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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO

DISCIPLINA: METEOROLOGIA AGRÍCOLA UNEC / EAD

METEOROLOGIA AGRÍCOLA

Prof. Dr. Marcos Alves de Magalhães


Eng. Agrônomo (UFV)
Especialista em Desenvolvimento e Gestão Ambiental (UESC)
Mestre em Engenharia Agrícola na área de concentração em Tratamento de Resíduos (UFV)
Doutor em Engenharia Agrícola na área de concentração em Recursos Hídricos (UFV)

Caratinga / MG
2020/2

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Professor: Marcos Alves de Magalhães – professormarcosmagalhaes@gmail.com.br
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8ª aula – Zoneamento Agroclimatológico

O clima talvez seja o fator mais importante na determinação do potencial agrícola de


uma região. O macroclima de uma região pode ser considerado praticamente invariável e ca-
racterístico no decorrer de algumas décadas. Uma determinada espécie encontra aptidão climá-
tica, para cultura comercial, em uma região, em função das condições normais do clima. O
agricultor, eventualmente, pode corrigir certas deficiências, como a falta de água, ou se utilizar
de recursos para reduzir os efeitos de elementos adversos (geadas, granizos, ventos fortes), mas
não consegue cultivar economicamente espécies não adaptadas ao clima.
Os passos para a elaboração do zoneamento agroclimático de uma grande região envol-
vem a definição dos objetivos, a escala geográfica do estudo, a caracterização das exigências
climáticas das culturas a serem zoneadas, o levantamento climático da região estudada com
confecção de cartas climáticas básicas e o preparo das cartas finais do zoneamento.
Os zoneamentos agroclimáticos realizados no Brasil têm utilizado principalmente a tem-
peratura do ar e as variáveis resultantes do balanço hídrico climatológico normal (evapotrans-
piração potencial e real, deficiência hídrica, excedente hídrico), embora índices bioclimáticos
às vezes tenham sido usados, como número de horas de frio para o zoneamento de frutíferas de
clima temperado em Santa Catarina (IDE et al., 1978). No estabelecimento dessas exigências,
consulta-se a bibliografia referente às relações do crescimento/desenvolvimento da cultura e
essas variáveis. O conhecimento da fenologia e características da cultura, como época de cres-
cimento, duração do ciclo e das fases fenológicas e os períodos críticas, mais susceptíveis às
condições adversas do clima, são muito importantes.
Outra providência é verificar as condições climáticas da região de origem da cultura,
que indicam as suas exigências, assim como das regiões onde a cultura encontra-se adaptada.
Informações pessoais de especialistas na cultura são importantes, pois podem indicar a resposta
da mesma frente a situações extremas de temperatura e de deficiência hídrica. Com esse levan-
tamento, é possível estabelecer critérios que definem os limites de exigência climática da cul-
tura como exemplo a temperatura do ar e variáveis do balanço hídrico utilizados no zoneamento
agroclimático.
Com base em séries climáticas confiáveis, são elaboradas as cartas climáticas básicas
das variáveis a serem empregadas, sejam de índices bioclimáticos, sejam de elementos como a
temperatura do ar (cartas de isotermas anuais, mensais etc.), de umidade relativa ou de variáveis
do balanço hídrico.

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Essas cartas podem ser confeccionadas por interpolação com auxílio de sistema de in-
formações geográficas ou, no caso de temperatura do ar, pelo uso das equações que relacionam
esse elemento com as coordenadas geográficas e de uma carta hipsométrica (linhas de altitude).
O refinamento final dessas cartas pelo climatologista é fundamental, pois a interpolação é apro-
ximada, muitas vezes necessitando de um ajuste que somente o especialista pode realizar em
função dos seus conhecimentos.
Com a sobreposição das cartas climáticas básicas e o conhecimento das exigências da
cultura a ser zoneada, são elaboradas as cartas de aptidão climática, definindo-se: a) áreas aptas,
sem restrição térmica ou hídrica; b) inaptas (sem atendimento das exigências térmicas ou hídri-
cas); c) marginais, onde as restrições não são totalmente limitantes ao cultivo, podendo ser
utilizadas se os solos forem profundos ou se a irrigação for economicamente viável, no caso de
deficiência hídrica, ou se houver variedades resistentes ou adaptadas nos casos da limitação ser
térmica ou hídrica. As cartas podem sofrer diferentes tratamentos gráficos.
Mapas envolvendo restrições devido à ocorrência de condições ecológicas favoráveis às
doenças também podem ser elaborados de forma suplementar; como, por exemplo, para o can-
cro cítrico no estado de São Paulo (CAMARGO et al., 1974) e para o mal-das-folhas da serin-
gueira no Brasil (ORTOLANI et al., 1986). Outra possibilidade é o estudo probabilístico das
melhores datas de semeadura obtidas a partir de modelos agrometeorológicos para as áreas
consideradas aptas.
O estado do Acre, por exemplo, construiu o seu agro zoneamento ecológico, com base
no levantamento das características gerais da região; seus recursos naturais e o uso da terra; O
meio físico; Geologia; Geomorfologia; Solos; Bacias hidrográficas; O meio biótico; Vegetação;
Biodiversidade; A visão integrada dos recursos naturais; Vulnerabilidade ambiental; Unidades
de paisagem biofísicas; Uso dos recursos; Uso da terra, desmatamento e queimadas e seus pas-
sivos ambientais.
Esse conjunto de informações permitiu elaborar as Cartas Climáticas Básicas e as Cartas
de Zoneamento e definir quais culturas se adequam as características edafoclimáticas do estado.
Neste contexto, toda e qualquer atividade agroindustrial só pode ser implantado no estado se
atender as características e diretrizes de utilização de zonas e sub-zonas e, consequentemente,
submeter-se ao crivo do licenciamento ambiental.

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Exercício de fixação da aula – responda as questões a seguir:

1. Que são zoneamentos agroclimáticos?

2. Quais são os passos para a elaboração do zoneamento agroclimático?

3. Quais as variáveis utilizadas no zoneamento agroclimático do Brasil?

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