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O gênero resumo

Segundo Cereja, Dias Vianna e Damien, em sua obra Português Contemporâneo -


Diálogo, Reflexão e Uso (2018, p.121), alguns procedimentos devem ser adotados na escrita
de um resumo, dentre eles:

Os autores ainda apresentam estratégias para a produção do gênero, tais quais:

Inserido na tipologia expositiva, o resumo tem como características a impessoalidade,


a imparcialidade, o uso de terceira pessoa do discurso e o emprego da variante padrão.
Entretanto, o gênero não se limita a uma mera apresentação sucinta do conteúdo de um outro
texto. Conforme Lancaster (2004, p.100): “O verdadeiro resumo, ainda que inclua palavras
que ocorram no documento, é um texto criado pelo resumidor e não uma transcrição direta do
texto do autor.”. Desse modo, o resumo não constitui uma cópia de trechos aleatórios de um
texto-base.
Swales e Feak (2009) propõem um modelo de análise de resumos composto por cinco
movimentos retóricos:
Abaixo encontra-se um exemplo de análise que utiliza o modelo supracitado.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1, 2, 3 e 4, ausência do
movimento 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre exclusivamente a
construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira pessoa do discurso, nem do singular,
nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
Em sua dissertação, Ministher (2016) elenca três importantes elementos que devem
ser levados em consideração na produção do gênero resumo:
1) as partes essenciais do texto;
2) a manutenção da ordem em que texto progride, a fim de não se perder na
organização das ideias centrais e tornar o texto incoerente, sem sentido para o
leitor;
3) a concatenação e a correlação que o texto mantém entre suas partes.

O gênero seminário

A obra Português Linguagens (volume único), de Cereja e Magalhães (2013), ao tratar


do seminário, enumera as etapas que envolvem a produção do gênero:
1) Organização prévia (pesquisa sobre o tema, anotações e coleta de dados);
2) Seleção de recursos audiovisuais;
3) Elaboração de um roteiro;
4) Abertura: apresentação inicial e cumprimentos;
5) Apresentação do tema:
● Importância do assunto, ponto de vista sob o qual irá abordá-lo, delimitação temática.
6) Exposição:
● Roteiro;
● Questionamento de dúvidas;
● Uso de recursos linguísticos na passagem de uma parte para a outra: “Outro aspecto
que vamos abordar…”
7) Conclusão e encerramento: Retomada e síntese dos principais pontos abordados e
agradecimentos.
Cereja e Magalhães (2013) ressaltam ainda a importância de manter o fluxo de fala,
evitar a leitura do roteiro, empregar a variedade padrão da língua, fugir do uso de marcadores
conversacionais (embora não cite essa expressão) e utilizar reformulações (isto é, quer dizer,
por exemplo…) e expressões de continuidade (além disso, por outro lado, apesar disso…).
Cabe reforçar que o uso desses termos visa garantir a coesão da apresentação, evitando a
percepção do ouvinte de que cada fala dos seminaristas é independente uma da outra.
A literatura especializada define o seminário como um gênero expositivo que exige o
planejamento da fala formal pública. Dolz, Schneuwly, Pietro e Zahnd (2004, p.220)
determinam que o seminário é composto por um planejamento, adequado ao público a que se
destina, dividido em algumas partes: “a) Uma fase de abertura; b) Uma fase de introdução ao
tema; c) A apresentação do plano da exposição; d) O desenvolvimento e encadeamento dos
diferentes temas; e) Uma fase de recapitulação e síntese; f) A conclusão; g) O encerramento”.
O modelo de análise retórica, desenvolvido por Swales (1990), aplicado aos
seminários escolares, elenca os moves (movimentos retóricos) que constituem os estágios da
organização discursiva do gênero analisado, mas também pode ser utilizado como estratégia
de análise para qualquer outro gênero textual.
Segundo Swales (1990, p.136), os movimentos são "[...] diferentes seções que
desempenham diferentes funções retóricas". Nas palavras de Aranha (2007, p.105, SWALES,
1990), consistem em “blocos discursivos obrigatórios a partir da função retórica a ser
desempenhada”. Bhatia (1993) complementa a definição argumentando “que os moves
servem a uma intenção comunicativa que é sobredeterminada pelo propósito comunicativo
geral do gênero” (ARANHA, 2007, p.105, BHATIA, 1993). Conforme Araújo (1999, p.27),
“de acordo com esse modelo, ‘move’ é um bloco de informação de texto que tem um
propósito comunicativo particular menor e que serve a um propósito comunicativo maior do
gênero”. Assim, quando é proposta a descrição da organização discursiva dos seminários,
faz-se a descrição dos moves que compõem esse gênero e que, por sua vez, desempenham
diferentes propósitos comunicativos. Em outros termos, os movimentos retóricos são
informações identificadas (ou que se espera identificar) em um texto, levando em
consideração conteúdos específicos e oportunos para alcançar determinado objetivo
comunicativo.
A observação dos atos retóricos que ocorrem em um mesmo gênero permite investigar
a ocorrência de regularidades no que tange à ordenação das informações e realizações
linguísticas (ocorrências sintático-semânticas) possíveis e/ou esperadas em cada passo. Desse
modo, partindo-se da concepção de gênero como atividade social, deve-se considerar quais
movimentos retóricos são regulares para compreender as funções sociorretóricas desse
gênero.
A tabela a seguir, adaptada de Swales e Feak (2009) é composta por cinco
movimentos retóricos que contêm alguns passos, denominados rótulos típicos. Cada grupo de
rótulos é acompanhado de algumas perguntas implícitas que contextualizam e direcionam a
análise de cada rótulo em relação ao que se espera encontrar em cada move.

A seguir há uma análise de trechos de um seminário realizado por uma turma da 3ª


série do Ensino Médio:

Tema do seminário: Coronavírus: História da COVID-19


Então, o nosso grupo a senhora já sabe quem é, né? Então eu vou começar aqui. É o
Pedro Magno. Beleza... O coronavírus, a história do COVID-19 relata que o vírus foi
transmitido originalmente por morcegos agravando-se rapidamente e por conta disso
elevando o número de confirmações, mortes e recuperados. A falta de conhecimento da
população conduziu o planeta inteiro a não tomar medidas para evitar aglomerações e
transmissões. Dessa forma, quando percebemos a letalidade do vírus, já haviam muitas
confirmações, estávamos em uma epidemia, a um passo de uma pandemia e acabou
ocorrendo nos próximos dias.
Mov. 1
Quem se recuperou é imune? Há um grande e crescente número de recuperados,
então isso significa que essas pessoas estão imunes, tipo uma catapora, por exemplo? Essa
história começa com o número de recuperados crescendo, pesquisa sobre seus anticorpos e
defesa sendo iniciados. E perante todas as pesquisas que você possa encontrar, tudo indica
que sim. Não é 100% confirmado, mas quem se recuperou é considerado imune até o
presente momento, porque tudo indica que sim.
Mov. 4

Então é isso. Cara, eh, obrigado, eh, lavem as mãos e usem álcool gel e fica ligado
na parada aí senão pega coronavírus.
Mov. 5

Quanto aos movimentos retóricos, ressalta-se a:


1) presença dos movimentos 1, 4 e 5 e a ausência dos movimentos 2 e 3;
2) ausência de introdução completa e de defesa da relevância temática;
3) inexistência de uma explicação da escolha do grupo pela temática abordada;
4) ausência de uma justificativa acerca dos recursos utilizados pelo grupo para a explanação
do tema proposto;
5) carência de uma apresentação dos resultados encontrados após a pesquisa do tema;
6) inexistência de saudação final e de conclusão que estejam em conformidade com o gênero
em questão;
7) utilização do marcador discursivo então para introduzir a fala, definindo, assim, o rumo da
sucessão dos eventos e argumentos que ocorrerão durante o turno de fala.
8) utilização do marcador discursivo eh, frequentemente empregado nos discursos falados
para iniciar turnos e introduzir o discurso direto. Percebe-se também um alongamento desse
marcador e de outros sons visando sustentar o turno de fala, preencher pausas e organizar o
pensamento.

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