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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – Uni-BH

Curso de Relações Internacionais

A GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA DE RATZEL E


O REALISMO CLÁSSICO DE MORGENTHAU

Quintiliano Campomori

Belo Horizonte
2007
Quintiliano Campomori

A GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA DE RATZEL E


O REALISMO CLÁSSICO DE MORGENTHAU

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Departamento de Relações Internacionais do Centro
Universitário de Belo Horizonte – Uni-BH, como requisito
parcial para obtenção de créditos para a graduação no curso
de Relações Internacionais.

Orientador: Danny Zahreddine


Co-Orientador: Rodrigo Corrêa Teixeira

Belo Horizonte
2007
Quintiliano Campomori

A Geografia Política Clássica de Ratzel e o Realismo Clássico de Morgenthau

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais

do Departamento de Ciências Políticas, Jurídicas e Gerencias, do Centro

Universitário de Belo Horizonte – Uni-BH, como requisito parcial para a obtenção de

créditos para a graduação no curso de Relações Internacionais e aprovada pela

banca examinadora.

Belo Horizonte, 2007.

________________________________________________
Professor Danny Zahreddine (Orientador) – Uni-BH

________________________________________________
Professor Rodrigo Corrêa Teixeira (Co-orientador) – Uni-BH

________________________________________________
Professora Alexandra Nascimento – Uni-BH

________________________________________________
Professor Leonardo César Souza Ramos – Uni-BH
Coordenador do Curso de Relações Internacionais
Aos meus pais, pelo incentivo e carinho.

À minha namorada, pelo amor e cumplicidade.

Aos meus colegas, pelo companheirismo e amizade.


AGRADECIMENTOS

À Deus, pelo dom da vida.

Aos professores que contribuíram para a realização


deste trabalho: Rodrigo Corrêa Teixeira, pelos
ensinamentos e bibliografia; Danny Zahreddine, por
me apresentar a Geografia Política Clássica; e
Cristiano Mendes, por me apresentar o Realismo
Clássico das Relações Internacionais.

À meus pais que me proporcionaram, desde


sempre, a oportunidade de estudar e a todos que
contribuíram para esta construção de
conhecimentos.
“A política de um Estado está em sua Geografia.”

Napoleão Bonaparte
RESUMO

Este trabalho realizou um estudo exploratório de dois saberes das ciências sociais,

sendo apresentada através de dois de seus principais autores: Friedrich Ratzel como

representante da Geografia Política Clássica e Hans Morgenthau como

representante do Realismo Clássico das Relações Internacionais. O objetivo foi

trazer à tona estes dois conhecimentos e buscar uma correlação ou não destes. O

presente estudo analisou a situação do espaço, território e expansão, bem como a

sobrevivência e seus elementos necessários para Ratzel e a questão do interesse e

da unicidade estatal dentro de um ambiente de anarquia no Cenário Internacional

para Morgenthau, além da questão nacionalista, o poder e o Estado para os dois

autores. Através de análises feitas a partir do presente estudo, percebeu-se que a

Geografia Política é um dos elementos pelos quais o poder de um Estado se

manifesta no ambiente internacional. Se o Estado tiver posições favoráveis, o poder

manifesta-se de forma mais fácil. A Geografia Política colabora para o poder e para

a força do Estado como único ator, visto pelo Realismo Clássico das Relações

Internacionais.

Palavras-Chave: Geografia Política Clássica, Friedrich Ratzel, Realismo Clássico

das Relações Internacionais, Hans Morgenthau, poder, Estado, espaço, território e

anarquia internacional.
ABSTRACT

This university work made an explorative study in two subjects of the social

sciences introduced by two of mains authors: Friedrich Ratzel like a representative of

Classic Political Geography and Hans Morgenthau like a representative of Classic

Realism of International Relations. The objective was to bear in mind two

acquirements and to find a correlation or not between these attainments. This study

analyzed the situation of space, territory and expansion, also the survival and the

necessary elements for Ratzel and the interest question and the State like an unique

actor in the international scenery in a anarchy environment for Morgenthau, moreover

the national question, the power and the State for two authors. Through analyses

made from this study, perceive that the Political Geography is an element of the State

power in the international ambient. If the State has favourable position, the power

express by an easy mode. The Political Geographic collaborate for the power and for

the State energy how unique actor by the view of Classic Realism of International

Relations.

Key-words: Classic Political Geography, Friedrich Ratzel, Classic Realism of

International Relations, Hans Morgenthau, power, State, space, territory and

international anarchy.
LISTA DE SIGLAS

OIG – Organizações Internacionais Governamentais

ONGI – Organizações Não-Governamentais Internacionais


SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................................... 10


2. FRIEDRICH RATZEL .................................................................................. 13
2.1 Definições básicas da Geografia Política .............................................. 13
2.2 Biografia do autor ..................................................................................... 14
2.3 A preocupação nacionalista ................................................................... 16
2.4 O Estado, o solo e o Espaço Vital .......................................................... 17
2.5 A Geografia Política à serviço do poder ............................................... 23
2.6 A Geografia Política ratzeliana e a Unificação Alemã .......................... 26
3. HANS MORGENTHAU ................................................................................ 30
3.1 Biografia do autor .................................................................................... 30
3.2 Os Clássicos como influência ................................................................ 32
3.2.1 Thucydides ............................................................................................ 32
3.2.2 Niccolò Machiavelli ............................................................................... 35
3.2.3 Thomas Hobbes .................................................................................... 36
3.3 O Realismo Clássico X O Idealismo Clássico ....................................... 38
3.4 O Estado, o poder e as Relações Internacionais .................................. 40
3.5. O Estado, os aspectos naturais e o Poder Nacional ........................... 49
3.5.1 Geografia ............................................................................................... 50
3.5.2 Recursos Naturais ................................................................................ 50
3.5.3 Capacidade Industrial ........................................................................... 51
3.5.4 Grau de Preparação Militar .................................................................. 52
3.5.5 População .............................................................................................. 53
3.5.6 A Índole Nacional .................................................................................. 54
3.5.7 O Moral Nacional ................................................................................... 54
3.5.8 A Qualidade da Diplomacia .................................................................. 55
3.5.9 A Qualidade do Governo ...................................................................... 56
3.6 Avaliação do Poder Nacional e o Equilíbrio de Poder ......................... 56
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 68
ANEXO A – OS QUATORZE PONTOS DE WOODROW WILSON ............... 76
C198g Campomori, Quintiliano
A Geografia Política Clássica de Ratzel e o Realismo
Clássico de Morgenthau. Belo Horizonte: 2007.
78p.

Orientador: Danny Zahreddine


Monografia (graduação). Centro Universitário de Belo
Horizonte – Uni-BH. Curso de Relações Internacionais.

1.Relações Internacionais. 2.Geografia Política Clas-


sica. 3.Realismo Clássico das Relações Internacionais.
4. Poder. 5.Território.6.Anarquia Internacional. I.Campo-
mori, Quintiliano. II.Título

CDD-327
10

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O “sentido histórico” aumenta a necessidade


do “absoluto”. Conseqüência da perda da crença
que o curso da história se orienta espontaneamente
para o melhor. No passado, a primazia do sentido da
história durou enquanto foi garantida pela confiança
numa reserva áurea de “progresso” que se
acumulou no decurso dos séculos.
José João Neves Vicente

O mundo presente, para que seja entendido do modo mais claro possível,

deve ter o entendimento do passado em todas as situações. Essa é uma premissa

que deve ser mencionada sempre que qualquer tipo de pesquisa científica, no

âmbito das Relações Internacionais, pretender decodificar os elementos estruturais

da dinâmica mundial. Portanto, o entendimento da conjuntura internacional requer a

compreensão das estruturas históricas do Sistema Internacional.

Este trabalho buscará apresentar dois saberes que com o andamento do

mesmo, terão o assunto debatido através de dois de seus principais autores. Os

assuntos a serem trabalhados serão a Geografia Política Clássica e o Realismo

Clássico das Relações Internacionais.

Por ter o objetivo de apresentar os dois conhecimentos supracitados da forma

mais primordial possível, tratar-se-á dos dois precursores que serão o geógrafo /

zoólogo Friedrich Ratzel e o cientista político / advogado Hans Morgenthau. Deste

modo, trazendo o cerne de duas abordagens importantíssimas das ciências sociais,


11

pode-se buscar aspectos que podem se relacionar, ou de outro modo, descobrir que

não se acordam.

As Relações Internacionais originaram-se baseando em diversos saberes do

conhecimento humano, através da busca da interdisciplinaridade e da sua própria

identidade, porém, ainda são bastante reduzidos os estudos em conjunto com a

Geografia Política Clássica. Por isso, objetiva-se realizar análises entre os princípios

da Geografia Política fundada por Ratzel e do Realismo Clássico proposto por

Morgenthau. Um dos motivos por se escolher o Realismo Clássico é que “as

doutrinas realistas formam a mais densa tradição de política externa desde que se

configurou o moderno sistema de Estados” (MAGNOLI, 2004, p.28) proposto na Paz

de Westphalia.

A análise da unicidade dos interesses dos Estados dentro do cenário

internacional baseado na anarquia será discutida com a questão da sobrevivência

do mais apto, a necessidade de expansão e de competição entre os Estados. Uma

outra análise é a do significado do poder como base para as Relações Internacionais

e a utilização pela Geografia em seus aspectos territoriais e físicos como um meio à

serviço do poder Estatal.

Outro aspecto a ser tratado é a situação do Estado considerado uma entidade

em luta constante pela sobrevivência, que tanto precisa do espaço para adquirir as

matérias-primas e os elementos necessários a essa mesma existência, como se

apresentava inevitavelmente como um indivíduo em escala maior num tabuleiro de

xadrez onde os elementos que organizam o jogo são simplesmente o interesse e o

poder.

Na visão de Estado, percebe-se que o ponto de partida do estudo do poder

não é outro senão o estudo do interesse. A política, neste caso, é sempre a política
12

do poder e as Relações Internacionais estão dentro de um horizonte guiado pela

luta, hegemonia, prestígio e domínio sobre os demais Estados que compõem o

cenário internacional. A ética política deve deixar de lado as considerações pessoais

e individuais e trazer à tona questões de cunho racional com o poder como centro

primário.

Com relação à comparações entre os Estados e os indivíduos tem-se que “as

relações entre nações [Estados] não são essencialmente diferentes das relações

entre indivíduos; são somente relações entre indivíduos a uma escala maior”

(MORGENTHAU, 2003, p. 63). É através deste pensamento que as Relações

Internacionais devem ser tratadas: como um jogo de poder e interesse.


13

2. FRIEDRICH RATZEL

Semelhante à luta pela vida, cuja finalidade


básica é obter espaço, as lutas do povos são
quase sempre lutas pelo mesmo objeto. Na
história moderna a recompensa da vitória sempre
foi, ou tem pretendido ser, um proveito territorial.
Friedrich Ratzel

2.1. Definições Básicas da Geografia Política

Antes de apresentar o autor Friedrich Ratzel, deve-se trazer à tona os

princípios da Geografia Política, que têm sido nitidamente regulados pelos processos

relacionados à política dos Estados em suas vertentes civil e militar, pacífica e

beligerante.

Na realidade, cabe à Geografia Política a incumbência de examinar e

interpretar os modos de exercício de poder estatal na gestão dos aspectos territoriais

das fontes e das manifestações do poder em geral.

"Geografia política é a política feita em decorrência das condições

geográficas" (BACKHEUSER apud SILVA et al, 2004, p. 28). A política equivale à

fixação de metas, à preparação e a aplicação do poder para sua conquista e

manutenção.
14

Uma outra definição da geografia política é a de Demko e Wood (1999) em

que eles afirmam que

Geografia política é a análise de como os sistemas políticos e as estruturas


 dos níveis locais aos internacionais  influenciam e são influenciados
pela distribuição dos recursos, eventos, e grupos e pelas interações entre
as unidades políticas sub-nacionais, nacionais e internacionais no mundo.
1
(DEMKO; WOOD, 1999, p. 4, tradução nossa)

Uma outra definição é:

Geografia política é a parte da pesquisa geográfica que examina a


constituição territorial do poder político  os recursos de poder, as
mudanças no poder e o uso do poder político nas relações com as
localizações territoriais e suas características  e seu corolário, o molde
das relações territoriais pela via do emprego do poder político.
2
(O’LOUGHLIN, 1994, p. 200, tradução nossa)

2.2. Biografia do Autor

Friedrich Ratzel nasceu em Karlsruhe (na atual Alemanha), aos 30 de agosto

de 1844 e faleceu em Ammerland aos 09 de agosto de 1904, vivendo, deste modo

aproximadamente 60 anos.

Como destacou Palma ([200-]), ele tinha grande qualidade para várias

atividades tanto que como jornalista político, colaborou para um jornal. Em suas

viagens pela Europa, Estados Unidos, México e Cuba, interessou-se pela Geografia.

1
Political geography is the analysis of how political systems and structures ― from the local to
international levels ― influence and are influenced by the spatial distribution of resources, events, and
groups, and by interactions among sub national, national, and international political units across the
globe.
2
Political geography is that part of geographical inquiry which examines the territorial constitution of
political power  the sources of power, shifts in power, and the use of political power in relation to
territorial relations via the application of political power.
15

Nestas viagens, realizou alguns de seus trabalhos de campo que fundamentaram as

idéias que viriam a se transformar em obras fundadoras da Geografia Política

Clássica.

Nas Universidades, interessou-se de modo inicial pelas ciências naturais

como a Geologia e a Zoologia, na qual defendeu tese de doutorado. Seu interesse

pela Zoologia trouxe para as idéias de Ratzel o interesse pelo pensamento de

Darwin (2004) que será discutido. Posteriormente, graças às viagens que fez e pelas

impressões sobre a natureza, a ocupação do homem e a nacionalidade, percebeu

nas Américas acerca do surgimento de uma sociedade desenvolvida (a

estadunidense) de características basicamente urbanas, encaminhou-se pelas

ciências sociais, particularmente pela Ciência Política e pela Geografia. Como

afirmou Mello (1999), nesta última obteve grande notoriedade com obras de grande

interesse até os dias atuais. Foi o fundador / precursor da Geografia Política, criando

bases para que ela pudesse ser estruturada como disciplina.

Entre os anos de 1875 e 1886, Ratzel, com a grande interdisciplinaridade que

possuía, lecionou na Universidade de Munique com grande propriedade,

basicamente porque em suas viagens pôde coletar dados e informações que,

ligadas às teorias acadêmicas, foram de grande valia para a interligação de diversas

situações propostas por ele. Posteriormente, transferiu-se para a Universidade de

Leipzig onde lecionou até falecer.

Ratzel foi um dos primeiros geógrafos a trabalhar com a questão do poder

das sociedades nas relações com seus espaços, portanto ele é reconhecido como o

fundador da Geografia Política. Foi um dos primeiros formuladores de um estudo

geográfico dedicado às discussões de problemas humanos, sendo fundamental no

processo de sistematização da Geografia moderna. Neste sentido, como disse


16

Martins ([200-]), sempre foi preocupado em entender a difusão dos povos na

superfície terrestre e a influência que as condições naturais exercem sobre a

humanidade.

2.3. A preocupação nacionalista

Além das preocupações intelectuais, Ratzel buscava entender os destinos de

sua nação. Ratzel tinha um sentimento nacionalista bastante entusiástico tanto que

lutou e foi ferido na Guerra Franco-Prussiana, em 1870, pouco antes da unificação

alemã.

Em 1871, vivenciou de modo muito claro o processo de unificação da

Alemanha e pensava que foi ele um processo mal-concluído. Isto se deve ao fato de

não ter ocorrido um processo revolucionário. Deste modo, a Alemanha sofria de um

mal que pode ser resumido em um Estado que era comandado pela Prússia

(governo central), contudo, cada estado-membro tinha poderes sobre sua forma de

governo. Apesar de uma aparente autonomia, todos os estados-membros eram

subordinados ao imperador Guilherme I (1797-1888). Neste sentido, as unidades

alemãs compunham-se de “um leão, meia dúzia de raposas e uma vintena de

camundongos.” (LOWEL apud BURNS; LERNER; MEACHAM, 1999, p. 646). O leão,

representado pelo imperador, tinha que “acalmar” todos os ânimos dentro da “recém-

nascida” Alemanha.
17

“A abrangente produção ratzeliana3 deixa transparecer a integração de fatos

da modernidade e do rápido desenvolvimento da sociedade no contexto da

Alemanha que se unificava” (MARTINS, [200-], p. 1). Dentro do conceito nacionalista

ratzeliano, um autor cujas idéias são bastante discutidas até hoje, afirmou que

“quanto pior um Estado é constituído tanto mais confusa e incompreensível é a

explicação da sua finalidade.” (HITLER, 2001, p. 295)

Como se pode perceber, Ratzel, como um nacionalista, buscava entender o

que acontecia na “sua” Alemanha, tanto que sugeriu que “uma política estatal

correta é a de evitar que as dissensões que ocorrem no interior da sociedade

transformem em conflitos geografizados.” (RATZEL, 1987, p. 66)

2.4. O Estado, o solo e o Espaço Vital

Friedrich Ratzel sofreu influência de diversos fatores, o que nos ajuda a

compreender as idéias que foram passadas para ele. Algumas considerações acerca

da conjuntura vivida por ele foram descritas através da sua biografia.

As idéias de Ratzel, quando da conclusão de sua obra maior, La géographie

politique, publicada em 1897, foram influenciadas pelos escritos de Darwin (2004)

que teve a primeira edição publicada em 1859. Para Ratzel, o tema fundamental da

geografia seria o da questão da influência que as condições naturais impõem à

história. O Estado possui uma relação necessária com a natureza, ou seja, os

3
Refere-se a Friedrich Ratzel.
18

Estados necessitam de espaço como as espécies. Por isso, lutam por seu domínio,

pois necessitam de espaço para seu desenvolvimento.

Darwin (2004) pensava que existia a variabilidade que está presente em todos

os seres vivos, a hereditariedade e a prevalência dos seres mais aptos através da

luta pela sobrevivência e da seleção natural. De acordo com a evolução, existe a

retração e expansão dos organismos vivos, e existência de uma hierarquia das

espécies4. Darwin (2004) também propôs uma idéia de progresso, pois, graças a

uma evolução histórica, a humanidade deveria ir para um caminho melhor.

O geógrafo alemão defende que o Estado é um organismo biológico dinâmico

tendo sempre vinculado o solo e o homem. “Os Estados são organismos que devem

ser concebidos em sua íntima conexão com o espaço.” (COSTA, 1992, p. 32) Esta

vinculação está muito clara quando Ratzel diz que “o que permanece por fazer a fim

de alçar a um nível superior o conjunto da geografia política, somente pode vir do

estudo comparativo das relações que empreendem o Estado e o solo.” (RATZEL,

1987, p. 18) Em seu texto O Solo, a Sociedade e o Estado (1983), ele exemplifica

dizendo que

[...] quando o Estado romano morre, o povo romano lhe sobrevive sob a
forma de grupos sociais de todo tipo e é pelo intermédio desses grupos que
se transmitiram à posteridade uma multiplicidade de propriedades que o
povo havia adquirido no Estado e pelo Estado. (RATZEL, 1983, p. 2)

Como um organismo vivo  influência de Darwin (2004)  , o Estado deve

se desenvolver através da história buscando o seu espaço vital. Ratzel vinculou o

ser humano ao território tanto que o tamanho e a posição deste influiria nos destino

4
Princípio de que um organismo mais evoluído é mais complexo.
19

da política de cada Estado. O desenvolvimento de um Estado5 depende da

capacidade de modificar a potencialidade do solo, da área geográfica que é

permanentemente habitada pelo homem e dos condicionantes físicos. A coesão e a

unidade do Estado são variáveis de suma importância nesta situação. “O elemento

fundador, formador do Estado, foi o enraizamento no solo de comunidades que

exploraram as potencialidades territoriais”. (RAFFESTIN, 1993, p. 13)

O homem, bem como a maior de suas obras, o Estado, não é concebível


sem o solo terrestre. Quando nós falamos de Estado, designamos sempre,
exatamente como no caso de uma cidade ou estrada, uma fração da
humanidade ou uma obra humana e, ao mesmo tempo, uma superfície
terrestre. (RATZEL, 1987, p. 60)

A necessidade do espaço, de expansão, é algo incontornável para o Estado,

sendo este, um conceito que não pode ser negado. “Ninguém jamais viu o Estado.

Quem poderia, no entanto, negar que ele seja uma realidade?” (BURDEAU, 1970,

p.13 apud RAFFESTIN, 1993, p. 14).

A questão do Lebensraum (Espaço Vital) deve-se ao darwinismo social6 que

Ratzel buscou em sua obra. “Ele [Ratzel] considerou Lebensraum a região


7
geográfica onde o organismo desenvolve-se.” (O’LOUGHLIN, 1994, p. 149,

tradução nossa) Ele entende que, como todos os seres vivos têm que possuir um

lugar para morar, para se alimentar, os Estados também têm essa necessidade.

5
Neste caso, Estado refere-se além do aspecto político, à nação e ao povo. Isto conforme o contexto
que Friedrich Ratzel quis demonstrar.
6
Aplicação das idéias de Charles Darwin às teorias sociais, principalmente das idéias de selecção
natural, luta pela vida e sobrevivência dos mais aptos, dentro de um esquema causalista e
determinista. Tem-se a idéia de organismo social, considerando que as relações existentes entre
todos os organismos vivos, sejam as de luta pela vida ou de cooperação, são as mesmas que as
existentes nas relações entre os animais ou entre os homens. Defende-se a selecção do mais apto,
considerando que na biologia, a igualdade só existe no cemitério, porque a divisão do trabalho implica
a desigualdade das funções, porque o progresso é aristocrático. Está na base do determinismo
geográfico e do determinismo racial. (MALTEZ, 2003, p.1)
7
He [Ratzel] considered Lebensraum the geographical region within which living organisms develop.
20

Karl Haushofer (1986) “considera o Lebensraum a base da política externa e

considera que toda a política externa alemã tinha a tarefa de defender e expandir o
8
Lebensraum alemão.” (O’LOUGHLIN, 1994, p. 149, tradução nossa). Adolf Hitler

(2001) utilizou a política do Lebensraum para buscar o Pan-germanismo9, de modo

posterior na década de 1930.

Analisando as obras de Ratzel, percebe-se que ele explica que existem

relações com o solo de dois tipos. A que é elaborada pelos índios que habitam os

Estados Unidos (observações feitas graças a suas viagens pela América) são

relações que “superfícies de extensões não conhecidas precisamente e que se

perdem em um espaço pouco ou não habitado, que eles consideram como sua

fronteira.” (RATZEL, 1906a, p. 282 apud LOPRENO; PASTEUR; TORRICELLI,

1994, p. 154). A outra, que é construída pelos europeus baseia-se em uma “relação

íntima e elevada com a terra, por meio da qual se busca ocupar a totalidade do

território, inclusive as porções fronteiriças mais afastadas, de tal maneira que a

extensão do povo e a extensão da terra são precisamente as mesmas" (RATZEL,

1906a, p. 282 apud LOPRENO; PASTEUR; TORRICELLI, 1994, p. 154).

No ponto supracitado, ele concorda com Diamond (2003), que com uma

explicação através dos fatores armas, germes e aço, busca explicar os destinos das

sociedades humanas. Para Diamond (2003) sociedades diferentes desenvolveram-

se diferente graças às condições geográficas e naturais que possuíam, como os

cultivos feitos, o contato com os animais domesticáveis (para a alimentação e

aquecimento), o clima favorável, as facilidades de transporte e a imunidade a

doenças adquirida ao longo dos tempos. É claro que alguns desses fatores se

tornaram menos ou nada importantes com o advento dos meios modernos de

8
Considered Lebensraum the basis for all foreign policy and thought that Germany foreign policy had
the task of defending and expanding German Lebensraum.
9
Conceito referente à união de todos os povos de origem germânica da Europa.
21

transporte e comunicação e a resultante transferência de cultivos e espécies animais

entre as diferentes regiões do mundo.

Para Diamond (2003) os fatores ambientais e geográficos moldaram o mundo

moderno. Reunindo um cruzamento de descobertas conjugando dados de diversos

saberes, sua argumentação inicia-se por considerações acerca de como o homem

ao encontrar condições ambientais adequadas à agricultura pode deixar o

nomadismo caçador / coletor. Ao armazenar alimentos e domesticar animais, as

populações conseguiram utilizar mais tempo e esforço na criação de tecnologia (aço

e armas). Com tecnologia, estas sociedades obtiveram vantagens competitivas em

relação às outras. Outra vantagem: ao conviver com animais domésticos, estas

sociedades, desenvolveram resistência a diversas doenças (germes),

diferentemente dos caçadores.

Ratzel estabelece, então, de fato, uma hierarquia das sociedades, no topo


da qual ele coloca o Estado em expansão, o conquistador, e embaixo, o
Estado voltado sobre si mesmo, o que significa recuo e atrofia em sua
existência. Esta hierarquia repousa sobre dois fatores essenciais: as duas
combinações, que ele opera, de um lado, entre o estado como organismo e
o estado como espírito da história e, de outro lado, entre a idéia de
vitalidade de um povo e aquela de expansão. (LOPRENO; PASTEUR;
TORRICELLI, 1994, p. 154)

Pensando acerca do que foi dito, percebe-se que é muito difícil compreender

a diversidade de homens no planeta sem que seja mencionada a idéia de

movimento e deslocamento populacional. Assim, os povos que hoje têm um

desenvolvimento maior em confronto com outros menos desenvolvidos, estão

diretamente ligados a um crescimento populacional e uma tendência importante de

movimentarem-se. “O movimento é uma propriedade altamente decisiva para a

expansão geográfica de um povo [...], um fator de progresso e elevação”. (RATZEL,


22

1891, p. 292 apud LOPRENO; PASTEUR; TORRICELLI, 1994, p. 154) É a idéia de

expansão territorial se manifestando.

Para que haja o dinamismo de movimento de um Estado é necessário que

haja a ampliação das fronteiras. É como o Estado se manifesta buscando sua

propagação e manifestação espacial: é um princípio histórico. A luta pelo espaço

decorre do movimento da vida que nunca deixa de existir e do espaço da terra que

não muda. Nesse ponto ocorre uma contradição que gera a luta pelo espaço. “O

espaço é, pois, um elemento vital e deve estar em consonância com as

necessidades do povo.” (FONT; RUFÍ, 2006, p. 59)

A função que desempenha o Estado nas relações internacionais depende


em grande medida do lugar que ele ocupa no mapa mundial. Graças a sua
situação geográfica, Estados de pequena extensão são postos na história
como exemplos que tem deixado outros de maior tamanho, dotados de
recursos bastante superiores, tomarem seus lugares. (DUROSELLE,
10
RENOUVIN, 2001, p. 21, tradução nossa)

Nos Estados, os movimentos internos de crescimento populacional,

invariavelmente, mudam para um movimento que é voltado para o exterior. Este tipo

de fenômeno gera os movimentos que quando não encontram espaço, são

obrigados a ampliarem em prejuízo de outros. A necessidade de espaço cresce com

a cultura do Estado à medida que o espaço é expandido (anexação de outras terras,

territórios, Estados etc) cresce à proporção que novas aquisições são feitas 

realizadas estas, aumenta-se a intensidade dos novos impulsos de conquista.

Todo Estado trava necessariamente uma luta com o “internacional” para a

defesa do território que possui. Além disso, busca acrescentar a seu território

recursos mais abundantes e mais variados que os que têm. “A extensão territorial é

10
La función que desempeñe el Estado en las relaciones internacionales depende en gran medida
que ocupa en el mapa mundial. Gracias a su situación geográfica, Estados de pequeña extensión han
puesto en la historia una huella que no han dejado otros de mayor tamaño, dotados de recursos
bastante superiores.
23

um elemento essencial na concepção com que cada povo forma seu destino: esta

‘consciência de espaço’ é o centro da teoria ratzeliana”. (DUROSELLE; RENOUVIN,

2001, p. 31, tradução nossa) 11

Atualmente, menções ao Lebensraum têm acontecido tanto que “um recente

uso do termo ocorreu durante a I Guerra do Golfo de 1990-91, quando muitos

comentaristas estadunidenses referiam ao Kuwait como o Lebensraum de Saddam


12
Hussein.” (O’LOUGHLIN, 1994, p. 150, tradução nossa)

2.5. A Geografia Política Ratzeliana à serviço do Poder

As idéias ratzelianas, além das “biológicas” de Darwin (2004), sofreram

influências de certos autores que buscavam as relações entre o território (espaço),

as sociedades e o poder, como Machiavelli (1998) e Hobbes (2004), além de

Friedrich Hegel (1770-1831) que utilizou “o termo ‘geografia política’ para fazer

referência às relações entre o território e seus habitantes. Sua visão desta relação

se mantém na tradição eurocêntrica e possibilista.” (FONT; RUFÍ, 2006, p. 55) Outro

autor importante que influenciou o pensamento ratzeliano foi Immanuel Kant (1724-

1804) que disse que

A mescla mais bem-feita entre as influências dos lugares frios e quentes, ali
onde se encontra a maior riqueza dentro da ordem das criaturas terrestres
[...] as Leis universais da natureza determinam todas as ações humanas [...]
a vontade intuitiva dos mesmos [...] conspire contra os desígnios da
natureza. (GALLOIS, 1990, p. 202 apud FONT; RUFÍ, 2006, p. 55)

11
La extensión del territorio es un elemento esencial en la concepción que cada pueblo se forma de
su destino: esta “conciencia del espacio” es el centro de la tesis ratzeliana.
12
A recent use of the term occurred during the Gulf crisis of 1990-91, when many American
commentators referred to Kuwait as Saddam Hussein’s Lebensraum.
24

Para que seja iniciada a discussão acerca do poder na obra de Ratzel é

necessário que se tenha consciência de que

pode ser sintetizada pelo trinômio Estado – posição – dinâmica. No mínimo,


o primeiro elemento é indiscutível: toda teoria ratzeliana parte e desemboca
no Estado, um Estado síntese e produto da sociedade, como se disse, de
13
caráter hegeliano , que transcende seus aspectos meramente legais.
Porém, um Estado que não tem como componente fundamental o solo ou,
se quisermos, o espaço. Isto não significa unicamente extensão espacial,
mas também, e sobretudo, a relação entre o espaço e a sociedade que nele
vive. (FONT; RUFÍ, 2006, p. 58)

O poder é algo fundamental para o Estado e a Geografia Política Clássica

contribui de modo muito efetivo para que ele se manifeste e possa ser utilizado. O

poder é reconhecido em todas as sociedades humanas. É um “conjunto de

instituições e de aparelhos que garantem a sujeição dos cidadãos a um Estado

determinado” (LEFEBVRE, 1972, p.31 apud RAFFESTIN, 1993, p. 51)

Antes de adentrar na obra de Ratzel para conceber uma discussão acerca do

poder, deve-se primeiro trazer à tona algumas definições importantes.

2. possuir força física ou moral; ter influência, valimento; 4. ser capaz de,
estar em condições de; 8. ter força, vontade ou energia moral para; 9. ter
autoridade moral para; ter o motivo, a razão de; 13. ter domínio ou controle
sobre; 14. direito ou capacidade de decidir, agir e ter voz de mando;
autoridade; 15. governo de um país, de um Estado etc; 16. possibilidade,
natural ou adquirida, de fazer determinadas coisas; capacidade, faculdade;
18. supremacia em dirigir e governar as ações de outrem pela imposição da
obediência; dominação, domínio. (HOUAISS, 2001, p. 2244)

O poder tem sido, freqüentemente, analisado do ponto de vista do Estado,

principalmente como instrumento de controle. Durante muito tempo o poder foi

abordado como sinônimo de força (de coerção ou de coação). Deve-se ampliar o

conceito de poder, entendendo-o como sendo algo maior que o Estado, o controle

13
Referente à obra de Friedrich Hegel (1770-1831).
25

ou a força, mas nunca desatrelado dele. Pode-se dizer que o poder é a capacidade

de se realizar e/ou forçar com que algo se realize com a ação dos outros. O poder

nunca é unidimensional: pode ser exercido não apenas como um modo de

dominação, mas também como um ato de resistência.

Ratzel, através da teoria do Lebensraum, reconheceu que o Estado é dotado

de uma ambição territorial, de um instinto expansionista que o impulsiona no sentido

da satisfação de um apetite pelo espaço vital. O crescimento dos Estados baseia-se,

como já dito, na concepção de que o Estado é um organismo vivo e que o “espaço é

o poder” (ALMEIDA, 1990, p. 108 apud PALMA, [200-], p. 2).

Para que seja entendida a questão do poder em Ratzel, é necessário que o

Estado seja conceituado. Conforme Miyamoto (1995), Ratzel afirmou que o Estado,

─ sequioso de poder, e que almejasse viver em paz, sem ameaças a sua

integridade, deveria possuir uma grande extensão territorial, e mantê-la, além de

buscar sua expansão para alcançar seu espaço vital. Uma visão interessante é a de

que “Estado é igual a poder”. (RAFFESTIN, 1993, p. 16)

Partindo da conceituação de poder para Raffestin (1993) para o qual os dois

elementos essenciais são a informação e a força (energia), pode-se encontrar, de

modo não explícito ou diretamente expresso nos escritos, ou seja, subentendido na

teoria ratzeliana um tipo de concepção de poder com a as seguintes características:

• o poder emana do Estado à partir de sua posição geográfica e do seu

território;

• o poder é variável de acordo com o transcurso histórico vivenciado pelo

Estado;
26

• o poder do Estado tem como elementos primordiais, além da posição

geográfica, os recursos do território (tanto os recursos naturais, quanto os

socioeconômicos, inclusive a própria população).

Para Ratzel, existem posições que tem valor político. Dentro deste contexto,

percebe-se que para a existência de um Estado é necessário que exista um território

determinado compreendido por solo, subsolo, espaço aéreo e mar territorial. A

população deste território é um poder político organizado no interior do Estado. O

Estado, um organismo geográfico, é um ser político por natureza.

Os conceitos de Estado, poder e território são inseparáveis na visão de

Ratzel. “A noção de Estado, disse Ratzel, é inseparável da do território.”

(DUROSELLE; RENOUVIN, 2001, p. 15, tradução nossa) 14

2.6. A Geografia Política Ratzeliana e a Unificação Alemã

A Unificação Alemã formou o II Império Alemão, composto pela Confederação

da Alemanha do Norte e outros estados alemães. Em 1834, um evento importante

para a consolidação da Unificação Alemã foi o Zollverein (Deutscher Zollverein ou


15
União do Uso Geral da Alemanha) que foi dissolvido em 1866, mas foi

restabelecido e, 1867 com os estados do Sul participando, sendo que neste


14
La noción de Estado, dice Ratzel, es inseparable de la de territorio.
15 o
Em 1 de janeiro de 1834, 18 Estados dos 39 que compunham a federação alemã, criada após as
guerras napoleônicas, assinaram o tratado aduaneiro, que esteve sujeito a futuras rodadas de
renovação. Neste tratado são abolidas inúmeras tarifas internas e todos os Estados signatários
adotam a tarifa da Prússia, a qual por sua vez, representa a todos frente aos países estrangeiros. A
administração de uma tarifa externa comum acabou levando à cooperação em outras áreas: taxa fixa
entre as moedas da Prússia e dos estados do sul da Alemanha; código sobre letras de câmbio;
administração ferroviária; acordos postais. (BRAGA in FIORI, 1999, p. 196)
27

restabelecimento a união foi mais forte. Foi uma ferramenta fiscal bastante eficiente,

porém deixou de ser útil com a crescente industrialização que teve a Alemanha.

Quem lançou a idéia do Zollverein foi o economista alemão Friedrich List,


cuja obra principal, não por acaso, chama-se Sistema Nacional de
Economia Política. List criticou as teorias de Adam Smith e de David
Richard e defendeu a tese de que qualquer país, em fase inicial de
industrialização precisa de uma política de proteção tarifária contra
produtos estrangeiros.O desenvolvimento e o expansionismo alemão
desequilibrou a balança do poder mundial, então dominado pela Inglaterra,
acirrando as contradições em torno da disputa por mercados, zonas de
influência e fontes de matérias-primas. (GOMES, 2007, p.1)

Sobre o Zollverein e Friedrich List (1983), tem-se que;

Liberal na política e na economia, apoiou calorosamente a criação da união


aduaneira germânica, o Zollverein, que conduziu à criação do Estado
alemão. Era partidário da intervenção do estado para forçar a
industrialização já que considerava que era a única forma de tirar um país
16
da pobreza. (ECONOMISTAS, 2006, p. 1, tradução nossa)

Otto von Bismarck (1815-1898) foi nomeado ministro-presidente da Prússia

pelo imperador Guilherme I (1797-1888). A intenção era ampliar o território da

Prússia às custas dos Estados vizinhos com a Alemanha do Norte. Iniciou-se,

primeiramente, com a ajuda da Áustria-Hungria, uma guerra contra a Dinamarca em

que foram tomados os ducados de Shleswig e Holstein. “Sucedeu, então, o exato

litígio pelo qual Bismarck ansiava ardentemente: uma desavença entre os vitoriosos

pela divisão dos despojos.” (BURNS; LERNER; MEACHAM, 1999, p.589) Em 1866,

Prússia e Áustria-Hungria entraram em guerra. O exército prussiano aniquilou o

austro-húngaro, num triunfo muito fácil. A Áustria-Hungria, além de desistir das

pretensões, teve de ceder a região de Venécia. “Logo depois da guerra, Bismarck

16
Liberal en la política y en economía, apoyó calurosamente la creación de la unión aduanera
germana, la Zollverein, que conduciría a la creación del Estado alemán. Era partidario de la
intervención del estado para forzar la industrialización ya que consideraba que era la única forma de
sacar un país de la pobreza.
28

procedeu à união de todos os Estados alemães ao norte do rio Meno na

Confederação da Alemanha do Norte.” (BURNS; LERNER; MEACHAM, 1999, p.589)

Os estados alemães do sul [...] hostis ao autoritarismo prussiano,


permaneceram fiéis à Áustria  para atraí-los, e consumar a unificação
total da Alemanha, Bismarck teria de lançar mão da ‘idéia nacional’ para
inflamar o patriotismo de todos os alemães, levando-os a ultrapassar as
diferenças que os separavam do processo unificador da Prússia. Isso teria
de ser feito por meio de uma nova guerra. (LESSA, 2005, p. 109-110)

“Alemães de todas as classes desenvolveram uma adoração pelo militarismo

prussiano e pelo poder estatal, com sua diretriz maquiavelista de que todos os meios

eram justificáveis se deles resultasse a expansão do poder alemão.” (ALMEIDA;

RUSSI in CARVALHO, 2006, p. 38)

Intrigas diplomáticas iniciadas por Bismarck (1815-1898) sobre as aspirações

de Leopoldo de Hohenzollern (1835-1905) ao trono espanhol, levaram a França a

declarar guerra à vizinha Prússia, em 1870. Os estados alemães do Sul, graças ao

nacionalismo dos povos germânicos, uniram-se à Prússia e a França é vencida. O

imperador francês Napoleão III (1808-1873) abdica ao trono e cede a região da

Alsácia-Lorena à Prússia. A terceira república prussiana é proclamada e os príncipes

alemães proclamam o rei da Prússia, Guilherme I (1797-1888), como Imperador

Alemão no Salão dos Espelhos, no Palácio de Versalhes. Foi um grande baque para

o nacionalismo francês. O Mapa 1 mostra o processo da Unificação Alemã.


29

Mapa 1: Unificação Alemã

Fonte: GERMAN UNIFICATION, [200-]

Após trazer à tona a Unificação Alemã, deve-se fazer uma análise acerca da

influência de Ratzel neste evento. “Mas toda sua [Ratzel] ‘geografia política’, sem

pretender estabelecer uma doutrina, congrega argumentos próprios para justificar

uma extensão territorial do Império Alemão.” (DUROSELLE; RENOUVIN, 2001, p.


17
31, tradução nossa)

Para Ratzel, o povo alemão tem um sentido de espaço que é superior ao de

qualquer outro povo. Nesta visão, a Alemanha teria direito a um espaço em

conformidade com o seu tamanho e a sua capacidade. Neste sentido, o Lebensraum

influencia a Alemanha e gera conseqüências nas decisões políticas alemãs através

do expansionismo alemão no século XIX.

17
Pero toda su [Ratzel] “geografía política”, sin pretender establecer una doctrina, congrega
arguementos proprios para justificar una extensión territorial del Imperio alemán.
30

Ratzel graças ao seu nacionalismo, como citado na seção 2.3, “não cessa de

se interrogar sobre o seu país, a sua identidade, a sua posição no mundo”

(DEFARGES, 2003, p. 76 apud PALMA, [200-], p. 2). Ratzel procura responder aos

dirigentes prussianos e, “devido ao seu determinismo histórico-geográfico, um dos

responsáveis pelo nacionalismo alemão e pelo Pan-germanismo que se expande na

Alemanha de Guilherme I.” (PALMA, [200-], p. 2) “A história da unificação alemã é a

medida da compreensão da geografia de Ratzel.” (ALMEIDA; RUSSI in CARVALHO,

2006, p. 38)

Ratzel, como viria a dizer Diamond (2003) anos depois, disse que através da

conquista é que se impõe os frutos da civilização e que, estava no hemisfério Norte

e no Ocidente, a sede dos conquistadores, sendo as demais localidades da terra,

apenas, áreas de expansão.

O Lebensraum se manifesta à serviço do poder, pois é “razão de equilíbrio

entre a população de determinada sociedade, seus recursos naturais e seu território

potencial.” (MAGNOLI, 1986, p. 13 apud ALMEIDA; RUSSI in CARVALHO, 2006, p.

39)
31

3. HANS MORGENTHAU

Sem poder político — aptidão para mover


homens —a técnica não é capaz de servir aos
interesses sociais; por isso, toda a vida civilizada
repousa, em última instância, sobre o poder.
Nicholas Spykman

3.1 Biografia do Autor

Hans Joachim Morgenthau viveu durante 76 anos. Nasceu em Coburg, na

Alemanha, aos 17 de Fevereiro de 1904 e faleceu em Nova Iorque, nos Estados

Unidos da América, em 19 de Julho de 1980.


32

Judeu e filho de pai autoritário, foi um dos maiores influentes na sua época.

Recebeu educação universitária em Berlim, Frankfurt e Munique. “Morgenthau

começou estudando filosofia no centro de pensamento marxista, então na moda, na

Universidade de Frankfurt, mas considerou-o surpreendentemente fora do contato

com as realidades da época” (HASLAM, 1996, p.14). “Foi nesta época que descobriu

e devorou a obra de Max Weber, a quem tomou, então como modelo pessoal e

intelectual”. (GRIFFITHS, 2004, p. 50) Após concluir o curso de Direito, em 1927,

conclui pós-graduação pelo Instituto de Estudos Internacionais de Genebra. Exerceu

a profissão de advogado em Frankfurt, lecionou direito público na mesma Genebra

onde se pós-graduou, de 1932 a 1935 e em 1935 e 1936, na Suíça e na Espanha,

onde, nesta última, não pôde mais viver graças a Guerra Civil espanhola.

“No início da década de 30, o fato de ser judeu só reduzia suas já escassas

oportunidades profissionais. Com Adolf Hitler e seus sequazes no poder em Berlim,

tornava-se inviável voltar ao país”. (SARDENBERG in MORGENTHAU, 2003, p. XII).

A origem alemã prejudicava, e muito, as oportunidades de Morgenthau. Tanto

lingüísticas como o clima político desfavorável, fizeram-no buscar emprego na

Palestina e no Afeganistão.

Para fugir do regime Nazista na Alemanha, Morgenthau, em 1937, emigra

para os Estados Unidos da América, onde pouco depois, torna-se nacional. “Suas

experiências com o Nazismo tiveram grande influência em seu posterior trabalho nas
18
Relações Internacionais” (WIKIPEDIA, tradução nossa) . Passou a lecionar em

Universidades de Nova Iorque, Kansas e Chicago.

18
His experiences with Nazism seem to have influenced his later IR work.
33

Na Universidade de Chicago lecionou juntamente com Edward Carr, que

escreveu Vinte Anos de Crise: 1919-1939, um dos principais autores da escola

realista de Relações Internacionais.

Apesar de também ter trabalhado por curtos períodos para o governo


[estadunidense] (como consultor da equipe de Planejamento Político, no
Departamento de Estado, no começo dos anos 60, como conselheiro do
Pentágono), Morgenthau dedicou a maior parte de sua vida profissional a
escrever e lecionar. (GRIFFITHS, 2004, p. 50)

“Sua filosofia política desenvolveu-se [...] das vicissitudes, derivadas da

ascensão, do declínio e da queda do Terceiro Reich, e [...] da irrupção dos poderes

norte-americano e soviético no plano mundial.” (SARDENBERG in MORGENTHAU,

2003, p. XIII). Uma situação a ser ressaltada é que nesta época os Estados Unidos

da América estavam, claramente, ligados à política internacional européia, com o

intuito de passar a ter o predomínio mundial.

Morgenthau representa uma geração de acadêmicos e intelectuais que, como

exemplo pode-se dar Albert Einstein, viram-se pressionados e repreendidos pelas

atrocidades do regime Nazista, atravessaram o Oceano Atlântico em busca de

espaço para que suas idéias pudessem aflorar e demonstrarem seus talentos.

3.2 Os Clássicos como influência

Hans Morgenthau, da mesma forma que Friedrich Ratzel, sofreu influências

de grandes autores clássicos das ciências sociais. Torna-se claro, deste modo, que

as idéias absorvidas por ele passaram a ser influências para as teorias e idéias que
34

ele quis passar durante toda sua vida como já demonstrada na sua biografia. Com o

intuito de realizar uma reconstrução histórica, deve-se buscar identificar fontes que

com o decorrer do tempo, passaram a ser imprescindíveis para o entendimento de

sua teoria e do Realismo Clássico das Relações Internacionais.

3.2.1 Thucydides

Thucydides19 (460-400 a.C.), autor grego de A História da Guerra do

Peloponeso fez uma análise histórica da guerra que dá nome ao livro, travada entre

Atenas e Esparta no século V a.C (431-404 a.C.). Ele trouxe à tona todos os

elementos das Relações Internacionais. As guerras, o comércio, as alianças, a

tecnologia têm bastante destaque em sua obra.

Quando do término de uma guerra contra a Pérsia ─ com vitórias heróicas

como a de Maratona (490 a.C.) e de Salamina (480 a.C.) ─ que pôs fim à ameaça e

submeteu a Pérsia aos ideais de liberdade, Atenas ligou-se a um grupo de Estados

gregos para a formação de uma aliança ofensiva e defensiva, a Liga dos Delos20

(478-338 a.C.)

Celebrada a paz, a liga não foi dissolvida, pois muitos gregos temiam que
os persas voltassem. Com o correr dos tempos, Atenas paulatinamente,
transformou-a num império naval para a promoção de seus próprios
interesses. [...] Tais métodos arrogantes despertaram suspeitas nos
espartanos, que temiam que a hegemonia ateniense, em breve, viesse a
estender-se por toda a Grécia. (BURNS; LERNER; MEACHAM, 1999, p.
102)

19
Em português, Tucídides.
20
“[…] criada para facilitar a cooperação militar entre as cidades-Estado gregas.” (HERZ, HOFFMAN,
2004, p.31)
35

Desta forma, percebe-se que Esparta via Atenas como um potencial

aniquilador, pois, possuía alianças e investimentos militares, não poderia ser

diferente. Esparta, então, buscou balancear o poder. Uma frase importante citada no

texto do autor é “A guerra dá à paz sua segurança.” (THUCYDIDES, 1986, p. 108).

A guerra foi calamitosa para Atenas, tendo em vista que o comércio foi

destruído, sua população dizimada e a democracia derrubada. Além, foi abandonada

por seus aliados e não teve alternativa a não ser render-se, pois, morreria de fome

pela falta de abastecimento de alimentos. Teve que entregar sua frota naval,

possessões no exterior e destruir suas defesas.

Atenas argumenta que montou um império com o intuito de preservar a sua


própria segurança. A questão do interesse próprio nos remete à
racionalidade em Relações Internacionais. É uma premissa extremamente
lógica de qualquer país, assim como qualquer pessoa, busque fazer aquilo
que mais lhe traga benefícios, independentemente do impacto disso ao seu
redor. Portanto, se um país tem a capacidade, os meios, enfim, o poder de
ser líder, ele o será, pois da liderança sempre surgem benefícios [...].
(SARFATI, 2005, p. 66)

Thucydides via Atenas como hegemônica, pois passava tanto uma segurança

no sentido militar quanto no aspecto legal, pois servia de árbitro para conflito de

seus aliados. Os Estados, segundo Thucydides, são dirigidos por seus próprios

interesses e pela questão da segurança. A Guerra do Peloponeso significou a ruína

de Atenas e a consolidação do poder de Esparta sobre toda a Grécia.

Thucydides argumentou que a causa principal da Guerra do Peloponeso foi a

insegurança que Esparta tinha defronte ao aumento militar-bélico de Atenas. Assim

o desequilíbrio de poder foi a explicação para a causa fundamental e objetiva da

guerra. As pretensões imperialistas fizeram com que a hegemonia de Atenas tivesse

seu perecimento acelerado.


36

A tarefa que Thucydides atribuída para ele mesmo, entretanto, foi muito
mais ambiciosa que simplesmente descrever que estava ocorrendo.
Eventos particulares foram distribuídos com grandes e claros detalhes, mas
seu objetivo era dizer alguma coisa significante não unicamente sobre
eventos do tempo dele, mas também sobre a natureza de guerra e por que
ela continuamente resultava. Para Thucydides, o passado era guia para o
21
futuro. (KAUPPI; VIOTTI, 1998, p.55, tradução nossa).

Thucydides percebeu que “se essas minhas palavras forem consideradas

úteis pelos acontecimentos que ocorrem no passado e [sendo a natureza humana

como é], em algum momento e de uma forma bastante semelhante, irão se repetir

no futuro” (THUCYDIDES, 1986, p. 48). Ele partiu do pressuposto de que o passado

tinha algo para ensinar ao presente e que isso residia no eterno caráter do ser

humano, ou seja, a natureza humana, na Grécia antiga ou nos dias atuais é a

mesma.

3.2.2 Niccolò Machiavelli

22
Niccolò Machiavelli (1469-1527) , autor de O Príncipe (1513), foi quem

conseguiu propor a separação entre a moral e a política como fundamento da razão

de Estado. A política constitui um ambiente independente e uma arte que condensa

o interesse nacional. O Estado deve afirmar sua soberania sobre seus interesses.

Como Hobbes (2004) (que será apresentado posteriormente), Machiavelli

(1998) também considerava que a natureza humana não tende ao bem, mas ao mal.

O Estado deve alcançar a estabilidade. “O foco para Maquiavel sempre foi o Estado,

21
The task Thucydides set for himself, however, was much more ambitious than simply describing
what was occurring. Particular events were dealt with in great and vivid detail, but his goal was to say
something significant not only about events of his own time, but also about the nature of war and why
it continually results. For Thucydides, the past was the guide of the future.
22
Em português, Nicolau Maquiavel.
37

não aquele imaginário e que nunca existiu, mas aquele que é capaz de impor a

ordem.” (SARFATI, 2005, p. 70). Dentro deste contexto, ele deixa bem claro que

deve ser o Estado como ele é e não como se tem a intenção de que ele fosse.

Machiavelli (1998) busca demonstrar que a sociedade é formada por homens,

que nutrem interesses, que são contraditórios e os levam a choques. O ser político,

ou seja, o Estado, bem sucedido tem controle sobre todas as variáveis de seu

interesse e a conquista e manutenção do poder provêm do cálculo.

Sobre o Estado, O Príncipe propõe um debate:

[...] se é melhor ser amado ou temido ou o inverso. Dizem que o ideal seria
viver-se em ambas as condições, mas, visto que é difícil acordá-las entre si,
muito mais seguro é fazer-se temido que amado, quando se tem de
renunciar a uma das duas. Dos homens, em realidade, pode-se dizer
genericamente que eles são ingratos [...]. Enquanto ages em teu benefício,
e contando, que tua necessidade esteja ao longe, todos estão ao teu lado e
oferecem-te o seu sangue, os seus bens, as suas vidas e os seus filhos. Ao
avizinhar-se, porém, essa necessidade, eles esquivam-se. (MACHIAVELLI,
1998, p.80)

Percebe-se assim que com a natureza desordenada, situações como a de

que ninguém quer ser dominado e oprimido e de que todos querem dominar e

oprimir. Ele via que “os principais fundamentais que todos os Estados possuem [...]

são boas leis e bons exércitos. E porque não pode haver leis sem bom exército e

como há exércitos, convém que haja boas leis” (MACHIAVELLI, 1998, p. 81).

“Dentro deste contexto, a primeira e a última razão de ser da política internacional do

Príncipe é o emprego dessas forças de guerra” (SARFATI, 2005, p. 70)

O Realismo apropria-se desta natureza humana e a transfere para o ambiente

internacional, demonstrando que os Estados, como os homens tendem ao mal,

sendo, portanto, conflitivos. A política deve ser uma esfera autônoma que traz em si

valores, às vezes, diferentes dos individuais. A busca pela riqueza e pela glória de
38

alguns governantes pode ser guiada pela violência com o intuito de alcançar

objetivos.

3.2.3 Thomas Hobbes

Thomas Hobbes (1588-1679), autor de Leviatã (1651) foi o principal teórico

absolutista. Hobbes explicou que o Estado nasce da sociedade, mas eleva-se acima

dela. Antes do advento, acontecia o “Estado de natureza” e que a natureza humana

é exprimida de forma completa. Hobbes busca descrever o Estado de natureza do

ser humano com o da liberdade, em que os homens nascem livres para usufruir de

sua vida como bem entenderem.

Com relação à natureza humana:

Torna-se manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um


poder comum capaz de manter a todos em respeito, eles se encontram
naquela condição a que se chama guerra. Uma guerra que é de todos os
homens contra todos os homens. A guerra não consiste apenas na batalha,
ou no ato de lutar, mas naquele lapso de tempo durante o qual a vontade de
travar batalha é suficientemente conhecida. (HOBBES, 2004, p.98)

Quando se faz um pacto em que ninguém cumpre imediatamente sua parte,


e uns confiam nos outros, na condição de simples natureza, a menor
suspeita razoável torna nulo esse pacto. Mas se houver um poder comum
situado acima dos contratantes, com direito e força suficiente para impor
seu cumprimento. Pois aquele que cumpre primeiro não tem qualquer
garantia de que o outro também cumprirá depois, porque os vínculos das
palavras são demasiadamente fracos para refrear a ambição [...] (HOBBES,
2004, p.99).

O Estado surgiu de uma evolução humana e que um poder supremo é voltado

para a defesa da sociedade. Tal evolução origina um “contrato” em que os homens

em seu “Estado de natureza” abdicam de sua liberdade anárquica, a fim de evitar o


39

caos e a “guerra de todos contra todos”. Neste contexto, entra em cena a figura

bíblica do Leviatã: o Estado representa um monstro cruel que impede que os peixes

pequenos sejam devorados pelos maiores.

Assim, o estado de natureza, por definição, é um estado de guerra entre os


homens. No que tange à constituição do Estado, Hobbes sustenta que os
homens se submetem a um soberano, por meio de um contrato social, que
vai evitar, pelo seu absolutismo, que os homens se destruam. Desse modo,
os Estados existem para controlar o estado natural de guerra do ser
humano, que é norteado pela competição, desconfiança e glória.
(SARFATI, 2005, p. 72)

A origem do Estado, em Hobbes (2004), é fruto do consentimento, do pacto

geral dos homens. Essa legitimidade ancestral ocorre na transição do “Estado de

natureza” para o Estado político. O Realismo Clássico se apropria, portanto, deste

pensamento trazendo à tona uma “guerra de todos contra todos”, mas dentro do

Cenário Internacional, ou seja, uma guerra de todos os Estados contra todos os

Estados.

Também, a anarquia, é transferida para uma Anarquia Internacional. Não há

uma significação de desordem ou confusão, e sim, a ausência de um poder central.

Curiosamente, o monarquista Hobbes, buscou sua inspiração em Thucydides

que viveu na Grécia Antiga, ou seja, berço da Democracia. Nas palavras dele,

“ninguém me agradou como Thucydides. Diz ele que a democracia é coisa tola, mais

sábio que uma República é um único rei.” (HOBBES, 1634, p.256 apud HASLAM,

2006, p.94, tradução nossa) 23

3.3 O Realismo Clássico X O Idealismo Clássico

23
There’s none that pleas’d me like Thucydides. He says Democracy’s Foolish Thing, than a Republic
wiser in one king.
40

A Teoria Realista Clássica nasceu com o intuito de ser um movimento de

reação aos trágicos e ineficientes métodos da “política de apaziguamento”

conduzida na Europa durante período entre-guerras24. Até então, as Relações

Internacionais eram só preocupação para os diplomatas.

E, com relação à citada “política de apaziguamento” utilizada pela Teoria

Idealista que tem inserido o conceito de Comunidade Internacional ou Sociedade

Internacional. Nesta visão tem-se uma completa obrigação de se cultivar o bem-

estar das nações (de cada uma com as outras), garante o cuidado em existir uma

abstenção de tudo que possa interferir nos outros Estados.

Ressurge em um contexto global, a tese de que o ser humano é bom

naturalmente, segundo Rousseau (2004), e que essa “bondade” é transferida para a

relação entre os Estados. Foi utilizada pela diplomacia em alguns Estados ocidentais
25
no início do século XX, e introduzida pelos “Quatorze Pontos” de Woodron Wilson

(1856-1924) 26 27
e nos fundamentos da Liga das Nações. O período idealista trouxe

iniciativas inspiradas em princípios étnicos e morais.

A Liga das Nações e o Pacto de Briand-Kellogg28 29


foram os principais

exemplos do Idealismo. Dentro deste contexto, “não existe outra opção, senão a

24
Período entre a I e II Guerras Mundiais, ou seja, entre 1919 e 1939.
25
Ver ANEXO A.
26
Ex-presidente estadunidense entre 1913-1921.
27
[...] apresentou, em 1918, seus quatorze pontos para a reorganização do sistema internacional a
partir do liberalismo. Foi uma liderança central durante a Conferência de Paris (Versalhes), ao final da
I Guerra Mundial, tendo proposto a criação da Liga das Nações. (HERZ; HOFFMANN, 2004, p.79)
28
Pacto negociado entre o Secretário de Estado dos Estados Unidos da América, Frank Kellogg e o
Ministro de Relações Exterior da França Aristide Briand, em 1928, no qual sessenta Estados
renunciavam perpetuamente à guerra. Tanto Briand quanto Kellogg ganharam o Prêmio Nobel da
Paz; Briand, em 1926 e Kellogg, em 1929.
29
[...] em pleno período entre guerras [...] renunciava-se à guerra como um instrumento da política
nacional, talvez constitua o exemplo mais extraordinário da história do contraste entre a maneira por
que as potências se exprimem sob a pressão da opinião pública esclarecida e a maneira por que
agem sob a pressão de interesses nacionais conflitantes. (WIGHT, 1978, p.82)
41

convivência pela Lei entre os Estados, independentemente da existência da Liga das

Nações [...]” (ROOT, 1997, p. 13 apud SARFATI, 2005, p. 84)

A Liga das Nações, na verdade, foi um fracasso. Além de problemas ligados

aos vencedores da I Guerra Mundial, de não chegarem a um acordo sobre vários

aspectos como de ter um exército, aconteceu uma entrada e saída de vários países

como Brasil, Alemanha, Japão e União Soviética. Não conseguiu impedir a invasão

japonesa na Manchúria (China) e acabou por se desmantelar com a subida ao poder

do Fascismo na Itália e do Nazismo na Alemanha, e, é claro, a II Guerra Mundial. “A

Liga restringiu rigidamente as condições sob as quais a guerra poderia ser

considerada ilegal, mas não a declarou ilegal.” (WIGHT, 1978, p.81).

O Idealismo30 realmente só pode ser utilizado em dois aspectos:

1. na vida cotidiana dos indivíduos; neste contexto, a “bondade” pode existir,

entretanto, com apenas uma ação que possa ir de encontro às opiniões do

outro. A guerra de todos contra todos, segundo Hobbes (2004), tanto verbal

como física, pode acontecer;

2. Na fase do desejo de qualquer conhecimento, em que é necessário que haja

um objetivo para que posteriormente tenha-se a análise. Essa premissa

baseia-se nos escritos de Carr (2001).

A mais importante dentre todas as instituições afetadas por esse


intelectualismo míope da política internacional foi a Liga das Nações, que
foi uma tentativa de aplicar os princípios do liberalismo de Locke para a
construção de uma estrutura internacional para a ordem internacional.
(CARR, 2001, p. 40)

3.4 O Estado, o Poder e as Relações Internacionais

30
Teoria Idealista das Relações Internacionais.
42

O Realismo Clássico é a base fundadora das Relações Internacionais.

Mesmo importantes teóricos das Relações Internacionais, no fundo contrários ao

Realismo, corroboram. “Há mais de 200 anos, o que Hans J. Morgenthau batizou de

‘Realismo Político’ constitui a principal tradição para as análises das relações

internacionais na Europa e em suas ramificações no Novo Mundo.” (KEOHANE,

1986, p. 158 apud HASLAM, 2006, p.26). “O realismo entra em cena após a utopia

[Idealismo Clássico], e como forma de reação contra ela.” (CARR, 2001, p. 85)

O Realismo Clássico de Hans Morgenthau, em sua obra-prima A política entre

as nações, tem o intuito de trazer à tona a “preocupação teórica como a natureza

humana tal como ela se apresenta, e com os processos históricos, à medida que

eles ocorressem, fez com que a teoria aqui caracterizada ganhasse o nome de

realista.” (MORGENTHAU, 2003, p. 4). “Em linhas gerais, propõe [Teoria Realista]

que o meio internacional é composto por Estados nacionais, que possuem recursos

desiguais, lutam para poder obter mais poder, e, assim, realizar seus interesses

nacionais”. (ALMEIDA, 2006, p.2)

Segundo o próprio autor, existem seis premissas que devem ser destacadas

para que a teoria seja compreendida.

A primeira premissa mostra que a política, como a sociedade em geral, é

regida por princípios que encontram suas raízes na natureza humana, seja da

racionalidade ou mesmo da sobrevivência. Em busca da realização de seus

interesses, as leis da política refletem leis objetivas, independentemente de tempo e

de lugar.
43

A segunda premissa diz que política entre as nações, ou seja, as Relações

Internacionais, não segue a moral ou a ética, e sim, apenas “o conceito de interesse

definido em termos de poder” (MORGENTHAU, 2003, p. 6). “A análise racional do

comportamento político dos governantes” (GONÇALVES, 2002, p. 56) baseia-se no

poder, pois é através dele que se consegue mais poder. Neste sentido, Carr (2001),

o principal crítico do Idealismo Clássico, concorda que existe o foco no poder como

elemento de motivação para as ações dos Estados. “[...] os interesses não são

condicionados a julgamentos morais e sim à condição existencial do Estado.”

(SARFATI, 2005, p.92) “[...] a política tem suas razões e, portanto, suas justificações,

que são diferentes das razões e, em conseqüência, das justificações do indivíduo

que atua em vista de seus próprios interesses” (BOBBIO, 2003, p.147)

A terceira premissa baseia-se que a busca pelo poder tem validade universal,

sendo, portanto, uma situação constante na história da humanidade. O conceito de

interesse é definido em termos de poder. “A noção de interesse faz parte realmente

da essência da política, motivo por que não se vê afetada pelas circunstâncias de

tempo e de lugar.” (MORGENTHAU, 2003, p.16) Mesmo na ausência de Estados, as

relações são condicionadas ao poder.

A quarta premissa separa a moral da política como fez Machiavelli (1998).

Existem leis morais e próprias para a política internacional. Os princípios morais

universais não podem ser aplicados nos modos pelos quais os Estados agem. Eles

devem ser selecionados de acordo com a conjuntura de tempo e lugar. A ação do

Estado passa por uma análise racional do interesse, da relação entre poder e

sobrevivência, mesmo sendo imoral no plano internacional.

A quinta premissa baseia-se na recusa da identificação de aspirações morais

de uma determinada nação com as leis que regem o universo. Os Estados e os


44

indivíduos devem agir de acordo com princípios morais. “Embora o indivíduo conte

com o direito moral de sacrificar-se em defesa de tal princípio moral, o Estado não

tem o direito de permitir [...].” (MORGENTHAU, 2003, p. 20) O Estado tem que se

manter, uma de suas razões de existir é a sobrevivência nacional.

A sexta premissa baseia-se na independência e autonomia da esfera política;

deve-se basear em termos de interesse definido como poder. Os outros temas como

economia ou meio-ambiente, por exemplo, devem ser subordinados aos de caráter

político. “É com relação a esse ponto que o realismo político discorda do ‘enfoque

moralista-legal’ quando aplicado à política internacional”. (MORGENTHAU, 2003, p.

23).

Nesta sexta premissa, são criados conceitos importantes: high politics e low

politics. O pensamento morgenthauliano31 trabalhou apenas no plano de high

politics, deixando outros aspectos para serem tratados por áreas específicas.

[High politics] refere-se aos componentes essenciais de política de poder


para os realistas, envolvendo aspectos militares, diplomáticos e
estratégicos que definem a capacidade de projeção internacional do Estado
e sua capacidade de ação diante de unidades políticas semelhantes. Pode-
se dizer que este termo indica os aspectos mais “nobres” da política
internacional, opondo-se às questões sociais, culturais e econômicas dos
Estados, pertencentes ao seu mundo doméstico, que representariam a low
politics. (PECEQUILO, 2004, p.121)

A essência do Realismo é analisar a realidade como ela é, e não como ela

deveria ser, o que caracteriza, por exemplo, o Idealismo. Nas Relações

Internacionais, Carr (2001) percebe a política internacional como uma luta pelo

poder.

Ele [Carr] iniciava, portanto, o primeiro capítulo afirmando sem rodeios que
‘o poder é sempre o objetivo imediato’ (SCHLESINGER in SCHWAB, 1982,

31
Refere-se à Hans Morgenthau.
45

p.13) dos que conduzem à política externa. ‘Embora esse fato seja
geralmente reconhecido na prática das relações exteriores, ele costuma ser
negado nos pronunciamentos de intelectuais, de especialistas em relações
internacionais e até mesmo de estadistas’ (SCHLESINGER in SCHWAB,
1982, p.13). (HASLAM, 2006, p.329)

“Que o Estado [...] é o principal ator nas Relações Internacionais, porém não

se deve negar a existência de outros atores tanto individuais quanto coletivos”

(KAUPPI; VIOTTI, 1998, p.85, tradução nossa).32. Os Estados são os únicos

reconhecidos, os outros agem eventualmente, e suas atitudes não tem importância,

pois não agem em high politics. O Estado é a peça central do Realismo Clássico.

Por serem relações de poder, os Estados soberanos interagem sem o

controle de uma instituição superior, criando, deste modo uma anarquia

internacional, baseado no estado de natureza de Hobbes (2004), em que o conflito é

latente.

Com relação à discussão acerca do poder, traz-se à tona a situação da Liga

das Nações em que [...] o ideário da Liga das Nações esquece que a política

internacional é essencialmente conflituosa. As nações podem ter interesses

distintos, o que as levaria a defendê-los a qualquer custo. (SARFATI, 2005, p. 89)

Morgenthau vê o fenômeno da guerra como essencial às Relações Internacionais. “A

guerra era instrumento da política e não tinha sentido fora do mundo político.”

(PROENÇA JÚNIOR; DINIZ; RAZA, 1999, p.75)

A suprema importância de o instrumento militar repousa no fato de que a


‘ultima ratio’ do poder, nas relações internacionais, é a guerra. Todo ato do
Estado, no aspecto do poder, está dirigido para a guerra, não como uma
arma desejável, mas como uma arma que pode ser necessária como último
recurso. (CARR, 2001, p.143)

Morgenthau afirmava que a ‘força motriz’ no mundo era a “aspiração das


nações soberanas pelo poder” (MORGENTHAU, 2003, p.89). Neste

32
That the state […] is the principal actor in international relations does not deny the existence of other
individual and collective actors.
46

sentido, analisando a Guerra Fria, ele deixou bem claro de que “não é uma
luta entre o bem e o mal, a verdade e a falsidade, mas do poder contra o
poder” (MORGENTHAU, 1946, p, 219 apud HASLAM, 2006, p.330)

O poder deve ser definido como a soma de capacidades militares,

econômicas, tecnológicas, diplomáticas, entre outras que está à disposição do

Estado. Além disso, deve-se perceber, “[...] poder não como um valor determinado e

absoluto para cada Estado como se fosse um vácuo, mas quiçá, como as

capacidades em comparação com as capacidades dos outros Estados.” (KAUPPI;

VIOTTI, 1998, p.64, tradução nossa).33 Shang-chun disse que “A força produz o

poder, o poder produz prestígio, o prestígio produz a virtude, e assim a virtude tem

sua origem na força [...].” (DUVEYVENDAK, 1963, p. 259 apud HASLAM, 2006, p.

26)

“O poder, no sentido político, é definido como as mútuas relações de controle

estabelecidas entre os titulares da autoridade pública [...] O poder pode ser exercido

por meio de ordens, ameaças, autoridade ou carisma.” (SARFATI, 2005, p. 93) “Para

Morgenthau, no entanto, o poder não se limita ao exercício da violência física, porém

[...] dentro da arena internacional, o exercício desse poder torna-se fundamental

para entender a forma política de uma nação.” (BEDIN, 2000, p. 129 apud SARFATI,

2005, p.93) “A política é, em certo sentido, sempre a política do poder.” (CARR,

2001, p.135)

Para Morgenthau (2003), o poder pode ser distinguido em quatro partes. O

poder utilizável é o que pode ser utilizado através das forças militares de modo

efetivo em um conflito. Já o poder não-utilizável é o caso das armas nucleares, já

que, ele não amplia o poder político. O Estado que possui armas nucleares pode

utilizar desse tipo de arma se o outro não a tiver. Porém se o outro a possuir, poderá

33
[…] power not as some absolute value determined for each state as if it were in a vacuum but,
rather, as capabilities relative to the capabilities of other states.
47

ser feita a seguinte pergunta: “Se você me destruir com armas nucleares, você

também será aniquilado?” (MORGENTHAU, 2003, p. 53). Nesta situação as

ameaças são canceladas, pois, se o Estado deixar de existir qual é o seu real

objetivo? Não é racional a mútua autodestruição.

As outras duas partes referem-se ao poder legítimo e ao poder ilegítimo. O

poder legítimo é moral ou legalmente justificável. Morgenthau (2003) diz que quando

o poder é realizado através da autodefesa ou em conjunto autorizado pela

Organização das Nações Unidas, ele tem chances maiores de lograr sucesso em

comparação com um ataque de um Estado que sem justificativa ataca outro; este

último é o poder ilegítimo.

A política externa dos países baseia-se em alguns tipos de políticas adotadas.

A política de defesa do status quo é “a política externa que visa conservar o poder e

evitar mudanças no sistema internacional que alterem sua posição no sistema”

(SARFATI, 2005, p.94).

A política de imperialismo baseia n premissa de que é “uma política que visa à

demolição do status quo que busca uma alteração nas relações de poder entre duas

ou mais nações.” (MORGENTHAU, 2003, p.98) Desta forma, quando uma política

somente queira ajustar uma situação vigente, mantendo as relações de poder, ela

continuará sendo de caráter de status quo.

A política de prestígio baseia-se na ostentação de manter ou aumentar o

poder. Ela não é um fim por si só e, sim, complemento das outras políticas

supracitadas. “A política de prestígio que se concretiza mediante a demonstração do

poder que uma nação tem (ou pensa que tem, ou que deseja que os outros

acreditem que ela tem) [...]” (MORGENTHAU, 2003, p.156)


48

As Relações Internacionais são marcadas pelo conflito e pelo império da

força, em que há uma luta constante pelo domínio do poder, através do uso bélico.

Existem relações de poder, mas nunca de autoridade, pois, não existe uma

autoridade internacional. A preocupação com sobrevivência é a principal motivação

dos Estados.

A paz a e segurança internacionais somente podem ser alcançadas mediante

um equilíbrio de poder (balance of power) que é um mecanismo capaz de regular os

conflitos, em que, a força maior de um Estado é compensada pelo aumento da força

ou expansão de alianças dos outros. Tal situação é dada no sistema ou promovida.

Para Morgenthau, quando os Estados, que por definição são iguais em


princípio, tentam manter ou derrubar o status quo, necessariamente entre
em equilíbrio de poder. O equilíbrio de poder seria garantido ou pela
diminuição do poder de uma das partes ou pelo aumento do poder da parte
mais fraca. (SARFATI, 2005, p.95)

Para que o equilíbrio de poder seja garantido entre os Estados, num ambiente

de anarquia, pode-se estabelecer política de alianças, dividir e conquistar territórios,

estimular corrida de armamentos ou pagar compensações aos derrotados.

[...] o cenário internacional pode ser corretamente definido como uma


anarquia ─ uma multiplicidade de potências sem governo. [...] Sua causa
fundamental é a ausência de governo internacional; em outras palavras, é
a anarquia dos Estados soberanos. Esse foi o exemplo apresentado pelo
filósofo do século XVII Thomas Hobbes para sustentar seu argumento de
que a condição natural da espécie humana era de ‘guerra de todo homem
contra todo homem’. (WIGHT, 1978, p.82)

A anarquia é a característica que distingue a política internacional da


política ordinária. O estudo da política internacional pressupõe a ausência
de um sistema de governo, assim como o estudo da política doméstica
pressupõe a existência de tal sistema. (WIGHT, 1978, p.83)

[...] dada à pluralidade de príncipes, deduz-se que um equilíbrio do poder é


útil e positivo não como resultado de uma determinação, mas das
circunstâncias. E é de duas naturezas porque às vezes seu objetivo é paz
49

[...] e outras vezes é a segurança e prosperidade de um Estado [...]


(BOTERO, 1605, p. 9 apud HASLAM, 2006, p. 156)

Somente através do equilíbrio de poder que a segurança internacional pode

ser garantida, ou seja, a paz mundial só pode ser atingida desta forma. A segurança

é o principal objetivo dos Estados, sendo que estes são os principais atores das

Relações Internacionais. Deve haver uma centralidade na força militar e, assim, o

conflito se deve a múltiplas soberanias. Os demais objetivos dos Estados, somente,

são perseguidos quando é garantido um mínimo de segurança traduzida em uma

ênfase das relações políticas, diplomáticas e estratégicas entre os Estados.

[...] em uma ordem internacional anárquica caracterizada pela


independência dos Estados, o próprio balanço do poder deve prevalecer
para alcançarmos a segurança internacional. Isso porque, essencialmente,
todos os Estados são iguais e não têm obrigação alguma de submeter a
qualquer ordem internacional. (SARFATI, 2005, p.98)

Uma eficaz política de Equilíbrio de Poder só poderia sustentar-se em


longo prazo se funcionasse através de uma avaliação neutra e objetiva dos
pesos relativos a cada potência no sistema; se não fosse assim, todo o seu
propósito seria anulado. (HASLAM, 2006, p. 163)

O desejo pelo poder entre todas as nações leva a uma configuração básica
nas relações internacionais que está intrinsecamente entremeada na
própria estrutura da política internacional, e que é o equilíbrio de poder [...]
o equilíbrio do poder é o único princípio organizador que existe.
(LECTURES, caixa 77 apud HASLAM, 2006, p.325)

O equilíbrio de poder e o moderno sistema de Estados se originaram na Paz

de Westphalia, com o fim da Guerra dos Trinta Anos, em 1648. “O estado

westphaliano34 é o sistema de autoridade política baseado no território e na

autonomia.” (KRASNER, 1995-1996, p. 115, tradução nossa) 35 Contudo, o equilíbrio

de poder está presente deste os primórdios da humanidade; na Grécia de

Thucydides.

34
Refere-se à Paz de Westphalia.
35
The Westphalian state is a system of political authority based on territory and autonomy.
50

“A cooperação é dificultada pela natureza do sistema internacional, além do

receio de que a cooperação acordada não será respeitada, [...] a ausência de

governo [central] gera uma luta constante pela sobrevivência e pela independência.”

(HERZ; HOFFMANN, 2004, p.49) Mearsheimer e Grieco citados por Herz e

Hoffmann (2004, p.49) “criticam a proposição de que instituições podem mudar

aspectos importantes do sistema internacional e não conferem relevância ao papel

de atores não-estatais como as ONGIs.” Essa premissa deve-se ao fato de que os

Estados são guiados pela desconfiança no outro e pela utilização da lógica dos

ganhos relativos36 37
. Desta forma, o que interessa aos Estados são os ganhos que

eles terão no ambiente internacional. A cooperação tanto sozinha quanto com a

presença de Organizações Internacionais, serve apenas enquanto serve aos

interesses dos Estados.

“[...] os Estados usam as OIGs racionalmente ou qual é o desenho

institucional mais racional a partir da perspectiva dos interesses dos Estados.”

(GRUBER, 2000; KOREMENOS; LIPSON; SNIDAL, 2001 apud HERZ, HOFFMANN,

2004, p.50-51)

3.5 O Estado, os aspectos naturais e o Poder Nacional

36
Lógica de que o ganho só será válido se tiver o aspecto da comparação com o ganho do outro; a
proporcionalidade de ganhos dos jogadores. Para o Realismo, os Estados estão mais preocupados
com sua posição relativa frente aos demais estados.
37
Quando postos diante da possibilidade de cooperar em benefício mútuo, os estados que se sentem
inseguros devem perguntar como os ganhos serão repartidos. Eles estão forçados a perguntar não
‘ambos ganharemos?’, mas ‘quem ganhará mais?’. Se um ganho esperado for dividido, digamos, na
razão de dois para um, um estado pode utilizar seu ganho desproporcional para implementar uma
política dirigida a prejudicar ou destruir o outro. Mesmo a perspectiva de ganhos absolutos para os
dois não conduz à cooperação, na medida em que cada um teme a maneira como o outro utilizará
suas capacidades aumentadas. (WALTZ, 2004, p.105)
51

Segundo Morgenthau (2003), existem elementos do poder nacional. Como ele

mesmo diz, “Quais são os fatores que explicam o poder de uma nação em face de

outras? Quais são os componentes do que chamamos do que chamamos de poder

nacional?” (MORGENTHAU, 2003, p.215). Dentro destes, existem os mais estáveis

e os mais sujeitos a mudanças.

3.5.1. Geografia

A Geografia é mais estável dos fatores. Está diretamente ligada à expansão

territorial e à localização do Estado em relação aos outros. “A possibilidade de uma

guerra nuclear aumentou ainda mais a importância do tamanho do território como

fonte de poder nacional.” (MORGENTHAU, 2003, p. 218) Essa idéia deve-se ao fato

de que para que se tenha uma defesa de um ataque nuclear é necessário que haja

uma dispersão de industriais, população e recursos. Outro fator importante é ter

fronteiras com obstáculos nacionais, ou seja, predeterminada por fatores

geográficos.

3.5.2. Recursos Naturais

Os recursos naturais são de relativa importância sobre o poder de uma nação.


52

“Ser auto-suficiente na produção de alimentos dá uma importante vantagem

ao país, especialmente em caso de guerras” (SARFATI, 2005, p.95) Não se pode se

exaurir de inanição, a própria sobrevivência do Estado pode ficar comprometida sem

alimentos, tanto para as forças armadas quanto para a população civil. A deficiência

em produzir alimentos gera a debilidade da política internacional, gerando posição

de fraqueza, ao invés de força e poder.

Da mesma forma, as matérias-primas representam uma vantagem

significativa, principalmente em relação àquelas associadas à indústria bélica. “O

poder nacional tornou-se cada vez mais dependente do controle das matérias

primas, tanto na paz como na guerra.” (MORGENTHAU, 2003, p.224)

O petróleo, como fonte de energia, tem sido cada vez mais importante tanto

para indústria quanto para a guerra. A partir dele, abre-se uma série de produtos

ligados a indústria petroquímica, além, os veículos tanto militares quanto civis, são

movidos à derivados do petróleo. O petróleo traz uma grande vantagem a um

Estado.

3.5.3. Capacidade Industrial

Segundo Morgenthau (2003), não é necessário apenas ter recursos, mas,

também, ter a capacidade industrial para manufaturá-los para fins militares e civis. A

passagem abaixo exemplifica que

O Congo dispõe de vastos depósitos de urânio de alta qualidade e, no


entanto, embora essa circunstância tenha aumentado o valor daquele país
como presa de guerra, e em conseqüência a sua importância do ponto de
53

vista da estratégia militar, ela em nada afetou o poder do Congo em


relação a outras nações. Esse fato ocorre porque o Congo não conta com
instalações capazes de utilizar os depósitos de urânio para fins civis e
militares. (MORGENTHAU, 2003, p.233)

Só se alcança a categoria de potência quando se tem uma capacidade

industrial para poder combater, em uma guerra, por exemplo, como é caso da União

Soviética que só alcançou, em 1950, os Estados Unidos da América quando teve

uma capacidade de produção aproximada. Além disso, é necessário que se tenha

uma capacidade de produção per capita, pois, tem de ser suficiente para poder

abastecer e suprir as necessidades internas para todos os fins.

3.5.4. Grau de Preparação Militar

Para que possa ser efetivo o poder de um Estado, é necessário que esteja

presente a preparação militar que seja capaz de estabelecer e apoiar as políticas

externas que tem a intenção de serem realizadas.

A tecnologia bélica, segundo Morgenthau (2003), é um diferencial importante

para o destino de Estados e de civilizações, pois, algumas, por possuírem-na

compeliram o perdedor que não as possuía.

“Além de implicar a utilização tempestiva das inovações tecnológicas, a

qualidade da liderança militar sempre exerceu uma influência decisiva sobre a

determinação do poder nacional [...]” (MORGENTHAU, 2003, p.241) “[...] só uma boa

liderança tem a capacidade de fazer melhor utilização de estratégias que aliem a

tecnologia ao uso de homens e ao fim vençam a guerra.” (SARFATI, 2005, p.96) O


54

conceito criado pela destruição militar e política significa uma liderança natural que

aparece quando a conjuntura é favorável.

Um outro fator importante para o poder nacional é a quantidade e a qualidade

das forças armadas. O poder de um Estado está diretamente ligado à quantidade de

armas e de homens disponíveis, bem como os ramos de estabelecimento militar.

Além disso, é necessário que haja um treinamento do contingente para que a

quantidade das forças armadas não seja apenas um amontoado de soldados, mas

uma tropa bem treinada com capacidade de utilizar dos recursos disponíveis.

3.5.5. População

A população é o fator puramente humano dentre todos os outros. Segundo

Morgenthau (2003), a distribuição da mesma é um fator relevante do poder. Não é

importante apenas o tamanho, mas também, e, substantivamente, a sua distribuição

no território. Por esse motivo, a China não é o Estado mais poderoso do mundo; ela

tem um contingente populacional enorme, mas não necessariamente bem

distribuída. Por isso, a quantidade da população tem de estar em conjunto com sua

distribuição. “[...] na história recente, as mudanças na distribuição de poder no

interior da Europa foram grosso modo repetidas pelas alterações populacionais [...]”

(MORGENTHAU, 2003, p.247)

É necessário, também, avaliar o crescimento populacional em alguns termos.

Não se pode deixar que haja um crescimento vegetativo negativo38, bem como

38
Decréscimo populacional, em que o número de óbitos é maior que o número de nascimentos.
55

manter uma concentração da população entre vinte e quarenta anos. Esta faixa

etária é conhecida como a população que gera valor agregado substancial em suas

atividades, além de fazer parte do quadro da reserva militar.

3.5.6. A Índole Nacional

A índole nacional baseia-se na premissa de que o comportamento do Estado

no ambiente internacional está diretamente ligado a como a sociedade nacional

pensa e age, ou seja, as qualidades morais e intelectuais de um Estado. Morgenthau

(2003) não esta preocupado em como se forma a índole, mas sim, como o

relacionamento da índole com o poder nacional. “A ‘força e persistência elementares’

dos russos, a iniciativa e a inventividade individuais dos americanos, o bom senso

não-dogmático dos britânicos, a disciplina e o sentido de exação dos germânicos”

(MORGENTHAU, 2003, p.259).

O primeiro autor importante sobre o assunto, David Hume, introduzia-o


com a advertência de que ‘as pessoas vulgares tendem a levar todos os
caracteres nacionais ao extremo’, mas que essa não era uma razão para
negar sua existência. Homens de senso condenam esses julgamentos
indistintos, embora, ao mesmo tempo, eles concedam que cada nação tem
um conjunto peculiar de maneiras, e que algumas qualidades específicas
são mais freqüentemente encontradas entre um povo do que em seus
vizinhos. (ANDERSON, 1996, p.149 apud ALMEIDA, 2006, p.6)

3.5.7. O Moral Nacional


56

Elemento do poder nacional classificado como “mais esquivo e sutil e menos

estável, porém não menos importante do que os outros fatores em seu impacto

sobre o poder nacional [...]” (MORGENTHAU, 2003, p.263) É constituído pela

determinação com que um povo apóia as políticas externas implementadas pelo

governo tanto em tempos de paz quanto de guerra. Tem a característica de ser

intangível e, portanto, aparece em forma de opinião pública e a instabilidade é um

problema, pois, nunca se sabe quando que a moral nacional chega a um ponto

crítico dela se manifestar quando a existência da nação está em jogo ou uma

decisão de importância fundamental tem de ser tomada. “Embora o moral nacional

só esteja sujeito à sua prova extrema em tempo de guerra, ele é importante sempre

que o poder nacional de uma nação é suscitado por motivo de um problema

internacional.” (MORGENTHAU, 2003, p.267)

3.5.8. A Qualidade da Diplomacia

É o elemento mais importante, apesar de ser instável. Quando se está em

tempos de paz, o que se passa no ambiente internacional, baseia-se na qualidade

de seus diplomatas, que tem a intenção de assegurar, em tempos de guerra, o

poder nacional, que, por sua vez, será resguardo pelos generais. A diplomacia,

poder-se-ia, no pensamento de Morgenthau (2003), ser o centro de pensamento do

poder de um Estado, pois, se estiver preparada, a diplomacia pode utilizar, ao

máximo, os elementos do poder que estejam disponíveis.


57

Todos os outros fatores que determinam o poder nacional constituem como


matéria-prima com que é confeccionado o poder de uma nação. A
qualidade da diplomacia de uma nação combina esses diferentes fatores
em um todo integrado, confia-lhes direção e peso, bem como desperta
potencialidades adormecidas, ao passar-lhes o sopro do poder real.
(MORGENTHAU, 2003, p.273)

3.5.9. A Qualidade do Governo

O governo de um Estado tem que ser bom. Este deve buscar o equilíbrio

entre os recursos humanos e materiais que formam o poder nacional e a política

externa a ser aplicada, bem como, manter um apoio da população para a política

externa. Deve ser feita seleção dos objetivos e métodos considerando o poder

disponível. O Estado terá conseguir que exista uma harmonia entre os elementos do

poder nacional, pois, não somente com riquezas naturais, população ou indústrias

se conseguem os objetivos, têm que se buscar uma conexão entre todos os

elementos.

3.6 Avaliação do Poder Nacional e o Equilíbrio de Poder

Morgenthau (2003) nos mostra que a “pirâmide do poder nacional” é

composta, então, por uma base relativamente estável, a geografia, subindo em

maior instabilidade até a moral nacional, o mais instável dos elementos do poder

nacional.
58

Cabe aos responsáveis pela política externa de uma nação e aos que
moldam a opinião pública com respeito aos assuntos internacionais avaliar
corretamente o impacto desses fatores [elementos do poder nacional]
sobre o poder de sua própria nação, como também sobre o de outras
nações, tarefa essa que tem de ser realizada tanto para o presente como
para o futuro. (MORGENTHAU, 2003, p.295)

Não se pode esquecer que o poder é composto por vários elementos e

apenas utilizar um ou dois para realizar uma determinada análise. O poder de uma

nação não é algo absoluto. Além disso, deve-se perceber que o poder não é imune a

alterações e mudanças. Não é por um fato único que se consegue perceber e avaliar

o poder de um Estado, e sim, por um conjunto de fatores, de elementos. Quando se

realiza uma análise, esta é para um momento presente. Não se pode fazer desta

análise momentânea um pressuposto fixo e determinado.

Conclui-se do exposto que, evidentemente, o equilíbrio de poder altera-se


com o tempo e Morgenthau observa justamente que o único sistema local
de equilíbrio de poder que conseguiu autonomia, ao longo do século XX, foi
o latino-americano, por ser, em sua visão, protegido pelos EUA. A derrota
do III Reich poderia ter sido, então, considerada fundamental nessa
permanência do equilíbrio local, visto que o grande esforço armamentista
empreendido pelo regime peronista, que anteriormente contava com o
apoio alemão a um projeto de potência regional, na época mesma do
lançamento da primeira edição de ‘A Política entre as Nações’, alteraria
profundamente o quadro regional, em caso de domínio da Europa pela
Alemanha. (ALMEIDA, 2006, p.7)

O Equilíbrio de Poder que deu a estabilidade ao moderno sistema de Estados,

contribuiu bastante para a independência dos que aderiram à Paz de Westphalia.

Morgenthau (2003), por sua vez, questiona se foi somente o equilíbrio de poder que

conseguiu alcançar resultados tão bons.

Buscando a resposta para a sua pergunta, percebe-se que “[...] considerar a

Europa como uma grande república, cujos habitantes, embora de origens

diferenciadas, atingiram um nível aproximadamente igual de civilidade e de cultura

[...]” (GIBBON, 1781, p.93 apud MORGENTHAU, 2003, p.405). A confiança no


59

moderno sistema de Estados é resultado de uma natureza moral e intelectual onde

repousa o equilíbrio de poder como um sintoma de estabilidade.

Bismarck, por mais cruéis e imorais que possam ter sido as suas jogadas
no xadrez da política internacional, raramente se desviava das regras
básicas do jogo que haviam prevalecido na sociedade de príncipes cristãos
do século XVIII. Tratava-se de um jogo traiçoeiro e fraudulento [...]
confrontado com a proximidade da Rússia e da França, que representava
uma precondição da existência política da Alemanha, Bismarck aceitava a
inevitabilidade desse fato, que ele procurava transformar em vantagem
para seu país [...] (MORGENTHAU, 2003, p.433-434)

A citação a seguir traz à tona um erro de percepção do autor, pois, a história

trouxe a resposta. Quem logrou sucesso nos seus propósitos foi Bismarck.

Bismarck observava com restrições a política alemã [...], pois o que mais
de perto lhe interessava era garantir, da maneira mais segura, a
consolidação do Estado por ele criado. Esse, também, foi o único motivo
por que ele, naquela ocasião aceitou com agrado que a Rússia lhe
guardasse as costas, [...] Entretanto, aquilo que, então, trouxe vantagem
para a Alemanha, seria hoje prejudicial. (HITLER, 2001, p.485)
60

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Política é a arte do possível.


Otto von Bismarck

Esse trabalho foi elaborado a partir do objetivo, como demonstrado nas

Considerações Iniciais, de apresentar dois autores-precursores de seus saberes, a

Geografia Política Clássica e o Realismo Clássico das Relações Internacionais.

Desta forma, foram apresentadas as teorias de Friedrich Ratzel e de Hans

Morgenthau; neste momento, à partir do que foi exposto, passar-se-á a que, ao

longo das pesquisas, à aspectos que podem se relacionar ou não.

Não se pretendeu, ao longo desse texto, buscar induzir a alguma das duas

preposições. No entanto, devido ao que foi trabalhado, chegou-se a uma conclusão

de que os dois autores supracitados relacionam-se em diversos pontos; o que será

demonstrado a seguir.

Inicialmente, tanto Ratzel quanto Morgenthau sofreram influências de autores

clássicos das ciências sociais como Machiavelli (1998) e Hobbes (2004), portanto, o

ponto de origem de suas idéias foi o mesmo. Além disso, Carr (2001) acredita que
61

os Estados são guiados por certo darwinismo político, isto é, somente os mais fortes

e mais bem preparados se mantêm no sistema internacional. Outra situação é que

Carr (2001) aponta que não é a moral o cerne da política internacional e sim a

questão de como se adaptar e sobreviver no sistema internacional.

Desta forma, percebe-se que o aspecto da transposição de idéias de Darwin

(2004), como é muito claro em Ratzel, também é utilizado pelo Realismo Clássico. O

Estado não tem como se mexer ─ daí a necessidade da Geografia.

Claro que, como disse Morgenthau (2003), não é a Geografia Política a

responsável única para a definição de política externa de um determinado Estado,

mas é um fator importantíssimo, sendo o mais estável dentre todos os elementos do

poder nacional. “Citando Napoleão, Spykman procurou estabelecer a geografia

como o fator ‘mais significativo’ na condução das Relações Internacionais.”

(HASLAM, 2006, p. 296).

Neste sentido, apesar das inovações tecnológicas advindas de pesquisas e

descobertas, percebe-se que “os fatores geográficos tinham sua influência sobre as

relações exteriores ─ o espaço, a topografia, o clima ─ e, embora os avanços da

tecnologia tivessem reduzido seu impacto sob muitos aspectos, seu papel ainda

tinha importância crítica.” (HASLAM, 2006, p.297) Desta forma, os fatores

geográficos apresentados na teoria de Ratzel são de suma importância para a

condução de política externa por parte dos diplomatas, pois, são eles que

conseguem combinar todos os elementos do poder nacional.

Esclarecendo, desde o início, que a geopolítica e a geografia política, não


são a mesma coisa mesmo que tenham muitos pontos de contato. A
geografia política trata da forma e da divisão política dos Estados em uma
determinada época, ou seja, de uma situação estável; a geopolítica, por
outro lado, indaga os movimentos nos sucessos estatais, os que conduzem
mudanças, alterações e transformações de situações existentes e estuda
62

os resultados que daquilo deriva-se [...] (HENNIG; KÖRHOIZ, 1977, p.13,


39
tradução nossa)

Por esse motivo, deve-se separar a Geografia Política e a Geopolítica. A

Geografia Política, fundada por Ratzel em 1897, buscava trazer à tona uma ciência

apenas, buscava, explicar como as relações do espaço com os processos

relacionados à política dos Estados e a natureza e evolução das Relações

Internacionais.

Partindo desse pressuposto, tem-se a divisão da origem científica à partir da

teoria elaborada por Ratzel. Desta forma, pode-se perceber uma clara distinção

entre as idéias de Geografia Política e Geopolítica. A primeira é a Geografia Política

como ciência e a segunda é a Geopolítica, como doutrina, como consciência

geográfica do Estado.

A abordagem do escocês Halford Mackinder (1904) sofreu grande influência

de Ratzel, quanto à idéia organicista. Estudou o nascimento, o desenvolvimento e a

decadência dos impérios. Abordou as forças que engendram os impérios, seus

problemas, ameaças e perspectivas. Ou seja, baseando-se na Geografia Política

como ciência.

[...] a Geografia ─ serve em primeiro lugar (embora não apenas) [...] para
fins político-militares sobre (e com) o espaço geográfico, para produzir /
reproduzir esse espaço [...] especialmente como o exercício do poder. [...]
os conhecimento geográficos sempre foram, e continuam sendo, um saber
estratégico, um instrumento de poder intimamente ligado às práticas
estatais e militares. [...] seria na realidade o âmago da geografia, a sua
verdade mais profunda e recôndita. (VICENTINI in LACOSTE, 1997, p.7)

39
Aclaremos, desde un principio, que la geopolítica y la geografía política, no son la misma cosa
aunque tengan muchos puntos de contacto. La geografía política trata de la forma y de la división
política de los Estados en determinada época, es decir, de una situación estable; la geopolítica, en
cambio, indaga los movimientos en los sucesos estatales, los que acarrean cambios, alteraciones y
transformaciones de situaciones existentes y estudia los resultados que de aquéllos derivan.
63

Nesta mesma tendência de pensamento tem-se o autor francês Élisée Reclus

(1830-1905) que segundo Zahreddine (2005), fez Geografia de forma acadêmico-

científica, mas utilizando dela no âmbito político.

O estadunidense Nicholas Spykman (1944) deve ser visto “como adepto do

realismo em relações internacionais e do intervencionismo em política externa

americana” (MELLO, 1999, p.94).

[...] a política de poder visa, em última instância, à segurança e à auto-


preservação do Estado, que se traduzem primordialmente na manutenção
de sua integridade territorial e na preservação de sua integridade política.
(MELLO, 1999, p.96)

Por outro lado, tem-se a vertente ligada à Kjëllen (1917) e Haushofer (1986).

O sueco Kjëllen (1917) — um pan-germanista — buscou tratar o Estado como forma

de vida, sendo o primeiro a cunhar o termo Geopolítica. Foi ele quem fez a ponte

entre a Geografia Política como ciência para a Geopolítica que tinha a característica

de ser doutrinária.

Nesta mesma linha de pensamento, tem-se Haushofer (1986) que foi oficial

do exército alemão, sendo adito militar de embaixadas alemãs na Rússia, Índia e

Japão. Haushofer foi um dos primeiros membros do partido Nazista.

“Ele [Haushofer] pregava que a geopolítica deveria ser incluída nas escolas

desde os primeiros anos.” (ZAHREDDINE, 2005) Para Haushofer (1986) a

Geopolítica deve ser caracterizada por um discurso dotado de uma função

propagandista, tanto que fundou a revista Zritschrift Für Geopolitik que tinha o

objetivo de disseminar as idéias do Instituto para o estudo da Geopolítica com sede

em Munique.

Haushofer e seu Instituto de Munique com seus mil cientistas, técnicos e


espiões são quase desconhecidos do público, e até mesmo no III Reich.
Porém suas idéias, cartas geográficas, mapas, estatísticas, informação e
planos ditaram os movimentos de Hitler desde o começo. [...] O Instituto de
64

Haushofer não é mero instrumento a serviço de Hitler. É exatamente o


contrário. O Dr. Haushofer e seus homens dominam o pensamento de
Hitler. (WEIGERT, 1941, p.19-21 apud MELLO, 1999, p.76)

Por esse motivo que devemos separar a Geografia Política da Geopolítica

que por sua vez, deu origem à Geopolitik alemã. “Quando o Nazismo é esfacelado, a

Geopolítica quase se extingue”. (ZAHREDDINE, 2005) É claro, portanto, a

interligação entre o Nazismo e a Geopolítica. Apesar de Haushofer (1986) nunca ter

conceitualizado a Geopolítica, ele a usou durante cerca de trinta anos.

Fazendo da Geopolítica uma ciência em si mesma, Haushofer (1986)

aprofundou, sem inovar, a vertente ideológica inaugurada por Kjëllen (1917), na

medida em que não se limitou a unir a Geopolítica no sistema da Staatwissenschaft

(Ciência do Estado), mas fez da primeira a pedra angular desta última. Através de

Kjëllen (1917), e ademais com Haushofer (1986), a Geopolítica exibe seu sistema,

que se compõe, entre outros ramos, da etnopolítica, da política econômica, da

política social e da política de dominação.

A partir do que foi apresentado, objetiva-se esclarecer um ponto importante.

Estabelecem-se constantemente ligações, por exemplo, entre Ratzel e Kjëllen (1917)

e entre Ratzel e Haushofer (1986), porém, não é correto fazer as correlações sem

que seja mencionada a diferença entre eles.

A Geopolítica deve ser considerada um empobrecimento teórico em relação à

análise político-geográfica feita por Ratzel. Utilizando das idéias de Lacoste (1997), a

Geografia Política serve às Relações Internacionais e criam dados e condicionantes

para que haja nele vigor e força. “A pior das caricaturas da geografia aplicada [...] foi

a geopolítica, justificando qualquer reivindicação territorial, qualquer ‘pilhagem’ por

pseudo-argumentos científicos.” (CHIAVENATO, 1981, p.7)


65

[...] é antes de tudo um subproduto e um reducionismo técnico e


pragmático da Geografia Política, na medida em que se apropria de parte
de seus postulados gerais, para aplicá-los na análise de situações
concretas interessando ao jogo de forças estatais projetando no espaço.
(COSTA, 1992, p.55)

Graças ao que foi apresentado, percebe-se que as críticas que Morgenthau

(2003) faz à Geopolítica procedem. Concordando com Mello (1999), tem-se que “a

Geopolítica é uma pseudociência que eleva a Geografia à categoria de um valor

absoluto que determinaria o poder, e, portanto, o destino das nações.”

(MORGENTHAU, 2003, p.308)

A Geopolítica não é uma ciência. Ela tem a característica de ser maleável,

podendo ser manipulada muito mais que as ciências. Trata-se de uma deformação

da Geografia Política.

Os povos, de acordo com a história, necessitam se expandir por intermédio

da conquista do espaço ou a perda de espaço. Essa visão retoma à idéia biológica

de Darwin (2004) que é transposta para as ciências sociais. Os espaços

conquistados pelos Estados criam uma relação mútua com o poder.

A Geografia Política, tal como apresentada nos escritos de Mackinder e


Fairgrieve, haviam mostrado uma pintura válida de um aspecto da
realidade do poder nacional, aliás, uma pintura contemplada do ângulo
exclusivo [...] Nas mãos de Haushofer e seus discípulos, a Geopolítica foi
transformada em uma espécie de metafísica política, a ser empregada
como uma arma ideológica a serviço das aspirações nacionais da
Alemanha. (MORGENTHAU, 2003, p.310)

Desta forma, o que Morgenthau (2003) critica nada mais é do que a Geopolitik

alemã. Ele depreciou a forma pela qual a Geografia Política transformou-se em

Geopolítica e esta por sua vez em Geopolitik, ou seja, a apropriação por parte do

Nazismo de princípios racistas e de um Lebensraum completamente distorcido das

aspirações reais.
66

Hitler, por outro lado, não reconhecia a moldura social dentro de cujas
limitações a política internacional havia operado desde o fim da Guerra dos
Trinta Anos até virtualmente a sua própria ascensão ao poder. Ele se
sentia livre dos escrúpulos morais que haviam obrigado Bismarck a aceitar
a existência da França e da Rússia como fato inarredável sobre o qual teve
de construir a política externa germânica. Hitler tomou a si a incumbência
de alterar esse dado, mediante a destruição física de seus vizinhos do
Leste e de Oeste. Considerada como um mero problema de técnica política
despida de significação ética, a solução tentada por Hitler era muito mais
completa e conveniente, do ponto de vista político, do que a aceita por
Bismarck, uma vez que ele prometia solucionar o problema da posição
internacional da Alemanha, de uma vez por todas, no que dizia respeito
aos seus vizinhos orientais e ocidentais. Além do mais, a solução
40
hitleriana , em si mesma, provou ser tão exeqüível como poderia ter tido
êxito, não fossem certos erros políticos e militares que levaram Hitler e
suas práticas políticas à destruição, e que o gênio político de Bismarck bem
poderia ter evitado. (MORGENTHAU, 2003, p.434)

Assim, percebe-se que afirmações de que “[...] dificilmente poder-se-á falar

numa autêntica geografia política ‘internacionalista’ quando ela estiver envolvida

com problemas internacionais.” (COSTA, 1992, p.16) não são realmente válidas. A

Geografia Política é utilizada a serviço do poder estatal e, além das manifestações

em âmbito doméstico, o poder de um Estado está, claramente, presente no ambiente

internacional, onde os Estados se interagem baseados na anarquia e dentro de um

espaço regido pelo equilíbrio de poder.

A Geografia Política é um dos elementos do poder nacional. “Todos os fatores

geográficos tinham sua influência sobre as relações exteriores — o espaço, a

topografia, o clima — e, embora os avanços da tecnologia tivessem reduzido seu

impacto sob muitos aspectos, seu papel ainda tinha importância crítica.” (HASLAM,

2006, p.297). “Quanto à geopolítica, as políticas externas e de defesa [...] dão um

testemunho convincente da importância de determinantes geográficos na criação de

estratégias voltadas para a segurança através da expansão territorial até as

fronteiras naturais.” (HASLAM, 2006, p.425)

40
Refere-se a Adolf Hitler.
67

Com relação à conceituações acerca do poder, percebe-se que para Ratzel,

como não poderia ser diferente, está diretamente ligado à posição geográfica e ao

território, bem como tem a característica de ser variável relacionando-o com o curso

da história de um Estado. O poder serve como instrumento de controle, sendo maior

que o próprio Estado, mas, nunca desconectado dele. Assim, percebe-se que o

poder é capacidade um realizar algo ou fazer com que se realize com a ação de

outrem.

Para Morgenthau (2003), o poder é conceitualizado através da soma de

elementos que estão à disposição do Estado, sendo aquele não absoluto e fixo, mas

relacionado com o ambiente internacional que o rodeia. O poder, jogado no cenário

internacional, não se limita à força somente, mas muito mais ligado à política de um

Estado que, por sua vez pode chegar ao conflito, ao uso da força. Isto se deve ao

fato da segurança ser o objetivo principal e o interesse a mola propulsora do poder,

ou seja, de acordo com o interesse o poder é exercido.

A situação anárquica pela qual os Estados interagem-se no cenário

internacional está diretamente ligada à forma pela qual eles buscam a sobrevivência,

pois, em um ambiente de anarquia internacional, é constante a busca pela

sobrevivência de cada Estado, graças à não existência de uma instituição superior

que regule as atividades no ambiente. Não que signifique uma desordem completa,

mas sim, e apenas, ausência de um governo central.

Nesta mesma linha de pensamento, percebe-se que por se tratar de um

ambiente anárquico regido pelas relações de poder e de interesse dos Estados, tem-

se bastante nítido que os aspectos naturais e geográficos estão muito presentes

neste cenário. O espaço e os recursos necessários estão, deste modo, incluídos no

interesse e no poder estatal. Os Estados que necessitam de alguns tipos de


68

recursos para que sua sobrevivência seja confortável, buscam, no ambiente

anárquico vivido por eles, consegui-los. Tais recursos são tanto os naturais, como a

população e suas atribuições, como disse Morgenthau (2003).

O poder do Estado passa pelo seu território e por sua posição geográfica. Se

ele tiver posições favoráveis à emanação do poder, todas as suas atividades,

baseadas no interesse, tornam-se mais fáceis de serem alcançadas. Além, o curso

histórico de prestígio ou demérito vivido no cenário internacional por um Estado

também liga-se à forma pela qual ele age no presente. São as forças do passado

agindo no presente.

O discurso da Geografia Política influencia o Realismo Clássico. Assim,

percebe-se que o conceito de poder para a Geografia Política está inserido no

conceito do Realismo Clássico. A única diferença se dá no momento em que para o

Realismo a questão espacial é circunstancial, porém importante; já para a Geografia

Política a questão espacial é fundamental. Por ser um elemento do poder de um

Estado, a Geografia, está presente no poder de um Estado.

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ANEXO A – OS QUATORZE PONTOS DE WOODROW WILSON


77

1. Tratados de paz após negociações à luz do dia, a fim de acabar com a

diplomacia secreta;

2. Livre navegação em todos os oceanos, em tempos de paz e em tempo de

guerra;

3. Tanto quanto possível, supressão de todas as barreiras alfandegárias;

4. Desarmamento, sempre que possível, sem ameaçar a ordem interna;

5. Resolução dos problemas coloniais, respeitando o bem-estar dos colonizados

tanto como as exigências dos colonizadores;

6. Evacuação dos territórios russos ocupados, direitos das populações de

disporem de si próprias, com a assistência de outras nações;

7. Evacuação e restabelecimento da Bélgica;

8. Evacuação e restabelecimento dos territórios franceses da Alsácia-Lorena à

França;

9. Retificação das fronteiras italianas numa base nacionalista;

10. Autonomia dos povos que compõe o Império Austro-Húngaro;

11. Evacuação e restabelecimento da Romênia, da Sérvia e de Montenegro; livre

acesso ao mar pela Sérvia, revisão das fronteiras nos Bálcãs para satisfazer

as aspirações nacionais históricas;

12. Autonomia para os povos não-turcos do Império Otomano; independência da

Turquia; garantias para a livre passagem pelo Bósforo e pelos Dardanelos;

13. Fundação de um Estado polaco independente, com livre acesso ao mar;

14. Criação de uma Sociedade das Nações que assegure a independência

política e a integridade dos Estados grandes e pequenos.


78

Fonte: SARFATI, 2005, p.82-83

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