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2022

VI jornada
de semiótica
e culturas da
comunicação

livro de
resumos
VI
jornada de semiótica
e culturas da comunicação

Comitê organizador Comitê científico


Bruno Bueno Pinto Leites André Corrêa da Silva de Araújo
Douglas Ostruca Bruno Bueno Pinto Leites
João Fabricio Flores da Cunha Demétrio Jorge Rocha Pereira
Lígia Maria Lazevicius Perissé Douglas Ostruca dos Santos
Lucas Nucci Macedo Guilherme da Luz
Luiza Müller João Batista Nascimento dos Santos
Marcelo Bergamin Conter Marcelo Bergamin Conter
Nísia Martins do Rosário Nísia Martins do Rosário
Taís Severo Ricardo de Jesus Machado
Victória da Silva Morele Sinara Sandri

Realização:
IFRS Campus Alvorada
SIMC - Grupo de Pesquisa em Sonoridades, Imagem,
Materialidades da Comunicação e Cultura
SemSono - Linha de Pesquisa Semiótica e Sonoridades
GPESC - Grupo de Pesquisa em Semiótica e Culturas da Comunicação
PROGRAMAÇÃO

07/07 - QUINTA-FEIRA

9h - 10h30 ABERTURA
Do caos à lama: o Antropoceno
como problema semiótico
• André Araujo

Fazer-se cartógrafo: conexões, diálogos


e sentidos no pesquisar
• Marcia Mendes

Mediação: Marcelo Bergamin Conter

10h30 - 10h45 Intervalo

10h45 - 12h MESA 1


Mediação: Nísia Martins do Rosário

Metapesquisa: um movimento de
crítica metodológica
• Isabelle do Pilar Mendes

Pedagogia e contágio: caminhos para a


comunicação como dimensão da
arqueogenealogia foucaultiana
• Luiza Müller

Micro-história, o problema do arquivo e


uma arqueologia das mídias nas streams de
Rebeca Trans
• Gilmar Montargil

VI de
jornada
semiótica
e culturas da
comunicação
PROGRAMAÇÃO
07/07 - QUINTA-FEIRA

13h30 - 15h15 MESA 2


Mediação: Cássio de Borba Lucas

Monumentos musicais de sensação


e alguns de seus modos na música pop
• Mário Arruda

Regularidades discursivas da música binaural


no YouTube: mutações recentes no capitalismo
e seus regimes de enunciação
• Paulo Henrique Costa Albani, Demétrio Jorge
Rocha Pereira e Marcelo Bergamin Conter

Das Estéticas aos Padrões (e de volta outra vez):


pistas para uma semiótica a-significante
dos media em Friedrich Kittler
• Márcio Telles

A floresta pervagante: o caminhar como ato de


comunicação entre perspectivas
• Demétrio Jorge Rocha Pereira e Guilherme da Luz

15h15 - 15h30 Intervalo

15h30 - 17h15 MESA 3


Mediação: Bruno Leites

Cinema e Sexualidade na República de Weimar:


por uma semiótica da “Nova Mulher” a partir
do filme Die Büchse der Pandora
• Vitória Gondim Real Nunes e Fábio Pezzi Parode

A Sobrevivência das Imagens da Belair Filmes


na Obra da Cineasta Helena Ignez
• Daniela Pereira Strack

Moedas Falsas: Os Signos, o Dom e a Comunicação


na Economia da Falsificação
• Luis Felipe Silveira de Abreu

A Imagem-Tempo de Wong Kar-Wai: Efemeridade


e Vidência no filme Amores Expressos (1994)
• Gabriela Oliveira Rosa e Lennon Macedo
PROGRAMAÇÃO
08/07 - SEXTA-FEIRA

9h - 10h15 MESA 4
Mediação: Luiza Müller

A continuidade na filosofia de
comunicação de Peirce
• João Fabricio Flores da Cunha

Apropriando-me dos conceitos de entropia


e de energia livre
• Arthur Walber Viana

Cartografia de resistências: estudo de perfis


de mulheres indígenas no Instagram
• Luana Silva da Cruz

10h15 - 10h30 Intervalo

10h30 - 11h45 MESA 5


Mediação: Douglas Ostruca

Cianotipia na Barvabécia: o fim da utopia possível


• Eric Pedott e Daniel Petry

Nem tão lo-fi, nem tão hip-hop: compreendendo


o lofi hip-hop como música ambiente
• André Santos Marchese, Chrístian Langaro Vaisz
e Marcelo Bergamin Conter

A produção comunicacional de escutas musicais


nos ensaios de compositores do século XIX
• Cássio de Borba Lucas
PROGRAMAÇÃO
08/07 - SEXTA-FEIRA

13h30 - 15h15 MESA 6


Mediação: João Fabrício Flores da Cunha

Nostalgia: saudosismo ou sintoma?


O recorte da Music Television
• Fernanda Dupont

"I didn't realise I was making my memories, I was just


having fun": ressignificações nostálgicas da trilha
musical de Minecraft em vídeos amadores do YouTube
• Lígia Maria Lasevicius Perissé, Lucas Nucci Macedo
e Marcelo Bergamin Conter

Experimentações metodológicas de uma pesquisa


de corpos sem órgãos
• Shico Menegat

O conceito de multidão no “entre” em “Entre nós


talvez estejam multidões” (2020), de Aiano Bemfica
e Pedro Maia de Brito
• Victória da Silva Morele

15h15 - 15h30 Intervalo

15h30 - 16h45 MESA 7


Mediação: Demétrio Jorge Rocha Pereira

A instrumentalização da razão na narrativa de


Cowboy Bebop: The Movie
• Rafael de Campos

Comunicação, Arte e Design: reflexões sobre


estética, imagem e sentido a partir da obra de
Basquiat e Campanas
• Fábio Pezzi Parode

A representatividade negra e os aspectos narrativos


de Killmonger: como um vilão consegue gerar a
identificação das pessoas negras através do filme
“Pantera Negra”
• Tamara Lopes de Sousa, Fábio Pezzi Parode e
Ricardo Jorge de Lucena Lucas

16h45-17h15 Debate de encerramento


VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 1

Metapesquisa: um movimento de crítica metodológica

Isabelle do Pilar Mendes /UFRGS

O reconhecimento da ciência, enquanto meio para discutir especicidades antes


desconhecidas, desvendar estruturalidades, e para elencar procedimentos cabíveis aos
problemas de cada realidade, deve partir da elaboração de um espaço de discussão que inda-
gue sua própria constituição: suas epistemologias, metodologias e teorias. Esta pesquisa
investiga e propõe a discussão, a partir de uma perspectiva comunicacional, acerca da mobili-
zação da metodologia de metapesquisa como movimento de crítica metodológica. O problema
de pesquisa é “Como a metapesquisa pode atuar de forma crítica no fazer pesquisa no campo
da comunicação?”. Para tanto, buscam-se inquietações e reexões teórico-metodológicas,
orientadas pela teoria das materialidades (GPESC, 2020), surgidas a partir do procedimento
metodológico de pesquisa bibliográca. Para desmembrar as principais noções a serem
articuladas, de metapesquisa, comunicação, metodologia e acontecimento, partiremos de
Ferrara (2018), Lopes (1990), Marcondes (2011, 2019), Navarro (2019) e Vieira Pinto
(1979). Com esses autores, pretende-se discutir que os valores cientícos, tornados hábitos,
não existem enquanto pressupostos transcendentais. Logo, para que abarquem fenômenos
distintos criados e afetados pelos objetos a serem questionados, devem partir de uma visão
dialógica e em constante reconstrução para com o momento em questão (LOPES, 1990),
mesmo não sendo esse linear e homogêneo.
Enquanto fenômeno, o comunicar explícita não uma mensagem, mas o próprio modo
como se dá, acontece. Na abordagem de Ferrara (2018), o comunicar que constitui a comuni-
cação é visto enquanto a disposição, que ocorre em trocas individuais ou coletivas, para que
um ambiente comunicativo possa existir a partir do comum surgido de uma ação partilhada.
Assim sendo, a comunicação deve ser observada, também, partindo da análise de como
determinadas técnicas criam seus contextos (p. 372). Correlato a esta perspectiva, se o comu-
nicar diz a respeito de seu próprio ato, e considerando que o fazer ciência no campo da comu-
nicação tem por um de seus diversos objetos esse dito, as metodologias empregadas nesse
fazer comunicado devem, da mesma forma, tornar-se objetos de análise.
Nesse sentido, a metapesquisa é uma chave para que possamos aprender com os méto-
dos sobre como direcionar o olhar - dentro e para além do campo - para, dessa forma, a partir
das experiências viabilizar mudanças de comportamento no fazer pesquisa.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Comunicação; Metodologia; Metapesquisa.

REFERÊNCIAS

FERRARA, Lucrécia D’Aléssio. Por um comunicar em vez de muitas comunicações. In: Maria
Ângela Mattos, Ellen Joyce Marques Barros e Max Emiliano Oliveira. (org.). Metapesquisa em
comunicação: o interacional e seu capital teórico nos textos da Compós. Porto Alegre: Sulina,
2018. 422 p.

FUENTES-NAVARRO, Raul. Pesquisa e metapesquisa sobre comunicação na América


Latina. MATRIZes, 13 (1), 27–48.

GPESC, Grupo de Pesquisas em Semiótica e Culturas da Comunicação. Semiótica crítica e as


materialidades da comunicação. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2020. 278 p.

LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação: formulação de um modelo


metodológico. São Paulo: Loyola, 1990.

MARCONDES FILHO, Ciro. “De repente, o prédio falou comigo”. Texto apresentado no 19o.
Encontro Anual da Compós. Anais. Porto Alegre, 4 a 6 de junho de 2011.

MARCONDES FILHO, Ciro. Das coisas que nos fazem pensar. Discussão sobre a Nova Teoria
da Comunicação. 1. ed. São Paulo: Ideias de Letras, 2014.

VIEIRA PINTO, Álvaro. Ciência e Existência: Problemas losócos da pesquisa cientíca. 2a


ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1979. (Série Rumos da Cultura Moderna, 20; Coleção
Pensamento Crítico, 7).
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 1

Pedagogia e contágio: caminhos para a comunicação como


dimensão da arqueogenealogia foucaultiana

Luiza Müller /UFRGS

Entende-se por arqueologia o método de pesquisa desenvolvido por Michel Foucault em


suas primeiras décadas de trabalho, sendo uma ferramenta que refuta a hermenêutica inter-
pretativa, os determinismos cronológicos e mesmo um viés sistemático. Sua ordem é a dos
grupamentos enunciativos que constituem os discursos. Assim, fazer arqueologia consiste em
analisar tais discursos em sua superfície, buscando compreender suas regras de formação,
condições de possibilidade e a regularidade de sua dispersão. Nela, “(...) Foucault opera com
diferentes dimensões (losóca, econômica, cientíca, política etc.) a m de obter as
condições de emergência dos discursos de saber de uma dada época.” (REVEL, 2005, p.16)
A genealogia, por sua vez, surge na obra foucaultiana como uma maneira de formalizar
sua preocupação com uma crítica ao presente a partir de um pertencimento à historicidade
dos saberes. Por isso, o termo arqueologia é abandonado para que a complexidade de sua
proposta possa culminar no conceito de genealogia.
De nossa parte, objetivamos evidenciar que também a comunicação é uma dimensão
importante da arqueogenealogia¹ foucaultiana. Para isso, operamos uma leitura interessada
da obra do lósofo, tomando um conceito periférico para o autor – a comunicação – e centrali-
zando-o de modo a dar a ver tal dimensão. Tal leitura ocorre à maneira de uma varredura
atenta de sua obra², extraindo todas as citações que contenham palavras com o radical comu-
nic, tais como “comunicação”, “comunicar”, “comunicável”, etc. Outras possíveis relações
que o autor promova com o processo comunicacional, mesmo sem a presença do termo,
também são destacadas.
Na atual etapa da tese, que aqui propomos apresentar, ainda imersos nas primeiras obras
do autor (predominantemente publicadas na década de 1960), identicamos que pedagogia e
contágio, como apresentados na obra O Nascimento da Clínica (1963), são sentidos intima-
mente ligados ao que o autor entende por comunicação e, dessa forma, apontam caminhos
para a denição da dimensão comunicacional de sua metodologia. A comunicação enquanto

1 Utilizamos o termo arqueogenealogia de modo a evitar qualquer sentido dicotômico atribuído aos termos e, também, para
reforçar o caráter não sistemático de sua teoria.

2 a pesquisa toma como corpus empírico os livros por ele publicados, considerando que neles os conceitos e formulações
teóricas estão mais profundamente xados.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

contágio apresenta-se como consequência do toque ou do compartilhamento de fronteiras e


ocorre, portanto, entre corpos que se tangenciam. Nesse processo, enquanto um meio (um
suporte), o corpo é também arquivo, permitindo ainda outro sentido atribuído à comunicação
– a pedagogia. Comunicar, assim, consiste em ensinar, transmitir, sendo peça-chave para
compreendermos como um saber (enquanto discurso) se propaga, reproduz-se e agencia
outros discursos.

PALAVRAS-CHAVE
Comunicação; Michel Foucault; Pedagogia; Contagio; Arqueogenealogia.

REFERÊNCIAS

FERRAZ, Maria Cristina Franco. Contribuições do pensamento de Michel Foucault para a


Comunicação. São Paulo: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, volume 28,
junho/dezembro de 2005.

FOUCAULT, Michel. O Nascimento da Clínica. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2020.

REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais. São Carlos: Claraluz, 2005.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 1

Micro-história, o problema do arquivo e uma arqueologia das


mídias nas streams de Rebeca Trans

Gilmar Montargil /UFRGS

Ao amadrinhar por anos as streamers LGBTQIA+, vamos linearmente – a cada live vista –
acompanhando as transformações corporais, tecnológicas, econômicas de suas vidas, bem como
layouts, cenários, hypes de games lançados. Tais elementos sempre caracterizam épocas nas memó-
rias dos fãs. No entanto, existe uma impossibilidade de recriar diacronicamente a história de cada
uma dessas “estrelas” do mundo queergamer, pois os VOD’s de vídeos são permeados por arquivos
existentes e arquivos corrompidos – registros que eu posso revisitar, refazer e reanalisar e aqueles
que não posso. Às vezes basta uma semana, dias, horas para aquela stream importante que assisti
desaparecer. Isso ocorre porque:
a) A própria streamer deletou a stream por algum motivo;
b) A plataforma de gamestreaming deletou a stream por causa de violação de alguma regra, por
exemplo, copyright ou nudez;
c) A plataforma não existe mais;
d) A streamer ao mudar de plataforma deletou o próprio perl
e) Atualizações do sistema técnico da web ou da plataforma acabam por inativar alguns vídeos;
f) Limitações da parte da streamer ou da plataforma acerca do “tempo de vida” do arquivo.
Algum tempo depois acabo me esbarrando com fragmentos dessas lives “perdidas” ou mesmo
com o vídeo completo nos pers de fan-baseds e fãs, postados no YouTube, Twitter, Grupos de
Facebook, Direct e até mesmo em sites pornográcos como o Xvideos. Logo, enquanto pesquisador,
vejo-me diante de um quebra-cabeça em que as peças constantemente desaparecem e reaparecem,
criando confusão temporal ao mesmo tempo que me revelam informações acerca do objeto de
pesquisa.
Nesse caminho, o nosso objetivo aqui é o de vasculhar esses vídeos de Rebeca Trans dispersos
na internet a partir de duas teorias: a micro-história de orientação italiana e a arqueologia das mídias
fortemente inuenciada pelos teóricos de mídia alemã. Tais teorias possuem certas similitudes e não
estão condicionadas a reconstruir linearmente a história, mas sim, de assumir esse processo de
perdas e redescobertas de arquivos como um elemento constituinte do objeto de pesquisa e do
cronotopo em que está inserido. Veremos que, muito mais que a efemeridade do digital, a stream é
uma mídia que subjaz um hibridismo arqueológico; pois, depois de sua realização ao vivo, nda-se
em arquivos ativos de vídeos na plataforma, fragmentos dispersos recuperados-organizados por fãs e
uma memória coletiva do público que guarda momentos que nunca mais poderemos reassistir.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Micro-história; Arqueologia das Mídias, Queer games studies; Rebeca Trans; Streams.

REFERÊNCIAS

ERNST, Wolfgang. Digital Memory and the Archive. Minneapolis: University of Minnesota
Press, 2013.

GINZBURG, Carlo. O o e os rastros: verdadeiro, falso, ctício. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.

HUHTAMO, Erkki; PARIKKA, Jussi. Introduction: an archaeology of media archaeology. In:


HUHTAMO, Erkki; PARIKKA, Jussi (Orgs.). Media Archaeology: approaches, applications,
and implications. Berkeley, Los Angeles, London: University of California Press, 2011. p. 1-
21.

MESSIAS, José; MUSSA, Ivan. Por uma epistemologia da gambiarra: invenção, complexida-
de e paradoxo nos objetos técnicos. MATRIZes, São Paulo, n. 14, v. 1, p. 173-192, 2020.

ZIELINSKI, Siegfried. Deep Time of the Media: Toward an Archaeology of Hearing and Seeing
by Technical Means. The Mit Press: Cambridge, 2006.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 2

Monumentos musicais de sensação e alguns de seus modos na


música pop

Mário Arruda /UFRGS

Quando uma música não é somente um produto de uma criação anterior, mas também
uma máquina que instaura processos de criação? Como uma música se mantém viva e proble-
matizadora mesmo com o passar dos tempos e com as interpretações que se fazem dela? Como
uma música produz abertura ao cosmos desde o fechamento de seu funcionamento em torno
de seus elementos e forças sonoras?
De modo a conversar sobre a transversal traçada por essas perguntas na VI Jornada de
semiótica e culturas da comunicação, busca-se desenvolver a teoria estética presente em O
que é a losoa? (,DELEUZE; GUATTARI, 2010), que considera a obra de arte enquanto
monumentos de sensações. Busca-se pensar essa consideração enquanto uma parte da teoria
musical desses autores, que tem ainda outras obras que a desenvolvem, como Mil platôs
(DELEUZE; GUATTARI, 2012) e Derrames – entre el capitalismo y la esquizofrenia
(DELEUZE, 2005).
Deleuze e Guattari (2010) pensam a obra de arte enquanto monumento que não cele-
bram algo que passou, mas que operam como um meio de criação, conservação e propagação
contínua de forças de diferenciação produzidas pela relação de suas partes. São essas forças de
diferenciação, ou pelo menos um tipo delas, que recebem o nome de sensações: são forças
capazes de deformar, atrair, destruir, suspender, sugerir novos sentidos; fazer vibrar, ressoar,
movimentar os corpos em que tocam; forças capazes de impedir que seja denida uma
interpretação nal e acordada para uma música, impossibilitando que ela se transforme em
um instrumento de ordem.
Isso ocorre porque os monumentos musicais de sensação são provocativos de uxos e de
corte de uxos em seu interior (e que se propagam e agenciam o exterior). Possuem uxos
consistentes de informação e contrainformação de si. São músicas que tem estruturações que
não só a organizam, mas também a desestruturam. Nos termos mais largos de Deleuze (2018),
os monumentos musicais de sensação são músicas em que não há privilégio ou hegemonia de
processos de diferença e de repetição uns sobre os outros, mas são processos que entram em
consistência.
Proposição conceitual, o monumento musical de sensação não tem uma forma única.
Ele pode ter vários modos e estilizações. Para tornar distintas essas especicidades, podem ser
explorados um, dois ou três modos de criação, conservação e expressão de sensações que tem
peculiaridades próprias e que povoam atualmente a música pop de streaming.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
música; modo de criação; monumento; sensação; pop.

REFERÊNCIAS

DELEUZE, Gilles. Derrames – entre el capitalismo y la esquizofrenia. Buenos Aires: Cactus,


2005.

DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2018.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2, v. 4. São


Paulo: Editora 34, 2012.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a losoa? São Paulo: Editora 34, 2010.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 2

Regularidades discursivas da música binaural no YouTube:


mutações recentes no capitalismo e seus regimes de enunciação

Paulo Henrique Costa Albani /IFRS


Demétrio Jorge Rocha Pereira /UFRGS
Marcelo Bergamin Conter /IFRS

O presente trabalho apresenta reexões teóricas iniciais sobre a música binaural, estilo
que tem se tornado popular no YouTube nos últimos cinco anos. Sonoramente, apresenta
progressões simples de acordes prolongados e linhas melódicas que se desenvolvem lentamen-
te com o progresso da música. Alguns vídeos contam com a adição de sons de chuva e outros
elementos sônicos da natureza, acoplando-se assim ao modo como Brian Eno (1978; 2013)
conceitua a música ambiente. Ainda, a música binaural pretende-se capaz de alterar as fre-
quências das ondas cerebrais, mudar o humor do ouvinte e/ou melhorar o estado de concen-
tração por meio de frequências subgraves inseridas na mixagem. O aumento de publicações
destes vídeos e as altas taxas de visualização (muitos passando de milhões) correlacionam-se
com o impacto da pandemia na vida cotidiana, com a precarização do trabalho e o aumento de
transtornos de ansiedade. Não nos interessa avaliar suas possibilidades terapêuticas, mas
investigar se e como a escuta de música binaural no YouTube aponta para mutações recentes
no capitalismo e seus regimes de enunciação. Entendemos que nas páginas do YouTube de
música binaural estão expressos regularidades discursivas do capitalismo tardio e que se
organizam por meio de uma ecologia de elementos semióticos: os comentários, a descrição e o
título, as trilhas visuais e musicais, os vídeos relacionados, todos se relacionam afetivamente.
Nosso método consistiu na deriva cartográca pelo YouTube, na coleta de comentários e
descrição dos elementos sônicos, seguida pela observação de regularidades discursivas. Os
vídeos que até agora analisamos: “☯ Ondas Theta 7Hz PURA Binaural [COM CHUVA DE
FUNDO]”¹, “Frequência da Felicidade - Música libera Serotonina, Dopamina e Endorna,
Música Binaural”² e “Música para Ativar Super Inteligência ✧ Melhore o Foco, Concentração
e Memória ✧ Binaural ✧432Hz”³. Parece-nos interessante analisar o binaural como produto
de um mundo pós-industrializado e intensa urbanização, construindo um ambiente acústico
controlado frente ao caos sonoro das metrópoles, em especial quando há uma construção

1 https://youtu.be/yT_22L_hiUo
2 https://youtu.be/Tf1kmeN5xkI
3 https://youtu.be/x-4d6K-sk6I
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

simbólica na textura sonora de uma natureza primordial. Tais regularidades permitem consta-
tar a pretensão a uma escuta pura ou natural, que por vezes retoma a dualidade entre natureza
e cultura. Com isso, chegamos à formulação de uma hipótese paradoxal: a de que a música
binaural opera como linha de fuga e função estabilizante em um contexto de trabalho em
tempo integral.

PALAVRAS-CHAVE
música ambiente; ambiente; música binaural; escuta.

REFERÊNCIAS

ENO, Brian. Ambient #1 Music for Airports. PCV 7908 (AMB 001). E.G. Records, 1978. 1
disco sonoro (42 min), 33 1/3 rotações, estéreo, 12 pol.

ENO, Brian. Ambient music. IN: COX, Christoph; WARNER, Daniel (Orgs.). Audio culture:
readings in modern music. Bloomsbury: New York, 2013. p. 94097.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo, Loyola, 1996.


VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 2

Das Estéticas aos Padrões (e de volta outra vez): pistas para uma
semiótica a-significante dos media em Friedrich Kittler

Márcio Telles /UTP

“Quem for capaz […] de escutar o diagrama elétrico no som sintetizado dos CDs ou de vê-
lo nos canhões de laser das discotecas, encontrará a felicidade”. É assim que Friedrich Kittler
(2019, p. 19) apresenta o seu projeto na introdução de Gramofone, Filme, Typewriter. Todavia,
como nos lembra Sybile Krämer (2016, p. 31), “Nós [...] não ouvimos um CD, mas música”. O
fato de que as mídias “desaparecem” da nossa atenção tão logo eles começam a operar é uma
das ideias centrais de uma Filosoa dos Meios na Alemanha.
Exceto que elas não desaparecem, pois são feitas com “o objetivo declarado de enganar e
trair essa autoconsciência” (KITTLER, 2016, p. 38). Nas “características próprias da emulsão
fotoquímica, como o surgimento de falhas, manchas e pontos de queima” (SALES, 2022, p.
38) da película cinematográca; nas ondulações e desgastes das bandas magnéticas do VHS;
nos glitches das imagens digitais é que se apresenta a realidade bruta dos dispositivos. Para
Lacan (e para Kittler), o “Real é aquilo que falta na ordem simbólica, os restos que não podem
ser eliminados em toda articulação do signicante, aquilo que só pode ser aproximado, jamais
capturado” (SANTAELLA, 1999, p. 86) – mas que, ainda assim, pode ser registrado na mídia
técnica (KITTLER, 2016, p. 47).
Esta pesquisa pergunta: não estaria aí enunciando-se uma semiótica “que não ousa dizer
seu nome” (SILVA)? Os ruídos das mídias técnicas escampam ao “gargalo do signicante”
(WINTHROP-YOUNG, 2011, p. 59), mas não de uma semiótica a-signicante.
Para além disso, o processo de tradução interssemiótica entre analógico e “digital”
recoloca a questão de uma semiótica a partir de Kittler. Nesta, a base material e ontológica do
analógico é reconstruído enquanto objeto digital: ltros de Instagram e efeitos de After Effects
que imitam os limites físicos dos padrões analógicos, traduzem as falhas que deveriam ser
ignoradas em objetos estéticos para a fruição em signicantes digitais, reconstruindo a quebra
que Kittler (2016) identica entre a arte pictórica e a imagem técnica: das estéticas aos
padrões – ao padrão enquanto opção estética, prenhe de nostalgia.
Esta comunicação quer 1) mapear os fenômenos analógicos traduzidos em objetos
digitais que informam estéticas; 2) propor e debater os contornos de uma semiótica kittleriana
e 3) lançar os alicerces de um projeto de pesquisa que estude a linguagem das mídias analógi-
cas em suas materialidades.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Materialidades da Comunicação; Mídias Analógicas; Friederich Kittler; Semiótica A-
signicante; Semiótica Maquínica.

REFERÊNCIAS

KITTLER, Friedrich. Mídias ópticas: Curso em Berlim, 1999. Rio de Janeiro: Contraponto,
2016.

______. Gramofone, Filme, Typewriter. Belo Horizonte e Rio de Janeiro: Editora UFMG e Ed.
UERJ, 2019.

KRÄMER, Sybille. Medium, Messenger, Transmission. An approach to Media Philosophy.


Amsterdã: Amsterdam University Press, 2016.

SALES, Thalita Fernandes de. Captar o Passado: a película como estratégia de referencialida-
de histórica em “Era uma vez em... Hollywood”. Orientador: Prof. Dr. Marcel Vieira Barreto
Silva. 2022. 120s. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Comunicação,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2022.

SANTAELLA, Lúcia. As três categorias peircianas e os três registros lacanianos. Psicologia


USP, vol. 10, n. 2, p. 81-91, 1999.

WINTHROP-YOUNG, Geoffrey. Kittler and the Media. Cambridge, Reino Unido: Polity Press,
2011b.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 2

A floresta pervagante: o caminhar como ato de comunicação


entre perspectivas

Demétrio Jorge Rocha Pereira


Guilherme da Luz

Tão numerosas quanto as populações indígenas que povoam os trópicos são as designações
que eles dão à oresta. Um traço comum, entretanto, é a impossibilidade de um deslocamento
ontológico entre os corpos que a povoam e as raízes que se entranham à terra. A oresta, já
enredada em seus engendramentos transversais, conjuga um universo aberto a relações, agênci-
as e perspectivas por onde nascem e morrem índios, folhas, animais e fungos, substratos de
inndáveis ciclos de um continuum anímico.
Este trabalho sugere considerar a perambulação na mata como uma perspectivação, uma
vez que requer um diagrama mental extra-local do espaço e do tempo, referenciados com uma
localização continuamente situada e sempre em defasagem. O índio caminha na oresta como
quem miniaturiza-se e mergulha para dentro de si, mas já certo de que em grande parte se
desconhece. Nunca antes vira suas entranhas, mas já podia senti-las. Levi-Strauss (2012, p.
287) diz que dissolver o homem na vida e a vida no cosmos consiste “em passar do mais simples
ao mais complexo”, mergulhar nas zonas interespecícas que fazem permutarem-se os pontos
de vista. Mas como operacionalizar tal empreendimento? Patricia Reed (2019) sugere que
tratamos aí de um problema de navegação escalar. As imagens que balizam o índio em sua
(des)orientada caminhada são processos tradutórios que se instauram nas zonas limítrofes entre
a pequena produção de sua cotidianidade e a grande malha de singularidades livres da oresta.
A escala, longe de dizer uma grandeza extensa, suscita uma questão de resolução, denin-
do um procedimento para que determinado fenômeno apareça como “objeto observável e tradu-
zível” (PLAZA, 2013, p. 55). Em sua apreensão multiescalar, a oresta deixa de ser objeto de
conhecimento, se passamos a indagar sob que escala e sob quais relações e perspectivas a enqua-
dramos. Assim, se a terra é habitada por múltiplos mundos multiescalares, como nos organizar-
mos em um espaço visível que se torna invisível numa escala da qual não fazemos parte?
Se a tradução entre mundos é como uma navegação entre diferentes instâncias escalares,
na “mediação contínua da intencionalidade com a contingência de eventos desconhecidos ou
acidentais.” (REED, 2019, s/p, tradução nossa.), o caminhar na trama multiescalar da mata
densa faz “despertar sentidos latentes” (PLAZA, 2013, p. 44), num trânsito entre mundos, em
que dois passos a mais que o habitual, já é como saltar entre mapas heterogêneos de múltiplas
navegabilidades.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Comunicação, Escalas, Perspectivismo.

REFERÊNCIAS

LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. São Paulo: Papirus, 2012

PLAZA, Júlio. Tradução intersemiótica. São Paulo: Perspectiva, 2013.

REED, Patricia. Orientation in a Big World: On the Necessity of Horizonless Perspectives. E-


ux Journal #101 – June, 2019.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 3

Cinema e Sexualidade na República de Weimar: por uma semiótica


da “Nova Mulher” a partir do filme Die Büchse der Pandora

Vitória Gondim Real Nunes /UFC


Fábio Pezzi Parode /UFC

A República de Weimar (1918-1933) atraiu signicativa atenção dos historiadores por suas
mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais. A partir dos anos 1970, com o aumento dos
estudos feministas e de gênero, muitas historiadoras voltaram os olhos para as experiências da
mulher nesse período, se concentrando na gura da “Nova Mulher”. Símbolo da modernidade de
Weimar, a “Nova Mulher” era caracterizada como mulheres independentes e emancipadas, fruto,
em boa parte, das políticas liberais da República e das consequências da I Guerra Mundial.
Entretanto, ao passo que a guerra proporcionou um certo tipo de emancipação feminina,
essa emancipação foi recebida como uma ameaça à ordem tradicional de gênero. Essas ansiedades
sobre os papéis de gênero caracterizou muitos discursos públicos, e também estavam sendo mani-
puladas pelo cinema, segundo McCormick (1994). Esses discrusos faziam parte de uma crescente
mentalidade misógina que colocava a “Nova Mulher” como responsável pela degradação moral da
sociedade e pela crise econômica e social do país. E muitos lmes, como Die Büsche der Pandora
(1929), podem ser lidos como parte desses mecanismo sociais de normatização de gênero.
É inegável que o cinema exerce um verdadeiro fascínio na sociedade. Ele inuencia tanto a
nossa maneira de ver o mundo como a forma de nele inscrevermos a nossa existência individual e
coletiva. Mas a realidade dos lmes não se expressa sozinha na tela. O cinema, sendo linguagem da
arte, está vinculado em todos os sentidos a outros sistemas de signicações. Para Christian Metz
(1980), o que denominados de cinema é um vasto e complexo fenômeno sociocultural, sendo o
lme apenas uma pequena parte desse fenômeno. Metz (1980) propõe o lme como um objeto
mais limitado, menos incontrolável, consistindo de um discurso signicante localizável ou
enquanto objeto de linguagem.
Nesse contexto, a partir da análise do lme Die Büchse der Pandora (1929), o presente
trabalho pretende reetir como a imagem da mulher emancipada estava sendo manipulada,
fazendo uma relação com os discursos sobre a sexualidade feminina na época, e seus possiveis
efeitos nas atitudes em relação às mulheres. O presente projeto utiliza como metodologia os mode-
los de teoria social e da crítica cultural, propostos por Kellner (2001), assim como busca uma
aproximação com uma semiótica do cinema alemão, a partir de Cristian Metz (1980). Tal aborda-
gem interdisciplinar utiliza uma gama de saberes com o intuito de não se deter apenas nos conns
do texto, mas também olhar para fora dele, o que está ao seu redor, e seus possíveis efeitos na
sociedade que está inserido.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Cinema e sexualidade; República de Weimar; Representação da Mulher; Sexualidade
Feminina.

REFERÊNCIAS

KELLNER, D. A Cultura da Mídia - Estudos Culturais: Identidade e Política entre o Moderno


e o Pós-Moderno. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. Bauru: EDUSC, 2001.

METZ, C. Linguagem e cinema. São Paulo: Perspectiva, 1980.

MCCORMICK, R. W. Private Anxieties/Public Projections: “New Objectivity”, Male


Subjectivity, and Weimar Cinema. Women in German Yearbook, v. 10, p. 1–18, 1994,
Disponível em: <www.jstor.org/stable/20688794>. Acesso em: 27 aug. 2021.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 3

Helena Ignez e a Sobrevivência das Imagens da Belair Filmes

Daniela Pereira Strack /UFRGS

Em seu trabalho contemporâneo como diretora, Helena Ignez mantém um forte diálogo
com o ideário estético e político do cinema brasileiro moderno das décadas de 1950 e 1970.
Seus lmes desdobram uma característica que Ismail Xavier (2001) considera como central
nessas produções: a articulação entre discussão sociopolítica e dimensão expressiva da perfor-
mance do autor do lme, ambas ocupando igual importância na tessitura fílmica. Na continui-
dade deste traço, reside também a singularidade no modo como ele é empregado por Helena
Ignez: retornar ao cinema brasileiro moderno é propor uma releitura acerca de sua própria
trajetória, dada a importância do trabalho de Ignez como atriz para os lmes do Cinema Novo e
Marginal. É também retomar sua carreira após a dissolução forçada da Belair Filmes, emprei-
tada artística fruto da colaboração da atriz com os cineastas Rogério Sganzerla e Júlio
Bressane, cuja experiência foi interrompida pelo avanço das medidas de repressão da Ditadura
Militar no início dos anos 1970.
Após um hiato de mais de 30 anos, a obra de Ignez retoma uma série de imagens e de
personagens produzidas justamente no momento desta interrupção. Filmes como Ralé (2015)
e A Moça do Calendário (2017), por exemplo, apropriam-se de trechos das produções da Belair
e as relacionam com imagens contemporâneas através da montagem. Assim, imagens do
passado e do presente são articuladas como se habitassem uma mesma temporalidade – gesto
que revela em si a complexidade dos múltiplos regimes temporais que regem a natureza das
imagens, além de engendrar um debate acerca dos seus distintos modos de sobrevivência
(DIDI-HUBERMAN, 2013, 2015). Nosso objetivo central é analisar o modo como as imagens
dos lmes produzidos pela Belair, que apresentam o ideário estético do cinema brasileiro
moderno, sobrevivem contemporaneamente nos lmes dirigidos por Helena Ignez.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Helena Ignez, Belair Filmes, sobrevivência das imagens.

REFERÊNCIAS

DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens.


Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015.

DIDI-HUBERMAN, Georges. A imagem sobrevivente: história da arte e tempo dos fantasmas


segundo Aby Warburg. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.

XAVIER, Ismail. O cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 3

Moedas Falsas: Os Signos, o Dom e a Comunicação na


Economia da Falsificação

Luis Felipe Silveira de Abreu /UFRJ, UFRGS

Jacques Derrida (1992) propõe uma crítica da teoria do dom ou da dádiva, célebre nos
escritos de Marcel Mauss (2007) e basilar à Antropologia contemporânea. Para o lósofo, o
conceito de dom a guardaria um paradoxo: se ele implica em uma economia de trocas, isso
dirime a própria ideia de dádiva – que deveria implicar em uma aneconomia. Isso dá a potência
e singularidade ao dom, ao mesmo tempo que o torna impossível: como pensar algo que,
inserido na cultura, não recircule?
Para Derrida, um texto literário oferece via de saída a esse paradoxo: o breve conto A falsa
moeda, de Charles Baudelaire (2016). O texto trata de um sujeito que dá a um pedinte uma
esmola surpreendentemente generosa, para logo assumir tratar-se de dinheiro falsicado. A
moeda falsa não se dá, pois não é nada; mas, não obstante, ao ser dada, começa uma economia
própria, gerando valor, mas jamais podendo ser retornada, sob o risco da revelação de sua
falsicação fazer ruir toda a cadeia.
O objetivo do presente trabalho, de teor especulativo e ensaístico é investigar a noção de
moeda falsa – por um lado, cotejando-a com a própria noção de signo como uma unidade
signicante ctícia e diferida de seu valor; por outro, entendendo que a pragmática de
circulação das moedas/signos falsos é o que enceta o movimento da Comunicação, e este, por
sua vez, é o responsável pela economia destes valores falsários.
Partimos, para tanto, de pesquisa bibliográca de caráter de construção teórico-
conceitual, de Mauss a Derrida, articulando um entendimento semiótico da imagem de
“moeda falsa”. A partir daí, o trabalho realiza uma transversal em meio a objetos midiáticos
que enfocam os efeitos da circulação de dinheiro falso, para além do conto de Baudelaire.
Lemos, sob um prisma semiótico e desconstrucionista: o desenho/cheque-falso Tzanck
Check, de Marcel Duchamp (1919); os livros de Ricardo Piglia Nome falso (1988) e Dinheiro
queimado (1998); o lme O dinheiro, de Robert Bresson (1983); e a novela de César Aira
Varamo (2002). Este estudo, além que evidenciar a latência do tema da economia falsicada
na cultura, ajuda a descrever a estruturalidade desta circulação e seu sistema de produção de
efeitos de sentido, mesmo a partir da articialidade de sua base. Ou: justo por essa articialida-
de, é nossa hipótese. Essa é uma economia de Comunicação, na qual os signos, como moedas
falsas, executam sua im-possibilidade na enunciação, no dar-se ao outro.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Falso; Dom; Semiótica; Comunicação; Jacques Derrida.

REFERÊNCIAS

AIRA, César. Varamo. Barcelona: Anagrama, 2002.

BRESSON, Robert. O dinheiro (L´argent). França, 1983.

DERRIDA, Jacques. Giving time: I. Counterfeit money. Chicago: The University of Chicago
Press, 1992.

MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

PIGLIA, Ricardo. Dinheiro Queimado. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.

PIGLIA, Ricardo. Nome Falso. São Paulo: Iluminuras, 1988.


VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 3

A Imagem-Tempo de Wong Kar-Wai:


Efemeridade e Vidência no filme Amores Expressos (1994)

Gabriela Oliveira Rosa /UFRGS


Lennon Pereira Macedo /UFRGS

A partir do lme Amores Expressos (1994), de Wong Kar-Wai, este trabalho desenvolve o
conceito de imagem-tempo apresentado nos escritos de Gilles Deleuze, usando da obra cine-
matográca escolhida como ferramenta de exposição e mesmo tensionamento da teoria do
lósofo em seus esforços de compreender a sétima arte. O problema de pesquisa consiste em, a
partir da desmontagem do lme em signos visuais e narrativos, entender como os signos de
efemeridade cotidiana são construídos e apresentados na produção do chinês Wong Kar-Wai, e
como esses signos se relacionam com a análise deleuziana de situações ótico-sonoras puras e o
cotidiano. Através da comparação de trechos da obra deleuziana com a análise de signicações
cotidianas expostas em cenas e sequências do lme (ilustrados por fotogramas), objetiva-se
estabelecer relações entre a banalidade cotidiana em Maurice Blanchot e em Denilson Lopes,
sua manifestação em Wong e os sistemas de vidência e signicação que a imagem-tempo
proporciona ao espectador durante seus esforços de superar a imagem-movimento.
Pensando sobre o desamparo dos personagens em Amores Expressos frente às suas
incomunicabilidades e seu desejo visceral de escapar do tédio cotidiano, percebemos que seu
movimento está subjugado ao tempo, tempo esse massacrante, impassível, implacável, que só
parece ter seu caráter atordoante suspenso em pequenos momentos de signicado ao lado de
pessoas signicativas, por mais fugazes que sejam. Frente ao rompimento do esquema sensó-
rio-motor, não é mais essencial que as situações culminem em relações verdadeiras, como
antes acontecia no sistema da imagem-movimento - inclusive, tensionando aqui o trabalho de
Wong com a conceituação dos signos em Deleuze como resultados de afecções à sensibilidade
do espectador e agenciadora dos movimentos que permeiam o virtual e o atual. Corpos sem
rosto e sem nome se misturam nas bras que tecem o cotidiano, e o espectador mergulha na
banalidade insuportável dos centros urbanos essencialmente humanos; ele mais registra do
que reage. Mergulhados em potencial de fabulação, os personagens e os espectadores se
tornam videntes, e não mais participantes ativos do esquema de causa-reação; estão fadados a
ver e assimilar situações ótico-sonoras puras sem poder fazer algo sobre elas, estas que lhes
escapam os sentidos e inundam a banalidade do dia após dia. Essa problemática, trazida por
Deleuze em suas duas obras sobre o cinema, é canalizada neste estudo e ilustrada pelos foto-
gramas e narrativas idealizadas por Wong Kar-Wai, expressando em termos e acontecimentos
cinematográcos o subjetivismo cúmplice dos corpos que confundem o real e o espetáculo.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Cinema; Gilles Deleuze; Imagem-tempo; Semiótica; Wong Kar-Wai.

REFERÊNCIAS

AMORES expressos. Direção: Wong Kar-Wai. Produção: Jet Tone Productions. 1994.

BLANCHOT, Maurice. The Innite Conversation. Vol. 82. University of Minnesota Press,
1993.

DELEUZE, G. A imagem-movimento. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.

DELEUZE, G. A imagem-tempo. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.

LOPES, Denilson. No Coração do Mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 2012.


VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 4

A continuidade na filosofia de comunicação de Peirce

João Fabricio Flores da Cunha /UFRGS

Este trabalho investiga a comunicação a partir do pensamento do lósofo estadunidense


Charles S. Peirce. Para os efeitos desta pesquisa, a comunicação é pensada como estruturada em
três dimensões: materialidade, referencialidade e mediação. Essas dimensões correspondem às
categorias peirceanas de primeiridade, secundidade e terceiridade, respectivamente, as quais são
os pilares da arquitetura losóca peirceana.
Essa arquitetura estrutura um pensamento de caráter evolucionário cujo centro é o princípio
do sinequismo, a ideia de que tudo o que ocorre está inserido em um continuum (CP 1.172), de que
há continuidade entre os fenômenos: “a continuidade governa todo o domínio da experiência em
cada elemento” (CP 7.566). A cosmovisão de Peirce se articula em torno dessa ideia, à qual está
subordinada a irrupção do acaso (CP 8.252), que é o tiquismo, a gênese de uma cosmologia evolu-
cionária (CP 6.102). Essa cosmologia está ligada simultaneamente ao sinequismo e ao tiquismo.
Assim, existe uma continuidade entre a irrupção do acaso e a produção de hábitos que o regulari-
zam. O sinequismo é denido por Peirce como uma “síntese do tiquismo e do pragmatismo” (CP
4.584). Nossa pesquisa visa explorar as implicações do sinequismo para a comunicação.
A investigação sobre o pragmaticismo evolucionário nos levou a uma pergunta sobre o lugar
da comunicação dentro do pensamento de Peirce. O princípio sinequista, quando aplicado à
comunicação, e conforme os termos de nosso trabalho, implica pensar que há uma relação de
continuidade entre as dimensões de materialidade, de referencialidade e de mediação. Nossa
proposta é que a continuidade, ou sinequismo, é o conceito que move a losoa da comunicação de
Peirce. Nesse sentido, a comunicação, quando pensada nos termos peirceanos, está associada não
apenas à semiótica, mas também à metafísica.
Visamos investigar a continuidade não por si só, mas a partir das questões que ela coloca na
relação com outros aspectos do pensamento de Peirce. Assim, o sinequismo nos interessa na
medida em que está ligado à teoria dos signos. Produzem-se novos signos a partir de signos anterio-
res – exclusivamente. Ou seja, essa é a única forma de produção sígnica. O interpretante é o concei-
to que dá conta da produção de novos signos a partir de outros anteriores, transformando-os.
O sinequismo se manifesta concretamente na produção de novos interpretantes e de novos
hábitos. O princípio de aumento da razoabilidade concreta do mundo na continuidade é inerente à
semiose. O pensamento em Peirce tem como m a produção de novos hábitos de conduta. Sua
visão de mundo é a de uma teleologia pragmaticista orientada para o futuro. Investigar as opera-
ções da comunicação colocadas aí é o objetivo deste trabalho. Nossa estratégia metodológica
consistiu na revisão bibliográca dos escritos de Peirce, com foco nos Collected Papers (1994).
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Comunicação; continuidade; sinequismo; semiótica; Peirce.

REFERÊNCIAS

PEIRCE, C. S. The collected papers of Charles Sanders Peirce. Edição eletrônica: Harvard
University Press, 1994.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 4

Apropriando-me dos conceitos de entropia e de energia livre

Arthur Walber Viana /UFRGS

Ao relacionar contribuições ao campo da Comunicação (1) do aparato conceitual desen-


volvido pela Semiótica da Cultura e (2) das práticas do Jornal Boca de Rua, periódico feito por
pessoas em situação de rua em Porto Alegre, busco desenhar parâmetros do que seria uma
comunicação de-formativa. Nesta discussão, os conceitos de entropia e de energia livre inte-
ressam do seguinte modo:
A entropia como potencial de diferença: toda “nova obra” será mera cópia – na qual a
redundância suprimirá qualquer valor informacional – se operarmos apenas a partir de um
sistema rígido de regras cujo objetivo é conter a entropia. Com tal armativa, Lotman (1982)
dá à diferença centralidade no processo comunicativo: nela descansa o valor da comunicação,
valor esse que se equilibra nas relações tensas que fazem aumentar ou diminuir áreas intersec-
tadas entre sistemas semióticos, a m de que haja sempre algum grau de semelhança a
garantir a comunicação; ao mesmo tempo em que garante áreas não-interseccionadas, que
agregam valor à comunicação. A tensão age, sob esta perspectiva, como espécie de reguladora
do grau entrópico.
A entropia como estudo de probabilidades: nem tudo pode se instaurar nos movimentos
tensos de tradução; a positividade da diferença e a explosão de novos textos culturais não
acontecem aleatoriamente. A imprevisibilidade está, o tempo inteiro, cerceada pelas condi-
ções de cada sistema (LOTMAN, 1999). O conceito de entropia nos ajudará a entender isso
dado seu caráter probabilístico. Nos interessa pensá-lo como o estudo das chances de estados
futuros acontecerem, ou seja: como poderá se dar a distribuição de energia nas moléculas ao
longo do tempo (no nosso caso, textos em semiosferas), sabendo que – a partir das possibilida-
des dos sistemas sígnicos em contato – alguns estados serão mais prováveis que outros.
O Princípio da Energia Livre (PEL) como maquinação das probabilidades futuras: O
PEL (PIETARINEN; BENI, 2021), por sua vez, traz uma reexão sobre o trabalho a ser feito
por um organismo (sistema) qualquer, dos unicelulares aos complexos, para que este se
mantenha vivo no instante seguinte; fala de investimentos energéticos feitos num instante
levando em conta o próximo. Fala de um futuro a ser produzido agora: que futuros serão
atualizáveis a partir dos arranjos existentes neste sistema e nos seus arredores; e – talvez
principalmente para uma comunicação de-formativa – o que precisa ser rearranjado para que
se produza um futuro mais habitável ali na frente?
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Entropia; Princípio da Energia Livre; Iuri Lotman; Semiótica da Cultura; Teorias da
Comunicação.

REFERÊNCIAS

LOTMAN, Iuri. Cultura y explosión: lo previsible y lo imprevisible en los procesos de cambio


social. Barcelona: Gedisa, 1999.

______. Estructura del texto artístico. Madrid, Espanha: Istmo, 1982.

Pietarinen, Ahti-Veikko; Beni, Majid Davoody. Active Inference and Abduction. Biosemiotics.
2021. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s12304-021-09432-0
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 4

Cartografia de resistências: estudo de perfis de mulheres indígenas


no Instagram

Luana Silva da Cruz /UFRGS

Esta pesquisa trata do projeto de dissertação da autora, que aborda o ativismo digital de
mulheres indígenas no Instagram, através de publicações em seus pers pessoais, investigan-
do as possibilidades de tensionamento cultural e resistência na representação de seus corpos.
A partir disso, procura-se compreender de que forma esses corpos são apresentados, conside-
rando elementos que buscam demarcar diferenças e hábitos e se há alguma intenção de
construir mensagens de resistência pela representação destes. Para tanto, será realizada a
investigação de pers de Instagram; primeiramente, o mapeamento de pers de mulheres
indígenas nesta plataforma; a seguir, a categorização de publicações dos pers escolhidos; a
observação de possíveis semelhanças nestes pers e na forma de comunicar; a investigação do
possível propósito de utilizar o perl como espaço para uma mensagem de resistência; e as
diferenças nas categorias de publicações. A escolha metodológica é a cartograa, que se refere
aos aspectos teórico e empírico da pesquisa. Isso porque vimos a relevância de ampliar a
perspectiva teórica, de modo que alcance autoras latinoamericanas que abordam a questão de
gênero e raça sob um prisma local, como Cusicanqui, Pachamama e Paredes. Também é dada
preferência por que sejam mulheres, na medida do possível com proximidade étnica com o
objeto empírico. Isso, de forma alguma, exclui outras contribuições teóricas, que serão rele-
vantes. No entanto, a proposta é que a cartograa se estenda para conhecer e reconhecer a
produção intelectual em seu local de fala, na busca de autoras que explorem a temática em
suas culturas e a partir de suas visões. Converge com o viés metodológico, que busca a constru-
ção coletiva, constante e variada do conhecimento (KASTRUP; PASSOS, 2013). Para o desen-
volvimento da pesquisa tomam-se as quatro variedades da atenção de Kastrup (2020) como o
percurso que vai guiar o processo: o rastreio, o toque, o pouso e o reconhecimento atento. Para
estudar os textos culturais produzidos, busco aporte no conceito de Semiosfera de Lotman.
Assim, será dada atenção aos espaços de realização da comunicação e aos processos de semio-
se. Outro ponto a ser considerado é o conceito de fronteira, pois é nela que se encontra a
possibilidade de contato da Semiosfera indígena com a Semiosfera ocidental branca, organiza-
dora do Instagram. Lotman (1996) alerta, ainda, que estaria o conceito de fronteira ligado aos
processos de tradução e de não hegemonia, onde se produz a criação e a diferença. Portanto,
estes corpos estudados podem ser pensados como textos que produzem sentidos sobre sua
cultura em um ambiente cultural que é parcialmente de seu domínio. Semiosferas e fronteiras
em contato que produzirão tensionamento de sentidos.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Comunicação; Feminismos; Indígena; Instagram; Cartograa.

REFERÊNCIAS

KASTRUP, Virgínia; PASSOS, Eduardo. Cartografar é traçar um plano comum. Fractal:


Revista de Psicologia, v. 25, p. 263-280, 2013.

LOTMAN, Yuri. Semiosfera I. Semiótica de la cultura y del texto. Madrid: Fronesis Cátedra Y
Universitat de Valência, 1996.

KASTRUP, Virgínia. O funcionamento da atenção no trabalho do cartógrafo. In: Pistas do


método da cartograa: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. 2020. p. 32-51.

ROSÁRIO, N. M. Cartograa na comunicação: questões de método e desaos metodológicos.


In: MOURA, Cláudia Peixoto de; LOPES, Maria Immacolata Vassallo de (Org.). Pesquisa em
Comunicação: Metodologias e Práticas Acadêmicas. Porto Alegre: Edipucrs, 2016.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 5

Cianotipia na Barvabécia: o fim da utopia possível

Eric Pedott /IFRS


Daniel Petry /IFRS

O presente projeto naliza uma série de pesquisas realizadas com cianotipia realizada no
IFRS Alvorada nos últimos três anos. Ao aproximar-se de uma das exposições do projeto
Galeria Aberta, do IFRS Campus Alvorada. A exposição BARVABÉCIA: UMA UTOPIA
POSSÍVEL do Eric Pedott, que ocorreu entre os dias de 8 a 28 de novembro de 2021 encontra-
mos a possibilidade de investigar a reprodutibilidade técnica e as lógicas identitárias. A exposi-
ção parte da criação e reivindicação de uma nação chamada Barvabécia, de onde resultaram
trabalhos grácos e fotomontagens de técnica mista. Através dessa exposição, partimos de um
trabalho em especíco, feito na técnica de cianotipia, a obra Passaporte de Visitante. Essa
imagem pode ser reproduzida, incessantemente, desde que tenha os recursos necessários
para esse resultado. No caso a obra “Passaporte de Visitante” parte desse pensamento de algo
possível de se multiplicar, mas não só através do processo original da cianotipia que possibilita
ter cópias, mas do próprio conteúdo. Como um documento que é xerocado, e tem necessidade
de sua cópia para certicação de algo. Como referencial teórico, pensamos em Walter
Benjamin através do ensaio A Obra de arte na sua reprodutibilidade técnica onde reete como
os meios de reprodução denigrem a aura da obra de arte, sua autenticidade, assim perdendo
sua unicidade já que é possível de se reproduzir. Substituindo o valor de culto pelo valor de
massa, cumprindo uma função mercadológica. A aura para Benjamin se entende como o aqui
e o agora da obra de arte com sua duração e seu testemunho no historicismo, não possível de
replicar. Ao trabalhar com a cianotipia, temos um processo que depende de vários fatores, dos
químicos de emulsão, da luz que pode ser tão natural, quanto articial. Esses são meios de
processo que resultam em uma peça única, mas que é possível de se reproduzir tendo sua
singularidade, por mais não seja a mesma como o original primeiro. Mas dentro da proposta da
obra “Passaporte de Visitante” temos a cópia com devida alteração, com a identidade de cada
pessoa destinada ao passaporte: A unicidade, pois trata de algo exclusivo, por mais seja a cópia
de um documento, mas com devidas alterações. Sendo assim o “Passaporte de Visitante” passa
a manter sua aura, por mais seja um trabalho que indicie a proliferação de um documento.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Cianotipia; Fotograa; Processos.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: BENJAMIN, W.


Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo:
Brasiliense, 1985. p. 165-196.

CRARY, Jonathan. 24/7 - Capitalismo tardio e os ns do sono. São Paulo, Cosac Naify, 2014.

DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é losoa? Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.

GIORGI, Fabio. Manual de Cianotipia e Papel Salgado. Rio de Janeiro. Ibis Libris, 2017

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

KITTLER, Friedrich A. Gramophone, lm, typewriter. Stanford, Califorsnia: Stanford


University Press, 1999.

MANOVICH, Lev. The language of new media. Cambridge: MIT Press, 2002.

MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensão do homem. 1964.

PARIKKA, Jussi. What is media archaeology. Cambridge. Malden, MA: Polity Press, 2012.

SONTAG, Susan. Sobre Fotograa. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 5

Nem tão lo-fi, nem tão hip-hop: compreendendo o lofi hip-hop


como música ambiente

André Santos Marchese /IFRS


Chrístian Langaro Vaisz /IFRS
Marcelo Bergamin Conter /IFRS

Nos últimos cinco anos, tornou-se comum o consumo de música ambiente por meio do
YouTube. Embora raramente sejam apresentadas ou compreendidas como peças de ambient
music, tais músicas se aproximam da proposta deste gênero, por serem meticulosamente
construídas para possuírem poucas variações rítmicas e melódicas. O objetivo desta investiga-
ção é observar o lo hip hop, gênero que se popularizou no YouTube e que tem sido instrumen-
talizado para servir de pano de fundo para atividades de trabalho, estudo e relaxamento (ROSA
e JANOTTI Jr, 2018), a partir das premissas do que constitui-se como ambient music nos
termos de Brian Eno (2013). Partimos das sonoridades para compreender como delas decor-
rem novos modos de escuta e semioses afetivas que expandem as possibilidades da música
ambiente. Para isto, os procedimentos metodológicos partem do mapeamento dos modos de
produção do lo hip hop, em especial tutoriais de produção do gênero. Os tutoriais não só
"ensinam a fazer": eles também transparecem as condições de realização técnica, estética,
cultural e política do lo hip hop. Analisamos alguns destes tutoriais, produzidos por brasilei-
ros e anglófonos. Esta análise indicou a presença de sonoridades de baixa delidade e resolu-
ção, como a equalização com cortes de agudos, além de progressões de jazz e percussões estilo
boom bap. Ou seja, este gênero possui aspectos estéticos relacionados à agenciamentos de
baixa denição (CONTER, 2016), mas produzidos a partir de softwares (DAWs) em um
contexto hi- (WINSTON e SAYWOOD, 2019; LANDARINI, 2021). O efeito de baixa delida-
de é produzido a partir do uso de plugins que simulam efeitos analógicos. Tais características
sonoras também são encontradas nos gêneros ligados ao hip-hop, que muitas vezes está
estruturado em beats construídos a partir de samples extraídos de discos de vinil. Esta análise
nos leva à seguinte hipótese: se tanto o lo- quanto o hip-hop possuem agenciamentos de baixa
denição, as principais diferenças destes gêneros para o recente lo hip hop são as característi-
cas de ambient music que estão expressas neste gênero. O lo hip hop seria, portanto, muito
mais uma nova expressão do ambient music do que uma fusão entre lo- e hip-hop. Tal como
do choque entre dois corpos não surge uma mistura perfeita entre eles, mas um afeto, um
signo que representa falsamente o objeto (DELEUZE, 2019).
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Lo hip-hop; semiótica; música ambiente; YouTube; tutoriais.

REFERÊNCIAS

CONTER, Marcelo Bergamin. LO-FI: música pop em baixa denição. Curitiba: Appris, 2016.

DELEUZE, Gilles. Espinoza e as três éticas. IN: ______. Crítica e clínica. São Paulo: Ed. 34,
2019. p. 177-194.

ENO, Brian. Ambient music. IN: COX, Christoph; WARNER, Daniel (Orgs.). Audio culture:
readings in modern music. Bloomsbury: New York, 2013. p. 94097.

LANDARINI, Sidarta Corrêa Da Silva. “SOU SÓ UMA PESSOA* TRISTE”: FLUXOS


SONOROS-SENSORIAIS NO LOFI HIP HOP. Dissertação (mestrado) - Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosoa e Ciências Sociais, Programa de Pós-
Graduação em Sociologia e Antropologia: Rio de Janeiro, 2021.

ROSA, André Santa; JANOTTI Jr, Jeder. “Lo Hip Hop Radio”: Youtube, Música Instrumental
e Novas Escutas. In: Intercom - XIV Jornada de Iniciação Cientíca em Comunicação, evento
componente do 41o Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Anais. Joinville, 2018.

WINSTON, Emma; SAYWOOD, Laurence. Beats to Relax/Study to: Contradiction and


Paradox in Lo Hip Hop. IASPM Journal. v. 9 No 2. 2019. p. 40-54.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 5

A produção comunicacional de escutas musicais nos ensaios de


compositores do século XIX

Cássio de Borba Lucas /UFRGS

O trabalho apresenta aspectos teóricos e resultados analíticos da pesquisa de doutorado


Escutas Expandidas e a produção comunicacional da escuta musical. Apresenta a perspecti-
va, inspirada na semanálise (KRISTEVA, 1969), da pesquisa em comunicação que se volta
para os signos menos como representação do que como produção de sentido. A seguir, elenca e
discute quatro princípios para uma semiótica pragmaticista (PEIRCE, 1994) das escutas
expandidas: indissociabilidade entre escuta e signicação, redutibilidade da percepção ao
contínuo dos signos, centralidade dos interpretantes na produção de escutas e pontualidade
das escutas no interior de seus territórios comunicacionais. Por m, expõe os resultados da
análise do território de escutas da Nona Sinfonia de Beethoven em textos de compositores do
século XIX e debate as potencialidades e limites da abordagem semanalítica-pragmaticista
para a pesquisa em comunicação e música.

PALAVRAS-CHAVE
Produção comunicacional; Escuta musical; Semanálise; Semiótica pragmaticista.

REFERÊNCIAS

KRISTEVA, J. Sémeiòtiké: recherches pour une sémanalyse. Paris, França: Seuil, 1969.

PEIRCE, C. S. The collected papers of Charles Sanders Peirce. Edição eletrônica: Harvard
University Press, 1994.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 6

Nostalgia: saudosismo ou sintoma? O recorte da Music Television

Fernanda Pires Dupont /UFRGS

A nostalgia é uma crescente na cultura pop. Música, moda ou cinema, o sentimento que
retrata aquilo que vivemos em tempos mais simples é constantemente buscado nas novas
tendências (REYNOLDS, 2010).
Em um presente onde é possível revisitar o passado a qualquer momento, o que já passou
não está somente na memória. Está nas redes sociais, nos vídeos ou até mesmo remodelados
em novos programas de streaming. Anal, nunca antes tivemos uma sociedade que é obcecada
por seu passado imediato, capaz de acessá-lo em poucos cliques (REYNOLDS, 2010). Essa
revisita constante tem o poder de colocar a nostalgia em foco, onde os usuários se conectam
com aquilo que viveram no passado. Principalmente quando falamos em música pop, e a sua
relação especial com a juventude. (FRITH, 1996)
A MTV como canal de televisão musical revolucionou a indústria fonográca em sua
época (DENISOFF, 2017). Hoje em moldes diferentes, não interessa aqui entender o que se
tornou, mas sim o impacto que teve quando surgiu e se manteve inuente até o começo da
década de 2010. Um centro de arte, música e criatividade, com irreverência e atitude. E que
viu sua derrocada com o surgimento e desenvolvimento das redes sociais e novas formas de
consumo.
Quando olhamos para trás, só nos resta a nostalgia. De tempo mais simples, das expe-
riências joviais. Mas sem esquecer das implicações sociais e políticas, em um tempo onde tudo
muda muito rápido e já não há mais certezas ou esperanças na tecnologia ou no próprio desen-
volvimento da sociedade (FISHER, 2020).
Sempre que a Music Television vira pauta, os telespectadores que uma vez foram con-
quistados, se vêem novamente dentro do saudosismo. Uma memória quase que fantasmática
(FISHER, 2020), que segue acompanhando os espectadores mesmo com algumas décadas de
vida a mais. Um sentimento que pode, de fato, se relacionar apenas ao tempo sem preocupa-
ções que a juventude traz. Mas que também pode ser sintoma do capitalismo tardio, de uma
sociedade sem um direcionamento ecaz em relação ao futuro.
Este é apenas um recorte de um trabalho que ainda está em andamento, que pretende
relacionar o “realismo capitalista” (FISHER, 2020), o recorte de geração dos estudos culturais
(COHEN, 1997) e a arqueologia da mídia (PARIKKA, 2017). Dando conta da estética e da
temática da MTV como referência de cultura jovem em um tempo não tão distante, que segue
presente na memória social, se tornando um objeto ativo de nostalgia.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Comunicação; Nostalgia; Capitalismo tardio; Música pop; MTV.

REFERÊNCIAS

COHEN, Phil. Rethinking the youth question: Education, Labour and Cultural Studies.
Londres: Macmillan Press, 1997.

DENISOFF, R Serge. Inside MTV. Nova Iorque: Routledge, 2017.

FISHER, Mark. Realismo capitalista. É mais fácil imaginar o m do mundo do que o m do


capitalismo? São Paulo: Autonomia literária, 2020.

FRITH, Simon. Performing rites: on the value of popular music. Cambridge: Harvard
University Press, 1996.

GOES, Zico. MTV, bota essa p#@% pra funcionar!. São Paulo: Panda Books, 2014.

HAMMOND, Simon. K-Punk ampliado. Intexto, Porto Alegre, n. 52, p. 108-170, 2021.
Disponível em: https://seer.ufrgs.br/intexto/article/view/108170

MARKS, Craig; TANNENBAUM, Rob. I want my MTV: the uncensored story of the music vídeo
revolution. Nova Iorque: Penguin Group, 2011.

PARIKKA, Jussi. Arqueologia da mídia: interrogando o novo na artemídia. Intexto, Porto


Alegre, n. 39, p. 201-214, 2017. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/intexto/article/view/71569

REYNOLDS, Simon. Retromania: Pop Culture’s Addiction to Its Own Past. Londres: Faber &
Faber, 2010.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 6

“I didn’t realise I was making my memories, I was just having fun”:


ressignificações nostálgicas da trilha musical de Minecraft em
vídeos amadores do YouTube

Lígia Maria Lasevicius Perissé /UFRGS


Lucas Nucci Macedo /IFRS
Marcelo Bergamin Conter /IFRS

O presente trabalho pretende investigar os diferentes modos pelos quais a trilha musical
da série de videogame Minecraft (2009-) é ressignicada por produtores de conteúdo amado-
res para YouTube. A trilha musical do jogo foi lançada em 2011 na versão álbum intitulado
Volume alpha, composta por Daniel Rosenfeld. Ela é etérea, suave, instrumental e remete aos
elementos típicos da ambient music – música para banhar o espaço acústico e fomentar a
reexão e a criatividade (ENO, 1978; 2013). A geração que na década passada se divertia com
o jogo hoje tem procurado esta trilha no YouTube para ouvir enquanto desenvolve outras
tarefas. Além do álbum, há também versões de fãs em que efeitos sonoros reconfortantes são
adicionados (reverberação, sons de chuva, lareira crepitando etc.). Assim, nos interessa
compreender como estas versões transformam os modos de escuta e os regimes de signo da
música ambiente quando atravessada por agenciamentos nostálgicos.
À experiência de escuta (que geralmente é particular, individualizada, nos termos de
Kassabian, 2013) somam-se os comentários de outros ouvintes, membros da comunidade,
anúncios do YouTube, opções de compartilhamento, “like” e “unlike”, bem como sugestões de
vídeos similares. Assim, ao assistirmos estes vídeos e suas derivações, acessamos também os
registros feitos pelos próprios ouvintes sobre e a partir de suas experiências de escuta nos
comentários. As memórias individuais do gameplay do passado se confundem com a escuta
coletiva e assíncrona do presente. Pickering e Keightley (2006) comentam que é mais provável
nos lembrarmos de experiências mediadas do que experiências não-mediadas, e assim, a
mediação do passado é um processo pelo qual as mídias podem xar e limitar a memória
social. Há uma dimensão política que toma forma por meio das relações entre escuta, memó-
ria e sonoridades que nos interessa compreender.
Considerando que esta pesquisa está em desenvolvimento, conclui-se parcialmente que
o que se expressa nestas relações é uma ressignicação dupla do sentido de nostalgia: a um
tempo, reorganiza-se a experiência de uma nostalgia privada e individualizada da infância de
cada usuário, enquanto toma forma uma nostalgia coletiva que é agenciada pela memória das
mídias, e, com isso, reorganiza-se também a memória e a aplicabilidade da trilha de Minecraft
como música ambiente.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Semioses afetivas; Nostalgia; Ambient music; Minecraft; YouTube.

REFERÊNCIAS

ENO, Brian. Ambient #1 Music for Airports. PCV 7908 (AMB 001). E.G. Records, 1978. 1
disco sonoro (42 min), 33 1/3 rotaço es, este reo, 12 pol.

ENO, Brian. Ambient music. IN: COX, Christoph; WARNER, Daniel (Orgs.). Audio culture:
readings in modern music. Bloomsbury: New York, 2013. p. 94097.

KASSABIAN, Anahid. Ubiquitous Listening: affect, attention, and distributed subjectivity. 1st
ed. University of California Press, 2013. http://www.jstor.org/stable/10.1525/j.ctt2855s2.

PICKERING, Michael; KEIGHTLEY, Emily. The modalities of nostalgia. Current Sociology.


vol. 54(6). Loughborough University, Londres. 2006, p. 919-941.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 6

Experimentações metodológicas de uma pesquisa de corpos sem


órgãos

Shico Menegat /UFRGS

Não é o caso de nos perguntarmos “o que é um corpo”, mas o que ele pode, sua potência,
atualização de virtualidades, aberturas para novas conexões. Em nossa pesquisa, a questão
vem a partir de Antonin Artaud, talvez dos mais radicais em sua busca por um corpo vibrátil,
que não é morada da linguagem mas que experimenta, como diz Artaud (1996), a “linguagem
como meio da loucura”, que atira o corpo à violência da gagueira, do sopro, do grunhido, do
gemido, do grito, dos ruídos, advindo das dimensões em que o pensamento não o domina
enquanto objeto, mas corpo que é a própria matéria intensa, não formada: um corpo sem
órgãos (CsO).
À busca de Artaud, são acrescentadas novas problemáticas com Gilles Deleuze e Félix
Guattari, nos anos 70 e 80. É certo que no platô Como criar para si um corpo sem órgãos?, de
Mil Platôs (2012), discorrem os autores sobre o corpo do masoquista, do hipocondríaco, do
esquizofrênico, do drogado, do paranóico: “Mas por que este desle lúgubre de corpos costura-
dos, vitricados, catatonizados, aspirados, posto que o CsO é também pleno de Alegria, de
êxtase, de dança? Então, por que estes exemplos?” (DELEUZE; GUATTARI, 2012, p. 13). À
pergunta-título do platô, portanto, não são oferecidas respostas diretas.
Se não por exemplos, modelos ou representações, de maneira proliferante e dispersa
lançam provocações, caminhos, circunstâncias que induzem à experimentação, à criação.
Estas dispersões nos levaram à formulação de um uxo próprio do CsO de nossa pesquisa de
mestrado, que agencia-se com os objetos analisados (corpos em experimentações audiovisuais
contemporâneas). Ao nosso ver, a partir da problemática de Mil Platôs (2012), é possível inferir
que a criação de um CsO se dá pela: 1) construção de um programa como um motor de experi-
mentação que produza dois 2) níveis - o da constituição do CsO e o da passagem das 3) intensi-
dades - capazes de 5) desestraticar signicações (com prudência), e formarem 6) platôs.
Pretendemos discutir estes itens enquanto estratégia metodológica de nossa pesquisa. Nosso
objetivo é a formulação de CsO enquanto operador de agenciamentos de intensidades do
corpo, de modo a colocar signos em vibração. Esta formulação se dá a partir de uma semiótica
extraída de Artaud principalmente a partir do diálogo com Uno (2022), que infere que o signo
para Artaud não terá função de signicação, mas de vibração e conexão de intensidades: signo
como um corpo colocado em estado de comunicação com outros corpos.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
corpo; corpo sem órgãos; Antonin Artaud; metodologia; experimentação.

REFERÊNCIAS

ARTAUD, Antonin. Oeuvres complètes XIII. Paris: Gallimard, 1996.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 3. São
Paulo: Editora 34, 2012.

UNO, Kuniichi. Artaud - Pensamento e corpo. São Paulo: n-1 edições, 2022.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 6

O conceito de multidão no “entre” em “Entre nós talvez estejam


multidões” (2020), de Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito

Victória da Silva Morele /UFRGS

O presente resumo refere-se a pesquisa desenvolvida junto ao Grupo de Pesquisa


Semiótica Crítica e a Rede de Pesquisa Teoria de Cineastas que tem como objetivo investigar o
conceito de multidão proposto no lme “Entre nós talvez estejam multidões” (2020), de Aiano
Bemca e Pedro Maia de Brito. Interessa-nos saber onde encontram-se as multidões mencio-
nadas no título, qual a relevância desse título para uma discussão conceitual a partir do lme,
como o conceito toma forma no lme, o que os cineastas entendem por multidão e como o
cinema pode dar a vê-la.
A proposição de uma teoria losóca através da criação de conceitos por meio de lmes
acorda com o pensamento de Gilles Deleuze em textos como “A imagem-tempo” (DELEUZE,
2007), “O que é a losoa?” (DELEUZE; GUATTARI, 1992) e, sobretudo, “O que é o ato de
criação?” (DELEUZE, 2016) onde arte e losoa são tratadas de maneira conjunta. Cumpre
estabelecer, na Teoria de Cineastas, se as fontes primárias consideradas serão imagens e textos
ou apenas um dos tipos de material, como eventualmente as análises privilegiam de acordo
com a separação proposta por Jacques Aumont ao pesquisar as teorias de cineastas, no campo
textual (AUMONT, 2004), e o pensamento dos lmes, no campo visual (AUMONT, 1996).
Aqui, a criação de conceitos e a problematização se dará através de enunciados dos
cineastas e seus discursos e das imagens do lme em conjunto, seguindo o proposto por W.J.T.
Mitchell (1994), a saber, de que a teoria emerge da articulação entre o texto e a imagem em
suas diferentes possibilidades, nesse caso principalmente nos compostos que o autor nomeou
como “imagetext”.
Entre Nós Talvez Estejam Multidões é um documentário que propõe uma imersão na
ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte, ao longo da campanha que elegeu Bolsonaro à
presidência em ecos da ascensão do fascismo no Brasil. O lme é conduzido através de falas
dos sujeitos ocupantes do espaço de modo a, como exposto no título, dar a ver a multidão como
algo que está no “entre” e não na quantidade ou nas movimentações.
O título adquire ainda mais potência quando trabalhado em relação aos blocos de ima-
gem do lme, seus planos de longa duração, seus enquadramentos, a individualização presen-
te em cada um dos depoimentos, a forma como as pessoas são inseridas no espaço, entre
outros. O conceito de multidão emerge das relações entre o texto e a imagem, a forma como
são produzidas e os discursos apresentados.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

Para o desenvolvimento da presente análise, serão considerados ainda alguns debates


dos cineastas (BEMFICA; MAIA DE BRITO; RODRIGUES, 2020; BEMFICA; DIAS, 2021)
que expõem elementos que nos ajudam a dimensionar a questão, bem como reexões acerca
do método de lmagem e sua a relação com as pessoas lmadas, adquirindo suma importância
na Teoria de Cineastas.

PALAVRAS-CHAVE
cinema; multidão; teoria de cineastas.

REFERÊNCIAS

AUMONT, Jacques. À quoi pensent les lms. Paris: Nouvelles Édition Séguier, 1996.

AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2004.

ENTRE NÓS TALVEZ ESTEJAM MULTIDÕES. Direção: Aiano Bemca e Pedro Maia de
Brito. Produção: Amarillo Produções Audiovisuais, 2020.

BEMFICA, Aiano; DIAS, Emerson. DEBATE: ENTRE NÓS TALVEZ ESTEJAM MULTIDÕES
- 23° FESTIVAL KINOARTE DE CINEMA. 15 dez 2021.

BEMFICA, Aiano; MAIA DE BRITO, Pedro; RODRIGUES, Ana. 53º FBCB - ENTRE NÓS
TALVEZ ESTEJAM MULTIDÕES. Debate sobre o lme. 20 dez 2020.

DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2007.

DELEUZE, Gilles. O que é o ato de criação? DELEUZE: Gilles. Dois regimes de loucos: textos e
entrevistas (1975-1995). São Paulo: Editora 34, 2016.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a losoa? Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.

MITCHELL, WJT. Picture theory: Essays on verbal and visual representation. Chicago and
London: The University of Chicago Press, 1994.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 7

A Instrumentalização da Razão na Narrativa de Cowboy Bebop:


The Movie

Rafael de Campos /UFRGS

O objetivo deste trabalho será elucidar, a partir de uma análise sob a luz do pensamento
de Max Horkheimer, como a narrativa da animação Cowboy Bebop: The Movie, dirigida por
Shinichiro Watanabe (2000), pode ser vista como uma reexão a respeito das consequências
da hegemonia de uma visão de mundo pautada por uma razão instrumentalizada, tal como
conceituada pelo autor alemão em Eclipse da Razão (HORKHEIMER, 2007). Além disso,
pretende-se identicar os aspectos dos três gêneros presentes na narrativa – cção cientíca,
western e lm noir – a m de entender como elementos destes gêneros são articulados de
modo a construir o universo da animação e reforçar a ideia de uma visão de futuro distópica.
Primeiramente, será proposta uma contextualização a m de situarmo-nos à época de
realização do lme, no Japão do nal da década de 1990. Trabalhando com o conceito de
episteme, de Foucault (2008), nossa intenção é a de reconstruir o cenário político, econômico
e social da época a m de elucidar os elementos constitutivos do imaginário social que permea-
vam a sociedade japonesa. Em seguida, desenvolvemos o conceito de tripla mímesis, de
Ricoeur (2010) que nos auxiliará na compreensão de como a articulação dos elementos
presentes na episteme podem constituir uma narrativa interligada ao seu contexto.
Ao m, efetuaremos a análise fílmica, na qual serão abordados os aspectos dos três
gêneros cinematográcos presentes na obra, além de sua articulação na narrativa. Os concei-
tos de cção cientíca, western e lm noir serão trabalhados a partir das noções de Kaveney
(2005), Aquila (2015) e Conard (2006), respectivamente, e o principal referencial para análise
da narrativa cinematográca será Jost e Gaudreault (2009).

PALAVRAS-CHAVE
Animação; Cowboy Bebop; eclipse da razão; cção cientíca.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

REFERÊNCIAS

AQUILA, Richard. The Sagebrush Trail: Western Movies and Twentieth-Century America.
University of Arizona Press, 2015.

CONARD, Mark. The Philosophy of Film Noir. Kentucky University Press, 2006.

FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Ed. Forense Universitária, 2008.

GAUDREAULT, André. JOST, François. A Narrativa Cinematográca. Ed. UNB, 2009.

HORKHEIMER, Max. Eclipse da Razão. Ed. UNESP, 2015.

KAVENEY, Roz. From Alien to The Matrix: Reading Science Fiction Film. I. B. Tauris, 2005.

RICOEUR, Paul. Tempo e Narrativa Vol. 1: A Intriga e a Narrativa Histórica. Martins Fontes,
2010.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 7

Comunicação, Arte e Design: reflexões sobre estética, imagem e


sentido a partir da obra de Basquiat e Campanas

Fábio Pezzi Parode /UFC

Este estudo, de forma exploratória, propõe uma aproximação entre estética, comunica-
ção e semiótica, focando na produção de sentido de obras do design e da arte. Parte-se do
objeto empírico Cadeira Favela, dos Irmãos Campana e da pintura Notary, de Jean Michel
Basquiat. No plano comunicacional, busca-se identicar e descrever a construção de sentido
desses objetos culturais, expandindo o horizonte do signicado ao plano social e político. Desta
forma, busca-se construir uma reexão crítica sobre arte e design contemporâneo, desvelando
algumas estruturas de poder subjacentes ao campo da indústria cultural.
Tendo em vista a grande relevância que o design assumiu nas sociedades ocidentais a
partir do nal da primeira metade do século XX, e partindo do princípio de que arte, antes de
mais nada, é um fenômeno sociocultural e um sistema de linguagem simbólica, propomos
com este estudo questionar a estética contemporânea e sua relação com a indústria cultural.
Considera-se que a estética da arte e do design, a partir dos anos 80 assumiu, especialmente
no plano da forma, uma dimensão ambígua, abrindo-se para produções mais híbridas e próxi-
mas à estéticas cujo efeito de sentido sugere rupturas com padrões hegemônicos de gosto,
permitindo-nos observar uma abertura no campo cultural e simbólico da expressão através da
arte e do design.
Em relação ao recorte proposto neste estudo, haveria inúmeros artistas que poderiam ser
incluídos nesse repertório de análise. Entretanto, focamos em Jean Michel Basquiat, grateiro
e pintor, que juntamente com Andy Wahrol, é um dos representantes da arte americana da
segunda metade do século XX.

Figura 1: Jean Michel Basquiat

Notary, 1983. Pintura em Acrilico, óleo e colagem em tela. Coleção da familia Schorr; em empréstimo de
longo prazo ao Museu de Arte da Universidade de Princeton. Fonte:
<http://obviousmag.org/archives/2010/04/jean-michel_basquiat.html> acesso: 02.06.2022
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

Humberto e Fernando Campana são designers e se dizem inspirados na cultura brasileira,


porém, com grife italiana.

Figura 2: Irmãos Campana.

Cadeira Favela, Fernando e Humberto Campana, 2003. Fonte:


http://simpleartfriburgo.blogspot.com/2010/11/exposicao-dos-irmaos-campana-em-milao.html. aces-
so:02.06.2022

As obras em questão nos possibilitam uma reexão teórico-crítica acerca do processo de


construção do signicado, levando-nos a um questionamento sobre mitologia e linguagem no
campo da semiótica.

PALAVRAS-CHAVE
Comunicação, Estética, Dispositivo, Arte, Design.

REFERÊNCIAS

ADORNO, T. W. Teoria estética. Lisboa, Portugal, ed. 70, 1970.


BARTHES R. Mitologias. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1993.
BOURDIEU, P. As regras da arte. São Paulo: Companhia das letras, 1996.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
BOURDIEU, P. A Distinção: crítica social do julgamento. São Paulo/Porto Alegre: EDUSP/Zouk,
2007.
DANTO, A. La transguration du banal: une philosophie de l’art. Paris: Édition du Seuil,1989.
DELEUZE, G. et GUATTARI, F. Mille Plateaux. Capitalisme et schizophrénie. Paris: Éditions de
Minuit,1980.
DELEUZE, G. et GUATTARI, F. L’Anti-Œdipe. Paris: Éditions de Minuit, 1972.
DELEUZE, G; GUATTARI, Félix. Kafka: Por uma literatura menor. 1a Edição. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2014.
FOUCAULT, M. Surveiller et punir. Paris: Gallimard, 1975.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2000. 2010.
HEINICH, N. La sociologie de l’art. Paris: Éditions de la Découverte, 2004.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

MESA 7

A representatividade negra e os aspectos narrativos de Killmonger:


como um vilão consegue gerar a identificação das pessoas negras
através do filme “Pantera Negra”

Tamara Lopes de Sousa /UFC


Fábio Pezzi Parode /UFC
Ricardo Jorge de Lucena Lucas /UFC

O cinema é capaz de envolver os espectadores, criando conceitos e gerando fenômenos


culturais. O lme Pantera Negra (2018) é um exemplo disto, já que trouxe para o grande
público temáticas de relevância social como representatividade negra, empoderamento
feminino e valorização das culturas africanas, mexendo com as expectativas do público sobre o
que esperar ao assistir a lmes de heróis. Considerando esses aspectos, a pesquisa investiga e
realiza a análise fílmica de Pantera Negra, mostrando sua origem nos HQs estadunidenses da
década de 1970, num contexto onde os movimentos sociais em prol dos direitos das pessoas
negras estavam ganhando força. A ênfase do trabalho está em estudar o papel narrativo da
personagem que mais fomenta os debates sociais acerca de raça, o “vilão” Erik Killmonger.
Observamos as relações de poder estabelecidas na trama, traçando um paralelo com a realida-
de da sociedade contemporânea estadunidense e brasileira.
O objetivo da pesquisa consiste na análise da personagem Killmonger, seus aspectos
narrativos, tempo e espaço destinado ao seu desenvolvimento, suas camadas (trajetória
histórica citada dentro da película), suas inuências no roteiro e de que forma ela consegue
abordar pautas armativas do movimento negro. Questões como a diáspora africana, a
reparação histórica negra e o empoderamento negro são investigadas através dos diálogos e
posturas da personagem na narrativa.
A metodologia utilizada na pesquisa é a análise fílmica, de acordo com os preceitos
estabelecidos por Penafria (2009), Bazin (1991), Cândido (2007) e Campos (2011). Os resul-
tados preliminares apontam que o lme gerou um impacto positivo na comunidade negra, o
que foi apontado em trabalhos como o de Yunes (2019) e de Botelho e Júnior Geraldes (2019).
Além disso, vericamos a potencialidade que a obra possui para abordar a questão das relações
de poder que a branquitude e o patriarcado exercem na sociedade. Para essa investigação,
teremos o arcabolso teórico de Foucault (2014), Collins (2016), Kilomba (2010), Hall (2006)
dentre outros autores.
VI jornada de semiótica e culturas da comunicação

PALAVRAS-CHAVE
Pantera Negra; Killmonger; Personagem; Representatividade; Empoderamento Negro.

REFERÊNCIAS

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