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Nome: Julia Tieme Filie Kamada Número USP: 11763520 Sala: 24

1. A Escola Clássica aparece na Europa dos séculos XVII e XVIII, marcada pelo iluminismo
e transformações que as Revoluções Burguesas propiciaram no campo político, econômico, social e
cultural do continente. Nesse cenário, os clássicos propõem-se a pensar o “dever ser” de um novo
modelo social que rompesse com o punitivismo da sociedade clerical, estamental e desigual do
Antigo Regime. Inspirados por valores iluministas que pregavam igualdade, tolerância, liberdade,
existência de direitos naturais e que teorizavam o Estado a partir de uma ótica contratualista que
exigia governos constitucionais e separação dos três poderes, os autores no geral não fixaram
exatamente um objeto de estudo sobre a origem de delito ou delinquente; isso não significa dizer que
eles não analisaram essas questões, mas por conta do contexto histórico, sua preocupação maior –e
seu objeto- pode ser resumida e generalizada pela busca da resposta ao seguinte questionamento: o
que a pena deve ser?

Em outras palavras, essa Escola teorizou teorizar sobre a pena e o sistema penal. Fez isso de
maneira idealista, uma vez que as obras possuíam como característica um forte teor político; por esse
motivo, sua metodologia não era bem definida ou um consenso entre os pensadores, mas se pode
dizer que a racionalidade e método lógico-indutivo estavam presentes nas análises e propostas das
obras clássicas. Suas principais contribuições que refletiram na dogmática jurídica foram a
teorização de um sistema penal que preza pela proteção do potencial criminoso, sendo uma garantia
que deve conter o poder estatal; a essa concepção do sistema dá-se o nome de sistema de segurança,
já que é pensado como algo que vai proteger o cidadão de eventual despotismo e/ou abuso de poder e
a concepção da pena como uma consequência da má escolha do indivíduo; nesse sentido, a pena
seria algo justo, uma resposta a uma decisão que deriva do livre-arbítrio do indivíduo, que por ser
livre, tinha como escolher entre praticar ou não o ato criminoso.

Já o Positivismo Criminológico teve sua expressão no séc. XIX e parte do séc. XX, na
sociedade criada após a Primeira Revolução Industrial, marcada pela urbanização, industrialização e
divisão social em classes nos moldes capitalistas, cuja criminalidade não só crescia como também
estava mais diversa; além disso, predominava o pensamento positivista, que parecia aplicável a todas
as áreas do conhecimento. Assim, surge o Positivismo Criminológico, caracterizado pelo empirismo,
cientificismo e proposto como uma ciência neutra que possuía rigor, afastando-se da questão política
e idealista dos clássicos. Utilizando-se do método indutivo-quantitativo e de outras áreas como
psicologia, anatomia, a freneologia e teorias fisionomistas, o objeto de estudo passa a ser o
criminoso; a pessoa que apresentou o comportamento delinquente.

Dedicando-se a causa individual, antropológica e biológica do delito, os autores do


Positivismo Criminológico chegaram à conclusão de que o criminoso era nato, ou seja, nascia
delinquente (determinismo em oposição ao livre-arbítrio). Mas essa delinquência não era aleatória:
era psicossomaticamente reconhecível; além de considerarem que fatores como clima, etnia e
religiosidade atuavam nesse sentido. Seu principal legado deixado à dogmática jurídico-penal foi a
noção de periculosidade do criminoso, que levou à defesa do sistema de segurança, que preza pela
ordem social, proteção da eventual vítima do delito (propondo sanções indenizatórias e, em alguns
casos, pena de morte ao criminoso) e considera o direito penal como elemento repressor do Estado,
aumentando seu autoritarismo.
2. Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo são três grandes nomes do positivismo
criminológico italiano. Convergem à medida que negam a questão clássica do livre arbítrio,
substituindo-a pelo determinismo, crêem no cientificismo, separam a moral da ciência, possuem
unidade na metodologia e colocam o positivismo como núcleo fundamental de seus estudos.
Entretanto, existem alguns pontos em suas respectivas teses que os diferenciam. Lombroso,
considerado o pai da criminologia, estudou a fisionomia dos criminosos chegando a conclusão de
que pessoas que realizavam certos tipos de crimes possuíam traços físicos específicos, focando nas
condições antropológicas que definem o delinquente. Possui o atavismo como tese central,
comparando o criminoso a um “selvagem”, alguém que retrocedeu na escala evolutiva, tudo isso para
afirmar que as características que o faziam assim eram naturais; além disso, associou traços mongóis
e negroides à criminalidade.

Já Ferri foi influenciado por Lombroso, e, embora não negasse a questão fisiológica conforme
este estipulou, priorizou em sua tese os aspectos sociológicos que contribuem para que o indivíduo
recorra ao crime. Nesse sentido, classificou os criminosos em cinco tipos (nato, louco, habitual,
ocasional e passional). Outro ponto foi o direcionamento da função do sistema penal à defesa das
possíveis vítimas, sendo a segurança social algo importante, por isso a prevenção dos delitos a partir
dos substitutivos penais de caráter técnico e econômico-social foi defendida por ele, mas sem
descartar as medidas de segurança que puniam o infrator.

Garofalo, por sua vez, preocupou-se em encontrar o conceito de delito natural, focando
principalmente nas questões psicológicas: para ele, existem dois sentimentos básicos, a piedade e a
probidade, sendo os delitos que atacam a vida e a saúde uma violação a piedade e os crimes que vão
contra a propriedade são ataques a probidade. Sendo o delito e o delinquente natos, esses
sentimentos inexistem nesses “tipos” de pessoas, que são perversas e por isso não só é impossível
ressocializa-las, como também representam um perigo à sociedade. Por isso Garofalo foi um
defensor do recrudescimento do sistema penal, propondo severas sanções, como a pena de morte,
além de reproduzir visões racistas e eurocêntricas em sua obra.

No Brasil, o positivismo criminológico chegou contemporaneamente à abolição da


escravatura e proclamação da República, no final do séc. XIX, em uma sociedade marcada pelo
racismo e desigualdades e Raimundo Nina Rodrigues foi uma das personalidades brasileiras o
incorporaram em sua obra. Tratando da questão racial, pode ver que Lombroso e Garofalo o
inspiraram, já que o autor define que os negros e indígenas são inferiores aos brancos na “hierarquia
racial”, sendo grupos mais propícios ao crime. Além disso, assim como os positivistas
criminológicos italianos, considera que as características dos delinquentes são naturais, assim como
as dos “loucos”, sugerindo então que houvesse perícia psiquiatra nos criminais. Percebe-se também
que a questão preventiva do delito presente na tese de Ferri aparece inclusive na perseguição penal
feita a “mendigos” e “vadios”, mostrando que o ócio dos pobres era visto como propensão ao crime.

Com isso, conclui-se que o positivismo criminológico de Lombroso, Ferri e Garofalo foi
abraçado pelos juristas brasileiros à época e exerceu bastante influencia na maneira de enxergar o
direito penal, que se tornou um instrumento utilizado pelo Estado para reprimir principalmente a
população negra e pobre, afinal, partir de 1888, quando a escravidão deixou de ser o sistema de
controle oficial da população negra, o sistema penal tomou seu lugar.

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