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Pensar sobre isso e sobre todas as coisas me causava uma grande sensação de
exaustão. Eu havia cumprido a minha promessa e mesmo que eu tentasse colocar na
minha cabeça que era por caridade, eu sabia que não era. Deitei na cama e tentei
descansar mais uma noite, mas quando fechei os olhos, os pesadelos se acomodaram
ao meu lado. Eles me abraçaram com um carinho mórbido e dentes assustadores.
Senti o desespero lamber o meu rosto e, enquanto tentava buscar conforto, me
afundei em paranoia.
Foi somente depois de duas semanas que o jornal notificou alguma coisa. A notícia
dizia algo sobre ter encontrado um cadáver de identidade irreconhecível, mas eu sei
que aquilo que vi, certamente não era humano. A coisa ou criatura era com um
pesadelo vivo, que havia se erguido do abismo para se colocar no mundo dos vivos.
Então comecei a questionar porque a mídia local insistia em chama-lo de humano.
Mais uma semana se passou e eu comecei a entender que certamente havia um
movimento de manobra inteligente. Eles estavam trabalhando junto com a polícia para
divulgar informações falsas. Não queriam causar nenhum tipo de histeria em massa,
mas claramente estavam mentindo. A essa altura, eu já estava escrevendo textos e
textos sobre a verdade que eles insistiam esconder. Monstros existem, alguns estão
dentro de nós, outros estão do lado de fora.
Seis meses se passaram depois do encontro com o desconhecido, mas aquela visão
pavorosa me encarando com olhos do diabo ainda me assombrava nos meus
pesadelos. Decidi apelas para magias mais pesadas, e comecei a envolver meu
próprio sangue nesses rituais. Vasculhando sobre o mundo sombrio, gravei com a faca
alguns símbolos de proteção no meu corpo e estava me preparando para um ritual que
se dizia capaz de materializar uma entidade que habita os nossos sonhos para nos
causar pesadelos. A esta altura, foi a única coisa que me passou pela cabeça, que ao
ver aquela visão diabólica da morte, eu fui subitamente amaldiçoado por essa coisa de
outro mundo. Seja vivo ou não, aquilo precisava acabar. Por mais que todas as
minhas tentativas tenham sidas em vão, continuei buscando uma forma de prolongar
minhas horas de sono desse pavoroso monstro onírico. Dei o meu sangue, a minha
vida, a minha dedicação, mas nada parecia ter adiantado. Todas as vezes que eu
fechava os olhos eu ainda sentia aquela terrível angústia descendo pela garganta. Ela
arranhava feito lâminas e a sensação de ter o estomago tomado por ansiedade me
causava ânsia de vômito. A casa que antes era bagunçada, agora se tornara também
suja e fedida. Havia sangue, giz e sal por toda parte. Desenhos espalhados que tentei,
por algum meio artístico que nunca tive, desenhar os meus terríveis pesadelos. Tudo
foi em vão. Eu estava sem esperanças.
Mais seis meses se passaram da ultima vez que escrevi um relato. Faz exatamente
um ano em que encontrei aquele inominável cadáver pútrido e fui amaldiçoado por
uma escuridão tenebrosa. Eu gostaria de dizer que ainda tento manter o copo da vida
cheio, mas comecei a beber como uma forma de manter o sono profundo. Os
remédios que antes me traziam calma, não fazem mais efeitos, e eu tenho aumentado
a dose cada vez mais correndo o risco de sofrer uma overdose enquanto tento ter uma
noite de sono tranquila. O demônio venceu, eu não sou nada. Me olho no espelho e
não sei em qual tempo me perdi. Aquele corpo atlético se tornou ossudo e frágil. Os
olhos fundos como um bueiro escuro. A face antes quadrada e atraente, se escondia
em uma pele de palidez horripilante e uma magreza excessiva. O corpo repleto de
cicatrizes, algumas infeccionadas postulavam pus e sangue enegrecido, seco como
cascas de machucado. A sensação de vida se foi. Nesse exato momento, estou com
uma arma apontada para dentro da minha boca. Eu apenas espero que Deus tenha
um lugar tranquilo para que eu possa repousar. Um lugar em que eu possa finalmente
ter um sono tranquilo.