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2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
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O presente trabalho foi elaborado tendo como base a teoria das Representações
Sociais construídas sobre o trabalho docente. Teve como objetivo geral analisar como
os professores e outras pessoas que não atuam no campo pedagógico veem e
descrevem a profissão e identificar se, de fato, as opiniões concebidas no senso
comum acerca do exercício do magistério, dialogam com a realidade descrita pelos
professores. Para atender a essas finalidades foram utilizados como procedimentos
metodológicos: uma pesquisa teórica para verificar o estado da arte e em seguida,
entrevistas semiestruturadas com cinco (05) professores da rede pública e cinco (5)
da rede privada (5) de ensino e também com sete (07) pessoas que não atuam na
docência. Foi observado que, as opiniões apresentadas pelos não – docentes são
muito semelhantes à dos professores, pois, além de utilizarem definições que
remetem a ideia do professor como um ser facilitador, mediador, capaz de aprender e
de ensinar, ser professor também é: ser educador, um bom profissional, ser um
facilitador, ser um resumo geral de todas as profissões, ser responsável, dedicado e
pontual, ser uma pessoa que dá ensinamento às outras pessoas, que é um mediador
do conhecimento, faz uma ponte entre o saber e o não-saber e ainda é capaz de
repassar conhecimento e que deve estar sempre se aperfeiçoando. O grupo dos
professores considerou que ser professor implica em estar atento, gostar do que se
faz, conseguir ampliar o conhecimento dos alunos, tornar-se um exemplo, ser
formador de cidadãos conscientes, ser facilitador, mediador, poder ser um militante;
um sujeito social ativo, ser também uma ponte para guiar os alunos, ter uma missão,
ter um dom; ser um sujeito que professa o futuro; que forja um ser. Foi dito ainda que
ser professor é ser amigo, psicólogo, médico, orientador, conselheiro; e que acima de
tudo é ser profissional, um trabalhador como qualquer outro, mas que possui
compromisso e responsabilidades na promoção da aprendizagem e criticidade dos
alunos. Os dois grupos demonstraram um ponto de ligação ao apresentarem suas
respostas com base em características ligadas à questão da subjetividade e dos
valores. É importante observar que além de caracterizarem a figura do ser professor
os dois grupos discorreram sobre as atribuições que acreditavam ser concernentes à
prática docente e que também se vincularam nesse sentido. Com base nas narrativas
dos sujeitos e informantes da pesquisa foi organizada a composição textual desse
trabalho que revela uma rede de significados atribuída ao sentido dado ao “ser
professor” pelos próprios professores, que se ancoram no senso comum e dialogam
com certos pontos citados na fala dos docentes. Portanto, as reflexões que surgiram
na análise das representações sociais sobre a docência, indicaram que existem
muitos desdobramentos arraigados nesse estudo.
The present work was elaborated based on the theory of the Social Representations
built on the teaching work. Its main objective was to analyze how teachers and others
who do not work in the pedagogical field see and describe the profession and to identify
if, in fact, the opinions conceived in the common sense about the exercise of teaching,
dialogue with the reality described by the teachers. In order to meet these objectives,
a theoretical research was used to verify the state of the art and then semi-structured
interviews with five (05) teachers in the public network and five (5) in the private
teaching network (5). with seven (07) people who do not teach. It was observed that
the opinions presented by non - teachers are very similar to those of teachers,
because, besides using definitions that refer to the idea of the teacher as being a
facilitator, mediator, capable of learning and teaching, being a teacher is also: being
educator, a good professional, be a facilitator, be a general summary of all professions,
be responsible, dedicated and punctual, be a person who teaches others, who is a
mediator of knowledge, bridges the gap between knowledge and the non-knowing and
still able to pass on knowledge and that must be always improving. The teachers 'group
considered that being a teacher implies being attentive, liking what is done, being able
to increase the students' knowledge, becoming an example, being a conscious citizen,
being a facilitator, a mediator, being a militant; an active social subject, also be a bridge
to guide students, have a mission, have a gift; be a subject who professes the future;
who forges a being. It was also said that to be a teacher is to be a friend, a psychologist,
a doctor, a counselor, a counselor; and above all, to be professional, a worker like any
other, but who has a commitment and responsibility in promoting students' learning
and criticality. The two groups demonstrated a point of attachment in presenting their
answers based on characteristics linked to the question of subjectivity and values. It is
important to note that in addition to characterizing the figure of being a teacher, the two
groups discussed the attributions that they believed were related to the teaching
practice and that they also linked in that sense. Based on the narratives of the subjects
and informants of the research was organized the textual composition of this work that
reveals a network of meaning attributed to the sense of being a teacher by the teachers
themselves, who anchor themselves in common sense and dialogue with certain points
mentioned in the teachers' speech. Therefore, the reflections that arose in the analysis
of social representations about teaching, indicated that there are many unfolding roots
in this study.
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 13
2 METODOLOGIA ..................................................................................... 16
3 A TEORIA E SUA RELAÇÃO PRAGMÁTICA COM A PESQUISA …. 19
3.1. Teoria das Representações Sociais ................................................ 20
4 O PROCESSO HISTÓRICO DE (RE) CONSTRUÇÃO DA FIGURA
DOCENTE NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE .................................. 32
5 FORMAÇÃO DE PROFESSORES: DESAFIOS E IMPLICAÇÕES 40
6 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A ANÁLISE DOS DADOS ...... 50
6.1 Entrevista com o grupo dos não – docentes ..................................... 52
6.1.1 As representações dos entrevistados não – docentes sobre o que é
ser professor ........................................................................................... 52
6.1.2 As percepções sobre as condições de trabalho do professor ................ 61
6.1.3 Perspectivas sobre o processo formativo docente ................................ 65
6. 2 Entrevista com o grupo de professores .......................................... 72
6. 2. 1 A visão dos professores sobre si mesmos: o que é ser professor? ........ 72
6.2.2 As condições de trabalho sobre a perspectiva dos ensino privado ........ 80
6.2.2.1 A educação pública e sua realidade estrutural: o que dizem os docente 84
6.2.3 O processo formativo e o choque de realidade ...................................... 88
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 97
8 REFERÊNCIAS ...................................................................................... 102
ANEXO I – ROTEIRO DAS QUESTÕES DESENVOLVIDAS NA 105
REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS ...................................................
ANEXO II – ENTREVISTA COM UM DOCENTE DA ESCOLA 106
PRIVADA ...............................................................................................
ANEXO IIII – ENTREVISTA COM UM DOCENTE DA ESCOLA
PÚBLICA .............................................................................................. 110
ANEXO IV – ENTREVISTA COM UM DOS PARTICIPANTES DO
GRUPO NÃO – DOCENTES ................................................................. 113
13
1 INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
1 O psicólogo social Serge Moscovici nasceu na Romênia, em 1928, imigrou para França em 1948, e,
entre os fatos históricos marcantes de sua vida inclui-se o contexto da II Guerra Mundial. Em 1961,
publicou a tese La Psychanalyse, Son Image, Son Public e propôs a Teoria das Representações Sociais
como fenômeno científico interdisciplinar, que não se limita apenas as Ciências Sociais ou à Psicologia
Social, mas ao conjunto de conhecimento psicossociológico. Moscovici, antigo diretor de pesquisas e
professor emérito da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris faleceu em 2014
(SANTOS; DIAS, 2010, p. 9). Em 1948, e, entre os fatos históricos marcantes de sua vida inclui-se o
contexto da II Guerra Mundial. Em 1961, publicou a tese La Psychanalyse, Son Image, Son Public e
propôs a Teoria das Representações Sociais como fenômeno científico interdisciplinar, que não se
limita apenas as Ciências Sociais ou à Psicologia Social, mas ao conjunto de conhecimento
psicossociológico. Moscovici, antigo diretor de pesquisas e professor emérito da École des Hautes
Études en Sciences Sociales, em Paris faleceu em 2014. (SANTOS; DIAS, 2015, p. 181)
21
acomodando a representação que foi feita com base nos desenhos sociais que ele
construiu.
A construção da representação, bem como a organização do pensamento
e das perspectivas acerca de dado assunto, gerem-se a partir da articulação entre
aspectos subjetivos e objetivos, em outras palavras, sujeito e sociedade. Portanto na
consolidação desse processo, existe a participação de diferentes sistemas na
formação da Representação.
Esse sistema formativo da representação reúne desde as proposições do
senso comum abrangendo assim os elementos de ordem social e cultural, ate àqueles
de padrão mais intrínsecos, ou seja, de ordem emocional ou fenomenológica, em
outras palavras, “sujeito, objeto e sociedade, são considerados inseparáveis e busca-
se compreender processos intra e interindividuais que ocorrem simultaneamente em
contextos históricos e socioculturais precisos”. (SANTOS 1998, P. 115)
Arruda (2014, p. 41), apresenta “quatro conceituações ou dispositivos
articulados do dinamismo das representações sociais”, a saber:
- A representação social entendida como rede de significados;
- A consideração do peso dos afetos;
- A problematização da definição e do papel dos grupos e dos consensos;
- A observação da coexistência de lógicas diferentes, isto é, a polifasia cognitiva.
Na abordagem destes conceitos, a autora destaca as principais
características inerentes a cada um destes e que por sua vez, possuem uma função
estruturante para a compreensão acerca da organização e do funcionamento das
Representações Sociais.
De acordo com Arruda (2014, p. 48) “a representação social como rede de
significados, teve sua definição construída em torno do núcleo imagético, trazida por
Moscovici em 1961 e de volta em 1976”. Em 1988, Moscovici retoma a discussão ao
comentar a diferença entre representação social estática e dinâmica (ARRUDA, 2014,
p. 49), distinções estas que Arruda (2014), seguindo as ideias de Moscovici,
transcreve da seguinte maneira:
[...] não existiria objeto social sem esta mediação, que inclui o discurso e o
universo de representações já circulante no grupo. Da mesma maneira, o
objeto ganha relevância social graças ao significado que se desenha para ele
(ARRUDA, 2014, p. 42)
Mas afinal, por que o objeto precisa ter importância para o sujeito ou para
o grupo? Qual a finalidade dessa significação? Dentre as possíveis respostas para
essas indagações, encontra-se o fato de que, a representação não será construída se
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o objeto não possuir magnitude para o sujeito ou para o grupo, visto que, é necessário
que haja uma aproximação entre eles.
Para que isso aconteça, a presença dos afetos é determinante, pois,
segundo Arruda (2014, p. 45), “[...] se um objeto precisa ser relevante para um grupo
para que ele o represente, é obrigatório que o encontro com este objeto seja
disparador de afetos”. Nessa perspectiva, entramos no segundo dispositivo das
representações sociais definidos por Arruda, que é a consideração do peso dos
afetos.
É necessário que se tenha um objeto mediador, um desenho psicossocial
que confira consistência a representação. Portanto a figura dos afetos é
imprescindível, pois,
Além destas, o autor ressalta ainda que o núcleo central possui a função
generadora e organizadora (ABRIC, 1998, p. 31), isto porque, o espaço que ele ocupa
no campo das representações, consiste em resguardar a ideia principal que manobra
a representação, para isso, ele acaba também por exercer um papel de
28
2
Cidade grega onde começa e acaba a vida do cidadão livre e educado. (BRANDÃO, 1995, 36)
34
“[...] do lado de fora das portas do lar, a educação latina enfim separa em
duas vertentes o que se pode aprender. Uma é a oficina de trabalho, para
onde vão os filhos dos escravos dos servos e dos trabalhadores artesãos.
Outra é a escola livresca, para onde vão o futuro senhor (o dirigente livre do
trabalho e do Estado) e o seu mediador, o funcionário burocrata do Estado
ou de negócios particulares. (BRANDÃO, 1995, p. 52)
Porém, apesar da forte supremacia da igreja católica, por trás disso havia
tensas disputas ideológicas entre o catolicismo e o protestantismo. Esse embate
também influenciou significativamente para o início da construção do processo
educativo escolar. Indiscutivelmente, “sejam eles, pastores, padres ou irmãos, esses
religiosos acabam por constituir uma das primeiras e fundamentais representações do
magistério” (LOURO, 1997, p. 92-93).
Claro que até aqui a docência ainda não possuía os atributos didáticos e
pedagógicos de hoje, visto que, nesse período, o sentido primário da docência era o
seguimento de dogmas religiosos e a obediência a prescrições espirituais, entretanto,
foi relevante para o início da construção sistêmica da educação.
Mais tarde, por volta do século XVIII, com a chegada do Marquês de
Pombal, é que esse ensino religioso passa a ser questionado e substituído pelo ensino
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laico, o que fez com que gradativamente a hegemonia da igreja católica tivesse suas
bases estremecidas, conferindo um enfraquecimento da ideologia religiosa.
No decorrer de toda a história sempre houve disputas e divisões, mas o
que podemos perceber é que com o decorrer do tempo esses jogos de poder e esses
embates ideológicos foram se tornando cada vez mais acentuados e elaborados.
Consequentemente, o professor desde sempre esteve envolvido nesse processo e
especialmente no período moderno, ele passa a ser visto como um perfeito canal para
manobrar e executar as deliberações do Estado.
Na modernidade, passam a ser feitos os primeiros arranjos na educação.
Aqui observamos a definição dos sujeitos e o papel que cada um deveria assumir no
processo de ensino-aprendizagem. A informalidade e os valores culturais, aspectos
tão determinantes na educação antiga e a doutrinação religiosa típica da idade média,
passam por um intenso e significativo processo de reestruturação educativa. Como
afirma Louro (1997, p. 91)
comportamentos e as virtudes que ele aprendeu. Para que isso aconteça, não
basta que o mestre seja conhecedor dos saberes que deve transmitir, mas é
preciso que seja ele próprio, um modelo a ser seguido. (LOURO, 1997, p. 92)
fatores determinantes na realização desse processo. Juan Ruz Ruz( 1998, p. 89)
afirma que:
Essa é apenas mais uma das questões que tem penetrado no interior das
escolas e da sala de aula de maneira pertinente, isto porque, recai sobre o professor
a enorme responsabilidade de fazer seus alunos avançar, mas não se trata de um
avanço do saber, o que preocupa, é que há um interesse muito mais sério, que
envolve meritocracia e concorrência, quando na verdade, precisamos de cooperação
para dar sentido à ação pedagógica. Sobre isso, a autora Selma Garrido Pimenta
(2001, p. 55) afirma que:
Diante da questão exposta, pode-se até questionar: Mas o que tem a ver
avaliação com a formação docente? Qual o eixo que aproxima essas duas vertentes?
Na verdade, a abordagem sobre a avaliação de desempenho e a formação docente
possui sim uma relação, sendo que, as atividades avaliativas possuem uma forte
influência na forma como os professores serão formados.
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[...] pode-se dizer que escola e o ensino têm sido historicamente invadidos e
continuam a sê-lo, por modelos de gestão e de execução do trabalho oriundos
diretamente do contexto industrial e de outras organizações econômicas
hegemônicas [...]
Aprender não pode ser um ato mecânico, pois ele exige curiosidade, atenção,
espirito investigativo e ousadia para enfrentar o novo, como espaço de luta
pelos possíveis e quem sabe impossíveis. Para tanto, é preciso considerar os
professores como protagonistas de seus percursos formativos, abrindo
espaço para ouvir suas vozes, traduzindo pensamentos e sentimentos
múltiplos, os quais revelam suas singularidades na compreensão e no fazer
docente. (NUNES, 2007, p. 149)
inúmeras metodologias e ferramentas que ele pode utilizar para contribuir nesse
processo, afinal,
Ser professor é um educador e para ter base de tudo que nós fazemos é
preciso que alguém ensine, esse ensino parte de alguém que seja um bom
profissional e para ser um bom profissional é preciso ter a humildade e saber
compreender as pessoas, para poder desenvolver um bom trabalho. (Chefe
de Segurança do Trabalho, 42 anos de carreira)
Percebamos que assim como AL destacou que o professor deve ser aquele
que ajuda no processo de aquisição do conhecimento, Hel também reconheceu que
é necessário que alguém realize essa função, porém, ele não elabora a resposta
dizendo simplesmente que é o professor quem deve fazê-lo, ele esclarece que, este
por sua vez, também precisa ser um bom profissional para que de fato o ensino
aconteça.
Mas afinal, que caraterísticas integram o perfil do que seria um bom
profissional? No decorrer das falas de alguns entrevistados, podemos encontrar
trechos que comentam sobre isso. O próprio Hel ao falar de bom profissional já o
caracteriza dizendo que “é preciso ter a humildade e saber compreender as pessoas,
para poder desenvolver um bom trabalho”. Além dele, o Agente de Endemias Rael,
também apresentou alguns atributos:
para exercer a função”. Esta observação feita pelo o entrevistado é bem interessante,
pois, quando falamos de formação, precisamos analisar ao que ela realmente se
destina, que objetivos foram definidos e que finalidade se deseja alcançar.
Assim como Hel pressupõe que ter profissão não é sinônimo de
profissionalismo, Rael também faz um paradoxo de que ser formado não significa ter
formação, ou seja, estar capacitado.
Mas o que realmente Hel e Rael querem dizer quando fazem essas
comparações? Com base em quê eles observam que uma coisa pode não ser
sinônimo da outra? Em meio a esses questionamentos trazemos alguns diálogos que
dialogam com as interpretações dos entrevistados supracitados.
O mototaxista Dinho, que foi um dos entrevistados, não utilizou nenhum
dos termos citados por Hel e Rael, porém, também comentou algumas das
características que segundo ele, precisam fazer parte da prática docente.
Se ele for uma pessoa que se formou naquela área, ele tem que ter
responsabilidade daquilo que ele faz, ser dedicado ao seu trabalho, ter
horário de chegada, horário de saída. Tem que saber passar a atividade para
seus alunos, isso para mim é ser professor. Uma pessoa que tem que ter
caráter, educação que eu acredito que essas pessoas têm. (DINHO)
Por isso, cada professor precisa estar ciente a cerca de sua prática
pedagógica e ter a sensibilidade de identificar seus acertos e erros. Não somente ao
professor cabe essa responsabilidade de estar atento e vigilante sobre como
desempenha o seu trabalho, na verdade, todos que atuam em uma área específica
precisam observar os impactos e os resultados que sua prática que tem gerado.
Porém, quando se fala de trabalho docente muitos paradigmas surgem em meio a
essa discussão.
Ao contrário do que muitos pensam ser professor não é somente ensinar
um conteúdo ou cuidar da educação dos alunos, na verdade, existem outras
dimensões muito mais sérias e determinantes envolvidas nesse processo. Há quem
possa indagar: Mas o que poderia ser mais importante do que ensinar e cuidar dos
alunos? Digo: o ensino não pode ser desenvolvido de qualquer jeito e o cuidado não
pode ser intermitente. Ambos têm que ser desenvolvidos de forma reflexiva e objetiva.
Por isso, não basta ensinar ou cuidar, tem que haver relevância e vigilância no que se
está fazendo.
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São poucos os professores que conseguem inovar, porque não é fácil, pois
toma muito tempo, mas para aqueles que realmente gostam, acredito que
valha muito a pena e faça toda a diferença no trabalho do profissional.
Em um dos trechos, Rael usa a seguinte frase: “para aqueles que realmente
gostam”. Portanto, se observarmos o contexto em que a resposta foi desenvolvida
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perceberemos que ele supõe que só é capaz de inovar e vencer as barreiras do tempo,
aqueles professores que realmente gostam do que fazem.
Em outro momento, Dinho vai dizer:
eu desejo ser? O que estou disposto a fazer para que o ensino-aprendizagem de fato
aconteça?
Quando realizamos essa reflexão, então percebemos que a relação
professor e aluno não é meramente circunstancial. É algo que naturalmente acaba
integrando o processo de formação da identidade discente e também docente. A partir
da análise da diversidade e da influência docente, aspectos estes que foram
mencionados por Cic no decorrer de sua fala, Ribeiro (2007, p. 217) explica:
É uma resposta meio complicada de dar, porque vai envolver muita coisa. O
professor se torna um resumo geral de todas as profissões, porque ele tem
que ensinar e aprender ao mesmo tempo, ensinar no sentido de transmitir o
conhecimento, e aprender, porque tem que fazer um estudo de cada aluno,
para saber como sanar cada situação. (CIC)
Professor para mim é aquele que tem a sua profissão, mas que se dedica a
ela, que trabalha, chega no seu horário combinado, tem a sua
responsabilidade. (DINHO)
Bom, é ser uma pessoa que vai dar ensinamento para as outras pessoas, as
crianças, adolescentes. É aquele que vai ajudar na educação. (ADA)
[...] o ser professor compreende gostar do que se faz, ter um bom domínio e
procurar estar sempre se aperfeiçoando, porque assim como as outras
profissões exigem atualização dos profissionais, também a de professor exige
empenho, procura de coisas novas, semelhante a outras áreas como
medicina e etc. Sabemos que é difícil atender isso tanto no setor público
quanto no privado. (RAEL)
Parece-nos que o primeiro passo a ser dado para analisar o trabalho dos
professores é fazer uma crítica resoluta das visões normativas e moralizantes
da docência, que se interessam antes de tudo pelo o que os professores
deveriam ou não fazer, deixando de lado o que eles realmente são e fazem.
Claro que definir o que é ser professor não é algo indissociado do que ele
deve fazer para sê- ló, porém, devemos ao mesmo tempo analisar as possiblidades
que ele possui para cumprir com aquilo que se espera que ele faça e seja. Mas afinal,
o que se espera que o professor faça e seja? Organizaremos essa resposta reunindo
as opiniões coletadas, que ao mesmo tempo, nos ajudarão a fazer algumas
considerações tecendo a interpretação geral dos dados. Portanto, respondendo a
pergunta realizada analisamos que o professor deve ser:
- Além de educador, facilitador que ajude os seus alunos a chegar ao objetivo proposto
para cada disciplina... deve ajudar ao aluno a adquirir o conhecimento (Al);
- Seja um bom profissional (Hel);
- Ensine e aprenda ao mesmo tempo (Cic);
- Se dedique a sua profissão, que trabalhe, chegue no seu horário combinado, tenha
a sua responsabilidade (Dinho);
61
Hel não foi o único entrevistado que fez esse levantamento. Assim como
ele, Val também afirmou que a falta de investimento é de fato comprometedora.
Acredito que poderia ser disponibilizado mais materiais para o professor, por
exemplo, que houvesse um recurso específico para que o professor pudesse
construir seus materiais quando necessário ou fazer compras de materiais
confeccionados, podendo assim comprovar o uso do dinheiro por notas
fiscais [...]
Há quem diga que as greves dos professores por aumento salarial são algo
desnecessário, uma perca de tempo, mas esquecem de observar o outro lado da
moeda, que é o de observar as condições de trabalho e as intempéries que circundam
a profissão. Segundo Pinto (1998, p. 343),
63
Ele trabalha muito, porque tem que corrigir prova, tem que escrever as
tarefas, tem que conseguir passar para, as pessoas e as crianças
entenderem. (ADA)
[...] o tempo para planejar é muito pouco, perde tempo para o lazer com a
própria família, então eu vejo que a atual legislação que nós temos sobre a
educação ela está matando e desvalorizando a profissão, eu vejo que a
legislação do Brasil tem uma discrepância em relação a realidade [...] (VAL)
64
É um cargo estressante, é preciso ter amor a profissão, para seguir isso aí.
Por quê? Porque, geralmente, o professor não tem só a atividade de ensinar,
na verdade, ele tem várias atividades, como família, outros afazeres, sendo
que tudo isso são responsabilidades, é uma coisa que tem que ter muita
dedicação, muita força de vontade, para seguir em frente. (DINHO)
Eu acho que não, pois na licenciatura, que são de quatro anos mais ou
menos, mostram muitas disciplinas, mas essa questão do preparo emocional
e psicológico ficam de lado. Em nenhum nível, na verdade, até em níveis
universitários, não vejo que eles tenham essa preparação que seria muito
bom se focasse nesse aspecto.
Nessa parte eu sou bem crítico. Pegando como base a FAFIDAM, eu tenho
uma crítica muito grande, pois vemos uma preparação dos alunos mais no
sentido de eles serem futuros pesquisadores do que professores. A grade da
FAFIDAM dá muita ênfase na pesquisa e em um conteúdo mais acadêmico
do que na didática e nos conteúdos de ensino, isso gera uma defasagem
muito grande no processo de formação do professor, porque o futuro
professor sai com uma preparação exagerada, mas que não se aplica muitas
vezes ao ensino básico, pois é ignorado o fato, como diz na resolução 2 do
MEC, de preparar para o ensino, e há um foco na preparação para o mestrado
e não para o ensino básico.
[...] essa divisão de ter um profissional para pesquisa e outro para licenciatura
de certa forma atrapalha no meu ponto de vista, porque fica defasado, então
eu vejo que tem que ter um novo currículo para formação que saísse um
profissional que fosse capacitado tanto para lecionar quanto para pesquisar,
para produzir conhecimentos. Eu acho que não tem essa necessidade de se
dividir [..]
diário em sala de aula. Durante a minha passagem pelas escolas durante os estágios
inúmeras vezes ouvi uma ou outra professora comentar: “a teoria é uma coisa e a
prática é outra bem diferente”. Mas afinal, porque são tão diferentes se uma adquire
sentido a partir da existência da outra? Mas analisemos o que Cic disse:
[...] em questão de conteúdo, eles vão ter, mas a forma como é ensinado o
conteúdo na universidade é uma e na escola é outra, então essa mudança
de realidade de um canto para o outro faz com que o professor não consiga
cumprir o planejamento, pois muitas vezes o planejamento não se adequa a
turma. Se ele pega três turmas no dia, terá que adequar o plano a três
realidades diferentes [...]
Porém, uma série de fatores implica para que esses tipos de coisa
aconteçam. A existência de desafetos no ambiente escolar, muitas vezes são
motivados por competições entre as salas de aula, rivalidade esta que se torna ainda
mais acentuada nos períodos de aplicação das avaliações externas. Turmas que são
postas sob patamares diferentes e que adquirem títulos com base no desempenho
escolar, acabam contribuindo para o surgimento de intrigas e desunião entre os alunos
e até entre professores.
A escola precisa estar atenta para esses tipos de problemas, pois, a
ideologia neoliberal que motiva a competividade está embutida nesses sistemas de
avaliação. Além disso, elas conseguem paralisar toda a escola em prol dessas
avaliações programando professores e alunos. Essa programação acaba gerando
engessamento e uma ruptura no ensino, como bem observou Val:
[...] as escolas hoje no Brasil tem aquelas provinhas, prova Brasil, SPAECE,
olímpiadas, ENEM, então o que está em jogo é se o aluno vai ter resultado
ou não nessas provinhas, então o professor não tem como dar uma aula para
o ensino-aprendizagem, porque a escola tem que cumprir algumas regras
impostas, porque é cobrada como se fosse uma empresa que tem que dar
resultados e é como se o professor estivesse trabalhando na produção, ele
fosse o operário e os alunos tem que ter aquele resultado X, porque se não
for não vai... então essa pressão e a rigidez da escola, coloca o professor em
um certo patamar que não é o real, mas eu vejo que muitos professores hoje
tem capacidade de dar uma aula inovadora, mas tem que ter essa mudança.
Olha, eu acho que são bons, mas não são ótimos, para ser ótimo é preciso
que tenha aperfeiçoamento, mas é muito pouco ou não existe
aperfeiçoamento. Nem todos estão capacitados, para desenvolver um bom
trabalho, muitos fazem o que podem, mas, em termos de criatividade, para
fazer novas ferramentas, acredito que tem muita coisa a ser melhorada.
[...] sabemos que tem diversos professores que não tem uma formação tão
boa e não dá para dizer se foi a instituição ou se foi a postura que ele tomou
durante a formação no curso, portanto há bons profissionais e há maus
profissionais em qualquer que seja a área.
[...] já pensei sim, inclusive ainda penso, embora não me identifique tanto com
essa profissão, devido uma série de fatores [...]
Na verdade, a carreira docente já não tem sido uma das mais procuradas
no mercado, afinal, há certo preconceito e estigma pela profissão, ao mesmo tempo
em que parece ser muito mais honroso ingressar nos cursos de Medicina, Direito ou
Engenharia do que nos cursos de Licenciatura. Nessa perspectiva Rael chegou a
comentar em um dos trechos de sua fala: “são muitas pessoas formadas que não
exercem a profissão, como, por exemplo, eu”. Hel alerta:
[...] alguns alunos que não querem ir para sala de aula, mas sim ir para o
mestrado e retornar para dar aula na universidade, tanto por acharem o
ambiente da universidade mais fácil, o contato com os alunos é melhor e
também a questão financeira é melhor, pois ganha mais sendo professor
universitário do que sendo professor do ensino básico [...]
71
Ah, eles são bem preparados. Sabem de tudo, ou melhor, sabem de tudo que
tem que ensinar. ADA
Esta foi uma das perguntas que suscitou as reações mais interessantes por
parte dos professores, pois, a maioria, manteve-se pensativo e houve até quem pediu
um tempo para pensar na resposta, enquanto que na outra categoria, a resposta para
a pergunta supracitada foi apresentada de maneira mais rápida. Porém, o que de fato
73
importava não era a velocidade com que as respostas eram apresentadas, mas sim,
analisar como os professores interpretavam a questão e como se posicionavam para
elaborar sua fala.
As pausas na fala, gestos e sorrisos embaraçosos que em muitos
momentos foram apresentados pelos docentes durante a entrevista, também dizem
muito sobre as representações existentes, pois, “[...] as RS se expressam pela
linguagem, as formas de captação da linguagem para a análise, podem ser variadas”
(ARRUDA, 2014, p. 324).
Houve quem considerasse a pergunta não tão complicada, como foi o caso
da professora Dena, graduada em Física e há oito anos leciona em uma escola
privada ensinando turmas de 6° ao 9° ano.
Ah, é uma pergunta simples, porque ser professor é você fazer o que você
gosta, tentar ampliar de alguma forma o conhecimento dos nossos alunos.
Ultimamente, eu tenho estudado muito Paulo Freire e ele diz que o professor
não tem a função de levar o conhecimento para os alunos, mas sim de ajudar
na construção ou na evolução desses conhecimentos, então, para mim, que
já estou há alguns anos, é tudo. É uma profissão muito boa e você ver o
crescimento e evolução dos alunos é uma gratificação.
Bom, pergunta complexa, mas muito boa. Para mim, ser professor é estar
atento ao que acontece no mundo e partir do que acontece no mundo tentar
repassar para nossos alunos esses acontecimentos fazendo com que eles
reflitam sobre essas questões e procurar adaptar essas questões dentro de
nossas disciplinas. Eu, por exemplo, sou professor de língua portuguesa e eu
gosto muito de trabalhar textos de maneira variada, então essa questão da
familiaridade, da interação, da busca pelo conhecimento na minha área eu
acho fundamental
Para mim, ser professor é estar atento ao que acontece no mundo e partir do
que acontece no mundo tentar repassar para nossos alunos esses
acontecimentos fazendo com que eles reflitam sobre essas questões e
procurar adaptar essas questões dentro de nossas disciplinas.
75
Além dele, Fabi também menciona que o professor precisa despertar seu
lado pesquisador. Ela faz a seguinte colocação:
Gostaria primeiro de dizer que enquanto educadora, eu sou muito feliz pela
profissão que optei, tenho ela também como um dom, que para muitos é uma
visão romântica, muito poética, mas eu vejo no sentido de dom por você se
doar com toda a sua competência, amor e não se cansar de buscar, de
pesquisar, sempre procurando atuar de uma forma mais qualitativa e
significativa para os discentes.
Os sentidos precisam estar afiados para que sejamos capazes de ver, ouvir,
sentir as múltiplas formas de constituição dos sujeitos implicadas na
concepção, na organização e no fazer cotidiano escolar. O olhar precisa
esquadrinhar as paredes, percorrer os corredores e salas, deter-se nas
pessoas, nos seus gestos, suas roupas; é preciso perceber os sons, as falas,
as sinetas e os silêncios; é necessário sentir os cheiros especiais [...]
É uma profissão muito importante, com certeza, uma das mais importantes,
pois sem o professor não existiria as outras profissões. E nós temos também
o poder muito grande de estar formando cidadãos para o mundo, cidadão
críticos, bons cidadãos, então para eu ser professor é tudo isso. (ANI,
Formada em Ciências Biológicas e Pós graduada em Psicopedagogia.
Leciona há oito anos no 4° ao 9° de uma escola privada)
Ser professor é ser alguém que procura melhorar a sociedade a partir daquilo
que ele aprendeu na faculdade e na vida, então acho que ser professor é ser
um orientador, um conselheiro, é mostrar um caminho, mas é ao mesmo
tempo dizer que não é o único caminho para esses alunos. Abrir perspectivas,
portas, processos, acho que é mais ou menos isso, o professor é mais um
guia do que alguém que diz é isso ou aquilo, ele mostra as possibilidades e o
aluno, pelo menos no ensino médio, vai pegando essas possiblidades. (JU;
Formado em História; atua na educação a vinte anos. Atualmente leciona em
uma escola Estadual de Ensino Médio).
Ser professor, para mim, é procurar fazer com que os alunos tenham
capacidade de interpretar, pensar, ressignificar tudo isso para vida deles.
(RIQUE)
afirmação feita pelos autores é comprovada pelos próprios sujeitos que estão
desenvolvendo a profissão, já que Ani destaca a existência dessas múltiplas funções
realizadas pelo o professor, assim como também como os outros professores que
enxergam a profissão docente como responsável por ir além da formação do indivíduo
letrado. Jó afirma que:
Embora o professor não seja o único responsável por isso, este, por sua
vez, possui uma parcela significativa para que isso aconteça. Ana já possui vinte e
quatro anos de carreira docente, portanto, a colocação apresentada por ela, é apenas
uma das representações construídas ao longo de uma vasta experiência em sala de
aula.
Na verdade, há pessoas, inclusive os próprios professores que enxergam
a docência com um olhar tão profundo que chegam a considerá-la como uma missão;
que essa profissão, em comparação a outras, possui peculiaridades conforme narrado
pela professora Neide ao apresentar sua opinião.
Para mim ser professor é uma missão, vai além de ser um profissional como
outro qualquer, aonde você amanhece o dia vai ali e compre sua carga
horária. Considero assim: a minha profissão, o meu ser professor, é está
pensando naquilo todo momento; eu durmo e acordo pensando naquilo ali.
Como que eu vou trabalhar para o meu aluno prestar atenção? Como é que
eu vou fazer pra essa aula ser mais dinâmica? Ai eu fico mim colocando no
79
lugar do aluno, se fosse eu assistindo essa aula ai, será que eu ia gostar? Me
faço muito esta pergunta [...]
Por isso é interessante assim, que a profissão de professor não é bem uma
profissão é uma missão que você tem que cumprir, vai além de uma formação
você ter além de o seu curso de formação do seu conhecimento, você precisa
ter aquela vontade, aquele amor, aquela paixão por aquilo que faz. (NEIDE)
[...] ser professor é ter... não vou falar a palavra missão por que eu acho muito
religioso, eu não gosto de dizer que ser professor é ter uma vocação, vocação
é sacerdotal, pra mim professor é profissão.
[...] Eu acredito também, assim como Paulo Freire, que a educação sozinha
não pode transformar o mundo, mas sem ela tão pouco conseguiremos ver
alguma mudança.
Uma das colocações feitas por Rique e que merece atenção é a questão
do uso do livro didático. Na verdade, o livro deve ser um meio para contribuir com o
ensino, porém, jamais deve ser considerado um fim, uma receita pronta e acabada. O
material didático é uma ferramenta, mas de nada serve se não for bem empregado,
se não houver discernimento sobre sua finalidade e aplicabilidade.
Ani e Dena também não demostraram insatisfação quanto às condições
materiais. Mediante a pergunta elas disseram:
[...] Hoje, em minhas aulas, eu tento colocar muito o concreto, tenho uso de
slides, de vídeos, temos formação continuada como professora [...] (DENA)
Bem, em primeiro lugar, eu trabalho por hora aula e é pela manhã, então eu
tenho bastante tempo à tarde para planejar as coisas. Lá na escola, a gente
trabalha com a FTD e com a moderna via Farias Brito e o suporte que eles
dão é muito bom, principalmente a FTD. Os livros nos dão um suporte muito
bom, muito bacana, a gente tem encontros quase que todos os bimestres,
esses profissionais nos ajudam a entender a nossa prática docente e a
entender o material que a gente utiliza. Na escola, também temos um bom
suporte, pois procuramos trabalhar por área. A coordenação também nos
apoia bastante, isso também ajuda a nossa dinâmica em sala de aula.
(RIQUE)
Não tem alguns direitos que em alguns outras escolas tem como dia para sair
para planejar, o professor tem horas só para preparar a sua aula, uma
atividade, uma avaliação e aqui eu sinto falta desse tempinho o qual a gente
fica na escola, mas desenvolvendo alguma atividade, então eu acho a carga
horária puxada, porque tudo que eu vou trabalhar na minha aula, eu tenho
que fazer em casa, seja criar algum material, baixar algum vídeo, alguma
imagem, elaborar prova, tudo é em casa, então é como se fosse um turno
extra, um turno a mais, a gente acaba levando muito trabalho para casa e
isso acaba sobrecarregando. (ANI)
Com relação à carga horária, ela é muito puxada, é uma carga horária muito
exaustiva, acaba não se tornando, de certa forma, suficiente. Tem dias que
não dar para fazer tudo, suprir tudo, então você tem que dosar e você tem
que ver o que é mais relevante para aquele dia, o que é mais importante
porque se você for detalhar tudo... E tem semanas que é bem cansativo, mas
do que as outras [...] (THALY)
A fala que será utilizada para introduzir essa seção, não será a de um
professor da educação pública, mas sim a de uma professora do ensino privada.
Como já foi comentado em um parágrafo anterior, Fabi, uma das professoras do
ensino privado que fez parte dessa entrevista, deteve-se em observar mais os déficits
da educação pública do que descrever sua própria realidade.
Portanto, tomaremos um dos trechos de sua fala como ponto de partida
para analisar o nível de autenticidade existente em sua fala e observar os
apontamentos que irão ser realizados pelos professores no decorrer de suas fala;
perceber em que momento as falas dialogam com a opinião de Fabi e em que
momento se desvinculam dela.
É importante observar que, apesar de Fabi possuir certa aproximação com
a educação pública em decorrência de sempre ter estudado nessas instituições e ter
feito a graduação e mestrado em Universidade Pública, ninguém melhor para falar
sobre a realidade vigente do que aqueles que estão inseridos nela afinal, o objetivo
desse trabalho não é alimentar suposições, mas analisar as construções sociais
provenientes do senso comum e sua influência sobre o processo de elaboração das
representações.
Fabi comentou que:
[...] as nossas escolas públicas estão cada vez mais sucateadas, com poucas
reformas, chegando ao ponto de os próprios pais ou profissionais investindo
nisso, isso é bonito no que se refere ao amor pela educação, vermos a garra
85
do professor, mas nós sabemos que por um lado isso contribui para o governo
responsabilize as próprias escolas e professores por essas sucateação.
Eu sei que em todo o Brasil as condições não são iguais, mas melhorou muito
as condições físicas, materiais e até mesmo salariais do professor. Aqui no
estado do Ceará tem melhorado muito nos últimos anos. (JU)
A escola em que eu trabalho tem todo o material, tem jogos pedagógicos, tem
recursos tecnológicos, mas, além disso, eu uso livro que é um material muito
estruturado, muito bom, já vem todo o planejamento anual, tudo que eu tenho
que fazer em leitura, em escrita, os jogos que eu devo usar, a rotina
pedagógica, já vem tudo isso e vem os objetivos também. (ANA)
Mark ainda afirmou que “as condições não são tão ruins como colocam”.
Mediante a fala do professor, surge então a seguinte questão: estaríamos então
enxergando apenas o lado obscuro das coisas? Ou ainda: Fabi estava equivocada ao
realizar sua colocação? Na verdade, ao que parece estamos lidando com duas faces
da moeda. De um lado, as carências e de outros, os avanços. Nesse entrelace de
questões é que surge a grande dúvida: para qual dos lados o professor deve olhar?
O professor Ju também faz uma observação importante ao dizer que em
todo o Brasil as condições de trabalho são variadas. Tardif e Lessard (2009, p. 112)
afirmam que “as condições de trabalho dos professores são muito variáveis de um
país para o outro”. Na verdade, é possível que hajam diferenças até mesmo entre
escolas que se localizam na mesma região ou município. Mas essas são questões
86
[...] por ser uma profissão que exige muito e salarialmente o reconhecimento
não seja tão bom, ás vezes a carga muito ampla de trabalho, isso impede que
a gente desempenhe e tenha todas essas qualidade que precisa ter um bom
profissional para dar uma boa aula, para um bom ensino e lógico, para uma
boa aprendizagem.
Apesar de Fabi não atuar em uma escola pública, ela fez a seguinte
observação:
[...] Eu penso que enquanto não houver uma preocupação maior com a
estrutura física das escolas, com materiais didáticos diversificados, sempre o
processo de ensino e aprendizagem vai estar em defasagem, pois, por mais
que o professor pesquise e seja criativo, ele vai se deparar sempre com
dificuldades, porque ele não vai ter condições de fazer aquilo que ele queria,
visto que vai gastar seu salário comprando materiais, o que não é correto,
pois o professor precisa sobreviver com seu salário.
importante ao mesmo tempo ser tão desvalorizada. Mais preocupante do que lidar
com a desvalorização é aceitar a possiblidade de que em decorrência da precarização
e pauperização do trabalho docente o número de profissionais da educação se torne
cada vez mais escasso, já que segundo um relatório divulgado em junho de 2018 pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que
entre 2006 e 2015 a taxa de adolescentes brasileiros de 15 anos que almejam seguir
a carreira docente caiu de cerca de 7,5% para apenas 2,4%. Nos países avaliados
pela OCDE o número de alunos que desejam ser professores também caiu passando
de 5,5% em 2006 para 4,2% em 2015.
Um grande contraponto é que mesmo os professores não dispondo de
todas as condições necessárias para o desempenho eficaz de sua prática, as
cobranças não param, seja elas proveniente de prescrições internas da escola ou de
demandas sociais que chegam ao terreno educacional. O cenário contemporâneo, por
exemplo, exige cada vez mais que os professores se reinventem, busquem a cada dia
tornar a sua prática mais atrativa para os alunos, pois, a geração de hoje já não é a
mesma daquela de algumas décadas atrás, consequentemente o perfil dos discentes
também já não é o mesmo, portanto, a classe docente também não pode se manter
imóvel.
Com a chegada das tecnologias, a necessidade do desenvolvimento de
novas habilidades pedagógicas e metodológicas se torna cada dia mais emergente.
Estamos vivendo em uma sociedade em que as informações circulam em um ritmo
acelerado, além disso, a modernização tecnológica trouxe muitas novidades. Os
professores precisam ser cada vez mais preparados para lidar com essa nova
realidade que permeia a sala de aula. Portanto, é imprescindível a realização de
atividades de formação continuada que ofereçam um bom suporte para os docentes,
afinal, “a educação centrada na figura do professor como único detentor do
conhecimento, em torno do qual se perfilavam os alunos para receberem a sua dose
de saber, está em franco desaparecimento” (NUNES, 2007, p. 191)
Na verdade, no discurso dos próprios professores se percebe a
necessidade de inovação que eles sentem na prática da relação ensino-
aprendizagem.
que não tem fim, eu sou consciente do meu trabalho, eu estou sempre mim
preparando, não repito livros, sempre estudo então é isso. (JÓ)
Como é que eu vou trabalhar para o meu aluno prestar atenção? Como que
eu vou fazer pra essa aula ser mais dinâmica? Aí eu fico me colocando no
lugar do aluno, se fosse eu assistindo essa aula aí, será que eu ia gostar?
(NEIDE)
Com a aprovação da LDB de 1996 , lei 9394, vemos que há uma elevação no
nível dos professores, porque a lei assevera que é preciso ter o nível superior,
o que mexeu muito com a classe docente, pois há mais qualificação e mais
busca do conhecimento, embora, ainda haja um grande distanciamento entre
teoria e prática, esse é um grande dilema dentro da universidade, é um ponto
de inúmeras discussões, porque a gente fala muito nessa relação teoria-
prática, mas ainda há um distanciamento do excelente [...] (FABI)
Quando eu iniciei a faculdade, eu pensei que era uma coisa, mas chega e é
outra e aí, quando a gente termina, e vai para sala de aula percebemos que
é muito complicado colocar certas questões em prática. A realidade é
diferente, mas a teoria é muito boa, a teoria é muito válida. A prática dessa
teoria que a gente ensina aqui também é válida, só que ela só acontece se
houver uma contribuição entre os diferentes sujeitos que estão envolvidos na
educação (RIQUE)
Muitos professores falam apenas com base na teoria, né? Quando eles falam
de uma realidade é de uma realidade de quando eles foram alunos. Muitos
terminaram a graduação, especialização, depois foi para o mestrado, depois
doutorado pra fazer um concurso que vem aqui formar professores, sem ter
conhecimento do chão da escola. (MARK)
[...] Quanto ao processo de formação eu entendo que o professor ele não está
pronto. Na faculdade você aprende muito, mas está preparado pra isso, como
o medico, né!? Ele está ali, faz toda a prática, tudo aquilo que ele tem que
executar fisicamente e nós da educação, como professores, eu penso que
nós devemos está em constante formação né! Está sempre se formando, não
acaba, não está preparado [...] (NEIDE)
ser o efeito gerador dessa desarticulação. Como resultado desse contraste que põe
em evidência o enfraquecimento da práxis outros desdobramentos vão surgindo.
Na medida em que observamos a existência de uma oposição entre o que
se é ensinado na Universidade e as lacunas desse ensino perante a realidade escolar,
observa-se uma série de justificativas e apontamentos que tentam argumentar os
motivos que desfalcam a relação teoria e prática. De maneira sintética serão
apresentados alguns aspectos resultantes da fala dos respectivos docentes que
dialogam com a temática em questão.
- A falta da inserção da prática efetiva durante a graduação;
- Distanciamento entre teoria e prática;
- A participação dos atores escolares para a promoção da vivência entre teoria e
prática;
- A falta de conhecimento dos professores universitários sobre a realidade da
educação básica;
- Questionamento sobre a base epistemológica do ensino universitário: o choque de
realidade
- Desconhecimento do chão da escola;
- Necessidade de Formação Continuada
A partir dessas ramificações que surgiram em meio aos relatos sobre as
experiências formativas dos docentes, a análise será tecida de forma mais reflexiva,
já que estes são pontos relevantes para organizar as interpretações sobre a relação
teoria e prática.
O primeiro ponto fala sobre a necessidade de conhecer a prática ainda no
início da graduação, ou seja, que a aproximação com a realidade escolar não seja
feita tão tardiamente. De fato, a aproximação dos alunos dos cursos de graduação
com o espaço escolar só começa a ocorrer quando finalmente se iniciam os estágios
e que por vezes, também não conseguem cumprir sua finalidade formativa.
É importante observar que o questionamento sobre a ausência da prática
não significa dizer que a teoria não é importante. Pelo contrário, assim como a prática,
a teoria também é indispensável para a construção do ensino. A grande discussão
que se levanta é o fato de que se supervaloriza uma dimensão do processo formativo
em detrimento da outra, ou seja, falta uma sintonia que equilibre os dois extremos a
fim de evitar, o que apresenta o segundo apontamento do levantamento de dados: o
distanciamento entre teoria e prática. Piconez (1991, p. 22) explica que:
91
[...] eu vejo que é necessário que se tenha uma política, criação de uma
política que pega os professores da Universidade, mestres, Doutores e
coloque nas escolas. É para se reciclar mesmo [...]
práticos; se não souberem administrar as atividades formativas de forma com que elas
sejam condizentes e aplicáveis na realidade escolar. Pimenta (2001, p. 28) afirma
que:
[...] embora assim eu considero que tive ótimos professores, que foi muito
bom a minha formação mas, é necessária constantemente essa qualificação,
essa formação é importante a formação continuada e presencial por que está
muito em evidência agora os cursos online essas coisas mais eu ainda
acredito que o contato físico olho no olho, tirando duvidadas pessoalmente
ainda é muito importante para a qualidade do ensino e da aprendizagem.
Neide afirma que é que um dos elementos que precisam estar presentes
na formação é o contato, ou seja, a interação. Porém, sabemos que o ensino a
distância é uma consequências das TICS na educação, portanto, em meio a
flexibilidade e o ritmo acelerado de nosso cenário atual, as tecnologias realmente se
tornaram um dos melhores mecanismos para acompanhar as demandas vigentes. Ani
durante a entrevista afirmou que utiliza a tecnologia como ferramenta pedagógica.
[...] Hoje, em minhas aulas, eu tento colocar muito o concreto, tenho uso de
slides, de vídeos, temos formação continuada como professora e tento seguir
a tecnologia, porque nós sabemos que os alunos de hoje não são como os
alunos de antes e nós temos que estar habituados a crescer junto com eles,
então leio muitos livros, pesquiso em internet, acesso alguns sites [...]
94
aqueles que sutilmente estarão bem atentos ao que o professor fala e faz. Durante a
entrevista Mark comentou a respeito dessa influência para a construção de sua
identidade docente.
[...] o professor que eu sou hoje, eu tomo como parâmetro os que eu tive nos
ensinos fundamental, ensino médio e superior. Procuro captar algumas
características boas daqueles bons professores; na minha visão eram bons
professores. Aqueles que não contribuíram, eu tento me afastar, não quero
reproduzir a prática que eles fizeram comigo [...]
Eu não sei se é o sistema de avaliação, não sei o que acontece, mas apesar
do professor está mais bem preparado, está bem mais difícil a prática em sala
de aula do que antes, porque antes o aluno prestava atenção, sentava em
um cadeira, a gente conseguia fazer o corpo-a-corpo com ele e ainda passar
um conteúdo teórico e ele queria, mas o aluno de hoje em dia é muito cheio
de querer e de vontade. (ANA)
[...] é preciso compreender que algumas das suas fragilidades não são
exclusivas das graduações dos professores, afinal, os jovens engenheiros,
advogados ou médicos também trazem consigo as inseguranças inerentes
aos inícios dos exercícios das respectivas profissões. (BODIÃO, 2007, p. 44)
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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longo-do-tempo.htm
104
Quais são as percepções que você tem sobre a formação dos professores?
Fabi: Gostaria primeiro de dizer que enquanto educadora, eu sou muito feliz pela
profissão que optei, tenho ela também como um dom, que para muitos é uma visão
romântica, muito poética, mas eu vejo no sentido de dom por você se doar com toda
a sua competência, amor e não se cansar de buscar, de pesquisar, sempre
procurando atuar de uma forma mais qualitativa e significativa para os discentes. Vejo
que o professor tem a sala de aula como seu laboratório principal, onde vai construir
e ser construído com tudo que se compões no fazer docente, mas eu penso que ser
professor está também para além da sala de aula. O professor se compromete com
parcelas de mudanças para com a sociedade, porque ao passo que ele está
contribuindo para a formação de outras mentes, está também contribuindo para a
construção de uma sociedade melhor. Existem professores que são mais arcaicos,
mais conservadores, já tem outros que são mais construtivistas ou progressistas.
Assim minha atuação e visão como professora é que enquanto eu estou dentro da
escola, dentro de uma sala de aula, eu posso ajudar muitas pessoas a se
conscientizarem do papel de cidadãos que tem e com isso refletir para a ascensão de
um nível mais elevado, para superar o senso comum, se libertar de tantas alienações
e tudo isso são formas de contribuir para uma sociedade mais emancipada, justa,
igualitária. Na minha concepção, o professor tem o dever de ser exemplo naquilo que
ele pensa e busca conscientizar, como Paulo Freire diz que é contra aquele ditado
que diz faz o que eu digo, mas não faça o que eu faço, porque ele entende que se o
professor diz algo, então que seja ele o primeiro a fazer, então sejamos exemplo
naquilo que a gente busca e acredita. Eu acredito também, assim como Paulo Freire,
que a educação sozinha não pode transformar o mundo, mas sem ela tão pouco
107
conseguiremos ver alguma mudança. Então para mim, ser professor é ser um
militante, um agente ativo na sociedade e que seja um constante pesquisador
comprometido com o seu fazer. Para mim é basicamente isso, embora seja muito
simples, perto da dimensão que é. Vez ou outra a gente descobre que não sabe é de
nada, então a gente vai ascendendo. Dizer o que é ser professor é algo muito amplo
e grandioso, mas resumidamente falando é esse o meu pensamento e é isso que me
move a não desistir dessa profissão, a sempre acreditar e defender quando alguém
vem denegrir a imagem do professor.
Leudysvania: Como você avalia as suas condições para exercer a prática docente?
Fabi: Eu como professora não tenho a experiência de atuar na escola pública, a não
ser em estágios, mas fui aluna a vida inteira de escolas públicas, de universidades
públicas, então eu tenho as duas experiências, como aluna e como professora no
estágio em escola pública e na universidade pública também, no estágio, mas atuo
mesmo na escola particular e sei que há uma grande diferença quando falamos de
recursos didáticos, estrutura física, materiais. Na escola em que trabalho, trabalhos
com famílias de classe média ou baixa, apesar do nosso ensino ser de muita qualidade
e seriedade, mas na questão financeira a escola que trabalho é a que tem o preço
mais acessível do município e isso dificulta um pouco no quesito material, porque a
prioridade é o salário dos professores, então diminuem os valores para compra de
materiais didáticos e recursos mais inovadores, mas é justo dizer que as dificuldades
são mínimas, pois isso está muito da criatividade do professor, para buscar, criar a
partir de sucata algo tão vivo que pode fazer uma aula maravilhosa, no entanto, não
estou justificando que não podemos ter bons materiais prontos. Enquanto aluna e
professora de estágio nas escolas pública, vi uma carência muito grande de uso de
materiais, onde as aulas tendem a ser mais monótonas no sentido de que se para
mim está mais acessível apenas o livro didático, então é ele que eu vou usar. Tem
professoras que mesmo com dificuldade, vão para além do livro, já tem outras que
não buscam tanto, mas sabemos também que cabe muito a gestão suprir essas
necessidades da escola, já que cobram tanto com programas, com resultados, então
devem dar condições para esse processo. Todos esses detalhes podem parecer sem
importância, mas não são, pois se compararmos um aluno estudando em uma escola
ou sala de aula ventilada, com uma claridade boa, num assento confortável com um
em uma sala sem ventilação, escura e em cadeiras duras, veremos que não é a
108
mesma coisa. Ao meu ver, as nossas escolas públicas estão cada vez mais
sucateadas, com poucas reformas, chegando ao ponto de os próprios pais ou
profissionais investindo nisso, isso é bonito no que se refere ao amor pela educação,
vermos a garra do professor, mas nós sabemos que por um lado isso contribui para o
governo responsabilize as próprias escolas e professores por essas sucateação. Eu
penso que enquanto não houver uma preocupação maior com a estrutura física das
escolas, com materiais didáticos diversificados, sempre o processo de ensino e
aprendizagem vai estar em defasagem, pois por mais que o professor pesquise e seja
criativo, ele vai se deparar sempre com dificuldades, porque ele não vai ter condições
de fazer aquilo que ele queria, visto que vai gastar seu salário comprando materiais,
o que não é correto, pois o professor precisa sobreviver com seu salário. Isso é uma
bola de neve tão grande que a gente começa a falar de uma coisa e vai encontrando
outra, mas é importante fazer essa reflexão e entender que esses fatores aí
influenciam diretamente no processo e nos resultados do ensino aprendizagem.
Leudysvania: Quais são as percepções que você tem sobre a formação dos
professores?
Fabi: Como eu sou pesquisadora nessa área, ainda pesquisadora iniciante, porque
quando mais pesquisamos mais descobrimos que sabemos pouco, mas eu sou
apaixonada por essa área da formação de professores e a gente reconhece os êxitos
que vem tendo, os avanços. Os professores de hoje têm mais oportunidades e
valorização em relação a antigamente, bem antigamente, desde o tempo dos jesuítas,
mas ainda há muito o que ser feito no que diz respeito a formação dos professores.
Com a aprovação da LDB de 1996 , lei 9394, vemos que há uma elevação no nível
dos professores, porque a lei assevera que é preciso ter o nível superior, o que mexeu
muito com a classe docente, pois há mais qualificação e mais busca do conhecimento,
embora, ainda haja um grande distanciamento entre teoria e prática, esse é um grande
dilema dentro da universidade, é um ponto de inúmeras discussões, porque a gente
fala muito nessa relação teoria-prática, mas ainda há um distanciamento do excelente,
mas é bom saber que cada vez está se aproximando. O professor ter ido buscar sua
formação inicial, para ficar legalizado foi muito bom, porque dá para perceber um nível
de conhecimento maior, uma capacidade reflexão maior, uma conscientização maior
no sentido de ser professor pesquisador, então vejo que há muitos êxitos, mas em
meio a esses êxitos tem muitos percalços e aí depende de governo e de tantas coisas,
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principalmente nas cidades em que há muito politicagem e isso mexe muito com a
educação, então é preciso que a educação seja priorizada, porque falar de ensino-
aprendizagem sem falar de formação de professor não tem como, pois uma coisa está
totalmente interligada a outra. Se o processo de ensino-aprendizagem não vai bem, é
preciso olhar a formação do professor, pois alguma coisa está com defasagem. Então,
apesar dos avanços, ainda há muito o que ser feito, pois ainda há muitos cursos de
universidades e de formação continuada muito precários. Quando se tiver mais
investimento na formação de professores, tudo irá mudar dentro das escolas, porque
professores bem formados implica alunos bem formados, é uma coisa que depende
da outra e é preciso nunca parar esse debate, porque enquanto houver o debate há
possibilidades de melhoria, possibilidade de fazer a educação atingir melhorias no
processo que é ainda mais importante do que os resultados finais.
Fabi: De nada.
110
NOME FICTÍCIO: Jú
Jú: Ser professor é ser alguém que procura melhorar a sociedade a partir daquilo que
ele aprendeu na faculdade e na vida, então acho que ser professor é ser um
orientador, um conselheiro, é mostrar um caminho, mas é ao mesmo tempo dizer que
não é o único caminho para esses alunos. Abrir perspectivas, portas, processos, acho
que é mais ou menos isso, o professor é mais um guia do que alguém que diz é isso
ou aquilo, ele mostra as possibilidades e o aluno, pelo menos no ensino médio, vai
pegando essas possiblidades.
Leudysvania: Como você avalia as suas condições para exercer a prática docente?
Jú: Eu sei que em todo o Brasil as condições não são iguais, mas melhorou muito as
condições físicas, materiais e até mesmo salariais do professor, aqui no estado do
Ceará tem melhorado muito nos últimos anos. A criação do piso nacional em conjunto
com políticas estatais tem melhorado muito as condições materiais, mas por outro
lado existe uma série de exigências e burocracias que muitas vezes nos impedem ou
nos trava de estar em sala de aula ensinando, debatendo. Acho que às vezes a gente
faz avaliação demais, tem meta demais e acaba esquecendo o foco que é a relação
professor-aluno, mas é inegável que tem melhorado bastante em vários aspectos a
condição do professor, do aluno, o livro didático, merenda, reformas estruturais, aqui
no estado do Ceará é inegável isso aí.
Leudysvania: Você acha que sua formação na faculdade de deu subsídios para
exercer sua prática docente hoje?
111
Jú: Nenhuma, assim, pelo menos na época em que eu fiz faculdade, a gente vivia um
período meio esquizofrênico, era final dos anos 90, a gente já tinha passado a
ditadura, mas a gente vivia um professor muito complicado na faculdade e, aqui
especificamente na faculdade, o curso de história meio que estava preparando os
alunos direto para o doutorado, para o pós-doutorado e esquecia que aqui era uma
faculdade de licenciatura e que você está formando pessoas também para a sala de
aula, também para a escola, aquele tripé de ensino, pesquisa não estava sendo
abordado pelos professores, então a gente via muitos alunos brilhantes que são, hoje,
professores da UFC, mas em compensação quem foi para a sala de aula foi totalmente
descoberto. A minha formação de professor se deu no cotidiano da sala de aula,
porque já no segundo semestre da faculdade eu comecei a dar aula, então eu
questionava os próprios professores dizendo que eles não estavam dando formação
para gente para enfrentar a sala de aula, o que vocês falam em termos teóricos não é
o que confere em sala de aula, então eu fui me formando no dia-a-dia. Claro que a
base teórica sempre é importante seja na forma de conteúdo de história ou das
disciplinas de pedagogia, de psicologia que foram superimportantes em algum
momento, mas o aluno não sai com todo o instrumental para ser professor, pelo
contrário ele levava um choque todo o tempo. Eu fazia a dialética entre a sala de aula
e a graduação, então esse choque existiu, mas foi mais mediado, eu consegui
entender porque havia esse choque. Acredito que hoje a faculdade está diferente, as
pessoas entenderam que o nome licenciatura tem sentido e a existência de programas
como PIBID e agora a residência universitário, acho que eles vão formar muito melhor
os alunos, porque os alunos estão indo para as escolas, estão passando um tempo
pedagógico importante, estão vendo os problemas que existem do ponto de vista
estrutural, educação, professor-aluno e com certeza quando eles optarem pela
carreira de licenciatura serão professores muito mais bem formados do que eu fui,
inclusive hoje mesmo eu que participo do PIBID aprendo muito com meus alunos, hoje
eles me dão muita força e conseguem me ajudar a dinamizar, a gente já tem uma
certa estrada e sempre bom estar nesse processo e dialogando com essa realidade
para poder justamente renovar na sala de aula, porque a gente vai ficando cansado
também, é natural, é da idade e tal, das próprias metodologias quando a gente se
afasta mesmo da universidade, então são programas como o PIBID que são
essenciais, então precisamos lutar para que esse programa permaneça e dê pelo
menos o instrumental para que esses alunos possam entrar em sala de aula e não
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quererem desistir como eu já vi gente desistir na primeira semana, pessoas que foram
lá e disseram: eu não quero isso para minha vida não, eu vou embora daqui. Isso
acontece, porque falta o instrumental, o preparo, a teoria e prática, para poder
enfrentar uma sala de aula.
Cic: É uma resposta meio complicada de dar, porque vai envolver muita coisa. O
professor se torna um resumo geral de todas as profissões, porque ele tem que
ensinar e aprender ao mesmo tempo, ensinar no sentido de transmitir o conhecimento,
e aprender, porque tem que fazer um estudo de cada aluno, para saber como sanar
cada situação. Em sala de aula o professor vai encontrar diversos alunos com
diferentes níveis de aprendizagem, de desempenho, e diferentes tipos de dificuldade
de aprendizagem, então terá que tentar resolver todas as situações com seus
métodos, então ser professor é complexo, exige cautela, pois, a medida que ele vai
ensinando e aprendendo com o estudando, vai também se moldando, então o
professor pode influenciar a vida de cada estudante de forma diferente, depende da
forma que cada aluno vê o seu professor.
Cic: É complexa, no sentido de muito trabalho para pouco tempo, porque o nosso
professor, embora poucas saibam, durante o regime militar, muitas disciplinas foram
excluídas da grade escolar, então, quando foi adquirido o direito de retomar essas
disciplinas, não foi alterada a carga horária, então super lotou o tempo para tanta
conteúdo, mas faltou pensar em distribuir dentro do tempo que o professor tem, então
ao mesmo tempo que vai ter que dividir a carga horária com planejamento e com a
parte de ensino, vai faltar tempo para ambos, então terá de administrar o tempo, sendo
feito boa parte disso em casa. Além disso, no caso das escolas públicas, as condições
são precárias, tanto por falta de políticas públicas quanto por falta de apoio da
sociedade por não recorrerem aos seus direitos, então a própria estrutura física da
escola interfere no desempenho do professor. Fica complicado, porque tem que fazer
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muita coisa em pouco tempo e numa estrutura não muito adequada, isso dificulta
bastante o trabalho do professor.
Cic: Nessa parte eu sou bem crítico. Pegando como base a FAFIDAM, eu tenho uma
crítica muito grande, pois vemos uma preparação dos alunos mais no sentido de eles
serem futuros pesquisadores do que professores. A grade da FAFIDAM dá muita
ênfase na pesquisa e em um conteúdo mais acadêmico do que na didática e nos
conteúdos de ensino, isso gera uma defasagem muito grande no processo de
formação do professor, porque o futuro professor sai com uma preparação exagerada,
mas que não se aplica muitas vezes ao ensino básico, pois é ignorado o fato, como
diz na resolução 2 do MEC, de preparar para o ensino, e há um foco na preparação
para o mestrado e não para o ensino básico. Isso é consequência da formação dos
professores, pois muitos vieram de uma formação de bacharelado e também do foco
de alguns alunos que não querem ir para sala de aula, mas sim ir para o mestrado e
retornar para dar aula na universidade, tanto por acharem o ambiente da universidade
mais fácil, o contato com os alunos é melhor e também a questão financeira é melhor,
pois ganha mais sendo professor universitário do que sendo professor do ensino
básico, então tenho a ideia deque a grade precisa ser revista de modo que foque mais
em didática e ensino do que na parte de pesquisa e extensão.
vão ter, mas a forma como é ensinado o conteúdo na universidade é uma e na escola
é outra, então essa mudança de realidade de um canto para o outro faz com que o
professor não consiga cumprir o planejamento, pois muitas das vezes o planejamento
não se adequa a turma. Se ele pega três turmas no dia, terá que adequar o plano a
três realidades diferentes. Em relação a ensino, os professores aprendem nas
cadeiras de estágio e de laboratório na universidade os vários métodos de ensino,
mas as próprias exigências do MEC faz com que o professor se torne mais
tradicionalista dentro da escola do que os novos métodos de ensino que são mais
dinâmicos, porque o MEC prevê um cronograma de conteúdo para determinado
tempo, então o professor é obrigado a passar de conteúdos para outros, ainda que os
alunos não tenham absorvido o conteúdo anterior, então, de certa forma, o professor
está em uma prisão, pois muitas da vezes não pode aplicar métodos mais dinâmicos
por conta da estrutura da escola.
Cic: De nada.