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CENTRO DE EDUCAÇÃO
2022
Thayne Thaines de Sousa
2022
RESUMO
ABSTRACT
This research delivers all the anguish of a mother, academic and hardworking, the
same mother who gives her life for another life. In this long and intense writing there
is my most intimate and hidden pain for years. I bring in each chapter details of the
step by step of the experience experienced by me. I count the beginning of my life
and the choice of pedagogy course, I also count, the incentive I had when deciding
the theme of my Course Completion Work. The general objective is to analyze the
consequences suffered during maternal, academic and labor life in order to reach as
many readers as possible to understand these lives lived by so many women and by
me. Therefore, the methodology is qualitative, participant type, open interviews
conducted with three mothers, in order to provide an association in the relationship of
my personal experience with the experiences of other mothers, academics and
workers. The research has as reference the studies of researchers Urpia and
Sampaio (2011) and (2009), Almeida (2007) and Beltrame and Donelli (2012). The
expectation is to sensitize the parties that are not around motherhood and get a
relative understanding of these parts about our needs as mothers, academics and
workers. As a final result of the research, after the interviews and my personal
accounts, I had the opportunity to reflect the charges and demands of a guilt that put
on our backs and this weight overload us, but finally, at the end of the work, I can
affirm that this is not my fault, it is not ours, it is the other's fault on us.
AGRADECIMENTOS
Segundamente, agradeço ao meu filho por fazer eu sentir pela primeira vez o
amor incondicional, por me dar todas as chances do mundo, diariamente, sempre
que erro. Agradeço por tornar a minha vida mais calma e agitada, engraçada e
sentida, envolvida e pausada, leve e intensa. Agradeço por continuar me amando
mesmo quando eu sou falha. Agradeço por me fazer a mãe mais feliz do mundo, por
me ensinar a ser forte, a evoluir, a entender o amor maternal e a suportar qualquer
obstáculo. Eu te amo, meu filho, você é uma parte de mim. A minha melhor parte.
1 – INTRDUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Começo essa escrita contando sobre a melhor escolha que fiz, a escolha que
iria garantir o meu futuro, a escolha que faria a diferença, a escolha que tornaria a
minha vida mais especial. Desde pequena já demonstrava a admiração pela
profissão docente, me dedicava aos estudos e estava sempre disposta a realizar
todas as propostas que meus professores traziam para a sala de aula. Fui
alfabetizada ainda na Educação Infantil aprendendo a ler sozinha e com o auxílio da
minha irmã mais velha aprendi a escrever. No Ensino Fundamental ganhei o título
de melhor aluna, pois entregava os trabalhos antes das datas marcadas, terminava
as provas antes do período de tempo previsto e no mesmo instante ajudava os meus
colegas a terminar suas provas, minhas notas eram altas e normalmente tirava as
notas máximas.
No Ensino Médio eu já tinha decidido qual curso ia fazer, sim, já tinha certeza
do que queria para minha vida profissional, então, me dediquei para que eu pudesse
entrar na faculdade, tendo como maior objetivo passar no vestibular da Universidade
Federal de Santa Maria.
Os anos foram passando e tive que dar início ao projeto do TCC pela
disciplina de Metodologia, eu acabei tendo que escolher um tema sem sentir
vontade de escrever sobre, mas fiz porque era necessário aprender como é a
estrutura do TCC. Em 2020 já estava no décimo semestre e teria um tempo
destinado para dar continuidade com o projeto na própria disciplina do TCC, porém,
aquele não era o projeto desejado, não era o que eu realmente gostaria de defender,
então só pensava em mudar o tema. Quando enfim aconteceu o inesperado, a
pandemia, que surgiu e me deixou totalmente impotente, o susto veio e a realidade
financeira e emocional também.
Tinha alguma coisa que estava me impedido de colocar para fora tudo o que
eu gostaria de escrever, era como se eu não fosse capaz de argumentar e defender
o quanto era fundamental compreender o sentido de ser mãe e futura docente
levando em consideração duas vidas distintas e que ao mesmo tempo estão
entrelaçadas, eu precisava falar disso, provar a importância disso, era fundamental
outras pessoas saberem disso. Assim, parei, pensei, e me perguntei, será que a
escolha do meu tema é relevante aos leitores do meu TCC? Eu sabia que a resposta
era sim, considerando o sentido mais positivo, mas deveria mostrar a mim mesma
que realmente a resposta era sim, pois acredito que muitas pessoas tiveram alguma
experiência incrível com a maternidade e a formação inicial docente.
Fiquei um ano sem escrever, parada no tempo, tempo este que me obriguei a
estar, não tinha tecnologia para acompanhar as aulas remotas e estar presentes nas
atividades acadêmicas. Foram meses difíceis, me via sobrecarregada com as
tarefas de casa e os compromissos com as contas, não havia mais estruturas físicas
e emocionais, estava totalmente sem forças para pensar em qualquer outra coisa
além das minhas obrigações e responsabilidades familiares. Eu sabia que precisava
me dedicar aos estudos para concluir o curso e iniciar o quanto antes a escrita do
TCC, só não imaginava como faria isso.
Após um bom tempo ter passado, chegou o dia de fazer parte da faculdade
novamente e com ajuda dos meus pais pude ter meu notebook para participar das
aulas remotas e finalmente iniciar o projeto do TCC, assim, escolhi a minha
orientadora que pôde contribuir com a sua sabedoria e sensibilidade o desenvolver
do tema do meu TCC. Eu tinha todas as ideias do que eu gostaria de falar, mas não
conseguia elaborar um tema, que complicado, não é mesmo? Pois é, tinha
absolutamente tudo para a escrita, porém, o tema não. Com a ajuda da minha
orientadora, Professora Lúcia, que me orientou para ir escrevendo e colocando
todas as minhas ideias “no papel”, pude relatar tudo o que precisava e deu tão certo
que fiz a escolha do tão problemático tema.
Eu sempre fiz estágio remunerado desde quando iniciei a faculdade e isso fez
com o que abrissem caminhos de conhecimentos repletos de experiências,
aprendizagens valiosas que contribuíram para a minha progressão como
profissional. As teorias pautadas em aulas puderem por várias vezes se fazerem
presentes nas práticas pedagógicas nas escolas, isso facilitava o meu entendimento
sobre o curso de Pedagogia.
A minha rotina diária era casa, estágio e faculdade. Em casa estava somente
no turno da noite apenas para dormir, estágio era durante o dia e final da tarde a
faculdade. Pouco tempo para pensar, pouco tempo para descansar, mas valia a
pena, como valia, cada passo dado era meu futuro e do meu filho garantido. Então,
foi passando o tempo, me via presa em cobranças diárias, eu como mãe e eu como
docente que logo me tornaria a ser. Minha função como mãe estava um caos, eu
como aprendiz da docência estava equilibrada, porém, conseguia misturar essas
duas vidas, porque tentava ser com o meu filho como eu era com as crianças na
escola e pode ter certeza que dava tudo tão errado.
A frase que eu mais escutei durante esse tempo e pode ter certeza que até
hoje se fazem presentes é a de que “Mas você não é professora? Como você lida
com crianças e não sabe lidar com o seu próprio filho?” “Você dá mais importância
para os seus estudos do que para o seu filho” “Suas obrigações com a faculdade
ficam sempre em primeiro lugar e o seu filho em último lugar”. O julgamento vinha de
todos os lados e eu mergulhei nisso me fazendo entender que era verdade o que
diziam. Foi aí que descobri o vazio da maternidade na formação inicial docente, me
vi sozinha, tanto de um lado quanto do outro, me senti impotente, insegura, inútil,
mas eu queria me encontrar novamente, lá no fundo eu queria estar completa
novamente com as minhas duas vidas.
2 METODOLOGIA
A metodologia proposta é de abordagem qualitativa, do tipo participante,
possui como instrumento de coleta de dados o diário de campo da acadêmica
entrevistas abertas realizadas com mães que são professoras que trazem seus
relatos vivenciados em suas realidades.
A entrevista será realizada com três mães que estão dispostas a relatarem
suas aflições e felicidades quando se trata das duas vidas que levam, a maternidade
e a formação docente. Estará preparadas as perguntas referentes à essas questões
e as participantes darão suas respostas a partir do que sentirem. As três mães serão
ouvidas e faremos uma roda de conversa para que possam se escutarem.
1) Nessas duas vidas, a maternal e a sua formação docente, qual o significado para
você dessas duas personagens representativas?
2) Qual a maior dificuldade em ser mãe?
3) Quais são as frases que te deixam frustrada quando comparada ao ser mãe e ter
propriedade sobre a Pedagogia?
Ao final das três perguntas, farei uma em especial, pois é uma pergunta que
estará presente no final do meu TCC e decidi que deveria reformular a pergunta
para que essas mães me respondam com o seu sentimento mais profundo. Segue a
pergunta abaixo:
Herdar é uma palavra tão significativa, inevitável não falar dela, você está
adquirindo algo representativo sobre experiências pessoais vividas. A palavra herdar
nesse contexto é totalmente diferente do conhecimento comum sobre ela, aqui
nessa escrita ela tem um significado mais valioso, mais pertinente, mais precioso,
pois trata-se de receber algo tão especial e tão importante.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Essa conclusão que as autoras fazem tem um sentido, porque vivo na pele
essa situação, esse rótulo e essa obrigação que é nos dada é um fato social e
pessoal, pela cobrança diária que temos, as reponsabilidades aumentam,
consequentemente, muito mais, para a mãe, porque nós queremos manter intactos
os nossos sonhos e sempre tentamos conciliar com os nossos compromissos
pessoais e profissionais. Muitas vezes não temos uma rede de apoio, porque temos
muitas demandas de estudos, casa e trabalho.
A minha rotina era muito complicada, porque eu tinha que ajustar tudo de uma
vez, organizar horários, organizar o lanche na faculdade, o almoço no trabalho e a
janta do meu filho de noite, isso é um exemplo do pouco que eu fazia nas minhas
duas vidas (na maternidade e na formação inicial docente). Você está em sala de
aula com o seu filho nos braços e no mesmo instante ele começa a chorar, você
precisa se retirar da sala, porque o olhar do Professor é de que o choro está
atrapalhando, então, acalma lá fora (perde a explicação do conteúdo da prova) e
volta depois de uns trinta minutos quando estiver tudo sob controle. A gente não tem
controle, a gente já nem tem forças, a gente já está tão cansada, a gente só quer
que nos entendam. Esses são fatos reais, da maternidade real. Urpia e Sampaio
(2011) trazem essa realidade em sua pesquisa.
Elaine Costa trouxe uma questão muito importante para ser questionada, pois o fato
de uma acadêmica torna-se mãe dificulta os seus estudos e suas prioridades, mas
não impede-a de realizar-se profissionalmente, mesmo que ainda sofra com rótulos
criados pela sociedade.
Esse fato trazido pela Elaine Costa no seu depoimento para Eureka
Consultoria Acadêmica em 2019, reflete muito na culpa que a mãe na sua formação
inicial carrega consigo. Elaine Costa ainda afirma que “É bem nesse ponto que entra
a “culpabilização” da mulher. Escolher ter uma vida fora das vivências ininterruptas
da maternidade implica necessariamente em ser uma mãe ruim”. Sabemos que não
somos mães ruins, mas a culpa faz com o que nos sentimos assim.
Em dezembro de 2007, Leila Shances Almeida, escreveu uma pesquisa sobre
Mãe, Cuidadora e Trabalhadora: As múltiplas identidades de mães que trabalham,
nessa pesquisa ela consegue explicar com bases teóricas de que existem muitas
mulheres mães que estão em fases de sobrecargas, pois está enraizado na
sociedade histórico-cultural o trabalho e a maternidade da mulher. “Os valores
sociais associados ao trabalho, à maternidade e aos cuidados infantis fazem parte
de um vasto conjunto de significados historicamente produzidos e constituem a
matriz sócio-histórica do sujeito” (Almeida, L.S., 2007, p. s/n).
MÃE...
És do tamanho do céu
Penso que essa frase cabe à minha escrita, pois repenso a prática
pedagógica tanto no ambiente escolar (nos estágios que fazia) ou em casa com o
meu filho. Paulo Freire (1996) em sua obra sobre a Pedagogia da Autonomia traz
uma leitura na relação da nossa prática enquanto futuros educadores. Essa
retomada de saberes é fundamental para que eu compreenda e tenha discernimento
para separar as duas vidas que levo, a de mãe e a da formação inicial docente. É
preciso entender que estou me dedicando à duas carreiras que são muito
representativas. A mãe e à docência.
4 EXPERIÊNCIA REFLEXIVA
- Estamos bem.
- Vou começar a perguntar para a Flor. Flor, o que significa a sua família para você?
Ela segurou o choro e disfarçou para que ninguém percebesse o que ela
estava sentindo.
A Girassol ficou chorando na minha frente sem parar, a chamei para irmos até
o jardim interno da escola para conversarmos. Eu perguntava o que havia
acontecido e ela não queria me contar, não conseguia parar de chorar. Então, sentei
no chão e dei colo e um abraço bem apertado até que ela se acalmasse.
O tempo não passou muito e a Girassol conseguiu ficar mais calma, assim,
pude conversar abertamente com ela, mas não tive respostas, a não ser que ela
estava com muita dor de garganta. Girassol estava há mais ou menos duas
semanas sem querer participar das atividades realizadas em aula, sem interagir,
uma postura introspectiva, se alimentando pouco e brincando apenas com a sua
melhor amiga flor. Todas as Professoras e Estagiárias achavam que seria porque o
ano estava acabando, mas não era isso.
A Girassol tinha uma irmã mais velha que fazia companhia, brincava e
cuidava dela, mas no momento estava indo embora e foi aí que desabou o mundo
da Girassol. Ela não queria contar a sua dor para ninguém, iria segurar isso sozinha,
uma criança ia segurar sozinha uma dor de ficar longe de alguém que ama, isso foi
muito triste de ouvir e saber. Dessa forma, parei para pensar em quantas crianças
se sentiam assim, quantas crianças passavam por isso diariamente e não
compartilhavam suas frustrações por não saber lidar com os seus sentimentos.
Esse foi um ponto crucial para eu perceber que não agia assim com o meu
filho, que a minha maternidade estava completamente vazia e naquele momento
senti o mesmo que Girassol, o nó na garganta. Quantas vezes o meu filho sentiu um
nó na garganta? Quantas vezes eu senti um nó na garganta? Mas ninguém
percebeu, ninguém prestou atenção, eu não olhei para o meu filho e nenhuma outra
pessoa olhou para mim, por isso, essa experiência reflexiva me fez repensar em
muitas atitudes minhas e do outrem.
Essa experiência reflexiva me fez perceber que as minhas atitudes como mãe
não fazia sentido e por isso não compreendia como essa questão poderia me afetar
tanto assim. Não tinha paciência com o meu filho, não conseguia notar como ele
estava se sentindo. Por que eu notei de uma outra criança? Eu passava mais tempo
na escola com outras crianças do que com o meu filho, entendia mais o contexto
aonde eu estava inserida no trabalho do que da minha própria casa, que complicado
isso né? O “susto” da realidade surgiu logo que comecei a me questionar como mãe
e como eu agia diante a formação inicial docente. Foi por causa dessa situação
vivida na escola que pude perceber o que estava acontecendo comigo.
Fiquei reflexiva e muito pensativa, porque tinha em mãos algo tão precioso e
tão profundo, iria começar a escrever sobre a minha vida de dupla jornada e também
sobre como eu estava me sentindo. Mas como eu iria escrever algo que eu nunca
havia comentado com ninguém? Nunca compartilhei essa angustia, esse
sentimento, essa frustração. Não estava com coragem. Não tinha coragem. O medo
de expor tudo o que guardei por tanto tempo ficava apitando na minha cabeça.
A responsabilidade do cuidado com o meu filho era do Pai dele, meu cônjuge,
que passava manhã, tarde e noite sobre os zelos do Pai. Não participei de muitos
momentos importantes da vida do meu filho, como a primeira palavra, o chorinho
manso porque quer um colo, os primeiros passinhos, pois é, eu não estava lá, eu
estava acompanhando outras crianças nos seus desenvolvimentos cognitivos. O que
mais me doía era que eu não conhecia o meu filho, não sabia o que ele gostava, não
sabia qual era a sua comida preferida, não sabia identificar o choro dele, muito
menos do que ele amava brincar, não tinha compreensão nenhuma das
particularidades essenciais do meu próprio filho. Sabe o que significa isso para
uma mãe que está se preparando para futuramente ser Professora e ter cuidados
afetivos com muitas crianças? Acredite, é uma dor inexplicável. Eu sabia da minha
responsabilidade na minha vida materna e na minha vida na formação inicial
docente, mas não entendia o sentido dessas duas vidas estarem supostamente
juntas e não andarem juntas. Que confusão, não é mesmo? Enfim, estagiando em
escolas privadas para ter condições financeiras e aprimorar o meu conhecimento
colocando em prática tudo que aprendia no curso e não conseguir “lidar” com
situações em casa que muitas vezes se pareciam com as que ocorriam na escola.
O filho ficou sob os cuidados do pai, sabia cada detalhe dos sentimentos do
meu filho e logo eu me desesperava não sabendo o que fazer. Eu realmente não
sabia o que fazer. Eu dava tanto colinho na escola para as crianças, brincava com
elas, levava novidades de jogos para que o dia delas fosse mais divertido e sabe o
que eu fazia em casa? Nada. Absolutamente nada. Eu queria fazer exatamente o
mesmo com o meu filho, levar esse lado da docência pra casa, pra ele, brincar,
jogar, fazer atividades diferentes e inovadoras, mas não, não fazia. Esse foi o meu
erro, misturar algo que não deveria misturar, duas vidas, duas medidas, dois lados
diferentes da moeda.
O que observamos é que não obstante as jovens dos dias de hoje tenham
conquistado o espaço universitário e uma maior liberdade no domínio da
sexualidade, quando surpreendidas por uma gravidez não prevista, são
“levadas” a assumir, na esfera da vida íntima, os tradicionais papéis de
gênero. Quando não o fazem, sentem-se culpadas por não corresponder ao
ideário em torno do feminino: aquele que a tudo renuncia para cuidar dos
filhos, mantendo, algumas vezes, quase que inquestionável a posição
masculina diante da experiência conjugal e parental (URPIA E SAMPAIO,
2009, p.38)
Mas enfim, olha eu aqui tendo coragem, pelo simples fato de ter tido uma
conversa em especial com duas colegas de profissão, que são mães, mães que
abrilhantaram meus horizontes e me deram um norte fazendo eu mudar
completamente o destino do meu TCC. Em uma conversa sobre o comportamento
das crianças e como elas nos respeitam, nos escutam e compreendem o que
pedimos a elas, enaltecíamos esse lado da nossa profissão, como era bom essa
conexão com as crianças, como essa relação fazia diferença na nossa prática
enquanto docentes, mas em um certo momento eu expressei o meu sentimento que
guardei por anos, a minha incompetência como mãe, eu falei em alto e bom som
que era uma péssima mãe e como eu poderia ser uma excelente docente? Como
isso era possível?
Foi aí que veio o relato de duas mães docentes que disseram exatamente a mesma
coisa que eu. Concluímos ser péssimas mães e ótimas docentes. No mesmo
instante pensei que poderia trazer essa discussão para a escrita, que também,
poderia trazer os relatos contatos por essas mães docentes e por tantas outras.
Eu já estava pronta para colocar tudo na ponta do lápis. Pois bem, agora
estou aqui escrevendo e introduzindo o que essa pesquisa está apresentando. São
momentos reais e acontecimentos verídicos. Aqui está escrito a minha história
durante esses anos na faculdade acompanhada da jornada de ser mãe.
A maternidade está ligada a um laço afetivo entre mãe e filho que carrega a
dádiva de gerar um outro ser humano dentro do seu ventre. A maternidade é um
processo de aprendizagem constante, de capacitação, de entregar-se por inteiro, de
permitir-se explorar novidades mantendo o foco sempre em tentar, tentar e tentar de
novo até acertar.
Hoje eu me arrependo tanto, mas tanto, porque eu deveria ter ficado com ele,
deveria ter aproveitado ele, eu deveria ter estado junto a ele nas suas estações mais
importantes, só que eu perdi isso, eu perdi, perdi a fase mais rica da vida do meu
filho e essa é uma dor imensurável que ninguém jamais irá entender. O tempo foi
passando e a minha rotina só fazia com o que eu me afastasse ainda mais do meu
filho, eu não tinha mais controle sobre nada, pois chegava em casa e meu filho já
estava dormindo e o meu tempo livre aos finais de semanas eram complicados, eu
tentava de todas as formas entender o meu filho, conhecê-lo, só que alguma coisa
entre eu e ele não deixava termos esse laço. Porque o tempo que me sobrava era
para estar resolvendo as demandas das disciplinas na faculdade, eram tantos
trabalhos, resumos, pesquisas que tinham prazos para ser entregues e a minha
preocupação era entregar na data prevista, porque senão, poderia perder a nota e
não conseguir recuperar depois e consequentemente eu reprovaria na disciplina.
Como eu poderia dar atenção para o meu filho? Com tantas funções para fazer?
Não tinha como.
Uma vez certa criança na sala de aula derrubou um copo com água no chão e
logo eu disse que não tinha problema, limpei e ficou tudo bem. Em casa, aconteceu
a mesma situação, meu filho derrubou água no chão e logo eu gritei dizendo que
tinha avisado para ele cuidar com o copo d’água, acabei brigando com ele e não
ficou tudo bem. Por que para os outros sou paciente e para com o meu filho não?
Porque já estava esgotada, fraca, tensa, não havia outra maneira de me expressar,
por que descontamos a nossa frustação em quem a gente mais ama? Porque temos
a certeza que eles nunca deixarão de nos amar, mesmo quando somos falhas,
mesmo quando estamos impotentes, mesmo assim ainda estão ali por nós e nós por
eles.
A culpa vai aumentando cada vez mais quando essas situações acontecem,
ficamos tão preocupadas com tudo e todos que esquecemos de nos acalmar. É
inevitável não se sentir responsável por todas as vezes que erramos com os nossos
filho. Me desencontrei da vida maternal e me encontrei na vida acadêmica, foquei
nos estudos e por um estante me via longe e tão distante do amor da minha vida, o
meu filho, que sentimento horrível, eu pensava nisso vinte quatro horas por dia,
preciso acalmar o meu coração e não me cobrar tanto, preciso reorganizar a rotina,
preciso estar com o meu filho.
Foi assim que parei para pensar que os meus horários não encaixavam para
estar em casa e aproveitar a minha de ser mãe, no trabalho não existia a
possibilidade de levar o meu filho, muito menos nos estágios, mas na faculdade eu
poderia. E então, eu levava-o, mas aconteceram momentos tão ruins e conturbados
na faculdade que me decepcionaram. Muitas vezes quando levava o meu filho para
a aula comigo não era só porque queria estar com ele, era porque eu precisava e
não tinha alternativa de deixá-lo em outro lugar a não ser estar presente em sala de
aula me acompanhando. Encontrei o vazio da maternidade na formação inicial
docente dessa forma, vivenciando experiências dentro da faculdade.
Flávia: Então, são duas vidas em um corpo só e a gente tem que ter muita lucidez
assim pra distinguir uma da outra, eu demorei acho que, meu filho está com quatro
anos, eu demorei acho que três para parar de me cobrar, para parar de dizer “não”
eu vou errar, eu sou mãe, do Bernardo, eu sou mãe. Eu demorei no mínimo uns três
anos para entender que eu tinha que parar de me cobrar para eu ser uma boa mãe,
eu sou uma boa mãe, eu dou carinho, eu dou educo e eu faço o que eu posso na
medida e na condição que eu tenho, como mãe né.
Raquel: E quando tu falou que demorou três anos, três anos? Para o teu filho. Eu
pensei que sorte a tua, porque acho, o João Pedro está com dez, acho que demorei
uns oito ou nove anos, de verdade.
Essas falas comprovam que ser mãe é se cobrar a cada segundo e que
mesmo depois de muito tempo, paramos de nos cobrar, porque uma hora
entendemos que não precisamos, pois somos mães e fazemos o nosso melhor nas
condições que temos, como a entrevistada Flávia diz.
Raquel: E não ter paciência. E de não conseguir dar conta daquilo. Hoje eu já sei o
que tenho que fazer sabe, eu já sei que vou ter que tá num momento muito tranquilo,
preparo tudo, coisa que a gente já sabe né, mas às vezes não coloca em prática,
enfim. A gente é nós ou é nós ou a gente vai deixar os nossos filhos para outras
pessoas criarem coisa que a gente não quer né. Entende? Então assim, esse
sentimento, anda caminhando, caminha muito junto, esse sentimento de encontro e
desencontro com as nossas práticas com as nossas questões de como mulher,
como mãe, como esposa, como estudante, como professora, sabe, então, é uma
situação bem complicada e desde do início da graduação vai tentando nos podar né,
mas a gente vai lutando contra uma maré bem forte.
Thayne: Não tem como reverter aquilo, exato, porque ele já sentiu, eu fiquei
pensando, porque já aconteceu várias vezes.
Débora: Na minha percepção dói muito mais quando o julgamento, quando o dedo
apontado é de outra mãe. Sabe? Porque gente, tu para e pensa, porque assim, você
é mãe igual a mim. O sentimento é igual ou então porque, dói em mim. Dói muito
mais ver outra mãe apontando os meus defeitos como mãe ao invés de tu acolher e
pensar: poxa, a pessoa agiu dessa forma porque tá desse jeito...
Débora: Dói muito, é muita cobrança excessiva que tem sobre as mães em si só,
seja em qualquer profissão, seja em qualquer ramo que...
Thayne: E já que a gente está falando do foco mãe. Vou fazer a próxima pergunta já
que o enfoque agora está sendo a vida maternal. Vou perguntar para a Débora, que
é a segunda pergunta no caso. Qual é a maior dificuldade em ser mãe? Você sendo
mãe do Henrique, seu filho, a sua opinião, o seu sentimento em relação a isso.
Débora: Olha eu poderia dizer as dificuldades, existem várias, acredito que para
toda mãe, existem várias dificuldades, mas posso falar assim sobre mim, né. Sou
mãe sozinha, sou mãe solo dele, fazem três anos já e eu me emociono. E é muito
difícil, é extremamente difícil ser mãe solo, tu pensa o tempo todo nesses três anos,
todos os dias: eu penso que não sou uma boa mãe. E agora estávamos falando
sobre as lacunas (cobranças), a minha maior dificuldade é que quando meu filho tem
tempo livre ele não quer ficar comigo, entendeu? Ele prefere estar com outras
pessoas do que comigo e isso me fere demais, me dói demais, me machuca demais,
porque eu faço tudo o que está na minha condição sabe, eu tento o tempo todo ser
uma boa mãe, eu tenho muitas cobranças por ele não ter o pai por exemplo, tu tem
que ser mais firme com ele, tu tem que agir dessa forma. As pessoas se acham no
direito de vir dizer como eu tenho que ser com o meu filho, como eu tenho que ser
como mãe. E sabe, isso me incomoda muito, me deixa muito triste, então assim, o
que eu trouxe na outra pergunta que a maioria das pessoas que me julgam são
outras mães, sabe, então assim, não tem esse acolhimento em lugar nenhum. Eu
sempre digo que me considero uma pessoa muito abençoada por ter pessoas
especiais na minha vida que realmente me ajudam, que me acolhem e cuidam de
mim, sabe, porque tu doar a sua vida, porque uma mãe doa a vida, a gente para a
nossa vida para viver a vida do nosso filho para poder dar um futuro bom para ele
para poder fazer tudo isso sabe.
Essa é a dor de uma mãe solo, uma mãe que dá o máximo de si, essa é a
maternidade real, a vida real que nós mães passamos e como machuca saber que
tantas mães passam o mesmo, sentem o mesmo e muitas vezes não tem com quem
contar, não tem com quem desabafar e pedir ajuda. Precisamos olhar para isso,
prestar mais atenção nesses fatores tão cruciais e possibilitar alternativas de apoio.
Débora: E eu cheguei em um nível tão desesperador que eu perguntei pra ele (filho)
“Tu não gosta de mim? Tu não gosta de mim?” entendeu, então tipo, isso é horrível,
sabe, ele disse “Não mãe, não é isso”, mas eu também não posso cobrar dele isso,
entendeu, se eu não me fiz presente. Eu não sei de que forma, tipo, eu não sei se é
o eu sair de casa para poder conquistar o meu, que não faz eu ficar em casa, é uma
loucura, é uma roda gigante, é uma confusão na cabeça, mas ao mesmo tempo se
eu não vou, quem que vai fazer pra mim? Quem que vai trazer pra nós?
Débora: Não, não fecha nunca. Então, ontem ele disse pra mim, comentei com ele
“ai filho, a mãe vai sair da outra loja e a mãe vai ter mais tempo juntos”, aí ele disse
pra mim: “ah, mãe, eu queria que tu ficasse em casa”. Eu expliquei pra ele “filho a
mãe não pode ficar em casa, porque infelizmente não tem quem dê as coisas pra
gente, não, a gente tem que batalhar para conquistar as coisas para a gente poder
fazer o que a gente gosta, tem vontade e a gente tem que trabalhar isso e eu não
quero que tu enxergue a mãe como alguém que não para em casa. Eu que tu possa
ter orgulho de mim lá, no futuro, que eu fiz tudo o que estava no meu alcance para te
fornecer uma vida melhor, te fornecer uma vida boa”, ele ficou pensativo e eu
perguntei se ele entendeu e ele disse que sim. Ai passou, passou, no finalzinho da
tarde e ele veio me abraçou e disse: “mãe, eu tenho muito orgulho, muito, muito
orgulho de ti, porque tu cuida de mim, sozinha, sabe, tu tenta tudo que tu pode”. E
aquilo ali sabe, me destruiu, me encheu de orgulho, é um ciclo, é bem como a
Raquel falou é uma conta que não fecha. Cobrança excessiva em cima de quem é
mãe, não precisa ser assim, não tem que ser assim, a gente vê ai no mundo que tá
tudo bem, mas não é tudo bem na prática, tenho experiência agora e é bem isso a
gente tem paciência para cuidar do filho dos outros e eu não tenho paciência às
vezes com o meu filho, então é muito complicado, essa é uma das dificuldades. Mas
assim, o olhar, não tem esse acolhimento dentro das faculdades por exemplo,
porque eu tenho que arrumar alguém pra ficar com ele para eu poder estudar, eu
consegui agora, a recém agora, então são várias, eu podia citar várias dificuldades
que a gente mãe encontra, mas assim pra mim, é a maior, essa lacuna que fica e
que eu tento o tempo todo preencher e parece que ela não se preenche.
Esse relato da Débora é um depoimento de uma mãe que carrega uma ferida
muito grande, ela demonstra na sua emoção o quanto está machucada, as lágrimas
não puderam ser contidas, ela falava com a voz engasgada, com o olhar triste e
mesmo assim não parou de falar, ela precisava dizer tudo o que sentia e aos poucos
o nó na garganta foi diminuindo. Olha a importância de um acolhimento no ambiente
no qual estudamos, precisamos de uma assistência que nos compreendam, que nos
acolham, nos apoiem e que não nos trate como um “tanto faz”, essa é a análise que
eu trago presenciando esse relato da entrevistada, consideramos o fato de estarmos
vendo as situações acontecerem e ninguém faz absolutamente nada para contribuir
na vida dessas mães, de nós mães.
A Débora ainda continuou a sua fala e comentou algo que me fez chorar e
finalmente pude perceber que esse tema do meu TCC pode caber em outras
histórias de vidas maternas.
Débora: Eu acredito muito, mas que tudo tem que acontecer quando tem que
acontecer e eu assim, tenho me questionado muito sobre isso e quando você
(Thayne) veio falar pra mim sobre, eu aceitei na hora, porque eu pensei, eu preciso
disso, isso foi pra mim, era pra mim. Ouvir e ouvir a experiência, relato, saber que
talvez não seja só comigo que seja com outras pessoas também, não que eu deseje
que as pessoas sintam essa dor que eu sinto, não, é saber que pode ser parecido
para as pessoas.
Raquel: Sim, compartilhar. Admitir isso não é fácil. Admitir que a gente erra, admitir
que a gente não, né, tanto como prof., estudante, mãe, não é fácil admitir. Admitir
que estamos ali cem por cento. Não estamos cem por cento sempre.
Thayne: Ou quando tu vai trabalhar e deixou com alguém. Que tu se preocupa e fala
“será que eu, até que ponto eu sou uma boa mãe? Eu estou aqui trabalhando, mas
meu filho está com outra pessoa”. Eu estou na batalha também, Débora, para
conhecer o Pietro e eu nunca tinha conseguido falar disso, no meu TCC eu trago
isso. Eu não conheço o Pietro, eu descobri agora, pouco tempo, final do ano
passado, qual era a fruta preferida dele, eu vou gaguejar, desculpa, mas acho que
estava entalado na garganta, não queria que ele me visse chorar, porque eu não
consigo, mas o Michel conhece ele, sabe do ele gosta e do que ele não gosta. O
Pietro quando ele era menor ele chorava muito, o Michel reconhecia o choro dele e
eu me frustrava porque eu não conhecia o choro do meu filho, eu perguntava “Por
que ele está chorando? O que ele quer? Eu não estou entendo” E ele não falava, o
Michel ia lá e resolvia. Porque ele cuidava do nosso filho para eu trabalhar e para eu
estudar. Meu Deus, eu não conheço o meu filho, ele nasceu de mim, eu não
conseguia, parecia que eu não tinha amor, e eu amava ele, mas aquele sentimento
de amor não saía. Escutei muitas pessoas falarem que eu maltratava o meu filho,
por simplesmente, deixar ele em casa e só levava-o para a faculdade comigo
quando eu não tinha com quem deixá-lo.
Thayne: Quais são as frases que te deixam frustrada quando comparada ao ser mãe
e ter propriedade sobre a Pedagogia?
Raquel: Eu achei que ia ser a pergunta mais difícil pra mim. Eu estava torcendo que
não fosse, mas essa é a mais fácil. Porque é o que eu ouço desde o início da
graduação, realmente, desde de que o João Pedro era bebê, tinha aquele
questionamento “ah, mas é professora né, está estudando pedagogia” ou senão
“não acredito que uma pedagoga faz isso, coisas nesse sentido assim, sabe.
Sempre me machucavam, mas ao mesmo tempo me impulsionavam a pensar em
refletir realmente sobre a prática, porque quando eu digo que eu ainda estou
naquele processo né, de fazer essa relação mãe e professora, é isso, é ficar
refletindo o tempo todo sobre a nossa prática, tanto quanto, enquanto, mãe e quanto
professora.
Ouvir o meu filho me dizer que não queria ser meu aluno, sabe? Então, isso me
machucou muito, mas esses dias, isso faz tempo que ele falou né, mas esses dias,
na páscoa, vou falar uma coisa boa que aconteceu. Ele me disse assim, eu saí da
escola e estava com alguns chocolates, ele me disse assim: “Bah, mamãe, você
acabou de começar na escola e já ganhou tudo isso de chocolates, imagina quando
te conhecerem melhor, quanto chocolates você ainda não vai ganhar. Vocês
entenderam? Agora eu que vou chorar né. Porque assim, pensar que é possível
sabe, não é impossível pra gente enquanto professora, enquanto mãe, refletir sobre
pensar “eu posso fazer diferente”. Ouvir isso do meu filho que há pouco tempo atrás
falou ao contrário pra mim. Eu pensei “não, mas espera aí, o que eu estou fazendo,
né?” Mas não com um olhar de cobrança, mas não com aquela coisa assim, sabe,
“eu tenho que fazer, eu tenho que ser a melhor, eu tenho que ser diferente”.
Thayne: Foi um processo, né, que tu passou, até você conseguir escutar isso do seu
filho. E qual foi a sensação de quando você escutou?
Raquel: Mas eu disse, mas eu disse, obrigada filho, obrigada, por você ter me dito
isso, porque assim, enquanto estudantes ainda você fica fazendo várias tentativas,
experiências, nossos filhos são nossas cobaias, né? E o João Pedro tem muito
disso, sabe?
A Raquel trouxe em outro comentário a sua realidade vivida dentre todas as
cargas que carregamos de responsabilidades.
Raquel: A gente tem que trabalhar, sei lá, às vezes, sessenta horas, quarenta horas,
trabalhar manhã, de tarde, de noite para ganhar um valor minimamente digno.
Thayne: Exausta.
Raquel: Aí a conta que não fecha, que tu quer trabalhar para poder proporcionar
algo bom, algo, um lazer, uma vida confortável, mas quem vai desfrutar disso?
Porque tu vai estar exausta, tu não vai ter condições.
Raquel: Tu trabalha para poder descansar, mas não descansa, porque tem que
trabalhar.
Thayne: Aí o olhar do seu filho muda sobre você, porque daí ele vai olhar e dizer
“minha mãe valoriza mais o trabalho dela do que a mim”.
Raquel: Essas frases já me machucaram muito, bom, eu sou mais velha que todas
vocês aqui, né gurias, eu tive o João Pedro com vinte e sete anos, ele tá com dez,
façam o cálculo. Então foi assim, um processo, processo dolorido, já chorei muito.
Thayne: Sozinha.
Raquel: Muito. Muito. Muito. Assim, me cobrei “mas, poxa vida, como é que eu não
consigo, como eu consigo na escola e não consigo aqui?”, sabe, ou como “eu
consigo aqui e não consigo na escola”, mas daí quando eu parei de me cobrar tanto
e de compreender que eu sou humana, que eu erro, mas que eu reconhecer o meu
erro já é uma grande coisa. Que nem hoje eu pedi desculpa para o meu filho, daí ele
já me olhou diferente, sabe? Pode ser que tenha machucado ele, provavelmente
machucou quando fui ríspida com ele. Mas ele saber que a mãe dele erra, mas que
tem condições de pedir desculpas e olhar no olho dele.
Débora: Então, eu acredito que é muito importante explicar também né, a gente
explicar, mas assim, isso é cobrança também. Então é um ciclo, entendeu? Quando
não é uma coisa é outra, sabe? Então, acho que é bem isso, nasce a mãe, nasce a
culpa, nasce o sentimento do medo, com certeza, medo, tá ali junto, lado a lado. Tu
é mãe, tu se sente culpada e tu tem medo, tu nunca mais tem um minuto de paz.
Flávia: Mas eu me cobrei muito já. Me cobrei. Me culpei muito. Hoje em dia eu já
tendo não me cobrar tanto. Funciona? Não funciona, mas a gente vai tentando. No
estágio com a Prof. Kelly, teve uma vez que eu chorei na frente dela, porque no
estágio eu não via o Bernardo. Eu saía de manhã, às 7h, eu ia pra van né,
trabalhava com a van antes, então9 umas 6h:15min quando eu saía de casa ele
ainda estava dormindo, ele não tinha um ano ainda, aí eu voltava pra casa às 23h,
depois da faculdade, ele já estava dormindo. Tinha vezes que o Ewerton deixava ele
acordado, tentava deixar ele acordado, só para ver se ele interagia comigo um
pouquinho e logo ele dormia. Teve um dia que eu cheguei lá com a Prof. Kelly e eu
chorei porque eu não estou conseguindo ver o meu filho. Teve um dia que eu fui
entrar em casa e eu errei o bloco, meu bloco era o doze, eu entrei no onze e o meu
marido atrás rindo, porque eu entrei no bloco errado. Essas coisas, esses desafios
ninguém vê na nossa trajetória acadêmica, sabe? Ninguém vê, todo mundo acha
que tu está ali serena, plena, estudando, “ai, é universitária”, mas tem todo um
contexto que no fundo que só a gente sente e que só a gente sabe. E que às vezes
numa conversa assim a gente consegue falar.
Raquel: Se encontrar.
Flávia: Se encontrar é.
Esses relatos são tão íntimos, tão doloridos, é nítido perceber a frustação de
estarem nesse ciclo de culpa e cobrança. Conseguimos falar sobre as nossas
angústias, conseguimos, conseguimos, conseguimos, sem medo de nos julgarem,
totalmente sem medo, demos a nossa cara a tapa, para assim, verem o quanto é
fundamental falar das mães, acadêmicas e trabalhadoras.
Agora finalizo a nossa roda de conversa com uma pergunta em especial, uma
pergunta que sei que irá cativar as outras pessoas. A herança de um sentimento que
você recebe, você herdar um sentimento é muito significativo.
Débora: Eu herdei a persistência, não deu na primeira, não deu na segunda, mas eu
nunca quis desistir também, eu quis viver tudo aquilo, eu quis me propor a sentir os
prazeres da vida profissional e também da vida maternal. Eu fico pensando assim
“eu vou persistir, porque uma hora eu vou conseguir” ter esse sentimento, sentir isso
(relação da Raquel com o filho), o meu filho olhar para mim.
Débora: Exatamente.
Flávia: Eu pensei em várias palavras e uma delas foi resiliência, mas eu acho que a
que está me tocando assim, no meu coração, é amor. Amores diferentes. Amor pelo
meu filho, amor próprio, amor profissional, amor pelo meu horário no trabalho. Amor.
Thayne: Eu queria dizer para as três e isso é do fundo do meu coração, estou
falando de verdade, assim, que foi lindo escutar todo o relato de vocês três, foi lindo
mesmo. De vocês trazerem essa herança que vocês tiveram da maternidade e da
formação inicial docente, o amor, a persistência, essa consciência de estarmos
inacabados, uma realidade. E eu queria dizer que esse momento, aqui e agora, que
eu herdei, desse momento agora que estamos vivenciando, enquanto vocês falavam
eu fiquei, surgiu assim, a compaixão, é diferente de empatia. A empatia a gente se
coloca no lugar no lugar do outro e a compaixão a gente sente o que o outro está
sentindo. E hoje nesse conversa que tivemos, eu senti, eu senti a sua dor, a sua
felicidade, eu senti a sua vontade de querer dizer o que estava acontecendo. Então,
eu senti vocês. E obrigada pelas lágrimas, né, não tem como, foi inevitável, não teve
como evitar, então, meu muito obrigada por terem me dado a oportunidade de sentir
pela primeira vez a compaixão, senti vocês. Obrigada por isso.
Débora: Eu agradeço muito também, porque o nosso olhar com o outro depois
daqui, modifica.
Raquel: Modifica.
Flávia: Sim.
Essa entrevista foi crucial para desenvolver e ter mais embasamento no meu
trabalho, da entrevista, consegui refletir sobre as nossas ações enquanto mães,
percebi que a minha pesquisa cabe para outras mães e o quão falho está sendo o
sistema da UFSM sobre nós, mães.
Esse capítulo irei iniciar com algumas frases pontuais que me fizeram sentir o
vazio da maternidade na formação inicial docente:
Se trabalha, culpada.
Se corrige, culpada.
Se dorme, culpada.
Se chora, culpada.
Se sorri, culpada.
Essas frases são pesadas, não é mesmo? Ter que escrever e ler isso é um
sacrifício muito grande. A culpa que carrego em mim, a culpa que carrego dos
julgamentos alheios, a culpa que carrego da responsabilidade de ser mãe e
estudante, é a sociedade e o tal sistema que impõe sobre mim. A culpa me levou até
um vazio, vazio das duas vidas que eu mais amo e me importo, um vazio triste e
solitário. Chegou o momento de conversamos abertamente sobre isso. As minhas
falas serão fortes e podem ser consideradas tensas, mas é a minha dor falando, é a
dor de uma mãe, e que, ainda, está na sua formação inicial docente, se limitando e
se questionando como o fator maternal interfere na minha formação profissional?
Essa é uma pergunta que fazia diariamente, tentando sempre refletir e conseguir
respostas.
Já escutei tanto as frases (em sala de aula): “Você pode sair, se quiser, para
acalmar o seu filho”, “você pode sair para amamentar”, “se você quiser, pode ir para
casa”, “se quiser, pode passear com ele, depois você volta”. E muitas dessas frases
escutei no início da aula. Saibam que eu pausei apresentações, explicações
importantes, atividades avaliativas em grupos para cuidar do meu filho em sala de
aula, porque ele não conseguia ficar quietinho quatro horas seguidas, ele queria
interagir, era um bebê pequenininho, saía da sala para ir passear no corredor,
levava-o para jantar/amamentar em outro espaço do prédio, saía de hora em hora
para trocar a fralda. Sabe aonde eu trocava o meu filho? Nos bancos dos corredores
da faculdade, pessoas passando o tempo todo observando o que estava fazendo e
eu toda atrapalhada, sem graça, sem jeito, porque é muito difícil trocar fralda em
uma cadeira, pois eu precisava cuidar para o meu filho não cair no chão.
Nesses momentos eu nem me importava com o que as pessoas estavam
pensando, eu tinha que trocar o meu filho, fralda cheia de um bebê incomoda, irrita,
deixa-o muito nervoso e choroso, por isso é necessário trocar, e enquanto isso,
nesse intervalo de tempo sendo mãe na minha realidade materna, perdia vinte
minutos de aula. E o sono? Ah! Pois é. O sono era o mais complicado, porque
demorava para dormir e o barulho das conversas na sala de aula prejudicava a
concentração dele para conseguir descansar. E lá vai eu mais uma vez sair da sala
de aula. Conseguia finalmente fazer o meu filho dormir, ficava no meu colo, eu
sentada na cadeira totalmente reta e tentando escrever, mas não tinha jeito, era
muito complicado, então, tinha que deixar ele no bebê-conforto e adivinha? Ele
acordava. Já teve vezes que tive que levar uma manta e colocá-lo para dormir no
chão da sala, no cantinho, já teve vezes que fiquei mais de uma hora com ele no
colo dormindo, que eu não podia nem me mexer direito.
A universidade poderia fornecer colchonetes para nós que temos filhos e que
muitas vezes não temos com quem deixar. Podia? Certo? Mas não fazem, mas não
pensam nisso e ainda estudamos sobre espaços nas escolas que precisam de um
ambiente aconchegante para as crianças e eu ali com o meu filho desse jeito tendo
apenas o olhar sensível das colegas de turma, pois o Professor que ensina faz o
mesmo que a instituição não ligam e não se importam, claro, não posso generalizar,
porque já tive olhares generosos de professores no curso, poucos, bem poucos,
conto nos dedos se precisar, mas teve vários/tantos que não tiveram empatia
comigo e o meu filho. Esses mesmos professores são os que dizem que precisamos
ter olhares sensíveis sobre a família, a mãe da criança, a mãe que muitas vezes não
tem condições financeiras e psicológicas para suprir as demandas cotidianas em
relação ao filho e que o espaço na escola deve ser preparado para dar apoio à
essas famílias, que devemos trabalhar juntos, escola e família, devemos
compreender aonde a criança está inserida e entender a realidade deles. Como
pode isso? Eu me questionava o tempo todo. Como pode isso? Dizer isso na teoria
e colocar em prática nas escolas, enquanto isso, na jornada acadêmica não temos
esse respaldo, não temos esse apoio e essa compreensão sobre a realidade de
cada acadêmico. Não é possível que vejam as situações acontecendo e não fazem
nada à respeito.
Foi dessa forma que iniciei a minha reflexão sobre o que eu escutava e
aprendia na faculdade e lá dentro mesmo não era feito o que tanto diziam na teoria.
E assim, fui aos poucos me sentido solitária no decorrer dos semestres no curso de
Pedagogia. Eu estudava para me formar como Pedagoga para estar junto às
crianças, mediando saberes e cuidando do desenvolvimento integral delas, aprendia
isso com as teorias e no estágio tentava colocar em prática, mas e a universidade?
Pouco se importava comigo, com outras mães, acadêmicas e trabalhadoras. Nosso
contexto, nossa realidade não fazia diferença, não tinha relevância nenhuma. Parem
para pensar, estamos estudando tantos aspectos lindos no Centro de Educação e
esses mesmos aspectos não podem ser válidos para o nosso tratamento enquanto
estudantes? Isso é algo que doía tanto em mim. Isso dói só de escrever e relembrar.
Não é fácil encontrar pessoas que estejam dispostas a cuidar dos nossos
filhos, não é fácil ter que nos deslocarmos para irmos com nossos filhos até a
faculdade, não é fácil ter que trabalhar o dia todo, ir para a faculdade e chegar em
casa e ainda ter que cumprir as nossas responsabilidades domiciliares e as
demandas estudantis. Ah! Mas é só desistir e pronto. Desistir de garantir um futuro
promissor para a minha família? Jamais. Vou insistir cansada mesmo, exausta
mesmo, esgotada mesmo, porque não temos a opção de ficarmos só estudando,
temos que trabalhar para nos sustentar, sustentar nossos filhos, porque pode ter
certeza que ninguém irá nos dar conforto, ninguém irá nos dar apoio financeiro,
ninguém irá fazer por nós, a não ser nós mesmas.
O Centro de Educação, um espaço criado para atender tantos alunos da
licenciatura e desfalca algo tão necessário que são nossas crianças e nossas
realidades vividas diariamente. Sabe aonde eu tinha que levar o meu filho para se
acalmar? Nos corredores, porque lá fora era sempre fresquinho para ele e podia vir
a se gripar, não tinha nada atrativo, apenas dois brinquedos que eu levava para ele,
até porque não cabia mais nenhum outro brinquedo na mochila, dentro tinha fralda,
pomada, muda de roupas, manta, remédios, documentos e lenço umedecido. Sabe
aonde eu dava a comida (papinha)? No hall de entrada do prédio, porque não tinha
um lugar especifico com uma mesa que eu pudesse dar a janta dele e na sala de
aula não tinha como, era inviável, pelo simples fato do cheiro ou o professor se
sentir incomodado.
Estou cansada, exausta, e sim, falei isso muitas vezes e irei continuar falando
até alguém ouvir, até alguém sentir, até alguém se preocupar e se doar para ter
empatia ao ponto de mudar as coisas para melhorar a jornada acadêmica de uma
mãe, estudante e trabalhadora. Sabe o motivo de ser tão difícil ter essa tripla
jornada? Porque uma faz parte da outra, você estuda na faculdade e em casa,
temos demandas de trabalhos e provas, você trabalha para sustentar a sua família e
só fica pensando em se formar logo para que a sua renda aumente e finalmente
possa vir exercer a sua profissão. Virei madrugadas a fora terminando trabalhos que
durante o dia não podia fazer, porque chegava da faculdade próximo à meia-noite e
o restante do tempo que tinha era a madrugada e no outro dia já acordava cedo para
ir trabalhar. Mas e os finais de semanas? Finais de semana? Eu tinha as minhas
responsabilidades domiciliares, roupas para lavar, minhas e do meu filho, casa para
faxinar, organizar as coisinhas do meu filho e muitas vezes acabava tendo que
trabalhar de freelance porque o estágio remunerado não dava para todas as contas
do mês. Me multiplicava em mil para conseguir dar conta de tudo, é um turbilhão de
compromissos e você não se importa mais com a saúde, bem-estar, descanso, você
só precisa fazer e terminar tudo.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gente escreve e pausa a vida, pausa a vida para uma outra vida, meu filho,
é uma frase iniciada e logo interrompida, mas não prejudica, pelo contrário, alimenta.
Alimenta o amor, o carinho, o afeto. Dizem tanto sobre pausar a vida pelos filhos,
falaremos disso, porque os filhos crescem, isso de certa forma menospreza a minha
dedicação materna, porque a vida de uma mãe é viver eternamente de pausas.
Se você está estudando e escuta “mãe eu quero água, mama, comida”, você
pausa o seu estudando e vai atender o pedido de quem precisa. Se você está no
trabalho e escuta “fiquei doente”, você pausa o seu trabalho e leva quem precisa no
médico. Se você está dormindo e escuta “me nana, faz cafuné, um choro qualquer”,
você pausa o seu sono e dá todo o amor e carinho à quem está pedindo. Essas
pausas são mínimas ao tanto que pausamos a vida pelo nossos filhos, sentimos
tanto isso e nos orgulhamos de pausar tudo que estamos fazendo para nos
dedicarmos a vida materna. A nossa vida materna. Tão intima, tão única, tão
especial, tão fundamental, tão importante, tão nossa.
E mesmo assim, com tantas pausas, somos cobradas vinte e quatro horas por
dia, por todos que estão ao nosso redor, fazendo com o que ficamos numa busca
incessante de sermos melhores e de dar o nosso melhor, mas para o outrem não é o
suficiente, a culpa jogada em cima de nós e pegamos isso, guardamos isso, a culpa
é nossa. Mas, no entanto, no final da minha escrita, tive a certeza, a certeza que
essa culpa não é nossa, não, não, não e não, não é nossa. Eu me culpava tanto e
ainda escrevendo o TCC mantinha esse mesmo pensamento, porém, no final do
último capítulo, essa certeza veio, acabou o julgamento próprio, a cobrança e o
medo, acabaram. Acabou, graças a esse trabalho, graças a minha escrita, o meu
relato e graças as minhas entrevistadas, que, de certa forma, me possibilitou
enxergar ainda mais que eu nunca estive sozinha na vida maternal, acadêmica e
trabalhista.
Eu optava por estudar do que estar com o meu filho, eu optava por ir até a
universidade assistir aula do que assistir o meu filho crescer, eu optava por trabalhar
do que cuidar do meu filho, eu optava em brincar com outras crianças na escola (no
meu trabalho) do que brincar com o meu filho, eu optava por responder uma prova
na sala de aula do que atender um pedido do meu filho em casa, eu optava por estar
presente no meu curso de Pedagogia do que estar presente na vida do meu filho.
Essas são as obrigações que carregamos, nós mães, estudantes e trabalhadoras
não temos rede de apoio. Não temos compreensão. Não termos como deixar de ir
trabalhar, deixar de estudar para ficarmos em casa, nós temos que ir, temos que
garantir o futuro e o conforto para a nossa família.
Portanto, deixo aqui o meu pedido de perdão a única pessoa que merece
ouvir e que sabe que a culpa que carreguei foi por outras pessoas, foi por
julgamentos excessivos e que hoje já não importa mais. Me perdoa filho, por ouvir o
outrem, me perdoa por não ter dado a devida assistência na faculdade a você, por
não ter estado presente quando precisou, por ter errado e falhado. O meu amor por
você vai além do infinito, porque você é o resultado de amor. É o meu grande amor.
Saiba que toda a culpa que eu trouxe até aqui, vai ficar aqui, vai permanecer aqui.
Eu finalmente consegui entender que o que guardei dentro do meu coração de
mágoas, frustações e angústias, já coloquei para fora e não volta a ter mais moradia
em mim. Esse peso não é mais meu, peso este, da sobrecarga, já não me pertence
mais, e só tive certeza disso após a minha pesquisa, após encerrar o
desenvolvimento dos capítulos e reler todo o TCC. Tive a certeza de que a falha
nunca foi minha e nunca será minha.
Esse trabalho foi lindo do início ao fim, foi intenso da primeira palavra ao final
dela. Consegui compreender após todo o desenvolvimento dos capítulos a
importância desse estudo, desse relato, dessa escrita. O quão fundamental é
falarmos sobre o ser mãe, o ser acadêmica e o ser trabalhadora. Encerro assim
essa escrita, essa dor, esse peso, essa culpa, que agora não existem mais, a dor
acabou, o peso sumiu e a culpa não é minha, não é nossa, a culpa é do sistema e
do outrem sobre nós, não devemos nos cobrar, devemos garantir a vida estável dos
nossos filhos, do nosso trabalho e do nosso estudo, cumprir apenas as nossas
responsabilidades enquanto mães, acadêmicas e trabalhadoras.
REFERÊNCIAS
Cury, Augusto. 20 regras de ouro para educar filhos e alunos: como formar
mentes brilhantes na era da ansiedade. 1. ed. – São Paulo: Planeta, 2017.