Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2016v28n48p15
Miguel G. Arroyo1
RESUMO
O texto reflete sobre a Base Nacional Comum Curricular, visando aprofundar a análise
dos significados ético-políticos de seus pressupostos. Nesse sentido, discute o lugar dos
corpos reais, de educadores e educandos, produtores de culturas corporais, na definição
do documento do componente Educação Física. Para tanto, o texto traz uma pergunta
mais focada: que embates provoca a BNCC na Educação Física, nos conhecimentos e
no trabalho de seus profissionais?
1 Doutor em Educação pela Stanford University. Professor Titular Emérito da Faculdade de Educação da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutor Honoris Causa da Universidade Federal Fluminense
(UFF). Contato: g.arroyo@uol.com.br.
16
não emancipados são obrigados a repensar de seus profissionais propõe a BNC? Incor-
esses olhares que privilegiam processos de pora esses tensos exercícios de ser criança,
autoemancipação dos corpos. Se impõe a adolescente, jovem-adulto?
pergunta: de que sujeitos corpóreos falam Os profissionais da Educação Física
as políticas curriculares de Educação Físi- sabem com que corpos trabalham nas es-
ca? Os veem na concretude dos contextos colas públicas. Como são tratados pela so-
históricos e das vivências corpóreas a que ciedade, pelos órgãos da “ordem”. Milhares
a sociedade os condena? condenados como violentos, extermináveis
A Educação Física e seus currículos e exterminados nos fins de semana (de cada
e profissionais tem tido o mérito de trazer os três, dois negros). Como são pensados pela
corpos para os currículos. Trazer pedagogias sociedade (80% a favor do rebaixamento
para um pensamento pedagógico que não da idade penal), a favor de entregar esses
vê nos educandos mais do que mentes a corpos infantis-adolescentes à justiça penal,
instruir, letrar, ensinar. Nos faltam pedago- porque pensados tão violentos que são sub-
gias dos corpos. A Educação Física e seus -humanos, ineducáveis? (Arroyo, 2015d e
profissionais tem afirmado que educamos 2015c; Waiselfisz, 2014). Na BNC haverá
mentes corpóreas. Tem tido a função de lugar para esses corpos condenados? Quan-
reeducar o próprio pensamento pedagógico do esses corpos concretos são ignorados
para ver sujeitos corpóreos. Para ter de ver toda proposta curricular de educação na
os educandos carregando às escolas públi- BNC e especificamente de Educação Física
cas suas experiências corpóreas radicais a estará fora de foco.
exigir outras pedagogias dos corpos (Arroyo Um exercício revelador esperado
e Silva, 2012a). dos profissionais da Educação Física: na
Nesse livro “Corpo-Infância. Exercí- BNC e nos currículos de formação profis-
cios tensos de ser criança – Por outras pe- sional, nas pesquisas e análises há lugar
dagogias dos corpos”, trazemos 14 textos de para ver os corpos concretos nas tensas
profissionais da Educação Física mostrando experiências do viver, sobreviver, resistir?
crianças-adolescentes vivenciando corpos- Há lugar para exercícios tão tensos? Há
-precarizados, mas também corpos resisten- lugar central para os sujeitos corpóreos? Se
tes, corpos sujeitos de educação, produtores forem ignoradas todas as propostas cairão
de autoimagens corpóreas e sociais. em um vazio social, político. Pedagógico.
Da diversidade de análises dos
profissionais da Educação Física vêm lições
de extrema radicalidade para a educação, Corpos reais produtores de culturas cor-
para o pensamento pedagógico: é possí- póreas
vel abrir-se aos tensos exercícios de ser
crianças-adolescentes-jovens-adultos que Os corpos produzem culturas,
levam às escolas seus corpos precarizados, valores, identidades. Há pedagogias dos
mas resistentes? Uma pergunta obrigatória corpos, são reconhecidas nos currículos e
na análise da BNC: há lugar para milhões nas pedagogias escolares? Os estudos de
de corpos precarizados e resistentes? Que Educação Física tem destacado a necessi-
currículo de Educação Física e de formação dade desse reconhecimento e de um trato
20
pedagógico da cultura corporal. Trazer a nos educandos serem sujeitos – com seus
cultura corporal para os currículos tem sido coletivos sociais, raciais – de produção,
uma rica contribuição da Educação Física. manutenção, socialização da riqueza de
Os currículos e as diretrizes curriculares culturas corpóreas. Não é qualquer didática
esqueceram que são a síntese da cultura e que dá conta de um dos processos tão ricos
se empobreceram ao limitar-se a transmitir e complexos como a formação cultural e,
conteúdos de aprendizagem, habilidades, sobretudo, como o reconhecimento de
domínios avaliáveis e quantificáveis. O C serem sujeitos de culturas corpóreas.
do MEC não é mais de Cultura, mas de Uma pergunta obrigatória no diálo-
Conteúdos. go com a BNC: que compreensão predo-
Alertar os currículos de serem a mina de direito à cultura corpórea? Chega
síntese da cultura e que todo conhecimento a profundidade e complexidade, a riqueza
é uma produção da cultura humana e que de nossa cultura corpórea? Esta é reduzida
os corpos são produtores e expressões da a brincadeiras, jogos, esportes, ginásticas,
cultura – culturas corpóreas – tem sido lutas e aventuras? Os corpos não são produ-
uma contribuição de extrema relevância tores de culturas apenas nessas atividades.
pedagógica dos profissionais e dos estudos Através da história os corpos produzem
da Educação Física. Um dos componentes culturas, valores, identidades, concepções
da função da educação entendida como de ser humano para além dessas atividades
formação humana plena é o desenvolvi- esportivas e competitivas e de movimen-
mento da dimensão de todo ser humano tos. Dimensões importantes, mas que não
como sujeito cultural, produtor da cultura esgotam o reconhecimento do direito à
e humanizado na cultura. cultura corporal.
Trazer essa dimensão tão radical Há outras dimensões da formação
à formação dos educandos, à cultura cor- humana a exigir ser reconhecidas e trabalha-
pórea ou a saber-se sujeitos de cultura em das no direito à cultura corporal. A cultura
sua condição corpórea é uma contribuição camponesa do trabalho é inerente à cultura
de extrema relevância para o pensamento corporal. Como a cultura machista é ineren-
pedagógico atual tão empobrecido ao te ao culto da força do corpo. O movimento
limitar-se a aprendizagens de domínios feminista traz como um traço afirmativo e
avaliáveis. Nessas políticas de avaliação emancipatório o corpo. Os movimentos
não haverá lugar para a formação cultural e negro e juvenil fazem dos corpos expres-
menos para a avaliação da cultura corpórea sões de sua cultura. Essas outras dimensões
porque não caem na estreiteza de domínios tão centrais das culturas corpóreas não
quantificáveis. merecem fazer parte do reconhecimento
A análise da BNC ficará enriquecida que a Educação Física destaca de sermos
se destacado o direito dos educandos a sujeitos-produtores de culturas corpóreas?
saber-se sujeitos de produção da cultura Haverá lugar na BNC para essa riqueza de
corpórea, se destacado o direito dos educa- dimensões das culturas corpóreas?
dores a conhecerem a especificidade da cul- A Educação Física ao destacar o
tura corpórea na formação cultural e ainda o direito à cultura corpórea levanta uma
seu direito ao domínio das artes de valorizar questão urgente: os seus profissionais se
V. 28, n° 48, setembro/2016 21
nas linguagens dos corpos poderá vir uma Humanos? Que Outros corpos desde o gri-
crítica ao estilo inerente à BNC: criticar essa to Terra a Vista foram pensados e tratados
pretensão de pensar e impor um currículo como a-margem da Nação, escravizados?
único, nacional, comum e exigir que os Pensados como sub-humanos, sub-cida-
currículos reconheçam e incorporem a dãos? Logo a-margem da colonização, da
pluralidade de linguagens corpóreas que República e da igualdade democrática? À
constitui a diversidade de experiências margem dos currículos?
corpóreas. É simbólica a fotografia do Brasão
O caminho para reconhecer essa da República ainda trabalhada nas esco-
rica diversidade de linguagens corpóreas las: que rostos, que corpos representam a
será reconhecer a diversidade de corpos, República proclamada? Corpos de homens
de sujeitos, de coletivos que são os sujeitos brancos. O slogan: Ordem e Progresso.
de nossa cultura tão plural. Volta a pergun- Essa fotografia poderia ser comparada com
ta mais instigante para a Base Nacional outra mais recente: a fotografia carregada
Comum: de que sujeitos fala? Reconhece de simbolismo da posse ministerial do go-
essa pluralidade de sujeitos, de corpos, de verno “provisório”. São os mesmos corpos
linguagens? Será aconselhável aproximar- da Nação: homens, brancos. Os corpos, o
-nos das artes, reconhecem a centralidade gênero, a raça da Nação. É o mesmo slogan
dos corpos, artes-corpos se inspiraram ao de governo da Nação: Ordem e Progresso.
longo da história. As artes pensam, interpre- Como a nos dizer: esta Nação sempre teve
taram os corpos com maior profundidade e tem donos. São os Corpos da Nação de
do que as ciências. As pinturas rupestres, a homens brancos donos de bens e do bem.
cultura e religiosidade africana, a escultura Não os corpos comuns, do povo comum,
greco-romana, medieval se alimentam dos sem bens e não reconhecidos do bem, nem
corpos. Reconhecem a corporeidade e sua dos corpos da cor, do gênero que continuam
força socializadora, pedagógica. às-margens do poder, da justiça, da renda,
da terra, do agronegócio, do espaço, da
saúde, da educação.
Que Corpos da Nação? Da área da Educação Física vem
essas indagações tão desestruturantes nos
Lembrávamos que da Educação tratos históricos dados aos corpos na forma-
Física vêm indagações fortes à pretensão ção da Nação. Desses lugares – não-lugares
da Base Nacional Comum de impor conhe- ou lugares marginalizados dos corpos ne-
cimentos, processos de aprender, valores, gros, indígenas, camponeses, do trabalho,
culturas, identidades nacionais, comuns, das periferias (que lentamente chegam às
básicos. Pensando especificamente na cul- escolas públicas, à EJA) vêm indagações
tura corpórea, nas linguagens dos corpos, críticas radicais às pretensões da BNC, de
na educação da phisis, da corporeidade impor um Corpo da Nação, uma Cor da
ou identidade corpórea uma indagação se Nação, um Gênero da Nação.
impõe: cabe um paradigma comum, único, Volta a hipótese que nos acompa-
nacional, básico? Que corpos tem sido nha: dos corpos, das vivências sofridas, dos
reconhecidos em nossa história, os Corpos corpos segregados, oprimidos, precariza-
Nação? Os Corpos Cidadãos? Os corpos dos, dos corpos da pobreza, do trabalho...
V. 28, n° 48, setembro/2016 23
para a BNC como profissionais que traba- valores, identidades, culturas de corpos,
lham as culturas, identidades corpóreas: de trabalho aprendem nessas experiências
haverá lugar nos Currículos da BNC para extremas precoces e pela vida afora? Esses
os Corpos-Trabalho? As crianças, adoles- saberes, culturas corpóreas, identidades,
centes, jovens-adultos em seus itinerários valores serão reconhecidos no trabalho
para a escola pública, para a EJA são vidas- dos corpos na Educação Física? E na BNC?
-corpos marcados pelo trabalho. Trazem as Há estudos que enfatizam que o
marcas do trabalho. De que trabalhos vêm trabalho é princípio educativo, humaniza,
para a escola, para a EJA e a que trabalhos mas esses corpos-trabalho chegam com
voltam? A história desses corpos se mistura marcas profundamente desumanizantes.
com o trabalho. Traz as marcas até físicas, Corpo-vivências de exploração do traba-
tatuadas pelo trabalho, por acidentes de lho desde a infância não humanizam, não
trabalho. Pela exploração do trabalho desde constroem uma cultura, uma identidade
a infância. corpóreas humanizadoras. A BNC do MEC
Aos profissionais da cultura cor- reconhece esses processos humanizadores-
pórea cabe questionar com que olhar ver -desumanizadores como conteúdos do
esses Corpos-Trabalho e com que olhares currículo nacional?
interrogantes nos olham. Não são os corpos Que lições tirar? Deixar que esses
brancos, sadios da foto da posse do minis- Corpos-Trabalho humanizem os estudos e
tério nem do Brasão da República, nem as práticas pedagógicas e especificamente
da Revista Caras. São corpos-trabalho de da Educação Física. Que eduquem, huma-
crianças, passageiros nas ruas durante o dia nizem a Base Nacional Comum. No livro
à procura da sobrevivência. São corpos de “Trabalho-Infância – exercícios tensos de
adolescentes, jovens e adultos Passageiros ser criança. Haverá espaço na agenda pe-
da Noite do trabalho para a EJA.2 dagógica”, 20 trabalhos em sua maioria de
Aceitando que esses Corpos-Tra- profissionais da Educação Física se pergun-
balho nos interrogam e interrogam os tam se haverá lugar para o trabalho na agen-
currículos da BNC, que interrogações da pedagógica. Aprofundam sobre vidas
trazem? Vidas marcadas por trabalhos de marcadas pela exploração do trabalho, pelas
sobrevivência, trabalhos para sobreviver diversas faces da exploração do trabalho,
em corpos-vidas na pobreza extrema (18 pela diversidade de corpos-trabalho, por
milhões nas escolas públicas na pobreza outras linguagens desses corpos-trabalho
extrema e mais 10 milhões na pobreza não (Arroyo, Viella e Silva, 2015b).
extrema obrigados a frequentar a escola Uma forma de aprofundar sobre
para sobreviver). esses Corpos-Trabalho será trazer para os
Corpos-Trabalho resistentes com cursos de formação e para os currículos
suas famílias de trabalhadores empobre- de Educação Física estudos, trabalhos das
cidos, aos padrões classistas, sexistas, ra- áreas das artes, do cinema, da pintura,
cistas do trabalho capitalista. Que saberes, da fotografia que trazem corpos-infância,
2 Arroyo, M. Passageiros da Noite – do Trabalho para a EJA. Itinerários pelo direito a uma vida justa. Petrópolis:
Vozes (no prelo).
V. 28, n° 48, setembro/2016 25
retirantes infantis. Imagens fortes nos Reti- que significados antiéticos, antipolíticos e
rantes de Portinari. Destinados a ser corpos antipedagógicos tem teimar em não reco-
desenraizados de crianças-adolescentes nas nhecer essa diversidade espaço-cultural e
ruas das cidades. tentar impor uma cultura única, nacional
Milton Santos leva essa realidade tão como hegemônica.
Nacional e essas questões para o campo da
cultura. Na cidade convivem, se tencionam
culturas, valores, saberes do espaço e dos Duplas culturas-vivências do corpo-
corpos. Como ver esse convívio de cultu- -espaço?
ras espaço-corpóreas? O espaço moderno,
Volta a pergunta de Milton Santos:
de corpos sadios “luminosos” e as zonas
de que cultura estamos falando? O mesmo
“opacas” onde sobrevivem os pobres? A ten-
autor dedica umas páginas aos migrantes no
dência dos estudos do espaço nos currículos
lugar: “Da Memória à Descoberta” (2006,
escolares é ver as zonas dos pobres como p. 327). Nos lembra que nas grandes cida-
opacas. Milton reage a ver as zonas dos des milhões de migrantes buscam um novo
pobres como opacas, sem luminosidades, lugar, sem ter-se deslocado do seu lugar de
as reconhece como espaços de convívios e origem. Que identidades, valores, saberes,
criatividade. De outros valores, outras iden- culturas espaço-corpóreas são passíveis
tidades, outras culturas corpóreas, espaciais. nessas duplas vivências?
Há apenas uma cultura espacial-corpórea Milton nos lembra que “o sujeito
Nacional, Comum? no lugar estava submetido a uma vivência
Por aí Milton nos interroga: quando longa e repetitiva com os mesmos objetos,
falamos em cultura, especificamente em os mesmos trajetos, as mesmas imagens de
cultura espaço-corporal “de que cultura cuja construção participava: uma familiari-
estamos falando? Da cultura popular pro- dade que era fruto de uma história própria
funda que se nutre de homem”? (p. 327). da sociedade local e do lugar onde cada
indivíduo era ativo. Os homens mudam de
Será dessa cultura corpórea de que falam
lugar... Daí a ideia da desterritorialização:
os Currículos de Educação Física na BNC?
Desterritorialização é uma outra palavra a
Os corpos-espaço reais dos Outros,
significar estranhamento que é, também,
dos pobres da Nação desestruturam con- desculturalização” (p. 328).
cepções únicas, nacionais de cultura, de Essas análises tão penetrantes da
conhecimento do currículo. Desestruturam construção dupla de culturas-vivências
ingênuas políticas, diretrizes curriculares que do espaço-corpo tem sido reconhecidas
tentam desde a colonização e a República nos currículos da Educação Física e es-
e persistem na democracia em impor por pecificamente no Currículo da BNC? De
decreto uma única cultura, um único co- estudos como os de Milton Santos chegam
nhecimento, uma identidade nacional única. indagações sobre como entender, trabalhar
A todos como profissionais da cul- e incorporar nos Currículos, na BNC pro-
tura, do conhecimento, mas de maneira cessos tão tensos e diversos de produção
especial aos profissionais da Educação de identidades corpóreas-espaciais nas
Física – da cultura-corpórea cabe trazer vivências tão tensas de desterritorialização,
para o debate político, ético, pedagógico estranhamento, de desculturização vividos
V. 28, n° 48, setembro/2016 29
Voltando a Milton Santos ele aponta -afirmação. “Ao contrário do que se deseja
perspectivas. Nos lembra que as vivências acreditar, quanto mais inserido o indivíduo
do novo lugar, ou de segregados no novo lu- (pobre, minoritário, migrante...) mais fácil o
gar podem operar como detonador de uma choque da novidade o atinge e a descoberta
nova cultura, novos valores, novos saberes, de um novo saber lhe é mais fácil. O homem
novas identidades espaço-corpóreas. Milton de fora é portador de uma memória, espécie
recomenda que o novo tempo-lugar deverá de consciência congelada provinda com ele
ser trabalhado como matriz de um processo de outro lugar. O lugar novo o obriga a um
novo aprendizado e a uma nova formula-
intelectual, cultural, identitário novo. Nova
ção... O espaço é um dado fundamental
territorialidade, nova cultura mudando o ho-
nessa descoberta... Quanto mais instável
mem. “Quando essa síntese é percebida, o
e surpreendedor for o espaço, tanto mais
processo de alienação vai cedendo lugar ao
surpreendido será o indivíduo, e tanto mais
processo de integração e de entendimento
eficaz a operação da descoberta”... (p. 330).
e o indivíduo recupera a parte do seu ser
que parecia perdida” (p. 329).
Não é essa a pedagogia de desa- REFERÊNCIAS
lienação, de humanização, culturização,
afirmação do direito a um digno, justo ARROYO, M. A Base Nacional Comum em
viver por que os coletivos populares lutam disputa: o que está em disputa? APASE,
jogados às margens, nos campos, nos ter- São Paulo, 2016.
ritórios, nas cidades? Um traço marcante ARROYO, M. Para uma releitura do
na diversidade desses coletivos sociais, PNE a partir da diversidade: questões
étnicos, raciais, camponeses, sem-terra, pendentes. In: Educação e Diversidade:
sem-teto, sem-renda é afirmar seus corpos Justiça social, inclusão e direitos
resistentes em movimentos de emancipa- humanos.1 ed. Curitiba: Editora e
ção-humanização. Haverá lugar na BNC Livraria Appris, 2015a, p. 15-64.
para o reconhecimento desses processos ARROYO, M.; VIELLA, M. A. L.; SILVA, M.
afirmativos, humanizadores, pedagógicos R. (Orgs.). Trabalho-Infância: Exercícios
Tensos de ser Criança. Haverá Espaço
que vem de longe na nossa construção
na Agenda Pedagógica? Petrópolis:
tensa como nação? Se os coletivos sociais,
Vozes, 2015b.
étnicos, raciais insistem em afirmar-se não à
ARROYO, M. O humano é viável? É
margem, mas na Base da Nação, sujeitos de educável? Revista Pedagógica
saberes, valores, identidades constituintes (Unochapecó), v.17, p.21-40, 2015c.
da Nação serão reconhecidos na proposta ARROYO, M. O direito à educação e a
da Base Nacional Comum Curricular? nova segregação social e racial – tempos
Milton Santos nos responde com um insatisfatórios? Educação em Revista,
otimismo não romântico, mas realista: Há Belo Horizonte, v. 31, n. 3, p. 15-47,
uma cultura espaço-corpórea, há identida- jul./set. 2015d.
des, valores em construção que pressionam ARROYO, M.; SILVA, M. R. (Orgs.) Corpo-
por reconhecimento como componentes de Infância: Exercícios tensos de ser
todo projeto de educação. Há outras totali- criança; Por outras pedagogias dos
dades humanas corpóreas em construção- corpos. Petrópolis: Vozes, 2012a.
V. 28, n° 48, setembro/2016 31
RESUMEN
Palabras clave: currículo; Base Nacional Comum Curricular; trabajo docente; cultura
corporal
ABSTRACT
This text discusses the National Curricula Base, aiming at further investigating the
analysis of its ethical-political meanings. Bearing this in mind, the text discusses the
place of actual bodies, of teachers and students, producers of body culture, as of the
definition specified by the document concerning Physical Education. For this purpose,
the text aims at answering the following question: Which confrontation the National
Curricula Base entails on the Physical Education filed, its contents and on the daily
work of its professionals?