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1. A Escola Clássica aparece na Europa dos séculos XVII e XVIII, marcada pelo iluminismo
e transformações que as Revoluções Burguesas propiciaram no campo político, econômico, social e
cultural do continente. Nesse cenário, os clássicos propõem-se a pensar o “dever ser” de um novo
modelo social que rompesse com o punitivismo da sociedade clerical, estamental e desigual do
Antigo Regime. Inspirados por valores iluministas que pregavam igualdade, tolerância, liberdade,
existência de direitos naturais e que teorizavam o Estado a partir de uma ótica contratualista que
exigia governos constitucionais e separação dos três poderes, os autores no geral não fixaram
exatamente um objeto de estudo sobre a origem de delito ou delinquente; isso não significa dizer que
eles não analisaram essas questões, mas por conta do contexto histórico, sua preocupação maior –e
seu objeto- pode ser resumida e generalizada pela busca da resposta ao seguinte questionamento: o
que a pena deve ser?
Em outras palavras, essa Escola teorizou teorizar sobre a pena e o sistema penal. Fez isso de
maneira idealista, uma vez que as obras possuíam como característica um forte teor político; por esse
motivo, sua metodologia não era bem definida ou um consenso entre os pensadores, mas se pode
dizer que a racionalidade e método lógico-indutivo estavam presentes nas análises e propostas das
obras clássicas. Suas principais contribuições que refletiram na dogmática jurídica foram a
teorização de um sistema penal que preza pela proteção do potencial criminoso, sendo uma garantia
que deve conter o poder estatal; a essa concepção do sistema dá-se o nome de sistema de segurança,
já que é pensado como algo que vai proteger o cidadão de eventual despotismo e/ou abuso de poder e
a concepção da pena como uma consequência da má escolha do indivíduo; nesse sentido, a pena
seria algo justo, uma resposta a uma decisão que deriva do livre-arbítrio do indivíduo, que por ser
livre, tinha como escolher entre praticar ou não o ato criminoso.
Já o Positivismo Criminológico teve sua expressão no séc. XIX e parte do séc. XX, na
sociedade criada após a Primeira Revolução Industrial, marcada pela urbanização, industrialização e
divisão social em classes nos moldes capitalistas, cuja criminalidade não só crescia como também
estava mais diversa; além disso, predominava o pensamento positivista, que parecia aplicável a todas
as áreas do conhecimento. Assim, surge o Positivismo Criminológico, caracterizado pelo empirismo,
cientificismo e proposto como uma ciência neutra que possuía rigor, afastando-se da questão política
e idealista dos clássicos. Utilizando-se do método indutivo-quantitativo e de outras áreas como
psicologia, anatomia, a freneologia e teorias fisionomistas, o objeto de estudo passa a ser o
criminoso; a pessoa que apresentou o comportamento delinquente.
Já Ferri foi influenciado por Lombroso, e, embora não negasse a questão fisiológica conforme
este estipulou, priorizou em sua tese os aspectos sociológicos que contribuem para que o indivíduo
recorra ao crime. Nesse sentido, classificou os criminosos em cinco tipos (nato, louco, habitual,
ocasional e passional). Outro ponto foi o direcionamento da função do sistema penal à defesa das
possíveis vítimas, sendo a segurança social algo importante, por isso a prevenção dos delitos a partir
dos substitutivos penais de caráter técnico e econômico-social foi defendida por ele, mas sem
descartar as medidas de segurança que puniam o infrator.
Garofalo, por sua vez, preocupou-se em encontrar o conceito de delito natural, focando
principalmente nas questões psicológicas: para ele, existem dois sentimentos básicos, a piedade e a
probidade, sendo os delitos que atacam a vida e a saúde uma violação a piedade e os crimes que vão
contra a propriedade são ataques a probidade. Sendo o delito e o delinquente natos, esses
sentimentos inexistem nesses “tipos” de pessoas, que são perversas e por isso não só é impossível
ressocializa-las, como também representam um perigo à sociedade. Por isso Garofalo foi um
defensor do recrudescimento do sistema penal, propondo severas sanções, como a pena de morte,
além de reproduzir visões racistas e eurocêntricas em sua obra.
Com isso, conclui-se que o positivismo criminológico de Lombroso, Ferri e Garofalo foi
abraçado pelos juristas brasileiros à época e exerceu bastante influencia na maneira de enxergar o
direito penal, que se tornou um instrumento utilizado pelo Estado para reprimir principalmente a
população negra e pobre, afinal, partir de 1888, quando a escravidão deixou de ser o sistema de
controle oficial da população negra, o sistema penal tomou seu lugar.