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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA LICENCIATURA PLENA


NOTURNO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Thayne Thaines de Sousa

DUAS VIDAS. ENCONTROS E DESENCONTROS: O VAZIO DA


MATERNIDADE NA FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE

Santa Maria - RS, Brasil

2022
Thayne Thaines de Sousa

Trabalho de Conclusão de Curso em Pedagogia Licenciatura


Plena Noturno, da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), como requisito parcial para obtenção do grau de
Pedagoga.

Orientadora: Profª Drª Lúcia de Fátima Royes Nunes


Santa Maria - RS, Brasil

2022

RESUMO

DUAS VIDAS. ENCONTROS E DESENCONTROS: O VAZIO DA MATERNIDADE


NA FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE

AUTORA: Thayne Thaines de Sousa

ORIENTADORA: Lúcia de Fátima Royes Nunes

Esta pesquisa entrega toda angústia de uma mãe, acadêmica e trabalhadora, a


mesma mãe que doa a sua vida por outra vida. Nessa escrita longa e intensa existe
a minha dor mais íntima e escondida por anos. Trago em cada capítulo detalhes do
passo a passo da experiência vivenciada por mim. Conto o início da minha vida e a
escolha pelo Curso de Pedagogia, conto também, o incentivo que tive ao decidir o
tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso. O objetivo geral é o de analisar as
decorrências sofridas durante a vida maternal, acadêmica e trabalhista com o intuito
de atingir o máximo de leitores possíveis para compreenderem essas vidas vividas
por tantas mulheres e por mim. Por isso, a metodologia é de abordagem qualitativa,
do tipo participante, entrevistas abertas realizadas com três mães, afim de
proporcionar uma associação na relação da minha vivência pessoal com as
vivências de outras mães, acadêmicas e trabalhadoras. A pesquisa tem como
referencial os estudos das pesquisadoras Urpia e Sampaio (2011) e (2009), Almeida
(2007) e Beltrame e Donelli (2012). A expectativa é sensibilizar as partes que não
estão no entorno da maternidade e obter uma relativa compreensão dessas partes
sobre as nossas necessidades enquanto mães, acadêmicas e trabalhadoras. Como
resultado final da pesquisa, após as entrevistas e os meus relatos pessoais, tive a
oportunidade de refletir as cobranças e as demandas de uma culpa que colocam nas
nossas costas e esse peso nos sobrecarregam, mas finalmente, ao término do
trabalho, posso afirmar que essa culpa não é minha, não é nossa, a culpa é do outro
sobre nós.

Palavras-chave: Maternidade. Encontros. Desencontros.

ABSTRACT

TWO LIVES. MEETINGS AND MISMATCHES: THE VOID OF MOTHERHOOD IN


THE INITIAL TEACHER TRAINING

AUTHOR: Thayne Thaines de Sousa

ADVISOR: Lúcia de Fátima Royes Nunes

This research delivers all the anguish of a mother, academic and hardworking, the
same mother who gives her life for another life. In this long and intense writing there
is my most intimate and hidden pain for years. I bring in each chapter details of the
step by step of the experience experienced by me. I count the beginning of my life
and the choice of pedagogy course, I also count, the incentive I had when deciding
the theme of my Course Completion Work. The general objective is to analyze the
consequences suffered during maternal, academic and labor life in order to reach as
many readers as possible to understand these lives lived by so many women and by
me. Therefore, the methodology is qualitative, participant type, open interviews
conducted with three mothers, in order to provide an association in the relationship of
my personal experience with the experiences of other mothers, academics and
workers. The research has as reference the studies of researchers Urpia and
Sampaio (2011) and (2009), Almeida (2007) and Beltrame and Donelli (2012). The
expectation is to sensitize the parties that are not around motherhood and get a
relative understanding of these parts about our needs as mothers, academics and
workers. As a final result of the research, after the interviews and my personal
accounts, I had the opportunity to reflect the charges and demands of a guilt that put
on our backs and this weight overload us, but finally, at the end of the work, I can
affirm that this is not my fault, it is not ours, it is the other's fault on us.

Key-words: Motherhood. Meetings. Mismatches.

AGRADECIMENTOS

Como poderia deixar de agradecer as pessoas que tornaram o processo da


escrita do meu trabalho tão especial. Existem tantas formas de agradecer e tantos
meios para demonstrar a gratidão, mas nesse instante, os meus agradecimentos
serão registrados no papel. Durante o desenvolvimento da pesquisa, trago, a
dificuldade que tive em escrever sobre a questão mais íntima que guardo comigo por
anos e por causa de uma mulher extraordinária, Lúcia de Fátima Royes Nunes,
finalmente, consegui colocar para fora (de mim) tudo o que eu precisava.
Primeiramente, agradeço à minha orientadora, Lúcia de Fátima, que mudou
os meus planos afim de contribuir com o enredo do trabalho, acreditando ser
possível cativar as pessoas com a minha experiência de vida. A sua maestria me
instruiu a apenas em ir escrevendo, passando para o papel tudo o que eu sentia,
sem estar abordando e/ou focando num tema para o trabalho e seguindo uma
metodologia livre. Foi assim que consegui trazer a história mais linda de força e
superação para esse TCC. Uma mulher que em seu olhar transmite amor e alegria,
fazendo as pessoas que estão ao seu redor quererem ficar mais perto dela, só por
estarem sendo contagiadas com a sua maior riqueza, que é o seu sorriso de 24h por
dia.

Segundamente, agradeço ao meu filho por fazer eu sentir pela primeira vez o
amor incondicional, por me dar todas as chances do mundo, diariamente, sempre
que erro. Agradeço por tornar a minha vida mais calma e agitada, engraçada e
sentida, envolvida e pausada, leve e intensa. Agradeço por continuar me amando
mesmo quando eu sou falha. Agradeço por me fazer a mãe mais feliz do mundo, por
me ensinar a ser forte, a evoluir, a entender o amor maternal e a suportar qualquer
obstáculo. Eu te amo, meu filho, você é uma parte de mim. A minha melhor parte.

Agradeço ao Pai do meu filho, Michel, que as suas maneiras me amparou e


cuidou do nosso filho para que eu não desistisse do meu sonho, sonho este de ser
Pedagoga. Mesmo que às vezes ele não pudesse estar com o nosso filho, nós,
juntos, resolvíamos, dávamos um jeito de conseguir alguém para cuidar ou quando
não tínhamos alternativas levava-o comigo para a faculdade e muitas vezes
deixando de ir trabalhar. Michel, nunca parei para refletir sobre os momentos que
esteve ao meu lado sem cogitar, nenhuma vez, em me abandonar. Você, aguentou
muitas situações por nós, abdicou dos seus sonhos para que eu pudesse viver o
meu e jamais irei esquecer o que fez por mim. Sou eternamente grata, pelos
abraços, pelos conselhos, pelos sacrifícios, pela companhia, pela estadia e pelo
amor que tem por nós (eu e o Pietro). Vocês são os amores da minha vida. Eu te
amo. Te amo por tantos motivos lindos, por ser prestativo, autentico, justo,
engraçado, cuidadoso, família, por me defender, me apoiar e acreditar em mim.
Obrigada por tudo.
Terceiramente, agradeço à minha mãe Elizete, às minhas irmãs Priscilla e
Beatriz, ao meu cunhado Thaislan, à minha Tia Elvira, ao meu Pai Ivan, ao meu
cunhado Guilherme, à minha Concunhada Amanda, à minha comadre Fernanda,
meu compadre Felipe, às minhas amigas Diana e Bruna e aos meus amigos Yuri,
Clóvis e Sérgio por estarem sempre comigo, me aceitarem do jeito que eu sou e
demonstrarem que sentem muito orgulho de mim. Fizeram-se presentes em muitos
momentos importantes na minha vida, me apoiaram e prestigiaram as minhas
vitórias. Vocês, minha família, são a minha base e o meu abrigo. Eu amo cada um
de vocês.

Por último, não menos importante, agradeço às minhas colegas que


aceitaram serem entrevistadas, colaborando com a minha escrita e trazendo suas
vivências cotidianas. Contribuíram com as suas experiências maternais e relataram
suas angústias. Obrigada por terem feito parte desse trabalho. Também quero
agradecer todas às vezes que precisei de auxílio do meu amigo Rogério, meu muito
obrigada.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

UFSM Universidade Federal de Santa Maria


SUMÁRIO

1 – INTRDUÇÃO
1 INTRODUÇÃO

Começo essa escrita contando sobre a melhor escolha que fiz, a escolha que
iria garantir o meu futuro, a escolha que faria a diferença, a escolha que tornaria a
minha vida mais especial. Desde pequena já demonstrava a admiração pela
profissão docente, me dedicava aos estudos e estava sempre disposta a realizar
todas as propostas que meus professores traziam para a sala de aula. Fui
alfabetizada ainda na Educação Infantil aprendendo a ler sozinha e com o auxílio da
minha irmã mais velha aprendi a escrever. No Ensino Fundamental ganhei o título
de melhor aluna, pois entregava os trabalhos antes das datas marcadas, terminava
as provas antes do período de tempo previsto e no mesmo instante ajudava os meus
colegas a terminar suas provas, minhas notas eram altas e normalmente tirava as
notas máximas.

No Ensino Médio eu já tinha decidido qual curso ia fazer, sim, já tinha certeza
do que queria para minha vida profissional, então, me dediquei para que eu pudesse
entrar na faculdade, tendo como maior objetivo passar no vestibular da Universidade
Federal de Santa Maria.

A escolha do curso era Pedagogia, onde eu queria estar e precisava estar,


não sei explicar, mas eu sentia isso, pois me imaginava em sala de aula e ficava
pensando como seria estar junto as crianças. Acreditem, eu me arrepiava e me
emocionava só de estar ali viajando nesse mundinho encantador que é a docência.
Eu sempre amei estar com as crianças, de ensiná-las algo que ainda não sabiam ou
mediá-las de alguma forma, e também, por ter o meu histórico da infância e essa
relação afetiva com os professores e o meu empenho com os estudos acabaram
influenciando ainda mais na escolha do Curso de Pedagogia.

O dia tão esperado chegou, passei no último vestibular da UFSM no ano de


2014, ingressando na faculdade em 2015 no curso de Pedagogia Licenciatura Plena
Noturno. Assim que iniciei as aulas na faculdade já havia entrado com pedido para
fazer estágio remunerado e ter experiências em práticas com a Pedagogia tentando
relacionar a teoria discutida em sala de aula com o cotidiano nas escolas.

Os anos foram passando e tive que dar início ao projeto do TCC pela
disciplina de Metodologia, eu acabei tendo que escolher um tema sem sentir
vontade de escrever sobre, mas fiz porque era necessário aprender como é a
estrutura do TCC. Em 2020 já estava no décimo semestre e teria um tempo
destinado para dar continuidade com o projeto na própria disciplina do TCC, porém,
aquele não era o projeto desejado, não era o que eu realmente gostaria de defender,
então só pensava em mudar o tema. Quando enfim aconteceu o inesperado, a
pandemia, que surgiu e me deixou totalmente impotente, o susto veio e a realidade
financeira e emocional também.

As aulas não seriam mais presenciais, tudo aconteceria de forma


remota, então, a frustação tomou conta de mim, porque eu não poderia acompanhar
as aulas remotas, não tinha tecnologia para isso e a única coisa que me preocupava
era se a comida ia durar até o final do mês. O ano de 2020 foi um aprendizado, tive
tempo para conhecer o meu filho, aprender a economizar e a valorizar o pouco que
temos. E em 2021 recebi uma notícia dos meus pais, eles me dariam um Notebook
para que eu conseguisse concluir o curso e aos poucos pude finalizar as disciplinas
que faltavam e iniciar a escrita do TCC. O tema ainda era um grande empecilho,
mas precisava decidir sobre o que iria defender, então fui orientada da melhor forma
e consegui trazer exatamente o que queria apresentar no meu Trabalho de
Conclusão de Curso.
Pela experiência vivenciada por mim, pude escolher o tema do Trabalho de
Conclusão de Curso. Essa experiência está registrada em minhas memórias, pois
faz parte do meu ciclo acadêmico, da minha prática pedagógica e da minha vida
pessoal. A escolha do tema foi extremamente difícil de pensar, porque muitas vezes
me vi presa em um único assunto e não estava explorando outros. De fato, a minha
escolha se remete ao contexto que eu já queria trazer como discussão, a
importância de dois lados de vida e a diferença que podem fazer no processo do
meu crescimento pessoal e profissional. Mas, por um único motivo não conseguia
escrever nada desse contexto, parecia que estava com um bloqueio de escrita,
minhas ideias na cabeça se movimentavam e para digitar no computador elas se
embaraçavam.

As frustrações, preocupações, anseios e ansiedade por causa da


pandemia se tornaram diárias e conturbavam o meu estado emocional fazendo com
o que minhas prioridades mudassem, ou seja, a “vida acadêmica” era a última
questão a ser trabalhada e as pessoais tornaram-se a primeira.

Tinha alguma coisa que estava me impedido de colocar para fora tudo o que
eu gostaria de escrever, era como se eu não fosse capaz de argumentar e defender
o quanto era fundamental compreender o sentido de ser mãe e futura docente
levando em consideração duas vidas distintas e que ao mesmo tempo estão
entrelaçadas, eu precisava falar disso, provar a importância disso, era fundamental
outras pessoas saberem disso. Assim, parei, pensei, e me perguntei, será que a
escolha do meu tema é relevante aos leitores do meu TCC? Eu sabia que a resposta
era sim, considerando o sentido mais positivo, mas deveria mostrar a mim mesma
que realmente a resposta era sim, pois acredito que muitas pessoas tiveram alguma
experiência incrível com a maternidade e a formação inicial docente.

Fiquei um ano sem escrever, parada no tempo, tempo este que me obriguei a
estar, não tinha tecnologia para acompanhar as aulas remotas e estar presentes nas
atividades acadêmicas. Foram meses difíceis, me via sobrecarregada com as
tarefas de casa e os compromissos com as contas, não havia mais estruturas físicas
e emocionais, estava totalmente sem forças para pensar em qualquer outra coisa
além das minhas obrigações e responsabilidades familiares. Eu sabia que precisava
me dedicar aos estudos para concluir o curso e iniciar o quanto antes a escrita do
TCC, só não imaginava como faria isso.

Após um bom tempo ter passado, chegou o dia de fazer parte da faculdade
novamente e com ajuda dos meus pais pude ter meu notebook para participar das
aulas remotas e finalmente iniciar o projeto do TCC, assim, escolhi a minha
orientadora que pôde contribuir com a sua sabedoria e sensibilidade o desenvolver
do tema do meu TCC. Eu tinha todas as ideias do que eu gostaria de falar, mas não
conseguia elaborar um tema, que complicado, não é mesmo? Pois é, tinha
absolutamente tudo para a escrita, porém, o tema não. Com a ajuda da minha
orientadora, Professora Lúcia, que me orientou para ir escrevendo e colocando
todas as minhas ideias “no papel”, pude relatar tudo o que precisava e deu tão certo
que fiz a escolha do tão problemático tema.

A escolha do tema veio, pelo simples fato de ter conseguido desabafar as


minhas angustias e anseios. Em alguns momentos do meu dia a dia eu voltava no
tempo para relembrar as experiências que tive, então, cheguei à conclusão de que
deveria escrever sobre a maternidade e a formação inicial docente. Todas as
lembranças que eu tinha era referenciada nos encontros e desencontros de duas
vidas, a futura vida profissional e a presente vida materna.

Há alguns anos atrás, engravidei, algo que aconteceu inesperadamente, foi


algo tão impactante, difícil, assustador, pois não estava preparada para o que viria a
partir dessa notícia da gravidez. Todos os dias estava a acompanhar as aulas
presenciais, já grávida, discutindo ações que deveríamos ter na prática como
docentes e por muitas vezes me via planejando que faria o mesmo com o meu filho.

Atentamente prestava atenção em cada palavra dita pelos professores


e em cada texto lido trazia a forma de como agir com a criança, como a envolver e
como mediar o seu conhecimento. E na minha cabeça só imaginava situações que
poderiam acontecer entre eu e o meu filho. Eu me sentia a melhor mãe e futura
docente do universo, me sentia exatamente assim, porque eu tinha uma única
certeza: a maternidade docente mudaria a minha vida do jeito mais lindo e
encantador.

Eu sempre fiz estágio remunerado desde quando iniciei a faculdade e isso fez
com o que abrissem caminhos de conhecimentos repletos de experiências,
aprendizagens valiosas que contribuíram para a minha progressão como
profissional. As teorias pautadas em aulas puderem por várias vezes se fazerem
presentes nas práticas pedagógicas nas escolas, isso facilitava o meu entendimento
sobre o curso de Pedagogia.

A minha rotina diária era casa, estágio e faculdade. Em casa estava somente
no turno da noite apenas para dormir, estágio era durante o dia e final da tarde a
faculdade. Pouco tempo para pensar, pouco tempo para descansar, mas valia a
pena, como valia, cada passo dado era meu futuro e do meu filho garantido. Então,
foi passando o tempo, me via presa em cobranças diárias, eu como mãe e eu como
docente que logo me tornaria a ser. Minha função como mãe estava um caos, eu
como aprendiz da docência estava equilibrada, porém, conseguia misturar essas
duas vidas, porque tentava ser com o meu filho como eu era com as crianças na
escola e pode ter certeza que dava tudo tão errado.

Logo, as frustações surgiam, os medos se manifestaram e o inacreditável


estava acontecendo, eu me rotulei como uma péssima mãe e me denominei uma
ótima futura pedagoga. Como poderia ir de algo ruim para o bom? Eu me
perguntava isso todos os dias e não encontrava nenhuma resposta. A dor que eu
carregava era insuportável, como eu conseguia contornar uma situação na escola
com uma criança e a mesma situação acontecia em casa com o meu filho e eu não
tinha o mesmo resultado? Como isso poderia acontecer? Se funcionava na escola?
Por que não iria funcionar em casa também? Como conseguir compreender essa
situação? Eu vivi por uns três anos sofrendo quieta com isso, sem compartilhar com
ninguém, pois eu sabia que estava sendo apedrejada o tempo inteiro por pessoas do
meu convívio com julgamentos relacionados ao meu curso e a maternidade.

A frase que eu mais escutei durante esse tempo e pode ter certeza que até
hoje se fazem presentes é a de que “Mas você não é professora? Como você lida
com crianças e não sabe lidar com o seu próprio filho?” “Você dá mais importância
para os seus estudos do que para o seu filho” “Suas obrigações com a faculdade
ficam sempre em primeiro lugar e o seu filho em último lugar”. O julgamento vinha de
todos os lados e eu mergulhei nisso me fazendo entender que era verdade o que
diziam. Foi aí que descobri o vazio da maternidade na formação inicial docente, me
vi sozinha, tanto de um lado quanto do outro, me senti impotente, insegura, inútil,
mas eu queria me encontrar novamente, lá no fundo eu queria estar completa
novamente com as minhas duas vidas.

Assim, os desencontros da maternidade docente surgiram de mansinho, já


não fazia mais sentido nada que vinha dos estudos sobre a docência e muito menos
do meu momento materno. Isso se fez presente durante o percurso da faculdade e
foi me afetando cada vez mais, pois a maternidade poderia ter se tornado um
estimulo na minha carreira profissional, mas naquele período estava sendo o
contrário. No artigo publicado por Almeida, L. S. (2007, s/n) afirma que “Os papéis
sociais que a constituem, com suas atribuições e funções, vinculam-se a um sistema
de valores que norteia a concepção do mundo social e o comportamento dos
integrantes familiares nesse mundo”.

O vazio da maternidade na formação inicial docente é exatamente aquele


momento o qual você se sente perdida, como se ninguém pudesse entender o seu
sofrimento e a sua angustia de não ser capaz de exercer duas funções tão
especiais. Carregada de um vazio imenso na prática da formação inicial docente e
maternal, um lugar desabitado, desocupado, falto, privado, totalmente carente e
dolorido.

Dos desencontros para os encontros da maternidade docente, assim, logo,


me deparei com uma situação inesperada no contexto escolar que me fez repensar
e ao menos perceber que devia falar sobre as duas vidas vividas por mim.

A partir do contexto apresentado surge a seguinte problemática de pesquisa:


Por que sentimos o vazio da maternidade e da formação inicial docente se amamos
essas duas vidas?
No decorrer do trabalho será respondido essa questão com o apoio de relatos
pessoais e referenciais teóricos.
Propõe-se como o objetivo geral para esse trabalho: compreender o
comportamento de duas personagens que atuam em duas vidas diferentes com
realidades parecidas, mas ao mesmo tempo distintas, a vida maternal e a vida na
formação inicial docente.
Para tanto, define-se como objetivos específicos:
 Compreender o contexto e a realidade da vivência dessas duas vidas;
 Conhecer as experiências adquiridas nos encontros e desencontros da vida
maternal e da vida na formação inicial docente;
 Entender o porquê existe o vazio nessas duas vidas;
 Analisar os fatores gerados pelas consequências das atuações de duas
personagens representativas (mãe e formação docente) nas relações filho e
discente;
O presente trabalho estrutura-se em nove capítulos: Início com a Introdução,
em seguida a Metodologia e após o Referencial Teórico. Na sequência o capítulo:
Experiência reflexiva: neste capítulo propus refletir sobre uma experiência vivida por
mim. Trouxe muita intensidade e emoção na situação vivenciada e pude transmitir
na escrita os meus sentimentos e as percepções que tive para a escolha do meu
tema. No próximo capítulo: O início da escrita e o entendimento sobre a maternidade
e a formação inicial docente: neste outro capítulo relatei a minha compreensão
maternal junto com a profissional e dei início ao que realmente precisava escrever e
defender. Logo o capítulo seguinte: Duas vidas: Encontros e desencontros: aqui
coloco os anseios e as idas e vindas da maternidade e a formação inicial docente.
Continuando o próximo capítulo: Das emoções sentidas para as falas mais
profundas: trago neste capítulo as entrevistas realizadas para comprovar ainda mais
o quão é importante o tema que trouxe para o meu trabalho. E por fim o último
capítulo: O vazio da maternidade na formação inicial docente, no qual enfatizo o
vazio que existiu por um tempo na realidade materna e na formação inicial docente,
explicando as frustações que aconteceram nessas duas vidas.

2 METODOLOGIA
A metodologia proposta é de abordagem qualitativa, do tipo participante,
possui como instrumento de coleta de dados o diário de campo da acadêmica
entrevistas abertas realizadas com mães que são professoras que trazem seus
relatos vivenciados em suas realidades.

Conforme Minayo (2001) a pesquisa qualitativa envolve diversos significados,


considerando valores, atitudes e relações para o trabalho desenvolvido. A qualidade
do trabalho deve ser pensado em ter um objetivo com significado, para isso
precisamos observar cada momento aparente para termos resultados através das
construções de hipóteses, assim será descrito com clareza as características de
uma determinada situação.

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se


preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.”, por isso a
importância de trazer esse método para a minha pesquisa (MINAYO, 2001,
p. 21 e 22).

Dessa forma, esse método irá contribuir para o desenvolvimento do TCC


mediando a forma de como será mencionado os fatos que aconteceram e que
comprovam a defesa do tema desse trabalho. Por isso, as entrevistas serão
fundamentais para conseguir observar e compreender de forma significada os
relatos das Professoras e acadêmicas na formação inicial docente que são mães e
levam essas duas vidas sozinhas. As informações serão registradas em entrevista
gravada com imagem e áudio autorizadas pelas participantes, para isso, a
necessidade das perguntas é muito importante, pois irá mediar o diálogo para obter
as respostas que possam colaborar com a minha pesquisa. A abordagem qualitativa
traz exatamente esses parâmetros, norteando o modo de como será realizado essa
entrevista, ou seja, investigando acontecimentos com significados considerando as
emoções, sentimentos, interações sociais e ainda interpreta os fatos que ocorrem do
cotidiano das pessoas.

A entrevista será realizada com três mães que estão dispostas a relatarem
suas aflições e felicidades quando se trata das duas vidas que levam, a maternidade
e a formação docente. Estará preparadas as perguntas referentes à essas questões
e as participantes darão suas respostas a partir do que sentirem. As três mães serão
ouvidas e faremos uma roda de conversa para que possam se escutarem.

As perguntas serão norteadoras uma complementando a outra, no entanto,


umas três perguntas para ter a resposta que preciso. Tudo irá ser gravado, pois
estamos prontas para mostrar como nos sentimos, como estamos e o quanto somos
julgadas e o quanto nos julgamos. Por isso, a relevância da metodologia através da
abordagem qualitativa, essa é a ferramenta perfeita para conseguir provar que o
tema escolhido é importante.

O objetivo é trazer outras pessoas para dentro dessa realidade que eu e


muitas mães vivem, assim, essas pessoas podem começar a terem mais
compreensão do nosso contexto, conseguindo muitas vezes demonstrar compaixão
ao entender quando não temos forças para lidar com os nossos filhos mesmo que
estudamos muitas teorias no curso de Pedagogia.

Relatar as realidades vivenciadas por essas mães na formação inicial docente


será fundamental, pois podemos contribuir para que as outras pessoas saibam das
especificidades que nós mães passamos e isso será demonstrado na entrevista. O
intuito é compreender essa realidade maternal para atuarem profissionalmente
trazendo o equilíbrio necessário para as duas vidas que essas mães discentes e em
formação inicial passam. Assim, o questionário norteador fará a diferença no
desenvolvimento do TCC.

As três perguntas serão as seguintes:

1) Nessas duas vidas, a maternal e a sua formação docente, qual o significado para
você dessas duas personagens representativas?
2) Qual a maior dificuldade em ser mãe?
3) Quais são as frases que te deixam frustrada quando comparada ao ser mãe e ter
propriedade sobre a Pedagogia?

Ao final das três perguntas, farei uma em especial, pois é uma pergunta que
estará presente no final do meu TCC e decidi que deveria reformular a pergunta
para que essas mães me respondam com o seu sentimento mais profundo. Segue a
pergunta abaixo:

4) O que você herdou da maternidade e da sua formação docente?

Herdar é uma palavra tão significativa, inevitável não falar dela, você está
adquirindo algo representativo sobre experiências pessoais vividas. A palavra herdar
nesse contexto é totalmente diferente do conhecimento comum sobre ela, aqui
nessa escrita ela tem um significado mais valioso, mais pertinente, mais precioso,
pois trata-se de receber algo tão especial e tão importante.

Essas perguntas terão respostas intensas e inspiradoras. São mulheres


representativas, fortes, guerreiras, potentes que responderão com todo o seu
sentimento a sua particularidade vivenciada em seu cotidiano. As suas falas farão a
diferença para potencializar o desafio que é carregar nas costas essas duas vidas
que muitas vezes são tão próximas e parecidas e outras vezes tão distantes e
diferentes.

Todo o processo de desenvolvimento do trabalho é sensível, assim, trago


tudo com muita cautela, mas não deixo de medir palavras, são fortes os relatos e
impactantes. A entrevista será encerrada logo após a pergunta sobre “o que você
herdou”. As emoções falarão mais alto e o encerramento será incrível.

No decorrer da escrita do TCC os fatores principais dessa entrevista irá ser


relatado conforme o vídeo gravado, na sequência, a continuação dos capítulos. Os
outros capítulos terá uma abordagem de depoimento pessoal, trazendo os fatos
reais de acontecimentos da minha vida particular. Por tanto, em cada capítulo terá
um enfoque, sendo dividido o próprio tema escolhido, explicando cada passo dado
na minha formação inicial docente e a minha vida na maternidade dando ênfase as
minhas heranças e valores. Os contextos abordados, as experiências vividas e os
sentimentos sentidos serão expostos no desenvolvimento do trabalho.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

A discussão de um tema escasso, que é pouco falado, pouco lembrado,


pouco pesquisado, mas ainda, temos aonde encontrá-lo, em alguma pesquisa
realizada por algum autor que precisou falar sobre a maternidade e a formação
inicial docente. Então, trago o referencial teórico a partir do que “vasculhei” no
mundo da leitura de acordo com o tema abordado por mim.

A pesquisa “Mães e universitárias” escrita pelas autoras Ana Maria de Oliveira


Urpia e Sônia Maria Rocha Sampaio no ano de 2011 traz uma narrativa que
fortalece o enredo do meu TCC, potencializando os fatores mais intensos que nós
mães e acadêmicas vivemos. Urpia e Sampaio (2011) aborda uma forma sensível
das duas vidas (maternidade e a formação inicial) trazendo pautas que podem ser
compreendidas facilmente, porque trouxeram mulheres para serem entrevistadas,
mulheres jovens, mães e estudantes, que puderam desabafar e contar como se
sentem, assim, Urpia e Sampaio conseguiram fazer suas análises.

Urpia e Sampaio entenderam que as mães jovens e estudantes passam por


uma experiência complexa, excessiva e por muitas vezes conturbada. Em uma das
suas conclusões após as entrevistas realizadas com as convidadas, elas afirmam
que

Neste primeiro tempo da experiência de tornar-se mãe no


contexto da vida acadêmica, vale sublinhar, as jovens ainda
não têm a dimensão do que significa viver, simultaneamente,
maternidade e vida acadêmica, daí as dúvidas e incertezas,
bem como a ambiguidade de sentimentos. Contudo, em
função das diferentes prescrições de gênero da nossa cultura,
pressentem as responsabilidades futuras que, em geral, ainda
recaem sobre as mulheres, levando-as a recear as mudanças
que experimentarão com o nascimento da criança que se

anuncia (URPIA E SAMPAIO, 20211, p. 157).

Essa conclusão que as autoras fazem tem um sentido, porque vivo na pele
essa situação, esse rótulo e essa obrigação que é nos dada é um fato social e
pessoal, pela cobrança diária que temos, as reponsabilidades aumentam,
consequentemente, muito mais, para a mãe, porque nós queremos manter intactos
os nossos sonhos e sempre tentamos conciliar com os nossos compromissos
pessoais e profissionais. Muitas vezes não temos uma rede de apoio, porque temos
muitas demandas de estudos, casa e trabalho.

A minha rotina era muito complicada, porque eu tinha que ajustar tudo de uma
vez, organizar horários, organizar o lanche na faculdade, o almoço no trabalho e a
janta do meu filho de noite, isso é um exemplo do pouco que eu fazia nas minhas
duas vidas (na maternidade e na formação inicial docente). Você está em sala de
aula com o seu filho nos braços e no mesmo instante ele começa a chorar, você
precisa se retirar da sala, porque o olhar do Professor é de que o choro está
atrapalhando, então, acalma lá fora (perde a explicação do conteúdo da prova) e
volta depois de uns trinta minutos quando estiver tudo sob controle. A gente não tem
controle, a gente já nem tem forças, a gente já está tão cansada, a gente só quer
que nos entendam. Esses são fatos reais, da maternidade real. Urpia e Sampaio
(2011) trazem essa realidade em sua pesquisa.

São muitas as mudanças, envolvendo um verdadeiro processo de


reconstrução do self para abarcar não apenas a nova posição: a de
mãe, mas para refazer uma outra – a de universitária – que vinha se
construindo dentro de um determinado padrão, e que, após o
nascimento do filho, precisa adequar-se à nova situação (URPIA E
SAMPAIO, 2011, p. 160).

Ter que se transformar, se reformular, se adaptar ao novo, é um momento muito


difícil para uma mulher, sair de um lugar aonde você se dedica apenas a uma função
e de repente necessita dedicar-se a outra, frustra, principalmente, se for um papel
tão importante como o de ser mãe. Você está garantindo o seu futuro e garantindo o
futuro de uma outra pessoa que depende unicamente de você.

Urpia e Sampaio (2009) traz como reflexão e discussão os desafios


encarados pela maternidade e pela formação inicial, aprofundando os fatos dessas
duas vidas que caminham juntas, mas que por consequências acabam causando
desvantagens, o cansaço físico e o cansaço mental vão falando mais alto, porque a
mulher (mãe e discente) pausa aos poucos essa dupla jornada para conseguir dar
conta das demandas que ambas exigem. O olhar do “outro”, dos arredores, são por
muitas vezes de julgamento, olhares que apontam e ferem, porque se você não
consegue dar “conta” da rotina e dos dois papéis que você possui, você torna-se
incapaz, torna-se inútil, torna-se insuficiente ao olhar do outrem. Urpia e Sampaio
também comenta que,

No conjunto dessas expectativas, destaca-se a formação acadêmica, que


poderia lhes garantir um futuro promissor, além de funcionar como
importante motor da mobilidade social da jovem e de sua família. Ao
contrário do que acontecia com as gerações precedentes, o esperado hoje
para as jovens mulheres é que, no mínimo, elas concluam os estudos e
conquistem uma profissão. Embora a maternidade ainda esteja vinculada às
expectativas sociais em torno da “figura feminina”, a conclusão dos estudos
parece constituir-se, hoje, em um requisito mínimo para que ela ocorra
(URPIA E SAMPAIO, 2009, p. 35)

Assim, sabemos que a sociedade e as pessoas que convivem, sem generalizar,


diminuem essa vida dupla e não fazem questão de compreenderem esse posto que
carregamos nas nossas costas diariamente.

Em maio de 2019, Elaine Costa, bióloga, escreveu um artigo comentando


sobre a maternidade e a vida acadêmica no site da Eureka Consultoria Acadêmica,
colocando o seu ponto de vista sobre esse tema. Em uma de suas falas, Elaine, diz
que

[..]As atribuições profissionais, são fontes importantes de aumento da


autoestima e realização pessoal. Poder estudar, se especializar e ter
uma profissão é algo muito difícil para uma mãe. Não é à toa que
temos pouquíssimas mães em posições profissionais de
comando/liderança. É sempre uma escolha, ou se é uma boa mãe, ou
uma boa profissional. No meio acadêmico isso é ainda pior. A rotina
de pesquisa, aulas, e toda a carga que existe dentro desse ambiente,
quase que engole a função mãe. Isso porque como em muitos outros
meios profissionais, esse ambiente não foi feito para receber mães,
afinal, mães devem cuidar de filhos, e não, fazer ciência [...] (2019, p.
s/n).

Elaine Costa trouxe uma questão muito importante para ser questionada, pois o fato
de uma acadêmica torna-se mãe dificulta os seus estudos e suas prioridades, mas
não impede-a de realizar-se profissionalmente, mesmo que ainda sofra com rótulos
criados pela sociedade.

Esse fato trazido pela Elaine Costa no seu depoimento para Eureka
Consultoria Acadêmica em 2019, reflete muito na culpa que a mãe na sua formação
inicial carrega consigo. Elaine Costa ainda afirma que “É bem nesse ponto que entra
a “culpabilização” da mulher. Escolher ter uma vida fora das vivências ininterruptas
da maternidade implica necessariamente em ser uma mãe ruim”. Sabemos que não
somos mães ruins, mas a culpa faz com o que nos sentimos assim.
Em dezembro de 2007, Leila Shances Almeida, escreveu uma pesquisa sobre
Mãe, Cuidadora e Trabalhadora: As múltiplas identidades de mães que trabalham,
nessa pesquisa ela consegue explicar com bases teóricas de que existem muitas
mulheres mães que estão em fases de sobrecargas, pois está enraizado na
sociedade histórico-cultural o trabalho e a maternidade da mulher. “Os valores
sociais associados ao trabalho, à maternidade e aos cuidados infantis fazem parte
de um vasto conjunto de significados historicamente produzidos e constituem a
matriz sócio-histórica do sujeito” (Almeida, L.S., 2007, p. s/n).

Almeida (2007) ainda afirma que as questões cotidianas do trabalho e da


maternidade tem um peso significativo na vida pessoal e profissional de uma mãe,
pois as demandas são grandes e é necessário ter discernimento para executar tudo
com êxito. O fato sócio-histórico dessas mães conforme traz Almeida (2007),
limitam as opções de construção e escolhas que elas podem fazer, porque reflete
sempre nas suas prioridades entre o trabalho e a maternidade. Nós, mães, sabemos
o quanto estar nessa posição é complicada, temos nossas obrigações e ainda sim
precisamos fazer escolhas para conseguir nos organizarmos na rotina do dia-a-dia,
assim, notamos a nossa importância na sociedade, notamos que com tantas tarefas,
concluímos tudo no final do dia.

O poema “Mãe” de Mário Quintana introduz e afirma sobre o que Almeida


(2007) diz.

MÃE...

São três letras apenas,

As desse nome bendito:

Três letrinhas, nada mais...

E nelas cabe o infinito

E palavra tão pequena

Confessam mesmo os ateus

És do tamanho do céu

E apenas menos do que Deus!


Para louvar a nossa mãe,

Todo bem que se disser

Nunca há de ser tão grande

Como o bem que ela nos quer.

Palavra tão pequenina,

Bem sabem os lábios meus

Que és do tamanho do CÉU

E apenas menor que Deus!

(Mário Quintana, 1906 - 1994)

A importância da maternidade na vida de uma pessoa é fundamental, esse


papel faz a diferença no contexto que as pessoas estão inseridas. As três palavras
que compõe mãe e céu no poema escrito por Mário Quintana consiste em dizer que
essas duas palavras tão pequenas cabem o infinito. O amor incondicional de uma
mãe e o espaço indeterminado do céu é infinito, o amor nunca acaba, nunca, jamais.
Nós, mães, nos doamos por inteiro, pausamos nossa vida para cuidar de outra vida,
estamos prontas e preparadas para absolutamente tudo o que vier da maternidade,
mas é sufocante quando o externo atinge o espaço materno, pois as nossas
obrigações familiares e a correria cotidiana influenciam muito nas estratégias que
criamos para nos mantermos bem e organizadas.

Conforme no artigo publicado por Beltrame e Donelli (2012, p. s/n),

As concepções a respeito da maternidade e da carreira fazem com que as


mães criem estratégias nesses dois ambientes para conciliar os múltiplos
papéis. Os estudos apontam que a crença da mãe como única capaz de
cuidar do filho traz sentimentos de ansiedade e insatisfação na mulher. Já a
supervalorização da carreira gera medo de provocar a falta excessiva ao
bebê e uma terceirização demasiada dos cuidados com a criança.
Esse papel que cumpre a maternidade pode gerar conflitos internos e
externos, pois a exigência aumenta ao passar o tempo. A mãe é a única que é
capaz de cuidar do filho de acordo com a Beltrame e Donelli (2012), essa é a maior
responsabilidade e como dividir isso com o trabalho ou os compromissos com os
estudos? Seria exatamente esse o gatilho da minha frustação. Essa frustação reflete
na atuação na vida materna e na minha formação inicial docente. Por esse motivo,
escrevo esse trabalho, trazendo esses lados que muitas pessoas não veem.

A compreensão se torna mais difícil a partir do momento que outras pessoas


presenciam ações das mães que estão na formação inicial docente e trazem
julgamentos inválidos sobre a relação da mãe e da acadêmica com as crianças do
seu contexto. “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação
Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blablablá e a prática, ativismo.
(FREIRE, 1996, p. 24)”

Penso que essa frase cabe à minha escrita, pois repenso a prática
pedagógica tanto no ambiente escolar (nos estágios que fazia) ou em casa com o
meu filho. Paulo Freire (1996) em sua obra sobre a Pedagogia da Autonomia traz
uma leitura na relação da nossa prática enquanto futuros educadores. Essa
retomada de saberes é fundamental para que eu compreenda e tenha discernimento
para separar as duas vidas que levo, a de mãe e a da formação inicial docente. É
preciso entender que estou me dedicando à duas carreiras que são muito
representativas. A mãe e à docência.

4 EXPERIÊNCIA REFLEXIVA

Na sala de aula da turma 5A de educação infantil, estava brincando de


entrevistar duas atrizes. A brincadeira surgiu a partir de uma ideia que eu tive,
peguei o microfone que tinha na sala, convidei duas crianças para poder brincar
comigo, prontamente elas aceitaram e então pediram para serem atrizes que seriam
entrevistadas por mim. A Flor e Girassol se sentiram confortáveis e animadas para
brincar. Na brincadeira a Flor e a Girassol teriam que responder as perguntas que
eu, como repórter, iria fazer. O diálogo iniciou assim:
- Bom dia para quem me assiste. Estou aqui com duas incríveis atrizes e iremos
saber um pouquinho sobre a vida pessoal delas. Como vocês estão Flor e Girassol?

- Estamos bem.

- Vou começar a perguntar para a Flor. Flor, o que significa a sua família para você?

- A minha família é a coisa mais especial que eu tenho.

Nesse momento a Girassol encheu os olhos de lágrimas ao ouvir a minha


pergunta e a resposta da Flor, o sentimento dela está apertado, eu percebi no
mesmo instante que olhei para ela. Para que a Girassol não ficasse constrangida,
resolvi continuar a brincadeira.

- E para você Girassol, o que significa a sua família?


- É tudo pra mim.

Ela segurou o choro e disfarçou para que ninguém percebesse o que ela
estava sentindo.

- O que vocês mais gostam de fazer?


- Gostamos de brincar.
- E o que mais?
A Girassol respondeu que era ficar em casa brincando com a sua família.

- Eu amo brincar com a minha família em casa.

E o choro finalmente veio e a brincadeira parou por ali.

A Girassol ficou chorando na minha frente sem parar, a chamei para irmos até
o jardim interno da escola para conversarmos. Eu perguntava o que havia
acontecido e ela não queria me contar, não conseguia parar de chorar. Então, sentei
no chão e dei colo e um abraço bem apertado até que ela se acalmasse.

O tempo não passou muito e a Girassol conseguiu ficar mais calma, assim,
pude conversar abertamente com ela, mas não tive respostas, a não ser que ela
estava com muita dor de garganta. Girassol estava há mais ou menos duas
semanas sem querer participar das atividades realizadas em aula, sem interagir,
uma postura introspectiva, se alimentando pouco e brincando apenas com a sua
melhor amiga flor. Todas as Professoras e Estagiárias achavam que seria porque o
ano estava acabando, mas não era isso.

Chamei a coordenadora da escola e contei o ocorrido e então fui


surpreendida por um olhar tão sensível que me fez querer aprender ainda mais
sobre como identificar quando uma criança precisa de ajuda para lidar com os seus
sentimentos.

A minha coordenadora me disse logo em seguida do meu relato sobre a


Girassol:

- Você sabe o que é a dor de garganta dela?


- Não sei, mas ela disse que está, só que tenho a impressão que não seja, pois
o choro é tão intenso que acredito que a dor seja outra. Eu dei colo a ela, a
abracei e fiquei um bom tempo junto a ela. Só queria aquecer o coraçãozinho
dela, porque parecia estar desesperado. Posso estar errada, mas só me
preocupei com o que ela está sentindo, de verdade mesmo. Se puder só
investigar o que ela tem, eu ficarei mais aliviada. Ela não quer me contar e eu
não quero ficar pressionando, por isso, vim te contar e pedir ajuda.
- Pelo o que você me contou da entrevista e do início do choro, essa dor de
garganta na verdade é aquele nó na garganta que dá quando temos
sentimentos profundos guardados e não compartilhados com ninguém.
- Eu sei o que é, já tive esse nó várias vezes e é uma dor insuportável.
- Exatamente, por isso, vou ligar para os pais e conversar com eles para saber
se aconteceu recentemente alguma situação em casa que possa ter a
deixado assim.
No fim das contas, os pais foram até a escola e conversaram com a
coordenadora. Após a conversa deles, fui chamada na sala da coordenadora. A
coordenadora me parabenizou por ter tido um olhar mais sensível ao ponto de
perceber que aquele choro não era de dor de garganta e sim pelo fato da irmã mais
velha dela estar indo embora.

A Girassol tinha uma irmã mais velha que fazia companhia, brincava e
cuidava dela, mas no momento estava indo embora e foi aí que desabou o mundo
da Girassol. Ela não queria contar a sua dor para ninguém, iria segurar isso sozinha,
uma criança ia segurar sozinha uma dor de ficar longe de alguém que ama, isso foi
muito triste de ouvir e saber. Dessa forma, parei para pensar em quantas crianças
se sentiam assim, quantas crianças passavam por isso diariamente e não
compartilhavam suas frustrações por não saber lidar com os seus sentimentos.

Esse foi um ponto crucial para eu perceber que não agia assim com o meu
filho, que a minha maternidade estava completamente vazia e naquele momento
senti o mesmo que Girassol, o nó na garganta. Quantas vezes o meu filho sentiu um
nó na garganta? Quantas vezes eu senti um nó na garganta? Mas ninguém
percebeu, ninguém prestou atenção, eu não olhei para o meu filho e nenhuma outra
pessoa olhou para mim, por isso, essa experiência reflexiva me fez repensar em
muitas atitudes minhas e do outrem.

A maternidade na formação inicial docente virou um empecilho, pois lá estava


eu a ter um olhar sensível com uma criança e com a minha criança não conseguia
ter esse mesmo cuidado. Porque eu estava sobrecarregada. Sobrecarregada.
Tarefas, tarefas e tarefas. Não conseguia tempo para parar e notar o que acontecia
na minha volta, só cumpria os meus deveres e tentava atender as necessidades do
meu filho. Qual caminho eu me encontrava? Iniciou aqui o desencontro tão temido
por mim? Ou o encontro que eu buscava? Pois é, a partir dessas três perguntas
cheguei à conclusão de que deu-se início aos encontros e desencontros das duas
vidas vividas por mim.

Essa experiência reflexiva me fez perceber que as minhas atitudes como mãe
não fazia sentido e por isso não compreendia como essa questão poderia me afetar
tanto assim. Não tinha paciência com o meu filho, não conseguia notar como ele
estava se sentindo. Por que eu notei de uma outra criança? Eu passava mais tempo
na escola com outras crianças do que com o meu filho, entendia mais o contexto
aonde eu estava inserida no trabalho do que da minha própria casa, que complicado
isso né? O “susto” da realidade surgiu logo que comecei a me questionar como mãe
e como eu agia diante a formação inicial docente. Foi por causa dessa situação
vivida na escola que pude perceber o que estava acontecendo comigo.

Fiquei reflexiva e muito pensativa, porque tinha em mãos algo tão precioso e
tão profundo, iria começar a escrever sobre a minha vida de dupla jornada e também
sobre como eu estava me sentindo. Mas como eu iria escrever algo que eu nunca
havia comentado com ninguém? Nunca compartilhei essa angustia, esse
sentimento, essa frustração. Não estava com coragem. Não tinha coragem. O medo
de expor tudo o que guardei por tanto tempo ficava apitando na minha cabeça.

As pessoas saberiam que eu fracassei como mãe? Que eu fracassei como


uma futura pedagoga? Eu coloquei na ponta do lápis os dois lados da moeda, o bom
e o ruim, e sinceramente, só enxergava o ruim, porém, tinha alguma coisa que
estava falando mais alto, tão forte, parecia que eu tinha que compartilhar com outras
pessoas tudo aquilo que estava vivendo. E foi aí que reparei na possibilidade de ter
outras mães e futuras pedagogas na mesma situação que minha, mas também,
fiquei com a dúvida de que: E se não houvessem outras mães? E se eu estivesse
sozinha nessa situação? E se as pessoas que lessem a minha escrita me
julgassem? Ficou ainda mais difícil falar sobre isso.

Diante de uma gravidez, sempre nos perguntamos: como será o bebê?


Tomara que venha com saúde! Será que a gravidez vai ser tranquila? Como
vou conciliar minhas atividades com as necessidades do bebê?
Pensamentos como estes fazem parte dos processos de transição para a
maternidade. No caso da jovem que é universitária e que não planejou
tornar-se mãe naquele período de sua vida, as interrogações e apreensões
parecem muitas; afinal, toda a sua rotina irá mudar a partir daquele
momento. Elas só não sabem qual será a dimensão dessa mudança e que
repercussões terá em seus projetos de formação, um dos motivos dos
conflitos intrapsicológicos que vivenciam (URPIA E SAMPAIO, 2009, p. 34)
A escolha para eu estar aqui escrevendo, foi a decisão mais conturbadora
que tomei, não era o meu objetivo principal expor tanto a minha vida pessoal assim,
mas tive a certeza que era necessário. A partir do momento que experimentei
observar o acontecimento na escola com aquela criança, refleti e consegui chegar a
uma conclusão. Agora essa reflexão virou tema do meu TCC e finalmente estou
compartilhando os meus segredos mais íntimos e sombrios com outras pessoas.

5 O INICIO DA ESCRITA E O ENTENDIMENTO SOBRE A MATERNIDADE NA


FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE

A maternidade na formação inicial docente remete à nada mais nada menos


do que se fazer presente por inteiro em vidas de crianças puras que buscam
conhecimento mutuo, amor, experiências, descobertas, vivências e aprendizagens
lúdicas. Essas vidas estão prontas para trabalharem e descobrirem suas
personalidades, singularidades, particularidades e só necessitam de um mediador, a
mãe da maternidade mediando o seu filho e a docente mediando as suas crianças
na escola.

Na faculdade, pude fazer comparações entre a maternidade e à docência,


assim, tive a maior certeza da minha escrita para o TCC, mas existia muito medo em
mim, falar sobre esse assunto era como se fosse um tabu, por isso não iria
desenvolver o meu TCC trazendo essas questões como foco. Mas, nas aulas da
disciplina de Jogo Teatral pude trabalhar questões expressionais e corporais que
fizeram despertar o meu melhor lado. Por isso, trago aqui um relato pessoal e
doloroso para dizer, mesmo que não tenha compartilhado e nem desabafado com
ninguém, eu finalmente me sinto segura para dividir com os meus leitores o que irei
escrever agora.

A disciplina de Jogo Teatral era toda sexta-feira e no decorrer da semana


estava tendo outras disciplinas durante à noite. Nos outros turnos manhã e tarde,
trabalhava e fazia estágio remunerado. Passei um semestre muito difícil, conturbado
de altos e baixos, de cobranças diárias e de julgamentos diários sobre o meu
pertencimento maternal.

A semana era corrida, seis horas da manhã em pé e retornava para casa


passada a meia-noite, não curtia minha família e muito menos o meu filho, pois
todas às vezes que chegava de noite em casa ou saía bem cedo pela manhã ele já
estava dormindo, sempre dormindo. Algumas vezes levava-o para a faculdade
comigo, mas não dava muito certo, pois não tinha nada atrativo nas salas de aula,
não conseguia amamentar direto porque não tinha acomodações e a cadeira da sala
de aula era desconfortável, não tinha trocador nos banheiros, então me virava para
trocar o meu filho no sofá do hall de entrada do prédio com as pessoas passando e
olhando, umas demonstravam desgosto e outras me olhavam com pena. Não tinha
muita alternativa, se meu filho chorava na sala de aula, saía para acalmar, se ele
ficava correndo e gritando na sala, saía do meu lugar e colocava-o sentando várias
vezes até ele entender que era necessário estar quietinho enquanto o professor
dava a aula. Foi assim também em provas e apresentações de trabalho. Isso doía
em mim. Doía tanto em mim. A faculdade não tinha um olhar sensível com as mães,
estudantes e trabalhadoras.

A responsabilidade do cuidado com o meu filho era do Pai dele, meu cônjuge,
que passava manhã, tarde e noite sobre os zelos do Pai. Não participei de muitos
momentos importantes da vida do meu filho, como a primeira palavra, o chorinho
manso porque quer um colo, os primeiros passinhos, pois é, eu não estava lá, eu
estava acompanhando outras crianças nos seus desenvolvimentos cognitivos. O que
mais me doía era que eu não conhecia o meu filho, não sabia o que ele gostava, não
sabia qual era a sua comida preferida, não sabia identificar o choro dele, muito
menos do que ele amava brincar, não tinha compreensão nenhuma das
particularidades essenciais do meu próprio filho. Sabe o que significa isso para
uma mãe que está se preparando para futuramente ser Professora e ter cuidados
afetivos com muitas crianças? Acredite, é uma dor inexplicável. Eu sabia da minha
responsabilidade na minha vida materna e na minha vida na formação inicial
docente, mas não entendia o sentido dessas duas vidas estarem supostamente
juntas e não andarem juntas. Que confusão, não é mesmo? Enfim, estagiando em
escolas privadas para ter condições financeiras e aprimorar o meu conhecimento
colocando em prática tudo que aprendia no curso e não conseguir “lidar” com
situações em casa que muitas vezes se pareciam com as que ocorriam na escola.

O filho ficou sob os cuidados do pai, sabia cada detalhe dos sentimentos do
meu filho e logo eu me desesperava não sabendo o que fazer. Eu realmente não
sabia o que fazer. Eu dava tanto colinho na escola para as crianças, brincava com
elas, levava novidades de jogos para que o dia delas fosse mais divertido e sabe o
que eu fazia em casa? Nada. Absolutamente nada. Eu queria fazer exatamente o
mesmo com o meu filho, levar esse lado da docência pra casa, pra ele, brincar,
jogar, fazer atividades diferentes e inovadoras, mas não, não fazia. Esse foi o meu
erro, misturar algo que não deveria misturar, duas vidas, duas medidas, dois lados
diferentes da moeda.

O que observamos é que não obstante as jovens dos dias de hoje tenham
conquistado o espaço universitário e uma maior liberdade no domínio da
sexualidade, quando surpreendidas por uma gravidez não prevista, são
“levadas” a assumir, na esfera da vida íntima, os tradicionais papéis de
gênero. Quando não o fazem, sentem-se culpadas por não corresponder ao
ideário em torno do feminino: aquele que a tudo renuncia para cuidar dos
filhos, mantendo, algumas vezes, quase que inquestionável a posição
masculina diante da experiência conjugal e parental (URPIA E SAMPAIO,
2009, p.38)

O estágio durante o turno da manhã não foi legal, já estava desanimada,


porque perdi o brilho materno em casa e consequentemente perdi o da docência.
Comecei a levar marteladas de pessoas com mais autoridade e abaixava a cabeça
sempre, única coisa que salvava o meu dia era as crianças, o meu filho quando
dormia em meus braços e a sexta-feira à noite na aula de Jogo Teatral da
Professora Lúcia. Minha vida entrou em uma rotina de repetições, tudo que eu fazia
era no automático, sem perspectiva, sem expectativas.

Aos finais de semana era em volta do planejamento e relatório, dos trabalhos


das outras disciplinas e aproveitar o meu filho. Mas eu aproveitava meu filho
mesmo? Na minha "cabeça" sim, mas nas atitudes não. Eu deixei a minha paciência,
o meu corpo cansado falava e eu não respondia mais. Me desencontrei da
maternidade docente e pensando seriamente em desistir de tudo, do curso que era
tanto o que sonhava, de ser mãe que era tanto o que também sonhava.

As concepções a respeito da maternidade e da carreira fazem com que as


mães criem estratégias nesses dois ambientes para conciliar os múltiplos
papéis. Os estudos apontam que a crença da mãe como única capaz de
cuidar do filho traz sentimentos de ansiedade e insatisfação na mulher. Já a
supervalorização da carreira gera medo de provocar a falta excessiva ao
bebê e uma terceirização demasiada dos cuidados com a criança
(BELTRAME e DONELLI, 2012, p. s/n).

Eu realizei os meus dois maiores sonhos e estava me decepcionando com os


dois. Que dor, que dor imensurável. Esse semestre me marcava e talvez estivesse
me fazendo ficar mais forte, pronta para o que viesse. Só que naquele semestre
haviam certas “coisas” que ainda me afetavam e foi justamente porque não
conseguia resolver os meus problemas familiares, maternos, profissionais. Já estava
sem me alimentar direito (às vezes fazendo apenas uma refeição no dia, por não ter
dinheiro, por não ter tempo), sem dormir o suficiente, sem descansar e me
massacrando para ser uma ótima mãe e ao mesmo tempo uma ótima estudante
para conseguir me formar. Seria dessa forma que garantiria o meu futuro e o do meu
filho.

As minhas dores eram nítidas, meu olhar de cansaço e esgotamento diziam


por si só. Isso foi tão difícil pra mim. Eu pedia para terem mais paciência, pedia para
terem mais compreensão, pedia ajuda e não tinha resposta, isso na faculdade e em
casa. Meu corpo implorava por socorro, mas já não tinha mais forças. E foi aí que
durante o estágio passei por uma situação desagradável, piorando a situação que eu
me encontrava.

Durante o intervalo das crianças na escola aonde eu estagiava, recebi uma


bomba. Estava a brincar com as crianças no pátio da escola, quando percebi que
havia uma criança me olhando fixamente de longe, então, decidi ir até ela e a
chamar para brincar comigo e as outras crianças, mas o inesperado aconteceu e um
relato de apenas uma frase me paralisou no tempo. A criança estava sendo
violentada e abusada por seu próprio pai, isso me destruiu tanto, porque não escutei
como estagiária, escutei como mãe e ser humano, aquilo foi horrível de ouvir, eu só
queria tirar aquela criança de seis anos dali e levar embora comigo para proteger,
amar e dar carinho. Eu tomei as devidas providencias pelo ocorrido, fiz a denúncia
anonimamente e mesmo assim não me sentia bem. Eu cheguei em casa naquele
mesmo dia e só queria ficar agarrada com o meu filho.
No outro dia tinha aula de Jogo Teatral com a Professora Lúcia e para minha
surpresa ela recebeu a turma do melhor jeito possível, o jeitinho mais prazeroso do
mundo nas suas aulas, trazendo um jogo para a minha turma, ela nos reuniu e pediu
para que formássemos uma roda, fizemos o que foi pedido e então ela
simplesmente me olhou e perguntou:

- Compartilhe nessa roda algo que você precise dizer.

Então meus olhos brilharam, eu chorei e contei o que aconteceu no dia


anterior. Foi algo tão especial aquele momento, foi um alivio tão grande. Que nas
palavras ditas pela minha Professora Lúcia, eu era importante na vida das crianças e
do meu filho, eu era uma peça fundamental na vida delas e pela primeira vez
acreditei fielmente nas lindas palavras ditas por ela. Após a roda de conversa,
brincamos, jogamos, nos divertimos e naquele semestre os melhores dias se
tornaram as sextas-feiras, pois acontecia a melhor aula ministrada pela melhor
professora na melhor disciplina.
Os jogos da disciplina de Jogo Teatral faziam transbordar as minhas
emoções, fazia eu me sentir capaz, competente, empoderada, resistente, resiliente.
Os jogos envolviam todas as minhas habilidades trabalhando de forma coerente
para que pudesse aprimorá-las. Cada jogo tinha um objetivo com o intuito de
aperfeiçoar o que eu tinha de melhor e em um desses jogos foi onde pude desabafar
com todas as minhas colegas e professora a minha dor, por fim, sabia me expressar
e usar do meu corpo para falar. A aula era divertida, prazerosa, leve, saudável e que
aos poucos fui recuperando o que eu havia perdido, o controle da maternidade e da
minha formação inicial docente. Então, levei os jogos que praticamos em aula para o
estágio, para a minha vida pessoal/maternal e tive um resultado surpreendente, eu vi
sorrisos onde não tinha mais nas crianças e no meu filho, eu vi olhinhos cheios de
alegria e de liberdade. E aquela Thayne que dizia que não fazia mais sentido viver
as duas vidas da maternidade e da formação inicial docente, teve a sua vontade de
viver restaurada por apenas ter um momento de diversão com os jogos vivenciados
em aula.

Concluí que esquecemos o mundo e os problemas quando estamos jogando,


quando estamos nos conectando e interagindo com o outro. Mas, ainda sim, o
período de um bom momento acabou e as angústias e frustações voltaram, não sei
como e nem o porquê, mas voltaram. Como é fundamental você está focado em
outra coisa faz com o que esqueça dos problemas, como aquela disciplina de Jogo
Teatral fez a diferença em pouco tempo, eu me sentia útil nas aulas, eu participava
com muito gosto, era tão especial estar ali, porque quando eu entrava para fazer
parte da aula, eu esquecia o mundo lá fora e só pensava o quanto era bom estar ali
jogando, brincando, aprendendo e me desenvolvendo, deixando o meu corpo se
comunicar. Sinceramente, todas as mães, estudantes e trabalhadoras deveriam ter
acesso à essa disciplina, acalmaria o coração delas e fazia-as se sentirem livres
apenas jogando e brincando, se expressando com as falas e com o corpo.

A maternidade é solitária quando somos estudantes e trabalhadoras, pois


temos sempre que nos “multiplicar” e tentar arrumar alguém para cuidar dos nossos
filhos para irmos trabalhar, contar as “moedinhas” para ao menos comer alguma
coisa para o nosso filho ou para pagar a passagem. E assim, vamos ficando
distantes dos nossos filhos, somos nós por nós e por eles. Ser mãe e estudante é
extremamente difícil, as responsabilidades são enormes, não temos horários certos,
você precisa ir para aula apresentar um trabalho, mas seu filho ficou doente, mas
seu filho não está bem, mas você não tem dinheiro porque teve que comprar fralda,
leite e tantas outras mil coisas.

A maternidade é imprevisível, nunca sabemos o que vai mudar naquele dia e


as pessoas que estão ao nosso redor nem se importam. A faculdade não se importa
se você não teve dinheiro pra ir assistir aula porque você gastou o dinheiro
comprando algo que precisava para o seu filho ou se você chegou atrasada porque
teve que atravessar a cidade para deixar seu filho com alguém porque estava
chovendo e frio e não tinha como levar junto para a assistir a aula. A sua família não
se importa se você precisa ir para a aula porque tem um trabalho/prova importante
para fazer, porque para eles, você precisa dar a devida atenção para o seu filho. É
por esse e tantos outros motivos que estou escrevendo esse trabalho, mas não foi
fácil decidir isso, não foi fácil escolher esse tema, não foi fácil escrever e começar a
pensar o que poderia defender no meu TCC.

Mas enfim, olha eu aqui tendo coragem, pelo simples fato de ter tido uma
conversa em especial com duas colegas de profissão, que são mães, mães que
abrilhantaram meus horizontes e me deram um norte fazendo eu mudar
completamente o destino do meu TCC. Em uma conversa sobre o comportamento
das crianças e como elas nos respeitam, nos escutam e compreendem o que
pedimos a elas, enaltecíamos esse lado da nossa profissão, como era bom essa
conexão com as crianças, como essa relação fazia diferença na nossa prática
enquanto docentes, mas em um certo momento eu expressei o meu sentimento que
guardei por anos, a minha incompetência como mãe, eu falei em alto e bom som
que era uma péssima mãe e como eu poderia ser uma excelente docente? Como
isso era possível?

Foi aí que veio o relato de duas mães docentes que disseram exatamente a mesma
coisa que eu. Concluímos ser péssimas mães e ótimas docentes. No mesmo
instante pensei que poderia trazer essa discussão para a escrita, que também,
poderia trazer os relatos contatos por essas mães docentes e por tantas outras.
Eu já estava pronta para colocar tudo na ponta do lápis. Pois bem, agora
estou aqui escrevendo e introduzindo o que essa pesquisa está apresentando. São
momentos reais e acontecimentos verídicos. Aqui está escrito a minha história
durante esses anos na faculdade acompanhada da jornada de ser mãe.

6 DUAS VIDAS: ENCONTROS E DESENCONTROS

Iniciamos uma via de encontros e desencontros de duas vidas que caminham


juntas. Essas vidas representam cargos fundamentais no progresso e no
desenvolvimento de outras vidas. A responsabilidade de uma muitas vezes não é a
mesma da outra, mas vamos lá, colocar os pingos nos “is” para que entendam que
papel cumprem essas duas vidas. A primeira vida é a maternidade e a outra é a vida
docente.

A maternidade está ligada a um laço afetivo entre mãe e filho que carrega a
dádiva de gerar um outro ser humano dentro do seu ventre. A maternidade é um
processo de aprendizagem constante, de capacitação, de entregar-se por inteiro, de
permitir-se explorar novidades mantendo o foco sempre em tentar, tentar e tentar de
novo até acertar.

A maternidade se fez presente na minha vida no ano de 2017 e a surpresa foi


impactante. Eu sempre quis ser mãe, frase clichê, mas cheia de verdades. Eu
planejava o nome do meu primeiro filho, assim como também planejava como iria
educá-lo, porém, quando recebi a notícia da minha gravidez o meu mundo caiu,
acreditava que não era o momento certo, definitivamente eu não podia ser mãe
naquele período. Eu queria tanto ser mãe, mas precisava esperar mais um pouco,
eu tinha que me formar primeiro, esse era o meu objetivo, porque só assim daria
uma vida digna para o meu filho, só que as coisas não acontecem como nos
organizamos, então, a maternidade veio antes da formatura. Tinha certeza que não
saberia lidar com as demandas que estavam por vir.

Sua itinerância estudantil vai sendo construída, assim, na dinâmica


constante da escolha, ou da suposta escolha. Quando consegue retornar ao
ambiente acadêmico, novamente se vê confrontada com diferentes
desafios, centralizados na difícil tarefa de conciliar vida universitária e vida
familiar (URPIA E SAMPAIO, 2009, p.37).

As aulas na faculdade começaram a serem mais significativa para mim. Eu


era mãe. Me tornei mãe. Isso era completamente significativo e por isso fazia todas
as coisas terem mais significados. Escutava tudo com mais sensibilidade, atenção,
serenidade, porque de alguma forma eu usaria todas aquelas informações não só
com os meus alunos mas também na educação do meu filho. Eu misturava muito as
coisas. Deveria ter separado a maternidade da docência. Ou não deveria? Após
nove meses de gestação, finalmente recebi meu filho em meus braços. Foi o melhor
dia da minha vida. E agora? Como seria a minha rotina? Como iria organizar as
questões da faculdade? Passei a estudar em casa, através do Regime de Exercícios
Domiciliares (conforme Guia Acadêmico / UFSM), pois amamentava e necessitava
dar todo o auxílio para o meu momento materno. Eu me dedicava, cuidava, amava
intensamente, fazia qualquer coisa pelo meu filho sem medir esforços.

A maternidade exige muito, é cansativa e ao mesmo tempo fortificante, é


surreal como oscila esses sentimentos, percebo que mesmo estando cansada me
fortaleço como mãe. É isso, a maternidade é uma fortaleza cansativa e que vale a
pena todos os dias exercer essa tarefa. A amamentação foi o primeiro contato de
conexão que tive com o meu filho, foi a mais importante desde os seus primeiros
dias, pois ia aos poucos o educando e ministrando seus primeiros instintos. Estava
influindo e instruindo o meu filho para crescer forte e saudável através da
amamentação, assim afirma o filósofo Rousseau enfatizando que nós mulheres
mães podemos acompanhar a vida dos nossos filhos bem de perto criando esse
laço afetivo desde a amamentação.

As demandas do “futuro melhor” começaram a apertar e apertou. Tanto que


fiquei apenas seis meses com o meu filho em casa amamentando-o, esse período
tinha acabado e lá estava eu retornando para o início de uma carreira promissora.
Foi aí que me afastei do meu filho e me perdi na maternidade. Eu não tinha mais
tempo, tempo este que afetou a minha relação materna. Eu não conhecia meu filho
e ele também não me conhecia.

As tarefas relacionadas à posição de estudante universitária participam do


cotidiano doméstico da jovem, e se cruzam com as demandas de sua
criança, dialogando, não sem conflitos, com a posição de mãe. Decorrem,
então, desse difícil processo, os muitos desafios que enfrenta quando tenta
conciliar universidade e maternagem (URPIA E SAMPAIO, 2011, p. 158)

A maternidade é cheia de incertezas, não tem um manual específico para


ensinar como é ser mãe, aos poucos se descobre como agir com o filho, como reagir
em tal situação e como direcionar um momento característico. E acredite, eu só fui
compreender isso na pandemia, que foi o ano em que eu fiquei com o meu filho
diariamente, o tempo todo, pela segunda vez, pois a primeira vez foi quando ele
nasceu até ele completar os seus seis meses de vida. Nessa fase dos seus
primeiros meses até completar seis meses, eu estava conectada com o meu filho e a
amamentação colaborou para termos esses momentos únicos de olhares fortes e
intensos, eu tinha absoluta certeza que ele precisava de mim. Aproveitei os seus
seis meses cuidando-o atenciosamente em cada detalhe. Mas chegou o período
mais dolorido da minha vida, o dia que tive que ir correr atrás do nosso futuro,
trabalhando, estagiando e estudando, minha vida era essa.

Hoje eu me arrependo tanto, mas tanto, porque eu deveria ter ficado com ele,
deveria ter aproveitado ele, eu deveria ter estado junto a ele nas suas estações mais
importantes, só que eu perdi isso, eu perdi, perdi a fase mais rica da vida do meu
filho e essa é uma dor imensurável que ninguém jamais irá entender. O tempo foi
passando e a minha rotina só fazia com o que eu me afastasse ainda mais do meu
filho, eu não tinha mais controle sobre nada, pois chegava em casa e meu filho já
estava dormindo e o meu tempo livre aos finais de semanas eram complicados, eu
tentava de todas as formas entender o meu filho, conhecê-lo, só que alguma coisa
entre eu e ele não deixava termos esse laço. Porque o tempo que me sobrava era
para estar resolvendo as demandas das disciplinas na faculdade, eram tantos
trabalhos, resumos, pesquisas que tinham prazos para ser entregues e a minha
preocupação era entregar na data prevista, porque senão, poderia perder a nota e
não conseguir recuperar depois e consequentemente eu reprovaria na disciplina.
Como eu poderia dar atenção para o meu filho? Com tantas funções para fazer?
Não tinha como.

Já me senti tantas vezes sobrecarregada e incapaz por simplesmente não


conseguir lidar com certas e várias situações relacionadas ao meu filho, pois ele me
testava e me desafiada quase o tempo todo, exemplo disso era quando pedia para
juntar os brinquedos espalhados e o “não” junto o “grito” vinham logo em seguida,
conversava e explicava o porquê ele deveria juntar os seus brinquedos, mas não
adiantava em nada e então o choro e o grito surgiam. Ás vezes aconteciam choros
que não tinham motivo, mas na verdade tinham, só que o problema era que eu não
sabia identificar, somente o pai do meu filho conseguia, então, a situação do choro
era resolvida muita rápida e eu ficava observando como eles agiam um com o outro.
Eu tentava fazer da mesma forma, não adiantava, não tinha resultado nenhum, só
fazia o meu filho ficar mais nervoso ainda, foi assim que comecei a sentir um vazio
enorme cada vez mais. Eu não era o suficiente. Eu não era o suficiente para o meu
filho e muito menos para a minha futura profissão, pois eu não estava dando conta
de tão cansada que estava.

A maternidade mexe muito com os nossos sentimentos, principalmente


quando não temos o apoio que necessitamos das pessoas que estão ao nosso
redor. As pessoas percebem as suas frustações e o quanto você está se sentindo
fraca, mas ninguém oferece ajuda.

Eu me desencontrei. Me perdi. Me rendi. Eu fracassei como mãe e também


com a minha formação inicial docente. Era um basta que eu estava colocando. Não
tinha saída, esse tinha que ser o jeito, desistir de tudo e colocar um ponto final. Que
dor escrever isso. Que triste relembrar disso.

As duas vidas se desencontraram de mim. E me vi sentada numa rua


desocupada. O que estava acontecendo comigo? Aonde eu chegaria me isolando de
tudo e de todos? Meu sonho de ser pedagoga e ser mãe estavam descendo por
água à baixo. Que delírio, não é mesmo? Naquele momento não pensava que seria
delírio, era o meu sentimento gritando e implorando por socorro. Eu fui engolindo,
engolindo e engolindo aos poucos absolutamente tudo o que eu sentia e de repente
me blindei, coloquei uma armadura e me fiz de forte. E sabe por quê? Porque eu
senti que não tinha mais o que fazer. E pensava que seria melhor se eu não
estivesse mais aqui, pois eu estava sozinha e abandonada na solidão da
maternidade real e na minha formação inicial docente. Mas em um momento
aconteceu uma situação que surgiu na hora certa, no período que eu mais
necessitava de socorro.

Eu trabalhava de auxiliar do desenvolvimento infantil em uma escola privada


do Município de Santa Maria/RS. Um dia, numa tarde, estava sentada no chão de
uma sala de aula com duas colegas de trabalho para nanar as crianças da turma,
pois era a hora do soninho (momento em que as crianças descansavam). Naquele
dia eu estava pensativa e eu e as minhas colegas conversávamos sobre questões
da faculdade, de repente, eu só disse (aleatoriamente) assim: “eu sou uma péssima
mãe” e de imediato ambas disseram: “nós também”. Por um instante fixei meu olhar
e paralisei, porque eu nunca imaginei que fossem dizer algo assim. Como poderia
existir outras mães na mesma situação que a minha? Não era possível isso. Como
poderia ser possível? Me perguntei por tantas vezes naquele mesmo momento e eu
não conseguia acreditar. Foi aí o meu primeiro relato, a minha primeira vez falando
que eu não dava conta do meu filho como dava com as crianças na escola, que me
sentia sozinha, sem rede de apoio na faculdade e sem compreensão em casa.
Claro, não falei tudo, não contei os detalhes, mas contei alguma coisa importante
que me fez me reencontrar com as minhas duas vidas e aquela rua desocupada, se
abrigou, se fez de luz e aconchego, pois outras mães estavam ali comigo dizendo
que se sentiam da mesma forma e foi assim que tive certeza que nunca estive
sozinha na maternidade real.
Eu disse para as minhas colegas, com todas as palavras, o que eu sentia: “eu
sinto que meu filho não me ama, sinto que ele me enxerga como apenas uma
conhecida, pelo simples fato de eu ficar distante por causa das minhas demandas no
trabalho, na faculdade e os serviços do lar”. Eu tinha paciência com as crianças na
escola e com ele não. Eu tinha paciência para lavar, limpar e cozinhar e com o meu
filho não. Eu tinha paciência para ler, escrever, fazer os trabalhos da faculdade e
com ele não. Por quê? Porque eu estava tão atarefada que eu só pensava em
terminar tudo o quanto antes e ir dar o banho, a janta e ir dormir com ele, não tinha
tempo pra brincar, só queria descansar.

Uma vez certa criança na sala de aula derrubou um copo com água no chão e
logo eu disse que não tinha problema, limpei e ficou tudo bem. Em casa, aconteceu
a mesma situação, meu filho derrubou água no chão e logo eu gritei dizendo que
tinha avisado para ele cuidar com o copo d’água, acabei brigando com ele e não
ficou tudo bem. Por que para os outros sou paciente e para com o meu filho não?
Porque já estava esgotada, fraca, tensa, não havia outra maneira de me expressar,
por que descontamos a nossa frustação em quem a gente mais ama? Porque temos
a certeza que eles nunca deixarão de nos amar, mesmo quando somos falhas,
mesmo quando estamos impotentes, mesmo assim ainda estão ali por nós e nós por
eles.

A culpa vai aumentando cada vez mais quando essas situações acontecem,
ficamos tão preocupadas com tudo e todos que esquecemos de nos acalmar. É
inevitável não se sentir responsável por todas as vezes que erramos com os nossos
filho. Me desencontrei da vida maternal e me encontrei na vida acadêmica, foquei
nos estudos e por um estante me via longe e tão distante do amor da minha vida, o
meu filho, que sentimento horrível, eu pensava nisso vinte quatro horas por dia,
preciso acalmar o meu coração e não me cobrar tanto, preciso reorganizar a rotina,
preciso estar com o meu filho.

Foi assim que parei para pensar que os meus horários não encaixavam para
estar em casa e aproveitar a minha de ser mãe, no trabalho não existia a
possibilidade de levar o meu filho, muito menos nos estágios, mas na faculdade eu
poderia. E então, eu levava-o, mas aconteceram momentos tão ruins e conturbados
na faculdade que me decepcionaram. Muitas vezes quando levava o meu filho para
a aula comigo não era só porque queria estar com ele, era porque eu precisava e
não tinha alternativa de deixá-lo em outro lugar a não ser estar presente em sala de
aula me acompanhando. Encontrei o vazio da maternidade na formação inicial
docente dessa forma, vivenciando experiências dentro da faculdade.

7 DAS EMOÇÕES SENTIDAS PARA AS FALAS MAIS PROFUNDAS:


ENTREVISTA MATERNAL

Convidei três mães, acadêmicas e trabalhadoras para fazerem parte do meu


TCC com o intuito de ouvi-las e relacionar a minha vida pessoal e maternal com a
experiência delas. Para ambas, quando fiz o convite, expliquei sobre qual seria o
meu tema e o porquê fiz essa escolha e de imediato fui elogiada pela minha
proposta e aceitaram responder as minhas perguntas. Na minha casa, preparei a
câmera, sentei ao lado do sofá e as minhas entrevistadas sentaram-se no sofá,
assim, pude iniciar com as perguntas. Se prepare para um momento solidário, onde,
quatro mães (incluindo eu) estão dispostas a revelar seus sentimentos que estão
guardados a sete chaves.

A entrevista tornou-se uma roda de conversa entre mães, estudantes e


trabalhadoras. O diálogo foi fluindo através de trocas de experiências e uma foi se
identificando com a outra. A emoção aos poucos foi surgindo e ficando cada vez
mais forte e intensa. E percebemos ali, naquele momento de desabafo, que
estávamos tendo compaixão uma pela outra e sentindo exatamente o que cada uma
estava passando de dor e alívio. As perguntas serviram apenas para mediar a nossa
conversa e assim uma resposta fazia sentindo para a outra e logo já encaixava mais
uma resposta. Essa roda de vivências e experiências fizeram aparecerem feridas
enraizadas e aparentemente sumirem, porque finalmente conseguimos falar sobre o
que tanto nos machucavam. Segue abaixo o início das falas e dos sentimentos mais
profundos que sentimos:
A primeira pergunta foi direcionada para a entrevistada Flávia. Pergunto:
Nessas duas vidas, a maternal e a sua formação inicial docente, qual o significado
para você dessas duas personagens representativas?

Flávia: Então, são duas vidas em um corpo só e a gente tem que ter muita lucidez
assim pra distinguir uma da outra, eu demorei acho que, meu filho está com quatro
anos, eu demorei acho que três para parar de me cobrar, para parar de dizer “não”
eu vou errar, eu sou mãe, do Bernardo, eu sou mãe. Eu demorei no mínimo uns três
anos para entender que eu tinha que parar de me cobrar para eu ser uma boa mãe,
eu sou uma boa mãe, eu dou carinho, eu dou educo e eu faço o que eu posso na
medida e na condição que eu tenho, como mãe né.

Raquel: E quando tu falou que demorou três anos, três anos? Para o teu filho. Eu
pensei que sorte a tua, porque acho, o João Pedro está com dez, acho que demorei
uns oito ou nove anos, de verdade.

Essas falas comprovam que ser mãe é se cobrar a cada segundo e que
mesmo depois de muito tempo, paramos de nos cobrar, porque uma hora
entendemos que não precisamos, pois somos mães e fazemos o nosso melhor nas
condições que temos, como a entrevistada Flávia diz.

A Raquel trouxe um relato importante, ela se formou faz pouco no curso de


Pedagogia pela UFSM e comentou sobre como a sua exaustão cotidiana pode
refletir no nosso comportamento.

Raquel: Hoje mesmo estava saindo de casa e eu estava vendo um negócio no


celular e disse alto “não acredito” e ele (filho) me olhou “o que você não acredita
mamãe?” E eu disse “eu não vou te falar agora” falei meio ríspida com ele e ele me
olhou, ficou me olhando, falei “desculpa meu filho” sabe? “Desculpa porque eu não
preciso falar assim contigo, é só algo que eu não posso nesse momento, não
preciso te falar. Daí eu me dei conta de que meu filho está ali por mim. Sabe? Ele tá
me vendo como espelho, eu sou a mãe dele, entende? Então isso às vezes, já me
doeu várias vezes, tanto essa questão de ouvir “Ah! Você não é prof. ainda como
“professora não faz isso” “Ah! Isso é pedagogo, ah, pedagoga faz assim?” sabe? Ou
o meu filho me dizer que não queria eu como prof. dele. Porque muitas vezes eu
estava muito exausta, muito, de verdade, sabe? Me doía ter que fazer os temas com
ele em casa e....
Thayne: E não ter paciência.

Raquel: E não ter paciência. E de não conseguir dar conta daquilo. Hoje eu já sei o
que tenho que fazer sabe, eu já sei que vou ter que tá num momento muito tranquilo,
preparo tudo, coisa que a gente já sabe né, mas às vezes não coloca em prática,
enfim. A gente é nós ou é nós ou a gente vai deixar os nossos filhos para outras
pessoas criarem coisa que a gente não quer né. Entende? Então assim, esse
sentimento, anda caminhando, caminha muito junto, esse sentimento de encontro e
desencontro com as nossas práticas com as nossas questões de como mulher,
como mãe, como esposa, como estudante, como professora, sabe, então, é uma
situação bem complicada e desde do início da graduação vai tentando nos podar né,
mas a gente vai lutando contra uma maré bem forte.

Thayne: Eu escutando você falar, eu me emociono, porque eu já escutei do Pietro


que ele não gosta de mim. E isso doeu dentro da minha alma, porque eu também
não gostaria de mim. Eu também não ia gostar de mim. Mas eu não ia, porque, é
forte escutar de alguém o mesmo que eu passo, por exemplo, o João Pedro chegou
em você pra te perguntar alguma coisa que você estava vendo e você “não” daí foi
ríspida com ele e logo em seguida pediu desculpa, mas aquilo já, de certa forma Já
aconteceu.

Débora: Já aconteceu. Tu não tem como curar aquilo ali.

Thayne: Não tem como reverter aquilo, exato, porque ele já sentiu, eu fiquei
pensando, porque já aconteceu várias vezes.

Analisando essa conversa, é perceptível que reconhecemos nosso cansaço


da rotina puxada e isso prejudica o nosso lado maternal. E quando acontecem
situações assim, nos cobramos ainda mais, nos ferimos ainda mais, nos julgamos
ainda mais. Porque nos preocupamos com o olhar de julgamento do outro, pois vão
nos julgar sobre as nossas atitudes em relação aos nossos filhos. A entrevistada
Débora também comenta algo muito importante referente a julgamentos e é
relevante ser discutido isso. O fato de mães fazerem julgamentos com outras mães.

Débora: Na minha percepção dói muito mais quando o julgamento, quando o dedo
apontado é de outra mãe. Sabe? Porque gente, tu para e pensa, porque assim, você
é mãe igual a mim. O sentimento é igual ou então porque, dói em mim. Dói muito
mais ver outra mãe apontando os meus defeitos como mãe ao invés de tu acolher e
pensar: poxa, a pessoa agiu dessa forma porque tá desse jeito...

Flávia: Porque está cansada. Não tá num dia bom.

Débora: Dói muito, é muita cobrança excessiva que tem sobre as mães em si só,
seja em qualquer profissão, seja em qualquer ramo que...

Thayne: A cobrança é grande.

Débora: É gigante. É gigante. É muito surreal.

Thayne: E já que a gente está falando do foco mãe. Vou fazer a próxima pergunta já
que o enfoque agora está sendo a vida maternal. Vou perguntar para a Débora, que
é a segunda pergunta no caso. Qual é a maior dificuldade em ser mãe? Você sendo
mãe do Henrique, seu filho, a sua opinião, o seu sentimento em relação a isso.

Débora: Olha eu poderia dizer as dificuldades, existem várias, acredito que para
toda mãe, existem várias dificuldades, mas posso falar assim sobre mim, né. Sou
mãe sozinha, sou mãe solo dele, fazem três anos já e eu me emociono. E é muito
difícil, é extremamente difícil ser mãe solo, tu pensa o tempo todo nesses três anos,
todos os dias: eu penso que não sou uma boa mãe. E agora estávamos falando
sobre as lacunas (cobranças), a minha maior dificuldade é que quando meu filho tem
tempo livre ele não quer ficar comigo, entendeu? Ele prefere estar com outras
pessoas do que comigo e isso me fere demais, me dói demais, me machuca demais,
porque eu faço tudo o que está na minha condição sabe, eu tento o tempo todo ser
uma boa mãe, eu tenho muitas cobranças por ele não ter o pai por exemplo, tu tem
que ser mais firme com ele, tu tem que agir dessa forma. As pessoas se acham no
direito de vir dizer como eu tenho que ser com o meu filho, como eu tenho que ser
como mãe. E sabe, isso me incomoda muito, me deixa muito triste, então assim, o
que eu trouxe na outra pergunta que a maioria das pessoas que me julgam são
outras mães, sabe, então assim, não tem esse acolhimento em lugar nenhum. Eu
sempre digo que me considero uma pessoa muito abençoada por ter pessoas
especiais na minha vida que realmente me ajudam, que me acolhem e cuidam de
mim, sabe, porque tu doar a sua vida, porque uma mãe doa a vida, a gente para a
nossa vida para viver a vida do nosso filho para poder dar um futuro bom para ele
para poder fazer tudo isso sabe.
Essa é a dor de uma mãe solo, uma mãe que dá o máximo de si, essa é a
maternidade real, a vida real que nós mães passamos e como machuca saber que
tantas mães passam o mesmo, sentem o mesmo e muitas vezes não tem com quem
contar, não tem com quem desabafar e pedir ajuda. Precisamos olhar para isso,
prestar mais atenção nesses fatores tão cruciais e possibilitar alternativas de apoio.

Em outro momento, Débora faz mais um comentário forte, comentário este,


que, paramos para pensar, nós mantemos nossa vida trabalhando e estudando para
assim conseguirmos dar o conforto necessário aos nossos filhos.

Débora: E eu cheguei em um nível tão desesperador que eu perguntei pra ele (filho)
“Tu não gosta de mim? Tu não gosta de mim?” entendeu, então tipo, isso é horrível,
sabe, ele disse “Não mãe, não é isso”, mas eu também não posso cobrar dele isso,
entendeu, se eu não me fiz presente. Eu não sei de que forma, tipo, eu não sei se é
o eu sair de casa para poder conquistar o meu, que não faz eu ficar em casa, é uma
loucura, é uma roda gigante, é uma confusão na cabeça, mas ao mesmo tempo se
eu não vou, quem que vai fazer pra mim? Quem que vai trazer pra nós?

Raquel: É uma conta que não fecha nunca.

Débora: Não, não fecha nunca. Então, ontem ele disse pra mim, comentei com ele
“ai filho, a mãe vai sair da outra loja e a mãe vai ter mais tempo juntos”, aí ele disse
pra mim: “ah, mãe, eu queria que tu ficasse em casa”. Eu expliquei pra ele “filho a
mãe não pode ficar em casa, porque infelizmente não tem quem dê as coisas pra
gente, não, a gente tem que batalhar para conquistar as coisas para a gente poder
fazer o que a gente gosta, tem vontade e a gente tem que trabalhar isso e eu não
quero que tu enxergue a mãe como alguém que não para em casa. Eu que tu possa
ter orgulho de mim lá, no futuro, que eu fiz tudo o que estava no meu alcance para te
fornecer uma vida melhor, te fornecer uma vida boa”, ele ficou pensativo e eu
perguntei se ele entendeu e ele disse que sim. Ai passou, passou, no finalzinho da
tarde e ele veio me abraçou e disse: “mãe, eu tenho muito orgulho, muito, muito
orgulho de ti, porque tu cuida de mim, sozinha, sabe, tu tenta tudo que tu pode”. E
aquilo ali sabe, me destruiu, me encheu de orgulho, é um ciclo, é bem como a
Raquel falou é uma conta que não fecha. Cobrança excessiva em cima de quem é
mãe, não precisa ser assim, não tem que ser assim, a gente vê ai no mundo que tá
tudo bem, mas não é tudo bem na prática, tenho experiência agora e é bem isso a
gente tem paciência para cuidar do filho dos outros e eu não tenho paciência às
vezes com o meu filho, então é muito complicado, essa é uma das dificuldades. Mas
assim, o olhar, não tem esse acolhimento dentro das faculdades por exemplo,
porque eu tenho que arrumar alguém pra ficar com ele para eu poder estudar, eu
consegui agora, a recém agora, então são várias, eu podia citar várias dificuldades
que a gente mãe encontra, mas assim pra mim, é a maior, essa lacuna que fica e
que eu tento o tempo todo preencher e parece que ela não se preenche.

Esse relato da Débora é um depoimento de uma mãe que carrega uma ferida
muito grande, ela demonstra na sua emoção o quanto está machucada, as lágrimas
não puderam ser contidas, ela falava com a voz engasgada, com o olhar triste e
mesmo assim não parou de falar, ela precisava dizer tudo o que sentia e aos poucos
o nó na garganta foi diminuindo. Olha a importância de um acolhimento no ambiente
no qual estudamos, precisamos de uma assistência que nos compreendam, que nos
acolham, nos apoiem e que não nos trate como um “tanto faz”, essa é a análise que
eu trago presenciando esse relato da entrevistada, consideramos o fato de estarmos
vendo as situações acontecerem e ninguém faz absolutamente nada para contribuir
na vida dessas mães, de nós mães.

A Débora ainda continuou a sua fala e comentou algo que me fez chorar e
finalmente pude perceber que esse tema do meu TCC pode caber em outras
histórias de vidas maternas.

Débora: Eu acredito muito, mas que tudo tem que acontecer quando tem que
acontecer e eu assim, tenho me questionado muito sobre isso e quando você
(Thayne) veio falar pra mim sobre, eu aceitei na hora, porque eu pensei, eu preciso
disso, isso foi pra mim, era pra mim. Ouvir e ouvir a experiência, relato, saber que
talvez não seja só comigo que seja com outras pessoas também, não que eu deseje
que as pessoas sintam essa dor que eu sinto, não, é saber que pode ser parecido
para as pessoas.

Raquel: Sim, compartilhar. Admitir isso não é fácil. Admitir que a gente erra, admitir
que a gente não, né, tanto como prof., estudante, mãe, não é fácil admitir. Admitir
que estamos ali cem por cento. Não estamos cem por cento sempre.

Flávia: Outro desafio também que é, é o sentimento de culpa né.


Débora: Eu acho que quando se torna mãe o sentimento de culpa nasce junto desde
a gestação, tu se sente culpada quando tu come alguma coisa, quando tu faz isso
ou quando tu deixa de fazer aquilo.

Thayne: Ou quando tu vai trabalhar e deixou com alguém. Que tu se preocupa e fala
“será que eu, até que ponto eu sou uma boa mãe? Eu estou aqui trabalhando, mas
meu filho está com outra pessoa”. Eu estou na batalha também, Débora, para
conhecer o Pietro e eu nunca tinha conseguido falar disso, no meu TCC eu trago
isso. Eu não conheço o Pietro, eu descobri agora, pouco tempo, final do ano
passado, qual era a fruta preferida dele, eu vou gaguejar, desculpa, mas acho que
estava entalado na garganta, não queria que ele me visse chorar, porque eu não
consigo, mas o Michel conhece ele, sabe do ele gosta e do que ele não gosta. O
Pietro quando ele era menor ele chorava muito, o Michel reconhecia o choro dele e
eu me frustrava porque eu não conhecia o choro do meu filho, eu perguntava “Por
que ele está chorando? O que ele quer? Eu não estou entendo” E ele não falava, o
Michel ia lá e resolvia. Porque ele cuidava do nosso filho para eu trabalhar e para eu
estudar. Meu Deus, eu não conheço o meu filho, ele nasceu de mim, eu não
conseguia, parecia que eu não tinha amor, e eu amava ele, mas aquele sentimento
de amor não saía. Escutei muitas pessoas falarem que eu maltratava o meu filho,
por simplesmente, deixar ele em casa e só levava-o para a faculdade comigo
quando eu não tinha com quem deixá-lo.

Percebe-se aqui que são relatos fortes e que acompanham um sentimento de


culpa, porque sabíamos das nossas responsabilidades. Agora falo por mim, que
descaso do sistema da nossa Instituição, por mais que pudéssemos levar nossos
filhos para a sala de aula, era inevitável não passar dificuldades com o meu filho ao
ir trocá-lo, ao amamentá-lo, ao acalmá-lo. Eu já sabia dos olhares incomodados de
alguns professores em relação ao meu filho, eu já sabia, tinha certeza a cada aula
presencial que o meu filho poderia ser um problema para atrapalhar a aula.

Mas, ainda, daremos continuidade a nossa conversa, mas para isso


precisamos da próxima pergunta que foi direcionada para a Raquel.

Thayne: Quais são as frases que te deixam frustrada quando comparada ao ser mãe
e ter propriedade sobre a Pedagogia?
Raquel: Eu achei que ia ser a pergunta mais difícil pra mim. Eu estava torcendo que
não fosse, mas essa é a mais fácil. Porque é o que eu ouço desde o início da
graduação, realmente, desde de que o João Pedro era bebê, tinha aquele
questionamento “ah, mas é professora né, está estudando pedagogia” ou senão
“não acredito que uma pedagoga faz isso, coisas nesse sentido assim, sabe.
Sempre me machucavam, mas ao mesmo tempo me impulsionavam a pensar em
refletir realmente sobre a prática, porque quando eu digo que eu ainda estou
naquele processo né, de fazer essa relação mãe e professora, é isso, é ficar
refletindo o tempo todo sobre a nossa prática, tanto quanto, enquanto, mãe e quanto
professora.

Ouvir o meu filho me dizer que não queria ser meu aluno, sabe? Então, isso me
machucou muito, mas esses dias, isso faz tempo que ele falou né, mas esses dias,
na páscoa, vou falar uma coisa boa que aconteceu. Ele me disse assim, eu saí da
escola e estava com alguns chocolates, ele me disse assim: “Bah, mamãe, você
acabou de começar na escola e já ganhou tudo isso de chocolates, imagina quando
te conhecerem melhor, quanto chocolates você ainda não vai ganhar. Vocês
entenderam? Agora eu que vou chorar né. Porque assim, pensar que é possível
sabe, não é impossível pra gente enquanto professora, enquanto mãe, refletir sobre
pensar “eu posso fazer diferente”. Ouvir isso do meu filho que há pouco tempo atrás
falou ao contrário pra mim. Eu pensei “não, mas espera aí, o que eu estou fazendo,
né?” Mas não com um olhar de cobrança, mas não com aquela coisa assim, sabe,
“eu tenho que fazer, eu tenho que ser a melhor, eu tenho que ser diferente”.

Thayne: Foi um processo, né, que tu passou, até você conseguir escutar isso do seu
filho. E qual foi a sensação de quando você escutou?

Raquel: Libertadora, libertador, eu não sabia se eu chorava, eu estava dirigindo, eu


não sabia se eu parava o carro, se eu chorava, se eu sorria, sabe?

Thayne: Se tu abraçava ele e gritava obrigada filho.

Raquel: Mas eu disse, mas eu disse, obrigada filho, obrigada, por você ter me dito
isso, porque assim, enquanto estudantes ainda você fica fazendo várias tentativas,
experiências, nossos filhos são nossas cobaias, né? E o João Pedro tem muito
disso, sabe?
A Raquel trouxe em outro comentário a sua realidade vivida dentre todas as
cargas que carregamos de responsabilidades.

Raquel: A gente tem que trabalhar, sei lá, às vezes, sessenta horas, quarenta horas,
trabalhar manhã, de tarde, de noite para ganhar um valor minimamente digno.

Thayne: Aí tu leva essa sua frustração para dentro de casa.

Raquel: Claro. Tu tá exausta.

Thayne: Exausta.

Raquel: Aí a conta que não fecha, que tu quer trabalhar para poder proporcionar
algo bom, algo, um lazer, uma vida confortável, mas quem vai desfrutar disso?
Porque tu vai estar exausta, tu não vai ter condições.

Débora: Exatamente isso.

Raquel: Tu trabalha para poder descansar, mas não descansa, porque tem que
trabalhar.

Thayne: Aí o olhar do seu filho muda sobre você, porque daí ele vai olhar e dizer
“minha mãe valoriza mais o trabalho dela do que a mim”.

Raquel: Essas frases já me machucaram muito, bom, eu sou mais velha que todas
vocês aqui, né gurias, eu tive o João Pedro com vinte e sete anos, ele tá com dez,
façam o cálculo. Então foi assim, um processo, processo dolorido, já chorei muito.

Thayne: Sozinha.

Raquel: Muito. Muito. Muito. Assim, me cobrei “mas, poxa vida, como é que eu não
consigo, como eu consigo na escola e não consigo aqui?”, sabe, ou como “eu
consigo aqui e não consigo na escola”, mas daí quando eu parei de me cobrar tanto
e de compreender que eu sou humana, que eu erro, mas que eu reconhecer o meu
erro já é uma grande coisa. Que nem hoje eu pedi desculpa para o meu filho, daí ele
já me olhou diferente, sabe? Pode ser que tenha machucado ele, provavelmente
machucou quando fui ríspida com ele. Mas ele saber que a mãe dele erra, mas que
tem condições de pedir desculpas e olhar no olho dele.

Débora: Então, eu acredito que é muito importante explicar também né, a gente
explicar, mas assim, isso é cobrança também. Então é um ciclo, entendeu? Quando
não é uma coisa é outra, sabe? Então, acho que é bem isso, nasce a mãe, nasce a
culpa, nasce o sentimento do medo, com certeza, medo, tá ali junto, lado a lado. Tu
é mãe, tu se sente culpada e tu tem medo, tu nunca mais tem um minuto de paz.

Flávia: Mas eu me cobrei muito já. Me cobrei. Me culpei muito. Hoje em dia eu já
tendo não me cobrar tanto. Funciona? Não funciona, mas a gente vai tentando. No
estágio com a Prof. Kelly, teve uma vez que eu chorei na frente dela, porque no
estágio eu não via o Bernardo. Eu saía de manhã, às 7h, eu ia pra van né,
trabalhava com a van antes, então9 umas 6h:15min quando eu saía de casa ele
ainda estava dormindo, ele não tinha um ano ainda, aí eu voltava pra casa às 23h,
depois da faculdade, ele já estava dormindo. Tinha vezes que o Ewerton deixava ele
acordado, tentava deixar ele acordado, só para ver se ele interagia comigo um
pouquinho e logo ele dormia. Teve um dia que eu cheguei lá com a Prof. Kelly e eu
chorei porque eu não estou conseguindo ver o meu filho. Teve um dia que eu fui
entrar em casa e eu errei o bloco, meu bloco era o doze, eu entrei no onze e o meu
marido atrás rindo, porque eu entrei no bloco errado. Essas coisas, esses desafios
ninguém vê na nossa trajetória acadêmica, sabe? Ninguém vê, todo mundo acha
que tu está ali serena, plena, estudando, “ai, é universitária”, mas tem todo um
contexto que no fundo que só a gente sente e que só a gente sabe. E que às vezes
numa conversa assim a gente consegue falar.

Raquel: Se encontrar.

Flávia: Se encontrar é.

Esses relatos são tão íntimos, tão doloridos, é nítido perceber a frustação de
estarem nesse ciclo de culpa e cobrança. Conseguimos falar sobre as nossas
angústias, conseguimos, conseguimos, conseguimos, sem medo de nos julgarem,
totalmente sem medo, demos a nossa cara a tapa, para assim, verem o quanto é
fundamental falar das mães, acadêmicas e trabalhadoras.

Agora finalizo a nossa roda de conversa com uma pergunta em especial, uma
pergunta que sei que irá cativar as outras pessoas. A herança de um sentimento que
você recebe, você herdar um sentimento é muito significativo.

Thayne: O que você herdou da maternidade e da sua formação inicial docente?


Resolvi responder primeiro, para que todas entendam a importância dessa
pergunta e o propósito dela.

Thayne: O que eu herdei da maternidade e da formação inicial docente, foi


perseverança, porque em nenhum momento eu desisti. Eu me mantive firme,
mesmo com as dores, mesmo sem forças, eu me mantive ali, mesmo que os dedos
apontados eram vários, mesmo que não tivesse o apoio da faculdade e do meu
trabalho, eu me mantive firme, mesmo que o meu filho não era comigo como era
com o Pai dele, eu me mantive ali, eu me mantive ali o tempo todo por ele, apenas
por ele, só por ele, pelo meu filho e pode ter certeza que será assim para o resto da
minha vida, tudo por ele.

Raquel: Quando tu falou também, me remeteu rapidamente a leitura de um livro que


eu fiz para o meu estágio dos Anos Iniciais, Paulo Freire “Os saberes necessários à
prática docente”. E dentre todos os saberes necessários à prática docente, e quem
sabe foi isso também que me deu um estalo, é a consciência do inacabado, de
sermos inacabados, a nos darmos, olha como isso é forte, nos darmos o direito de
errarmos de termos a consciência que de nós não vamos estar acabados. Quando a
gente sai da formação, antes né, antes de terminar a graduação, eu pensava assim
“não, quando eu chegar lá no final, vou saber tudo né, vou ter resposta pra tudo que
vem”. É nesse sentimento de termos a consciência do inacabado, de que somos
inacabados, que estamos em constante transformação, que estamos em constante
aperfeiçoamento.

Débora: Eu herdei a persistência, não deu na primeira, não deu na segunda, mas eu
nunca quis desistir também, eu quis viver tudo aquilo, eu quis me propor a sentir os
prazeres da vida profissional e também da vida maternal. Eu fico pensando assim
“eu vou persistir, porque uma hora eu vou conseguir” ter esse sentimento, sentir isso
(relação da Raquel com o filho), o meu filho olhar para mim.

Thayne: Escutar o que a Raquel escutou.

Débora: Exatamente.

Flávia: Eu pensei em várias palavras e uma delas foi resiliência, mas eu acho que a
que está me tocando assim, no meu coração, é amor. Amores diferentes. Amor pelo
meu filho, amor próprio, amor profissional, amor pelo meu horário no trabalho. Amor.
Thayne: Eu queria dizer para as três e isso é do fundo do meu coração, estou
falando de verdade, assim, que foi lindo escutar todo o relato de vocês três, foi lindo
mesmo. De vocês trazerem essa herança que vocês tiveram da maternidade e da
formação inicial docente, o amor, a persistência, essa consciência de estarmos
inacabados, uma realidade. E eu queria dizer que esse momento, aqui e agora, que
eu herdei, desse momento agora que estamos vivenciando, enquanto vocês falavam
eu fiquei, surgiu assim, a compaixão, é diferente de empatia. A empatia a gente se
coloca no lugar no lugar do outro e a compaixão a gente sente o que o outro está
sentindo. E hoje nesse conversa que tivemos, eu senti, eu senti a sua dor, a sua
felicidade, eu senti a sua vontade de querer dizer o que estava acontecendo. Então,
eu senti vocês. E obrigada pelas lágrimas, né, não tem como, foi inevitável, não teve
como evitar, então, meu muito obrigada por terem me dado a oportunidade de sentir
pela primeira vez a compaixão, senti vocês. Obrigada por isso.

Flávia, Raquel e Débora: A gente que agradece.

Débora: Eu agradeço muito também, porque o nosso olhar com o outro depois
daqui, modifica.

Raquel: Modifica.

Flávia: Sim.

Assim, encerramos a nossa conversa, a nossa entrevista, o nosso desabafo.


Precisei agradecer, não podia deixar de agradecer, elas expuseram as suas
intimidades maternais, trouxeram suas experiências e vivências, se doaram para
falar e se comprometeram em responder o que havia perguntado.

Essa entrevista foi crucial para desenvolver e ter mais embasamento no meu
trabalho, da entrevista, consegui refletir sobre as nossas ações enquanto mães,
percebi que a minha pesquisa cabe para outras mães e o quão falho está sendo o
sistema da UFSM sobre nós, mães.

8 O VAZIO DA MATERNIDADE NA FORMAÇÃO INCIAL DOCENTE

Esse capítulo irei iniciar com algumas frases pontuais que me fizeram sentir o
vazio da maternidade na formação inicial docente:

“Se decida aos estudos, culpada.


Se abdica dos estudos, culpada.

Se trabalha, culpada.

Se não trabalha, culpada.

Se tem lazer, culpada.

Se não tem lazer, culpada.

Se cuida com excesso, culpada.

Se não cuida com excesso, culpada.

Se corrige, culpada.

Se não corrige, culpada.

Se dorme, culpada.

Se der uma pausa para descansar, culpada.

Se não dá conta da rotina, culpada.

Se fica em casa, culpada.

Se trabalha muito, culpada.

Se estuda muito, culpada.

Se chora, culpada.

Se sorri, culpada.

Culpada, culpada e culpada.”

Essas frases são pesadas, não é mesmo? Ter que escrever e ler isso é um
sacrifício muito grande. A culpa que carrego em mim, a culpa que carrego dos
julgamentos alheios, a culpa que carrego da responsabilidade de ser mãe e
estudante, é a sociedade e o tal sistema que impõe sobre mim. A culpa me levou até
um vazio, vazio das duas vidas que eu mais amo e me importo, um vazio triste e
solitário. Chegou o momento de conversamos abertamente sobre isso. As minhas
falas serão fortes e podem ser consideradas tensas, mas é a minha dor falando, é a
dor de uma mãe, e que, ainda, está na sua formação inicial docente, se limitando e
se questionando como o fator maternal interfere na minha formação profissional?
Essa é uma pergunta que fazia diariamente, tentando sempre refletir e conseguir
respostas.

Este capítulo é o mais difícil de escrever, é o meu relato mais dolorido


e o depoimento mais intenso. Pensei muitas e muitas vezes se iria escrever ou não,
mas eu preciso escrever, precisamos falar sobre o vazio da maternidade na
formação inicial docente, precisamos falar das mães, acadêmicas e trabalhadoras,
principalmente as que estão cursando Pedagogia na Universidade Federal de Santa
Maria. Então, vamos dar início a tudo o que eu passei e senti.

Eu me vi tão sozinha, tão ferida e tão abandonada. Nos corredores da


faculdade, no espaço do meu trabalho e na minha própria casa. Como já disse nos
capítulos anteriores quando não tinha com quem deixar o meu filho, eu levava-o
para a aula de noite comigo, ainda amentava, ainda trocava fralda, ainda dava
comida, ainda exigia cuidados, ainda me dividia em duas para prestar atenção na
aula e no meu filho. Quantas vezes o meu seio empedrava? Quantas vezes o meu
seio vazou o leite manchando a minha roupa? Quantas vezes eu sentia dor
enquanto amamentava? Quantas vezes o meu filho se irritava porque não conseguia
pegar o seio e mamar com o barulho de conversas na sala de aula? Várias vezes.
Muitas vezes. Todas as vezes que estive presente em sala de aula quando ainda o
meu filho era bebê.

Já escutei tanto as frases (em sala de aula): “Você pode sair, se quiser, para
acalmar o seu filho”, “você pode sair para amamentar”, “se você quiser, pode ir para
casa”, “se quiser, pode passear com ele, depois você volta”. E muitas dessas frases
escutei no início da aula. Saibam que eu pausei apresentações, explicações
importantes, atividades avaliativas em grupos para cuidar do meu filho em sala de
aula, porque ele não conseguia ficar quietinho quatro horas seguidas, ele queria
interagir, era um bebê pequenininho, saía da sala para ir passear no corredor,
levava-o para jantar/amamentar em outro espaço do prédio, saía de hora em hora
para trocar a fralda. Sabe aonde eu trocava o meu filho? Nos bancos dos corredores
da faculdade, pessoas passando o tempo todo observando o que estava fazendo e
eu toda atrapalhada, sem graça, sem jeito, porque é muito difícil trocar fralda em
uma cadeira, pois eu precisava cuidar para o meu filho não cair no chão.
Nesses momentos eu nem me importava com o que as pessoas estavam
pensando, eu tinha que trocar o meu filho, fralda cheia de um bebê incomoda, irrita,
deixa-o muito nervoso e choroso, por isso é necessário trocar, e enquanto isso,
nesse intervalo de tempo sendo mãe na minha realidade materna, perdia vinte
minutos de aula. E o sono? Ah! Pois é. O sono era o mais complicado, porque
demorava para dormir e o barulho das conversas na sala de aula prejudicava a
concentração dele para conseguir descansar. E lá vai eu mais uma vez sair da sala
de aula. Conseguia finalmente fazer o meu filho dormir, ficava no meu colo, eu
sentada na cadeira totalmente reta e tentando escrever, mas não tinha jeito, era
muito complicado, então, tinha que deixar ele no bebê-conforto e adivinha? Ele
acordava. Já teve vezes que tive que levar uma manta e colocá-lo para dormir no
chão da sala, no cantinho, já teve vezes que fiquei mais de uma hora com ele no
colo dormindo, que eu não podia nem me mexer direito.

A universidade poderia fornecer colchonetes para nós que temos filhos e que
muitas vezes não temos com quem deixar. Podia? Certo? Mas não fazem, mas não
pensam nisso e ainda estudamos sobre espaços nas escolas que precisam de um
ambiente aconchegante para as crianças e eu ali com o meu filho desse jeito tendo
apenas o olhar sensível das colegas de turma, pois o Professor que ensina faz o
mesmo que a instituição não ligam e não se importam, claro, não posso generalizar,
porque já tive olhares generosos de professores no curso, poucos, bem poucos,
conto nos dedos se precisar, mas teve vários/tantos que não tiveram empatia
comigo e o meu filho. Esses mesmos professores são os que dizem que precisamos
ter olhares sensíveis sobre a família, a mãe da criança, a mãe que muitas vezes não
tem condições financeiras e psicológicas para suprir as demandas cotidianas em
relação ao filho e que o espaço na escola deve ser preparado para dar apoio à
essas famílias, que devemos trabalhar juntos, escola e família, devemos
compreender aonde a criança está inserida e entender a realidade deles. Como
pode isso? Eu me questionava o tempo todo. Como pode isso? Dizer isso na teoria
e colocar em prática nas escolas, enquanto isso, na jornada acadêmica não temos
esse respaldo, não temos esse apoio e essa compreensão sobre a realidade de
cada acadêmico. Não é possível que vejam as situações acontecendo e não fazem
nada à respeito.
Foi dessa forma que iniciei a minha reflexão sobre o que eu escutava e
aprendia na faculdade e lá dentro mesmo não era feito o que tanto diziam na teoria.
E assim, fui aos poucos me sentido solitária no decorrer dos semestres no curso de
Pedagogia. Eu estudava para me formar como Pedagoga para estar junto às
crianças, mediando saberes e cuidando do desenvolvimento integral delas, aprendia
isso com as teorias e no estágio tentava colocar em prática, mas e a universidade?
Pouco se importava comigo, com outras mães, acadêmicas e trabalhadoras. Nosso
contexto, nossa realidade não fazia diferença, não tinha relevância nenhuma. Parem
para pensar, estamos estudando tantos aspectos lindos no Centro de Educação e
esses mesmos aspectos não podem ser válidos para o nosso tratamento enquanto
estudantes? Isso é algo que doía tanto em mim. Isso dói só de escrever e relembrar.

Aonde está os espaços tão falados na teoria na faculdade? No nosso prédio


do anexo 16B? Que não podem atender as crianças que acompanham as suas
mães na jornada acadêmica? Cadê as adaptações para essas crianças? Essas
crianças são as mesmas que estarão inseridas em uma escola ou que já estão
inseridas nas escolas. As mesmas crianças que nos preocupamos em sala de aula
quando os professores trazem as teorias abordadas em suas disciplinas. São as
mesmas que estarão na escola esperando nós, acadêmicas e futuras pedagogas
para atendê-las, compreendê-las e apoiá-las. Qual será o exemplo que estaremos
dando as nossas crianças? Que exemplo a Instituição estará trazendo? Não tem
exemplo, não tem empatia, não tem entendimento.

Não é fácil encontrar pessoas que estejam dispostas a cuidar dos nossos
filhos, não é fácil ter que nos deslocarmos para irmos com nossos filhos até a
faculdade, não é fácil ter que trabalhar o dia todo, ir para a faculdade e chegar em
casa e ainda ter que cumprir as nossas responsabilidades domiciliares e as
demandas estudantis. Ah! Mas é só desistir e pronto. Desistir de garantir um futuro
promissor para a minha família? Jamais. Vou insistir cansada mesmo, exausta
mesmo, esgotada mesmo, porque não temos a opção de ficarmos só estudando,
temos que trabalhar para nos sustentar, sustentar nossos filhos, porque pode ter
certeza que ninguém irá nos dar conforto, ninguém irá nos dar apoio financeiro,
ninguém irá fazer por nós, a não ser nós mesmas.
O Centro de Educação, um espaço criado para atender tantos alunos da
licenciatura e desfalca algo tão necessário que são nossas crianças e nossas
realidades vividas diariamente. Sabe aonde eu tinha que levar o meu filho para se
acalmar? Nos corredores, porque lá fora era sempre fresquinho para ele e podia vir
a se gripar, não tinha nada atrativo, apenas dois brinquedos que eu levava para ele,
até porque não cabia mais nenhum outro brinquedo na mochila, dentro tinha fralda,
pomada, muda de roupas, manta, remédios, documentos e lenço umedecido. Sabe
aonde eu dava a comida (papinha)? No hall de entrada do prédio, porque não tinha
um lugar especifico com uma mesa que eu pudesse dar a janta dele e na sala de
aula não tinha como, era inviável, pelo simples fato do cheiro ou o professor se
sentir incomodado.

O prédio da Pedagogia preparado para dar assistência as acadêmicas e


mediando todas nós para sermos ótimas pedagogas, para assim, as mesmas,
contribuir com o seu melhor na vida de tantas crianças, toda uma estrutura, todo um
sistema colocado no papel e executado com sucesso, que excelência, não é
verdade? Que excelência. Mas só um minuto. Vamos parar para pensar só um
minuto. E a assistências às mães que se rodeiam por suas crianças? Aonde está
essa excelência? Que esquecem que muitas dessas crianças, que estão inseridas
nas escolas do Município de Santa Maria/RS, são filhos das mães que estão
estudando na universidade ou que muitas dessas crianças ainda irão para essas
escolas, e pode ter certeza de que estarão as pedagogas formadas da instituição ou
estão fazendo estágio supervisionado e/ou remunerado.

A experiência que essas mães e eu tivemos na faculdade não será a melhor


referência, será de carência e de solidão, pois acreditem, sentir o vazio da
maternidade na formação inicial docente é um sentimento horrível. Você vê tanta
teoria linda, falada com amor e sensibilidade, mas quando você deveria ser
lembrada dessa forma, não existe teoria e nem fala que supra a sua dor, porque não
vão te olhar, não vão te dar credibilidade, não vão te dar importância, simplesmente
vão te tratar com indiferença, pois você não faz diferença e até esquecem que o seu
filho é um fator crucial para compor uma escola. Estamos estudando para isso,
estamos estudando pelas crianças, pela diferença e para fazer a diferença e mesmo
assim presenciamos esses descasos na faculdade. Que falta fazia um ambiente
pensado para nós, que falta fazia de um lugar adequado para trocar o meu filho.
Que falta fazia de um lugar confortável para amamentar o meu filho. Que falta vazia
um lugar para o meu filho dormir tranquilo. Que falta fazia de um cantinho/espaço
para o meu filho brincar. Ótima reflexão, não é mesmo?

O desconforto que era eu amamentar na posição que me encontrava nas


cadeiras da sala de aula ou nos corredores do prédio 26B, completamente
inconfortável, que sensação tão desgastante, um momento único na vida de uma
mãe, amamentar o seu filho, momento materno tão especial sendo desconsiderado,
sendo desvalorizado, porque enquanto eu estava naquela cadeira amamentando, eu
só pensava na dor nas costas, no pescoço, nas pernas, porque não tinha jeito de me
posicionar, pois a amamentação precisa ser confortável para mãe e para o seu filho,
é um vínculo que criamos tão forte e intenso com o bebê, é de mãe para filho, são
trocas afetivas e olhares marcantes, mas infelizmente não acontecia dessa forma na
faculdade, porque eu estava me sentindo desconfortável para amamentar. Nesse
mesmo instante que eu amamentava dessa forma, passava na minha cabeça como
eu poderia estar estudando sobre como ensinar as crianças, compreender as
famílias e a situação que a mesma estava inserida, se eu, mãe, acadêmica e
trabalhadora não estava sendo compreendida como eu escutava na sala de aula os
professores falarem. Que dor. Que dor imensurável. Que dor insuportável.

Estou cansada, exausta, e sim, falei isso muitas vezes e irei continuar falando
até alguém ouvir, até alguém sentir, até alguém se preocupar e se doar para ter
empatia ao ponto de mudar as coisas para melhorar a jornada acadêmica de uma
mãe, estudante e trabalhadora. Sabe o motivo de ser tão difícil ter essa tripla
jornada? Porque uma faz parte da outra, você estuda na faculdade e em casa,
temos demandas de trabalhos e provas, você trabalha para sustentar a sua família e
só fica pensando em se formar logo para que a sua renda aumente e finalmente
possa vir exercer a sua profissão. Virei madrugadas a fora terminando trabalhos que
durante o dia não podia fazer, porque chegava da faculdade próximo à meia-noite e
o restante do tempo que tinha era a madrugada e no outro dia já acordava cedo para
ir trabalhar. Mas e os finais de semanas? Finais de semana? Eu tinha as minhas
responsabilidades domiciliares, roupas para lavar, minhas e do meu filho, casa para
faxinar, organizar as coisinhas do meu filho e muitas vezes acabava tendo que
trabalhar de freelance porque o estágio remunerado não dava para todas as contas
do mês. Me multiplicava em mil para conseguir dar conta de tudo, é um turbilhão de
compromissos e você não se importa mais com a saúde, bem-estar, descanso, você
só precisa fazer e terminar tudo.

Eu já atrasei diversos trabalhos de algumas disciplinas, tentava justificar o


atraso, mas muitas vezes não era ouvida e o que tinha de retorno era o seguinte:
“As suas colegas entregaram no prazo, não posso ser injusta e te dar a mesma nota
se você não está entregando no prazo, não vai ser a mesma nota. Você sabe das
suas obrigações com o seu curso, você também precisa priorizar os seus estudos.
Dei um prazo e é esse prazo, se você não conseguiu terminar há tempo, não posso
fazer nada”. Mesmo assim eu entregava e essa frase que escutei ficou registrada na
minha cabeça e não saiu mais, porque eu priorizava os meus estudos, priorizava a
minha vida materna e o meu trabalho, mas vou priorizar mais ainda o meu filho, a
minha maternidade real é essa, meu passou a semana ruim, levamos no médico,
demos medicação e mesmo eu de atestado junto com ele em casa, não tinha como
parar de atender as minhas demandas em casa com o meu filho doente e fazer os
trabalhos exigidos pelos professores, não tinha como, não tem como, só na pele
para vocês conseguirem entender como funciona. Acham mesmo que eu não queria
terminar o trabalho da tal disciplina? Claro que sim. Minhas notas eram ótimas,
sempre fui muito competente, muito estudiosa e dedicada, mas não é o suficiente,
você é mãe, então não é valido ser tão habilidosa e falhar para entregar um trabalho
no tempo certo.

Já tive professores que foram compreensíveis, de estender o prazo, mas isso


discutido em aulas, porque havia outras colegas que também não tinham terminado
para entregar no prazo. Esse momento eu aproveitava, porque era a minha chance
de finalmente conseguir fazer e finalizar o trabalho. Esse olhar era falto e raro, mas
acontecia. Algumas aulas, na faculdade, eram tranquilas para receber o meu filho,
mas em outras, não era tão bem recebido assim, parecia que era um incômodo a
presença dele e quando eu notava, procurava ir passear pelos corredores e depois
de um tempo voltava. Isso me deixava tão abalada, tão magoada, porque falam das
múltiplas formas para trabalhar com as crianças e temos uma sala de aula, mas não
é bem-vinda. Não existem espaços proporcionados para as nossas crianças, mas
existem espaços proporcionados para as crianças nas escolas. Não são as mesmas
crianças? Existem olhares e práticas diferentes. Comecem a raciocinar que o
sistema da faculdade abandonou essas realidades e não veem o que é fundamental
para amparar essas mães.

Precisamos pensar em nós mães, acadêmicas e trabalhadoras e vou repetir


isso quantas vezes forem necessárias, principalmente quando for no ambiente
acadêmico. A Instituição tem que notar a necessidade de criar espaços estratégicos
para essas mães, planejem colocar trocadores nos banheiros, sofás ou poltronas
que sejam confortáveis para amamentação, um lugar com brinquedos atrativos para
essas mães conseguirem acalmar seus filhos quando eles estiverem cansados de
estarem presos na sala de aula sem fazer nada por algum tempo. Pensem nisso e
reflitam sobre isso.

Na faculdade eu percebia que estava solitária na maternidade, percebia o


vazio na formação inicial docente sendo mãe, acadêmica e trabalhadora. Não
deixem as mães, acadêmicas e trabalhadoras sentirem esse vazio, pois só temos
vontade de desistir, mesmo não conseguindo desistir, porque não é simples e fácil
essa decisão, mas é tudo tão tumultuado que já não temos mais alternativas, não
façam essas mães estarem nesse vazio, é sombrio, é escuro, é triste, é vasto, é
abandonado, não permitam que sintam-se assim. Tenham empatia, tenham
compreensão, entendam a nossa realidade vivida diariamente de forma árdua. E se
possível ofereçam ajuda ou um abraço e acreditem que esse simples gesto pode
transformar o lugar delas, podem fazer a diferença na vida delas. Estendam as mãos
e não nos abandonem.

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gente escreve e pausa a vida, pausa a vida para uma outra vida, meu filho,
é uma frase iniciada e logo interrompida, mas não prejudica, pelo contrário, alimenta.
Alimenta o amor, o carinho, o afeto. Dizem tanto sobre pausar a vida pelos filhos,
falaremos disso, porque os filhos crescem, isso de certa forma menospreza a minha
dedicação materna, porque a vida de uma mãe é viver eternamente de pausas.

Se você está estudando e escuta “mãe eu quero água, mama, comida”, você
pausa o seu estudando e vai atender o pedido de quem precisa. Se você está no
trabalho e escuta “fiquei doente”, você pausa o seu trabalho e leva quem precisa no
médico. Se você está dormindo e escuta “me nana, faz cafuné, um choro qualquer”,
você pausa o seu sono e dá todo o amor e carinho à quem está pedindo. Essas
pausas são mínimas ao tanto que pausamos a vida pelo nossos filhos, sentimos
tanto isso e nos orgulhamos de pausar tudo que estamos fazendo para nos
dedicarmos a vida materna. A nossa vida materna. Tão intima, tão única, tão
especial, tão fundamental, tão importante, tão nossa.

E mesmo assim, com tantas pausas, somos cobradas vinte e quatro horas por
dia, por todos que estão ao nosso redor, fazendo com o que ficamos numa busca
incessante de sermos melhores e de dar o nosso melhor, mas para o outrem não é o
suficiente, a culpa jogada em cima de nós e pegamos isso, guardamos isso, a culpa
é nossa. Mas, no entanto, no final da minha escrita, tive a certeza, a certeza que
essa culpa não é nossa, não, não, não e não, não é nossa. Eu me culpava tanto e
ainda escrevendo o TCC mantinha esse mesmo pensamento, porém, no final do
último capítulo, essa certeza veio, acabou o julgamento próprio, a cobrança e o
medo, acabaram. Acabou, graças a esse trabalho, graças a minha escrita, o meu
relato e graças as minhas entrevistadas, que, de certa forma, me possibilitou
enxergar ainda mais que eu nunca estive sozinha na vida maternal, acadêmica e
trabalhista.

Eu optava por estudar do que estar com o meu filho, eu optava por ir até a
universidade assistir aula do que assistir o meu filho crescer, eu optava por trabalhar
do que cuidar do meu filho, eu optava em brincar com outras crianças na escola (no
meu trabalho) do que brincar com o meu filho, eu optava por responder uma prova
na sala de aula do que atender um pedido do meu filho em casa, eu optava por estar
presente no meu curso de Pedagogia do que estar presente na vida do meu filho.
Essas são as obrigações que carregamos, nós mães, estudantes e trabalhadoras
não temos rede de apoio. Não temos compreensão. Não termos como deixar de ir
trabalhar, deixar de estudar para ficarmos em casa, nós temos que ir, temos que
garantir o futuro e o conforto para a nossa família.

A minha cabeça estava um turbilhão de emoções. Precisamos entender que o


sentimento de abandono estava no meu filho, ele tão pequeno me olhava com
saudade, não queria sair do meu colo e o meu coração se despedaçava naquele
exato momento, mas eu fechava os olhos e ia trabalhar/estudar. Eu desisti de cuidar
do meu filho e isso é uma dor que eu vou carregar para o resto da minha vida. E é aí
que entra o ciclo de julgamentos, julgamentos dos terceiros e dos mais próximos, de
não termos na faculdade uma rede de apoio que nos observe e nos ampare
enquanto mães, acadêmicas e trabalhadoras, não enxergam as nossas
necessidades e muito menos as necessidades dos nossos filhos que também
frequentam aqueles corredores. Só parem de nos julgar, por termos que deixar os
nossos filhos com outras pessoas ou por termos que levá-los juntos para a aula e ter
que nos “virar” para, por exemplo, trocar a fralda dos nossos filhos em bancos da
faculdade tendo mil olhares em volta nos julgando por estar ali.

Concluí desenvolvendo o meu trabalho que a maternidade não poder ser de


julgamentos, precisa ser de acolhimento, por isso, aos que nos rodeiam e aos que
nos observam de longe, tenham compaixão e empatia, porque o significado de
compaixão é você sentir o que o outro está sentindo e empatia significa apenas se
colocar no lugar do outro. Assim, vocês entenderão o que é a maternidade real na
formação inicial docente. Então, procurem sentir o que sentimos, se coloquem no
nosso lugar, ofereçam ajuda, pois manter duas vidas com papéis tão representativos
não é fácil, é desafiador.

Agora que finalizei a minha escrita e encerro o meu trabalho colocando as


minhas considerações finais. Preciso dizer algumas coisas. Eu fracassei como mãe,
eu errei como mãe e me culpei por ser mãe. Percebi, depois de toda essa reflexão
do meu trabalho, que eu não estou sozinha na maternidade, tem outras mães
descobrindo como é ser mãe. Após o término do último capítulo tive absoluta certeza
do que é ser mãe. Eu sou mãe. Sou força, dedicação, amor, frustação, acolhimento
e suporte. Sou intensa, rajada, furacão, melodia, calmaria e densidade. Eu sou mãe,
mãe de acertos e de erros, mãe de aprendizagens e de vontades.

Eu estou tentando, mesmo que ninguém acredite, mas eu estou me


esforçando para ser a melhor mãe do mundo. Podem até duvidarem, assim como eu
duvidei dessa frase de “estou tentando e me esforçando”, mas eu não estou
tentando e muito menos me esforçando, porque eu sou a melhor mãe do mundo
junto com outras mães reais que vivem a maternidade real dentre os altos e baixos.
Isso é experiência única, é a nossa realidade materna. Eu reconheço que errei e
reconheço que consertei os meus erros. Mãe é isso, é sobre isso, é amor infinito e
compartilhado. A gente não desiste, a gente insiste, mesmo que já não tenhamos
forças, a gente continua, continua e continua. Parem de nos culpar, nos julgar, nos
ferir, só parem. Porque já temos o maior cargo que alguém poderia ter, o de ser
mãe. Então, já não preciso mais me sentir assim, tão vazia e tão sozinha, tão
culpada e tão amedrontada, pois as minhas responsabilidades me tornam ainda
mais mãe e isso é para a vida toda. Não preciso me perdoar, não preciso pedir
perdão há ninguém, a não ser a uma pessoa que foi o único que sentiu tudo o que
eu senti nesses anos.

Portanto, deixo aqui o meu pedido de perdão a única pessoa que merece
ouvir e que sabe que a culpa que carreguei foi por outras pessoas, foi por
julgamentos excessivos e que hoje já não importa mais. Me perdoa filho, por ouvir o
outrem, me perdoa por não ter dado a devida assistência na faculdade a você, por
não ter estado presente quando precisou, por ter errado e falhado. O meu amor por
você vai além do infinito, porque você é o resultado de amor. É o meu grande amor.
Saiba que toda a culpa que eu trouxe até aqui, vai ficar aqui, vai permanecer aqui.
Eu finalmente consegui entender que o que guardei dentro do meu coração de
mágoas, frustações e angústias, já coloquei para fora e não volta a ter mais moradia
em mim. Esse peso não é mais meu, peso este, da sobrecarga, já não me pertence
mais, e só tive certeza disso após a minha pesquisa, após encerrar o
desenvolvimento dos capítulos e reler todo o TCC. Tive a certeza de que a falha
nunca foi minha e nunca será minha.

Esse trabalho foi lindo do início ao fim, foi intenso da primeira palavra ao final
dela. Consegui compreender após todo o desenvolvimento dos capítulos a
importância desse estudo, desse relato, dessa escrita. O quão fundamental é
falarmos sobre o ser mãe, o ser acadêmica e o ser trabalhadora. Encerro assim
essa escrita, essa dor, esse peso, essa culpa, que agora não existem mais, a dor
acabou, o peso sumiu e a culpa não é minha, não é nossa, a culpa é do sistema e
do outrem sobre nós, não devemos nos cobrar, devemos garantir a vida estável dos
nossos filhos, do nosso trabalho e do nosso estudo, cumprir apenas as nossas
responsabilidades enquanto mães, acadêmicas e trabalhadoras.
REFERÊNCIAS

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mentes brilhantes na era da ansiedade. 1. ed. – São Paulo: Planeta, 2017.

MINAYO, M. C. S.; MINAYO-GOMÉZ, C. Difíceis e possíveis relações entre


métodos quantitativos e qualitativos nos estudos de problemas de saúde. In:
GOLDENBERG, P.; MARSIGLIA, R. M. G.; GOMES, M. H. A. (Orgs.). O clássico e o
novo: tendências, objetos e abordagens em ciências sociais e saúde. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2003. p.117-42. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento. Pesquisa
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a vida adulta. En: SAMPAIO, S. M. R. (Org.). Observatório da vida estudantil:
primeiros estudos. EdUFBA, Salvador, p. 145-168. Disponível em:
http://books.scielo.org/id/n656x/pdf/sampaio-9788523212117 pdf. Acessado em:
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Almeida, L. S. (2007). Mãe, Cuidadora e Trabalhadora: As múltiplas identidades de
mães que trabalham. Revista do Departamento de Psicologia, 19(2), 411-422.
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24/05/2022.

BELTRAME, Greyce Rocha; DONELLI, Tagma Marina Schneider. Maternidade e


carreira:

desafios frente à conciliação de papéis. Revista Aletheia 38-39, p.206-217,


maio/dez. 2012.

Disponível em: Maternidade e carreira: desafios frente à conciliação de papéis


(bvsalud.org) Acessado em: 24/05/2022.

Freire, Paulo Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa /


Paulo Freire. – São Paulo: Paz e Terra, 1996. – (Coleção Leitura)

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e


criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

COLOCAR DE FORMA CORRETA ESSA REFERENCIA Série "maternidade e vida acadêmica" -


Romantização da maternidade (eurekaconsultoriaacademica.com.br)

TEM QUE COLOCAR EM ORDEM ALFABÉTICA A BIBLIOGRAFIA

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