio.
Agora que éste encontro tão desejado de tantos batizados se trans­
formou numa realidade, creio que o prim eiro c o mais sincero senti­
mento de todos é o reconhecim ento, que nos faz dizer com S ão Paulo:
"Bendito seja Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus C risto, o Pai da mi­
sericórdia e o Deus de tôda consolação” (2 Cor 1,3).
Em verdade, não é obra do homem, ou obra da carne e do sangue,
mas é obra da bondade, da m isericórdia e da graça do nosso Deus que,
pelos méritos de Jesus Cristo Salvador, guiou-nos com o Seu Espírito
que habita no coração de cada um de nós, ainda segundo a s palavras
de São Paulo: " E porque sois filhos, Deus enviou nos vossos corações
o Espirito do Seu Filho que g rita : Abba, P a i” (G ál 4 ,6 ). “ Foi por meio
do Senhor que se fêz isto, e c um prodígio para os nossos o lh os!”
(Mt 21,42; SI 118,23).
Esta obra, porém, não está completa. Existem sobretudo muitas ve­
neráveis Igrejas O rtodoxas do Oriente que não estão aqui oficialmcnte
representadas. E ’ sem dúvida um fato doloroso para am bas a s partes,
para êlcs e para nós todos. Também é necessário reconhecer que todos
fizeram grandes esforços, sem infelizmente conseguir superar os obstá­
culos que se apresentam. Compete-nos, portanto, pedir ao Divino Chefe
da Igreja que multiplique as Suas m isericórdias. Por agora nos esfor­
çaremos para evitar que a s nossas relações em Cristo sejam tocadas
por este insucesso. E ’ sobretudo necessário que a nossa fé na eficácia
irresistível da graça de Cristo e na obra do Espirito Santo em cada
batizado não se deixe enfraquecer.
E ’ neste mesmo espirito de oração, de caridade, de confiança reci­
proca c de confidência na graça do Senhor, que nós todos queremos
consagrar-nos, durante o Concílio, a esta obra que Ele mesmo nos confiou.
Espero que vós todos tenhais encontrado, na medida do possível,
junto ao nosso Secretariado, tóda a compreensão e todo o auxílio fra ­
terno que vos permitirá realizar o vosso trabalho com facilidade e sucesso.
O que talvez não tenha sido possível fazer desde o início, mesmo
porque, entre os demais motivos, é a prim eira vez que tomamos esta
responsabilidade — procuraremos pouco a pouco realizá-lo.
Tod os os mem bros do Secretariado estarão sempre, e com muito
boa vontade, à vossa disposição, como também eu mesmo o estarei,
na medida cm que mo permitam os trabalhos do Concilio.
E ’ por isto que vos rogo de estabelecerm os entre nós uma total
confidência, como já vos pedimos, para que possais dizer-nos franca-
mente, sobretudo durante os encontros organizados especialmente para
vós, pelo Secretariado, tudo aquilo que vos desagrada, comunicando-
nos as vossas críticas, as vossas observações, os vossos desejos.
Evidentemente não vos podemos prometer de encontrar uma solução
para todo problema, mas vos asseguramos a nossa gratidão pela vossa
confidência, esforçando-nos em considerar sinceramente cada problema
Diálogo com os não-católicos 323

em Cristo, para que se realize, na medida das nossas (ôrças, tudo o que
será possível, hoje, como no futuro.
São êstes os pensamentos que desejávamos confiar-vos na ocasião
dêste nosso encontro familiar, que, assim 0 esperamos, é para todos nós
uma festa espiritual, uma espécie de Agape em Nosso Senhor Jesus
Cristo, a Quem seja dado louvor c glória, nos séculos dos séculos.

Em nome dos Observadores respondeu 0 Dr. Ed. S c h I i n k,


da Ig reja Evangélica da Alemanha. Inicialmente declarou: “A
maior parle dos Observadores foram enviados por Igrejas que
fazem parte do Conselho Mundial das Igrejas e também aos
Hóspedes presentes é bem conhecido o movimento ecumênico. Lá
experimentamos como Igrejas, que até agora se ignoravam, en­
traram num autêntico diálogo, abrindo-se para uma nova com­
preensão e uma mútua troca espiritual, de modo que podia sur­
gir uma comunhão de trabalho em equipe. Os encontros com a
Igreja Católica Romana reduziam-se até agora a encontros en­
tre pessoas individuais ou se restringiam a pequenos círculos.
Que êste encontro tenha recebido agora, no Concilio, um caráter
oficial, sentim o-lo como um grande progresso. Sabemos também
oue não é sem mais evidente que nos tenham dado os mesmos
Esquemas que foram entregues aos Padres Conciliares e que nos
fosse dada a possibilidade de exprimir sôbre êles nosso modo de
pensar”. Depois disse: “E ’ natural que todos os que aqui se
reúnem conhecem as dificuldades profundamente arraigadas que
nos separam uns dos outros. Não estaríamos separados se cada
um dc nós não se julgasse obrigado pelo próprio Deus à fide­
lidade à própria Igreja; e não estaríamos a serviço da unidade
na verdade se não tomássemos a sério esta situação. Gostaria,
porém, de chamar a atenção para dois pontos que confirmam a
esperança num autêntico diálogo entre nós. O primeiro é 0 pen­
samento, manifestado aliás muitas vêzes por V. Emcia. em con­
ferências durante êstes últimos dois anos e que agora volta tam­
bém no discurso pontifício de abertura do Concílio: a verdade
revelada é simplesmente obrigatória em todo nosso falar e agir.
Mas ao mesmo tempo deve-se distinguir entre a substância da
doutrina e sua formulação (modus enunciandi). Estou persua­
dido que a Cristandade separada tem mais substância comum
que à primeira vista poderia parecer. O segundo ponto que nos
anima é 0 fato que V. Emcia. é pessoalmente um representante
proeminente da ciência bíblica e que esta ciência recebeu nôvo
vigor na Igreja Romana, principalmente a partir da Encíclica
Divino Afflante Spiriíu. Como, porém, a Bíblia é um livro comum
91«
324 IV. Documentos

a todos nós c como a ciência bíblica já não é im aginável sem


o concurso interconfessional dos cientistas, podemos esperar,
muito do desenvolvimento da pesquisa cien tifica da B íb lia ” .
* * *
Terminados os dias do Concilio, no dia 8 de dezembro de
1962, o Cardeal Secretário de E stado, Amleto Giovanni C icog-
nani, recebeu, às 9 ,1 5 , num salão do seu apartam ento oficial,
os Observadores e os Hóspedes do Secretariado para a União
dos Cristãos. Como já sucedera no início do C oncilio, o Santo
Padre desejara encontrar-se com tão qu alificadas Personalida­
des. Não o tendo sido, porém, possível, o Augusto Pontífice de­
legou o Cardeal Cicognani para promover êsse ato de deferência
e de estima. Na audiência também tomaram parte, além dos O b­
servadores e dos Hóspedes, que aceitaram o convite com viva
gratidão, os teólogos intérpretes de língua francesa, inglêsa, rus­
sa e alemã, que haviam prestado sua assistência, durante as
sessões Conciliares, aos ilustres Representantes das várias Con­
fissões. Exprim indo-se em inglês, o C ardeal Secretário de E s­
tado fazia saber à distinta Assem bléia que, pouco antes, o Santo
Padre o cham ara ao telefone, dizendo-lhe estar muito pesaroso
de não poder receber pessoalmente os Observadores, e que, por
isto, o considerassem espiritualm ente presente. O Purpurado pros­
seguiu afirmando que o Augusto Pon tífice sempre acom panhara
de perto a presença dêles no Concílio, c que estava satisfeito e
alegre pelo interêsse e pela religiosa atenção por êles dedicados
aos trabalhos do Concílio. O Cardeal Cicognani exprimiu, de­
pois, a sua esperança de que, no clima de caridade que tão pro­
fundamente se m anifestara, profícuos contactos poderiam conti­
nuar. O Cardeal Secretário de E stado saudava, portanto, cor­
dialm ente cada um dos presentes, entregando-lhes também, em
nome do Santo Padre, uma medalha do seu Pontificado.
O Pastor Doutor Lucas V i s c h e r, O bservador Delegado
do Conselho Mundial das Igrejas, de G enebra, e Secretário para
as Pesquisas da Comissão Fé e Constituição, leu o seguinte e
significativo discurso, proferido em francês:

Eminência: Permiti-me, em nome dos Observadores, exprimir-vos os


nossos sinceros agradecim entos por, antes da nossa partida de Roma,
vos haverdes dignado de aqui nos receberdes ainda uma vez. P osso, em
particular, agradecer-vos as palavras tão amáveis que acabais de nos
dirigir. Antes de tudo, fazemos questão de vos pedir também transm i­
tirdes a Sua Santidade a expressão da nossa gratidão. Desde o primeiro
dia do Concíl|o pudemos capacitar-nos da importância que Sua Santidade
Diálogo com os não-católicos 325

atribuiu à presença de Observadores das Igrejas separadas de Roma. E,


no correr das semanas passadas, fomos constantemente surpreendidos
por testemunhos sempre novos de atenções particulares. O acolhimento
de hoje mostra-nos, uma vez mais, 0 interêsse e a amizade que aqui
pudemos achar. Com efeito, damo-nos perfeita conta de que, durante ês-
tes últimos dias do Concílio, em que os seus responsáveis estão sobre­
carregados de trabalho, facilmente se compreende não possamos en-
contrar-nos convosco. Gratos vos seriamos se vos dignásseis de trans­
mitir a Sua Santidade também os nossos sinceros votos de um pronto c
completo restabelecimento. Conceda-lhe Deus a graça de poder conti­
nuar a dirigir os trabalhos do Concilio.
Estes dois meses decorridos foram para todos nós um período ex­
tremamente rico, e, se por um instante rememorarmos os primeiros dias
que se seguiram à nossa chegada, estamos cônscios de tudo o que se
passou em lapso de tempo tão curto. Vivemos deveras os trabalhos do
Concilio, nêlcs tomando parte interiormente. Tivemos uma ocasião extra­
ordinária de aprender e conhecer representantes da vossa Igreja. Tive­
mos livre acesso a tôdas as manifestações, e sempre de nôvo pudemos
verificar 0 grande csfôrço que foi feito para nos compreenderdes na
nossa convicção, no nosso caráter próprio, nas nossas esperanças e nas
nossas dificuldades. Convicto estou de que, destarte, não só se estabe­
leceram contactos — como se diz na linguagem ecumênica — mas tam­
bém se formaram verdadeiras amizades. Penso antes de tudo nos Mem­
bros do Secretariado para a União, os quais de maneira incansável tra­
balharam por nós, e aos quais devemos agradecimentos particulares.
De certo, não vencemos as dificuldades que existem. Nossa separa­
ção não foi suprimida de um golpe. Ao contrário, talvez só agora es­
tejam os compreendendo a imensidade da tarefa em face da qual nos
achamos colocados quando, em comum, tentamos dar uma expressão
nova à unidade em Cristo. E aí está por que, sob muitos aspectos, as
semanas do Concilio são para todos nós apenas um comèço. Longo ca­
minho de trabalho comum temos ainda a fazer. Ignoramos-lhe ainda 0
desfecho. Uma coisa, porém, é certa: as semanas dêste Concílio que
acabam de passar testemunharam, no mais alto grau, a vontade de fa­
zermos êsse caminho juntos, e é isto o que nos enche de gratidão e
de esperança.
Neste momento, de boa mente me ocorre uma palavra que Sua San­
tidade nos dirigiu quando, pela primeira vez, aqui fomos recebidos. Ci­
tara êle então a palavra do Salm ista: "Deus seja louvado por cada dia
particular”. Esta palavra poderá, certamente, ser um lema para 0 tra­
balho ecuménico. Porque ela contém tudo o que importa. A grande gra­
tidão por aquilo que Deus nos concedeu até agora e neste dia, c ao
mesmo tempo a confiança de que o Deus que é 0 Senhor dêsse dia
será o Senhor do amanhã que ainda não conhecemos. E, se, no fim
dêsse período, procurarmos determinar 0 lugar em que nos achamos,
essa palavra é, ccrtamente, de importância fundamental.
Com grande interêsse prosseguiremos os trabalhos do Concílio, mes­
mo após nossa partida. Sabemos até que ponto são importantes^ os me­
ses vindouros. Ficai certo de que pensaremos nisso na nossa interces­
são, e é nossa esperança que havemos de encontrar-nos sempre mais na
unidade que é 0 próprio Cristo.
Discurso aos Jornalistas do Concilio.

N ao e - s e c u n d a r ia , no
inundo de hoje, mesmo para um Concilio Ecum ênico, a ação dos
jo rnalistas. Já antes do Concilio, no dia 2 8 de maio de 1962,
o Santo Padre declarara aos participantes do C ongresso Inter­
nacional da Federação dos Diretores e R ed atores-C h efes: “Con­
vosco contamos, com efeito, caros senhores, e de maneira parti­
cular ao se aproxim ar o Concílio Ecum ênico Vaticano II, acon­
tecimento considerável, do qual se pode esperar que exerça in­
fluência benéfica, para além mesmo das fronteiras da Ig reja C a­
tólica, sôbre todos os homens de boa vontade. Mas, para atingir
essa meta, tendo em conta as condições do mundo de hoje, o
concurso dos órgãos de imprensa inculca-se não só como útil,
mas também, de alguma sorte, como indispensável. Já pensamos
nisto e N ossa intenção é dar novos e mais amplos desenvolvi­
mentos ao Serviço de Im prensa que havemos estabelecido junto
à Comissão Central Preparatória do Concilio, a fim de que a
opinião pública possa ser convenientemente informada. Muito de­
sejam os, com efeito, que, à míngua de inform ações suficientes,
os jornalistas não se vejam reduzidos a formular conjeturas mais
ou menos verossímeis, e a lançar no público idéias, opiniões, es­
peranças que depois se revelem mal fundadas ou errôneas. Uma
inform ação — lim itada, de certo, pelas exigências da discrição
— porém positiva, e suficientemente abundante, perm itir-lhes-á,
como esperamos, exercerem aqui a sua nobre profissão em con­
dições satisfatórias para êles mesmos e para seus leitores". In-
felizmente, como já notamos na introdução à crônica sôbre as
Congregações G erais, estas esperanças do Sumo Pontífice não
se concretizaram . Baseados, porém, nesta esperança, 1.255 jo r­
nalistas de todo o mundo se inscreveram no Serviço de Impren­
sa do Concílio. No dia 13 de outubro de 1962 o Sumo Pontífice
os recebeu em Audiência especial, na C apela Sixtina, durante a
qual pronunciou, em francês, a seguinte alocução:
Discurso aos jornalistas 327

Caros Senhores. A audiência dc hoje pretende ser um testemunho


da estima que professamos pelos Representantes da Imprensa, e da im­
portância que atribuímos ao vosso ofício de informadores.
Logo ao dia seguinte à Nossa eleição quisemos acolher um escol
de jornalistas vindos do mundo inteiro. Desde então, em quatro anos
de serviço pontifício, várias ocasiões tivemos dc dirigir uma palavra
de alento e ânimo a representantes qualificados da vossa profissão.
Na perspectiva do Concilio, criamos ainda, como sabeis, um Serviço
de Imprensa e um Secretariado para as técnicas de difusão. E instituí­
mos uma Comissão conciliar para tratar, ao mesmo tempo que do Apos­
tolado dos leigos, da Imprensa, da Rádio e dos Espetáculos. Isto mos­
tra, ao mesmo tempo, a importância que tem aos Nossos olhos a vossa
missão, e o Nosso desejo de vos ajudar a desempenhá-la bem.
A circunstância solene da inauguração dêste XXI Concílio Ecumê­
nico da Igreja Católica levou-nos a dar-vos uma mostra de benevo­
lência particular. Constituía também necessidade para o Nosso coração
dizer-vos pessoalmente quanto desejamos a vossa leal colaboração para
que êste acontecimento tão considerável seja apresentado ao público na
sua verdadeira luz.
Foi para mostrar bem o relêvo que desejávamos dar a esta audiên­
cia, que resolvemos escolher o ambiente da Capela Sixtina: ao pé do
célebre fresco do Juízo Final de Miguel Angelo — dizíamos ainda on­
tem aqui mesmo às Missões Extraordinárias — cada um pode meditar
com proveito nas próprias responsabilidades.
São grandes também as vossas, caros Senhores. Estais ao serviço
da verdade, e é na medida em que lhe fordes fiéis que haveis de cor­
responder à expectativa dos homens. E dizemos de propósito: dos ho­
mens, assim em geral. Porque, se houve tempos em que a imprensa
atingia apenas um escol restrito, é evidente que hoje ela consegue
orientar, de modo definitivo, o pensar, os sentimentos e as paixões de
grande parte da humanidade; a deformação da verdade pelos órgãos dc
informação pode pois ter conseqüências incalculáveis.
E ’ grande, sem dúvida, a tentação de adular o gôsto de certa clien­
tela, de pensar mais na rapidez do que na exatidão, de mostrar mais
interesse pelo chamado "sensacional" do que pelo que é objetivamente
verdadeiro. Põe-se em relêvo um pormenor puramente exterior, e deixa-
se na sombra a realidade profunda na apresentação dum fato, na aná­
lise duma situação, duma opinião ou duma crença. Aqui está, bem o
vêdes, uma maneira de obscurecer a verdade. E se isto é grave em
todos os domínios, quanto mais o é quando se trata do que há de mais
intimo e de mais sagrado no mundo: o domínio da religião, das rela­
ções da alma com Deus.
Um Concilio Ecumênico apresenta naturalmente aspectos exteriores
c secundários, capazes de fornecer alimento à curiosidade dum publico
apressado. Pode também, é certo, vir a exercer influência benéfica nas
relações entre os homens em matéria social e até política. Mas é, pn-
meiramente, um grande fato religioso. E Nós desejamos de todo o co­
ração que vós possais contribuir para ser posta em evidência esta rea­
lidade. Bem vêdes qual o tacto, a reserva, o esfôrço de compreensão e
de exatidão que se deve esperar dum informador cuidadoso, que deseja
honrar a sua nobre profissão.
IV. Documentos

A todos vos pedimos um esfórço para compreender e tornar com­


preendida a natureza, sobretudo religiosa e espiritual, desta solene as­
sembléia conciliar.
Do exercício consciencioso da vossa missáo de informadores do Con­
cilio esperamos, caros Senhores, efeitos muito favoráveis para a opinião
mundial se orientar perante a Igreja Católica em geral, as suas insti­
tuições e os seus ensinamentos. Pode acontecer que reinem aqui ou acolá
— e particularmente quando não pode apresentar-se uma informação
leal e objetiva — preconceitos por vêzes renitentes, que alimentam nas
alm as focos de desconfiança, de suspeita c dc mal-entendidos, cujas
conseqQências são deploráveis para o s progressos da harmonia entre
os homens e povos.
Êstes preconceitos baseiam-se, a maior parte das vêzes, numa in­
form ação in exata ou incompleta. Atribuem-se à Igreja doutrinas que
ela não professa, atacam -se atitudes que ela tomou em determinada
circunstância histórica, que não se devem generalizar sem atender ao
caráter acidental e contingente que elas revestiram.
Que ocasião melhor que a dum Concilio Ecumênico, meus Senhores,
para tomar um contacto sério com a vida da Igreja, para colhêr infor­
mações nos organismos responsáveis, que refletem com clareza o pen­
samento do Episcopado da Igreja universal, aqui reunido? Só o anúncio
do Concilio logo despertou no mundo inteiro um interêsse considerável,
que vós muito contribuístes para criar.
E mesmo ontem — comprazemo-Nos em vos felicitar — foi graças
à vossa presença c ao vosso trabalho por vêzes difícil que, pela prim eira
vez na história, o mundo inteiro põde associar-se à inauguração dum
Concílio Ecumênico, diretamente pelo rádio e pela televisão, e também
pelos relatos da imprensa. Muito desejam os que as vossas informações
mantenham o interêsse sim pático do público pelo Concilio, e contribuam
para que se revejam opiniões errôneas ou incompletas.
Podereis ajudar a que se compreenda que não há aqui maquinações
políticas. Não vos será difícil descobrir e proclamar os móveis verda­
deiros que inspiram a ação da Igreja no mundo, e podereis ser teste­
munhas de que ela nada precisa de esconder, segue um caminho reto e
sem desvios, e nada deseja tanto como a verdade, para o bem da hu­
manidade e a harmonia fecunda entre os habitantes de todos os con­
tinentes. D êste modo, muitas prevenções poderão dissipar-se devido ao
vosso trabalho. Servindo a verdade, contribuireis ao mesmo tempo para
o “desarmamento dos espíritos", que é condição primordial para se es­
tabelecer uma paz verdadeira na terra.
Eis, caros Senhores, as Nossas esperanças, as Nossas palavras de
alento e os Nossos votos. Permiti que acrescentem os ainda uma palavra
de reconhecim ento, porque apreciamos os vossos esforços para tornar
conhecidas ao grande público as m anifestações da vida da Igreja. E
quanto a Nós, temos motivo para estar satisfeito da sim patia deferente
com que, em geral, falastes da Nossa modesta Pessoa.
Chamado pelos desígnios da Providência a êste alto serviço; che­
gado a èle, para mais, numa idade avançada, depois de m últiplas expe­
riências, encontramos sem dúvida confôrto e estímulo no que dizem de
Nós: personalidade, caráter, iniciativas de apostolado; mas isso não al­
Discurso aos jornalistas 329

tera a paz tranquila da Nossa alma. Em 1953, quando Nos despedíamos


da França, que Nos continuou a ser tão querida, dizíamos:
"P ara minha consolação pessoal, enquanto viver — e onde quer que
aprouver ao Santo Padre indicar-me um trabalho e uma responsabili­
dade a serviço da Santa Igreja — bastará que qualquer bom francês,
lembrando o meu humilde nome e a minha passagem pela sua nação,
possa dizer: Era um Padre leal e pacifico, sempre e em tòdas as oca­
siões amigo certo e sincero da França” (A. G. Card. Roncalli, Scrilti
e Discorsi, vol. I (1953-54), p. 14).
Repetimos hoje, caros Senhores, êstes votos de há dez anos, tor­
nando-os extensivos a todos os que exercem a vossa profissão: em
qualquer ocasião bastará que possais escrever, como único e verdadeiro
titulo de honra para Nós: Era um Padre diante de Deus e diante dos
povos; amigo certo e sincero de tôdas as nações.
E agora vamos abençoar-vos. Segundo a bela expressão bíblica que
vós talvez conheçais, Benedictio patris firmat domos fitioru/n, a bênção
do pai reforça a casa dos filhos (Ecli 3,11). E ’ um pensamento que Nos
ú familiar e que um velho pai pode permitir-se voltando com ternura
o olhar para os seus filhos. Com o coração cheio de afeto invocamos
sôbre vós, ao terminar, as melhores graças do Alto e concedemo-vos,
do mesmo modo que às vossas famílias e a todos os que vos são caros,
a Bênção Apostólica.
Discurso de Encerram ento da Prim eira SessSo.

O E N C E R R A M E N T O DA P R I-
meira etapa do Concílio Ecum ênico Vaticano II não foi tão so­
lene como se esperava. Dois m otivos: Não se chegara a termi­
nar nenhum documento conciliar para ser solenem cnte promul­
gado e o Sumo Pontífice, há sem anas, estava gravemente en­
fermo. E ra a F esta da Im aculada C onceição. C êrca de 2 .2 0 0 P a ­
dres C onciliares lotaram a Aula Conciliar. C antou-se uma Missa
Solene, acompanhada por todos com vibrante canto gregoriano.
Terminada a Santa M issa, compareceu o Papa Jo ão X X III, vi­
vamente aclamado, que, a passos firmes, subiu até o trono, para
pronunciar, em latim, com voz forte, seu discurso de encerra­
mento. O otimismo de suas palavras reanimou os Padres Con­
ciliares. Reproduzim os aqui a versão portuguesa distribuída pelo
Serviço de Imprensa do Concílio, mas com algumas correções
feitas à base do texto latino:

Veneráveis Irmãos. A Prim eira Etapa dos trabalhos da Assembléia


Ecumênica, iniciada na festa litúrgica da Maternidade Divina de M aria,
conclui-se neste dia da Imaculada Conceição, entre os esplendores que ir­
radiam da Mãe de Deus e nossa Mãe. Uma espécie de arco místico liga
a cerimônia de hoje com a brilhante inauguração do dia 11 de outubro
passado; c as duas solenidades litúrgicas, de II de outubro e de 8 de
dezembro, imprimem caráter suave e místico à oração de ação de graças.
Mas o significado íntimo destas solenidades litúrgicas torna-se mais
comovedor ao recordarm os que o Nosso Predecessor Pio IX , o Papa
da Imaculada, inaugurou o I Concílio Vaticano nesta mesma solenidade
mariana.
E ’ interessante reparar nestas serenas coincidências, que fazem com­
preender, à luz da história, como muitos dos acontecim entos da Igreja
se realizam sob a luz e a proteção maternal de Maria.
O Concílio é realmente um ato de fé em Deus, de obediência às suas
leis, de sincero esfôrço para corresponder ao plano da Redenção, pelo
qual da Virgem Maria o Verbo se fêz carne (Verbum caro factum est de
Maria V irgine). E como nós veneramos hoje a imaculada vergôntea da
Discurso dc encerramento 331

raiz de, J essé (immacuiata virga dc radice lesse), da qual nasceu a flor
Subl rá da sua. raiz (« o s de radice eius ascendet), — os nossos
S
recimento V"enSa
da flor já sob a luzalegria: e mais ainda P°r vermos 0 apa­
do Advento! p

r „ j £ ° : aJ Ue 0S Bis£ os d03 cinco continentes regressam desta Aula


íp n í f í r c queridas d.oceses a fim de continuarem 0 seu serviço
de pastôres que vao à frente do próprio rebanho, o espirito detém-se a
a n r n í lh T f i0 ^ ?*? afi!0ra * rcalizou; e- Para se orientar e animar,
apraz-lhe fixar o futuro, na expectativa de quanto lhe falta ainda per­
correr até ao feliz coroamento da grande emprêsa.
As Nossas palavras vão considerar êstes três pontos: 0 inicio do
Concilio Ecumênico; a continuação; c os frutos que dêle se esperam,
como irradiação de fé e de apostolado na Igreja e na sociedade atual.
1) O início do Concilio Ecumênico está ainda impresso nos nossos
olhos, nas suas imagens da numerosíssima reunião dos Bispos do Orbe
católico, única na história, até hoje. A Igreja una, santa, calólica e
apostólica apareceu à humanidade no fulgor da sua perene missão, na
solidez da sua estrutura, na fórça persuasiva c atraente da sua cons­
tituição. Dá gôsto recordar as delegações vindas das várias nações, que,
representando os próprios governos, participaram na solene inauguração
do Concilio. A êste propósito, queremos mais uma vez exprimir os Nos­
sos agradecim entos por 0 mundo inteiro ter contemplado com admira­
ção ésse início e por terem chegado até Nós ecos da extraordinária
atenção, despertada unânime em tôda a parte, como expressão dc res­
peito, de estima e de gratidão.
Naquele memorável II de outubro, começou 0 trabalho comum. E
no fim de6ta primeira fase, é bem natural tirar algumas conclusões
oportunas.
A Prim eira Etapa foi uma como introdução lenta e solene à grande
obra do Concílio: um decidido abrir caminho para entrar no coração
e na substância dos desígnios do Senhor. Era necessário que os irmãos,
vindos de longe e todos reunidos à volta do mesmo fogo, retomassem
contactos com maior conhecimento reciproco; era necessário que se fi­
xassem olhos nos olhos, para notarem as palpitações dos corações fra­
ternos; era preciso expor cada um as suas experiências, para inter­
câmbio consciente e fecundíssimo dos resultados pastorais, expressão dos
mais diversos climas c ambientes de apostolado.
Em quadro tão vasto, é bem compreensível que tenham sido neces­
sários alguns dias para se chegar a um entendimento sôbre o que, den­
tro da caridade, era motivo de compreensíveis e ansiosas divergências:
também isto tem a sua finalidade providencial para o realce da verdade,
e mostrou perante 0 mundo a santa liberdade dos filhos de Deus, tal
como ela se encontra na Igreja.
Não foi por acaso que se começou pelo esquema da Sagrada Li-
turgia: as relações do homem com Deus. Isto é, a ordem mais alta de
relações, que é preciso estabelecer sôbre o fundamento sólido da Reve-
lação e do Magistério apostólico, para conduzir ao bem das almas, com
aquela amplidão de vistas que nada quer ter dc comum com a facili­
dade e a precipitação que dominam às vêzes as relações dos simples
homens entre si.
332 IV. Documentos

Foram apresentados, em seguida, mais cinco esquemas, que bastam


por si sós para tornar compreensível o alcance do trabalho até agora
realizado: é licito concluir portanto que se terminou uma boa intro­
dução a tudo o mais que será ainda exam inad o.1
2) Continuação dos trabalhos. E eis que, Veneráveis Irmãos, o olhar
se dirige confiado para a fase quase silenciosa, mas não menos impor­
tante, que se abre nestes nove meses de intervalo, depois do regresso
às vossas sés.
Ao mesmo tempo que Nos apraz contemplar cada um de vós na
sua diocese, invade-Nos o espírito uma alegria cheia dc com oção: sa ­
bemos que, ao voltar de Roma, entregareis ao vosso povo cristão o
facho luminoso da confiança c da caridade; c perm anecereis unidos co­
nosco em oração cheia de fervor. Vêm-nos à memória a s palavras do
Eclesiástico relativas ao Sumo Sacerdote Sim eão: "Ê le estava de pé
junto ao altar, rodeado por uma coroa dc irm ãos" (E cli 5,1 3 -1 4 ).
Como vêdes, a nossa atividade prossegue nesta mútua fusão de
orações e de vontades.
A cerimónia de hoje não interrompe portanto o trabalh o; pelo con­
trário, o trabalho que agora nos espera a todos será im portantíssim o,
como certamente o não foi noutros Concílios durante as interrupções.
Na verdade, as condições da vida moderna permitem com facilidade as
comunicações rápidas de qualquer espécie: pessoais c apostólicas.
Que a atividade vai continuar, prova-o a instituição duma nova Co­
missão, composta por membros do Sacro Colégio e do Episcopado, co ­
mo representação da Igreja universal. A Com issão deverá acompanhar e
dirigir o trabalho dêstes meses, e, pelas várias Comissões Conciliares,
estabelecer as bases seguras para o feliz resultado da assem bléia ecumé­
nica. O Concilio permanece portanto bem aberto nos próxim os nove meses
de suspensão das reuniões ecumênicas propriamente ditas.
Cada Bispo, apesar de ocupado com a solicitude do govêrno pas­
toral, continuará a estudar e a aprofundar os esquemas que terá à sua
disposição, e tudo o m ais que lhe será enviado oportunamente. D êste
modo, a Sessão que principiará no mês de setembro do próximo ano —
o nôvo e tão desejado encontro em Roma de todos os Pad res da Igreja
de Deus — seguirá um ritmo seguro, contínuo e mais rápido, facilitado
pela experiência dêstes dois meses de 1962. Assim é lícito esperar que
a conclusão, que todos os Nossos fiéis am bicionam, se possa realizar
na glória do Filho de Deus encarnado, entre as alegrias do Natal, no
ano centenário do Concilio de Trento.
A previsão dêste vasto horizonte, que se adivinha muito promissor
durante todo o decurso do próximo ano, infunde no coração a s m ais
vivas esperanças de se virem a realizar as grandes finalidades que pre­
tendemos do Concílio: “para que a Igreja — consolidada na fé, confir­
mada na esperança e mais ardorosa na caridade — refloresça com vigor
juvenil; e — dotada de santas leis — s e ja mais enérgica e pronta na

Nota: O
Imprensa do Concilio e assim estí também
servatore Romano de 8-XII-I962. Mas o
Santidade na Aula Conciliar, diz assim:
dc qulbus dlsccptatum est et scntentlae
certain ac definham composltlonem appro
flctendam, Ita ut meilto colllgl possit
adhuc erlt dlsputandum".
Discurso de encerramento

r PÆ ™ de'l'Í960.Cr'S*0" ^ *""*>•
a o t i r a r ã o ™ ^ « ^ - C®nf ,,'® '*Se bem que não esteia iminente a fase da
aplicaçao, pois so virá após o têrmo definitivo dos trabalhos concilia-
W o fô u o COnt" d,° fixar 0 olhar ansioso na perspectiva dos
n o n S L i» a " UnC' am: .,ru*.os Para 3 Igreja Católica; melhor corres­
p o n d e n t às maiores asp.raçoes dos nossos irmãos que se orgulham do
nome de cn stao s; e nova atração para tantos e tantos filhos de civili­
zações antigas e gloriosas, às quais a luz cristã nada pretende roubar
mas sim desenvolver neles - como já outras vêzes sucedeu na história
germes fecundíssimos de vigor religioso e de progresso humano.
E isso que adivinha o Nosso coração ansioso. Veneráveis Irmãos;
e bem sabemos que a mesma solicitude existe no vosso coração.
Tratar-se-á então de estender a todos os campos da vida da Igreja
e às suas repercussões sociais tudo quanto fôr indicado pela Assembléia
Conciliar,^ e de aplicar as suas normas com “generosa adesão e pronta
execução’ (Oração pelo Concilio Ecuménico). Nessa fase importantís­
sima ver-se-ão os Pastôres unidos num gigantesco esfórço de pregação
da verdadeira doutrina e de aplicação das leis, por êles mesmos decre­
tadas; nesta obra hão de colaborar as fôrças do Clero secular e regular,
as famílias religiosas, e o laicato católico em tôdas suas atribuições e
possibilidades, para que a ação dos Padres encontre a resposta mais
pronta e fiel.
Será verdadeiramente o "nôvo Pentecostes”, que fará florescer a
Igreja nas suas riquezas interiores c na sua extensão materna a todos
os campos da atividade humana; será nóvo passo em frente, do Reino
de Cristo no mundo, reafirmação cada vez mais alta e persuasiva da
alegre boa-nova da Redenção, anúncio luminoso da soberania de Deus,
da fraternidade humana na caridade, da paz prometida na terra aos
homens de boa vontade, em correspondência ao beneplácito celeste.
Eis, Veneráveis Irmãos, os sentimentos que animam o Nosso co­
ração comovido e se transformam em oração e esperança. Terminados
os trabalhos da presente Sessão do Concilio, estais para voltar às vossas
Nações, para junto do rebanho tão querido, a vós confiado. Ao mesmo
tempo que vos desejamos boa viagem, desejamos também que sejais,
junto dos vossos sacerdotes e fiéis, intérpretes eficazes dos Nossos votos,
exprimindo-lhes a Nossa grande benevolência. Neste momento ocorrem-
Nos as palavras de exortação e esperança, com que o Nosso Prede­
cessor Pio IX sc dirigiu um dia aos Bispos do f Concilio Ecumênico
V aticano: "Vêdes, queridíssimos irmãos, como é belo e agradável cami­
nharmos em harmonia na casa dc Deus. Oxalá assim possais caminhar
sempre. E assim como Nosso Senhor Jesus Cristo deu aos Apóstolos a
paz, também eu, seu indigno Vigário, vos dou a paz em seu nome. A
paz, como sabeis, afasta o temor; a paz fecha os ouvidos aos discursos
feitos sem experiência. Ohl que esta paz vos acompanhe todos os dias
da vossa vida” (Mansi, 1869-1870, pp. 765, 158).
Nos meses passados, todos aqui reunidos, saboreamos o sentido sua­
víssimo destas palavras de Pio IX.
Longa caminhada nos espera ainda: mas estai certos de que o
Pastor Supremo vos acompanhará com afeto na ação pastoraj que exer­
ceis nas vossas dioceses, ação que não se mostrará alheia às pre-
334 IV. Documentos

ocupações do Concilio. Ao indicar-vos o tríplice campo da atividade, pro­


posto à colaboração de todos, quisemos infundir-vos entusiasm o: o bri­
lhante inicio do Concilio foi a prim eira introdução à grande em prêsa;
nos próxim os meses, a obra comum continuará intensa pela reflexão me­
ditativa, para o Concilio Ecumênico poder levar à família humana aquê-
les frutos de fé, de esperança e de caridade, que tanto se esperam dêle.
E stas três características manifestam a especial im portância do Concilio.
Esperam-nos pois grandes responsabilidades; mas Deus confortar-
nos-á no caminho.
E steja sempre conosco a Virgem Im aculada; que o seu castíssim o
Espóso S. José, Padroeiro do Concílio Ecumênico — cujo nome desde
o dia de hoje figura no Cânon da M issa em todo o mundo — nos acom­
panhe na viagem, como acompanhou a Sagrad a Fam ília com o seu apoio,
segundo os desígnios de D eus; e estejam também conosco S. Pedro e
S. Paulo, e todos os Apóstolos, S. Jo ã o B atista, c os Pontífices, P a stô rcs
e Doutôres da Igreja de Deus.
Encontramo-nos nesta B asílica de S. Pedro, no centro da C ristan­
dade, junto ao túmulo do Príncipe dos A póstolos; mas apraz-N os re­
cordar que a Catedral da diocese de Roma é a Basílica do L atrão, mãe
e fundamento de tôdas a s Igrejas, dedicada a Cristo, Divino Salvador;
a Êle, portanto, que é o Rei im ortal e invisível dos séculos e dos povos,
seja dada a glória e o império pelos séculos dos séculos (cf. 1 Tim
1,17; Apoc 1,6).
Nesta hora de alegria comovida, o Céu está como que aberto sóhre
as nossas cabeças, e de lá irradia sóbre nós o fulgor da C ôrtc celeste
para infundir certeza sôbre-humana, espirito sobrenatural de fé, alegria
e paz profunda. Nesta luz, esperando o vosso regresso, vos saudamos
a todos, Veneráveis Irmãos, com o ósculo santo (Rom 16,16), ao mes­
mo tempo que invocamos sóbre vós as m ais abundantes B ênçãos do
Senhor, das quais pretende ser penhor e promessa a Nossa Bênção
Apostólica.
O Condlio na Mensagem Natalícia.

A MENSAGEM DE NATAL,
neste ano Conciliar, pronunciada no dia 22 de dezembro de
1962, foi uma espécie de comentário do Papa sôbre o Concilio.
O próprio Sumo Pontífice, no Discurso do dia seguinte ao Cor­
po Diplomático, assim a qualificou: “Manifestamos ontem, na
Nossa Mensagem ao mundo, a impressão profunda que Nos dei­
xou na alma a Primeira Sessão do Concilio Ecumênico. Quem
poderá jam ais esquecer essa visão grandiosa: a Igreja inteira,
presente na pessoa dos seus Bispos, a trabalhar pelo rejuvenes­
cim ento das suas instituições e dos seus métodos, pela aproxima­
ção de todas as almas de boa vontade? E isto, perante obser­
vadores de diferentes confissões religiosas. Poder-se-ia mesmo
dizer, sem exagerar, perante o mundo inteiro. Porque, graças
aos meios modernos de difusão, que têm hoje papel tão impor­
tante, todos e cada um puderam observar a liberdade, sinceri­
dade e caridade que presidiram a êstes primeiros debates con­
ciliares”. — Eis, na versão portuguesa, o texto integral da
Radiomensagem natalícia do Papa João X X III:

Veneráveis Irmãos, amados filhos. O Natal dêste ano tem a ca­


racterizá-lo o Concílio Ecumênico, graças a Deus já tão bem encami­
nhado. Desde II de outubro a 8 de dezembro, decorreram aqui em Roma
dois meses de intensa comoção religiosa. Sôbre as cabeças de todos os
que por êsse mundo além crêem em Cristo abriram-se horizontes sua­
ves e luminosos, como a convidarem as almas mais afastadas a atende­
rem ao chamamento do Filho de Deus feito homem, o recém-nascido de
Belém, Redentor de todos os homens e Mestre de tôdas as gentes.
Sem dúvida, nenhuma solenidade da Santa Igreja poderia convir
melhor para a celebração do Concilio e para lhe desenhar os contornos,
do que o Natal de Jesus, anunciado na glória sublime de todos os céus,
e na alegria que se renova em fraternidade humana para todos os que
foram criados e se sucederão como habitantes da terra.
Quantos acordes felizes não sabe encontrar o espírito cristão, nas
aclamações recentes dos Padres do Concilio Vaticano II, e nas palavras
336 IV. Documentos

angélicas que todos os anos se dirigem aos pastôres vigilantes, e se re­


petem na santa noite da maior exaltação do divino encontro entre o céu
e a terral Quanta emoção neste anúncio celestial que difunde a grande
alegria que será para todo o povo (Qaudium magnum quod erit omni
populo); e naquela revoada de coros angélicos a louvar a Deus e a
dizer: Glória a Deus no céu, e na terra paz aos homens de boa vontade
(laudantium Deum et dicentium: Gloria in altissim is Deo, et in terra
pax hominibus bonae voluntatis, Lc 2,1 4 ).
Veneráveis Irmãos e amados filhos: Impressionados como estamos
ainda todos com as emoções do Concilio iniciado, permiti-Nos neste
Natal a alegria de repousar uns momentos na consideração destas pa­
lavras da liturgia natalícia. T rê s vibrações harm oniosas nos vêm das
próxim as festividades, à luz plena do grande acontecim ento Conciliar:
I) A glória do Senhor afirmada pelo canto angélico; 2) o aparecim ento
e gôzo da paz na terra, conforme as aspirações das alm as e dos povos;
3) o apostolado e o triunfo da unidade da San ta Igreja no pensamento,
na oração e no sacrifício de Cristo, para beneficio espiritual do mun­
do inteiro.
I. Glória a Deus no céu. Pa ra esta sublim e liturgia se eleva, antes
de mais, o hino do Natal. Ê stc é também o hino da Igreja Católica que
se reúne no Concilio e ao mesmo tempo se abre como florescim ento
duma nova humanidade reconciliada com o seu Criador, e regenerada
por Cristo Salvador para alegria e paz das alm as e dos povos.
Que emoção, ao principiarem os trabalhos conciliares de cada dia,
neste Gloria in excelsis da Santa M issa, repetido em tantas línguas, con­
forme a variedade dos ritos, que em boa hora se foram apresentando,
ricos e atraentes: Romano c Ambrosiano, Grego e Eslavo, Armeno An-
tioqueno e Alexandrino, Bizantino, Caldeu, Melquita, Siríaco e M aronita,
e tantos outros, como glorificação edificantissim a e comovedora e amo­
roso encontro.
T al nos apareceu e assim o apreciamos, êstc entrelaçamento de lou­
vor, que supera os m ais altos cim os de alegria e homenagem à bon­
dade m isericordiosa do Pai celeste.
Quem a êles assistiu, e acolheu as suas ressonâncias suavíssim as,
jam ais poderá esquecer êste Gloria in Excelsis Deo a que responderam,
não apenas como participação da assembléia mas com vibração repleta
de harmonia gregoriana, mais de duas mil vozes de Bispos, aqui re­
unidos de todo o mundo católico, na solenidade da Imaculada Concei­
ção, M ãe de Jesus e nossa Mãe, resplandecente numa das suas glórias
m ais singulares, a da sua exaltação.
II. M as simultàneamente com glória para Deus no mais alto dos
céus, o mistério do Natal de Cristo e da sua comemoração c para nós,
peregrinos cá na terra, anúncio de paz ao mundo inteiro. Na terra paz
aos homens de boa vontade.
A palavra céu aparece com freqüência em ambos os Testam entos.
M as, muito mais vêzes e em muito mais páginas, aparece o vocábulo
terra. E a riqueza da terra, mais preciosa e mais digna de ser lembrada,
é a paz. Paz na terra — cantam os nós com os an jos de Belém — paz
na terra aos homens de. boa vontade.
Entre todos os bens da vida e da história — das alm as, das fa­
m ílias e dos povos — a paz é verdadeiramente o mais importante e
Mensagem Natalícia 337

precioso. A presença e a procura da paz (studium pacis), é a segu-


rança da tranquilidade do mundo. Mas acrescente-se, como condição
de a, a boa vontade de todos e de cada um, pois, onde esta faltar, é
inútil esperar alegria e bênção.
Procurem os pois a paz, a todo o momento: esforcemo-nos por criá-
la à nossa volta para que se difunda pelo mundo inteiro, defendamo-la
de todos os perigos e riscos e prefiramo-la a qualquer aventura de
maneira que a não prejudiquemos nem a comprometamos. Ohl que
grande preocupação esta em todos os Papas, de agora e de semprel
O esfôrço constante que tem acompanhado êstes quatro anos do Nosso
humilde serviço — como o entendemos e entenderemos até ao fim —
é serviço de servo dos servos do Senhor, que é verdadeiramente o Se­
nhor e o príncipe da paz.
Ao pronunciar e transmitir pela rádio-televisão estas palavras, quei­
ram todos os que Nos ouvem com boa fé e com consciência reta —
pensamos Nós — tornar a sentir nelas o eco do Nosso mais recente
apêlo à paz pela compreensão e concórdia dos povos, na Nossa Radio-
mensagem de 25 de outubro passado: "Renovamos hoje êste pedido ins­
tante e solene. Pedimos a todos os Governos que não fiquem surdos a
êste brado da humanidade. Façam tudo o que está na sua mão para
salvar a p a z .. . Continuem a tratar, porque esta atitude leal e franca
tem grande valor como testemunho para a consciência de cada um e
diante da história. Promover, facilitar, aceitar conversações, em todos
os niveis c em todos os tempos, é regra de sabedoria e de prudência
que atrai as bênçãos do Céu e da terra".
Recordar êste apêlo é-Nos tanto mais agradável e confortador, ve­
neráveis Irmãos e amados filhos, quanto sinais indubitáveis de alta
compreensão Nos garantem que não foram palavras lançadas ao vento,
mas que tocaram inteligências e corações, e vão abrindo novas pers­
pectivas de confiança fraterna e horizontes mais desanuviados de ver­
dadeira paz social e internacional.
Nesta feliz orientação da ordem nacional e internacional, mesmo
como simples viragem para um nôvo período da história do mundo
contemporâneo, é agradabilíssimo verificar o que a Nossa Radiomensa-
gem veio a representar, integrada, em côro harmonioso e alegre, com as
vozes do episcopado mundial da Igreja Católica, aplicado naqueles dias
aqui em Roma aos seus trabalhos conciliares cm santa fraternidade, sob
a chefia amável do Sucessor de S. Pedro, e no seu templo. E ’ sôpro
de alta espiritualidade evangélica, é chama viva de puro apostolado
católico, que pratica o mandamento divino do Senhor e o consagra:
Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça; e tudo o mais vos
será dado por acréscimo (Mt 6,33; Lc 12,31).
E' natural que nesta expectativa e depois na atividade festiva do
Natal a referência à prosperidade da ordem doméstica e familiar ad­
quira maior realce como beneficio da paz cristã. A tríplice aparição,
tanto cm Belém como em Nazaré, dos três personagens — Jesus, Maria
c José, — que fonte não é de alegria, de suavidade e de pazl
E quanta profundidade na doutrina do livrinho da Imitação de Cris­
to quando descreve a figura do homem bom e pacifico (De bono paci­
fico hominc — Livro II, c. 3 ), do qual se diz que tudo transfor/na em
bem (omnia ad bonum convertit).
Concilio II — 22
338 IV. Documentos

III. A terceira vibração harmoniosa e exultante da festividade Nata­


lícia — associada à alegria Intima, que os veneráveis Prelados santa­
mente gozaram com a sua participação pessoal na celebração do Con­
cilio __ foi-Nos expressa em forma comovente de santa fraternidade
episcopal.
Sim ! verdadeiramente a graça do Senhor espalhou-se sôbre a sua
Igreja em proporções superiores a tôda a expectativa. Sentiam o-nos co­
movidos ao pensar que a bondade de Jesus ia derram ar-se sôbre as
m isérias dum mundo de que êle é Salvador e Redentor, dum mundo
que, volvidos já vinte séculos de história, está ainda tão longe de cor­
responder com adesão plena ao seu convite. T odavia a realidade foi
muito além de tudo o que se podia esperar: E' isto obra de Deus, ad­
mirável aos nossos olhos (Mt 21,42). Deus acolheu e ouviu as orações
das alm as consagradas, das crianças, dos doentes c dos que sofrem.
Ouviu também a súplica dos que desejam rezar mas não sabem ; dos
que anseiam reconstituir, na intimidade da consciência, a harmonia das
leis eternas com as exigências da vocação pessoal.
Flor característica desta realidade do Concílio Ecumênico é o des­
pertar espontâneo, inesperado para quase todos, do sentim ento da uni­
dade; melhor dito, o despertar da atração consciente, reconhecida e
bem aceita em ordem à fraternidade cristã. Vem já expressa no Sim-
bolo dos Apóstolos, pela convincente afirm ação da Igreja una, santa, ca­
tólica e apostólica, não para dominar mas para servir aos povos. Para
êstes, o desígnio de Cristo é aspiração sinceramente desejada, mesmo se
nem sempre a reconhecem nos seus contornos e nos seus desenvolvimentos.
Sôbre o vastíssim o, complexo e ainda perturbadíssim o horizonte da
criação, cuja imagem nos é apresentada nas prim eiras páginas do G ê­
nesis, o Espirito de Deus pairava sôbre as águas. Fora de determinações
e aplicações mais particularizadas, o certo é que, em tudo quanto se
refere às sobrevivências do patrim ônio espiritual da Santa Igreja —
mesmo onde êle não se encontra na sua plenitude, — poucas vêzes, no
decorrer dos vinte séculos da era cristã, se notou, tão generalizada nos
corações, a inclinação para a unidade, como Deus a quer. Já se pôde
notar, por ocasião do Concilio Ecumênico, a atenção que os nossos con­
temporâneos prestam ao problema religioso, sensibilidade que a todos
une principalmente à volta da figura do único rebanho e único pastor.
E ’ uma aproxim ação, ora tímida, ora com alguma apreensão nascida de
preconceitos, que nós im aginamos sem dificuldade e queremos até com­
preender, a fim de, com a graça divina, os podermos debelar.
O único rebanho e único Pastor — que encontra ressonâncias de
angustiosa súplica no todos sejam um (unum sint) da última ceia (Jo
17,21) — repercute-se, imperioso, desde o principio dos vinte séculos
de cristianismo e ecoa no coração de cada um de nós.
Sejam um, sejam um! (Unum sint, unum sin t!) "S eja m todos um
só ; como tu o és em mim, ó Pai, e eu em ti, sejam também êles um
só em nós: a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21).
E sta é a última explicação do milagre de amor iniciado em Belém, e
cujas prim ícias foram os pastôres e os m agos: a salvação de tôdas as
almas, a união de tôdas na fé e na caridade, por meio da Igreja visível
fundada por Cristo.
Mensagem Natalícia 3 39

n , Q SÜ am Um> ( r f T ! " Sin,!) E' 0 desie nio do Redentor Divino, que


reallzar- Veneráveis Irmãos, e continua a ser grave r<£
ponsabilidade, entregue à consciência de cada um. No dia do juízo par-
ticular e do juízo universal será perguntado a esta consciência, não
se ela consumou a unidade, mas se rezou, trabalhou e sofreu por ela;
se se impôs disciplina sábia mas prudente, paciente mas de larga visão-
e se corroborou os impulsos da caridade. ’
Esta palpitação do coração de Cristo deve levar-nos a renovar 0
propósito de nos dedicarmos inteiramente a que entre os católicos se
mantenha bem sólido o amor, como verificação da primeira nota da
Igreja; e a que, no vasto horizonte das denominações cristãs e mesmo
para alem delas, se realize aquela unidade, por que aspiram os cora­
ções retos e generosos.

Veneráveis Irmãos e diletos filhos.


Na expectativa do Natal, reavivada com reflexos do Concilio Ecumê­
nico, cujo trabalho continua até alcançar o seu desejado coroamento,
abre-se a vós o Nosso coração em seu paterno palpitar.
Este Natal de 1962 pretende ser de mais intima e recolhida alegria
e paz para tôda a sociedade humana, principalmente para 0 seu funda­
mento, que é a família; quer ser um Natal de oração e de reflexão para
corresponder ao anseio de Cristo Nosso Senhor pela unidade de quan­
tos crêem no seu nome e no seu Evangelho: que êles sejam uma só
coisa (ut unum s in t); pretende ser um Natal de caridade mais viva nas
mútuas relações dos membros do Corpo Mistico, cm generosa aplicação
ao bem dos indivíduos e das comunidades familiares, sociais e
internacionais.
O Nosso coração, embargado pelo comovido encanto desta hora, vai
até cada um de vós, Veneráveis Irmãos e diletos filhos, por intermédio
das poderosas mas submissas ondas radiofônicas e televisivas, entra nas
vossas casas, onde brilha a mais ardente expectativa do nascimento do
Salvador Divino, e abre-se à ternura de uma saudação e paterno desejo
de Boas Festas. Queremos deter-Nos à mesa dos pobres, nas oficinas
de trabalho, nos santuários do estudo e da ciência, junto ao leito dos
doentes e dos anciãos, em tôda a parte onde há homens que rezam e
sofrem, que trabalham para si e para os outros, que labutam generosa-
mente, no exercício e disciplina da alma, do coração e dos braços. Sim,
desejamos pousar a Nossa mão sôbre as cabecitas das crianças, fixar
os Nossos olhos nos olhos dos jovens, encorajar os papás e as mamãs
no desempenho do seu dever cotidiano! A todos queremos repetir as
palavras do Anjo: anuncio-vos uma grande alegria, nasceu-vos 0 Sal­
vador. E continuar com as reflexões de Santo Agostinho: “Cristo nasceu
e está deitado no presépio, mas governa 0 m undo... está envolvido em
pobres paninhos, mas reveste-nos de im ortalidade... não encontrou lu­
gar na hospedaria, mas deseja levantar um templo no coração de to­
dos os c re n te s ... Reavivemos portanto a caridade a fim de podermos
chegar à sua eternidade” (Serm. 190, 4 ). Esta é a realidade do Natal,
que vos desejamos plena e alegre, valorizando êstes desejos paternos
com a oração fervorosa e prolongada.
340 IV. Documentos

O' Verbo eterno do Pai, Filho de Deus e de M aria, renovai mais


uma vez, no scgrêdo intimo das alm as, o prodigio admirável do vosso
nascim ento! Revesti de imortalidade os filhos que resgatastes; inflamai-os
na caridade, unificai-os a todos nos laços do vosso Corpo M istico, a fim
de que a vossa vinda traga a alegria verdadeira, a paz segura, a ge­
nerosa fraternidade entre os indivíduos c entre os povos. Amém, as­
sim seja.
Como que a refletir as celestes com placências do Divino Infante de
Belém, desça sôbre todos vós, Veneráveis Irmãos e amados filhos, a
confortadora Bônção Apostólica, que dá a todos vós c com todo o amor
paterno, o humilde Vigário d'Aquéle que é Príncipe da Paz c Pai dos
séculos futuros (cf. Is 9,6 ).
Discurso aos Cardeais.

. C o m a d m ir á v e l p e r s e v e -
rança insistiu o Papa, desde que pensou no Concílio, no aspecto
pastoral das resoluções conciliares. Algumas Comissões Pre-
conciliares, principalmente a Teológica, não atenderam suficien­
temente a esta norma. Foi também uma das razões principais
porque a Congregação Geral decidiu rejeitar os esquemas ela­
borados pela Comissão Teológica. O próprio Concilio, na Men­
sagem à Humanidade, promulgada durante a terceira Congre­
gação Geral (2 0 -X -6 2 ), firmou também esta norma suprema:
Queremos apresentar aos homens de hoje a mensagem cristã,
não de qualquer maneira, mas de modo tal que êles, os homens
de hoje, possam compreendê-la, sentir-se atraídos por ela e
amá-la. Quando o Papa comunicou à trigésima quinta Congre­
gação Geral (6 -X II-6 2 ) as normas que deveriam orientar os tra­
balhos interconciliares, tornou a lembrar êste princípio, citando
também um incisivo texto do Discurso de Abertura que acentuara
o “caráter prevalentementc pastoral do magistério”. Êste mes­
mo texto é mais uma vez citado pelo Sumo Pontífice no pe­
queno Discurso que dirigiu aos Cardeais no dia 23 de dezem­
bro, quando recebia os votos natalícios do Sacro Colégio, ex­
pressos pelo Cardeal Decano, Eugênio Tisserant. Disse então
Sua Santidade:

Senhor Cardeal: Somos-lhe grato pelas elevadas expressões dos


votos com que Vossa Eminência interpretou os sentimentos dos mem­
bros do Sacro Colégio c da Prelatura Romana neste encontro natalino
do Papa com os seus colaboradores mais próximos, participantes das
ânsias do ministério apostólico. Suas palavras, Senhor Cardeal, lembraram
quanto pôde Nossa humilde pessoa realizar neste ano do Concilio Ecumê­
nico Vaticano II, para dispor tôdas as vibrações mais intensas na ex­
pectativa do grande acontecimento; c Vossa Eminência prestou outrossim
testemunho à cooperação inteligente, cordial e ativa dos veneráveis com-
342 IV. Documentos

ponentes do Sacro Colégio na preparação, antes e depois, do desen­


rolar da ação conciliar nos prim eiros dois meses.
E’ belo e causa-N os alegria o fato de precisamente o Cardeal De­
cano ter querido destacar e exprimir o mais nobre labor do Colégio
Cardinalício inteiro, no curso dos três últimos anos.
Nobre exemplo e entusiasmo renovado. — Veneráveis Irmãos e caros
filhos Nossos. E ’ um nobre exemplo o vosso, que dá coragem a todos,
e que nos deverá sustentar nos meses de trabalho desde janeiro pró­
ximo até os prim eiros dias de setembro do ano vindouro. Apraz-Nos
notar um primeiro e singular motivo de atração que se anuncia, com­
pletando-se em 1963 o quarto centenário da conclusão do Concílio T ri-
dentino, do qual decorreu para a Igreja tão grande beneficio, mesmo
para as épocas que se seguiram.
A experiência dos dois prim eiros meses do Vaticano II colocou-nos
a todos em condições de conferir, com o auxílio de Deus, clareza e de­
sem baraço, ao desenrolar da grande assem bléia. Não c leve o tra­
balho que se abre agora, nesta fase de prossecução ardente e silen­
ciosa da nossa atividade, na linha que o Senhor Nos inspirou ao con­
vocarmos o Concilio, isto é, uma geral e mais fervorosa renovação na
vida da Igreja, uma nova e vigorosa irradiação do Evangelho em todo
o mundo, com a Santa Igreja que o difunde, que o faz conhecer, e
explica seus ensinamentos.
E ste renovado ardor pastoral é a ânsia constante do Nosso cora­
ção; é o escopo do Concilio Ecumênico, a fim de que os nossos con­
temporâneos sejam cada vez mais advertidos da ação m aterna da Igreja
para a elevação espiritual, c também m aterial, da humanidade inteira.
Seja-N o s permitido renovar aqui, para direção e estímulo dos nos­
sos esforços no sentido do trabalho que a todos nos espera, o que
quisemos exprimir, com simplicidade e clareza, em Nosso discurso inau­
gural, no dia 11 de outubro passado, no dia tão solene da esplendorosa
inauguração do Concilio. Dissemos então à imensa coroa de Nossos Ve­
neráveis Irmãos no Episcopado, reunidos pela prim eira vez em número
tão notável junto ao Sepulcro de Pedro, que nisto consiste o Concilio e
que isto lhe concerne antes de tudo: a fidelidade às bases doutrinais in­
vocadas e intangíveis do depósito sagrado da fé c do respeito à s mais
puras tradições do ensinamento da Igreja.
O Magistério Pastoral da Igreja. — M as logo acrescentam os que
nosso dever não é apenas guardar êsse tesouro precioso, como se nos
preocupássemos unicamente com a antiguidade, mas dedicar-nos com
vontade álacre e sem temor à obra de derivação da doutrina antiga e
perene, e de aplicação da mesma às condições de nossa época, o que
significa prosseguir o caminho da Igreja, mestra das alm as e dos po­
vos, na sucessão dos séculos.
O punctum saliens — dizíamos nesse discurso de abertura solene do
Concilio — não é, portanto, a discussão dêste ou daquele tema da dou­
trina fundamental da Igreja, em repetição prolixa do ensinamento dos
Padres e dos Teólogos antigos e modernos, que se supõe já deva estar
bem presente e ser familiar ao espirito. Para isto, na verdade, não ha­
via necessidade de um Concilio. Da renovada, serena e tranqüila adesão
a todo o ensinamento da Igreja cm sua inteireza e precisão, tal como
Discurso aos Cardeais 343

ainda resplandece nas Atas Conciliares de Trento ao Vaticano I o es-


rTrpn íp” 8*50' Cf * f llC,° * aP°s,ólico do mundo inteiro espera um salto
a frente no sentido de uma penetração doutrinal e uma formação mais
v|va das consciências, em perfeita fidelidade à autêntica doutrina; mas
esta, estudada e exposta através das formas da pesquisa e da formu­
lação literária do pensamento moderno, tudo medindo nas formas e
proporçoes de um magistério de caráter predominantemente pastoral

Veneráveis Irmãos e caros filhos Nossos.

O longo caminho dèstes meses, que nos conduzirá até o dia 8 de se­
tembro do próximo ano, abre-se diante de Nós, rico de atraentes pro­
messas. O Papa, como no tempo de preparação do Concilio, e como
em todo o decorrer de sua vida, gosta de confiar-se à boa Providência
do Pai Celeste, que tudo dispõe para o nosso bem.
Permitimo-Nos referir-Nos ao que nas semanas passadas foi oca­
sião de certo temor para a Nossa saúde física. É-Nos grato exprimir
ainda uma vez pessoalmente os Nossos agradecimentos pelos votos
que fizestes chegar até Nós, em consonância de sentimentos e de ora­
ção com tôda a família católica. Nossa humilde vida, como a vida de
cada um de nós, está nas mãos de Deus e agrada-nos tanto a frase de
S. Gregório Nazianzeno: "Voluntas Dei, pax nostra”.
Continuar co/n santa alegria e alacridade de espirito. — Entretanto,
retomemos com confiança o trabalho comum. Que o Senhor nos ajude
a todos juntos realizá-lo com santa alegria e alacridade de espírito. E'
uma grande satisfação e vivo encorajamento sabermo-Nos coadjuvado
por mentes e energias tão generosas, como o Sacro Colégio não cessou
de No-lo demonstrar, na manifestação de amável e pronta correspon­
dência aos Nossos desejos.
E agora, Veneráveis Irmãos, caros filhos Nossos, eis que os Nos­
sos votos se transformam em oração implorando para Vós, ao Divino
Infante de Belém, tôdas as escolhidas consolações da graça celeste. O
espirito dilata-se na intensa expectativa do Natal, e assim como em
Nossa Radiomensagem natalina de ontem à noite dirigimos o pensamen­
to a tôda a família humana, hoje vos renovamos os votos paternos de
alegria cristã e de paz.
A benignidade e a graça do Divino Redentor nos acompanhem por
todo o ano com efusões de complacências celestes, das quais quer ser
penhor e reflexo a Nossa Bênção Apostólica.
“Mirabilis ille” : Nova Carta aos Bispos.

“A T O D O S E A CADA UM
dos Bispos da Igreja Católica e aos outros Padres do Concílio
Ecumênico Vaticano II” , é o endereço da nova C arta particular,
Mirabilis ille, que o Suíno Pontífice assinou no dia 6 de janeiro
de 1963. Tornou o Papa a lem brar aos Bispos o dever que têm
de estarem presentes no próximo dia 8 de setem bro e de se
prepararem com “suma d iligência" para os trabalhos conciliares:
“P ara os Bispos os trabalhos do Concílio devem ser neste ano
de 1963 como a pupila de seus olhos” . Anuncia que as Comis­
sões do Concílio já retomaram “alegrem ente” o seu trabalho em
Roma e que a Secretaria do Concilio enviará “o m ais breve pos­
sível” aos Padres Conciliares tudo o que concerne ao estudo e
preparo dos esquemas. A seguinte tradução é feita do texto ita­
liano publicado no O sservatore R om ano:

Venerável e caríssim o Irmão Nosso: A imponente assem bléia de


Bispos que admiramos na B asílica de S. Pedro durante a Prim eira S es­
são do Concilio Ecumênico Vaticano II está-N os continuamente diante
dos olhos. Celebrada, depois, a festa da Imaculada Conceição de Maria
Santíssima, inscritos no catálogo dos Santos os Beato s Pedro Julião
Eymard, António Pucci e Francisco da Camporosso, após nos despe­
dirmos dos Padres o Nosso coração ficou sempre em conversação es­
piritual com cada um dêles.
Nada Nos é agora mais grato — nesta passagem do suave mistério
da gruta de Belém à esplendentc Epifania do Senhor, o Rei glorioso
e im ortal dos séculos e dos povos — do que voltarmos, com o Nosso
pensamento e com a Nossa palavra, a êsse grave e sagrado assunto do
Concilio, ao qual o nóvo ano quer ser dedicado, em tôdos os pontos
da terra, verdadeiramente fundindo tudo em harmoniosa unidade: corda,
voces ct opera.

Continuação do Concilio Ecumênico. — Bem sabido é de quantos


participaram do Concilio que a série dos meses dêste 1963 que medeiam
da Epifania do Senhor, 6 de janeiro, à festa da Natividade de Maria
Santíssima, 8 de setembro, deve considerar-se um real prosseguimento
“ Mirabilis ille” 345

do trabalho conciliar, iniciado felizmente no mês de outubro de 1962


Já nas prim eiras semanas, através de vários ensaios de exposição dou-
V M m .i i Í % r PH
eif-Ôv ,aS Pastora,s- de ,ivre e respeitoso debate, chegamos
n id n ^ fln,t,Vf modus Procedendi 9»e tornará mais rá­
pidos e expeditos os trabalhos posteriores.
Sobretudo importa, agora, que se tenha o senso da continuidade do
Concilio, mesmo se os Veneráveis Bispos, que, unidos ao Papa, lhe cons­
tituem a estrutura, se acham fisicamente distantes, ocupado, cada um
do seu próprio dever pastoral. Devem êles mais do que nunca sentir-se
e mostrar-se espiritualmente unidos durante êste ano.
Bem sabido é que as expressões e os resultados da convivência
social nestes últimos tempos atingiram um altíssimo grau de utilidade,
mesmo naquilo que se desenrola à distância; dêste progresso é lícito
tirar vantagem, do melhor modo possível, também a serviço da Santa
Igreja em todo o mundo. Sobretudo importa que a sagrada coligação
dos Bispos, os quais, em união com o Sumo Pontífice, constituem a
razão e o motivo fundamental da atividade conciliar, permaneça intacta
e manifesta. E primeiramente deve isto verificar-se cm Roma, na colina
Vaticana, nas amplas salas onde, com ardente solicitude, se provi ao
govèrno da Igreja universal; nos institutos das ciências sacras, nos
centros de oração e de caridade, sob o olhar vigilante do Vigário de
Jesus C risto; c, depois, em tódas as regiões da terra onde existe a sa­
grada Hierarquia no exercício da mesma atividade, em perfeita adesão
ao Pontífice Romano e na virtude do Espírito Santo, que "pôs os Bispos
para dirigirem a Igreja de Deus” (At 20,28).
Exame e estudo de alguns pontos fundamentais. — A experiência
das primeiras reuniões Conciliares e dos encontros pessoais e coletivos
com os Veneráveis Padres do Concilio Ecumênico sugere-Nos salientar al­
guns pontos que acreditamos de máxima importância; especialmente na
expectativa dos ulteriores desenvolvimentos do Concilio, quer durante ês-
tes oito meses de trabalho quase invisível, mas efetivamente bastante útil
e eficaz, das Comissões, conforme a sua competência, quer depois — co­
mo esperamos — na fase conclusiva do grande trabalho que recomeçará
solenemente em Roma no mês de setembro e durará até o fim.
Estes pontos reduzimo-los a quatro, para torná-los mais distintos e
claros. Levam êles em conta sobretudo o trabalho dos oito meses de­
correntes desde a Epifania do Senhor até à festa da Natividade de
Maria. A seu tempo seguir-se-ão, a respeito, outras indicações. Eis
os assuntos que pretendemos tocar:

I A Comissão Cardinalícia de coordenação diretiva, anunciada a 6


de dezembro e constituída a 17 do mesmo mês, a qual é presidida por
Nosso Venerável Irmão o Cardeal Amleto Giovanni Cicognani, Nosso
Secretário de Estado.
II. A ativa correspondência com a sede do Concilio por parte dos
que estão ausentes de Roma.
III. A intensidade sempre mais decidida, no clero e no laiçato, de
cooperação, oração, pleno interêsse, vida exemplar santa e santlficadora.
IV. A vasta abertura do X X I Concilio Ecumênico, que quer abranger
os múltiplos aspectos e intentos da Igreja de Cristo.
346 IV. Documentos (

I. A nova Comissão Cardinalícia. — O convite dirigido a pessoas


dc altíssim a dignidade para fazerem parte da Comissão de Coordena­
ção dos trabalhos Conciliares durante êstes oito m eses, em bora algumas
delas morem fora do Vaticano, responde a considerações de respeito
pelos Cardeais nomeados, e, ao mesmo tempo, de particular aprôço
pelas experiências adquiridas na obra já prestada nas várias Comissões
que formam o organismo do Concilio.
Esta mais recente e prim ária Comissão absolutam ente não atenua
ou diminui o trabalho das outras, apenas coordena-o c determ ina-o mais
claramente, em vista do plano geral e dos fins do Concilio.
Coadjuvá-la-á a Secretaria Geral — isto é, o S ecretário Geral c os
cinco Subsecretários adjuntos — com a sua experiente diligência no
desempenho das suas próprias m issões meramente executivas, sim , po­
rém de importância delicadíssim a e preciosa.

II. Relações entre a sede do Concilio e os Padres residentes no


mundo iodo:
a ) Ministério do Pontífice Romano e dos Bispos no Concilio Ecumê­
nico. — Como é óbvio, o Concilio recebe as suas d iretrizes gerais do
Papa, que o convocou; mas, ao mesmo tempo, aos Bispos compete tu­
telar-lhe, segundo essas normas, o livre desenvolvimento. E ’ necessário
que o Sumo Pontífice aprove, de forma oficial e definitiva, os decretos,
que da sua autoridade apostólica receberão valor e fôrça de lei; com ­
pete, porém, aos Padres Conciliares propor, discutir, preparar, na devida
forma, as sagrad as deliberações, e finalmente subscrevê-las juntamente
com o P astor Supremo. A respeito, é oportuno refletir atentam ente sôbre
o que está escrito no capitulo X V dos Atos dos Apóstolos acêrca do
Concilio de Jerusalém e da missão de Paulo e B arnabé em Antioquia,
juntamente com Judas, dito Bársab as, e S ilas (cf. w . 1-22). Nessa sim ­
ples narração acha-se, desde há vinte séculos, o perfeito modélo de
um Concilio. Desde então aparece manifesta a autoridade dos B ispos e
o seu grave ofício em todo Concílio Ecumênico, desde o de Jerusalém
até o atual Concilio Vaticano II.
b ) O que é que o Concilio pede de cada um dos Bispos. — E\
pois, sagrado dever dos Bispos usarem suma diligência nos trabalhos
conciliares, sendo especifica vocação sua o cuidado pastoral. T a l dever
comporta, para cada um, não só a presença às próxim as reuniões na
Basílica V aticana, como também permanecerem, nestes oito meses, es­
piritualmente unidos a seus Irmãos no Episcopado, e responderem soli­
citamente, por escrito, tôdas as vêzes que a Comissão presidida pelo
Nosso Cardeal Secretário de Estado lhes endereçar qualquer pedido. A
presteza dos estudos e das respostas por parte de todos e de cada um
fará com que os trabalhos do Concílio progridam com sabedoria, e
com que o grande empreendimento, para o qual olha o mundo todo,
chegue ao fim alm ejado.
c) C ooperadores dos Bispos no que concerne ao Concilio. — A
preocupação viva de que tudo e da parte de todos resulte depressa e
bem poderá induzir os Bispos — para os quais neste ano os trabalhos
do Concilio devem ser como a pupila de seus olhos — a servir-se, para
completar sua própria obra, da ajuda de sacerdotes de cada circunscri-
"Mirabilis ille”
347

escolher, para colíbóradoreSP- c o m í™ foi” « ! * ' 0° ? ^ * ? ê'eS/ P° ÍS’


nhecidos de Roma e já desienado, J , , . Ü- ~ quar elementos «>-

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ser apontados à Secretaria r.» r,i n? mes dêstes poderão, eventualmente,
preciosíssim o em circunstâncias
não rnmrfm apt3S 3 ®uardar escrupulosamente 0 segrêdo do Concilio
O vig“ Ce°noVép
mr e s t,r o a ^ "° n° bre’ C° m° também ^ 3“ S S

111. Contributo do Clero e do Laicato:

m a) Crf cef e ln[er6sse dos fiéis pelo Concilio. - Entre os fiéis au-
s è u í e íhe n ni ° ,n*er.êsse/ e.liKi°so P d °s trabalhos do Concilio e de-
dad ê^ dn ^ , , ■ AsS'm também 0 desenvolvimento das ativi-
e x D e c t a t J a erc,a ' a o 1,on« ° dos meses passados, superou tôda
expectativa, confirmam-no consoladoras noticias vindas de tôdas as par­
tes do mundo, as quais Nos enchem de alegria. P
Também agora voltam-Nos suavemente familiares as recordações do
primeiro Pentecostes, como se êlc constituísse a nota predominante da
liturgia cotidiana: Spiritus Domini replevit orbem terrarum, et hoc quod
continet omnia scientia/n habet voeis (Sab 1,7).
O certo é que, quando foi convocado o Concilio Ecuménico e quan­
do, depois, foi iniciada a sua celebração, a notícia suscitou em todos os
Continentes, e para além de todos os mares, onde quer que a Igreja
Católica conta filhos seus, primeiramente uma atenção respeitosa, e,
depois, um interêsse vivo, enquanto que agora é sempre mais viva a
espera e a confiança dos resultados providenciais.
O povo cristão, e de modo particular os fiéis que mais se distin­
guem por vida pura, por paciência no sofrimento, por pureza e santi­
dade de costumes, exultam de sentir-se unidos à súplica universal, pela
qual o feliz êxito do Concilio assegure ao gênero humano, mesmo sô-
bre a terra, aquela legitima e adequada prosperidade que é prelibação
do gõzo eterno.
b) Inconvenientes a evitar. — Não faltam vozes de almas simples
e fervorosas, dotadas de bons propósitos, que pedem sejam introduzidas
novas formas de preces públicas e privadas, tendentes a difundir na
Igreja Católica inteira formas de devoção correspondentes a singulares
características de língua, pais, tradições.
Pois bem: ao menos por ora, absolutamente não há necessidade de
novas ou especiais formas de oração, além das já em uso com a apro­
vação da Autoridade Eclesiástica.
A Igreja Católica é como a Rainha "que se senta ao lado direito"
(do Senhor) (cf. SI 44,10), a qual está diante dos olhos das gentes
“em veste de ouro e de recamos variegados". A sua estrutura admirà-
velmente unitária tem fundamento no primado do Pontífice Romano, e
articula-se em dioceses, paróquias, de liturgia e ritos antiquíssimos, e de
ordenações c formas diversas e mais recentes. Isto basta à sua solidez
e compactez, e, com a variedade das formas de oração privada ou pú­
blica, satisfaz as múltiplas exigências do espirito.
348 IV. Documentos

c) Possibilidade, para os fiéis, de colaborarem nas diversas Dioceses.


— Em tflda Diocese o Bispo é o chefe, em virtude do mandato que
lhe foi cometido, e a tudo ele provê, às várias form as de ensino, de
bom govêrno e do culto divino, agindo cada Bispo e Prelado, para a
sua Diocese e competência, em perfeito conhecim ento e distinção de
tarefas.
Depois, aos sacerdotes, aos religiosos, às virgens consagradas e aos
bons fiéis do laicato, a S anta M issa, o B reviário, o Rosário oferecem
admirável e opulenta riqueza de meios para uma súplica, individual e
coletiva, com a qual tôda a família cristã, no mundo inteiro, implore
os divinos auxílios para o Concilio Ecumênico.
D e resto, o que m ais im porta é que a s alm as se acendam cada vez
mais na assiduidade c no fervor da ora çã o; e alimentem também o zêlo
pelos outros, com aquela intensidade de ritmo e de ardor religioso que
no uso romano se exprime pelas palavras: instanter, inslantius, instan-
tissim e: elas bem se aplicam à prece do povo cristão, o qual, munido
de segura esperança, aguarda alegre a resposta do Céu.

IV. Fins do Concilio atinentes à Cristandade e à Família humana


inteira:
a ) Vasta repercussão do Concilio no mundo. — Antes de pormos
têrmo a esta Nossa conversação espiritual, apraz-N os, Venerável Irmão,
aditar algumas palavras a propósito daquilo que, daqui e dali, chega
também ao Nosso ouvido, acerca do volver-se da opinião pública, cm
confiante expectativa, para os problemas de paz e de in spiração cristã,
que o grande movimento do Concilio tem suscitado não submissamente,
mas com eficácia de persuasiva eloquência e com segurança de sólida
afirmação.
A bem dizer, a idéia de um Concilio Ecumênico, ao prim eiro anún­
cio dêste, não pareceu interessar, pràticamcnte, a opinião do mundo
civil. Mas, após três anos do inicio do seu preparo, e especialmente com
a prim eira mostra da atividade conciliar, de onze de outubro passado a
oito de dezembro, êle suscitou no mundo inteiro — mesmo em pessoas
pertencentes a diversa corrente religiosa, ideológica ou política — uma
atitude tão respeitosa, tão reverente, em cada ponto do globo, que a
gente se pergunta se a luz da graça celeste não se aproxim ou, com o
seu raio, do coração dos homens, elevando-os pouco a pouco para Jesus
Cristo e para a sua Igreja santa e bendita.

b) Observadores acatólicos convidados para o Concilio. — Pa ra mais


não dizermos, vimos com prazer que a comunicação e o convite feitos
chegar a irmãos separados da Igreja, e que todavia se gloriam do nome
cristão, para que enviassem delegados seus a titulo de observadores e
testemunhas do Concilio Ecumênico V aticano, tiveram êxito tanto quanto
possível feliz, notável e promissor.
D e Nossa parte, êsses convites e a singular honra com que foram
acolhidos — fato raro na história da Igreja e dos Concílios — fazem-
Nos perguntar se não é êste o sinal de uma aproxim ação de muitas al­
mas ao significado profundo da oração elevada por Jesus ao Pai celeste,
oração expressa na vigília misteriosa do supremo sacrifício: "P a i, che­
gada é a hora, glorifica teu Filho a fim de que teu Filho te glo rifiq u e .. .
"M irabilis ille"
349
Rogo pelos que me deste, porque são teus P3 ; -
nome aqueles que me deste a fim " l!3 santo> conserva em teu
(Jo 17,1,9,11). ’ 'm de que í,es « ia m um como nós"
c) O Concilio Ecumênico interessa a todos os hom , nc u .

pusemoi. M a í m tó N o l S á S o s ^ d e Nó^o^TofcàtóHcos"“ <Ta'

mente a palavra do Divino Redentor, de quem o Evangelista seu predi-


eto escreveu: “Êle (Jesus) é propiciação pelos nossos pecadol: e não
só pelos nossos, mas também pelos do mundo todo” (1 Jo 2,2).
Acaso não é verdade que o mesmo Evangelista afirma do Divino
balvador, luz dos homens, ser êle “luz verdadeira, que ilumina todo ho­
mem que vem a êste mundo” (Jo 1,9)?
E porventura o Evangelista S. Lucas não estava iluminado pelo Es­
pirito Santo quando escreveu: “Tôda carne verá a salvação de Deus"
(L c 3 ,6 )?
Além disto, S. Paulo — oh! quão justamente computado entre os
Apóstolos e os Profetas — de maneira peremptória não adverte, pois, os
Romanos dizendo: “Glória, honra e paz a quem quer que opere o bem
(primeiro ao Judeu e depois ao G rego): pois que diante de Deus não
há acepção de pessoas" (Rom 2,10-11)?
Com que alegria, depois, o mesmo Paulo, escrevendo a Tifo, em
poucas palavras reafirma a natureza e a fôrça do mistério da salvação:
“Apareceu a todos os homens a graça de Deus nosso Salvador”
(T ito 2,11)!
No término destas citações, apraz-Nos referir uma máxima do auto­
rizado e eloquentíssimo intérprete de S. Paulo, S. João Crisóstomo,
máxima que vivamente Nos comoveu desde a Nossa juventude: “Lem­
brai-vos, ó irmãos, de que deveis dar conta não só da vossa vida, mas
também da do mundo todo” (Homilia XV sôbre S. Mateus).
d) Bons auspícios para o futuro. — O ressaltarmos as boas acolhi­
das ao nosso Concilio por parte de numerosos irmãos separados desta
Sé Apostólica, é-Nos, certamente, fonte de grande consólo. Porém que
esperança mais vasta e mais rica, e que opulência de graças celestes nós
não poderemos merecer se o multiplicado ardor da nossa sincera caridade
fôr experimentado por todos aquiles que são chamados a fruir conosco
da mesma fé e salvação em Jesus Cristo, a ser conseguida no seu úni­
co redil!
Isto está encerrado no misterioso desígnio do Senhor: e nisto pa-
rcce-Nos já vislumbrarmos as primeiras luzes dêsse dia desejadissimo,
cujo advento futuro Cristo Jesus saudava com êstes ardentíssimos votos
e confiantes acentos: “Tenho outras ovelhas que não são dêste redil, e
devo trazê-las tam bém ... e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo
10,16)! Oh! como deveria ser consolador para o Nosso espirito o po­
dermos ler com essas ovelhas as caras palavras divinas, e contemplar
as deliciosas imagens do capitulo X de S. João, especialmente lá onde
Jesus nos repete: “Eu sou a porta (isto é, a porta pela qual entram as
350 IV. Documentos

ovelh as); se alguém entrar por esta porta salvar-se-á: entrará e achará
o pasto" (Jo 10,9)1
Repetimos o augúrio com ânimo sereno: possa o Concilio Ecumênico
Vaticano II, excelentemente iniciado, suscitar na Igreja, com a graça do
Senhor, abundância de fôrças espirituais, e abrir vasto campo ao apos­
tolado católico, de modo que, conduzidos pela Espôsa de C risto, os ho­
mens possam atingir aquelas excelsas e desejadissim as m etas que ainda
não lograram atingir.
Grande esperança, que interessa à Igreja e a tôda a família humana!
Sôbre estas graves responsabilidades, inerentes à atuação do nosso
apostolado, nós, Bispos da Igreja do Senhor, devemos meditar. O haver­
mos permanecido e permanecermos fiéis à integridade da doutrina cató ­
lica, segundo o ensino dos Santos Evangelhos, da T rad ição , dos Padres
da Igreja e dos Pontífices Rom anos é, por certo, uma grande graça c
um titulo de mérito e de honra. M as isto não basta para o cumprimento
do preceito do Senhor, quer quando êste diz: “ Ide e ensinai tôdas as
gentes” (M t 28 ,1 9 ), quer naquela passagem do Antigo T estam ento: " E
mandou a cada um dêles pensar no seu próxim o” (E cli 17,12).

Exortações e votos. — Venerável Irm ão: Vivamente Nos alegramos


de confiar-te êstes pensamentos, justam ente na véspera da Epifania do
Senhor.
Enquanto prazeirosamente te damos notícia de que as Comissões
do Concilio Ecumênico Vaticano II já retomaram alegrem ente o seu
trabalho cm Roma, ao mesmo tempo te anunciamos que a Secretaria do
Concilio enviará o mais breve possivel aos Pad res distinguidos com o
caráter episcopal tudo o que concerne ao estudo e preparo dos esque­
mas sôbre os assuntos confiados ao exame das mesmas Com issões.
Queira o Senhor que êste santo fervor de bom trabalho — ampa­
rado pelas orações de todo o clero e de tôdas as alm as piedosas re­
unidas em Fam ílias religiosas, m asculinas e femininas, espalhadas como
centelhas em cada região da terra — não só obtenha a graça perene
do zêlo apostólico, como também produza os ubertosos frutos desejados
para salvação e alegria do gênero humano. Esta é a graça de Jesus,
que "veio para atear o fogo sôbre a terra” (cf. Lc 12,49), a fim de
que todos ardessem em esplendor de fé, em chama de caridade.
Aos Nossos Veneráveis Irmãos na ordem episcopal, nada mais doce,
nada m ais convincente podemos sugerir do que os luminosos apelos que,
como palavra de ordem, São Paulo — ohl o incomparável e portentoso
"vas electionis” ! — escrevia pelo fim da carta aos Colossenses, para
exaltar a sublime atividade das alm as mais eleitas: "C risto é tudo e
em todòs” (Col 3 ,1 1 ). E prossegue: "Revesti-vos, pois, como eleitos de
Deus santos e amados, de vísceras de m isericórdia, de benignidade, hu­
mildade, modéstia, paciência: suportando-vos uns aos outros e perdoando-
vos mútuamente, quando alguém tenha que se queixar do outro; assim
como o Senhor vos perdoou, assim também vós. E acim a de tôdas estas
coisas tende a caridade, que é vínculo de perfeição; e nos vossos co­
rações triunfe a paz de Cristo, na qual sois cham ados a (constituir) um
só corpo: e sêde gratos. A palavra de Cristo habite em vós abundan-
"M irabilis il le” 351

temente, em tôda sabedoria, instruindo-vos, com salmos, hinos e cânti­


cos espirituais na graça, cantando vós hinos a Deus nos vossos cora­
ções. Tudo o que fizerdes, em palavras ou em obras, seja tudo em
nome do Senhor Nosso Jesus Cristo, dando por meio dêle graças a
Deus P ai" (Col 3,12-17).
Com êstes sentimentos e movidos pela consciência dos nossos de­
veres, Venerável Irmão, retomemos o santo trabalho comum, confiando
únicamente no auxilio da graça celeste, com intelecto iluminado e co­
ração alegre, para o bem da Santa Igreja de Deus.
Para propiciarmos com os Nossos votos e os Nossos desejos a luz
e o auxílio da graça divina, a ti, Venerável Irmão, e ao teu rebanho
inteiro enviamos, com vivo afeto, no Senhor, a Bênção Apostólica.
Roma, junto a S. Pedro, a 6 de janeiro, festa da Epifania do Se­
nhor de 1963, quinto ano do Nosso Pontificado.

IOANNES XXIII PP.


Repercussões
Entre nossos Bispos.

N a o FORAM MUITOS OS PA-


dres Conciliares do Brasil que, acabada a Primeira Sessão do
Concílio, manifestaram públicamente suas impressões, esperanças
e pensamentos sôbre o grande acontecimento no qual haviam to­
mado parte. Foi-nos possível obter conhecimento apenas d o s .
seguintes:
Dom V i c e n t e S c h e r e r , Arcebispo dc Pôrto Alegre, ao
regressar dc Roma, declarou ao Jornal do Dia (12 -1 2 -6 2 ), res­
pondendo a uma pergunta sôbre sua impressão geral: "Muito
boa. Não trazemos longa série de regulamentos e decretos. Mas
ficaram nitidamente definidos o caráter e a tarefa dos trabalhos
conciliares. Tiveram e, certamente, terão no segundo e último
período, de 8 de setembro a dezembro do próximo ano, um pre-
valente sentido pastoral, no esfôrço de colocar tôdas as grandes
forças espirituais da Igreja ao serviço da promoção do bem-
estar onímodo dos homens, em todos os paises e continentes,
de acôrdo com as necessidades e situações do tempo em que
vivemos. O episcopado rio-grandense, na saudação coletiva ao
povo do nosso Estado, salienta êste aspecto essencial do Concilio”.
Dom A g n e l o R o s s i , Arcebispo de Ribeirão Prêto, cm
carta escrita ainda em Roma no dia 9 -12-62 e publicada no Diá­
rio de Noticias de Ribeirão Prêto (1 2 -1 2 -6 2 ), fêz as seguintes
ponderações sôbre os dois meses de Concilio: “Realmente êste
período não marcou apenas o início do Concilio. Começou a
marcha decisiva para a adaptação pastoral aos tempos presen­
tes de uma forma corajosa e objetiva, como convém à Igreja,
Mãe e Mestra. Pelo que se viu e ouviu, pelos rumos dados às
Comissões Conciliares para a revisão dos esquemas, pelo que
foi aprovado em matéria litúrgica, já se sente a ação do Espí­
rito Santo claramente no Concilio. Muito se discutiu, com total
liberdade, sôbre a maneira mais perfeita de expressar os esque-
23'
356 V. R epercussões

mas e depois de trabalho insano da Comissão C onciliar para


atingir aquêle ideal chega-se a um resultado que agrada a qua­
se totalidade dos Padres Conciliares, como se patenteou nas
votações havidas sôbre as emendas de Liturgia. Ouvim os mais
de 6 0 0 oradores na aula consistorial, do O riente e do Ocidente,
de povos livres ou de nações que sofrem a pressão férrea do
totalitarism o, de países cultos como também de regiões ainda
selvagens e todos, pastores fiéis de seus rebanhos, falavam com
a preocupação constante de beneficiar, da melhor m aneira, os
seus fiéis. Repito o que disse logo no início do Concílio Ecum ê­
nico. Fom os alunos da melhor, da mais seleta, da mais impor­
tante Universidade do mundo. Voltam os aos bancos escolares,
tendo como com panheiros e mestres homens de tôdas as raças
e de todos os povos, sacerdotes amadurecidos pela experiência
c pelo estudo, grandes pensadores, heróis das selvas ou das
montanhas, mestres da palavra, mas sobretudo pastores, após­
tolos desta humanidade do século X X , com tôdas as suas gló­
rias mas também com tôdas suas angústias e d eficiên cias” .
Dom J o ã o R e z e n d e C o s t a , S . D . B . , Administrador
Apostólico da Arquidiocese de B elo Horizonte, dirigiu ao clero
e aos fiéis da Arquidiocese uma C arta C ircular especial, na qual
comunica suas impressões, reflexões e inform ações sôbre a pri­
meira fase do Concílio V aticano II. Acentua a ccum enicidade do
Concilio, seu caráter sacral ("parlam ento de D eus” ), sua linha
pastoral, sua visão ecumênica. Sintetiza os frutos positivos do
Concílio nos seguintes term os: “ Um conhecim ento amplo e real
do pensamento da Ig reja no mundo inteiro; um nôvo clima dc
aproxim ação com os irmãos separados, cu ja presença no C oncí­
lio através de observadores credenciados mostrou como está de­
cididamente iniciada a marcha da unidade; os debates e apro­
vação em grandes linhas dos esquemas sôbre a Liturgia (com
alguns capítulos já definitivamente votados), a Unidade dos
C ristãos, a Ig reja, os Meios de Comunicação So cial; os dois dis­
cursos do Papa, na abertura e no encerramento do C oncílio; a
constituição das Comissões com a representação do Episcopado
de todo o mundo (sete Bispos do B r a s il); a mensagem dirigida
ao mundo pela Assembléia dos Padres C onciliares; as novas nor­
mas que vão orientar os trabalhos no período de interrupção do
Concílio”. Na parte final salienta-se ainda “o contacto das vá­
rias H ierarquias entre si, descobrindo-se o grande interêsse de
ajuda mútua; a possibilidade que tivemos de ouvir especialistas
nos vários setores da doutrina da Ig reja e de seus métodos de
Entre nossos Bispos
357

toso oue t J \ novembro e o convívio imensamente provei-


nos% rPo X T a " C’a * tant°S dÍ3S reUnÍd0S “ meSma « “
Dom H e l d e r C â m a r a , Arcebispo-Coadjutor do Rio de
jane.ro, segundo a versão do Correio da Manhã de 11-12-62.
declarou que, em apenas dois meses de Concílio Ecumênico, já
lhe e possível sentir o espírito da grande reunião, que se en­
caminha para a criação de uma Igreja capaz de reconhecer suas
próprias falhas, sem lhe faltar coragem para enfrentar os gran­
des problemas da Humanidade de hoje. Igreja aberta, livre, are­
jad a e que seja mais dos pobres; que combaterá com tenacidade
o escândalo que representam os 2/3 da Humanidade no sub­
desenvolvimento e na fome. Após esclarecer que a primeira fase
do Concílio Ecumênico marcou, principalmentc, o congraçamen-
to entre os representantes das igrejas do mundo inteiro, reuni­
dos em Roma, disse Dom Helder que dois fatos mereceram des­
taque nessa fase: 1) o espanto dos não-católicos, face a con­
vocação do Concilio, por êles mesmo externado aos Bispos ca­
tólicos; e, 2 ) terem êles imaginado ser o Papa um ditador, con­
vicção que abandonaram ao verificar a liberdade com que os
Padres expunham seus pontos de vista e se dirigiam ao Sumo
Pontífice. Depois, fêz questão de revelar o espirito do Concilio:
o de criação de uma Igreja aberta, que vá ao essencial, que fale
mais simplesmente ao povo. Igreja que, no esfôrço de auto-
reform ar-se, irá enfrentar os problemas que presentemente pre­
ocupam o mundo. Entre êles, o da consequência da superpopu­
lação, o escândalo de 2/3 da Humanidade no subdesenvolvimento
e na fome; evangelização oral da Igreja, inclusive pelo exemplo;
e a paz. A lodos êsses problemas pretende a Igreja enfrentar,
mas sem interferir na competência dos outros; porém preocupada
em não se omitir. Para isso, estará atenta no sentido de com­
pletar o esfôrço dos governos, inclusive da iniciativa privada. O
problema do subdesenvolvimento preocupa-nos, não só pela mi­
séria e sofrimento a que arrasta uma maioria que não chega se­
quer a atingir as condições que a colocariam próximo do mínimo
a que têm direito os seres humanos, mas principalmente por sa­
bermos que a têrça parte feliz, a minoria privilegiada, é consti­
tuída de cristãos. Mas sabemos também que a parte que mais
V. R epercussões

sofre encontra-se na África e na própria América Latina. A cia


chegarem os com palavras simples, entendíveis por todos. Q ue­
remos, também, transmitir educação de base, que coloque de pé
as classes subdesenvolvidas e llies dê o verdadeiro sentim ento
de dignidade, de amor ao próximo. Preocupar-nos-em os princi­
palm ente com os cristãos de fora, com os operários, os estu­
dantes, os artistas e os próprios intelectuais, falando-lhes lingua­
gem clara e demonstrando interêsse pela solução de seus pro­
blemas. A Ig reja a sair do Concílio Ecum ênico será a sonhada
pela Humanidade, desagarrada do passado e que terá o grande
mérito de vir a cham ar a Deus a juventude. M as — prosseguiu
— a manutenção da paz também nos preocupa. Ou melhor, a
am eaça constante de guerra. E sta am eaça que faz com que os
orçamentos de cada nação sejam sangrados em verbas astron ô­
micas, que os debilitam e também às populações que se pre­
tende defender, só deixando uma gôta d’água para o desenvol­
vimento. O problema da guerra será encarado sob vários ângulos
e a Igreja não terá com plexos diante de nada e de ninguém.
Não vamos ter mêdo de am eaças. Não vamos p arar! P ara que
a Ig reja entre em nova fase, necessário torna-se reform á-la, tor­
nando-a mais m issionária, mais clara aos cristãos e àqueles que
serão cham ados aos caminhos da F é. T erem os de aproxim á-la
mais dos pobres. Não poderemos dar a im pressão de sermos
uma Ig reja mais dos ricos que dos pobres. E ’ preciso cortá-la
na própria carne. E essa reforma, ao invés de com eçar com o
trabalho de conversão dos outros, concentrar-se-á na conversão
dos próprios cristãos. E nos encam inharemos, aí, para a simpli­
cidade. P ara chegar ao sim ples teremos de ser também simples.
E o P a p a João X X III é o primeiro a d esejar essa sim plicidade,
inclusive do próprio V aticano. Mas não será fácil mover o pêso
da tradição.
Dom Helder Câmara, aliás, teve outra oportunidade para ma­
nifestar suas im pressões pessoais sôbre o C oncílio. Em L a D o­
cumentation Catholique de 16 de dezembro de 1962, colunas
16 1 1 -1 6 1 3 , lemos que, “por ocasião da M issa celebrada no do­
mingo 25 de novembro para os jornalistas, na igreja de San t’Ivo
alia Sapienza, Dom Helder P essoa C âmara, Arcebispo-A uxiliar
do Rio de Janeiro, pronunciou a seguinte alocu ção” :

C aros jorn alistas do Concilio Vaticano II: So is jorn alistas e, por


conseguinte, tendes um senso muito afinado de tudo o que se pensa do
Concilio e de tudo o que dêle se diz. Após esta prim eira parte do nosso
trabalho, pensais talvez que se deveria celebrar um oficio de penitência,
Entre nossos Bispos 359
de preferência a uma Missa de ação de eracas .
mos: Quereráo os Padres conciliares esvaziar 'o ' oceano u ilizand^ sum
n aZ f S? QuerCf â0 desi,udir Wdas as esperanças que de S d a s Js
6 ~ “ provenientes

vpnipnfpc ^ r r i,is' 1- uiscrat eu ,ornar-vos a‘entos às nossas decepções pro-


m.P n m v a l Conc,l,° ' a fl™ de em seguida podermos falar-vos de fatos
que provam que, mau grado tôdas as falhas, a Providência Divina está
cm obra.
Não posso contestar que a cerimônia de abertura do Concilio se
desenrolou segundo um cerimonial que dificilmente é suportável na nos­
sa época da televisão. Conceda Deus que outra seja a cerimônia de en­
cerramento I Faltava-lhe, certamente, o senso da comunidade litúrgica.
Nao era lamentável que dela fôssem os fiéis excluídos? Não teriam sido
vantajosamente substituídos os cantos da capela Sistina por uma Missa
comunitária dos Bispos da Igreja universal?
Mas, como vós mesmos pudestes verificar, a alocução do Papa con­
ferira aspecto inteiramente diverso à cerimônia. No meu modo de ver
pessoal, êsse acontecimento não se deixa explicar de forma puramente
humana. Ninguém mais senão o Espirito Santo estava no caso de fazer
dizer naquele instante exatamente as palavras que se faziam de mister.
Lá onde muita gente só descobre perda de tempo, discussões inter­
mináveis, aborrecidas e, às vêzcs, irritantes, descubro a primeira nota
positiva, saliente, dêste Concilio. Essas discussões são a evidência da
liberdade absoluta de que dispõem os Padres Conciliares. Nossos ca­
ríssimos observadores não-católicos, cuja primeira surprêsa era o pró­
prio Concilio, devem estar contentes verificando que não há, na Igreja
Católica, o soberano, o ditador que talvez imaginassem.
Lá onde observadores superficiais chegam a um balanço pobre dessa
Prim eira Sessão — pois um só esquema foi discutido por inteiro, mas
ainda não votado; outro foi encaminhado a uma Comissão para uma
reforma em profundidade; um terceiro esquema, sôbre os instrumentos
de comunicação social, julgado talvez como não estando à altura de um
Concilio, porém devendo, mais propriamente, ser objeto dos debates de
um Congresso — repetimos, lá onde observadores superficiais chegam a
um balanço pobre desta Primeira Sessão, eu vejo, de preferência, um
sucesso do segundo Concílio do Vaticano.
O esquema sôbre a liturgia ainda não foi votado nas suas diferentes
partes, mas, no seu conjunto, recebeu acolhida entusiástica da parte dos
Padres. Isto prova claramente terem êstes plena consciência da impor­
tância comunitária do mistério eucarístico c do seu significado pastoral.
As reformas por nós aprovadas serão, ccrtamente, acolhidas com ale­
gria pelos fiéis, por isso que essas reformas tendem unicamente a pos­
sibilitar e a favorecer uma participação ativa e frutuosa dos fieis nas
cerimónias litúrgicas. ... .
Um dos acontecimentos mais importantes do segundo Concilio do
Vaticano foi, sem dúvida alguma, o encaminhamento, a uma Comissão,
do esquema sôbre as Fontes da Revelação. Não é mut.l repetirmos que
não queremos senão aquilo que o próprio Papa disse, isto é. um Con-
cilio que anuncie ao mundo as verdades eternas de que a nossa época
necessita, e ju e as proclame numa Hngua moderna, por todos com-
360 V. R epercussões

preensível; um Concilio no decurso do qual trabalham os na revisão das


nossas opiniões pessoais, embora salvaguardando o essencial da verdade;
um Concilio que deixe de lado tudo o que é de menor im portância, mes­
mo se sôbre isso muito se h aja até aqui insistido. D esta maneira é que
queremos colocar-nos a serviço da unidade com os irm ãos separados.
Nosso Santo Padre o Papa deve sentir-se feliz vendo-se compreen­
dido e totalm ente secundado, nas suas intenções mais caras, pelos B is­
pos do mundo inteiro.
Dever vosso, senhores jorn alistas, é apresentardes os debates conci­
liares, mesmo se parecerem fastidiosos ou supérfluos, na sua ju sta luz,
isto é, como preciosíssim os. Não deve isto escapar à vossa atenção.
Também não deve suceder que s e ja subestim ado o nôvo esquema
sõbre os meios de comunicação social. Podeis crer-me. Como até o pre­
sente o fiz, continuarei a pôr tudo em obra para que o Concilio assuma
uma posição construtiva, de vistas universais, em tôdas a s questões con­
cernentes à imprensa, ao rádio, ao cinema e à televisão.
Alguns poderão o bjetar-n os que o Concilio ainda não abordou os
problemas mais urgentes e m ais im portantes. Consideram êles isto como
imperdoável.
Um terceiro êxito dêste Concilio descubro-o num aspecto que cer­
tamente não escapou a observadores lúcidos como vós: o encontro dos
Bispos do mundo inteiro. O Concilio com pleta-se com reuniões não-ofi­
ciais onde palestram fraternalm ente os Bispos de todos os continentes.
Certamente também sabeis que êstes encontros têm conduzido a um re­
sultado que, de alguma sorte, é uma resposta à encíclica Mater ct Ma-
gistra. Foi pedida a criação, no seio do Concilio, de uma Com issão es­
pecial encarregada de estudar de maneira concreta os problem as que se
apresentam atualmente no mundo, notadamente as relações entre paises
industrializados e regiões subdesenvolvidas, o problema da paz mundial.
Tudo isto dá-nos razões suficientes para oferecerm os um sacrifício
de ação de graças a Deus Pai por Jesus Cristo seu Filho único, na uni­
dade do Espirito Santo. Agradecemos a Deus tudo o que êle até aqui
realizou no Concilio, confiando em que êle perm anecerá junto a nós até
o fim do Concilio.
Sim , é uma M issa de ação de graças que vamos celebrar, pelo de­
senrolar passado, atual e futuro do segundo Concilio do V aticano I E
vamos rezar pelo trabalho dos Padres Conciliares e im plorar a bênção
divina sôbre o Concilio.
N a Im prensa.

A IMPRENSA DE TODOS OS
Países dedicou sua atenção à abertura do Concílio Ecumênico,
frisando o alcance excepcional do acontecimento, o significado
não somente religioso da assembléia máxima da Igreja Católica,
a importância das decisões que o próprio Concílio poderá ado­
tar ante os problemas que o mundo moderno deve enfrentar.
O diário parisiense Le Monde, detendo-se a analisar as gran­
des tarefas de renovação que pesam sôbre os Padres do Con­
cilio, depois de salientar, através da presença de numerosos Bis­
pos daquela que é “a Igreja do silêncio", que a religião ridi­
cularizada por Stalin “está hoje, ao invés, bem viva", observa:
“Em vinte séculos a Igreja tem atravessado as piores tempesta­
des com a tranquila certeza de ter por si as promessas da eter­
nidade. Ela sobreviveu aos cismas, à Reforma, à Revolução fran­
cesa, ao positivismo. Por que haveria de tremer em face da nova
revolução m arxista?" Le Monde continua sublinhando as tarefas
comuns das igrejas cristãs face à “maré da incredulidade”. As
velhas divergências, escreve êle, a muitos parecem bem secun­
dárias em face da necessidade de reafirmar a fé comum e de
fazer compreender as razões desta fé. “E ’ isto que dá o seu
pêso ao movimento ecumênico, e que faz com que o Concílio
V aticano II seja seguido com tanta atenção, mesmo se sua con­
tribuição para a união das igrejas só fôr perceptível a longo
prazo. Por enquanto, trata-se de uma vasta revisão do ensino e
das praxes da Igreja. Mais fácil será, porém, o diálogo se ela
conseguir libertar-se das escórias acumuladas durante os séculos".
Por sua vez, o diário católico La Croix define como “um
acontecim ento importante” o envio dos observadores do patriar-
cado de Moscou e a declaração conciliatória da agência Tass.
“E ’ ainda muito cedo para tirar as conclusões dêste aconteci-
362 V. R epercussões

mento” , escreve ela. "A cham o-nos frente a uma mudança de ati­
tude cujas futuras conseqüências teremos que acom panhar” .
O acadêmico francês W aldim ir d’O rm esson, num com entá­
rio publicado em Le Figaro, lem bra as responsabilidades graves
e árduas, responsabilidades sagrad as, que pesarão nos om bros
dos Padres do Concílio. E screve êle: “ Êles vêm de tôdas as
partes do mundo c representam tôdas as raças. Nunca reunião de
semelhante amplitude se havia ainda verificado. A palavra “ca ­
tólico" assume ai todo o seu significado. M as, se os Padres do
Concílio arcam com as responsabilidades m aiores, os leigos do
povo católico neste momento também têm as suas. Enquanto os
2 .7 0 0 Bispos reunidos cm Roma realizarem essa espécie de "e x a ­
me de consciência” da Ig reja , cada um dc nós, no seu lugar, no
seu ambiente, deverá promover um esforço pessoal e cumprir pre­
cisos deveres de cristão".
A juízo do Combat, a maior preocupação dos P adres conci­
liares deveria ser representada pela adaptação da vida religiosa
à vida civil, pela posição mais oportuna a assum ir cm face dos
regimes em via de transform ação, pela fixação das diretrizes cris­
tãs no movimento das idéias. “Tudo — observa C om bat — até
mesmo a evasão do homem para o espaço, suscita problemas
que vão bastante além do processo intentado contra G alileu. A
Ig reja tem os seus cientistas. A Ig reja tem os seus revolucionários.
A Ig reja permanece atormentada por uma grande sede m issio­
nária". Concluindo, escreve o jo rn a l: “ O C oncílio não trará uma
resposta a todos os nossos problemas espirituais. Êle pode pre­
parar uma conjunção de impulsos para uma ética superior, hu­
mana e fraterna. E sta é a prece das ig rejas de tôdas as confis­
sões. A mais antiga das "internacionais” tem deveres de priori­
dade que, a partir de hoje, se afirm arão sob uma luz romana
que pretende sempre ser universal” .
O vespertino Paris Presse detém-se sobretudo a analisar o
discurso do Pontífice. Escreve êle: “O C oncílio abriu-se com
uma surpresa. Esperava-se uma alocução de boas-vindas, tradi­
cional, mas, em vez disso, João X X III fêz questão de pronunciar
um discurso verdadeiramente histórico, atacando sem m eias-m e-
didas certas tendências e doutrinas "superadas” que recusam à
Ig reja o direito de esposar completamente o seu século. Sem dú­
vida, conheciam -se os sentimentos profundos do Pontífice, o seu
“liberalism o” , a sua extraordinária tenacidade. Porém hoje êle
os afirmou com singular determ inação. Não há dúvida dc que o
seu discurso irá direito ao coração do mundo católico”. A pro-
Na Imprensa ^

n ím M n rf paSSagem do discurso ein W se alude aos “príncipes


1 qUC Se. ocuPam da igreja em função da p o liliS d l s
interesseira e p e r i g o s a Paris Presse afirma: “Nestas palavras
[™de'J“ VC.r uma ce.rta condenação do neo-ultramontanismo e de
um setor do catolicismo espanhol”.

, n l0rnai S inglêses dedicaram amplo espaço


a abertura do Concilio. O Times escreve que “o convite dirigido
às outras igrejas para que enviassem delegados, mesmo apenas
como observadores, reforçou junto a alguns protestantes a espe­
rança de uma reconciliação, para atingir a qual cada um faria
concessões”. Prossegue o diário: "Não há a mínima dúvida en­
tremos católicos romanos sôbre o fato de que uma mais estreita
união entre as igrejas significa uma mais estreita adesão da
parte de outras igrejas ou homens de igrejas aos ensinamentos
cie R om a. . . O que se espera dessa assembléia — conclui o
Times — não é a proclamação de uni nôvo dogma, mas, antes
de tudo, que o ensino cristão seja esclarecido, para ajudar o ho­
mem comum a enfrentar as preocupações cotidianas na família
e no trabalho, e os grandes problemas do nosso tempo: guerra
e paz, ameaça de destruição nuclear, oferecimentos de coexistên­
cia, ajuda aos países subdesenvolvidos”.
Por seu lado, o Daily Telegraph comenta: “O Concílio Va­
ticano II não poderá chegar a transigências que permitam a união
orgânica com outras confissões, ortodoxa ou protestante, que
não reconheçam a autoridade do Papa. Sem embargo, todos os
cristãos podem alegrar-se com o fato de o Concílio reunir-se
numa atmosfera de cordialidade e num espírito de cooperação,
quais nunca mais se haviam manifestado, desde o tempo da Re­
forma, entre os que pertencem à Igreja Romana c os que a ela
não pertencem. A maior parte do mérito desta aproximação dos
ramos da cristandade cabe àquele que convocou o Concílio, o
Papa João XX11I. No decorrer dos quatro anos do seu pontifi­
cado, o calor da sua personalidade despertou a boa vontade dos
chefes religiosos muito afastados da sua grei, e entre êstes o
Arcebispo de Canterbury".
O diário liberal Guardian, após frisar os elementos que dis­
tinguem o atual Concílio do de 1870, afirma que a menção da
guerra nuclear na ordem do dia dos trabalhos “é o símbolo da
“atualização”, renovação interna e adaptação, que foi o objetivo
essencial do Papa na convocação da Assembléia ecumênica. Po­
rém o que mormente feriu a imaginação do público foj a insis­
tência particular sôbre a unidade de todo o povo cristão .
364 V. R epercussões

Por sua vez, o Daily Mirror, depois de exprim ir a esperança


de sc poder chegar a uma união mais estreita entre a Ig reja de
Roma e as Ig rejas que nasceram de B izâncio, afirm a que “di­
ficilmente o Concílio ignorará um século de desenvolvimento da
ciência, particularm ente as novas pesquisas esp aciais; e também
não ignorará as condições sociais e políticas que estão mudando
na terra, nem o crescer do nacionalism o não só em política como
também no uso das línguas”.
Tôd a a imprensa da Alemanha O cidental deu amplo relevo
ao início do Concílio, e numerosos jorn ais dedicaram seus edi­
toriais ao acontecim ento. A Frankfurter Allgemeine Zeitung afir­
ma que o Concílio não interessa só aos católicos, senão a todo
o mundo cristão, ao qual não pode ser indiferente a orientação
da solução que a Ig reja de Rom a se apresta a dar aos proble­
mas com que se defronta, e o jornal espera que um passo avante
seja dado rumo à unidade dos cristãos. T od os os que pretendem
defender a dignidade humana contra a desumanidade erigida em
sistem a alm ejam que o C oncílio consinta à Ig reja cumprir de
modo ainda melhor a s suas incumbências, porque a Ig reja e a
liberdade estão hoje aliadas.
O diário de Hamburgo Die Welt lem bra a “ Ig reja do Silên­
cio”, e frisa a ausência, nos trabalhos do Concilio, dos Cardeais
de Budapest e de Prag a, para focalizar os grandes problemas
que a Assem bléia deverá enfrentar. Em particular, o difundido
jornal observa que “o problema da autonom ia dos B isp o s e da
liberdade das Ig reja s regionais está destinado a ter pêso notá­
vel. A via da reunificação na fé, conclui o jornal, é assinalada
pela vontade de enfrentar, no seio da Ig reja C atólica, a neces­
sária “ reform atio" em vista de uma intensificação da vida
religiosa” .
A Sueddeutsche Zeitung, de M ônaco, salienta que desta vez
a Ig reja conseguiu cercar de segrêdo os preparativos do Con­
cílio, que, como declarou João X X III, será dedicado à renova­
ção e ã adaptação da disciplina eclesiástica às exigências do
nosso tempo. E ’ de esperar que o segundo “V aticanum " enfrente,
mais do que os problemas teológicos, questões litúrgicas, como
o emprego da língua local no serviço divino, as questões da
cura de alm as no mundo moderno e nos países subdesenvolvi­
dos, as questões morais e matrimoniais, e várias reform as menores.
De Bonn, é de assinalar um com entário do serviço de im­
prensa do partido dem ocrata-cristão, segundo o qual o C oncí­
lio congrega as atenções do mundo inteiro, cristão e não-cristão.
Na Imprcnss
365

Os cristãos, em particular, ardentemente esperam que o Con­


cilio reforce os laços entre os fiéis e lhes apresse a reaproxima-
^ ' P. a [a e.ste m0tlV° d° Concílio 0 P°vo alemão olha com aten-
çao parhcuiar e com confiança. O refôrço dos valores espirituais
éticos, morais e religiosos, e dos seus expoentes, assumiria gran­
de significação em face da ofensiva do comunismo ateu. "Além
disto — conclui o comentário — o Concilio pode dar uma con­
tribuição preciosíssim a à compreensão internacional e à co­
existência pacífica da humanidade”.
Por seu lado, o diário conservador austríaco Neue Tages-
zeitung exprime a esperança de que o Concilio Ecumênico con­
duza à união do cristianismo, e observa: "O mundo segue-o
atentamente, junto com os católicos e com os membros das ou­
tras confissões cristãs e ortodoxas, e aguarda as decisões de
Roma. As portas entre os cristãos divididos foram abertas de­
mais para serem novamente fechadas”.
A imprensa norte-americana dá ao acontecimento um ex­
cepcional relêvo: as fotografias do Pontífice, dos Cardeais ame­
ricanos c da Basilica de S. Pedro constelam os vários diários,
que comentam a abertura do Concílio com palavras de esperança
para a possível união de todos os cristãos. O New York Times
dedica duas páginas inteiras ao Concílio, compostas de qua­
tro diferentes crônicas dos acontecimentos romanos, de um ar­
tigo de oito colunas dedicado aos antecedentes históricos, de
uma exposição da estrutura orgânica da Cúria Romana, e de
um perfil do Cardeal Agostinho Bea, presidente do Secretariado
para a União dos Cristãos. As crônicas sublinham “a pompa e
o esplendor totalmente condizente com tão grande ocasião”, e
detêm-se sôbre os objetivos e o alcance dos trabalhos, sôbre as
particularidades organizadoras, sôbre a descrição do vivo espe­
táculo oferecido pela reunião dos altíssimos dignitários. Em par­
ticular, comenta o jornal: “Talvez os resultados do Concilio não
venham a scr completamente compreendidos pela nossa geração.
Claro é, todavia, que, se todos os ramos da cristandade puderem
chegar a esquecer os antigos ódios e a substituí-los pelas anti­
gas verdades, certamente poderá ser realizado o milagre de uma
cristandade unida”.
Análogo relêvo é dado por outros jornais americanos, como
o New York Herald Tribune, que traz o título “Hoje em Roma:
solenidade de ritos e uma tarefa gigantesca”, e o Baltimore Sun,
que se detém sôbre as manifestações de entusiasmo da popula­
ção romana e de tôda a Itália.
366 V. Repercussões

0 New York Mirror escreve: "O Pap a Jo ão demonstrou


ser um reform ador de larguíssim as vistas, um dos chefes reli­
giosos mais ativos. A luta que êle sustenta contra o m aterialism o
e o secularismo não se lim ita às palavras, mas im plica a ação,
como é testemunhado pelo im enso esfôrço que êle promove para
conseguir unir todos aquêles que têm o nome de cristãos, para
a realização dos ideais da cristandade”.
Tam bém da parte soviética o C oncilio c seguido com ex ­
trema atenção. O correspondente romano da agência Tass,
Krassikov, numa longa nota, observa, entre outras coisas, que
o Concílio “indubitàvelm ente não poderá deixar de ter presentes
as questões relativas à hodierna situação internacional. Ju sta ­
mente esta parte dos trabalhos do Concílio é que desperta a má­
xima atenção entre os numerosos observadores políticos vindos
a Roma para a ocasião. Tod os sabem que o P ap a Jo ão X X III
repetidas vêzes se exprim iu em favor da paz, contra a corrida
aos armamentos atôm icos, e em favor da solução negociada das
pendências internacionais. C ongratulando-se com o C hefe da
Ig reja Católica por ocasião do seu octogésim o aniversário, o pre­
sidente do Conselho de M inistros da U R S S , N ikita Kruchev, de­
sejou-lhe boa saúde e pleno êxito no seu nobre d esejo de con­
tribuir para a salvaguarda da paz mundial e para a solução dos
problemas internacionais mediante francas neg ociações” . Krassikov
lamenta, todavia, que “certos estad istas católicos, dirigentes má­
ximos de países como os E stad o s Unidos, a Fran ça c a Alem a­
nha Ocidental, muitas vêzes estejam bem longe de arrim ar-se,
nas suas atividades práticas, ao conselho do P o n tífice”, e pros­
segue perguntando-se qual será a atitude do Concílio frente aos
problemas internacionais. “ Será — conclui o correspondente da
agência Tass — que as boas intenções serão seguidas de pas­
sos concretos para favorecer a instauração de uma recíproca
compreensão em todo o mundo, para eliminar a "gu erra fria ” c
para realizar o sonho secular da humanidade: o desarmam ento
geral, a paz, a convivência e a fraternidade? A resposta a estas
perguntas será, indubitàvelm ente, o resultado mais importante
do Concilio Ecum ênico".
N ossa imprensa brasileira não ficou atrás. Já antes da ab er­
tura, nossos jornais preparavam o ambiente para a solenidade,
dando conta dos preparativos, especulando em tôrno da possi­
bilidade da participação dos não-católicos. De todos os jornais
do B rasil foi O Estado de S ão Paulo que mais se destacou em
dar notícias e tecer com entários, principalmente através de seu
Na Imprensa
367

do Vaticano se realiza no momento histórico em que a Igreja


de Roma, representando a fôrça espiritual, universal e s u n T

potê'„Sciâ, e a n E ’dõ d° T d° ’ Cheg0U a0 P0n,°


i^ n í / d E ° grande momento histórico em que a
Ig reja de_ Roma, atualizando-se e adaptando-se, quanto à sua
r â n e a T Í/ v -H ^ T ét? d° S de Sua ação- às cond‘Ções contempo­
râneas da vida, poderá liderar a grande renovação espiritual da
Humanidade”. Depois: "H á motivos para acreditar que êste Con­
cílio sc transformará em ponto de partida para a grande re­
conciliação entre as diversas famílias cristãs". Conclui o edito­
ria l: Esperamos que o II Concilio do Vaticano seja celebrado
sob a égide das grandes idéias do humanismo cristão, pois a
salvação religiosa do Homem, missão principal da Igreja, per­
manece condicionada à sua realização pròpriamente humana, à
sua redenção da escravidão da ignorância, da miséria, da semi-
cultura, da pseudocultura, das idéias malsãs e das heresias po­
líticas totalitárias, tanto nacional-pagãs, como internacional-
atéias, com as quais, segundo o ensinamento eterno da Igreja,
não pode haver conciliação, nem duradoura, nem transitória, co­
mo não pode haver compromisso entre Cristo e o Belial”.
O Jornal do Brasil, do Rio, vê no Concílio sobretudo um
“exemplo de unidade na mesma fé de povos das mais diferentes
civilizações e das mais diversas origens". E continua: “Acima de
sistemas políticos, de estilos de vida e de trabalho, dentro de
processos sociais e econômicos os mais dispares, vem a Igreja
comprovar a fôrça secular de uma união que tem a paz por
princípio e o amor ao seu semelhante por finalidade. Não have­
ria momento mais oportuno, nem mais necessário, para que a
Ig reja desse essa demonstração de sabedoria e de concórdia”.
O Correio da Manhã, no Rio, sente dificuldades em escrever
sôbre o Concílio "em estilo de jornal": "Qualquer palavra, qual­
quer têrmo tirado do vocabulário comum poderia parecer menos
reverente". Depois: “Num mundo que do Oriente até o Ociden­
te se deixa dominar pelos valores materiais, o mero fato de se
reunir o Concílio Ecumênico afirma a existência e a superiori­
dade dos valores e sp iritu a is... Este Concílio Ecumênico esta
reunido para proclamar c ensjnar ao mundo o Reino da Paz, o
Reino da Justiça e o Reino do Amor”.
36« V. R epercussões

Ainda no Rio, o Diário de N oticias vê no V aticano II o "C o n ­


cílio da esperança”. M as “para os católicos é especialm ente mo­
tivo de júbilo a dem onstração de profunda vitalidade da Igreja,
de autoridade espiritual do Sumo Pon tífice e, notadam ente, da
decisão de atualizar-se, como tem feito no decorrer de dois mi­
lênios, e tanto necessita fazê-lo agora em face das condições
do mundo conhecido e das perspectivas de descoberta de mun­
dos desconhecidos, nesta era do espaço sideral”.
O Globo, do Rio, lem bra que a missão da Ig reja é levar a
humanidade a Cristo e, por isso, “ in teressam -lhe todos os pro­
blem as de nosso tempo, tôdas as questões que afetam a socie­
dade, tudo aquilo que provoca ou pode provocar a ruptura en­
tre os homens e a F é ”. P or isso, continua o jornal carioca, “o
Concílio não poderia deixar de im pressionar vivamente a tôdas
as coletividades, mesmo as não -católicas, que sabem que de
uma reunião de tal natureza sai enriquecida a humanidade in­
teira”. E conclui: “O B rasil, que é o p aís de maior população
católica do mundo, vive particularm ente o entusiasm o destes dias
de vibração espiritual e acom panha a Rom a a delegação de mais
de uma centena de Prelad os” .
Para O Diário, de B elo Horizonte, o C oncílio é "o niaior
acontecim ento religioso do século X X , um dos fatos mais sign i­
ficativos dêste século portentoso” , que "m arcará o coroamento
de uma era de renovação espiritual, que abrange todos os se­
tores". Adverte, porém, que “ não devemos esperar decisões mui­
to espantosas, nem sen sacionais”. E ste Concílio “não virá faci­
litar a vid a: facilitará a aproxim ação com Deus. Não revogará
pontos de doutrina que nos afastam dos irmãos dissidentes, ou,
melhor, que até agora os mantém afastados de nós; adotará,
entretanto, práticas de caráter secundário, com a intenção de
criar clima favorável ao retôrno de tantos filhos pródigos, que,
d esejosos de regressar ao lar, não sabem qual a acolhida que
lhes fará o P a i”.
Dom Jorge M. de O liveira
Dom José domes

Os monges protestantes
de T ai zé
Dont José IC. Correa
Dom W ilson L. Schmidt
■Vo fund o: Jesse M. Under. Itr. Edm und Sch'.ink. lam es II. X irh o ls

K a re kin Sarkissian. H eile M . Teshome. '/.nkka H. lira s . T a il m s M ik h a il


Entre 08 Observadores e Hóspedes não-Católlcos.

No DIA 23 DE NOVEMBRO
de 1962, a convite da direção do Serviço de Imprensa do Con­
cílio, o Rev. Prof. Dr. Oscar C u l l m a n n , Professor de Histó­
ria Antiga da Igreja e do Nôvo Testamento em Basiléia ( n a '
Su íça) e na Sorbona (de P aris), falou aos jornalistas, em nome
dos outros Observadores e Hóspedes não-católicos, sflbre as im­
pressões e esperanças que o Concilio Vaticano II nêles causou.
Reproduzimos aqui a versão portuguesa divulgada pelo próprio
Serviço de Imprensa do Concilio:

1) Observadores e publicidade. — Recentemente o Cardeal Bea de­


clarou aos jornalistas que os Observadores dão impressão de estarem
verdadeiramente satisfeitos. Esta impressão é de fato exata. E ao dizê-
lo pensamos no tato, na confiança e disponibilidade com que somos
tratados pelo Secretariado para a União, pelo próprio Cardeal Bea, por
Mons. Willebrand c por todos os seus colaboradores. Todos êles fazem
o possível para que possamos seguir todos os trabalhos do Concilio,
exprimir nossas opiniões, entrar em contacto com os Padres Conciliares
c com diversas personalidades de Roma. Oferecem-nos até a possibili­
dade de visitar, em condições ideais, nos tempos livres, os lugares his­
tóricos de Roma e dos arredores, as escavações de São Pedro, a Bi­
blioteca do Vaticano, Subiaco e Grottaferrata. Por tudo isto somos pro­
fundamente gratos ao Secretariado para a União cuja atividade nos
mostra cada dia quanto a sua existência serve à causa da aproximação.
Se os jornalistas falaram há pouco tempo de um certo mal-estar
entre os Observadores, não é absolufamente — como foi interpretado
— porque estamos descontentes com o Secretariado, mas sim por causa
do modo simplista com que os jornais referiram as nossas impressões,
principalmente tratando-se de Observadores, ligados pelo dever da
discrição.
Muitos não compreendem esta reserva. Mais de uma vez ouvi cri­
ticas ao nosso comportamento, demasiadamente discreto, diziam, tanto
mais que muitas coisas por nós caladas foram divulgadas sem hesita­
ção por outras vias. Todavia, a obrigação que temos de sermos reser­
vados c de fato maior do que a dos outros membros do Concilio. Como
Observadores, somos convidados. 0 que diríamos, no plano da vida

Concilio II — M
370 V. Repercussões

privada, se um convidado nosso se pusesse a contar os nossos segredos


familiares de que fôra testem unha? Nossa situação, além disso, náo é
totalm ente idêntica à de um sim ples convidado. Fom os convidados na
qualidade de Observadores. Portanto, aquêles que nos convidaram nos
animam, por assim dizer, a observar os segredos. Isto náo quer dizer
que deveremos revelar êstes segredos quando o Concilio não os con­
siderar m ais como segredos, isto é, quando seus trabalhos forem en­
cerrados. Podemos, contudo, m anifestar nossas im pressões, e sob êste
aspecto, vós, com o jorn alistas, tendes não só o direito de conhecê-las,
mas podeis até levar a efeito uma obra muito útil para a causa do
ecumenismo. Vós me perdoareis, porém, se neste assunto formulo votos
que certamente são também dos outros Observadores. £ ’ claro que náo
pretendo dar-vos instruções. M as vos serem os g rato s se não sim plifi­
cardes nossas d eclarações e se tiverdes em conta a complexidade delas.
As sim plificações são d esastrosas em todos os campos, principal­
mente em tudo aquilo que se refere à Igreja e à Teo lo gia. Quando um
de nós se m ostra reservado sôbre certa s coisas, agradecer-vos-em os se
não disserdes que reina uma "ten são ” ou mesmo um “conflito” entre os
Observadores. Quando dizemos que estam os muito contentes, não deveis
dizer que estam os entusiasm ados. O fato de sentirm o-nos contentes, em­
bora conservando o nosso modo de julg ar a s coisas, tem mais valor,
sob o ponto de vista do ecumenismo, do que uma atitude de entusiasm o.
Ser-vos-em os gratos também se usardes da influência que tendes para
que os vossos jorn ais moderem o sensacionalism o dos títulos quando
não há nada de sensacional. Seria ainda im portante não m odificar o
tom das nossas declarações, não dar a uma afirm ação m arginal uma
im portância que ela não tem, nem deixar de lado o que para nós é
essencial, com o único fim de dizer aos leitores somente aquilo que
êles querem ouvir. Sei muito bem que em questões teológicas a capa­
cidade de compreensão do leitor médio é limitada. E ’ necessário de­
senvolvê-la. Aliás muitos de vós já o tendes conseguido, escrevendo
sôbre êste Concilio.
Após estas observações preliminares, exprimirei com muita fran­
queza as minhas im pressões gerais. Segundo o meu parecer, tanto para
nós Observadores como para aquêles que nos convidaram, a prim eira
condição de um diálogo proveitoso é uma grande franqueza m ostrada
por am bas as partes. Sob o ponto de vista ecumênico, o método de
calar o que nos separa realm ente é errado. Devo dizer que em todos
os diálogos com os nossos irmãos católicos a franqueza reciproca sem­
pre contribuiu para a causa da união. Uma condição, porém, deve ser
garantida: não perder de vista o objetivo da união.
2) Diversidade c Unidade dos Observadores. — D esejo precisar que,
embora tenha em vista transmitir, na medida do possível, a s im pressões
de todos os Observadores, eu falo em meu nome próprio. Por outro lado,
nenhum dos Observadores poderia falar em nome de todos os outros,
pois somos de diversas confissões. Posso, porém, dizer que todos, sem
exceção, reconhecemos unãnimemcnte, com gratidão, o acolhim ento com
que somos recebidos no Concilio. No entanto, há entre nós, como é óbvio,
grandes diferenças. Como representamos Igreja s diversas, é natural que
nossas reações, com respeito ao que vemos e ouvimos, não são idênticas
em todos, quer sob o ponto de vista litúrgico, quer sob o aspecto teo-
fo fo era lia ^ d a já 0 ,ercis ° b* ™ ad° °<hando as
feiramente homogêneo' 3 1" ° ’ nã° rePrescn,amos S^upo in-

,,n iH ^ ntUd0V ape8,lr í eSta diversidade. nossas Igrejas encontram certa


unidade no Conselho Ecumênico de Genebra. Êste Conselho Ecumênico
e uma grande e promissora realidade, cuja importância o Concilio Vati­
cano deve reconhecer. O Conselho Ecumênico de Genebra abriu o ca-
minho para o ecumenismo. A presença dos Observadores neste Concilio
[oi facilitada grandemente pelo fato de que a unidade na diversidade
já cxiste_ entre as Igrejas separadas de Roma; e o diálogo com os nos­
sos irmãos católicos que êste Concilio deve incrementar, foi já ini­
ciado em Genebra. O que nos une a nós, Observadores, nào é somente
o fato negativo da nossa separação de Roma. O que mais importa é
o elemento positivo da nossa fé comum em Jesus Cristo. Esta fé co­
mum constitui também a garantia dos efeitos positivos que, juntamente
com os nossos irmãos católicos, esperamos da nossa presença a Roma.
Alguns Observadores se sentem mais perto do catolicismo do que ou­
tros. Mas isto não deve ser considerado um elemento negativo. De­
monstra apenas que entre os Observadores e os nossos irmãos católicos
não há absolutamente nenhuma barreira intransponível.
Contudo não se pode concluir dêste fato que a união com a Igreja
Católica Romana se possa realizar do mesmo modo com que se unem
as Igrejas que pertencem ao Conselho Ecumênico de Genebra. Pelo con­
trário, é preciso ter cm conta que a imensa dificuldade experimentada
pelas nossas Igrejas no que diz respeito à união com a de Roma não
provém dêste ou daquele dogma, nem das divergências litúrgicas. Provém
do modo com que a Igreja Católica concebe a união, que é diverso do
modo com que as Igrejas separadas a concebem. Eis porque esperamos
com grande intcrèsse a discussão do projeto conciliar sôbre a Unidade
da Igreja.
Uma última palavra sôbre a nossa posição de Observadores. Referi-
me à missão que devemos realizar no Concilio. Devo apresentar um
outro aspecto da questão. Nós devemos representar nossas respectivas
Igrejas. Com as exceções que conheceis, tôdas as Igrejas não-romanas
estão representadas no Concilio. Somos um pequeno grupo, se pensamos
no grande número de cristãos que representamos. E’ grande, pois, nossa
responsabilidade. Esta seria demasiadamente grande se nos identificásse­
mos pura e simplesmente com as Igrejas e com as teologias em cujo
nome observamos os trabalhos conciliares. Por outro lado, esperamos vi­
vamente que depois do Concilio tomarão parte, em condições ainda mais
favoráveis, no diálogo com os nossos irmãos católicos, muitos outros ir­
mãos ortodoxos e protestantes que não estão presentes aqui.
3) Possibilidades c limiles do ecumenismo, à luz das nossas expe­
riências provisórias de Observadores. - Quero insistir sôbre a palavra
“provisórias”, uma vez que o Concilio nao terminou. As discussões tao
importantes sôbre a fgreja e sôbre a Unidade ainda nao começaram. Es­
peremos pacte^^ o fim do Concilio. Não obstante, gostaria hoje
de dizer uma palavra provisória. Se começo por dizer que vos deveis
precaver contra as ilusões, isto não significa que eu seja demas.ada-
mente pessimista com respeito aos resultados do Concilio. Nao quereria
que sePesperasse do Concilio mais do que o propno Concilio tem em
372 V. Repercussões

vista. E ’ supérfluo observar que vós, jorn alistas, e o s vossos leitores


assíduos, sabem muito bem que êste Concilio, em bora tenha preocupa­
ções ecumênicas no que se refere ao seu objetivo último, não é todavia
um Concilio de União como o foram outros, segundo atesta a H istória.
M as os leigos que seguem os trabalh os do Concílio muito de longe,
muitas vêzes tiram conclusões erradas do fato de nossa presença aqui.
Não viemos para discutir oficialm ente durante as sessões com os P a ­
dres Conciliares sôbre a união d as nossas Igrejas. Tenho recebido ca rta s
de católicos e protestantes em que se diz: "E sp ero que vós (O bserva­
dores) combinareis com os católicos frutuosos planos de união”. Creio
que deveis de quando em vez relem brar aos vossos leitores que tal modo
de pensar não é exato, para que a desilusão não seja grande, quando,
terminado o Concílio, se constatar que n ossas Ig reja s continuam sepa­
radas. Esta observação me parece bastante im portante uma vez que a
atm osfera de confiança, diria mesmo, de amizade, que reina entre O b­
servadores e outros Membros do Concílio, poderá contribuir para favo­
recer êste mal-entendido, principalmcnte quando se fala com m uitos su­
perlativos do nosso entusiasmo. Reina contudo uma grande esperança:
a da renovação da Igreja Católica, meta do Concilio, mesmo que o seu
êxito seja incerto. Alguns projetos já foram discutidos durante a s se­
m anas passadas. Não revelo um segrêdo ao dizer-vos que constatam os
com alegria que a preocupação ecumênica não está ausente dêsses debates.
M as também neste ponto há perigo de ilusões. E ’ verdade que nós
esperam os ardentemente a realização desta renovação. Se esta se veri­
ficar, será facilitado o diálogo entre católicos e n ão-católicos, diálogo
que deve continuar depois do Concílio. M as não se deve esquecer que
esta renovação será efetuada segundo o modo de pensar católico. Nós
não podemos recrim inar os nossos irm ãos católicos por isto. Não seria
mais ecumenismo exigir que os católicos se tornassem protestantes ou
ortodoxos. Não obstante, é preciso olhar com coragem a realidade. M es­
mo se os projetos de renovação forem aceitos, permanecerá uma grande
diferença entre nós e os católicos, entre nós e o catolicismo renovado
por êste Concilio. De resto, aqueles que desejam esta renovação o sabem
muito bem. E is porque o diálogo deve continuar, embora em condições
muito melhores, com o catolicismo renovado. O verdadeiro problema
ecumênico entre católicos e não-católicos a meu ver é o seguinte: Nos
colóquios tão frutuosos que mantivemos nestes dias com os nossos ir­
mãos católicos, noto que o catolicismo, tão rico de aspectos diversos, c
nêles m ais diferenciado que o nosso cristianism o protestante, pode to r­
nar-se m ais claro no que se refere à maior parte das verdades positivas
que admitimos e pregamos tendo como base a Bíblia. E sta concordân­
cia sem dúvida nos alegra. Contudo, não podemos esconder a grande di­
ficuldade que ela deixa in tacta: o que nos separa, além da concepção
sôbre a unidade de que já falamos, não são os elementos positivos da
nossa fé, mas precisamente aquilo que é, segundo o nosso modo de pen­
sar, demasiado no catolicismo e vice-versa aquilo que, para os católi­
cos, nos falta a nós.
Creio que o diálogo fará progressos quando os nossos irm ãos cató­
licos não considerarem de modo puramente negativo êste elemento que
n os falta, isto é, quando não o tiverem como um "d éficit”, como uma
redução arbitrária, mas como uma concentração inspirada pelo Espírito
E ntre os não-católicos 373

era C rS to .tUd0 aqUM° qUe n° S pareCe Ser 0 único centro da nossa fé

r o n n S s 130? . “6 .Vemos COm alegria n0 Concilio tôdas as propostas de


Por ouÇtm ! HUrg,Cf •* teo,6glca W visam uma redução dêste gênero.
outro lado entristecem-nos tôdas as exagerações no sentido contrário.
A este respeito devo acrescentar uma palavra sôbre a orientação
as nossas Igrejas Protestantes. Neste momento assistimos como Ob-
seryadores a um Concílio católico. E' pois razoável que nós insistamos
nesta renovação do catolicismo, por nós tão esperada. Mas quando vol­
tarmos aos nossos países, quando falarmos aos membros das nossas
Igrejas sôbre esta renovação esperada, devemos precaver-nos de suscitar
nos nossos correligionários protestantes e ortodoxos uma espécie de fa-
risaísmo, como se as nossas Igrejas não tivessem também necessidade
de renovar-se constantemente por meio do Espírito Santo e à tuz da
Bíblia. E já que mencionamos êste problema, deveremos também per-
guntar-nos a nós mesmos se sôbre certos pontos cm vez de uma con­
centração não houve talvez nas nossas Igrejas uma redução no que
diz respeito à Bíblia e se as nossas IgTejas não suprimiram alguns ele­
mentos bíblicos. Agora, porém, não tenho tempo para analisar êstes
pontos.
4) Realizações ecumênicas que desde já podemos constatar no Con­
cilio. — Serei breve, pois o essencial já foi dito:
a) Antes de tudo direi que a existência do Secretariado para a
União dos Cristãos é uma dessas realizações. Se êle continuar a traba­
lhar com êste sincero espirito ecumênico de respeito pelas outras Igre­
jas, espirito que tem caracterizado todos os seus atos e suas atitudes,
poderemos considerar sua existência como sumamente importante mesmo
para o futuro do ecumenismo.
b) A nossa presença aqui. Subscrevo inteiramente tudo o que o
Cardeal Bea disse a êste respeito, i E ’ de fato um milagre. Quando cada
manhã ocupamos os nossos lugares, que são como lugares de honra,
defronte dos Cardeais, quando o Secretário do Concilio, cada manhã
após a Missa, pronuncia o "exeant omnes" e nós permanecemos, gran-
de admiração se apodera de mim pelo modo com que nos vemos in­
tegrados neste Concílio. Fazendo minha a palavra "milagre” empregada
pelo Cardeal Bea, penso principalmente em tudo aquilo que os Concí­
lios do passado significaram para os cristãos não-católicos. Não sei se
os leigos avaliam em tôda a sua extensão o que a nossa presença aqui
significa sob êste ponto de vista.
c) Eu disse apenas que é preciso não tirar conclusões ® "ada* d“ ‘a
atm osfera de confiança recíproca que reina entre católicos e Ob«:rva-
dores neste Concílio. Mas, tendo êste fato em conta, desejo frisar a im-
ÍorSncTa desta confiança que, com respeito a nós, se traduz no fato
P » fomne iniciados em todos os segredos, que aprendemos a conhecer
c,uc |°. de nensamento do catolicismo. Resta-nos só esperar
S e ,á.r£ r S » ;.P por — » -
leigos das nossas Igrejas.
----- TTTTÍrdcal Bea, ln«erroKado sêbre sua Impresslo. I.avla exclamado *£• um
milagre,ò um vtrdadelto milagre .
374 V. Repercussões

d) A nossa participação intima nos debates dêste Concilio constitui,


segundo penso, a realização de um elemento importante de ecumenismo.
Exteriormente nós somos Observadores passivos. M as, por dentro, vi­
vemos com os nossos irm ãos católicos todos êstes debates. Tom am os
posição pró ou contra durante a s sessões, com a mesma atenção dêles,
e é exatamente isto que nos tem aproxim ado tanto dêles nestas últimas
semanas. Não me resta senão confirm ar tudo o que disse até agora ao
falar do modo com que observam os o Concilio.
5 ) A nossa preparação para o papel de O bservadores do Concilio. —
A nossa preparação efetua-se cm comunhão, como o sabeis, com a maior
parte das nossas Igrejas, por meio da oração, conscientes como estam os
de que, através dêste laço invisível, estam os unidos com os nossos ir­
m ãos católicos. Reunimo-nos duas vêzes por sem ana, dc manhã, na Igre­
ja Metodista de Roma, para um breve culto.
Por outro lado, cada um de nós se prepara individualmente estu­
dando os projetos (também para nós êste térmo assumiu com êste Con­
cilio um significado totalm ente nóvo) que nos foram distribuídos; re­
gistrando as próprias observações a respeito dêles; com parando-os com
a Bíblia, com os textos dos Pad res da Igreja e com a s decisões dos
Concílios precedentes. As nossas reações pessoais neste campo são mui­
to diversas: a um, tal projeto agrada, a outro, n ão; enquanto há quem
se alegra com tal coisa, há também quem prove desilusão.
6) A participação nas sessões. — O Secretariado pôs gentilm ente à
nossa disposição uma equipe de intérpretes que com incansável abne­
gação traduzem em francês, alemão, inglês e russo o que se diz em
latim na Aula Conciliar. De fato, há uma diferença entre ler latim (o
que para a maioria dc nós não apresenta dificuldade) e ouvir falar em
latim, principalmente por causa das pronúncias tão diferentes. E ’ pre­
ciso que o nosso ouvido se habitue. P o r isso, reunim o-nos segundo as
línguas na tribuna reservada para nós. Tenho o prazer de ter ao meu
lado como intérprete um Padre beneditino que foi meu aluno anos atrás,
na Sorbona. Hoje os papéis se inverteram: êlc de certo modo é o meu
professor de latim falado. Posso dizer que os nossos in terpretes consta­
tam já algum progresso da nossa parte, pois temos agora menos ne­
cessidade de recorrer a êles. Tem os ainda dificuldade em entender os
discursos de alguns Padres Conciliares, cuja pronúncia deixa transparecer
demasiadamente a própria língua vernácula.
O s jorn ais falaram muitas vêzes c com razão que nós nos admira­
mos muito da liberdade com que os Padres Conciliares exprimem suas
opiniões. Quero observar a êste respeito que nós constatam os objetiv a­
mente a importância dêste fato, como exige o nosso papel de O bserva­
dores, mas, por outro lado, não deixamos de tomar posição pró ou
contra, como o fazem os outros membros da Assembléia. Sem esta ati­
tude não veríamos bem o sentido de que se revestem as questões de­
batidas, sob o ponto de vista da fé.

7) Discussões no Secretariado para a União. — O Secretariado or­


ganiza tôdas as terças-feiras, à tarde, discussões em que tomam parte
os Membros do mesmo Secretariado, entre os quais vários Bispos e
Teólogos de renome, e os Observadores. Nestas discussões temos a opor-
Entre os não-católicos
375

if r n’""b"Ss * 1” »*».
Wncia tm teria s Jaeslõcs. Moas w S k S L S " ' " í " « 1” P">» compra
quando prepara estas discussões \ ahJL b d sempre eva em con,a-

cm comumcoSmuSmdÍSsao
USSrH:S ? “ C° mCÇam
muito ^fecundas embora3 ' muitas
S a ç t ovézes
w itíd a
cm geralmentc nos
t n ., , , , CTOS da d llicld a d t. atima aladida, a s a J X " „ -
las e Z l ! ! , CC • qUes,oes teológicas, sentimos que mesmo ne-
# separados, princ.palmente quando se trata daquilo que a fé
católica fundamental tem a mais do que a nossa. Mas o fato4 de que
uma discussão tao aberta e tão fraterna seja possível, ao lado mesmo
do Concilio, deve ser considerado como um elemento muito positivo e
merecerá uma especial menção por parte dos futuros historiadores do
Concilio Vaticano II.

8) Outros contactos marginais durante o Concilio. — Refiro-me em


primeiro lugar às pausas recreativas durante as sessões. Quando fôr
escrita a história dêste Concilio, dever-se-á falar também do papel ecumé­
nico do bar que foi instalado na Basílica para todos os Membros do
Concilio. Êlc não só oferece a possibilidade de restaurar as fórças mas
nos permite um contacto com os Bispos de todo o mundo que de outro
modo nos seria impossível. Já falei das excursões que o Secretariado
organizou para nós. Finalmente, deveria falar das numerosas visitas que
recebemos por parte de teólogos católicos e dos convites que nos são
feitos para almoçar com Bispos c até com Cardeais. Eu, que por muito
tempo cultivei êstes contactos pessoais mesmo no plano humano, co­
nheço muito bem a importância dêles para o diálogo ecuménico. Se me
é lícito falar de mim mesmo, não posso deixar de mencionar as relações
que tenho com o Mosteiro beneditino de Santo Anselmo no Aventino e
sobretudo com o Instituto Bíblico onde pela primeira vez tive o prazer
de conhecer o atual Cardeal Bea, então Reitor daquele Instituto, e nêle
tenho tantos amigos entre os colegas a quem me sinto unido pelo es­
tudo da Bíblia. E isto me faz passar ao último ponto:

9) A nossa esperança. — Eu disse que o Concilio até agora con­


tribuiu grandemente para a nossa aproximação, pois ainda estamos mui­
to longe da união. Esperamos que esta aproximação se efetue no sen­
tido indicado quando mencionamos o problema suscitado pelas nossas
divergências. Isto significa que esperamos que as decisões, ainda por
vir do Concilio, sejam baseadas na Bíblia. Não digo isto apenas por­
quê como exegeta, me interesso muito pela Bíblia, mas pelo fato de
que’ o diálogo começou com os exegetas. Esperamos que êste diálogo
nào só não seja interrompido por êste Concílio, mas seja por êle fa-
cilitado e intensificado. Com grande confiança o aguardamos. Qualquer
que seja o resultado, nós continuaremos o diálogo, e, se êste fôr feito
por ambas as partes com o mesmo espírito que até hoje tem sido man­
tido, nêle ter-se-á um elemento de unidade que dará ainda ulteriores frutos.
376 V. Repercussões

Um Observador nfio-católlco Latino-Americano.


José M í g u e z B o n i n o é argentino, R eitor da Faculdade
Evangélica de T eologia, em Buenos Aires, e é O bservador da
Ig reja M etodista no C oncilio V aticano II. Como. único O bserv a­
dor latino-am ericano, suas im pressões são particularm ente inte­
ressantes para nós. Êle as publicou na revista Critério, de B u e­
nos Aires, no fascículo de dezem bro de 1962, pp. 9 2 9 -9 3 2 , tia
qual fazemos a seguinte trad ução:

Dois meses em Roma são, em todo caso, uma experiência educativa


única. Quando se trata da Roma onde se realiza o conclave máximo
do Catolicismo Romano, e alguém acha abertas as portas do mesmo, a
experiência é, sem dúvida, extraordinária.
A expressão “ portas abe rta s" não é, aqui, de maneira alguma, re­
tórica. Desde o dia da abertura do Concílio — e mesmo antes, — nós
os trinta e mais observadores e hóspedes ortodoxos e protestantes go­
zamos de tôdas as oportunidades im agináveis para acom panharmos de
perto o desenrolar de cada passagem da assem bléia. De imediato foram
postos em nossas mãos os documentos que deviam ser examinados, c
que só os Pad res e Teó lo go s do Concilio têm. Concederam -nos um lu­
gar privilegiado nas sessões privadas do Concilio, e até nos proveram
de intérpretes que suprissem as deficiências do latim vacilante de a l­
guns observadores.
A tudo isto somou-se uma visível cordialidade da parte de todos.
Paradoxalm ente notáveis pela nossa vestim enta "comum ”, nos momentos
de descanso das sessões vemo-nos constantemente solicitados por mem­
bros do Concílio que nos reconhecem como observadores e estão ansio­
sos por estabelecer conhecim ento ou entabular um diálogo, que geral­
mente — e é de notá-lo! — não fica na mera frase amável de circuns­
tância, senão que se aprofunda imediatamente em relação com os temas
do Concilio c da fé cristã. Esta é uma experiência repetida dia após dia
por todos os observadores.
Como é de supor, nosso contacto mais direto faz-se através do S e­
cretariado para a União dos Cristãos, sob a presidência do Cardeal B ea,
e com o trabalho incansável e sábio de Monsenhor W illebrands. O S e­
cretariado não se tem dado descanso para nos oferecer a oportunidade
de escutarmos os teólogos mais representativos da Igreja Católica Ro­
mana e com êles conversarmos, para responderem às nossas perguntas
— mesmo àquelas que resultavam mais difíceis e delicadas. Porque,
conveniente é assinalá-lo, nem os observadores nem o Secretariado pro­
curaram estender um manto de piedosa “amabilidade” sôbre os pro­
blemas reais e básicos que estão envoltos na nossa presença aqui e nas
relações entre católicos romanos e as outras ig reja s cristãs. E sta boa
vontade e esta seriedade e fraternidade cristã não nos surpreendem. Em
verdade, esperávamo-la, mercê de experiências anteriores. Necessário é,
porém, m anifestá-lo, particularmente em nossas terras, onde uns e outros
muito temos deixado a desejar sob êste aspecto.
As coisas que numa reunião como esta chamam a atenção de um
protestante não são necessàriamente as mesmas que im pressionam um
Entre OS não-católicos

briíh10 (èSfe qua ^ ^ s ie v e n d 'r'p e lo S o s ? ) 7 J3" '0 C°n,uso e es'

dadV'Pr7 er a imPressâo vaif sendo s u b s f i h J r * ‘emp° vai Passa"do.


dade do Concilio, que sc torna c o n T ^ ^ P uma Cer,a " humani-
delibcrações, nos seus problemas e " « " ° S -£US membros. "as suas
realidade, uma das c o iu s qUe mais f c f f “ désfes- Esta K cm
perdoe-se a necessária transição T L ° I 7 me « "» P ^ o n a ra m -
sistir nesta '‘humanidade” do Concllio ri, P£SS° a d° singular- Ao
por em dúvida nem diminuir o . mane'ra a,gurr,a P ren d o
mas sim assinalar a realidade c o n c h a a l f n f e 7 “ d? 5 SpÍrÍ‘° Sant0'
nem suprimir, uma humanidade aue l í . pre,endeu dissimular
exprimir-se com sadio "humor'' Uma ° CaSÍá° a,é “ “ba

nacionais. Seja-m 7% rm ibd 7m °en ciofeita d? personalidadcs e de grupos

n Ass
L f * “ nt0 de u,ma anciania vigorosa, cordial, aberta e respeifosT a
crTstão c é rta m ín ^ Sem paí?rnalismo- e dc um espírito genuinamente
S n  ií I ? CSSa aud,ênc,a nâ0 el,minou nenhum dos problemas
doutrinários que fazem do papado, para um protestante, um dos ele­
mentos mais estranhos a sua concepção da fé. Mas não foi a lembrança
dêsses problemas que os momentos ali passados nos trouxeram, e sim o
simples gôzo de estarmos em presença de um crente em Jesus Cristo.
Depois é necessário mencionarmos o Cardeal Bca, figura magra,
um tanto curvada, que por trás da fragilidade do seu físico esconde
uma energia espiritual e um amor à unidade cristã inextinguíveis. Uma
e outra vez volta êle, incansàvelmente, ao seu tema: os que foram
batizados em Jesus Cristo fazem parte de uma familia, por mais sepa­
rados que se achem. Os conflitos entre os que crêem em Cristo são
conflitos entre irmãos — tanto mais difíceis por isto, seguramente, —
mas nem por isso menos prejudiciais.
Não é possível continuarmos a enumeração. A quem, como eu, se
ocupa do ensino teológico não é estranho lhe haja resultado particular-
mente grato o encontro com teólogos da estatura do jovem professor
alemão Hans Küng, ou do Padre Congar, do cónego Thils e muitos
outros. Todos — inclusive, creio eu, os Padres Conciliares — ficamos
profundamente impressionados com o vigor, a capacidade e o anseio de
renovação dos Bispos africanos, entre os quais se contam vários de
côr, e os asiáticos. As intervenções do Cardeal Gracias, da India, ou
dos Bispos da Indonésia e da África são sempre esperadas com inte­
resse . . . e não decepcionam.
Em outros artigos desta revista fala-se do episcopado latino-ame­
ricano. Não é necessário que eu acrescente algo ao que ali se diz. Mas
vem ao caso que, como observador latino-americano não-católico, eu
manifeste a positiva impressão, que o episcopado latino-americano deu,
de séria preocupação pela extensão da mensagem de Cristo, pelo tes­
temunho social da Igreja, pela renovação desta em todos os seus a9-
378 V. Repercussões

pectos, e o respeito que vários latino-am ericanos granjearam pela com­


petência demonstrada em suas intervenções.
Que significa o Concilio? Que é que nêle ocorre, e que é que de­
vemos esperar? E stas perguntas, que sem dúvida são a s mais im por­
tantes, ao mesmo tempo são mui difíceis de ser respondidas. De certo
modo, estamos ainda no começo do Concilio, e o significado de coisas
desta ordem só se vê à distância (ainda hoje está cm debate o signi­
ficado de certas decisões do Concilio de T ren to em 1545). Ademais, há
uma reserva que cabe guardar a respeito das d eliberações conciliares
__ e tanto mais a nós que delas participam os como convidados. Per-
mitam-se-me, pois, apenas algum as observações gerais.
Pelo Pontífice atual foi o Concilio definido como um Concílio de
Renovação. O que vai sendo do mesmo confirm a que os B ispos tom a­
ram a sério essa função e pretendem cumpri-la, sem esquivar os pro­
blemas que para isso se apresentam. Renovação significa, por um lado,
atualização, isto é, adaptação — na medida que corresponda à natu­
reza de cada elemento — da liturgia, das cerimônias, dos usos, e mes­
mo da organização da Igreja, às necessidades do mundo atual, para me­
lhor servir à função "p a stora l" da Igreja no mundo. Em tôda renova­
ção desta espécie há uma tensão entre aquilo que é permanente na
vida c estrutura da Igreja e aquilo que é o resultado de outra "ad ap ta­
ção" a uma época passada. E ra de esperar que, depois de dar por
assente uma coincidência em certos elementos básicos, os Pad res Con­
ciliares divergissem entre si a respeito daquilo que é e daquilo que
não é “adaptável”. Porém do conju nto das propostas feitas e do de­
bate sôbre elas colhe-se a im pressão de que a direção em que se move
o Concilio é a de uma renovação dinâmica num campo sumamente am­
plo. Neste sentido, creio ser correto considerar que, depois de uma
época em que — por diversas razões que prolixo seria procurarm os ex­
plicar — no Catolicismo romano o momento da conservação predomi­
nou sôbre o da renovação, êste último tende a acentuar-se num sentido
positivo, não como uma "in ovação ", mas em função da missão da Igre­
ja no mundo contemporâneo.
Ouso, porém, pensar — e crer — que a renovação vai mais pro­
fundamente do que uma "ad aptação " às necessidades do dia de hoje.
T rata-se de um anseio de renovação da vida espiritual e do pensamento
teológico da Igreja. Tocam os aqui num aspecto sumamente sensível, e
eu não quisera que a linguagem desacostumada de um não-católico pu­
desse criar uma im pressão inexata. A Igreja Católica Romana aparece,
no Concilio, firmemente segura de ter e de haver conservado fielmente
o Evangelho de Cristo, e de se achar na sucessão única por Êle ins­
taurada. Sôbre êste ponto, católicos e não-católicos deveremos continuar
dialogando com lealdade e franqueza. Mas essa firmeza não tira reali­
dade à seriedade da renovação de que estamos falando.
E ’ inegável que, neste último meio século, no seio da Igreja C ató­
lica tem tido lugar um movimento a que os franceses têm chamado
"résourcem ent” — retôrno às fontes, ou, melhor, "tom ada de cons­
ciência das fontes originais”. T rata-se, fundamentalmente, do estudo das
E scrituras e dos Padres da Igreja dos prim eiros séculos, c, mui parti-
E ntre os não-católicos

" r ‘ uiesiannsmo. u s estudiosos biblicos e os histo


b a » '^ dos
i>alilOS !tm iraba'baCo
f f SOUtros. p rhpiran/l#-»em colaboração, empregando
____ . .. uns
.

. . .-----— ™ w iiw m asdü, cm quancis, em campos de


prisioneiros, e tiveram de enfrentar lado a lado a responsabilidade de
levar a seus povos o consôlo do Evangelho de Cristo. Ali descobriram
a profundeza de uma comunidade espiritual e de uma solidariedade
cristã que em muitos casos “sobreviveu à crise da paz".
Todos êstes movimentos não podiam deixar de refletir-sc no Con­
cílio. Mas também não podiam deixar de suscitar diferentes reações e
opiniões, enquanto cm diversos países tudo isso fôra vivido em diversa
medida e em circunstâncias diferentes. Se me não engano, esta diver­
sidade — sem dúvida unida a outros elementos mais imediatos — é
o que faz o fundo da interessante troca de opiniões sobre "Escritura e
tradição” e outros temas teológicos. O que me parece sumamente im­
portante e significativo é que a opinião prevalente no Concilio, entre
Padres Conciliares de origem e situações diversas, tinha alguns ele­
mentos comuns evidentes: I) As decisões que se adotarem — sem di­
minuírem cm nada a integridade da verdade — devem ter um caráter
“ecuménico”, isto é, devem estar abertas ao diálogo com os "irmãos
separados". 2) Não devem essas decisões fechar as portas à continua­
ção do trabalho exegético, do estudo bíblico, da renovação teológica:
por isto deve-se deixar liberdade nas questões ainda abertas. 3) As
decisões devem ter caráter "pastoral”, que neste caso significa: devem
tender mais a anunciar as boas novas de Jesus Cristo do que a con­
denar erros.
O espirito resumido nestas afirmações gerais parece-me representar
um "monumento” sumamente importante na história da Igreja Católica
Romana, o que, como observador protestante, não posso deixar de sau­
dar com regozijo. Não se trata — entenda-se bem — de que desta ma-
380 V. R epercussões

neira o Catolicismo se torna mais "pro testan te". T a l coisa não está na
mente dos porta-estandartes católicos da renovação, nem tampouco, creio
eu, na dos melhores interlocutores protestantes. O Catolicismo busca a
inspiração da sua própria renovação interior nas suas próprias fontes,
na direção do seu próprio gênio e no testemunho apostólico primitivo.
O protestante, cuja fé básica é a confiança no poder renovador da
Palavra de Deus, regozija-se com essa busca, e por ela sente-se esti­
mulado a colocar-se também, sempre de nôvo, sob essa Palavra inspi­
rada que também chama o Protestantism o à renovação na verdade.
Que tem a ver tudo isto com a “união da Ig re ja ", da qual cons-
tantemente se fala h oje? Bem claro é que — como em diversas ocasiões
o esclareceu o Papa — êste não é um "Concilio de união”. A relação
entre o Concílio c a unidade é indireta, embora nem por isto menos
importante. A possibilidade de um contacto pessoal e direto é um
primeiro elemento positivo. A cortesia, a cordialidade não são o fim do
ecumenismo, são o principio necessário. Por demasiado tempo estivem os
travando uma polêmica a longa distância, sim plesmente das páginas de
livros e revistas. T a l coisa poderia ser adequada no terreno puramente
cientifico (quem s a b e !), onde a verdade é sim plesmente o b jetiv a ; mas
não pode sê-lo no campo cristão, onde a verdade é pessoal. A verdade
deve m anter-se e defender-se no amor, e o amor real só é possivel no
encontro pessoal. E ’ hora de deixarm os de discutir sim plesmente com
"p ap éis", e de começarmos a falar com "p esso a s". M ais ainda, o Con­
cilio contribui positivamente para o ecumenismo, no esfôrço evidente
para dizer as coisas que a Igreja Católica sente dever dizer de ma­
neira que elas possam ser compreendidas pelos que não são católicos
romanos. Há diferenças reais que a incompreensibilidade mútua das lin­
guagens e das categorias de pensamento que utilizamos não nos permi­
tem ver com clareza, e há diferenças irreais que essa incompreensibi­
lidade cria. Êste esfôrço para "fa la r o idioma do outro”, para “tradu­
zir”, é básico ao diálogo ecumênico.
Com respeito ao problema da unidade, não deve o cristão ser nem
um otim ista iludido nem um pessimista derrotado. A separação entre
protestantes e católicos não é questão secundária ou insignificante. T r a ta -
se, para uns e outros, do problema da verdade, da fidelidade ao evan­
gelho de Jesus Cristo. Com todo o respeito mútuo e com todo o afeto
mútuo, o católico não pode senão orar pela conversão do Protestan tis­
mo, e o protestante pela reforma do Catolicismo. Pa ra o católico, a fé
protestante é, ao menos, deficiente, pois lhe faltam algum as coisas con­
sideradas essenciais, e para o protestante a fé católica acumulou ele­
mentos supérfluos que desfiguram e ocultam o evangelho. T udo isto é
m ister reconhecê-lo, e é mister reconhecer que hoje não vemos a forma
de sairm os dêste "im passe”.
Mesmo dentro dêstes têrmos, muito resta por fazer. As diferenças
têm de ser reduzidas à sua verdadeira proporção * significado, elim inan­
do-se falsas disjuntivas que se enunciaram no curso da polêmica. (Ê ste
é um tema sumamente importante no qual já se tem trabalhado, e que
merece que a êle se volte com amplitude). Ainda mais, é necessário que
o diálogo assuma um caráter vital. O protestante deve receber a critica
católica — e vice-versa — não simplesmente como uma m anifestação da
Entre os não-católicos 381

“diferença", mas sim como uma pergunta a que êle deve responder pe­
rante o Senhor. Quando um irmão em Cristo nos interroga — mesmo
quando creiamos que êle está equivocado, — é o próprio Senhor que
nos está interrogando. O diálogo entre cristãos realiza-se sempre na pre­
sença de C risto, e a lembrança desta realidade deve dar-nos, a uns e a
outros, consciência da seriedade dêste empenho, deve resguardar-nos de
respostas demasiado fáceis ou simplesmente “hábeis”, porque uns e ou­
tros estam os sendo interrogados por Aquele que vê os corações e dis­
cerne as intenções e os motivos ocultos.
M as essa Presença é, ao mesmo tempo, o que nos impede de cair
num pessimismo derrotista. Precisamente por estarmos na presença d’£le
— falo agora como protestante — podemos “desinteressar-nos” da per­
gunta: aonde nos conduz èste diálogo? A história dos cristãos não está,
em último têrmo, nas nossas mãos. Não nos foi ordenado planejarmos a
história, mas sim sermos fiéis a Jesus Cristo hoje. Também na relação
entre católicos e protestantes temos que aprender a orar: “O pão nosso
de cada dia dai-nos hoje”. E, agradecidos por êste pão que êle nos dá,
temos de esperar confiantemente o que êle queira oferecer-nos amanhã.
No Protestantismo Brasileiro.

De MODO G ERA L O P R O T E S -
tantismo brasileiro não manifestou interesse acentuado pelo Con­
cílio. O grupo mais cortês para com a Ig reja C atólica, no B r a ­
sil, se encontra na Ig reja Episcopal Brasileira. O Estandarte
Cristão, órgão oficial dos E piscop alianos brasileiros, ju lg a que,
em tese, não seria possível um autêntico movimento ecum ênico
entre os cristãos com exclusão da Ig reja C atólica. Já o grupo da
Ig reja Luterana do B rasil (o assim cham ado luteranism o missu-
riano) continua — como sempre estêve — numa posição feroz-
mente contrária à Ig reja C atólica. P a ra êles, qualquer entendimen­
to com os católicos sign ifica destruir as mais lídimas essências
do C ristianismo. O M ensageiro Luterano, órgão oficial deles, con­
tinua na mais sincera e inabalável convicção de que o Papa ê o
A nticristo. E ntre os Presbiterian os há algum as vozes, infelizmente
raras, com certo otimismo para com a Ig reja Católica e as ver­
dadeiras intenções de Joã o X X III. A Ig reja M etodista B rasileira
encara com bastante entusiasmo os esforços de aproxim ação. O
Expositor Cristão, dos metodistas, entretanto, se compraz também
com eloquentes tiradas anticatólicas. Os B atistas, no B rasil, co­
mo em tôda parte, têm um caráter eminentemente proselitista e
com bativo, sobretudo contra tudo que se apresenta católico ou
sim patizante com Roma. O Jornal Batista se coloca certam ente
na vanguarda do anticlericalism o brasileiro. M ais sectàriam ente
anticatólico é o Movimento Fundam cntalista no B rasil, que se
gloria de representar a parte mais tradicional do Protestantism o.
A C onfederação das Ig rejas Evangélicas Fundam entalistas, em sua
assem bléia reunida em São Paulo durante os dias 31 de outubro
a 2 de novembro de 1962, resolveu tornar pública a seguinte
resolução:
No Protestantismo brasileiro

" ■ * ™ '«**> »» Concilio Voiicono II


(alistas” do^Brasil ^acoito ^ |dC IeTeias Evangélicas Fundamen-
mover , m S £ £ d . i„ T . ’ " c t S * P™-
P»d. « , alcançada con, d f S 'a d “ " " “ * "*»
Considerando que uma das esperanças do Concilio Vaticano II ê
que o cisma do século XVI seja superado;

o c h a m a d í r S qUC o s 1.Proíestan‘es « crentes verdadeiros entendem ser


l í r í l a rCai ,dade uma * P >r*Ç*o entre aquêles que aceita-
nrátíra das Escnturas. «>mo sendo a única regra de fé e
prática, e os que negavam tal posição-
Considerando que teríamos imenso prazer em ver todos os cristãos
professos aceitarem a autoridade suprema das Escrituras, como sendo
a Palavra dc Deus a única regra infalível de fé e prática, assim como
as grandes doutrinas nelas contidas, notadamente a justificação somente
pela fé;
Considerando que até agora nenhum sinal tem havido de qualquer
mudança na atitude oficial da Igreja Católica Romana em relação a es­
sas doutrinas, mas, ao contrário, que persiste ela na sua negação, quer
em escritos oficiais, quer na maneira como êsse Concilio foi iniciado;
Considerando que na abertura dos seus trabalhos o Concilio Vati­
cano II fêz celebrar Missa, o que, na opinião dos reformadores, significa
“crucificar de nôvo o Filho de Deus" e constitui uma negação ao ensino
bíblico de que Nosso Senhor Jesus Cristo satisfez plcnamentc a justiça
divina;
Considerando que o Concilio Vaticano II se reuniu sob a invocação
da Virgem Maria, o que traduz a adoração da Igreja de Roma a uma
criatu ra;
Considerando que a Bíblia Sagrada proclama que sòmente o Deus
Tritm o é digno de nossa fé, confiança, amor e adoração;
Considerando que a pompa excessiva das cerimônias e a liturgia do
culto com que o Concílio abriu os seus trabalhos, está em contraste
com a simplicidade do Cristianismo e com o exemplo do apóstolo Pedro,
que proibiu a Cornélio se ajoelhasse perante éle (Atos 10 :2 6 );
Considerando que na citada liturgia se permitiu uma procissão de
dignitários eclesiásticos prostrando-se perante o Papa, beijando seu anel,
o seu joelho e os seus pés, o que Pedro jam ais teria permitido;
Considerando que os Papas sempre se referiam aos protestantes
dando-lhes os nomes de “hereges” e "inimigos da fé’ , em contraste com
a denominação que hoje lhes dão de “irmãos separados” ;
Considerando que êsse tratamento expressa um desejo de união, mas
sem nenhuma disposição de modificar o seu ensino antibíblico;
Considerando que essa atitude é por nós interpretada como tática
tomada calculadamente para amolecer a resistência protestante o que
constitui um perigo muito maior para a fé cristã do que a atitude an­
terior da ig reja Romana;
384 V. R epercussões

Considerando que a presença de representantes da Igreja Ortodoxa


Russa naquele Concílio como "delegados observadores”, sabendo-se que
essa Igreja se acha sob contrôle absoluto de um govêrno cruel e a teísta,
será utilizada como instrumento de propaganda comunista na direção da
coexistência pacífica, no seio do próprio catolicism o;
Considerando que o P apa X X III se apresenta ao s protestantes do
mundo como um homem gentil, am oroso, generoso, de coração sensível,
desejando ver a realização dos ideais expressos neste seu pensam ento:
"N ão pretendemos estabelecer julgam ento sôbre o passado ou dizer
quem está com a razão ou não, mas queremos que todos se unam” ;
Considerando que essa aproxim ação melíflua, muito atraente c de­
sejável para muitos protestantes levianos, em bora não se duvidando da
sinceridade do Papa, implica em retornar a Roma, e aceitar a pretensão
arrogante da infalibilidade papal, a idolatria da M issa, as abom inações
da confissão auricular, a adoração pagã dos santos, e tòdas a s outras
superstições rom anistas;
Considerando que Roma declara não existir ponto central de união
fora de Rom a;

Resolvem os:
Alertar todos os crentes evangélicos do B rasil, quanto ao perigo sutil
da propaganda relacionada com o Concilio V aticano II, que considera­
mos uma "C ontra-Reform a”, em sua tática disfarçada, c apelamos para
a consciência de todos êsses crentes, no sentido de se separarem de
tôda a solidariedade e de tôda a relação eclesiástica que os possam
aproxim ar de Roma, seja por meio do Concilio Mundial de Igreja s, seja
diretamente.
Selon e medalha com em oraticos do C oncilio Vaticano I I
VI. Miscelânea

irlllo II — 35
Instantâneos.

A pen a s q u a tro dos 85


Cardeais que compõem o Sacro Colégio estavam ausentes na
abertura do C oncílio: o Cardeal José Mindszenty, Prim az da Hun­
gria, que se encontra asilado na Embaixada dos E E .U U . cm
Budapeste; o Cardeal Manuel Arteaga y Bittencourt, refugiado
em Havana, perseguido pelo regime de Fidel Castro; e os Car­
deais Clemente Micara e Paulo M. Richaud, de Bordéus, estes
dois últimos por motivo de enfermidade.
* O Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, Ar­
cebispo de São Paulo, deixou o Concilio já no dia 26 de outu­
bro, regressando a São Paulo, “a fim de atender deveres ur­
gentes da sua Arquidiocese”.
* No inicio do Concilio estavam presentes em Roma cêrca
de 8 5 0 Bispos M issionários: 40 0 da Asia, 300 da África, 75 da
O ceânia e 8 0 das zonas de missão da América.
* De além da cortina de ferro chegaram, até o dia 12 de
outubro, apenas 45 Padres Conciliares, dos 152 que deveriam
chegar. Dos 3 da Albânia, nenhum; dos 3 da Bulgária, veio
apenas um; dos 14 da Checoslováquia vieram 3 ; dos 67 polo­
neses chegaram 15; dos 3 da Rumânia, nenhum; dos 6 da Rús­
sia, nada; dos 17 de Hungria, incerto; dos 38 da China, vieram
15 de Form osa; dos 27 da Iugoslávia vieram muitos, mas não
se deu a conhecer o número exato.
* A maior província eclesiástica oriental estava totalmente
ausente: os cinco milhões de fiéis ucranianos do rito bizantino
estão reduzidos ao silêncio. Dos onze Bispos da Ucrânia, dez fo­
ram massacrados ou morreram no cárcere. O único sobrevivente,
Dom José Slipyi, Metropolita da G alícia e Arcebispo de Leópo-
lis, está na prisão. (F o i libertado em fevereiro de 1963).
VI. M iscelânea

* 0 primeiro encontro oficial do Episcopado Brasileiro em


Rom a deu-se na manhã do dia 14 de outubro, por ocasião da
San ta M issa celebrada pelo C ardeal Dom Jaim e de B a rro s C â­
mara, no Colégio Pio B rasileiro. Term inada a M issa, falou o
Cardeal Dom Carlos Carm elo de V asconcellos M otta sôbre o
significado espiritual do C oncilio para o mundo e, particularm en­
te, para o Brasil.
* O Presidente João G oulart enviou ao Papa Jo ão X X III a
seguinte mensagem, por ocasião da abertura do C oncilio: "S a n ­
tíssimo Padre. Na oportunidade da abertura dos trabalhos do
Concilio Ecum ênico, venho respeitosam ente me dirigir a V ossa
Santidade em nome do Povo brasileiro e no meu próprio apre­
sentando os votos de pleno êxito nesta tarefa de tão alto sen­
tido para os interesses da Comunidade cristã e para a solução
dos graves problemas com que se defronta a humanidade nos
tempos tormentosos em que vivemos. O B rasil, sem pre presente
nos esforços para assegurar a concórdia entre as N ações com a
reparação das injustiças de ordem económ ica e social infelizm en­
te ainda prevalecentes em largas regiões do Globo, acom panhará
com o máximo interêsse as atividades do C oncilio Ecum ênico,
certo de que os eminentes prelados saberão encontrar como con­
clusão para seus debates a mensagem de confôrto, esperança e
realismo que nunca faltaram aos pronunciamentos da Santa AAa-
dre Ig reja . O Episcopado brasileiro transm itirá a Vossa San ti­
dade o pensamento, as preocupações e os anseios católicos do
B rasil. Seu contacto permanente com o povo dêste pais tornaram -
no particularm ente credenciado para a apresentação da ação que
a Ig reja vem empreendendo no B rasil. O progresso do nosso pais
e a vida do nosso povo alicerçam -sc nos princípios da Doutrina
C ristã, c u ja observância muito pode contribuir para a harmonia
social e a paz na comunidade das N ações. Aproveito a oportu­
nidade para m anifestar os sinceros votos que faço pela prospe­
ridade de Seu Pontificado e pela felicidade pessoal de Vossa
Santidade” .
* Su a Santidade respondeu im ediatamente ao Presidente da
República dos Estados Unidos do B rasil, nos seguintes term os:
“ Agradecemos, de todo o coração, a devota e filial mensagem
de V. E xcia ., em seu nome e no do povo brasileiro, por ocasião
da abertura solene do C oncilio Ecum ênico, mensagem na qual V.
E xcia. m anifesta votos de que o espiritual e primeiro escopo do
Concílio redunde em frutos de harmonia social e de paz para a
Instantâneos 389

comunidade das nações. Desejando tôda prosperidade a essa di­


leta N ação, que se acha tão bem representada pelo Episcopado
na grande Assembléia Ecumênica, concedemos a V. Excia. e a
todo o povo brasileiro o penhor de abundantes graças celestes e
a nossa paterna Bênção Apostólica”.
* No dia 3 -1 -1 9 6 3 o Exmo. Sr. Núncio Apostólico entregou
pcssoalmente ao Chefe da Nação uma Carta autografada de Sua
Santidade, em latim, que foi divulgada na seguinte tradução: “A
nobilíssima carta que V. Excia. nos enviou, no dia da instala­
ção do II Concilio Ecumênico do Vaticano, põe em relêvo a
grande expectativa com que aguardavam seus concidadãos a mag­
na reunião que, se visava primordialmente à expansão da Igreja
C atólica, não poderia, entretanto, estar alheia aos graves pro­
blemas relacionados com a prosperidade das nações. Como V.
Excia. poderá imaginar, recebemos com grande prazer uma carta
portadora dos sentimentos de V. Excia. e de seu povo. Diante
de tão profunda manifestação de respeito e espirito religioso com
que V. Excia. encara seus altos encargos, queira aceitar o tes­
temunho de nossa benevolência; rogamos igualmente a Deus, dis­
tribuidor de todos os bens, que sempre assista V. Excia. e con­
ceda os dons de verdadeira prosperidade à sua Pátria, a nós
tão cara. Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 20 do mês
de novembro do ano de 1962, quinto do nosso Pontificado, a)
Jo ã o X X III, Papa” .
* O Governador Carvalho Pinto, do Estado de São Paulo,
enviou no dia 11 de outubro a Dom Armando Lombardi, Núncio
Apostólico no Brasil, o seguinte telegram a: "Ao abrir-se em
Roma o Segundo Concílio Ecumênico do Vaticano, vigésimo pri­
meiro da vida da Igreja, convocado em hora oportuníssima por
Sua Santidade o Papa João X X III, peço transmitir ao Pai Co­
mum dos Cristãos e aos doutos Padres Conciliares a expressão
da profunda simpatia e respeito com que o Governo e o povo
de São Paulo acompanham a magna assembléia. Todos que aqui
vivem e alcançam a importância do histórico acontecimento, fa­
zem os mais sinceros votos pelo êxito do Concílio Ecumênico,
signo de paz e união para a angustiada humanidade do século XX.
Aceite V ossência Reverendíssima a expressão de meu profundo
respeito".
* O Instituto Brasileiro do Café disse, em comunicado, que
o Papa expressou seus agradecim entos pela oferta de café, em
mensagem dirigida a Henrique de Sousa Gomes, Embaixador do
B rasil na San ta Sé, e ao representante do Instituto na Itália. O
oferecimento do café gratuito para os participantes do Concílio
havia sido anunciado pelo Instituto no mês de setem bro. O co­
municado d iz: “Em mensagem dirigida aos senhores Henrique
de Sousa Gomes, Em baixador do B rasil ante a S an ta Sé, e Al-
fredi Osm ar Allen, chefe do escritório do Instituto Brasileiro do
C afé na Itália, o Sumo Pon tífice com unica haver ficado profun­
damente sensibilizado com o gesto do govêrno b rasileiro, em ofe­
recer café aos milhares de B ispos presentes ao C oncilio
Ecum ênico”.
* Uma série especial de selos destinados a relem brar a
abertura do Concílio Ecum ênico V aticano Segundo foi emitida
no dia 3 0 de outubro. A série é form ada por 8 valores diferentes,
pelo total de 3 0 0 liras. O s três primeiros valores (5 , 10 e 15 li­
ras) apresentam as três figuras sim bólicas das virtudes teolo-
g a is: a Fé, a E sperança e a Caridade. T r a ta -se de reproduções
das decorações da “Madonna de F olig no” de R afael, que se en­
contra na Pinacoteca V aticana. O valor de 25 liras reproduz o
emblema do Pap a João X X III, coroado por sím bolos dos Quatro
Evangelistas. O sêlo de 3 0 liras representa a S ala Conciliar, na
nave central da B a sílica de São Pedro, onde são reunidos o P on ­
tífice e os Pad res Conciliares. O sêlo de 4 0 liras reproduz o Papa,
com a tiara. O valor de 6 0 liras representa o estátua de São P e ­
dro que se encontra na B a silica V aticana. O valor de 115 liras
reproduz uma com posição de alegoria, representando o Espirito
Santo sob a forma de pomba.
* O Govêrno italiano emitiu dois selos especiais (de 3 0 e
7 0 lira s) com emorativos do primeiro período de sessões do Con­
cilio Ecum ênico.
* No dia da abertura do Concílio o Serviço de Im prensa
transmitiu um total de 4 0 5 .0 0 0 palavras (igual a um grosso vo­
lume de 6 0 0 p á g in a s): 8 5 .0 0 0 para os E stados Unidos, 9 5 .0 0 0
para a Europa e 2 2 5 .0 0 0 para as redações dos cotidianos da
Itália. Alguns grandes jornais operaram com três corresponden­
tes: um para a crônica, um para as fotografias, um para o ar­
tigo de fundo.
* Milhões de norte-am ericanos puderam contem plar a aber­
tura do Concilio Ecum ênico por intermédio de uma transm issão
de televisão feita por intermédio do “T e ls ta r”. Ouviram o dis­
curso inaugural pronunciado pelo Papa e viram diversas cenas
das cerimônias. Os filmes tirados em Rom a foram retransm itidos
Instantâneos 391
ao meio-dia pelo "T e lsta r” para a estação de Andover, no Maine,
de onde as imagens foram enviadas a Nova York e retransmi­
tidas pela NBC.

, * 0 S a " í ° Padre en v id ou pessoalmente Jean Guitton, ilus­


tre leigo católico e membro da Academia francesa, a participar
do Concilio na qualidade de observador que representa o lai-
cato católico.

* Segundo a agência católica KIPA, o Cardeal Ruffini, Ar­


cebispo de Palerm o, foi quem mais falou na Primeira Sessão do
Concilio Ecumênico, tomando a palavra dez vêzes. Seguem-se o
C ardeal Francisco Spellman, Arcebispo de Nova York, e o Car­
deal Agostinho Bea, S . J . , Presidente do Secretariado para a
União dos Cristãos, os quais falaram cada qual sete vêzes. O
total de 38 2 Padres falou 612 vêzes, portanto menos de duas
vêzes cada um.
* Num sadio encontro humano, mesmo que seja de eminen­
tíssim os, excelentíssim os e reverendíssimos senhores, não faltará
também a parte humorística. O difícil é recolher êstes instantâ­
neos. D ever-se-ia começar com o próprio Papa do Concilio, João
X X III, que é conhecidamente amigo do bom humor e das ane­
dotas. Q uantas observações jocosas terá feito, no seu aparta­
mento, enquanto acompanhava, pelo alto-falante e por um cir­
cuito fechado de televisão, os debates na Aula Conciliar, durante
as 36 Congregações Gerais. O UOsservatore delia Domenica
de 1 4 -X -1 9 6 2 descreve a viagem do Papa, às vésperas do Con­
cílio, a Loreto e Assis. Na volta o trem parou na estação de
Trastévere, onde já o aguardavam os jornalistas. Declarou que
fêz excelente viagem, que faria outras muitas não houvesse o
protocolo, que ficou partieularmente satisfeito com o entusiasmo
do povo em Terni onde a multidão rebentou duas vêzes o cordão
de isolamento, e mais satisfeito ainda em Foligno onde conse­
guiram rebentar o cordão três vêzes. E como demorasse o trem,
perguntou pelo motivo da espera. Informaram que estavam tro­
cando a locomotiva elétrica por outra a vapor. "Ah! — respondeu
o Papa — agora teremos que voltar ao Antigo T e s t a m e n to !...’’
* Term inadas as Congregações Gerais, começava na Praça
S. Pedro o assédio dos jornalistas à caça de novidades. Rodea­
ram um Bispo americano. Pediam noticias, mesmo que fôssem
genéricas. Sua Excelência respondia calm amente: 'Hoje é um
dia m ag nífico!’’ Tentaram a pergunta em inglês, em francês, em
latim ; e sempre a mesma resposta: “Oggi è una magnifica gior-
nata”; “C’est une très belle journée"; “Dies pulcherrima est”;
“It is a wonderful morning” . . .
* 1lustre Padre C onciliar, já meio surdo, consegue um lugar
mais perto dum alto-falante. P a ra não ser perturbado por con­
versas inúteis pelo vizinho, resolve escrever-lhe um b ilh ete: “ E x ­
celentíssim o C olega, sofro de surd ez". O outro responde, em
novo bilhete : “Tam bém e u " . . .
* Os debates na Aula Conciliar sóbre o uso obrigatório
do latim suscitaram também o interesse dos jorn alistas. Um dê-
les, entusiasmado com uma missa em grego, a que assistira na
Sicília, inform ou: “A M issa foi tflda em grego, menos o Kyrie
eleison” . . .
* Aliás, o latim, durante o C oncílio, está fazendo as vezes
do esperanto eclesiástico. Mesmo restaurantes e lojas, ao lado
do "english spoken", anunciam tam bém : “ latine loquitur". Num
restaurante a vulgar sopa é apresentada aos P adres C onciliares
como “pastarum capillos sorbitione natantes” ; e um prato com
ovos: “ovorum in tritas in sorbitione subm ersas” . . .
* Na Domus M ariae, residência da maioria dos Bisp o s b ra ­
sileiros, sai quase todos os dias um jornalzinho de uma página,
a várias côres e ilustrada, intitulado: Conciliábulo, “ um periódi­
co que aparece em qualquer periodo", “ um jornal excelente para
E xcelências”. O primeiro número saiu no dia 16 de outubro de
1962.
* O Conciliábulo conta também anedotas:
— Encontraram -se dois Bispos nas proxim idades da Praça
de Sã o Pedro. G astaram muito francês e ao se despedirem per­
guntaram um ao outro donde eram. “Je suis du Brésil, Evêque
de L uz", disse um. “ O ra b olas! Eu também sou brasileiro. Bispo
de Palm eira dos índ ios", respondeu o outro.
— Ontem ( 1 5 - X - 6 2 ) , dopo la C ongregazione, Mons. P ar-
naiba, embevecido com o panoram a da P raça de São Pedro, es­
corregou e estendeu-se na rampa da B asílica, oferecendo ótimo
assunto para os cinem atografistas am ericanos. Levantando-se
prontamente, disse a Mons. L uz: “Viu a minha agilid ad e?” E
Mons. Luz, im ediatam ente: “Não sabia que isso se cham a
a g ilid a d e .. . ”
— Mons. Pelotas guiava com grande velocidade, acom pa­
nhado de um Padre. Parando, para reabastecer de gasolina, o sa ­
cerdote se recusou a prosseguir, alegando: “V. E xcia. desculpe,
Instantâneos 393

mas um Padre leva 13 anos para se ordenar, porém para Bispos


há sempre muitos c a n d id a t o s ...”
— Um Bispo de Minas foi ao barbeiro e êste lhe pergun­
tou. T u tti? T utti! , respondeu o Bispo, julgando qu e'fôssc
“ pronto”. Resultado: ficou inteiramente p e la d o ...
Ontem (1 9 - X I- 6 2 ) , nosso dileto amigo Dom José de
Medeiros Leite, Bispo de Oliveira, ao se dirigir para o Bar Jonas
[um dos dois bares instalados de cada lado da Aula Conciliar;
o outro se cham a B ar A bbas], deixou o barrete numa das estalas
do Cabido do V aticano. Tomou seu cafèzinho e, voltando ao mes­
mo lugar, não encontrou mais seu barrete, mas sim um outro,
acham alotado, que deve pertencer a algum Núncio Apostólico.
Coitado do Dom José. Há poucos dias foram-se os cabelos, tutti,
tutti. Agora também o barrete.
— Continuando suas excursões piedosas e culturais pela
velha Roma, Dom Adelino Dantas encontrou-se ontem (26 -X -6 2 )
com duas religiosas, que se alegraram ao saberem que S. Excia.
era um Bispo do Brasil. “ Do Brasil? Temos um colégio lá, no
B rasil, na cidade de M o n tev id éu ...”
* O Conciliábulo de 2 6 -X -6 2 comenta: “O cúmulo do pla­
nejamento. O Episcopado norte-americano fêz tôdas as previ­
sões para o Concilio. Alugou hotel, contratou médicos, massa­
gistas, motoristas, reservou serviços hospitalares, etc. Confiou a
uma Companhia de Seguros a pesquisa sôbre a idade dos Padres
Conciliares e obteve o cálculo de que uns 100 morrerão durante
o Concilio, dos quais uns 5 serão ianques. Conseqüentemente,
contratou 5 enterros com uma Emprésa Funerária. Um já se
re a liz o u ..
* No dia 2 4 -X -6 2 o Conciliábulo faz um apêlo: “Vamos
pedir mais rapidez nas discussões do Concílio. Sc nós não o
abreviarm os, êle acabará conosco. Na verdade, se atualmente
morre um Padre Conciliar, no rigor do inverno morrerão dois
ou três. E rg o : dentro de poucos anos, tendo falecido todos os
Padres Conciliares, também o Concílio se encerraria, a fo rtio ri.. .
Vocabulário Conciliar
explicar coisas excessivnmenle evldentis. d ’ * verbíles que pareclaoi querer
Vocabulário Conciliar.

ABA D ES — Palavra dc origem ACTA CONCILII — No Discurso


aram aica — Abba — que sig­ de 5 de junho de 1960 na Basí­
nifica Pai. Segundo o cânone 223 lica de S. Pedro, o Santo Padre
do Código de Direito Canônico, disse que um Concilio se desen­
têm direito de ser convocados volve em quatro tempos: o ante-
para o Concilio, e nêle gozam preparatório, o preparatório, o
cio voto deliberativo: a) os Aba­ da celebração e o da "promul­
des "Nullius” ; b) os Abades Pri­ gação dos “Acta Concilii”, isto
m azes; c ) os Abades Superiores é, de tudo o que se concordou
das Congregações monásticas, a) cm constatar, declarar e propor
Chamam-se Abades "Nullius" os em ordem e para desenvolvimen­
que exercem a jurisdição quase to de pensamento e de vida, para
episcopal sobre um território com progressiva elevação de espirito
clero e povo não pertencentes a e de atividade, para glorificação
nenhuma ("nullius” ) diocese. Em do Evangelho de Cristo, aplica­
data de 1* de setembro de 1962 do e vivido na Sua Santa Igreja".
são êles em número de 12. b)
São chamados Abades Primazes "AD PE TR I CATHEDRAM” — E’
os que presidem a tôdas as Con­ a primeira Encíclica de João
gregações religiosas de uma mes­ X X III, publicada a 29 de junho
de 1959; nela o Papa anuncia
ma Ordem, reunidas em confe­
solencmente o Concilio Ecumêni­
d eração. Atualmente há um só, o
co, precisa-lhe as finalidades,
dos Beneditinos Confederados,
exorta e convida à unidade to­
c ) São Abades Superiores os que
dos os cristãos.
presidem a uma Congregação
Monástica. Juntamente com os “ADSUMUS” — E’ a oração que
Superiores G erais das Ordens e o art. 54 do Regulamento pres­
das Congregações religiosas cle­ creve para o inicio dos trabalhos
ricais, são êles, sempre em data das Congregações Gerais. E’ re­
de I» de setembro de 1962, em zada em voz alta pelo Presiden­
número de 67. te da Assembléia. A formulação
desta oração remonta talvez a
Santo Isidoro de Sevilha, que vi­
ACATÓ LICO S — Segundo a eti­ veu entre os anos 560 e 636
mologia, esta palavra indicaria, (texto português na p. 165 do
em sentido lato, todo aquêle que vol. I).
não d católico, inclusive, portan­
to, os não-batizados; em sentido “zETERNI PA T R IS” — Palavras
estrito e habitual, porém, assim de inicio da Bula com que Pio
são chamados sòmente Àquèles IX promulgou o Concilio Vatica­
que, embora proclamando-se cris­ no 1, publicada a 29 de junho
tãos, não professam a fé católica. de 1868.
398 VII. V ocabulário Conciliar

‘A G IM U S" — O ração com que — A P O STO LA D O — A Com issão do


segundo o art. 63 do Regula­ Apostolado dos Leigos é a dé­
mento — o Presidente da As­ cim a no rol publicado pelo Re­
sembléia deve cada dia pôr têr- gulamento. A esta Com issão tam­
mo aos trabalhos das Congrega­ bém foi anexado o Secretariado
ções Gerais. preparatório da Imprensa c do
Espetáculo, enquanto tratam as­
suntos afins.
ANATEMA — Na linguagem da
Igreja, que lembra a da S a g ra ­ A R C E B IS P O S — Via de regra,
da Escritura, esta palavra signi­ têm o titulo de Arcebispos os
fica separação, isto é, excomu­ m etropolitas, isto é, os Bispos
nhão (separação de Cristo e da que presidem a uma província
Ig reja ). Nos Concílios, é empre­ eclesiástica e têm sob si outros
gada para fulminar os cristãos B ispos cham ados “sufrag âneos”.
culpados de graves delitos, e so­ Porém o mesmo título também é
bretudo os hereges. D ai o vocá­ concedido, como mero titulo ho­
bulo: anatcmatismo, isto é, de­ norifico, a B ispos privados de
cisão conciliar em defesa da fé. sufragâneos, ou a B ispos titula­
res. Em data de 1' de setembro
AN TEPREPA RA TÓ R IA — Assim de 1962 eram 533 os Arcebispos
se chamava a prim eira Comissão participantes do Concílio.
que trabalhou para o Concilio.
Foi instituída pelo Santo Padre A U SÊN C IA S — O Cap. X I da se­
a 17 de maio de 1959, dia de gunda parte do Regulamento —
. Pentecostes. E ra presidida pelo evocando o cãn. 225 do Código
Cardeal Domenico Tardini, S e­ — faz ao s Pad res expressa proi­
cretário de Estado, funcionando bição de se ausentarem do Con­
como Secretário S. E xcia. Mons. cilio antes de haver êste finda­
Pericle Felici; Membros dela eram do. Quando m otivos urgentes im­
todos os A ssessôres e S ecretários puserem a alguns dêles afastar-se
das Sacras C ongregações roma­ de Roma enquanto continuam os
nas. Suas tarefas eram : pôr-se em trabalhos, deve ser para isso pe­
contacto com o Episcopado do dida licença ao Presidente; tam­
mundo inteiro, para ter dêle pro­ bém para faltar a uma das Ses­
postas, conselhos e sugestões; sões Pú blicas ou das C ongrega­
traçar as linhas gerais dos as­ ções G erais m ister se faz avisar
o Conselho da Presidência por
suntos a tratar no Concilio, de­
pois de ouvir o parecer dos B is­ meio do S ecretário Geral.
pos e das Universidades católi­
AUX ILIA R — Cham a-se Bispo Au­
c a s; sugerir a com posição dos
xiliar a um Bispo dado como
diversos organismos preparatórios
coadjutor à pessoa de outro B is­
— com issões e secretariados (cf.
vol. 1, pp. 109-115). po, sem nenhum direito de su­
cessão.

"A PP R O PIN Q U A N TE CONCILIO" B IS P O S — S ão os sucessores dos


— E ’ o Motu Proprio — datado Apóstolos, dos quais, por direito
de 6 de agôsto, mas só publica­ divino, herdaram o tríplice poder
do a 5 de setembro — que acom­ de instruir, santificar e governar
panha o Regulamento do Con­ certa porção do rebanho de Cris­
cilio V aticano II. to. O número dêles, no Concílio
V II. Vocabulário Conciliar
399
Vaticano II, é superior ao de
de S. Paulo. O texto da Bula
qualquer outro Concilio prece­
como dizíamos, pode ser de con­
dente: em data de !• de setem­
bro de 1962, eram 2.131. teúdo dogmático ou disciplinar
ou vário: são famosas, na histó­
ria da Igreja, entre outras, a Bula
BULA — A palavra Bula, do latim dogmática de Bonifácio VIII
“bulia”, pròpriamente indicaria “Unam Sanctam”, que remonta a
apenas o sêlo de chumbo que se 1302; a “Ineffabilis Deus”, com
apõe aos documentos importan­ a qual Pio IX, em 1854, defi­
tes: por extensão, o têrmo Bula niu o dogma da Imaculada Con­
acabou por significar, em vez de ceição; a "Munificentissimus
uma parte marginal do documen­ Deus”, de Pio XII, para a defi­
to, o próprio documento. O nome nição do dogma da Assunção,
Bula assim entendido remonta em 1950. Até o século X as Bu­
ao século X III, e nunca teve re­ las eram escritas em papiro, e
conhecim ento oficial, enquanto depois começaram a ser escritas
que os documentos que nós in­ em pergaminho, como* até hoje
dicamos com êste têrmo são as se faz. A lingua nelas usada é
"Apostolicae sub plumbo litterae”, sempre o latim, e elas são pre­
e distinguem-se dos Breves, que paradas pela Chancelaria Apos­
trazem um sêlo de cêra, e dos tólica com uma escrita particular
Motu proprio, quirógrafos, etc., que se chama bulática.
que não têm sêlo nenhum. Seja
lá como fôr, fica êle sendo sem­ CALENDÁRIO DO CONCILIO —
pre um têrmo mais pròpriamente E’ a agenda, comunicada aos Pa­
genérico que abrange documen­ dres com antecedência, dos tra­
tos de diverso conteúdo, porém balhos que se desenvolvem nas
com uma forma externa mais Congregações Gerais. O calendá­
ou menos fixa, enquanto se rio dá aos participantes do Con­
compõe de algumas partes que cilio meios de prepararem con­
podem considerar-se essenciais, venientemente as suas interven­
ções.
como o protocolo, o texto, o es-
catocolo, também chamado, mui­ CÂNONE — Voz proveniente do
to impròpriamente, protocolo fi­ grego, a qual, em sentido figu­
nal. Esta forma é que a distin­ rado, significa: regra. Do século
gue de qualquer outro documen­ XV em diante, esta palavra usa­
to pontifício ou da cúria roma­ da nos Concílios indica as pro­
na, mesmo se aparentemente se­ posições que em síntese e em
melhante. A Bula traz, não no forma negativa contêm a doutri­
alto do documento, mas na pri­ na exposta nas Constituições.
meira linha, o nome do Pontífice
reinante, imediatamente seguido CANONISTAS — São os peritos
do título: episcopus, servus ser- em questões jurídicas, os quais,
vorum Dei, regularmente usado de como todos os outros Peritos
S. Gregório Magno em diante. conciliares, são nomeados pelo
P ara a data, os anos são conta­ Santo Padre. Podem participar
dos do dia da coroação do Papa; das Sessões Públicas e das Con­
o sêlo de chumbo traz impresso, gregações Gerais, nas quais, po­
de um lado, o nome do Pontí­ rém, não podem falar senão in­
fice que publica a Bula, e, de ou­ terrogados; colaboram com os
tro, as cabeças de S. Pedro e Membros das Comissões Conci-
400 V II. V ocabulário Conciliar

liares, a convite dos sim ples Pre­ pos de todo o orbe católico, para
sidentes, para elaborarem e cor­ o fim de exercerem colegiada-
rigirem os textos, e para prepa­ mente, em união com o Pontífice
rarem as relações a serem apre­ Romano e sob a sua guia, o seu
sentadas em C ongregação Geral. oficio de m estres da fé, de legis­
ladores e de juízes. S ó ao Papa
C ARD EAIS — O s Cardeais, segun­ cabe o direito de convocar, trans­
do o Cân. 223, têm direito de ferir, suspender, dissolver um
participar do Concilio com voto Concilio Ecumênico. As defini­
deliberativo, mesmo se não fo­ ções do Concilio, referentes à fé
rem Bispos. Neste Concilio V ati­ e aos costum es, são in falíveis,
cano II, todos os Cardeais, em após a sua prom ulgação pelo
número de 85, também são Sumo Pontífice.
Bispos.

CISMA — A palavra grega sig­ CO N G R EG A ÇÕ ES — Chamam-se


nifica rasgão, fenda, e, portan­ C ongregações G erais a s reuniões
to, divisão. Em linguagem ecle­ de todos os Pad res na S a la con­
siástica indica separação da uni­ ciliar: são as assem bléias de tra ­
dade da Igreja, divisão que se­ balho durante a s quais os P a ­
para os membros da mesma fa­ dres, em completo, examinam e
mília cristã. debatem os vários textos, para
chegarem a uma form ulação de­
CO AD JU TO R — Costuma-se con­ finitiva a ser depois aprovada
ceder um Bispo coadjutor aos nas Sessões Públicas. As Con­
pastôrcs de Diocese que, por im­ gregações G erais são presididas,
pedimentos pessoais ou pela am­ em nome e com a autoridade do
plitude do trabalho a desenvol­ próprio Papa, por um dos dez
ver, tornaram -se incapazes de de­ C ardeais nomeados pelo Santo
sempenhar os seus ofícios. P o ­ Padre para form arem o Conse­
dem ser dados coadjutores à pes­ lho de Presidência.
soa, com ou sem direito de suces­
são : neste último caso, chamam-
CONSELHO DE PR E SID Ê N C IA
se Auxiliares; mais raramente são
dados à sé. — O Conselho de Presidência
do Concilio é formado por dez
C ardeais nomeados pelo Papa.
CÓDIGO — Chama-se "Codex lu-
Um dêles preside a s C ongrega­
ris Canonici” a coletânea de leis
ções Gerais. E ’ tarefa dêles con­
promulgada em 1917 e que con­
tém o direito universal da Igre­ duzir as discussões, em nome e
ja latina. com a autoridade do Sumo Pon­
tífice, e velar por que tudo se
CO M ISSÕ ES — As Comissões Con­ processe com ordem e disciplina.
ciliares preparam e emendam,
consoante o parecer expresso pe­ “ C O NSILIUM ” — E ’ o Motu Pro-
los Pad res durante a s Congre­ prio, publicado a -2 de fevereiro
gações Gerais, os esquemas dos de 1962, que anuncia oficialmen­
D ecretos e Cânones. te o início do Concílio Vaticano
II para o dia II de outubro de
CONCILIO — O Concilio Ecumê­ 1962, festa da M aternidade di­
nico é a legitima reunião (isto vina de M aria (cf. vol. I, pp.
é, convocada pelo Papa) dos B is­ 8 9 -9 0 ).
VII. Vocabulário Conciliar 401
C O N STITU IÇ Õ E S — Sào os tex­ der ordinário. Habitualmente, a
tos aprovados e promulgados diocese toma o nome do lugar
pelo Concilio. As Constituições onde está situada a Igreia ca­
são, de preferência, de conteúdo tedral.
d outrinário; mas também podem
ser de conteúdo disciplinar. DOGMA — E ’ uma verdade reve­
lada por Deus e, como tal, pro­
D E C R E T O S — Chamam-se Decre­ posta pela Igreja à crença dos
tos os textos aprovados e pro­ fiéis, com a garantia da infalibi­
mulgados pelo Concilio, de con­ lidade. Em nada contrário ao
teúdo únicamente disciplinar. conceito da Revelação, definitiva
e completa com a morte do últi­
D EFIN IÇÃO DOGMATICA — E- mo Apóstolo, é a chamada "evo­
o juízo doutrinário com que a lução dos dogmas”, que consiste
Igreja solenemente declara que não na mutação dêles quer em
uma verdade está contida nas número quer em qualidade, mas
fontes de conhecimento da reve­ sim no conhecimento progressi­
lação divina (Escritura e Tradi­ vo que dêles se tem, graças a es­
ção ), e obriga todos os fiéis a tudos sempre novos.
crê-la pela autoridade de Deus,
que a revelou. ECUMÊNICO — Adjetivo derivado
do grego, c que significa univer­
“D E N EG O TIIS EX TR A ORDI- sal. Unido à palavra Concilio,
NEM” — Foi constituído um Se­ distingue justamente o Concílio
cretariado para tratar de tôdas universal — isto é, de todos os
as questões “extra ordinem” — Bispos da Igreja — dos Concí­
isto é, extraordinárias — que lios plenários, nacionais ou pro-,
possam surgir durante o Conci­ vinciais.
lio. Este Secretariado, que é pre­
sidido pelo Cardeal Secretário de ENCÍCLICA — Esta palavra deri­
E stado, é composto de 7 Mem­ va de um vocábulo grego que
bros, todos Cardeais, e tem como significa carta-circular. As encí­
Secretário o Secretário Geral do clicas são, com efeito, Cartas
Concilio. que o Papa envia a todos os Bis­
pos que estão em comunhão com
“D E SIG N A D O R E S” DE LUGARES a Sé Apostólica, para fazer co­
— O art. 15 do Regulamento, nhecer à Igreja inteira o seu pen­
no inciso 4*, precisa a tarefa dos samento e a sua vontade sôbre
"assign atores locorum” : segundo algum ponto do dogma, dá mo­
a lista estabelecida, files acom­ ral e da disciplina eclesiástica.
panham os Padres ao lugar a files
designado, anotam os nomes dos ESCREVENTES-ARQ UIVISTAS —
Padres presentes, e cuidam de São aqufiles que anotam diligen­
que os mesmos Padres preen­ temente tudo o que se passa nas
cham a ficha que lhes certifica Sessões Públicas e nas Congre­
a presença. gações Gerais, a fim de pode­
rem, em seguida, fazer relação
D IO C E SE — O nome deriva do di­ escrita disso; além disto, cuidam
reito público romano, e indica um da impressão dos esquemas, das
território, bem definido na ex­ notificações e de tudo quanto
tensão c nos limites, que é go­ deve ser lido e distribuído aos
vernado por um Bispo com po- Padres.
Concllio II — 26
402 V II. V ocab ulário Conciliar

E SC R U T IN A D O R E S — Recolhem gação G era l; e) se o esquema


os sufrágios dos Padres, nas em endado ainda não fôr aprova­
Sessõ es Pú blicas e nas Congre­ do, em algum as de suas partes,
gações Gerais, e apuram-nos. pela C ongregação G eral, deverá
repetir-se o mesmo trâm ite, para
ESQ U E M A S — No período prepa­ um seu ulterior aperfeiçoam ento.
ratório, eram cham ados com êste
nome os textos que a s várías Co­
E S TE N Ó G R A FO S — Apanham to­
m issões e Secretariad os haviam
dos os discursos e tôdas as dis­
elaborado sôbre os assuntos de
sua respectiva com petência, para cussões dos P a d res; em seguida,
depois de transcrevê-los em es­
apresentá-los ao exame da Co­
crita comum, entregam os textos
missão Central. E sses esquemas,
recolhidos ao S ecretário G eral,
em número de 70, foram reuni­
dos em 119 opúsculos, num total para que sejam redigidos os atos
necessários. Os estenógrafos são
de mais de 2.050 páginas (cf.
42, todos estudantes eclesiásticos,
Vol. I, pp. 2 29 -2 3 5 ). Em período
conciliar, cham am-sc esquemas de de diversas nações, para poderem
colhêr os diferentes tons das pro­
D ecretos e de Cânones os textos
que são distribuídos aos Padres núncias latinas.
em tempo útil para que possam
ser discutidos e eventualm ente E X P E R T O S — Chamam-se E xper­
emendados. O processo no exa­ tos — ou Peritos conciliares —
me dos esquemas c o seguinte: os teólogos, os canonistas e to ­
a ) Cada esquema a discutir-se é dos os que, particularmente ver­
apresentado e explicado à Con­ sados nos assuntos tratad os no
gregação Geral por um Relator Concilio, são nomeados pelo Papa
designado pelo Presidente da Co­ para prestarem o seu concurso
missão in teressada; b) cada um no estudo e aprofundamento dos
dos Pad res que pretende intervir diferentes tem as cm discussão.
para aprovar, ou rejeitar, ou
emendar o texto, apresenta pedi­ FIN ALID AD ES DO CONCILIO —
do ao Secretário Geral, e, che­ Na sua prim eira E ncíclica, Ad
gada a sua vez, expõe claram en­ Petri Cathedram, publicada a 29
te os motivos da sua interven­ de junho de 1959, Jo ã o X X III
ção, entregando, depois, por es­ delineia a s finalidades fundamen­
crito, as eventuais emendas pro­ tais do Concílio: "E sco po prin­
postas. Aos Padres é feito pe­ cipal — ali se lê — será promo­
dido de não ultrapassarem , pos­ ver o incremento da fé católica,
sivelm ente, os dez minutos na uma salutar renovação dos cos­
explicação do seu pensamento; tumes do povo cristão, e atuali­
c ) a Congregação Geral, após a zar a disciplina eclesiástica con­
réplica do Relator, exprime seu soante as necessidades dos nos­
voto sôbre as propostas de emen­ sos tem pos”.
das, julgando se devem ser rejei­
tadas ou, ao contrário, inseridas GUA RD AS — O art. 16 diz: dois
no esquema; d) se as emendas Guardas, segundo a tradição da
são aceitas, o Relator — depois Igreja nomeados pelo Santo P a ­
que o texto tornar à Comissão dre, acompanham o Papa e os
Conciliar para as correções — de­ Padres enquanto chegam à Sala
verá reapresentar a nova formu­ conciliar; depois, vigiam as en­
lação ao julgamento da Congre­ tradas do Concilio.
VII. Vocabulário Conciliar 403

H A BITO — Nas Sessões Públicas, dição, diante das portas de en­


todos os Padres investidos de trada das quatro maiores basíli­
dignidade episcopal, como tam­ cas romanas (cf. Vol. 1, pp.
bém o s Abades e os Prelados 83-88).
"Nullius”, revestem o pluvial e a
mitra brancos; nas Congregações INFALIBILIDADE PONTIFÍCIA —
Gerais, porém, cada um reveste O dogma da infalibilidade ponti­
os hábitos corais do próprio fícia ensina como divinamente
grau: veste vermelha ou rofca, revelado que, quando fala "cx
conforme o tempo litúrgico, com cathedra”, ou seja, quando, na
roquete, mantelete e murça, os qualidade de pastor e de doutor
C ardeais; veste violácea, com ro­ de todos os cristãos, em virtu­
quete, mante'ete e murça, os Pa­ de da sua suprema autoridade
triarcas; veste violácea, só com apostólica, define que uma dou­
roquete e mantelete, os Arcebis­ trina referente à fé e aos cos­
pos e os Bispos; hábitos corais tumes deve ser considerada ver­
próprios de cada rito e ordem, dadeira pela Igreja universal, o
os Bispos orientais e os Abades Romano Pontífice goza da in­
e Superiores Gerais. Nas Comis­ falibilidade de que o Divino Re­
sões Conciliares, todos vestem os dentor quis dotar a sua Igreja.
hábitos ordinários. Nesta definição da infalibilidade
pontifícia aprovada pelo Concílio
H ERESIA — Esta palavra, deriva­ Vaticano I, são indicados a na­
da do grego, indica: escolha. No tureza, as condições, o objeto e
seu significado religioso, é uma o sujeito da mesma. Também os
doutrina que contradiz direta- Concílios Ecuménicos gozam do
mente uma verdade revelada de dom da infalibilidade nas defini­
fé. Justamente, quem faz a “es­ ções que dizem respeito à fé e
colha” de tal doutrina põe-se aos costumes, mas sempre depois
contra a Igreja, Mestra da ver­ de haverem sido tais definições
dade; antes, separa-se dela, co­ aprovadas pelo Papa.
mo um ramo cortado do tronco.
"IN ITIO N O STRI” — Bula de
HIERARQUIA — Do grego — sa­ convocação do Concilio de Tren-
cro principado — é o conjunto to, publicada por Paulo 111 em
das pessoas que participam do 1545.
poder eclesiástico. Há a Hierar­
IN T É R PR ETE S — Os intérpretes
quia de Ordem, constituída pelo
estão à disposição dos Padres
conjunto de pessoas que estão
para tódas as traduções que se
investidas do poder de Ordem
tornem necessárias na Sala con­
nos diversos graus desta; e a
Hierarquia de jurisdição, que é ciliar.
formada pelo conjunto das pes­ JURAMENTO — O art. 27 do Re­
soas munidas do poder de ensi­ gulamento estabelece: os Pro­
nar e de governar. curadores, os Peritos, c todos os
“HUMANAE SA L U T IS ” — São as outros Ajudantes e Oficiais do
prim eiras palavras da Bula de Concílio, antes de ôste começar,
convocação do Concilio Vaticano devem proferir, perante o Presi­
II, publicada por João X X III a dente ou um seu delegado, o ju­
25 de dezembro de 1961, e lida ramento de cumprirem fielmente
no mesmo dia, consoante à tra­ a sua tarefa, de observarem o
404 V II. V ocabulário Conciliar

segrédo sôbre os trabalhos, as cisamente, cham am -se O bserva­


discussões, os pareceres dos P a ­ dores D elegados. Podem assistir
dres, as votações e os seus re­ às Sessõ es Pú blicas e à s Congre­
sultados. g ações Gerais, salvo caso s espe­
ciais indicados pelo Conselho de
L E IT O R E S — Estão à disposição
Presid ência; não podem, porém,
dos Padres no caso de quererem
usar da palavra ou votar. T am ­
êstes fazer-se substituir na lei­
pouco podem participar das re­
tura de seus discursos e ob­
uniões d as Com issões conciliares
servações.
sem o consentim ento da legitima
LÍNGUA — O art. 28 do Regula­ autoridade. O s O bservadores po­
mento precisa: a língua latina dem referir à s suas comunidades
deve ser usada nas Sessões Pú­ o que se faz no Concilio, mas
blicas, nas C ongregações Gerais, são obrigados ao segredo para
no Tribunal Administrativo e na com qualquer outra pessoa. O
compilação de todos o s A tos; c, Secretariad o para a União é o
a fim de lhe ser facilitado o uso, órgão oficial do Concilio para os
à disposição dos Pad res se acham contactos necessários com os Ob­
leitores, in térpretes e tradutores. servadores, e é incumbência sua
Nas discussões no seio das Co­ fazer com que êles possam acom ­
missões, além do latim podem panhar os trabalh os conciliares.
ser usadas as línguas modernas,
porém com a cláusula de imedia­ PA D R E S — Diz o art. I do Re­
ta tradução para o latim. gulamento do Concilio Ecumêni­
co V aticano II: "Form am o Con­
"M U L T ÍP L IC E S IN T E R " — São cilio Ecumênico, juntamente com
as prim eiras palavras da Carta o Sumo Pontífice, os B ispos e
A postólica de Pio IX , publicada os outros cham ados ao Concílio
a 2 de dezembro de 1869, com a pelo Pap a: os quais são todos
qual foi dado a conhecer o Re­ cham ados Pad res C onciliares”.
gulamento do Concilio V atica­
no I. PA TRIA R CA S — Assim se chamam,
na Igreja oriental, alguns Bispos
"M O TU P R O PR IO ” — E ’ um do­
de dioceses antiquíssim as, entre
cumento pontifício cuja forma e
as quais diversas de origem apos­
uso remonta ao século X V : es­
tólica. A êles é reconhecida pela
crito cm papel, leva no alto o
tradição e pelo Código uma au­
nome do Papa, e começa com
toridade superior à dos Bispos
as palavras "Motu Proprio” ; é
ordinários. Só dois — é evidente
destituído de sêlo e de outras
— são os graus da Sagrad a Hie­
formalidades.
rarquia de instituição divina acêr-
N O TÁ RIO S — Devem redigir os ca do poder de jurisd ição: o
atos de tudo o que sc faz nas Sumo Pontificado, e o Episcopa­
Sessõ es Públicas, nas Congrega­ do a êle subordinado. Os Pa­
ções G erais e no Tribunal Ad­ triarcas, portanto, reconhecem
m inistrativo; e devem manter tais que o particular poder de ju ris­
atos em ordem e custódia no dição a êles atribuído origina-se
arquivo. únicamente de instituição ecle­
siástica e, por consequência, está
O B SE R V A D O R E S — São os en­ inteiramente sujeito à autoridade
viados das Igreja s cristãs sepa­ do Sumo Pontífice. Os prim eiros
radas da Igreja Católica, e, pre­ P atriarcas reconhecidos, em or­
VII. Vocabulário Conciliar 405

dem histórica, foram os de Cons­ PRIMAZES — Segundo a vigente


tantinopla, de Alexandria do Egi­ disciplina do Código, o título de
to, de Antioquia, de Jerusalém. Primaz é mero titulo honorifico,
No Oriente há Patriarcas para sem verdadeira jurisdição sôbre
cada rito particular. Os patriar- os territórios compreendidos na
cados da Igreja Ocidental, que denominação do titulo. Tem êle
têm origem diversa, estão redu­ direito a precedência sôbre os
zidos a ser pouco mais do que Arcebispos, mas vem depois dos
um titulo. No Concilio Vaticano Patriarcas.
II, 6 são os Patriarcas Orien­
tais; 2 os Patriarcas Ocidentais; PROCURADORES — Citando o Có­
c 3 os Patriarcas-Cardeais. digo de Direito Canônico, no art.
I inciso 2’ , o Regulamento im­
põe aos Padres Conciliares a
PRECED ÊN C IA S — As precedên­
obrigação de se fazerem repre­
cias são reguladas nesta ordem:
sentar por um procurador no caso
os Cardeais, os Patriarcas, os
de impossibilidade de assistirem
Prim azes, os Arcebispos, os Bis­
pessoalmente. Os procuradores
pos, os Abades e Prelados “ Nul-
têm um lugar particular, segun­
lius", os Abades Prim azes, os
do as ordens de precedência; se
Abades Superiores de Congrega­ não forem Bispos, só podem as­
ções monásticas, os Superiores sistir às Sessões Públicas, e não
das Ordens e Congregações reli­ têm direito a voto; se forem B is­
giosas isentas. Também os Pro­ pos, têm direito a um voto só,
curadores têm um lugar parti­ isto é, o próprio.
cular segundo as ordens de pre­
cedência; e um lugar a si reser­ PROM OTORES — Consoante o art.
vado têm também os Peritos 15 do Regulamento, no fim de
conciliares. cada Sessão Pública, com fórmu­
la solene, os Promotores pedem
PRELADO "N U L L IU S” — E* um que os Notários presentes redi­
verdadeiro Ordinário com plena jam o ato ou os atos sôbre aqui­
jurisdição sôbre determinado ter­ lo que foi realizado na Sessão
ritório, em cujo âmbito haja ao do Concilio.
menos três paróquias, separado
REGULAMENTO — E ’, um pouco,
da diocese e não dependente de
o Código do Concílio, enquanto
nenhum Bispo ("N ullius"). O
estabelece as normas para o de­
Prelado “Nullius” pode também
senvolvimento do Concílio Vati­
não ser Bispo. Os seus direitos
cano II. Compõe-se de três par­
e deveres são equiparados aos
tes, subdivididas, por sua vez,
dos Abades “Nullius”. No Concí­
em 24 capítulos e 70 artigos. A
lio Vaticano II — cm data de 1’
primeira trata das pessoas que
de setembro — são 14 os Pre­
participam do Concilio ou pres­
lados "Nullius” com direito de
tam o seu concurso para o de­
participação no Concilio.
senvolvimento dêle; a segunda
PREPA R A TÓ RIO — Período pre­ fixa as regras a deverem ser ob­
paratório do Concilio: de 5 de servadas durante o Concilio; a
junho de 1960 a 21 de junho de terceira indica o modo de proce­
1962. Comissões preparatórias: der nos trabalhos. O Regulamen­
II Comissões particulares, 1 Co­ to foi tornado público a 5 de
missão Central e 3 Secretaria­ setembro de 1962. Nos primeiros
dos (cf. Vol. I, pp. 116-142). Concílios da Igreja não tinha
406 VII. V ocabulário Conciliar

havido Regulamento, e procedia- Colégio é o Cardeal Decano,


se um pouco conforme as situa­ "prim us inter pares”, e, por direi­
ções e os casos. Antes da aber­ to, é aquèle que desde mais tem­
tura do Concilio de Constança po é Cardeal na Ordem dos B is­
(1 4 1 4 ), os teólogos pediram ao pos. Ao Sacro Colégio, como tal,
Papa dignar-se de fixar algum as é confiado o governo da Igreja
normas para melhor prosseguir e do Estado da Cidade do V ati­
nos trabalh os; no V Concílio de cano durante a vacância da San ­
Latrão (15 1 2 ), o próprio Papa ta Sé, limitadamente, porém, aos
precedentemente redigira um R e­ negócios urgentes e aos de admi­
gulamento, feito depois aprovar nistração ordinária.
pelos Pad res C onciliares. O Con­
SALA CO NCILIAR — E ’ a sala
cilio de T ren to, porém, abriu-se
onde se desenvolve a maior par­
(1545) sem normas especiais; e
te dos trabalh os conciliares, isto
foi durante o seu desenvolvimen­
c, as reuniões das C ongregações
to que, notando-se gravemente a
G erais e das S essõ es Públicas.
necessidade de um pequeno Có­
Pa ra o atual Concilio, a Sala
digo de processo que pudesse fa­
está instalada na nave central da
cilitar os trabalhos, cuidou-sc de
Basilica de S ão Pedro, para isso
fixar regras segundo as necessi­
oportunamente preparada e arran ­
dades de em ergência. Em consc-
jad a (cf. Vol. I, pp. 2 2 5 -2 2 8 ).
qüência também das experiências
passadas, para o Concilio V ati­ S E C R E T A R IO GERA L — O Secre­
cano I foi preparado um Regula­ tário G eral presta o seu concurso
mento, dado a conhecer aos P a ­ ao Conselho de Presid ência; exe­
dres a 2 de dezembro de 1869, cuta o que foi estabelecido nas
seis dias antes da solene inau­ Sessões Públicas e nas Congre­
guração da Assembléia, com a gações G erais; cuida da coleta,
C arta Apostólica Multíplices inter, ordem e custódia dos Atos do
que traz a data de 27 de novem­ Concilio. O S ecretário G eral é
bro do mesmo ano. nomeado pelo San to Padre. Faz
R IT O — Há 6 ritos principais: o um pouco de ligação entre os P a ­
rito alexandrino, com as deriva­ dres e o Conselho dc Presidên­
ções dos coptas e dos etíopes; cia. Lê a profissão de fé por to­
o rito antioqueno, com os sírios, dos; recebe do Santo Padre os
os m aronitas, os m alancareses; D ecretos e Cânones que devem
o rito bizantino, com os ucrania- ser votados nas Sessões Públi­
nos, os rutenos, os gregos, os cas, e lê-os do púlpito; interroga
ítalo-albaneses, os melquitas, os os Padres sôbre o seu parecer
rumenos, os russos, os búlgaros, antes das votações, c, após o es­
os iugoslavos; o rito caldeu, com crutínio, apresenta os resultados
os caldeus e os m alabareses; o ao Papa. Êle é, um pouco, a
rito a r m ín h ; o rito latino. energia motora dc todo o Con­
cílio.
SACRO CO LÉGIO — O conjunto
dos Cardeais é chamado Sacro S E S S Õ E S P Ú BL IC A S — S ão aque­
Colégio, e é considerado como las que o Papa preside, e nas
uma espécie de Senado da Igre­ quais, em presença dêste, os P a ­
ja ; é pessoa jurídica. O Sacro dres exprimem o seu voto sôbre
C olégio divide-se em três Ordens: os D ecretos e Cânones prèvia-
a dos Bispos, a dos Padres e a mente discutidos e preparados
des Diáconos. Chefe do Sacro nas C ongregações Gerais.
VII. Vocabulário Conciliar 407

SU B SE C R E T Á R IO S — São 5, no­ têm apenas como titulo uma dio­


meados pelo Papa, c têm a in­ cese antiga e agora já não mais
cumbência dc ajudar o Secretário existente.
Geral, e dc substitui-lo em caso
de ausência. TRA D UTO RES — Têm a incum­
bência de redigir em latim os
SU B S T IT U IÇ Õ E S — Tôda Pessoa discursos e os pronunciamentos
afeta ao Concílio deve ser subs­ dos Padres escritos nas línguas
tituída pela autoridade competen­ vulgares; devem, além disto, cui­
te logo que, por qualquer moti­ dar do texto latino dos atos e
vo, já não possa prestar o seu dos documentos.
concurso ou venha a faltar.
TRIBUNAL ADMINISTRATIVO —
SU FRÁ G IO S — São necessários Constituído para dirimir eventuais
dois terços dos sufrágios em tô- questões disciplinares, é compos­
das as votações nas Sessões Pú­ to de 10 Membros e presidido
blicas, nas Congregações Gerais por um Cardeal. Todos os Mem­
e nas Comissões Conciliares. bros são nomeados pelo Papa.
No Tribunal Administrativo, três
SU P E R IO R E S GERAIS — Os Su­ Membros, por turno, dirimem as
periores Gerais das Ordens e questões; em caso de recurso, to­
Congregações religiosas clericais dos os 10 Membros são chama­
isentas que têm direito de par­ dos a julgar. Deixando de parte
ticipar do Concilio, na qualida­ tõdas as solenidades dos proces­
de de Padres, são — sempre em sos, o Tribunal julga as ques­
data de 1* de setembro de 1962 tões olhando sòmente à verdade
— em numero de 67. Entre êles das coisas. Pode ser coadjuvado
figuram também alguns Abades por um notário conciliar, e, se fôr
Superiores de Ordens Monásticas. o caso, por um Promotor con­
ciliar.
TÉ C N IC O S — Não devem ser con­
fundidos com os componentes da VOTAÇÕES — O art. 37 do Re­
Comissão Técnico-Organizadora, gulamento indica as fórmulas e
v são todos aquêlcs que formam os modos a serem usados nas
o 4* Oficio da Secretaria Geral, votações. Nas Sessões Públicas,
o das questões técnicas, previsto os Padres votam, diante do San­
pelo art. 13 do Regulamento. to Padre: placet (sim ), non placet
Ocupam-se das máquinas para o (n ã o ); nas Congregações Gerais
registro, para as votaçõe9, para e nas Comissões, os Padres vo­
a difusão (microfones, alto-falan­ tam: placet (sim ), non placet
tes, etc.). (n ã o ); placei iuxla modum (sim,
TEÓ LO G O S — São os peritos cm mas com modificações). Aquêle
questões doutrinárias. A sua fun­ que vota placei iuxla modum
ção é a mesma descrita no ver- deve explicar o motivo das suas
reservas. As votações são feitas
bête "Canonistas”.
com cédulas apuradas por um
nóvo sistema mecanográfico, sc
T IT U L A R E S — Chamam-se titu­
o Presidente da Assembléia não
lares os Arcebispos ou os B is­
estabelecer diversamente caso
pes que não são eleitos para
governarem uma diocese, mas por caso.
in d ic e
índice

Proêmio c justificação ......................................................................... 5

I. Credo sacruni Concilium ............................................................. 7


1. Docete omnes gentes .......................................................................... 9
2. Visum est Spiritui Sancto et nobis .................................................. 12
3. Spiritui Sancto assistente ............................................................. 18
4. Erunt omnes docibiles Dei ..................................................... 24

II. Abertura e Ambiente ................................................................ 31


1. A solene abertura ................................................................................. 33
2. A Aula Conciliar ................................................................................... 36
3. Os Padres Conciliares ........................................................................ 41
4. O Conselho de Presidência e o Secretariado Geral ............... 46
5. As Comissões Conciliares .................................................................... 51
6. Os Peritos Conciliares ........................................................................ 61
7. Observadores e Hóspedes não-católicos ....................................... 65

III. Crônica das Congregações Gerais ...................................... 71


Introdução ........................................................................................................ 73
13-10-1962: Prim eira Congregação Geral. Eleição das Comissões 77
Comentário do cronista .................................................................... 78
16-10-1962: Segunda Congregação Geral. Eleição das Comissões 80
Comentário da Rádio Vaticano .................................................. 81
20-10-1962: Terceira Congregação Geral. Mensagem à Huma­
nidade ........................................................................................................ 84
22- 10-1962: Quarta Congregação Geral. A Liturgia em g e r a l...87
Comentário do cronista ................................................................... 90
23- IM 9 6 2 : Quinta Congregação Geral. Debates sôbre o latim 94
24- 10-1962: Sexta Congregação Geral. Renovação litúrgica . .100 .
26- 10-1962: Sétima Congregação Geral. Língua litúrgica .. 107
27- 10-1962: Oitava Congregação Geral. Participação ativa na
110
29- 10-1962: Nona Congregação Geral. O principio da adaptação 113
30- 1 M 9 6 2 : Décima Congregação Geral. A concelebração - 117
31- 10-1962: 11* Congregação Geral. Liturgia da palavra .. 120
Elenco das principais modificações para a Missa ............. 124
5-11-1962: 12* Congregação Geral. Liturgia da palavra ......... 125
Sôbre a comunhão sob duas espécies ..................................... 128
4 12 Indice

5-11-1962: 13* C ongregação G eral. Liturgia dos sacram entos 130


7-11-1962: 14* C ongregação Geral. Os sacram entos. O Breviário 134
Com entário do cronista ........................................................................ 139
9- 11-1962: 15'C ongregação Geral. O Breviário ............................. 140
10- 11-1962: 16*C ongregação G eral. O Breviário ............................. 144
12 - 11-1962: 17*C ongregação G eral. M osaico litúrgiCo ................. I4R
13- 11-1962: 18*C ongregação Geral. Q uestões litúrgicas várias 153
Com entário do cronista ........................................................................ 157
14- 11-1962: 19* C ongregação Geral. As fontes da revelação 161
Liturgia pastoral ......................................................................................... 164
16- 11-1962 :20* C ongregação Geral. As fontes da revelação . . . 168
17- 11-1962 :21» C ongregação Geral. As fontes da revelação 172
Comentário do cronista ........................................................................... 175
19- 11-1962: 22» C ongregação Geral. As fontes da revelação . . 177
20- 11-1962: 23* C ongregação Geral. As fontes da revelação 183
Nota sôbre a Form geschichte ........................................................... 185
21- 11-1962: 24» C ongregação Geral. As fontes da revelação . . 190
Comentário do cronista ........................................................................ 193
23- 11-1962 : 25» C ongregação G eral. Meios de com unicação social 197
Comentário do cronista ........................................................................ 200
24- 11-1962 : 26* C ongregação Geral. Meios de com unicação social 202
Comentário do cronista ...................................................................... 205
26- 11-1962 : 27* C ongregação Geral. Meios de com unicação social 207
27- 11-1962: 28* C ongregação G eral. A unidade da Igreja . . . 212
28- 11-1962: 29* C ongregação Geral. A unidade da Igreja 220
As emendas do Proêm io ................................................................... 223
30-11-1962 : 30* C ongregação Geral. A unidade da Igreja . . . . 226
1-12-1962: 31* C ongregação Geral. A Igreja .................................... 230
3- 12-1962 : 32* C ongregação Geral. A Igreja .................................... 236
Comentário do cronista ........................................................................ 239
4- 12-1962: 33* C ongregação Geral. A Igreja ............... 241
Com entário do cronista ........................................................................ 244
5- 12-1962 : 34* Congregação Geral. A Igreja ............................. 246
Os princípios gerais da reforma litúrgica agora a p ro v a d o s.. 249
6- 12-1962: 35* C ongregação G eral. A Igreja ............................ 257
Normas para a época intersessional ............................................ 260
7- 12-1962: 36* Congregação Geral. A Igreja .......................... 262
Comentário final do cronista .......................................................... 265

IV . D o c u m e n t o s .......................................................................................................... 269
Regulamento do Concílio Vaticano II ................................................... 271
I Parte. As pessoas que tomam parte no Concilio . . 273
I. As Sessões Públicas ....................................................... 273
II. As Congregações Gerais .............................................. 274
III. As Comissões Conciliares ............................................ 274
IV. O Tribunal Administrativo .......................................... 275
V. Os Teólogos. Canonistas e outros Peritos ......... 275
VI. O Secretariado Geral ................................................... 276
VII. Os Guardas Gerais ....................................................... 277
VIII. A substituição das pessoas .......................................... 277
IX. Os Observadores ................................................................277
índice 413

II Parte. As regras a observar durante o Concilio ........... 277


I. Quando e onde têm lugar as reuniões 277
II. A vestimenta ....................................................... 278
III. As p re c e d ê n cia s ....................... ‘‘' 278
IV. A profissão de fé ............................... 279
V. A obrigação do segrêdo ......... 279
VI. A lingua que deve ser usada ................................ 279
VII. A compilação e distribuição dos atos c docu­
mentos ............................................................................... 279
VIII. Exame dos esquemas ............................................... 280
IX. Os escrutínios ................................................................ 280
X. Apresentação de novas questões .......................... 281
X I. As partidas e as ausências .................................... 281
X II. A dispensa da obrigação de residência ............. 281

III Parte. O desenrolar dos trabalhos ....................................... 282


I. O processo das Sessões Públicas . . . : ................. 282
II. O processo das Congregações Gerais ................. 283
III. O processo das Comissões .................................. 285
"O m nes sane” : Carta aos Bispos ........................................................ 287
‘‘Paenitentiam agere" ................................................................................. 292
Radiomensagem p r e c o n c ilia r ................................................................... 299
O program ático Discurso de Abertura ................................................ 305
Mensagem dos Padres Conciliares à Humanidade .......................... 313
Discurso às Missões Extraordinárias .................................................. 316
Diálogo com os não-Católicos ............................................................... 319
Discurso aos Jornalistas do Concilio .................................................. 326
Discurso de Encerramento da Prim eira Sessão ........... ............... 330
O Concilio na Mensagem Natalícia .................................................... 335
Discurso aos Cardeais .............................................................................. 341
“M irabilis llle” : nova Carta aos Bispos ........................................... 344

353
V. Repercussões ..................................................................................
Entre nossos Bispos .................................................................................. 355
361
Na Imprensa ...............................................;••••■■■.................................
Entre os Observadores e Hóspedes não-Catolicos .. 369
Um Observador não-Católico Latino-Americano ............................ 376
382
No Protestantismo Brasileiro .................................................................
385
VI. Miscelânea .......................................................................................
387
Instantâneos . .
395
V II. Vocabulário C o n c ilia r .................................................................
397
Vocabulário Conciliar .................................................................................
409
índice ................................................................................................................ 411
índice . . . ........................................................................................
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