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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA 

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 


CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Flavio R. Francisco Junior


 
Projeto Político-Pedagógico:

 O Mundo, O individuo e a Sociedade


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Porto Alegre 
2014
Conteúdo
Conteúdo..........................................................................................................................................................2
Introdução........................................................................................................................................................2
Max Weber: Vida e Obra...................................................................................................................................2
O Projeto Político-Pedagógico...........................................................................................................................3
A Construção dos Tipos Ideais..........................................................................................................................3
Escola Tradicional - Tradicional.........................................................................................................................4
Escola Tradicional - Economicista......................................................................................................................5
Escola Tradicional - Liberal................................................................................................................................5
Escola Progressista............................................................................................................................................6
A Ação Social e o Sentido de Vigência..............................................................................................................7
Bibliografia........................................................................................................................................................7

Introdução

Este trabalho é uma materialização de uma série de reflexões que tenho em torno do sistema
de educação. Partindo do questionamento do entendimento do Projeto Político-Pedagógico (PPP)
escolar partir do método compreensivo de Max Weber. Procuro discutir a questão metodológica,
tentando organizar, ao longo do trabalho, uma série de recursos analíticos que me possibilite
compreender o documento de forma ideal, exaltando assim as diretrizes da escola como uma
instituição formadora de um projeto de mundo a partir de sua visão de sociedade, visão de
indivíduo e visão de mundo.

Max Weber: Vida e Obra

Max Weber viveu em um período intenso de discussões da metodologia ideal para


compreender, cientificamente, as relações sociais humanas. Neste período havia um intenso
debate na forma e conteúdo da produção das ciências sociais. Nesta disputa, Weber se opunha ao
positivismo cientifico, às leis naturais que regem as relações humanas porque, para ele, estas
relações estão envolvidas em subjetividades que precisariam de uma interpretação diferenciada
das interpretações objetivas das ciências naturais.
Sua vida inteira foi acompanhada por um ambiente propício à vida intelectual. Sua família
situava-se em uma classe privilegiada na Alemanha, era filho de um advogado respeitado e
reconhecido em seu meio. Esta herança possibilitou a ele grandes oportunidades, que
direcionaram a vida ao estudo das ciências humanas e que o disciplinou para a vida intelectual.
Desta forma, desde muito cedo Weber se dedicou aos estudos.
Possuía uma saúde frágil que por diversas vezes o impediu de produzir e dar suas aulas na
universidade. Morreu aos 56 e graças à sua esposa temos hoje grande parte da obra deste
sociólogo tão influente, Mariane Weber, também socióloga, que se responsabilizou por organizar e
publicar sua obra.
O Projeto Político-Pedagógico

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional (Lei 9394/96), existe por
obrigação a produção do Projeto Político Pedagógico (PPP). Este documento como objeto de
reflexão e estudo na tentativa de repensar a educação e as práticas educativas, como também um
instrumento de intervenção metodológica e prática. É neste documento que a escola apresenta
suas diretrizes, seus projetos e sua visão de mundo, o guia para a prática pedagógica a partir de
seu posicionamento diante do mundo.
O PPP é um conjunto de reflexões das análises da conjuntura da escola, em seu âmbito
contexto-histórico e histórico-local. Este reconhecimento de identidade dos sujeitos e das
estruturas que a cercam gera um diagnóstico sobre a realidade e a programação de um projeto
político educativo diante deste diagnóstico. Ou ao menos assim deveria ser refletido o documento
e sua importância.
Desta forma, inicio a interpretação do documento como um tipo ideal, não necessariamente
verificado na prática docente da escola, mas como um recurso que guia a prática em menor ou
maior grau. Entendo que verificar esta prática, na escola, em seu grau de coerência com o
documento faz parte de um segundo trabalho. O entendimento que pretendo problematizar aqui é
o entendimento ideal do documento seguindo a pergunta fundadora: Como entender
compreensivamente o Projeto Político-Pedagógico? A partir da tipificação ideal.

A Construção dos Tipos Ideais

A caracterização dos tipos puros, ou ideais, é a racionalidade das categorias, ou seja, valores
abstratos e anteriores à análise criada a partir da abstração do método indutivo indução. Não é,
inteiramente, um conceito desprovido da realidade. Mas uma categoria que parte da realidade, é
purificada em essência no processo de abstração e que, assim, retorna à realidade como forma
analítica para ser preenchido por ela. São conceitos de valor utópicos, não os encontramos puros
em realidade, mas servem como modelo de análise da realidade e preenchidos por realidade. E
também, por último, a pluricausalidade do conceito. O entendimento das coisas só pode se dar a
partir dos significados humanos tal de sua utilidade quanto de subjetividade daquela coisa
(Weber). Esta interpretação do PPP se dará a partir das seguintes categorias:

Visão de mundo seria a categoria que se refere ao projeto de mundo da escola, o mundo para
que os alunos estejam sendo ensinados e projetados. Esta categoria está relacionada na
articulação dos fins e dos valores da escola, guiada pela pergunta “o que pretendemos alcançar
com a educação?”. A diretriz de formação do aluno, de seus valores. Esta categoria serve para a
analise dos projetos e posicionamento politico da escola.

Visão de Sociedade é como ela é vista pela escola, sua visão da realidade, estrutural ou não,
que circunda a escola, no mundo que ela está incluída e os recursos necessários para alcançar os
fins de uma sociedade ideal. É uma descrição do mundo “como ele é”, de suas limitações, funções
ou de possibilidades. Pode aparecer desde o contexto direto e particular da escola, como o bairro,
a cidade, ou de uma forma ampla e universal de sociedade e seus significados. Por vezes esta
categoria aparece como uma analise de conjuntura elaborada no PPP.

Visão de Indivíduo é a categoria que se refere aos sujeitos na visão da escola, a concepção de
ser humano que a escola tem, e assim, reflete na maneira de como a educação age diante destes
sujeitos. É a ideia formada em torno de quem e o que é o aluno. Também perpassa por uma
questão ontológica, de estudo do ser como é no “mundo concreto”, de sua relação com a natureza
e sociedade.
Em algumas ocasiões estas três categorias estão diluídas. Uma está associada a outra, e seu
significado depende, condicionalmente, da relação entre as categorias.
Os tipos ideais de visão de mundo, visão de sociedade e visão de indivíduo, foram construídos
a partir da análise das quatro tradições pedagógicas e sociológicas de ver, interpretar e agir sobre o
mundo, que foram descritas de uma forma muito coerente nas considerações teóricas
metodológicas do livro Escola, Estado e Sociedade, escrito por Barbara Freitag. E também pelo
entendimento da pedagogia de Paulo Freire, que influenciou muito as diretrizes progressistas de
educação. A seguir são apresentadas as categorias de análise das quatro tradições político- -
pedagógico em seus tipos ideais.

Escola Tradicional - Tradicional

A escola de tendência tradicional enxerga na educação um processo de socialização do


indivíduo, de incluir ele aos hábitos da sociedade. Ela se organiza a partir da disposição de mudar o
ser humano de seu estado de natureza egoísta para o altruísmo diante da sociedade e das
estruturas.
Sua visão de mundo vê na ordem e na coação o movimento de desenvolvimento da
sociedade, este movimento se torna possível na medida em que cada indivíduo da de si o melhor
para o avanço da sociedade. Assim, a sociedade caminha em um sentido positivo, onde as
organizações e instituições controlam a vida na liberdade.
Desta forma a sociedade está integrada, cada instituição e indivíduo estão ligados por uma
teia invisível que os coordena a um futuro determinado. A sociedade é toda a junção dos hábitos e
tradições que ligam o indivíduo à sua cultura.

Visão de Mundo Ordem


Altruísmo
Positivismo
Desenvolvimento
Visão de Sociedade Integrada
Instituições
Determinante
Tradição
Visão de Indivíduo Egoísta
Mau
Vazio
Escola Tradicional - Economicista

Esta escola poderia ser retratada, também, como as escolas profissionalizantes. Percebem na
educação um valor de troca, de um lado recebe a educação, de outro esta educação torna-se útil
para a sociedade quando retorna como mão de obra especializada ou como forma de inclusão dos
sujeitos no sistema de produção.
Esta Escola busca a racionalização do mundo, o mundo como um grande projeto econômico
de busca nas relações custo e benefício entre indivíduos e sociedade. Percebe que a meritocracia é
a forma reguladora de que a sociedade tem de premiar os indivíduos em uma relação de troca, tal
como a lógica de livre mercado e da “mão mágica” reguladora.
Todo indivíduo é livre, e racional, sabe as consequências de suas escolhas e possui livre
liberdade de optar pelos caminhos a seguir. Ninguém é escravo de sua condição, mas sim de suas
escolhas dentro de uma sociedade embasada na contínua busca do desenvolvimento econômico,
sendo responsável de si diante das estruturas e dos outros.

Visão de Mundo Racionalista


Mercado
Utilitarismo
Meritocracia
Visão de Sociedade Econômica
Meritocracia
Visão de Indivíduo Livre
Racional
Individualismo

Escola Tradicional - Liberal

Em observações prévias as escolas de Porto Alegre, a tradição político-pedagógico tradicional


liberal geralmente está associada a escolas que carregam uma influência religiosa católica/cristã.
Enxerga nos indivíduos um potencial enorme para a prática da liberdade e de escolha, separado
das condições estruturais determinantes. Esta influência religiosa é justificada, inicialmente, por
uma tendência humanista desta escola. Por vezes também, pela eterna procura ao Éden perdido,
ao resgate do estado de natureza da bondade humana, anterior a estas estruturas corruptoras,
para assim criar uma sociedade democrática e livre. Ou ainda um caminhar em direção ao paraíso
de uma construção dos sujeitos das estruturas ainda não perfeitas.
Enxergam na Democracia política a solução no conflito entre público e privado por ser o
sistema que melhor pode articular os interesses individuais aos coletivos e individuais. Valorizando
a liberdade de expressão e de posicionamento frente à realidade. Ela parte do pressuposto do
reconhecimento das relações de poder existentes na sociedade, e que estas relações são frutos de
um sentimento de justiça que todos nós somos voluntários em reconhecer, visto que todos somos
seres únicos e desta forma, pela meritocracia, podemos valorizar cada mérito individual.
Nosso estado natural é bom, ou neutro, mas a sociedade nos molda diante do coletivo, desta
forma nos somos um ser universal, e universalmente adaptado à sua cultura. A questão central é
resgatar este estado de natureza que propicie um ambiente de justiça e liberdade frente à
corrupção do mundo.
Visão de Mundo Democracia
Liberdade de expressão
Racionalidade
Voluntarismo
humanismo
protagonismo
Visão de Sociedade Privado x Público
Relações de poder
Meritocracia
Universal
Coletivo
Visão de Indivíduo Bom, corrompido pela sociedade
Idealizado
Livre
Único
Racional

Escola Progressista

A escola progressista carrega no seu projeto um descontentamento com a realidade, e procura


nela meios da transformação social através da prática educativa. Esta tendência político-
pedagógico, muito influenciada pela pedagogia Freireana, percebe que o conhecimento do mundo
contextual e material é condição necessária para a formação da consciência, e apenas desta forma,
da tomada de consciência, é possível erguer nos sujeitos o descontentamento da realidade e as
possibilidades da transformação social.
Todas as sociedades são plurais, formadas por diversos particulares de um mesmo universal.
Sendo assim, toda sociedade, e também os indivíduos, um fruto do seu contexto histórico. O
indivíduo forma a sociedade na mesma proporção que é formado por ela. É através da sociedade
que ele se relaciona com os outros, encontra seus conflitos e
contradições. Desta forma toma consciência do mundo, o critica e o transforma.
Visão de Mundo Dialética
Reinvenção do mundo
Visão de Sociedade Contextual
Plural
Formadora
Lugar de relações
Conflito
Imediato particular
Visão de Indivíduo Contextual
Transformador
Materialista
Inconcluso
Crítico

A Ação Social e o Sentido de Vigência

O entendimento da sociologia de Max Weber se dá a partir da apreensão interpretativa dos


sentidos e do nexo, as relações que ligam ao sentido. Sendo esta a base do entendimento da
sociologia como o entendimento do sentido das ações sociais, as ações racionais. A ação é também
compreendida idealmente a partir de sua base a) racional com respeito aos fins a serem
alcançados, ou seja, toda ação que visa um fim e é medida pelos meios mais fáceis e rápidos a
atingi-los; b) racional com respeito aos valores, toda ação medida por base dos valores e causas
individuais; c) ação tradicional, quando a ação é, na verdade, uma reação a um hábito ou vício, não
valorizando o protagonismo individual, mas sua influência diante dos fatores externos; d) ação
afetiva, quando medida por valores não racionais, vindas do coração ou por simpatia.
A partir desta breve conceituação da ação, podemos perceber o comprometimento da
produção do PPP a partir do sentido de vigência, o respeito a uma ordem legal, nele empregado. O
Projeto Político-Pedagógico como uma ação racional em respeito aos fins, considerando a sua
regularidade com os aspectos legais e burocráticos do sistema de educação, e, ao mesmo tempo,
da ação racional com respeito aos valores, visto nele o respeito com sua ideologia e seu
posicionamento político frente à realidade. Neste sentido este documento age em respeito a uma
vigência, um ordenamento, não apenas uma regra a ser seguida, mas a ruptura e o desrespeito a
ela não traz apenas uma penalidade diante das regras, mas uma ruptura com os valores que a ela
são atribuídos.
O Projeto Politico-Pedagógico é uma responsabilidade da escola como totalidade. Uma
produção coletiva dos professores, da direção da escola, dos alunos e de toda a comunidade
escolar. É responsabilidade da escola a mobilização e conscientização da comunidade escolar da
importância da produção coletiva do documento, afinal é responsabilidade dela a relação intima
entre os interesses da escola e da comunidade escolar, ou clientela da escola.
Cabe então o seguinte questionamento: em que medida pode verificar o respeito a este
documento, e as regras relativas a ele, em uma sociedade burocraticamente organizada sobre
tradições não racionais? Talvez esta pergunta seja mais bem aproveitada em um segundo trabalho
onde se permita um acompanhamento nas escolas.

http://www.monteirolobato.edu.br/institucional/texto/3/historico

Bibliografia
CALADO, Alder Júlio Ferreira. Paulo Freire: Sua visão de mundo, de individuo e de sociedade.
Caruaru: Fafica, 2001.
DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1952.
FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo: Moraes, 1980.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras: 1995.
VEIGA, Ilma Passos da (Org). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível.
Campinas: Papirus, 1998.
WEBER, Max. Economia e Sociedade. Brasília: UnB, 2013.

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