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2ª Edição 2021
ARTE DA CAPA
Fagner Araujo Costa
Fonte das imagens: www.techtudo.com.br
Todos os direitos reservados. Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais – Lei 9.610/98
Dedicatória
Este livro nos faz sonhar em querer mudar a história da humanidade, não
apenas pelo convite vindo do futuro, mas pela composição sistemática em que
a nossa educação tem sido percorrida.
Achamos satisfatória a hipótese, levantada pelo autor, que, aliás, tem nas
mãos o livro que irá revolucionar a ficção cientifica no ramo da educação
brasileira. Acreditamos no potencial de Fagner, e sabemos que muito em breve
teremos mais um formador de leitores no Brasil. Ainda há esperança...
INTRODUÇÃO
Prepare-se para o que você vai ler a seguir neste livro. São revelações
tremendas! Dificilmente você conseguirá não se envolver.
Você deve estar pensando: que datação estranha é essa? Século XXII?
Acho que foi algum erro de digitação... Não amigo! Não foi erro de digitação!
Você está lendo uma carta do futuro! Isso não é uma brincadeira nem é trote!
Também não é vírus!
Pra você ter certeza de que estou falando a verdade, providenciei algumas
provas e evidências que você receberá pelo correio às 14:00 horas do mesmo
dia do recebimento deste e-mail, exatamente 10 minutos depois.
Muitas mudanças estão pra acontecer no seu tempo, e agora que descobri
uma maneira de me conectar com o passado, não poderia deixar passar esta
grande oportunidade.
Por enquanto, não posso lhe explicar muita coisa, pois se eu lhe disser
exatamente como isso pôde ser feito, estarei alterando até mesmo o conteúdo
desta carta, mudando completamente os acontecimentos e pondo em risco
ainda maior a história da humanidade. Além disso, o propósito para o qual este
material foi enviado a você jamais seria alcançado.
Sendo assim, a única coisa que posso lhe explicar no momento é que, no
meu tempo a velocidade da informação se tornou incrivelmente rápida e
exclusivamente através do meu "computador" ela consegue chegar antes da
hora em que foi enviada!
Ah! Outra coisa: Filipe é meu pseudônimo. O meu nome, os nomes dos
personagens, lugares e instituições que você vai ler são fictícios. Essa foi mais
uma medida necessária para preservar a segurança da humanidade, e
principalmente a vida das pessoas envolvidas (se eu dissesse nossos nomes
reais, nossa existência estaria comprometida).
Pois bem, vou lhe contar com mais detalhes o andamento das coisas por
aqui no final do século XXII. Aliás, pra você entender bem como as coisas
ficaram desse jeito, na encomenda que você está prestes a receber, vou lhe
explicar o começo de tudo.
DEZ MINUTOS DEPOIS
Sendo assim, eu sou o autor desse romance, que tem por base a narrativa
e os dados fornecidos por um garoto do futuro, mas você, eu e todos aqueles
que se posicionarem a respeito seremos os autores de uma nova e melhor
história da humanidade.
Embora tivesse poucos amigos, sentia-me bem acolhido e achava que tudo
ia muito bem, obrigado... Estava muito enganado. Meu mundo particular até
parecia correr satisfatoriamente, mas, sem que eu o soubesse, ele contrastava
com a realidade ao meu redor.
No ano de 2187 eu tinha 17 anos de idade e estava no 4º e último ano do
assim chamado "ensino médio" – no seu tempo – o 4º ano foi acrescentado no
ano de 2110 sob o argumento do Conselho de Educação Internacional de que
seria uma medida para reforçar os conteúdos e melhor preparar os alunos para
o nível superior. Naquele meu tempo de final de preparação para ingressar no
ensino superior sentia-me muito confiante. Com base nas informações dos
meios de comunicação da época e até mesmo nas discussões das conferências
virtuais – estas últimas substituíram 80% das aulas presenciais – o mundo vive
a maior fase de progresso da história e tudo só tendia a melhorar. Agora, o nível
superior estava ao acesso de todos – dizia-se – não existe mais nenhuma classe
excluída – pregava-se – não existe mais nenhuma nação subdesenvolvida –
acreditava-se.
___ O professor Bunyan não está mais trabalhando conosco. Foi uma
grande perda para nós a saída dele. Era um ótimo professor. Dominava muito
bem o conteúdo e sabia envolver a classe nas discussões. Mas há dois dias ele
teve que sair.
___ Mas por que ele teve que sair? O que aconteceu? E as projeções da
aula dele?
___ Que interessante... Foi a mesma coisa que me disse a moça. Vocês
notaram alguma coisa diferente nas projeções do professor Bunyan?
___ Foi uma de nossas alunas. Acho que ela pertence à mesma turma que
você.
___ Não me lembro bem... Acho que tinha alguma coisa a ver com Paloma,
Paula, alguma coisa assim... será que você a conhece?
___ Tem estatura média, cabelos cacheados... Bem, mas você vai ter que
me desculpar, porque, erh erh, você sabe, eu sou coordenador e, como tal,
tenho muito trabalho a fazer... Não posso ficar lorotando com aluno e ainda mais
fazendo retrato falado de aluna... Não é mesmo? (disse ele sorrindo e fazendo
um gesto em direção à porta, convidando-me gentilmente a ir embora).
___ Ok, Dr. Erasmo! Muito obrigado pelas informações! Só uma última
pergunta: o senhor sabe onde posso encontrar o professor Bunyan?
___ Infelizmente não sei muita coisa. Apenas ouvi dizer que ele viajou para
outra cidade. Parece-me que ele foi para a cidade de Heaven.
___ Mais uma vez, muito obrigado Dr. Erasmo, e me desculpe pelo
incômodo.
A conversa com o Dr. Erasmo só me deixou ainda mais curioso. Sentia que
o Coordenador estava escondendo alguma coisa. Por que, realmente, o
professor Bunyan "teve" que sair? E quem seria aquela moça que, assim como
eu, o procurara? Será que ela também notara o comentário misterioso? E como
eu poderia encontrar o professor Bunyan em Heaven? A cidade era enorme e
era longe de minha residência. Não sabia nem ao menos por onde começar. No
mínimo, eu precisava de alguma pista. Fiquei desestimulado por alguns dias em
relação a essa busca. Considerei que talvez não valesse muito a pena tanta
curiosidade. Afinal, vai ver meus colegas tinham razão e o professor Bunyan
estava mesmo com alguns problemas psicológicos por excesso de estudo... E
eu estaria entrando na mesma viagem! Quase decidi deixar totalmente de lado
aquela investigação e continuar minha vidinha cotidiana. Foi quando mais uma
vez, em outra aula projetada (e agora numa aula do novo professor de História
da Tecnologia, prof. Augusto), apareceu repentinamente a imagem do professor
Bunyan fazendo aquelas mesmas declarações e fiquei pasmo quando, por cerca
de um minuto, apareceu num canto inferior da projeção um bloco tridimensional
com um endereço em Heaven!
Você pode estar pensando: por que só agora ele tocou mais claramente
nesse assunto da crise ambiental? A resposta é simples: porque foi nesse dia,
11 de março de 2187, que pude compreender claramente a gravidade da
situação. Esse dia foi marcante pra mim em vários sentidos. Enquanto
desenrolava minha tarefa investigativa acerca das afirmações misteriosas do
professor Bunyan, acabei descobrindo muita coisa relacionada aos efeitos da
tecnologia no meio ambiente. Nunca imaginei, nos meus primeiros anos de
"ensino médio", antes daquelas palavras do professor, que as mudanças
climáticas tinham sido tão grandes (acho que aquela cobertura artificial também
nos confinou em uma gigantesca gaiola que nos alienou do passado e da
natureza original). Também nunca imaginei que tais mudanças tivessem relação
direta com certos usos da tecnologia... Não fomos muito ensinados sobre isso...
Tornei a perguntar:
___ O senhor disse que as alterações nos mapas tornaram-se muito rápidas
no início do século XXII. O que fez com que elas se tornassem mais rápidas: o
conhecimento do homem sobre o espaço geográfico ou as mudanças no
próprio espaço?
Ítalo perguntou:
___ Sim.
___ Cara! Você viu aquilo? Nossas perguntas não puderam ser respondidas
e desativaram nossos botões!
___ Ítalo, não tô brincando! Você viu aquelas imagens de satélite? Você
reparou na gravidade da situação? E mais: você reparou na nuvem negra que
paira sobre certas questões como: "ilhas e desertos que aparecem do nada",
"pesquisas em andamento", "desenvolvimento insustentável da tecnologia",
"fator X", "cidades que submergiram!"...? Cara! Você notou isso? Nossos botões
foram desativados sem nossa interferência, enquanto isso, as meninas
continuavam distraídas falando de moda e de namorados... E não houve
interferência!!!
___ Bem, falando sério, também achei grave a questão das catástrofes e
achei estranho quando você perguntou sobre as "ilhas e desertos que aparecem
do nada" e a resposta foi repetitiva. Também não entendi esse negócio de fator
X. Mas ainda acho que o bloqueio na comunicação foi algum erro do sistema.
___ Você não pensa em outra coisa? Por acaso notou a gravidade do
assunto apresentado hoje? (Retruquei).
___ Gravidade? Acho que ela não exerce mais nenhum efeito sobre vocês,
por isso tão sempre aí voando! Eu não! Eu tô conectado com a realidade, tenho
os pés no chão! Vocês é que são uns cr's que vivem girando sem sair do lugar!
Rahrahrahrahrahrahrah...
___ Bip! Bip! A próxima projeção vai começar. Por gentileza, concentrem-
se.
Foi o recado eletrônico que era acionado toda vez que se estava prestes a
iniciar outra aula projetada após um breve intervalo.
___ Ítalo, ainda vou provar a você que minha preocupação tem fundamento.
Quando terminarem as aulas da manhã vou lhe mostrar uma pista muito
importante. Trata-se de um endereço em Heaven.
___ Endereço? Em Heaven...? ... Tá legal! Até mais! Mais tarde você me
conta suas pistas, detetive...
Essa foi a última conversa que tive com Ítalo naquele dia. Tentei de várias
maneiras me comunicar com ele, mas não foi possível. O botão de interatividade
não mais funcionava, o netfone dele não respondia, na cibernet ele não estava
acessível... Quanto mais eu desconfiava de que estava por trás disso tudo e
quanto mais eu buscava respostas parecia que as coisas ficavam mais
misteriosas e que mais eu era barrado.
No dia seguinte, fui mais uma vez à Escola. Dessa vez, à procura do
professor Lucas Almeida. Será que ele também não estava mais na Escola?
Como na outra ocasião, dirigi-me primeiramente à sala da Coordenação
correspondente à disciplina (neste caso a de Ensino Geográficos). Para minha
grande surpresa, lá estava ele conversando com mais dois professores. Parece
que eu esperava que ele não estivesse... Com ele estavam o professor de
Geografia Econômica, Michael Finley, e a professora de Geografia Humanística,
Joana D. Arcanjo.
___ Bom, é que eu não entendi muito bem as respostas que o senhor me
deu em sua última projeção para a minha turma. A aula foi sobre...
___ As alterações cartográficas. (Completou antecipadamente, isto é,
"tirando as palavras da minha boca").
___ O senhor já sabe? Por acaso pode ler meus pensamentos...? (risos)
___ Não Filipe, de maneira nenhuma. (Disse ele sorrindo). ___ É que eu já
imaginava que você viria aqui pra me perguntar sobre minhas respostas naquela
aula.
___ Sim. E há algumas aulas que eu mesmo monitoro. É pra ver qual é o
nível de interesse e curiosidade dos alunos, bem como sua aprendizagem.
Também é pra me preparar pra responder algumas dúvidas, como no seu caso
agora...
___ Aaaah! Então o senhor já pode ler meus pensamentos e dizer o que
vou perguntar...
___ Ler seus pensamentos eu reconheço que não posso, mas suponho
que você quer saber primeiro sobre as ilhas e desertos "misteriosos".
___ Na verdade há sim, Filipe. E pode ter certeza que a coisa não é nada
boa de se ouvir. Aliás, a informação extra é tão sigilosa que não posso lhe falar
aqui e agora. Vou lhe falar superficialmente, pois, se eu entrar em detalhes,
pode acontecer comigo o que aconteceu com o John.
___ É sim. Devo admitir que ele foi muito corajoso. Procurou falar
abertamente no assunto, mas a aliança internacional dos poderes político,
econômico e social bloqueou sua voz a fim de impedi-la de ser ouvida.
Forçaram-no a sair da Escola e vaguear por caminhos desconhecidos... Mas ele
me disse que deixaria mensagens secretas em suas aulas com o propósito de
despertar o senso crítico dos alunos. Creio que essa foi mais uma herança
deixada por ele. Estou seguindo seu exemplo... E você é mais uma esperança
para nós educadores. Você é mais uma chave que pode abrir as portas do
verdadeiro conhecimento e destrancar as mentes das cadeias do intelecto.
Fiquei atordoado com aquelas palavras. Por alguns minutos procurei ficar
em silêncio para absorver tudo e compreender o que era aquilo que o professor
Lucas estava falando. Realmente, a coisa era seríssima. Tornei-me todo
ouvidos...
___ Meu jovem, preste bem atenção, vou lhe dar uma visão geral (com um
tom de voz mais baixo ele continuou): já faz algum tempo que os rumos da
humanidade estão seguindo na direção de uma ditadura intelectual a nível
mundial. Embora os meios de comunicação estejam inteiramente interligados
no mundo, eles estão sendo controlados pelo Conselho Internacional, que
através de certas instituições seleciona o que as pessoas "devem" ou "não
devem" saber. Eles não nos permitem divulgar que boa parte dos problemas
ambientais que enfrentamos hoje é resultado do uso de certas tecnologias de
responsabilidade deles. Quem é descoberto infringindo suas leis, sofre severas
penas. Por isso, eu peço que você não espalhe a notícia por enquanto. Alguns
educadores estão estudando estratégias para combater esse autoritarismo.
Espero que você possa nos apoiar. A propósito, o aparecimento dessas ilhas e
desertos é resultado do uso de certas tecnologias em busca de fontes de energia
no fundo dos oceanos e mares.
___ Depois que ele foi demitido sem nenhum direito trabalhista, e é claro
que isso foi um absurdo, soubemos que ele foi para sua terra natal, Heaven.
Mas não nos deixaram saber o endereço e sempre que tentamos contato somos
barrados.
___ Como?!
___ Mas no Erasmo a gente não pode confiar! (Mais uma vez me cortou as
palavras).
___ Ei Filipe, vamos mudar de assunto... (Disse o professor Lucas num tom
mais baixo).
___ É que não falamos de uma pessoa física, mas sim de uma pessoa
jurídica. Falamos em visitar o Instituto Histórico e Geográfico de Heaven. Estou
com um projeto para levar os alunos e o garoto aqui está me ajudando a
conseguir a liberação da viagem.
___ E não é assim mesmo? Não são todos individualistas na Idade Pós-
Contemporânea? Os relacionamentos não duram mais um mês, casamento
entrou em extinção, família de pai, mãe e filhos, como antigamente, não se vê
mais... A verdade é manipulada pelo Conselho que, por sua vez, domina tudo e
todos... Não é verdade isso professor?
___ Discordo da ideia de que não podemos fazer nada. Penso que não
podemos mudar tudo, mas alguma coisa nós podemos fazer pra mudar, nem
que seja a nós mesmos.
___ Lá vem ele com filosofia e poesia... Lucas, acho que você tá na
disciplina errada...
___ Me desculpe Lucas, mas acho que Joana tem razão. O sonho acabou.
Veja o John... Ele não está mais entre nós... (Observou o professor Michael).
___ É aí que vocês se enganam! Vocês estão vendo este jovem? É o Filipe!
Ele é nossa esperança e será nossa ponte de contato com Heaven, onde o John
está!
___ Ei Joana, talvez ele esteja certo... E se esse endereço for mesmo o de
John? (Ponderou o professor Michael)
___ Talvez... Se... É muita incerteza e insegurança! Vou ficar com minha
certeza de que mais nada adianta! Pelo menos eu não me frustro outra vez!
___ Tudo bem Joana, esta é uma decisão sua. Mas não nos impeça de ter
esperança nem nos delate. Pode relaxar, mas nós vamos prosseguir lutando. E
você Michael, vem conosco?
___ Muito bem Filipe! Você está vendo não é? A coisa é realmente crítica.
Mas você está no caminho certo. Até mesmo muitos professores estão divididos.
Inúmeros desistiram, alguns estão duvidosos e apenas uns poucos persistem
em lutar contra o sistema, mas ninguém poderá dizer que todos somos
covardes! Vá para sua casa e nas próximas projeções da minha disciplina
enviarei sinais a você sobre nossa viagem a Heaven. A propósito: faça uma
transferência de dados para o meu ultrachip com o endereço. Quando tivermos
nossa próxima aula presencial, será nossa viagem ao Paraíso!
Fiz a transferência que o professor Lucas pediu, fui para minha casa com
o coração batendo forte, com uma paixão pela educação e pela liberdade, mas
também ansioso de que chegasse logo o dia da aula presencial. Mas algumas
dúvidas ainda pairavam sobre minha cabeça: quem era essa Paula? O Dr.
Erasmo deixou escapar que uma Paula o procurara em busca de informações
sobre o professor Bunyan. Quem era essa moça? E que projeto Reeducar era
esse...? Bom, pelo menos até chegar em Heaven eu teria as respostas... Assim
eu esperava...
UM NOVO DIA
___ Bom dia turma! (Iniciou o professor Lucas sua aula presencial) ___ Hoje
vamos sair das quatro paredes que limitam a nossa visão e viajaremos pelo
conhecimento enquanto visitamos a cidade de Heaven!
___ Ôpa! Peraí! Quem disse que era pra hackear? Eu quero que vocês
respeitem o local e as pessoas! Do contrário, não tem mais visitação...
___ Isso não vai ficar assim! (Ouvi o Bryan resmungar essa frase).
___ Professor Lucas, há duas perguntas que preciso lhe fazer... (Falei
baixinho).
___ Faça-as (Respondeu ele). Dessa vez não poderei ler seus
pensamentos...
___ Assim como você, ela também percebeu os sinais de John e os meus.
Também investigou como você. Mas ficou decepcionada com a corrupção de
alguns professores e desistiu, assim como a professora Joana.
___ E ela sabe que tentaremos encontrar o professor Bunyan?
___ Preferi não falar com ela, pois ficou muito rude depois da decepção.
Ela mesma me pediu que não falasse mais com ela sobre o assunto.
___ Me deixe pelo menos tentar... Nós não somos de desistir, não é
mesmo? Além do mais, se ela souber do endereço, acho que a esperança vai
brotar de novo.
___ Professor, onde fica o banheiro? (Perguntou uma aluna que não sei o
nome, só sei que estava sentada ao lado de Paula).
___ Obrigada.
___ Eu sei.
___ Então...?
___ Pra mim esses segundos aí que você falou já foram perdidos. E quer
saber...? Me deixa em paz!
___ Nossa! Quanta grosseria! Você não tem nem a curiosidade de saber o
que vim dizer! E me trata assim sem nem me conhecer!
___ Olha, me desculpe pela maneira grosseira que falei com você. Eu
estava muito chateada com uns problemas e queria ficar só. Me desculpe.
___ Pelo contrário! É justamente pra não chatear você ainda mais com
minhas bobagens que acho melhor deixar pra lá.
___ Por favor, não me entenda mal! Não quero magoar você... Espere!
Acho que posso ajudá-la. Você está passando por algum problema sério, dá pra
perceber... Não quer compartilhar comigo?
___ Não! Não é só isso! É muito mais! Mas deixa pra lá.
___ Assim não vamos progredir... Eu tenho algo a lhe dizer, mas digo:
"deixa pra lá"; você tem algo a desabafar, mas diz: "deixa pra lá". Que tal
mudarmos o rumo dessa conversa? Acho melhor você desabafar primeiro.
___ Nada disso! Primeiro as damas... (Sorri e ela também sorriu) ___ Na
verdade, acredito que os seus sentimentos são mais importantes do que o que
vou lhe dizer. E o que você estiver sentindo pode determinar a maneira como
vou lhe dizer.
___ Paula. Eu sei o que você sente. Eu também tenho problemas familiares,
pois meus pais... Meus pais... Eu quase não os vejo! Eles estão sempre tão
ocupados com trabalho, trabalho e mais trabalho que não tem tempo pra
conversar comigo. Namorada? Bom... Isso eu nunca tive: primeiro porque
sempre fui meio tímido, segundo porque, nas vezes em que tentei vencer a
timidez, levei uns "foras" semelhantes ao que você me deu há poucos mais de
uma hora... Quanto a essa causa que você falou... Eu sei que causa é essa,
também entrei nela e quero lhe dar boas notícias: você não lutou inutilmente!
Nós temos chances de vencer!
___ Você sabe mesmo o que está falando?! Sabe mesmo que causa é
essa?!
___ Mas Filipe, muitos professores não estão nem aí pra o problema! Pior!
Muitos educadores e intelectuais estão a favor dessa dominação! Você acha
mesmo que o professor Bunyan, que a gente nunca viu pessoalmente, e esse
projeto, que nem conhecemos direito, farão algum efeito?
___ Já estamos aqui, não estamos? Então não custa nada tentar!
___ Pelo menos nós tentamos. Fizemos tudo o que estava ao nosso
alcance. E voltando àquele outro assunto mais pessoal: você não está mais
sozinha. Mesmo que nossos sonhos em relação à causa não deem certo, você
pode contar comigo pra enfrentar seus problemas.
___ Obrigada Filipe. É difícil pra mim, mas conte comigo você também.
(Nos abraçamos).
___ Cof! Cof! Cof! (Fomos interrompidos pelo professor Michael) ___ Não
querendo atrapalhar, mas já atrapalhando os dois pombinhos... Filipe, o
professor Lucas me pediu pra avisar a você que o endereço que você forneceu
é exatamente aqui, em frente a esta instituição que iremos visitar. Ele vai dizer
aos alunos que vai providenciar um lanche pra todos, mas vai com você ao
endereço.
___ Assim está melhor. (Ela completou, para a minha tristeza, é claro...).
O ENCONTRO COM A VERDADE
Ali, em frente ao Museu de História da Literatura Heaveana, estava aquela
casa simples. As velhas portas de vidro sem abertura sensorial, as grades
internas de proteção, indicando ausência do moderno sistema de segurança.
Em sua fachada estava escrito: "Livraria Alvorada". Era uma velha livraria azul.
Seu aspecto contrastava grandemente com as livrarias, lojas e até mesmo as
casas mais simples de minha cidade. Aquela parecia estar perdida no tempo,
enquanto estas pareciam uma mistura de requinte, ornamentação e tecnologia
de "última geração" (atualmente usamos a expressão: tecnologia de mais
presente geração).
___ Paula? Ora, ora, mas quem diria? Você mudou de ideia rápido, não é
Paula? Acho isso excelente!
___ O Filipe conseguiu me convencer a tentar pelo menos mais uma vez...
___ Que bom que está conosco mais uma vez! Seja bem vinda de volta ao
time!
___ Obrigada.
___ O senhor tem certeza? Não quer olhar em sua lista de clientes se há
alguém com esse nome? (Sugeriu o professor).
___ Não é possível! Deve haver algum engano! (Exclamei) ___ Professor,
tem certeza que é esse o endereço que lhe passei?
___ Filipe.
___ Deixem seus registros óticos com o Miguel e depois venham comigo.
O barbudo bateu três vezes na porta da sala iluminada (o que nos pareceu
estranho já que a mesma tinha campainha) e disse: "o imediatismo não nos
domina!". Alguém de lá de dentro perguntou: "Por quê?". "Porque fomos libertos
pela verdade!", respondeu o nosso guia.
___ Professor, ou devo dizer, doutor Bunyan, pode nos esclarecer melhor
a respeito disso? O que são o Projeto CI e a pílula do conhecimento? (Indaguei).
___ Nossa! Mas isso é incrível! Certamente os estudantes vão apoiar essa
pílula, pois o que mais querem é ficar livres do esforço da aprendizagem!
(Exclamei).
___ Pois é. Só que, em contrapartida, todos os professores perderão seus
empregos, pois pra quê professores se os alunos podem engolir o
conhecimento? Mas o pior não é isso: junto a esses conhecimentos
supostamente científicos, eles introduzirão ideias que levarão as pessoas a se
submeter totalmente ao sistema imposto por eles. Os alunos e todas as demais
pessoas que ingerirem as pílulas estarão sujeitas ao governo mundial do
Conselho, sem nenhum questionamento. Todos serão robotizados!
___ Agora, com a ajuda dos meus colegas, deixem-me explicar-lhes mais
detalhadamente sobre a pílula...
A PÍLULA DO CONHECIMENTO
___ Pois não John. (Disse o Dr. Marcos) ___ Esses estudiosos de que falou
o John pesquisaram mais a fundo os processos de aquisição do conhecimento
pelo cérebro e investigaram o trabalho da memória, da percepção sensorial e
dos neurônios nesse sentido. Eles perceberam que, assim como os antigos
computadores, o cérebro humano é capaz de associar dados imateriais com
estímulos sensoriais. No caso dos tais computadores, a parte física (hardware)
dá suporte material à parte lógica (software) e esta, por sua vez, se comunica
com aquela através dos inúmeros programas ou sistemas de dados. No caso
do cérebro humano, que é a parte física, esta comunicação com o pensamento
se dá através de infinitos estímulos sensoriais distribuídos pelos neurônios, que
fazem ligação entre a percepção sensorial e a memória. Mas a maior diferença
entre o cérebro humano e os velhos computadores é que o primeiro é bem mais
complexo. Daí, as pesquisas continuaram avançando até que eles descobriram
a maneira mais prática de fazer a ponte ligando materialmente as informações
ao cérebro, que foi o penúltimo passo para a invenção da pílula. O último foi a
criação das próprias informações e dados que, como John já disse, estão
repletos de preconceitos e ideias de submissão ao Conselho, supervalorização
da tecnologia, etc.
___ Meus queridos, pra piorar ainda mais a história, nós descobrimos
alguns efeitos dessa pílula... (Continuou o professor John) ___ Ao engolir esse
tipo de "conhecimento", ele se torna uma espécie de "verdade absoluta" na
mente do indivíduo. Se torna uma "verdade" incontestável, pois a absorção é
tão violenta e cimentada, que a pessoa não aceita a possibilidade de
contradição. Isso ocorre por causa de uma lei racional da nossa mente chamada
de "não-contradição". Segundo essa lei racional do nosso "sistema original",
uma informação não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Por exemplo:
A é A, e não pode ser A e não-A ao mesmo tempo... Entenderam? Assim, uma
vez que o cérebro considera uma informação absolutamente verdadeira, ele não
admite sua contradição. O pior dos efeitos colaterais disso aí é a intolerância e
impossibilidade de diálogo! Algumas das cobaias (pessoas interessadas em
submeter seus corpos a experiências "científicas" em troca de muito dinheiro)
usadas nos testes desses "cientistas" tornavam-se agressivas quando alguém
questionava ou duvidava de "suas" ideias absorvidas pela pílula!
___ Como vocês podem ver... (Interpelou o Dr. Mateus) ___ a aceitação
dessa pílula pela humanidade poderá destruir toda liberdade de pensamento e
de expressão, direitos conquistados a duras penas ao longo da história. E mais,
prejudicará o verdadeiro progresso da ciência, que consiste não em encontrar
"verdades absolutas" prontas e acabadas, mas sim em levar à reflexão e ao
aprimoramento da vida social. Além disso, o comércio da pílula reforçará as
desigualdades, pois quem "pode" mais, "saberá" mais... Ah! E levará também a
vários conflitos, pois é possível que alguns dados "verdadeiros" sejam
contraditórios em relação a outros dados "verdadeiros", se é que não levará
primeiro à loucura.
___ Enfim... (Completou o professor Lucas) ___ de acordo com o que vocês
três disseram e com o que temos observado nas instituições de ensino, a pílula
do conhecimento vai cegar completamente as pessoas e torná-las meras
marionetes nas mãos da elite internacional, que é o objetivo final do projeto CI.
___ Não se preocupe Lucas. Temos um elevador secreto aqui ao lado que
levará vocês a um ponto estratégico. Vocês sairão daqui em cinco minutos e
sairão na rua sem ser notados. Tomem, levem com vocês estes lus (laser-
utilitaries)... (Disse o professor Bunyan nos entregando os aparelhos que eram
mais ou menos algo equivalente aos celulares do seu tempo, só que bem
menores e com muito mais aplicativos) ___ Eles serão nossa nova ponte de
comunicação.
___ Obrigado John! Foi muito bom revê-lo! Estamos juntos nessa luta!
Sem muito tempo para abraços, nos despedimos e corremos para o tal
elevador. Em cinco minutos estávamos de novo na superfície e saímos da
livraria sem sermos percebidos. Porém, pude notar que o representante do
Coordenador Filantrópico ficou um pouco desconfiado pela nossa demora. Mas
não foi o suficiente para nos comprometer.
___ Ei! Filipe! Estou falando com você! Tá surdo? (Bradou Ítalo tentando
me acordar do meu transe).
___ De hoje que eu te pergunto sobre o professor Bunyan! E aí, que horas
vamos vê-lo? Desde que nós descemos em Heaven e que você se aproximou
daquela garota parece que cê tá em outra dimensão! Vocês foram se afastando
do resto da turma, desapareceram na hora da visita ao Museu... Muitos estão
dizendo que você já hackeou a flor... Era essa a sua aventura...?
___ Que isso Ítalo?!!! Respeite a moça! Ela só me contou alguns problemas
pessoais. E eu não vim aqui pra me aproveitar de ninguém!
___ Calma, não precisa ficar bravo... Sou teu amigo, lembra? Só queria
levantar sua auto-estima dizendo o que os irados estão comentando... Sua fama
de tímido poderia mudar hoje...
___ Para com isso Ítalo! Diga aos irados (irados seria o equivalente a
"galera") que não houve nada. E não estou preocupado com reputação, tenho
um assunto muito mais sério pra me preocupar agora e é sobre isso que quero
falar com você.
___ Não acredito! Vocês foram e não me chamaram? O que eu mais queria
nessa viagem era conhecer o professor Bunyan e saber mais sobre os
propósitos manipuladores do Conselho Internacional...
___ Calma Ítalo. Você ainda vai conhecê-lo e, por enquanto, vou lhe falar
sobre o Conselho, sobre o Projeto CI e sobre a pílula do conhecimento...
___ Espere um pouco... Você não está brincando comigo não é Filipe?
___ Ítalo, nem eu estou enganando você, nem estou louco. Se quer ter
certeza, assim que surgir a oportunidade, conversaremos com o professor
Lucas e você vai ver.
___ Como poderia não acreditar? Está diante dos meus olhos. É realmente
trágico.
___ É que eu pensei que você podia ter combinado com eles, só de
brincadeira, pra zoar comigo... Me desculpe amigo, por duvidar de você.
___ Cara, você é meu amigo de verdade, não preciso te esconder nada.
Desde que eu soube que uma moça também havia notado os sinais do professor
Bunyan eu fiquei interessado nela. Quando a vi pela primeira vez, achei ela bem
atraente. Ao conhecê-la melhor fui me envolvendo... Gostaria mesmo de
construir um relacionamento firme com ela, mas não sei se...
___ Não sei se...?
___ Não sei se ela vai corresponder. Acho que ela também gosta de mim,
mas tenho medo de estar confundindo os sentimentos. Além disso, nesse
momento, como está sendo visto nos meios de comunicação internacional, a
pílula está sendo divulgada e nós temos que nos preparar para o combate.
Namorar agora é se arriscar mais ainda... Eu não sei o que eles poderiam querer
fazer a ela para me forçar, por exemplo, a denunciar o esconderijo do professor
Bunyan e seu pessoal...
___ Amigo, você só vai saber se vai levar um sim ou um não se tentar.
Vença a timidez. Quanto à perseguição, se eles souberem do seu engajamento
e do dela vão querer forçá-los do mesmo jeito, independentemente de estarem
juntos ou não. Acho que não faz diferença. E se ela é uma moça com quem
você se identifica e é da luta, vá em frente cara... Vale a pena investir.
___ Filipe! Ítalo! Vocês estão vendo o que eu estou vendo? (Foi ela que
apareceu de repente e nos interrompeu. Já estão anunciando a pílula! Temos
que nos conectar com o professor Bunyan pra ele nos dar as coordenadas de
ação!
___ Meus queridos... (Disse o professor John através do lus) ___ Chegou
o momento de agirmos mais energicamente, mas ao mesmo tempo com muita
prudência. O Conselho vai usar todos os seus poderes para manipular as
massas à aceitação total das pílulas. Nosso trabalho consistirá na
conscientização secreta do maior número de pessoas que pudermos e na
fabricação de pílulas falsas para encobrir nossas atividades. A conscientização
será secreta porque o Conselho, que possui juridicamente o poder de
fiscalização, policiamento e coerção, certamente tentará nos coibir. Não
podemos confiar em todos, pois muitos, especialmente os que já estão em
algum cargo elevado, já foram comprados. Quem sabe se já não foram também
robotizados pelas pílulas... Por isso, muito cuidado. As pílulas falsas nos
servirão como disfarce enquanto tentamos convencer pais, alunos e
comunidade em geral de que as verdadeiras pílulas são um instrumento de
manipulação. Que Deus nos ajude! Espero que a humanidade ouça a nossa voz
e compreenda a nossa mensagem.
As palavras do professor correspondiam aos nossos sentimentos: um misto
de força de vontade com preocupação salpicada de esperança.
Trágico, porém, foi o que aconteceu com o professor Michael. Certa vez,
ele e a professora Joana discutiam. Os ânimos se exaltaram e a discussão ficou
acalorada, fazendo com que os dois fossem chamados à Direção da Escola.
Questionados sobre os motivos da discussão, eles silenciaram. O Diretor
prometeu punir os dois denunciando-os por suspeita de subversão se
continuassem calados ou premiar um dos dois caso denunciasse colegas
"perigosos". Não demorou muito e a professora Joana deu com a língua nos
dentes, passando a acusar severamente o professor Michael. Certamente o
medo e a corrupção falaram mais forte dentro dela... Nosso amigo foi entregue
aos agentes da CII, que o levaram para outra cidade e lamentavelmente
perdemos o contato com ele. Eu, Paula e alguns dos colegas que aderiram à
causa fomos pessoalmente à Escola para questionar o que aconteceu ao
professor Michael. Eles tiveram a cara de pau de dizer que o professor pediu
demissão e viajou. Sem contato com ele, sem prova de nada, sem poder
recorrer a nenhuma instância superior (visto que a ordem de imposição da
implantação da pílula vinha de cima) e, ao mesmo tempo, preocupados em
manter nosso trabalho de conscientização dos colegas e dos pais em sigilo,
ficamos impossibilitados de agir. Ainda tentamos inúmeras vezes recuperar o
contato com o professor, mas foi tudo em vão.
___ Estamos num momento muito crítico, mas não podemos desanimar
nem parar nossas atividades. Conseguimos avançar nas pesquisas sobre a
destruição da pílula, mas por enquanto continuaremos realizando as sabotagens
ao Projeto CI. A sabotagem continuará através dos seguintes procedimentos:
1º. Continuação da fabricação das pílulas falsas e de sua comercialização
substituindo as pílulas oficiais; 2º. Continuação da conscientização dos alunos,
educadores e pais sobre os efeitos devastadores da pílula oficial e sobre a
importância das diversas formas de liberdade; 3º. Agora tentaremos
conscientizar também diretores, coordenadores e outras autoridades,
mostrando-lhes que o verdadeiro objetivo do Conselho é manipulá-los no seu
Projeto CI e tentando convencê-los de que o salário oferecido pelo Conselho
por tal submissão é a morte do conhecimento verdadeiro, da ciência e da sua
própria liberdade; 4º. Estamos sendo reforçados pela entrada de novos
advogados e juristas no nosso time que não se comprometeram com o sistema
e receberam nossas mensagens secretas. Eles estão se comprometendo a
enfrentar o Conselho através do Direito e estão elaborando projetos de lei em
defesa da liberdade, bem como estão utilizando leis já existentes como arma de
combate. 5º. Outros setores da sociedade também estão aderindo à nossa
militância: pais conscientizados estão tirando seus alunos das escolas aliadas
ao Conselho; diretores mudaram de lado ao perceber que eram massa de
manobra; e, enquanto alguns religiosos acharam ótimo o surgimento da pílula
(pois poderiam fazer adeptos através da fabricação, comercialização e
distribuição de pílulas religiosas), outros foram totalmente contra desde o
princípio, pois defendiam a aceitação das verdades da fé através da reflexão,
da pregação e da convicção pessoal e não de forma mecânica e comercial. 6º.
Estamos montando um Exército Revolucionário, cuja principal tarefa será
proteger nossos aliados e invadir laboratórios e fábricas de pílulas para destruí-
los. Só nos falta o sétimo ponto de estratégia, que seria a forma de destruição
do próprio sistema tecnológico que criou a pílula, isto é, sua principal base. É
isso que estamos pesquisando.
Enquanto o Diretor falava, notei uma gaiola com uma ave quase extinta:
um pombo! A ave tinha alimento dentro da gaiola, mas não demonstrava
nenhuma satisfação com sua condição.
___ Senhor diretor, não adianta. Não vai nos convencer. O senhor é que
devia passar para o nosso lado. Essa pílula não representa o progresso da
humanidade. E se a herança das gerações passadas é a escravidão do
pensamento, preferimos rejeitar essa herança. O senhor não percebe que tudo
isso é mais uma forma de dominação? Não se deixe ser manipulado dessa
forma! (Argumentei) ___ Veja esta ave que está e, seu escritório. É uma raridade
e sempre foi um símbolo da liberdade. Perceba que, apesar do alimento que o
senhor lhe oferece, ela não está feliz, pois sua liberdade foi cortada. Assim
acontece com quem se deixa manipular pelo Conselho...
___ Você está enganado Filipe! Todos vocês militantes estão! Na verdade,
quem está dominando e subvertendo a mente de vocês é o grupo do professor
John Bunyan. Ele e sua corja é que fizeram uma lavagem cerebral em vocês.
Ele é que criou um sistema de dominação e certamente dopou vocês com
alguma substância nociva e entorpecente. De maneira que vocês estão
permanentemente entorpecidos, cegos, não conseguem ver o paraíso à sua
volta. Mas não precisam continuar assim... Nós temos a cura! O remédio! A
pílula do conhecimento! Aproveitem meus jovens! Essa é a última oportunidade
de vocês! Abandonem essa militância inútil e infantil. Parem de prejudicar suas
próprias vidas! Venham para o nosso lado: o lado da verdade! Do contrário,
terão de ficar de quarentena para expurgar esses venenos que estão nas
mentes de vocês... Terei que entregá-los aos agentes da CII...
___ O senhor pode nos entregar a quem o senhor quiser! Pode nos
ameaçar, mas não vai nos amedrontar, nos desanimar nem ao menos nos
enganar! E o veneno para a mente é o que tem nessa pílula! (Exclamou Paula).
___ Doutor Nícolas, pense melhor a respeito! Se analisar bem, verá que
estamos certos... (Continuei).
___ Paula, acho que ele já ingeriu algumas pílulas... Não adianta
argumentarmos... Ele já se acha dono da verdade (Cochichei pra ela).
___ Tudo bem, vamos pensar nisso... Mas mesmo assim, se não der certo,
preciso lhe dizer algo muito importante...
___ Quando você diz que tem algo importante a dizer é porque vêm grandes
revelações por aí... Desde que percebi isso a partir daquele dia na viagem a
Heaven, sempre presto atenção ao que você me diz... Portanto, pode falar!
___ Paula, eu estou apaixonado por você! Toda essa história nos
aproximou muito e eu pude perceber o quanto você é especial. Não posso
morrer ou deixar passar essa oportunidade sem lhe dizer o que penso e o que
sinto por você.
___ Deixa ela em paz seu imbecil! Venha medir sua força comigo se for
homem! (Exclamei).
Zzzzssruuuuuuuummmm! Blam!!!
Foi uma fuga alucinante, pois os agentes da CII respondiam com tiros de
laser que chegaram a atingir alguns soldados do Exército e alguns dos jovens.
Mas nada disso impediu o resgate de todos nós. Os soldados do Exército
Revolucionário conseguiram nos tirar de lá e nos levaram para uma base de
comando. Porém, infelizmente, nem todos chegaram com vida. Alguns dos
soldados atingidos não resistiram aos ferimentos e morreram no caminho.
___ Hoje temos motivos para sorrir e chorar, pois alguns perderam a vida
para que muitos pudessem ganhar a liberdade. Alguns morreram de fato para
que muitos pudessem viver de verdade. Eram homens e mulheres valorosos,
como também são valorosos os que eles salvaram e que estão aqui conosco.
Eram pessoas livres do império intelectual que se arvora contra nós como
também são livres os que eles resgataram. O que nos resta então a fazer?
Passar o resto dos nossos dias nos lamentando pela morte deles? Não, essa
não é a melhor forma de honrá-los. Honremos a sua memória lutando com o
mesmo vigor, com a mesma confiança e com a mesma dedicação pela mesma
liberdade pela qual eles deram suas vidas! Precisamos demonstrar nossa
gratidão fazendo com que nossa liberdade de fato tenha valido a pena, sendo
motivo de orgulho para aqueles que se sacrificaram. Nossa liberdade deve ser
a chave para que conquistemos a liberdade de outros assim como nós e assim
possamos fazer ruir esse império maldito que se sustenta pela escravidão
mental daqueles que se sujeitam ou são forçados a isso! Eu conclamo todos
vocês a lutar sem medir esforços e sacrifícios contra essa escravidão e contra
esse império, pois assim como valeu a pena a vida e a liberdade de vocês vai
valer a pena a vida e a liberdade de toda essa geração! Vai valer a pena!
___ Nós viemos cumprimentá-lo e dizer que pode contar com nossa ajuda
pra o que for preciso.
___ Bem rapaz, isso não tem importância agora. Venham comigo que existe
uma pessoa que eu quero que vocês conheçam.
___ Doutor Albert, estes são os jovens dos quais o John nos falou. (Disse
o sr. Paul nos apresentando ao cientista).
___ Oh! Que maravilha! Que bom que vocês chegaram! Entrem! Entrem!
O que estão esperando?
___ Meus jovens, esse será um momento singular pra vocês. Vou deixá-
los com o doutor Albert, pois preciso dar continuidade a minha missão. Até mais
ver. (Despediu-se o sr. Paul).
___ Filipe e Paula, agora tenho a mais absoluta certeza de que vocês são
as pessoas certas. E é por isso mesmo que vou lhes mostrar algo superior a
tudo que vocês já viram...
Ele estava para nos revelar sua maior descoberta quando nossa base foi
atacada pelo exército do Conselho. Certamente eles conseguiram nos rastrear
durante nossa fuga. Tivemos que fugir às pressas, mas o doutor Albert
conseguiu carregar seu invento e, pouco antes de que eu e Paula entrássemos
num veículo sônico, resumidamente nos explicou seu invento:
___ Não posso Filipe! Alguém tem que ficar pra despistar o inimigo! Vai
garoto! Não perca mais tempo! O passado, o presente e o futuro dependem de
vocês!
O GRANDE CONFRONTO
Você viu o que Filipe disse sobre o Conselho Internacional e seu controle
político, econômico e cultural sobre a humanidade? Será que a globalização não
pode ser considerada uma preparação para isso? Como você tem encarado a
sua própria cultura? Você é realmente livre para escolhê-la ou é um mero
produto do meio?
Como tem levado sua vida em relação à leitura e informação? Você crê
absolutamente em tudo o que a mídia e outros meios de comunicação
anunciam? Você é facilmente convencido?
Jovem, qual o valor dos estudos pra você? Eles tem alguma relação com
a vida e com a liberdade? Como tem tratado seus pais, professores e colegas?
Seu futuro e o futuro da humanidade têm alguma coisa a ver com isso? Você...
Tem alguma coisa a ver com tudo isso?
projetosemacaoprofessorfagner@gmail.com
https://youtu.be/e3XpZe-l9eM