Entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX,
vigoraram em várias partes do globo as teses eugenistas, isto é, teses que defendiam um padrão genético superior para a “raça” humana. Tais teses defendiam a ideia de que o homem branco europeu tinha o padrão da melhor saúde, da maior beleza e da maior competência civilizacional em comparação às demais “raças”, como a “amarela” (asiáticos), a “vermelha” (povos indígenas) e a negra (africana). Nesse período, alguns intelectuais brasileiros incorporaram essas teses e delas derivaram outra, por sua vez, “aplicável ao contexto do Continente Americano: a “tese do branqueamento”. Dado o processo de miscigenação brasileiro, essa tese se resume na ideia de que os descendentes de negros passariam a ficar progressivamente mais brancos a cada nova prole gerada. No início da constituição do Brasil República, nas últimas décadas do escravismo, em uma tentativa de diminuir o número de negros no Brasil, algumas politicas imigratórias durante os anos de 1880 e 1920 foram postas em prática para incentivar a vinda de europeus, principalmente alemães e italianos. A primeira política pública no Brasil, a Lei 601 de 1850 que regulamentou a concessão de terras públicas para estrangeiros, notoriamente beneficiava os imigrantes brancos. Portanto, essa população assumiu postos de trabalhos mais valorizados, entretanto, no Brasil não havia necessidade de mão de obra. Assim, a população negra liberta ficou totalmente desamparada sem nenhuma política pública reparadora após a abolição, o resultado foi negros excluídos nesse processo produtivo, lhe restando afazeres nas regiões mais precárias, atividade urbanas desqualificadas e tarefas de risco de morte. Mas não foi suficiente afetar a vida material, a elite nacional buscou continuar dominando psiquicamente o negro. Era necessário que ele se embranquecesse no corpo e na mente. O branqueamento se refere à adoção pelo não branco de normas, atitudes e valores associados ao universo branco com o intuito de ser reconhecido como detentor de uma identidade racial positiva. Logo, branqueamento significava mudanças comportamentais e culturais por parte dos(as) negros(as), mas também a necessidade de se criar biologicamente intermediários entre pretos e brancos: os pardos. Em vista disso, o principal motivo do pensamento colonial ainda ser tão presente no Brasil foi a colonização do pensamento e do inconsciente durante os anos de colonialismo/escravidão, construído a imagem e semelhança do colonizador, homens brancos europeus. Dessa forma, os ideais racistas da época foram absorvidos pelos próprios negros, além disso, estimulados pelos mesmos, o branqueamento moral era agir igual os brancos, para assim ter a "segunda abolição". A história da negritude é marcada pelo desprezo e pelo ódio da branquitude sobre vidas negras desde a escravidão até os dias atuais. Tamanho ódio sofrido, por muitas vezes, é internalizado nas subjetividade resultado num processo de auto-ódio.