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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

Pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho


Toxicologia

Análise do artigo “Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal”

Discente: Daniel Salvaia Camilo

O presente trabalho avaliou, através de uma pesquisa transversal, a exposição


ocupacional a agrotóxicos em uma amostra de 48 agricultores que frequentavam a associação
de agricultores do município de Icó, região centro sul do estado do Ceará, através de
questionário de autopreenchimento e sigiloso, fundamentado na literatura da área (FREITAS
et al., 2007; CERQUEIRA et al., 2010)

Observou-se que a amostra da população era composta quase integralmente por


pessoas do sexo masculino (97,91%), com maior concentração na faixa etária de 41 a 59 anos
( 70,83), os demais se encontravam nas faixas entre 24 a 40 anos, com 16,66%, e com 60 anos
ou mais, no valor de 12,5 %.

A maioria dos participantes (47,91%) possuiam ensino fundamental incompleto,


seguido por pessoas não alfabetizadas (35,41%), e o restante, que alcançaram o ensino médio,
sendo apenas de 6,25%. O artigo relaciona com propriedade, baseado em estudos anteriores,
o quanto o baixo nível de escolaridade pode influenciar na intoxicação dos agricultores, devido
à não interpretação técnica, ou mesmo capacidade de leitura, das informações nos rótulos dos
produtos utilizados (CERQUEIRA et al., 2010; PERES e MOREIRA, 2007; SIQUEIRA E KRUSE,
2008).

A Grande maioria dos entrevistados (83,33%) afirmou utilizarem agroquímicos nas


operações agrícolas, sendo que o restante (16,66%) declarou não utilizarem atualmente por
terem vivenciado reações adversas no passado. Entre os agricultores, 52,08% afirmaram
utilizar agroquímicos por um período diário superior a 6 horas, e 31,25% afirmou utilizarem um
período inferior à 6 horas diárias. O autor frisa que o período de exposição aos agroquímicos
não se limita somente à aplicação do produto, mas também às operações de preparação e
mistura da calda, bem como a limpeza dos equipamentos.

Entre as substâncias mais utilizadas, conforme declaração dos agricultores, 52,33%


disseram utilizar agroquímicos “organofosforados”, seguido por “herbicidas” (27,90%),
“piretróides” (5,81%) e agroquímicos “não identificados” (13,95%). A grande quantidade
agroquímicos não identificados, segundo o autor, deriva dos agricultores não conhecerem a
nomenclatura das substâncias utilizadas.

Segundo a literatura, a toxicidade dos agroquímicos organofosforados provocam o


surgimento de doenças gastrointestinais, miose, taquicardia, arritmias, fraqueza, convulsões e
diversos distúrbios do sistema nervoso (ANDRADE-FILHO; CAMPOLINA; DIAS, 2001; PERES;
MOREIRA, 2007). No estudo, somente 54,16% consideraram estes produtos prejudiciais à
saúde, e mesmo entre os que consideram prejudicais, o autor informa que os relatos
demonstram falta de conhecimento do potencial tóxico destas substâncias e dos cuidados
necessários, bem como de alternativas técnicas ao uso.
Entre os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) registrados pelo grupo, foram
encontrados: óculos de segurança, luvas, máscara, chapéu, botas e roupas de proteção. Foi
verificado que 72,94% dos agricultores se utilizam de um a dois destes equipamentos acima
elencados, 10,41% se utilizam de mais de dois equipamentos, e somente 2,08% declararam
utilizar todos os equipamentos de proteção individual listados.

Desta forma, observou-se que o grupo se encontra vulnerável ao riscos de intoxicação


por agroquímicos. Entre os principais fatores determinantes, o autor elencou a baixa
escolaridade do grupo, ausência de investimento em equipamentos de proteção (devido à
situação econômica, principalmente), ausência de treinamento e suporte técnico no
manuseios das substância, ausência de informações dos potenciais riscos de intoxicação e o
tempo e frequência de exposição aos agentes de risco.

Sugere-se então pelo autor, que os órgãos competentes (agricultura, saúde e meio
ambiente) promovam projetos e campanhas de prevenção e orientação à população, de modo
a se conscientizarem dos perigos existentes e da necessidade de procedimentos adequados no
manuseio destas subtâncias, bem como dos equipamentos de proteção necessários.

Referências:

ANDRADE-FILHO, A.; CAMPOLINA, D.; DIAS, M.B. Toxicologia na prática clínica. Belo Horizonte,
Folium, 2001.

CERQUEIRA, G. S.; ARRUDA, V. R.; FREITAS, A. P. F.; OLIVEIRA, T. L.; VASCONCELOS, T. C.;
MARIZ, S. R. Dados da exposição ocupacional aos agrotóxicos em um grupo assistido por uma
unidade básica de saúde na cidade de cajazeiras, PB. Rev. Intertox de Toxicologia, Risco
Ambiental e Sociedade, v.3, n.1 Nov/Fev, 2010.

FREITAS, A. P. F.; PINTO, R. H.; LIMA, T. A. J.; VASCONCELOS, T. C.; CERQUEIRA, G. S.;
WANDERLEY, L. W. B.; MARIZ, S. R.; DINIZ, M. F. F. M. Exposição ocupacional de trabalhadores
de postos de combustíveis do sertão Paraibano. In: XV Congresso Brasileiro de Toxicologia.
Rev. Bras. de Toxicologia, v,20, n.1, p. 310-31, 2007.

MARTINS, M. K. S.; CERQUEIRA, G. S.; SAMPAIO, A. M.; LOPES, A. A.; FREITAS, R. M. Exposição
Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal. RevInter Revista Intertox de
Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6-27, Out. 2012.

PERES, F.; MOREIRA, J. C. Saúde e ambiente em sua relação com o consumo de agrotóxicos em
um pólo agrícola do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23,
n. 4, p.612-621, 2007.

SIQUEIRA, S. L.; KRUSE, M. H. L. Agrotóxicos e saúde humana: contribuição dos profissionais do


campo da saúde. Rev. Esc. Enferm., São Paulo, v.42, n.3, Sept. 2008.

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