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Universidade de São Paulo


Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

1º Projeto técnico:
Caracterização agroclimática e aptidão agrícola
Avaliação das previsões do clima e o ENOS

Isac Santos de Oliveira (nº USP 9786150)


Gabriel Mateuzzo (nº USP 10319838)

Trabalho apresentado à disciplina LEB 0306:


Meteorologia Agrícola

Piracicaba
2019
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Isac Santos de Oliveira


Gabriel Mateuzzo

1º Projeto técnico:
Caracterização agroclimática e aptidão agrícola
Avaliação das previsões do clima e o ENOS

Responsáveis pela disciplina:


Prof. Dr. Paulo César Sentelhas

Colaboradora na disciplina:
Estagiária-PAE: Juliana Rodrigues

Trabalho apresentado à disciplina LEB 0306:


Meteorologia Agrícola

Piracicaba
2019
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................05
2 OBJETIVOS............................................................................................................07
3 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................08
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................11
5 CONCLUSÕES.......................................................................................................36
REFERÊNCIAS..........................................................................................................37
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1 INTRODUÇÃO

Com a crescente tendência na tentativa de se minimizar os efeitos adversos da


exploração agrícola sobre o ambiente, com os consumidores impondo restrições e
especificando condições de produção de alimentos, o planejamento do uso da terra
com base nos aspectos climáticos procura fornecer elementos para desenvolvimento
da agricultura sustentável (PEREIRA; ANGELOCCI; SENTELHAS, 2007).
A disciplina de Meteorologia Agrícola (LEB-0306) tem como objetivo o ensino dos
fatores determinantes do clima e do tempo, a atmosfera como agente condicionador
deles, as variabilidades, anomalias e mudanças climáticas e também o entendimento
da radiação solar, temperatura do solo, temperatura do ar, umidade do ar, chuva,
evapotranspiração, balanço hídrico, efeito do ambiente na produtividade vegetal. Tudo
isso voltado para o ambiente agrícola, analisando a importância agroecológica dos
ventos; efeitos da temperatura e da umidade na ocorrência de doenças e plantas; e o
zoneamento agroclimático.
O projeto técnico vem como atividade extraclasse a fim de trazer o caráter aplicado
de todos esses temas para o aluno, fornecendo-o os conhecimentos básicos
necessários para se analisar e entender as relações entre o ambiente e as atividades
agrícolas, visando maximizar a exploração econômica dos recursos naturais, porém,
consciente da necessidade de preservação do ambiente para gerações futuras.
O projeto técnico foi dividido em três partes. A primeira possui a finalidade de
aprendermos a realizar a caracterização agroclimática de duas regiões distintas do
Brasil (Araçagi/PB e Casa Branca/SP) e suas aptidões agrícolas para o cultivo de duas
culturas: café e tomate. Já a segunda parte visa a avaliação das previsões do clima e
do El Niño Oscilação Sul (ENOS) para o ano vigente, sua relação com a agricultura
brasileira e mundial. A terceira é com relação das mudanças climáticas a uma cultura.
Deveria ser utilizado um artigo como base para discussão, a cultura escolhida foi o
café e o artigo: “A Brewing Storm: The climate change risks to coffee”.
Os dados para a realização da caracterização agroclimática foram obtidos pela
plataforma NASA-POWER. “O projeto Prediction of Worldwide Energy Resource
(POWER) foi iniciado para melhorar o atual conjunto de dados de energia renovável
e criar novos conjuntos de dados a partir de novos sistemas de satélites. O projeto
POWER tem como alvo três comunidades de usuários: (1) Energia Renovável, (2)
Edifícios Sustentáveis e (3) Agroclimatologia” (EUA, 2019). A ferramenta POWER
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Data Acess Viewer contém parâmetros meteorológicos e solares, através da aplicação


POWER Single Point Data Acess é possível adquirir esses dados com resolução de
½ x ½ graus (latitude e longitude) de um local durante um período desejado (histórico).
Essa ferramenta foi escolhida por ser gratuita, com facilidade para coleta de dados
históricos de vários locais.
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2 OBJETIVOS
Parte 1: Habilitar os alunos a obter, analisar e discutir dados climáticos e sua
variabilidade, assim como utilizá-los no planejamento agrícola, visando a determinar
a aptidão de algumas culturas a diferentes regiões do Brasil.

Parte 2: Habilitar os alunos a obter e analisar previsões climáticas, interpretá-las e


relacioná-las às atividades agrícolas.

Parte 3: Habilitar os alunos a entender a influência das mudanças climáticas na


agricultura, principalmente nas tomadas de decisão e planejamento agrícola.
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3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. “PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA COLETAS DE DADOS E ANÁLISE”
A coleta de dados foi realizada através da página do POWER Data Acess Viewer, pelo
aplicativo POWER Single Point Data Acess (Figura 1).
Figura 1. Página

Primeiramente deve-se entrar no NASA Power, e acessar o POWER Access Viewer,


a página que será aberta é referente a imagem a cima, posteriormente deve-se utilizar
o POWER Single Point Data Access (quadrado vermelho na imagem). Ali deve-se
preencher os dados do local desejado, escolhendo o formato de saída dos dados e as
variáveis de interesse. Então baixam-se os resultados para trabalhar com eles.
Em nosso projeto técnico, os dados foram obtidos diariamente desde 01/01/1989 até
31/12/2018 das duas localidades: Araçagi – PB e Casa Branca – SP. O formato de
saída dos dados escolhido foi Valores Separados por Vírgula (.csv). O formato
escolhido foi ICASA’s, e os parâmetros foram: precipitação, velocidade do vento à 2
metros, umidade relativa média, temperatura máxima à 2 metros, temperatura mínima
à 2 metros, temperatura média à 2 metros e irradiância solar global.
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Figura – Formato original dos dados

Após a aquisição dos dados, ele foram abertos no Excel (Microsoft Corporation) e
tranformados para o formato padrão do software (.xlsx). O cabeçalho foi excluído. As
colunas de temperatura máxima, mínima e de precipitação foram duplicadas. Foram
criadas colunas para o ano, o mês e o dia de cada linha. Criou-se uma tabela
dinâmica, na qual os Rótulos de linha eram relativos à data (anual, mensal ou normal)
e os valores eram:
 Temperatura – Máxima absoluta, Máxima, mínima, média, mínima absoluta;
 Umidade relativa média;
 Chuva – total e máxima absoluta de cada mês;
 Irrâdiancia solar global;
 Velocidade do vento à 2 metros.
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Após a seleção dos dados mensais, anuais e normais para cada região, os dados
foram copiados para novas planilhas. Ali, gráficos foram inseridos para os valores em
função do período (data).
Figura – Tabelas: Transformação dos dados; Tabela dinânima e tabela dos dados
anuais com gráficos.

As informações obtidas para a realização da parte 2 foram através do site do CPTEC


e a discussão da parte 3 foi embasada em cima de um artigo de escolha.
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Caracterização agroclimática e aptidão agrícola
4.1.1. Gráficos obtidos
4.1.1.1. Casa Branca
4.1.1.1.1. Gráficos dos dados normais
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4.1.1.1.2. Gráficos dos dados mensais:


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4.1.1.1.3. Gráficos dos dados anuais:


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4.1.1.2. Araçagi/Pb
4.1.1.2.1. Gráficos dos dados normais:
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19

4.1.1.2.2. Gráficos dos dados mensais:


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4.1.1.2.3. Gráficos de dados anuais:


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4.1.2. Fatores do macroclima


4.1.2.1. Casa Branca, SP

 Latitude:

Casa Branca é um município do estado de São Paulo de latitude 21° 46' 26"
S e Longitude: 47° 05' 11" W, com isso pertencendo ao trópico de capricórnio, somado
ao eixo de inclinação terrestre e sua relação com o Sol faz com que a irradiância solar
não seja uniforme ao longo do ano, como pode ser visto em seu gráfico de irradiância
solar global, podendo-se notar que entre novembro e meados de fevereiro a
irradiância está maior com relação ao restante do ano por o Sol emitir seus raios de
forma “mais perpendicular” , o que impacta diretamente a temperatura (como pode ser
visto no gráfico das temperaturas normais), com isso pode-se notar que Casa Branca
tem duas estações distintas com relação a variação térmica ao longo do ano.
Também deve-se frisar que as temperaturas não tem variações tão grandes
apesar da distinção, se a cidade se localiza-se mais ao sul, provavelmente a diferença
seria maior em função do menor ângulo que os raios solares a atingiriam ao longo do
ano.

 Altitude:
A cidade fica em uma altitude de 684 metros, portanto, tem uma altitude próxima aos
padrões do estado de São Paulo, entretanto, não está totalmente livre de geadas mas
também elas podem ser bem raras, pois, de acordo com os dados selecionados,
temperaturas próximas ao zero grau foram atingidas apenas uma vez em junho de
1994 (vide gráfico de temperaturas anuais). Sendo um ponto positivo da região, pois,
proporciona maior segurança no estabelecimento das culturas quando se pensa em
geadas.

 Oceanidade/Continentalidade
Casa Branca está mais de 400 km longe do oceano, isto faz com que sofra grande
efeito da continentalidade, proporcionando que as temperaturas tenham amplitude
alta, isto pode ser observado no gráfico de temperaturas normais, se comparadas
máximas e mínimas absolutas.
Este é um ponto que pode gerar algumas dificuldades, pois a grande variabilidade
térmica faz com a escolha de algum cultivar seja mais complicado, pois, deve-se
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considerar principalmente a capacidade que a planta tem para resistir as condições


locais.
No verão se forma um centro de baixa pressão que tem efeito direto sobre o regime
de chuvas por todo o Brasil, e isto pode ser observado utilizando o gráfico de
precipitação total normal, notando-se assim a grande diferença do regime hídrico no
verão (maior) se comparado ao inverno.
 Circulação Geral da Atmosfera:
Figura - Massas de ar do Brasil

Fonte: (GLOBO, 2019)

Também deve-se lembrar de algumas características da região com relação a uma


das massas de ar que ela recebe, a massa equatorial continental (cE) vinda da região
amazônica provoca aumento do regime hídrico e pode ter influência sobra a
sazonalidade das chuvas na região.

4.1.2.2. Araçagi, PB

 Latitude:

Araçagi é um município do estado da Paraíba com latitude 06º 51' 11" S e


Longitude: 35º 22' 52" W. A latitude mais próxima de 0° (linha do equador) implica na
irradiância solar um comportamento mais uniforme ao longo do ano (gráfico de
irradiância global normal). Nota-se que durante o inverno a irradiância é maior em
relação ao restante do ano por ser um período seco e sem nuvens, que atenuam a
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irradiância solar durante o verão. As temperaturas (gráfico de temperaturas normal)


são influenciadas diretamente por esse comportamento, bem como as estações do
ano com verões chuvosos amenos e inverno quente e seco.
Também deve-se frisar que as temperaturas não tem variações tão grandes apesar
da distinção, se a cidade se localiza-se mais ao sul, provavelmente a diferença seria
maior em função do menor ângulo que os raios solares a atingiriam ao longo do ano.

 Altitude:
O município possui altitude média de 57m, uma altitude relativamente baixa com
temperaturas médias maiores. Araçagi se localiza entre as planícies costeiras e os
planaltos do Agreste, na chamada Zona da Mata. Em função das diferenças de altitude
dessa região, há a ocorrência de chuvas orográficas em Araçagi.

 Oceanidade / Continentalidade:
Araçagi se localiza a aproximadamente 60km da costa, a água possui maior calor
específico que o solo e funciona como um termorregulador da temperatura. Isso
resulta na amplitude térmica menor que Casa Branca.
 Circulação Geral da Atmosfera (CGA):
A circulação geral da atmosfera condiciona a formação dos campos de pressão, entre
eles a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e a Zona de Alta Pressão, a qual se
localiza próxima ao trópico de Capricórnio. Essa circulação geral dá origem às massas
de ar e provoca também seu deslocamento, além disso suas características estão
diretamente vinculadas com sua localização ou região de origem. Durante o verão há
um deslocamento das zonas para sudeste e Araçagi sofre mais influência da Massa
de ar Equatorial atlântica (mEa), uma massa de ar úmida e quente que resulta nas
chuvas do verão. Já no inverno as zonas tendem a ir para o norte, a massa de ar
predominante é a Tropical atlântica (mTa), a qual é seca e quente (para o NE). Outro
fator que é determinado pela circulação geral é a direção dos ventos predominantes,
os quais são oriundos de sudeste em Araçagi.

4.1.2.3. Comparativo entre as cidades:


As cidades de Casa Branca e Araçagi tem uma série de pontos em comum, entretanto,
muitos outros que divergem completamente, como pode ser visto nos gráficos de
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pluviosidade total da normal, ambos têm como estação seca o período do inverno e
chuvosa no verão, porém, os níveis de chuva são um pouco maiores em
Casa Branca, isto se dá provavelmente em função das massas de ar equatorial
continental que carregam os chamados “rios voadores”.
A amplitude térmica das cidades é distinta, sendo a de Casa Branca maior em função
dos efeitos da continentalidade e maior latitude, já Araçagi está a 60 km do mar e se
localizar próxima a linha do equador, o que faz com que as temperaturas no local
sejam mais estáveis.
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4.1.3. Classificação climática das localidades segundo o método de Köppen:


4.1.3.1. Casa Branca/SP
De acordo com o gráfico de temperaturas médias normais, o mês mais frio de Casa
Branca é junho, sendo a média de 17,86 °C, com isso seu clima é considerado
mesotérmico (C).
Também considerando o regime pluviométrico é possível identificar no gráfico normal
de chuvas totais que há um “vale” nos meses que representam o inverno, com isso
pode-se afirmar que existe uma estação chuvosa (verão) e outra seca (inverno), e
somando-se a estes fatores deve-se observar que as temperaturas do mês mais
quente é superior que 22 °C, o que faz o local ser classificado como tropical de altitude.
Portanto a classificação climática da região é Cwa.

4.1.3.2. Araçagi / PB

De acordo com o gráfico de temperaturas médias normais, o mês mais frio de Araçagi
é janeiro, sendo a média de 25° portanto maior que os 18 °C, com isso seu clima é
considerado megatérmico (A).
Também considerando o regime pluviométrico é possível identificar no gráfico normal
de chuvas totais que há um “vale” nos meses que representam o inverno, com isso
pode-se afirmar que existe uma estação chuvosa (verão) e outra seca (inverno), com
isso pode-se classificar o local como Aw, denominado clima de savanas.
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4.1.4. Necessidades térmicas e hídricas para café e tomate


4.1.4.1. Café
Segundo Matiello et al. (2002) e Pereira; Camargo; Camargo (2008), o café possui

exigências climáticas com relação à temperatura e déficit hídrico, como mostram as

tabelas a seguir:

Tabela – Intervalos de temperatura média anual (°C) e as condições de aptidão

térmica para cafeeiros arábica e robusta em cultivo convencional brasileiro sem

irrigação.

Condição de Aptidão Arábica Robusta

Inapta por frio < 17 < 20

Marginal por frio 17 – 18 20 – 22

Apta 18 – 22 22 – 26

Marginal por calor 22 – 23 > 27

Inapta por Calor > 23 ---

Tabela – Intervalos de déficit hídrico (DH) médio anual e as condições de suprimento

hídrico para cafeeiros.

Suprimento hídrico Déficit hídrico

Adequado < 150mm

Hidricamente marginal 150 – 200mm

Inadequado > 200mm

Avaliando as condições climáticas das regiões desse projeto técnico, é possível

verificar que:

Casa Branca é uma região apta ao cultivo de café arábica e conillon quanto às

exigências térmicas. Já Araçagi é restritiva ao cultivo de café arábica, por possuir


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temperatura média anual acima de 23°C. O cultivo de café conillon seria possível,

com a presença de irrigação para suprir a demanda hídrica e diminuir a temperatura

naquele microclima em algumas épocas do ano.

O cafeeiro apresenta períodos de dormência, consequente, de produção distintos

em função da temperatura, como mostra a tabela a seguir.

Tabela – Intervalos de temperatura média anual (°C) e os períodos de dormência

das gemas florais de cafeeiros arábica.

Temperatura Média Anual (°C) Período de Dormência

< 19 Ago – Set/Out

19 – 21 Jul – Ago/Set

21 – 23 Jun – Jul/Ago

> 23 Mai – Jun/Jul

O cafeeiro arábica é uma planta de dias curtos para indução ao florescimento e o

fotoperíodo crítico está entre 13 e 14 horas, fisiologicamente significa que o cafeeiro

somente será induzido ao florescimento quando submetido a fotoperíodos inferiores

ao valor crítico. É fundamental que essa dormência seja acompanhada por estresse

hídrico moderado, pois a florada é desencadeada por estímulos hídricos que

entumecerão as flores (PEREIRA; CAMARGO; CAMARGO, 2008). Essa exigência

fotoperiódica é satisfeita em ambos os locais, como mostra o gráfico:


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Gráfico – Fotoperíodo ao longo do ano em Araçagi/PB e Casa Branca/SP

Em função do fotoperíodo, regime de chuvas e temperaturas, a colheita do café em

Casa Branca ocorreria a partir de maio-junho. O plantio deveria ser realizado entre

final de novembro e janeiro. Em Araçagi, a colheita seria adiantada, a partir de abril e

o plantio também, entre final de outubro e dezembro.

Considerando temperaturas médias acima de 20°C e umidade relativa do ar acima de

70% como condições favoráveis ao desenvolvimento de doenças fúngicas, em ambos

os locais há essas condições durante o período de fim de primavera, todo o verão e

início de outono.

4.1.4.2. Tomate

De acorco com Minami e Mello (2017) o tomate necessita diariamente de 2,5 a 7,00
mm de água por dia e de 400 a 700 mm no ciclo todo, isso faz com que nas duas
cidades o período seco não consiga suprir a demanda da cultura, com isso pode-se
lançar mão do cultivo em estufas ou se a cultura estiver no campo utilizar práticas de
irrigação. Analisando os dados normais de precipitação total pode-se observar
também que no mês de Janeiro em Casa Branca a quantidade de chuva excede os
níveis ideais da cultura, podendo causar então estresse hídrico, já em Araçagi, o risco
de estresse hídrico é menor, entretanto alguns anos apresentam valores maiores de
precipitação, com isso pode-se dizer que a época das águas não é um bom momento
para a cultura do tomateiro a céu aberto.
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Outro cuidado que deve-se ter na época das águas é a presença de microrganismos
fitopatogênicos nas culturas, pois, o tomate tem problemas principalmente com a
presença de fungos (Gould, 1991).
A temperatura ideal para a cultura do tomateiro varia entre 13º C até 28° e 60 de
umidade relativa de acordo com Minami e Mello (2017), entretanto Gould (1991) fala
sobre uma maior amplitude térmica, variando de 18° C até 35° C, de qualquer forma,
principalmente Araçagi teria problemas para o estabelecimento da cultura em função
de suas temperaturas máximas médias ao longo de todo o ano (vide gráfico de
temperaturas normais), já Casa Branca tem temperaturas que se enquadram dentro
destes parâmetros, porém a umidade relativa é maior que os 60% já citados. Estes
fatores fazem com que seja um tanto quanto difícil ter 100% de aproveitamento da
cultura e função do estresse térmico com a alta umidade relativa, provocando
principalmente queimaduras foliares, baixa fixação de frutos e produção de frutos
pequenos.
De forma geral é dito que o tomateiro é indiferente ao fotoperíodo, entretanto, segundo
Minami e Mello (2017), se exposto a mais horas de luz, como é comumente feito em
estufas a planta tende a se desenvolver mais, entretanto um excesso de exposição a
radiação por mais de 20 horas pode-se observar principalmente clorose, entretanto
como nenhuma das cidades apresenta variação de fotoperíodo dessa magnitude,
pode-se dizer que é um fator que deve ser considerado apenas para a produção em
estufas.
Sem dúvida alguma o pior período para a semeadura do tomate se encontra nos
meses com temperaturas altas e elevado índice chuvoso, portanto para ambas as
regiões o melhor momento para o estabelecimento da cultura se da nos meses de
março e outubro, isto ocorre por serem momentos de chuvas intermediárias, que
combinam os índices pluviométricos ideais, temperaturas médias e que por fim
ocasiona um menor número de fungos fitopatogênicos (Minami e Mello, 2017).
Por último como curiosidade, é citado na literatura que um dos melhores climas para
o tomateiro é o mesotérmico, com clima subtropical de altitude, sendo portanto
exatamente o que é visto na Cidade de Casa Branca (Minami e Mello, 2017).
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Parte 2 – Avaliação das previsões do clima e do ENOS

“O fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) é caracterizado por anomalias, positivas

(El Niño) ou negativas (La Niña), de temperatura da superfície do mar (TSM) no

Pacífico equatorial, e sua caracterização é feita através de índices, como o Índice de

Oscilação Sul (IOS – calculado através da diferença de pressão entre duas regiões

distintas: Taiti e Darwin) e os índices nomeados Niño [(Niño 1+2, Niño 3, Niño 3.4 e

Niño 4), que nada mais são do que as anomalias de TSM médias em diferentes

regiões do Pacífico equatorial].

As previsões da anomalia da TSM para Dezembro-Janeiro-Fevereiro de 2019 (DJF-

2019) dos modelos numéricos de previsão climática analisados indicam que as

águas sobre o Pacífico Equatorial devem manter-se mais quentes que o normal,

indicando a permanência do fenômeno El Niño. A previsão da ocorrência de ENOS

realizada pelo IRI/CPC no início de novembro aponta que a maior probabilidade

(80%) é de que o próximo trimestre (DJF) ainda tenha a influência do fenômeno El

Niño, e assim segue até Abril-Maio-Junho de 2019 (AMJ-2019) (49%). Para o último

trimestre da previsão (Junho-Julho-Agosto de 2019) a maior probabilidade (51%) é

de que retorne a neutralidade, ou seja, sem a ocorrência do El Niño ou da La Niña.”

(BRASIL, 2018).

Efeitos no brasil e no mundo:


O norte (N) do Brasil durante o El niño possui clima mais quente e seco, podendo
causar prejuízos à cultura da
A região nordeste (NE) apresenta um regime de chuvas menor e ar mais seco que o
normal, assim as culturas frutíferas (ex: uva) e oleráceas (ex: melão) ali cultivadas
necessitarão de irrigação. A agricultura de subsistência é a mais afetada nesse
cenário por falta de acesso fácil à água.
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Figura – Efeitos Globais do El Niño ao longo do ano

Fonte: CPTEC

O sul (S) do país apresenta clima mais chuvoso, portanto culturas como maçã estarão
mais propensas à doenças fúngicas e possíveis danos por chuvas de granizo.
O sudeste (SE) pode apresentar regime de chuvas acima da média e maior umidade
relativa do ar, a depender da força do evento que influenciará nas zonas de alta
pressão que formam as nuvens sobre a região. Mais chuvas resultarão em maior
produtividade das culturas anuais de safrinha e menor qualidade da bebida do café,
que poderá fermentar na planta.
A Austrália sofre consequências climáticas semelhantes às do nordeste brasileiro,

seca e chuvas abaixo do normal, resultando em menores produções em geral, desde

cana de açúcar até grãos.


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Parte 3 – Mudanças climáticas

Um estudo produzido pelo The Climate Institute (2016), um centro de pesquisas

climáticas independente da Austrália, e encomendado pela Fairtrade Australia & Nova

Zelândia, mostrou que a elevação da temperatura poderá reduzir a área apta ao cultivo

de café pela metade nas próximas três décadas. O café selvagem, ainda presente nas

florestas africanas, correria risco de extinção nos próximos 70 anos. Essa

possibilidade preocupa cientistas, visto que, aquelas plantas podem conter informação

genética valiosa para o desenvolvimento de novas variedades mais resistentes ao

calor.

Além disso, o aquecimento já estaria aumentando a área de atuação de pragas e

doenças. O surto de ferrugem na América Central é atribuído à estas mudanças. Na

África, a coffee berry borer (broca) passou a afetar cafezais em altitudes que eram

consideradas livres da praga.

Diante destas ameaças, uma possibilidade para os cafeicultores seria o cultivo em

áreas mais elevadas, mas muitos não possuem recursos para isso. Outro problema

relevante apontado seria a necessidade de desmatamento em novas áreas de maior

altitude. Conclui-se que, para salvar a cafeicultura, é preciso cortar as emissões de

gases de efeito estufa e aumentar práticas de sequestro de carbono.


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5 CONCLUSÕES

Analisando e discutindo os dados climáticos de Araçagi/PB e Casa Branca/SP, foi


possível determinar a aptidão do tomate e do café, e também quais as melhores
épocas do ano para o cultivo deles.
A previsão climática para o próximo trimestre (Março-Abril-Maio) indica que o ENOS
ainda terá efeito no nordeste e no sudeste do país, com tendência a neutralizar seu
efeito no inverno (Junho-Julho-Agosto) deste ano de 2019.
Visto que a temperatura média global tende a aumentar, as áreas marginais dos
zoneamentos agroclimáticos estarão sujeitas a deixar de ser margem e se tornar áreas
mais quentes. No caso dos cultivos de café arábica, o cafeeiro irá “subir o morro” para
regiões mais frias e secas durante o inverno, que asseguram melhor qualidade de
bebida.
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REFERÊNCIAS

BRASIL. CPTEC. Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. MONITORAMENTO


DO EL NIÑO: DJF-2019. 2018. Disponível em: <http://enos.cptec.inpe.br/>. Acesso em: 10
maio 2019.

BRASIL. Lúcio Brunale. Embrapa. A cultura do Tomateiro (para mesa). Brasília: Embrapa,
1993. 92 p. Disponível em:
<https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/23406/1/00013220.pdf>. Acesso em:
12 maio 2019.

GLOBO (Brasil). Massas de ar. 2019. Disponível em:


<http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisica/massas-de-ar.html>. Acesso
em: 10 maio 2019.

GOULD, Wilbur A.. Tomato Production Processing & Technology. 3. ed. Worthingon,
Ohio: Cti Publications, 1991. 535 p.

MATIELLO, J. B. et al. Cultura de Café no Brasil: Novo Manual de Recomendações. Rio


de Janeiro-RJ e Varginha-MG: MAPA/PROCAFÉ, 2002. 387 p.

NASA (EUA). NASA Prediction of Worldwide Energy Resource (POWER). Disponível em:
<https://power.larc.nasa.gov/>. Acesso em: 01 abr. 2019.

PEREIRA, Antonio Roberto; ANGELOCCI, Luiz Roberto; SENTELHAS, Paulo Cesar.


Meteorologia Agrícola. Piracicaba (SP): Universidade de São Paulo, 2007. 192 p.
Disponível em: <http://www.leb.esalq.usp.br/leb/aulas/lce306/lce306.html>. Acesso em: 05
mar. 2019.
PEREIRA, Antonio Roberto; CAMARGO, Ângelo Paes de; CAMARGO, Marcelo Bento Paes
de. Agrometeorologia de Cafezais no Brasil. Campinas (SP): Instituto Agronômico, 2008.
127 p.

MINAMI, Keigo; MELLO, Simone da Costa. Fisiologia e nutrição do tomateiro. Curitiba:


Senar, 2017. 1200 p.

THE CLIMATE INSTITUTE (Australia). The Cimate Institute. A Brewing Storm: The climate
change risks to coffee. Australia: The Climate Institute, 2016. 14 p. Disponível em:
<http://www.climateinstitute.org.au/verve/_resources/TCI_A_Brewing_Storm_FINAL_WEB27
0916.pdf>. Acesso em: 10 maio 2019.

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