Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/358039207
CITATIONS READS
0 150
5 authors, including:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Rodrigo Fadini on 25 January 2022.
ameaçado
1
Laboratório de Ecologia e Conservação, Universidade Federal do Oeste do Pará, Rua
do Oeste do Pará, Rua Vera Paz, S/N, 68040-255, Santarém, PA, Brasil.
5
Institute of Environment, Territory and Renewable Energy (INTE) Pontificia
Universidad Catolica del Peru (PUCP), Av. Universitaria 1801, Lima 15088, Peru.
rodrigo.fadini@ufopa.edu.br
1
Resumo
de longa duração POPA (PELD do Oeste do Pará). Eles instalaram e mantiveram plots de
questões ecológicas de longo prazo, mas o sítio também foi de importância para outras
longo desses anos. Nós também discutimos os prospectos futuros e as ameaças ao sítio
INTRODUÇÃO
elegeu Alter do Chão entre as dez praias mais bonitas do Brasil em 2009 (McGowan
2009), ele não sabia que a outrora vila pacata de pescadores se tornaria um dos principais
destinos turísticos da Amazônia na década seguinte. Ele também não sabia que a vila
possuía um longo histórico de pesquisas científicas sobre biodiversidade, que teve início
2
cerca de trinta anos antes da sua chegada. Os estudos conduzidos lá constituem o sítio de
Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) mais antigo das savanas amazônicas,
Mustin 2017).
Longa Duração, com aproximadamente 800 sítios de pesquisa, que possui o objetivo de
avaliar mudanças de longo prazo nos padrões e processos ecológicos que não podem ser
detectados em curto prazo (Mirtl et al. 2018). A região de Alter do Chão tem suportado
espécies de árvores típicas de savana por cerca de 1.49 Ma (Buzatti et al. 2018), com uma
paisagem local praticamente estável nos últimos 7.000 a 6.000 anos (Sanaiotti et al. 2002),
o que coincide com os primeiros registros de pessoas na região (Maezumi et al. 2018). O
sítio de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração de Alter do Chão investiga os efeitos dos
global. Aqui nós apresentamos um breve histórico da pesquisa realizada nesse sítio, que
Método de Gentry para conduzir inventários biológicos rápidos e de longa duração. Esse
parte do PELD conhecido como POPA (PELD do Oeste do Pará) (Figura S1, material
realizados nas savanas e fragmentos florestais próximos de Alter do Chão, que têm sido
conduzidos por mais de vinte anos, e que foram baseados em estudos iniciais conduzidos
3
ressaltamos a necessidade de incorporar os moradores de Alter do Chão no planejamento
Histórico de pesquisas
Alter do Chão é um lugar icônico visitado por naturalistas desde a década de 1850
(Bates 1921), e tem sido um local de pesquisas continuadas desde o início da década de
(Magnusson 2016) e ele convidou Lyn Branch para conduzir um estudo sobre o
conhecimento etnobotânico dos moradores (Branch & Silva 1983). Alter do Chão se
rufa). Ela iria posteriormente estudar as plantas e muitas outras espécies de animais da
conduzir pesquisas ecológicas sobre vários organismos, o que resultou em uma série de
estudos sobre a história natural de animais (Strussmann et al. 1984, Magnusson et al.
1985, 1986, Magnusson & Sanaiotti 1987) e plantas (Miranda 1993, 1995).
fato de eles terem sido conduzidos em locais e escalas espaciais distintas. Nos anos de
grande projeto de pesquisa nas savanas e florestas ao redor da vila de Alter do Chão, com
4
com questões ecológicas de longa duração. Renato Cintra foi um Pesquisador Principal
(PI), com William Magnusson e Ana Albernaz responsáveis pelo desenho amostral. O
projeto focou em três principais questões de longa duração: 1) quais são as forças
ecológicas que mantêm as bordas entre a floresta e a savana? 2) quais são as respostas de
curta e longa duração da fauna e flora em relação ao fogo e outros filtros ecológicos? e
paisagem sobre a fauna e flora? Devido ao fato das savanas amazônicas serem
precisavam decidir como amostrar a complexa paisagem de Alter do Chão, formada por
florestas de terra firme, florestas inundadas, praias arenosas e savanas, e definir o tamanho
uma imagem de satélite (Figura 1a). Considerando os 16.180 hectares da Área de Proteção
Ambiental Alter do Chão, há uma vegetação herbácea esparsa nas praias arenosas (1,9%)
(1.9%) (Figura 1b), florestas semidecíduas fragmentadas (6.4%) (Figura 1c), assim como
florestas ombrófilas contínuas (59,3%) nas partes mais altas, florestas sazonalmente
predominantemente de areia branca (15.7%) (Figura 1e). Em torno de 13.9% da área foi
5
convertida para a construção urbana ou agricultura. Na década de 1990, pesquisadores
com uma separação de no mínimo 500 m entre elas. Essas parcelas também foram
6
micronutrientes). O desenho experimental básico consistiu de quatro transecções
paralelas distantes 50 m umas das outras. O número e o tamanho das transeções foram
comprimento total em cada um deles foi o mesmo (1000 m). As parcelas foram marcadas
permanentemente com estacas de metal (para resistir ao fogo) e, na savanna, elas foram
Chão desde a década de 1980. Nós focamos nos estudos conduzidos nas parcelas
7
Figura 2. Alter do Chão LTER mostrando as parcelas de savana (S), fragmento florestal
(FF) e floresta madura (MF). Algumas parcelas foram desativadas e outras ficaram
ameaçadas devido a diversos problemas (Material suplementar no artigo original).
O manejo de dados é essencial para estudos de longa duração. Dados básicos são
utilizados para gerar hipóteses e pavimentar o caminho para abordar questões científicas
mais complexas. Dados foram coletados sobre variáveis bióticas e abióticas que podem
dos estudos realizados em Alter do Chão focaram em três variáveis preditoras: regime de
8
tem sido medida nas parcelas de savana de 1998. As quatro transecções em cada parcela
têm sido amostradas no início do período chuvoso (dezembro a junho) anualmente. Uma
fita métrica é esticada ao longo da transecção e a evidência de que o ponto foi queimado
Árvores também foram medidas nas parcelas de savana em 2017. Todas as árvores ³ 2 m
transecção de cada parcela. A cobertura vegetal das plantas de savana foi medida em cada
parcela com o método de quadrado de pontos a cada 2 m ao longo das quatro transecções
das parcelas.
característica da matriz (tipo de vegetação) foram estimadas para alguns estudos através
Essas três variáveis preditoras proporcionaram uma base sólida para a condução
de estudos ecológicos com uma variedade de organismos em nossa área de estudo. Setenta
publicadas entre 1983 e 2020 (Material Suplementar), com ~45% (dos artigos) realizados
nas parcelas padronizadas. Desses, 86% usaram pelo menos uma das variáveis preditoras
vegetação como variável preditoras, ~33% usaram a extensão do fogo, e outros 33%
9
usaram medidas da paisagem (Figura 3a). Aproximadamente 13% não usou nenhuma
dessas variáveis preditoras, e apenas 23% dos estudos foram conduzidos simultaneamente
descritas aqui.
Carvalho & Mustin (2017), que concluiu que o grupo das plantas foi o mais estudado das
savanas amazônicas como um todo, o grupo dos mamíferos foi o foco da maioria dos
estudos em Alter do Chão, apesar de muitos desses estudos terem utilizado a vegetação
como uma variável preditora (Figura 3c), com morcegos e pequenos mamíferos
(especialmente uma espécie: Necromys lasiurus, Rodentia) representando 50% and 40%
dos estudos deste grupo, seguidos pelos mamíferos de grande porte (10%). Estudos
multitaxonômicos foram escassos (~3%). Alguns vertebrados como peixes não foram
representados (mas veja Fróis et al. 2020), enquanto anfíbios foram raramente estudados
10
Figura 3. Estudos realizados nas parcelas LTER de Alter do Chão (publicadas entre 1999
e 2020) de acordo com o grupo taxonômico (A), o nível ecológico (B) e as variáveis
preditoras utilizadas nas análises (C) em três habitats.
11
RESULTADOS
et al. (2002) mostraram que os perfis de solo das florestas são mais argilosos do que os
perfis dos solos de savana o que sugere que a textura do solo explica parcialmente essa
como um de seus sítios de estudo para comparar várias medidas de estrutura e química
do solo entre florestas e savanas, e encontraram que o conteúdo de potássio trocável [K]sa
florestas em Alter do Chão (Lima et al. 2020), assim como acontece em outras partes do
Como uma força ecológica persistente ao longo do tempo, o fogo tem tanto um
efeito ecológico quanto evolutiva sobre a fauna e a flora nativos de Alter do Chão.
Entretanto, os estudos conduzidos nos últimos 20 anos nas manchas de savanna não
tanto de lagartos quanto de roedores (i.e. N. lasiurus) no curto (1-5 anos) ou no longo
prazo (mais de17 anos) (Faria et al. 2004, Layme et al. 2004, Ghizoni et al. 2005, Souza
et al. 2021). O clima global parece afetar a dinâmica populacional de N. lasiurus numa
escala local (i.e. escala da parcela) mas não na escala de todas as savanas de Alter do
Chão (Magnusson et al. 2010, Magnusson et al. 2021). Esses estudos de curso e longo
abrigos subterrâneos, evitam luz do sol direta, mudanças sazonais na dieta) que permite
que sobrevivam nos ambientes com incêndios frequentes, o que sugere que tais incêndios
12
Várias propriedades da vegetação, como estrutura, riqueza de espécies e
poucos anos (Corrêa 2019, Lima et al. 2020). A composição de espécies de parcelas não
parcelas que queimaram frequentemente. Savanas abertas foram dominadas por savannas
mais arbóreas ou invadidas por florestas em poucos locais que ficaram sem queimar por
vegetação, o fogo pode ter um efeito indireto nos vertebrados, alterando a estrutura e
nativas (Sanaiotti & Magnusson 1995), e o fogo também pode reduzir a vegetação
arbustiva utilizada por algumas espécies para abrigo ou termorregulação (Souza et al.
2021).
fragmentos florestais para árvores (de Amaral et al. 2017), formigas (Vasconcelos et al.
2006), mamíferos de médio e grande porte (Sampaio et al. 2010) e aves (Cintra et al.
2013), mas não para pequenos mamíferos não voadores (Borges-Matos et al. 2016) ou
morcegos (Bernard & Fenton 2007). Adicionalmente, o tamanho dos fragmentos foi
e aves (Cintra et al. 2013), mas não de morcegos (Bernard & Fenton 2007), pequenos
mamíferos não voadores (Borges-Matos et al. 2016), mamíferos de médio e grande porte
13
fragmento, apesar disso, foi negativamente relacionado com a riqueza de besouros
(Vulinec et al. 2008), e a área basal das árvores (do Amaral et al. 2017). Esses resultados
ocorre em Alter do Chão, podem depender das características dos grupos estudados, como
a capacidade de cruzar ou utilizar a matriz de habitat (Bernard & Fenton 2007, Sampaio
et al. 2010), a disponibilidade de recursos (Carvalho et al. 2008), o tipo de matriz (Borges-
Matos et al. 2016), e as pressões antrópicas (Sampaio et al. 2010, do Amaral et al. 2017).
PRESENTE E FUTURO
tropicais. Muitos pesquisadores foram treinados nessa região, formando uma nova
(APA) Alter do Chão (Albernaz et al. 2004), apesar de apenas com metade da área
originalmente proposta (Santarém 2003). A APA Alter do Chão é uma área de proteção
municipal que tem o objetivo de promover o uso sustentável dos recursos pelas
de vegetações que ocorrem em Alter do Chão e ameaçam o legado dos estudos de longo
gado está avançando em escala regional (Walker et al. 2009, Withey et al. 2018),
local. Muitas dessas ameaças vêm de atividades que não trazem benefícios para as
14
comunidades locais, que têm no turismo a principal fonte de renda da região. Sendo um
agronegócio está sendo usado para comprar imóveis nas cobiçadas áreas turísticas.
pode estar relacionado à especulação imobiliária (Watts 2019). Além disso, as mudanças
ciliares.
15
Do ponto de vista da pesquisa científica, os efeitos a longo prazo do fogo em
são necessários para determinar quais mecanismos estão envolvidos na adaptação das
espécies ao ambiente de savana. Esses estudos podem nos ajudar a modelar cenários
modificados pelo homem está ocorrendo em velocidade cada vez maior em Alter do
Chão, por isso, mais do que nunca, os estudos ecológicos de longo prazo precisam estar
longo prazo em Alter do Chão podem se tornar um programa estratégico com capacidade
AGRADECIMENTOS
locais que participaram dos estudos realizados em Alter do Chão nas últimas décadas.
Tânia Sanaiotti e Renato Cintra compilaram parte das informações sobre as teses e
16
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC) pela bolsa de pós-doutorado.
Pessoal de Nível Superior (CAPES; Código 001). SA agradece à CAPES e ao CNPq pelo
17
REFERÊNCIAS
BARLOW J et al. 2011. Using learning networks to understand complex systems: a case
study of biological, geophysical and social research in the Amazon. Biol Rev 86:
457–474.
BATES HW. 1921. The naturalist on the river Amazons. London: Everyman’s Library,
BRANCH LC & SILVA MFD. 1983. Folk medicine of Alter do Chão, Pará, Brazil. Acta
between amazonian savannas and cerrado core. Front Plant Sci 9: 1–16.
18
CARVALHO WD & MUSTIN K. 2017. The highly threatened and little known
Evol 3: 3249–62.
FARIA AS, LIMA AP & MAGNUSSON WE. 2004. The effects of fire on behaviour and
relative abundance of three lizard species in an Amazonian savanna. J Trop Ecol 20:
591–594.
FLETCHER R. 2012. Using the master’s tools? Neoliberal conservation and the evasion
GHIZONI IR, LAYME VMG, LIMA AP & MAGNUSSON WE. 2005. Spatially explicit
HOFFMANN WA, GEIGER EL, GOTSCH SG, ROSSATTO DR, SILVA LCR, LAU OL,
forest boundary: how plant traits, resources and fire govern the distribution of
LAYME VMG, LIMA AP & MAGNUSSON WE. 2004. Effects of fire, food availability
LIMA JM, CASTRO AB, LIMA AP, MAGNUSSON WE, LANDEIRO VL & FADINI
19
RF. 2020. Influência do regime de queimadas sobre a composição florística de uma
savana isolada na Amazônia - PELD Oeste do Pará. Oecol Aust 24: 301–316.
LLOYD J et al. 2015. Edaphic, structural and physiological contrasts across Amazon
6571.
547.
PENHA J, RODRIGUES DJ, VERDADE LM, LIMA A & ALBERNAZ AL. 2013.
351p.
MAGNUSSON WE, FRANKE CR & KASPER LA. 1986. Factors affecting densities of
MAGNUSSON WE, LAYME VMG & LIMA AP. 2010. Complex effects of climate
change: population fluctuations in a tropical rodent are associated with the southern
oscillation index and regional fire extent, but not directly with local rainfall. Glob
MAGNUSSON WE, LIMA AP, LUIZÃO R, LUIZÃO F, COSTA FRC & VOLKMER
MAGNUSSON WE, PAIVA LJ, ROCHA RM, FRANKE CR, KASPER LA & LIMA
20
Herpetologica 41: 324–332.
MAGNUSSON WE & SANAIOTTI TM. 1987. Dispersal of Miconia seeds by the rat
MAGNUSSON WE. 2016. The fish and the frogs. New York, Open Science Publishers,
372p.
MAGNUSSON WE. 2019. Snakes and other lizards. New York: Open Science
Publishers, 390p.
Research at the global scale: A critical review of ILTER and future directions. Sci
OLDEKOP JA, HOLMES G, HARRIS WE & EVANS KL. 2016. A global assessment
of the social and conservation outcomes of protected areas. Conserv Biol 30: 133–
141.
tropics: learning from the past to guide the future. Glob Chang Biol 22: 2540–2554.
PB. 2002. Past vegetation changes in Amazon Savannas determined using carbon
21
isotopes of soil organic matter. Biotropica 34: 2–16.
2020.
GHIZONI JR IR, GANANÇA PHS & FRAGA R. 2021. Short-and long-term effects
of fire and vegetation cover on four lizard species in Amazonian savannas. Can J
Diet and foraging mode of Bufo marinus and Leptodactylus ocellatus. J Herpetol 18:
138–146.
https://www.theguardian.com/travel/2009/apr/15/beach-brazil-top-10. Accessed in
4 July 2020.
VULINEC K, LIMA AP, CARVALHO JR. EC & MELLOW DJ. 2008. Dung beetles
SHIROTA R & DE ZEN S. 2009. Ranching and the new global range: Amazonia in
WATTS J. 2019. Someone has declared war’: Brazil activists fear crackdown after
arrests. https://www.theguardian.com/world/2019/dec/05/brazil-ngos-crackdown-
22
WITHEY K et al. 2018. Quantifying immediate carbon emissions from El Niño-mediated
wildfires in humid tropical forests. Philos Trans R Soc B Biol Sci 373: 20170312.
23