Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
!
!
!
!
!
!
ESTUDO DIRIGIDO
!
!
!
!
!
Bruna Fernanda Tolentino Moreira
!
!
!
!
!
!
!
!
!
!
!
Disciplina: Seminários Interdisciplinares II
Professora: Carla Capanema
!
!
!
BELO HORIZONTE
2018
!
1. Escreva sobre o que você aprendeu ao longo do curso sobre esse dispositivo de
construção de casos no trabalho interdisciplinar.
!
Ao longo do curso de psicologia, a discussão sobre o trabalho interdisciplinar tem
pouco espaço, ou, ao menos, menos espaço do que deveria. Assim, essa matéria
proporcionou uma das primeiras oportunidades de discutir a construção do caso clínico no
trabalho interdisciplinar.
Pelo que foi trabalhado ao longo da disciplina, aprendi que a construção do caso
clínico é uma construção democrática que tem a intenção de substituir a antiga, porém
ainda presente, disputa pela localização da causa de um transtorno em um local
específico. Para que essa construção seja realizada, é preciso considerar que cada caso
possui diversos protagonistas que, cada um a sua forma, devem contribuir com esse
processo. É nessa interação e construção conjunta que cada um desses protagonistas é
capaz de reconhecer o seu não-saber e, a partir daí, buscar respostas não mais no
conhecimento específico de cada um, mas todos a partir do paciente. Estabelecendo,
assim, a essência do trabalho interdisciplinar.
!
2. A partir do percurso que realizamos no curso, comente a seguinte passagem de
Japiassu (1994): “ora, ao destruir a cegueira do especialista o conhecimento
interdisciplinar vai recusar o caráter territorial do poder pelo saber”.
!
Como o próprio Japiassu (1994) traz em seu texto “A questão da
interdisciplinaridade”, a universidade, em diversos aspectos, ainda se trata de um
ambiente muito conservador, construído sobre uma noção que deposita grande valor
sobre a especialização e objetividade do conhecimento produzido. A verdade é que, sob
esse título de especialização, disfarça-se uma crescente fragmentação do conhecimento
produzido, construindo distâncias cada vez maiores entre profissionais, que, encerrados
nos seus limitados campos de expertise, ocupam-se de partes cada vez menores e
desconsideram o todo.
O campo da saúde, por exemplo, é muito marcado por esses distanciamentos e
disputas de poder. Por possuir tantos e tão diversos profissionais, cada um deles parece
estar em uma constante busca por afirmar a sua relevância, o que, muitas vezes, passa
pelo desmerecimento dos demais. Assim, por vezes, os departamentos das universidades
parecem refletir esse pensamento, cultivando rivalidades que contribuem apenas para o
enfraquecimento do campo. Esses movimentos, no entanto, não se restringem à saúde,
mas, infelizmente reproduzem-se em todo o meio acadêmico.
A proposta do trabalho interdisciplinar é justamente romper com essa tendência
que se instaurou no meio acadêmico. Assim, ela é uma proposta que questiona o que já
está instituído, fixado e aceito e, por isso, é incômoda e é recebida com grande
resistência. O interdisciplinar pretende movimentar toda uma estrutura de saber pré-
concebido, pretende ser um “princípio novo de reorganização das disciplinas científicas e
de reformulação das estruturas pedagógicas de seu ensino”. O objetivo dessa abordagem
interdisciplinar não é, no entanto, criar uma espécie de “super-ciência” mais objetiva que
as outras, mas sim uma nova abordagem, um novo paradigma.
Assim, a proposta interdisciplinar seria, por exemplo, de uma aproximação dos
saberes das diversas áreas do campo da saúde. O que não significa a hierarquização ou
sobreposição desses, mas a construção de uma prática que se proponha a olhar para a
saúde do indivíduo em sua integralidade e complexidade. Ao longo do curso e das
vivências experimentadas neste, essa nova abordagem se mostrou possível a partir do
estabelecimento de momentos em que os diversos profissionais que atendem um
paciente, por exemplo, possam sentar-se para ouvir uns aos outros e, juntos, construírem
o caso clínico.
!
3. Segundo Judith Miller (2013), “esse traço de união, [o hífen entre o inter e o
disciplinar] é o mais importante no inter-disciplinar, pois marca um pequeno espaço
que não quer dizer nada. Um simples hífen designa, de certa maneira, um vazio. Um
vazio pode indicar o lugar de uma ausência vibrante” Como você aplicaria essa
passagem do texto à prática do psicólogo?

Por meio dessa passagem, Judith Miller pretende falar sobre a importância de
reconhecer o vazio, o não-saber. É essa ausência que permite acolher o novo, o
desconhecido com uma postura de abertura e livre de pré-julgamentos. No trabalho
interdisciplinar, é necessário apresentar tal abertura ao se relacionar com outros
profissionais, por exemplo, tendo consciência de que não se conhece as dificuldades
enfrentadas por cada um em sua especialidade.
A prática do psicólogo requer diariamente o reconhecimento desse não-saber.
Diante de um novo paciente, o psicólogo deve sempre adotar uma postura de acolhimento
e praticar uma escuta clínica de qualidade. No entanto, após essa primeira escuta é
necessário que o profissional tenha consciência de que aquilo que lhe foi relatado é
apenas uma pequena parte do todo: uma parte que se delimita a partir da subjetividade
do paciente e daquilo que ele se sentiu confortável para relatar. Assim, deve-se manter
em mente que, mesmo tratando-se do mesmo paciente, a cada encontro é preciso estar
preparado para acolher esse vazio, esse não-saber.
!
4. O que de mais relevante você levará de aprendizado desta disciplina? Disserte
sobre este ponto.
!
A disciplina foi relevante para a minha formação em diversos aspectos: por
promover uma discussão sobre o interdisciplinar e diferenciá-lo do multi e do
transdisciplinar; por propiciar contato com profissionais que atuam em campos da
psicologia, por vezes, pouco explorados ao longo do curso; e por proporcionar um espaço
em que a discussão sobre a prática psicológica é possível.
Para mim, no entanto, o mais relevante desses aspectos de certa maneira une os
três já mencionados: a oportunidade de ouvir meus colegas de turma refletirem sobre a
interdisciplinaridade em sua práticas. Foi surpreendente perceber como, mesmo estando
no mesmo período da graduação, percorremos trajetórias muito diversas dentro e fora da
universidade. Essa diversidade proporcionou uma troca enriquecedora, em que foi
possível me reconhecer em muitos dos desafios enfrentados por cada um.
Infelizmente, não existem muitos momentos no curso em que essa troca seja
possível. Geralmente, essa conversa ocorre muito dentro do meu grupo de amigos, que é
limitado a seis pessoas, e, mesmo nesse lugar, já é de extrema importância. Poder ter
esse tipo de comunicação com toda a turma foi uma experiência que proporcionou grande
apoio e aprendizado.
!
!
!
!
!
!
!
!
!
!

Você também pode gostar