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Copyright de Fagner Araujo Costa

2ª Edição 2021

ARTE DA CAPA
Fagner Araujo Costa
Fonte das imagens: www.techtudo.com.br

Todos os direitos reservados. Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais – Lei 9.610/98
Dedicatória

Este livro é dedicado àqueles que mudarão a história da humanidade.


Agradecimentos

A Deus, por existir e por me fazer existir também.

A meu filho, Felipe Gabriel, por me inspirar e me fazer pensar no futuro.

A minha amada Edjeane Scarlet, por me apoiar e incentivar sempre.

A Emerson Maciel, por ser um amigo inestimável e um educador exemplar.

Ao professor Herivelto, pelas mais severas críticas, que me ajudaram a


aperfeiçoar a obra.

E às mazelas da educação e da sociedade atual, por me provocar.


Epígrafe

Antes de ingerir qualquer pílula, consulte o profissional da área. No caso da


saúde, procure o médico, no caso da educação e do conhecimento, consulte o
professor. A verdade não costuma vir embalada e pronta pra consumo, mas
assim como um fruto da Natureza, ela costuma ser descascada, saboreada e
sua semente cultivada...
PREFÁCIO

Um livro instigante do início ao fim

Por: Emerson Maciel Santos – Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni


– MG, e da Associação Internacional de Escritores e Artistas (Toledo – Ohio –
USA) Site: www.emersonmaciel.com.br

É intrinsecamente instigante a forma em que Fagner Araújo Costa, descreve


cenas do futuro. A Pílula do Conhecimento é um retrato do caos, de uma
desordem que parece não estar muito distante, visto que, os personagens da
narrativa nos convencem de que de fato, é possível uma comunicação com o
futuro.

Este livro nos faz sonhar em querer mudar a história da humanidade, não
apenas pelo convite vindo do futuro, mas pela composição sistemática em que
a nossa educação tem sido percorrida.

Do inicio ao fim este fabuloso livro, nos remete a imaginar, a sonhar, a


ponto de que por uma fração de segundos, imaginamos estar lá, no futuro,
visualizando as cenas descritas. Imaginamos estar participando do debate
futurista, onde a questão que nos intriga seria respondida: Professor a profissão
do futuro? O livro propõe "professores descartáveis ou vendedores de pílulas".
Uma simples pílula acabaria com a profissão do futuro. A profissão professor,
no próximo século, séria tratada como uma profissão decadente, que não deu
certo!
O autor nos envolve no enredo de forma em que nosso pensamento fica
centrado para um novo mundo. É impossível parar de ler. Quanto mais o livro
vai chegando ao fim, a impressão que fica é de que uma verdade ainda será
revelada.

Um futuro repleto de jovens cercados de tirania institucional por todos os


lados. Ilhados, desesperados psicologicamente por não ter que estudar, a pílula
resolveria tudo, isto é, sonhos seriam convertidos em pesadelos.

Achamos satisfatória a hipótese, levantada pelo autor, que, aliás, tem nas
mãos o livro que irá revolucionar a ficção cientifica no ramo da educação
brasileira. Acreditamos no potencial de Fagner, e sabemos que muito em breve
teremos mais um formador de leitores no Brasil. Ainda há esperança...
INTRODUÇÃO

Do século XX até oinício do século XXII, o desenvolvimento da tecnologia


seguiu um percursoconsideravelmente rápido. Mas foi na segunda metade do
século XXII que avelocidade das transformações tecnológicas tornou-se
extremamente avassaladora.Chamávamos os séculos XX e XXI de era da
informação e da tecnologia. Entretanto,a proporção das mudanças tecnológicas
foi tão gigantesca na segunda metade doséculo XXII que superou todas as
inovações e conquistas dos dois séculosanteriores. A grande crise ambiental do
final do século XXI só pôde ser amenizada nesta segunda metade do século
XXII através dessa tecnologia, provocando (em quase todos) o esquecimento
de que essa mesma tecnologia foi uma das responsáveis pela crise. Os efeitos
devastadores das duas grandes guerras do século XX, as crises econômicas e
os problemas socioeconômicos levaram mentes brilhantes a questionar a
utilização da tecnologia e a ideia de progresso da humanidade. Agora, porém,
em nossa era, as gigantescas transformações tecnológicas e as incríveis
descobertas científicas não só afetaram profundamente todos os aspectos da
vida política, econômica, social, cultural e religiosa, como abafaram as dúvidas
em relação ao otimismo técnico-científico e à ideia de progresso da
humanidade. Os avanços e as mudanças perpassam a vida de todos, mudando
constantemente as relações econômicas e sociais, criando uma nova
humanidade. A velocidade da informação alcança a velocidade da luz e o
sistema capitalista está solidamente consolidado.

Mas ainda há uma esperança...

Olá! Meu nome é Fagner. Sou professor de História. Eu estava em minha


casa, em uma tarde de segunda-feira, aproximando-se das 14h, quando acessei
meu e-mail e notei uma mensagem intitulada "CARTA DO FUTURO". Abri a
mensagem, li seu texto e abri um arquivo que veio anexo. O e-mail começava
com o texto que você leu anteriormente. A mensagem que veio a seguir e seu
anexo me deixaram assustado. A revelação foi estarrecedora! A princípio, achei
que fosse mais uma daquelas brincadeiras que mandam pra gente e me
preocupei com a possibilidade de vírus ou de algum hacker ter conseguido
acessar meu computador e meus dados pessoais. Mas uma carta (do mesmo
emissário) que recebi depois pelos correios continha informações tão pessoais
sobre mim que só eu e Deus sabíamos. Ele falou de coisas que estavam apenas
em meu pensamento!

Prepare-se para o que você vai ler a seguir neste livro. São revelações
tremendas! Dificilmente você conseguirá não se envolver.

Segue abaixo a continuação da mensagem que recebi no e-mail:


UMA CARTA DO FUTURO
Fagner, o que você acabou de ler no início deste e-mail é um trecho da aula
de História da Tecnologia, ministrada pelo professor John Bunyan.

Você deve estar pensando: que datação estranha é essa? Século XXII?
Acho que foi algum erro de digitação... Não amigo! Não foi erro de digitação!
Você está lendo uma carta do futuro! Isso não é uma brincadeira nem é trote!
Também não é vírus!

Pra você ter certeza de que estou falando a verdade, providenciei algumas
provas e evidências que você receberá pelo correio às 14:00 horas do mesmo
dia do recebimento deste e-mail, exatamente 10 minutos depois.

Fagner, isso é muito sério! Você é um homem íntegro, responsável e não


tenho nenhum interesse em fazê-lo perder tempo! Você está lendo este e-mail
agora e deve pensar que é uma brincadeira, mas daqui a dez minutos você vai
ter certeza da gravidade e da seriedade do que estou falando!
Depois que você ler todo o material que estou lhe enviando, você o
transformará em um livro. Este livro precisa ser bem divulgado para que as
informações nele contidas cheguem a um grande número de jovens e adultos
que tomarão atitudes que poderão mudar o seu futuro e o meu presente. Quanto
mais estudantes e professores lerem e discutirem esse livro, mais chances nós
teremos de mudar os rumos da história da humanidade!

Muitas mudanças estão pra acontecer no seu tempo, e agora que descobri
uma maneira de me conectar com o passado, não poderia deixar passar esta
grande oportunidade.

Depois de receber minha encomenda do futuro, você também irá se


perguntar: como é possível receber um e-mail do futuro?! Como uma
encomenda pode ser enviada do futuro e ainda mias pelos correios?!

Por enquanto, não posso lhe explicar muita coisa, pois se eu lhe disser
exatamente como isso pôde ser feito, estarei alterando até mesmo o conteúdo
desta carta, mudando completamente os acontecimentos e pondo em risco
ainda maior a história da humanidade. Além disso, o propósito para o qual este
material foi enviado a você jamais seria alcançado.

Sendo assim, a única coisa que posso lhe explicar no momento é que, no
meu tempo a velocidade da informação se tornou incrivelmente rápida e
exclusivamente através do meu "computador" ela consegue chegar antes da
hora em que foi enviada!

Coloquei a palavra computador entre aspas porque no meu tempo não se


usa mais computador, nem mesmo essa expressão. Os "computadores" do seu
tempo, no meu, são coisas do passado. No meu tempo usamos os ultrachips.
Não estou me gabando! De modo algum! Não tenho do que me gabar! Essa
tecnologia não tem servido para outra coisa a não ser escravizar e isolar as
pessoas em um mundo virtual, absolutamente fictício e inútil! Estou mesmo
indignado com o que estou vendo e empreendi um enorme esforço para
conseguir me comunicar com o passado através de você. Estou usando essa
tecnologia para, se possível, sujeita-la ou até mesmo destruí-la, antes que ela
nos destrua!

Ah! Outra coisa: Filipe é meu pseudônimo. O meu nome, os nomes dos
personagens, lugares e instituições que você vai ler são fictícios. Essa foi mais
uma medida necessária para preservar a segurança da humanidade, e
principalmente a vida das pessoas envolvidas (se eu dissesse nossos nomes
reais, nossa existência estaria comprometida).

Pois bem, vou lhe contar com mais detalhes o andamento das coisas por
aqui no final do século XXII. Aliás, pra você entender bem como as coisas
ficaram desse jeito, na encomenda que você está prestes a receber, vou lhe
explicar o começo de tudo.
DEZ MINUTOS DEPOIS

Enquanto eu ainda lia o e-mail do tal "Filipe", a campainha tocou: DLIN-


DLON! Exatamente dez minutos após eu ter iniciado a leitura. Ao abrir a porta,
só encontrei um envelope no chão. Peguei-o e logo notei que ele tinha
destinatário, mas não possuía nenhuma identificação sobre o remetente. Ainda
incrédulo, saí de casa e olhei ao redor procurando o engraçadinho autor daquele
trote, mas minha busca foi inútil. Voltei para casa ainda muito desconfiado.
Procurei em cada canto da casa algum sinal de brincadeira: atrás das cortinas,
debaixo do sofá, da cama, tentei encontrar alguma micro câmera, algum
microfone oculto e... Nada!

Afinal, pensei: quem faria uma brincadeira dessas comigo? Quem


adivinharia o momento exato em que eu abri o e-mail para trazer este envelope
exatamente dez minutos depois? Não... Não é possível... Isso deve ser
realmente sério... Só há uma maneira de saber: abrindo o envelope e seguir a
trilha pra ver onde isso vai dar...

Foi então que, num misto de dúvida e curiosidade, abri o envelope e vi as


provas que eu precisava para crer na mensagem do Filipe. Na carta havia a
cópia idêntica de algumas páginas de um livro que eu ainda estou escrevendo
e que não divulguei a ninguém, havia também títulos de livros que eu pretendo
escrever, mas ainda nem comecei (esses títulos estavam apenas em meu
pensamento!) e havia uma foto revelada minha e de meu filho que só estão em
meu celular, a qual eu também não mostrei nem passei pra ninguém.

Junto a essas evidências, veio um material escrito, com um texto narrativo,


no qual Filipe contava toda sua história e me pedia, no final, para agir com
urgência. O que você vai ler a seguir é a resposta ao pedido de Filipe.
Transformei os fatos narrados por ele em um breve romance. Como se trata e
uma história vivida por ele, coloquei a narrativa do romance em primeira pessoa,
pra que você leitor possa sentir o que eu senti: um personagem do futuro
compartilhando seus dramas pessoais e solicitando a você que faça alguma
coisa para mudar a história.

Sendo assim, eu sou o autor desse romance, que tem por base a narrativa
e os dados fornecidos por um garoto do futuro, mas você, eu e todos aqueles
que se posicionarem a respeito seremos os autores de uma nova e melhor
história da humanidade.

Siga em frente e ouça a voz de Filipe.


O COMEÇO DE TUDO

Pareciam bons aqueles tempos de "ensino médio". Sentíamos que éramos


imbatíveis e que nossa força jovem era inesgotável. As aventuras da
adolescência poderiam ser diferentes em relação às conjunturas cultural e
histórica, mas a essência do excesso de autoconfiança, a grande vontade de
redescobrir o mundo, a necessidade de inserir-se em um grupo e a grande
sensação de poder parecem ser marcas dessa fase da vida independentemente
da cultura ou da época histórica.

Embora tivesse poucos amigos, sentia-me bem acolhido e achava que tudo
ia muito bem, obrigado... Estava muito enganado. Meu mundo particular até
parecia correr satisfatoriamente, mas, sem que eu o soubesse, ele contrastava
com a realidade ao meu redor.
No ano de 2187 eu tinha 17 anos de idade e estava no 4º e último ano do
assim chamado "ensino médio" – no seu tempo – o 4º ano foi acrescentado no
ano de 2110 sob o argumento do Conselho de Educação Internacional de que
seria uma medida para reforçar os conteúdos e melhor preparar os alunos para
o nível superior. Naquele meu tempo de final de preparação para ingressar no
ensino superior sentia-me muito confiante. Com base nas informações dos
meios de comunicação da época e até mesmo nas discussões das conferências
virtuais – estas últimas substituíram 80% das aulas presenciais – o mundo vive
a maior fase de progresso da história e tudo só tendia a melhorar. Agora, o nível
superior estava ao acesso de todos – dizia-se – não existe mais nenhuma classe
excluída – pregava-se – não existe mais nenhuma nação subdesenvolvida –
acreditava-se.

Nós jovens gostávamos muito de nos divertir com os jogos intervirtuais -


jogos de "videogame" nos quais os jogadores não precisam estar no mesmo
espaço físico, vêem imagens virtuais de si mesmos, dos outros participantes e
de todo o ambiente do jogo e podem jogar qualquer tipo de jogo, com qualquer
pessoa de qualquer lugar da terra. Nesses jogos as imagens virtuais são
projetadas dentro de uma sala ou quarto (ou até mesmo em um espaço bem
maior) por um pequeno aparelho que é acionado por apenas um botão e
controlado pelo simples movimento do nosso corpo, dos nossos dedos e dos
olhos. A propósito, as conferências virtuais ocorriam de forma semelhante, isto
é, eram imagens virtuais projetadas pelo mesmo tipo de aparelho, mas com
algumas limitações.

No mês de fevereiro daquele ano, enquanto assistia a uma aula de História


da Tecnologia, com o professor John Bunyan, ele alertou os alunos quanto aos
perigos da "convicção cega" e do "monopólio da mente". Ele o fez da seguinte
maneira: em alguns momentos da aula, em que falava sobre os grandes
avanços tecnológicos e seus benefícios para a integração da humanidade,
aparentemente sem nenhuma relação com o conteúdo da aula e de forma
inesperada, ele (ou melhor, sua imagem virtual projetada) olhava a cada um de
nós atentamente e dizia: "cuidado com os perigos da convicção cega e do
monopólio da mente!". Todos nós ficávamos sem entender nada. Não sabíamos
o que ele queria dizer com isso. Na verdade, muitos nem sequer atentavam para
aquilo, pois alguns diziam que o professor Bunyan estava ficando louco de tanto
estudar (podíamos nos comunicar através das projeções). A maioria dos meus
colegas não deu muita importância a esse comentário inesperado do professor.
Entretanto, cada vez que ele dizia aquilo, eu sentia uma inquietação, uma
perturbação. Queria saber do que se tratava. Cheguei a perguntar ao professor,
mas sua imagem virtual, que respondia a várias perguntas, não respondia esta.
Sentia que eu precisava fazer algo a respeito. Não podia ficar só ali, parado,
ouvindo aquele comentário se repetir em certas ocasiões e não fazer nada.
Todavia, não podia me posicionar sem saber do que se tratava, e a curiosidade
tornava-se cada vez mais forte. Até que resolvi procurar o professor e conversar
pessoalmente com ele sobre aquele assunto.

Foi então que, numa manhã de segunda-feira, saí de casa e dirigi-me à


Escola de Ensino Futurista. Procurei pelo professor Bunyan na Coordenação de
Ensinos Históricos, na Coordenação Pedagógica e nenhum sinal dele. Dirigi-me
finalmente à Coordenação Geral e procurei o responsável, o Dr. Erasmo de
Roterdã. Após adentrar no prédio da Coordenação Geral, segui pelo corredor
que dava acesso à sala principal, olhei pelo vidro da sala e vi assentado sobre
a mesa, com seu ultrachip, aquele homem alto, de aparência firme, cabelos
ruivos e encaracolados, óculos e um olhar centrado. Era o Dr. Erasmo. Toquei
a campainha, ele virou-se para a minha direção, demonstrando intenção de me
reconhecer, levantou-se e veio abrir a porta.

___ O que deseja, meu jovem? Perguntou-me.

___ Preciso falar com o professor de História da Tecnologia, John Bunyan.

Após alguns instantes de silêncio, com um olhar triste e um ar pesaroso,


ele me disse:

___ O professor Bunyan não está mais trabalhando conosco. Foi uma
grande perda para nós a saída dele. Era um ótimo professor. Dominava muito
bem o conteúdo e sabia envolver a classe nas discussões. Mas há dois dias ele
teve que sair.

___ Mas por que ele teve que sair? O que aconteceu? E as projeções da
aula dele?

Um turbilhão de perguntas invadiu minha mente. Queria fazer todas ao


mesmo tempo e obter todas as respostas imediatamente - a velocidade das
informações na Era Pós-contemporânea é mesmo envolvente e avassaladora
para quem vive nesse meu tempo. Mas responder todas as minhas indagações
ao mesmo tempo e de uma forma imediata era uma coisa que o Dr. Erasmo não
estava (nem deveria estar) condicionado a fazer.

___ Calma, garoto. Uma pergunta de cada vez. Em primeiro lugar, de


acordo com a ética da escola não posso lhe dizer detalhes sobre os motivos da
saída do professor Bunyan. Só posso lhe dizer que ele não estava mais se
adequando às diretrizes de nossa instituição e preferiu seguir outros rumos.
Quanto às projeções, já estamos providenciando a substituição pelas do novo
professor contratado. Mas agora você também despertou em mim uma
curiosidade: é a segunda pessoa que vem aqui atrás de informações sobre o
professor. Por que razão você veio?

___ É que eu tive algumas dúvidas em relação a um assunto e gostaria de


aprofundar as discussões. Estou muito interessado na disciplina. (Naquele
momento, senti que esta seria a resposta mais adequada. Tive a impressão de
que o coordenador estava escondendo alguma coisa muito importante sobre o
professor e, já que o mesmo havia saído da escola por alguma discordância
com tais "diretrizes", fiquei receoso de prejudicá-lo).

___ Que interessante... Foi a mesma coisa que me disse a moça. Vocês
notaram alguma coisa diferente nas projeções do professor Bunyan?

___ Coisa diferente? Não, nada diferente. Só queria aprofundar um


assunto, como disse. Mas que moça é essa?

___ A outra pessoa que veio aqui atrás do professor.

___ E o senhor pode me dizer quem é essa moça?

___ Foi uma de nossas alunas. Acho que ela pertence à mesma turma que
você.

___ E qual é o nome dela?

___ Não me lembro bem... Acho que tinha alguma coisa a ver com Paloma,
Paula, alguma coisa assim... será que você a conhece?

___ Tem estatura média, cabelos cacheados... Bem, mas você vai ter que
me desculpar, porque, erh erh, você sabe, eu sou coordenador e, como tal,
tenho muito trabalho a fazer... Não posso ficar lorotando com aluno e ainda mais
fazendo retrato falado de aluna... Não é mesmo? (disse ele sorrindo e fazendo
um gesto em direção à porta, convidando-me gentilmente a ir embora).

___ Ok, Dr. Erasmo! Muito obrigado pelas informações! Só uma última
pergunta: o senhor sabe onde posso encontrar o professor Bunyan?

___ Infelizmente não sei muita coisa. Apenas ouvi dizer que ele viajou para
outra cidade. Parece-me que ele foi para a cidade de Heaven.
___ Mais uma vez, muito obrigado Dr. Erasmo, e me desculpe pelo
incômodo.

___ Por nada meu jovem!

A conversa com o Dr. Erasmo só me deixou ainda mais curioso. Sentia que
o Coordenador estava escondendo alguma coisa. Por que, realmente, o
professor Bunyan "teve" que sair? E quem seria aquela moça que, assim como
eu, o procurara? Será que ela também notara o comentário misterioso? E como
eu poderia encontrar o professor Bunyan em Heaven? A cidade era enorme e
era longe de minha residência. Não sabia nem ao menos por onde começar. No
mínimo, eu precisava de alguma pista. Fiquei desestimulado por alguns dias em
relação a essa busca. Considerei que talvez não valesse muito a pena tanta
curiosidade. Afinal, vai ver meus colegas tinham razão e o professor Bunyan
estava mesmo com alguns problemas psicológicos por excesso de estudo... E
eu estaria entrando na mesma viagem! Quase decidi deixar totalmente de lado
aquela investigação e continuar minha vidinha cotidiana. Foi quando mais uma
vez, em outra aula projetada (e agora numa aula do novo professor de História
da Tecnologia, prof. Augusto), apareceu repentinamente a imagem do professor
Bunyan fazendo aquelas mesmas declarações e fiquei pasmo quando, por cerca
de um minuto, apareceu num canto inferior da projeção um bloco tridimensional
com um endereço em Heaven!

Subitamente, a curiosidade se apoderou de mim mais uma vez! Como


aquele endereço apareceu ali? Teria sido proposital? Estaria o professor
querendo mesmo ser encontrado? Estaria ele enviando algum tipo de sinal? E
mais: estaria ele ciente do meu interesse? Será que ele sabia que eu o
procurara? Consultei meus colegas e nenhum deles havia notado a figura do
antigo professor nem o tal bloco tridimensional, somente eu o notei... Se havia
alguma coisa a ser descoberta e se eu estava sendo escolhido para descobri-
la, certamente eu não deixaria a oportunidade passar... Resoluto, voltei a minha
tarefa investigativa. E é sobre isso que vou falar a partir de agora.
EM BUSCA DE RESPOSTAS

11 de março de 2187. Era uma manhã de segunda. Gostaria de dizer "bela


manhã"; mas comparando o aspecto que hoje temos do meio ambiente com as
imagens da natureza no seu tempo, é evidente que não posso usar tal
expressão. Vocês devem valorizar muito os aspectos naturais e climáticos que
ainda possuem aí no tempo de vocês! A irresponsabilidade e a falta de
compromisso real e firme da humanidade, em todas as partes do globo, com a
questão ambiental (que se agravou muito a partir do final do século XXI) levou
o planeta a enfrentar uma crise natural e climática gerando um aspecto tão
horroroso que no momento não terei tempo suficiente para descrevê-lo. Pelo
menos posso adiantar que aquelas "manhãs de céu ensolarado" que vocês
podiam aproveitar não fazem mais parte do nosso contexto diário. Na verdade,
expor-se aos raios solares no final do século XXII é considerado um ato suicida!
Em qualquer parte do planeta e em qualquer estação! Dá pra entender um pouco
essa crise da qual estou falando? Nosso céu está coberto por uma camada
protetora artificial, criada por cientistas no início do século XXII para proteger a
humanidade do extermínio total por insolação bem como algumas espécies de
animais e vegetais que conseguiram resistir à crise. Observar o céu azul não é
mais possível a não ser através de algumas placas transparentes no alto da
camada, colocadas em algumas partes do planeta. Espero que este livro
também sirva de alerta para essa questão!

Você pode estar pensando: por que só agora ele tocou mais claramente
nesse assunto da crise ambiental? A resposta é simples: porque foi nesse dia,
11 de março de 2187, que pude compreender claramente a gravidade da
situação. Esse dia foi marcante pra mim em vários sentidos. Enquanto
desenrolava minha tarefa investigativa acerca das afirmações misteriosas do
professor Bunyan, acabei descobrindo muita coisa relacionada aos efeitos da
tecnologia no meio ambiente. Nunca imaginei, nos meus primeiros anos de
"ensino médio", antes daquelas palavras do professor, que as mudanças
climáticas tinham sido tão grandes (acho que aquela cobertura artificial também
nos confinou em uma gigantesca gaiola que nos alienou do passado e da
natureza original). Também nunca imaginei que tais mudanças tivessem relação
direta com certos usos da tecnologia... Não fomos muito ensinados sobre isso...

Como eu ia dizendo... Era uma manhã de segunda-feira. Como de costume,


acordei com o meu despertador sensitivo, tomei meu "banho", meu "café" e
preparei-me para mais uma aula projetada. Das 16 aulas que eu teria de assistir
naquele dia (cada aula tem duração de 30 minutos, são 4 horas de aula pela
manhã - distribuídas em 8 componentes curriculares/disciplinas, e 4 horas de
aula pela tarde com o mesmo número de componentes/disciplinas), minha
primeira aula foi de Geografia Moderna, ministrada pelo professor Lucas
Almeida. Mestre em Geografia e Cartografia, o professor Lucas é um grande
educador. É um dos poucos que está sempre empenhado em facilitar o
processo de aprendizagem dos alunos e é um pesquisador nato. Suas aulas
sempre me estimulavam a respeitá-lo como profissional e ao conhecê-lo mais
proximamente passei a respeitá-lo ainda mais como pessoa. Mas naquele dia
especificamente, alguns pontos de sua aula me despertaram grande interesse.
Mais do que isso: notei algumas observações no seu discurso e algumas
imagens de satélite que ele nos mostrou que me deixaram impaciente!

Em primeiro lugar, enquanto falava sobre algumas alterações no mapa do


mundo, especialmente nas representações de algumas áreas litorâneas, ele
citou "o desaparecimento de várias cidades devido aos devastadores efeitos
climáticos do final do século XXI". Em outro momento ele disse:

___ Surgiram também novas ilhas e desertos sem que a comunidade


científica encontrasse alguma explicação. Nestes casos, as pesquisas estão em
andamento.

Mais adiante ele afirmou:


___ As alterações nos mapas ocorrem sempre que o homem amplia seu
conhecimento sobre o espaço geográfico ou sempre que acontecem alterações
no próprio espaço geográfico. Como esse conhecimento é dinâmico, as
alterações nos mapas têm sido constantes desde a era das chamadas "grandes
navegações" do século XVI ou mesmo desde tempos mais remotos. Entretanto,
mais recentemente, do início do século XXII pra cá, essas mudanças tem sido
muito mais rápidas.

Cliquei o botão de interatividade (usado para dialogar com o holograma do


professor).

___ Pois não Filipe, qual é a sua pergunta?

___ Professor, o senhor disse que desapareceram algumas cidades devido


aos efeitos climáticos do final do século XXI. Que cidades foram essas? Como
essas cidades desapareceram? Isso aconteceu lentamente ou foi algum tipo de
catástrofe? Que efeitos climáticos foram esses?

___ Na Ásia temos os exemplos de Jacarta, capital da Indonésia, que foi


totalmente submersa, Bancoque, capital da Tailândia e Xangai, na China. A
cidade de Lagos na Nigéria, que já foi a segunda maior cidade da África, teve
70% do seu território invadido pelas águas. No Brasil, as cidades foram:
Florianópolis (SC), Santos (SP), grande parte do Rio de Janeiro (RJ) e parte de
Salvador (BA). Nos Estados Unidos, a cidade de Nova York e algumas cidades
da Flórida e de Nova Jersey foram gravemente atingidas por grandes tsunamis.
E na Europa, Londres, Berlim e Paris sucumbiram às águas. As cinco primeiras,
isto é, Jacarta, Bancoque, Xangai, Lagos e Florianópolis foram atingidas pela
grande inundação de 2070, quando ondas imensas ultrapassaram as barreiras
naturais do litoral e as águas do oceano invadiram todas essas cidades, que
foram abandonadas pelos poucos sobreviventes. Santos, Rio de Janeiro e
Salvador foram evacuadas no mesmo ano pouco antes de acontecer o mesmo.
Ainda assim muitos habitantes não conseguiram escapar do desastre. No início
de 2081 elas também submergiram. A cidade de Nova York e os estados da
Flórida e de Nova Jersey foram devastados pelo temporal de 2090. E as cidades
europeias citadas já vinham gradativamente perdendo espaço para o mar até
ter 85% do território submerso, pois as barragens artificiais fracassaram. Há
ainda outras que foram destruídas por terremotos ou que foram abandonadas
porque seus habitantes fugiam de guerras. Calcula-se que, nesses processos,
dezenas de milhares de pessoas morreram vítimas de inundações, tornados,
desabamentos, terremotos, guerras ou ainda de doenças que se proliferaram e
da grande fome de 2095.
Fiquei estarrecido! Notei que a diferença de tempo entre os eventos
diminuía, mas em vez de questionar sobre isso, achei melhor tirar logo as outras
dúvidas:

___ Professor, o senhor disse anteriormente que surgiram ilhas e desertos


sem explicação. Como assim? Não há nada que possa explicar esse fenômeno?
Nenhuma teoria ou hipótese?

___ As pesquisas estão em andamento.

Tornei a perguntar:

___ Professor, pode me esclarecer um pouco mais sobre o assunto?

___ As pesquisas estão em andamento.

Fiquei impaciente com aquilo! Só aquela mesma resposta? Eu precisava


de mais informações! Mas vi que não adiantava insistir com o holograma, deixei
pra procurar o professor Lucas pessoalmente... Se é que eu iria encontrá-lo...

___ O senhor disse que as alterações nos mapas tornaram-se muito rápidas
no início do século XXII. O que fez com que elas se tornassem mais rápidas: o
conhecimento do homem sobre o espaço geográfico ou as mudanças no
próprio espaço?

___ As duas coisas.

Nesse momento, outro aluno teclou no botão de interatividade. Foi Ítalo,


uma rapaz também interessado nos estudos e participativo. Entre os poucos
que faziam parte do meu círculo de amizade, ele era um deles.

Ítalo perguntou:

___ Professor, quer dizer que as mudanças no próprio espaço também se


tornaram mais rápidas?

___ Sim.

___ Mas por quê? Questionei.

___ Por causa de três principais fatores: a resposta da natureza às ações


destruidoras do homem, o desenvolvimento insustentável da tecnologia e um
fator ainda desconhecido que chamamos de fator X. Bem, mas agora voltemos
ao assunto...

Tanto o meu quanto o botão de interatividade de Ítalo foram


misteriosamente desativados, como se alguém houvesse interferido no
programa da projeção para barrar nossa participação. Tentei me comunicar com
Ítalo, mas fui impedido pelo mesmo motivo. Somente após três aulas é que
nossos botões foram reativados e então comentei com Ítalo:

___ Cara! Você viu aquilo? Nossas perguntas não puderam ser respondidas
e desativaram nossos botões!

___ Vi. Mas deve ter sido algum problema no programa.

___ Não Ítalo! É muita coincidência! Um dia desses fui à procura do


professo Bunyan para questionar aquelas afirmações misteriosas dele e o Dr.
Erasmo me disse que ele saiu da escola. Questionei a respeito, mas o
coordenador ficou cheio de sigilo e agora, quando questionamos alguns pontos
na aula de Geografia Moderna, somos brecados! Você não acha que tem algum
segredo por trás disso tudo?

___ Segredo? Que segredo? E, mudando um pouco de assunto... Você


procurou o professor John Bunyan pra saber sobre aquelas afirmações
esquisitas? Cara, você está bem? Tá com algum problema? Você não tá usando
drogas não é...? rsrsrsrsrs...

___ Ítalo, não tô brincando! Você viu aquelas imagens de satélite? Você
reparou na gravidade da situação? E mais: você reparou na nuvem negra que
paira sobre certas questões como: "ilhas e desertos que aparecem do nada",
"pesquisas em andamento", "desenvolvimento insustentável da tecnologia",
"fator X", "cidades que submergiram!"...? Cara! Você notou isso? Nossos botões
foram desativados sem nossa interferência, enquanto isso, as meninas
continuavam distraídas falando de moda e de namorados... E não houve
interferência!!!

___ Bem, falando sério, também achei grave a questão das catástrofes e
achei estranho quando você perguntou sobre as "ilhas e desertos que aparecem
do nada" e a resposta foi repetitiva. Também não entendi esse negócio de fator
X. Mas ainda acho que o bloqueio na comunicação foi algum erro do sistema.

___ Bip! Bip!


Fomos interrompidos por um sinal de comunicação.

___ E aí seus cr's (cêerres), quando vão parar de desfragmentar o disco


pra linkar nos sites proibidos?

Era o Bryan, um dos nossos colegas e um tremendo perturbador... Deixe-


me explicar-lhe suas gírias: cr's (cuja pronúncia é cêerres) significa "cabeças
redondas" e é o equivalente a "cdf's" aí no seu tempo (é como os alunos
desinteressados daqui gostam de apelidar aqueles que querem alguma coisa
com os estudos). Ele estava nos perguntando quando iríamos para de
"desfragmentar o disco" (que quer dizer: pensando em "bobagem", "perdendo"
tempo ou mais precisamente estudando...) pra "linkar nos sites proibidos"
(procurar algo mais "interessante", como acessar programas de pornografia,
jogos violentos ou paquerando as garotas durante as projeções).

___ Você não pensa em outra coisa? Por acaso notou a gravidade do
assunto apresentado hoje? (Retruquei).

___ Gravidade? Acho que ela não exerce mais nenhum efeito sobre vocês,
por isso tão sempre aí voando! Eu não! Eu tô conectado com a realidade, tenho
os pés no chão! Vocês é que são uns cr's que vivem girando sem sair do lugar!
Rahrahrahrahrahrahrah...

___ Mas é um idiota mesmo! (Resmungou Ítalo).

___ Bip! Bip! A próxima projeção vai começar. Por gentileza, concentrem-
se.

Foi o recado eletrônico que era acionado toda vez que se estava prestes a
iniciar outra aula projetada após um breve intervalo.

___ Ok, Bryan, outra hora discutimos com você. (Afirmei).

___ Éhr! Vão seus cr's!

___ Ítalo, ainda vou provar a você que minha preocupação tem fundamento.
Quando terminarem as aulas da manhã vou lhe mostrar uma pista muito
importante. Trata-se de um endereço em Heaven.

___ Endereço? Em Heaven...? ... Tá legal! Até mais! Mais tarde você me
conta suas pistas, detetive...
Essa foi a última conversa que tive com Ítalo naquele dia. Tentei de várias
maneiras me comunicar com ele, mas não foi possível. O botão de interatividade
não mais funcionava, o netfone dele não respondia, na cibernet ele não estava
acessível... Quanto mais eu desconfiava de que estava por trás disso tudo e
quanto mais eu buscava respostas parecia que as coisas ficavam mais
misteriosas e que mais eu era barrado.

No dia seguinte, fui mais uma vez à Escola. Dessa vez, à procura do
professor Lucas Almeida. Será que ele também não estava mais na Escola?
Como na outra ocasião, dirigi-me primeiramente à sala da Coordenação
correspondente à disciplina (neste caso a de Ensino Geográficos). Para minha
grande surpresa, lá estava ele conversando com mais dois professores. Parece
que eu esperava que ele não estivesse... Com ele estavam o professor de
Geografia Econômica, Michael Finley, e a professora de Geografia Humanística,
Joana D. Arcanjo.

Estatura média, cabelos pretos e encaracolados, nariz ligeiramente


avantajado, rosto largo e barriga um pouco saliente. Essas eram algumas das
características do professor Lucas. O professor Michael era mais alto, tinha
cabelos loiros, nariz afilado e era mais magro. Já a professora Joana tinha
estatura semelhante à do professor Lucas, era morena, seus cabelos eram
castanhos e cacheados e tinha um par de olhos castanho-claros bem
sedutores... Mas isso são outros "quinhentos"...

Toquei a campainha e os três olharam para mim através do vidro. Sinalizei


que queria falar com o professor Lucas; ele apontou o dedo para si mesmo como
se dissesse: "É comigo?". Balancei a cabeça confirmando e ele levantou-se e
veio abrir a porta para mim.

___ Pois não Felipe, o que veio fazer aqui?

___ Como o senhor sabe o meu nome?

___ Ora rapaz, nem todos os professores desconhecem seus alunos ou


vivem numa "bolha" intelectual. (Ele disse isso porque no século XXII a maioria
se tornou assim, muitos não conhecem nem a fisionomia de seus alunos, quanto
mais o nome). ___ Além disso, você se destaca entre seus colegas pelo
interesse e participação. Mas no momento isso não vem ao caso... O que o traz
aqui? - Continuou.

___ Bom, é que eu não entendi muito bem as respostas que o senhor me
deu em sua última projeção para a minha turma. A aula foi sobre...
___ As alterações cartográficas. (Completou antecipadamente, isto é,
"tirando as palavras da minha boca").

___ O senhor já sabe? Por acaso pode ler meus pensamentos...? (risos)

___ Não Filipe, de maneira nenhuma. (Disse ele sorrindo). ___ É que eu já
imaginava que você viria aqui pra me perguntar sobre minhas respostas naquela
aula.

___ Mas como? Como o senhor soube da minha participação se as


respostas já são programadas anteriormente? Há como monitorar as aulas?

___ Sim. E há algumas aulas que eu mesmo monitoro. É pra ver qual é o
nível de interesse e curiosidade dos alunos, bem como sua aprendizagem.
Também é pra me preparar pra responder algumas dúvidas, como no seu caso
agora...

___ Aaaah! Então o senhor já pode ler meus pensamentos e dizer o que
vou perguntar...

___ Ler seus pensamentos eu reconheço que não posso, mas suponho
que você quer saber primeiro sobre as ilhas e desertos "misteriosos".

___ Exatamente professor! Exatamente! Que pesquisas estão em


andamento? Não há mais nenhuma informação sobre o assunto?

___ Na verdade há sim, Filipe. E pode ter certeza que a coisa não é nada
boa de se ouvir. Aliás, a informação extra é tão sigilosa que não posso lhe falar
aqui e agora. Vou lhe falar superficialmente, pois, se eu entrar em detalhes,
pode acontecer comigo o que aconteceu com o John.

Ouvir aquele nome me causou arrepio! Quanto mais eu investigava algum


mistério, mais eu me aproximava daquele nome.

___ John Bunyan? Você está falando do professor Bunyan?

___ É sim. Devo admitir que ele foi muito corajoso. Procurou falar
abertamente no assunto, mas a aliança internacional dos poderes político,
econômico e social bloqueou sua voz a fim de impedi-la de ser ouvida.
Forçaram-no a sair da Escola e vaguear por caminhos desconhecidos... Mas ele
me disse que deixaria mensagens secretas em suas aulas com o propósito de
despertar o senso crítico dos alunos. Creio que essa foi mais uma herança
deixada por ele. Estou seguindo seu exemplo... E você é mais uma esperança
para nós educadores. Você é mais uma chave que pode abrir as portas do
verdadeiro conhecimento e destrancar as mentes das cadeias do intelecto.

Fiquei atordoado com aquelas palavras. Por alguns minutos procurei ficar
em silêncio para absorver tudo e compreender o que era aquilo que o professor
Lucas estava falando. Realmente, a coisa era seríssima. Tornei-me todo
ouvidos...

___ Meu jovem, preste bem atenção, vou lhe dar uma visão geral (com um
tom de voz mais baixo ele continuou): já faz algum tempo que os rumos da
humanidade estão seguindo na direção de uma ditadura intelectual a nível
mundial. Embora os meios de comunicação estejam inteiramente interligados
no mundo, eles estão sendo controlados pelo Conselho Internacional, que
através de certas instituições seleciona o que as pessoas "devem" ou "não
devem" saber. Eles não nos permitem divulgar que boa parte dos problemas
ambientais que enfrentamos hoje é resultado do uso de certas tecnologias de
responsabilidade deles. Quem é descoberto infringindo suas leis, sofre severas
penas. Por isso, eu peço que você não espalhe a notícia por enquanto. Alguns
educadores estão estudando estratégias para combater esse autoritarismo.
Espero que você possa nos apoiar. A propósito, o aparecimento dessas ilhas e
desertos é resultado do uso de certas tecnologias em busca de fontes de energia
no fundo dos oceanos e mares.

___ Professor, (também falando baixinho), mas isso é muito sério.

___ E eu não sei?

___ Espere um pouco professor, o senhor sabe onde está o professor


Bunyan?

___ Depois que ele foi demitido sem nenhum direito trabalhista, e é claro
que isso foi um absurdo, soubemos que ele foi para sua terra natal, Heaven.
Mas não nos deixaram saber o endereço e sempre que tentamos contato somos
barrados.

___ Como na projeção, quando insisti com aquelas perguntas?

___ É isso aí.

___ Professor, preciso compartilhar com o senhor outra informação sigilosa.


___ Fale.

___ Eu tenho o endereço!

___ Como?!

___ Eu procurei pelo professor Bunyan aqui na Escola, mas só consegui


falar com o Dr. Erasmo...

___ Mas no Erasmo a gente não pode confiar! (Mais uma vez me cortou as
palavras).

___ Espere professor! Deixa eu terminar.

___ Desculpe! Prossiga...

___ Eu percebi que ele me escondia algo...

___ Já era de se esperar...

___ Mas em uma projeção do novo professor apareceu a imagem do


professor Bunyan e um endereço em Heaven! Eu consegui gravar o endereço e
creio que foi um sinal mandado por ele pra nos indicar onde está.

___ Puxa! Que excelente! Então vamos visitá-lo!

Nesse momento, ouvimos os passos de outro coordenador que passava


pelo corredor e foi se aproximando de nós.

___ Ei Filipe, vamos mudar de assunto... (Disse o professor Lucas num tom
mais baixo).

___ Visitar quem? (Era o Coordenador Filantrópico, o Dr. Hipócrates).

___ Oi Dr. Hipócrates! Como vai o senhor? (Respondeu o professor Lucas,


intencionalmente ganhando tempo para achar uma desculpa).

___ Vocês me deixaram curioso... A quem pretendem visitar?

___ Não Dr. Não pretendemos visitar ninguém.


___ Como não? Eu ouvi muito bem o senhor dizer: "Que bom! Vamos visitá-
lo!". Está me chamando de surdo ou estão guardando segredo...? (Observou
ironicamente).

___ É que não falamos de uma pessoa física, mas sim de uma pessoa
jurídica. Falamos em visitar o Instituto Histórico e Geográfico de Heaven. Estou
com um projeto para levar os alunos e o garoto aqui está me ajudando a
conseguir a liberação da viagem.

___ Que bom! Quer dizer que o garoto aí é um aluno interessado... E


participativo! É! Nosso sistema de ensino está funcionando. Não é professor
Lucas?

___ Como eu poderia dizer o contrário?

___ E sobre a viagem, quem sabe eu poderia ir também e representar as


ações sociais da Escola...

___ É uma possibilidade. (Disse o professor).

___ Mas estou muito atarefado. Acho que só posso mandar um


representante em meu lugar...

___ Faça isso!

___ Está bem, nos falamos na Sala de Reunião Pedagógica.

___ Até lá então!

Com seus sapatos italianos que o prenunciavam e o despediam, o


coordenador foi embora. Vieram ao nosso encontro os dois professores que até
então estavam no fundo da sala.

___ Ei Lucas! (afirmou a professora) ___ Aquele Dr. Hipócrates deveria se


chamar Hipócrita! É mesmo um falso aquele sujeitinho! Realiza "ações sociais"
com um único objetivo: promoção! Promoção de si mesmo e da instituição! Aliás,
agora é assim mesmo em todas as instituições, e não só as de ensino!

___ Deixa pra lá Joana! (Retrucou o professor Michael).


___ Eu já deixei há muito tempo! A gente não pode fazer nada mesmo pra
mudar essa realidade! Agora é cada um por si e o Conselho Internacional sobre
todos!

___ Discordo. (Refletiu o professor Lucas).

___ E não é assim mesmo? Não são todos individualistas na Idade Pós-
Contemporânea? Os relacionamentos não duram mais um mês, casamento
entrou em extinção, família de pai, mãe e filhos, como antigamente, não se vê
mais... A verdade é manipulada pelo Conselho que, por sua vez, domina tudo e
todos... Não é verdade isso professor?

___ Não é disso que discordo.

___ Do que é então?

___ Discordo da ideia de que não podemos fazer nada. Penso que não
podemos mudar tudo, mas alguma coisa nós podemos fazer pra mudar, nem
que seja a nós mesmos.

___ Lá vem ele com filosofia e poesia... Lucas, acho que você tá na
disciplina errada...

___ Me desculpe Lucas, mas acho que Joana tem razão. O sonho acabou.
Veja o John... Ele não está mais entre nós... (Observou o professor Michael).

___ É aí que vocês se enganam! Vocês estão vendo este jovem? É o Filipe!
Ele é nossa esperança e será nossa ponte de contato com Heaven, onde o John
está!

Os dois me olharam espantados.

___ Como pode ser isso?! (Questionou a professora Joana).

___ É simples minha querida: o Filipe é um aluno interessado e está do


nosso lado... Não é Filipe?

___ Com certeza! (Correspondi).

___ Ele notou as mensagens secretas do John e gravou um endereço


enviado por ele! É nossa grande chance de reencontrá-lo e saber como anda o
projeto Reeducar!
___ Que projeto é esse professor? (Indaguei).

___ Não dá tempo pra eu falar agora. Quando estivermos a caminho de


Heaven eu te explico...

___ Mas você lembra da Paula? (Retrucou a professora Joana)___ Ela


também foi nossa esperança há semanas atrás. Estava empenhada em
colaborar. Queria chegar ao John... Viu no que deu? Em nada!

___ Mas Paula não tinha um endereço em Heaven. (Rebateu o professor


Lucas).

___ Ei Joana, talvez ele esteja certo... E se esse endereço for mesmo o de
John? (Ponderou o professor Michael)

___ Talvez... Se... É muita incerteza e insegurança! Vou ficar com minha
certeza de que mais nada adianta! Pelo menos eu não me frustro outra vez!

___ Tudo bem Joana, esta é uma decisão sua. Mas não nos impeça de ter
esperança nem nos delate. Pode relaxar, mas nós vamos prosseguir lutando. E
você Michael, vem conosco?

___ Bom... Se ainda é possível crer em dias melhores, eu quero! Essa


história do endereço me animou. Vou dar meu voto de confiança a este garoto!
Lembro-me dele, é um bom rapaz. Gostaria muito de reencontrar o John. Se
não der certo, pelo menos nós tentamos mais uma vez.

___ Muito bem Filipe! Você está vendo não é? A coisa é realmente crítica.
Mas você está no caminho certo. Até mesmo muitos professores estão divididos.
Inúmeros desistiram, alguns estão duvidosos e apenas uns poucos persistem
em lutar contra o sistema, mas ninguém poderá dizer que todos somos
covardes! Vá para sua casa e nas próximas projeções da minha disciplina
enviarei sinais a você sobre nossa viagem a Heaven. A propósito: faça uma
transferência de dados para o meu ultrachip com o endereço. Quando tivermos
nossa próxima aula presencial, será nossa viagem ao Paraíso!

Fiz a transferência que o professor Lucas pediu, fui para minha casa com
o coração batendo forte, com uma paixão pela educação e pela liberdade, mas
também ansioso de que chegasse logo o dia da aula presencial. Mas algumas
dúvidas ainda pairavam sobre minha cabeça: quem era essa Paula? O Dr.
Erasmo deixou escapar que uma Paula o procurara em busca de informações
sobre o professor Bunyan. Quem era essa moça? E que projeto Reeducar era
esse...? Bom, pelo menos até chegar em Heaven eu teria as respostas... Assim
eu esperava...
UM NOVO DIA

___ Bom dia turma! (Iniciou o professor Lucas sua aula presencial) ___ Hoje
vamos sair das quatro paredes que limitam a nossa visão e viajaremos pelo
conhecimento enquanto visitamos a cidade de Heaven!

___ Que ótimo! Emoticon! Iiiiiissssaaaa! Bleza! (Extasiaram muitos alunos).

___ Aula presencial boa é assim, quando é só hackealidade! (Disse um


dos alunos. "Hackealidade" seria "curtição", "azaração", "perturbação" ou até
"delinquência" - o que alguns gostavam de fazer nos "passeios").

___ Ôpa! Peraí! Quem disse que era pra hackear? Eu quero que vocês
respeitem o local e as pessoas! Do contrário, não tem mais visitação...

___ Professor! Eu tenho uma pergunta!

___ Digaí Bryan!

Você já deve imaginar o que vem por aí...

___ O senhor disse que é pra respeitar as pessoas. Mas e os colegas... É


pra respeitar?

Esperando acabar o barulho da turma perante este questionamento inútil


de Bryan, o professor respondeu:
___ Se você acha que há alguma diferença entre pessoas e alunos, essa
diferença só existe em relação a você.

___ Êêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêhhhh!!! (Bradou a turma


ridicularizando Bryan).

___ Muito bem gente! Levantem-se e vamos!

___ Isso não vai ficar assim! (Ouvi o Bryan resmungar essa frase).

Entramos todos no ônibus sônico e partimos. Sentei-me próximo aos


professores Lucas e Michael na tentativa de falar com eles sobre aquele
assunto.

___ Professor Lucas, há duas perguntas que preciso lhe fazer... (Falei
baixinho).

___ Faça-as (Respondeu ele). Dessa vez não poderei ler seus
pensamentos...

___ Quem é Paula e o que é o projeto Reeducar?

___ Lentamente, olhe para trás.

___ Estou olhando (Respondi um minuto depois).

___ Tá vendo aquela moça na décima poltrona da fila à sua direita?

A moça de quem o professor falara era magra, baixa, cabelos


encaracolados, compridos e negros. Seu rosto era suave, a pele negra, olhos
puxados e pretos. Era uma jovem muito bonita.

___ Sim, posso vê-la.

___ Ela é Paula.

___ E qual foi o envolvimento dela naquele assunto?

___ Assim como você, ela também percebeu os sinais de John e os meus.
Também investigou como você. Mas ficou decepcionada com a corrupção de
alguns professores e desistiu, assim como a professora Joana.
___ E ela sabe que tentaremos encontrar o professor Bunyan?

___ Preferi não falar com ela, pois ficou muito rude depois da decepção.
Ela mesma me pediu que não falasse mais com ela sobre o assunto.

___ Que chato isso... Vou tentar falar com ela!

___ Acho melhor não.

___ Por quê?

___ Pra você não comprar inimizade com ela.

___ Me deixe pelo menos tentar... Nós não somos de desistir, não é
mesmo? Além do mais, se ela souber do endereço, acho que a esperança vai
brotar de novo.

___ Você é mesmo uma caixinha de surpresa e esperança! Me convenceu!


Mas tenha cuidado pra não magoá-la.

___ Tudo bem... Ah! E o projeto Reeducar?

Nesse momento vieram alguns colegas e interromperam nossa conversa.

___ Professor, onde fica o banheiro? (Perguntou uma aluna que não sei o
nome, só sei que estava sentada ao lado de Paula).

___ Você dobra o corredor na terceira fileira à sua esquerda e segue o


novo corredor até o final (Não estranhe a resposta do professor... aqui em nosso
tempo, os ônibus são bem mais espaçosos e velozes do que eram no século
XXI).

___ Obrigada.

___ Por nada!

Cutucando meu braço, ele me disse:

___ É sua oportunidade! Vá!

Levantei-me discretamente e segui em direção ao assento ao lado de


Paula.
___ Oi, posso sentar ao seu lado?

___ A cadeira está ocupada.

___ Eu sei.

___ Então...?

___ Preciso falar com você uns minutinhos.

___ Eu não tô a fim de conversar.

___ É só uns minutinhos...

___ Eu nem te conheço!

Que menina difícil! Pensei.

___ Está conhecendo agora. A propósito: já estamos conversando há


alguns segundos e se você não me deixar sentar ao seu lado pra lhe falar o que
vim dizer, estaremos perdendo preciosos minutinhos... (sorri).

___ Pra mim esses segundos aí que você falou já foram perdidos. E quer
saber...? Me deixa em paz!

___ Nossa! Quanta grosseria! Você não tem nem a curiosidade de saber o
que vim dizer! E me trata assim sem nem me conhecer!

___ A curiosidade só me trouxe frustração. E você não sabe o que estou


passando, portanto saia daqui antes que eu chame o professor!

___ Ok! Desculpe incomodá-la! Tchau!

Que primeiro encontro catastrófico! Nunca imaginei uma reação daquela!


Foi mesmo surpreendente pra mim. Entretanto, pensei: pra ela agir assim a
frustração deve ter sido muito grande. Pelo jeito, acho que ela não se
decepcionou apenas com a corrupção no sistema de ensino... deve haver
alguma decepção maior. E eu estava certo. Pude constatar em nossos próximos
encontros.

___ Eu te avisei não foi? (Ironizou o professor).


___ Pelo menos eu tentei. Já sei que se um dia que quiser chamá-la pra
sair vou usar capacete e luvas de boxe... Ou então espero pra ver se no próximo
século ela vai tá mais calminha.

Em quatro horas chegamos a Heaven (o que, de ônibus comum no seu


tempo, duraria cerca de 24 horas). Trinta minutos depois, enquanto
caminhávamos pela cidade após guardarmos nossos objetos pessoais no
alojamento escolar, para a minha grande surpresa, ela se aproximou de mim e
disse:

___ Olha, me desculpe pela maneira grosseira que falei com você. Eu
estava muito chateada com uns problemas e queria ficar só. Me desculpe.

___ Está tudo bem.

___ E... Como é mesmo o seu nome?

___ O meu é Filipe. E o seu?

___ Paula. Filipe, o que você queria mesmo falar comigo?

___ Deixa pra lá.

___ Você não vai me perdoar né?

___ Pelo contrário! É justamente pra não chatear você ainda mais com
minhas bobagens que acho melhor deixar pra lá.

___ Você está sendo irônico.

___ Por favor, não me entenda mal! Não quero magoar você... Espere!
Acho que posso ajudá-la. Você está passando por algum problema sério, dá pra
perceber... Não quer compartilhar comigo?

___ Acho melhor não.

___ Seu namorado vai ficar com ciúmes né?

___ Não tenho namorado. Pelo menos não agora...

___ Você tinha, mas terminou...


___ Ele terminou.

___ Ah! Então é isso...

___ Não! Não é só isso! É muito mais! Mas deixa pra lá.

___ Assim não vamos progredir... Eu tenho algo a lhe dizer, mas digo:
"deixa pra lá"; você tem algo a desabafar, mas diz: "deixa pra lá". Que tal
mudarmos o rumo dessa conversa? Acho melhor você desabafar primeiro.

___ Eu acho melhor você dizer o que tinha a dizer primeiro.

___ Nada disso! Primeiro as damas... (Sorri e ela também sorriu) ___ Na
verdade, acredito que os seus sentimentos são mais importantes do que o que
vou lhe dizer. E o que você estiver sentindo pode determinar a maneira como
vou lhe dizer.

___ Tudo bem. (Suspirou) ___ A questão é que além de estarem


separados, meus pais vivem em pé de guerra. Estão disputando minha guarda
e de tanto discutirem não têm nenhum tempo pra sequer perguntar o que sinto,
o que penso ou o que quero. Com isso, transferi essa carência de carinho e
atenção para o estudos e para o meu ex-namorado. Dedicando-se aos estudos
descobri uma coisa muito grave no sistema de ensino que não posso falar agora.
Dediquei-me a uma causa na tentativa de ajudar a corrigir essa coisa e meu ex,
alegando falta de atenção de minha parte pra ele, terminou comigo. Como se
tudo isso não bastasse, vi que minha dedicação e esforço àquela causa eram
inúteis, pois havia uma força muito maior que eu não poderia vencer. Sinto-me
muito confusa, abandonada, esquecida e pior: sem forças...

Naquele momento, eu vi que ela precisava muito de algo que nem a


sociedade individualista pós-contemporânea, nem o sistema de ensino
corrompido, nem namorados egoístas, nem sua família esfacelada poderiam
oferecer-lhe: calor humano. Peguei em sua mão, segurei forte e lhe disse
olhando nos olhos:

___ Paula. Eu sei o que você sente. Eu também tenho problemas familiares,
pois meus pais... Meus pais... Eu quase não os vejo! Eles estão sempre tão
ocupados com trabalho, trabalho e mais trabalho que não tem tempo pra
conversar comigo. Namorada? Bom... Isso eu nunca tive: primeiro porque
sempre fui meio tímido, segundo porque, nas vezes em que tentei vencer a
timidez, levei uns "foras" semelhantes ao que você me deu há poucos mais de
uma hora... Quanto a essa causa que você falou... Eu sei que causa é essa,
também entrei nela e quero lhe dar boas notícias: você não lutou inutilmente!
Nós temos chances de vencer!

Assustada e soltando a minha mão, ela olhou pra mim e disse:

___ Você sabe mesmo o que está falando?! Sabe mesmo que causa é
essa?!

___ Sim! Deixe-me falar ao seu ouvido (cochichei): é a causa da educação


e da liberdade, você também descobriu as mensagens misteriosas do professor
Bunyan.

___ Meu Deus! Como você descobriu?

Falando baixo, continuei:

___ Eu também notei as mensagens secretas. Investiguei e até agora


descobri, graças ao professor Lucas, que o Conselho Internacional está
tentando manipular todos os meios de comunicação e os sistemas de ensino.
Eles estão destruindo o planeta, manipulando a verdade e controlando as
pessoas. Mas o professor Lucas me disse que o professor Bunyan tem um
projeto que pode interferir nesse uso autoritário do poder e eu descobri um
endereço que pode ser do professor Bunyan.

___ Mas Filipe, muitos professores não estão nem aí pra o problema! Pior!
Muitos educadores e intelectuais estão a favor dessa dominação! Você acha
mesmo que o professor Bunyan, que a gente nunca viu pessoalmente, e esse
projeto, que nem conhecemos direito, farão algum efeito?

___ É aí que está a boa notícia! O endereço que eu descobri é aqui em


Heaven! O professor Lucas conseguiu nos trazer aqui pra procurarmos pelo
professor John secretamente!

___ Como você descobriu esse endereço?

___ Quando eu estava assistindo uma projeção do novo professor,


apareceu, sem nenhuma relação com o conteúdo e sem nenhum motivo
aparente, a imagem do professor John e um endereço em Heaven. Além disso,
os professores sabem que depois que ele foi demitido da Escola, ele veio pra
cá. Essa viagem é a chance de o reencontrarmos e de nós dois o conhecermos!
Há também um colega nosso, o Ítalo, que se interessou em colaborar.
___ Sei não Filipe, só espero que sua esperança não seja vã e que você
não se decepcione como eu me decepcionei.

___ Já estamos aqui, não estamos? Então não custa nada tentar!

___ E se não encontrarmos o professor?

___ Pelo menos nós tentamos. Fizemos tudo o que estava ao nosso
alcance. E voltando àquele outro assunto mais pessoal: você não está mais
sozinha. Mesmo que nossos sonhos em relação à causa não deem certo, você
pode contar comigo pra enfrentar seus problemas.

___ Obrigada Filipe. É difícil pra mim, mas conte comigo você também.
(Nos abraçamos).

___ Cof! Cof! Cof! (Fomos interrompidos pelo professor Michael) ___ Não
querendo atrapalhar, mas já atrapalhando os dois pombinhos... Filipe, o
professor Lucas me pediu pra avisar a você que o endereço que você forneceu
é exatamente aqui, em frente a esta instituição que iremos visitar. Ele vai dizer
aos alunos que vai providenciar um lanche pra todos, mas vai com você ao
endereço.

___ Ok! Paula venha com a gente! (Convidei-a).

___ Vou sim! Só queria que o professor Michael retirasse os "pombinhos".

___ Tudo bem Paula! Eu retiro os "pombinhos"... (Considerou o professor).

___ Assim está melhor. (Ela completou, para a minha tristeza, é claro...).
O ENCONTRO COM A VERDADE
Ali, em frente ao Museu de História da Literatura Heaveana, estava aquela
casa simples. As velhas portas de vidro sem abertura sensorial, as grades
internas de proteção, indicando ausência do moderno sistema de segurança.
Em sua fachada estava escrito: "Livraria Alvorada". Era uma velha livraria azul.
Seu aspecto contrastava grandemente com as livrarias, lojas e até mesmo as
casas mais simples de minha cidade. Aquela parecia estar perdida no tempo,
enquanto estas pareciam uma mistura de requinte, ornamentação e tecnologia
de "última geração" (atualmente usamos a expressão: tecnologia de mais
presente geração).

___ Ok Filipe! Temos apenas cinquenta minutos! Só consegui realizar essa


viagem porque coloquei no projeto de excursão que nosso objetivo principal era
o Instituto Histórico e Geográfico de Heaven, que fica a 150 quilômetros daqui,
e porque concordei com a presença de um representante do Coordenador
Filantrópico, que estará à nossa procura se demorarmos muito. Porém,
consegui estabelecer algumas visitações de trinta minutos em outras
instituições, como foi o caso do Museu. Se esta velha livraria azul é o endereço
que ele nos deu, não podemos perder tempo! Vamos! (Disse o professor Lucas
tentando me conduzir apressadamente).

___ Ótimo professor! Paula vai com a gente!

___ Paula? Ora, ora, mas quem diria? Você mudou de ideia rápido, não é
Paula? Acho isso excelente!
___ O Filipe conseguiu me convencer a tentar pelo menos mais uma vez...

___ Que bom que está conosco mais uma vez! Seja bem vinda de volta ao
time!

___ Obrigada.

___ Tá legal, vamos!

Ao entrarmos naquela livraria vimos algumas estantes repleta de livros.


Estes, por sua vez, pareciam um tanto esquecidos, pois nenhuma viva alma
encontramos no ambiente e muitos livros estavam empoeirados. Foi então que
de trás de uma das estantes saiu um senhor de barba por fazer, aparentando
uns 70 anos de idade. Parecia ser o dono do estabelecimento. O professor
Lucas perguntou se ele conhecia o professor Bunyan, ao que ele respondeu
surpreendentemente:

___ Não o conheço,

___ O senhor tem certeza? Não quer olhar em sua lista de clientes se há
alguém com esse nome? (Sugeriu o professor).

___ Não. Infelizmente tenho certeza de que não posso ajudá-los.

___ Não é possível! Deve haver algum engano! (Exclamei) ___ Professor,
tem certeza que é esse o endereço que lhe passei?

___ É este mesmo: Avenida Caminho da Cruz, número 10.

___ Pois é, é esse mesmo... Eu me lembro que foi esse o endereço na


projeção...

___ Você disse: projeção? (Inquiriu o senhor. E mais surpreendente foi o


que veio a seguir).

___ Isso mesmo! O senhor sabe de mais alguma coisa? (Perguntei).

___ Qual é o seu nome garoto?

___ Filipe.

___ E o do senhor? (Perguntou ele ao professor).


___ Sou o professor Lucas Almeida.

___ E o da moça? (Dirigindo-se à Paula).

___ Meu nome é Paula.

___ Deixem seus registros óticos com o Miguel e depois venham comigo.

Repentinamente à nossa esquerda apareceu um homem alto e de olhos


claros, tendo à sua mão uma maquininha de registro ótico. Deixamos nosso
registro e seguimos após o barbudo, que abriu uma porta nos fundos e foi
descendo umas escadas.

___ O Dr. Bunyan estava esperando por vocês. (Disse-nos o senhor).

___ Mas o senhor não disse que não o conhecia? (Questionei).

___ Eu disse "não o conheço" referindo-me ao professor de vocês. Se eu


o conhecesse previamente, teria dito "conheço-o". Só posso admitir que
conheço o Dr. Bunyan a quem eu conheço previamente.

___ Isso tudo é pra guardar segredo? (Perguntou Paula).

___ Vivemos tempos sigilosos mocinha... Tempos sigilosos.

As escadas que descíamos após aquele homem passavam por salas


escuras e silenciosas, mas após alguns instantes, vimos uma sala mais
iluminada no final do percurso. Chegamos ao subsolo após aproximadamente
uns cinco minutos. Agora, restavam-nos uns quarenta minutos, pois cinco foram
gastos com nosso guia misterioso.

O barbudo bateu três vezes na porta da sala iluminada (o que nos pareceu
estranho já que a mesma tinha campainha) e disse: "o imediatismo não nos
domina!". Alguém de lá de dentro perguntou: "Por quê?". "Porque fomos libertos
pela verdade!", respondeu o nosso guia.

A porta foi aberta por um jovem de aproximadamente uns 20 anos de idade.

___ Entrem. A equipe está esperando vocês. (Disse-nos o rapaz).

___ Que equipe nos espera? (Tomei a palavra).


___ A equipe do Dr. Bunyan. (Respondeu o ancião).

___ E o professor John Bunyan? Também está lá? (Interrogou Paula).

___ Sim. Ele espera por vocês.

Enquanto seguíamos o ancião, notei que o lugar era espaçoso e dividia-se


em várias galerias, ocupando um amplo território abaixo da superfície. Havia
vários jovens e adultos montando e desmontando objetos eletrônicos,
manipulando sistemas de "computador", lendo livros, discutindo. Foram mais
uns dez minutos de caminhada até uma sala quadrangular onde estavam três
indivíduos. Restavam-nos trinta minutos. Quando entramos na sala, o encontro
tão esperado:

___ John! Meu amigo! Há quanto tempo! (Exclamou o professor Lucas


abraçando-o).

___ Realmente! Há quanto tempo! Finalmente nos reencontramos! Esperei


muito por isso! E estes com você devem ser Filipe e Paula, estou certo?

___ Como o senhor nos conhece??? (Eu e Paula surpresos, falamos ao


mesmo tempo).

___ Antes de ser demitido da Escola Futurista, eu já utilizava um programa


que me permitia obter algumas informações básicas sobre os alunos que me
perguntavam algo através das projeções. Quando saí, continuei com o
programa, o que me permitiu acompanhar vocês até certo ponto, bem como
emitir alguns sinais que os atrairiam pra cá.

___ Quer dizer que o endereço foi um sinal recente? (Perguntei).

___ Isso mesmo. Só assim conseguiria despistar o controle da Crítica


Pedagógica e despertar vocês. Mas deixem-me apresentar a vocês duas
pessoas ilustres: Lucas, Filipe e Paula, estes que comigo estão são o Dr. Mateus
Levi, doutor em Direito...

___ Muito prazer! (Disse ele cumprimentando-nos).

___ e o Dr. Marcos Evangelista, doutor em Biologia.

___ Muito prazer! (Idem).


Ambos tiveram conhecimento do Projeto CI do Conselho Internacional, da
pílula do conhecimento e, assim como todos nós que estamos neste
esconderijo, se posicionaram contra essa aberração.

___ Professor, ou devo dizer, doutor Bunyan, pode nos esclarecer melhor
a respeito disso? O que são o Projeto CI e a pílula do conhecimento? (Indaguei).

___ Não se preocupe com títulos. Pode me chamar simplesmente de John.


Em primeiro lugar, Projeto CI significa "Projeto de Controle Internacional". Não
satisfeitos com o controle político-econômico e cultural sobre toda a
humanidade, os líderes do Conselho Internacional pretendem dominar a mente
das pessoas por completo. Na verdade, todas as formas de controle já faziam
parte do projeto quando ele começou a ser executado; só que essas formas de
controle foram sendo implantadas gradativamente, para não causar assombro
nas pessoas. A última etapa é a implementação do controle da mente,
inicialmente através da pílula do conhecimento. Esse controle já está sendo
implementado em quase todas as escolas e será reforçado e consolidado com
o estabelecimento da pílula. A grande maioria das escolas está intimamente
ligada a esse processo de dominação e alienação.

___ Aaah! Então é isso que o senhor chamava de "monopólio da mente"...


Não é?

___ Isso mesmo. E a convicção cega tem a ver com a pílula do


conhecimento. Os cientistas e pesquisadores do Conselho Internacional
(traidores da humanidade e comprados por grandes somas de dinheiro, eles se
deixaram servir de instrumento para os interesses do Conselho, sem questionar
nem ao menos as finalidades de seus inventos, pesquisas e descobertas),
descobriram um mecanismo de absorção física do conhecimento. Em outras
palavras, eles criaram uma pílula capaz de conter dados e informações que, ao
ser ingerida pelo ser humano, consegue transmitir esses dados e informações
para o cérebro. Assim, o indivíduo não precisará ler para compreender um texto,
discutir para construir um pensamento através do debate de ideias, exercitar
habilidades matemáticas... Enfim, não será necessário nenhum esforço para a
aprendizagem, pois todo o conhecimento desejado estará em uma simples
pílula. Basta você ingerir a pílula e você conhecerá o "suficiente" sobre certos
conteúdos de História Geral ou de Filosofia, por exemplo.

___ Nossa! Mas isso é incrível! Certamente os estudantes vão apoiar essa
pílula, pois o que mais querem é ficar livres do esforço da aprendizagem!
(Exclamei).
___ Pois é. Só que, em contrapartida, todos os professores perderão seus
empregos, pois pra quê professores se os alunos podem engolir o
conhecimento? Mas o pior não é isso: junto a esses conhecimentos
supostamente científicos, eles introduzirão ideias que levarão as pessoas a se
submeter totalmente ao sistema imposto por eles. Os alunos e todas as demais
pessoas que ingerirem as pílulas estarão sujeitas ao governo mundial do
Conselho, sem nenhum questionamento. Todos serão robotizados!

___ Terrível! (Exclamou Paula).

___ Agora, com a ajuda dos meus colegas, deixem-me explicar-lhes mais
detalhadamente sobre a pílula...
A PÍLULA DO CONHECIMENTO

___ As pesquisas que levaram à descoberta da pílula começaram ainda


por volta do ano 2100, quando alguns estudiosos do Conselho desenvolveram
a tese da absorção física. Peço ao Marcos que explique melhor essa parte...

___ Pois não John. (Disse o Dr. Marcos) ___ Esses estudiosos de que falou
o John pesquisaram mais a fundo os processos de aquisição do conhecimento
pelo cérebro e investigaram o trabalho da memória, da percepção sensorial e
dos neurônios nesse sentido. Eles perceberam que, assim como os antigos
computadores, o cérebro humano é capaz de associar dados imateriais com
estímulos sensoriais. No caso dos tais computadores, a parte física (hardware)
dá suporte material à parte lógica (software) e esta, por sua vez, se comunica
com aquela através dos inúmeros programas ou sistemas de dados. No caso
do cérebro humano, que é a parte física, esta comunicação com o pensamento
se dá através de infinitos estímulos sensoriais distribuídos pelos neurônios, que
fazem ligação entre a percepção sensorial e a memória. Mas a maior diferença
entre o cérebro humano e os velhos computadores é que o primeiro é bem mais
complexo. Daí, as pesquisas continuaram avançando até que eles descobriram
a maneira mais prática de fazer a ponte ligando materialmente as informações
ao cérebro, que foi o penúltimo passo para a invenção da pílula. O último foi a
criação das próprias informações e dados que, como John já disse, estão
repletos de preconceitos e ideias de submissão ao Conselho, supervalorização
da tecnologia, etc.
___ Meus queridos, pra piorar ainda mais a história, nós descobrimos
alguns efeitos dessa pílula... (Continuou o professor John) ___ Ao engolir esse
tipo de "conhecimento", ele se torna uma espécie de "verdade absoluta" na
mente do indivíduo. Se torna uma "verdade" incontestável, pois a absorção é
tão violenta e cimentada, que a pessoa não aceita a possibilidade de
contradição. Isso ocorre por causa de uma lei racional da nossa mente chamada
de "não-contradição". Segundo essa lei racional do nosso "sistema original",
uma informação não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Por exemplo:
A é A, e não pode ser A e não-A ao mesmo tempo... Entenderam? Assim, uma
vez que o cérebro considera uma informação absolutamente verdadeira, ele não
admite sua contradição. O pior dos efeitos colaterais disso aí é a intolerância e
impossibilidade de diálogo! Algumas das cobaias (pessoas interessadas em
submeter seus corpos a experiências "científicas" em troca de muito dinheiro)
usadas nos testes desses "cientistas" tornavam-se agressivas quando alguém
questionava ou duvidava de "suas" ideias absorvidas pela pílula!

___ Como vocês podem ver... (Interpelou o Dr. Mateus) ___ a aceitação
dessa pílula pela humanidade poderá destruir toda liberdade de pensamento e
de expressão, direitos conquistados a duras penas ao longo da história. E mais,
prejudicará o verdadeiro progresso da ciência, que consiste não em encontrar
"verdades absolutas" prontas e acabadas, mas sim em levar à reflexão e ao
aprimoramento da vida social. Além disso, o comércio da pílula reforçará as
desigualdades, pois quem "pode" mais, "saberá" mais... Ah! E levará também a
vários conflitos, pois é possível que alguns dados "verdadeiros" sejam
contraditórios em relação a outros dados "verdadeiros", se é que não levará
primeiro à loucura.

___ Enfim... (Completou o professor Lucas) ___ de acordo com o que vocês
três disseram e com o que temos observado nas instituições de ensino, a pílula
do conhecimento vai cegar completamente as pessoas e torná-las meras
marionetes nas mãos da elite internacional, que é o objetivo final do projeto CI.

___ Isso mesmo Lucas! Infelizmente é isso! (Continuou o professor John)


___ E eles querem começar a implantar a pílula nas escolas para antecipar seus
planos para as gerações futuras. É por isso Lucas, que nós, como educadores,
temos um papel muito importante no combate à pílula. Não podemos permitir
que nossos alunos sejam infectados com esse vírus maldito! Precisamos
vaciná-los, adverti-los e trazê-los para o lado correto do combate: o lado dos
que lutam pela liberdade de pensamento e expressão, dos que ainda defendem
o debate de ideias, a construção do conhecimento, a utilização do senso
crítico...
___ Nossa! (Exclamou o professor Lucas) ___ O horário! Desculpe John,
mas temos que ir! Só nos restam cinco minutos para sairmos daqui e nos
reencontrarmos com a turma. Se nós não chegarmos lá rápido, poderão
suspeitar!

___ Não se preocupe Lucas. Temos um elevador secreto aqui ao lado que
levará vocês a um ponto estratégico. Vocês sairão daqui em cinco minutos e
sairão na rua sem ser notados. Tomem, levem com vocês estes lus (laser-
utilitaries)... (Disse o professor Bunyan nos entregando os aparelhos que eram
mais ou menos algo equivalente aos celulares do seu tempo, só que bem
menores e com muito mais aplicativos) ___ Eles serão nossa nova ponte de
comunicação.

___ Obrigado John! Foi muito bom revê-lo! Estamos juntos nessa luta!

Sem muito tempo para abraços, nos despedimos e corremos para o tal
elevador. Em cinco minutos estávamos de novo na superfície e saímos da
livraria sem sermos percebidos. Porém, pude notar que o representante do
Coordenador Filantrópico ficou um pouco desconfiado pela nossa demora. Mas
não foi o suficiente para nos comprometer.

Seguindo o resto da excursão, nós três parecíamos levitar, mas ao mesmo


tempo havia momentos em que parecia que o chão fugia de nossos pés.
Estávamos embriagados com aquelas revelações bombásticas. Se por um lado,
nós nos sentíamos honrados em participar da luta contra aquelas formas de
autoritarismo e dominação velados, por outro lado estávamos temerosos em
relação ao que estava por vir. Seria tão breve a implementação da pílula? Como
deveríamos reagir? Como alertar as pessoas sem parecermos loucos? Pior:
seríamos presos, expulsos ou até mesmo torturados? E se fôssemos forçados
a ingerir tais pílulas, como expurgar do nosso pensamento tal repugnância?
Apenas de uma coisa tínhamos certeza: estávamos envolvidos em um conflito
sigiloso e internacional e se simplesmente cruzássemos nossos braços, a
humanidade poderia entrar em colapso!

Em todo o resto da viagem estávamos presentes somente no corpo. Nossas


mentes pareciam divagar naquela terrível aventura, enquanto os demais
pareciam concentrados nas informações que lhes eram expostas. Como
convencer esses jovens? Estariam eles dispostos a renunciar as facilidades de
uma pílula do conhecimento em troca do cotidiano esforço pela aprendizagem?
Estariam eles maduros a ponto de valorizar o trabalho e a dedicação de seus
professores? Certamente, sabíamos que muitos engoliriam alegremente a
dominação do Conselho, especialmente os alunos mais desinteressados pelo
verdadeiro conhecimento. Aqueles que já viviam alienados, preocupados
apenas com seus interesses pessoais, tais como diversão, compras, modernas
maquiagens e beleza, moda, namoro, festas, estariam no início da fila da mais
nova "tecnologia da aprendizagem". Eles se sentiriam privilegiados por fazer
parte da geração da pílula do conhecimento, a geração que come "saber", que
se alimenta de "informações científicas" enquanto bebe refrigerante. Ou ainda
que "aprende" Matemática e Química enquanto assiste a um filmezinho no
cinema. Que é capaz de "absorver" as "verdades absolutas" da Filosofia sem
nunca ter lido ou ouvido nada a respeito de Sócrates. "Só sei que nada sei", eles
teriam coragem de transformar essa indagação do sábio numa "verdade
incontestável"? A Dúvida Metódica de Descartes tornar-se-ia indubitável? O
ceticismo seria transformado numa crença universal? Todos se tornariam
completamente loucos? Qual seria a definição de loucura na pílula? Acho que
loucos são esses miseráveis que querem destruir a liberdade e travar o
pensamento humano simplesmente para satisfazer seus caprichos elitistas e
satisfazer sua sede insaciável de poder!

___ Ei! Filipe! Estou falando com você! Tá surdo? (Bradou Ítalo tentando
me acordar do meu transe).

___ Desculpe Ítalo. O que você disse?

___ De hoje que eu te pergunto sobre o professor Bunyan! E aí, que horas
vamos vê-lo? Desde que nós descemos em Heaven e que você se aproximou
daquela garota parece que cê tá em outra dimensão! Vocês foram se afastando
do resto da turma, desapareceram na hora da visita ao Museu... Muitos estão
dizendo que você já hackeou a flor... Era essa a sua aventura...?

___ Que isso Ítalo?!!! Respeite a moça! Ela só me contou alguns problemas
pessoais. E eu não vim aqui pra me aproveitar de ninguém!

___ Calma, não precisa ficar bravo... Sou teu amigo, lembra? Só queria
levantar sua auto-estima dizendo o que os irados estão comentando... Sua fama
de tímido poderia mudar hoje...

___ Para com isso Ítalo! Diga aos irados (irados seria o equivalente a
"galera") que não houve nada. E não estou preocupado com reputação, tenho
um assunto muito mais sério pra me preocupar agora e é sobre isso que quero
falar com você.

___ Então fala...


___ Eu já me encontrei com o professor Bunyan. Fomos eu, Paula e o
professor Lucas e falamos com ele e outros professores ou doutores que com
ele estavam. Desculpe-me não ter levado você, é que foi tudo muito rápido. Eu
estava conversando com Paula quando o professor Lucas nos levou às pressas
para o endereço que lhe falei.

___ Não acredito! Vocês foram e não me chamaram? O que eu mais queria
nessa viagem era conhecer o professor Bunyan e saber mais sobre os
propósitos manipuladores do Conselho Internacional...

___ Calma Ítalo. Você ainda vai conhecê-lo e, por enquanto, vou lhe falar
sobre o Conselho, sobre o Projeto CI e sobre a pílula do conhecimento...

___ Espere um pouco... Você não está brincando comigo não é Filipe?

___ Como assim? Brincando?

___ Você me contou aquela conversa toda com os professores na


Coordenação de Ensinos Geográficos e até agora não vi os professores Lucas,
Michael e Joana se manifestarem a respeito... Agora você me diz que falou com
o professor Bunyan, mas eu não pude ir... Como você pode me provar tudo isso?
Quem me garante que essa história toda não é uma invenção sua pra testar a
minha inteligência? Pior: se você estiver ficando louco? Eu não quero e não vou
pirar junto! Fique maluco sozinho!

___ Ítalo, nem eu estou enganando você, nem estou louco. Se quer ter
certeza, assim que surgir a oportunidade, conversaremos com o professor
Lucas e você vai ver.

___ Assim espero.

A viagem terminou e nós não conseguimos outro momento de sigilo pra


conversarmos com o professor Lucas. O representante do Conselho Filantrópico
estava no nosso encalço. Ítalo teve que aguardar um pouco mais pelas provas.

Finalmente, voltamos para casa e, nos dias que se seguiram, vieram


acontecimentos avassaladores.
PROFESSORES DESCARTÁVEIS OU
VENDEDORES DE PÍLULAS

___ E agora Ítalo? Você acredita?

___ Como poderia não acreditar? Está diante dos meus olhos. É realmente
trágico.

___ Mas quando Paula e o professor Lucas confirmaram, você ainda


duvidou...

___ É que eu pensei que você podia ter combinado com eles, só de
brincadeira, pra zoar comigo... Me desculpe amigo, por duvidar de você.

___ Tudo bem.

___ Mas e a Paula. Você tá gostando dela, não é?

___ Cara, você é meu amigo de verdade, não preciso te esconder nada.
Desde que eu soube que uma moça também havia notado os sinais do professor
Bunyan eu fiquei interessado nela. Quando a vi pela primeira vez, achei ela bem
atraente. Ao conhecê-la melhor fui me envolvendo... Gostaria mesmo de
construir um relacionamento firme com ela, mas não sei se...
___ Não sei se...?

___ Não sei se ela vai corresponder. Acho que ela também gosta de mim,
mas tenho medo de estar confundindo os sentimentos. Além disso, nesse
momento, como está sendo visto nos meios de comunicação internacional, a
pílula está sendo divulgada e nós temos que nos preparar para o combate.
Namorar agora é se arriscar mais ainda... Eu não sei o que eles poderiam querer
fazer a ela para me forçar, por exemplo, a denunciar o esconderijo do professor
Bunyan e seu pessoal...

___ Amigo, você só vai saber se vai levar um sim ou um não se tentar.
Vença a timidez. Quanto à perseguição, se eles souberem do seu engajamento
e do dela vão querer forçá-los do mesmo jeito, independentemente de estarem
juntos ou não. Acho que não faz diferença. E se ela é uma moça com quem
você se identifica e é da luta, vá em frente cara... Vale a pena investir.

___ É... Não pensei por esse ângulo...

___ Filipe! Ítalo! Vocês estão vendo o que eu estou vendo? (Foi ela que
apareceu de repente e nos interrompeu. Já estão anunciando a pílula! Temos
que nos conectar com o professor Bunyan pra ele nos dar as coordenadas de
ação!

___ Sim! Vamos! (Completei).

___ Meus queridos... (Disse o professor John através do lus) ___ Chegou
o momento de agirmos mais energicamente, mas ao mesmo tempo com muita
prudência. O Conselho vai usar todos os seus poderes para manipular as
massas à aceitação total das pílulas. Nosso trabalho consistirá na
conscientização secreta do maior número de pessoas que pudermos e na
fabricação de pílulas falsas para encobrir nossas atividades. A conscientização
será secreta porque o Conselho, que possui juridicamente o poder de
fiscalização, policiamento e coerção, certamente tentará nos coibir. Não
podemos confiar em todos, pois muitos, especialmente os que já estão em
algum cargo elevado, já foram comprados. Quem sabe se já não foram também
robotizados pelas pílulas... Por isso, muito cuidado. As pílulas falsas nos
servirão como disfarce enquanto tentamos convencer pais, alunos e
comunidade em geral de que as verdadeiras pílulas são um instrumento de
manipulação. Que Deus nos ajude! Espero que a humanidade ouça a nossa voz
e compreenda a nossa mensagem.
As palavras do professor correspondiam aos nossos sentimentos: um misto
de força de vontade com preocupação salpicada de esperança.

Foi com esses sentimentos que começamos a agir. Alguns colegas


simplesmente riam da gente. Outros estavam satisfeitos demais com a
propaganda da pílula para compreender seus riscos. A empolgação com a
novidade era grande. Mas felizmente, houve aqueles que se comprometeram a
pensar a respeito e até mesmo quem acreditasse na gente e se engajasse na
luta.

Algumas semanas após a divulgação da pílula veio a sua comercialização,


monitorada inicialmente através de instituições de ensino registradas pelo
Conselho Internacional. Os preços das pílulas eram regulados de acordo com a
quantidade de conteúdos que armazenavam e com a relevância das disciplinas.

Nos dias seguintes, enquanto vários professores eram demitidos e


substituídos por vendedores de pílulas, nós fazíamos secretamente nosso
trabalho de conscientização. Fazíamos transmissões de dados para os
ultrachips de nossos colegas e os professores Lucas, Michael e outros
mandavam sinais sigilosos para os alunos. Alguns professores, porém, a
exemplo da professora Joana, sentindo-se incapazes de enfrentar o sistema,
preferiram aliar-se a ele. Tanto na Escola Futurista quanto em todas as demais
instituições de ensino, inúmeros professores aderiram ao Projeto CI e se
tornaram "comerciantes do conhecimento", isto é, vendedores de pílulas,
apenas para não perder o vínculo empregatício. Infelizmente, em alguns casos,
os vendedores delataram os professores ativos que lutavam contra a
implementação da pílula - eram pagos por esse serviço de "denúncia". Era a
"denúncia contra o crime organizado e em defesa do progresso tecnológico-
científico", segundo os meios de comunicação oficiais.

Para garantir a segurança do comércio educacional e minar qualquer tipo


de resistência, o Conselho ativou logo a CII (Companhia de Investigação
Internacional). Esta se tornou responsável por fiscalizar a comercialização e
distribuição das pílulas, bem como identificar, prender, interrogar e até mesmo
punir os "infratores". O poder de julgamento foi logo conferido a CII para acelerar
a coerção e reforçar o controle.

Não demorou muito para que tivéssemos notícias de que professores e


alunos, considerados "subversivos", foram presos e condenados. Eu, Paula,
Ítalo, os professores e outros colegas que aderiram à causa estávamos nos
preparando para o pior enquanto fazíamos com muito cuidado o trabalho de
conscientização.
Um dia, soubemos que o professor Lucas foi chamado pelo Diretor da
Escola Futurista para prestar esclarecimentos sobre suspeição de atividade
subversiva. Você lembra daquele episódio com o Bryan? Pois é... Aquele cara
é vingativo e traiçoeiro. Assim que soube das atividades secretas do professor,
em vez de se inteirar do assunto e ficar do nosso lado, ele tratou logo de acusar
o professor junto à Coordenação Geral. Mas o professor foi esperto: logo no
início da divulgação da pílula, ele se fez passar por favorável à sua
implementação. Quando as demissões e a comercialização começaram, ele já
era um dos "vendedores". Porém, as pílulas que ele e outros professores
disfarçados vendiam eram falsas... Não passavam de farinha com água e
açúcar. Ao ser interrogado pelo Diretor, explicou o incidente com o aluno em
algumas aulas por não tolerar o comportamento desrespeitoso do mesmo. Usou
também como argumento o fato de ser "vendedor". Se era "vendedor", como
seria integrante da oposição? Sugeriu. Assim ele conseguiu escapar dessa,
sendo apenas advertido. Porém, passou a ser acompanhado mais de perto, o
que limitou seu campo de atuação.

Trágico, porém, foi o que aconteceu com o professor Michael. Certa vez,
ele e a professora Joana discutiam. Os ânimos se exaltaram e a discussão ficou
acalorada, fazendo com que os dois fossem chamados à Direção da Escola.
Questionados sobre os motivos da discussão, eles silenciaram. O Diretor
prometeu punir os dois denunciando-os por suspeita de subversão se
continuassem calados ou premiar um dos dois caso denunciasse colegas
"perigosos". Não demorou muito e a professora Joana deu com a língua nos
dentes, passando a acusar severamente o professor Michael. Certamente o
medo e a corrupção falaram mais forte dentro dela... Nosso amigo foi entregue
aos agentes da CII, que o levaram para outra cidade e lamentavelmente
perdemos o contato com ele. Eu, Paula e alguns dos colegas que aderiram à
causa fomos pessoalmente à Escola para questionar o que aconteceu ao
professor Michael. Eles tiveram a cara de pau de dizer que o professor pediu
demissão e viajou. Sem contato com ele, sem prova de nada, sem poder
recorrer a nenhuma instância superior (visto que a ordem de imposição da
implantação da pílula vinha de cima) e, ao mesmo tempo, preocupados em
manter nosso trabalho de conscientização dos colegas e dos pais em sigilo,
ficamos impossibilitados de agir. Ainda tentamos inúmeras vezes recuperar o
contato com o professor, mas foi tudo em vão.

Você já pode imaginar como o clima de tensão foi se agravando...


Principalmente entre nós combatentes. Mas não podíamos esmorecer! Não
podíamos desanimar! Não podíamos admitir que os professores continuassem
sendo tratados como objetos descartáveis. Não aceitávamos, nem muitos deles
aceitavam, sua transformação em meros vendedores de pílulas. Pílulas estas
(elas sim!) que subverteriam a mente humana e a converteriam em marionete
nas mãos da elite internacional e de seu Conselho da aberração!

Estávamos dispostos a enfrentar o cruel sistema, seus agentes e até


mesmo os "comerciantes do saber"! Lutávamos, ainda que sorrateiramente,
pela valorização dos educadores, pela liberdade de pensamento e de
expressão, pelo respeito ao senso crítico e ao esforço na busca pelo
conhecimento, divulgando esses ideais através do trabalho de conscientização.

Combinamos de nos reunirmos semanalmente para discutir estratégias e


analisar os resultados de nossas ações. Diante de várias demissões arbitrárias
e desaparecimentos, chegamos a elaborar e encaminhar um ofício ao
Coordenador Geral, o sr. Erasmo, solicitando uma reunião geral com todos os
pais, alunos e professores para discutirmos os rumos que a educação estava
tomando e esclarecimentos a respeito da saída de tantos professores e alunos,
mas fomos simplesmente ignorados. Enviamos cópias desse ofício também
para os nossos colegas e seus pais, para que todos se dessem conta da
gravidade da situação e, como a Coordenação Geral nos ignorou, aproveitamos
a oportunidade para comunicar novamente a nossos colegas e a seus pais
sobre o descaso da instituição com nossos direitos, mostrando o autoritarismo
na instituição. Cada vez mais nossa luta se evidenciava, o que por outro lado
nos deixava mais sujeitos a retaliações. Agora, com toda certeza, apesar de
ignorar o pedido do nosso ofício, eles já sabiam que nós não estávamos alheios
ao que estava acontecendo.

Assim, em meio a tanta tensão, fomos informados pelo professor Bunyan


das novas táticas de guerra.
TÁTICAS DE GUERRA

___ Estamos num momento muito crítico, mas não podemos desanimar
nem parar nossas atividades. Conseguimos avançar nas pesquisas sobre a
destruição da pílula, mas por enquanto continuaremos realizando as sabotagens
ao Projeto CI. A sabotagem continuará através dos seguintes procedimentos:
1º. Continuação da fabricação das pílulas falsas e de sua comercialização
substituindo as pílulas oficiais; 2º. Continuação da conscientização dos alunos,
educadores e pais sobre os efeitos devastadores da pílula oficial e sobre a
importância das diversas formas de liberdade; 3º. Agora tentaremos
conscientizar também diretores, coordenadores e outras autoridades,
mostrando-lhes que o verdadeiro objetivo do Conselho é manipulá-los no seu
Projeto CI e tentando convencê-los de que o salário oferecido pelo Conselho
por tal submissão é a morte do conhecimento verdadeiro, da ciência e da sua
própria liberdade; 4º. Estamos sendo reforçados pela entrada de novos
advogados e juristas no nosso time que não se comprometeram com o sistema
e receberam nossas mensagens secretas. Eles estão se comprometendo a
enfrentar o Conselho através do Direito e estão elaborando projetos de lei em
defesa da liberdade, bem como estão utilizando leis já existentes como arma de
combate. 5º. Outros setores da sociedade também estão aderindo à nossa
militância: pais conscientizados estão tirando seus alunos das escolas aliadas
ao Conselho; diretores mudaram de lado ao perceber que eram massa de
manobra; e, enquanto alguns religiosos acharam ótimo o surgimento da pílula
(pois poderiam fazer adeptos através da fabricação, comercialização e
distribuição de pílulas religiosas), outros foram totalmente contra desde o
princípio, pois defendiam a aceitação das verdades da fé através da reflexão,
da pregação e da convicção pessoal e não de forma mecânica e comercial. 6º.
Estamos montando um Exército Revolucionário, cuja principal tarefa será
proteger nossos aliados e invadir laboratórios e fábricas de pílulas para destruí-
los. Só nos falta o sétimo ponto de estratégia, que seria a forma de destruição
do próprio sistema tecnológico que criou a pílula, isto é, sua principal base. É
isso que estamos pesquisando.

Essa foi a última mensagem que recebemos do professor Bunyan através


do laserutilitarie. Embora curta e objetiva, devido à corrida contra o tempo, ela
nos animou muito por nos dizer que vários setores sociais estavam aderindo à
militância, que tínhamos defensores jurídicos e que teríamos um Exército
Revolucionário. Continuamos com o nosso trabalho, mas devo confessar que,
pelo menos ali na Escola Futurista, as coisas iam ficando cada vez mais difíceis.
Primeiro porque muitos alunos ainda estavam eufóricos com a ideia da pílula e
muitos já haviam ingerido pílulas, passando a rejeitar o diálogo. Segundo porque
o cerco estava se estreitando ao nosso redor. Foi então que eu e Paula fomos
descobertos e levados à Direção.

___ Meus queridos alunos... (Iniciou o Diretor e Doutor Nícolas


Maquiavélico Bispo) ___ Vocês são um reflexo de nossa instituição. Sempre
dedicados, estudiosos, esforçados. Um ótimo exemplo para os demais...
Certamente, todo esse empenho ao longo de tantos anos merece ser premiado.
E a recompensa de vocês chegou! É o descanso. Vocês não precisam mais ficar
horas a fio estudando. Não precisam mais se esforçar para compreender
Trigonometria, números complexos, Tabela Periódica, processos históricos,
aspectos geográficos do clima, relevo e hidrografia... Não precisam mais perder
noites, podem aproveitar todo o tempo pra passear, ir ao cinema, fazer
compras... Agora vocês têm a pílula! É a herança que deixamos pra vocês! O
prêmio que damos aos nossos descendentes após gerações e gerações de
trabalho e pesquisas. É o progresso da ciência e da humanidade! Por que
rejeitar tão grande recompensa? Vocês não devem ser tão orgulhosos assim...
Aceitem nossa oferta, a oferta de tantos anos de trabalho e pesquisa das
gerações passadas, nossos ancestrais.

Enquanto o Diretor falava, notei uma gaiola com uma ave quase extinta:
um pombo! A ave tinha alimento dentro da gaiola, mas não demonstrava
nenhuma satisfação com sua condição.

___ Senhor diretor, não adianta. Não vai nos convencer. O senhor é que
devia passar para o nosso lado. Essa pílula não representa o progresso da
humanidade. E se a herança das gerações passadas é a escravidão do
pensamento, preferimos rejeitar essa herança. O senhor não percebe que tudo
isso é mais uma forma de dominação? Não se deixe ser manipulado dessa
forma! (Argumentei) ___ Veja esta ave que está e, seu escritório. É uma raridade
e sempre foi um símbolo da liberdade. Perceba que, apesar do alimento que o
senhor lhe oferece, ela não está feliz, pois sua liberdade foi cortada. Assim
acontece com quem se deixa manipular pelo Conselho...

___ Você está enganado Filipe! Todos vocês militantes estão! Na verdade,
quem está dominando e subvertendo a mente de vocês é o grupo do professor
John Bunyan. Ele e sua corja é que fizeram uma lavagem cerebral em vocês.
Ele é que criou um sistema de dominação e certamente dopou vocês com
alguma substância nociva e entorpecente. De maneira que vocês estão
permanentemente entorpecidos, cegos, não conseguem ver o paraíso à sua
volta. Mas não precisam continuar assim... Nós temos a cura! O remédio! A
pílula do conhecimento! Aproveitem meus jovens! Essa é a última oportunidade
de vocês! Abandonem essa militância inútil e infantil. Parem de prejudicar suas
próprias vidas! Venham para o nosso lado: o lado da verdade! Do contrário,
terão de ficar de quarentena para expurgar esses venenos que estão nas
mentes de vocês... Terei que entregá-los aos agentes da CII...

___ O senhor pode nos entregar a quem o senhor quiser! Pode nos
ameaçar, mas não vai nos amedrontar, nos desanimar nem ao menos nos
enganar! E o veneno para a mente é o que tem nessa pílula! (Exclamou Paula).

___ Doutor Nícolas, pense melhor a respeito! Se analisar bem, verá que
estamos certos... (Continuei).

___ Cheeeegaa!!! Seus insolentes!!! Já vi que com vocês não adianta!!! E


ainda querem me convencer!!! (Esbravejou).

___ Paula, acho que ele já ingeriu algumas pílulas... Não adianta
argumentarmos... Ele já se acha dono da verdade (Cochichei pra ela).

Nesse ínterim, ele apertou violentamente um botão e em poucos segundos


apareceram quatro homens fortemente armados que entraram na sala, nos
prenderam e nos levaram pelo corredor até sairmos da Escola. Nos colocaram
em um carro sônico, vedaram nossos olhos e nos levaram para um lugar
desconhecido. Era uma sala apertada, com apenas uma porta e sem janela.

___ Paula, antes de morrer...


___ Pare com isso Filipe! Não vamos morrer! Temos que pensar numa
maneira de fugir daqui ou de contactar o professor Bunyan para ele nos enviar
socorro!

___ Tudo bem, vamos pensar nisso... Mas mesmo assim, se não der certo,
preciso lhe dizer algo muito importante...

___ Quando você diz que tem algo importante a dizer é porque vêm grandes
revelações por aí... Desde que percebi isso a partir daquele dia na viagem a
Heaven, sempre presto atenção ao que você me diz... Portanto, pode falar!

___ Paula, eu estou apaixonado por você! Toda essa história nos
aproximou muito e eu pude perceber o quanto você é especial. Não posso
morrer ou deixar passar essa oportunidade sem lhe dizer o que penso e o que
sinto por você.

Como alguém que vê um passarinho verde, os olhos dela brilhavam na


minha direção. Ela silenciou por alguns instantes e, antes que eu lhe
perguntasse se o gato comeu sua língua, disse:

___ Eu também estou apaixonada por você! Você acreditou em mim, me


renovou a esperança e sempre esteva ao meu lado nessa luta. Você é especial
demais!

Abraçamo-nos e nos beijamos...

___ Ãhn! Que interessante! Os dois pombinhos são namorados! Agora já


sei rapazinho como convencer você a tomar umas pílulas... Afinal, você não vai
querer ver sua namorada se machucar, vai? (Declarou um homem fardado que
apareceu repentinamente, com o símbolo da CII no braço esquerdo e um bastão
de eletrochoque na mão direita).

___ Deixa ela em paz seu imbecil! Venha medir sua força comigo se for
homem! (Exclamei).

___ Rapazinho, você não está em condições de exigir ou determinar nada.


E se você continuar falando, vou eletrocutar sua namorada agora mesmo! Mas
não precisamos nos exaltar, ninguém precisa sair ferido. Vocês só precisam
tomar uns remedinhos, só isso garotinho. Vamos, abra a boquinha e deixa de
má criação.
De repente todas as luzes do ambiente se apagaram e um alarme de
emergência começou a soar.

___ O que está acontecendo?! (Gritou o brutamonte fardado).

Zzzzssruuuuuuuummmm! Blam!!!

Surpreendentemente, um raio cortou um buraco na parede abrindo-nos


uma passagem à esquerda.

___ Depressa gente! Não temos muito tempo! Venham!!!

No meio da passagem surgiram três homens que nos estenderam as mãos


com este convite de fuga. Insisti com Paula pra que ela saísse primeiro. Quando
eu estava a um passo da passagem, o brutamonte da CII segurou em meu braço
esquerdo. Ele estava prestes a me eletrocutar quando foi atingido pelos nossos
resgatadores e caiu no chão. Ao sairmos daquela prisão desconhecida vimos
um batalhão armado, com uns quatro carros sônicos resgatando muitos outros
jovens como nós. Era o Exército Revolucionário de que falou o professor
Bunyan.

Foi uma fuga alucinante, pois os agentes da CII respondiam com tiros de
laser que chegaram a atingir alguns soldados do Exército e alguns dos jovens.
Mas nada disso impediu o resgate de todos nós. Os soldados do Exército
Revolucionário conseguiram nos tirar de lá e nos levaram para uma base de
comando. Porém, infelizmente, nem todos chegaram com vida. Alguns dos
soldados atingidos não resistiram aos ferimentos e morreram no caminho.

Eu e Paula estávamos muito agradecidos pela salvação nossa e de tantos


jovens, mas ao mesmo tempo muito tristes pelas mortes de pessoas tão
corajosas.

Em comemoração ao nosso resgate e em homenagem aos soldados mortos


em combate foi realizada uma cerimônia na qual o comandante da base, o sr.
Paul Tarsius, fez um emocionado discurso:

___ Hoje temos motivos para sorrir e chorar, pois alguns perderam a vida
para que muitos pudessem ganhar a liberdade. Alguns morreram de fato para
que muitos pudessem viver de verdade. Eram homens e mulheres valorosos,
como também são valorosos os que eles salvaram e que estão aqui conosco.
Eram pessoas livres do império intelectual que se arvora contra nós como
também são livres os que eles resgataram. O que nos resta então a fazer?
Passar o resto dos nossos dias nos lamentando pela morte deles? Não, essa
não é a melhor forma de honrá-los. Honremos a sua memória lutando com o
mesmo vigor, com a mesma confiança e com a mesma dedicação pela mesma
liberdade pela qual eles deram suas vidas! Precisamos demonstrar nossa
gratidão fazendo com que nossa liberdade de fato tenha valido a pena, sendo
motivo de orgulho para aqueles que se sacrificaram. Nossa liberdade deve ser
a chave para que conquistemos a liberdade de outros assim como nós e assim
possamos fazer ruir esse império maldito que se sustenta pela escravidão
mental daqueles que se sujeitam ou são forçados a isso! Eu conclamo todos
vocês a lutar sem medir esforços e sacrifícios contra essa escravidão e contra
esse império, pois assim como valeu a pena a vida e a liberdade de vocês vai
valer a pena a vida e a liberdade de toda essa geração! Vai valer a pena!

Romperam ruidosos aplausos e gritos de guerra da multidão que ouvia o


discurso. No final, eu e Paula fomos à procura do sr. Paul.

___ Sr. Comandante!

___ Pode me chamar apenas de Paul meu rapaz.

___ Nós viemos cumprimentá-lo e dizer que pode contar com nossa ajuda
pra o que for preciso.

___ Vocês devem ser Filipe e Paula.

___ Como o senhor sabe? (Exclamamos).

___ O John me falou de vocês. Foi ele quem me ajudou a localiza-los e


tinha razão ao dizer que vocês me procurariam para demonstrar total apoio à
causa.

___ Mas como ele sabia que... (Tentei indagar)...

___ Bem rapaz, isso não tem importância agora. Venham comigo que existe
uma pessoa que eu quero que vocês conheçam.

Ele nos levou até um laboratório para que conhecêssemos um grande


cientista que era doutor em Física Quântica e em Tecnologia da Informação. Era
o doutor Albert Lutier.

___ Doutor Albert, estes são os jovens dos quais o John nos falou. (Disse
o sr. Paul nos apresentando ao cientista).
___ Oh! Que maravilha! Que bom que vocês chegaram! Entrem! Entrem!
O que estão esperando?

Apertando nossas mãos e nos abraçando, o doutor Albert foi nos


conduzindo para dentro do laboratório.

___ Meus jovens, esse será um momento singular pra vocês. Vou deixá-
los com o doutor Albert, pois preciso dar continuidade a minha missão. Até mais
ver. (Despediu-se o sr. Paul).

No laboratório, o doutor Albert nos mostrou grandes descobertas suas. O


cara era realmente muito inteligente! Enquanto ele explicava suas reflexões e
seus inventos, parecia que nossas mentes se abriam para novos horizontes. De
fato, grandes verdades estavam sendo descortinadas diante de nossos olhos.
A seguir, eu e Paula compartilhamos toda a nossa experiência até o momento
em que chegamos ali. O modo como o professor Bunyan nos revelou a
escravidão intelectual, nosso primeiro encontro com ele, nossa luta na escola, a
perseguição, a prisão e a salvação. Paula falou sobre como foi difícil recuperar
a esperança e a confiança num futuro melhor e por fim eu mostrei ao doutor
Albert o livro que eu estava escrevendo sobre os eventos vividos por todos nós.
Meu objetivo era criar um material que pudesse registrar os acontecimentos e,
ao mesmo tempo, influenciar outras pessoas a se unir à nossa luta.

___ Filipe e Paula, agora tenho a mais absoluta certeza de que vocês são
as pessoas certas. E é por isso mesmo que vou lhes mostrar algo superior a
tudo que vocês já viram...

Ele estava para nos revelar sua maior descoberta quando nossa base foi
atacada pelo exército do Conselho. Certamente eles conseguiram nos rastrear
durante nossa fuga. Tivemos que fugir às pressas, mas o doutor Albert
conseguiu carregar seu invento e, pouco antes de que eu e Paula entrássemos
num veículo sônico, resumidamente nos explicou seu invento:

___ Filipe e Paula! Essa é a máquina do tempo, vulgarmente falando. Na


verdade, eu chamo de acelerador microcelular de informações. Através desse
aparelho, é possível enviar mensagens numa velocidade tão rápida, que essas
mesmas mensagens ultrapassam a velocidade da luz e rompem a barreira do
tempo, chegando ao destinatário antes mesmo de serem enviadas. Se caírem
nas mãos do inimigo, podem destruir por completo a história da humanidade.
Mas sei que com vocês estará em boas mãos, pois não tive tempo de elaborar
um trabalho escrito para avisar nossos antepassados sobre os perigos da pílula
do conhecimento. Esta é a 7ª arma que precisávamos para derrotar o Conselho.
Vamos vencê-los antes que eles comecem a lutar! Essa arma é decisiva e não
podemos perdê-la! Aí dentro tem as instruções que vocês devem seguir para
não prejudicar a história e nossa existência. Sigam todas as instruções e façam
um alerta convocando nosso antepassados a lutar pela liberdade, pela
educação e pela tolerância. Incentive-os a exercer o senso crítico! Eu vou ficar
aqui na base e gerenciar a resistência para despistar o inimigo...

___ Doutor Albert, venha conosco!

___ Não posso Filipe! Alguém tem que ficar pra despistar o inimigo! Vai
garoto! Não perca mais tempo! O passado, o presente e o futuro dependem de
vocês!
O GRANDE CONFRONTO

A nossa segurança está em perigo. Estamos quase sendo encurralados.


Apesar de todo nosso empenho, muitos espiões se infiltraram em nossas bases
e nos pegaram de surpresa. Fomos traídos por aqueles que não tinham força
suficiente para resistir até ao ponto de doar sua vida pela humanidade. A
perseguição, a tortura e a morte estão em nosso encalço. Se formos presos,
talvez ninguém mais possa fazer nada a respeito.

Eu, Paula e o professor Bunyan estamos num novo esconderijo, mas a


qualquer momento podemos ser descobertos. Através dessa conexão com o
passado, que é no momento nossa única arma, estamos conclamando vocês a
agir urgentemente, a não cruzar os braços ante qualquer tipo de imperialismo
intelectual que cerceia nossa liberdade de pensamento, a não se acomodar com
as "facilidades" da modernidade e da tecnologia e a valorizarem a experiência
individual, a leitura, a reflexão e o diálogo como fontes de conhecimento.

Eu convido vocês a não aceitar as "verdades" impostas e "conhecimento"


bitolado. Lutem! Lutem pela educação! Lutem pelo planeta! Não sejam
imediatistas! Não se deixem vender pelo consumismo!
Jovens, não é errado ter seus interesses pessoais, mas não deixem que
esses interesses estejam acima dos valores humanos. Não deixem que seus
desejos sejam mais fortes que sua consciência. Não permitam que o capital
controle a vida de vocês. Sejam reflexivos, sejam críticos. Valorizem o
pensamento, a leitura, a conquista do conhecimento com dedicação. Valorizem
seus professores mais dedicados, que não se conformam com o sistema e não
estão na salda de aula apenas para receber um salário no final do mês. Que se
identificam com o sonho de transformação social através da educação.
Confrontem a tirania com a liberdade, o dogmatismo com a verdade, o fanatismo
com a razão, a crença imposta socialmente com a fé autêntica.

Pais, não deixem seus filhos a mercê da própria sorte. Participem


ativamente da vida deles. Conversem com eles, sejam seus amigos. Saibam
também impor limites e não os deixem pensar que o dinheiro compra tudo. O
dinheiro pode comprar muita coisa, mas não pode comprar uma consciência
limpa, não pode comprar a verdade nem pode comprar a paz e a liberdade!
Ensinem seus filhos a valorizar o próximo. Valorizem seus filhos! Trabalhem
para viver, não vivam para o trabalho. Priorizem sua família.

Professores, não desanimem! O trabalho de vocês não é em vão! Mesmo


que muitos alunos não queiram nada com o assunto, mesmo que a coordenação
da escola fique no pé de vocês, mesmo que a direção os trate como objetos
descartáveis e não os valorize, continuem fazendo a parte de vocês. Eu sou
fruto desse trabalho! Paula é fruto desse trabalho! Ítalo, professor John,
doutores Marcos, Mateus e Lucas, doutor Albert... Apesar dos nossos nomes
serem fictícios, eles representam pessoas reais. Pessoas que não se
conformam com o sistema. Enfim, todos os que lutam pela educação e pela
liberdade são frutos desse trabalho! Ele tem que continuar! Sejam fortes! Sejam
unidos! Lutem também por seus direitos e sua valorização profissional, mas
nunca se esqueçam de lutar pela aprendizagem e pelo desenvolvimento sadio
de seus alunos.

Advogados, juízes, parlamentares, escritores, artistas, intelectuais em


geral... Lutem! Lutem pela construção de uma nova sociedade que seja fruto de
uma nova consciência. Vocês tem o poder de influenciar pensamentos e
comportamentos. Utilizem esse poder em prol da criação de um novo tempo, no
qual a justiça, a igualdade, a liberdade e a fraternidade sejam mais do que ideais
de uma revolução ou palavras numa folha de papel, mas uma realidade mais
concreta na vida das pessoas.

Comerciantes, empresários, lojistas, comercializem seus produtos, mas


não comercializem seus próprio valores! Não comercializem a verdade! Não
vendam seus filhos e sua família para um futuro desumano! Não vendam a si
mesmos! Não compactuem com a corrupção e com a dominação global. Sejam
livres!

Estamos convocando todos os setores da sociedade a se mobilizar pelo


planeta e pela humanidade! Estamos convocando todos a colaborar sim com a
implementação de produtos e modos de produção que não agridam a natureza!
Convocamos todos a apoiar o desenvolvimento sustentável! Milhares de
espécies de seres vivos, e até a nossa espécie, correm perigo se não fizermos
nada a respeito!

Vocês precisam se posicionar: nossas vidas dependem disso, o futuro da


humanidade depende disso. A decisão está em suas mãos...
CONCLUSÃO

Como você acabou de ver, esta é uma questão urgentíssima! Estamos


caminhando pra o final do século XXI e você se lembra da predição da grande
crise ambiental? O que fará a respeito?

Você viu o que Filipe disse sobre o Conselho Internacional e seu controle
político, econômico e cultural sobre a humanidade? Será que a globalização não
pode ser considerada uma preparação para isso? Como você tem encarado a
sua própria cultura? Você é realmente livre para escolhê-la ou é um mero
produto do meio?

Como tem levado sua vida em relação à leitura e informação? Você crê
absolutamente em tudo o que a mídia e outros meios de comunicação
anunciam? Você é facilmente convencido?

Os livros devem ser preservados, valorizados e lidos ou simplesmente


destruídos e substituídos pelas novas tecnologias? Você costuma ler novos
livros? Você acha importante cuidar deles e compartilhá-los?

Qual a importância da educação pra você? Qual o valor de um professor?


Qual a dimensão da atuação dele na vida dos alunos? O professor deve ser um
mero continuador do sistema social vigente? Você apóia de fato o trabalho
daqueles que são fiéis educadores?

Se você é pai, como tem acompanhado seus filhos? A vida pessoal e


sentimental deles também é importante pra você ou seu papel é apenas
alimentá-los e cobri-los? Isso tem algum valor pra você? Está pensando em
desistir de sua família?

Jovem, qual o valor dos estudos pra você? Eles tem alguma relação com
a vida e com a liberdade? Como tem tratado seus pais, professores e colegas?
Seu futuro e o futuro da humanidade têm alguma coisa a ver com isso? Você...
Tem alguma coisa a ver com tudo isso?

A maneira como você respondeu ou até se não respondeu a essas


questões responderá essa última grande questão:

Qual o futuro da humanidade?


Sobre o autor

Fagner Araujo Costa é um pai dedicado, um esposo apaixonado e um


professor engajado. Formado em História (Licenciatura) pela Universidade
Federal de Sergipe (UFS) e pós-graduado em Docência do Ensino Superior e
Neuropsicologia pela Faculdade de Paraíso do Norte (Fapan) - sistema UniBF,
leciona desde 2007 e é também autor de Literatura de Cordel, além da obra
"Escalando Nuvens" e de obras de caráter espiritual.

Junto ao livro "A Pílula do Conhecimento" desenvolveu o Projeto intitulado


"Desvendando os Segredos da Pílula do Conhecimento", que tem como
objetivo principal orientar professores na utilização da obra de ficção como
instrumento didático. O projeto ajuda aos professores de diversas disciplinas na
utilização do livro apontando várias possibilidades de abordagens, tanto na área
de Ciências Humanas, quanto em Ciências da Natureza e Linguagens.

Se deseja saber mais sobre o projeto, envie um e-mail para:

projetosemacaoprofessorfagner@gmail.com

Ou acesse o Canal Projetos em Ação no YouTube:

https://youtu.be/e3XpZe-l9eM

Será um prazer compartilhar com você mais essa ferramenta de difusão do


conhecimento.

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