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Vice-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

UNIVERSIDADE PAULISTA

VICE-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA

O USO DA TAIPA DE PILÃO NA


ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA COMO
BIOCONSTRUÇÃO

Paloma Lima da Silva


Profa. Dra. Deize Sbarai Sanches Ximenes

2018
10º Semestre
Santana de Parnaíba – São Paulo

Pesquisa Financiada pela Vice-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UNIP, no


Programa “Iniciação Científica”.
É proibida a reprodução total ou parcial.

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O USO DA TAIPA DE PILÃO NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA COMO


BIOCONSTRUÇÃO
Paloma Lima da Silva
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

Resumo:

A pesquisa trata do uso da taipa de pilão como sistema bioconstrutivo na


arquitetura contemporânea, uma alternativa sustentável de baixo custo e baixo
impacto ambiental na construção atual, diante do atual cenário da construção civil, na
qual é responsável pela utilização de uma parte considerável de recursos naturais e
energia. São apresentados históricos, conceitos referentes a bioconstrução, descrição
do processo da técnica, assim como o método atual da taipa mecanizada e o estudo
de projetos contemporâneos que tem como características soluções sustentáveis e
tecnológicas adotadas. Como os projetos nacionais: Casa Colinas do arquiteto Marcio
Vieira Hoffmann e a residência “O Projeto Responsável” do arquiteto Michel Habib.
Assim como projetos internacionais tais como o Rammed Earth House – “Casa de
terra batida” do arquiteto Steffen Welsch e o “Les pieds sur terre”: projeto vencedor do
concurso internacional de ideias Pavilhão da Arquitetura em Terra dos estudantes
Abiola Akandé Yayi e Robert Soares. Com o desenvolvimento desta pesquisa espera-
se, contribuir para futuras pesquisas e projetos acadêmicos oferecendo um material
de consulta no qual possa fomentar o resgate de um sistema construtivo utilizado no
Brasil colonial e propô-lo como alternativa sustentável para o desenvolvimento de
projetos arquitetônicos contemporâneos, sem renunciar à moderna tecnologia,
importância histórico-cultural e dispor de construções harmoniosas com o meio
ambiente.

Palavras-Chave: Arquitetura contemporânea, Taipa de Pilão, Bioconstrução.


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Abstract:

The research deals with the use of pylon as a bioconstructive system in


contemporary architecture, a sustainable alternative of low cost and low environmental
impact in the current construction, in front of the current scenario of civil construction,
in which it is responsible for the use of a considerable part of resources and energy.
Historical concepts, concepts related to bio-construction, description of the process of
the technique, as well as the current method of mechanized tile and the study of
contemporary projects are presented, which have the characteristics of sustainable
and technological solutions adopted. Like the national projects: Casa Colinas by the
architect Marcio Vieira Hoffmann and the residence "The Responsible Project" of the
architect Michel Habib. As well as international projects such as the Rammed Earth
House - the "Ground House" by the architect Steffen Welsch and the "Les pieds sur
terre": winning project of the international architectural ideas contest Pavilion of
Architecture on Earth by students Abiola Akandé Yayi and Robert Soares . With the
development of this research, it is hoped to contribute to future researches and
academic projects by offering a reference material in which to promote the rescue of a
constructive system used in colonial Brazil and to propose it as a sustainable
alternative for the development of contemporary architectural projects, without
renouncing modern technology, historical-cultural importance and having harmonious
constructions with the environment.

Key-Words: Contemporary architecture, Rammed earth, Bioconstruction

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Antigo desenho persa mostrando como construir com taipa de pilão. ...... 10
Figura 2 - Uma secção de muralha em taipa no extremo oeste da Grande Muralha,
Jiayuguan, Gansu, China. ......................................................................................... 11
Figura 3 - Kasbas construídas com argila e tijolos recheios com palha. ................... 12
Figura 4 - Taipa em Cáceres, Espanha. .................................................................... 13
Figura 5 - Taipa Militar em Moura, Portugal. ............................................................. 13
Figura 6 - Moradias e blocos habitacionais em taipa, construídos pós II Guerra
Mundial, em Müncheln, na Alemanha. ...................................................................... 14
Figura 7 - Moradias e blocos habitacionais em taipa, construídos pós II Guerra
Mundial, em Müncheln, na Alemanha. ...................................................................... 14
Figura 8 - Pátio do Colégio. ....................................................................................... 15
Figura 9 - Museu de Arte Sacra de São Paulo. ......................................................... 15
Figura 10 - Iglu .......................................................................................................... 18
Figura 11 - Oca indígena ........................................................................................... 19
Figura 12 - Fundação de fôrma. ................................................................................ 28
Figura 13 - Taipal e Pilão. ......................................................................................... 29
Figura 14 - Primeira linha da fôrma sendo finalizada. ............................................... 29
Figura 15 - Segunda fiada da fôrma instalada........................................................... 30
Figura 16 - Primeiras fiadas de elevação de parede de taipa de pilão. ..................... 30
Figura 17 - Execução da taipa de pilão. .................................................................... 31
Figura 18 - Compactação do solo. ............................................................................ 32
Figura 19 - Estrutura em madeira para cobertura. .................................................... 33
Figura 20 - Painel pré-moldado de taipa mecanizada - Santa Clara, Califórnia- EUA.
.................................................................................................................................. 35
Figura 21 - Fundação. ............................................................................................... 36
Figura 22 - Fôrmas painéis de madeira e suporte e fixação metálicos. .................... 37
Figura 23 - Travessas verticais e horizontais. ........................................................... 38
Figura 24 - Socador pneumático. .............................................................................. 39
Figura 25 - Preenchimento das fôrmas. .................................................................... 39
Figura 26 - Processo de camadas de preenchimento da fôrma. ............................... 40
Figura 27 - Instalação de esquadrias. ....................................................................... 41
Figura 28 - Fachada do pátio interno Casa Colinas. ................................................. 44
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Figura 29 - Planta Baixa. ........................................................................................... 45


Figura 30 - Vista da rampa de acesso e o piso da piscina. ....................................... 45
Figura 31 - Fachada Casa Colinas. ........................................................................... 46
Figura 32 - Fachada O Projeto responsável. ............................................................. 47
Figura 33 - Interior mistura de texturas ..................................................................... 48
Figura 34 - Vãos de luz proporcionados por garrafas. .............................................. 49
Figura 35 - Jardim e horta ......................................................................................... 50
Figura 36 - Fachada Rammed Earth House. ............................................................. 51
Figura 37 - Planta térrea Rammed Earth House. ...................................................... 52
Figura 38 - Pavimento superior Rammed Earth House. ............................................ 52
Figura 39 - Fachada simples Rammed Earth House................................................. 53
Figura 40 - Aquecedor Rammed Earth House. ......................................................... 54
Figura 41 - Perspectiva externa. ............................................................................... 55
Figura 42 - Corte em croqui mostrando a insolação e a chuva. ................................ 56
Figura 43 - Planta Baixa. ........................................................................................... 58
Figura 44 - Implantação. ........................................................................................... 59
Figura 45 - Salão de exposição. ................................................................................ 59

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 8

1.1 Processo histórico da construção com terra ................................................ 10

1.2 Sustentabilidade na Arquitetura ................................................................... 16

1.3 Arquitetura Vernacular ................................................................................. 18

1.4 Bioconstrução: Arquitetura de Terra............................................................. 19

1.4.1 Vantagens ................................................................................................. 22

1.4.2 Desvantagens ........................................................................................... 23

1.5 Propriedades da terra como material de construção .................................... 24

1.6 Arquitetura de Taipa de Pilão ....................................................................... 25

1.6.1 Processo de construção com taipa de pilão vernacular ............................ 26

1.6.2 Processo de construção com taipa de pilão mecanizada ......................... 34

1.7 Objetivos ...................................................................................................... 41

1.7.1 Objetivo geral ............................................................................................ 41

1.7.2 Objetivos específicos ................................................................................ 41

1.8 Hipóteses ..................................................................................................... 42

1.9 Justificativa ................................................................................................... 42

2. MÉTODOS .......................................................................................................... 43

2.1 Levantamento de projetos contemporâneos bioconstrutivos feitos a partir de


taipa de pilão .......................................................................................................... 43

2.1.1 Projeto: Casa Colinas ............................................................................... 43

2.1.2 Projeto: Residência O Projeto Responsável ............................................... 46

2.1.3 Projeto: Rammed Earth House – “Casa de terra batida” ............................ 50

2.1.4 Projeto: Pavilhão da arquitetura em terra - Com os pés no chão ............... 54

2.2 Estudo comparativo...................................................................................... 60

2.2.1 Quadro comparativo dos projetos apresentados ...................................... 61

2.3 Resultados obtidos no quadro comparativo ................................................. 62


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3. RESULTADOS .................................................................................................... 63

4. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 64

5. CONCLUSÕES ................................................................................................... 65

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 66

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1. INTRODUÇÃO

A terra é o material de construção mais antigo do mundo, as técnicas de


construção com barro datam de mais de 9.000 anos. As culturas antigas utilizaram o
solo para a construção de casas, fortalezas e obras religiosas. Um exemplo é a grande
muralha da China, que foi construída 4.000 anos atrás, inicialmente com terra
compactada, e posteriormente forrada com pedras naturais (ALVES, 2016).
A construção feita com terra crua, sem cozimento, seca pelo sol ou pelo ar, é
empregada na construção civil desde a pré-história, como abrigos escavados e tijolos
de terra feitos a mão (GONÇALVES, 2000).
Existem diversas técnicas de construção com o uso da terra crua, todas elas se
enquadram nas técnicas bioconstrutivas, pois são construções sustentáveis que
utilizam elementos naturais e menos industrializados, e visam à preservação do meio
ambiente, propondo evitar componentes tóxicos e prejudiciais à vida. A bioconstrução
combina técnicas tradicionais, com auxílio da tecnologia atual em favor da
sustentabilidade.
Ela é mais empregada nas zonas rurais em construções rústicas ou como técnica
alternativa nas edificações das classes de baixo poder aquisitivo. Entretanto,
aproximadamente 200 milhões de pessoas constroem com terra crua ainda hoje no
mundo. (HABITERRA, 2006). De acordo com a ABCTerra (Associação Brasileira dos
Construtores com Terra), a construção com terra rompe a impessoalidade que
caracteriza as construções padronizadas das grandes metrópoles.
A escolha pelo sistema adequado está diretamente ligada ao tipo de solo dispo-
nível (Neves et al., 2009). As técnicas que utilizam a terra crua são diversas, algumas
tradicionais e outras mais artesanais, como o Adobe, Taipa de Mão ou Pau a Pique,
e o Cob que são feitas com as mãos e utilizam mais materiais renováveis como a
palha e as fibras vegetais, existem também as mais atualizadas como o pisé para
paredes monolíticas com uso de mangueira de alta pressão, blocos industrializados
de solo cimento. Estas são variadas combinações nas técnicas artesanais adaptadas
para uma nova tecnologia construtiva.
O tijolo de adobe é um dos mais antigos materiais de construção utilizados no
mundo. Sua composição traz terra crua, água, palha e fibras naturais (como esterco
de gado), que são moldados artesanalmente em fôrmas e cozidos ao sol. Seu uso se
concentrou especialmente nas regiões quentes e secas. Com a evolução das técnicas
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de arquitetura, este método de construção foi caindo em desuso, sendo geralmente


substituído pelos tijolos de cimento. Hoje algumas cidades históricas brasileiras ainda
possuem casarões feitos de adobe, como, por exemplo, Ouro Preto, em Minas Gerais,
e Pirenópolis, em Goiás (Pensamento Verde, 2013).
A taipa de mão, também conhecida como Pau a pique, consiste no
entrelaçamento de madeiras verticais fixadas no solo, com vigas horizontais,
geralmente de bambu amarradas entre si por cipós, dando origem a um painel
perfurado que, após preenchido com barro, transforma-se em uma parede. Foi muito
utilizada no período colonial e das técnicas em arquitetura de terra, é a mais utilizada,
principalmente por dispensar materiais importados. Por conta disso, seu uso é maior
nas zonas rurais. Houve uma evolução na forma de construir com pau a pique. As
madeiras deixaram de ser fixadas no solo, pelo fato de apodrecerem rapidamente, e
suas amarrações passaram a ser feitas de outros materiais, fibras vegetais e arame
galvanizado (ZOROWICH, 2017).
O COB é um material de construção composto de argila, areia e palha, similar
ao adobe. Sua mistura é a prova de fogo e altamente resistente a abalos sísmicos.
As paredes feitas com COB são grossas e servem como massa térmica, fazendo
com que a edificação se mantenha quente no inverno e fresca no verão, além de
funcionar bem com variações de temperatura mais curtas, fazendo a casa ficar fria de
dia e quente à noite. A técnica consiste em moldar as paredes como se fosse uma
grande escultura. Com os pés, é feita uma mistura dos componentes, criando
uma massa homogênea e plástica que será moldada. Após a mistura, são feitas bolas
de argila colocadas uma em cima da outra, assim, levantando as paredes. Além das
paredes, existe a possibilidade de criar parte do mobiliário da casa como estantes e
bancos (ZOROWICH, 2017).
A técnica apresentada é o sistema construtivo da taipa de pilão, ou simplesmente
taipa - sistema tradicional, empregado por solo, argila ou terra que consiste em com-
primi-los em fôrmas de madeira, denominada de taipais, onde o barro é compactado
horizontalmente disposto em camadas de aproximadamente quinze centímetros de
altura até atingir a densidade ideal, criando assim uma estrutura resistente e durável.
O processo de produção da parede consiste em destorroar o solo, secar,
peneirar, adicionar aglomerante conforme a necessidade, acrescentar água
até o ponto ótimo de umidade, colocar dentro de uma forma, também
chamado molde ou taipal, e finalmente compactar até a massa específica

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máxima, usando compactadores manuais ou mecânicos (FEB-UNESP /


PROTERRA, 2011).

Além do papel sustentável a construção em taipa de pilão na arquitetura


contemporânea resgata o valor histórico, cultural e manifesta o viés do uso de
recursos naturais abundantes no meio de convívio, fortalecendo a relação homem e
natureza. Atualmente, por meio de novas tecnologias construtivas, é possível adaptá-
la para a sociedade moderna fazendo uma releitura harmoniosa da técnica.
A relação do homem com a terra sempre foi familiar e é necessário preservar
essa tradição (FEB-UNESP / PROTERRA, 2011).

1.1 Processo histórico da construção com terra

Ao longo de toda história da humanidade, o solo tem se mostrado, por diversas


razões o material de construção que mais esteve ao alcance do homem em seus
estágios de evolução; registros de mais variadas modalidades de obras (Figura 1)
(edificações, estradas, barragens, contenções, etc.), que chegam a datas de mais de
9.000 anos, são encontrados em sítios arqueológicos e patrimônios históricos de
civilizações anteriores (AZEVEDO e DUARTE, 2017).

Figura 1 - Antigo desenho persa mostrando como construir com taipa de pilão.

Fonte: http://futuraarquitetos.com.br/arquitetura-de-taipa-de-pilao-parte-2/ (2016).

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A construção em terra tenha tido o seu início juntamente com o início das
primeiras sociedades agrícolas num período cujos conhecimentos atuais remontam
entre 12.000 a 7.000 a.C. São inúmeros os casos de construções em terra, que
executadas há alguns milhares de anos atrás conseguiram chegar ao séc. XXI
(PACHECO, EIRES E JALALI, 2009).
As técnicas nativas uniram-se às técnicas trazidas pelos estrangeiros e, com
variadas combinações entre elas, foram se adaptando e organizando as formas mais
adequadas de construir. As técnicas apresentam semelhanças de uma região para
outra, cada uma com suas particularidades e com sua própria nomenclatura que,
muitas vezes, confunde até os mais estudiosos (FEB-UNESP / PROTERRA, 2011).
Fundações de taipa datadas de 5000 a.C foram descobertas na Síria. A terra foi
usada como o material de construção em todas as culturas antigas, não apenas em
casas, mas também em edifícios religiosos.
A Muralha da China (Figura 2) é um exemplo, considerada a maior construção
já edificada pela humanidade, há mais de 4.000 anos, originalmente erguida de taipa,
com uma cobertura, e posteriormente pedras e tijolos criaram a aparência de uma
muralha de pedra (MINKE, 2015).

Figura 2 - Uma secção de muralha em taipa no extremo oeste da Grande Muralha,


Jiayuguan, Gansu, China.

Fonte: http://arquitecturasdeterra.blogspot.com.br/2010/03/ (2000)

Jaquin (2008) refere à existência de construções em taipa na região dos


Himalaias construídas no Séc. XII há aproximadamente 800 anos atrás. Foi também
por essa altura que se iniciaram as invasões árabes ao Norte de África e à Península

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Ibérica, onde aqueles deixaram vestígios de construções de taipa. O mesmo autor


reproduz um manuscrito indo-muçulmano de idade indefinida contendo pormenores
da construção em taipa. A partir do designado período dos Três Reinos (221-581
d.C.), a construção em taipa desenvolveu-se por todo o território chinês, quer em
construções monumentais quer em arquitetura vernácula. A China é o país do Oriente
onde a arquitetura em taipa conheceu maior diversidade e escala na construção.
Na região do mediterrâneo, a taipa é um sistema comum de construção em
muitos países. Em alguns deles é uma técnica abandonada ou extremamente
modificada, noutros perfeitamente em uso, garantindo a conservação dos imóveis
históricos e a elevação de nova arquitetura, num contexto de continuidade histórica
onde os processos construtivos permanecem artesanais.
A construção em taipa em Marrocos é ainda hoje uma realidade. Os edifícios
históricos do tipo Kasba (Figura 3) e Ksar convivem com a arquitetura vernacular e
com a arquitetura contemporânea, tendo em comum à continuidade construtiva em
terra. A presença da arquitetura em terra, porém é corrente no interior do país e menos
frequente na costa (FERNANDES, 2013).

Figura 3 - Kasbas construídas com argila e tijolos recheios com palha.

Fonte: https://eficienciaenergtica.blogspot.com.br/2010/05/arquitetura-vernacular-vii.html (2010).

Na Espanha a taipa é corrente em toda costa do Mediterrâneo e ainda frequente


no seu interior nas regiões da Estremadura, Castela, Aragão, Cáceres (Figura 4),
Moura (Figura 5) e outras. Terra com adição de cal em fortificações e terra
compactada entre taipais, latapia, foi o sistema usado para a elevação de paredes em

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edifícios públicos, históricos, vernáculos, eruditos, religiosos e em inúmeras


construções rurais.

Figura 4 - Taipa em Cáceres, Espanha.

Fonte: Fernandes, 2006 e 2003.

Figura 5 - Taipa Militar em Moura, Portugal.

Fonte: Fernandes, 2006 e 2003.

Na Alemanha destaca-se a construção em taipa no período pós-segunda guerra


Mundial, que ajudou a resolver o problema habitacional (Figuras 6 e 7) de inúmeros
refugiados com especial incidência na Alemanha de Leste. Este país que aderiu à
construção em taipa a partir do século XVIII, nas regiões da Schleswig Holstein e
Baixa-Saxónia, impulsionado pelos manuais franceses e pelas vantagens em termos
de risco de incêndio que os edifícios em taipa apresentavam, recorreram de novo a
esta técnica construtiva a partir de 1945 até 1955, sensivelmente. Pós-guerra

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extremamente difícil e com populações oriundas de diferentes países, a


racionalização da construção em taipa e o avanço tecnológico presente na cofragem
contínua facilitaram a elevação de arquitetura, que de outra forma teria sido impossível
de concretizar. O caso alemão destaca-se ainda pelo impulso posterior, sobretudo a
partir da década de oitenta do século XX, pela organização de legislação;
regulamentos e normas referentes à construção em terra e outros materiais
alternativos. Este é talvez o país europeu que maior avanço preconizou no que
respeita à industrialização dos materiais e regulamentação da arquitetura em terra.

Figura 6 - Moradias e blocos habitacionais em taipa, construídos pós II Guerra


Mundial, em Müncheln, na Alemanha.

Fonte: Fernandes, 2004.

Figura 7 - Moradias e blocos habitacionais em taipa, construídos pós II Guerra


Mundial, em Müncheln, na Alemanha.

Fonte: Fernandes, 2004

O Brasil é o país da América latina que apresenta maior patrimônio construído


em taipa. Foi largamente utilizada no período colonial, sobretudo na região Sudeste.
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Na região metropolitana de São Paulo encontramos várias cidades com exemplos


desse tipo de construção e na capital paulista dois grandes exemplos - o Pátio do
Colégio (Figura 8) local da fundação da cidade e o Museu de Arte Sacra (Figura 9).
Grande parte das igrejas e construções de dois ou mais pavimentos foram edificadas
com a técnica de taipa-de-pilão. Durante o ciclo do ouro em cidades como Ouro Preto,
Congonhas e Diamantina.

Figura 8 - Pátio do Colégio.

Fonte: http://www.saopaulo.com.br/patio-colegio-o-nascimento-de-sao-paulo/ (2014).

Figura 9 - Museu de Arte Sacra de São Paulo.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_de_Arte_Sacra_de_S%C3%A3o_Paulo
(2017)
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Essas construções regionais são caracterizadas pela sua simplicidade e por isso
costumam ser desvalorizadas, no entanto, é o verdadeiro retrato da identidade
arquitetônica brasileira, constituinte de diversas possibilidades para solucionar
problemas bioclimáticos e construtivos, tendo em vista que hoje a construção no Brasil
incorporou muitas técnicas e materiais bastante industrializados, além de tipologias
de lugares frios onde as preocupações são diferentes das nossas (DAMASCENO,
2016). Atualmente podem ainda observar-se em quase todo o nosso país, vários
edifícios antigos, os quais ilustram as diversas técnicas tradicionais de construção em
terra.

1.2 Sustentabilidade na Arquitetura

A construção civil brasileira consome atualmente algo em torno de 40% dos re-
cursos naturais extraídos e é responsável pela geração de, aproximadamente, 60%
de todo o resíduo urbano, além de utilizar madeira em larga escala, sendo esta, muitas
vezes, extraída de mata nativa, sem a observância de critérios técnicos e legais.
Apesar do surgimento de diversas iniciativas voltadas à inclusão de critérios so-
ciais e ambientais no setor da construção civil, dentre os quais a certificação de origem
dos recursos, verifica-se que os mecanismos propostos para a adequação dos pro-
cessos ainda vêm sendo utilizados de forma incipiente.
A consideração de critérios ambientais, tais como as certificações, são proces-
sos demorados, podem durar muito tempo após a conclusão da obra, gerando deses-
timulo além de ainda ser incipiente no Brasil, sua adoção é dependente da postura
por parte dos integrantes do setor da construção civil, dos consumidores e principal-
mente dos governos uma vez que estes são responsáveis por ditar novos padrões de
consumo e produção por meio da utilização de seu elevado poder de compra, que, no
Estado de São Paulo, corresponde cerca de 15% do PIB nacional (APARECIDA, CO-
ELHO e POTENZA, 2011).
A partir da década de 1960 a visão ambiental e preocupação com o uso susten-
tável dos recursos naturais começaram a crescer e ideias começaram a ser colocados
em prática. Entretanto o conceito de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável
surgiu a partir de 1983, onde o Secretário-Geral da ONU convidou a médica Gro Har-
lem Brundtland, mestre em saúde pública e ex-Primeira Ministra da Noruega, para
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estabelecer e presidir a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.


Em abril de 1987, a Comissão Brundtland, como ficou conhecida, publicou um relatório
inovador, “Nosso Futuro Comum” – que traz o conceito de desenvolvimento sustentá-
vel para o discurso público (NACOES UNIDAS, 2017). Considerado altamente inova-
dor para aquela época, o relatório foi o primeiro a trazer para o discurso público o
conceito de desenvolvimento sustentável.
[...] o desenvolvimento sustentável não deve pôr em risco os sistemas natu-
rais que sustentam a vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os
seres vivos. Na sua essência, o desenvolvimento sustentável é um processo
de mudança no qual a exploração dos recursos, o direcionamento dos inves-
timentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institu-
cional estão em harmonia e reforçam o atual e futuro potencial para satisfazer
as aspirações e necessidades humanas. “ (Relatório Brundtland, “Nosso Fu-
turo Comum”, ONU, 1987)

A palavra sustentabilidade é um conceito complexo, definida de forma diferente


por vários autores, por ser um conceito que envolve diversas vertentes, como os as-
pectos sociais, econômicos, culturais e ambientais da sociedade. Na prática, susten-
tabilidade representa atender às necessidades das gerações presentes, usando os
recursos naturais de forma inteligente sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de suprirem suas próprias necessidades (SERRA, 2015).
A concepção de sustentabilidade pressupõe uma relação equilibrada com o am-
biente em sua totalidade, considerando que todos os elementos afetam e são afetados
reciprocamente pela ação humana (SESC E SUSTENTABILIDADE, 2017).

A realidade contemporânea se baseia cada vez mais no predomínio do ambi-


ente construído e no crescimento descontrolado das metrópoles, no uso de
materiais e técnicas com elevado custo energético e alto grau de desperdício
em seu funcionamento e manutenção. É preciso buscar parâmetros relaciona-
dos com a capacidade da arquitetura contemporânea de responder a essas
demandas (HICKEL, 2000).

O conceito de sustentabilidade engloba muito mais que aspectos relacionados à


preservação ambiental, seu significado atinge diferentes realidades nas vidas das pes-
soas, sustentabilidade é algo socialmente justo, economicamente viável e ecologica-
mente correto, em suma é o desenvolvimento que não esgota os recursos para o fu-
turo.
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1.3 Arquitetura Vernacular


Derivado do latim, vernaculu denomina o escravo que nascia na casa do patrão,
ou seja, pertencente àquele lugar. Portanto, arquitetura vernacular, representa a
arquitetura construída com técnicas e materiais originários de uma região específica,
um conhecimento geralmente passado de geração a geração Uma arquitetura
vernacular pode ser chamada de sustentável por geralmente utilizar técnicas
bioclimáticas passivas, materiais com baixa energia incorporada, seu caráter de
integração com o ambiente, uso de materiais orgânicos e pelas escolha e soluções
arquitetônicas que possibilitam características como o bom isolamento térmico e
acústico (DAMASCENO, 2016).
Os iglus (Figura 10) construídos pelos esquimós são outro exemplo de
arquitetura vernacular, com formato arredondado e de construção simples e rápida, é
capaz de dar abrigo a famílias inteiras.
Figura 10 - Iglu

Fonte:http://mac.arq.br/modelos-de-habitacoes-antigas-construidas-c-recursos-locais/ (2015).

No Brasil, esse tipo de arquitetura é mais facilmente reconhecido nas aldeias de


povos indígenas (Figura 11), onde estão fortemente presentes todos os princípios que
a caracterizam. Antes de qualquer técnica de construção com terra no Brasil o Índio
já construía de modo vernácula e bioarquitetura, esse tipo de construção tem o
objetivo de atender as necessidades de abrigo, onde não há excessos, é racionalizada
e é fortemente ligada ao local de implantação e aos costumes do grupo, integrada ao
meio e adaptada ao microclima.

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Figura 11 - Oca indígena

Fonte: http://galeraamazon.blogspot.com/2014/07/voce-conhece-as-habitacoes-indigenas.html
(2014).
Os conhecimentos construtivos são transmitidos como uma tradição e por serem
métodos práticos e não estéticos são mais facilmente repassados adiante
(DAMASCENO, 2016).
Esse tipo de arquitetura tem grande ligação com a cultura do povo que a faz,
relacionando-se aos costumes, as tradições e a sabedoria popular. Entretanto desde
a colonização esses métodos construtivos foram adaptados miscigenados com
conhecimentos locais, consequentemente houve grande diversificação de técnicas
que são empregadas até hoje nos lugares mais afastados dos grandes centros,
principalmente em áreas rurais.
Atualmente essas técnicas foram se aprimorando, em alguns casos ao longo de
séculos, e atingindo um elevado grau de sofisticação. Para os arquitetos
contemporâneos, trata-se de uma verdadeira aula sobre como edificar com elementos
simples e naturais, promovendo o devido conforto e a possibilidade de convívio social.
Lições que parecem se encaixar perfeitamente nas buscas da arquitetura sustentável
de nossos tempos.

1.4 Bioconstrução: Arquitetura de Terra

Considera-se bioconstrução toda a construção que congrega o menor impacto


ambiental possível tanto na sua implantação quanto na escolha dos materiais, além
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de uma maior adequação da arquitetura ao clima local e tratamento de resíduos


(SOARES e SILVA, 2006).
Entende-se por bioconstrução os sistemas construtivos que respeitam o meio
ambiente durante a fase de projeto e de construção do edifício, na escolha dos
materiais a técnicas de construção adequadas e ao longo do uso dos edifícios em
relação a eficiente energética e tratamento adequado dos resíduos.
A sustentabilidade é compreendida em nível local (cuidado com a terra, manejo
sustentável das matas, extração consciente dos recursos) e em nível global. A
construção de um ambiente sustentável traz autonomia às comunidades. Uma
comunidade com autonomia é aquela que tem a capacidade de satisfazer as suas
próprias necessidades sem depender de grupos ou pessoas de fora da comunidade.
O domínio das técnicas construtivas e a valorização das técnicas tradicionais são mais
um passo rumo a essa autonomia. Autonomia é sinônimo de liberdade para uma
comunidade, pois com isso ela não precisa depender de recursos externos ao
ambiente onde vive.
Na construção de edificações a bioconstrução envolve o uso de materiais locais,
por exemplo, a terra, pedra, palha e madeira. A terra é um material abundante, ou
seja, existe em grande quantidade e em diferentes locais. Pode ser usado de diversas
formas, como paredes de taipa, adobe, entre muitas outras. As construções de terra
crua compõem ambientes agradáveis, pois controlam a entrada e saída de calor e a
umidade. Além disso, têm um impacto ambiental baixíssimo e proporcionam a
possibilidade de construções belíssimas.

Algumas soluções adotadas são características de bioconstrução sendo elas:

 Construir com o clima e aproveitar as energias naturais: Na bioconstru-


ção utilizamos ao máximo as energias da natureza, como o sol e o vento. Ao constru-
irmos uma casa devemos levar em conta o clima do lugar onde vivemos. Na região
Nordeste, por exemplo, devemos ter uma casa muito bem ventilada e sombreada,
garantindo, assim, um ambiente fresco e agradável. Devemos também levar em con-
sideração as épocas de chuva e proteger a nossa casa com telhados largos.
 Uso passivo dos recursos naturais: aqui se inclui o aquecimento da água
para o banho através da energia solar; a captação e o armazenamento da água das
chuvas para uso nos sanitários e jardins; o uso de energia elétrica de matrizes eólica

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e fotovoltaica; o controle da temperatura por ventilação e insolação natural (habitação


quente no inverno e fresca no verão).
 Uso de materiais ecológicos: é considerada ecologicamente correta a
construção com terra crua (adobe; taipa...); o teto vivo ou teto verde; o uso somente
de madeira certificada; pisos externos permeáveis.
 Gestão dos resíduos: neste caso temos tratamento do esgoto através de
banheiros secos ou fossas assépticas; uso dos canteiros de raízes no tratamento das
águas cinza (chuveiro; tanque; pia...); compostagem do lixo orgânico; reciclagem do
lixo inorgânico; gestão dos resíduos durante a construção (redução/eliminação do en-
tulho); requalificação da edificação significa pensar a construção desde o projeto até
seu descarte ou demolição.
 Paisagismo exuberante: presentear a edificação e seus habitantes com
a maior área verde possível e cercá-la de todo cuidado através de um projeto paisa-
gístico bem adequado à região e às necessidades, hábitos e costumes de seus usu-
ários (espécies raras necessitam de muitos cuidados, as espécies espontâneas na
região não demandam muitos cuidados).
Na bioconstrução também se pensa a construção de mobiliário, a tinta das
paredes (tinta de terra é o mais adequado desde que a terra escolhida não seja
contaminante, é claro) e até a filosofia de vida dos que habitarão essa casa. Porque a
bioconstrução objetiva também melhor integrar o ser humano à natureza.
Designar a consciência atual de que o meio construído deve servir o
desenvolvimento da humanidade de forma harmoniosa, saudável e ecológica (PINTO,
2013).
A arquitetura de terra é a forma de utilizar a terra na construção, é uma técnica
construtiva milenar em que o homem utiliza o material retirado da natureza e aplica
para construir os seus edifícios. Essas técnicas mudam de local para local. A terra
enquanto material de construção encontra-se presente em todo o mundo, impondo-se
como processo construtivo tradicional dominante, pela facilidade com que é aplicada,
pela resistência que confere aos edifícios, pelo conforto que proporciona e pelas
possibilidades plásticas que oferece.
A terra, material de construção, refere-se ao solo não orgânico existente entre a
terra vegetal e a rocha, localizado a uma profundidade que varia de local para local.
Muitos autores utilizam o termo barro designar o material, segundo Minke (2015),
o barro quando utilizado como material de construção, muitas vezes recebe nomes
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diferentes. Comumente referenciada em termos científicos como barro, é uma mistura


de argila, silte (areia muito fina), areia, e agregados maiores, como cascalho ou
pedras. Quando se fala de blocos de terra argilosa, feitos a mão, se empregam termos
“tijolos de barro” ou “adobes”; quando se fala de blocos compactados se emprega o
termo “tijolo de terra”; quando extruídos numa alvenaria e não são cozidos, se
emprega o termo “tijolo cru”.
As construções com a terra como a matéria-prima básica apresentam vantagens
e desvantagens em relação a outros materiais clássicos de construção:

1.4.1 Vantagens

 A terra crua regula a umidade ambiental: o barro possui a capacidade de


absorver e perder mais rapidamente a umidade que os demais materiais de constru-
ção, o que lhe permite equilibrar a temperatura interior. Experiências realizadas no
Laboratório de Construções Experimentais – Forschungslabor für Experimentelles
Bauen (Building Research Laboratory, ou BRL) da universidade de Kassel, Alemanha,
demonstraram quem, quando a umidade relativa em uma sala for entre 50% e 80%,
tijolos não cozidos foram capazes de absorver 30 vezes mais umidade, num período
de um ou dois dias, do que tijolos cozidos;
 A terra armazena calor: como outros materiais densos como as
alvenarias de pedra, o barro armazena o calor durante sua exposição aos raios solares
e perde-o lentamente quando a temperatura externa estiver baixa;
 As construções com terra crua economizam muita energia e diminuem a
contaminação ambiental. As construções com terra praticamente não contaminam o
ambiente, pois para prepara-la necessita-se de 1 a 2% da energia despendida com
uma construção similar com concreto armado ou tijolos cozidos;
 O processo é totalmente reciclável: as construções com solo podem ser
demolidas e reaproveitadas múltiplas vezes. Basta fragmentar e voltar ao processo
de preparo da massa de terra. O barro seco pode ser reutilizado após imersão em
água, por isso nunca se torna um material residual que prejudica o meio ambiente;
 O barro economiza material e os custos de transporte: o solo argiloso é
frequentemente encontrado no local de uma obra, de maneira que o solo escavado
para as fundações poder ser utilizados em seguida para a construção;

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 O barro é ideal para autoconstrução: desde que o processo de constru-


ção seja supervisionado por uma pessoa com experiência, as técnicas de construção
com terra podem ser geralmente executadas por não profissionais. Como os proces-
sos envolvidos são de trabalho intensivo e requerem apenas ferramentas e máquinas
baratas, são ideais para a autoconstrução;
 A terra preserva a madeira a outros materiais orgânicos: devido ao baixo
teor de umidade de 0,4% a 6% em peso, e a sua elevada capilaridade, o barro con-
serva os elementos da madeira, que permanecem em contato com os mesmos man-
tendo-os secos. Os fungos e os insetos não danificarão essa madeira, já que os inse-
tos precisam de um mínimo de 14% a 18% de umidade para manter a vida, e os fungos
mais do que 20% (MÖHLER, 1978);
 O barro absorve poluentes: sabe-se que as paredes feitas de terra aju-
dam a limpar o ar interior poluído, mas isso ainda precisa ser comprovado cientifica-
mente. É um fato que paredes de terra absorvem poluentes dissolvidos em água.

1.4.2 Desvantagens

 A terra não é um material de construção padronizado: sua composição


depende das características geológicas e climáticas da região. Dependendo do local
onde o barro é escavado, será composto diferentes quantidades e tipos de argila, silte,
areia e agregados. Podem variar composição, resistências mecânicas, cores, texturas
e comportamento. Para avaliar essas características são necessários ensaios que
indicam as providências corretivas para corrigi-las com aditivos;
 É permeável: as construções com terra crua são permeáveis e estão
mais suscetíveis às águas, sejam pluviais, do solo ou de instalações. Para sanar esse
problema é necessária a proteção dos elementos construtivos: seja com detalhes
arquitetônicos ou com materiais e camadas impermeáveis;
 Há retração: Devido a evaporação da água utilizada para preparar a
mistura (a umidade é exigida para ativar a sua força de ligação e para poder ser
trabalhada), poderão ocorrer fissuras. A retração pode diminuir reduzindo a
quantidade de água e argila, otimizando a composição granulométrica, ou mediante o
emprego de aditivos.

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1.5 Propriedades da terra como material de construção

A terra é um produto da erosão de rochas da crosta terrestre. Esta erosão ocorre


principalmente através da moagem mecânica de rochas, como consequência do
movimento das geleiras, da água e do vento; por meio da expansão e contração
térmica das rochas, ou através da expansão do congelamento da água nas fendas de
uma rocha. Devido aos ácidos orgânicos prevalecentes em plantas, e as reações
químicas à água e o oxigênio, isto também causa a erosão das rochas. A composição
e as propriedades da terra variam, dependendo das condições locais onde se
encontram. Por exemplo, os solos de montanha com alto teor de cascalho, são os
mais adequados para a taipa (desde que contenham argila suficiente), enquanto a
terra das margens dos rios tem mais silte em sua composição, logo, menos resistentes
à inclemência do tempo e mais fraco na compressão.
A terra é constituída principalmente por argila, silte, areia e gravilha, aos quais
se encontram associados em percentagens mínimas, os metais, sais solúveis, como
sulfatos, nitratos e cloretos, e matéria orgânica.
A argila e o silte constituem o ligante do material, que como o nome indica lhe
confere o poder de agregação, enquanto a areia e a brita constituem o seu inerte,
fundamental para que contraia e dilate, por força das variações de temperatura ou em
presença da água, sem sofrer fissurações. O equilíbrio entre ligante e inerte na
constituição da terra é assim fundamental para a sua eficácia em termos construtivos.
A natureza do silte é determinante na composição da terra, já que, enquanto
sedimento constituído por quartzo, mica, feldspato e agregados limoníticos ou
argilosos, pode apresentar um carácter arenoso ou argiloso, influenciando a
componente inerte ou a componente ligante do material.
A dosagem dos seus componentes para fins construtivos varia entre 15 a 18%
de argila, 10 a 28% de silte e 55 a 75% de areia e 0 a 15% de gravilha.
O silte, a areia e agregados constituem os agentes de enchimento do barro.
Dependendo de qual dos três componentes é dominante, podemos designar como
argiloso, limoso ou arenoso. Obter um material de construção a partir de um solo
argiloso não é fácil e requer experiência. A mistura adequada depende do tipo de solo,
da sua consistência e da aplicação que se quer dar. O solo úmido solto, com baixo
teor de argila e alto teor de areia, pode ser utilizado diretamente para a construção de
uma parede de terra batida. Porções de terra com alto teor de argila não podem ser
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utilizados como material de construção. Devem ser triturados e dissolvidos em água,


e posteriormente o conteúdo de argila deve diminuir agregando areia a mistura.
Outro aspecto muito importante, relacionado com a manutenção e durabilidade
das construções, diz respeito aos detalhes construtivos, ou seja, deve ser investido
tempo no projeto de detalhamento de cada elemento construtivo, de cada item da
construção e de todas as suas etapas. Nas casas de terra, deve-se cuidar
especialmente das instalações hidro sanitárias e da proteção de águas pluviais, pois
o contato direto e contínuo com a água pode comprometer seu desempenho e
durabilidade (FARIA, 2002).
Para fazer uma construção com terra, o solo deve ser estabilizado com materiais
aglomerantes e/ou por meio de esforços físicos. É importante esclarecer que
estabilização de solos é uma denominação geral, que pode ser usada por diversas
áreas da ciência e terá um sentido específico em cada uma delas. No caso da
arquitetura e construção com terra, estabilização de solos significa melhorar os
parâmetros de engenharia, principalmente a resistência e a durabilidade do material
(HOFFMANN, 2017).

1.6 Arquitetura de Taipa de Pilão


Existem diversas formas de utilizar a terra enquanto material de construção.
Nos elementos publicados pelo grupo CRATerre, foram sistematizadas 18 técnicas
fundamentais detectadas um pouco por todo o mundo.
No entanto, existem dois processos universais para construir com terra, a taipa
e o adobe, cuja escolha não depende de uma opção do construtor, mas das
características do solo, já que cada um deles utiliza o material de forma diferente para
o pôr em obra de forma adequada, conforme as suas características. (MENDES,
2012).
Como um dos sistemas construtivos mais usados ao longo da história do Brasil,
esta pesquisa tem como tema especifico abordado a taipa de pilão.
Conhecida como taipa-de-pilão (ou simplesmente taipa) no Brasil e Portugal,
tapial, apisonado ou terra batida em outros países ibero-americanos, e Designada por
“pise” na França e “tapial” na Espanha corresponde a paredes monolíticas construídas
no próprio local.
A taipa é o processo indicado para solos pedregosos, grossos e secos,
geralmente pobres em argila. O chamado Betão de terra, utilizado na taipa, é muitas
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vezes corrigido com a adição de areia, caso se verifique que é demasiado forte, ou
com argila ou cal, quando é demasiado pobre.
O processo consiste em peneirar a porção necessária de solo, secá-lo ao ar e
misturar, se for o caso, com o aglomerante. Acrescenta-se água à mistura até o ponto
ótimo de umidade, coloca-se essa mistura dentro de uma forma reforçada e travada
para, finalmente, compactar até a densidade ideal, usando pilões manuais ou,
atualmente, compactadores mecânicos.
A taipa baseia-se na compactação do material, que é apiloado conjuntamente
com água dentro de um taipal. Cada metro cúbico de terra apiloada reduz o seu
volume em cerca de 1/3, e quanto melhor compactada é, maior é a resistência
conferida à parede que forma. O taipal vai sendo deslocado ao longo das paredes,
formando blocos que se dispõem com as juntas verticais descentradas.
É um sistema rudimentar de construção de paredes e muros, pode ser usada
para formar as paredes externa e a internas, estruturais, sobrecarregadas com
pavimento superior ou com madeiramento do telhado. A técnica consiste em
preencher cofragens (moldes que também são denominadas por taipal ou tapial) com
camadas de terra úmida de 10 a 15 cm, até atingir a densidade ideal, compactando
cada uma delas com uma batida, criando assim uma estrutura resistente e durável. O
processo de construção da taipa de pilão vernacular é dividido nas seguintes etapas
descritas a seguir.
A técnica da construção em taipa encontra-se disseminada a nível mundial e
muitas dessas construções já fazem parte do património mundial da UNESCO
(PACHECO, EIRES e JALALI ,2009).

1.6.1 Processo de construção com taipa de pilão vernacular

Para alcançar a melhor qualidade numa estrutura de taipa, é necessário


conhecer o solo usado, os materiais aglomerantes e suas reações com o solo, o traço,
a fôrma e o processo de compactação que será empregado. Antes de construir, é
necessário analisar as características físicas e químicas do solo, pois elas irão
determinar a necessidade de uma correção da curva granulométrica. É preciso saber
determinar o tipo e a quantidade do material aglomerante que será usado na
estabilização segundo a composição mineralógica do solo. A fôrma, chamada taipal,
deve ser altamente resistente, leve e de fácil desmontagem, para que possa ser
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desmontada sem pancadas ou grandes esforços. Na compactação, deve ser


controlada não apenas a umidade, mas também a carga, para que se atinja a
compacidade ideal sem danificar a camada anterior da taipa nem sobrecarregar a
fôrma (HOFFMANN, 2017).
Antes de iniciar a obra, verifica-se o sítio, os principais parâmetros devem ser
a possibilidade de boa drenagem e um bom apoio para a fundação.
1. Ideal: Terrenos naturalmente planos.
2. Não construir em baixadas.
3. Não construir em aterro

 Definição das dimensões da parede


Alguns autores definem uma proporção de 10 cm de espessura para cada 1,0
metro de altura de parede, essa regra pode ser aplicada para pequenas dimensões,
para paredes de até 3 metros de altura, contudo, quando falamos de paredes
estruturais ou de grandes dimensões, devemos utilizar o método instrumentalizado,
quando se define a espessura da parede, a capacidade de carga deverá ser definida
em função do traço (mistura) adotado (areia + argila + cimento) que preferencialmente
deverá ser avaliada por meio de ensaios de compressão identificando assim a
capacidade de carga daquela parede.

 Extração
A boa qualidade da taipa depende, principalmente, da seleção / dosagem do
solo e a compactação. A escolha da terra pode ser feita através do método
instrumentalizado e empírico. No método industrializado, deve-se retirar uma amostra
do solo e fazer uma análise físico-química para conhecer as características do solo
disponível. O solo deve estar limpo de matéria orgânica. Determinar a dosagem ou
traço a partir das características físico-químicas da terra disponível e dimensões e
cargas da parede definindo então as quantidades de aglomerantes
necessários, a umidade ótima e o nível de compactação para atingir a estabilidade
desejada. O Método Empírico seria aquele método que, por meio da experiência
prática, definiram-se metodologias de ensaios expeditos e de processos construtivos
que na maioria das vezes funciona muito bem, contudo, a probabilidade de que o
produto final tenha a qualidade desejada é menor que utilizando o método
instrumentalizado, neste caso, deve-se escolher um solo isento de matéria orgânica
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que tenha uma porcentagem média de 30% de argila e 70% de areia. O ideal é que o
solo adquirido já tenha as características adequadas para a taipa, pois, a realização
da mistura irá onerar o custo da obra (BIOESTRUTURA, 2015).

 Fundação
A fundação (Figura 12) deve ser impermeabilizada ficar acima do solo para
distribuir igualmente o peso das paredes no solo e impedir a capilaridade (fenômeno
natural em que a água pode subir do solo, infiltrando na base da parede). A opção
normalmente utilizada são as sapatas corridas, que permitem uma distribuição de
cargas uniformes no solo e dificultam a capilaridade. As sapatas corridas podem ser
feitas com ou sem concreto. É importante separar o contato entre parede de Taipa e
fundações a fim de se evitar que a umidade do solo suba por capilaridade e
comprometa a base da parede, trazendo problemas como, fungos com a presença de
mofo, desplacamentos da parede e do revestimento aplicado sobre ela.

Figura 12 - Fundação de fôrma.

Fonte: http://www.recriarcomvoce.com.br/blog_recriar/taipa-de-pilao-paredes/ (2017).

 Montagem do Taipal
O taipal é formado por duas pranchas compostas de tábuas presas por
montantes, espaçadas por separadores e travessas que delimitam a largura da
parede, o conjunto é fixado por cunhas em baixo e por torniquetes em cima (Figura
13). As extremidades são fechadas por tábuas laterais. Esta fiada é montada apoiando
as travessas no topo da fundação e deve estar devidamente aprumada e nivelada.

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Figura 13 - Taipal e Pilão.

Fonte: BARDOU, 1981, p. 19

Depois de preenchida a primeira fiada (Figura 14) do taipal, acima e em contato


com o taipal cheio é montado outro taipal seguindo os prumos e níveis do taipal inferior
(Figura 15). Observam-se montagens deslocando o mesmo taipal, porém isto não
garante a prumada correta da parede. O processo de preenchimento e apiloamento e
repetido até que o novo taipal esteja completo. O taipal inferior é desmontado retirando
primeiro os torniquetes, depois as cunhas, as tábuas laterais e as fôrmas, as travessas
podem ou não ser retiradas. O taipal inferior é então remontado na posição superior
ao taipal preenchido e este processo segue sucessivamente até alcançar a altura
desejada para a parede (Figura 16) (ASSUNÇÃO,2012).
Figura 14 - Primeira linha da fôrma sendo finalizada.

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Fonte: http://tecnicasparaconstrucaosustentavel.blogspot.com.br/2015/05/como-fazer-paredes-de-
taipa-de-pilao.html (2015).

Figura 15 - Segunda fiada da fôrma instalada.

Fonte: http://tecnicasparaconstrucaosustentavel.blogspot.com.br/2015/05/como-fazer-paredes-de-
taipa-de-pilao.html (2015).
Figura 16 - Primeiras fiadas de elevação de parede de taipa de pilão.

Fonte: Augusta, (2007).

Os taipais são dispostos de modo a formar fiadas horizontais de blocos de taipa


e têm as juntas verticais normalmente desencontradas (Figura 17). Na primeira fiada
o taipal é apoiado diretamente no solo. Sobre as fundações e para as fiadas

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subsequentes eram colocadas transversalmente à espessura madeiras roliças a dois


terços da altura, de modo que quando da execução da próxima fiada, as agulhas ou
cangalhas de baixo eram enfiadas no orifício (denominado de codo) deixado após a
retirada dessa madeira que tinha permanecido dentro do bloco de taipa anterior. Nas
taipas remanescentes desse período as marcas da execução são facilmente
detectáveis, tanto das camadas de terra apiloadas, como dos tipos de junções dos
blocos de taipa e também dos orifícios ocupados para a elevação do maciço de taipa.
Esses orifícios recebem uma argamassa de terra após a retirada do taipal e antes do
revestimento (AUGUSTA, 2004).

Figura 17 - Execução da taipa de pilão.

Fonte: https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/09/06/tecnicas-construtivas-do-periodo-
colonial-i/ (2010).

 Compactação da terra
Imediatamente após a mistura da terra com o cimento inicia-se a compactação
dentro da forma (Figura 18), recomenda-se compactar camadas de 10 cm até
preencher 80% da forma, aguardar por no mínimo 7 dias para retirar a forma e
posicioná-la na parte superior para assim iniciar a camada acima.

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Figura 18 - Compactação do solo.

Fonte: http://portalvirtuhab.paginas.ufsc.br/taipa-de-pilao/ (2014).

 Execução de vãos
Pela característica autoportante da parede de taipa de pilão é necessário o
escoramento e reforço estrutural no local da abertura do vão, para que a construção
não entre em colapso. As aberturas de vãos como portas e janelas, devem seguir a
lógica estrutural da construção, reforçando com vergas e contravergas os vãos e
aberturas criados. A partir de uma estrutura de madeira colocada anteriormente
durante a execução dos maciços das paredes.

 Isolamento térmico
O isolamento térmico de paredes monolíticas de terra batida utilizando solos
normais, não é suficiente para atingir níveis exigidos de isolamento térmico em climas
frios, nesse caso se deve utilizar uma parede de maior espessura de barro agregado
e isolamento térmico convencional adicional.

 Cintamento e Cobertura
Normalmente não existe cintamento das paredes no modo vernacular, a
estrutura do telhado se apoia em vigas de madeira (Figura 19), e estas vigas se
apoiam sobre o topo das paredes autoportantes, de modo a transferir
homogeneamente a carga do telhado. A cobertura deve ser posicionada assim que as
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paredes forem finalizadas, impedindo que estas tomem chuva. Beiral largo para
proteger a parede da ação da chuva.

Figura 19 - Estrutura em madeira para cobertura.

Fonte: http://portalvirtuhab.paginas.ufsc.br/taipa-de-pilao/ (2014).


 Hidráulica e Elétrica
Normalmente, a hidráulica e a elétrica é instalada externamente às paredes,
pois são estruturas autoportantes, o que impossibilita futuros reparos. O mais
aconselhável é que sejam construídas paredes hidráulicas de concreto.

 Acabamento e revestimento
O revestimento pode ser feito com uma argamassa de terra (1 de cal; 4 de
areia; 2 de terra) que permite o “respiro” da parede e “acusa” logo qualquer infiltração
que tenha ocorrido. A argamassa de cimento, apesar de ser mais impermeável, tem
coeficiente de expansão diferente da terra e pode descolar com o tempo, além de
camuflar, inicialmente, infiltrações. Empregam-se, ainda, como revestimento, azulejos
lisos e tábuas. A pintura das paredes é comumente feita com cal (caiação) ou com
tintas de origem vegetal e mineral.

 Mão de obra
A mão de obra, nas técnicas tradicionais de terra batida, executada manual-
mente, inclui a preparação, o transporte e a construção, são de 20 a 30 h/m³. Otimi-
zando o sistema de cofragem e utilizando compactadores elétricos de vibração, a mão
de obra diminui para 10 h/m³.
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1.6.2 Processo de construção com taipa de pilão mecanizada

Com o uso das novas tecnologias, desenvolveu-se a taipa mecanizada. Esta é


realizada segundo os mesmos moldes que a taipa tradicional, diferindo apenas na
qualidade e dimensões da cofragem e no meio de compactação.
Na busca cada vez mais crescente por melhorias, novas soluções de projeto e
execução vem sendo desenvolvidas. Com vistas à qualidade do produto final e um
maior controle sobre os custos, o tempo e o processo de produção do material, alguns
países da Europa, por exemplo, desenvolveram projetos para construção de
edificações com painéis pré-fabricados de taipa, que agregam um maior grau de
mecanização (VERALDO, 2015).
Atualmente, no cenário mundial da construção com terra, a técnica da taipa de
pilão mecanizada vem alcançando mercado principalmente nos Estados Unidos e
Austrália. Existem variações no uso da técnica mecanizada dentre as quais podemos
citar o PISE e o apiloamento pneumático. A taipa de pilão mecanizada se diferencia
da técnica vernacular pela troca dos taipais tradicionais pelo sistema de fôrmas do
concreto armado, o uso de máquinas no processo de transporte, produção, montagem
e apiloamento da terra.
A tecnologia aplicada ao processo construtivo de paredes monolíticas (Figura
20) foi a substituição das fôrmas deslizantes de chapas de madeirite estruturadas com
sarrafos e parafusos (MILANI, 2008) pela utilização de fôrmas metálicas treliçadas
com fechamento por chapas de madeirite plastificados, sendo este tipo de fôrma para
suportar as tensões de compactação mecanizada do material solo estabilizado bem
como propiciar qualidade e durabilidade no produto final, ou seja, paredes lisas, com
mínimo necessário de juntas de dilatação, sem “bicheiras” e microfissuras, locais aos
quais podem ser propicias para ocorrência de patologias (MILANI, YUBA, VERALDO
e PAZ ,2014).

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Figura 20 - Painel pré-moldado de taipa mecanizada - Santa Clara, Califórnia- EUA.

Fonte: https://www.rammedearthworks.com/pre-cast-rammed-earth/1a (2017).

 Extração
A extração da terra para o uso na taipa de pilão mecanizada pode ser feita no
local da construção, fornecida por terceiros ou por uma jazida conhecida. A extração
é feita por máquinas escavadeiras e o transporte da terra até o local da construção é
feito por tratores e/ou caminhões (ASSUNÇÃO,2012).

 Produção
Como na técnica vernacular é necessário que se conheça o solo a ser utilizado,
apesar de grande variedade de solo servir para a construção com taipa de pilão
mecanizada nem todos são propícios. No Brasil a identificação e caracterização dos
solos são feitas por meio de ensaios laboratoriais, análise granulométrica e limites de
consistência, normalizados pela ABNT:

a) Análise granulométrica: normalizados pela NBR 7181:1984.


b) Limites de liquidez: normalizados pela NBR 6459:1984.
c) Limites de plasticidade: NBR 7180:1988.
d) Limite de contração: NBR 7183:1982.
e) Compactação do solo: NBR 7182:1988.
f) Compressão simples: NBR 12770:1992.

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As normatizações das estabilizações em construções com terra no Brasil se


restringem aos tijolos de terra estabilizados com cimento (solo cimento) (ASSUNÇÃO,
2012).

 Fundação
Como na técnica vernacular, as paredes de taipa de pilão mecanizado não
podem ter contato com o solo para evitar ações da água por capilaridade. É construída
uma sapata corrida de concreto armado percorrendo toda a extensão ultrapassando
o solo pelo menos 30 centímetros. Nesta base deixam-se esperas de aço para garantir
a aderência com a parede e maior estabilidade, da mesma forma que na técnica
vernacular. Acima da base, devidamente nivelada, é feita a montagem das fôrmas
usadas no concreto armado (Figura 21) (ASSUNÇÃO,2012).

Figura 21 - Fundação.

Fonte: http://jackshouse.rammedearthworks.com/2010_07_01_archive.html (2010).

 Montagem das fôrmas


A utilização deste sistema para a construção com taipa de pilão necessita de
pequenas adaptações, principalmente na sequência da montagem dos painéis. São
mais frequentes duas sequências de montagem das fôrmas para a taipa de pilão
mecanizada (Figura 22). Alguns arquitetos utilizam o processo onde as fôrmas são
montadas em toda a extensão e altura em apenas um lado da parede enquanto que
do outro lado monta-se apenas a primeira fiada de fôrmas, outros Após ser preenchida
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a primeira fiada, monta-se sobre ela a segunda fiada. Preenchida a segunda fiada, a
primeira fiada é desmontada e remontada na posição superior. Esta sequência
termina quando se alcança a altura das fôrmas opostas, construindo a parede
desejada. (ASSUNÇÃO,2012).
É também possível utilizar o processo de montagem similar ao da técnica ver-
nacular, subindo as fôrmas ao mesmo tempo em que a parede ganha altura.

Figura 22 - Fôrmas painéis de madeira e suporte e fixação metálicos.

Fonte: http://taipal.com.br/studio/ (2017).

Nos dois processos a ligação entre os painéis correspondentes é feita por


travessas metálicas, geralmente barras rosqueadas. Além de delimitar o volume da
parede a ser construída, estas travessas prendem nas fôrmas perfis metálicos
horizontais, verticais e inclinados, que auxiliam o nível e o prumo das paredes, e
suportam a pressão exercida nas fôrmas durante a construção (Figura 23).

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Figura 23 - Travessas verticais e horizontais.

Fonte: https://www.rammedearthworks.com/ (s.d)

 Preenchimento das Fôrmas


Com a ajuda do trator e esteiras rolantes, são colocadas camadas de solo
estabilizado com cerca de 20 centímetros de altura, homogeneamente entre as
fôrmas. Em seguida utilizando um socador pneumático (Figura 24) é feito o
apiloamento da terra no mesmo sentido que na técnica vernacular. O socador
pneumático é um equipamento metálico com a cabeça em borracha resistente e
funciona através de pressão de ar exercida por um gerador (Figura 25). Como na
técnica vernacular, é recomendado fazer ranhuras na face superior da camada
compactada para melhor aderência da camada seguinte. O processo é repetido até
preencher toda a altura da parede (Figura 26) (ASSUNÇÃO, 2012).

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Figura 24 - Socador pneumático.

Fonte: http://rammedearthconsulting.com/faqs.htm (s.d)

Figura 25 - Preenchimento das fôrmas.

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Fonte: https://www.rammedearthworks.com/american-agcredit-rammed-earth-lobby-wall/4 (2016).

Figura 26 - Processo de camadas de preenchimento da fôrma.

Fonte: https://esdrammedearth2015.wordpress.com/2015/09/05/78/ (2015).

 Esquadrias e Aberturas
Como na técnica vernacular as aberturas de vãos, portas e janelas da taipa de
pilão mecanizada podem ser de peitoril (janelas) ou rasgadas (portas, janelas ou
vãos). A instalação das esquadrias é chumbada nas paredes em rasgos predefinidos
na construção das paredes (Figura 27). Os peitoris devem possuir pingadeiras e/ou
caimentos para evitar infiltração da água da chuva (ASSUNÇÃO, 2012).

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Figura 27 - Instalação de esquadrias.

Fonte: http://becgreen.ca/tag/rammed-earth-structures/ (2011).

 Mão de obra
Com técnicas altamente mecanizadas em que o transporte e o preenchimento
da cofragem são executados por tratores e a compactação pneumática, a mão de obra
pode reduzir-se a 2 h/m³, valor que é só 10% do necessário para as técnicas tradicio-
nais, e é significativamente a menor das técnicas de alvenaria (MINKE, 2015).

1.7 Objetivos

1.7.1 Objetivo geral

O presente projeto de pesquisa tem como objetivo resgatar a importância de um


sistema construtivo utilizado no Brasil colonial – a taipa de pilão, e incita-lo como al-
ternativa sustentável na construção civil através de projetos arquitetônicos de quali-
dade e com alto índice de produtividade e tecnologia.

1.7.2 Objetivos específicos

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 Analisar as necessidades fundamentais para a implantação da taipa de pilão


na atualidade;
 Identificar imposições para que a construção adquira suas propriedades carac-
terísticas da terra;
 Analisar a eficiência de projetos arquitetônicos bioconstrutivos.
 Despertar o estímulo ao uso da taipa de pilão usando materiais proeminentes
no meio para construções sustentáveis e contribuir para o meio ambiente, desenvol-
vimento econômico e social da região.

1.8 Hipóteses

O atual cenário construtivo precisa de técnicas alternativas que colaborem na


redução da deterioração ambiental. A escolha do método construtivo, taipa, pode ser
empregado de modo satisfatório ás pessoas mais marginalizadas pela sociedade e
carentes, de modo que seja uma construção eficiente utilizando a tecnologia para po-
tencializar a bioconstrução?

1.9 Justificativa

A constante pesquisa por métodos bioconstrutivos é extremamente importante


para a construção civil, a taipa sendo um método que apresenta baixo consumo de
energia, quando as características do projeto são previamente determinadas, não ne-
cessitando do transporte da matéria-prima, caracterizando-a como bioconstrutiva. As
paredes voltam quase totalmente à condição original do solo, sendo um composto
orgânico quando demolida e se decompondo com facilidade na natureza. Envolve
também baixa emissão de poluentes e apresenta durabilidade.

“É reconhecido que o setor da construção civil é um dos que causam maior


impacto no meio ambiente. Além do uso de muito dos recursos naturais, uti-
lizados como matéria-prima, o setor ainda consome grande parte da energia
disponível na transformação e transporte desses materiais. Ele ainda é um
grande gerador de entulho, classificado como resíduo sólido, tanto durante o
processo de execução como na demolição das obras. É papel de todos os
envolvidos com o setor propor novas ideias que conciliem o desenvolvimento
das atividades da construção à preservação do meio ambiente. ” (FEB-
UNESP / PROTERRA, 2011).

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Esta pesquisa se faz relevante, pois explora os potenciais construtivos da terra


como bioconstrução, processo que representa também um importante patrimônio
cultural que deve ser preservado e o fato de associa-lo as tecnologias atuais
aplicando-as e explorando-as em projetos contemporâneos.

2. MÉTODOS
2.1 Levantamento de projetos contemporâneos bioconstrutivos feitos
a partir de taipa de pilão

Foi realizada uma análise de projetos nacionais e internacionais com o uso da


taipa, os projetos a seguir de classificam por diferentes programas a fim de demostrar
a pluralidade de finalidades em que a taipa de pilão pode ser empregada.

2.1.1 Projeto: Casa Colinas

Ano: 2014
Arquiteto: Marcio V Hoffmann
Localização: Piracicaba, São Paulo – Brasil

O projeto edificado é constituído por um programa de residência unifamiliar


localizado em um condomínio fechado na cidade de Piracicaba, cidade situada no
centro-leste do Estado de São Paulo.
Os solos ocorrentes são, em grande parte formados a partir de material
sedimentar e dentre eles os Argissolos derivados de argilitos e/ou folhelhos são muito
comuns e importantes, pois sobre os mesmos se desenvolvem atividades de grande
relevância econômica para a região, entre as quais cita-se a agricultura, que é
fortemente influenciada pelo conjunto dos atributos, ou seja, pelo comportamento dos
diferentes tipos de solos. (NASCIMENTO, 2007).
A residência (Figura 28) foi construída em taipa de pilão com material vindo das
redondezas da edificação. Os materiais empregados foram concreto para fundação,
paredes de sustentação em taipa de pilão, vigas em concreto e coberta em estrutura
metálica treliçada.

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Figura 28 - Fachada do pátio interno Casa Colinas.

Fonte: http://fatoarquitetura.com.br/?p=119 (2015)

Composta por três blocos (Figura 29), compondo um abrigo, um depósito, e um


escritório ligados diretos a via pública, um salão com planta livre para jantar e estar,
cozinha, lavabo, área de serviço e área íntima com sala de TV e três suítes. Os blocos
implantados seguiram a declividade natural do terreno, aproveitando os desníveis
através da criação de rampas de acesso, o acesso principal é feito a partir do abrigo
por uma rampa de concreto, que vence o desnível entre o piso do abrigo e o piso da
piscina (Figura 30). Depois da piscina, grandes vãos desenhados por portas de vidro
levam ao salão social.
Apesar de localizar-se em um condomínio fechado a simplicidade é representada
pela fachada com linhas retas (Figura 31), sem detalhes e o material aparente valoriza
a taipa construída apresentando uma combinação de diferentes cores e texturas a
residência.

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Figura 29 - Planta Baixa.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/759523/casa-colinas-fato-arquitetura (2014)

Figura 30 - Vista da rampa de acesso e o piso da piscina.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/759523/casa-colinas-fato-
arquitetura/549aebc0e58ece87460001b0 (2014).
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Figura 31 - Fachada Casa Colinas.

Fonte: http://fatoarquitetura.com.br/?p=119 (2015).

A taipa empregada foi um dos determinantes para o desenho adotado,


exemplificando como o uso do material interfere não apenas no conforto ambiental
como na estética e pode-se tirar proveito desse elemento como definidor projetual.
Como elemento característico, as paredes grossas demonstram uma brutalidade
natural da terra e sensação de proteção e aconchego aos moradores. Toda a
residência foi feita com materiais aparentes, que exigem pouco, ou nenhuma
retrabalho para acabamento, e têm, portanto, menor impacto sobre o ambiente
natural. As estruturas de taipa são amarradas por uma cinta de concreto que serve
como apoio para a estrutura metálica da cobertura. Os painéis justapostos são
suficientes para sustentar toda a carga da viga e da cobertura.

2.1.2 Projeto: Residência O Projeto Responsável

Ano: 2014
Arquiteto: Michel Habib
Localização: Atibaia, São Paulo – Brasil

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Figura 32 - Fachada O Projeto responsável.

Fonte: https://sustentarqui.com.br/construcao/projeto-responsavel-bioarquitetura/ (2016).

O Projeto responsável (Figura 32) foi aplicado em uma residência localizada


em Atibaia/SP, desenvolvido pelo arquiteto Michel Habib, foram adotados sistemas
construtivos ecologicamente corretos, ricos culturalmente e com atitudes socialmente
justas, conceitos estes apresentados pelo arquiteto sintetizam uma construção
biosustentável.
Várias técnicas construtivas de bioarquitetura foram aplicadas na casa; como
taipa de pilão, pau a pique com ripados de bambu, adobe e reboco de terra e cal. A
mistura dessas técnicas não só serviu como exemplos de aplicação, mas também
conferiu a casa diferentes texturas (Figura 33) que trouxeram um interessante efeito
estético.

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Figura 33 - Interior mistura de texturas

Fonte: https://sustentarqui.com.br/construcao/projeto-responsavel-bioarquitetura/ (2016).

Todas as madeiras são de origem de demolição ou de reflorestamento, o


bambu, que é uma planta de rápido crescimento e abundante na região também foi
muito usado na construção e decoração. Além da terra, quase todos os materiais
aplicados foram adquiridos próximos ao local, muitos deles foram reutilizados; por
exemplo, as telhas foram interceptadas de uma demolição, garrafas de vidro foram
utilizadas para fazer vãos de luz (Figura 34), pneus foram usados para o muro de
contenção e madeiras de seriam descartadas foram transformadas em mobiliário para
decoração da casa.

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Figura 34 - Vãos de luz proporcionados por garrafas.

Fonte: https://sustentarqui.com.br/construcao/projeto-responsavel-bioarquitetura/ (2016).

A construção de terra, o telhado verde, e os sistemas de iluminação e ventilação


natural garantem o controle da temperatura e umidade dos ambientes internos, o que
influi diretamente na saúde dos ocupantes e na economia de energia.
A gestão da água também foi bem estudada no projeto responsável, um
sistema de coleta e uso da água da chuva tratada para fins não potáveis foi instalado.
Além disso, no jardim (Figura 35) é possível observar detalhes que compõem
a bacia de evapotranspiração para tratamento das águas negras e o sistema de
tratamento das águas cinza, assim como, a plantação de bambu e uma horta que é
usada como compostagem de lixo orgânico produzido pelo próprio proprietário que
inclusive é o arquiteto responsável.

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Figura 35 - Jardim e horta

Fonte: https://sustentarqui.com.br/construcao/projeto-responsavel-bioarquitetura/ (2016).

O projeto responsável, também é sustentável, e segue o tripé de valorização


dos aspectos econômicos, sociais e ambientais. A economia se deu através da
utilização de materiais reaproveitados, regionais, mais baratos e eficientes, e
principalmente na diminuição dos custos de manutenção da casa. No âmbito social,
foi dada preferência para a mão de obra local, que foi capacitada, Michel ensinou aos
trabalhadores técnicas de bioconstrução.

2.1.3 Projeto: Rammed Earth House – “Casa de terra batida”

Ano: 2005
Arquiteto: Steffen Welsch
Localização: Indigo Valley, Victoria – Austrália

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Figura 36 - Fachada Rammed Earth House.

Fonte: https://inhabitat.com/gorgeous-rammed-earth-house-generates-all-its-own-energy-and-
captures-all-its-own-water-in-australia/ (2014).

O projeto (Figura 36) é do escritório de arquitetura Steffen Welsch, o primeiro


onde aplicaram os princípios do design ambientalmente sustentável por toda
edificação. Localizada no nordeste de Victoria, um local relativamente remoto, sem
energia e abastecimento de água, o projeto, construído pela equipe Rammed Earth
Australia é constituido por pavimento térreo (Figura 37) e pavimento superior (Figura
38).
As cores cinza e marrom do mato eucalipto domina a paisagem no Vale do
Indigo, a meio caminho entre Wangaratta e Albury no norte Victoria. Viajando
por uma estrada de cascalho, seus sentidos são embalados pela repetição
tonal até você vislumbrar um flash surpreendente de laranja através das
árvores. A forma laranja acaba por ser uma casa e sua tom surpreendente é
devido ao uso de terra batida por suas paredes. (SANCTUARY MAGAZINE,
2007).

Em virtude das condições climáticas severas, e considerações do arquiteto foi


proposto um design simples e compacto (Figura 39), com materiais inovadores e boas
condições térmicas. Possui controle solar efetivo e tecnologia de tratamento e coleta
de água no local. Os elementos de construção foram racionalizados para atenderem
orçamento reduzido e restrições de tempo, bem como para reduzir o desperdício
durante a construção.

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Figura 37 - Planta térrea Rammed Earth House.

Fonte: http://www.steffenwelsch.com.au/residential/rammed-earth-house.html (2007).

Figura 38 - Pavimento superior Rammed Earth House.

Fonte: http://www.steffenwelsch.com.au/residential/rammed-earth-house.html (2007).

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Figura 39 - Fachada simples Rammed Earth House.

Fonte: https://inhabitat.com/gorgeous-rammed-earth-house-generates-all-its-own-energy-and-
captures-all-its-own-water-in-australia/ (2014).

A residência está de acordo com todos o princípio da bioclimática, aproveitando


o programa para setorizar os ambientes da casa de acordo com a energia solar
passiva aproveitando ao máximo a luz solar disponível. Áreas de serviço, como a
lavanderia e os banheiros estão virados para o sul, enquanto áreas de estar e os
quartos das crianças estão voltados para o norte. Quartos voltados para leste e oeste
têm apenas pequenas janelas para reduzir a ingestão de luz e calor. Todos os quartos
voltados para o norte têm grandes janelas que são ofuscadas pelo telhado beirais para
bloquear o sol alto do verão. No inverno, o calor do sol se acumula durante o dia no
concreto pisos e paredes de terra batida, os quais têm uma alta massa térmica, e
irradia para o interior espaços para aquecer a casa quando a temperatura cai à noite.
Além do sol um aquecedor (figura 40) é a única fonte de aquecimento no inverno e
ventiladores de teto eficientemente dispersar seu calor pela casa. Excelente
isolamento, proporcionado pelo teto e pelo grosso paredes, garante que o calor não
escape para fora.

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Figura 40 - Aquecedor Rammed Earth House.

Fonte: https://inhabitat.com/gorgeous-rammed-earth-house-generates-all-its-own-energy-and-
captures-all-its-own-water-in-australia/ (2014).

A coleta de água da chuva e a reciclagem de água também foram adotados, pois a


casa não está conectada ao abastecimento de água da cidade. Quatro tanques de
água da chuva estão localizados em um lado da casa e três no outro. O arquiteto do
projeto teve a ideia de expressar visualmente o tratamento da água e torná-la uma
parte explícita da composição arquitetônica. O telhado também compoem como um
dos elementos para captação da agua da chuva, esta se acumula na
calha e é alimentada através de tubos de queda nos tanques, que têm uma
capacidade total de retenção de 110.000 litros.

2.1.4 Projeto: Pavilhão da arquitetura em terra - Com os pés no chão

Ano: 2013
Autores do projeto: Abiola Akandé Yayi e Robert Soares
Localização: Niamey, Níger - África Ocidental.

Como parte do projeto "Uma indústria cultural em desenvolvimento: arquitetura


em terra", o Comitê Internacional para o Desenvolvimento dos Povos de Níger (CISP

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Níger), através do programa ACP-EU de apoio ao setor cultural, organizou um con-


curso internacional de ideias para um pavilhão de arquitetura em terra em Niamey,
capital de Níger, cujo mote era "Pas de futur sans culture" ou, "Não há futuro sem
cultura” (Figura 41) (BARATTO, 2013).

Figura 41 - Perspectiva externa.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-144701/les-pieds-sur-terre-projeto-vencedor-do-concurso-
internacional-de-ideias-pavilhao-da-arquitetura-em-terra (2013).

A equipe vencedora, composta por dois estudantes da Universidade Federal


de Uberlândia – Abiola Akandé Yayi e Robert Soares - utiliza a técnica de taipa de
pilão para propor um pavilhão que se assume como uma construção em terra crua -
que independe de materiais mais “nobres” - e que leva em consideração as condições
climáticas de Niamey como a insolação (Figura 42), e a orientação dos ventos, em
sua composição formal e espacial.
O objetivo do concurso era a concepção de um pavilhão da arquitetura em terra
que oferecesse um testemunho contemporâneo deste tipo de arquitetura, difundindo
as possibilidades oferecidas pelas técnicas de construção com materiais locais, em
particular a terra.

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Figura 42 - Corte em croqui mostrando a insolação e a chuva.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-144701/les-pieds-sur-terre-projeto-vencedor-do-concurso-
internacional-de-ideias-pavilhao-da-arquitetura-em-terra (2013).

O Pavilhão da Arquitetura em Terra, devido à proposta do concurso, deve


refletir em seu projeto arquitetônico a utilização da material terra desde os primeiros
croquis. A relação entre o sítio e o pavilhão também deve ser explícita, pois o território
africano possui particularidades que tornam necessário um olhar mais atento à suas
questões locais. Esse território é muito vasto e nele existem muitas nuanças, o que
tornam impossível pensar uma arquitetura única que se repetisse indefinidamente por
todo o continente.

Vencidos os preconceitos, a terra crua como material de construção ainda


se ajusta melhor à realidade socioeconômica africana, de modo geral.
Terra pode ser encontrada em praticamente qualquer lugar e se bem
trabalhado, este material oferece condições de habitabilidade superiores
à grande maioria dos materiais atualmente empregados na construção
civil. A terra ainda possui um valor simbólico que desde sempre esteve
associado à noção de cultura africana. Agora que a terra ainda pode
contar com a possibilidade de algumas melhorias tecnológicas, nada mais
natural que esse material possa voltar a ter o seu lugar de importância na
construção (PORTAL VITRUVIUS, 2013).

O projeto compõe dois volumes (Figura 43), sua implantação (Figura 44) se dá
em um nível térreo, com exceção do interior do bloco inferior que possui um desnível

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de 50 cm para baixo. O pavilhão conta com salão de exposição (Figura 45) de


maquetes e banners, o volume inferior conta com uma ludoteca que pode também
comportar exposições, e com uma biblioteca. A biblioteca conta com um espaço que
comporta uma mesa para leitura ou mesmo uma futura expansão, suportando uma
nova estante de livros. Esse volume possui estantes para livros espalhados por quase
todas as paredes em seu interior. Da biblioteca é possível ainda acessar um espaço
de descanso e leitura semicoberto que tem relação direta com acessos do hangar dos
artesãos. O pavilhão conta ainda com um pequeno cinema/teatro ao ar livre, que pode
acomodar pequenas mostrar de filmes e documentários. Os jardins fazem alusão às
piscinas de sal encontradas em Níger. Essa é uma atividade econômica que está
bastante enraizada à cultura do país.

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Figura 43 - Planta Baixa.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-144701/les-pieds-sur-terre-projeto-vencedor-do-concurso-
internacional-de-ideias-pavilhao-da-arquitetura-em-terra (2013).

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Figura 44 - Implantação.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-144701/les-pieds-sur-terre-projeto-vencedor-do-concurso-
internacional-de-ideias-pavilhao-da-arquitetura-em-terra (2013).

Figura 45 - Salão de exposição.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-144701/les-pieds-sur-terre-projeto-vencedor-do-concurso-
internacional-de-ideias-pavilhao-da-arquitetura-em-terra (2013).

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2.2 Estudo comparativo

O quadro comparativo sintetiza as características mais importantes relacionadas a


construção com a taipa. São abordadas as questões de materiais, ambiência em que
está inserido e o contexto local, procurando evidenciar os projetos executados e sua
relação com a terra, arquitetura e sustentabilidade conforme conceitos apresentados.
Os projetos em analises foram escolhidos em detrimento de suas diversidades
tipológicas e particulares, com o objetivo de demonstrar a aplicabilidade da taipa em
diferentes programas e premissas projetuais.

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2.2.1 Quadro comparativo dos projetos apresentados

Nome do Materiais construtivos Método construtivo Origem da Mão de obra


projeto Arquiteto Local Ano Interação local utilizados utilizado terra utilizada utilizada
Concreto para funda-
Piraci- ção, paredes de susten-
Uso da técnica Retirados de
Marcio V caba – tação em taipa de pilão, Taipa de pilão meca-
Casa Colina 2014 construtiva apa- uma jazida pró- Especializada
Hoffmann São vigas em concreto e co- nizada
rente. xima à obra.
Paulo berta em estrutura me-
tálica treliçada.
Releitura das tipolo-
gias das casas de Taipa de pilão, pau a
Atibaia - Concreto para fundação Mão de obra lo-
O Projeto Michel fazenda, integração pique com ripados de Comprada lo-
São 2013 e paredes de sustenta- cal capacitada
Responsável Habib da população para bambu, adobe e re- calmente
Paulo ção em taipa de pilão. em obra
auxílio na constru- boco de terra e cal.
ção da residência.
Se integra a paisa- A terra para a
Indigo Equipe de estu-
Rammed gem remota através taipa foi extra-
Valley, dantes voluntá-
Earth House – Steffen das texturas, forma, Madeira para estrutura e ída de um ter-
Victoria 2005 Taipa de pilão rios em lugares
“Casa de terra Welsch baixo gabarito e in- paredes de taipa reno a 25 quilô-
- Austrá- remotos e de-
batida” ternamente se volta metros da
lia sérticos.
ao ambiente. casa.
Os fluxos foram de-
terminantes, bem
como os elementos
Abiola Niamey, naturais do local,
“Les pieds sur
Akandé Níger - como a topografia e
terre” (Com Terra crua e fibras vege-
Yayi e África 2013 vegetação, e ainda Taipa de pilão Local -
os pés no tais
Robert Ociden- as atividades de-
chão)
Soares. tal senvolvidas local-
mente para exte-
nuar o programa
proposto.

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2.3 Resultados obtidos no quadro comparativo

O comparativo apresentado pelos estudos levantados evidencia as diferentes


tipologias, usos e características econômicas e o quanto estas se flexibilizaram para
atender o programa e os partidos adotados no projeto com o material da terra, não
necessariamente o uso da taipa como protagonista mas como um dos elementos
pertencentes ao conjunto de técnicas que possibilitaram construções ecologicamente
corretas, que evitam o consumo energético, aproveita os recursos locais e se adequa
de maneira responsável ao meio em que se insere adicionando outras técnicas de
bioconstrução, técnicas estas que extenuam á materiais e instrumentos tecnológicos,
os projetos analisados vão além do uso da taipa como bioarquitetura e somam os
fatores do clima e o modo de viver do entorno, a interação local já se faz pelo próprio
uso da taipa, uma vez que a utilização da terra nas construções é uma forma de
dialogar com o entorno e levar a natureza para o convívio, no entanto alguns projetos
vão além do uso da terra como interação local e representam uma forma de resgaste
da identidade de um povo, como o caso do projeto “Com os pés no chão”, dos
arquitetos Abiola Akandé Yayi e Robert Soares, no qual utilizou a terra para unificar a
edificação com o ecossistema e seu significado cultural para as pessoas que usariam,
dessa forma um dos conceitos de sustentabilidades demonstrados na pesquisa se faz
presente nesse projeto, uma representação de respeito com o meio, o melhor
aproveitamento das energias naturais dentro do contexto cultural de Niamey.
É possível verificar através dos materiais construtivos utilizados que o objeto de
estudo desta pesquisa não é o único que compõe a edificação, para viabilizar essas
construções e até para se adaptar ou se tornar como diretriz projetual os projetos
utilizam outros elementos construtivos para tornar viável, essa incorporação de outros
materiais agrega ao conjunto e possibilita uma variação de elementos de forma que a
taipa de pilão como principal material não perca sua importância.
Embora o foco da pesquisa seja a taipa contemporânea associada a tecnologia,
observa-se que há projetos contemporâneos que no entanto usam a taipa de pilão,
com sistema de forma por madeiras convencionais, situação que demonstra que o uso
da tecnologia atualmente pode ser usado como fator de valorizar a técnica vernacular
com maior desempenho e produtividade, porém esses casos se enquadram em

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construções de maior padrão, com o caso do projeto Casa Colinas, no qual foram
utilizados sistema de formas metálicas instrumentos pneumáticos de maior.
Um dos elementos da bioconstrução está relacionado a origem do material de
construção, é aproveitas os recursos locais, nesse requisito os projetos analisados
buscaram esse material no meio, uma vez que não se localizam em zonas
urbanizadas a busca pela terra utilizada torna-se mais viável, uma construção
ecologicamente correta, evita o consumo energético também através do fornecimento,
transporte de matéria prima, assim como a mão de obra utilizada, que também
representa uma função social, valorizar o trabalhador local mesmo não capacitado
para exercer tal técnica treinando-o, é uma forma de cultivar a cultura da construção
com terra.

3. RESULTADOS

Referente a pesquisa bibliográfica levantada, constatou-se que há alternativas


sustentáveis, dentro do amplo conceito demonstrado, com mais possibilidades do que
apresentadas na introdução.
A taipa como método de construção é apenas uma das alternativas e, como visto
nos estudos apresentados, pode ser associada ao concreto e madeira. Pôde-se
entender que são necessários fatores relacionadas a interação bioclimática e cultura
para enquadra-lo efetivamente como construção bioconstrutiva.
A análise dos quatro projetos apresentados, demonstra a relevância do local em
se insere o projeto e o quanto ele influencia no conjunto da obra. A partir deste se
estabelece as diretrizes de projeto que se enquadram na bioarquitetura, exceto o
primeiro estudo - Casa Colinas de Marcio V. Hoffmann, no qual o uso da taipa foi
determinante como sistema construtivo, pois o local no qual se insere independe do
meio - um condomínio residencial. No entanto, foi seguido o partido do vínculo
simbólico com a paisagem natural através da terra e a extração da mesma originou-
se das proximidades da obra. O segundo projeto partiu de premissas do
ecologicamente correto, culturalmente rico e socialmente justo, como definidos pelo
arquiteto Michel Habib, o Projeto Responsável exemplificou a forma como o projeto
arquitetônico estabeleceu o aproveitamento dos recursos naturais, promoveu a
valorização do entorno desde sua concepção por toda sua existência, esse projeto
mostra a possibilidade da construção pela própria comunidade, no qual o próprios
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habitantes podem desenvolver a técnica, mesmo a manual e ainda demonstrou o valor


do conhecimento da origem e história de cada material empregado.
O seguinte estudo, Rammed Earth House – “Casa de terra batida”, se refere a
outro contexto de ambiência, no entanto também mostra sua relação com o meio
ambiente e a possibilidade de adequar a taipa a outras situações territoriais. Já o
projeto “Les pieds sur terre” (Com os pés no chão), transmitiu a mensagem de que
vencer o preconceito em relação ao uso da terra resulta em construções de grande
valor cultural e se adapta a realidade social dos habitantes.
O uso da taipa em cada projeto só foi possível devido aos fatores bioconstrutivos,
em todos os projetos coube a leitura sensível do espaço e sua relação com a cultura
local a partir disso o projeto se estruturou e resultou em edificações de alta qualidade,
excelentes resultados estéticos e confortáveis ambientalmente.

4. DISCUSSÃO

Tendo como base a pesquisa bibliográfica, pode-se notar os diferentes aspectos


da bioconstrução e que a técnica construtiva da taipa de pilão é apenas uma das
diversas técnicas bioarquitetônicas disponíveis, a taipa uma vez escolhida cabe
analise de sua aplicabilidade dentro dos conceitos bioconstrutivos, a partir disso sua
empregabilidade depende de outros fatores, como a composição do solo, logística e
ambiência, sendo possível o emprego de meios tecnológicos.
Em comparação com as hipóteses da pesquisa, a utilização da taipa na construção
contemporânea aplicada a construção de habitação para a população mais
desprovido seria um desafio talvez impraticável, uma vez que a densidade
demográfica se situa em zona urbana, e a quantidade de construções existentes para
atender um superlotamento de habitantes provocado por questões econômicas e
sociais , sendo extremamente limitada e escassa a utilização de materiais locais,
essas construções se tornam mais cabíveis em zonas rurais, onde se pode utilizar da
bioclimática, materiais locais para se usufruir do ambiente natural. entretanto, pode-
se atingir os objetivos da pesquisa no que tange o compartilhamento de informações
para que de certo modo seja possível demonstrar a possibilidade da taipa como
construção eficaz e até produtiva em determinadas regiões, integrar a terra em
projetos de arquitetura atualmente é extremamente possível, inclusive com alto
desempenho tecnológico como visto em alguns dos estudos apresentados, cabe ao
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arquiteto um olhar sensível ao meio e um estudo aprofundado de acordo com cada


caso apresentado e sua aplicabilidade tecnológica.

5. CONCLUSÕES

A construção desenfreada para atender as necessidades do mundo moderno


passa por cima do meio ambiente e ignora fatores ecologicamente sustentáveis,
sendo eles a preocupação da origem dos materiais utilizados, o modo como
fornecedores lidam e extraem esses materiais da natureza e principalmente a forma
como são destinados, ou seja, os resíduos sólidos, líquidos e gasoso, essa pratica se
tornou incapaz de sanar o déficit habitacional, no entanto a construção civil tem seu
papel fundamental para o desenvolvimento sustentável global. O ambiente construído
sintetiza as relações entre construção e meio ambiente e a utilizado de técnicas
construtivas que possam amenizar o impacto ambiental torna-se uma alternativa para
contornar os efeitos negativos causados ao meio ambiente, voltar o olhar ao passado
e buscar alternativas vernaculares de construção, contudo, aplicando praticas
tecnológicas que se adaptam aos tempos atuais esses tipos de construção,
introduzindo a bioarquitetura como pratica de construção sustentável.
A arquitetura contemporânea já busca elementos bioconstrutivos, mesmo que
indiretamente, como a busca por espaços claros, com iluminação naturais, estratégias
bioclimáticas de melhor aproveitamento das condições naturais, ligação entre com
exterior, no qual o usuário sinta a relação do "eu" com o espaço provocando o
sentimento de bem estar e de pertencimento ao local, tendo essas premissas e o
conceito apresentado de bioarquitetura, cabe pensar nos materiais a ser utilizado, a
terra condiz com esses elementos, possui a capacidade de fazer a ligação do ser
humano com a natureza, usar a terra na arquitetura é trazer a natureza para a morada
e uma técnica comprovadamente viável através dos projetos analisados é o uso da
taipa de pilão.
A taipa faz parte da cultura de vários povos, tem seu significado cultural para
várias pessoas e representa a história através das construções mundial, com o tempo
incorporou-se novos instrumentos, ferramentas e maquinários mudando-se o método
de se utilizar nas construções atuais e teve suas modificações relacionadas a
concepção arquitetônica, associada com outros materiais construtivos, no entanto, o
modo de execução seja manual ou mecanizado, quando integrada em um projeto com
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as logicas bioconstrutiva, de mercado, transporte, fornecimento, ambiência pode ser


uma excelente solução pontual para as construções atualmente.
Solução pontual que se incentivada e pertencente aos interesses econômicos
poderia se tornar uma forma de construção aplicável nas comunidades, assim como
é feito atualmente com o sistema construtivo tradicional, o Brasil possui um imenso
potencial, no entanto a ignorância política, cultural e econômica torna o desafio de
aplicar e aprimorar a técnica ainda maior.

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