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“Agricultura do Não Fazer” de Masanobu Fukuoka


Hoje vou falar da Agricultura Natural e do seu idealizador, tema que abordo em minha
aula de Agroecologia do Curso de Horta, da Escola Municipal de Jardinagem.

Masanobu Fukuoka nasceu na Ilha de Shikoku, no Japão, em 1913. Na juventude,


abandonou a propriedade rural da família e foi para Yokohama, onde estudou
Patologia Vegetal – fungos em Citrus – e trabalhou na Divisão de Inspeção de Plantas
na aduana.

Aos 25 anos, um evento mudou sua trajetória: foi internado no hospital com
pneumonia aguda. Deprimido, colocou em dúvida o conhecimento humano. Os
conceitos e a noção de existência tornaram-se verdades vazias. Pediu demissão.

Voltou-se para a observação da Natureza. Ao passar por um campo abandonado, sem


cultivo havia anos, viu brotar plantas saudáveis de arroz entre o mato. A partir daí,
repensou a agricultura tradicional japonesa de plantio de arroz, feita em semeaduras
sobre campos inundados.

O seu retorno para as terras da família, na Baía de Matsuyama, levou-o a praticar e


desenvolver a “filosofia” de não arar nem compostar ou inundar os campos de arroz.

Sua técnica, aperfeiçoada durante os 38 anos em que permaneceu na propriedade,


consistia em fazer a rotação de culturas de arroz e cereais, juntamente com o trevo
branco, utilizando a palhada das culturas como cobertura. A água se mantém sobre o
campo somente durante as chuvas das monções, para que o arroz possa brotar. O solo
melhora a cada estação. Melhor estruturado, mais fértil e com maior capacidade de
reter a água. Fazia parte de sua técnica acrescentar esterco de cabras e galinhas.

Num pomar de 6 hectares de tangerinas, as árvores só são podadas quando se


desviam da sua forma natural. As verduras e legumes são semeados por “muvuca”
antes das chuvas, sem grande preparo do solo. É dele também a “ideia” de semear
envolvendo as sementes com argila – bolas de sementes, “nendo dango”, protegendo-
as de insetos e animais, e liberando-as para germinar após as chuvas.

Filosofia

Em sua filosofia, influenciada pelo Zen Budismo e Taoísmo, a cura da terra e a


purificação do espírito humano são um só processo. O final da Segunda Guerra, assim
como as consequências da chamada “Revolução Verde”, foram determinantes. A
AGRICULTURA NATURAL surge em oposição à AGRICULTURA QUÍMICA.

Natureza

A Natureza não muda. A Agricultura Natural vem do “Centro” imutável. Quanto mais
se afasta da Natureza, mais se afasta do Centro. A Natureza não muda, mas a forma de
reconhecê-la muda de uma era para outra. A humanidade não conhece a Natureza. A
compreensão da Natureza está além do alcance da inteligência humana.

Os 4 Princípios da Agricultura Natural

1 – NÃO CULTIVAR: não arar nem revolver. A terra cultiva-se a si própria, pela
penetração das raízes e a atividade de microorganismos, pequenos animais,
minhocas...

2 – NÃO UTILIZAR FERTILIZANTES QUÍMICOS NEM COMPOSTOS PREPARADOS: o


homem brutaliza a Natureza e, apesar de seus esforços, não consegue remediar as
feridas que causa. Como consequência, provoca o esgotamento do solo. Entregue a si
próprio, o solo mantém naturalmente a fertilidade, conforme o ciclo de vida das
plantas e dos animais.

3 – NÃO DESPRAGUEJAR: nem mecânica nem quimicamente. As plantas “daninhas”


são fundamentais na construção da fertilidade do solo e no equilíbrio da comunidade
biológica. Controlar as ervas daninhas, mas não eliminá-las.

4 – NENHUMA DEPENDÊNCIA DE PRODUTOS QUÍMICOS: ao aparecerem plantas fracas


– por práticas antinaturais como lavra e fertilização – as doenças e desequilíbrios de
pragas tornam-se problema. A Natureza, deixada só, encontra-se em perfeito
equilíbrio, entre pragas e predadores.

Suas práticas incluíam adubação verde, cobertura permanente do solo e soltura de


patos nas áreas de cultivo, adubando e controlando as daninhas.

A propriedade de Fukuoka tornou-se um ponto de interesse e pesquisa, atraindo


pesquisadores, agricultores e estudantes. Em 1975, lançou o livro “A Revolução de
uma Palha”. Sua simplicidade no viver e o desenvolvimento da sensibilidade inspiram
pessoas em todo o mundo até os dias de hoje.

Até a próxima postagem da Escola Municipal de Jardinagem!

BRIGITTE BAUM. Formada em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC, com


Especialização em Planejamento Turístico pelo SENAC/CEATEL. Atuou por 9
anos em DEPAVE 1 - Divisão de Projetos e Obras da SVMA, em projetos de
reforma e implementação de parques, com enfoque em desenho universal e
playgrouds infantis. Desde 2015 é professora da UMAPAZ/EMJ nos cursos de
Recursos Paisagísticos, Sementes, Horta e Desenho à Mao Livre no Paisagismo.
Permacultora e agroflorestora, implantou o Jardim de Chuva na UMAPAZ.

Bibliografia

FUKUOKA, Masanobu. A Revolução de uma Palha: uma introdução à vida


selvagem. 2ª edição.Porto: Via Optima, 2008

FUKUOKA, Masanobu. Agricultura Natural: teoria e prática da filosofia verde.


São Paulo: Nobel, 1995

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