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NUER” DE EVANS-PRITCHARD
João Alipio de Oliveira Cunha1
INTRODUÇÃO
Nos estudos sobre os Nuer, Evans-Pritchard nos fornece um quadro geral das
condições do trabalho de campo, ou seja, um modelo etnográfico em que levanta
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Artigo escrito no ano de 2016 para a disciplina “Teoria Antropológica I” do Programa de Pós-Graduação
em Antropologia Social do Museu Nacional – UFRJ.
diferentes questões e elementos importantes para compreendermos essa sociedade sem-
estado. Dentre esses elementos podemos destacar: a ecologia, o espaço e tempo, sistema
político, parentesco e ecologia, onde o antropólogo realiza um exercício de abstração
que é pensar estruturalmente essas populações africanas, sem deixar de destacar o papel
da função.
Com o interesse nos debates levantados pela antropologia social britânica, Evans
Pritchard entre os anos de 20 e 30 participou dos seminários de antropologia na London
School of Economics (LSE) realizados por Malinowski e Charles Gabriel Seligman.
Essa participação foi fundamental para a elaboração do seu modelo etnográfico e
teórico, em que se é perceptível em sua narrativa a presença das ideias de Malinowski
no que se refere a análise de ―função‖ e de Brown em relação a ―estrutura‖.
Evans - Pritchard foi um dos primeiros a ser graduado em antropologia,
marcando um período histórico de profissionalização da atividade cientifica e de uma
mudança nos estudos etnográficos, em que não era mais exclusivo de pesquisas
relacionadas as sociedades da Oceania, mas agora alimentado por um avanço
expansionista e o profundo racismo colonial britânico no continente africano, do qual a
Antropologia participou ativamente, as sociedades africanas passaram a ser alvo de
diversas pesquisas etnográficas. Nas palavras de Adam Kuper (1973):
Vale a pena frisar que a leitura do texto a seguir pretender destacar a importância
de seu modelo etnográfico nos estudos de trabalho de campo, principalmente, as
condições de adversidade encontrados no espaço em que vivem os grupos pesquisados,
o antropólogo como um estudioso a serviço do império colonial britânico e as
influências de Malinowski e Radcliffe-Brown na formação de seu modelo etnográfico.
O MODELO ETNOGRÁFICO
Como destaca Kuper (1978) sobre a monografia dos Nuers as noções referentes
ao espaço e o tempo são fundamentais para compreendermos as interações e
cooperações presentes dentro do grupo social, no intuito, de pensarmos como essa
dinâmica possibilitou a formação de uma rede de alianças para a disputa e a guerra, seja,
contra os Dinka ou contra o governo colonial inglês.
A análise do modelo etnográfico apresentado nesse breve subtítulo é
fundamental para se compreender a política entre os grupos africanos como os Nuer, em
que o conceito de ―política‖ deve ser analisado através de um processo de abstração,
ampliando seu significado e apurando o olhar antropológico para a forma e ações
políticas dessa população. No próximo subtítulo serão desenvolvidas questões
referentes ao sistema político presente nos Nuers associados ao parentesco e elementos
ecológicos fundamentais para a sua sobrevivência e o papel do chefe de pele de
leopardo para a manutenção da cooperação e mediação dos conflitos entre os grupos
domésticos.
Essa interação social e mediação presente nos grupos sociais é atribuído ao chefe
de pele de leopardo, que é acionado, quando há um problema entre grupos vizinhos, ou
seja, quando a cooperação presente na estrutura social dessa sociedade africana
encontra-se em risco, ele entra em ação para resolver os problemas. Nos Nuers, a
política é uma função. Como nos afirma Evans-Pritchard (1993):
A partir da citação acima podemos compreender que a tribo que está inserida em
um sistema de valor e tendem-se a se relacionar de formas opostas, através da, fusão e
separação com inúmeros casos de disputas, guerras, violências, etc, promovendo a
segmentação da sociedade estudada, gerando um equilíbrio e um controle através do
chefe de pele de leopardo para a cooperação tendo em vista a sua subsistência. Assim,
existe nessa sociedade uma instituição tribal responsável pela manutenção de uma certa
ordem. Essa instituição se chama a vendeta.
A vendeta é uma instituição tribal, que ocorre apenas quando se reconhece que
aconteceu uma infração da lei e torna-se necessário o ressarcimento daquele que sofreu
algo arbitrário ou negativo de uma outra pessoa pertencente ao grupo. Contudo, o ritual
de vendeta pode gerar uma série de vinganças e práticas de violência que poderiam
prejudicar a subsistência do grupo.
Sendo assim, o chefe de pele de leopardo tem como função manter a cooperação
entre os membros das tribos e mediar o conflito que se estabelece. Devemos considerar
que a vendeta constitui um movimento estrutural entre os segmentos políticos, em que
são mantidos a forma do sistema político encontrado entre os Nuers e a oposição entre
as tribos influenciam as inter-relações das comunidades inteiras a que pertencem.
APONTAMENTOS E CRÍTICAS
BIBLIOGRAFIA